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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Programa de Pós Graduação em Ciênia Am!ien"a# PARADIG$AS DO DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ &UES%ÃO ' DO AGR(RIO AO %ERRI%ORIAL Ari#son da Si#)a *a)are"o SÃO PAULO +,,- 1

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Programa de Pós Graduação em Ciênia Am!ien"a#

PARADIG$AS DO DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ &UES%ÃO '

DO AGR(RIO AO %ERRI%ORIAL 

Ari#son da Si#)a *a)are"o

SÃO PAULO

+,,-

1

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Programa de Pós Graduação em Ciênia Am!ien"a#

PARADIG$AS DO DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ &UES%ÃO '

DO AGR(RIO AO %ERRI%ORIAL 

Ari#son da Si#)a *a)are"o

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da

Universidade de São Paulo comoeigência parcial para a obtenção do t!tulode "outor em Ciência Ambiental#

$rientação% Pro&# "r# 'os( )li da *eiga+Procam e "epartamento de )conomia da,)AUSP.

SÃO PAULO

+,,-

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 Este trabalho é dedicado, com muito carinho,

à Dona Rose e ao Seo Ariovaldo, meus pais,

e à memória daquela figura tão especial que foi a Dona Aurora

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Agradeimen"os

Uma tese de doutorado ( considerada um trabal2o de co-autoria entre o aluno e o orientador#

Por isso3 mas principalmente por sua import4ncia de &ato nesta empreitada3 devo agradecer

inicialmente ao Pro&# 'os( )li da *eiga# "esde as id(ias iniciais 5ue viriam a dar origem ao

 pro6eto de pes5uisa pude contar com sua animadora acol2ida# ) durante os 5uatro anos 5ue

desde então decorreram pude des&rutar de um intenso e verdadeiro aprendi7ado# Sou-l2e

etremamente grato pela presença constante em todas as etapas e por sua generosa e tão

 precisa dedicação 8 orientação#

"urante este per!odo tive tamb(m o privil(gio de conviver com o Pro&# 9icardo Abramova:3

interlocutor e encora6ador desta pes5uisa desde os primeiros esboços# Suas observaç;es no

eame de 5uali&icação e em in<meras oportunidades onde pudemos discutir temas direta ou

indiretamente relacionados 8 tese me &oram de etrema valia#

Com o Pro&# A&r4nio Garcia tive o pra7er de partil2ar min2a estadia na ,rança3 na  cole des

 !autes tudes em Sciences Sociales" Sou muito grato a ele tanto por ter viabili7ado ascondiç;es 5ue permitiram meu v!nculo com a5uela instituição como pelas v=rias 2oras 5ue

 pude des&rutar de agrad=veis conversas e3 sobretudo3 de pro&!cuas cr!ticas e sugest;es 8 min2a

 pes5uisa# Tamb(m nesta ocasião tive ainda a &elicidade de discutir os contornos desta tese

com o Pro&# >gnac: Sac2s3 da mesma )?)SS3 e com @arie ,rance Garcia-Parpet3 no  #nstitut

 $ational de la Recherche Agronomique#

$ Pro&# )duardo ugelmas3 membro da banca no eame de 5uali&icação3 a6udou-me bastantecom suas observaç;es e com valiosas indicaç;es bibliogr=&icas# Buis Carlos edusc2i3 da

,A$3 e )stela Deves3 do CP"A e Colegio de @eico3 &oram etremamente gentis e

 prontamente atenderam meu pedido de envio de materiais relativos ao C2ile e ao @(ico#

Sou grato ainda 8 *era Sc2attan3 por nossa ainda recente mas instigante interlocução sobre

os temas relativos 8 participação e desenvolvimento3 no Cebrap#

E

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>nstitucionalmente devo agradecer 8 Capes pelo apoio 8 reali7ação da pes5uisa# Ao Procam3

em cu6os colegas3 pro&essores e &uncion=rios encontrei sempre uma convivência amig=vel e

um ambiente prop!cio 8s trocas cient!&icas# ) aos coordenadores e colegas dos grupos de

trabal2o de encontros cient!&icos F Anpocs3 Anppas3 Sober3 SS - onde apresentei partes dos

tetos 5ue con&ormam esta tese e 5ue certamente &oram enri5uecidos com suas contribuiç;es#

Aos colegas do Procam e da Plural3 9e:naldo 9omagnoli3 B!lian 9a2al3 Paulo ranc2er3

@aria C(lia Sou7a3 Gerson ittencourt3 )duardo )2lers3 arin *ecc2iatti3 9og(rio 'orge e

Cristina A7evedo meu muito obrigado pela convivência pessoal e pro&issional nestes anos#

9eginaldo @agal2ães3 "iogo "emarco3 )duardo ritto e Ariane ,avareto3 al(m da ami7ade e

compan2eirismo3 me presentearam ainda com atenciosas leituras e cr!ticas aos originais desta

tese#

Por &im3 como brincou um colega certa ve73 entre outros &atores pelo tempo e pela

intensidade da dedicação3 uma tese poderia ser considerada uma esp(cie de &ato social total#

 Dos v=rios dom!nios 5ue isto comporta sou grato 8 Gra7iela Perosa3 por nossas trocas a&etivas

e intelectuais tão especiais# Buca e >sabel3 5ue praticamente nasceram e cresceram com esta

tese3 não só encararam numa boa o inverno europeu como a6udaram a tornar o per!odo de

redação mais saud=vel com seus constantes pedidos para brincar e contar 2istórias# Aos dois3

um grande bei6o

H

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Resumo

$ ob6etivo desta pes5uisa ( estabelecer a di&erença conceitual tra7ida com a abordagemterritorial do desenvolvimento rural em relação 8s abordagens tradicionais de apreensão destemesmo ob6eto nas ciências sociais3 a partir de uma an=lise 2istórica e teórica do problema# Da

 base da emergência do 5ue se convencionou c2amar por Inova ruralidadeJ 2= umdesli7amento no conte<do social e na 5ualidade da articulação das suas três dimens;esde&inidoras &undamentais% as relaç;es rural-urbano3 a proimidade com a nature7a3 e os laçosinterpessoais# A tese 5ue se pretende demonstrar ( 5ue os signi&icados maiores desta mudançasão3 de um lado3 a erosão do paradigma agr=rio 5ue sustentou as vis;es predominantes sobreo rural ao longo de todo o <ltimo s(culo3 e3 de outro3 a intensi&icação de um longo e2eterogêneo processo de racionali7ação da vida rural# Um processo atrav(s do 5ual o rural3em ve7 de desaparecer3 se integra por completo 8 din4mica mais ampla dos processos de

desenvolvimento3 por meio tanto da uni&icação dos di&erentes mercados +de trabal2o3 de produtos e serviços3 e de bens simbólicos. como tamb(m por meio da criação de instituiç;es5ue regulam as &ormas de uso social destes espaços3 agora amalgamando interesses 5ue têm

 por portadores sociais segmentos origin=rios tamb(m de outras es&eras#

A!s"ra"

T2e purpose o& t2is researc2 is to establis2 t2e conceptual di&&erence embedded in t2eterritorial approac2 to rural development in relation to traditional approac2es to appre2endingt2e same ob6ect in social science3 &ounded on a 2istorical and t2eoretical anal:sis o& t2e

 problem# At t2e basis o& t2e emergence o& K2at convention termed as IneK ruralit:J3 t2ere isa s2i&t in t2e social content o& and in t2e 5ualit: o& t2e interrelation betKeen its t2ree&undamental de&ining dimensions% rural-urban relations3 proimit: to nature3 andinterpersonal ties# T2e t2esis Ke intend to demonstrate is t2at t2e broader implications o& t2isc2ange are3 &or one3 t2e erosion o& t2e agrarian paradigm t2at supported t2e prevailing visions

about t2e rural t2roug2out t2e last centur: and3 &or anot2er3 t2e intensi&ication o& a long and2eterogeneous process o& rationali7ation o& rural li&e# A process in K2ic2 t2e rural3 rat2er t2andisappearing3 is completel: integrated to t2e broader d:namic o& development processes bot2

 b: means o& t2e uni&ication o& t2e di&&erent marLets +labor3 products and services3 ands:mbolic goods. and t2e creation o& institutions t2at regulate t2e &orms o& social use o& t2esespaces3 noK amalgamating interests borne b: social segments also originating in ot2ersp2eres#

M

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Lis"a de .iguras/ 0uadros e "a!e#as

,igura da capa F I)u vi o mundo### ele começa no 9eci&eJ3 9eprodução do painel de C!cero "ias

Nuadro 1 F Pr=ticas agr!colas e surgimento das cidades% comparação temporal e espacial

Nuadro / F Consenso b=sico sobre a ruralidade avançada

Tabela 1 F População rural nos pa!ses da $C")

Tabela / F "istribuição do emprego por setores econOmicos nos pa!ses da $C")

"esen2o 1 F 9epresentação es5uem=tica do sistema de oposiç;es da ruralidade pret(rita"esen2o / F 9epresentação es5uem=tica do sistema de oposiç;es da nova ruralidade

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Sum1rio

IN%RODU2ÃO333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 11PAR%E I 4 DESENVOLVI$EN%O

5 Desen)o#)imen"o3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 66

1#1 - A longa tra6etória das id(ias sobre desenvolvimento######################################### 0E

  1#1#1 - "a gênese ao evolucionismo####################################################################### 0E  1#1#/ - "a evolução ao crescimento######################################################################## 1  1#1#0 - Crise3 polissemia3 banali7ação###ciência###################################################### H

1#/ - Nual teoria Q #########################################################################################################  E1

  1#/#1 - "esenvolvimento e crescimento econOmico################################################ E1  1#/#/ - "esenvolvimento e a 5uestão social############################################################ H1  1#/#0 - "esenvolvimento e meio-ambiente############################################################# HM

  S7n"ese333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 88

PAR%E II 4 RURALIDADE

+ Rura#idade33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 89

/#1 - Pe5uena 2istória da relação rural-urbano########################################################## R

  /#1#1 - "os primórdios da divisão espacial do trabal2o 8 modernidade################## 0  /#1#/ - "a industriali7ação aos tempos atuais######################################################### M  /#1#0 - A peculiaridade latinoamericana################################################################## 1

/#/ - Uma nova etapa Q################################################################################################### M

  S7n"ese333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 1R0

6 Rura#idade nos :a7ses do a:i"a#ismo a)ançado3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 5,;

0#1 F As de&iniç;es sobre o 5ue ( o rural###################################################################### 1RE0#/ - Tendências do desenvolvimento rural################################################################# 1110#/ F As 9a7;es do desenvolvimento############################################################################ 11E

  0#/#1 F Biç;es dos programas de pes5uisa############################################################## 11E  0#/#/ F Biç;es dos programas de apoio e promoção do desenvolvimento rural#### 1/1

0#0 - A emergência da abordagem territorial e seus signi&icados############################## 1/0 

S7n"ese33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 1/

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PAR%E III 4 DESENVOLVI$EN%O RURAL E $UDAN2A INS%I%UCIONAL

; Os amin<os da disseminação da a!ordagem "erri"oria#3333333333333333333333333333333333333333333 56,

#1 F $ 6ogo e as regras#################################################################################################### 10/

  #1 1- A Inova visãoJ do desenvolvimento rural################################################## 100  #1#/ F "a IvisãoJ 8 ação######################################################################################## 1R

#/ - Um novo compromisso institucional Q###################################################################

S7n"ese############################################################################################################################

1EE

1EM

PAR%E IV 4 A RACIONALI=A2ÃO DA VIDA RURAL

> A raiona#i?ação da )ida rura#33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 5>9

E#1 F Cr!tica 8 visão agr=ria dos territórios rurais############################################################ 1H/

E#/ - 9acionali7ação da vida rural ################################################################################## 1MR

  E#/#1 F $ desencantamento dos campos  +ou racionali7ação e vida cotidiana.############################################################# 1M  E#/#/ - "a regulação total3 8 regulação setorial3 e desta 8 regulação territorial  +ou racionali7ação e instituiç;es.################################################################# 1M  E#/#0 - Nuem são os agentes da nova ruralidade Q

+ou racionali7ação e estruturas sociais.######################################################## 1R

S7n"ese############################################################################################################################## 1

CONCLUSÃO33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 5@9

ILIOGRA*IA333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 +,,

1R

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In"rodução

% preciso, antes de tudo, fa&er o cat'logo mais amplo poss(vel de categorias"

  preciso partir de todas aquelas das quais se pode saber que os homens se serviram"

)er*se*' então que ainda h' muitas luas mortas,ou p'lidas, ou obscuras, no firmamento da ra&ão+

 arcel auss

As palavras de @arcel @auss 5ue servem de ep!gra&e a esta >ntrodução3 e 5ue segundo B(vi-

Strauss deveriam constar no &rontisp!cio de toda instituição dedicada 8 pes5uisa social3

camin2am para um s(culo desde 5ue &oram pro&eridas1# "e l= at( os tempos atuais3 a ciência

em geral e seus v=rios ramos em particular alcançaram est=gios muito mais avançados3 tanto

em sua institucionali7ação3 como na elaboração de mais e mel2ores instrumentos de an=lise F

categorias e conceitos3 corpos teóricos3 m(todos e t(cnicas# @as3 uma das condiç;es para a

e&iciência das id(ias cient!&icas ( 5ue estas &ormas de compreensão e eplicação do realeste6am sendo permanentemente aper&eiçoadas3 6ustamente para poder acompan2ar sua

constante evolução# "esde 5ue se assuma 5ue o tempo ( uma vari=vel c2ave na determinação

de 5ual5uer &enOmeno3 se6a na nature7a ou na sociedade3 não 2= como deiar de lado uma

esp(cie de eterna vigil4ncia 5uanto 8 poss!vel obsolescência ou inade5uação de noç;es3

 perguntas3 ou &ormas de classi&icação utili7adas pelas v=rias disciplinas# asta lembrar 5ue as

 principais revoluç;es cient!&icas de nossos tempos +u2n3 1H/1M. F por eemplo3 o 5ue a

teoria de "arKin representou para a biologia3 a de @ar para a &iloso&ia e as ciências sociais3

a de ,reud para a psicologia3 a de )instein para a &!sica - têm3 todas3 em torno de cento e

cin5enta anos ou menos# )3 em todos os casos3 seus desdobramentos posteriores F as

tentativas de comprovação3 mel2oria ou re&utação de tais teses e enunciados - têm sido

igualmente &ecundos e3 com isso3 mudado o patamar de validação e renovação teórica# Talve7

se6a este car=ter vivo3 por5ue determinado pela din4mica empreendida pela constante

evolução do real e das tentativas de sua apreensão3 o 5ue T2omas u2n mel2or destaca em

sua con2ecida polêmica com arl Popper# A validade das id(ias cient!&icas não resulta1 C&# B(vi-Strauss +1ER/RR0.#

11

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somente do movimento cumulativo derivado de seu teste e aper&eiçoamento lógico e pr=tico3

mas tamb(m3 e talve7 sobretudo3 das vis;es 5ue presidem o ol2ar dos pes5uisadores e dos

 processos sociais3 internos e eternos aos dom!nios do campo cient!&ico# *is;es 5ue

condicionam os lugares estabelecidos das id(ias e tamb(m de seus portadores3 ou a totalidade

na 5ual elas se inserem3 para usar os termos de Adorno /# POr em marc2a o eame de

categorias espec!&icas do pensamento cient!&ico não deveria ser3 portanto3 somente uma tare&a

epistemológica3 mas tamb(m 2istórica e sociológica#

)ste ( o pressuposto 5ue est= na base de toda a tradição da sociologia da ciência3 desde

@erton# Uma an=lise da id(ia de desenvolvimento rural F ob6eto desta tese F deveria3 assim3

se inspirar não somente em sua evolução como conceito3 mas tamb(m3 e principalmente3 na

 busca da compreensão de suas articulaç;es com outros dom!nios do mundo social3 5ue l2e

envolvem e condicionam em alguma medida# )m @erton +1H.3 estes conte<dos repousam

em caracteres internos 8 comunidade dos cientistas3 marcadamente na lógica e nas relaç;es

5ue per&a7em o processo de institucionali7ação de uma disciplina ou id(ia cient!&ica e a

especiali7ação 5ue l2e ( correspondente# )mbora 2a6a este componente sociológico por detr=s

da evolução das id(ias F a estruturação das comunidades cient!&icas F3 nesta lin2a de estudos

os condicionantes estão ainda dentro dos muros do campo cient!&ico# 6ustamente a etrema

 permeabilidade deste muro e3 pois3 a alt!ssima suscetibilidade das id(ias cient!&icas ao mundo

eterior o 5ue se destaca nos estudos da c2amada sociologia das ciências e das t(cnicas3

lideradas por sociólogos &ranceses como runo Batour e @ic2el Callon# Um dos principais

m(ritos dos estudiosos &iliados a esta segunda onda dos estudos de sociologia da ciência (

 6ustamente mostrar 5ue3 mesmo na mais elaborada e racionali7ada das &ormas de pensamento3

2= um componente de crença6#  )3 como em toda crença3 sua sustentação ( &undada em

elementos de persuasão 5ue remetem a estrat(gias de convencimento e disputa encerradas

 pelos seus diversos agentes3 numa din4mica 5ue muitas ve7es conta mais para a evolução

cient!&ica do 5ue propriamente a cumulatividade dos seus progressos lógicos e t(cnicos3 como

destacado pelos epistemólogos cl=ssicos#

/ $s termos desta polêmica estão nos con2ecidos tetos de Popper +1E10V 1MV 1HE1M. e u2n+1H/1MV 1HE1MV 1MR. e3 tamb(m em Adorno +1M1.#0 Da literatura sobre desenvolvimento 2= v=rios autores em 5ue a id(ia de crença tem algum poder eplicativo#

 Da maioria deles no sentido negativo ou vulgar do termo3 5uase associado 8 ilusão# Um tratamento positivo3 5ue procura eplorar as relaç;es cognitivas entre mitos e crenças e processos de desenvolvimento est= presente de

maneira muito instigante na obra de Celso ,urtado# )stes aspectos serão retomados mais detidamente noCap!tulo 1# Sobre a sociologia das ciências e das t(cnicas3 ver3 entre outros3 Batour +1.#1/

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$ estudo apresentado nas p=ginas a seguir tem a pretensão de se inspirar neste tipo de

en&o5ue ao tomar para an=lise o paradigma 5ue orienta as leituras sobre desenvolvimento

rural# A abordagem 5ue ser= a5ui adotada situa-se entre dois etremos F entre a

cienti&ici7ação absoluta da id(ia de desenvolvimento e sua redução a mera crença das

sociedades ocidentais# Pretende-se mostrar a5ui - e essa parece ser a perspectiva ausente tanto

dos estudos mertonianos como da sociologia das ciências e das t(cnicas - 5ue3 embora a

evolução das id(ias cient!&icas não se6a  somente  resultado da din4mica interna do campo

cient!&ico3 não ( poss!vel igualar seu estatuto a uma &orma 5ual5uer de crença# A evolução de

uma id(ia cient!&ica ( resultado de uma dupla determinação% de um lado incide sobre sua

tra6etória a posição propriamente social de tais id(ias3 o lugar 5ue elas ocupam na legitimação

de discursos3 na polari7ação de con&litos sociais3 na sua aceitação e uso por distintos grupos

de agentes internos e eternos ao campo cient!&icoV de outro3 pesa a din4mica interna deste

campo3 onde a evolução das id(ias se determina tanto pelo movimento dos ac<mulos +e dos

saltos. teóricos e emp!ricos constru!dos segundo os c4nones da comunidade cient!&ica3 como

 pelas in6unç;es promovidas pelos cientistas entre si3 suas disputas e alianças3 suas estrat(gias

de a&irmação individual ou como grupos de pes5uisa ou como correntes teóricasV ou ainda3 na

con&ormação e consolidação dos sub-campos disciplinares +ourdieu3 /RRR.# )m uma

 palavra3 2= uma busca por esta dupla nature7a e articulação das id(ias cient!&icas% elas são a

um só tempo produto de uma crença3 mas tamb(m produtoras de uma crença di&erenciada das

demais &ormas de acreditar3 8 medida 5ue se apoia em crit(rios de validação mais aceitos

socialmente#

Antes de mais nada3 para evitar con&us;es3 ( preciso deiar bem claro o sentido em 5ue o

termo paradigma estar= sendo doravante utili7ado# ) isto ( importante não só por5ue 2= um

corrente abuso derivado da enorme vulgari7ação desta noção3 mas por5ue seu próprio

&ormulador recon2eceu ter usado a palavra em nada menos 5ue vinte e dois sentidos

di&erentes em seu tão citado livro +u2n3 1MR% 11.# Apesar disso3 di7 o autor3 após uma

criteriosa revisão eles poderiam ser redu7idos a apenas dois# $ primeiro ( c2amado por ele de

Imatri7 disciplinarJ% um corpo coeso &ormado por Iparadigmas3 partes de paradigma e

 paradigmaticsJ# Dão ser= este o sentido a5ui adotado# A ra7ão ( o car=ter &ugidio de tal

  bem poss!vel 5ue partid=rios do pensamento de Batour e Callon não concordem com tal a&irmativa# A cr!ticaa5ui impl!cita não ( 5ue seu es5uema teórico leva a alguma &orma de relativismo3 mas sim 5ue ele não &ornece

elementos 5ue permitam tradu7ir em termos teóricos as di&erenças 5ue contam para a especi&icidade do campocient!&ico#10

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de&inição# )la torna-se pouco operacional 5uando se trata de lidar com id(ias cient!&icas 5ue

muitas ve7es envolvem ora uma composição3 ora rupturas parciais3 com determinadas

eplicaç;es dominantes# Como no eemplo dado por *eiga +/RRR. para o caso da economia%

como distinguir se @ar e Sc2umpetter3 por eemplo3 podem ser situados dentro de um

mesmo paradigma ou se criaram di&erentes paradigmas Q Do caso da id(ia de

desenvolvimento rural3 os 5ue consideram 5ue 2= uma crescente integração de mercados

estão num paradigma di&erente da5ueles 5ue sublin2am as permanências da tradição3 do

con&lito agr=rio ou de suas 2eranças Q $ segundo sentido dado por u2n ( c2amado de

Ieemplos compartil2adosJ% são os entendimentos 5ue permitem o estabelecimento de uma

linguagem e uma abordagem comuns para problemas similares# )sta de&inição (

 particularmente <til3 por c2amar a atenção para as id(ias cient!&icas como uma esp(cie de

cristali7ação de posiç;es a um só tempo sociais e cognitivasV isto (3 como algo 5ue se

apresenta como uma visão partil2ada e validada segundo os códigos cienti&icamente F e

 poder-se-ia acrescentar tamb(m3 socialmente - recon2ecidos como leg!timos para de&inição e

tratamento de um determinado ob6eto#

 Deste caso3 a visão partil2ada 5ue se tem sobre o 5ue são os espaços rurais e sobre as leis de

seu desenvolvimento igualmente &uncionam como um organi7ador de pr=ticas# )la determina

um campo de estudos3 o 5ual circunscreve por ade5uação ou inade5uação uma s(rie de

 perguntas e pr=ticas pertinentes% Nuem são os agentes envolvidos nos processos abordados

 por estudos rurais Q $s agricultores3 as populaç;es das pe5uenas cidades3 com 5ue recorte Q

)la legitima ainda o recon2ecimento social sobre a etensão de um determinado espaço e seu

lugar social% ,a7er parte de regi;es metropolitanas não ( crit(rio para receber certos tipos de

investimentos3 em geral pol!ticas de moderni7ação3 investimentos em conservação ambiental3

integração de in&ra-estrutura e de serviços p<blicos3 geração de empregos Q ,a7er parte de

regi;es rurais não tem o mesmo papel para outros tipos de investimentos3 em geral pol!ticas

sociais3 incentivos 8 eploração agr!cola3 in&ra-estrutura b=sica Q )3 por <ltimo3 mas

igualmente importante3 um paradigma tende a consolidar posiç;es em torno dele# ?= uma

tendência para 5ue um paradigma se sustente 8 medida 5ue ele suporta especialidades e seus

mecanismos F ramos disciplinares3 revistas e publicaç;es3 encontros cient!&icos3 consultorias

t(cnicas3 o monopólio da legitimidade para poder &alar sobre certa unidade do mundo social

ou natural#

1

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Por tudo isso3 para uma introdução ao 5ue vir=3 talve7 nada se6a mel2or do 5ue situar o

campo de interesses desta pes5uisa na evolução dos estudos recentes sobre o

desenvolvimento rural brasileiro# Cabe tentar minimamente entender tamb(m este estudo

como mais um resultado da mesma evolução da 5ual ele tenta dar conta#

Os es"udos so!re o rura# !rasi#eiro nos anos no)en"ae o am:o de in"eresses des"a :es0uisa

 Dão ( mero acaso ou pura &alta de criatividade o paralelo entre o t!tulo desta tese e o do livro

de 9icardo Abramova: F  -aradigmas do capitalismo agr'rio em questão  -3 lançado em

1/# A5uele trabal2o3 6untamente com o publicado no ano anterior3 por 'os( )li da *eiga F

. desenvolvimento agr(cola/ uma visão histórica *3 e com os dois volumes da comparaçãointernacional organi7ada por ?ugues Bamarc2e F A agricultura familiar 3 da 5ual participaram

5uatro e5uipes de pes5uisa3 uma delas composta pelos pes5uisadores brasileiros Da7aret2

Wanderle:3 ,ernando Bourenço3 Anita rumer3 G2islaine "u5ue - 3 estes 6= nos anos

seguintes3 &ormaram 6untos uma esp(cie de trinca incontorn=vel de estudos rurais e serviram

 para a&irmar a relev4ncia da noção Iagricultura &amiliarJ para o vocabul=rio acadêmico

 brasileiroE# Atrav(s dos livros de Abramova: e *eiga via-se como a con&iguração da moderna

agricultura capitalista se apoiou numa &orma social de trabal2o e empresa espec!&ica 5ue ( a

empresa &amiliar3 contrariando assim duas tradiç;es cient!&icas e pol!ticas muito &ortes% a 5ue

sempre preconi7ou 5ue o desenvolvimento generali7aria as unidades produtivas baseadas no

uso eclusivo ou predominante de mão-de-obra assalariada3 e tamb(m a 5ue3 inversamente3

via a agricultura camponesa como modelo# $s livros de Bamarc2e3 por sua ve73 mostraram as

variantes desta direção# >sto (3 tomaram por &oco uma s(rie de realidades distintas3 em

di&erentes pa!ses3 com o intuito de mostrar como3 sob a lógica &amiliar de produção3 podem se

organi7ar situaç;es 5ue variam num es5uema 5ue tipi&ica desde a5uelas unidades mais

 próimas da situação de autonomia camponesa at( a5uelas plenamente inseridas em

mercados3 mas sempre tendo a lógica &amiliar como elemento organi7ador# )n5uanto *eiga

demonstrou a articulação entre estas &ormas &amiliares e o desenvolvimento do capitalismo

avançado3 Abramova: tomou a realidade destes mesmos pa!ses para proceder 8 distinção

conceitual entre o signi&icado desta agricultura de base &amiliar e da agricultura camponesa# )

Bamarc2e3 por sua ve73 deiou claro 5ue a diversidade não esconde o &ato de 5ue o elementoE C&# *eiga +11.3 Abramova: +1/.3 Bamarc2e +10V 1.# Para uma an=lise das ra7;es da ascensão da

id(ia de agricultura &amiliar no debate p<blico brasileiro dos anos noventa ver Sc2neider et al# +/RR.3 ,avareto+/RRE-b.# $s anais da Apipsa tra7em um &arto material sobre o tratamento do tema na d(cada anterior#1E

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uni&icador de uma variedade de situaç;es ( o car=ter &amiliar da gestão e da posse da terra3

re&orçando o argumento de 5ue não &aria sentido resumir a diversidade da agricultura &amiliar

8s condiç;es 5ue mais se aproimam da id(ia cl=ssica de campesinato#

)stas obras procediam3 assim3 a uma esp(cie de atuali7ação dos 5uadros cognitivos &ace 8

evolução eperimentada pela din4mica do desenvolvimento agr!cola desde o Pós-guerra at( a

consolidação da c2amada Imoderni7ação conservadoraJH# As novas id(ias por elas tra7idas

tiveram re&leos pro&undos e imediatos não só sobre o campo propriamente acadêmico3 como

tamb(m sobre o discurso de movimentos sociais e da burocracia governamental ligada 8

agricultura3 e &oram acompan2adas por movimentos correspondentes de igualmente

signi&icativa repercussão# Um con2ecido artigo de age:ama X ergamasco +1R. 6= 2avia

alcançado amplo desta5ue ao &ornecer uma aproimação sobre o taman2o do universo de

estabelecimentos &amiliares no rasil# Pouco depois &oi publicado o instigante e controverso

relatório ,A$>ncra +1.3 5ue tamb(m o&ereceu uma tipologia das &ormas sociais de

 produção no meio rural brasileiro3 a 5ual viria a ser adotada3 dois anos depois3 como uma das

 bases do Prona& F o Programa Dacional de ,ortalecimento da Agricultura ,amiliar M# Deste

mesmo momento3 os sindicatos de trabal2adores e suas estruturas nacionais estavam

simplesmente substituindo suas bandeiras de luta empun2adas 2= nada menos do 5ue trinta

anos F re&orma agr=ria e direitos trabal2istas F pela reivindicação por um Ipro6eto alternativo

de desenvolvimento rural baseado na agricultura &amiliarJ#

)ntre 1H e 13 uma pes5uisa cobrindo todo o território nacional3 reali7ada a pedido das

organi7aç;es sindicais de representação da agricultura &amiliar e patrocinada com recursos de

instituiç;es europ(ias de cooperação tentou mapear as din4micas 85uele momento

5uali&icadas como meso-regionais de desenvolvimento eistentes no rasil# $ intuito inicial

era identi&icar a dispersão geogr=&ica das &ormas &amiliares e patronais3 a maior ou menor

H  Um traço etremamente importante nesta passagem3 mas 5ue não pode ser eplorado nos limites desta>ntrodução3 di7 respeito 8 maneira como estes estudos combinaram as in&luências da tradição brasileira deinterpretação do con&lito agr=rio e a literatura norte-americana e europ(ia# )videntemente a introdução da noçãoagricultura &amiliar para o repertório acadêmico brasileiro não ocorreu sem cr!ticas3 como por eemplo3 a5uela&eita em Garcia 'r X Gr:7pan +/RR/.# >gualmente esclarecedoras são a cr!tica e a r(plica de Germer +1H. eAbramova: +1H.# Sobre o mesmo debate3 ( preciso ainda citar o importante artigo de Wanderle: +1.#M Para uma cr!tica desta tipologia e de seu uso no plane6amento de pol!ticas p<blicas ver Carneiro +1.# Sobreo signi&icado institucional da criação do Prona&3 ver Abramova: X *eiga +1.# Para um panorama mais detal2ado das interdependências entre os campos acadêmico3 sindical e as pol!ticas de

desenvolvimento do rasil rural3 ver entre outros @edeiros +1M.3 Sc2neider3 @attei X Ca77ella +/RR. e,avareto +/RR-a3 /RRE-b.#1H

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incidência de certos produtos agropecu=rios e3 com isso3 subsidiar minimamente a atuação

destes organismos sindicais +Pro6eto CUTContag3 1.# Coordenada por 'os( )li da *eiga3

esta pes5uisa não só atingiu este intento inicial como avançou uma 2ipótese bastante

inovadora 8 (poca%  as mel2ores con&iguraç;es territoriais encontradas eram a5uelas 5ue

combinavam uma agricultura de base &amiliar &orte com um entorno sócio-econOmico

diversi&icado e dotado de in&ra-estruturaV um desen2o 5ue permitia aos espaços urbanos e

rurais destas regi;es3 de um lado3 abrigar o trabal2o ecedente 5ue deia a atividade agr!cola

e3 de outro3 inversamente3 absorver nas unidades &amiliares o trabal2o 5ue ( descartado nas

cidades em decorrência do avanço tecnológico e do correspondente desemprego caracter!stico

dos anos R# )sta pes5uisa mostrou um campo novo de preocupaç;es 5ue viria a se delinear

mel2or3 no rasil3 na virada para a d(cada atual% a necessidade de se entender as articulaç;es

entre &ormas de produção3 caracter!sticas mor&ológicas dos tecidos sociais locais e din4micas

territoriais de desenvolvimentoV ou3 na mesma direção3 as articulaç;es entre os espaços

considerados rurais e urbanos# @ais do 5ue nas in6unç;es setoriais3 o 5ue se sugeria ( 5ue nas

din4micas territoriais F ainda sem usar esta denominação - ( 5ue se poderia encontrar as

respostas para as causas do dinamismo e da incidência de bons indicadores de

desenvolvimento#

Pouco depois de terminada a pes5uisa CUTContag3 inicia-se um outro programa com grande

repercussão% o Pro6eto 9urbano# Coordenado por 'os( Gra7iano da Silva3 este programa

&ocali7ou a &ormação das rendas entre as &am!lias não urbanas para constatar um movimento

relativamente generali7ado de substituição dos ingressos provenientes das atividades

 prim=rias por rendas não-agr!colas# Da base desta constatação estavam não somente a

tendência de 5ueda dos preços de produtos prim=rios3 6= con2ecida3 mas principalmente a

crescente interpenetração entre os mercados de trabal2o tradicionalmente 5uali&icados como

urbanos e rurais +Gra7iano da Silva3 1.# )ntre o primeiro o terceiro dos semin=rios anuais

reali7ados pelo Pro6eto 9urbano 2ouve3 contudo3 um certo desli7amento3 da surpresa com os

resultados alcançados na an=lise dos dados 5ue mostraram a magnitude das rendas não

agr!colas3 8 &ragmentação de opini;es sobre seu real alcance e sobre seus signi&icados para a

 A rigor esta pes5uisa era composta de dois estudos simult4neos e em di=logo# )ste primeiro3 coordenado por'os( )li da *eiga3 abordando desenvolvimento rural# ) um segundo3 coordenado por 9egina Dovaes e Beonilde

@edeiros3 sobre sindicalismo rural# ,a7ia parte da e5uipe ainda um grupo de pes5uisadores das mais destacadasorgani7aç;es não governamentais brasileiras com atuação sobre o tema#1M

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estrutura e din4mica do rural brasileiro1R# @esmo em meio a estas incerte7as3 não 2= d<vida

de 5ue o pro6eto &oi uma &orte demonstração de 5ue3 mesmo num pa!s com as caracter!sticas

do rasil3 o rural não pode ser redu7ido ao agr!cola11#

Claro 5ue estes autores e obras não esgotam o rico painel de pes5uisas produ7idas no pa!s no

 per!odo# $ 5ue ocorre ( 5ue3 nestes programas3 a de&inição de agricultura &amiliar e3

 posteriormente3 as cone;es entre desenvolvimento rural e din4micas territoriais estiveram no

centro das preocupaç;es# $utros importantes centros de pes5uisa tiveram iguais impactos em

distintas rami&icaç;es tem=ticas dos estudos rurais# Para &icar apenas em alguns eemplos3

este ( o caso dos estudos sobre campesinato e 5uestão agr=ria no @useu Dacional3 dos

estudos sobre assentamentos no CP"AU,99'3 das pes5uisas sobre agricultura &amiliar e

meio-ambiente na U,P93 dos estudos sobre agricultura &amiliar e democracia e tamb(m

sobre pluriatividade na U,9GS3 ou de toda a produção sobre o semi-=rido na Universidade

,ederal de Campina Grande1/#

@esmo com tudo isso3 ( &orçoso constatar 5ue os anos noventa terminam com o debate

 p<blico e acadêmico sobre agricultura &amiliar e desenvolvimento rural &ortemente marcado

 pelos impactos de dois destes programas de pes5uisa# "e um lado3 a ên&ase na import4ncia e

no poder eplicativo da agricultura &amiliar e a identi&icação das din4micas territoriais como

unidade de an=lise relevante para a compreensão dos &enOmenos relacionados ao

desenvolvimento# "e outro3 a ên&ase no dinamismo dos espaços urbanos e seus

desdobramentos na &ormação das rendas das &am!lias de agricultores#

@as3 esta nova &orma de compreender o rural3 eplorando suas articulaç;es territoriais e

interdependências com o urbano teria como um de seus desdobramentos o esva7iamento de

seu conte<do eplicativoQ Se sob o 4ngulo emp!rico o rural apresenta cada ve7 mais

in6unç;es com o urbano3 do ponto-de-vista teórico 5ual seria então sua validade Q

1R C&# Pro6eto 9urbano +/RR/.# Para algumas posiç;es divergentes sobre estes temas no seio da própria e5uipede pes5uisadores3 consultar Sc2neider +/RR/. e Carneiro +1.3 de um lado3 e Gra7iano da Silva +/RR1. deoutro# Do site do pro6eto 2= v=rios tetos dispon!veis% 2ttp%KKK#eco#unicamp#brnearurbanorurbanK#2tml11 ) não algumas in&erências3 &ormuladas a partir desta constatação3 apontando um suposto &im das &ormas&amiliares de produção e uma identi&icação das causas eplicativas para os &enOmenos 5ue denotam algumavitalidade do mundo rural na &orça irresist!vel do dinamismo emanado de economias urbanas3 do 5ue sedepreenderia não só a irrelev4ncia teórica da agricultura &amiliar como mesmo de ruralidade +Gra7iano da Silva3/RR1.#1/

 Para um painel mais pormenori7ado da produção das ciências sociais brasileiras sobre o rural3 consultarGarcia 'r X Gr:7pan +/RR/.#1

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Parece ter sido eatamente esta preocupação 5ue norteou a elaboração de um con2ecido

artigo de Da7aret2 Wanderle: +/RRR.# Sob o singelo ob6etivo anunciado de dar visibilidade a

uma bibliogra&ia pouco veiculada no rasil sobre as mudanças dos espaços rurais europeus3 a

autora introdu7ia3 na verdade3 todo o debate sociológico 5ue se &a7ia na5uele momento sobre

os signi&icados destas novas din4micas econOmicas e espaciais# $s autores por ela citados

en&ati7avam3 sob distintas perspectivas teóricas3 três tipos principais de processos sociais com

implicação para novas signi&icaç;es do rural% o novo lugar da agricultura e do rural nas

sociedades dos pa!ses do capitalismo avançado3 as relaç;es entre o rural e o urbano num

conteto de maior mobilidade &!sica dos indiv!duos e de aproimação entre as condiç;es de

vida nos dois espaços3 e as dimens;es distintas e con&litivas reveladoras da 2eterogeneidade

do rural contempor4neo# $ artigo re&letia em termos propriamente teóricos essa cada ve7

mais percept!vel mudança de signi&icado da relação entre o rural e o urbano 5ue aparecia de

maneira epressa ou latente nos tetos por ela citados# Ao &inal3 o artigo tra7ia uma

constatação e uma pergunta# A constatação% o estreitamento das dist4ncias e a diluição de

muitas das di&erenças não apagou a necessidade de distinção positiva entre o 5ue ( rural e o

5ue ( urbano# A d<vida% diante destas novas signi&icaç;es e de seu car=ter marcadamente

desigual entre regi;es e pa!ses3 5uem são os atores3 ou o ator3 da Inova ruralidadeJ Q

)m nova pes5uisa coletiva3 apoiando-se destacadamente nos rec(m divulgados dados do

Censo de /RRR3 *eiga et al# +/RR1. recalculam as dimens;es do rasil rural introdu7indo

crit(rios similares 85ueles utili7ados nos pa!ses do capitalismo avançado e c2egam a3 pelo

menos3 duas conclus;es importantes% não só o rasil rural ( muito maior do 5ue se calcula3

como boa parte deste signi&icativo espaço vin2a apresentando ind!cios de dinamismo

demogr=&ico 5ue nada deiam a dese6ar 8s =reas urbanas mais prósperas# Por se tratar de uma

 pes5uisa reali7ada em um pe5ueno intervalo de tempo3 não &oi poss!vel3 apesar de algumas

incurs;es a campo3 c2egar a uma conclusão sobre os &atores de atração populacional ou de

dinami7ação econOmica das regi;es estudadas10#   @as a repercussão &oi su&icientemente

grande3 e 6untamente com os tetos de Abramova:3 em particular a5ueles 5ue deram

visibilidade 8 utili7ação da noção de Icapital socialJ13   contribuiu para 5ue o debate

10 A esse respeito ver ,avareto3 @agal2ães e ittencourt +/RR/.3 onde são relatados os resultados obtidos com asidas a campo em =reas do litoral3 do agreste e do sertão do Dordeste brasileiro# *er tamb(m *eiga +/RR/. ondeestão v=rios artigos do autor apoiados nestes estudos#1

  )ntre os mais citados em estudos e publicaç;es posteriores est= Abramova: +1.# Consultar tamb(mAbramova: +/RR0.#1

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envolvendo territorialidade e desenvolvimento rural inaugurasse uma nova onda de trabal2os

dedicados ao tema# )m paralelo3 desde meados dos anos noventa o Programa 0eader  vin2a

instituindo um novo modelo de organi7ação das pol!ticas para o rural europeu3 baseado

 6ustamente no seu en&o5ue territorial3 em contraponto com o &ort!ssimo vi(s setorial da

Pol!tica Agr!cola Comum1E# Da esteira deste novo momento intelectual3 e 8 lu7 da eperiência

europ(ia recente3 a id(ia de territorialidade alcança o desen2o das pol!ticas p<blicas no rasil%

entre /RR1 e /RR/ na &orma de uma s(rie de debates preparatórios a uma con&erência nacional

+5ue3 no entanto3 não c2egou a acontecer.V e3 posteriormente3 em /RR03 com a criação de uma

Secretaria de "esenvolvimento Territorial no 4mbito do @inist(rio do "esenvolvimento

Agr=rio#

)sta r=pida divulgação da id(ia de desenvolvimento territorial3 contudo3 não veio

acompan2ada de uma proporcional multiplicação de bons estudos3 pro6etos e an=lises

dedicados ao tema# em ao contr=rio3 em parte signi&icativa dos casos as id(ias de

desenvolvimento rural3 de capital social e de território aparecem como termos incorporados

ao vocabul=rio de plane6adores de pol!ticas e3 em alguns casos tamb(m de intelectuais3 mas

sem os devidos cuidados e sem a devida consistência teórica#

)m uma palavra3 pode-se di7er3 portanto3 5ue a d(cada de noventa iniciou-se sob a marca da

entrada da agricultura &amiliar no vocabul=rio acadêmico3 en5uanto a presente d(cada inicia-

se com uma reavaliação do signi&icado do desenvolvimento rural3 5ue aparece sob a &orma do

debate sobre as relaç;es entre o rural e o urbano e da introdução da abordagem das din4micas

territoriais nos processos de desenvolvimento1H# Se para a novidade dos anos noventa F a

introdução da agricultura &amiliar no debate p<blico e acadêmico - os trabal2os 6= citados no

in!cio desta introdução troueram elucidação teórica e 2istórica3 o mesmo ainda não &oi &eito

 para as 5uest;es em debate na presente d(cada# Por isso3 estabelecer a di&erença conceitual

tra7ida com a abordagem territorial do desenvolvimento nas =reas rurais em relação 8s

abordagens tradicionais de apreensão deste mesmo universo &or6adas nas ciências sociais

1E Uma boa s!ntese das articulaç;es entre mudanças dos espaços rurais e pol!ticas de desenvolvimento3 na)uropa e na Am(rica Batina pode ser encontrada na publicação originada no 1aller -ol(ticas, instrumentos 2e3periencias de desarrollo rural em America 0atina 2 Europa3 coordenado por )delmira Correa e 'ose @ariaSumpsi +Correa X Sumpsi3 /RR1.#1H $ termo utili7ado a5ui ( IretomadaJ por5ue tal debate est= longe de ser recente# *er3 por eemplo3 o Coló5uio)illes et 4ampagnes3 reali7ado na ,rança nos anos ER# $u3 no caso brasileiro3 o artigo de @aria >saura Pereira

de Nueiro7 +1M. e 5ue trata 6ustamente disso# A novidade3 como se ver=3 di7 respeito ao estatuto e 8 5ualidadeda relação entre estes dois espaços#/R

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tornou-se a principal lacuna a 5ue esta tese se prop;e preenc2er# "a!3 portanto3 a inspiração

do t!tulo no livro 6= cl=ssico de Abramova:#

O :ro!#ema e as <i:ó"eses

A emergência da abordagem territorial do desenvolvimento rural troue uma di&iculdade

 pr=tica e teórica# A con6ugação do ad6etivo IterritorialJ ao substantivo IdesenvolvimentoJ

 pretende3 a um só tempo3 envolver e substituir com maior precisão outros 5uali&icativos

relacionados 8 dimensão espacial dos processos de desenvolvimento3 como rural3 urbano3

regional3 local# Um movimento 5ue tra7 implicaç;es relativas tanto aos contornos dos

diversos dom!nios do campo cient!&ico e tamb(m da divisão t(cnico-administrativa de

estruturas de governo e órgãos de plane6amento3 como aos 5uadros mentais de interpretação

de leigos e especialistas# Com isso3 uma das principais di&iculdades 5ue envolvem a id(ia de

desenvolvimento territorial3 e 5ue tem a ver com os camin2os 5ue passam por sua origem e

institucionali7ação3 reside no car=ter eminentemente normativo 5ue tem marcado a maioria

das proposiç;es dispon!veis# Como bem destaca @e:er-Stamer +/RR.3 a literatura dispon!vel

sobre este tema trata3 sobretudo3 de polic23 de &erramentas aplicadas3 e não de politics, de

 processos pol!ticos reais ou de aparatos teóricos 5ue permitam apreender em bases cient!&icas

os &enOmenos em 5uestão#

Uma tomada de posição poss!vel diante desta constatação ( a simples des5uali&icação do

conte<do cient!&ico da id(ia de desenvolvimento rural3 devido a sua3 por assim di7er3

contaminação por determinaç;es eógenas aos limites da epistemologia# A di&iculdade 5ue se

imp;e com esta postura ( 5ue3 a partir da!3 o debate propriamente cient!&ico &ica interditado#

)le só pode se dar em outro terreno3 atrav(s da retórica3 ou da pol!tica# $utra atitude consiste

em admitir as interdependências entre o normativo e o anal!tico e tentar tra7er esta m<tua

determinação para o corpo do estudo# >sto implica mostrar a via de mão dupla 5ue 2= entre os

condicionantes sociais do con2ecimento cient!&ico e a legitimidade cient!&ica emprestada a

 processos sociais#

$ problema ao 5ual se dedica este estudo pode ser3 portanto3 tradu7ido em duas perguntas# A

 primeira ( saber se ( poss!vel distinguir o 5ue 2= de teórico3 de cient!&ico e o 5ue 2= de

arbitr=rio na id(ia de desenvolvimento territorial# >sto e5uivale a abordar os sentidos e as/1

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ra7;es do desenvolvimento3 em geral3 e do desenvolvimento rural em particular3 at( c2egar 8

emergência da abordagem territorial no mundo contempor4neo e seus signi&icados# A

segunda3 consiste em elucidar 5uais as implicaç;es teóricas desta nova situação# @ais

especi&icamente3 importa apro&undar um dos seus v=rios signi&icados relevantes3 a5uele 5ue

di7 respeito 8 validade e alcance dos paradigmas 5ue sustentaram toda a tradição das ciências

sociais aplicadas ao estudo dos &enOmenos rurais# )stas duas grandes 5uest;es podem ser

desmembradas em perguntas mais espec!&icas3 atrav(s das 5uais se descortina o camin2o

investigativo a ser empreendido#

Se a abordagem territorial envolve uma escala ou dimensão espec!&ica dos processos de

desenvolvimento3 ( preciso iniciar decantando o 5ue 2= de cient!&ico e de arbitr=rio sobre as

id(ias de desenvolvimento e de desenvolvimento rural1M# )mbora se6a 2abitual atribuir a

ocorrência de bons indicadores sociais e econOmicos de regi;es rurais a um &ator eplicativo3

como a locali7ação ou outras vantagens comparativas3 a eperiência dos pa!ses do

capitalismo avançado mostra 5ue 2=3 na verdade3 uma multiplicidade de &atores

concorrenciais3 com maior ou menor incidência dependendo do caso em 5uestão# )m geral

três são os &atores principais 5ue contribuem para a ocorrência de bons indicadores% o

aproveitamento do dinamismo gerado a partir da vitalidade de espaços urbanos próimos3

este o mais presente na literatura dedicada ao tema e tamb(m compat!vel com an=lises mais

tradicionaisV a incidência de &ortes pol!ticas sociais3 com desta5ue para a5uelas 5ue implicam

a trans&erência de &undos p<blicosV e um dinamismo próprio de determinados espaços rurais#

Cada um destes três &atores ( mais en&ati7ado por correntes teóricas espec!&icas3 sobretudo na

economia# @as nos três casos3 contudo3 a ocorrência destes &enOmenos não poderia ser

eplicada sem 5ue se recorra 8 an=lise dos caracteres próprios dos territórios3 sobretudo se a

 pergunta &or algo do tipo Ipor 5ue isso acontece a5ui3 e não em outro lugar com condiç;es

similares QJ# Segundo uma 5uarta eplicação3 o 5ue permitiria a determinados espaços captar

e&eitos de proimidade3 trans&ormar em trun&os ao desenvolvimento os investimentos em

 pol!ticas sociais3 ou at( mesmo o estabelecimento de uma dinami7ação endógena de sua base

econOmica F em resumo3 as três eplicaç;es correntes - ( a eistência de instituiç;es locais

1M $ uso do termo Iarbitr=rioJ3 a5ui3 deve-se a uma insatis&ação 5uanto ao uso da oposição cient!&ico-normativo3 6= 5ue as de&iniç;es 5ue se en5uadram neste segundo pólo muitas ve7es se baseiam e se legitimam em

 proposiç;es originadas do primeiro# Dão se trata de negar as di&erenças ente o cient!&ico e o normativo3 masrepita-se3 en&ati7ar as interdependências#//

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5ue &avoreçam a coesão territorial e o aproveitamento dos recursos locais aproimando taas

 privadas e sociais de retorno#

@as 2= nesta eplicação uma di&iculdade e uma insu&iciência# A insu&iciência est= no &ato de

5ue ningu(m discorda de 5ue ( imposs!vel &alar em processos de desenvolvimento sem

 pensar 5ue a dinami7ação econOmica ( parte &undamental disso3 mas 2= evidências

su&icientes para a&irmar igualmente 5ue tais processos não se resumem a 2aver ou não

crescimento econOmico3 5ue em <ltima an=lise ( do 5ue trata a maior parte das teorias

dispon!veis# A di&iculdade3 por sua ve73 reside na cr!tica de 5ue3 embora poucos discordem da

a&irmação de 5ue as instituiç;es importam3 e muito3 pouco se sabe sobre o 5ue &a7 com 5ue

se6am geradas as instituiç;es capa7es de levar a uma convergência dos gan2os individuais e

coletivos e sobre como isso acontece1#

Por isso esta tese não poderia começar sem uma re&leão sistem=tica sobre a longa tra6etória

das id(ias sobre desenvolvimento3 com o ob6etivo de destacar os usos pol!ticos3 normativos e

cient!&icos desta id(ia# Ainda nesta mesma parte3 ( apresentado um reeame das teorias

dispon!veis e3 a partir dele3 a composição de um 5uadro de an=lise para um estudo sobre a

evolução e din4mica dos espaços rurais# Da ausência de uma teoria 5ue dê conta das

dimens;es econOmica3 social e ambiental3 são retomados os principais ac2ados de estudos

recentes sobre cada uma delas# $ argumento central desta parte do trabal2o ( 5ue o corpo

teórico &ornecido pela nova economia institucional pede 5ue a ele se6am agregados aspectos

 presentes em outras abordagens3 sobretudo a5ueles relativos ao meio-ambiente e 8s estruturas

sociais dos espaços em an=lise3 particularmente importantes para eplicar as ra7;es 5ue

respondem pelo surgimento das instituiç;es 5ue governam as aç;es dos di&erentes

agrupamentos 2umanos#

Uma ve7 decantadas as bases emp!ricas dos caracteres propriamente cient!&icos presentes na

id(ia de desenvolvimento3 pode-se en&rentar a segunda tare&a3 5ue consiste em aplicar este

5uadro de an=lise 8 realidade espec!&ica do universo em 5uestão% os espaços rurais# Como 6=

ensinava ,lorestan ,ernandes 2= d(cadas3 ( preciso3 para isso3 tril2ar um camin2o 5ue

combina elementos obtidos atrav(s da an=lise sincrOnica F o 5ue permite revelar a nature7a e

a variedade das &unç;es e mecanismos 5ue respondem pela din4mica dos espaços rurais num

1 C&# a cr!tica3 entre outros3 de Pr7eKorsL: +/RR0. e ,ligstein +/RR1.#/0

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determinado 2ori7onte de tempo3 neste caso nos pa!ses do c2amado capitalismo avançado no

mundo contempor4neo -3 e uma an=lise diacrOnica F 5ue leva 8 percepção das in&luências

mais pro&undas e persistentes 5ue atuam na preservação ou na alteração do padrão

con&iguracional destes espaços1# $s ob6etivos a5ui consistem em3 igualmente ao 5ue se ter=

&eito na parte anterior do estudo3 identi&icar o 5ue 2= de arbitr=rio e de cient!&ico na id(ia de

desenvolvimento rural# ) agora3 al(m disso3 interrogar as ra7;es do surgimento da c2amada

abordagem territorial e seus signi&icados para a tradição eplicativa anterior3 5ue est= na base

das ciências sociais aplicadas aos estudos rurais#

 Desta parte3 pretende-se mostrar 5ue a c2amada abordagem territorial emerge num conteto

sócio-2istórico muito espec!&ico3 revelando-se tanto uma categoria emp!rica3 em cu6a base

estão as trans&ormaç;es recentes muitas ve7es bati7adas sob a de&inição ampla e vaga de

Inovas ruralidadesJ/R3 como uma categoria cognitiva3 &ormulada visando dar conta da

din4mica emanada desta nova situação# A con6unção deste duplo signi&icado contido na id(ia

de desenvolvimento territorial tra7 consigo nada menos do 5ue um solapamento das bases

2istóricas e teóricas sobre as 5uais se construiu toda a tradição dos ramos disciplinares

devotados aos estudos rurais ao longo do s(culo passado# Adicionalmente3 pretende-se

demonstrar tamb(m 5ue3 menos do 5ue uma nova teoria3 a emergência da abordagem

territorial implica3 sobretudo3 no dimensionamento de uma escala espec!&ica dos processos de

desenvolvimento onde3 em ve7 de uma an=lise dicotOmica do urbano e do rural3 torna-se

necess=rio um en&o5ue relacional3 5ue envolva os dois pólos a partir do entendimento de suas

relaç;es de oposição e de complementaridade# Uma escala 5ue necessariamente remete ao

conceito de região e 5ue obriga a um seu reeame# Uma escala 5ue sugere a necessidade de

reabertura de um di=logo entre as ciências sociais e a ecologia3 a&astadas em demasia tanto

 por conta das ineg=veis especiali7aç;es 5ue cada uma comporta3 como3 talve7

 principalmente3 pela necessidade decorrente do processo de institucionali7ação disciplinar em

sublin2ar mais as di&erenças do 5ue as complementaridades3 algo simplesmente &undamental

no caso de ob6etos onde a presença da nature7a ( tão marcante como no caso dos estudos

rurais# A c2amada abordagem territorial do desenvolvimento rural revela3 en&im3 um con6unto

1 C&# ,ernandes +1E.# $ Im(todo regressivo-progressivoJ de ?enri Be&ebvre baseia-se em um encadeamentode procedimentos muito similares e ( muito bem apresentado por um de seus maiores con2ecedores3 'os( deSou7a @artins3 num livro dedicado ao seu pensamento +@artins3 1H.#/R )ntre as louv=veis eceç;es a este tratamento amor&o ou polissêmico da Inova ruralidadeJ nas ciências sociais

cabe citar3 a t!tulo de eemplo3 os trabal2os de Carneiro +1.3 Wanderle: +/RRR.3 *eiga +/RRR3 /RR3 /RRE.3Abramova: +/RR0. e randenburg +/RRE./

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de inst4ncias emp!ricas &undamentais e incontorn=veis3 uma escala espec!&ica dos processos

sociais a ela sub6acentes e3 igualmente importante3 a necessidade de se recorrer a teorias

sociais e ecológicas 5ue dêem o devido suporte 8 sua an=lise#

Todo este con6unto de 5uest;es emp!ricas e conceituais ainda ( relativamente recente#

)mbora o marco de emergência da abordagem territorial3 o 6= con2ecido estudo de Arnaldo

agnasco +1MM. 5 1re italie/ la problematica territoriale dello svillupo italiano67  -3 este6a

 prestes a completar trinta anos3 a repercussão do campo de estudos com ele estabelecido vem

atravessando uma lenta e gradual evolução3 tendo encontrado nas agências multilaterais e nos

órgãos de cooperação internacional um &(rtil terreno de disseminação# Bonge de se tratar de

um movimento linear3 tal concepção vem sendo reelaborada e retradu7ida de acordo com

necessidades teóricas ou com eperiências 2istóricas e pol!ticas espec!&icas3 atrav(s das 5uais

suas partes constitutivas vão sendo ora aprimoradas3 ora distorcidas3 mas sem d<vida alguma

modi&icadas# )sta din4mica ( o ob6eto da terceira parte do estudo3 cu6o intuito ( analisar um

aspecto emp!rico espec!&ico 5ue envolve a id(ia de desenvolvimento territorial% a

compreensão dos &enOmenos de mudança institucional 5ue abarcam3 de um lado3 a

compreensão dos processos sociais 5ue estão em sua base e3 de outro3 o 6ogo de interesses

5ue bali7a a introdução de tal debate em pa!ses da peri&eria do capitalismo# $ 5ue se pretende

demonstrar ( 5ue os camin2os de disseminação desta abordagem têm propiciado uma esp(cie

de Iinovação por adiçãoJ no vocabul=rio3 no discurso e nas pol!ticas3 tanto de instituiç;es

governamentais como de organi7aç;es de apoio e movimentos sociais# Atrav(s da an=lise da

eperiência de alguns pa!ses latinoamericanos3 pretende-se evidenciar como este movimento

revela3 na verdade3 um &enOmeno 5uali&icado por teóricos da economia e da ciência pol!tica

como Idependência de percursoJ + path dependence866  #  >sto (3 a eistência de toda uma

estrutura de bases cognitivas e interesses tradu7idos em incentivos e constrangimentos

estabelecidos em conson4ncia com os aspectos mais marcantes da vel2a visão#

A 5uarta e <ltima parte do estudo retoma o ponto-de-partida3 re5uali&icando-o# Y lu7 dos

 principais ac2ados das três partes anteriores F do sentido e das bases teóricas de compreensão

dos processos de desenvolvimento3 da identi&icação das tendências e signi&icados da

/1  $ livro de agnasco pode não ter sido eatamente o primeiro neste tema3 mas certamente &oi o 5ue alcançoumais ampla repercussão# Sobre variaç;es do mesmo tema e en&o5ue3 vale citar o trabal2o de outros italianos

como G# eccatini3 G# Garo&oli3 S# rusco3 e C# Triglia#// C&3 principalmente Dort2 +1/3 /RRE. e Pierson +/RR.#/E

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ruralidade na eperiência 2istórica e no mundo contempor4neo3 e da an=lise dos interesses e

contradiç;es 5ue têm perpassado a percepção e a normati7ação do discurso acadêmico e

 pol!tico sobre a abordagem territorial F o estudo pretende avançar uma a&irmação 5ue serve

de corol=rio 8 s!ntese anunciada para cada uma das partes 5ue o comp;em e 5ue di7 respeito

ao signi&icado mais pro&undo da id(ia de desenvolvimento rural#

A tese 5ue ser= apresentada nas próimas p=ginas ( 5ue a ascensão da abordagem territorial3

em cu6a base est= o desaparecimento do car=ter positivo 5ue at( recentemente &orneceu o

argumento para a dicotomia entre o urbano e o rural3 representa3 na verdade3 a intensi&icação

da longa evolução de um processo de racionali7ação do mundo rural 5ue3 nos tempos atuais3

o integra por completo 8 din4mica mais ampla dos processos de desenvolvimento por meio

tanto da uni&icação de di&erentes mercados - o mercado de trabal2o e os mercados de

 produtos e serviços3 geralmente en&ati7ados3 mas tamb(m o mercado de bens simbólicos -

antes t!picos de universos sociais mais claramente autOnomos3 o Imundo ruralJ e o Imundo

urbanoJ3 como tamb(m por meio da criação de instituiç;es 5ue regulam as &ormas de uso

social destes espaços3 agora amalgamando interesses 5ue têm por portadores sociais

segmentos origin=rios tamb(m de outras es&eras - como os ambientalistas3 ou o 5ue parte da

literatura c2ama por neo-rurais#

)sta mudança3 por(m3 longe de signi&icar o total desaparecimento do rural perante o car=ter

irresistivelmente atrativo do urbano3 tradu7-se na emergência de uma nova situação3 onde a

di&erença entre ambos se a&irma de uma maneira relacional# A c2amada Inova ruralidadeJ3

indissoci=vel dos &enOmenos privilegiados pela abordagem territorial3 se assenta assim sobre

uma dupla contradição# )m primeiro lugar3 a a&irmação de&initiva da persistência do rural

como categoria pertinente de compreensão de determinados espaços sociais se &a7 6ustamente

no momento 2istórico em 5ue ocorre3 para utili7ar as palavras de *eiga +/RRE.3 o mais

completo triun&o da urbanidade# )m segundo lugar3 esta a&irmação do rural como universo

espec!&ico3 situado na &ronteira entre sociedade e nature7a3 pass!vel de ser compreendido

 positivamente3 tem como uma de suas marcas 6ustamente o &ato de revelar-se uma es&era de

intersecção de outros dom!nios3 com desta5ue para as es&eras ambiental3 econOmica e

 pol!tica# esta dupla condição o 5ue di&iculta o alcance de boa parte das an=lises sobre o

rural contempor4neo3 5ue ora en&ati7am a desagregação de um sistema de oposiç;es 5ue

respondia pela estruturação das relaç;es sociais caracter!sticas da ruralidade pret(rita3 ora/H

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destacam a persistência de traços desta ruralidade tradicional em meio 8s vicissitudes de sua

eposição 8s &orças da urbani7ação crescente e dominante# A Inova ruralidadeJ3 pass!vel de

compreensão e eplicação por uma abordagem territorial dos processos de desenvolvimento

nestes espaços3 tem por marca 6ustamente uma integração entre o rural e o urbano num grau

sem antecedentes e com uma nova 5ualidade# Com isso3 as caracter!sticas de isolamento e de

oposição3 5ue em muito in&luenciaram as bases cognitivas do per!odo anterior3 perdem

sentido# $nde só se energava o lugar de reali7ação das atividades prim=rias3 uma lógica

econOmica intersetorial# Contra as concepç;es m=gicas cercando a relação com a terra e o

mundo3 a racionali7ação3 epressa tanto em &ormas de condução (tico-cotidiana e de

organi7ação da vida por parte das populaç;es rurais3 como na criação de instituiç;es 5ue mais

e mais interpenetram esta es&era espec!&ica do mundo social condicionando o espaço de

 poss!veis em 5ue seu &uturo se inscreve#

Assim como o estudo de Abramova: +1/.3 mostrou mais de uma d(cada atr=s a &alência

dos paradigmas cl=ssicos de interpretação do capitalismo agr=rio3 epressa no t!tulo original

de sua tese de doutorado F de camponeses a agricultores -3 o presente estudo pretende

demonstrar movimento an=logo3 agora tendo por ob6eto não as &ormas sociais de produção na

agricultura3 mas a nature7a mesmo destes espaços e de suas tendências contempor4neas3 o

5ue poderia ser apresentado3 em termos emp!ricos3 com o movimento indicado nas palavras

de Pierre Coulomb F do compromisso setorial ao compromisso territorial -V ou3 em termos

teóricos3 com o movimento indicado no sub-t!tulo desta tese F do agr=rio ao territorial#

)n5uanto na obra de Abramova: os alvos são o marismo cl=ssico e a vertente c2a:anoviana

de estudos sobre campesinato3 criticadas pela impossibilidade lógica de compreensão das

&ormas &amiliares3 no caso do primeiro3 e pela diluição 2istórica da base autOnoma destas

mesmas &ormas3 no caso do segundo3 nesta pes5uisa as oposiç;es se dão contra as vertentes

nas 5uais o lugar dos espaços rurais sempre &oi o de responder pela produção de bens

 prim=rios3 e de uma maneira onde sua din4mica restaria meramente subsidi=ria dos processos

sociais e econOmicos emanados do mundo urbano3 rei&icado por sua e5uivocada identi&icação

como locus  eclusivo da industriali7ação3 da compleidade e da multiplicação das

 possibilidades de interação#

/M

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Dois es#areimen"os de ordem "eória e me"odo#ógia

A vastidão da abordagem a5ui sugerida certamente representou o mais s(rio problema para a

reali7ação deste estudo3 não 2= d<vida# $ con6unto de unidades emp!ricas a serem

manipuladas3 a base teórica &undamentada em corpos distintos e provenientes de tradiç;es

disciplinares di&erentes3 o car=ter polêmico da tese apresentada3 são &atores 5ue tornam a

empreitada anunciada uma iniciativa 5ue envolve uma alta dose de risco# Do entanto3 a

manutenção desta proposta &oi um desa&io consciente e3 em certa medida incontorn=vel3 se a

 pretensão (3 de &ato3 a resposta 8 5uestão anunciada3 cu6a import4ncia e pertinência parece ser

ineg=vel# Uma possibilidade alternativa de alcançar uma aproimação ao problema colocado

seria proceder a um balanço das conceituaç;es dispon!veis sobre desenvolvimento territorial

e3 a partir delas3 in&erir os signi&icados impl!citos 8 sua elaboração# )ste camin2o &oi

descartado por duas ra7;es% o &ato de 5ue boa parte desta literatura se assenta sobre bases

eminentemente normativas3 como 6= &oi destacado anteriormente3 e a restrição de um tal

en&o5ue somente ao aspecto cognitivo presente no debate sobre desenvolvimento territorial#

A leitura de Dorbert )lias +1MR11. e seu alerta 5uanto 8 import4ncia das abordagens de

longo pra7o3 ultimamente pouco valori7adas no campo acadêmico3 ao lado dos recentes

artigos de 'os( )li da *eiga +/RRE.3 baseados na5uilo 5ue ele c2ama de 2ipótese macro-

2istórica3 &orneceram o impulso 5ue &altava para 5ue o pro6eto ambicioso +pretensioso at(3

talve7.3 &osse aceito# >sto3 contudo3 não &oi &eito sem ressalvas ou cuidados# Sem isso a

abertura da abordagem &atalmente se converteria em &orça centr!&uga3 &a7endo com 5ue os

resultados e respostas escapassem ao n<cleo da investigação#

$ primeiro cuidado adotado &oi a coerência das partes 5ue comp;em o estudo% procurou-se

abranger temas complementares num sistema <nico capa7 de o&erecer uma resposta

consistente ao problema levantado3 mobili7ando para isso elementos conceituais e emp!ricos3

2istóricos e contempor4neos3 completando assim di&erentes 4ngulos de ata5ue 8s 5uest;es

orientadoras da pes5uisa# $ segundo &oi a etensão das &ontes utili7adas% 2ouve uma

 preocupação em cobrir parte epressiva da produção recente veiculada nas principais revistas

cient!&icas internacionais dedicadas aos estudos rurais3 em se reportar tanto 8 realidade dos

 pa!ses do capitalismo avançado 5uanto de pa!ses da Am(rica Batina3 ou ainda em analisar o

tratamento dado ao tema pelos principais organismos multilaterais e de cooperação

internacional3 o 5ue pode ser mensurado pelas 5uin7e p=ginas de bibliogra&ia sobre o tema/

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relacionada ao &inal do teto# $ terceiro 7elo3 di7 respeito 8 criteriosa escol2a dos 5uadros

teóricos de re&erência# )mbora a consistência dos principais autores a5ui evocados se6a

inconteste3 ( preciso dedicar tamb(m algumas lin2as para eplicar a opção por colocar em

di=logo tradiç;es at( então dissociadas#

Se6a pela amplitude do tema3 se6a pela tentativa em não restringir o instrumental teórico a

autores somente da sociologia ou da economia3 e sim em operar com o campo mais amplo da

ciência ambiental3 o &ato ( 5ue as &ontes de inspiração teórica &oram m<ltiplas# @as para

garantir uma unidade de an=lise3 5ue certamente se perde 5uando são muitos os es5uemas

eplicativos mobili7ados3 dois grupos de autores acabaram por se impor como 4ncoras# Do

 primeiro3 estão autores 5ue permitem compreender os &enOmenos sociais relativos aos

 processos de desenvolvimento# Do segundo3 estão a5ueles 5ue permitem o di=logo entre

instituiç;es e estruturas sociais3 en&ati7adas nos anteriores3 e o meio-ambiente# Todos eles

têm em comum o &ato de lidar com din4micas de longo pra7o#

A re&erência inicial ( a teoria institucionalista3 de "ouglass Dort23 aplicada 8 an=lise da

 per&ormance econOmica de longo pra7o# "estacadamente3 para o tipo de problema a5ui

colocado3 ( etremamente <til a maneira como ele opera com a m<ltipla determinação do

real3 identi&icando inst4ncias emp!ricas &undamentais e combinando &erramentas teóricas

derivadas de campos distintos nas id(ias de instituiç;es e mudança institucional como

elementos eplicativos da per&ormance econOmica# A import4ncia deste pilar teórico (

enorme3 pois ele o&erece uma an=lise consistente para a evolução de uma das dimens;es

centrais dos processos de desenvolvimento% a din4mica econOmica# ) mais 5ue isso3 isto (

&eito de maneira a marcar um distanciamento em relação 8 eplicação neocl=ssica#

@as 2avia dois problemas em aplicar o modelo teórico de Dort2 ao ob6eto em 5uestão# $

 primeiro est= no &ato de 5ue suas an=lises são aplicadas 8 per&ormance econOmica3 en5uanto

desenvolvimento ( uma id(ia mais ampla3 &undada em outras dimens;es# Al(m disso3 sua

ruptura com a economia neocl=ssica ( apenas parcial3 e uma das a&irmaç;es 5ue dão corpo 8

2ipótese a5ui adotada etrapola 6ustamente os limites desta abordagem3 &undada no

individualismo metodológico3 e avança pelo dom!nio das estruturas sociais# "a! vêm os dois

nomes 5ue completam uma tr!ade de autores &undamentais neste teto# Para e5uacionar a

necessidade de uma eplicação 5ue ten2a em conta o papel das estruturas sociais na evolução/

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de longo pra7o a obra de @a Weber permite um di=logo bastante pro&!cuo3 pois assim como

 Dort23 ele pOs no centro de suas an=lises o papel das id(ias no estabelecimento das din4micas

de longa duração# @as em Weber id(ias vão aparecer associadas com interesses3 e interesses

locali7ados em agentes posicionados em di&erentes espaços do mundo social# )m seu

 pensamento3 a din4mica destas es&eras ( dada pelo crescente processo de racionali7ação em

torno do 5ual se estrutura o sentido da ação social para os diversos agentes 5ue o comp;em# )

 para e5uacionar o problema relativo 8 conceituação da id(ia de desenvolvimento e 8 relação

entre suas di&erentes dimens;es3 a obra de Amart:a Sen ( incontorn=vel3 por serem

eatamente estas algumas de suas preocupaç;es centrais# Sen o&erece não só uma nova

de&inição3 5ue coloca em outro patamar os debates sobre desenvolvimento3 agora imposs!vel

de ser tratado somente no 4mbito do crescimento econOmico3 como3 principalmente3

consegue tra7er para dentro da teoria econOmica um di=logo aberto com as estruturas sociais3

ou3 em outros termos3 sobre como 2ierar5uia e desigualdade in&luenciam as possibilidades e

os contornos de grupos sociais3 regi;es ou naç;es#

@esmo com uma trinca de autores deste porte3 no entanto3 um aspecto &undamental do ob6eto

e do problema colocados continuava sem iluminação teórica% o lugar da nature7a nos

 processos de desenvolvimento# Sobre isto3 a in&luência decisiva veio de dois autores 5ue

 procuraram 6ustamente incorporar esta dimensão 8s an=lises de evolução em longo pra7o%

'ared "iamond e 'ane 'acobs# "o primeiro procurou-se reter a maneira de pensar o meio-

ambiente como um dos constrangimentos 5ue pesam sobre as escol2as 2umanas e sobre as

instituiç;es a 5ue elas dão origem# "e 'acobs3 ( particularmente e&ica7 a maneira como ela

introdu7 a id(ia de co-evolução - o 5ue a6udar= a pensar a relação entre a evolução dos

espaços urbanos e rurais e entre a nature7a e o mundo social -3 e a abordagem do

desenvolvimento como um processo onde novos conte<dos emergem de generalidades 6=

eistentes3 o 5ue permite operar com uma 2istoricidade e uma espacialidade em sua

determinação3 aspectos importantes para a5uilo 5ue se pretende demonstrar ao longo das

 próimas p=ginas#

)videntemente algu(m poderia ob6etar 5ue os re&erenciais tra7idos com di&erentes grupos de

autores são con&litantes3 o 5ue em parte ( verdade# $u3 noutra direção3 5ue a dimensão

ambiental só pode ser tratada 8 parte3 por ser um dom!nio espec!&ico em relação 8 sociedade#

Como resposta3 uma ecelente prova de 5ue ( poss!vel incorporar a contento a dimensão0R

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ambiental ao lado de aspectos relativos 8s estruturas sociais est= em !istoire des Agricultures

du onde 5 du néolithique au monde contemporain3 de @a7o:er X 9oudart +1M/RR/.# Ali

tecnologia3 meio-ambiente e con&litos sociais são as inst4ncias eplicativas &undamentais# A

5uestão não est=3 pois3 nos elementos mobili7ados por cada teoria3 e sim na coerência do

arran6o 5ue se &a7 a partir deles3 cu6a <nica medida ( a capacidade em instrumentali7ar a

compreensão das m<ltiplas determinaç;es da realidadeV no presente caso3 as m<ltiplas

determinaç;es do desenvolvimento nos espaços rurais#

01

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PAR%E I

DESENVOLVI$EN%O

 

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Ca:7"u#o 5 ' Desen)o#)imen"o

Uma interrogação &undamental a ser en&rentada por 5ual5uer trabal2o 5ue se pretenda

elucidativo e 5ue envolva a id(ia de desenvolvimento ( saber se ( poss!vel decantar o 5ue 2=

de cient!&ico e o 5ue 2= de normativo3 de ideológico3 de meramente discursivo por detr=s

dela# 9esponder a esta pergunta ( o intuito maior deste cap!tulo +6# @as embora a 5uestão

 pareça simples3 ( preciso recon2ecer de partida 5ue poucas id(ias têm sido ob6eto de

taman2as controv(rsias como a id(ia de desenvolvimento# "e um lado3 2= os 5ue reclamam a

ela status cient!&ico3 legitimidade pol!tica3 conte<do t(cnico# "e outro3 os 5ue a vêem como

instrumento de manipulação ideológica3 crença esva7iada de virtude# Atualmente3 v=rias

vis;es distintas coeistem e disputam os signi&icados da id(ia de desenvolvimento# A

 primeira ( a mais usual3 e pode ser encontrada em 5ual5uer bom manual de economia% nela

desenvolvimento ( tomado como sinOnimo de crescimento ou3 numa pe5uena variação3 o

desenvolvimento ( resultado do crescimento +9ostoK3 1HRV 'ones3 /RRR.# A segunda3 mais

so&isticada3 toma o desenvolvimento como mito# @as não necessariamente em sua acepção

enganosa3 e sim em algo mais próimo do 5ue se poderia c2amar por poder mobili7ador e

organi7ador do mito +,urtado3 1M.# Uma terceira vertente3 por sua ve73 não vê 5ual5uer

validade teórica ou pr=tica na id(ia de desenvolvimento3 apenas ilusão ou argumento

ideológico &alseador das reais intenç;es das pol!ticas cun2adas a este t!tulo +9ist3 /RR1V

9ivero3 /RR0.# >sto sem &alar nas in<meras ad6etivaç;es 5ue surgiram 8 lu7 da cr!tica aos

rumos do desenvolvimento no capitalismo contempor4neo e 5ue deram origem a teorias

inovadoras3 como a do Idesenvolvimento como liberdadeJ +Sen3 /RRR.3 ou a utopias de

grande valor (tico e social3 como a retórica do Idesenvolvimento sustent=velJ +Comissão

rundtland3 1E.#

Por tudo isso3 e pelas caracter!sticas espec!&icas da id(ia 5ue se pretende tomar por ob6eto3 (

 preciso ir al(m da mera con&rontação entre di&erentes de&iniç;es do desenvolvimento#

 preciso en&rentar a5uilo 5ue Pierre ourdieu +/RR1-a. c2amava de amnésie de la génése 3 isto

(3 o descolamento entre o conteto de origem de uma id(ia e a evolução posterior 5ue l2e (

/0 Partes deste cap!tulo &oram originalmente apresentadas na &orma de artigo3 no )ncontro Anual da Associação

 Dacional de Pós-Graduação e Pes5uisa em Ambiente e Sociedade +Anppas.3 em /RR3 e no )ncontro Anual daAssociação Dacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais +Anpocs.3 de /RRE# C&# ,avareto +/RR-b3 /RRE-b.#00

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correspondente# Tal procedimento permite colocar em suspenso as categorias de apreensão do

ob6eto evitando assim seu uso ingênuo# $ risco impl!cito nisto3 contudo3 ( incorrer numa

esp(cie de card=pio de teorias3 em um maçante patch9or:  de conceitos 6ustapostos# Como o

ob6etivo maior deste trabal2o ( a compreensão das categorias eplicativas dos &enOmenos

relativos ao desenvolvimento de regi;es rurais3 e não a id(ia de desenvolvimento per   se3 o

 percurso 5ue envolve esta gênese e desdobramentos posteriores ser= a5ui apenas aproimado3

e não eaustivo# @ostrar por 5ue mecanismos isso acontece3 5uem são os agentes de tal

 processo e como suas pr=ticas constroem tal resultado deveria ser o epediente dese6=vel de

uma sociologia &ina de uma id(ia cient!&ica# @as3 dada a longa duração da 2istória da id(ia de

desenvolvimento3 seria etremamente di&!cil reter as inst4ncias emp!ricas &undamentais

necess=rias a uma sociologia &ina de seu surgimento e evolução+;# $ intuito a5ui ( apenas3

como destacado pouco acima3 evitar o uso ingênuo da id(ia e3 6unto disso3 delinear um 5uadro

teórico ade5uado a uma an=lise do desenvolvimento dos espaços rurais#

A &im de destacar as continuidades e rupturas3 os portadores e as bases teóricas e sociais dos

discursos sobre desenvolvimento3 as próimas duas seç;es procuram abordar o mesmo tema3

sob ên&ases distintas# Do primeiro deles3 retoma-se a evolução da id(ia de desenvolvimento3

de sua tra6etória 2istórica# Do segundo3 ( &eita uma discussão mais apro&undada sobre suas

 bases teóricas# $ argumento central 5ue se pretende demonstrar neste cap!tulo pode ser

resumido na a&irmação de 5ue3 8 id(ia de desenvolvimento e 8 eplicação dos processos

sociais 5ue a ela correspondem3 vêm sendo elaborados importantes aparatos cient!&icos 5ue

 permitem não só identi&icar suas dimens;es &undamentais como compreender a relação entre

elas# Destes termos3 mesmo sendo tamb(m uma id(ia-&orça3 5uase um valor social3 a id(ia de

desenvolvimento e os processos econOmicos e sociais correspondentes podem ser

teoricamente elaborados e cienti&icamente analisados# Claro 5ue isto demanda reconstruir um

campo de abordagem 5ue re&aça elos partidos3 sobretudo no decorrer do <ltimo s(culo3 num

movimento inerente ao natural processo de crescente especiali7ação e autonomi7ação dos

ramos cient!&icos# )m diversas disciplinas do campo das ciências sociais3 com desta5ue para

a sociologia3 a economia e a geogra&ia3 tem 2avido um importante movimento de

reaproimação3 de cu6o apro&undamento podem surgir as bases para programas e pro6etos de

 pes5uisa 5ue se6am3 ao mesmo tempo3 menos ingênuos do 5ue a5ueles 5ue tradicionalmente

/ A5ui e ao longo de todo o teto3 5uando se &ala em desenvolvimento a re&erência ( seu sentido mais amplo 5ue

a5uele contido na principal vertente recente - o desenvolvimento econOmico - 3 esta beirando apenas meio s(culo deeistência +Arndt3 1.#

0

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se erigiriam no per!odo em 5ue a eplicação do desenvolvimento esteve redu7ida 8 sua

dimensão econOmica - ou mais precisamente3 8 sua diluição no crescimento econOmico -3 e

tamb(m mais promissores do 5ue os 5ue redu7em esta id(ia e os anseios nela contidos a mera

operação de manipulação ideológica#

535 4 a #onga "raBe"ória das idias so!re desen)o#)imen"o

$ desenvolvimento da 2umanidade (3 claro3 bem anterior 8s tentativas de sua de&inição# A

evolução biológica do 2omem ( resultado de um processo de longu!ssima duração# ) o

 primeiro grande salto reali7ado no intuito de tentar submeter sob seu dom!nio os des!gnios de

sua condição sobre a Terra ( algo 5ue data de de7 a do7e mil anos atr=s% ( nesta (poca 5ue

surge a agricultura3 numa revolução de import4ncia similar ou superior 8 9evolução

>ndustrial3 8 medida 5ue permitiu a organi7ação dos crescentemente numerosos

assentamentos 2umanos3 a reali7ação de in<meros progressos t(cnicos3 desde a

complei&icação da &erramentaria e de t(cnicas de produção at(3 posteriormente3 o

surgimento da escrita e das c2amadas grandes civili7aç;es+># ,a7 bem menos tempo3

IapenasJ uns dois mil e 5uin2entos anos3 5ue a 2umanidade tenta3 a par das eplicaç;es

m=gicas3 &ormular concepç;es sistem=ticas para o sentido de sua eistência e para a evolução

do real# )las aparecem sempre atrav(s de de&iniç;es epressas em um con6unto de palavras

correlatas como nature7a3 evolução3 desenvolvimento3 todas elas com uma mesma rai7

etimológica# Ao largo dessa sua longa tra6etória de vinte e cinco s(culos3 a id(ia de

desenvolvimento passou por 5uatro grandes etapas3 obviamente com continuidades e rupturas

em cada uma delas# Como se ver= a seguir3 o 5ue marca a virada de um a outro per!odo (3

al(m de uma mudança substantiva nos alicerces emp!rico-cognitivos e na sistemati7ação da

id(ia3 uma mudança igualmente substantiva no tipo de portador dos discursos e eplicaç;es

5ue a envolvem#

53535 ' da gênese ao e)o#uionismo

"esenvolvimento3 progresso3 evolução# A estas palavras poderia se 6untar algumas outras

como moderni7ação3 ocidentali7ação# Todas têm em comum o &ato de serem usadas para

tentar epressar o movimento 2istórico da 2umanidade e seu sentido# $ livro de Gilbert 9ist

/E *er a respeito @a7o:er X 9oudart +1M/RR/.# #

0E

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+/RR1.3  0e développement/ histoire d;une cro2ance occidentale  3 embora apresente uma

2ipótese &raca F o desenvolvimento seria apenas uma esp(cie de IinvençãoJ do mundo

ocidental - tra7 uma contribuição interessante ao tentar discutir por 5ue3 dentre a5ueles

termos3 &oi 6ustamente a id(ia de desenvolvimento 5ue teve o maior apelo# eatamente no

nascimento das interpretaç;es racionais do mundo3 entre os gregos3 5ue uma certa id(ia de

evolução e desenvolvimento &oi sendo &ormada# )m Aristóteles3 esta gênese est= ligada 8

 própria especulação sobre a nature7a do mundo# )m grego3 nature7a -  ph2sis  - deriva

etimologicamente do verbo phuo3 5ue signi&ica crescer3 se desenvolver# Dature7a (3 portanto3

segundo o &ilóso&o grego3 Ia geração de coisas 5ue se desenvolvemJ3 ( Ia essência das coisas

5ue têm3 elas mesmas3 um princ!pio de movimentoJ# A ciência3 em tais condiç;es3 poderia

ser de&inida como a teoria da Inature7aJ das coisas e3 pois3 de seu desenvolvimento# )

entender as coisas de maneira racional signi&icaria consider=-las segundo sua nature7a3 vale

di7er3 relativamente a seu desenvolvimento# Bucr(cio retomou a id(ia de geração e evolução3

em sua De natura rerum# Ali3 a nature7a ( concebida como a5uilo 5ue est= no princ!pio do

crescimento3 8 medida 5ue a palavra em latim natura3 deriva etimologicamente do verbo

nascor   F nascer# ) no latim3 tanto desenvolvimento como evolução derivam

etimologicamente do verbo volvere3 cu6a tradução para o inglês se aproima do verbo to roll  3

como mostra ?odgson +10.# $ mesmo autor observa 5ue os verbos auiliares evolvere  e

revolvere são mais epl!citos3 denotando respectivamente um movimento progressivo e um

movimento regressivo# Assim3 o termo evolução e seu par F desenvolvimento F surgem3

tamb(m no latim3 presos 8 id(ia de algo direcional3 de algo relativo a uma atividade em certa

medida com um sentido pr(-destinado# Se o mundo3 como disse Bucr(cio3 ainda estava em

sua 6uventude3 nada o impediria de encontrar sua maturidade e3 um dia3 seu decl!nio# Por(m3

como a met=&ora di7 respeito 8 nature7a das coisas3 2= ali uma id(ia c!clica3 &iel 8 nature7a

c!clica da nature7a% tudo o 5ue nasce3 cresce3 atinge maturidade3 declina e morre3 se &undindo

8 mat(ria original3 num perp(tuo recomeço +9ist3 /RR1.#

Começava ali3 com os &ilóso&os da Antigidade3 uma tradição 5ue3 no 5ue di7 respeito 8 id(ia

de desenvolvimento e evolução3 perdurou at( os &ins do s(culo ZZ# A tare&a de

sistemati7ação das grandes concepç;es do mundo e seu sentido sempre &oi uma tare&a dos

grupos intelectuais nas di&erentes sociedades atrav(s dos tempos3 se6a pelos intelectuais

leigos3 se6a pelos intelectuais religiosos3 mas sempre pelas camadas altamente

intelectuali7adas# $ 5ue vai mudar de uma etapa a outra da 2istória ( 6ustamente a posição0H

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social destes intelectuais# Como lembra Weber +1.3 8 medida 5ue a racionali7ação do

mundo avança3 gan2a peso o papel das grandes sistemati7aç;es do mundo e3 com isso3

crescem em peso e diversi&icação os constrangimentos sociais 5ue recaem sobre seus

 portadores# Claro 5ue 6= entre os gregos3 por eemplo3 estava bem presente tal tipo de

condicionante F o &im de Sócrates3 um de seus mais bril2antes epoentes bem o demonstra#

@as com o passar do tempo3 o tipo de constrangimento muda3 e isto importa decisivamente

na de&inição do conte<do das id(ias# A ascensão do cristianismo como principal instituição do

mundo ocidental criou3 eatamente por isso3 uma nova situação# Da passagem da >dade

Antiga 8 >dade @(dia3 na virada do s(culo >* para o s(culo *3 Santo Agostin2o tentou

conciliar uma &iloso&ia da 2istória com a 2erança da tradição intelectual anterior 8 teologia

cristã3 o 5ue signi&icava ree5uacionar três problemas derivados da teoria aristot(lica e

mantidos nos &ilóso&os 5ue o seguiram# Primeiro3 o problema da intervenção divina3 pois3

en5uanto em Aristóteles importava a &orça silenciosa 5ue est= no princ!pio da nature7a e de

seu desenvolvimento3 no cristianismo ( atrav(s dos acidentes da 2istória 5ue a &orça de "eus

se mostra presente# Segundo3 o problema da espontaneidade dos &enOmenos naturais3 pois

 para o cristianismo 2= algo supranatural 5ue se 6unta 8 nature7a e l2e 6usti&ica e d= sentido#

Terceiro3 o problema da mudança e do retorno3 6= 5ue para o cristianismo ( preciso 5ue 2a6a

um começo3 um meio e um &im3 onde o celestial representa o =pice e o ob6etivo# A solução

agostiniana consistiu em preservar os elementos constitutivos dos ciclos3 aplicando-l2es 8

totalidade da 2istória universal como mani&estação dos des!gnios de "eus# Saem os ciclos

sucessivos de ascensão3 apogeu e decl!nio3 de Aristóteles3 e entra em cena a id(ia de um

<nico ciclo# Tomava &orma a5ui a concepção3 ainda tão cara aos dias atuais3 da 2istória como

um movimento linear# @as esta não seria a <nica implicação da &iloso&ia de Santo Agostin2o

 para a 2istória e a id(ia de desenvolvimento# $utros três aspectos derivam destas ade5uaç;es%

a 2istória passa a ser vista como algo 5ue envolve o con6unto do gênero 2umanoV os eventos

2istóricos não têm import4ncia senão no 5ue di7 respeito ao todo mais amplo em 5ue se

situam3 neste caso3 o plano de "eus# Apesar das aparências sinuosas a 2istória obedece a uma

necessidade3 novamente relativa ao plano divino +9ist3 /RR1.#

"ependendo do autor3 situa-se no s(culo Z> ou no s(culo Z* o per!odo 5ue ense6a o desgaste

mais acentuado das concepç;es de mundo compat!veis com a (poca medieval# @as ( somente

a partir dos meados do s(culo Z*>> 5ue vão se materiali7ar as maiores rupturas com esta

ordem de pensamento3 marcadamente com a ascensão do racionalismo# ) (3 &inalmente3 no0M

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s(culo seguinte 5ue ocorrem os grandes eventos 5ue vão solapar de ve7 os 5uadros de

re&erência do mundo medieval e impulsionar de maneira irrevers!vel o desli7amento das

eplicaç;es sobre a evolução do real% o dese6o e a possibilidade da mudança social3 5ue tem

 por marco de&initivo a 9evolução ,rancesaV a crescente import4ncia dos mecanismos de

mercado repousando sobre o 6ogo de uma relativa livre concorrência3 alavancada pela 5ueda

 progressiva das monar5uias europ(ias at( a &ormação dos grandes imp(rios modernosV o

 progresso cient!&ico3 com todo o rol de descobertas3 inovaç;es t(cnicas e especiali7ação de

saberes caracter!sticos do per!odo inaugurado com o >luminismo# Desta transição de mais ou

menos cinco s(culos3 tornou-se poss!vel aos 2omens se permitir interrogar em dom!nios

crescentes da vida social a ordem imanente 8 mudança +)lias3 1MR11.# $s 2omens

começaram a compreender mais e mais mudanças na nature7a e na sociedade 5ue não podiam

ser eplicadas por causas imut=veis# A principal ruptura introdu7ida 8 esta (poca est= em 5ue

a eplicação da evolução do real passa a ser acess!vel por meio da an=lise e observação de

&enOmenos emp!ricos e não por derivação de sentidos etramundanos3 tal 5ual na &iloso&ia

agostiniana#

@as tamb(m 2ouve continuidades nas grandes tentativas de sistemati7ação da evolução e

mudança do mundo social 5ue se cristali7am3 sobretudo3 no s(culo Z>Z# A principal talve7

se6a o car=ter teleológico pronunciado de algumas teorias% de maneira compat!vel 8 &iloso&ia

agostiniana3 a sociedade en&rentaria um processo de evolução social mais ou menos

Iautom=ticoJ3 em direção a uma ordem social superior# Ao contr=rio do 5ue acabou por se

&irmar no senso comum3 nestas vertentes superior deve ser entendido como mais alto grau de

algum caractere emp!rico &undamental3 o 5ual varia segundo o sentido da evolução &ormulado

em cada autor ou teoria F a &ormação superior ( a mais complea em Spencer3 ( a 5ue

apresenta mais alto grau de progresso nas suas &orças produtivas em @ar3 assim como ser=

superior3 posteriormente3 em Weber3 a &ormação mais racionali7ada/H# Simultaneamente3 no

campo da biologia a id(ia de evolução tamb(m se &irmava 8 mesma (poca# Aplicada

sistematicamente por Albrec2t von ?aller no meio do s(culo Z*>>> ela só seria populari7ada

no s(culo Z>Z +?odgson3 10.#

/H Com a ressalva de 5ue3 em Weber3 superior não signi&ica necessariamente mel2or# Dão 2= d<vida de 5ue eleconsidera as sociedades mais racionali7adas &ormas superiores se comparadas 8s suas predecessoras3 8 medida 5ue se

desprendem de concepç;es m=gicas do mundo# Do entanto3 a &amosa met=&ora do &uturo como Igaiola de &erroJ d= aeata medida da contradição e do descon&orto 5ue tal tipo de evolução engendra para a condição 2umana#

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bom destacar3 no entanto3 5ue entre o evolucionismo social e o evolucionismo em biologia

2= muito mais dist4ncia do 5ue proimidade# >nicialmente a noção de evolução &ora

di&undida principalmente por Spencer3 e não por "arKin# )m Spencer3 como indicado acima3

evolução podia ser entendida como um movimento cu6o sentido estava ligado ao movimento

5ue vai do mais simples ao mais compleo3 como mostra sua classi&icação das sociedades# Da

obra do biólogo inglês3 di&erentemente3 evolução di7 respeito ao processo de diversi&icação3

epressa em sua obra na an=lise da origem e da seleção natural das esp(cies/M# Talve7 por isso

o próprio "arKin3 5ue acabaria sendo seu principal divulgador3 ten2a relutado tanto em

adotar a id(ia de evolução em seus escritos F ela só aparece na seta edição da .rigem das

espécies +?odgson3 10.#

Como &oi assinalado anteriormente3 no latim tanto desenvolvimento como evolução derivam

etimologicamente do verbo volvere3 e os verbos evolvere  e revolvere  apontam

respectivamente um movimento progressivo e um movimento regressivo# Com isso3 o termo

evolução e seu par F desenvolvimento F se &irmaram presos 8 id(ia de algo direcional3 de algo

relativo a uma atividade em boa medida pr(-destinada# Nuando o racionalismo e o

empirismo se tornam as &ormas de pensamento sistem=tico predominantes3 ocorre um

desli7amento sem4ntico com correspondências nos sistemas mentais de interpretação do real3

no 5ual as id(ias de evolução e desenvolvimento vão ser assimiladas 8 id(ia de progresso3

como bem destaca o cl=ssico estudo de Disbet +1E.% correspondia ao ide=rio inaugurado no

>luminismo3 e apro&undado com a 9evolução >ndustrial3 5ue a evolução se converteria

naturalmente em progresso3 alcançado pelo con2ecimento e dom!nio das &orças da nature7a#

A ascensão da id(ia de progresso marca uma transição% não se teve uma teoria do progresso3

mas a passagem da id(ia de evolução para a de progresso &oi uma esp(cie de ante-sala do

rapto da id(ia de desenvolvimento pela economia3 com a redução da evolução ao progresso e

deste ao crescimento# Dão ( gratuito3 tamb(m3 5ue a id(ia de progresso apareça na 2istória no

momento de constituição do campo cient!&ico3 en5uanto a id(ia de crescimento3 como se ver=3

corresponde ao seu auge3 não por acaso com uma ascensão crescente da economia no rol das

modernas disciplinas cient!&icas#

/M Uma epressão clara da con&usão 5ue se &a7 entre estas duas maneiras de conceber a evolução ( &acilmenteencontr=vel em muitos livros did=ticos ou mesmo cient!&icos# )m geral3 6unto de tetos sobre evolução ( comum2aver a cl=ssica ilustração 5ue mostra uma s(rie de desen2os3 dos primatas ao homo sapiens3 como se 2ouvesse umalinearidade nesta lin2agem# "i&erente disso3 a ilustração &eita por "arKin para eempli&icar sua teoria ( bem parecida

com o desen2o de uma rai7 de =rvore3 onde3 a partir de um ancestral comum3 estabelecem-se di&erentes lin2agens edireç;es da evolução#

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claro 5ue 2ouve ao longo de todo este per!odo eceç;es e nuanças nada despre7!veis# A

começar por @a5uiavel e seu realismo pol!tico em pleno 9enascimento# Posteriormente3 .

 Discurso sobre a igualdade entre os homens3 de 9ousseau3 &oi escrito a partir de um edital da

Academia de "i6on3 5ue indagava se o progresso das artes e da ciência bene&iciava a

2umanidade% sua resposta3 al(m de bril2ante e engen2osa a ponto de se constituir num dos

mais belos e lidos tetos &ilosó&icos3 &oi3 no m!nimo3 bem cr!tica# ) mesmo no empirismo

 brit4nico a apologia do progresso ( atenuada pela constatação de Adam Smit2 de 5ue o

mercado não &unciona de maneira tão e5u4nime 5uanto se poderia imaginar +nas negociaç;es

entre patr;es e empregados3 por eemplo.# )sta visão cr!tica do progresso est= presente nos

 primeiros esboços das teorias socialistas e ( uma das bases do pensamento do próprio @ar3

embora ali3 como assinalado pouco acima3 ela se &unde dialeticamente a seu ob6eto

apresentando como s!ntese a superação pela suposta ordem socialista# $ coro dos dissonantes

não poderia estar completo sem uma menção 85uele 5ue levou este tipo de cr!tica e

descon&iança 8s raias do etremo em termos &ilosó&icos e 5ue3 não por acaso3 in&luenciaria

nomes do porte de Weber e ,reud% ,riedric2 Diet7sc2e#

A virada para o s(culo ZZ marcou o &im desta longa tra6etória em 5ue a id(ia de

desenvolvimento esteve predominantemente associada 8 id(ia de evolução# Para Dorbert

)lias +1MR11.3 a reação contra as teorias sociais da evolução tal2adas no s(culo Z>Z &oi

etraordinariamente violenta durante o s(culo ZZ por5ue os con2ecimentos relativos 8

evolução das sociedades sobre os 5uais a5ueles pensadores puderam se apoiar eram

ecessivamente limitados se comparados 85ueles dispon!veis no per!odo de consolidação dos

campos disciplinares espec!&icos das ciências sociais# ) seria 6ustamente por isso 5ue aos

 primeiros &ora poss!vel divisar grandes lin2as de evolução das sociedades# A massa de

detal2es 5ue era preciso manipular para a elaboração de modelos globais ainda não ecedia

sua capacidade de apreensão% como di7 )lias +1MR11% 1.3 Ieles viam melhor a floresta

 porque não distinguiam as 'rvores< quanto a nós, as 'rvores nos escondem a florestaJ#

eatamente este paradoo 5ue eplica a nova ruptura 5ue teve lugar no s(culo ZZ# "e um

lado3 a mistura de ideal social e realidade contida nos modelos de evolução social elaborados

no s(culo Z>Z teria sido respons=vel por boa parte do desinteresse dos sociólogos do s(culo

ZZ a estas teorias# "e outro3 ainda segundo )lias3 parece ser 6ustamente a rendição

inconsciente de muitos cientistas sociais contempor4neos aos seus ideais sociais o 5ueR

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con&ere 8s sociedades atuais uma superioridade em relação a suas antecessoras3 levando

assim a um abandono dos problemas relativos 8s din4micas de longo pra7o em bene&!cio de

 problemas espec!&icos e tidos como de maior urgência e atualidade#

5353+ ' da e)o#ução ao resimen"o

Apesar das rupturas destacadas3 não seria correto di7er 5ue ao longo de todo o s(culo ZZ a

id(ia de evolução esteve completamente dissociada da id(ia de desenvolvimento# A virada do

s(culo Z>Z para o s(culo ZZ ( palco de uma crescente institucionali7ação do campo

cient!&ico e de muitas de suas disciplinas Da sociologia3 institucionali7ava-se o pensamento

marista3 desde seu in!cio premido entre a cienti&ici7ação e a pol!tica% surge nesse per!odo .

desenvolvimento do capitalismo na R=ssia3 de Bênin# Ao mesmo tempo3 estabeleciam-se

 perspectivas concorrentes de eplicação3 marcadamente a sociologia &uncionalista de

"urL2eim e a sociologia compreensiva de Weber# Duma certa vertente marista3 a id(ia de

desenvolvimento associada 8 evolução permaneceu presente3 sobretudo na5ueles 5ue

e&etivamente lançaram mão da concepção de 2istória em @ar ao se empen2ar em analisar o

movimento do real como resultante da evolução de con&litos estruturados em torno da luta de

classes e seus correspondentes# Da vertente Keberiana o componente evolucion=rio ( ainda

mais &orte3 mas ( esta mesma corrente a 5ue menos in&luência eerceu sobre a epansão da

sociologia at( o <ltimo 5uarto do s(culo 5uando 2= uma clara in&leão# Da economia o

embate se estruturou opondo a5ueles 5ue deram corpo ao 5ue &icou con2ecido como

 paradigma neocl=ssico em economia3 epresso nos nomes de 'evons3 @enger e Walras3 e

a5ueles 5ue destacaram o peso das instituiç;es na determinação da din4mica econOmica3

como *eblen# )ste <ltimo3 ali=s3 &oi 6ustamente a5uele 5ue nas ciências sociais c2egou mais

 perto da analogia com a evolução por seleção natural tal como eplicada na biologia# )m

*eblen3 o 5ue ( imanente 8 estrutura e 8 mudança nas economias são as instituiç;es3 e

eplic=-las signi&ica entender por5ue umas se adaptam atrav(s do tempo e outras sucumbem#

Como se sabe3 o pensamento neocl=ssico obteve uma &ragorosa vitória ante os primeiros

institucionalistas3 algo 5ue só começou a ser abalado tamb(m no <ltimo 5uarto do s(culo3

com a Dova )conomia >nstitucional# "e resto3 cumpre assinalar ainda 5ue em outros autores

uma certa id(ia de evolução continuou presente - para citar apenas alguns3 em Sc2umpetter e

?a:eL3 como mostra a taonomia de ?odgson +10. -3 mas a! este componente de evolução

1

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 6= aparece subordinado a outros elementos dos 5uadros conceituais de cada um destes

autores#

Tanto na sociologia como na economia3 prevaleceram durante boa parte do s(culo ZZ as

teorias 5ue se sustentavam em alguma &orma de e5uil!brio3 ou 5ue permitiam algum grau de

 previsibilidade# Da sociologia3 como se sabe3 2ouve uma polari7ação entre maristas e

&uncionalistas% nos primeiros3 apesar de 2aver uma determinação da 2istória pelo con&lito e a

luta de classes3 2= um momento de e5uil!brio em 5ue os antagonismos se diluemV e no

segundo grupo3 a id(ia de e5uil!brio ( simplesmente central3 como bem o demonstram certas

categorias centrais deste pensamento como &unção e anomalia# Do caso da economia3 por sua

ve73 a supremacia dos neocl=ssicos sobre os vel2os institucionalistas signi&icou a vitória de

uma concepção em 5ue a 2istória perde poder eplicativo e cede terreno para uma

modeli7ação teórica &undada numa abstração das interaç;es sociais dos processos de troca3

cu6as bases são o individualismo e a presunção do comportamento maimi7ador do 2omem e

seus desdobramentos para a constituição da c2amada racionalidade econOmica# Tanto em

sociologia como em economia3 portanto3 no decorrer do <ltimo s(culo a 2istória3 mesmo

5uando se manteve presente3 cedeu lugar a modelos 5ue de uma ou outra &orma se apoiaram

em met=&oras de mec4nica social3 negando as met=&oras biológicas# )3 não obstante3 5uase

sem eceção3 os grandes autores das ciências sociais do s(culo ZZ F mesmo os classi&icados

como evolucionistas3 como Sc2umpetter3 cu6a obra . desenvolvimento econ>mico  tamb(m

data do in!cio do s(culo -3 sempre 5ue puderam &i7eram 5uestão de demarcar os perigos da

met=&ora biológica +?odgson3 10.+@#

)ste movimento nos 5uadros teóricos e as correspondências 5ue se pode notar em disciplinas

como a sociologia e a economia não podem ser atribu!das somente a desenvolvimentos

conceituais# Se o distanciamento da biologia precisa ser entendido como parte das estrat(gias

de a&irmação de competências espec!&icas de cada sub-campo disciplinar3 ( preciso agregar a

/  >sto talve7 se epli5ue pelo &ato de 5ue tais autores recon2eciam 5ue 2= um primado ontológico nas ciências2umanas 5ue as di&erencia das ciências da nature7a# Algo 5ue pode ser claramente percebido na maneira como ocorrea mudança evolutiva% en5uanto no mundo natural ela só acontece muito lentamente3 atrav(s da seleção das esp(cies3no mundo social elas podem ocorrer no intervalo de uma <nica geração3 pela &aculdade do aprendi7ado e da ra7ão# Da biologia3 ao contr=rio3 a id(ia de evolução reinou com prima7ia durante todo o s(culo ZZ3 com o rec(m &alecido )rnst@a:r como grande epoente e com as principais disputas se dando entre os evolucionistas3 e não entre esta corrente eoutras# Uma eceção no uso da met=&ora biológica em ciências sociais ( mile "urL2eim3 mas tamb(m em seu pensamento 2= todo um cuidado em delimitar a &ronteira 5ue distingue este dom!nio dos &atos sociais# Do sociólogo

&rancês3 como &oi dito3 a 2istória não tem peso eplicativo3 di&erente da lógica &uncionalista3 epressa principalmenteem termos de mec4nica e organicidade#

/

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isso a compreensão de 5ue o tipo de constrangimento eterno 5ue passou a pesar sobre estes

sub-campos disciplinares tamb(m muda no per!odo em 5uestão# $ campo cient!&ico e o

campo econOmico3 6unto com o campo pol!tico3 ad5uirem prevalência crescente sobre as

demais es&eras% o enorme progresso econOmico desencadeado com os processos associados 8

9evolução >ndustrial e a epansão 5ue ela gerou criaram as condiç;es para 5ue se legitimasse

a retórica 5ue &a7 repousar nesta dimensão do real3 a economia3 o mais alto grau de

determinação sobre as demais# Se o 5ue determina ( o econOmico3 e o 5ue eplica o

econOmico ( o cient!&ico3 então a eplicação cient!&ica dos &enOmenos econOmicos só poderia

ad5uirir prevalência# Cria-se com isso uma 2omologia estrutural3 no sentido dado por

ourdieu3 entre a disciplina economia e o lugar da economia na sociedade# "esde então as

interdependências entre estes dois campos F a economia e as ciências econOmicas -3 e entre

estes dois campos e a pol!tica vão se tornar mais e mais estreitas+9# Assim ( 5ue Bord e:nes

al(m de ser associado 8 intelectualidade e 8 classe art!stica inglesa de sua (poca circulava

tamb(m entre a nobre7a e &ora por ela c2amado a colaborar na construção do sistema

&inanceiro mundial pós-guerra# "a mesma &orma3 &oi sob o patroc!nio da coroa inglesa 5ue se

&ormou o thin: than:  5ue reuniu nomes 5ue viriam a se tornar in&luentes pensadores em

ciências econOmicas e 5ue deu origem 8 economia do desenvolvimento em suas di&erentes

vertentes# oa parte destes mesmos pensadores viria a colaborar com as pol!ticas e

orientaç;es de órgãos internacionais# Sem &alar no crescente &luo de 5uadros intelectuais das

escolas de economia 8 burocracia estatal e em seu posterior retorno3 sempre realimentando as

interdependências entre os três campos# $l2ando sob este 4ngulo &ica mais &=cil entender por

5ue tipo de constrangimento social as id(ias baseadas nas din4micas de longo pra7o cedem

espaço para outras3 onde impera um mais alto grau de aplicabilidade interventiva de seus

resultados anal!ticos3 de seu poder normativo3 en&im#

 Dos pa!ses da peri&eria do capitalismo o mesmo movimento social e cient!&ico ocorreu# Se6a

 pela in&luência dos organismos internacionais F basta lembrar o papel de absoluto relevo da

Comissão )conOmica para a Am(rica Batina +Cepal. -3 se6a pela grande circulação das elites

desta peri&eria3 &avorecendo sempre uma absorção e um certo alin2amento r=pido 8s teorias

em voga3 o &ato ( 5ue tamb(m no c2amado ITerceiro @undoJ as interdependências entre os

campos pol!tico3 econOmico e cient!&ico &oram bastante estreitas# evidente 5ue uma vertente

/

 Uma relação muito bem retratada e analisada por ,r(d(ric Bebaron +/RRR. para o caso &rancês3 e por Boureiro+1E. e Paulani +/RRE.3 para o caso brasileiro#

0

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5ue tem epoentes como $sKaldo SunLel3 9aul Prebisc23 ,ernando ?enri5ue Cardoso3 9u:

@auro @arini3 para &icar restrito a alguns nomes3 representa um cap!tulo 8 parte# Ainda mais

5uando se relembra 5ue alguns destes autores &alavam de maneira n!tida sobre o papel das

instituiç;es e da 2istória# @as mesmo entre este grupo3 o &ato ( 5ue as perspectivas do

desenvolvimento sempre se &i7eram presentes como sinOnimo de crescimento econOmico6,%

tanto entre os c2amados IdependentistasJ3 em suas di&erentes lin2agens3 como na obra de

autores como Celso ,urtado# Do primeiro caso3 em 5ue pese a eistência de eplicaç;es

dissonantes3 um ponto central est= na id(ia de 5ue a posição da peri&eria não seria uma mera

5uestão de est=gio a ser superado3 mas de um tipo espec!&ico de inserção% em ve7 da 2istória

como determinante3 uma certa mec4nica das trocas con&lituosas# Do segundo caso não se

 pode di7er 5ue a 2istória est= ausenteV ao contr=rio3 trata-se 6ustamente de uma an=lise de

2istória econOmica onde o crescimento pode assumir di&erentes estilos a depender do tipo de

e5uacionamento das vari=veis pol!tico-sociais3 mas ainda a!3 e este ( o desta5ue 5ue se

 pretende realçar neste momento3 o vetor ( o crescimento econOmico65#

)sta prevalência do crescimento como sinOnimo de desenvolvimento3 contudo3 durou

relativamente pouco 5uando tomada na perspectiva a5ui adotada3 de uma pe5uena 2istória da

longa duração do conceito# Ao di7ê-lo3 não se est= nem de longe a&irmando 5ue a assimilação

entre crescimento e desenvolvimento ten2a acabado% uma simples ol2ada pelos 6ornais nos

dias atuais revela 5ue esta associação ( a corrente no senso comum# ) mesmo nos meios

cient!&icos não ( preciso muito es&orço para encontrar con&irmaç;es# "ois dos mais

importantes manuais de economia dispensam ao tema tratamento similar# @anLiK +/RR1.

simplesmente retirou de seu manual a epressão desenvolvimento3 por considerar 5ue3 como

se trata eatamente da mesma coisa 5ue crescimento3 ( mel2or adotar este ItermoJ para ir

direto ao n<cleo da id(ia% em resumo3 desenvolvimento é crescimento# )m 'ones +/RRR.3

crescimento ( considerado não só o principal meio3 mas a principal indicação de

desenvolvimento3 pois ( onde 2= dinamismo econOmico prolongado 5ue se encontram

tamb(m os mel2ores indicadores sociais e de 5ualidade de vida% em resumo3 desenvolvimento

( tratado como crescimento#

0R $ &ato de se destacar a5ui o vi(s econOmico não signi&ica3 contudo3 o monopólio eclusivo da economia sobre a5uestão# Cardoso +1E. elenca uma s(rie de epoentes do debate para concluir 5ue se tratava3 predominantemente desociólogos#01 Do mesmo teto citado na nota anterior3 Cardoso considera 5ue nos anos MR a concepção de ,urtado se desloca deuma abordagem em 5ue o desenvolvimento ( um processo ob6etivo3 eplic=vel por leis econOmicas e 2istóricas3 para

uma concepção em 5ue desenvolvimento ( um mito3 um valor3 uma id(ia-&orça3 residindo nisso mesmo sua &orça%reunir e orientar as energias 2umanas e seus recursos em uma determinada direção# *er tamb(m Cardoso +1R.#

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Por(m3 mesmo nestes meios mais a&eitos 8s lides com a id(ia de desenvolvimento3 como a

academia3 esta assimilação 6= deiou de ser natural e intoc=vel# Se durante a I)ra de $uroJ

do capitalismo mundial não era poss!vel &a7er uma distinção entre desenvolvimento e

crescimento3 aos poucos &oi &icando cada ve7 mais claro 5ue o crescimento econOmico pode

não só não contribuir para 5ue o con6unto da sociedade alcance uma situação de bem-estar3

como pode igualmente contribuir para 5ue aumente a desigualdade entre ricos e pobres3

gerando s(rios problemas de coesão social# )ste tipo de &issura no poder de persuasão da

id(ia de crescimento como sinOnimo de desenvolvimento pode ser sentido tamb(m em v=rias

situaç;es% nos resultados pouco alentadores dos investimentos reali7ados em pa!ses

 peri&(ricos3 em sensaç;es de descon&orto de di&erentes tipos vividas por parcelas

signi&icativas de pessoas dos pa!ses desenvolvidos3 na consciência de 5ue di&erentes estilos de

vida podem comportar di&erentes padr;es de satis&ação de necessidades materiais3 ou ainda

na descoberta cient!&ica mesmo de 5ue em determinadas situaç;es o crescimento econOmico

 pode não ser o impulsionador3 mas sim o resultado de determinado tipo de intervenção social#

)sta erosão da coesão entre crescimento e desenvolvimento ( uma das epress;es da perda do

 poder de persuasão de outra das id(ias correlatas e 5ue l2e serviu de corol=rio% a id(ia de

 progresso6+#

$ &im da id(ia de progresso +Disbet3 1E. ( o crep<sculo desta associação entre mel2oria da

condição 2umana mediante um movimento natural de epansão de suas possibilidades

materiais e3 por decorrência3 &!sicas e culturais# '= a id(ia de desenvolvimento parece estar

tendo outro destino% ela passa a so&rer uma tentativa de disputa social pelas suas signi&icaç;es

 poss!veis3 em ve7 de simplesmente morrer ou perder por completo seu apelo cient!&ico3

 pol!tico ou utópico#

Uma das epress;es organi7adas dessa insatis&ação crescente com os rumos do debate sobre

desenvolvimento pode ser encontrada no movimento ambientalista internacional 5ue toma

corpo nesse per!odo3 na virada dos anos HR para os anos MR3 e vem se tornando cada ve7 mais

robusto desde então# $utra pode ser encontrada em teorias cient!&icas destoantes do c2amado

0/ )m *eiga +/RRE. 2= uma comparação sobre o desempen2o dos pa!ses do capitalismo avançado no [ndice de"esenvolvimento ?umano e no [ndice de Sustentabilidade Ambiental produ7ido pelas Universidades Columbia

e \ale# Ali &ica muito claro como3 em muitos casos3 ri5ue7a e bons indicadores sociais andam bem distantes de preocupaç;es com a nature7a e es&orços em conservação ambiental#E

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mainstream# )m ambas a nova retórica de 5ue as duas vertentes são portadoras se constitui a

 partir da cr!tica social3 a partir de uma certa crise do poder eplicativo da id(ia tradicional de

desenvolvimento# Uma crise 5ue vai desembocar em di&erentes desaguadouros% numa

eplosão de ad6etivaç;es +desenvolvimento includente3 desenvolvimento social3

desenvolvimento local3 para &icar apenas em alguns poucos eemplos.3 numa conse5ente

 banali7ação dos signi&icados da id(ia e3 como não poderia deiar de ser3 numa tentativa de

reconceituação cient!&ica dos processos de desenvolvimento#

53536 ' rise/ :o#issemia/ !ana#i?ação333 iênia

)mbora o marco ineg=vel de contestação dos rumos do progresso do $cidente se locali7e nos

meados dos anos HR3 tendo talve7 como =pice o @aio de H &rancês3 desde bem antes se pode

encontrar obras importantes de 5uestionamento# Dos )UA3 por eemplo3 nos anos 0R a obra

de Upton Sinclair F 1he ?ungle  - 6= &a7ia uma pro&unda cr!tica das condiç;es de trabal2o e

sa<de dos alimentos# Seus impactos guardam relação com a criação da ,"A + @ood and Drug

 Administration.3 anos mais tarde# "a mesma &orma o livro de 9ac2el Carson F -rimavera

 silenciosa -3 de 1H3 teve um enorme impacto e contribuiu decisivamente para a criação da

)PA + Environmental -rotection Agenc2.# Destas e em tantas outras obras3 estava em 5uestão

não só o sentido assumido pelo progresso ocidental3 mas a ideologia mesmo do progresso e3

 pois3 do desenvolvimento# Desta passagem dos anos HR para os anos MR &oram in<meros os

movimentos de cr!tica social 5ue se materiali7aram em eventos3 organi7ação de grupos

militantes3 em todo um caldo de cultura3 en&im3 onde o mito do progresso estava em causa#

'unto com esta crescente contestação social3 e &ortemente tribut=ria dos elementos de cr!tica

de obras como as acima citadas3 um esboço de resposta sistem=tica aparece na Con&erência

de )stocolmo sobre meio-ambiente3 em 1M/# A noção de ecodesenvolvimento +Sac2s3 1E.

5ue dali emergiu sinali7ava diretamente a necessidade de se instituir um outro padrão de

relação entre a sociedade e a nature7a3 onde a degradação crescente desse lugar a pr=ticas

&undadas num mel2or aproveitamento dos recursos naturais# Uma d(cada e meia mais tarde a

noção de ecodesenvolvimento viria a ser praticamente substitu!da pela id(ia mais gen(rica3 e

em parte por isso mesmo mais aceita3 do desenvolvimento sustent=vel3 5ue &icou consagrada

 pela Comissão rundtland +1M.3 segundo a 5ual o desenvolvimento 5ue se pretendia era

a5uele capa7 de preservar os recursos necess=rios 8s geraç;es vindouras#H

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A gradativa substituição da de&inição IecodesenvolvimentoJ por Idesenvolvimento

sustent=velJ nos documentos o&iciais de organismos multilaterais e em parte do movimento

ambientalista pode ser vista não somente como a troca de uma epressão por outra3 mas como

uma ade5uação de sentido ao paradigma dominante de organi7ação das id(ias sobre

desenvolvimento# >sto (3 tanta import4ncia 5uanto a Con&erência de )stocolmo para as id(ias

sobre desenvolvimento e meio-ambiente teve o relatório do Clube de 9oma3 da mesma (poca3

5ue apontava a escasse7 eminente de uma s(rie de bens naturais# Ao optar pela de&inição

Idesenvolvimento sustent=velJ3 tal como epressa no 9elatório rundtland3 escol2ia-se uma

conceituação 5ue3 em primeiro lugar3 não sinali7ava a necessidade de se instituir um outro

 padrão3 um outro estiloV em segundo lugar3 esta opção era totalmente compat!vel com a

tentativa de resposta ao alerta levantado pela cr!tica ambiental apoiada no paradigma da

escasse7# Da Con&erência do 9io de 'aneiro3 em 1/3 este movimento teve seu =pice3 mas

desde então tem patinado nas tentativas de implementação de acordos e na sua materiali7ação

na tentativa de levar adiante uma agenda de proposiç;es para o s(culo ZZ> capa7 de cobrir a

atuação de orgãos internacionais e de governos nacionais00#

Um segundo desdobramento surgiu tamb(m sob os impactos de toda a cr!tica social aos

rumos do desenvolvimento3 tendo agora por &oco a &ormulação de novas medidas e novas

orientaç;es capa7es de &a7er &rente 8 desigualdade e 8 pobre7a# $ principal resultado deste

es&orço em ampliar o &oco do debate sobre desenvolvimento3 para al(m do crescimento

econOmico3 &oi a adoção3 pelas Daç;es Unidas3 da noção de desenvolvimento 2umano3 5ue

gan2ou epressão mundial atrav(s do >"? - [ndice de "esenvolvimento ?umano# )mbora

se6a comum associar o >"? ao nome do economista indiano Amart:a Sen3 seu principal

&ormulador &oi o pa5uistanês @a2bub Ul ?a5# )m teto publicado no 9elatório de

"esenvolvimento ?umano de 13 Sen &a7 uma 2omenagem ao colega pa5uistanês pelo seu

êito em lograr construir um indicador sint(tico 5ue cobre m<ltiplas dimens;es da vida

econOmica e social de uma população e 5ue conseguiu se impor como uma alternativa ao P>

como elemento mensurador do desenvolvimento3 esta a principal ambição de Ul ?a5# @as

 pontua no mesmo teto seu ceticismo 5uanto 8 possibilidade de 5ue um !ndice sint(tico possa

de &ato epressar substantivamente o desenvolvimento de uma dada sociedade3 6ustamente

00 Um caso 5ue tem sido saudado como eceção3 o Protocolo de :oto3 ainda apresenta contornos e resultados

 previstos muito polêmicos para uma sentença mais segura ou de&initiva# Para uma discussão mais apro&undada doestado atual do tema3 consultar *eiga +/RRE.#

M

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 pela intrincada relação entre suas di&erentes dimens;es e pelo peso distinto 5ue cada uma

delas guarda em di&erentes culturas#

Assim como no caso do movimento 5ue envolveu a &ormulação da epressão

Idesenvolvimento sustent=velJ3 tamb(m na vertente do Idesenvolvimento 2umanoJ o aspecto

de cr!tica aos rumos do progresso teve mais alcance do 5ue as iniciativas voltadas para a

&ormulação de agendas positivas abrangentes# @ais 5ue isso3 muito pouco 2= de di=logo entre

as duas vertentes3 tanto em termos institucionais F o 5ue se epressa nas estrat(gias

di&erenciadas de organismos internacionais como o Programa das Daç;es Unidas para o

"esenvolvimento e o Programa das Daç;es Unidas para o @eio-Ambiente -3 5uanto em

termos cient!&icos - nada 2= nos documentos da Comissão rundtland sobre as 5uest;es

sociais3 assim como nada 2= em Amart:a Sen sobre a dimensão ambiental6;# Ainda assim3 em

 boa medida graças ao campo aberto por estas duas &ormulaç;es3 2ouve um deslocamento do

campo gravitacional no le5ue de preocupaç;es 5ue perpassa a de&inição de pol!ticas e

instrumentos de desenvolvimento3 de &orma 5ue3 se não 2= consenso sobre as estrat(gias de

conservação ambiental ou de diminuição da desigualdade e da pobre7a3 tampouco ( poss!vel

engendrar 5ual5uer iniciativa sem ter estes elementos em conta#

Por certo as id(ias de Idesenvolvimento sustent=velJ e Idesenvolvimento 2umanoJ não

esgotam as elaboraç;es 5ue se seguiram 8 associação entre crescimento3 desenvolvimento3

 progresso# )ntre as demais teorias e discursos um <ltimo campo de posiç;es3 ao mesmo

tempo pol!ticas e cient!&icas3 precisa ser lembrado% o dos c2amados pós-desenvolvimentistas#

Para este grupo o desenvolvimento não passa de uma invenção do mundo ocidental para

dirigir as epectativas e os rumos das sociedades mais pobres# nesse sentido 5ue um de

seus maiores epoentes3 Gilbert 9ist +/RR1. o de&ine como uma Icrença ocidentalJ3 e 5ue

9a2nema +1M. &ala em Iilusão do mundo modernoJ6># 

@as ( importante distinguir a crença de 9ist do mito de ,urtado +1M.3 ou a ilusão de

9a2nema do uso da mesma palavra em Giovanni Arrig2i +1M.# )n5uanto para 9ist a crença

( algo desprovido de positividade3 mero engano dirigido por um discurso emitido de uma

 posição dominante3 em ,urtado o mito ( tratado como algo bem mais so&isticado3 compat!vel

0  verdade 5ue Amart:a Sen publicou em /RR/ um artigo devotado 8 5uestão ambiental e o &uturo da 2umanidade#

@as não se pode3 nem de longe3 vislumbrar 5ual5uer incorporação desta dimensão ou vari=vel a seu es5uema teórico#0E $utro nome importante entre os pós-desenvolvimentistas ( Wol&gang Sac2s +/RRR.#

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com a tradição das ciências sociais de buscar nele o conte<do sistemati7ador de uma

concepção de mundo3 de um todo coeso de valores 5ue orientam o comportamento e a ação#

)n5uanto em 9a2nema a ilusão ( igualmente desvio do real3 em Arrig2i ela ( a promessa 5ue

só pode ser alcançada por uns poucos3 os 5ue conseguem cru7ar o &osso 5ue separa o centro

da peri&eria% não ( realidade sem lugar3 ( lugar e realidade para poucos6-#

$ principal limite do discurso pós-desenvolvimentista est= no &ato de 5ue ele pode at(

&uncionar como um ra7o=vel elemento de cr!tica social ao papel das naç;es do n<cleo central

do capitalismo na disseminação de uma certa visão de como alcançar a mel2oria das

condiç;es econOmicas e sociais3 mas nada di7 sobre processos de desenvolvimento como

resultado da evolução 2istórica de longo pra7o# Como decorrência3 esta perspectiva

simplesmente não se aplica aos per!odos anteriores ao dom!nio dos grandes pa!ses capitalistas

do mundo moderno#

$ 5ue se tem3 portanto3 ( uma multiplicidade de &ormulaç;es teóricas3 umas mais3 outras

menos consistentes3 tentando ora evidenciar aspectos secundari7ados nos processos e nas

teorias do desenvolvimento3 ora enaltecer determinados n!veis de an=lise antes despre7ados#

"i&erente da5uilo 5ue ocorreu no Pós-guerra3 o &inal do s(culo ZZ assistiu a uma eplosão de

signi&icaç;es sobre a id(ia de desenvolvimento3 onde 8 crise e 8 cr!tica social 5ue se &i7eram

em torno dela3 se seguiram tanto uma enorme polissemia3 5uanto tentativas de

reconceituação# $ 5ue marca esse novo momento são dois aspectos% a id(ia de

desenvolvimento perde a adesão total e natural 8 id(ia de crescimento3 e mudam os

 portadores sociais das id(ias sobre o desenvolvimento# )la deia de ser um monopólio da

ciência e vai passar a &re5entar os discursos de militantes de movimentos sociais3 de

organi7aç;es não governamentais3 de grupamentos pol!ticos diversos#

)mbora coeistam nos tempos atuais a cr!tica social3 a polissemia3 a eplicação cient!&ica3

não 2= d<vida de 5ue são as perspectivas da cr!tica social e da ciência 5ue travam o maior

combate pois se polari7am3 en5uanto os polissêmicos bóiam ao sabor das cr!ticas e das

evidências alcançadas pelos outros dois pólos% para uns3 o est=gio atual da 2umanidade

demonstra 5ue evolução3 progresso e desenvolvimento são v=rias de&iniç;es do mesmo mito

0H

 A obra de Arrig2i3 lançada no rasil como A ilusão do desenvolvimento3 tem um t!tulo bem di&erente no originalinglês% or:ers of the 9orld at centur2;s end"

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e apontam seus e&eitos delet(rios para as populaç;es do ITerceiro @undoJV para outros3 trata-

se de encontrar as determinaç;es capa7es de eplicar como as sociedades se desenvolvem e3

ao entendê-lo3 pensar os camin2os para 5ue elas o &açam de maneira a e5uacionar os

elementos levantados pela cr!tica social#

Nuais são as principais conclus;es 5ue esta breve gênese da id(ia de desenvolvimento

 permite &ormular Q "e uma maneira tópica3 pode-se sistemati7ar em algumas a&irmaç;es as

 principais implicaç;es lógicas e teóricas# Primeiro3 deve ter &icado claro 5ue apesar dos

 problemas relacionados aos rumos tomados pela id(ia de desenvolvimento3 sobretudo no

 per!odo =ureo do capitalismo no meio do s(culo passado3 não ( poss!vel prescindir da

necessidade de se pensar a evolução das sociedades 2umanas# A dissociação entre

desenvolvimento e evolução (3 como &oi visto3 algo 5ue corresponde a um 2iato na longa

tra6etória da id(ia# Desse sentido3 abrem-se duas constataç;es importantes% desenvolvimento

 precisa ser compreendido não só como est=gios ou etapas alcançados ou alcanç=veis pelas

sociedades 2umanas3 mas como o processo mesmo pelo 5ual essa evolução se &a7V al(m

disso3 essa evolução ( algo 5ue remete sempre a uma tra6etória de longa duração# Como disse

)lias +1MR11% 1.3 o abandono dos problemas relativos 8s din4micas de longo pra7o em

 bene&!cio de problemas espec!&icos e tidos como mais atuais &oi resultado de

constrangimentos bem espec!&icos e t!picos do s(culo ZZ3 como resultado I on reBeta le bon

 grain avec lCivraieJ# Talve7 a principal constatação se6a3 pois3 a necessidade de restabelecer

os elos com esta tradição3 rompidos desde os cl=ssicos# Segundo3 deve ter &icado claro

tamb(m 5ue nesta evolução contam di&erentes dimens;es% a dimensão do crescimento

econOmico3 a dimensão das 5uest;es sociais3 a dimensão ambiental3 para &icar apenas nas três

mais evidentes e mais en&ati7adas# )studos recentes têm procurado mapear a evolução de

indicadores relativos a cada uma delas3 e neste trabal2o mesmo serão discutidas pes5uisas e

estudos onde este tipo de realidade ( o ob6eto em 5uestão# @as o 5ue eplica sua ocorrência Q

Para compreender a evolução e desenvolvimento das sociedades 2umanas ( preciso

compreender seus mecanismos de estabilidade e mudança e como estas di&erentes dimens;es

interagem# por isso 5ue3 uma ve7 elucidados alguns aspectos &undamentais relativos 8

tra6etória da id(ia de desenvolvimento e3 principalmente3 uma ve7 evidenciadas as inst4ncias

emp!ricas &undamentais 5ue precisam ser e5uacionadas por teorias 5ue se pretendam

elucidativas sobre estes processos3 pode-se agora analisar especi&icamente as principais

vertentes teóricas dedicadas a tais 5uest;es#ER

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53+ 4 &ua# "eoria

Se as bases cient!&icas do desenvolvimento precisam dar conta da eplicação dos &enOmenos

relativos 8 evolução de longo pra7o das sociedades 2umanas3 da estrutura e da mudança

nestas sociedades3 e se esta evolução comporta uma multiplicidade de dimens;es3 então

obviamente o balanço das teorias dispon!veis precisa se apoiar 6ustamente sobre a capacidade

das teorias em dar conta destes caracteres &undamentais# Como se sabe3 todavia3 a

especiali7ação dos campos disciplinares &e7 com 5ue3 para cada uma das dimens;es

destacadas F a dimensão do crescimento econOmico3 a dimensão social3 a dimensão ambiental

 F3 se &ormassem corpos teóricos espec!&icos3 com pouco ou nen2um di=logo entre si# )m &ace

desta dupla constatação F as dimens;es &undamentais a serem e5uacionadas e a ausência de

teorias 5ue tentem abrangê-las em seu con6unto F o percurso a ser seguido nas próimas

 p=ginas consiste em tomar separadamente teorias dedicadas a cada uma delas# Serão

apresentadas e analisadas algumas obras eemplares em cada uma# >nteressa a5ui3

 particularmente3 destacar o problema da mudança nas din4micas de longo pra7o e o potencial

de di=logo e complementaridade entre as teorias espec!&icas de cada uma das três dimens;es#

53+35 ' Desen)o#)imen"o e resimen"o eonmio

Um bom ponto-de-partida para o debate teórico sobre desenvolvimento e crescimento

econOmico ( o apan2ado das teorias consagradas 8 eplicação da mudança de longo pra7o em

economia3 &ormulada por Anderson +11.# )stão ali condensadas seis vertentes eplicativas

do crescimento econOmico# Curiosamente o autor adverte logo na introdução 5ue dentre estas

seis correntes estão eclu!das a teoria marista e a Keberiana3 segundo ele por 6= terem sido

su&icientemente eploradas em outros trabal2os# A ausência de um debate mais sistem=tico3

 principalmente com a segunda destas vertentes3 se mostrar=3 ali=s3 uma importante lacuna a

ser preenc2ida#

A primeira das perspectivas tomadas por Anderson ( a5uela 5ue identi&ica nos mercados o

elemento-c2ave no estabelecimento das din4micas de longo-pra7o3 como nos estudos de

Smit2 e ?icLs# @esmo recon2ecendo seu vigor3 o autor destaca com mais ên&ase seus limites3

marcadamente o &ato de ser uma teoria capa7 de iluminar apenas um momento 2istóricoE1

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espec!&ico3 a5uele em 5ue a livre-troca passa a ser predominante3 sendo incapa73 portanto3 de

eplicar o &enOmeno do crescimento pr(-moderno3 igualmente importante# >sto (3 o modelo só

cabe para a an=lise de mercados per&eitos3 os &atores 2istóricos simplesmente não pesam na

an=lise# A segunda vertente eplicativa re<ne os estudos em 5ue a população ( a vari=vel

c2ave3 e 5ue têm como principais epoentes3 em correntes distintas3 @alt2us e )ster oserup#

)m ambos o ponto &orte da eplicação est= no tratamento da vari=vel populacional3 a 5ual

 permite eplicar tanto din4micas recentes como o passado remoto# )m @alt2us3

especi&icamente3 sua teoria ( constru!da totalmente em cima da pressão populacional sobre

recursos limitados# Al(m do problema do pessimismo in e3tremis embutido na sua teoria3

outra restrição 5ue a&eta seu alcance eplicativo ( a ausência de evidências 5ue con&irmem

suas previs;es# $ argumento central de oserup ( simplesmente o inverso% 5uando 2= pressão

demogr=&ica 2= uma igual pressão pela introdução de inovaç;es3 &a7endo crescer assim a

 produção de alimentos e permitindo a epansão da população# )m oserup o problema (

 6ustamente a ausência de uma eplicação para as ra7;es 5ue permitam eplicar o crescimento

 populacional 5ue est= na origem da mudança tecnológica capa7 de sustentar sua epansão3

recaindo em uma eplicação tautológica# Uma terceira vertente eplorada por Anderson (

a5uela 5ue destaca a tecnologia como vari=vel &undamental3 e 5ue tem como um de seus

grandes epoentes o nome de Sc2umpetter# $ ponto &orte das eplicaç;es apoiadas em

tecnologia reside em 5ue3 nelas3 se recon2ece 5ue a capacidade de criar e operar arte&atos

tecnológicos ( o 5ue di&erencia o 2omem dos outros animais# @as tecnologia só &a7 sentido

5uando acoplada a outra vari=vel 5ue permita substantivar suas causaç;es ou seus e&eitos

 para grupos 2umanos determinados# A 5uarta vertente re<ne os estudos baseados na vari=vel

ambiental# A5ui a vantagem est= na abertura 5ue ( propiciada para se lidar com um universo

emp!rico mais abrangente 5ue as trocas entre agentes3 incorporando a nature7a no rol de

elementos pass!veis de an=lise# Por(m3 os componentes ambientais aparecem mais como

 possibilidades para o estabelecimento de din4micas econOmicas do 5ue propriamente como

determinantes# A 5uinta vertente se apóia na eploração como vari=vel c2ave3 tendo os

estudos de Wallerstein como grande epoente# Desse caso3 um aspecto importante ( a tomada

do con&lito F de um tipo espec!&ico de con&lito3 a eploração F como estruturante nas

din4micas econOmicas e3 com isso3 a 5uebra da visão linear de evolução das sociedades

2umanas# Para Anderson3 contudo3 a abertura 5ue esta teoria tra7 para a eplicação de

realidades singulares restringe seu poder eplicativo empurrando-a para uma retórica

descritiva# Talve7 isso val2a para os estudos apoiados na id(ia de eploração3 mas não paraE/

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a5ueles estruturados em torno da id(ia de con&lito# A seta e <ltima vertente ( a5uela 5ue

aparece no balanço de Anderson como a mais completa para a an=lise da mudança econOmica

de longo pra7o% a eplicação institucional# Deste caso a 5uestão relevante não ( saber por 5ue

uma sociedade ou nação se desenvolve e outra não3 mas sim por5ue algumas continuam

crescendo en5uanto outras não# A resposta institucional ( 5ue ali se criaram as instituiç;es

+regras do 6ogo. 5ue motivaram a continuidade do progresso diminuindo os e&eitos da ação

dos rent*see:ings# A eplicação institucional parece ser a mais completa por5ue ela permite

um di=logo 5ue absorve3 sem negar3 os elementos eplicativos de outras teorias% con&litos

geram instituiç;es3 5ue &ormam sistemas de incentivos 5ue dão origem a inovaç;es3 5ue por

sua ve7 ense6am novos con&litos e assim sucessivamente# #

Partindo do balanço de Anderson3 conv(m então uma an=lise mais detida da eplicação

institucional# ) para isso3 nada mel2or do 5ue &ocali7ar os aspectos principais da obra de seu

maior epoente% "ouglass Dort2#

O :ensamen"o de Doug#ass Nor"<

A tra6etória do pensamento de "ouglass Dort2 pode ser sinteti7ada no movimento 5ue

envolve suas 5uatro principais obras# Da primeira3 1he rise of the 9estern 9orld 3 de 1M03

 Dort2 procura compreender a ascensão do mundo ocidental valendo-se para isto das

&erramentas do mainstream  econOmico# Da segunda3 de 113 Structure and change in

economic histor23 percebe-se 6= desde a introdução uma cr!tica 8 economia neocl=ssica e uma

identi&icação de seus limites# Da terceira obra3  #nstitutions, institutional change and

economic  performance3 de 1R3 Dort2 vai ainda mais longe e tenta &ormular a sua teoria3

 buscando3 pois3 ultrapassar os limites apontados no livro anterior# Da 5uarta e mais recente

obra3 nderstanding the process of economic change3 2= novamente uma cr!tica aos limites

da economia neocl=ssica e o an<ncio de uma tentativa de completar o movimento &eito nas

obras anteriores3 demonstrando como as di&erentes sociedades constroem as in&ra-estruturas

institucionais necess=rias 8 boa per&ormance# A pretensão de Dort23 anunciada numa das

 passagens em 5ue &ormula os desa&ios a serem en&rentados3 (3 portanto3 construir uma

&erramenta anal!tica capa7 de teori7ar a estrutura das economias e dar conta tanto da

estabilidade como da mudança nestas estruturas0M#

0M C&# Dort2 X T2omas +1M0.V Dort2 +113 1R3 /RRE.#

E0

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Contudo3 ( bom advertir3 o sucesso nesse intento do autor não ( consensual# Ao menos duas

leituras de Dort2 são poss!veis# Uma primeira3 como em Abramova: +/RR1.3 ressalta os

elementos de ruptura3 ou no m!nimo de tensão3 com a economia neocl=ssica% a5ui são

destacadas a introdução da 2istória como parte &undamental do m(todo3 a incorporação dos

atritos e con&litos sociais como dimens;es eplicativas da per&ormance econOmica3 a indução

como procedimento de an=lise# Uma segunda3 como em 9omeiro +/RRR.3 d= mais ên&ase 8s

 permanências% apesar da tentativa de tra7er 2istória e con&litos para dentro do modelo3 ainda

seriam os preços relativos o 5ue determina a mudança# $ próprio Dort2 contribui para a

con&usão3 8 medida 5ue em certos momentos en&ati7a a ruptura3 en5uanto em outros aponta

 para o potencial desestruturador 5ue a negação do homo oeconomicus  representaria para a

ciência econOmica0#

Como tal ambigidade ( encamin2ada na obra de Dort2 Q $ ob6eto de suas re&le;es ( a

2istória econOmica3 destacadamente dois momentos singulares% a primeira revolução

econOmica da 2umanidade3 representada pelo surgimento da agricultura3 aproimadamente

de7 mil anos atr=sV e a segunda revolução econOmica3 representada pela associação entre

ciência e processo produtivo nos &ins do s(culo Z>Z# Por revolução econOmica Dort2 entende

não só a mudança no potencial produtivo3 tornada poss!vel como conse5ência da mudança

no esto5ue de con2ecimento3 como as condiç;es de reali7ação deste potencial produtivo# Para

levar adiante sua empreitada3 Dort2 considera ser necess=rio combinar elementos &ornecidos

 pelas teorias da demogra&ia3 do esto5ue de con2ecimento +tecnologia.3 e das instituiç;es#

Após um r=pido balanço dos ac<mulos e insu&iciências nestes três terrenos3 imposs!vel de ser

reprodu7ido a5ui3 o autor &irma seus alicerces numa teoria dos direitos de propriedade3 numa

teoria do )stado3 e numa teoria da ideologia# Da construção deste 5uadro anal!tico3 as

in&luências de Dort2 se &a7em presentes atrav(s de elementos da escola neocl=ssica3 do

marismo3 e do cognitivismo0#

>niciando então pela 9evolução do Deol!tico3 a eplanação em Dort2 começa com o &ator

demogr=&ico# @as di&erente das teorias demogr=&icas consagradas3 5ue vão ora acentuar o

car=ter negativo da pressão populacional sobre recursos +como em @alt2us.3 ora o car=ter

0

 *elasco e Cru7 +/RR/. tra7 v=rios trec2os de obras e de entrevistas de Dort2 onde est= ambigidade est= presente#0 C&# especi&icamente Dort2 +11.#

E

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 positivo +como em oserup.3 na economia institucional a pressão populacional vai ser

tomada como vari=vel dependente da dimensão institucional# >sto (3 en5uanto em alguns

lugares a pressão populacional levou a um esgotamento da utili7ação dos recursos

dispon!veis3 com impactos negativos para os grupos 2umanos em 5uestão3 em outras

situaç;es a mesma pressão levou a encamin2amentos di&erentes# Dum desses

encamin2amentos3 o estabelecimento de direitos de propriedade sobre um dado território

levou a um aumento da taa de retorno pela a5uisição de con2ecimentos3 tradu7indo-se num

incentivo 8 cont!nua eploração e ao crescente dom!nio sobre tais recursos# Do modelo3

direitos de propriedade mostram-se &undamentais não só para ecluir outras populaç;es e

grupos 2umanos da posse e uso destes determinados recursos3 mas para divisar regras 5ue

impeçam ou limitem a intensidade de sua eploraçãoR# Sempre pensando em termos de ondas

longas da evolução 2umana3 gradativamente estas condiç;es &ormaram a base para uma

crescente especiali7ação e divisão do trabal2o# Com isso3 al(m do enorme salto no potencial

 produtivo3 teve origem tamb(m uma escalada igualmente crescente dos custos de transação3

com um correspondente re&orço dos direitos de propriedade e do )stado# A atuação do )stado

em seus primórdios3 diga-se de passagem3 era dada pela &isiologia dos recursos em associação

com a tecnologia militar dispon!vel3 in&luenciando assim a per&ormance econOmica não só

atrav(s da redução dos custos de transação3 mas tamb(m da epansão de mercados# )m

 Dort23 portanto3 não importa onde começou a agricultura3 mas como e por 5ue meios ela se

tornou uma atividade &undamental3 com impactos de&initivos para o desenvolvimento da

2umanidade1# ) nisso3 a id(ia central est=3 repita-se3 de um lado3 no estabelecimento de

direitos de propriedade3 e de outro3 em toda a din4mica da crescente especiali7ação e divisão

social do trabal2o 5ue ele gera3 em con&lito com o aumento de custos de transação

correspondente#

$s milênios 5ue se seguem e 5ue separam esta primeira revolução econOmica da segunda3

mais próima de nossos dias3 são palco de eemplos con2ecidos de ascensão e decl!nio de

grandes civili7aç;es# Deste per!odo3 este ( um dos desta5ues de Dort23 2ouve3 sim3

crescimento econOmico3 mas na (poca antiga3 sempre como decorrência da pressão

R *ale lembrar 5ue a id(ia de direitos de propriedade3 em Dort23 ( bem mais ampla do 5ue sua concepção usualmoderna# Trata-se3 antes3 de uma de&inição 5ue privilegia 5uais5uer &ormas 5ue garantam a um determinado indiv!duoou agrupamento 2umano a eploração por sobre determinados bens3 independente do estatuto pelo 5ual isso aconteça F 6ur!dico3 pela &orça3 ou baseado em tradiç;es e valores culturais#1 Para uma ecelente an=lise do surgimento da agricultura e de seus posteriores desenvolvimentos at( os dias atuais3

consultar @a7o:er X 9oudart +1M/RR/.# Sobre a relação entre agricultura3 crescimento e meio-ambiente3 tamb(msegundo uma perspectiva de longo pra7o3 consultar *eiga +1M.#

EE

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demogr=&ica# A inovação em sua an=lise est= no &ato de 5ue ele eplica este movimento

destacando 5ue a organi7ação econOmica e&iciente ( a5uela 5ue consegue criar os arran6os

institucionais capa7es de garantir% a. direitos de propriedade como incentivos aos gan2os de

especiali7açãoV b. a redução dos custos de transaçãoV c. uma convergência das taas privadas

e sociais de retorno/# Nuando estas bases são abaladas tem in!cio um movimento de

desestruturação 5ue torna estas sociedades mais e mais &r=geis3 at( 5ue encontrem o colapso e

sua superação3 não raro pela via da submissão a outra civili7ação ascendente# Assim &oi com

os &en!cios3 os eg!pcios3 os romanos# ) ( assim 5ue Dort2 mostra como muitas ve7es a

opulência e a ri5ue7a de uma dada sociedade vem acompan2ada de maior estrati&icação3 a

5ual3 com a passagem do tempo3 pode dar margem a um esgarçamento do tecido social3 a

 ponto de &a7er pender a balança das taas privadas e sociais de retorno3 at( sua derrocada# A

altern4ncia de civili7aç;es (3 assim3 um longo movimento 5ue acompan2a a crescente

especiali7ação e divisão do trabal2o3 com o correspondente aumento tendencial nos custos de

transação3 5ue por sua ve7 leva 8 necessidade de adaptação das organi7aç;es econOmicas# A

eplanação 5ue começara com mudança populacional passa3 assim3 a se desenvolver sobre o

interc4mbio entre oportunidades de mudanças econOmicas e re5uisitos &iscais do )stado#

Uma nova mudança 5ualitativa no potencial produtivo e nas condiç;es de sua reali7ação vai

acontecer com a associação entre ciência e processo produtivo 6= na (poca moderna# Como

ela ocorre e por 5ue tem in!cio ali3 na >nglaterra Q Por5ue ali3 sempre segundo Dort23 a

ameaça de crise malt2usiana 5ue atingiu as demais naç;es na5uele determinado momento

2istórico3 somada ao acirramento das disputas comerciais intensas no per!odo3 encontraram

uma determinada estrutura de direitos de propriedade3 criada anteriormente3 a 5ual &e7 redu7ir

custos de transação e3 igualmente3 &e7 crescer as taas privadas de retorno em invenção e

inovação3 &avorecendo assim a mudança tecnológica associada 8 revolução industrial e

instituindo uma mudança 5ualitativa re&erente tanto ao potencial produtivo como 8s

condiç;es de sua reali7ação#

)sta nova condição3 por sua ve73 não eliminou3 mas sim acentuou ainda mais o movimento

sempre crescente de especiali7ação e custos de transação# Deste longo movimento 2istórico

/ Tamb(m o conceito de instituiç;es em Dort2 nada tem em comum com uma concepção &ormal3 mais próima deorgani7aç;es# A de&inição simples de instituiç;es como Iregras do 6ogoJ mostra como elas podem se instituir e operar

se6a em termos &ormais +como leis e dispositivos 6ur!dico-pol!ticos.3 se6a em termos in&ormais +como valores etradiç;es.#

EH

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de mudança incremental3 5ue atinge um ponto m=imo na segunda revolução econOmica3 as

inst4ncias emp!ricas &undamentais com as 5uais Dort2 opera são população3 tecnologia e

ideologia3 cu6a din4mica se materiali7a sempre em instituiç;es pol!ticas e econOmicas# Para

completar o 5uadro3 ( importante lembrar 5ue o tratamento de IideologiaJ aparece sempre no

registro das Iestruturas mentais partil2adasJ3 em di=logo com o cognitivismo e como re&leo

das estruturas de incentivos e constrangimentos sociais3 nos 5uais o )stado desempen2a um

 papel importante0#

)n5uanto este desenvolvimento de longo pra7o ( a tOnica do livro Structure and change in

economic histor23 ( em  #nstitutions, institutional change and economic performance  5ue

 Dort2 &ormali7a mais seu entendimento de mudança# Ali ele lança mão do seu conceito de

I path dependence+ para eplicar como a &onte da mudança incremental ( a aprendi7agem# A

id(ia central ( 5ue a dependência de camin2o vem de mecanismos de retornos crescentes 5ue

re&orçam a direção uma ve7 adotada3 da! as resistências 8 mudança institucional# As

Ialterations in the path+3 por sua ve73 vêm da não antecipação de escol2as3 e&eitos eternos3 e

mesmo de &orças eógenas ao 5uadro anal!tico# )sta ( a din4mica 5ue molda a matri7

institucional de cada sociedade# @atri7 institucional entendida como a rede de

constrangimentos in&ormais e regras &ormais interconectadas 5ue se tradu7em em sistemas

 pol!ticos3 econOmicos e 6ur!dicos3 os 5uais con&ormam e estabelecem a estrutura de incentivos

5ue3 por sua ve73 em Dort23 são o &ator determinante a sublin2ar na per&ormance econOmica#

)m  0earning, institutions and economic performance3 artigo 5ue sinteti7a algumas das

 principais id(ias de seu mais recente livro3 Dort2 volta a tomar a cr!tica 8 inade5uação da

economia neocl=ssica como ponto-de-partidaE% o pressuposto da escol2a racional não teria

&undamento emp!rico nem eplicativo# Deste trabal2o Dort2 aborda o aprendi7ado en5uanto

condição para compreender a mudança% como o aprendi7ado individual se trans&orma em

aprendi7ado coletivo e como isto se relaciona com a emergência das instituiç;es#

 Dota-se3 pois3 o 5uão complea3 vigorosa e polêmica ( a eplicação de Dort2# asta sublin2ar

a5ui apenas alguns dos aspectos ns 5uais ela inova a eplicação da per&ormance econOmica%

a. embora en&ati7e os direitos de propriedade3 Dort2 desenvolve uma argumentação oposta ao

0 C&# Dort2 +11.#

 C&# Dort2 +1R.#E C&# @ant7avinos3 Dort23 S2ari5 +/RR0.#EM

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laisse&*faire3 5uando destaca o papel &undamental da regulamentação e do )stado na

organi7ação dos mercados3 e não o contr=rioV b. em ve7 de imaginar a 2istória da

2umanidade como sendo um esplendor de crescimento e ri5ue7a somente nos <ltimos dois

s(culos3 Dort2 mostra como 2ouve per!odos de crescimento intensivo mesmo nos primórdios

da Antigidade3 e3 mais 5ue isso3 5ue a mudança tra7ida com a associação entre ciência e

 processo produtivo ( resultado incremental desta longa evoluçãoV c. dadas as caracter!sticas

desta segunda revolução econOmica3 nada leva a crer 5ue a 2umanidade estaria vivendo um

&inal dos tempos inaugurados por ela3 e sim o contr=rio% em termos de mudança de longo

 pra7o3 os dias atuais F mel2or di7endo3 os s(culos atuais - seriam apenas uma esp(cie de

 primeiros tempos de um novo e longo per!odoV d. especi&icamente sobre mudança3 sua &onte

 pode ser eógena como3 por eemplo3 pela via pol!tica3 mas3 para se sustentar3 ela ter= sempre

5ue tocar na estrutura de incentivos e constrangimentos diminuindo custos de transação e

&avorecendo o crescimento e a convergência das taas privadas e sociais de retorno#

"o lado das cr!ticas3 a principal 6= &oi adiantada par=gra&os atr=s3 e reside na identi&icação de

uma ruptura apenas parcial de seu pensamento em relação 8 economia neocl=ssica3 na 5ual

ele tem origemH# @as 2=3 ainda3 duas outras cr!ticas 5ue l2e poderiam ser endereçadas# A

 primeira delas est= no &ato de 5ue3 no limite3 a eplicação 5ue sua teoria &ornece tamb(m (

tautológica% embora ela descreva com consistência como ocorreram as mudanças nas duas

revoluç;es econOmicas3 o argumento para o por5uê delas terem ocorrido 5uando e onde

aconteceram ( &r=gil% elas teriam ocorrido ali3 por5ue ali estavam reunidas a5uelas

determinadas condiç;es# Sobre isto3 em de&esa de Dort2 se poderia argumentar 5ue o

 problema3 na verdade3 ( inerente 8 inovação 5ue seu pensamento prop;e% em ve7 de um

modelo dedutivo aplic=vel a 5ual5uer realidade3 ( preciso recorrer aos mecanismos da

indução para poder compreender a singularidade dos &enOmenos em 5uestão e estruturar esta

compreensão na identi&icação de inst4ncias emp!ricas &undamentais e numa e5uação coerente

 para seu entendimento# A outra cr!tica di7 respeito ao lugar da ideologia em sua teoria#

População3 tecnologia e ideologia e sua tradução em instituiç;es pol!ticas e econOmicas são

inst4ncias &undamentais do modelo proposto# Contudo3 sempre 5ue a ideologia +e os con&litos

5ue ela envolve. aparece na eplicação de Dort23 tem-se a impressão de um tratamento

menos incorporado 8 e5uação do 5ue as outras duas inst4ncias# >sto (3 a ideologia serve para

H

 C&# 9omeiro +/RRR.# *er tamb(m a cr!tica de @acedo +/RR1. 8 concepção de 2istória em "ouglass Dort2# Sobre ouso da noção de path dependence segundo uma outra tradição3 da ciência pol!tica3 ver Pierson +/RR.#

E

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eplicar a5uilo 5ue aparece como 5uase imponder=vel nas suas an=lisesM# Um dos problemas

5ue talve7 epli5ue este impasse est= na concepção de 2omem 5ue Dort2 preserva da

economia neocl=ssica3 compat!vel com o individualismo metodológico# >deologia e con&litos

aparecerão sempre no registro dos incentivos e constrangimentos 8 maimi7ação dos gan2os

individuais# A5ui3 o di=logo do autor não se d= com as teorias sociológicas do con&lito e das

ideologias3 mas com as teorias psicológicas# Algo compreens!vel 5uando se lembra da

tradição das ciências econOmicas americanas3 mais próimas do cognitivismo e distantes das

ciências dedicadas 8s estruturas sociais#

)ste <ltimo aspecto não ( mero detal2e3 por5ue a concepção de 2omem da ciência econOmica

a aproima da psicologia comportamental ao mesmo tempo e proporção 5ue a distancia da

sociologia# >sto &a7 com 5ue se crie uma di&iculdade em incorporar e&etivamente as estruturas

sociais no modelo e3 tamb(m3 um problema para ampliar a eplicação econOmica para al(m

da es&era das trocas3 incorporando o universo dos bens naturais# Do modelo de Dort23 a

5uestão ambiental ( tratada no 4mbito do problema demogr=&ico3 portanto3 dentro do 5ue se

 poderia c2amar de paradigma da escasse7% ambiente ( tratado como sinOnimo de recursos

naturais e sua import4ncia eplicativa est= na direta relação com a pressão demogr=&ica por

sua utili7ação# assim 5uando ele eplica os colapsos das civili7aç;es antigas3 como

esgotamento# assim 5uando ele eplica a pressão pela modi&icação dos direitos de

 propriedade sobre o uso da terra3 no surgimento do capitalismo#

Uma das decorrências lógicas destes limites acima esboçados ( a necessidade de se reportar

8s estruturas sociais sob uma maneira engen2osa3 similar a Weber3 onde a eplicação não est=

nas estruturas3 mas onde3 ao mesmo tempo3 ( preciso incorporar as estruturas para entender o

sentido das aç;es dos indiv!duos e os con&litos a isso inerentes# >sto (3 a ação pode se

sobrepor 8 estrutura3 mas não se desvencil2ar dela# Por5ue para Weber as id(ias não eistem

isoladas de sua articulação com interesses# Uma &amosa passagem sua destaca 5ue Inão as

idéias, mas os interesses materiais e ideais8 é que dominam diretamente a aFão dos

humanos" . mais das ve&es, as Gimagens do mundoC criadas pelas GidéiasC determinaram,

 feito manobristas de linha de trem, os trilhos nos quais a aFão se vH empurrada pela

M Uma cr!tica 5ue atinge tamb(m este aspecto3 mas elaborada em uma direção um pouco di&erente pode ser

encontrada em *elasco Cru7 +/RR/.# Para Abramova: +/RRE.3 a relação entre ideologias e estrutura social vai ser &eita por interm(dio da psicologia3 como estruturas mentais partil2adas3 para usar a epressão de Dort2#

E

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dinImica dos interessesJ# ) interesses têm portadores3 assim como as id(ias# A5ui entram

dois conceitos não &ormali7ados do pensamento de Weber 5ue a6udam a entender estes neos%

 portadores e a&inidades eletivas# Atrav(s destas duas epress;es3 presentes v=rias ve7es em

sua obra3 Weber destaca como as id(ias se estabelecem em conson4ncia com determinados

grupos ou estruturas sociais% como a (tica das religi;es orientais guarda estreita

correspondência com as caracter!sticas da estrati&icação socialV como as cidades3 e não o

campo3 &oram o terreno prop!cio de epansão da religião sobre a magiaV e como3 &inalmente3

o cristianismo e3 depois3 o protestantismo nascem inicialmente nas camadas in&eriores e

m(dias da estrutura social de seu tempo# ,enOmenos 5ue3 en&im3 não poderiam ter ocorrido

em outra &ormação social 5ue não comportasse tais elementos3 com os 5uais eles estavam em

direta a&inidade# &=cil notar3 pois3 a grande complementaridade 5ue eiste entre a obra de

Weber e de Dort2# ) ( curioso perceber como3 não obstante este di=logo potencial3 as

menç;es ao sociólogo alemão na obra de Dort2 são tão esparsas e ins!pidas3 aspecto 5ue ser=

retomado no balanço &inal desta seçãoER#

53+3+ ' Desen)o#)imen"o e a 0ues"ão soia#

)mbora boa parte da cr!tica social 8 id(ia de desenvolvimento este6a &ocali7ada em sua

redução ao crescimento econOmico3 não são muitas as teorias consistentes 5ue procuraram

compensar esta de&iciência tra7endo a 5uestão social para o centro dos modelos eplicativos#

 Da maior parte das ve7es os discursos cient!&icos deram origem a de&esas de um igualitarismo

entre os indiv!duos sem3 no entanto3 lograr a edi&icação de uma verdadeira teoria onde esse

dese6o &osse ao mesmo tempo um pressuposto (tico e um elemento operativo na eplicação

da evolução do real# )mbora não se6a eatamente um igualitarista3 uma eceção 2onrosa (

'o2n 9aKls e sua 1eoria da ?ustiFa3 atrav(s da 5ual ele sustenta a necessidade de se

estabelecer m!nimos de igualdade de renda 5ue deveriam ser garantidos a todos os indiv!duos

como condição para 5ue estes3 por si próprios3 pudessem construir sua igualdade perante os

 C&# Weber +1M.# )sta id(ia3 de Ia&inidades eletivasJ e de IportadoresJ como conceitos não sistemati7ados no pensamento Keberiano( tomada emprestada de AntOnio ,l=vio Pierucci3 5ue a cogitou durante seu curso de Teoria Social na USP# Sobre o primeiro destes conceitos o autor tece alguns coment=rios no seu livro . desencantamento do mundo +Pierucci3 /RR0.ER Por eemplo3 Dort2 critica Weber e tenta mostrar como algumas das id(ias 5ue ele associa 8 (tica protestante teriamuma origem mais antiga3 relacionada ao 6uda!smo e ao cristianismo# A leitura do con6unto da obra de Weber3 noentanto3 permite ver como ele estava atento a isso3 6= 5ue a associação entre (tica protestante e esp!rito do capitalismo( uma esp(cie de corol=rio de um longu!ssimo processo de desencantamento e racionali7ação do mundo# $ 5ue prova

como as convergências são3 no m!nimo3 tão epressivas 5uanto as di&erenças# *er a respeito Dort2 +/RRE.3 Weber+1.#

HR

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outros nos demais dom!nios da vida social F uma igualdade de patamares m!nimos de renda

como garantia de uma igualdade de oportunidades sociais#

$utro nome 5ue se dedicou a &ormular teorias e an=lises onde a dimensão social3 por assim

di7er3 est= no centro das preocupaç;es &oi Amart:a Sen# Como se sabe3 Sen se consagrou por

seus estudos sobre a &ome em pa!ses como [ndia3 C2ina3 anglades23 mas tamb(m no 'apão e

na >rlanda3 e mais recentemente em alguns pa!ses a&ricanos# @as ele se tornou mundialmente

con2ecido por sua assessoria a órgãos das Daç;es Unidas3 num trabal2o 5ue culminou na

&ormulação do 2o6e tão di&undido [ndice de "esenvolvimento ?umano3 e pela con5uista do

Prêmio Dobel de economia3 em 1#

@ais do 5ue incorporar a 5uestão social aos es5uemas teóricos3 o principal m(rito de Sen (

ter encontrado uma e5uação consistente para dois dos três dilemas &undamentais 5ue

envolvem desenvolvimento# Primeiro3 se desenvolvimento não se redu7 a crescimento3 então

5uais são suas dimens;es emp!ricas &undamentais Q Segundo3 se são v=rias as dimens;es3

como elas se comp;em ou con&litam3 5uais delas são um &im dos processos de

desenvolvimento3 5uais são meios para atingi-lo Q Sobre o terceiro dilema ( di&!cil responder

cabalmente se 2ouve um êito tão grande como nos anteriores% a eplicação da mudança em

desenvolvimento# Sen3 ali=s3 elege como interlocutores 6ustamente os dois pólos apresentados

at( a5ui% de um lado3 ele ir= se colocar em debate com a5ueles 5ue tomam desenvolvimento

 por crescimento econOmico apenasV e de outro3 com alguns dos cr!ticos igualitaristas e com o

 próprio 'o2n 9aKls# Por todas estas ra7;es uma aproimação 6unto 8s principais bases de seu

 pensamento ( simplesmente crucial#

O :ensamen"o de Amar"Fa Sen

$ signi&icado maior da obra de Sen3 6untamente com a construção de uma outra maneira de se

 pensar o desenvolvimento3 ( a pro&unda contestação 5ue ele produ7 acerca da mais cara tese

do mainstream da economia3 segundo a 5ual os indiv!duos agem sempre motivados pelo

auto-interesse# Para ele3 não 2= evidências de 5ue ( o auto-interesse o 5ue3 eclusivamente3

rege o comportamento# )3 mais 5ue isso3 2= &ortes evidências de 5ue Ias deliberaç;es (ticas

não podem ser totalmente irrelevantes para o comportamento 2umano realJ# Sentimentos

como a solidariedade não podem ser despre7ados em an=lises econOmicas3 sob pena deH1

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incompreensão do con6unto e da compleidade dos est!mulos 5ue regem o comportamento

2umano#

Assim3 sua obra Sobre ética e economia +Sen3 1/. trata da ruptura epistemológica entre os

dois dom!nios epressos no t!tulo F (tica e economia -3 para isso remontando a uma releitura

dos cl=ssicos3 desde Aristóteles3 para 5uem Ia ri5ue7a não ( o bem 5ue buscamos3 sendo ela

apenas <til e no interesse de outra coisaJ3 at( Smit2 e suas eplicaç;es sobre motivaç;es e

mercados# "esta retomada3 Sen avança para o 5uestionamento do conceito de e&iciência3

con2ecido por Iótimo de ParetoJ% um estado ótimo no 5ual não se pode mel2orar a vida de

ningu(m sem 5ue se piore a vida de outro# Sen +1/. retruca a&irmando 5ue I identificar

vantagem com utilidade nada tem de óbvio """8" $ão é verdade que qualquer movimento que

 se desvie de um estado ótimo de -areto para outro não*ótimo deva redu&ir a utilidade

agregadaJ# $u se6a3 seria poss!vel 5ue um indiv!duo motivado por ra7;es (ticas abrisse mão

de uma vantagem pessoal para 5ue outro progredisse sem3 com isso3 ameaçar a e&iciência

econOmica# ) ele &aria isso ao perceber 5ue seria mel2or para o con6unto da sociedade# $

corol=rio ( 5ue3 se a sociedade gan2a3 ele gan2a tamb(m#

3 por(m3 em #nequalit2 ree3amined  5ue o programa de Sen est= mel2or &ormulado# Ali ele

retoma sistematicamente re&le;es de outras obras anteriores suas3 como o ensaio

 Desigualdade econ>mica3 de 1M03 e desenvolve 5uatro a&irmaç;es 5ue o distanciam tanto

dos 5ue redu7em desenvolvimento ao crescimento 5uanto dos 5ue en&ati7am a diminuição da

 pobre7a como o ob6etivo das pol!ticas de desenvolvimento% desenvolvimento não se redu7 a

crescimentoV uma das 5uest;es &undamentais ( desigualdadeV desigualdade de 5uê3 se são

v=rias então as dimens;es 5ue contam QV e para concluir3 a desigualdade de renda3 de longe a

dimensão privilegiada nas principais correntes3 pode não ser a mais importante dentre as

di&erentes &ormas de desigualdade#

Bogo no in!cio do livro Sen de&ine a tese# Pela precisão3 vale a pena recorrer 8s suas próprias

 palavras% I A questão*chave para analisar e medir a desigualdade é/ igualdade de quH J Esta

é a tese que eu pretendo desenvolver aqui" Eu mostrarei também que as éticas da

organi&aFão social que resistiram à prova dos tempos tHm, quase todas em comum, querer a

igualdade de alguma coisa 5 este alguma coisa Boga um papel fundamental a depender de

cada quadro teórico respectivo" $ão somente e3iste ;igualitaristas de renda; que querem asH/

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mesmas entradas de dinheiro para todos e os ;igualitaristas do bem*estar;, mas os

utilitaristas cl'ssicos preconi&ando, eles também, que se acorde uma importIncia igual às

;utilidades; de todos, e os libert'rios puros que preconi&am a todos uma classe inteira de

direitos e de liberdades" 1odos são igualitaristas sobre um ponto crucial/ eles propKem

resolutamente a igualdade de alguma coisa que todo o mundo deveria ter, e que é

absolutamente vital em sua abordagem particular" """8 a questão ;igualdade de quH ; deve

 sua importIncia pr'tica à diversidade de seres humanos/ é por causa dela que a e3igHncia

de igualdade sobre uma vari'vel tende a entrar em colisão 5 nos fatos e não somente em

teoria 5 com a vontade de igualdade sobre outra" -esam caracter(sticas internas idade,

 se3o, atitudes gerais, competHncias particulares8 e circunstIncias e3ternas propriedade de

certos bens, origem social8+# ) mais adiante completa% Idiversidade humana é fato, e a

ra&ão fundamental de nosso interesse pela igualdade """8" A idéia de igualdade se reporta a

duas diversidades  distintas/ a heterogeneidade fundamental dos seres humanos, e a

multiplicidade de vari'veis em funFão das quais pode*se avaliar a igualdade" -or isso/

igualdade de quH J+ +Sen3 1//RRR% -1/.#

"iante desta 5uestão3 como Sen constrói seu 5uadro de an=lise Q A id(ia central ( 5ue a

epansão das liberdades 2umanas ( a um só tempo o &im e o meio dos processos de

desenvolvimento# )ssa ( a grande de&inição de desenvolvimento cun2ada por Sen e 5ue l2e

 permite sair do unidimensionalismo e da armadil2a representada pela oposição entre meios e

&ins# Para instrumentali7ar analiticamente esta id(ia3 Sen vai se apoiar numa tr!ade de

conceitos interligados F capacidades3 &uncionamentos e reali7aç;es +capabilities,

 functionings e achievements8 5  a&irmando% Ia abordagem em que eu me apoio se concentra

 sobre nossa capacidade conBunto de modos de funcionamento humano que são

 potencialmente acess(veis a uma pessoa, quer ela os e3erFa ou não8 de reali&ar os

 funcionamentos valori&ados dos quais é feita a nossa e3istHncia e, mais amplamente, sobre

nossa liberdade de promover os obBetivos que nós temos ra&ão para valori&ar """8" A

 potHncia retórica da ;igualdade entre os homens; tem seguidamente tendHncia a desviar

nossa atenFão das diferenFas" Se suas fórmulas todos os homens nascem iguais, por

e3emplo8 passam correntemente pelos pilares do igualitarismo, ignorar as distinFKes entre

os indiv(duos pode em realidade se revelar muito desigual J# A estimação e a medida da

desigualdade depende3 assim3 pesadamente3 da escol2a da vari=vel - as rendas3 a sorte3

&elicidade3 etc -3 e do 5ue Sen c2ama de vari=vel &ocal# A vari=vel &ocal escol2ida podeH0

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apresentar uma pluralidade interna# poss!vel3 por eemplo3 5ue ela re<na liberdades de

ordens di&erentes% elas constituirão 6untas o centro do interesse privilegiado# $u ainda3 a

vari=vel retida pode associar as liberdades e as reali7aç;es - o 5ue uma pessoa reali7a3 o

con6unto dos modos de &uncionamento 5ue ela eerce verdadeiramente#

Concluindo3 com a capacidade 5ue 5ual5uer um disp;e para reali7ar os &uncionamentos 5ue

ele tem ra7;es para valori7ar3 estabelece-se um ponto-de-partida bem geral para abordar o

estudo dos modos de organi7ação da sociedade3 e esta démarche  aporta uma maneira

 particular de conceber a avaliação da igualdade e da desigualdade +Sen3 1//RRR% //.# $s

&uncionamentos de 5ue trata Sen podem ser os mais elementares F ser bem alimentado3

escapar da morbidade evit=vel e da mortalidade prematura F at( certas reali7aç;es muito

compleas e sutis F ser digno a seus próprios ol2os3 estar em condiç;es de tomar parte da

vida da comunidade# A seleção e estimativa de di&erentes &uncionamentos permitem a

avaliação da capacidade de reali7ar diversos con6untos de &uncionamentos3 entre os 5uais (

 preciso escol2er# A concentração sobre a liberdade de reali7ar e não somente o n!vel de

reali7ação visa a estabelecer a relação entre a estimativa das diversas reali7aç;es poss!veis e o

valor da liberdade de reali7ar# $ corol=rio do pensamento de Sen vem com a a&irmação de

5ue o verdadeiro con&lito se situa entre di&erentes tipos de liberdade3 e não entre liberdade e

 privação# +Sen3 1//RRR.#

)m resumo3 são duas as grandes a5uisiç;es propiciadas pela construção teórica de Amart:a

Sen# Primeiro3 ao operar uma distinção entre capacidades e utilidades3 com a &ocali7ação na

capacidade de reali7ar os &uncionamentos escol2idos pelos próprios indiv!duos em sua

diversidade3 sua abordagem di&ere muito sensivelmente das abordagens mais tradicionais da

igualdade3 5ue se concentram sobre vari=veis espec!&icas3 como a renda principalmente#

Segundo3 em sua teoria o desenvolvimento pode ser Iaproimativamente mensuradoJ3 6= 5ue

algumas das capacidades &undamentais dos seres 2umanos podem ser medidas e comparadas#

Um ponto nebuloso da teoria de Sen3 contudo3 di7 respeito 8 mudança no desenvolvimento#

Ao colocar a ên&ase na epansão das liberdades ele recon2ece 5ue 2= um con&lito na

organi7ação destas liberdades3 em sua desigual distribuição3 mas surge novamente a5ui uma

certa tautologia na cadeia eplicativa# A epansão das liberdades ( ao mesmo tempo um &im e

um meio# Sendo assim3 certas sociedades são pouco desenvolvidas por5ue nelas as liberdadesH

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são restritas e3 inversamente3 onde ocorre uma epansão das liberdades tem-se o

desenvolvimento# Um eemplo pode a6udar a compreender mel2or como isto acontece na

teoria de Sen# Apoiado em Smit23 ele mostra como o mercado F não raramente eorci7ado e

entendido somente como re&orçador de desigualdades - pode ser algo progressista3 por

eemplo3 nas situaç;es em 5ue o simples acesso de determinadas parcelas da população 8

 possibilidade da livre concorrência contraria segmentos poderosos 5ue se bene&iciam das

relaç;es de tutela e clientelismo# @as em -overt2 and famines3 onde introdu7 o conceito de

entitlement  +2abilitação.3 Sen demonstra com clare7a 5ue o problema da &ome epidêmica 5ue

ocorre em vastas =reas do mundo3 num outro eemplo3 não encontra solução simples no

aumento da o&erta3 ou em simples mecanismos de mercado# >sso por5ue3 para participar da

distribuição da renda3 ( necess=rio estar 2abilitado por t!tulo de propriedade ou por inserção

5uali&icada no sistema produtivo# $ra3 2= sociedades em 5ue esse processo de 2abilitação est=

 blo5ueado% ( o 5ue se passa com as populaç;es rurais sem acesso 8 terra3 com populaç;es a

5uem ( negado o acesso a escolari7ação3 ou com populaç;es 5ue com um mesmo grau de

escolari7ação eperimentam tipos distintos de eperiência escolar# Bogo3 2= um componente

de con&lito 5ue não se esvai por simples e 5uase autom=tica epansão de liberdades e 5ue

remete mesmo 8 necessidade de uma eplicação para como se d= a mudança#

verdade 5ue Sen recon2ece tetualmente 2aver con&lito em torno das privaç;es e liberdades

dos indiv!duos3 mas ( verdade tamb(m 5ue seu modelo não &ornece elementos para eplicar

 por5ue em certos lugares o processo de epansão das liberdades ocorre3 e por5ue em outros

ele permanece blo5ueado# Dão ( 5ue em sua teoria o con&lito não est= presente# )le aparece

na distribuição desigual das capacidades e nos atritos entre di&erentes liberdades# ) a

distribuição desigual destas prerrogativas ( a um só tempo condicionante e condicionado da

epansão das liberdades# A mudança em Sen3 portanto3 ou ( puramente incremental3 ou se d=

 por vari=veis eógenas ao modelo#

Um di=logo entre Sen e Dort2 mostra uma compatibilidade em pelo menos dois aspectos#

Primeiro3 5uando ambos &alam3 um em epansão das liberdades3 e outro em convergência das

taas privadas e sociais de retorno# A criação e3 principalmente3 a sustentação de um

crescimento duradouro3 em Dort23 ou da epansão das liberdades individuais3 em Sen3 ( um

 processo 5ue dependeria desta não dissociação entre os gan2os individuais e os bene&!cios

sociais advindos desta epansão# Dos dois 2=3 contudo3 uma lacuna3 e este ( o segundoHE

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aspecto similar% como se eplica a mudança# )m Dort2 ela tamb(m ( incremental ou eógena

ao modelo# )m Sen o con&lito aparece na distribuição das capacidades e nas di&erentes

liberdades# Dão 2averia incompatibilidade lógica em di7er 5ue a epansão ou não das

liberdades depende das instituiç;es 5ue operam em cada realidade espec!&ica3 mas volta a5ui

o problema da determinação das instituiç;es3 como destacado no tópico anterior# Do limite3

novamente a eplicação ( tautológica# "a! a necessidade de uma ponte com as estruturas

sociais do desenvolvimento#

$ grande m(rito destas duas abordagens est= em 5ue elas abandonam a id(ia de tomar o

desenvolvimento como um estado alcanç=vel pelas sociedades e recolocam no centro do

debate o processo pelo 5ual o desenvolvimento se &a7% isto marca uma di&erença tanto com os

5ue redu7em desenvolvimento a crescimento 5uanto com os pós-desenvolvimentistas# Do

caso de Sen3 como &oi dito3 isto se &a7 atrav(s da ên&ase con&erida a outras dimens;es 5ue não

a ri5ue7a3 como tamb(m em sua inovadora maneira de pensar o desenvolvimento como &im e

como meio# Do caso de Dort23 a principal contribuição ( mostrar como o processo de

desenvolvimento ( resultado de determinadas &ormas de coordenação3 as 5uais sempre estão

e5uacionando elementos estruturais como a relação entre demogra&ia e o ambiente3 a

tecnologias3 as ideologias e instituiç;es pol!ticas e econOmicas3 com desta5ue para o )stado#

)m uma palavra3 trata-se de duas abordagens 5ue elaboram de maneira nova e apoiada em

 procedimentos inegavelmente cient!&icos o problema do desenvolvimento# Delas3 todas as

&ormas de reducionismo dão lugar a teorias compleas e multidimensionais nas 5uais a

2istória ocupa um lugar central# Ao menos neste aspecto3 elas representam uma dese6=vel

reconciliação com as concepç;es evolucionistas do s(culo Z>Z#

53+36 ' Desen)o#)imen"o e meio'am!ien"e

As relaç;es entre desenvolvimento e meio-ambiente têm sido crescentemente teori7adas nas

di&erentes disciplinas das ciências sociais#

 Do campo econOmico3 especi&icamente3 pode-se di7er 5ue o debate se polari7a3 embora não

se esgote3 entre duas abordagens% a da c2amada Icurva de u7nets ambientalJ +Grossman X

ruegger3 1E.3 e a do Iestado estacion=rioJ +"al:3 1H.#

HH

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A id(ia da Icurva de u7nets ambientalJ ( relativamente simples e consiste numa adaptação

8 5uestão ambiental da &ormulação 5ue a5uele autor elaborou para eplicar a relação entre

crescimento e distribuição de renda# Segundo esta teoria3 produ7ida nos anos ER3 a relação

entre crescimento do P> e a distribuição de renda piorava no momento de alavancagem de

uma economia3 mas tenderia a mel2orar 5uando &osse atingido um determinado patamar  per

capita3 dando origem a uma representação gr=&ica parecida com um IUJ invertido3 a curva de

u7nets# Apoiados em estat!sticas dispon!veis para problemas como poluição atmos&(rica

urbana3 oigenação de bacias 2idrogr=&icas3 e dois tipos de contaminação de =guas3 Grossman

X rueger +1E. conclu!ram 5ue a partir de um determinado patamar per capita3 situado em

torno de oito mil dólares3 estes problemas começam a ser revertidos#

Apesar da pobre7a da relação de causalidade epressa na 2ipótese da curva de u7nets

ambiental3 ( ineg=vel 5ue determinados con&litos podem encontrar maiores condiç;es de

solução em sociedades 5ue go7am de maior poder &inanceiro# Um problema ( a epansão de

uma relação de causalidade direta para um con6unto de situaç;es baseadas em estilos de

crescimento e uso social de recursos naturais tão diversas# Um segundo problema consiste em

esperar sabe-se l= 5uanto tempo para 5ue a 2umanidade toda ten2a um patamar de renda de

oito mil dólares para 5ue se possa3 então3 testar a validade da 2ipótese para os problemas

ambientais globais#

'= a id(ia do Iestado estacion=rioJ não ( tão simples de ser eplicada# )la tem origem na

&!sica3 mais especi&icamente na Bei da )ntropia contida no Segundo Princ!pio da

Termodin4mica# A id(ia de um estado estacion=rio3 na realidade3 6= estava posta desde os

cl=ssicos da economia3 mas ( com Georgescu-9oegen +1M0. 5ue ela gan2a &orça3 com a

associação 5ue ele promove entre a Bei da )ntropia e a an=lise da 5uestão ambiental# "uas

id(ias a5ui são &undamentais# A primeira ( 5ue as atividades econOmicas gradualmente

trans&ormam energia e3 nesse processo3 sempre 2= dispersão de energiaV algo 5ue se perde3

5ue não se materiali7a em produto e nem ( pass!vel de reutili7ação# A segunda3 ( 5ue este

mesmo processo de produção gera re6eitos3 os 5uais nunca poderão ser integralmente

reciclados# Do longu!ssimo pra7o3 portanto3 não 2averia se5uer &orma de sustentabilidade

 plena poss!vel# $ 5ue ( poss!vel3 e este ( o argumento central contido na id(ia de estado

estacion=rio3 ( atingir um determinado est=gio de desenvolvimento3 no 5ual o consumo

HM

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 baseado na epansão do produto possa dar lugar ao consumo de bens culturais e não

materiais3 retardando o colapso#

A5ui3 o problema ( saber 5uais as bases para esta transição# Georgescu-9oegen não aborda

diretamente este problema3 por considerar 5ue o sentido contido na Bei da )ntropia não

 poderia ser contornado# @as um proeminente seguidor seu3 ?erman "al:3 sim# )3

in&eli7mente3 sua resposta não ( nada satis&atória# A seu &avor3 ( preciso di7er 5ue "al:

admite 5ue boa parte da 2umanidade ainda est= longe de padr;es ra7o=veis de vida# Sua

 proposta de adoção imediata de um outro estilo de desenvolvimento direciona-se 8s poucas

naç;es 5ue atingiram esses patamares# @as3 mesmo ali3 o 5ue levaria a crer 5ue as pessoas

estariam dispostas a abrir mão do consumo e da mel2oria de seu con&orto material em nome

da preservação do meio-ambiente Q Sua resposta ( 5ue seria poss!vel engendrar novos valores

capa7es de pOr &im 8 san2a consumista e individualista3 por eemplo3 atrav(s da religião

+"al:3 1H.# $utros não invocam a religião3 mas o altru!smo e a educação ambiental para

cumprir este papel de construir uma outra racionalidade +Be&&3 1.# $ problema est=3 pois3

na percepção dos riscos ambientais e nas &ormas de seu encamin2amento3 o 5ue desloca o

 problema para uma abordagem propriamente sociológica#

 Do campo sociológico ( a c2amada sociologia do risco3 representada na obra de seu maior

epoente3 Ulric2 ecL3 5uem desenvolve a mais consistente &ormulação inserindo a 5uestão

ambiental nas condiç;es espec!&icas da modernidade# )m termos gerais3 o 5ue ( a abordagem

do risco Q $ centro do argumento de ecL +1H. reside na identi&icação de uma mudança

5ualitativa no con&lito inerente 8 condição moderna em seu per!odo mais recente# )n5uanto

num primeiro momento a modernidade se estruturou em determinadas certe7as - como a

epansão das condiç;es de vida +e3 num interregno3 com o pleno emprego.3 o progresso

tecnológico e a con&iança no con2ecimento cient!&ico -3 no momento atual elas teriam dado

lugar a riscos globais epressos nas ameaças da militari7ação3 nos problemas ambientais3 nos

direitos 2umanos# Da passagem de um a outro per!odo estil2açam-se os con&litos antes

estruturados predominantemente em torno da oposição capital-trabal2o3 t!picos da sociedade

industrial3 e passam ao primeiro plano estes con&litos globais 5ue atingem di&erentes classes

sociais# Passa-se do progresso ao risco3 das certe7as 8 insegurança# A busca do Iporto seguroJ

não estaria mais nas vel2as instituiç;es F como a ciência F mas sim num movimento de auto-

an=lise da sociedade3 num outro tipo de moderni7ação3 5ue o autor c2ama de moderni7açãoH

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re&leivaE1# Dela3 não 2= soluç;es ou camin2os cumulativos3 mas a abertura para pOr sob

suspeição toda &orma de certe7a e para a busca de alternativas minimi7adoras destes riscos#

Nual5uer analogia com a o papel da psican=lise ante os con&litos dos indiv!duos não ( mera

coincidência#

A 5uestão ambiental aparece3 em ecL3 como um destes riscos globais3 como um dos

con&litos estruturadores da modernidade re&leiva# A separação entre nature7a e sociedade (

negada3 8 medida 5ue 2= tempos a nature7a &oi sociali7ada e 8 medida 5ue a nature7a do

social &oi internali7ada na crise do padrão civili7atório# Tal como os demais con&litos3 não

caberia esperar sua resolução pelo dom!nio da t(cnica e da ciência3 mas ao contr=rio3 pelo

dom!nio da sociedade ante os conte<dos da t(cnica e da ciência 5ue incidem e operam com a

nature7a +ecL3 1H.#

A5ui 6= ( poss!vel entrever alcances e limites da abordagem do riscoE/#  )ntre os aspectos

 positivos da abordagem est= o &ato de con&erir ao problema ambiental um estatuto de maior

import4ncia3 cu6o tratamento certamente ter= um peso crescente nos processos de tomada de

decisão de agentes p<blicos e individuais# 'unto disso3 ( positiva tamb(m a indicação de 5ue

se trata de um con&lito 5ue não obedece 8 lógica de oposiç;es cl=ssicas como capital-

trabal2o# @as ( precisamente nesse ponto 5ue surge a primeira insu&iciência% o &ato de não

2aver uma determinação de classe neste tipo de con&lito não signi&ica 5ue não 2a6a con&litos

de interesses e 5ue as posiç;es relativas dos agentes na estrutura se6a de menor import4ncia#

Como di7 Bas2 +1M.3 uma suposição b=sica da moderni7ação re&leiva ( esta libertação

 progressiva da ação em relação 8 estrutura# Some-se a esta insu&iciência uma contradição% a

id(ia do risco aposta na &alência do estatuto &undante de instituiç;es t!picas da c2amada

sociedade industrial3 como a ciência moderna e a ra7ão3 mas propugna uma resolução dos

con&litos pela via do maior con2ecimento e apreensão do real3 &ortemente tribut=ria do

>luminismo e do racionalismo# *olta a5ui não só o problema das instituiç;es3 mas tamb(m

das estruturas sociais 5ue in&luenciam sua &ormação#

'= no campo da geogra&ia têm sido elaboradas interessantes an=lises onde os &atores

ambientais entram como condicionantes das evoluç;es relativas a cada &ormação social# >sto

E1 *er GiddensV ecL3 Bas2 +1M.#E/

 Para uma apresentação mais cuidadosa e uma an=lise da evolução das abordagens do risco3 consultar Guivant+1.#

H

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 6= estava presente desde os primórdios da constituição deste ramo cient!&ico3 no s(culo Z>Z#

@as ( nas obras recentes do biogeógra&o evolucionista 'ared "iamond3 a seguir tomada um

 pouco mais de perto3 5ue se encontra a mais ampla aplicação da associação entre meio-

ambiente e desenvolvimento numa perspectiva de longa duração#

O :ensamen"o de ared Diamond

 Dos <ltimos anos dois livros de inve6=vel densidade teórica e 2istórica &oram publicados por

"iamond# Do mais recente F 4olapso/ como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso

-3 o intuito ( mostrar3 como o próprio subt!tulo indica3 os camin2os 5ue levaram ao longo dos

tempos as v=rias sociedades a sucumbir por problemas derivados de crises ambientais ou3

inversamente3 como elas alcançaram soluç;es e alternativas 5ue l2es permitiram corrigir

rumos evitando tais desastres# $ livro anterior3 por sua ve73 busca eplicar a di&erenciação

espacial do desenvolvimento das sociedades 2umanas% nada mais3 nada menos do 5ue isso ( a

 pretensão sinteti7ada nas 5uase 5uin2entas p=ginas do livro  Armas, germes e aFo 5 os

destinos das sociedades humanas# *alendo-se de recursos da geogra&ia3 da biologia3 e at( da

ling!stica3 entre outras especialidades3 mas sem incorrer em grandes digress;es teóricas3 este

autor transita por de7 milênios de 2istória e &ornece uma eplicação bastante coerente e

consistente para sua 5uestão3 e 5ue tem tudo a ver com as ponderaç;es a5ui levantadas# Para

apresent=-la3 nada mel2or do 5ue indicar3 ao menos nas suas lin2as gerais3 o camin2o

 percorrido pelo próprio autor E0#

 Da primeira parte do livro 6= citado3 "iamond coloca uma pergunta 5ue 6= &ascinou muitos

antropólogos% na con5uista da Am(rica3 o 5ue &e7 com 5ue um pe5ueno pun2ado de

espan2óis derrotasse as &orças incas3 8 ocasião muito mais numerosas +I1H es&arrapados

espan2óis contra perto de R#RRR 2omens do e(rcito incaJ3 segundo seu relato. Q Por tr=s

desta pergunta aparentemente simples3 "iamond interroga na verdade as ra7;es do dom!nio

europeu ocidental sobre o restante do mundo# certo 5ue num primeiro momento3 como 6=

apontaram outras an=lises3 2ouve um misto de temor e veneração diante da imagem

descon2ecida tra7ida com os invasores% suas armaduras3 naus3 cavalos# @as não seria

somente esta a ra7ão do massacre# A&inal3 logo após o espanto inicial3 o embate se deslocou

do terreno simbólico para outro bem mais palp=vel3 com a captura do imperador e o violento

E0 C&# "iamond +/RR/3 /RRE.#MR

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embate &!sico entre os dois grupos# A5ui a eplicação poderia se deslocar para uma resposta

simples% a superioridade do armamento espan2ol3 o aço# @as o autor não se contenta com a

resposta &=cil e3 em meio a uma descrição complea das m<ltiplas dimens;es envolvidas

na5uela con5uista F como3 entre outras coisas3 o e&eito desagregador 5ue a captura do

imperador teve ante uma estrutura &ortemente centrali7ada em seu personagem a um só tempo

 pol!tico e religioso -3 "iamond recoloca a 5uestão3 remetendo para uma resposta 5ue eige

uma ainda maior pro&undidade 2istórica% por 5ue3 então3 eram os espan2óis 5uem detin2am a

tecnologia do aço e seus usos3 5uando eram certas populaç;es do Dovo @undo tão mais

so&isticadas em uma s(rie nada despre7!vel de aspectos Q

A segunda parte do livro eplora 6ustamente esta incógnita# Antes de passar a ela3 (

importante &risar 5ue3 ainda na primeira parte3 "iamond começa por uma apresentação do

estado do mundo desde 5ue o 2omem se separa de seus ancestrais na =rvore genealógica at(

um ponto situado mais ou menos tre7e mil anos atr=s3 com o intuito não só did=tico3 mas

metodológico mesmo3 de mostrar como a esp(cie 2umana 2avia se espal2ado pelo mundo e

como3 na5uele instante3 seu desenvolvimento se encontrava em est=gios di&erenciados nestas

v=rias partes do mundo# Tamb(m nesta primeira parte do livro3 o autor analisa como a

geogra&ia molda as sociedades 2umanas tendo por base um 5uase eperimento de 2istória

natural% a &ormação das il2as polin(sias# Ali3 um povo com a mesma origem biológica e

 partil2ando de um mesmo rol de con2ecimentos e valores3 num dado momento de sua

tra6etória &oi instado a povoar a5uele con6unto diverso de il2as# $ 5ue "iamond mostra (

como3 apesar destas condiç;es iniciais similares3 &oi o ambiente diversi&icado 5ue l2es

moldou di&erenciadamente o processo evolutivo3 condicionando seus costumes3 sua

tecnologia3 suas instituiç;es pol!ticas e econOmicas# $ cerne do seu argumento est= na id(ia

de 5ue condiç;es ambientais mais restritivas para a condição 2umana em certas il2as3 por

eemplo com menor disponibilidade natural de alimentos3 teriam levado a5uelas sociedades

locais a um maior es&orço no sentido de desenvolver tecnologias e criar instituiç;es mais

ade5uadas 8 tare&a de moldar esse meio 8s suas necessidades# $ 5ue "iamond tenta &a7er na

segunda parte do livro ( eatamente etrapolar estas evidências apontadas pela eperiência

 polin(sia para a eperiência da 2umanidade como um todo# >sto (3 trata-se de mostrar como

os condicionantes ambientais moldaram as tra6etórias das sociedades 2umanas3 engendrando

elos e interdependências entre &atores como os germes - 5ue certamente mataram mais

M1

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 populaç;es nativas do 5ue o aço -3 a domesticação de grandes mam!&eros3 a cultura3 a

organi7ação pol!tica3 a tecnologia#

Assim3 a segunda parte desenvolve este en&o5ue anunciado na primeira3 tentando partir das

causas imediatas3 5ue possibilitaram o dom!nio europeu sobre os demais povos3 em direção

8s suas causas 2istóricas# ) entre as causas 2istóricas3 di7 "iamond3 a produção de alimentos

 F mais 5ue isso3 as di&erentes &ormas e tempos atrav(s dos 5uais as sociedades 2umanas se

2abilitaram 8 produção de alimentos F ocupa um lugar &undamental na cadeia eplicativa#

)n5uanto alguns povos aprenderam so7in2os a cultivar3 outros só o &i7eram no contato com

os 5ue 6= detin2am esta t(cnica# )n5uanto algumas =reas apresentavam mais esp(cies e

condiç;es prop!cias para cultivo3 outras eram mais restritivas# Com isso3 ao mesmo tempo em

5ue algumas =reas tornaram-se auto-su&icientes3 outras continuaram dependentes# ?=3

 portanto3 uma base biológica e ambiental 5ue condicionou a evolução das sociedades

2umanas# @as isto não ( tudo# Por 5ue esse condicionamento evoluiu numa certa direção em

determinados lugares e em outra direção em outros 5uando se ampliaram as condiç;es

2istóricas para a disseminação das inovaç;es alcançadas por determinadas sociedades Q A

resposta (3 novamente3 ecológica e geogr=&ica# $ eio leste-oeste da )ur=sia &avoreceu não só

a propagação de culturas agr!colas e a criação de animais3 &ace 8 relativamente baia

variabilidade de clima e latitude3 mas tamb(m a propagação de inovaç;es tecnológicas3

devido ao car=ter relativamente modesto das barreiras naturais# '= o eio norte-sul nas

Am(ricas3 mostrou-se um di&icultador em ambos os aspectos e pelas caracter!sticas opostas#

A terceira parte do livro estabelece mais um elo na cadeia causal3 mostrando como o

estabelecimento de populaç;es densas na )ur=sia3 possibilitada pelas condiç;es 6=

assinaladas3 levaram 8 &ormação dos germes3 a cu6a eposição prolongada os povos do *el2o

Continente &oram submetidos3 com a criação dos correspondentes anticorpos3 coisa 5ue não

ocorreu com as populaç;es do Dovo @undo# Tamb(m nesta parte3 "iamond retoma outro

aspecto importante3 este 6= mais con2ecido das ciências sociais% a relação 5ue a produção de

alimentos teve para com o surgimento da escrita3 das artes3 das especiali7aç;es e os

desdobramentos 5ue l2e são correspondentes3 sobretudo em termos tecnológicos# A id(ia

 b=sica est= no simples &ato de 5ue a auto-su&iciência em comida liberava estas populaç;es da

tare&a de caça e coleta3 permitindo uma dedicação de tempo para especialidades outras3 e3

M/

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claro3 para o sustento de elites pol!ticas e militares 5ue surgiam acompan2ando este

movimento de complei&icação e 2ierar5ui7ação de sociedades e grupamentos 2umanos#

A 5uarta parte de seu livro emerge deste corte vertical na 2istória para analisar as di&erenças

2ori7ontais do mundo tal como o con2ecemos# @ais uma ve7 amalgamando os

con2ecimentos de um le5ue variado de disciplinas atrav(s dos recursos da teoria evolutiva3

"iamond ir= responder a perguntas como% por 5ue a ]&rica tornou-se negra ou por 5ue a

C2ina tornou-se c2inesa3 passando por uma 2istória da Austr=lia e por uma 2istória

comparada da Am(rica e da )ur=sia#

)m s!ntese3 são 5uatro os &atores apontados por "iamond como eplicativos do destino das

sociedades 2umanas% di&erenças continentais entre as esp(cies selvagens de plantas e animais

constitu!ram-se como as condiç;es iniciais 5ue moldaram os respectivos camin2os

evolutivosV barreiras ecológicas in&luenciaram decisivamente no ritmo e no sentido de

di&usão e migração dentro dos continentesV barreiras ecológicas &oram &atores 5ue

in&luenciaram igualmente na di&usão entre os continentesV e a relação entre =rea e taman2o

de população total3 por &im3 ( &undamental para eplicar não só a din4mica população-

recursos naturais3 mas para eplicar as possibilidades de surgimento e epansão das

inovaç;es#

Um ponto inegavelmente importante est= no &ato de 5ue ele consegue evidenciar as

determinaç;es ambientais para o desenvolvimento das sociedades 2umanas sem3 no entanto3

cair nos riscos do biologismo# com esta perspectiva3 ali=s3 5ue ele se p;e em debate# $ 5ue

"iamond tenta demonstrar ( 5ue não 2= nada de superior na constituição biológica de

5ual5uer grupo de indiv!duos 2umanos em relação aos demais# Nue povos com a mesma

constituição erigiram sociedades completamente di&erentes# ) 5ue as ra7;es são determinadas

2istoricamente e ambientalmente#

A principal cr!tica 5ue se pode &a7er ao pensamento de "iamond est= no &ato de 5ue ele

concebe as sociedades 2umanas como agrupamentos 5ue evoluem em resposta a est!mulos e

constrangimentos do meio-ambiente3 não cabendo 5ual5uer mediação com os processos mais

 propriamente sociais +sociológicos. 5ue envolvem esta 2istória# $ autor recon2ece esta cr!tica

e argumenta como3 em muitos casos3 a estrutura social agiu como &acilitador ou impedimentoM0

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da disseminação de inovaç;es importantes para o destino destas sociedades3 como na C2ina

ou na [ndia# @as3 ressalta ele3 tamb(m a!3 em <ltima inst4ncia3 a determinação ser= ambiental#

) recoloca a 5uestão% por 5ue a C2ina manteve por tanto tempo sua unidade en5uanto a

)uropa se constituiu num mosaico de povos e culturas Q A resposta3 como sempre3 est= nos

&atores ambientais e geogr=&icos% por5ue as caracter!sticas internas do território c2inês

&acilitavam este dom!nio3 numa oposição ao desen2o c2eio de pen!nsulas e ao litoral

recortado europeuV e tamb(m por5ue a locali7ação da C2ina não l2e troue muitas vantagens

de interc4mbio#

A segunda cr!tica di7 respeito 8s possibilidades da mudança numa escala de tempo menor e3

em particular3 8 id(ia de 5ue o peso das determinaç;es do mundo natural teria diminu!do em

import4ncia nos tempos modernos# Sobre isto a resposta de "iamond ( enviesada# )le

recon2ece a 5uestão3 mas vai assinalar o aspecto condicionante 5ue os &atores ambientais

tiveram no longo pra7o e 5ue 2o6e colocam povos e naç;es em condiç;es desiguais# Algo 5ue

lembra a path dependence de Dort2 e seus desdobramentos para a eplicação da desigualdade

entre naç;es3 mas pelo vi(s do condicionante ambiental# ,ica portanto3 em aberto3 neste

grande livro de "iamond3 um di=logo mais direto sobre a possibilidade de mudança na

condição espec!&ica da modernidadeE# 

 Do livro de /RRE F 4olapso * "iamond dedica certas passagens da introdução a um di=logo

com parte de seus cr!ticos# Tendo sido bastante acusado de apelar para um determinismo

ambiental3 nesta nova obra o autor reitera v=rias ve7es 5ue as sociedades escol2em3 e podem

evitar as cat=stro&es ambientais# )n5uanto em  Armas, germes e aFo  a 5uestão principal

consistia em eplicar as ra7;es da supremacia europ(ia nos tempos modernos3 nesta nova

obra "iamond se prop;e mostrar por5ue3 ao longo do <ltimo milênio3 determinadas

sociedades desapareceram3 en5uanto outras permaneceram# )le elenca cinco &atores 5ue

 podem contribuir para 5ue ocorram ou não colapsos ambientais% dano ambiental3 mudança

clim=tica3 vi7in2ança 2ostil3 parceiros comerciais amistosos3 e respostas da sociedade aos

 problemas ambientais# curioso notar 5ue são dedicadas aproimadamente 5uatro p=ginas

 para os primeiros &atores3 de ordem ambiental# '= para a eplicação do 5uinto &ator3 após a

indicação de alguns eemplos onde se adotaram soluç;es 5ue levaram ao &racasso ou ao

E

 )mbora não trate especi&icamente da obra de "iamond3 uma cr!tica 8s abordagens da mudança de longo pra7ocentradas na dimensão ambiental pode ser encontrada em Anderson +11.#

M

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sucesso3 como representado respectivamente pelo caso da Groenl4ndia e do 'apão3 "iamond

 pergunta% como compreender resultados tão di&erentes Q A resposta3 segundo ele3 ( 5ue tudo

depende das instituiç;es pol!ticas3 econOmicas3 sociais e dos valores culturais de cada

sociedade# ) passa adiante# $ eame dos casos descritos ao longo do livro não permite

energar uma estrutura eplicativa espec!&ica para como surgem estas instituiç;es# Dem por

isso a contribuição de "iamond ( menos importante# @as revela uma lacuna 5ue precisa ser

 preenc2ida#

Nuem não recua diante de tão compleo desa&io ( 'ane 'acobs3 urbanista e autora de livros

consagrados como )ida e ortes das grandes cidades e3 mais recentemente3 de uma obra

cu6o t!tulo di7 muito sobre seu vi(s de abordagem%  A nature&a das economias# Para ela3

desenvolvimento ( uma versão3 uma &orma do desenvolvimento natural# A essência de seu

argumento talve7 possa ser resumida na a&irmação de 5ue as sociedades3 e as economias mais

especi&icamente3 se tornam din4micas e se desenvolvem 5uando são capa7es de promover

variadas e intricadas interaç;es3 e assim criar vigorosamente di&erenciaç;es a partir da5uelas

 6= eistentes# Por isso diversi&icação ( uma palavra-c2ave% ela amplia a possibilidade de

interaç;es entre as partes do sistema3 se6a ele um sistema natural3 um sistema de cidades3 uma

economia local# Possibilidades de interação e inteligência criativa &a7em estas combinaç;es

se tornarem novas generalidades3 da 5ual irão se tornar poss!veis novas combinaç;es3 novos

co-desenvolvimentos3 e assim sucessivamente3 numa din4mica de constante criação3

diversi&icação e evolução +'acobs3 /RR1.# $ desenvolvimento teria3 assim3 um movimento

geral3 um sentido3 e uma lógica 5ue ( a mesma 5ue vale para os &enOmenos naturais e sociais#

)sta tese de 'acobs (3 portanto3 <til para pensar o desenvolvimento3 em geral3 e ser=

 particularmente importante 5uando se &or analisar desenvolvimento rural3 em particular3 6=

5ue uma das mais importantes obras da autora trata 6ustamente das relaç;es entre cidades e os

campos na produção da ri5ue7a +'acobs3 1.#

)sta id(ia de diversi&icação merece ser retida# $s problemas na teoria de 'acobs começam

 6ustamente 5uando ela atribui 8 din4mica econOmica3 evolutiva3 um naturalismo# Se &osse

 poss!vel energar alguma uni&ormidade nos processos de desenvolvimento sua eplicação

seria su&iciente# $ problema ( 5ue seu modelo teórico simplesmente não permite analisar a

di&erença3 a desigualdade# Tudo se passa como se3 naturalmente3 di&erenciaç;es emergissem

de generalidades3 das 5uais surgiriam novas di&erenciaç;es# @as por 5ue determinadasME

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generalidades dão origem a certos tipos de di&erenciaç;es Q >sto não pode ser eplicado

somente pelos condutos de energias3 nem por 5ual5uer determinação pr(via inscrita na

con&iguração anterior# As con&iguraç;es eplicitam campos de constrangimentos e de

 possibilidades3 mas não o sentido em 5ue se estabelecer= sua din4mica#

Assim como na cr!tica &eita a Sen3 seria preciso a5ui introdu7ir um elemento eplicativo 5ue

desnaturali7e a eplicação3 e 5ue con&ira 8s estruturas sociais algum papel# claro 5ue 'acobs

recon2ece 5ue as di&erentes possibilidades de reali7ação da criatividade das pessoas não são

 plenamente liberadas3 não são livres de condicionantes# $ problema est= em 5ue3 o 5ue

eplica a evolução do real ( 6ustamente por 5ue mecanismos a criatividade inata aos seres

2umanos não se reali7a plenamente3 e não o potencial nela contido# $u3 em outros termos3 o

5ue ( eplicativo não ( o inato3 mas o 5ue impede o potencial3 o inato3 de se reali7ar3 ou o 5ue

o canali7a em di&erentes direç;es# 6ustamente isso 5ue &a7em @a7o:er X 9oudart

+1M/RR/. em sua 2istória das agriculturas do mundo% ali o meio-ambiente ( uma inst4ncia

tão determinante 5uanto o são os con&litos ou a tecnologia# Deste livro 5ue tamb(m aborda a

longa evolução de sociedades 2umanas3 a nature7a entra como elemento eplicativo3 sem

apagar os determinantes sociais do apogeu e decl!nio das grandes civili7aç;es3 mas tamb(m

sem subordinar-se completamente a estes determinantes#

MH

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S7n"ese do Ca:7"u#o 5

)mbora não eista d<vida de 5ue a maior parte das de&iniç;es dispon!veis sobre

desenvolvimento ten2a como traço comum seu vi(s eminentemente normativo3 a retomada da

longa tra6etória desta id(ia mostra 5ue nem sempre &oi assim# Duma outra vertente3 cu6a

validade cient!&ica não pode ser 5uestionada3 o desenvolvimento de uma sociedade pode ser

compreendido como evolução de uma con&iguração 2istórica determinada# )volução 5ue

nada tem de linear3 e 5ue pode se dar em di&erentes direç;es3 aproimando-se ou

distanciando-se do ideal contido no pro6eto normativo do desenvolvimento como mel2oria

dos indicadores econOmicos3 sociais e ambientais de um dado pa!s3 região ou grupo social#

Compreender nestes termos os processos de desenvolvimento leva necessariamente 8

constatação da insu&iciência dos aparatos teóricos a eles dedicados# As teorias de maior apelo

 pecam ou por desconsiderar a import4ncia do esto5ue de bens e recursos de 5ue uma

sociedade disp;e para estabelecer &luos din4micos F recursos 5ue lin2agens bem distintas do

 pensamento social e econOmico vêm c2amando por capitais3 social3 2umano3 cultural3 e at(

natural -3 ou por não eplicar de onde vêm as instituiç;es 5ue l2es permita compO-los de uma

maneira a alcançar mais bem-estar e coesão social# "a! a necessidade de observar as

articulaç;es entre meio-ambiente3 estruturas sociais e instituiç;es3 aspectos geralmente

en&ati7ados de maneira isolada por tradiç;es disciplinares concorrentes como a geogra&ia3 a

sociologia ou a economia#

MM

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PAR%E II

RURALIDADE

M

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Ca:7"u#o + 4 Rura#idade

A id(ia de desenvolvimento rural ( algo 5ue envolve a mani&estação de um processo de

caracter!sticas mais gerais3 o desenvolvimento3 em um dom!nio espec!&ico3 neste caso o rural#

Compreendê-lo sob uma perspectiva não normativa ( algo 5ue eige a adoção de dois

 procedimentos# $ primeiro ( o 5ue se depreende da Parte >3 anterior% ( preciso entender o

desenvolvimento não como dese6o ou utopia3 pelos conte<dos epressos num Idever serJ3

mas como evolução de con&iguraç;es sociais determinadas3 analisando as interdependências

entre meio-ambiente3 instituiç;es e estruturas sociais a partir de um en&o5ue

de sua tra6etória em longo pra7o# $ segundo procedimento ( 6ustamente o 5ue ense6a esta

Parte >>% de&inir em 5ue consiste a particularidade deste tipo de espaço 5ue ( o rural# Dos

tempos recentes tornou-se 5uase um 2=bito acrescentar o ad6etivo InovoJ para tratar da

5ualidade do rural no mundo contempor4neo# ,ala-se em Inovo ruralJ3 em Inovas

ruralidadesJ3 muitas ve7es sem um maior es&orço anal!tico em elucidar o 5ue neles ( recente e

o 5ue ( propriamente permanente# >mporta3 sobretudo3 saber 5ual a implicação desta nova

situação3 insinuada pela ad6etivação crescentemente vista na bibliogra&ia sobre estudos rurais3

em termos de inst4ncias emp!ricas &undamentais e de articulaç;es conceituais para entendê-

las# Uma opção 5ue3 al(m disso3 se imp;e tamb(m pelo teor da tese 5ue se pretendedemonstrar% a a&irmação de 5ue os rumos atuais dos processos de desenvolvimento em =reas

rurais e os es&orços cognitivos para compreendê-los3 sobretudo a5ueles presentes no 4mbito

da c2amada abordagem territorial3 representam um dépassement   do paradigma agr=rio3

dominante nas ciências sociais aplicadas aos estudos rurais#

$s dois cap!tulos 5ue comp;em esta Parte do estudo tomam a oposição campo-cidade3 rural-

urbano3 como ponto-de-partida3 para super=-la em ve7 de neg=-la# Para isso3 este Cap!tulo /traça uma pe5uena 2istória desta relação# Atrav(s das contribuiç;es de grandes 2istoriadores

como ,ernand raudel3 Georges "ub:3 Paul airoc2 e de @a Weber3 pretende-se ressaltar

como a evolução destes dois espaços não pode ser compreendida senão em termos de suas

interdependências# Desta tra6etória3 são abordadas as especi&icidades 5ue marcam tanto a

2eterogeneidade espacial da urbani7ação em termos 2istóricos e geogr=&icos gerais3 como

especi&icamente a Am(rica Batina e suas peculiaridades# $ ponto-de-c2egada ( a interrogação

em torno das mudanças atuais e o 5ue elas signi&icam perante a tra6etória de urbani7ação

M

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SoroLin elenca os seguintes traços marcantes% as di&erenças ocupacionais entre os dois

espaços3 com maior peso das atividades prim=rias no caso dos espaços ruraisV as di&erenças

ambientais3 com maior dependência da nature7a no ruralV o taman2o da populaçãoV a

densidade demogr=&icaV o grau de di&erenciação social e de compleidadeV as caracter!sticas

de mobilidade socialV e as di&erenças de sentido da migração>># São traços 5ue claramente

&alam mais da condição rural nos anos 0R do s(culo ZZ3 5uando tal de&inição &oi &ormulada3

do 5ue eatamente de caracteres &undamentais da ruralidade>-#

$ estudo da 2istória urbana3 da 2istória das cidades3 por sua ve73 rendeu periodi7aç;es e

tipologias interessantes3 5ue partem de alguma de&inição do 5ue pode ser considerado3 em

 perspectiva de evolução temporal3 uma cidade# Paul airoc23 num livro cl=ssico sobre o tema

 F  De ?erico a é3ico/ villes et économie dans l;histoire  +airoc23 apud  airoc23 1/. F

elenca cinco crit(rios mais comuns para se considerar um assentamento 2umano determinado

como uma cidade% eistência de um artesanato em tempo integral3 ind!cio de especiali7ação

de tare&asV eistência de &orti&icaç;es por oposição a aldeia3 5ue permanece abertaV taman2o e

sobretudo densidade populacionalV a estrutura urbana de 2abitação +casas3 ruas3 etc.V e a

durabilidade da aglomeração em oposição ao acampamento#

airoc2 adverte 5ue dependendo da região em 5uestão alguns destes crit(rios podem perder o

sentido estruturante# "e todos3 a presença do artesanato ( o mais importante3 por sua relação

com a especiali7ação e o 5ue ela implica para a divisão do trabal2o e a necessidade e

 possibilidade da troca# )sta conceituação sustenta uma cronologia de longa duração da

relação entre campos e cidades# Desta sua 2istória econOmica o autor estabelece uma

 periodi7ação estruturada em 5uatro etapas% os primórdios da urbani7ação +ERRR a#C#.V as

sociedades tradicionais +de /MRR a C# 8 9evolução >ndustrial.V a 9evolução >ndustrial +da

9evolução >ndustrial ao Pós-guerra.V e &inalmente o per!odo marcado por a5uilo 5ue ele

c2ama de Iin&lação urbana no Terceiro @undoJ#

'= @a Weber3 em  A dominaFão não leg(tima 1ipologia das cidades8, 2avia adotado

crit(rios de de&inição e classi&icação das cidades 5ue aliam aos crit(rios por ele mesmo

de&inidos como Iestritamente econOmicosJ e Ipol!tico-administrativosJ3 outros de ordem

EE C&# SoroLin3 ^immerman e Galpin +1H.#EH

 A respeito da constituição deste ramo disciplinar e das in6unç;es sociais a 5ue ele estava eposto nestemomento3 ver @artins +1H.#1

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IassociativaJ +Weber3 1% R-R.# "e acordo com esta id(ia3 sob o aspecto estritamente

econOmico3 a eistência de uma cidade implicava% ter uma sede sen2orial-territorial com

centro3 para o 5ual deveriam convergir as demais atividadesV a troca regular de bens como

componente essencial das atividades a5uisitivasV ser um lugar 5ue comporte um mercado3

onde a população local satis&a7 uma parte essencial de suas necessidades cotidianas# Sob o

aspecto pol!tico-administrativo3 a cidade constituiu-se 2istoricamente como uma unidade

entre mercado3 como decorre das &unç;es descritas3 e &ortale7a3 guarnição3 sede

administrativa de uma determinada abrangência ou dom!nio# Destas condiç;es3 as cidades se

caracteri7aram &isicamente por serem assentamentos &ec2ados3 em oposição a ocorrência de

moradias isoladas3 e por serem grandes assentamentos 2umanos e não pe5uenos3 onde

 predominam os laços de con2ecimento pessoal# A estes dois aspectos Weber agrega o

elemento associativo3 o 5ue em sua teoria signi&ica mais do 5ue a espont4nea ou indu7ida

combinação entre indiv!duos numa mesma empreitada ou organi7ação3 signi&ica mesmo o

 próprio processo de Ias*sociaFão+3 de viver em sociedade>8#   ) nisso Weber destaca a

necessidade de eistência de uma Icomunidade urbanaJ3 da 5uali&icação de cidadão com as

liberdades e direitos 5ue isto comporta3 mas3 tamb(m3 com os constrangimentos nisto

implicados3 tal 5ual eistiu originalmente somente no $cidente#

 Do pensamento do grande sociólogo alemão3 e de maneira coerente com seu m(todo dos

tipos ideais3 em ve7 de uma cronologia tem-se uma tipologia3 onde a ên&ase no tipo de

agentes por detr=s dos processos sociais predominantes d= origem 8s t!pico-ideais cidades de

consumidores3 cidades de produtores3 cidades mercantis e cidades de agricultores3 com v=rios

destes tipos coeistindo em per!odos 2istóricos determinados>@# 

Um di=logo entre estas de&iniç;es sugere 5ue uma abordagem da 2istória das relaç;es entre

campo e cidade deveria combinar a composição de crit(rios estruturais e &uncionais com

crit(rios relacionais3 atrav(s de um tratamento da longa duração da contradição entre os dois

 pólos# isso o 5ue &a7 Georges "ub: +1M0. analisando a situação europ(ia e &rancesa em

 particular3 at( c2egar a uma tipologia da interação destes espaços# $u ,ernand raudel

EM *er a respeito a elucidativa eplicação de Gabriel Co2n na sua introdução 8 edição brasileira de  Economia eSociedade +Weber3 1.#E $s tipos ideais são um recurso elaborado por Weber para contornar os limites do pensamento indutivo emciências sociais# )les nunca eistem en5uanto tal no mundo real# São construç;es teóricas3 obtidas a partir daacentuação de um ou mais dos caracteres &undamentais das realidades em 5uestão3 e servem como uma medida

aproimativa3 a partir da 5ual pode-se avaliar o 5uão próimo ou distante determinada situação est= do tipo ideale3 em seguida3 interrogar as ra7;es para tanto# Para um tratamento mais pormenori7ado ver 9inger +/RR.#/

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+1M1E3 1E. 5ue em sua obra cl=ssica con&ere 8s cidades F sempre tomadas em relação

com os campos F o mesmo estatuto dado 8 moeda na evolução 2istórica da 4ivili&aFão

material e capitalismo% ambos são &undamentais para a ampliação das trocas# )3 como di7

raudel3 I sans échange, pas de société+#

 Desta longa evolução3 cabe perguntar3 portanto3 o 5ue são os traços distintivos em uma e

outra (poca e3 principalmente3 o 5ue tal tra6etória ensina a respeito das caracter!sticas

&undamentais e das possibilidades de desenvolvimento rural no mundo contempor4neo#

+3535 4 Dos :rimórdios da di)isão es:aia# do "ra!a#<o H modernidade

A relação com o 5ue muito mais tarde a 2umanidade viria a c2amar como campos e cidades

começa pela própria essência do nascimento do &enOmeno urbano% a &ormação dos primeiros

assentamentos de car=ter mais permanente a partir da 9evolução do Deol!tico3 com a

 passagem da col2eita3 caça e pesca para agricultura e a criação# Dão se trata de entrar a5ui na

 polêmica 5ue 6= consumiu rios de tinta entre os especialistas no assunto sobre 5uem

determinou o 5uê na relação entre a sedentari7ação e a criação das pr=ticas agr!colas3 mas de

destacar 5ue o aumento da produção por super&!cie de terra teve conse5ências maiores para

a 2istória posterior da 2umanidade na &ormação de ecedentes intercambi=veis e no

adensamento populacional associado ao &im do nomadismo>9# 

Para se ter uma id(ia do alto grau de interdependência entre estas duas vari=veis3 basta

lembrar 5ue3 para a situação da )uropa no Pr(-Deol!tico3 seria necess=ria uma =rea

e5uivalente a Icinco Suiças ou uma Grã-bretan2aJ para suportar uma cidade de mil

2abitantes3 o 5ue tornaria imposs!vel se estabelecer &luos de troca +airoc23 1/.# Por isso

não ( de se espantar 5ue raras &oram as regi;es onde3 2avendo agricultura3 não se &ormaram

cidades no curso dos dois mil anos seguintes# Nuanto mais volumosos os ecedentes

agr!colas3 5uanto mel2ores as terras3 mais precoce &oi o surgimento de assentamentos

2umanos importantes3 como mostra o 5uadro a seguir#

E

 ?= uma literatura relativamente etensa a respeito# Consultar3 entre outros3 oserup +1M.3 @a7o:er X9oudart +1M/RR/.3 Dort2 +11.#0

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&uadro 5Indiaçes de :r1"ia agr7o#a e surgimen"o das idades 4 

om:aração "em:ora# e es:aia#

Região do mundo Primeiras indiaçes de :r1"ia daagriu#"ura

Primeiras indiaçes de idades :ro"o'ur!anas

Orien"e'mdio ERR-RRR a#C# MRR a#C# +'ericó.

(sia HRRR-ERRR a#C# /RRR a#C# +>ndia.1ERR a#C# +C2ina.

Amria MRRR-HERR a#C# 1ERR-RR a#C#

Euro:a HERR-HRRR a#C# /ERR a#C#

(.ria ERRR a#C# 1RRR-ERR a#C#

*on"e% airoc2 +1/.

)sta dependência direta &oi c2amada por airoc2 de Idupla tirania3 da dist4ncia e da

agriculturaJ# As possibilidades de desenvolvimento eram totalmente presas 8 possibilidade de

 produção de bens de subsistência atrav(s da atividade prim=ria# ) as eventuais trocas estavam

igualmente vinculadas ao êito em se alcançar um ecedente# Seu interc4mbio3 por sua ve73estava igualmente atado 8 etensão da dist4ncia entre os locais de origem dos dois pólos

envolvidos3 6= 5ue não eistiam condiç;es de transporte e conservação m!nimas#

evidente 5ue a din4mica 5ue envolve estes n<meros e esta relação entre agricultura e

&ormação das cidades ( algo 5ue implica em intervalos temporais bastante dilatados3 como

&ica claro no 5uadro apresentado# ) não ( por acaso o uso da epressão Iassentamentos

2umanosJ e não cidades# airoc2 5uali&icou as primeiras &ormaç;es de Icidades proto-

urbanasJ3 pois elas 6= se distinguiam claramente das aldeias do Deol!tico# )n5uanto estas

eram &ormadas por assentamentos envolvendo de 5uin7e a trinta casas3 num total de du7entas

a 5uatrocentas pessoas3 as primeiras cidades do $riente @(dio3 por volta do ano /MRR   a#C#3

reuniam entre sete a vinte mil 2abitantes# Ali 6= 2avia uma especiali7ação mais intensa e tem

in!cio uma verdadeira 9evolução Urbana3 tornando poss!vel desde então &alar

verdadeiramente em cidades3 com as caracter!sticas 5ue l2es são t!picas# )stima-se 5ue a

 população mundial neste per!odo 6= era de algo entre 5uarenta a noventa mil2;es de

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2abitantes3 dos 5uais apenas um a dois mil2;es 2abitando nas cidades# Do per!odo entre 1M0R

e 1HR a#C#3 a abilOnia3 um dos mais importantes centros da Antigidade3 comportou entre

du7entos e tre7entos mil 2abitantes# ) no auge do >mp(rio 9omano3 sua capital c2egou 8

impressionante casa do um mil2ão de 2abitantes3 momento em 5ue o mundo inteiro

comportava pouco mais de cento e cin5enta mil2;es de pessoas# Após o decl!nio romano3

deslocou-se para a C2ina e o mundo muçulmano a concentração das cidades com mais de

cem mil pessoas# Passou-se 5uase um milênio para 5ue a população mundial dobrasse de

taman2o3 alcançando a casa dos du7entos e cin5enta mil2;es de pessoas por volta do ano

1RRR# "epois3 em apenas cinco s(culos este n<mero dobrou novamente3 e c2egou a

5uin2entos mil2;es em 1ERR# )m 1MRR a população mundial 6= 2avia saltado para algo em

torno dos setecentos mil2;es de pessoas3 dos 5uais sessenta mil2;es 2abitando as cidades#

 Deste momento da 2istória3 a ]sia tin2a trinta e três cidades com mais de cem mil3 en5uanto

a )uropa tin2a apenas do7e# @as nesta <ltima3 embora o n<mero de citadinos ten2a se

multiplicado por cinco3 o n<mero de cidades de cin5enta mil 2abitantes 2avia se

multiplicado por 5uin7e +airoc23 1/.3 denotando um padrão bem di&erente da5uele

eperimentado no $riente e revelador da especi&icade europ(ia3 traço tão destacado por @a

Weber#

Segundo ele3 &oi 6ustamente na )uropa 5ue a intensidade das aç;es das cidades sobre os

campos &oi mais positiva para o con6unto da economia3 por5ue &oi ali3 na5uele continente ou

em uma parte espec!&ica dele3 5ue as cidades se constitu!ram em espaços de associação

menos vinculados 8s 5uali&icaç;es estamentais 5ue pesavam sobremaneira nos campos#

Weber dedicou uma etensa pes5uisa materiali7ada em v=rios de seus tetos para eplicar as

articulaç;es entre id(ias3 economia e sociedade-,# Sua abordagem ( compreensiva 6ustamente

 por não con&erir uma determinação <nica do material para as instituiç;es ou vice-versa3 e sim

 por ver o real como resultado de composiç;es 2istóricas singulares# )n5uanto no $riente as

cidades se &irmaram como etensão dos dom!nios de castas e estamentos religiosos3 no

$cidente elas tomaram a &orma de espaços de troca mais din4micos#

HR  Para o debate a5ui proposto são de etrema import4ncia os seguintes tetos de Weber% o cap!tulo intituladoSociologia das religiKes  e a seção 1ipologia das cidades3 ambos em Economia e SociedadeV e a  -arte ###/ Religião3 dos )nsaios de Sociologia3 al(m d_ A ética protestante e o esp(rito do capitalismo# C&# respectivamenteWeber +1V 1R/RR.# Uma ecelente apresentação dos tetos sobre religião3 discutida a partir de sua

import4ncia para o processo de desencantamento e racionali7ação do mundo pode ser encontrada em Pierucci+/RR0.#E

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)smiuçando o pensamento Keberiano sobre esta especi&icidade3 "omingues +/RRR% ///.

eplica 5ue Ia cidade configurara*se como espaFo da liberdade e da autonomia

 precisamente porque floresceu em um momento e3tremamente peculiar no desenvolvimento

histórico do .cidente" Ela inserira*se em um conte3to feudal, B' em si contratual,

estabelecendo*se um contrato de liberdade entre seus cidadãos 5 que formavam uma

comunidade em todos os planos, inclusive em termos de significaFão cultural e sentido da

aFão/ a defesa da liberdade compartilhada entre iguais" Ela escapara, com isso,

 paralelamente à sua inserFão na tessitura contratual do mundo feudal, da lógica da

dominaFão que o estrutura" Ela constituiu*se em momento absolutamente singular da

história universal/ estabelecera uma autonomia ante os estamentos dominantes no conte3to

 societal global do feudalismo, tornando a dominaFão tradicional ;não leg(tima;" Ao mesmo

tempo, desabrochara em um momento anterior ao desenvolvimento do Estado patrimonial, o

qual levou à sua subordinaFão, à dominaFão racional*legal e, afinal, à perda daquela

oportunidade histórica =nica de reali&aFão da liberdade" . credo coletivo da urbe, por seu

turno, tecera uma comunhão entre os cidadãos sem que, por outro lado, se rompesse a

efetiva esfera de autonomia de cada indiv(duo, malgrado a profundidade B' significativa da

racionali&aFão da conduta no que tange às questKes econ>micas" ais ainda, a aFão social

não perdera seu sentido coletivoJ# )ste era o Iar das cidades 5ue torna as pessoas livresJ3

ditado medieval lembrado por Weber e assim eplicado em termos sociológicos#

>sto não (3 contudo3 um processo 5ue se estabelece de maneira 2omogênea mesmo no interior

da5uele continente# $ nascimento e epansão das cidades no norte da )uropa não se deu tão

cedo 5uanto no sul# >n&luenciaram nisto basicamente dois &atores% o modelo de urbani7ação F

 6= 5ue em alguns lugares o campesinato representava um 5uarto3 em outros metade do total de

2abitantes -3 e os sistemas de produção F nos Pa!ses aios3 por eemplo3 a importação de

cereais e a conse5ente diminuição da demanda por mão-de-obra no campo &avoreceu uma

mais alta taa de urbani7ação +airoc23 1/.# )sta condição repercutiu tamb(m no padrão

de organi7ação espacial e econOmica em ambas as regi;es# Do @editerr4neo se &irmaram

cidades comerciais3 cu6a abertura para o mar propiciava uma integração priorit=ria com outras

regi;es comerciais3 num sistema compleo de trocas materiais e culturais# '= no norte3 as

cidades se &irmaram a partir da relação com seu entorno3 se6a na estruturação de uma mal2a

de aldeias e pe5uenas cidades3 se6a nas inter&aces mais estreitas entre a produção agr!cola e o

H

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disseminação das inovaç;es F ambos vistos como atributos espec!&icos das cidades F são

determinantesH/# 

$s argumentos de 'acobs são em parte muito pertinentes3 mas as evidências 2istóricas &a7em

a balança pender mais para o lado de airoc2 e "ub:# )la acerta na sua ên&ase na

diversi&icação3 mas erra ao ver somente nas cidades o lugar poss!vel para tanto# @ais

interessante do 5ue procurar em 5ual dos pólos se encontra a virtude imanente ( compreender

as m<ltiplas articulaç;es poss!veis entre eles e os resultados 5ue estas interaç;es geram#

 poss!vel identi&icar situaç;es anteriores ao per!odo de mais intensa urbani7ação em 5ue o

&luo cidade-campo se estabeleceu de maneira a gerar impactos negativos para o segundo

 pólo F como ( o caso emblem=tico da distribuição gratuita de cereais na 9oma Antiga# )

inversamente3 ( poss!vel da mesma maneira divisar situaç;es em 5ue as condiç;es de maior

dinamismo das cidades repercutiram positivamente sobre os campos3 por eemplo3 atrav(s da

metalurgia e de mel2oramentos na &erramentaria agr!cola3 no aumento da produtividade3 no

com(rcio e introdução de novas variedades# "a mesma &orma3 @a7o:er X 9oudart

+1M/RRR. mostram claramente como a longa evolução desde a 9evolução do Deol!tico at(

a 9evolução >ndustrial ( pontuada por uma s(rie nada despre7!vel de inovaç;es# $s autores

não c2egam a a&irmar 5ue boa parte delas teve origem &ora das cidades# @as3 considerando a

&r=gil urbani7ação do mundo neste longo per!odo3 de um lado3 e a ri5ue7a e variedade destas

inovaç;es atrav(s da 2istória3 de outro3 isto ( &acilmente presum!vel#

$ 5ue ningu(m certamente nega ( 5ue3 na longa passagem do per!odo &eudal para o

capitalismo a cidade torna-se gradativamente o pólo dominante3 e o &a7 rompendo pouco a

 pouco as limitaç;es de 5ue &alava airoc2# Com a 9evolução >ndustrial e a urbani7ação3

como &oi dito3 são solapadas as duas marcas de todo o per!odo anterior3 de resto abaladas 6=

desde o s(culo Z> e mais intensamente desde o s(culo Z*% a Itirania da dist4ncia e da

agriculturaJ# Paradoalmente3 no entanto3 as cidades não desempen2aram um papel

determinante no déclenchement  da 9evolução >ndustrial na >nglaterra3 nem nos primeiros

 passos de sua transmissão espacial para o resto da )uropa# )mbora as cidades não estivessem

ausentes do processo de criação de inovaç;es t(cnicas importantes3 um eame da locali7ação

das empresas dos setores motores das primeiras t(cnicas importantes mostra uma &orte

 predomin4ncia3 senão do meio puramente rural3 ao menos das regi;es de cidades muito

H/ Uma an=lise pormenori7ada do tema na obra de 'ane 'acobs &oi muito bem &eita por arin *ecc2iatti +/RR0.#

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 pe5uenas3 no limite do rural# >sto se devia ao tipo de energia dispon!vel - 6= 5ue a primeira

&orça motri7 eram moin2os d_=gua e a segunda o carvão -3 e a algumas caracter!sticas

essenciais da economia F n!veis salariais mais baios no rural3 custo mais baio de terrenos e

construç;es nestes espaços e a ausência de regulamentação +airoc23 1/.# As &=bricas

surgem inicialmente no meio dos campos3 reunindo a 6ustaposição de trabal2adores

individuais3 e só depois vão para a cidade onde se introdu7 uma mais so&isticada divisão do

trabal2o#

Com o passar do tempo a vari=vel t(cnica assume maior peso e3 com isso3 a situação inicial se

inverte 5uase 5ue por completo# As cidades vão gradativamente se tornar o lugar da

monetari7ação das relaç;es3 da mobilidade social3 da ade5uação entre o&erta e demanda de

mão-de-obra 5uali&icada3 da concentração da renda# Tanto ( 5ue3 como mostra o Nuadro /3 no

s(culo Z*>>> as cidades vão aparecer no imagin=rio da (poca associadas 8 ri5ue7a e ao luo#

 Do s(culo Z>Z 8 mobilidade e 8 &ormação das massas# )3 mais tarde3 no s(culo ZZ3 ainda 8

mobilidade3 ao &uturo3 mas agora em situaç;es de estran2amento t!picas dos grandes e

massi&icados ambientes urbanos# $ rural3 por outro lado3 vai sendo mais e mais associado ao

 passado3 ao r<stico e ao id!lico3 8 tradição3 5uando não ao irracional#

Analisando as trans&ormaç;es demogr=&icas posteriores 8 9evolução >ndustrial3 airoc2 nota

5ue Ialgo aconteceJ no s(culo Z>Z# Do s(culo Z*>>> a taa de urbani7ação europ(ia &icou

estacion=ria3 e os e&eitos da industriali7ação3 restritos ao 9eino Unido# At( então se vivia

mais no campo 5ue na cidade3 esta <ltima crescendo principalmente graças 8 emigração de

 6ovens# Do s(culo Z>Z3 com a disseminação da 9evolução >ndustrial pela )uropa3 a taa de

urbani7ação salta de 1H` a R` no in!cio do s(culo ZZ# )ste crescimento ( interrompido nos

anos 0R e no per!odo da Segunda Grande Guerra para voltar a acelerar em seguida# @as3

agora3 não mais no mesmo ritmo do s(culo anterior# Se at( a 9evolução >ndustrial apenas

uma ou duas cidades passavam da casa do um mil2ão de 2abitantes3 na Primeira Grande

Guerra oito cidades passavam dos dois mil2;es3 e no Pós-guerra Dova \orL so7in2a passa a

casa dos de7 mil2;es3 mais 5ue toda a população urbana da )uropa e Am(rica do Dorte 2=

menos de 5uin2entos anos atr=s3 mais precisamente por volta de 1HRR# Dão 2= d<vida3

 portanto3 do 5uão intensa &oi a urbani7ação do mundo ocidental ao longo dos <ltimos dois

s(culos3 a ponto de importantes teóricos passarem a &alar em 9evolução Urbana ou em

Civili7ação Urbana +Be&ebvre3 1MR/RR/.#

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&uadro +

Li"era"ura e )ida rura#

9a:mond Williams3 analisando a evolução etimológica de denominação destes pólos na literatura3

sublin2a como3 dos s(culos Z>>> a Z*>3 vai se deslocar o sentido original de countr2,  derivado de contra

+against the observer .3 para o sentido moderno de espaço 3 &irmando-se desde o s(culo Z*> como contraste de

cidade# nesse momento 2istórico 5ue cit23 derivado de civitas3 por sua ve7 origin=rio em civis3 passa a

denominar uma grande cidade# )m >nglês antigo3 isto era intercambi=vel com burh 3 por sua ve7 mais usado 5ue

urbs# A partir de então os contrastes são mais e mais invocados% countr2man3 countr2people3 mais tarde

countr2field   e countr2side# )n5uanto urbane  guarda durante todo o per!odo um signi&icado marcado pela

descrição di&usa3 rural  e rustic3 6= presentes em descriç;es &!sicas desde o Z*3 vão ad5uirir implicaç;es sociais

tamb(m a partir de meados do s(culo Z*># @ais tarde surgiria o termo metropolis3 utili7ado entre os s(culos

Z*> e Z*>>> para denominar uma chief*to9n# Dos s(culos Z>Z3 e sobretudo no ZZ3 o car=ter social dasdistinç;es entre a cidade e o campo vão se acentuar mais e mais re&orçando polaridades 2o6e tão presentes como

a associação a uma e outra como lugares privilegiados da modernidade ou da tradição# >sto est= presente em

in<meros romances 5ue tratam da ascensão da burguesia e da urbani7ação3 ou da mudança em padr;es de

comportamento3 at( o radicalismo 5ue se apresenta como oposição entre racionalidade +da modernidade. e

irracionalidade +do rural pro&undo.3 como no recente Desonra3 do sul-a&ricano '#@#Coet7ee#

 Da literatura brasileira3 .s SertKes aparecem como essência da nação em oposição ao litoral 6= no

cl=ssico de )uclides da Cun2a3 na virada do Z>Z para o ZZ# @eio s(culo depois +meio s(culo atr=s.3 mesmo no

=pice da prosa de Guimarães 9osa3 o Lrande Sertão só ( acess!vel pelas veredas 5ue o separam do mundo

urbano em &ranca epansão3 envolvendo e desencantando o rural# "esde então3 no rasil em particular e na

Am(rica Batina em geral3 a &icção urbana vai ser mais e mais predominante3 e o lugar do r<stico3 do rural3 vai

ser reservado 8s terras e 2istórias perdidas do  Romance d;A  -edra do Reino  de Ariano Suassuna# $u ao

 passadismo de 'uan 9ul&o em 4hão em 4hamas e -edro -'ramo3 onde mal ( poss!vel divisar os personagens

vivos dos mortos em ambientes 5uase surreais# Um dos <ltimos eemplos de grandes romances 5ue se passam

no sertão mostra como o passado se con&ronta ou se dilui no presente3 na &orma das 2eranças agr=rias3 coloniais3

escravistas# )m Sargento Let=lio3 de 'oão Ubaldo 9ibeiro3 o personagem como 5ue a representar todo um

universo3 uma &orma 2istórica da 5ual ( agente t!pico3 recebe ordens para Idesaparecer do mapaJ3 e retruca%

I5uem pode sumir ( os outros3 como ( 5ue eu posso sumir se eu sou eu QJ# $ mesmo personagem c2ega ao &im

do livro ol2ando a capital do )stado do outro lado do rio3 após sua longa peregrinação% a cidade3 lugar associado

8 mudança e 8 liberdade3 estava ali3 tão perto e tão inacess!vel#

)laboração do autor com base nas obras citadas#

R

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Ao mesmo tempo3 não 2=3 contudo3 ind!cios 5ue apontem para uma intensi&icação ainda

maior ou se5uer no mesmo ritmo nos tempos atuais# >sto (3 não se trata de 5uestionar a

dominação urbana do mundo contempor4neo3 mas sim de 5uali&ic=-la3 para então avaliar seu

signi&icado em relação aos momentos anteriores e3 particularmente3 para a permanência ou

não do estatuto emp!rico e teórico do pólo dominado3 o rural# A con&ormação das tendências

&uturas eige uma maior decantação das tendências demogr=&icas recentes3 cu6os sentidos

atuais são bastante multi&acetados3 comportando distintos padr;es de urbani7ação e de

relação entre as cidades e o espaço rural 5ue l2es envolve# Por isso3 antes de passar ao eame

do novo estatuto da ruralidade no mundo contempor4neo3 cabe dedicar algumas lin2as 8

especi&icidade latinoamericana#

+3536 4 A :eu#iaridade #a"inoameriana

 Do caso espec!&ico do c2amado ITerceiro @undoJ3 seria um erro analis=-lo como mera

etensão ou cópia imper&eita do 5ue ocorre nos pa!ses do capitalismo avançado# Da Am(rica

Batina3 particularmente3 2= livros cl=ssicos 5ue tratam diretamente da peculiaridade

latinoamericana% 'os( Buis 9omero +1MH/RR. e3 antes dele3 S(rgio uar5ue de ?olanda

+10H1E.3 6= 2aviam mostrado como as cidades se constitu!ram como porta de entrada e

aliada da Coloni7ação#

 Duma con2ecida passagem de  Ra(&es do Mrasil 3 2= uma tipologia das cidades latino-

americanas contrapondo o racionalismo das cidades 2isp4nicas3 &undadas sobre um con6unto

de prescriç;es 5ue aparecem no desen2o plane6ado3 no traçado reto de suas ruas e vias3 e o

 barro5uismo das cidades luso-brasileiras# 9omero3 sob direta in&luência da metodologia

Keberiana dos tipos ideais3 classi&ica cinco tipos de cidades latino-americanas3 tipos 5ue se

sucedem e cu6a di&erenciação ( dada pela classe ou grupo social dominante# A se5uência

2istórica tem in!cio com o ciclo das &undaç;es 5ue troue a constituição das cidades com suas

&unç;es pr(-estabelecidas pela Coroa3 com seus grupos urbanos origin=rios e sua mentalidade

&undadora3 a mentalidade epansionista europ(ia# Das belas palavras de 9omero +1M/RR%

H-M.3 %"""posicionados em frente ao lugar escolhido, com a mão apertada na empunhadura

da espada, o olhar fi3o na cru& e os pensamentos direcionados para as rique&as que a

aventura lhes proporcionaria, os homens do grupo fundador da cidade que B' tinha nome,

mas da qual nada e3istia sobre o solo, deveriam e3perimentar a sensaFão de quem espera o1

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 prod(gio da criaFão surgida do nada" Eram europeus em um continente desconhecido, e a

criaFão estava prefigurada em suas mentes" -orque esta faFanha não era, na verdade, senão

um passo a mais nessa ambiciosa aventura européia de e3pandir*se, iniciada quatro séculos

antes" A terra que agora ocupavam 5 uma terra real com rios e plan(cies, lagos e vulcKes *

deveria ser uma e3tensão da terra que dei3aram no dia em que embarcaram em seus navios"

"""8 A mentalidade fundadora foi a da e3pansão européia condu&ida por essa certe&a

absoluta e inquestion'vel da posse da verdade" A verdade cristã não significava somente

uma fé religiosa/  era, a rigor, a e3pressão radical de um mundo cultural" E quando o

conquistador trabalhava em nome dessa cultura, não só afirmava o sistema de interesses que

ela representava como também o conBunto de meios instrumentais e de técnicas que a cultura

burguesa havia acrescentado à velha tradiFão feudo*cristã" """8 .s grupos fundadores

e3pressavam essa interpenetraFão feudo*burguesa que na pen(nsula ia aBustando as relaFKes

entre as classes e também entre os fins e os meios" """8 LraFas àquela certe&a, a mentalidade

e3pansionista européia havia concebido o proBeto de instrumentali&ar o mundo não cristão

de acordo com seus próprios interesses, e afirmou*se nessa convicFão cada ve& mais, à

medida que os meios iam aumentando suas possibilidades/ à maior superioridade técnica

correspondeu maior certe&a da validade de seus fins+"

)sta passagem tra73 não uma3 mas v=rias signi&icaç;es importantes# )ntre muitas3 ela &ala da

&orma de apropriação do espaço e dos recursos naturais3 do tipo de relação entre

coloni7adores e coloni7ados3 da etensão 5ue o Dovo @undo representava em relação ao

imagin=rio europeu da (poca# ,ala3 em suma3 do sentido da Coloni7ação# "a Coloni7ação

como instituição3 do 5ue ela representava para as &ormas de interpretação da relação com o

novo espaço3 seus 2omens e suas coisas# Combinavam-se assim atitudes sen2oriais e atitudes

 burguesas3 por ra7;es 5ue remontam 8s necessidades de colaboração entre estes dois

segmentos da sociedade europ(ia do per!odo da Coloni7ação#

$s cinco tipos 5ue se sucedem desde então são3 sempre segundo a tipologia de 9omero3 as

cidades &idalgas3 as cidades IcriollasJ3 as cidades patr!cias3 as cidades burguesas e as cidades

massi&icadas3 &inalmente3 no s(culo ZZ# Delas3 a cidade 5ue se desenvolve em ra7ão do

com(rcio vai gradativamente gerando as elites governantes da (poca dos processos de

independência e3 posteriormente3 os grupos integrados e dependentes do capital internacional

do per!odo de mais intensa industriali7ação#/

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 Do rasil as cidades de in!cio não alcançaram a mesma import4ncia 5ue nos demais pa!ses

latino-americanos# somente nos meados do s(culo Z*>>> 5ue 2= um maior &ortalecimento

dos grupos urbanos e das &unç;es intermedi=rias das cidades# At( então a sociedade agr=ria

2avia imposto sua imagem de realidade# Dovamente nas palavras de 9omero +1M/RR.3

%"""foram os senhores da terra que esboFaram o primeiro perfil do Mrasil colonial, ao passo

que as populaFKes urbanas 5 artesãos e pequenos funcion'rios, clérigos e pequenos

comerciantes 5 foram suplantadas" Até o século N#N, só algumas cidades 5 Salvador da

 Mahia e, sobretudo, a Recife holandesa 5 insinuaram a sua capacidade de influir na

 poderosa aristocracia fundi'ria, que amava a vida rural e residia em meio a suas

 propriedadesJ#

>sto signi&icava um sentido totalmente di&erente para a relação entre as cidades e seu entorno#

)n5uanto a )span2a 2avia imaginado seu imp(rio colonial como uma rede de cidades3 o

dom!nio português se limitava 8 eploração econOmica# Da rai7 desta di&erença3 segundo

9omero3 estava a eperiência de c2o5ue com os muçulmanos3 5ue levou durante bom tempo

8 ocupação de parte da Pen!nsula >b(rica3 o 5ue culturalmente se tradu7ia num medo terr!vel

da possibilidade da mestiçagem e da aculturação# Assim3 a cidade IracionalJ da Am(rica

2isp4nica era militari7ada e disciplinada para evitar tais riscos3 en5uanto na Am(rica luso-

 brasileira as cidades se &undaram por princ!pios mais pragm=ticos# )sta prevalência do rural

como centro ideológico do mundo luso-brasileiro permaneceu at( o momento em 5ue as

mudanças acentuadas do capitalismo industrial instituem3 sobretudo a partir dos &ins do

s(culo Z>Z3 uma sociedade crescentemente urbani7ada# assim 5ue a Irede de lati&<ndiosJ

vai sendo substitu!da por uma Irede de cidadesJ3 de maneira similar ao 5ue acontecera na

Am(rica 2isp4nica#

$ &undamental a destacar ( 5ue3 tanto em 9omero como em uar5ue de ?olanda3 as cidades

e o processo de urbani7ação3 suas relaç;es com o mundo rural3 são muito mais 5ue realidades

&!sicas3 são materiali7aç;es de &ormas de vida e de mentalidade# Dos dois autores este

 processo de integração leva a uma esp(cie de triun&o do mundo urbano3 mas numa s!ntese

muito peculiar# )m uar5ue de ?olanda3 a urbani7ação tragaria pouco a pouco o I2omem

cordialJ3 criação do mundo rural3 agregado3 isolado3 dependente3 incorporando-o como uma

0

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esp(cie de portador do passado agr=rio# )m 9omero3 embora 2a6a a constante presença dos

 pólos rural e urbano3 ( neste <ltimo 5ue reside o &oco din4mico da 2istória#

@as apesar de tudo isto3 tamb(m nos dois autores 2= uma constante interpenetração entre os

dois pólos% na &orma das 2eranças ib(ricas 5ue irão se tradu7ir no vi(s patrimonial e

 patriarcalista das instituiç;es3 segundo o autor brasileiro3 na &orma de ideologias contrapostas

e 5ue interagem dialeticamente3 embora sempre presididas pelo pólo urbano3 segundo o autor

argentinoH0# '= para outro autor brasileiro cl=ssico3 Gilberto ,re:re3 o peso das polaridades

seria simplesmente inverso% as ra!7es escravistas origin=rias da oposição entre 4asa Lrande e

Sen&ala3 teriam se estendido para o mundo urbano e se materiali7ado na ant!tese dos

Sobrados e ocambos3 segundo livro de sua trilogia3 e tenderiam mesmo a se perpetuar3 em

 ?a&igos e 4ovas Rasas3 t!tulo plane6ado para o terceiro livro3 5ue nunca &oi publicadoH# Dão (

de outra coisa 5ue &ala 9a:mundo ,aoro em .s Donos do -oder  ou3 no caso das estruturas

econOmicas3 as principais obras de Celso ,urtado e de Caio Prado 'r# HE #

)sta diluição e persistência do rural no urbano ( uma primeira caracter!stica marcante da

Am(rica Batina e do rasil em particular# Por certo tamb(m na )uropa e )UA3 mas ali as

rupturas introdu7idas em passagens 2istóricas &undadoras da modernidade nestas naç;es em

alguma medida IresolveuJ esta 2erança3 se6a atrav(s do protagonismo direto 5ue as

 populaç;es camponesas tiveram em tais eventos3 do 5ual a 9evolução ,rancesa talve7 se6a o

maior eemplo3 se6a ainda pela diminuição da 2ierar5uia social 5ue pesa sobre os 2abitantes

dos dois espaços3 o urbano e o rural3 ao longo de toda a 2istória recente da5ueles pa!ses#

Trata-se3 na Am(rica Batina3 de uma continuidade com vi(s marcadamente negativo nas

&ormas de representação social3 como 2erança agr=ria3 patriarcal3 escravista3 ou como lugar

 por ecelência da dominação tradicional3 da pobre7a e da subordinação#

H0 Um analista da obra de 9omero3 GoreliL3 citado na apresentação de seu livro3 c2ega a 5uali&icar a postura doautor argentino como uma esp(cie de _otimismo urbano_% %"""o campo seria, assim, para o Romero que lHSarmiento, a barb'rie da necessidade e da liberdade, que como possibilidade só pode se aninhar na cidadeJ#H )m seu lugar3 e numa substituição sintom=tica3 ,re:re publicou .rdem e progresso# Ao 5ue parece ,re:re nãoabandonou a intenção de publicar ?a&igos e covas rasas3 mas este pro6eto &oi interrompido com sua morte#HE Dum Coló5uio sobre I)illes et 4ampagnesJ reali7ado nos anos cin5enta na ,rança3 ,ernand raudelc2amava a atenção dos 2istoriadores e geógra&os &ranceses sobre a então recente produção brasileira e sua2abilidade em mostrar as permanências do mundo agr=rio na urbani7ação crescente# Dão ( mero acaso o &ato de

ser este um traço &undamental nas três obras 5ue Antonio Candido considerou serem as leituras indispens=veissobre a &ormação do rasil% 4asa Lrande e Sen&ala, Ra(&es do Mrasil 3 e  @ormaFão do Mrasil 4ontemporIneo#

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$utra caracter!stica ( a velocidade e o &ormato em 5ue se deu o &enOmeno da urbani7ação# A

 partir das d(cadas de /R e 0R do S(culo ZZ3 acontece uma progressão sem precedentes na

2istória# Do c2amado ITerceiro @undoJ3 em 10R3 cento e cin5enta mil2;es de pessoas 6=

viviam nas cidades# @as pouco mais de meio s(culo depois este n<mero 2avia sido

multiplicado por de73 e c2egado próimo de um e meio bil2ão de pessoas em =reas urbanasHH# 

Salvo eceç;es3 este aumento da população - impulsionado pela introdução de t(cnicas

m(dicas e sanit=rias ocidentais3 pelo descarte da mão-de-obra nos campos3 pela etensão

r=pida da educação no meio rural criando um &osso entre duas geraç;es3 e por um intenso

êodo rural motivado pela busca por sal=rios mais altos nas cidades3 +airoc23 1/. - se &e7

com &r=gil desenvolvimento econOmico3 com uma d(bil industriali7ação e3 mais grave3 sem

 proporcional aumento da produtividade agr!cola3 levando a uma 2ipertro&ia urbana3 a uma

superurbani7ação#

A terceira caracter!stica marcante da urbani7ação do ITerceiro @undoJ3 por &im3 ( a

concentração nas cidades muito grandes# )m 10R3 5uase um terço da população 6= estava em

cidades de 5uin2entos mil 2abitantes3 en5uanto na )uropa3 continente de urbani7ação muito

mais antiga3 este percentual era de /R`# Deste mesmo momento seis cidades 6= tin2am mais

de um mil2ão de 2abitantes3 n<mero 5ue salta para vinte em 1ER e para cento e trinta em

1R# ) em 1R3 oito cidades 6= estavam com sete a de7 mil2;es de 2abitantes# Por tudo isso

não ( eagero c2amar este processo de Iin&lação urbana do Terceiro @undoJ# ) como tal3

suas conse5ências principais não são das mais virtuosas% criou-se uma situação de d(&icit

alimentar3 5uando 8s v(speras da Segunda Grande Guerra 2avia ecedente3 criou-se um

d(&icit de empregos urbanos3 e ocorreu uma 2ipertro&ia do setor terci=rio +airoc23 1/.#

 Dão ( de estran2ar3 portanto3 a di&erença entre o rural e o urbano nos pa!ses do capitalismo

avançado e nos pa!ses da Am(rica Batina3 ]sia e ]&rica# $ &enOmeno urbano a5ui se

constituiu sobre estruturas sociais e instituiç;es outras por5ue os agentes e os processos

2istóricos se compuseram de maneira di&erente# A 2erança colonial e escravista3 associada 8

2ipertro&ia urbana e 8 vertigem resultante da velocidade com 5ue ela se deu (3 a um só tempo3

resultado e causa de um estilo de urbani7ação 5ue se &e7 sem a criação de classes e lugares

mediadores3 a eemplo da5uilo 5ue os villages e seus respectivos atores representaram na

HH  Para se ter uma id(ia da proporção e magnitude destes n<meros3 entre 1E e 1MR o crescimento &oi de 3E

` a a 3 en5uanto na )uropa entre 1R1RE este percentual &oi de /` aa # "etal2e% com a C2ina puando am(dia para baio +airoc23 1/.#E

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)uropa $cidental# Por a5ui3 as t(cnicas agr!colas3 5ue tiveram nas cidades uma importante

&onte de irradiação3 &oram importadas dos pa!ses do capitalismo avançado# $ padrão de

urbani7ação3 apoiado em cidades muito grandes3 eigiu grandes volumes de importaç;es3

com impactos para o balanço econOmico# A monetari7ação da vida social signi&icou

endividamento e não liberação dos laços servis# ) a compleidade das t(cnicas e a integração

econOmica mundial tornaram as trocas entre pa!ses e regi;es mais importantes 5ue as trocas

entre cidade e campo# )m s!ntese3 na Am(rica Batina e no restante do c2amado Terceiro

@undo3 di&erente da )uropa3 a urbani7ação tal como se deu &oi mais um &ator de

subdesenvolvimento3 e não propriamente um trun&o ao desenvolvimento +airoc23 1/.#

Al(m disso3 constituiu-se uma verdadeira ideologia urbana 5ue3 em <ltima an=lise3 tradu7-se

como um Inão lugar_ do rural na modernidade3 interditando assim a possibilidade de 5ue se6a

leg!timo preconi7ar 5ue estes amplos espaços possam ser ob6eto de investimentos e de

epectativas &uturas#

As tipologias de 9omero e uar5ue de ?olanda são ecelentes para an=lises de longo pra7o3

como a a5ui empreendida3 pois sinali7am o sentido mais geral da evolução3 os caracteres

mais &ortes 5ue permanecem após sucessivas etapas# @as tra7em consigo uma di&iculdade3

5ue ( não permitir uma leitura da 2eterogeneidade interna destas grandes unidades como

 pa!ses ou continentes num dado momento 2istórico# Da )uropa 6= 2= uma tradição

estabelecida em eplorar os contrastes espaciais das relaç;es entre cidades e campos3 como

&oi poss!vel observar atrav(s das obras de raudel3 "ub:3 airoc2# ) nos anos mais recentes

v=rios estudos acadêmicos ou patrocinados pela União )urop(ia ou órgãos de governo têm

elaborado interessantes tipologias e estudos comparativos3 alguns dos 5uais serão abordados

no próimo cap!tulo# Da Am(rica Batina3 ou ao menos no rasil3 simplesmente não 2=

trabal2os consagrados 5ue eplorem as relaç;es entre o rural e o urbano tendo por ob6eto o

mapeamento e classi&icação de um n<mero ra7o=vel de realidades# Só muito recentemente3

nos <ltimos de7 anos3 têm surgido programas de pes5uisa eplorando este tema sob di&erentes

en&o5ues-8# 

Tanto os ac2ados destes programas de pes5uisa como a ascensão mesmo dos interesses pelas

relaç;es entre o rural e o urbano são resultado de um momento particular da 2istória destes

HM C&# Pro6eto CUT-Contag +1.3 >G)>P)ADesur-Unicamp +1.3 Abramova: +/RR/.#H

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espaços3 cu6o signi&icado pode ser o &im ou no m!nimo um arre&ecimento da urbani7ação

intensa eperimentada at( então#

+3+ ' Uma no)a e"a:a

 Dos anos MR do s(culo ZZ3 pela primeira ve7 desde a 9evolução >ndustrial a taa de

urbani7ação dos pa!ses do capitalismo avançado &ica estagnada# Passa-se a &alar at( em

urbani7ação dos campos3 o 5ue poderia signi&icar tanto uma contradição em termos como o

sinal de dissolução de uma oposição# $s processos sociais 5ue levam a esta diminuição da

dist4ncia entre os dois espaços estão na rai7 de uma interrogação &ormulada por Paul airoc2%

trata-se de uma nova etapa Q >sto (3 &enOmenos antes concernentes 8 urbani7ação atingem um

outro universo sem3 no entanto3 &agocit=-lo Q $u este processo sinali7a uma 2omogenei7ação

entre os dois pólos &orte o su&iciente para apagar suas distinç;es substantivas Q

)stas &oram 5uest;es 5ue permearam os debates 5ue se estabeleceram3 a rigor 6= desde os

anos ER3 mas mais apro&undadamente desde os MR3 na )uropa# Uma boa s!ntese pode ser

encontrada num emblem=tico n<mero da revista  tudes Rurales, organi7ado por Georges

"ub:3 e 5ue tra7ia por t!tulo 0;urbanisation des campagnes# 9eunindo tetos de alguns dos

mais in&luentes pes5uisadores &ranceses da (poca3 a publicação tra7ia v=rios artigos 5ue

atestavam e analisavam as caracter!sticas e implicaç;es deste &enOmeno de diluição das

assimetrias entre o urbano e o rural na )uropa3 e na ,rança em particular# $ teto de 'ulliard

+1M0.3 por eemplo3 6= apresentava uma tipologia mais complea3 com uma abertura para

di&erentes composiç;es entre cidades e campos% cidades rentistas do solo3 amparadas em uma

relação de parasitagem com o meio ruralV cidades 5ue cresceram sem laços org4nicos com o

meio rural3 envolvendo-o3 mas estereli7ando-o em ve7 de &ecund=-loV cidades 5ue associaram

sem ruptura o campo a seu próprio desenvolvimento# $ 5ue ( 5uase consensual desde então (

5ue as trans&ormaç;es econOmicas3 o processo de moderni7ação da produção e a crescente

integração dos mercados levaram ao &im de um tipo espec!&ico de ruralidade3 a5uela 5ue 6=

&oi c2amada por @endras de Isociedades camponesasJ#

Três caracter!sticas importantes desempen2aram papel-c2ave nesta nova situação# Primeiro3 o

compromisso institucional 5ue se criou3 2istoricamente3 em torno da garantia da paridade

econOmica e social entre os agricultores e os demais setores e 5ue ( muito bem retratada emM

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'ollivet X Gervais +1MH.# >sto criou condiç;es para 5ue se aproimassem as condiç;es de

vida em ambos os espaços3 contribuindo tanto para a vitalidade econOmica do meio rural

como para regular o impulso ao êodo3 5ue at( então era tão &orte# Segundo3 e em parte

motivado pelo elemento anterior3 o padrão de crescimento demogr=&ico 5ue passa a vigorar

não aponta mais para o esva7iamento dos campos3 mas at( para a situação inversa3 para a

atração populacional destes espaços3 inicialmente atrav(s do dinamismo gerado pela

e5uali7ação das rendas3 num segundo momento3 com o avanço da in&ra-estrutura e das

 possibilidades de comunicação3 com novos 2abitantes3 sobretudo pro&issionais liberais e

idosos em busca de amenidades e la7er# Terceiro3 a descentrali7ação econOmica e pol!tica 5ue

 propiciou tanto o surgimento de novas oportunidades de trabal2o como tamb(m a

viabili7ação de e5uipamentos sociais ade5uados a uma população com eigência crescente3

estes dois <ltimos aspectos mais destacados por a:ser +1M/3 1R.#

São evidências emp!ricas 5ue3 sem d<vida3 permitiriam responder positivamente 8 pergunta

de airoc2% os tempos atuais representam3 por certo3 um novo momento3 uma nova etapa#

 Desta condição3 muda a estrutura e a din4mica das relaç;es entre os campos e as cidades# A

 prima7ia marcante das atividades prim=rias - agricultura3 pecu=ria3 mineração3 silvicultura -

cede espaço a uma maior diversi&icação3 com uma crescente 2eterogenei7ação das economias

rurais3 onde se destaca o crescimento cada ve7 maior do setor de serviços# Com isso3 mudam

as vantagens comparativas do rural nas possibilidades de captação das rendas urbanas# A

locali7ação3 &ertilidade3 e o preço da terra passam a dividir import4ncia com a acessibilidade3

a paisagem# "a mesma &orma3 a composição do per&il populacional e as tendências

demogr=&icas t!picas do per!odo anterior são substitu!das por um &orte arre&ecimento3 ou

mesmo uma inversão nos &luos demogr=&icos# São outros agentes3 novas vari=veis

introdu7idas ou tornadas mais relevantes3 novos interesses3 uma nova estrutura de oposiç;es e

identidades 5ue sustentam a especi&icidade desta nova con&iguração da relação rural-urbano#

) para completar3 muda tamb(m o ambiente institucional 5ue orienta a regulação das &ormas

de uso social dos recursos naturais# Se ( verdade 5ue desde a Antiguidade 6= 2= leis e sanç;es

5ue dão os par4metros para as &ormas de apropriação da nature7a3 o 5ue ocorre a partir de

então ( uma mudança tamb(m neste dom!nio do mundo social% o acesso 8 terra3 a gestão de

 bacias 2idrogr=&icas3 a conservação de &lorestas e rios3 e a valori7ação da paisagem e da

 biodiversidade passam a ser novos aspectos incorporados aos anteriores# $ 5ue ( novo3 al(m

da etensão de dom!nios regulados cada ve7 mais por instituiç;es &ormais3 ( a &orma como

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isso se d=3 menos orientada por decis;es do tipo comando e controle3 e mais por

compromissos institucionais# )m outros termos3 muda tamb(m o estatuto da dominação-@# 

@as e pelo 4ngulo teórico3 5ual o estatuto desta nova situação Q "uas são as perguntas3 na

verdade# Primeiro3 ( preciso esclarecer se a inauguração deste novo momento3 desta

 passagem3 locali7ada aproimadamente no <ltimo 5uarto do s(culo ZZ3 troue consigo um

&im do rural3 se com o I&im das sociedades camponesasJ de 5ue &alava 'ollivet +talve7 &osse

mel2or &alar em Isociedades agr=riasJ.3 acaba tamb(m a relev4ncia 2istórica e eplicativa da

ruralidade# Segundo3 caso a resposta 8 5uestão anterior se6a negativa e ainda 2= conte<do

compreensivo na distinção entre o rural e o urbano3 cabe interrogar então 5ual ( seu sentido#

)m dois artigos recentes *eiga +/RR3 /RRE. vê nas id(ias de ?enri Be&ebvre e de ernard

a:ser as mel2ores epress;es para as duas respostas etremas 8 primeira destas perguntas#

Por isso vale 8 pena vê-las um pouco mais de perto#

Be&ebvre dedicou parte epressiva de sua obra 8 produção social do espaço3 inicialmente com

uma ên&ase em estudos rurais3 5ue se desloca posteriormente para os &enOmenos relativos 8

urbani7ação# Do seu in&luente livro A revoluFão urbana3 de 1MR3 ele a designa como um

amplo con6unto de trans&ormaç;es 5ue &ariam as sociedades passar do per!odo em 5ue

 predominaram 5uest;es t!picas da sociedade industrial - como emprego3 crescimento e

industriali7ação - para outras3 nas 5uais a problem=tica da sociedade urbana gan2aria relevo e

 preeminência# Desta sociedade urbana3 t!pica do per!odo pós-industrial3 a urbani7ação

completa I2o6e virtual3 aman2ã realJ envolveria e dominaria o con6unto de es&eras do mundo

eistente e o destino dos espaços rurais seria3 portanto3 a diluição de seus caracteres

substantivos neste movimento envolvente da sociedade urbana-9#

Apenas 5uatro anos mais tarde o mesmo autor publicou outro in&luente livro3 1he production

of space3 onde a 2ipótese da urbani7ação completa não tem mais o mesmo car=ter de eio

argumentativo# )ste poss!vel recuo3 se não de conte<do3 ao menos de ên&ase3 pode ser

resultado tanto de uma mel2or ponderação de Be&ebvre - 5ue admitia 6= no livro de 1MR 5ue

tal id(ia deveria ser considerada como 2ipótese3 a &im de não se con&undir o categórico com o

H  *=rios trabal2os abordam isolada ou combinadamente estas mudanças# *er3 entre outros3 a:ser +1R3

10.3 *eiga +1.3 Wanderle: +/RRR.3 Abramova: +/RR0.#H C&# Be&ebvre +1MR/RR/.#

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 problem=tico3 o especulativo com o empiricamente demonstr=vel -3 ou pode ter sido tamb(m

resultado da constatação3 sublin2ada por autores igualmente importantes da (poca3 de sinais

de vitalidade ainda emitidos pelo meio rural#

)sta ambigidade nos desdobramentos da obra de Be&ebvre não 5uer di7er 5ue ela ten2a sido

totalmente deiada de lado3 nem por seu &ormulador3 nem muito menos por seguidores de

suas id(ias em v=rios ramos do con2ecimento8,# @as o &ato ( 5ue não 2=3 neste autor e nem

na lin2agem 5ue ele inaugura3 uma demonstração do esva7iamento do conte<do social e

eplicativo do rural# Tal a&irmação vem sempre embasada em uma tautologia% a urbani7ação

generali7ada tem como devir a sociedade urbana3 8 din4mica da 5ual nada escapa#

 Do etremo oposto3 ernard a:ser lançou suas id(ias sobre este problema em 1M/3 mas

elas &oram mel2or sistemati7adas no livro 0a renaissance rurale3 de 1R# )mbora apoiando-

se sobretudo em dados demogr=&icos3 a:ser3 di&erente de Be&ebvre3 reportou-se a situaç;es

muito concretas 5ue estariam ocorrendo em di&erentes espaços dos )UA e do *el2o

Continente e 5ue apontavam para uma revitali7ação de =reas antes condenadas 8 estagnação e

ao esva7iamento# Um renascimento 5ue teria em sua base os e&eitos do Ienri5uecimento do

con6unto da sociedadeJ3 pass!vel de percepção atrav(s de &enOmenos como a atração

 populacional3 o crescimento de atividades não-agr!colas3 iniciativas de desenvolvimento local

e uma mudança no per&il demogr=&ico# Com isso3 em ve7 de desaparecer3 os campos

 pareciam renascer3 agora integrados complementarmente 8s cidades% os campos3 como lugar

da liberdade e da bele7a3 as cidades3 como centros de la7er e de trabal2o +?ervieu X *iard3

1H/RR1.#

Ao discutir os argumentos destes dois autores3 *eiga +/RR3 /RRE. o&erece uma terceira

2ipótese% as mudanças por 5ue vêm passando o rural contempor4neo não dão lugar nem ao

&im do rural3 como em Be&ebvre3 nem a um renascimento3 como em a:ser3 mas di&erente de

ambos3 ense6a a emergência de uma nova ruralidade#

Para contestar os argumentos de Be&ebvre3 *eiga procede inicialmente a um eerc!cio de

demonstração da permanência dos traços distintivos da ruralidade no mundo contempor4neo3

MR

 Do rasil3 ver por eemplo os trabal2os de @onte-@or +/RR0.# Uma apresentação mais circunstanciada e pormenori7ada das id(ias de Be&ebvre pode ser encontrada tamb(m em @artins +1H.#1RR

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concentrando-se3 num primeiro instante3 no grau de arti&iciali7ação dos ecossistemas como

crit(rio &undamental de distinção do rural e do urbano# Ali3 pode-se constatar 5ue ER` da

=rea do globo terrestre3 ecetuando a Ant=rtica3 permanecem Ipraticamente inalteradosJ3

contra /` Iparcialmente alteradosJ3 e //` I&ortemente arti&iciali7adosJ# Desta <ltima

categoria3 5ue inclui as =reas com agropecu=ria intensiva e assentamentos 2umanos nos 5uais

&oi removida a vegetação prim=ria e onde 2= deserti&icação ou outras &ormas de degradação

 permanente3 apenas a )uropa apresenta um percentual de =rea mais epressivo3 de HE`# $

segundo continente mais arti&iciali7ado ( a ]sia3 onde este n<mero cai para /`# ) na

Am(rica do Sul esta &ração ( de meros 1/`# A partir da! *eiga concentra sua an=lise no

continente )uropeu3 por considerar 5ue o debate sobre a permanência ou desaparecimento da

ruralidade deve ter por ob6eto situaç;es onde a urbani7ação &oi mais longe# Al(m disso3 seria

 preciso valer-se de crit(rios não estritamente ecológicos3 como a5uele epresso no grau de

arti&iciali7ação dos ecossistemas# Portanto3 utili7ando então dados da $C")3 produ7idos a

 partir de um tableau  de indicadores demogr=&icos3 ambientais e sócio-econOmicos3 *eiga

mostra 5ue nada menos do 5ue /` da população europ(ia vive em regi;es

 predominantemente rurais3 en5uanto R` 2abitam as regi;es predominantemente urbanas3 e

0/` as regi;es relativamente rurais# )stes dados seriam su&icientes para3 no m!nimo3 mostrar

5ue não se c2egou ao grau completo de urbani7ação de 5ue &ala Be&ebvre3 mas não seriam

su&icientes para anular sua 2ipótese# $s partid=rios de suas id(ias poderiam argumentar 5ue

tais sociedades camin2am para tal padrão3 o 5ue 6= seria poss!vel vislumbrar a partir dos

dados de pa!ses como 9eino Unido3 (lgica ou ?olanda3 onde as regi;es predominantemente

rurais praticamente deiaram de eistir# Do entanto3 a an=lise tendencial dos mesmos dados

mostra uma situação di&erente# Nuem mais atrai população3 aumentando assim seu peso

relativo3 ( a categoria intermedi=ria3 &ormada pelos espaços Isigni&icativamente ruraisJ#

Tanto o Irural pro&undoJ como as regi;es metropolitanas ou mais densamente urbani7adas

apresentam decl!nio# Dão 2=3 portanto3 evidências emp!ricas 5ue con&irmem o movimento

apontado por Be&ebvre e sinali7em um &im do rural#

Nuanto ao argumento de a:ser3 o estudo de *eiga apresenta uma concord4ncia inicial no

5ue di7 respeito 8 permanência do rural3 mas diverge 5uando se trata de 5uali&icar seu

estatuto nos tempos atuais# Tendo por base um signi&icativo rol de pes5uisas sobre o rural

europeu3 *eiga mostra como tal situação não resulta de um impulso 5ue &a7 voltar os

&undamentos da ruralidade pret(rita3 ainda 5ue traços dela persistam e coeistam no novo1R1

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momento# Trata-se3 sim3 de uma nova ruralidade3 5ue se apresenta metamor&oseada# A

novidade est= no &ato de 5ue Inunca 2ouve sociedades tão opulentas 5uanto as 5ue 2o6e tanto

estão valori7ando sua relação com a nature7aJ3 e isto não somente no terreno das

 preocupaç;es com os problemas ambientais3 como as ameaças 8 biodiversidade ou o

a5uecimento global3 mas tamb(m no 5ue di7 respeito 8 liberdade con5uistada com a maior

mobilidade e com o enri5uecimento da sociedade e o 5ue isto permite em termos de

aproveitamento das amenidades naturais3 se6a atrav(s da constituição de novas residências em

=reas rurais3 se6a atrav(s das atividades tur!sticas# @esmo as atividades produtivas 5ue não se

apóiam diretamente em novas &ormas uso social dos recursos naturais guardam com eles

estreita correspondências% em in<meros casos ( poss!vel constatar uma descentrali7ação da

atividade industrial3 motivada tanto pela capacidade de certas =reas rurais em atrair potenciais

empreendedores devido 8s caracter!sticas ambientais de residência3 como pelo dinamismo

empreendedor voltado para mercados emergentes e 5ue eplora as vantagens competitivas

derivadas das mel2ores condiç;es de vida e de trabal2o destas mesmas =reas +Dort2 X

Smallborne apud  *eiga /RR.#

$s dados da $C") +1H.3 utili7ados por *eiga3 mostram mesmo 5ue3 nas regi;es

 predominantemente rurais ( raro encontrar algum pa!s onde o percentual de ocupados na

agricultura supere a casa dos 0R`3 o 5ue ocorre somente na >sl4ndia e na Gr(cia# Da maioria3

( o setor de serviços 5ue responde pela maior &atia3 c2egando a ` na 9ep<blica Tc2eca e3

na maior parte dos casos3 situando-se acima do percentual de ER`# )m suma3 a vitalidade do

rural não se resume mais aos campos3 como lugar de reali7ação de atividades prim=rias3 mas

a uma trama complea envolvendo os campos e suas cidades3 com desta5ue para uma

integração intersetorial da economia3 e para uma emergência da vari=vel ambiental como

elemento c2ave# Tudo isso levou *eiga +/RRE. a a&irmar3 em conson4ncia com outros

estudos como Wanderle: +/RRR. e Abramova: +/RR0.3 5ue trata-se e&etivamente de uma nova

ruralidade# ) 5ue3 segundo o autor3 se epressa em três vetores% os desdobramentos

 paisag!sticos dos es&orços de conservação da biodiversidade3 o aproveitamento econOmico

das decorrentes amenidades naturais atrav(s de um le5ue de atividades 5ue costumam ser

tratadas no 4mbito do turismo3 e a crescente necessidade de utili7ação de &ontes renov=veis de

energia dispon!veis nestes espaços rurais#

1R/

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S7n"ese do Ca:7"u#o +

A longa evolução da relação entre campo e cidade mostra claramente a permanência do

&enOmeno rural no mundo contempor4neo3 mesmo no momento e nos pa!ses em 5ue a

urbani7ação &oi mais intensa# A oposição campo-cidade se desloca para a contradição rural-

urbano# )n5uanto a primeira di7 respeito ao contraste entre espaços3 sendo os campos o lugar

de reali7ação de atividades predominantemente prim=rias3 destacadamente a agricultura3 na

segunda o estatuto &undante da distinção desloca-se para o grau de arti&iciali7ação destes

espaços e seus impactos para os modos de vida3 eigindo assim uma abordagem capa7 de

combinar crit(rios ecológicos com outros de car=ter social e econOmico# $ rural mostra-se

não mais uma categoria pass!vel de ser apreendida em termos setoriais3 e sim territoriais#

Três3 portanto3 são as dimens;es de&inidoras &undamentais da ruralidade +Abramova:3 /RR0.%

a proimidade com a nature7a3 a ligação com as cidades3 e as relaç;es interpessoais derivadas

da baia densidade populacional e do taman2o redu7ido de suas populaç;es# Da nova etapa3

muda o conte<do social e a 5ualidade da articulação entre elas# Do 5ue di7 respeito 8

 proimidade com a nature7a3 os recursos naturais3 antes voltados para a produção de bens

 prim=rios3 são agora ob6eto de novas &ormas de uso social3 com desta5ue para a conservação

da biodiversidade3 o aproveitamento do potencial paisag!stico disto derivado3 e a busca de

&ontes renov=veis de energia# Nuanto 8 relação com as cidades3 os espaços rurais deiam de

ser meros eportadores de bens prim=rios para dar lugar a uma maior diversi&icação e

integração intersetorial de suas economias3 com isso arre&ecendo3 e em alguns casos mesmo

invertendo3 o sentido demogr=&ico e de trans&erência de rendas 5ue vigorava no momento

anterior# As relaç;es interpessoais3 por &im3 deiam de apoiar-se numa relativa

2omogeneidade e isolamento para dar lugar a um processo crescente de individuação e de2eterogenei7ação3 compat!vel com a maior mobilidade &!sica3 com o novo per&il populacional

e com a crescente integração entre mercados antes mais claramente autOnomos no rural e no

urbano3 mercados de bens e serviços3 mas tamb(m o mercado de trabal2o e o mercado de

 bens simbólicos#

1R0

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Ca:7"u#o 6 4 Rura#idade nos :a7ses do a:i"a#ismo a)ançado

Constatar 5ue no momento atual a 2umanidade eperimenta a emergência de uma novaruralidade e 5uali&ic=-la3 como &oi &eito no Cap!tulo /3 ( certamente importante3 por5ue marca

as di&erenças entre caracteres atuais destes espaços e a5ueles outros 5ue &oram mais

importantes nas etapas 2istóricas anteriores# Serve para mostrar a obsolescência de certos

traços3 a ascensão de outros3 e o 5ue isto tra7 de implicaç;es para grupos ou dimens;es

espec!&icas dos espaços rurais% 5ue agentes perdem e 5uais gan2am &orça3 5ue processos

econOmicos ad5uirem car=ter estruturante e 5uais se tornam subsidi=rios3 5ual a signi&icação

em torno das &ormas de apropriação e uso dos recursos naturais3 como tudo isso se relaciona aoutras es&eras do mundo social3 destacadamente com os espaços urbanos# @as tudo isto di7

muito pouco 5uando se trata de responder por5ue di&erentes territórios se inserem de maneira

desigual nestas grandes tendências# Por 5ue certos territórios3 mesmo go7ando de uma

dotação inicial de recursos similar a outros ad5uirem tra6etórias tão d!spares3 como ( o caso

de certas il2as mais remotas do 9eino Unido Q $u3 em direção um pouco di&erente3 por 5ue

certas regi;es continuam a apresentar carências graves em 5uase todos os indicadores sociais3

ambientais e econOmicos mesmo após pesados e duradouros investimentos governamentais3

como ( o caso t!pico do e&&ogiorno italiano Q

A mel2or maneira de en&rentar interrogaç;es de taman2a amplitude e compleidade talve7

se6a começar admitindo 5ue não eiste uma reposta <nica para elas# $ 5ue 2=3 sim3 são liç;es3

aprendidas com um importante rol de pes5uisas e estudos levados adiante nos <ltimos trinta

anos# Sistemati7ar estes ac2ados e delinear as conse5ências 5ue eles tra7em para o

con2ecimento cient!&ico sobre o desenvolvimento rural ( o principal ob6etivo deste cap!tuloM1# 

Para &ins de eposição3 esta pergunta principal ( a5ui desmembrada em três3 8s 5uais

correspondem cada uma das seç;es deste cap!tulo# A primeira busca brevemente recuperar as

 principais de&iniç;es sobre o 5ue ( o espaço rural nos pa!ses do capitalismo avançado# >sto

ser= <til não somente para delimitar de 5ue unidade emp!rica se est= &alando3 mas tamb(m3 e

 principalmente3 para pOr em relevo a base material 5ue d= subst4ncia para estas tentativas de

conceituação# A segunda seção mapeia algumas das tendências recentes destes espaços com o

M1

  Partes deste cap!tulo &oram apresentadas originalmente na &orma de artigo no Congresso da Sociedaderasileira de Sociologia e )conomia 9ural +Sober.3 do ano de /RR# C&# ,avareto +/RR-b.#1R

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intuito de mostrar3 de um lado3 sua conson4ncia com os caracteres relativos 8 longa evolução

do rural3 6= destacados no cap!tulo anterior3 e3 de outro3 a 2eterogeneidade 5ue marca a

etensão e pro&undidade destas tendências e dos con&litos 5ue as cercam# A terceira seção3 a

mais longa3 ep;e os ac2ados dos principais programas de pes5uisa3 dedicados tanto 8s

din4micas sócio-econOmicas do rural europeu e norte-americano contempor4neos como 8s

iniciativas p<blicas voltadas 8 sua dinami7ação#

635 4 As de.iniçes so!re o 0ue o rura#

>mportantes trabal2os publicados nos <ltimos anos 6= trataram do problema 5ue envolve as

de&iniç;es sobre o 5ue pode ser considerado rural na )uropa e )UA +Wanderle:3 /RRRV

Abramova:3 /RR0V *eiga3 /RR.# Por isso3 o intuito a5ui não ( uma reconstituição eaustiva

das &ormas de classi&icação dispon!veis3 mas3 apenas3 sublin2ar os crit(rios 5ue vêm sendo

mais utili7ados nos tempos atuais e3 6unto disso3 delinear as dimens;es atuais do rural

contempor4neo nestes pa!ses onde a urbani7ação &oi mais longe#

 Da )uropa são utili7adas de&iniç;es di&erentes em cada pa!s3 muitas ve7es combinando v=rios

crit(rios# $ mais comum deles ( a demogra&ia3 e em dois sentidos% o taman2o da população3 e

a densidade populacional# $utro bastante presente ( a utili7ação do solo# Da >rlanda3 por

eemplo3 as 7onas com densidade populacional in&erior a cem 2abitantes por 5uilOmetro

5uadrado são consideradas rurais## Da Gr(cia3 o teto 5ue separa as =reas rurais das urbanas (

dado pela densidade populacional de trinta 2abitantes por 5uilOmetro 5uadrado# $ mesmo

vale para o limite de du7entas 2abitaç;es ou de7 mil pessoas3 na "inamarca# Da ?olanda e

na >nglaterra3 o principal de&inidor são as &ormas predominantes de utili7ação do solo# Da

Aleman2a ( adotada uma tipologia 5ue combina aspectos econOmicos3 demogr=&icos e a

utili7ação do solo# ) na >t=lia3 por sua ve73 o limite de de7 mil 2abitantes ( acompan2ado de

uma lista de tre7e crit(rios &uncionaisM/#

@uitas destas de&iniç;es são 6= bastante antigas e3 em v=rios pa!ses3 elas têm passado por

tentativas de reclassi&icação3 mais condi7entes com as din4micas sócio-econOmicas e

ambientais contempor4neas# Uma das principais inovaç;es &oi elaborada por instituiç;es de

M/

 )stas in&ormaç;es &oram reunidas pelo C)P,A9 +4entre eurpopéen pour la promotion et la formation emmilieu agricole et rural.3 citado por @at2ieu +1R% /1.3 apud  Wanderle: +/RRR.#1RE

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 pes5uisa &rancesas# Ali3 o crit(rio cl=ssico3 de taman2o populacional3 neste caso de duas mil

 pessoas3 tem nada menos do 5ue um s(culo e meio de eistência# $ aumento da mobilidade e

a crescente integração entre estas pe5uenas aglomeraç;es e centros urbanos maiores ou com

localidades vi7in2as3 tornou necess=rio apro&undar a combinação entre crit(rios estruturais e

&uncionais visando dar conta da nova din4mica# ,oi assim 5ue3 ainda nos anos sessenta3 o

>DS)) + #nstitut $ational de la Statistique et des tudes conomiques. &ormulou a noção de

^P>U F ^onas de Povoamento >ndustrial ou Urbano F3 5ue se apóia na proporção de

trabal2adores de uma determinada comuna 5ue tem empregos &ora de seu lugar de moradia e

na parcela de domic!lios dependentes da agricultura#

Com base neste crit(rio3 as comunas rurais puderam ser divididas entre a5uelas situadas

dentro das ^P>U e o rural pro&undo3 isto (3 a5uelas situadas &ora destas 7onas# A simples

classi&icação de acordo com o crit(rio populacional permitiu identi&icar o taman2o dos

espaços rurais &ranceses como algo em torno de um 5uarto da população no in!cio dos anos

R# @as os contrastes entre di&erentes tipos de espaços rurais3 como a5ueles situados nas

ad6acências de =reas intensamente urbani7adas e povoadas e os locali7ados em =reas mais

remotas3 &icava sem possibilidade de apreensão pelas estat!sticas e classi&icaç;es o&iciais# Por

isso3 em 1H &oi introdu7ida uma nova de&inição% o ^oneamento em ]reas Urbanas +^AU.#

Com ela3 os espaços urbanos passaram a ser categori7ados em dois grupos% os Ipólos

urbanosJ3 onde 2= uma o&erta de pelo menos cinco mil empregosV a Icoroa periurbana +,

&ormada pelas comunas nas 5uais ao menos R` da população ativa trabal2a nos pólos

urbanos ou nas comunas sob sua in&luência# 'untas3 estas duas categorias &ormam o espaço

 predominantemente urbano3 o 5ue no caso &rancês signi&icava três 5uartos da população 8

(poca# "e outro lado3 tamb(m os espaços rurais tiveram sua delimitação mais re&inada3 sendo

agora dividido em 5uatro categorias% $ Irural sob &raca in&luência  urbana+3 &ormada por

comunas onde pelo menos /R` da população ativa trabal2a num centro urbano próimoV os

Ipólos rurais+3 pe5uenas localidades 5ue o&erecem entre dois e cinco mil empregos e 5ue3

 portanto3 comportam mais postos de trabal2o do 5ue 2abitantes3 revelando-se um local de

atraçãoV a Iperi&eria dos pólos rurais+3 com as comunas nas 5uais pelo menos /R` da

 população trabal2a nos pólosV e &inalmente3 o Irural isolado+3 5ue no caso &rancês representa

1R` da população total ou aproimadamente um terço do território +>D9A>DS))3 1.#

1RH

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 Dos )stados Unidos3 por sua ve73 coeistem duas classi&icaç;es o&iciais% a do "S" 4ensus

 Mureau e a do .ffice of anagement and Mudget   +$@.# A classi&icação do "S" 4ensus

 Mureau lida com dados decenais e tem um car=ter censit=rio# Dela as =reas urbanas são as

mais adensadas3 mas não correspondem a divis;es pol!tico-administrativas e podem ser de

dois tipos% =reas urbani7adas ou Iclusters urbanosJ# Duma =rea urbani7ada deve 2aver mais

de cin5uenta mil pessoas3 mesmo 5ue não 2a6a cidade com esse n<mero de 2abitantes3 e um

n<cleo com densidade superior a tre7entos e oitenta e seis 2abitantes por 5uilOmetro

5uadrado3 podendo 2aver uma 7ona ad6acente com um m!nimo da metade dessa densidade# '=

os Iclusters urbanosJ são localidades com população entre duas mil e 5uin2entas3 e cin5enta

mil pessoas3 mas 5ue atin6am os mesmos n!veis de densidade demogr=&ica# A população rural

( de&inida com sendo a5uela 5ue est= &ora tanto das =reas urbani7adas 5uanto dos Iclusters

urbanosJ# )m /RRR3 H` da população americana vivia em 5uatrocentas e cin5enta e duas

=reas urbani7adas3 11` em Iclusters urbanosJ3 e /1` nas =reas rurais +*eiga3 /RR.#

'= a classi&icação da $@ baseia-se em dados anuais de população3 emprego e renda e tem

um car=ter pol!tico-administrativo# Dela são separados essencialmente condados

metropolitanos +metro. e não metropolitanos +nonmetro.# Um condado ( considerado

economicamente ligado a uma aglomeração metropolitana se /E` dos trabal2adores

residentes estiverem ocupados nos condados centrais3 ou se /E` de seus empregados &i7eremo Imovimento pendular inversoJ# Al(m disso3 os condados InonmetroJ são subdivididos em

duas categorias% as Imicropolitan areas+_ +centradas em n<cleos urbanos com mais de de7

mil 2abitantes. e Inoncor eJ para o restante dos condados +*eiga3 /RR.#

$utra classi&icação 5ue merece desta5ue ( a5uela o&erecida pela $C")# Após analise de

estat!sticas re&erentes a cin5enta mil comunidades das duas mil microrregi;es eistentes nos

 pa!ses membros3 a e5uipe de seu Serviço de "esenvolvimento Territorial passou a distinguirdois n!veis anal!ticos# Do n!vel local são classi&icadas como urbanas ou rurais as menores

unidades administrativas3 ou as menores unidades estat!sticas# Do n!vel micro-regional as

agregaç;es &uncionais são classi&icadas como mais urbanas3 mais rurais3 ou intermedi=rias#

9urais são a5uelas localidades cu6a densidade populacional ( in&erior a cento e cin5enta

2abitantes por 5uilOmetro 5uadrado3 com a eceção do 'apão3 onde este n<mero sobe para

tre7entos e cin5enta# Assim3 as micro-regi;es consideradas Ipredominantemente ruraisJ são

a5uelas em 5ue a participação da população residente em localidades rurais ecede ER`V as

1RM

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micro-regi;es Isigni&icativamente ruraisJ3 por sua ve73 são a5uelas em 5ue a participação das

localidades rurais &ica entre 1E e ER`V e as Ipredominantemente urbanasJ3 por &im3 a5uelas

onde as localidades rurais representam menos de 1E` da população# )sta tipologia proposta

 pela $C") ( menos re&inada do 5ue outras eistentes3 mas tem a grande vantagem de cobrir

um n<mero epressivo de pa!ses e3 com isso3 o&erecer possibilidades de comparação entre

eles3 como mostra a Tabela 1 a seguir# ) ( importante notar na Tabela /3 como a esta

classi&icação não corresponde um alin2amento setorial3 o 5ue se observa pela distribuição dos

empregos nos três grupos#

1R

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%a!e#a 5Po:u#ação rura# nos :a7ses da OCDE/ 599,

 

Po:u#ação emomunidades

rurais M 

Po:u#ação :or "i:o de região MM

Predominan"emen"eRura#

Signi.ia"i)amen"eRura#

Predominan"emen"eUr!ana

daPo:u#açãoNaiona#

da Po:u#ação Naiona#

  DoruegaSu(cia,inl4ndia"inamarca

]ustria )UACanad= Australia D# ^el4ndia >sl4ndia>rlandaGr(ciaPortugal 9ep# Tc2eca ,rança)span2a>t=lia 'apão Su!çaAleman2a

9eino UnidoBuemburgo(lgica?olanda 

E0EE/

0R 

000M0H 

0M0R// 

/M 

1/1

100R 

E10R

0H00 

/0M 

0EM/0E 

1E 

0R1M 

// 

10

1-/-

00/0M0

0/0 

///E 

1E/// 

EM 

1H 

0E 

/E/H

/M1RR11E

111/R//

// 

0R 

EE/ 

EM000 

/0MM 

H/HH

M/-RE

 Dotas%- -   Dão se aplica#

333  Dão dispon!vel#+. População em comunidades locais com densidade in&erior a 1ER 2abm/ +e ERR no caso do 'apão#MM Tipologia das regi;es con&orme a participação da população rural + de ER`3 entre ER` e 1E`3 emenos de 1E`#

*on"e% $C") +1H.3 9eprodu7ido de *eiga +/RR.1R

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%a!e#a +Dis"ri!uição do em:rego :or se"ores eonmios nas regies rurais

dos :a7ses da OCDE/ 599,

  REGIES PREDO$INAN%E$EN%E RURAIS M  Agro:eu1ria IndQs"ria Ser)iços  ` do emprego total 

 DoruegaSu(cia,inl4ndia"inamarca]ustria 

)UACanad= Australia

 Dova ^el4ndia >sl4ndia>rlandaGr(ciaPortugal 

9ep<blica Tc2eca ,rança)span2a>t=lia 'apão Su!çaAleman2a9eino UnidoBuemburgo(lgica?olanda 

E

1H1R10

 

H11 

1E1M 

0M//0M/0 

// 

11/E### 

1R/

1R0

111R

000/0R0R0M

 

/H/0 

/R/ 

/1//01

 

0//E### 

01 

00E//01/10

EH0EH1

 

HHH 

HEE 

/ER0M 

 

EMER### 

EE 

EMHH/HHHEH

 Dotas%

333  Dão dispon!vel#

 M Tipologia das regi;es con&orme a participação da população rural% de ER`#

*on"e% $C") +1H.3 9eprodu7ido de *eiga +/RR.

11R

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$ primeiro desta5ue derivado da apresentação desta &ormas de classi&icação tem sido bastante

sublin2ado nos trabal2os 5ue tratam do problema% o taman2o do rural mesmo no auge da

urbanidade# Como se pode observar na Tabela 13 no con6unto dos pa!ses da $C")3 a

 população vivendo em comunidades rurais varia de um m!nio de ` na ?olanda3 at( um

m=imo de E` na Doruega3 e na maior parte dos pa!ses este percentual &ica entre /R e E`#

Nuando se trata de adotar a classi&icação por regi;es rurais3 observa-se 5ue 2= uma grande

2eterogeneidade3 mas nen2uma situação onde a proporção da população vivendo nas ares

 predominantemente ou signi&icativamente rural se6a despre7!vel#

$ segundo desta5ue não ( tão evidente3 e di7 respeito ao signi&icado destas &ormas de

classi&icação# ,undamentalmente3 o 5ue 2= de comum nas novas tentativas empreendidas se6a

 pela $C")3 pelo >DS)) ou pela $@3 ( a busca em ultrapassar as de&iniç;es substantivistas

do rural3 pass!veis de serem epressas em um <nico crit(rio ou dimensão3 para &ormas onde

se6a poss!vel vislumbrar seu conte<do relacional ao urbano  e  8s din4micas sociais e

econOmicas 5ue l2e envolvem# Uma tare&a incontorn=vel diante da mobilidade e da

integração crescente entre os espaços# Algo 5ue permite3 para usar os termos do >DS))

+1.3 &alar dos Icampos e suas cidadesJ# ) para isso3 torna-se necess=rio utili7ar

combinaç;es de crit(rios estruturais e &uncionais3 e cobrir aspectos relativos 8s dimens;es

econOmica3 social3 ambiental e demogr=&ica# $ principal signi&icado sub6acente a estes

movimentos nos 5uadros cognitivos de apreensão e classi&icação ( o crescente esva7iamento

de sentido do rural como sinOnimo de agr!cola e de agr=rio e3 em seu lugar3 a emergência de

uma visão territorial3 o 5ue implica tanto o recon2ecimento de uma lógica econOmica cada

ve7 mais intersetorial3 como uma escala geogr=&ica de ocorrência de tais processos 5ue

remete 8 id(ia de região#

Antes de analisar as implicaç;es teóricas e sociais desta passagem3 ( importante completar o

5uadro emp!rico com um recon2ecimento das mani&estaç;es 2eterogêneas das tendências

recentes da nova ruralidade e interrogar as ra7;es da di&erenciação entre estes territórios#

63+ 4 As "endênias reen"es

 Do cap!tulo anterior 6= &oi dito 5ue as tendências recentes vividas nas =reas rurais poderiam

ser 5uali&icadas como um novo momento na longa evolução destes espaços# Uma nova etapa111

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onde as três dimens;es de&inidoras da ruralidade so&rem um desli7amento em seus conte<dos

sociais e na 5ualidade de sua articulação3 com desta5ue para uma maior integração entre o

urbano e o rural e para uma nova ancoragem ambiental da ruralidade# Posteriormente3 na

 primeira seção do presente cap!tulo3 &oi poss!vel ter uma id(ia do taman2o dos espaços rurais

nos pa!ses do capitalismo avançado e da maneira 2eterogênea como a população est=

distribu!da nestas =reas e nas =reas urbanas# Trata-se agora de eplorar como a5uelas

tendências gerais se mani&estam de maneira desigual nestes territórios particulares#

As mudanças 5ue estavam em curso no <ltimo 5uarto do s(culo ZZ nos pa!ses do capitalismo

avançado &oram rapidamente percebidas# $ desgaste da pol!tica agr!cola de vi(s

eclusivamente setorial começa a surgir nos meados dos anos R e abre espaço para uma

s(rie de re&ormas e debates sobre I. futuro do mundo rural J3 não por acaso t!tulo do

Comunicado da Comissão )urop(ia ao Parlamento3 em 1M0# Um marco ineg=vel &oi a

criação do -rograma 0eader 5 0igaFKes Entre AFKes de Desenvolvimento das Economias

 Rurais -3 em 113 e ainda 2o6e a principal re&erência de programas territoriais de

desenvolvimento rural# @as as mel2ores s!nteses da percepção dos organismos de

 plane6amento sobre tais mudanças &oram epressas em dois momentos3 no meio da d(cada de

R% a con2ecida I"eclaração de CorLJ3 5ue saiu da con&erência IA )uropa 9ural F

Perspectivas de ,uturoJ e o KorLs2op  -ost*#ndustrial Rural Development/ 1he Role of

 $atural Resources and the Environment 3 cu6os resultados &oram publicados pelo  $orth

4entral Regional 4enter for Rural Development 3 da Universidade de >oKa#

*eiga +/RR. resumiu o conte<do destes dois momentos no 5uadro a seguir3 5uali&icando-o

como uma esp(cie de consenso b=sico sobre a ruralidade avançada#

M0 Sobre os impasses e direç;es da re&orma da Pol!tica Agr!cola Comum3 ver Abramova: +/RR0.#11/

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&uadro 6

Consenso !1sio/ de meados dos anos 599,/ so!re a rura#idade a)ançada

 

1# As 7onas rurais3 5ue englobam os locais de residência de um 5uarto da população europ(ia e de mais deum 5uinto da americana3 e mais de R` dos dois territórios3 caracteri7am-se por tecidos culturais3

econOmicos e sociais singulares3 um etraordin=rio mosaico de atividades e uma grande variedade de

 paisagens +&lorestas e terras agr!colas3 s!tios naturais incólumes3 aldeias e pe5uenas cidades3 centros

regionais3 pe5uenas ind<strias3 etc#.#

/# As 7onas rurais3 bem como os seus 2abitantes3 &ormam uma autêntica ri5ue7a para suas regi;es e pa!ses e

 podem ser bem competitivas#

0# As maiores partes dos espaços rurais europeus e norte-americanos são constitu!dos por terras agr!colas e

&lorestas 5ue in&luenciam &ortemente o car=ter das paisagens#

# "ado 5ue a agricultura certamente permanecer= como important!ssima inter&ace entre sociedade e

ambiente3 os agricultores deverão cada ve7 mais desempen2ar &unç;es de gestores de muitos dos recursos

naturais dos territórios rurais#

E# @as a agricultura e as &lorestas deiaram de desempen2ar papel predominante nas economias nacionais#

Com o decl!nio de seus pesos econOmicos relativos3 o desenvolvimento rural mais do 5ue nunca deve

envolver todos os setores sócio-econOmicos das 7onas rurais#

H# Como os cidadãos europeus e norte-americanos dão cada ve7 mais import4ncia 8 5ualidade de vida em

geral3 e em particular a 5uest;es relativas 8 sa<de3 segurança3 desenvolvimento pessoal e la7er3 as regi;es

rurais ocuparão posiç;es privilegiadas para satis&a7er tais interesses3 o&erecendo amplas possibilidades de

um autêntico desenvolvimento3 moderno e de 5ualidade#

M# As pol!ticas agr!colas deverão de se adaptar 8s novas realidades e desa&ios colocados3 tanto pelos dese6os e

 pre&erências dos consumidores3 5uanto pela evolução do com(rcio internacional# Principalmente uma

adaptação 5ue impulsione a transição de um regime de sustentação de preços para um regime de apoios

diretos#

# $s subs!dios estabelecidos pelas respectivas pol!ticas agr!colas serão crescentemente contestados# ) 6= (

ampla a aceitação de 5ue apoios &inanceiros p<blicos devam ser cada ve7 mais condicionados a uma

ade5uada gestão dos recursos naturais3 e 8 manutenção e re&orço da biodiversidade e das paisagens

culturais#

# As re&ormas das pol!ticas agr!colas da primeira metade da d(cada de 1R conservaram inconsistências3

duplicaç;es e alta compleidade 6ur!dica3 apesar de ineg=veis avanços em termos de transparência e

e&ic=cia#1R# Torna-se absolutamente necess=rio promover a capacidade local de desenvolvimento sustent=vel nas

7onas rurais e3 nomeadamente3 iniciativas privadas e comunit=rias bem integradas a mercados globais#

9eprodu7ido de *eiga +/RR.

Como se pode observar3 este largo consenso sobre a ruralidade avançada combina elementos

relativos tanto 8 visão agr!cola e produtivista como 8 visão territorial do desenvolvimento

rural# "esde então3 v=rias &oram as pes5uisas 5ue procuraram delinear a mani&estação destas

tendências e sua ocorrência desigual a partir do estudo de realidades concretas#110

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$ &ator mais en&ati7ado3 condi7ente com o estatuto da nova ruralidade3 tem sido a

disponibilidade de amenidades naturais como principal vantagem comparativa# @cGrana2an

+1. mostra como as amenidades rurais são o principal vetor de mudança# )ntre 1MR e

1H a m(dia do crescimento populacional nos condados não metropolitanos com alta

atratividade baseada em amenidades &oi de 1/R`3 en5uanto na5ueles com baia atratividade

este percentual &icou em m!sero 1`# "a mesma &orma3 este autor mostra como mudanças na

o&erta de empregos tem correspondência com a presença de amenidades# @ais interessados

no próprio crescimento econOmico de parte das =reas rurais3 Aldric2 X usmin +1M.

conclu!ram 5ue3 onde isso ocorreu3 o principal &ator &oi a capacidade de atrair aposentados3

algo tamb(m totalmente ligado 8s amenidades naturais t!picas do rural# 'unto disso3 um

segundo &ator igualmente en&ati7ado nestas e em v=rias pes5uisas ( a locali7ação# "ados

sobre emprego mostram 5ue as =reas ad6acentes aos espaços urbanos têm maior crescimento#

)atamente as regi;es 5ue a $C") classi&icou como signi&icativamente rurais#

Claro 5ue nem tudo ( dinamismo e conciliação entre sociedade e nature7a nestas tendências#

a:ser +1R. c2ama a atenção para o processo de descampe7ini7ação inerente a esta nova

ruralidade e o 5ue isso signi&ica em termos de diluição de um mundo estruturado em torno

desta &orma social tão importante para a 2istória rural europ(ia# ?= mesmo toda uma s(rie de

interessantes pes5uisas destinadas a denunciar e3 8s ve7es3 eplicar &atores de degradação e

 pobre7aM# @as3 mais importante do 5ue revelar os contrastes3 ( interrogar por5ue certas

coisas acontecem ali3 onde não se esperaria 5ue elas ocorressem# "ebruçados sobre a situação

da Su(cia3 Ceccato X Person +/RR/. conclu!ram 5ue em todas as =reas do pa!s 2= inserção

dos di&erentes ramos econOmicos3 embora de maneira variada# certo 5ue as regi;es de

mel2or per&ormance tendem a se incluir nos ramos de atividades privadas tradicionais3

en5uanto =reas de baia per&ormance tendem a se apoiar nas atividades p<blicas3 sobretudo

no caso de =reas mais esparsamente povoadas# A surpresa por eles tra7ida ( 5ue alguns

clusters modernos estão sobrerepresentados em algumas destas =reas de menor densidade#

)sta constatação3 5ue encontraria similares em estudos sobre outras realidades na )uropa e

)UA3 revela na verdade 5ue não 2= associação autom=tica entre grau de urbani7ação e

M Como demonstram Cecc2i +1. para a realidade italiana3 S2ucLsmit2 X C2apman +1. e $ug2ton3W2eelocL X aines +/RR0. para o 9eino Unido3 ou Commins +/RR. para a >rlanda# Sinais de deterioração3

 pobre7a e decl!nio certamente podem ser encontrados tamb(m nas =reas rurais americanas3 como se pode ver em

@itc2ell +1.3 ou em uma en&=tica mat(ria assinada por Timot2: )gan no 1he $e9 Oor: 1imes3 em /RR/3 e5ue tra7 o en&=tico t!tulo Drugs, crimes and povert2 plague rural "S"11

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ocorrência de bons indicadores# ) isto3 leva 8 seguinte pergunta% se ( verdade 5ue locali7ação

e disponibilidade de amenidades naturais são as principais vantagens comparativas3 o 5ue &a7

com 5ue elas se trans&ormem em vantagens competitivas Q

636 4 As ra?es do desen)o#)imen"o

Para a:ser +1R.3 a c2ave deste desenvolvimento das =reas rurais est= no &ator

 populacional e nos e&eitos de enri5uecimento da sociedade em geral# Para asile X Cecc2i

+1M. a 5uestão est= na di&erenciação produtiva3 na mudança da composição setorial da

economia das =reas rurais at( a emergência das atividades não agr!colas% di&erenciação tra7

novos atores3 nova &ormas de uso dos recursos naturais3 novas relaç;es entre atores e entre

setores3 al(m de novos modos de integração do rural ao sistema econOmico# $ 5ue estes

estudos3 e tantos outros 5ue poderiam a5ui ser citados3 não respondem ( 6ustamente por5ue

estes e&eitos não são generali7=veis para o con6unto de =reas rurais# ) isto3 pelo simples &ato

de 5ue não era esta a pergunta 5ue est= na base de seus es&orços#

@as 2=3 desde os anos MR3 di&erentes programas de pes5uisa tentando encontrar estas

respostas% os estudos dedicados 8 compreensão dos &enOmenos de desenvolvimento rural3

 propriamente ditos3 a5ueles consagrados 8 an=lise dos &enOmenos de industriali7ação di&usa3

e a5ueles destinados a compreender os &atores de êito e &racasso das tentativas de indução ao

desenvolvimento# As lin2as a seguir visam apresentar brevemente os resultados destes

 programas para3 ao &inal3 compilar uma s!ntese das principais liç;es com eles obtidas#

63635 4 Liçes dos :rogramas de :es0uisa

A indus"ria#i?ação di.usa

Uma eplicação com decisiva in&luência sobre o desen2o de programas e pro6etos pode ser

encontrada nos estudos sociológicos e econOmicos 5ue têm en&ati7ado o papel dos sistemas

 produtivos locais na geração de um certo tipo de empreendedorismo# $ marco ( o estudo do

sociólogo italiano Arnaldo agnasco3 1re italie" 0a problematica territoriale dello sviluppo

italiano3 de 1MM# Deste livro 6= cl=ssico3 ele procura eplicar por5ue3 na5uele momento3 as

regi;es 5ue apresentavam ind!cios de dinamismo não eram nem o sul do pa!s3 cu6os

 problemas 2istóricos se materiali7am na5uilo 5ue Gramsci c2amou de I5uestão meridionalJ311E

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nem o norte3 &ortemente industriali7ado3 mas a região central do pa!s# A principal

contribuição dos estudos origin=rios desta terceira vertente est= em c2amar a atenção para as

caracter!sticas mor&ológicas de determinados territórios e sua import4ncia no estabelecimento

da din4mica econOmica local# $ centro do argumento est= em 5ue3 no caso italiano3

constatou-se uma &orte relação entre a distribuição espacial da c2amada Ieconomia di&usaJ3

marcadamente um grande n<mero de pe5uenas e m(dias empresas3 associadas com a

eistência de uma &orte base &amiliar entre as unidades de produção agr!cola3 e com um

determinado padrão de urbani7ação 5ue evitava uma &ratura cidade-campo# A ele se seguiram

v=rios outros de sociólogos3 economistas e geógra&os analisando a &ormação dos c2amados

distritos industriaisME#   rusco +1H.3 particularmente3 en&ati7a como estas condiç;es

estruturais se trans&ormam num ambiente 5ue associa competição com colaboração3 con&lito

com participação3 e con2ecimento local e pr=tico com con2ecimento cient!&ico#

@as estas mesmas caracter!sticas enaltecidas como trun&os nos estudos acima citados

tornaram-se advertência 5uando os estudos sobre a realidade italiana começaram a servir de

inspiração para tentativas de dinami7ação de regi;es estagnadas# Com ra7ão3 Garo&oli +1H.

destacava 5ue as condiç;es eistentes no caso da Terceira >t=lia não se encontravam em

5ual5uer lugar e 5ue são de di&!cil reprodutibilidade# )3 paralelamente3 outros programas de

 pes5uisa +@aillat3 1E.3 estimulados pelo mesmo tipo de 5uestão3 mostraram 5ue ambientes

inovadores podiam ser encontrados nas mais distintas con&iguraç;es produtivas# Nual ( a

c2ave do sucesso3 entãoQ

>n&eli7mente os estudos de @aillat e outros 5ue o acompan2aram +ecattini X 9ullani3 1EV

S&or7i3 1H. descrevem bem as mudanças em curso e o tipo de arran6o por detr=s delas3 mas

 pouco se sabe sobre o 5ue ( capa7 de gerar um novo modo de produção e de organi7ação das

&orças locaisMH# $ 5ue ( comum a todos estes estudos ( a import4ncia con&erida ao

enrai7amento da atividade econOmica no con6unto de relaç;es 5ue con&ormam os territórios

em 5ue elas se inserem# Uma associação 5ue encontrou sua mel2or epressão na con6ugação

capital social e territórios +Abramova:3 /RRR.#

ME  Uma boa an=lise da tra6etória destes estudos pode ser encontrada em *eiga +1.# "uas importantescolet4neas re<nem boa parte dos mais importantes teóricos 5ue têm produ7ido sobre o tema dos distritosindustriais e dos sistemas produtivos locais nas três vertentes disciplinares apontadas% enLo X Bipiet7 +1/V

/RRR.#MH *er a respeito a ecelente cr!tica de @artin X Sunle: +/RR1. a Porter#11H

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Apesar dos impasses e das nuances3 nas di&erentes vertentes 5ue estudam este &enOmeno3 2=

duas id(ias principais# Uma en&ati7a os e&eitos de proimidade e o 5ue eles tra7em em termos

de cooperação e aprendi7agem3 ambas condição para gerar uma base endógena capa7 de

resultar em inovação e coesão entre agentes# A outra vai acentuar mais a diversi&icação e a

desconcentração do tecido social local e as interdependências eistentes entre caracter!sticas

das estruturas sociais e o tipo de interaç;es 5ue nelas ocorre#

Rura# de)e#o:men" in "<e USA

Um dos principais livros sobre o desenvolvimento rural no mundo contempor4neo (

 6ustamente consagrado 8 an=lise da realidade dos )UA F  Rural Development in the nited

States, de Galston X ae2ler +1E.# Dele3 os autores destacam como3 ao longo da 2istória

americana3 &oram mudando as vantagens comparativas das =reas rurais# Duma primeira longa

etapa da &ormação do território americano a grande vantagem comparativa estava situada na

disponibilidade de produtos prim=rios% madeira3 carvão3 minerais3 produtos agr!colas# A

 busca por estes recursos orientou a ocupação do espaço e &oi3 por bom tempo3 a principal

&onte de trabal2o e ri5ue7a# $bviamente3 com o passar do tempo a import4ncia desta

 produção &oi decrescendo3 tanto em termos de pessoal ocupado como de ri5ue7a gerada# As

inovaç;es tecnológicas e a consolidação de cidades deram lugar a uma diversi&icação da base

 produtiva3 com o desenvolvimento crescente de atividades de trans&ormação e serviços# Desta

etapa3 os espaços rurais passam a ter nos seus terrenos e mão-de-obra mais baratos e em

aspectos como menor &iscali7ação e sindicali7ação &atores de atração de ind<strias e

investimentos# A principal vantagem passa a ser a locali7ação3 6= 5ue o aproveitamento destes

&atores menos onerosos nas =reas rurais só eram compensadores em ra7ão de uma certa

dist4ncia dos centros mais din4micos3 compensando custos de transporte# @as da mesma

maneira 5ue o avanço tecnológico permite uma diminuição de custos de produção e a

introdução de t(cnicas poupadoras de mão-de-obra na agricultura3 na atividade manu&atureira

acontece o mesmo# Com isso3 o dinamismo passa a se concentrar no setor terci=rio#

 Das duas <ltimas d(cadas do s(culo passado3 &oram os condados 5ue mais o&erecem serviços

ligados ao aproveitamento de amenidades rurais F paisagens naturais ou cultivadas3 ar puro3

=gua limpa3 atrativos culturais - a5ueles 5ue apresentaram maior crescimento# )videntemente

a agricultura de commodities continua tendo um peso enorme na con&ormação dos espaços

11M

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rurais e3 igualmente3 atividades terci=rias sempre eistiram neste meio# $ 5ue destacam

Galston X ae2ler ( a ên&ase crescente neste segundo con6unto3 tanto em termos de pessoas

ocupadas3 como de ri5ue7a gerada3 mas3 principalmente3 pelo 5ue ela tra7 de novo para as

instituiç;es voltadas ao desenvolvimento rural% a import4ncia crescente da nature7a e dos

valores não diretamente monetari7=veis#

@as ( claro tamb(m3 e os autores estão atentos para isso3 5ue nem todas as localidades rurais

têm as mesmas condiç;es de eperimentar um processo de desenvolvimento baseado na

eploração de suas amenidades# A baia densidade populacional3 caracter!stica b=sica destes

espaços3 ( um di&icultador da diversi&icação econOmica# "a mesma &orma3 dist4ncia de

centros urbanos tamb(m pode se converter em desvantagem pelo aumento nos custos de

in&ormação e transporte# Por isso os autores3 a par da ên&ase nos atributos espec!&icos destes

territórios3 c2amam igualmente a atenção para a &orma de inserção destas localidades no

espaço etra-local3 ou3 como pre&erem Galston X ae2ler3 a relação entre as regi;es rurais

com as cidades ou com outras partes do mundo#

A5ui 2= uma &orte in&luência de 'ane 'acobs +1.% ( a economia da cidade 5ue molda a

economia das regi;es rurais# ) isto acontece pela eportação de produtos prim=rios3 pela

atração de atividades de trans&ormação3 ou pela captação da renda de setores urbanos3 como

aposentados3 pro&issionais liberais3 estes em busca de segunda residência3 ou via atividades

tur!sticas# $ &ato ( 5ue3 5uanto mais estreitas &orem estas relaç;es3 mais c2ance de

 prosperidade elas têm# $ crescimento de empregos nos condados ad6acentes 8s regi;es

metropolitanas3 duas ve7es superior aos condados mais distantes3 como veri&icado nos anos

oitenta3 corrobora esta a&irmação#

Sobre as =reas 5ue estão &ora desta proimidade3 não 2= &atalismo3 ao menos nos autores

americanos# Para eles ( poss!vel IcriarJ uma articulação entre regi;es rurais e uma rede de

cidades3 ou a constituição de uma rede de cidades numa região rural% isto pode ser &eito

atrav(s de investimentos em comunicação e transporte3 diminuindo dist4ncias3 atrav(s de

uma esp(cie de divisão territorial do trabal2o entre pe5uenas localidades3 tentando suprir

necessidades 5ue teriam 5ue ser satis&eitas em centros urbanos# $u3 ainda3 atrav(s da geração

dos próprios pólos de crescimento3 com a &ormação de cidades 5ue ven2am a suprir estas

necessidades#

11

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)m 5ual5uer uma destas possibilidades3 novamente a palavra-c2ave ( diversi&icação# isto

5ue garante o suprimento da população local3 5ue cria as condiç;es para a introdução de

inovaç;es e a adaptação destes territórios 8s press;es e contingências advindas das mudanças

econOmicas mais geraisMM#

DFnamis o. rura# areas 4 %<e DORA ProBe"

Um dos mais interessantes programas de pes5uisa sobre desenvolvimento rural re<ne os

estudos &eitos pelo 1he Ar:leton 4entre for Rural Development Research3 da Universidade de

Aberdeen3 no 9eino Unido3 sobre a di&erenciação da per&ormance econOmica em =reas rurais

europ(ias F o D.RA -roBect/ D2namics of rural 'reas *3 cu6os resultados &oram sinteti7ados

em r:den X ?art +/RR1.# Ali os pes5uisadores procuraram considerar a ocorrência dos I soft

 factorsJ3 por eles c2amados tamb(m de I&atores não tang!veisJ em combinação com a

ocorrência de Ihard factorsJ3 ou3 segundo a linguagem adotada pelo pro6eto3 I&atores

tang!veisJ#

 Do rol dos I&atores tang!veisJ &oram inclu!dos% recursos naturais +terra.3 recursos 2umanos

+trabal2o.3 in&ra-estrutura +tecnologia.3 investimento +capital.3 e estruturas econOmicas# )ntreos I&atores não-tang!veisJ estavam% per&ormance de @ercado3 per&ormance institucional3

redes3 comunidade e 5ualidade de vida +r:den et al3 /RR1.# )ste tableau de &atores &oi

trans&ormado em uma s(rie de indicadores postos 8 prova por e5uipes de pes5uisadores em

oito regi;es de 5uatro di&erentes pa!ses europeus F Su(cia3 Aleman2a3 )scócia e Gr(cia#

Três são os principais m(ritos deste programa# Primeiro3 procurou-se superar a dicotomia

entre estudos 5uantitativos e 5ualitativos3 buscando uma an=lise combinada dos doism(todos# Segundo3 a pes5uisa apoiou-se num procedimento comparativo envolvendo duas

realidades do mesmo pa!s e3 6unto disso3 o contraste anal!tico com a realidade entre distintos

 pa!ses# Terceiro3 &oram contemplados no rol de indicadores dimens;es at( então operadas

somente de maneira isolada em estudos espec!&icos3 o 5ue permitiu um balanço da e&etividade

de cada uma delas#

MM ) ( a5ui tamb(m 5ue os autores se distanciam de 'acobs +1.3 para 5uem3 como 6= &oi dito3 estes atributos

só podem ser supridos pelas cidades3 pois somente elas reuniriam as condiç;es necess=rias para isto%concentração3 proimidade3 usos combinados do espaço #11

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A principal 2ipótese do estudo &oi con&irmada pelas an=lises de campo% certamente &atores

como o distanciamento in&luenciam3 mas as causas da per&ormance di&erenciada das

economias rurais vão al(m dos &atores ob6etivos en&ati7ados pelas an=lises cl=ssicas3 tanto

5uanto pelas teorias baseadas no &enOmeno de locali7ação# @esmo regi;es pouco

 privilegiadas em termos de densidade populacional e locali7ação tiveram desempen2o acima

das previs;es em geração de emprego# >sto ocorreu3 por eemplo3 nas il2as $rLne:3 na

)scócia3 ou na grega orint2ia#

*iu-se3 assim3 5ue a incidência das vari=veis individuais di7 muito pouco sobre o con6unto

das situaç;es3 sendo necess=ria a sua an=lise combinada com outras# Disto3 os componentes

ligados 8 dimensão cultural mostraram &orte in&luência3 por eemplo3 5uando associados a

5ualidades empreendedoras ou a capacidade de adaptação a mudanças e contingências

eternas# Al(m disso3 o estudo conseguiu identi&icar 5ue estes componentes culturais3 por sua

ve73 estão muitas ve7es enrai7ados em um 5uadro de re&erências de muito longa &ormação#

$ estudo mostrou ainda 5ue3 mais importante do 5ue os aspectos &!sicos3 ( a busca de

aproveitamento dos &atores não reprodut!veis de um determinado território3 como produtos e

marcas t!picas ou como bens culturais# As redes3 &ator tão en&ati7ado em boa parte da

literatura3 &oram tratadas como algo amb!guo no 4mbito deste pro6eto% muitas ve7es são elas

5ue blo5ueiam o acesso dos agentes locais a outras &ormas de inserção mais promissoras3

contribuindo assim para manter situaç;es de estagnação ou de dependência#

Rurem:#o

Com tantas perspectivas eplicativas concorrentes seria bom poder contar com um teste de

con6unto das 2ipóteses apresentadas em cada uma delas# Pois &oi 6ustamente isto o 5ue &e7 o

9uremplo +Terluin3 /RR0V Terluin X Post3 /RR0.#

"e7 vari=veis relativas a sete di&erentes corpos teóricos &oram testadas em de7oito regi;es

rurais# $ resultado &inal mostrou uma maior aderência emp!rica das 2ipóteses contidas nos

trabal2os de r:den3 do D.RA -roBect 3 na c2amada communit2*led theor23 e na abordagem

5ue mescla um en&o5ue endógeno e eógeno# $ n<cleo comum das três teorias reside na1/R

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articulação entre determinadas caracter!sticas do tecido social e econOmico dos territórios em

5uestão e o tipo e a 5ualidade das relaç;es estabelecidas com o espaço etra-local# Do outro

etremo3 as teorias mais &ortemente ancoradas em &atores como locali7ação3 disponibilidade

de in&ra-estrutura3 P> per capita ou n!vel de investimentos mostraram-se de menor poder

eplicativo#

Ser= 5ue as conclus;es apontadas por estes programas de pes5uisa estariam sendo observadas

nas tentativas de indução do desenvolvimento rural atrav(s de pol!ticas como o Beader3 na

União )urop(ia3 ou o )^C^3 nos )stados Unidos Q

6363+ 4 #içes da e:eriênias de indução ao desen)o#)imen"o rura#

O Leader

$ Programa Beader surge em 113 como >niciativa Comunit=ria da União )urop(ia3 nos

marcos de um amplo processo de discussão sobre as &ormas de plane6amento de pol!ticas

na5uele continente3 crescentemente preocupado com as distorç;es entre regi;es# Seu car=ter

inovador residiu3 primeiro3 no &ato de tratar-se de algo com vi(s territorial3 em oposição ao

car=ter marcadamente setorial dos investimentos tradicionalmente destinados 8s =reas rurais#

)3 segundo3 no tipo de estrat(gia proposta para estas aç;es de promoção do desenvolvimento

rural3 com aç;es do tipo bottom*up3 baseadas no princ!pio da parceria3 e de car=ter

multisetorial e integradas# )sta estrat(gia se materiali7a no conceito de competitividade

territorial e envolve% a estruturação dos recursos do território de &orma coerente3 o

envolvimento de diversos atores e instituiç;es3 a integração entre setores empresariais em

uma din4mica de inovaç;es3 e a cooperação com outras =reas e pol!ticas nos v=rios n!veis de

governo# "e acordo com os termos do programa3 a competitividade territorial se alcança

atrav(s da elaboração de pro6etos de desenvolvimento 5ue comportem uma visão de &uturo3

&ormas de coordenação dos atores3 e a constituição de um grupo de ação local +edusc2i X

Abramova:3 /RR.#

)m sua primeira &ase3 de 11 a 13 o programa apoiou du7entos e de7essete pro6etos

territoriais3 n<mero 5ue saltou para mil pro6etos na &ase seguinte3 de 1 a 1# )stes

 pro6etos são apoiados por seu m(rito3 e não por pr(-seleção3 como uma maneira de estimular1/1

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a competição entre territórios e a correspondente mobili7ação de energias e talentos na busca

 por estes recursos# "uas caracter!sticas essenciais têm sido3 assim3 valori7adas pelo Beader% a

concepção de 5ue o desenvolvimento rural pode ser alcançado atrav(s do plane6amento e

eecução de pro6etos3 e a import4ncia de 5ue isto aconteça segundo um en&o5ue participativo#

As primeiras liç;es sobre esta iniciativa mostraram uma tOnica claramente positiva# )las

mostraram 5ue a introdução do conceito de pro6eto territorial torna poss!vel ir al(m da

de&inição setorial3 5ue o decl!nio pode ser revertido se a articulação territorial encontrar

novos camin2os3 e 5ue o en&o5ue territorial tem estimulado a criatividade e uso dos

con2ecimentos locais# @as o sucesso ou insucesso desse intento ( atribu!do apenas 8 maneira

como são combinadas as epectativas dos atores sociais# ?=3 portanto3 um vi(s claramente

interacionista na estrat(gia preconi7ada# como se bastasse pOr os agentes em contato3

criando espaços e &ormas de apoio 8 sua articulação# "a! se criariam oportunidades e ligaç;es

din4micas capa7es de mel2orar a per&ormance do território# $ pro6eto de desenvolvimento

territorial aparece como uma conse5ência do alin2amento de interesses#

$utros estudos mais recentes +9a:3 /RR1V Sc2attan et al /RRE. têm c2amado a atenção para

uma esp(cie de Idar: sideJ destes processos de indução ao desenvolvimento territorial# A

lógica de seleção de pro6etos tende a re&orçar as di&erenças3 8 medida 5ue os territórios 6=dotados de maior capacidade tendem a reunir mel2ores condiç;es de proposição e assim

angariar o apoio o&erecido pelo programa# Al(m disso3 a maneira como se d= a elaboração

destes pro6etos de desenvolvimento e a própria articulação dos grupos locais tendem partir da

 base de recursos dispon!veis para tais iniciativas# ) um dos problemas para a dinami7ação de

economias rurais3 muitas ve7es3 ( 6ustamente a &ragilidade dos recursos com os 5uais se pode

contar para tais iniciativas#

)stas cr!ticas revelam na verdade uma lacuna teórica na associação entre participação e

desenvolvimento# Se por um lado 2= &ortes evidências de 5ue a participação contribui para a

e&iciência da aplicação de recursos em pol!ticas sociais3 por eemplo3 onde 2= um p<blico

alvo e um &oco espec!&ico3 no caso das aç;es de desenvolvimento esta condição se revela

muito mais complea3 pois são muitos os segmentos envolvidos e os interesses em con&lito# )

nesse caso3 os processos participativos podem aumentar o poder de veto3 mas não

necessariamente de coesão entre agentes locaisM#

M )ste argumento ( desenvolvido em Sc2attan et al# +/RRE.#1//

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O E=C=

$  EPQ4P 5 Empo9erment Pones Q Entreprise 4ommunities ( um programa 5ue guardasimilaridades com o Beader e &oi criado nos )stados Unidos em agosto de 10# Uma

di&erença ( 5ue3 para participar3 as comunidades tem 5ue apresentar altos !ndices de pobre7a#

Tamb(m a5ui ( preciso apresentar um pro6eto baseado nos seguintes princ!pios% oportunidade

econOmica3 desenvolvimento sustent=vel3 cooperação e parceria nas comunidades3 visão

estrat(gica de mudança +edusc2i X Abramova:3 /RR.#

?=3 sobre este programa3 bem menos estudos divulgados do 5ue no caso do Beader3 mas3 pelo

seu desen2o3 ( poss!vel di7er 5ue cabem as mesmas cr!ticas3 sobretudo a5uelas relatias 8

ausência de uma sólida &undamentação para como se dão as relaç;es virtuosas tão dese6adas

entre governança e desenvolvimento#

Apesar das perguntas ainda em aberto3 não 2= d<vida 5ue3 os programas de pes5uisa e as

iniciativas p<blicas de desenvolvimento rural são3 2o6e3 pro&undamente marcadas por uma

lógica territorial# $s estudos sobre a per&ormance di&erenciada de =reas rurais mostraram

claramente como as din4micas 5ue respondem por sua direção obedecem claramente a &atoresdesta ordem# ) as iniciativas de apoio e indução3 como re&leo3 têm claramente estimulado a

adoção deste en&o5ue nos pro6etos por elas apoiados# Cabe3 então3 perguntar 5ual o

signi&icado desta emergência da abordagem territorial#

636 4 A emergênia da a!ordagem "erri"oria# e seus signi.iados

A seção anterior mostrou uma situação paradoal# Dão 2= d<vida de 5ue para o estudo dos

&enOmenos relativos ao desenvolvimento rural torna-se imprescind!vel uma abordagem

territorial# >sto pode ser percebido pela de&inição dos conte<dos relativos 8 nova etapa do

desenvolvimento rural3 pelas tendências veri&icadas na ruralidade do capitalismo avançado3

 pelas categorias cognitivas 5ue vem sendo criadas pela sociedade tanto para compreender

como para indu7ir a per&ormance destas =reas# $ problema ( 5ue3 apesar da pro&usão de

estudos com este en&o5ue3 não 2= propriamente &alando uma teoria do desenvolvimento

territorial % @idmore +1. constroi uma abordagem 5ue envolve globali7ação31/0

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internacionali7ação3 territoriali7ação3 Cecc2i +/RR/. en&ati7a os sistemas locais como

instrumento de an=lise e de inserção da economia rural no con6unto da economia global3 9a:

+/RR/. trabal2a com uma abordagem territorial inspirada em componentes da teoria

 bourdiesiana +&ormas de capital. e neo-marista +teoria dos modos de produção.#

$ 5ue 2=3 portanto3 ( uma abordagem territorial  5ue se epressa3 sobretudo3 no tratamento de

um determinado n!vel da realidade e na operacionali7ação de algumas inst4ncias emp!ricas

&undamentais# A di&erença no tom da introdução e conclusão dos dois volumes de colet4neas

organi7adas por enLo X Bipiet7 +1/V /RRR. bem demonstram esta di&iculdade# )n5uanto

no primeiro volume3 do in!cio dos anos noventa3 a marca ( um entusiasmo com as

 possibilidades 5ue se abriam com estudos territoriais 5ue viriam a se tornar re&erências

obrigatórias nos anos seguintes3 no segundo volume a tOnica 6= recai sobre a di&iculdade em

trans&ormar estas evidências em liç;es capa7es de eplicar as condiç;es 5ue &i7eram com 5ue

eperiências positivas enaltecidas em determinados estudos pudessem ali ocorrer#

Se a noção 5ue &undamenta a abordagem (3 do ponto-de-vista teórico3 tão &ugidia3 surgem

duas perguntas# Primeiro3 por 5ue tal en&o5ue se disseminou com taman2a rapide7 e em

di&erentes partes do mundo Q Segundo3 por 5ue &oi 6ustamente a id(ia de território 5uem

gan2ou proeminência3 e não outras com uma ainda maior tradição3 como a id(ia de região35ue apresenta tantos conte<dos similares e re<ne uma maior especiali7ação em torno de si Q

Sobre a primeira pergunta3 al(m do recon2ecimento das novas din4micas 5ue estão

sub6acentes 8 emergência da abordagem territorial3 destacas pelos programas de pes5uisa

apresentados p=ginas atr=s3 ( preciso recon2ecer 5ue isto acontece num conteto 2istórico

tamb(m marcado por uma certa crise e realin2amento dos instrumentos tradicionais de

 promoção do desenvolvimento# A descentrali7ação das pol!ticas e tamb(m da atividadeindustrial3 associado 8 redução e a um certo redirecionamento da intervenção estatal

contribu!ram para 5ue3 particularmente nos meados dos anos R e nos anos R3 se institu!sse

um padrão onde3 em lugar dos investimentos diretos e de corte setorial3 caberia ao )stado

criar condiç;es e um certo ambiente a partir do 5ual os agentes privados pudessem3 eles

mesmos3 &a7er a alocação3 supostamentemente mais e&iciente3 dos recursos 2umanos e

materiais# A5ueles processos sociais e econOmicos de corte eminentemente territorial e este

1/

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novo padrão3 são3 em s!ntese3 as principais ra7;es da emergência e consolidação desta nova

abordagem territorialM#

Sobre a segunda 5uestão3 ( interessante contrastar a evolução e os signi&icados de id(ias com

&orte correlação3 como região e território# Uma ótima sistemati7ação da evolução e das

mudanças no conceito de região pode ser encontrada no livro Região e Leografia3 de Sandra

Bencioni +/RR0.# Dele3 a autora mostra a origem da id(ia ainda entre os gregos3 como

con2ecimento corogr=&ico voltado para as descriç;es das di&erenças da super&!cie terrestre#

Uma tradição 5ue se &unda com )strabão3 de ciência voltada para o desvendamento do

mundo visando a satis&ação das necessidades 2umanas e 5ue seria muito <til ao esp!rito

>luminista3 v=rios s(culos depois# Como ramo institucionali7ado3 a emergência da geogra&ia

regional ocorreu em oposição ao universalismo da &iloso&ia alemã# )sta cisão entre universal

e particular3 com o ramo disciplinar situando-se no segundo pólo3 viria a ser superada

 posteriormente sob in&luência do positivismo lógico onde3 atrav(s da &enomenologia e do

marismo3 2= uma reconciliação com as leis gerais#

Após o per!odo de institucionali7ação3 o decl!nio do conceito e do sub-campo disciplinar 5ue

se erigiu em torno dele tem por base duas cr!ticas# Para @ilton Santos +apud  Bencioni3 /RR0%

1/.3 nas condiç;es atuais da economia universal3 a região teria perdido o car=ter de

realidade viva3 dotada de coerência interna# A ausência desta Iautonomia regionalJ seria3

assim3 uma das ra7;es da &alência da geogra&ia regional tal como considerada nos moldes

cl=ssicos# A segunda cr!tica di7 respeito 8s &ronteiras epistemológicas# )mbora se situe no

4mbito da ciência social3 a geogra&ia di&ere da teoria social 8 medida 5ue considera os

aspectos da nature7a para a compreensão da realidade +Bencioni% /RR0% /R0.# )n5uanto a

geogra&ia 2umana so&reu uma esp(cie de 2ipertro&ia3 a geogra&ia &!sica continuou sua

tra6etória de valori7ação3 impulsionada pela valori7ação dos temas ambientais e ecológicos#

"e outro lado3 a geogra&ia regional3 ante o entendimento da geogra&ia como ciência social3

sem atentar para sua especi&icidade 5ue consistia em incorporar a nature7a3 acabou sendo

negada# >sto (3 a especi&icidade da geogra&ia precisava ser es5uecida para sua a&irmação como

ciência social# ,inalmente3 em a&inidade com este esp!rito dos tempos3 o descenso do

 plane6amento regional3 em muito relacionado 8 primeira destas cr!ticas3 completa o 5uadro de

esva7iamento da legitimidade do uso do conceito de região na geogra&ia#

M *er a respeito Pec5uer +/RRR.3 @agnag2i +/RRE.#1/E

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Contra este movimento3 Bencioni parece sugerir a volta da geogra&ia regional como uma

esp(cie de ciência de s!ntese% entre leis gerais e suas mani&estaç;es particulares3 entre

nature7a e sociedade# @as recoloca-se assim o problema de &undo 5ue di7 respeito 8s

&ronteiras entre mundo natural e mundo social% elas podem ser transpostas nos limites de uma

disciplina Q

)ntende-se3 assim3 parte das ra7;es 5ue levam a substituir região por território na retórica e

nos estudos sobre desenvolvimento% a re&erência privilegiada da id(ia de território se

estabelece com a pol!tica3 5ue en5uanto tal não resvala na di&!cil 5uestão dos limites e da

especialidade disciplinar# Tanto ( 5ue a id(ia de território apresenta rami&icaç;es na biologia3

na etologia3 na antropologia3 na pol!tica e na 2istória3 al(m da geogra&ia e da sociologia#

Apesar da import4ncia do enrai7amento espacial das sociedades 2umanas3 ?asbaert +/RR.3

na mel2or sistemati7ação dispon!vel dos v=rios usos do conceito3 considera 5ue o tema da

territorialidade &oi praticamente negligenciado at( 1MH3 com o lançamento do livro

1erritorialidade !umana 3 de Torsten @almberg# Duma esp(cie de s!ntese destes en&o5ues3

?asbaert destaca os elementos valori7ados em cada uma das tradiç;es eistentes# Da pol!tica3

território ( sempre re&erido 8s relaç;es espaço-poder em geral ou 8s 5uest;es de ordem

 6ur!dico-pol!tica# esta a visão mais di&undida3 onde prevalece uma visão de território como

espaço delimitado e controlado# Da abordagem cultural3 muitas ve7es culturalista3 a ên&ase

recai sobre o simbólico-cultural 5ue permeia a eperiência do território vivido3 como

apropriação# A dimensão econOmica3 menos di&undida3 sublin2a a dimensão espacial das

trocasV território ( visto como &onte de recursos ou incorporado no debate entre classes3 como

uma epressão da divisão do trabal2o# ,inalmente3 2= ainda uma abordagem natural3 marcada

 pelas relaç;es sociedade e nature7a3 onde se aborda o comportamento natural dos 2omens em

relação ao seu ambiente &!sico#

)videntemente3 algumas destas lin2as ou en&o5ues podem ser combinados3 visando constituir

um corpo teórico capa7 de iluminar os aspectos para os 5uais se tem c2amado a atenção# $

&ato ( 5ue3 deste ponto-de-vista3 se6a atrav(s da id(ia de região3 se6a atrav(s da id(ia de

território3 trata-se3 sobretudo3 menos de uma teoria e mais de uma escala dos processos

sociais e de um con6unto de inst4ncias emp!ricas a serem mobili7adas para a eplicação#

1/H

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Pierre ordieu +/RR1%1/.3 lembra 5ue o regionalismo3 como uma categoria 5ue remete a

 processos sociais situados numa escala espacial3 ( apenas mais um caso de lutas propriamente

simbólicas em 5ue agentes3 se6a envolvidos individualmente e de maneira dispersa3 se6a

coletivamente e de maneira organi7ada3 levam adiante um 6ogo de conservação ou

trans&ormação das relaç;es de &orça simbólicas e das vantagens correlativas3 tanto

econOmicas como3 tamb(m3 simbólicas# Dão se deve es5uecer 5ue 2= uma economia do

simbólico irredut!vel 8 economia em sentido restrito3 e 5ue as lutas simbólicas têm

&undamentos e e&eitos econOmicos3 tamb(m em sentido restrito3 e&etivamente reais +ourdieu3

/RR1-a% 1/.# Para complicar ainda mais3 como lembra 'acobs +/RR1.3 nesta trama espacial (

 preciso ainda incluir uma certa nature7a das economias e uma economia da nature7a#

A compreensão a contento dos &enOmenos territoriais leva 8 necessidade de concebê-los

como um campo3 no sentido mesmo dado por ourdieu3 como um todo estruturado de

 posiç;es e oposiç;es3 cu6a con&iguração ( determinada pela distribuição desigual dos

di&erentes trun&os3 entre os agentes e grupos sociais 5ue o comp;em# A din4mica do

território3 no 5ue di7 respeito 8s lutas sociais3 ser= sempre dada pela busca pela mel2or

 posição de cada agente individual no interior deste território e3 deste território em relação aos

demais# Complementarmente3 mas nem de longe menos importante3 suas caracter!sticas

naturais contam como condicionante e como um dos trun&os &undamentais a seremmobili7ados3 o 5ue ( particularmente importante no caso dos territórios rurais3 e poderia3

neste registro sociológico +não no econOmico em sentido estrito.3 ser c2amado de capital

natural#

1/M

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S7n"ese do Ca:7"u#o 6

A an=lise da realidade dos pa!ses do capitalismo avançado mostra 5ue a emergência de uma

nova ruralidade não ( algo 5ue se mani&esta de maneira 2omogênea# A inserção das =reas

rurais nas possibilidades abertas com esta nova etapa do desenvolvimento rural dependem3

sobretudo3 de caracter!sticas 5ue l2e são espec!&icas e 5ue encontram sua mel2or epressão na

id(ia de território3 entendido como a trama complea de aspectos ambientais3 culturais3

sociais e econOmicos3 cu6a escala remete ao conceito de região e obriga a um seu reeame#

A abordagem territorial revela assim uma escala geogr=&ica dos &enOmenos relevantes e um

con6unto de inst4ncias emp!ricas incontorn=veis3 cu6a interpretação3 contudo3 demanda o

suporte de uma sólida teoria social e ecológica capa7 de l2e sustentar# "i&erente3 portanto3 deuma mera construção identit=ria ou de um realidade cu6as possibilidades estão previamente

determinadas por sua con&iguração3 os territórios podem ser vistos como um campo3 no

sentido dado por Pierre ourdieu3 como um todo estruturado de posiç;es3 cu6a mor&ologia (

dada pela distribuição desigual das di&erentes &ormas de capital no seu interior3 e cu6a

din4mica obedece 8s lutas sociais pelas mel2ores posiç;es no seu interior e3 particularmente

importante no caso de territórios rurais3 aos constrangimentos e possibilidades o&erecidos

 pelo meio natural#

Pouco se sabe sobre as condiç;es 5ue levam um território a encontrar o camin2o da

dinami7ação econOmica com coesão social e conservação ambiental# @as os resultados at(

a5ui obtidos por v=rios programas de pes5uisa levam a crer 5ue a5uelas con&iguraç;es

 baseadas em &ormas mais diversi&icadas e desconcentradas de distribuição dos trun&os sociais

e ambientais tendem a ense6ar mais e mel2ores possibilidades de interação social em uma tal

direção#

1/

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PAR%E III

DESENVOLVI$EN%O RURAL E$UDAN2A INS%I%UCIONAL

1/

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Ca:7"u#o ; 4Os amin<os da disseminação da a!ordagem "erri"oria#

As duas primeiras partes deste estudo se apoiaram em aspectos 2istóricos e cognitivos para

mostrar em 5ue consistem os sentidos do desenvolvimento rural e o con2ecimento 5ue se tem

de tais processos# A conclusão ( 5ue as teorias 5ue procuravam inserir este desenvolvimento

em leis gerais pecam sistematicamente por ignorar sua import4ncia e prever seu decl!nio# ) as

ra7;es disso são basicamente duas% determinismo ecessivo e abstrato3 de um lado3 e

ignor4ncia 5uanto 8 import4ncia dos &atores naturais de outro# )sta terceira parte se dedica

agora 8 an=lise de um aspecto emp!rico do desenvolvimento rural da maior import4ncia% o

 problema da mudança institucionalR# 

 Dão se trata de uma avaliação ou balanço das pol!ticas desen2adas com tal intuito mas3 antes3

de uma cr!tica 8s di&iculdades do )stado e das sociedades em operar com a mudança de

 paradigma contida na nova ruralidade3 de maneira a sustentar a de&inição e a implementação

das iniciativas propostas com esse &im#

)mbora em di=logo com uma 5uestão normativa3 o vi(s da an=lise procura proceder a umaabordagem realista de tais processos# Sob o 4ngulo teórico3 este cap!tulo pretende demonstrar

a5uilo 5ue se poderia c2amar de Iembeddedness da dependência de camin2oJ# Se "ouglass

 Dort2 acertou ao descrever os mecanismos da permanência atrav(s do conceito de  path

dependence3 sua eplicação para a mudança revela-se demasiado &r=gil e limitada 8s

&ronteiras do individualismo metodológico# Por isso um segundo ob6etivo ( &ornecer uma

esp(cie de cr!tica ou contra-eemplo ao es5uema esboçado em seus trabal2os mais recentes

+Dort23 /RRE.# Ali ele tenta mostrar como a mudança institucional depende dos mecanismosde aprendi7agem dos agentes sociais e de como isto se tradu7 em &ormas de conduta# $u3 em

outros termos3 como se &ormam e como agem as Iestruturas mentais partil2adasJ# )mbora

 Dort2 admita 5ue as estruturas sociais &uncionam como ambiente a este processo

eminentemente cognitivo 5ue ( o aprendi7ado3 em seu modelo eplicativo as inst4ncias

mobili7adas estão3 por assim di7er3 dentro dos muros do individualismo metodológico% trata-

R Algumas id(ias e argumentos epostos nesta parte &oram apresentados originalmente3 na &orma de artigo3 no

Congresso da Sociedade rasileira de Sociologia3 reali7ado em elo ?ori7onte3 em /RRE# C&# ,avareto +/RRE- b.#10R

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se de eplicar como est!mulos e sanç;es se trans&ormam em regras3 e como regras

trans&ormam-se em &ormas de conduta# As próimas p=ginas pretendem mostrar o outro lado

do muro% propriamente3 como as instituiç;es são elas mesmas epress;es de con&litos e de

compromissos3 isto (3 resultado das interaç;es propiciadas por estruturas sociais

determinadas1# )3 por <ltimo mas não menos importante3 como estas estruturas não podem

ser entendidas sem considerar o meio-ambiente# Trata-se3 portanto3 de não só abordar como

os sistemas mentais partil2ados in&luenciam a tomada de decisão dos agentes3 e sim de como

este con6unto de crenças e valores ( socialmente &ormado#

 Dão 2= d<vida de 5ue nos <ltimos de7 ou 5uin7e anos se erigiu um novo discurso sobre a

ruralidade3 em muito apoiado sobre os ac2ados de estudos e pes5uisas reali7ados nos 5uatro

cantos do mundo/# )ste novo discurso acabou progressivamente tomando a &orma de

consensos e orientaç;es3 não raramente amalgamados por agências internacionais de apoio 8

cooperação e ao desenvolvimento3 &undos de &inanciamento e organismos multilaterais como

a ,A$ - $rgani7ação das Daç;es Unidas para Agricultura e Alimentção -3 o anco @undial3

a Cepal - Comissão )conOmica para a Am(rica Batina -3 o >" anco >nteramericano de

"esenvolvimento3 o >>CA F >nstituto >nteramericano de Cooperação Agr!cola3 a $C") F

$rgani7ação para a Cooperação e o "esenvolvimento )conOmico# Como se sabe3 ( enorme a

in&luência destes organismos sobre a de&inição das pol!ticas3 sobretudo dos pa!ses da peri&eria

e da semi-peri&eria do capitalismo mundial# $ 5ue se deve tanto ao papel de &inanciador de

muitos desses organismos3 como3 talve7 principalmente3 pelo &ato de &uncionarem como uma

esp(cie de pivO3 atrav(s do 5ual gira uma articulação muito peculiar de interesses e

competências envolvendo os campos acadêmico3 pol!tico3 econOmico3 em cu6a din4mica

ocorre um movimento de legitimação rec!proca entre os con2ecimentos produ7idos

cienti&icamente3 a de&inição de pol!ticas no 4mbito de pa!ses e governos locais3 e a

normati7ação dos procedimentos por estes organismos internacionais#

Por este motivo3 a primeira das duas seç;es 5ue 6untas con&ormam esta parte do estudo (

dedicada 6ustamente a reconstruir e analisar a Inova visãoJ do desenvolvimento rural &or6ada

no 4mbito destes organismos# $ interesse em tal movimento para os propósitos deste estudo (

duplo% trata-se de pOr em evidência um n<cleo comum presente nos di&erentes discursos 5ue

1

 C&# ( sugerido nos en&o5ues adotados por Pierson +/RR. e Amable X Palombarini +/RRE.#/ *er principalmente Cap!tulos 0#101

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remetem a essa Inova visãoJV e importa3 igualmente3 pOr em relevo omiss;es3 impasses3

dis6unç;es eistentes na passagem dos discursos cient!&icos aos discursos normativos 5ue se

abrigam sob a Inova visãoJ# Da seção seguinte a ên&ase se desloca para as tentativas de levar

8 pr=tica os elementos tra7idos com a nova abordagem# Desse momento3 a unidade em an=lise

( a eperiência recente de pa!ses com problemas similares em passar da Inova visão 8 açãoJ#

)m particular3 uma dimensão crucial dessa eperiência ( destacada% a situação 5ue envolve as

re&ormas introdu7idas nas pol!ticas e programas de pa!ses como o rasil3 a Argentina3 o

@(ico3 o C2ile# Com este eerc!cio3 pretende-se interrogar as ra7;es 5ue respondem pelo

êito parcial destas inovaç;es e3 com isso3 iluminar a nature7a dos constrangimentos 5ue

 pesam sobre as opç;es dos agentes p<blicos e privados em sua tentativa de promover o

desenvolvimento dos territórios rurais#

A a&irmação principal 5ue sustenta esta parte do teto ( 5ue a Inova visãoJ do

desenvolvimento rural se instituiu com &orça su&iciente para reorientar o discurso e o desen2o

das pol!ticas e programas &ormulados com este &im3 mas isto não se &e7 acompan2ado da

criação de novas instituiç;es capa7es de sustentar este novo camin2o# Ao contr=rio3 o 5ue

 parece estar ocorrendo ( uma incorporação por adiçãoJ dos novos temas onde3 sob nova

roupagem3 vel2os valores e pr=ticas continuam a dar os par4metros para a atuação dos

agentes sociais3 coletivos e individuais3 estabelecendo a5uilo 5ue a literatura em economia

institucional c2ama por dependência de percurso# Tornar esta assertiva palp=vel e interrogar

as ra7;es disto (3 pois3 o 5ue se pretende com as próimas p=ginas#

;35 4 O Bogo e as regras

Como mostra Davarro +/RR0.3 a id(ia de desenvolvimento rural não ( nova3 mas 2ouve3 ao

longo do tempo3 um desli7amento no discurso pol!tico e acadêmico 5ue ( revelador das

concepç;es orientadoras de tais propostas# Garcia +/RR/. vê3 na Am(rica Batina3 5uatro

grandes momentos# $ primeiro marcado pelos pro6etos e iniciativas de desenvolvimento

comunit=rio# $ segundo3 pelos grandes pro6etos de re&orma agr=ria# $ terceiro3 por a5uilo 5ue

se convencionou c2amar de desenvolvimento rural integral# At(3 por &im3 o momento dos

 pro6etos 5ue &alam em desenvolvimento territorial e combate 8 pobre7a# Um breve ol2ar

10/

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sobre cada uma destas etapas a6uda a compreender as permanências e inovaç;es introdu7idas

de per!odo a per!odo@6#

;3535 4 A Jno)a )isãoT do desen)o#)imen"o rura#

$s pro6etos mais destacados e 5ue poderiam ser 5uali&icados como de apoio ao

desenvolvimento comunit=rio remontam aos anos trinta3 nos )UA e [ndia# "esde 1E esta

denominação passa a &re5uentar os documentos o&iciais das Daç;es Unidas e3 em 1EH3

aparece como Ia e3pressão para designar os processos em virtude dos quais os esforFos de

uma populaFão se Buntam aos de seu governo para melhorar as condiFKes econ>micas,

 sociais e culturais das comunidades, integr'*las a vida do pa(s, e permitir*lhes contribuir

 plenamente ao progresso nacional J +$DU apud Garcia3 p# 1.# A partir dos anos ER3 sob o

 patroc!nio de agências como a ,undação ,ord3 v=rias eperiências &oram implementadas na

]&rica e ]sia3 como resposta 8 9evolução C2inesa e 8 Guerra ,ria# A id(ia b=sica ( 5ue as

comunidades possuem potencialidades 5ue3 com apoios pontuais3 podem deslanc2ar# As

 principais estrat(gias3 por sua ve73 eram destinadas a satis&a7er as necessidades b=sicas da

 população3 propiciar maior participação3 e apoiar a organi7ação cooperativa# )lementos 5ue3

como se vê3 ainda são muito presentes no discurso atual sobre desenvolvimento rural#

A partir dos anos HR esta estrat(gia eperimentou um descenso# As ra7;es para isto são de

&=cil compreensão# $s pro6etos 5ue vin2am sendo implementados apresentavam uma enorme

dependência de recursos eternos3 2umanos e &inanceiros3 tornando di&!cil sua ampliação e

mesmo sua sustentação em longo pra7o# Al(m disso3 tais iniciativas revelaram-se &r=geis no

5ue di7 respeito 8 necessidade de r=pido aumento da renda e da produção nas comunidades

atingidas# $ car=ter pontual e tópico dos investimentos reali7ados não contribu!a para levar 8

dinami7ação dese6ada revelando-se meramente paliativos# >sto 5uando3 pelo seu car=ter

restrito associado 8 introdução de elementos estran2os 8 tradição da5ueles agricultores3 os

 pro6etos apoiados não acabavam gerando atritos e con&litos nas próprias comunidades#

 Desta (poca3 o pêndulo se desloca para a necessidade de mudanças estruturais# Da esteira dos

movimentos revolucion=rios e de contestação 5ue se espal2avam pela Am(rica Batina o tema

da re&orma agr=ria gan2ou proeminência como principal pol!tica de desenvolvimento rural#

0 $ item seguinte ( &ortemente apoiado em Garcia +/RR/.#100

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As origens do debate remontam 8 9evolução @eicana de 11R3 mas gan2aram in&luência

decisiva com a introdução de processos similares ocorridos na ]sia nos anos R +Tur5uia3

Cor(ia3 'apão3 C2ina3 TaiKan.# )m 1ER a $DU encomendou 8 ,A$ um estudo sobre a

relação entre per&il &undi=rio e pobre7a# $ estudo indicava mini&<ndios com =rea insu&iciente

 para reprodução social e a presença do lati&<ndio como marca da estrutura agr=ria da região#

Paralelamente a Cepal apontava um lento crescimento da produção em relação a demanda

nacional e internacional e a necessidade de um processo de moderni7ação acompan2ado de

uma re&orma agr=ria# "iagnóstico similar era produ7ido pelo Comitê >nteramericano de

"esenvolvimento Agr!cola +C>"A.3 criado nos marcos da Aliança para o Progresso3 de 1H1#

 Do in!cio dos anos sessenta3 sob o impacto destes estudos e de processos de re&orma agr=ria

levados adiante em ol!via3 @(ico e Cuba3 este era um tema &undamental em toda a

Am(rica Batina3 salvo na Argentina e Uruguai#

A eperiência 2istórica demonstrou3 no entanto3 5ue as re&ormas eram parte de um pro6eto

 pol!tico para diminuir o peso dos lati&undi=rios3 mas não estava 5ue tipo de propriedade

deveria substituir o lati&<ndio# )sperava-se um impacto para al(m da produção agr!cola3

in&luindo nos n!veis de renda e o conse5ente impacto sobre o mundo urbano e3

 principalmente3 li5uidar as relaç;es não-capitalistas# A ausência de tecnologias apropriadas

aos pe5uenos produtores3 as di&iculdades de acesso ao cr(dito e3 en&im3 todo o ambiente

social e institucional des&avor=vel &oram &atores 5ue limitaram enormemente este intento#

Paralelamente 8s eperiências de re&orma agr=ria F ou de sua &rustração como no caso

 brasileiro F ocorre uma r=pida moderni7ação do setor agr!cola nestes pa!ses3 com uma &orte

epansão da produção3 aumento do com(rcio e uma urbani7ação r=pida e crescente# @as o

e&eito da c2amada 9evolução *erde para os pobres rurais &oi nulo ou negativo# Uma das

conse5ências &oi a pro&unda 2eterogenei7ação destes espaços% alguns alcançam um modelo

de integração competitiva en5uanto outros apro&undam a situação de marginali7ação e

decadência# $s organismos internacionais deram por &racassadas as pol!ticas de re&orma

agr=ria# Como resultado3 ocorre um realin2amento da estrat(gia de desenvolvimento3 pondo

ên&ase em dispor aos pobres rurais todos os elementos 5ue l2es permitiriam mel2orar sua

5ualidade de vida e suas capacidades produtivas3 o 5ue inclu!a uma ampla gama de serviços

sociais e serviços t(cnicos# Surgia a retórica do desenvolvimento rural integral# )ntre 1 e

10

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1HR o @ 2avia investido H` do &inanciamento total a programas rurais3 ci&ra 5ue passou a

/` +Garcia3 /RR/.# @udanças similares ocorreram no >"# ) no mesmo ano se cria o ,>"A#

Apesar da ampliação dos recursos3 um problema 5ue persistiu nesta etapa &oi a carência de

recursos 2umanos para levar adiante tais programas# A solução encontrada &oi priori7ar

 pe5uenos propriet=rios com posse da terra# )sperava-se 5ue seu e&eito se irradiasse e

 bene&iciasse os mais pobres# @as o problema da posse da terra tamb(m era delicado# )m

muitas =reas era mesmo uma condição para 5ual5uer es&orço de desenvolvimento# )3 no

entanto3 ele nunca 2avia sido parte do rol de estrat(gias apoiadas# Desta etapa3 5uando 2ouve

investimentos nesse sentido3 priori7ou-se a coloni7ação e a regulari7ação &undi=ria3 e não a

 partil2a de terras a &im de evitar con&litos# *ale lembrar 5ue v=rios pa!ses da Am(rica Batina

viviam sob regimes de eceção 8 (poca e a intocabilidade da propriedade &undi=ria era um

dos pilares destes regimes# Al(m desta di&iculdade operacional 2avia um problema

institucional# $ desa&io era passar de pro6etos produtivistas para pro6etos integrados3 mas isto

tra7ia um problema de articulação3 derivado da enorme pulveri7ação de 2abilidades e

competências em um n<mero signi&icativo de estruturas governamentais# Como &orma de

contornar esta limitação3 muitas ve7es se criou aparatos espec!&icos3 gerando paralelismos

com a estrutura estatal# $utro problema estava no descompasso entre as eigências t(cnicas

das agências internacionais e os recursos 2umanos locais# ,ormaram-se burocracias e

desn!veis salariais# Apesar do discurso3 a participação dos pobres rurais não acontecia

+Garcia3 /RR/.#

$ balanço geral at( este per!odo revela um 5uadro de di&!cil en&rentamento# As mudanças

 provocadas pela integração crescente de populaç;es tradicionais aos circuitos de mercado

troueram consigo uma crise das id(ias mais tradicionais 5ue orientavam as pol!ticas voltadas

 para a economia camponesa# Al(m disso3 as pol!ticas 6= implementadas nas etapas anteriores

não vin2am apresentando impacto substantivo# A re&orma agr=ria3 a mais estrutural das

tentativas ense6adas3 c2egou a alterar algumas estruturas3 mas não alcançou a mudança

 preconi7ada# A desconeão entre pol!ticas rurais e pol!ticas macroeconOmicas e a carência de

recursos 2umanos revelaram-se &atores altamente limitantes para o êito de 5ual5uer pol!tica

de desenvolvimento rural#

10E

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A tOnica dos anos HR aos R &oi 6ustamente a ausência de pol!ticas estruturais para o mundo

rural3 &icando suas possibilidades de mel2oria restritas 8 ade5uação 8s pol!ticas

macroeconOmicas e de incremento tecnológico ou aos programas pontuais apoiados por

organismos internacionais3 na maior parte das ve7es em resposta a situaç;es de e&ervescência

social# Do caso brasileiro3 isto pOde ser percebido com a instituição de uma &orte

moderni7ação tecnológica3 uma crescente integração da atividade agr!cola aos compleos

agroindustriais3 e a &ormação de um padrão corporativista de organi7ação do agro onde cabia

ao )stado3 a um só tempo3 o papel de indutor da economia e de repressor dos con&litos 5ue

da! emergiam#

A partir dos R vai &icando claro 5ue3 embora as economias ten2am crescido e a produção de

alimentos aumentado signi&icativamente3 2ouve um aumento da pobre7a e da desigualdade# $

tema do desenvolvimento rural como pol!tica espec!&ica volta 8 arena# $s organismos

internacionais in&luenciam a agenda dos governos recolocando o tema em pauta3 e o &a7endo

 pelo registro da associação entre desenvolvimento rural3 redução da pobre7a e conservação

dos recursos naturais# @as este era tamb(m o momento onde a crise da d!vida deu lugar a um

 processo de reestruturação econOmica3 o Ia6uste estruturalJ3 5ue levou a programas de

moderni7ação dos aparatos p<blicos3 ordenamento das economias3 busca do crescimento

sustentado3 abandono de pol!ticas espec!&icas de desenvolvimento#

Um dos eios adotados &oi 6ustamente tomar a agricultura como uma sa!da produtiva3 atrav(s

do incremento e diversi&icação das eportaç;es3 da diminuição das importaç;es3 e da geração

de saldo &avor=vel para sanear as contas p<blicas e 2onrar compromissos eternos# )ste vetor

obteve um ra7o=vel êito nos seus intuitos &iscais e monet=rios imediatos3 mas o impacto

sobre a vida dos agricultores &oi pe5ueno ou simplesmente negativo por uma s(rie de

motivos# $ principal deles est= no &ato de 5ue a renda das &am!lias rurais deiava

 progressivamente de vir do trabal2o agr!cola#

'= nos anos R3 outro eio se constituiu com a adoção do en&o5ue territorial 8s pol!ticas#

"esde os anos noventa 2= uma s(rie de programas de pes5uisa e iniciativas de pol!ticas como

a criação da divisão territorial da $C") em 1# ) em 1H o anco @undial publica seu

relatório I A nova visão do desenvolvimento rural J3 onde a marca ( 6ustamente uma tentativa

de dar conta das mudanças por5ue 2avia passado o rural nas d(cadas anteriores e a10H

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necessidade 5ue elas tra7iam em se passar de um en&o5ue setorial a um outro de car=ter

territorial3 e3 tamb(m3 em se erigir um novo modelo institucional em torno destas pol!ticas#

"esde então &oram v=rios os documentos nas di&erentes agências multilaterais visando

 precisar o 5ue seria esta Inova visãoJ #

)stes v=rios documentos e as orientaç;es neles contidas se apoiavam em alguns consensos

sobre os problemas dos programas at( a5ui# )ste consenso poderia ser sumari7ado em seis

 pontos% a. &alta de coordenação dos programasV b. descentrali7ação da implementação mas

com centrali7ação das decis;esV c. pouca ade5uação local em termos de tecnologia e de

recursos 2umanosV d. concentração do cr(dito e distorç;es na pol!tica de subs!diosV e.

2ipertro&ia da presença estatalV &. custos das intervenç;es alto3 redu7indo os e&eitos dos

investimentos diretos# As liç;es da! derivadas% a. a necessidade de priori7ar um car=ter

multisetorialV b. a ên&ase na &orma de estruturar e institucionali7ar a açãoV c. import4ncia de

se re&orçar a descentrali7ação3 a agilidade e a instituição de mecanismos de incentivos e

controles3 al(m de estudos sobre marco inicial dos pro6etos3 a introdução de &ase de

 preparação3 e de instrumentos de monitoramento e avaliaçãoV d. separar as aç;es sociais das

setoriais e produtivas visando simpli&icar o desen2o de programasV e. considerar =reas mias

2omogêneas o poss!vel para implementar as aç;esV &. considerar os não-pobres3 isto (3 o

território e as articulaç;es 5ue ele implica +Garcia3 /RR/.#

Salvo liç;es polêmicas e de e&ic=cia no m!nimo duvidosa3 como a separação entre iniciativas

sociais e produtivas3 ao 5ue parece as recomendaç;es dos órgãos e agências internacionais se

coadunam com as tendências recentes do desenvolvimento rural e com os ac2ados dos

 programas de pes5uisa citados no cap!tulo anterior# Contudo3 um eame mais detido da

estrutura e do sentido destes documentos revela claramente dois tipos de impasse3 ou dois

dilemas% o primeiro ( a permanência de uma visão agr=ria dos espaços ruraisV o segundo3

derivado do anterior3 ( o vi(s de pol!tica social sub6acente 8s orientaç;es#

Sobre a permanência da visão agr=ria3 um ol2ar sobre alguns documentos destes organismos

( bastante revelador# $ relatório de /RR1 do anco @undial +T2e World anL3 /RR1-a. F

 -lan de acción para el desarrollo rural em América 0atina 2 el 4aribe/ um insumo para la

  C&# T2e World anL +/RR1-a3 /RR1-b.3 Cepal,A$9imisp +/RR0.3 >" +/RRE.# *er tamb(m )c2everria+/RR1.3 )scobal +/RR/. ?opLins +/RR.#10M

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revisión de la visión a la acción F rea&irma a estrat(gia de busca de inserção competitiva dos

espaços rurais e destaca como um dos blo5ueios a di&iculdade de acesso a ativos

&undamentais para tanto# @as 6unto disso3 destaca o peso 5ue a agricultura deve continuar

tendo no P># Do rol de elementos a compor a estrat(gia aparece% a intensi&icação da

agricultura entre pe5uenos3 o mel2oramento do acesso a terra e a serviços3 as pr=ticas de

mane6o sustent=vel3 o &ortalecimento do capital social# )lementos en&im 5ue se combinam

mais 8 vel2a visão do 5ue a um car=ter intersetorial do desenvolvimento rural# )ste vi(s (

re&orçado no relatório de /RR3 5ue tem o epressivo t!tulo F Me2ond the cit2 +T2e World

anL3 /RRE. -3 mas no 5ual a principal ên&ase recai sobre o e&eito ampliado da agricultura na

composição do P>#

"a mesma &orma o mais recente teto do >" F  -erfil de pol(tica de desarrollo rural  +>"3

/RRE. F apresenta problemas similares# "eiando de lado a compreens!vel generalidade 5ue

envolve esse tipo de documento3 com pretens;es amplas resumidas em sete p=ginas3 c2ama

atenção a ausência de uma verdadeira Iestrat(giaJ a sustentar o con6unto de consideraç;es e

 proposiç;es nele contidas# Por certo 2= uma incorporação das dimens;es territorial3

institucional e ambiental3 mas isso se d= mais Ipor adiçãoJ ao l(ico dos &ormuladores das

 pol!ticas ou3 no limite3 como identi&icação de inst4ncias a serem3 de alguma maneira3

envolvidas ou mobili7adas com as orientaç;es enunciadas# $ mel2or eemplo disso est= no

&ato de 5ue a primeira menção epl!cita a uma estrat(gia territorial só aparece na <ltima

 p=gina3 no item I EBecución 2 cumplimientoJV e aparece como Ien&o5ue de aplicaçãoJ3 não

como Iestrat(giaJ# "isso resulta uma dis6unção importante% na IeBecuciónJ tenta se aplicar

um vi(s territorial3 mas nas consideraç;es3 nos instrumentos e nas orientaç;es enunciadas o

vi(s ( claramente produtivista e setorial# Seria poss!vel citar eemplos em 5uase todas as

 partes do teto3 sobretudo nos IobBetivosJ# "a mesma &orma o Iproblema institucionalJ

aparece somente de maneira dispersa3 com menç;es meramente pontuais#

Apesar da inovação discursiva3 os documentos não epressam3 portanto3 uma interpretação

dos problemas relevantes para a promoção do desenvolvimento dos espaços rurais e parecem

não apreender os ensinamentos tra7idos com a evolução recente dos estudos 5ue vêm dando

relevo 8 id(ia de desenvolvimento territorial# A conse5ência ( a proposição de diretri7es

com alguma abertura para novas instituiç;es3 coerentes com esse novo 5uadro de re&erências3

10

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mas sem uma estrat(gia coerente a sustent=-la3 sem mecanismos 5ue possam &avorecer sua

criação#

Sobre a associação entre promoção do desenvolvimento rural e pobre7a tamb(m 2= uma &orte

ambigidade# ineg=vel 5ue baios indicadores econOmicos e sociais são uma das marcas

destes espaços# "ados da Cepal e da ,A$ apontavam para a eistência de HE mil2;es de

 pobres em 1MR3 / mil2;es no meio da d(cada de R3 e 1R mil2;es em /RRR# Com eceção

do C2ile3 em todos os outros aumentou a pobre7a no per!odo# Do entanto3 este car=ter 5ue

demanda estrat(gias espec!&icas de discriminação positiva muitas ve7es se tradu7 na

introdução de um vi(s marcadamente assistencial a estas populaç;es e a suas regi;es3 5ue tem

o e&eito não antecipado de eclu!-las de todo um outro rol de programas e pol!ticas# As

 pol!ticas de dinami7ação econOmica e &omento 8 inovação &icam reservadas 85uelas 5ue

apresentam potencialidades competitivas# Ys =reas rurais são direcionados os programas com

recursos a &undo perdido e as estruturas governamentais com capacidades estabelecidas para

o atendimento de populaç;es em situaç;es de precariedade social# Com isso3 muitas ve7es

apro&unda-se a dicotomi7ação 5ue atribui ao rural somente o lugar do atraso e da pobre7a#

?= duas ra7;es para isso# A primeira ( cognitiva% eiste toda uma visão instaurada nos

5uadros mentais da burocracia governamental3 mas tamb(m de pes5uisadores e mesmo destas

 populaç;es3 onde estes lugares e suas associaç;es 6= estão pr(-estabelecidos# A segunda (

 pol!tica% estas populaç;es não disp;em dos meios e dos recursos para pleitear outro tipo de

investimento e de inserção governamental#

Como resultado3 os investimentos produtivos são capturados pelos agentes mais tradicionais

do agro re&orçando sempre a mesma visão baseada na valori7ação dos recursos prim=rios3

mesmo na contramão das tendências em curso não só nos pa!ses do capitalismo avançado3

mas tamb(m na Am(rica Batina# Do C2ile3 R` das &am!lias 6= vive nas cidades e E0` da

renda prov(m de atividades não agr!colas# A diminuição da solidariedade e o aumento da

individuali7ação são traços crescentes nas =reas rurais# @udanças migratórias têm mudado o

 per&il populacional de muitas =reas rurais com a c2egada de pro&issionais liberais ou de

retornados3 agora com maior grau de escolaridade e dotados de novos v!nculos etra-locais#

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 Da pr=tica3 a associação entre ruralidade e pobre7a tra7 uma contradição% os programas

estabelecem um &oco3 um p<blico priorit=rio F os pobres rurais3 em geral &am!lias de

agricultores - embora a abordagem se proclame territorial e3 pois3 multisetorial# Al(m destes

impasses na &ormulação mesmo do discurso3 cabe perguntar 5ual tem sido o resultado da

tentativa de passar Ida visão 8 açãoJ#

;353+ 4 Da )isão H ação

Um 5uadro geral das principais pol!ticas e programas voltados para a promoção do

desenvolvimento rural em pa!ses da Am(rica Batina no decorrer dos anos R deia bastante

claro o vi(s setorial destas iniciativas# A avaliação geral não ( positiva 5uanto a seus êitos3

salvo no C2ile3 mas mesmo l= ( di&!cil separar o 5ue compete ao êito dos pro6etos ou a

 própria tra6etória de crescimento econOmico eperimentada ao longo dos <ltimos anos# Assim

como no balanço das d(cadas anteriores3 novamente se misturam aspectos operacionais com

o lugar social das iniciativas# "e um lado3 in&luenciaram aspectos eternos aos programas3

como o enugamento dos serviços p<blicos motivados pelas re&ormas estruturais ocorridas

nesta d(cada3 ou a &alta de di=logo entre inst4ncias econOmicas e sociais ou entre di&erentes

n!veis de governo# "e outro3 o amplo espectro de pol!ticas e programas apresentavam baia

inovação e pouca complementaridade3 como demonstra o 5uadro a seguir#

1R

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&UADRO SN%ESE DAS PRINCIPAISPOL%ICAS PARA O DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ PASES DA A$RICA LA%INA

Pa7s Ins"i"uiona#idade Programas O!Be"i)os Cri"rios:Q!#io Prini:ais açes O!s3 geraisArgentina Programas e pro6etos são

subordinados 8 SAGP:A do@inist(rio da )conomia

Unidades de eecução são criadas ad2oc para cada pro6eto

At( 1 prevalecem pol!ticasagr!colas ou por produto

1f programa F PPD)A +Cr(dito eapoio t(cnico para pe5uenos produtores agropec# "o noroesteargentino.3 de 1/-1M3 com&inanciamento do >"-,>"A

1 F Criação da Comissão de"esenvolvimento 9ural

/RR1 F programas

/RR F "iscussão sobre pol!tica dedesenvolvimento rural

1. Unidad demini&<ndio

Apoio a agricultoresmini&undistas

Tecnologia3 organi7ação3capacitação para% a. &ortalecercapacidade de subsistênciaV b. produção para mercadosV c.diversi&icação

@ini&undistas em 7onas deconcentração &undi=ria3 commenos de / sal=rios deassalariado rural de renda3 eem situação de precariedadesocial3 econOmica ouambiental

Assistência t(cnica eapoio organi7acional

/. Programa SocialAgropecu=rio

Aplicação no setor rural de programa social do governo+aplicado em diversas =reas.#

Apóia o &ortalecimento doauto-consumo e cr(dito paraempreendimentos associativos

Assalariados e pe5uenos produtores# Do segundo caso3eige-se a participação diretano estabelecimentoagropecu=rio e empregandomão-de-obra somenteocasional# A renda doestabelecimento não pode sersuperior ao sal=rio de umassalariado rural3 nem podemos ingressos eternos seremsuperiores a este valor#

Assistência &inanciera3t(cnica e apoio 8comerciali7ação e 8atividades decapacitação

A devolução doscr(ditos integra um&undo rotativo no4mbito das prov!ncias#

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0. Pro:eto de"esarollo 9ural dePe5ueosProductoresAgropecuarios+Proinder.

+recursos W e governo.

Apoio a pro6etos deautoconsumo3 de produção de bens e serviços3 dein&raestrutura de usocomunit=rio para produção3 ede assistência t(cnica

,am!lias nas 5uais asnecessidades b=sicas sãosuperiores 8 m(dia da prov!ncia# São adotadoscrit(rios adicionais no caso de7onas ind!genas ou com predomin4ncia detrabal2adores tempor=rios crit(rios similares ao PSA

,ortalecimentoinstitucional

,undo de Apoio a>niciativas 9urais

Atrav(s destes doisinstrumentos seapoiam iniciativas deinvestimento3assistência t(cnica eserviços de apoio ao

mercado. Programa de

"esarrollo 9ural delas Prov!ncias del Doroeste Argentino+Prodernea.

+recursos ,>"A3 prov!ncias e governo.

Apoio a pro6etos produtivos3comerciais3 de gestãoadministrativa3 agroindustriaise rurais não-agr!colas

Pe5uenos produtores comdotação de recursos produtivos e capacidade degestão empresarial com potencial para integração emmercados

Cr(ditosreembols=veis deinvestimento e custeio

Serviços de apoio 8 produção

Gênero

Programa deeecução maisdescentrali7ada# )mcada prov!ncia 2=um ComitêCoordenador comrepresentação dos bene&ici=rios3instituiç;es eorgani7aç;es&amiliares de pe5uenos produtores

1/

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rasil )istem duas estruturas nacionais #@inist(rio da Agricultura3 orientadoao &ortalecimento da capacidadecompetitiva da agricultura patronal#@inist(rio do "esenvolvimentoAgr=rio3 voltado a temas dedesenvolvimento rural sustent=vel ere&orma agr=ria# $utros programassociais &icam a cargo de minist(riosde outras =reas#

1. Programa Dacional de,ortalecimento daAgricultura ,amiliar+Prona&.

Apoio t(cnico e &inanceiro para o desenvolvimento ruralcom base no &ortalecimento daagricultura &amiliar 

Agricultores &amiliares3 com prioridade para a5uelessituados nas categorias IemtransiçãoJ e Iperi&(ricosJ +aterceira categoria seria a dosagricultores IconsolidadosJ.#

São considerados agricultores&amiliares a5ueles 5ue3 sob5ual5uer modalidade 6ur!dicade posse da terra3 desde 5uenão ten2am =rea superior a

5uatro módulos &iscais+unidade de medida.3 5ueobten2am renda predominantemente daeploração do estabelecimentoagropecu=rio3 5ue residam na propriedade ou emaglomerado urbano próimo3contratação de mão-de-obraeventual

Cr(dito de&inanciamento ecusteio subsidiado ereembols=vel

Apoio 8 in&raestrutura+em convênio comgovernos dosmunic!pios. atrav(s deinvestimentos a &undo perdido visandomel2orar a

in&raestrutura e osserviços de apoio aodesenvolvimento rural

Capacitação paradisseminação decon2ecimentos etecnologias atrav(s dasempresas estatais deassistência t(cnica eetensão ou emconvênio comorgani7aç;es nãoestatais

Alto grau dedescentrali7ação3com base nosC@"9 e naelaboração de planos dedesenvolvimentorural3 inicialmenteem 4mbitomunicipal e3 desde/RR/3 em 4mbitointermunicipal

/. Programa Dacional de9e&orma Agr=ria

Propiciar acesso a terra e acondiç;es de produção 8&am!lias de agricultores sem-terra

,am!lias de agricultores sem-terra

)propriação+indeni7ada. de terrasimprodutivas degrandes propriedades edistribuição a &am!liasde agricultores sem-

terra,ormação deassentamentos

"isponibili7ação decr(dito subsidiadoreembols=vel viaProna& 

Programa sob permanente debateenvolvendo oscustos dedesapropriação3 am= 5ualidade das

terras ou a m=locali7ação dosassentamentos3dependência dosassentados3 entreoutros aspectos#Centrali7ado no>DC9A3 vinculadoao @"A

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0. Programas de cr(dito&undi=rio

+W3 governo &ederal3governos locais3comunidades bene&ici=rias.

Propiciar &ormas de acesso aterra para agricultores sem-terra ou com terra insu&iciente para as necessidades da&am!lia3 via compra de terras

,am!lias de agricultores sem-terra ou com =rea insu&iciente

Cr(dito subsidiadoreembols=vel paraa5uisição de terras porassociaç;es de bene&ici=rios

"otação inicial derecursos parainvestimentoscomplementares econtratação deassistência t(cnica

)ecuçãodescentrali7ada comautonomia das&am!lias sobre aaplicação dosrecursos +5ue terrasad5uirir e onde. esobre a estrat(gia produtiva #Governos estaduaisavaliamcompatibilidade dos

 procedimentos#Governo &ederal&ia preços dere&erência#

1

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C2ile Dão 2= uma órgão de )stadoencarregada de pol!ticas dedesenvolvimento rural

1. Prorural @el2orar as condiç;es de vidados 2abitantes de 7onas rurais pobres3 dinami7ando aseconomias locais com umavisão territorial3 multisetoriale participativa

)ecução ecoordenação de aç;esde diversas agências3serviços p<blicos eagentes locais emregi;es priorit=rias

,ortalecimento deagentes locais atrav(sda trans&erência decapacidades e apoio pro&issional

Aç;es m<ltiplas3simult4neas ecomplementares +emdi&erentes setoreseconOmicos.

$rigem em 1M3com aprovação pelos ministros doComitê>nterministerial dePol!ticas Sociais ede"esenvolvimentoProdutivo3 visandosuperar aatomi7ação einsu&iciêmncia da

ação p<blica atrav(sda criação de umainstituicionalidade ede uma estrat(gia deintervenção maisapropriada e baseada naintegração territorialde programas

/. Serviço de Asesor!aBocal en Comunidades9urales Pobres+Prodesal.

Propiciar o acesso a serviçosde assessoria e apoio acomunidades rurais pobres3envolvendo aspectos produtivos3 ambientais eorgani7acionais

Comunidades rurais commaior incidência deindicadores de pobre7a

)mbora os ob6etivosenvolvam m<ltiplasdimens;es3 tem sidodada ên&ase aomel2oramento da produtividade

"estacam-se ocar=ter comunal eos redu7idos&undos3 o 5ue &orçaa articulação deste programa comoutras iniciativas

0. Programa de"esarrollo Productivo9ural del ,ondo deSolidaridad Social +"P9-

,osis.

,ortalecer o desenvolvimento produtivo de =reas rurais

>denti&icação preliminar 8 eecuçãodo pro6eto dos bene&ici=rios e do

capital socialdispon!vel

Apoio a atividades pr(vias de&ortalecimentoorgani7acional +ondenecess=rio.

?= a eigência de5ue se6am aportadosrecursos locais 5uesão

complementadoscom investimentos pelo programa3 o5ue &avoreceinteressantesencadeamentos comoutros programasou com iniciativas privadas e tamb(m

1E

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Apoio a aç;es de&ortalecimento dacapacidade produtiva

o comprometimentodos bene&ici=rioscom o pro6eto#

Consel2osmunicipais comrepresentantesdemocraticamenteeleitos priori7am os pro6etos

1. Prodecop >*3Prodecop Secano3Prodecam

+W3 governo 2olandês3governo c2ileno.

Pro6etos voltados para o&ortalecimento dodesenvolvimento rural desegmentos ou regi;esespec!&icas

9egi;es ou segmentos menos&avorecidos

Apoio a iniciativasdiversas baseadas emdiagnósticos3concertação de atorese de&inição de prioridades locais

Consel2os de"esenvolvimentoBocal como espaçosde concertação#

1H

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>n&luenciados pelas tendências das pol!ticas nos pa!ses do capitalismo avançado e pelas

descobertas de programas de pes5uisa sobre a mani&estação de processos sociais

semel2antes tamb(m nos pa!ses da Am(rica Batina3 v=rios pa!ses eperimentaram a

&ormulação ou o redesen2o destas iniciativas em conson4ncia com os marcos contidos na

Inova visãoJ do desenvolvimento rural#

 Do caso brasileiro3 o lugar institucional do principal programa de desenvolvimento rural F o

Prona& F sempre esteve vinculado 8s rubricas orçament=rias e aos &luos da 2ierar5uia

administrativa &ederal relativos aos programas de combate 8 pobre7a# Com isso3 o Prona&

nunca &oi alçado 8 categoria de pol!tica permanente3 nem nunca dispOs de uma maior

articulação com outras pol!ticas estruturais do governo &ederal# As regras de acesso a

algumas das lin2as deste programa tamb(m são claros indicativos do &oco no combate 8 pobre7a# "e 1H a /RRR os munic!pios bene&iciados com recursos do Prona&>n&raestrutura

- lin2a voltada para investimentos em in&ra-estrutura e serviços de apoio ao

desenvolvimento rural - eram escol2idos tendo por base o baio desempen2o no [ndice de

"esenvolvimento ?umano# A partir de /RR1 o programa passa a apoiar pro6etos de car=ter

intermunicipal3 agora escol2idos a partir de processo seletivo# Por(m3 na seleção dos

 pro6etos3 pesa tamb(m o &ato de se tratar ou não de pro6eto origin=rio dos territórios

considerados como priorit=rios pela Secretaria de "esenvolvimento Territorial do

@inist(rio do "esenvolvimento Agr=rio3 estes por sua ve73 escol2idos a partir de uma

combinação de crit(rios 5ue envolvem a presença de agricultores &amiliares e assentados da

re&orma agr=ria e3 novamente3 a ocorrência de baio >"?# )m nen2um dos dois per!odos3

 portanto3 os investimentos na agricultura &amiliar e no desenvolvimento rural estiveram

articulados estrategicamente em aç;es voltadas para a diminuição de desigualdades ou para

a dinami7ação das economias rurais3 nem 2ouve tentativa de superar a dicotomi7ação

ascendente-descendente 5ue marca a orientação das pol!ticas nas <ltimas d(cadasE#

'= no recente caso argentino as articulaç;es entre pobre7a3 desigualdade e desenvolvimento

são de outra ordem# $ documento s!ntese apresentado no 1aller -ropuestas para el

 Desarrollo Rural 2 la -roduccion Agropecuaria  - reali7ado em /RR com o ob6etivo de

E C&# Abramova: X *eiga +1.3 Sc2neider3 @attei X Ca7ella +/RR.3 ,avareto +/RRE-b.#

1M

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de&inir diretri7es para os temas anunciados no t!tulo do evento -3 parte do 5uestion=vel

diagnóstico de 5ue a5uilo 5ue caracteri7a as =reas rurais ( a &ragilidade dos seus mercados

locais# "isto decorre 5ue a <nica possibilidade de seu desenvolvimento passa pela coneão

a mercados din4micos3 o 5ue acontece atrav(s de inovaç;es na produção local e da criação

de instituiç;es 5ue permitam tanto estabelecer estas relaç;es virtuosas com o espaço etra-

local como &a7er com 5ue os gan2os da! advindos possam bene&iciar os mais pobres#

)mbora a5ui a dinami7ação das economias locais apareça como uma condição e um meio

 para o desenvolvimento destes territórios3 a sua assimilação a situaç;es marcadas pela

 pobre7a e por mercados locais &r=geis acaba pondo ên&ase em demasia nas articulaç;es

etra-locais em detrimento da dimensão intra-territorial# Sem &alar no problema da origem

das instituiç;es capa7es de gerar dinamismo e de partil2ar seus resultados H#

Se ( verdade 5ue certas regi;es rurais poderão alcançar o camin2o da dinami7ação atrav(s

da especiali7ação produtiva combinada 8 eploração de segmentos de mercado din4micos3

tamb(m ( preciso recon2ecer 5ue os casos eplorados pela literatura dispon!vel3 em parte

tratada nos cap!tulos anteriores3 en&ati7am não ser esta a tendência nos pa!ses do

capitalismo avançado# A evolução e o estado recente desta mesma literatura sugere 5ue3 em

 primeiro lugar3 o desenvolvimento dos territórios ( o resultado de determinadas &ormas de

coordenação capa7es de &a7er convergir os bene&!cios privados e sociais3 se6a nas &ormas de

organi7ar a produção e a distribuição de bens individuais3 se6a nas &ormas de garantir 5ue os

rendimentos provenientes se6am revertidos de maneira a ra7oavelmente repartir os gan2os#

Al(m disso3 sugere tamb(m 5ue as &ormaç;es sociais marcadas por uma maior

desconcentração da posse dos di&erentes recursos - materiais3 simbólicos e cognitivos - e de

uma maior diversi&icação de seu tecido social são a5uelas 5ue mais &avorecem a &ormação

deste tipo de instituição3 em oposição 85uelas estruturas sociais mais especiali7adas3 r!gidas

e concentradas# )sta ( a vinculação do desenvolvimento 8s estruturas locais e 8s instituiç;es

5ue a concepção apoiada no trinOmio pobre7a3 instituiç;es3 mercados eternos não opera#

$ 5ue os eemplos brasileiro e argentino parecem demonstrar3 no &undo3 ( 5ue 2= uma

associação nos 5uadros de re&erência de cientistas3 da burocracia governamental3 das elites3

H )sta concepção encontra-se sistemati7ada em Sc2e6tman X erdegu( +/RR0.# *er tamb(m a cr!tica deSc2attan et al +/RRE.#

1

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entre a id(ia de 5ue o desenvolvimento ( um atributo do urbano e a decorrente associação

do rural 8 pobre7a# Duma esp(cie de versão da pro&ecia 5ue se cumpre por si mesma3 esta

visão in&luencia a &ormação de um campo de 5uest;es 5ue se tornam leg!timas ou

ileg!timasM# 

)sta din4mica não (3 contudo3 autOnoma# A cr!tica 8s origens agr=rias como uma das ra!7es

dos males das e-colOnias3 a ideologia do progresso3 a r=pida industriali7ação de pa!ses

como os a5ui tomados como eemplo3 a constituição de portadores destes diagnósticos e

dos processos sociais 5ue l2es consubstanciam são &atores 5ue se combinaram para criar

uma illusio3 no sentido dado por ourdieu +/RR1-b.% uma adesão imediata 8 necessidade de

um campo3 no caso de v=rios campos3 para os 5uais a id(ia de urbani7ação crescente e

irrevers!vel ( a do3a  &undamental# )la (3 nas palavras do sociólogo &rancês3 a condiçãoinduscutida da discussão3 ( a5uela 5ue3 a t!tulo de crença &undamental3 ( posta ao abrigo da

 própria discussão# Sempre segundo ourdieu3 a illusio  não ( da ordem dos princ!pios

epl!citos3 de teses 5ue se debate e se de&ende3 mas sim da ação3 da rotina3 das coisas 5ue se

&a7em# >sto est= na rai7 do 5ue Dort2 +1R. c2ama de  path dependence  % a din4mica

impulsionada pela eistência de incentivos e constrangimentos 5ue re&orçam uma

determinada direção para as aç;es de indiv!duos e organismos sociais uma ve7 5ue ela

ten2a sido adotada# Dort23 5uando &ala desta dependência de camin2o sublin2a3 sobretudo3

o papel 5ue a aprendi7agem gerada por din4micas de longo pra7o tem no car=ter

incremental da mudança ou3 inversamente3 na manutenção desse sentido inicialmente dado#

ourdieu3 de uma outra maneira3 &ala do mesmo processo social3 mas re&orçando a

din4mica con&litiva entre os agentes de um campo#

)m suma um dos principais dilemas da ação do estado nas suas tentativas de promover o

desenvolvimento rural ( esse lugar institucional da id(ia de rural3 de ruralidade3

determinado tanto pela illusio  no destino urbano do progresso social como pela

dependHncia de caminho 5ue ela gera nas aç;es de indiv!duos e organi7aç;es# $ car=ter

tido como residual do rural e sua associação autom=tica 8 id(ia de pobre7a e de atraso

M A própria diminuição de prest!gio da sociologia e da economia rural perante outros ramos destas disciplinas( um sintoma disso3 a &orma como estão organi7ados os recortes estat!sticos de de&inição do rural um outro3 ea evolução dos debates sobre desenvolvimento um terceiro#

1

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restringem de partida as possibilidades de investimentos cient!&icos3 pol!ticos e econOmicos3

o 5ue contribui para gerar um ciclo onde esta posição marginal ( sempre re&orçada3 se6a

simbolicamente3 se6a materialmente#

$utra &ace do mesmo dilema envolve a tensão entre uma in(rcia institucional &undada em

toda uma orientação para a lógica setorial dos investimentos e aç;es e o sentido territorial3

 portanto intersetorial e multidimensional3 da Inova visãoJ# Nuem são os agentes de um e

outro discurso e 5ue interesses são mobili7ados ou preteridos na ên&ase a uma ou outra

dentre estas orientaç;es Q Dovamente a eperiência brasileira3 mas agora tamb(m a

meicana3 servem de eemplo#

 Do caso meicano3 a C4mara de "eputados e a C4mara de Senadores aprovaram uma>niciativa de Bei de "esenvolvimento 9ural +B"9. em /RRR# Do ano seguinte3 a >niciativa

de Bei ( vetada pelo )ecutivo ,ederal - o primeiro veto total nos <ltimos sessenta anos #

As causas do veto presidencial &oram basicamente três% uma concepção restrita ao

agropecu=rio - de mais de du7entos artigos3 a seção ,omento Agropecu=rio reunia cento e

d7essete3 ou E0` do totalV a atribuição das responsabilidades de sua aplicação 8 Secretaria

de Agricultura3 Ganaderia3 "esevolvimento 9ural3 Pesca : Alimentacion +Sagarpa.3 mas

sem a dotação dos instrumentos e recursos necess=riosV e o c2o5ue com outras leis

especiali7adas3 como a de associaç;es agr!colas3 de sa<de animal e vegetal3 =guas e

sementes +"el Toro3 /RR.#

Al(m destes argumentos3 outros aspectos in&luenciaram a decisão do governo meicano% a

Bei previa a descentrali7ação da participação mas centrali7ava a operacionali7ação dos

 programas e pro6etos3 os recursos necess=rios para oper=-la não estavam de&inidos3 2avia

uma obrigatoriedade de organi7aç;es pro&issionais e econOmicas participarem do 4onseBo

 e3icano para el Desarrollo Rural 4DR83 al(m do con&lito com compromissos

assumidos pelo governo meicano em acordos comerciais internacionais +"el Toro3 /RR.#

)m resposta ao veto presidencial3 grupos parlamentares &ormularam a Bei de

"esenvolvimento 9ural Sustent=vel considerando as inconsistências e problemas 5ue

1ER

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2aviam levado 8 recusa da primeira Bei# )sta nova proposta &oi submetida a um amplo

 processo de consulta p<blica ao longo de /RR13 at( ser aprovado por unanimidade pela

C4mara dos "eputados e pela C4mara de Senadores3 e posteriormente ser sancionada pelo

Presidente da 9ep<blica no &inal do mesmo ano#

Somente o in(dito veto presidencial 8 primeira versão da Bei e as ra7;es 5ue o

&undamentaram 6= são3 por si3 um indicativo mais do 5ue su&iciente do vi(s setorial dos

&ormuladores de pol!ticas e dos grupos e interesses 5ue in&luenciam em sua moldagem# @as

os contornos do arran6o institucional previsto na Bei re&orçam ainda mais essa leitura#

Primeiro3 a Bei estabelece um papel de desta5ue para o C@"93 com a coordenação de

diversos serviços e programas3 muitos deles dispersos por v=rias secretarias# Do entanto3 ele

 próprio3 o C@"93 ( uma estrutura subordinada a um minist(rio de claro recorte setorial% aSagarpa# Al(m disso3 o en&o5ue dos seis serviços criados com o Artigo // da Bei3 e os 1/

Programas atrav(s dos 5uais eles são operacionali7ados3 deiam claro o en&o5ue territorial

e3 novamente3 a prima7ia do desta5ue ao combate 8 pobre7a na de&inição de suas lin2as

estrat(gicas#

 Do caso brasileiro3 o con6unto de pol!ticas 5ue precisariam estar combinadas para

 promoção do desenvolvimento rural est= disperso por3 pelo menos3 meia d<7ia de estruturas

ministeriais di&erentes% os @inist(rios da Agricultura3 do "esenvolvimento Agr=rio3 da

>ntegração Dacional3 da )ducação3 da Sa<de3 do @eio-Ambiente# $s minist(rios da

Agricultura e do "esenvolvimento Agr=rio3 a5ueles mais diretamente reportados ao espaço

rural3 têm como seus principais programas3 iniciativas de car=ter eminentemente setorial3

respectivamente as pol!ticas para o agronegócio e para a agricultura &amiliar# $ @inist(rio

do "esenvolvimento Agr=rio tem tamb(m sob sua responsabilidade um rec(m criado

Programa Territorial +Pronat.3 origin=rio do desmembramento da lin2a in&ra-estrutura e

serviços do Prona&3 ao passo 5ue a principal pol!tica territorial do governo &ederal se

encontra na alçada do @inist(rio da >ntegração Dacional e seu programa voltado para as

mesorregi;es#

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) a con&usão aumenta 5uando se ol2a para o interior do @inist(rio do "esenvolvimento

Agr=rio3 5ue tem por missão a promoção do desenvolvimento rural% estudos apontavam

desde o in!cio da eistência do Prona& o crescente distanciamento entre as aç;es de

investimento nos territórios3 atrav(s da vertente in&ra-estrutura3 e as aç;es de cr(dito e

investimento setoriais3 na agricultura# Com a criação da Secretaria de "esenvolvimento

Territorial em /RR0 e3 mais recentemente3 com o desmembramento da lin2a in&ra-estrutura

do Prona&3 dando origem ao Pronat3 este distanciamento só cresceu% não 2= nen2uma &orma

de colaboração e de complementaridade entre os di&erentes programas prevista no atual

 plane6amento das secretarias 5ue comp;em o minist(rio e 5ue são por eles respons=veis

+,avareto3 /RRE-b.#

>gualmente sintom=tico ( o processo 5ue envolveu a elaboração da Proposta de Plano Dacional de "esenvolvimento 9ural Sustent=vel entre /RR1 e /RR/ at( a aprovação pelo

Consel2o Dacional de "esenvolvimento 9ural Sustent=vel da versão &inal no mesmo ano%

embora a versão inicial apontasse para uma estrat(gia &ortemente baseada em uma visão

territorial do desenvolvimento rural3 a Con&erência Dacional 5ue estava marcada para

debatê-la e aprov=-la &oi canceladaV após v=rias negociaç;es com setores de governo e

movimentos sociais o próprio CD"9S aprovou uma versão menos ousada3 5ue no entanto3

tamb(m &oi deiada de lado com a nova gestão 8 &rente do )ecutivo ,ederal após /RR0#

$s dois eemplos mostram como a in(rcia institucional3 apoiada em interesses e em

sistemas cognitivos a&inados com a lógica setorial cristali7ados nos agentes sociais3 se não

 blo5ueiam no m!nimo limitam &ortemente a operacionali7ação de uma visão de

desenvolvimento de car=ter territorial# Al(m da illusio, 5ue assimila o rural ao atraso e 8

 produção de bens prim=rios e da dependência de camin2o 5ue ela gera3 di&icultando a

mudança institucional3 contribui o &ato de 5ue3 em uma e em outra visão3 o tipo de agentes e

  Uma tentativa de integração começou a ser esboçada em /RRE e tem como principal instrumento osc2amados Planos Sa&ra Territoriais# Trata-se de uma tentativa de integrar pol!ticas no 4mbito de um território#@as3 sintomaticamente3 trata-se3 mais uma ve73 da integração das pol!ticas de apoio 8 agricultura3 agora emescala intermunicipal# A noção de Iblo5ueioJ &oi utili7ada por Da7aret2 Wanderle: em seus estudos para &alar da especi&icidade5ue cerca as possibilidades de reprodução social das &am!lias de agricultores em situaç;es como a brasileira#Com di&erenças3 a mesma id(ia ( a5ui aplicada para &alar do lugar social das pol!ticas de desenvolvimento deterritórios rurais#

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as possibilidades de articulação de seus interesses são sensivelmente di&erentes# A lógica do

território incorpora o espaço consum!vel3 mas tamb(m o espaço imobili7ado em

componentes não monetari7=veis# Por decorrência3 o en&o5ue territorial implica em lidar

com aspectos não diretamente mercantis a in&luenciar as regras para a apropriação ou

regulação do uso social destes espaços# Al(m disso3 no território os agentes são m<ltiplos e3

sobretudo3 di&usos3 en5uanto no en&o5ue setorial eles são &acilmente identi&ic=veis e seus

interesses menos dispersos#

Como se vê3 apesar da &orte espacialidade 5ue marca o rural3 as regras do 6ogo continuam

&ortemente orientadas pelo vi(s setorial3 na &ormulação das pol!ticas3 e na mobili7ação dos

atores# )mbora o discurso sobre desenvolvimento territorial ten2a entrado de&initivamente

 para o discurso acadêmico e governamental na presente d(cada3 at( o momento trata-se deuma incorporação Ipor adiçãoJ dos novos temas3 sem a devida mudança institucional capa7

de sustentar a inovação 5ue ela deveria signi&icar#

O :ro!#ema das ins"i"uiçes

Nue instituiç;es importam3 eis um slogan do 5ual poucos ainda divergem# $s dois dilemas

 brevemente apresentados nas p=ginas anteriores bem o demonstram# Dum aparente

 paradoo3 ( curioso observar como v=rias vertentes das teorias institucionalistas estão

 presentes na &ormulação da Inova visãoJ do desenvolvimento rural pelos organismos

internacionais# )3 no entanto3 a principal &al2a na implementação da Inova visãoJ via

 pol!ticas e programas governamentais esbarra3 6ustamente3 na di&iculdade da mudança

institucional#

 Do 6= citado documento do anco @undial editado por Serageldin X Steeds +1M.3 as

menç;es 8s re&ormas institucionais eistem3 mas elas são por demais gen(ricas e ocupam

um lugar claramente secund=rio no rol de recomendaç;es veiculadas# Do documento

elaborado por )scobal +/RR1. para a ,A$3 toda a ên&ase recai sobre instituiç;es3 mas ali 2=

uma visão restrita3 onde 2istória e con&litos não têm lugar3 onde a din4mica 5ue incide

sobre a criação ou a mudança institucional não ( tratada#

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$ problema 5ue envolve mudança institucional repousa principalmente nas instituiç;es

in&ormais e nos con&litos entre instituiç;es e organi7aç;es3 com bem demonstra a obra se

 Dort2 +1R.# >sso &ica claro ao analisar não só as di&iculdades da mudança nos pa!ses da

Am(rica Batina tomados3 por eemplo3 nesta terceira parte do estudo3 mas tamb(m na

eplicação das di&erenças entre o recorte recente das pol!ticas para o desenvolvimento rural

na )uropa e nos )stados Unidos3 apontada na segunda parte#

@as esta eplicação ainda não ( su&iciente# Ainda ( preciso &a7er &rente 8 cr!tica de

Pr7eKorsL: +/RR0.3 segundo 5uem a eplicação institucional a&irma 5ue instituiç;es são

importantes3 mas não mostra como elas são criadas e 5ual ( a din4mica 5ue responde por

esta import4ncia# Para superar esse dilema3 ( preciso inscrever instituiç;es numa teoriasocial# Para al(m da determinação pela evolução dos custos de transação3 certamente

importante para a per&ormance econOmica de 5ue trata Dort23 o desempen2o do

desenvolvimento de determinadas sociedades e territórios3 no sentido mais amplo 5ue os

mel2ores usos do termo sugerem3 remete a outros conceitos 5ue permitam lidar com uma

id(ia de agente3 de su6eito3 em cu6as escol2as pese não somente o balanço racional de

custos3 mas tamb(m outras ordens de constrangimentos#

Conceitos <teis são3 portanto3 6ustamente a5ueles 5ue vão remeter 8s estruturas sociais# $s

agentes da in(rcia ou da mudança institucional são motivados por interesses3 e para &a7ê-los

 prevalecer 6ogam com recursos acumulados em di&erentes es&eras da vida social numa luta

incessante# A mudança pode3 assim3 ocorrer tanto como decorrência de longo processo

incremental como pode3 a depender do êito nas estrat(gias dos agentes nestas lutas pela

imposição de seus interesses3 ser motivada por rupturas ou transiç;es mais aceleradas#

A mesma id(ia vale para a escala dos territórios e3 nesse 4mbito3 a criação de instituiç;es

mais &avor=veis 8 dinami7ação dos territórios e 8 diminuição das desigualdades parece ser

&ortemente in&luenci=vel por determinadas caracter!sticas da mor&ologia social local# >sto (3

( mais &=cil encontrar portadores de novas instituiç;es em &ormaç;es sociais 5ue estão em

a&inidades eletivas com elas +Weber3 1.# Tecidos sociais marcados por uma maior

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desconcentração e descentrali7ação da posse das di&erentes &ormas de capital +social3

2umano3 econOmico3 simbólico.3 para usar os termos de ourdieu3 tendem a ser ambientes

mais prop!cios ao engendramento de &ormas mais din4micas de interação3 &acilitando o

aprendi7ado coletivo e a cooperação 5ue estão na base da &ormação de novas instituiç;es#

Para os contornos das pol!ticas para o desenvolvimento rural ao menos duas liç;es derivam

do 5ue &oi a5ui eposto# Primeiro3 o est!mulo a &ormas descentrali7adas de produção e 8

diversi&icação das economias locais mostra-se claramente dese6=vel para criar ambientes e

instituiç;es 5ue possam &avorecer a ampliação das possibilidades dos indiv!duos e a

diminuição dos constrangimentos negativos sobre suas escol2as# Segundo3 mudança

institucional pode at( ser indu7ida3 mas somente atrav(s de mecanismos cu6a repercussão

só se mani&esta em termos de m(dio e longo pra7o3 se6a pela via do aprendi7ado3 se6a pelavia do ac<mulo e conversão de recursos mobili7ados na direção da mudança# São

a&irmaç;es 5ue sugerem o 5uão distante as instituiç;es para o desenvolvimento rural ainda

estão do intento muitas ve7es dese6ado de promover a dinami7ação econOmica com

 promoção da coesão social e atrav(s de &ormas respons=veis de uso social dos recursos

naturais#

;3+ ' Um no)o om:romisso ins"i"uiona#

$ ob6etivo deste cap!tulo consiste em analisar as di&iculdades dos )stados e governos locais

em operar com a Inova visãoJ do desenvolvimento rural surgida da evolução3 nas <ltimas

três d(cadas3 de estudos e orientaç;es de pol!ticas# Atrav(s de eemplos da tra6etória

recente das pol!ticas de pa!ses como rasil3 @(ico3 Argentina e C2ile3 &oi poss!vel ver

como estas iniciativas têm esbarrado em dois dilemas &undamentais# $ primeiro

representado pela ên&ase no combate 8 pobre7a e suas implicaç;es tanto para a

identi&icação dos territórios alvo dos investimentos como para os tipos de

complementaridades a serem buscadas com outros programas e pol!ticas# $ segundo di7

respeito 8 tensão presente no car=ter territorial das novas orientaç;es em contraposição ao

vi(s setorial das instituiç;es eistentes# Da rai7 de ambos3 viu-se como a illusio +ourdieu3

/RR1-b.3 ou as &ormas de racionali7ação predominantes +Weber3 1.3 associam o rural 8

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 pobre7a e 8 imagem do lugar destinado a reali7ar a produção de bens prim=rios3

impulsionando a um determinado sentido no encamin2amento dos es&orços visado o

desenvolvimento rural3 o 5ue Dort2 de&iniu como dependência de camin2o +1R.#

Apesar das inovaç;es introdu7idas3 o resultado desta di&iculdade em promover mudanças

institucionais compat!veis com a Inova visãoJ do desenvolvimento rural corrobora a

a&irmação de Dort2 +1R. de 5ue ( mais &=cil promover mudanças nas regras &ormais do

5ue nas regras in&ormais 5ue regem uma sociedade ou grupo social3 sobretudo por5ue as

segundas são mais di&usas e &ormadas atrav(s da sedimentação de v=rios processos sociais3

em uma escala de tempo 5ue muitas ve7es envolve geraç;es#

Se a din4mica pela 5ual as instituiç;es são criadas ainda ( pouco con2ecida3 o 5ue asteorias dispon!veis insinuam ou atestam pode ser resumido nas três a&irmativas a seguir%

 primeiro3 a principal &orma da mudança ( a evolução incremental pelo aprendi7adoV

segundo3 a mudança pode tamb(m ser alcançada pela alteração das posiç;es e do peso

social dos agentes portadores das novas e das vel2as instituiç;esV terceiro3 mudança pode

ainda ser indu7ida por alteraç;es nos sistemas de incentivos e constrangimentos# A primeira

destas &ormas ( a mais comum3 mas tamb(m a menos direcion=vel# A segunda ( a5uela 5ue

se materiali7a em eventos e momentos de ruptura3 tão importantes 5uanto raros# A terceira (

a5uela preconi7ada pelas pol!ticas p<blicas# Todas as três revelam 5ue a introdução do

ad6etivo territorial no repertório das organi7aç;es não-governamentais3 da burocracia estatal

e dos movimentos sociais ( marcada pelos limites de uma incorporação Ipor adiçãoJ3 como

&oi a5ui sublin2ado3 e não como um sinal de mudança institucional#

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S7n"ese do Ca:7"u#o ;

 Dos pa!ses da Am(rica Batina a emergência da abordagem territorial est= ligada a processos

2istóricos 5ue em muito se assemel2am3 apesar de di&erenças de etensão e de intensidade3

a &enOmenos vistos nos pa!ses do capitalismo avançado F como a mudança na composição

setorial das economias locais ou da renda das &am!lias de agricultores3 como as novas

din4micas populacionais# Dão se trata3 portanto3 de um debate europeu meramente

transplantado para os pa!ses da peri&eria3 em 5ue pese as di&erenças nas assimetrias entre

 populaç;es rurais e urbanas e nas caracter!sticas dos compromissos institucionais# @esmo

assim ( ineg=vel 5ue o camin2o pelo 5ual esta abordagem &oi introdu7ida só pode ser

compreendido 5uando se &a7 sua gênese3 dos primeiros estudos nos anos setenta at( atentativa de sua implementação como pro6eto normativo na presente d(cada# Deste

movimento3 &ica claro como a disseminação da retórica do desenvolvimento territorial (

resultado das in6unç;es entre as es&eras da economia3 das ciências3 e da pol!tica3 num 6ogo

de m<tua legitimação3 atrav(s do 5ual se pode compreender o tipo de interesses sociais 5ue

 bali7am os rumos deste debate3 e onde as agência multilaterais ocupam um lugar de

desta5ue3 6ustamente por permitir estas interpenetraç;es entre as v=rias es&eras e por

&uncionar como uma esp(cie de legitimador de abordagens ascendentes#

A din4mica 5ue envolve estas intersecç;es revela toda uma estrutura de bases cognitivas e

interesses tradu7idos em incentivos e constrangimentos estabelecidos em conson4ncia com

os aspectos mais marcantes da vel2a visão# Como resultado3 a passagem do compromisso

setorial ao territorial nas instituiç;es e pol!ticas para o desenvolvimento rural torna-se

incompleto3 uma esp(cie de Iinovação por adiçãoJ no vocabul=rio3 no discurso e nas

 pol!ticas3 de órgãos governamentais e de agentes sociais como organi7aç;es e apoio e

movimentos sociais3 sem3 ainda3 um correspondente em termos de mudança institucional#

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PAR%E IV

A RACIONALI=A2ÃO DAVIDA RURAL

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Ca:7"u#o > ' A raiona#i?ação da )ida rura#

)ntre o ditado medieval 5ue di7ia Io ar das cidades torna as pessoas livresJ +Weber31.3 at( a recente constatação de 5ue para a maior parte dos europeus3 2o6e3 Ios campos

 são mais associados à liberdade do que as cidadesJ +?ervieu X *iard3 1H.3 certamente

algo acontece# As partes anteriores deste teto devem ter deiado claro 5ue as mudanças

 por 5ue passou o desenvolvimento dos territórios rurais3 mais intensamente nos <ltimos

trinta anos3 representam o in!cio de um novo momento em sua longa evolução# Se a longa

transição para o capitalismo troue consigo o I&im da tirania da dist4ncia e da agriculturaJ3

nos termos de 5ue &alava Paul airoc2 +1/.3 os tempos atuais parecem completar a5uele

longo movimento e iniciar uma nova ancoragem da ruralidade# As Partes > e >> apoiaram-se

em aspectos 2istóricos e cogntivos para demonstrar em 5uê consiste o con2ecimento 5ue se

tem sobre desenvolvimento rural# ,oi poss!vel ver como os processos sociais

contempor4neos integram o urbano e o rural3 em ve7 de opO-los inconciliavelmente3 como

 bem o demonstram as mudanças demogr=&icas em curso - com a atração ao universo rural

de classes m(dias3 aposentados3 pro&issionais liberais -3 as trans&ormaç;es econOmicas -

com o aumento das rendas não-agr!colas3 a diversi&icação das economias rurais -3 e com as

inovaç;es institucionais - com a regulação crescente do rural por sua import4ncia como paisagem e como &onte de recursos naturais# A Parte >>>3 por sua ve73 abordou uma

dimensão emp!rica da maior import4ncia F o tema da mudança institucional# ,oi poss!vel

ver3 ali3 como o novo momento da evolução da ruralidade ainda não encontra

correspondente em um novo compromisso institucional3 não mais baseado no vi(s setorial

de de&inição do 5ue ( o rural3 mas sim territorial# Desta parte3 agora3 trata-se de remontar

aos aspectos teóricos3 com o principal intuito de delinear uma abordagem condi7ente com o

conte<do social do rural contempor4neo# Se o paradigma &undado numa visão agr=ria do

mundo rural perde poder eplicativo3 5ue tipo de abordagem pode revelar uma maior

aderência aos contornos do real3 tal como eposto nas partes anteriores Q

"eiando de lado os autores e abordagens 5ue não con&erem estatuto eplicativo ao rural3

talve7 não se6a e5uivocado di7er 5ue a literatura contempor4nea tem destacado três

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implicaç;es teóricas &undamentais 5ue emergem com a nova ruralidade# Primeiro3 trata-se

e&etivamente de um novo momento# >sto (3 muda a 5ualidade das inst4ncias emp!ricas

&undamentais de&inidoras do rural e as &ormas de articulação entre elas# ) a!3 o traço

marcante ( o desli7amento do car=ter estruturante dos processos agr=rios para processos

intersetoriais e regionais3 ou em outros termos3 territoriais# Um deslocamento 5ue tem3 na

sua base3 um novo enrai7amento ambiental da ruralidade3 com repercuss;es para a

economia destes territórios3 para o per&il demogr=&ico e a estrati&icação social local3 e para

as instituiç;es 5ue regulam o uso dos recursos naturais e o comportamento dos agentes#

)sta ( uma dimensão 5ue tem sido muito sublin2ada nos trabal2os de @arcel 'ollivet

+1. e 5ue ( muito bem e5uacionada nos recentes artigos de 'os( )li da *eiga +/RR3

/RRE.# Segundo3 este traço marcante da nova ruralidade não (3 obviamente3 um processo

2omogêneo# Dão ( preciso ir muito longe para encontrar realidades onde os con&litosagr=rios3 no seu sentido mais tradicional3 se mostram presentes# ) muitas ve7es de maneira

cruel# )ste car=ter multi&acetado3 onde &ormas de integração a mercados din4micos3 novas

 pr=ticas sociais e novas &ormas de uso dos espaços rurais coeistem com situaç;es de &orte

estagnação econOmica e degradação social3 coloca a ên&ase nas m<ltiplas possibilidades de

construção da ruralidade3 numa composição de identidades e con&litos potencialmente

 bastante diversa e cu6o sentido depender= sempre das 2eranças pol!ticas e culturas e das

&ormas de inserção na economia e na sociedade envolvente# Com nuances3 este vi(s est=

 presente em autores como @arsden +13 1.3 @ormont +/RRR.3 'ean +1M. e em toda

uma literatura discutida com muita propriedade particularmente em Wanderle: +/RRR.#

Terceiro traço a destacar3 tanto esta nova direção dos &enOmenos rurais como sua

mani&estação desigual e 2eterogênea só podem ser compreendidos a contento atrav(s de

uma abordagem 5ue re&ira tais processos a agentes concretos3 a pr=ticas sociais 5ue tem por

 portadores su6eitos sociais# Uma necessidade 5ue contrasta com a tendência claramente

dominante em abordar os processos de desenvolvimento eclusivamente sob o vi(s

normativo 5ue o debate comporta# Da literatura europ(ia esta ( uma preocupação presente

nos estudos de 9a: +/RRR3 /RR/.3 por eemplo3 e tem sido crescentemente en&ati7ada nos

trabal2os recentes de Abramova: +/RRE-b.#

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Cada uma destas três dimens;es a5ui sumariamente destacadas pode3 por certo3 ser ob6eto

de apro&undamentos e aplicaç;es# Ainda 5ue nos limites a5ui impostos3 &oi isto o 5ue se

 procurou &a7er nas partes anteriores% mostrar uma direção emergente para os processos de

desenvolvimento rural e situada na sua longa evolução 2istórica3 demonstrar algo sobre sua

2eterogeneidade e as ra7;es disto3 sublin2ar o embeddedness da dependência de percurso e

da mudança institucional# $ próimo passo3 agora3 consiste em apresentar uma id(ia 5ue

 permita3 como corol=rio3 abordar os di&erentes aspectos a 5ue cada uma destas dimens;es

&a7 re&erência# $ 5ue se pretende demonstrar3 e isto ( obviamente uma id(ia de clara

inspiração Keberiana3 ( 5ue um traço marcante da ruralidade contempor4nea ( este

crescente processo de desencantamento e racionali&aFão da vida rural # $ argumento

central a ser eposto ao longo das próimas p=ginas ( 5ue esta id(ia3 al(m de permitir 5ue

se pon2a em relevo um aspecto da maior import4ncia e3 no entanto3 pouco en&ati7ado naliteratura sobre o tema3 representa tamb(m um dépassement  do paradigma cl=ssico de

eplicação do desenvolvimento rural e 5ue tem por &undamento b=sico uma visão

eminentemente agr=ria e tradicional#

A primeira seção ( dedicada a uma re&leão sobre teoria social e desenvolvimento rural# Y

lu7 de tudo o 5ue &oi eposto nas partes anteriores3 pretende-se estabelecer um di=logo com

os aspectos mais usualmente invocados nas teorias sociais para eplicar &enOmenos de

desenvolvimento rural# $ ob6etivo ( mostrar os descolamentos entre alguns dos

 pressupostos presentes na5uelas teorias3 ou em interpretaç;es e desdobramentos ulteriores3

e as mudanças 5ue se &i7eram sentir de maneira mais acentuada nos <ltimos trinta ou

5uarenta anos e 5ue &oram discutidas nos cap!tulos anteriores# A segunda seção3 num

movimento em certa medida inverso3 destaca a validade da5uele outro elemento eplicativo

&ornecido pelas teorias cl=ssicas% a crescente racionali7ação 5ue passa a orientar tanto a

conduta (tico-cotidiana do con6unto de seus agentes como a moldagem das instituiç;es

in&ormais e &ormais 5ue regulam as relaç;es sociais t!picas destes espaços#

Trata-se3 em s!ntese3 de propor uma abordagem 5ue permita uma tripla aderência 8 nova

condição do ob6eto ao 5ual ela ( a5ui direcionada# )la tem uma aderência 2istórica3 6= 5ue

o processo de racionali7ação3 como ensina Weber3 representa um tra6etória de muito longa

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lugar 5ue ela vai ocupar no desenvolvimento capitalista3 nem das mani&estaç;es espaciais

di&erenciadas do desenvolvimento rural#

Tanto o 6= citado Abramova:3 como tamb(m @alagodi +10. e ?egedus +1H.3 entre

outros3 procuram mostrar em seus trabal2os como o campesinato e a 5uestão agr=ria não

ocupam um IlugarJ3 propriamente &alando3 no es5uema teórico de @ar# @ais 5ue isso3

destacam 5ue 2= uma esp(cie de impossibilidade lógica em compreender ontológica e

epistemologicamente esta &orma social de produção dentro de seus 5uadros cognitivos# >sto

 por5ue a oposição capital-trabal2o ad5uiria um estatuto &undante na oposição 5ue d= base 8

dial(tica do desenvolvimento capitalista3 a 5ual3 com seu car=ter progressivo e envolvente

acabaria por subsumir todas as outras &ormas3 tidas como pret(ritas# )sta din4mica e os

 problemas lógicos e teóricos 5ue ela tra7 são tratados com clare7a e propriedade por estesautores3 e por isso &oge aos propósitos destas lin2as reprodu7i-la# asta destacar 5ue3 não

obstante esta ausência3 ou este lugar meramente subsidi=rio nos es5uemas teóricos

marianos3 toda uma retórica e um amplo repertório de escritos cient!&icos e pol!ticos &oram

constru!dos em torno da especi&icidade do desenvolvimento capitalista na agricultura e 8s

articulaç;es econOmicas e de classe a 5ue ela d= origem1#

Uma primeira vertente se constituiu a partir da obra de dois importantes teóricos maristas%

Benin e autsL:# "o primeiro3 destacam-se3 sob o tema 5ue a5ui mais interessa3 os livros .

 -rograma da Social*Democracia3 e principalmente . desenvolvimento do capitalismo na

 R=ssia# "o segundo3 seu mais &amoso teto%  A questão agr'ria# )m austL:3 sua ên&ase

vai no sentido de demonstrar como3 com o progresso das &orças produtivas3 os pe5uenos

estabelecimentos não teriam como incorporar as inovaç;es tecnológicas3 organi7acionais e

econOmicas em igualdade de condiç;es com a produção capitalista# Como decorrência3 a

1  A con2ecida passagem de 1eorias da ais*)alia  ( totalmente auto-eplicativa a respeito% %"""odesenvolvimento econ>mico distribui funFKes entre diferentes pessoas< e o artesão ou o camponHs que produ&com seus próprios meios de produFão ou ser' transformado gradualmente num pequeno capitalista quetambém e3plora o trabalho alheio ou sofrer' a perda de seus meios de produFão e ser' transformado emtrabalhador assalariadoJ# Se 2= alguma eceção na obra de @ar 5uanto a um tratamento espec!&ico da5uestão camponesa3 ela est= no teto con6unto com )ngels3  A questão camponesa na @ranFa e na Alemanha#@as tamb(m ali trata-se mais de um teto pol!tico do 5ue de uma an=lise detida da situação 2istórico-concretadeste grupo social em cada um dos dois pa!ses# A leitura do teto deia clara a derivação das conclus;es sobreas possibilidades &uturas dos camponeses do sistema lógico erigido em torno da oposição capital-trabal2o# C&#Abramova: +1/.#

1H0

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integração com a ind<stria estaria reservada aos capitalistas3 restando aos camponeses a

subordinação crescente3 at( a inviabilidade de sua reprodução social# '= em Bênin3 2= uma

tentativa em classi&icar a 2eterogeneidade dos segmentos de agricultores de sua (poca#

@as estas di&erenças serviam3 sobretudo3 para divisar a porção de estabelecimentos 5ue

 poderia evoluir em direção ao pólo capitalista da5ueles 5ue deveriam crescentemente

 passar a viver em condiç;es 5ue os aproimaria mais e mais do proletariado3 inicialmente

atrav(s de uma cada ve7 maior dependência da venda de sua mão-de-obra3 ainda 5ue

 preservando a posse da terra3 e de&initivamente atrav(s da perda completa da autonomia e

sua total redução 8 condição de propriet=rio eclusivamente de sua &orça de trabal2o# )stas

id(ias se materiali7aram nos conceitos de Idi&erenciação socialJ3 em Bênin3 e de

Iindustriali7ação da agriculturaJ3 em autsL:#

$ 5ue ( comum a ambos ( esta id(ia geral de 5ue a agricultura e o mundo rural devem ser

vistos como parte do desenvolvimento capitalista# Parte da &ragilidade destas teses est= no

&ato de 5ue elas tin2am mais a ver com os embates pol!ticos e os dilemas 5ue precisavam

ser teoricamente e5uacionados 8 (poca do 5ue3 propriamente3 com an=lises econOmicas e

sociológicas# ) na an=lise econOmica3 prevalece uma ên&ase econOmica e setorial# $utro

 problema est= nos limites 2istóricos mesmo destas teorias# $ 5ue nem estes autores nem

seu maior inspirador3 arl @ar3 poderiam prever3 ( 5ue a realidade dos pa!ses do

capitalismo avançado3 sem &alar3 portanto3 nas &ormaç;es peri&(ricas3 iria apresentar um

grande desmentido 2istórico 8s suas teses# As &ormas &amiliares de produção não só

negaram a inevitabilidade de sua mera trans&ormação em proletariado com &irmaram-se

mesmo como a &orma predominante na maior parte dos principais pa!ses capitalistas/# 

A plena integração da agricultura 8 ind<stria não troue consigo a arti&iciali7ação de todas

as etapas do processo produtivo nem mostrou 5ual5uer inaptidão das &ormas &amiliares 8

incorporação do progresso t(cnico# )mbora se trate das &ormas sociais de produção3 tais

concepç;es tiveram repercussão para as mani&estaç;es espaciais do desenvolvimento

/  Abramova: +10. relata eemplos 2istóricos nos )UA3 >nglaterra e na Comunidade )urop(ia# Aeplicação das ra7;es 2istóricas do por5ue isto se deu desta maneira ( o ob6eto central do livro de *eiga+1/.#

1H

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capitalista# Se 2=3 nos cl=ssicos3 esta impossibilidade em compreender a especi&icidade

destas &ormas 5ue viriam a se tornar as predominantes3 obviamente as articulaç;es destas

&ormas em termos de processos territoriais tamb(m não poderiam estar presentes# Todas as

an=lises da! derivadas pecam ou por eagerar no car=ter envolvente das din4micas

emanadas do universo industrial e urbano3 como locus  privilegiado das trocas e da

locali7ação das empresas dos setores secund=rio e terci=rio3 ou por analisar o rural como

espaço dotado de caracter!sticas próprias3 mas cu6a lógica ( sempre reativa ou dependente

ao pólo dominante# Das ciências sociais3 esta perspectiva assumiu3 sobretudo3 a &orma das

v=rias teorias baseadas em uma esp(cie de continuum entre o urbano e o rural# Desta id(ia3

menos do 5ue uma di&erença substantiva 2= um prolongamento3 incompleto3 parcial3

arre&ecido3 do urbano e do industrial sobre o rural3 o agr!cola3 o agr=rio# Assim como em

relação ao campesinato3 a marca do rural em uma tal abordagem ( 6ustamente seu InãolugarJ#

Uma segunda vertente ( &ormada por a5ueles estudos 5ue procuraram 6ustamente partir

desta lacuna e construir um modelo eplicativo &undado na especi&icidade das &ormas

camponesas e dos traços distintivos da ruralidade# Sobre uma economia camponesa3 os

 principais nomes são sem d<vida Aleander C2a:anov e 'er7: Tepic2t# $ tipo de 5uestão

5ue estes autores se colocaram era di&erente da5uilo 5ue 2avia motivado as teorias de Bênin

e autstL: por5ue era di&erente o conteto de suas obras# C2a:anov e Tepic2t deparavam-

se 6= com a necessidade de interpretar as condiç;es de permanência do campesinato sob o

desenvolvimento das &orças produtivas e não apesar delas ou contra elas# "a mesma &orma

nos v=rios escritos das teorias 5ue tratam das sociedades camponesas3 o 5ue est= em 6ogo (

eplicar um sistema de oposiç;es sociais onde este personagem ocupa papel de desta5ue3

complei&icando3 portanto3 a polari7ação entre oper=rios e capitalistas#

Se nos desdobramentos da primeira vertente têm origem as teorias do continuum3 neste

caso a a&irmação da especi&icidade vai in&luenciar a origem de v=rias teorias 5ue passarão a

en&ati7ar o aspecto da dicotomia entre o rural e o urbano# @esmo assim3 tamb(m a5ui a

2istória se encarregou de solapar as bases de tais edi&!cios teóricos# Primeiro3 abalando as

1HE

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condiç;es da autonomia camponesa3 tão bem retratada em Abramova: +1/.# Segundo3 e

como 5ue por etensão3 implodindo os alicerces da sociedade agr=ria#

'= em Weber3 a parte de sua teoria geralmente invocada para tratar da an=lise do &enOmeno

da urbani7ação ( a5uela dedicada 8 5uestão da sociabilidade# )3 de &ato3 em seu pensamento

2= um sentido geral no movimento do real 5ue pode ser epresso pelas id(ias de

Iracionali7ação do mundoJ e Iautonomi7ação das es&erasJ# $ problema a5ui ( o uso

mesmo da noção de sociabilidade para &alar de um movimento geral3 envolvente ao

con6unto da sociedade# A compleidade pode ser mensurada pelo &ato de 5ue a elucidativa

introdução de Gabriel Co2n 8 edição brasileira de Economia e Sociedade3 intitulada Alguns

 problemas conceituais e de traduFão em Economia e Sociedade  3 adverte 5ue o termo

IsociedadeJ F  gesellschaft   - não ocupa lugar central na terminologia Keberiana3 ondecostuma ser substitu!do por uma epressão 5ue designa mais propriamente as relaç;es

interindividuais constitutivas da sociedade do 5ue esta rede de relaç;es 6= dada# )sta

epressão sim F vergesellschaftung   - poderia ser tradu7ida por sociali7ação3 mas esta

solução &oi abandonada na tradução brasileira por5ue poderia indu7ir a interpretaç;es

e5uivocadas de certas passagens e tamb(m por5ue convin2a realçar o aspecto de relação e3

 portanto3 de ação social t!pica da an=lise Keberiana# A solução encontrada &oi adotar o

termo Irelação associativaJ3 num intuito de sublin2ar 5ue não 2= 5ual5uer sentido pr(-

determinado na ação social dos indiv!duos3 em sua sociali7ação3 e sim 5ue ela se d= em

 bases muito espec!&icas e permeadas pelas circunst4ncias sociais imediatas3 pelo sentido

social atribu!do pelos próprios indiv!duos em sua ação +Weber3 1.#

A coisa &ica mais nebulosa 5uando se descobre 5ue 2= um par para a )ergesellschaftung  de

Weber3 a )ergemeinschaftung  F relação comunit=ria# Sob novos termos3 reprodu7-se3 outra

ve73 a oposição comunidade-sociedade# @as isto3 e parece ser este o ponto en&ati7ado pela

solução adotada por Co2n3 não apaga o &ato de 5ue3 em Weber3 apesar do movimento geral

do real em direção 8 maior racionali7ação3 o sentido da ação ( sempre dado na percepção e

representação dos agentes3 embora não se esgote nela por ser mediada pelas circunst4ncias

imediatas#

1HH

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 Dão se trata então nem de antepor uma ob6etividade eterna 8 ação social dos agentes3 nem

de restringir a eplicação aos termos da interação entre eles3 mas de entender a trama na

5ual ela se comp;e3 onde as id(ias canali7am interesses moldando o sentido da ação social#

nesse sentido tamb(m 5ue o resgate da tipologia das cidades abre uma brec2a para pensar

di&erentes tipos de cidades e3 pois3 di&erentes relaç;es com os campos 5ue a envolvem# $s

crit(rios adotados para a de&inição das cidades3 em Weber3 abrem assim margem para duas

abordagens% a oposição  gemenschaft*gesellschaft 3 mas tamb(m a abordagem relacional#

Claro 5ue a 5ue viria por se instituir &oi a oposição comunidade-sociedade3 tanto mais 5ue a

sociologia rural nasce com a pressão por compreender os &enOmenos relacionados 8

desestruturação de comunidades rurais pelo avanço do processo de industriali7ação e de

desenvolvimento capitalista +@artins3 1H.#

A oposição comunidade-sociedade tem na verdade uma origem anterior3 em Tonnies3 5ue

&ormali7a uma id(ia de rural com caracter!sticas próprias3 derivadas da condição de

isolamento0% as situaç;es correlatas 8 condição de ruralidade serão identi&icadas no

intercon2ecimento3 coesão3 continuidade3 emotividade e tradiçãoV e ao urbano3

inversamente3 irão corresponder situaç;es como a impessoalidade3 a mobilidade3 o

racionalismo3 a inovação# "a!3 em parte3 o di=logo natural 5ue se estabeleceu entre a

sociologia rural e a antropologia3 e não com a economia ou a geogra&ia# Uma concepção

5ue se institucionali7a posteriormente com o teto cl=ssico de SoroLin#

'= na abordagem do continuum, onde a oposição entre os dois pólos vai ser substitu!da por

uma gradação 5ue3 a rigor3 se mostra uma &orma di&erente da mesma dicotomia% um pólo

ser= tomado como ativo3 como dominante3 e o outro como passivo3 como a5uele sobre o

5ual agem os processos sociais emanados do outro etremo3 aos 5uais só cabe a adaptação

ou a reação#

0  bom lembrar 5ue3 no caso do pensamento de Tonnies3 o problema mais s(rio di7 respeito 8s aplicaç;es5ue &oram &eitas a partir dele# Deste autor3 a oposição comunidade-sociedade3 embora estruturada a partir decrit(rios polari7adores3 d= origem a uma tipologia3 cu6a lógica teórica ( muito próima do recurso Keberianodos tipos ideais# C&# SoroLin3 ^immerman X Galpin +1H.#

1HM

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assim 5ue as d(cadas de /R e 0R são palco da institucionali7ação dos estudos rurais como

ramo espec!&ico da sociologia e3 os anos 5ue se seguiram3 dos desdobramentos das

 perspectivas inicialmente adotadas# Para o caso dos )stados Unidos3 tanto 5uanto da

,rança3 por eemplo3 o primeiro momento &oi &ortemente marcado pela adesão aos marcos

gerais da sociologia cl=ssica3 com de&iniç;es claramente apoiadas na perspectiva

dicotOmica# Posteriormente3 no caso da sociologia americana as an=lises passam a so&rer a

in&luência decisiva do ambiente vivido com o auge da moderni7ação agr!cola3 numa

tendência 5ue viria a se consolidar posteriormente na c2amada sociologia da agricultura3

onde o rural perde import4ncia para a agricultura e a estrutura agr=ria +,riedland3 1/.# Da

,rança3 por sua ve73 as perspectivas marcadas pela in&luência dos cl=ssicos vão sendo

seguidas por abordagens 5ue3 tamb(m in&luenciadas pelas mudanças no ambiente do pós-

guerra3 irão passar a tomar para an=lise as contradiç;es entre a c2amada IsociedadecamponesaJE e os e&eitos da moderni7ação3 at( desembocar3 nos anos MR3 na tem=tica 5ue

envolvia a c2amada Iurbani7ação dos camposJH# 

)sta evolução3 no entanto3 não deve deiar a impressão de 5ue3 desde os cl=ssicos3 2= um

movimento linear e sem nuances de submissão e pro&ecia 5uanto ao &im do rural ou 5uanto

8 irremedi=vel subordinação 2istórica do rural ao urbano# Se em sociologia isto não c2ega a

ser l!mpido e cristalino3 na 2istoriogra&ia &rancesa e na 2istória econOmica alemã ( poss!vel

encontrar nomes como raudel3 Sc2moller3 9opLe3 5ue sempre estiveram en&ati7ando as

interdependências entre os dois espaços# Destes autores3 a interdependência surge não da

an=lise das causas do desenvolvimento3 talve7 com eceção de raudel3 e sim da

identi&icação dos e&eitos delet(rios deste sobre as cidades3 como a proletari7ação3 e a

necessidade de encontrar camin2os para ameni7=-la# A possibilidade anunciada nestes

autores reside nas di&erentes modalidades poss!veis de integração dos campos# Destes casos

trata-se de algo um tanto próimo da tradicional visão do continuum 3 mas com uma pitada

de antevisão do 5ue aconteceria a partir do Pós-guerra3 com o papel reservado 8s unidades

&amiliares e 85uilo 5ue alguns c2amaram por interiori7ação do desenvolvimento#

E C&# @endras +1MH.H *er principalmente o volume especial da tudes Rurales organi7ado por Georges "ub:3 em 1M0#

1H

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)ste amplo e rico con6unto de obras in&eli7mente &icou minorado pelas repercuss;es de

outros como Be&ebvre3 5ue3 inversamente3 pre&eriu ver no movimento do real o completo

triun&o da urbani7ação# Segundo o &ilóso&o e sociólogo &rancês3 originalmente um

 pes5uisador dedicado aos estudos rurais3 a passagem para o <ltimo 5uarto do s(culo

 passado 2avia representado a emergência da sociedade urbana3 a sucessora da sociedade

industrial% a 9evolução Urbana# Por 9evolução Urbana Be&ebvre +1MR/RR/. compreendia

o con6unto de trans&ormaç;es 5ue a sociedade contempor4nea atravessava para passar do

 per!odo em 5ue predominaram as 5uest;es relativas ao crescimento e industriali7ação para

outro onde a problem=tica urbana prevaleceria decisivamente3 um per!odo em 5ue a busca

das modalidades próprias 8 sociedade urbana passaria ao primeiro planoM# 

$ 5ue muda em termos de inst4ncias emp!ricas e de articulação conceitual nas teorias sobredesenvolvimento com a Inova ruralidadeJ3 da 5ual a abordagem territorial ( uma das mais

 pro&!cuas epress;es Q "eve ter &icado claro 5ue os contornos da ruralidade no capitalismo

contempor4neo ainda não encontraram um padrão claro e com relativo grau de

2omogeneidade3 tal como no per!odo 5ue vai do pós-guerra at( a crise do produtivismo# $s

 par4metros desta situação ( determinada por 5uatro ordens de &atores% a. as metamor&oses

 por 5ue passam os espaços rurais3 com uma uni&ormi7ação entre os mercados de bens

econOmicos e simbólicos caracter!sticos dos universos rural e urbano e os processos sociais

a isso sub6acentes +encurtamento das dist4ncias entre rural e urbano3 amenidades rurais

como ob6eto de consumo urbano3 acesso a e5uipamentos outrora t!picos do urbano 8s

 populaç;es situadas nas =reas rurais3 etc.V b. as mudanças no padrão de regulação 5ue

incide sobre as =reas rurais3 o 5ue envolve a re&orma das pol!ticas agr!colas3 de um lado3 a

crescente regulação dos &atores ambientais3 de outro3 e a tentativa de encontrar novos

e5uil!brios entre as atribuiç;es e instrumentos de regulação entre di&erentes n!veis

geogr=&icosV c. as novas din4micas demogr=&icas e econOmicas dos espaços rurais3 com

desta5ue para a multiplicidade de agentes 5ue &a7em esta nova ruralidade e a igual

diversi&icação e di&erenciação das atividades produtivas nos espaços ruraisV d. a crescente

valori7ação das amenidades rurais como principal vantagem comparativa destes territórios#

M Para uma cr!tica mais detida ao pensamento de Be&ebvre sobre o triun&o da civili7ação urbana3 ver *eiga+/RR.# )ste debate &oi resumidamente reprodu7ido no Cap!tulo / desta tese#

1H

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A breve re&leão &eita nesta seção serve principalmente para mostrar 5ue3 nas ra!7es

cl=ssicas da teoria social3 as possibilidades de compreensão dos &enOmenos rurais se

consolidaram3 destacadamente3 a partir de dois registros# Um3 de vi(s econOmico3 onde as

estruturas determinantes do desenvolvimento rural estão assentadas nos caracteres agr=rios

destas sociedades# ) outro3 de vi(s cultural3 no 5ual a tradição e a oposição comunidade-

sociedade ( 5ue ad5uirem estatuto &undante em tais processos# Como &oi demonstrado nos

cap!tulos anteriores3 as bases sociais destes dois pilares &oram solapadas com as mudanças

introdu7idas na vida rural nas <ltimas d(cadas3 esva7iando seu conte<do eplicativo# @as3 e

isto ( &undamental sublin2ar3 esta cr!tica 8 visão agr=ria dos territórios rurais não signi&ica

uma re6eição dos cl=ssicos para eplicar os &enOmenos relativos ao rural3 e sim a um

 paradigma 5ue encontrou nestes pressupostos uma determinada base cognitiva# $

 pensamento de @ar e Weber pode3 sim3 a partir de outros elementos contidos em suasteorias3 instrumentali7ar uma an=lise do desenvolvimento rural# Duma perspectiva marista3

( poss!vel valer-se dos recursos da dial(tica para eplicar3 a partir do estudo de casos

concretos3 as in6unç;es3 con&litos e complementaridades entre o rural e o urbano# Duma

 perspectiva Keberiana3 a id(ia de racionali7ação3 absolutamente central em sua obra3 pode3

igualmente3 &ornecer uma poderosa e inovadora abordagem# isso o 5ue se pretende

esboçar na próima seção#

>3+ 4 A raiona#i?ação da )ida rura#

Antes de mais nada3 e para evitar interpretaç;es errOneas3 ( preciso compreender

eatamente o 5ue o conceito de racionali7ação signi&ica# )m geral a id(ia de racionali7ação

sugere uma lógica instrumental3 de mera ade5uação entre meios e ob6etivos# Do entanto3 a

tipologia de Weber ( bem mais complea# Segundo ele3 a ação social pode ser% a. racional

com relaFão a fins3 5uando ( determinada por epectativas 5uanto ao comportamento de

outros 2omens ou ob6etos do mundo eterior e 5uando tais epectativas &uncionam como

condiç;es para o alcance de &ins racionalmente avaliados e perseguidosV b. racional com

relaFão a valores3 5uando motivada pela crença consciente no valor3 se6a ele (tico3 est(tico3

religioso ou outro próprio de uma certa conduta3 independente de êitoV c. afetiva - 5uando

especialmente emotiva3 &undada em a&etos e sentimentosV d. tradicional   F 5uando

1MR

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determinada por um costume arraigado +Weber3 1.# Do mesmo teto ele destaca ainda

5ue só muito raramente a ação social est= orientada e3clusivamente por um destes tipos

+gri&o de Weber.# Bonge de tratar-se de uma classi&icação eaustiva3 trata-se sim de tipos

 puros3 constru!dos com &ins de pes5uisa3 os 5uais servem como re&erência de an=lise3 para

se saber o 5uão próima ou distante a realidade em estudo deles se encontra#

 Dão 2= impossibilidade lógica - ao contr=rio3 2= probabilidade real -3 de 5ue os tipos

apareçam 6untos e combinados# Dada impede3 portanto3 5ue a ação social de indiv!duos ou

grupos sociais se6a motivada3 a um só tempo3 por uma ação racional com relação a &ins e

com relação a valores ou at( mesmo com a tradição# @as3 da mesma &orma3 nada impede

tamb(m 5ue um destes tipos se6a predominante# )ste ( o ponto 5ue a5ui se 5uer destacar3

5ue a racionali7ação avança por todos os dom!nios da vida rural3 em geral vista sob o signooposto3 como lugar da tradição em oposição 8 modernidade geralmente representada pelo

mundo urbano#

$ momento atual representa3 na verdade3 a etapa mais recente de um longo processo de

desencantamento e racionali7ação 5ue tem in!cio nos tempos mais remotos da vida em

sociedade# Pierucci +/RR0. re&a7 toda a tra6etória do conceito de desencantamento em

Weber e sublin2a os marcos &undamentais# Dão cabe a5ui repeti-lo# Para os nossos

 propósitos3 cabe apenas destacar as correspondências entre a evolução dos espaços rurais e

este processo de desencantamento e racionali7ação# 

At( a 9evolução do Deol!tico e a &ormação dos primeiros assentamentos 2umanos não se

 pode &alar em distinção cidade e campo e3 nesse momento3 o encantamento da vida

cotidiana ( 5uase total# $ advento da agricultura permitiu a introdução de uma primeira

ruptura3 representada pela possibilidade de manipulação da nature7a3 do mundo3 do

encantado3 em um outro grau 5ue o nomadismo3 e a maior su6eição 8s condiç;es naturais

5ue l2e ( inerente3 antes não permitia# "esloca-se com isso3 e progressivamente3 a

 )sta periodi7ação do longo processo de desencantamento e racionali7ação da vida rural3 epresso nos três par=gra&os a seguir sinteti7a elementos &ornecidos por algumas obras &undamentais sobre racionali7ação3 vidarural e relaç;es entre a sociedade e nature7a# C&#3 principalmente3 Pierucci +/RR0.3 airoc2 +1/.3 Ponting+1E.3 T2omas +/RR1.#

1M1

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 possibilidade dos 2omens sobre sua condição de estar no mundo com correspondentes

impactos no sentido da ação social dos indiv!duos#

A longa etapa na evolução da ruralidade3 5ue vai do nascimento do &enOmeno urbano at( a

industriali7ação3 e 5ue airoc2 designou como um per!odo marcado pela Itirania da

dist4ncia e da agriculturaJ3 comporta3 na verdade3 um lento movimento de racionali7ação3

5ue pode ser desdobrado es5uematicamente em alguns passos# A pro&ecia do 6uda!smo

antigo3 5ue vetava 5ual5uer &orma de adoração e meios m=gicos3 associada ao o

 pensamento 2elênico3 estabelece uma nova e ainda mais pro&unda ruptura3 constituindo-se

uma esp(cie de ponto inaugural do desencantamento do mundo e3 como correspondência3

de etici7ação e morali7ação da vida social# A relação com o mundo natural apro&unda

a5uela inversão em relação aos primórdios e iniciada 6= na etapa anterior F de um animalentre outros o 2omem passa a se ver como a5uele ser di&erenciado 5ue recebe a terra do

"eus pai para nela crescer3 povoar e &a7er &ruti&icar# $ mundo ( visto como criação de

"eus3 morada do 2omem# )n5uanto tal3 (3 a um só tempo3 submetida aos des!gnios

2umanos3 por5ue este ( &il2o do sen2or do universo e nesta condição ela l2e &oi dada3 mas (

tamb(m sagrada por5ue concebida por este deus e seu mais valioso presente# Dão ( mais

m=gica3 por5ue o poder não emana mais das coisas3 como os esp!ritos das &lorestas# Com o

advento do >luminismo completa-se a mudança de comportamento em relação 8 nature7a#

@ais e mais ela ( vista e tomada como es&era a ser dominada e posta a serviço da condição

2umana3 com tudo a5uilo 5ue a t(cnica e o desencantamento do mundo3 em lugar do

m=gico e do sagrado3 permitem#

A posterior associação entre ciência e processo produtivo completa o longo movimento# Do

 plano das id(ias seu correspondente aparece na associação entre a racionalidade com

relação a &ins3 5ue permitia o e5uacionamento de interesses materiais dos 2omens3 a uma

racionalidade com relação a valores3 na 5ual os interesses ideais de salvação são com ela

conciliados atrav(s da (tica compat!vel com o Iesp!ritoJ do capitalismo# Assim como as

cidades &oram as portadoras das id(ias religiosas 5ue desencantaram o mundo antigo e

medieval3 elas são3 at( a5ui3 o lugar por ecelência no 5ual tais id(ias e interesses podem

estar em a&inidades eletivas#

1M/

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A nova etapa do desenvolvimento rural3 tal como 5uali&icada nesta tese e em outros

trabal2os3 e t!pica das d(cadas mais recentes3 comporta tamb(m um novo momento neste

longo processo de racionali7ação da vida rural# São três os seus traços mais marcantes# Do

5ue di7 respeito 8s &ormas de condução da vida cotidiana3 completa-se a etensão da

racionali7ação para todos os dom!nios da vida rural3 sobrepondo-se não só 8s &ormas

encantadas de relação com a nature7a3 mas3 at( mesmo3 8 tradição3 no caso das relaç;es

associativas# Do 5ue di7 respeito 8 relação entre sociedade e nature7a3 não ocorre nem uma

intensi&icação da oposição levada aos limites na etapa anterior3 nem um reencantamento do

mundo natural ou retradicionali7ação# Acontece3 antes3 o contr=rio3 a busca por uma

diminuição da assimetria entre sociedade e meio-ambiente3 cu6a mel2or epressão se

encontra na crescente valori7ação das amenidades naturais e nas tentativas de contençãodos problemas ambientais globais# )3 por &im3 5uanto 8 relação rural-urbano3 deia de ser

 prerrogativa das cidades e do urbano estar em a&inidades eletivas com as possibilidades de

se &a7er da vida uma vida crescentemente condu7ida#

)ste novo conte<do da racionali7ação da vida rural no mundo contempor4neo tem suas

 bases3 no plano material3 na ascendência de interesses compat!veis com aç;es de

conservação ambiental3 se6a pelas perdas geradas com o desgaste de recursos naturais 5ue

a&etam tantas empresas3 pa!ses e regi;es3 se6a pela introdução de especialidades econOmicas

e intelectuais relativas a tais es&orços ou ao aproveitamento destas amenidades naturais

como negócio ou como con&orto material# Do plano dos interesses ideais3 a motivação vem

da tentativa de combinar 8 ocidentali7ação e tudo o 5ue ela implica os pressupostos (ticos

 presentes na retórica do desenvolvimento sustent=vel e 5ue não l2e são nada naturais% a

conservação da nature7a3 a coesão social e mel2oria das possibilidades materiais das

 pessoas3 a possibilidade de reencontro com o passado e com a nature7a 5ue o rural muitas

ve7es propicia#

"ito desta &orma o processo de racionali7ação deia ver sua &ace mais positiva# @as assim

como Weber utili7ou a met=&ora da gaiola de &erro para se re&erir ao &uturo da 2umanidade

diante da epansão da racionalidade vida a&ora3 tamb(m a5ui 2= um lado cin7ento# )sta

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dupla &ace da racionali7ação só pode ser energada atrav(s do eerc!cio em mostrar como

ela ocorre na vida social e por 5ue meios# o 5ue se pode ver3 por eemplo3 nas &ormas

encontradas por determinados grupos sociais para levar adiante suas perspectivas de

reprodução social atrav(s da vida cotidiana3 ou na tradução destes conte<dos em termos de

regras &ormais e in&ormais#

>3+35 4 O desenan"amen"o dos am:os ou raiona#i?ação e )ida o"idiana

A imagem 5ue se tem dos campos e de suas populaç;es guarda uma estreita

correspondência com um certo encantamento do mundo# >sto tem in!cio nos ritos pagãos da

Antiguidade3 com as &estas e o&erendas aos deuses da terra3 da &ertilidade# Algumas destas

 pr=ticas se metamor&osearam ou se prolongaram no tempo3 não mais na &orma de conte<dosm=gicos3 mas como permanências inscritas na tradição# Como &oi visto nas p=ginas

anteriores3 mesmo estas &ormas correntes de tradicionalismo epressam3 tamb(m elas3 um

&orte conte<do de desencantamento e de racionali7ação3 o 5ue poderia parecer paradoal

aos ol2os do senso comum# $ 5ue acontece3 como mostra Weber3 ( 5ue tais pr=ticas

deslocam o sentido do mundo3 de poderes sobrenaturais e imanentes 8s coisas para as

&ormas pelas 5uais os 2omens orientam sua ação# @esmo as benesses atribu!das aos santos3

5ue enviam a c2uva ou garantem boas col2eitas3 deiam progressivamente de se apresentar

como o resultado de aç;es m=gicas3 de poderes liberados ou mobili7ados3 por eemplo3

atrav(s do sacri&!cio de um animal simbólico ou algo 5ue o val2a3 para serem entendidas

como resultado de penitências e do merecimento derivado das &ormas de conduta 5ue estas

 populaç;es adotam visando ser dignas destes des!gnios etraordin=rios# )m resumo3 mesmo

mediada pelo religioso3 a ação dos indiv!duos l2es resguarda uma relação de causalidade

entre a maneira de condução (tico-racional da vida e os resultados disto esperados# )m uma

 palavra3 mesmo para acessar o etraordin=rio ( preciso inscrever na dimensão

intramundana as pr=ticas capa7es de levar a tanto#

@ais do 5ue desencantamento3 a vida rural cotidiana3 nos tempos atuais3 ( crescentemente

eposta a conte<dos sociais 5ue re&orçam3 tamb(m ali3 o movimento de crescente

racionali7ação do mundo# Assim como na parte dedicada 8 nova etapa da ruralidade &oi

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importante &a7er re&erência 8 realidade dos pa!ses do capitalismo avançado3 por ter sido ali

5ue a urbani7ação &oi mais longe3 agora3 para analisar a racionali7ação3 talve7 se6a mais

 pro&!cuo recorrer a eemplos de regi;es mais pobres e prec=rias3 por3 inversamente3 ser ali

5ue a tradição se mostra mais presente#

@agal2ães +/RRE. mostra este movimento de desencantamento e racionali7ação de maneira

muito clara num estudo sobre as &inanças de populaç;es sertane6as tradicionais da a2ia#

)le parte3 inicialmente3 de eemplos da literatura do s(culo Z>Z ao cinema do s(culo ZZ>

 para mostrar como o sertane6o guarda em si a imagem da resignação e da con&ormação com

suas condiç;es sociais e de submissão 8s &orças da nature7a# $ romance . uin&e3 de

9a5uel de Nueiro73 ao retratar o &lagelo da seca3 mostra com pro&undidade os traços

 psicológicos de um povo 5ue ( pressionado por &orças 2istóricas e naturais e 5ue se vê

obrigado a aceitar &atalisticamente seu destino# )m .s SertKes3 )uclides da Cun2a traça o

retrato de um sertane6o 5ue3 apesar de ser um &orte ( dominado pelas superstiç;es e

crendices conservadas pelo longo isolamento3 5ue o tornam cr(dulo3 m!stico3 receoso#

@agal2ães nota ainda 5ue3 6= nos anos recentes3 no &ilme de Walter Salles3  Abril

despedaFado3 adaptado do livro de >smail adar(3 a imagem da rotação incessante da

 bolandeira3 uma roda de engen2o movida por uma 6unta de bois3 representa este destino

imut=vel3 o absoluto enrai7amento da &am!lia na terra3 no clima3 prisioneira das tradiç;es#

este o tipo de população 5ue @agal2ães vai estudar para tentar compreender como eles

conseguem se des&a7er dos laços de dependência &inanceira3 gerados pelos v!nculos tão

sedimentados de controle e de dominação t!picos destes lugares# Seu ponto-de-partida ( a a

ação das Comunidades )clesiais de ase e dos sindicatos de trabal2adores rurais3 a partir

dos anos MR3 vista como decisiva para promover um processo de mudança cultural e a

&ormação de uma densa rede de relaç;es sociais novas ao conteto de então# $s Ic!rculos

 b!blicosJ3 as celebraç;es coletivas e as &estas religiosas &oram as primeiras e maiselementares eperiências de construção de uma nova coesão social na5uela região# As

 pr=ticas religiosas populares eram organi7adas por leigos3 lideranças comunit=rias3 5ue

al(m da missão religiosa promoviam discuss;es sobre a realidade local3 os problemas dos

agricultores3 a import4ncia das organi7aç;es e do levantamento e articulação das suas

reivindicaç;es e necessidades# ,oi deste trabal2o religioso 5ue surgiram as primeiras

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associaç;es comunit=rias e as oposiç;es aos sindicatos locais 5ue3 8 (poca3 reprodu7iam as

relaç;es tradicionais# )sta &oi3 en&im3 a porta de entrada de um processo longo de

racionali7ação da vida dos sertane6os# ) &oi tamb(m uma condição &undamental para

viabili7ar a &ormação de organi7aç;es 5ue eigem3 ao mesmo tempo3 plena racionalidade

econOmica3 cooperação e pro6eto social% as cooperativas de cr(dito#

no m!nimo curioso notar como3 mais uma ve7 e repetindo a5uilo 5ue Pierucci +/RR0.

mostrou para a longa tra6etória de desencantamento do mundo3 como a religião se institui

 portadora de um tal processo# @as3 obviamente3 isto não ( imanente 8s virtudes religiosas#

@agal2ães mostra como esta ação encontrou um ambiente 2istórico &avor=vel onde

 pesaram igualmente% uma crescente monetari7ação da vida econOmica local3 com tudo o

5ue isso tem de correspondente em termos de introdução do c=lculo e de impessoalidadeV oacesso crescente a tecnologias como a meteorologia3 5ue serviu para3 no m!nimo3 dividir

com o religioso as eplicaç;es sobre as mani&estaç;es do mundo naturalV e a eistência de

con&litos e relaç;es de dominação3 cu6a metaboli7ação e encamin2amento por parte destas

 populaç;es só poderia se dar no plano da religião ou da pol!tica# ,oi nas &issuras abertas por

tais processos 5ue a mediação da es5uerda católica contribuiu com uma certa &orma de

compreendê-los e encamin2=-los num determinado sentido#

Atrav(s de outros estudos e pes5uisas 5ue tocam tamb(m nas condiç;es de reprodução

social de populaç;es rurais ( poss!vel ver o 5ue 2= de libertador3 mas tamb(m o 5ue 2= de

desestruturação de todo um universo material e simbólico# >sto ( particularmente vis!vel

na5uelas situaç;es 5ue envolvem as dimens;es geracional e de gênero# A an=lise de

Abramova: et al# +/RR0. sobre os dilemas 5ue cercam a transmissão do patrimOnio &amiliar

entre pe5uenos agricultores do sul do rasil ( etremamente elucidativa# $ 5ue os autores

constataram3 ao analisar a situação e as perspectivas de &il2os de agricultores de certas =reas brasileiras3 ( 5ue os tempos atuais tra7em consigo o &im de um padrão espec!&ico de

sucessão3 muito antigo3 o minorato# "urante v=rias geraç;es constituiu-se uma tradição 5ue

consistia em deiar com 5ue o estabelecimento agr!cola &osse 2erdado pelo &il2o mais novo#

)sta convenção permitia3 a um só tempo3 5ue a &am!lia encamin2asse para o matrimOnio as

&il2as moças3 5ue parte da produção &osse destinada para a compra de lotes de terra aos

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&il2os mais vel2os3 8 medida 5ue estes iam constitu!ndo suas próprias &am!lias3 e permitia

ainda 5ue o &il2o mais novo &icasse assim preso 8 propriedade3 garantindo não só moradia3

mas o acompan2amento da vel2ice dos pais#

)ste padrão implode por uma s(rie de ra7;es# Da rai7 de todas elas est= uma mudança nos

 padr;es demogr=&icos das regi;es rurais# As &il2as de agricultores são as 5ue mais saem

destes espaços# muito comum 5ue elas passem a 2abitar n<cleos urbanos relativamente

 próimos ao3 diante da &alta de espaço na lógica de transmissão patrimonial no seio da

&am!lia3 procurar estudar ou trabal2ar# Com isso3 elas são inseridas em outros c!rculos

sociais e aumentam seu capital cultural# Deste novo ambiente ( comum 5ue elas acabem

contraindo o matrimOnio3 em geral tendo como parceiros pessoas não mais vinculadas 8

atividade agr!cola#

)stas novas possibilidades o&erecidas pelos n<cleos urbanos F acesso a educação3 in&ra-

estrutura3 e at( mesmo um mercado matrimonial mais diversi&icado e promissor F sedu7em

tamb(m os rapa7es# )3 em geral3 torna-se di&!cil voltar 8s lides do trabal2o rural após

eperimentar certos con&ortos e ecitaç;es 5ue nestas regi;es mais carentes ainda são mais

comuns na vida urbana# Tanto ( 5ue o êodo continua eistindo ali onde o padrão de

urbani7ação ainda não tornou vi=vel 8s populaç;es locais terem acesso a e5uipamentos

sociais b=sicos e oportunidades sem 5ue para isso se6a preciso migrar# )3 inversamente3

na5uelas regi;es onde a coeistência dos espaços rurais e urbanos se &e7 de modo a garantir

uma alta mobilidade entre os dois pólos3 ali se tem visto não só um arre&ecimento do êodo

rural como uma &orte atração populacional#

)m ambas as situaç;es3 um traço ineg=vel ( 5ue as 2abilidades agora eigidas para a

gerência e boa per&ormance dos estabelecimentos rurais não podem mais se resumir 85ueles

con2ecimentos transmitidos de pai para &il2o# As novas din4micas econOmicas 5ue

condicionam a atividade agr!cola ou outras reali7adas nos estabelecimentos rurais imp;em

um maior grau de eigência 5uanto a 2abilidades gerenciais3 de identi&icação e con5uista de

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mercados espec!&icos3 conversão de produtos e culturas# Aspectos3 en&im3 5ue pressup;em

um maior dom!nio t(cnico sobre o tradicional trabal2o rural# 

)m todos estes casos se trata de situaç;es onde as &ormas de condução da vida cotidiana

 por populaç;es rurais so&rem um desli7amento nas suas &ormas de enrai7amento social3 de

uma situação antes pautada pela tradição e pelos v!nculos com o mundo agr=rio e 5ue agora

se desloca para a integração entre es&eras3 &a7endo-se acompan2ar de crescente

desencantamento e racionali7ação# $ conte<do destas &ormas de racionali7ação da vida

cotidiana não ( dado de antemão3 ele se estabelece com o sentido da ação social para os

agentes3 no 5ue importam tanto sua estrutura cognitiva constitu!da3 como o campo de

 possibilidades e de interaç;es em 5ue ela atua3 um campo determinado pelas in6unç;es

entre o meio-ambiente3 as estruturas sociais e as instituiç;es#

>3+3+ 4 Da regu#ação "o"a#/ H regu#ação se"oria#/ H regu#ação "erri"oria#

ou raiona#i?ação e ins"i"uiçes

)n5uanto a vida cotidiana mostra como a racionali7ação penetra na5uilo 5ue 2= de mais

individual nas relaç;es sociais3 as instituiç;es permitem perceber como ela se epressa em

&ormas propriamente societais# Tamb(m a5ui ( preciso destacar 5ue se trata de um tipo de

racionali7ação muito antigo# @esmo em populaç;es as mais tradicionais ( &acilmente

 poss!vel encontrar regras 5ue regem as &ormas de apropriação e uso de recursos naturais#

>sto começou 6= com a de&inição de direitos de propriedade no surgimento mesmo da

agricultura e ad5uiriu seus contornos mais n!tidos na modernidade recente3 5uando não só o

uso do solo ( ob6eto de &orte regulamentação3 mas tamb(m o volume3 a 5ualidade3 o

destino3 e os processos de produção na agricultura e na criação animal# A grande7a e a

 *er a respeito3 para o caso &rancês3 um tratamento de &enOmenos muito similares a estes vistos no sul do rasilem ourdieu +/RR/.3 C2ampagne +/RR/.# Bivros 5ue tem os sugestivos t!tulos I 0;heritage refuséJ e I 0e bal descelibatairesJ# Tamb(m a pes5uisa de ?eat2er et al# +/RRE. sobre mul2eres em Alberta3 mostrou os con&litosinerentes a estas mudanças e maiores entrelaçamentos entre aç;es antes determinadas mais diretamente pelatradição e agora epostas 8s &orças emanadas da integração entre mercados de trabal2o urbano e rural3 entreepectativas &amiliares e sociais# As mul2eres entrevistadas relatavam 5ue a reestruturação 2avia a&etado suasdecis;es3 a &orma de organi7ar-se em torno do trabal2o pro&issional e do trabal2o dom(stico não recon2ecido e nãoremunerado# )las &alam do peso da dupla epectativa 5ue sobre elas repousa e da necessidade 5ue sentem em tentarcorresponder a ambos3 o 5ue muitas ve7es leva a problemas de sa<de e s(rios dramas psicológicos#

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etensão das &ormas de regulação sobre o espaço rural podem ser dimensionadas pelo &ato

de 5ue a maior parte do orçamento da União )urop(ia ( consagrada aos gastos com a

 pol!tica agr!cola e 5ue3 dentre as inovaç;es tra7idas nos anos mais recentes3 ( na promoção

da dinami7ação de economias rurais 5ue se encontram boa parte dos mais pro&!cuos

es&orços# Deste caso3 a novidade não ( tanto a eistência destas instituiç;es3 mas sim o peso

e a direção 5ue elas ad5uirem no per!odo mais recente#

Constru!das em grande parte sob os ausp!cios do modelo produtivista e3 portanto3

orientadas para este &im3 as &ormas de regulação do espaço rural têm passado

crescentemente de um compromisso em torno dos aspectos setoriais 5ue envolvem a

 produção agr!cola para um compromisso territorial +Coulomb3 11.# Da )uropa3 a re&orma

da PAC ( o eemplo mais claro# Ali os crit(rios 5ue se tradu7iam em garantias e est!mulosaos produtores agr!colas vêm sendo3 muito lentamente e a duras penas3 substitu!dos por

mecanismos 5ue impulsionam a preservação das paisagens3 um maior cuidado com os

riscos de contaminação de =guas e solos3 uma valori7ação dos aspectos não diretamente

mercantins3 en&im# >sto tem re&orçado muito mais os instrumentos de pol!ticas

anteriormente eistentes e 5ue 6= atuavam na dimensão espacial3 como as pol!ticas

regionais e de ordenamento territorial# $s dados reunidos por *eiga +/RRE. sobre a >t=lia

são impressionantes# )m primeiro lugar3 11` da super&!cie do pa!s &a7 parte do sistema de

unidades de conservação3 como par5ues3 reservas e =reas protegidas# Segundo3 algo como

1E` do território est= inserido no sistema de incentivos do Programa Datura /RRR e 5ue

 prevê sua inclusão num sistema de ^onas )speciais de Conservação# A dimensão crescente

da regulação dos espaços naturais pode ser mensurada no subt!tulo de um instigante livro

de ertrand ?ervieu F 0e retour à la nature/ au fond de la forHt""" l;tat # >sto (3 mesmo ali3

onde o mundo natural parece estar mais longe da inter&erência das instituiç;es ( imposs!vel

escapar 8s regras e convenç;es#

 Da Am(rica Batina a direção ( similar3 apesar das di&erenças 2istóricas e estruturais#

@esmo com todas as restriç;es3 no rasil um terço dos agricultores &amiliares 6= tem

acesso a sistemas de &inanciamento# Se a transição nas pol!ticas de desenvolvimento rural

do vi(s setorial ao territorial ainda ( t!mida3 como &oi visto no Cap!tulo 03 todo o arcabouço

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de leis ambientais não ( nada despre7!vel# )2lers +/RR. mostrou claramente como as

 possibilidades de dinami7ação e de conservação das =reas rurais não podem ser

compreendidas sem 5ue se &aça re&erência 8s instituiç;es 5ue regulam o comportamento

dos agentes no 5ue di7 respeito aos recursos naturais# @ais recentemente3 a introdução de

uma nova legislação para eploração econOmica das &lorestas tende a sinali7ar um novo

camin2o3 onde a inter&erência das instituiç;es certamente crescer= ainda mais#

>3+36 4 &uem são os agen"es da no)a rura#idade ou raiona#i?ação e

es"ru"uras soiais

A a&irmação do espaço rural como ob6eto pertinente de compreensão pelas ciências sociais

 passa pelo delineamento do seu signi&icado como esfera social  do mundo contempor4neo#)ste conceito3 central na sociologia Keberiana e em muito similar ao conceito de campo em

ourdieu3 tem em seu n<cleo lógico a a&irmação de 5ue a unidade em 5uestão F neste caso

o espaço rural F representa uma es&era relativamente autOnoma do mundo social%

relativamente  no sentido de 5ue 2= in6unç;es com outras es&eras3 e aut>noma  por5ue (

governada por IregrasJ espec!&icas 5ue governam sua estrutura e din4mica# )stas regras

epressam o conte<do de racionali7ação 5ue governa esta es&era3 e este conte<do3 por sua

ve73 ( indissoci=vel tanto da compreensão 5ue os agentes sociais têm sobre os valores e

&ormas de condução (tico-racional no interior deste espaço3 como da racionali7ação social

5ue se epressa na &ormação das instituiç;es &ormais e in&ormais#

Com o desli7amento de signi&icado 5ue ocorre nas três dimens;es de&inidoras da ruralidade

 F a relação com a nature7a3 as relaç;es de intercon2ecimento e os v!nculos com o sistema

de cidades -3 torna-se necess=rio compreender em termos teóricos o 5ue muda nas

articulaç;es entre estruturas sociais3 instituiç;es e no enrai7amento ambiental no novo

momento# Das seç;es 5ue comp;em este cap!tulo3 tentou-se demonstrar como a id(ia de

racionali7ação da vida rural permite remeter 8s v=rias dimens;es a5ui impl!citas3 em

 particular a5uelas mais destacadas pela literatura contempor4nea% a necessidade de uma

abordagem de longo pra7o3 a import4ncia em compreender a 2eterogeneidade e a

mani&estação desigual da nova direção dos processos de desenvolvimento rural3 e a

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inevitabilidade de se recorrer a uma abordagem 5ue não privilegie apenas as interaç;es3

mas tamb(m as estruturas e con&litos a elas inerentes# @as3 se o movimento de

racionali7ação da vida rural e se os novos conte<dos emp!ricos da nova ruralidade não são

lineares3 o 5ue determina a di&erenciação Q poss!vel esboçar seus contornos mesmo 5ue

es5uematicamente Q $s desen2os a seguir têm a intenção de ilustrar o 5ue poderia ser um

sistema de oposiç;es t!pico da Inova ruralidadeJ# Seus agentes podem ser identi&icados3 a

 partir de an=lises concretas de situaç;es ob6etivas3 a partir de sua posição nesta estrutura#

$ desen2o 1 se re&ere ao sistema de oposiç;es da ruralidade pret(rita e comporta dois eios#

 Do eio Z os territórios rurais variavam a sua posição a depender do maior ou menor grau

de integração aos sistemas agroindustriais# )ste ( um eio 5ue permitia uma aproimação

capa7 de caracteri7ar a intensidade de erosão das condiç;es de autonomia das comunidadesrurais por a5uilo 5ue por muito tempo a literatura convencionou c2amar genericamente por

Ipenetração das relaç;es capitalistas no campoJ# )ra desta crescente integração 8

sociedade urbana e industrial o 5ue &alavam estudos cl=ssicos como os de Antonio C4ndido

+1H. e @aria >saura Pereira de Nueiro7 +1M.# Do eio \3 a posição varia de acordo

com o maior grau de concentração e de especiali7ação destes territórios# )sta oposição

remete3 de um lado3 8 distribuição dos trun&os3 2abilidades ou capitais3 a depender da

orientação teórica em 5uestão e3 de outro3 combinadamente3 8 maior possibilidade de 5ue

ali se6am geradas as instituiç;es necess=rias 8 dinami7ação econOmica acompan2ada de

maior coesão social#

'= o desen2o / se re&ere ao sistema de oposiç;es da nova ruralidade# Do eio Z3 os

territórios rurais passam a variar sua posição a depender do maior ou menor grau de

utili7ação de novas &ormas de uso social de recursos naturais# Deste eio a oposição se

desloca do grau de integração do rural para uma nova 5ualidade de integração3 a5uela

ditada pela nova &orma de enrai7amento ambiental da ruralidade e seus correspondentes

 para as estruturas sociais e as instituiç;es# Do eio \ mant(m-se a variação das posiç;es

de acordo com o maior grau de concentração e de especiali7ação destes territórios3 6= 5ue

tamb(m na nova ruralidade os processos de desenvolvimento obedecem3 em parte3 8s

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mesmas regras de outras es&eras e tem a ver com desconcentração e diversi&icação dos

tecidos sociais e tamb(m dos ecossistemas#

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Desen<o 5

Sis"ema de o:osiçes da rura#idade :re"ri"a

Desen<o +

Sis"ema de o:osiçes da no)a rura#idade

Ambiental

)speciali7ação econcentração

"iversi&icação edesconcentração

Agr=rio

A

"C

>ntegração agro-industrial

"iversi&icação edesconcentração

Agriculturatradicional

)speciali7ação econcentração

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)m lin2as gerais3 os 5uatro 5uadrantes 5ue surgem neste desen2o poderiam ser de&inidos de

acordo com seus signi&icados em termos de enrai7amento ambiental3 estruturas sociais e

instituiç;es#

Si"uação A 4

Rura#idade am!ien"a# e es"ru"uras soiais mais di)ersi.iadas e desonen"radas

Um determinado padrão de urbani7ação associado a caracter!sticas mor&ológicas do

território3 envolvendo o meio-ambiente e a estrati&icação social3 &avoreceu a 5ue ali se

criasse uma &orma de uso social dos recursos naturais onde a busca pela conservação

encontra correspondentes em &ormas de dinami7ação da vida social# A diversi&icada

economia local conta com um alto grau de integração econOmica e de coesão territorial#Paisagem3 cultura e economia se entrelaçam de uma maneira a &a7er com 5ue se consiga

associar a dinami7ação econOmica com bons indicadores sociais e com desempen2o

 positivo em indicadores ambientais# Algo semel2ante ( o 5ue ocorre em regi;es como o

*ale do >ta6a!3 em Santa Catarina#

Si"uação 4

Rura#idade am!ien"a# e es"ru"uras soiais mais es:eia#i?adas e onen"radas

)mbora as caracter!sticas mor&ológicas do território3 no 5ue di7 respeito ao meio-ambiente3

&avoreçam a conservação3 as caracter!sticas da estrati&icação social não contribuem para

5ue ali se6am criadas as instituiç;es capa7es de diminuir as &raturas entre grupos sociais por

conta de sua posição social# A conservação encontra-se em con&lito com as possibilidades

de dinami7ação da vida local# $ padrão de urbani7ação ( ainda incipiente ou não se deu

numa direção onde não 2ouve uma valori7ação do rural# )ste ( o caso t!pico de certas =reas

da Ama7Onia3 onde a presença da &loresta convive com o avanço da agricultura de

negócios# As estruturas sociais locais não apresentam vigor e um padrão de interação

su&iciente para &a7er &rente ao movimento de epansão das atividades prim=rias3 resultando

em perda de biodiversidade e em depleção dos recursos naturais como terra e =guas# ?=

1

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um alto grau de con&lito entre instituiç;es e as populaç;es locais são &ortemente a&etadas

 por eles#

Si"uação C 4

Rura#idade se"oria# e es"ru"uras soiais mais es:eia#i?adas e onen"radas

As caracter!sticas mor&ológicas do território em termos ambientais e sociais engendram

uma relação de eploração com o rural com restritas possibilidades tanto de conservação

como com maior risco de esgarçamento dos tecidos sociais3 apesar da poss!vel dinami7ação

econOmica com o setor prim=rio e de trans&ormação# As regi;es 5ue eperimentam um

&orte dinamismo dependente da atividade agr!cola se encaiam neste tipo# Ali a ri5ue7a

gerada estabelece uma relação entre o munic!pio pólo do território e os demais onde todosos recursos são concentrados3 não resultando em epansão da ri5ue7a para o con6unto dos

grupos sociais# As possibilidades de conservação ambiental são restritas aos m!nimos

eigidos por lei3 como no caso de preservação de remanescentes3 matas ciliares e vegetação

de topo de morro# A biodiversidade local ( &ortemente comprometida ou ameaçada pelo

vigor da eploração agr!cola comercial# Dos casos das regi;es mais din4micas3 como

algumas =reas do interior do )stado de São Paulo3 o padrão de urbani7ação o&erece uma

in&ra-estrutura e serviços at( ra7o=veis3 mas concentrados# )m outras3 menos din4micas3 a

especiali7ação setorial e o enri6ecimento das estruturas sociais levam ainda a um padrão

onde impera a precariedade3 caso das regi;es cacaueira na a2ia ou na ^ona da @ata

 pernambucana#

Si"uação D 4

Rura#idade se"oria# e es"ru"uras soiais mais di)ersi.iadas e desonen"radas

São situaç;es onde3 embora as caracter!sticas mor&ológicas do território 6= não se6am tão

 promissoras no 5ue di7 respeito aos recursos naturais3 as estruturas sociais poderiam

&avorecer um processo de mudança e de criação de novas instituiç;es# Do entanto3 as

&ormas de dominação econOmica impedem ou blo5ueiam esta inovação# ?= &issuras entre o

setorial e o ambiental3 e entre os grupos sociais# Um eemplo deste tipo de território ( o

1E

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$este Catarinense# Uma concentração de grandes empresas agroindustriais convive com

uma estrutura social baseada num epressivo segmento de agricultores &amiliares# A região

apresenta uma din4mica econOmica ra7o=vel3 mas convivendo com indicadores sociais e de

desigualdade não tão bons e com v=rios problemas ambientais relativos a solos e =guas# As

 possibilidades de reprodução dos grupos sociais locais ainda depende muito dos v!nculos

etra-locais &avorecendo a perda de recursos 2umanos valiosos# Com isso blo5ueia-se a

 possibilidade aberta pela con&iguração social local de maiores interaç;es e de criação de

novas instituiç;es capa7es de mudar o rumo do desenvolvimento territorial#

$ car=ter emergente da nova ruralidade &ar= com 5ue3 usando novamente a representação

es5uem=tica3 a parte in&erior ao eio Z se deslo5ue3 diminuindo sua import4ncia

5uantitativa3 e 5ue em seu lugar sur6a uma nova oposição# )ste esboroamento dassociedades agr=rias3 epresso tanto no movimento indicado na passagem do desen2o 1 ao

desen2o / e seus correspondentes campos de oposição só ad5uire contornos de &atalidade

nos marcos do paradigma agr=rio# Ali3 trata-se da diluição de um mundo social3 com o 5ue

isto tem de trag(dia e de criação# "e trag(dia por5ue &icaram prisioneiras do sistema de

oposiç;es t!pico de seu tempo# "e criação por5ue o novo sistema de oposiç;es abre

 possibilidades antes não claramente inscritas#

Assim como para o capitalismo o tipo puro se deu 5uando a racionalidade pr=tico-t(cnica

 propiciada pela evolução das condiç;es cognitivas e materiais da (poca encontrou a

racionalidade pr=tico-(tica da cultura protestante3 &a7endo assim eclodir uma enormidade

de possibilidades tanto na criação de instituiç;es condi7entes com este novo momento

como na introdução de mudanças nas &ormas de condução (tico-cotidiana da vida +Pierucci3

/RR0.3 talve7 não se6a eagero di7er 5ue a possibilidade 2istórica de ocorrência de um tipo

 puro como a situação A indicada neste desen2o representa igual teor no 5ue di7 respeito 8s

tentativas de se e5uacionar as dimens;es presentes na retórica do desenvolvimento

sustent=vel# >sto (3 se a utopia do s(culo ZZ>3 para usar os termos de *eiga +/RRE.3

consiste neste anseio por mel2orar a condição 2umana e natural atrav(s da dinami7ação

econOmica com ampliação das possibilidades das pessoas e com conservação ambiental3 (

 preciso3 antes de mais nada3 recon2ecer 5ue determinadas con&iguraç;es territoriais tem

1H

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conseguido &a7ê-lo# ) isto ocorreu ali3 onde o urbano e o rural não estabeleceram

desenvolvimentos concorrentes e inconcili=veis3 mas antes integrados e co-determinados#

@ais ainda3 esta possibilidade 2istórica não &oi resultado eclusivo da introdução unilateral

ou eógena de nen2uma norma ou sanção3 mas sim da evolução de con&iguraç;es

2istoricamente determinadas3 em cu6a tra6etória 2ouve um crescente processo de

racionali7ação3 permitindo 5ue3 nestes termos mesmo3 a um só tempo ecológicos3 2istóricos

e racionais3 se constitu!ssem as estruturas sociais e as instituiç;es necess=rias para tanto#

 Da nova ruralidade3 pass!vel de compreensão por uma abordagem territorial3 não ( poss!vel

mais identi&icar um ator ou grupo social predominante3 como na ruralidade pret(rita# A

intersetorialidade 5ue marca as economias locais e a 2eterogenei7ação crescente de suas

 populaç;es eige um recon2ecimento compreensivo3 em pro&undidade3 das din4micas e dosagentes 5ue delas são portadores# ) isso só ( poss!vel por meio da an=lise da evolução desta

con&iguração territorial3 das &ormas de racionali7ação 5ue l2e correspondem3 e das posiç;es

sociais de seus agentes3 tal como a5ui se tentou esboçar 1RR#

1RR Para uma eplanação sobre a complementaridade entre a noção de campo e as din4micas de longo pra7o3ver C2ampagne X C2ristin +/RR.#

1M

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S7n"ese do Ca:7"u#o >

Um traço marcante da nova ruralidade ( o crescente processo de racionali7ação da vida

rural# Um primeiro dom!nio onde isso se epressa são as &ormas de condução (tica do

cotidiano3 cada ve7 mais pautadas pela ação racional3 se6a com relação a &ins ou com

relação a valores3 e menos pela ação tradicional ou por &ormas m=gicas de relação com o

mundo# $utro são as instituiç;es3 entendidas como meios de racionali7ação de con&litos e

interesses e de sua materiali7ação em compromissos &ormais e in&ormais3 em regras sociais#

 Dos dois casos o rural ad5uire um novo sentido3 pois passa a ser um lugar onde ( poss!vel

uma vida crescentemente condu7ida e onde os conte<dos sociais 5ue in&ormam as

estruturas cognitivas e os espaços dessa interação não obedecem mais aos signos doisolamento e das ra!7es agr=rias3 mas sim de uma maior aproimação entre o rural e o

urbano3 entre nature7a e sociedade#

Como toda es&era do mundo social 5ue passa por processos de racionali7ação3 o rural

tamb(m apresenta regras e agentes 5ue l2e são espec!&icos# Um desdobramento desta nova

condição do desenvolvimento rural ( a tensão con&litiva atual 5ue decorre de três

dis6unç;es relativas 8s instituiç;es3 8s estruturas sociais3 e ao meio-ambiente% a. do &ato de

5ue 2= uma sobreposição de con&iguraç;es de agentes e interesses - alguns mais vinculados

aos &atores presididos pelos aspectos ambientais3 outros pelos aspectos econOmicos3 outros

ainda pelos aspectos pol!ticos ou culturais -3 5uando na Ivel2a ruralidadeJ 2avia um agente

 principal% o agricultor ou as empresas agr!colasV b. de uma incoerência ou no m!nimo de

atritos entre instituiç;es , 5uando na etapa anterior o con&lito 5ue estava na base das

instituiç;es di7ia respeito3 sobretudo3 ao uso do solo atrav(s do direito 8 eploração

econOmica das atividades prim=riasV c. de uma contradição entre as &ormas sociais de

racionali7ação3 5ue têm na mercantili7ação uma de suas mais etremas mani&estaç;es3 e ouso social de recursos não diretamente mercantis3 como a nature7a #

 

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Con#usão

%. que herdaste dos pais,

reconquista*o se queres possui*lo realmente+

"o @austo3 de Goet2e

%Ali onde isso era, devo vir a me tornar+

"o EsboFo de psican'lise3 de ,reud

Giancarlo 9icci3 um estudioso da obra de ,reud3 lembra 5ue seus escritos são pontil2ados

 por numerosas citaç;es de Goet2e# Uma delas3 a 5ue consta a5ui em ep!gra&e3 estava entre

suas prediletas# ) a id(ia central nela contida &oi transmutada para o  EsboFo de psican'lise3

nos termos tamb(m destacados acima# 9icci +/RRE%/RR. lembra 5ue a &rase ( celebre e

constitui um emblema luminoso da psican=lise% Ié como um cristal no qual duas

 superf(cies se conBugam e tornam*se uma só e afiad(ssima lu&" A v(rgula que divide a frase

intersecciona, divide, separa os dois tempos lógicos do mito, mas também os mantém

unidos e os coloca em relaFãoJ# )m Goet2e a ên&ase ( colocada numa ocorrência relativa 8

con5uista3 em ,reud3 no devir# Dos dois casos3 o destino se abre como algo a ser pro6etado3

escrito3 desenvolvidoV se apresenta como possibilidade3 por sua ve7 inscrita num campo

cu6os contornos e limites são dados3 de um lado3 por esta mesma 2erança3 como re&leo

destas mesmas estruturas a um só tempo ob6etivas e sub6etivas3 materiais e simbólicasV e de

outro3 pelo ambiente no 5ual as interaç;es nesse campo ocorrem# Passado como 2erança e

&uturo como pro6eto se entrelaçam no presente3 5ue se deia ver ou como possibilidade

concreta3 a ser eperimentada no cotidiano3 ou como resultado da an=lise teórica3 a serdemonstrada em termos cient!&icos#

Ao longo de cada uma das 5uatro partes 5ue comp;em esta tese &oi poss!vel &alar de

aspectos pertencentes a este entrelaçamento# Deste caso3 ( claro3 não tendo por ob6eto direto

a dimensão de 5ue &ala ,reud F a psi5ue -3 mas abordando tamb(m mais uma esp(cie de

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mito3 representado pela id(ia de desenvolvimento rural# Um mito não na concepção

&alseadora com 5ue a palavra ( algumas ve7es utili7ada +9ist3 /RR1.3 mas no seu sentido

mais positivo e 5ue serve tanto aos propósitos da psican=lise como das ciências sociais3

como organi7ador de sistemas de interpretação3 classi&icação3 e mobili7ação do mundo

social +,urtado3 1M.#

$ ob6etivo deste estudo consistia em procurar estabelecer a di&erença conceitual contida na

emergência da abordagem territorial do desenvolvimento rural# Procurou-se recorrer a

aspectos relacionados 85ueles mesmos dois tempos lógicos% a5uele relativo ao Ionde isto

eraJ3 8s permanências veri&icadas nas sucessivas metamor&oses do mito3 do pensamento3 da

id(ia3 do conceito3 e a5uele relativo ao Ivir a tornar-seJ3 não como dese6o normativo3 mas

atrav(s da compreensão e eplicação dos processos sociais sub6acentes tanto 8s lógicas demudança e de reali7ação do &uturo como3 igualmente3 aos mecanismos de blo5ueio e de

resistência 8 mudança#

@ais do 5ue repetir os ac2ados 6= epressos nas s!nteses das partes individuais em 5ue o

teto est= organi7ado3 esta conclusão tem por principal intuito3 al(m de rea&irmar a tese

apresentada na introdução 8 lu7 destas s!nteses3 destacar algumas implicaç;es teóricas de

tudo o 5ue &oi eposto e como isso se desdobra em novas 5uest;es3 5ue poderiam3 6untas3

con&ormar um interessante programa de pes5uisas compat!vel com uma visão territorial do

desenvolvimento rural#

A erosão de um :aradigma e a raiona#i?ação da )ida rura#

A tese3 &ormulada na >ntrodução e eposta nas 5uatro partes apresentadas anteriormente3

 pode ser resumida em duas a&irmaç;es principais#

Primeiro3 os processos sociais sub6acentes 85uilo 5ue a literatura das ciências sociais

aplicadas convencionou c2amar por nova ruralidade troueram consigo uma erosão das

 bases emp!ricas 5ue estavam na rai7 do paradigma cl=ssico de eplicação do

desenvolvimento rural3 em cu6o cerne estava sua redução aos aspectos agr!colas e agr=rios3

1R

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ou em outros termos3 8 sua dimensão setorial# A relação entre sociedade e nature7a3 5ue

encerra um primeira traço distintivo da ruralidade3 ( ob6eto de um deslocamento onde as

&ormas de uso social dos recursos naturais passam do privil(gio 8 produção de bens

 prim=rios a uma multiplicidade de possibilidades onde se destacam a5uelas relativas 8

valori7ação e aproveitamento das amenidades naturais3 8 conservação da biodiversidade3 e

8 utili7ação de &ontes renov=veis de energia# As relaç;es de proimidade3 segundo traço

distintivo da ruralidade3 tamb(m são alvo de um deslocamento% a relativa 2omogeneidade

5ue marcava as comunidades rurais d= lugar a uma crescente 2eterogenei7ação e um certo

esgarçamento dos laços de solidariedade 5ue eram a marca da ruralidade pret(rita# A

relação com as cidades3 <ltimo traço distintivo3 deia de se basear na eportação de

 produtos prim=rios para dar origem a tramas territoriais compleas e multi&acetadas3 com

di&erentes mecanismos de composição entre os dois pólos3 agora baseados em novas &ormasde integração entre os mercados de trabal2o3 de produtos &!sicos e serviços3 e tamb(m de

 bens simbólicos# "e eportadora de recursos como bens materiais e trabal2o3 os territórios

rurais passam a ser atrativos de novas populaç;es e de rendas urbanas# )m suma3

desaparece todo o sentido em tratar o rural eclusivamente como o oposto do urbano3 em

 proclamar seu desaparecimento3 ou em resumi-lo a apenas uma de suas dimens;es atuais% o

agr=rio# $ signi&icado maior disso tudo (3 como &oi dito3 o esboroamento da visão

 predominante 5ue sustentou as ciências sociais aplicadas sobre o rural durante todo o

s(culo passado#

Segundo3 um aspecto marcante do rural contempor4neo ( a penetração crescente em todas

as es&eras da vida rural de um longo processo de racionali7ação 5ue se mani&esta em &ormas

cada ve7 mais desencantadas de condução da vida por parte destas populaç;es3 em

mecanismos e instituiç;es cada ve7 mais compleos de regulação destes territórios e das

&ormas de acesso e uso dos recursos naturais3 e a uma mudança nas estruturas sociais locais

com a introdução de novas populaç;es3 uma valori7ação cada ve7 maior dos conte<dos

t(cnicos e instrumentais3 o estil2açamento dos interesses e con&litos 5ue antes eram

un!vocos e tendiam a derivar das &ormas de posse e uso da terra# Dão se trata de a&irmar 5ue

toda a população rural trans&ormou-se em calvinistas 8 imagem Keberiana d_ A tica

 protestante e o esp(rito do capitalismo3 mas de constatar 5ue3 mesmo sendo o lugar por

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ecelência onde ainda mais se valori7a a proimidade com a nature7a e a tradição3 isto se

&a7 sob conte<dos sociais totalmente novos3 como se tentou demonstrar acima# Com a

racionali7ação da vida rural3 ( todo um universo ancorado na ruralidade agr=ria 5ue se dilui3

 para dar lugar a novas signi&icaç;es# Permanência do rural3 associada 8 2eterogenei7ação e

aos con&litos disso derivados passam a ser palavras-c2ave para compreender suas

mani&estaç;es contempor4neas#

Um no)o :aradigma

neste conteto 5ue emerge a abordagem territorial do desenvolvimento rural3 na

con&luência entre um discurso normativo - 5ue busca dar conta destas novas &ormas de

mani&estação3 para al(m de um setor econOmico3 e para al(m dos limites de umacomunidade3 sinali7ando uma escala geogr=&ica 5ue permite comportar a relação com o

urbano -3 e um discurso cient!&ico - cu6a preocupação ( recon2ecer o conte<do emp!rico e

os signi&icados teóricos destas din4micas sócio-espaciais# >sto c2ega a con&ormar um novo

 paradigma para compreender o desenvolvimento rural Q

demasiadamente cedo para arriscar uma resposta de&initiva# Como se viu3 a consolidação

da visão agr=ria do rural &oi resultado de s(culos de sedimentação de conte<dos emp!ricos e

cognitivos3 e a emergência da abordagem territorial não tem mais do 5ue três d(cadas# $

5ue se pode a&irmar ( 5ue3 apesar de uma maior aderência 8s tendências atuais3 a id(ia de

território tem sido incorporada ao discurso de agentes p<blicos e muitas ve7es tamb(m no

meio acadêmico como uma esp(cie de Iinovação por adiçãoJ# )la passa a &re5entar o

vocabul=rio de organi7aç;es3 governos e cientistas3 mas 5uase sempre sem tra7er consigo a

necess=ria superação da visão agr=ria do desenvolvimento rural# ) isto não ( resultado

somente da cristali7ação do paradigma cl=ssico nos sistemas mentais partil2ados3 para usar

os termos de Dort2# @as sim3 epressão de interesses ancorados na situação anterior e 5ue

 blo5ueiam inovaç;es mais pro&undas3 se6a na &orma da manutenção de especiali7aç;es

disciplinares 5ue não mais se sustentam nos mesmos termos3 se6a na &orma da divisão de

competências entre es&eras de governo voltadas para o rural cu6as atribuiç;es não podem

mais ser e&icientes nos mesmos termos de outrora#

1/

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Por tudo isso o t!tulo desta tese coloca em 5uestão os paradigmas do desenvolvimento rural3

assim3 no plural% o cl=ssico3 5ue restringe o rural ao agr=rio3 e o emergente 5ue tateia sua

compreensão sob um en&o5ue territorial#

Desdo!ramen"os

Se estas são as conclus;es principais3 2= outras a 5ue se pode c2egar como seu

desdobramento#

Ins"i"uiçes% @ais do 5ue as regras do 6ogo3 mecanismos &ormais e in&ormais 5ue

incidiriam condicionando o comportamento dos agentes3 2= tamb(m um 6ogo das regras# $svalores3 vis;es3 convenç;es e aparatos legais são produto da ação de agentes encarnados3

com interesses espec!&icos# Compreender a din4mica das instituiç;es do desenvolvimento

rural não ( algo 5ue se alcance a partir de uma abordagem &ormalista nem meramente

cognitiva# preciso alcançar a5uilo 5ue se poderia c2amar por embeddedness  das

instituiç;es3 seu enrai7amento nas estruturas sociais 5ue l2e sustentam# ,a7ê-lo signi&ica

interrogar 5uem são os agentes da vel2a e da nova ruralidade3 por meio de 5ue pr=ticas

levam seus interesses adiante3 e mobili7ando 5ue tipo de recursos#

Es"ru"uras soiais% @esmo com a crescente valori7ação do local e do territorial3 não a6uda

a compreensão rigorosa do desenvolvimento rural a a&irmação contida na provocativa

&ormulação de eccattini3 encampada por @agnag2i +/RR0.3 e 5ue sugere a passagem Ida

consciência de classe 8 consciência do lugarJ# Se ( verdade 5ue os aspectos classistas3 no

sentido cl=ssico3 perderam centralidade na eplicação dos con&litos sociais

contempor4neos3 ( preciso tamb(m recon2ecer 5ue os territórios não podem ser ator social3

 pelo simples &ato de 5ue a ação social precisa ter por portadores su6eitos concretos3 e 5ue o

território ( 6ustamente uma escala espec!&ica de processos levados adiante por agentes com

interesses particulares e muitas ve7es con&litantes#

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$eio'am!ien"e% As obras de 'ared "iamond e de 'ane 'acobs mostram como desde as

antigas sociedades o meio-ambiente ( vari=vel-c2ave nos destinos da 2umanidade# Do caso

do rural esta import4ncia ( ainda maior por tratar-se da &ronteira entre os espaços mais

altamente arti&iciali7ados3 as cidades3 e a nature7a# A id(ia de territórios rurais permite

 6ustamente entrever as possibilidades de se tomar uma unidade de an=lise onde a

urbani7ação crescente e dominante encontra di&erentes &ormas de uso social dos recursos

naturais# >sto não passa somente pela mercantili7ação da nature7a3 como de&ende uma

importante corrente da economia3 mas sim pela criação de instituiç;es capa7es de moldar a

ação 2umana numa direção mais conciliadora com a necessidade de conservar os

ecossistemas3 paisagens3 culturas# "a! a import4ncia da ecologia para a eplicação do

desenvolvimento rural# ) da! a import4ncia do tema da mudança institucional# Por 5ue

camin2os podem ser constru!das estas instituiç;es Q

$udança% As caracter!sticas do tecido social e econOmico de um território importam na

con&iguração do campo de possibilidades em 5ue se inscreve seu &uturo# As regi;es 5ue têm

em sua base estruturas sociais mais diversi&icadas e desconcentradas - como ( o caso de

v=rios espaços de predom!nio da agricultura &amiliar3 ou de pe5uenas e m(dias empresas -

apresentam mel2ores possibilidades de criar instituiç;es e articulaç;es capa7es de tra7er a

dinami7ação econOmica acompan2ada da mel2oria das condiç;es de vida da maior parte da

 população3 em ve7 de um crescimento concentrado nas mãos de poucos3 como ( t!pico dos

territórios baseados em grandes e especiali7adas empresas# Uma id(ia 5ue contraria tanto o

senso comum3 maravil2ado com os êitos recentes da eportação brasileira de grãos3 por

eemplo3 como muitas vertentes eplicativas da ciência econOmica3 para 5uem economias

de escala são muitas ve7es o <nico crit(rio de e&iciência# Dão &a7 sentido3 portanto3 opor a

5uestão agr=ria ao desenvolvimento rural# Trata-se3 sim3 de entender as permanências dos

con&litos 2istóricos agora metamor&oseados3 mas ainda presentes#

"e tudo isso3 talve7 a mais destacada constatação se6a o &ato de 5ue o desenvolvimento

rural ( uma categoria pertinente de compreensão do mundo# >sto se 6usti&ica tanto pela

 permanência da ruralidade como caracter!stica marcante de boa parte dos espaços nos

 pa!ses da peri&eria do capitalismo3 mas tamb(m no c2amado n<cleo central da economia

mundial3 como pela possibilidade de se de&inir teoricamente o 5ue ( o rural3 distinguindo-o

1

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 possibilidade de se conciliar os imperativos sociais de uso do espaço e as necessidades

naturais de conservação da nature7a#

Para um :rograma de :es0uisas

$ ob6etivo desta tese era elucidar o signi&icado social e teórico da emergência da

abordagem territorial# Talve7 sua principal contribuição se6a essa% ao lado da constatação da

&alência do paradigma cl=ssico3 &undado na visão agr=ria do rural3  a&irmar a possibilidade

de 5ue se possa estar entrando em um momento da 2istória da 2umanidade onde ao rural

não se6a mais relegado somente o destino do atraso3 da estagnação e da tradição# 'ustamente

 por esta caracter!stica3 2= uma s(rie de interrogaç;es 5ue da! surgem e 5ue poderiam ser

en&rentadas em um ou mais programas de pes5uisas#

Sabe-se3 como mostrou o Pro6eto 9urbano3 5ue a composição das rendas das &am!lias de

agricultores apresenta uma tendência declinante de ingressos provenientes da atividade

 prim=ria# Sabe-se igualmente3 como mostrou o Pro6eto CUTContag3 5ue a mel2oria dos

rendimentos destas &am!lias depende das con&iguraç;es territoriais nas 5uais elas estão

inseridas# @as pouco se sabe sobre o 5ue determinou a evolução 2istórica de tais

con&iguraç;es# A a&irmação a5ui apresentada3 baseada3 sobretudo3 nos ac2ados de

 programas de pes5uisa internacionais3 de 5ue as estruturas mais desconcentradas e

diversi&icadas &avorecem a &ormação de instituiç;es 5ue podem levar 8 convergência de

taas privadas e sociais de retorno3 ( de etrema import4ncia e ainda não &oi incorporada a

contento em an=lises cient!&icas ou na elaboração de pol!ticas# @as ela &ala apenas de uma

 parte do problema# A outra3 o 5ue leva uma sociedade a optar pelo camin2o da

desconcentração e da diversi&icação3 permanece pouco iluminada# Particularmente no caso

 brasileiro3 cu6a 2erança 2istórica ( 6ustamente marcada pelos elementos opostos a estes3

torna-se imperativo con2ecer mel2or3 perante abordagens 2istórico-comparativas3 como

determinados territórios evolu!ram em condiç;es mais prop!cias 8 dinami7ação econOmica3

ao bem estar social e 8 conservação ambiental# Um estudo comparado de territórios rurais

visando etrair liç;es3 a partir da especi&icidade brasileira3 sobre as articulaç;es entre

instituiç;es3 estruturas sociais e meio-ambiente (3 portanto3 um primeiro desa&io# Seu

1H

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tratamento certamente traria importantes constataç;es sobre a tensão 2o6e eistente entre3

de um lado3 os gan2os de curto pra7o derivados da opção &eita pela sociedade brasileira em

 privilegiar a epansão da agricultura de eportação de commodities3 e3 de outro3 os custos

de longo pra7o epressos na perda de biodiversidade e na depleção de recursos naturais

como solos e =guas#

Um segundo tema de pes5uisa 5ue emerge das an=lises a5ui contidas ( a5uele relativo 8s

instituiç;es do desenvolvimento rural# Dovamente &ocali7ando o caso brasileiro3 ( ineg=vel

5ue os anos R troueram inovaç;es &undamentais3 das 5uais o Prona&3 em vias de

completar de7 anos3 ( certamente a mel2or epressão3 em 5ue pese todas as suas

insu&iciências# )m contraste3 viu-se nesta tese 5ue a emergência de um programa voltado 8

 promoção do desenvolvimento territorial3 na presente d(cada3 não vem ainda alcançando amesma repercussão3 apesar dos avanços 5ue cont(m ou insinua# Comparando o relativo

sucesso da primeira iniciativa com os impasses vividos pela segunda3 torna-se inevit=vel

 perguntar as ra7;es 5ue respondem pela emergência e pelo sucesso destas instituiç;es e

 pol!ticas# Nuais as interdependências entre elas e o ambiente institucional no 5ual elas se

inserem e 5ue l2es limita o alcance e o sentidoQ Nual a din4mica de interesses capa7 de

levar 8 adoção de instituiç;es e pol!ticas mais inovadoras e condi7entes com o sentido

contempor4neo da ruralidade Q 9esponder a esta 5uestão ( &undamental para 5ue se possa

aprender mais sobre as &ontes da mudança e3 com isso3 pensar as possibilidades de criar

instrumentos de indução ao desenvolvimento de um amplo espaço geogr=&ico onde vive um

contingente nada despre7!vel de pessoas#

Um terceiro tema3 por &im3 ( a5uele relativo 8 condição de agricultor sob a nova

ruralidade# A import4ncia econOmica deste segmento social tende claramente a declinar#

@as sua import4ncia social3 embora dividindo o protagonismo local com novos segmentos3

deve permanecer ainda relevante# $s impasses em torno das re&ormas das pol!ticas na

União )urop(ia e )stados Unidos são a &ace mais vis!vel disto# Do entanto3 ser agricultor

no limiar do S(culo ZZ> guarda muito pouca relação com o 5ue signi&icava a mesma opção

duas ou mais geraç;es atr=s# As implicaç;es para a &orma de condução da vida eram antes

muito mais r!gidas do 5ue 2o6e# Se3 antes3 ser agricultor implicava numa opção por maior

1M

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isolamento e pelo não acesso a certos con&ortos tidos como t!picos da vida urbana3 esta (

uma restrição 5ue pesa cada ve7 menos nos tempos atuais# Se antes bastavam os

con2ecimentos relativos 8s lides com a terra3 transmitidos in&ormalmente de uma a outra

geração3 2o6e ( necess=rio crescentemente mobili7ar mais e novos recursos3 introdu7ir

t(cnicas de produção3 de gestão e de acesso a mercados 5ue demandam novas 2abilidades#

$ recon2ecimento desta situação e das &ormas pelas 5uais tais populaç;es vêm conseguindo

recriar seus padr;es de reprodução social ( algo importante não só para atuali7ar o

con2ecimento cient!&ico perante estes novos conte<dos sociais3 das 5uais as estrat(gias

&amiliares são a um só tempo resultante e resultado3 mas tamb(m para se 5uestionar os

contornos a partir dos 5uais são pensadas as iniciativas p<blicas a elas direcionadas# Para

&icar em apenas um eemplo3 um grande dilema do debate p<blico brasileiro continua ser a

 pertinência de um amplo programa de re&orma agr=ria# @as os termos do debate3 tanto da parte dos 5ue reivindicam uma ação nesta direção3 como da parte dos 5ue a criticam por

obsolescência3 permanecem presos a um sentido 5ue ( o mesmo 2= 5uase um s(culo% uma

visão agr=ria da re&orma agr=ria# As pol!ticas para as &am!lias de agricultores ou para

dilemas 2istóricos3 como a 5uestão &undi=ria3 não teriam 5ue ser repensadas 8 lu7 do

es&acelamento do mundo agr=rio e da emergência de uma nova ruralidade Q

Por tudo isso3 esta tese respondeu a&irmativamente 8 interrogação sobre a eistência de um

novo momento na evolução do desenvolvimento rural% certamente não ( poss!vel

compreendê-lo senão em termos territoriais# @as a resposta relativa a caracter!stica do

compromisso social em torno do rural &oi negativa% embora sob este signo de uma nova

ruralidade3 não se erigiu3 ainda3 por completo3 um novo compromisso institucional3 um

compromisso não mais setorial e sim territorial#

Como se vê3 os três desa&ios de compreensão do rural brasileiro 5ue emergem desta tese

guardam estreita correspondência com as necessidades 2istóricas do pa!s em repensar seu

 percurso e suas alternativas de desenvolvimento# "urante muito tempo se imaginou 5ue a

industriali7ação resolveria por si os impasses de nossa &ormação como nação# ?o6e3 só o

descon2ecimento ou a ideologia urbana servem como 6usti&icativa para se negar a

import4ncia de retomar a epressão Iinteriori7ação do desenvolvimentoJ# Dão no sentido

1

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de levar ao rasil pro&undo o mesmo estilo de pol!ticas e de investimentos eperimentados

nos pólos din4micos da economia nacional# @as sim da5uilo 5ue $svaldo SunLel c2amava

de desarrollo desde dentroC # imposs!vel imaginar 5ue o pa!s encontrar= o camin2o do

dinamismo com coesão social e conservação ambiental sem encontrar uma solução para o

rasil rural# Um s(culo depois de )uclides da Cun2a3 talve7 se6a tempo de reinventar os

sert;es e en&rentar o emblema% Iali onde isso era, devo vir a me tornar J#

1

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G)9@)93 Claus +1H.# A irre#e)_nia :r1"ia da agriu#"ura .ami#iar :ara o em:regoagr7o#a# CurutibaP9# ,otocopiado#

G>"")DS3 A#V )C3 U#V BAS?3 S# +1M3 $oderni?ação re.#ei)a 4 :o#7"ia/ "radiçãoe es""ia na ordem soia# moderna# São Paulo% )d# Unesp#

G)$9G)SCU-9$)G)D3 Dic2olas +1M0.# T2e entrop: laK and t2e economic problem#>n% "AB\3 ?erman +1M0.# %oXard a s"eadF's"a"e eonomF# San ,rancisco% ,reeman#

G$$"@AD3 "avid X 9)"CB>,T +11.# 9e&as2ioning nature F &ood3 ecolog: andculture# Bondon% 9outledge#

G9A^>AD$ "A S>B*A3 'os( +1.# O no)o rura# !rasi#eiro# Campinas% Unicamp>)#Coleção Pes5uisas3 n# 1#

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GU\$T3 S:lvain +/RRE.# Essai de soio#ogie "erri"oria#e sud'a.riaine3)spaceTemps#net3 KKK#espacestemps#netdocument101M#2tml 

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/RM

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>DS))>D9A +1.# Les am:agnes e" #eurs )i##es 4 on"ours e" ara"]res# Paris#

'AC$S3 'ane +1H.# %<e eonomF o. i"ies# DeK \orL% 9andom ?ouse#

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'AC$S3 'ane +/RRR.# $or"e e )ida das grandes idades# São Paulo% @artins ,ontes#

'AC$S3 'ane +/RR1.# A na"ure?a das eonomias# São Paulo% eca Prod# Culturais#

')AD3 runo +1M.# %erri"oires dWa)enir 4 :our une soio#ogie de #a rura#i" # PUN#

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U?D3 T2omas +1H/1M.# A es"ru"ura das re)o#uçes ien"7.ias# São Paulo%Perspectiva#

U?D3 T2omas +1HE1M.# IBógica da descoberta ou psicologia da pes5uisa QJ# >n%BAAT$S3 ># X @USG9A*)3 A# +orgs#.# A r7"ia e o desen)o#)imen"o doon<eimen"o# pp# E-H/3 São Paulo% Cultri)dusp#

U?D3 T2omas +1MR.# %<e s"ru"ure o. sien"i.i re)o#u"ions# T2e Universit: o&C2icago3 /a# ed#

BA@A9C?)3 ?ugues +101.# A agriu#"ura .ami#iar3 *ol# > e >># Campinas% )d# daUnicamp#

/R

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@A^$\)93 @arcel X 9$U"A9T3 Baurance +1M/RR/.# \is"oire des agriu#"ures dumonde 4 du no#i"<i0ue H #a rise on"em:oraine# Paris% ditions du Seuil#

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@)A9"$D3 Step2en +/RR1.# I@odeling agglomeration and dispersion in cit: and countr: F Gunnar @:rdal3 ,rançois Perrou3 and t2e DeK )conomic Geograp2:J# >n%  American Journal of Economics and Sociology3 *ol# HR3 n# 13 'anuar:/RR1#

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@)D"9AS3 ?enri +1MH.# Soie"s :aFsannes# Paris% Armand Colin#

@)D"9AS3 ?enri +1.# La .in des :aFsans 4 sui)e dWune re.#ion sur #a .in de:aFsans )in" ans a:rs# Paris% Actes Sud#

@)9T$D3 9obert # +1H.# On soia# s"ru"ure and siene# C2icago% T2e Universit:o& C2icago Press#

@)\)9-STA@)93 'org +/RR.# Go)ernane and "erri"oria# de)e#o:men" 4 :o#iF/:o#i"is and :o#i"F in #oa# eonomi de)e#o:men"# @esopartner WorLing Paper3 RM/RR#KKK#mesopartner#com #

@)\)9-STA@)93 'org +/RR.# I)strat(gias de desenvolvimento local e regional Fclusters3 pol!tica de locali7ação e competitividade sistêmicaJ#  Policy Paper 3 n# /#setembro3 /RR1# >ldes,)S#

@>"@$9)3 Peter# +1.# IG#o!a#isa"ion and "<e rura# eonom:J# )dited version o& t2etet o& a public lecture given at t2e Universit: o& Wales3 Aber:stK:t23 "ecember 1#Sc2ool o& @anagement and usiness3 Universit: o& Wales3 Aber:stK:t23 Wales3 U#

@>DG>$D)3 )n7o X PUGB>)S)3 )nrico# +1M.# IA di&!cil delimitação do IurbanoJ e doIruralJ F alguns eemplos e implicaç;es teóricasJ# Re)is"a Cr7"ia de Ciênias Soiais3 n#//3 Abril1M#

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@$9A)S ,>B?$3 )varisto org# +10.# Simme# 4 Co#eção Grandes Cien"is"as Soiais#São Paulo# )d# ]tica#

@$DT)-@$93 9oberto B#@# +/RR0.# I$utras &ronteiras% novas espacialidades naurbani7ação brasileira# >n% CAST9>$TA3 Beonardo # F org# Ur!ani?ação !rasi#eiraZredeso!er"as# elo ?ori7onte% )d# CArte#

@$9@$DT3 @arc +/RRR.# ` #a re<er<e des es:ei.ii"s rura#es# ,otocopiado#

 DA*A99$3 ^ander +/RR0.# I"esenvolvimento rural no rasil F os limites do passado e oscamin2os do &uturoJ# Estudos Avan9ados – Dossi6 Desenvolvimento Rural< *ol# 1E3 n# 03Setembro"e7embro-/RR1#

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 D$9T?3 "ouglass X T?$@AS3 9obert Paul +1M0.# %<e rise o. "<e ^es"ern ^or#d3 AneX eonomi <is"orF# Cambridge Universit: Press#

$C") +10.# ^<a" .u"ure .or our on"rFside A rura# de)e#o:men" :o#iF# Paris%$C")#

$C") +1E.# Crea"ing em:#oFmen" .or rura# de)e#o:men" 4 neX :o#iF a::roa<es#ParisV $C")#

$C") +1H.# India"eurs "erri"oriau de #Wem:#oi 4 #e :oin" sur #e de)#o::emen"rura## Paris% $C")#

$C") +/RR0.# %<e .u"ure o. rura# :o#iF 4 .rom se"ora# "o :#ae'!ased :o#iies inrura# areas3 Paris% $C")#

$ST9$@3 )linor +1R.# Go)erning "<e ommons 4 "<e e)o#u"ion o. ins"i"u"ions .oro##e"i)e a"ion3 Cambridge% Cambridge Universit: Press#

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PAUBAD>3 Beda +/RRE.# “)conomia e 9etórica% o cap!tulo brasileiroJ#  Revista de Economia Poltica<

P)CNU)93 ernard +/RRR.# Le d)e#o::emen" #oa# 4 :our une onomie des"erri"ories# Paris% S:ros#

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P>9)S3 Andr( +/RR.# De roin<a aos en#a)esZ .iguraçes do rura# em Vin<edo3 SP#Tese de "outorado# >,C?UDicamp# Campinas#

P$DT>DG3 Cliv +1E.# Uma <is"ória )erde do mundo# 9io de 'aneiro% Civili7açãorasileira#

P$PP)93 arl +1E10.# A #ógia da :es0uisa ien"7.ia# São Paulo% Cultri#

P$PP)93 arl +1M.# IA lógica das ciências sociaisJ# >n% P$PP)93 arl# Lógia dasiênias soiais # ras!lia% )d# Un#

P$PP)93 arl +1HE1M.# IA ciência normal e seus perigosJ# >n% BAAT$S3 ># X@USG9A*)3 A# +orgs#.# A r7"ia e o desen)o#)imen"o do on<eimen"o# São Paulo%Cultri)dusp#

Pro6eto CUTC$DTAG +1.# Desen)o#)imen"o e sindia#ismo rura# no rasi## SãoPauloras!lia#

P9^)W$9S>3 A# +/RR0.# I>nstitutions @atterQJ#  -aper   presented at t2e SeminarIns"i"u"ions/ e<a)iour and Ou"omes# Cebrap3 São Paulo#

PDU" +1.# Re#a"ório so!re o Desen)o#)imen"o \umano# KKK#pnud#org#br  

PDU@A +/RR/.# Panorama am!ien"a# g#o!a## KKK#inep#orgG)$geo0inde#2tm 

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9$@)>9$3 Ademar 9# +/RR1.# I)conomia ou economia pol!tica da sustentabilidade Q I#>D% Textos para Discussão# >)Unicamp# n# 1R/3 Set/RR1#

9$ST$W3 W#W# +1HR.# %<e s"ages o. eonomi groX"<# Cambridge% CambridgeUniversit: Press#

9UB,$3 'uan +/RR.# Pedro P1ramo X C<ão em C<amas# 9io de 'aneiro% )d# 9ecord#

SAC?S3 >gnac: +1R.# S"ra"gies de #Wo'd)e#o::emen"# Paris% Bes ditions$uvrijres#

SAC?S3 >gnac: +/RR1.#Jrasil rural F da redescoberta 8 reinvençãoJ# >n%  Estudos Avan9ados – Dossi6 Desenvolvimento Rural # *ol# 1E3 n# 03 Setembro"e7embro-/RR1

SAC?S3 >gnac: +/RR-a.# Remnan"s o. "<e :as" or ar<i"e"s o. "<e .u"ure \umande)e#o:men"/ deen" XorY and sma## :roduers  in ra7il# )?)SSSebrae-Semin=rio>P)USP#

SAC?S3 >gnac: +/RR-b.# Desen)o#)imen"o e u#"ura3 Desen)o#)imen"o da u#"ura 4u#"ura do desen)o#)imen"o3 Paper apresentado no Semin=rios ,)AUSP# ,otocopiado#

SAC?S3 >gnac: +/RR-c.# Desen)o#)imen"oZ in#uden"e/ sus"en"1)e#/ sus"en"ado# 9io de'aneiro% Garamond#

SADT$S3 @ilton +13 A na"ure?a do es:aço 4 "nia e "em:o/ ra?ão e emoção# SãoPaulo% )d#?ucitec#

SADT$S3 @ilton +1H.# A ur!ani?ação !rasi#eira# São Paulo% )d# ?ucitec#

SA9AC)D$3 )lena +1H.# I$ conceito de ruralidade F problemas de de&inição em escalaeurop(iaJ# Paper apresentado no Programa de Semin5rios /%EA so(re desenvolvimentonas 5reas rurais – "4todos de an5lise e polticas de interven9ão # 9oma3 $utubro de 1H#Tradu7ido do original italiano por Angela age:ama#

SA9AC)D$3 )lena +1M.# Urban-rural linLages3 internal diversi&ication and eternalintegration F a european eperience# Revista Politica Agricola3 1M#

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SC?ATTAD3 *#V ,A*A9)T$3 A#V GAB*AD)^^>3 C#V @)D>D$3 ,# +/RRE.# arragemde %iBuo A#"o 4 "erri"ório/ reursos na"urais e direi"os das omunidades "radiionaisem de!a"e nos .óruns :ar"ii:a"i)os do Va#e do Ri!eira# 9elatório de Pes5uisaCebrap9imisp#

SC?)'T@AD3 Aleander X )9")GU3 'ulio +/RR0.# I"esarrollo territorial ruralJ# >n%)C?)*)9>A3 9# F )d# # Desarro##o "erri"oria# rura# en Amria La"ina F e# Cari!eZmaneBo sos"eni!#e de reursos na"ura#es/ aesso a "ierras F .inan?as rura#es#>"#Was2ington3 "#C#

SC?D)>")93 S(rgio +1H.# I"a crise da sociologia rural 8 emergência da sociologia daagricultura% re&le;es a partir da eperiência norte-americanaJ#  -aper   apresentado no^orYs<o: de Eonomia Po#7"ia da Agriu#"ura# Campinas3 >)Unicamp#

SC?D)>")93 S(rgio +/RR0.# IA abordagem territorial do desenvolvimento rural e suasarticulaç;es eternasJ#  -aper   apresentado no I *órum In"ernaiona# %erri"ório/Desen)o#)imen"o Rura# e Demoraia3 ,ortale7aC)3 novembro de /RR0#

SC?D)>")93 S(rgioV @ATT)>3 BauroV CA^)BBA3 Ademir +/RR.# I?istórico3caracteri7ação e din4mica recente do Prona&#J >n% SC?D)>")93 et al# orgs# Po#7"ias:Q!#ias e :ar"ii:ação soia# no rasi# rura## Porto Alegre% )d# U,9GS#

S)D3 Amart:a +1//RRR.# Re:enser #Winega#i"# Paris% Seuil#

S)D3 Amart:a +/RRR.# Desen)o#)imen"o omo #i!erdade# São Paulo# Cia# das Betras#

S)9AG)B">D3 >smail X ST))"S3 "avid eds# +1M.# Rural &ell-(eing – 'rom vision toaction< Proceedings of t!e 'ourt! Annual 3an$ +onference on Environmentally Sustaina(le Development # )nvironmentall: and Sociall: Sustainable "evelopmentProceedings Series3 n# 1E# T2e World anL3 Was2ington3 "C#

S)9*$B>D3 Claude +1.# LWagriu#"ure moderne# Paris% ditions du Seuil#

S,$9^>3 ,abio +1H.# IBocal s:stems o& small and medium-si7ed &irms and industrialc2angesJ# >n% $C")# Ne"XorYs o. en"er:rises and #oa# de)e#o:men"# Paris% 1H#

S?)P?)9"3 AndreK +1.# Sus"aina!#e rura# de)e#o:men"# BondonD#\orL%@acmillan PressSt#@artin Press#

S?UCS@>T?3 @#V C2apman P# +1.# I9ural "evelopment and Social)clusionJ Sociologia Ruralis3 August 13 vol# 03 no# /3 pp# //E-//

SC?UCS@>T?3 @arL# +/RRR.# I)ndogenous development3 social capital and socialinclusion% perspectives &rom B)A")9 in t2e U# Sociologia Ruralis3 vol# R3 n# /3 April/RRR3 pp# /R-/1

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S$A9)S3 Adriano C# $ # X SAU)93 S(rgio +1.# IA estrat(gia do >" e do anco

@undial para o campo brasileiroJ# >n% *>ADDA3 Aur(lio# A es"ra"gia dos !anosmu#"i#a"erais :ara o rasi## ras!lia% 9ede rasil#

S$9$>D3 P#V ^>@@)9@AD3 C#V GABP>D3 C# +1H.# "i&erenças &undamentais entre omundo rural e o urbanoJ# >n% @A9T>DS3 '#S# +org#.# In"rodução r7"ia H soio#ogia rura##São Paulo% ?ucitec# 1H#

SUD)B3 $sKaldo +11.# E# desarro##o desde den"ro3 Um en.o0ue neoes"ru"ura#is"a:ara #a Amria La"ina# Cidade do @(ico% ,C)#

SW)")9G3 9ic2ard +/RRE.# $a ^e!er e a idia de soio#ogia eonmia# 9io de'aneiro% )d# U,9'#

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T)9BU>D3 >da '# X 'aap ?# Post +/RR0.# I"i&&erences in economic development in ruralregions o& advanced countries% a revieK o& t2eoriesJ# Paper &or t2e >nternational Con&erenceo& t2e 9egional Studies Association  Reinventing regions in t!e glo(al economyT3 Pisa3April 1/-1E3 /RR0#

T?) W$9B" AD +1M.# Rura# Xe##'!eing 4 *rom )ision "o a"ion3 Proeedings o."<e *our"< Annua# anY Con.erene on En)ironmen"a##F Sus"aina!#e De)e#o:men"#Was2ington3 "C#

T?) W$9B" AD +/RR1-a.# P#an de Aión :ara e# Desarro##o Rura# en AmeriaLa"ina F e# Cari!e 4 un insumo :ara #a Re)isión de #a Visión a #a Aión # 9esumen del>n&orme# @ar7o3 /RR1#

T?) W$9B" AD +/RR1-b.# Rura# de)e#o:men" s"ra"egF and a"ion :#an .or "<eLa"in Ameria and "<e Cari!!ean Region# *ol# 1# @ain 9eport# /RR1#

T?) W$9B" AD +/RRE.# e:ond t2e cit: F t2e rural contribution to development#9eport# Consultado em KKK#KorldbanL#org #

T?$@AS3 eit2 +/RR1.# O <omem e o mundo na"ura# 4 mudanças de a"i"ude emre#ação Hs :#an"as e aos animais# São Paulo% Cia# "as Betras#

T?$@S>D3 Baurence +/RR1.# IUn concept pour le d(crire F l_espace rural rurbanis(J# >n% Ruralia3 n# # /RR1#

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T?U9@AD3 Walter D# +1E.# Assessing "<e en)ironmen"a# im:a" o. .arm :o#iies#T2e A)> Press3 Was2ington "#C#

T>SS$T3 S:lvie X P$UP)AU3 ,ranL# +/RRE.# B_espacialisatión des probljmes socials3 >n%Po#i"i0ues des es:aes ur!ain Z :enser / #asser / admiis"rer #a :au)re" 5/ Actes de la

rec!erc!e en sciences sociales n< ?@/ edi"ions du seui#/ se"em!re +,,>3*)CC?>ATT>3 arin +/RR0.# Desen)o#)imen"o %erri"oria# Rura#Z o di1#ogo en"resoiedade/ na"ure?a e eonomia segundo ane ao!s# "issertação de @estrado3ProcamUSP3 /RR0#

*)>GA3 'os( )li +11.# O desen)o#)imen"o agr7o#a 4 uma )isão <is"ória# São Paulo%)d#?ucitec)dusp#

*)>GA3 'os( )li +1.# $e"amor.oses da :o#7"ia agr7o#a dos Es"ados Unidos# SãoPaulo% Annablume#

*)>GA3 'os( )li +1M.# Crescimento3 agricultura e meio-ambienteJ >D% Anais do B@o < Encontro %acional de Economia# 9eci&e3 "e7embro1M3 vol# /3 p# RR-0#

*)>GA3 'os( )li +1.# A .ae "erri"oria# do desen)o#)imen"o# 9elatório de pes5uisa#,apesp# São Paulo#

*)>GA3 'os( )li +/RRR.# A .ae rura# do desen)o#)imen"o 4 na"ure?a/ "erri"ório eagriu#"ura# Porto Alegre% )d# U,9GS#

*)>GA3 '$S )li e colaboradores +/RR1.# I$ rasil rural precisa de uma estrat(gia dedesenvolvimentoJ# Texto para Discussão n# 1# ras!lia% Dead#

*)>GA3 'os( )li +/RR/.# Cidades imagin1riasZ o rasi# menos ur!ano do 0ue sea#u#a# Campinassp% Autores Associados#

*)>GA3 'os( )li +/RR.# I"estinos da ruralidade no processo de globali7ação#  Estudos Avan9ados3 n# E13 maio-agosto /RR3 p# E1-HM#

*)>GA3 'os( )li +/RRE-a.# Desen)o#)imen"o sus"en"1)e# 4 o desa.io do su#o [[I # 9iode 'aneiro% Garamond#

*)>GA3 'os( )li +/RRE-b.# I"estinos da ruralidade F um _7oom_ sobre a >t=liaJ#  -aperapresentado no [[I[ Enon"ro Naiona# da An:os3 Caambu-@G3 $utubro/RRE#

*)>GA3 'os( )li +/RRE-c.# IPerspectivas e desa&ios do desenvolvimento rural sustent=velno rasil#  -aper   apresentado no Semin1rio Naiona# de Desen)o#)imen"o Rura#Sus"en"1)e#3 CD"9S3 ras!lia",#

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*)BT^3 P# +/RR/.# Des #ieu e" des #iens# Paris% )d# de l_aube#

\9U)BA3 @anuel P# et al# +/RRR.# La nue)a one:ión de# desarro##o rura# 4 es"udiode asos# CS>C>nstituto de )studios Sociales Avan7ados de Andalucia# Córdoba% /RRR#

WAD")9B)\3 @aria de Da7aret2 # +1.# I9a!7es 2istóricas do campesinato brasileiro# >n% T)")SC$3 'oão Carlos F org# Agriu#"ura .ami#iar 4 rea#idades e:ers:e"i)as# Passo ,undo% )d# UP,#