conferência educação ue

Upload: pedro-damiao

Post on 30-May-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    1/153

    Comunicaes

    Presidncia Portuguesa do Conselho da Unio EuropeiaConfernciaDesenvolvimento profissional de professores para aqualidade e para a equidade da Aprendizagem ao longo da VidaLisboa, Parque das Naes Pavilho Atlntico Sala Nnio27 - 28 de Setembro de 2007

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    2/153

    Unidos aprendemos

    Reforar a cooperao para a equidade e para a qualidade daAprendizagem ao longo da Vida.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    3/153

    Apresente publicao rene as comunicaes apresentadas naConerncia DesenvolvimentoProfssional de Proessores para a Qualidade e para a Equidade da Aprendizagem ao longo daVida, realizada em Lisboa (27 e 28 de Setembro de 2007)1 no quadro das iniciativas da PresidnciaPortuguesa do Conselho da Unio Europeia. A organizao da Conerncia, co-nanciada pela

    Comisso Europeia, esteve a cargo de: Ministrio da Educao (Direco-Geral dos Recursos Humanos da Educao)

    Comisso Europeia (Direco-Geral de Educao e Cultura).

    Com esta publicao espera-se possibilitar a continuidade da refexo aos participantes

    na Conerncia e disseminar o conhecimento das temticas a desenvolvidas a todos os

    interessados.

    A Organizao da Conerncia agradece a todas as pessoas que colaboraram para tornar possvel

    a realizao deste evento.

    1Exceptua-se a comunicao apresentada por Michael Schratz em que apenas possvel publicar o respectivo resumo.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    4/153

    Autor e Editor: Ministrio da Educao - Direco-Geral dos Recursos Humanos da EducaoDesign Grco: DMP - Viagens e urismo, LdaImpresso: Notiorma / ouch1 Edio - Junho 2008iragem: 1000 exemplaresDepsito Legal nISBN

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    5/153

    NDICE

    Sesso I - O desenvolvimento prossional de proessores e a estratgia de Lisboa

    Idalete Gonalves, Subdirectora-Geral, Direco-Geral dos Recursos Humanos da Educao.......................

    Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educao.......................................................................................

    Jn Figel, Comissrio Europeu Responsvel pela Educao, Formao, Cultura e Juventude........................

    Sesso II - Aprendizagem ao longo da vida e desenvolvimento prossional de proessores

    Percursos prossionais e aprendizagem ao longo da vida....................................................................................Antnio Nvoa, Universidade de Lisboa

    Um novo leque de competncias para enrentar novos desaos do ensino.............................................................Pavel Zgaga, Universidade de Liubliana

    Sesso III - Uma prosso docente refexiva

    Formao de proessores baseada na investigao e na prtica reexiva...............................................................

    Maria do Cu Roldo, Instituto Superior Politcnico de Santarm

    O Processo de Bolonha e o currculo da ormao de proessores.........................................................................Hannele Niemi, Universidade de Helsnquia

    Sesso IV - Formao de proessores centrada na escola

    O envolvimento das escolas e dos proessores na aprendizagem dos proessores: ao encontro de parceriase de comunidades aprendentes.........................................................................................................................Marco Snoek, Instituto de Educao de Amesterdo

    Mobilidade dos proessores e dos proessores estagirios: aprender em contextos de ensino transnacionais................Kari Smith, Universidade de Bergen

    Sesso V - Desenvolvimento prossional de proessores e desenvolvimento da escola

    Formao inicial de proessores em contexto de ensino: prticas polticas em Estados Membros da UEMembros da Rede Europeia de Politicas de Formao de Proessores (ENEP)

    11

    1

    17

    21

    29

    0

    1

    68

    82

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    6/153

    6

    Breve panorama geral sobre a Formao Inicial de Proessores na Alemanha.............................................Ursula Uzerli

    A prtica docente e o Mentoring nos novos Institutos Superiores de Pedagogia na ustria...........................Otmar Gassner

    A ormao Inicial de Proessores O caso de Chipre...............................................................................Athena Michaelidou

    Formao inicial de proessores em contexto pedaggico na Dinamarca.....................................................Nils-Georg Lundberg

    Formao inicial de proessores em contexto de ensino Eslovnia............................................................Cveta Razdevek-Puko

    A ormao inicial de proessores em contexto de ensino em Espanha.........................................................Josep Cervell e Emma Rodrguez Chamorro

    A ormao inicial de proessores em contexto de ensino Estnia.............................................................Eve Eisenschmidt

    Escolas de ormao de proessores Finlndia........................................................................................Armi Mikkola

    Formao inicial de proessores em contexto de ensino na Frana..............................................................Marilyne Rmer

    A ormao inicial de proessores em contexto de ensino nos Pases Baixos..................................................Febe Jansen

    Estrutura e natureza do mentoring & coaching dos proessores-estudantes no contexto da ormaoinicial de proessores Repblica Checa..................................................................................................Ji Smrka

    A ormao inicial de proessores em contexto de ensino na Romnia.........................................................

    Iuco Bumbu Romita

    Sobre a ormao inicial de proessores em contexto de ensino Sucia......................................................Myrna Smitt

    A induo e o desenvolvimento prossional do proessor: um projecto Estnio....................................................Eve Eisenschmidt, Universidade de alin

    Liderana e melhoria dos resultados escolares dos alunos: a Leadership Academy da ustria...............................Michael Schratz, Universidade de Innsbruck

    92

    96

    102

    10

    106

    109

    111

    11

    11

    116

    119

    120

    122

    12

    11

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    7/153

    7

    Sesso VI - Desenvolvimento prossional de proessores: desaos s polticas

    Relatrio Geral - Formao e desenvolvimento prossional dos proessores.........................................................

    Rui Canrio, Universidade de Lisboa

    Algumas notas nais.....................................................................................................................................Barbara Nolan, Chee da Unidade Educao e Ensino Superior,Direco-Geral de Educao e Cultura, Comisso Europeia

    1

    19

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    8/153

    8

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    9/153

    9

    Comunicaes

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    10/153

    10

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    11/153

    11

    Idalete GonalvesSubdirectora-Geral, Direco-Geral dos Recursos Humanos da Educao

    Boa tarde a todos!

    Em nome da Sra. Ministra da Educao, Maria de Lurdes Rodrigues e do Senhor Comissrio para aEducao, Formao, Cultura e Juventude, Jan Figel declaro aberta a conerncia Desenvolvimentoprossional dos proessores para a qualidade e equidade da aprendizagem ao longo da vida que oMinistrio da educao, no mbito da sua presidncia do Conselho da Unio Europeia, organizou,atravs da DGRHE, em estreita colaborao com a Comisso Europeia.

    Os trabalhos iniciar-se-o com a interveno da Sra. Ministra, seguida do senhor Comissrio,mas, antes de lhes dar a palavra gostaria de, na qualidade de membro da comisso organizadora,

    dar a todos as boas vindas a este evento e a alguns, tambm, as boas vindas a Lisboa e a Portugal.Permitam-me, ainda, ormular o desejo de que esta conerncia se constitua para todos ns comoum amplo espao de anlise, reexo e de debate sobre o tema da ormao de proessores em todasas suas valncias devidamente articuladas, da inicial contnua passando pela induo prticaprossional, e mais ainda, que dela surjam perspectivas para uturas prticas no domnio das polticasdo desenvolvimento prossional dos proessores nos dierentes estados membros, bem como para acooperao europeia neste mbito, ace ao teor da Comunicao sobre como melhorar a qualidadeda ormao de proessores, que a CE apresentou ao Conselho e ao parlamento no passado ms de

    Agosto e que ser o documento de reerncia da Conerncia e estar, permanentemente, em cimada mesa ao longo dos trabalhos.

    um objectivo ambicioso, mas no dicil, considerando o elevado nvel dos participantes quer

    eles sejam especialistas, decisores polticos, tcnicos ou outros parceiros que so parte interessadanesta matria.

    ermino relembrando o lema da nossa presidncia do conselho no mbito da educao, o qual seadapta, pereitamente, a esta circunstncia: Unidos aprendemos.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    12/153

    12

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    13/153

    1

    Maria de Lurdes RodriguesMinistra da Educao

    [1. Uma Europa mais competitiva e mais inclusiva]

    A Estratgia de Lisboa, lanada em 2000 pela anterior Presidncia portuguesa da Unio Europeia,procurou responder s mudanas contemporneas na economia e na sociedade. globalizao dastrocas econmicas, ao aumento da competitividade internacional e armao de uma economiade servios tecnologicamente avanada, a Unio Europeia respondeu em dois planos: o do reoroda sua capacidade de desenvolvimento e o da rearmao do modelo social europeu.A educao e a ormao so pilares centrais desse Estado de investimento social, instrumento

    poltico essencial na construo de um crculo virtuoso entre inovao e competitividade, por um

    lado, e coeso e incluso, por outro. No haver uma sociedade do conhecimento, inclusiva, coesae dinmica sem uma economia do conhecimento capaz de responder aos desaos presentes euturos da competitividade e da inovao. E no haver economia do conhecimento sem sistemaseducativos capazes de dotar os jovens de conhecimentos, saberes e competncias que os capacitem,enquanto adultos, para responder, colectiva e individualmente, aos desaos laborais, polticos eculturais. A Europa armou ento a importncia de o conjuntos dos pases organizarem sistemas de

    educao e de ormao de qualidade e adequados, na orma e no contedo, ao desao de garantira qualidade das aprendizagens bsicas e de massicar o ensino e a ormao nos nveis mais elevadosde qualicao, estendendo a todos a possibilidade de aprendizagem ao longo da vida.

    Qualidade, ecincia e equidade: ser talvez este o tringulo que organiza a ambio da Europa

    em matria de educao e de ormao no quadro da Estratgia de Lisboa.

    [2. O papel e o desempenho da escola para o cumprimento dos objectivos, e os desaos]

    A partir de 2000, oram estabelecidas metas ambiciosas e acordados mecanismos de monitorizaoe acompanhamento que permitisse identicar bloqueios ao cumprimento dos objectivos comuns,e que permitisse tambm a permanente actualizao da interveno poltica em cada pas e aidenticao do espao de interveno comum.

    Os sistemas educativos dos dierentes pases, nas suas vrias componentes, oram objecto, sobliderana da Comisso, de um vasto trabalho de diagnstico e de anlise dos problemas, bem comode desenho de estratgia global e de medidas polticas concretas, procurando apontar caminhospara a denio de polticas nacionais visando a concretizao dos objectivos denidos. Em virtudedeste esoro de monitorizao e reexo acerca do papel da escola e dos proessores, sabemoshoje mais, numa perspectiva comparada e integrada, sobre as possibilidades de interveno quepermitam retirar pleno partido dos recursos disponveis na rea da educao e da ormao.

    [3. As mudanas e as novas exigncias]

    O conjunto das reexes disponveis identica como um dos principais desaos intervenopoltica as mudanas induzidas pela globalizao que aectam as escolas e os proessores. Nestecontexto, destaco trs exigncias: em primeiro lugar, a exigncia do desenvolvimento de novas

    competncias na ormao dos alunos; em segundo lugar a exigncia de aprendizagem ao longo da

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    14/153

    1

    vida; nalmente, a exigncia de ormao para a participao social e poltica.odavia, considero que o grande desao continua a ser o da diversidade dos alunos. No sendo

    nova, a escala da questo aumentou muito, sobretudo em resultado da actualizao da ambio

    de proporcionar a todos mais elevados nveis de qualicao. s clssicas desigualdades sociais eeconmicas, juntam-se hoje, por vezes cumulativamente, a diversidade cultural, etria, lingustica,e de ritmos de aprendizagem dos alunos.

    E assim, apesar de todas as mudanas, dos desaos constantemente renovados e da permanenteactualizao das expectativas que os cidados tm sobre a escola, talvez seja importante sublinharque o grande desao dos sistemas educativos, em todos os pases da Unio Europeia, continua a sero mesmo: ensinar todas as crianas e jovens, independentemente da sua origem social, do seu ritmo,das suas motivaes, conerindo-lhes os conhecimentos e competncias que aam deles os cidadose prossionais do uturo.

    Hoje, em cada um dos nossos pases este esoro assume porm, uma dierena importante: oque est em causa ensinar a todas as crianas e jovens um corpo comum de conhecimentos e

    competncias, mas preparando-as para agirem escala europeia, num contexto global mais diversoe competitivo.[4. Mudanas concretas nas escolas e correspondentes mudanas nas prticas, nas competnciase no perl de ormao dos proessores]

    Consensual em todos os relatrios sobre os pases da Europa, tambm a percepo de que osdesaos da mudana requerem alteraes nas prticas, nas competncias e no perl de ormaodos proessores, bem como no modo como a escola se organiza e se relaciona com o meio em quese inscreve.

    Em primeiro lugar, mudanas de cariz tcnico-pedaggico, exigindo a introduo de novasmatrias nos currculos, em especial nos domnios das tecnologias da inormao e das lnguas, oprosseguimento da ormao ao longo da vida e maior ateno investigao cientca na ormaoinicial e contnua dos proessores.

    Em segundo lugar, mudanas de cariz organizacional, devido diversicao das responsabilidadese tareas a realizar na escola. Os proessores necessitam de aproundar as competncias de trabalhoem equipa e de participao no uncionamento dos rgos pedaggicos.

    Em terceiro lugar, as alteraes so tambm de cariz social, reconhecendo-se a necessidade de aescola colaborar com outros parceiros autarquias, pais, empresas, associaes vrias.

    [5. Programas/mecanismos de interveno europeus e nacionais]

    As mudanas necessrias exigem respostas polticas concretas. da responsabilidade das instituieseuropeias e nacionais adequar a ormao dos proessores e criar as oportunidades e disponibilizaros recursos que permitam melhorar a qualidade do seu desempenho.

    So vrios os instrumentos europeus que para isso contribuem.Em primeiro lugar, os que resultam das mudanas introduzidas pelo ratado de Bolonha, que

    permitem reorar as possibilidades de mobilidade, permitem melhorar a articulao entre aormao inicial e a ormao contnua, e por m, permitem reorar a componente cientca daormao de proessores.

    Em segundo lugar, os instrumentos de mobilidade de proessores no interior do espao europeu.Embora a mobilidade esteja ainda circunscrita a um grupo reduzido de docentes, as aces

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    15/153

    1

    Comenius e Erasmus, no quadro do programa Scrates, e o programa Leonardo Da Vinci tm sidoessenciais por permitirem aos proessores azerem uma parte da sua ormao num outro pas. Onovo Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida, lanado sob a presidncia alem, aumentar

    o apoio mobilidade dos proessores e aos projectos de cooperao entre instituies de ormao.Mobilidade deve ser sinnimo, neste contexto, de maior experincia, qualidade, e diversidade dasaprendizagens oerecidas no percurso ormativo e ao longo da vida. A responsabilidade pelas reas da educao e ormao cabe, como sabemos, aos Estados-

    -Membros ou aos Estados regionais que os constituem. Porm, o Mtodo Aberto de Coordenaoestimula a produo de reerenciais e de princpios orientadores das polticas nacionais e regionais. neste contexto que os Princpios Europeus Comuns para as Qualicaes e Competncias dosProessores podem ser mais um importante instrumento para a denio das polticas em cadaEstado-membro. Considero neste momento importante destacar a importncia de garantir quea prosso de proessor reconhecida, material e simbolicamente, como actividade altamentequalicada e socialmente indispensvel, no espao da Unio Europeia. Este reconhecimento

    essencial se queremos que esta seja uma prosso atractiva, evitando, no uturo prximo, umaescassez de recursos humanos docentes.

    [6. O papel da Comisso]

    De entre os inmeros esoros que a Comisso Europeia tem realizado para mapear e analisaros problemas, particularmente importante a Comunicao sobre a qualidade da ormao deproessores, apresentada no passado ms de Agosto; a Presidncia Portuguesa vai submeter aoConselho (Educao) da Unio Europeia Concluses neste mbito. As concluses permitiro, embreve, a construo de um quadro de reerncia das qualicaes e competncias dos proessores,

    e uncionar como um instrumento central para a promoo do seu desempenho prossional,contribuindo para a melhoria dos ndices de qualidade, equidade e ecincia dos processos deensino e aprendizagem na educao bsica e no ensino secundrio, geral e vocacional. Esperoque este seja um instrumento nuclear de trabalho, e que a conerncia que hoje se inicia permitadiscutir algumas das implicaes daquela proposta. O debate pblico sobre esta questo interessaparticularmente aos proessores, e a sua experincia deve enriquecer a discusso. Mas este debatediz respeito tambm a outros actores directamente interessados na educao, bem como sociedadeem geral. E entre os legtimos interesses dos prossionais e o no menos legtimo interesse pblico, necessrio encontrar um equilbrio.

    Relembro para concluir que, o que est em causa, na rea da ormao dos proessores, o prpriocumprimento do programa Educao e Formao 2010 e da Estratgia de Lisboa. , por outras

    palavras, do uturo da Europa, enquanto espao economicamente mais competitivo e socialmentemais coeso, que estamos a alar.

    Muito Obrigada pela vossa atenoDesejo a todos um bom dia de trabalho.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    16/153

    16

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    17/153

    17

    Jn FigelComissrio Europeu Responsvel

    pela Educao, Formao, Cultura e Juventude

    Senhora Ministra,Senhoras e Senhores, para mim um grande prazer estar hoje aqui convosco.Creio que uma Educao e uma Formao da mais alta qualidade so a chave para habilitar todos

    os nossos cidados a uma vida realizada e activa.A Educao e a Formao desempenham igualmente um papel crucial para que a Unio Europeia

    alcance as suas ambiciosas metas, estabelecidas aqui, em Lisboa, h alguns anos atrs., portanto, com satisao que reconheo os esoros que o Governo portugus tem eito pela

    Educao e Formao, durante a sua Presidncia da Unio.Gostaria de agradecer particularmente Presidncia Portuguesa a organizao desta conernciasobre o Desenvolvimento Prossional de Proessores.Algum um dia armou: Para se ser um proessor tem de se ser um proetaporque se est a

    tentar preparar pessoas para um mundo uturo daqui a trinta ou cinquenta anos Penso que esta rase engloba o desao do ensino dos nossos dias, em que as nossas sociedades, as

    nossas economias, os nossos locais de trabalho e at as nossas casas sorem mudanas to rpidas.H uma gerao, ainda era possvel prever com razovel exactido uma grande parte do

    conhecimento e das skillsque os alunos das escolas iriam necessitar para o resto das suas vidas. Masesse j no o caso.

    Os jovens j no podem ter expectativas de passar o resto da sua vida no mesmo emprego ou at

    no mesmo sector prossional.Os seus percursos prossionais transormar-se-o de maneiras que ningum poder prever sequer.

    Os empregos que eles tero no uturo podero at ainda nem existir hoje; e os conhecimentos queesses empregos exigiro podero ainda nem ser ensinados sequer.

    Este ambiente de mudana tem vrias implicaes:Em primeiro lugar, signica que ns precisamos de ajudar os jovens a desenvolver skillstransversais

    e transerveis que possam adaptar e aplicar em situaes de mudana.Foi por esta razo que os Estados-membros da Unio Europeia, em Dezembro, adoptaram a

    minha proposta para um Quadro de Reerncia Europeu para as Competncias-Chave para aAprendizagem ao longo da Vida, o qual descreve as oito reas-chave do conhecimento e das skills

    que acreditamos todos os cidados necessitarem para participarem de orma plena na Sociedade doConhecimento.Em segundo lugar, isto signica que precisamos de repensar o papel da escola: at que ponto

    podem as escolas, de acto, enrentar os desaos do sculo XXI?Por esta mesma razo, lancei uma consulta pblica sobre o uturo da escola uma questo que sei

    que ser debatida noutra conerncia a realizar aqui ainda este ano.E, em terceiro lugar, isto signica que teremos de identicar novas ormas de ajudar a nossa

    prosso docente a proporcionar o tipo de ensino que exigido pelos nossos jovens, os nossosempregadores e a nossa sociedade.

    Portanto, Proessora Rodrigues, a vossa conerncia no poderia ter surgido em momento maisoportuno. Acredito que o modo como ormamos e apoiamos os nossos proessores de importncia

    vital para o uturo da Unio. Por esta mesma razo, a Comisso publicou recentemente a comunicao

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    18/153

    18

    Improving the Quality o eacher Education.

    Gostaria de dispensar alguns momentos para vos explicar como que a Comisso Europeia

    encara esta situao, e quais os principais desaos que prevemos ter de enrentar.

    ***Penso que, por vezes, esquecemo-nos da importncia e da complexidade do papel que

    esperamos que os nossos proessores desempenhem na nossa sociedade.Pedimos aos proessores que preparem os nossos jovens para serem os cidados de amanh; que

    os ajudem a desenvolver os seus talentos; que os ajudem a realizar o seu potencial de crescimentopessoal e de bem-estar; e que os ajudem a adquirir um leque complexo de conhecimentos e de skillsde que necessitaro enquanto cidados e enquanto trabalhadores.

    Essa uma tarea de grandes dimenses!ambm esperamos que os proessores estejam aptos a utilizar as ltimas tecnologias; que se

    mantenham a par dos ltimos desenvolvimentos nas disciplinas da sua especialidade e em pedagogia;que sejam acilitadores e gestores da sala de aula.

    Para alm disso, em muitos Estados-membros, as turmas integram actualmente e mais do quenunca antes, uma mistura heterognea de jovens: alunos provenientes de dierentes contextossociais, de dierentes culturas, de dierentes nveis de aptido e de inaptido, e por vezes alunos dedierentes lnguas maternas e contextos culturais.Ainda assim, sabemos tambm que, mesmo nessas circunstncias, o ensino deve ser da mais alta

    qualidade possvel.Quando os investigadores analisaram todos os actores que podem inuenciar o desempenho dos

    alunos, chegaram concluso de que a qualidade do proessor o mais importante de todos.

    Penso que concordaro comigo quando armo que precisamos de assegurar que os nossos seismilhes de proessores obtenham no s a ormao inicial, mas tambm uma ormao e umapoio contnuos no decurso das suas carreiras, de orma a torn-los aptos a desempenhar essastareas to exigentes.Ainda assim, h indubitavelmente espao para uma melhoria.Sabemos que em muitos pases h uma alta crescente de skills docentes, e esses pases tm

    diculdades em actualizar as skillsdos seus proessores.Sabemos que, comparativamente a outras prosses, o ensino possui uma proporo elevada

    de pessoal mais velho; em alguns pases, mais de 0% dos proessores esto na aixa etria dos aos 6. Isto signica que corremos o risco de perder experincias muito valiosas quando estesproessores se reormarem.

    Sabemos que as skillsdos proessores precisam de ser continuamente actualizadas, no obstante,apenas onze dos nossos Estados-membros instituram como obrigatria a ormao contnua emesmo nestes casos, apenas com a durao de trs dias por ano.

    Sabemos tambm que os proessores no incio das suas carreiras so, muitas vezes, desencorajadospela diculdade das tareas que tm de assumir e optam por vezes por mudar de prosso; porm,apenas metade dos Estados-membros dispe de proessores recentemente qualicados e estruturasde apoio sistemtico ou de ormao durante os primeiros anos de prosso docente.

    Claro que isto apenas um retrato. Obviamente, h outros exemplos, que alis se distinguem, deoertas muito boas para a ormao de proessores em alguns pases e regies.

    Contudo, a Comisso acredita que, no conjunto da Europa, a situao no sustentvel a longo prazo.Precisamos de implantar sistemas bastante mais ecazes de ormao de proessores ao longo da vida.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    19/153

    19

    Os sistemas de educao e ormao so, obviamente, da responsabilidade dos Estados-membros.Porm, o nosso trabalho com os peritos nacionais no decorrer dos ltimos anos convenceu-nos deque muitos destes pases enrentam os mesmos desaos no momento em que tentam apereioar

    os seus sistemas de ormao de proessores. Se trabalharmos em conjunto, podemos encontrarabordagens e solues comuns.De acto, as propostas que apresentamos na nossa comunicao so em grande parte baseadas

    nos conselhos que recebemos dos ormadores de proessores, dos decisores polticos e de partesinteressadas a nvel europeu.

    Senhoras e Senhores: A nossa comunicao prope um conjunto de propostas para melhorar a qualidade da nossa

    ormao de proessores.Gostaria de vos salientar aquelas que eu considero undamentais:Primeiro: a ormao inicial de proessores tem de ser da mais alta qualidade; tem de ornecer

    aos proessores um conhecimento slido sobre pedagogia assim como sobre a disciplina da suaespecialidade; tem de englobar nas salas de aula, no s a teoria, mas tambm a prtica.

    Sabe-se que vrios Estados-membros exigem actualmente aos seus proessores um grau demestrado e estes so com requncia os pases que apresentam um bom desempenho nas avaliaesinternacionais.

    endo em considerao a complexidade que a prosso docente nos apresenta actualmente e aselevadas exigncias com que se deparam, estou certo que muitos pases esto actualmente a reectirsobre se esta uma abordagem que merece a pena contemplar.

    Segundo: como reeri anteriormente, o mundo est em rpida mudana. As skillse os conhecimentosque os nossos jovens precisam esto em permanente evoluo. Os desenvolvimentos da investigao

    educacional precisam de ser assimilados e os proessores precisam de manter actualizadas ascompetncias que possuem nas disciplinas da sua especialidade.A concluso lgica de tudo isto que a ormao inicial de proessores nunca poder ser suciente

    para sustentar um proessor durante uma carreira que tem a durao de 0 ou 0 anos. Paraos proessores, e particularmente para eles, a prtica da aprendizagem ao longo da vida umanecessidade absoluta.

    erceiro: deduz-se a partir daqui que uma abordagem sem um plano estratgico insuciente. Amensagem clara que recebemos das partes interessadas que se, de acto, temos a inteno sria demanter actualizadas as skillsdos nossos proessores, a oerta para a ormao e para o desenvolvimentocontnuo de proessores precisa de ser coordenada por um sistema nico e coerente, de nvel nacional,e precisa de ser nanciada de orma apropriada.

    Quarto: o ensino uma prosso, e tal como sucede com os membros de qualquer outra prosso,deveremos esperar que os proessores assumam o seu papel no desenvolvimento de uma cultura e devalores prossionais e que expandam os limites do seu conhecimento prossional.

    H margem para uma colaborao muito mais ntima entre as instituies de ormao de proessorese os proessores na sala de aula, de orma a permitir que estes prossionais possam usuruir dos ltimosresultados das investigaes e que os contedos que so ensinados nas instituies de ormao deproessores possam basear-se naquilo que, de acto, se passa na realidade das salas de aula.

    Isto signica tambm que precisamos de encorajar todos os nossos docentes a adoptar uma culturade reexo que , alis, j praticada pelos proessores mais ecazes. Precisamos de proessores quepossam avaliar a eccia de cada aula que leccionam e que possam aprender quer com os seussucessos quer com os racassos.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    20/153

    20

    Senhoras e Senhores: crena minha que o desempenho dos proessores ser melhorado, que a satisao dos proessores

    com o seu trabalho ser maior e que os proessores sero encorajados a permanecer na prosso

    por mais tempo caso tenham acesso a um sistema de educao e ormao com plenos recursos,coerente e atractivo e ao apoio sistemtico desde o incio ao m das suas carreiras.enho conscincia, a partir dos nossos debates com peritos, que estas questes so preocupaes

    comuns.Os Estados-membros lidam com problemas muito semelhantes nos momentos em que tentam

    equipar a sua ora de trabalho docente para um ensino de jovens da mais alta qualidade. por esta razo que sentimos que um debate sobre os proessores da maior utilidade,

    particularmente para disseminar as boas prticas de todos os nossos Estados-membros.Gostaria de terminar a minha interveno com uma reexo que deriva antes de mais do acto de

    eu ser pai de quatro lhos: no nos devemos esquecer que as nossas crianas so a nossa esperana,o melhor patrimnio que temos para o uturo da Europa. Se os queremos equipar com os melhores

    valores humanos, skillse competncias, precisamos de uma educao do mais alto nvel; e educaono requer apenas meios materiais, como edicios e livros, mas antes de mais, proessores capazes,motivados, bem ormados e respeitados.

    No nos esqueamos disto e trabalhemos em conjunto com o objectivo de omentar esta acetacrucial da educao.

    Muito obrigado.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    21/153

    21

    O regresso dos proessores

    Antnio NvoaUniversidade de Lisboa

    Estamos a assistir, nos ltimos anos, a um regresso dos proessores ribalta, depois de quasequarenta anos de relativa invisibilidade. certo que a sua importncia nunca esteve em causa,mas os olhares viraram-se para outros problemas e preocupaes: nos anos 70, oi o tempo daracionalizao do ensino, da pedagogia por objectivos, do esoro para prever, planicar, controlar;depois, nos anos 80, assistimos a grandes reormas educativas, centradas na estrutura dos sistemasescolares e, muito particularmente, na engenharia do currculo; nos anos 90, dedicou-se umaateno especial s organizaes escolares, ao seu uncionamento, administrao e gesto.

    Perto do nal do sculo XX, importantes estudos internacionais, comparados, alertaram para oproblema das aprendizagens. Learning matters. Registe-se, pela sua diuso e impacto em todo omundo, o PISA (Programme or International Student Assessment) desenvolvido pela OCDE apartir de 1997.

    Quando se ala de aprendizagens, ala-se, inevitavelmente, de proessores. Um relatrio publicadopela OCDE em 200 eachers matter abre com a reerncia a uma nova preocupao sociale poltica que inscreve as questes relacionadas com a prosso docente como uma das grandesprioridades das polticas nacionais1.

    Paralelamente a estes estudos comparados, de grande diuso mundial, duas outras realidades seimpuseram como temas obrigatrios de reexo e de interveno no campo da educao.

    Por um lado, as questes da diversidade, nas suas mltiplas acetas, que abriram caminho para umaredenio das prticas de incluso social e de integrao escolar. A construo de novas pedagogiase mtodos de trabalho ps denitivamente em causa a ideia de um modelo escolar nico (Te onebest system, para recorrer expresso consagrada de David yack2).

    Por outro lado, os desaos colocados pelas novas tecnologias que tm revolucionado o dia-a-dia das sociedades e das escolas. Mas, como escreve Olga Pombo, se certo que o discursodo proessor, enquanto meio de comunicao, no detm a velocidade da luz que caracteriza atecnologia ciberntica, igualmente um acto que a sua voz e a instantaneidade da sua audibilidadena clareira comunicativa que o espao da aula, a poliormia das diversas linguagens de que se serve,a temperatura do olhar, a postura corporal, os gestos, a entoao, o ritmo da ala, azem dele o meioprivilegiado e incontornvel de qualquer ensino.

    Os proessores reaparecem, neste incio do sculo XXI, como elementos insubstituveis nos na promoo da aprendizagem, mas tambm no desenvolvimento de processos de integraoque respondam aos desaos da diversidade e de mtodos apropriados de utilizao das novastecnologias.

    este o pano de undo da minha interveno: o regresso dos proessores ao centro das nossaspreocupaes e das nossas polticas. Aps esta introduo, dar-vos-ei uma boa notcia (primeira parte) e depois uma m notcia

    (segunda parte). E ser sobre esta m notcia que incidirei as minhas reexes, adoptando umtom propositadamente polmico, e at talvez excessivo, com o propsito de tornar mais ntidas asminhas posies, suscitando um debate que me parece inadivel.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    22/153

    22

    Primeira Parte Uma Boa NotciaEstamos de acordo quanto ao que preciso azer

    Vamos ento, em primeiro lugar, boa notcia: estamos quase todos de acordo quanto aosgrandes princpios e at quanto s medidas que necessrio tomar para assegurar o Desenvolvimentoprossional dos proessores para a qualidade e para a equidade da aprendizagem ao longo da vida, temadesta Conerncia.

    Para preparar esta interveno recolhi a mais variada documentao: relatrios internacionais,artigos cientcos, discursos polticos, documentos sobre a ormao de proessores, livros e tesesde doutoramento, etc. Ao reler, em poucos dias, este conjunto dspar de materiais, produzidos pelasmais diversas instncias, percebe-se a utilizao recorrente dos mesmos conceitos e linguagens, dasmesmas maneiras de alar e de pensar os problemas da prosso docente.

    Estamos perante uma espcie de consenso discursivo, bastante redundante e palavroso, que semultiplica em reerncias ao desenvolvimento prossional dos proessores, articulao da

    ormao inicial, induo e ormao em servio numa perspectiva de aprendizagem ao longo davida, ateno aos primeiros anos de exerccio prossional e insero dos jovens proessores nasescolas, ideia do proessor reexivo e de uma ormao de proessores baseada na investigao,s novas competncias dos proessores do sculo XXI, importncia das culturas colaborativas, dotrabalho em equipa, do acompanhamento, da superviso e da avaliao dos proessores e assimpor diante.

    udo isto az parte de um discurso que se tornou dominante e para o qual todos contribumos.No estamos apenas a alar de palavras, mas tambm das prticas e das polticas que elas transportame sugerem.

    Dois grandes grupos contriburam para diundir e vulgarizar este discurso, aqui entendido no

    sentido que lhe atribudo por Cleo Cherryholmes de discurso-prtica: a intertextualidade dosdiscursos e das prticas que constitui e estrutura os nossos mundos social e educacional .Em primeiro lugar, o grupo que designamos habitualmente por comunidade da ormao

    de proessores e que inclui investigadores das reas disciplinares, das cincias da educao edas didcticas, grupos de trabalho e responsveis institucionais. Nos ltimos quinze anos, estacomunidade produziu um conjunto impressionante de textos, que tem como marca o conceitode proessor reexivo, concretizando uma viragem no pensamento sobre os proessores e a suaormao6.

    O segundo grupo composto pelos especialistas internacionais que actuam como consultoresou que esto integrados nas grandes organizaes internacionais (OCDE, Unesco, UnioEuropeia, etc.). Apesar da sua heterogeneidade, eles criaram e diundiram, no plano mundial,

    prticas discursivas ortemente aliceradas em argumentos comparados. A sua legitimidade unda-se sobretudo no conhecimento das redes internacionais e dos dados comparados e no tanto nodomnio terico de uma rea cientca ou prossional7.

    Estes dois grupos, mais do que os prprios proessores, contriburam para renovar os estudos sobrea prosso docente. Ao azer esta armao, no posso deixar de recordar o aviso premonitriode David Labaree: os discursos sobre a prossionalizao dos proessores so uma estratgia dosespecialistas, sobretudo dos ormadores de proessores e dos investigadores em educao, paramelhorar o seu estatuto e o seu prestgio no seio da universidade8.

    importante perceber um paradoxo que est na origem de contradies importantes na histriada prosso docente: a inao retrica sobre a misso dos proessores implica dar-lhes uma maiorvisibilidade social, o que reora o seu prestgio, mas provoca tambm controlos estatais e cientcos

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    23/153

    2

    mais apertados, conduzindo assim a uma desvalorizao das suas competncias prprias e da suaautonomia prossional9.

    Esta realidade est na origem da m notcia que tenho para partilhar convosco: o excesso dos

    discursos esconde uma grande pobreza das prticas. Dito de outro modo: temos um discursocoerente, em muitos aspectos consensual, estamos de acordo quanto ao que preciso azer, masraramente temos conseguido azer aquilo que dizemos que preciso azer.

    Segunda Parte Uma M NotciaRaramente temos conseguido azer aquilo que dizemos que preciso azer

    Na segunda parte desta comunicao interrogar-me-ei sobre as razes desta m notcia e, deseguida, procurarei identicar algumas medidas que, na minha opinio, necessrio empreender.

    Quais so as razes desta m notcia? No muito dicil responder a esta pergunta. Nosltimos anos, houve uma expanso sem precedentes da comunidade da ormao de proessores, em

    particular dos departamentos universitrios na rea da Educao, dos especialistas internacionaise tambm da indstria do ensino, com os seus produtos tradicionais (livros escolares, materiaisdidcticos, etc.) acompanhados agora de uma panplia de tecnologias educativas.

    Nestas trs eseras de aco produziu-se uma inao discursiva sobre os proessores. Mas eles nooram os principais autores destes discursos e, num certo sentido, viram o seu territrio ocupadopor outros grupos. Devemos ter conscincia deste problema se quisermos compreender as razesque tm dicultado a concretizao, na prtica, de ideias e discursos to bvios e consensuais.

    Deixem-me alar, por mais estranho que isso vos possa parecer, de um dirio escolarredigido nosanos trinta10. Um proessor primrio que exercia unes em rs-os-Montes, no Norte de Portugal,Dionsio das Dores Gonalves, deixou-nos registos da sua actividade docente, com reexes sobre as

    aulas, os alunos e as comunidades, mapas e materiais didcticos, exerccios escolares, apontamentosdiversos, em cadernos cuidadosamente escritos ao longo dos anos. Ao percorrer estas pginas vem-nos memria, quase de imediato, a rase de Miguel orga: O universal, o local menos osmuros11.

    Isolado, no Portugal rural dos anos trinta, o proessor Dionsio das Dores Gonalves exerciao seu ocio com grande autonomia prossional, centrando o seu trabalho nas aprendizagens,preocupando-se com o comportamento pessoal e social de cada aluno e, acima de tudo, procurandoreectir de modo sistemtico sobre as suas prticas pedaggicas. As perguntas, provocatrias, surgeminevitavelmente: Ser que no estamos perante um proessor reexivo muito antes de os proessoresreexivos se terem tornado moda nos nossos discursos? E ser que muitos dos proessores de hojeno so bem menos reexivos (por alta de tempo, por alta de condies, por excesso de material

    pronto-a-vestir, por deslegitimao ace aos universitrios e aos peritos) do que este proessor dosanos trinta?

    Esta reerncia ao passado pode ser encarada como um eeito de distanciao, maneira deBrecht. No pretendo insinuar qualquer analogia, anacrnica, com o presente. Mas apenas sugerir anecessidade de adoptar pontos de vista que no se limitem a reproduzir, acriticamente, os discursosda evidncia. No conseguiremos evitar a pobreza das prticas se no tivermos polticas quereorcem os proessores, os seus saberes e os seus campos de actuao, que valorizem as culturasdocentes, que no transormem os proessores numa prosso dominada pelos universitrios, pelosperitos ou pela indstria do ensino.

    Isto que vos digo, com esta simplicidade, deveria constituir a matriz para pensar as polticaseducativas e os modos de organizao do campo prossional docente. Assim sendo, o que ser

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    24/153

    2

    necessrio azer? alvez seja possvel assinalar trs medidas, que esto longe de esgotar as respostaspossveis, mas que podem ajudar a superar muitos dos dilemas actuais.

    Primeira medida preciso passar a ormao de proessores para dentro da prosso

    A rase que escolhi para subttulo preciso passar a ormao de proessores para dentro daprosso soa de modo estranho. Ao recorrer a esta expresso, quero sublinhar a necessidade deos proessores terem um lugar predominante na ormao dos seus pares. No haver nenhumamudana signicativa se a comunidade dos ormadores de proessores e a comunidade dosproessores no se tornarem mais permeveis e imbricadas. O exemplo dos mdicos e dos hospitaisescolares e o modo como a sua preparao est concebida nas ases de ormao inicial, de induoe de ormao em servio talvez nos possa servir de inspirao.A este propsito, merecem reerncia os estudos de Lee Shulman, designadamente um apontamento

    brilhante que escreveu recentemente, intitulado Uma proposta imodesta12.Lee Shulman explica que um dia acompanhou a rotina diria de um grupo de estudantes e

    proessores mdicos num hospital escolar. O grupo observou sete doentes, estudando cada casocomo uma lio. Havia um relatrio sobre o paciente, uma anlise da situao, uma reexoconjunta, um diagnstico e uma terapia. No nal, o mdico responsvel discutiu com os internos(alunos mais avanados) a orma como tinha decorrido a visita e os aspectos a corrigir. De seguida,realizou-se um seminrio didctico sobre a uno pulmonar. O dia terminou com um debate,mais alargado, sobre a realidade do hospital e sobre as mudanas organizacionais a introduzirpara garantir a qualidade dos cuidados. Lee Shulman escreve que viu uma instituio reectircolectivamente sobre o seu trabalho, mobilizando conhecimentos, vontades e competncias. Earma que este modelo constitui no s um importante processo pedaggico, mas tambm umexemplo de responsabilidade e de compromisso. Neste hospital, a reexo partilhada no umamera palavra. Ningum se resigna com o insucesso. H um envolvimento real na melhoria e namudana das prticas hospitalares.

    Pela minha parte, advogo um sistema semelhante para a ormao de proessores: estudoaproundado de cada caso, sobretudo dos casos de insucesso escolar; anlise colectiva das prticaspedaggicas; obstinao e persistncia prossional para responder s necessidades e anseios dosalunos; compromisso social e vontade de mudana.

    Na verdade, no possvel escrever textos atrs de textos sobre a praxise o practicum, sobre aphronesise a prudentia como reerncias do saber docente, sobre os proessores reexivos, se noconcretizarmos uma maior presena da prosso na ormao.

    importante assegurar que a riqueza, a complexidade e a beleza do ensino saiam do armrio,como pretende Lee Shulman, adquirindo a mesma visibilidade de outros campos de trabalhoacadmico e criativo1. E, ao mesmo tempo, essencial reorar dispositivos e prticas de ormaode proessores baseados na investigao.

    Estas propostas no podem ser meras declaraes retricas. Elas s azem sentido se oremconstrudas dentro da prosso, se orem apropriadas a partir de uma reexo dos proessoressobre o seu prprio trabalho. Enquanto orem apenas injunes do exterior, sero bem pobres asmudanas que tero lugar no interior do campo prossional docente.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    25/153

    2

    Segunda medida preciso promover novos modelos de organizao da prosso

    A segunda medida que vos proponho aponta para a necessidade de promover novos modelos deorganizao da prosso. Grande parte dos discursos torna-se irrealizvel se a prosso continuarmarcada por ortes tradies individualistas ou por rgidas regulaes externas, designadamenteburocrticas, que se tm acentuado nos ltimos anos. Este paradoxo bem conhecido doshistoriadores: quanto mais se ala da autonomia dos proessores mais a sua aco controlada,por instncias diversas, conduzindo a uma diminuio das suas margens de liberdade e deindependncia.A colegialidade, a partilha e as culturas colaborativas no se impem por via administrativa ou

    por deciso superior. Mas o exemplo de outras prosses, como os mdicos, os engenheiros ouos arquitectos, pode inspirar os proessores. O modo como construram parcerias entre o mundoprossional e o mundo universitrio, como criaram ormas de integrao dos mais jovens, como

    concederam uma grande centralidade aos prossionais mais prestigiados ou como se predispuseram aprestar contas pblicas do seu trabalho so exemplos para os quais vale a pena olhar com ateno.

    No possvel preencher o osso entre os discursos e as prticas se no houver um campoprossional autnomo, sucientemente rico e aberto. Hoje, num tempo to carregado de reernciasao trabalho cooperativo dos proessores, surpreendente a ragilidade dos movimentos pedaggicosque desempenharam ao longo das dcadas um papel central na inovao educacional. Estesmovimentos, tantas vezes baseados em redes inormais e associativas, so espaos insubstituveis nodesenvolvimento prossional dos proessores.

    Pat Hutchings e Mary aylor Huber tm razo quando reerem a importncia de reorar ascomunidades de prtica, isto , um espao conceptual construdo por grupos de educadores

    comprometidos com a pesquisa e a inovao, no qual se discutem ideias sobre o ensino e aprendizageme se elaboram perspectivas comuns sobre os desaos da ormao pessoal, prossional e cvica dosalunos1.Atravs dos movimentos pedaggicos ou das comunidades de prtica, reora-se um sentimento

    de pertena e de identidade prossional que essencial para que os proessores se apropriem dosprocessos de mudana e os transormem em prticas concretas de interveno.

    Mas nada ser eito se no se alterarem as condies existentes nas escolas e as polticas pblicasem relao aos proessores. intil apelar reexo se no houver uma organizao das escolas quea acilite. intil reivindicar uma ormao mtua, inter-pares, colaborativa, se a denio dascarreiras docentes no or coerente com este propsito. intil propor uma qualicao baseada nainvestigao e parcerias entre escolas e instituies universitrias se os normativos legais persistirem

    em dicultar esta aproximao. Numa palavra, no vale a pena repetir intenes que no tenhamuma traduo concreta em aces e compromissos polticos.

    Terceira medida preciso reorar a presena pessoal e pblica dos proessores

    O documento da OCDE citado no incio desta interveno, eachers matter, chama a ateno para oseguinte: As questes levantadas neste relatrio tocam no mago do trabalho e das carreiras dos proessores.O sucesso de qualquer reorma depende do envolvimento activo dos proessores no seu desenvolvimento econcretizao. Se os proessores no participarem activamente e no sentirem que a reorma tambm lhespertence praticamente impossvel que qualquer mudana venha a ter sucesso 1.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    26/153

    26

    Esta concluso do estudo da OCDE constitui uma boa introduo terceira medida que tencionopartilhar convosco: a necessidade de reorar a presena pessoal e pblica dos proessores.

    Em 198, Ada Abraham escreveu esse belo livro, Lenseignant est une personne, que se tornou

    um smbolo de diversas correntes de investigao sobre os proessores16

    . Mas, apesar dos enormesavanos neste domnio, preciso reconhecer que alta ainda elaborar aquilo que tenho designadopor uma teoria da pessoalidade que se inscreve no interior de uma teoria da prossionalidade. rata-se de elaborar um conhecimento pessoal (um auto-conhecimento) no interior do conhecimentoprossional e de captar o sentido de uma prosso que no cabe apenas numa matriz tcnica oucientca. oca-se aqui em qualquer coisa de indenvel, que est no cerne da identidade prossionaldocente.

    Este esoro conceptual decisivo para se compreender a especicidade da prosso docente,mas tambm para que se construam percursos signicativos de aprendizagem ao longo da vida.Recordo o mestre Bertrand Schwartz, em texto escrito h quarenta anos17: a Educao Permanentecomeou por ser um direito pelo qual se bateram geraes de educadores, transormou-se depois

    numa necessidadee agora tornou-se uma obrigao. A aprendizagem ao longo da vida justica-se como direito da pessoa e como necessidade da

    prosso, mas no como obrigao ou constrangimento. A crtica de Nikolas Rose emergnciade um novo conjunto de deveres merece ser recordada: O novo cidado obrigado a envolver-senum trabalho incessante de ormao e re-ormao, de aquisio e reaquisio de competncias, deaumento das certicaes e de preparao para uma vida de procura permanente de um emprego:a vida est a tornar-se uma capitalizao contnua do sel18.

    Grande parte dos programas de ormao contnua tem-se revelado de grande inutilidade, servindoapenas para complicar um quotidiano docente j de si ortemente exigente. Os proessores devemrecusar o consumismo de cursos, seminrios e aces que caracteriza o mercado da ormao

    e que alimenta um sentimento de desactualizao dos proessores. A concepo da EducaoPermanente obriga-nos a pensar ao contrrio, construindo os dispositivos de ormao a partir dasnecessidades das pessoas e da prosso, investindo na construo de redes de trabalho colectivo quesejam o suporte de prticas de ormao baseadas na partilha e no dilogo prossional.

    Uma ltima palavra para assinalar de que modo os lugares da ormao podem ser essenciaisno reoro da presena pblica dos proessores. Recorro a Jrgen Habermas e ao seu conceito deesera pblica de aco19. No caso da educao esta esera tem-se alargado consideravelmente nosltimos anos. Mas, paradoxalmente, tambm aqui se tem notado uma diminuio da presenados proessores. Fala-se muito das escolas e dos proessores. Falam os jornalistas, os colunistas, osuniversitrios, os especialistas. No alam os proessores. H uma ausncia dos proessores, umaespcie de silncio de uma prosso que perdeu visibilidade no espao pblico.

    Hoje, impe-se uma abertura dos proessores ao exterior. Comunicar com a sociedade tambmresponder perante a sociedade. Possivelmente, a prosso tornar-se- mais vulnervel, mas esta a condio necessria para a armao do seu prestgio e do seu estatuto social. Nas sociedadescontemporneas, a ora de uma prosso dene-se, em grande parte, pela sua capacidade decomunicao com o pblico.

    * * * * * * * *

    Agradeo a vossa ateno. Sei que alei para especialistas da ormao de proessores e, por isso,evitei ser redundante na armao de princpios que me parecem, hoje, bastante consensuais.Procurei antes transmitir-vos, sem rodeios, a minha opinio sobre a distncia que separa o excesso dos

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    27/153

    27

    discursos da pobreza das prticas. A conscincia aguda deste osso convida-nos a encontrar novoscaminhos para uma prosso que, neste incio do sculo XXI, readquire uma grande centralidadena denio das polticas pblicas.

    Falta-nos talvez, como diz Ann Lieberman, a coragem de comear: Apesar da urgncia, necessrio que as pessoas possuam o tempo e as condies humanas e materiais para ir mais longe.O trabalho de ormao deve estar prximo da realidade escolar e dos problemas sentidos pelosproessores. isto que no temos eito. Quando os proessores aprendem mais, os alunos tmmelhores resultados 20.

    Recordo, para concluir, essa curiosa reerncia de John Dewey a uma escola de Chicago na qual seensinava a nadar atravs de exerccios vrios, sem que os alunos entrassem dentro de gua. Um diaalgum perguntou a um destes jovens o que aconteceu no dia em que se lanou gua. A respostaveio pronta: Aundei-me. A histria merece ser verdadeira, conclui John Dewey21.

    No que diz respeito ao desenvolvimento prossional dos proessores tambm no basta que nosexercitemos ora de gua. preciso dar passos concretos, apoiar iniciativas, construir redes, partilhar

    experincias, avaliar o que se ez e o que cou por azer. preciso comear.

    Notas nais

    1. eachers Matter Attracting, developing and retaining eective teachers, Paris, OCDE, 200, p.7.

    2. David yack, Te one best system A history o urban American education, Cambridge, HarvardUniversity Press, 199.

    . Olga Pombo, Universidade: Regresso ao uturo de uma ideia, Da ideia de universidade Universidade de Lisboa, Lisboa, Reitoria da Universidade de Lisboa, 1999.

    . Este texto guarda as marcas da oralidade, uma vez que se limita a transcrever a intervenoproerida no dia 27 de Setembro de 2007, na Conerncia Desenvolvimento prossional deproessores para a qualidade e para a equidade da Aprendizagem ao longo da vida, promovida pelaPresidncia Portuguesa do Conselho da Unio Europeia.

    . Cleo Cherryholmes, Power and Criticism: Poststructural Investigations in Education, New York,eachers College Press, 1988, p. 8.

    6. Ver uma sntese destes estudos em Antnio Nvoa (coord.), Os proessores e a sua ormao,Lisboa, Publicaes D. Quixote, 1992.

    7. Ver Antnio Nvoa & Martin Lawn (eds.), Fabricating Europe Te ormation o an educationspace, Dordrecht, Kluwer Academic Publishers, 2002.

    8. David Labaree, Power, knowledge, and the rationalization o teaching: a genealogy o the

    movement to proessionalize teaching, Harvard Educational Review, vol. 62, n 2, 1992, pp.12-1.

    9. Ver Antnio Nvoa, Proessionnalisation des enseignants et sciences de lducation,Paedagogica Historica - International journal o the history o education , vol. III (supplementaryseries), 1998, pp. 0-0.

    10. O dirio escolar de Dionsio das Dores Gonalves oi publicado pelo Instituto Politcnico deBragana, em 200, atravs de um CD-ROM organizado por Antnio Aonso Gonalves.

    11. Miguel orga, Luniversel, cest le local moins les murs: rs-os-Montes, Bordeaux, William Blake,1986.

    12. Lee Shulman, Excellence: An immodest proposal(consultar www.carnegieoundation.org).1. Ver o precio de Lee Shulman a George Walker et al., Te Formation o Scholars: Rethinking

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    28/153

    28

    Doctoral Education or the wenty-First Century, San Francisco, Jossey-Bass Publishers, 2007.1. Pat Hutchings & Mary aylor Huber, Bulding the teaching commons (consultar www.

    carnegieoundation.org).

    1. eachers Matter Attracting, developing and retaining eective teachers, Paris, OCDE, 200,p. 1.16. Ada Abraham, Lenseignant est une personne, Paris, ditions ESF, 198.17. Bertrand Schwartz, Rexions sur le dveloppement de lducation permanente, Prospective,

    n 1, 1967, pp. 17-20.18. Nikolas Rose, Powers o Freedom: Reraming political thought, Cambridge, Cambridge

    University Press, 1999, p. 161.19. Jrgen Habermas, Te structural transormation o the public sphere, Cambdridge, Polity Press,

    1989.20. Real-lie view: An interview with Ann Lieberman,Journal o Sta Development, vol. 20, n

    , 1999.

    21. John Dewey, Lcole et lenant, Neuchtel-Paris, Delachaux & Niestl, 1922, p. 10.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    29/153

    29

    Um novo leque de competncias para enrentar os novos desaos do ensino

    Pavel ZgagaUniversidade de Liubliana

    A utilizao do termo novo duas vezes no ttulo desta comunicao sugere que os tempos mudarame que o ensino actual (educao, ormao, etc.) e os proessores (educadores, ormadores, etc.)1

    se encontram eles prprios numa situao substancialmente dierente daquela que sucedia antes:nomeadamente uma situao que requer consideraes especiais. Num primeiro olhar, esta sugestoparece justicada: constatam-se actualmente desenvolvimentos cruciais e problemas exigentes nestedomnio, e estamos a dedicar uma ateno crescente ao ensino e s questes dos proessores aosnveis institucional, nacional e europeu. Quando considerado mais extensivamente, o nosso ttulo

    provoca algumas questes inerentes. O que que mudou to proundamente que nos permite ans, hoje, alar sobre novos desaos do ensino? Quais so esses novos desaos do ensino?

    O ensino mudou

    AEducao, em particular o ensino e a aprendizagem de qualidade, tornou-se ainda mais importantena vida de um indivduo. Nos nossos dias, no so apenas as nossas carreiras prossionais mas tambmos nossos papis activos na sociedade e o desenvolvimento prossional que dependem, mais do quenunca, de boas escolas e de bons proessores. Actualmente, o ensino e a aprendizagem, tal como seencontram ormalizados nos modernos sistemas de educao, parecem incorporar duas ideias ascinantesdo sculo XVIII: instruo e democracia. De acto, ser isto verdade? Em mdia, os indivduos iniciam aescolaridade mais cedo e permanecem por mais tempo com eeito, durante toda a sua vida. Ningum excludo da educao (em princpio); todos ganham com isso (em princpio). muito dicil e arriscadoviver sem educao (na prtica). Do ponto de vista actual, igualmente inimaginvel que a educaopossa ser uma actividade voluntria (ou uma actividade exclusivamente para as elites); tornou-se umaverdadeira necessidade para todas as pessoas. Vivemos na era da massicao da aprendizagem ao longoda vida (institucionalizada, mas no necessariamente aprendizagem ormal). O entendimento sobre oensino obrigatrio mudou, no apenas quando o observamos sob a perspectiva de por quanto tempo os

    jovens (na sua maioria) vo escola. No ensino obrigatrio de hoje, no se espera que os jovens vo escola para passar tempo, mas espera-se, isso sim, que eles adquiram as competncias-chave necessriaspara uma vida activa e produtiva assim como para a aprendizagem ao longo da vida.

    Literacia e numeracia bsicaspara todos base das civilizaes modernas e um ambicioso objectivodos sistemas de educao dos sculos XIX e XX permanecem competncias-chave; no entanto, aabrangncia das competncias-chave expandiu-se extraordinariamente. Hoje, tomamos como umaauto-evidncia que a competncia em lnguas estrangeiras quase to importante como na lnguamaterna. A competncia em cincias e tecnologia no limitada aos tcnicos e aos engenheiros,mas at um dado nvel importante para toda a gente, particularmente a competncia digital.Vivemos num mundo muito dierente do de outrora, rodeados a cada instante pelos arteactosda tecnologia moderna. Por outro lado, as competncias sociais, culturais e cvicas tambm seesto a tornar cada vez mais importantes nas nossas sociedades crescentemente mais complexas ecomplicadas. Por m, mas no por ltimo, h um orte consenso de que aprender a aprenderdeveria ser encarado como uma das competncias-chave. Em resumo, h muito trabalho para os

    proessores e para as escolas, mas no s.1

    O autor est consciente da complexidade terminolgica respeitante aos termos proessor, educador, ormador etc. Neste texto, proessor utilizado como um termo genrico englobando todas as variaes possveis vistas no contexto da prosso docente.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    30/153

    0

    Apesar de a educao ser uma necessidade, nem todos os indivduos a conseguem concretizar.Numa era de massicao da educao, esoramo-nos por agir contra o insucesso escolar. Oabandono da escola comea a representar um problema quase desconhecido no passado. Existem

    outras invenes modernas similares que visam resgatar o aluno do racasso para o sucesso: aeducao especial para os que tm diculdades de aprendizagem, para alunos com toda a espcie denecessidades especiais, para aqueles que pertencem a grupos sociais desavorecidos e marginalizados,minorias, imigrantes e reugiados, etc. O sucesso escolar hoje, juntamente com uma sade boa euma vida amiliar eliz, um dos desejos e expectativas mais prementes dos indivduos, mas tambmpode ser entendido como uma intensa presso externa sob um indivduo. No conjunto, nosurpreende que o insucesso escolar seja experienciado com tanta requncia nos nossos dias, quepossa ser vivido, ao nvel individual, como um trauma e que se tenha desenvolvido uma complexaindstria ao servio deste enmeno (por vezes com muito lucro).

    Inelizmente, a educao j no uma actividade voluntria, mas elizmente tambm j no uma actividade restrita a poucos. No um hobby(ou talvez o seja apenas em casos raros) e, por

    conseguinte, as pessoas que iniciam ormas de educao em vrios nveis e em contextos dierentesprecisam de muito mais assistncia e ajuda do que tradicionalmente sucedia.

    O ensino mudou. J no pode ser reduzido inormao escrita num quadro preto com um paude giz. Na verdade, esta mudana j no de ontem e no caracteriza somente a nossa dcada. msido eectuados muitos inquritos sobre este enmeno e muitos livros se tm escrito. Actualmente,somos desaados por este enmeno de uma nova maneira: temos de responder nova realidadecom uma nova poltica.

    Os proessores mudaram

    Assim como o sujeito da aprendizagem o aluno, o sujeito do ensino o proessor. Nestacomunicao ocamo-nos neste ltimo e deixamos aquele para uturas consideraes. Soa-nos comouma verdade bvia quando armamos que os proessores e/ou a prosso docente em geral tambmmudaram. emos de melhorar as ormas pelas quais os proessores e os ormadores so apoiados medida que os seus papis mudam, e tambm as percepes pblicas que a eles concernem(Conselho, 2002: 1).

    Nas sociedades modernas os proessores (em termos genricos) ormam uma parte importante daora de trabalho activa. Em mdia, nos pases da OCDE, os proessores constituem cerca de 2,6% daora de trabalho, e o ensino o maior empregador do mercado de trabalho para licenciados (OECD,200: 27). Neste momento, a Unio conta com aproximadamente 6 milhes de proessores (200)(Comisso..., 2006: 69). No entanto, no nos deveremos esquecer de que este grupo prossional orte

    tem sido e ainda muito heterogneo. Em todas as nossas lnguas (e, obviamente, no apenas aonvel das lnguas), encontramos determinados problemas quando dierenciamos docentes (comotermo especco) e no-docentes, ou seja, outros pers da educao e da ormao. igualmentepossvel dierenciar entre docentes e pessoal escolar, apesar de a diviso entre as duas categoriasser, por vezes, muito indistinta. Por vezes, alguns grupos dentro da abstracta ora de trabalhodocente identicam-se a si mesmos mais acilmente como linguistas, matemticos, qumicos,historiadores, psiclogos, etc. do que como proessores generalistas (que ensinam lnguas,matemtica, etc.). Adicionalmente, tem havido rices tradicionais entre, por exemplo, proessoresde escolas primrias (ou educadores nos jardins-de-inncia) e proessores nas escolas secundrias(secundrio superior) gerais, enquanto os proessores e ormadores nas escolas prossionais sempreoram considerados uma espcie de terceiro grupo.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    31/153

    1

    Actualmente, estes conitos esto a perder intensidade (porm, ainda existem); apesar das dierentesescolas onde trabalham grupos de proessores pertencentes a dierentes oras de trabalho docente,o seu estatuto mais similar hoje do que no passado (contudo, ouve-se muitas vezes dizer que

    desvalorizado). Alm disso, em muitos pases eles podem transerir-se, sob determinadas condies,de uma escola para outra, e, nalmente, eles organizam-se requentemente nos mesmos sindicatos.No obstante o nvel elevado de heterogeneidade entre os proessores, h certos indicadores queapontam, nas sociedades de hoje, para a percepo da docncia como uma nica prosso.

    O trabalho dos proessores mudou substancialmente medida que evoluram as teorias educacionaise pedaggicas (sem mencionar mudanas na cultura em geral). A perspectiva tradicional via oproessor como um mestre atrs de uma cadeira em rente de um quadro preto com um manualnuma mo e um livro de notas na outra. O mestre isolava-se com os seus alunos numa sala de aulasem grande apoio e/ou cooperao do exterior (s de cima havia intererncia). Hoje, o ensino cada vez mais uma actividade de equipa e uma actividade realizada numa parceria entre a escolae o seu ambiente (repare-se que as intererncias podem tambm persistir). Esta uma mudana

    importante; aecta proundamente o trabalho dos proessores e torna-o muito mais complexo einuencia ainda as ormas em que organizada a sua ormao inicial e contnua.

    No incio desta dcada, os autores do Livro Verde sobre a Formao de Proessores na Europasublinharam que mudanas substanciais dos contextos da educao e da ormao (por exemplo,mudana de valores, globalizao da vida e da economia, organizao do trabalho, as novastecnologias da inormao e da comunicao) tm um impacto nas tareas prossionais e nos papisda prosso docente e exigem reormas mais substanciais na educao e na ormao em geral [],e na ormao de proessores em particular (Buchberger, Campos, Kalls, Stephenson, 2000: ).O Livro Verdee uma srie de outros estudos demonstraram que a preparao dos proessores parao seu trabalho, isto , aquele processo complexo de educao e ormao inicial e contnua (mais

    o perodo de induo em alguns sistemas nacionais), alterou-se substancialmente no decurso dasltimas duas ou trs dcadas.A principal consequncia desta mudana oi que o ensino hoje predominantemente umaprosso

    graduada. O trabalho cada vez mais complexo nas escolas exige que um proessor tome decisesprossionais de orma autnoma; j no so tcnicos que se preocupam apenas com a transmissode actos ou verdades e no com o processo educativo como tal. Esta nova posio requer um nvelavanado de educao e de ormao de proessores, pois trata-se da nica garantia para a necessriaautonomia de ensino. Ao mesmo tempo, muitos pases comearam a enrentar o enmeno do envelhecimento de

    proessores. Novas geraes substituem gradualmente as que as antecedem; segundo inquritosestatsticos, esta renovao dar-se- nos prximos anos. Muitos pases tm diculdade em reter

    proessores experientes. Calcula-se que um mnimo de um milho de novos proessores tenha deser recrutado durante o perodo de 200-201 de modo a satisazer necessidades de substituio(Comisso..., 2006: 69). Um tal processo de renovao geracional em larga escola transporta, porum lado, o risco de uma interrupo abrupta das tradies prossionais, enquanto, por outro lado,proporciona uma oportunidade extra de tratar a questo da actualizao e apereioamento dasskillsdos proessores de uma maneira mais directa. Oerece uma oportunidade nica para debateros sistemas de educao e ormao de proessores na Europa para um uturo prximo.

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    32/153

    2

    Reconsiderando o trabalho e as competncias dos proessores

    No trabalho exigente que realizam nas sociedades modernas, os proessores esto longe de ser

    meros transmissores de inormao, de conhecimentos e de regras sociais estabelecidas. Aps umaextensa discusso no seio da Comisso uma discusso que certamente continuar e no podeser dada como terminada no mbito do Grupo de rabalho para a Melhoria da Formao deProessores e Formadores (Comisso, 200) e de um Focus Group2 especial constitudo numa aseposterior, oi acordada uma denio condensada e includa num documento de reerncia parauma conerncia europeia experimental sobre Princpios Europeus Comuns para as Competnciase para as Qualicaes dos Proessores. Podemos utilizar aqui esta denio: Hoje e num uturoprximo a ormao de proessores deveria equip-los com trs clusters de competncias deorma a torn-los aptos a trabalhar simultaneamente em trs reas que se sobrepem:

    trabalhar com inormao, tecnologia e conhecimento; trabalhar com outros seres humanos alunos, colegas e outros parceiros educativos; e

    trabalhar com e na sociedade aos nveis local, regional, europeu e global (Comisso, 200:).

    Aprimeira rea tradicionalmente reconhecida como o centro da prosso docente. Dependendodo perl de ensino, os proessores precisam de estar aptos a trabalhar com uma variedade de tiposde conhecimento. Claro que eles devem possuir um elevado nvel de conhecimento e compreensono que concerne sua disciplina curricular. Independentemente das suas dierentes disciplinas deensino, eles devem estar aptos a obter acesso, analisar e sintetizar, reectir e validar e, nalmente, atransmitir conhecimento, utilizando as tecnologias em geral e as IC em particular (competnciasdos proessores generalistas). odos eles devem estar aptos a tomar opes que concernem transmisso de educao (a autonomia do ensino). Deveriam ser capazes de organizar o ensino e a

    aprendizagem de orma ecaz, identicar as variadas necessidades de aprendizagem dos alunos e/ouestudantes e orient-los e apoi-los nas suas tareas independentes e no sentido da aprendizagemao longo da vida. Por m, mas no por ltimo, eles deveriam estar aptos a agir como prossionaisreexivos, ou seja, a analisar o seu prprio trabalho prossional conjuntamente com as suasconquistas e os seus racassos de orma a melhorar as suas prprias estratgias e prticas de ensino,bem como desenvolver a responsabilidade para produzir novos conhecimentos acerca da educaoe da ormao (por exemplo, em investigao-aco, etc.).As competncias representadas na segunda rea rearmam que a prosso docente no pode ser e

    no deveria ser reduzida mera transmisso de inormao e de conhecimento; baseada tambmemprincpios de incluso socialepreocupao pelo desenvolvimento individual. O trabalho docenteexige bons conhecimentos e uma compreenso de alunos, estudantes e educandos adultos como

    indivduos com aptides especcas, interesses e necessidades. Os proessores precisam de estar aptospara os ajudar a desenvolver o seu potencial. Para alm disso, um ensino e uma aprendizagem dequalidade so inseparveis do trabalho de equipa em colaborao com (e entre) os alunos e outrosproessores e o pessoal escolar mas tambm com outros parceiros externos escola; por conseguinte,os proessores devem ser capazes de preencher estas unes e desenvolver as skillscomunicativas ecooperativas necessrias e ainda demonstrar autoconana no envolvimento com os outros.

    Por m, a terceira rea toca uma srie de questes delicadas que so inerentes ao processo educativoem geral mas que transcendem o aluno individual, a sala de aula e at a escola. Estas questes ligam oaluno, o proessor e a escola sociedade no seu todo. importante reiterar que actualmente o proessordeveria estar equipado com o conhecimento necessrio, entendimento e skillsque o habilitam a agirautonomamente. Um proessor como tcnico que apenas se preocupa com a transmisso mecnica

    2Por razes ticas e no s, importa reerir aqui que o autor oi membro deste grupo e co-autor do documento Princpios Europeus Comuns paraas Competncias e para as Qualicaes dos Proessores (200).

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    33/153

    das regras sociais pode ser uma gura cnica das sociedades democrticas contemporneas; por outrolado, o desprezo neutro e a ignorncia relativamente a esta ligao no podem ser menos cnicos.Os proessores deveriam estar aptos a preparar os alunos, os estudantes e os educandos adultos para

    os seus respectivos papis na sociedade. Por esta razo, os proessores deveriam compreender o papelda educao na sua relao com as dinmicas sociais de excluso/incluso; deveriam compreendera diversidade de culturas e sistemas de valores entre os alunos e ser capazes de reectir sobre osprocessos de aprendizagem na perspectiva de equidade; deveriam estar conscientes das dimensesticas da sociedade do conhecimento, etc. Deveriam estar aptos a trabalhar ecazmente com ospais, a comunidade local e os agentes envolvidos em geral e estar conscientes de que o ensino e aaprendizagem ecazes melhoram signicativamente as oportunidades de emprego dos estudantesgraduados.

    No entanto, a reconsiderao do trabalho dos proessores e das suas competncias no podeocorrer ora do tempo real e de um espao real. Como j vimos, os novos desaos do ensinono so questes exclusivas ou hermticas reservadas a peritos que lidam estreitamente ao

    nvel prossional com a educao e a ormao de proessores. Pelo contrrio, estas questes estoenraizadas e inter-relacionadas com processos sociais globais; so importantes para todas as partesinteressadas e directa ou indirectamente para todos os cidados. Presentemente, relevante enecessrio um debate extenso e aberto, ao nvel nacional, sobre o novo leque de competncias parao ensino, de modo a apoiar o desenvolvimento uturo do sistema de ormao de proessores. Poroutro lado, este debate deveria tambm considerar contextos mais latos no apenas a diversidadee as tradies nacionais, mas tambm o acto de que, actualmente, subsistemas nacionais comoa educao no se podem desenvolver ecazmente se no orem consideradas prticas locais,no continente ou no contexto global. Consequentemente, este debate igualmente relevante enecessrio ao nvel europeu.

    Competncias para um proessor europeu

    Um dos argumentos mais importantes que deendem que a utura educao e ormao deproessores nos nossos pases deveria ser debatida ao nvel europeu encontra-se relacionado como acto de os proessores, em todos os nossos sistemas nacionais de educao, serem desaados deorma crescente pela dimenso europeia. Desde o incio da escolaridade obrigatria, o proessor perspectivado como um proessor dentro do contexto nacional(por exemplo, lngua de ensino,tradies, histria, identidade, cidadania, etc.). Paralelamente a isto, as instituies de ormao deproessores eram, at um certo ponto, mais parecidas com as academias de polcia e de militares doque com as universidades. Do exterior, a alta de cooperao, de conana e at divises ortes e

    guerras entre os pases europeus paralisaram, durante um longo perodo, estas caractersticas. Hoje,nas novas circunstncias, um proessor encontra-se tambm posicionado dentro do contexto europeu(por exemplo, mobilidade, lnguas, histrias, multiculturalismo, identidades mltiplas e cidadania,etc.).

    Este desao por vezes, e em determinados contextos, entendido como um dilema e impede odesenvolvimento acelerado da europeizao e da internacionalizao da ormao de proessores,assim como o da prossionalizao docente. No que concerne a prosses mais antigas e a camposde estudos acadmicos mais internacionalizados (por exemplo, medicina, engenharia, cincia, etc.), aormao de proessores poderia deixar-se car para trs se no ossem implantadas certas mudanasconducentes a uma maior abertura e internacionalizao. Na rea da mobilidade Erasmus, aindaso raros os estudantes de cursos de ormao de proessores, e o seu nmero dever aumentar

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    34/153

    signicativamente no uturo. H um outro instrumento, o programa Comenius, que j estimula deorma relevante a mobilidade dos proessores e a ormao prossional contnua dos proessoresatravs das ronteiras europeias.

    A questo das competncias dos proessores de hoje e no uturo encontra-se apenas parcialmentesolucionada se no or resolvida a sua dimenso europeia. A Rede Europeia de Polticas deFormao de Proessores (ENEP) centrou-se recentemente no proessor europeu no mbitode um debate sobre as competncias dos proessores; esta matria encontra-se sintetizada numestimulante documento de trabalho (Schratz, 200). A ENEP partiu do ponto de vista geralde que um proessor europeu tem de possuir as mesmas competncias de base que qualqueroutro bom proessor. Os proessores trabalham dentro de uma estrutura nacional, o que enatizaa necessidade de uma identidade nacional, e esta posio tambm pode ser tomada como umabase para a consciencializao transnacional no contexto da sociedade europeia. Um proessoreuropeu no deveria ser entendido como um conceito que substitui sobrepe ou ultrapassa umproessor nacional; como podemos ler num anterior dratdo documento de trabalho da ENEP,

    no devemos visar a criao do ormato de um superproessor europeu, mas, sim, tentar apontarpara questes europeias que so potencialmente de particular signicado para uturos debates.

    O relatrio de sntese da ENEP (Schratz, 200) enumera uma srie de questes que desaama concepo actual sobre um bom proessor. Esta lista comea com a identidade europeia, umconceito largamente debatido; neste contexto especco, tal conceito desperta a conscincia deque um proessor est sempre enraizado num pas em particular, mas ao mesmo tempo pertencea um mais amplo conjunto europeu. Conhecimento europeu, por exemplo, conhecimentorelativo a outros sistemas de educao, mas tambm histria (histrias), etc., um conceitotambm muito importante para a prosso docente de hoje e de amanh, mas no (ainda) umacaracterstica da ormao inicial de proessores. Multiculturalismo e competncia lingustica so

    conceitos que necessitam de mais aproundamento: os proessores precisam de compreender anatureza multicultural e multilingue das sociedades europeias. Eles trabalham neste mbito ecom grupos culturais e lingusticos heterogneos. Deveriam encarar a heterogeneidade como algovalioso, respeitar quaisquer dierenas, alar mais do que uma lngua europeia, etc. Importnciasimilar deveria ser atribuda questo da cidadania (europeia), englobando solidariedade para comcidados de outros pases europeus e partilha de valores como o respeito pelos direitos humanos,democracia e liberdade. Estas consideraes j tm eco nos Princpios Europeus Comuns para asCompetncias dos Proessores, supramencionada (Comisso, 200: ).

    Esta lista tambm inclui a questo do prossionalismo e salienta que um proessor europeudeveria possuir uma ormao que o habilita a ensinar em qualquer pas europeu e que conduza um novo prossionalismo com uma perspectiva europeia (por exemplo, no limita a prtica

    docente s ronteiras nacionais) (Schratz, 200). Os sistemas europeus de ormao de proessorestm eito grandes progressos nas duas ou trs ltimas dcadas. A ormao de proessores tornou-seuma parte integral do ensino superior. Aproximadamente 10% dos estudantes do ensino superioresto actualmente a estudar na rea estatisticamente identicada como educao e ormaode proessores. Como largamente reconhecido, o Processo de Bolonha iniciou uma proundatransormao no ensino superior no seu conjunto. Esta transormao est agora a passar da ase dedesenvolvimento de polticas para a implantao aos nveis institucional e curricular e a ormaode proessores no deveria ser excluda desta ase. As realizaes e os desenvolvimentos das dcadasanteriores no deveriam estar em risco, e a docncia no deveria arrastar-se atrs de outras prossesbaseadas em estudos acadmicos.

    Finalmente, o documento coloca tambm nesta lista as medidas de qualidade. Esta uma vertente

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    35/153

    nuclear do Processo de Bolonha que visa estudos comparativos, o reconhecimento mais rpido (oumesmo automtico) de qualicaes acadmicas e prossionais, uma maior mobilidade e melhorempregabilidade atravs dos pases. Estes objectivos no podem ser alcanados sem o ortalecimento

    da conana mtua entre os sistemas e as instituies do ensino superior, e a conana mtuadepende do grau mais alto dos nveis de qualidade e da oerta de qualidade. Os nveis de qualidadee as linhas de orientao europeus comuns sobre a qualidade oram acordados em Bergen h doisanos; agora, esto na ase de implantao ao nvel nacional. Est a decorrer ao nvel institucionaluma verdadeira e concreta implantao dos nveis europeus de qualidade, e este ltimo passo exigeque sejam tomadas providncias especiais ao nvel das disciplinas e/ou reas de estudo. Esta ,uma vez mais, uma tarea importante para a ormao de proessores. Porm, como a deveremosabordar?

    Proessores de qualidade e ensino de qualidade para a Europa

    Estamos a construir um Espao Europeu de Educao comum, maior ainda que os 27 pases daUE. Por esta razo, as polticas educativas ao nvel nacional deveriam ser ecazmente coordenadas eapoiadas ao nvel europeu de orma a alcanar as metas para 2010 e desenvolver o Espao de Educaocomum para alm de 2010: Europa reconhecida como uma reerncia mundial para a qualidadee relevncia dos seus sistemas de educao e de ormao. Contudo, estes sistemas reormados douturo deveriam ser sucientemente compatveis para permitir aos cidados moverem-se entreeles enquanto a Europa se abre cooperao com todas as outras regies, com mtuos benecios.Estas metas exigem um esoro gigantesco. O mtodo aberto de coordenao oerece instrumentospara identicar preocupaes e objectivos comuns, a disseminao de boas prticas e a mediodo progresso (Conselho, 2002, -). Mas esta no uma espcie de magia e no deve ser

    entendida como tal: nem os melhores utenslios ajudam se no orem verdadeiramente aplicados no conhecimento das variadas prticas existentes, no seu apereioamento, na implantao dasmudanas necessrias e na realizao de verdadeiros progressos globais.

    O nosso conhecimento de outros sistemas de educao substancialmente melhor agorado que h, por exemplo, 10 anos, e totalmente incomparvel com o estado das coisas h 20anos. Isto resulta de uma cooperao crescente e da coordenao recentemente estabelecida, mastambm dos resultados de extensos inquritos e estudos (Eurydice, 2002, 200, 200). Para almdisso, estes sistemas so mais compatveis entre si, o que resulta de abordagens comparativas nodesenvolvimento de polticas e tomadas de deciso ao nvel nacional, assim como de uma maiorcooperao ao nvel institucional entre os promotores de ormao de proessores. Estes sistemascontinuam a ser dierentes o que no constitui um problema. O problema que persistem certas

    incompatibilidades entre os sistemas. Vrios pases j comearam a reormar os seus sistemas deormao de proessores tomando em considerao no s as lies especiais aprendidas com asboas prticas na ormao de proessores, mas tambm as recomendaes gerais do Processo deBolonha. odos estes desenvolvimentos so encorajadores; no entanto, pode suceder que semuma coordenao eectiva entre os parceiros envolvidos neste processo o resultado nal venha aconter os mesmos elementos incompatveis que se vericam hoje ou talvez ainda mais.As inmeras discusses que se tm realizado, nos ltimos anos, aos vrios nveis, parecem estar agora

    a conduzir a uma etapa decisiva e oerecem uma nova combinao de polticas. O desenvolvimentodos Princpios Europeus Comuns para as Competncias e para as Qualicaes dos Proessores(200), aser j aplicados em alguns pases, e a recente proposta da Comisso Improving the Quality o eacherEducation (2007) tm, para uma rea particular da ormao de proessores, um peso semelhante

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    36/153

    6

    ao que tm tido as decises de Bergen sobre o quadro global de reerncia para as qualicaes esobre os nveis e as linhas de orientao comuns para a garantia da qualidade nas polticas para oEnsino Superior na Europa, no seu conjunto. Ser isto um exagero?

    rata-se de um exagero na medida em que os dois documentos de Bergen j oram aprovadospor todos os ministros da Educao europeus, enquanto uma proposta sobre a ormao deproessores est agora na ase inicial de um procedimento ormal no Parlamento Europeu. Claroque no nos podemos esquecer de que os documentos de Bergen e o Processo de Bolonha como taldizem respeito a uma Europa grande (de 6 pases), enquanto a proposta da Comisso sobre aormao de proessores se destina directamente apenas aos 27 pases da UE, mas h uma elevadaprobabilidade de as suas ideias e recomendaes serem consideradas num crculo muito mais amplo.

    Adicionalmente, ao compararmos o ensino superior europeu em geral com uma determinada reada ormao de proessores, no deveria ser menosprezado o acto de que a ormao de proessores apenas uma (pequena) parte dos sistemas nacionais de ensino superior e que a questo da ormaode proessores no pode ser resolvida apenas no contexto do ensino superior; est inseparavelmente

    entrecruzada com os sistemas (pr-tercirios) de educao, com a aprendizagem contnua e aolongo da vida, etc.A recente proposta da Comisso Improving the Quality o eacher Education, estudada no mbito

    dos debates contemporneos sobre ormao de proessores, apresenta uma importante alterao:transere este debate para um ponto que crucial para o desenvolvimento uturo do ensino superioreuropeu: a questo da qualidade. Na ltima cimeira de Bolonha em Londres (Maio 2007), osministros europeus acolheram o estabelecimento de um Registo Europeu de Agncias de Garantiada Qualidade por um grupo de agentes do ensino superior (o Grupo E). Esta no oi a sua nicadeciso, antes pelo contrrio, mas extraordinariamente importante para o uturo desenvolvimentodos sistemas europeus de ensino superior em geral e para algumas das suas reas ou campos de

    estudo especiais a ormao de proessores, por exemplo.As Agncias de Garantia da Qualidade europeias tero agora a oportunidade de se candidataremao Registo que lhes proporcionar uma inormao clara e segura acerca de agncias de garantiada qualidade seguras e de conana que operam na Europa. Algumas questes prticas relativas implantao do Registo ainda devem ser trabalhadas de orma a tornarem-se mais precisas, e vriosoutros pontos permanecem por discutir e acordar, tal como a autonomia das universidades na livreescolha a partir do Registo, da agncia de avaliao e de acreditao. Assim, a lgica tradicionalde avaliao e acreditao das instituies de ensino superior e/ou dos seus programas baseadana responsabilidade exclusivamente nacional vai ser tambm alterada para o nvel europeu. Estamudana vai certamente ter um enorme impacto nas normas de qualidade e na oerta de qualidadedo ensino superior nos pases europeus e ir melhorar a conana to undamentalmente necessria

    entre eles. A ideia de um Registo europeu no totalmente nova; em 2006, aps duas ou trsdcadas de intensos debates entre peritos, oi adoptada pelos rgos da Unio Europeia umarecomendao sobre esta matria. Porm, o que novo que esta ideia passou por um processo deconrmao poltica, e os pases europeus tanto os 27 pases da UE como 6 pases da Europaesto actualmente, poltica e moralmente, obrigados a implant-la. luz disto, a importncia da proposta Improving the Quality o eacher Education , esperemos,

    mais evidente. Nveis gerais vlidos para a rea de Ensino Superior no seu conjunto soestrategicamente importantes, mas, por outro lado, para serem implantados, deveriam ser aplicados,transeridos e traduzidos em reas especcas e em linguagens disciplinares especcas. Mesmonestes contextos especcos, a importncia da coordenao entre aqueles que so responsveis pelossistemas nacionais sistemas de ormao de proessores, neste caso permanece crucial. Por

  • 8/14/2019 Conferncia Educao UE

    37/153

    7

    conseguinte, a viso de uma prosso docente europeia com as seguintes caractersticas: uma prosso bem qualicada: todos os proessores so graduados em instituies de ensino

    superior;

    uma prosso de aprendizagem ao longo da vida: os proessores so incentivados e apoiados acontinuar o seu desenvolvimento prossional ao longo das suas carreiras; uma prosso mvel: a mobilidade um componente central dos programas de educao e ormao

    iniciais de proessore; e uma prosso baseada em parcerias: as instituies de ormao de proessores organizam o seu

    trabalho em colaborao e em parceria com escolas [] e outras partes interessadas (Comisso,2007: 12)

    Parece ser indispensvel se se espera que os desenvolvimentos nacionais baseados naresponsabilidade dos Estados-membros pelos contedos do ensino na organizao dos sistemaseducativos a sua diversidade cultural e lingustica como se pode ler no ratado de Maastricht(1991) conduzam, na Europa, a sistemas de ormao de proessores com mais qualidade,

    compatibilidade e ecincia.Em harmonia com estes princpios, deveriam ser empreendidos alguns passos polticos comuns

    com o m de melhorar a qualidade da ormao de proessores: desenvolver a ormao de proessorescomo uma tarea ao longo da vida (aos nveis nacional, institucional e individual) de modo a apoiarsistematicamente as competncias e skillsnecessrias para os proessores, incluindo a capacidadepara reectir na sua prtica e desenvolver novos conhecimentos sobre educao e ormao, etc.

    Em vez de uma concluso: o papel-chave das instituies

    A qualidade da (utura) ormao de proessores na Europa depende largamente da cooperao e

    coordenao nacional vs. europeia mas no s. Na conerncia do Processo de Bolonha realizadaem Berlim (200) oi claramente armado que a responsabilidade primria pela garantia daqualidade no ensino superior reside nas prprias instituies, e isto proporciona a base para umaeectiva prestao de contas do sistema acadmico dentro das estruturas das polticas de qualidadenacionais. Este princpio deveria tambm ser aplicado ormao de proessores. Ao implantarem-se os princpios e as linhas