parcelamento judicial no processo de execução: relevâncias ... · com o processo de execução...

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1 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Parcelamento Judicial no Processo de Execução: Relevâncias e Controvérsias advindas com o Artigo 745 – A Código de Processo Civil Por: Raquel Carmona Pereira Costa Orientador Prof. Carlos Leocádio Rio de Janeiro 2010

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Page 1: Parcelamento Judicial no Processo de Execução: Relevâncias ... · com o processo de execução autônomo, ele ainda é aplicado para alguns títulos executivos judiciais, na execução

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Parcelamento Judicial no Processo de Execução: Relevâncias e Controvérsias advindas com o Artigo 745 –

A Código de Processo Civil

Por: Raquel Carmona Pereira Costa

Orientador

Prof. Carlos Leocádio

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Parcelamento Judicial no Processo de Execução: Relevâncias e Controvérsias advindas com o Artigo 745 – A

Código de Processo Civil

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Processual Civil

Por:Raquel Carmona Pereira Costa

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AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para que

completasse mais uma etapa na

carreira jurídica.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, que

tanto me apoiaram e ao meu marido e ao

meu filho por toda paciência e

colaboração.

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RESUMO O processo de execução tem evoluído desde os primórdios da humanidade,

em grande parte no direito brasileiro, e vem sofrendo grandes mudanças já há

alguns anos. O problema central encontrado no procedimento atual tem sido

discernir se o parcelamento do débito judicial exeqüendo atingiu o objetivo de

estimular o adimplemento voluntário do devedor e se também simplificou a

satisfação deste crédito. Em que pese toda a discussão sobre o assunto, a

maior parte da doutrina e jurisprudência tem fixado entendimento no

sentido de ser o parcelamento judicial verdadeiro instrumento hábil a

cumprir a finalidade precípua da execução, qual seja, efetivar o pagamento

do crédito exeqüendo.

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METODOLOGIA Foram utilizados, para a elaboração deste trabalho de pesquisa a leitura de

livro, pesquisas bibliográficas, artigos eletrônicos orientações dos tribunais

acerca do problema, utilizando as mesmas fontes para a solução dos mesmo.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Evolução Histórica da Execução

9

1.1 – Evolução da Execução no Direito Arcaico

9

1.2 - Evolução da Execução no Direito romano

10

1.3 - Evolução da Execução no Brasil

12

CAPÍTULO II - Possibilidade de extinção da relação obrigacional oriunda das modificações no processo de execução

14

2.1 – Considerações gerais

14

2.2 – Pressupostos do parcelamento do débito exequendo

17

2.3 – Efeitos do inadimplemento

21

2.4 – Natureza jurídica do parcelamento judicial

23

CAPÍTULO III – Controvérsias acerca do parcelamento judicial

27

3.1 Da discricionariedade do juiz

31

3.2 Necessidade de aceitação do credor

32

3.3 – Aplicação subsidiária no processo de execução por título judicial

34

CONCLUSÃO

42

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

As modificações originadas através da Lei nº 11.382/2006, em vigor

desde 20 de janeiro de 2007, trouxeram grandes alterações no processo de

execução, principalmente quanto àquelas advindas de títulos executivos

extrajudiciais.

As alterações mantiveram consonância com a vontade em tornar

o processo um instrumento eficaz do direito material, em observância

dos princípios da celeridade e da economia processual, tanto procurado no

processo de execução.

Neste sentido, procurou-se diminuir o tempo necessário à completa

satisfação do exequente e, ao mesmo tempo, incentivar o

adimplemento voluntário do executado, que deu, pois, origem à criação do

instituto denominado parcelamento judicial do débito, prevista no art. 745-A do

Código de Processo Civil, no qual é permitido ao executado parcelar em até 6

(seis) vezes mensais seu débito, mediante depósito prévio de 30% (trinta

por cento) do valor da execução, incluindo custas e honorários

advocatícios, com correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês.

Este trabalho de pesquisa tem por objeto principal o de apreciar os

aspectos mais importantes do novo instituto, fazendo uma sinopse da

evolução histórica da execução, abordando sua evolução, requisitos e

natureza jurídica, sem se descuidar dos efeitos ocasionados pelo

inadimplemento do devedor..

Em seguida, serão abordadas as controvérsias geradas através das

lacunas deixadas pelo legislador acerca da necessidade de oitiva do credor,

da atitude do magistrado e, ainda, sobre a possibilidade de aplicação do

instituto aos processos oriundos de título executivo judicial.

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CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EXECUÇÃO

1.1 – Evolução da Execução no Direito Arcaico

No Direito Arcaico a execução era pessoal, ou seja, recaia sobre a

pessoa do devedor e não sobre o seu patrimônio. Assim, segundo Alexandre

Sturion de Paula (2008, p. 1) no caso de inadimplemento da obrigação perante

o credor, o devedor poderia ser usado como escravo ou até ser morto como

forma de pagamento.

Para a utilização desses métodos (escravidão ou morte) como forma de

pagamento, fazia-se necessário que o crédito discutido fosse reconhecido

através de sentença ou confissão (Lei das XII Tábuas). E, se o crédito não

tivesse seu crédito satisfeito, ele poderia se utilizar da força física contra o

credor.

Isso porque, naquele tempo o Direito Real era absoluto, sendo somente

possível tocar no patrimônio do devedor após a sua morte. Outra característica

daquela época era o fato de não existir a figura do magistrado, e o meio

executório era feito pelo próprio credor que prendia o devedor como forma de

pagamento.

Os meios de defesa que poderiam ser argüidas pelo devedor era a

nulidade da sentença, satisfação do crédito ou extinção da obrigação. Porém,

caso a contestação do devedor fosse julgada improcedente a sua condenação

seria o dobro do montante devido. Outra forma de defesa do devedor era caso

esse estivesse um fiador, que ao poderia ser qualquer pessoa. Naquela época

a fiador deveria ser uma pessoa de patrimônio extenso e fortuna conhecida.

Com o passar dos tempos, o meio de execução começou a sofre

mudanças significativas, muito no que se refere ao direito do devedor. Dentre

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essas mudanças, a mais significativa era o fato de o devedor não mais

responder de forma pessoal pela obrigação, e sim com seu patrimônio.

Segundo Alexandre Sturion de Paula, a execução patrimonial acontecia

da seguinte forma: o credor se possuía de um bem do devedor até a satisfação

do seu crédito, caso esse não fosse satisfeito, o credor poderia ficar com o bem

e fazer o que bem entendesse com este, com por exemplo, destruí-lo ou vende-

lo.

Com a influência do Cristianismo, surgiram as Leis Humanitárias que

beneficiaram o devedor em torno das atividades executivas, sendo a Lex

Poetalia uma das principais, pois aboliu a pena capital, e os meios vexatórios

de execução como correntes e prisões. O Cristianismo foi ainda mais longe ao

estabelecer que os bens utilizados para a sobrevivência do devedor não

poderiam ser executados, um inicio do que hoje recebe o nome de bem de

família.

Todavia, não foi apenas o Direito Arcaico que sofreu grandes

transformações em sua evolução histórica. O Direito Romano também teve

significativas modificações ao longo de sua história que contribuíram muito para

o Direito Brasileiro, como a seguir restará demonstrado.

1.2 – Evolução da Execução no Direito romano

No primeiro Sistema Processual Romano, a Legis Actiones, e após o

Século II A.C, nas chamadas Leis Ebucia e Julias, o processo civil romano já

previa a execução da sentença, que naquela época recai sobre a própria

pessoa, uma vez que o patrimônio era direito absoluto e só podia ser disponível

com a anuência do proprietário. Assim, havendo condenação do executado,

este era submetido à servidão ou ser vendido com escravo.

Num segundo momento o exercício do direito de ação fazia-se,

primeiramente, perante Praetor (homem encarregado de ministrar a justiça), e

depois em face do Iudex, um jurista delegado ao julgamento da controvérsia.

Assim, paulatinamente, a execução pessoal foi substituída pela execução

patrimonial.

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Na sentença o Juiz resolvia o litígio, porém não tinha poder para

conceder a execução, em razão da relação jurídica entre as partes e o juiz era

regida por contrato, onde as próprias partes nomeavam um delegado do

praetor. Esse sistema judiciário nada mais era que um negócio jurídico.

Assim, como bem ensina Humberto Theodoro Junior ( 2007, p.98),

após conhecido o crédito na sentença pelo juiz, quando o devedor deixava de

cumprir a obrigação, somente por uma nova ação que se alcançava a via

executiva para assim satisfazer o crédito do credor.

Entrando na era Cristã, o Império Romano foi se distanciando da ordem

jurídico-privada, e sob a denominação de extraordinária cognitio, construiu-se

uma Justiça Pública, totalmente oficializada, podendo ser equiparada a dois

dias de hoje no Poder Judiciário dos povos civilizados.

Nessa era, diferentemente do que acontecia antes, o próprio Praetor

passaram a resolver os conflitos das partes, onde o próprio detentor do

imperium aplicava a sentença. Desta forma podo-se perceber que a prestação

jurisdicional passou a ser um poder do Estado e não mais do particular que

tinha o poder de julgar e resolver a lide.

Cumpre aqui destacar que cabia ao juiz de ofício, depois de julgar fazer

cumprir as suas decisões. Assim, no lugar da embaraçada ação de execução,

instaurou-se em plena Idade Média, uma nova execução por ofício do juiz

(entendia-se ofício o ato do magistrado que deveria praticar atos executórios,

em razão do seu exercício cotidiano).

Assim, verificou-se que ao final da Idade Média e o inicio da idade

Moderna com o renascimento do comércio e, como conseqüência a

necessidade dos comerciantes em obterem títulos que favorecessem a

execução de seus títulos sem a monstruosa etapa do processo sob o rito

ordinário. Nesse momento, a confissão em juízo autorizava imediatamente a

execução.

Nesse ínterim, aos títulos de crédito atribuíam-se à mesma força de

sentença. Portanto, era prescindível um processo anterior para que essa

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obrigação fosse satisfeita por si só, pois apenas o título já tinha força

executiva. Sem a necessidade de um processo judicial, o título de crédito já

permitia sua satisfação já na fase executiva, sem que fosse necessário o

processo de conhecimento.

Durante vários séculos existiram duas formas executivas: a execução

por ofício para as sentenças condenatórias e as por títulos de crédito. Essa

sistemática para assegurar o direito do credor durou por vários séculos.

Porém, no inicio do século XIX, por influência do direito francês,

acontece novamente a inversão de valores e idéias, onde o Código de

Napoleão unificou a execução. O motivo dessa unificação se deu em razão do

grande volume das execuções de títulos de crédito que eram mais freqüentes

do que as execuções de sentenças pelo processo de cognição.

Nesse sentido, Humberto Theodoro Junior (2007, p.103) afirma que por

esse motivo desapareceu a execução por ofício e reinstalou-se novamente o do

antigo sistema romano, ou seja, de só poder chegar a execução forçada

através do manejo de duas ações, uma ação cognitiva que vai até a sentença

condenatória e a ação executiva, que é posterior a cognitiva, onde ambas

tinham o único objetivo de satisfazer o crédito do credor.

Esse tipo de execução, para títulos executivos judiciais, permaneceu no

Brasil até a entrada da lei 11.236/2005, com exceções de alguns

procedimentos.

1.3 – Evolução da Execução no Brasil No Brasil, mesmo após a sua independência, as Ordenações

Filipinas e a Legislação Portuguesa continuaram sendo aplicadas na sua

íntegra.

Segundo os ensinamentos de Cândido Rangel Dinamarco (1998, p.72)

o primeiro diploma processual brasileiro foi o regulamento 737, que disciplinava

institutos como a competência do juiz e das partes no processo de

conhecimento. Também disciplinava sobre a citação do devedor, que era feita

por “carta de sentença”, sob pena de nulidade absoluta, salvo em casos

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excepcionais, que era feito apenas por mandado (artigo 476).

O regulamento 737 tratava apenas da espécie de execução

expropriativa. Entende-se por expropriação o ato de alienação ou transferência

de bens, que se opera independentemente do consentimento do devedor ou do

dono dos bens.

O Código de Processo Civil de 1939 previa duas espécies de execução

para a maioria dos procedimentos, sendo para títulos judiciais e para títulos

extrajudiciais. O atual Código de Processo Civil não rompeu completamente

com o processo de execução autônomo, ele ainda é aplicado para alguns

títulos executivos judiciais, na execução contra a Fazenda Pública, execução de

alimentos, sentença penal condenatória, sentença arbitral e sentença

estrangeira.

Dentre os outros procedimentos, o mais relevante veio com o advento

da Lei 11.232/2005, onde inseriu uma nova fase no processo de conhecimento,

fase essa chamada de “fase do cumprimento de sentença”. Esta fase será

aplicada nas decisões judiciais que condena o devedor a pagar quantia certa.

A fase de cumprimento de sentença tem a finalidade de praticar

atividades cognitivas e executivas tudo dentro do mesmo processo, na mesma

relação jurídica processual, sem a necessidade de uma nova citação. A

doutrina conceitua quando essa união da atividade cognitiva e executiva de

processo sintético.

Verificou-se que a execução desde os primórdios tempos sofreu e vem

sofrendo grandes modificações atendendo a evolução e as exigências da

sociedade. Com o passar dos tempos a execução foi perdendo o seu caráter

pessoal e recaindo no todo sobre o patrimônio do devedor. Não restam dúvidas

que a execução se transformou tentando se moldar para acompanhar a

evolução da sociedade.

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CAPÍTULO II

Possibilidade de extinção da relação obrigacional

oriunda das modificações no processo de execução

2.1– Considerações gerais

O processo de execução e o processo de conhecimento, durante muito

tempo, mostraram uma dualidade que atrasava a prestação da tutela

jurisdicional, que por finalidade era satisfazer o direito do credor, por gerar um

entrave para se atingir tal objetivo principal. Neste sentido, houve grande necessidade de se criar medidas a fim

de tornar a execução eficaz para a completa satisfação do exeqüente. Para

tanto, fora criada a Lei nº 11.382, promulgada em 06 de dezembro de 2006

que, seguindo a reforma do processo de execução, iniciada através da Lei nº

11.232/2005, que alterou significativamente a estrutura da execução

lastreada em título executivo extrajudicial, visando obter para o credor de

forma célere a satisfação do seu título executivo, sem contudo deixa de

atende ao princípio da menor onerosidade ao devedor.

Dentre algumas inovações introduzidas pela nova legislação, foi c

criada a figura do pagamento parcelado do débito, prevista no novo art.

745-A do Código de Processo Civil, que tem por objetivo principal o

adimplemento voluntário da obrigação, satisfazendo ao princípio da utilidade da

execução.

Assim, reza o art. 745-A do CPC:

“No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do

exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por

cento) do valor em execução, inclusive custas e

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honorários de advogado, poderá o executado requerer

seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas

mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1%

(um por cento) ao mês.”

Em relação ao parcelamento judicial, afirma Humberto Theodoro Júnior:

“A medida tem o propósito de facilitar a satisfação do

crédito ajuizado, com vantagens tanto para o executado

como para o exeqüente. O devedor se beneficia com o

prazo de espera e com o afastamento dos riscos e custos

da expropriação executiva; e o credor, por sua vez,

recebe uma parcela do crédito, desde logo, e fica livre dos

percalços dos embargos do executado.” (JUNIOR,2007,

p. 216)

O parcelamento judicial deverá ser requerido por petição escrita, nos

autos da execução, no prazo de quinze dias contados da juntada aos autos

do mandado de citação (art. 745-A, caput, CPC c/c art. 738, caput, CPC),

demonstrando o executado a presença dos pressupostos necessários a sua

concessão.

Além do aspecto temporal, com pressuposto para a concessão do

parcelamento judicial, qual seja, o pedido de parcelamento deverá ser

articulado no prazo de quinze dias contados da juntada aos autos do

mandado de citação; temos a necessidade requerimento expresso do

executado, o juiz não poderá fazer de oficio; o executado deverá reconhecer o

crédito do exeqüente; depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução;

pagamento do objeto da execução de forma parcelada, não podendo exceder a

seis parcelas, que será exposto com maior abrangência no próximo item.

Neste prumo, após apresentado o pedido de parcelamento judicial,

preclui para o executado o direito de oferecer qualquer defesa na execução,

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uma vez que confessou o valor exeqüente. Destaca-se, que tal vedação não

alcança fatos novos, como por exemplo, a penhora realizada após a

retomada do processo, questões de mérito que não tenham sido elididas

pela confissão (ex.: compensação).

Esclarece que caso o juiz indefira o pedido de parcelamento judicial e

prossiga a execução, conforme dispõe o art. 745-A, § 1º do CPC, o

controle dos atos executivos poderá se dá mediante exceção de pré-

executividade ou dos embargos previstos no art. 746 do CPC.

Apesar da omissão do artigo 745-A do Código Processual Civil, o

exeqüente deverá ser ouvido a respeito do pedido de parcelamento do débito,

com a instauração do indispensável contraditório.

Outro ponto relevante, que cabe esclarecer se diz quanto ao

reconhecimento da dívida em parte pelo executado, oferecendo

embargos ou impugnação quanto ao não reconhecido, paralelamente, (art.

739, § 3º, CPC), o que entende o doutrinador Araken de Assis ser possível:

“...impõe-se resposta positiva ao quesito. E isso, porque

inexistirá prejuízo, relativamente à parte incontroversa,

para o exequente. No interstício máximo de seis meses,

realmente, nada assegura a expropriação de eventuais

bens penhorados e a realização efetiva do crédito. Além

disso, evitar-se-á que o executado apresente oposição

geral apenas para evitar o prosseguimento da execução.

Por outro lado, ocorrendo cumulação de execuções (art.

573), nada impede que o executado reconheça a dívida

resultante de um dos títulos, mas ofereça embargos

quanto ao (s) restante (s).” (ASSIS, 2009, p. 522)

Cumpre ainda ressaltar que a penhora ou qualquer garantia prévia

não podem ser exigidas como pré-requisitos indispensáveis para que o

executado possa requer o parcelamento judicial, tendo em vista que a lei não

dispõe neste sentido.

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Segundo Araken de Assis, em sua obra, Manual da Execução (p. 521),

o terceiro, interessado ou não, como por exemplo, o fiador, p o d e r á

utilizar-se também do instituto previsto do parcelamento judicial, sendo que

este adere à dívida, respeitado quantitativamente ao que propõem, e de

igual modo, poderá ser executado no caso de inadimplemento, na sua

proporção.

Agora, no caso, da execução ser contra dois ou mais executados, e

somente um propõe o parcelamento da dívida, o pagamento do débito por

um deles aproveita aos outros, havendo solidariedade passiva prevista no

art. 277 do Código Civil.

2.2 – Pressupostos do parcelamento do débito exeqüendo

O Art. 745-A, CPC estabelece quatro pressupostos básicos para a

concessão do parcelamento judicial, são eles: a) tempestividade; b)

reconhecimento do crédito do exeqüente, em seu valor total; c) depósito de

30% do valor da execução; d) indicação do pagamento do objeto da execução

de forma parcelada.

Iniciando pelo aspecto temporal, esclarece que o requerimento de

parcelamento deverá ser feito no prazo para o ajuizamento dos embargos,

qual seja, 15 (quinze) dias contados da juntada do mandado de citação, de

forma expressa, uma vez que o juiz não poderá determinar de ofício o

parcelamento.

No segundo pressuposto, que se refere quanto ao reconhecimento do

crédito exeqüendo pelo executado importa em renúncia ao direito deste à

oposição de embargos, diante da preclusão lógica desse direito, em primeira

fase, conforme já mencionado anteriormente.

Porém, o Mestre Araken de Assis (2009, p. 522) entende ser possível

reconhecer a dívida em parte e oferecer embargos ou impugnação quanto

não reconhecido paralelamente, com base no art. 739, §3º do CPC, diante da

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ausência de prejuízo ao exeqüente quanto à parte incontroversa, o que

evitaria a oposição integral do executado com o objetivo de procrastinação.

No que se refere ao depósito de 30 % do valor em execução, é

necessário que o aludido depósito seja prévio e integral, ou seja, realizado

antes do pedido de parcelamento e a soma do principal, atualizado dos

juros, das despesas do processo e dos honorários advocatícios arbitrados

pelo juiz ao despachar a inicial. No que concerne aos honorários, Araken de

Assim assevera não haver redução:

“No que tange aos honorários, fixados na abertura do

procedimento, não comportam qualquer redução. O art.

652-A, parágrafo único, é expresso no sentido de que a

redução pela metade do valor fixado só ocorrerá no caso

de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias. Nesse

particular, a lei utiliza a técnica do incentivo econômico,

expediente útil e proveitoso na maioria das vezes, mas

inaplicável ao parcelamento do art. 745-A. Fora daí,

apesar de se reconhecer os honorários como direito

próprio do advogado (art. 23 da Lei 8.906/1994), a verba

submeter-se-á ao parcelamento em condições idênticas

ao crédito do cliente.” (ASSIS, 2009, p. 522)

Destaca-se, que quanto aos 30% a ser previamente depositado, existe

divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à possibilidade de

complementar o valor do depósito. Porém, o entendimento majoritário é no

sentido de permitir a posterior complementação, vejamos algumas decisões:

“portanto, tendo o devedor/executado, no prazo legal,

reconhecido o crédito do exequente e efetuado o depósito

exigido, entendo como cumpridos, inicialmente, os

requisitos legais para a concessão da moratória, não

podendo, a discordância do credor, ou a sua irresignação

quanto aos valores depositados, constituir óbice ao seu

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processamento, sem que, ouvidas as partes, o

magistrado conceda ao executado a possibilidade e o

direito de, demonstrada a insuficiência do depósito, por

não ser o cálculo do débito em sempre de fácil

elaboração, complementar o depósito, em atenção à

finalidade maior do processo de execução de dar

satisfação ao direito emanado do título.” (TJPR – Rel.

Des. Rafael Augusto Cassetari – AI 05216480)

”CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - PARCELAMENTO

DA DÍVIDA - DEPÓSITO DO VALOR DA CONDENAÇÃO

- DIVERGÊNCIA DOS CÁLCULOS - NECESSIDADE DE

ATUALIZAÇÃO DA DÍVIDA E DOS DEPÓSITOS

EFETUADOS PARA VERIFICAR E EXISTENCIA DE

ALGUM DÉBITO - REMESSA À CONTADORIA.- A fim de

apurar se a dívida foi integralmente quitada, mostra-se

necessária a remessa dos autos à Contadoria a fim de

atualizar o valor da dívida, nos termos impostos na

sentença; atualizar os valores dos depósitos realizados, e

finalmente informar se existe algum débito a ser

quitado.(...) Digo isto porque, é de conhecimento de todos

que os depósitos judiciais geram rendimentos, sendo

certo que a exeqüente ao efetuar o levantamento das

quantias depositadas obteve um determinado valor

acrescido de juros e correção que incidiram sobre os

valores depositados.

Assim, com o envio dos autos para a contadoria o

contador, auxiliar do juízo, atualizará o valor da dívida,

nos termos impostos na r. sentença de fls. e,

posteriormente atualizará os valores depositados pela

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executada até a presente data, para em seguida verificar

se existe ainda débito em aberto e qual seria esse valor.

Ora, nada mais correto do que apurar se há ou não débito

em aberto, uma vez que a executada já quitou R$

1.380,00 (hum mil trezentos e oitenta reais), e o valor da

dívida executada era de R$ 1.270,00 (hum mil e setenta

reais), conforme planilha juntada pela própria exeqüente,

devendo ser cassada a r. decisão para determinar a

remessa dos autos à contadoria judicial.

Mediante tais considerações, DOU PROVIMENTO AO

RECURSO, PARA CASSAR A DECISÃO OBJURGADA,

determinando a remessa dos autos à Contadoria para

atualizar o valor da dívida, nos termos impostos na r.

sentença de fls. 25/29-TJ, em seguida apurar o valor

atualizado dos depósitos realizados, e por fim, informar se

existe algum débito a ser quitado.

Em caso positivo, a agravante deverá ser intimada para

pagamento, sob pena de prosseguimento da execução.”

(TJMG – Rel. Irmar Ferreira Campos – AI

1.0024.04.502532-7/002)

Quanto à forma de pagamento do débito, o executado deverá

apresentar o prazo que pretende pagar a dívida, sendo certo que não poderá

ultrapassar seis parcelas, as quais deverão ser acrescidas de correção

monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês. Cumpre mencionar não

haver prazo mínimo predeterminado no dispositivo legal (art. 745-A, do

CPC), sendo seis parcelas o número máximo, o que nada impede que o

executado, querendo, proponha parcelamento em número menor ao de seis

parcelas.

Existe na doutrina, um pequeno grupo de juristas, que levanta um quinto

pressuposto essencial para a concessão do parcelamento, qual seja, a

qualidade de hipossuficiência do devedor. Esse grupo de jurista entende que

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o devedor deve comprovar não ter condições de arcar com o pagamento

integral da execução, para que o juiz conceda o parcelamento, sob pena de

caracterizar procrastinação do adimplemento, salvo se o credor manifestar

sua concordância. Em que pese o brilhantismo desses juristas, tal argumento

mostra-se frágil, posto que a lei não previu expressamente o referido

pressuposto, motivo pelo qual a sua aplicação infringiria o princípio da

legalidade (art. 5º, II da Constituição Federal de 1988).

Importante destacar que os requisitos impostos pela lei processual,

cujo entendimento se dá pela simples leitura do artigo, caracteriza-se

como procedimento básico. Todavia, para legislador, a falta de observância

desses pressupostos, impedirá vinculação das regras do

parcelamento judicial do débito exeqüendo, acarretando num outro

instituto jurídico, o da transação entre as partes, na qual dependerá de

expressa concordância do exeqüente.

2.3 – Efeitos do inadimplemento

As conseqüências decorrentes do inadimplemento pelo executado,

requer uma analise sistemática do instituto do parcelamento judicial,

principalmente nos seus efeitos, antes de requerer o parcelamento judicial.

Para que o executado se beneficie do art. 745 – A do CPC, este executado

deverá cumprir integralmente o parcelamento para ser merecedor da

extinção da relação obrigacional, com a extinção do processo de

execução.

Pó óbvio, deferido o parcelamento ao executado pela observância

dos requisitos legais ou pela concordância expressa do exeqüente, os atos

executivos, por conseqüência, ficarão suspensos pelo tempo do

parcelamento concedido, além da possibilidade do exeqüente levantar o

valor de 30% in i c i a lmen te depositado e as prestações referentes ao

parcelamento, diante dos arts. 709 e 745-A, § 1º e do CPC, dando quitação

de cada parcela recebida, conforme preceitua o parágrafo único do art. 709

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do mesmo diploma legal.

Destarte que no caso de indeferimento do pedido, o executado

perderá o valor do depósito inicial, com a possibilidade de levantamento do

mesmo pelo exeqüente mediante quitação da quantia recebida, na qual será

deduzida do crédito, com o prosseguimento dos atos executivos.

Da decisão que defere ou não o pedido de parcelamento cabe

agravo de instrumento, sendo incompatível o agravo retido com o processo de

execução em face das decisões interlocutórias proferidas, não se prestando o

processo executório à prolação de sentença com resolução de mérito.

Vale mencionar a posição do professor Humberto Theodoro Júnior:

“Da denegação do parcelamento decorre o

prosseguimento normal dos atos executivos, mesmo

porque o eventual agravo não terá, em regra, efeito

suspensivo. O depósito preparatório da medida frustrada

não será devolvido (art. 745-A, § 1º, in fine); permanecerá

como garantia do juízo e, se já não houver tempo útil para

embargos, poderá ser levantado pelo credor, para

amortizar o débito do executado. Deve-se lembrar que ao

postular o parcelamento o executado já reconheceu o

crédito do exeqüente. Não terá mais possibilidade de

oferecer embargos de mérito. Se houver tempo, poderá

apenas, e eventualmente, opuser exceções processuais,

como as arguições de penhora incorreta e avaliação

errônea.” (JUNIOR, 2007, p. 220)

Não se pode olvidar, in casu, a vedação à propositura dos embargos à

execução em virtude da preclusão lógica.

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No que diz respeito a mora no pagamento de qualquer das parcelas já é

causa suficiente para que o juiz determine o prosseguimento da execução, com

a cessação da suspensão do processo diante do parcelamento. Desta

forma, o inadimplemento de qualquer das parcelas ensejará no imediato

vencimento das parcelas subseqüentes e a retomada do feito executório,

com a perda do direito de oposição dos embargos ante à preclusão lógica.

Surge para o executado, ainda, como conseqüência do

inadimplemento, imposição de multa de 10% sobre o saldo remanescente

como disposto no art. 745-A, § 2º, CPC. A referida multa possui caráter

punitivo e cominatório, que visa compelir o executado ao cumprimento

integral da dívida parcelada, ou seja, objetiva estimular o adimplemento

voluntário e servir como instrumento hábil para encerrar a execução.

2.4 – Natureza jurídica do parcelamento judicial

A Lei nº 11.382 de 06 de dezembro de 2006, reforçou as mudanças

do sistema processual no que tange à execução de título extrajudicial,

introduzindo o art. 745-A do Código de Processo Civil, trazendo consigo os

requisitos indispensáveis à concessão do benefício do parcelamento

judicial.

Para se formar juízo de valor quanto aos aspectos em debate, torna-se

necessário compreender a natureza jurídica do direito ao parcelamento, sem

deixar de fazer uma pequena abordagem referente aos direitos subjetivo e

potestativo, tendo em vista a criação destes através da norma objeto da

presente pesquisa.

Primeiramente, o direito subjetivo pode-se dizer que é a vantagem

conferida ao sujeito de relação jurídica, em decorrência da incidência da norma

jurídica ao fato jurídico gerador por ela considerado (suporte fático).

No que se refere ao direito potestativo consiste num poder jurídico

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atribuído ao titular do direito no qual uma ou outra pessoa deve suportar os

efeitos do ato, pressupondo a existência de relação jurídica anterior entre as

partes, podendo tal direito gerar uma constituição, uma modificação ou

extinção de uma situação subjetiva.

Neste sentido, é fundamental destacar o entendimento do doutrinador

Francisco Amaral:

“O direito potestativo não exige um determinado

comportamento de outrem nem é suscetível de violação.

É, assim, figura inconfundível com a de direito subjetivo,

e, para alguns, até com a de relação jurídica, a qual se

considera externo e antecedente. A outra parte não é

sujeita ao poder do titular, mas à alteração produzida.

Mas, como ele, o direito potestativo é expressão de

autonomia privada.

O direito potestativo distingue-se do direito subjetivo. A

este contrapõe-se um dever, o que não ocorre com

aquele, espécie de poder jurídico a que não corresponde

um dever mas uma sujeição, entendendo-se, como tal, a

necessidade de suportar os efeitos do exercício do direito

potestativo. Como não lhe corresponde um dever, não é

suscetível de violação e, por isso, não gera pretensões.”

(AMARAL, 1998, p. 191)

Classifica-se pela natureza jurídica um instituto, segundo Maria Helena

Diniz, “pela afinidade que um instituto tem em diversos pontos, com uma

grande categoria jurídica, podendo nela ser incluído o título de classificação".

Portanto, determinar a natureza jurídica de um instituto consiste em determinar

sua essência para classificá-lo dentro do universo de figuras existentes no

Direito.

A doutrina vem discutindo amplamente sobre a natureza jurídica do

parcelamento judicial na execução, no qual se destacam três correntes sobre o

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tema, vejamos:

A primeira corrente (majoritária), defendida por Humberto

Theodoro Junior Luiz Guilherme Marinoni e Sergio Cruz Arenhart,

entende por moratória legal, uma vez que a moratória pressupõe apenas o

ampliamento de prazo para o pagamento, sem que o débito sofra

qualquer redução com o parcelamento da obrigação.

Em que pese ser a corrente majoritária no meio jurídico, esta corrente é

severamente criticada, sob o argumento de que o termo moratória denota

prorrogação de prazo para adimplemento, e não o pagamento em prestações.

Outrossim, o termo moratória legal pode indicar que o benefício é

prontamente conferido pela lei, independentemente da participação do

magistrado, o que também não retrata a verdade.

A segunda corrente, sustentada por José Eduardo Carreira Alvim, para

qual t r a t a - se de injunção (monitória), reconhecida ao executado, em

proveito do exeqüente, quando reconhecer o crédito constante do título

executivo objeto da execução. Porém, essa corrente encontra ampla

resistência, posto que a injunção possibilita a formação de título executivo, o

que não condiz com o instituto em baila, pois neste o título executivo já está

formado e o requerimento deve partir do executado.

A terceira e ult ima corrente, amparada por Marcelo Abelha

Rodrigues, entende como uma forma especial de remição da execução

pelo devedor, posição rebatida por não poder o parcelamento judicial ser

confundido com a pura e simples remição da execução.

Desta forma, a classificação do direito do executado em parcelar

judicialmente valor executado não é simplesmente uma norma processual, que

disciplina as condições e os efeitos dos atos produzidos no processo. O

dispositivo está também na esfera do direito material, posto que altera a

própria conformação do direito subjetivo ao restringir as possibilidades de

exercício da pretensão.

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Como se vê o citado instituto criou uma modalidade de parcelamento

judicial do débito, propiciando ao executado a possibilidade de obter a extinção

da relação obrigacional com o parcelamento do débito em parcelas, fato até

então sem previsão legal e que era possível apenas através de convenção

levada a efeito pelas partes no processo. O instituto em comento, apesar de

previsto no Código de Processo Civil, possui nítido caráter de direito material,

posto que forma excepcional de extinção da obrigação. Por tal razão, o

instituto do parcelamento judicial possui natureza jurídica heterogênea, com

aspecto no direito material e outro no direito processual.

In casu, há mitigação da regra prevista nos arts. 313 e 314 do Código

Civil Brasileiro, justificado pelas peculiaridades da situação em que o

parcelamento pode ser deferido.

O instituto trata-se de incidente processual, visto que traz pretensão

que somente se desenvolve no meio da ação principal e que precisa ser

resolvida através de decisão interlocutória.

Neste sentido, o parcelamento do débito é direito subjetivo

heterogêneo potestativo, exercitável unicamente pela via judicial, que trarão

mais adiante a discussão de outros pontos controvertidos a ele

relacionado.

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CAPÍTULO III

As Controvérsias acerca do parcelamento judicial

3.1– Da discricionariedade do juiz

Com o advento da Lei nº 11382, de 06 de dezembro de 2006 que

inseriu no ordenamento jurídico brasileiro a reforma do processo de

execução, principalmente o artigo 745 – A CPC, ora objeto da presente

pesquisa, muitos advogados têm o utilizado como uma forma menos

gravosa que viabilize a quitação da dívida.

Diante das lacunas deixadas pelo legislador, muitos questionamentos

surgiram e, tem sido motivo de discussão entre os doutrinadores, o q u e

ainda foi não pacificado pela jurisprudência.

Um dos questionamentos se re fe re a polêmica a respeito da atitude

a ser tomada pelo magistrado em relação ao pleito de parcelamento do débito.

O poder discricionário do juiz, há quem entenda que é direito do

executado obter o parcelamento, independente de aprovação ou não do

magistrado, tendo em vista que trata-se de um benefício do executado, que

atendendo os requisitos deverá ser concedido o parcelamento.

Nesse sentido, podemos nos ater ao parágrafo 1º do art. 745-A do

CPC, em que a norma somente faz menção à necessária análise dos

requisitos do parcelamento, a ser feita pelo julgador, para a concessão do

parcelamento. Assim, estando todos os requisitos presentes, quais sejam,

tempestividade, reconhecimento do crédito do exequente, prévio depósito de

30 % do valor e proposição de pagamento em, no máximo, 6 (seis)

parcelas mensais, o juiz tem por obrigação deferir o benefício ao devedor e, na

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ausência de um deles, o pedido deverá ser indeferido, o que mitiga a

discricionariedade do magistrado.

Frisa-se, que diante do efetivo cumprimento dos pressupostos

mencionados, caberá ao juiz a única hipótese de deferir o parcelamento, visto

que se trata de um direito subjetivo do executado, não estando submetido à

discricionariedade do juiz.

No entanto, e s s e e n t e n d i m e n t o n ã o é p a c í f i c o n a

d o u t r i n a , alguns juristas afirmam haver, na letra da lei, a possibilidade

do juiz decidir com liberdade em face do pedido do devedor de parcelamento

do débito, também tomando por base o art. 745-A, § 1º do CPC, o qual

dispõe que a proposta de parcelamento poderá ser deferida ou não pelo

magistrado.

Quanto a isso, defende Ricardo de Barros Leonel:

“Caso o juiz entenda que não é oportuno o parcelamento,

não há direito ao parcelamento, tanto é que o § 1º do art.

745-A, previsto pela Lei 11.383/2006, diz, em outras

palavras, que o juiz poderá indeferir o pedido de

parcelamento.” (LEONEL, 2007, p. 147)

Com o deferimento do parcelamento, como conseqüência, a execução

ficará suspensa pelo tempo requerido e aceito, no máximo de seis meses,

podendo o exeqüente levantar a quantia depositada (30%), bem como as

prestações que o executado depositar no futuro, uma vez que restou

incontroverso o valor depositado em virtude do reconhecimento do débito

ao requerer o parcelamento. Obrigatoriamente, o exeqüente dará quitação de

cada parcela recebida, nos termos do art. 709, parágrafo único do CPC.

No caso de indeferimento do pedido de parcelamento,

haverá a imediata retomada da prática dos atos executórios necessários ao

desenvolvimento do processo. O professor Humberto Theodoro

Junior a isso esclarece:

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“Da denegação do parcelamento decorre o

prosseguimento normal dos atos executivos, mesmo

porque o eventual agravo não terá, em regra, efeito

suspensivo. O depósito preparatório da medida frustrada

não será devolvido (art. 745-A, § 1º, in fine); permanecerá

como garantia do juízo e, se já não houver tempo útil para

embargos, poderá ser levantado pelo credor, para

amortizar o débito do executado. Deve-se lembrar que ao

postular o parcelamento o executado já reconheceu o

crédito do exequente. Não terá mais possibilidade de

oferecer embargos de mérito. Se houver tempo, poderá

apenas e eventualmente, opuser exceções processuais,

como as arguições de penhora incorreta e avaliação

errônea.” (JÚNIOR, 2007, p. 220)

Como já dito anteriormente, ao requerer o parcelamento judicial, seja ele

deferido ou não, o executado já terá reconhecido a existência do crédito

do exeqüente, com a conseqüente preclusão lógica do direito do

executado embargar.

De qualquer forma, deferido ou indeferido o pedido de parcelamento, a

decisão, com natureza de interlocutória, é objeto de recurso de agravo de

instrumento, sendo incabível, na espécie, interposição de agravo retido,tendo

em vista que, faltaria ao recorrente interesse recursal, posto que sua

apreciação fica entrelaçada com à prolação de sentença desfavorável aos

interesses do agravante e a sua ratificação em sede de recurso de

apelação. Por não se prestar o processo de execução à prolação de sentença

com resolução de mérito, mostra-se inadmissível o recurso de agravo retido em

face das decisões interlocutórias proferidas no seu bojo (art. 795 do CPC).

A doutrina e as atuais mudanças da legislação processual inclinam-

se à mitigação do princípio da tipicidade da execução, para reconhecer

alguma discricionariedade ao julgador no encaminhamento dos atos

executórios, em virtude, principalmente do poder atribuído ao mesmo para

adequar a execução às peculiaridades do direito material tutelado.

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Cumpre destacar que a discricionariedade do juiz precisa ser exercida

sempre em consonância com os princípios que regem a execução, aos quais

são normalmente equilibrados em face do caso concreto, devendo o juiz

buscar intensamente a proporcionalidade nas medidas adotadas, como seu

objetivo maior.

Cabe mencionar, no entanto, que, após o efetivo requerimento do

parcelamento, de acordo com a norma legal, por ser tema afeto às questões de

direito, pode-se verificar que o seu indeferimento ensejará prejuízos

desproporcionais ao devedor, posto que este será penalizado pela tentativa de

parcelar sua dívida, sendo impedido de discutir o valor exeqüendo, além de

perder o montante que depositou para aquele objetivo.

Destarte que, não havendo ofensa suficientemente grave aos direitos do

credor, punição ao devedor que tenta parcelar a sua dívida mostra-se tão

severa e claramente desproporcional.

Nesse sentido, não há razão lóg ica para que o magistrado no

exercício do seu poder de condutor da execução, indefira o pleito requerido

dentro dos limites fornecidos pela legislação processual, estando o exeqüente

atendendo todos os requisitos impostos pelo legislador.

Ademais, o art. 745-A do CPC já traz sanção que o legislador julgou

suficiente para desestimular aqueles que não pretendem pagar, qual seja, a

multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das parcelas não pagas,cabe,

portanto, ao devedor, sabedor da penalidade que pode vir a sofrer, decidir

quanto à conveniência de correr tal risco.

3.2 – Necessidade de aceitação do credor

Artigo 745-A, CPC dispõe que, após o reconhecimento do débito e o

depósito de 30% (trinta por cento) do seu valor, o devedor poderá requerer ao

magistrado o parcelamento do restante da dívida em até 6 (seis) parcelas

mensais.

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Advém a controvérsia a partir do momento em que se verifica que a

norma legal em nada dispõe acerca da indispensável oitiva do credor,

polêmica que, inclusive, tem ensejado divergência quanto à natureza do direito

conferido ao executado pelo texto legal, conforme já explanado no capítulo

anterior.

Existe parte da doutrina, está liderada por Fredie Didier Júnior, que

tem o apoio de Cândido Rangel Dinamarco, Nelson Nery Júnior e Rosa

Maria de Andrade Nery, que sustenta que a aplicação do art. 745-A do CPC

independe da anuência do credor, defendendo ser um benefício dado ao

executado, desde que preenchidos os requisitos legais.

Esse entendimento, atinge uma parte da jurisprudência brasileira,

vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO

MONOCRÁTICA. AÇÃO DE EXECUÇÃO.

PARCELAMENTO DO DÉBITO. ANUÊNCIA DO

CREDOR DESNECESSÁRIA. ART. 745-A DO CPC.

Nos termos da regra do art. 745-A do CPC, introduzida

pela Lei 11.382/06, que promoveu alterações na

execução de títulos extrajudiciais a fim de torna-la mais

ágil, é facultado ao devedor, mediante o cumprimento de

certos requisitos, o pagamento parcelado da dívida,

sendo dispensável a anuência do credor. No caso,

observado o depósito prévio de 30% do débito, e de duas

parcelas, o parcelamento do saldo em 6 parcelas deve

ser concedido ao devedor. Precedentes desta Corte. (...)

A norma foi introduzida no CPC pela Lei 11.382/06 que

promoveu profundas modificações no processo de

execução de títulos extrajudiciais, visando, especialmente

facilitar a obtenção do crédito pelo credor, no que o

parcelamento encontra fundamento, mormente porque

implica em evidente reconhecimento da dívida, evitando

discussões protelatórias a seu respeito. Não se olvida que

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o credor não é obrigado a receber de forma parcelada

o débito se assim não se ajustou (CC, art. 314), mas

a regra civil recebeu atenuação da

regra processual, justamente para

amenizar a demora do recebimento do crédito pelo

exequente. (...) Ainda que não tenha sido contratado o

pagamento parcelado, este se mostra muito mais

favorável ao credor do que aguardar a tramitação de um

processo executivo que, sabe-se, pode perdurar anos, em

evidente prejuízo aos seus interesses.” (TJRS – Des.

Rel. André Luiz Villarinho – AI 70021533682)

Contestando a tese acima elencada, o entendimento doutrinário liderado

por Vicente Greco Filho, com o apoio de Igor Raatz dos Santos e Ernane

Fidélis dos Santos, considera imprescindível a anuência do credor, sem a qual

o parcelamento não poderia ser deferido pelo juiz, em respeito ao princípio do

contraditório.

Destaca-se a posição de José Maria Tescheiner:

“É fora de dúvida que por essa forma se obterá, em

muitos casos, a satisfação do credor, em menos tempo do

exigido para o julgamento de embargos, ainda que

meramente protelatórios. É certo, também, que muitos

devedores requererão moratória, exatamente em função

da desnecessidade de concordância do credor e do

quase automatismo do deferimento. Mas há, aí, uma

questão de princípio envolvida. Há, na hipótese, direito

líquido e certo do credor ao recebimento, à vista, do valor

do devido. Todavia, por decisão do Estado, é forçado a

receber o valor em prestações. O titular do direito, e só

ele, caberia apreciar a conveniência ou não da moratória.”

(TESCHEINER, www.tex.pro.br, acessado em 22/09/09)

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De igual modo, é de relevo a posição jurisprudencial neste sentido:

“Agravo de instrumento. Execução fundada em título de

crédito extrajudicial. Proposta de parcelamento do débito

em até 6 (seis) vezes. Decisão que a indeferiu, ante a

discordância manifestada pelo exequente. Inconformação

da execução. A proposta de parcelamento apresentada

no prazo dos embargos inibe a formulação de defesa e

importa no reconhecimento do crédito do exequente, a

teor do art. 745-A do CPC. A cobrança integral do débito

constitui direito subjetivo do credor (art. 313 do Código

Civil), e o devedor não pode forçar a aceitação da sua

proposta de dividir o pagamento de sua obrigação legal.

Recurso a que se nega provimento. (...) a agravada não

está obrigada a aceitar o parcelamento do débito, não

sendo seu dever fazê-lo, salvo por liberalidade. A

cobrança do débito integral é um direito subjetivo do

credor (art. 313 do Código Civil).” (TJRJ – Rel. Dês.

Ronald Valladares, AI 12726/2007)

A aceitação do parcelamento da dívida não é um dever e sim uma

liberalidade do credor, pois a cobrança integral do débito é um direito subjetivo

do mesmo (art. 313, CC), que devem ser assegurados pelo Estado, na sua

integridade.

Há de se convir, no entanto, que em não sendo exigida a concordância

do credor, certamente haverá prejuízo aos seus direitos subjetivos, posto

que o juiz passa da deles dispor face aos critérios de oportunidade e

conveniência.

Desta forma, entende-se ser razoável que o magistrado determine a

intimação do exeqüente, na pessoa de seu advogado, para que possa se

manifestar sobre o incidente suscitado pelo executado, quando poderá

oferecer razões que convençam ao Estado-juiz a indeferir o requerimento

ou a reduzir o número de prestações nele indicadas.

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Assim, cabe ao credor afirmar o u n ã o se o parcelamento se

mostrará muito mais favorável a ele, não competindo ao Poder Judiciário

decidir, em se tratando de bens disponíveis, o que é melhor para o credor,

sendo, portanto, permitido a este prosseguir com a execução da forma que

melhor entender.

3.3 – Aplicação subsidiária no processo de execução por título judicial

Nos últimos anos, muitas foram as alterações trazidas ao processo de

execução, destacando –se o parcelamento judicial inserido no Código de

Processo Civil através do art. 745-A, introduzido no capítulo dedicado

aos embargos à execução, ficando patente que o instituto, objeto da presente

pesquisa, é aplicável à execução fundada em título executivo

extrajudicial.

Dentre todas as modificações originadas no processo de execução,

sem sombra de dúvida a possibilidade de aplicação subsidiária do

parcelamento da dívida no caso dos títulos executivos judiciais é o que

mais se destaca e, que tem gerado grande discussão no mundo jurídico, tendo

em vista que a execução de título judicial foi reformada pela Lei nº 11.232/05,

não tendo previsto tal possibilidade.

A Lei nº 11.232/05 estabeleceu o cumprimento de sentença,

procedimento que é mera fase do processo e que aceita somente o

oferecimento de impugnação.

Todavia, cumpre ressaltar que o art. 475-R do CPC dispõe que

as normas que regem o processo de execução extrajudicial são

aplicáveis subsidiariamente ao cumprimento de sentença, no que couber.

Por isso, iniciaram inúmeros debates cujo ponto principal é se o parcelamento

está entre as normas que permitem a aplicação subsidiária.

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Grande parte da doutrina tem se manifestado de forma

favorável, argumentando que não haveria incompatibilidade entre o

parcelamento e o procedimento do cumprimento de sentença.

Araken de Assis é enfático nesse sentido: “também se aplica à

execução fundada em título judicial (art. 475-N). A circunstância de se cuidar

de dívida objeto de pronunciamento judicial não constitui razão bastante para

excluir o direito subjetivo do executado.” (ASSIS, 2009, p. 519).

De pensamento semelhante é Alexandre Freitas Câmara:

“Em primeiro lugar, é preciso dizer que o disposto neste

art. 745-A, embora previsto no Livro II do CPC, é

inegavelmente aplicável à execução dos títulos judiciais,

por força do disposto no art. 475-R do CPC. Além disso,

é preciso ter clara a idéia de que aquele dispositivo legal,

embora localizado no CPC, veicula norma jurídica de

evidente natureza substancial (ainda que haja ali,

aspectos também processuais), criando um novo direito

para o devedor, o direito ao pagamento parcelado do

débito.” (CÂMARA, 2009, p. 155-156)

O Ilustre jurista Nagib Slaibi defende a mesma tese: “no

julgamento dos casos concretos, ainda em sede de cumprimento de

sentença, pela analogia autorizada pelo disposto no art. 126 da lei

processual, pode e deve o magistrado, fundamentadamente, parcelar a

dívida.” (SLAIBI FILHO, 2008)

Cabe salientar, ainda, entendimento jurisprudencial dos Tribunais

favorável:

EXECUÇÃO POR TÍTULO JUDICIAL -Ação de cobrança -

Pretensão de parcelamento do débito, nos termos do art.

745-A, CPC - Possibilidade - Embora inserto no capítulo

de embargos à execução, o que pressupõe execução por

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36

título extrajudicial, as regras concernentes a este tipo

de execução são aplicáveis subsidiariamente ao

cumprimento de sentença - Art. 475-R, CPC- Devedor de

título extrajudicial não pode ter mais benefícios que o

devedor de título judicial - Caso, no entanto, em que o

depósito não atingiu 30% do valor do débito -

Possibilidade de complementação - Recurso parcialmente

provido. PENHORA - "On line" - Pretensão de

afastamento de bloqueio de ativos financeiros da

titularidade da executada através do sistema BacenJud -

Possibilidade - Medida extrema, viável após esgotadas

outras para localização de bens suscetíveis de penhora -

Ausência de demonstração da realização de diligências

nesse sentido - Princípio da menor onerosidade - Recurso

parcialmente provido.(TJSP – Rel. Des. Melo Colombi, AI

7.176.134-5/07)

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO

JUDICIAL. PEDIDO DE PARCELAMENTO, NOS

MOLDES DO ARTIGO 475-A, DO CPC. CABIMENTO. O

art. 745 - A do Código de Processo Civil, incluído no

ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 11.232/2006,

garante ao executado o direito de efetuar o pagamento do

débito através de parcelamento, desde que assim

requeira ao juízo e efetue o depósito de 30% do valor no

prazo dos embargos. E, ao contrário do entendimento

consignado na decisão agravada, julgo que a disposição

aqui referida, a luz do art. 475 - R do mesmo diploma, tem

aplicação ao cumprimento de sentença. Na hipótese em

comento, além de juridicamente possível, já que

inexistente óbice à sua aplicação, o parcelamento do

débito, frente às circunstâncias dos autos, representa

procedimento menos custoso ao devedor e mais favorável

à satisfação dos interesses dos credores. Agravo provido.

(TJRS, Rel. Des. Paulo Antônio Kretzmann, AI Nº

70022757504/08)

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EXECUCAO POR TITULO JUDICIAL

PARCELAMENTO DA DIVIDA PRINCIPIO DA

MENOR ONEROSIDADE DIVIDA DE CONDOMINIO

PENHORA DE IMOVEL DESPROPORCAO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO.

EXECUÇÃO POR TÍTULO JUDICIAL. BEM

PENHORADO EM VALOR QUE MUITO EXCEDE A

DÍVIDA. ONEROSIDADE EXCESSIVA. APLICAÇÃO DO

ARTIGO 745-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

POSSIBILIDADE.Recurso interposto contra decisão que

indeferiu o requerimento de parcelamento de débito da

agravante em ação de cobrança de cotas condominiais,

em fase de cumprimento de sentença, determinando a

avaliação do imóvel já penhorado. Versa a controvérsia

acerca da possibilidade de deferimento, pelo juízo, de

pedido de parcelamento de débito de cotas condominiais,

em ação de cobrança em fase de execução de título

judicial.A agravante pleiteia a observância dos artigos 620

e 716, para que seja deferido o parcelamento previsto no

artigo 745-A e o agravado pretende a aplicação do 475-J,

todos do Código de Processo Civil. O parcelamento criado

pelo artigo 745-A do Código de Processo Civil

compatibiliza o princípio da efetividade da execução e o

princípio da menor onerosidade ao devedor, preceituado

no artigo 620 do Código de Processo Civil, equilibrando o

direito do credor de receber o que lhe é devido e o do

devedor de pagar da forma que lhe traga menor prejuízo,

sendo certo, ainda, que beneficia o exercício da função

jurisdicional ao promover a celeridade e a economia

processual. O artigo 475-R do CPC torna possível a

aplicação do artigo 745-A à execução de título judicial,

pois permite a aplicação subsidiária das normas que

regem o processo de execução de título extrajudicial ao

judicial. Patente a desproporção entre o valor do imóvel

penhorado e o montante da dívida cobrada, importando

em violação do princípio da menor onerosidade ao

devedor, uma vez que inegável o grande prejuízo à

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agravante em ter seu imóvel residencial leiloado,

que supera o valor da dívida em mais de quarenta

vezes. Parcelamento deferido, de forma que a

agravante deve depositar, de imediato, 30% do valor

da cobrança e o saldo ser dividido em seis parcelas

mensais iguais e consecutivas, acrescidas de correção

monetária e dos juros de mora de um por cento ao mês,

ficando suspensa a execução enquanto perdurar o

regular cumprimento doparcelamento, na forma do §2º

do 745-A, do CPC. RECURSO PROVIDO.

(TJRJ, Rel. Des. Elisabete Filizzola, AI nº

39484/08)

Assim, para os que defendem a aplicabilidade do parcelamento dos

títulos judiciais, nada impede que os executados sejam tratados com paridade,

tendo em vista que a aplicação da mesma atenderia aos princípios da

menor onerosidade (art. 620, CPC) e da efetividade da execução, a equilibrar-

se com o direito do credor de receber o seu crédito, proporcionando

celeridade e economia processual, ressaltando, ainda, o grande respeito ao

princípio da isonomia sob o argumento de que se o benefício fosse exclusivo do

devedor na execução de título extrajudicial, haveria privilégio não estendido ao

devedor de montante judicialmente reconhecido.

Esclarece, de igual modo, que, à luz do princípio da

instrumentalidade das formas, o exeqüente não terá prejuízo, mas sim poderá

receber seu crédito sem utilizar os meios expropriatórios que, além de

onerosos, devem observar procedimentos que prolongam o momento da

satisfação da obrigação.

Nesse sentido, entre os deveres do juiz está o de velar pela rápida

solução do litígio (art. 125, II, CPC), objetivo a ser alcançado com celeridade se

lançado mão da moratória legal, em observância ao princípio da efetividade da

prestação jurisdicional.

Contudo, há os que se opõem completamente da tese supra

mencionada, como é o caso do jurista Humberto Theodoro Júnior:

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“O credor por título judicial não está sujeito à ação

executiva nem tampouco corre o risco de ação de

embargos do devedor. O cumprimento da sentença

desenvolve-se sumariamente e pode atingir, em breve

espaço de tempo, a expropriação do bem penhorado e a

satisfação do valor da condenação. Não há, pois, lugar

para prazo de espera e parcelamento num quadro

processual como esse.” (THEODORO JR, 2007, p. 217)

“Aliás, não teria sentido beneficiar o devedor condenado

por sentença judicial com novo prazo de espera, quando

já se valeu de todas as possibilidades de discussão,

recursos e delongas do processo de conhecimento. Seria

um novo e pesado ônus para o credor, que teve que

percorrer a longa e penosa via crucis do processo

condenatório, ter ainda de suportar mais seis meses para

tomar as medidas judiciais executivas contra o devedor

renitente.” (THEODORO JR, 2007, p. 465)

Quanto a este posicionamento contrário, também é válido destacar o

posicionamento minoritário da jurisprudência:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. PEDIDO DE PARCELAMENTO DO DÉBITO. INAPLICABILIDADE DO ART. 745-A DO CPC NA EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. INCIDÊNCIA DE MULTA, NO PERCENTUAL DE 10% SOBRE O MONTANTE DA CONDENAÇÃO, CONFORME PREVISÃO DO ART. 475-J DO CPC. RECURSO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE, AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO, NOS TERMOS DO ART. 557 DO CPC.” (TJRJ, Rel. Des. Vera Maria Soares Van Hombeeck, AI nº 2008.002.18984)

“EXECUÇÃO DE SENTENÇA - PRETENSÃO AO

PARCELAMENTO PREVISTO NO ARTIGO 745-A, DO

CPC - INOVAÇÃO INTRODUZIDA NA EXECUÇÃO POR

TÍTULO EXTRAJUDICIAL - NÃO CABIMENTO -

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DESPROVIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO.

Em que pese a importância da inovação introduzida pelo

artigo 745-A, do CPC, verifica-se que sua incidência

limita-se à Execução fundada em título extrajudicial, seja

por expressa previsão no texto do artigo, que fala em

Embargos do Devedor, seja pela sua manifesta

incompatibilidade com o procedimento de cumprimento de

sentença, regulado pelos artigos 475-I e seguintes, do

CPC.Tratando-se de Execução de sentença, iniciada em

1999 e já em fase de alienação judicial do bem

penhorado, não se pode deferir ao devedor o

parcelamento aludido pelo artigo 745-A, do CPC,

mormente quando a ele se opõe o credor.” (TJMG, Rel.

Des. Batista de Abreu, AI nº 1010598000117-3/001)

Assim, a corrente contraria sustenta que o parcelamento previsto no

art. 745-A do CPC é um incidente da execução por quantia certa fundada em

título executivo extrajudicial, sendo uma alternativa aos embargos do

executado, sendo que na execução de sentença os embargos não mais

existem. Outrossim, prejudicaria a celeridade e a efetividade do

adimplemento da condenação judicial, almejadas pelas recentes reformas do

Código de Processo Civil Brasileiro.

Neste prumo, não seria, portanto, uma medida proporcional, posto

que haveria uma desproporcionalidade na medida em que beneficia

indevidamente o devedor por ser o parcelamento para ele menos oneroso

e, ao mesmo tempo, menos benéfico para o credor em razão da maior espera.

Por fim, entendem estes que há necessidade de expressa previsão

legal, tendo em vista que não cabe aplicação de analogia para estender um

estado de sujeição ao credor, conferindo um direito potestativo ao devedor,

havendo incompatibilidade entre o parcelamento compulsório e o

procedimento de cumprimento de sentença ao cobrar que o devedor faça

sua proposta no prazo dos embargos à execução, além do título judicial já

possuir diretizes de incentivo ao adimplemento voluntário do devedor

através da multa prevista no art. 475-J do CPC.

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Estas controvérsias advindas com as modificações do processo de

execução ainda se prolongarão por algum tempo até que o Superior Tribunal

de Justiça estabeleça o seu posicionamento, cabendo aos operadores do

direito ficarem atentos aos desdobramentos futuros.

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CONCLUSÃO

A Lei nº 11382/2006, ao que se pode ver, trouxe inúmeras

inovações ao processo de execução, modificando sobremaneira os

embargos do executado, com o objetivo de aperfeiçoar o processo de

execução, tornando-o um instrumento celere e eficaz à concessão da plena

satisfação do crédito do exeqüente.

Pode-se observar que o parcelamento assinalado no art. 745-A do

CPC compatibiliza o princípio da efetividade da execução e o princípio da

menor onerosidade ao devedor.

O artigo legal objeto da presente pesquisa promove uma situação

de equilíbrio, trazendo requisitos que devem ser estritamente observados,

sob pena de desvirtuar a proporcionalidade que existe entre os benefícios e

as restrições sofridas pelas partes.

Pelo novo instituto, tanto o exeqüente como o executado resultam

favorecidos: aquele vê seu crédito reconhecido pelo executado e, poderá

levantar os 30% (trinta por cento) imediatamente, sem se prejudicar com a

demora em receber o saldo; já o executado, obtém um prazo razoável para

efetuar o pagamento, com ônus inferiores aos de qualquer empréstimo em

instituição bancária.

Logo, todas as partes envolvidas no processo devem agir de forma a

não impedir que a causa final da criação da norma legal do art. 745-A do CPC

seja plenamente satisfeita.

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ANEXOS

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BIBLIOGRAFIA ASSIS, Araken de. Manual da execução. 12ª edição. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2009. JUNIOR, Humberto Theodoro. A reforma da execução do título extrajudicial.

Rio de Janeiro: Forense, 2007. LAROSA, Marco Antonio e AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma

monografia passo a passo...siga o mapa da mina. 7ª edição. Rio de

Janeiro: Wak, 2009. LEONEL, Ricardo de Barros. Reformas recentes do processo civil:

comentário sistemático. São Paulo: Método, 2007. SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual civil, volume 2.

10ª edição. São Paulo: Saraiva, 2006. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil,

volume 3. 19ª edição. São Paulo: Saraiva, 2000. SILVA, Edward Carlyle. Direito Processual Civil. Niterói: Impetus, 2007.

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SILVA, Ricardo Mendes da. Execução contra a Fazenda Pública. São Paulo:

Malheiros, 1999. www.avezdomestre.com.br, ícone monografia, Rio de Janeiro – Universidade

Candido Mendes – 2010, acesso em 05/08/2010 www.ambito-juridico.com.br/pdfsGerados/artigos/4461.pdf, revista eletrônica do

TJDFT, acesso em 05/08/2010 http:/www.tex.pro.br/wwwroot/00/070322criticatesheiner.php TESHEINER, José

Maria. Crítica à moratória judicial instituída pelo novo artigo 745-A do CPC.

acessado em 26/07/2010 http:/www.clubjus.com.br. SLAIBI FILHO, Nagib. Parcelamento judicial da

dívida. acessado em 08/08/2010.