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PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (ENSINO MÉDIO ) – 2000 Conhecimentos de Língua Estrangeira Moderna No âmbito da LDB, as Línguas Estrangeiras Modernas recuperam, de alguma forma, a importância que durante muito tempo lhes foi negada. Consideradas, muitas vezes e de maneira injustificada, como disciplina pouco relevante, elas adquirem, agora, a configuração de disciplina tão importante como qualquer outra do currículo, do ponto de vista da formação do indivíduo. Assim, (...) assumem a condição de serem parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração num mundo globalizado. No Brasil, embora a legislação da primeira metade deste século já indicasse o caráter prático que deveria possuir o ensino das línguas estrangeiras vivas, nem sempre isso ocorreu. Fatores como o reduzido número de horas reservado ao estudo das línguas estrangeiras e a carência de professores com formação lingüística e pedagógica, por exemplo, foram os responsáveis pela não aplicação efetiva dos textos legais. Assim, em lugar de capacitar o aluno a falar, ler e escrever em um novo idioma, as aulas de Línguas Estrangeiras Modernas nas escolas de nível médio, acabaram por assumir uma feição monótona e repetitiva que, muitas vezes, chega a desmotivar professores e alunos, ao mesmo tempo em que deixa de valorizar conteúdos relevantes à formação educacional dos estudantes. Evidentemente, não se chegou a essa situação por acaso. Além da carência de docentes com formação adequada e o fato de que, salvo exceções, a língua estrangeira predominante no currículo ser o inglês, reduziu muito o interesse pela aprendizagem de outras línguas

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PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS (ENSINO MDIO) 2000

Conhecimentos de Lngua Estrangeira Moderna

No mbito da LDB, as Lnguas Estrangeiras Modernas recuperam, de alguma forma, a

importncia que durante muito tempo lhes foi negada. Consideradas, muitas vezes e de

maneira injustificada, como disciplina pouco relevante, elas adquirem, agora, a configurao

de disciplina to importante como qualquer outra do currculo, do ponto de vista da formao

do indivduo.

Assim, (...) assumem a condio de serem parte indissolvel do conjunto de conhecimentos

essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de vrias culturas e, conseqentemente,

propiciam sua integrao num mundo globalizado.

No Brasil, embora a legislao da primeira metade deste sculo j indicasse o carter

prtico que deveria possuir o ensino das lnguas estrangeiras vivas, nem sempre isso ocorreu.

Fatores como o reduzido nmero de horas reservado ao estudo das lnguas estrangeiras e a

carncia de professores com formao lingstica e pedaggica, por exemplo, foram os

responsveis pela no aplicao efetiva dos textos legais. Assim, em lugar de capacitar o

aluno a falar, ler e escrever em um novo idioma, as aulas de Lnguas Estrangeiras Modernas

nas escolas de nvel mdio, acabaram por assumir uma feio montona e repetitiva que,

muitas vezes, chega a desmotivar professores e alunos, ao mesmo tempo em que deixa de

valorizar contedos relevantes formao educacional dos estudantes.

Evidentemente, no se chegou a essa situao por acaso. Alm da carncia de docentes

com formao adequada e o fato de que, salvo excees, a lngua estrangeira predominante

no currculo ser o ingls, reduziu muito o interesse pela aprendizagem de outras lnguas

estrangeiras e a conseqente formao de professores de outros idiomas. Portanto, mesmo

quando a escola manifestava o desejo de incluir a oferta de outra lngua estrangeira, esbarrava

na grande dificuldade de no contar com profissionais qualificados. Agravando esse quadro,

o pas vivenciou a escassez de materiais didticos que, de fato, incentivassem o ensino e a

aprendizagem de Lnguas Estrangeiras; quando os havia, o custo os tornava inacessveis a

grande parte dos estudantes. (p.25)

Assim, as Lnguas Estrangeiras na escola regular passaram a pautar-se, quase sempre,

apenas no estudo de formas gramaticais, na memorizao de regras e na prioridade da lngua

escrita e, em geral, tudo isso de forma descontextualizada e desvinculada da realidade.

Ao figurarem inseridas numa grande rea Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias , as

Lnguas Estrangeiras Modernas assumem a sua funo intrnseca que, durante muito tempo,

esteve camuflada: a de serem veculos fundamentais na comunicao entre os homens. Pelo

seu carter de sistema simblico, como qualquer linguagem, elas funcionam como meios para

se ter acesso ao conhecimento e, portanto, s diferentes formas de pensar, de criar, de sentir,

de agir e de conceber a realidade, o que propicia ao indivduo uma formao mais abrangente

e, ao mesmo tempo, mais slida.

essencial, pois, entender-se a presena das Lnguas Estrangeiras Modernas inseridas

numa rea, e no mais como uma disciplina isolada no currculo.

Numa perspectiva interdisciplinar e relacionada com contextos reais, o processo ensino-aprendizagem de Lnguas Estrangeiras adquire nova configurao ou, antes, requer a efetiva

colocao em prtica de alguns princpios fundamentais que ficaram apenas no papel por

serem considerados utpicos ou de difcil viabilizao.

Embora seja certo que os objetivos prticos entender, falar, ler e escrever a que a

legislao e especialistas fazem referncia so importantes, quer nos parecer que o carter

formativo intrnseco aprendizagem de Lnguas Estrangeiras no pode ser ignorado. Torna-

se, pois, fundamental, conferir ao ensino escolar de Lnguas Estrangeiras um carter que,

alm de capacitar o aluno a compreender e a produzir enunciados corretos no novo idioma,

propicie ao aprendiz a possibilidade de atingir um nvel de competncia lingstica capaz de

permitir-lhe acesso a informaes de vrios tipos, ao mesmo tempo em que contribua para a

sua formao geral enquanto cidado.

Nessa linha de pensamento, deixa de ter sentido o ensino de lnguas que objetiva apenas o

conhecimento metalingstico e o domnio consciente de regras gramaticais que permitem,

quando muito, alcanar resultados puramente medianos em exames escritos. Esse tipo de

ensino, que acaba por tornar-se uma simples repetio, ano aps ano, dos mesmos contedos,

cede lugar, na perspectiva atual, a uma modalidade de curso que tem como princpio geral

levar o aluno a comunicar-se de maneira adequada em diferentes situaes da vida cotidiana.

() O que tem ocorrido ao longo do tempo que a responsabilidade sobre o papel formador das aulas de Lnguas Estrangeiras tem sido, tacitamente, retirado da escola regular e atribudo aos institutos especializados no ensino de lnguas. Assim, quando algum quer ou tem necessidade, de fato, de aprender uma lngua (p.26) estrangeira, inscreve-se em cursos extracurriculares, pois no se espera que a escola mdia cumpra essa funo.

s portas do novo milnio, no possvel continuar pensando e agindo dessa forma.

imprescindvel restituir ao Ensino Mdio o seu papel de formador. Para tanto, preciso

reconsiderar, de maneira geral, a concepo de ensino e, em particular, a concepo de ensino

de Lnguas Estrangeiras.

Nesse sentido, vrios pontos merecem ateno. Um deles diz respeito ao monoplio

lingstico que dominou nas ltimas dcadas, em especial nas escolas pblicas. Sem dvida, a

aprendizagem da Lngua Inglesa fundamental no mundo moderno, porm, essa no deve ser

a nica possibilidade a ser oferecida ao aluno. Em contrapartida, verificou-se, nos ltimos

anos, um crescente interesse pelo estudo do castelhano. De igual maneira, entendemos que

tampouco deva substituir-se um monoplio lingstico por outro. () No se deve pensar numa espcie de unificao do ensino, mas, sim, no atendimento s diversidades, aos interesses locais e s necessidades do mercado de trabalho no qual se insere ou vir a inserir-se o aluno.

Evidentemente, fundamental atentar para a realidade: o Ensino Mdio possui, entre suas

funes, um compromisso com a educao para o trabalho. Da no poder ser ignorado tal

contexto (). Por outro lado, como a lei prev a possibilidade da incluso de uma segunda Lngua

Estrangeira Moderna em carter optativo, parece conveniente vincular tal oferta tambm aos

interesses da comunidade. (p.27)

O que a se verifica uma afluncia de condies que propiciam uma aprendizagem

significativa, como podem ser a possibilidade de o aluno optar pelo idioma que mais lhe

interessar e o foco desses cursos centrar-se na comunicao em lugar de centrar-se na

gramtica normativa. Convm, pois, ao inserir um ou mais idiomas estrangeiros na grade

curricular, procurar aproveitar os pontos positivos dessas e de outras experincias

semelhantes, no sentido de que o Ensino Mdio passe a organizar seus cursos de Lnguas

objetivando tornar-se algo til e significativo, em vez de representar apenas uma disciplina a

mais na grade curricular.

Competncias e habilidades a serem desenvolvidas em Lnguas Estrangeiras ModernasAtualmente, a grande maioria das escolas baseia as aulas de Lngua Estrangeira no domnio do sistema formal da lngua objeto, isto , pretende-se levar o aluno a entender, falar, ler e escrever, acreditando que, a partir disso, ele ser capaz de usar o novo idioma em situaes reais de comunicao. Entretanto, o trabalho com as habilidades lingsticas citadas, por diferentes razes, acaba centrando-se nos preceitos da gramtica normativa, destacando-se a norma culta e a modalidade escrita da lngua. So raras as oportunidades que o aluno tem para ouvir ou falar a lngua estrangeira.

Assim, com certa razo, alunos e professores desmotivam-se, posto que o estudo abstrato do

sistema sinttico ou morfolgico de um idioma estrangeiro pouco interesse capaz de

despertar, pois torna-se difcil relacionar tal tipo de aprendizagem com outras disciplinas do

currculo, ou mesmo estabelecer a sua funo num mundo globalizado.

Ao pensar-se numa aprendizagem significativa, necessrio considerar os motivos pelos

quais importante conhecer-se uma ou mais lnguas estrangeiras. Se em lugar de pensarmos,

unicamente, nas habilidades lingsticas, pensarmos em competncias a serem dominadas,

talvez seja possvel estabelecermos as razes que de fato justificam essa aprendizagem. Dessa

forma, a competncia comunicativa s poder ser alcanada se, num curso de lnguas, forem

desenvolvidas as demais competncias que a integram e que, a seguir, esboamos de forma

breve:

Saber distinguir entre as variantes lingsticas. Escolher o registro adequado situao na qual se processa a comunicao. Escolher o vocbulo que melhor reflita a idia que pretenda comunicar. Compreender de que forma determinada expresso pode ser interpretada em razo de

aspectos sociais e/ou culturais. Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir

de quem os produz. Utilizar os mecanismos de coerncia e coeso na produo em Lngua Estrangeira (oral

e/ou escrita). (p.28)

Utilizar as estratgias verbais e no verbais para compensar falhas na comunicao

(como o fato de no ser capaz de recordar, momentaneamente, uma forma gramatical ou

lexical), para favorecer a efetiva comunicao e alcanar o efeito pretendido (falar mais

lentamente, ou enfatizando certas palavras, de maneira proposital, para obter determinados

efeitos retricos, por exemplo).

() os aspectos gramaticais no so os nicos que devem estar presentes ao longo do processo ensino-aprendizagem de lnguas. Para poder afirmar que um determinado indivduo possui uma boa competncia comunicativa em uma dada lngua, torna-se necessrio que ele possua um bom domnio de cada um dos seus componentes.

Assim, alm da competncia gramatical, o estudante precisa possuir um bom domnio da

competncia sociolingstica, da competncia discursiva e da competncia estratgica. Esses

constituem, no nosso entender, os propsitos maiores do ensino de Lnguas Estrangeiras no

Ensino Mdio. Portanto, se considerarmos que so essas as competncias a serem alcanadas ao longo dos trs anos de curso, no mais poderemos pensar, apenas, no desenvolvimento da competncia gramatical: torna-se imprescindvel entender esse componente como um entre os vrios a serem dominados pelos estudantes.

Afinal, para poder comunicar-se numa lngua qualquer no basta, unicamente, ser capaz de compreender e de produzir enunciados gramaticalmente corretos. preciso, tambm, conhecer e empregar as formas de combinar esses enunciados num contexto especfico de maneira a que se produza a comunicao. Em outras palavras, necessrio, alm de adquirir a capacidade de compor frases corretas, ter o conhecimento de como essas frases so adequadas a um determinado contexto. (p.29)

Conceber-se a aprendizagem de Lnguas Estrangeiras de uma forma articulada, em termos

dos diferentes componentes da competncia lingstica, implica, necessariamente, outorgar

importncia s questes culturais. A aprendizagem passa a ser vista, ento, como fonte de

ampliao dos horizontes culturais. Ao conhecer outra(s) cultura(s), outra(s) forma(s) de

encarar a realidade, os alunos passam a refletir, tambm, muito mais sobre a sua prpria

cultura e ampliam a sua capacidade de analisar o seu entorno social com maior profundidade,

tendo melhores condies de estabelecer vnculos, semelhanas e contrastes entre a sua forma

de ser, agir, pensar e sentir e a de outros povos, enriquecendo a sua formao.

De idntica maneira, tanto atravs da ampliao da competncia sociolingstica quanto da

competncia comunicativa, possvel ter acesso, de forma rpida, fcil e eficaz, a

informaes bastante diversificadas. A tecnologia moderna propicia entrar em contato com os

mais variados pontos do mundo, assim como conhecer os fatos praticamente no mesmo

instante em que eles se produzem. A televiso a cabo e a Internet so alguns exemplos de

como os avanos tecnolgicos nos aproximam e nos integram do/no mundo.

Mas nem sempre os indivduos usufruem desses recursos. Isso se deve, muitas vezes,

apenas a deficincias comunicativas: sem conhecer uma lngua estrangeira torna-se

extremamente difcil utilizar os modernos equipamentos de modo eficiente e produtivo. Da a

importncia da aprendizagem de idiomas estrangeiros. Para estar em consonncia com os

avanos da cincia e com a informao, preciso possuir os meios de aproximao

adequados e a competncia comunicativa imprescindvel para tanto.

Em sntese: preciso pensar-se o ensino e a aprendizagem das Lnguas Estrangeiras

Modernas no Ensino Mdio em termos de competncias abrangentes e no estticas, uma vez

que uma lngua o veculo de comunicao de um povo por excelncia e atravs de sua

forma de expressar-se que esse povo transmite sua cultura, suas tradies, seus conhecimentos. (p.30)

Da ser de fundamental importncia conceber-se o ensino de um idioma estrangeiro objetivando a comunicao real, pois, dessa forma, os diferentes elementos que a compem estaro presentes, dando amplitude e sentido a essa aprendizagem, ao mesmo tempo em que os esteretipos e os preconceitos deixaro de ter lugar e, portanto, de figurar nas aulas.

Entender-se a comunicao como uma ferramenta imprescindvel no mundo moderno, com vistas formao profissional, acadmica ou pessoal, deve ser a grande meta do ensino de Lnguas Estrangeiras Modernas no Ensino Mdio. (p.31)

Competncias e habilidades a serem desenvolvidas em Lngua Estrangeira Moderna

Representao e comunicao Escolher o registro adequado situao na qual se processa a comunicao e o vocbulo que melhor reflita a idia que pretende comunicar. Utilizar os mecanismos de coerncias e coeso na produo oral e/ou escrita. Utilizar as estratgias verbais e no-verbais para compensar as falhas, favorecer a efetiva comunicao e alcanar o efeito pretendido em situaes de produo e leitura. Conhecer e usar as lnguas estrangeiras modernas como instrumento de acesso a informaes a outras culturas e grupos sociais.

Investigao e compreenso Compreender de que forma determinada expresso pode ser interpretada em razo de aspectos sociais e/ou culturais. Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos mediante a natureza, funo, organizao, estrutura, de acordo com as condies de produo/recepo (inteno, poca, local, interlocutores participantes da criao e propagao de idias e escolhas, tecnologias disponveis).

Contextualizao scio-cultural Saber distinguir as variantes lingsticas. Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz.

PCN EF

Os Parmetrosque os alunosOBJETIVOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental

sejam capazes de:

compreender a cidadania como participao social e poltica,

assim como exerccio de direitos e deveres polticos, civis e

sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade,

cooperao e repdio s injustias, respeitando o outro e

exigindo para si o mesmo respeito;

posicionar-se de maneira crtica, responsvel e construtiva nas

diferentes situaes sociais, utilizando o dilogo como forma

de mediar conflitos e de tomar decises coletivas;

conhecer caractersticas fundamentais do Brasil nas dimenses

sociais, materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noo de identidade nacional e pessoal e o

sentimento de pertinncia ao pas;

conhecer e valorizar a pluralidade do patrimnio sociocultural

brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e

naes, posicionando-se contra qualquer discriminao baseada

em diferenas culturais, de classe social, de crenas, de sexo,

de etnia ou outras caractersticas individuais e sociais;

perceber-se integrante, dependente e agente transformador

do ambiente, identificando seus elementos e as interaes entre

eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio

ambiente;

desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o

sentimento de confiana em suas capacidades afetiva, fsica,

cognitiva, tica, esttica, de inter-relao pessoal e de insero

social, para agir com perseverana na busca de conhecimento

e no exerccio da cidadania;

conhecer o prprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando

hbitos saudveis como um dos aspectos bsicos da qualidade

de vida e agindo com responsabilidade em relao sua sade

e sade coletiva;

utilizar as diferentes linguagens verbal, musical, matemtica,

grfica, plstica e corporal como meio para produzir,

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expressar e comunicar suas idias, interpretar e usufruir das

produes culturais, em contextos pblicos e privados,

atendendo a diferentes intenes e situaes de comunicao;

saber utilizar diferentes fontes de informao e recursos

tecnolgicos para adquirir e construir conhecimentos;

questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de

resolv-los, utilizando para isso o pensamento lgico, a

criatividade, a intuio, a capacidade de anlise crtica,

selecionando procedimentos e verificando sua adequao.

A aprendizagem de Lngua Estrangeira uma possibilidade de aumentar a

autopercepo do aluno como ser humano e como cidado. Por esse motivo, ela deve centrar-

se no engajamento discursivo do aprendiz, ou seja, em sua capacidade de se engajar e

engajar outros no discurso de modo a poder agir no mundo social.

Para que isso seja possvel, fundamental que o ensino de Lngua Estrangeira seja

balizado pela funo social desse conhecimento na sociedade brasileira. Tal funo est,

principalmente, relacionada ao uso que se faz de Lngua Estrangeira via leitura, embora se

possa tambm considerar outras habilidades comunicativas em funo da especificidade

de algumas lnguas estrangeiras e das condies existentes no contexto escolar. Alm disso,

em uma poltica de pluralismo lingstico, condies pragmticas apontam a necessidade

de considerar trs fatores para orientar a incluso de uma determinada lngua estrangeira

no currculo: fatores relativos histria, s comunidades locais e tradio.

Os temas centrais desta proposta so a cidadania, a conscincia crtica em relao

linguagem e os aspectos sociopolticos da aprendizagem de Lngua Estrangeira. Esses

temas se articulam com os temas transversais dos Parmetros Curriculares Nacionais,

notadamente, na possibilidade de se usar a aprendizagem de lnguas como espao para se

compreender, na escola, as vrias maneiras de se viver a experincia humana.

Este documento procura ser uma fonte de referncia para discusses e tomada de

posio sobre ensinar e aprender Lngua Estrangeira nas escolas brasileiras. Portanto, no

tem um carter dogmtico, pois isso impossibilitaria as adaptaes exigidas por condies

diversas e inviabilizaria o desenvolvimento de uma prtica reflexiva.

Primordialmente, objetiva-se restaurar o papel da Lngua Estrangeira na formao

educacional. A aprendizagem de uma lngua estrangeira, juntamente com a lngua materna,

um direito de todo cidado, conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases e na

Declarao Universal dos Direitos Lingsticos, publicada pelo Centro Internacional Escarr

para Minorias tnicas e Naes (Ciemen) e pelo PEN-Club Internacional. Sendo assim, a

escola no pode mais se omitir em relao a essa aprendizagem.

Embora seu conhecimento seja altamente prestigiado na sociedade, as lnguas

estrangeiras, como disciplinas, se encontram deslocadas da escola. A proliferao de cursos

particulares evidncia clara para tal afirmao. Seu ensino, como o de outras disciplinas,

funo da escola, e l que deve ocorrer.

As oportunidades de aprender lnguas nos Centros de Lnguas das redes oficiais,

existentes em algumas partes do Brasil, so entendidas como suplementares oferta de

Lngua Estrangeira dentro do currculo, no sentido de que outras lnguas, alm daquela

includa na rede escolar, possam ser tambm aprendidas.

O distanciamento proporcionado pelo envolvimento do aluno no uso de uma lngua

diferente o ajuda a aumentar sua autopercepo como ser humano e cidado. Ao entender

o outro e sua alteridade1 , pela aprendizagem de uma lngua estrangeira, ele aprende mais

sobre si mesmo e sobre um mundo plural, marcado por valores culturais diferentes e

maneiras diversas de organizao poltica e social.

A aprendizagem de uma lngua estrangeira deve garantir ao aluno seu engajamento

discursivo, ou seja, a capacidade de se envolver e envolver outros no discurso. Isso pode

ser viabilizado em sala de aula por meio de atividades pedaggicas centradas na constituio

do aluno como ser discursivo, ou seja, sua construo como sujeito do discurso via Lngua

Estrangeira. Essa construo passa pelo envolvimento do aluno com os processos sociais

de criar significados por intermdio da utilizao de uma lngua estrangeira.

Mesmo nos grandes centros, o nmero de pessoas que utilizam o conhecimento das

habilidades orais de uma lngua estrangeira em situao de trabalho relativamente

pequeno.

Deste modo, considerar o desenvolvimento de habilidades orais como central

no ensino de Lngua Estrangeira no Brasil no leva em conta o critrio de relevncia

social para a sua aprendizagem. Com exceo da situao especfica de algumas

regies tursticas ou de algumas comunidades plurilnges, o uso de uma lngua

estrangeira parece estar, em geral, mais vinculado leitura de literatura tcnica ou

de lazer. Note-se tambm que os nicos exames formais em Lngua Estrangeira

(vestibular e admisso a cursos de ps-graduao) requerem o domnio da habilidade

de leitura. Portanto, a leitura atende, por um lado, s necessidades da educao

formal, e, por outro, a habilidade que o aluno pode usar em seu contexto social imediato.

Alm disso, a aprendizagem de leitura em Lngua Estrangeira pode ajudar o

desenvolvimento integral do letramento do aluno. A leitura tem funo primordial na escola

e aprender a ler em outra lngua pode colaborar no desempenho do aluno como leitor em

sua lngua materna.

Deve-se considerar tambm o fato de que as condies na sala de aula da

maioria das escolas brasileiras (carga horria reduzida, classes superlotadas, pouco

domnio das habilidades orais por parte da maioria dos professores, material didtico

reduzido a giz e livro didtico etc.) podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades

comunicativas. Assim, o foco na leitura pode ser justificado pela funo social das lnguas

estrangeiras no pas e tambm pelos objetivos realizveis tendo em vista as condies

existentes.

Isso no quer dizer, contudo, que dependendo dessas condies, os objetivos no

possam incluir outras habilidades, tais como compreenso oral e produo oral e escrita.

Importa, sobretudo, formular e implementar objetivos justificveis socialmente, realizveis

nas condies existentes na escola, e que garantam o engajamento discursivo por meio de

uma lngua estrangeira. Portanto, o foco na leitura no interpretado aqui como alternativa

mais fcil e nem deve comprometer decises futuras de se envolver outras habilidades

comunicativas. Pode-se antever que, com o barateamento dos meios eletrnicos de

comunicao, mais escolas venham ter acesso a novas tecnologias, possibilitando o

desenvolvimento de outras habilidades comunicativas.

O foco em leitura no exclui a possibilidade de haver espaos no programa para

possibilitar a exposio do aluno compreenso e memorizao de letras de msica, de

certas frases feitas (por exemplo, a va?, How do you do?, Que bien!, Wie gehts?,

Va bene), de pequenos poemas, trava-lnguas e dilogos. Esses recursos so teis para

oferecer certa conscincia dos sons da lngua, de seus valores estticos e de alguns modos

de veicular algumas regras de uso da lngua estrangeira (polidez, intimidade, saudaes,

linguagem da sala de aula etc.). Tambm permitem o envolvimento com aspectos ldicos

que a lngua oral possibilita, aumentando a vinculao afetiva com a aprendizagem.

preciso que fique claro, porm, que esses momentos no implicam engajamento no discurso

oral. Tm a funo de aumentar a conscincia lingstica do aluno, alm de dar um cunho

prazeroso aprendizagem.

Assim, uma questo que precisa ser enfrentada qual, ou quais lnguas estrangeiras incluir no currculo. Pelo menos trs fatores devem ser considerados:

-fatores histricos (Os fatores histricos esto relacionados ao papel que uma lngua especfica representa em certos momentos da histria da humanidade);

-fatores relativos s comunidades locais (A convivncia entre comunidades locais e imigrantes ou indgenas pode ser um critrio para a incluso de determinada lngua no currculo escolar. Justifica-se pelas relaes envolvidas nessa convivncia: as relaes culturais, afetivas e de parentesco);

-fatores relativos tradio (O papel que determinadas lnguas estrangeiras tradicionalmente desempenham nas relaes culturais entre os pases pode ser um fator a ser considerado).

UMA SNTESE DA SITUAO ATUAL DO ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL

A primeira observao a ser feita que o ensino de Lngua Estrangeira no visto

como elemento importante na formao do aluno, como um direito que lhe deve ser

assegurado. Ao contrrio, freqentemente, essa disciplina no tem lugar privilegiado no

currculo, sendo ministrada, em algumas regies, em apenas uma ou duas sries do ensino

fundamental. Em outras, tem o status de simples atividade, sem carter de promoo ou

reprovao. Em alguns estados, ainda, a Lngua Estrangeira colocada fora da grade

curricular, em Centros de Lnguas, fora do horrio regular e fora da escola. Fora, portanto,

do contexto da educao global do aluno.

Quanto aos objetivos, a maioria das propostas priorizam o desenvolvimento da

habilidade de compreenso escrita, mas essa opo no parece decorrer de uma anlise de

necessidades dos alunos, nem de uma concepo explcita da natureza da linguagem e do

processo de ensino e aprendizagem de lnguas, tampouco de sua funo social. Evidencia-

se a falta de clareza nas contradies entre a opo priorizada e os contedos e atividades

sugeridos. Essas contradies aparecem tambm no que diz respeito abordagem escolhida.

A maioria das propostas situam-se na abordagem comunicativa de ensino de lnguas, mas

os exerccios propostos, em geral, exploram pontos ou estruturas gramaticais

descontextualizados. A concepo de avaliao, no entanto, contempla aspectos formativos

que parecem adequados.

Todas as propostas apontam para as circunstncias difceis em que se d o

ensino e aprendizagem de Lngua Estrangeira: falta de materiais adequados, classes

excessivamente numerosas, nmero reduzido de aulas por semana, tempo insuficiente

dedicado matria no currculo e ausncia de aes formativas contnuas junto ao corpo

docente.

Aprender lnguas significa aprender conhecimento e seu usoDiferentemente do que ocorre em outras disciplinas do currculo, na aprendizagem

de lnguas o que se tem a aprender tambm, imediatamente, o uso do conhecimento, ou

seja, o que se aprende e o seu uso devem vir juntos no processo de ensinar e aprender

lnguas. Assim, caracterizar o objeto de ensino significa caracterizar os conhecimentos e os

usos que as pessoas fazem deles ao agirem na sociedade. Portanto, ao ensinar uma lngua

estrangeira, essencial uma compreenso terica do que a linguagem, tanto do ponto de

vista dos conhecimentos necessrios para us-la quanto em relao ao uso que fazem desses

conhecimentos para construir significados no mundo social.

Em linhas gerais, o que a aprendizagem de uma Lngua Estrangeira vai fazer :

aumentar o conhecimento sobre linguagem que o aluno construiu sobre sua lngua materna, por meio de comparaes com a lngua estrangeira em vrios nveis;

possibilitar que o aluno, ao se envolver nos processos de construir significados nessa lngua, se constitua em um ser discursivo no uso de uma lngua estrangeira.

para o aluno de Lngua Estrangeira, ausncia de

conhecimento de mundo pode apresentar grande dificuldade no engajamento discursivo,

principalmente se no dominar o conhecimento sistmico na interao oral ou escrita

na qual estiver envolvido. Por exemplo, a dificuldade para entender a fala de algum

sobre um assunto que desconhea pode ser maior se o aluno tiver problemas com o

vocabulrio usado e/ou com a sintaxe. Por outro lado, essa dificuldade ser diminuda se o

assunto j for do conhecimento do aluno. Alm disso, no comum vincular-se a prticas

interacionais orais e escritas que no sejam significativas e motivadoras para o engajamento

discursivo.

Em Lngua Estrangeira, o problema do conhecimento de mundo referente ao assunto

de que se fale ou sobre o qual se leia ou escreva pode tambm ser complicado caso seja

culturalmente distante do aluno. Por exemplo, considerem-se as dificuldades que um aluno

iniciante brasileiro de francs, pouco familiarizado com a cultura francesa, enfrentaria para

ler um texto que descrevesse o ritual que envolve uma refeio tradicional na Frana ou o

funcionamento do metr de Paris na hora de maior movimento. Ao mesmo tempo, esse

tipo de conhecimento que pode, com o desenvolvimento da aprendizagem no nvel

sistmico, colaborar no aprimoramento conceptual do aluno, ao exp-lo a outras vises do

mundo, a outros modos de viver a vida social e poltica, possibilidade de reconhecer

outras experincias humanas diferentes como vlidas etc.

No que se refere aos conhecimentos que o aluno tem de adquirir em relao lngua

estrangeira, ele ir se apoiar nos conhecimentos correspondentes que tem e nos usos que

faz deles como usurio de sua lngua materna em textos orais e escritos. Essa estratgia de

correlacionar os conhecimentos novos da lngua estrangeira e os conhecimentos que j

possui de sua lngua materna uma parte importante do processo de ensinar e aprender a

Lngua Estrangeira. Tanto que uma das estratgias tpicas usadas por aprendizes

exatamente a transferncia do que sabe como usurio de sua lngua materna para a lngua

estrangeira.

Pode-se dizer tambm que uma maneira de facilitar a aprendizagem do conhecimento

sistmico e colaborar para o engajamento discursivo da parte do aluno exatamente faz-

lo se apoiar em textos orais e escritos que tratam de conhecimento de mundo com o qual j

esteja familiarizado. Assim, para ensinar um aluno a se envolver no discurso em uma lngua

estrangeira, aquilo do que trata a interao deve ser algo com o qual j esteja familiarizado.

Isso pode ajudar a compensar a ausncia de conhecimento sistmico da parte do aluno,

alm de faz-lo sentir-se mais seguro para comear a arriscar-se na lngua estrangeira.

O conhecimento de mundo referido nos textos pode ser ampliado com o passar do

tempo e incluir questes novas para o aluno de modo a alargar seus horizontes

conceptuais, o que, alis, uma das grandes contribuies da aprendizagem de Lngua

Estrangeira.

Quanto ao conhecimento da organizao de textos orais e escritos, o aluno pode se

apoiar tambm nos tipos de texto que j conhece como usurio de sua lngua materna. Por

exemplo, em uma aula de leitura para alunos de quinta srie, a utilizao de narrativas

um tipo de texto com o qual as crianas j esto bem familiarizadas poder tambm

colaborar para o envolvimento do aluno com o discurso no processo de aprender. Com o

desenvolvimento da aprendizagem, o aluno ser exposto a novas maneiras de organizar

textos orais e escritos (entrevistas, matrias jornalsticas, verbetes de enciclopdia, conversas

radiofnicas etc.)

Esses usos em Lngua Estrangeira tm de ser trazidos mente do aluno, posto que,

freqentemente, ele no tem conscincia deles como usurio em sua lngua materna.

nesse sentido, explorando aspectos metacognitivos da aprendizagem, que a aprendizagem

da Lngua Estrangeira pode ajudar na educao lingstica do aluno como um todo,

aumentando sua conscincia do fenmeno lingstico, e no aprimoramento de seu nvel

de letramento.

Lei de Diretrizes e Bases e Lngua EstrangeiraA questo do ensino de Lngua Estrangeira na escola, particularmente na escola

pblica, tem sido amplamente discutida nos meios acadmicos e educacionais. Foi tambm

objeto de manifestos de profissionais da rea em reunies cientficas e de representaes

ao Congresso Nacional. At bem pouco tempo atrs, a discusso era para se garantir a

permanncia dessa disciplina no currculo. Com a nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educao Nacional, no entanto, que prev Lngua Estrangeira como disciplina obrigatria

no ensino fundamental a partir da quinta srie, a discusso no necessita mais ser defensiva.

Pode, sim, concentrar-se nos aspectos educacionais de fundo da questo, pois entende-se

que dentro das possibilidades da instituio se refere escolha da lngua (a cargo da

comunidade) e no incluso de uma lngua estrangeira, j que o ensino desta deve ser

obrigatrio no currculo escolar.

Perspectiva educacional

Embora nas consideraes preliminares j se tenha feito meno ao papel educacional

de Lngua Estrangeira no currculo do ensino fundamental, cabe enfatizar aqui esse aspecto.

A aprendizagem de Lngua Estrangeira contribui para o processo educacional como um

todo, indo muito alm da aquisio de um conjunto de habilidades lingsticas. Leva a

uma nova percepo da natureza da linguagem, aumenta a compreenso de como a

linguagem funciona e desenvolve maior conscincia do funcionamento da prpria lngua

materna. Ao mesmo tempo, ao promover uma apreciao dos costumes e valores de outras

culturas, contribui para desenvolver a percepo da prpria cultura por meio da compreenso

da(s) cultura(s) estrangeira(s). O desenvolvimento da habilidade de entender/dizer o que

outras pessoas, em outros pases, diriam em determinadas situaes leva, portanto,

compreenso tanto das culturas estrangeiras quanto da cultura materna. Essa compreenso

intercultural promove, ainda, a aceitao das diferenas nas maneiras de expresso e de

comportamento.

H ainda outro aspecto a ser considerado, do ponto de vista educacional. a funo

interdisciplinar que a aprendizagem de Lngua Estrangeira pode desempenhar no

currculo. O benefcio resultante mtuo. O estudo das outras disciplinas, notadamente

de Histria, Geografia, Cincias Naturais, Arte, passa a ter outro significado se em certos

momentos forem proporcionadas atividades conjugadas com o ensino de Lngua

Estrangeira, levando-se em considerao, claro, o projeto educacional da escola. Essa

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uma maneira de viabilizar na prtica de sala de aula a relao entre lngua estrangeira e o

mundo social, isto , como fazer uso da linguagem para agir no mundo social.

A aprendizagem de Lngua Estrangeira no ensino fundamental no s um

exerccio intelectual em aprendizagem de formas e estruturas lingsticas em um cdigo

diferente; , sim, uma experincia de vida, pois amplia as possibilidades de se agir

discursivamente no mundo. O papel educacional da Lngua Estrangeira importante,

desse modo, para o desenvolvimento integral do indivduo, devendo seu ensino proporcionar

ao aluno essa nova experincia de vida. Experincia que deveria significar uma abertura

para o mundo, tanto o mundo prximo, fora de si mesmo, quanto o mundo distante, em

outras culturas. Assim, contribui-se para a construo, e para o cultivo pelo aluno, de uma

competncia no s no uso de lnguas estrangeiras, mas tambm na compreenso de outras

culturas.

Perspectiva pragmtica

Embora predomine a sociedade industrial, cada vez mais se acredita em uma

economia baseada na criao e na distribuio da informao: uma sociedade mais

informatizada. No mais possvel, no final do milnio, operar em um sistema econmico

nacional isolado e supostamente auto-suficiente. preciso reconhecer cada sociedade como

parte de uma economia global, em que a informao pode ser partilhada instantaneamente,

mas que exige uma rpida restruturao da organizao social para que se possa ter acesso

a essa informao.

Essas caractersticas do mundo moderno tm, por certo, implicaes importantes

para o processo educacional como um todo, e, particularmente, para o ensino de lnguas na

escola. Se essas megatendncias forem descries exatas do panorama futuro, importante

que se considere como preparar os jovens para responderem s exigncias do novo mundo.

No que se refere ao ensino de lnguas, a questo torna-se da maior relevncia. Para

ser um participante atuante preciso ser capaz de se comunicar. E ser capaz de se comunicar

no apenas na lngua materna, mas tambm em uma ou mais lnguas estrangeiras. O

desenvolvimento de habilidades comunicativas, em mais de uma lngua, fundamental

para o acesso sociedade da informao. Para que as pessoas tenham acesso mais igualitrio

ao mundo acadmico, ao mundo dos negcios e ao mundo da tecnologia etc., indispensvel

que o ensino de Lngua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que

oferece instrumentos indispensveis de trabalho.

Lngua Estrangeira e excluso social

A linguagem o meio pelo qual uma vasta gama de relaes so expressas, e

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indiscutvel o papel que ela desempenha na compreenso mtua, na promoo de relaes

polticas e comerciais, no desenvolvimento de recursos humanos. O reverso da medalha,

no entanto, que, ao mesmo tempo em que pode desempenhar esse papel de promotor de

progresso e desenvolvimento, a linguagem pode afetar as relaes entre grupos diferentes

em um pas, valorizando as habilidades de alguns grupos e desvalorizando as de outros.

Internamente, pode servir como fonte poderosa e smbolo tanto de coeso como de diviso.

Externamente, pode servir como instrumento de elitizao que capacita algumas pessoas

a ter acesso ao mundo exterior, ao mesmo tempo em que nega esse acesso a outras.

Lngua Estrangeira como libertaoCabe aqui recorrer ao conceito freireano de educao como fora libertadora,

aplicando-o ao ensino de Lngua Estrangeira. Uma ou mais lnguas estrangeiras que

concorram para o desenvolvimento individual e nacional podem ser tambm entendidas

como fora libertadora tanto em termos culturais quanto profissionais.

Essa fora faz as pessoas aprenderem a escolher entre possibilidades que se

apresentam. Mas, para isso, necessrio ter olhos esclarecidos para ver. Isso significa tambm

despojar-se de qualquer tipo de falso nacionalismo, que pode ser um empecilho para o

desenvolvimento pleno do cidado no seu espao social imediato e no mundo. A

aprendizagem de Lngua Estrangeira agua a percepo e, ao abrir a porta para o mundo,

no s propicia acesso informao, mas tambm torna os indivduos, e, conseqentemente,

os pases, mais bem conhecidos pelo mundo.

Lngua Estrangeira e construo de cidadania

A Lngua Estrangeira no ensino fundamental tem um valioso papel construtivo como

parte integrante da educao formal. Envolve um complexo processo de reflexo sobre a

realidade social, poltica e econmica, com valor intrnseco importante no processo de

capacitao que leva libertao. Em outras palavras, Lngua Estrangeira no ensino

fundamental parte da construo da cidadania.

Ensino de Lngua Estrangeira: modo singular para focalizar a relao entre linguagem e sociedadeA aprendizagem de Lngua Estrangeira representa outra possibilidade de se agir no

mundo pelo discurso alm daquela que a lngua materna oferece. Da mesma forma que o

ensino da lngua materna, o ensino de Lngua Estrangeira incorpora a questo de como as

pessoas agem na sociedade por meio da palavra, construindo o mundo social, a si mesmos

e os outros sua volta. Portanto, o ensino de lnguas oferece um modo singular para tratar

das relaes entre a linguagem e o mundo social, j que o prprio discurso que constri o

mundo social.

A aprendizagem de Lngua Estrangeira oferece acesso a como so construdos os

temas propostos como transversais em prticas discursivas de outras sociedades. uma

experincia de grande valor educacional, posto que fornece os meios para os aprendizes se

distanciarem desses temas ao examin-los por meio de discursos construdos em outros

contextos sociais de modo a poderem pensar sobre eles, criticamente, no meio social em

que vivem.

Assim, os temas transversais, que tm um foco claro em questes de interesse social,

podem ser facilmente trazidos para a sala de aula via Lngua Estrangeira.

Um procedimento pedaggico til para mostrar ao aluno que a linguagem uma

prtica social, ou seja, envolve escolhas da parte de quem escreve ou fala para construir

significados em relao a outras pessoas em contextos culturais, histricos e institucionais

especficos submeter todo texto oral e escrito a sete perguntas: quem escreveu/falou,

sobre o que, para quem, para que, quando, de que forma, onde?

Lngua Estrangeira e o aluno dos terceiro e quarto ciclosO trabalho com Lngua Estrangeira no ensino fundamental exige do professor um

aprofundamento sobre alguns aspectos essenciais para a organizao do ensino: a

caracterizao dos alunos e a complexidade que representa a aprendizagem de uma outra

lngua.

Os primeiros contatos com a aprendizagem de ingls de maneira formal, sistematizada,

ocorrem para a maioria dos nossos alunos, no incio do terceiro ciclo, perodo este em que,

de modo geral, enfrentam conflitos, representados por transformaes significativas

relacionadas ao corpo, sexualidade, ao desenvolvimento cognitivo, emoo, afetividade,

alm dos relacionados aos aspectos socioculturais. Torna-se bastante difcil traar um perfil

do aluno que chega ao terceiro ciclo, tanto em relao aos aspectos afetivo-emocionais que

marcam esse perodo quanto em relao aos diferentes conhecimentos de lngua materna

que possuem e os diferentes nveis de familiaridade que apresentam em relao lngua

estrangeira.

Muito freqentemente, sem ter ainda uma reflexo mais aprofundada sobre o

funcionamento e uso da lngua materna, o aluno se depara com a necessidade de

compreender a construo do significado na lngua estrangeira, com uma organizao

diferente das palavras nas frases, das letras nas palavras, um jeito de escrever diferente da

forma de falar, outra entonao, outro ritmo.

Alm disso, a passagem para o terceiro ciclo , ainda, tradicionalmente marcada na

cultura das escolas brasileiras, como ruptura, tanto da organizao curricular quanto das

formas de interao professor-aluno. Aspectos relacionados organizao do horrio em

disciplinas com professores diversos, interaes diferenciadas, diferentes demandas,

condutas, concepes.

Para muitos alunos, o incio do terceiro ciclo tambm o momento de entrada no

mercado de trabalho. A insegurana que todas essas mudanas geralmente representam

pode se dar de modo mais marcado ainda no caso da Lngua Estrangeira, por representar o

incio, para muitos deles, de uma aprendizagem totalmente nova.

O grau de familiaridade do aluno com a lngua estrangeira representa fator crucial nesse aprendizado. A maior ou menor familiaridade est relacionada classe social de origem do aluno, que lhe confere oportunidades diferenciadas de vivenciar o idioma falado ou escrito, seja pelos meios de comunicao, seja pelas interaes sociais de que participa.

Contudo, a demanda de conhecimento de lngua estrangeira na sociedade de hoje,

coloca para o professor o desafio de partir da heterogeneidade de experincias e interesses

dos alunos para organizar formas de desenvolver o trabalho escolar de maneira a incorporar

seus diferentes nveis de conhecimento e ampliar as oportunidades de acesso a ele.

O ensino de uma lngua estrangeira na escola tem um papel importante medida

que permite aos alunos entrar em contato com outras culturas, com modos diferentes de

ver e interpretar a realidade. Na tentativa de facilitar a aprendizagem, no entanto, h

uma tendncia a se organizar os contedos de maneira excessivamente simplificada,

em torno de dilogos pouco significativos para os alunos ou de pequenos textos,

muitas vezes descontextualizados, seguidos de explorao das palavras e das estruturas

gramaticais, trabalhados em forma de exerccios de traduo, cpia, transformao e

repetio.

No entanto, ao se entender a linguagem como prtica social, como possibilidade de

compreender e expressar opinies, valores, sentimentos, informaes, oralmente e por

escrito, o estudo repetitivo de palavras e estruturas apenas resultar no desinteresse do

aluno em relao lngua, principalmente porque, sem a oportunidade de arriscar-se a

interpret-la e a utiliz-la em suas funes de comunicao, acabar no vendo sentido em

aprend-la.

Assim, fundamental que desde o incio da aprendizagem de Lngua Estrangeira o

professor desenvolva, com os alunos, um trabalho que lhes possibilite confiar na prpria

capacidade de aprender, em torno de temas de interesse e interagir de forma cooperativa

com os colegas. As atividades em grupo podem contribuir significativamente no

desenvolvimento desse trabalho, medida que, com a mediao do professor, os alunos

aprendero a compreender e respeitar atitudes, opinies, conhecimentos e ritmos

diferenciados de aprendizagem.

Alguns estudos e experincias de professores ressaltam aspectos que permitem

compreender melhor o complexo percurso que o aluno realiza na construo dessa

aprendizagem.

Dentre esses aspectos, destaca-se, inicialmente, como fundamental diagnosticar os

conhecimentos que os alunos trazem, proporcionando a eles a oportunidade de identificar

e reconhecer esses conhecimentos e oferecer possibilidades de troca de experincias entre

eles, na perspectiva de dar continuidade construo de novos conhecimentos.

As atividades orais podem ser propostas como forma de ampliar a conscincia dos

alunos sobre os sons da lngua estrangeira, por meio do uso, por exemplo, de expresses de

saudao, de polidez, do trabalho com letras de msica, com poemas e dilogos.

A incluso de atividades significativas em sala de aula permite ampliar os vnculos

afetivos e conferem a possibilidade de realizar tarefas de forma mais prazerosa.

A mediao do professor fundamental em todo esse percurso de aprendizagem,

que abrange ainda o desenvolvimento e aprimoramento de atitudes. Coloca-se a necessidade

de interveno do professor em relao s orientaes sobre como organizar e lidar com o

material de estudo, como desenvolver atitudes de pesquisa e de reflexo sobre as

descobertas, para promover a autonomia do aluno, sem a qual torna-se mais difcil garantir

avanos.

CONCEPES TERICAS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LNGUA ESTRANGEIRAAs concepes tericas que tm orientado os processos de ensinar e aprender Lngua

Estrangeira tm se pautado no desenvolvimento da psicologia da aprendizagem e de teorias

lingsticas especficas, as quais, influenciadas pela psicologia, explicitaram o fenmeno

da aprendizagem lingstica. Pode-se dizer que as percepes modernas da aprendizagem

de Lngua Estrangeira foram, principalmente, influenciadas por trs vises: a behaviorista,

a cognitivista e a sociointeracional.

A viso behavioristaNa viso behaviorista, a aprendizagem de Lngua Estrangeira compreendida como

um processo de adquirir novos hbitos lingsticos no uso da lngua estrangeira. Isso seria

feito, primordialmente, por meio da automatizao desses novos hbitos, usando uma rotina

que envolveria ESTMULO, a exposio do aluno ao item lexical, estrutura sinttica

etc. a serem aprendidos, fornecidos pelo professor; RESPOSTA do aluno; REFORO,

em que o professor avaliaria a resposta do aluno. Essa viso na sala de aula de Lngua

Estrangeira resultou no uso de metodologias que enfatizavam exerccios de repetio e

substituio.

Pode-se dizer que se focalizava, principalmente, o processo de ensino e o professor.

Se a aprendizagem no ocorresse adequadamente, ou seja, se fossem detectados erros nas

produes do aluno, o motivo seria a inadequao dos procedimentos de ensino. Os erros

teriam de ser imediatamente eliminados ou corrigidos para que no afetassem,

negativamente, o processo de aprendizagem como um todo, inclusive os de outros colegas

que tivessem sido expostos aos erros. nesse sentido que se costuma dizer que na viso

behaviorista a aprendizagem era associada uma pedagogia corretiva.

Note-se que nessa concepo a mente do aluno entendida como uma tbula rasa

que tem de ser moldada, por assim dizer, na aprendizagem de uma nova lngua.

A viso cognitivista

Na viso cognitivista desloca-se o foco do ensino para o aluno ou para as estratgias

que ele utiliza na construo de sua aprendizagem da Lngua Estrangeira. Entende-se que

a mente humana est cognitivamente apta para a aprendizagem de lnguas. Ao ser exposto

lngua estrangeira, o aluno, com base no que sabe sobre as regras de sua lngua materna,

elabora hipteses sobre a nova lngua e as testa no ato comunicativo em sala de aula ou fora

dela. Os erros, ento, passam a ser considerados como evidncia de que a aprendizagem

est em desenvolvimento, ou seja, so hipteses elaboradas pelo aluno em seu esforo

cognitivo de aprender a lngua estrangeira. Contrariamente viso behaviorista, os erros

passam a ser entendidos como parte do processo da aprendizagem.

Os traos caractersticos da lngua construda pelo aprendiz, normalmente entendidos

como erros, passam a ser vistos como constitutivos da lngua em construo no processo de

aprendizagem sua interlngua, uma lngua em constante desenvolvimento, no contnuo

entre a lngua materna e a lngua estrangeira, e que resulta de suas tentativas de

aprendizagem. Nesse processo, uma das estratgias mais comumente usadas pelo aluno

criar hipteses sobre a lngua estrangeira que est aprendendo, com base no conhecimento

que tem de sua lngua materna: a estratgia de transferncia lingstica.

A viso sociointeracionalEmbora alguns aspectos da aprendizagem de Lngua Estrangeira possam ser

explicados por abordagens behavioritas (por exemplo, o fato de que a aprendizagem de

certas frases feitas, como How old are you?, em ingls; Como te va?, em espanhol;

a va?, em francs Danke schn, em alemo; ou Prego, em italiano, se d pela

memorizao) ou do ponto de vista cognitivista (por exemplo, o fato de que os aprendizes

se utilizam dos conhecimentos, j armazenados em suas estruturas cognitivas, sobre o que

sabem de sua lngua materna ou de outras lnguas estrangeiras que j possam ter aprendido),

cada vez mais tende-se a explicar a aprendizagem como um fenmeno sociointeracional.

Dessa forma, o foco que, na viso behaviorista, era colocado no professor e no ensino, e, na

viso cognitivista, no aluno e na aprendizagem, passa a ser colocado na interao entre o

professor e aluno e entre alunos, atualmente.

O que subjaz a esta ltima viso a compreenso de que a aprendizagem de natureza

sociointeracional, pois aprender uma forma de estar no mundo social com algum, em

um contexto histrico, cultural e institucional. Assim, os processos cognitivos so gerados

por meio da interao entre um aluno e um participante de uma prtica social, que um

parceiro mais competente, para resolver tarefas de construo de significado/conhecimento

com as quais esses participantes se deparem. O participante mais competente pode ser

entendido como um parceiro adulto em relao a uma criana ou um professor em relao

a um aluno ou um aluno em relao a um colega da turma. Na aprendizagem de Lngua

Estrangeira, os enunciados do parceiro mais competente ajudam a construo do significado,

e, portanto, auxiliam a prpria aprendizagem do uso da lngua.

OBJETIVOS GERAIS DE LNGUA ESTRANGEIRA

PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Na definio dos objetivos deve-se levar em conta o aluno, o sistema educacional e

a funo social da lngua estrangeira em questo. Os objetivos foram explicitados,

considerando-se o desenvolvimento de capacidades, em funo das necessidades sociais,

intelectuais, profissionais, e interesses e desejos dos alunos. Para o ensino fundamental, os

objetivos decorrem, por um lado, do papel formativo de Lngua Estrangeira no currculo,

mas por outro lado, e principalmente, de uma reflexo sobre a funo social de Lngua

Estrangeira no pas e sobre as limitaes impostas pelas condies de aprendizagem.

Primeiramente, para que o ensino de Lngua Estrangeira tenha uma funo formativa no

sistema educacional, deve-se encontrar maneiras de garantir que essa aprendizagem deixe

de ser uma experincia decepcionante, levando atitude fatalista de que lngua estrangeira

no pode ser aprendida na escola.

A educao em Lngua Estrangeira na escola, contudo, pode indicar a relevncia da

aprendizagem de outras lnguas para a vida dos alunos brasileiros. Uma lngua estrangeira,

e neste momento histrico particularmente o ingls, d acesso cincia e tecnologia

modernas, comunicao intercultural, ao mundo dos negcios e a outros modos de se

conceber a vida humana. Uma primeira tentativa de aproxim-los da Lngua Estrangeira

fazer com que se conscientizem da grande quantidade de lnguas que os rodeia, em

forma de publicaes comerciais, de psteres, nas vitrinas das lojas, em canes, no cinema,

em todo lugar. verdade que o ingls predomina - e a conscincia crtica dessa situao

deve ser considerada -, mas h razovel quantidade do uso de outras lnguas, tais como o

italiano, o francs, o espanhol, o alemo, dependendo do contexto e das regies.

Em relao aos objetivos, necessrio, por fim, refletir sobre as condies encontradas

na enorme maioria das escolas. Sabe-se que, na aprendizagem de uma lngua estrangeira,

fatores como quantidade, intensidade e continuidade de exposio lngua so

determinantes no nvel de competncia desenvolvido e na rapidez com que as metas podem

ser atingidas. A administrao e a organizao do ensino de Lngua Estrangeira, no entanto,

so inadequadas em relao queles aspectos. O nmero de horas dedicadas Lngua

Estrangeira reduzido, raramente ultrapassando duas horas semanais; a carga horria total,

por sua vez, tambm reduzida; a alocao da disciplina muitas vezes est em horrios

menos privilegiados etc. Essas limitaes so inaceitveis.

importante que sejam tomadas medidas eficazes para san-las. No entanto, ao se

estabelecerem os objetivos, as limitaes no podem deixar de ser levadas em conta para

se determinar o que possvel fazer para se garantir condies mnimas de xito, que

devem resultar em algo palpvel e til para o aluno. Mnimo no deve significar o menos

possvel, mas sim metas realistas, claramente definidas e explicitadas aos alunos.

Por outro lado, na formulao dos objetivos, alm das capacidades cognitivas, ticas,

estticas, motoras e de insero e atuao social devem tambm ser levadas em conta as

afetivas. preciso lembrar que a aprendizagem de uma lngua estrangeira uma atividade

emocional e no apenas intelectual. O aluno um ser cognitivo, afetivo, emotivo e criativo.

Os objetivos so orientados para a sensibilizao do aluno em relao Lngua

Estrangeira pelos seguintes focos:

- o mundo multilnge e multicultural em que vive;

- a compreenso global (escrita e oral);

- o empenho na negociao do significado e no na correo.

Ao longo dos quatro anos do ensino fundamental, espera-se com o ensino de Lngua Estrangeira que o aluno seja capaz de:

- identificar no universo que o cerca as lnguas estrangeiras que

cooperam nos sistemas de comunicao, percebendo-se como

parte integrante de um mundo plurilnge e compreendendo

o papel hegemnico que algumas lnguas desempenham em

determinado momento histrico;

- vivenciar uma experincia de comunicao humana, pelo uso

de uma lngua estrangeira, no que se refere a novas maneiras

de se expressar e de ver o mundo, refletindo sobre os costumes

ou maneiras de agir e interagir e as vises de seu prprio mundo,

possibilitando maior entendimento de um mundo plural e de

seu prprio papel como cidado de seu pas e do mundo;

- reconhecer que o aprendizado de uma ou mais lnguas lhe

possibilita o acesso a bens culturais da humanidade construdos

em outras partes do mundo;

- construir conhecimento sistmico, sobre a organizao textual

e sobre como e quando utilizar a linguagem nas situaes de comunicao, tendo como base os conhecimentos da lngua materna;

- construir conscincia lingstica e conscincia crtica dos usos que se fazem da lngua estrangeira que est aprendendo;

- ler e valorizar a leitura como fonte de informao e prazer, utilizando-a como meio de acesso ao mundo do trabalho e dos estudos avanados;

- utilizar outras habilidades comunicativas de modo a poder atuar em situaes diversas.

TRABALHO## Aps ter sido relegado, durante dcadas, a um lugar subalterno no currculo das escolas brasileiras, o ensino de lngua estrangeira ganha, ainda que tardio, o reconhecimento que lhe devido com a publicao da LDB e dos PCNs, que lhe do o merecido status de disciplina de grande relevncia na formao do aluno, ampliando-lhes os horizontes para a compreenso dos mais diversos assuntos. Contudo, o reconhecimento trazido por tais documentos no parece ter refletido numa efetiva melhora no ensino de lnguas nas escolas pblicas do pas.

Mas qual seria a razo desse fracasso? Porque ao se falar num efetivo aprendizado de lngua estrangeira se pensa automaticamente em cursos ministrados por instituies privadas mas nunca naquele ensino obtido - ou que deveria ter sido obtido - durante anos de estudo na escola pblica? Porque a escola fracassa em tornar realidade durante anos de estudo algo que alguns cursos privados prometem fazer em poucos meses (ou mesmo semanas)?####

### Para responder algumas dessas perguntas, recorreremos ao texto do PCN dos 3 e 4 ciclos do EF e do EM, publicado em 1998. Ao nosso ver, o texto j traz, no seu corpo, a problemtica que envolve o ensino de lngua estrangeira nas escolas pblicas do pas. O mais estranho de tudo seria, ao nosso ver, justamente a situao criada: tratando-se de um documento que visa apresentar as diretrizes para o ensino de lnguas estrangeiras nas referidas sries das escolas pblicas do pas, o documento j traz em si os fatores que podem tornar incuo seu objetivo. E o pior, certamente, justamente o fato dessas dificuldades remeterem carncias estruturais, bsicas, e essenciais no apenas para o ensino de uma lngua estrangeira, como de qualquer outra disciplina.###

### Procuraremos neste trabalho, ento, identificar as dificuldades para o ensino-aprendizagem de lngua estrangeira por aqueles que as vivenciam no seu dia-a-dia: professores e alunos. ###

## Para identificar tais dificuldades, elaboramos um questionrio para o professor e outro para o aluno. Tais questionrios retomam, sobretudo, as dificuldades j apontadas no texto do PCN, para avaliarmos qual o grau em que tais deficincias encontradas na escola pblica podem dificultar - ou mesmo inviabilizar - o ensino-aprendizagem de uma lngua estrangeira, alm de trazer algumas outras indagaes que julgamos pertinentes (seja como alunos em nvel universitrio, seja como professores de uma lngua estrangeira). ###

#### Questionrio para os professores:

1) A quantidade de horas-aula semanais so realmente insuficientes? Quantas horas semanais vc acredita serem necessrias para que se possa pr em prtica as diretrizes listadas nos PCNs?

2) Com respeito aos materiais didticos de lngua estrangeira oferecidos aos alunos pelo PNDL, vc considera tratar-se de um material adequado aos objetivos davdisciplina descritos no PNC? Quais os pontos positivos/negativos desse material? De que forma ele poderia ser melhorado?

3) Quais recursos vc utiliza (udio, vdeo, internet) para tornarem as aulas mais dinmicas e os alunos mais participativos? A escola possui e disponibiliza tais recursos?

4) Os alunos so, em sua maioria, mais receptivos ou avessos s aulas da lngua estrangeira ministrada na sua escola? Qual o motivo de tal reao?

5) A escola pblica est preparada para desenvolver, no aluno, as habilidades em lngua estrangeira listadas nos PCNs? Quais os principais empecilhos para sua efetivao? ####

### Questionrio para os alunos:

1) Vc considera importante o aprendizado da lngua estrangeira oferecida pela sua escola? Vc gostaria que houvesse uma maior variedade de idiomas oferecidos ou acredita ser aquele o de maior relevncia social, cultural, etc., o que justificaria por si s sua predominncia?

2) Os professores conseguem despertar o interesse pelo aprendizado dessa lngua? Vc o considera bem preparado?3) Alm do livro didtico, com quais recursos vc gostaria de contar, na sala de aula, para tornar suas aulas mais interessantes e produtivas? Quais materiais paralelos (revistas, tirinhas, letras de msicas, etc.) vc acredita serem teis no seu processo de aprendizado, tornando sua presena desejvel nas aulas de lngua estrangeira? ###

BIBLIOGRAFIA

Atividades de leitura em livros didticos de ingls: PCN, letramento crtico e o panorama atual/ Reading tasks in EFL coursebooks: PCN, critical literacy and the current panoramaTilio, Rogrio

Rev. bras. linguist. Apl.12(4): 997-1

Resumo em portugus

No componente curricular lngua estrangeira, uma das orientaes mais controversas nos PCN EFII o incentivo ao foco no ensino de leitura. Passados mais de dez anos da publicao dos PCN, este trabalho analisa um livro didtico de uma das duas nicas colees didticas aprovadas pelo PNLD 2011 para o ensino de ingls no segundo segmento do Ensino Fundamental, buscando entender como este livro aborda o ensino de leitura. Antes da anlise proposta, precisono apenas discutir o discurso dos PCN e das leituras que deles vm sendo feitas, mas tambm o conceito de letramento crtico, e os critrios do PNLD 2011 para a abordagem de leitura. Como a anlise ser feita com vistas ao letramento crtico, sero consideradas como categorias os tpicos abordados pelos textos, o trabalho com gneros discursivos e a natureza das atividades propostas. A anlise buscar discutir como os textos e atividades de leitura dialogam com os pressupostos tericos dos PCN e do PNLD 2011.Vises de leitura e concepes que fundamentam os documentos oficiais de ensino e aprendizagem de lngua estrangeira/ Reading views and concepts underlying the official documents on second language teaching and learningCavallari, Juliana Santana

Trab. linguist. apl.51(2): 293-304, ND.2012 Dec.SciELO BrasilIdioma(s): PortugusResumo em portugus

O objetivo deste artigo abordar as vises de leitura e as concepes que embasam o processo de ensino e aprendizagem de lngua estrangeira (LE) na escola regular de acordo com os documentos oficiais elaborados para orientao da prtica docente, a saber: os Parmetros Curriculares Nacionais de Lngua Estrangeira do Ensino Fundamental (PCN-LE, 1998), a Proposta Curricular do Estado de So Paulo, voltada para o ensino de Lngua Estrangeira Moderna (MEC/SEE, 2008)