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Educação para a Cidadania Global manifesto internacional Mudar é difícil, mas é possível, necessário e urgente. Com as nossas opções de hoje construímos o que será amanhã. Este Manifesto foi produzido colectivamente por organizações e educadores/as de diversos países que acreditam que é possível a construção de um mundo diferente, impulsionado por uma educação transformadora. Consideramos que é necessário promover a na escola, no âmbito da . Entendemos como tal uma educação que contribui para a formação de cidadãos e cidadãs responsáveis, comprometidos com a justiça e a sustentabilidade do Planeta, que promove o respeito e a valorização da diversidade como fonte de enriquecimento humano, a defesa do meio ambiente e o consumo responsável, o respeito pelos direitos humanos individuais e colectivos, a igualdade de género, a valorização do diálogo como instrumento para a resolução pacífica dos conflitos, a participação, a co- responsabilidade e o compromisso pela construção de uma sociedade justa, equitativa e solidária. constituí um actor social e político imprescindível, representa um espaço privilegiado para a formação de cidadãs e cidadãos críticos e participativos, capazes de impulsionar as transformações que queremos promover, tem um papel fundamental na procura de respostas aos desafios colocados pela nossa contemporaneidade. Na construção de um novo modelo de desenvolvimento que, questionando o papel dominante do mercado e do modelo neoliberal, aproveite as potencialidades da globalização em termos de solidariedade, participação e acção comum, de forma a accionar estratégias de sustentabilidade e de erradicação da pobreza. Na promoção da análise critica dos media e das regras que governam o sistema mundial da comunicação, na redução da factura digital e na criação de formas e canais de informação mais acessíveis, democráticos e plurais. Na construção cooperativa e em permanência de uma ética e de práticas políticas, económicas, sociais e culturais que tornem possível a vivência em sociedades interculturais e que sejam fontes de inclusão e coesão. Na reflexão sobre como conciliar a investigação e o progresso da técnica com uma ética ao serviço das pessoas e do Planeta. Na consciencialização dos cidadãos e das cidadãs sobre a necessidade de modificar os estilos de vida individuais e colectivos, de lutar para travar a degradação do ambiente, as alterações climáticas, a redução da biodiversidade e para reivindicar o direito universal à água, à alimentação e à saúde. No crescimento e amadurecimento de uma sociedade civil vigilante, capaz de denunciar e de se mobilizar, que seja consciente do próprio poder e da forma como o pode utilizar para por fim à guerra e para promover a totalidade dos direitos humanos para todos. Na promoção de relações igualitárias de género que facilitem a igualdade de oportunidades, a co-responsabilidade, a superação do sistema patriarcal e a oposição aos sistemas de conhecimento androcêntricos. No desenvolvimento de formas mais eficazes de democracia, tanto directas e participativas como representativas, tanto nos contextos locais como globais. Formas de democracia que favoreçam relações transparentes e saudáveis com os poderes económicos, reconheçam a pluralidade de pensamentos e acções existentes nas nossas sociedades e o diálogo multilateral entre a diversidade de espaços políticos que se têm vindo a afirmar em todo o mundo. Conscientes de que os processos educativos são atravessados pela complexidade crescente dos processos sociais, económicos e políticos do mundo em que vivemos, consideramos que a escola de hoje continua a ser organizada de acordo com um modelo de educação ineficaz que nem sempre dá resposta aos desafios da nossa contemporaneidade. Educação para uma Cidadania Global educação para a vida Acreditamos que a escola: Entendemos que a escola deve ter um papel central: Consideramos necessário questionar as tendências educativas actuais que: FAVORECEM PRIVILEGIAM NÃO VALORIZAM SOBREVALORIZAM SUBESTIMAM ENFATIZAM FAVORECEM Educação para uma Cidadania Global uma organização escolar disciplinar e isolada do contexto social e cultural. a acumulação de saberes disciplinares fragmentados e parcializados. as dimensões sociais e relacionais da aprendizagem. a utilização dos livros escolares, delegando-lhes frequentemente a responsabilidade do processo de ensino-aprendizagem. a importância das linguagens audiovisuais e informáticas. as relações hierárquicas rígidas baseadas nos papéis tradicionais de professor/a (aquele que transmite conhecimentos) e de aluno/a (aquele que recebe e demonstra possuir tais conhecimentos). , cada vez mais, a comercialização da educação que de direito de todos os/as cidadãos/cidadãs passa a ser vista pelos poderes políticos e económicos como um serviço (pago) a prestar aos/às cidadãos/cidadãs. Queremos também salientar que os educadores e as educadoras estão a viver uma situação de crescente perda do seu papel social e moral, embora as responsabilidades e as exigências que lhes são impostas pela sociedade sejam cada vez maiores. Afirmamos, com base em experiências promovidas por diferentes educadores/as e instituições, que a é uma resposta possível para promover uma educação transformadora e uma escola aberta ao mundo, visto que: Valoriza a dimensão humanizadora e global da educação, através do fomento de valores de solidariedade, paz, reconhecimento do outro, justiça, igualdade e cuidados com o Planeta. É uma proposta ética e política que concebe o ser humano numa perspectiva integral (pensar, sentir e agir), fundada na defesa da dignidade humana, na promoção dos direitos humanos, na interdependência entre o local e o global, na interculturalidade e na aposta na democracia e no diálogo. Progride em direcção a uma abordagem crítica e dialógica do processo de aprendizagem, que torna mais flexíveis os tempos e os espaços da escola, que promove locais de reflexão, que estabelece relações mais democráticas nos papéis e nas relações entre educadores/as e alunos/as. Considera o conhecimento como construção colectiva, valorizando o saber de todos os envolvidos no acto educativo, num espaço que estimula a diversidade de formas de compreensão da realidade. Convidamos a comunidade educativa no seu conjunto para que, reconhecendo-se na nossa proposta, se junte a nós. Esperamos que os diferentes actores educativos se mobilizem para questionar e modificar o actual sistema de ensino, considerando as peculiaridades dos seus próprios contextos. Queremos uma escola forte, que: EXIJA INCENTIVE PROMOVA INTRODUZA Educação para uma Cidadania Global IMPULSIONE Educação para uma Cidadania Global PROMOVA Educação para uma Cidadania Global. CAPACITE APOSTE Educação para uma Cidadania Global. FOMENTE PROMOVA IMPULSIONE CONSIDERE que o Estado assegure o direito à educação, rejeitando formas abertas ou encobertas de comercialização do processo educativo. uma gestão escolar democrática, participativa e aberta que implique o compromisso efectivo de todos os seus membros e da comunidade envolvente. espaços de encontro e de participação dos diferentes actores educativos (alunos/as, professores/as, funcionários/as, responsáveis de educação, famílias, organizações sociais), oferecendo possibilidades efectivas e concretas para o exercício pleno da cidadania global. a , entendida como um processo de formação transversal e transdisciplinar, tanto nas disciplinas já existentes como em espaços interdisciplinares e de projecto, favorecendo a aprendizagem através da abordagem a temáticas socialmente relevantes. metodologias e práticas activas, interactivas, críticas, cooperativas e participativas, que favoreçam a experimentação, tenham em conta a perspectiva sócio-afectiva e, sobretudo, que sejam consonantes com as finalidades da . a criação de materiais didácticos coerentes com os valores e os princípios da os seus actores para a análise crítica e a utilização activa dos meios de comunicação, longe da perspectiva de uma mera recepção passiva e potenciando o desenvolvimento de meios de comunicação alternativos. na formação, tanto inicial como contínua, dos/as educadores/as e outros agentes educativos de todos os níveis de ensino, que os habilite a pensar e actuar tendo em conta as dimensões globais e transversais implícitas à a construção de uma cidadania global e de processos de transformação social, em colaboração com organizações da sociedade civil e movimentos sociais, a partir de uma lógica de relações que valorize e reconheça as diferentes competências e respeite a especificidade e o papel de cada um, aproveitando da melhor forma os resultados das interacções criativas e mobilizadoras. um maior enraizamento na vida local, ao mesmo tempo que uma maior atenção e compreensão do nível global. a coerência entre os valores e as propostas, os objectivos e as estratégias, o discurso e a prática, o conteúdo e a forma. a educação como uma actividade criadora que, partindo da realidade quotidiana, prepara para a liberdade, para o desenvolvimento individual e para o respeito pelo bem comum, dando espaço a educadores e educadoras comprometidos e críticos para trabalhar em rede com o intuito de promover e concretizar um movimento de transformação da educação, envolvendo toda a comunidade educativa a partir das suas próprias escolas.

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Educação para a Cidadania Global manifesto internacional

Mudar é difícil, mas é possível, necessário e urgente. Com as nossas opções de hoje construímos o que será amanhã.

Este Manifesto foi produzido colectivamente por organizações e educadores/as de diversos países que acreditam que é possível a construção de um mundo diferente, impulsionado por uma educação transformadora. Consideramos que é necessário promover a na escola, no âmbito da . Entendemos como tal uma educação que contribui para a formação de cidadãos e cidadãs responsáveis, comprometidos com a justiça e a sustentabilidade do Planeta, que promove o respeito e a valorização da diversidade como fonte de enriquecimento humano, a defesa do meio ambiente e o consumo responsável, o respeito pelos direitos humanos individuais e colectivos, a igualdade de género, a valorização do diálogo como instrumento para a resolução pacífica dos conflitos, a participação, a co-responsabilidade e o compromisso pela construção de uma sociedade justa, equitativa e solidária.

·constituí um actor social e político imprescindível, ·representa um espaço privilegiado para a formação de cidadãs e cidadãos críticos e participativos, capazes de

impulsionar as transformações que queremos promover, ·tem um papel fundamental na procura de respostas aos desafios colocados pela nossa contemporaneidade.

Na construção de um novo modelo de desenvolvimento que, questionando o papel dominante do mercado e do modelo neoliberal, aproveite as potencialidades da globalização em termos de solidariedade, participação e acção comum, de forma a accionar estratégias de sustentabilidade e de erradicação da pobreza.

Na promoção da análise critica dos media e das regras que governam o sistema mundial da comunicação, na redução da factura digital e na criação de formas e canais de informação mais acessíveis, democráticos e plurais.

Na construção cooperativa e em permanência de uma ética e de práticas políticas, económicas, sociais e culturais que tornem possível a vivência em sociedades interculturais e que sejam fontes de inclusão e coesão.

Na reflexão sobre como conciliar a investigação e o progresso da técnica com uma ética ao serviço das pessoas e do Planeta.

Na consciencialização dos cidadãos e das cidadãs sobre a necessidade de modificar os estilos de vida individuais e

colectivos, de lutar para travar a degradação do ambiente, as alterações climáticas, a redução da biodiversidade e para

reivindicar o direito universal à água, à alimentação e à saúde.

No crescimento e amadurecimento de uma sociedade civil vigilante, capaz de denunciar e de se mobilizar, que seja

consciente do próprio poder e da forma como o pode utilizar para por fim à guerra e para promover a totalidade dos direitos

humanos para todos.

Na promoção de relações igualitárias de género que facilitem a igualdade de oportunidades, a co-responsabilidade, a

superação do sistema patriarcal e a oposição aos sistemas de conhecimento androcêntricos.

No desenvolvimento de formas mais eficazes de democracia, tanto directas e participativas como representativas, tanto

nos contextos locais como globais. Formas de democracia que favoreçam relações transparentes e saudáveis com os

poderes económicos, reconheçam a pluralidade de pensamentos e acções existentes nas nossas sociedades e o diálogo

multilateral entre a diversidade de espaços políticos que se têm vindo a afirmar em todo o mundo.

Conscientes de que os processos educativos são atravessados pela complexidade crescente dos processos sociais,

económicos e políticos do mundo em que vivemos, consideramos que a escola de hoje continua a ser organizada de acordo

com um modelo de educação ineficaz que nem sempre dá resposta aos desafios da nossa contemporaneidade.

Educação para uma Cidadania Global educação para a vida

Acreditamos que a escola:

Entendemos que a escola deve ter um papel central:

Consideramos necessário questionar as tendências educativas actuais que:

FAVORECEM

PRIVILEGIAM

NÃO VALORIZAM

SOBREVALORIZAM

SUBESTIMAM

ENFATIZAM

FAVORECEM

Educação para uma

Cidadania Global

uma organização escolar disciplinar e isolada do contexto social e cultural.

a acumulação de saberes disciplinares fragmentados e parcializados.

as dimensões sociais e relacionais da aprendizagem.

a utilização dos livros escolares, delegando-lhes frequentemente a responsabilidade do processo

de ensino-aprendizagem.

a importância das linguagens audiovisuais e informáticas.

as relações hierárquicas rígidas baseadas nos papéis tradicionais de professor/a (aquele que transmite

conhecimentos) e de aluno/a (aquele que recebe e demonstra possuir tais conhecimentos).

, cada vez mais, a comercialização da educação que de direito de todos os/as cidadãos/cidadãs passa a ser

vista pelos poderes políticos e económicos como um serviço (pago) a prestar aos/às cidadãos/cidadãs.

Queremos também salientar que os educadores e as educadoras estão a viver uma situação de crescente perda do seu

papel social e moral, embora as responsabilidades e as exigências que lhes são impostas pela sociedade sejam cada vez

maiores.

Afirmamos, com base em experiências promovidas por diferentes educadores/as e instituições, que a

é uma resposta possível para promover uma educação transformadora e uma escola aberta ao mundo,

visto que:

Valoriza a dimensão humanizadora e global da educação, através do fomento de valores de solidariedade, paz, reconhecimento do outro, justiça, igualdade e cuidados com o Planeta.

É uma proposta ética e política que concebe o ser humano numa perspectiva integral (pensar, sentir e agir), fundada na defesa da dignidade humana, na promoção dos direitos humanos, na interdependência entre o local e o global, na interculturalidade e na aposta na democracia e no diálogo.

Progride em direcção a uma abordagem crítica e dialógica do processo de aprendizagem, que torna mais flexíveis os tempos e os espaços da escola, que promove locais de reflexão, que estabelece relações mais democráticas nos papéis e nas relações entre educadores/as e alunos/as.

Considera o conhecimento como construção colectiva, valorizando o saber de todos os envolvidos no acto educativo, num espaço que estimula a diversidade de formas de compreensão da realidade.

Convidamos a comunidade educativa no seu conjunto para que, reconhecendo-se na nossa proposta, se junte a nós.

Esperamos que os diferentes actores educativos se mobilizem para questionar e modificar o actual sistema de ensino, considerando as peculiaridades dos seus próprios contextos. Queremos uma escola forte, que:

EXIJA

INCENTIVE

PROMOVA

INTRODUZA Educação para uma Cidadania Global

IMPULSIONE

Educação para uma Cidadania Global

PROMOVA Educação para uma Cidadania Global.

CAPACITE

APOSTE Educação

para uma Cidadania Global.

FOMENTE

PROMOVA

IMPULSIONE

CONSIDERE

que o Estado assegure o direito à educação, rejeitando formas abertas ou encobertas de comercialização do processo educativo.

uma gestão escolar democrática, participativa e aberta que implique o compromisso efectivo de todos os seus membros e da comunidade envolvente.

espaços de encontro e de participação dos diferentes actores educativos (alunos/as, professores/as, funcionários/as, responsáveis de educação, famílias, organizações sociais), oferecendo possibilidades efectivas e concretas para o exercício pleno da cidadania global.

a , entendida como um processo de formação transversal e transdisciplinar, tanto nas disciplinas já existentes como em espaços interdisciplinares e de projecto, favorecendo a aprendizagem através da abordagem a temáticas socialmente relevantes.

metodologias e práticas activas, interactivas, críticas, cooperativas e participativas, que favoreçam a experimentação, tenham em conta a perspectiva sócio-afectiva e, sobretudo, que sejam consonantes com as finalidades da .

a criação de materiais didácticos coerentes com os valores e os princípios da

os seus actores para a análise crítica e a utilização activa dos meios de comunicação, longe da perspectiva de uma mera recepção passiva e potenciando o desenvolvimento de meios de comunicação alternativos.

na formação, tanto inicial como contínua, dos/as educadores/as e outros agentes educativos de todos os níveis de ensino, que os habilite a pensar e actuar tendo em conta as dimensões globais e transversais implícitas à

a construção de uma cidadania global e de processos de transformação social, em colaboração com organizações da sociedade civil e movimentos sociais, a partir de uma lógica de relações que valorize e reconheça as diferentes competências e respeite a especificidade e o papel de cada um, aproveitando da melhor forma os resultados das interacções criativas e mobilizadoras.

um maior enraizamento na vida local, ao mesmo tempo que uma maior atenção e compreensão do nível global.

a coerência entre os valores e as propostas, os objectivos e as estratégias, o discurso e a prática, o conteúdo e a forma.

a educação como uma actividade criadora que, partindo da realidade quotidiana, prepara para a liberdade, para o desenvolvimento individual e para o respeito pelo bem comum, dando espaço a educadores e educadoras comprometidos e críticos para trabalhar em rede com o intuito de promover e concretizar um movimento de transformação da educação, envolvendo toda a comunidade educativa a partir das suas próprias escolas.

Educação para a Cidadania Global

manifesto internacional

Mudar é difícil, mas é possível, necessário e urgente. Com as nossas opções de hoje construímos o que será amanhã.

"Este documento foi produzido com o apoio da União Europeia. O conteúdo do documento não pode, em caso n e n h u m , s e r t o m a n d o c o m o e x p r e s s ã o d a s p o s i ç õ e s d a U n i ã o E u r o p e i a "

Este documento foi elaborado em 2008 no contexto do Projecto de Educação para o Desenvolvimento "Conectando Mundos", coordenado pela ONGD italiana UCODEP e na qual participam igualmente a Intermon Oxfam (Espanha), a Inizjamed (Malta) e o CIDAC. Todos os materiais estão disponíveis em www.cidac.pt e em www.educiglo.net