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A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil por Ronan Medeiros Martins RESUMO: Com as recentes mudanças ocorridas no Código de Processo Civil, buscou-se uma maior efetividade na prestação jurisdicional. Assim, o sistema de satisfação do direito sofreu modificações significativas. Os títulos judiciais, não mais necessitam de ação autônoma e os títulos extrajudiciais têm um procedimento mais célere e efetivo. À obrigação alimentar, através de uma análise teleológica, vê-se que as mudanças ocorridas são perfeitamente aplicáveis. Em relação ao rito da coerção pessoal, não houve alteração. Dessa forma, a obrigação alimentar fundada em título executivo judicial pode ser satisfeita por tal rito, contrariamente os alimentos fixados por meio de títulos executivos extrajudiciais, que deverá, necessariamente, buscar-se sua efetivação através do procedimento expropriatório. PALAVRAS-CHAVE: 1. Cumprimento de sentença. 2. Lei 11.382/06. 3. Alimentos. 4. Prisão. INTRODUÇÃO A legislação processual civil brasileira sofreu várias modificações com o decorrer dos anos, buscando-se com tais mudanças, uma melhor prestação da tutela jurisdicional. Recentemente, têm-se as alterações do Código de Processo Civil, no que tange ao procedimento para a efetivação do direito previamente declarado. Tendo em vista tais mudanças no procedimento de execução, surgiram dúvidas no que se refere à possibilidade de se executar a obrigação alimentar, por meio da nova sistemática vigente, e não mais na modalidade pretérita. Como não houve expressa revogação dos artigos referentes a tal execução, a nova Lei deu ensejo a interpretações diversas. Parte da doutrina e jurisprudência optou por uma interpretação gramatical e firmou entendimento de que as alterações do Código de Processo Civil, no que tange à execução, não são aplicáveis à execução da obrigação alimentar. Enquanto que, em viés contrário, encontra-se o entendimento de que tais mudanças são perfeitamente aplicáveis ao recebimento dos alimentos. O presente trabalho, utilizando-se do método dedutivo, e com exploração bibliográfica e jurisprudencial, buscará o aclaramento de tais questões, e respostas às dúvidas existentes.

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A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

por Ronan Medeiros Martins

RESUMO: Com as recentes mudanças ocorridas no Código de Processo Civil, buscou-se uma maior efetividade na prestação jurisdicional. Assim, o sistema de satisfação do direito sofreu modificações significativas. Os títulos judiciais, não mais necessitam de ação autônoma e os títulos extrajudiciais têm um procedimento mais célere e efetivo. À obrigação alimentar, através de uma análise teleológica, vê-se que as mudanças ocorridas são perfeitamente aplicáveis. Em relação ao rito da coerção pessoal, não houve alteração. Dessa forma, a obrigação alimentar fundada em título executivo judicial pode ser satisfeita por tal rito, contrariamente os alimentos fixados por meio de títulos executivos extrajudiciais, que deverá, necessariamente, buscar-se sua efetivação através do procedimento expropriatório.

PALAVRAS-CHAVE: 1. Cumprimento de sentença. 2. Lei 11.382/06. 3. Alimentos. 4. Prisão.

INTRODUÇÃO

A legislação processual civil brasileira sofreu várias modificações com o decorrer dos anos, buscando-se com tais mudanças, uma melhor prestação da tutela jurisdicional. Recentemente, têm-se as alterações do Código de Processo Civil, no que tange ao procedimento para a efetivação do direito previamente declarado.

Tendo em vista tais mudanças no procedimento de execução, surgiram dúvidas no que se refere à possibilidade de se executar a obrigação alimentar, por meio da nova sistemática vigente, e não mais na modalidade pretérita. Como não houve expressa revogação dos artigos referentes a tal execução, a nova Lei deu ensejo a interpretações diversas. Parte da doutrina e jurisprudência optou por uma interpretação gramatical e firmou entendimento de que as alterações do Código de Processo Civil, no que tange à execução, não são aplicáveis à execução da obrigação alimentar. Enquanto que, em viés contrário, encontra-se o entendimento de que tais mudanças são perfeitamente aplicáveis ao recebimento dos alimentos.

O presente trabalho, utilizando-se do método dedutivo, e com exploração bibliográfica e jurisprudencial, buscará o aclaramento de tais questões, e respostas às dúvidas existentes.

1 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

Não há um conceito legal no Direito brasileiro do que seja a obrigação alimentar. Entretanto, a doutrina considera os alimentos como sendo as prestações para satisfazer as necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. Nessa esteira, pode-se afirmar que os alimentos, englobam, não somente comida, mas também habitação, vestuário, educação, lazer, etc. Dessa forma o direito de receber alimentos está diretamente ao viver dignamente e ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Nesse sentido tem-se que:

A obrigação alimentar caracteriza a família moderna. É uma manifestação de solidariedade econômica que existe em vida entre os membros de um mesmo grupo, substituindo a solidariedade política de outrora. É um dever mútuo e recíproco entre descendentes e ascendentes e entre irmãos, em virtude do qual os que tem recursos devem fornecer alimentos (WALD, 2002, p. 41)

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Dessa forma:

O termo alimentos pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo necessário para sua subsistência. Acrescentamos a essa noção o conceito de obrigação que tem uma pessoa de fornecer esses alimentos a outra e chegaremos facilmente à noção jurídica. No entanto, no Direito, a compreensão do termo é mais ampla, pois a palavra, além de abranger os alimentos propriamente ditos, deve referir-se também à satisfação de outras necessidades essenciais da vida em sociedade (VENOSA, 2003, p. 371)

Por isso:

Alimentos são, pois as prestações devidas, feitas para que quem as recebe possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto física (sustento do corpo) como intelectual e moral (cultivo e educação do espírito, do ser racional)

Nesse sentido, constituem alimentos uma modalidade de assistência imposta por lei, de ministrar os recursos necessários à subsistência, à conservação da vida, tanto física como moral e social do indivíduo.(CAHALI, 1999, p. 16)

A obrigação alimentar surge em decorrência do dever de assistência entre parentes (art. 1694, CC2), ou decorrente de ato ilícito (art. 948, II, CC3). A ação para impor a outrem o dever de prestar alimentos provenientes do dever de assistência parental é regulado pela Lei 5.478 de 1968, conhecida como Lei de Alimentos. Tal normativa prevê o rito especial para a imposição de tal obrigação, em que há uma maior celeridade na prestação jurisdicional, tendo em vista que tal rito é mais condensado em relação ao procedimento comum ordinário. Nesse procedimento, o juiz ao despachar a inicial, designa audiência de conciliação, instrução e julgamento. Em tal audiência, tentada a conciliação, e a mesma resultando infrutífera, passa-se à fase probatória. Logo em seguida, o juiz prolata a sentença.

Já no caso em que a obrigação é decorrente de ato ilícito, a via adequada para a reclamação de tal direito, será o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil. Em tal rito, há o despacho inicial com a ordem de citação, e o prazo para a defesa é de quinze dias. Após, entra-se na fase probatória, e logo depois das alegações finais, há o julgamento.

2 ALIMENTOS E O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Nos últimos anos, o Código de Processo Civil vem sofrendo várias atualizações, entre elas tem-se a que modificou significantemente o processo de execução. A Lei 11.232/05 trouxe em seu bojo, modificações no que diz respeito à execução de sentença que impõe uma obrigação pecuniária.

Atualmente, não há mais, em relação à execução de obrigação pecuniária fixada por sentença, o processo de execução como processo autônomo. O processo de execução deixou de existir, nesse caso, passa-se agora ao chamado cumprimento de sentença, isto é, a execução da sentença é só mais uma fase do processo de conhecimento.

A Lei 11.232/05 não se referiu expressamente acerca da execução de alimentos. O legislador quedou-se silente em relação à revogação ou não do artigo 732, do Código de Processo Civil.

Pela antiga sistemática aplicava-se o art. 732, CPC, que diz que a execução de alimentos far-se-á observando o Capítulo IV, do Livro II, do CPC. Tal Capítulo, atualmente trata da Execução por quantia certa contra devedor solvente. Pela nova sistemática, implantada no que diz respeito à Execução, não há mais, para os títulos judiciais, um processo autônomo para a busca da satisfação do direito, tal procedimento autônomo, diz respeito tão somente aos títulos executivos

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extrajudiciais, logo a obrigação alimentar fundada em decisão judicial, não poderá ser feita como previsto no artigo 732, CPC.

Outrossim, em um análise teleológica da Lei 11.232/2005, tem-se que a “mens legis” foi de dar maior efetividade ao cumprimento da decisão condenatória com trânsito em julgado. Pois:

O elemento teleológico ou racional busca o sentido maior da norma, o seu alcance, sua finalidade, seu objetivo prático dentro do ordenamento e para a sociedade. Constitui a razão de ser da lei, a ratio legis. Se uma lei, por exemplo, foi editada como o sentido de diminuir ou evitar a inflação monetária, para restringir o consumo, nesse sentido deve ser interpretada. Busca-se o sentido social para o qual a lei foi editada (VENOSA, 2004, p. 199).

Assim, não há dúvidas que a aplicação do cumprimento de sentença será observada no que se refere aos alimentos, tendo em vista a não existência de processo autônomo de execução baseada em título judicial.

Nesse sentido entende-se que:

Não houve expressa revogação e nem qualquer alteração no Capítulo V do Titulo II do Livro II, do CPC que trata "Da Execução de Prestação Alimentícia". Também não há nenhuma referência à obrigação alimentar nas novas regras de cumprimento de sentença, inseridas nos Capítulos IX e X do Título VIII do Livro I: "Do Processo de Conhecimento" (CPC, arts. 475-A a 475-R).

Em face disso, boa parte da doutrina sustenta que à execução de alimentos não tem aplicação a nova lei. Um punhado de justificativas impõe que se reconheça como inadequada esta postura. A cobrança de quantia certa fundada em sentença não mais desafia processo de execução específico. O credor só necessita ajuizar execução autônoma quando dispuser apenas de um título executivo extrajudicial. (DIAS, 2007)

Porém, tem-se entendimento que a Lei 11.232/2005 não há de ser aplicada à satisfação da obrigação alimentar. Tal ensinamento diz que:

Como a Lei n. 11.232/2005 não alterou o art. 732 do CPC, continua prevalecendo nas ações de alimentos o primitivo sistema dual, em que acertamento e execução forçada reclamam o sucessivo manejo de duas ações separadas e autônomas: uma para condenar o devedor a prestar alimentos e outra para forçá-lo a cumprir a condenação (THEODORO, 2006, p. 368).

Entretanto, tal entendimento não é o que vem se consolidando doutrina e jurisprudencialmente. Conforme se extrai de decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Família. Processual Civil. Alimentos. Execução. Proposição pelo rito do art. 732 do cpc. Incidência das alterações introduzidas pela lei 11.232/05, aplicável à espécie. Procedimento sob a forma de cumprimento de sentença (art. 475, I), alterações vigentes à época da propositura da execução. Agravo desprovido. (RIO GRANDE DO SUL. TJ, 2007, on line)

Outrossim, “o legislador da Lei n. 11.232/05 esqueceu-se da execução alimentícia. A meu ver, porém, não se pode pensar que essa espécie executiva não receba os influxos da nova sistemática da execução de sentença” (CÂMARA, 2006, p. 165).

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Pois bem, analisando-se as alterações surgidas tem-se que segundo o art. 475-J, do CPC, após o trânsito em julgado da sentença, o devedor tem o prazo de 15 (quinze) dias para efetuar o pagamento voluntariamente, sob pena de ser acrescido ao quantum da condenação, multa de 10% (dez por cento). Pela exegese do artigo, vê-se que é desnecessária a intimação do devedor, seja ela pessoalmente ou na pessoa de seu advogado, para efetuar o pagamento sob pena da incidência da multa. O devedor intimado da sentença, e tendo esta transitado em julgado, deverá efetuar o pagamento da quantia atualizada monetariamente, para se ver livre do pagamento de quantia superior caso tenha-se a incidência da multa de 10% (dez por cento). Em recente julgamento, o Superior Tribunal de Justiça expôs sobre a desnecessidade de intimação do devedor para o cumprimento do julgado4. Não havendo o pagamento voluntário pelo vencido no processo de conhecimento, automático o acréscimo de 10% (dez por cento) sobre a quantia fixada.

Em não havendo o pagamento iniciar-se-á a fase de cumprimento da sentença, que não se dá de ofício, necessitando do requerimento da parte credora, através de petição no autos em que houve o processo de conhecimento.

Iniciada a fase de cumprimento de sentença, será expedido o mandado de penhora e avaliação e em sendo positiva a diligência do oficial de justiça, o executado será intimado de tal penhora para que apresente defesa no prazo de 15 (quinze) dias. O executado poderá, no prazo referido, apresentar impugnação, que a princípio não suspende a execução. O credor, pode ainda na petição que postula o cumprimento de sentença, indicar bens à penhora, mas o juiz não é obrigado a aceitar tais bens.

Entretanto, não me parece que o juiz deva necessariamente aceitar a indicação do credor. A indicação do credor facilita num primeiro momento a efetivação da penhora, porque, não sendo o devedor citado, nem intimado da execução, a não ser depois de cumprida a penhora, não se travará aquela freqüente polêmica entre devedor e credo na escolha dos bens a serem penhorados (GRECO, Revista do Advogado, p. 105)

Após, surge ao credor a oportunidade de adjudicação do bem, diferentemente do que ocorria, não é mais necessário que haja a primeira e segunda praça ou leilão para que seja oportunizado ao exeqüente a adjudicação do bem, tal faculdade será dada ao credor logo após a penhora do bem do executado, conforme art. 685 – A5. 1No antigo regime, a adjudicação pressupunha a existência de hasta negativa, já que a alienação judicial preferia à adjudicação dos bens penhorados. Atualmente, em não havendo a adjudicação do bem, será o mesmo alienado por iniciativa particular. 1Somente, quando não houver requerimento de adjudicação ou de alienação particular é que se procederá ao ato expropriatório por meio da hasta.

Logo, tem-se que ao ser fixada por sentença a obrigação alimentar, e em não havendo o pagamento e, caso o credor não opte pelo rito da coerção pessoal, ou as prestações vencidas não derem ensejo a tal prisão, o devedor deverá efetuar o pagamento sob pena de ser aplicada multa e se procederem aos atos expropriatórios necessários ao pagamento da quantia devida.

cio, necessitando do requerimento da parte credora, que deverivre do pagamento de quantia superior caso tenha-se a incidencia o

3 EXECUÇÃO DE ALIMENTOS COM BASE EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL

As mudanças ocorridas no Código de Processo Civil, também atingiram a execução fundada em título extrajudicial, ou seja, aqueles títulos com eficácia executiva elencados no art. 585, do CPC6. Tal execução, diferentemente da fundada em título executivo judicial, dar-se-á de forma autônoma, isto é, necessário a instauração de um processo de execução e não de mera fase do processo de conhecimento, haja vista que em relação a tais títulos não há um prévio procedimento judicial de declaração do direito.

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Anteriormente à Lei 11.382/06, na execução de títulos extrajudiciais o devedor era citado para em 24 (vinte e quatro) horas pagar o valor devido, ou nomear bens à penhora, de tal forma era o despacho inicial do processo. Com a entrada em vigor de tal Lei, que alterou dispositivos no Código de Processo Civil, o devedor não é mais citado para pagar em 24 (vinte e quatro horas) ou nomear bens à penhora, atualmente o réu do processo de execução é citado para em 3 (três) dias pagar a quantia devida e, em não quitando a dívida, o oficial de justiça deverá proceder à penhora dos bens e avaliá-los de imediato, ex vi do artigo 652, CPC.

Não há mais para o executado a oportunidade de oferecer bens à penhora em alternativa ao pagamento. No prazo de 3 (três) dias deverá haver o pagamento, sob pena de sofrer os atos executivos. Entretanto, havendo o pagamento, os honorários previamente fixados no despacho inicial do juiz, serão diminuídos à metade. Outrossim, mesmo não havendo mais tal oportunidade de nomeação de bens para penhora em opção ao pagamento, o Juiz a qualquer tempo, de ofício ou a requerimento do credor, procederá à intimação do devedor para que indique bens passíveis de penhora e o local onde se encontram. Tal intimação dar-se-á na pessoa do advogado, ou no caso de não haver procurador, a intimação será feita pessoalmente.

O executado poderá oferecer defesa que se dará através de embargos. Atualmente, diferentemente do que ocorria, não há necessidade que a execução esteja garantida, ou seja, não é requisito para a propositura dos embargos que haja prévia penhora, caução ou depósito. O executado, no prazo de 15 (quinze) dias contatos da juntada do mandado de citação, pode oferecer embargos.

Mudança significativa ocorreu com a inserção do art. 739 – A7, CPC, que aduz que os embargos não terão efeito suspensivo. Assim a execução não será paralisada em razão da oferta de embargos. Porém, poder-se-á atribuir efeito suspensivo, quando houver o receio de grave dano de difícil reparação ao executado. Conforme o parágrafo primeiro de tal artigo, para haver a possibilidade de suspensão da execução em razão da oferta de embargos, é necessário que a execução esteja devidamente garantida através de penhora, caução ou depósito, sendo tal garantia requisito sem o qual não poderá haver a suspensão da execução.

Em comentário à possibilidade de suspensão da execução, afirma-se que:

Para fins do dispositivo em análise, contudo, não basta a ocorrência daqueles dois pressupostos. Não é suficiente, para atribuição de efeitos suspensivo aos embargos à execução, que o executado-embargante comprove a ocorrência de fumus boni iuris e periculum in mora. A Lei n. 11.382/2006 e o art. 475-M reservam para a “impugnação” que se volta, por definição, ao questionamento dos atos executivos praticados com base em títulos judiciais.

A atribuição de efeito suspensivo para os casos de embargos à execução – a medida de que se vale o executado para voltar-se à execução de títulos extrajudiciais – depende, também, de a execução estar “garantida por penhora, depósito ou caução suficientes”. (BUENO, 2007, p. 272)

É possível ao executado, com fulcro no artigo 745-A, requerer o parcelamento da dívida. Para tanto, é necessário que haja um prévio depósito de 30% (trinta por cento) do valor devido e o restante poderá ser divido em até 6 (seis) vezes, parcelas essas, que serão atualizadas monetariamente. Em havendo tal petitório, o executado não mais poderá ofertar embargos, mesmo que haja a rejeição de tal pedido. Sendo deferido tal pleito e ocorrendo a mora do executado em relação a qualquer das parcelas, as prestações vincendas serão consideradas vencidas e acrescer-se-á multa de 10% (dez) por cento sobre o restante devido.

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Não tendo sido a dívida quitada, seja pelo pronto pagamento ou pelo parcelamento, após a penhora o bem é vendido ou adjudicado pelo credor para a satisfação do débito.

Em relação à execução dos alimentos, que se fundar em título extrajudicial, independente de as prestações devidas serem recentes ou mais remotas, o rito a ser seguido será a atual execução de título extrajudicial. O devedor de alimentos, será citado para pagar em 3 (três) dias a quantia devida e poderá oferecer embargos. Posteriormente, com a penhora do bem, poderá haver a adjudicação do bem ou alienação, seja por iniciativa particular ou por hasta.

4 EXECUÇÃO PELO RITO DA COAÇÃO PESSOAL

A decisão que fixa alimentos provisórios, provisionais ou a sentença que fixa alimentos definitivos, dá ensejo à prisão civil do executado.

Os alimentos são necessários mês a mês, assim o devedor de alimentos deve prestá-los com regularidade, pois trata-se de garantir a sobrevivência de outrem. O legislador, atento à necessidade de tornar mais célere o recebimento de tal prestação, possibilitou, em não havendo o pagamento, a prisão civil do devedor.

O executado é citado para em três dias pagar, provar que fez o pagamento ou justificar a impossibilidade de fazê-lo. Em regra geral o despacho inicial do juiz tem a seguinte forma:

Nos termos do art. 733 do Código de Processo Civil, cite-se o executado para em 3 (três) dias efetuar o pagamento das prestações, no valor de R$ 1.575,00 ( um mil quinhentos e setenta e cinco reais), provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Se não pagar, nem se escusar, ser-lhe-á decretada a prisão pelo prazo de 60 (sessenta) dias8.

O art. 733, CPC, foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, tendo sido expressamente autorizada a prisão civil do devedor de alimentos9.

A jurisprudência e a doutrina, consolidaram que a execução de alimentos que dá a possibilidade de prisão civil do devedor, é a que se refere às prestações recentes, ou seja, as três últimas parcelas anteriores ao ajuizamento da ação. Entendeu-se que tendo em vista o caráter de subsistência dos alimentos, as parcelas pretéritas, anteriores às três últimas, perderam o caráter alimentar, dessa forma sua execução será pelo rito do cumprimento de sentença, com incidência de multa e penhora, conforme já exposto. Pois:

a prisão civil não deve representar forma de coação para o pagamento da totalidade das parcelas em atraso, pois, deixando o credor que o débito se acumule por um prolongado tempo, aquela dívida terá perdido o caráter alimentar, passando a ser simples ressarcimento das despesas feitas anteriormente; a decretação da prisão deve fundar-se na necessidade de socorro urgente e de subsistência imediata do alimentado, referindo-se assim, a débito atual, por isso que os débitos em atraso, já não mais desfrutam do caráter alimentar, esvaindo-se pelo que o fundamento jurídico e teleológico da prisão civil, assim, havendo crédito, em atraso, que pode ser postulado pelas vias próprias, não há como trocar o caráter compulsivo da medida, pelo punitivo ou coercitivo contra o devedor relapso (CAHALI, 2002, p.1022)

Em relação às mudanças ocorridas no Código de Processo Civil, vê-se que não houve interferência em tal procedimento, visto que as alterações dizem respeito à execução em que há a expropriação de bens do devedor para a satisfação da dívida. Assim, a prisão civil do devedor de alimentos continua totalmente plausível e possível.

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Surge a discussão se os alimentos decorrentes do divórcio ou separação feitos pela via administrativa, conforme autoriza a Lei 11.441/07, seria dada a possibilidade de executar-se tais prestações pelo rito da coerção pessoal previsto no art. 733, do CPC. Aduz-se que:

O artigo 733 é claro: "Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo."

Sob interpretação literal, o mencionado dispositivo, apresenta uma resposta negativa à possibilidade de execução da escritura pública de alimentos, haja vista estar-se diante de um título executivo extrajudicial, o que contraria a previsão do artigo.

Entretanto, não parece ser o melhor entendimento a ser aplicado neste momento em que uma novel legislação, se manejada sob o rigor da lei, cerceará uma ferramenta eficiente na busca de uma resolução que envolve alimentos e que há muito vem sendo utilizada com sucesso.

Sim, porque na maioria dos casos, o débito alimentar é quitado na iminência ou na efetivação da prisão do devedor.

Desta forma, há de se atentar que em matéria famélica a tutela deve ser diferenciada e aí porque já existir mecanismos que permitem a proteção e a execução especial. Ao se tratar de alimentos, implicitamente se aborda o direito à vida, ou seja, direito fundamental previsto na Constituição Federal.

E realmente não parece intentar a recente norma afrontar tais princípios e direitos já concretizados em nossas leis, doutrinas e jurisprudência.

Seria realmente um retrocesso do sistema não permitir a execução nos moldes do artigo 733 do Código de Processo Civil, como supracitado, pois, se assim for, além de latente prejuízo ao credor de alimentos, ter-se-á malfadado benefício ao devedor (DOMINGUES, 2007)

Entretanto, em que pese, eventual afirmativa em relação a tal possibilidade, tem-se que não é possível haver na execução de um título extrajudicial o ensejo à prisão civil do devedor de alimentos. Ora o artigo 733 fala sobre decisão judicial, ou seja, necessário um processo judicial e, tendo em vista que se trata de direito à liberdade, deve-se fazer uma interpretação restritiva de tal artigo. É necessário que o intérprete se faça valer de tal interpretação:

(...) limitando a incidência do comando normativo, impedindo que produza efeitos injustos ou danosos, porque suas palavras abrangem hipóteses que nelas, na realidade, não se contêm. Esse ato interpretativo não reduz o campo da norma, determina-lhe tão-somente os limites ou as fronteiras exatas, com o auxílio de elementos lógicos e de fatores jurídico-sociais, possibilitando a aplicação razoável e justa da norma de modo que corresponda à sua conexão de sentido (DINIZ, 1998, p. 430)

Logo, entende-se que não é possível a prisão do devedor de alimentos fundando em título executivo extrajudicial, correndo tal execução pelo procedimento de expropriação de bens.

Nesse sentido:

Agravo de instrumento. Execução de alimentos baseada em titulo extrajudicial. Prisão civil. Descabimento. Dívida de alimentos representada por titulo executivo extrajudicial, pode

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embasar execução por quantia certa contra devedor solvente (art. 732 do CPC), mas não execução com ameaça de prisão civil, na forma prevista no art. 733 do CPC. Recurso desprovido, por maioria. (RIO GRANDE DO SUL. TJ, 2007, on line)

Assim, tem-se que na execução da obrigação alimentar fundada em título executivo judicial é possível a utilização do rito da coerção pessoal. Rito este, que tem a característica de maior efetividade e celeridade, pois o devedor para se ver livre da prisão deverá efetuar o pagamento da quantia executada. E, conforme entendimento sumulado do STJ10, o devedor de alimentos para se ver livre da prisão, deverá efetuar o pagamento das três últimas parcelas em atraso anteriores ao ingresso da ação e também as que se venceram durante o curso do processo.

CONCLUSÃO

Almejando-se a uma maior efetividade da prestação jurisdicional, o legislador alterou diversos dispositivos do Código de Processo Civil pátrio. Entre estas alterações destaca-se a que modificou significantemente o processo de execução. Para a satisfação de obrigação pecuniária, constituída em sentença, não há mais necessidade de instauração de processo autônomo de execução, mister simplesmente petição protocolizada nos autos em que correu o processo de conhecimento para se iniciar a fase de cumprimento de sentença. Quanto aos títulos executivos extrajudiciais, houve mudanças que alteraram o procedimento, entretanto, ainda é necessário o ingresso de ação autônoma, haja vista que para tais títulos não houve um prévio processo de conhecimento.

Em relação à obrigação alimentar, surgiram diversas interpretações acerca da aplicabilidade ou não de tais modificações. Em que pese a não revogação expressa do artigo 732, CPC, chega-se à conclusão que as alterações do Código de Processo Civil são perfeitamente aplicáveis ao recebimento da obrigação de prestar alimentos. Através de uma interpretação teleológica, vê-se que não há justificativa plausível para que o credor de alimentos não seja beneficiado com o novo procedimento. O escopo das reformas foi justamente possibilitar àqueles que buscam o judiciário, uma forma mais rápida de satisfação do direito previamente declarado em processo de conhecimento. Assim, adotando-se o método de interpretação filológico ou gramatical, o credor da obrigação alimentar será prejudicado, pois utilizar-se-ia para tais títulos, o modelo bifásico em detrimento do objetivo do legislador e dos princípios de maior efetividade da justiça e duração razoável do processo.

Outrossim, as prestações alimentícias em atraso, podem ser executadas através do rito da coerção pessoal, com fulcro no artigo 733, CPC. A possibilidade de decreto prisional limita-se às prestações vencidas e em atraso há menos de três meses, conforme construção doutrinária e jurisprudencial.

REFERÊNCIAS

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_____. A nova etapa da reforma do código de processo civil. São Paulo: Saraiva, 2007. 1v.

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

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_____.Lições de direito processual civil. 14 ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2007.

DA CUNHA, Leonardo José Carneiro. Curso de direito processual civil. 3 ed. Salvador: Jus Podivm, 2007.

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NOTAS DE RODAPÉ

1 Graduado em Direito. Mestrando em Ciência da Educação. Pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil. Professor Universitário.

Page 11: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

2 Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

3 Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I – ...

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

4 LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor. 2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la. 3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. [RESP. N. 954.959 – RS (2007/0119225-2)].

5 Art. 685-A.  É lícito ao exeqüente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados os bens penhorados.

§ 1o  Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente.

§ 2o  Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado.

§ 3o  Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem.

§ 4o  No caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à sociedade, esta será intimada, assegurando preferência  aos  sócios.

§ 5o  Decididas eventuais questões, o juiz mandará lavrar o auto de adjudicação.

6 Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

Page 12: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

7 Art. 739-A.  Os embargos do executado não terão efeito suspensivo.

§ 1o  O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.

§ 2o  A decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada, cessando as circunstâncias que a motivaram.

§ 3o  Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da execução, essa prosseguirá quanto à parte restante.

§ 4o  A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executados não suspenderá a execução contra os que não embargaram, quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao embargante.

§ 5o  Quando o excesso de execução for fundamento dos embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que entende correto, apresentando memória do cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento.

§ 6o  A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de penhora e de avaliação dos bens.

8 Exemplo extraído de processo em curso em Vara de Família.

9 Artigo 5º. inciso LXVII.

10 Súmula 309, STJ - O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. 

Revista Jus Vigilantibus, Sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Page 13: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Modelo de Execução de Alimentos art. 733 com fundamento

Como eu sei o quanto é difícil achar petição de execução pelo art. 733 simples mas ao mesmo tempo fundamentada... segue:___________________________________________________________________EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DE FAMÍLIA DA COMARCA DE CIDADE/ESTADO, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL

Page 14: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

NOME DO MENOR, menor impúbere, neste ato representado por sua mãe, NOME DA MÃE, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliada à Rua ENDEREÇO vêm, por meio dos procuradores infra-assinados (instrumento de mandato incluso), respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS (rito 733 CPC)

em face de NOME DO PAI, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliada à Rua ENDEREÇO, com fulcro no artigo 5º, LXVII, da Constituição Federal, na Lei nº 5.478/68, no artigo 733 do Código de Processo Civil e demais dispositivos aplicáveis à espécie, pelos fatos e fundamentos que passam a expor:

I. DOS FATOS

O aqui credor é fruto do relacionamento havido entre sua mãe e representante, e o executado, conforme certidão de nascimento em anexo. Rompidos os laços afetivos outrora existentes com a mãe do exeqüente, o executado pouco prestou assistência aos menores, interrompendo, em definitivo, COLOCAR QUANDO ELE PAROU DE PAGAR, os alimentos que prestava aos menores desde DATA QUE ELE COMEÇOU A PAGAR, em virtude de sentença arbitrada, autos nº 106.00.000000-0 que tramita na 1ª Vara de Família desta Comarca, a qual fixou alimentos na base de 01% de seu salário, porém a dívida já perpassa meses de total inadimplemento.A despeito da conjuntura acima exposta e da premente necessidade dos exeqüentes, cujas despesas são arcadas, a duro esforço, exclusivamente por sua mãe, comparece perante este respeitável juízo, ajuizando a presente execução, no afã de obter a pensão alimentícia que lhe é devida por direito.

II. DO FUNDAMENTO

O estatuto adjetivo pátrio proporciona meios hábeis para se promover a execução dos alimentos fixados em sentença judicial, na forma explicitada pelo artigo 733, do Código de Processo Civil, in verbis:Art. 733 - Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.§ 1º - Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.§ 2º - O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas.§ 3º - Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão.

Dispõe o seguinte a súmula nº 309 do Superior Tribunal de Justiça acerca dos alimentos:

Débito Alimentar - Prisão Civil - Prestações Anteriores ao Ajuizamento da Execução e no Curso do ProcessoO débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.(STJ Súmula nº 309 - 27/04/2005 - DJ 04.05.2005 - Alterada - 22/03/2006 - DJ 19.04.2006)

Em Processo de Execução de Alimentos não se discute mérito, apenas, executa-se a sentença (título executivo judicial) em favor daqueles que tem um direito líquido, certo, exigível, e que está sendo cerceado em virtude do inadimplemento daquele que deveria ser um dos primeiros a oferecer auxílio.

III- DO PEDIDO

Page 15: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Ex Positis, vem o exeqüente, à presença de Vossa Excelência, requerer o seguinte:a) os benefícios da justiça gratuita por não ter condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo do próprio sustento ou da família na forma da lei 1060/50;

b) a citação do executado, no endereço constante do preâmbulo desta, para que, em três (3) dias, pague a quantia equivalente aos três meses imediatamente anteriores à propositura da ação, o equivalente à R$ 01,00 (um real), conforme planilha em anexo, prove que o fez ou justifique a impossibilidade de fazê-lo, sob pena de prisão, nos termos do art. 733, §1º, do CPC;c) a intimação do Ministério Público para atuar no feito, nos termos do artigo 82, inciso I, do Código de Processo Civil sob pena de nulidade do processo conforme dispõe o art. 246 do mesmo diploma legal;

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 01,00 (um real), para fins de alçada.Nesses Termos,Espera Deferimento.

CIDADE/ESTADO, DIA de MÊS de ANO

NOME DO ALUNOAcadêmica de Direito

NOME DO ADVOGADOOAB/RN sob nº 661-A

Anexar Planilha de débito alimentar atualizada

Acórdão nº 70023210321 de Tribunal de Justiça do RS, Sétima Câmara Cível, 30 de Julho de 2008

Page 16: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. INTIMAÇÃO PARA PAGAMENTO. PROCEDIMENTO DO ART. 733 DO CPC. INTIMAÇÃO VIA NOTA DE EXPEDIENTE. 1. Tratando-se de execução de alimentos na modalidade do art. 733 do CPC, é imprescindível a citação pessoal do réu para pagar ou justificar a impossibilidade. 2. Revela-se desnecessária nova citação ou mesmo a intimação pessoal do devedor para pagar, quando está claro que ele deliberadamente vem se ocultando com o propósito de obstaculizar o cumprimento da obrigação. 3. É cabível a intimação do executado via nota de expediente, para que pague o valor sob pena de prisão, pois para isso ele já havia sido regularmente citado. Recurso desprovido. (Agravo de Instrumento Nº 70023210321, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 30/07/2008)

Page 17: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E A APLICABILIDADE DA LEI N.º 11.232/2005

EM SUA SISTEMÁTICA: As alterações advindas com a Lei n.º 11.232/2005 e sua

provável aplicação ao rito da execução das prestações alimentícias

 

 

 

Antenor Costa Silva Júnior*

 

São Luis/MA - 2010

 

 

 

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO; 1 MEIOS EXECUTÓRIOS DA

OBRIGAÇÃO ALIMENTAR; 1.1 Descontos em Folha de

Pagamento; 1.2 Coação Pessoal; 1.3 Expropriação; 2 A

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E A LEI N.º 11.232/2005; 2.1 O

Princípio Constitucional da Celeridade; 2.2 Teses Contrárias e

Favoráveis à Aplicabilidade da Lei nas Execuções do Encargo

Alimentar; 2.3 Breve Estudo acerca dos Dispositivos Controversos

da Lei n.º 11.232/2005; 3 PRINCIPAIS ENTRAVES AOS MEIOS

EXECUTÓRIOS DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS; 3.1

Sugestões de Medidas Assecuratórias à Solvibilidade do Devedor;

CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS.

 

 

 

 

 

 

_________________ 

Page 18: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

*Acadêmico do 10º período do Curso de Direito - UNDB  RESUMO  Demonstra-se que as alterações trazidas pela Lei n.º 11.232/2005, a despeito de louváveis entendimentos, são aplicáveis ao rito da execução de alimentos, previsto no artigo 732 do Código de Processo Civil. Apresenta-se estudo teórico sobre as diversas modalidades de execução de alimentos, suas peculiaridades, bem como se foram ou não alteradas pela mencionada Lei. Aborda-se a importância do princípio constitucional da celeridade, mormente nas ações de alimentos. Analisa-se a produção doutrinária nacional quanto à aplicabilidade ou não da referida Lei à execução de alimentos. Refutam-se as teses contrárias a não aplicabilidade do dispositivo legal, ao argumento da interpretação literal da lei, demonstrando os prejuízos a que os credores de alimentos estarão sujeitos. Descrevem-se os principais entraves aos meios executórios dos alimentos. Listam-se possíveis soluções à efetividade da tutela executiva de alimentos, através de medidas assecuratórias da solvibilidade do devedor.  Palavras-chave: Execução de alimentos. Lei n.º 11.232/2005. Aplicabilidade.     ABSTRACT Its demonstrated that the alterations brought for the Law n.º 11.232/2005, the spite of praiseworthy agreements, are applicable to the rite of the food execution, foreseen in article 732 of the Code of Civil Process. Theoretical study on the diverse modalities of food execution is presented, as well as if they had been or not modified for the mentioned Law. The importance of begins it constitutional of the agility, mainly in the food actions its approached. Its analyzed national doctrinal production how much the applicability or not of the related Law to the food execution. The contrary thesis to not the applicability of the legal device are refuted, to the argument of the literal interpretation of the law, demonstrating the damages the one that the food creditors will be submit.The main impediments to the food executory are described. Possible solutions to the effectiveness of the executive food guardianship are listed, through assuring measures that guarantee the payment for the debtor.  Word key: Food execution. Law n.º 11.232/2005. Applicability.  

 

 

Page 19: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

  

INTRODUÇÃO

 

 

A omissão do legislador quanto à aplicabilidade do instituto do cumprimento da

sentença, trazido pela Lei n.º 11.232/2005, à execução das prestações alimentícias e, a

necessidade de tornar mais célere referida tutela executiva justificam a escolha do tema

sobre o qual se pretende construir esse trabalho monográfico.

Com a recente reformulação do Código de Processo Civil que alterou

substancialmente o processo de execução, no que toca aos títulos executivos judiciais, não

houve modificação da execução de alimentos, fato que trouxe dúvidas acerca da

aplicabilidade das normas atinentes ao cumprimento da sentença aos encargos de natureza

alimentícia.

Deste modo, seriam as alterações advindas com referida Lei aplicáveis ao rito

da execução das prestações alimentícias, ante a omissão legislativa? Que outros meios,

além da efetiva aplicação da citada Lei, seriam capazes de impor maior celeridade à

prestação da tutela executiva de alimentos, reconhecidamente direito fundamental?

Conquanto existam aqueles que acreditam ainda permanecer o velho

procedimento de execução, em atenção ao que dispõe o artigo 732 do Código de Processo

Civil, o qual remete tal procedimento ao rito previsto no Capítulo IV do Título II do Livro

II do Código de Processo Civil – portanto, distante da aplicação das novas regras dos

artigos 475-I e seguintes –, respeitáveis vozes têm se manifestado no sentido de que a nova

espécie de execução é perfeitamente aplicável ao caso em espécie.

Instalada a controvérsia acerca de qual procedimento deve ser adotado pelo

alimentante, propõe-se como hipótese provisória, a defesa de que a cobrança de condenação

imposta judicialmente, no que toca aos alimentos, não mais prescinde do arcaico processo

de execução, mas cuida-se tão somente de mera fase incidental do processo de

conhecimento.

E justamente porque o que oxigena o direito e, conseqüentemente traz o que é

melhor ao jurisdicionado é o posicionamento divergente, se apresentarão também

entendimentos contrários à tese pretendida, por importantes e imprescindíveis à matéria.

Page 20: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Partir-se-á do princípio de que a exclusão dos alimentos ao procedimento

advindo da Lei n.º 11.232/2005 trará, antes de tudo, malefícios ao alimentante, ficando este

desprovido dos novos meios, inclusive mais céleres, de garantia de solvibilidade do

devedor.

O arsenal teórico encontrado sobre a matéria será apresentado, para refutar a

interpretação meramente literal da lei, que exclui do credor seus benefícios, como o que

possibilita a aplicação de multa como forma de agilizar o adimplemento do devedor do

crédito alimentar.

Nesse sentido, louvável entendimento de Câmara (2006, p. 151), ao afirmar

que:

Ao se considerar que nada foi modificado em relação à execução de prestação alimentícia, ter-se-ia de concluir que o credor de alimentos ficou prejudicado, não se podendo valer das vantagens do novo sistema de execução de sentença (e outros provimentos judiciais).  

Vislumbra-se, a priori, que doutrina e jurisprudência devem se alinhar no

sentido da aplicabilidade da referida lei, eis que a falta de modificação do texto legal não

deve ser interpretada como intenção de afastar o procedimento mais célere e eficaz logo da

obrigação alimentar, cujo bem tutelado é justamente a vida.

Com efeito, a ação de alimentos busca preservar o direto à vida, que

não se trata apenas de interesse privado do alimentante, vez que se refere à

matéria de ordem pública.

Portanto, uma releitura dos artigos 732 a 735 do Código de Processo

Civil será feita, cuja interpretação será à luz dos novos dispositivos do referido

Diploma Processual relativos ao cumprimento da sentença (artigos 475-I a 475-R).

Analisar-se-ão também as peculiaridades e características da Lei n.º

11.232/2005, bem como, qual o procedimento a ser adotado pelos litigantes em

cada caso concreto.

Por certo, razões com respaldo jurídico serão apresentadas para

justificar a aplicação do novel instituto. Consultas a fontes legais e jurisprudenciais

serão feitas e avaliadas, reconhecendo-se assim a imprescindibilidade e

importância dos debates sobre a matéria.

Page 21: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Ainda, do estudo dos demais meios executórios dos alimentos, bem

como se foram ou não alterados pela Lei também se ocupará este trabalho, que

tratará, no mais, dos principais entraves às diversas espécies de execução de

alimentos e as sugestões encontradas com o fito de impor mais efetividade à

tutela executória.

É certo que este trabalho não silenciará os contrários à aplicabilidade da

referida Lei ao procedimento em apreço, mas constitutir-se-á em mais uma posição

favorável a tal mister.

 

1 MEIOS EXECUTÓRIOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

 

 

Inserido entre as garantias da pessoa humana, como corolário do direito à vida e

do princípio da dignidade da pessoa humana, o direito aos alimentos não pode prescindir de

eficiente execução.

Há de se garantir, através de todos os meios possíveis, a solvibilidade do

devedor, sobe pena de se por em risco a própria sobrevivência do alimentante, ou seja,

daquele que não é capaz de, per si, promover o sustento.

Nesse sentido, Dias (2006, p. 450) ressalta que:

A imposição do dever alimentar busca preservar o direito à vida, assegurado constitucionalmente (CF 5º). Os alimentos não dizem respeito apenas com o interesse privado do alimentante. Há interesse geral no seu adimplemento, por isso se trata de obrigação regulada por norma cogente de ordem pública.  

Desse modo é que a tutela executiva, mormente no que toca aos alimentos,

passou a ser considerada como direito fundamental – seguindo a tendência irreversível da

constitucionalização do Direito Civil – havendo, por parte de seus especialistas, constante

preocupação em proporcionar a imediata e integral satisfação do direito pleiteado.

Cahali (2002, p. 967), reporta-se ao assunto ao sustentar que:

Considerando a relevância do crédito por alimentos, as particularidades das prestações a ele relativas, observa Humberto Theodoro Junior terem sido acrescentadas ao procedimento comum algumas medidas tendentes a tornar efetiva a execução de maneira

Page 22: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

mais célere, atendendo ademais a certos requisitos da obrigação alimentícia.

 Por esta razão estabeleceu-se um rito próprio para a ação de execução de

alimentos, contido tanto na Lei n.º 5.478/1968, denominada lei de alimentos, quanto no

Código de Processo Civil, tendo por meios executórios: o desconto em folha de pagamento

(art. 734 do CPC1[1]), a coerção pessoal (art. 733, § 1º do CPC2[2]) e a expropriação (art.

732 do CPC3[3]).

Sem embargos do exposto, verifica-se uma flexibilidade de meios executórios

previstos pelo legislador para o exato cumprimento da dívida alimentar (LIMA, 1983, p.

112).

Podem ser citadas as chamadas medidas assecuratórias, como a constituição de

usufruto, prevista no artigo 21, §1º, da Lei de Divórcio4[4] e a garantia através de renda

temporária, disposta no artigo 475-Q do CPC5[5], que, malgrado não tenham relação direta

com os meios executórios, possuem a finalidade de impedir o inadimplemento, afastando a

necessidade de executar a sentença.

A seguir, serão apresentados os meios executórios previstos tão somente no

Código de Processo Civil e na Lei de Alimentos.

 

 

1.1 Desconto em Folha de Pagamento

1[1] Art. 734. Quando o devedor for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, o juiz mandará descontar em folha de pagamento a importância da prestação alimentícia.Parágrafo único. A comunicação será feita à empresa ou ao empregador por ofícios, de que constarão os nomes do credor, do devedor, a importância da prestação e o tempo de sua duração. (Vade Mecum, 2007, p. 457).2[2] Art. 733. ...§ 1º. Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á prisão pelo prazo de 01 (um) a três meses. (Vade Mecum, 2007, p. 457).3[3] Art. 732. A execução de sentença, que condena ao pagamento de prestação alimentícia, far-se-á conforme o disposto no Capítulo IV deste Título. (Vade Mecum, 2007, p. 457).4[4] Art. 21 - Para assegurar o pagamento da pensão alimentícia, o juiz poderá determinar a constituição de garantia real ou fidejussória. § 1º - Se o cônjuge credor preferir, o juiz poderá determinar que a pensão consista no usufruto de determinados bens do cônjuge devedor. (Vade Mecum, 2007, p. 1336).5[5] Art. 475-Q. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. (Vade Mecum, 2007, p. 435).

Page 23: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

 

 

Com nítido caráter prioritário, em razão da simplicidade e da eficiência no

procedimento, a modalidade em comento é das mais utilizadas, precedendo, inclusive à

expropriação e a coerção pessoal.

Previsto no artigo 734 do CPC6[6] e artigo 16 da Lei de Alimentos7[7], o

desconto ou consignação em folha de pagamento cuida-se de maneira fácil e rápida de

cumprimento de decisões interlocutórias ou sentenças.

Dias (2006, p. 433) assevera que:

O critério mais seguro e equilibrado para a definição do encargo é o da vinculação aos rendimentos do alimentante. Dessa maneira, fica garantido o reajuste dos alimentos no mesmo percentual dos ganhos do devedor, afastando-se discussões acerca da defasagem dos valores da pensão. Dita modalidade, além de guardar relação com a capacidade econômica do alimentante, assegura o proporcional e automático reajuste do encargo. 

Cahali (2002, p. 969) vai além ao afirmar que:

A doutrina identifica aqui, um caso especial de arresto, porque essa medida tem como fim conservar em mão de terceiro a soma suficiente para pagamento do que é devido ao credor impedindo que se subtraia à solução da dívida.

Impende ainda esclarecer que não obsta à sua determinação o fato de nada

haver sido pactuado a respeito no acordo ou mesmo fixado em sentença, bastando a simples

deliberação do magistrado, mediante ofício, dispensada anuência do alimentante.

Ressalva-se, porém, que em havendo outra forma de convenção entre as partes

e, diante do adimplemento regular do débito, a regra é que permaneça tal como pactuado,

devendo ser aplicado o presente meio apenas nos casos de omissão quanto à forma do

pagamento, ou ainda, se restar demonstrado o não cumprimento da obrigação, sob pena de,

injustificadamente, alterar-se cláusula livremente acordada pelas partes.

6[6] Cf. n. 1.7[7] Art. 16. Na execução da sentença ou do acordo nas ações de alimentos será observado o disposto no artigo 734 e seu parágrafo único do Código de Processo Civil. (Vade Mecum, 2007, p. 1229).

Page 24: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Em todo caso, cabe ao alimentado o ônus de identificar a fonte pagadora do

requerido e informá-la em juízo, que poderá, caso for, requisitar informações necessárias ao

fiel cumprimento do encargo, inteligência do artigo 20 da Lei n.º 5.478/19688[8].

O empregador ou funcionário que deixar de prestar ao juízo competente as

informações requeridas incorrerá em delito previsto no artigo 22 da referida Lei9[9], cuja

pena é de detenção de 06 (seis) meses a 01 (um) ano, sem prejuízo da pena acessória de

suspensão do emprego por um período de trinta a noventa dias.

No mesmo sentido é a recusa ou demora em dar fiel cumprimento ao encargo,

deixando de executar a ordem de desconto em folha de pagamento. Restará igualmente

configurado delito penal, tipificado no artigo 22, parágrafo único10[10], da já mencionada

lei, constituindo-se crime contra a Administração da Justiça.

Por fim, cabe anotar que a Lei n.º 11.232/2005 em nada alterou a modalidade

executória do desconto em folha de pagamento, mesmo porque, em geral, tal procedimento

ainda é adotado por ocasião da sentença, antes de se saber se haverá a fase posterior

executória ou não, até como forma de cumprimento “forçado”, a fim de se evitar o

inadimplemento.

Apenas em alguns casos é que o débito pode ser amortizado em parcelas a

serem descontadas em folha de pagamento, conforme prudência e bom senso do juiz,

ocasião em que não há que se falar em modificação do procedimento pela Lei em

referência.

Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado:

ALIMENTOS VENCIDOS. Inexistência de bens passíveis de penhora. Desconto em folha de pagamento. Possibilidade legal. Não possuindo o devedor bens passíveis de constrição, possível é a

8[8] Art. 20. As repartições públicas, civis ou militares, inclusive do Imposto de Renda, darão todas as informações necessárias à instrução dos processos previstos nesta lei e à execução do que for decidido ou acordado em juízo. (Vade Mecum, 2007, p. 1229).9[9] Art. 22. Constitui crime conta a administração da Justiça deixar o empregador ou funcionário público de prestar ao juízo competente as informações necessárias à instrução de processo ou execução de sentença ou acordo que fixe pensão alimentícia:Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, sem prejuízo da pena acessória de suspensão do emprego de 30 (trinta) a 90 (noventa) dias. (Vade Mecum, 2007, p. 1229).10[10] Art. 22. ...Parágrafo único. Nas mesmas penas incide quem, de qualquer modo, ajuda o devedor a eximir-se ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada, ou se recusa, ou procrastina a executar ordem de descontos em folhas de pagamento, expedida pelo juiz competente. (Vade Mecum, 2007, p. 1229).

Page 25: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

penhora de parte de seus proventos para garantir o pagamento da dívida de alimentos, até que a dívida seja integralmente solvida, operando-se a execução nos moldes do que dispõe o 732 do CPC. Com isso, resta garantido o adimplemento da obrigação alimentar, solvendo a pendência, e o alimentante não fica privado do seu próprio sustento (CPC 723, § único). (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Agravo de Instrumento 70002857712 – Órgão Julgador: 7ª Câmara Cível – Relator Des. Sérgio Chaves – Data do Julgamento 03/10/2001).

 

 

 1.2 Coação Pessoal

 

 

O Pacto de São José da Costa Rica11[11], também conhecido como a

Convenção Americana de Direito Humanos, já trazia em seu artigo 712[12], 7, a

possibilidade da prisão por dívida alimentar, o que também restou expresso na Constituição

Federal de 198813[13].

Por outro lado, o Código de Processo Civil14[14] e a Lei de Alimentos15[15]

também versam sobre a matéria, sendo pacífico o entendimento sobre a possibilidade de

utilização dessa modalidade de meio executório.

A prisão civil é medida de exceção porquanto no direito pátrio a regra é a

liberdade. No entanto, pela natureza do bem a ser tutelado, a presente medida é plenamente

justificável e tem salutar significação.

Assim também é o entendimento de Pereira (1977 apud RIZZARDO, 2006, p.

831):

11[11] Aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo 27, de 25.09.92 e promulgado pelo Decreto 678 de 06.11.92.12[12] Art. 7... 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. 13[13] Art. 5º...LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; (Vade Mecum, 2007, p. 10).14[14] Cf. n. 2.15[15] Art. 18. Se, ainda assim, não for possível a satisfação do débito, poderá o credor requerer a execução da sentença na forma dos artigos 732, 733 e 735 do Código de Processo Civil. (Vade Mecum, 2007, p. 1229).

Page 26: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

A prisão por alimentos não se refere a uma dívida comum, de direito das obrigações, mas sim, tutela interesses sociais e individuais de indescritível essencialidade. É a própria sobrevivência-valor, obviamente, em escala altíssima no tocante às conveniências dos devedores.

 Cuida-se de rito próprio, no qual o devedor, a despeito de regularmente citado

não paga ou não justifica o débito, no prazo de três dias.

No que toca as escusas plausíveis a serem ofertadas pelo devedor, oportunos

são os exemplos de Assis (2004, p. 182):

Na rica casuística de hipóteses, a jurisprudência aponta os seguintes fatos como hábeis e eficazes para retratar momentânea falta de recursos do obrigado: o desemprego total; a despedida de um dos empregos que mantinham o devedor; a repentina aparição de moléstia; e a pendência de paralela demanda exoneratória da obrigação alimentar. No entanto, impõe-se prova convincente desses fatos, pois a jurisprudência do STJ endureceu, haja vista as mazelas econômicas gerais, advertindo: “A simples alegação de desemprego não é bastante para eximir o devedor do pagamento das prestações acordadas”.  

Portanto, cabe ao alimentante apenas o argumento fundamentado da

impossibilidade temporária, uma vez que o entendimento é que, se este consegue, de

alguma forma, se manter, deve oferecer o pouco que tem ao alimentando, que em regra,

nem do mínimo dispõe, ainda mais nos casos de alimentos arbitrados por força de filiação.

Restando comprovada séria impossibilidade temporária, a ser assim analisada

pelo juiz, descabe decreto de prisão, sendo cabível apenas modalidade executória da

expropriação.

Nesse sentido manifesta-se Madaleno (2008):

Toda a extensa gama de articulações, como o desemprego e a doença do executado para justificar a impossibilidade de quitação dos alimentos, importa em passar pela obrigatória instrução processual, ficando à mercê da relevância dos fatos e da sensibilidade do juiz, decidir pela acolhida da justificativa, ou por afastá-la, e decretar a prisão civil do devedor alimentar. 

Assim, rejeitada a justificativa, ou mantendo-se inerte, será decretada a prisão

do executado, decisão que desafia agravo de instrumento. Se há suposta ilegalidade no

decreto pode o devedor valer-se de habeas corpus.

Page 27: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Deve-se asseverar que tal remédio constitucional, nesses casos, somente deve

ser usado quando configurado error in procedendo, tais como: inexistência de

fundamentação da decisão, extinção da dívida por causa superveniente à defesa, iliquidez

da dívida, excesso de prazo estabelecido para prisão, omissão de prazo para defesa e outros.

Há, portanto, limites à cognoscibilidade do writ. Nesse sentido, advoga Cahali

(2002, p. 1070):

O problema do quantum fixado refoge, pela necessidade de se cogitarem elementos probatórios, ao âmbito restrito do writ, devendo ser versado em pedido apartado de revisão ou redução, pois se trata de controvérsia que não cabe ser deslindada na via estreita do remédio constitucional, inadequado ao exame de prova complexa; não se permite, nesta sede, discussão a respeito da justiça ou da inadequação dos alimentos arbitrados, se foram atendidos, na sua fixação, os pressupostos do art. 400 do CC (art. 1.694, §1º do Novo Código Civil), concernentes às necessidades do alimentando e à possibilidade da pessoa que os deve prestar [...]. A impossibilidade de cumprir a obrigação alimentar assumida ou fixada em sentença, sob alegação de falta de meios suficientes para fazê-lo, é matéria de mérito, envolvendo situação complexa e dependente de produção de provas, sendo insuscetível de agasalho no âmbito do writ [...].

 Por sua vez, os requisitos da prisão são: a inescusabilidade do devedor, que

deixa de cumprir o acordado, sem motivo justo e; a voluntariedade do inadimplemento,

consubstanciada na liberalidade do alimentante, que, por vontade própria, deixa de pagar a

prestação alimentar.

Quanto ao prazo da prisão, há pequena divergência entre a Lei de Alimentos,

que estabelece tempo de custódia de sessenta dias16[16] e o Código de Processo Civil, que

por sua vez, fixa o interregno de um a três meses17[17].

Sobre o assunto, plácida a opinião de Dias (2006, p. 485):

Apesar do notável esforço da doutrina, no intuito de harmonizar as normas discrepantes, a solução encontrada pelos juízes foi não exceder a sessenta dias. Tendo em vista que a prisão é providência executiva, o procedimento executório deve ser promovido pelo meio menos gravoso ao réu. (CPC 620).

16[16] Art. 19. O juiz, para instrução da causa ou na execução da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação de prisão do devedor até 60 (sessenta) dias. (Vade Mecum, 2007, p. 1229).17[17] Cf. n. 2.

Page 28: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

 Ao efetuar o pagamento da dívida revoga-se a prisão, que não tem natureza de

sanção, mas sim caráter de meio indireto de execução, forma de coerção. Assim, realizado

o pagamento, sua finalidade estará cumprida.

Frise-se que pouco importa tratar-se de alimentos provisórios, provisionais ou

definitivos, em qualquer caso, cabe a prisão por inadimplemento, apenas não podendo o

devedor ser preso novamente pelo mesmo débito já executado anteriormente e pelo qual já

fora preso. Porém, podem ocorrer outras prisões se, a despeito da mesma dívida, forem

denegadas novas prestações.

O mesmo não se pode falar quanto aos alimentos arbitrados por força de ação

de responsabilidade ex delito. Cahali (2002, p. 791) é enfático ao afirmar que:

[...] a prisão civil por dívida, como meio coercitivo para o adimplemento da obrigação alimentar, é cabível apenas no caso dos alimentos previstos nos artigo 231, III e 396 e ss. do CC, que constituem relação de direito de família; inadmissível, assim, a sua cominação determinada por falta de pagamento de prestação alimentícia decorrente de ação de responsabilidade ex delito.

 A presente modalidade executória é considerada por muitos, a única forma de

coagir o devedor que demonstra não possuir consciência de sua obrigação alimentar.

Entrementes, os contrários a aplicação da prisão como forma de coação,

afirmam que tal medida traz sérias conseqüências, tais como: o agravamento da ruptura do

afeto familiar, pelo distanciamento entre pais e filhos; o fato da dignidade de toda a família

ser atingida juntamente com a do devedor; o efeito dissocializador do afastamento do grupo

familiar e outros. (FACHIN, 2005, p.78).

Por esta razão é que a modalidade de prisão é medida extremada e, em havendo

a possibilidade de execução através de desconto em folha, por exemplo, não é aconselhável

sua utilização.

Rizzardo (2006, p. 828) assevera que:

[...] deve-se proceder a esta modalidade de execução (desconto em folha de pagamento) antes de se procurarem as outras vias, máxime aquela concernente à pena de prisão, a qual não se aplicará se possível o desconto em folha, segundo reitera jurisprudência: “Alimentos. Execução. Pedido de prisão do alimentante. Inadmissibilidade na espécie. Funcionário Público. Possibilidade de desconto em folha. Tratando-se de funcionário público, a pensão

Page 29: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

alimentícia a que está obrigado a prestar pode ser executada mediante desconto em folha de pagamento, não sendo caso de decretar-lhe, desde logo, a sua prisão”.  

Diferente, porém, é sua comparação com o meio executório da expropriação.

De fato, é opção do credor o requerimento pelo procedimento da prisão ou por aquele que

resulta na constrição de bens, constituindo comportamento discriminatório entendimento

segundo o qual para o devedor que possui bens não há possibilidade da coação pessoal,

enquanto que para aqueles que não os detém é possível esta hipótese.

Tal entendimento colide, num primeiro momento, com o próprio caráter

urgente que se reveste a obrigação alimentar e, num segundo, com o princípio da igualdade,

pois somente estariam preservados aqueles que fossem aquinhoados de significativo

patrimônio.

Supracitado autor (RIZZARDO, 2006, p. 834) ressalva que:

O entendimento favoreceria delongas e malabarismos forenses, retardando a prestação alimentícia, contrariando a função peculiar dos alimentos, cuja urgência impõe medidas duras e rápidas para o pronto fornecimento.  

No mais, nada impede que o autor após a prisão ou justificativa requeira o

prosseguimento da execução através da modalidade expropriação, caso ainda persista o

inadimplemento.

Outrossim, tem se entendido que a coação tem por objeto, única e

exclusivamente dívida nova, quais sejam: as três ultimas prestações vencidas, além, é claro,

das parcelas que se forem vencendo ao longo do processo (artigo 290 CPC18[18]).

Portanto, em regra, não cabe a aplicação da coação pessoal a alimentos

atrasados ou acumulados durante vários meses ou anos, sendo pertinente à espécie à

modalidade da expropriação, consubstanciada no artigo 732 do CPC.

Justifica-se tal entendimento como argumento de que não pode o devedor ser

prejudicado pela displicência do credor na formulação de seu pedido. Seria nítido

constrangimento ilegal.

Esse também é o posicionamento dos tribunais pátrios:

18[18] Art. 290. Quando a obrigação consistir em prestações periódicas, considerar-se-ão elas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor; se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las, a sentença as incluirá na condenação, enquanto durar a obrigação. (Vade Mecum, 2007, p. 421).

Page 30: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

[...] a prisão civil decorrente do inadimplemento da prestação alimentícia tem por encargo fundamental forçar o devedor a sustentar o necessitado; se o alimentado sobreviveu sem o pagamento das prestações, a prisão é ilegal, porque se cuida, aí, de cobrança de credito patrimonial que perdeu sua função. (Habeas Corpus n. 12.736-0, órgão julgador 4º Câmara Cível. Tribunal de Justiça Paraná). 

É o que prescreve a súmula 309 do STJ19[19], cuja leitura, após o julgamento do

habeas corpus n.º 53068 da mesma Corte, datado 22/03/2006, passou a ser de que o prazo

que autoriza a prisão é o de três meses anteriores ao ajuizamento da ação e não o da citação.

Referido termo causava embaraços ao procedimento e incentivava o

inadimplemento, eis que, para eximir-se da prisão, o devedor, muitas das vezes, fugia da

citação, com o claro intuito de desconstituir débito novo.

O que se discute, porém e, será analisado em momento oportuno, é o porquê de

tal fixação jurisprudencial ser em número de três e quais as desvantagens trazidas por tal

entendimento ao credor.

Por outro lado, cumpre anotar que Lei n.º 11.232/2005 em nada alterou o

procedimento em apreço, tendo em vista que suas modificações referem-se tão somente ao

débito antigo, configurado, como já dito, através do meio executório da expropriação, ou

melhor, através do cumprimento de sentença, devendo o alimentando valer-se do

procedimento aqui mencionado para forçar manus militari, o devedor apenas ao pagamento

do débito novo, leia-se dos três últimos meses antes do protocolamento da demanda.

 

 

1.3 EXPROPRIAÇÃO

 

 

A Lei n.º 5.478/1968 garante ao credor de alimentos a possibilidade de

expropriação de aluguéis e de outros rendimentos, enquanto o Código de Processo Civil

segue com o procedimento da execução de alimentos, previsto em capítulo próprio.

19[19] Súmula 309. O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três parcelas anteriores à citação e as que se vencerem no curso do processo (Vade Mecum, 2007, p. 1722).

Page 31: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Como já dito, em sede de execução de alimentos, havendo um débito de

parcelas em número superior a três, adota-se, em regra, a execução do excedente por

quantia certa, procedimento, a priori, previsto no artigo 732 do CPC20[20].

Recentemente, as Leis n.os 11.232/2005 e 11.382/2006 modificaram a cobrança

de condenação imposta judicialmente, bem como o procedimento, que não mais carece de

processo de execução.

Assim, o cumprimento de sentença, como agora é denominada a execução de

títulos judiciais, não mais depende de processo autônomo, que desafia ato citatório,

tratando-se tão somente de mera fase incidental do processo de conhecimento. É o que se

chama de sincretismo processual.

Pertinente o ensinamento de Wambier (2006, p. 132) ao afirmar que:

Os artigos 475-I a 475-R consistem na alteração mais significativa da reforma decorrente da Lei 11.232/05: a sentença condenatória, antes executada necessariamente em outro processo – de execução – passa a ser executada no mesmo processo. Houve assim, unificação procedimental entre a ação condenatória e a ação de execução.  

Cuidando-se de execução de alimentos fundada em título executivo judicial, o

procedimento, tal qual se demonstrará em momento oportuno, é o modificado pela Lei n.º

11.232/2005, com seus respectivos dispositivos.

Deste modo, como conseqüência das modificações, o devedor, neste caso, será

intimado para efetuar o pagamento do débito no prazo de 15 dias, sob pena de multa de

10%.

Permanecendo inadimplente, o juiz poderá, a requerimento do credor, expedir,

desde logo mandado de penhora e avaliação, da qual o devedor será intimado. Abre-se

então, novo prazo de 15 dias, para que este ofereça impugnação, ao invés de embargos,

como era previsto no procedimento anterior.

Cuida-se a impugnação de mera fase procedimental, desprovida, em regra, de

efeito suspensivo. Pode ser permitido, contudo, tal efeito quando relevantes o fundamento

da impugnação e o prosseguimento da execução mostrar-se suscetível de causar ao

executado grave dano de difícil reparação.

20[20] Cf. n. 3.

Page 32: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

A execução então prosseguirá. Após a avaliação, efetuada agora, por oficial de

justiça, poderá ser reduzida ou ampliada a penhora (art. 685 do CPC21[21]).

A posteriori, terão início os atos executórios.

A expropriação consistirá nos atos previstos no artigo 64722[22]do CPC, haja

vista que as alterações referentes ao cumprimento da sentença nada dispõem sobre o

procedimento subseqüente à avaliação e penhora (e para qual não haja impugnação),

devendo ser observado o disposto no artigo 475 – R23[23] do CPC.

Destaca-se, por oportuno, que o parágrafo segundo24[24] do artigo 649 do CPC,

alterado pela Lei n.º 11.382/2006, excluiu a aplicação da impenhorabilidade prevista no

inciso IV25[25] do mesmo dispositivo no caso de penhora que objetive garantir pagamento

de prestação alimentícia.

Além disso, o artigo 65026[26] do mesmo diploma legal, também alterado pela

referida lei, protege o alimentado na medida em que exclui de possível penhora, na falta de

21[21] Art. 685. Após a avaliação, poderá mandar o juiz, a requerimento do interessado e ouvida a parte contrária:I - reduzir a penhora aos bens suficientes, ou transferi-la para outros, que bastem à execução, se o valor dos penhorados for consideravelmente superior ao crédito do exeqüente e acessórios;Il - ampliar a penhora, ou transferi-la para outros bens mais valiosos, se o valor dos penhorados for inferior ao referido crédito.Parágrafo único. Uma vez cumpridas essas providências, o juiz dará início aos atos de expropriação de bens. (Vade Mecum, 2007, p. 452/453)22[22] Art. 647. A expropriação consiste:I - na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A desta Lei; II - na alienação por iniciativa particular;III - na alienação em hasta pública; IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel. (Vade Mecum, 2007, p. 448)23[23] Art. 475-R. Aplicam-se subsidiariamente ao cumprimento da sentença, no que couber, as normas que regem o processo de execução de título extrajudicial. (Vade Mecum, 2007, p. 435/436)24[24] Art. 649. ...§ 2º O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia. (Vade Mecum, 2007, p. 449)25[25] IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo. (Vade Mecum, 2007, p. 448)26[26]Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia. (Vade Mecum, 2007, p. 449) 

Page 33: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

outros bens, os frutos e rendimentos de bens inalienáveis destinados à prestação

alimentícia.

Note-se que, o legislador buscou meios para garantir o direito aos alimentos,

quer quando o executado é credor ou devedor, o que reforça o entendimento de que a

natureza do bem tutelado é de extrema urgência.

Por outro lado, destaca-se por conveniente que, levando em conta a morosidade

da alienação em hasta pública, as alterações deram ao credor a possibilidade de adjudicação

do bem, dês que por preço não inferior ao da avaliação.

Pode-se ainda, em não havendo adjudicação, serem os bens alienados por

iniciativa do credor ou por intermédio de corretor credenciado (art. 685 – C do CPC27[27]).

No mais, a expropriação, em quaisquer de suas modalidades, semelhantemente

ao que ocorre com os títulos executivos extrajudiciais, reger-se-á nos moldes do artigo 647

e seguintes do CPC, de modo que seu detalhamento não faz parte do objetivo deste trabalho

monográfico.

 

 

2 A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E A LEI N.º 11.232/2005

 

 

2.1 DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CELERIDADE.

 

 

Erigido à categoria de princípio constitucional28[28], o direito à celeridade

ou à razoável duração do processo veio firmar entendimento de que não basta a mera

obtenção da tutela jurisdicional. Para que seja eficaz, tal como pugnado, o provimento

deve, acima de tudo, ser célere.

Lenza (2005, p. 513) é enfático ao afirmar que:

27[27] Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exeqüente poderá requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária. (Vade Mecum, 2007, p. 453)28[28] Art. 5º. ...LXXVIII - A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Vade Mecum, 2007, p. 10)

Page 34: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

[...] em algumas situações, contudo, a demora causada pela duração do processo e sistemática dos procedimentos pode gerar total inutilidade ou ineficácia do provimento requerido. [...] o tempo constitui um dos grandes óbices à efetividade da tutela jurisdicional, em especial no processo de conhecimento, pois para o desenvolvimento da atividade cognitiva do julgador é necessária a prática de vários atos, de natureza ordinatória e instrutória. Isso impede a imediata concessão do provimento requerido, o que pode gerar risco de inutilidade ou ineficácia, visto que muitas vezes a satisfação necessita ser imediata, sob pena de perecimento do próprio direito reclamado. 

Processo efetivo é a obtenção, em prazo razoável, de uma decisão de igual

razoabilidade, justa e eficaz, que tenha, ao final do processo, utilidade. O simples fato do

direito ficar sobrestado por todo o tempo do desenvolvimento do processo já induz prejuízo

ao titular, que pode, inclusive, ter prejudicada a efetividade de sua tutela ao tempo do

recebimento da prestação, o que vai de encontro a um das missões do processo que é a

eliminação de conflitos.

Cuida-se de garantia fundamental essencial, uma vez que o processo é espécie

de instrumento que viabiliza o exercício dos demais direitos e, como tal, é insuscetível de

modificação, protegido que está pelo manto do art. 60, §4º, inciso IV da Constituição

Federal de 198829[29].

Importa revelar que antes de introduzido pela Emenda Constitucional n.º 45, o

princípio da celeridade já vinha previsto, como direito fundamental, no artigo 8º, 1. e no

29[29] Art. 60. ...§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:...IV - os direitos e garantias individuais. (Vade Mecum, 2007, p. 30) 

Page 35: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

artigo 25, 1. ambos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos30[30] (Pacto de São

José da Costa Rica), acordo este, como já dito, aderido pelo Brasil31[31].

Quanto aos meios que garantem a celeridade da tramitação do processo,

Grinover (2005, p. 35) observa que estes devem ser:

[...] inquestionavelmente oferecidos pelas leis processuais, de modo que a reforma infraconstitucional fica umbilicalmente ligada à constitucional, derivando de ordem expressa da Emenda n. 45/2004. Trata-se, portanto, de fazer com que a legislação processual ofereça soluções hábeis à desburocratização e simplificação do processo, para garantia da celeridade de sua tramitação. 

Assim, indiscutível é a importância, em favor dos jurisdicionados, de ver

julgados, em prazo razoável, os litígios submetidos à apreciação do Poder Judiciário, de

modo que sua aplicabilidade tem repercussão direta sobre outros princípios constitucionais,

como o do devido processo legal (art. 5º, LIV32[32]), da inafastabilidade de jurisdição (art.

5º, XXXV33[33]), do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV34[34]), da dignidade da

pessoa humana (art. 1º, III35[35]), e outros.

30[30] Artigo 8º - Garantias judiciais1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.Artigo 25 – Proteção judicial1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.31[31] Cf. n. 11.32[32] Art. 5º. ...LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; (Vade Mecum, 2007, p. 10)33[33] Art. 5º...XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (Vade Mecum, 2007, p. 08)34[34] Art. 5º...LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (Vade Mecum, 2007, p. 10)35[35] Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:...III - a dignidade da pessoa humana; (Vade Mecum, 2007, p. 07)

Page 36: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Outrossim, Paulo & Alexandrino (2007, p. 187) acrescentam que:

A inserção, no rol do art. 5º da Constituição Federal, do princípio da celeridade processual, pela EC nº 45/2004, realça, ademais, a natureza não exaustiva dos direitos e garantias fundamentais constitucionais, aspecto explicitado no § 2º do art. 5º da Carta da República.

 Do ponto de vista dos alimentos, tal princípio ainda é mais relevante.

Como já dito, o direito a alimentos é questão de sobremaneira importância. Trata-se da sobrevivência, fato que transcende as simples justificativas morais ou sentimentais, encontrando sua origem no próprio direito natural.

Tal situação não pode ficar a mercê das delongas do Judiciário. Madaleno (2008) destaca que:

Especialmente na esfera do direito de família, mostram-se sobremaneira sensíveis as vindicações judiciais que precisam responder às angústias pessoais, tão abaladas pelo influxo do tempo. Procurando sempre conciliar a rápida prestação jurisdicional com a segurança da mais irrestrita defesa, deve o direito aperfeiçoar-se na busca do exato ponto de equilíbrio em que a celeridade processual não prejudique o fundamental direito de poder exaurir os meios de defesa previstos pela lei. De qualquer forma, o excessivo tempo de demora de um processo, assim como indevidas dilações provocadas pelo uso excessivo de desmesurados atalhos, e de inconsistentes defesas, são mecanismos que acabam conspirando contra a democrática ordem jurídica, e comprometendo a paz social, esta tantas vezes creditada apenas na esperança de uma eficiente tutela jurisdicional. Em nada contribui, portanto, para a credibilidade e confiança no direito e na justiça, um processo moroso, com resultado tardio, vazio de propósitos ou já de todo ineficiente por sua demora. 

Esse é um dos motivos pelo qual se defende a aplicabilidade da Lei n.º

11.232/2005 à execução de alimentos. O dispositivo possui claro objetivo de imprimir

maior celeridade ao processo de execução e jamais pode ser renegado àqueles que mais

precisam dessa rapidez.

A celeridade, por tratar-se de direito assegurado constitucionalmente, deve ser

imposta a todos e justamente em razão de seu caráter possui aplicabilidade imediata.

Com efeito, a falta de modificação de um texto legal não pode ser interpretada

com o intuito de afastar o procedimento mais célere e eficaz daquelas obrigações, cujo bem

protegido é a própria vida.

Assim, levando-se em consideração que a finalidade das recentes reformas do

Código de Processo Civil é a celeridade, cuja tendência é significativa em todos os ramos

do Direito, forçoso é admitir que houve sim uma alteração natural do procedimento da

execução de alimentos.

Page 37: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

 

 

2.2 TESES CONTRÁRIAS E FAVORÁVEIS A APLICABILIDADE DA LEI À

EXECUÇÃO DO ENCARGO ALIMENTAR.

 

 

Já se mencionou que o legislador desencadeador da reforma trazida pela Lei n.º

11.232/2005 não alterou nenhum dos dispositivos do Código de Processo Civil referente à

execução de alimentos, o que, por si só, levaria a conclusão que, em relação aos alimentos,

ainda permaneceria o velho procedimento de execução autônomo, contrário ao sincrético

em vigor.

Mesmo porque, dentre os dispositivos que tratam da matéria, o artigo 732 do

CPC36[36] faz expressa remissão ao capítulo que trata da execução por quantia certa contra

devedor solvente, aplicável agora somente aos títulos executivos extrajudiciais.

De igual modo não houve nenhuma referência à obrigação alimentar nos novos

acréscimos trazidos pela legislação. (Artigos 475 – A a 475 – R do CPC)

Estabeleceu-se, então, uma controvérsia acerca de qual procedimento deve ser

adotado pelo alimentante que, munido de título executivo judicial, almeja obter o bem da

vida.

Tal controvérsia é reconhecida por Dias (2008) ao afirmar que:

O silêncio do legislador no que diz com a execução dos alimentos tem semeado discórdia em sede doutrinária, sendo questionado se a simplificação dos atos de cumprimento de sentença alcança os encargos de natureza alimentícia.  

Por um lado, há a tese da não aplicabilidade dos atos relativos ao cumprimento

da sentença à execução de alimentos. Liderada por Theodoro Júnior (2007, p. 416), referida

linha acredita na literalidade da lei, senão veja-se:

Como a lei n. 11232/2005 não alterou o artigo 732 do Código de Processo Civil, continua prevalecendo nas ações de alimentos o primitivo sistema dual, em que o acertamento e execução forçada reclamam o sucessivo manejo de duas ações separadas e autônomas. Uma para condenar o devedor a prestar alimento e outra para forçá-lo a cumprir a condenação. [...] O procedimento executivo, é, pois, o dos títulos extrajudiciais (Livro II) e não o do cumprimento da sentença, instituídos pelos atuais 475-I a 475-R.

36[36] Cf. n. 3.

Page 38: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

 Corroborando com o entendimento, Beilner (2008) aduz que:

Oportuno destacar que, mesmo diante das mudanças apresentadas, algumas decisões que admitem execução permanecerão sob os mesmos moldes. Nesse sentido, mister destacar a Execução de Alimentos Provisionais. Nessa modalidade de execução, por disposição especial do Código de Processo Civil, o procedimento executivo atende ao disposto no caput do artigo 732, CPC. Só para argumentar, porém sem tergiversar, vale lembrar que a natureza da decisão que permite a “execução” dos alimentos provisionais é de cunho interlocutório, cujo inconformismo enseja a interposição de agravo. Sendo assim, antes da decisão terminativa de mérito não é dado ao Requerente da prestação alimentícia executar as parcelas vencidas mediante a nova sistemática do cumprimento de sentença, muito embora a demanda demonstre tratar-se de “cumprimento” de sentença, na verdade é uma aparência ambígua de cumprimento de uma decisão interlocutória, a qual, por óbvio, se exclui da nova hipótese engendrada pelo legislador. 

Acreditam referidos autores que a omissão legislativa foi proposital, eis

que levou em consideração o caráter específico do rito de alimentos.

Dito de outro modo, afirmam que deve prevalecer a remissão prevista

no artigo 732 do CPC37[37], que considera como válido o procedimento disposto no

Capítulo IV do Título II do Livro II do Código de Processo Civil, que trata agora

somente dos títulos executivos extrajudiciais, muito embora, na maioria das vezes

tem o credor de alimentos uma sentença, ou seja, um título executivo judicial.

Saliente-se que, desta forma, teria o credor, após a condenação e

conseqüente inadimplência, o ônus de estabelecer novo processo, com novo

pedido de citação para que o devedor efetue o pagamento em três dias.

Em contrapartida, modernos processualistas e especialistas de Direito

de Família defendem ferozmente a aplicação das alterações aos encargos de

natureza alimentar, posição à qual se filia a autora deste trabalho.

A priori, oportuno é o ensinamento global de Donizetti (2007, p. 352).

Não obstante integrar o procedimento ordinário, os dispositivos referentes ao cumprimento da sentença têm natureza de norma geral, aplicando-se a qualquer procedimento. Irrelevante que a sentença tenha sido proferida em processo que seguiu rito sumário ou especial. Pouco importa também que se trate de sentença declaratória, constitutiva ou de natureza cautelar. Havendo condenação, ainda que apenas em ônus

37[37] Cf. n. 3.

Page 39: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

sucumbenciais, o cumprimento será feito de acordo com o estatuído no caput do art. 475 – I.  

Rebatendo ao argumento de que não há a incidência da lei, no que toca aos

alimentos provisórios ou provisionais, destaca-se o entendimento de Dias (2008):

Sobre alimentos provisórios ou provisionais, incide a multa de 10%. Ainda que a lei faça referência à “condenação” (CPC, 475-J), não se pode retirar o caráter condenatório dos alimentos fixados em sede liminar. Basta lembrar que se trata de obrigação pré-constituída e que os alimentos são irrepetíveis. O pagamento precisa ser feito mesmo que os alimentos não sejam definitivos. Ainda que o valor do encargo venha a ser diminuído ou afastado, tal não livra o devedor da obrigação de proceder ao pagamento das parcelas que se venceram neste ínterim. Não admitir a incidência da multa pelo fato de os alimentos não serem definitivos só estimularia o inadimplemento e a eternização da demanda. 

Num segundo momento, observa-se que a interpretação literal da lei

traz, antes de tudo, malefícios ao próprio devedor, que não disporia mais de meios

impugnativos ao pedido do autor.

Quem melhor explica é Dias (2008) ao lembrar que:

Há um fundamento que põe por terra qualquer justificativa de emprestar sobrevida à execução por quantia certa de título executivo judicial relativo a alimentos. O capítulo II do Título III do Livro II do CPC que se intitulava: “Dos Embargos à execução fundada em sentença”, agora se denomina: “Dos Embargos à Execução contra a Fazenda Pública”. Ou seja, não existem mais no estatuto processual pátrio embargos à execução de títulos judicial. Esse meio impugnativo só pode ser oposto na execução contra Fazenda Pública. A vingar o entendimento que empresta interpretação literal ao art. 732 do CPC, chegar-se-ia à esdrúxula conclusão de que o devedor de alimentos não dispõe de meio impugnativo, pois não tem como fazer uso dos embargos à execução. 

Ainda que tivessem sobrevida, os embargos prejudicam o alimentante, eis que

com seu efeito suspensivo, decorrente da própria lei, já há o sobrestamento do feito, ou

seja, com o mero oferecimento e recebimento destes, já se opera a suspensão da execução,

quaisquer que sejam os fundamentos alegados. Diferente é a impugnação, novo meio de

defesa através da qual só há possibilidade de efeito suspensivo se atendido o requisito

previsto no artigo 475 – M do CPC38[38].

38[38] Art. 475-M. A impugnação não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. (Vade Mecum, 2007, p. 434)

Page 40: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Trata-se agora de questão ope judicis e não mais ope legis, o que evita a

suspensão da execução por questões infundadas, devendo o impugnante convencer o juiz da

efetiva possibilidade de êxito na sua defesa, ou melhor, que exista risco de dano manifesto.

Por outro lado, ao refutar a aplicação da Lei, excluem-se do credor benefícios

que só a Lei garante, como forma de agilizar o adimplemento do débito.

A multa prevista no artigo 475 – J do CPC39[39] é um clássico exemplo. Ao se

negar ao credor a possibilidade do arbitramento de multa de 10% (dez por cento), retira-lhe

umas das formas de coação do devedor ao pagamento.

Câmara (2006, p. 151) é convincente ao concluir que:

[...] o credor de alimentos ficou prejudicado, não podendo valer-se das vantagens do novo sistema de execução de sentença (e outros provimentos judiciais). Assim, por exemplo, [...] o demandado continuaria a poder nomear bens à penhora, não seria possível realizar a execução no lugar onde estiverem os bens a serem penhorados, entre muitas outras vantagens que a Lei n.º 11.232/05 trouxe para o credor que tem, como título executivo, pronunciamento judicial condenatório. 

Afora isso, com a ausência dos novos regulamentos extrai-se do credor a

possibilidade de prestação imediata da tutela, anteriormente só obtida nas obrigações de

fazer, de não fazer e de dar coisa, obrigando o credor a proceder à instauração de novo

processo, que demanda, por óbvio, mais tempo.

Acerca do assunto, relevante é o ensinamento de Câmara (2006, p.

163) ao afirmar que:

O importante é deixar claro que o novo modelo da execução das sentenças (e outras decisões condenatórias) do direito processual civil brasileiro tem repercussão, também sobre a execução de prestação alimentícia. Não haveria qualquer sentido em se modificar todo o sistema de execução de decisões judiciais, tendo por objetivo imprimir maior celeridade ao processo, e deixar de fora logo aquela hipótese em que a necessidade inerente ao crédito alimentar impõe ainda mais a busca pela aceleração dos meios de entrega da prestação jurisdicional executiva. 

Nesse sentido também é o entendimento de Donizetti (2007, p. 629):

[...] em se tratando de obrigação alimentar constante de título judicial o mais razoável é que se apliquem as normas sobre o cumprimento de sentença, até porque prevêem procedimento mais célere do que o

39[39] Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não efetue no prazo de 15 dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de 10% e, a requerimento do credor e o observado o disposto no artigo 614, inciso II, desta lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. (Vade Mecum, 2007, p. 433)

Page 41: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

previsto para execução de título extrajudicial. Assim, à decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia aplicam-se as normas gerais sobre o cumprimento de sentença prevista nos arts. 475 – I e seguintes. 

Assim, não restam dúvidas de que o procedimento mais célere e mais

vantajoso trazido pela Lei n.º 11.232.05 deve ser deferido aos credores de

alimentos de modo que, qualquer entendimento contrário jamais pode ser aplicado

no caso concreto.

 

 

2.3 BREVE ESTUDO ACERCA DOS DISPOSITIVOS CONTROVERSOS DA LEI N.º

11.232/2005

 

 

Admitindo-as como aplicáveis à obrigação de alimentos, há de se tecer breves

comentários sobre as alterações advindas com a Lei n.º 11.232/2005, no que toca ao rito.

Novas controvérsias surgem quando da aplicação do procedimento sincrético. A

dúvida inicial é quanto obrigatoriedade da intimação do devedor para cumprimento da

sentença, sob pena de multa de 10%.

Enquanto alguns, a exemplo de Gusmão (2005) entendem que ao executado não

carece intimação, correndo o prazo automaticamente após a condenação; outros, como

Câmara (2006) e Wambier (2007) acreditam que o requerido deve ser regularmente

intimado.

Pois bem. Pelo texto da lei, parece que o devedor já incorreria em mora apenas

configurando-se sua inadimplência no prazo de 15 dias, contados da intimação da sentença.

Bastaria, portanto, que decorrido o prazo, o credor solicitasse o cumprimento do mandado

de penhora e avaliação para que houvesse deliberação nesse sentido.

Contudo, tem se entendido que o devedor, dificilmente, comparecerá em juízo,

no prazo previsto, para saldar o débito apenas por receio de ser-lhe aplicada multa.

Câmara (2006, p. 116) afirma que:

Para os mais necessitados economicamente, que já cumpriram suas obrigações com muita dificuldade um aumento de dez por cento sobre o valor do débito dificilmente assustará (afinal, quem já não

Page 42: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

tem como pagar o principal, certamente não terá como pagar o valor acrescido de multa). No extremo oposto, os economistas poderosos certamente são capazes de pagar o que devem e, o fato de se submeterem a uma multa de dez por cento não os inibirá na busca por procrastinar a satisfação do crédito. 

Assim, parte da doutrina acredita ser imprescindível a intimação do réu, pelo

correio, para efetuar o pagamento, sob pena de multa. (DIAS, 2008). Só a partir de então é

que passará a viger o prazo de quinze dias para o cumprimento da sentença e

conseqüentemente o prazo para incidência da multa.

É de bom alvitre lembrar que a multa possui como finalidade o estímulo do

adimplemento, não devendo ser exigida sem prévia intimação.

Por oportuno, traslada-se entendimento de Câmara (2006, p.114), senão veja-se:

Penso que o termo a quo desse prazo quinzenal é a intimação pessoal do devedor para cumprir a sentença. Não pode ser mesmo de outro modo. Em primeiro lugar, é expresso o art. 240 do CPC em afirmar que, salvo disposição em contrário os prazos para as partes correm da intimação. Ora, se não há expressa disposição em contrário no art. 475-J (ou em qualquer outro lugar), o prazo de quinze dias ali referido tem de correr da intimação. Não pode, pois, ser aceita a idéia da fluência automática do prazo, por ser uma opinião data vênia contrária à lei. [...] Há de se levar consideração, ainda, o fato de que a fluência deste prazo de forma automática implicaria, a nosso ver, uma violação à garantia constitucional do processo justo, decorrente do devido processo legal, uma vez que poderia acontecer de a multa incidir sem que a parte sequer soubesse que já iniciara o prazo para o pagamento. Basta pensar nos casos em que o advogado não comunica à parte o momento inicial da sentença, [...]. Não tenho, pois, qualquer dúvida em sustentar a necessidade de intimação pessoal do executado para que pague o valor da dívida, sob pena de incidir a multa referida no art. 475 –J do CPC.

 Os autores discordam, porém, quanto à iniciativa da intimação. Enquanto

Câmara (2006, p. 115) afirma que deverá ser de ofício, pelo magistrado, seguindo-se o

princípio do impulso oficial, Dias (2008) aduz haver a necessidade de requerimento do

credor, opinião na qual se filia a autora deste trabalho.

Argumenta a sobredita autora que:

Apesar da boa intenção do legislador de emprestar celeridade ao cumprimento da sentença condenatória para o pagamento de quantia em dinheiro, somente mediante solicitação do credor é que

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o juiz irá determinar a intimação do devedor para proceder ao pagamento em quinze dias, sob pena de incidência da multa. A providência não deve ser tomada de ofício, até porque, não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz mandará arquivar os autos (CPC, art. 475-J, § 5º). A intimação deve ser ao devedor e não ao seu procurador. O advogado é intimado para a prática dos atos que exigem capacidade postulatória. A parte deve ser intimada pessoalmente para os atos que dizem com o cumprimento da obrigação objeto do litígio. Como o cumprimento da sentença condenatória é ato da parte, esta é que deve ser intimada. (DIAS, 2008). 

Como corolário lógico do entendimento acima exposto, repise-se que a multa

tornar-se-á exigível a partir da intimação do devedor para o pagamento do débito, caso não

haja o adimplemento voluntário.

É claro que aqueles que defendem o posicionamento contrário, de que não

haverá intimação para pagamento do débito, mas tão somente intimação da própria

sentença, o dies a quo da incidência da multa e de 15 dias contados a partir do trânsito em

julgado da sentença ou do recebimento do recurso sem efeito suspensivo.

De qualquer forma, não realizando o pagamento da dívida, incide a multa,

devendo ser expedido mandado de penhora e avaliação. No mesmo sentido ocorre na

hipótese de rejeitada a impugnação oferecida, a partir da qual a multa incide, normalmente.

Insta destacar ainda que a multa não deve ser aplicada na modalidade da coação

pessoal, casos em que o devedor poderá ser submetido a prisão.

Nesses casos, já há uma sanção, em maior proporção, ressalte-se, que não

comporta qualquer outra espécie de penalidade. Seria uma dupla condenação, inadmissível

em nosso ordenamento.

Por outro lado, ressalte-se que nas sentenças definitivas, sujeitas a recurso não

dotados de efeito suspensivo, a teor do artigo 520, II, do CPC40[40], tem o credor a

faculdade de executá-la provisoriamente, nos termos do artigo 475 – O do CPC41[41], desta

40[40] Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:...II - condenar à prestação de alimentos. (Vade Mecum, 2007, p. 439)41[41] Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido;

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feita em procedimento próprio, tendo em vista que os autos são remetidos ao órgão ad

quem.

Ressalte-se que, a despeito de ser uma faculdade, deve o credor, nos casos de

execução provisória, ter cautela quanto ao prazo prescricional dos alimentos, previsto no

artigo 206, §2º, do Código Civil42[42].

Assim, se exeqüível a sentença proferida nos autos da ação de alimentos, ou

seja, se esta não for suspensa por efeito de recurso interposto, o alimentante tem o prazo de

02 anos, contados do vencimento da prestação para executar o decisum provisoriamente,

sob pena de perecimento de seu direito.

A justificativa é que tal pretensão não pode ficar resguardada ad infinitum. Não

é razoável que o devedor fique a mercê dos longos anos em que os autos ficariam

paralisados em razão de variados recursos.

Ressalva-se, é claro, as hipóteses de suspensão, impedimento ou interrupção do

prazo prescricional, dispostos nos artigos 197 e seguintes do Código Civil, nas quais não há

que se falar em decurso de tempo.

Importa destacar ainda que, a partir da Lei n.º 11.280/2006, o juiz deve

decretar, de ofício, a prescrição, independente da condição jurídica do sujeito favorecido

(se incapaz ou não).

 

 

3 PRINCIPAIS ENTRAVES AOS MEIOS EXECUTÓRIOS DA OBRIGAÇÃO DE

ALIMENTOS

 

 

II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. (Vade Mecum, 2007, p. 435)42[42] Art. 206. Prescreve:...§2º. Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem (Vade Mecum, 2007, p. 414)

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Conquanto exista uma variedade de meios executórios previstos em lei, o

alimentante se depara com sérias dificuldades para satisfação de seus direitos.

Madaleno (1999) relata que:

Maculado por vícios que dificultam e até impedem o normal desenrolar do processo de execução de alimentos, estes corriqueiros entraves aliados aos ressentimentos que remanescem nas relações familiares, estimulam a inadimplência, e por seu turno, instigam o pensador jurídico a seguir na busca contínua de novas soluções capazes de conferir efetiva execução. 

Adverte ainda Geraige Neto (2001, p. 751) que:

[...] o processo executivo está muito aquém do seu objetivo, pois encontra-se maculado de vícios que dificultam e até impedem seu verdadeiro desenvolvimento, e estes entraves do processo estimulam a inadimplência e instigam os pensadores jurídicos para a busca de outras soluções capazes de conferir a efetividade executiva, vista pelo olhar do credor exeqüente. 

Como se tem observado, o executado se utiliza de diversas vias para eximir-se

da obrigação, tais como: saída do emprego estável, simulação de insolvência, ocultação da

real situação financeira, depósitos de valores inferiores, dentre outros, que serão a seguir

apresentados.

Assis (2004, p. 18) acrescenta outro exemplo, qual seja:

[...] os depósitos anônimos, promovidos em paraísos fiscais, que substituíram o lastro patrimonial, antes constituído por bens de raiz, nada sobrando para garantir as dívidas judiciais. Em prol do devedor e detrimento do credor e em nome da dignidade mínima é protegida a moradia, com as exceções do débito de alimentos e do depositário infiel. 

Com vistas à interrupção do desconto em folha de pagamento é usual a saída do

emprego estável e, com a indenização a que tem direito, o executado inicia novo negócio,

ficando sem o valor que lhe é descontado mês a mês e omitindo reais valores que percebe.

Sobre o tema, pertinente o ensinamento de Serejo (2001, p.15):

Há todo tipo de alimentante: o responsável, o inadimplente de boa-fé, o inadimplente de má-fé, o malandro, o indiferente, o perverso, o falido, o mentiroso, o sagaz, o falacioso e o devedor renitente. Desses tipos destaco o perverso para esclarecer que é aquele que deixa o emprego só para não pagar a pensão; prefere se acobertar

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sob a justificativa de que está desempregado a pagar a pensão alimentícia. 

Outro freqüente meio de escusa é o repasse de bens do executado para terceiros

ou para o patrimônio de empresa, simulando possível insolvência patrimonial.

Nesse sentido, já há precedentes julgando inadmissível a alienação a terceiros

de bem de alimentante, quando a transação possuir nítida natureza de fraude. Veja-se:

EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PENHORA DE AUTOMÓVEL. ALIENAÇÃO DO BEM REALIZADA APÓS A CITAÇÃO VÁLIDA NO PROCESSO DE EXECUÇÃO. FRAUDE À EXECUÇÃO RECONHECIDA POR DECISÃO PROFERIDA POR ESTA CORTE. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS EMBARGOS, DESCONSTITUINDO A PENHORA QUE RECAÍA SOBRE O BEM. FRAUDE À EXECUÇÃO CONSTATADA NOS AUTOS. VENDA DO ÚNICO BEM PERTENCENTE AO DEVEDOR. A alienação ou oneração de bens realizada quando em trâmite ação contra o devedor capaz de reduzi-lo à insolvência constitui pressuposto do reconhecimento de fraude à execução’. Na espécie, sendo inequívoco que o devedor, após a citação válida no processo de execução de alimentos, vendeu o único bem que possuía para saldar o débito alimentar, impõe-se reconhecer a fraude à execução, cuja declaração de ineficácia da alienação se estende a terceiros, ainda que de boa-fé, competindo a estes buscar o ressarcimento perante aquele que indevidamente alienou o veículo, mediante manejo de ação própria. Recurso provido. (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível 70019064054. Relator: Desembargador Ricardo Raupp Ruschel. Órgão Julgador: Sétima Câmara Cível. Data do Julgamento: 29.08.2007. Data da Publicação: 05.09.2007) 

Por outro lado, a ocultação da real posição financeira é comum nos casos em

que o devedor é profissional liberal, autônomo, situação na qual não há como se auferir ao

certo os ganhos do alimentante. Nesses casos, resta ao exeqüente pugnar pelo envio de

ofício à Receita Federal requisitando cópia da declaração de rendimentos do requerido.

Acerca do assunto, colecionam-se os seguintes julgados:

AGRAVO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO Á RECEITA FEDERAL. CABIMENTO. Requisitar à Receita Federal cópia da declaração de bens do alimentante não importa quebra de seu sigilo fiscal. Busca-se com tal medida dimensionar o patrimônio possível de ser alcançado eficazmente por uma execução. Ademais, tratando-se de execução de alimentos,

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não é razoável exigir que o credor percorra longo calvário dos cartórios de registro de imóveis em busca de bens do devedor. Tal pesquisa não lograria detectar a existência de depósitos e aplicações financeiras. Deram provimento. Unânime. (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo de Instrumento 70014050751. Relator: Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos. Órgão Julgador: Sétima Câmara Cível. Data de Julgamento: 29.03.2006. Data da Publicação: 07.04.2006). DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - INDEFERIMENTO DE REQUISIÇÃO DE OFÍCIO À RECEITA FEDERAL - POSSIBILIDADE. 1 - Nos termos do art. 20 da Lei nº 5.478/68, estão os órgãos públicos, incluída a Receita Federal, obrigados a prestar informações necessárias à instrução dos processos relativos a alimentos, o que torna desnecessário a exeqüente comprovar ter esgotado todos os meios para localizar o devedor ou bens de sua propriedade. 2 - Recurso provido. (Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de Instrumento 1.0027.05.062433-0/001. Relator: Desembargador Edgard Penna Amorim. Órgão Julgador: Oitava Câmara Cível. Data de Julgamento: 14.06.2007. Data da Publicação: 02.08.2007). 

No mais, pode-se punir o devedor que oculta seu real patrimônio com a

aplicação de multa por ato atentatório à dignidade da Justiça, em conformidade com os

artigos 600 e 601 do CPC43[43].

Outro meio, não menos indigno, é usado pelos devedores de alimentos com o

fito de eximir-se da prisão, através do qual este efetua pagamento de parte do débito,

aparentando dificuldade de saldar a dívida.

É mais freqüente na modalidade de coação pessoal, realizada, muitas vezes

após a expedição do mandado de prisão. Segue-se a posteriori, pedido de revogação de

prisão que, nas mais das vezes, é deferido.

Por seu turno, a delimitação jurisprudencial das parcelas alimentares passíveis

de execução por meio da coação pessoal, em número de três, também significa entrave ao

alimentante, uma vez que se perde auxílio no combate ao inadimplemento.

43[43] Art. 600.  Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que:I - frauda a execução;...Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa fixada pelo juiz, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do credor, exigível na própria execução. (Vade Mecum, 2007, p. 446)

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Outrossim, como já dito, todas as escusas, plausíveis ou não, deverão ser

passíveis de análise pelo magistrado que, no caso concreto, deverá tomar as medidas que

achar cabíveis, ou melhor, mais favoráveis à subsistência do alimentante, independente de

qualquer posicionamento.

 

 

3.1 Sugestões de Medidas Assecuratórias à Solvibilidade do Devedor

 

 

No conflito entre o direito à tutela executiva do alimentando e o direito à ampla

defesa do executado, tem se verificado, na prática, o prevalecimento deste em detrimento

daquele apesar de todos os argumentos já expostos em favor dos alimentandos.

Madaleno (1999) esclarece que:

No confronto dos benefícios e dos prejuízos que podem advir da adequação de dois princípios constitucionais basilares [...], a preocupação do magistrado com o balizamento da proporcionalidade dos meios [...], tem permitido encontrar largo espaço de insidiosa disputa judicial. Em qualquer uma das modalidades executivas da pensão de alimentos o tempo e o acatamento de diversificado leque defensivo, só tende a enfraquecer o exeqüente que precisa de alimentos para sobreviver.  

Em favor do direito de ambos os litigantes, desenvolveu-se a teoria da

ponderação de interesses, que, pautada pelo princípio da proporcionalidade, busca a

moderação dos interesses através do caso in concreto.

Segundo Sarmento (2000, p. 96) a aplicação de tal teoria só se justifica quando:

[...] (a) mostrar-se apta a garantira a sobrevivência do interesse contraposto, (b) não houver solução menos gravosa, e (c) o benefício logrado com a restrição a um interesse compensar o grau de sacrifício imposto ao interesse antagônico. 

Cuida-se da lógica do razoável. Tavares (2003, p. 531) afirma que a

proporcionalidade numa primeira aproximação, é “[...] a exigência de racionalidade, a

imposição de que os atos estatais não sejam desprovidos de um mínimo de sustentabilidade

[...]”.

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Frise-se que o Direito brasileiro não contempla o princípio da

proporcionalidade com previsão expressa. Acredita-se, porém que um de seus fundamentos

jurídicos pode ser encontrado no art. 5º, § 2º da Constituição Federal de 198844[44].

Há também o entendimento de que o princípio da proporcionalidade é um

princípio constitucional não escrito (derivado do Estado Democrático de Direito); ou ainda,

que se trata de um instrumento da interpretação jurídica (TAVARES, 2003, p. 532).

Outrossim, em atenção ao referido entendimento, deve ser atribuído peso

relativo aos interesses constitucionais, devendo o resultado variar de acordo com as

peculiaridades de cada caso.

De toda sorte, deve-se levar em consideração o princípio da dignidade da

pessoa humana, que segundo Sarmento (2000, p. 57), “[...] confere unidade teleológica a

todos os demais princípios e regras que compõe o ordenamento jurídico constitucional e

infraconstitucional.”

Desta forma, há que se avaliar a necessidade do exeqüente em contrapartida às

justificativas do alimentante inadimplente, observando-se assim o confronto entre os

direitos da ampla defesa versus tutela executiva e os direitos à vida versus à liberdade.

Conquanto pareça óbvio, num primeiro momento, a satisfação do alimentante

não se deve olvidar que o executado também merece guarida, devendo ser observados seus

demais direitos constitucionais, como, por exemplo, o do devido processo legal.

Nesse sentido, translada-se o alerta de Oliveira Neto (2000, p. 103). Senão

veja-se:

[...] não existirá efetividade processual se a preocupação com a prestação jurisdicional for dirigida apenas para os interesses da parte ativa da demanda, esquecendo que a postulação tem duas vias, e que também o agente passivo do litígio está protegido pelo manto da efetividade, eis que a ele deve interessar em certas condições, a agilidade e a sumarização do rito, especialmente quando a execução viola a olhos vistos os seus direitos, desejando ver aplicada a mais pronta e menos traumática prestação jurisdicional.  

44[44] Art. 5º. ...§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais que a República Federativa do Brasil seja parte. (Vade Mecum, 2007, p. 10)

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Porém, se após a ponderação dos interesses, o direito à vida e/ou à tutela

executiva tiver importância superior, tendo em vista a hipossuficiência do alimentando, a

esse direito deve ser conferida a relevância que vindica.

Madaleno (2004, p. 162) sustenta que:

[...] no âmbito da execução dos alimentos o juiz deve ter em linha de dimensão processual o objetivo de extrair da demanda a maior efetividade possível ao direito fundamental à tutela executiva, superando qualquer obstáculo porventura imposto ao meio executivo, pois a única restrição aceitável seria a que ferisse outro direito fundamental e que fosse de maior valor.

 Assim, levando em consideração que, na maioria dos casos, há supremacia do

direito à vida do alimentando em detrimento do direito à ampla defesa do alimentante serão

especificadas, entre outras, as seguintes medidas tendentes a garantir a solvibilidade do

devedor: prisão civil por período de inadimplência variável, desconsideração inversa da

personalidade jurídica e a efetiva aplicação da Lei n.º 11.232/2005 à execução de

alimentos.

No que toca à primeira sugestão, já se disse que, conforme entendimento

jurisprudencial, ao devedor de alimentos que quitar as três últimas parcelas antecedentes ao

ajuizamento do pedido executório é incabível a decretação de sua prisão.

Aqueles que defendem o rito determinado pela quantidade de parcelas

justificam tal restrição pela perda do caráter alimentar das parcelas pretéritas, de modo que,

por tratar-se de questão excepcional, não poderia a prisão abrigar referido débito.

Assim, o direito à vida e à subsistência do alimentante seria revertido em direito

patrimonial, o que, seguindo a teoria da ponderação, estaria em desvantagem em relação à

liberdade do alimentante. (GUERRA, 2003, p. 175).

Nesse sentindo variados são os julgados, senão veja-se:

HABEAS CORPUS. EFEITO SUSPENSIVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO: NÃO-CABIMENTO. PENSÃO ALIMENTÍCIA: INADIMPLÊNCIA. PRISÃO CIVIL: DECRETAÇÃO. [...] Alimentando que deixa acumular por largo espaço de tempo a cobrança das prestações alimentícias a que tem direito, e só ajuíza a execução quando ultrapassa a dívida a mais de um ano, faz presumir que a verba mensal de alimentos não se tornara tão indispensável para a manutenção do que dela depende. 3. Tendência da jurisprudência no sentido de admitir que somente as últimas três prestações vencidas teriam o caráter estritamente

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alimentar, ficando nesta hipótese sujeito o alimentante à prisão civil (CPC, artigo 733). 4. As prestações mais velhas anteriores a três meses estariam a ensejar a cobrança por meio de execução, porém sem o constrangimento da decretação da prisão civil, em face de sua feição tipicamente indenizatória (CPC, artigo 722). 5. Se pende de julgamento perante o Tribunal a quo agravo de instrumento em que essa tese é colocada, e nela havendo plausibilidade jurídica de boa consistência doutrinária e jurisprudencial, a prudência indica aguardar-se seja o agravo primeiramente julgado, justificando-se, si et in quantum, restrinja- se a sanção maior apenas à inexistência do pagamento das últimas três prestações de alimentos já vencidas, até que o respectivo Tribunal sobre esse tema se pronuncie. 6. Concessão do writ ex-officio dentro desses limites. (Supremo Tribunal Federal. HC 74663 / RJ. Relator: Ministro Maurício Corrêa. Órgão Julgador: Segunda Turma. Data do Julgamento: 08/04/1997. Data da Publicação: 06.06.1997). Civil e Processual Civil. Habeas Corpus. Execução de Alimentos. Prisão civil. Rito do art. 733 do CPC. Súmula 309/STJ. Desconformidade. Inclusão de débito tributário no valor da execução pelo art. 733 do CPC. Inadmissibilidade. - É entendimento pacífico e sumulado no STJ o de que o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. Súmula 309/STJ. - É inapropriada a adoção do rito do art. 733 do CPC para execução que verse sobre débito alimentar mais antigo que as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução. - É ilegal a ordem de prisão com fundamento no art. 733 do CPC se há a inclusão de débito tributário no valor que se pretende executar. Ordem concedida. (Superior Tribunal de Justiça. HC 63483 / SP. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do Julgamento: 05/10/2006. Data da Publicação: 23.10.2006)

 Recurso de habeas corpus. Prisão civil. Pensão alimentícia. Dívida pretérita. Três últimas prestações. 1. A prisão civil de devedor de alimentos, conforme vem decidindo a 3ª Turma, não cabe em relação a débitos antigos, mas, apenas, quanto às três últimas pensões não pagas. 2. O habeas corpus não é via adequada para o exame aprofundado de provas. 3. Recurso conhecido e provido, em parte, para que a custódia se restrinja às três últimas prestações. (Superior Tribunal de Justiça. RHC 9106 / SP. Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do Julgamento: 09/11/1999. Data da Publicação: 17.12.1999). 

Page 52: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

O que se questiona, porém, é se tal entendimento não teria o condão de trazer

malefícios ao credor de alimentos. Qual o critério utilizado para fixar-se em três o número

de parcelas executáveis pelo rito da coação pessoal? Como se analisa se o alimentante

sobreviveu ao débito velho sem se verificar sob que condições isso foi possível?

Barbosa Moreira (apud STOLZE, 2008) traz outros questionamentos: “[...]

afinal, por que apenas para as últimas três? Onde estaria o fundamento constitucional ou

legal desta diretriz? Por que o cabalístico três?”

No que toca ao assunto, Rizzardo (2006, p. 842) é enfático ao afirmar que:

[...] esta orientação que se tornou praxe nas varas de família, dominando a interpretação que unicamente as três últimas prestações vencidas mantêm o caráter alimentar, sendo que as anteriores adquirem a feição indenizatória, [...] na verdade [...] vem desprestigiar o instituto dos alimentos, favorecendo a inadimplência, e impondo a inconveniência de constantes ações de alimentos. Proporciona-se o crescimento da irresponsabilidade do devedor, em desconsideração do direito à vida.

 De qualquer forma, o que se busca defender é a observância às peculiaridades

do caso concreto.

Razões como a ignorância do alimentando, as escusas do devedor, as

dificuldades na constituição de advogados e outras hão de ser averiguadas, in concreto, sob

pena de se prejudicar a sobrevivência do alimentante que, credor de débito “antigo”

(superior a 3 meses), fica a mercê do rito da expropriação, ainda menos célere, muito

embora a Lei n. 11.232/05 já tenha lhe imprimido mais rapidez.

Refutando a teoria de que o débito velho perderia seu caráter alimentar e

consequentemente o poder de execução via coação, coleciona-se o entendimento de Beber

(2008):

[...] não se pode condicionar a imposição da medida extremada à inocorrência de culpa por parte do credor, no sentido de que sua injustificada inércia fez diversa a natureza do crédito. O conceito de culpa – como sinônimo de desleixo, negligência – é estranho à caracterização da verba alimentar. Aliás, se culpa há de se investigar, necessariamente há de ser por parte do devedor, e não do inverso.  

Page 53: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Por outro lado, Madaleno (2004, p. 36) aduz que as “[...] decisões que prefixam

o uso da prisão no limite de três prestações tem encorajado e instigado a inadimplência total

e até parcial dos alimentos.”

Não há razão plausível para o entendimento jurisprudencial. Não há qualquer

fundamento legal que preveja tal questão, pelo que se mostra inexplicável que, num futuro

próximo, ainda prevaleça essa fixação, ainda mais quando se observam os argumentos

manifestados pela doutrina especializada.

Veja-se:

[...] a jurisprudência consolidou-se no sentido de admitir o rito do apensamento somente com referencia a três prestações alimentícias vencidas à data da propositura da demanda. O fundamento, de todo insubsistente, é que a dívida anterior a tal período perde sua natureza alimentar, passando, em um passe de mágica, a dispor de feição indenizatória. (DIAS, 2007). 

Noutra esteira, Stolze (2008) defende a mitigação da Súmula ao sustentar que:

O número de parcelas, portanto, deverá ser aferido pelo juiz, em cada caso concreto, com a necessária intervenção do Ministério Público, e segundo os elementos probatórios trazido pelas partes e por seus procuradores, durante a demanda. O que não se afigura razoável é o apego ao teto das três últimas prestações, porque completamente destituído de fundamento jurídico. 

Deve-se, antes de afastar a possibilidade de coação, fixando em três o número

de parcelas a serem pagas, levar em conta as justificativas do devedor, bem como os

motivos do credor na demora do ajuizamento da execução.

Para Beber (2008):

[...] somente depois desta percuciente análise é que se poderá cogitar da urgência ou não do pedido, se a prisão coercitiva se mostra necessária ou não, pois é inocultável que os alimentandos, mesmo que débito seja superior a três meses, de alguma forma, ainda que miseravelmente, sobreviveram e continuarão sobrevivendo. Isto, contudo, não é argumento para favorecer o devedor, que deveria, antes de mais nada, observar a regularidade de seu compromisso.

 Acerca do assunto, translada-se entendimento preconizado por Cahali (2002, p.

1025):

Page 54: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

O sentido de preteridade do débito alimentar simplesmente não pode derrotar a imprescindibilidade do pronto pagamento [...]. A preteridade do débito não desnatura seu caráter alimentar, e sua não satisfação na época oportuna repercute no padrão de subsistência do alimentando, degradando-o. No que esse refere à perda da natureza alimentar das dívidas, por serem antigas, necessário considerar que, se o paciente não demonstra interesse em pagá-las, não deve ser beneficiado em face da demora em ser preso ou localizado, privilegiando sua má-fé. Prestações pretéritas de largo período e nunca satisfeitas, nem apresentando qualquer justificação, [...] mostra descaso e abandono, autorizando a prisão do devedor.

 Destarte, não havendo qualquer motivo que justifique o inadimplemento, não

pode o devedor ser beneficiado de sua relapsia em não promover, em momento oportuno,

ação exoneratória ou revisional, de modo que é legítima a prisão do devedor se não

justificado o débito.

Do contrário, “[...] estar-se-ia criando um instrumento de estímulo a benefício

do inadimplente que, logrando transformá-las em prestações pretéritas e vultosas, põe-se a

salvo da execução fundada no art. 733”. (CAHALI, 2002, p. 1025).

Por esta razão, é aceitável o entendimento de que se recomenda certa cautela na

fixação do rito baseado no número de parcelas em atraso, eis que, em certos casos, ao ser

interpretado o enunciado jurisprudencial como regra absoluta, transformar-se-á em vítima o

abusado devedor.

É preciso deixar claro que, com este trabalho monográfico, não se tem

pretensão de por fim ao entendimento preconizado no STJ, mas se entende, ao lado de toda

a doutrina já exposta, que haja uma reinterpretação do enunciado, espécie de mitigação em

prol dos alimentandos.

Assim, sendo forte a tendência da doutrina moderna em preservar o direito do

alimentando à sobrevivência, como corolário lógico do direito à vida e da dignidade da

pessoa humana, há que fazer uma reavaliação quanto à aplicação sumária do entendimento

preconizado pela súmula 309 do STJ, de modo que haja interpretação de acordo com o caso

concreto.

Por outro lado, com relação à desconsideração inversa da personalidade,

observou-se também que doutrina e jurisprudência tem se alinhado no sentido da

aplicabilidade desta para auxílio do credor de alimentos.

Page 55: A execução de alimentos e as alterações do processo de execução do Código de Processo Civil

Explica-se. O artigo 50 do Código do Civil45[45] garante aos credores de

determinada pessoa jurídica a possibilidade de receberem o que lhes é devido através da

busca pelo patrimônio dos sócios ou administradores.

Com efeito, além dos entraves à execução de alimentos descritos anteriormente,

há o que comumente se chama de uso fraudulento da via societária. Tal modalidade dá-se

quando o devedor de alimentos transfere seus bens para a pessoa jurídica da qual é sócio,

simulando uma situação de insolvência.

No que toca à execução de alimentos, a doutrina acredita haver a possibilidade

da ocorrência do inverso. Diz-se inverso porque a responsabilidade ocorre de maneira

oposta, de modo que o que se pretende é que a dívida atinja os bens que agora são, por

força de transferência, da sociedade e não do credor.

Em defesa da tese, Madaleno (2004, p. 136) afirma que:

Quando um devedor de alimentos usa a via societária como escudo para cometer fraudulenta insolvência alimentar e transfere seus bens pessoais para uma empresa ou simula a sua retirada desta mesma sociedade mercantil, está com estes gestos contratuais de lícita aparência causando imenso prejuízo ao seu dependente alimentar. A reação judicial nestes casos há de ser a da episódica suspensão de vigência daquele nefasto jurídico, desconsiderando a pessoa jurídica utilizada para fraudar o credor de alimentos, sem a intrincada necessidade de demonstrar a nulidade do ato jurídico de aparente validade, ou de acionar, por via da simulação, empresas e sócios, com fôlego e recursos que o dependente alimentar não possui. 

Corroborando com o entendimento, Dias (2006, p. 435) sustenta que:

Novas possibilidades de constituição de sociedades dão ensejo a que pessoas dos sócios restem totalmente invisíveis, ou seja, todo o patrimônio figura como sendo da pessoa jurídica, percebendo os seus integrantes singelos valores a título de pro labore. Esses mecanismos de despatrimonialização, surgidos para driblar encargos tributários, passaram a ser utilizados pelos devedores de alimentos, na tentativa de dificultar a aferição dos seus reais rendimentos. Por essa razão, vem cada vez mais espaço, na justiça, o uso da teoria da despersonalização da pessoa jurídica, chamado de princípio da disregard, que permite desvendar entes societários para

45[45] Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações seja estendidos aos bens dos particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. (Vade Mecum, 2007, p. 172).

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descobrir a real participação de determinado sócio. Essas possibilidades investigatórias não se confrontam com os princípios constitucionais da privacidade e da intimidade do alimentante, pois se sobreleva o direito à vida do alimentando. 

Deste modo, sempre que o devedor de alimentos se utilizar deste artifício,

praticando ato abusivo para eximir-se da obrigação alimentar que lhe é imposta, é possível

resgatar o bem envolvido, agora em nome da sociedade, para satisfação do referido crédito,

com respaldo na teoria ora mencionada.

Esse vem sendo o entendimento dos tribunais pátrios:

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. DEVEDOR EMPRESÁRIO QUE NÃO POSSUI BENS EM SEU NOME. DÍVIDA ALIMENTAR QUE SE AVOLUMOU PELA LONGA INADIMPLÊNCIA. INCIDÊNCIA DA DISREGARD DOCTRINE. Considerando que se trata de crédito alimentar, que se avolumou nos últimos dez anos e não tendo o devedor bens no seu nome, não obstante possua empresa rentável, evidencia-se o abuso de direito, escudando-se o devedor no manto da pessoa jurídica para manter-se inadimplente, motivo pelo qual tem aplicação, no caso, a teoria da despersonalização da pessoa jurídica. Recurso provido. (TRIBUNAL DE Justiça do Rio Grande do Sul, Agravo de instrumento n. 70012013504, 7ª Câmara Cível, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcelos Chaves, RS, 10.08.05). 

Entretanto, como toda medida restritiva de direitos, há que se ter cautela quando

de sua aplicabilidade, tal como adverte Beber (2008):

É preciso, pois, com cautelas, evitando-se decisões eivadas de nulidade, perscrutar a origem do ato tido por abusivo e fraudulento, apurando-se quem efetivamente agiu, ou seja, a pessoa jurídica ou se foi ela (sociedade) utilizada como mero instrumento pelo sócio devedor da obrigação alimentar. Comprovada a segunda hipótese, havendo nexo entre o ato praticado e o prejuízo ocasionado, impõe-se prestigiar a realidade em detrimento da aparência, desconsiderando a personalidade da pessoa jurídica para não reconhecer os efeitos daquele abuso contra os interesses do credor alimentar. 

Por fim, a aplicabilidade da Lei nº. 11.232/2005 à execução de alimentos é

seguramente, por todas as razões já expostas anteriormente, uma das mais importantes

garantias de solvibilidade do devedor, pois traz outros meios de coercibilidade do devedor,

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além de possibilitar ao alimentante rapidez no cumprimento da efetividade de sua tutela

executória.

Já há, inclusive, entendimento nesse sentido preconizado pelos juízes das

Varas de Família e Sucessões do interior do Estado de São Paulo. Veja-se:

Enunciado 21: Aplicam-se as disposições da Lei 11.232/2005 às execuções de alimentos que não se processam pelo rito do artigo 733 do CPC. Enunciado 22: O artigo 732 do CPC foi implicitamente revogado pela lei 11.232/2005, em especial pelo artigo 475-I, devendo ser observada a lei nova. Enunciado 23: A multa prevista no art. 475 – J não se aplica às execuções de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC. Enunciado 29: Cumprida a prisão civil na ação de execução processada pelo rito do artigo 733 do CPC, o feito prosseguirá pelo rito da Lei 11.232/05 visando a cobrança dos débitos alimentares vencidos até a data em que o executado foi colocado em liberdade. 

Este também tem sido o posicionamento recente dos tribunais pátrios:

AÇÃO DE ALIMENTOS. EXECUÇÃO DE DIFERENÇAS. INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES DA LEI Nº 11.232/2005. 1. Se a execução de alimentos foi proposta já na vigência da lei nova, evidentemente esta tem incidência, devendo a execução dos alimentos ser processada nos mesmos autos da ação de alimentos, como pedido de cumprimento de sentença. 2. É viável, nos próprios autos, reclamar o cumprimento de sentença consoante previsão dos art. 475-J e seguintes do CPC. 3. Como o pedido de cumprimento de sentença não contempla a forma procedimental de cobrança posta no art. 733 do CPC, cabe à credora de alimentos promover ação de execução de alimentos autônoma formulando tal pretensão. Recurso provido em parte. (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo de Instrumento Nº 70020584850. Relator: Desembargador Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Órgão Julgador: Sétima Câmara Cível. Data do Julgamento: 21/11/2007. Data da Publicação: 27/11/2007). AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS - EXECUÇÃO DE SENTENÇA - DIFERENÇA DOS VALORES JÁ QUITADOS COM A VERBA ALIMENTÍCIA FIXADA NO DECISUM - ARGUIÇÃO DE PRELIMINAR - CABIMENTO DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS CONTRA QUALQUER DECISÃO JUDICIAL - PRAZO INTERROMPIDO. ''A decisão

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interlocutória pode ser esclarecida ou completada na via dos embargos de declaração, que devem ser recebidos em todos os seus efeitos'' (RE- 159.317 STJ - REL. MIN. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA. ''A lei nº 11.232/05 que acrescentou o artº 475-J ao Código de Processo Civil aplica-se à execução de alimentos" (AI-70019020379 - 8ª Câmara Civil - RGS). (Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de Instrumento 1.0024.04.410558-3/005. Relator: Desembargador Alvim Soares. Órgão Julgador: Sétima Câmara Cível. Data do Julgamento: 28/08/2007. Data da Publicação: 08/11/2007.)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

Entendendo que as reformas advindas com a Lei nº. 11.232/2005

surgiram com o nítido intuito de garantir maior celeridade e, consequentemente,

efetividade às tutelas executórias, este estudo defende sua aplicabilidade nas execuções

de alimentos, por acreditá-las essenciais à sobrevivência do alimentante, assentadas que

estão em princípios e garantias constitucionais, como o da dignidade da pessoa humana

e o direito à vida.

Combater a ineficácia da tutela executiva de alimentos, pautada muitas

vezes em falsas justificativas de abusados devedores, é preocupação constante dos

processualistas e especialistas da área da família. E para tal finalidade, a Lei nº.

11.232/2005 se apresenta como medida altamente eficaz, seja por trazer novas

possibilidades de garantia do débito, como a multa de 10%, seja por impor maior

celeridade ao rito, já que garante a continuidade do feito principal.

Resultado de inúmeras reformas iniciadas há mais de uma década,

referida Lei também transformou em exceção a regra anterior de suspensividade do

processo, quando interposta defesa do executado por meios de embargos, o que permite,

via de regra, a execução imediata dos alimentos.

Mas não se pode falar em aplicabilidade do referido diploma legal sem antes

abordar os procedimentos previstos aos credores de alimentos, suas bases legais e

peculiaridades, dispostos no Código de Processo Civil e na Lei de alimentos (Lei nº.

5.478/1968).

Questão de relevante discussão diz respeito à prisão civil do devedor de

alimentos, donde se conclui que tal instituto, embora medida de exceção, ainda se

constitui instrumento eficaz contra inadimplência. Também restou comprovado que as

reformas processuais em nada modificaram o rito em comento.

Demonstrado o rito da expropriação, foram enfocadas as modificações

substanciais desse procedimento, que tem por base a constrição de bens do devedor,

tudo em atenção ao que dispõe os artigos 475 – J e seguintes do Código de Processo

Civil.

E porque muito se discute sobre a tendência irreversível de

constitucionalização do Direito Civil não pôde prescindir esse estudo de trazer o

entendimento de constitucionalistas sobre o princípio da celeridade. E é com base neste

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princípio e nas conseqüências que sua ausência traz, ainda mais aos credores de

alimentos, cuja importância é questão de sobrevivência, é que se conclui por

incontroversa a aplicabilidade da Lei nº. 11.232/2005 à execução de alimentos.

A falta de modificação de um texto legal jamais pode ser interpretada com o

intuito de afastar o procedimento mais célere dessa espécie de obrigações, cujo bem

tutelado é de suma importância.

A aplicabilidade deste instituto por certo não acabará com diversos entraves

à execução de alimentos, ainda mais porque o devedor renitente sempre encontra novos

meios de eximir-se da obrigação, mas além de possibilitar meios que garantam a

efetividade da tutela, auxilia na luta pelo fim das inúmeras divergências doutrinárias

relacionadas ao rito de alimentos.

Teses a favor e contra a aplicabilidade da legislação foram enfocadas na

construção de base teórica desta pesquisa, inclusive quanto aos argumentos utilizados

para a implementação ou não do novo diploma. O que demonstrou que ainda interessa

para muitos o apego excessivo ao formalismo e à literalidade da lei.

Vê-se que a adoção do procedimento da lei já é uma realidade em muitos

lugares e, que pela forte influência doutrinária em torno do tema, será, num futuro

próximo, uma constante, o que faz cair por terra a argumentação contrária à

aplicabilidade sob o argumento de que a omissão legislativa foi proposital.

Já se considerando aplicável o dispositivo legal à espécie, fez-se necessário

um breve apanhado sobre algumas controvérsias em torno da lei. Ficou claro que, por

ser medida coercitiva, há a necessidade de intimação do devedor para o pagamento da

multa de 10%, ao contrário do pensamento que afirma correr automaticamente o prazo

somente com a intimação da sentença.

Traçando um comparativo entre os diversos meios executórios e a forma

como são utilizados, fez-se um estudo sobre os principais entraves à execução de

alimentos, onde se conclui que há uma série de vícios que dificultam o desenrolar da

fase executória.

Medidas como a saída do emprego estável, a simulação de insolvência e a

ocultação da real situação financeira são alguns dos meios utilizados pelo devedor para

desobrigar-se do ônus alimentar.

O direito constitucional da ampla defesa serve de escudo para a prática de

abusos por parte do devedor que, utilizando-se deste princípio omite sua real situação,

razão pela qual se defende que todas as escusas deverão ser passíveis de análise pelo

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magistrado que, no caso concreto, deverá tomar as medidas que entender mais

favoráveis à subsistência do alimentante.

Por último e, levando em consideração que este trabalho busca meios de

garantia da efetividade da tutela executiva de alimentos, elencam-se possíveis soluções

ao entraves estabelecidos, buscando um equilíbrio entre o direito à ampla defesa do

executado e o direito à vida do alimentando.

O resultado, entre outros, é que a fixação generalizada em três parcelas de

débito para utilização do rito da coação pessoal do devedor, preconizada pela súmula

309 do STJ é maléfica ao credor, pois além de retirar-lhe a celeridade do rito,

desprestigia o instituto dos alimentos e incentiva a inadimplência.

Ao final e ao cabo, este trabalho monográfico conclui que o apego à

literalidade das normas, traz, sobretudo, prejuízos aos alimentandos, em geral, os menos

favorecidos. É evidente que os dispositivos que tratam da obrigação alimentar exigem,

por sua própria natureza, uma interpretação sistemática e sociológica de todos os

dispositivos atinentes à matéria, quer através da efetiva aplicabilidade da Lei nº.

11.232/2005, quer através de uma nova análise, in concreto, da Súmula 309 do STJ.

Tal entendimento significa cuidar da efetividade do direito à tutela

executiva, uma das expressões do direito fundamental ao processo devido.

Por certo este trabalho não emudecerá os refratários à tese da aplicação da

Lei nº. 11.232/2005 - até porque lhes interessa o tradicional apego ao formalismo -, mas

constituir-se-á em mais uma voz contrária a tal entendimento.

 

 

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