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PARTIDISMO, DISCURSOS DE ÓDIO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

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Partidismo, discursos de Ódio e

Liberdade de exPressão

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Partidismo, discursos de Ódio e

Liberdade de exPressão

JOÃO VÍCTOR NASCIMENTO MARTINSDoutor e Mestre em Direito (UFMG)

Graduado em Direito (UFOP)Professor Titular de Direito Constitucional e

Teoria da Constituição da FUNCESI Sócio da Muzzi e Advogados Associados

Belo Horizonte2020

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341.27351 Martins, João Víctor Nascimento.M386p Partidismo, discursos de ódio e liberdade de expressão / João2020 Víctor Nascimento Martins. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2020. 218 p. ISBN: 978-65-86138-11-5 ISBN: 978-65-86138-12-2 (E-book)

1. Direitos constitucionais. 2. Liberdade de expressão. 3. Discursos de ódio. 4. Censura – Prevenção. 5. Partidismo. 6. Democracia. I. Título.

CDDir – 341.27351 CDD(23.ed.)– 342.810853

Belo Horizonte2020

CONSELHO EDITORIAL

Elaborada por: Fátima Falci CRB/6-700

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil

Arraes Editores Ltda., 2020.

matriz

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Álvaro Ricardo de Souza CruzAndré Cordeiro Leal

André Lipp Pinto Basto LupiAntônio Márcio da Cunha Guimarães

Bernardo G. B. NogueiraCarlos Augusto Canedo G. da Silva

Carlos Bruno Ferreira da SilvaCarlos Henrique SoaresClaudia Rosane Roesler

Clèmerson Merlin ClèveDavid França Ribeiro de Carvalho

Dhenis Cruz MadeiraDircêo Torrecillas Ramos

Edson Ricardo SalemeEliane M. Octaviano Martins

Emerson GarciaFelipe Chiarello de Souza Pinto

Florisbal de Souza Del’OlmoFrederico Barbosa Gomes

Gilberto BercoviciGregório Assagra de Almeida

Gustavo CorgosinhoGustavo Silveira Siqueira

Jamile Bergamaschine Mata DizJanaína Rigo Santin

Jean Carlos Fernandes

Jorge Bacelar Gouveia – PortugalJorge M. LasmarJose Antonio Moreno Molina – EspanhaJosé Luiz Quadros de MagalhãesKiwonghi BizawuLeandro Eustáquio de Matos MonteiroLuciano Stoller de FariaLuiz Henrique Sormani BarbugianiLuiz Manoel Gomes JúniorLuiz MoreiraMárcio Luís de OliveiraMaria de Fátima Freire SáMário Lúcio Quintão SoaresMartonio Mont’Alverne Barreto LimaNelson RosenvaldRenato CaramRoberto Correia da Silva Gomes CaldasRodolfo Viana PereiraRodrigo Almeida MagalhãesRogério Filippetto de OliveiraRubens BeçakSergio André RochaVladmir Oliveira da SilveiraWagner MenezesWilliam Eduardo Freire

Coordenação Editorial: Produção Editorial e Capa:

Imagem de Capa: Revisão:

Fabiana CarvalhoDanilo Jorge da SilvaWokandapix (Pixabay.com)Responsabilidade do Autor

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V

Para Jana, com o maior e mais sincero amor.

Para a minha família, que me permitiu ser um leitor e, por isso, poder verter em palavras a minha leitura do mundo.

Para o Professor Thomas Bustamante, exemplo ímpar de dedicação ao magistério, à teoria do direito e à justiça.

Para todos aqueles que travam batalhas em prol de uma democracia verdadeira, que respeita o pluralismo e a diferença e

permite a autoafirmação dos indivíduos enquanto sujeitos de direitos.

Para todas as vítimas de discursos de ódio.

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VII

agradecimentos

Inicialmente, agradeço a Deus pela grata tarefa de poder assumir este dever.Agradeço àqueles que abdicaram de tanto para me permitir o acesso a uma

educação de suficiente qualidade para construir esta pesquisa: os meus pais.Agradeço àqueles que sempre estiveram ao meu lado: Babi, Felipe, meus

amigos e familiares.Presto o meu mais sincero agradecimento ao Professor Thomas Bustamante,

não apenas pela orientação – dedicada e zelosa –, mas, sobretudo, por instigar em mim a ambição de fazer da teoria do direito um instrumento em proveito da justiça.

Agradeço ainda ao Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito da UFMG, seus professores e servidores, por me fornecerem a estrutura e o conteú-do necessário para a consecução da pesquisa e a redação desta obra. Esta facul-dade é o exemplo vivo da excelência do ensino público gratuito e de qualidade.

Não posso deixar de agradecer aos colegas deste e de outros cursos de pós--graduação pelas inúmeras e profícuas discussões, sem as quais a construção desta obra não seria minimamente viável.

Tenho de agradecer também ao curso de Direito da UFOP, que me con-cedeu a formação exemplar e me permitiu ingressar na pós-graduação e, assim, realizar a pesquisa que culminou nesta obra.

Agradeço à Muzzi e Advogados Associados, por fomentar diariamente a minha paixão pelo Direito.

Agradeço aos meus alunos e aos meus colegas professores, por me permiti-rem a alegria de experimentar a docência.

Agradeço aos Professores Emílio Peluso, Rodolfo Viana, Maria Fernanda Re-polês e Ronaldo Macedo pelas indispensáveis críticas e contribuições na qualifica-ção deste trabalho e aos Professores Daniel Sarmento, Bruno Camilloto, Marcelo Cattoni e Bernardo Gonçalves, por aceitarem o convite para avaliar esta obra.

Por fim, agradeço a Jana, pelos diálogos instigantes, pelo auxílio incomen-surável, pela parceria incondicional, pelo incentivo diário e pela compreensão diante da minha ausência, tão constante no decurso da pesquisa.

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IX

Um dia estamos desconfiados de tudo, e no outro somos os mais pacíficos pais de famí-lia, tão felizes e iludidos. E podemos pensar qualquer atrocidade saindo à rua como se nada fosse, porque nada é. As ideias, meu amigo, são menores nos nossos dias. Não importam. As liberdades também fazem isso, uma não importância do que se pensa, porque parece que já nem é preciso pensar. Sabe, é como sequer termos de pensar na liberdade. É um dado adquirido, como existir oxigênio e usarmos os pulmões.

Valter Hugo Mãe

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Lista de abreviaturas e sigLas

ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

DOI-CODI Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna

ETA Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade)

EUA Estados Unidos da América

MR Movimento Reformador

N. P. Não paginado

NV-A Nova Aliança Flamenga

OED Oxford English Dictionary

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PNV Partido Nacionalista Basco

PP Partido Popular

PS Partido Socialista

PSOE Partido Socialista Operário Espanhol

PSOL Partido Socialismo e Liberdade

PT Partido dos Trabalhadores

SP.A. Partido Socialista - Diferente

STF Supremo Tribunal Federal

US United States

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sumário

PREFÁCIO ............................................................................................................... XV

Capítulo 1INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

Capítulo 2OS FUNDAMENTOS POLÍTICO-MORAIS DO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO ........................................................................... 92.1. Liberdade de expressão .................................................................................... 92.2. O contrato social.............................................................................................. 122.3. A busca da verdade .......................................................................................... 122.4. A democracia .................................................................................................... 202.5. A autonomia ..................................................................................................... 272.6. O argumento constitutivo .............................................................................. 312.7. Uma breve síntese ............................................................................................ 35

Capítulo 3OS DISCURSOS DE ÓDIO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE REGULAÇÃO ......................................................................................................... 373.1. Discursos de ódio: concepções e regulações................................................ 373.2. Os fundamentos político-morais do direito à liberdade de expressão protegem os discursos de ódio? .......................................................... 46 3.2.1. A autonomia é fundamento de legitimação dos discursos de ódio? A proibição dos discursos de ódio à luz da obrigação de não causar dano ................................................................................................ 47 3.2.2. O Contrato Social e a democracia legitimam os discursos de ódio? A proibição dos discursos de ódio à luz da gradação da legitimidade .................................................................................................. 87 3.2.3. A busca da verdade legitima os discursos de ódio? A proibição dos discursos de ódio à luz da interpretação discriminadora e do efeito silenciador dos discursos de ódio ...................................................... 95

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3.3. O suposto conflito entre a liberdade de expressão e a dignidade, a democracia e a igualdade à luz da teoria da unidade do valor .................... 983.4. As críticas à regulação dos discursos de ódio e a prevenção à censura.. 104

Capítulo 4O PARTIDISMO COMO UMA MANIFESTAÇÃO DE DISCURSO DE ÓDIO ................................................................................................................. 1134.1. Partidismo ......................................................................................................... 1134.2. O partidismo é um fenômeno exclusivo dos Estados Unidos? .............. 1274.3. O partidismo é uma forma de discurso de ódio que causa dano? ......... 133 4.3.1. Os danos provocados pelo partidismo .............................................. 134 4.3.2. O discurso fundamentado no partidismo é um discurso de ódio? 1474.4. Como enfrentar o partidismo? ...................................................................... 160 4.4.1 A proposta da democracia militante ................................................... 164 4.4.2. O princípio da oposição leal ............................................................... 181

Capítulo 5CONCLUSÃO ......................................................................................................... 187

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 191

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XV

PreFácio

Sistemas democráticos, no mundo inteiro, parecem sofrer uma espécie de ameaça interna. Parte dos princípios capazes de manter em bom funcionamen-to a democracia não estão, e nem precisam estar, explicitamente enunciados nos textos das constituições. Não precisam estar explícitos porque nenhuma constituição faz sentido ou pode satisfazer às suas reinvindicações de normati-vidade sem pressupô-los como dados, ou como um espécie de consenso sobre-posto no sentido de Rawls, ou como um ethos capaz de se colocar acima das doutrinas compreensivas e das idiossincrasias de cada uma das cosmovisões que parecem competir pela primazia nas sociedades contemporâneas.

O princípio de que devemos nos submeter aos resultados de processos eleitorais é um deles. O princípio de que as leis que nós promulgamos preci-sam ser obedecidas é outro. Mas pouco se fala de outro princípio que vai além da exigência de obediência ao direito ou de que o poder deve ser acessível por vias democráticas: o denominado princípio da oposição leal. Nenhuma vitória política circunstancial, em defesa de interesses particulares, deve ser tida como definitiva, e nenhum adversário político deve ser tido como eliminável, des-trutível, nocauteável. A política das democracias estabelecidas não deve buscar à eliminação do seu ingrediente fundamental, que é o pluralismo e o igual respeito pelas diferentes forças políticas necessárias para que a democracia emerja. Como sustenta Rawls, sociedades democráticas ou já são pluralistas ou inevitavelmente acabam se transformando em pluralistas. Onde há liber-dade, diferentes concepções de bem e diferentes doutrinas compreensivas são capazes de conviver, são capazes de aceitar princípios fundamentais de justiça necessários para oferecer uma estrutura básica que se situe acima de nossas divergências. Um ethos de respeito ao direito e de respeito ao próximo, na qualidade de cidadão igualmente livre e merecedor de consideração pela comu-nidade, é um pressuposto de existência da democracia e da própria liberdade.

Mas o tempo em que vivemos testemunha o renascimento de uma polí-tica construída ao redor de identidades forjadas no ressentimento, no ódio,

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na segregação, no nacionalismo extremo e na deturpação indevida do sen-timento religioso. Mitos precisam ser construídos no sentido de criar uma legitimação carismática o suficiente para levar à ação sem reflexão. E a única maneira de obter esse tipo de renúncia à razoabilidade prática é a desconstru-ção dos princípios sobre os quais falávamos no parágrafo anterior. É preciso destruir a democracia por dentro, deslegitimar o processo legislativo como forma prioritária de produção do direito, enfraquecer os espaços de delibe-ração, como partidos políticos, instituições, conselhos. É preciso colocar as instituições contra os seus propósitos, tornando-as ocas e carentes de razão de ser. Alguns exemplos aparentemente paradoxais são no fundo uma expressão familiar dessa tragédia anunciada. No Brasil dos últimos meses, predominou a estratégia de negação explícita dos princípios que fazem as nossas institui-ções democráticas valiosas: criacionistas são alçados à condição de cientistas; estudos empíricos sobre temas como aquecimento global, diminuição da área florestal, aumento da violência policial, disseminação de doenças, prevenção da natalidade etc. são substituídos por crenças ou por uma visão punitivista e moralista da sociedade. A racionalidade se transforma em doxa, e qualquer opinião irresponsável reivindica para si o direito de ser erigida. É um tempo de relativismo seletivo. É tempo em que maiorias são relativistas quando tra-tamos de avanços da ciência, da moral ou da filosofia, mas fundamentalistas quando tratamos da religião ou dos costumes.

Embora seja controverso, entendo que a confusão entre liberdade de expres-são e liberdade para o discurso de ódio é um facilitador desse tipo de discurso. Mesmo dentro da tradição liberal, há quem argumente que existe um direito a realizar discursos de ódio porque qualquer restrição fundada no conteúdo à liberdade de expressão ou imposição de um dever de reparar danos causados por meio do discurso é viciada por não tratar o autor do discurso de ódio com igual consideração e respeito. Mesmo um dos mais sofisticados autores liberais do nosso tempo, Ronald Dworkin, parece sustentar essa posição. Mas a obra que o autor tem em mãos oferece um contraponto. João Victor Nascimento Martins identifica uma contradição nessa interpretação, na medida em que as bases so-ciais do autorrespeito são destruídas sempre que o discurso de ódio tem êxito em suas pretensões. Na medida em que esse tipo de discurso visa modificar a esfera pública, tornando-a não liberal e inviabilizando o reconhecimento do grupo es-tigmatizado como livre e igual, isto é, na medida em que o propósito do discurso de ódio é retirar do grupo hostilizado o mesmo direito que o autor do discurso reivindica para si, é no mínimo controverso e no máximo incoerente fundamen-tar esse direito ao hate speech no princípio do igual respeito e consideração.

Embora não possamos aqui avaliar se essa réplica ao discurso de ódio e essa pretensão de fundar a sua proibição na própria tradição liberal são exi-

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XVII

tosas, parece inequívoca e clara a relevância do tema e a necessidade de um aprofundamento na questão. E o trabalho que o leitor tem em mãos não foge dessa responsabilidade. Talvez esse seja o primeiro trabalho, no Brasil, sobre um tipo especial de discurso de ódio, o partidismo ou o discurso odioso na política. É um tipo de discurso de ódio que visa a destruição de um certo parti-do ou das condições sociais para que certas ideias sejam livremente difundidas em uma comunidade política. Ao colocar em xeque os partidos, e utilizar a filiação moral a certas ideias políticas como causa para o ódio e o discurso voltado à sua institucionalização, o partidismo se apresenta como um perigo-so agente de destruição daqueles princípios fundamentais necessários para a emergência de uma sociedade democrática.

O trabalho que o leitor tem em mãos analisa a questão em profundidade, com elegância, fluência e um estilo convidativo. Bem escrito e argumentativo, o trabalho enfrenta os temas com desenvoltura, sem perder-se em desfiles de erudição ou em discussões colaterais. O leitor tem em mãos uma importante contribuição para aqueles que ainda acreditam que as ideias filosóficas têm um papel importante a desempenhar na defesa da democracia, em tempos em que ela está tão vulnerável.

Belo Horizonte, janeiro de 2020.

THOMAS BUSTAMANTEProfessor de Filosofia do Direito da Universidade Federal de Minas Gerais