pcn (5ª-8ªséries), v10d, saúde

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    APRESENTAO

    O ensino de Sade tem sido um desafio para a educao no que se refere possibilidade de garantir uma aprendizagem efetiva e transformadora de atitudes e hbitosde vida. As experincias mostram que transmitir informaes a respeito do funcionamento

    do corpo e das caractersticas das doenas, bem como de um elenco de hbitos de higiene,no suficiente para que os alunos desenvolvam atitudes de vida saudvel.

    preciso educar para a sade levando em conta todos os aspectos envolvidos naformao de hbitos e atitudes que acontecem no dia-a-dia da escola. Por esta razo, aeducao para a Sade ser tratada como tema transversal, permeando todas as reas quecompem o currculo escolar.

    O presente texto situa a questo na realidade brasileira, indicando possibilidades deao e transformao dos atuais padres existentes na rea de Sade.

    Na primeira parte, o texto trata de uma concepo dinmica da Sade, entendidacomo direito universal e como algo que as pessoas constroem ao longo de suas vidas, emsuas relaes sociais e culturais. Na abordagem apresentada, a educao considerada umdos fatores mais significativos para a promoo da sade. Ao educar para a sade, de formacontextualizada e sistemtica, o professor e a comunidade escolar contribuem de maneiradecisiva na formao de cidados capazes de atuar em favor da melhoria dos nveis desade pessoais e da coletividade.

    Na segunda parte do documento so apresentadas as possibilidades de trabalho comas quatro ltimas sries do ensino fundamental.

    Secretaria de Educao Fundamental

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    1 PARTE1 PARTE

    SADESADE

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    O QUE SADE?

    Consideraes iniciais

    O processo sade/doena inerente vida. Conhecimentos, dores e perplexidadesassociados s enfermidades, bem como recomendaes para a conquista da longevidade edo vigor fsico e mental, foram sendo transmitidos de gerao a gerao ao longo da histriahumana. As interpretaes sobre as circunstncias nas quais as pessoas se protegem dasdoenas, sobre suas causas, o relato de sua repercusso na histria de cada indivduo e/ougrupo social foram elementos sempre presentes nas diferentes formaes culturais.

    Mas a palavra de origem latina salute salvao, conservao da vida vemassumindo significados muito diversos, pois a concepo de sade que permeia as relaeshumanas no pode ser compreendida de maneira abstrata ou isolada. Os valores, recursos

    e estilos de vida que contextualizam e compem a situao de sade de pessoas e gruposem diferentes pocas e formaes sociais se expressam por meio de seus recursos para avalorizao da vida, de seus sistemas de cura, assim como das polticas pblicas que revelamas prioridades estabelecidas.

    Na atualidade, convive-se com uma diversidade considervel de concepes de sade,entre as quais algumas bastante conhecidas que funcionam como referncias mundiais e/ou nacionais. o caso, por exemplo, do conceito de sade assumido em 1948 pelaOrganizao Mundial de Sade: Sade o estado de completo bem-estar fsico, mental esocial e no apenas a ausncia de doena. Esse conceito nos remete utopia e por queno? de sade tima, embora no nos fornea muitas indicaes concretas sobre o

    que seria essa situao de completo bem-estar.

    Se sade no apenas ausncia de doena, quais so as outras caractersticas que nospermitem concluir que um indivduo no doente seja saudvel de fato? Com uma razovelfacilidade, compreende-se o que uma pessoa doente tomando como referncia o pontode vista biolgico; no entanto, essa mesma pessoa pode estar perfeitamente bem integradaa seu grupo de relaes e inserida nos processos de produo, sendo, do ponto de vistasocial, uma pessoa considerada saudvel, a despeito de seu reconhecido comprometimentofsico. Pode-se lembrar de pessoas portadoras de deficincias ou limitaes temporriasem funo da ocorrncia de acidentes. So condies que transformam mas

    no interrompem o processo de desenvolvimento humano e tampouco eliminam osaspectos saudveis da vida. E o que dizer daqueles que usam culos ou prteses dentrias?O enfermo que est no leito mas que ainda assim continua se comunicando comoutras pessoas, se alimentando, produzindo idias, pode ser considerado cem por centodoente? Seria justo excluir a sade e o direito sade da vida das pessoas com sofrimentosmentais?

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    Acreditar que cidadania exerccio de sujeitos do processo sade/doena amotivao essencial da educao para a sade. Esta a concepo de sade que fundamentaos Parmetros Curriculares Nacionais de Educao para a Sade.

    Em busca de um conceito dinmico de sade

    A despeito das diferentes possibilidades de encarar o processo sade/doena, no sepode compreender ou transformar a situao de sade de indivduos e coletividades semlevar em conta que ela produzida nas relaes com o meio fsico, social e cultural.

    Intrincados mecanismos determinam as condies de vida das pessoas e a maneiracomo nascem, vivem e morrem, bem como suas vivncias em sade e doena. Entre osinmeros fatores determinantes da condio de sade, incluem-se os condicionantesbiolgicos (sexo, idade, caractersticas pessoais eventualmente determinadas pela heranagentica), o meio fsico (que abrange condies geogrficas, caractersticas da ocupao

    humana, fontes de gua para consumo, disponibilidade e qualidade dos alimentos, condiesde habitao), assim como o meio socioeconmico e cultural, que expressa os nveis deocupao e renda, o acesso educao formal e ao lazer, os graus de liberdade, hbitos eformas de relacionamento interpessoal, as possibilidades de acesso aos servios voltadospara a promoo e recuperao da sade e a qualidade da ateno por eles prestada.

    Falar de sade, portanto, envolve componentes aparentemente to dspares como aqualidade da gua que se consome e do ar que se respira, as condies de fabricao e usode equipamentos nucleares ou blicos, o consumismo desenfreado e a misria, a degradaosocial e a desnutrio, os estilos de vida pessoais e as formas de insero das diferentesparcelas da populao no mundo do trabalho. Implica, ainda, na considerao dos aspectosticos relacionados ao direito vida e sade, aos direitos e deveres, s aes e omissesde indivduos e grupos sociais, dos servios privados e do poder pblico.

    A humanidade j dispe de conhecimentos e de tecnologias que podem melhorarsignificativamente a qualidade de vida das pessoas. No entanto, alm de no serem aplicadosem benefcio de todos por falta de priorizao de polticas sociais, h uma srie deenfermidades relacionadas ao potencial gentico de indivduos ou etnias ou ao risco pura esimplesmente de viver. Por melhores que sejam as condies de vida, necessariamenteconvive-se com doenas e deficincias, problemas de sade e com a morte.

    A busca do entendimento do processo sade/doena e seus mltiplos determinantesleva a concluir que nenhum ser humano (ou populao) pode ser considerado totalmentesaudvel ou totalmente doente: ao longo de sua existncia, vive condies de sade/doenade acordo com suas potencialidades, suas condies de vida e sua interao com elas.

    A sade deixa de ser avesso ou imagem complementar da doena, expressando-sena luta pela ampliao do uso das potencialidades de cada pessoa e da sociedade, refletindo

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    sua capacidade de defender a vida. E a vitalidade fsica, mental e social para a atuaofrente s permanentes transformaes pessoais e sociais, frente aos desafios e conflitos,expressa esse potencial. Sade , portanto, produto e parte do estilo de vida e das condiesde existncia, sendo a vivncia do processo sade/doena uma forma de representao dainsero humana no mundo.

    Brasil: onde necessrio prevenir e remediar

    No Brasil, na ltima dcada, vem se incorporando progressivamente cultura e legislao a concepo de que sade direito de todos e dever do Estado. Um passoimportante foi dado ao se promulgar a Constituio de 1988, que legitima o direito detodos, sem qualquer discriminao, s aes de sade, assim como explicita o dever dopoder pblico em prover pleno gozo desse direito.

    A concepo abrangente de sade assumida no texto constitucional aponta para uma

    mudana progressiva dos servios, passando de um modelo assistencial, centrado na doenae baseado no atendimento a quem procura, para um modelo de ateno integral sade,no qual haja incorporao progressiva de aes de promoo e de proteo, ao lado daquelaspropriamente ditas de recuperao1 .

    A Constituio de 1988 prev, ainda, a implantao do Sistema nico de Sade SUS. O SUS tem carter pblico, deve compreender uma rede de servios regionalizada,hierarquizada e descentralizada, com direo nica em cada esfera de governo (municipal,estadual e federal) e sob controle dos usurios por meio da participao popular nasConferncias e Conselhos de Sade.

    A despeito de que a legislao estabelea um modelo de ateno integral sade o que inclui a prtica de aes de promoo, proteo e recuperao , as polticas pblicase privadas para o setor favorecem, em muitos casos, a disseminao da idia que a sade seconcretiza exclusiva ou prioritariamente mediante o acesso a servios, em especial aotratamento mdico.

    A implementao de modelos centrados em hospitais, em exames laboratoriais econsultas mdicas e no incentivo ao consumo abusivo de medicamentos vem resultando,historicamente, na assistncia baseada em aes curativas, desencadeadas apenas quandoa doena j est instalada e o indivduo precisa de socorro. Para reverter essa tendncia, osservios de sade devem desempenhar papel importante na preveno, na cura ou nareabilitao e na minimizao do sofrimento de pessoas portadoras de enfermidades oudeficincias. Devem funcionar como guardies da sade individual e coletiva, at mesmopara reduzir a dependncia da populao em relao a esses servios, ou seja, devem ampliara capacidade de autocuidado das pessoas e da sociedade.

    1 Ministrio da Sade, 1990.

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    Caminhar para a implantao plena do SUS, na forma como definido em lei, hojeuma estratgia para a conquista da cidadania. Seus princpios doutrinrios de universalidade,eqidade e integralidade so referncias para o planejamento e implementao de aesde promoo, proteo e recuperao da sade.

    Mas a enorme distncia a ser percorrida entre a vida real e as possibilidades apontadas

    pela lei faz com que os brasileiros vivam uma realidade de contrastes. heterogeneidadeinter e intra-regional de um pas de enormes dimenses sobrepe-se a ineqidade quemarca a sociedade brasileira.

    A maior parte dos casos de doena e morte prematura tem, ainda hoje, como causadireta, condies desfavorveis de vida: as elevadas taxas de desnutrio infantil e anemiae a prevalncia inaceitvel de hansenase (conhecida ainda como lepra) decorrem da faltade condies mnimas de alimentao, saneamento e moradia para a vida humana.

    Paradoxalmente, as doenas cardiovasculares, tpicas de pases desenvolvidos, vmganhando crescente importncia entre as causas de morte, associadas principalmente ao

    estresse, a hbitos alimentares imprprios, ao tabagismo compulsivo, vida sedentria e ampliao daexpectativa de vida.

    Entretanto, doenas associadas aos estilos de vida, que se impem de forma globalneste fim de sculo, distribuem-se entre pessoas de diferentes faixas de renda e posiessocioeconmicas de forma mais igualitria do que aquelas associadas pobreza, de formaque a maioria da populao brasileira, submetida a precrios padres de vida, fica sujeita aum espectro mais amplo de riscos.

    Em suma, convivem no Brasil a antiga necessidade de implantao efetiva de aesbsicas para a proteo da sade coletiva e a exigncia crescente de atendimento voltado

    para as chamadas doenas modernas. Primeiro e Terceiro Mundo, com todas as suasdiferenas e disparidades, esto presentes no territrio brasileiro, tanto nas macros comonas microrregies. Isso se expressa, como no poderia deixar de ser, em nveis extremamentediferenciados de qualidade de vida e sade.

    Assumindo compromissos para a ao

    Os impasses vivenciados na rea da sade podem sugerir que o desafio que se impe grande demais para ser enfrentado ou caro demais para ser custeado.

    O relatrio do Fundo das Naes Unidas para a Infncia (Unicef), Situao Mundialda Infncia 1993, combate com nfase essa idia. Demonstra que o atendimentouniversal de necessidades humanas elementares entre as quais destacam-se alimentao,habitao adequada, acesso gua limpa, aos cuidados primrios de sade e educaobsica vivel em uma dcada, a um custo extra de US$ 25 bilhes anuais. Cita, parafins de comparao, que essa cifra inferior ao gasto anual da populao dos Estados Unidos

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    com o consumo de cerveja. O relatrio reporta-se, ainda, ao sucesso obtido no cumprimentode metas, como a da vacinao de 80% das crianas do mundo at 1990. Bangladesh, porexemplo, ampliou a cobertura vacinal de suas crianas de 2 para 62% em apenas cincoanos, entre 1985 e 1990. interessante lembrar que, neste sculo, uma doena milenarcomo a varola foi eliminada e que a paralisia infantil est prestes a ser erradicada.

    (...) o fato que, apesar de todos os recuos, houve maiores progressos durante osltimos 50 anos do que nos 2.000 anos anteriores. Desde o final da Segunda Guerra Mundial(...) as taxas de mortalidade entre recm-nascidos e crianas caiu para menos da metade; aexpectativa de vida mdia aumentou em cerca de 1/3; a proporo do nmero de crianasno mundo em desenvolvimento que entraram na escola subiu mais de 3/4; e a porcentagemde famlias rurais com acesso gua limpa subiu de menos de 10% para quase 60%. Naprxima dcada, existe uma clara possibilidade de romper com aquilo que pode ser chamadode ltima grande obscenidade: a desnutrio, as doenas e o analfabetismo desnecessrios,que ainda obscurecem a vida e o futuro da quarta parte mais pobre das crianas de todo omundo.2

    O que se deseja enfatizar que grandes saltos na condio de vida e sade da maioriada populao brasileira e mundial so possveis por meio de medidas j conhecidas, debaixo custo e eficazes, sensveis j prxima gerao. So desafios grandiosos masexeqveis. Numerosos exemplos podem ser encontrados em experincias locais,especialmente nos municpios brasileiros que ousaram cumprir a lei e caminhar para aimplantao do SUS, produzindo impacto expressivo nas taxas de mortalidade infantil ede desnutrio, prevenindo a ocorrncia de doena bucal ou ampliando o controle dadisseminao de doenas transmissveis.

    Alm das possibilidades j apontadas, o conceito de Cidade Saudvel, originadono Canad na dcada de 80, vem norteando a implementao de projetos em favor da

    qualidade de vida em diversas regies do mundo, a partir de sua incorporao pelaOrganizao Mundial de Sade. Considera-se que uma Cidade Saudvel deva ter:

    uma comunidade forte, solidria e constituda sobre bases dejustia social, na qual ocorre alto grau de participao dapopulao nas decises do poder pblico;

    ambiente favorvel qualidade de vida e sade, limpo eseguro; satisfao das necessidades bsicas dos cidados,includos a alimentao, a moradia, o trabalho, o acesso aservios de qualidade em sade, educao e assistncia social;

    vida cultural ativa, sendo promovidos o contato com a heranacultural e a participao numa grande variedade deexperincias;

    economia forte, diversificada e inovadora.

    2 Unicef, 1993.

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    A promoo da sade ocorre, portanto, quando so asseguradas as condies para avida digna dos cidados, e, especificamente, por meio da educao, da adoo de estilos devida saudveis, do desenvolvimento de aptides e capacidades individuais, da produode um ambiente saudvel, da eficcia da sociedade na garantia de implantao de polticaspblicas voltadas para a qualidade da vida e dos servios de sade. Entre as aes denatureza eminentemente protetoras da sade, encontram-se tambm as medidas de

    vigilncia epidemiolgica (identificao, registro e controle da ocorrncia de doenas),saneamento bsico, vigilncia sanitria de alimentos, do meio ambiente e de medicamentos,adequao do ambiente de trabalho ou aconselhamentos especficos como os de cunhogentico ou sexual. Protege-se a sade por meio da vacinao, da realizao de examesmdicos e odontolgicos peridicos, da fluoretao das guas para prevenir a crie dentale, principalmente, conhecendo em cada momento o estado de sade da comunidade edesencadeando, quando necessrio, medidas dirigidas preveno e ao controle de agravos,mediante a identificao de riscos potenciais. A grande maioria das causas de doenas edeficincias poderiam ser evitadas por meio de aes preventivas. As medidas curativas eassistenciais, voltadas para a recuperao da sade individual, complementam a atenointegral sade.

    Sem dvida, a melhoria das condies de vida e sade no automtica nem estgarantida pelo passar do tempo, assim como o progresso e o desenvolvimento no trazemnecessariamente em seu bojo a sade e a longevidade. A compreenso ampla dos fatoresintervenientes e dos compromissos polticos necessrios so exigncias para sua efetivao.

    Neste cenrio, a educao para a Sade pode cumprir papel destacado: favorece oprocesso de conscientizao quanto ao direito sade e instrumentaliza para a intervenoindividual e coletiva sobre os condicionantes do processo sade/doena.

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    EDUCAO PARA A SADE:CONSOLIDANDO POSIES, ESTABELECENDO

    LIMITES E POSSIBILIDADES

    Tambm no interior da escola, as questes sobre a sade encontraram espao paradiferentes abordagens, segundo as inflexes socioeconmicas, polticas e ideolgicas decada momento histrico. Em outras palavras, o que a sociedade entende por sade estsempre presente na sala de aula e no ambiente escolar.

    Um pouco da histria da abordagem dasade no currculo das escolasbrasileiras: Ensino de Sade ou

    Educao para a Sade?

    Desde o sculo passado, ainda que no se tivesse destinado um espao especficopara abordar a questo, os contedos relativos a sade e doena foram sendo incorporadosao currculo escolar brasileiro de uma maneira que refletia as mesmas vicissitudes eperspectivas com as quais essas questes eram socialmente tratadas. Assim, por exemplo,disciplinas como Higiene, Puericultura, Nutrio e Diettica ou Educao Fsica, e, maisrecentemente, Cincias Naturais e Biologia, divulgaram conhecimentos relativos aosmecanismos pelos quais os indivduos adoecem ou asseguram sua sade.

    Em suas prticas pedaggicas, a escola adotou sistematicamente uma visoreducionista de sade, enfatizando os seus aspectos biolgicos. Mesmo ao considerar aimportncia dascondies ambientais mais favorveis instalao da doena, a relaoentre o doente e o agente causal continuou e continua at hoje a ser priorizada.

    Nessa linha, por exemplo, o grande vilo da tuberculose o bacilo de Koch e aindaque a doena seja causada de fato por esse microrganismo, a viso que comea e terminanos processos biolgicos no estimula a discusso de questes como:

    por que nem todas as pessoas infectadas com o bacilo de Kochficam doentes?

    por que a tuberculose praticamente ausente de certos grupos

    sociais? quais as condies e/ou caractersticas de vida daqueles que

    apresentam o bacilo e adoecem?

    por que a incidncia dessa doena voltou a crescer em anosrecentes?

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    Apesar dessa longa tradio, apenas em 1971, a Lei no 5.692 veio introduzirformalmente no currculo escolar a temtica da sade, sob a designao genrica deProgramas de Sade, com o objetivo de levar a criana e o adolescente ao desenvolvimentode hbitos saudveis quanto higiene pessoal, alimentao, prtica desportiva, ao trabalhoe ao lazer, permitindo-lhes a sua utilizao imediata no sentido de preservar a sade pessoale a dos outros3 .

    A lei estabeleceu, igualmente, que os Programas de Sade fossem trabalhados nocomo disciplina, mas sim de modo pragmtico e contnuo, por meio de atividades (segundoum) tipo de ensino que deve contribuir para a formao de atitudes e aquisio deconhecimentos, de valores que condicionem os comportamentos dos alunos, estimulando-os a aprender e capacitando-os a tomar atitudes acertadas nesse campo.

    Essas diretrizes gerais foram implantadas de forma heterognea pelos governosestaduais, segundo a linha de atuao que j vinham assumindo mais do que respondendoao novo referencial que pretendia ampliar o entendimento da educao para a sade.

    Em 1977, o Conselho Federal de Educao reafirma a posio de que os Programasde Sade no devem ser encarados como uma matria ou disciplina, mas como umapreocupao geral do processo formativo, intrnseca prpria finalidade da escola,devendo ser trabalhados por meio de uma correlao dos diversos componentescurriculares, especialmente Cincias, Estudos Sociais e Educao Fsica4 .

    Na dcada de 80, diversos estados brasileiros j haviam desencadeado processos dereformulao de seus currculos, buscando a incorporao de tendncias mais progressistasna rea da educao. No entanto, inmeros estudos sobre a incorporao dos temas dasade nos currculos fornecem indicaes de que, na prtica, pouco se caminhou para rompercom a tendncia de restringir essa abordagem aos aspectos informativos e exclusivamentebiolgicos. Com efeito, em Cincias Naturais que a temtica continua sendoprioritariamente abordada, ainda que as propostas curriculares de muitos estados tenhamprocurado romper com essa situao.

    Logo, respeitadas as possveis excees, o que se tem, ainda hoje, o ensino desade centrado basicamente na transmisso de informaes sobre como as pessoas adoecem,os ciclos das doenas, os seus sintomas e as formas de profilaxia.

    Quando a escola prioriza a dimenso biolgica, as aulas sobre sade tm como temaspredominantes as doenas. E apesar de receber informaes sobre formas especficas deproteo contra cada doena que estuda, o aluno tem dificuldade em aplic-las s situaesconcretas de sua vida cotidiana. Da mesma maneira, quando a nfase recai sobre a doenae a valorizao dos comportamentos individuais capazes de evit-la, abre-se pouco espaopara que se construa com o aluno a convico de que as condies de vida que favorecem

    3 Parecer CFE no 2.264/74.4 Parecer CEF no 540/77.

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    a instalao de doenas tambm podem ser modificadas. Limitam-se as possibilidades dedesenvolver novos esquemas de proteo, pois o biologismo que valoriza a anatomiae a fisiologia para explicar a sade e a doena no d conta dessa tarefa.

    Se essa opo no se tem revelado suficiente para que o aluno adote comportamentose desenvolva atitudes necessrias promoo da sade, como deveria a escola redirecionar

    suas aes nessa rea?

    A inter-relao entre Educao eEducao para a Sade

    evidente a associao entre acesso educao e melhores nveis de sade e debem-estar. Verifica-se, por exemplo, que as taxas de mortalidade infantil so inversamenteproporcionais ao nmero de anos de escolaridade da me no ensino bsico, em diferentes

    pases e realidades. Essa associao to significativa que continua vlida mesmo quandoso isolados fatores to importantes quanto a renda familiar. O desenvolvimento dacomunicao verbal e escrita, por exemplo, prioritrio no ensino fundamental, elementoessencial na luta pela sade: quando se decifra mensagens dos programas educativos e damdia em geral, quando se l uma prescrio mdica ou uma bula de remdio, nacompreenso da sade como um direito, ou quando se busca a melhoria da qualidade naprestao de servios.

    Ao falar de educao, fala-se de articular conhecimentos, atitudes, aptides,comportamentos e prticas pessoaisque possam ser aplicados e compartilhados com a

    sociedade em geral. Nessa perspectiva, o processo educativo favorece o desenvolvimentoda autonomia, ao mesmo tempo em que atende a objetivos sociais.

    Naturalmente, a educao para a Sade no cumpre o papel de substituir as mudanasestruturais da sociedade, necessrias para a garantia da qualidade de vida e sade, maspode contribuir decisivamente para sua efetivao. Educao e sade esto intimamenterelacionadas e, em especial, a educao para a Sade resultante da confluncia dessesdois fenmenos. A despeito de que educar para a sade seja responsabilidade de muitasoutras instncias, em especial dos prprios servios de sade, a escola ainda a instituioque, privilegiadamente, pode se transformar num espao genuno de promoo da sade.

    Muitas iniciativas locais vm sendo tomadas para implementar a educao para aSade, e o desafio, no momento, construir referenciais que contemplem esse direito paratodos os alunos do ensino fundamental.

    Segundo a Organizao Mundial da Sade, as escolas que fazem diferena econtribuem para a promoo da sade so aquelas que conseguem assegurar as seguintescondies:

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    tm uma viso ampla de todos os aspectos da escola, provendoum ambiente saudvel e que favorece a aprendizagem, no snas salas de aula, mas tambm nas reas destinadas ao recreio,nos banheiros, nos espaos em que se prepara e servida amerenda, enfim, em todo o prdio escolar;

    concedem importncia esttica do entorno fsico da escola,assim como ao efeito psicolgico direto que ele tem sobreprofessores e alunos;

    esto fundamentadas num modelo de sade que inclui ainterao dos aspectos fsicos, psquicos, socioculturais eambientais;

    promovem a participao ativa de alunos e alunas;

    reconhecem que os contedos de sade devem ser

    necessariamente includos nas diferentes reas curriculares; entendem que o desenvolvimento da auto-estima e da

    autonomia pessoal so fundamentais para a promoo da sade;

    valorizam a promoo da sade na escola para todos os quenela estudam e trabalham;

    tm uma viso ampla dos servios de sade voltados para oescolar;

    reforam o desenvolvimento de estilos saudveis de vida e

    oferecem opes viveis e atraentes para a prtica de aesque promovem a sade;

    favorecem a participao ativa dos educadores na elaboraodo projeto pedaggico da educao para a Sade;

    buscam estabelecer inter-relaes na elaborao do projetoescolar.

    Para muitos, essa perspectiva pode parecer ambiciosa e levantar a polmica jconhecida dos educadores: responsabilidade da escola tambm trabalhar com a educao

    para a Sade?

    A resposta simples: queira ou no assumir a tarefa da educao para a Sade, aescola est continuadamente submetendo os alunos a situaes que lhes permitem valorizarconhecimentos, princpios, prticas ou comportamentos saudveis ou no.

    Quando no inclui, nas vrias reas do currculo, os diferentes contedos relativos ao

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    fenmeno sade/doena, ou lida com eles como se no tivessem relao direta com assituaes da vida cotidiana, ou ainda, quando os alunos convivem com salas deaula, banheiros, quadras de esporte, espaos de recreio, entorno escolar que lhesoferecem referncias que nada tm a ver com o que saudvel, a escola est optando porum tipo de educao que afasta as crianas e os adolescentes de umatarefa de cidadania.Ou seja, afasta-os da discusso e da prtica de aes individuais e coletivas de cuidados em

    sade.

    Ao iniciar sua vida escolar, a criana traz consigo a valorao de comportamentosrelativos sade oriundos da famlia, de outros grupos de relao mais direta ou da mdia.Durante a infncia e a adolescncia, pocas decisivas na construo de condutas, a escolapassa a assumir papel destacado por sua potencialidade para o desenvolvimento de umtrabalho sistematizado e contnuo. Precisa, por isso, assumir explicitamente aresponsabilidade pela educao para a sade, j que a conformao de atitudes estarfortemente associada a valores que o professor e toda a comunidade escolar transmitiroinevitavelmente aos alunos durante o convvio cotidiano.

    No se deseja afirmar com isso que cabe ao professor ditar regras de comportamentoou exercer a funo de modelo a ser seguido. No seria coerente com a possibilidade deconstruo de caminhos prprios. Em um mundo em rpidas, contnuas e profundastransformaes, a discusso sobre um modelo decomportamento correto muito menossignificativa do que o desenvolvimento progressivo da capacidade de identificar problemase buscar respostas originais e criativas, pois educamos, hoje, crianas e jovens que iroviver a maior parte de suas vidas em um mundo que desconhecido para ns5 .

    Nos primeiros ciclos do ensino fundamental, as normas e a reproduo de padrestendem a encontrar mais eco entre os escolares. J os alunos dos ltimos ciclos mostram-se

    pouco submissos s convenes sociais e s regras preestabelecidas. Na educao para aSade o papel mais importante do professor o de motivador que introduz os problemaspresentes, busca informao e materiais de apoio, problematiza e facilita as discusses pormeio da formulao de estratgias para o trabalho escolar.

    A transformao do papel psicossocial do adolescente deve ser considerada nasdiversas instncias do convvio escolar como elemento contextual da educao para a Sadenessas faixas etrias. A adolescncia representa uma ampliao importante dos graus deautonomia e diferenciao em relao famlia e a vivncia entre os pares ganha especialdimenso. Ocorrem, de forma simultnea e aparentemente contraditria, a busca deafirmao da identidade pessoal e uma intensa padronizao de comportamentos quesimboliza a pertinncia ao grupo, com normas de convivncia, costumes, valores einteresses compartidos.

    As intensas modificaes corporais e emocionais prprias da puberdade e da

    5 Ministrio da Sade. Coordenao Nacional de DST e Aids, 1997.

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    adolescncia compem, no terceiro e quarto ciclos, o momento da aprendizagem. Do pontode vista social, so perodos nos quais ocorre uma significativa ampliao da liberdade deao, com a diminuio do controle e proteo exercidos durante a infncia por parte dosadultos, especialmente dos pais. Ao mesmo tempo, a curiosidade, a ansiedade, a busca denovas experincias, a presso do grupo de iguais e os prprios mecanismos de afirmaocaractersticos desse momento do desenvolvimento humano compem um pano de fundofavorvel exposio a diferentes comportamentos de risco. E cada vez mais a educao,elemento favorecedor da construo da autonomia para a tomada de decises, revela-seessencial para a adoode comportamentos de valorizao da vida.

    Na adolescncia, a refernciagrupal torna-se progressivamente mais importantena formulao de conceitos, atitudes e comportamentos. H maior identificao comvalores observados em modelos externos famlia, ocorrendo, habitualmente, umapadronizao de comportamentos e atitudes valoradas como positivas pelo grupo dereferncia. Por isso, a discusso sobre comportamentos saudveis passa necessariamentepela formulao e explicitao, pelos prprios grupos, de suas concepes de vida. A

    identificao das idias, hbitos e atitudes dos alunos com relao a cada tpico do trabalhopermite checar concepes sobre a sade para discuti-las, contrast-las e refletir em gruposobre elas.

    A liberdade necessria ao desenvolvimento psicossocial complementar necessidade do estabelecimento de acordos e limites. Cabe, na escola, a definio de normasprprias do ambiente escolar, o estabelecimento e o cumprimento de regras coletivas,pautas de comportamento e normas bsicas de convivncia, preferencialmente comparticipao dos alunos. Com isso, eles, protagonistas de sua prpria aprendizagem, podemincorporar uma dinmica mais ativa, com maior tendncia a aprender significativamente.

    Deve-se considerar tambm que, nas ltimas dcadas, alm dos temastradicionalmente trabalhados sobre sade e nutrio, as questes biopsicossociais adquirirammaior visibilidade, e a escola foi compelida pelas circunstncias e pelo reclamo da prpriasociedade a lidar com problemas emergentes, como a contaminao crescente do meioambiente, a Aids, o consumo abusivo do lcool e outras drogas, a violncia social e asdiferentes formas de preconceito. E no h como lidar com esses temas por meio da merainformao ou da prescrio de regras de comportamento.

    Sem dvida, a informao ocupa um lugar importante na aprendizagem, mas aeducao para a Sade s ser efetivamente contemplada se puder mobilizar para asnecessrias mudanas na busca de uma vida saudvel. Para isso, os valores e a aquisio dehbitos e atitudes constituem as dimenses mais importantes. A experincia dosprofissionais de sade vem comprovando, de longa data, que a informao, isoladamente,tem pouco ou nenhum reflexo nos comportamentos.

    A escola precisa enfrentar o desafio de permitir que seus alunos reelaborem

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    conhecimentos de maneira a conformar valores, habilidades e prticas favorveis sade.Nesse processo, espera-se que possam estruturar e fortalecer comportamentos e hbitossaudveis, tornando-se sujeitos capazes de influenciar mudanas que tenham repercussoem sua vida pessoal e na qualidade de vida da coletividade.

    Para isso, necessria a adoo de abordagens metodolgicas que permitam ao aluno

    identificar problemas, levantar hipteses, reunir dados, refletir sobre situaes, descobrire desenvolver solues comprometidas com a promoo e a proteo da sade pessoal ecoletiva, e, principalmente, aplicar os conhecimentos adquiridos.

    Na perspectiva da projeo social da aprendizagem, na escola, na famlia e nacomunidade, deve ser estimulada a gerao de alternativas para a difuso dos estudos etrabalhos realizados. A produo de mensagens educativas em sade pelos prprios alunospode ser uma forma importante de permitir que se sintam e se tornem, de fato, protagonistasem Sade.

    Um ponto fica bastante evidente: quando a escola deseja comprometer-se com a

    educao para a Sade de seus alunos, alm de funcionar como um espao que oferecefortes referncias para a prtica e desenvolvimento de estilos de vida saudveis, tambminclui a abordagem da temtica da sade nos diferentes componentes curriculares.

    A EDUCAO PARA A SADE COMO UM TEMA TRANSVERSAL

    Sob o ponto de vista do processo sade/doena, as suas mltiplas dimenses, por si

    s, justificam a opo de caracterizar a educao para a Sade como um tema transversaldo currculo. Com efeito, somente a participao das diferentes reas, cada qual enfocandoconhecimentos especficos sua competncia, pode garantir que os alunos construam umaviso ampla do que sade. Como contraponto, a transversalidade requer ateno para aconsistncia na concepo do tema, que no pode se diluir, levando a perder de vista osobjetivos que se pretende atingir.

    A proposta de permear o conjunto dos componentes curriculares com a dimenso desade que lhes inerente permite, na realidade, a recomposio de um conhecimento quevem sendo progressivamente fragmentado nas diferentes reas do saber e no interior de

    cada uma delas. Assim, se os padres de sade e os diferentes conceitos de sade soconstrues sociais e histricas, resgatar o componente sade/doena da vida nos diferentesmomentos e sociedades permite recompor a histria, tradicionalmente reduzida a umaseqncia cronolgica de fatos. Mais do que isso, ao se tomar em conta a diversidade culturale, em especial, a pluralidade intrnseca cultura brasileira, gera-se uma excelenteoportunidade para a discusso sobre a situao de sade de diferentes grupos, suas

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    percepes diferenciadas quanto questo, como resolvem seus problemas cotidianos ecomo tm se mobilizado para transformar sua realidade.

    Isso demonstra que a transversalidade tambm pressupe uma inter-relaopermanente entre educao para a Sade e os demais temas transversais, pois a prprianatureza desses temas faz com que entre eles haja sempre uma grande afinidade, dado

    que compem, em seu conjunto, uma viso tica do mundo e das relaes humanas.Pode-se dizer, por exemplo, que Orientao Sexual e Sade so componentes de

    um mesmo conjunto temtico. Ganham dimenses prprias em funo de sua amplitude ecomplexidade, evidenciadas por meio das dificuldades vividas no s pela escola, mas pelasociedade em geral, no tratamento de ambas as questes. A abordagem desses tpicos emdiferentes documentos visa favorecer o entendimento das diferentes maneiras como valorese prticas relativos sade em geral, ou especificamente, no mbito da sexualidade humana,compem e refletem-se nas vivncias biolgicas, afetivas e sociais. Na realidade, todos osblocos de contedo dos dois temas se permeiam e se entrelaam, no sendo possvel

    trabalh-los de forma desconectada.O mesmo se pode afirmar para a educao ambiental, que envolve necessariamente

    a noo de qualidade de vida e o estudo de componentes essenciais produo de sade edoena. Alm da coincidncia ou interseco de contedos, tambm a perspectivapedaggica prev, em ambos os casos, que os alunos lidem com conhecimentos, valores eatitudes que devero, em ltima anlise, resultar em atitudes e comportamentos concretos.

    O mesmo raciocnio pode ser aplicado s diferentes reas e temas transversais. Osexemplos que se apresentam ao longo do texto devem ser tomados apenas como refernciaspara que no sejam restritivos para o professor, mas, pelo contrrio, se constituam num

    estmulo criatividade e construo de um projeto pedaggico coerente com sua realidade.

    O desenvolvimento de concepes e atitudes, o aprendizado de procedimentos evalores positivos com relao sade vo alm das reas e temas do currculo. Realiza-senas diferentes atividades escolares, em todos os espaos da escola e do entorno escolar, pormeio da construo gradual de uma dinmica que permita a vivncia de situaes favorveisao fortalecimento de compromissos para a busca da sade.

    Por isso, a educao para a Sade desenvolve-se, com igual importncia, em situaesde convivncia que se criam e no atendimento oportuno de interesses dos alunos, tanto

    quanto no ensino de seus contedos nas diferentes reas, de forma regular e contextualizada.Muitas vezes ocorrem manifestaes afetivas, conflitos ou casos de doena entre os colegas.So momentos em que o tema j se encontra presente entre os alunos e o interesse dogrupo est previamente estabelecido.

    A transversalidade no exclui a possibilidade de organizao de projetos de trabalhoem torno de questes da sade. O desenvolvimento do tema tambm se d pela organizao

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    de campanhas, seminrios, trabalhos artsticos, mobilizando diversas classes, divulgandoinformaes, ou utilizando materiais educativos produzidos pelos servios de sade.Espera-se, nessas situaes, que osalunos aprendam a lanar mo de conhecimentos deLngua Portuguesa, Matemtica, Cincias Naturais, Histria, Geografia etc., na busca decompreenso do assunto e na formulao de proposies para questes reais.

    Assim, a educao para a Sade precisa ser assumida como uma responsabilidade eum projeto de toda a escola e de cada um dos educadores, para que no se corra o risco detransform-la em um projeto vazio.

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    2 PARTE2 PARTE

    SADESADE

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    OBJETIVOS ECONTEDOS DE SADE PARATERCEIRO E QUARTO CICLOS

    Objetivos

    A educao para a Sade cumprir seus objetivos ao promover a conscientizao dosalunos para o direito sade, sensibiliz-los para a busca permanente da compreenso deseus condicionantes e capacit-los para a utilizao de medidas prticas de promoo,proteo e recuperao da sade ao seu alcance. Espera-se, portanto, que ao final do ensinofundamental os alunos sejam capazes de:

    compreender sade como direito de cidadania, valorizando asaes voltadas para sua promoo, proteo e recuperao;

    compreender a sade nos seus aspectos fsico, psquico e socialcomo uma dimenso essencial do crescimento e

    desenvolvimento do ser humano;

    compreender que a sade produzida nas relaes com o meiofsico, econmico e sociocultural, identificando fatores de risco sade pessoal e coletiva presentes no meio em que vive;

    conhecer e utilizar formas de interveno sobre os fatoresdesfavorveis sade presentes na realidade em que vive,agindo com responsabilidade em relao sua sade e sadecoletiva;

    conhecer os recursos da comunidade voltados para a promoo,proteo e recuperao da sade, em especial os servios desade;

    responsabilizar-se pessoalmente pela prpria sade, adotandohbitos de autocuidado, respeitando as possibilidades e limitesdo prprio corpo.

    Contedos

    Selecionados no intuito de atender s demandas da prtica social, segundocritrios de relevncia e atualidade, os contedos de Sade esto organizados demaneira a dar sentido s suas dimenses conceitual, procedimental e atitudinalprofundamente interconectadas. Essencialmente, devem subsidiar prticas para a vidasaudvel.

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    CRITRIOS DE SELEO

    Na busca de atingir os objetivos elencados de modo coerente com a concepo desade anteriormente exposta, os contedos foram selecionados levando-se em conta osseguintes critrios:

    a relevncia no processo de crescimento e desenvolvimentoem quaisquer condies de vida e sade particulares crianae ao adolescente em sua realidade social;

    os fatores de risco mais significativos na realidade brasileira ena faixa etria dos alunos do ensino fundamental;

    a possibilidade de prestar-se reflexo conjunta sobre asmedidas de promoo, proteo e recuperao da sade;

    a possibilidade de traduo da aprendizagem em prticas de

    cuidado em sade e exerccio da cidadania ao alcance do aluno.

    A identificao dos principais riscos em sade encontrados na realidade brasileirapara definir e organizar os contedos do trabalho educativo pertinente s faixas etrias dosalunos permite o desenvolvimento do tema na perspectiva do exerccio de atuar e cuidarda aprendizagem na vivenciao.

    Segundo dados do Ministrio da Sade, os principais agravos sade associados sfaixas etrias mdias dos alunos de terceiro e quarto ciclos so as chamadas causas externas,especialmente os acidentes extradomiciliares e os riscos decorrentes da violncia social.Entre as primeiras causas de morte aparecem os acidentes de trnsito, homicdios e suicdios,responsveis por aproximadamente 75% dos bitos de adolescentes do sexo masculino.Chamam a ateno, para o sexo feminino, os casos de morte associados gravidez, parto oupuerprio. Em 1993, cerca de 15% das mortes maternas documentadas atingiram meninasentre 10 e 19 anos. A gravidez na adolescncia vem crescendo bastante no Brasil e nomundo todo: em 1995, quase 25% dos partos registrados no sistema pblico de sadedo pas foram de mes com at 19 anos de idade e os riscos se mostraram muito maisacentuados do que aqueles associados gravidez em idades posteriores. Aparentemente,esses riscos no so inerentes gravidez na adolescncia, pois as gestantes jovens querecebem ateno e cuidados adequados no contribuem na mesma proporo para essesdados estatsticos.

    Os registros disponveis mostram ainda que a crie dentria o principal motivo deatendimento dos adolescentes na rede pblica ambulatorial de sade. Esse fato,parcialmente associado extrema limitao da oferta de outros servios pblicos para essafaixa etria, decorre tambm do desconforto agudo causado pela doena bucal quando desua instalao, assim como das limitaes da ao preventiva na rea, em nvel nacional.

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    Comparativamente, na rede particular, a procura de atendimento motivada principalmentepor distrbios psicolgicos e sexuais6 .

    sabido que o ingresso precoce no mundo do trabalho, muitas vezes sem a garantiamnima de direitos legais, com uso de equipamentos inadequados, em condies insalubrese de falta de segurana, leva ocorrncia de inmeras doenas ocupacionais e de acidentes,

    embora no exista uma dimenso exata do problema, por falta de registro sistematizadodesses dados.

    Na preveno de riscos, o uso indevido de drogas constitui um captulo parte. Asdimenses da demanda social para o tratamento do tema fazem com que seja necessrioenfoc-lo de maneira diferenciada, e as dificuldades em lidar com o assunto levam a colocara esperana nos educadores e muita expectativa nas instituies de ensino. inegvel quea escola seja um espao privilegiado para o tratamento do assunto, pois o discernimento nouso de drogas est diretamente relacionado formao e s vivncias afetivas e sociais decrianas e jovens, inclusive no mbito escolar. Alm disso, a vulnerabilidade do adolescentee o fato de ser esta a fase da vida na qual os comportamentos grupais tm enorme poder

    sobre as escolhas individuais fazem da escola palco para o estabelecimento de muitos dosvnculos decisivos para a formao das condutas dos alunos frente aos riscos. Mas no possvel trabalhar a questo na escola como se ela fosse uma ilha. O reconhecimento dosfatos e mitos a respeito do assunto, da situao real de uso e abuso de drogas em diferentesrealidades, assim como as idias e sentimentos dos alunos, da comunidade escolar e dospais a respeito do assunto precisam ser considerados.

    Drogas: situando o problema em suas reais dimenses

    O alarde da mdia, os gastos vultosos nas aes de guerra s drogas e de represso comercializao e ao consumo no tm produzido impactos sensveis, a no ser o desituar a questo como caso de polcia. necessrio reconhecer que o fenmeno modernodas drogas produto da prpria vida em sociedade, das rupturas nas relaes afetivas esociais e da desproteo de seus membros. Atualmente, as drogas so distribudas segundoregras financeiras e comerciais do mercado, como todas as demais mercadorias, ocupandoum lugar altamente lucrativo na economia e uma posio prpria no modo de organizaosocial.

    Na verdade, o uso de drogas no algo novo para a humanidade e no existem

    evidncias de que deixar de acontecer. O consumo de diferentes substncias psicoativasno trabalho, no lazer ou em rituais e festas, com papel agregador de comunidades, comuma todas as culturas, e o uso social e religioso de drogas prazerosas, capazes de modificar ohumor, as percepes e sensaes, tem sido uma constante ao longo da histria humana.

    6 Ministrio da Sade. Programa de Sade do Adolescente, 1996.

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    Entretanto, neste final de sculo, o acesso a diferentes drogas vem fugindo cada vezmais ao controle da coletividade, tendo passado a caracterizar-se, tambm, como umproblema sanitrio. Isso ocorre em funo de inmeros fatores, entre eles o aumentoconsidervel da oferta como resultado da produo em massa, os crescentes graus deconsumo e dependncia, as condies psicossociais desagregadoras que geram e seamplificam com o abuso das drogas atualmente oferecidas no mercado e com o crescimento

    da epidemia da Aids.

    De que drogas estamos falando? O que chamamos habitualmente de drogascorresponde s drogas psicoativas, que tm atrao por atuar no crebro, modificando asensibilidade, o modo de pensar e, muitas vezes, de agir. Isso inclui, alm de produtosilegais como maconha, crack e cocana, os medicamentos para emagrecer que contmanfetaminas, a nicotina, o lcool e a cafena. Por isso, ao se discutir drogas, necessriodiferenci-las. As drogas no so todas iguais. So distintas do ponto de vista do riscoorgnico, dos efeitos e da dependncia que podem provocar, da aceitao legal e culturalque desfrutam, implicando distintas situaes de risco. E no necessariamente os riscos

    decorrentes das convenes sociais, que estabelecem em cada momento e sociedade secada droga lcita ou ilcita, correspondem aos riscos orgnicos decorrentes de seu uso ouabuso.

    O fato que, no Brasil, as drogas legais representam mais de 90% dos abusosfreqentes praticados pela populao em geral7 . Os estudos disponveis mostram que,entre os escolares, destaca-se tambm o uso de drogas lcitas: em primeiro lugar aparece olcool, seguido pelo tabaco, por inalantes e tranqilizantes. Todos esses produtos podemser obtidos em mercados e farmcias. Fala-se em drogas genericamente, sem se levarem considerao as relaes cotidianas que se estabelecem com diferentes substnciasqumicas. No so feitas distines entre medicao e automedicao, atendendo, inclusive,aos chamados da propaganda de remdios, comercializados como quaisquer outros produtos.Em contradio com as prticas visveis aos jovens e que permeiam o cotidiano de suavivncia social, os discursos de combate s drogas sugerem que elas so produtos ilegais emisteriosos e seus consumidores so os outros, marginais e traficantes, a serem excludosdo convvio social. No s drogas, neste caso, pode constituir-se em um discurso alarmantemas vazio, que no leva em conta os sentidos sociais do fenmeno, nem repercute sobre acapacidade de discernimento dos verdadeiros riscos.

    indiscutvel, no Brasil, o consumo abusivo de medicamentos de forma noteraputica, estando os remdios muitas vezes disponveis criana e ao adolescente no

    prprio domiclio. Considerando os problemas de sade e as internaes hospitalaresdecorrentes do consumo abusivo de produtos psicoativos na populao em geral e entreadolescentes, novamente, o lcool, acessvel com facilidade pelo seu baixo custo, ofertageneralizada e propaganda ostensiva, ocupa, de longe, o primeiro lugar. Da mesma forma,

    7 Bucher, 1992.

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    o consumo excessivo de tabaco, embora seja um fator de risco importante para a morteprematura, por aumentar as probabilidades de ocorrncia de problemas pulmonares,cardiovasculares e cncer, entre outros, no resultou at hoje na proibio da propagandade cigarros em funo de poderosos interesses econmicos envolvidos. Note-se que aexperimentao ou mesmo o uso freqente de maconha aparecem em quinto lugar naspesquisas realizadas entre estudantes do ensino fundamental, em nvel nacional8 .

    Por outro lado, a iniciao no consumo de diferentes drogas psicotrpicas vem seintensificando entre crianas e jovens. Relatrio apresentado pela Organizao Pan-Americana de Sade aponta que o hbito de fumar, considerado pela entidade uma epidemiainternacional, tem incio, em 90% dos casos, na adolescncia. Dados relativos Aidstambm sugerem que a contaminao pelo HIV ocorre precocemente, associada no s iniciao sexual desprotegida, como ao uso compartilhado de seringas para a administraode drogas injetveis. Esta tambm a fase em que a sociedade estimula o adolescente parao consumo, eventualmente abusivo, de lcool, como indicador simblico de que seatravessou a linha divisria entre a infncia e a vida adulta. E, certamente, as drogas

    psicoativas podem assumir um papel importante na vida do adolescente como recursosfacilitadores da comunicao, da busca do prazer ou na lida com os novos desafios que seapresentam.

    Mas necessrio deixar claro que todos os dados disponveis no apontam para umaepidemia das drogas no Brasil; o seu consumo no pas no privilgio de jovens nem secaracteriza principalmente pelo abuso de drogas ilegais. Ao contrrio, as drogas legais ebanalizadas pela sociedade associam-se aos riscos mais significativos9 . Superar o alarmismoe a sensao de catstrofe iminente s pode ajudar na abordagem sensata da questo.

    TRATAMENTO DIDTICO

    A apresentao da concepo do tema e da organizao de seus contedos atendemao objetivo de compor a viso geral a partir da qual esta temtica pode permear, de maneiraconsistente, as diferentes reas do conhecimento e da vivncia escolar. Mas, ao mesmotempo, considera-se que a flexibilidade necessria na abordagem dos tpicos indicados e de outros que venham a ganhar importncia na escola , para que se leve em conta asexperincias e necessidades sentidas e expressas pelos prprios alunos a fim de que oscontedos ganhem significado e potencialidade de aplicao.

    O desenvolvimento dos contedos precisa considerar as particularidades da faixa decrescimento e desenvolvimento da classe, que pode ser bastante heterognea, para que oprofessor possa trabalhar os procedimentos, as atitudes e os conceitos de interesse para a

    8 Cebrid, 1990.9 Cotrim, 1998.

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    maioria do grupo. A correspondncia com a fase do crescimento e desenvolvimento dosalunos deve ser avaliada para que os contedos e o tratamento dado aos temas tenha amaior relao possvel com questes presentes na vida dos alunos.

    Alm disso, procedimentos e atitudes no concretizados, embora comdesenvolvimento previsto em momento anterior, podero ganhar prioridadeindependentemente da etapa formal (srie ou ciclo) da escolarizao.

    Na abordagem dos diversos componentes dos blocos de contedo, o enfoque principaldeve estar na sade e no na doena. Os detalhes relativos a processos fisiolgicos oupatolgicos ganharo sentido no processo de aprendizagem na medida em que contriburempara a compreenso dos cuidados em sade a eles associados. No pressuposto da educaopara a Sade a existncia do professor especialista ou a formao de alunos capazes dediscorrer sobre conceitos complexos, nem o aprendizado exaustivo dos aspectos funcionaise orgnicos do corpo humano. O que se pretende um trabalho pedaggico no qual ascondies que se fazem necessrias para a sade, sua valorizao e a realizao deprocedimentos que a favorecem sejam o foco principal.

    Os contedos e sua abordagem se aprofundam em conceituao ao longo dos ciclosdo ensino fundamental para permitir a ampliao do espectro de anlise e de formulaode alternativas frente aos diferentes desafios que se apresentam, inclusive na dimensoafetiva que necessariamente trazem consigo. O aumento progressivo da profundidade doscontedos informativos e conceituais est correlacionado, portanto, ampliao do espaode atuao e formao de opinio. Deve se ampliar progressivamente a gerao deoportunidades para o posicionamento diante de situaes, inclusive do ponto de vista tericoe conceitual.

    No terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental, o enfoque da educao para a

    Sade traz, com maior intensidade, a contextualizao do processo sade/doena. Busca-se a identificao dos seus determinantes no nvel individual e das coletividades, parapossibilitar o reconhecimento progressivamente mais amplo das correlaes sobre as quaisse pode interferir para a promoo da vida saudvel.

    A realizao de estudos de reconhecimento da regio em que se insere a escola e dasconcepes e necessidades de sade que lhe so caractersticas um instrumento essencialpara montar e desenvolver o projeto educativo. A fluidez das relaes entre a escola, afamlia e demais instituies, grupos organizados e entidades cujas aes repercutem sobrea sade, condio para contextualizar a educao para a Sade e, ao mesmo tempo, umcomponente amplificador da ao educativa.

    BLOCOS DE CONTEDOS

    O conjunto de contedos apresentados a seguir destina-se ao trabalho pedaggicodo terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. O aprofundamento da temtica ao longo

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    dos ciclos articula-se com o prprio processo de crescimento e desenvolvimento dos alunos.Caminha-se progressivamente para a ampliao da rede de relaes espaciais e sociais, darelevncia da dimenso conceitual e da responsabilizao autnoma e solidria pela sadepessoal e coletiva.

    Os contedos selecionados foram organizados em eixostemticos que cumprem a

    funo de indicar as dimenses pessoal e coletiva da sade: Autoconhecimento para oautocuidado e Vida coletiva. importante que fique clara a especificidade e o papel motorde cada ser humano na sua sade, ao mesmo tempo em que essencial a compreenso deque os mltiplos fatores condicionantes do processo sade/doena se estabelecem nocontexto mais amplo da vida em sociedade. Por isso, possvel, desejvel e necessrio quesejam estabelecidas conexes entre essas dimenses profundamente inter-relacionadas.

    Autoconhecimento para o autocuidado

    A finalidade deste bloco de contedos possibilitar aos alunos o entendimento deque sade tem uma dimenso pessoal que se expressa, no espao e no tempo de uma vida,pelos meios de que cada ser humano dispe para trilhar seu caminho em direo ao bem-estar fsico, mental e social. Isso requer sujeitos com autonomia, liberdade e capacidadepara regular as variaes que aparecem no organismo e que se apropriem dos meios paratomar medidas prticas de autocuidado em geral e, especificamente, diante de situaesde risco.

    Para atender a essa meta, necessrio que o trabalho educativo tenha como refernciaas transformaes prprias do crescimento e desenvolvimento e promova o desenvolvimento

    da conscincia crtica em relao aos fatores que intervm positiva ou negativamente. Essespressupostos levam definio de alguns contedos essenciais: a construo da identidadee da auto-estima, o cuidado do corpo, a nutrio, a valorizao dos vnculos afetivos e anegociao de comportamentos para o convvio social.

    importante que os alunos possam aprofundar, progressivamente, os conhecimentossobre o funcionamento do corpo humano e do seu prprio para permitir a ampliaodas possibilidades de se conhecer para se cuidar, valorizando o corpo como sistema integrado,as questes ligadas construo de identidade e as caractersticas pessoais, num enfoquedesenvolvido durante todo o ensino fundamental. A rea de Cincias Naturais, em especial,contempla contedos essenciais para a compreenso dos mecanismos biolgicos quesustentam o fenmeno sade/doena e exerce liderana na determinao do enfoque dadopara a abordagem da vida humana.

    No contexto das intensas e contnuas transformaes prprias do amadurecimentosexual, trabalhar a construo positiva da imagem corporal pode ter significado importantepara a auto-estima e autoconfiana, com conseqncias para toda a vida futura.

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    O estudo da anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor masculino e feminino, e defenmenos como menarca, menstruao e ciclo menstrual, fecundao, gravidez, parto epuerprio, em suas implicaes fisiolgicas mas tambm psicossociais, ganha agora maiordestaque, at por sua relao com a preparao para a vida sexual com parceiros. Mesmoconsideradas as particularidades de cada classe, o trabalho precoce para favorecer oestabelecimento de vnculos fluidos de relao e para discernir fatos e preconceitos pode

    ser decisivo para o cuidado de si e de parceiros, em situaes presentes e futuras.

    A puberdade e a adolescncia exigem especial ateno dos jovens para o controledo corpo incluindo respirao, repouso e relaxamento. Forja-se nessa fase uma novaviso de si e do mundo ao se reeditar todo o desenvolvimento infantil em busca de definiesde carter social, sexual, ideolgico e vocacional. A elaborao desse momento evolutivose faz dentro de um tempo individual e de uma forma pessoal, por meio de reformulaescontnuas da imagem corporal e do exerccio de situar-se constantemente na famlia e nasociedade. As diferentes modalidades da arte so recursos para a ampliao das possibilidadesmotoras e expressivas do corpo e dos movimentos na ao e na comunicao de sentimentos,

    emoes e necessidades.O professor pode recolher e elaborar, junto com os alunos, informaes sobre

    diferentes formas, usos e costumes de cuidado corporal para permitir a construo deexplicaes e justificativas para as rotinas, normas e atividades voltadas para o cuidado emsade, situando-as no seu contexto sociocultural.

    A continuidade do trabalho voltado para o reconhecimento e aceitao da diversidadehumana, alm de destinar-se formao para o combate de discriminaes e preconceitos,torna-se importante para permitir a valorizao esttica de diferentes tipos fsicos, almdos padres estticos ideais apregoados por revistas, pelo cinema ou pela televiso.

    A higiene corporal tratada como condio para a vida saudvel. A aquisio dehbitos de higiene corporal tem incio na infncia, no sendo mais o enfoque principal noterceiro e quarto ciclos, pois espera-se que a prtica autnoma desses cuidados j tenhasido incorporada ao cotidiano, na forma de rotinas, normas e atividades. Mas, eventualmente,a discusso de questes relativas higiene corporal deve ser retomada sempre que forsentida a necessidade. Busca-se, por meio do trabalho pedaggico, mobilizar os alunospara estabelecer relaes entre as decises pessoais de autocuidado e a qualidade do convviosocial.

    A associao direta entre higiene e alimentao precisa ser enfatizada, tanto no que

    diz respeito gua para consumo humano quanto aos processos de produo e manuseiode alimentos.

    No terceiro e quarto ciclos, a alimentao adequada continua recebendo destaquecomo fator essencial no crescimento e desenvolvimento, no desempenho das atividadescotidianas, na promoo e na recuperao da sade. Abordada nos primeiros ciclos do pontode vista das necessidades humanas bsicas, volta-se agora para a investigao de hbitos

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    alimentares em diferentes realidades e culturas, como instrumento de identificao dasrelaes entre dieta, rituais da alimentao e vivncia social. O foco agora est posto nasfinalidades da alimentao, includas as necessidades corporais, socioculturais e emocionais.O conceito de uma dieta universal correta deve ser evitado, sob pena de desestimular aconstruo de um padro alimentar desejvel e compatvel com a cultura local, composto apartir dos alimentos ricos em nutrientes prprios de cada realidade.

    Do ponto de vista orgnico, aprofunda-se o estudo do processo completo de nutrio,desde a ingesto de alimentos, digesto, absoro, anabolismo, catabolismo e excreo.Avaliam-se as necessidades bsicas de nutrientes por pessoa, a contribuio dos diferentesalimentos para o crescimento e desenvolvimento e as tabelas de ingesto recomendadas,associando-as presena dos diferentes nutrientes nos alimentos gua, oxignio,protenas, hidratos de carbono, gorduras, sais minerais, vitaminas e suas funes noorganismo.

    Recomenda-se um trabalho conjunto com os alunos para a reconstituio do caminhoseguido pelos alimentos desde a sua produo at o consumidor, a identificao do trabalho

    humano envolvido, do uso de aditivos e agrotxicos em sua produo e seus efeitos sobrea sade dos produtores e consumidores. Busca-se elaborar, coletivamente, propostas sobrediferentes formas de melhorar os recursos alimentares.

    Hbitos alimentares precisam ser criticamente debatidos em grupos como forma deavaliar a gerao artificial de necessidades pela mdia e os efeitos da publicidade noincentivo ao consumo de produtos energticos, vitaminas e alimentos industrializados.Em especial, preciso reconhecer a possibilidade de ocorrncia simultnea de obesidade problema de dimenses orgnicas e afetivas e carncias nutricionais, decorrentesprincipalmente do consumo habitual de alimentos altamente calricos oferecidos pelo

    mercado, desprovidos de nutrientes adequados ao consumo humano. Sua contrapartida o consumo de medicamentos emagrecedores. O uso excessivo de acar na dieta destacadocomo um hbito alimentar a ser transformado, no se justificando o grau de consumo (emtodo o pas) por necessidades calricas e sim por fatores culturais, o que causa prejuzoscomprovados, particularmente sade bucal, contribuindo tambm para a obesidadeprecoce, importante fator de risco para doenas crnico-degenerativas.

    Muitos adultos recorrem a mdicos apenas para ouvir deles que tm problemas desade facilmente identificados numa auto-anlise elementar, como, por exemplo, paratomar conscincia de que esto com estafa. Para transformar essa situao, fundamentalexercitar com os alunos o diagnstico em sade. Isso no implica automedicao, masobservar sinais e sintomas relacionados aos fatores de risco mais comuns e a capacidade deidentificao e expresso de sensaes de desconforto, dor e necessidades pessoais noatendidas.

    O conhecimento dos recursos disponveis para o adolescente (atividades e servios)para a promoo, proteo e recuperao da sade e as possibilidades de uso que oferecem

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    so contedos desta aprendizagem. A valorizao do exame de sade peridico um tpicoa ser desenvolvido, preferencialmente, em conjunto com os servios que possam ser, naprtica, referncia para adolescentes. raro, em nossa realidade, que o jovem possa contarcom atendimento por falta de acolhimento dos servios para estas faixas etrias, emboraexistam programas recomendados pelo Ministrio da Sade voltados para a sade do escolare para a assistncia integral ao adolescente. Os jovens hesitam em recorrer aos profissionais

    de sade por receio de quebra de privacidade e sigilo, especialmente quando seus problemase dvidas so relacionados atividade sexual.

    O aprendizado das relaes entre a prtica correta e habitual de exerccio fsico e amelhora da sade deve incluir os benefcios, riscos, indicaes e contra-indicaes dediferentes modalidades esportivas, alm das medidas de segurana na prtica de atividadesfsicas. A moda de malhar torna necessrio o debate em torno do equilbrio e dosagemdo esforo, da identificao e busca da correo de problemas posturais, especialmente noestiro do crescimento.

    A prtica regular de atividades fsicas na puberdade e na adolescncia, componente

    essencial do crescimento e desenvolvimento saudveis, favorece a identificao daspossibilidades expressivas e de uso da fora e dos movimentos, desempenhando papelimportante no s do ponto de vista orgnico como psquico, e contribuindo na reelaboraodas transformaes corporais e das relaes em grupo.

    O fato das causas internas no serem estatisticamente importantes nesta faixa etriacomo fatores de risco no deve motivar a excluso da abordagem preventiva das doenascrnico-degenerativas. Em muitos casos, essas doenas podero estar atingindo os pais oudemais familiares dos alunos dessas faixas etrias e o debate em torno de seus fatorespredisponentes e desencadeantes poder ser desenvolvido em conjunto com as famlias,

    tornando os alunos agentes multiplicadores em sade. Um problema muito presente naatualidade o aumento da incidncia de cncer de pele, favorecido pela exposiodesprotegida aos raios ultravioleta. Nesse caso, como em muitos outros, as medidas depreveno implicam o estabelecimento precoce de hbitos cuja alterao futura, na idadeadulta, acarretar sofrimento por despertar sentimentos de privao. Exames preventivosde cncer de mama e colo do tero so exemplos tpicos de cuidados efetivos no diagnsticoprecoce e controle ou cura da doena em seus estgios iniciais. Em ambos os casos, ohbito de realiz-los periodicamente a chave para a preveno.

    Um instrumento metodolgico integrador de contedos bastante rico o exercciode construo da histria de sade individual com a introduo peridica de elementosque ganhem importncia em funo do crescimento e desenvolvimento e do processo deaprendizagem, incluindo a cada momento novos dados e acontecimentos significativospara a apropriao da histria de vida.

    A negociao de atitudes saudveis ganha cada vez mais significado na medida emque o comportamento grupal e as regras e modas estabelecidas pela turma ganhemstatus

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    de lei. Mas no se trata de tentar substituir uma lei pela outra, dando escola o papel deassumir linhas prescritivas, pois seu objetivo no normatizar a vida privada do aluno oupadronizar condutas. Se a ampliao da capacidade de refletir e agir com autonomia oresultado esperado, ento a metodologia de trabalho deve efetiv-las j no processo deaprendizagem.

    Vida coletiva

    nos espaos coletivos que se produz a condio de sade da comunidade e, emgrande parte, de cada um de seus componentes. Nas relaes sociais se afirma a concepohegemnica de sade e, portanto, nesse campo que se pode avanar no entendimento dasade como valor, na luta pela vida e pela qualidade de vida.

    Os contedos que compem este bloco para o terceiro e quarto ciclos estoreferenciados nas correlaes entre organizao sociopoltica e padres de sade coletiva.

    Destacam-se pontos especficos como indicadores de qualidade de vida e sade, correlaesentre meio ambiente e sade, doenas transmissveis, riscos por acidentes e uso indevidode drogas, assim como relaes sociais, acordos e limites.

    A anlise das condies de vida de populaes a partir de informaes como nveisde renda, taxa de escolarizao, taxas de cobertura por gua tratada e rede de esgoto,diversidade no acesso ao lazer e aos servios de sade uma forma de verificao dasassociaes entre qualidade de vida e sade.

    ilustrativo trabalhar, especificamente, com indicadores vitais, entre eles as taxasde natalidade e mortalidade nas diferentes faixas etrias, regies e grupos sociais. Pode-se

    realizar levantamentos da prevalncia de doenas nutricionais ou dos padres de ocorrnciade epidemias e endemias por meio de estudos comparativos, analisando as formas deproduo social do fenmeno sade/doena nos indivduos e populaes.

    Mas deve-se tomar especial cuidado para que o estudo dos agravos sociais sadedas populaes no se limite comparao entre taxas e nmeros. Eles podem, ao contrriodo que se quer, escamotear as pessoas e os conflitos, dependendo da forma como socolhidos e organizados. Coletividades so constitudas por pessoas e elas no se remodelama partir de valores estatsticos mdios. Nesse sentido, a matemtica uma ferramentavaliosa para a compreenso do quadro geral de sade da populao, seja em nvel local ouglobal. Permite entender possibilidades (esperana de vida ao nascer), diferenas (estaturas)e disparidades (distribuio de doenas). Mas a prpria matemtica ganha sentido quandose faz o exerccio de relacionar observaes do mundo real com suas representaes grficase numricas, contextualizando-as e analisando-as do ponto de vista qualitativo.

    A identificao da existncia de violncia, das tenses e desajustamentos, prostituioe, em muitos casos, da excluso social como forma de enfrentamento de doenas como

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    a tuberculose, a hansenase, a doena mental ou a Aids, deve ser voltada para a formaode atitude crtica quanto s repercusses de determinados valores, prticas e formas deorganizao social sobre a sade das pessoas e da sociedade.

    Na verdade, a realizao de exerccios de diagnstico de sade da populao terminapor ser, igualmente, um instrumento para o exerccio da reflexo crtica sobre a concepo

    de sade e doena com a qual se interpretam os fenmenos humanos.Num trabalho que seja voltado para a ao, o conhecimento do quadro epidemiolgico

    brasileiro, incluindo seu histrico e situao atual, abre o debate formulao de alternativaspara a promoo, proteo e recuperao da sade, e identificao de possibilidades paraa ao ao alcance dos alunos.

    No tratamento das relaes entre sade e meio ambiente devem ser considerados osfatores que tm comprometido a salubridade ambiental de forma mais significativa e asalternativas aplicadas ou passveis de aplicao em experincias efetivas. Alm da destruiode ambientes naturais, esses fatores continuam sendo as polticas urbanas equivocadas e

    os mtodos de trabalho insustentveis na indstria e na agricultura, sistemas inadequadosou insuficientes de tratamento da gua, formas imprprias de destino e tratamento dedejetos humanos, animais e do lixo. A rea de Geografia pode contribuir significativamentepara a compreenso da maneira como as diferentes formas de organizao humana asrelaes com a natureza, a interveno humana sobre ela contribuem para plasmar asituao de sade em diferentes realidades. Pode-se mapear as transformaes necessriasna poltica ambiental e no prprio ambiente para fazer pender a balana em favor da vidae da sade, no presente e no futuro.

    No que se refere suas prticas, toda a comunidade escolar deve participarcotidianamente da conservao do ambiente limpo e saudvel na escola e seu entorno.

    A atuao em programas de defesa civil ou o desenvolvimento de projetos para aidentificao dos riscos e aes preventivas e emergenciais em situaes crticas abremcampo para a traduo deste contedo em prticas concretas, segundo a realidade sanitriae social de cada localidade: os principais sinais e sintomas das doenas transmissveis emevidncia em funo de epidemias e endemias, as formas de contgio, preveno etratamento precoce para a proteo da sade pessoal e de terceiros. Destacam-se as doenassexualmente transmissveis e em especial a Aids, tratadas em captulo parte dentro dotema Orientao Sexual. A informao relativa aos direitos da criana e do adolescente e validade e importncia em se buscar ajuda quando necessrio constituem recursos essenciais

    para a proteo sade, especificamente para a proteo contra a violncia sexual.Infelizmente, preciso lembrar que as diferentes formas de violncia fsica e psicossocial,incluindo-se o abuso sexual, ocorrem, na maioria da vezes, no prprio ambiente familiar.

    Os acidentes podem ser contemplados tanto do ponto de vista das medidas prticasde preveno como da aprendizagem de medidas de primeiros socorros. Em aulas prticas,com a participao de profissionais de sade, salva-vidas e bombeiros, podem ser

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    demonstradas as tcnicas para higienizao de ferimentos superficiais, uso de compressasfrias em caso de contuses e primeiros cuidados em convulses, mordidas de animais,queimaduras, desmaios, picadas de insetos, tores e fraturas, afogamentos, intoxicaes,cibras, febre, choque eltrico, diarria e vmito, acidentes de trnsito, e uma infinidadede situaes que podem ocorrer na vida cotidiana. Deve ser destacada a necessidade dediscernir problemas de maior gravidade, reconhecendo a necessidade de buscar auxlio de

    adultos e profissionais de sade.

    Diversos fatores predispem o adolescente a comportamentos de risco para acidentes,principais responsveis pela perda de anos potenciais de vida em faixas etrias precoces.Torna-se prioritrio o desenvolvimento da valorao ajustada de riscos. Para isso, necessriotrabalhar as informaes relativas incidncia de agravos sade por acidentes de formageral e, particularmente, na realidade do escolar, identificando os comportamentos segurospertinentes a cada situao.

    fundamental para a proteo vida e sade, nessa idade, conhecer as regrasbsicas de segurana no trabalho e no trnsito e seu significado normativo e preventivo,tanto para o aprendizado da convivncia social como para a aplicao imediata, na vidacotidiana, das medidas preventivas correspondentes.

    Deve-se ter o cuidado de no associar preveno idia que se deve evitar qualquerrisco. Os riscos so inerentes vida, alm de ser legitimada pela prpria sociedade aassociao entre risco e prazer, como bem demonstra a prtica de muitos esportes. Maspode-se discutir o medo como um sinal positivo de vida no de covardia quando secorre risco. No se trata de acabar com os riscos e desafios, mas de construir competnciaspara responder bem a eles.

    Uma possibilidade realista de trabalhar a questo do risco a identificao dasassociaes entre seus diversos componentes como consumo de lcool e acidentes de trnsitoou consumo de drogas injetveis e aumento da vulnerabilidade ao vrus da Aids. Narealidade, as mortes violentas que atingem particularmente os adolescentes revelam comoregra geral uma associao de riscos que no podem ser tratados de forma isolada.

    Este pode ser o contexto para trabalhar de forma produtiva a vulnerabilidade doadolescente e, particularmente, o uso indevido de drogas. Considerando-se asexperincias j realizadas nesse campo, a escola em seu conjunto precisa adotar umaabordagem preventiva consistente, que integre o processo educativo de maneirapermanente. No necessrio, para isso, promover aulas explicativas sobre diferentes

    drogas. Pode-se, num momento determinado do trabalho educativo, com o auxlio de umprofissional de sade ou de um professor que tenha interesse especial no assunto, identificaros efeitos das diferentes drogas nas pessoas para o discernimento entre as informaescorretas e os mitos e tabus que distanciam da preveno ao invs de promov-la. importante diferenciar a experimentao do uso sistemtico, momento no qual o indivduopode perder a oportunidade de escolha. Cabe promover a reflexo sobre o abuso e a

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    dependncia, situaes crticas de risco e de perda da liberdade, da mesma liberdade cujabusca tenha sido a motivao inicial para o consumo da droga.

    O professor no precisa ser especialista em drogas e seus efeitos para realizar o trabalhopreventivo, prprio ao mbito escolar. Em muitos casos, inclusive, os alunos podero termais informaes e menos receios em lidar com esse assunto do que os prprios educadores.

    Alm do mais, no se tem quaisquer evidncias de que a exposio a riscos ou o consumosistemtico de drogas que limitam a sade relaciona-se negativamente com informaestericas sobre suas aes e efeitos. Segundo relatrio apresentado pelo Ministrio da Sade,em 1994, a maioria dos estudantes de segundo grau consumidores de algum tipo de drogaconsiderava o consumo prejudicial sade. Expectativas de resolver a questo somentepor meio de informao e de aes preventivas pautadas na proibio resultaram ineficazes.

    A construo de atitudes de proteo contra os agravos sade decorrentes do abusode drogas precisa ser encarada como um trabalho de mdio e longo prazos. As nicaspossibilidades que se tm mostrado frutferas no mbito escolar so as oportunidades de

    reflexo e de dilogo sobre o assunto. No adianta pensar pelos alunos; ao gerar espaospara essa discusso, a escola possibilita a construo de seu prprio discurso e a oportunidadede legitimar valores de modo autnomo. Este, sem dvida, no um trabalho que pode serfeito de modo isolado. Articula-se necessariamente com as demais questes da vida dosjovens e demanda tanto condies institucionais quanto postura pessoal de acolhimentopor parte dos professores.

    A abordagem preferencial se d, portanto, na forma de preveno inespecfica, naeducao preventiva, na aprendizagem social de valores, atitudes e limites, pois o usoindevido de drogas no diz respeito aos marginais sociedade, mas situa-se no centro deseus conflitos. O consumo de drogas psicoativas sentido, pela maioria de seus usurios,como recurso que favorece o comportamento social mais relaxado, integrado ou alegre, oucomo alternativa para a convivncia com os problemas para os quais no se tem soluo oupossibilidade de enfrentamento. E esses problemas so reais e esto presentes na vida detodas as pessoas. Quantas vezes no trabalho, nas relaes familiares, na vida social, hrestritas possibilidades de escolha para situaes difceis, dolorosas ou mesmoinsustentveis? H polmicas sobre a existncia de personalidades vulnerveis, maispropensas drogadio. Mas, certamente, o uso sistemtico de drogas prejudiciais sadeconstitui-se, hoje, em questo de mbito social alm de pessoal.

    H um longo caminho anterior dependncia, que afeta um nmero muito pequeno

    de pessoas. A droga, alm de produzir prazer, supre uma necessidade, representando muitasvezes uma tentativa de conforto ou de alvio da dor. Isto significa que preveno ao abusode drogas se faz, principalmente, pelo estabelecimento do dilogo quanto aos fatorespresentes na vida dos quais se quer alienar, seja na busca de alternativas para oenfrentamento dos desafios ou, pelo menos, em sua clara identificao. Faz-se tambmpor meio da percepo de fontes alternativas de prazer, de sentir-se capaz e com vontade

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