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06 REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. SETEMBRO 2008. NÚMERO SEIS. PIEKE BERGMANS WILD PAINTING PARTY JAZZ LIBERATORZ GUTA MOURA GUEDES

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06 REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. SETEMBRO 2008. NÚMERO SEIS.

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Page 1: Parq Mag 06

06

REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA.SETEMBRO 2008. NÚMERO SEIS.

PIEKE BERGMANSWILD PAINTING PARTY

JAZZ LIBERATORZGUTA MOURA GUEDES

Page 2: Parq Mag 06

Número 05. juNho 2008.

directorFrancisco Vaz Fernandes [email protected]

editoraCarla [email protected]

direcção de arteValdemar Lamego [email protected]

editor de modamartin [email protected]

trendscoutmário Nascimento [email protected]

traduçãoroger [email protected]

publicidadeFrancisco Vaz Fernandes [email protected]áudia [email protected]

Índice

real people

06 maLIN + goetz10 Sara LamúrIaS12 pIeKe bergmaNS14 johN maeda

18 You must shopping22 You must agenda24 You must tendências

soundstation

32 doCeS CarIoCaS34 the bug36 jazz LIberatorz

Viewpoint

38 aNgoLa LuSo 1966

central parq – grande entreVista

42 guta moura guedeS

central parq

46 uNIVerSo Lego48 «terapIa»50 oLIVIa arthur52 INterNatIoNaL taLeNt Support

moda

56 méCaNIque photography«housewife»

62 méCaNIquephotography«happy together —from lisbon with love»

71 parq here

english Version80 johN maeda80 jazz LIberatorz81 guta moura guedeS

textosCarla CarboneCláudia matos SilvaCristina pargaInês Vicentejosine Crispimjohn almeidamário Nascimentomiss jonesNuno Sousaray monderoger Winstanleyrui miguel abreuSofia Saunders

fotosLuís de barrosmécanique photographypedro janeiroSofia Costa pinto

stYlingCameron CarpenterConforto modernomartin Kullik

editorialo regresso

depois de 5 edições em que nos propusemos investir nesta claridade que caracteriza portugal - acreditando retirar daí uma visão singular que nos liberte de formas estereotipadas de fazer revistas - voltamos seguindo os trilhos seguros do espaço que já ocupamos no panorama nacional. a parq é um elo de ligação numa rede de gente que se revê na nossa maneira de estar e, desta forma, procuramos ultrapassar a di-mensão de revista e desenvolver outras actividades que possam con-gregar comunidades. Nesse sentido vamos lançar algumas festas, ou encontros como preferia chamar-lhes. Começamos em Leiria com o “meeting Friends”, porque é cada vez mais importante estar junto dos nossos pontos de distribuição, e estar com aqueles que são fãs incon-dicionais da revista e contribuem com ideias, calor e entusiasmo para que o projecto seja matéria viva colectiva. em Lisboa fazemos a fes-ta rentrée em parceria com o clube music box e somos a revista ofi-cial do grande evento Wild painting party na Lx Factory. Fiquem aten-tos às nossas páginas.

a par disso vamos re-activar o site www.parqmag.com e pedimos a quem queira divulgar os seus projectos nas mais diversas áreas nos envie in-formação. o site é um complemento da revista e tenta compensar tam-bém a falta de espaço que temos na agenda.

espero que gostem desta edição. damos destaque à entrevista de guta moura guedes no mês em a experimentadesign abre as portas em amesterdão e inaugura em Lisboa a super exposição obrigatória de peter zumthor, o arquitecto suíço das termas Vals-les-bains, um moderno destino de passagem como terá sido meca ou jerusalém, séculos atrás.

FraNCISCo Vaz FerNaNdeS

periocidademensal

depósito legal272758/08registo erc125392

ediçãoConforto moderno uni, Lda.número de contribuinte: 508 399 289

parqrua quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq.1000-251 Lisboa

00351.218 473 379

impressãobeprofit / SogapaLrua mário Castelhano · queluz de baixo · 2730-120 barcarena20.000 exemplares

distribuiçãoConforto moderno uni, Lda.

a reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da parq.todos os direitos reservados. Copyright © 2008 parq.

assinatura anual 15€.

www.parqmag.com

capaKateryna l’agence fotografada por Luís de Barrosconcepção e styling storytailorscabelos helena vaz pereira, assistida por sofia gonçalves para griffe hair Style maquilhagem victor fernandes para macpós-produção dinis santosassistentes de fotografia: dinis santos, tomás nogueira e pedro machado borges

06

PIEKE BERGMANSWILD PAINTING PARTY

JAZZ LIBERATORZGUTA MOURA GUEDES

viewpointangola Luso 1966

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Collage_Parq P_sept.indd 1-2 30-07-2008 10:42:46

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A Malin + Goetz* começou por ser um fenómeno nova-iorquino mas em menos de 5 anos conquistou um importante nicho à escala global. Apelando a um sentido prático,

oferece produtos de cuidado aos consumidores que têm dúvidas sobre o que lhes é adequado, seja qual for o tipo de pele ou sexo. Esta recriação do sonho americano tem por detrás um casal de Nova Iorque que somou as potencialidades de cada

um. Mathew Malin trabalhou anteriormente para a Kiehls em gestão de produto, e Andrew Goetz desenhou uma linha da Jill Sanders para o grupo Prada.

Trabalhando e vivendo juntos, como é que se influenciam um ou outro na actividade profissional? mathew: boa pergunta. o andrew no início usava o mesmo tipo de sabonete para lavar o rosto, corpo, cabelo e também para se barbear. No que me dizia respeito, como tenho uma pele sensível, havia muita coisa que não podia usar. então começámos a combi-nar os dois mundos. optámos pelo mes-mo produto todos os dias e passou a ser a base do nosso conceito de design de produto. queríamos manter tudo mui-to simples independentemente do tipo de pele e do género sexual. Criámos uma linha bonita, minimal, onde o desneces-sário foi eliminado, algo de muito mo-derno. quando vemos os antigos rótulos das farmácias ou dos boticários ficamos admirados pela sua funcionalidade e simplicidade. Foi nessa direcção que ac-tuou o andrew.

Seguem uma estética do duplo durante o processo de trabalho e no produto final? mathew: tudo o que fazemos faz parte de uma ideia de equilíbrio, cada fórmula é uma fusão de princípios naturais e tec-nológicos. oferecemos aos casais a pos-sibilidade de comprarem juntos os pro-dutos que são tão apropriados para eles como para elas. design e beleza têm per-sonalidades opostas e o nosso trabalho é descobrir como esses dois mundos se podem juntar para um equilíbrio.

Gosto muito das cores das embalagens. Como as escolheram? andrew: acompanhamos sempre a equipa de design e quere-mos cores que transmitam seriedade. principalmente para produtos de cuida-do de pele. as de corpo lembram os le-treiros de antigas boticárias europeias. e o azul significa água e hidratação. há um simbolismo, mas tem sempre mais a ver com estética.

Quantas pessoas trabalham na empresa? andrew: Somos 14, a maior parte de-les em Nova Iorque, mas também te-mos colaboradores em La, S. Francisco e Chicago.

Real PeoPle TexTo: francisco vaz fernandes

malin + goetz

Como tem sido o impacto na Europa? mathew: o crescimento da empresa deu-se muito pelo interesse que os pro-dutos despertaram por todo o mundo. ou seja, a empresa cresceu organica-mente. temos uma loja em manhathan e o website. Vendemos para vinte lojas barnes nos estados unidos. o primeiro ponto de venda na europa foi o Libertys, em Londres. hoje a Inglaterra é o nosso maior ponto de distribuição, seguida da Itália e espanha.andrew: os europeus têm um sentido estético de design maior que os ame-ricanos. Se mostrarmos um dos nossos produtos a um americano médio nem sempre vai perceber as nossas intenções, mas se o mostrarmos a um europeu ele não vai ter dificuldades em entendê-las. o sentido estético do europeu é muito mais refinado.

*exclusivo do epicurista, lisboa.

telf: 213 960 990—

www.malinandgoetz.com—

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CollageShoes_Parq P_sept.indd 1 30-07-2008 15:02:29

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DESIGNED FOR SPORT. REMASTERED FOR LIFE.

parq.indd 3 5/8/08 18:51:24

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Sara Lamúrias tirou o curso de Design de Moda na Faculdade de Arquitectura de Lisboa e nunca mais parou. Após um estágio na alemã Bless, criou a marca «aForest» em 2003 e passou a ser presença assídua na Moda Lisboa, assim como em várias feiras internacionais.

Mais que criar peças de vestuário, a «aforest-design» pretende comunicar atra-vés da arte, do design e da moda. Podes expli-car o conceito da marca? Sim, a aforest-de-sign não se afirma exclusivamente como marca de vestuário, é um projecto livre que funde design, vestuário e arte num discurso muito próprio. Criei o projec-to para canalizar ideias conceptuais sob uma estrutura de marca na forma de pro-dutos em edição limitada, peças únicas e eventos.

Começaste, recentemente, a desenvolver um novo projecto, Combo. Do que se trata exac-tamente? o Combo é um projecto artís-tico de carácter sócio-cultural, onde se cria uma fusão do design contemporâ-neo com funcionalidades associadas ao comércio tradicional. um aspecto im-portante é chegar às massas que não co-nhecem os processos de design e envol-vê-las neles mostrando-lhes novas ideias

e processos artísticos associados a estas. No Combo, a «aforest-design» junta-se a lojas tradicionais e cria um produto asso-ciado ao motivo dessa loja. por exemplo, no projecto piloto na Flores de perdição (florista) criámos o “cuff vase”, uma jarra criada sob o discurso do vestir. o projec-to está em desenvolvimento agora com o apoio do ministério da Cultura e num formato mais complexo, em que visa per-correr uma boa parte do país colaboran-do com 5 tipologias de lojas.

Foi preciso muita determinação para, saída da faculdade, criares a tua própria marca. Quais as maiores dificuldades com que se de-para um designer (de moda) em Portugal? produção. é a maior dificuldade com que me deparo. a indústria não está organi-zada e a maior parte não está interessa-da em trabalhar com os designers numa escala menor, inicialmente, e ir acompa-nhando o seu crescimento. perdi vários

sara lamúrias

clientes devido a problemas de atraso na produção. boa parceria na indústria procura-se!

O que não te inspira? a superficialidade, a formatação.

Se fosses uma peça de roupa qual serias? um cachecol para poder abraçar... :)

3 palavras que te descrevam: pare , escu-te e olhe :)

Um dia perfeito para ti seria… domingo...pequeno almoço tardio (brunch) com amigos ao ar livre... À tarde passeio a pé a fotografar... ao princípio da noite, uma boa sessão de cinema.

—www.aforest-design.com

Real PeoPle TexTo: inês vicenTe

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Pieke Bergmans é uma designer que valoriza o acidente. Os vestígios expontaneos das experiências que realiza demonstram que até em design se pode ser imprevisível. Bergmans faz lembrar os artistas românticos que imitavam a natureza, mesmo quando esta se afigurava

em declínio. Torna a natureza em modelo das suas experiências, pelo menos não a esquece quando evidencia a sua crueza. Hoje continuamos imbuídos de Ruskin e Morris um pouco

por todo o lado e ainda mais nas reflexões sobre design. Vamos ver o que a designer nos diz.

Como surgiu a colecção Vitra “Infected”? Pretendia ter ironia quando interferiu em mobiliário clássico, sobretudo no da Vitra? bem, as peças Crystal Viruses podem ser moldadas contra qualquer superfície. Não interessa como vão parecer depois. pode ser contra uma mesa, uma cadeira ou até uma caixa. e foi assim que tudo começou. a primeira “infecção” foi feita contra vários objectos, porque a ideia era soprar bolhas de cristal e largá-las em di-recção às coisas, de maneira a que, e de certo modo, a forma delas resultasse na cópia do objecto hospedeiro. depois da primeira exposição que realizei sobre es-tes objectos organizei duas performances e convidei pessoas a levarem o seu ob-jecto favorito. a ideia era infectar-lhes os objectos com grandes bolhas de vírus de cristal. as pessoas levaram objectos muito interessantes, e uma delas levou uma cadeira zig zag original, desenhada por rietveld. Foi muito entusiasmante usar aquela cadeira como molde. o con-traste foi brilhante, e foi um óbvio ata-que virótico. mais tarde trabalhei para a Vitra e propus-lhes usar os meus vírus de cristal nas peças de mobiliário mais interessantes da sua colecção. em certa medida é rebelde, mas por outro lado é o oposto porque pretendo transmitir que qualquer objecto pode funcionar como molde para fazer estes vasos. demonstra que mesas e cadeiras podem ter diferen-tes funções. Isso explica a imaginação. a Vitra adorou a ideia.

As coisas parecem degradar-se com o tempo. Haverá um mensagem, de certo modo polí-tica, por detrás do projecto “Mirror Virus”? bem, em teoria o mapa do mundo pode-ria ser totalmente diferente. Inglaterra poderia ser uma parte de África, e a China poderia aparecer virada do aves-so. poderiam formar-se diferentes ilhas e países. Se assim fosse, então culturas completamente diferentes poderiam vi-ver em lugares completamente diferen-tes do planeta, e todos nós poderíamos ser diferentes.

O mundo sucumbe, o ambiente parece su-cumbir. Pelo facto de serem fragmentos de espelhos, olhamos através deles e parece que sucumbimos também. Na realidade, a nos-sa reflexão parece tornar-se um fragmento de nós mesmos. Estaremos a observar-nos a nós mesmos? Reflexão = Infecção? Se olhar-mos através dos fragmentos dos espelhos “utopia Infected”, então a nossa refle-xão passará a estar espalhada por todo o mundo. Ver-nos-emos tanto na américa do Sul como na holanda. reflexão igual a Infecção.

—www.piekebergmans.com

Também levou o conceito de Vírus para o design gráfico. desenhei um vírus grá-fico que se espalhava pelas páginas das revistas de design, tal como aconteceu com a Frame. o vírus espalha-se pelas revistas e deixa marcas e traços nos ob-jectos de design. devagar, mas verdadei-ramente, toda a gente será infectada... estejam atentos!

E os Sticky Virus? agarram-se a qualquer coisa em que toquem. objectos, edifí-cios, pessoas. tudo pode ser infectado. os Sticky Virus têm um poder de disse-minação incrível. especialmente em fes-tas e outras ocasiões especiais. as pes-soas parece que ficam vulneráveis e há indivíduos que exibem com orgulho as suas infecções, e fazem ciúmes àqueles que ainda não foram infectados. Isto permite que o vírus se propague por to-dos os sujeitos.

É um desejo privado desenvolver objectos que sejam simultaneamente únicos e industriais? Sim. o maior objectivo é desenvolver um processo de produção que possibilite a criação de objectos de cariz individual. produzir “edições ilimitadas”.

pieke bergmans

Qual é a sua grande intenção? eu tento criar produtos que resultem sempre di-ferentes, apesar de serem desenvolvidos segundo processos industriais. o termo “imperfeição perfeita” ilustra as qualida-des que tal produto pode vir a revelar. por resultarem ligeiramente deformados, e diferentes entre si, tornam-se únicos e adquirem uma aparência natural.

Como construiu os candeeiros Light Bulb? usei iluminação Led. duram uma vida, e não é preciso mudar a lâmpada dos can-deeiros Light bulb.

Em certa medida transforma uma vulgar lâmpada em algo único. tal como o prin-cípio dos autocolantes Sitcky Virus, e dos vasos Cristal Virus, os candeeiros Light bulb desviam-se do seu normal curso na linha de montagem. também estes encontram formas e tamanhos di-versos. Como se se libertassem e formas-sem novas existências.

Precipita o material até ao limite, desafian-do a física? precipito os materiais até ao limite e experimento novos processos de produção. há todo um processo de expe-rimentação e de jogo envolvido. assim permito-me fazer erros e enganar-me. propositadamente, de modo a desco-brir, inventar e encontrar possibilida-des novas.

Por isso não faz cálculos, nem usa fórmulas (com rigor matemático) para descobrir essas formas? Como as que resultam dos candeei-ros por exemplo? Não há fórmulas.

Considera-se mais uma designer ou um ar-tista plástica? eu sou uma designer por-que todos os trabalhos que realizo nas-cem de um contexto de design, e nessa perspectiva encontram-se ainda nos li-mites de serem design e funcionais. por exemplo, as peças Crystal Viruses são jarras feitas para se sustentarem contra a superfície de cadeiras. ainda podem ser usadas como tal, mas se as deslocar-mos para fora desse ambiente e usarmos como objectos funcionais singulares, a história delas passa a ser outra. Se fosse artista fazia coisas muito diferentes.

Real PeoPle TexTo: carla carbone Real PeoPle

—1. massive infection2. Crystal Virus Lader @ symposion gymnasium3. Space Invaders @ gallery dilmos4,5. Light bulbs—

1. 2.

3.

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5.

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Page 8: Parq Mag 06

Depois de ter lançado «The Laws of Simplicity», que enuncia dez leis para simplificar a vida da Humanidade, John Maeda foi convidado pela Reebok para criar uma linha de 10

produtos baseada nos seus princípios. A linha, limitada e ainda em desenvolvimento, vai estar à venda apenas no site da marca. Maeda esteve na recente edição da feira Bread&Butter

para apresentar a sua última criação, um par de ténis chamado “Strucess”. Conversámos com este artista da computação para descobrir o que é que os logaritmos têm a ver com ténis.

A Esquire Magazine incluiu-o há pouco mais de um ano na lista das pessoas mais impor-tantes do séc XXI. Isso mudou a sua vida? um dos incluídos já está morto, outro está na prisão. tendo isto em conta não me parece que seja assim tão maravilho-so. Contudo fez-me pensar no que pos-so fazer para este século e no que pos-so alcançar.

Como resume o seu trabalho? é uma com-binação de cruzamentos de disciplinas relativas ao design, à arte, tecnologias, negócios e humanidades. estou à pro-cura de algo que ainda não encontrei e por isso continuo à procura.

Acredita que a vida hoje em dia é muito mais complexa do que foi para os nossos pais? tem os dois lados. por um lado é muito mais complexo ter que lidar com todas as tecnologias novas que aparecem a cada momento, mas ao mesmo tempo é mais simples porque podes desenvolver mais actividades. por exemplo, podes ser mu-lher, directora de uma grande empresa e também torcer pelo filho que joga numa equipa de futebol. a vida actual também nos incapacita porque tem o problema do google. as pessoas pensam cada vez mais e ficam mais burras porque não são levadas a descobrir nada por si, só têm que procurar no google.

Real PeoPle TexTo: roger winsTansley

john maeda

O que é que veio apresentar aqui na Bread&Butter? a minha formação foi em informática e depois em artes plás-ticas. dois universos que nos anos 80 fundiram-se. escrevo programas de computador à mão e eles podem trans-formar-se em matéria plástica, como aconteceu na minha primeira experi-ência para a reebok, nomeadamente com o timetanium realizado a partir do modelo Ventilator. tenho 10 leis de simplicidade e este modelo foi baseado na terceira, "time". hoje vou apresentar um modelo baseado na 9ª lei, “Failure”: se falhares persegue o teu caminho até atingires algum nível de sucesso. dei-lhe o nome de “Struccess” que resulta da mis-tura da palavra luta e sucesso (Struggle e Success em inglês). pensamos no falhan-ço como algo negativo, mas de facto a inovação está sempre ligada aos falhan-ços. Na verdade um falhanço pode até ter um certo tipo de sucesso. Conheces os post-it? o tipo que inventou essa cola foi criticado porque criou uma cola que não colava bem. Contudo essa cola está na base de um grande sucesso.

English VErsion

p.80

1.

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Aparentemente o Strucess não tem por base um modelo clássico da Reebok, como acon-teceu com os dois lançamentos anteriores, que recorriam à forma do Freestyle e do Ventilator. tentámos criar um modelo novo assente em algo mais complexo. tem muitos componentes, há muita coi-sa a acontecer em termos gráficos que considero complexo. ao mesmo tempo há uma orientação estética com um ele-vado número de preocupações ao nível do design e da engenharia do modelo. dentro desta colecção, “Laws of simpli-city”, ainda falta lançar modelos de rou-pa. está prevista uma t-shirt de homem baseada na lei número 4, aprendisagem, e uma t-shirt de mulher baseada no con-texto. diria que este projecto reflecte as palavras que saem do coração e se trans-formam em poesia. o processo criativo será mais fácil de entender através de um site que se vai chamar your reebok. as pessoas vão poder participar no pro-cesso criativo.

Real PeoPleJohn Maeda

Como vai funcionar o Your Reebok? Vai es-tar online em 2009 porque actualmen-te as pessoas não têm grande oportuni-dade de serem criativas. Sentem que é muito arriscado. então criámos um sis-tema que usa os meus códigos de compu-tador como base. qualquer pessoa pode co-produzir comigo online. Vai tornar-se fácil tomar parte do processo criativo. usamos fórmulas simples, é quase como usar o google. por exemplo, (e faz a de-monstração no seu computador pesso-al), acabei a relação com o meu namo-rado ou hoje morreu o meu cão, depois acrescenta-se uma imagem que se quei-ra associar a esse pensamento. o compu-tador junta a palavra e a imagem e cria um efeito gráfico que pode ser aplicado, é uma nova obra de arte. qualquer pes-soa pode fazer uma obra única a partir deste recurso online.

Como é a sua relação com o mundo da moda? já fiz design de equipamento, de ilumi-nação e muitas outras coisas, mas esta é a minha primeira experiencia na área da moda. estou sempre muito curioso e a minha participação tem sido mais uma colaboração com a equipa técni-ca da reebok para eu entender melhor o consumidor. Na reebok trabalhamos juntos as possibilidades e que tipo de riscos poderemos correr.

Esse uso de logaritmos para fins desporti-vos é apenas decorativo ou tem outra in-tenção? Não, é muito profundo, porque é tudo baseado nas leis da simplicida-de que esboço para simplificar a vida. estava a pensar em logaritmos que aju-dem a pensar mais sobre as próprias leis. Não é apenas arte gráfica. tem conexões mais profundas.

—www.maedastudio.com

—1. reebok ventilator x maeda, timetanium2. reebok x maeda, Strucess—

2. 2.

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C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

anuncio_ModaLx31-Parq-AF.pdf 08/08/08 16:34:30

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you Must shoPPingyou Must shoPPing foTo: pedro janeiroprodução: conforTo moderno

relógio adidas, saco Cosmos da longChamps, shake alessi nos santos da Casa, saco druina hugo da hugo boss, perfume Kenzo power da KenZo ténis energie, cintos puma e boss blaCK da hugo boss, ténis steve mCQueen da puma, relógio dKny. eagle 1da série espaço 1999 na sKywalKer

CityOdyss

ey

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ténis duo pump da reeboK, sabonete malin+goetZ no epicurista, carteira diesel, cap em vinil diesel, óculos balenCiaga mala longChamp sapato de neve laCoste, cinto lee. robot vintage na skywalker

Street

Odyssey

you Must shoPPingyou Must shoPPing foTo: pedro janeiroprodução: conforTo moderno

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Page 12: Parq Mag 06

you Must – agenda you Must – agenda

festa rentréemusic box / parq

Não, o Verão ainda não acabou. em Setembro regressamos ao trabalho, às saídas e noitadas, mas temos o espírito re-novado pelos banhos de praia e isto deve ser celebrado da forma mais adequada.

o clube music box e a parq associaram-se para assinalar a rentrée. este clube do Cais do Sodré regressa com uma progra-mação mais forte —onde é notório um reforço de bandas internacionais e a in-trodução de mais sonoridades negras— e um programa em papel com formato e design diferentes. a parq entra no se-gundo semestre sem ter chumbado a ne-nhuma disciplina e sem desiludir os seus papás. já tivemos o nosso chupa-chupa pavloviano mas queremos partilhar estas doçuras e novidades convosco.

proposta: dançar all night long com dj Kamala, Lady g. brown, dj ride + mc Sagas e mc Supa. os franceses Koko Von Napoo arrancam a noite em loucura.

Não há dress code obrigatório, mas as ca-misas havaianas e as marcas de bikini mis-turadas com aroma de côco ficam sempre bem. Venham daí gente boa!

—Music Box

Rua Nova do Carvalho, 24 (Cais do Sodré)—

www.musicboxlisboa.comwww.myspace.com/ kokovonnapoo

Sábado dia 20enTrada: 8€

(c/oferta de 3€ em conSumo)

1h00: KoKo von napoo (live acT)2h00: dj ride + sagas + supa (live acT)

3h00: lady g. brown (dj seT)4h30: Kamala (dj seT)

lx facTory: 12 seTembrodas 16h às 23h (entrada livre)

yron: 13 seTembro às 17haTé 11 de ouTubro

—artistas de lx:

vhilstarget

leonor moraisJuca Pinga

add fuel to the firebruno Santinho

&artistas de bcn:

Zosenovni

Sensiblekenor

parQrevista oficial do wpp

wild painting partYlos vaqueros em lisboa

tudo começou em barcelona. o colec-tivo Vaqueros de barcelona organizou, em 2007, a Wild painting party (Wpp) com os melhores artistas e grafiters da cidade. depois projectou a ideia para outras cidades europeias com o objec-tivo de traçar uma rota internacional de pintura de rua e um mapa de referência da street art.

este ano os artistas de barcelona são con-vidados a intervir no espaço público de Lisboa e Copenhaga, trabalhando mu-rais e grandes telas de pintura livre ao lado de artistas locais.

Lisboa acolhe o evento em pontos espe-ciais, apadrinhado pela marca Carhartt. a primeira intervenção é na Lx Factory: paredes interiores e exteriores, muros de grande amplitude, salas e pilares. um processo que podemos acompanhar des-de o primeiro minuto numa festa começa à tarde e é para todos: papás e crianças, curiosos e gente gira, tudo ambientado ao som de dj’s.

a yroN, no dia seguinte, expõe uma co-lectiva dos artistas e apoia o “lifting” da rua de S. bento. Vão pintar muros livres, fachadas de prédios, tapumes e outros espaços devidamente autorizados dessa rua. a cirurgia começa às 5 da tarde.

—Lx Factory

Rua Rodrigues Faria – Alcântara—

YRONRua de S. Bento 168-178

—www.vaquerosdebarcelona.org

www.lxfactory.comwww.yron.pt

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Page 13: Parq Mag 06

you Must – tendências you Must – tendências

uma china de sonhouma realidade em CartazesTexTo: carla carbone

por esta altura, muitas iniciativas e even-tos se desenvolvem em torno da China.em Londres, por exemplo, no museu Victoria & albert realizou-se recente-mente uma exposição dedicada ao design e à moda chinesas. os jogos olímpicos de pequim, por outro lado, tornaram a China num pólo de atracção dos média e num tema fulcral da imprensa inter-nacional. mas para aqueles que acham o tema algo indigesto, cedo não se vão livrar dele uma vez que, conforme anunciado na expo de Saragoça, a China vai ter em 2010 a sua versão da expo em Shangai. assim anuncia a mascote bojuda e azul, à entrada do pavilhão da China, na expo espanhola.

a China mudou, emancipou-se. já sem a sombra de mao a acenar, sorridente, o livro vermelho recupera um pouco a sua existência pré-socialista e revela um de-senvolvimento económico e cultural sem precedentes.

Como bom testemunho dessa mudan-ça na China, desse optimismo que ago-ra parece vigorar, o museu Kunsthal de roterdão resolveu apresentar uma expo-sição de cartazes de propaganda Chineses dos anos trinta —altura da segunda guer-ra entre a China e o japão— até aos car-tazes que agora se produziram a pretex-to dos olímpicos.

alguns dos cartazes da década de trinta são raros e já não se encontram em lugar algum da China. São de facto singulares. a produção de cartazes mais significativa teve lugar entre os anos quarenta e sessen-ta. o período compreendido pelo domí-nio maoista. todos ostentavam nas suas mãos os livros vermelhos e apresentavam rostos sorridentes e saudáveis. os cartazes mostravam agricultores, soldados, traba-lhadores fabris ou intelectuais, orgulho-sos, concentrando-se a trabalhar ao servi-ço de mao. Constituíam um exemplo para a população que os devia seguir.

Com a morte de mao em 1976 esses car-tazes foram, a pouco e pouco, dando lu-gar a outras ideologias, até mesmo passa-rem a ser um corolário do comportamento consumista ocidental.

—Museu Kunsthal – Roterdão

—www.kunsthal.nl

tord boontjeTexTo: francisco fernandes

Na última edição do Saloni del mobile de milão uma das grandes novidades foi uma nova empresa de design, a meta, com um conceito novo que propõe combinar design contemporâneo com técnicas de produção artesanais do séc. XVIII.

a resistência ao produto massificado tem sido uma das linhas de pensamento mais fortes dos últimos anos, e naturalmente na área do design tem tido os seus segui-dores. Nesse sentido, a filosofia da meta enquadra-se numa das grandes tendên-cias do design actual acrescentando, no entanto, um grau de excelência difícil de encontrar. Isto explica-se porque foi fun-dada por mallett, uma das mais presti-giadas casas de antiguidades do mundo, especializada em móveis do séc. XVIII. durante a apresentação do projecto em milão, giles hutchinson Smith afirmava

que “a génesis da meta parte da simples ideia de que a qualidade, a atenção ao de-talhe, a nobreza e raridade dos materiais são tão importantes hoje como foram no passado”. detentora de um grande por-tfólio de mestres artesãos, com quem tra-balha regularmente e que dominam téc-nicas em vias de extinção, a meta oferece a alguns dos grandes nomes do design actual a possibilidade de terem projec-tos únicos de grande excelência.

das 11 peças que constituiram a colecção inaugural, sem dúvida que a mais inte-ressante foi a de tord boontje. em milão apresentou um guarda-roupas, (com por-tas feitas de ramos entrelaçados de ferro policromado), que parecia um local se-creto ao fundo de um jardim ou uma cai-xa de jóias de grande escala. mais tarde, numa apresentação da empresa em Nova

Iorque, foi exposto um segundo guarda--roupa de tord boontje —uma segunda surpresa— desta vez com várias madei-ras executas por mestres, que potencia-ram todo o movimento das curvas numa silhueta do séc. XXI.

—www.madebymeta.com

—1. tord boontje, Fig Leaf, 2008, projecto realizado para meta 2. tord boontje, L’armoire, 2008, projecto realizado para a meta—

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íconeso passado Com teCnologia do presente

TexTo: francisco vaz fernandes

a etiqueta Nike Sportswear surge para identificar a colecção de casualwear da Nike —destinada a um público trendy—que nos últimos anos se foi desenvolven-do com base no design e na inovação téc-nica. arranca com a evolução de 8 ícones da Nike: air max 90, dunk, aF1, Cortez, Windrunner, aW77 hoodie, eugene track jacket e Nike Sportswear t-shirt, modelos que durante anos serviram o desporto e que se tornaram verdadeiros ícones do streetwear. evoluir mantendo a identidade original parece ser o lema da Nike Sportswear, permitindo uma fusão de materiais de qualidade, tecnologia e design. para celebrar o lançamento des-ta nova linha, a Nike convidou o gran-de encenador robert Wilson (durante a expo 98 criou a ópera do Corvo branco) para conceber várias instalações de vídeo: retratos dos ícones da colecção outono 2008 e de 3 atletas, Sofia boutella (break dance), Nigel Sylvester (bmX) e Shingo Iwasaki (Skate).

air max 90

o modelo air max 90 é um dos gran-des símbolos da marca. os primeiros air max, os ”1”, foram criados por tinker hatfield e mark parker, em 1987, para oferecer aos corredores o melhor amor-tecimento possível. a emblemática sola com ar visível (elemento que está na base do amortecimento) e as cores brilhantes das air max são resultado duma visi-ta de tinker ao Centro de arte georges pompidou, o moderno edifício de paredes de vidro que permite ver o seu interior. as air max 90, com uma câmara-de-ar 20% maior (implicava um aumento do seu peso), foram concebidas com mate-riais mais leves de modo a manter a sua leveza. a introdução dum maior núme-ro de componentes de plástico e blocos geométricos de cor deram ao sapato uma aparência mais veloz. a nova versão das air max 90 para a Nike Sportswear é um híbrido que mantém a estabilidade, leveza e amortecimento do original, va-lorizado com a flexibilidade duma sola com tecnologia Free 5.0, e a comodida-de duma biqueira feita em malha elásti-ca de alta qualidade, que segue o exem-plo de modelos como as air Flow de 1989 ou os conhecidos presto. já as air max 90 flywire usam um novo material, tal-vez uma das maiores inovações Nike, o Flywire. tão fino quanto o papel, mas ex-tremamente resistente, permite reduzir o peso e simultaneamente suportar as par-tes estruturais dos ténis. Com uma par-te superior feita duma só peça, traduz-se no conforto duma meia combinada com uma leveza inimaginável.

aw77

Significa athletics West 1977: o primeiro clube de corrida apoiado pela Nike, que permitiu a muitos atletas concentrarem-se exclusivamente no atletismo, e onde muitos produtos da marca foram testa-dos. uma destas peças foi a sweat com fe-cho éclair com capuz que passaria a ser co-nhecida por aw77 hoody. Intemporal, continua a produzir-se com tecidos leves e resistentes, perfeita para aquecer antes e depois de um exercício atlético. para fazer evoluir este modelo e colocá-lo num lugar de excelência era importante encontrar produtores e materiais raros. assim, sur-ge o topo de gama aw77 loopwheeler. a Loopwheeler é um fabricante japonês que produz um máximo de 8 peças por dia, dado que toda a produção se reali-za em máquinas muito antigas e lentas, que ao praticamente não submeter o fio a qualquer tensão, conferem ao algodão uma suavidade extrema.

windrunner

desenhado por geoff hollister, estudan-te e corredor da universidade de oregon, fez a sua primeira aparição durante as provas de atletismo dos eua em eugene (oregon). o característico corte em V (de 26º) inspirado nas capas dos índios ame-ricanos, e o típico nylon, material imper-meável, fizeram dele um dos ícones da Nike. ainda recentemente, durante os jo-gos olímpicos, fazia parte do equipamen-to oficial da equipa dos eua. o flywire windrunner é a peça Nike Sportswear por excelência, combinando inovações passadas, presentes e futuras. usa um nylon japonês ultra-leve, semi-transpa-rência que enfatiza a aparência gráfica do típico corte em V e a leveza visual da peça, eliminação de costuras e uma rede de fios Flywire que confere resistência ao casaco e produz um efeito estético inte-ressante. existe outro modelo inspirado no Windrunner onde os cortes e os aca-bamentos são produzidos a laser: o laser runner. é a peça mais técnica da colec-ção. junta tecidos tecnológicos usados em alta performance com cortes e conceitos de corrida. Incorpora um tecido elásti-co de dupla camada à prova de água mas que permite respirar.

dunK

as dunk, lançadas em 1985, destinavam-se à prática do basquetebol universitá-rio. Com uma sola de perfil baixo e co-res combinadas com os uniformes das equipas, tornaram-se símbolos de ex-pressão individual. Foram adoptados pe-los skaters pelo apoio que davam ao tor-nozelo, já que eram almofadadas nesta zona. Floresceram no underground du-rante muitos anos e, em janeiro de 2008, a Nike, para celebrar a autenticidade do modelo, lançou um modelo vintage com a aparência de há 30 anos, mas com o con-forto que se exige hoje. entre as versões mais inovadoras, destacam-se as canvas one piece dunk, construídas com uma única peça de lona, sem cortes e com o pespontado em trompe-l’oeil que reproduz os cortes das dunk originais.

af1

Criadas em 1982, foram os primeiros té-nis destinado ao basquetebol a incorpo-rar câmara-de-ar (para amortecimento) na sola. para a nova colecção da Nike Sportswear 2008, criaram o novo modelo aF1 Supreme max, a.k.a. black Window, inspirado na estética da estrutura do está-dio olímpico de pequim e na tecnologia de fios flywire. a injecção de tpu em nobuk, permite reduzir a utilização da pele na parte superior do sapato e criar a teia ne-gra que lhe dá o seu nome.

—www.nikesportswear.com

you Must – tendências you Must – tendências

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—1. air max 90 flywire2. flywire windrunner3. shingo iwasaki (skater) vestido com nsw aw77 loopweeler4. Canvas one piece octogon dunk5. vários modelos nike af1—

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VisionTexTo: sofia saunders

a Lacoste celebrou recentemente 75 anos, desde que o famoso tenista do roland garros começou a produzir roupa de des-porto em malha de pique para a prática do ténis. hoje em dia a Lacoste representa um universo multifacetado e nada me-lhor que uma revista como a «Visionaire» para reconstruir a complexidade da imagem num número totalmente dedicado à marca francesa.

a edição 54 Sport conta, como é habitualmente, com as mes-mas colaborações de luxo, profissionais de grande reputação nas áreas da moda, arte, arquitectura, design e pensamento crítico. participaram com editoriais de moda, projectos de ar-tista e artigos, dando visibilidade àquilo que a Lacoste repre-senta para cada um deles. para acompanhar este especial, 12 destes colaboradores participaram num projecto de customi-zação realizado a partir de impressões sobre o modelo mais icónico, o pólo. estas edições limitadas (4mil), podem ser ad-quiridas num pacote que inclui três pólos customizados e um livro com 12 imagens.

—www.visionaireworld.com

—legenda:

a partir da esquerda, projecto de thomas ruff, thomas demand e tj Wilcox [fotografia de Jd ferguson9

raf simonsTexTo: sofia saunders

Não podia ser mais perfeito o casamento entre a Fred perry, o mais ilustre representante das subculturas inglesas, e raf Simons, o criador do streetwear chic.

os rumores desta aproximação já circulavam há muito tempo e concretizaram-se logo após a casa inglesa ter posto fim à co-laboração com a Comme des garçons que durou 7 anos.

raf Simons, com contracto para duas estações, criou para este outono/Inverno uma colecção de11 peças bastante sóbrias que têm por base criações Fred perry dos anos 60 que estavam em arquivo. todas as propostas foram produzidas numa só cor, o preto, com a coroa de louros bordada a cores mais vivas. a si-lhueta é em geral justa ao corpo, os colarinhos mais pequenos e estreitos e as calças justas e lisas à frente, características que já encontramos na linha de moda da marca. Contudo, são os pólos tricotados que fazem a diferença e rompem com a ima-gem da marca lançando-a para um patamar mais alto na moda. Imaginamos que este seja apenas um começo tímido e espera-mos uma afirmação na próxima época.

—www.fredperry.com

a casa de sonhosTexTo: sofia saunders

passados 15 anos desde que Viktor horsting e rolf Snoeren en-traram no mundo da moda ao ganhar o Festival Internacional de moda de hyères, a dupla de holandeses é homenageada numa exposição retrospectiva organizada pela barbican art gallery de Londres. a mostra intitulada the house of Viktor&rolf pode ser vista até 21 de Setembro e traça o percurso profis-sional dos criadores desde 1992, quando começaram a traba-lhar juntos.

No início da carreira, não tendo espaço nas passerelles, orga-nizavam apresentações em galerias onde mostravam as suas criações, reproduzindo assim algumas práticas da arte con-temporânea. esses anos não foram esquecidos e a exposição de barbican é em si uma grande instalação que tem como pro-tagonistas bonecas de porcelana vestidas com reproduções das suas criações miniaturizadas ao detalhe. a peça central da ex-posição é uma casa de bonecas que supõe-se ser a maior até hoje construída. Com três andares e muitos compartimentos onde poisam as bonecas que compõem o ambiente conceptu-al e mágico de dois dos mais influentes criadores de moda da actualidade.

—www.viktor-rolf.com

www.barbican.org.uk—

legenda:viktor Horsting e rolf Snoeren à frente do perfume flower bomb, que criaram, durante

a abertura da "the House of viktor&rolf", no barbican art Gallery em londres. vista parcial da casa de bonecas com reproduções das criações viktor&rolf..

para quem não gosta só de carrosTexTo: sofia saunders

o universo mini não pára de crescer. Nenhuma marca auto-móvel tem trabalhado com tanta definição o seu life style. por essa razão é justificável que os amantes do mini —aqueles que vivem o espírito club— tenham necessidade de se rodear dos acessórios que o identifiquem. depois da parceria bem suce-dida com a onitsuka tiger, que criou um modelo de ténis mais estilizado para a mini Cooper, é natural que esta empresa au-tomóvel quisesse desenvolver uma linha de moda própria, à venda no seu site. basta entrar na home-page para a descobrir. as ofertas são muito variadas, podendo encontrar-se relógios, óculos, malas, sacos, roupa, calçado. um crescimento que jus-tificou um desfile na batló em barcelona para apresentar a co-lecção à imprensa internacional.

Se por um lado a roupa parece não querer ultrapassar muito o limite dos básicos, onde o essencial são as estampagens alu-sivas ao mini, o mesmo já não se pode dizer de alguns aces-sórios, como os sacos e malas de viagem da próxima colecção outono/Inverno.

—www.mini.com

you Must – tendências you Must – tendências

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dior homemTexTo: josine crispim

dior homme Sport não é apenas uma ex-tensão desportiva do antigo dior homme. é uma versão despretensiosa e despoja-da de snobismo e ostentação, sem no en-tanto perder a elegância inerente à quali-dade do produto. o frasco reinventou-se sem perder a estrutura minimalista de li-nhas puras, e ressaltam à vista as cores que o ilustram: preto e vermelho. é um perfume direccionado para um homem mais descontraído, relaxado, em comu-nhão com a natureza e o seu lado juvenil. a cidra da Sicília, o gengibre e o cedro do atlas são as notas que fazem desta fra-grância uma explosão de energia fresca, intensa e condimentada. disponível tam-bém em gel-duche, desodorizante e lo-ção after shave.

—www.diorhomme.com

phenomen’eYesTexTo: josine crispim

de nome audacioso e sugestivo, o novo rímel phenomen’eyes de givenchy vem revolucionar o mercado das máscaras de pestanas e ficar na história da cosmética. a escova esférica, totalmente inédita, é um produto de patente registada.

ergonómica e flexível, promete revolu-cionar a forma como a máscara é aplica-da. é de grande precisão e fácil aplicação, chegando às pestanas mais pequenas, e pode ser utilizada na horizontal, vertical e diagonal. em dois tons, preto e casta-nho, esta máscara ambiciona ser um fe-nómeno. À venda a partir de Setembro por 25, 53 euros.

—www.parfumsgivenchy.com

rouge VoluptéTexTo: josine crispim

a qualidade da maquilhagem yves Saint Laurent é indiscutível. o talento de Kate moss para “vender” produtos também. aliaram-se ambos no rouge Volupté, com o qual a marca francesa pretende afirmar que o batom não é a versão antiquada do gloss mas que, pelo contrário, tornou-se na versão elegante dele.

em 18 tons voluptuosos, o batom ySL ac-tualizou-se na imagem mantendo o dou-rado metálico: o relevo da sigla está mais demarcado e foi incorporado um peque-no espelho na tampa. Com factor protec-ção uV 15 e um subtil cheiro a manga, está disponível a partir de Setembro por 28, 50 euros.

ma dameTexTo: josine crispim

Surpreendente como sempre jean paul gaultier criou um aroma que vem como que anular a atitude das essências femi-ninas anteriores, os célebres perfumes Classique e Fragile. direccionado para um mercado mais jovem, ma dame é o perfume da emancipação feminina dos novos tempos, em contraste com a elegân-cia demarcada nas fragrâncias que o an-tecedem. mantendo a silhueta que tornou famosa a perfumaria da casa francesa, ma dame é a versão jovial, punk, destemida e arrojada de uma eau de toilette.

o criador deixou poucos pormenores de fora. a embalagem é picotada para poder ser rasgada e aberta num só gesto e dei-xar presente o lado rebelde do projec-to. a acompanhar o espírito revivalista que o mundo da moda tem ultimamen-te explorado, o frasco apresenta-se den-tro da atitude anos 80, num rosa fúscia dégradé translúcido que se ilumina so-bre si em rasgos de luz. as notas prin-cipais desta fragrância são a laranja, a rosa e a romã. em conjunto com a ima-gem cuidadosa e convenientemente apli-cada ao perfume, brinca o encanto femi-nino num jogo dicotómico entre beleza e fealdade, confundindo os nossos este-reótipos, contornando dogmas e rituais sociais que delimitam o que é ou deverá ser a elegância feminina.

agyness deyn protagoniza a campanha publicitária lado do próprio jean paul gautier. de aparência electrizante e ati-tude divertida, ilustra a fragrância de for-ma decidida e curiosa deixando transpa-recer humor e glamour. em comunhão com a sua feminilidade, a manequim inglesa aparece de look masculino num mundo a preto e branco iluminado pelo rosa cho-que de ma dame.

—www.jeanpaulgualtier.com

you Must – tendências you Must – tendências

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De sabor suave, açucarado e fresco, os Doces Cariocas conquistam à primeira mordida. Resgatando sonoridades tradicionais como o samba, e com temperos do xote e do forró,

costuram referências que vão dos Doces Bárbaros aos Beatles, bordando uma MPB contemporânea, tão moderna quanto despretensiosa. Simples, orgânica, viva.

os responsáveis pela iguaria são um co-lectivo de artistas de origens e influ-ências heterogéneas, todos radicados no rio de janeiro. À volta desta mesa tropical agrupam-se nomes como o de pierre aderne, alexia bomtempo (na foto ao lado), marcelo Costa Santos, domenico Lancelotti, alvinho Lancelotti, Simoninha (filho do grande músico Wilson Simonal), Luís Carlinhos, rogê, Silvia machete, Ingrid Vieira, além dos instrumentistas Felipe pinaud, dadi, mauro refosco, rafa Nunes, Lancaster e pretinho da Serrinha. músicos já concei-tuados na cena carioca e que, apesar de produzirem há mais de uma década, têm-se mantido “debaixo do tapete”, como ex-plicaram à parq alexia e pierre.

as dez canções que compõem o álbum dos doces nasceram durante os dez dias em que o grupo conviveu, tocou e cele-brou numa casa em araras, na serra do rio de janeiro. além do talento, o clima de chuva, as noites à lareira e a visão da serra num Verão carioca atípico forma-ram o terreno propício para as canções germinarem. já no rio de janeiro, a ân-sia e a alegria de compor e tocar juntos levou o grupo a ressuscitar a tradição dos saraus; é na famosa Ipanema de Vinícius e tom jobim que os amigos se reúnem semanalmente para tocar.

“a nossa casa tem mil quartos/ Com mui-tas portas e janelas/ Vista pro mar e pra montanha/ quem tem a manha pode se chegar” —convida a voz delicada de alexia, na faixa que dá título ao colec-tivo. “o canário e o curió” brinca com a boémia do malandro carioca: “Cheguei em casa o café tava na mesa/ e eu sem sapato para tentar não te acordar”. Na “Valsa do vestido” as bocas encontram-se e “as línguas dançam numa valsa”, numa poesia sensual adoçada pela voz de Silvia machete.

as melodias oníricas e tranquilas tor-naram-se hits nos saraus improvisados, conquistando a plateia de amigos com o seu clima intimista e diversidade. para pierre, o som dos doces é “uma colcha de retalhos no formato do mapa do brasil.” alexia comenta que “o resultado é sin-cero e delicado, e as pessoas sentem isso logo de cara”.

em portugal, os doces Cariocas encanta-ram o público português no pequeno cir-cuito Fnac, actuando também no Super bock Surf Fest. a recepção calorosa do nosso país ao recém lançado projecto é explicada pelo passa palavra, que em tempos actuais é medido também pelos números do myspace da banda- segundo pierre, o site contabilizou mais 3.000 fãs portugueses em apenas 15 dias.

À sombra do abacateiro

o álbum “doces Cariocas” foi lançado em junho pela editora abacateiro- que surgiu este ano pelas mãos do próprio pierre. Inspirada no conceito de comér-cio justo, a abacateiro funciona como cooperativa, o que segundo pierre per-mite “agregar os melhores profissionais desde a pré-produção a toda a logística, contemplando todos os envolvidos com os royalties.” uma estrutura menos buro-crática, mais auto sustentável e que reú-ne artistas e profissionais com “a mesma língua, o mesmo sotaque”. ou o mesmo amor pela música. porque a sombra des-ta árvore é também uma plataforma de lançamento para “músicos que traba-lham no que acreditam”.

soundstation TexTo: crisTina parga

Doces cariocas

“o selo reúne uma nova geração da mpb, um grupo que pensa desde o primeiro acorde, até a capa e todos os detalhes de cada concerto. uma geração que, em arte, pensa no conceito olhando para o macro.” —comenta o músico. e acrescen-ta que em portugal já há um caminho para este “novo sotaque da mpb”, com o crescente interesse por artistas con-temporâneos como Seu jorge, roberta Sá e mariana aydar.

No mercado português a abacateiro edi-tou também "alto mar", (o terceiro dis-co de pierre aderne, composto numa temporada em Lisboa), e "astrolábio", de alexia bomtempo, editado pela emI no brasil. Com distribuição da Fnac, o selo conta publicar nos próximos tempos o ál-bum "melhor" de Simoninha, além do ál-bum de samba e viola de gabriel moura e outro de edu Krieger.

Se a editora já planeia novos vôos, os doces Cariocas preferem desfrutar dos sabores do sucesso actual, sem gran-des definições ou projectos para o fu-turo. “mas posso garantir que os saraus em Ipanema não vão acabar” —prome-te alexia.

—www. myspace.com/docescariocas

soundstation

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este zoológico já foi mais jardim«London Zoo» é o terceiro álbum de originais do projecto The Bug. Juntando o

calor do dancehall ao frio oxidante do dubstep, este disco é mais uma roda dentada na Revolução Industrial britânica. E talvez a invenção de um novo metal.

Kevin martin é um músico inglês, que anda nisto há muitos anos. Nisto o quê? Nisto, nesta… cena. Cena? Sim, esta cena, este… movimento. esta coisa amorfa, meio underground meio não. urbana mas não cosmopolita. Suburbana? bom, mais ou menos. bom… mais ou menos? Classificar este insecto é quase tão es-tranho como dizer que há aí uma ban-da chamada the Clash, que mistura ska com punk.

há um lado de martin que está ligado à experimentação desde o fim dos anos 80, manifestando-se em projectos “es-tranhos”, “interessantes”… basicamen-te desde o inaudito até ao quase inaudí-vel. Seja com os god ou com os Ice, Kevin esteve sempre nos limites. Isto, visto de quem vê as coisas como limitadas. para um músico livre e experimental, os limi-tes estão onde deixam de ter significado. e a partir daí, a associação a john zorn ou blixa bargeld, vista pelos limitados, já parece até fazer sentido.

enquanto músico, mC ou produtor, Kevin martin é decididamente alter-nativo e marcadamente londrino. e é a partir de agora, com o terceiro disco de originais que assina como the bug, que ele vai conhecer os limites. Neste caso, os limites da mainstream. Literalmente, a corrente do rio em cujas margens lodo-sas ele insiste em viver. junto dos outros bugs todos. onde as descargas de resí-duos industriais ajudam outras espécies de bugs a proliferar. as margens são um mundo, mas agora há menos uma espé-cie desconhecida.

em 2006, outra espécie havia sido desco-berta nas docas londrinas: o dubstep. um tipo de som que dava uma nova escuridão e intensidade às ansiedades e angústias do homem moderno e, por conseguinte, mediano. o dubstep era um género, tinha uma casa, a editora hyperdub, um men-tor catedrático, Kode9, e ainda um génio, burial. muitos pararam para se ouvirem na estreia auto-intitulada deste último, e o ano passado, com «untrue», não hou-ve revista que o não elegesse. aliás, à data de imprensa (embora não da leitu-ra), burial é o nomeado mais forte para o mercury prize deste ano. entretanto, ou por coincidência ou por estar farto do boato de que burial era um pseudónimo para um projecto de thom yorke, é agora oficial que burial é uma pessoa e tem um nome: Will bevan. uma pessoa normal, como qualquer pessoa normal.

e este é o ponto onde o dubstep se encon-tra actualmente. e é por isso fácil de an-tever que, embora precedendo em muito a experimentação com este tipo de sono-ridades, ao editar agora «London zoo», e depois de ele próprio ter trabalhado com a hyperdub (este disco tem o selo Ninja tune), the bug se veja sob alguns holofotes, ainda que curiosos.

mas para matar a curiosidade, é logo na primeira faixa que ouvimos tippa Irie afirmar que “so many things they get me angry, and so many things they get me mad, and I gotta say”. «angry» é o nome do tema. entre muita palavra metralhada que o ouvido não apanha, entende-se o suficiente para apontar o dedo ao gover-no de bush durante a catástrofe do fura-cão Katrina. portanto, o panorama urba-no e nocturno sugerido pelos ambientes sonoros ganha um espectro muito mais amplo e está assim estabelecido o sub-texto político de «London zoo».

Com convidados com nome mais que fei-to no dancehall, grime e dubstep, como Killa p, Flowdan, Spaceape e, muito es-pecialmente, Warrior queen, the bug consegue usar o dub como arma que nos acorda do torpor confortável em que, normalmente, o dub normalmente nos lança. é estranho. é novo. e é bom.

—www. myspace.com/thebuguk

soundstation TexTo: mário nascimenTo

the bug

soundstation

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soundstation TexTo: rui miguel abreusoundstation

swing HopDe França chega-nos um dos mais interessantes lançamentos do ano: «Clin d’oeil», álbum de estreia dos Jazz Liberatorz que homenageia o jazz e a história da época dourada do hip-hop.

Jazz. rap. hip-hop. diferentes faces de um mesmo prisma ou diferentes elementos numa mesma equação. é possível olhar para a história do hip hop e perceber o mo-mento exacto em que a tecnologia per-mitiu desenvolver um olhar sobre o le-gado do jazz. a memória disponível nos samplers no início dos anos 80 facilitava a abordagem criativa aos discos da blue Note, Impulse, Strata east, black jazz e prestige que a geração anterior a produ-tores como Large professor, diamond d, pete rock, dj premier ou prince paul ti-nha coleccionado. depois de um enamo-ramento inicial pela rica paleta rítmica e tímbrica do jazz de uma época muito par-ticular —como não se deixar fascinar pe-los fraseados carregados de soul de gen-te como grant green, Lou donaldson, Cannonball adderley, jimmy Smith ou donald byrd?—, o hip hop percebeu que o jazz oferecia uma moldura filosófica e estética mais profunda e não demorou muito para que os mCs procurassem in-suflar nos seus flows e esquemas rimáti-cos a mesma liberdade aprendida nes-sas velhas rodelas de vinil, sobretudo as produzidas nos períodos do bop, hard bop, soul jazz e fusão eléctrica, mais “en-caixáveis” no quatro por quatro domi-nante na cultura “boom bap”.

Criativamente, esse período da história do hip hop foi dos mais estimulantes: não apenas devido à “matéria prima” usa-da na construção de clássicos dos de La Soul, gang Starr, a tribe Called quest, pete rock & CL Smooth, brand Nubian, digable planets ou jungle brothers, mas também porque os golpes criativos usa-dos por cada um desses nomes serviram para esculpir uma identidade —essa era a primeira geração de hip hoppers que já tinha crescido com consciência da cul-tura em que se inseria. algo se perdeu entretanto.

é inegável que o hip hop se encontra cor-rentemente numa espécie de encruzi-lhada. a transformação da arte numa poderosa indústria que há muito extra-vasou os limites de uma cena musical lo-calizada implicou o pagamento de uma factura muito pesada. mas não hesitou em declarar o óbito (metafórico) do hip hop, gesto radical do homem de «Illmatic» para chamar a atenção para uma realida-de complicada. Inegável é o desapareci-mento do entusiasmo criativo que mar-cou uma determinada era desta cultura. há excepções, pois claro. a extraordiná-ria loucura exibida por madlib, a disse-minação do legado de j dilla nos traba-lhos com ligação a detroit (Wajeed, black milk et al), a solitária missão dos roots ou a espalhafatosa mas intrigante visão da cultura ostentada por Kanye West têm impedido o afundamento do hip hop num mar de cifrões, vídeos de alta cilindrada e repetição vazia de fórmulas implaca-velmente vendáveis. acrescente-se a essa lista o esforço notório de dusty, madhi e damage, três produtores de meaux, França, que, com a ajuda de um ensemble que inclui rhodes, sintetizadores, flau-ta, baixo, percussões, bateria e saxofones, parecem apostados em transportar sozi-nhos o hip hop até ao momento em que um padrão de max roach invadiu pela primeira vez os circuitos integrados de um Sp1200. Senhoras e senhores, o vosso aplauso para os jazz Liberatorz.

Não há confusões quanto ao pedigree es-tético deste trio: a capa de «Clin d’oeil» cita deliberadamente a identidade gráfi-ca da editora black jazz (onde doug Carn tem parte importante da sua discografia) e no alinhamento descobrem-se as vozes de tre hardson (dos pharcyde), Fat Lip, asheru (dos unspoken heard), j Sands (dos Lone Catalysts), t Love, apani b Fly (ex-polyrhythm addicts), tableek (dos maspyke), Sadat X (membro dos históri-cos brand Nubian), Stacy epps (do projec-to Sol uprising), buckshot (dos também históricos black moon) ou j-Live. uma espécie de who’s who do lado mais indie do hip hop de anos recentes. mentes cons-cientes com carreiras feitas à margem das tendências ditadas pela mtV.

em «Clin d’oeil» os jazz Liberatorz be-neficiam de um número confortável de graus de afastamento do centro do fu-racão hip hop e com esse olhar exterior conseguem observar com acutilante pe-rícia o que parece faltar para que o hip hop faça como Lázaro e regresse da mor-gue: entusiasmo, vibração, ligação a um devir histórico, espírito lúdico. boom bap. por vezes é preciso recuar antes de avançar, voltar a estudar o passado an-tes de ousar o futuro. os jazz Liberatorz não inventam a roda, mas parecem re-mendar a câmara-de-ar e colocar o ve-ículo de novo em andamento. há já al-gum tempo que não aparecia um álbum com tantos talentos apostados em olhar para as suas próprias histórias e redes-cobrir a sua identidade profunda. «my hip hop history is rooted in jazz,» expli-ca j-Live. também a nossa.

—www.myspace.com/jazzlib

Jazz LiberatorzEnglish VErsion

p.80

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viewPointangola luso

encontrei este álbum de fotografias na Feira da Ladra de Lisboa com peque-

nas retratos de jovens africanas núbeis. tive a impressão de ser um trabalho

de natureza antropológica organizado por interesses científicos. No seu con-

junto ofereciam uma visão documental, bastante bem organizada de mumui-

las, jovens virgens de tribos africanas. Numa primeira pesquisa na internet,

pretendo encontrar um suposto antropólogo de nome emanuel Ferrreira,

parte do nome legível que parece escrito à mão na primeira página do ál-

bum, mas não encontrei qualquer pista que me levasse a um suposto cien-

tista. havia ainda a referência “angola Luso 21 12 1966” que viria a ser mais

reveladora e que com o tempo foi ganhando maior relevância na minha pes-

quisa. tudo me conduzia para a ideia de um jovem soldado que combateu na

guerra colonial. os combates intensificam-se por volta de 1966 e um maior

número de soldados teria sido levado para angola nessa altura. Imagino que

este tipo de fotografias seria de fácil acesso e vendiam-se como postais en-

tre os saldados.

Subliminarmente essas imagens autorizadas a circular dentro dos quartéis

serviam como justificação inocente da sua guerra, já que essas mulheres vir-

gens, exóticas e acessíveis também faziam parte do património pelo qual se

combatiam. mais que nunca essas fotografias fazem-me pensar na natureza

profunda da Fotografia, que não é nem mais nem menos que fragmentos de

ideologia activada por mecanismos de fantasia e de desejo. por tudo isso, o

epitáfio do álbum de fotografias gravado a letras douradas “Se recordar é vi-

ver, guardai neste álbum imagens das horas felizes da nossa vida. mais tar-

de, vivereis recordando horas passadas que o tempo queimou”, soa a mais

que patético, parece irónico.

viewPoint TexTo: francisco vaz fernandes

angola luso21.12.1966

—Agradecimentos ao antiquário de Laura Medeiros, a quem pertence o álbum. Campo de Sta Clara, 138-139. Lisboa Telf 218 862 065—

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viewPointangola luso

viewPointangola luso

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gRande entRevista TexTo: francisco vaz fernandes

Depois de um interregno de dois anos onde previmos que a ExperimentaDesign (EXD) tivesse sido mais uma aventura inconsequente num país sem cultura de design, a equipa liderada por Guta Moura Guedes repensou o projecto, procurou apoios dentro e fora de

Portugal e anunciou uma nova bienal. Bicéfala, vai funcionar em tempos diferentes e em duas cidades, Lisboa e Amesterdão. Com este lançamento prova-se o interesse

internacional em manter um projecto dirigido a áreas de reflexão e experimentação que exclui os circuitos habituais do design mais comercial. Abre as portas em Amesterdão dia 18 deste mês, mas no dia 5 inaugura uma exposição de Peter Zumthor e fica-se

a saber como será a 5ª edição em Lisboa, prevista para Setembro de 2009.

experimenta na holanda

Porquê Amesterdão? Foi um convite direc-to da Câmara municipal de amesterdão. um convite que aconteceu no momen-to certo e que vem de uma cidade mui-to estimulante e que é, de certo modo, complementar a Lisboa. Não é uma ci-dade do Sul da europa, como a nossa, é do Norte, tem algumas parecenças com Lisboa em termos de escala e de energia, mas é completamente distinta. ou seja, existem pontos em comum, mas acima de tudo diferenças que podem permitir à experimentadesign evoluir para ou-tros patamares e para outras descober-tas. para além disso tínhamos já uma grande participação e colaboração com a holanda nas edições anteriores.

Que apoios encontrou para decidir fazer a bienal nessa cidade? ao contrário de Lisboa, e por ser um convite da própria cidade que recebe o evento, a respon-sabilidade de garantir os apoios para mais de 80% do orçamento da bienal foi da capital holandesa. existiu uma arti-culação entre amesterdão e o estado holandês, promovida pela própria ci-dade, para além da importante colabo-ração do premsela Institute e da parti-cipação de outras fundações culturais holandesas. o panorama cultural holan-dês é completamente distinto do portu-guês, como pode imaginar.

É a primeira vez que se vai fazer uma EXD fora de Portugal, numa cidade onde, ao con-trário de Lisboa, o design faz parte da vida cultural. O que é que a Experimenta pode levar para Amesterdão? essa foi a primei-ra pergunta que coloquei a mim própria quando me telefonaram a fazer o con-vite. Só faria sentido a eexperimenta deslocar-se para outra cidade se isso constituísse claramente uma mais-va-lia para essa cidade e para o evento em si. a experimenta traz para uma ci-dade como amesterdão um forte ne-twork internacional e uma plataforma de visibilidade e de estímulo. mas, ain-da mais importante do que isto, quan-do fomos convidados foi-nos dito que a experimentadesign tinha sido conside-rada pelo grupo de consultores da cidade de amesterdão como o mais interessan-te evento de design no panorama inter-nacional, pela sua identidade, persona-lidade, pela forma como dialogava com a cidade onde se apresentava e pelo facto de ter uma perspectiva cultural e expe-rimental como ponto de partida. penso que será isso que a bienal portuguesa poderá levar para a holanda.

Pensa que esta é uma experiência que se vai repetir? Passaríamos a ter uma bienal a dois tempos e em cidades diferentes. Em termos de gestão não vai ser complicado no futuro? esta será a primeira edição em amesterdão, desenhada e produ-zida em nove meses, mas efectuada a pensar já no futuro, na edição de 2010. Não interessa nem à experimenta nem a amesterdão uma experiência isola-da e única, é preciso tempo para irmos mais fundo. a experimentadesign pas-sou efectivamente a ser uma bienal que acontece todos os anos... em duas cidades distintas! em termos de gestão é compli-cado, claro, mas acima de tudo é desa-fiante e seguramente passível de ser exe-cutado. Foi criada a experimentadesign amsterdam Foundation para a gestão da bienal na holanda, por exemplo, e a equipa em Lisboa foi reforçada para res-ponder a este desafio.

Havendo duas bienais, qual o grau de auto-nomia que passa a existir entre elas quanto a programas, interesses, colaborações, etc? estamos no princípio da nossa colabora-ção... essas questões, que foram já anali-sadas no primeiro think tank da bienal em Lisboa nesta primavera, serão novamente analisadas em Novembro deste ano. Será sem dúvida muito entusiasmante obser-var o que esta plataforma entre portugal e holanda trará para a bienal. Neste mo-mento está tudo em aberto...

o renascer da experimenta design

guta moura guedes

gRande entRevistao RenasceR da exPeRiMenta design

“não me entusiasmam

parceiros fracos, mas sim parceiros

fortes. este é o caso da relação

da experimenta com a droog design.”

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English VErsion

p.81

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Já há previsões para o que vai ser a próxi-ma Experimenta Lisboa em Setembro de 2009? Os temas, os artistas, os locais de exposição?já há previsões e muita coisa avançada, estamos a trabalhar nessa edi-ção desde o início do ano... mas tudo ain-da no segredo dos deuses, claro.

Relativamente ao modelo das 4 edições ante-riores da ExperimentaDesign, o que será vi-sivelmente alterado nesta que está a arran-car? a experimentadesign está sempre em constante actualização e avaliação, vamos corrigindo erros e melhorando formatos a cada edição que passa. mas o modelo base mantém-se... muito embora este think tank de Setembro possa ainda trazer novidades nesse campo.

Quando se completarem os 10 anos da Experimenta em 2009, que legado pen-sa ter deixado no panorama português? No ano passado fui a uma das pecha Kucha* em Lisboa. Lembro-me que es-tava nessa altura ainda no porto e que não havia nenhuma certeza de que a experimentadesign iria recomeçar. Foi impressionante ver que dos 20 criado-res convidados a apresentar os seus pro-jectos cerca de 17 tinham passado pela experimenta e mostravam criações re-lacionadas com o facto da experimenta ser a tal plataforma de difusão e de estí-mulo. quando este julho folheei a «Icon», com uma reportagem sobre o Fernando brízio, praticamente todos os projectos que lá estavam tinham sido mostrados na experimentadesign. a cada conferência que dou em escolas portuguesas os alu-nos referem exposições que viram na bie-nal, criadores que ouviram, debates que os marcaram. Internacionalmente sei que foi a experimenta que colocou Lisboa no circuito internacional do design, uma capital de um país que não tinha tradi-ção nenhuma nesta área. quando pen-so no nosso serviço educativo e na quan-tidade de visitas guiadas que fazemos à bienal, na digressão da Voyager 03 por 10 cidades portuguesas, nas apresenta-ções de design, arquitectura e cultura portuguesa que temos feito em milão, paris, barcelona, madrid, Londres... Nas empresas portuguesas que, alinhando connosco, introduziram o design na sua produção de um modo completamente distinto. poderia continuar a lista, que é grande, e falar em mais e em varia-díssimos impactos do nosso trabalho. o legado é, não tenho dúvidas, imenso e significativo.

Uma das grandes lacunas em Portugal, que é do conhecimento de todos nós, é a falta de interacção entre os criadores de design e o te-cido industrial. Esta é uma preocupação que lhe diz respeito ou apenas um problema de política cultural e sócio-económica do país? diz-me respeito, claro. preocupa-me imenso e gostaria de poder agir mais nesse campo. mas a experimenta tem de construir uma estrutura de base es-tável —e isso aconteceu pela primeira vez agora com o protocolo tripartido com a Câmara municipal de Lisboa, o ministério da Cultura e o ministério da economia e Inovação— para poder es-tabilizar o seu principal projecto, que é a bienal, e para poder a seguir focar-se noutras formas de actuação. já fazemos muitíssimo com a experimentadesign, que tem uma perspectiva cultural sobre o universo da cultura de projecto e sobre o design mais propriamente. mas penso que a partir de 2009 poderemos ter um papel mais activo na promoção da liga-ção dos designers e criadores em geral ao tecido empresarial, nacional e inter-nacional, através de outros projectos ou parcerias. é fundamental que isso acon-teça em portugal, não há inovação nem desenvolvimento competitivo à escala global sem que isso tenha lugar.

Relativamente à promoção dos desig-ners nacionais, considera a existência da Experimenta absolutamente necessária ou haveria outras coisas a fazer para uma efec-tiva internacionalização dos nossos criado-res? a experimenta é absolutamente ne-cessária, mas não suficiente. digamos que nós somos um actor importante da sociedade civil que trabalha em articu-lação com o estado e com as empresas e os criadores. mas há muito ainda para fazer e todos ganhamos com uma rela-ção sinérgica e inteligente entre as di-versas partes. do nosso lado, estamos cá para isso.

—www.experimentadesign.pt

—Pecha Kucha*- organização internacional que

elabora encontros onde grupos de criativos expõem o seu trabalho em 20 slides num tempo curto.

gRande entRevistao RenasceR da exPeRiMenta design

Em que medida ter a Droog Design como par-ceira —um grupo com uma visão particular sobre a produção e a relação com o design— poderá diluir a identidade da Experimenta e interesses mais pluralistas? devo confes-sar que tenho um particular gosto por gente e por grupos com uma forte iden-tidade e personalidade. Não me entu-siasmam parceiros fracos, mas sim par-ceiros fortes. este é o caso da relação da experimenta com a droog design. penso que é por isso que esta relação surge, por um mútuo reconhecimento e apreço do trabalho feito, dos posicionamentos ti-dos, das causas defendidas. Somos am-bos fortes e em momento algum passa pela nossa cabeça que esta parceria possa significar perda de identidade, quer para nós, quer para eles. apenas significa que tudo é mais discutido, tudo é mais ana-lisado, que o confronto cultural e ope-racional é grande e por isso mesmo os resultados serão inesperados, mas sem dúvida excelentes.

Em traços gerais, quais os artistas que vão es-tar na Experimenta de Amesterdão? Como é hábito na experimentadesign são mui-to diversos e distintos os criadores que convidamos. esta edição tem como tema Space and place e este foi um tema que direccionou muito, como é claro, as nos-sas escolhas. Seja como for privilegia-mos sempre uma conjugação entre no-mes já conhecidos e com muito trabalho efectuado, e novos valores ainda em fase ascendente.

Nesta edição apenas vejo o nome de Siza Vieira como presença portuguesa. Acha que de futuro a Experimenta em Amesterdão pode vir a ser uma oportunidade para pro-mover os criadores nacionais, ou esta ques-tão não é para si uma preocupação? Não é só o Álvaro Siza Vieira, o miguel Vieira baptista é um dos oito designers inter-nacionais da exposição Come to my place, que reúne 8 países e que é uma das exposições principais. grande par-te da imagem gráfica da bienal foi de-senhada pelo Nuno Luz, português e designer da experimenta. a minha preocupação em promover a criativida-de portuguesa é constante e acontece em variadíssimas dimensões, umas mais vi-síveis e outras menos visíveis, mas não menos importantes.

experimenta em Lisboa

Porquê o evento Warm Up em Setembro? Para assegurar que a ExperimentaDesign de Lisboa ainda não morreu? Não! o warm-up está relacionado com dois factos: um que é o de que quando recomeçámos a bienal sabíamos que não queríamos recomeçar de onde tínhamos parado, que queríamos introduzir novidades e alterações. pela primeira vez vamos anunciar o tema da bienal e desafiar interlocutores locais e internacionais a apresentarem propos-tas com um ano de antecedência. o ou-tro é que é bom marcar o calendário em Lisboa com mais apresentações ao públi-co e é um facto que a experimenta tem conteúdos e dinâmica para o fazer com mais regularidade.

Para além da grande exposição de Peter Zumthor, na Lx Factory em Alcântara dia 8 de Setembro, em que consiste o Warm Up nos restantes 3 dias? teremos 3 reuniões do think tank da bienal, uma sessão so-bre o tema aberta a convidados nacionais e internacionais e 3 ou 4 reuniões inter-nacionais sobre alguns dos projectos já em curso. para o público em geral tra-zemos não só a exposição do zumhtor, como também a oportunidade de o ou-vir na aula magna.

gRande entRevistao RenasceR da exPeRiMenta design

“poderemos ter um papel mais activo na ligação dos designers e criadores ao tecido empresarial nacional e internacional”

1.

2.

—1. miguel rios design system2K07

Com performance de andré murraças.© luis de barros

2. peter Zumthormodelo do projecto de apartamentos

para lucerna, 2001-2004.© markus tretter06

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toysunveRso lego

Só depois da segunda guerra mundial a Lego chegou ao mercado. Nessa altura, já ole e o seu filho godtfred produziam os famosos tijolos de plástico, expan-dindo-se fortemente durante as déca-das de 50 e 60. Nascia assim uma em-presa verdadeiramente familiar à qual nem os filhos de godtfred escaparam, ficando estampados em todas as caixas (os famosos baldes) a brincar com as pe-ças de Lego. uma revolução no mun-do dos brinquedos acontecia pouco de-pois da revolução social de maio de 68, quando godtfred dediciu começar a sua própria empresa e inaugurar a Legoland em billund (dinamarca) a 7 de junho de 1968. entretanto, foram criados outros parques temáticos Legoland espalhados pelo mundo, nomeadamente no reino unido (Windsor), alemanha (günzburg) e eua (San diego, Califórnia) que come-moram, em simultâneo, os 50 anos do brinquedo e os 40 anos do nascimento do parque temático Legoland na dinamarca (billund), neste verão. o tema central são os piratas e as actividades bastante di-versificadas, terminando com fogo-de-artíficio no dia 26 de outubro.

o Lego —cujo nome significa jogar bem ou eu junto (em latim)— começou por ser um conjunto de tijolos de madeira que permitiam dar azo à imaginação e fazer réplicas de construções realmente ambi-ciosas, mas acabou por influenciar uma série de novas culturas numa panóplia de áreas distintas. Nenhum outro jogo influenciou tantas gerações a uma esca-la verdadeiramente mundial. a sua cons-tante renovação, inovação, acompanha-mento de novas tendências e um controlo rigoroso na produção de todas as peças, fizeram com que a marca se mantenha no mercado mundial com a mesma for-ça com que se popularizou a partir do pós-guerra.

Seria de esperar que, com o passar dos anos, o brinquedo fosse perdendo o in-teresse. mas a verdade é que passou a ganhar cada vez mais adeptos desde co-leccionadores a fanáticos do modelismo, passando por novos criadores. Na inter-net abundam sites dedicados a imortali-zar o brinquedo e há mesmo quem deci-da abrir museus alternativos aos parques temáticos (como é o caso do toy and plastic brick museum em bellaire no ohio, e.u.a., que já se encontra aberto em horário alargado).

o Lego passou de brinquedo de crian-ça a matéria-prima para uma nova vaga de artistas. do design ao cinema de ani-mação, as abordagens são cada vez mais criativas e inspiradoras.

No youtube são cada vez mais os víde-os que popularizam as peças e os bone-cos em filmes de animação que ultrapas-sam todas as barreiras da criatividade. um dos canais de referência é da team ayayo. um dos seus membros, anders engström, diz-nos que todos os elemen-tos da equipa costumavam brincar bas-tante com Lego quando eram mais no-vos, afirmando que “é um dos melhores brinquedos de sempre”. utilizando téc-nicas, equipamento e software simples, os pequenos filmes de animação da team ayayo fazem as delícias de qualquer en-tusiasta do universo Lego. “Começámos com alguns filmes feitos com uma câmara digital. depois em março de 2007, juntá-mo-nos e fizemos um filme de luta básico sobre um ninja. depois desenvolvemos mais e mais e agora os nossos filmes es-tão cada vez a ficar melhor. usamos uma webcam simples e um programa para cap-tura de frames chamado anasazi Sma. depois editamos os nossos filmes no Windows movie maker. recolhemos a maior parte dos nossos efeitos sonoros

na Internet. mas às vezes nós próprios os gravamos. é grátis e divertido! há mui-tos realizadores que usam Legos por aí. desde o início que gostámos da maior parte dos filmes feitos pelo Nate burr (blunty3000 no youtube). agora exis-tem uma série de realizadores como zach macias, Nicholas jaeger, philip heinrich e doug Vandegrift. (quanto a novos pro-jectos) actualmente não estamos a traba-lhar em nenhum, mas nunca se sabe”.

No ebay crescem as ofertas de artigos feitos em Lego (pulseiras, brincos, aneis, pins, colares, etc.) inspirados pelo movi-mento musical londrino Nu rave. Nesse conjunto de bandas encontram-se os Cansei de Ser Sexy e a cantora m.I.a., entre outras.

outra plataforma onde vão aparecendo cada vez mais bandas relacionadas com o universo Lego é o myspace. Numa rá-pida pesquisa encontramos uma banda portuguesa designada de mundo Lego e outra britânica com o nome de Lego Cut. ambas inspiradas pelos brinquedos de construção e por esta nova corrente que não pára de crescer e desencadear ou-tras novas correntes. o Lego continua a ser um universo cheio de possibilidades. os tijolos e os bonecos sairam do balde e andam por aí a fazer de jackass, per-sonagens e heróis de culto e outros que a imaginação vai permitindo. há peças para tudo. é só juntar arte e criação e um novo lego é recriado.

—www.lego.com

www.legoland.dk www.descolex.com

www.danstoymuseum.blogspot.com—

toys TexTo: nuno sousa

Quando Ole Kirk Christiansen – um carpinteiro dinamarquês – começou a produzir as primeiras peças de Lego em madeira, mal podia imaginar o impacto

que estas iriam ter sobre a cultura popular moderna. Foi no início dos anos 30 (precisamente em 1932) que a Lego foi fundada, mas passou de brinquedo de

criança a matéria-prima para uma nova vaga de artistas. Do design ao cinema de animação, as abordagens são cada vez mais criativas e inspiradoras.

clássicos do designuniVerso lego

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televisão«teRaPia»

tudo começou em Israel, há três anos atrás. uma série de televisão chama-da «be’tipul» («em tratamento» em he-braico) teve um sucesso sem precedentes. público, crítica, prémios, tudo. uma fa-mosa actriz israelita, com alguns papéis em séries e filmes americanos, viu uns episódios e mostrou-a a mark Wahlberg, actor também envolvido na produção da série «entourage». mark mostrou-a à hbo e pronto, caíram os primeiros do-minós. a série foi adaptada do original, quase tão literal quanto culturalmente possível, e o resultado foi «In treatment», com Wahlberg a retomar a produção.paul tem 50 anos, é psicoterapeuta e nós vamos acompanhá-lo e aos seus clientes durante nove semanas consecutivas, de segunda a sexta. assim, às segundas, temos Laura, uma médica com proble-mas de amor; às terças alex, um piloto que regressa de uma missão no Iraque com problemas de consciência; às quar-tas Sophie, uma adolescente; às quintas jake e amy, um casal com problemas; e às sextas paul tem a sua própria sessão com gina, uma terapeuta sua conheci-da, que não vê há dez anos e que sai da reforma para lhe fazer supervisão.

é este o cenário aparente de «In treatment» (sim, aparente, então?). havendo um cenário, há também bas-tidores: paul Weston é psicoterapeuta mas a superioridade do título «dr.» an-tes do nome não o isenta de problemas e conflitos com os seus vários papéis, en-quanto terapeuta, cliente, marido, pai, homem, enfim, pessoa. e pouco a pouco, é-nos dada a conhecer a sua vida privada, quase como a informação que se apreen-de através de uma porta entreaberta, um cortinado mal fechado, o fim de um te-lefonema ou o conteúdo de um armário de casa-de-banho. progressivamente, à medida que o puzzle de paul se vai des-fazendo, pegamos nas peças que caem e fazemo-lo nós lentamente. que é mais ou menos o que se faz em terapia. um sítio onde quatro paredes podem ser um ou-tro mundo, uma mesa, um muro imenso e uma caixa de lenços de papel, um sol-dado sempre alerta.

mais uma vez a hbo põe-nos à frente um prato tão requintado como pouco ób-vio. uma série que é quase um talkshow. uma série que é mais teatro que televi-são. uma série onde a acção não se pas-sa. pode ser. é, de facto, uma série que, mesmo em meia-hora, pede imenso do público. Não tendo muita «acção», é ex-tremamente narrativa e cheia de teias e embaraços. e os movimentos de câma-ra, parecendo à partida limitados pe-las paredes do consultório, são fluidos, elegantes e discretos o suficiente para ganharem a nossa cumplicidade, nes-ta espécie de «huis clos» onde o céu são os outros.

a dinâmica da série com o espectador pode também espelhar a relação de trans-ferência/contra-transferência entre um terapeuta e um cliente: enquanto forma-to, «In treatment» só conquista quem quiser ser conquistado, pois é difícil, exige, absorve; mas a seu tempo torna-se mais fácil, retribui, e no fim faz-nos emitir a agridoce interrogação: já?

Se a escolha do formato é ousada, a es-colha do elenco não é menos curiosa: e é tentador citar todos os actores que se sentam nos sofás, mas é impossível não falar dos que se sentam nas poltronas. gabriel byrne e dianne Wiest, como paul e gina, são simplesmente superlativos. as expressões faciais dos últimos segundos de uma bomba-relógio. a compaixão e a ira, literalmente, num abrir e fechar de olhos. ambos estão nomeados para dois dos quatro emmys que a série pode ga-nhar no final de Setembro (as outras duas nomeações são para direcção de fotogra-fia e melhor actor convidado).

esta série «difícil» teve pouco tempo para se afirmar junto do público, pois assim como paul tem cinco sessões por sema-na, também o público tem a experiência de ver cinco episódios por semana. mas entre a elevada qualidade da escrita e o nosso voyeurismo insaciável, o suces-so aconteceu e a produção da segunda temporada começa já este outono, com gabriel byrne e dianne Wiest já confir-mados para retomar os seus papéis.acabou o nosso tempo; continuamos para o ano.

—«in treatment» (ou «terapia», diaria-

mente no canal fox:next)—

televisão TexTo: mário nascimenTofoTos: copyrighT 2000-2005 home box office inc. all righTs reserved.

Este ano, uma nova série de ficção mostra ao grande público como é ir a um confessionário da idade moderna. Como é fazer psicoterapia? Do que falamos quando falamos? É só falar? É só ouvir? É só estar ali durante uma hora a dizer o que nos apetece? Sim. É.

DE DUELOS A DUETOS«terapia»

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fotogRafiaolivia aRthuR

“há muito mais na vida daquelas mulheres do que ser obrigatório cobrirem a cabeça. daí o título do meu trabalho ser «beyond the Veil» (para além do Véu).” é assim que a fotógrafa inglesa olivia arthur explica as razões da escolha do assunto e do tí-tulo que levaram à conquista do prémio espanhol de foto-reportagem.

ao observarmos algumas das imagens que fez no Irão somos levados a ver aquelas mulheres da forma como ocidentalmente estamos formatados para olhá-las. Vemo-las diferentes, logo à partida, porque têm o cabelo coberto por um lenço ou cobrem o corpo com um chador, e isto soa-nos a desrespeito pelas liberdades individuais. São obrigadas a usá-lo em espaços públi-cos porque assim ditam as regras impos-tas por um presidente radical que vê na lei islâmica a lei da liberdade. esquecemos, no entanto, que num país profundamen-te religioso e muçulmano o uso do lenço é uma das regras sagradas do Corão e a sua obrigatoriedade não é mal recebida. existem mulheres que optariam por usá-lo de qualquer maneira – caso não fosse obrigatório – mas existem outras que o tiram quando não estão em locais públi-cos e vivem com esta regra como quem vive com a obrigatoriedade de usar uma farda de colégio. usa-se quando e onde deve ser usado.

olivia não fugiu à regra e o lenço passou a fazer parte dos seus objectos do quoti-diano. “Sim, tive que usar o lenço sem-pre que estava num sítio público, é a lei de todas as mulheres. é um pouco estra-nho no início e requer alguma habitua-ção, especialmente porque o lenço estava sempre a cair, mas é a mesma regra para todas. No final de contas não é um gran-de problema.”

a europa discute questões ligadas ao uso do lenço ou de outros elementos de cariz religioso, a implicação do seu uso em lo-cais públicos, mas afinal esta é uma pre-ocupação unilateral e também uma for-ma de demonstração de poder ou até de ignorância face à cultura do outro. olivia arthur apercebeu-se desta questão junto de mulheres que conheceu e ficou a par das suas opiniões: “as iranianas não gos-tam que os estrangeiros vejam o uso do lenço como um grande problema porque para elas esta é uma das partes menos sig-nificativas das suas vidas. penso que deví-amos tentar compreender estas culturas antes de as julgarmos. e acho que somos bastante presunçosos quando achamos que nós é que sabemos fazer as coisas correctamente.”, afirma, acrescentando ainda a respeito da liberdade da mulher: “a independência social e financeira das mulheres acarreta os seus problemas e a vida das mulheres ocidentais não é per-feita. Nas culturas islâmicas acredita-se que a mulher deve ser respeitada e pro-tegida de uma forma da qual o ocidente se afastou há muito tempo, e acham que no ocidente tratam as mulheres sem res-peito algum. No Irão as pessoas são bas-tante bem formadas, é um país com bas-tantes laços com o ocidente e não lhes é difícil entender e respeitar a forma de es-tar dos outros países.”

Na realidade a imagem que nos é “ven-dida” pelos media ou agências noticio-sas é tão parcial como é parcial o livre ar-bítrio de acreditarmos somente naquilo que nos é dado a ver. a escolha de acre-ditar é nossa, individual, mas agarrada a ela vêm formas de vida, preconceitos de-rivados de ignorância, uma falta de infor-mação generalizada, experiências pesso-ais (ou a falta delas) e uma capacidade de análise que vive em conformidade com o mundo mediático que temos ao nosso dispor. resta-nos procurar saber mais e duvidar, sempre.

durante a sua temporada no Irão olivia arthur descobriu uma forma de estar entre as mulheres à qual somos alheios, que serviu de base para a construção do seu trabalho fotográfico. “uma das coi-sas mais surpreendentes que descobri no Irão foi perceber que as mulheres lá são muito fortes. em muitos outros paí-ses daquela região as mulheres são mui-to tímidas, mas no Irão não o são de todo. São formadas, trabalham, saem sozinhas e não têm medo do mundo. mesmo nas aldeias tive a sensação de serem fortes à sua maneira. é algo sobre o Irão do qual não fazemos ideia.”

este ano foi convidada para integrar a agência magnum. diz que sim, que o esta-tuto de ser fotógrafa da magnum abre por-tas, mas que na realidade isso não afec-ta o seu trabalho. “tenciono continuar a fazer o que tenho feito. a magnum abre portas, as pessoas de repente ficam inte-ressadas no nosso trabalho quando ele é aprovado pela agência, sentem-se mais confiantes para publicá-lo ou irem vê-lo. mas é tudo muito recente, ainda tenho que perceber como funciona realmente esta relação.”

olivia arthur em trabalhado em diferen-tes países do médio oriente, com parti-cular interesse no fosso cultural entre o ocidente e oriente. de momento está a desenvolver uma pesquisa sobre a se-gunda geração de mulheres asiáticas no reino unido.

este mês a Fnac estreia a exposição dos finalistas do prémio photoespaña ojodepez Volkswagen. a digressão das fotos acontece simultaneamente em portugal e espanha e poderemos acom-panhá-la a partir do dia 11 na Fnac do Cascais Shopping e a 4 de dezembro na Fnac do Norte Shopping. Lisboa recebe a exposição em maio do próximo ano.

—www.oliviaarthur.com

www.ojodepez.orgwww.phedigital.com

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fotogRafia TexTo: carla isidoro

A fotógrafa inglesa Olivia Arthur venceu o Prémio PhotoEspaña OjodePez Volkswagen de Valores Humanos 2008. As fotos que tirou a mulheres iranianas, seus quotidianos e hábitos

de vida, conquistaram um prémio que foi instituído este ano pela primeira vez. Em «Iran: Beyong the Veil» revela uma vida que nem sempre se compadece com a lei islâmica.

afinal é só um lençooliVia arthur

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o ItS, International talent Support, realiza-se todos os anos em trieste e é um concurso mundial destinado a finalistas das escolas de design de moda, tendo-se transformado num palco fundamen-tal para o lançamento de uma carreira promissora. organizado pela eVe - uma associação local que conta nos últimos anos com o forte apoio da diesel - o even-to decorre em três dias e leva a concurso três categorias: acessórios, Fotografia e moda. é um evento marcado pela juven-tude porque para além de todos os estu-dantes seleccionados, que se fazem acom-panhar por muitos colegas, reúne uma grande quantidade de jovem imprensa já aficionada do ItS. por isso há muitos risos e muitos nervos pelos corredores desse microcosmos de três dias onde a imprensa discute com os directores das melhores escolas, com o júri e os concor-rentes, estabelecendo-se também muitas cumplicidades. Naturalmente muitos dos nomes que passam por trieste serão a futura geração de criadores que mar-cará a moda, daí a importância de esta-belecer os primeiros contactos para um acesso privilegiado no futuro. o evento divide-se em duas galas, sendo que no primeiro dia há uma apresentação dos finalistas do concurso de acessórios e de fotografia, e no segundo ocorre um desfile com todos os concorrentes de moda. Cada um apresenta oito coorde-nados e é julgado por um júri profissio-nal e de grande prestígio, que contava este ano com nomes como bernadette Wittman, Cecilia dean, Kei Kagami, maria Louisa poumaillou, maria Luisa Frisa, entre outros.

os dois principais prémios foram para Inglaterra, comprovando a nova dinâ-mica das escolas de moda de Londres que nos últimos tempos pareciam me-nos preparadas e competitivas que a es-cola de antuérpia ou de Viena. desta vez o principal prémio foi arrebatado por david Steinhorst, um alemão que sai de Central Saint martins. o segun-do prémio, o diesel award, foi ganho por heikki Salonen, um finlandês do royal College of art. desta feita, tanto o núme-ro de alunos a concurso vindos de esco-las londrinas - quatro propostas do royal College e cinco de Saint martins, o maior de sempre - assim como os dois prémios, não deixaram de ser uma surpresa para todos os que acompanham o ItS ao lon-go das suas últimas 7 edições.

david Steinhorst, o preferido do júri apresentou uma colecção de mulher. as peças eram marcadas pelo recurso a uma silhueta ampla e fluida construída a par-tir de tecidos leves que lhe davam mo-vimento, e por acabamentos realizados a partir de fechos zip da yKK. grande parte da colecção de Steinhorst incidia na facilidade com que o fecho em zip passava de elemento utilitário a aces-sório, contribuindo em para a compo-sição e arquitectura dos vestidos. a sua aplicação, o seu excesso e peso contras-tavam com a leveza e fluidez dos teci-dos, criando exercícios de composição. revelou nos oito coordenados uma ap-tidão criativa para jogos com elementos e proporções que fazem prever a evolu-ção e multiplicação de propostas desta colecção. Com outras estruturas de apoio teria o sucesso garantido na principal plataforma de moda inglesa, a London Fashion Week.

por tudo isso david Steinhorst é um nome a reter, que muito provavelmente irá emergir depois de passar por alguns ateliers de designers mais integrados na indústria de moda.

Moda TexTo:marTin KulliK & francisco vaz fernandes

Dois candidatos de escolas londrinas chegaram para testemunhar o alto nível de formação britânica arrebatando, para surpresa de muitos, os principais prémios do IT S

- International Talent Suport, que nos últimos anos tem premiado consecutivamente recém-formados da escola de moda de Antuérpia, Hogeschool. David Steinhorst e Heikki Salonen vieram abafar o que se ouve em sussurro: que depois da geração

de McQueen, McCartney e Galliano a capital britânica não tem muito para dizer em matéria de moda. Registe-se agora esperança no alemão David Steinhorst,

que sai da Central Saint Martins, com sinais de um novo vigor criativo.

um piscar de olhos inglêsinternational talent support

ModainteRnational talent suPPoRt

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diesel award

é um prémio que conta com o parecer do júri internacional do concurso ItS mas é essencialmente atribuído pela direcção criativa da diesel. existem várias vanta-gens para ser tão cobiçado como prémio principal. para além de oferecer uma bol-sa de 50 mil euros, a mais-valia está na possibilidade do vencedor ser integra-do na equipa criativa de designers da diesel, durante um ano, e realizar uma colecção-cápsula comercializada mun-dialmente pelas lojas mais relevantes da marca. este ano o prémio coube ao fin-landês heikki Salonen que veio do royal College of art e concebeu uma colecção de mulher que cruza as raízes da alta-costura com guarda-roupa masculino e uma certa iconografia da contracultura inglesa. No total, a visão de uma mulher mais urbana, agressiva e independente, mantendo contudo uma certa feminili-dade interior. explora os contrastes por um lado, e recorre ao minucioso traba-lho de aplicação de pérolas sobre sedas pesadas por outro, mantendo uma aus-teridade masculina enfatizada pelo re-curso de botas dr. martens. o universo de Salonen não está longe do imaginá-rio da “whitework class” inglesa.

das muitas outras propostas ainda há a referir dois criadores que tiveram prémios secundários. a francesa elise gettliffe da hogeschool de antuérpia, trouxe-nos um imaginário de príncipe encantado com pouca inovação concep-tual, apesar de coordenado de um modo interessante e chamativo. as propostas desta francesa pareciam ter saído de um livro infantil povoado de príncipes e princesas, e servido como um doce que facilmente agrada. apresentou-se como uma das grandes candidatas ao primeiro prémio mas aparentemente pesou contra ela o facto de muito do universo, da lin-guagem construtiva e das técnicas apli-cadas, estarem próximas dos argumen-tos do vencedor da 6ª edição, também ele oriundo da mesma escola. ou seja, ape-sar de se reconhecer a qualidade da co-lecção, ficámos com a sensação que era mais do mesmo.

já o caso do japonês yuima Nakazato, também oriundo da escola belga, reve-lou-se mais interessante e não parecia ser um produto escolar tão formatado. Com um forte imaginário que provavel-mente passa pela ideia de mulher bióni-ca de j.g.ballard, Nakazato apresentou uma colecção feminina inspirada em Leonardo da Vinci e nos engenhos técni-cos que o criador italiano concebeu du-rante a sua vida. No conjunto da colecção sobressai a estruturação arquitectónica que nos faz pensar numa influência de Chalayan, principalmente pelo lado me-cânico envolvido no uso dos acessórios. No entanto, foi sem dúvida uma colec-ção vibrante, não deixou de causar admi-ração pela capacidade de execução, que não se espera de um estudante finalis-ta. deste ponto de vista, o japonês este-ve próximo do primeiro prémio.

acessórios

as colecções de acessórios são de gran-de importância no ItS até pelo núme-ro de candidatos que concorrem à final. este ano o concurso teve especial inte-resse para nós pelo facto de concorrer o trabalho de um português —pela pri-meira vez— que acabaria por ganhar o primeiro prémio. Valentim quaresma, não propriamente um finalista de esco-la, é, em portugal, sobejamente conheci-do. principiou por ter visibilidade depois da sua formação na escola arco e come-çou a desenhar uma colecção de joalha-ria para ana Salazar. há alguns anos que as montras da loja da rua do Carmo apresentam regularmente peças que re-sultam dessa colaboração. a joalharia de Valentim quaresma recorre a um espírito artesanal percorrendo muito do univer-so que faz mover tim burton. diríamos que existe uma relação com o universo do fantástico, que se traduz numa proli-feração de correntes e gumes cintilantes que adornam, cingem, seduzem e amea-çam ao mesmo tempo o corpo.

Fotografia

de todas as categorias, a fotografia é a mais recente, tendo ido a concurso pela terceira vez. ao contrário do ano pas-sado onde os critérios não eram claros (havendo a dúvida se se estava a avaliar fotografia de moda, de arte ou mesmo fotojornalismo), este ano a selecção pa-recia mais homogénea e queria provar que no futuro deve ser tomada mais a sério. pelo menos prevaleciam fotogra-fias dentro de uma tradição do retrato e do registo documental, trazendo crité-rios de comparação e valorização mais fáceis para quem estivesse a apreciar. dentro dessa homogeneidade que carac-terizava este ano podíamos mesmo as-sim encontrar algumas derivações. por um lado tínhamos uma certa fotografia clássica a preto e branco, onde se dis-tinguia o japonês Kazuta Nagashima - que entra no domínio do retrato e da paisagem com um traço particular, sur-real e poético da realidade. Nagashima ganharia o primeiro prémio deixando para traz candidatos fortes como Carly Steinbrunn, que trazia retratos a preto e branco com fortes traços psicológicos. de resto, o retrato de indivíduos ou mes-mo de comunidades com um certo gosto documental seria o forte desta selecção. dentro da perspectiva houve dois projec-tos de grande impacto e qualquer um de-les merecia igualmente ser premiado. a iraquiana residente em Londres mashid mohadjerin fotografou mulheres de co-munidades rurais do seu país. a luz, as poses, emprestam a estas mulheres uma dignidade característica de uma tradição burguesa típica para figuras de estado. outro projecto de referência pertence a Venetia dearden, que fez retratos de fa-mílias desfavorecidas nos seus ambientes familiares. alguns deles a viverem numa única divisão, a fotógrafa dava uma vi-são de interiores caóticos e povoados por muitas crianças e adultos. dearden consegue escapar a uma imagem de de-núncia de carácter social conseguindo extrair sinais de felicidade que dão um lado mágico e nos permitem simpatizar de imediato com as suas imagens. os res-tantes candidatos a mencionar navegam um pouco nesta mesma fotografia pró-xima do retrato que tira alguma poéti-ca da exploração da luz, do insólito das situações ou da frontalidade do realis-mo. outras propostas de ver a fotogra-fia, como o recurso à encenação, também estavam presentes mas quase passaram despercebidas.

—1. Colecção de elise gettliffe, vencedora do fashion special prize2. Colecção de heikki salonen, vencedor do diesel award3. Colecção de yuima nakazat vencedor do vértice award4. Colecção de stoienhorst, primeiro prémio e vencedor do its75. Kazutaki nagashima, primeiro prémio e vencedor do mini Clubman photo award6. valentim Quaresma, vencedor na categoria de acessórios—

1.

2.

3.

4.

5.

6.

ModainteRnational talent suPPoRt

ModainteRnational talent suPPoRt

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Moda

housewifeby Mécanique PhotograPhy

modelo Yulia (Major Model Managment)stylist CaMeron Carpenter ([email protected])makeup SuSana SantoS (www.susanasantosmakeup.com)hair toMizawa YoiChi

boné ellen Christine millinerY, vestido kai kuhne, pregadeira vintage

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saia casaco norma kamali, pregadeira giVenChY, camisa laCroiX jeans,bracelete de resina pono, collants agent proVoCateur, luva laCraisa

casaco de smoking e shorts bnX, camisa de tule com missangas Chanel,luvas prada, bracelete em resina pono, meias e sapatos na travessa agent proVoCateur

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blusa louis Verdad, cinto donna karan, saia huY Vo.meias agent proVoCateur, sapatos da produção

fato de banho norma kamali, sapatos hollYwould,carteira lulu guinness

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ModaModa

happy together—from lisbon with love

happY together —from lisbon with loVeby Mécanique PhotograPhy

modelo alexandra & ruben ruas (elite Models)stylist Conforto Moderno & Mafalda Silvamakeup SuSana SantoS (www.susanasantosmakeup.com)

alexandra: blusa andY warhol bY pepe jeans, cinto e jeans diesel.ruben: t-shirt e jeans lee gold label, cardigan laCoste, cinto puma.

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ModaModa

alexandra: camisola twentY8twelVe, à cintura, impermeável diesel, sapatos pepe jeans.ruben: corta-vento puma, jeans lee gold label, t-shirt leVis.

alexandra: vestido diesel, colete twentY8twelVe, óculos raYban.ruben: calças e corta-vento fred perrY, chapéu puma.

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ModaModa

alexandra: tank top nike sportswear, cachecol twentY8twelVe.ruben: track jacket eugene e t-shirt ambos icons da nike sportswear.

ruben: windrunner icon da nike sportswear.

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ModaModa

alexandra: gorro mango, óculos de sol raYban, blusão diesel.ruben: pólo de malha fred perrY e óculos de sol raYban.

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PaRq heRe

porto ccbTexTo: john almeida (porTo)foTos: sofia cosTa pinTo

Na zona nobre da miguel bombarda encontramos o Centro Comercial bombarda.

Não é um centro comercial normal. Longe da opressão monolítica e do conformis-mo consumista a que as grandes super-ficies nos habituaram, no CCb encontra-mos o que se pode chamar de “lojas de autor”: pensadas para um público mais específico, talvez um pouco mais exigen-te, mas nem por isso menos real e presen-te na cidade do porto.

desde a entrada, lionhas multicolores le-vam-nos às diversas lojas, enquanto cir-culamos à volta de um átrio onde há sem-pre obras de arte expostas.

há lojas tão diferentes entre si como a Lapaz, com vestuário masculino e femi-nino, acessórios e calçado, tanto de mar-cas conhecidas como da sua própria mar-ca, tudo num ambiente muito hippie-chic e sofisticado.

a Águas Furtadas vende peças únicas de artistas e designers portugueses, como carteiras,pins, bonecas. apenas um exem-plo do eclectismo que é evidente neste es-paço bonito e acolhedor.

temos a pickpocket, que vende acessó-rios e calçado de marcas locais como a coq.luxe. ou a Vertigo, onde há um sem número de artigos e memorabilia liga-da ao cinema.

Seguindo em frente passamos por um be-líssimo jardim japonês, que fornece um espaço de tranquilidade e paz. podemos ver também a brIC, onde há mobiliário vintage e objectos de autor contemporâ-neos. todas as lojas respiram personali-dade e entusiasmo.

Vê-se que os consumidores são diferen-tes e aqui encontram o que procuram: objectos, roupa, mobiliário ou livros com um cunho mais pessoal ou mais artísti-co, se quiserem.

aqui encontram algo mais.

Nas palavras de marina, uma das impul-sionadoras e fundadoras deste espaço, aqui há uma certa cumplicidade entre quem compra e quem vende. o crité-rio rigoroso de escolha dos espaços deu frutos, e o ambiente positivo incentiva o aparecimento de espaços diferentes e refrescantes.

Se todos os centros comerciais fossem assim...

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PaRq heRe

amo-te lisboaTexTo:carla isidoro

desta vez na baixa da cidade —dentro do prestigiado teatro Nacional d. maria II— o grupo de pedro miguel ramos inau-gura mais um espaço amo.te.

o projecto contempla um restaurante, que inaugura este mês, e uma esplanada que entrou em funcionamento no Verão mar-cando a diferença com concertos de jazz no espaço público. o antigo bar do teatro foi pensado e remodelado à imagem dos outros restaurantes do grupo, se bem que este novo espaço está envolto em toda uma atmosfera histórica. pedro miguel ramos explica: “o nome estava guardado há alguns anos de forma a ser aplicado num espaço com a grandeza do próprio! amo.te Lisboa é um novo imaginário romântico inspirado na Lisboa urbana do séc. XIX, recriado e pensado em função da história do sítio. ao entrar sentimos a imagem do dandy cosmopolita que almeida garrett cultivou.”

privilegia-se boa comida num espaço agradável e bem dese-nhado com programação cultural complementar, aliados a um branding característico.

mas esta novidade não vem sozinha: acaba de abrir na Calçada Nova de S. Francisco, no Chiado, a amo.te Store. uma peque-na loja gourmet onde encontramos chás, champanhes, massas ou as loiças personalizadas amo.te

—praça d. pedro v- lisboa

seg, terças e quartas: das 10h à 01h Quintas, sextas e sáb: das 10h às 02h

telf:213 420 668 —

www.amote.clix.pt—

clube changefoTo:josé fernandes (www.josefernandesphoto.com)

Chamava-se bar do rio mas agora é o Change. este novo clu-be em pleno Cais do Sodré vem reforçar a rota nocturna de bares interessantes deste bairro ribeirinho. a programação é assinada por uma figura demais conhecida dos lisboetas, o dj johnny, que traz ao projecto mais-valias como a qualida-de e a liberdade. o Change quer fazer jus ao seu nome introduzindo um fac-tor de diferença numa cidade cansada de rotinas nocturnas. afirma-se como alternativa para um público ávido de boa mú-sica e de uma pista de dança com gente gira. os dj sets come-çam às 23h, e quem quiser dançar cedo —sem ter que esperar pelas duas da madrugada— é ali que deve ir.

uma vez por semana as noites “muda a tua Sexta” ou “muda o teu Sábado” estão a cargo de johnny e ricardo maneira (sim, aquele que mete música em todas as festas da parq).

Às sextas e sábados (para já) com vista para o tejo.

sexta 5: change by gola

mark the Clive Lowe (uk);

djs: johnny + ricardo

maneira; Vj ptV

sáb. 6: homenagem a rui aires

djs os 7 magníficos

sexta 12: flashdance

dj dinis

sáb. 13: change you saturday

(muda o teu sábado)

Live act: open Source;

dj ricardo maneira.

sexta 19: let the music play

djs the job donners; (rui

murka+mr Cheeks+black orpheus)

sáb. 20: change Your saturday

(muda o teu sábado)

djs johnny + ricardo maneira

sexta 26: change Your

friday (muda a tua sexta)

djs ride + johnny + ricardo

sab. 27: change Your saturday

(muda o teu sábado)

djs Spaceboys

Cais do sodré, armazém a porta

7 (ao lado da estação dos combóios

e restaurante Cais do sodré).

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PaRq heRe

the hoodTexTo: sofia saunders

uma nova loja na já muito movimentada rua do Norte, the hood oferece ao público os modelos mais exclusivos da Nike, que na maior parte das vezes são difíceis de encontrar. a colaboração exclusiva com esta marca de desporto faz com que a hood tenha em termos de ténis, a imagem mais moda da Nike. Nesta estação vamos poder encontrar, numa visão conjun-ta, os modelos que se fazem para a linha Nike sportswear.

a loja ofereceu as suas paredes interiores a artistas da street art. abriu em julho com trabalhos de amdF e mar (com o projec-to conjunto riot Corporation), uma excelente ideia que mistura diferentes técnicas da old e da new school. o nome the hood não podia ser mais apropriado já que se trata da abreviatura de neighbourhood (bairro/vizinhança), celebrando o espírito que se vive no bairro alto e em especial naquela rua.

—rua do norte, 65 - bairro alto

telf. 213 473 255 —

diesel store portoTexTo: sofia saunders

a avenida da boavista tem cada vez mais pontos de atracção para fazer shopping. desta feita é a nova loja diesel que alimenta esta artéria da cidade do porto com materiais de bom-gosto.

destaca-se, desde logo, o "ouro negro" da marca… a diesel black gold. trata-se da nova colecção de luxo casual lançada no últi-mo desfile outono-Inverno 08 em Nova Iorque, toda ela pen-sada em peças especiais e requintadas.

a decoração da loja foi concebida para grandes superfícies cas-tanhas em madeira, abrilhantada por brancos envernizados e aquecida por veludos escarlates.

Nos 200m2 de loja encontramos vestuário para o dia-a-dia e uma extensa gama de jeans "5 pockets", acessórios, malas, cal-çado, óculos, perfume, roupa interior ou joalheria. tudo aqui-lo a que esta marca já nos habituou. boas compras!

—avenida da boavista 1767-1837, loja 1-2

telf. 226 009 701—

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www.nomenuhomeservice.pt

Basta marcar:LISBOA 213 813 939 / 933 813 939PARQUE DAS NAÇÕES 213 813 939 / 933 813 939OEIRAS 214 412 807 / 934 412 807CASCAIS 214 867 249 / 914 860 940ALMADA 212 580 163 / 917 164 591COSTA DA CAPARICA 212 580 163 / 917 164 591COIMBRA 239 714 307 / 961 014 220LINDA-A-VELHA 213 813 939 / 933 813 939

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O Verão convoca para aos passeios. Foi num entardecer calmo que Jones & Monde percorreram a pé o caminho que os levou até ao Bocca, aquele sem-pre pontuado pelos jardins floridos e cheirosos do centro oitocentista da urbe. Preparação ante-digestiva para bem fruir a maneira como oficia Alexandre Silva, um jovem chefe já afamado.

Encontraram uma sala de cores cla-ras, verde alface vivo sobre branco, e luzes pensadas. Também pensado um espaço próprio, nos mesmos tons, para fumadores.

Já tido como costume, e bastante agra-dável, escolheram uma mesa junto à ja-nela. Gentilmente foram convidados a refrescarem-se com uma flute de cham-pagne enquanto liam a ementa pejada de aliciantes iguarias.

Começando com as entradas frias, Miss Jones não mostrou grande inclinação para a vichyssoise de coco com frutos do mar caramelizados que entusiasma-va bastante Ray Monde e, então, quando levada à mesa, o satisfez plenamente. Por

as boas línguas de Miss Jones e Ray Monde

encantadora oposição, jones escolheu a terrina de foie gras com figos e crosta de pistácios, espuma de amaretto, caviar de porto L.b.V. ! um cálice de vindimas tar-dias, dourado e dulcíssimo, veio intensifi-car a pluralidade dos sabores. um douro branco Castelo d’alba Vinhas Velhas de 2005, que fazia já companhia a monde, atingiu o seu exponencial com a entra-da quente, uma belíssima tempura de ca-ranguejo de casca mole, espargos bébés salteados com tomate confitado e algas frescas, espuma de licor beirão. um de-leite para a vista e para as papilas!

um tataki de atum do atlântico Norte e creme de mangericão confirmou a esco-lha marítima. elegante prova da marca fusional da culinária hodierna !

uma carne leve, peitos de codorniz sal-teados, marinados em molho de soja e coentros, servidos com gnocchis de cal-do verde, legumes e verduras da época, veio completar a escolha. para os acom-panhar aproveitaram a possibilidade de escolher de entre quase todos os vinhos da carta servidos a copo —com a ajuda atenciosa do chefe de sala— um quinta

do passadouro 2005 para miss jones e um quinta da Casa amarela 2004 para ray monde. ambas as escolhas foram as-sertivas, tendo as duas capacidade para afrontar o sabor robusto da marinada em molho de soja.

Finalizaram o esplêndido repasto com um coulant de chocolate com sorvete de framboesa que seduziu miss jones e com um duplo sorvete de tomate e oré-gão (salgado !) e citronela que elevou ray monde ao contentamento ! Foi ameniza-do com um café ladeado por uma drageia de chocolate negro.

Saíram felizes e retomaram o passeio com uma suave conversa acerca do futu-ro. o da culinária portuguesa está asse-gurado com o bocca que, apesar de se es-conder num nome italianizante, mostra toda a capacidade inventiva e performa-tiva de um chefe luso…

—Bocca

rua rodrigo da fonseca, 87 - lisboa de 3a a sáb. - almoços e jantares

telf.: 213 808 383—

bocca

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12Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa19 a 27 de Setembro de 2008Cinema São Jorge www.lisbonfilmfest.com

SECÇÃO COMPETITIVA PARA A MELHOR LONGA-METRAGEMMELHOR FILME | MELHOR ACTOR | MELHOR ACTRIZ

SECÇÃO COMPETITIVA PARA O MELHOR DOCUMENTÁRIOSECÇÃO COMPETITIVA PARA A MELHOR CURTA-METRAGEM PRÉMIO DO PÚBLICO

PANORAMA LONGAS-METRAGENSPANORAMA CURTAS-METRAGENSQUEER TV | PANORAMA DOCUMENTÁRIOS

QUEER ARTRETROSPECTIVA PASCAL ROBITAILLE | DOCUMENTÁRIOS | FICÇÃO

UMA CINEMATOGRAFIA GAY PORTUGUESA DOS ANOS 1970QUEER POPPROGRAMA SOBRE O OBSCENOCICLO DE CINEMA POSITIVODEBATESSESSÕES ESPECIAIS QUEER MARKETFESTAS

Produção: Parceria estratégica: Co-Produção: Festival apoiado por: Apoio Institucional:

CINEMA SÃO JORGE

Apoio Institucional (cont.): Apoio à programação: Hotel Oficial: Website: Televisão Oficial: Rádio Oficial: Parceiros Media:

Diner parceiro: Restaurantes parceiros: Apoio logístico: Apoio a eventos:

Apoio Prémio da Competição:

ORGANIZADO POR: Associação Cultural Janela Indiscreta Apartado 30036, Estação Correios Necessidades, 1351-901 Lisboa, PortugalInformações: [email protected] | www.queerlisboa.blogspot.com | www.lisbonfilmfest.com

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wheRe weRe you?

bread&butter barcelona

o calor apertou em barcelona e em tempo de crise viu-se muita gente a descascar-se para prender a atenção. Se assim continu-ar adivinhamos um excelente 2009. do muito que se viu na feira para o próximo verão, destaco a excelente colecção da gSuS baseada no brasil. a gStar não foi uma surpresa mas continua a afirmar-se como alta-costura do jeans. o stand da Levi’s dis-tinguia o seu modelo 501 como “the next”. associo sempre estes jeans a uma imagem de paul Newman de mota com umas 501 e botas. outra marca que voltou em força depois de ter sido adquirida por capital indiano é a guru. promete que vai dar que falar nos próximos anos. em termos de calçado gostámos muito de ver as propostas de bem Sherman, pena que não estejam a ser comercializadas em portugal. de resto, a tIger estava posicionada numa zona de passagem obrigatória provando que fa-zem muito mais que ténis. uma colecção têxtil pequena mas muito interessante. aliás, o mesmo poderia dizer em relação a co-lecção têxtil da Le Coq Sportif, especialmente para mulher, marcada por um certo requinte retro. a reebok ocupava simboli-camente o último andar do pavilhão do street wear, via-se de qualquer ângulo do interior do edifício, o que muito quer dizer. Voltou para dar que ver.

museu do efémero

a Fundacion pampero nasceu como uma rede internacional de apoio a criativos de todas as áreas. a actuar em diferentes países, começa em portugal com uma iniciativa singular desenvolvida por um grupo de agitadores que dão pelo nome de movimento acorda Lisboa. desta colaboração nasceu o museu efémero que pretende preservar a memória dos grandes trabalhos de Street art que se desenvolveram no bairro alto. São muitos e de artistas de muitos países. um trabalho de detective num bairro em que o graffiti roça o vandalismo, daí polémico e corajoso. para encontrar as pérolas só temos que ir ao blog fazer download em formato podcast do circuito das peças identificadas e respectiva informação para ouvir num leitor mp3. Funciona como um guia de um museu.

—www.pamperofundacion.blogspot.com/

www.museuefemero.blogspot.com/—

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engLish version

after an interruption of two years in which it seemed that experimentadesign had been a bit of an adventure in a country without much tradition in the area of design, the team – led by guta moura guedes - redesigned the project, searched for sup-port both inside and outside portugal and announced a new biennal, bicéfala. it is due to take place at dif-ferent times in different cities, lisbon and amsterdam. the idea is to experiment with and reflect upon the less commercial areas of design. it opens its doors on the 18th september, but on the 5th september, a peter zumthor exhibition opens, and here we get an idea of what the fifth edition, due to take place in lisbon in septembe next year, will be like.

ExpErimEnta in amstErdamWhy AmsterdAm? it was an invitation from

amsterdam city council which came at exact-ly the right time, from a hugely stimulating city which, in a way, complements lisbon nicely. it isn’t a city from the south of europe like ours, but from the north. there are certain similarities to lisbon in terms of scale and energy, but they are quite distinct. they have things in common, but enough differences to allow something like “experimentadesign” (exd) to develop in other directions. Quite apart from this, we have had considerable participation and collaboration with Holland in previous editions.

WhAt support did you find Which mAde you decide to do this biennAl in AmsterdAm? unlike lisbon, where the invitation came from the city itself, the guarantee of support for over 80% of the budget came from the dutch capital. there is strong bond between the dutch state and the capital, actively promoted by amsterdam, as well as the premsela institute and other dutch cultural institutions. the dutch cultural panorama is real-ly quite distinct from the portuguese, as i´m sure you can imagine.

it Will be the first time thAt you do An experimentA in AmsterdAm, A city Which, unlike lisbon, hAs design As A strong pArt of its culturAl life. WhAt neW things cAn experimentA bring to AmsterdAm? this was the first question i asked myself when they phoned me and asked me! exd relocating to another city would only make sense if it were clearly beneficial for both the city and the event itself. exd brings to amsterdam a strong international network, stimula-tion and a higher profile. Yet even more important than this, we were told that experimentadesign had been considered by a group of consultants for amsterdam, the most interesting design event, on an international scale, due to its personality, identity, the way it spoke to the city and by the way it had a cultural and experimental perspec-tive. i think it is this which the portuguese bienal can take to Holland.

do you think this is An experience you Will WAnt to repeAt? Will We hAve A bien-nAl on tWo different dAtes, in different cities? this will be the first edition in amsterdam; an edition which was designed and produced over nine months, but with an eye on the future, thinking ahead to 2010. it is pointless both for the event and for amsterdam if it were simply an isolated occurence. it takes time to go deeper. experimentadesign has become a biennal which takes place every year… but in two different cities! in terms of management it s quite complicated, but of course it s challenging and – most important of all – do-able! the experimentadesign amsterdam foundation for the organisation of the dutch bien-nal, for example, and the team from lisbon were reenforced to meet the challenge.

With tWo biennAls, hoW much Auton-omy is there betWeen the tWo, in terms of

progrAmming, collAborAtions etc? we are at the beginning of our collaboration… these ques-tions, which have been analysed in lisbon by the first biennal think-tank will be analysed again in november this year. it will be undoubtably fascinat-ing to witness just what this relationship between portugal and Holland will bring for the biennal. at the moment, it s an unknown quantity.

hoW fAr does the presence of droog design, As A pArtner of yours, And With A unique vision regArding our relAtionship With design, dilute the identity of experiment And those With more plurAlist interests? i have to confess i quite like groups with a strong personality and strong identity. i don´t like weak-ness in partners. this is why i like droog design in relation to experiment. i suspect the relationship works because of a mutual recognition and appre-ciation of a job well done, firm positions, things which we have defended well. we are both strong-minded and it never crosses our mind that this part-nership could entail a loss of identity, whether for us or for them. it just means that we analyse more, discuss more, and that any cultural confrontation is considerable and so the results are more surpris-ing but – without a doubt – excellent.

ExpErimEnta in Lisbonis WArm up in september just to prove thAt

experimentA in lisbon isn´t deAd? no! warm up is related to two things; firstly, when we start-ed up the biennal again, we knew that we didn´t want to pick up from where we left off. we want-ed to introduce new aspects and changes. for the first time we are going to advertise the theme of the biennal, ask participants both locally and internationally to submit proposals a year in ad-vance. secondly, it s good to have presentations to the public as part of the lisbon calendar, and the fact is, experimenta has enough substance and energy to do it with regularity.

ApArt from the big peter Zumthor exhibi-tion At lx fActory in AlcântArA on the 8th september, WhAt else cAn We expect from WArm up over the course of the other dAys? three think tank biennal meetings are scheduled, an open session, with national and international guests, plus three or four international meetings about projects already on the go. for the public in general, we will bring not just the zumthor ex-hibition, but also the chance to hear him speak at aula magna.

Are there Any plAns About WhAt We cAn expect from the next experimentA lisboA in september 2009? themes, guest Artists, exhi-bition spAces? we have already got some ideas, and a lot of stuff is already in quite an advanced stage of preparation. we have been working on this since the beginning of the year… but it s all top secret of course…

When you hAve completed ten yeArs of experimentA in 2009, WhAt legAcy do you hope to hAve left for portugAl? last year, i went to pecha Kucha in lisbon. i remember that i was in porto at the time and still wasn´t sure that exd was going to happen. it was amazing to see the 20 guest designers showing their projects, and to discover that 17 of them had participated in exd and were showing things which reflected exd as a platform for diversity and stimulation. in july this year, i was flicking through ikon which had an ar-ticle about fernando brízio, and virtually all the projects shown had been seen at exd. each time i give a seminar in portuguese schools, students re-fer to exhibitions which they have seen at the bien-nal, designers which they have heard speak and debates which they remembered. internationally, i know that it was exd which put lisbon on the

design map, the capital of a country which didn´t really have much a tradition in this area. when i think of our education department and the number of guided tours we give at the biennal, and the fact that Voyager 03 toured ten portuguese cities, the design, architecture and cultural presentations which we have given in milan, paris, barcelona, madrid, london, and in portuguese companies which have introduced design into their produc-tion… i could go on and on, to speak of the rich and varied impact which our work has had. the legacy is, beyond a shadow of a doubt, huge-ly significant.

john maedap.14

jazz liberatozp.36

guta moura guedesp.42

after having published his book the laws of simplicity, in which he laid out ten laws to simpli-fy our lives, john maeda was invited by reebok to create a line of ten products based on his ten laws. this collection, a limited edition still being devel-oped, will only be available via the reebok site. maeda was at the latest edition of bread and butter barcelona to show his new creation, a pair of train-ers called “strucess.” we spoke to this computer art-ist to try and discover just what logarithms and train-ers have in common.

esquire mAgAZine nAmed you As one of the most importAnt people of the 21st century. hoW did this chAnge things? well one is dead and one is in prison so if you look at that, it isn´t such a good thing. but it has made me think about what i can do for this century and what i can achieve.

hoW Would you summArise your Work? a combination of crossing disciplines; design, art, technology, business and humanities. i´m search-ing for something and i haven´t found it yet, so i´ll keep on looking!

do you reAlly think thAt life noWAdAys is more complex thAn it WAs for our pAr-ents? there are two sides to the coin. i mean, in one sense it s more complex because you have to deal with all your technology, and yet it s sim-pler because you can do so much more; you can be the female ceo of a company, and still go to your kid s soccer games. but it has also disabled us too; there is the whole google problem. people don t think any more. You actually get dumber be-cause you don´t have to search for anything, you just google it.

WhAt Are you here representing todAy? i´m working on a series of shoes for reebok. my background is computer science, then art school after that, so i crossed these two together in the late 1980s. i write computer programmes by hand and they become graphics and i print them. it s a very simple process and we began with the timetanium. i have ten laws of simplici-ty, and this is based on the third law. You know there s actually a portuguese version of my book? it s been translated into fourteen languages! this is more of a woman s shoe, and it is going to be launched tonight, it s called struccess and is a mixture of struggle and success. the struggle for success. it s a very complex shoe, based upon the ninth law of failure (“if you fail, keep trying, struggle to reach some form of success”). we al-ways think failure is bad, but innovation is about failure, and failure can be success. You know the post-it notes? the guy who invented the glue was told he was a failure because he had invented a non-sticky glue. He was failure, but his glue was an incredible success!

in terms of the trainers, as everything else was based on simplicity, we decided to do something more complicated! there are a lot of pieces, a lot going on, with complex graphics, while still try-ing to make it as beautiful as possible, with a lot of engineering and design concerns. this is what we re launching tonight.

we now have apparel coming out, a men s shirt based upon the law of learning. the women s shirt is based upon the law of context, it s about very sad words coming from the heart which are very beautiful when they come outside. it s about serious talk.. it s a one-piece shirt which wraps around the back.

we also have a new site which is going to help people become part of the creative moment. nowadays, people don´t get chance to be crea-tive anymore. it s risky, so we have a system which uses my computer codes as a base, so anyone

Clin d oeil, one of the most interesting releases of the year, has arrived from france; jazz liberatorz´ debut album pays homage to jazz and the gold-en age of hip-hop.

ijazz. rap. Hip-hop. different sides of the same prism or different elements of the same equation. it is possible to look at the history of hip-hop and sense the exact moment in which technology per-mitted the development of our view of the jazz legacy. memories of samplers from the early 80s paved the way for the creativity found in the al-bums of blue note, impulse, strata east, black jazz, and prestige, which the generation previous to producers such as large professor, diamond d, pete rock, dj premier or prince paul, had collect-ed. after an initial courtship with the rich rhyth-mic palette and timbre of a very particular period – and who wouldn´t be seduced by the phras-ing and soul of, for example, grant green, lou donaldson, cannonball adderley, jimmy smith or donald byrd? - hip hop sussed that jazz offered a philosophical framework, a deeper aesthetic and then it wasn´t long before the mcs sought the same liberty for their own flows and rhythms. such as those which were being put into practice on the old vinyl lps, especially, those produced around the time of bop, hard bop, soul jazz and electronic fusion, but which fitted perfectly with the boom bap culture.

in creative terms, this period of hip-hop was one of the most exciting, not only because of the raw materials used in classics by those such as de la soul, gang starr, a tribe called Quest, pete rock

can co-create with me online. it will be a website, launched next year called yourreebok and we re going to make it very easy for people to get en-gaged with designing. we use simple models; just some text. like google in a way, you just type in a word like “i just broke up with my girlfriend” or “my dog died” or whatever, enter the text, add an image and the computer takes the word and im-age and custom-creates a new piece of artwork. anyone can do it!

hoW hAs your experience been With the fAshion World? i´ve designed furniture, light fittings and all kinds of things before, but this is my first experience with fashion. i´m always curi-ous! this has been something of a collaboration, for me to understand the consumer better, think-ing about what the possibilities are. we have all worked together at reebok. what can we make? what kind of risks can we take?

is this use of logArithms for sport pure-ly decorAtive? no, it s very deep because it s all based on the laws of simplicity which outline how to simplify your life. i ve been thinking of logarithms which help you think about the various laws.

they look different from so mAny oth-er editions Which use illustrAtions. because there is some depth and thinking behind them and combinations which people haven´t thought about before. it isn´t just a graphic artist who has put something on a product. there are so many deeper connections and possibilities. no rules! it may start with a limited edition, but it s a new tool that we can give to the consumer and then the next edition will be something very different.

& cl smooth, brand nubian, digable planets or jungle brothers, but also because of their bright ideas which carved out an identity; this was the first generation of hip hoppers who had grown up aware of the culture that they were a part of. something however, was missing.

it is undeniable that hip-hop found itself at a cer-tain crossroads. the transformation from art to a powerful industry which spread over the confines of the local music scene meant that a heavy price would have to be paid. the death of hip-hop was declared to draw attention to a more complicat-ed state of affairs. it was also undeniable that the creative enthusiasm of a certain phase in hip-hop simply faded away, although there are exceptions. madlib s madness, the spreading of j dilla s legacy linked with detroit (wajeed, black milk et al), the solitary mission of roots, the curious and over the top cultural vision of Kanye west, all prevented the disappearance of hip-hop. also to be added to this list are the efforts of dusty, madhi and damage, three producers from meaux, frança who, with the help of a group which included rhodes, syn-thesisers, flute, bass, percussion, drums and sax-ophone, took it upon themselves to transport hip-hop until a max roach motif invaded the sp1200 circuit. ladies and gentlemen, let us hear a round of applause for the jazz liberatorz.

there s no confusion over the aesthetic pedi-gree of this trio; the cover of “clin d oeil” quotes directly from the graphic identity of the black jazz label (where doug carn has an important part of his discography) and the voices of tre Hardson (of pharcyde), fat lip, asheru (from unspoken Heard), j sands (from lone catalysts), t love, apani b fly, (ex-polyrhythm addicts), tableek (from maspyke), sadat x (from brand nubian), stacy epps (from the sol uprising project), buckshot (from the historic black moon) or j-live. a who s who of recent in-die hip-hop, conscious minds with careers formed on the fringes of what mtV dictated.

with clin d oeil, jazz liberatorz benefit by be-ing removed from the eye of the hip-hop hurricane and from this distance sharply observing what hip-hop lacks in order for it to be brought back from the dead; enthusiasm, connection with it s roots and a certain amount of whimsy. sometimes it s necessary to take one step back before going one step forward; go back and study the past before bracing the future. it s been a long time since an album showing such talent has appeared, an al-bum which casts an eye over its own history and rediscovered its identity. “my hip-hop history is rooted in jazz” says j-live. ours is too.

engLish version

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O corpo ficou suspenso pelo cotovelo in-vasivo que teimava manter na janela do meu carro. Como se não bastasse —ao longo da conversa que mais parecia um monólogo ao qual eu respondia com uma espécie de grunhido (hum hum)— ia len-tamente apoderando-se do meu espaço. Como quem não dá por nada, já estava com a cabeça e uma das mãos a gesticular dentro do carro, e aquele cotovelo empe-nado na minha janela. O seu corpo balo-fo continuava suspenso numa tentativa gorada de me impressionar:

-Algo não está bem nessa história! Como é possível uma mulher gira, inteligente e bem falante não ter namorado?

Como poderia saber tudo aquilo sobre mim se eu mal abrira a boca? Na verda-de não sabia, atirava barro à parede na vã esperança que eu me deleitasse com tal festival de elogios. Mas a táctica foi ga-nhando diferentes contornos e em pou-cos minutos passou ao ataque:

-Entendo que tenha tido experiências difíceis mas nem todos os homens são iguais.

Era mesmo o que eu precisava ouvir, a cantiga do bandido. Ao menos se fosse um bandido ao jeito do «Desperado» na pele de Antonio Banderas (mas sem a Melanie Grifith). Diante os meus olhos, um homem com o dobro da minha ida-de, atarracado, cabelo encarapinhado, sobrancelhas espessas, barriga proemi-nente (só o imaginava a relacionar o ta-manho do vasilhame com o calo sexual) e um sotaque se não me engano lá dos lados de Viseu. Condimentos mais do que suficientes para deitar por terra a minha líbido.

-Você deve andar à procura de um ho-mem que não há! diga-me quais são os requisitos necessários para me candida-tar a seu namorado.

oh não! Limitei a minha resposta a um sorriso amarelíssimo pensando numa es-tratégia que me tirasse daquele filme. ao mesmo tempo não queria ser rude, não podia esquecer, estava numa posição de extrema vulnerabilidade. a situação in-comodava-me e o passar dos minutos já feitos meia hora latejava-me o cérebro de nervos. ali, pendurado à minha janela, contou-me a sua vida amorosa de fio a pa-vio, da qual não retive uma só palavra, a não ser um par de nomes muito feios que chamou às mulheres que o deixaram. eu carregava fundo na embraiagem e metia a primeira mudança, apostando na sina-lética “estou no ir”. ele ignorava as mi-nhas tentativas de escapar!

e pensar que tudo começou com uma operação Stop da gNr na saída do IC22 em direcção a odivelas. Como de costu-me ia mesmo em cima da hora e no meio de tantos carros tinha de mandar parar precisamente o meu. Como um polícia competente, analisou os meus documen-tos, mas descambou ao perguntar se eu bebia álcool. Incrédulo na minha abs-témia desenrolou-se esta história sur-real entre mim e o agente da gNr (far-dado e tudo).

“a realidade Supera Sempre a Ficção” – mark twain

diaPositivo crónica de cláudia maTos silva

“você deve andar à procura de um homem que não há! diga-me quais são os requisitos necessários para me candidatar a seu namorado.”

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