parasitologia clínica - sanguessugas

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CURSO DE FARMÁCIA E BIOQUÍMICA INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PARASITOLOGIA CLÍNICA (TRABALHO) SANGUESSUGASAluno: Henrique Martins Páros Turma: FM10P14

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Trabalho da disciplina de Parasitologia Clínica, do 5º ano do curso de Farmácia e Bioquímica da Universidade Paulista (campus Araçatuba).Trata da classificação biológica e das características principais das sanguessugas, bem como sua aplicação na prática médica moderna.O trabalho aborda o tema de modo simplificado, dado a escasses de dados disponíveis sobre o assunto, contudo ainda permite um entendimento claro da aplicação da terapia com sanguessugas; trazendo inclusive alguns dados recentes sobre o desenvolvimento desta técnica na atualidade.

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Page 1: Parasitologia Clínica - Sanguessugas

CURSO DE FARMÁCIA E BIOQUÍMICAINSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PARASITOLOGIA CLÍNICA(TRABALHO)

“SANGUESSUGAS”

Aluno: Henrique Martins PárosTurma: FM10P14

ARAÇATUBA2009

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CURSO DE FARMÁCIA E BIOQUÍMICAINSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

Sanguessugas

Classificação Biológica e Características Principais

Sanguessugas são anelídeos da Classe Hirudinea (também denominadas de aquetas) que se alimentam do sangue de outros animais (sendo, portanto seres hematófagos).

São animais hermafroditas (possuem os dois sexos), embora somente possam se reproduzir quando fecundadas por outras sanguessugas, e seus ovos, botados na lama, são protegidos por um casulo muito duro.

Ao contrário de muitos animais do mesmo gênero, as sanguessugas não possuem cerdas; ao invés disso possuem ventosas para sua fixação aos corpos dos animais. Além disso, suas mandíbulas são aguçadas o suficiente para romper a pele e couro de suas vítimas; e sua faringe, similar a uma bomba de ar, permite que elas suguem sangue em quantidade impressionante.

São representadas por mais de 500 espécies, sendo a grande maioria encontrada em água doce (embora existam certas espécies marinhas e arborícolas de sanguessugas). A maioria das sanguessugas é encontrada em zonas tropicais, em lagos, lagoas, lamaçais e rios calmos de águas quentes.

Hirudo medicinalis(úncia espécie de sanguessuga com aplicações medicinais)

Os corpos das sanguessugas são achatados e afunilados na extremidade anterior, formando a cabeça, e ainda possuem uma ventosa anterior, que circunda a boca, e uma posterior localizada ventralmente (sendo esta última maior que a anterior).

Cada sanguessuga é formada por 32 segmentos (anéis) em seus corpos e exibem, durante a época da reprodução, uma estrutura chamada clitelo (no restante do período esta estrutura permanece oculta).

Seu comprimento varia de 6 a 10 cm, sendo que a maior sanguessuga do mundo é a Haementeria ghilianii amazônica com 30 cm. As cores mais comuns são o negro, o marrom, o verde-oliva e o vermelho, embora ainda existam sanguessugas listradas ou pintadas.

Como mencionado acima, as sanguessugas alimentam-se do sangue de suas vítimas. Sendo que uma única sanguessuga pode ingerir uma quantidade de sangue até 10 vezes superior ao seu próprio volume. Ao aderirem ao corpo de ser vivo de que se alimentam, as sanguessugas segregam um poderoso anticoagulante; bem como uma substância com propriedades anestésicas, o que lhes se alimentar mais facilmente.

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Por fim, cabe lembrar que nem todas as espécies de sanguessugas são hematófagas; uma vez que algumas exibem comportamento predador (se alimentando de vermes, caramujos e larvas de insetos) ou mesmo carniceiro (se alimentando de resídous de matéria orgânica).

Aplicação Medicinal das Sanguessugas

Até meados do século XIX, as sanguessugas eram amplamente utilizadas na medicina tradicional chinesa, na medicina oriental e mesmo na medicina ocidental (nos procedimentos conhecidos como sangrias, ainda aplicados atualmente); contudo, devido ao desenvolvimento da ciência médica, especialmente no que tange à terapêutica, ocorrido durante o século XX, seu uso foi praticamente abandonado.

Porém, hoje em dia ainda há necessidade de utilizar anticoagulantes na medicina convencional, ainda que sejam artificiais; de modo que, devido a recentes estudos, as sanguessugas estão voltando a ser utilizadas na medicina em casos de grandes dificuldades circulatórias em membros, visto que sua ação sucçora força o sangue a circular, ajudando a manter vivas as células.

Têm se averiguado a possibilidade da utilização bem sucedida de sanguessugas em situações específicas, em especial nos casos de amputações seguidas de microcirurgia reconstrutora. Nessas situações, existe reconstrução das artérias, com reconstrução do fluxo arterial de sangue (entrada de sangue) no membro amputado, mas a reconstrução das veias nem sempre é tão rápida e o fluxo venoso (saída de sangue) fica deficiente. Isso leva a um acúmulo de sangue no membro, o que prejudica muito a eficácia do reimplante e aumenta as chances de sua perda definitiva.

Assim, as sanguessugas aplicadas nessas situações agem como “válvulas de escape” para o sangue acumulado nos membros reimplantados, mantendo as células vivas e aumentando as chances de que o reimplante se torne permanente. E, como o procedimento é indolor, devido ao efeito anestésico também presente na saliva das sanguessugas, sua aplicação pode ser executada com muita segurança (desde que observados certos cuidados contra contaminações). O potencial anestésico da saliva das sanguessugas também abriu a possibilidade de seu uso no tratamento da osteo-artrite e outros distúrbios inflamotórios doloridos.

A terapia com sanguessugas resume-se a um procedimento razoavelmente simples, que pode ser definido como a colocação destes animais em contato com a pele limpa do paciente, nas áreas designadas para o desenvolvimento do efeito terapêutico. Nessa situação, as sanguessugas aderem ao local pela utilização de suas ventosas e começam a se alimentar, não se movendo nenhum centímetro do local designado, até que estejam satisfeitas e se desprendam por conta própria e sejam recolhidas.

As sanguessugas se fixam pelas extremidades, sugam até esgotaremsua capacidade e se soltam quando cheias de sangue.

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O sucesso da terapia com sanguessugas se deve principalmente à composição da saliva da Hirudo medicinalis, única espécie utilizada medicinalmente, na qual se encontram presentes diversas substâncias, entre elas: um potente anticoagulante (denominado hirudina), um vasodilatador semelhante à histamia (capaz de promover o aumento no fluxo sanguíneo), hialuronidase (substância com propriedades anticicatrizantes) e um anestésico local (com propriedades similares às da morfina).

Atualmente, poucos países aderiram à volta do uso das sanguessugas, e, mesmo entre aqueles que o fazem, na grande maioria das vezes a aplicação é restrita aos métodos das ditas “medicinas alternativas”; não sendo, portanto, considerada parte da medicina tradicional. Contudo, os fatos demonstram que sua grande utilidade e, sobretudo, taxa de sucesso, pode resultar em uma mudança desse quadro, conforme demonstrado pela aplicação da terapia com sanguessuga em casos de:

Dores de cabeça e enxaquecas; Sinusites; Neuralgias; Hematomas; Úlceras varicosas; Pressão alta; Asma e bronquite; Inflamações e furúnculos; Reumatismo, gota e artrite;

Herpes-Zoster; Doenças por fungos; Defesa imunológica enfraquecida; Doenças do fígado; Doenças do ouvido; Depressão; Problemas pós-cirúrgicos; Problemas na menopausa.

A Terapia com Sanguessugas e suas Contra-Indicações

Dada sua natureza recente, bem como sua conotação de medicina alternativa, não existem muitos protocolos de tratamento ou mesmo livros tratando da utilização das sanguessugas na medicina.

Contudo, o trabalho do médico alemão Dr. Bohenberg, em sua monografia “A Terapia com Sanguessugas” (escrita em 1935), tem servido de base para o desenvolvimento e aplicação de rotinas de tratamento utilizando estes animais.

Neste livro, o médico descreve o sucesso extraordinário do tratamento de sanguessugas nos casos de tromboflebite, hemorróidas, nódulos linfáticos purulentos, inflamações das amídalas, otite média aguda e angina. Além disso, também descreve o processo de cura de grandes furúnculos, casos de pericardite, pneumonias, infecções da vesícula, apendicite aguda, reumatismo e artrite; além de grande melhoria em casos de concussão cerebral, acidentes vasculares cerebrais, esclerose múltipla, depressão, esquizofrenia e até mesmo catatonia.

A técnica consiste basicamente na obtenção das sanguessugas, que são vendidas nas farmácias alemãs em pequenos recipientes de gargalo amplo contendo água fresca não clorada, seguido de sua revitalização (pela troca da água pouco antes de seu uso). A área de aplicação então é limpa com água e sabão apenas, sendo proibida a desinfecção com álcool, éter ou sabonetes anti-sépticos (uma vez que as sanguessugas não aderem em áreas tratadas desta forma), e logo em seguida são aplicadas as sanguessugas em quantidade variável (de acordo com o esquema terapêutico empregado).

Após a adesão das sanguessugas aos locais determinados, as mesmas são lá deixadas até que suguem o suficiente para se satisfazerem (geralmente algo entre 5 a 8 gramas de sangue), quando se soltam e são recolhidas. As sanguessugas utilizadas em um paciente não podem mais ser reutilizadas depois disso e a terapia leva em conta também o sangue perdido após a queda dos parasitos, que pode durar de 4 a 12 horas dependendo do tratamento em progresso.

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Idealmente, as sanguessugas devem ser aplicadas no período da manhã, sendo o paciente monitorado durante o dia e o sangramento controlado (evitando o eventual colapso de pacientes debilitados).

Obviamente, a terapia com sanguessugas é contra indicada no caso de pacientes hemofílicos, anêmicos ou raquíticos; além disso, seu uso também é restrito no caso de pacientes tratados com medicamentos à base de mercúrio, bem como nos casos de gangrena diabética e condições precárias de cicatrização.

Alguns Fatos sobre a Atual Aplicação da Terapia com Sanguessugas

No ano de 2004, um grupo de cientistas na Universidade de Duisburg – Essen, na Alemanha, deu início a uma extensa pesquisa (envolvendo mais de mil participantes) com vistas a avaliar o potencial da utilização de sanguessugas no tratamento de osteo-artrite. A pesquisa trabalhou com vários grupos de pacientes, todos sofrendo de osteo-artrite nos joelhos, dos quais metade recebeu, duas vezes ao dia, o medicamento diclorofeno; enquanto a outra metade foi tratada com a aplicação de quatro a seis sanguessugas nos joelhos por um período de uma hora. Os resultados, ainda controversos, revelaram que a saliva da Hirudo medicinalis não somente mitiga a dor, mas também atua como agente antiinflamatório (devolvendo e facilitando grande parte da mobilidade das articulações dos pacientes testados);

Desde o início do ano de 2008, o FDA (Food and Drugs Administration, órgão do governo norte-americano que regulamenta alimentos e remédios) autorizou o uso medicinal da espécie de sanguessuga Hirudus medicinalis. Esse fato deu margem ao nascimento de um grande mercado, onde empresas como a Leeches USA (sediada em Long Island, Nova Iorque) e a Ricarimpex (empresa francesa) se destacam alguns dos maiores criadouros mundiais;

O hospital Continuum Centre for Health and Healing, de Nova Iorque, pouco tempo depois da liberação pelo FDA, foi o primeiro a aplicar esta terapia inovadora contra a artrite degenerativa. Seu primeiro paciente foi o antigo jogador de futebol americano Matt Aselton, que pagou cerca de 600 dólares pelo tratamento para o alívio das dores provocadas pela osteo-artrite em um de seus joelhos, fruto de sua carreira de desportista;

A partir do mês outubro de 2009, um dos centros que compõe o Beth Israel Medical Center, um dos maiores hospitais da cidade de Nova Iorque, também passou a usar as sanguessugas no tratamento da osteo-artrite;

No Brasil, o cirurgião Luiz Claudio Candido, da cidade de Santos, também tem utilizado as sanguessugas. Contudo, devido à inexistência de criadouros nacionais, o médico acaba por importar os animais (no caso, as sanguessugas são provenientes da Itália). Apesar da iniciativa inovadora, e ao contrário do que ocorreu nos EUA, o Conselho Federal de Medicina, órgão brasileiro de funções semelhantes ao FDA, ainda não autorizou a realização de nenhum tratamento com sanguessugas no país.

Bibliografia

ANÔNIMO. Terapia com sanguessugas. Disponível em: < http://www.taps.org.br/ >. Acessado em: Setembro de 2009;

ANÔNIMO. Sanguessugas usadas na medicina. Disponível em: < http://diario.iol.pt/ >. Acessado em: Setembro de 2009;

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ANÔNIMO. Terapia do “argh!”. Disponível em: < http://www.portalfarmacia.com.br/ >. Acessado em: Setembro de 2009;

PILCHER, H. Stuck on you. Nature. New York: Nature Publishing Group, v. 432, n. 4, novembro 2004.