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PARLAMENTO EUROPEU. PELOS DIREITOS HUMANOS. PRÉMIO SAKHAROV PARA A LIBERDADE DE PENSAMENTO 2012

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  • PARLAMENTOEUROPEU.PELOS DIREITOSHUMANOS.

    PRÉMIO SAKHAROV PARA A LIbERDADE DE PENSAMENTO 2012

  • Martin SchulzPresidente do Parlamento Europeu

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    Martin SchulzPresidente do Parlamento Europeu

    Nas duas últimas décadas, a União Europeia reconheceu e premiou os esforços daquelas pessoas e organizações que dedicaram as suas vidas ao progresso da liberdade de pensamento. O Prémio Sakharov tornou-se um símbolo para todos aqueles que lutam contra a opressão, o autoritarismo e as violações dos Direitos Humanos. O prémio traduz o apoio duradouro e persistente do Parlamento Europeu às pessoas que manifestaram uma força e coragem excecionais na luta contra a opressão e o poder arbitrário. Quatro dos seis nomeados finais para o Prémio Sakharov 2012 encontram-se a cumprir penas de prisão. Foram detidos, acusados e encarcerados na sequência de ações que o Parlamento Europeu encoraja. Como referiu o próprio Andrei Sakharov: «a liberdade de pensamento é essencial para a sociedade humana — liberdade de obter e distribuir informação, liberdade de debater abertamente e sem medo, liberdade face a pressões por parte das entidades oficiais e face a preconceitos».A atribuição do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2012 a Nasrin Sotoudeh e Jafar Panahi constitui uma mensagem de solidariedade e admiração relativamente a uma mulher e um homem que não se curvaram perante o medo e a intimidação e que decidiram colocar o destinos do seu país à frente dos seus próprios destinos.Nasrin Sotoudeh encontra-se a cumprir pena na infame prisão de Evin. A sua saúde está debilitada em virtude de uma série de greves de fome e tem sido submetida a condições de detenção precárias e de repressão. O trabalho que desenvolveu como advogada defensora dos Direitos Humanos, uma prova de generosidade e altruísmo, foi reprimido com um castigo brutal. Jafar Panahi é um realizador premiado além-fronteiras pela sua obra. Foi condenado a seis anos de prisão, ficando proibido de exercer a sua atividade profissional por um período de vinte anos. A forma humorística e precisa como retrata os seus concidadãos revelou ao mundo a riqueza, a criatividade e a diversidade da sociedade iraniana. Foi detido pela primeira vez em 2009, depois de ter demonstrado o seu apoio aos manifestantes que foram mortos por protestarem contra a eleição presidencial. Simultaneamente, a atribuição do Prémio Sakharov a Sotoudeh e Panahi premeia todos os iranianos que lutam por um Irão melhor, onde o medo dê lugar à criatividade, o domínio dos poderosos ao Estado de Direito, o isolamento ao diálogo, a autocracia à Democracia.O Parlamento Europeu continua a envidar esforços no sentido de congregar os laureados do Prémio Sakharov, para que se entreajudem na sua luta em prol das liberdades democráticas e da defesa dos Direitos Humanos. Espera-se que, através desta rede, seja possível proporcionar um refúgio seguro para todos aqueles que valorizam a liberdade de pensamento e reforçar a mensagem de paz, tolerância e liberdade, tão cara a todos os cidadãos europeus.

    Prefácio

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    A União Europeia assenta nos princípios do respeito da dignidade humana, da liberdade, da Democracia, da igualdade, do Estado de Direito e do respeito pelos Direitos Humanos. Estes valores, consagrados no Tratado da União Europeia, são comuns a todos os Estados Membros e juridicamente vinculativos. Os Estados Membros que cometam uma violação grave destes valores podem, com o consentimento do Parlamento Europeu, incorrer na suspensão dos direitos decorrentes dos Tratados da UE. No âmbito da sua relação com o mundo exterior, incumbe à União respeitar e promover os seus valores e interesses, além de contribuir para a proteção dos seus cidadãos, a paz, a segurança, o desenvolvimento sustentável do planeta, a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, um comércio livre e justo, a erradicação da pobreza e a proteção dos Direitos Humanos, em especial os direitos da criança, bem como para o cumprimento rigoroso e o desenvolvimento do Direito internacional, designadamente o respeito pelos princípios enunciados na Carta das Nações Unidas. Relativamente aos países terceiros, o Tratado declara que o desenvolvimento e o reforço da Democracia e do Estado de Direito, bem como o respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades fundamentais, constituem um dos objetivos mais importantes da política externa e de segurança comum, bem como da política de cooperação para o desenvolvimento. Esta definição de objetivos fica a dever-se, em grande medida, às pressões exercidas pelo Parlamento Europeu, que, incentivado pelos apelos dos cidadãos dentro e fora da União Europeia e por múltiplas atividades das ONG, tem dirigido a ação da UE no domínio dos Direitos Humanos.Em 2009, o Tratado de Lisboa, que veio alterar o Tratado da União Europeia, incorporou e deu força legal à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Mediante a base jurídica igualmente estabelecida pelo Tratado de Lisboa, a UE, no seu conjunto, tornou-se parte da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem, aberta para assinatura dos Estados membros do Conselho da Europa em 1950. Quer os 27 Estados Membros da UE, quer a Croácia, cuja adesão à UE terá lugar em 2013, ratificaram a CEDH. A própria Convenção integrou uma alteração ao seu artigo 59.º, por forma a permitir a adesão da União, encontrando-se a sua aprovação em curso. Nos termos do projeto de acordo alcançado em 2011, a UE contará com um juiz no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, o órgão judicial da CEDH. Além disso, 18 deputados ao Parlamento Europeu vão participar no processo de seleção de juízes, previsto pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Para a União Europeia, o Parlamento Europeu e os Estados Membros, a Carta, a CEDH e a Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas, bem como os acordos subsequentes, constituem os documentos de referência mais importantes em matéria de questões atinentes ao Direito internacional no domínio dos Direitos Humanos.

    União eUroPeia: o PaPel do Parlamento eUroPeU no domínio dos direitos HUmanos

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    Pouco após a publicação por parte do Conselho da União Europeia do relatório anual sobre a situação dos Direitos Humanos na União, o Parlamento Europeu elabora um relatório anual sobre a situação dos Direitos Humanos no mundo, bem como sobre a política da União no domínio dos Direitos Humanos. A Subcomissão dos Direitos Humanos constitui o órgão competente do Parlamento Europeu para as iniciativas parlamentares neste domínio, proporcionando um fórum de debate permanente com os defensores desta causa sobre a situação dos Direitos Humanos e da Democracia em países terceiros.Além disso, a Comissão do Desenvolvimento organiza reuniões periódicas sobre os Direitos Humanos nos países em desenvolvimento, ou sobre temas específicos, como o das crianças-soldados ou das crianças submetidas à escravatura, com a participação de ONG de defesa dos Direitos Humanos e de representantes dos governos em causa. A Comissão do Desenvolvimento, juntamente com a Comissão dos Assuntos Externos e a Subcomissão dos Direitos Humanos tomam parte na nomeação e seleção de uma curta lista com os candidatos ao Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento. A decisão quanto ao vencedor cabe à Conferência dos Presidentes dos Grupos Políticos do Parlamento Europeu. As violações dos Direitos Humanos nos países terceiros e, em especial, os casos individuais estão na agenda dos debates mensais do Parlamento sobre questões urgentes, sendo os governos responsáveis exortados a agir. As reações dos governos permitem concluir que estes não são insensíveis às críticas do Parlamento Europeu. Nalguns casos, as suas resoluções têm efeitos imediatos, servindo frequentemente de base para as diligências do Conselho de Ministros da União, da Comissão Europeia e do Serviço Europeu para a Ação Externa As competências legislativas do Parlamento permitem-lhe impedir a celebração de importantes acordos com países terceiros, em caso de violação grave dos Direitos Humanos e dos princípios democráticos. Neste sentido, o Parlamento exige o cumprimento rigoroso das cláusulas relativas aos Direitos Humanos que se encontram sistematicamente previstas nos referidos acordos. Em setembro de 2011, o Acordo de Associação entre UE e Síria foi suspenso por motivos relacionados com o respeito dos Direitos Humanos.O Parlamento reforça o seu papel mediante a aprovação de resoluções políticas, a realização de audições com representantes da sociedade civil de países terceiros, o envio de delegações ad hoc para avaliar in loco a situação dos Direitos Humanos em vários países e o apoio à Democracia parlamentar e ao diálogo político parlamentar, recorrendo sobretudo às delegações e assembleias interparlamentares. Nas reuniões periódicas que mantêm com deputados de países parceiros, os deputados ao Parlamento Europeu debatem com frequência casos individuais, tendo por vezes obtido resultados positivos.A Assembleia Parlamentar Paritária ACP UE constitui o mais importante fórum político para o diálogo entre o Parlamento Europeu e os deputados de países de África, das Caraíbas e do Pacífico. A Assembleia Parlamentar Euromediterrânica constitui a plataforma de diálogo estruturado sobre Direitos Humanos e questões relativas à democratização nos países do Mediterrâneo, além

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  • de um fórum de debate relativamente a diferendos de longa data. A Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, designada EuroLat, aprova e apresenta resoluções e recomendações às várias entidades, instituições e grupos ministeriais responsáveis pelo desenvolvimento da associação estratégica birregional. A sua agenda é constituída por questões relativas à Democracia, à política externa, à governação, à integração, à paz e aos Direitos Humanos. Por seu lado, a Assembleia Parlamentar Euronest constitui o fórum parlamentar para a promoção de uma associação política e de um aprofundamento da integração económica entre a União Europeia e os parceiros da Europa Oriental. Instituída em 2011, a Euronest dispõe de uma comissão permanente de Direitos Humanos e Democracia.O Parlamento Europeu acompanha igualmente de perto os trabalhos do Conselho dos Direitos do Homem da ONU, instituído em junho de 2006, e, nas suas sessões, participa na definição dos problemas suscitados pela UE. Em boa verdade, o Parlamento coopera decisivamente para que as questões relativas aos Direitos Humanos sejam incluídas na agenda europeia. Fá-lo adotando iniciativas específicas relativas, nomeadamente, à prevenção da tortura, à proteção da minorias, à prevenção de conflitos, à promoção dos direitos das mulheres e das crianças, à proteção dos defensores dos Direitos Humanos e à salvaguarda dos direitos dos povos indígenas e das pessoas com deficiência. O Parlamento Europeu apoia também ativamente a campanha em prol de uma moratória das Nações Unidas sobre a aplicação da pena capital, a abolição universal da pena de morte e a criação de um Tribunal Penal Internacional no âmbito da sua luta contra os genocídios, os crimes de guerra e os crimes contra a Humanidade. Por outro lado, o Parlamento secundou a criação do Observatório Europeu contra o Racismo e a Xenofobia, substituído, em 1 de março de 2007, pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, bem como a campanha da UE para o combate à violência exercida contra as mulheres. O PE está ativamente envolvido nos processos de democratização de países terceiros por meio da sua participação diligente em missões de observação eleitoral, bem como do trabalho desenvolvido pelo Gabinete para a Promoção da Democracia Parlamentar. Interagirá igualmente de perto com a recentemente instituída Dotação Europeia para a Democracia.No âmbito das suas competências orçamentais, o Parlamento Europeu já logrou aumentar consideravelmente os recursos destinados a programas no âmbito da Democracia e dos Direitos Humanos. Lutou com êxito pela manutenção de um instrumento específico para financiar as atividades referidas, a saber, a Iniciativa Europeia para a Democracia e os Direitos do Homem. Trata-se de um instrumento financeiro e político que contribui para o desenvolvimento e a consolidação da Democracia e do Estado de Direito, o respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades fundamentais nos países terceiros a nível mundial, com especial destaque para as organizações da sociedade civil. O Parlamento Europeu atribui igualmente grande importância à promoção dos direitos económicos e sociais dos cidadãos da União Europeia. A situação dos direitos fundamentais na União Europeia é tratada pela Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos. Os trabalhos desta comissão visam desenvolver medidas contra o racismo, a intolerância religiosa

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    e a xenofobia, contemplando ainda o tratamento reservado aos requerentes de asilo e aos trabalhadores migrantes. Além disso, os cidadãos da UE cujos direitos fundamentais sejam violados podem dirigir-se ao Provedor de Justiça Europeu e à Comissão das Petições do Parlamento Europeu. O Provedor de Justiça Europeu recebe queixas relacionadas com a atividade das instituições da UE, ao passo que a Comissão das Petições recebe queixas respeitantes a infrações dos Estados Membros às suas obrigações. Os Estados¬ Membros são geralmente obrigados a alterar a sua legislação ou as suas práticas, de modo a adaptá-las ao Direito comunitário, na sequência de um processo por infração ao Tratado.Todos os anos, o Parlamento Europeu distingue, por intermédio do seu Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, a luta e a coragem dos defensores dos Direitos Humanos, dos dissidentes e dos ativistas envolvidos no combate em prol da defesa dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais. Em 2008, o Prémio Sakharov celebrou o seu 20.º aniversário. Para comemorar este acontecimento, o Parlamento Europeu organizou uma conferência intitulada: «20 anos de apoio ativo aos Direitos Humanos: os laureados com o Prémio Sakharov contam a sua história». Muitos dos galardoados em anos anteriores participaram na conferência e exprimiram os seus pontos de vista sobre os Direitos Humanos no mundo e a repercussão do Prémio Sakharov. Hauwa Ibrahim, uma das vencedoras em 2005, utilizou o montante do prémio para escolarizar mais de 100 crianças. «As Mães da Praça de Maio», laureadas em 1992, utilizaram o prémio para abrir uma livraria, um café de debate político e uma universidade para mais de 2 400 estudantes. Elena Bonner, viúva de Andrei Sakharov, marcou igualmente presença na conferência. Sendo, também ela, uma militante reconhecida em prol dos Direitos Humanos e da Democracia, Elena Bonner reiterou a convicção do seu marido de que «as pessoas devem seguir sempre a sua consciência» e a sua própria convicção de que «os Direitos Humanos são a base da civilização».Esta conferência constituiu a rampa de lançamento da Rede do Prémio Sakharov, instaurada pelo então Presidente do Parlamento Europeu, Hans Gert Pöttering.

    direitos do Homem

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    Desde 1988, o Parlamento Europeu atribui anualmente o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento no sentido de distinguir personalidades e organizações que, à semelhança de Andrei Sakharov, se dedicam à defesa dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais e à luta contra a opressão e a injustiça. Andrei Sakharov (1921-1989), físico de renome, membro da Academia das Ciências, dissidente político e Prémio Nobel da Paz em 1975, enviou de Gorki, seu local de exílio, uma mensagem em que, comovido, expressava a sua satisfação pelo facto de o Parlamento Europeu pretender criar um «Prémio para a Liberdade de Pensamento» a que iria dar o seu nome. Sakharov viu nesta iniciativa um estímulo para todos os que, como ele, se consagram à luta em prol dos Direitos Humanos.Andrei Sakharov, um pioneiro da física nuclear na URSS, começou a recear o início de uma corrida às armas, a qual amplificava a ameaça de uma guerra mundial nuclear que, nos tempos da Guerra Fria, pairava sobre o planeta. A publicação no Ocidente das suas «Reflexões sobre o Progresso, a Coexistência Pacífica e a Liberdade de Pensamento», cujos exemplares ele próprio datilografou e imprimiu, resultou no seu afastamento de qualquer investigação para fins militares. Em 1970, foi um dos cofundadores do Comité para a Defesa dos Direitos Humanos na URSS e, em 1972, contrai matrimónio com Elena Bonner, também ela uma ativista dos Direitos Humanos. Apesar da crescente pressão exercida pelo governo, Sakharov não só reclamou a libertação dos dissidentes no seu país, como também viria a tornar-se num dos mais corajosos opositores ao regime, personificando a luta contra a privação dos direitos fundamentais. Nas palavras do Comité do Prémio Nobel, Sakharov foi «um porta-voz da consciência da Humanidade». Nem as ameaças de que foi alvo, nem o exílio, conseguiram quebrar a sua resistência.Tal como este ativista, todos aqueles que receberam o prémio que tem gravado o nome de Andrei Sakharov mostraram a coragem, a paciência e a força interior necessárias para defender os Direitos Humanos e para lhes assegurar validade universal. A sua intervenção em prol da dignidade humana implicou quase sempre grandes sacrifícios e muitos enfrentaram perseguições, perda da liberdade pessoal, espancamentos ou exílio. Em repetidas ocasiões, os laureados não foram autorizados a receber o Prémio pessoalmente. Com o Prémio Sakharov, o Parlamento Europeu distingue feitos extraordinários em prol da liberdade de pensamento e de expressão e na luta contra a intolerância, o fanatismo e o ódio. Esta vertente expressa a sua convicção de que as liberdades fundamentais englobam, não só o direito à vida e à integridade física, mas também a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, que constitui um dos mais poderosos baluartes contra a opressão e uma das pedras angulares de uma sociedade democrática e aberta. O direito a uma incondicional liberdade de opinião e de expressão, consignado no artigo 19.º do Pacto Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos Civis e Políticos, de 16 de dezembro de 1966, que estabelece que «todos têm direito à liberdade de expressão, compreende a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de toda a espécie, sem consideração de fronteiras, sob forma oral, escrita, impressa, em suporte artístico, ou por qualquer outro meio à escolha da pessoa em causa(...)», o que consubstancia o espírito que levou o Parlamento Europeu a instituir o Prémio Sakharov.O Parlamento Europeu entrega este prémio, no valor de 50 000 euros, no decurso de uma sessão solene em Estrasburgo, numa data próxima do dia 10 de dezembro, dia em que foi assinada, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, das Nações Unidas.

    andrei sakHarov – Uma fonte de insPiração

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    rede do Prémio sakHarov Em 2008, por ocasião do 20.º aniversário do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, Hans Gert Pöttering, então Presidente do Parlamento Europeu, lançou oficialmente a Rede do Prémio Sakharov, que constitui uma plataforma de solidariedade e de conexão entre as atividades das várias personalidades galardoadas.Para comemorar este acontecimento, o Parlamento Europeu organizou uma conferência intitulada: «20 anos de apoio ativo aos Direitos Humanos: os laureados com o Prémio Sakharov contam a sua história».Os laureados assinaram uma declaração conjunta em que se «comprometeram a unir esforços para apoiar os defensores dos Direitos Humanos de todo o mundo através de ações comuns desenvolvidas conjuntamente pelos vencedores do Prémio Sakharov e em cooperação com o Parlamento Europeu».A rede alargou o âmbito das suas atividades durante a Conferência de alto nível de novembro de 2011, para a qual todos os laureados foram convidados a comparecer. Na reunião anual da Rede do Prémio Sakharov de outubro de 2012, os atuais copresidentes da rede, o Presidente do PE, Martin Schulz, e os laureados de 2011, Ali Ferzat, Asmaa Mahfouz e Ahmed El Senussi, debateram publicamente os seus pontos de vista sobre o processo de democratização. Os laureados intervieram igualmente no primeiro Fórum Mundial para a Democracia, realizado em Estrasburgo, sob a égide do Parlamento Europeu, entre outros.O ano de 2013 assinalará o 25.º aniversário do Prémio Sakharov. Os laureados de todo o mundo que gozam do seu direito de liberdade concentrar se ão em Bruxelas, na Conferência da Rede do Prémio Sakharov, no intuito de exporem as suas lutas e de mutuamente se reforçarem e enriquecerem.

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    os laUreados

    1988 Nelson Rolihlahla Mandela e Anatoli Marchenko (a título póstumo)

    1989 Alexander Dubček

    1990 Aung San Suu Kyi

    1991 Adem Demaçi

    1992 Las Madres de la Plaza de Mayo

    1993 Oslobodjenje

    1994 Taslima Nasreen

    1995 Leyla Zana

    1996 Wei Jingsheng

    1997 Salima Ghezali

    1998 Ibrahim Rugova

    1999 Xanana Gusmão

    2000 ¡Basta Ya!

    2001 Izzat Ghazzawi; Nurit Peled-Elhanan e Dom Zacarias Kamwenho

    2002 Oswaldo José Payá Sardiñas

    2003 Kofi Annan, Secretário Geral das Nações Unidas, e todo o pessoal desta Organização

    2004 Associação de Jornalistas da Bielorrússia

    2005 Mulheres de Branco; Hauwa Ibrahim e Repórteres Sem Fronteiras

    2006 Aliaksandr Milinkevich

    2007 Salih Mahmoud Mohamed Osman

    2008 Hu Jia

    2009 Memorial (Oleg Orlov, Sergei Kovalev e Lyudmila Alexeyeva, em nome de Memorial e de todos os outros defensores dos Direitos Humanos na Rússia)

    2010 Guillermo Fariñas

    2011 Primavera Árabe (Mohamed Bouazizi, Asmaa Mahfouz, Ahmed El Senussi, Razan Zaitouneh e Ali Ferzat)

    2012 Nasrin Sotoudeh e Jafar Panahi

  • NasriN sotoudeh Jafar PaNahiPrémio sakharov Para a Liberdade de PeNsameNto 2012

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    Prémio sakHarov Para a liberdade de Pensamento 2012: nasrin sotoUdeH e Jafar PanaHi Nasrin Sotoudeh é uma advogada defensora dos Direitos Humanos que enfrenta atualmente uma pena de seis anos na famosa prisão de Evin, por ter destemidamente representado dissidentes detidos nos protestos em massa de 2009 contra a eleição presidencial, que consideravam ser uma fraude. Os presos políticos solicitaram os seus serviços pois Nasrin Sotoudeh era suficientemente forte e corajosa para enfrentar as autoridades judiciais e os agentes dos serviços de informação. Além do mais, ela própria se assumia como uma forte opositora à pena de morte para os menores.

    Nasrin Sotoudeh, com 45 anos, encontra-se agora num estado débil em consequência de greves de fome em protesto contra as pressões a que a sua família tem sido sujeita e contra as péssimas condições de detenção. Numa carta dirigida aos filhos Mehrvaeh e Nima, publicada no sítio Web persian2english.com, Nasrin Sotoudeh confidenciou estar a sofrer por não poder ouvir as suas vozes. «Além de todas as minhas identidades sociais e profissionais, orgulho-me de ser mãe e, principalmente, a vossa mãe», mas «não quero que os meus filhos me vejam numa postura forçada, coagida e humilhante. Não quero que os meus filhos pensem que outros podem sujeitá-los a um ato ilegal por abuso de poder». Foi-lhe proibida uma visita da família por ter recusado usar o xador, que, ao contrário do «hijab», não é exigido por lei.Jafar Panahi é um cineasta iraniano que foi proibido de exercer a sua atividade profissional por um período de 20 anos. Apoiante declarado do «movimento verde» de oposição no Irão e crítico do Presidente Ahmadinejad, foi igualmente condenado a uma pena de seis anos de prisão por «propaganda contra a República Islâmica». Vive agora numa espécie de limbo, proibido de sair do país ou de se dirigir aos meios de comunicação, continuando, porém, a lutar contra as restrições impostas à sua liberdade de expressão.Inspirado pelo realismo e por uma perspetiva humanista da vida, Jafar Panahi, de 51 anos, tem destacado na sua obra a dureza das condições de vida das crianças iranianas, dos pobres e, em especial, das mulheres, desde a revolução islâmica, despertando a ira e a censura por parte das autoridades iranianas. Os seus filmes, premiados em Cannes e Veneza, são proibidos no país, tendo originado o seu encarceramento em mais do que uma ocasião. Foi detido em 2010, juntamente com a sua esposa, filha e 15 amigos. Todos viriam a ser libertados posteriormente. Em 2011, filmou «In film nist» (Isto não é um filme), que mostra o cineasta sentado à mesa na sua cozinha, onde, aguardando a sua detenção, fala com a sua filha. A longa metragem teve uma entrada inesperada no Festival de Cannes, tendo conseguido sair clandestinamente do Irão numa memória USB escondida dentro de um bolo. Como descreveu o humorista iranobritânico Omid Djalili: «trata-se de uma dádiva, uma gargalhada: diz-nos muito sobre a sua personalidade».

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    1988 Nelson Rolihlahla Mandela Galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1993, Nelson Rolihlahla Mandela, nascido em 1918, em Umtata, na África do Sul, foi eleito, em 1994, Presidente e Chefe de Governo da República da África do Sul, nas primeiras eleições livres organizadas neste país. Mandela passou a maior parte da

    vida na prisão. Para os seus compatriotas e para a opinião pública internacional foi, como líder do ANC (Congresso Nacional Africano), o símbolo da resistência da população negra contra o regime desumano do apartheid. No momento da entrega do prémio, em 1988, Mandela continuava sob prisão domiciliária.Afastado da vida pública desde junho de 1999, Nelson Mandela continua a defender os seus ideais e valores através das suas duas organizações de beneficência, a Fundação Nelson Mandela e o Fundo Nelson Mandela para as Crianças, bem como da iniciativa «Global Elders» (Conselho de Anciãos), que lançou em 18 de julho de 2007, em Joanesburgo, em colaboração com Graça Machel e o arcebispo Desmond Tutu. O grupo «Global Elders» reúne líderes mundiais, militantes pela paz e defensores dos direitos do Homem e pretende solucionar problemas mundiais graças a «uma experiência coletiva de quase 1000 anos na busca de soluções para problemas aparentemente insuperáveis, como as alterações climáticas, o HIV/SIDA e a pobreza» e «usar a sua independência política para ajudar a resolver alguns dos conflitos mundiais mais inextricáveis».Em alocução proferida durante uma sessão parlamentar comemorativa dos dez anos de Democracia na África do Sul, Nelson Mandela afirmou: «Um princípio condutor na busca e estabelecimento de uma Democracia não racista e inclusiva no nosso país foi o de que, em todos os grupos e setores da sociedade, se encontram homens e mulheres bons, e de que, se encontram homens e mulheres bons, e de que, numa sociedade aberta e livre, os cidadãos sul-africanos se unirão para realizar o bem comum, em conjunto e em cooperação... Os inimigos históricos conseguiram negociar uma transição pacífica do apartheid para a Democracia, justamente porque nos dispusemos a aceitar a capacidade intrínseca de bondade que existe nos outros.»Em 2012, a Universidade da África do Sul homenageou o antigo presidente, que não

    marcou presença na cerimónia, com o Prémio de ex-Aluno de Robben Island, distinguindo, através de um reconhecimento formal, o compromisso de Mandela para com a justiça social e a liderança ética.

    1988 Anatoli Marchenko Anatoli Marchenko (1938-1986), um dos mais conhecidos dissidentes da ex União Soviética, faleceu em dezembro de 1986 na prisão de Chistopol, em consequência de uma greve da fome, depois de mais de 20 anos de encarceramento. Era membro do grupo constituído em 1975 para promover o cumprimento da Ata Final da CSCE, em particular das

    disposições referentes à dimensão humana.Ao revelar a verdade sobre os campos de trabalhos forçados e as prisões soviéticas, foi condenado por agitação e propaganda antissoviética. «A única possibilidade de combater o mal e a ilegalidade reinantes consiste, em minha opinião, no conhecimento da verdade.»

    1989 Alexander Dubček Na pessoa de Alexander Dubček (1921-1992), o Parlamento Europeu homenageou, em 1989, um dos iniciadores da renovação no antigo bloco comunista e figura de proa do movimento de reforma que ficou conhecido como a «Primavera de Praga».Os seus esforços para dar um «rosto humano» ao socialismo

    foram esmagados, em 21 de agosto de 1968, pelas forças dos países do Pacto de Varsóvia, que tomaram o controlo de Praga e do edifício do Comité Central, acabando rapidamente detido pelas forças soviéticas. Acusado de traição, demitido de todas as funções e expulso do Partido Comunista checo, Alexander Dubček ganhou a vida, até 1985, como operário. Em 1988 voltou à vida política ativa, ingressando no movimento de defesa dos direitos cívicos.Depois da revolução na Checoslováquia, foi eleito Presidente da Assembleia Nacional da República Socialista Checoslovaca. Como símbolo de esperança também para os dissidentes soviéticos nos seus longos anos de luta pela Glasnost – assim o referiu Andrei Sakharov

  • numa mensagem proferida por ocasião da entrega do prémio em janeiro de 1990 – Dubček exprimiu o desejo de que «através da Primavera de Praga ressoe, em 1990 e em todos os anos futuros, a grande sinfonia do espírito comunitário europeu.»

    1990 Aung San Suu KyiA liderança de Aung San Suu Kyi na luta pró democrática na Birmânia foi distinguida com a atribuição do Prémio Sakharov em 1990, um ano antes de a militante ter sido laureada com o Prémio Nobel da Paz, em 1991. Símbolo internacional da resistência pacífica face à opressão, Suu Kyi, nascida em 1947, passou grande parte das duas décadas que se seguiram

    ao ano de 1990 detida ou em prisão domiciliária, depois de a junta militar no governo na Birmânia ter reprimido a sua Liga Nacional para a Democracia com detenções e ações sangrentas, recusando abrir mão do poder não obstante a esmagadora vitória da Liga nas eleições do mesmo ano.Permanecia em prisão domiciliária aquando das eleições de 7 de novembro de 2010, as primeiras em duas décadas no país. Acabaria por ser libertada volvidos seis dias. Enquanto o novo governo do país encetava reformas democráticas, Suu Kyi concorreu à composição de um novo parlamento por sufrágio, fazendo parte dos 43 membros eleitos pelo seu partido, entre 45 lugares em disputa. Em 3 de maio de 2012, prestou juramento no Parlamento. Lidera atualmente a oposição parlamentar na Birmânia. Na sequência da sua vitória eleitoral, o Parlamento Europeu expressou «o seu enorme respeito pela luta de décadas da dirigente da oposição e laureada com o Prémio Sakharov, Aung San Suu Kyi» e aplaudiu «a sua coragem e tenacidade como exemplo da coragem abnegada e da luta pela liberdade e pela Democracia face à tirania». O PARLAMENTO EUROPEU registou com agrado o diálogo entre o governo e a oposição. Anteriormente, apelara, por diversas ocasiões, à libertação imediata e incondicional de Aung San Suu Kyi e de outros prisioneiros políticos birmaneses, tendo igualmente condenado as violações sistemáticas dos Direitos Humanos, das liberdades fundamentais e dos direitos democráticos elementares do povo da Birmânia/Mianmar. Desde o início do processo de reforma democrática no país, registou-se a libertação de centenas de prisioneiros políticos bem como o levantamento da censura da comunicação social. Aung San Suu Kyi foi nomeada para chefiar uma comissão parlamentar composta por 15 deputados encarregados de instaurar o Estado de Direito no país. Na sua opinião, a chave para a democratização reside num

    sistema judicial firme, independente e imparcial: a partir do momento em que poderemos afirmar ter conseguido reestabelecer o Estado de Direito, poderemos afirmar que o processo de democratização foi bem-sucedido». Desde a sua libertação, Suu Kyi pôde voltar a viajar, tendo o Parlamento Europeu renovado o seu convite a fim de receber a sua visita e entregar o seu Prémio Sakharov de 1990.

    1991 Adem Demaçi Em 1991, o Parlamento Europeu agraciou Adem Demaçi, kosovar nascido em Pristina em 1936, com o seu Prémio pela Liberdade de Pensamento, homenageando assim um homem que passou a maior parte da sua vida (1958-1990) no cárcere, por haver defendido, oralmente e por escrito, os direitos fundamentais dos albaneses do Kosovo. A prisão não conseguiu, contudo, intimidá-lo. Continuou a elevar a sua voz para denunciar a

    opressão, por parte da Sérvia, de dois milhões de albaneses no Kosovo.«A liberdade de expressão é um passo indispensável para a Democracia. Sem liberdade de expressão não há diálogo, sem diálogo não se pode descobrir a verdade e sem a verdade o progresso é impossível». Após a sua libertação, Adem Demaçi assumiu a direção do Conselho para a Defesa dos Direitos do Homem e das Liberdades. Entre 1998 e 1999, período da ofensiva sérvia, foi o representante político do Exército de Libertação do Kosovo (UCK). Após a guerra, consagrou-se principalmente à reconciliação étnica e ao regresso dos refugiados. Assumiu a presidência do Comité para a Compreensão Mútua, a Tolerância e Coexistência, que reúne representantes de todos os grupos étnicos do Kosovo, «porque o Kosovo pertence a todos» e «porque queremos uma sociedade livre, democrática e multiétnica». Atualmente, continua a participar ativamente na política do Kosovo.

    1992 Las Madres de la Plaza de Mayo«As Mães da Praça de Maio» constituíram um movimento argentino de defesa dos Direitos Humanos, tendo surgido de forma espontânea por intermédio da busca de crianças «desaparecidas» durante a «Guerra Suja» na Argentina, um período de sete anos marcado por violações dos Direitos Humanos sem precedentes, na sequência de um golpe militar em 1976.

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    As mães que faziam fila no exterior do Ministério do Interior em busca dos seus filhos começaram a encontrar força entre elas. Ainda que numa época de repressão severa, não obstante a proibição de ajuntamentos de pessoas, o primeiro protesto das mães consistiu numa marcha lenta na Praça de Maio, percorrendo um círculo contrário ao dos ponteiros de um relógio. O primeiro protesto contou com 14 mulheres. Contudo, à medida que o movimento se transformaria num evento semanal realizado cada quinta-feira à tarde, centenas de mães, pais, irmãos, irmãs e amigos juntar-se-iam à marcha semanal. As mulheres traziam lenços onde estava bordado o nome dos seus filhos, constituindo um forte símbolo visual da sua causa. Corajosamente, perpetuaram a sua resistência passiva e pacífica, apesar de 12 participantes terem desaparecido em finais de 1977, entre as quais figurava Azucena Villaflor, a primeira líder das «Mães», além de outras duas fundadoras do movimento, Esther Careaga e Marìa Eugenia Bianco. A resistência pacífica das «Mães» ajudou a derrubar a ditadura militar, tendo o seu esforço constante redundado no julgamento e encarceramento de alguns dos responsáveis pelos crimes contra a Humanidade cometidas na Argentina na década de 1970. A sua luta toma agora uma dimensão amplificada. As mães argentinas desejam que a juventude do país se empenhe e lute contra um sistema que condena milhões de pessoas à pobreza e não assegura aos cidadãos, nem educação, nem habitação, nem cuidados de saúde. Lutam em prol de uma justiça independente e de uma mudança da situação política, recuperando os ideais dos seus filhos desaparecidos. Durante as suas manifestações à quinta-feira defronte à Casa Rosada, o palácio presidencial, as «Mães» circulam com a cabeça coberta por um lenço branco, simbolizando a universalidade da sua luta.«As Mães da Praça de Maio» criaram uma Universidade Popular, uma livraria, uma biblioteca e um centro cultural. Em 1999, a organização recebeu o Prémio de Educação para a Paz da Unesco.

    1993 Oslobodjenje O diário Oslobodjenje, fundado em 1943, foi galardoado, em 1993, com o Prémio Sakharov.Apesar da ocorrência de mortos e feridos entre os jornalistas e da destruição da casa editorial por franco-atiradores sérvios, cerca de 70 redatores, muçulmanos, sérvios e croatas, continuaram a trabalhar para publicar o jornal, correndo risco

    de vida, num refúgio instalado na cave da editora, em Sarajevo.Segundo um dos seus antigos redatores, Zlatko Disdarevic, que viria a ser mais tarde embaixador da Bósnia, o objetivo do Oslobodjenje consistia em conservar e defender a Bósnia-Herzegovina como Estado multiétnico.«Os nossos esforços visam impedir a morte, a divisão ou o desaparecimento da Bósnia-Herzegovina do mapa do mundo. A população de Sarajevo, da Bósnia e da Herzegovina continuará a lutar contra a divisão gerada pela Europa que existia antes da Grande Guerra». O Oslobodjenje («Libertação»), cujo nome se deve ao jornal fundado por resistentes que combateram contra a ocupação alemã na Jugoslávia, foi durante muito tempo, um dos poucos jornais independentes do país.

    1994 Taslima NasreenQuando, em 1994, a médica e escritora Taslima Nasreen, nascida em 1962 no Bangladesh, foi galardoada com o Prémio Sakharov, já havia procurado refúgio na Europa. A sua obra, na qual critica o fundamentalismo religioso e, mais concretamente, a opressão da mulher, encontra-se proibida no seu país e os fundamentalistas islâmicos ameaçam matá-la.

    No seu discurso de agradecimento pela atribuição do prémio, Taslima Nasreen afirmou que vem de uma parte do mundo em que as tensões sociais e as dificuldades humanas são avassaladoras. Como escritora, entende não poder fechar os olhos perante a fome e a dor quotidianas nos bairros de lata.Em setembro de 1998, Taslima Nasreen regressou ao Bangladesh para visitar a mãe, que se encontrava gravemente doente. Mal a notícia se espalhou, os fundamentalistas religiosos reclamaram, uma vez mais, a morte da escritora. Um tribunal emitiu um

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    mandado de prisão e ameaçou confiscar os seus bens. O Parlamento Europeu respondeu ao pedido de ajuda de Taslima Nasreen e exortou, numa resolução, o Governo do Bangladesh a envidar todos os esforços para garantir a vida e a segurança da escritora. Devido às constantes ameaças, Taslima Nasreen voltou a deixar o seu país em Janeiro de 1999. Desde 1994, Taslima Nasreen residiu no exílio em muitos países, designadamente em França, na Suécia e na Índia. Porém, mesmo na Índia, sofreu uma pressão crescente por parte de grupos islâmicos contra os seus romances e memórias «anti islâmicas», o que a obrigou a mudar-se para Nova Deli e, a partir de novembro de 2007, a viver sob a proteção das forças de segurança do Governo indiano. Devido ao recrudescimento das ameaças de morte por parte de extremistas islâmicos e às dificuldades que encontrou com as autorizações de residência na Índia, Taslima Nasreen foi obrigada a abandonar esse país em meados de março de 2008, apenas regressando por períodos curtos. Em 2009, o Presidente da Câmara de Paris autorizou Taslima Nasreen a permanecer na sua cidade. Não obstante continuar a ser-lhe recusado o direito de regressar ao Bangladesh, Taslima Nasreen exprime frequentemente o desejo de regressar à pátria.

    1995 Leyla Zana Quando, em 1995, o Parlamento Europeu lhe atribuiu o Prémio Sakharov pela sua corajosa defesa dos Direitos Humanos e pelo seu empenhamento numa solução pacífica e democrática para os conflitos entre o Governo turco e a população curda, Leyla Zana já estava detida há um ano.Ao longo do processo de defesa dos direitos do seu marido, que

    se encontrava preso, Leyla Zana assumiu um papel de liderança, que culminou na sua candidatura às eleições legislativas turcas em 1991, tendo obtido 84 % dos votos no seu círculo eleitoral de Diyarbakir. Na sua investidura, pronunciou uma alocução em língua curda na qual se comprometeu «a lutar por que os povos curdo e turco possam viver juntos, num quadro democrático».Em dezembro de 1994, o Tribunal de Segurança do Estado de Ancara acusou Leyla Zana, juntamente com outros três deputados curdos do Partido da Democracia pró curdo, de estar filiada no clandestino Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), tendo por base nos seus discursos e escritos em defesa dos direitos da população curda. Foi condenada a

    15 anos de prisão. Em 1997, o Governo propôs a sua libertação por razões de saúde, mas Leyla Zana recusou, acalentando a esperança de «amnistia geral para todos os presos políticos» e declarando: «não quero ser libertada por razões de saúde, enquanto os meus companheiros políticos permanecem na prisão».Após a conclusão do novo processo, em 2003, que, à semelhança do primeiro, foi declarado injusto e parcial pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, o tribunal decidiu que os antigos deputados curdos fossem condenados ao cumprimento do resto da pena. Contudo, o Tribunal da Relação da Turquia revogaria as sentenças em 2004. Assim, em 14 de outubro de 2004, Leyla Zana pôde, finalmente, usar da palavra perante o plenário do Parlamento Europeu, reunido em sessão solene em Bruxelas, e receber o Prémio Sakharov. Em dezembro de 2008, Leyla Zana foi de novo condenada a 10 anos de prisão por alegada difusão de propaganda terrorista. Porém, a sua pena foi anulada por um tribunal da relação, por entender que não lhe tinham sido proporcionados meios adequados para se defender. Acabaria por ser novamente condenada a uma pena de 10 anos, considerada culpada de «difusão de propaganda terrorista». Na qualidade de deputada do Parlamento Turco, tendo sido reeleita como deputada curda nas eleições legislativas de 12 de junho de 2011, goza de imunidade parlamentar até ao próximo escrutínio, agendado para 2015.

    1996 Wei Jingsheng O «Pai do movimento democrático chinês» foi galardoado com o Prémio Sakharov em 1996.O mais conhecido dissidente chinês nasceu em 20 de maio de 1950, no seio de uma família de funcionários públicos. Numa primeira fase, aderiu com entusiasmo à Guarda Vermelha e aos ideais da revolução cultural maoista. No

    entanto, desiludido com a ferocidade da luta de classes, voltou-se seguidamente para o humanismo e a Democracia.Em 1978, com a chegada ao poder de Deng Xiaoping, Wei Jingsheng contribuiu para a criação do «Muro da Democracia». Em jornais murais, os cidadãos exigiam a reparação das injustiças sofridas. «O que é a verdadeira Democracia?», perguntava Wei num mural, suscitando com isso a atenção e a ira do Governo chinês. Em 1979, qualificou Deng Xiaoping

  • de ditador sucessor de Mao Tse Tung, pelo que foi detido e condenado, num julgamento-fantoche, a 15 anos de prisão e trabalhos forçados por crimes contrarrevolucionários. Após a sua libertação, em 1993, Wei Jingsheng não desistiu. Estabeleceu contactos com os meios de comunicação social ocidentais e denunciou as violações dos Direitos Humanos cometidas na China. Em 1994, foi sequestrado pelo aparelho de segurança do Estado e, em 1995, foi condenado, por conspiração contra o comunismo, a mais 14 anos de prisão. O seu estado de saúde agravou-se devido às desumanas condições de detenção e aos maus tratos infligidos pelos outros detidos.Em 16 de novembro de 1997, Wei Jingsheng foi libertado graças à pressão internacional e deportado para os Estados Unidos. Na qualidade de presidente da Coligação Chinesa Ultramarina para a Democracia (OCDC), fundada em 1998, e de promotor da Fundação com o seu nome, Wei Jingsheng prossegue na defesa do seu objetivo principal: os Direitos Humanos e a Democracia na China.

    1997 Salima Ghezali A laureada com o Prémio Sakharov de 1997, Salima Ghezali, nasceu em 1958, perto de Argel. Nos anos 80, começou a participar no movimento feminista argelino, nomeadamente como uma das fundadoras de «Mulheres da Europa e do Magrebe» e como chefe de redação da revista feminina por ela fundada, «Nyssa».A defensora dos direitos das mulheres tornou-se uma combatente

    convicta pelos Direitos Humanos e pela Democracia na Argélia. Enquanto editora do semanário «La Nation» pôs em foco, com um empenho crescente a partir de 1994, os problemas da censura. Nos seus artigos, defende uma solução pacífica e democrática para a crise argelina, que custou já a vida a dezenas de milhares de pessoas, entre as quais se contam numerosos jornalistas. Assim, ficou sob o fogo cruzado das autoridades argelinas e dos extremistas islâmicos. Com um artigo sobre a situação dos Direitos Humanos na Argélia, publicado no jornal «Le Monde diplomatique», deu às autoridades o pretexto para procederem ao encerramento do seu jornal, em 1996. SalimaGhezali, reagiu escrevendo: «Há que lembrar os princípios que constituem os fundamentos da sociedade humana e estar vigilante: é esta a melhor forma de fazer com que a civilização vença a barbárie.»Em 25 de abril de 1996, no âmbito de uma audição sobre a liberdade de imprensa, perante o Parlamento Europeu, Salima Ghezali deu testemunho do medo e das coações a que estão atualmente sujeitos os jornalistas na Argélia, quando tentam iludir a censura e escapar à ira

    mortífera dos adversários. Em 2002, pouco antes de «La Nation» voltar a ser publicado, Salima Ghezali reiterou que o jornal continuaria a trabalhar na perspetiva de uma abertura democrática do país. Salima Ghezali foi membro do Conselho de Administração da Fundação Euromediterrânica para o Apoio aos Defensores dos Direitos Humanos e prossegue as suas atividades em prol dos direitos das mulheres, dos Direitos Humanos e da Democracia na Argélia.

    1998 Ibrahim Rugova Em 1998, quando se verifica a escalada do conflito armado entre unidades sérvias e o Exército de Libertação do Kosovo, o Parlamento Europeu emite um sinal ao atribuir o Prémio Sakharov ao líder político dos albaneses do Kosovo. O Parlamento Europeu homenageava assim um homem que defendeu, de forma consequente, o princípio da resistência pacífica à violência.

    Nascido em 2 de dezembro de 1944, em Cerrca (Istog), no Kosovo, Ibrahim Rugova estudou literatura na Universidade de Pristina, antes de, em 1989, ter sido eleito presidente da Liga Democrática do Kosovo (LDK). Nesse mesmo ano, o regime de Belgrado aboliu o estatuto de autonomia da província do Kosovo, reprimiu os albaneses e encarcerou os oposicionistas. Em 1990, os 2 milhões de albaneses do Kosovo adotaram a sua própria Constituição. Num referendo realizado em 1991, 97 % pronunciou se a favor da independência do Kosovo e, em 1998, Ibrahim Rugova foi reeleito Presidente da autoproclamada «República do Kosovo».De forma perseverante, o pacifista Rugova empenhou-se numa oposição pacífica ao regime sérvio. Manifestou a sua disponibilidade para dialogar com Belgrado e, simultaneamente, tentou chamar a atenção do mundo para a causa do seu povo, instando repetidamente a comunidade internacional a intensificar a sua pressão e a oferecer proteção internacional ao Kosovo. Convicto de que a autodeterminação de um povo apenas se poderá processar num clima de paz, Ibrahim Rugova assinou, na qualidade de responsável pelas negociações em nome dos albaneses do Kosovo, o Acordo de Paz de Rambouillet, em 18 de março de 1999. A recusa de Belgrado em assinar esse acordo teve como consequência, em 24 de março, os ataques da NATO à Jugoslávia, que conduziram à retirada das forças jugoslavas do Kosovo. Em 28 de março, o mais importante conselheiro de Rugova nas negociações de paz, Fehmi Agani, foi assassinado em Pristina, e Rugova foi obrigado a passar à clandestinidade. Em março de 2002, Ibrahim Rugova foi eleito Presidente do Kosovo. Viria a falecer na sequência de um cancro em 21 de janeiro de 2006.

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  • 1999 José Alexandre «Xanana» GusmãoXanana Gusmão nasceu em 20 de junho de 1946, em Laleia, Timor-Leste. Com a retirada dos portugueses, a Indonésia deu início a uma política de desestabilização de Timor-Leste. Em 7 de dezembro de 1975 registou-se a invasão indonésia. Xanana Gusmão passou à clandestinidade, tendo assumido em 1978 a liderança do braço armado da Frente Revolucionária

    para a Independência de Timor-Leste (FRETILIN).Segundo as estimativas, a violência que acompanhou a invasão causou a morte a 200 000 pessoas, mas a oposição popular sobreviveu-lhe. Xanana Gusmão empreendeu diversas tentativas para conseguir a resolução pacífica do conflito. Assim, propôs ao Governo indonésio um plano de paz e conversações sob a égide das Nações Unidas. Em 1986, conseguiu reunir as forças políticas e sociais de Timor-Leste no Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT). Em 20 de novembro de 1992, Xanana Gusmão foi preso. Acusado de separatismo e de posse ilegal de armas, foi condenado, primeiramente, a prisão perpétua e, mais tarde, a 20 anos de prisão, tendo, por fim, em fevereiro de 1999, sido colocado sob prisão domiciliária. No entanto, nem a prisão de Xanana Gusmão, também conhecido por «Mandela timorense», conseguiu quebrar a oposição em Timor-Leste. Com a libertação de Xanana Gusmão, em 7 de setembro de 1999, pouco tempo depois do referendo de 30 de agosto, em que 80 % da população de Timor-Leste se pronunciou a favor da independência relativamente à Indonésia, o Presidente indonésio Habibie reagiu às enormes pressões internacionais a que foi sujeito. Aquando da sua libertação, Xanana Gusmão, que, como porta-voz da paz e do diálogo, se transformou numa figura emblemática da resistência em Timor Leste e num exemplo de esperança para o movimento de solidariedade internacional, afirmou: «Na minha qualidade de homem livre, prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para trazer a paz a Timor-Leste e ao meu povo». Em abril de 2002, realizaram-se as primeiras eleições presidenciais livres em Timor-Leste. Xanana Gusmão foi eleito com cerca de 83 % dos votos e, no mesmo ano, recebeu o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa. Em 20 de maio de 2002, Kofi Annan declarou oficialmente a independência da República Democrática de Timor-Leste. Presidente de Timor Leste até maio de 2007, José Xanana Gusmão passou a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro após as eleições legislativas de 30 de junho de 2007. Em 2008, Xanana Gusmão sobreviveu a uma tentativa de assassinato. Em setembro de 2012, transmitiu à Assembleia Geral das Nações Unidas o objetivo de Timor Leste de combater a pobreza e se transformar num país próspero até 2030.

    2000 ¡bASTA YA! A Iniciativa Cidadã ¡BASTA YA!, associação com estatuto de órgão consultivo no Conselho Económico e Social das Nações Unidas, concedido em julho de 2004, é um coletivo aberto de cidadãs e cidadãos ativamente comprometidos com a causa dos Direitos Humanos, a Democracia, a concórdia e

    a tolerância no País Basco. Os seus membros, de diferentes ideologias, encontram-se unidos em torno de três posições:

    | Opor-se a qualquer tipo de terrorismo, independentemente da origem ou da intensidade;| Apoiar todas as vítimas do terrorismo e da violência política;| Defender a vigência do Estado de Direito, a Constituição e o Estatuto de Autonomia do País Basco.

    As liberdades fundamentais e os Direitos Humanos estão em perigo no País Basco, devido ao terrorismo da ETA e grupos afins. Milhares de pessoas sofrem campanhas de intimidação, extorsão, chantagem, ataques ou atentados mortais dirigidos contra si, as suas famílias ou os seus bens. Não têm possibilidade de se exprimir livremente, nem de exercer os seus direitos sem incorrer em graves perigos.Os membros da Iniciativa Cidadã ¡BASTA YA! arriscam a vida na luta contra o terrorismo. A sua única «arma» é a mobilização pacífica dos cidadãos em defesa das liberdades fundamentais. O objetivo de ¡BASTA YA! passa por sensibilizar os cidadãos, através de ações e intervenções que exprimam solidariedade com todos os cidadãos que se opõem ao terrorismo e defendem os valores democráticos. Em março de 2002, Fernando Savater, porta-voz da Iniciativa, declarou perante a Comissão dos Assuntos Externos do Parlamento Europeu que, após 25 anos de luta quotidiana, as pessoas não aguentam mais e que, nos últimos anos, 10 % da população deixou já o País Basco. A iniciativa afirma que deseja profundamente poder dissolver-se o quanto antes por se ter tornado desnecessária. Entretanto, enquanto a ameaça do terrorismo pairar sobre o País Basco e os cidadãos viverem num clima de tensão e de violência permanente, ¡BASTA YA! manterá a sua determinação nas ações desenvolvidas e no apelo à mobilização de todos os cidadãos sempre que for necessário.

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    2001 Izzat Ghazzawi Nascido em 1951, na Palestina, Izzat Ghazzawi foi docente na Universidade de Birzeit, tendo obtido o Mestrado em Literatura Inglesa. Foi presidente da Associação de Escritores Palestinos, autor de romances e novelas, crítico literário e presidente da primeira Conferência Internacional de Escritores na Palestina (1997).

    Izzat Ghazzawi fez parte do órgão executivo do Conselho Palestino para a Justiça e a Paz, tendo-lhe sido atribuído, em 1995, o Prémio Internacional para a Liberdade de Expressão, em Stavanger. Foi várias vezes detido e perseguido pelas autoridades israelitas, devido às suas atividades políticas.A sua vida foi marcada pela morte do seu filho Ramy, de 16 anos, pelo exército israelita. Ramy foi morto no pátio da escola quando tentava socorrer um colega ferido. Não obstante estas trágicas circunstâncias, Izzat Ghazzawi não cessou a procura do diálogo cultural e político com o povo israelita.Juntamente com o escritor israelita Abraham B. Yehoshua e o fotógrafo Oliviero Toscani, Izzat Ghazzawi publicou um livro sobre as relações entre palestinos e israelitas, que conheceu grande êxito. Izzat Ghazzawi faleceu em 4 de abril de 2003.

    2001 Nurit Peled-Elhanan A israelita Nurit Peled-Elhanan, nascida em 1949, docente universitária de Literatura Comparada, representa todos os israelitas que defendem uma solução negociada do conflito e reivindicam de forma clara o direito à existência, em pé de igualdade, de ambos os povos e Estados. O seu pai é o célebre general Matti Peled, conhecido pela sua luta em prol da paz e

    do progresso.A sua filha Smadar, de catorze anos, foi vítima de um atentado suicida, cometido em Jerusalém Ocidental por um palestino. Após a morte da filha, Nurit não cedeu ao desespero e pronunciou discursos que evocavam a responsabilidade de uma política míope, que se recusa a reconhecer os direitos do outro, alimentando o ódio e o conflito. Fundou a Associação de Famílias Israelitas e Palestinianas Vítimas de Violência.

    Em 4 de fevereiro de 2004, falando em Rimini perante alunos do ensino secundário, Nurit Peled-Elhanan salientou: «É tempo de definirmos o que se passa no Médio Oriente em termos de criminalidade, e não em termos políticos e militares… É tempo de ensinarmos a reconhecer ideais falsificados e como nos podemos opor à horrível utilização deturpada dos ideais... É tempo... de voltarmos a ser indivíduos, em lugar de nações, indivíduos, em lugar de tropas, e de salvarmos, em conjunto, as crianças que ainda estão vivas, dizendo basta!».Quer Nurit Peled-Elhanan quer Izzat Ghazzawi em vida corporizaram a esperança de uma solução negociada e pacífica para o conflito entre palestinianos e israelitas. As suas tragédias pessoais não suscitaram a inimizade e a sua dor não se transformou em ódio, mas sim no respeito dos direitos de todos.

    2001 Dom Zacarias Kamuenho Em 1999, começou a despontar no povo angolano uma nova consciência ativa a favor da paz e dos Direitos Humanos, encorajada e representada pelos esforços dos dirigentes da Igreja e por diversas organizações da sociedade civil, no sentido da «reconciliação nacional».À cabeça desses esforços de paz encontra-se Dom Zacarias

    Kamuenho, nascido em Chimbundo (Huambo, Angola) em 1934, ordenado padre em 1961 e Arcebispo de Lubango desde 1995. A sua voz firme, imparcial e persistente fez-se repetidamente ouvir junto de todas em partes em conflito, perseguindo o objetivo de uma paz duradoura pela via do diálogo político, após 26 anos de guerra civil. Pelo seu infatigável empenhamento em prol da paz, o Parlamento Europeu atribuiu-lhe, em 2001, o Prémio Sakharov.O cessar-fogo de 2002, que se seguiu ao assassínio de Jonas Savimbi, as conversações de paz e o clima geral favorável à democratização, ficam a dever-se à campanha dirigida por Dom Zacarias Kamuenho e outros destacados representantes da sociedade religiosa e civil. Em 2003, Dom Kamuenho renunciou à presidência da Conferência Episcopal de Angola e de São Tomé, mas continuou ativo, através da sua diocese e do Comité Intereclesial para a Paz em Angola, em prol da implementação da Democracia, do respeito pelas liberdades fundamentais e dos Direitos Humanos, da instauração do Estado de Direito e de uma

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    reconciliação nacional duradoura. Em 2012, o agora arcebispo emérito apelou aos angolanos para que exercessem o seu direito de voto.

    2002 Oswaldo José Payá Sardiñas Oswaldo José Payá Sardiñas foi homenageado pelo seu compromisso inabalável com diálogo nacional e a introdução de reformas democráticas em Cuba. Nascido em 1952, faleceria num acidente rodoviário em julho de 2012. Era principalmente conhecido por ter fundado o Projeto Varela, que consistia numa

    campanha de recolha de assinaturas a favor de um referendo sobre a instauração de leis que garantam direitos civis.Fundou igualmente o Movimento Cristão de Libertação, que continua a reclamar um esclarecimento das circunstâncias da sua morte. A sua família rejeita a versão oficial, que aponta para um acidente causado por excesso de velocidade. Durante a sua vida, Oswaldo Payá foi um porta-voz respeitado da oposição em Cuba. O seu funeral foi presenciado por jovens e antigos dissidentes que vieram prestar-lhe homenagem, entre os quais as «Mulheres de Branco» e Guillermo Fariñas, igualmente vencedores do Prémio Sakharov.Embora a sua posição crítica em relação à política do Governo de Fidel Castro lhe tenha valido, na juventude, a perseguição e a condenação, o empenho de Payá continuou inquebrantável. Em 1997, elaborou o Projeto Varela, que exige, pela via de um referendo nacional, a liberdade de opinião e de reunião, eleições pluralistas livres, a libertação de todos os presos políticos e reformas económicas e sociais. Payá Sardiñas defendeu, assim, o objetivo que consistia em obter uma mudança política através do recurso aos instrumentos legais existentes. Com os seus apoiantes, conseguiu recolher 25 000 assinaturas e apresentar o projeto à Assembleia Nacional do Poder Popular em maio de 2002. A oposição reuniu-se, pela primeira vez, em torno do manifesto «Todos Unidos».Em março de 2003, foram condenados a longas penas de prisão por «atentado contra a independência nacional e a integridade territorial» 75 cubanos, dois terços dos quais desempenharam um papel ativo na campanha pelo referendo.Na mensagem que dirigiu ao Parlamento Europeu, Oswaldo José Payá Sardiñas assegurou

    que a repressão exercida pelo Governo cubano não conseguiria pôr termo à campanha, porque o povo cubano pretende uma mudança sem violência.Em julho de 2003, 200 deputados ao Parlamento Europeu assinaram a assinaram a «Iniciativa Sakharov» e garantiram ao laureado a manutenção do seu apoio. Após o seu desaparecimento em 2012, o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, manifestou-se convicto de que as ideias de Oswaldo Payá irão perdurar dado que a sua obra e empenho inspiraram toda uma geração de ativistas cubanos na sua luta pela liberdade política e pelos Direitos Humanos.

    2003 Kofi Annan, Secretário-Geral das Nações Unidas, e todo o pessoal desta Organização Em especial memória de Sérgio Vieira de Mello e de muitos outros funcionários das Nações Unidas que perderam a vida ao serviço da paz no mundo.

    Ao atribuir às Nações Unidas, em 2003, o Prémio Sakharov, o Parlamento Europeu distinguiu as atividades realizadas por esta Organização a favor da paz, dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais, bem como da promoção da Democracia e do Estado de Direito em todo o mundo.Na era da globalização, e sob a direção de Kofi Annan, foram envidados esforços para consolidar a ONU como um instrumento eficaz na resposta aos desafios planetários: «prosseguiremos os nossos esforços para combater a pobreza, a doença, as alterações climáticas e a proliferação de armas de pequeno calibre, e continuaremos também a luta contra o terrorismo e a proliferação de armas de destruição em massa. É dever das Nações Unidas enfrentar todas estas ameaças».O Prémio Sakharov distinguiu também os membros do pessoal das Nações Unidas, que trabalham em prol da paz no mundo, muitas vezes em condições difíceis. Essas pessoas arriscam a vida, e muitas a perderam.A atribuição do prémio prestou homenagem à memória de Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário para os Direitos Humanos e um dos mais dignos representantes das Nações Unidas. Foi morto, com outros funcionários, num atentado terrorista contra o

  • quartel-general da organização em Bagdade, quando se encontrava no Iraque, em agosto de 2003, como enviado especial de Kofi Annan.Tendo em vista o 60.º aniversário das Nações Unidas, Kofi Annan lançou, em 2005, uma reflexão sobre a reforma da organização, tendo apresentado à Assembleia-Geral das Nações Unidas o relatório intitulado «Um conceito mais amplo da liberdade», no qual expunha a sua visão de uma reforma global e profunda da organização. Este relatório conduziu nomeadamente à criação, em março de 2006, de um novo Conselho dos Direitos do Homem para substituir a antiga comissão do mesmo nome e modernizar as estruturas da organização mundial, a fim de promover e proteger os direitos fundamentais, bem como a tomar as medidas que se impõem contra os principais infratores aos direitos do Homem.Após ter completado dois mandatos de cinco anos como Secretário-Geral das Nações Unidas, em janeiro de 2007, Kofi Annan colaborou com várias organizações ativas quer a nível mundial quer africano. Entre outros cargos, foi designado presidente do Fórum Global Humanitário, com sede em Genebra, e tornou-se membro da organização «Global Elders», formada por um grupo de dirigentes que contribuem com a sua experiência, liderança independente e integridade para a resolução de alguns dos problemas mais graves do mundo.Na qualidade de chefe do Painel de Personalidades Eminentes Africanas, Kofi Annan participou nas negociações para pôr fim aos distúrbios ocorridos no Quénia, no início de 2008, e conseguiu resolver a crise que terminou com a assinatura, em fevereiro de 2008, de um acordo de coligação governamental entre o Presidente Mwai Kibaki e Raila Odinga. Em 2012, assumiu o cargo de Enviado Especial Conjunto da ONU e da Liga Árabe na Síria, com o objetivo de encontrar uma solução para o conflito na Síria.

    2004 A Associação de Jornalistas da bielorrússia O empenho da Associação de Jornalistas da Bielorrússia a favor da causa da liberdade de opinião e da promoção de um jornalismo independente e profissional naquele país tem constituído uma fonte de inspiração.Como representante de quase 1 000 trabalhadores dos meios de comunicação social de todo o país, a Associação defende, num ambiente

    caracterizado por dificuldades extremas, os direitos legítimos dos jornalistas, que não raramente são alvo de intimidação, assédio, procedimentos criminais e forçados ao exílio. Em alguns casos, e

    graças à ação imediata empreendida pela Associação de Jornalistas da Bielorrússia (AJB), tem sido possível levar a tribunal os responsáveis por ameaças de morte contra jornalistas. Embora não exista na Bielorrússia um poder judicial independente, os advogados da AJB têm frequentemente conseguido defender com êxito jornalistas e meios de comunicação social perante os tribunais. Uma importante componente das suas atividades consiste em informar mais ativamente os cidadãos sobre o seu direito constitucional à liberdade de informação e em sensibilizá-los para o exercício dos seus direitos, além de introduzir, através do seu Centro Jurídico para a Defesa dos Meios de Comunicação, uma melhoria no quadro jurídico em vigor.Em 3 de maio de 2005, Dia da Liberdade de Imprensa, a Associação apelou a que se apoiasse uma imprensa independente na Bielorrússia, pois só ela – dada a situação no país – pode proporcionar aos cidadãos bielorrussos notícias atuais e globais sobre a situação na Bielorrússia e no mundo. Apesar da hostilidade do regime e das duras condições em que atua, a Associação Bielorrussa de Jornalistas continua o seu combate por um jornalismo independente e pela liberdade de expressão no país.

    2005 Mulheres de brancoAs «Mulheres de Branco», de Cuba, figuram entre os três vencedores do Prémio Sakharov em 2005. Com esse galardão, o Parlamento Europeu reconhece a sua coragem e empenhamento na causa dos Direitos Humanos em Cuba e chama a atenção para o prosseguimento da detenção de 45 dissidentes políticos, desde março de 2003, na maioria dos

    casos apenas por terem criticado a falta de liberdade política no país. Em Cuba, emitir opiniões contrárias ao Governo constitui um ato subversivo, punido com penas que podem atingir os 25 anos de prisão.Todas as tentativas para votar ao esquecimento os presos falharam graças ao esforço das suas viúvas, mães e irmãs, que chamaram a atenção dos meios internacionais para a sua situação, através de ações de protesto pacíficas. Chamam a si próprias «Mulheres de Branco» (Damas de Blanco) e constituíram-se como movimento espontâneo no início de 2004. Não representam um partido político, nem estão sujeitas a uma organização política de qualquer tipo. Vestindo de branco, para simbolizar a inocência e a pureza, retomam a tática utilizada por mulheres argentinas na década de 70, para pedir informações sobre os seus filhos desaparecidos, as «Mães da Praça de Maio»,

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  • galardoadas com o Prémio Sakharov em 1992. Todos os domingos, as «Mulheres de Branco» vão à missa na Igreja de Santa Rita, desfilando depois pacificamente pela Quinta Avenida de Havana, de flores na mão, pedindo a libertação dos seus entes queridos e de todos os que se encontram arbitrariamente presos na ilha. Começaram por escrever cartas às autoridades cubanas, mas não obtiveram uma única resposta. Quando iniciaram as suas reivindicações, havia 47 anos que as mulheres de Cuba não saíam à rua para protestar contra detenções injustas.Apesar de ameaçadas e insultadas, as «Mulheres de Branco» continuam a defender os direitos dos presos políticos cubanos e a dignidade de todo o povo de Cuba. A sua reivindicação de justiça e o seu apelo à libertação imediata e incondicional de todos os presos políticos são proclamados por meios pacíficos. Unidas na angústia perante as condições deploráveis em que se encontram presos os seus entes queridos, as «Mulheres de Branco» pediram a solidariedade de todos os povos do mundo com a sua causa.O grupo escolheu cinco mulheres, Laura Pollán, Miriam Leiva, Berta Soler, Loyda Valdés e Julia Núñez, para receberem o prémio em nome das «Mulheres de Branco», na cerimónia do Parlamento Europeu, em Estrasburgo.As autoridades cubanas não autorizaram as representantes a saírem do país para receber o prémio em Estrasburgo. O movimento «Mulheres de Branco» foi, assim, representado por Blanca Reyes, uma das suas ativistas atualmente residente em Espanha. Entretanto, Laura Pollán, uma das fundadoras e representantes das «Mulheres de Branco», faleceu em outubro de 2011. De igual modo, as «Mulheres de Branco» não foram autorizadas a participar na conferência que assinalou o 20.º aniversário do Prémio Sakharov, em novembro de 2011. Até à data, o Prémio Sakharov não foi entregue às «Mulheres de Branco». O Parlamento Europeu continua a frisar o direito que às mesmas assiste de receberem o Prémio pessoalmente.

    2005 Hauwa IbrahimHauwa Ibrahim é uma advogada defensora dos Direitos Humanos, natural de Abuja, na Nigéria, e mãe de dois filhos. Nascida em 1968 numa aldeia pequena e pobre, filha de um mulá, Hauwa Ibrahim não parecia destinada a uma carreira de advogada. A vida já lhe estava traçada, devendo casar-se aos 12 anos e abandonar os estudos após o ensino básico. Porém, rebelou-se contra esse destino.Sendo uma das poucas advogadas que exercem no norte da Nigéria, a

    sua atividade levou-a até ao interior rural, onde apenas de camelo ou de burro é possível chegar às aldeias. Esse período é descrito como o melhor da sua vida, por lhe ter permitido reencontrar as suas próprias raízes.Hauwa Ibrahim tem uma consciência apurada sobre a importância da educação como forma de capacitar as mulheres e como a melhor defesa para os que enfrentam as maiores privações. A pobreza e o analfabetismo são inseparáveis e o fundamentalismo alimenta se da ignorância. Hauwa Ibrahim, que recebeu uma educação islâmica, é incansável na luta contra o fundamentalismo religioso. Hauwa Ibrahim criou o que pode ser considerado uma especialidade extraordinária: defender pessoas condenadas de acordo com a xariá islâmica, aplicada em doze estados do norte da Nigéria. As condenações à morte, embora não sejam presentemente executadas, continuam a ser pronunciadas. Desde 1999, Hauwa Ibrahim foi advogada de defesa, sem receber honorários, em 47 processos, muitos dos quais implicando mulheres acusadas de adultério e sujeitas à pena de morte por lapidação. Foi a sua capacidade para cativar a opinião pública internacional que tornou possível salvar as vidas de Amina Lawal, Safiya Hassain e Hafsatu Abubakar. Participou igualmente, de forma enérgica, noutros processos implicando penas cruéis e desumanas, como a condenação de mulheres à flagelação, ou de jovens à amputação por furto.Hauwa Ibrahim tornou-se um símbolo, mas o seu carisma incomoda alguns. Nos tribunais islâmicos está proibida de intervir. «Não comento o Alcorão», afirma. «O meu único objetivo é fazer respeitar os direitos fundamentais de cada ser humano, o Estado de Direito e o direito a um julgamento justo».Hauwa Ibrahim defendeu, com êxito, que a xariá impõe aos tribunais islâmicos o respeito dos direitos processuais e substantivos garantidos pela lei islâmica, bem como da Constituição da Nigéria e dos tratados internacionais sobre Direitos Humanos assinados pelo país. Atualmente, a causa de Hauwa Ibrahim já ultrapassou as fronteiras da Nigéria. Falta-lhe, todavia, ainda cumprir a missão mais difícil, a de fazer ouvir a sua voz no seu próprio país. Por ocasião da Conferência da Rede do Prémio Sakharov de 2011, Hauwa Ibrahim comentou desta forma a atribuição do Prémio à Primavera Árabe: «na minha opinião, a Primavera Árabe encarna o futuro. O futuro da Democracia, o futuro dos Direitos Humanos e da liberdade, e o futuro da dignidade do ser humano... Penso que se trata de um enorme reconhecimento de uma nova ordem mundial, uma nova ordem mundial cujo espaço já não é da pertença de uma minoria de privilegiados. Para ter o poder e manter o poder para sempre»

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    2005 Repórteres Sem Fronteiras Os «Repórteres Sem Fronteiras» desenvolvem uma campanha em favor da liberdade de imprensa no mundo, defendendo e apoiando jornalistas, e outros profissionais da comunicação social, vítimas de perseguição e de censura.Segundo essa organização, mais de um terço da população mundial vive em países onde não existe liberdade de imprensa.

    Em 2012, o barómetro da liberdade de imprensa dos Repórteres sem Fronteiras regista um total de 50 jornalistas mortos e 147 detidos no exercício da sua profissão ou por motivos respeitantes à mesma. Há já vinte anos que os Repórteres Sem Fronteiras lutam contra tais práticas.Os Repórteres Sem Fronteiras, em alerta constante através da sua rede de mais de 120 correspondentes, condenam veementemente todo e qualquer atentado à liberdade de imprensa em qualquer parte do mundo, mantendo o público a par dos casos registados através dos meios de comunicação e de campanhas de sensibilização. A organização não invoca apenas argumentos éticos contra as restrições à liberdade de imprensa, a censura e a perseguição da imprensa, oferece também assistência prática aos jornalistas que trabalham em zonas de guerra.Em janeiro de 2002, ao criar a Rede Dâmocles, os Repórteres Sem Fronteiras dotaram-se de uma ramificação legal. No sentido de assegurar o julgamento dos assassinos e de todos quantos infligem torturas a jornalistas, a rede faculta assistência jurídica às vítimas e representa-os perante os tribunais. As iniciativas da organização são levadas a cabo nos cinco continentes através das suas secções nacionais e gabinetes regionais, em estreita cooperação com organizações locais e regionais de defesa da liberdade de imprensa.Editado em várias línguas, o sítio Web dos Repórteres Sem Fronteiras contém informações diárias sobre os atentados à liberdade de imprensa perpetrados em todo o mundo e oferece a possibilidade de assinar petições em linha de apoio a jornalistas presos. Para contornar a censura, apresenta por vezes artigos proibidos no país de origem, alberga jornais encerrados no respetivo país e funciona como um fórum no qual os jornalistas silenciados pelas autoridades nacionais podem fazer ouvir a sua voz.A associação atribui todos os anos, no dia 10 de dezembro, o «Prémio Repórteres Sem Fronteiras – Fundação de França» a jornalistas que se tenham distinguido pela defesa da

    liberdade de imprensa no seu país. Em 2010, a organização lançou o seu Prémio Netizen, que distingue um cibernauta, um bloguista ou um ciberdissidente que tenha contribuído de forma notável para a defesa da liberdade de expressão em linha.

    2006 Alexander MilinkevichAlexander Milinkevich, nascido em 1947 na cidade de Hrodna, foi líder da oposição democrática na Bielorrússia.Em outubro de 2005, foi escolhido pela Oposição Democrática Unida como candidato comum às eleições presidenciais, depois de recolhidas mais de 100 000 assinaturas de apoio, tendo logrado manter a unidade da oposição bielorrussa durante a

    campanha para as eleições presidenciais de 19 de março de 2006, numa frente comum contra Alexander Lukashenko. Alexander Milinkevich exigiu um futuro verdadeiramente democrático para o seu país e apresentou-se como uma verdadeira alternativa ao autoritarismo de Lukashenko.A sua forma diplomática de negociar e as suas prudentes aparições em público contribuíram para granjear um forte apoio internacional à sua causa. A União Europeia avaliou os resultados das eleições como não sendo livres nem justos, para além de serem fraudulentos. Alexander Milinkevich recebeu oficialmente 6 % dos votos; porém, segundo informações não oficiais, o seu apoio popular era muito superior.A situação dos Direitos Humanos na Bielorrússia deteriorou-se na sequência das eleições de março de 2006, tendo as autoridades adotado uma lei que penaliza as atitudes consideradas como de crítica ao Estado. Prosseguem, até hoje, o silenciamento e prisão de jornalistas, ativistas e outros críticos, considerados politicamente inconvenientes pelo atual regime.Em abril de 2006, Alexander Milinkevich foi preso durante 15 dias, juntamente com outros membros da oposição, por ter participado num «comício não autorizado», uma manifestação pacífica em Minsk destinada a assinalar o 20.º aniversário da catástrofe de Chernobil. Num contexto político cada vez mais hostil, Alexander Milinkevich foi detido em várias ocasiões ao longo dos últimos anos, sem que tenham sido formuladas acusações contra si.Alexander Milinkevich mantém o seu empenhamento na luta por um futuro democrático

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    no seu país, bem como pela devolução ao povo bielorrusso dos direitos fundamentais, não obstante um clima político difícil. Em setembro de 2010, Alexander Milinkevich anunciou a sua decisão de não se candidatar às eleições presidenciais de 19 de dezembro de 2010, por considerar que a legislação eleitoral não foi alterada de modo a permitir a realização de eleições justas, livres e abertas na Bielorrússia.

    2007 Salih Mahmoud Mohamed Osman Salih Mahmoud Mohamed Osman é advogado e colabora com a Organização Sudanesa contra a Tortura (SOAT) para proporcionar representação jurídica gratuita às pessoas detidas arbitrariamente e torturadas pelo governo sudanês, cujo único crime consiste em se oporem às políticas do governo ou em

    partilharem a mesma etnia que os movimentos rebeldes do Darfur.Durante duas décadas, ao longo das várias guerras civis no Sudão, Salih Osman arriscou a vida para prestar assistência jurídica e ajuda médica às vítimas do conflito. Defende as causas dos acusados pelo Governo sudanês e, juntamente com a SOAT, tem conseguido anular ou reduzir condenações à morte. Salih Osman e a SOAT participaram também ativamente na repertoriação dos crimes perpetrados, sobretudo na região do Darfur, e lançaram uma campanha a fim de que a violação seja considerada um crime de guerra. Atualmente, Salih Osman está ativamente empenhado na proteção de mais de dois milhões de sudaneses que foram obrigados a abandonar as suas casas. Salih Osman pagou um elevado preço pelo seu combate contra a injustiça no Sudão. Alguns membros da sua família foram vítimas de represálias por parte das milícias, tendo o próprio Salih Osman sido perseguido pelas suas atividades, preso em diversas ocasiões, mantido em regime de incomunicabilidade e torturado.Salih Osman é, desde 2006, membro da oposição no Parlamento sudanês. Empenhado na reforma do sistema judiciário, concentra mais particularmente os seus esforços na promoção do Estado de Direito através da aplicação das disposições da Constituição provisória.

    2008 Hu Jia Hu Jia, nascido em 1973 em Pequim, é um eminente ativista dos Direitos Humanos e dissidente da República Popular da China. A sua ação consistiu sobretudo em exigir um inquérito oficial ao massacre de Tiananmen em 1989, defender os doentes com sida e chamar a atenção para os problemas ambientais.

    Em 2008, após se ter dirigido a deputados ao Parlamento Europeu via uma teleconferência durante uma reunião pública da Subcomissão dos Direitos do Homem e ter manifestado o seu desejo de que 2008 fosse o «ano dos Direitos Humanos na China», Hu Jia foi detido, acusado de «incitar à subversão do poder estatal». Em 3 de abril de 2008, foi condenado a uma pena de três anos e meio de prisão. Viria a ser libertado em junho de 2011, embora continue a sofrer de perseguições uma vez que os agentes de segurança estacionados no exterior da sua residência não lhe permitem sequer ir comprar alimentos. Além disso, a sua ligação à Internet foi cortada pouco depois de a sua mulher, Zeng Jinyan, se ter mudado para Hong Kong em setembro de 2012.Malgrado essas difíceis condições, Hu Jia continua a ser dissidente declarado e um advogado da mudança na China.

    2009 Memorial Oleg Orlov, Sergei Kovalev e Lyudmila Alexeyeva, em nome de Memorial e de todos os outros defensores dos Direitos Humanos na Rússia foram galardoados com o Prémio em 2009.Desde a sua fundação em 1988, a ONG russa Memorial tem vindo a reunir documentos, a acompanhar e a pugnar por repor a verdade sobre as violações dos Direitos Humanos na Rússia e

    noutras antigas repúblicas da URSS, tendo em vista assegurar lhes um futuro democrático.Memorial constituiu uma base de dados com mais de 1 300 000 nomes de pessoas perseguidas, tendo como objetivo criar um arquivo, acessível ao público, de documentação histórica sobre as consequências da repressão totalitária. Procedendo à investigação e protegendo refugiados e vítimas de discriminação e de repressão política, Memorial contribuiu para a aprovação da Lei sobre a reabilitação das vítimas da repressão política,

  • bem como para a decisão de instituir, a 30 de outubro, o Dia de Evocação das Vítimas da Repressão Política nos países da antiga URSS.Em 4 de dezembro de 2008, as autoridades russas confiscaram doze discos rígidos contendo a totalidade do arquivo digital dos crimes cometidos durante o período estalinista, reunido ao longo de vinte anos. Em 15 de julho de 2009, Natalia Estemirova, representante de Memorial em Grozny que investigava assassínios e raptos na Chechénia, foi raptada e assassinada. Apenas umas semanas mais tarde, em 10 de agosto de 2009, Zarema Sadulayeva e seu marido, defensores dos Direitos Humanos e colaboradores próximos de Memorial, foram mortos nas mesmas circunstâncias trágicas.Em 2009, o Prémio Sakharov foi atribuído a três pessoas, em nome de Memorial e dos numerosos defensores dos Direitos Humanos na Rússia: Oleg Orlov, Sergei Kovalev e Lyudmila Alexeyeva.Oleg Orlov, desde sempre defensor dos Direitos Humanos e atual presidente do Conselho de Memorial, foi condenado, em outubro de 2009, num processo civil por difamação, por ter acusado Ramzan Kadyrov, Presidente da Chechénia, de ser responsável pela morte de Natalia Estemirova. Em 31 de janeiro de 2010, Oleg Orlov e cerca de cem outras pessoas foram detidos em Moscovo, durante uma manifestação pacífica na Praça Triumfalnaya. Em setembro de 2010, o Parlamento manifestou a sua preocupação com o processo em curso contra Orlov pelo crime de difamação.Sergei Kovalev, cofundador de Memorial, é o atual presidente de Memorial da Rússia e fundador da primeira associação soviética de defesa dos Direitos Humanos, o Grupo de Iniciativa para a Defesa dos Direitos do Homem na URSS, em 1969.Lyudmila Alexeyeva, dirigente e cofundadora do Grupo Moscovo-Helsínquia, é conhecida por ter feito campanha a favor de um julgamento justo para os dissidentes presos e de uma cobertura objetiva desses processos pelos meios de comunicação. Desde 31 de agosto de 2009, Lyudmila Alexeyeva participa ativamente na Estratégia 31, o movimento de cidadania que se manifesta diante da Praça Triumfalnaya em Moscovo, reclamando a aplicação do artigo 31.º da Constituição russa, que garante a liberdade de reunião. À sua detenção durante um desses protestos reagiu prontamente o Presidente do Parlamento Europeu na época, Jerzy Buzek, apelando à libertação de Lyudmila Alexeyeva, então com 82 anos, e de outros ativistas russos dos Direitos Humanos

    2010 Guillermo FariñasDoutorado em Psicologia, jornalista independente e dissidente político em Cuba, Guillermo Fariñas levou a cabo mais de 20 greves de fome ao longo dos anos para protestar contra o regime cubano, com o objetivo de promover uma mudança política pacífica, a liberdade de opinião e a liberdade de expressão no seu país.Como jornalista, fundou a agência de notícias independente – a

    Cubanacán Press – com o objetivo de informar o resto do mundo sobre o destino dos prisioneiros políticos em Cuba. As autoridades acabaram por forçá-lo a encerrar a sua agência noticiosa.Adepto da não violência e ousando denunciar o regime cubano, Fariñas tornou-se um dos dissidentes mais conhecidos no seu país. A sua coragem foi distinguida com o Prémio Ciberliberdade da ONG Repórteres Sem Fronteiras em 2006.Em 8 de julho de 2010, Fariñas terminou uma greve de fome após o Governo cubano ter anunciado que se encontrava em curso o processo de libertação de 52 prisioneiros políticos. À época, Fariñas, que solicitava a libertação de prisioneiros políticos que tinham adoecido após muitos anos de detenção, recusava alimentos e líquidos há mais de 130 dias. Fariñas iniciara a greve de fome em fevereiro de 2010, após a morte controversa de Orlando Zapata Tamayo, um prisioneiro de consciência que falecera ao fim de 82 dias em consequência de uma greve de fome.O Parlamento Europeu tem expressado repetidamente a sua solidariedade para com todo o povo cubano e manifestado o seu apoio ao progresso no sentido da Democracia, do respeito e da promoção das liberdades fundamentais. Em Outubro de 2010, o então Presidente do Parlamento, Jerzy Buzek, afirmou que o protesto de Guillermo Fariñas mantém a esperança de todos os que valorizam a liberdade, os Direitos Humanos e a Democracia e solicitou a libertação imediata de todos os prisioneiros políticos em Cuba.Guillermo Fariñas não pôde participar na cerimónia de entrega do Prémio Sakharov de 2010 em Estrasburgo porque não foi autorizado a sair de Cuba. Em julho de 2012, foi detido por ocasião do funeral de outro dissidente cubano e vencedor do Prémio Sakharov, Oswaldo Payá, tendo sido libertado posteriormente.

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  • 2011 Mohamed bouazizi Mohamed Bouazizi tornou-se num símbolo para os tunisinos que lutavam pela Democracia e pela liberdade. Faleceu em 4 de janeiro de 2011 após imolar-se pelo fogo em sinal de protesto contra um sistema que o impedia de levar uma vida digna e sustentar a sua família. Tinha apenas 26 anos de idade. O seu ato de desespero despoletou a revolta e o seu nome

    passou a representar um símbolo porquanto os tunisinos acabariam por derrubar o regime vigente, pondo cobro a 23 anos de domínio do Presidente Zine El Abidine Ben Ali. Era a primeira revolução da Primavera Árabe.

    2011 Ali FerzatNascido em 1941, Ali Ferzat é um conhecido autor de sátira política de nacionalidade síria, que já publicou mais de 15 000 bandas desenhadas em jornais sírios e internacionais. Quando os sírios encetaram os protestos contra o regime de Bashar al Assad, as suas bandas desenhadas foram levadas para a rua. Em retaliação ao seu criticismo, foi violentamente agredido em

    público por um grupo de indivíduos encapuzados, que o deixaram quase morto nas ruas de Damasco. Ficou com ambas as mãos fraturadas, naquilo que os encapuzados apelidaram de aviso por ter desonrado os seus donos. Ali Ferzat não só recuperou o uso das mãos, como rompeu a barreira do medo ao tornar-se um dos mais acérrimos críticos do regime através das suas palavras e da sua arte. Não podendo assistir à cerimónia do Prémio Sakharov em 2011 por estar a receber tratamento das suas lesões corporais no Koweit, o prémio ser-lhe-ia entregue aquando da reunião anual da Rede do Prémio Sakharov, realizada nas instalações do Parlamento Europeu em outubro de 2012. Aproveitou o ensejo para debater a revolução em curso na Síria e o futuro da Democracia no seguimento do despertar árabe.

    2011 Asmaa MahfouzAsmaa Mahfouz, nascida em 1985, é uma jovem ativista egípcia que, em janeiro de 2011, desafiou a repressão do regime de Mubarak sobre os ativistas em linha ao difundir um vídeo de apelo em vários meios de comunicação da Internet, destinado aos egípcios para que reclamassem o respeito da sua liberdade, dignidade e Direitos Humanos através de um

    protesto pacífico na Praça Tahrir, em 25 de janeiro de 2011. O vídeo rapidamente se tornou viral, inspirando uma onda de vídeos semelhantes e tendo como consequência o ajuntamento de centenas de milhares de pessoas na Praça Tahrir para reclamar o fim do regime de 30 anos de Hosni Mubarak no Egito, o que viria a concretizar-se no dia 11 de fevereiro de 2011. Em 2008, Asmaa Mahfouz foi uma das cofundadoras do movimento «6 de abril», uma organização constituída por jovens egípcios e responsável pela coordenação