pcn (5ª-8ªséries), v10c, meio ambiente

Upload: gabriel

Post on 30-May-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    1/76

    167

    M

    E I O

    M E I OA M B I E N T E

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    2/76

    168

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    3/76

    169

    APRESENTAO

    So grandes os desafios a enfrentar quando se procura direcionar as aes para amelhoria das condies de vida no mundo. Um deles relativo mudana de atitudes nainterao com o patrimnio bsico para a vida humana: o meio ambiente.

    Os alunos podem ter nota 10 nas provas, mas, ainda assim, jogar lixo na rua, pescarpeixes-fmeas prontas para reproduzir, atear fogo no mato indiscriminadamente, ou realizaroutro tipo de ao danosa, seja por no perceberem a extenso dessas aes ou por no sesentirem responsveis pelo mundo em que vivem.

    Como possvel, dentro das condies concretas da escola, contribuir para que osjovens e adolescentes de hoje percebam e entendam as conseqncias ambientais de suasaes nos locais onde trabalham, jogam bola, enfim, onde vivem?

    Como eles podem estar contribuindo para a reconstruo e gesto coletiva dealternativas de produo da subsistncia de maneira que minimize os impactos negativosno meio ambiente? Quais os espaos que possibilitam essa participao? Enfim, essas eoutras questes esto cada vez mais presentes nas reflexes sobre o trabalho docente.

    A problematizao e o entendimento das conseqncias de alteraes no ambientepermitem compreend-las como algo produzido pela mo humana, em determinadoscontextos histricos, e comportam diferentes caminhos de superao. Dessa forma, o debatena escola pode incluir a dimenso poltica e a perspectiva da busca de solues para situaescomo a sobrevivncia de pescadores na poca da desova dos peixes, a falta de saneamentobsico adequado ou as enchentes que tantos danos trazem populao.

    A soluo dos problemas ambientais tem sido considerada cada vez mais urgente

    para garantir o futuro da humanidade e depende da relao que se estabelece entresociedade/natureza, tanto na dimenso coletiva quanto na individual.

    Essa conscincia j chegou escola e muitas iniciativas tm sido tomadas em tornodessa questo, por educadores de todo o pas. Por essas razes, v-se a importncia deincluir Meio Ambiente nos currculos escolares como tema transversal, permeando todaprtica educacional. fundamental, na sua abordagem, considerar os aspectos fsicos ebiolgicos e, principalmente, os modo de interao do ser humano com a natureza, pormeio de suas relaes sociais, do trabalho, da cincia, da arte e da tecnologia.

    A primeira parte deste documento aborda a questo ambiental a partir de um brevehistrico e discorre sobre o reconhecimento da existncia de uma crise ambiental quemuito se confunde com um questionamento do prprio modelo civilizatrio atual, apontandopara a necessidade da busca de novos valores e atitudes no relacionamento com o meio emque vivemos. Enfatiza, assim, a urgncia da implantao de um trabalho de EducaoAmbiental que contemple as questes da vida cotidiana do cidado e discuta algumasvises polmicas sobre essa temtica.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    4/76

    170

    Nesta primeira parte, ainda, so apresentadas algumas reflexes sobre o processoeducacional propriamente dito, com destaque para a explicitao de indicadores para aconstruo do ensinar e do aprender em Educao Ambiental.

    Na segunda parte, so apresentados os contedos, os critrios adotados para suaseleo neste documento, e a forma como eles devem ser tratados para atingir os objetivos

    desejados.

    Secretaria de Educao Fundamental

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    5/76

    171

    1 PARTE1 PARTE

    MEIO AMBIENTEMEIO AMBIENTE

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    6/76

    172

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    7/76

    173

    A QUESTO AMBIENTAL

    A perspectiva ambiental consiste num modo de ver o mundo no qual se evidenciamas inter-relaes e a interdependncia dos diversos elementos na constituio e manutenoda vida.

    medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza parasatisfao de necessidades e desejos crescentes, surgem tenses e conflitos quanto ao usodo espao e dos recursos.

    Nos ltimos sculos, um modelo de civilizao se imps, alicerado naindustrializao, com sua forma de produo e organizao do trabalho, a mecanizao daagricultura, o uso intenso de agrotxicos e a concentrao populacional nas cidades.

    Tornaram-se hegemnicas na civilizao ocidental as interaes sociedade/naturezaadequadas s relaes de mercado. A explorao dos recursos naturais se intensificou muitoe adquiriu outras caractersticas, a partir das revolues industriais e do desenvolvimento

    de novas tecnologias, associadas a um processo de formao de um mercado mundialque transforma desde a matria-prima at os mais sofisticados produtos em demandasmundiais.

    Quando se trata de discutir a questo ambiental, nem sempre se explicita o peso querealmente tm essas relaes de mercado, de grupos de interesses, na determinao dascondies do meio ambiente, o que d margem interpretao dos principais danosambientais como fruto de uma maldade intrnseca ao ser humano.

    A demanda global dos recursos naturais deriva de uma formao econmica cujabase a produo e o consumo em larga escala. A lgica, associada a essa formao, que

    rege o processo de explorao da natureza hoje, responsvel por boa parte da destruiodos recursos naturais e criadora de necessidades que exigem, para a sua prpriamanuteno, um crescimento sem fim das demandas quantitativas e qualitativas dessesrecursos.

    As relaes poltico-econmicas que permitem a continuidade dessa formaoeconmica e sua expanso resultam na explorao desenfreada de recursos naturais,especialmente pelas populaes carentes de pases subdesenvolvidos como o Brasil. ocaso, por exemplo, das populaes que comercializam madeira da Amaznia, nem semprede forma legal, ou dos indgenas do sul da Bahia que queimam suas matas para vender

    carvo vegetal.Os rpidos avanos tecnolgicos viabilizaram formas de produo de bens com

    conseqncias indesejveis que se agravam com igual rapidez. A explorao dos recursosnaturais passou a ser feita de forma demasiadamente intensa, a ponto de pr em risco a suarenovabilidade. Sabe-se agora da necessidade de entender mais sobre os limites darenovabilidade de recursos to bsicos como a gua, por exemplo.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    8/76

    174

    Recursos no-renovveis, como o petrleo, ameaam escassear. De onde se retiravauma rvore, agora retiram-se centenas. Onde moravam algumas famlias, consumindoescassa quantidade de gua e produzindo poucos detritos, agora moram milhes de famlias,exigindo a manuteno de imensos mananciais e gerando milhares de toneladas de lixopor dia.

    Essas diferenas so definitivas para a degradao do meio. Sistemas inteiros de vidavegetal e animal so tirados de seu equilbrio. E a riqueza, gerada num modelo econmicoque propicia a concentrao da renda, no impede o aumento da misria e da fome. Algumasdas conseqncias so, por exemplo, o esgotamento do solo, a contaminao da gua e acrescente violncia nos centros urbanos.

    medida que tal modelo de desenvolvimento provocou efeitos negativos mais graves,surgiram manifestaes e movimentos que refletiam a conscincia de parcelas da populaosobre o perigo que a humanidade corre ao afetar de forma to violenta o seu meio ambiente.Em vrios pases, a preocupao com a preservao de espcies surgiu h muitos anos. Nofinal do sculo passado, iniciaram-se manifestaes pela preservao de sistemas naturais

    que culminaram na criao de Parques Nacionais e em outras Unidades de Conservao1 .

    Nas regies mais industrializadas, passou-se a constatar uma deteriorao na qualidadede vida, o que afeta tanto a sade fsica quanto a sade psicolgica das pessoas,especialmente das que habitam as grandes cidades. Por outro lado, os estudos ecolgicoscomearam a tornar evidente que a destruio e at a simples alterao de um nicoelemento pode ser nociva e mesmo fatal para todo o ecossistema2 .

    Grandes extenses de monocultura, por exemplo, podem determinar a extinoregional de algumas espcies e a proliferao de outras. Vegetais e animais favorecidospela plantao, ou cujos predadores foram exterminados, reproduzem-se de mododesequilibrado, prejudicando a prpria plantao. Eles passam a ser considerados entouma praga!

    A indstria qumica oferece como soluo o uso de praguicidas que acabam, muitasvezes, envenenando as plantas, o solo, a gua e colocam em risco a sade de trabalhadoresrurais e consumidores.

    Assim como em outros pases, no Brasil, a preocupao com a explorao descontroladae depredatria de recursos naturais passou a existir em funo do rareamento do pau-

    1 nesse contexto que, no final do sculo passado, surgiu a rea do conhecimento que se chamou de Ecologia. O

    termo foi proposto em 1866 pelo bilogo Haeckel, e deriva de duas palavras gregas: oikos, que quer dizer morada,e logos, que significa estudo. A Ecologia comeou como um novo ramo das Cincias Naturais, e seu estudo passaa sugerir novos campos do conhecimento como a ecologia humana e a economia ecolgica. Mas s na dcada de 1970o termo passa a ser conhecido do grande pblico. Com freqncia, porm, ele usado com outros sentidos e atcomo sinnimo de meio ambiente.2 Entende-se por ecossistema o conjunto de interaes desenvolvidas pelos componentes vivos (animais, vegetais,fungos, protozorios e bactrias) e no-vivos (gua, gases atmosfricos, sais minerais e radiao solar) de umdeterminado ambiente. SO PAULO (Estado), Secretaria do Meio Ambiente, 1992a.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    9/76

    175

    brasil, h poucos sculos. Foi estabelecida uma regulamentao para a extrao de algunstipos de madeira, que passaram a ser tratadas como madeiras de lei. Hoje, alm de serum dos maiores pases do mundo em extenso, o Brasil ainda possui inmeros recursosnaturais de fundamental importncia para todo o planeta: desde ecossistemas como asflorestas tropicais, o pantanal, o cerrado, os mangues e restingas, at uma grande parte dagua doce disponvel para o consumo humano. Dono de uma das maiores biodiversidades3

    do mundo, este pas tem ainda uma riqueza cultural vinda da interao entre os diversosgrupos tnicos americanos, africanos, europeus, asiticos etc. que traz contribuiessingulares para a relao sociedade/natureza. Parte desse patrimnio cultural consiste noconhecimento importantssimo, mas ainda pouco divulgado, dos ecossistemas locais: seufuncionamento, sua dinmica e seus recursos.

    preocupante, no entanto, a forma como os recursos naturais e culturais brasileirosvm sendo tratados. Poucos produtores conhecem ou do valor a esse conhecimento doambiente em que atuam. Muitas vezes, para utilizar um recurso natural, perde-se outro demaior valor, como tem sido o caso da formao de pastos em certas reas da Amaznia.

    Com freqncia, tambm, a extrao de um bem (minrios, por exemplo) traz lucrossomente para um pequeno grupo de pessoas, que muitas vezes no so habitantes da regioe levam a riqueza para longe e at para fora do pas. A falta de articulao entre aessistemticas de fiscalizao, legislao e implantao de programas especficos quecaracterizariam uma poltica ambiental adequada, alm da falta de valorizao por parte detodos, induz esses grupos a deixar essas reas devastadas, o que custar caro sade dapopulao e aos cofres pblicos.

    Alm disso, a degradao dos ambientes intensamente urbanizados nos quais seinsere a maior parte da populao brasileira tambm razo de ser deste tema. A fome, amisria, a injustia social, a violncia e a baixa qualidade de vida de grande parte dapopulao brasileira so fatores fortemente relacionados ao modelo de desenvolvimento esuas implicaes.

    Problemas como esse vm confirmar a hiptese, que j se levantava, da possibilidadede srios riscos em se manter um alto ritmo de ocupao, com invaso e destruio danatureza sem conhecimento das implicaes para a vida no planeta.

    Por volta da metade do sculo XX, ao conhecimento cientfico da Ecologia somou-se um movimento ambientalista voltado, no incio, principalmente para a preservao degrandes reas de ecossistemas intocados pelo ser humano, criando-se parques e reservas.Isso foi visto muitas vezes como uma preocupao potica de visionrios,uma vez quepregavam o afastamento do ser humano desses espaos, inviabilizando sua exploraoeconmica.

    3 A respeito do termo biodiversidade (bio = vida; diversidade = diferena), ver anexo III deste documento.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    10/76

    176

    Aps a Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir da dcada de 60,intensificou-se a percepo de a humanidade caminhar aceleradamente para o esgotamentoou a inviabilizao de recursos indispensveis sua prpria sobrevivncia. Assim sendo,algo deveria ser feito para alterar as formas de ocupao do planeta estabelecidaspelacultura dominante. Esse tipo de constatao gerou o movimento em defesa do ambiente,que luta para diminuir o acelerado ritmo de destruio dos recursos naturais ainda existentes

    e busca alternativas que conciliem, na prtica, a conservao da natureza com a qualidadede vida das populaes que dependem dessa natureza.

    Toda essa situao colocou em xeque a idia desenvolvimentista de que a qualidadede vida dependia unicamente do avano da cincia e da tecnologia. Todos os problemassociais e econmicos teriam, nessa viso, soluo com a otimizao da explorao dos recursosnaturais. Diante dos problemas que emergiram desse sistema surgiu a necessidade derepensar o conceito de desenvolvimento.

    Do confronto inevitvel entre o modelo de desenvolvimento econmico vigente que valoriza o aumento de riqueza em detrimento da conservao dos recursos naturais

    e a necessidade vital de conservao do meio ambiente, surge a discusso sobre comoviabilizar o crescimento econmico das naes, explorando os recursos naturais de formaracional, e no predatria. Estabelece-se, ento, uma discusso que est longe de chegar aum fim, a um consenso geral. Ser necessrio impor limites ao crescimento? Ser possvelo desenvolvimento sem o aumento da destruio? De que tipo de desenvolvimento sefala?

    A interdependncia mundial se d tambm sob o ponto de vista ecolgico: o que sefaz num local, num pas, pode afetar amplas regies e ultrapassar vrias fronteiras. o queacontece, por exemplo, com as armas atmicas. Se um pas resolve fazer um experimento

    atmico, o mundo todo sofre, em maior ou menor grau, as conseqncias dessa ao. Umdesastre numa usina nuclear atinge, num primeiro momento, apenas o que est maisprximo: pessoas, alimentos e todas as formas de vida. Num segundo momento, pelascorrentes de gua, pelos ventos e pelas teias alimentares, dentre outros processos, o desastrepode chegar a qualquer parte do mundo.

    Com a constatao da inevitvel interferncia que uma nao exerce sobre outra pormeio das aes relacionadas ao meio ambiente, a questo ambiental isto , o conjuntode temticas relativas no s proteo da vida selvagem no planeta, mas tambm melhoriado meio ambiente4 e da qualidade de vida das comunidades passa a compor a lista dostemas de relevncia internacional.

    Em todos os espaos, os recursos naturais e o prprio meio ambiente tornam-se umaprioridade, um dos componentes mais importantes para o planejamento poltico e econmicodos governos, passando ento a ser analisados em seu potencial econmico e vistos como

    4 A respeito da conceituao de Meio Ambiente, ver anexo III deste documento.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    11/76

    177

    fatores estratgicos. O desnvel econmico entre grupos sociais e pases exerce importantepresso sobre as polticas econmicas e ambientais em cada parte do mundo. Alm disso, opoderio dos grandes empreendimentos transnacionais torna os recursos naturais e o meioambiente capazes de influir fortemente nas decises ambientais que governos ecomunidades deveriam tomar, especialmente quando envolvem o uso dos recursos naturais.

    nesse contexto que se iniciam as grandes reunies mundiais sobre o tema5 . Aolado da chamada globalizao econmica, assiste-se globalizao dos problemasambientais. Instituiu-se, assim, um frum internacional em que os pases, apesar de suasimensas divergncias, se vem politicamente obrigados a se posicionar quanto a decisesambientais de alcance mundial, a negociar e a legislar, de forma que os direitos e os interessesde cada nao possam ser minimamente equacionados em funo do interesse maior dahumanidade e do planeta.

    A tica entre as naes e os povos passa ento a incorporar novas exigncias combase numa percepo de mundo em que as aes sejam consideradas em suas conseqnciasmais amplas, tanto no espao quanto no tempo. No s o crime ou a guerra que ameaa

    a vida, mas tambm a forma como se gera, se distribui e se usa a riqueza, a forma como setrata a natureza.

    De qualquer forma, fundamental a sociedade impor regras ao crescimento, explorao e distribuio dos recursos de modo a garantir a qualidade de vida daquelesque deles dependam e dos que vivem no espao do entorno em que so extrados ouprocessados. Portanto, deve-se cuidar, para que o uso econmico dos bens da Terra pelosseres humanos tenha carter de conservao, isto , que gere o menor impacto possvel erespeite as condies de mxima renovabilidade dos recursos. Nos documentos assinadospela grande maioria dos pases do mundo, incluindo-se o Brasil, fala-se em garantir o acessode todos aos bens econmicos e culturais necessrios ao desenvolvimento pessoal e a uma

    boa qualidade de vida, relacionando-o com o conceito de sustentabilidade6 .

    Sabe-se que o maior bem-estar das pessoas no diretamente proporcional maiorquantidade de bens consumidos. Entretanto, o atual modelo econmico estimula umconsumo crescente e irresponsvel condenando a vida na Terra a uma rpida destruio.Impe-se, assim, a necessidade de estabelecer um limite a esse consumo.

    5 A primeira conferncia internacional promovida pela Organizao das Naes Unidas (ONU) foi a de Estocolmo,em 1972. E a segunda foi no Rio de Janeiro, em 1992, a Rio/92.6 O debate em torno do conceito de desenvolvimento sustentvel, apresentado pelo Programa das Naes Unidaspara o Meio Ambiente (Pnuma) como sendo a melhoria da qualidade da vida humana dentro dos limites da capacidade

    de suporte dos ecossistemas, trouxe tona essa outra terminologia. Optou-se pelo termo sustentabilidade, poismuitos consideram a idia de desenvolvimento sustentvel ambgua, permitindo interpretaes contraditrias.Desenvolvimento uma noo associada modernizao das sociedades no interior do modelo industrial. Um dosaspectos mais relevantes para a compreenso da discusso diz respeito a uma caracterstica fundamental dessa idiade desenvolvimento: a busca da expanso constante e, de certo modo, ilimitada. Neste sentido, a necessidade degarantir o desenvolvimento sustentvel, consenso nos pactos internacionais, uma meta praticamente inatingvelnuma sociedade organizada sob este modelo de produo. Para maiores esclarecimentos sobre tais conceitos, veranexo III.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    12/76

    178

    De fato, o que se tem de questionar vai alm da simples ao de reciclar, reaproveitar,ou, ainda, reduzir o desperdcio de recursos, estratgias que no fogem, por si, da lgicadesenvolvimentista. preciso apontar para outras relaes sociais, outros modos de vida,ou seja, rediscutir os elementos que do embasamento a essa lgica.

    A forma de organizao das sociedades modernas constitui-se no maior problema

    para a busca da sustentabilidade (e esto embutidas aqui as profundas diferenas entrepases centrais e perifricos do mundo). A crise ecolgica a primeira grande crise planetriada histria da humanidade tem dimenso tal que, a despeito das dificuldades, e atimpossibilidade de promover o desenvolvimento sustentvel, essas sociedades se vemforadas a desenvolver pesquisas e efetivar aes, mesmo que em pequena escala, paragarantir minimamente a qualidade de vida no planeta. No interior dessas relaes mundiais,porm, somente aes atenuantes tm sido possveis, pois a garantia efetiva dasustentabilidade exige uma profunda transformao da sociedade (e do sistema econmicodo capitalismo industrial), substituindo radicalmente os modelos de produo dasubsistncia, do saber, de desenvolvimento tecnolgico e da distribuio dos bens.

    Sustentabilidade, assim, implica o uso dos recursos renovveis de formaqualitativamente adequada e em quantidades compatveis com sua capacidade derenovao, em solues economicamente viveis de suprimento das necessidades, almde relaes sociais que permitam qualidade adequada de vida para todos.

    A prpria perspectiva das necessidades do mercado mundial dificultam muitasiniciativas nesse sentido. Um bom exemplo disso vem da II Conferncia das Naes Unidassobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento a Rio/92 que estabeleceu uma srie dediretrizes para um mundo ambientalmente mais saudvel, incluindo metas e aes concretas.Entre outros documentos, aprovou-se a Agenda 21, que rene propostas de ao para os

    pases e os povos em geral, bem como estratgias para que essas aes possam ser cumpridas.Os pases da Amrica Latina e do Caribe apresentaram a Nossa Agenda, com suasprioridades. E os governos locais apresentaram a Agenda Local.

    Apesar da extrema importncia desses documentos, ainda no foi posta em prticaboa parte dessas diretrizes e metas, principalmente as de grande escala, pois a competiono mercado internacional no permite.

    Crise ambiental ou crise civilizatria?

    Para uns, a maior parte dos problemas atuais pode ser resolvida pela comunidadecientfica, pois confiam na capacidade de a humanidade produzir novas solues tecnolgicase econmicas a cada etapa, em resposta aos problemas que surgem, permanecendobasicamente no mesmo paradigma civilizatrio dos ltimos sculos.

    Para outros, a questo ambiental representa quase uma sntese dos impasses que o

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    13/76

    179

    atual modelo de civilizao acarreta, pois consideram o que se assiste no final do sculoXX, no s como crise ambiental, mas civilizatria, e que a superao dos problemas exigirmudanas profundas na concepo de mundo, de natureza, de poder, de bem-estar, tendopor base novos valores. Faz parte dessa nova viso de mundo a percepo de que o serhumano no o centro da natureza, e deveria se comportar no como seu dono mas,percebendo-se como parte dela, e resgatar a noo de sua sacralidade, respeitada e celebrada

    por diversas culturas tradicionais antigas e contemporneas.

    Porm, a maioria reconhece que a forma clssica para estudar a realidade,subdividindo-a em aspectos a serem analisados isoladamente por diferentes reas doconhecimento, no suficiente para a compreenso dos fenmenos ambientais.

    Algumas das idias fundamentais para a estruturao do conhecimento a partir daIdade Moderna desvinculam-no de ideais tico-filosficos, afirmando e buscando aobjetividade cientfica. Com isso os seres vivos e os elementos da natureza foram destitudosde qualquer outro tipo de valor mstico que podem ter tido em diversos momentos dahistria e em vrias culturas. Tal concepo se estruturou dessa forma no contexto de

    possibilidades e necessidades criadas no interior de um novo ordenamento da produoeconmica e organizao poltica da sociedade. Assim, acabou contribuindo para legitimara manipulao irrestrita da natureza, uma das premissas dessas novas relaes de produo:desvendar os segredos dessa natureza significava tambm poder construir novas mquinaspara aumentar a produo. Esse novo poder que o saber adquiria advinha do fato depossibilitar o ritmo de utilizao dos objetos e do prprio conhecimento necessrios moderna organizao social do trabalho que ento se estruturava. Afinal, formava-se umextenso mercado consumidor...

    Sem os estudos emprico-experimentais, fundamentais para a construo do

    conhecimento cientfico, certamente no seria possvel todo o saber que a civilizaoocidental acumulou. No entanto, boa parte do desenvolvimento cientfico, que se evidencianos progressos tecnolgicos do sculo XX, est ligado a essa razo instrumental centradana preocupao de desvendar, intervir, operar, servindo de suporte ao crescimentoeconmico, transcendendo, inclusive, a intencionalidade do cientista, em sua aoindividual. Portanto, est inserido nas regras do mercado, na lgica desenvolvimentista epouco preocupado com aspectos finalistas da vida humana.

    Hoje, percebendo os limites e impasses dessa concepo est claro que acomplexidade da natureza e da interao sociedade/natureza exigem um trabalho queexplicite a correlao entre os diversos componentes. Na verdade, at a estrutura e o sentidode ser desses componentes parecem ser diferentes, quando estudados sob a tica dessasinteraes. preciso encontrar uma outra forma de adquirir conhecimentos que possibiliteenxergar o objeto de estudo com seus vnculos e tambm com os contextos fsico, biolgico,histrico, social e poltico, apontando para a superao dos problemas ambientais.

    Entretanto, a busca dessa abordagem no tem sido fcil, nem isenta de contradies.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    14/76

    180

    Mesmo a Ecologia, que em sua origem tinha como objeto de estudo os componentes degrandes sistemas, tendo em vista a compreenso de sua dinmica, foi adquirindo significadosvariados, nas ltimas dcadas, para diferentes grupos em diferentes contextos. Para alguns,trata-se de estudos mais tcnico-cientficos de sistemas biolgicos ou de sistemassociais. Para outros, a concepo de Ecologia inclui a atuao concreta na gesto eparticipao efetiva nas solues dos problemas ambientais, num compromisso com a

    manuteno do equilbrio de diversos ecossistemas e em aes coerentes com essas idias.Esta ltima est mais associada ao movimento ambientalista.

    Tantos outros problemas de ordem de concepo, de ideologias, de modos de vida ede valores, ligados aos impasses concretos e materiais deste nosso final de sculo se impem humanidade. Salienta-se a necessidade de trabalhar tambm os aspectos subjetivos dasinteraes individuais e coletivas. A problemtica ambiental exige mudanas decomportamentos, de discusso e construo de formas de pensar e agir na relao com anatureza. Isso torna fundamental uma reflexo mais abrangente sobre o processo deaprendizagem daquilo que se sabe ser importante, mas que no se consegue compreender

    suficientemente s com lgica intelectual. Hoje essa necessidade clara. Vm da asteorias das inteligncias mltiplas, e tantas outras que, entretanto, acabam notranscendendo os velhos parmetros de validao de saberes hegemnicos na civilizaoocidental. Entre os grandes anseios atuais est a busca de uma forma de conhecimentoque inclua energias, afetividade etc., que se traduzem nos espaos cultos como procurade novos paradigmas.

    a necessidade de validar a procura de novas explicaes e sadas que faz emergirnovas possibilidades por intermdio de conceitos filosficos, como o holismo, ousimplesmente, do apego a idias religiosas.

    Assim, a questo ambiental impe s sociedades a busca de novas formas de pensare agir, individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produo de bens,para suprir necessidades humanas, e relaes sociais que no perpetuem tantasdesigualdades e excluso social, e, ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidadeecolgica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educao tem um importantepapel a desempenhar.

    A educao como elemento indispensvelpara a transformao da conscincia

    ambientalUma das principais concluses e proposies assumidas em reunies internacionais

    a recomendao de investir numa mudana de mentalidade, conscientizando os gruposhumanos da necessidade de adotar novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemase das constataes feitas nessas reunies.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    15/76

    181

    Por ocasio da Conferncia Internacional Rio/92, cidados representando instituiesde mais de 170 pases assinaram tratados nos quais se reconhece o papel central da educaopara a construo de um mundo socialmente justo e ecologicamente equilibrado, o querequer responsabilidade individual e coletiva em nveis local, nacional e planetrio. E isso o que se espera da Educao Ambiental no Brasil, assumida como obrigao nacionalpela Constituio promulgada em 1988.

    Todas as recomendaes, decises e tratados internacionais sobre o tema7 evidenciama importncia atribuda por lideranas de todo o mundo para a Educao Ambiental comomeio indispensvel para conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentveis deinterao sociedade/natureza e solues para os problemas ambientais. Evidentemente, aeducao sozinha no suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente condio necessria para isso.

    Nesse contexto fica evidente a importncia de educar os brasileiros para que ajamde modo responsvel e com sensibilidade, conservando o ambiente saudvel no presentee para o futuro; saibam exigir e respeitar os direitos prprios e os de toda a comunidade,

    tanto local como internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quantonas suas relaes com o ambiente.

    A preocupao em relacionar a educao com a vida do aluno seu meio, suacomunidade no novidade. Ela vem crescendo especialmente desde a dcada de 60no Brasil. Exemplo disso so atividades como os estudos do meio. Porm, a partir dadcada de 70, com o crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotarexplicitamente a expresso Educao Ambiental para qualificar iniciativas deuniversidades, escolas, instituies governamentais e no-governamentais por meio dasquais se busca conscientizar setores da sociedade para as questes ambientais. Um

    importante passo foi dado com a Constituio de 1988, quando a Educao Ambiental setornou exigncia a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais (artigo 225, 1o, VI)8 .

    Neste final de sculo, de acordo com o depoimento de vrios especialistas que vmparticipando de encontros nacionais e internacionais, o Brasil considerado um dos pasescom maior variedade de experincias em Educao Ambiental, com iniciativas originaisque, muitas vezes, se associam a intervenes na realidade local. Portanto, qualquer polticanacional, regional ou local que se estabelea deve levar em considerao essa riqueza deexperincias, investir nela, e no inibi-la ou descaracterizar sua diversidade9 .

    7 Ver anexo I.8 At meados da dcada de 90 no havia sido definida completamente uma poltica nacional de Educao Ambiental.As caractersticas e as responsabilidades do poder pblico e dos cidados com relao Educao Ambiental fixaram-se por lei no Congresso Nacional. Cabe ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) definir os objetivos, asestratgias e os meios para a efetivao de uma poltica de Educao Ambiental no pas.9 Para conhecer mais, ver bibliografia.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    16/76

    182

    necessrio ainda ressaltar que, embora recomendada por todas as confernciasinternacionais, exigida pela Constituio e declarada como prioritria por todas as instnciasde poder, a Educao Ambiental est longe de ser uma atividade tranqilamente aceita edesenvolvida, porque ela implica mobilizao por melhorias profundas do ambiente, enada incuas. Ao contrrio, quando bem realizada, a Educao Ambiental leva a mudanasde comportamento pessoal e a atitudes e valores de cidadania que podem ter importantes

    conseqncias sociais.

    O debate internacional de concepes e prticas em Educao Ambiental resultouna elaborao do Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis eResponsabilidade Global, de carter no-oficial, durante o Frum das Organizaes No-Governamentais (ONGs), na Rio/92. Nele, foram delineados princpios e diretrizes geraispara o desenvolvimento de trabalhos com a temtica Meio Ambiente. Faz parte desseconjunto a idia de que no se trata de ensinar de forma acrtica os conceitos da cincia daecologia ou simplesmente reduzir a Educao Ambiental a uma viso esotrico-existencial.Essa dualidade constitui uma extrema simplificao. Trata-se ento de desenvolver o

    processo educativo, contemplando tanto o conhecimento cientfico como os aspectossubjetivos da vida, que incluem as representaes sociais, assim como o imaginrio acercada natureza e da relao do ser humano com ela. Isso significa trabalhar os vnculos deidentidade com o entorno socioambiental. S quando se inclui tambm a sensibilidade, aemoo, sentimentos e energias se obtm mudanas significativas de comportamento. Nessaconcepo, a educao ambiental algo essencialmente oposto ao adestramento ou simplestransmisso de conhecimentos cientficos, constituindo-se num espao de troca dessesconhecimentos, de experincias, de sentimentos e energia. preciso ento lidar com algoque nem sempre fcil, na escola: o prazer. Entre outras coisas, o envolvimento e asrelaes de poder entre os atores do processo educativo so modificados.

    Alguns pontos polmicos no debate ambiental

    O debate dos problemas ambientais nos diferentes meios e, em especial, nos meiosde comunicao, tem levado, em muitos casos, formao de alguns preconceitos e veiculao de algumas imagens distorcidas sobre as questes relativas ao meio ambiente.s vezes isso ocorre por falta de conhecimento, o que se justifica diante da novidade datemtica. Mas, outras vezes, essas distores visam a minimizar os problemas e/ou banalizarprincpios e valores ambientais, assim como depreciar os movimentos ambientalistas demaneira geral.

    Alguns desses preconceitos, ou falsos dilemas, sero discutidos a seguir.

    A questo ecolgica ou ambiental deve se restringir preservao dos ambientes naturais intocados e ao combate da

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    17/76

    183

    poluio; as demais questes envolvendo saneamento,sade, cultura, decises sobre polticas de energia, detransportes, de educao, ou de desenvolvimento soextrapolaes que no devem ser da alada dos ambientalistas.

    Com relao a isso, deve-se considerar que, como a realidade funciona de um modo

    complexo em que todos os fatores interagem, o ambiente deve ser compreendido comtodos os seus inmeros problemas. Tratar a questo ambiental, portanto, abrange acomplexidade das intervenes: a ao na esfera pblica s se consolida atuando no sistemacomo um todo, sendo afetada e afetando todos os setores, como educao, sade,saneamento, transportes, obras, alimentao, agricultura etc.

    Os que defendem o meio ambiente so pessoas radicais eprivilegiadas, no necessitam trabalhar para sobreviver,mantm-se alienadas da realidade das exigncias impostas pelanecessidade de desenvolvimento; defendem posies que sperturbam quem realmente produz e deseja levar o pas paraum nvel melhor de desenvolvimento.

    Atualmente grande parte dos ambientalistas concorda com a necessidade de seconstruir uma sociedade mais sustentvel, socialmente justa e ecologicamente equilibrada.Isso significa que defender a qualidade do meio ambiente, hoje, preocupar-se com amelhoria das condies econmicas, especialmente da grande maioria da populao mundialque, de acordo com dados da ONU, se encontra em situao de pobreza ou misria. Ocrescimento econmico deve ser tambm subordinado a uma explorao racional eresponsvel dos recursos naturais, de forma a no inviabilizar a vida das geraes futuras.Todo cidado tem o direito a viver num ambiente saudvel e agradvel, respirar ar puro,beber gua potvel, passear em lugares com paisagens notveis, apreciar monumentosnaturais e culturais etc. Defender esses direitos um dever de cidadania, e no uma questode privilgio.

    um luxo e um despropsito defender, por exemplo, animaisameaados de extino, enquanto milhares de crianas morremde fome ou de diarria na periferia das grandes cidades, noNorte ou no Nordeste.

    Se para salvar crianas da fome e da morte bastasse deixar que se extinguissemalgumas espcies, estaria criado um dilema. Mas, como isso no verdade, trata-se, ento,de um falso dilema. A situao das crianas no Brasil no compete com a situao de qualquerespcie ameaada de extino. O problema da desnutrio e da misria no tem, de formaalguma, sua importncia diminuda por haver preocupaes com as espcies em extino.A falta de condio de vida adequada que vitima inmeras crianas no Brasil um problema

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    18/76

    184

    gravssimo e deve receber tratamento prioritrio nas aes governamentais, sem dvida.Como esse, existem muitos outros problemas com os quais se deve lidar, e a existncia de

    um problema (como a misria) no anula a existncia de outro (como a extino de espcies),tampouco justifica a omisso diante de qualquer um deles.

    As pessoas que sofrem privaes econmicas so as maiores vtimas da mesma lgica

    que condena os animais extino e que condenar cada vez mais as crianas das prximasgeraes: a lgica da acumulao da riqueza a qualquer custo, com explorao irrestrita danatureza e o desrespeito ao prprio ser humano. Cada espcie extinta uma perda paratoda a sociedade presente e futura. Uma espcie ameaada sinal de alerta para uma

    situao geral muito mais ampla, de grande perigo para todo um sistema do qual dependemos seres vivos.

    Quem trabalha com questes relativas ao meio ambiente pensa

    de modo romntico, ingnuo, acredita que a natureza humana

    intrinsecamente boa e no percebe que antes de tudo vema dura realidade das necessidades econmicas. Afinal, a piorpoluio a pobreza, e para haver progresso normal algo serdestrudo ou poludo.

    Os seres humanos no so intrinsecamente bons nem maus, mas so capazes

    tanto de grandes gestos construtivos e de generosidade quanto de egosmo e de destruio.No entanto, a sociedade humana s vivel quando o comportamento das pessoas sebaseia na tica. Sem ela, no possvel a convivncia. E, sem convivncia, sem vida em

    comum, no h possibilidade de existncia de qualquer sociedade humana, muito menosde uma sociedade saudvel. Um grande equvoco seria associar qualidade de vida somentecom riqueza material. A qualidade de vida est diretamente vinculada qualidade da gua

    que se bebe, do ar que se respira, dos alimentos que se consome e da sade que se obtmpor meio desse conjunto. Sem isso, de nada adiantar toda a riqueza.

    Sabe-se que a formao de um mercado mundial instituiu relaes que induziram deteriorao do ambiente e seria ingenuidade ignorar essa dimenso do problema. Noentanto, a dura realidade econmica no justifica a destruio e a poluio, quando se sabe

    que h processos de produo mais adequados. Tambm no se justifica que, para poucos

    acumularem mais riquezas, muitos tenham de se submeter destruio, ao dano sade e pobreza. De fato, poluio no implica progresso: antes, na maior parte das vezes, sinal

    de ignorncia, ou egosmo e descaso, bastante caractersticos daqueles que, apesar depossurem conhecimento e conscincia das implicaes das sua atividades produtoras,continuam poluindo. H que se considerar a questo ecolgica-econmica-social como um

    problema a ser equacionado pela sociedade moderna.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    19/76

    185

    Idealiza-se a natureza, quando se fala da harmonia danatureza. Como se pode falar em harmonia, se na naturezaos animais se atacam violentamente e se devoram? Queharmonia essa?

    Todo crescimento em princpio exige um movimento de energia, portanto um relativodesequilbrio, que se resolve em um novo estado de equilbrio provisrio. Quando se falana harmonia da natureza, a referncia a esse equilbrio dinmico. O impulso desobrevivncia que leva um animal a matar outro faz parte dessa dinmica da natureza. Osanimais matam para se defender ou para se alimentar. Matar e morrer, aqui, soconseqncias de disputas entre formas de vida, em que cada uma desempenha seu papele para a qual tudo importante, inclusive a morte. J a devastao e a explorao desenfreadaque comprometem a existncia de diversidade gentica e ameaam de extino espciesinteiras geram grande desequilbrio. Aqui, a morte nem sempre est associada diretamente sobrevivncia dos seres humanos, servindo, muitas vezes, ao suprimento de necessidades

    criadas por um modo de vida pautado pelo consumismo.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    20/76

    186

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    21/76

    187

    ENSINAR E APRENDER EM EDUCAOAMBIENTAL

    A principal funo do trabalho com o tema Meio Ambiente contribuir para aformao de cidados conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental deum modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local eglobal. Para isso necessrio que, mais do que informaes e conceitos, a escola se proponhaa trabalhar com atitudes, com formao de valores, com o ensino e aprendizagem deprocedimentos. E esse um grande desafio para a educao. Gestos de solidariedade,hbitos de higiene pessoal e dos diversos ambientes, participao em pequenas negociaesso exemplos de aprendizagem que podem ocorrer na escola.

    Assim, a grande tarefa da escola proporcionar um ambiente escolar saudvel ecoerente com aquilo que ela pretende que seus alunos apreendam, para que possa, de fato,contribuir para a formao da identidade como cidados conscientes de suas

    responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes de proteo e melhoria emrelao a ele.

    Por outro lado, cabe escola tambm garantir situaes em que os alunos possampr em prtica sua capacidade de atuao. O fornecimento das informaes, a explicitaoe discusso das regras e normas da escola, a promoo de atividades que possibilitem umaparticipao concreta dos alunos, desde a definio do objetivo, dos caminhos a seguir paraatingi-los, da opo pelos materiais didticos a serem usados, dentro das possibilidades daescola, so condies para a construo de um ambiente democrtico e para odesenvolvimento da capacidade de interveno na realidade.

    Entretanto, no se pode esquecer que a escola no o nico agente educativo e queos padres de comportamento da famlia e as informaes veiculadas pela mdia exercemespecial influncia sobre os adolescentes e jovens.

    No que se refere rea ambiental, h muitas informaes, valores e procedimentosaprendidos pelo que se faz e se diz em casa. Esses conhecimentos podero ser trazidos edebatidos nos trabalhos da escola, para que se estabeleam as relaes entre esses doisuniversos no reconhecimento dos valores expressos por comportamentos, tcnicas,manifestaes artsticas e culturais.

    Alm disso, o rdio, a TV e a imprensa constituem uma fonte de informaes sobre

    o Meio Ambiente para a maioria das pessoas, sendo, portanto, inegvel sua importncia nodesencadeamento dos debates que podem gerar transformaes e solues efetivas dosproblemas locais. No entanto, muitas vezes, as questes ambientais so abordadas de formasuperficial ou equivocada pelos diferentes meios de comunicao. Notcias de TV e derdio, de jornais e revistas, programas especiais tratando de questes relacionadas ao meioambiente tm sido cada vez mais freqentes. Paralelamente, existe o discurso veiculado

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    22/76

    188

    pelos mesmos meios de comunicao quando propem uma idia de desenvolvimentoque no raro entra em conflito com a idia de respeito ao meio ambiente. So propostos eestimulados por meio do incentivo ao consumismo, desperdcio, violncia, egosmo,desrespeito, preconceito, irresponsabilidade e tantas outras atitudes questionveis dentrode uma perspectiva de melhoria de qualidade de vida. Por isso, imprescindvel oseducadores relativizarem essas mensagens, ao mostrar que elas traduzem um

    posicionamento diante da realidade e que possvel haver outros.

    Desenvolver essa postura crtica muito importante para os alunos, pois isso lhespermite reavaliar essas mesmas informaes, percebendo os vrios determinantes da leitura,os valores a elas associados e aqueles trazidos de casa. Isso os ajuda a agir com viso maisampla e, portanto, mais segura ante a realidade que vivem. Para tanto, os professoresprecisam conhecer o assunto e buscar com os alunos mais informaes, enquantodesenvolvem suas atividades: pesquisando em livros e levantando dados, conversando comos colegas das outras disciplinas, ou convidando pessoas da comunidade (professoresespecializados, tcnicos de governo, lideranas, mdicos, agrnomos, moradores tradicionaisque conhecem a histria do lugar etc.) para fornecer informaes, dar pequenas entrevistas

    ou participar das aulas na escola. Ou melhor, deve-se recorrer s mais diversas fontes: doslivros, tradicionalmente utilizados, at a histria oral dos habitantes da regio10 . Essaheterogeneidade de fontes importante at como medida de checagem da preciso dasinformaes, mostrando ainda a diversidade de interpretaes dos fatos.

    Temas da atualidade, em contnuo desenvolvimento, exigem uma permanenteatualizao; e faz-lo junto com os alunos uma excelente oportunidade para que elesvivenciem o desenvolvimento de procedimentos elementares de pesquisa e construam,na prtica, formas de sistematizao da informao, medidas, consideraes quantitativas,apresentao e discusso de resultados etc. O papel dos professores como orientadores

    desse processo de fundamental importncia.Essa vivncia permite aos alunos perceber que a construo e a produo dos

    conhecimentos so contnuas e que, para entender as questes ambientais, h necessidadede atualizao constante.

    Como esse campo temtico relativamente novo no ambiente escolar, os professorespodem priorizar sua prpria formao/informao medida que as necessidades seconfigurem. Pesquisar sozinho ou junto com os alunos, aprofundar seu conhecimento comrelao temtica ambiental ser necessrio aos professores, por, pelo menos, trs motivos:

    para t-lo disponvel ao abordar assuntos gerais ou especficosde cada disciplina, vendo-os no s do modo analticotradicional, parte por parte, mas nas inter-relaes com outrasreas, compondo um todo mais amplo;

    10 Muitas vezes possvel encontrar informaes valiosas em documentos oficiais. O anexo III deste documento um exemplo de fonte de informao.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    23/76

    189

    para ter maior facilidade em identificar e discutir os aspectosticos (valores e atitudes envolvidos) e apreciar os estticos(percepo e reconhecimento do que agrada viso, audio,ao paladar, ao tato; de harmonias, simetrias e outros) presentesnos objetos ou paisagens observadas, nas formas de expressocultural etc.

    para obter novas informaes sobre a dimenso local doambiente, j que h transformaes constantes seja qual for adimenso ou amplitude. Isso pode ser de extrema valia, se,associado a informaes de outras localidades, puder comporinformaes mais globais sobre a regio.

    O acesso a novas informaes permite repensar a prtica. nesse fazer e refazer que possvel enxergar a riqueza de informaes, conhecimentos e situaes de aprendizagem

    geradas por iniciativa dos prprios professores. Afinal, eles tambm esto em processo deconstruo de saberes e de aes no ambiente, como qualquer cidado. Sistematizar eproblematizar suas vivncias, e prticas, luz de novas informaes contribui para oreconhecimento da importncia do trabalho de cada um, permitindo assim a construo deum projeto consciente de educao ambiental.

    Ou seja, as atividades de educao ambiental dos professores so aqui consideradasno mbito do aprimoramento de sua cidadania, e no como algo indito de que eles aindano estejam participando. Afinal, a prpria insero do indivduo na sociedade implicaalgum tipo de participao, de direitos e deveres com relao ao ambiente.

    Reconhece-se aqui a necessidade de capacitao permanente do quadro deprofessores, da melhoria das condies salariais e de trabalho, assim como a elaborao edivulgao de materiais de apoio. Sem essas medidas, a qualidade desejada fica apenas nocampo das intenes.

    Da mesma forma, a estrutura da escola, a ao dos outros integrantes do espaoescolar devem contribuir na construo das condies necessrias desejada formaomais atuante e participativa do cidado.

    As esferas global e localA perspectiva ambiental deve remeter os alunos reflexo sobre os problemas que

    afetam a sua vida, a de sua comunidade, a de seu pas e a do planeta. Para que essasinformaes os sensibilizem e provoquem o incio de um processo de mudana decomportamento, preciso que o aprendizado seja significativo, isto , os alunos possam

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    24/76

    190

    estabelecer ligaes entre o que aprendem e a sua realidade cotidiana, e o que j co-nhecem.

    Nesse sentido, o ensino deve ser organizado de forma a proporcionar oportunidadespara que os alunos possam utilizar o conhecimento sobre Meio Ambiente para compreendera sua realidade e atuar nela, por meio do exerccio da participao em diferentes instncias:

    nas atividades dentro da prpria escola e nos movimentos da comunidade. essencialresgatar os vnculos individuais e coletivos com o espao em que os alunos vivem para quese construam essas iniciativas, essa mobilizao e envolvimento para solucionar problemas.

    possvel promover o desenvolvimento da sensibilidade, chamando a ateno paraas inmeras solues simples e engenhosas que as formas de vida encontram para sobreviver,inclusive para seus aspectos estticos, provocando um pouco o lado da curiosidade quetodos tm; observando e valorizando as iniciativas dos alunos de interagir de modo criativoe construtivo com os elementos do meio ambiente. Isso acontece quando, por exemplo, osalunos descobrem sons nos objetos do ambiente, expressam sua emoo por meio da pintura,

    poesia, ou fabricam brinquedos com sucata, observam e interferem no caminho das formigas,descobrem marcos de paisagem entre a casa e a escola, ou ainda utilizam/inventam receitaspara aproveitamento de sobras de alimentos.

    Alm disso, os professores podem ensinar os alunos a valorizar produes de seuscolegas e respeit-los em sua criao, suas peculiaridades de qualquer natureza (fsica ouintelectual), suas razes culturais, tnicas ou religiosas.

    Grande parte dos assuntos significativos para os alunos relativa realidade maisprxima, ou seja, sua comunidade, sua regio. Por ser um universo acessvel e familiar, alocalidade pode ser um campo de prticas, nas quais o conhecimento adquire significado,

    o que essencial para o exerccio da participao. No entanto, por mais localizadas quesejam, as questes ambientais dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse de todoo planeta.

    Para que os alunos possam compreender a complexidade e a amplitude das questesambientais, fundamental oferecer-lhes a maior diversidade possvel de experincias, econtato com diferentes realidades.

    Assim, relevante os professores levarem em conta a importncia tanto de trabalharcom a realidade imediata dos alunos como de valorizar e incentivar o interesse pelo que atranscende, amplia e at mesmo pode explic-la, num contexto mais amplo, como o mercadomundial.

    Alm do mais, no necessrio os alunos conhecerem primeiro aquilo que est emsua realidade mais prxima, e depois o que est alm dela. O desastre de uma usina nucleardo outro lado do mundo, os encantos das ilhas de corais em mares distantes e outras questescomo essas podem ser de interesse para o trabalho na sala de aula.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    25/76

    191

    Em geral, os alunos demonstram curiosidade e vontade de conhecer mais sobre, porexemplo, os costumes do povo esquim ou a existncia de dinossauros no perodo pr-histrico, ou, ainda, o buraco na camada de oznio e o aquecimento do planeta; na verdade,em todas as idades pode-se perceber o interesse, a curiosidade por aquilo que no pertence realidade imediata. Por meio dessas informaes, os alunos podem ampliar seu universode conhecimentos e formar a noo de quo amplo esse universo. Isso evidencia tambm

    a dimenso planetria que ganhou a questo ambiental, na sociedade moderna. Os veculosde comunicao de massa tm papel decisivo para mostrar essa dimenso.

    Na escala local esses problemas ganham significado prtico para os alunos, e a seleodos contedos deve considerar esse fato. Aspectos regionais de relevncia devem serdiscutidos com profundidade, pois assim eles podero, participando de momentos de trocasde conhecimentos e se envolvendo diretamente com aspectos da realidade local e com aconstruo coletiva de projetos atribuir-se o papel de participante e co-responsvel. Essavivncia possibilitar o afloramento de pontos de vista coincidentes e divergentes,desvendando afinidades e permitindo o debate e o aprendizado do dilogo.

    Independentemente da abrangncia com que se abordaro as questes, local ouglobal, preciso reforar a existncia de alternativas ambientalmente equilibradas,saudveis, diversificadas e desejveis, diante do degradado ou poludo, para que aconstatao de algum mal no seja seguida de desnimo ou desmobilizao, mas dapotencializao das pequenas e importantes contribuies que a escola (entendida comodocentes, alunos e comunidade) pode dar para tornar o ambiente cada vez melhor e osalunos cada vez mais comprometidos com a vida, a natureza, a melhoria dos ambientescom os quais convivem.

    A relao entre a comunidade e a escola

    De modo geral, o trabalho com esse tema transversal pode, dependendo de como tratado, se constituir num espao revigorador da vida escolar, da prtica pedaggica. Elepode reavivar o debate entre alunos de vrias idades e classes, entre toda a comunidadeescolar, entre escola e bairro e ainda entre instncias maiores da administrao pblica.

    desejvel a comunidade escolar refletir conjuntamente sobre o trabalho com otema Meio Ambiente, sobre os objetivos que se pretende atingir e sobre as formas de

    conseguir isso, esclarecendo o papel de cada um nessa tarefa. O convvio escolar decisivona aprendizagem de valores sociais e o ambiente escolar o espao de atuao mais imediatopara os alunos. Assim, preciso salientar a sua importncia nesse trabalho.

    Para que esses trabalhos possam atingir essa amplitude, necessrio que toda acomunidade escolar (professores, funcionrios, alunos e pais) assuma esses objetivos, poiseles se concretizaro em diversas aes que envolvero todos, cada um na sua funo.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    26/76

    192

    Esse um ponto muito importante e delicado. J se observaram trabalhos tidoscomo ambientais na escola, em que houve, de fato, um movimento contrrio: as questesambientais foram tratadas de maneira assptica, fragmentada, que, como todo o saber tratadodessa maneira, se cristaliza, no servindo mais como referncia para soluo de problemasambientais, mas apenas como um conceito a mais, eventualmente servindo para embasaroutros saberes desse tipo. restringir a limites muito estreitos, por exemplo, definir

    corretamente o lixo, sem estabelecer relao com a situao real de limpeza da escola, dobairro, de estado, ou ainda, com o contexto concreto das relaes sociais que engendrarama problemtica do lixo.

    Outro ponto importante a ser considerado a relao da escola com o ambiente emque est inserida. Por ser uma instituio social que exerce interveno na realidade, eladeve estar conectada com as questes mais amplas da sociedade, e com os movimentosamplos de defesa da qualidade do ambiente, incorporando-os s suas prticas, relacionando-os aos seus objetivos. tambm desejvel a sada dos alunos para passeios e visitas a locaisde interesse dos trabalhos em Educao Ambiental. Assim, importante que se faa umlevantamento de locais como parques, empresas, unidades de conservao, servios pblicos,

    lugares histricos e centros culturais, e se estabelea um contato para fins educativos.

    Porm, nem sempre possvel sair da escola ou pedir que os alunos o faam,principalmente no incio do terceiro ciclo. Assim, importante promover situaes nointerior da escola que promovam a articulao com os problemas locais, e, se possvel,estimular a participao de pessoas da comunidade ou de outras instituies nessas situaes.

    O trabalho desenvolvido pelas universidades, organizaes governamentais e nogovernamentais na rea ambiental um valioso instrumento para o ensino e a aprendizagemdo tema Meio Ambiente. A relao com as instituies prximas escola pode resultar emsimples colaborao, ou em significativas parcerias para a execuo de aes conjuntas.

    Para os terceiro e quarto ciclos, esse pode ser um outro espao privilegiado para a articulaoe a construo do coletivo do grupo envolvido.

    Essa dinmica de trocas permite a ampliao da construo de conhecimentos naescola, assim como de solues para a comunidade. Um exemplo de trabalho iniciadodentro dela, que desencadeou uma ao na comunidade, o de um bairro perifrico deuma cidade brasileira, onde os alunos comearam a levar para suas mes propostas e receitasde aproveitamento de folhas, talos e cascas habitualmente jogados fora. Houve disseminaodessa idia no bairro, para satisfao das famlias com a economia resultante e a melhoriana qualidade alimentar dos alunos. Assim tambm, h inmeras outras experincias, como

    hortas comunitrias, viveiros de mudas, escolas de artesanatos e pesca, agricultura orgnica,que comearam no espao escolar.

    O tema Meio Ambiente pode ser mais amplamente trabalhado, quanto mais sediversificarem e intensificarem a pesquisa de conhecimentos e a construo do caminhocoletivo de trabalho, se possvel, com interaes diversas dentro da escola e desta comoutros setores da sociedade.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    27/76

    193

    Superar a fragmentao do sabernas situaes de ensino

    Nos terceiro e quarto ciclos, grande a dificuldade de obter uma viso mais globalda realidade, uma vez que geralmente o conhecimento apresentado para os alunos deforma fragmentada pelas disciplinas que compem a grade curricular. Entretanto, aformulao do projeto educacional da escola, por meio da discusso, deciso eencaminhamentos conjuntos, com atribuio de responsabilidades, possibilita superar ofracionamento do saber: as divergncias de interesses, as vrias formaes profissionais eas diferentes escalas de valores, por terem que se articular na efetivao de um projetopedaggico, podem contribuir para a construo desse espao coletivo. Alm disso, viabiliza-se o dilogo entre docentes, e a atuao conjunta (professores entre si, professores comalunos e com a comunidade), em que ser possvel a construo de atitudes e valores.Atividades como a realizao de excurses, criao de viveiros de muda e hortascomunitrias, participao em debates etc., possibilitam um trabalho mais integrado, com

    maior envolvimento dos alunos, e a participao no espao social mais amplo, no que serefere soluo dos problemas ambientais.

    Para que os alunos construam a viso da globalidade das questes ambientais necessrio que cada profissional de ensino, mesmo especialista em determinada rea doconhecimento, seja um dos agentes da interdisciplinaridade que o tema exige. A riquezado trabalho ser maior se os professores de todas as disciplinas discutirem e, apesar de todoo tipo de dificuldades, encontrarem elos para desenvolver um trabalho conjunto. Essainterdisciplinaridade pode ser buscada por meio de uma estruturao institucional da escola,ou da organizao curricular, mas requer, necessariamente, a procura da superao da visofragmentada do conhecimento pelos professores especialistas.

    A necessidade de transversalizaodo tema nas reas

    Nos Parmetros Curriculares Nacionais os contedos de Meio Ambiente foramintegrados s reas, numa relao de transversalidade, de modo que impregne toda a prticaeducativa e, ao mesmo tempo, crie uma viso global e abrangente da questo ambiental,visualizando os aspectos fsicos e histrico-sociais, assim como as articulaes entre a escala

    local e planetria desses problemas.Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformao dos conceitos, a

    explicitao de valores e a incluso de procedimentos, sempre vinculados realidadecotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidados mais participantes. Cada professor,dentro da especificidade de sua rea, deve adequar o tratamento dos contedos paracontemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas Transversais. Essa

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    28/76

    194

    adequao pressupe um compromisso com as relaes interpessoais no mbito da escola,para haver explicitao dos valores que se quer transmitir e coerncia entre estes e osexperimentados na vivncia escolar, buscando desenvolver a capacidade de todos paraintervir na realidade e transform-la, tendo essa capacidade relao direta com o acesso aoconhecimento acumulado pela humanidade.

    A organizao do territrio depende da formao social, de fatores de ordem poltica,econmica e cultural e, portanto, pode sempre ser transformada a fim de, por exemplo,buscar a idia de justia e de um ambiente saudvel. Essa preocupao central na formaode cidados que procuram a eqidade na melhoria das condies de vida.

    Para isso, a preocupao ambiental inserida nas vrias reas do saber decisiva. Naelaborao dos Parmetros Curriculares Nacionais, essas reas apontaram a relao de seuscontedos com o tema Meio Ambiente e algumas destacaram um bloco de contedos oueixo temtico que trata diretamente da relao sociedade/natureza ou vida e ambiente.Isso retrata a dimenso do trabalho que se deseja com essa questo, diante das necessidadesimpostas pela realidade socioambiental.

    As reas de Cincias Naturais, Histria e Geografia so as tradicionais parceiras parao desenvolvimento dos contedos aqui relacionados, pela prpria natureza dos seus objetosde estudo. Mas as demais reas ganham importncia fundamental, pois, cada uma, dentroda sua especificidade, pode contribuir para que o aluno tenha uma viso mais integrada doambiente: Lngua Portuguesa, trabalhando as inmeras leituras possveis de textos oraise escritos, explicitando os vnculos culturais, as intencionalidades, as posies valorativas eas possveis ideologias sobre meio ambiente embutidas nos textos; Educao Fsica, quetanto ajuda na compreenso da expresso e autoconhecimento corporal, da relao do corpocom ambiente e o desenvolvimento das sensaes; Arte, com suas diversas formas de

    expresso e diferentes releituras do ambiente, atribuindo-lhe novos significados,desenvolvendo a sensibilidade por meio da apreciao e possibilitando o repensar dosvnculos do indivduo com o espao; alm do pensamento Matemtico, que se constituinuma forma especfica de leitura e expresso. So todas fundamentais, no s por seconstiturem em instrumentos bsicos para os alunos poderem conduzir o seu processo deconstruo do conhecimento sobre meio ambiente, mas tambm como formas demanifestao de pensamento e sensaes. Elas ajudam os alunos a trabalhar seus vnculossubjetivos com o ambiente, permitindo-lhes express-los.

    interessante, ainda, que se destaque o ambiente como parte do contexto geral das

    relaes ser humano/ser humano e ser humano/natureza, em todas as reas de ensino,na abordagem dos diferentes contedos: seja no estudo das variadas formas de orga-nizao social e cultural, com seus mais diversos conflitos, ou no trabalho com asvrias formas de comunicao, expresso e interao, seja no estudo dos fenmenos ecaractersticas da natureza ou na discusso das tecnologias que mediam as vrias dimensesda vida atual.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    29/76

    195

    Cada professor pode contribuir decisivamente ao conseguir explicitar os vnculos desua rea com as questes ambientais, por meio de uma forma prpria de compreensodessa temtica, de exemplos abordados sobre a tica de seu universo de conhecimentos epelo apoio terico-instrumental de suas tcnicas pedaggicas.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    30/76

    196

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    31/76

    197

    OBJETIVOS GERAIS PARAO ENSINO FUNDAMENTAL

    Considerando a importncia da temtica ambiental, a escola dever, ao longo dasoito sries do ensino fundamental, oferecer meios efetivos para cada aluno compreender

    os fatos naturais e humanos referentes a essa temtica, desenvolver suas potencialidades eadotar posturas pessoais e comportamentos sociais que lhe permitam viver numa relaoconstrutiva consigo mesmo e com seu meio, colaborando para que a sociedade sejaambientalmente sustentvel e socialmente justa; protegendo, preservando todas asmanifestaes de vida no planeta; e garantindo as condies para que ela prospere em todaa sua fora, abundncia e diversidade.

    Para tanto prope-se que o trabalho com o tema Meio Ambiente contribua para queos alunos, ao final do ensino fundamental, sejam capazes de:

    identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-seafetivamente ligados a ela, percebendo os processos pessoaiscomo elementos fundamentais para uma atuao criativa,responsvel e respeitosa em relao ao meio ambiente;

    perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural esociocultural, adotando posturas de respeito aos diferentesaspectos e formas do patrimnio natural, tnico e cultural;

    observar e analisar fatos e situaes do ponto de vista ambiental,de modo crtico, reconhecendo a necessidade e as

    oportunidades de atuar de modo propositivo, para garantir ummeio ambiente saudvel e a boa qualidade de vida;

    adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade queos levem a interaes construtivas, justas e ambientalmentesustentveis;

    compreender que os problemas ambientais interferem naqualidade de vida das pessoas, tanto local quanto globalmente;

    conhecer e compreender, de modo integrado, as noes bsicasrelacionadas ao meio ambiente;

    perceber, em diversos fenmenos naturais, encadeamentos erelaes de causa/efeito que condicionam a vida no espao(geogrfico) e no tempo (histrico), utilizando essa percepopara posicionar-se criticamente diante das condies ambientaisde seu meio;

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    32/76

    198

    compreender a necessidade e dominar alguns procedimentosde conservao e manejo dos recursos naturais com os quaisinteragem, aplicando-os no dia-a-dia.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    33/76

    199

    2 PARTE2 PARTE

    MEIO AMBIENTEMEIO AMBIENTE

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    34/76

    200

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    35/76

    201

    CONTEDOS DE MEIO AMBIENTEPARA TERCEIRO E QUARTO CICLOS

    O trabalho pedaggico com a questo ambiental centra-se no desenvolvimento deatitudes e posturas ticas, e no domnio de procedimentos, mais do que na aprendizagemestrita de conceitos.

    A eleio desses contedos pode ajudar o educador a trabalhar de maneira a contribuirpara a atuao mais conseqente diante da problemtica ambiental, por meio dacompreenso e indicao de formas de proceder. diferente encarar os problemasambientais, como o do agrotxico, apenas como objeto de estudo da cincia ou como umaquesto social cuja soluo exige compromisso real. Os conceitos que explicam os vriosaspectos dessa realidade se encontram interligados entre si e com as questes de naturezavalorativa, exigindo, portanto, trat-los tambm nesse mbito.

    No entanto, valores e compreenso s no bastam. preciso que as pessoas saibam

    como atuar, como adequar prtica e valores, uma vez que o ambiente tambm umaconstruo humana, sujeito a determinaes de ordem no apenas naturais, mas tambmsociais.

    As diferentes reas trazem contedos fundamentais compreenso das temticasambientais. O que se prope aqui , antes de mais nada, uma abordagem desses contedosque permita atuar na realidade, considerando a forma dela se apresentar: extremamentecomplexa.

    No rara a necessidade de buscar trocas de informaes ou mesmo o auxlio direto

    de colegas de outras reas para entender mais satisfatoriamente a questo ambiental.Quando, numa situao de sala de aula, um aluno remete o debate a um problema concretoou a uma situao vivida na realidade, natural que no se tenha a resposta. Quando separte diretamente do problema, necessria essa integrao de trabalhos entre as reas.Muitas vezes, somente dessa forma possvel enxergar a extenso real que eles tm, ovnculo com a organizao e as questes sociais, ou seja, enxergar as diferentes facetas eimplicaes dos conhecimentos e dos problemas, possibilitando aes mais conseqentes.Essa outra maneira de tratar a questo ambiental na escola.

    A aprendizagem de procedimentos adequados e acessveis indispensvel para o

    desenvolvimento das capacidades ligadas participao, co-responsabilidade e solidariedade, porque configuram situaes reais em que podem ser experimentadas pelosalunos. Assim, fazem parte dos contedos desde formas de manuteno da limpeza doambiente escolar (jogar lixo nos cestos, cuidar das plantas da escola, manter o banheirolimpo), prticas orgnicas na agricultura, formas de evitar o desperdcio, at comoelaborar e participar de uma campanha ou saber dispor dos servios existentes rela-

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    36/76

    202

    cionados com as questes ambientais (por exemplo, os rgos ligados prefeitura ou asorganizaes no-governamentais que desenvolvem trabalhos, exposies oferecem servios populao, possuem material e informaes de interesse da escola, dos alunos e dasfamlias etc.).

    Portanto, deve-se possibilitar aos alunos o reconhecimento de fatores que produzam

    bem-estar ao conjunto da populao; ajud-lo a desenvolver um esprito de crtica sindues ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos benscomuns e recursos naturais, de modo que respeite o ambiente e as pessoas de suacomunidade11 .

    Critrios de seleo e organizao dos contedos

    Dois fatores tornam difcil a seleo de contedos de forma satisfatria: acomplexidade da temtica ambiental e a diversidade da realidade brasileira. Entretanto,alm de um elenco de contedos, o tema Meio Ambiente prope que se garanta aos alunosaprendizagem que lhes possibilite posicionar-se em relao s questes ambientais nassuas diferentes realidades particulares e atuar na melhoria de sua qualidade.

    Assim sendo, a seleo dos contedos foi realizada com a preocupao de elencarquestes amplas e tambm de possibilitar a valorizao e a ateno s especificidadesregionais.

    Seguindo essas preocupaes, foram selecionados os contedos que:

    contribuam com a conscientizao de que os problemasambientais dizem respeito a todos os cidados e s podem sersolucionados mediante uma postura participativa;

    proporcionem possibilidades de sensibilizao e motivao paraum envolvimento afetivo;

    possibilitem o desenvolvimento de atitudes e a aprendizagemde procedimentos e valores fundamentais para o exerccio plenoda cidadania, ressaltando-se a participao no gerenciamentodo ambiente;

    contribuam para uma viso integrada da realidade,desvendando as interdependncias entre a dinmica ambientallocal e a planetria, desnudando as implicaes e causas dosproblemas ambientais;

    11 Essa questo est discutida no documento do Tema Transversal Trabalho e Consumo.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    37/76

    203

    sejam relevantes na problemtica ambiental do Brasil;

    sejam compatveis com os contedos trabalhados pelas reasnesses ciclos, possibilitando a transversalizao;

    sejam condizentes com a expectativa de aprendizagem nessenvel de escolaridade.

    A partir desses critrios, foram eleitos contedos suficientemente abrangentes parapossibilitar aos professores trabalh-los de acordo com a especificidade local, sem perderde vista as questes globais e a ampliao de conhecimento sobre outras realidades.

    A realidade de uma escola em regio metropolitana, por exemplo, implica exignciasdiferentes daquelas de uma escola da zona rural. Da mesma forma, escolas inseridas emlocais mais saudveis, sob o ponto de vista ambiental, ou naqueles muito poludos deveropriorizar objetivos e contedos que permitam abordar esses aspectos. Tambm a cultura,a histria e os costumes iro determinar diferenas no trabalho com o tema Meio Ambienteem cada escola.

    Os contedos foram reunidos em trs blocos:

    A natureza cclica da Natureza

    Sociedade e meio ambiente

    Manejo e conservao ambiental

    O primeiro bloco apresenta contedos que possibilitam ampliar e aprofundar oconhecimento da dinmica das interaes ocorridas na natureza. Essa fundamentao dconsistncia argumentao em defesa e proteo daquilo que as pessoas amam e valorizam.

    O segundo bloco trata de aspectos mais abrangentes da relao sociedade/natureza,enfatizando as diferentes formas e conseqncias ambientais da organizao dos espaospelos seres humanos.

    Tendo como base as caractersticas integradas da natureza, e de como ela se alterasegundo as diferentes formas de organizao socioculturais, este bloco inclui desde apreocupao do mundo com as questes ecolgicas at os direitos e responsabilidades dosalunos e sua comunidade com relao qualidade do ambiente em que vivem, e aspossibilidades de atuao individual e coletiva.

    O ltimo bloco trata mais especificamente das possibilidades, positivas e negativas,de interferncias dos seres humanos sobre o ambiente, apontando suas conseqncias.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    38/76

    204

    Busca discutir algumas formas adequadas de interveno humana para equacionar melhoros seus impactos.

    Estes so trs aspectos das questes ambientais: os blocos no so estanques, nemseqenciais, mas aglutinam contedos relativos aos diferentes aspectos que configuram aproblemtica ambiental. Eles possibilitam enxergar de maneira mais consistente esses

    determinantes dos vrios ambientes, como eles se configuraram e como poderiam sermodificados.

    Entre outros fatores, alguns dos que mais mobilizam tanto os adolescentes e jovensquanto os adultos a respeitar e conservar o meio ambiente so o vnculo afetivo, o desafiode conhecer as caractersticas, as qualidades da natureza; o perceber o quanto ela interessante, rica e prdiga, podendo ser ao mesmo tempo muito forte e muito frgil; operceber e valorizar, no dia-a-dia, a identificao pessoal com o ambiente local; o saber-separte dela, como os demais seres habitantes da Terra, dependendo todos inclusive suadescendncia da manuteno de condies que permitam a continuidade do fenmeno

    da vida, em toda a sua grandiosidade.

    Entre os contedos, os procedimentos merecem ateno especial. Os contedosdessa natureza so aprendidos em atividades prticas. So um como fazer que se aprendefazendo, com orientao organizada e sistemtica dos professores. A atuao nessasatividades favorece tanto as construes conceituais quanto o aprendizado da participaosocial. Alm disso, constituem situaes didticas em que o desenvolvimento de atitudespode ser trabalhado por meio da vivncia concreta e da reflexo sobre ela.

    Dentre esses contedos destacam-se:

    alternativas variadas de expresso e divulgao de idias esistematizao de informaes como realizao de: cartazes,jornais, boletins, revistas, fotos, filmes, dramatizao;

    tcnicas de pesquisa em fontes variadas de informao(bibliogrficas, cartogrficas, memria oral etc.);

    anlise crtica das informaes veiculadas pelos diferentescanais de comunicao (TV, jornais, revistas, vdeos, filmescomerciais etc.);

    identificao das competncias, no poder local, para solucionaros problemas ambientais especficos;

    identificao das instituies pblicas e organizaes dasociedade civil em que se obtm informaes sobre a legislao

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    39/76

    205

    ambiental (nos nveis municipal, estadual e federal) epossibilidades de ao com relao ao meio ambiente;

    formas de acesso aos rgos locais e s instncias pblicas departicipao, tais como Conselhos Estaduais, ConselhosMunicipais, Consrcios Intermunicipais etc., onde sodebatidos e deliberados os encaminhamentos das questesambientais;

    acompanhamento das atividades das ONGs (OrganizaesNo-Governamentais) ou de outros tipos de organizaes dasociedade que atuam ativamente no debate e encaminhamentodas questes ambientais.

    Blocos de contedos

    A NATUREZA CCLICA DA NATUREZA

    Dormir e acordar, alimentar-se, ver as rvores florescer e os pssaros se reproduzirconstituem vivncias de todo ser humano. A experincia dos ciclos da vida algo introjetadoem qualquer indivduo; resta-lhes a tomada de conscincia desses ciclos, a reflexo sobresua dinmica de funcionamento.

    importante, por exemplo, que, ao observar a gua de um riacho ou a que sai deuma torneira, os alunos se perguntem de onde ela vem, por onde passou e onde chegar e

    reflitam sobre as conseqncias desse fluxo a curto e longo prazos, na sua vida e na natureza,e, acima de tudo, saibam que a qualidade dessa gua est diretamente relacionada com asaes do ser humano.

    O desenvolvimento de atitudes pessoais e de processos coletivos coerentes com aperspectiva de sustentabilidade ecolgica requer, alm de outras coisas, essa compreenso.

    No se trata, pois, de uma compreenso qualquer, mas de uma forma de construode conhecimento que no dissocia os contedos conceituais das aes cotidianas.

    O mesmo potencial criativo dos seres humanos que possibilitou o atual padro dealterao ambiental permite a ele construir novas relaes com a natureza, recomp-laonde for necessrio, desfazer onde for preciso e, ainda, mudar radicalmente as relaes deproduo que engendraram a situao ambiental atual.

    Para isso acontecer, de fundamental importncia que todos os cidados conheame valorizem a dinmica da natureza. A prpria idia de ciclo, apesar de didaticamente

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    40/76

    206

    consagrada, no suficiente para explicar a dinmica da natureza, pois nela nunca se voltaexatamente ao ponto de partida. H, ainda, uma srie de transformaes e eventos, comoo movimento das placas tectnicas, que esto longe de apresentar comportamento cclico,cujas regras ainda fogem da estrutura das explicaes de outros fenmenos, e para os quaisno h possibilidade de antever regularidade ou previsibilidade.

    A finalidade dos contedos deste bloco, portanto, permitir ao aluno compreenderque os processos na natureza no so estanques, nem no tempo nem no espao. Pelocontrrio, h sempre vrios fluxos de transformaes, com a reincorporao de materiais anovos seres vivos, com a modificao de energias nas suas diferentes formas, enfim, cominteraes que engendram mudanas no mundo que, a partir de praticamente os mesmosmateriais, tanto se transformou nesses 3,5 bilhes de anos de vida na Terra.

    A construo da concepo dessa dinmica, de atitudes e valores a ela associados,implica a aprendizagem de alguns contedos, tais como os elencados a seguir.

    Compreenso da vida, nas escalas geolgicas de tempo ede espao.

    As relaes entre os seres vivos esto intimamente ligadas s condies de relevo, desolo, de clima e de interferncia do ser humano que se transformaram ao longo do tempo.As atuais formas de vida no planeta foram criadas por meio de um processo de evoluonatural articulada, a partir de um determinado perodo geolgico, histria da humanidade.

    As escalas mais amplas de tempo e de espao, de mais difcil compreenso, referem-se a interaes que vo alm das envolvidas no suprimento imediato da sobrevivncia,

    nvel mais corriqueiro de preocupao, bem como da prpria histria da humanidade. Pensarnuma escala de milhes de anos, numa perspectiva de compreenso que engloba todo oplaneta, no tarefa simples, principalmente para os alunos do incio do terceiro ciclo.Porm, importante que se trabalhe, desde ento, algumas aproximaes com essas escalas.Isso vai permitindo aos alunos a construo de noes mais amplas das dimenses dosproblemas ambientais.

    O aparecimento dos seres vivos e a diversidade atual dos ecossistemas terrestres soresultado de bilhes de anos de interaes. Alguns deles, como as vegetaes ralas dearbustos e gramneas, demoraram milhares de anos para se estabelecer em regies onde,

    inicialmente, havia somente rochas de lava vulcnica. Com relao s florestas tropicais, oprocesso foi mais lento ainda.

    Em Cincias Naturais, este o campo frtil para o desenvolvimento da idia deevoluo dos seres vivos, apontando para a lentido do processo e o tempo que foi necessriopara a constituio da natureza como a conhecemos hoje.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    41/76

    207

    S foi possvel a presena dos tipos de vida hoje, nas diferentes localidades da Terra,pela existncia do processo complexo de alteraes das comunidades biolgicas e dascondies fsicas, que se configuraram em transformao e substituio de comunidadesbiticas, num mesmo espao, processo denominado sucesso ecolgica (outro conceitoimportante da rea de cincias).

    A ampliao da escala espacial permite compreender melhor processos importantespara a dinmica ambiental, como a distribuio das espcies no planeta. Aqui, a rea deGeografia pode contribuir de forma decisiva, apontando as relaes entre os elementosfsicos do ambiente e sua influncia na distribuio espacial dos seres vivos.

    As interaes do ser humano com a natureza, vistas nessas dimenses, mostram-sediferentes de quando observadas somente das escalas temporal e espacial dos prpriosseres humanos.

    O trabalho com essa escala temporal na rea de Histria possvel quando se debatem

    as questes pertinentes s explicaes sobre a origem do mundo e do ser humano, as vriasorganizaes socioculturais criadas pelos seres humanos e sua relao com os ciclos naturais.

    Compreenso da gravidade da extino de espcies e daalterao irreversvel de ecossistemas.

    Quando analisada da perspectiva da sucesso ecolgica, a ao humana no ambientepode ser reavaliada, com critrios embasados em outros referenciais de tempo. Nossaespcie, relativamente recente na Terra, consegue em to curto espao de existnciaprovocar alteraes para as quais a reconstituio natural pode demorar tanto, que ela prpria

    corre o risco de ser extinta.

    O que possibilita a sobrevivncia ou no de um conjunto de populaes so asdiferentes formas de interao entre os seres vivos.

    Para entender melhor as possveis conseqncias ecolgicas de aes como a utilizaode determinados inseticidas, ou praguicidas, ou tcnicas pesqueiras de grande porte queeliminam grande nmero de peixes ou at espcies, alterando drasticamente o ecossistema, importante compreender em que condies biolgicas a vida ocorre. Em qualquerecossistema a sobrevivncia depende do equilbrio entre os diferentes grupos que nele

    convivem, assim como das alteraes fsicas produzidas por esses grupos nesse espao. esse conjunto de interaes que vai possibilitar a preservao ou a extino de determinadaespcie, ou, ainda, que essa bagagem gentica seja transmitida ou no.

    Anlise de alteraes nos fluxos naturais em situaesconcretas.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    42/76

    208

    possvel melhorar a percepo do nvel das intervenes, quando se verifica que oritmo natural dos fluxos no ambiente foi mudado, em funo de necessidades humanas. Aintensa utilizao de matria-prima, de fontes de energia, enfim, dos vrios recursos naturaismuitas vezes implica o seu esgotamento, comprometendo toda a dinmica natural,impedindo inclusive a manuteno dos diversos ciclos.

    A contextualizao dessas situaes concretas, que envolvem diferentes fatores, comoclima, solo, relevo e as prprias formas de alterao causadas pelo ser humano, em meio aconflitos de interesses, num perodo definido da histria, essencial para a formao daconscincia crtica que permite aos alunos se posicionarem favoravelmente sustentabilidade ecolgica.

    A observao de elementos que evidenciem ciclos e fluxos na natureza, situados noespao e no tempo, importante porque eles so diferentes numa rea mais conservada,onde h maior umidade e maior atividade fotossinttica, pela maior presena de vegetais,do que numa rea urbana, onde, normalmente, a condio de cobertura vegetal, o

    microclima, as demais condies fsicas e as atividades humanas so outras.

    Alm disso, o comportamento de certos fenmenos da natureza est condicionadopor mltiplas variveis, o que dificulta o conhecimento acerca do funcionamento dosdiversos ambientes. Dois locais diferentes, por exemplo, com mesmo tipo de solo e commesmo clima, podem apresentar cobertura vegetal distinta, e as explicaes que servempara um no servem para o outro.

    Compreend-los implica a aprendizagem de contedos de vrias reas, abordadossob diferentes prismas. A aprendizagem, por exemplo, das relaes alimentares, seja em

    Cincias Naturais, em Histria, em Geografia ou outras reas, deve incluir os vnculosentre elas e os fluxos da gua, do oxignio e do carbono, a gerao do lixo, o uso de insumosagrcolas artificiais, o aproveitamento, o desperdcio, o tratamento e a distribuio da guaetc.

    Dentre as movimentaes das substncias na natureza, uma das mais importantesdo ponto de vista ambiental a da gua.

    O conhecimento de formas de aproveitamento e utilizao da gua pelos diferentesgrupos humanos; a compreenso da interferncia dos fatores fsicos e socioeconmicos nas

    relaes entre ecossistemas, a construo da noo de bacia hidrogrfica e a identificaode como se situa a escola, o bairro e a regio com relao ao sistema de drenagem, condiesde relevo e reas verdes, o conhecimento das condies de vida nos oceanos e sua relaocom a qualidade da gua dos rios permitem aos alunos o entendimento da complexidadeda questo da gua e sua historicidade, a necessidade desse recurso para a vida em geral eos processo vitais mais importantes dos quais ela faz parte.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    43/76

    209

    A ao antrpica e a conseqente tendncia de escassez de gua em quantidade equalidade suficientes para os objetivos do uso humano merece destaque. preciso favorecera aprendizagem de que a dimenso das alteraes provocadas pode prejudicar a reciclagemnatural por processos irreversveis de degradao, tanto na agricultura como nos espaosurbanos. Isso afeta a vida das sociedades que utilizam os recursos dos rios, do mar e dosecossistemas relacionados a eles.

    Informaes a respeito de possibilidades de uso diferente da gua em outras culturas,da viabilidade de sua reutilizao e da reduo de desperdcio na sociedade industrial doaos alunos subsdios para defender transformaes no gerenciamento desse recurso natural,apontando para a sustentabilidade e para o desenvolvimento de atitudes pessoais coerentes.Esse contedo reaparece no bloco Manejo e Conservao Ambiental, que interessantetrabalhar em conjunto.

    As relaes alimentares so o elo mais elementar entre os seres vivos e, por isso, sode fundamental importncia para a dinmica de qualquer ambiente. No entanto, preciso

    ampliar a viso, predominante, de que elas acontecem da maneira idealizada dos esquemasexplicativos das cadeias alimentares. Tais esquemas ocultam as complexas relaes sociaisde produo e consumo12 de alimentos que ocorrem no mundo atual. A alimentao do serhumano, se abordada numa escala planetria, assume uma dimenso assustadora, quandocomparada aos esquemas didticos que simplificam ao extremo as teias alimentares reais.

    Os problemas ambientais mais freqentes e prximos dos alunos, como a grandequantidade de lixo gerada nos centros urbanos, ou o nvel de toxicidade da gua nas rearurais de grandes plantaes, podem ser mais bem entendidos com a observao e acompreenso das relaes que ocorrem nas teias alimentares reais.

    O estudo do convvio das sociedades com a natureza, na rea de Histria, permiteidentificar relaes alimentares concretas no ambiente. Uma das possibilidades fazerum levantamento com os alunos sobre os seus alimentos cotidianos, identificando os queso naturais, os industrializados, onde foram produzidos, de onde so originrios, como sopreparados etc. Como os alimentos atuais tm uma histria, possvel estudar quais eramconsumidos pela populaes indgenas, na poca da chegada dos europeus no Brasil; comoeram obtidos e servidos; as diferenas e semelhanas dos alimentos consumidos em geralpelos europeus, distinguindo quais eram, como eram produzidos, adquiridos, preparados,comercializados, se houve adaptao nova terra, se trouxeram alimentos de outras partes

    do mundo; e se havia diferena entre a alimentao do mais pobres, dos senhores, dosescravos, por regio etc. E o mesmo pode ser feito em relao s outras pocas histricas.

    O conhecimento das prticas utilizadas na produo dos alimentos que comem, ajudaos alunos a se posicionarem contra o uso inadequado de substncias artificiais que acabam

    12 Este assunto est presente tambm no documento de Trabalho e Consumo.

  • 8/14/2019 PCN (5-8sries), v10c, meio ambiente

    44/76

    210

    entrando na alimentao dos seres vivos e na cadeia alimentar, que inclui o ser humano,prejudicando a sade dos seus