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Passaporte para a cidadania 1ª Pesquisa de Avaliação de Impacto da Ação Global Brasília, 2007

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Passaporte para a cidadania

1ª Pesquisa de Avaliação de Impacto da Ação Global

Brasília, 2007

Apresentação

A Indústria brasileira colabora de diversas maneiras com o crescimento do País. Além de liderar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007, injetando R$ 628,9 bilhões1 na economia e gerando mais de 538 mil empregos diretos2, o setor está investindo na redução das desigualdades sociais via Serviço Social da Indústria (SESI).

Há pelo menos uma década, parte do orçamento do SESI é destinado à realização de programas capazes de gerar lucro para a sociedade. Seja este lucro financeiro, econômico ou social. Dentre os projetos realizados, destaca-se a Ação Global, realizada em parceria com a Rede Globo desde 1991. O evento beneficia milhares de brasileiros todos os anos e garante acesso gratuito a uma série de serviços de promoção à cidadania.

A satisfação dos participantes e a qualidade dos serviços oferecidos na Ação Global foram atestadas diversas vezes por pesquisas qualitativas realizadas pelo SESI. Faltava avaliar se a iniciativa tinha impacto real e duradouro na vida desses indivíduos e, em caso positivo, se era capaz de ajudá-los a superar a exclusão social. Tal desafio foi finalmente vencido em 2007.

Com o apoio de uma consultoria especializada em investimentos sociais, o SESI realizou pesquisa científica com 1.570 participantes em 26 estados brasileiros e no Distrito Federal para medir, pela primeira vez, o impacto do programa na sociedade. Os resultados propiciaram um novo e estratégico olhar sobre a Ação Global.

Ficou comprovado, por exemplo, que as pessoas chegam ao evento sem acesso aos direitos básicos de qualquer cidadão. Em uma escala que varia de menos 65 pontos (ausência total de direitos) a mais 65 pontos (cidadania plena), os participantes obtiveram 2,01 pontos negativos. Estão, portanto, abaixo do mínimo de cidadania necessário para se viver (ponto zero). Essa percepção – mais profunda do que a antiga análise de perfil, limitada a identificar o sexo, a idade, a renda e a situação trabalhista dos beneficiados –                                                             1 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1106&id_pagina=1. Acessado em 16/04/2008  2 : Informe Conjuntural especial de 18 de dezembro de 2007 (CNI) – página 13  

revela a exclusão vivenciada pelos brasileiros que chegam ao evento e permite mapear o impacto do programa em suas vidas no curto e médio prazo.

O estudo revelou, ainda, que alguns dos serviços oferecidos na Ação Global – como o acesso à documentação, a realização de consultas médicas, o lazer e as atividades profissionalizantes – ajudaram a melhorar em 11,93 pontos o resultado obtido pelos homens e mulheres assistidos pelo programa em 2007. Mais que isso! Cada ponto ganho valoriza o cidadão perante o mercado de trabalho, garantindo a ele instrumentos para melhorar – a partir do próprio esforço – a renda familiar, conforme será demonstrado mais adiante, no capítulo sete.

Ciente do impacto social da Ação Global e do potencial que ela tem para reduzir as desigualdades sociais, cabe ao SESI otimizar os resultados dessa valiosa iniciativa. Para tanto, é fundamental continuar a investir na avaliação e no conseqüente aperfeiçoamento do programa. A boa notícia é que – segundo esta pesquisa – estamos no caminho certo.

Boa leitura!

Antônio Carlos Brito Maciel Diretor-Superintendente do SESI

Visão panorâmica

Conheça os principais resultados da 1ª pesquisa quantitativa de avaliação de impacto da Ação Global

A Ação Global traz impacto positivo à vida dos participantes, independentemente da idade, do sexo ou da região geográfica dos mesmos.

Dentre os serviços oferecidos, os de saúde são os que trazem maior impacto positivo à população atendida.

Os brasileiros chegam ao evento abaixo do nível aceitável de cidadania (não possuem um ou mais direitos básicos nas áreas de documentação, saúde, lazer e profissionalização).

As pessoas que utilizam os serviços da Ação Global conseguem alcançar a escala positiva de cidadania. A média dos participantes, no entanto, continua distante da chamada cidadania plena – patamar que garante ao indivíduo todas as condições necessárias ao seu desenvolvimento pessoal e profissional.

PERFIL DOS PARTICIPANTES

66,4% têm renda familiar inferior a dois salários mínimo

59,8% dos visitantes adultos têm entre 18 e 39 anos

76,6% são mulheres

CAPÍTULO 1

Por dentro da Ação Global Redução das desigualdades sociais é o principal objetivo do programa

Antes de detalhar os impactos da Ação Global para a sociedade, é necessário apresentar o programa. Criado em 1991 pelo SESI de Minas Gerais, a Ação Global tinha o objetivo inicial de oferecer uma série de serviços gratuitos à população carente do estado. Desde o começo, a iniciativa foi realizada em parceria com a Rede Globo de Televisão, que tem papel importante na mobilização das empresas, ONGs, sindicatos e, principalmente, da população para o evento. O sucesso foi tamanho que atraiu a atenção de outros estados e, em 1995, o programa já tinha caráter nacional, sendo realizado simultaneamente em todo o País.

Na prática, a Ação Global consiste em um mutirão de serviços essenciais, integrados e gratuitos, promovidos por profissionais voluntários nas áreas de saúde, lazer, educação e cidadania. O programa oferece ao público de várias cidades brasileiras mais de 40 serviços. Em um único dia, é possível tirar documentos, fazer consultar médicas, cortar o cabelo, assistir a uma peça de teatro, fazer um mini-curso de capacitação profissional, abrir uma conta bancária e muito mais. Tudo isso em um mesmo local, com infra-estrutura e atendimento de qualidade.

A missão da Ação Global é ajudar a reduzir as desigualdades sociais do Brasil. Apenas na última década, o programa realizou mais de 35 milhões de atendimentos. O estudo de avaliação de impacto que será apresentado a seguir refere-se ao evento nacional do último dia 22 de setembro de 2007, realizado simultaneamente em 34 cidades brasileiras, das 9h às 17 horas. Mais de 1 milhão de pessoas estiveram presentes e foram contabilizados 2,3 milhões de atendimentos, realizados de graça por quase 40 mil profissionais-voluntários e mais de dois mil parceiros.

CAPÍTULO 2

Impacto cidadão Ação Global amplia acesso do público à cidadania e garante aos beneficiados condições de aumentar a renda familiar Eles têm famílias, sonhos e histórias para contar. No entanto, na prática, inexistem para a sociedade. São homens e mulheres que passam a vida na sombra, incapazes de interferir na própria realidade pela falta de acesso a um ou mais direitos básicos de qualquer cidadão, como saúde, educação, lazer, trabalho e moradia. Encontrar esses brasileiros não é difícil. Eles estão em nossos lares, nas lojas, nas roças, mas passam despercebidos. Justamente por não ter consciência da exclusão da qual são vítimas. O SESI acompanha esse público atentamente desde 1995, quando realizou a primeira Ação Global de caráter nacional. O objetivo do evento – que já beneficiou milhões de brasileiros – é ampliar o acesso à cidadania da população carente, contribuindo com a redução da desigualdade social no País. Este é um dos resultados esperados, pelo Mapa Estratégico da Indústria, para que o Brasil alcance o desenvolvimento sustentável. Afinal, como explica o jurista Dalmo de Abreu Dallari, “quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.3 Disposto a verificar se o investimento social privado da Indústria estava gerando resultados, o SESI realizou em novembro de 2007 a primeira pesquisa de avaliação de impacto da Ação Global. O estudo seguiu princípios internacionalmente reconhecidos no mercado de responsabilidade socioambiental e revelou: o programa aumenta significativamente o acesso do público beneficiado à cidadania. Mais que isso! Valoriza os beneficiados perante o mercado de trabalho, dando aos mesmos condições de – a partir dos próprios esforços – aumentar a renda familiar.

                                                            

3 DALLARI, Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. P.14

 

COMPARAR É PRECISO A única maneira de medir o real progresso de qualquer situação é criando um referencial para ela. Se um aluno tira nove em uma primeira prova e sete na seguinte, a perfomance está decrescendo. E acaba sendo inferior à de um colega nota três, que tire seis no mesmo exame seguinte. Isto porque, o resultado do primeiro caiu 22,2% em relação ao teste inicial. Já o segundo dobrou a nota em igual intervalo de tempo. Essa nova forma de avaliação “contextualizada” está cada vez mais presente nas escolas, nos balanços financeiros e também nas pesquisas sociais. E, por ser mais precisa, serviu de diretriz à Pesquisa de Avaliação de Impacto da Ação Global. O estudo identificou, pela primeira vez, o acesso à cidadania dos participantes antes e depois do evento. Para tanto, criou-se uma escala que variava de -65 pontos (ausência total de direitos) a + 65 pontos (cidadania plena). Esta considera quatro direitos básicos de qualquer cidadão, disponibilizados ao público gratuitamente na Ação Global: documentação, saúde, lazer e profissionalização. Tabela 1 - Direitos pontuados na escala de cidadania da Ação Global

DIREITOS GARANTIDOS A Ação Global é, comprovadamente, um passaporte para a cidadania. Essa é, sem dúvida, a descoberta mais importante desta primeira avaliação de impacto do programa. O estudo mostrou cientificamente que o programa interfere de forma positiva na vida da população assistida, aumentando a Escala de Cidadania proposta em uma média de 11,93 pontos. Isto significa que milhares de brasileiros conseguem, em menos de 24 horas, recuperar direitos que lhes foram negados por toda a vida, como uma simples consulta médica. Tal conquista é ainda mais significativa, considerando que os milhares de Josés, Marias e Anas beneficiados pelo programa chegaram ao evento com a cidadania dois pontos abaixo do mínimo esperado. Isto é, com possibilidades reduzidas de melhorar a realidade que os cerca. Dois meses após utilizar um ou mais serviços da Ação Global, essas mesmas pessoas ultrapassaram a linha de acesso aos direitos mínimos de qualquer cidadão e encontram-se na escala positiva, com 9,92 pontos. Por que essa evolução é tão importante? Os especialistas são unânimes ao afirmar: a cidadania é o pré-requisito básico para uma pessoa crescer pessoal e profissionalmente. A matemática é simples. Quem está com a saúde em dia e tem um currículo nas mãos – dois dos indicadores avaliados nesta pesquisa – tem muito mais chances de encontrar um emprego. Se tiver carteira de trabalho (documento disponibilizado na hora durante a Ação Global), poderá ingressar no cobiçado mercado formal. Uma vez contratado, terá direito à previdência social, ao seguro desemprego e ao fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS). Sem falar no aumento de renda detalhado a seguir. Gráfico 1 – Impacto da Ação Global na escala de cidadania da população assistida em 2007 (variação de -65 a + 65 pontos)

Gráfico 2 – Como ler a Escala de Cidadania (variação de -65 a + 65 pontos)

Além do assistencialismo 

No mercado  social não existe espaço para  romantismo. Nenhuma empresa atua nessa área porque é “boazinha”,  a  não  ser  que  esteja  usando  a  chancela  da  responsabilidade  social  para  se  promover, deixando  o  objetivo  de melhorar  a  sociedade  em  segundo  plano.    As  instituições  verdadeiramente interessadas no assunto cuidam de seus programas socioambientais como de qualquer outro produto. Realizando pesquisas, verificando se ele está adequado às necessidades da população e, principalmente, avaliando se dá lucro. Isso mesmo: lucro. Mas do ponto‐de‐vista social e econômico, que inclui mudanças de  comportamento,  promoção da  Saúde,  ampliação da  cidadania,  geração de  renda  e  a  redução das desigualdades sociais – como o pretende o SESI.  

Medir a eficiência de um programa social nem sempre é  fácil para uma empresa. A boa notícia é que existem  técnicas de avaliação de  impacto que analisam diversas variáveis e  são  capazes,  inclusive, de projetar o ganho econômico que o projeto trará à sociedade. A recomendação dos especialistas é clara: se um programa social não traz retorno quantitativo, ele deve ser reformulado ou descartado. Tal como é feito com um produto ruim. Caso contrário, permanecerá na esfera do assistencialismo, limitando‐se a ajudar, sem transformar de  fato a realidade da população assistida. Já os projetos realizados de  forma planejada,  monitorada  e  sistemática,  capazes  de  interferir  na  vida  e  nos  comportamentos  dos beneficiados,  enquadram‐se  em  um  novo  conceito:  o  de  investimento  social  privado.  Destinado  a empresas  conscientes  de  seu  papel  e  dispostas  a  contribuir,  de maneira  efetiva,  para  a melhoria  da sociedade. Visto que esta última é a verdadeira responsável pelo crescimento de qualquer instituição.  

CAPÍTULO 3

Raio X Saúde é principal carência dos participantes da Ação Global. Eles chegam ao programa 36,1% abaixo do mínimo aceitável dentro de uma escala de cidadania saudável As três doenças que mais matam no País – problemas no coração, derrames cerebrais e câncer – são, na maioria dos casos, perfeitamente controláveis. Apesar disso, as duas primeiras respondem, juntas, por 20,4% dos óbitos do ano de 2007, com proporções similares em ambos os sexos. Já as mortes por câncer atingem cerca de 130 mil brasileiros. Algo em torno dos 13,7% do total de falecimentos ocorridos no Brasil durante um ano4. Em comum, uma triste constatação: a maioria dessas vítimas poderia ter sido salva pelo diagnóstico precoce ou pelo acompanhamento regular de um médico. De acordo com as últimas estatísticas disponíveis no banco de dados do Ministério da Saúde, referentes a 2005, os brasileiros realizam uma média de 2,5 consultas médicas por ano. Na faixa de renda mais baixa, no entanto, essa média tende a ser menor, como revela a primeira pesquisa de avaliação de impacto da Ação Global. O estudo mostra que os participantes chegam ao evento abaixo do nível mínimo aceitável dentro de uma escala de cidadania saudável que considera como variáveis o acesso a serviços médico-odonto-oftalmológico. O resultado alcançado (5,42 pontos negativos) indica que o público assistido no programa sequer tem acesso a uma consulta por ano. Dentro desse contexto, a Ação Global mostrou-se novamente um instrumento eficaz de promoção à cidadania. O evento oferece consultas gratuitas com dentistas e médicos de diversas especialidades, gerando uma variação na escala de cidadania saudável da ordem de 4,43 pontos. Este índice praticamente anula a precária situação anterior, deixando os participantes do programa a 0,99 pontos de ter o direito à Saúde atendida.

                                                            4 OPAS, Publicação Científica e Técnica nº 622. Saúde nas Américas: 2007. Washington, D.C, 2007.  P. 37.  

Gráfico 3 – Variação na escala de cidadania saudável provocado pela Ação Global. Esta varia de -15 a +15 pontos.

LUCRO SOCIAL Ao oferecer consultas médicas e testes capazes de diagnosticar, na hora, o aparecimento de quadros de diabetes e hipertensão – para citar alguns exemplos –, a Ação Global colabora com a redução da mortalidade provocada por essas doenças e amplia a capacidade produtiva da população. Isto porque, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), qualquer investimento em saúde, e especialmente na saúde dos grupos menos favorecidos, tem impacto imediato no horizonte produtivo da população. “O investimento na saúde das pessoas mais vulneráveis é uma condição necessária para facilitar-lhes o acesso a maiores benefícios do desenvolvimento, tais como a possibilidade de aumentar sua produtividade, acumular rendas e transferir as riquezas a seus descendentes”.5 Também neste aspecto, portanto, a Ação Global é uma valiosa ferramenta de redução das desigualdades sociais. Há um segundo componente econômico que merece ser considerado. Ainda não é possível quantificar precisamente a economia gerada pela Ação Global para a sociedade. Sabe-se, no entanto, que a “prevenção primária das doenças crônicas pode reduzir seu custo para os sistemas de saúde e as pessoas.” 6

                                                            5 OPAS, Publicação Científica e Técnica nº 622. Saúde nas Américas: 2007. Washington, D.C, 2007.  P. 37. 6 Ibid. p. 131. 

Acesso garantido ao tratamento, não à prevenção  

Segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD 2003), 98% dos brasileiros que buscaram assistência de saúde no período conseguiram o serviço solicitado. Esse número parece diferir  do  encontrado  na  pesquisa  de  avaliação  de  impacto  da  Ação  Global,  que  constatou  a preocupante  ausência  de  acesso  a  serviços médicos‐odontológicos  entre  seu  público. Mas  difere apenas aparentemente. Enquanto a PNAD avaliou o acesso aos serviços de saúde das pessoas que procuraram este  tipo de atendimento, o estudo do SESI verificou quantas vezes o público da Ação Global esteve no ambulatório médico ou odontológico no período de um ano.  Independentemente de ter ou não procurado tratamento. Cruzando os resultados das duas pesquisas, pode‐se inferir que os brasileiros de baixa renda não têm o hábito de se prevenir contra doenças, buscando atendimento apenas quando já estão doentes.  Esse quadro precisa ser revertido com urgência porque a prevenção ainda é o melhor remédio para qualquer doença.  Levantamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) entre 1999 e 2003 mostra que, no Brasil, os tumores costumam ser diagnosticados já em estágio avançado, diminuindo as  chances  de  cura  do  paciente.  No  caso  do  câncer  de mama,  por  exemplo,  apenas  3,35%  dos diagnósticos foram realizados no início da doença. Um índice absurdamente baixo, considerando que a detecção precoce aumenta em cerca de 30% as chances de cura destas mulheres.   As visitas anuais ao dentista também são  importantes para garantir mais que um sorriso bonito. Se não forem tratadas adequadamente, algumas  infecções na boca podem se espalhar para o resto do corpo e provocar problemas cardíacos e respiratórios capazes de levar até mesmo ao óbito. Para ter idéia  da  gravidade  do  problema,  basta  lembrar  que  30%  dos  casos  de  endocardite  bacteriana (inflamação no revestimento e nas válvulas cardíacas que pode ser fatal) são causadas por bactérias que estavam na boca. Infecções bucais também estão associadas a partos prematuros, por estimular contrações e dilatar o colo do útero.   Diante do exposto, as instituições brasileiras têm diante de si o desafio de estimular na população o hábito de  prevenir  em  vez de  apenas  tratar  as doenças. Ao oferecer  consultas  anuais, de  caráter essencialmente preventivo, o SESI colabora para a criação desta nova cultura, capaz de salvar muitas vidas.  

De acordo com o DataSUS, apenas em 2005, o Brasil gastou R$ 6,5 bilhões em internações hospitalares. Em média, são 6,2 internações para cada grupo de 100 habitantes. Elas custam, individualmente, cerca de R$ 608,69. Identificando quantos brasileiros descobrem precocemente, durante a Ação Global, estar com pressão alta ou com quadro diabético, será possível calcular a economia gerada pelo programa aos cofres público neste e em outros quesitos.

CAPÍTULO 4

Desafio profissional Público da Ação Global está desvalorizado perante o mercado de trabalho. Investimentos em capacitação prometem reverter esse quadro A população assistida pela Ação Global precisa de mais oportunidades profissionais. Os homens e mulheres atendidos pelo programa estão desvalorizados perante o mercado de trabalho, encontrando-se 5,45 pontos negativos na escala de cidadania saudável relacionada a aspectos profissionalizantes. Esta considera o acesso a ferramentas que facilitam o acesso a bons empregos, como: currículo profissional, cursos de capacitação e uma fonte fixa de renda. A pontuação varia entre -17 pontos (ausência total de direitos) e +17 pontos (plenas condições de disputar um lugar ao sol no competitivo mundo globalizado). O programa teve impacto modesto na vida dos participantes nesse quesito: 1,95 pontos. Seria necessário praticamente triplicar esse resultado para começar a garantir os primeiros passos em direção à inclusão social desse público. Um desafio ambicioso que o SESI está disposto a vencer, investindo na ampliação da oferta de serviços ligados a aspectos profissionalizantes. Serão buscadas parcerias voltadas ao encaminhamento dessa população a cursos de capacitação. Assim, espera-se que eles consigam melhores oportunidades no mercado de trabalho. Gráfico 4 – Impacto da Ação Global na vida da população assistida no quesito profissionalização. A escala varia de -17 a +17 pontos*.

O que vale mais: emprego ou qualificação profissional? 

A  resposta  costuma  surpreender.    Segundo  estudo  realizado  pelo  Programa  das  Nações Unidas  para  o  Desenvolvimento  (PNUD)  em  parceria  com  o  Instituto  de  Pesquisas Econômicas  Aplicadas  (IPEA),  a  geração  de  empregos,  por  si  só,  não  ajudou  a  reduzir  a pobreza  de  seis  importantes  capitais  brasileiras:  Recife,  São  Paulo,  Belo  Horizonte,  Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador.  

A pesquisa analisou os fatores que contribuíam para a saída de famílias da linha de pobreza no período de 2002 a 2007. Ficou comprovado que nos momentos de  redução na  taxa de desemprego, não havia, necessariamente, uma  redução da desigualdade  social. Motivo? A curto prazo, a geração de empregos beneficia pessoas com maior qualificação que estão fora do  mercado.  Os  mais  pobres,  portanto,  continuam  excluídos  do  processo  produtivo.  A melhor maneira de reverter esse quadro seria  investindo na capacitação profissional desse público.  Uma  vez  qualificado,  ele  teria  condições  de  competir  por  um  bom  emprego, aumentando a renda familiar e superando a condição de pobreza na qual se encontra.

DIVERSÃO TEM CARÁTER PALIATIVO

O acesso ao lazer, à cultura e a atividades físicas é imprescindível para quem pretende levar uma vida saudável, no sentido mais amplo da palavra. Independentemente do sexo, da raça ou da classe social. Por isso, o SESI oferece uma série de programas para promover a qualidade de vida dos profissionais da Indústria e de seus familiares.

Ciente dos benefícios que a prática dessas atividades traz aos empregados e aos colaboradores da Indústria – como a maior produtividade e a melhora da auto-estima – , o SESI disponibiliza alguns desses serviços à comunidade durante a Ação Global. As atrações culturais e desportivas são sempre bastante disputadas, mas não têm impacto significativo na vida dos participantes por serem pontuais. Atualmente, elas aumentam em apenas 1,96 pontos o acesso à cidadania da população beneficiada durante o programa.

Gráfico 4 – Impacto da Ação Global na vida da população assistida no quesito lazer. A escala varia de -8 a + 8 pontos*.

De acordo com especialistas da área, a oferta de atividades culturais, momentos de lazer, práticas desportivas e dicas de alimentação saudável só serviriam de passaporte à cidadania se fossem praticadas regularmente por um período mínimo de três meses após o evento. O desempenho alcançado pelo Programa mostrou-se de impacto restrito, colocando duas possibilidades para os organizadores da Ação Global:

1) Firmar parcerias para garantir a manutenção da oferta de lazer ao público assistido mesmo após a realização do evento nacional, cuja duração é de um dia.

2) Assumir que o lazer tem um papel paliativo no programa e não deve ser tratado como foco do mesmo.

CAPÍTULO 5

Cidadania de papel

Brasileiros têm quase todos os documentos necessários ao pleno exercício de seus direitos. Incluem-se aí a certidão de nascimento, a identidade, o CPF e a carteira de trabalho

A falta de dinheiro está longe de ser o principal problema dos mais de um milhão de brasileiros que freqüentam anualmente a Ação Global. Pior que viver na pobreza é encontrar-se excluído da sociedade, sem acesso aos direitos básicos de qualquer cidadão e, portanto, sem condições de superar essa situação em curto prazo.

Dos quatro indicadores de cidadania avaliados nesta pesquisa (saúde, aspectos profissionais, lazer e documentação), apenas um encontra-se dentro do mínimo esperado a qualquer cidadão. Justamente o mais burocrático de todos: a posse de documentos é capaz de proporcionar o acesso à tão sonhada inclusão social. São eles: a certidão de nascimento, a carteira de identidade, o cadastro de pessoa física (CPF) e a carteira de trabalho (veja quadro).

A pesquisa de avaliação de impacto da Ação Global constatou que a população assistida no programa possui a maioria dos documentos listados acima e já está começando a abrir contas bancárias. Portanto, pode-se afirmar que têm os instrumentos necessários para ingressar – pelo menos legalmente – na sociedade, no setor financeiro e no mercado formal de trabalho.

Antes de chegar ao evento, homens e mulheres já tinham + 14,8 pontos na escala de cidadania saudável. Ao final da Ação Global, o total de pontos sobe para + 18,4 considerando uma escala de cidadania com variação de – 25 pontos (ausência total de direitos) a + 25 pontos (pleno acesso à cidadania).

Gráfico 6 – Impacto da Ação Global na vida da população assistida: quesito documentação.

Benefício indispensável - Apesar de o público da Ação Global já estar “incluído” quando o assunto é documentação, os serviços gratuitos de primeira ou segunda via desses quatro documentos continuam sendo um dos principais chamarizes do programa. Em cidades como Brasília, a segunda via da identidade custa R$ 35,20. Um valor muito alto para quem sobrevive com renda familiar inferior a dois salários mínimos. Daí a importância de o SESI continuar a oferecer esses serviços na hora e sem custo para a população no dia do evento.

Direitos documentados 

Viver “sem lenço e sem documento” só é atraente na canção de Caetano Veloso. Na vida real, a ausência de  certidão  de  nascimento,  identidade,  CPF  e  carteira  de  trabalho  traz  uma  série  de  empecilhos  ao crescimento pessoal e profissional de uma pessoa. Confira: 

Certidão de nascimento ‐ pré‐requisito para matricular uma criança na escola, ter atendimento hospitalar e  tirar  outros  documentos.  É  tão  importante  que  a  Constituição  determina  que  todo  brasileiro  tenha acesso gratuito à primeira via do registro civil de nascimento. 

Carteira  de  Identidade  ‐  documento  de  identificação mais  solicitado  no  dia‐a‐dia  de  qualquer  pessoa. Necessário na abertura de contas bancárias, inscrições em concursos públicos, matrículas em cursos, etc. 

Cadastro de Pessoa Física (CPF) ‐ identifica e armazena as informações financeiras de uma pessoa perante a Receita Federal. Sem ele, é impossível abrir contas em bancos, parcelar compras, pedir empréstimos ou fazer concurso público. 

Carteira de Trabalho  ‐  imprescindível para quem pretende  ingressar no mercado  formal de emprego. A contratação com carteira assinada garante uma série de benefícios  fundamentais, como a proteção em caso de doenças, o auxílio‐desemprego e até mesmo pensão em caso da perda definitiva da capacidade de renda. Até 2005, 58,9% do  total dos empregados  formais da América  Latina  contava  com esse  tipo de proteção na área urbana. Já os trabalhadores informais tinham uma taxa de cobertura significativamente inferior.  Somente  33,4%  deles  estavam  amparados  contra  esses mesmos  imprevistos Os  dados  são  da Organização Pan‐Americana da Saúde. 

CAPÍTULO 6

Atenção especial para elas

Brasileiras estão quase três vezes abaixo dos homens no acesso à cidadania.

As mulheres brasileiras estudam mais, vivem mais, fazem dupla jornada – em casa e no trabalho – e já são chefes de 31% das famílias brasileiras. Apesar disso, ganham 65% do salário obtido por um homem. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, o salário médio “delas” era de R$ 504,00 e o deles girava em torno dos R$774 em igual período. E as desigualdades não param por aí. Enquanto a taxa de desemprego masculina foi de 6,4%, em 2006, a feminina atingiu 11%, o que representa um contingente de quase 1,2 milhão de mulheres desempregadas a mais que homens.

A questão do gênero também fica evidente quando se analisa o tipo de emprego obtido por cada sexo. Segundo levantamentos da Secretaria Especial da Mulher, elas são – em maior proporção que os homens – empregadas domésticas, trabalhadoras na produção para o próprio consumo e não-remuneradas. Eles encontram-se, proporcionalmente, mais presentes na condição de empregados (com e sem carteira assinada), profissionais autônomos e empregadores.7

A pesquisa de avaliação de impacto da Ação Global trouxe outro indicador importante sobre as mulheres e homens de baixa renda: enquanto eles chegam ao programa 2,06 pontos acima da linha que marca o acesso à cidadania, as representantes do sexo feminino ficam 5,24 pontos abaixo do mínimo esperado. Ou seja: as mulheres estão quase três vezes abaixo no acesso à cidadania em relação aos homens.

                                                            7II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2008. Pg 35 

Gráfico 7 – Impacto da Ação Global por gênero (variação na escala de -65 pontos a +65 pontos)

É interessante notar que o impacto da Ação Global é praticamente o mesmo entre homens e mulheres (cerca de 13 pontos), confirmando o caráter democrático do programa. Graças aos serviços oferecidos, ambos os gêneros saíram do evento acima da linha de acesso à cidadania e aptos a melhorar as próprias vidas. As mulheres, no entanto, continuam em situação menos favorável que os cidadãos do sexo masculino. Por isso, pode-se pensar em investir na ampliação da quantidade e da qualidade dos serviços oferecidos ao chamado “sexo frágil”. O objetivo é ajudá-lo a alcançar a tão sonhada equidade, pelo menos dentro do programa. JUVENTUDE NO PÓDIO O público jovem é o principal beneficiado da Ação Global. Ele chega ao evento quase oito pontos negativos na Escala da Cidadania e sai com cerca de sete pontos positivos. Uma variação de 14,68 pontos em apenas 24 horas.

O baixo resultado inicial dos jovens é atribuído, principalmente, à ausência de uma fonte de renda fixa nessa faixa etária. Segundo o estudo “Situação do jovem no mercado de trabalho no Brasil: um balanço dos últimos 10 anos”, do economista da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann, de cada 100 jovens que ingressaram no mercado de trabalho entre 1995 e 2005, 55 ficaram desempregados e apenas 45 encontraram uma ocupação. Em 2006, o contingente de desocupados na população de 18 a 24 anos era de 36,7%, de acordo com o IBGE. Apesar de não gerar emprego para esse

público, a Ação Global consegue ampliar a cidadania dos mesmos ofertando serviços importantes na área de Saúde, documentação.

 

Gráfico 8 – Impacto da Ação Global por idade (variação de – 65 pontos a + 65 pontos).

Por um mundo mais justo e solidário 

Após analisar os maiores problemas mundiais no ano 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) elaborou uma lista com oito ações capazes de transformar o mundo. Elas ficaram conhecidas como “objetivos do milênio” (ODM) e já mobilizaram 191 países ‐ incluindo o Brasil – que oficializaram um pacto de cumprir essas metas até 2015. São elas:  

1 ‐ Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2 ‐ Educação básica de qualidade para todos; 3 ‐ Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4 ‐ Reduzir a mortalidade infantil; 5 ‐ Melhorar a saúde das gestantes; 6 ‐ Combater o HIV/ AIDS, a malária e outras doenças; 7 ‐ Garantir a sustentabilidade ambiental; 8 ‐ Estabelecer parcerias para o desenvolvimento. 

O oitavo ODM é praticamente uma convocação para todos as empresas, sociedade civil, organizações do terceiro setor e governos. É preciso atuar em conjunto para tornar o mundo mais justo e solidário. Por isso, ao planejar investimentos sociais, o setor privado precisa estar atento aos objetivos do milênio.  

 

A Indústria, por meio da Ação Global, está cada vez mais alinhada a esses princípios. A missão do programa é colaborar com a redução das desigualdades sociais, apontada pelos especialistas como a origem mais provável da violência, da miséria e do desemprego. Atingindo a meta da Ação Global, a Indústria brasileira estará colaborando ativamente para que o Brasil cumpra os objetivos do milênio.   

CAPÍTULO 7

Contando em números Os serviços oferecidos na Ação Global podem representar a possibilidade de aumento futuro na renda dos participantes

Além de ampliar o acesso à cidadania, a Ação Global pode ser um instrumento eficaz de melhoria da renda da família brasileira. Isto porque cada variação de um ponto na Escala de Cidadania, para cima ou para baixo, equivale a um ganho ou perda de renda da ordem de R$ 7,41 ao mês.

Não significa que aqueles que vão à Ação Global, no dia seguinte, tenham sua renda média familiar aumentada em R$88,40 (equivalente a 11,93 pontos na escala X R$7,41), ou R$ 1.060,80 por ano.

Mas que o mercado social enxergará nelas esse valor. Uma pessoa com acesso aos serviços disponibilizados pelo Programa é valorada dessa forma quando tem que competir por bens no mercado. Tendo acesso a consumo cultural, encaminhamento para serviços de capacitação profissional, prevenção de problemas de saúde e documentação, homens e mulheres são percebidos de forma diferenciada na economia.

De acordo com a pesquisa, o evento impacta positivamente em 11,93 pontos a Escala de Cidadania da população assistida. Tal variação pode resultar em um aumento de renda da ordem de R$ 1.060,80 por ano a milhares de brasileiros. Dinheiro suficiente para comprar duas televisões de 29 polegadas, 30 pares de sapato, 424 pedaços de pizza, ou mais de 5 cestas básicas8.

A sociedade, como um todo, também pode lucrar bastante com a Ação Global. Basta lembrar que, todos os anos, 400 mil brasileiros morrem vítimas de doenças facilmente controláveis, como o diabetes e a hipertensão arterial. A prevenção e o acompanhamento médico sistemáticos dessas doenças – que neste programa são ofertados gratuitamente – são capazes de gerar economia em cirurgias e internações para os cofres públicos.

                                                            8 DIEESE. Preço considerado para a cidade de Brasília em março de 2008. 

CAPÍTULO 8 

Trabalhando na Estratégia Todo o trabalho realizado na Ação Global tem eco no Mapa Estratégico da Indústria

Este é um programa que, conforme os capítulos anteriores, está diretamente relacionado ao resultado Diminuição das Desigualdades Regionais e Sociais apontado no Mapa Estratégico da Indústria. O Mapa , que hoje tem como indicadores o o índice de GINI e o IDH afirma que “a diminuição das desigualdades sociais e regionais é fundamental para o País alcançar o desenvolvimento sustentável. Reforça o crescimento, diminui as tensões sociais, gera estabilidade sociopolítica e exerce uma influência positiva sobre os investimentos”9.

Apesar do “resultado” buscado pelo Mapa incluir outras ações que extrapolam a Ação Global, este programa está desenvolvendo indicadores práticos e facilmente aplicáveis que serão utilizados, muito em breve, para a medição de avanços sociais regionais.

                                                            9 Mapa Estratégico da Indústria : 2007 – 2015. Brasília: CNI/DIREX, 2005, p.68 

SESI / DN Unidade de Tendências e Prospecção - UNITEP Fabrízio Machado Pereira Gerente Executivo Lorena Vilarins dos Santos Organização Milton Mattos de Souza Equipe Técina - Avaliação Unidade de Responsabilidade Social Empresarial - URSE Alex Mansur Mattos Gerente Executivo Nardeci Elisa Silva de Castro Equipe Técnica - Ação Global Terezinha Nunes da Fonseca Equipe Técnica - Ação Global Consultores externos John Snow Brasil Projeto Gráfico e Realização Guaíra Flor - IPÊ Comunicação