paradigmas do desenvolvimento rural em questão _favareto.pdf
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Programa de Pós Graduação em Ciênia Am!ien"a#
PARADIG$AS DO DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ &UES%ÃO '
DO AGR(RIO AO %ERRI%ORIAL
Ari#son da Si#)a *a)are"o
SÃO PAULO
+,,-
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Programa de Pós Graduação em Ciênia Am!ien"a#
PARADIG$AS DO DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ &UES%ÃO '
DO AGR(RIO AO %ERRI%ORIAL
Ari#son da Si#)a *a)are"o
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da
Universidade de São Paulo comoeigência parcial para a obtenção do t!tulode "outor em Ciência Ambiental#
$rientação% Pro&# "r# 'os( )li da *eiga+Procam e "epartamento de )conomia da,)AUSP.
SÃO PAULO
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Este trabalho é dedicado, com muito carinho,
à Dona Rose e ao Seo Ariovaldo, meus pais,
e à memória daquela figura tão especial que foi a Dona Aurora
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Agradeimen"os
Uma tese de doutorado ( considerada um trabal2o de co-autoria entre o aluno e o orientador#
Por isso3 mas principalmente por sua import4ncia de &ato nesta empreitada3 devo agradecer
inicialmente ao Pro&# 'os( )li da *eiga# "esde as id(ias iniciais 5ue viriam a dar origem ao
pro6eto de pes5uisa pude contar com sua animadora acol2ida# ) durante os 5uatro anos 5ue
desde então decorreram pude des&rutar de um intenso e verdadeiro aprendi7ado# Sou-l2e
etremamente grato pela presença constante em todas as etapas e por sua generosa e tão
precisa dedicação 8 orientação#
"urante este per!odo tive tamb(m o privil(gio de conviver com o Pro&# 9icardo Abramova:3
interlocutor e encora6ador desta pes5uisa desde os primeiros esboços# Suas observaç;es no
eame de 5uali&icação e em in<meras oportunidades onde pudemos discutir temas direta ou
indiretamente relacionados 8 tese me &oram de etrema valia#
Com o Pro&# A&r4nio Garcia tive o pra7er de partil2ar min2a estadia na ,rança3 na cole des
!autes tudes em Sciences Sociales" Sou muito grato a ele tanto por ter viabili7ado ascondiç;es 5ue permitiram meu v!nculo com a5uela instituição como pelas v=rias 2oras 5ue
pude des&rutar de agrad=veis conversas e3 sobretudo3 de pro&!cuas cr!ticas e sugest;es 8 min2a
pes5uisa# Tamb(m nesta ocasião tive ainda a &elicidade de discutir os contornos desta tese
com o Pro&# >gnac: Sac2s3 da mesma )?)SS3 e com @arie ,rance Garcia-Parpet3 no #nstitut
$ational de la Recherche Agronomique#
$ Pro&# )duardo ugelmas3 membro da banca no eame de 5uali&icação3 a6udou-me bastantecom suas observaç;es e com valiosas indicaç;es bibliogr=&icas# Buis Carlos edusc2i3 da
,A$3 e )stela Deves3 do CP"A e Colegio de @eico3 &oram etremamente gentis e
prontamente atenderam meu pedido de envio de materiais relativos ao C2ile e ao @(ico#
Sou grato ainda 8 *era Sc2attan3 por nossa ainda recente mas instigante interlocução sobre
os temas relativos 8 participação e desenvolvimento3 no Cebrap#
E
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>nstitucionalmente devo agradecer 8 Capes pelo apoio 8 reali7ação da pes5uisa# Ao Procam3
em cu6os colegas3 pro&essores e &uncion=rios encontrei sempre uma convivência amig=vel e
um ambiente prop!cio 8s trocas cient!&icas# ) aos coordenadores e colegas dos grupos de
trabal2o de encontros cient!&icos F Anpocs3 Anppas3 Sober3 SS - onde apresentei partes dos
tetos 5ue con&ormam esta tese e 5ue certamente &oram enri5uecidos com suas contribuiç;es#
Aos colegas do Procam e da Plural3 9e:naldo 9omagnoli3 B!lian 9a2al3 Paulo ranc2er3
@aria C(lia Sou7a3 Gerson ittencourt3 )duardo )2lers3 arin *ecc2iatti3 9og(rio 'orge e
Cristina A7evedo meu muito obrigado pela convivência pessoal e pro&issional nestes anos#
9eginaldo @agal2ães3 "iogo "emarco3 )duardo ritto e Ariane ,avareto3 al(m da ami7ade e
compan2eirismo3 me presentearam ainda com atenciosas leituras e cr!ticas aos originais desta
tese#
Por &im3 como brincou um colega certa ve73 entre outros &atores pelo tempo e pela
intensidade da dedicação3 uma tese poderia ser considerada uma esp(cie de &ato social total#
Dos v=rios dom!nios 5ue isto comporta sou grato 8 Gra7iela Perosa3 por nossas trocas a&etivas
e intelectuais tão especiais# Buca e >sabel3 5ue praticamente nasceram e cresceram com esta
tese3 não só encararam numa boa o inverno europeu como a6udaram a tornar o per!odo de
redação mais saud=vel com seus constantes pedidos para brincar e contar 2istórias# Aos dois3
um grande bei6o
H
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Resumo
$ ob6etivo desta pes5uisa ( estabelecer a di&erença conceitual tra7ida com a abordagemterritorial do desenvolvimento rural em relação 8s abordagens tradicionais de apreensão destemesmo ob6eto nas ciências sociais3 a partir de uma an=lise 2istórica e teórica do problema# Da
base da emergência do 5ue se convencionou c2amar por Inova ruralidadeJ 2= umdesli7amento no conte<do social e na 5ualidade da articulação das suas três dimens;esde&inidoras &undamentais% as relaç;es rural-urbano3 a proimidade com a nature7a3 e os laçosinterpessoais# A tese 5ue se pretende demonstrar ( 5ue os signi&icados maiores desta mudançasão3 de um lado3 a erosão do paradigma agr=rio 5ue sustentou as vis;es predominantes sobreo rural ao longo de todo o <ltimo s(culo3 e3 de outro3 a intensi&icação de um longo e2eterogêneo processo de racionali7ação da vida rural# Um processo atrav(s do 5ual o rural3em ve7 de desaparecer3 se integra por completo 8 din4mica mais ampla dos processos de
desenvolvimento3 por meio tanto da uni&icação dos di&erentes mercados +de trabal2o3 de produtos e serviços3 e de bens simbólicos. como tamb(m por meio da criação de instituiç;es5ue regulam as &ormas de uso social destes espaços3 agora amalgamando interesses 5ue têm
por portadores sociais segmentos origin=rios tamb(m de outras es&eras#
A!s"ra"
T2e purpose o& t2is researc2 is to establis2 t2e conceptual di&&erence embedded in t2eterritorial approac2 to rural development in relation to traditional approac2es to appre2endingt2e same ob6ect in social science3 &ounded on a 2istorical and t2eoretical anal:sis o& t2e
problem# At t2e basis o& t2e emergence o& K2at convention termed as IneK ruralit:J3 t2ere isa s2i&t in t2e social content o& and in t2e 5ualit: o& t2e interrelation betKeen its t2ree&undamental de&ining dimensions% rural-urban relations3 proimit: to nature3 andinterpersonal ties# T2e t2esis Ke intend to demonstrate is t2at t2e broader implications o& t2isc2ange are3 &or one3 t2e erosion o& t2e agrarian paradigm t2at supported t2e prevailing visions
about t2e rural t2roug2out t2e last centur: and3 &or anot2er3 t2e intensi&ication o& a long and2eterogeneous process o& rationali7ation o& rural li&e# A process in K2ic2 t2e rural3 rat2er t2andisappearing3 is completel: integrated to t2e broader d:namic o& development processes bot2
b: means o& t2e uni&ication o& t2e di&&erent marLets +labor3 products and services3 ands:mbolic goods. and t2e creation o& institutions t2at regulate t2e &orms o& social use o& t2esespaces3 noK amalgamating interests borne b: social segments also originating in ot2ersp2eres#
M
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Lis"a de .iguras/ 0uadros e "a!e#as
,igura da capa F I)u vi o mundo### ele começa no 9eci&eJ3 9eprodução do painel de C!cero "ias
Nuadro 1 F Pr=ticas agr!colas e surgimento das cidades% comparação temporal e espacial
Nuadro / F Consenso b=sico sobre a ruralidade avançada
Tabela 1 F População rural nos pa!ses da $C")
Tabela / F "istribuição do emprego por setores econOmicos nos pa!ses da $C")
"esen2o 1 F 9epresentação es5uem=tica do sistema de oposiç;es da ruralidade pret(rita"esen2o / F 9epresentação es5uem=tica do sistema de oposiç;es da nova ruralidade
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Sum1rio
IN%RODU2ÃO333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 11PAR%E I 4 DESENVOLVI$EN%O
5 Desen)o#)imen"o3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 66
1#1 - A longa tra6etória das id(ias sobre desenvolvimento######################################### 0E
1#1#1 - "a gênese ao evolucionismo####################################################################### 0E 1#1#/ - "a evolução ao crescimento######################################################################## 1 1#1#0 - Crise3 polissemia3 banali7ação###ciência###################################################### H
1#/ - Nual teoria Q ######################################################################################################### E1
1#/#1 - "esenvolvimento e crescimento econOmico################################################ E1 1#/#/ - "esenvolvimento e a 5uestão social############################################################ H1 1#/#0 - "esenvolvimento e meio-ambiente############################################################# HM
S7n"ese333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 88
PAR%E II 4 RURALIDADE
+ Rura#idade33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 89
/#1 - Pe5uena 2istória da relação rural-urbano########################################################## R
/#1#1 - "os primórdios da divisão espacial do trabal2o 8 modernidade################## 0 /#1#/ - "a industriali7ação aos tempos atuais######################################################### M /#1#0 - A peculiaridade latinoamericana################################################################## 1
/#/ - Uma nova etapa Q################################################################################################### M
S7n"ese333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 1R0
6 Rura#idade nos :a7ses do a:i"a#ismo a)ançado3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 5,;
0#1 F As de&iniç;es sobre o 5ue ( o rural###################################################################### 1RE0#/ - Tendências do desenvolvimento rural################################################################# 1110#/ F As 9a7;es do desenvolvimento############################################################################ 11E
0#/#1 F Biç;es dos programas de pes5uisa############################################################## 11E 0#/#/ F Biç;es dos programas de apoio e promoção do desenvolvimento rural#### 1/1
0#0 - A emergência da abordagem territorial e seus signi&icados############################## 1/0
S7n"ese33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 1/
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PAR%E III 4 DESENVOLVI$EN%O RURAL E $UDAN2A INS%I%UCIONAL
; Os amin<os da disseminação da a!ordagem "erri"oria#3333333333333333333333333333333333333333333 56,
#1 F $ 6ogo e as regras#################################################################################################### 10/
#1 1- A Inova visãoJ do desenvolvimento rural################################################## 100 #1#/ F "a IvisãoJ 8 ação######################################################################################## 1R
#/ - Um novo compromisso institucional Q###################################################################
S7n"ese############################################################################################################################
1EE
1EM
PAR%E IV 4 A RACIONALI=A2ÃO DA VIDA RURAL
> A raiona#i?ação da )ida rura#33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 5>9
E#1 F Cr!tica 8 visão agr=ria dos territórios rurais############################################################ 1H/
E#/ - 9acionali7ação da vida rural ################################################################################## 1MR
E#/#1 F $ desencantamento dos campos +ou racionali7ação e vida cotidiana.############################################################# 1M E#/#/ - "a regulação total3 8 regulação setorial3 e desta 8 regulação territorial +ou racionali7ação e instituiç;es.################################################################# 1M E#/#0 - Nuem são os agentes da nova ruralidade Q
+ou racionali7ação e estruturas sociais.######################################################## 1R
S7n"ese############################################################################################################################## 1
CONCLUSÃO33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 5@9
ILIOGRA*IA333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333 +,,
1R
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In"rodução
% preciso, antes de tudo, fa&er o cat'logo mais amplo poss(vel de categorias"
preciso partir de todas aquelas das quais se pode saber que os homens se serviram"
)er*se*' então que ainda h' muitas luas mortas,ou p'lidas, ou obscuras, no firmamento da ra&ão+
arcel auss
As palavras de @arcel @auss 5ue servem de ep!gra&e a esta >ntrodução3 e 5ue segundo B(vi-
Strauss deveriam constar no &rontisp!cio de toda instituição dedicada 8 pes5uisa social3
camin2am para um s(culo desde 5ue &oram pro&eridas1# "e l= at( os tempos atuais3 a ciência
em geral e seus v=rios ramos em particular alcançaram est=gios muito mais avançados3 tanto
em sua institucionali7ação3 como na elaboração de mais e mel2ores instrumentos de an=lise F
categorias e conceitos3 corpos teóricos3 m(todos e t(cnicas# @as3 uma das condiç;es para a
e&iciência das id(ias cient!&icas ( 5ue estas &ormas de compreensão e eplicação do realeste6am sendo permanentemente aper&eiçoadas3 6ustamente para poder acompan2ar sua
constante evolução# "esde 5ue se assuma 5ue o tempo ( uma vari=vel c2ave na determinação
de 5ual5uer &enOmeno3 se6a na nature7a ou na sociedade3 não 2= como deiar de lado uma
esp(cie de eterna vigil4ncia 5uanto 8 poss!vel obsolescência ou inade5uação de noç;es3
perguntas3 ou &ormas de classi&icação utili7adas pelas v=rias disciplinas# asta lembrar 5ue as
principais revoluç;es cient!&icas de nossos tempos +u2n3 1H/1M. F por eemplo3 o 5ue a
teoria de "arKin representou para a biologia3 a de @ar para a &iloso&ia e as ciências sociais3
a de ,reud para a psicologia3 a de )instein para a &!sica - têm3 todas3 em torno de cento e
cin5enta anos ou menos# )3 em todos os casos3 seus desdobramentos posteriores F as
tentativas de comprovação3 mel2oria ou re&utação de tais teses e enunciados - têm sido
igualmente &ecundos e3 com isso3 mudado o patamar de validação e renovação teórica# Talve7
se6a este car=ter vivo3 por5ue determinado pela din4mica empreendida pela constante
evolução do real e das tentativas de sua apreensão3 o 5ue T2omas u2n mel2or destaca em
sua con2ecida polêmica com arl Popper# A validade das id(ias cient!&icas não resulta1 C&# B(vi-Strauss +1ER/RR0.#
11
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somente do movimento cumulativo derivado de seu teste e aper&eiçoamento lógico e pr=tico3
mas tamb(m3 e talve7 sobretudo3 das vis;es 5ue presidem o ol2ar dos pes5uisadores e dos
processos sociais3 internos e eternos aos dom!nios do campo cient!&ico# *is;es 5ue
condicionam os lugares estabelecidos das id(ias e tamb(m de seus portadores3 ou a totalidade
na 5ual elas se inserem3 para usar os termos de Adorno /# POr em marc2a o eame de
categorias espec!&icas do pensamento cient!&ico não deveria ser3 portanto3 somente uma tare&a
epistemológica3 mas tamb(m 2istórica e sociológica#
)ste ( o pressuposto 5ue est= na base de toda a tradição da sociologia da ciência3 desde
@erton# Uma an=lise da id(ia de desenvolvimento rural F ob6eto desta tese F deveria3 assim3
se inspirar não somente em sua evolução como conceito3 mas tamb(m3 e principalmente3 na
busca da compreensão de suas articulaç;es com outros dom!nios do mundo social3 5ue l2e
envolvem e condicionam em alguma medida# )m @erton +1H.3 estes conte<dos repousam
em caracteres internos 8 comunidade dos cientistas3 marcadamente na lógica e nas relaç;es
5ue per&a7em o processo de institucionali7ação de uma disciplina ou id(ia cient!&ica e a
especiali7ação 5ue l2e ( correspondente# )mbora 2a6a este componente sociológico por detr=s
da evolução das id(ias F a estruturação das comunidades cient!&icas F3 nesta lin2a de estudos
os condicionantes estão ainda dentro dos muros do campo cient!&ico# 6ustamente a etrema
permeabilidade deste muro e3 pois3 a alt!ssima suscetibilidade das id(ias cient!&icas ao mundo
eterior o 5ue se destaca nos estudos da c2amada sociologia das ciências e das t(cnicas3
lideradas por sociólogos &ranceses como runo Batour e @ic2el Callon# Um dos principais
m(ritos dos estudiosos &iliados a esta segunda onda dos estudos de sociologia da ciência (
6ustamente mostrar 5ue3 mesmo na mais elaborada e racionali7ada das &ormas de pensamento3
2= um componente de crença6# )3 como em toda crença3 sua sustentação ( &undada em
elementos de persuasão 5ue remetem a estrat(gias de convencimento e disputa encerradas
pelos seus diversos agentes3 numa din4mica 5ue muitas ve7es conta mais para a evolução
cient!&ica do 5ue propriamente a cumulatividade dos seus progressos lógicos e t(cnicos3 como
destacado pelos epistemólogos cl=ssicos#
/ $s termos desta polêmica estão nos con2ecidos tetos de Popper +1E10V 1MV 1HE1M. e u2n+1H/1MV 1HE1MV 1MR. e3 tamb(m em Adorno +1M1.#0 Da literatura sobre desenvolvimento 2= v=rios autores em 5ue a id(ia de crença tem algum poder eplicativo#
Da maioria deles no sentido negativo ou vulgar do termo3 5uase associado 8 ilusão# Um tratamento positivo3 5ue procura eplorar as relaç;es cognitivas entre mitos e crenças e processos de desenvolvimento est= presente de
maneira muito instigante na obra de Celso ,urtado# )stes aspectos serão retomados mais detidamente noCap!tulo 1# Sobre a sociologia das ciências e das t(cnicas3 ver3 entre outros3 Batour +1.#1/
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$ estudo apresentado nas p=ginas a seguir tem a pretensão de se inspirar neste tipo de
en&o5ue ao tomar para an=lise o paradigma 5ue orienta as leituras sobre desenvolvimento
rural# A abordagem 5ue ser= a5ui adotada situa-se entre dois etremos F entre a
cienti&ici7ação absoluta da id(ia de desenvolvimento e sua redução a mera crença das
sociedades ocidentais# Pretende-se mostrar a5ui - e essa parece ser a perspectiva ausente tanto
dos estudos mertonianos como da sociologia das ciências e das t(cnicas - 5ue3 embora a
evolução das id(ias cient!&icas não se6a somente resultado da din4mica interna do campo
cient!&ico3 não ( poss!vel igualar seu estatuto a uma &orma 5ual5uer de crença# A evolução de
uma id(ia cient!&ica ( resultado de uma dupla determinação% de um lado incide sobre sua
tra6etória a posição propriamente social de tais id(ias3 o lugar 5ue elas ocupam na legitimação
de discursos3 na polari7ação de con&litos sociais3 na sua aceitação e uso por distintos grupos
de agentes internos e eternos ao campo cient!&icoV de outro3 pesa a din4mica interna deste
campo3 onde a evolução das id(ias se determina tanto pelo movimento dos ac<mulos +e dos
saltos. teóricos e emp!ricos constru!dos segundo os c4nones da comunidade cient!&ica3 como
pelas in6unç;es promovidas pelos cientistas entre si3 suas disputas e alianças3 suas estrat(gias
de a&irmação individual ou como grupos de pes5uisa ou como correntes teóricasV ou ainda3 na
con&ormação e consolidação dos sub-campos disciplinares +ourdieu3 /RRR.# )m uma
palavra3 2= uma busca por esta dupla nature7a e articulação das id(ias cient!&icas% elas são a
um só tempo produto de uma crença3 mas tamb(m produtoras de uma crença di&erenciada das
demais &ormas de acreditar3 8 medida 5ue se apoia em crit(rios de validação mais aceitos
socialmente#
Antes de mais nada3 para evitar con&us;es3 ( preciso deiar bem claro o sentido em 5ue o
termo paradigma estar= sendo doravante utili7ado# ) isto ( importante não só por5ue 2= um
corrente abuso derivado da enorme vulgari7ação desta noção3 mas por5ue seu próprio
&ormulador recon2eceu ter usado a palavra em nada menos 5ue vinte e dois sentidos
di&erentes em seu tão citado livro +u2n3 1MR% 11.# Apesar disso3 di7 o autor3 após uma
criteriosa revisão eles poderiam ser redu7idos a apenas dois# $ primeiro ( c2amado por ele de
Imatri7 disciplinarJ% um corpo coeso &ormado por Iparadigmas3 partes de paradigma e
paradigmaticsJ# Dão ser= este o sentido a5ui adotado# A ra7ão ( o car=ter &ugidio de tal
bem poss!vel 5ue partid=rios do pensamento de Batour e Callon não concordem com tal a&irmativa# A cr!ticaa5ui impl!cita não ( 5ue seu es5uema teórico leva a alguma &orma de relativismo3 mas sim 5ue ele não &ornece
elementos 5ue permitam tradu7ir em termos teóricos as di&erenças 5ue contam para a especi&icidade do campocient!&ico#10
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de&inição# )la torna-se pouco operacional 5uando se trata de lidar com id(ias cient!&icas 5ue
muitas ve7es envolvem ora uma composição3 ora rupturas parciais3 com determinadas
eplicaç;es dominantes# Como no eemplo dado por *eiga +/RRR. para o caso da economia%
como distinguir se @ar e Sc2umpetter3 por eemplo3 podem ser situados dentro de um
mesmo paradigma ou se criaram di&erentes paradigmas Q Do caso da id(ia de
desenvolvimento rural3 os 5ue consideram 5ue 2= uma crescente integração de mercados
estão num paradigma di&erente da5ueles 5ue sublin2am as permanências da tradição3 do
con&lito agr=rio ou de suas 2eranças Q $ segundo sentido dado por u2n ( c2amado de
Ieemplos compartil2adosJ% são os entendimentos 5ue permitem o estabelecimento de uma
linguagem e uma abordagem comuns para problemas similares# )sta de&inição (
particularmente <til3 por c2amar a atenção para as id(ias cient!&icas como uma esp(cie de
cristali7ação de posiç;es a um só tempo sociais e cognitivasV isto (3 como algo 5ue se
apresenta como uma visão partil2ada e validada segundo os códigos cienti&icamente F e
poder-se-ia acrescentar tamb(m3 socialmente - recon2ecidos como leg!timos para de&inição e
tratamento de um determinado ob6eto#
Deste caso3 a visão partil2ada 5ue se tem sobre o 5ue são os espaços rurais e sobre as leis de
seu desenvolvimento igualmente &uncionam como um organi7ador de pr=ticas# )la determina
um campo de estudos3 o 5ual circunscreve por ade5uação ou inade5uação uma s(rie de
perguntas e pr=ticas pertinentes% Nuem são os agentes envolvidos nos processos abordados
por estudos rurais Q $s agricultores3 as populaç;es das pe5uenas cidades3 com 5ue recorte Q
)la legitima ainda o recon2ecimento social sobre a etensão de um determinado espaço e seu
lugar social% ,a7er parte de regi;es metropolitanas não ( crit(rio para receber certos tipos de
investimentos3 em geral pol!ticas de moderni7ação3 investimentos em conservação ambiental3
integração de in&ra-estrutura e de serviços p<blicos3 geração de empregos Q ,a7er parte de
regi;es rurais não tem o mesmo papel para outros tipos de investimentos3 em geral pol!ticas
sociais3 incentivos 8 eploração agr!cola3 in&ra-estrutura b=sica Q )3 por <ltimo3 mas
igualmente importante3 um paradigma tende a consolidar posiç;es em torno dele# ?= uma
tendência para 5ue um paradigma se sustente 8 medida 5ue ele suporta especialidades e seus
mecanismos F ramos disciplinares3 revistas e publicaç;es3 encontros cient!&icos3 consultorias
t(cnicas3 o monopólio da legitimidade para poder &alar sobre certa unidade do mundo social
ou natural#
1
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Por tudo isso3 para uma introdução ao 5ue vir=3 talve7 nada se6a mel2or do 5ue situar o
campo de interesses desta pes5uisa na evolução dos estudos recentes sobre o
desenvolvimento rural brasileiro# Cabe tentar minimamente entender tamb(m este estudo
como mais um resultado da mesma evolução da 5ual ele tenta dar conta#
Os es"udos so!re o rura# !rasi#eiro nos anos no)en"ae o am:o de in"eresses des"a :es0uisa
Dão ( mero acaso ou pura &alta de criatividade o paralelo entre o t!tulo desta tese e o do livro
de 9icardo Abramova: F -aradigmas do capitalismo agr'rio em questão -3 lançado em
1/# A5uele trabal2o3 6untamente com o publicado no ano anterior3 por 'os( )li da *eiga F
. desenvolvimento agr(cola/ uma visão histórica *3 e com os dois volumes da comparaçãointernacional organi7ada por ?ugues Bamarc2e F A agricultura familiar 3 da 5ual participaram
5uatro e5uipes de pes5uisa3 uma delas composta pelos pes5uisadores brasileiros Da7aret2
Wanderle:3 ,ernando Bourenço3 Anita rumer3 G2islaine "u5ue - 3 estes 6= nos anos
seguintes3 &ormaram 6untos uma esp(cie de trinca incontorn=vel de estudos rurais e serviram
para a&irmar a relev4ncia da noção Iagricultura &amiliarJ para o vocabul=rio acadêmico
brasileiroE# Atrav(s dos livros de Abramova: e *eiga via-se como a con&iguração da moderna
agricultura capitalista se apoiou numa &orma social de trabal2o e empresa espec!&ica 5ue ( a
empresa &amiliar3 contrariando assim duas tradiç;es cient!&icas e pol!ticas muito &ortes% a 5ue
sempre preconi7ou 5ue o desenvolvimento generali7aria as unidades produtivas baseadas no
uso eclusivo ou predominante de mão-de-obra assalariada3 e tamb(m a 5ue3 inversamente3
via a agricultura camponesa como modelo# $s livros de Bamarc2e3 por sua ve73 mostraram as
variantes desta direção# >sto (3 tomaram por &oco uma s(rie de realidades distintas3 em
di&erentes pa!ses3 com o intuito de mostrar como3 sob a lógica &amiliar de produção3 podem se
organi7ar situaç;es 5ue variam num es5uema 5ue tipi&ica desde a5uelas unidades mais
próimas da situação de autonomia camponesa at( a5uelas plenamente inseridas em
mercados3 mas sempre tendo a lógica &amiliar como elemento organi7ador# )n5uanto *eiga
demonstrou a articulação entre estas &ormas &amiliares e o desenvolvimento do capitalismo
avançado3 Abramova: tomou a realidade destes mesmos pa!ses para proceder 8 distinção
conceitual entre o signi&icado desta agricultura de base &amiliar e da agricultura camponesa# )
Bamarc2e3 por sua ve73 deiou claro 5ue a diversidade não esconde o &ato de 5ue o elementoE C&# *eiga +11.3 Abramova: +1/.3 Bamarc2e +10V 1.# Para uma an=lise das ra7;es da ascensão da
id(ia de agricultura &amiliar no debate p<blico brasileiro dos anos noventa ver Sc2neider et al# +/RR.3 ,avareto+/RRE-b.# $s anais da Apipsa tra7em um &arto material sobre o tratamento do tema na d(cada anterior#1E
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uni&icador de uma variedade de situaç;es ( o car=ter &amiliar da gestão e da posse da terra3
re&orçando o argumento de 5ue não &aria sentido resumir a diversidade da agricultura &amiliar
8s condiç;es 5ue mais se aproimam da id(ia cl=ssica de campesinato#
)stas obras procediam3 assim3 a uma esp(cie de atuali7ação dos 5uadros cognitivos &ace 8
evolução eperimentada pela din4mica do desenvolvimento agr!cola desde o Pós-guerra at( a
consolidação da c2amada Imoderni7ação conservadoraJH# As novas id(ias por elas tra7idas
tiveram re&leos pro&undos e imediatos não só sobre o campo propriamente acadêmico3 como
tamb(m sobre o discurso de movimentos sociais e da burocracia governamental ligada 8
agricultura3 e &oram acompan2adas por movimentos correspondentes de igualmente
signi&icativa repercussão# Um con2ecido artigo de age:ama X ergamasco +1R. 6= 2avia
alcançado amplo desta5ue ao &ornecer uma aproimação sobre o taman2o do universo de
estabelecimentos &amiliares no rasil# Pouco depois &oi publicado o instigante e controverso
relatório ,A$>ncra +1.3 5ue tamb(m o&ereceu uma tipologia das &ormas sociais de
produção no meio rural brasileiro3 a 5ual viria a ser adotada3 dois anos depois3 como uma das
bases do Prona& F o Programa Dacional de ,ortalecimento da Agricultura ,amiliar M# Deste
mesmo momento3 os sindicatos de trabal2adores e suas estruturas nacionais estavam
simplesmente substituindo suas bandeiras de luta empun2adas 2= nada menos do 5ue trinta
anos F re&orma agr=ria e direitos trabal2istas F pela reivindicação por um Ipro6eto alternativo
de desenvolvimento rural baseado na agricultura &amiliarJ#
)ntre 1H e 13 uma pes5uisa cobrindo todo o território nacional3 reali7ada a pedido das
organi7aç;es sindicais de representação da agricultura &amiliar e patrocinada com recursos de
instituiç;es europ(ias de cooperação tentou mapear as din4micas 85uele momento
5uali&icadas como meso-regionais de desenvolvimento eistentes no rasil# $ intuito inicial
era identi&icar a dispersão geogr=&ica das &ormas &amiliares e patronais3 a maior ou menor
H Um traço etremamente importante nesta passagem3 mas 5ue não pode ser eplorado nos limites desta>ntrodução3 di7 respeito 8 maneira como estes estudos combinaram as in&luências da tradição brasileira deinterpretação do con&lito agr=rio e a literatura norte-americana e europ(ia# )videntemente a introdução da noçãoagricultura &amiliar para o repertório acadêmico brasileiro não ocorreu sem cr!ticas3 como por eemplo3 a5uela&eita em Garcia 'r X Gr:7pan +/RR/.# >gualmente esclarecedoras são a cr!tica e a r(plica de Germer +1H. eAbramova: +1H.# Sobre o mesmo debate3 ( preciso ainda citar o importante artigo de Wanderle: +1.#M Para uma cr!tica desta tipologia e de seu uso no plane6amento de pol!ticas p<blicas ver Carneiro +1.# Sobreo signi&icado institucional da criação do Prona&3 ver Abramova: X *eiga +1.# Para um panorama mais detal2ado das interdependências entre os campos acadêmico3 sindical e as pol!ticas de
desenvolvimento do rasil rural3 ver entre outros @edeiros +1M.3 Sc2neider3 @attei X Ca77ella +/RR. e,avareto +/RR-a3 /RRE-b.#1H
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incidência de certos produtos agropecu=rios e3 com isso3 subsidiar minimamente a atuação
destes organismos sindicais +Pro6eto CUTContag3 1.# Coordenada por 'os( )li da *eiga3
esta pes5uisa não só atingiu este intento inicial como avançou uma 2ipótese bastante
inovadora 8 (poca% as mel2ores con&iguraç;es territoriais encontradas eram a5uelas 5ue
combinavam uma agricultura de base &amiliar &orte com um entorno sócio-econOmico
diversi&icado e dotado de in&ra-estruturaV um desen2o 5ue permitia aos espaços urbanos e
rurais destas regi;es3 de um lado3 abrigar o trabal2o ecedente 5ue deia a atividade agr!cola
e3 de outro3 inversamente3 absorver nas unidades &amiliares o trabal2o 5ue ( descartado nas
cidades em decorrência do avanço tecnológico e do correspondente desemprego caracter!stico
dos anos R# )sta pes5uisa mostrou um campo novo de preocupaç;es 5ue viria a se delinear
mel2or3 no rasil3 na virada para a d(cada atual% a necessidade de se entender as articulaç;es
entre &ormas de produção3 caracter!sticas mor&ológicas dos tecidos sociais locais e din4micas
territoriais de desenvolvimentoV ou3 na mesma direção3 as articulaç;es entre os espaços
considerados rurais e urbanos# @ais do 5ue nas in6unç;es setoriais3 o 5ue se sugeria ( 5ue nas
din4micas territoriais F ainda sem usar esta denominação - ( 5ue se poderia encontrar as
respostas para as causas do dinamismo e da incidência de bons indicadores de
desenvolvimento#
Pouco depois de terminada a pes5uisa CUTContag3 inicia-se um outro programa com grande
repercussão% o Pro6eto 9urbano# Coordenado por 'os( Gra7iano da Silva3 este programa
&ocali7ou a &ormação das rendas entre as &am!lias não urbanas para constatar um movimento
relativamente generali7ado de substituição dos ingressos provenientes das atividades
prim=rias por rendas não-agr!colas# Da base desta constatação estavam não somente a
tendência de 5ueda dos preços de produtos prim=rios3 6= con2ecida3 mas principalmente a
crescente interpenetração entre os mercados de trabal2o tradicionalmente 5uali&icados como
urbanos e rurais +Gra7iano da Silva3 1.# )ntre o primeiro o terceiro dos semin=rios anuais
reali7ados pelo Pro6eto 9urbano 2ouve3 contudo3 um certo desli7amento3 da surpresa com os
resultados alcançados na an=lise dos dados 5ue mostraram a magnitude das rendas não
agr!colas3 8 &ragmentação de opini;es sobre seu real alcance e sobre seus signi&icados para a
A rigor esta pes5uisa era composta de dois estudos simult4neos e em di=logo# )ste primeiro3 coordenado por'os( )li da *eiga3 abordando desenvolvimento rural# ) um segundo3 coordenado por 9egina Dovaes e Beonilde
@edeiros3 sobre sindicalismo rural# ,a7ia parte da e5uipe ainda um grupo de pes5uisadores das mais destacadasorgani7aç;es não governamentais brasileiras com atuação sobre o tema#1M
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estrutura e din4mica do rural brasileiro1R# @esmo em meio a estas incerte7as3 não 2= d<vida
de 5ue o pro6eto &oi uma &orte demonstração de 5ue3 mesmo num pa!s com as caracter!sticas
do rasil3 o rural não pode ser redu7ido ao agr!cola11#
Claro 5ue estes autores e obras não esgotam o rico painel de pes5uisas produ7idas no pa!s no
per!odo# $ 5ue ocorre ( 5ue3 nestes programas3 a de&inição de agricultura &amiliar e3
posteriormente3 as cone;es entre desenvolvimento rural e din4micas territoriais estiveram no
centro das preocupaç;es# $utros importantes centros de pes5uisa tiveram iguais impactos em
distintas rami&icaç;es tem=ticas dos estudos rurais# Para &icar apenas em alguns eemplos3
este ( o caso dos estudos sobre campesinato e 5uestão agr=ria no @useu Dacional3 dos
estudos sobre assentamentos no CP"AU,99'3 das pes5uisas sobre agricultura &amiliar e
meio-ambiente na U,P93 dos estudos sobre agricultura &amiliar e democracia e tamb(m
sobre pluriatividade na U,9GS3 ou de toda a produção sobre o semi-=rido na Universidade
,ederal de Campina Grande1/#
@esmo com tudo isso3 ( &orçoso constatar 5ue os anos noventa terminam com o debate
p<blico e acadêmico sobre agricultura &amiliar e desenvolvimento rural &ortemente marcado
pelos impactos de dois destes programas de pes5uisa# "e um lado3 a ên&ase na import4ncia e
no poder eplicativo da agricultura &amiliar e a identi&icação das din4micas territoriais como
unidade de an=lise relevante para a compreensão dos &enOmenos relacionados ao
desenvolvimento# "e outro3 a ên&ase no dinamismo dos espaços urbanos e seus
desdobramentos na &ormação das rendas das &am!lias de agricultores#
@as3 esta nova &orma de compreender o rural3 eplorando suas articulaç;es territoriais e
interdependências com o urbano teria como um de seus desdobramentos o esva7iamento de
seu conte<do eplicativoQ Se sob o 4ngulo emp!rico o rural apresenta cada ve7 mais
in6unç;es com o urbano3 do ponto-de-vista teórico 5ual seria então sua validade Q
1R C&# Pro6eto 9urbano +/RR/.# Para algumas posiç;es divergentes sobre estes temas no seio da própria e5uipede pes5uisadores3 consultar Sc2neider +/RR/. e Carneiro +1.3 de um lado3 e Gra7iano da Silva +/RR1. deoutro# Do site do pro6eto 2= v=rios tetos dispon!veis% 2ttp%KKK#eco#unicamp#brnearurbanorurbanK#2tml11 ) não algumas in&erências3 &ormuladas a partir desta constatação3 apontando um suposto &im das &ormas&amiliares de produção e uma identi&icação das causas eplicativas para os &enOmenos 5ue denotam algumavitalidade do mundo rural na &orça irresist!vel do dinamismo emanado de economias urbanas3 do 5ue sedepreenderia não só a irrelev4ncia teórica da agricultura &amiliar como mesmo de ruralidade +Gra7iano da Silva3/RR1.#1/
Para um painel mais pormenori7ado da produção das ciências sociais brasileiras sobre o rural3 consultarGarcia 'r X Gr:7pan +/RR/.#1
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Parece ter sido eatamente esta preocupação 5ue norteou a elaboração de um con2ecido
artigo de Da7aret2 Wanderle: +/RRR.# Sob o singelo ob6etivo anunciado de dar visibilidade a
uma bibliogra&ia pouco veiculada no rasil sobre as mudanças dos espaços rurais europeus3 a
autora introdu7ia3 na verdade3 todo o debate sociológico 5ue se &a7ia na5uele momento sobre
os signi&icados destas novas din4micas econOmicas e espaciais# $s autores por ela citados
en&ati7avam3 sob distintas perspectivas teóricas3 três tipos principais de processos sociais com
implicação para novas signi&icaç;es do rural% o novo lugar da agricultura e do rural nas
sociedades dos pa!ses do capitalismo avançado3 as relaç;es entre o rural e o urbano num
conteto de maior mobilidade &!sica dos indiv!duos e de aproimação entre as condiç;es de
vida nos dois espaços3 e as dimens;es distintas e con&litivas reveladoras da 2eterogeneidade
do rural contempor4neo# $ artigo re&letia em termos propriamente teóricos essa cada ve7
mais percept!vel mudança de signi&icado da relação entre o rural e o urbano 5ue aparecia de
maneira epressa ou latente nos tetos por ela citados# Ao &inal3 o artigo tra7ia uma
constatação e uma pergunta# A constatação% o estreitamento das dist4ncias e a diluição de
muitas das di&erenças não apagou a necessidade de distinção positiva entre o 5ue ( rural e o
5ue ( urbano# A d<vida% diante destas novas signi&icaç;es e de seu car=ter marcadamente
desigual entre regi;es e pa!ses3 5uem são os atores3 ou o ator3 da Inova ruralidadeJ Q
)m nova pes5uisa coletiva3 apoiando-se destacadamente nos rec(m divulgados dados do
Censo de /RRR3 *eiga et al# +/RR1. recalculam as dimens;es do rasil rural introdu7indo
crit(rios similares 85ueles utili7ados nos pa!ses do capitalismo avançado e c2egam a3 pelo
menos3 duas conclus;es importantes% não só o rasil rural ( muito maior do 5ue se calcula3
como boa parte deste signi&icativo espaço vin2a apresentando ind!cios de dinamismo
demogr=&ico 5ue nada deiam a dese6ar 8s =reas urbanas mais prósperas# Por se tratar de uma
pes5uisa reali7ada em um pe5ueno intervalo de tempo3 não &oi poss!vel3 apesar de algumas
incurs;es a campo3 c2egar a uma conclusão sobre os &atores de atração populacional ou de
dinami7ação econOmica das regi;es estudadas10# @as a repercussão &oi su&icientemente
grande3 e 6untamente com os tetos de Abramova:3 em particular a5ueles 5ue deram
visibilidade 8 utili7ação da noção de Icapital socialJ13 contribuiu para 5ue o debate
10 A esse respeito ver ,avareto3 @agal2ães e ittencourt +/RR/.3 onde são relatados os resultados obtidos com asidas a campo em =reas do litoral3 do agreste e do sertão do Dordeste brasileiro# *er tamb(m *eiga +/RR/. ondeestão v=rios artigos do autor apoiados nestes estudos#1
)ntre os mais citados em estudos e publicaç;es posteriores est= Abramova: +1.# Consultar tamb(mAbramova: +/RR0.#1
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envolvendo territorialidade e desenvolvimento rural inaugurasse uma nova onda de trabal2os
dedicados ao tema# )m paralelo3 desde meados dos anos noventa o Programa 0eader vin2a
instituindo um novo modelo de organi7ação das pol!ticas para o rural europeu3 baseado
6ustamente no seu en&o5ue territorial3 em contraponto com o &ort!ssimo vi(s setorial da
Pol!tica Agr!cola Comum1E# Da esteira deste novo momento intelectual3 e 8 lu7 da eperiência
europ(ia recente3 a id(ia de territorialidade alcança o desen2o das pol!ticas p<blicas no rasil%
entre /RR1 e /RR/ na &orma de uma s(rie de debates preparatórios a uma con&erência nacional
+5ue3 no entanto3 não c2egou a acontecer.V e3 posteriormente3 em /RR03 com a criação de uma
Secretaria de "esenvolvimento Territorial no 4mbito do @inist(rio do "esenvolvimento
Agr=rio#
)sta r=pida divulgação da id(ia de desenvolvimento territorial3 contudo3 não veio
acompan2ada de uma proporcional multiplicação de bons estudos3 pro6etos e an=lises
dedicados ao tema# em ao contr=rio3 em parte signi&icativa dos casos as id(ias de
desenvolvimento rural3 de capital social e de território aparecem como termos incorporados
ao vocabul=rio de plane6adores de pol!ticas e3 em alguns casos tamb(m de intelectuais3 mas
sem os devidos cuidados e sem a devida consistência teórica#
)m uma palavra3 pode-se di7er3 portanto3 5ue a d(cada de noventa iniciou-se sob a marca da
entrada da agricultura &amiliar no vocabul=rio acadêmico3 en5uanto a presente d(cada inicia-
se com uma reavaliação do signi&icado do desenvolvimento rural3 5ue aparece sob a &orma do
debate sobre as relaç;es entre o rural e o urbano e da introdução da abordagem das din4micas
territoriais nos processos de desenvolvimento1H# Se para a novidade dos anos noventa F a
introdução da agricultura &amiliar no debate p<blico e acadêmico - os trabal2os 6= citados no
in!cio desta introdução troueram elucidação teórica e 2istórica3 o mesmo ainda não &oi &eito
para as 5uest;es em debate na presente d(cada# Por isso3 estabelecer a di&erença conceitual
tra7ida com a abordagem territorial do desenvolvimento nas =reas rurais em relação 8s
abordagens tradicionais de apreensão deste mesmo universo &or6adas nas ciências sociais
1E Uma boa s!ntese das articulaç;es entre mudanças dos espaços rurais e pol!ticas de desenvolvimento3 na)uropa e na Am(rica Batina pode ser encontrada na publicação originada no 1aller -ol(ticas, instrumentos 2e3periencias de desarrollo rural em America 0atina 2 Europa3 coordenado por )delmira Correa e 'ose @ariaSumpsi +Correa X Sumpsi3 /RR1.#1H $ termo utili7ado a5ui ( IretomadaJ por5ue tal debate est= longe de ser recente# *er3 por eemplo3 o Coló5uio)illes et 4ampagnes3 reali7ado na ,rança nos anos ER# $u3 no caso brasileiro3 o artigo de @aria >saura Pereira
de Nueiro7 +1M. e 5ue trata 6ustamente disso# A novidade3 como se ver=3 di7 respeito ao estatuto e 8 5ualidadeda relação entre estes dois espaços#/R
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tornou-se a principal lacuna a 5ue esta tese se prop;e preenc2er# "a!3 portanto3 a inspiração
do t!tulo no livro 6= cl=ssico de Abramova:#
O :ro!#ema e as <i:ó"eses
A emergência da abordagem territorial do desenvolvimento rural troue uma di&iculdade
pr=tica e teórica# A con6ugação do ad6etivo IterritorialJ ao substantivo IdesenvolvimentoJ
pretende3 a um só tempo3 envolver e substituir com maior precisão outros 5uali&icativos
relacionados 8 dimensão espacial dos processos de desenvolvimento3 como rural3 urbano3
regional3 local# Um movimento 5ue tra7 implicaç;es relativas tanto aos contornos dos
diversos dom!nios do campo cient!&ico e tamb(m da divisão t(cnico-administrativa de
estruturas de governo e órgãos de plane6amento3 como aos 5uadros mentais de interpretação
de leigos e especialistas# Com isso3 uma das principais di&iculdades 5ue envolvem a id(ia de
desenvolvimento territorial3 e 5ue tem a ver com os camin2os 5ue passam por sua origem e
institucionali7ação3 reside no car=ter eminentemente normativo 5ue tem marcado a maioria
das proposiç;es dispon!veis# Como bem destaca @e:er-Stamer +/RR.3 a literatura dispon!vel
sobre este tema trata3 sobretudo3 de polic23 de &erramentas aplicadas3 e não de politics, de
processos pol!ticos reais ou de aparatos teóricos 5ue permitam apreender em bases cient!&icas
os &enOmenos em 5uestão#
Uma tomada de posição poss!vel diante desta constatação ( a simples des5uali&icação do
conte<do cient!&ico da id(ia de desenvolvimento rural3 devido a sua3 por assim di7er3
contaminação por determinaç;es eógenas aos limites da epistemologia# A di&iculdade 5ue se
imp;e com esta postura ( 5ue3 a partir da!3 o debate propriamente cient!&ico &ica interditado#
)le só pode se dar em outro terreno3 atrav(s da retórica3 ou da pol!tica# $utra atitude consiste
em admitir as interdependências entre o normativo e o anal!tico e tentar tra7er esta m<tua
determinação para o corpo do estudo# >sto implica mostrar a via de mão dupla 5ue 2= entre os
condicionantes sociais do con2ecimento cient!&ico e a legitimidade cient!&ica emprestada a
processos sociais#
$ problema ao 5ual se dedica este estudo pode ser3 portanto3 tradu7ido em duas perguntas# A
primeira ( saber se ( poss!vel distinguir o 5ue 2= de teórico3 de cient!&ico e o 5ue 2= de
arbitr=rio na id(ia de desenvolvimento territorial# >sto e5uivale a abordar os sentidos e as/1
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ra7;es do desenvolvimento3 em geral3 e do desenvolvimento rural em particular3 at( c2egar 8
emergência da abordagem territorial no mundo contempor4neo e seus signi&icados# A
segunda3 consiste em elucidar 5uais as implicaç;es teóricas desta nova situação# @ais
especi&icamente3 importa apro&undar um dos seus v=rios signi&icados relevantes3 a5uele 5ue
di7 respeito 8 validade e alcance dos paradigmas 5ue sustentaram toda a tradição das ciências
sociais aplicadas ao estudo dos &enOmenos rurais# )stas duas grandes 5uest;es podem ser
desmembradas em perguntas mais espec!&icas3 atrav(s das 5uais se descortina o camin2o
investigativo a ser empreendido#
Se a abordagem territorial envolve uma escala ou dimensão espec!&ica dos processos de
desenvolvimento3 ( preciso iniciar decantando o 5ue 2= de cient!&ico e de arbitr=rio sobre as
id(ias de desenvolvimento e de desenvolvimento rural1M# )mbora se6a 2abitual atribuir a
ocorrência de bons indicadores sociais e econOmicos de regi;es rurais a um &ator eplicativo3
como a locali7ação ou outras vantagens comparativas3 a eperiência dos pa!ses do
capitalismo avançado mostra 5ue 2=3 na verdade3 uma multiplicidade de &atores
concorrenciais3 com maior ou menor incidência dependendo do caso em 5uestão# )m geral
três são os &atores principais 5ue contribuem para a ocorrência de bons indicadores% o
aproveitamento do dinamismo gerado a partir da vitalidade de espaços urbanos próimos3
este o mais presente na literatura dedicada ao tema e tamb(m compat!vel com an=lises mais
tradicionaisV a incidência de &ortes pol!ticas sociais3 com desta5ue para a5uelas 5ue implicam
a trans&erência de &undos p<blicosV e um dinamismo próprio de determinados espaços rurais#
Cada um destes três &atores ( mais en&ati7ado por correntes teóricas espec!&icas3 sobretudo na
economia# @as nos três casos3 contudo3 a ocorrência destes &enOmenos não poderia ser
eplicada sem 5ue se recorra 8 an=lise dos caracteres próprios dos territórios3 sobretudo se a
pergunta &or algo do tipo Ipor 5ue isso acontece a5ui3 e não em outro lugar com condiç;es
similares QJ# Segundo uma 5uarta eplicação3 o 5ue permitiria a determinados espaços captar
e&eitos de proimidade3 trans&ormar em trun&os ao desenvolvimento os investimentos em
pol!ticas sociais3 ou at( mesmo o estabelecimento de uma dinami7ação endógena de sua base
econOmica F em resumo3 as três eplicaç;es correntes - ( a eistência de instituiç;es locais
1M $ uso do termo Iarbitr=rioJ3 a5ui3 deve-se a uma insatis&ação 5uanto ao uso da oposição cient!&ico-normativo3 6= 5ue as de&iniç;es 5ue se en5uadram neste segundo pólo muitas ve7es se baseiam e se legitimam em
proposiç;es originadas do primeiro# Dão se trata de negar as di&erenças ente o cient!&ico e o normativo3 masrepita-se3 en&ati7ar as interdependências#//
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5ue &avoreçam a coesão territorial e o aproveitamento dos recursos locais aproimando taas
privadas e sociais de retorno#
@as 2= nesta eplicação uma di&iculdade e uma insu&iciência# A insu&iciência est= no &ato de
5ue ningu(m discorda de 5ue ( imposs!vel &alar em processos de desenvolvimento sem
pensar 5ue a dinami7ação econOmica ( parte &undamental disso3 mas 2= evidências
su&icientes para a&irmar igualmente 5ue tais processos não se resumem a 2aver ou não
crescimento econOmico3 5ue em <ltima an=lise ( do 5ue trata a maior parte das teorias
dispon!veis# A di&iculdade3 por sua ve73 reside na cr!tica de 5ue3 embora poucos discordem da
a&irmação de 5ue as instituiç;es importam3 e muito3 pouco se sabe sobre o 5ue &a7 com 5ue
se6am geradas as instituiç;es capa7es de levar a uma convergência dos gan2os individuais e
coletivos e sobre como isso acontece1#
Por isso esta tese não poderia começar sem uma re&leão sistem=tica sobre a longa tra6etória
das id(ias sobre desenvolvimento3 com o ob6etivo de destacar os usos pol!ticos3 normativos e
cient!&icos desta id(ia# Ainda nesta mesma parte3 ( apresentado um reeame das teorias
dispon!veis e3 a partir dele3 a composição de um 5uadro de an=lise para um estudo sobre a
evolução e din4mica dos espaços rurais# Da ausência de uma teoria 5ue dê conta das
dimens;es econOmica3 social e ambiental3 são retomados os principais ac2ados de estudos
recentes sobre cada uma delas# $ argumento central desta parte do trabal2o ( 5ue o corpo
teórico &ornecido pela nova economia institucional pede 5ue a ele se6am agregados aspectos
presentes em outras abordagens3 sobretudo a5ueles relativos ao meio-ambiente e 8s estruturas
sociais dos espaços em an=lise3 particularmente importantes para eplicar as ra7;es 5ue
respondem pelo surgimento das instituiç;es 5ue governam as aç;es dos di&erentes
agrupamentos 2umanos#
Uma ve7 decantadas as bases emp!ricas dos caracteres propriamente cient!&icos presentes na
id(ia de desenvolvimento3 pode-se en&rentar a segunda tare&a3 5ue consiste em aplicar este
5uadro de an=lise 8 realidade espec!&ica do universo em 5uestão% os espaços rurais# Como 6=
ensinava ,lorestan ,ernandes 2= d(cadas3 ( preciso3 para isso3 tril2ar um camin2o 5ue
combina elementos obtidos atrav(s da an=lise sincrOnica F o 5ue permite revelar a nature7a e
a variedade das &unç;es e mecanismos 5ue respondem pela din4mica dos espaços rurais num
1 C&# a cr!tica3 entre outros3 de Pr7eKorsL: +/RR0. e ,ligstein +/RR1.#/0
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determinado 2ori7onte de tempo3 neste caso nos pa!ses do c2amado capitalismo avançado no
mundo contempor4neo -3 e uma an=lise diacrOnica F 5ue leva 8 percepção das in&luências
mais pro&undas e persistentes 5ue atuam na preservação ou na alteração do padrão
con&iguracional destes espaços1# $s ob6etivos a5ui consistem em3 igualmente ao 5ue se ter=
&eito na parte anterior do estudo3 identi&icar o 5ue 2= de arbitr=rio e de cient!&ico na id(ia de
desenvolvimento rural# ) agora3 al(m disso3 interrogar as ra7;es do surgimento da c2amada
abordagem territorial e seus signi&icados para a tradição eplicativa anterior3 5ue est= na base
das ciências sociais aplicadas aos estudos rurais#
Desta parte3 pretende-se mostrar 5ue a c2amada abordagem territorial emerge num conteto
sócio-2istórico muito espec!&ico3 revelando-se tanto uma categoria emp!rica3 em cu6a base
estão as trans&ormaç;es recentes muitas ve7es bati7adas sob a de&inição ampla e vaga de
Inovas ruralidadesJ/R3 como uma categoria cognitiva3 &ormulada visando dar conta da
din4mica emanada desta nova situação# A con6unção deste duplo signi&icado contido na id(ia
de desenvolvimento territorial tra7 consigo nada menos do 5ue um solapamento das bases
2istóricas e teóricas sobre as 5uais se construiu toda a tradição dos ramos disciplinares
devotados aos estudos rurais ao longo do s(culo passado# Adicionalmente3 pretende-se
demonstrar tamb(m 5ue3 menos do 5ue uma nova teoria3 a emergência da abordagem
territorial implica3 sobretudo3 no dimensionamento de uma escala espec!&ica dos processos de
desenvolvimento onde3 em ve7 de uma an=lise dicotOmica do urbano e do rural3 torna-se
necess=rio um en&o5ue relacional3 5ue envolva os dois pólos a partir do entendimento de suas
relaç;es de oposição e de complementaridade# Uma escala 5ue necessariamente remete ao
conceito de região e 5ue obriga a um seu reeame# Uma escala 5ue sugere a necessidade de
reabertura de um di=logo entre as ciências sociais e a ecologia3 a&astadas em demasia tanto
por conta das ineg=veis especiali7aç;es 5ue cada uma comporta3 como3 talve7
principalmente3 pela necessidade decorrente do processo de institucionali7ação disciplinar em
sublin2ar mais as di&erenças do 5ue as complementaridades3 algo simplesmente &undamental
no caso de ob6etos onde a presença da nature7a ( tão marcante como no caso dos estudos
rurais# A c2amada abordagem territorial do desenvolvimento rural revela3 en&im3 um con6unto
1 C&# ,ernandes +1E.# $ Im(todo regressivo-progressivoJ de ?enri Be&ebvre baseia-se em um encadeamentode procedimentos muito similares e ( muito bem apresentado por um de seus maiores con2ecedores3 'os( deSou7a @artins3 num livro dedicado ao seu pensamento +@artins3 1H.#/R )ntre as louv=veis eceç;es a este tratamento amor&o ou polissêmico da Inova ruralidadeJ nas ciências sociais
cabe citar3 a t!tulo de eemplo3 os trabal2os de Carneiro +1.3 Wanderle: +/RRR.3 *eiga +/RRR3 /RR3 /RRE.3Abramova: +/RR0. e randenburg +/RRE./
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de inst4ncias emp!ricas &undamentais e incontorn=veis3 uma escala espec!&ica dos processos
sociais a ela sub6acentes e3 igualmente importante3 a necessidade de se recorrer a teorias
sociais e ecológicas 5ue dêem o devido suporte 8 sua an=lise#
Todo este con6unto de 5uest;es emp!ricas e conceituais ainda ( relativamente recente#
)mbora o marco de emergência da abordagem territorial3 o 6= con2ecido estudo de Arnaldo
agnasco +1MM. 5 1re italie/ la problematica territoriale dello svillupo italiano67 -3 este6a
prestes a completar trinta anos3 a repercussão do campo de estudos com ele estabelecido vem
atravessando uma lenta e gradual evolução3 tendo encontrado nas agências multilaterais e nos
órgãos de cooperação internacional um &(rtil terreno de disseminação# Bonge de se tratar de
um movimento linear3 tal concepção vem sendo reelaborada e retradu7ida de acordo com
necessidades teóricas ou com eperiências 2istóricas e pol!ticas espec!&icas3 atrav(s das 5uais
suas partes constitutivas vão sendo ora aprimoradas3 ora distorcidas3 mas sem d<vida alguma
modi&icadas# )sta din4mica ( o ob6eto da terceira parte do estudo3 cu6o intuito ( analisar um
aspecto emp!rico espec!&ico 5ue envolve a id(ia de desenvolvimento territorial% a
compreensão dos &enOmenos de mudança institucional 5ue abarcam3 de um lado3 a
compreensão dos processos sociais 5ue estão em sua base e3 de outro3 o 6ogo de interesses
5ue bali7a a introdução de tal debate em pa!ses da peri&eria do capitalismo# $ 5ue se pretende
demonstrar ( 5ue os camin2os de disseminação desta abordagem têm propiciado uma esp(cie
de Iinovação por adiçãoJ no vocabul=rio3 no discurso e nas pol!ticas3 tanto de instituiç;es
governamentais como de organi7aç;es de apoio e movimentos sociais# Atrav(s da an=lise da
eperiência de alguns pa!ses latinoamericanos3 pretende-se evidenciar como este movimento
revela3 na verdade3 um &enOmeno 5uali&icado por teóricos da economia e da ciência pol!tica
como Idependência de percursoJ + path dependence866 # >sto (3 a eistência de toda uma
estrutura de bases cognitivas e interesses tradu7idos em incentivos e constrangimentos
estabelecidos em conson4ncia com os aspectos mais marcantes da vel2a visão#
A 5uarta e <ltima parte do estudo retoma o ponto-de-partida3 re5uali&icando-o# Y lu7 dos
principais ac2ados das três partes anteriores F do sentido e das bases teóricas de compreensão
dos processos de desenvolvimento3 da identi&icação das tendências e signi&icados da
/1 $ livro de agnasco pode não ter sido eatamente o primeiro neste tema3 mas certamente &oi o 5ue alcançoumais ampla repercussão# Sobre variaç;es do mesmo tema e en&o5ue3 vale citar o trabal2o de outros italianos
como G# eccatini3 G# Garo&oli3 S# rusco3 e C# Triglia#// C&3 principalmente Dort2 +1/3 /RRE. e Pierson +/RR.#/E
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ruralidade na eperiência 2istórica e no mundo contempor4neo3 e da an=lise dos interesses e
contradiç;es 5ue têm perpassado a percepção e a normati7ação do discurso acadêmico e
pol!tico sobre a abordagem territorial F o estudo pretende avançar uma a&irmação 5ue serve
de corol=rio 8 s!ntese anunciada para cada uma das partes 5ue o comp;em e 5ue di7 respeito
ao signi&icado mais pro&undo da id(ia de desenvolvimento rural#
A tese 5ue ser= apresentada nas próimas p=ginas ( 5ue a ascensão da abordagem territorial3
em cu6a base est= o desaparecimento do car=ter positivo 5ue at( recentemente &orneceu o
argumento para a dicotomia entre o urbano e o rural3 representa3 na verdade3 a intensi&icação
da longa evolução de um processo de racionali7ação do mundo rural 5ue3 nos tempos atuais3
o integra por completo 8 din4mica mais ampla dos processos de desenvolvimento por meio
tanto da uni&icação de di&erentes mercados - o mercado de trabal2o e os mercados de
produtos e serviços3 geralmente en&ati7ados3 mas tamb(m o mercado de bens simbólicos -
antes t!picos de universos sociais mais claramente autOnomos3 o Imundo ruralJ e o Imundo
urbanoJ3 como tamb(m por meio da criação de instituiç;es 5ue regulam as &ormas de uso
social destes espaços3 agora amalgamando interesses 5ue têm por portadores sociais
segmentos origin=rios tamb(m de outras es&eras - como os ambientalistas3 ou o 5ue parte da
literatura c2ama por neo-rurais#
)sta mudança3 por(m3 longe de signi&icar o total desaparecimento do rural perante o car=ter
irresistivelmente atrativo do urbano3 tradu7-se na emergência de uma nova situação3 onde a
di&erença entre ambos se a&irma de uma maneira relacional# A c2amada Inova ruralidadeJ3
indissoci=vel dos &enOmenos privilegiados pela abordagem territorial3 se assenta assim sobre
uma dupla contradição# )m primeiro lugar3 a a&irmação de&initiva da persistência do rural
como categoria pertinente de compreensão de determinados espaços sociais se &a7 6ustamente
no momento 2istórico em 5ue ocorre3 para utili7ar as palavras de *eiga +/RRE.3 o mais
completo triun&o da urbanidade# )m segundo lugar3 esta a&irmação do rural como universo
espec!&ico3 situado na &ronteira entre sociedade e nature7a3 pass!vel de ser compreendido
positivamente3 tem como uma de suas marcas 6ustamente o &ato de revelar-se uma es&era de
intersecção de outros dom!nios3 com desta5ue para as es&eras ambiental3 econOmica e
pol!tica# esta dupla condição o 5ue di&iculta o alcance de boa parte das an=lises sobre o
rural contempor4neo3 5ue ora en&ati7am a desagregação de um sistema de oposiç;es 5ue
respondia pela estruturação das relaç;es sociais caracter!sticas da ruralidade pret(rita3 ora/H
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destacam a persistência de traços desta ruralidade tradicional em meio 8s vicissitudes de sua
eposição 8s &orças da urbani7ação crescente e dominante# A Inova ruralidadeJ3 pass!vel de
compreensão e eplicação por uma abordagem territorial dos processos de desenvolvimento
nestes espaços3 tem por marca 6ustamente uma integração entre o rural e o urbano num grau
sem antecedentes e com uma nova 5ualidade# Com isso3 as caracter!sticas de isolamento e de
oposição3 5ue em muito in&luenciaram as bases cognitivas do per!odo anterior3 perdem
sentido# $nde só se energava o lugar de reali7ação das atividades prim=rias3 uma lógica
econOmica intersetorial# Contra as concepç;es m=gicas cercando a relação com a terra e o
mundo3 a racionali7ação3 epressa tanto em &ormas de condução (tico-cotidiana e de
organi7ação da vida por parte das populaç;es rurais3 como na criação de instituiç;es 5ue mais
e mais interpenetram esta es&era espec!&ica do mundo social condicionando o espaço de
poss!veis em 5ue seu &uturo se inscreve#
Assim como o estudo de Abramova: +1/.3 mostrou mais de uma d(cada atr=s a &alência
dos paradigmas cl=ssicos de interpretação do capitalismo agr=rio3 epressa no t!tulo original
de sua tese de doutorado F de camponeses a agricultores -3 o presente estudo pretende
demonstrar movimento an=logo3 agora tendo por ob6eto não as &ormas sociais de produção na
agricultura3 mas a nature7a mesmo destes espaços e de suas tendências contempor4neas3 o
5ue poderia ser apresentado3 em termos emp!ricos3 com o movimento indicado nas palavras
de Pierre Coulomb F do compromisso setorial ao compromisso territorial -V ou3 em termos
teóricos3 com o movimento indicado no sub-t!tulo desta tese F do agr=rio ao territorial#
)n5uanto na obra de Abramova: os alvos são o marismo cl=ssico e a vertente c2a:anoviana
de estudos sobre campesinato3 criticadas pela impossibilidade lógica de compreensão das
&ormas &amiliares3 no caso do primeiro3 e pela diluição 2istórica da base autOnoma destas
mesmas &ormas3 no caso do segundo3 nesta pes5uisa as oposiç;es se dão contra as vertentes
nas 5uais o lugar dos espaços rurais sempre &oi o de responder pela produção de bens
prim=rios3 e de uma maneira onde sua din4mica restaria meramente subsidi=ria dos processos
sociais e econOmicos emanados do mundo urbano3 rei&icado por sua e5uivocada identi&icação
como locus eclusivo da industriali7ação3 da compleidade e da multiplicação das
possibilidades de interação#
/M
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Dois es#areimen"os de ordem "eória e me"odo#ógia
A vastidão da abordagem a5ui sugerida certamente representou o mais s(rio problema para a
reali7ação deste estudo3 não 2= d<vida# $ con6unto de unidades emp!ricas a serem
manipuladas3 a base teórica &undamentada em corpos distintos e provenientes de tradiç;es
disciplinares di&erentes3 o car=ter polêmico da tese apresentada3 são &atores 5ue tornam a
empreitada anunciada uma iniciativa 5ue envolve uma alta dose de risco# Do entanto3 a
manutenção desta proposta &oi um desa&io consciente e3 em certa medida incontorn=vel3 se a
pretensão (3 de &ato3 a resposta 8 5uestão anunciada3 cu6a import4ncia e pertinência parece ser
ineg=vel# Uma possibilidade alternativa de alcançar uma aproimação ao problema colocado
seria proceder a um balanço das conceituaç;es dispon!veis sobre desenvolvimento territorial
e3 a partir delas3 in&erir os signi&icados impl!citos 8 sua elaboração# )ste camin2o &oi
descartado por duas ra7;es% o &ato de 5ue boa parte desta literatura se assenta sobre bases
eminentemente normativas3 como 6= &oi destacado anteriormente3 e a restrição de um tal
en&o5ue somente ao aspecto cognitivo presente no debate sobre desenvolvimento territorial#
A leitura de Dorbert )lias +1MR11. e seu alerta 5uanto 8 import4ncia das abordagens de
longo pra7o3 ultimamente pouco valori7adas no campo acadêmico3 ao lado dos recentes
artigos de 'os( )li da *eiga +/RRE.3 baseados na5uilo 5ue ele c2ama de 2ipótese macro-
2istórica3 &orneceram o impulso 5ue &altava para 5ue o pro6eto ambicioso +pretensioso at(3
talve7.3 &osse aceito# >sto3 contudo3 não &oi &eito sem ressalvas ou cuidados# Sem isso a
abertura da abordagem &atalmente se converteria em &orça centr!&uga3 &a7endo com 5ue os
resultados e respostas escapassem ao n<cleo da investigação#
$ primeiro cuidado adotado &oi a coerência das partes 5ue comp;em o estudo% procurou-se
abranger temas complementares num sistema <nico capa7 de o&erecer uma resposta
consistente ao problema levantado3 mobili7ando para isso elementos conceituais e emp!ricos3
2istóricos e contempor4neos3 completando assim di&erentes 4ngulos de ata5ue 8s 5uest;es
orientadoras da pes5uisa# $ segundo &oi a etensão das &ontes utili7adas% 2ouve uma
preocupação em cobrir parte epressiva da produção recente veiculada nas principais revistas
cient!&icas internacionais dedicadas aos estudos rurais3 em se reportar tanto 8 realidade dos
pa!ses do capitalismo avançado 5uanto de pa!ses da Am(rica Batina3 ou ainda em analisar o
tratamento dado ao tema pelos principais organismos multilaterais e de cooperação
internacional3 o 5ue pode ser mensurado pelas 5uin7e p=ginas de bibliogra&ia sobre o tema/
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relacionada ao &inal do teto# $ terceiro 7elo3 di7 respeito 8 criteriosa escol2a dos 5uadros
teóricos de re&erência# )mbora a consistência dos principais autores a5ui evocados se6a
inconteste3 ( preciso dedicar tamb(m algumas lin2as para eplicar a opção por colocar em
di=logo tradiç;es at( então dissociadas#
Se6a pela amplitude do tema3 se6a pela tentativa em não restringir o instrumental teórico a
autores somente da sociologia ou da economia3 e sim em operar com o campo mais amplo da
ciência ambiental3 o &ato ( 5ue as &ontes de inspiração teórica &oram m<ltiplas# @as para
garantir uma unidade de an=lise3 5ue certamente se perde 5uando são muitos os es5uemas
eplicativos mobili7ados3 dois grupos de autores acabaram por se impor como 4ncoras# Do
primeiro3 estão autores 5ue permitem compreender os &enOmenos sociais relativos aos
processos de desenvolvimento# Do segundo3 estão a5ueles 5ue permitem o di=logo entre
instituiç;es e estruturas sociais3 en&ati7adas nos anteriores3 e o meio-ambiente# Todos eles
têm em comum o &ato de lidar com din4micas de longo pra7o#
A re&erência inicial ( a teoria institucionalista3 de "ouglass Dort23 aplicada 8 an=lise da
per&ormance econOmica de longo pra7o# "estacadamente3 para o tipo de problema a5ui
colocado3 ( etremamente <til a maneira como ele opera com a m<ltipla determinação do
real3 identi&icando inst4ncias emp!ricas &undamentais e combinando &erramentas teóricas
derivadas de campos distintos nas id(ias de instituiç;es e mudança institucional como
elementos eplicativos da per&ormance econOmica# A import4ncia deste pilar teórico (
enorme3 pois ele o&erece uma an=lise consistente para a evolução de uma das dimens;es
centrais dos processos de desenvolvimento% a din4mica econOmica# ) mais 5ue isso3 isto (
&eito de maneira a marcar um distanciamento em relação 8 eplicação neocl=ssica#
@as 2avia dois problemas em aplicar o modelo teórico de Dort2 ao ob6eto em 5uestão# $
primeiro est= no &ato de 5ue suas an=lises são aplicadas 8 per&ormance econOmica3 en5uanto
desenvolvimento ( uma id(ia mais ampla3 &undada em outras dimens;es# Al(m disso3 sua
ruptura com a economia neocl=ssica ( apenas parcial3 e uma das a&irmaç;es 5ue dão corpo 8
2ipótese a5ui adotada etrapola 6ustamente os limites desta abordagem3 &undada no
individualismo metodológico3 e avança pelo dom!nio das estruturas sociais# "a! vêm os dois
nomes 5ue completam uma tr!ade de autores &undamentais neste teto# Para e5uacionar a
necessidade de uma eplicação 5ue ten2a em conta o papel das estruturas sociais na evolução/
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de longo pra7o a obra de @a Weber permite um di=logo bastante pro&!cuo3 pois assim como
Dort23 ele pOs no centro de suas an=lises o papel das id(ias no estabelecimento das din4micas
de longa duração# @as em Weber id(ias vão aparecer associadas com interesses3 e interesses
locali7ados em agentes posicionados em di&erentes espaços do mundo social# )m seu
pensamento3 a din4mica destas es&eras ( dada pelo crescente processo de racionali7ação em
torno do 5ual se estrutura o sentido da ação social para os diversos agentes 5ue o comp;em# )
para e5uacionar o problema relativo 8 conceituação da id(ia de desenvolvimento e 8 relação
entre suas di&erentes dimens;es3 a obra de Amart:a Sen ( incontorn=vel3 por serem
eatamente estas algumas de suas preocupaç;es centrais# Sen o&erece não só uma nova
de&inição3 5ue coloca em outro patamar os debates sobre desenvolvimento3 agora imposs!vel
de ser tratado somente no 4mbito do crescimento econOmico3 como3 principalmente3
consegue tra7er para dentro da teoria econOmica um di=logo aberto com as estruturas sociais3
ou3 em outros termos3 sobre como 2ierar5uia e desigualdade in&luenciam as possibilidades e
os contornos de grupos sociais3 regi;es ou naç;es#
@esmo com uma trinca de autores deste porte3 no entanto3 um aspecto &undamental do ob6eto
e do problema colocados continuava sem iluminação teórica% o lugar da nature7a nos
processos de desenvolvimento# Sobre isto3 a in&luência decisiva veio de dois autores 5ue
procuraram 6ustamente incorporar esta dimensão 8s an=lises de evolução em longo pra7o%
'ared "iamond e 'ane 'acobs# "o primeiro procurou-se reter a maneira de pensar o meio-
ambiente como um dos constrangimentos 5ue pesam sobre as escol2as 2umanas e sobre as
instituiç;es a 5ue elas dão origem# "e 'acobs3 ( particularmente e&ica7 a maneira como ela
introdu7 a id(ia de co-evolução - o 5ue a6udar= a pensar a relação entre a evolução dos
espaços urbanos e rurais e entre a nature7a e o mundo social -3 e a abordagem do
desenvolvimento como um processo onde novos conte<dos emergem de generalidades 6=
eistentes3 o 5ue permite operar com uma 2istoricidade e uma espacialidade em sua
determinação3 aspectos importantes para a5uilo 5ue se pretende demonstrar ao longo das
próimas p=ginas#
)videntemente algu(m poderia ob6etar 5ue os re&erenciais tra7idos com di&erentes grupos de
autores são con&litantes3 o 5ue em parte ( verdade# $u3 noutra direção3 5ue a dimensão
ambiental só pode ser tratada 8 parte3 por ser um dom!nio espec!&ico em relação 8 sociedade#
Como resposta3 uma ecelente prova de 5ue ( poss!vel incorporar a contento a dimensão0R
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ambiental ao lado de aspectos relativos 8s estruturas sociais est= em !istoire des Agricultures
du onde 5 du néolithique au monde contemporain3 de @a7o:er X 9oudart +1M/RR/.# Ali
tecnologia3 meio-ambiente e con&litos sociais são as inst4ncias eplicativas &undamentais# A
5uestão não est=3 pois3 nos elementos mobili7ados por cada teoria3 e sim na coerência do
arran6o 5ue se &a7 a partir deles3 cu6a <nica medida ( a capacidade em instrumentali7ar a
compreensão das m<ltiplas determinaç;es da realidadeV no presente caso3 as m<ltiplas
determinaç;es do desenvolvimento nos espaços rurais#
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PAR%E I
DESENVOLVI$EN%O
0/
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Ca:7"u#o 5 ' Desen)o#)imen"o
Uma interrogação &undamental a ser en&rentada por 5ual5uer trabal2o 5ue se pretenda
elucidativo e 5ue envolva a id(ia de desenvolvimento ( saber se ( poss!vel decantar o 5ue 2=
de cient!&ico e o 5ue 2= de normativo3 de ideológico3 de meramente discursivo por detr=s
dela# 9esponder a esta pergunta ( o intuito maior deste cap!tulo +6# @as embora a 5uestão
pareça simples3 ( preciso recon2ecer de partida 5ue poucas id(ias têm sido ob6eto de
taman2as controv(rsias como a id(ia de desenvolvimento# "e um lado3 2= os 5ue reclamam a
ela status cient!&ico3 legitimidade pol!tica3 conte<do t(cnico# "e outro3 os 5ue a vêem como
instrumento de manipulação ideológica3 crença esva7iada de virtude# Atualmente3 v=rias
vis;es distintas coeistem e disputam os signi&icados da id(ia de desenvolvimento# A
primeira ( a mais usual3 e pode ser encontrada em 5ual5uer bom manual de economia% nela
desenvolvimento ( tomado como sinOnimo de crescimento ou3 numa pe5uena variação3 o
desenvolvimento ( resultado do crescimento +9ostoK3 1HRV 'ones3 /RRR.# A segunda3 mais
so&isticada3 toma o desenvolvimento como mito# @as não necessariamente em sua acepção
enganosa3 e sim em algo mais próimo do 5ue se poderia c2amar por poder mobili7ador e
organi7ador do mito +,urtado3 1M.# Uma terceira vertente3 por sua ve73 não vê 5ual5uer
validade teórica ou pr=tica na id(ia de desenvolvimento3 apenas ilusão ou argumento
ideológico &alseador das reais intenç;es das pol!ticas cun2adas a este t!tulo +9ist3 /RR1V
9ivero3 /RR0.# >sto sem &alar nas in<meras ad6etivaç;es 5ue surgiram 8 lu7 da cr!tica aos
rumos do desenvolvimento no capitalismo contempor4neo e 5ue deram origem a teorias
inovadoras3 como a do Idesenvolvimento como liberdadeJ +Sen3 /RRR.3 ou a utopias de
grande valor (tico e social3 como a retórica do Idesenvolvimento sustent=velJ +Comissão
rundtland3 1E.#
Por tudo isso3 e pelas caracter!sticas espec!&icas da id(ia 5ue se pretende tomar por ob6eto3 (
preciso ir al(m da mera con&rontação entre di&erentes de&iniç;es do desenvolvimento#
preciso en&rentar a5uilo 5ue Pierre ourdieu +/RR1-a. c2amava de amnésie de la génése 3 isto
(3 o descolamento entre o conteto de origem de uma id(ia e a evolução posterior 5ue l2e (
/0 Partes deste cap!tulo &oram originalmente apresentadas na &orma de artigo3 no )ncontro Anual da Associação
Dacional de Pós-Graduação e Pes5uisa em Ambiente e Sociedade +Anppas.3 em /RR3 e no )ncontro Anual daAssociação Dacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais +Anpocs.3 de /RRE# C&# ,avareto +/RR-b3 /RRE-b.#00
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correspondente# Tal procedimento permite colocar em suspenso as categorias de apreensão do
ob6eto evitando assim seu uso ingênuo# $ risco impl!cito nisto3 contudo3 ( incorrer numa
esp(cie de card=pio de teorias3 em um maçante patch9or: de conceitos 6ustapostos# Como o
ob6etivo maior deste trabal2o ( a compreensão das categorias eplicativas dos &enOmenos
relativos ao desenvolvimento de regi;es rurais3 e não a id(ia de desenvolvimento per se3 o
percurso 5ue envolve esta gênese e desdobramentos posteriores ser= a5ui apenas aproimado3
e não eaustivo# @ostrar por 5ue mecanismos isso acontece3 5uem são os agentes de tal
processo e como suas pr=ticas constroem tal resultado deveria ser o epediente dese6=vel de
uma sociologia &ina de uma id(ia cient!&ica# @as3 dada a longa duração da 2istória da id(ia de
desenvolvimento3 seria etremamente di&!cil reter as inst4ncias emp!ricas &undamentais
necess=rias a uma sociologia &ina de seu surgimento e evolução+;# $ intuito a5ui ( apenas3
como destacado pouco acima3 evitar o uso ingênuo da id(ia e3 6unto disso3 delinear um 5uadro
teórico ade5uado a uma an=lise do desenvolvimento dos espaços rurais#
A &im de destacar as continuidades e rupturas3 os portadores e as bases teóricas e sociais dos
discursos sobre desenvolvimento3 as próimas duas seç;es procuram abordar o mesmo tema3
sob ên&ases distintas# Do primeiro deles3 retoma-se a evolução da id(ia de desenvolvimento3
de sua tra6etória 2istórica# Do segundo3 ( &eita uma discussão mais apro&undada sobre suas
bases teóricas# $ argumento central 5ue se pretende demonstrar neste cap!tulo pode ser
resumido na a&irmação de 5ue3 8 id(ia de desenvolvimento e 8 eplicação dos processos
sociais 5ue a ela correspondem3 vêm sendo elaborados importantes aparatos cient!&icos 5ue
permitem não só identi&icar suas dimens;es &undamentais como compreender a relação entre
elas# Destes termos3 mesmo sendo tamb(m uma id(ia-&orça3 5uase um valor social3 a id(ia de
desenvolvimento e os processos econOmicos e sociais correspondentes podem ser
teoricamente elaborados e cienti&icamente analisados# Claro 5ue isto demanda reconstruir um
campo de abordagem 5ue re&aça elos partidos3 sobretudo no decorrer do <ltimo s(culo3 num
movimento inerente ao natural processo de crescente especiali7ação e autonomi7ação dos
ramos cient!&icos# )m diversas disciplinas do campo das ciências sociais3 com desta5ue para
a sociologia3 a economia e a geogra&ia3 tem 2avido um importante movimento de
reaproimação3 de cu6o apro&undamento podem surgir as bases para programas e pro6etos de
pes5uisa 5ue se6am3 ao mesmo tempo3 menos ingênuos do 5ue a5ueles 5ue tradicionalmente
/ A5ui e ao longo de todo o teto3 5uando se &ala em desenvolvimento a re&erência ( seu sentido mais amplo 5ue
a5uele contido na principal vertente recente - o desenvolvimento econOmico - 3 esta beirando apenas meio s(culo deeistência +Arndt3 1.#
0
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se erigiriam no per!odo em 5ue a eplicação do desenvolvimento esteve redu7ida 8 sua
dimensão econOmica - ou mais precisamente3 8 sua diluição no crescimento econOmico -3 e
tamb(m mais promissores do 5ue os 5ue redu7em esta id(ia e os anseios nela contidos a mera
operação de manipulação ideológica#
535 4 a #onga "raBe"ória das idias so!re desen)o#)imen"o
$ desenvolvimento da 2umanidade (3 claro3 bem anterior 8s tentativas de sua de&inição# A
evolução biológica do 2omem ( resultado de um processo de longu!ssima duração# ) o
primeiro grande salto reali7ado no intuito de tentar submeter sob seu dom!nio os des!gnios de
sua condição sobre a Terra ( algo 5ue data de de7 a do7e mil anos atr=s% ( nesta (poca 5ue
surge a agricultura3 numa revolução de import4ncia similar ou superior 8 9evolução
>ndustrial3 8 medida 5ue permitiu a organi7ação dos crescentemente numerosos
assentamentos 2umanos3 a reali7ação de in<meros progressos t(cnicos3 desde a
complei&icação da &erramentaria e de t(cnicas de produção at(3 posteriormente3 o
surgimento da escrita e das c2amadas grandes civili7aç;es+># ,a7 bem menos tempo3
IapenasJ uns dois mil e 5uin2entos anos3 5ue a 2umanidade tenta3 a par das eplicaç;es
m=gicas3 &ormular concepç;es sistem=ticas para o sentido de sua eistência e para a evolução
do real# )las aparecem sempre atrav(s de de&iniç;es epressas em um con6unto de palavras
correlatas como nature7a3 evolução3 desenvolvimento3 todas elas com uma mesma rai7
etimológica# Ao largo dessa sua longa tra6etória de vinte e cinco s(culos3 a id(ia de
desenvolvimento passou por 5uatro grandes etapas3 obviamente com continuidades e rupturas
em cada uma delas# Como se ver= a seguir3 o 5ue marca a virada de um a outro per!odo (3
al(m de uma mudança substantiva nos alicerces emp!rico-cognitivos e na sistemati7ação da
id(ia3 uma mudança igualmente substantiva no tipo de portador dos discursos e eplicaç;es
5ue a envolvem#
53535 ' da gênese ao e)o#uionismo
"esenvolvimento3 progresso3 evolução# A estas palavras poderia se 6untar algumas outras
como moderni7ação3 ocidentali7ação# Todas têm em comum o &ato de serem usadas para
tentar epressar o movimento 2istórico da 2umanidade e seu sentido# $ livro de Gilbert 9ist
/E *er a respeito @a7o:er X 9oudart +1M/RR/.# #
0E
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+/RR1.3 0e développement/ histoire d;une cro2ance occidentale 3 embora apresente uma
2ipótese &raca F o desenvolvimento seria apenas uma esp(cie de IinvençãoJ do mundo
ocidental - tra7 uma contribuição interessante ao tentar discutir por 5ue3 dentre a5ueles
termos3 &oi 6ustamente a id(ia de desenvolvimento 5ue teve o maior apelo# eatamente no
nascimento das interpretaç;es racionais do mundo3 entre os gregos3 5ue uma certa id(ia de
evolução e desenvolvimento &oi sendo &ormada# )m Aristóteles3 esta gênese est= ligada 8
própria especulação sobre a nature7a do mundo# )m grego3 nature7a - ph2sis - deriva
etimologicamente do verbo phuo3 5ue signi&ica crescer3 se desenvolver# Dature7a (3 portanto3
segundo o &ilóso&o grego3 Ia geração de coisas 5ue se desenvolvemJ3 ( Ia essência das coisas
5ue têm3 elas mesmas3 um princ!pio de movimentoJ# A ciência3 em tais condiç;es3 poderia
ser de&inida como a teoria da Inature7aJ das coisas e3 pois3 de seu desenvolvimento# )
entender as coisas de maneira racional signi&icaria consider=-las segundo sua nature7a3 vale
di7er3 relativamente a seu desenvolvimento# Bucr(cio retomou a id(ia de geração e evolução3
em sua De natura rerum# Ali3 a nature7a ( concebida como a5uilo 5ue est= no princ!pio do
crescimento3 8 medida 5ue a palavra em latim natura3 deriva etimologicamente do verbo
nascor F nascer# ) no latim3 tanto desenvolvimento como evolução derivam
etimologicamente do verbo volvere3 cu6a tradução para o inglês se aproima do verbo to roll 3
como mostra ?odgson +10.# $ mesmo autor observa 5ue os verbos auiliares evolvere e
revolvere são mais epl!citos3 denotando respectivamente um movimento progressivo e um
movimento regressivo# Assim3 o termo evolução e seu par F desenvolvimento F surgem3
tamb(m no latim3 presos 8 id(ia de algo direcional3 de algo relativo a uma atividade em certa
medida com um sentido pr(-destinado# Se o mundo3 como disse Bucr(cio3 ainda estava em
sua 6uventude3 nada o impediria de encontrar sua maturidade e3 um dia3 seu decl!nio# Por(m3
como a met=&ora di7 respeito 8 nature7a das coisas3 2= ali uma id(ia c!clica3 &iel 8 nature7a
c!clica da nature7a% tudo o 5ue nasce3 cresce3 atinge maturidade3 declina e morre3 se &undindo
8 mat(ria original3 num perp(tuo recomeço +9ist3 /RR1.#
Começava ali3 com os &ilóso&os da Antigidade3 uma tradição 5ue3 no 5ue di7 respeito 8 id(ia
de desenvolvimento e evolução3 perdurou at( os &ins do s(culo ZZ# A tare&a de
sistemati7ação das grandes concepç;es do mundo e seu sentido sempre &oi uma tare&a dos
grupos intelectuais nas di&erentes sociedades atrav(s dos tempos3 se6a pelos intelectuais
leigos3 se6a pelos intelectuais religiosos3 mas sempre pelas camadas altamente
intelectuali7adas# $ 5ue vai mudar de uma etapa a outra da 2istória ( 6ustamente a posição0H
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social destes intelectuais# Como lembra Weber +1.3 8 medida 5ue a racionali7ação do
mundo avança3 gan2a peso o papel das grandes sistemati7aç;es do mundo e3 com isso3
crescem em peso e diversi&icação os constrangimentos sociais 5ue recaem sobre seus
portadores# Claro 5ue 6= entre os gregos3 por eemplo3 estava bem presente tal tipo de
condicionante F o &im de Sócrates3 um de seus mais bril2antes epoentes bem o demonstra#
@as com o passar do tempo3 o tipo de constrangimento muda3 e isto importa decisivamente
na de&inição do conte<do das id(ias# A ascensão do cristianismo como principal instituição do
mundo ocidental criou3 eatamente por isso3 uma nova situação# Da passagem da >dade
Antiga 8 >dade @(dia3 na virada do s(culo >* para o s(culo *3 Santo Agostin2o tentou
conciliar uma &iloso&ia da 2istória com a 2erança da tradição intelectual anterior 8 teologia
cristã3 o 5ue signi&icava ree5uacionar três problemas derivados da teoria aristot(lica e
mantidos nos &ilóso&os 5ue o seguiram# Primeiro3 o problema da intervenção divina3 pois3
en5uanto em Aristóteles importava a &orça silenciosa 5ue est= no princ!pio da nature7a e de
seu desenvolvimento3 no cristianismo ( atrav(s dos acidentes da 2istória 5ue a &orça de "eus
se mostra presente# Segundo3 o problema da espontaneidade dos &enOmenos naturais3 pois
para o cristianismo 2= algo supranatural 5ue se 6unta 8 nature7a e l2e 6usti&ica e d= sentido#
Terceiro3 o problema da mudança e do retorno3 6= 5ue para o cristianismo ( preciso 5ue 2a6a
um começo3 um meio e um &im3 onde o celestial representa o =pice e o ob6etivo# A solução
agostiniana consistiu em preservar os elementos constitutivos dos ciclos3 aplicando-l2es 8
totalidade da 2istória universal como mani&estação dos des!gnios de "eus# Saem os ciclos
sucessivos de ascensão3 apogeu e decl!nio3 de Aristóteles3 e entra em cena a id(ia de um
<nico ciclo# Tomava &orma a5ui a concepção3 ainda tão cara aos dias atuais3 da 2istória como
um movimento linear# @as esta não seria a <nica implicação da &iloso&ia de Santo Agostin2o
para a 2istória e a id(ia de desenvolvimento# $utros três aspectos derivam destas ade5uaç;es%
a 2istória passa a ser vista como algo 5ue envolve o con6unto do gênero 2umanoV os eventos
2istóricos não têm import4ncia senão no 5ue di7 respeito ao todo mais amplo em 5ue se
situam3 neste caso3 o plano de "eus# Apesar das aparências sinuosas a 2istória obedece a uma
necessidade3 novamente relativa ao plano divino +9ist3 /RR1.#
"ependendo do autor3 situa-se no s(culo Z> ou no s(culo Z* o per!odo 5ue ense6a o desgaste
mais acentuado das concepç;es de mundo compat!veis com a (poca medieval# @as ( somente
a partir dos meados do s(culo Z*>> 5ue vão se materiali7ar as maiores rupturas com esta
ordem de pensamento3 marcadamente com a ascensão do racionalismo# ) (3 &inalmente3 no0M
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s(culo seguinte 5ue ocorrem os grandes eventos 5ue vão solapar de ve7 os 5uadros de
re&erência do mundo medieval e impulsionar de maneira irrevers!vel o desli7amento das
eplicaç;es sobre a evolução do real% o dese6o e a possibilidade da mudança social3 5ue tem
por marco de&initivo a 9evolução ,rancesaV a crescente import4ncia dos mecanismos de
mercado repousando sobre o 6ogo de uma relativa livre concorrência3 alavancada pela 5ueda
progressiva das monar5uias europ(ias at( a &ormação dos grandes imp(rios modernosV o
progresso cient!&ico3 com todo o rol de descobertas3 inovaç;es t(cnicas e especiali7ação de
saberes caracter!sticos do per!odo inaugurado com o >luminismo# Desta transição de mais ou
menos cinco s(culos3 tornou-se poss!vel aos 2omens se permitir interrogar em dom!nios
crescentes da vida social a ordem imanente 8 mudança +)lias3 1MR11.# $s 2omens
começaram a compreender mais e mais mudanças na nature7a e na sociedade 5ue não podiam
ser eplicadas por causas imut=veis# A principal ruptura introdu7ida 8 esta (poca est= em 5ue
a eplicação da evolução do real passa a ser acess!vel por meio da an=lise e observação de
&enOmenos emp!ricos e não por derivação de sentidos etramundanos3 tal 5ual na &iloso&ia
agostiniana#
@as tamb(m 2ouve continuidades nas grandes tentativas de sistemati7ação da evolução e
mudança do mundo social 5ue se cristali7am3 sobretudo3 no s(culo Z>Z# A principal talve7
se6a o car=ter teleológico pronunciado de algumas teorias% de maneira compat!vel 8 &iloso&ia
agostiniana3 a sociedade en&rentaria um processo de evolução social mais ou menos
Iautom=ticoJ3 em direção a uma ordem social superior# Ao contr=rio do 5ue acabou por se
&irmar no senso comum3 nestas vertentes superior deve ser entendido como mais alto grau de
algum caractere emp!rico &undamental3 o 5ual varia segundo o sentido da evolução &ormulado
em cada autor ou teoria F a &ormação superior ( a mais complea em Spencer3 ( a 5ue
apresenta mais alto grau de progresso nas suas &orças produtivas em @ar3 assim como ser=
superior3 posteriormente3 em Weber3 a &ormação mais racionali7ada/H# Simultaneamente3 no
campo da biologia a id(ia de evolução tamb(m se &irmava 8 mesma (poca# Aplicada
sistematicamente por Albrec2t von ?aller no meio do s(culo Z*>>> ela só seria populari7ada
no s(culo Z>Z +?odgson3 10.#
/H Com a ressalva de 5ue3 em Weber3 superior não signi&ica necessariamente mel2or# Dão 2= d<vida de 5ue eleconsidera as sociedades mais racionali7adas &ormas superiores se comparadas 8s suas predecessoras3 8 medida 5ue se
desprendem de concepç;es m=gicas do mundo# Do entanto3 a &amosa met=&ora do &uturo como Igaiola de &erroJ d= aeata medida da contradição e do descon&orto 5ue tal tipo de evolução engendra para a condição 2umana#
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bom destacar3 no entanto3 5ue entre o evolucionismo social e o evolucionismo em biologia
2= muito mais dist4ncia do 5ue proimidade# >nicialmente a noção de evolução &ora
di&undida principalmente por Spencer3 e não por "arKin# )m Spencer3 como indicado acima3
evolução podia ser entendida como um movimento cu6o sentido estava ligado ao movimento
5ue vai do mais simples ao mais compleo3 como mostra sua classi&icação das sociedades# Da
obra do biólogo inglês3 di&erentemente3 evolução di7 respeito ao processo de diversi&icação3
epressa em sua obra na an=lise da origem e da seleção natural das esp(cies/M# Talve7 por isso
o próprio "arKin3 5ue acabaria sendo seu principal divulgador3 ten2a relutado tanto em
adotar a id(ia de evolução em seus escritos F ela só aparece na seta edição da .rigem das
espécies +?odgson3 10.#
Como &oi assinalado anteriormente3 no latim tanto desenvolvimento como evolução derivam
etimologicamente do verbo volvere3 e os verbos evolvere e revolvere apontam
respectivamente um movimento progressivo e um movimento regressivo# Com isso3 o termo
evolução e seu par F desenvolvimento F se &irmaram presos 8 id(ia de algo direcional3 de algo
relativo a uma atividade em boa medida pr(-destinada# Nuando o racionalismo e o
empirismo se tornam as &ormas de pensamento sistem=tico predominantes3 ocorre um
desli7amento sem4ntico com correspondências nos sistemas mentais de interpretação do real3
no 5ual as id(ias de evolução e desenvolvimento vão ser assimiladas 8 id(ia de progresso3
como bem destaca o cl=ssico estudo de Disbet +1E.% correspondia ao ide=rio inaugurado no
>luminismo3 e apro&undado com a 9evolução >ndustrial3 5ue a evolução se converteria
naturalmente em progresso3 alcançado pelo con2ecimento e dom!nio das &orças da nature7a#
A ascensão da id(ia de progresso marca uma transição% não se teve uma teoria do progresso3
mas a passagem da id(ia de evolução para a de progresso &oi uma esp(cie de ante-sala do
rapto da id(ia de desenvolvimento pela economia3 com a redução da evolução ao progresso e
deste ao crescimento# Dão ( gratuito3 tamb(m3 5ue a id(ia de progresso apareça na 2istória no
momento de constituição do campo cient!&ico3 en5uanto a id(ia de crescimento3 como se ver=3
corresponde ao seu auge3 não por acaso com uma ascensão crescente da economia no rol das
modernas disciplinas cient!&icas#
/M Uma epressão clara da con&usão 5ue se &a7 entre estas duas maneiras de conceber a evolução ( &acilmenteencontr=vel em muitos livros did=ticos ou mesmo cient!&icos# )m geral3 6unto de tetos sobre evolução ( comum2aver a cl=ssica ilustração 5ue mostra uma s(rie de desen2os3 dos primatas ao homo sapiens3 como se 2ouvesse umalinearidade nesta lin2agem# "i&erente disso3 a ilustração &eita por "arKin para eempli&icar sua teoria ( bem parecida
com o desen2o de uma rai7 de =rvore3 onde3 a partir de um ancestral comum3 estabelecem-se di&erentes lin2agens edireç;es da evolução#
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claro 5ue 2ouve ao longo de todo este per!odo eceç;es e nuanças nada despre7!veis# A
começar por @a5uiavel e seu realismo pol!tico em pleno 9enascimento# Posteriormente3 .
Discurso sobre a igualdade entre os homens3 de 9ousseau3 &oi escrito a partir de um edital da
Academia de "i6on3 5ue indagava se o progresso das artes e da ciência bene&iciava a
2umanidade% sua resposta3 al(m de bril2ante e engen2osa a ponto de se constituir num dos
mais belos e lidos tetos &ilosó&icos3 &oi3 no m!nimo3 bem cr!tica# ) mesmo no empirismo
brit4nico a apologia do progresso ( atenuada pela constatação de Adam Smit2 de 5ue o
mercado não &unciona de maneira tão e5u4nime 5uanto se poderia imaginar +nas negociaç;es
entre patr;es e empregados3 por eemplo.# )sta visão cr!tica do progresso est= presente nos
primeiros esboços das teorias socialistas e ( uma das bases do pensamento do próprio @ar3
embora ali3 como assinalado pouco acima3 ela se &unde dialeticamente a seu ob6eto
apresentando como s!ntese a superação pela suposta ordem socialista# $ coro dos dissonantes
não poderia estar completo sem uma menção 85uele 5ue levou este tipo de cr!tica e
descon&iança 8s raias do etremo em termos &ilosó&icos e 5ue3 não por acaso3 in&luenciaria
nomes do porte de Weber e ,reud% ,riedric2 Diet7sc2e#
A virada para o s(culo ZZ marcou o &im desta longa tra6etória em 5ue a id(ia de
desenvolvimento esteve predominantemente associada 8 id(ia de evolução# Para Dorbert
)lias +1MR11.3 a reação contra as teorias sociais da evolução tal2adas no s(culo Z>Z &oi
etraordinariamente violenta durante o s(culo ZZ por5ue os con2ecimentos relativos 8
evolução das sociedades sobre os 5uais a5ueles pensadores puderam se apoiar eram
ecessivamente limitados se comparados 85ueles dispon!veis no per!odo de consolidação dos
campos disciplinares espec!&icos das ciências sociais# ) seria 6ustamente por isso 5ue aos
primeiros &ora poss!vel divisar grandes lin2as de evolução das sociedades# A massa de
detal2es 5ue era preciso manipular para a elaboração de modelos globais ainda não ecedia
sua capacidade de apreensão% como di7 )lias +1MR11% 1.3 Ieles viam melhor a floresta
porque não distinguiam as 'rvores< quanto a nós, as 'rvores nos escondem a florestaJ#
eatamente este paradoo 5ue eplica a nova ruptura 5ue teve lugar no s(culo ZZ# "e um
lado3 a mistura de ideal social e realidade contida nos modelos de evolução social elaborados
no s(culo Z>Z teria sido respons=vel por boa parte do desinteresse dos sociólogos do s(culo
ZZ a estas teorias# "e outro3 ainda segundo )lias3 parece ser 6ustamente a rendição
inconsciente de muitos cientistas sociais contempor4neos aos seus ideais sociais o 5ueR
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con&ere 8s sociedades atuais uma superioridade em relação a suas antecessoras3 levando
assim a um abandono dos problemas relativos 8s din4micas de longo pra7o em bene&!cio de
problemas espec!&icos e tidos como de maior urgência e atualidade#
5353+ ' da e)o#ução ao resimen"o
Apesar das rupturas destacadas3 não seria correto di7er 5ue ao longo de todo o s(culo ZZ a
id(ia de evolução esteve completamente dissociada da id(ia de desenvolvimento# A virada do
s(culo Z>Z para o s(culo ZZ ( palco de uma crescente institucionali7ação do campo
cient!&ico e de muitas de suas disciplinas Da sociologia3 institucionali7ava-se o pensamento
marista3 desde seu in!cio premido entre a cienti&ici7ação e a pol!tica% surge nesse per!odo .
desenvolvimento do capitalismo na R=ssia3 de Bênin# Ao mesmo tempo3 estabeleciam-se
perspectivas concorrentes de eplicação3 marcadamente a sociologia &uncionalista de
"urL2eim e a sociologia compreensiva de Weber# Duma certa vertente marista3 a id(ia de
desenvolvimento associada 8 evolução permaneceu presente3 sobretudo na5ueles 5ue
e&etivamente lançaram mão da concepção de 2istória em @ar ao se empen2ar em analisar o
movimento do real como resultante da evolução de con&litos estruturados em torno da luta de
classes e seus correspondentes# Da vertente Keberiana o componente evolucion=rio ( ainda
mais &orte3 mas ( esta mesma corrente a 5ue menos in&luência eerceu sobre a epansão da
sociologia at( o <ltimo 5uarto do s(culo 5uando 2= uma clara in&leão# Da economia o
embate se estruturou opondo a5ueles 5ue deram corpo ao 5ue &icou con2ecido como
paradigma neocl=ssico em economia3 epresso nos nomes de 'evons3 @enger e Walras3 e
a5ueles 5ue destacaram o peso das instituiç;es na determinação da din4mica econOmica3
como *eblen# )ste <ltimo3 ali=s3 &oi 6ustamente a5uele 5ue nas ciências sociais c2egou mais
perto da analogia com a evolução por seleção natural tal como eplicada na biologia# )m
*eblen3 o 5ue ( imanente 8 estrutura e 8 mudança nas economias são as instituiç;es3 e
eplic=-las signi&ica entender por5ue umas se adaptam atrav(s do tempo e outras sucumbem#
Como se sabe3 o pensamento neocl=ssico obteve uma &ragorosa vitória ante os primeiros
institucionalistas3 algo 5ue só começou a ser abalado tamb(m no <ltimo 5uarto do s(culo3
com a Dova )conomia >nstitucional# "e resto3 cumpre assinalar ainda 5ue em outros autores
uma certa id(ia de evolução continuou presente - para citar apenas alguns3 em Sc2umpetter e
?a:eL3 como mostra a taonomia de ?odgson +10. -3 mas a! este componente de evolução
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6= aparece subordinado a outros elementos dos 5uadros conceituais de cada um destes
autores#
Tanto na sociologia como na economia3 prevaleceram durante boa parte do s(culo ZZ as
teorias 5ue se sustentavam em alguma &orma de e5uil!brio3 ou 5ue permitiam algum grau de
previsibilidade# Da sociologia3 como se sabe3 2ouve uma polari7ação entre maristas e
&uncionalistas% nos primeiros3 apesar de 2aver uma determinação da 2istória pelo con&lito e a
luta de classes3 2= um momento de e5uil!brio em 5ue os antagonismos se diluemV e no
segundo grupo3 a id(ia de e5uil!brio ( simplesmente central3 como bem o demonstram certas
categorias centrais deste pensamento como &unção e anomalia# Do caso da economia3 por sua
ve73 a supremacia dos neocl=ssicos sobre os vel2os institucionalistas signi&icou a vitória de
uma concepção em 5ue a 2istória perde poder eplicativo e cede terreno para uma
modeli7ação teórica &undada numa abstração das interaç;es sociais dos processos de troca3
cu6as bases são o individualismo e a presunção do comportamento maimi7ador do 2omem e
seus desdobramentos para a constituição da c2amada racionalidade econOmica# Tanto em
sociologia como em economia3 portanto3 no decorrer do <ltimo s(culo a 2istória3 mesmo
5uando se manteve presente3 cedeu lugar a modelos 5ue de uma ou outra &orma se apoiaram
em met=&oras de mec4nica social3 negando as met=&oras biológicas# )3 não obstante3 5uase
sem eceção3 os grandes autores das ciências sociais do s(culo ZZ F mesmo os classi&icados
como evolucionistas3 como Sc2umpetter3 cu6a obra . desenvolvimento econ>mico tamb(m
data do in!cio do s(culo -3 sempre 5ue puderam &i7eram 5uestão de demarcar os perigos da
met=&ora biológica +?odgson3 10.+@#
)ste movimento nos 5uadros teóricos e as correspondências 5ue se pode notar em disciplinas
como a sociologia e a economia não podem ser atribu!das somente a desenvolvimentos
conceituais# Se o distanciamento da biologia precisa ser entendido como parte das estrat(gias
de a&irmação de competências espec!&icas de cada sub-campo disciplinar3 ( preciso agregar a
/ >sto talve7 se epli5ue pelo &ato de 5ue tais autores recon2eciam 5ue 2= um primado ontológico nas ciências2umanas 5ue as di&erencia das ciências da nature7a# Algo 5ue pode ser claramente percebido na maneira como ocorrea mudança evolutiva% en5uanto no mundo natural ela só acontece muito lentamente3 atrav(s da seleção das esp(cies3no mundo social elas podem ocorrer no intervalo de uma <nica geração3 pela &aculdade do aprendi7ado e da ra7ão# Da biologia3 ao contr=rio3 a id(ia de evolução reinou com prima7ia durante todo o s(culo ZZ3 com o rec(m &alecido )rnst@a:r como grande epoente e com as principais disputas se dando entre os evolucionistas3 e não entre esta corrente eoutras# Uma eceção no uso da met=&ora biológica em ciências sociais ( mile "urL2eim3 mas tamb(m em seu pensamento 2= todo um cuidado em delimitar a &ronteira 5ue distingue este dom!nio dos &atos sociais# Do sociólogo
&rancês3 como &oi dito3 a 2istória não tem peso eplicativo3 di&erente da lógica &uncionalista3 epressa principalmenteem termos de mec4nica e organicidade#
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isso a compreensão de 5ue o tipo de constrangimento eterno 5ue passou a pesar sobre estes
sub-campos disciplinares tamb(m muda no per!odo em 5uestão# $ campo cient!&ico e o
campo econOmico3 6unto com o campo pol!tico3 ad5uirem prevalência crescente sobre as
demais es&eras% o enorme progresso econOmico desencadeado com os processos associados 8
9evolução >ndustrial e a epansão 5ue ela gerou criaram as condiç;es para 5ue se legitimasse
a retórica 5ue &a7 repousar nesta dimensão do real3 a economia3 o mais alto grau de
determinação sobre as demais# Se o 5ue determina ( o econOmico3 e o 5ue eplica o
econOmico ( o cient!&ico3 então a eplicação cient!&ica dos &enOmenos econOmicos só poderia
ad5uirir prevalência# Cria-se com isso uma 2omologia estrutural3 no sentido dado por
ourdieu3 entre a disciplina economia e o lugar da economia na sociedade# "esde então as
interdependências entre estes dois campos F a economia e as ciências econOmicas -3 e entre
estes dois campos e a pol!tica vão se tornar mais e mais estreitas+9# Assim ( 5ue Bord e:nes
al(m de ser associado 8 intelectualidade e 8 classe art!stica inglesa de sua (poca circulava
tamb(m entre a nobre7a e &ora por ela c2amado a colaborar na construção do sistema
&inanceiro mundial pós-guerra# "a mesma &orma3 &oi sob o patroc!nio da coroa inglesa 5ue se
&ormou o thin: than: 5ue reuniu nomes 5ue viriam a se tornar in&luentes pensadores em
ciências econOmicas e 5ue deu origem 8 economia do desenvolvimento em suas di&erentes
vertentes# oa parte destes mesmos pensadores viria a colaborar com as pol!ticas e
orientaç;es de órgãos internacionais# Sem &alar no crescente &luo de 5uadros intelectuais das
escolas de economia 8 burocracia estatal e em seu posterior retorno3 sempre realimentando as
interdependências entre os três campos# $l2ando sob este 4ngulo &ica mais &=cil entender por
5ue tipo de constrangimento social as id(ias baseadas nas din4micas de longo pra7o cedem
espaço para outras3 onde impera um mais alto grau de aplicabilidade interventiva de seus
resultados anal!ticos3 de seu poder normativo3 en&im#
Dos pa!ses da peri&eria do capitalismo o mesmo movimento social e cient!&ico ocorreu# Se6a
pela in&luência dos organismos internacionais F basta lembrar o papel de absoluto relevo da
Comissão )conOmica para a Am(rica Batina +Cepal. -3 se6a pela grande circulação das elites
desta peri&eria3 &avorecendo sempre uma absorção e um certo alin2amento r=pido 8s teorias
em voga3 o &ato ( 5ue tamb(m no c2amado ITerceiro @undoJ as interdependências entre os
campos pol!tico3 econOmico e cient!&ico &oram bastante estreitas# evidente 5ue uma vertente
/
Uma relação muito bem retratada e analisada por ,r(d(ric Bebaron +/RRR. para o caso &rancês3 e por Boureiro+1E. e Paulani +/RRE.3 para o caso brasileiro#
0
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5ue tem epoentes como $sKaldo SunLel3 9aul Prebisc23 ,ernando ?enri5ue Cardoso3 9u:
@auro @arini3 para &icar restrito a alguns nomes3 representa um cap!tulo 8 parte# Ainda mais
5uando se relembra 5ue alguns destes autores &alavam de maneira n!tida sobre o papel das
instituiç;es e da 2istória# @as mesmo entre este grupo3 o &ato ( 5ue as perspectivas do
desenvolvimento sempre se &i7eram presentes como sinOnimo de crescimento econOmico6,%
tanto entre os c2amados IdependentistasJ3 em suas di&erentes lin2agens3 como na obra de
autores como Celso ,urtado# Do primeiro caso3 em 5ue pese a eistência de eplicaç;es
dissonantes3 um ponto central est= na id(ia de 5ue a posição da peri&eria não seria uma mera
5uestão de est=gio a ser superado3 mas de um tipo espec!&ico de inserção% em ve7 da 2istória
como determinante3 uma certa mec4nica das trocas con&lituosas# Do segundo caso não se
pode di7er 5ue a 2istória est= ausenteV ao contr=rio3 trata-se 6ustamente de uma an=lise de
2istória econOmica onde o crescimento pode assumir di&erentes estilos a depender do tipo de
e5uacionamento das vari=veis pol!tico-sociais3 mas ainda a!3 e este ( o desta5ue 5ue se
pretende realçar neste momento3 o vetor ( o crescimento econOmico65#
)sta prevalência do crescimento como sinOnimo de desenvolvimento3 contudo3 durou
relativamente pouco 5uando tomada na perspectiva a5ui adotada3 de uma pe5uena 2istória da
longa duração do conceito# Ao di7ê-lo3 não se est= nem de longe a&irmando 5ue a assimilação
entre crescimento e desenvolvimento ten2a acabado% uma simples ol2ada pelos 6ornais nos
dias atuais revela 5ue esta associação ( a corrente no senso comum# ) mesmo nos meios
cient!&icos não ( preciso muito es&orço para encontrar con&irmaç;es# "ois dos mais
importantes manuais de economia dispensam ao tema tratamento similar# @anLiK +/RR1.
simplesmente retirou de seu manual a epressão desenvolvimento3 por considerar 5ue3 como
se trata eatamente da mesma coisa 5ue crescimento3 ( mel2or adotar este ItermoJ para ir
direto ao n<cleo da id(ia% em resumo3 desenvolvimento é crescimento# )m 'ones +/RRR.3
crescimento ( considerado não só o principal meio3 mas a principal indicação de
desenvolvimento3 pois ( onde 2= dinamismo econOmico prolongado 5ue se encontram
tamb(m os mel2ores indicadores sociais e de 5ualidade de vida% em resumo3 desenvolvimento
( tratado como crescimento#
0R $ &ato de se destacar a5ui o vi(s econOmico não signi&ica3 contudo3 o monopólio eclusivo da economia sobre a5uestão# Cardoso +1E. elenca uma s(rie de epoentes do debate para concluir 5ue se tratava3 predominantemente desociólogos#01 Do mesmo teto citado na nota anterior3 Cardoso considera 5ue nos anos MR a concepção de ,urtado se desloca deuma abordagem em 5ue o desenvolvimento ( um processo ob6etivo3 eplic=vel por leis econOmicas e 2istóricas3 para
uma concepção em 5ue desenvolvimento ( um mito3 um valor3 uma id(ia-&orça3 residindo nisso mesmo sua &orça%reunir e orientar as energias 2umanas e seus recursos em uma determinada direção# *er tamb(m Cardoso +1R.#
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Por(m3 mesmo nestes meios mais a&eitos 8s lides com a id(ia de desenvolvimento3 como a
academia3 esta assimilação 6= deiou de ser natural e intoc=vel# Se durante a I)ra de $uroJ
do capitalismo mundial não era poss!vel &a7er uma distinção entre desenvolvimento e
crescimento3 aos poucos &oi &icando cada ve7 mais claro 5ue o crescimento econOmico pode
não só não contribuir para 5ue o con6unto da sociedade alcance uma situação de bem-estar3
como pode igualmente contribuir para 5ue aumente a desigualdade entre ricos e pobres3
gerando s(rios problemas de coesão social# )ste tipo de &issura no poder de persuasão da
id(ia de crescimento como sinOnimo de desenvolvimento pode ser sentido tamb(m em v=rias
situaç;es% nos resultados pouco alentadores dos investimentos reali7ados em pa!ses
peri&(ricos3 em sensaç;es de descon&orto de di&erentes tipos vividas por parcelas
signi&icativas de pessoas dos pa!ses desenvolvidos3 na consciência de 5ue di&erentes estilos de
vida podem comportar di&erentes padr;es de satis&ação de necessidades materiais3 ou ainda
na descoberta cient!&ica mesmo de 5ue em determinadas situaç;es o crescimento econOmico
pode não ser o impulsionador3 mas sim o resultado de determinado tipo de intervenção social#
)sta erosão da coesão entre crescimento e desenvolvimento ( uma das epress;es da perda do
poder de persuasão de outra das id(ias correlatas e 5ue l2e serviu de corol=rio% a id(ia de
progresso6+#
$ &im da id(ia de progresso +Disbet3 1E. ( o crep<sculo desta associação entre mel2oria da
condição 2umana mediante um movimento natural de epansão de suas possibilidades
materiais e3 por decorrência3 &!sicas e culturais# '= a id(ia de desenvolvimento parece estar
tendo outro destino% ela passa a so&rer uma tentativa de disputa social pelas suas signi&icaç;es
poss!veis3 em ve7 de simplesmente morrer ou perder por completo seu apelo cient!&ico3
pol!tico ou utópico#
Uma das epress;es organi7adas dessa insatis&ação crescente com os rumos do debate sobre
desenvolvimento pode ser encontrada no movimento ambientalista internacional 5ue toma
corpo nesse per!odo3 na virada dos anos HR para os anos MR3 e vem se tornando cada ve7 mais
robusto desde então# $utra pode ser encontrada em teorias cient!&icas destoantes do c2amado
0/ )m *eiga +/RRE. 2= uma comparação sobre o desempen2o dos pa!ses do capitalismo avançado no [ndice de"esenvolvimento ?umano e no [ndice de Sustentabilidade Ambiental produ7ido pelas Universidades Columbia
e \ale# Ali &ica muito claro como3 em muitos casos3 ri5ue7a e bons indicadores sociais andam bem distantes de preocupaç;es com a nature7a e es&orços em conservação ambiental#E
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mainstream# )m ambas a nova retórica de 5ue as duas vertentes são portadoras se constitui a
partir da cr!tica social3 a partir de uma certa crise do poder eplicativo da id(ia tradicional de
desenvolvimento# Uma crise 5ue vai desembocar em di&erentes desaguadouros% numa
eplosão de ad6etivaç;es +desenvolvimento includente3 desenvolvimento social3
desenvolvimento local3 para &icar apenas em alguns poucos eemplos.3 numa conse5ente
banali7ação dos signi&icados da id(ia e3 como não poderia deiar de ser3 numa tentativa de
reconceituação cient!&ica dos processos de desenvolvimento#
53536 ' rise/ :o#issemia/ !ana#i?ação333 iênia
)mbora o marco ineg=vel de contestação dos rumos do progresso do $cidente se locali7e nos
meados dos anos HR3 tendo talve7 como =pice o @aio de H &rancês3 desde bem antes se pode
encontrar obras importantes de 5uestionamento# Dos )UA3 por eemplo3 nos anos 0R a obra
de Upton Sinclair F 1he ?ungle - 6= &a7ia uma pro&unda cr!tica das condiç;es de trabal2o e
sa<de dos alimentos# Seus impactos guardam relação com a criação da ,"A + @ood and Drug
Administration.3 anos mais tarde# "a mesma &orma o livro de 9ac2el Carson F -rimavera
silenciosa -3 de 1H3 teve um enorme impacto e contribuiu decisivamente para a criação da
)PA + Environmental -rotection Agenc2.# Destas e em tantas outras obras3 estava em 5uestão
não só o sentido assumido pelo progresso ocidental3 mas a ideologia mesmo do progresso e3
pois3 do desenvolvimento# Desta passagem dos anos HR para os anos MR &oram in<meros os
movimentos de cr!tica social 5ue se materiali7aram em eventos3 organi7ação de grupos
militantes3 em todo um caldo de cultura3 en&im3 onde o mito do progresso estava em causa#
'unto com esta crescente contestação social3 e &ortemente tribut=ria dos elementos de cr!tica
de obras como as acima citadas3 um esboço de resposta sistem=tica aparece na Con&erência
de )stocolmo sobre meio-ambiente3 em 1M/# A noção de ecodesenvolvimento +Sac2s3 1E.
5ue dali emergiu sinali7ava diretamente a necessidade de se instituir um outro padrão de
relação entre a sociedade e a nature7a3 onde a degradação crescente desse lugar a pr=ticas
&undadas num mel2or aproveitamento dos recursos naturais# Uma d(cada e meia mais tarde a
noção de ecodesenvolvimento viria a ser praticamente substitu!da pela id(ia mais gen(rica3 e
em parte por isso mesmo mais aceita3 do desenvolvimento sustent=vel3 5ue &icou consagrada
pela Comissão rundtland +1M.3 segundo a 5ual o desenvolvimento 5ue se pretendia era
a5uele capa7 de preservar os recursos necess=rios 8s geraç;es vindouras#H
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A gradativa substituição da de&inição IecodesenvolvimentoJ por Idesenvolvimento
sustent=velJ nos documentos o&iciais de organismos multilaterais e em parte do movimento
ambientalista pode ser vista não somente como a troca de uma epressão por outra3 mas como
uma ade5uação de sentido ao paradigma dominante de organi7ação das id(ias sobre
desenvolvimento# >sto (3 tanta import4ncia 5uanto a Con&erência de )stocolmo para as id(ias
sobre desenvolvimento e meio-ambiente teve o relatório do Clube de 9oma3 da mesma (poca3
5ue apontava a escasse7 eminente de uma s(rie de bens naturais# Ao optar pela de&inição
Idesenvolvimento sustent=velJ3 tal como epressa no 9elatório rundtland3 escol2ia-se uma
conceituação 5ue3 em primeiro lugar3 não sinali7ava a necessidade de se instituir um outro
padrão3 um outro estiloV em segundo lugar3 esta opção era totalmente compat!vel com a
tentativa de resposta ao alerta levantado pela cr!tica ambiental apoiada no paradigma da
escasse7# Da Con&erência do 9io de 'aneiro3 em 1/3 este movimento teve seu =pice3 mas
desde então tem patinado nas tentativas de implementação de acordos e na sua materiali7ação
na tentativa de levar adiante uma agenda de proposiç;es para o s(culo ZZ> capa7 de cobrir a
atuação de orgãos internacionais e de governos nacionais00#
Um segundo desdobramento surgiu tamb(m sob os impactos de toda a cr!tica social aos
rumos do desenvolvimento3 tendo agora por &oco a &ormulação de novas medidas e novas
orientaç;es capa7es de &a7er &rente 8 desigualdade e 8 pobre7a# $ principal resultado deste
es&orço em ampliar o &oco do debate sobre desenvolvimento3 para al(m do crescimento
econOmico3 &oi a adoção3 pelas Daç;es Unidas3 da noção de desenvolvimento 2umano3 5ue
gan2ou epressão mundial atrav(s do >"? - [ndice de "esenvolvimento ?umano# )mbora
se6a comum associar o >"? ao nome do economista indiano Amart:a Sen3 seu principal
&ormulador &oi o pa5uistanês @a2bub Ul ?a5# )m teto publicado no 9elatório de
"esenvolvimento ?umano de 13 Sen &a7 uma 2omenagem ao colega pa5uistanês pelo seu
êito em lograr construir um indicador sint(tico 5ue cobre m<ltiplas dimens;es da vida
econOmica e social de uma população e 5ue conseguiu se impor como uma alternativa ao P>
como elemento mensurador do desenvolvimento3 esta a principal ambição de Ul ?a5# @as
pontua no mesmo teto seu ceticismo 5uanto 8 possibilidade de 5ue um !ndice sint(tico possa
de &ato epressar substantivamente o desenvolvimento de uma dada sociedade3 6ustamente
00 Um caso 5ue tem sido saudado como eceção3 o Protocolo de :oto3 ainda apresenta contornos e resultados
previstos muito polêmicos para uma sentença mais segura ou de&initiva# Para uma discussão mais apro&undada doestado atual do tema3 consultar *eiga +/RRE.#
M
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pela intrincada relação entre suas di&erentes dimens;es e pelo peso distinto 5ue cada uma
delas guarda em di&erentes culturas#
Assim como no caso do movimento 5ue envolveu a &ormulação da epressão
Idesenvolvimento sustent=velJ3 tamb(m na vertente do Idesenvolvimento 2umanoJ o aspecto
de cr!tica aos rumos do progresso teve mais alcance do 5ue as iniciativas voltadas para a
&ormulação de agendas positivas abrangentes# @ais 5ue isso3 muito pouco 2= de di=logo entre
as duas vertentes3 tanto em termos institucionais F o 5ue se epressa nas estrat(gias
di&erenciadas de organismos internacionais como o Programa das Daç;es Unidas para o
"esenvolvimento e o Programa das Daç;es Unidas para o @eio-Ambiente -3 5uanto em
termos cient!&icos - nada 2= nos documentos da Comissão rundtland sobre as 5uest;es
sociais3 assim como nada 2= em Amart:a Sen sobre a dimensão ambiental6;# Ainda assim3 em
boa medida graças ao campo aberto por estas duas &ormulaç;es3 2ouve um deslocamento do
campo gravitacional no le5ue de preocupaç;es 5ue perpassa a de&inição de pol!ticas e
instrumentos de desenvolvimento3 de &orma 5ue3 se não 2= consenso sobre as estrat(gias de
conservação ambiental ou de diminuição da desigualdade e da pobre7a3 tampouco ( poss!vel
engendrar 5ual5uer iniciativa sem ter estes elementos em conta#
Por certo as id(ias de Idesenvolvimento sustent=velJ e Idesenvolvimento 2umanoJ não
esgotam as elaboraç;es 5ue se seguiram 8 associação entre crescimento3 desenvolvimento3
progresso# )ntre as demais teorias e discursos um <ltimo campo de posiç;es3 ao mesmo
tempo pol!ticas e cient!&icas3 precisa ser lembrado% o dos c2amados pós-desenvolvimentistas#
Para este grupo o desenvolvimento não passa de uma invenção do mundo ocidental para
dirigir as epectativas e os rumos das sociedades mais pobres# nesse sentido 5ue um de
seus maiores epoentes3 Gilbert 9ist +/RR1. o de&ine como uma Icrença ocidentalJ3 e 5ue
9a2nema +1M. &ala em Iilusão do mundo modernoJ6>#
@as ( importante distinguir a crença de 9ist do mito de ,urtado +1M.3 ou a ilusão de
9a2nema do uso da mesma palavra em Giovanni Arrig2i +1M.# )n5uanto para 9ist a crença
( algo desprovido de positividade3 mero engano dirigido por um discurso emitido de uma
posição dominante3 em ,urtado o mito ( tratado como algo bem mais so&isticado3 compat!vel
0 verdade 5ue Amart:a Sen publicou em /RR/ um artigo devotado 8 5uestão ambiental e o &uturo da 2umanidade#
@as não se pode3 nem de longe3 vislumbrar 5ual5uer incorporação desta dimensão ou vari=vel a seu es5uema teórico#0E $utro nome importante entre os pós-desenvolvimentistas ( Wol&gang Sac2s +/RRR.#
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com a tradição das ciências sociais de buscar nele o conte<do sistemati7ador de uma
concepção de mundo3 de um todo coeso de valores 5ue orientam o comportamento e a ação#
)n5uanto em 9a2nema a ilusão ( igualmente desvio do real3 em Arrig2i ela ( a promessa 5ue
só pode ser alcançada por uns poucos3 os 5ue conseguem cru7ar o &osso 5ue separa o centro
da peri&eria% não ( realidade sem lugar3 ( lugar e realidade para poucos6-#
$ principal limite do discurso pós-desenvolvimentista est= no &ato de 5ue ele pode at(
&uncionar como um ra7o=vel elemento de cr!tica social ao papel das naç;es do n<cleo central
do capitalismo na disseminação de uma certa visão de como alcançar a mel2oria das
condiç;es econOmicas e sociais3 mas nada di7 sobre processos de desenvolvimento como
resultado da evolução 2istórica de longo pra7o# Como decorrência3 esta perspectiva
simplesmente não se aplica aos per!odos anteriores ao dom!nio dos grandes pa!ses capitalistas
do mundo moderno#
$ 5ue se tem3 portanto3 ( uma multiplicidade de &ormulaç;es teóricas3 umas mais3 outras
menos consistentes3 tentando ora evidenciar aspectos secundari7ados nos processos e nas
teorias do desenvolvimento3 ora enaltecer determinados n!veis de an=lise antes despre7ados#
"i&erente da5uilo 5ue ocorreu no Pós-guerra3 o &inal do s(culo ZZ assistiu a uma eplosão de
signi&icaç;es sobre a id(ia de desenvolvimento3 onde 8 crise e 8 cr!tica social 5ue se &i7eram
em torno dela3 se seguiram tanto uma enorme polissemia3 5uanto tentativas de
reconceituação# $ 5ue marca esse novo momento são dois aspectos% a id(ia de
desenvolvimento perde a adesão total e natural 8 id(ia de crescimento3 e mudam os
portadores sociais das id(ias sobre o desenvolvimento# )la deia de ser um monopólio da
ciência e vai passar a &re5entar os discursos de militantes de movimentos sociais3 de
organi7aç;es não governamentais3 de grupamentos pol!ticos diversos#
)mbora coeistam nos tempos atuais a cr!tica social3 a polissemia3 a eplicação cient!&ica3
não 2= d<vida de 5ue são as perspectivas da cr!tica social e da ciência 5ue travam o maior
combate pois se polari7am3 en5uanto os polissêmicos bóiam ao sabor das cr!ticas e das
evidências alcançadas pelos outros dois pólos% para uns3 o est=gio atual da 2umanidade
demonstra 5ue evolução3 progresso e desenvolvimento são v=rias de&iniç;es do mesmo mito
0H
A obra de Arrig2i3 lançada no rasil como A ilusão do desenvolvimento3 tem um t!tulo bem di&erente no originalinglês% or:ers of the 9orld at centur2;s end"
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e apontam seus e&eitos delet(rios para as populaç;es do ITerceiro @undoJV para outros3 trata-
se de encontrar as determinaç;es capa7es de eplicar como as sociedades se desenvolvem e3
ao entendê-lo3 pensar os camin2os para 5ue elas o &açam de maneira a e5uacionar os
elementos levantados pela cr!tica social#
Nuais são as principais conclus;es 5ue esta breve gênese da id(ia de desenvolvimento
permite &ormular Q "e uma maneira tópica3 pode-se sistemati7ar em algumas a&irmaç;es as
principais implicaç;es lógicas e teóricas# Primeiro3 deve ter &icado claro 5ue apesar dos
problemas relacionados aos rumos tomados pela id(ia de desenvolvimento3 sobretudo no
per!odo =ureo do capitalismo no meio do s(culo passado3 não ( poss!vel prescindir da
necessidade de se pensar a evolução das sociedades 2umanas# A dissociação entre
desenvolvimento e evolução (3 como &oi visto3 algo 5ue corresponde a um 2iato na longa
tra6etória da id(ia# Desse sentido3 abrem-se duas constataç;es importantes% desenvolvimento
precisa ser compreendido não só como est=gios ou etapas alcançados ou alcanç=veis pelas
sociedades 2umanas3 mas como o processo mesmo pelo 5ual essa evolução se &a7V al(m
disso3 essa evolução ( algo 5ue remete sempre a uma tra6etória de longa duração# Como disse
)lias +1MR11% 1.3 o abandono dos problemas relativos 8s din4micas de longo pra7o em
bene&!cio de problemas espec!&icos e tidos como mais atuais &oi resultado de
constrangimentos bem espec!&icos e t!picos do s(culo ZZ3 como resultado I on reBeta le bon
grain avec lCivraieJ# Talve7 a principal constatação se6a3 pois3 a necessidade de restabelecer
os elos com esta tradição3 rompidos desde os cl=ssicos# Segundo3 deve ter &icado claro
tamb(m 5ue nesta evolução contam di&erentes dimens;es% a dimensão do crescimento
econOmico3 a dimensão das 5uest;es sociais3 a dimensão ambiental3 para &icar apenas nas três
mais evidentes e mais en&ati7adas# )studos recentes têm procurado mapear a evolução de
indicadores relativos a cada uma delas3 e neste trabal2o mesmo serão discutidas pes5uisas e
estudos onde este tipo de realidade ( o ob6eto em 5uestão# @as o 5ue eplica sua ocorrência Q
Para compreender a evolução e desenvolvimento das sociedades 2umanas ( preciso
compreender seus mecanismos de estabilidade e mudança e como estas di&erentes dimens;es
interagem# por isso 5ue3 uma ve7 elucidados alguns aspectos &undamentais relativos 8
tra6etória da id(ia de desenvolvimento e3 principalmente3 uma ve7 evidenciadas as inst4ncias
emp!ricas &undamentais 5ue precisam ser e5uacionadas por teorias 5ue se pretendam
elucidativas sobre estes processos3 pode-se agora analisar especi&icamente as principais
vertentes teóricas dedicadas a tais 5uest;es#ER
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53+ 4 &ua# "eoria
Se as bases cient!&icas do desenvolvimento precisam dar conta da eplicação dos &enOmenos
relativos 8 evolução de longo pra7o das sociedades 2umanas3 da estrutura e da mudança
nestas sociedades3 e se esta evolução comporta uma multiplicidade de dimens;es3 então
obviamente o balanço das teorias dispon!veis precisa se apoiar 6ustamente sobre a capacidade
das teorias em dar conta destes caracteres &undamentais# Como se sabe3 todavia3 a
especiali7ação dos campos disciplinares &e7 com 5ue3 para cada uma das dimens;es
destacadas F a dimensão do crescimento econOmico3 a dimensão social3 a dimensão ambiental
F3 se &ormassem corpos teóricos espec!&icos3 com pouco ou nen2um di=logo entre si# )m &ace
desta dupla constatação F as dimens;es &undamentais a serem e5uacionadas e a ausência de
teorias 5ue tentem abrangê-las em seu con6unto F o percurso a ser seguido nas próimas
p=ginas consiste em tomar separadamente teorias dedicadas a cada uma delas# Serão
apresentadas e analisadas algumas obras eemplares em cada uma# >nteressa a5ui3
particularmente3 destacar o problema da mudança nas din4micas de longo pra7o e o potencial
de di=logo e complementaridade entre as teorias espec!&icas de cada uma das três dimens;es#
53+35 ' Desen)o#)imen"o e resimen"o eonmio
Um bom ponto-de-partida para o debate teórico sobre desenvolvimento e crescimento
econOmico ( o apan2ado das teorias consagradas 8 eplicação da mudança de longo pra7o em
economia3 &ormulada por Anderson +11.# )stão ali condensadas seis vertentes eplicativas
do crescimento econOmico# Curiosamente o autor adverte logo na introdução 5ue dentre estas
seis correntes estão eclu!das a teoria marista e a Keberiana3 segundo ele por 6= terem sido
su&icientemente eploradas em outros trabal2os# A ausência de um debate mais sistem=tico3
principalmente com a segunda destas vertentes3 se mostrar=3 ali=s3 uma importante lacuna a
ser preenc2ida#
A primeira das perspectivas tomadas por Anderson ( a5uela 5ue identi&ica nos mercados o
elemento-c2ave no estabelecimento das din4micas de longo-pra7o3 como nos estudos de
Smit2 e ?icLs# @esmo recon2ecendo seu vigor3 o autor destaca com mais ên&ase seus limites3
marcadamente o &ato de ser uma teoria capa7 de iluminar apenas um momento 2istóricoE1
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espec!&ico3 a5uele em 5ue a livre-troca passa a ser predominante3 sendo incapa73 portanto3 de
eplicar o &enOmeno do crescimento pr(-moderno3 igualmente importante# >sto (3 o modelo só
cabe para a an=lise de mercados per&eitos3 os &atores 2istóricos simplesmente não pesam na
an=lise# A segunda vertente eplicativa re<ne os estudos em 5ue a população ( a vari=vel
c2ave3 e 5ue têm como principais epoentes3 em correntes distintas3 @alt2us e )ster oserup#
)m ambos o ponto &orte da eplicação est= no tratamento da vari=vel populacional3 a 5ual
permite eplicar tanto din4micas recentes como o passado remoto# )m @alt2us3
especi&icamente3 sua teoria ( constru!da totalmente em cima da pressão populacional sobre
recursos limitados# Al(m do problema do pessimismo in e3tremis embutido na sua teoria3
outra restrição 5ue a&eta seu alcance eplicativo ( a ausência de evidências 5ue con&irmem
suas previs;es# $ argumento central de oserup ( simplesmente o inverso% 5uando 2= pressão
demogr=&ica 2= uma igual pressão pela introdução de inovaç;es3 &a7endo crescer assim a
produção de alimentos e permitindo a epansão da população# )m oserup o problema (
6ustamente a ausência de uma eplicação para as ra7;es 5ue permitam eplicar o crescimento
populacional 5ue est= na origem da mudança tecnológica capa7 de sustentar sua epansão3
recaindo em uma eplicação tautológica# Uma terceira vertente eplorada por Anderson (
a5uela 5ue destaca a tecnologia como vari=vel &undamental3 e 5ue tem como um de seus
grandes epoentes o nome de Sc2umpetter# $ ponto &orte das eplicaç;es apoiadas em
tecnologia reside em 5ue3 nelas3 se recon2ece 5ue a capacidade de criar e operar arte&atos
tecnológicos ( o 5ue di&erencia o 2omem dos outros animais# @as tecnologia só &a7 sentido
5uando acoplada a outra vari=vel 5ue permita substantivar suas causaç;es ou seus e&eitos
para grupos 2umanos determinados# A 5uarta vertente re<ne os estudos baseados na vari=vel
ambiental# A5ui a vantagem est= na abertura 5ue ( propiciada para se lidar com um universo
emp!rico mais abrangente 5ue as trocas entre agentes3 incorporando a nature7a no rol de
elementos pass!veis de an=lise# Por(m3 os componentes ambientais aparecem mais como
possibilidades para o estabelecimento de din4micas econOmicas do 5ue propriamente como
determinantes# A 5uinta vertente se apóia na eploração como vari=vel c2ave3 tendo os
estudos de Wallerstein como grande epoente# Desse caso3 um aspecto importante ( a tomada
do con&lito F de um tipo espec!&ico de con&lito3 a eploração F como estruturante nas
din4micas econOmicas e3 com isso3 a 5uebra da visão linear de evolução das sociedades
2umanas# Para Anderson3 contudo3 a abertura 5ue esta teoria tra7 para a eplicação de
realidades singulares restringe seu poder eplicativo empurrando-a para uma retórica
descritiva# Talve7 isso val2a para os estudos apoiados na id(ia de eploração3 mas não paraE/
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a5ueles estruturados em torno da id(ia de con&lito# A seta e <ltima vertente ( a5uela 5ue
aparece no balanço de Anderson como a mais completa para a an=lise da mudança econOmica
de longo pra7o% a eplicação institucional# Deste caso a 5uestão relevante não ( saber por 5ue
uma sociedade ou nação se desenvolve e outra não3 mas sim por5ue algumas continuam
crescendo en5uanto outras não# A resposta institucional ( 5ue ali se criaram as instituiç;es
+regras do 6ogo. 5ue motivaram a continuidade do progresso diminuindo os e&eitos da ação
dos rent*see:ings# A eplicação institucional parece ser a mais completa por5ue ela permite
um di=logo 5ue absorve3 sem negar3 os elementos eplicativos de outras teorias% con&litos
geram instituiç;es3 5ue &ormam sistemas de incentivos 5ue dão origem a inovaç;es3 5ue por
sua ve7 ense6am novos con&litos e assim sucessivamente# #
Partindo do balanço de Anderson3 conv(m então uma an=lise mais detida da eplicação
institucional# ) para isso3 nada mel2or do 5ue &ocali7ar os aspectos principais da obra de seu
maior epoente% "ouglass Dort2#
O :ensamen"o de Doug#ass Nor"<
A tra6etória do pensamento de "ouglass Dort2 pode ser sinteti7ada no movimento 5ue
envolve suas 5uatro principais obras# Da primeira3 1he rise of the 9estern 9orld 3 de 1M03
Dort2 procura compreender a ascensão do mundo ocidental valendo-se para isto das
&erramentas do mainstream econOmico# Da segunda3 de 113 Structure and change in
economic histor23 percebe-se 6= desde a introdução uma cr!tica 8 economia neocl=ssica e uma
identi&icação de seus limites# Da terceira obra3 #nstitutions, institutional change and
economic performance3 de 1R3 Dort2 vai ainda mais longe e tenta &ormular a sua teoria3
buscando3 pois3 ultrapassar os limites apontados no livro anterior# Da 5uarta e mais recente
obra3 nderstanding the process of economic change3 2= novamente uma cr!tica aos limites
da economia neocl=ssica e o an<ncio de uma tentativa de completar o movimento &eito nas
obras anteriores3 demonstrando como as di&erentes sociedades constroem as in&ra-estruturas
institucionais necess=rias 8 boa per&ormance# A pretensão de Dort23 anunciada numa das
passagens em 5ue &ormula os desa&ios a serem en&rentados3 (3 portanto3 construir uma
&erramenta anal!tica capa7 de teori7ar a estrutura das economias e dar conta tanto da
estabilidade como da mudança nestas estruturas0M#
0M C&# Dort2 X T2omas +1M0.V Dort2 +113 1R3 /RRE.#
E0
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Contudo3 ( bom advertir3 o sucesso nesse intento do autor não ( consensual# Ao menos duas
leituras de Dort2 são poss!veis# Uma primeira3 como em Abramova: +/RR1.3 ressalta os
elementos de ruptura3 ou no m!nimo de tensão3 com a economia neocl=ssica% a5ui são
destacadas a introdução da 2istória como parte &undamental do m(todo3 a incorporação dos
atritos e con&litos sociais como dimens;es eplicativas da per&ormance econOmica3 a indução
como procedimento de an=lise# Uma segunda3 como em 9omeiro +/RRR.3 d= mais ên&ase 8s
permanências% apesar da tentativa de tra7er 2istória e con&litos para dentro do modelo3 ainda
seriam os preços relativos o 5ue determina a mudança# $ próprio Dort2 contribui para a
con&usão3 8 medida 5ue em certos momentos en&ati7a a ruptura3 en5uanto em outros aponta
para o potencial desestruturador 5ue a negação do homo oeconomicus representaria para a
ciência econOmica0#
Como tal ambigidade ( encamin2ada na obra de Dort2 Q $ ob6eto de suas re≤es ( a
2istória econOmica3 destacadamente dois momentos singulares% a primeira revolução
econOmica da 2umanidade3 representada pelo surgimento da agricultura3 aproimadamente
de7 mil anos atr=sV e a segunda revolução econOmica3 representada pela associação entre
ciência e processo produtivo nos &ins do s(culo Z>Z# Por revolução econOmica Dort2 entende
não só a mudança no potencial produtivo3 tornada poss!vel como conse5ência da mudança
no esto5ue de con2ecimento3 como as condiç;es de reali7ação deste potencial produtivo# Para
levar adiante sua empreitada3 Dort2 considera ser necess=rio combinar elementos &ornecidos
pelas teorias da demogra&ia3 do esto5ue de con2ecimento +tecnologia.3 e das instituiç;es#
Após um r=pido balanço dos ac<mulos e insu&iciências nestes três terrenos3 imposs!vel de ser
reprodu7ido a5ui3 o autor &irma seus alicerces numa teoria dos direitos de propriedade3 numa
teoria do )stado3 e numa teoria da ideologia# Da construção deste 5uadro anal!tico3 as
in&luências de Dort2 se &a7em presentes atrav(s de elementos da escola neocl=ssica3 do
marismo3 e do cognitivismo0#
>niciando então pela 9evolução do Deol!tico3 a eplanação em Dort2 começa com o &ator
demogr=&ico# @as di&erente das teorias demogr=&icas consagradas3 5ue vão ora acentuar o
car=ter negativo da pressão populacional sobre recursos +como em @alt2us.3 ora o car=ter
0
*elasco e Cru7 +/RR/. tra7 v=rios trec2os de obras e de entrevistas de Dort2 onde est= ambigidade est= presente#0 C&# especi&icamente Dort2 +11.#
E
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positivo +como em oserup.3 na economia institucional a pressão populacional vai ser
tomada como vari=vel dependente da dimensão institucional# >sto (3 en5uanto em alguns
lugares a pressão populacional levou a um esgotamento da utili7ação dos recursos
dispon!veis3 com impactos negativos para os grupos 2umanos em 5uestão3 em outras
situaç;es a mesma pressão levou a encamin2amentos di&erentes# Dum desses
encamin2amentos3 o estabelecimento de direitos de propriedade sobre um dado território
levou a um aumento da taa de retorno pela a5uisição de con2ecimentos3 tradu7indo-se num
incentivo 8 cont!nua eploração e ao crescente dom!nio sobre tais recursos# Do modelo3
direitos de propriedade mostram-se &undamentais não só para ecluir outras populaç;es e
grupos 2umanos da posse e uso destes determinados recursos3 mas para divisar regras 5ue
impeçam ou limitem a intensidade de sua eploraçãoR# Sempre pensando em termos de ondas
longas da evolução 2umana3 gradativamente estas condiç;es &ormaram a base para uma
crescente especiali7ação e divisão do trabal2o# Com isso3 al(m do enorme salto no potencial
produtivo3 teve origem tamb(m uma escalada igualmente crescente dos custos de transação3
com um correspondente re&orço dos direitos de propriedade e do )stado# A atuação do )stado
em seus primórdios3 diga-se de passagem3 era dada pela &isiologia dos recursos em associação
com a tecnologia militar dispon!vel3 in&luenciando assim a per&ormance econOmica não só
atrav(s da redução dos custos de transação3 mas tamb(m da epansão de mercados# )m
Dort23 portanto3 não importa onde começou a agricultura3 mas como e por 5ue meios ela se
tornou uma atividade &undamental3 com impactos de&initivos para o desenvolvimento da
2umanidade1# ) nisso3 a id(ia central est=3 repita-se3 de um lado3 no estabelecimento de
direitos de propriedade3 e de outro3 em toda a din4mica da crescente especiali7ação e divisão
social do trabal2o 5ue ele gera3 em con&lito com o aumento de custos de transação
correspondente#
$s milênios 5ue se seguem e 5ue separam esta primeira revolução econOmica da segunda3
mais próima de nossos dias3 são palco de eemplos con2ecidos de ascensão e decl!nio de
grandes civili7aç;es# Deste per!odo3 este ( um dos desta5ues de Dort23 2ouve3 sim3
crescimento econOmico3 mas na (poca antiga3 sempre como decorrência da pressão
R *ale lembrar 5ue a id(ia de direitos de propriedade3 em Dort23 ( bem mais ampla do 5ue sua concepção usualmoderna# Trata-se3 antes3 de uma de&inição 5ue privilegia 5uais5uer &ormas 5ue garantam a um determinado indiv!duoou agrupamento 2umano a eploração por sobre determinados bens3 independente do estatuto pelo 5ual isso aconteça F 6ur!dico3 pela &orça3 ou baseado em tradiç;es e valores culturais#1 Para uma ecelente an=lise do surgimento da agricultura e de seus posteriores desenvolvimentos at( os dias atuais3
consultar @a7o:er X 9oudart +1M/RR/.# Sobre a relação entre agricultura3 crescimento e meio-ambiente3 tamb(msegundo uma perspectiva de longo pra7o3 consultar *eiga +1M.#
EE
8/18/2019 Paradigmas do desenvolvimento rural em questão _FAVARETO.pdf
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demogr=&ica# A inovação em sua an=lise est= no &ato de 5ue ele eplica este movimento
destacando 5ue a organi7ação econOmica e&iciente ( a5uela 5ue consegue criar os arran6os
institucionais capa7es de garantir% a. direitos de propriedade como incentivos aos gan2os de
especiali7açãoV b. a redução dos custos de transaçãoV c. uma convergência das taas privadas
e sociais de retorno/# Nuando estas bases são abaladas tem in!cio um movimento de
desestruturação 5ue torna estas sociedades mais e mais &r=geis3 at( 5ue encontrem o colapso e
sua superação3 não raro pela via da submissão a outra civili7ação ascendente# Assim &oi com
os &en!cios3 os eg!pcios3 os romanos# ) ( assim 5ue Dort2 mostra como muitas ve7es a
opulência e a ri5ue7a de uma dada sociedade vem acompan2ada de maior estrati&icação3 a
5ual3 com a passagem do tempo3 pode dar margem a um esgarçamento do tecido social3 a
ponto de &a7er pender a balança das taas privadas e sociais de retorno3 at( sua derrocada# A
altern4ncia de civili7aç;es (3 assim3 um longo movimento 5ue acompan2a a crescente
especiali7ação e divisão do trabal2o3 com o correspondente aumento tendencial nos custos de
transação3 5ue por sua ve7 leva 8 necessidade de adaptação das organi7aç;es econOmicas# A
eplanação 5ue começara com mudança populacional passa3 assim3 a se desenvolver sobre o
interc4mbio entre oportunidades de mudanças econOmicas e re5uisitos &iscais do )stado#
Uma nova mudança 5ualitativa no potencial produtivo e nas condiç;es de sua reali7ação vai
acontecer com a associação entre ciência e processo produtivo 6= na (poca moderna# Como
ela ocorre e por 5ue tem in!cio ali3 na >nglaterra Q Por5ue ali3 sempre segundo Dort23 a
ameaça de crise malt2usiana 5ue atingiu as demais naç;es na5uele determinado momento
2istórico3 somada ao acirramento das disputas comerciais intensas no per!odo3 encontraram
uma determinada estrutura de direitos de propriedade3 criada anteriormente3 a 5ual &e7 redu7ir
custos de transação e3 igualmente3 &e7 crescer as taas privadas de retorno em invenção e
inovação3 &avorecendo assim a mudança tecnológica associada 8 revolução industrial e
instituindo uma mudança 5ualitativa re&erente tanto ao potencial produtivo como 8s
condiç;es de sua reali7ação#
)sta nova condição3 por sua ve73 não eliminou3 mas sim acentuou ainda mais o movimento
sempre crescente de especiali7ação e custos de transação# Deste longo movimento 2istórico
/ Tamb(m o conceito de instituiç;es em Dort2 nada tem em comum com uma concepção &ormal3 mais próima deorgani7aç;es# A de&inição simples de instituiç;es como Iregras do 6ogoJ mostra como elas podem se instituir e operar
se6a em termos &ormais +como leis e dispositivos 6ur!dico-pol!ticos.3 se6a em termos in&ormais +como valores etradiç;es.#
EH
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de mudança incremental3 5ue atinge um ponto m=imo na segunda revolução econOmica3 as
inst4ncias emp!ricas &undamentais com as 5uais Dort2 opera são população3 tecnologia e
ideologia3 cu6a din4mica se materiali7a sempre em instituiç;es pol!ticas e econOmicas# Para
completar o 5uadro3 ( importante lembrar 5ue o tratamento de IideologiaJ aparece sempre no
registro das Iestruturas mentais partil2adasJ3 em di=logo com o cognitivismo e como re&leo
das estruturas de incentivos e constrangimentos sociais3 nos 5uais o )stado desempen2a um
papel importante0#
)n5uanto este desenvolvimento de longo pra7o ( a tOnica do livro Structure and change in
economic histor23 ( em #nstitutions, institutional change and economic performance 5ue
Dort2 &ormali7a mais seu entendimento de mudança# Ali ele lança mão do seu conceito de
I path dependence+ para eplicar como a &onte da mudança incremental ( a aprendi7agem# A
id(ia central ( 5ue a dependência de camin2o vem de mecanismos de retornos crescentes 5ue
re&orçam a direção uma ve7 adotada3 da! as resistências 8 mudança institucional# As
Ialterations in the path+3 por sua ve73 vêm da não antecipação de escol2as3 e&eitos eternos3 e
mesmo de &orças eógenas ao 5uadro anal!tico# )sta ( a din4mica 5ue molda a matri7
institucional de cada sociedade# @atri7 institucional entendida como a rede de
constrangimentos in&ormais e regras &ormais interconectadas 5ue se tradu7em em sistemas
pol!ticos3 econOmicos e 6ur!dicos3 os 5uais con&ormam e estabelecem a estrutura de incentivos
5ue3 por sua ve73 em Dort23 são o &ator determinante a sublin2ar na per&ormance econOmica#
)m 0earning, institutions and economic performance3 artigo 5ue sinteti7a algumas das
principais id(ias de seu mais recente livro3 Dort2 volta a tomar a cr!tica 8 inade5uação da
economia neocl=ssica como ponto-de-partidaE% o pressuposto da escol2a racional não teria
&undamento emp!rico nem eplicativo# Deste trabal2o Dort2 aborda o aprendi7ado en5uanto
condição para compreender a mudança% como o aprendi7ado individual se trans&orma em
aprendi7ado coletivo e como isto se relaciona com a emergência das instituiç;es#
Dota-se3 pois3 o 5uão complea3 vigorosa e polêmica ( a eplicação de Dort2# asta sublin2ar
a5ui apenas alguns dos aspectos ns 5uais ela inova a eplicação da per&ormance econOmica%
a. embora en&ati7e os direitos de propriedade3 Dort2 desenvolve uma argumentação oposta ao
0 C&# Dort2 +11.#
C&# Dort2 +1R.#E C&# @ant7avinos3 Dort23 S2ari5 +/RR0.#EM
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laisse&*faire3 5uando destaca o papel &undamental da regulamentação e do )stado na
organi7ação dos mercados3 e não o contr=rioV b. em ve7 de imaginar a 2istória da
2umanidade como sendo um esplendor de crescimento e ri5ue7a somente nos <ltimos dois
s(culos3 Dort2 mostra como 2ouve per!odos de crescimento intensivo mesmo nos primórdios
da Antigidade3 e3 mais 5ue isso3 5ue a mudança tra7ida com a associação entre ciência e
processo produtivo ( resultado incremental desta longa evoluçãoV c. dadas as caracter!sticas
desta segunda revolução econOmica3 nada leva a crer 5ue a 2umanidade estaria vivendo um
&inal dos tempos inaugurados por ela3 e sim o contr=rio% em termos de mudança de longo
pra7o3 os dias atuais F mel2or di7endo3 os s(culos atuais - seriam apenas uma esp(cie de
primeiros tempos de um novo e longo per!odoV d. especi&icamente sobre mudança3 sua &onte
pode ser eógena como3 por eemplo3 pela via pol!tica3 mas3 para se sustentar3 ela ter= sempre
5ue tocar na estrutura de incentivos e constrangimentos diminuindo custos de transação e
&avorecendo o crescimento e a convergência das taas privadas e sociais de retorno#
"o lado das cr!ticas3 a principal 6= &oi adiantada par=gra&os atr=s3 e reside na identi&icação de
uma ruptura apenas parcial de seu pensamento em relação 8 economia neocl=ssica3 na 5ual
ele tem origemH# @as 2=3 ainda3 duas outras cr!ticas 5ue l2e poderiam ser endereçadas# A
primeira delas est= no &ato de 5ue3 no limite3 a eplicação 5ue sua teoria &ornece tamb(m (
tautológica% embora ela descreva com consistência como ocorreram as mudanças nas duas
revoluç;es econOmicas3 o argumento para o por5uê delas terem ocorrido 5uando e onde
aconteceram ( &r=gil% elas teriam ocorrido ali3 por5ue ali estavam reunidas a5uelas
determinadas condiç;es# Sobre isto3 em de&esa de Dort2 se poderia argumentar 5ue o
problema3 na verdade3 ( inerente 8 inovação 5ue seu pensamento prop;e% em ve7 de um
modelo dedutivo aplic=vel a 5ual5uer realidade3 ( preciso recorrer aos mecanismos da
indução para poder compreender a singularidade dos &enOmenos em 5uestão e estruturar esta
compreensão na identi&icação de inst4ncias emp!ricas &undamentais e numa e5uação coerente
para seu entendimento# A outra cr!tica di7 respeito ao lugar da ideologia em sua teoria#
População3 tecnologia e ideologia e sua tradução em instituiç;es pol!ticas e econOmicas são
inst4ncias &undamentais do modelo proposto# Contudo3 sempre 5ue a ideologia +e os con&litos
5ue ela envolve. aparece na eplicação de Dort23 tem-se a impressão de um tratamento
menos incorporado 8 e5uação do 5ue as outras duas inst4ncias# >sto (3 a ideologia serve para
H
C&# 9omeiro +/RRR.# *er tamb(m a cr!tica de @acedo +/RR1. 8 concepção de 2istória em "ouglass Dort2# Sobre ouso da noção de path dependence segundo uma outra tradição3 da ciência pol!tica3 ver Pierson +/RR.#
E
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eplicar a5uilo 5ue aparece como 5uase imponder=vel nas suas an=lisesM# Um dos problemas
5ue talve7 epli5ue este impasse est= na concepção de 2omem 5ue Dort2 preserva da
economia neocl=ssica3 compat!vel com o individualismo metodológico# >deologia e con&litos
aparecerão sempre no registro dos incentivos e constrangimentos 8 maimi7ação dos gan2os
individuais# A5ui3 o di=logo do autor não se d= com as teorias sociológicas do con&lito e das
ideologias3 mas com as teorias psicológicas# Algo compreens!vel 5uando se lembra da
tradição das ciências econOmicas americanas3 mais próimas do cognitivismo e distantes das
ciências dedicadas 8s estruturas sociais#
)ste <ltimo aspecto não ( mero detal2e3 por5ue a concepção de 2omem da ciência econOmica
a aproima da psicologia comportamental ao mesmo tempo e proporção 5ue a distancia da
sociologia# >sto &a7 com 5ue se crie uma di&iculdade em incorporar e&etivamente as estruturas
sociais no modelo e3 tamb(m3 um problema para ampliar a eplicação econOmica para al(m
da es&era das trocas3 incorporando o universo dos bens naturais# Do modelo de Dort23 a
5uestão ambiental ( tratada no 4mbito do problema demogr=&ico3 portanto3 dentro do 5ue se
poderia c2amar de paradigma da escasse7% ambiente ( tratado como sinOnimo de recursos
naturais e sua import4ncia eplicativa est= na direta relação com a pressão demogr=&ica por
sua utili7ação# assim 5uando ele eplica os colapsos das civili7aç;es antigas3 como
esgotamento# assim 5uando ele eplica a pressão pela modi&icação dos direitos de
propriedade sobre o uso da terra3 no surgimento do capitalismo#
Uma das decorrências lógicas destes limites acima esboçados ( a necessidade de se reportar
8s estruturas sociais sob uma maneira engen2osa3 similar a Weber3 onde a eplicação não est=
nas estruturas3 mas onde3 ao mesmo tempo3 ( preciso incorporar as estruturas para entender o
sentido das aç;es dos indiv!duos e os con&litos a isso inerentes# >sto (3 a ação pode se
sobrepor 8 estrutura3 mas não se desvencil2ar dela# Por5ue para Weber as id(ias não eistem
isoladas de sua articulação com interesses# Uma &amosa passagem sua destaca 5ue Inão as
idéias, mas os interesses materiais e ideais8 é que dominam diretamente a aFão dos
humanos" . mais das ve&es, as Gimagens do mundoC criadas pelas GidéiasC determinaram,
feito manobristas de linha de trem, os trilhos nos quais a aFão se vH empurrada pela
M Uma cr!tica 5ue atinge tamb(m este aspecto3 mas elaborada em uma direção um pouco di&erente pode ser
encontrada em *elasco Cru7 +/RR/.# Para Abramova: +/RRE.3 a relação entre ideologias e estrutura social vai ser &eita por interm(dio da psicologia3 como estruturas mentais partil2adas3 para usar a epressão de Dort2#
E
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dinImica dos interessesJ# ) interesses têm portadores3 assim como as id(ias# A5ui entram
dois conceitos não &ormali7ados do pensamento de Weber 5ue a6udam a entender estes neos%
portadores e a&inidades eletivas# Atrav(s destas duas epress;es3 presentes v=rias ve7es em
sua obra3 Weber destaca como as id(ias se estabelecem em conson4ncia com determinados
grupos ou estruturas sociais% como a (tica das religi;es orientais guarda estreita
correspondência com as caracter!sticas da estrati&icação socialV como as cidades3 e não o
campo3 &oram o terreno prop!cio de epansão da religião sobre a magiaV e como3 &inalmente3
o cristianismo e3 depois3 o protestantismo nascem inicialmente nas camadas in&eriores e
m(dias da estrutura social de seu tempo# ,enOmenos 5ue3 en&im3 não poderiam ter ocorrido
em outra &ormação social 5ue não comportasse tais elementos3 com os 5uais eles estavam em
direta a&inidade# &=cil notar3 pois3 a grande complementaridade 5ue eiste entre a obra de
Weber e de Dort2# ) ( curioso perceber como3 não obstante este di=logo potencial3 as
menç;es ao sociólogo alemão na obra de Dort2 são tão esparsas e ins!pidas3 aspecto 5ue ser=
retomado no balanço &inal desta seçãoER#
53+3+ ' Desen)o#)imen"o e a 0ues"ão soia#
)mbora boa parte da cr!tica social 8 id(ia de desenvolvimento este6a &ocali7ada em sua
redução ao crescimento econOmico3 não são muitas as teorias consistentes 5ue procuraram
compensar esta de&iciência tra7endo a 5uestão social para o centro dos modelos eplicativos#
Da maior parte das ve7es os discursos cient!&icos deram origem a de&esas de um igualitarismo
entre os indiv!duos sem3 no entanto3 lograr a edi&icação de uma verdadeira teoria onde esse
dese6o &osse ao mesmo tempo um pressuposto (tico e um elemento operativo na eplicação
da evolução do real# )mbora não se6a eatamente um igualitarista3 uma eceção 2onrosa (
'o2n 9aKls e sua 1eoria da ?ustiFa3 atrav(s da 5ual ele sustenta a necessidade de se
estabelecer m!nimos de igualdade de renda 5ue deveriam ser garantidos a todos os indiv!duos
como condição para 5ue estes3 por si próprios3 pudessem construir sua igualdade perante os
C&# Weber +1M.# )sta id(ia3 de Ia&inidades eletivasJ e de IportadoresJ como conceitos não sistemati7ados no pensamento Keberiano( tomada emprestada de AntOnio ,l=vio Pierucci3 5ue a cogitou durante seu curso de Teoria Social na USP# Sobre o primeiro destes conceitos o autor tece alguns coment=rios no seu livro . desencantamento do mundo +Pierucci3 /RR0.ER Por eemplo3 Dort2 critica Weber e tenta mostrar como algumas das id(ias 5ue ele associa 8 (tica protestante teriamuma origem mais antiga3 relacionada ao 6uda!smo e ao cristianismo# A leitura do con6unto da obra de Weber3 noentanto3 permite ver como ele estava atento a isso3 6= 5ue a associação entre (tica protestante e esp!rito do capitalismo( uma esp(cie de corol=rio de um longu!ssimo processo de desencantamento e racionali7ação do mundo# $ 5ue prova
como as convergências são3 no m!nimo3 tão epressivas 5uanto as di&erenças# *er a respeito Dort2 +/RRE.3 Weber+1.#
HR
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outros nos demais dom!nios da vida social F uma igualdade de patamares m!nimos de renda
como garantia de uma igualdade de oportunidades sociais#
$utro nome 5ue se dedicou a &ormular teorias e an=lises onde a dimensão social3 por assim
di7er3 est= no centro das preocupaç;es &oi Amart:a Sen# Como se sabe3 Sen se consagrou por
seus estudos sobre a &ome em pa!ses como [ndia3 C2ina3 anglades23 mas tamb(m no 'apão e
na >rlanda3 e mais recentemente em alguns pa!ses a&ricanos# @as ele se tornou mundialmente
con2ecido por sua assessoria a órgãos das Daç;es Unidas3 num trabal2o 5ue culminou na
&ormulação do 2o6e tão di&undido [ndice de "esenvolvimento ?umano3 e pela con5uista do
Prêmio Dobel de economia3 em 1#
@ais do 5ue incorporar a 5uestão social aos es5uemas teóricos3 o principal m(rito de Sen (
ter encontrado uma e5uação consistente para dois dos três dilemas &undamentais 5ue
envolvem desenvolvimento# Primeiro3 se desenvolvimento não se redu7 a crescimento3 então
5uais são suas dimens;es emp!ricas &undamentais Q Segundo3 se são v=rias as dimens;es3
como elas se comp;em ou con&litam3 5uais delas são um &im dos processos de
desenvolvimento3 5uais são meios para atingi-lo Q Sobre o terceiro dilema ( di&!cil responder
cabalmente se 2ouve um êito tão grande como nos anteriores% a eplicação da mudança em
desenvolvimento# Sen3 ali=s3 elege como interlocutores 6ustamente os dois pólos apresentados
at( a5ui% de um lado3 ele ir= se colocar em debate com a5ueles 5ue tomam desenvolvimento
por crescimento econOmico apenasV e de outro3 com alguns dos cr!ticos igualitaristas e com o
próprio 'o2n 9aKls# Por todas estas ra7;es uma aproimação 6unto 8s principais bases de seu
pensamento ( simplesmente crucial#
O :ensamen"o de Amar"Fa Sen
$ signi&icado maior da obra de Sen3 6untamente com a construção de uma outra maneira de se
pensar o desenvolvimento3 ( a pro&unda contestação 5ue ele produ7 acerca da mais cara tese
do mainstream da economia3 segundo a 5ual os indiv!duos agem sempre motivados pelo
auto-interesse# Para ele3 não 2= evidências de 5ue ( o auto-interesse o 5ue3 eclusivamente3
rege o comportamento# )3 mais 5ue isso3 2= &ortes evidências de 5ue Ias deliberaç;es (ticas
não podem ser totalmente irrelevantes para o comportamento 2umano realJ# Sentimentos
como a solidariedade não podem ser despre7ados em an=lises econOmicas3 sob pena deH1
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incompreensão do con6unto e da compleidade dos est!mulos 5ue regem o comportamento
2umano#
Assim3 sua obra Sobre ética e economia +Sen3 1/. trata da ruptura epistemológica entre os
dois dom!nios epressos no t!tulo F (tica e economia -3 para isso remontando a uma releitura
dos cl=ssicos3 desde Aristóteles3 para 5uem Ia ri5ue7a não ( o bem 5ue buscamos3 sendo ela
apenas <til e no interesse de outra coisaJ3 at( Smit2 e suas eplicaç;es sobre motivaç;es e
mercados# "esta retomada3 Sen avança para o 5uestionamento do conceito de e&iciência3
con2ecido por Iótimo de ParetoJ% um estado ótimo no 5ual não se pode mel2orar a vida de
ningu(m sem 5ue se piore a vida de outro# Sen +1/. retruca a&irmando 5ue I identificar
vantagem com utilidade nada tem de óbvio """8" $ão é verdade que qualquer movimento que
se desvie de um estado ótimo de -areto para outro não*ótimo deva redu&ir a utilidade
agregadaJ# $u se6a3 seria poss!vel 5ue um indiv!duo motivado por ra7;es (ticas abrisse mão
de uma vantagem pessoal para 5ue outro progredisse sem3 com isso3 ameaçar a e&iciência
econOmica# ) ele &aria isso ao perceber 5ue seria mel2or para o con6unto da sociedade# $
corol=rio ( 5ue3 se a sociedade gan2a3 ele gan2a tamb(m#
3 por(m3 em #nequalit2 ree3amined 5ue o programa de Sen est= mel2or &ormulado# Ali ele
retoma sistematicamente re≤es de outras obras anteriores suas3 como o ensaio
Desigualdade econ>mica3 de 1M03 e desenvolve 5uatro a&irmaç;es 5ue o distanciam tanto
dos 5ue redu7em desenvolvimento ao crescimento 5uanto dos 5ue en&ati7am a diminuição da
pobre7a como o ob6etivo das pol!ticas de desenvolvimento% desenvolvimento não se redu7 a
crescimentoV uma das 5uest;es &undamentais ( desigualdadeV desigualdade de 5uê3 se são
v=rias então as dimens;es 5ue contam QV e para concluir3 a desigualdade de renda3 de longe a
dimensão privilegiada nas principais correntes3 pode não ser a mais importante dentre as
di&erentes &ormas de desigualdade#
Bogo no in!cio do livro Sen de&ine a tese# Pela precisão3 vale a pena recorrer 8s suas próprias
palavras% I A questão*chave para analisar e medir a desigualdade é/ igualdade de quH J Esta
é a tese que eu pretendo desenvolver aqui" Eu mostrarei também que as éticas da
organi&aFão social que resistiram à prova dos tempos tHm, quase todas em comum, querer a
igualdade de alguma coisa 5 este alguma coisa Boga um papel fundamental a depender de
cada quadro teórico respectivo" $ão somente e3iste ;igualitaristas de renda; que querem asH/
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mesmas entradas de dinheiro para todos e os ;igualitaristas do bem*estar;, mas os
utilitaristas cl'ssicos preconi&ando, eles também, que se acorde uma importIncia igual às
;utilidades; de todos, e os libert'rios puros que preconi&am a todos uma classe inteira de
direitos e de liberdades" 1odos são igualitaristas sobre um ponto crucial/ eles propKem
resolutamente a igualdade de alguma coisa que todo o mundo deveria ter, e que é
absolutamente vital em sua abordagem particular" """8 a questão ;igualdade de quH ; deve
sua importIncia pr'tica à diversidade de seres humanos/ é por causa dela que a e3igHncia
de igualdade sobre uma vari'vel tende a entrar em colisão 5 nos fatos e não somente em
teoria 5 com a vontade de igualdade sobre outra" -esam caracter(sticas internas idade,
se3o, atitudes gerais, competHncias particulares8 e circunstIncias e3ternas propriedade de
certos bens, origem social8+# ) mais adiante completa% Idiversidade humana é fato, e a
ra&ão fundamental de nosso interesse pela igualdade """8" A idéia de igualdade se reporta a
duas diversidades distintas/ a heterogeneidade fundamental dos seres humanos, e a
multiplicidade de vari'veis em funFão das quais pode*se avaliar a igualdade" -or isso/
igualdade de quH J+ +Sen3 1//RRR% -1/.#
"iante desta 5uestão3 como Sen constrói seu 5uadro de an=lise Q A id(ia central ( 5ue a
epansão das liberdades 2umanas ( a um só tempo o &im e o meio dos processos de
desenvolvimento# )ssa ( a grande de&inição de desenvolvimento cun2ada por Sen e 5ue l2e
permite sair do unidimensionalismo e da armadil2a representada pela oposição entre meios e
&ins# Para instrumentali7ar analiticamente esta id(ia3 Sen vai se apoiar numa tr!ade de
conceitos interligados F capacidades3 &uncionamentos e reali7aç;es +capabilities,
functionings e achievements8 5 a&irmando% Ia abordagem em que eu me apoio se concentra
sobre nossa capacidade conBunto de modos de funcionamento humano que são
potencialmente acess(veis a uma pessoa, quer ela os e3erFa ou não8 de reali&ar os
funcionamentos valori&ados dos quais é feita a nossa e3istHncia e, mais amplamente, sobre
nossa liberdade de promover os obBetivos que nós temos ra&ão para valori&ar """8" A
potHncia retórica da ;igualdade entre os homens; tem seguidamente tendHncia a desviar
nossa atenFão das diferenFas" Se suas fórmulas todos os homens nascem iguais, por
e3emplo8 passam correntemente pelos pilares do igualitarismo, ignorar as distinFKes entre
os indiv(duos pode em realidade se revelar muito desigual J# A estimação e a medida da
desigualdade depende3 assim3 pesadamente3 da escol2a da vari=vel - as rendas3 a sorte3
&elicidade3 etc -3 e do 5ue Sen c2ama de vari=vel &ocal# A vari=vel &ocal escol2ida podeH0
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apresentar uma pluralidade interna# poss!vel3 por eemplo3 5ue ela re<na liberdades de
ordens di&erentes% elas constituirão 6untas o centro do interesse privilegiado# $u ainda3 a
vari=vel retida pode associar as liberdades e as reali7aç;es - o 5ue uma pessoa reali7a3 o
con6unto dos modos de &uncionamento 5ue ela eerce verdadeiramente#
Concluindo3 com a capacidade 5ue 5ual5uer um disp;e para reali7ar os &uncionamentos 5ue
ele tem ra7;es para valori7ar3 estabelece-se um ponto-de-partida bem geral para abordar o
estudo dos modos de organi7ação da sociedade3 e esta démarche aporta uma maneira
particular de conceber a avaliação da igualdade e da desigualdade +Sen3 1//RRR% //.# $s
&uncionamentos de 5ue trata Sen podem ser os mais elementares F ser bem alimentado3
escapar da morbidade evit=vel e da mortalidade prematura F at( certas reali7aç;es muito
compleas e sutis F ser digno a seus próprios ol2os3 estar em condiç;es de tomar parte da
vida da comunidade# A seleção e estimativa de di&erentes &uncionamentos permitem a
avaliação da capacidade de reali7ar diversos con6untos de &uncionamentos3 entre os 5uais (
preciso escol2er# A concentração sobre a liberdade de reali7ar e não somente o n!vel de
reali7ação visa a estabelecer a relação entre a estimativa das diversas reali7aç;es poss!veis e o
valor da liberdade de reali7ar# $ corol=rio do pensamento de Sen vem com a a&irmação de
5ue o verdadeiro con&lito se situa entre di&erentes tipos de liberdade3 e não entre liberdade e
privação# +Sen3 1//RRR.#
)m resumo3 são duas as grandes a5uisiç;es propiciadas pela construção teórica de Amart:a
Sen# Primeiro3 ao operar uma distinção entre capacidades e utilidades3 com a &ocali7ação na
capacidade de reali7ar os &uncionamentos escol2idos pelos próprios indiv!duos em sua
diversidade3 sua abordagem di&ere muito sensivelmente das abordagens mais tradicionais da
igualdade3 5ue se concentram sobre vari=veis espec!&icas3 como a renda principalmente#
Segundo3 em sua teoria o desenvolvimento pode ser Iaproimativamente mensuradoJ3 6= 5ue
algumas das capacidades &undamentais dos seres 2umanos podem ser medidas e comparadas#
Um ponto nebuloso da teoria de Sen3 contudo3 di7 respeito 8 mudança no desenvolvimento#
Ao colocar a ên&ase na epansão das liberdades ele recon2ece 5ue 2= um con&lito na
organi7ação destas liberdades3 em sua desigual distribuição3 mas surge novamente a5ui uma
certa tautologia na cadeia eplicativa# A epansão das liberdades ( ao mesmo tempo um &im e
um meio# Sendo assim3 certas sociedades são pouco desenvolvidas por5ue nelas as liberdadesH
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são restritas e3 inversamente3 onde ocorre uma epansão das liberdades tem-se o
desenvolvimento# Um eemplo pode a6udar a compreender mel2or como isto acontece na
teoria de Sen# Apoiado em Smit23 ele mostra como o mercado F não raramente eorci7ado e
entendido somente como re&orçador de desigualdades - pode ser algo progressista3 por
eemplo3 nas situaç;es em 5ue o simples acesso de determinadas parcelas da população 8
possibilidade da livre concorrência contraria segmentos poderosos 5ue se bene&iciam das
relaç;es de tutela e clientelismo# @as em -overt2 and famines3 onde introdu7 o conceito de
entitlement +2abilitação.3 Sen demonstra com clare7a 5ue o problema da &ome epidêmica 5ue
ocorre em vastas =reas do mundo3 num outro eemplo3 não encontra solução simples no
aumento da o&erta3 ou em simples mecanismos de mercado# >sso por5ue3 para participar da
distribuição da renda3 ( necess=rio estar 2abilitado por t!tulo de propriedade ou por inserção
5uali&icada no sistema produtivo# $ra3 2= sociedades em 5ue esse processo de 2abilitação est=
blo5ueado% ( o 5ue se passa com as populaç;es rurais sem acesso 8 terra3 com populaç;es a
5uem ( negado o acesso a escolari7ação3 ou com populaç;es 5ue com um mesmo grau de
escolari7ação eperimentam tipos distintos de eperiência escolar# Bogo3 2= um componente
de con&lito 5ue não se esvai por simples e 5uase autom=tica epansão de liberdades e 5ue
remete mesmo 8 necessidade de uma eplicação para como se d= a mudança#
verdade 5ue Sen recon2ece tetualmente 2aver con&lito em torno das privaç;es e liberdades
dos indiv!duos3 mas ( verdade tamb(m 5ue seu modelo não &ornece elementos para eplicar
por5ue em certos lugares o processo de epansão das liberdades ocorre3 e por5ue em outros
ele permanece blo5ueado# Dão ( 5ue em sua teoria o con&lito não est= presente# )le aparece
na distribuição desigual das capacidades e nos atritos entre di&erentes liberdades# ) a
distribuição desigual destas prerrogativas ( a um só tempo condicionante e condicionado da
epansão das liberdades# A mudança em Sen3 portanto3 ou ( puramente incremental3 ou se d=
por vari=veis eógenas ao modelo#
Um di=logo entre Sen e Dort2 mostra uma compatibilidade em pelo menos dois aspectos#
Primeiro3 5uando ambos &alam3 um em epansão das liberdades3 e outro em convergência das
taas privadas e sociais de retorno# A criação e3 principalmente3 a sustentação de um
crescimento duradouro3 em Dort23 ou da epansão das liberdades individuais3 em Sen3 ( um
processo 5ue dependeria desta não dissociação entre os gan2os individuais e os bene&!cios
sociais advindos desta epansão# Dos dois 2=3 contudo3 uma lacuna3 e este ( o segundoHE
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aspecto similar% como se eplica a mudança# )m Dort2 ela tamb(m ( incremental ou eógena
ao modelo# )m Sen o con&lito aparece na distribuição das capacidades e nas di&erentes
liberdades# Dão 2averia incompatibilidade lógica em di7er 5ue a epansão ou não das
liberdades depende das instituiç;es 5ue operam em cada realidade espec!&ica3 mas volta a5ui
o problema da determinação das instituiç;es3 como destacado no tópico anterior# Do limite3
novamente a eplicação ( tautológica# "a! a necessidade de uma ponte com as estruturas
sociais do desenvolvimento#
$ grande m(rito destas duas abordagens est= em 5ue elas abandonam a id(ia de tomar o
desenvolvimento como um estado alcanç=vel pelas sociedades e recolocam no centro do
debate o processo pelo 5ual o desenvolvimento se &a7% isto marca uma di&erença tanto com os
5ue redu7em desenvolvimento a crescimento 5uanto com os pós-desenvolvimentistas# Do
caso de Sen3 como &oi dito3 isto se &a7 atrav(s da ên&ase con&erida a outras dimens;es 5ue não
a ri5ue7a3 como tamb(m em sua inovadora maneira de pensar o desenvolvimento como &im e
como meio# Do caso de Dort23 a principal contribuição ( mostrar como o processo de
desenvolvimento ( resultado de determinadas &ormas de coordenação3 as 5uais sempre estão
e5uacionando elementos estruturais como a relação entre demogra&ia e o ambiente3 a
tecnologias3 as ideologias e instituiç;es pol!ticas e econOmicas3 com desta5ue para o )stado#
)m uma palavra3 trata-se de duas abordagens 5ue elaboram de maneira nova e apoiada em
procedimentos inegavelmente cient!&icos o problema do desenvolvimento# Delas3 todas as
&ormas de reducionismo dão lugar a teorias compleas e multidimensionais nas 5uais a
2istória ocupa um lugar central# Ao menos neste aspecto3 elas representam uma dese6=vel
reconciliação com as concepç;es evolucionistas do s(culo Z>Z#
53+36 ' Desen)o#)imen"o e meio'am!ien"e
As relaç;es entre desenvolvimento e meio-ambiente têm sido crescentemente teori7adas nas
di&erentes disciplinas das ciências sociais#
Do campo econOmico3 especi&icamente3 pode-se di7er 5ue o debate se polari7a3 embora não
se esgote3 entre duas abordagens% a da c2amada Icurva de u7nets ambientalJ +Grossman X
ruegger3 1E.3 e a do Iestado estacion=rioJ +"al:3 1H.#
HH
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A id(ia da Icurva de u7nets ambientalJ ( relativamente simples e consiste numa adaptação
8 5uestão ambiental da &ormulação 5ue a5uele autor elaborou para eplicar a relação entre
crescimento e distribuição de renda# Segundo esta teoria3 produ7ida nos anos ER3 a relação
entre crescimento do P> e a distribuição de renda piorava no momento de alavancagem de
uma economia3 mas tenderia a mel2orar 5uando &osse atingido um determinado patamar per
capita3 dando origem a uma representação gr=&ica parecida com um IUJ invertido3 a curva de
u7nets# Apoiados em estat!sticas dispon!veis para problemas como poluição atmos&(rica
urbana3 oigenação de bacias 2idrogr=&icas3 e dois tipos de contaminação de =guas3 Grossman
X rueger +1E. conclu!ram 5ue a partir de um determinado patamar per capita3 situado em
torno de oito mil dólares3 estes problemas começam a ser revertidos#
Apesar da pobre7a da relação de causalidade epressa na 2ipótese da curva de u7nets
ambiental3 ( ineg=vel 5ue determinados con&litos podem encontrar maiores condiç;es de
solução em sociedades 5ue go7am de maior poder &inanceiro# Um problema ( a epansão de
uma relação de causalidade direta para um con6unto de situaç;es baseadas em estilos de
crescimento e uso social de recursos naturais tão diversas# Um segundo problema consiste em
esperar sabe-se l= 5uanto tempo para 5ue a 2umanidade toda ten2a um patamar de renda de
oito mil dólares para 5ue se possa3 então3 testar a validade da 2ipótese para os problemas
ambientais globais#
'= a id(ia do Iestado estacion=rioJ não ( tão simples de ser eplicada# )la tem origem na
&!sica3 mais especi&icamente na Bei da )ntropia contida no Segundo Princ!pio da
Termodin4mica# A id(ia de um estado estacion=rio3 na realidade3 6= estava posta desde os
cl=ssicos da economia3 mas ( com Georgescu-9oegen +1M0. 5ue ela gan2a &orça3 com a
associação 5ue ele promove entre a Bei da )ntropia e a an=lise da 5uestão ambiental# "uas
id(ias a5ui são &undamentais# A primeira ( 5ue as atividades econOmicas gradualmente
trans&ormam energia e3 nesse processo3 sempre 2= dispersão de energiaV algo 5ue se perde3
5ue não se materiali7a em produto e nem ( pass!vel de reutili7ação# A segunda3 ( 5ue este
mesmo processo de produção gera re6eitos3 os 5uais nunca poderão ser integralmente
reciclados# Do longu!ssimo pra7o3 portanto3 não 2averia se5uer &orma de sustentabilidade
plena poss!vel# $ 5ue ( poss!vel3 e este ( o argumento central contido na id(ia de estado
estacion=rio3 ( atingir um determinado est=gio de desenvolvimento3 no 5ual o consumo
HM
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baseado na epansão do produto possa dar lugar ao consumo de bens culturais e não
materiais3 retardando o colapso#
A5ui3 o problema ( saber 5uais as bases para esta transição# Georgescu-9oegen não aborda
diretamente este problema3 por considerar 5ue o sentido contido na Bei da )ntropia não
poderia ser contornado# @as um proeminente seguidor seu3 ?erman "al:3 sim# )3
in&eli7mente3 sua resposta não ( nada satis&atória# A seu &avor3 ( preciso di7er 5ue "al:
admite 5ue boa parte da 2umanidade ainda est= longe de padr;es ra7o=veis de vida# Sua
proposta de adoção imediata de um outro estilo de desenvolvimento direciona-se 8s poucas
naç;es 5ue atingiram esses patamares# @as3 mesmo ali3 o 5ue levaria a crer 5ue as pessoas
estariam dispostas a abrir mão do consumo e da mel2oria de seu con&orto material em nome
da preservação do meio-ambiente Q Sua resposta ( 5ue seria poss!vel engendrar novos valores
capa7es de pOr &im 8 san2a consumista e individualista3 por eemplo3 atrav(s da religião
+"al:3 1H.# $utros não invocam a religião3 mas o altru!smo e a educação ambiental para
cumprir este papel de construir uma outra racionalidade +Be&&3 1.# $ problema est=3 pois3
na percepção dos riscos ambientais e nas &ormas de seu encamin2amento3 o 5ue desloca o
problema para uma abordagem propriamente sociológica#
Do campo sociológico ( a c2amada sociologia do risco3 representada na obra de seu maior
epoente3 Ulric2 ecL3 5uem desenvolve a mais consistente &ormulação inserindo a 5uestão
ambiental nas condiç;es espec!&icas da modernidade# )m termos gerais3 o 5ue ( a abordagem
do risco Q $ centro do argumento de ecL +1H. reside na identi&icação de uma mudança
5ualitativa no con&lito inerente 8 condição moderna em seu per!odo mais recente# )n5uanto
num primeiro momento a modernidade se estruturou em determinadas certe7as - como a
epansão das condiç;es de vida +e3 num interregno3 com o pleno emprego.3 o progresso
tecnológico e a con&iança no con2ecimento cient!&ico -3 no momento atual elas teriam dado
lugar a riscos globais epressos nas ameaças da militari7ação3 nos problemas ambientais3 nos
direitos 2umanos# Da passagem de um a outro per!odo estil2açam-se os con&litos antes
estruturados predominantemente em torno da oposição capital-trabal2o3 t!picos da sociedade
industrial3 e passam ao primeiro plano estes con&litos globais 5ue atingem di&erentes classes
sociais# Passa-se do progresso ao risco3 das certe7as 8 insegurança# A busca do Iporto seguroJ
não estaria mais nas vel2as instituiç;es F como a ciência F mas sim num movimento de auto-
an=lise da sociedade3 num outro tipo de moderni7ação3 5ue o autor c2ama de moderni7açãoH
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re&leivaE1# Dela3 não 2= soluç;es ou camin2os cumulativos3 mas a abertura para pOr sob
suspeição toda &orma de certe7a e para a busca de alternativas minimi7adoras destes riscos#
Nual5uer analogia com a o papel da psican=lise ante os con&litos dos indiv!duos não ( mera
coincidência#
A 5uestão ambiental aparece3 em ecL3 como um destes riscos globais3 como um dos
con&litos estruturadores da modernidade re&leiva# A separação entre nature7a e sociedade (
negada3 8 medida 5ue 2= tempos a nature7a &oi sociali7ada e 8 medida 5ue a nature7a do
social &oi internali7ada na crise do padrão civili7atório# Tal como os demais con&litos3 não
caberia esperar sua resolução pelo dom!nio da t(cnica e da ciência3 mas ao contr=rio3 pelo
dom!nio da sociedade ante os conte<dos da t(cnica e da ciência 5ue incidem e operam com a
nature7a +ecL3 1H.#
A5ui 6= ( poss!vel entrever alcances e limites da abordagem do riscoE/# )ntre os aspectos
positivos da abordagem est= o &ato de con&erir ao problema ambiental um estatuto de maior
import4ncia3 cu6o tratamento certamente ter= um peso crescente nos processos de tomada de
decisão de agentes p<blicos e individuais# 'unto disso3 ( positiva tamb(m a indicação de 5ue
se trata de um con&lito 5ue não obedece 8 lógica de oposiç;es cl=ssicas como capital-
trabal2o# @as ( precisamente nesse ponto 5ue surge a primeira insu&iciência% o &ato de não
2aver uma determinação de classe neste tipo de con&lito não signi&ica 5ue não 2a6a con&litos
de interesses e 5ue as posiç;es relativas dos agentes na estrutura se6a de menor import4ncia#
Como di7 Bas2 +1M.3 uma suposição b=sica da moderni7ação re&leiva ( esta libertação
progressiva da ação em relação 8 estrutura# Some-se a esta insu&iciência uma contradição% a
id(ia do risco aposta na &alência do estatuto &undante de instituiç;es t!picas da c2amada
sociedade industrial3 como a ciência moderna e a ra7ão3 mas propugna uma resolução dos
con&litos pela via do maior con2ecimento e apreensão do real3 &ortemente tribut=ria do
>luminismo e do racionalismo# *olta a5ui não só o problema das instituiç;es3 mas tamb(m
das estruturas sociais 5ue in&luenciam sua &ormação#
'= no campo da geogra&ia têm sido elaboradas interessantes an=lises onde os &atores
ambientais entram como condicionantes das evoluç;es relativas a cada &ormação social# >sto
E1 *er GiddensV ecL3 Bas2 +1M.#E/
Para uma apresentação mais cuidadosa e uma an=lise da evolução das abordagens do risco3 consultar Guivant+1.#
H
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6= estava presente desde os primórdios da constituição deste ramo cient!&ico3 no s(culo Z>Z#
@as ( nas obras recentes do biogeógra&o evolucionista 'ared "iamond3 a seguir tomada um
pouco mais de perto3 5ue se encontra a mais ampla aplicação da associação entre meio-
ambiente e desenvolvimento numa perspectiva de longa duração#
O :ensamen"o de ared Diamond
Dos <ltimos anos dois livros de inve6=vel densidade teórica e 2istórica &oram publicados por
"iamond# Do mais recente F 4olapso/ como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso
-3 o intuito ( mostrar3 como o próprio subt!tulo indica3 os camin2os 5ue levaram ao longo dos
tempos as v=rias sociedades a sucumbir por problemas derivados de crises ambientais ou3
inversamente3 como elas alcançaram soluç;es e alternativas 5ue l2es permitiram corrigir
rumos evitando tais desastres# $ livro anterior3 por sua ve73 busca eplicar a di&erenciação
espacial do desenvolvimento das sociedades 2umanas% nada mais3 nada menos do 5ue isso ( a
pretensão sinteti7ada nas 5uase 5uin2entas p=ginas do livro Armas, germes e aFo 5 os
destinos das sociedades humanas# *alendo-se de recursos da geogra&ia3 da biologia3 e at( da
ling!stica3 entre outras especialidades3 mas sem incorrer em grandes digress;es teóricas3 este
autor transita por de7 milênios de 2istória e &ornece uma eplicação bastante coerente e
consistente para sua 5uestão3 e 5ue tem tudo a ver com as ponderaç;es a5ui levantadas# Para
apresent=-la3 nada mel2or do 5ue indicar3 ao menos nas suas lin2as gerais3 o camin2o
percorrido pelo próprio autor E0#
Da primeira parte do livro 6= citado3 "iamond coloca uma pergunta 5ue 6= &ascinou muitos
antropólogos% na con5uista da Am(rica3 o 5ue &e7 com 5ue um pe5ueno pun2ado de
espan2óis derrotasse as &orças incas3 8 ocasião muito mais numerosas +I1H es&arrapados
espan2óis contra perto de R#RRR 2omens do e(rcito incaJ3 segundo seu relato. Q Por tr=s
desta pergunta aparentemente simples3 "iamond interroga na verdade as ra7;es do dom!nio
europeu ocidental sobre o restante do mundo# certo 5ue num primeiro momento3 como 6=
apontaram outras an=lises3 2ouve um misto de temor e veneração diante da imagem
descon2ecida tra7ida com os invasores% suas armaduras3 naus3 cavalos# @as não seria
somente esta a ra7ão do massacre# A&inal3 logo após o espanto inicial3 o embate se deslocou
do terreno simbólico para outro bem mais palp=vel3 com a captura do imperador e o violento
E0 C&# "iamond +/RR/3 /RRE.#MR
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embate &!sico entre os dois grupos# A5ui a eplicação poderia se deslocar para uma resposta
simples% a superioridade do armamento espan2ol3 o aço# @as o autor não se contenta com a
resposta &=cil e3 em meio a uma descrição complea das m<ltiplas dimens;es envolvidas
na5uela con5uista F como3 entre outras coisas3 o e&eito desagregador 5ue a captura do
imperador teve ante uma estrutura &ortemente centrali7ada em seu personagem a um só tempo
pol!tico e religioso -3 "iamond recoloca a 5uestão3 remetendo para uma resposta 5ue eige
uma ainda maior pro&undidade 2istórica% por 5ue3 então3 eram os espan2óis 5uem detin2am a
tecnologia do aço e seus usos3 5uando eram certas populaç;es do Dovo @undo tão mais
so&isticadas em uma s(rie nada despre7!vel de aspectos Q
A segunda parte do livro eplora 6ustamente esta incógnita# Antes de passar a ela3 (
importante &risar 5ue3 ainda na primeira parte3 "iamond começa por uma apresentação do
estado do mundo desde 5ue o 2omem se separa de seus ancestrais na =rvore genealógica at(
um ponto situado mais ou menos tre7e mil anos atr=s3 com o intuito não só did=tico3 mas
metodológico mesmo3 de mostrar como a esp(cie 2umana 2avia se espal2ado pelo mundo e
como3 na5uele instante3 seu desenvolvimento se encontrava em est=gios di&erenciados nestas
v=rias partes do mundo# Tamb(m nesta primeira parte do livro3 o autor analisa como a
geogra&ia molda as sociedades 2umanas tendo por base um 5uase eperimento de 2istória
natural% a &ormação das il2as polin(sias# Ali3 um povo com a mesma origem biológica e
partil2ando de um mesmo rol de con2ecimentos e valores3 num dado momento de sua
tra6etória &oi instado a povoar a5uele con6unto diverso de il2as# $ 5ue "iamond mostra (
como3 apesar destas condiç;es iniciais similares3 &oi o ambiente diversi&icado 5ue l2es
moldou di&erenciadamente o processo evolutivo3 condicionando seus costumes3 sua
tecnologia3 suas instituiç;es pol!ticas e econOmicas# $ cerne do seu argumento est= na id(ia
de 5ue condiç;es ambientais mais restritivas para a condição 2umana em certas il2as3 por
eemplo com menor disponibilidade natural de alimentos3 teriam levado a5uelas sociedades
locais a um maior es&orço no sentido de desenvolver tecnologias e criar instituiç;es mais
ade5uadas 8 tare&a de moldar esse meio 8s suas necessidades# $ 5ue "iamond tenta &a7er na
segunda parte do livro ( eatamente etrapolar estas evidências apontadas pela eperiência
polin(sia para a eperiência da 2umanidade como um todo# >sto (3 trata-se de mostrar como
os condicionantes ambientais moldaram as tra6etórias das sociedades 2umanas3 engendrando
elos e interdependências entre &atores como os germes - 5ue certamente mataram mais
M1
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populaç;es nativas do 5ue o aço -3 a domesticação de grandes mam!&eros3 a cultura3 a
organi7ação pol!tica3 a tecnologia#
Assim3 a segunda parte desenvolve este en&o5ue anunciado na primeira3 tentando partir das
causas imediatas3 5ue possibilitaram o dom!nio europeu sobre os demais povos3 em direção
8s suas causas 2istóricas# ) entre as causas 2istóricas3 di7 "iamond3 a produção de alimentos
F mais 5ue isso3 as di&erentes &ormas e tempos atrav(s dos 5uais as sociedades 2umanas se
2abilitaram 8 produção de alimentos F ocupa um lugar &undamental na cadeia eplicativa#
)n5uanto alguns povos aprenderam so7in2os a cultivar3 outros só o &i7eram no contato com
os 5ue 6= detin2am esta t(cnica# )n5uanto algumas =reas apresentavam mais esp(cies e
condiç;es prop!cias para cultivo3 outras eram mais restritivas# Com isso3 ao mesmo tempo em
5ue algumas =reas tornaram-se auto-su&icientes3 outras continuaram dependentes# ?=3
portanto3 uma base biológica e ambiental 5ue condicionou a evolução das sociedades
2umanas# @as isto não ( tudo# Por 5ue esse condicionamento evoluiu numa certa direção em
determinados lugares e em outra direção em outros 5uando se ampliaram as condiç;es
2istóricas para a disseminação das inovaç;es alcançadas por determinadas sociedades Q A
resposta (3 novamente3 ecológica e geogr=&ica# $ eio leste-oeste da )ur=sia &avoreceu não só
a propagação de culturas agr!colas e a criação de animais3 &ace 8 relativamente baia
variabilidade de clima e latitude3 mas tamb(m a propagação de inovaç;es tecnológicas3
devido ao car=ter relativamente modesto das barreiras naturais# '= o eio norte-sul nas
Am(ricas3 mostrou-se um di&icultador em ambos os aspectos e pelas caracter!sticas opostas#
A terceira parte do livro estabelece mais um elo na cadeia causal3 mostrando como o
estabelecimento de populaç;es densas na )ur=sia3 possibilitada pelas condiç;es 6=
assinaladas3 levaram 8 &ormação dos germes3 a cu6a eposição prolongada os povos do *el2o
Continente &oram submetidos3 com a criação dos correspondentes anticorpos3 coisa 5ue não
ocorreu com as populaç;es do Dovo @undo# Tamb(m nesta parte3 "iamond retoma outro
aspecto importante3 este 6= mais con2ecido das ciências sociais% a relação 5ue a produção de
alimentos teve para com o surgimento da escrita3 das artes3 das especiali7aç;es e os
desdobramentos 5ue l2e são correspondentes3 sobretudo em termos tecnológicos# A id(ia
b=sica est= no simples &ato de 5ue a auto-su&iciência em comida liberava estas populaç;es da
tare&a de caça e coleta3 permitindo uma dedicação de tempo para especialidades outras3 e3
M/
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claro3 para o sustento de elites pol!ticas e militares 5ue surgiam acompan2ando este
movimento de complei&icação e 2ierar5ui7ação de sociedades e grupamentos 2umanos#
A 5uarta parte de seu livro emerge deste corte vertical na 2istória para analisar as di&erenças
2ori7ontais do mundo tal como o con2ecemos# @ais uma ve7 amalgamando os
con2ecimentos de um le5ue variado de disciplinas atrav(s dos recursos da teoria evolutiva3
"iamond ir= responder a perguntas como% por 5ue a ]&rica tornou-se negra ou por 5ue a
C2ina tornou-se c2inesa3 passando por uma 2istória da Austr=lia e por uma 2istória
comparada da Am(rica e da )ur=sia#
)m s!ntese3 são 5uatro os &atores apontados por "iamond como eplicativos do destino das
sociedades 2umanas% di&erenças continentais entre as esp(cies selvagens de plantas e animais
constitu!ram-se como as condiç;es iniciais 5ue moldaram os respectivos camin2os
evolutivosV barreiras ecológicas in&luenciaram decisivamente no ritmo e no sentido de
di&usão e migração dentro dos continentesV barreiras ecológicas &oram &atores 5ue
in&luenciaram igualmente na di&usão entre os continentesV e a relação entre =rea e taman2o
de população total3 por &im3 ( &undamental para eplicar não só a din4mica população-
recursos naturais3 mas para eplicar as possibilidades de surgimento e epansão das
inovaç;es#
Um ponto inegavelmente importante est= no &ato de 5ue ele consegue evidenciar as
determinaç;es ambientais para o desenvolvimento das sociedades 2umanas sem3 no entanto3
cair nos riscos do biologismo# com esta perspectiva3 ali=s3 5ue ele se p;e em debate# $ 5ue
"iamond tenta demonstrar ( 5ue não 2= nada de superior na constituição biológica de
5ual5uer grupo de indiv!duos 2umanos em relação aos demais# Nue povos com a mesma
constituição erigiram sociedades completamente di&erentes# ) 5ue as ra7;es são determinadas
2istoricamente e ambientalmente#
A principal cr!tica 5ue se pode &a7er ao pensamento de "iamond est= no &ato de 5ue ele
concebe as sociedades 2umanas como agrupamentos 5ue evoluem em resposta a est!mulos e
constrangimentos do meio-ambiente3 não cabendo 5ual5uer mediação com os processos mais
propriamente sociais +sociológicos. 5ue envolvem esta 2istória# $ autor recon2ece esta cr!tica
e argumenta como3 em muitos casos3 a estrutura social agiu como &acilitador ou impedimentoM0
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da disseminação de inovaç;es importantes para o destino destas sociedades3 como na C2ina
ou na [ndia# @as3 ressalta ele3 tamb(m a!3 em <ltima inst4ncia3 a determinação ser= ambiental#
) recoloca a 5uestão% por 5ue a C2ina manteve por tanto tempo sua unidade en5uanto a
)uropa se constituiu num mosaico de povos e culturas Q A resposta3 como sempre3 est= nos
&atores ambientais e geogr=&icos% por5ue as caracter!sticas internas do território c2inês
&acilitavam este dom!nio3 numa oposição ao desen2o c2eio de pen!nsulas e ao litoral
recortado europeuV e tamb(m por5ue a locali7ação da C2ina não l2e troue muitas vantagens
de interc4mbio#
A segunda cr!tica di7 respeito 8s possibilidades da mudança numa escala de tempo menor e3
em particular3 8 id(ia de 5ue o peso das determinaç;es do mundo natural teria diminu!do em
import4ncia nos tempos modernos# Sobre isto a resposta de "iamond ( enviesada# )le
recon2ece a 5uestão3 mas vai assinalar o aspecto condicionante 5ue os &atores ambientais
tiveram no longo pra7o e 5ue 2o6e colocam povos e naç;es em condiç;es desiguais# Algo 5ue
lembra a path dependence de Dort2 e seus desdobramentos para a eplicação da desigualdade
entre naç;es3 mas pelo vi(s do condicionante ambiental# ,ica portanto3 em aberto3 neste
grande livro de "iamond3 um di=logo mais direto sobre a possibilidade de mudança na
condição espec!&ica da modernidadeE#
Do livro de /RRE F 4olapso * "iamond dedica certas passagens da introdução a um di=logo
com parte de seus cr!ticos# Tendo sido bastante acusado de apelar para um determinismo
ambiental3 nesta nova obra o autor reitera v=rias ve7es 5ue as sociedades escol2em3 e podem
evitar as cat=stro&es ambientais# )n5uanto em Armas, germes e aFo a 5uestão principal
consistia em eplicar as ra7;es da supremacia europ(ia nos tempos modernos3 nesta nova
obra "iamond se prop;e mostrar por5ue3 ao longo do <ltimo milênio3 determinadas
sociedades desapareceram3 en5uanto outras permaneceram# )le elenca cinco &atores 5ue
podem contribuir para 5ue ocorram ou não colapsos ambientais% dano ambiental3 mudança
clim=tica3 vi7in2ança 2ostil3 parceiros comerciais amistosos3 e respostas da sociedade aos
problemas ambientais# curioso notar 5ue são dedicadas aproimadamente 5uatro p=ginas
para os primeiros &atores3 de ordem ambiental# '= para a eplicação do 5uinto &ator3 após a
indicação de alguns eemplos onde se adotaram soluç;es 5ue levaram ao &racasso ou ao
E
)mbora não trate especi&icamente da obra de "iamond3 uma cr!tica 8s abordagens da mudança de longo pra7ocentradas na dimensão ambiental pode ser encontrada em Anderson +11.#
M
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sucesso3 como representado respectivamente pelo caso da Groenl4ndia e do 'apão3 "iamond
pergunta% como compreender resultados tão di&erentes Q A resposta3 segundo ele3 ( 5ue tudo
depende das instituiç;es pol!ticas3 econOmicas3 sociais e dos valores culturais de cada
sociedade# ) passa adiante# $ eame dos casos descritos ao longo do livro não permite
energar uma estrutura eplicativa espec!&ica para como surgem estas instituiç;es# Dem por
isso a contribuição de "iamond ( menos importante# @as revela uma lacuna 5ue precisa ser
preenc2ida#
Nuem não recua diante de tão compleo desa&io ( 'ane 'acobs3 urbanista e autora de livros
consagrados como )ida e ortes das grandes cidades e3 mais recentemente3 de uma obra
cu6o t!tulo di7 muito sobre seu vi(s de abordagem% A nature&a das economias# Para ela3
desenvolvimento ( uma versão3 uma &orma do desenvolvimento natural# A essência de seu
argumento talve7 possa ser resumida na a&irmação de 5ue as sociedades3 e as economias mais
especi&icamente3 se tornam din4micas e se desenvolvem 5uando são capa7es de promover
variadas e intricadas interaç;es3 e assim criar vigorosamente di&erenciaç;es a partir da5uelas
6= eistentes# Por isso diversi&icação ( uma palavra-c2ave% ela amplia a possibilidade de
interaç;es entre as partes do sistema3 se6a ele um sistema natural3 um sistema de cidades3 uma
economia local# Possibilidades de interação e inteligência criativa &a7em estas combinaç;es
se tornarem novas generalidades3 da 5ual irão se tornar poss!veis novas combinaç;es3 novos
co-desenvolvimentos3 e assim sucessivamente3 numa din4mica de constante criação3
diversi&icação e evolução +'acobs3 /RR1.# $ desenvolvimento teria3 assim3 um movimento
geral3 um sentido3 e uma lógica 5ue ( a mesma 5ue vale para os &enOmenos naturais e sociais#
)sta tese de 'acobs (3 portanto3 <til para pensar o desenvolvimento3 em geral3 e ser=
particularmente importante 5uando se &or analisar desenvolvimento rural3 em particular3 6=
5ue uma das mais importantes obras da autora trata 6ustamente das relaç;es entre cidades e os
campos na produção da ri5ue7a +'acobs3 1.#
)sta id(ia de diversi&icação merece ser retida# $s problemas na teoria de 'acobs começam
6ustamente 5uando ela atribui 8 din4mica econOmica3 evolutiva3 um naturalismo# Se &osse
poss!vel energar alguma uni&ormidade nos processos de desenvolvimento sua eplicação
seria su&iciente# $ problema ( 5ue seu modelo teórico simplesmente não permite analisar a
di&erença3 a desigualdade# Tudo se passa como se3 naturalmente3 di&erenciaç;es emergissem
de generalidades3 das 5uais surgiriam novas di&erenciaç;es# @as por 5ue determinadasME
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generalidades dão origem a certos tipos de di&erenciaç;es Q >sto não pode ser eplicado
somente pelos condutos de energias3 nem por 5ual5uer determinação pr(via inscrita na
con&iguração anterior# As con&iguraç;es eplicitam campos de constrangimentos e de
possibilidades3 mas não o sentido em 5ue se estabelecer= sua din4mica#
Assim como na cr!tica &eita a Sen3 seria preciso a5ui introdu7ir um elemento eplicativo 5ue
desnaturali7e a eplicação3 e 5ue con&ira 8s estruturas sociais algum papel# claro 5ue 'acobs
recon2ece 5ue as di&erentes possibilidades de reali7ação da criatividade das pessoas não são
plenamente liberadas3 não são livres de condicionantes# $ problema est= em 5ue3 o 5ue
eplica a evolução do real ( 6ustamente por 5ue mecanismos a criatividade inata aos seres
2umanos não se reali7a plenamente3 e não o potencial nela contido# $u3 em outros termos3 o
5ue ( eplicativo não ( o inato3 mas o 5ue impede o potencial3 o inato3 de se reali7ar3 ou o 5ue
o canali7a em di&erentes direç;es# 6ustamente isso 5ue &a7em @a7o:er X 9oudart
+1M/RR/. em sua 2istória das agriculturas do mundo% ali o meio-ambiente ( uma inst4ncia
tão determinante 5uanto o são os con&litos ou a tecnologia# Deste livro 5ue tamb(m aborda a
longa evolução de sociedades 2umanas3 a nature7a entra como elemento eplicativo3 sem
apagar os determinantes sociais do apogeu e decl!nio das grandes civili7aç;es3 mas tamb(m
sem subordinar-se completamente a estes determinantes#
MH
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S7n"ese do Ca:7"u#o 5
)mbora não eista d<vida de 5ue a maior parte das de&iniç;es dispon!veis sobre
desenvolvimento ten2a como traço comum seu vi(s eminentemente normativo3 a retomada da
longa tra6etória desta id(ia mostra 5ue nem sempre &oi assim# Duma outra vertente3 cu6a
validade cient!&ica não pode ser 5uestionada3 o desenvolvimento de uma sociedade pode ser
compreendido como evolução de uma con&iguração 2istórica determinada# )volução 5ue
nada tem de linear3 e 5ue pode se dar em di&erentes direç;es3 aproimando-se ou
distanciando-se do ideal contido no pro6eto normativo do desenvolvimento como mel2oria
dos indicadores econOmicos3 sociais e ambientais de um dado pa!s3 região ou grupo social#
Compreender nestes termos os processos de desenvolvimento leva necessariamente 8
constatação da insu&iciência dos aparatos teóricos a eles dedicados# As teorias de maior apelo
pecam ou por desconsiderar a import4ncia do esto5ue de bens e recursos de 5ue uma
sociedade disp;e para estabelecer &luos din4micos F recursos 5ue lin2agens bem distintas do
pensamento social e econOmico vêm c2amando por capitais3 social3 2umano3 cultural3 e at(
natural -3 ou por não eplicar de onde vêm as instituiç;es 5ue l2es permita compO-los de uma
maneira a alcançar mais bem-estar e coesão social# "a! a necessidade de observar as
articulaç;es entre meio-ambiente3 estruturas sociais e instituiç;es3 aspectos geralmente
en&ati7ados de maneira isolada por tradiç;es disciplinares concorrentes como a geogra&ia3 a
sociologia ou a economia#
MM
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PAR%E II
RURALIDADE
M
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Ca:7"u#o + 4 Rura#idade
A id(ia de desenvolvimento rural ( algo 5ue envolve a mani&estação de um processo de
caracter!sticas mais gerais3 o desenvolvimento3 em um dom!nio espec!&ico3 neste caso o rural#
Compreendê-lo sob uma perspectiva não normativa ( algo 5ue eige a adoção de dois
procedimentos# $ primeiro ( o 5ue se depreende da Parte >3 anterior% ( preciso entender o
desenvolvimento não como dese6o ou utopia3 pelos conte<dos epressos num Idever serJ3
mas como evolução de con&iguraç;es sociais determinadas3 analisando as interdependências
entre meio-ambiente3 instituiç;es e estruturas sociais a partir de um en&o5ue
de sua tra6etória em longo pra7o# $ segundo procedimento ( 6ustamente o 5ue ense6a esta
Parte >>% de&inir em 5ue consiste a particularidade deste tipo de espaço 5ue ( o rural# Dos
tempos recentes tornou-se 5uase um 2=bito acrescentar o ad6etivo InovoJ para tratar da
5ualidade do rural no mundo contempor4neo# ,ala-se em Inovo ruralJ3 em Inovas
ruralidadesJ3 muitas ve7es sem um maior es&orço anal!tico em elucidar o 5ue neles ( recente e
o 5ue ( propriamente permanente# >mporta3 sobretudo3 saber 5ual a implicação desta nova
situação3 insinuada pela ad6etivação crescentemente vista na bibliogra&ia sobre estudos rurais3
em termos de inst4ncias emp!ricas &undamentais e de articulaç;es conceituais para entendê-
las# Uma opção 5ue3 al(m disso3 se imp;e tamb(m pelo teor da tese 5ue se pretendedemonstrar% a a&irmação de 5ue os rumos atuais dos processos de desenvolvimento em =reas
rurais e os es&orços cognitivos para compreendê-los3 sobretudo a5ueles presentes no 4mbito
da c2amada abordagem territorial3 representam um dépassement do paradigma agr=rio3
dominante nas ciências sociais aplicadas aos estudos rurais#
$s dois cap!tulos 5ue comp;em esta Parte do estudo tomam a oposição campo-cidade3 rural-
urbano3 como ponto-de-partida3 para super=-la em ve7 de neg=-la# Para isso3 este Cap!tulo /traça uma pe5uena 2istória desta relação# Atrav(s das contribuiç;es de grandes 2istoriadores
como ,ernand raudel3 Georges "ub:3 Paul airoc2 e de @a Weber3 pretende-se ressaltar
como a evolução destes dois espaços não pode ser compreendida senão em termos de suas
interdependências# Desta tra6etória3 são abordadas as especi&icidades 5ue marcam tanto a
2eterogeneidade espacial da urbani7ação em termos 2istóricos e geogr=&icos gerais3 como
especi&icamente a Am(rica Batina e suas peculiaridades# $ ponto-de-c2egada ( a interrogação
em torno das mudanças atuais e o 5ue elas signi&icam perante a tra6etória de urbani7ação
M
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SoroLin elenca os seguintes traços marcantes% as di&erenças ocupacionais entre os dois
espaços3 com maior peso das atividades prim=rias no caso dos espaços ruraisV as di&erenças
ambientais3 com maior dependência da nature7a no ruralV o taman2o da populaçãoV a
densidade demogr=&icaV o grau de di&erenciação social e de compleidadeV as caracter!sticas
de mobilidade socialV e as di&erenças de sentido da migração>># São traços 5ue claramente
&alam mais da condição rural nos anos 0R do s(culo ZZ3 5uando tal de&inição &oi &ormulada3
do 5ue eatamente de caracteres &undamentais da ruralidade>-#
$ estudo da 2istória urbana3 da 2istória das cidades3 por sua ve73 rendeu periodi7aç;es e
tipologias interessantes3 5ue partem de alguma de&inição do 5ue pode ser considerado3 em
perspectiva de evolução temporal3 uma cidade# Paul airoc23 num livro cl=ssico sobre o tema
F De ?erico a é3ico/ villes et économie dans l;histoire +airoc23 apud airoc23 1/. F
elenca cinco crit(rios mais comuns para se considerar um assentamento 2umano determinado
como uma cidade% eistência de um artesanato em tempo integral3 ind!cio de especiali7ação
de tare&asV eistência de &orti&icaç;es por oposição a aldeia3 5ue permanece abertaV taman2o e
sobretudo densidade populacionalV a estrutura urbana de 2abitação +casas3 ruas3 etc.V e a
durabilidade da aglomeração em oposição ao acampamento#
airoc2 adverte 5ue dependendo da região em 5uestão alguns destes crit(rios podem perder o
sentido estruturante# "e todos3 a presença do artesanato ( o mais importante3 por sua relação
com a especiali7ação e o 5ue ela implica para a divisão do trabal2o e a necessidade e
possibilidade da troca# )sta conceituação sustenta uma cronologia de longa duração da
relação entre campos e cidades# Desta sua 2istória econOmica o autor estabelece uma
periodi7ação estruturada em 5uatro etapas% os primórdios da urbani7ação +ERRR a#C#.V as
sociedades tradicionais +de /MRR a C# 8 9evolução >ndustrial.V a 9evolução >ndustrial +da
9evolução >ndustrial ao Pós-guerra.V e &inalmente o per!odo marcado por a5uilo 5ue ele
c2ama de Iin&lação urbana no Terceiro @undoJ#
'= @a Weber3 em A dominaFão não leg(tima 1ipologia das cidades8, 2avia adotado
crit(rios de de&inição e classi&icação das cidades 5ue aliam aos crit(rios por ele mesmo
de&inidos como Iestritamente econOmicosJ e Ipol!tico-administrativosJ3 outros de ordem
EE C&# SoroLin3 ^immerman e Galpin +1H.#EH
A respeito da constituição deste ramo disciplinar e das in6unç;es sociais a 5ue ele estava eposto nestemomento3 ver @artins +1H.#1
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IassociativaJ +Weber3 1% R-R.# "e acordo com esta id(ia3 sob o aspecto estritamente
econOmico3 a eistência de uma cidade implicava% ter uma sede sen2orial-territorial com
centro3 para o 5ual deveriam convergir as demais atividadesV a troca regular de bens como
componente essencial das atividades a5uisitivasV ser um lugar 5ue comporte um mercado3
onde a população local satis&a7 uma parte essencial de suas necessidades cotidianas# Sob o
aspecto pol!tico-administrativo3 a cidade constituiu-se 2istoricamente como uma unidade
entre mercado3 como decorre das &unç;es descritas3 e &ortale7a3 guarnição3 sede
administrativa de uma determinada abrangência ou dom!nio# Destas condiç;es3 as cidades se
caracteri7aram &isicamente por serem assentamentos &ec2ados3 em oposição a ocorrência de
moradias isoladas3 e por serem grandes assentamentos 2umanos e não pe5uenos3 onde
predominam os laços de con2ecimento pessoal# A estes dois aspectos Weber agrega o
elemento associativo3 o 5ue em sua teoria signi&ica mais do 5ue a espont4nea ou indu7ida
combinação entre indiv!duos numa mesma empreitada ou organi7ação3 signi&ica mesmo o
próprio processo de Ias*sociaFão+3 de viver em sociedade>8# ) nisso Weber destaca a
necessidade de eistência de uma Icomunidade urbanaJ3 da 5uali&icação de cidadão com as
liberdades e direitos 5ue isto comporta3 mas3 tamb(m3 com os constrangimentos nisto
implicados3 tal 5ual eistiu originalmente somente no $cidente#
Do pensamento do grande sociólogo alemão3 e de maneira coerente com seu m(todo dos
tipos ideais3 em ve7 de uma cronologia tem-se uma tipologia3 onde a ên&ase no tipo de
agentes por detr=s dos processos sociais predominantes d= origem 8s t!pico-ideais cidades de
consumidores3 cidades de produtores3 cidades mercantis e cidades de agricultores3 com v=rios
destes tipos coeistindo em per!odos 2istóricos determinados>@#
Um di=logo entre estas de&iniç;es sugere 5ue uma abordagem da 2istória das relaç;es entre
campo e cidade deveria combinar a composição de crit(rios estruturais e &uncionais com
crit(rios relacionais3 atrav(s de um tratamento da longa duração da contradição entre os dois
pólos# isso o 5ue &a7 Georges "ub: +1M0. analisando a situação europ(ia e &rancesa em
particular3 at( c2egar a uma tipologia da interação destes espaços# $u ,ernand raudel
EM *er a respeito a elucidativa eplicação de Gabriel Co2n na sua introdução 8 edição brasileira de Economia eSociedade +Weber3 1.#E $s tipos ideais são um recurso elaborado por Weber para contornar os limites do pensamento indutivo emciências sociais# )les nunca eistem en5uanto tal no mundo real# São construç;es teóricas3 obtidas a partir daacentuação de um ou mais dos caracteres &undamentais das realidades em 5uestão3 e servem como uma medida
aproimativa3 a partir da 5ual pode-se avaliar o 5uão próimo ou distante determinada situação est= do tipo ideale3 em seguida3 interrogar as ra7;es para tanto# Para um tratamento mais pormenori7ado ver 9inger +/RR.#/
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+1M1E3 1E. 5ue em sua obra cl=ssica con&ere 8s cidades F sempre tomadas em relação
com os campos F o mesmo estatuto dado 8 moeda na evolução 2istórica da 4ivili&aFão
material e capitalismo% ambos são &undamentais para a ampliação das trocas# )3 como di7
raudel3 I sans échange, pas de société+#
Desta longa evolução3 cabe perguntar3 portanto3 o 5ue são os traços distintivos em uma e
outra (poca e3 principalmente3 o 5ue tal tra6etória ensina a respeito das caracter!sticas
&undamentais e das possibilidades de desenvolvimento rural no mundo contempor4neo#
+3535 4 Dos :rimórdios da di)isão es:aia# do "ra!a#<o H modernidade
A relação com o 5ue muito mais tarde a 2umanidade viria a c2amar como campos e cidades
começa pela própria essência do nascimento do &enOmeno urbano% a &ormação dos primeiros
assentamentos de car=ter mais permanente a partir da 9evolução do Deol!tico3 com a
passagem da col2eita3 caça e pesca para agricultura e a criação# Dão se trata de entrar a5ui na
polêmica 5ue 6= consumiu rios de tinta entre os especialistas no assunto sobre 5uem
determinou o 5uê na relação entre a sedentari7ação e a criação das pr=ticas agr!colas3 mas de
destacar 5ue o aumento da produção por super&!cie de terra teve conse5ências maiores para
a 2istória posterior da 2umanidade na &ormação de ecedentes intercambi=veis e no
adensamento populacional associado ao &im do nomadismo>9#
Para se ter uma id(ia do alto grau de interdependência entre estas duas vari=veis3 basta
lembrar 5ue3 para a situação da )uropa no Pr(-Deol!tico3 seria necess=ria uma =rea
e5uivalente a Icinco Suiças ou uma Grã-bretan2aJ para suportar uma cidade de mil
2abitantes3 o 5ue tornaria imposs!vel se estabelecer &luos de troca +airoc23 1/.# Por isso
não ( de se espantar 5ue raras &oram as regi;es onde3 2avendo agricultura3 não se &ormaram
cidades no curso dos dois mil anos seguintes# Nuanto mais volumosos os ecedentes
agr!colas3 5uanto mel2ores as terras3 mais precoce &oi o surgimento de assentamentos
2umanos importantes3 como mostra o 5uadro a seguir#
E
?= uma literatura relativamente etensa a respeito# Consultar3 entre outros3 oserup +1M.3 @a7o:er X9oudart +1M/RR/.3 Dort2 +11.#0
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&uadro 5Indiaçes de :r1"ia agr7o#a e surgimen"o das idades 4
om:aração "em:ora# e es:aia#
Região do mundo Primeiras indiaçes de :r1"ia daagriu#"ura
Primeiras indiaçes de idades :ro"o'ur!anas
Orien"e'mdio ERR-RRR a#C# MRR a#C# +'ericó.
(sia HRRR-ERRR a#C# /RRR a#C# +>ndia.1ERR a#C# +C2ina.
Amria MRRR-HERR a#C# 1ERR-RR a#C#
Euro:a HERR-HRRR a#C# /ERR a#C#
(.ria ERRR a#C# 1RRR-ERR a#C#
*on"e% airoc2 +1/.
)sta dependência direta &oi c2amada por airoc2 de Idupla tirania3 da dist4ncia e da
agriculturaJ# As possibilidades de desenvolvimento eram totalmente presas 8 possibilidade de
produção de bens de subsistência atrav(s da atividade prim=ria# ) as eventuais trocas estavam
igualmente vinculadas ao êito em se alcançar um ecedente# Seu interc4mbio3 por sua ve73estava igualmente atado 8 etensão da dist4ncia entre os locais de origem dos dois pólos
envolvidos3 6= 5ue não eistiam condiç;es de transporte e conservação m!nimas#
evidente 5ue a din4mica 5ue envolve estes n<meros e esta relação entre agricultura e
&ormação das cidades ( algo 5ue implica em intervalos temporais bastante dilatados3 como
&ica claro no 5uadro apresentado# ) não ( por acaso o uso da epressão Iassentamentos
2umanosJ e não cidades# airoc2 5uali&icou as primeiras &ormaç;es de Icidades proto-
urbanasJ3 pois elas 6= se distinguiam claramente das aldeias do Deol!tico# )n5uanto estas
eram &ormadas por assentamentos envolvendo de 5uin7e a trinta casas3 num total de du7entas
a 5uatrocentas pessoas3 as primeiras cidades do $riente @(dio3 por volta do ano /MRR a#C#3
reuniam entre sete a vinte mil 2abitantes# Ali 6= 2avia uma especiali7ação mais intensa e tem
in!cio uma verdadeira 9evolução Urbana3 tornando poss!vel desde então &alar
verdadeiramente em cidades3 com as caracter!sticas 5ue l2es são t!picas# )stima-se 5ue a
população mundial neste per!odo 6= era de algo entre 5uarenta a noventa mil2;es de
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2abitantes3 dos 5uais apenas um a dois mil2;es 2abitando nas cidades# Do per!odo entre 1M0R
e 1HR a#C#3 a abilOnia3 um dos mais importantes centros da Antigidade3 comportou entre
du7entos e tre7entos mil 2abitantes# ) no auge do >mp(rio 9omano3 sua capital c2egou 8
impressionante casa do um mil2ão de 2abitantes3 momento em 5ue o mundo inteiro
comportava pouco mais de cento e cin5enta mil2;es de pessoas# Após o decl!nio romano3
deslocou-se para a C2ina e o mundo muçulmano a concentração das cidades com mais de
cem mil pessoas# Passou-se 5uase um milênio para 5ue a população mundial dobrasse de
taman2o3 alcançando a casa dos du7entos e cin5enta mil2;es de pessoas por volta do ano
1RRR# "epois3 em apenas cinco s(culos este n<mero dobrou novamente3 e c2egou a
5uin2entos mil2;es em 1ERR# )m 1MRR a população mundial 6= 2avia saltado para algo em
torno dos setecentos mil2;es de pessoas3 dos 5uais sessenta mil2;es 2abitando as cidades#
Deste momento da 2istória3 a ]sia tin2a trinta e três cidades com mais de cem mil3 en5uanto
a )uropa tin2a apenas do7e# @as nesta <ltima3 embora o n<mero de citadinos ten2a se
multiplicado por cinco3 o n<mero de cidades de cin5enta mil 2abitantes 2avia se
multiplicado por 5uin7e +airoc23 1/.3 denotando um padrão bem di&erente da5uele
eperimentado no $riente e revelador da especi&icade europ(ia3 traço tão destacado por @a
Weber#
Segundo ele3 &oi 6ustamente na )uropa 5ue a intensidade das aç;es das cidades sobre os
campos &oi mais positiva para o con6unto da economia3 por5ue &oi ali3 na5uele continente ou
em uma parte espec!&ica dele3 5ue as cidades se constitu!ram em espaços de associação
menos vinculados 8s 5uali&icaç;es estamentais 5ue pesavam sobremaneira nos campos#
Weber dedicou uma etensa pes5uisa materiali7ada em v=rios de seus tetos para eplicar as
articulaç;es entre id(ias3 economia e sociedade-,# Sua abordagem ( compreensiva 6ustamente
por não con&erir uma determinação <nica do material para as instituiç;es ou vice-versa3 e sim
por ver o real como resultado de composiç;es 2istóricas singulares# )n5uanto no $riente as
cidades se &irmaram como etensão dos dom!nios de castas e estamentos religiosos3 no
$cidente elas tomaram a &orma de espaços de troca mais din4micos#
HR Para o debate a5ui proposto são de etrema import4ncia os seguintes tetos de Weber% o cap!tulo intituladoSociologia das religiKes e a seção 1ipologia das cidades3 ambos em Economia e SociedadeV e a -arte ###/ Religião3 dos )nsaios de Sociologia3 al(m d_ A ética protestante e o esp(rito do capitalismo# C&# respectivamenteWeber +1V 1R/RR.# Uma ecelente apresentação dos tetos sobre religião3 discutida a partir de sua
import4ncia para o processo de desencantamento e racionali7ação do mundo pode ser encontrada em Pierucci+/RR0.#E
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)smiuçando o pensamento Keberiano sobre esta especi&icidade3 "omingues +/RRR% ///.
eplica 5ue Ia cidade configurara*se como espaFo da liberdade e da autonomia
precisamente porque floresceu em um momento e3tremamente peculiar no desenvolvimento
histórico do .cidente" Ela inserira*se em um conte3to feudal, B' em si contratual,
estabelecendo*se um contrato de liberdade entre seus cidadãos 5 que formavam uma
comunidade em todos os planos, inclusive em termos de significaFão cultural e sentido da
aFão/ a defesa da liberdade compartilhada entre iguais" Ela escapara, com isso,
paralelamente à sua inserFão na tessitura contratual do mundo feudal, da lógica da
dominaFão que o estrutura" Ela constituiu*se em momento absolutamente singular da
história universal/ estabelecera uma autonomia ante os estamentos dominantes no conte3to
societal global do feudalismo, tornando a dominaFão tradicional ;não leg(tima;" Ao mesmo
tempo, desabrochara em um momento anterior ao desenvolvimento do Estado patrimonial, o
qual levou à sua subordinaFão, à dominaFão racional*legal e, afinal, à perda daquela
oportunidade histórica =nica de reali&aFão da liberdade" . credo coletivo da urbe, por seu
turno, tecera uma comunhão entre os cidadãos sem que, por outro lado, se rompesse a
efetiva esfera de autonomia de cada indiv(duo, malgrado a profundidade B' significativa da
racionali&aFão da conduta no que tange às questKes econ>micas" ais ainda, a aFão social
não perdera seu sentido coletivoJ# )ste era o Iar das cidades 5ue torna as pessoas livresJ3
ditado medieval lembrado por Weber e assim eplicado em termos sociológicos#
>sto não (3 contudo3 um processo 5ue se estabelece de maneira 2omogênea mesmo no interior
da5uele continente# $ nascimento e epansão das cidades no norte da )uropa não se deu tão
cedo 5uanto no sul# >n&luenciaram nisto basicamente dois &atores% o modelo de urbani7ação F
6= 5ue em alguns lugares o campesinato representava um 5uarto3 em outros metade do total de
2abitantes -3 e os sistemas de produção F nos Pa!ses aios3 por eemplo3 a importação de
cereais e a conse5ente diminuição da demanda por mão-de-obra no campo &avoreceu uma
mais alta taa de urbani7ação +airoc23 1/.# )sta condição repercutiu tamb(m no padrão
de organi7ação espacial e econOmica em ambas as regi;es# Do @editerr4neo se &irmaram
cidades comerciais3 cu6a abertura para o mar propiciava uma integração priorit=ria com outras
regi;es comerciais3 num sistema compleo de trocas materiais e culturais# '= no norte3 as
cidades se &irmaram a partir da relação com seu entorno3 se6a na estruturação de uma mal2a
de aldeias e pe5uenas cidades3 se6a nas inter&aces mais estreitas entre a produção agr!cola e o
H
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disseminação das inovaç;es F ambos vistos como atributos espec!&icos das cidades F são
determinantesH/#
$s argumentos de 'acobs são em parte muito pertinentes3 mas as evidências 2istóricas &a7em
a balança pender mais para o lado de airoc2 e "ub:# )la acerta na sua ên&ase na
diversi&icação3 mas erra ao ver somente nas cidades o lugar poss!vel para tanto# @ais
interessante do 5ue procurar em 5ual dos pólos se encontra a virtude imanente ( compreender
as m<ltiplas articulaç;es poss!veis entre eles e os resultados 5ue estas interaç;es geram#
poss!vel identi&icar situaç;es anteriores ao per!odo de mais intensa urbani7ação em 5ue o
&luo cidade-campo se estabeleceu de maneira a gerar impactos negativos para o segundo
pólo F como ( o caso emblem=tico da distribuição gratuita de cereais na 9oma Antiga# )
inversamente3 ( poss!vel da mesma maneira divisar situaç;es em 5ue as condiç;es de maior
dinamismo das cidades repercutiram positivamente sobre os campos3 por eemplo3 atrav(s da
metalurgia e de mel2oramentos na &erramentaria agr!cola3 no aumento da produtividade3 no
com(rcio e introdução de novas variedades# "a mesma &orma3 @a7o:er X 9oudart
+1M/RRR. mostram claramente como a longa evolução desde a 9evolução do Deol!tico at(
a 9evolução >ndustrial ( pontuada por uma s(rie nada despre7!vel de inovaç;es# $s autores
não c2egam a a&irmar 5ue boa parte delas teve origem &ora das cidades# @as3 considerando a
&r=gil urbani7ação do mundo neste longo per!odo3 de um lado3 e a ri5ue7a e variedade destas
inovaç;es atrav(s da 2istória3 de outro3 isto ( &acilmente presum!vel#
$ 5ue ningu(m certamente nega ( 5ue3 na longa passagem do per!odo &eudal para o
capitalismo a cidade torna-se gradativamente o pólo dominante3 e o &a7 rompendo pouco a
pouco as limitaç;es de 5ue &alava airoc2# Com a 9evolução >ndustrial e a urbani7ação3
como &oi dito3 são solapadas as duas marcas de todo o per!odo anterior3 de resto abaladas 6=
desde o s(culo Z> e mais intensamente desde o s(culo Z*% a Itirania da dist4ncia e da
agriculturaJ# Paradoalmente3 no entanto3 as cidades não desempen2aram um papel
determinante no déclenchement da 9evolução >ndustrial na >nglaterra3 nem nos primeiros
passos de sua transmissão espacial para o resto da )uropa# )mbora as cidades não estivessem
ausentes do processo de criação de inovaç;es t(cnicas importantes3 um eame da locali7ação
das empresas dos setores motores das primeiras t(cnicas importantes mostra uma &orte
predomin4ncia3 senão do meio puramente rural3 ao menos das regi;es de cidades muito
H/ Uma an=lise pormenori7ada do tema na obra de 'ane 'acobs &oi muito bem &eita por arin *ecc2iatti +/RR0.#
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pe5uenas3 no limite do rural# >sto se devia ao tipo de energia dispon!vel - 6= 5ue a primeira
&orça motri7 eram moin2os d_=gua e a segunda o carvão -3 e a algumas caracter!sticas
essenciais da economia F n!veis salariais mais baios no rural3 custo mais baio de terrenos e
construç;es nestes espaços e a ausência de regulamentação +airoc23 1/.# As &=bricas
surgem inicialmente no meio dos campos3 reunindo a 6ustaposição de trabal2adores
individuais3 e só depois vão para a cidade onde se introdu7 uma mais so&isticada divisão do
trabal2o#
Com o passar do tempo a vari=vel t(cnica assume maior peso e3 com isso3 a situação inicial se
inverte 5uase 5ue por completo# As cidades vão gradativamente se tornar o lugar da
monetari7ação das relaç;es3 da mobilidade social3 da ade5uação entre o&erta e demanda de
mão-de-obra 5uali&icada3 da concentração da renda# Tanto ( 5ue3 como mostra o Nuadro /3 no
s(culo Z*>>> as cidades vão aparecer no imagin=rio da (poca associadas 8 ri5ue7a e ao luo#
Do s(culo Z>Z 8 mobilidade e 8 &ormação das massas# )3 mais tarde3 no s(culo ZZ3 ainda 8
mobilidade3 ao &uturo3 mas agora em situaç;es de estran2amento t!picas dos grandes e
massi&icados ambientes urbanos# $ rural3 por outro lado3 vai sendo mais e mais associado ao
passado3 ao r<stico e ao id!lico3 8 tradição3 5uando não ao irracional#
Analisando as trans&ormaç;es demogr=&icas posteriores 8 9evolução >ndustrial3 airoc2 nota
5ue Ialgo aconteceJ no s(culo Z>Z# Do s(culo Z*>>> a taa de urbani7ação europ(ia &icou
estacion=ria3 e os e&eitos da industriali7ação3 restritos ao 9eino Unido# At( então se vivia
mais no campo 5ue na cidade3 esta <ltima crescendo principalmente graças 8 emigração de
6ovens# Do s(culo Z>Z3 com a disseminação da 9evolução >ndustrial pela )uropa3 a taa de
urbani7ação salta de 1H` a R` no in!cio do s(culo ZZ# )ste crescimento ( interrompido nos
anos 0R e no per!odo da Segunda Grande Guerra para voltar a acelerar em seguida# @as3
agora3 não mais no mesmo ritmo do s(culo anterior# Se at( a 9evolução >ndustrial apenas
uma ou duas cidades passavam da casa do um mil2ão de 2abitantes3 na Primeira Grande
Guerra oito cidades passavam dos dois mil2;es3 e no Pós-guerra Dova \orL so7in2a passa a
casa dos de7 mil2;es3 mais 5ue toda a população urbana da )uropa e Am(rica do Dorte 2=
menos de 5uin2entos anos atr=s3 mais precisamente por volta de 1HRR# Dão 2= d<vida3
portanto3 do 5uão intensa &oi a urbani7ação do mundo ocidental ao longo dos <ltimos dois
s(culos3 a ponto de importantes teóricos passarem a &alar em 9evolução Urbana ou em
Civili7ação Urbana +Be&ebvre3 1MR/RR/.#
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&uadro +
Li"era"ura e )ida rura#
9a:mond Williams3 analisando a evolução etimológica de denominação destes pólos na literatura3
sublin2a como3 dos s(culos Z>>> a Z*>3 vai se deslocar o sentido original de countr2, derivado de contra
+against the observer .3 para o sentido moderno de espaço 3 &irmando-se desde o s(culo Z*> como contraste de
cidade# nesse momento 2istórico 5ue cit23 derivado de civitas3 por sua ve7 origin=rio em civis3 passa a
denominar uma grande cidade# )m >nglês antigo3 isto era intercambi=vel com burh 3 por sua ve7 mais usado 5ue
urbs# A partir de então os contrastes são mais e mais invocados% countr2man3 countr2people3 mais tarde
countr2field e countr2side# )n5uanto urbane guarda durante todo o per!odo um signi&icado marcado pela
descrição di&usa3 rural e rustic3 6= presentes em descriç;es &!sicas desde o Z*3 vão ad5uirir implicaç;es sociais
tamb(m a partir de meados do s(culo Z*># @ais tarde surgiria o termo metropolis3 utili7ado entre os s(culos
Z*> e Z*>>> para denominar uma chief*to9n# Dos s(culos Z>Z3 e sobretudo no ZZ3 o car=ter social dasdistinç;es entre a cidade e o campo vão se acentuar mais e mais re&orçando polaridades 2o6e tão presentes como
a associação a uma e outra como lugares privilegiados da modernidade ou da tradição# >sto est= presente em
in<meros romances 5ue tratam da ascensão da burguesia e da urbani7ação3 ou da mudança em padr;es de
comportamento3 at( o radicalismo 5ue se apresenta como oposição entre racionalidade +da modernidade. e
irracionalidade +do rural pro&undo.3 como no recente Desonra3 do sul-a&ricano '#@#Coet7ee#
Da literatura brasileira3 .s SertKes aparecem como essência da nação em oposição ao litoral 6= no
cl=ssico de )uclides da Cun2a3 na virada do Z>Z para o ZZ# @eio s(culo depois +meio s(culo atr=s.3 mesmo no
=pice da prosa de Guimarães 9osa3 o Lrande Sertão só ( acess!vel pelas veredas 5ue o separam do mundo
urbano em &ranca epansão3 envolvendo e desencantando o rural# "esde então3 no rasil em particular e na
Am(rica Batina em geral3 a &icção urbana vai ser mais e mais predominante3 e o lugar do r<stico3 do rural3 vai
ser reservado 8s terras e 2istórias perdidas do Romance d;A -edra do Reino de Ariano Suassuna# $u ao
passadismo de 'uan 9ul&o em 4hão em 4hamas e -edro -'ramo3 onde mal ( poss!vel divisar os personagens
vivos dos mortos em ambientes 5uase surreais# Um dos <ltimos eemplos de grandes romances 5ue se passam
no sertão mostra como o passado se con&ronta ou se dilui no presente3 na &orma das 2eranças agr=rias3 coloniais3
escravistas# )m Sargento Let=lio3 de 'oão Ubaldo 9ibeiro3 o personagem como 5ue a representar todo um
universo3 uma &orma 2istórica da 5ual ( agente t!pico3 recebe ordens para Idesaparecer do mapaJ3 e retruca%
I5uem pode sumir ( os outros3 como ( 5ue eu posso sumir se eu sou eu QJ# $ mesmo personagem c2ega ao &im
do livro ol2ando a capital do )stado do outro lado do rio3 após sua longa peregrinação% a cidade3 lugar associado
8 mudança e 8 liberdade3 estava ali3 tão perto e tão inacess!vel#
)laboração do autor com base nas obras citadas#
R
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Ao mesmo tempo3 não 2=3 contudo3 ind!cios 5ue apontem para uma intensi&icação ainda
maior ou se5uer no mesmo ritmo nos tempos atuais# >sto (3 não se trata de 5uestionar a
dominação urbana do mundo contempor4neo3 mas sim de 5uali&ic=-la3 para então avaliar seu
signi&icado em relação aos momentos anteriores e3 particularmente3 para a permanência ou
não do estatuto emp!rico e teórico do pólo dominado3 o rural# A con&ormação das tendências
&uturas eige uma maior decantação das tendências demogr=&icas recentes3 cu6os sentidos
atuais são bastante multi&acetados3 comportando distintos padr;es de urbani7ação e de
relação entre as cidades e o espaço rural 5ue l2es envolve# Por isso3 antes de passar ao eame
do novo estatuto da ruralidade no mundo contempor4neo3 cabe dedicar algumas lin2as 8
especi&icidade latinoamericana#
+3536 4 A :eu#iaridade #a"inoameriana
Do caso espec!&ico do c2amado ITerceiro @undoJ3 seria um erro analis=-lo como mera
etensão ou cópia imper&eita do 5ue ocorre nos pa!ses do capitalismo avançado# Da Am(rica
Batina3 particularmente3 2= livros cl=ssicos 5ue tratam diretamente da peculiaridade
latinoamericana% 'os( Buis 9omero +1MH/RR. e3 antes dele3 S(rgio uar5ue de ?olanda
+10H1E.3 6= 2aviam mostrado como as cidades se constitu!ram como porta de entrada e
aliada da Coloni7ação#
Duma con2ecida passagem de Ra(&es do Mrasil 3 2= uma tipologia das cidades latino-
americanas contrapondo o racionalismo das cidades 2isp4nicas3 &undadas sobre um con6unto
de prescriç;es 5ue aparecem no desen2o plane6ado3 no traçado reto de suas ruas e vias3 e o
barro5uismo das cidades luso-brasileiras# 9omero3 sob direta in&luência da metodologia
Keberiana dos tipos ideais3 classi&ica cinco tipos de cidades latino-americanas3 tipos 5ue se
sucedem e cu6a di&erenciação ( dada pela classe ou grupo social dominante# A se5uência
2istórica tem in!cio com o ciclo das &undaç;es 5ue troue a constituição das cidades com suas
&unç;es pr(-estabelecidas pela Coroa3 com seus grupos urbanos origin=rios e sua mentalidade
&undadora3 a mentalidade epansionista europ(ia# Das belas palavras de 9omero +1M/RR%
H-M.3 %"""posicionados em frente ao lugar escolhido, com a mão apertada na empunhadura
da espada, o olhar fi3o na cru& e os pensamentos direcionados para as rique&as que a
aventura lhes proporcionaria, os homens do grupo fundador da cidade que B' tinha nome,
mas da qual nada e3istia sobre o solo, deveriam e3perimentar a sensaFão de quem espera o1
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prod(gio da criaFão surgida do nada" Eram europeus em um continente desconhecido, e a
criaFão estava prefigurada em suas mentes" -orque esta faFanha não era, na verdade, senão
um passo a mais nessa ambiciosa aventura européia de e3pandir*se, iniciada quatro séculos
antes" A terra que agora ocupavam 5 uma terra real com rios e plan(cies, lagos e vulcKes *
deveria ser uma e3tensão da terra que dei3aram no dia em que embarcaram em seus navios"
"""8 A mentalidade fundadora foi a da e3pansão européia condu&ida por essa certe&a
absoluta e inquestion'vel da posse da verdade" A verdade cristã não significava somente
uma fé religiosa/ era, a rigor, a e3pressão radical de um mundo cultural" E quando o
conquistador trabalhava em nome dessa cultura, não só afirmava o sistema de interesses que
ela representava como também o conBunto de meios instrumentais e de técnicas que a cultura
burguesa havia acrescentado à velha tradiFão feudo*cristã" """8 .s grupos fundadores
e3pressavam essa interpenetraFão feudo*burguesa que na pen(nsula ia aBustando as relaFKes
entre as classes e também entre os fins e os meios" """8 LraFas àquela certe&a, a mentalidade
e3pansionista européia havia concebido o proBeto de instrumentali&ar o mundo não cristão
de acordo com seus próprios interesses, e afirmou*se nessa convicFão cada ve& mais, à
medida que os meios iam aumentando suas possibilidades/ à maior superioridade técnica
correspondeu maior certe&a da validade de seus fins+"
)sta passagem tra73 não uma3 mas v=rias signi&icaç;es importantes# )ntre muitas3 ela &ala da
&orma de apropriação do espaço e dos recursos naturais3 do tipo de relação entre
coloni7adores e coloni7ados3 da etensão 5ue o Dovo @undo representava em relação ao
imagin=rio europeu da (poca# ,ala3 em suma3 do sentido da Coloni7ação# "a Coloni7ação
como instituição3 do 5ue ela representava para as &ormas de interpretação da relação com o
novo espaço3 seus 2omens e suas coisas# Combinavam-se assim atitudes sen2oriais e atitudes
burguesas3 por ra7;es 5ue remontam 8s necessidades de colaboração entre estes dois
segmentos da sociedade europ(ia do per!odo da Coloni7ação#
$s cinco tipos 5ue se sucedem desde então são3 sempre segundo a tipologia de 9omero3 as
cidades &idalgas3 as cidades IcriollasJ3 as cidades patr!cias3 as cidades burguesas e as cidades
massi&icadas3 &inalmente3 no s(culo ZZ# Delas3 a cidade 5ue se desenvolve em ra7ão do
com(rcio vai gradativamente gerando as elites governantes da (poca dos processos de
independência e3 posteriormente3 os grupos integrados e dependentes do capital internacional
do per!odo de mais intensa industriali7ação#/
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Do rasil as cidades de in!cio não alcançaram a mesma import4ncia 5ue nos demais pa!ses
latino-americanos# somente nos meados do s(culo Z*>>> 5ue 2= um maior &ortalecimento
dos grupos urbanos e das &unç;es intermedi=rias das cidades# At( então a sociedade agr=ria
2avia imposto sua imagem de realidade# Dovamente nas palavras de 9omero +1M/RR.3
%"""foram os senhores da terra que esboFaram o primeiro perfil do Mrasil colonial, ao passo
que as populaFKes urbanas 5 artesãos e pequenos funcion'rios, clérigos e pequenos
comerciantes 5 foram suplantadas" Até o século N#N, só algumas cidades 5 Salvador da
Mahia e, sobretudo, a Recife holandesa 5 insinuaram a sua capacidade de influir na
poderosa aristocracia fundi'ria, que amava a vida rural e residia em meio a suas
propriedadesJ#
>sto signi&icava um sentido totalmente di&erente para a relação entre as cidades e seu entorno#
)n5uanto a )span2a 2avia imaginado seu imp(rio colonial como uma rede de cidades3 o
dom!nio português se limitava 8 eploração econOmica# Da rai7 desta di&erença3 segundo
9omero3 estava a eperiência de c2o5ue com os muçulmanos3 5ue levou durante bom tempo
8 ocupação de parte da Pen!nsula >b(rica3 o 5ue culturalmente se tradu7ia num medo terr!vel
da possibilidade da mestiçagem e da aculturação# Assim3 a cidade IracionalJ da Am(rica
2isp4nica era militari7ada e disciplinada para evitar tais riscos3 en5uanto na Am(rica luso-
brasileira as cidades se &undaram por princ!pios mais pragm=ticos# )sta prevalência do rural
como centro ideológico do mundo luso-brasileiro permaneceu at( o momento em 5ue as
mudanças acentuadas do capitalismo industrial instituem3 sobretudo a partir dos &ins do
s(culo Z>Z3 uma sociedade crescentemente urbani7ada# assim 5ue a Irede de lati&<ndiosJ
vai sendo substitu!da por uma Irede de cidadesJ3 de maneira similar ao 5ue acontecera na
Am(rica 2isp4nica#
$ &undamental a destacar ( 5ue3 tanto em 9omero como em uar5ue de ?olanda3 as cidades
e o processo de urbani7ação3 suas relaç;es com o mundo rural3 são muito mais 5ue realidades
&!sicas3 são materiali7aç;es de &ormas de vida e de mentalidade# Dos dois autores este
processo de integração leva a uma esp(cie de triun&o do mundo urbano3 mas numa s!ntese
muito peculiar# )m uar5ue de ?olanda3 a urbani7ação tragaria pouco a pouco o I2omem
cordialJ3 criação do mundo rural3 agregado3 isolado3 dependente3 incorporando-o como uma
0
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esp(cie de portador do passado agr=rio# )m 9omero3 embora 2a6a a constante presença dos
pólos rural e urbano3 ( neste <ltimo 5ue reside o &oco din4mico da 2istória#
@as apesar de tudo isto3 tamb(m nos dois autores 2= uma constante interpenetração entre os
dois pólos% na &orma das 2eranças ib(ricas 5ue irão se tradu7ir no vi(s patrimonial e
patriarcalista das instituiç;es3 segundo o autor brasileiro3 na &orma de ideologias contrapostas
e 5ue interagem dialeticamente3 embora sempre presididas pelo pólo urbano3 segundo o autor
argentinoH0# '= para outro autor brasileiro cl=ssico3 Gilberto ,re:re3 o peso das polaridades
seria simplesmente inverso% as ra!7es escravistas origin=rias da oposição entre 4asa Lrande e
Sen&ala3 teriam se estendido para o mundo urbano e se materiali7ado na ant!tese dos
Sobrados e ocambos3 segundo livro de sua trilogia3 e tenderiam mesmo a se perpetuar3 em
?a&igos e 4ovas Rasas3 t!tulo plane6ado para o terceiro livro3 5ue nunca &oi publicadoH# Dão (
de outra coisa 5ue &ala 9a:mundo ,aoro em .s Donos do -oder ou3 no caso das estruturas
econOmicas3 as principais obras de Celso ,urtado e de Caio Prado 'r# HE #
)sta diluição e persistência do rural no urbano ( uma primeira caracter!stica marcante da
Am(rica Batina e do rasil em particular# Por certo tamb(m na )uropa e )UA3 mas ali as
rupturas introdu7idas em passagens 2istóricas &undadoras da modernidade nestas naç;es em
alguma medida IresolveuJ esta 2erança3 se6a atrav(s do protagonismo direto 5ue as
populaç;es camponesas tiveram em tais eventos3 do 5ual a 9evolução ,rancesa talve7 se6a o
maior eemplo3 se6a ainda pela diminuição da 2ierar5uia social 5ue pesa sobre os 2abitantes
dos dois espaços3 o urbano e o rural3 ao longo de toda a 2istória recente da5ueles pa!ses#
Trata-se3 na Am(rica Batina3 de uma continuidade com vi(s marcadamente negativo nas
&ormas de representação social3 como 2erança agr=ria3 patriarcal3 escravista3 ou como lugar
por ecelência da dominação tradicional3 da pobre7a e da subordinação#
H0 Um analista da obra de 9omero3 GoreliL3 citado na apresentação de seu livro3 c2ega a 5uali&icar a postura doautor argentino como uma esp(cie de _otimismo urbano_% %"""o campo seria, assim, para o Romero que lHSarmiento, a barb'rie da necessidade e da liberdade, que como possibilidade só pode se aninhar na cidadeJ#H )m seu lugar3 e numa substituição sintom=tica3 ,re:re publicou .rdem e progresso# Ao 5ue parece ,re:re nãoabandonou a intenção de publicar ?a&igos e covas rasas3 mas este pro6eto &oi interrompido com sua morte#HE Dum Coló5uio sobre I)illes et 4ampagnesJ reali7ado nos anos cin5enta na ,rança3 ,ernand raudelc2amava a atenção dos 2istoriadores e geógra&os &ranceses sobre a então recente produção brasileira e sua2abilidade em mostrar as permanências do mundo agr=rio na urbani7ação crescente# Dão ( mero acaso o &ato de
ser este um traço &undamental nas três obras 5ue Antonio Candido considerou serem as leituras indispens=veissobre a &ormação do rasil% 4asa Lrande e Sen&ala, Ra(&es do Mrasil 3 e @ormaFão do Mrasil 4ontemporIneo#
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$utra caracter!stica ( a velocidade e o &ormato em 5ue se deu o &enOmeno da urbani7ação# A
partir das d(cadas de /R e 0R do S(culo ZZ3 acontece uma progressão sem precedentes na
2istória# Do c2amado ITerceiro @undoJ3 em 10R3 cento e cin5enta mil2;es de pessoas 6=
viviam nas cidades# @as pouco mais de meio s(culo depois este n<mero 2avia sido
multiplicado por de73 e c2egado próimo de um e meio bil2ão de pessoas em =reas urbanasHH#
Salvo eceç;es3 este aumento da população - impulsionado pela introdução de t(cnicas
m(dicas e sanit=rias ocidentais3 pelo descarte da mão-de-obra nos campos3 pela etensão
r=pida da educação no meio rural criando um &osso entre duas geraç;es3 e por um intenso
êodo rural motivado pela busca por sal=rios mais altos nas cidades3 +airoc23 1/. - se &e7
com &r=gil desenvolvimento econOmico3 com uma d(bil industriali7ação e3 mais grave3 sem
proporcional aumento da produtividade agr!cola3 levando a uma 2ipertro&ia urbana3 a uma
superurbani7ação#
A terceira caracter!stica marcante da urbani7ação do ITerceiro @undoJ3 por &im3 ( a
concentração nas cidades muito grandes# )m 10R3 5uase um terço da população 6= estava em
cidades de 5uin2entos mil 2abitantes3 en5uanto na )uropa3 continente de urbani7ação muito
mais antiga3 este percentual era de /R`# Deste mesmo momento seis cidades 6= tin2am mais
de um mil2ão de 2abitantes3 n<mero 5ue salta para vinte em 1ER e para cento e trinta em
1R# ) em 1R3 oito cidades 6= estavam com sete a de7 mil2;es de 2abitantes# Por tudo isso
não ( eagero c2amar este processo de Iin&lação urbana do Terceiro @undoJ# ) como tal3
suas conse5ências principais não são das mais virtuosas% criou-se uma situação de d(&icit
alimentar3 5uando 8s v(speras da Segunda Grande Guerra 2avia ecedente3 criou-se um
d(&icit de empregos urbanos3 e ocorreu uma 2ipertro&ia do setor terci=rio +airoc23 1/.#
Dão ( de estran2ar3 portanto3 a di&erença entre o rural e o urbano nos pa!ses do capitalismo
avançado e nos pa!ses da Am(rica Batina3 ]sia e ]&rica# $ &enOmeno urbano a5ui se
constituiu sobre estruturas sociais e instituiç;es outras por5ue os agentes e os processos
2istóricos se compuseram de maneira di&erente# A 2erança colonial e escravista3 associada 8
2ipertro&ia urbana e 8 vertigem resultante da velocidade com 5ue ela se deu (3 a um só tempo3
resultado e causa de um estilo de urbani7ação 5ue se &e7 sem a criação de classes e lugares
mediadores3 a eemplo da5uilo 5ue os villages e seus respectivos atores representaram na
HH Para se ter uma id(ia da proporção e magnitude destes n<meros3 entre 1E e 1MR o crescimento &oi de 3E
` a a 3 en5uanto na )uropa entre 1R1RE este percentual &oi de /` aa # "etal2e% com a C2ina puando am(dia para baio +airoc23 1/.#E
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)uropa $cidental# Por a5ui3 as t(cnicas agr!colas3 5ue tiveram nas cidades uma importante
&onte de irradiação3 &oram importadas dos pa!ses do capitalismo avançado# $ padrão de
urbani7ação3 apoiado em cidades muito grandes3 eigiu grandes volumes de importaç;es3
com impactos para o balanço econOmico# A monetari7ação da vida social signi&icou
endividamento e não liberação dos laços servis# ) a compleidade das t(cnicas e a integração
econOmica mundial tornaram as trocas entre pa!ses e regi;es mais importantes 5ue as trocas
entre cidade e campo# )m s!ntese3 na Am(rica Batina e no restante do c2amado Terceiro
@undo3 di&erente da )uropa3 a urbani7ação tal como se deu &oi mais um &ator de
subdesenvolvimento3 e não propriamente um trun&o ao desenvolvimento +airoc23 1/.#
Al(m disso3 constituiu-se uma verdadeira ideologia urbana 5ue3 em <ltima an=lise3 tradu7-se
como um Inão lugar_ do rural na modernidade3 interditando assim a possibilidade de 5ue se6a
leg!timo preconi7ar 5ue estes amplos espaços possam ser ob6eto de investimentos e de
epectativas &uturas#
As tipologias de 9omero e uar5ue de ?olanda são ecelentes para an=lises de longo pra7o3
como a a5ui empreendida3 pois sinali7am o sentido mais geral da evolução3 os caracteres
mais &ortes 5ue permanecem após sucessivas etapas# @as tra7em consigo uma di&iculdade3
5ue ( não permitir uma leitura da 2eterogeneidade interna destas grandes unidades como
pa!ses ou continentes num dado momento 2istórico# Da )uropa 6= 2= uma tradição
estabelecida em eplorar os contrastes espaciais das relaç;es entre cidades e campos3 como
&oi poss!vel observar atrav(s das obras de raudel3 "ub:3 airoc2# ) nos anos mais recentes
v=rios estudos acadêmicos ou patrocinados pela União )urop(ia ou órgãos de governo têm
elaborado interessantes tipologias e estudos comparativos3 alguns dos 5uais serão abordados
no próimo cap!tulo# Da Am(rica Batina3 ou ao menos no rasil3 simplesmente não 2=
trabal2os consagrados 5ue eplorem as relaç;es entre o rural e o urbano tendo por ob6eto o
mapeamento e classi&icação de um n<mero ra7o=vel de realidades# Só muito recentemente3
nos <ltimos de7 anos3 têm surgido programas de pes5uisa eplorando este tema sob di&erentes
en&o5ues-8#
Tanto os ac2ados destes programas de pes5uisa como a ascensão mesmo dos interesses pelas
relaç;es entre o rural e o urbano são resultado de um momento particular da 2istória destes
HM C&# Pro6eto CUT-Contag +1.3 >G)>P)ADesur-Unicamp +1.3 Abramova: +/RR/.#H
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espaços3 cu6o signi&icado pode ser o &im ou no m!nimo um arre&ecimento da urbani7ação
intensa eperimentada at( então#
+3+ ' Uma no)a e"a:a
Dos anos MR do s(culo ZZ3 pela primeira ve7 desde a 9evolução >ndustrial a taa de
urbani7ação dos pa!ses do capitalismo avançado &ica estagnada# Passa-se a &alar at( em
urbani7ação dos campos3 o 5ue poderia signi&icar tanto uma contradição em termos como o
sinal de dissolução de uma oposição# $s processos sociais 5ue levam a esta diminuição da
dist4ncia entre os dois espaços estão na rai7 de uma interrogação &ormulada por Paul airoc2%
trata-se de uma nova etapa Q >sto (3 &enOmenos antes concernentes 8 urbani7ação atingem um
outro universo sem3 no entanto3 &agocit=-lo Q $u este processo sinali7a uma 2omogenei7ação
entre os dois pólos &orte o su&iciente para apagar suas distinç;es substantivas Q
)stas &oram 5uest;es 5ue permearam os debates 5ue se estabeleceram3 a rigor 6= desde os
anos ER3 mas mais apro&undadamente desde os MR3 na )uropa# Uma boa s!ntese pode ser
encontrada num emblem=tico n<mero da revista tudes Rurales, organi7ado por Georges
"ub:3 e 5ue tra7ia por t!tulo 0;urbanisation des campagnes# 9eunindo tetos de alguns dos
mais in&luentes pes5uisadores &ranceses da (poca3 a publicação tra7ia v=rios artigos 5ue
atestavam e analisavam as caracter!sticas e implicaç;es deste &enOmeno de diluição das
assimetrias entre o urbano e o rural na )uropa3 e na ,rança em particular# $ teto de 'ulliard
+1M0.3 por eemplo3 6= apresentava uma tipologia mais complea3 com uma abertura para
di&erentes composiç;es entre cidades e campos% cidades rentistas do solo3 amparadas em uma
relação de parasitagem com o meio ruralV cidades 5ue cresceram sem laços org4nicos com o
meio rural3 envolvendo-o3 mas estereli7ando-o em ve7 de &ecund=-loV cidades 5ue associaram
sem ruptura o campo a seu próprio desenvolvimento# $ 5ue ( 5uase consensual desde então (
5ue as trans&ormaç;es econOmicas3 o processo de moderni7ação da produção e a crescente
integração dos mercados levaram ao &im de um tipo espec!&ico de ruralidade3 a5uela 5ue 6=
&oi c2amada por @endras de Isociedades camponesasJ#
Três caracter!sticas importantes desempen2aram papel-c2ave nesta nova situação# Primeiro3 o
compromisso institucional 5ue se criou3 2istoricamente3 em torno da garantia da paridade
econOmica e social entre os agricultores e os demais setores e 5ue ( muito bem retratada emM
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'ollivet X Gervais +1MH.# >sto criou condiç;es para 5ue se aproimassem as condiç;es de
vida em ambos os espaços3 contribuindo tanto para a vitalidade econOmica do meio rural
como para regular o impulso ao êodo3 5ue at( então era tão &orte# Segundo3 e em parte
motivado pelo elemento anterior3 o padrão de crescimento demogr=&ico 5ue passa a vigorar
não aponta mais para o esva7iamento dos campos3 mas at( para a situação inversa3 para a
atração populacional destes espaços3 inicialmente atrav(s do dinamismo gerado pela
e5uali7ação das rendas3 num segundo momento3 com o avanço da in&ra-estrutura e das
possibilidades de comunicação3 com novos 2abitantes3 sobretudo pro&issionais liberais e
idosos em busca de amenidades e la7er# Terceiro3 a descentrali7ação econOmica e pol!tica 5ue
propiciou tanto o surgimento de novas oportunidades de trabal2o como tamb(m a
viabili7ação de e5uipamentos sociais ade5uados a uma população com eigência crescente3
estes dois <ltimos aspectos mais destacados por a:ser +1M/3 1R.#
São evidências emp!ricas 5ue3 sem d<vida3 permitiriam responder positivamente 8 pergunta
de airoc2% os tempos atuais representam3 por certo3 um novo momento3 uma nova etapa#
Desta condição3 muda a estrutura e a din4mica das relaç;es entre os campos e as cidades# A
prima7ia marcante das atividades prim=rias - agricultura3 pecu=ria3 mineração3 silvicultura -
cede espaço a uma maior diversi&icação3 com uma crescente 2eterogenei7ação das economias
rurais3 onde se destaca o crescimento cada ve7 maior do setor de serviços# Com isso3 mudam
as vantagens comparativas do rural nas possibilidades de captação das rendas urbanas# A
locali7ação3 &ertilidade3 e o preço da terra passam a dividir import4ncia com a acessibilidade3
a paisagem# "a mesma &orma3 a composição do per&il populacional e as tendências
demogr=&icas t!picas do per!odo anterior são substitu!das por um &orte arre&ecimento3 ou
mesmo uma inversão nos &luos demogr=&icos# São outros agentes3 novas vari=veis
introdu7idas ou tornadas mais relevantes3 novos interesses3 uma nova estrutura de oposiç;es e
identidades 5ue sustentam a especi&icidade desta nova con&iguração da relação rural-urbano#
) para completar3 muda tamb(m o ambiente institucional 5ue orienta a regulação das &ormas
de uso social dos recursos naturais# Se ( verdade 5ue desde a Antiguidade 6= 2= leis e sanç;es
5ue dão os par4metros para as &ormas de apropriação da nature7a3 o 5ue ocorre a partir de
então ( uma mudança tamb(m neste dom!nio do mundo social% o acesso 8 terra3 a gestão de
bacias 2idrogr=&icas3 a conservação de &lorestas e rios3 e a valori7ação da paisagem e da
biodiversidade passam a ser novos aspectos incorporados aos anteriores# $ 5ue ( novo3 al(m
da etensão de dom!nios regulados cada ve7 mais por instituiç;es &ormais3 ( a &orma como
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isso se d=3 menos orientada por decis;es do tipo comando e controle3 e mais por
compromissos institucionais# )m outros termos3 muda tamb(m o estatuto da dominação-@#
@as e pelo 4ngulo teórico3 5ual o estatuto desta nova situação Q "uas são as perguntas3 na
verdade# Primeiro3 ( preciso esclarecer se a inauguração deste novo momento3 desta
passagem3 locali7ada aproimadamente no <ltimo 5uarto do s(culo ZZ3 troue consigo um
&im do rural3 se com o I&im das sociedades camponesasJ de 5ue &alava 'ollivet +talve7 &osse
mel2or &alar em Isociedades agr=riasJ.3 acaba tamb(m a relev4ncia 2istórica e eplicativa da
ruralidade# Segundo3 caso a resposta 8 5uestão anterior se6a negativa e ainda 2= conte<do
compreensivo na distinção entre o rural e o urbano3 cabe interrogar então 5ual ( seu sentido#
)m dois artigos recentes *eiga +/RR3 /RRE. vê nas id(ias de ?enri Be&ebvre e de ernard
a:ser as mel2ores epress;es para as duas respostas etremas 8 primeira destas perguntas#
Por isso vale 8 pena vê-las um pouco mais de perto#
Be&ebvre dedicou parte epressiva de sua obra 8 produção social do espaço3 inicialmente com
uma ên&ase em estudos rurais3 5ue se desloca posteriormente para os &enOmenos relativos 8
urbani7ação# Do seu in&luente livro A revoluFão urbana3 de 1MR3 ele a designa como um
amplo con6unto de trans&ormaç;es 5ue &ariam as sociedades passar do per!odo em 5ue
predominaram 5uest;es t!picas da sociedade industrial - como emprego3 crescimento e
industriali7ação - para outras3 nas 5uais a problem=tica da sociedade urbana gan2aria relevo e
preeminência# Desta sociedade urbana3 t!pica do per!odo pós-industrial3 a urbani7ação
completa I2o6e virtual3 aman2ã realJ envolveria e dominaria o con6unto de es&eras do mundo
eistente e o destino dos espaços rurais seria3 portanto3 a diluição de seus caracteres
substantivos neste movimento envolvente da sociedade urbana-9#
Apenas 5uatro anos mais tarde o mesmo autor publicou outro in&luente livro3 1he production
of space3 onde a 2ipótese da urbani7ação completa não tem mais o mesmo car=ter de eio
argumentativo# )ste poss!vel recuo3 se não de conte<do3 ao menos de ên&ase3 pode ser
resultado tanto de uma mel2or ponderação de Be&ebvre - 5ue admitia 6= no livro de 1MR 5ue
tal id(ia deveria ser considerada como 2ipótese3 a &im de não se con&undir o categórico com o
H *=rios trabal2os abordam isolada ou combinadamente estas mudanças# *er3 entre outros3 a:ser +1R3
10.3 *eiga +1.3 Wanderle: +/RRR.3 Abramova: +/RR0.#H C&# Be&ebvre +1MR/RR/.#
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problem=tico3 o especulativo com o empiricamente demonstr=vel -3 ou pode ter sido tamb(m
resultado da constatação3 sublin2ada por autores igualmente importantes da (poca3 de sinais
de vitalidade ainda emitidos pelo meio rural#
)sta ambigidade nos desdobramentos da obra de Be&ebvre não 5uer di7er 5ue ela ten2a sido
totalmente deiada de lado3 nem por seu &ormulador3 nem muito menos por seguidores de
suas id(ias em v=rios ramos do con2ecimento8,# @as o &ato ( 5ue não 2=3 neste autor e nem
na lin2agem 5ue ele inaugura3 uma demonstração do esva7iamento do conte<do social e
eplicativo do rural# Tal a&irmação vem sempre embasada em uma tautologia% a urbani7ação
generali7ada tem como devir a sociedade urbana3 8 din4mica da 5ual nada escapa#
Do etremo oposto3 ernard a:ser lançou suas id(ias sobre este problema em 1M/3 mas
elas &oram mel2or sistemati7adas no livro 0a renaissance rurale3 de 1R# )mbora apoiando-
se sobretudo em dados demogr=&icos3 a:ser3 di&erente de Be&ebvre3 reportou-se a situaç;es
muito concretas 5ue estariam ocorrendo em di&erentes espaços dos )UA e do *el2o
Continente e 5ue apontavam para uma revitali7ação de =reas antes condenadas 8 estagnação e
ao esva7iamento# Um renascimento 5ue teria em sua base os e&eitos do Ienri5uecimento do
con6unto da sociedadeJ3 pass!vel de percepção atrav(s de &enOmenos como a atração
populacional3 o crescimento de atividades não-agr!colas3 iniciativas de desenvolvimento local
e uma mudança no per&il demogr=&ico# Com isso3 em ve7 de desaparecer3 os campos
pareciam renascer3 agora integrados complementarmente 8s cidades% os campos3 como lugar
da liberdade e da bele7a3 as cidades3 como centros de la7er e de trabal2o +?ervieu X *iard3
1H/RR1.#
Ao discutir os argumentos destes dois autores3 *eiga +/RR3 /RRE. o&erece uma terceira
2ipótese% as mudanças por 5ue vêm passando o rural contempor4neo não dão lugar nem ao
&im do rural3 como em Be&ebvre3 nem a um renascimento3 como em a:ser3 mas di&erente de
ambos3 ense6a a emergência de uma nova ruralidade#
Para contestar os argumentos de Be&ebvre3 *eiga procede inicialmente a um eerc!cio de
demonstração da permanência dos traços distintivos da ruralidade no mundo contempor4neo3
MR
Do rasil3 ver por eemplo os trabal2os de @onte-@or +/RR0.# Uma apresentação mais circunstanciada e pormenori7ada das id(ias de Be&ebvre pode ser encontrada tamb(m em @artins +1H.#1RR
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concentrando-se3 num primeiro instante3 no grau de arti&iciali7ação dos ecossistemas como
crit(rio &undamental de distinção do rural e do urbano# Ali3 pode-se constatar 5ue ER` da
=rea do globo terrestre3 ecetuando a Ant=rtica3 permanecem Ipraticamente inalteradosJ3
contra /` Iparcialmente alteradosJ3 e //` I&ortemente arti&iciali7adosJ# Desta <ltima
categoria3 5ue inclui as =reas com agropecu=ria intensiva e assentamentos 2umanos nos 5uais
&oi removida a vegetação prim=ria e onde 2= deserti&icação ou outras &ormas de degradação
permanente3 apenas a )uropa apresenta um percentual de =rea mais epressivo3 de HE`# $
segundo continente mais arti&iciali7ado ( a ]sia3 onde este n<mero cai para /`# ) na
Am(rica do Sul esta &ração ( de meros 1/`# A partir da! *eiga concentra sua an=lise no
continente )uropeu3 por considerar 5ue o debate sobre a permanência ou desaparecimento da
ruralidade deve ter por ob6eto situaç;es onde a urbani7ação &oi mais longe# Al(m disso3 seria
preciso valer-se de crit(rios não estritamente ecológicos3 como a5uele epresso no grau de
arti&iciali7ação dos ecossistemas# Portanto3 utili7ando então dados da $C")3 produ7idos a
partir de um tableau de indicadores demogr=&icos3 ambientais e sócio-econOmicos3 *eiga
mostra 5ue nada menos do 5ue /` da população europ(ia vive em regi;es
predominantemente rurais3 en5uanto R` 2abitam as regi;es predominantemente urbanas3 e
0/` as regi;es relativamente rurais# )stes dados seriam su&icientes para3 no m!nimo3 mostrar
5ue não se c2egou ao grau completo de urbani7ação de 5ue &ala Be&ebvre3 mas não seriam
su&icientes para anular sua 2ipótese# $s partid=rios de suas id(ias poderiam argumentar 5ue
tais sociedades camin2am para tal padrão3 o 5ue 6= seria poss!vel vislumbrar a partir dos
dados de pa!ses como 9eino Unido3 (lgica ou ?olanda3 onde as regi;es predominantemente
rurais praticamente deiaram de eistir# Do entanto3 a an=lise tendencial dos mesmos dados
mostra uma situação di&erente# Nuem mais atrai população3 aumentando assim seu peso
relativo3 ( a categoria intermedi=ria3 &ormada pelos espaços Isigni&icativamente ruraisJ#
Tanto o Irural pro&undoJ como as regi;es metropolitanas ou mais densamente urbani7adas
apresentam decl!nio# Dão 2=3 portanto3 evidências emp!ricas 5ue con&irmem o movimento
apontado por Be&ebvre e sinali7em um &im do rural#
Nuanto ao argumento de a:ser3 o estudo de *eiga apresenta uma concord4ncia inicial no
5ue di7 respeito 8 permanência do rural3 mas diverge 5uando se trata de 5uali&icar seu
estatuto nos tempos atuais# Tendo por base um signi&icativo rol de pes5uisas sobre o rural
europeu3 *eiga mostra como tal situação não resulta de um impulso 5ue &a7 voltar os
&undamentos da ruralidade pret(rita3 ainda 5ue traços dela persistam e coeistam no novo1R1
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momento# Trata-se3 sim3 de uma nova ruralidade3 5ue se apresenta metamor&oseada# A
novidade est= no &ato de 5ue Inunca 2ouve sociedades tão opulentas 5uanto as 5ue 2o6e tanto
estão valori7ando sua relação com a nature7aJ3 e isto não somente no terreno das
preocupaç;es com os problemas ambientais3 como as ameaças 8 biodiversidade ou o
a5uecimento global3 mas tamb(m no 5ue di7 respeito 8 liberdade con5uistada com a maior
mobilidade e com o enri5uecimento da sociedade e o 5ue isto permite em termos de
aproveitamento das amenidades naturais3 se6a atrav(s da constituição de novas residências em
=reas rurais3 se6a atrav(s das atividades tur!sticas# @esmo as atividades produtivas 5ue não se
apóiam diretamente em novas &ormas uso social dos recursos naturais guardam com eles
estreita correspondências% em in<meros casos ( poss!vel constatar uma descentrali7ação da
atividade industrial3 motivada tanto pela capacidade de certas =reas rurais em atrair potenciais
empreendedores devido 8s caracter!sticas ambientais de residência3 como pelo dinamismo
empreendedor voltado para mercados emergentes e 5ue eplora as vantagens competitivas
derivadas das mel2ores condiç;es de vida e de trabal2o destas mesmas =reas +Dort2 X
Smallborne apud *eiga /RR.#
$s dados da $C") +1H.3 utili7ados por *eiga3 mostram mesmo 5ue3 nas regi;es
predominantemente rurais ( raro encontrar algum pa!s onde o percentual de ocupados na
agricultura supere a casa dos 0R`3 o 5ue ocorre somente na >sl4ndia e na Gr(cia# Da maioria3
( o setor de serviços 5ue responde pela maior &atia3 c2egando a ` na 9ep<blica Tc2eca e3
na maior parte dos casos3 situando-se acima do percentual de ER`# )m suma3 a vitalidade do
rural não se resume mais aos campos3 como lugar de reali7ação de atividades prim=rias3 mas
a uma trama complea envolvendo os campos e suas cidades3 com desta5ue para uma
integração intersetorial da economia3 e para uma emergência da vari=vel ambiental como
elemento c2ave# Tudo isso levou *eiga +/RRE. a a&irmar3 em conson4ncia com outros
estudos como Wanderle: +/RRR. e Abramova: +/RR0.3 5ue trata-se e&etivamente de uma nova
ruralidade# ) 5ue3 segundo o autor3 se epressa em três vetores% os desdobramentos
paisag!sticos dos es&orços de conservação da biodiversidade3 o aproveitamento econOmico
das decorrentes amenidades naturais atrav(s de um le5ue de atividades 5ue costumam ser
tratadas no 4mbito do turismo3 e a crescente necessidade de utili7ação de &ontes renov=veis de
energia dispon!veis nestes espaços rurais#
1R/
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S7n"ese do Ca:7"u#o +
A longa evolução da relação entre campo e cidade mostra claramente a permanência do
&enOmeno rural no mundo contempor4neo3 mesmo no momento e nos pa!ses em 5ue a
urbani7ação &oi mais intensa# A oposição campo-cidade se desloca para a contradição rural-
urbano# )n5uanto a primeira di7 respeito ao contraste entre espaços3 sendo os campos o lugar
de reali7ação de atividades predominantemente prim=rias3 destacadamente a agricultura3 na
segunda o estatuto &undante da distinção desloca-se para o grau de arti&iciali7ação destes
espaços e seus impactos para os modos de vida3 eigindo assim uma abordagem capa7 de
combinar crit(rios ecológicos com outros de car=ter social e econOmico# $ rural mostra-se
não mais uma categoria pass!vel de ser apreendida em termos setoriais3 e sim territoriais#
Três3 portanto3 são as dimens;es de&inidoras &undamentais da ruralidade +Abramova:3 /RR0.%
a proimidade com a nature7a3 a ligação com as cidades3 e as relaç;es interpessoais derivadas
da baia densidade populacional e do taman2o redu7ido de suas populaç;es# Da nova etapa3
muda o conte<do social e a 5ualidade da articulação entre elas# Do 5ue di7 respeito 8
proimidade com a nature7a3 os recursos naturais3 antes voltados para a produção de bens
prim=rios3 são agora ob6eto de novas &ormas de uso social3 com desta5ue para a conservação
da biodiversidade3 o aproveitamento do potencial paisag!stico disto derivado3 e a busca de
&ontes renov=veis de energia# Nuanto 8 relação com as cidades3 os espaços rurais deiam de
ser meros eportadores de bens prim=rios para dar lugar a uma maior diversi&icação e
integração intersetorial de suas economias3 com isso arre&ecendo3 e em alguns casos mesmo
invertendo3 o sentido demogr=&ico e de trans&erência de rendas 5ue vigorava no momento
anterior# As relaç;es interpessoais3 por &im3 deiam de apoiar-se numa relativa
2omogeneidade e isolamento para dar lugar a um processo crescente de individuação e de2eterogenei7ação3 compat!vel com a maior mobilidade &!sica3 com o novo per&il populacional
e com a crescente integração entre mercados antes mais claramente autOnomos no rural e no
urbano3 mercados de bens e serviços3 mas tamb(m o mercado de trabal2o e o mercado de
bens simbólicos#
1R0
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Ca:7"u#o 6 4 Rura#idade nos :a7ses do a:i"a#ismo a)ançado
Constatar 5ue no momento atual a 2umanidade eperimenta a emergência de uma novaruralidade e 5uali&ic=-la3 como &oi &eito no Cap!tulo /3 ( certamente importante3 por5ue marca
as di&erenças entre caracteres atuais destes espaços e a5ueles outros 5ue &oram mais
importantes nas etapas 2istóricas anteriores# Serve para mostrar a obsolescência de certos
traços3 a ascensão de outros3 e o 5ue isto tra7 de implicaç;es para grupos ou dimens;es
espec!&icas dos espaços rurais% 5ue agentes perdem e 5uais gan2am &orça3 5ue processos
econOmicos ad5uirem car=ter estruturante e 5uais se tornam subsidi=rios3 5ual a signi&icação
em torno das &ormas de apropriação e uso dos recursos naturais3 como tudo isso se relaciona aoutras es&eras do mundo social3 destacadamente com os espaços urbanos# @as tudo isto di7
muito pouco 5uando se trata de responder por5ue di&erentes territórios se inserem de maneira
desigual nestas grandes tendências# Por 5ue certos territórios3 mesmo go7ando de uma
dotação inicial de recursos similar a outros ad5uirem tra6etórias tão d!spares3 como ( o caso
de certas il2as mais remotas do 9eino Unido Q $u3 em direção um pouco di&erente3 por 5ue
certas regi;es continuam a apresentar carências graves em 5uase todos os indicadores sociais3
ambientais e econOmicos mesmo após pesados e duradouros investimentos governamentais3
como ( o caso t!pico do e&&ogiorno italiano Q
A mel2or maneira de en&rentar interrogaç;es de taman2a amplitude e compleidade talve7
se6a começar admitindo 5ue não eiste uma reposta <nica para elas# $ 5ue 2=3 sim3 são liç;es3
aprendidas com um importante rol de pes5uisas e estudos levados adiante nos <ltimos trinta
anos# Sistemati7ar estes ac2ados e delinear as conse5ências 5ue eles tra7em para o
con2ecimento cient!&ico sobre o desenvolvimento rural ( o principal ob6etivo deste cap!tuloM1#
Para &ins de eposição3 esta pergunta principal ( a5ui desmembrada em três3 8s 5uais
correspondem cada uma das seç;es deste cap!tulo# A primeira busca brevemente recuperar as
principais de&iniç;es sobre o 5ue ( o espaço rural nos pa!ses do capitalismo avançado# >sto
ser= <til não somente para delimitar de 5ue unidade emp!rica se est= &alando3 mas tamb(m3 e
principalmente3 para pOr em relevo a base material 5ue d= subst4ncia para estas tentativas de
conceituação# A segunda seção mapeia algumas das tendências recentes destes espaços com o
M1
Partes deste cap!tulo &oram apresentadas originalmente na &orma de artigo no Congresso da Sociedaderasileira de Sociologia e )conomia 9ural +Sober.3 do ano de /RR# C&# ,avareto +/RR-b.#1R
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intuito de mostrar3 de um lado3 sua conson4ncia com os caracteres relativos 8 longa evolução
do rural3 6= destacados no cap!tulo anterior3 e3 de outro3 a 2eterogeneidade 5ue marca a
etensão e pro&undidade destas tendências e dos con&litos 5ue as cercam# A terceira seção3 a
mais longa3 ep;e os ac2ados dos principais programas de pes5uisa3 dedicados tanto 8s
din4micas sócio-econOmicas do rural europeu e norte-americano contempor4neos como 8s
iniciativas p<blicas voltadas 8 sua dinami7ação#
635 4 As de.iniçes so!re o 0ue o rura#
>mportantes trabal2os publicados nos <ltimos anos 6= trataram do problema 5ue envolve as
de&iniç;es sobre o 5ue pode ser considerado rural na )uropa e )UA +Wanderle:3 /RRRV
Abramova:3 /RR0V *eiga3 /RR.# Por isso3 o intuito a5ui não ( uma reconstituição eaustiva
das &ormas de classi&icação dispon!veis3 mas3 apenas3 sublin2ar os crit(rios 5ue vêm sendo
mais utili7ados nos tempos atuais e3 6unto disso3 delinear as dimens;es atuais do rural
contempor4neo nestes pa!ses onde a urbani7ação &oi mais longe#
Da )uropa são utili7adas de&iniç;es di&erentes em cada pa!s3 muitas ve7es combinando v=rios
crit(rios# $ mais comum deles ( a demogra&ia3 e em dois sentidos% o taman2o da população3 e
a densidade populacional# $utro bastante presente ( a utili7ação do solo# Da >rlanda3 por
eemplo3 as 7onas com densidade populacional in&erior a cem 2abitantes por 5uilOmetro
5uadrado são consideradas rurais## Da Gr(cia3 o teto 5ue separa as =reas rurais das urbanas (
dado pela densidade populacional de trinta 2abitantes por 5uilOmetro 5uadrado# $ mesmo
vale para o limite de du7entas 2abitaç;es ou de7 mil pessoas3 na "inamarca# Da ?olanda e
na >nglaterra3 o principal de&inidor são as &ormas predominantes de utili7ação do solo# Da
Aleman2a ( adotada uma tipologia 5ue combina aspectos econOmicos3 demogr=&icos e a
utili7ação do solo# ) na >t=lia3 por sua ve73 o limite de de7 mil 2abitantes ( acompan2ado de
uma lista de tre7e crit(rios &uncionaisM/#
@uitas destas de&iniç;es são 6= bastante antigas e3 em v=rios pa!ses3 elas têm passado por
tentativas de reclassi&icação3 mais condi7entes com as din4micas sócio-econOmicas e
ambientais contempor4neas# Uma das principais inovaç;es &oi elaborada por instituiç;es de
M/
)stas in&ormaç;es &oram reunidas pelo C)P,A9 +4entre eurpopéen pour la promotion et la formation emmilieu agricole et rural.3 citado por @at2ieu +1R% /1.3 apud Wanderle: +/RRR.#1RE
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pes5uisa &rancesas# Ali3 o crit(rio cl=ssico3 de taman2o populacional3 neste caso de duas mil
pessoas3 tem nada menos do 5ue um s(culo e meio de eistência# $ aumento da mobilidade e
a crescente integração entre estas pe5uenas aglomeraç;es e centros urbanos maiores ou com
localidades vi7in2as3 tornou necess=rio apro&undar a combinação entre crit(rios estruturais e
&uncionais visando dar conta da nova din4mica# ,oi assim 5ue3 ainda nos anos sessenta3 o
>DS)) + #nstitut $ational de la Statistique et des tudes conomiques. &ormulou a noção de
^P>U F ^onas de Povoamento >ndustrial ou Urbano F3 5ue se apóia na proporção de
trabal2adores de uma determinada comuna 5ue tem empregos &ora de seu lugar de moradia e
na parcela de domic!lios dependentes da agricultura#
Com base neste crit(rio3 as comunas rurais puderam ser divididas entre a5uelas situadas
dentro das ^P>U e o rural pro&undo3 isto (3 a5uelas situadas &ora destas 7onas# A simples
classi&icação de acordo com o crit(rio populacional permitiu identi&icar o taman2o dos
espaços rurais &ranceses como algo em torno de um 5uarto da população no in!cio dos anos
R# @as os contrastes entre di&erentes tipos de espaços rurais3 como a5ueles situados nas
ad6acências de =reas intensamente urbani7adas e povoadas e os locali7ados em =reas mais
remotas3 &icava sem possibilidade de apreensão pelas estat!sticas e classi&icaç;es o&iciais# Por
isso3 em 1H &oi introdu7ida uma nova de&inição% o ^oneamento em ]reas Urbanas +^AU.#
Com ela3 os espaços urbanos passaram a ser categori7ados em dois grupos% os Ipólos
urbanosJ3 onde 2= uma o&erta de pelo menos cinco mil empregosV a Icoroa periurbana +,
&ormada pelas comunas nas 5uais ao menos R` da população ativa trabal2a nos pólos
urbanos ou nas comunas sob sua in&luência# 'untas3 estas duas categorias &ormam o espaço
predominantemente urbano3 o 5ue no caso &rancês signi&icava três 5uartos da população 8
(poca# "e outro lado3 tamb(m os espaços rurais tiveram sua delimitação mais re&inada3 sendo
agora dividido em 5uatro categorias% $ Irural sob &raca in&luência urbana+3 &ormada por
comunas onde pelo menos /R` da população ativa trabal2a num centro urbano próimoV os
Ipólos rurais+3 pe5uenas localidades 5ue o&erecem entre dois e cinco mil empregos e 5ue3
portanto3 comportam mais postos de trabal2o do 5ue 2abitantes3 revelando-se um local de
atraçãoV a Iperi&eria dos pólos rurais+3 com as comunas nas 5uais pelo menos /R` da
população trabal2a nos pólosV e &inalmente3 o Irural isolado+3 5ue no caso &rancês representa
1R` da população total ou aproimadamente um terço do território +>D9A>DS))3 1.#
1RH
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Dos )stados Unidos3 por sua ve73 coeistem duas classi&icaç;es o&iciais% a do "S" 4ensus
Mureau e a do .ffice of anagement and Mudget +$@.# A classi&icação do "S" 4ensus
Mureau lida com dados decenais e tem um car=ter censit=rio# Dela as =reas urbanas são as
mais adensadas3 mas não correspondem a divis;es pol!tico-administrativas e podem ser de
dois tipos% =reas urbani7adas ou Iclusters urbanosJ# Duma =rea urbani7ada deve 2aver mais
de cin5uenta mil pessoas3 mesmo 5ue não 2a6a cidade com esse n<mero de 2abitantes3 e um
n<cleo com densidade superior a tre7entos e oitenta e seis 2abitantes por 5uilOmetro
5uadrado3 podendo 2aver uma 7ona ad6acente com um m!nimo da metade dessa densidade# '=
os Iclusters urbanosJ são localidades com população entre duas mil e 5uin2entas3 e cin5enta
mil pessoas3 mas 5ue atin6am os mesmos n!veis de densidade demogr=&ica# A população rural
( de&inida com sendo a5uela 5ue est= &ora tanto das =reas urbani7adas 5uanto dos Iclusters
urbanosJ# )m /RRR3 H` da população americana vivia em 5uatrocentas e cin5enta e duas
=reas urbani7adas3 11` em Iclusters urbanosJ3 e /1` nas =reas rurais +*eiga3 /RR.#
'= a classi&icação da $@ baseia-se em dados anuais de população3 emprego e renda e tem
um car=ter pol!tico-administrativo# Dela são separados essencialmente condados
metropolitanos +metro. e não metropolitanos +nonmetro.# Um condado ( considerado
economicamente ligado a uma aglomeração metropolitana se /E` dos trabal2adores
residentes estiverem ocupados nos condados centrais3 ou se /E` de seus empregados &i7eremo Imovimento pendular inversoJ# Al(m disso3 os condados InonmetroJ são subdivididos em
duas categorias% as Imicropolitan areas+_ +centradas em n<cleos urbanos com mais de de7
mil 2abitantes. e Inoncor eJ para o restante dos condados +*eiga3 /RR.#
$utra classi&icação 5ue merece desta5ue ( a5uela o&erecida pela $C")# Após analise de
estat!sticas re&erentes a cin5enta mil comunidades das duas mil microrregi;es eistentes nos
pa!ses membros3 a e5uipe de seu Serviço de "esenvolvimento Territorial passou a distinguirdois n!veis anal!ticos# Do n!vel local são classi&icadas como urbanas ou rurais as menores
unidades administrativas3 ou as menores unidades estat!sticas# Do n!vel micro-regional as
agregaç;es &uncionais são classi&icadas como mais urbanas3 mais rurais3 ou intermedi=rias#
9urais são a5uelas localidades cu6a densidade populacional ( in&erior a cento e cin5enta
2abitantes por 5uilOmetro 5uadrado3 com a eceção do 'apão3 onde este n<mero sobe para
tre7entos e cin5enta# Assim3 as micro-regi;es consideradas Ipredominantemente ruraisJ são
a5uelas em 5ue a participação da população residente em localidades rurais ecede ER`V as
1RM
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micro-regi;es Isigni&icativamente ruraisJ3 por sua ve73 são a5uelas em 5ue a participação das
localidades rurais &ica entre 1E e ER`V e as Ipredominantemente urbanasJ3 por &im3 a5uelas
onde as localidades rurais representam menos de 1E` da população# )sta tipologia proposta
pela $C") ( menos re&inada do 5ue outras eistentes3 mas tem a grande vantagem de cobrir
um n<mero epressivo de pa!ses e3 com isso3 o&erecer possibilidades de comparação entre
eles3 como mostra a Tabela 1 a seguir# ) ( importante notar na Tabela /3 como a esta
classi&icação não corresponde um alin2amento setorial3 o 5ue se observa pela distribuição dos
empregos nos três grupos#
1R
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%a!e#a 5Po:u#ação rura# nos :a7ses da OCDE/ 599,
Po:u#ação emomunidades
rurais M
Po:u#ação :or "i:o de região MM
Predominan"emen"eRura#
Signi.ia"i)amen"eRura#
Predominan"emen"eUr!ana
daPo:u#açãoNaiona#
da Po:u#ação Naiona#
DoruegaSu(cia,inl4ndia"inamarca
]ustria )UACanad= Australia D# ^el4ndia >sl4ndia>rlandaGr(ciaPortugal 9ep# Tc2eca ,rança)span2a>t=lia 'apão Su!çaAleman2a
9eino UnidoBuemburgo(lgica?olanda
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H/HH
M/-RE
Dotas%- - Dão se aplica#
333 Dão dispon!vel#+. População em comunidades locais com densidade in&erior a 1ER 2abm/ +e ERR no caso do 'apão#MM Tipologia das regi;es con&orme a participação da população rural + de ER`3 entre ER` e 1E`3 emenos de 1E`#
*on"e% $C") +1H.3 9eprodu7ido de *eiga +/RR.1R
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%a!e#a +Dis"ri!uição do em:rego :or se"ores eonmios nas regies rurais
dos :a7ses da OCDE/ 599,
REGIES PREDO$INAN%E$EN%E RURAIS M Agro:eu1ria IndQs"ria Ser)iços ` do emprego total
DoruegaSu(cia,inl4ndia"inamarca]ustria
)UACanad= Australia
Dova ^el4ndia >sl4ndia>rlandaGr(ciaPortugal
9ep<blica Tc2eca ,rança)span2a>t=lia 'apão Su!çaAleman2a9eino UnidoBuemburgo(lgica?olanda
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333 Dão dispon!vel#
M Tipologia das regi;es con&orme a participação da população rural% de ER`#
*on"e% $C") +1H.3 9eprodu7ido de *eiga +/RR.
11R
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$ primeiro desta5ue derivado da apresentação desta &ormas de classi&icação tem sido bastante
sublin2ado nos trabal2os 5ue tratam do problema% o taman2o do rural mesmo no auge da
urbanidade# Como se pode observar na Tabela 13 no con6unto dos pa!ses da $C")3 a
população vivendo em comunidades rurais varia de um m!nio de ` na ?olanda3 at( um
m=imo de E` na Doruega3 e na maior parte dos pa!ses este percentual &ica entre /R e E`#
Nuando se trata de adotar a classi&icação por regi;es rurais3 observa-se 5ue 2= uma grande
2eterogeneidade3 mas nen2uma situação onde a proporção da população vivendo nas ares
predominantemente ou signi&icativamente rural se6a despre7!vel#
$ segundo desta5ue não ( tão evidente3 e di7 respeito ao signi&icado destas &ormas de
classi&icação# ,undamentalmente3 o 5ue 2= de comum nas novas tentativas empreendidas se6a
pela $C")3 pelo >DS)) ou pela $@3 ( a busca em ultrapassar as de&iniç;es substantivistas
do rural3 pass!veis de serem epressas em um <nico crit(rio ou dimensão3 para &ormas onde
se6a poss!vel vislumbrar seu conte<do relacional ao urbano e 8s din4micas sociais e
econOmicas 5ue l2e envolvem# Uma tare&a incontorn=vel diante da mobilidade e da
integração crescente entre os espaços# Algo 5ue permite3 para usar os termos do >DS))
+1.3 &alar dos Icampos e suas cidadesJ# ) para isso3 torna-se necess=rio utili7ar
combinaç;es de crit(rios estruturais e &uncionais3 e cobrir aspectos relativos 8s dimens;es
econOmica3 social3 ambiental e demogr=&ica# $ principal signi&icado sub6acente a estes
movimentos nos 5uadros cognitivos de apreensão e classi&icação ( o crescente esva7iamento
de sentido do rural como sinOnimo de agr!cola e de agr=rio e3 em seu lugar3 a emergência de
uma visão territorial3 o 5ue implica tanto o recon2ecimento de uma lógica econOmica cada
ve7 mais intersetorial3 como uma escala geogr=&ica de ocorrência de tais processos 5ue
remete 8 id(ia de região#
Antes de analisar as implicaç;es teóricas e sociais desta passagem3 ( importante completar o
5uadro emp!rico com um recon2ecimento das mani&estaç;es 2eterogêneas das tendências
recentes da nova ruralidade e interrogar as ra7;es da di&erenciação entre estes territórios#
63+ 4 As "endênias reen"es
Do cap!tulo anterior 6= &oi dito 5ue as tendências recentes vividas nas =reas rurais poderiam
ser 5uali&icadas como um novo momento na longa evolução destes espaços# Uma nova etapa111
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onde as três dimens;es de&inidoras da ruralidade so&rem um desli7amento em seus conte<dos
sociais e na 5ualidade de sua articulação3 com desta5ue para uma maior integração entre o
urbano e o rural e para uma nova ancoragem ambiental da ruralidade# Posteriormente3 na
primeira seção do presente cap!tulo3 &oi poss!vel ter uma id(ia do taman2o dos espaços rurais
nos pa!ses do capitalismo avançado e da maneira 2eterogênea como a população est=
distribu!da nestas =reas e nas =reas urbanas# Trata-se agora de eplorar como a5uelas
tendências gerais se mani&estam de maneira desigual nestes territórios particulares#
As mudanças 5ue estavam em curso no <ltimo 5uarto do s(culo ZZ nos pa!ses do capitalismo
avançado &oram rapidamente percebidas# $ desgaste da pol!tica agr!cola de vi(s
eclusivamente setorial começa a surgir nos meados dos anos R e abre espaço para uma
s(rie de re&ormas e debates sobre I. futuro do mundo rural J3 não por acaso t!tulo do
Comunicado da Comissão )urop(ia ao Parlamento3 em 1M0# Um marco ineg=vel &oi a
criação do -rograma 0eader 5 0igaFKes Entre AFKes de Desenvolvimento das Economias
Rurais -3 em 113 e ainda 2o6e a principal re&erência de programas territoriais de
desenvolvimento rural# @as as mel2ores s!nteses da percepção dos organismos de
plane6amento sobre tais mudanças &oram epressas em dois momentos3 no meio da d(cada de
R% a con2ecida I"eclaração de CorLJ3 5ue saiu da con&erência IA )uropa 9ural F
Perspectivas de ,uturoJ e o KorLs2op -ost*#ndustrial Rural Development/ 1he Role of
$atural Resources and the Environment 3 cu6os resultados &oram publicados pelo $orth
4entral Regional 4enter for Rural Development 3 da Universidade de >oKa#
*eiga +/RR. resumiu o conte<do destes dois momentos no 5uadro a seguir3 5uali&icando-o
como uma esp(cie de consenso b=sico sobre a ruralidade avançada#
M0 Sobre os impasses e direç;es da re&orma da Pol!tica Agr!cola Comum3 ver Abramova: +/RR0.#11/
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&uadro 6
Consenso !1sio/ de meados dos anos 599,/ so!re a rura#idade a)ançada
1# As 7onas rurais3 5ue englobam os locais de residência de um 5uarto da população europ(ia e de mais deum 5uinto da americana3 e mais de R` dos dois territórios3 caracteri7am-se por tecidos culturais3
econOmicos e sociais singulares3 um etraordin=rio mosaico de atividades e uma grande variedade de
paisagens +&lorestas e terras agr!colas3 s!tios naturais incólumes3 aldeias e pe5uenas cidades3 centros
regionais3 pe5uenas ind<strias3 etc#.#
/# As 7onas rurais3 bem como os seus 2abitantes3 &ormam uma autêntica ri5ue7a para suas regi;es e pa!ses e
podem ser bem competitivas#
0# As maiores partes dos espaços rurais europeus e norte-americanos são constitu!dos por terras agr!colas e
&lorestas 5ue in&luenciam &ortemente o car=ter das paisagens#
# "ado 5ue a agricultura certamente permanecer= como important!ssima inter&ace entre sociedade e
ambiente3 os agricultores deverão cada ve7 mais desempen2ar &unç;es de gestores de muitos dos recursos
naturais dos territórios rurais#
E# @as a agricultura e as &lorestas deiaram de desempen2ar papel predominante nas economias nacionais#
Com o decl!nio de seus pesos econOmicos relativos3 o desenvolvimento rural mais do 5ue nunca deve
envolver todos os setores sócio-econOmicos das 7onas rurais#
H# Como os cidadãos europeus e norte-americanos dão cada ve7 mais import4ncia 8 5ualidade de vida em
geral3 e em particular a 5uest;es relativas 8 sa<de3 segurança3 desenvolvimento pessoal e la7er3 as regi;es
rurais ocuparão posiç;es privilegiadas para satis&a7er tais interesses3 o&erecendo amplas possibilidades de
um autêntico desenvolvimento3 moderno e de 5ualidade#
M# As pol!ticas agr!colas deverão de se adaptar 8s novas realidades e desa&ios colocados3 tanto pelos dese6os e
pre&erências dos consumidores3 5uanto pela evolução do com(rcio internacional# Principalmente uma
adaptação 5ue impulsione a transição de um regime de sustentação de preços para um regime de apoios
diretos#
# $s subs!dios estabelecidos pelas respectivas pol!ticas agr!colas serão crescentemente contestados# ) 6= (
ampla a aceitação de 5ue apoios &inanceiros p<blicos devam ser cada ve7 mais condicionados a uma
ade5uada gestão dos recursos naturais3 e 8 manutenção e re&orço da biodiversidade e das paisagens
culturais#
# As re&ormas das pol!ticas agr!colas da primeira metade da d(cada de 1R conservaram inconsistências3
duplicaç;es e alta compleidade 6ur!dica3 apesar de ineg=veis avanços em termos de transparência e
e&ic=cia#1R# Torna-se absolutamente necess=rio promover a capacidade local de desenvolvimento sustent=vel nas
7onas rurais e3 nomeadamente3 iniciativas privadas e comunit=rias bem integradas a mercados globais#
9eprodu7ido de *eiga +/RR.
Como se pode observar3 este largo consenso sobre a ruralidade avançada combina elementos
relativos tanto 8 visão agr!cola e produtivista como 8 visão territorial do desenvolvimento
rural# "esde então3 v=rias &oram as pes5uisas 5ue procuraram delinear a mani&estação destas
tendências e sua ocorrência desigual a partir do estudo de realidades concretas#110
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$ &ator mais en&ati7ado3 condi7ente com o estatuto da nova ruralidade3 tem sido a
disponibilidade de amenidades naturais como principal vantagem comparativa# @cGrana2an
+1. mostra como as amenidades rurais são o principal vetor de mudança# )ntre 1MR e
1H a m(dia do crescimento populacional nos condados não metropolitanos com alta
atratividade baseada em amenidades &oi de 1/R`3 en5uanto na5ueles com baia atratividade
este percentual &icou em m!sero 1`# "a mesma &orma3 este autor mostra como mudanças na
o&erta de empregos tem correspondência com a presença de amenidades# @ais interessados
no próprio crescimento econOmico de parte das =reas rurais3 Aldric2 X usmin +1M.
conclu!ram 5ue3 onde isso ocorreu3 o principal &ator &oi a capacidade de atrair aposentados3
algo tamb(m totalmente ligado 8s amenidades naturais t!picas do rural# 'unto disso3 um
segundo &ator igualmente en&ati7ado nestas e em v=rias pes5uisas ( a locali7ação# "ados
sobre emprego mostram 5ue as =reas ad6acentes aos espaços urbanos têm maior crescimento#
)atamente as regi;es 5ue a $C") classi&icou como signi&icativamente rurais#
Claro 5ue nem tudo ( dinamismo e conciliação entre sociedade e nature7a nestas tendências#
a:ser +1R. c2ama a atenção para o processo de descampe7ini7ação inerente a esta nova
ruralidade e o 5ue isso signi&ica em termos de diluição de um mundo estruturado em torno
desta &orma social tão importante para a 2istória rural europ(ia# ?= mesmo toda uma s(rie de
interessantes pes5uisas destinadas a denunciar e3 8s ve7es3 eplicar &atores de degradação e
pobre7aM# @as3 mais importante do 5ue revelar os contrastes3 ( interrogar por5ue certas
coisas acontecem ali3 onde não se esperaria 5ue elas ocorressem# "ebruçados sobre a situação
da Su(cia3 Ceccato X Person +/RR/. conclu!ram 5ue em todas as =reas do pa!s 2= inserção
dos di&erentes ramos econOmicos3 embora de maneira variada# certo 5ue as regi;es de
mel2or per&ormance tendem a se incluir nos ramos de atividades privadas tradicionais3
en5uanto =reas de baia per&ormance tendem a se apoiar nas atividades p<blicas3 sobretudo
no caso de =reas mais esparsamente povoadas# A surpresa por eles tra7ida ( 5ue alguns
clusters modernos estão sobrerepresentados em algumas destas =reas de menor densidade#
)sta constatação3 5ue encontraria similares em estudos sobre outras realidades na )uropa e
)UA3 revela na verdade 5ue não 2= associação autom=tica entre grau de urbani7ação e
M Como demonstram Cecc2i +1. para a realidade italiana3 S2ucLsmit2 X C2apman +1. e $ug2ton3W2eelocL X aines +/RR0. para o 9eino Unido3 ou Commins +/RR. para a >rlanda# Sinais de deterioração3
pobre7a e decl!nio certamente podem ser encontrados tamb(m nas =reas rurais americanas3 como se pode ver em
@itc2ell +1.3 ou em uma en&=tica mat(ria assinada por Timot2: )gan no 1he $e9 Oor: 1imes3 em /RR/3 e5ue tra7 o en&=tico t!tulo Drugs, crimes and povert2 plague rural "S"11
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ocorrência de bons indicadores# ) isto3 leva 8 seguinte pergunta% se ( verdade 5ue locali7ação
e disponibilidade de amenidades naturais são as principais vantagens comparativas3 o 5ue &a7
com 5ue elas se trans&ormem em vantagens competitivas Q
636 4 As ra?es do desen)o#)imen"o
Para a:ser +1R.3 a c2ave deste desenvolvimento das =reas rurais est= no &ator
populacional e nos e&eitos de enri5uecimento da sociedade em geral# Para asile X Cecc2i
+1M. a 5uestão est= na di&erenciação produtiva3 na mudança da composição setorial da
economia das =reas rurais at( a emergência das atividades não agr!colas% di&erenciação tra7
novos atores3 nova &ormas de uso dos recursos naturais3 novas relaç;es entre atores e entre
setores3 al(m de novos modos de integração do rural ao sistema econOmico# $ 5ue estes
estudos3 e tantos outros 5ue poderiam a5ui ser citados3 não respondem ( 6ustamente por5ue
estes e&eitos não são generali7=veis para o con6unto de =reas rurais# ) isto3 pelo simples &ato
de 5ue não era esta a pergunta 5ue est= na base de seus es&orços#
@as 2=3 desde os anos MR3 di&erentes programas de pes5uisa tentando encontrar estas
respostas% os estudos dedicados 8 compreensão dos &enOmenos de desenvolvimento rural3
propriamente ditos3 a5ueles consagrados 8 an=lise dos &enOmenos de industriali7ação di&usa3
e a5ueles destinados a compreender os &atores de êito e &racasso das tentativas de indução ao
desenvolvimento# As lin2as a seguir visam apresentar brevemente os resultados destes
programas para3 ao &inal3 compilar uma s!ntese das principais liç;es com eles obtidas#
63635 4 Liçes dos :rogramas de :es0uisa
A indus"ria#i?ação di.usa
Uma eplicação com decisiva in&luência sobre o desen2o de programas e pro6etos pode ser
encontrada nos estudos sociológicos e econOmicos 5ue têm en&ati7ado o papel dos sistemas
produtivos locais na geração de um certo tipo de empreendedorismo# $ marco ( o estudo do
sociólogo italiano Arnaldo agnasco3 1re italie" 0a problematica territoriale dello sviluppo
italiano3 de 1MM# Deste livro 6= cl=ssico3 ele procura eplicar por5ue3 na5uele momento3 as
regi;es 5ue apresentavam ind!cios de dinamismo não eram nem o sul do pa!s3 cu6os
problemas 2istóricos se materiali7am na5uilo 5ue Gramsci c2amou de I5uestão meridionalJ311E
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nem o norte3 &ortemente industriali7ado3 mas a região central do pa!s# A principal
contribuição dos estudos origin=rios desta terceira vertente est= em c2amar a atenção para as
caracter!sticas mor&ológicas de determinados territórios e sua import4ncia no estabelecimento
da din4mica econOmica local# $ centro do argumento est= em 5ue3 no caso italiano3
constatou-se uma &orte relação entre a distribuição espacial da c2amada Ieconomia di&usaJ3
marcadamente um grande n<mero de pe5uenas e m(dias empresas3 associadas com a
eistência de uma &orte base &amiliar entre as unidades de produção agr!cola3 e com um
determinado padrão de urbani7ação 5ue evitava uma &ratura cidade-campo# A ele se seguiram
v=rios outros de sociólogos3 economistas e geógra&os analisando a &ormação dos c2amados
distritos industriaisME# rusco +1H.3 particularmente3 en&ati7a como estas condiç;es
estruturais se trans&ormam num ambiente 5ue associa competição com colaboração3 con&lito
com participação3 e con2ecimento local e pr=tico com con2ecimento cient!&ico#
@as estas mesmas caracter!sticas enaltecidas como trun&os nos estudos acima citados
tornaram-se advertência 5uando os estudos sobre a realidade italiana começaram a servir de
inspiração para tentativas de dinami7ação de regi;es estagnadas# Com ra7ão3 Garo&oli +1H.
destacava 5ue as condiç;es eistentes no caso da Terceira >t=lia não se encontravam em
5ual5uer lugar e 5ue são de di&!cil reprodutibilidade# )3 paralelamente3 outros programas de
pes5uisa +@aillat3 1E.3 estimulados pelo mesmo tipo de 5uestão3 mostraram 5ue ambientes
inovadores podiam ser encontrados nas mais distintas con&iguraç;es produtivas# Nual ( a
c2ave do sucesso3 entãoQ
>n&eli7mente os estudos de @aillat e outros 5ue o acompan2aram +ecattini X 9ullani3 1EV
S&or7i3 1H. descrevem bem as mudanças em curso e o tipo de arran6o por detr=s delas3 mas
pouco se sabe sobre o 5ue ( capa7 de gerar um novo modo de produção e de organi7ação das
&orças locaisMH# $ 5ue ( comum a todos estes estudos ( a import4ncia con&erida ao
enrai7amento da atividade econOmica no con6unto de relaç;es 5ue con&ormam os territórios
em 5ue elas se inserem# Uma associação 5ue encontrou sua mel2or epressão na con6ugação
capital social e territórios +Abramova:3 /RRR.#
ME Uma boa an=lise da tra6etória destes estudos pode ser encontrada em *eiga +1.# "uas importantescolet4neas re<nem boa parte dos mais importantes teóricos 5ue têm produ7ido sobre o tema dos distritosindustriais e dos sistemas produtivos locais nas três vertentes disciplinares apontadas% enLo X Bipiet7 +1/V
/RRR.#MH *er a respeito a ecelente cr!tica de @artin X Sunle: +/RR1. a Porter#11H
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Apesar dos impasses e das nuances3 nas di&erentes vertentes 5ue estudam este &enOmeno3 2=
duas id(ias principais# Uma en&ati7a os e&eitos de proimidade e o 5ue eles tra7em em termos
de cooperação e aprendi7agem3 ambas condição para gerar uma base endógena capa7 de
resultar em inovação e coesão entre agentes# A outra vai acentuar mais a diversi&icação e a
desconcentração do tecido social local e as interdependências eistentes entre caracter!sticas
das estruturas sociais e o tipo de interaç;es 5ue nelas ocorre#
Rura# de)e#o:men" in "<e USA
Um dos principais livros sobre o desenvolvimento rural no mundo contempor4neo (
6ustamente consagrado 8 an=lise da realidade dos )UA F Rural Development in the nited
States, de Galston X ae2ler +1E.# Dele3 os autores destacam como3 ao longo da 2istória
americana3 &oram mudando as vantagens comparativas das =reas rurais# Duma primeira longa
etapa da &ormação do território americano a grande vantagem comparativa estava situada na
disponibilidade de produtos prim=rios% madeira3 carvão3 minerais3 produtos agr!colas# A
busca por estes recursos orientou a ocupação do espaço e &oi3 por bom tempo3 a principal
&onte de trabal2o e ri5ue7a# $bviamente3 com o passar do tempo a import4ncia desta
produção &oi decrescendo3 tanto em termos de pessoal ocupado como de ri5ue7a gerada# As
inovaç;es tecnológicas e a consolidação de cidades deram lugar a uma diversi&icação da base
produtiva3 com o desenvolvimento crescente de atividades de trans&ormação e serviços# Desta
etapa3 os espaços rurais passam a ter nos seus terrenos e mão-de-obra mais baratos e em
aspectos como menor &iscali7ação e sindicali7ação &atores de atração de ind<strias e
investimentos# A principal vantagem passa a ser a locali7ação3 6= 5ue o aproveitamento destes
&atores menos onerosos nas =reas rurais só eram compensadores em ra7ão de uma certa
dist4ncia dos centros mais din4micos3 compensando custos de transporte# @as da mesma
maneira 5ue o avanço tecnológico permite uma diminuição de custos de produção e a
introdução de t(cnicas poupadoras de mão-de-obra na agricultura3 na atividade manu&atureira
acontece o mesmo# Com isso3 o dinamismo passa a se concentrar no setor terci=rio#
Das duas <ltimas d(cadas do s(culo passado3 &oram os condados 5ue mais o&erecem serviços
ligados ao aproveitamento de amenidades rurais F paisagens naturais ou cultivadas3 ar puro3
=gua limpa3 atrativos culturais - a5ueles 5ue apresentaram maior crescimento# )videntemente
a agricultura de commodities continua tendo um peso enorme na con&ormação dos espaços
11M
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rurais e3 igualmente3 atividades terci=rias sempre eistiram neste meio# $ 5ue destacam
Galston X ae2ler ( a ên&ase crescente neste segundo con6unto3 tanto em termos de pessoas
ocupadas3 como de ri5ue7a gerada3 mas3 principalmente3 pelo 5ue ela tra7 de novo para as
instituiç;es voltadas ao desenvolvimento rural% a import4ncia crescente da nature7a e dos
valores não diretamente monetari7=veis#
@as ( claro tamb(m3 e os autores estão atentos para isso3 5ue nem todas as localidades rurais
têm as mesmas condiç;es de eperimentar um processo de desenvolvimento baseado na
eploração de suas amenidades# A baia densidade populacional3 caracter!stica b=sica destes
espaços3 ( um di&icultador da diversi&icação econOmica# "a mesma &orma3 dist4ncia de
centros urbanos tamb(m pode se converter em desvantagem pelo aumento nos custos de
in&ormação e transporte# Por isso os autores3 a par da ên&ase nos atributos espec!&icos destes
territórios3 c2amam igualmente a atenção para a &orma de inserção destas localidades no
espaço etra-local3 ou3 como pre&erem Galston X ae2ler3 a relação entre as regi;es rurais
com as cidades ou com outras partes do mundo#
A5ui 2= uma &orte in&luência de 'ane 'acobs +1.% ( a economia da cidade 5ue molda a
economia das regi;es rurais# ) isto acontece pela eportação de produtos prim=rios3 pela
atração de atividades de trans&ormação3 ou pela captação da renda de setores urbanos3 como
aposentados3 pro&issionais liberais3 estes em busca de segunda residência3 ou via atividades
tur!sticas# $ &ato ( 5ue3 5uanto mais estreitas &orem estas relaç;es3 mais c2ance de
prosperidade elas têm# $ crescimento de empregos nos condados ad6acentes 8s regi;es
metropolitanas3 duas ve7es superior aos condados mais distantes3 como veri&icado nos anos
oitenta3 corrobora esta a&irmação#
Sobre as =reas 5ue estão &ora desta proimidade3 não 2= &atalismo3 ao menos nos autores
americanos# Para eles ( poss!vel IcriarJ uma articulação entre regi;es rurais e uma rede de
cidades3 ou a constituição de uma rede de cidades numa região rural% isto pode ser &eito
atrav(s de investimentos em comunicação e transporte3 diminuindo dist4ncias3 atrav(s de
uma esp(cie de divisão territorial do trabal2o entre pe5uenas localidades3 tentando suprir
necessidades 5ue teriam 5ue ser satis&eitas em centros urbanos# $u3 ainda3 atrav(s da geração
dos próprios pólos de crescimento3 com a &ormação de cidades 5ue ven2am a suprir estas
necessidades#
11
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)m 5ual5uer uma destas possibilidades3 novamente a palavra-c2ave ( diversi&icação# isto
5ue garante o suprimento da população local3 5ue cria as condiç;es para a introdução de
inovaç;es e a adaptação destes territórios 8s press;es e contingências advindas das mudanças
econOmicas mais geraisMM#
DFnamis o. rura# areas 4 %<e DORA ProBe"
Um dos mais interessantes programas de pes5uisa sobre desenvolvimento rural re<ne os
estudos &eitos pelo 1he Ar:leton 4entre for Rural Development Research3 da Universidade de
Aberdeen3 no 9eino Unido3 sobre a di&erenciação da per&ormance econOmica em =reas rurais
europ(ias F o D.RA -roBect/ D2namics of rural 'reas *3 cu6os resultados &oram sinteti7ados
em r:den X ?art +/RR1.# Ali os pes5uisadores procuraram considerar a ocorrência dos I soft
factorsJ3 por eles c2amados tamb(m de I&atores não tang!veisJ em combinação com a
ocorrência de Ihard factorsJ3 ou3 segundo a linguagem adotada pelo pro6eto3 I&atores
tang!veisJ#
Do rol dos I&atores tang!veisJ &oram inclu!dos% recursos naturais +terra.3 recursos 2umanos
+trabal2o.3 in&ra-estrutura +tecnologia.3 investimento +capital.3 e estruturas econOmicas# )ntreos I&atores não-tang!veisJ estavam% per&ormance de @ercado3 per&ormance institucional3
redes3 comunidade e 5ualidade de vida +r:den et al3 /RR1.# )ste tableau de &atores &oi
trans&ormado em uma s(rie de indicadores postos 8 prova por e5uipes de pes5uisadores em
oito regi;es de 5uatro di&erentes pa!ses europeus F Su(cia3 Aleman2a3 )scócia e Gr(cia#
Três são os principais m(ritos deste programa# Primeiro3 procurou-se superar a dicotomia
entre estudos 5uantitativos e 5ualitativos3 buscando uma an=lise combinada dos doism(todos# Segundo3 a pes5uisa apoiou-se num procedimento comparativo envolvendo duas
realidades do mesmo pa!s e3 6unto disso3 o contraste anal!tico com a realidade entre distintos
pa!ses# Terceiro3 &oram contemplados no rol de indicadores dimens;es at( então operadas
somente de maneira isolada em estudos espec!&icos3 o 5ue permitiu um balanço da e&etividade
de cada uma delas#
MM ) ( a5ui tamb(m 5ue os autores se distanciam de 'acobs +1.3 para 5uem3 como 6= &oi dito3 estes atributos
só podem ser supridos pelas cidades3 pois somente elas reuniriam as condiç;es necess=rias para isto%concentração3 proimidade3 usos combinados do espaço #11
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A principal 2ipótese do estudo &oi con&irmada pelas an=lises de campo% certamente &atores
como o distanciamento in&luenciam3 mas as causas da per&ormance di&erenciada das
economias rurais vão al(m dos &atores ob6etivos en&ati7ados pelas an=lises cl=ssicas3 tanto
5uanto pelas teorias baseadas no &enOmeno de locali7ação# @esmo regi;es pouco
privilegiadas em termos de densidade populacional e locali7ação tiveram desempen2o acima
das previs;es em geração de emprego# >sto ocorreu3 por eemplo3 nas il2as $rLne:3 na
)scócia3 ou na grega orint2ia#
*iu-se3 assim3 5ue a incidência das vari=veis individuais di7 muito pouco sobre o con6unto
das situaç;es3 sendo necess=ria a sua an=lise combinada com outras# Disto3 os componentes
ligados 8 dimensão cultural mostraram &orte in&luência3 por eemplo3 5uando associados a
5ualidades empreendedoras ou a capacidade de adaptação a mudanças e contingências
eternas# Al(m disso3 o estudo conseguiu identi&icar 5ue estes componentes culturais3 por sua
ve73 estão muitas ve7es enrai7ados em um 5uadro de re&erências de muito longa &ormação#
$ estudo mostrou ainda 5ue3 mais importante do 5ue os aspectos &!sicos3 ( a busca de
aproveitamento dos &atores não reprodut!veis de um determinado território3 como produtos e
marcas t!picas ou como bens culturais# As redes3 &ator tão en&ati7ado em boa parte da
literatura3 &oram tratadas como algo amb!guo no 4mbito deste pro6eto% muitas ve7es são elas
5ue blo5ueiam o acesso dos agentes locais a outras &ormas de inserção mais promissoras3
contribuindo assim para manter situaç;es de estagnação ou de dependência#
Rurem:#o
Com tantas perspectivas eplicativas concorrentes seria bom poder contar com um teste de
con6unto das 2ipóteses apresentadas em cada uma delas# Pois &oi 6ustamente isto o 5ue &e7 o
9uremplo +Terluin3 /RR0V Terluin X Post3 /RR0.#
"e7 vari=veis relativas a sete di&erentes corpos teóricos &oram testadas em de7oito regi;es
rurais# $ resultado &inal mostrou uma maior aderência emp!rica das 2ipóteses contidas nos
trabal2os de r:den3 do D.RA -roBect 3 na c2amada communit2*led theor23 e na abordagem
5ue mescla um en&o5ue endógeno e eógeno# $ n<cleo comum das três teorias reside na1/R
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articulação entre determinadas caracter!sticas do tecido social e econOmico dos territórios em
5uestão e o tipo e a 5ualidade das relaç;es estabelecidas com o espaço etra-local# Do outro
etremo3 as teorias mais &ortemente ancoradas em &atores como locali7ação3 disponibilidade
de in&ra-estrutura3 P> per capita ou n!vel de investimentos mostraram-se de menor poder
eplicativo#
Ser= 5ue as conclus;es apontadas por estes programas de pes5uisa estariam sendo observadas
nas tentativas de indução do desenvolvimento rural atrav(s de pol!ticas como o Beader3 na
União )urop(ia3 ou o )^C^3 nos )stados Unidos Q
6363+ 4 #içes da e:eriênias de indução ao desen)o#)imen"o rura#
O Leader
$ Programa Beader surge em 113 como >niciativa Comunit=ria da União )urop(ia3 nos
marcos de um amplo processo de discussão sobre as &ormas de plane6amento de pol!ticas
na5uele continente3 crescentemente preocupado com as distorç;es entre regi;es# Seu car=ter
inovador residiu3 primeiro3 no &ato de tratar-se de algo com vi(s territorial3 em oposição ao
car=ter marcadamente setorial dos investimentos tradicionalmente destinados 8s =reas rurais#
)3 segundo3 no tipo de estrat(gia proposta para estas aç;es de promoção do desenvolvimento
rural3 com aç;es do tipo bottom*up3 baseadas no princ!pio da parceria3 e de car=ter
multisetorial e integradas# )sta estrat(gia se materiali7a no conceito de competitividade
territorial e envolve% a estruturação dos recursos do território de &orma coerente3 o
envolvimento de diversos atores e instituiç;es3 a integração entre setores empresariais em
uma din4mica de inovaç;es3 e a cooperação com outras =reas e pol!ticas nos v=rios n!veis de
governo# "e acordo com os termos do programa3 a competitividade territorial se alcança
atrav(s da elaboração de pro6etos de desenvolvimento 5ue comportem uma visão de &uturo3
&ormas de coordenação dos atores3 e a constituição de um grupo de ação local +edusc2i X
Abramova:3 /RR.#
)m sua primeira &ase3 de 11 a 13 o programa apoiou du7entos e de7essete pro6etos
territoriais3 n<mero 5ue saltou para mil pro6etos na &ase seguinte3 de 1 a 1# )stes
pro6etos são apoiados por seu m(rito3 e não por pr(-seleção3 como uma maneira de estimular1/1
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a competição entre territórios e a correspondente mobili7ação de energias e talentos na busca
por estes recursos# "uas caracter!sticas essenciais têm sido3 assim3 valori7adas pelo Beader% a
concepção de 5ue o desenvolvimento rural pode ser alcançado atrav(s do plane6amento e
eecução de pro6etos3 e a import4ncia de 5ue isto aconteça segundo um en&o5ue participativo#
As primeiras liç;es sobre esta iniciativa mostraram uma tOnica claramente positiva# )las
mostraram 5ue a introdução do conceito de pro6eto territorial torna poss!vel ir al(m da
de&inição setorial3 5ue o decl!nio pode ser revertido se a articulação territorial encontrar
novos camin2os3 e 5ue o en&o5ue territorial tem estimulado a criatividade e uso dos
con2ecimentos locais# @as o sucesso ou insucesso desse intento ( atribu!do apenas 8 maneira
como são combinadas as epectativas dos atores sociais# ?=3 portanto3 um vi(s claramente
interacionista na estrat(gia preconi7ada# como se bastasse pOr os agentes em contato3
criando espaços e &ormas de apoio 8 sua articulação# "a! se criariam oportunidades e ligaç;es
din4micas capa7es de mel2orar a per&ormance do território# $ pro6eto de desenvolvimento
territorial aparece como uma conse5ência do alin2amento de interesses#
$utros estudos mais recentes +9a:3 /RR1V Sc2attan et al /RRE. têm c2amado a atenção para
uma esp(cie de Idar: sideJ destes processos de indução ao desenvolvimento territorial# A
lógica de seleção de pro6etos tende a re&orçar as di&erenças3 8 medida 5ue os territórios 6=dotados de maior capacidade tendem a reunir mel2ores condiç;es de proposição e assim
angariar o apoio o&erecido pelo programa# Al(m disso3 a maneira como se d= a elaboração
destes pro6etos de desenvolvimento e a própria articulação dos grupos locais tendem partir da
base de recursos dispon!veis para tais iniciativas# ) um dos problemas para a dinami7ação de
economias rurais3 muitas ve7es3 ( 6ustamente a &ragilidade dos recursos com os 5uais se pode
contar para tais iniciativas#
)stas cr!ticas revelam na verdade uma lacuna teórica na associação entre participação e
desenvolvimento# Se por um lado 2= &ortes evidências de 5ue a participação contribui para a
e&iciência da aplicação de recursos em pol!ticas sociais3 por eemplo3 onde 2= um p<blico
alvo e um &oco espec!&ico3 no caso das aç;es de desenvolvimento esta condição se revela
muito mais complea3 pois são muitos os segmentos envolvidos e os interesses em con&lito# )
nesse caso3 os processos participativos podem aumentar o poder de veto3 mas não
necessariamente de coesão entre agentes locaisM#
M )ste argumento ( desenvolvido em Sc2attan et al# +/RRE.#1//
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O E=C=
$ EPQ4P 5 Empo9erment Pones Q Entreprise 4ommunities ( um programa 5ue guardasimilaridades com o Beader e &oi criado nos )stados Unidos em agosto de 10# Uma
di&erença ( 5ue3 para participar3 as comunidades tem 5ue apresentar altos !ndices de pobre7a#
Tamb(m a5ui ( preciso apresentar um pro6eto baseado nos seguintes princ!pios% oportunidade
econOmica3 desenvolvimento sustent=vel3 cooperação e parceria nas comunidades3 visão
estrat(gica de mudança +edusc2i X Abramova:3 /RR.#
?=3 sobre este programa3 bem menos estudos divulgados do 5ue no caso do Beader3 mas3 pelo
seu desen2o3 ( poss!vel di7er 5ue cabem as mesmas cr!ticas3 sobretudo a5uelas relatias 8
ausência de uma sólida &undamentação para como se dão as relaç;es virtuosas tão dese6adas
entre governança e desenvolvimento#
Apesar das perguntas ainda em aberto3 não 2= d<vida 5ue3 os programas de pes5uisa e as
iniciativas p<blicas de desenvolvimento rural são3 2o6e3 pro&undamente marcadas por uma
lógica territorial# $s estudos sobre a per&ormance di&erenciada de =reas rurais mostraram
claramente como as din4micas 5ue respondem por sua direção obedecem claramente a &atoresdesta ordem# ) as iniciativas de apoio e indução3 como re&leo3 têm claramente estimulado a
adoção deste en&o5ue nos pro6etos por elas apoiados# Cabe3 então3 perguntar 5ual o
signi&icado desta emergência da abordagem territorial#
636 4 A emergênia da a!ordagem "erri"oria# e seus signi.iados
A seção anterior mostrou uma situação paradoal# Dão 2= d<vida de 5ue para o estudo dos
&enOmenos relativos ao desenvolvimento rural torna-se imprescind!vel uma abordagem
territorial# >sto pode ser percebido pela de&inição dos conte<dos relativos 8 nova etapa do
desenvolvimento rural3 pelas tendências veri&icadas na ruralidade do capitalismo avançado3
pelas categorias cognitivas 5ue vem sendo criadas pela sociedade tanto para compreender
como para indu7ir a per&ormance destas =reas# $ problema ( 5ue3 apesar da pro&usão de
estudos com este en&o5ue3 não 2= propriamente &alando uma teoria do desenvolvimento
territorial % @idmore +1. constroi uma abordagem 5ue envolve globali7ação31/0
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internacionali7ação3 territoriali7ação3 Cecc2i +/RR/. en&ati7a os sistemas locais como
instrumento de an=lise e de inserção da economia rural no con6unto da economia global3 9a:
+/RR/. trabal2a com uma abordagem territorial inspirada em componentes da teoria
bourdiesiana +&ormas de capital. e neo-marista +teoria dos modos de produção.#
$ 5ue 2=3 portanto3 ( uma abordagem territorial 5ue se epressa3 sobretudo3 no tratamento de
um determinado n!vel da realidade e na operacionali7ação de algumas inst4ncias emp!ricas
&undamentais# A di&erença no tom da introdução e conclusão dos dois volumes de colet4neas
organi7adas por enLo X Bipiet7 +1/V /RRR. bem demonstram esta di&iculdade# )n5uanto
no primeiro volume3 do in!cio dos anos noventa3 a marca ( um entusiasmo com as
possibilidades 5ue se abriam com estudos territoriais 5ue viriam a se tornar re&erências
obrigatórias nos anos seguintes3 no segundo volume a tOnica 6= recai sobre a di&iculdade em
trans&ormar estas evidências em liç;es capa7es de eplicar as condiç;es 5ue &i7eram com 5ue
eperiências positivas enaltecidas em determinados estudos pudessem ali ocorrer#
Se a noção 5ue &undamenta a abordagem (3 do ponto-de-vista teórico3 tão &ugidia3 surgem
duas perguntas# Primeiro3 por 5ue tal en&o5ue se disseminou com taman2a rapide7 e em
di&erentes partes do mundo Q Segundo3 por 5ue &oi 6ustamente a id(ia de território 5uem
gan2ou proeminência3 e não outras com uma ainda maior tradição3 como a id(ia de região35ue apresenta tantos conte<dos similares e re<ne uma maior especiali7ação em torno de si Q
Sobre a primeira pergunta3 al(m do recon2ecimento das novas din4micas 5ue estão
sub6acentes 8 emergência da abordagem territorial3 destacas pelos programas de pes5uisa
apresentados p=ginas atr=s3 ( preciso recon2ecer 5ue isto acontece num conteto 2istórico
tamb(m marcado por uma certa crise e realin2amento dos instrumentos tradicionais de
promoção do desenvolvimento# A descentrali7ação das pol!ticas e tamb(m da atividadeindustrial3 associado 8 redução e a um certo redirecionamento da intervenção estatal
contribu!ram para 5ue3 particularmente nos meados dos anos R e nos anos R3 se institu!sse
um padrão onde3 em lugar dos investimentos diretos e de corte setorial3 caberia ao )stado
criar condiç;es e um certo ambiente a partir do 5ual os agentes privados pudessem3 eles
mesmos3 &a7er a alocação3 supostamentemente mais e&iciente3 dos recursos 2umanos e
materiais# A5ueles processos sociais e econOmicos de corte eminentemente territorial e este
1/
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novo padrão3 são3 em s!ntese3 as principais ra7;es da emergência e consolidação desta nova
abordagem territorialM#
Sobre a segunda 5uestão3 ( interessante contrastar a evolução e os signi&icados de id(ias com
&orte correlação3 como região e território# Uma ótima sistemati7ação da evolução e das
mudanças no conceito de região pode ser encontrada no livro Região e Leografia3 de Sandra
Bencioni +/RR0.# Dele3 a autora mostra a origem da id(ia ainda entre os gregos3 como
con2ecimento corogr=&ico voltado para as descriç;es das di&erenças da super&!cie terrestre#
Uma tradição 5ue se &unda com )strabão3 de ciência voltada para o desvendamento do
mundo visando a satis&ação das necessidades 2umanas e 5ue seria muito <til ao esp!rito
>luminista3 v=rios s(culos depois# Como ramo institucionali7ado3 a emergência da geogra&ia
regional ocorreu em oposição ao universalismo da &iloso&ia alemã# )sta cisão entre universal
e particular3 com o ramo disciplinar situando-se no segundo pólo3 viria a ser superada
posteriormente sob in&luência do positivismo lógico onde3 atrav(s da &enomenologia e do
marismo3 2= uma reconciliação com as leis gerais#
Após o per!odo de institucionali7ação3 o decl!nio do conceito e do sub-campo disciplinar 5ue
se erigiu em torno dele tem por base duas cr!ticas# Para @ilton Santos +apud Bencioni3 /RR0%
1/.3 nas condiç;es atuais da economia universal3 a região teria perdido o car=ter de
realidade viva3 dotada de coerência interna# A ausência desta Iautonomia regionalJ seria3
assim3 uma das ra7;es da &alência da geogra&ia regional tal como considerada nos moldes
cl=ssicos# A segunda cr!tica di7 respeito 8s &ronteiras epistemológicas# )mbora se situe no
4mbito da ciência social3 a geogra&ia di&ere da teoria social 8 medida 5ue considera os
aspectos da nature7a para a compreensão da realidade +Bencioni% /RR0% /R0.# )n5uanto a
geogra&ia 2umana so&reu uma esp(cie de 2ipertro&ia3 a geogra&ia &!sica continuou sua
tra6etória de valori7ação3 impulsionada pela valori7ação dos temas ambientais e ecológicos#
"e outro lado3 a geogra&ia regional3 ante o entendimento da geogra&ia como ciência social3
sem atentar para sua especi&icidade 5ue consistia em incorporar a nature7a3 acabou sendo
negada# >sto (3 a especi&icidade da geogra&ia precisava ser es5uecida para sua a&irmação como
ciência social# ,inalmente3 em a&inidade com este esp!rito dos tempos3 o descenso do
plane6amento regional3 em muito relacionado 8 primeira destas cr!ticas3 completa o 5uadro de
esva7iamento da legitimidade do uso do conceito de região na geogra&ia#
M *er a respeito Pec5uer +/RRR.3 @agnag2i +/RRE.#1/E
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Contra este movimento3 Bencioni parece sugerir a volta da geogra&ia regional como uma
esp(cie de ciência de s!ntese% entre leis gerais e suas mani&estaç;es particulares3 entre
nature7a e sociedade# @as recoloca-se assim o problema de &undo 5ue di7 respeito 8s
&ronteiras entre mundo natural e mundo social% elas podem ser transpostas nos limites de uma
disciplina Q
)ntende-se3 assim3 parte das ra7;es 5ue levam a substituir região por território na retórica e
nos estudos sobre desenvolvimento% a re&erência privilegiada da id(ia de território se
estabelece com a pol!tica3 5ue en5uanto tal não resvala na di&!cil 5uestão dos limites e da
especialidade disciplinar# Tanto ( 5ue a id(ia de território apresenta rami&icaç;es na biologia3
na etologia3 na antropologia3 na pol!tica e na 2istória3 al(m da geogra&ia e da sociologia#
Apesar da import4ncia do enrai7amento espacial das sociedades 2umanas3 ?asbaert +/RR.3
na mel2or sistemati7ação dispon!vel dos v=rios usos do conceito3 considera 5ue o tema da
territorialidade &oi praticamente negligenciado at( 1MH3 com o lançamento do livro
1erritorialidade !umana 3 de Torsten @almberg# Duma esp(cie de s!ntese destes en&o5ues3
?asbaert destaca os elementos valori7ados em cada uma das tradiç;es eistentes# Da pol!tica3
território ( sempre re&erido 8s relaç;es espaço-poder em geral ou 8s 5uest;es de ordem
6ur!dico-pol!tica# esta a visão mais di&undida3 onde prevalece uma visão de território como
espaço delimitado e controlado# Da abordagem cultural3 muitas ve7es culturalista3 a ên&ase
recai sobre o simbólico-cultural 5ue permeia a eperiência do território vivido3 como
apropriação# A dimensão econOmica3 menos di&undida3 sublin2a a dimensão espacial das
trocasV território ( visto como &onte de recursos ou incorporado no debate entre classes3 como
uma epressão da divisão do trabal2o# ,inalmente3 2= ainda uma abordagem natural3 marcada
pelas relaç;es sociedade e nature7a3 onde se aborda o comportamento natural dos 2omens em
relação ao seu ambiente &!sico#
)videntemente3 algumas destas lin2as ou en&o5ues podem ser combinados3 visando constituir
um corpo teórico capa7 de iluminar os aspectos para os 5uais se tem c2amado a atenção# $
&ato ( 5ue3 deste ponto-de-vista3 se6a atrav(s da id(ia de região3 se6a atrav(s da id(ia de
território3 trata-se3 sobretudo3 menos de uma teoria e mais de uma escala dos processos
sociais e de um con6unto de inst4ncias emp!ricas a serem mobili7adas para a eplicação#
1/H
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Pierre ordieu +/RR1%1/.3 lembra 5ue o regionalismo3 como uma categoria 5ue remete a
processos sociais situados numa escala espacial3 ( apenas mais um caso de lutas propriamente
simbólicas em 5ue agentes3 se6a envolvidos individualmente e de maneira dispersa3 se6a
coletivamente e de maneira organi7ada3 levam adiante um 6ogo de conservação ou
trans&ormação das relaç;es de &orça simbólicas e das vantagens correlativas3 tanto
econOmicas como3 tamb(m3 simbólicas# Dão se deve es5uecer 5ue 2= uma economia do
simbólico irredut!vel 8 economia em sentido restrito3 e 5ue as lutas simbólicas têm
&undamentos e e&eitos econOmicos3 tamb(m em sentido restrito3 e&etivamente reais +ourdieu3
/RR1-a% 1/.# Para complicar ainda mais3 como lembra 'acobs +/RR1.3 nesta trama espacial (
preciso ainda incluir uma certa nature7a das economias e uma economia da nature7a#
A compreensão a contento dos &enOmenos territoriais leva 8 necessidade de concebê-los
como um campo3 no sentido mesmo dado por ourdieu3 como um todo estruturado de
posiç;es e oposiç;es3 cu6a con&iguração ( determinada pela distribuição desigual dos
di&erentes trun&os3 entre os agentes e grupos sociais 5ue o comp;em# A din4mica do
território3 no 5ue di7 respeito 8s lutas sociais3 ser= sempre dada pela busca pela mel2or
posição de cada agente individual no interior deste território e3 deste território em relação aos
demais# Complementarmente3 mas nem de longe menos importante3 suas caracter!sticas
naturais contam como condicionante e como um dos trun&os &undamentais a seremmobili7ados3 o 5ue ( particularmente importante no caso dos territórios rurais3 e poderia3
neste registro sociológico +não no econOmico em sentido estrito.3 ser c2amado de capital
natural#
1/M
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S7n"ese do Ca:7"u#o 6
A an=lise da realidade dos pa!ses do capitalismo avançado mostra 5ue a emergência de uma
nova ruralidade não ( algo 5ue se mani&esta de maneira 2omogênea# A inserção das =reas
rurais nas possibilidades abertas com esta nova etapa do desenvolvimento rural dependem3
sobretudo3 de caracter!sticas 5ue l2e são espec!&icas e 5ue encontram sua mel2or epressão na
id(ia de território3 entendido como a trama complea de aspectos ambientais3 culturais3
sociais e econOmicos3 cu6a escala remete ao conceito de região e obriga a um seu reeame#
A abordagem territorial revela assim uma escala geogr=&ica dos &enOmenos relevantes e um
con6unto de inst4ncias emp!ricas incontorn=veis3 cu6a interpretação3 contudo3 demanda o
suporte de uma sólida teoria social e ecológica capa7 de l2e sustentar# "i&erente3 portanto3 deuma mera construção identit=ria ou de um realidade cu6as possibilidades estão previamente
determinadas por sua con&iguração3 os territórios podem ser vistos como um campo3 no
sentido dado por Pierre ourdieu3 como um todo estruturado de posiç;es3 cu6a mor&ologia (
dada pela distribuição desigual das di&erentes &ormas de capital no seu interior3 e cu6a
din4mica obedece 8s lutas sociais pelas mel2ores posiç;es no seu interior e3 particularmente
importante no caso de territórios rurais3 aos constrangimentos e possibilidades o&erecidos
pelo meio natural#
Pouco se sabe sobre as condiç;es 5ue levam um território a encontrar o camin2o da
dinami7ação econOmica com coesão social e conservação ambiental# @as os resultados at(
a5ui obtidos por v=rios programas de pes5uisa levam a crer 5ue a5uelas con&iguraç;es
baseadas em &ormas mais diversi&icadas e desconcentradas de distribuição dos trun&os sociais
e ambientais tendem a ense6ar mais e mel2ores possibilidades de interação social em uma tal
direção#
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PAR%E III
DESENVOLVI$EN%O RURAL E$UDAN2A INS%I%UCIONAL
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Ca:7"u#o ; 4Os amin<os da disseminação da a!ordagem "erri"oria#
As duas primeiras partes deste estudo se apoiaram em aspectos 2istóricos e cognitivos para
mostrar em 5ue consistem os sentidos do desenvolvimento rural e o con2ecimento 5ue se tem
de tais processos# A conclusão ( 5ue as teorias 5ue procuravam inserir este desenvolvimento
em leis gerais pecam sistematicamente por ignorar sua import4ncia e prever seu decl!nio# ) as
ra7;es disso são basicamente duas% determinismo ecessivo e abstrato3 de um lado3 e
ignor4ncia 5uanto 8 import4ncia dos &atores naturais de outro# )sta terceira parte se dedica
agora 8 an=lise de um aspecto emp!rico do desenvolvimento rural da maior import4ncia% o
problema da mudança institucionalR#
Dão se trata de uma avaliação ou balanço das pol!ticas desen2adas com tal intuito mas3 antes3
de uma cr!tica 8s di&iculdades do )stado e das sociedades em operar com a mudança de
paradigma contida na nova ruralidade3 de maneira a sustentar a de&inição e a implementação
das iniciativas propostas com esse &im#
)mbora em di=logo com uma 5uestão normativa3 o vi(s da an=lise procura proceder a umaabordagem realista de tais processos# Sob o 4ngulo teórico3 este cap!tulo pretende demonstrar
a5uilo 5ue se poderia c2amar de Iembeddedness da dependência de camin2oJ# Se "ouglass
Dort2 acertou ao descrever os mecanismos da permanência atrav(s do conceito de path
dependence3 sua eplicação para a mudança revela-se demasiado &r=gil e limitada 8s
&ronteiras do individualismo metodológico# Por isso um segundo ob6etivo ( &ornecer uma
esp(cie de cr!tica ou contra-eemplo ao es5uema esboçado em seus trabal2os mais recentes
+Dort23 /RRE.# Ali ele tenta mostrar como a mudança institucional depende dos mecanismosde aprendi7agem dos agentes sociais e de como isto se tradu7 em &ormas de conduta# $u3 em
outros termos3 como se &ormam e como agem as Iestruturas mentais partil2adasJ# )mbora
Dort2 admita 5ue as estruturas sociais &uncionam como ambiente a este processo
eminentemente cognitivo 5ue ( o aprendi7ado3 em seu modelo eplicativo as inst4ncias
mobili7adas estão3 por assim di7er3 dentro dos muros do individualismo metodológico% trata-
R Algumas id(ias e argumentos epostos nesta parte &oram apresentados originalmente3 na &orma de artigo3 no
Congresso da Sociedade rasileira de Sociologia3 reali7ado em elo ?ori7onte3 em /RRE# C&# ,avareto +/RRE- b.#10R
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se de eplicar como est!mulos e sanç;es se trans&ormam em regras3 e como regras
trans&ormam-se em &ormas de conduta# As próimas p=ginas pretendem mostrar o outro lado
do muro% propriamente3 como as instituiç;es são elas mesmas epress;es de con&litos e de
compromissos3 isto (3 resultado das interaç;es propiciadas por estruturas sociais
determinadas1# )3 por <ltimo mas não menos importante3 como estas estruturas não podem
ser entendidas sem considerar o meio-ambiente# Trata-se3 portanto3 de não só abordar como
os sistemas mentais partil2ados in&luenciam a tomada de decisão dos agentes3 e sim de como
este con6unto de crenças e valores ( socialmente &ormado#
Dão 2= d<vida de 5ue nos <ltimos de7 ou 5uin7e anos se erigiu um novo discurso sobre a
ruralidade3 em muito apoiado sobre os ac2ados de estudos e pes5uisas reali7ados nos 5uatro
cantos do mundo/# )ste novo discurso acabou progressivamente tomando a &orma de
consensos e orientaç;es3 não raramente amalgamados por agências internacionais de apoio 8
cooperação e ao desenvolvimento3 &undos de &inanciamento e organismos multilaterais como
a ,A$ - $rgani7ação das Daç;es Unidas para Agricultura e Alimentção -3 o anco @undial3
a Cepal - Comissão )conOmica para a Am(rica Batina -3 o >" anco >nteramericano de
"esenvolvimento3 o >>CA F >nstituto >nteramericano de Cooperação Agr!cola3 a $C") F
$rgani7ação para a Cooperação e o "esenvolvimento )conOmico# Como se sabe3 ( enorme a
in&luência destes organismos sobre a de&inição das pol!ticas3 sobretudo dos pa!ses da peri&eria
e da semi-peri&eria do capitalismo mundial# $ 5ue se deve tanto ao papel de &inanciador de
muitos desses organismos3 como3 talve7 principalmente3 pelo &ato de &uncionarem como uma
esp(cie de pivO3 atrav(s do 5ual gira uma articulação muito peculiar de interesses e
competências envolvendo os campos acadêmico3 pol!tico3 econOmico3 em cu6a din4mica
ocorre um movimento de legitimação rec!proca entre os con2ecimentos produ7idos
cienti&icamente3 a de&inição de pol!ticas no 4mbito de pa!ses e governos locais3 e a
normati7ação dos procedimentos por estes organismos internacionais#
Por este motivo3 a primeira das duas seç;es 5ue 6untas con&ormam esta parte do estudo (
dedicada 6ustamente a reconstruir e analisar a Inova visãoJ do desenvolvimento rural &or6ada
no 4mbito destes organismos# $ interesse em tal movimento para os propósitos deste estudo (
duplo% trata-se de pOr em evidência um n<cleo comum presente nos di&erentes discursos 5ue
1
C&# ( sugerido nos en&o5ues adotados por Pierson +/RR. e Amable X Palombarini +/RRE.#/ *er principalmente Cap!tulos 0#101
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remetem a essa Inova visãoJV e importa3 igualmente3 pOr em relevo omiss;es3 impasses3
dis6unç;es eistentes na passagem dos discursos cient!&icos aos discursos normativos 5ue se
abrigam sob a Inova visãoJ# Da seção seguinte a ên&ase se desloca para as tentativas de levar
8 pr=tica os elementos tra7idos com a nova abordagem# Desse momento3 a unidade em an=lise
( a eperiência recente de pa!ses com problemas similares em passar da Inova visão 8 açãoJ#
)m particular3 uma dimensão crucial dessa eperiência ( destacada% a situação 5ue envolve as
re&ormas introdu7idas nas pol!ticas e programas de pa!ses como o rasil3 a Argentina3 o
@(ico3 o C2ile# Com este eerc!cio3 pretende-se interrogar as ra7;es 5ue respondem pelo
êito parcial destas inovaç;es e3 com isso3 iluminar a nature7a dos constrangimentos 5ue
pesam sobre as opç;es dos agentes p<blicos e privados em sua tentativa de promover o
desenvolvimento dos territórios rurais#
A a&irmação principal 5ue sustenta esta parte do teto ( 5ue a Inova visãoJ do
desenvolvimento rural se instituiu com &orça su&iciente para reorientar o discurso e o desen2o
das pol!ticas e programas &ormulados com este &im3 mas isto não se &e7 acompan2ado da
criação de novas instituiç;es capa7es de sustentar este novo camin2o# Ao contr=rio3 o 5ue
parece estar ocorrendo ( uma incorporação por adiçãoJ dos novos temas onde3 sob nova
roupagem3 vel2os valores e pr=ticas continuam a dar os par4metros para a atuação dos
agentes sociais3 coletivos e individuais3 estabelecendo a5uilo 5ue a literatura em economia
institucional c2ama por dependência de percurso# Tornar esta assertiva palp=vel e interrogar
as ra7;es disto (3 pois3 o 5ue se pretende com as próimas p=ginas#
;35 4 O Bogo e as regras
Como mostra Davarro +/RR0.3 a id(ia de desenvolvimento rural não ( nova3 mas 2ouve3 ao
longo do tempo3 um desli7amento no discurso pol!tico e acadêmico 5ue ( revelador das
concepç;es orientadoras de tais propostas# Garcia +/RR/. vê3 na Am(rica Batina3 5uatro
grandes momentos# $ primeiro marcado pelos pro6etos e iniciativas de desenvolvimento
comunit=rio# $ segundo3 pelos grandes pro6etos de re&orma agr=ria# $ terceiro3 por a5uilo 5ue
se convencionou c2amar de desenvolvimento rural integral# At(3 por &im3 o momento dos
pro6etos 5ue &alam em desenvolvimento territorial e combate 8 pobre7a# Um breve ol2ar
10/
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sobre cada uma destas etapas a6uda a compreender as permanências e inovaç;es introdu7idas
de per!odo a per!odo@6#
;3535 4 A Jno)a )isãoT do desen)o#)imen"o rura#
$s pro6etos mais destacados e 5ue poderiam ser 5uali&icados como de apoio ao
desenvolvimento comunit=rio remontam aos anos trinta3 nos )UA e [ndia# "esde 1E esta
denominação passa a &re5uentar os documentos o&iciais das Daç;es Unidas e3 em 1EH3
aparece como Ia e3pressão para designar os processos em virtude dos quais os esforFos de
uma populaFão se Buntam aos de seu governo para melhorar as condiFKes econ>micas,
sociais e culturais das comunidades, integr'*las a vida do pa(s, e permitir*lhes contribuir
plenamente ao progresso nacional J +$DU apud Garcia3 p# 1.# A partir dos anos ER3 sob o
patroc!nio de agências como a ,undação ,ord3 v=rias eperiências &oram implementadas na
]&rica e ]sia3 como resposta 8 9evolução C2inesa e 8 Guerra ,ria# A id(ia b=sica ( 5ue as
comunidades possuem potencialidades 5ue3 com apoios pontuais3 podem deslanc2ar# As
principais estrat(gias3 por sua ve73 eram destinadas a satis&a7er as necessidades b=sicas da
população3 propiciar maior participação3 e apoiar a organi7ação cooperativa# )lementos 5ue3
como se vê3 ainda são muito presentes no discurso atual sobre desenvolvimento rural#
A partir dos anos HR esta estrat(gia eperimentou um descenso# As ra7;es para isto são de
&=cil compreensão# $s pro6etos 5ue vin2am sendo implementados apresentavam uma enorme
dependência de recursos eternos3 2umanos e &inanceiros3 tornando di&!cil sua ampliação e
mesmo sua sustentação em longo pra7o# Al(m disso3 tais iniciativas revelaram-se &r=geis no
5ue di7 respeito 8 necessidade de r=pido aumento da renda e da produção nas comunidades
atingidas# $ car=ter pontual e tópico dos investimentos reali7ados não contribu!a para levar 8
dinami7ação dese6ada revelando-se meramente paliativos# >sto 5uando3 pelo seu car=ter
restrito associado 8 introdução de elementos estran2os 8 tradição da5ueles agricultores3 os
pro6etos apoiados não acabavam gerando atritos e con&litos nas próprias comunidades#
Desta (poca3 o pêndulo se desloca para a necessidade de mudanças estruturais# Da esteira dos
movimentos revolucion=rios e de contestação 5ue se espal2avam pela Am(rica Batina o tema
da re&orma agr=ria gan2ou proeminência como principal pol!tica de desenvolvimento rural#
0 $ item seguinte ( &ortemente apoiado em Garcia +/RR/.#100
8/18/2019 Paradigmas do desenvolvimento rural em questão _FAVARETO.pdf
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As origens do debate remontam 8 9evolução @eicana de 11R3 mas gan2aram in&luência
decisiva com a introdução de processos similares ocorridos na ]sia nos anos R +Tur5uia3
Cor(ia3 'apão3 C2ina3 TaiKan.# )m 1ER a $DU encomendou 8 ,A$ um estudo sobre a
relação entre per&il &undi=rio e pobre7a# $ estudo indicava mini&<ndios com =rea insu&iciente
para reprodução social e a presença do lati&<ndio como marca da estrutura agr=ria da região#
Paralelamente a Cepal apontava um lento crescimento da produção em relação a demanda
nacional e internacional e a necessidade de um processo de moderni7ação acompan2ado de
uma re&orma agr=ria# "iagnóstico similar era produ7ido pelo Comitê >nteramericano de
"esenvolvimento Agr!cola +C>"A.3 criado nos marcos da Aliança para o Progresso3 de 1H1#
Do in!cio dos anos sessenta3 sob o impacto destes estudos e de processos de re&orma agr=ria
levados adiante em ol!via3 @(ico e Cuba3 este era um tema &undamental em toda a
Am(rica Batina3 salvo na Argentina e Uruguai#
A eperiência 2istórica demonstrou3 no entanto3 5ue as re&ormas eram parte de um pro6eto
pol!tico para diminuir o peso dos lati&undi=rios3 mas não estava 5ue tipo de propriedade
deveria substituir o lati&<ndio# )sperava-se um impacto para al(m da produção agr!cola3
in&luindo nos n!veis de renda e o conse5ente impacto sobre o mundo urbano e3
principalmente3 li5uidar as relaç;es não-capitalistas# A ausência de tecnologias apropriadas
aos pe5uenos produtores3 as di&iculdades de acesso ao cr(dito e3 en&im3 todo o ambiente
social e institucional des&avor=vel &oram &atores 5ue limitaram enormemente este intento#
Paralelamente 8s eperiências de re&orma agr=ria F ou de sua &rustração como no caso
brasileiro F ocorre uma r=pida moderni7ação do setor agr!cola nestes pa!ses3 com uma &orte
epansão da produção3 aumento do com(rcio e uma urbani7ação r=pida e crescente# @as o
e&eito da c2amada 9evolução *erde para os pobres rurais &oi nulo ou negativo# Uma das
conse5ências &oi a pro&unda 2eterogenei7ação destes espaços% alguns alcançam um modelo
de integração competitiva en5uanto outros apro&undam a situação de marginali7ação e
decadência# $s organismos internacionais deram por &racassadas as pol!ticas de re&orma
agr=ria# Como resultado3 ocorre um realin2amento da estrat(gia de desenvolvimento3 pondo
ên&ase em dispor aos pobres rurais todos os elementos 5ue l2es permitiriam mel2orar sua
5ualidade de vida e suas capacidades produtivas3 o 5ue inclu!a uma ampla gama de serviços
sociais e serviços t(cnicos# Surgia a retórica do desenvolvimento rural integral# )ntre 1 e
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1HR o @ 2avia investido H` do &inanciamento total a programas rurais3 ci&ra 5ue passou a
/` +Garcia3 /RR/.# @udanças similares ocorreram no >"# ) no mesmo ano se cria o ,>"A#
Apesar da ampliação dos recursos3 um problema 5ue persistiu nesta etapa &oi a carência de
recursos 2umanos para levar adiante tais programas# A solução encontrada &oi priori7ar
pe5uenos propriet=rios com posse da terra# )sperava-se 5ue seu e&eito se irradiasse e
bene&iciasse os mais pobres# @as o problema da posse da terra tamb(m era delicado# )m
muitas =reas era mesmo uma condição para 5ual5uer es&orço de desenvolvimento# )3 no
entanto3 ele nunca 2avia sido parte do rol de estrat(gias apoiadas# Desta etapa3 5uando 2ouve
investimentos nesse sentido3 priori7ou-se a coloni7ação e a regulari7ação &undi=ria3 e não a
partil2a de terras a &im de evitar con&litos# *ale lembrar 5ue v=rios pa!ses da Am(rica Batina
viviam sob regimes de eceção 8 (poca e a intocabilidade da propriedade &undi=ria era um
dos pilares destes regimes# Al(m desta di&iculdade operacional 2avia um problema
institucional# $ desa&io era passar de pro6etos produtivistas para pro6etos integrados3 mas isto
tra7ia um problema de articulação3 derivado da enorme pulveri7ação de 2abilidades e
competências em um n<mero signi&icativo de estruturas governamentais# Como &orma de
contornar esta limitação3 muitas ve7es se criou aparatos espec!&icos3 gerando paralelismos
com a estrutura estatal# $utro problema estava no descompasso entre as eigências t(cnicas
das agências internacionais e os recursos 2umanos locais# ,ormaram-se burocracias e
desn!veis salariais# Apesar do discurso3 a participação dos pobres rurais não acontecia
+Garcia3 /RR/.#
$ balanço geral at( este per!odo revela um 5uadro de di&!cil en&rentamento# As mudanças
provocadas pela integração crescente de populaç;es tradicionais aos circuitos de mercado
troueram consigo uma crise das id(ias mais tradicionais 5ue orientavam as pol!ticas voltadas
para a economia camponesa# Al(m disso3 as pol!ticas 6= implementadas nas etapas anteriores
não vin2am apresentando impacto substantivo# A re&orma agr=ria3 a mais estrutural das
tentativas ense6adas3 c2egou a alterar algumas estruturas3 mas não alcançou a mudança
preconi7ada# A desconeão entre pol!ticas rurais e pol!ticas macroeconOmicas e a carência de
recursos 2umanos revelaram-se &atores altamente limitantes para o êito de 5ual5uer pol!tica
de desenvolvimento rural#
10E
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A tOnica dos anos HR aos R &oi 6ustamente a ausência de pol!ticas estruturais para o mundo
rural3 &icando suas possibilidades de mel2oria restritas 8 ade5uação 8s pol!ticas
macroeconOmicas e de incremento tecnológico ou aos programas pontuais apoiados por
organismos internacionais3 na maior parte das ve7es em resposta a situaç;es de e&ervescência
social# Do caso brasileiro3 isto pOde ser percebido com a instituição de uma &orte
moderni7ação tecnológica3 uma crescente integração da atividade agr!cola aos compleos
agroindustriais3 e a &ormação de um padrão corporativista de organi7ação do agro onde cabia
ao )stado3 a um só tempo3 o papel de indutor da economia e de repressor dos con&litos 5ue
da! emergiam#
A partir dos R vai &icando claro 5ue3 embora as economias ten2am crescido e a produção de
alimentos aumentado signi&icativamente3 2ouve um aumento da pobre7a e da desigualdade# $
tema do desenvolvimento rural como pol!tica espec!&ica volta 8 arena# $s organismos
internacionais in&luenciam a agenda dos governos recolocando o tema em pauta3 e o &a7endo
pelo registro da associação entre desenvolvimento rural3 redução da pobre7a e conservação
dos recursos naturais# @as este era tamb(m o momento onde a crise da d!vida deu lugar a um
processo de reestruturação econOmica3 o Ia6uste estruturalJ3 5ue levou a programas de
moderni7ação dos aparatos p<blicos3 ordenamento das economias3 busca do crescimento
sustentado3 abandono de pol!ticas espec!&icas de desenvolvimento#
Um dos eios adotados &oi 6ustamente tomar a agricultura como uma sa!da produtiva3 atrav(s
do incremento e diversi&icação das eportaç;es3 da diminuição das importaç;es3 e da geração
de saldo &avor=vel para sanear as contas p<blicas e 2onrar compromissos eternos# )ste vetor
obteve um ra7o=vel êito nos seus intuitos &iscais e monet=rios imediatos3 mas o impacto
sobre a vida dos agricultores &oi pe5ueno ou simplesmente negativo por uma s(rie de
motivos# $ principal deles est= no &ato de 5ue a renda das &am!lias rurais deiava
progressivamente de vir do trabal2o agr!cola#
'= nos anos R3 outro eio se constituiu com a adoção do en&o5ue territorial 8s pol!ticas#
"esde os anos noventa 2= uma s(rie de programas de pes5uisa e iniciativas de pol!ticas como
a criação da divisão territorial da $C") em 1# ) em 1H o anco @undial publica seu
relatório I A nova visão do desenvolvimento rural J3 onde a marca ( 6ustamente uma tentativa
de dar conta das mudanças por5ue 2avia passado o rural nas d(cadas anteriores e a10H
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necessidade 5ue elas tra7iam em se passar de um en&o5ue setorial a um outro de car=ter
territorial3 e3 tamb(m3 em se erigir um novo modelo institucional em torno destas pol!ticas#
"esde então &oram v=rios os documentos nas di&erentes agências multilaterais visando
precisar o 5ue seria esta Inova visãoJ #
)stes v=rios documentos e as orientaç;es neles contidas se apoiavam em alguns consensos
sobre os problemas dos programas at( a5ui# )ste consenso poderia ser sumari7ado em seis
pontos% a. &alta de coordenação dos programasV b. descentrali7ação da implementação mas
com centrali7ação das decis;esV c. pouca ade5uação local em termos de tecnologia e de
recursos 2umanosV d. concentração do cr(dito e distorç;es na pol!tica de subs!diosV e.
2ipertro&ia da presença estatalV &. custos das intervenç;es alto3 redu7indo os e&eitos dos
investimentos diretos# As liç;es da! derivadas% a. a necessidade de priori7ar um car=ter
multisetorialV b. a ên&ase na &orma de estruturar e institucionali7ar a açãoV c. import4ncia de
se re&orçar a descentrali7ação3 a agilidade e a instituição de mecanismos de incentivos e
controles3 al(m de estudos sobre marco inicial dos pro6etos3 a introdução de &ase de
preparação3 e de instrumentos de monitoramento e avaliaçãoV d. separar as aç;es sociais das
setoriais e produtivas visando simpli&icar o desen2o de programasV e. considerar =reas mias
2omogêneas o poss!vel para implementar as aç;esV &. considerar os não-pobres3 isto (3 o
território e as articulaç;es 5ue ele implica +Garcia3 /RR/.#
Salvo liç;es polêmicas e de e&ic=cia no m!nimo duvidosa3 como a separação entre iniciativas
sociais e produtivas3 ao 5ue parece as recomendaç;es dos órgãos e agências internacionais se
coadunam com as tendências recentes do desenvolvimento rural e com os ac2ados dos
programas de pes5uisa citados no cap!tulo anterior# Contudo3 um eame mais detido da
estrutura e do sentido destes documentos revela claramente dois tipos de impasse3 ou dois
dilemas% o primeiro ( a permanência de uma visão agr=ria dos espaços ruraisV o segundo3
derivado do anterior3 ( o vi(s de pol!tica social sub6acente 8s orientaç;es#
Sobre a permanência da visão agr=ria3 um ol2ar sobre alguns documentos destes organismos
( bastante revelador# $ relatório de /RR1 do anco @undial +T2e World anL3 /RR1-a. F
-lan de acción para el desarrollo rural em América 0atina 2 el 4aribe/ um insumo para la
C&# T2e World anL +/RR1-a3 /RR1-b.3 Cepal,A$9imisp +/RR0.3 >" +/RRE.# *er tamb(m )c2everria+/RR1.3 )scobal +/RR/. ?opLins +/RR.#10M
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revisión de la visión a la acción F rea&irma a estrat(gia de busca de inserção competitiva dos
espaços rurais e destaca como um dos blo5ueios a di&iculdade de acesso a ativos
&undamentais para tanto# @as 6unto disso3 destaca o peso 5ue a agricultura deve continuar
tendo no P># Do rol de elementos a compor a estrat(gia aparece% a intensi&icação da
agricultura entre pe5uenos3 o mel2oramento do acesso a terra e a serviços3 as pr=ticas de
mane6o sustent=vel3 o &ortalecimento do capital social# )lementos en&im 5ue se combinam
mais 8 vel2a visão do 5ue a um car=ter intersetorial do desenvolvimento rural# )ste vi(s (
re&orçado no relatório de /RR3 5ue tem o epressivo t!tulo F Me2ond the cit2 +T2e World
anL3 /RRE. -3 mas no 5ual a principal ên&ase recai sobre o e&eito ampliado da agricultura na
composição do P>#
"a mesma &orma o mais recente teto do >" F -erfil de pol(tica de desarrollo rural +>"3
/RRE. F apresenta problemas similares# "eiando de lado a compreens!vel generalidade 5ue
envolve esse tipo de documento3 com pretens;es amplas resumidas em sete p=ginas3 c2ama
atenção a ausência de uma verdadeira Iestrat(giaJ a sustentar o con6unto de consideraç;es e
proposiç;es nele contidas# Por certo 2= uma incorporação das dimens;es territorial3
institucional e ambiental3 mas isso se d= mais Ipor adiçãoJ ao l(ico dos &ormuladores das
pol!ticas ou3 no limite3 como identi&icação de inst4ncias a serem3 de alguma maneira3
envolvidas ou mobili7adas com as orientaç;es enunciadas# $ mel2or eemplo disso est= no
&ato de 5ue a primeira menção epl!cita a uma estrat(gia territorial só aparece na <ltima
p=gina3 no item I EBecución 2 cumplimientoJV e aparece como Ien&o5ue de aplicaçãoJ3 não
como Iestrat(giaJ# "isso resulta uma dis6unção importante% na IeBecuciónJ tenta se aplicar
um vi(s territorial3 mas nas consideraç;es3 nos instrumentos e nas orientaç;es enunciadas o
vi(s ( claramente produtivista e setorial# Seria poss!vel citar eemplos em 5uase todas as
partes do teto3 sobretudo nos IobBetivosJ# "a mesma &orma o Iproblema institucionalJ
aparece somente de maneira dispersa3 com menç;es meramente pontuais#
Apesar da inovação discursiva3 os documentos não epressam3 portanto3 uma interpretação
dos problemas relevantes para a promoção do desenvolvimento dos espaços rurais e parecem
não apreender os ensinamentos tra7idos com a evolução recente dos estudos 5ue vêm dando
relevo 8 id(ia de desenvolvimento territorial# A conse5ência ( a proposição de diretri7es
com alguma abertura para novas instituiç;es3 coerentes com esse novo 5uadro de re&erências3
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mas sem uma estrat(gia coerente a sustent=-la3 sem mecanismos 5ue possam &avorecer sua
criação#
Sobre a associação entre promoção do desenvolvimento rural e pobre7a tamb(m 2= uma &orte
ambigidade# ineg=vel 5ue baios indicadores econOmicos e sociais são uma das marcas
destes espaços# "ados da Cepal e da ,A$ apontavam para a eistência de HE mil2;es de
pobres em 1MR3 / mil2;es no meio da d(cada de R3 e 1R mil2;es em /RRR# Com eceção
do C2ile3 em todos os outros aumentou a pobre7a no per!odo# Do entanto3 este car=ter 5ue
demanda estrat(gias espec!&icas de discriminação positiva muitas ve7es se tradu7 na
introdução de um vi(s marcadamente assistencial a estas populaç;es e a suas regi;es3 5ue tem
o e&eito não antecipado de eclu!-las de todo um outro rol de programas e pol!ticas# As
pol!ticas de dinami7ação econOmica e &omento 8 inovação &icam reservadas 85uelas 5ue
apresentam potencialidades competitivas# Ys =reas rurais são direcionados os programas com
recursos a &undo perdido e as estruturas governamentais com capacidades estabelecidas para
o atendimento de populaç;es em situaç;es de precariedade social# Com isso3 muitas ve7es
apro&unda-se a dicotomi7ação 5ue atribui ao rural somente o lugar do atraso e da pobre7a#
?= duas ra7;es para isso# A primeira ( cognitiva% eiste toda uma visão instaurada nos
5uadros mentais da burocracia governamental3 mas tamb(m de pes5uisadores e mesmo destas
populaç;es3 onde estes lugares e suas associaç;es 6= estão pr(-estabelecidos# A segunda (
pol!tica% estas populaç;es não disp;em dos meios e dos recursos para pleitear outro tipo de
investimento e de inserção governamental#
Como resultado3 os investimentos produtivos são capturados pelos agentes mais tradicionais
do agro re&orçando sempre a mesma visão baseada na valori7ação dos recursos prim=rios3
mesmo na contramão das tendências em curso não só nos pa!ses do capitalismo avançado3
mas tamb(m na Am(rica Batina# Do C2ile3 R` das &am!lias 6= vive nas cidades e E0` da
renda prov(m de atividades não agr!colas# A diminuição da solidariedade e o aumento da
individuali7ação são traços crescentes nas =reas rurais# @udanças migratórias têm mudado o
per&il populacional de muitas =reas rurais com a c2egada de pro&issionais liberais ou de
retornados3 agora com maior grau de escolaridade e dotados de novos v!nculos etra-locais#
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Da pr=tica3 a associação entre ruralidade e pobre7a tra7 uma contradição% os programas
estabelecem um &oco3 um p<blico priorit=rio F os pobres rurais3 em geral &am!lias de
agricultores - embora a abordagem se proclame territorial e3 pois3 multisetorial# Al(m destes
impasses na &ormulação mesmo do discurso3 cabe perguntar 5ual tem sido o resultado da
tentativa de passar Ida visão 8 açãoJ#
;353+ 4 Da )isão H ação
Um 5uadro geral das principais pol!ticas e programas voltados para a promoção do
desenvolvimento rural em pa!ses da Am(rica Batina no decorrer dos anos R deia bastante
claro o vi(s setorial destas iniciativas# A avaliação geral não ( positiva 5uanto a seus êitos3
salvo no C2ile3 mas mesmo l= ( di&!cil separar o 5ue compete ao êito dos pro6etos ou a
própria tra6etória de crescimento econOmico eperimentada ao longo dos <ltimos anos# Assim
como no balanço das d(cadas anteriores3 novamente se misturam aspectos operacionais com
o lugar social das iniciativas# "e um lado3 in&luenciaram aspectos eternos aos programas3
como o enugamento dos serviços p<blicos motivados pelas re&ormas estruturais ocorridas
nesta d(cada3 ou a &alta de di=logo entre inst4ncias econOmicas e sociais ou entre di&erentes
n!veis de governo# "e outro3 o amplo espectro de pol!ticas e programas apresentavam baia
inovação e pouca complementaridade3 como demonstra o 5uadro a seguir#
1R
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&UADRO SN%ESE DAS PRINCIPAISPOL%ICAS PARA O DESENVOLVI$EN%O RURAL E$ PASES DA A$RICA LA%INA
Pa7s Ins"i"uiona#idade Programas O!Be"i)os Cri"rios:Q!#io Prini:ais açes O!s3 geraisArgentina Programas e pro6etos são
subordinados 8 SAGP:A do@inist(rio da )conomia
Unidades de eecução são criadas ad2oc para cada pro6eto
At( 1 prevalecem pol!ticasagr!colas ou por produto
1f programa F PPD)A +Cr(dito eapoio t(cnico para pe5uenos produtores agropec# "o noroesteargentino.3 de 1/-1M3 com&inanciamento do >"-,>"A
1 F Criação da Comissão de"esenvolvimento 9ural
/RR1 F programas
/RR F "iscussão sobre pol!tica dedesenvolvimento rural
1. Unidad demini&<ndio
Apoio a agricultoresmini&undistas
Tecnologia3 organi7ação3capacitação para% a. &ortalecercapacidade de subsistênciaV b. produção para mercadosV c.diversi&icação
@ini&undistas em 7onas deconcentração &undi=ria3 commenos de / sal=rios deassalariado rural de renda3 eem situação de precariedadesocial3 econOmica ouambiental
Assistência t(cnica eapoio organi7acional
/. Programa SocialAgropecu=rio
Aplicação no setor rural de programa social do governo+aplicado em diversas =reas.#
Apóia o &ortalecimento doauto-consumo e cr(dito paraempreendimentos associativos
Assalariados e pe5uenos produtores# Do segundo caso3eige-se a participação diretano estabelecimentoagropecu=rio e empregandomão-de-obra somenteocasional# A renda doestabelecimento não pode sersuperior ao sal=rio de umassalariado rural3 nem podemos ingressos eternos seremsuperiores a este valor#
Assistência &inanciera3t(cnica e apoio 8comerciali7ação e 8atividades decapacitação
A devolução doscr(ditos integra um&undo rotativo no4mbito das prov!ncias#
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0. Pro:eto de"esarollo 9ural dePe5ueosProductoresAgropecuarios+Proinder.
+recursos W e governo.
Apoio a pro6etos deautoconsumo3 de produção de bens e serviços3 dein&raestrutura de usocomunit=rio para produção3 ede assistência t(cnica
,am!lias nas 5uais asnecessidades b=sicas sãosuperiores 8 m(dia da prov!ncia# São adotadoscrit(rios adicionais no caso de7onas ind!genas ou com predomin4ncia detrabal2adores tempor=rios crit(rios similares ao PSA
,ortalecimentoinstitucional
,undo de Apoio a>niciativas 9urais
Atrav(s destes doisinstrumentos seapoiam iniciativas deinvestimento3assistência t(cnica eserviços de apoio ao
mercado. Programa de
"esarrollo 9ural delas Prov!ncias del Doroeste Argentino+Prodernea.
+recursos ,>"A3 prov!ncias e governo.
Apoio a pro6etos produtivos3comerciais3 de gestãoadministrativa3 agroindustriaise rurais não-agr!colas
Pe5uenos produtores comdotação de recursos produtivos e capacidade degestão empresarial com potencial para integração emmercados
Cr(ditosreembols=veis deinvestimento e custeio
Serviços de apoio 8 produção
Gênero
Programa deeecução maisdescentrali7ada# )mcada prov!ncia 2=um ComitêCoordenador comrepresentação dos bene&ici=rios3instituiç;es eorgani7aç;es&amiliares de pe5uenos produtores
1/
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rasil )istem duas estruturas nacionais #@inist(rio da Agricultura3 orientadoao &ortalecimento da capacidadecompetitiva da agricultura patronal#@inist(rio do "esenvolvimentoAgr=rio3 voltado a temas dedesenvolvimento rural sustent=vel ere&orma agr=ria# $utros programassociais &icam a cargo de minist(riosde outras =reas#
1. Programa Dacional de,ortalecimento daAgricultura ,amiliar+Prona&.
Apoio t(cnico e &inanceiro para o desenvolvimento ruralcom base no &ortalecimento daagricultura &amiliar
Agricultores &amiliares3 com prioridade para a5uelessituados nas categorias IemtransiçãoJ e Iperi&(ricosJ +aterceira categoria seria a dosagricultores IconsolidadosJ.#
São considerados agricultores&amiliares a5ueles 5ue3 sob5ual5uer modalidade 6ur!dicade posse da terra3 desde 5uenão ten2am =rea superior a
5uatro módulos &iscais+unidade de medida.3 5ueobten2am renda predominantemente daeploração do estabelecimentoagropecu=rio3 5ue residam na propriedade ou emaglomerado urbano próimo3contratação de mão-de-obraeventual
Cr(dito de&inanciamento ecusteio subsidiado ereembols=vel
Apoio 8 in&raestrutura+em convênio comgovernos dosmunic!pios. atrav(s deinvestimentos a &undo perdido visandomel2orar a
in&raestrutura e osserviços de apoio aodesenvolvimento rural
Capacitação paradisseminação decon2ecimentos etecnologias atrav(s dasempresas estatais deassistência t(cnica eetensão ou emconvênio comorgani7aç;es nãoestatais
Alto grau dedescentrali7ação3com base nosC@"9 e naelaboração de planos dedesenvolvimentorural3 inicialmenteem 4mbitomunicipal e3 desde/RR/3 em 4mbitointermunicipal
/. Programa Dacional de9e&orma Agr=ria
Propiciar acesso a terra e acondiç;es de produção 8&am!lias de agricultores sem-terra
,am!lias de agricultores sem-terra
)propriação+indeni7ada. de terrasimprodutivas degrandes propriedades edistribuição a &am!liasde agricultores sem-
terra,ormação deassentamentos
"isponibili7ação decr(dito subsidiadoreembols=vel viaProna&
Programa sob permanente debateenvolvendo oscustos dedesapropriação3 am= 5ualidade das
terras ou a m=locali7ação dosassentamentos3dependência dosassentados3 entreoutros aspectos#Centrali7ado no>DC9A3 vinculadoao @"A
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0. Programas de cr(dito&undi=rio
+W3 governo &ederal3governos locais3comunidades bene&ici=rias.
Propiciar &ormas de acesso aterra para agricultores sem-terra ou com terra insu&iciente para as necessidades da&am!lia3 via compra de terras
,am!lias de agricultores sem-terra ou com =rea insu&iciente
Cr(dito subsidiadoreembols=vel paraa5uisição de terras porassociaç;es de bene&ici=rios
"otação inicial derecursos parainvestimentoscomplementares econtratação deassistência t(cnica
)ecuçãodescentrali7ada comautonomia das&am!lias sobre aaplicação dosrecursos +5ue terrasad5uirir e onde. esobre a estrat(gia produtiva #Governos estaduaisavaliamcompatibilidade dos
procedimentos#Governo &ederal&ia preços dere&erência#
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C2ile Dão 2= uma órgão de )stadoencarregada de pol!ticas dedesenvolvimento rural
1. Prorural @el2orar as condiç;es de vidados 2abitantes de 7onas rurais pobres3 dinami7ando aseconomias locais com umavisão territorial3 multisetoriale participativa
)ecução ecoordenação de aç;esde diversas agências3serviços p<blicos eagentes locais emregi;es priorit=rias
,ortalecimento deagentes locais atrav(sda trans&erência decapacidades e apoio pro&issional
Aç;es m<ltiplas3simult4neas ecomplementares +emdi&erentes setoreseconOmicos.
$rigem em 1M3com aprovação pelos ministros doComitê>nterministerial dePol!ticas Sociais ede"esenvolvimentoProdutivo3 visandosuperar aatomi7ação einsu&iciêmncia da
ação p<blica atrav(sda criação de umainstituicionalidade ede uma estrat(gia deintervenção maisapropriada e baseada naintegração territorialde programas
/. Serviço de Asesor!aBocal en Comunidades9urales Pobres+Prodesal.
Propiciar o acesso a serviçosde assessoria e apoio acomunidades rurais pobres3envolvendo aspectos produtivos3 ambientais eorgani7acionais
Comunidades rurais commaior incidência deindicadores de pobre7a
)mbora os ob6etivosenvolvam m<ltiplasdimens;es3 tem sidodada ên&ase aomel2oramento da produtividade
"estacam-se ocar=ter comunal eos redu7idos&undos3 o 5ue &orçaa articulação deste programa comoutras iniciativas
0. Programa de"esarrollo Productivo9ural del ,ondo deSolidaridad Social +"P9-
,osis.
,ortalecer o desenvolvimento produtivo de =reas rurais
>denti&icação preliminar 8 eecuçãodo pro6eto dos bene&ici=rios e do
capital socialdispon!vel
Apoio a atividades pr(vias de&ortalecimentoorgani7acional +ondenecess=rio.
?= a eigência de5ue se6am aportadosrecursos locais 5uesão
complementadoscom investimentos pelo programa3 o5ue &avoreceinteressantesencadeamentos comoutros programasou com iniciativas privadas e tamb(m
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Apoio a aç;es de&ortalecimento dacapacidade produtiva
o comprometimentodos bene&ici=rioscom o pro6eto#
Consel2osmunicipais comrepresentantesdemocraticamenteeleitos priori7am os pro6etos
1. Prodecop >*3Prodecop Secano3Prodecam
+W3 governo 2olandês3governo c2ileno.
Pro6etos voltados para o&ortalecimento dodesenvolvimento rural desegmentos ou regi;esespec!&icas
9egi;es ou segmentos menos&avorecidos
Apoio a iniciativasdiversas baseadas emdiagnósticos3concertação de atorese de&inição de prioridades locais
Consel2os de"esenvolvimentoBocal como espaçosde concertação#
1H
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>n&luenciados pelas tendências das pol!ticas nos pa!ses do capitalismo avançado e pelas
descobertas de programas de pes5uisa sobre a mani&estação de processos sociais
semel2antes tamb(m nos pa!ses da Am(rica Batina3 v=rios pa!ses eperimentaram a
&ormulação ou o redesen2o destas iniciativas em conson4ncia com os marcos contidos na
Inova visãoJ do desenvolvimento rural#
Do caso brasileiro3 o lugar institucional do principal programa de desenvolvimento rural F o
Prona& F sempre esteve vinculado 8s rubricas orçament=rias e aos &luos da 2ierar5uia
administrativa &ederal relativos aos programas de combate 8 pobre7a# Com isso3 o Prona&
nunca &oi alçado 8 categoria de pol!tica permanente3 nem nunca dispOs de uma maior
articulação com outras pol!ticas estruturais do governo &ederal# As regras de acesso a
algumas das lin2as deste programa tamb(m são claros indicativos do &oco no combate 8 pobre7a# "e 1H a /RRR os munic!pios bene&iciados com recursos do Prona&>n&raestrutura
- lin2a voltada para investimentos em in&ra-estrutura e serviços de apoio ao
desenvolvimento rural - eram escol2idos tendo por base o baio desempen2o no [ndice de
"esenvolvimento ?umano# A partir de /RR1 o programa passa a apoiar pro6etos de car=ter
intermunicipal3 agora escol2idos a partir de processo seletivo# Por(m3 na seleção dos
pro6etos3 pesa tamb(m o &ato de se tratar ou não de pro6eto origin=rio dos territórios
considerados como priorit=rios pela Secretaria de "esenvolvimento Territorial do
@inist(rio do "esenvolvimento Agr=rio3 estes por sua ve73 escol2idos a partir de uma
combinação de crit(rios 5ue envolvem a presença de agricultores &amiliares e assentados da
re&orma agr=ria e3 novamente3 a ocorrência de baio >"?# )m nen2um dos dois per!odos3
portanto3 os investimentos na agricultura &amiliar e no desenvolvimento rural estiveram
articulados estrategicamente em aç;es voltadas para a diminuição de desigualdades ou para
a dinami7ação das economias rurais3 nem 2ouve tentativa de superar a dicotomi7ação
ascendente-descendente 5ue marca a orientação das pol!ticas nas <ltimas d(cadasE#
'= no recente caso argentino as articulaç;es entre pobre7a3 desigualdade e desenvolvimento
são de outra ordem# $ documento s!ntese apresentado no 1aller -ropuestas para el
Desarrollo Rural 2 la -roduccion Agropecuaria - reali7ado em /RR com o ob6etivo de
E C&# Abramova: X *eiga +1.3 Sc2neider3 @attei X Ca7ella +/RR.3 ,avareto +/RRE-b.#
1M
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de&inir diretri7es para os temas anunciados no t!tulo do evento -3 parte do 5uestion=vel
diagnóstico de 5ue a5uilo 5ue caracteri7a as =reas rurais ( a &ragilidade dos seus mercados
locais# "isto decorre 5ue a <nica possibilidade de seu desenvolvimento passa pela coneão
a mercados din4micos3 o 5ue acontece atrav(s de inovaç;es na produção local e da criação
de instituiç;es 5ue permitam tanto estabelecer estas relaç;es virtuosas com o espaço etra-
local como &a7er com 5ue os gan2os da! advindos possam bene&iciar os mais pobres#
)mbora a5ui a dinami7ação das economias locais apareça como uma condição e um meio
para o desenvolvimento destes territórios3 a sua assimilação a situaç;es marcadas pela
pobre7a e por mercados locais &r=geis acaba pondo ên&ase em demasia nas articulaç;es
etra-locais em detrimento da dimensão intra-territorial# Sem &alar no problema da origem
das instituiç;es capa7es de gerar dinamismo e de partil2ar seus resultados H#
Se ( verdade 5ue certas regi;es rurais poderão alcançar o camin2o da dinami7ação atrav(s
da especiali7ação produtiva combinada 8 eploração de segmentos de mercado din4micos3
tamb(m ( preciso recon2ecer 5ue os casos eplorados pela literatura dispon!vel3 em parte
tratada nos cap!tulos anteriores3 en&ati7am não ser esta a tendência nos pa!ses do
capitalismo avançado# A evolução e o estado recente desta mesma literatura sugere 5ue3 em
primeiro lugar3 o desenvolvimento dos territórios ( o resultado de determinadas &ormas de
coordenação capa7es de &a7er convergir os bene&!cios privados e sociais3 se6a nas &ormas de
organi7ar a produção e a distribuição de bens individuais3 se6a nas &ormas de garantir 5ue os
rendimentos provenientes se6am revertidos de maneira a ra7oavelmente repartir os gan2os#
Al(m disso3 sugere tamb(m 5ue as &ormaç;es sociais marcadas por uma maior
desconcentração da posse dos di&erentes recursos - materiais3 simbólicos e cognitivos - e de
uma maior diversi&icação de seu tecido social são a5uelas 5ue mais &avorecem a &ormação
deste tipo de instituição3 em oposição 85uelas estruturas sociais mais especiali7adas3 r!gidas
e concentradas# )sta ( a vinculação do desenvolvimento 8s estruturas locais e 8s instituiç;es
5ue a concepção apoiada no trinOmio pobre7a3 instituiç;es3 mercados eternos não opera#
$ 5ue os eemplos brasileiro e argentino parecem demonstrar3 no &undo3 ( 5ue 2= uma
associação nos 5uadros de re&erência de cientistas3 da burocracia governamental3 das elites3
H )sta concepção encontra-se sistemati7ada em Sc2e6tman X erdegu( +/RR0.# *er tamb(m a cr!tica deSc2attan et al +/RRE.#
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entre a id(ia de 5ue o desenvolvimento ( um atributo do urbano e a decorrente associação
do rural 8 pobre7a# Duma esp(cie de versão da pro&ecia 5ue se cumpre por si mesma3 esta
visão in&luencia a &ormação de um campo de 5uest;es 5ue se tornam leg!timas ou
ileg!timasM#
)sta din4mica não (3 contudo3 autOnoma# A cr!tica 8s origens agr=rias como uma das ra!7es
dos males das e-colOnias3 a ideologia do progresso3 a r=pida industriali7ação de pa!ses
como os a5ui tomados como eemplo3 a constituição de portadores destes diagnósticos e
dos processos sociais 5ue l2es consubstanciam são &atores 5ue se combinaram para criar
uma illusio3 no sentido dado por ourdieu +/RR1-b.% uma adesão imediata 8 necessidade de
um campo3 no caso de v=rios campos3 para os 5uais a id(ia de urbani7ação crescente e
irrevers!vel ( a do3a &undamental# )la (3 nas palavras do sociólogo &rancês3 a condiçãoinduscutida da discussão3 ( a5uela 5ue3 a t!tulo de crença &undamental3 ( posta ao abrigo da
própria discussão# Sempre segundo ourdieu3 a illusio não ( da ordem dos princ!pios
epl!citos3 de teses 5ue se debate e se de&ende3 mas sim da ação3 da rotina3 das coisas 5ue se
&a7em# >sto est= na rai7 do 5ue Dort2 +1R. c2ama de path dependence % a din4mica
impulsionada pela eistência de incentivos e constrangimentos 5ue re&orçam uma
determinada direção para as aç;es de indiv!duos e organismos sociais uma ve7 5ue ela
ten2a sido adotada# Dort23 5uando &ala desta dependência de camin2o sublin2a3 sobretudo3
o papel 5ue a aprendi7agem gerada por din4micas de longo pra7o tem no car=ter
incremental da mudança ou3 inversamente3 na manutenção desse sentido inicialmente dado#
ourdieu3 de uma outra maneira3 &ala do mesmo processo social3 mas re&orçando a
din4mica con&litiva entre os agentes de um campo#
)m suma um dos principais dilemas da ação do estado nas suas tentativas de promover o
desenvolvimento rural ( esse lugar institucional da id(ia de rural3 de ruralidade3
determinado tanto pela illusio no destino urbano do progresso social como pela
dependHncia de caminho 5ue ela gera nas aç;es de indiv!duos e organi7aç;es# $ car=ter
tido como residual do rural e sua associação autom=tica 8 id(ia de pobre7a e de atraso
M A própria diminuição de prest!gio da sociologia e da economia rural perante outros ramos destas disciplinas( um sintoma disso3 a &orma como estão organi7ados os recortes estat!sticos de de&inição do rural um outro3 ea evolução dos debates sobre desenvolvimento um terceiro#
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restringem de partida as possibilidades de investimentos cient!&icos3 pol!ticos e econOmicos3
o 5ue contribui para gerar um ciclo onde esta posição marginal ( sempre re&orçada3 se6a
simbolicamente3 se6a materialmente#
$utra &ace do mesmo dilema envolve a tensão entre uma in(rcia institucional &undada em
toda uma orientação para a lógica setorial dos investimentos e aç;es e o sentido territorial3
portanto intersetorial e multidimensional3 da Inova visãoJ# Nuem são os agentes de um e
outro discurso e 5ue interesses são mobili7ados ou preteridos na ên&ase a uma ou outra
dentre estas orientaç;es Q Dovamente a eperiência brasileira3 mas agora tamb(m a
meicana3 servem de eemplo#
Do caso meicano3 a C4mara de "eputados e a C4mara de Senadores aprovaram uma>niciativa de Bei de "esenvolvimento 9ural +B"9. em /RRR# Do ano seguinte3 a >niciativa
de Bei ( vetada pelo )ecutivo ,ederal - o primeiro veto total nos <ltimos sessenta anos #
As causas do veto presidencial &oram basicamente três% uma concepção restrita ao
agropecu=rio - de mais de du7entos artigos3 a seção ,omento Agropecu=rio reunia cento e
d7essete3 ou E0` do totalV a atribuição das responsabilidades de sua aplicação 8 Secretaria
de Agricultura3 Ganaderia3 "esevolvimento 9ural3 Pesca : Alimentacion +Sagarpa.3 mas
sem a dotação dos instrumentos e recursos necess=riosV e o c2o5ue com outras leis
especiali7adas3 como a de associaç;es agr!colas3 de sa<de animal e vegetal3 =guas e
sementes +"el Toro3 /RR.#
Al(m destes argumentos3 outros aspectos in&luenciaram a decisão do governo meicano% a
Bei previa a descentrali7ação da participação mas centrali7ava a operacionali7ação dos
programas e pro6etos3 os recursos necess=rios para oper=-la não estavam de&inidos3 2avia
uma obrigatoriedade de organi7aç;es pro&issionais e econOmicas participarem do 4onseBo
e3icano para el Desarrollo Rural 4DR83 al(m do con&lito com compromissos
assumidos pelo governo meicano em acordos comerciais internacionais +"el Toro3 /RR.#
)m resposta ao veto presidencial3 grupos parlamentares &ormularam a Bei de
"esenvolvimento 9ural Sustent=vel considerando as inconsistências e problemas 5ue
1ER
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2aviam levado 8 recusa da primeira Bei# )sta nova proposta &oi submetida a um amplo
processo de consulta p<blica ao longo de /RR13 at( ser aprovado por unanimidade pela
C4mara dos "eputados e pela C4mara de Senadores3 e posteriormente ser sancionada pelo
Presidente da 9ep<blica no &inal do mesmo ano#
Somente o in(dito veto presidencial 8 primeira versão da Bei e as ra7;es 5ue o
&undamentaram 6= são3 por si3 um indicativo mais do 5ue su&iciente do vi(s setorial dos
&ormuladores de pol!ticas e dos grupos e interesses 5ue in&luenciam em sua moldagem# @as
os contornos do arran6o institucional previsto na Bei re&orçam ainda mais essa leitura#
Primeiro3 a Bei estabelece um papel de desta5ue para o C@"93 com a coordenação de
diversos serviços e programas3 muitos deles dispersos por v=rias secretarias# Do entanto3 ele
próprio3 o C@"93 ( uma estrutura subordinada a um minist(rio de claro recorte setorial% aSagarpa# Al(m disso3 o en&o5ue dos seis serviços criados com o Artigo // da Bei3 e os 1/
Programas atrav(s dos 5uais eles são operacionali7ados3 deiam claro o en&o5ue territorial
e3 novamente3 a prima7ia do desta5ue ao combate 8 pobre7a na de&inição de suas lin2as
estrat(gicas#
Do caso brasileiro3 o con6unto de pol!ticas 5ue precisariam estar combinadas para
promoção do desenvolvimento rural est= disperso por3 pelo menos3 meia d<7ia de estruturas
ministeriais di&erentes% os @inist(rios da Agricultura3 do "esenvolvimento Agr=rio3 da
>ntegração Dacional3 da )ducação3 da Sa<de3 do @eio-Ambiente# $s minist(rios da
Agricultura e do "esenvolvimento Agr=rio3 a5ueles mais diretamente reportados ao espaço
rural3 têm como seus principais programas3 iniciativas de car=ter eminentemente setorial3
respectivamente as pol!ticas para o agronegócio e para a agricultura &amiliar# $ @inist(rio
do "esenvolvimento Agr=rio tem tamb(m sob sua responsabilidade um rec(m criado
Programa Territorial +Pronat.3 origin=rio do desmembramento da lin2a in&ra-estrutura e
serviços do Prona&3 ao passo 5ue a principal pol!tica territorial do governo &ederal se
encontra na alçada do @inist(rio da >ntegração Dacional e seu programa voltado para as
mesorregi;es#
1E1
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) a con&usão aumenta 5uando se ol2a para o interior do @inist(rio do "esenvolvimento
Agr=rio3 5ue tem por missão a promoção do desenvolvimento rural% estudos apontavam
desde o in!cio da eistência do Prona& o crescente distanciamento entre as aç;es de
investimento nos territórios3 atrav(s da vertente in&ra-estrutura3 e as aç;es de cr(dito e
investimento setoriais3 na agricultura# Com a criação da Secretaria de "esenvolvimento
Territorial em /RR0 e3 mais recentemente3 com o desmembramento da lin2a in&ra-estrutura
do Prona&3 dando origem ao Pronat3 este distanciamento só cresceu% não 2= nen2uma &orma
de colaboração e de complementaridade entre os di&erentes programas prevista no atual
plane6amento das secretarias 5ue comp;em o minist(rio e 5ue são por eles respons=veis
+,avareto3 /RRE-b.#
>gualmente sintom=tico ( o processo 5ue envolveu a elaboração da Proposta de Plano Dacional de "esenvolvimento 9ural Sustent=vel entre /RR1 e /RR/ at( a aprovação pelo
Consel2o Dacional de "esenvolvimento 9ural Sustent=vel da versão &inal no mesmo ano%
embora a versão inicial apontasse para uma estrat(gia &ortemente baseada em uma visão
territorial do desenvolvimento rural3 a Con&erência Dacional 5ue estava marcada para
debatê-la e aprov=-la &oi canceladaV após v=rias negociaç;es com setores de governo e
movimentos sociais o próprio CD"9S aprovou uma versão menos ousada3 5ue no entanto3
tamb(m &oi deiada de lado com a nova gestão 8 &rente do )ecutivo ,ederal após /RR0#
$s dois eemplos mostram como a in(rcia institucional3 apoiada em interesses e em
sistemas cognitivos a&inados com a lógica setorial cristali7ados nos agentes sociais3 se não
blo5ueiam no m!nimo limitam &ortemente a operacionali7ação de uma visão de
desenvolvimento de car=ter territorial# Al(m da illusio, 5ue assimila o rural ao atraso e 8
produção de bens prim=rios e da dependência de camin2o 5ue ela gera3 di&icultando a
mudança institucional3 contribui o &ato de 5ue3 em uma e em outra visão3 o tipo de agentes e
Uma tentativa de integração começou a ser esboçada em /RRE e tem como principal instrumento osc2amados Planos Sa&ra Territoriais# Trata-se de uma tentativa de integrar pol!ticas no 4mbito de um território#@as3 sintomaticamente3 trata-se3 mais uma ve73 da integração das pol!ticas de apoio 8 agricultura3 agora emescala intermunicipal# A noção de Iblo5ueioJ &oi utili7ada por Da7aret2 Wanderle: em seus estudos para &alar da especi&icidade5ue cerca as possibilidades de reprodução social das &am!lias de agricultores em situaç;es como a brasileira#Com di&erenças3 a mesma id(ia ( a5ui aplicada para &alar do lugar social das pol!ticas de desenvolvimento deterritórios rurais#
1E/
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as possibilidades de articulação de seus interesses são sensivelmente di&erentes# A lógica do
território incorpora o espaço consum!vel3 mas tamb(m o espaço imobili7ado em
componentes não monetari7=veis# Por decorrência3 o en&o5ue territorial implica em lidar
com aspectos não diretamente mercantis a in&luenciar as regras para a apropriação ou
regulação do uso social destes espaços# Al(m disso3 no território os agentes são m<ltiplos e3
sobretudo3 di&usos3 en5uanto no en&o5ue setorial eles são &acilmente identi&ic=veis e seus
interesses menos dispersos#
Como se vê3 apesar da &orte espacialidade 5ue marca o rural3 as regras do 6ogo continuam
&ortemente orientadas pelo vi(s setorial3 na &ormulação das pol!ticas3 e na mobili7ação dos
atores# )mbora o discurso sobre desenvolvimento territorial ten2a entrado de&initivamente
para o discurso acadêmico e governamental na presente d(cada3 at( o momento trata-se deuma incorporação Ipor adiçãoJ dos novos temas3 sem a devida mudança institucional capa7
de sustentar a inovação 5ue ela deveria signi&icar#
O :ro!#ema das ins"i"uiçes
Nue instituiç;es importam3 eis um slogan do 5ual poucos ainda divergem# $s dois dilemas
brevemente apresentados nas p=ginas anteriores bem o demonstram# Dum aparente
paradoo3 ( curioso observar como v=rias vertentes das teorias institucionalistas estão
presentes na &ormulação da Inova visãoJ do desenvolvimento rural pelos organismos
internacionais# )3 no entanto3 a principal &al2a na implementação da Inova visãoJ via
pol!ticas e programas governamentais esbarra3 6ustamente3 na di&iculdade da mudança
institucional#
Do 6= citado documento do anco @undial editado por Serageldin X Steeds +1M.3 as
menç;es 8s re&ormas institucionais eistem3 mas elas são por demais gen(ricas e ocupam
um lugar claramente secund=rio no rol de recomendaç;es veiculadas# Do documento
elaborado por )scobal +/RR1. para a ,A$3 toda a ên&ase recai sobre instituiç;es3 mas ali 2=
uma visão restrita3 onde 2istória e con&litos não têm lugar3 onde a din4mica 5ue incide
sobre a criação ou a mudança institucional não ( tratada#
1E0
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$ problema 5ue envolve mudança institucional repousa principalmente nas instituiç;es
in&ormais e nos con&litos entre instituiç;es e organi7aç;es3 com bem demonstra a obra se
Dort2 +1R.# >sso &ica claro ao analisar não só as di&iculdades da mudança nos pa!ses da
Am(rica Batina tomados3 por eemplo3 nesta terceira parte do estudo3 mas tamb(m na
eplicação das di&erenças entre o recorte recente das pol!ticas para o desenvolvimento rural
na )uropa e nos )stados Unidos3 apontada na segunda parte#
@as esta eplicação ainda não ( su&iciente# Ainda ( preciso &a7er &rente 8 cr!tica de
Pr7eKorsL: +/RR0.3 segundo 5uem a eplicação institucional a&irma 5ue instituiç;es são
importantes3 mas não mostra como elas são criadas e 5ual ( a din4mica 5ue responde por
esta import4ncia# Para superar esse dilema3 ( preciso inscrever instituiç;es numa teoriasocial# Para al(m da determinação pela evolução dos custos de transação3 certamente
importante para a per&ormance econOmica de 5ue trata Dort23 o desempen2o do
desenvolvimento de determinadas sociedades e territórios3 no sentido mais amplo 5ue os
mel2ores usos do termo sugerem3 remete a outros conceitos 5ue permitam lidar com uma
id(ia de agente3 de su6eito3 em cu6as escol2as pese não somente o balanço racional de
custos3 mas tamb(m outras ordens de constrangimentos#
Conceitos <teis são3 portanto3 6ustamente a5ueles 5ue vão remeter 8s estruturas sociais# $s
agentes da in(rcia ou da mudança institucional são motivados por interesses3 e para &a7ê-los
prevalecer 6ogam com recursos acumulados em di&erentes es&eras da vida social numa luta
incessante# A mudança pode3 assim3 ocorrer tanto como decorrência de longo processo
incremental como pode3 a depender do êito nas estrat(gias dos agentes nestas lutas pela
imposição de seus interesses3 ser motivada por rupturas ou transiç;es mais aceleradas#
A mesma id(ia vale para a escala dos territórios e3 nesse 4mbito3 a criação de instituiç;es
mais &avor=veis 8 dinami7ação dos territórios e 8 diminuição das desigualdades parece ser
&ortemente in&luenci=vel por determinadas caracter!sticas da mor&ologia social local# >sto (3
( mais &=cil encontrar portadores de novas instituiç;es em &ormaç;es sociais 5ue estão em
a&inidades eletivas com elas +Weber3 1.# Tecidos sociais marcados por uma maior
1E
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desconcentração e descentrali7ação da posse das di&erentes &ormas de capital +social3
2umano3 econOmico3 simbólico.3 para usar os termos de ourdieu3 tendem a ser ambientes
mais prop!cios ao engendramento de &ormas mais din4micas de interação3 &acilitando o
aprendi7ado coletivo e a cooperação 5ue estão na base da &ormação de novas instituiç;es#
Para os contornos das pol!ticas para o desenvolvimento rural ao menos duas liç;es derivam
do 5ue &oi a5ui eposto# Primeiro3 o est!mulo a &ormas descentrali7adas de produção e 8
diversi&icação das economias locais mostra-se claramente dese6=vel para criar ambientes e
instituiç;es 5ue possam &avorecer a ampliação das possibilidades dos indiv!duos e a
diminuição dos constrangimentos negativos sobre suas escol2as# Segundo3 mudança
institucional pode at( ser indu7ida3 mas somente atrav(s de mecanismos cu6a repercussão
só se mani&esta em termos de m(dio e longo pra7o3 se6a pela via do aprendi7ado3 se6a pelavia do ac<mulo e conversão de recursos mobili7ados na direção da mudança# São
a&irmaç;es 5ue sugerem o 5uão distante as instituiç;es para o desenvolvimento rural ainda
estão do intento muitas ve7es dese6ado de promover a dinami7ação econOmica com
promoção da coesão social e atrav(s de &ormas respons=veis de uso social dos recursos
naturais#
;3+ ' Um no)o om:romisso ins"i"uiona#
$ ob6etivo deste cap!tulo consiste em analisar as di&iculdades dos )stados e governos locais
em operar com a Inova visãoJ do desenvolvimento rural surgida da evolução3 nas <ltimas
três d(cadas3 de estudos e orientaç;es de pol!ticas# Atrav(s de eemplos da tra6etória
recente das pol!ticas de pa!ses como rasil3 @(ico3 Argentina e C2ile3 &oi poss!vel ver
como estas iniciativas têm esbarrado em dois dilemas &undamentais# $ primeiro
representado pela ên&ase no combate 8 pobre7a e suas implicaç;es tanto para a
identi&icação dos territórios alvo dos investimentos como para os tipos de
complementaridades a serem buscadas com outros programas e pol!ticas# $ segundo di7
respeito 8 tensão presente no car=ter territorial das novas orientaç;es em contraposição ao
vi(s setorial das instituiç;es eistentes# Da rai7 de ambos3 viu-se como a illusio +ourdieu3
/RR1-b.3 ou as &ormas de racionali7ação predominantes +Weber3 1.3 associam o rural 8
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pobre7a e 8 imagem do lugar destinado a reali7ar a produção de bens prim=rios3
impulsionando a um determinado sentido no encamin2amento dos es&orços visado o
desenvolvimento rural3 o 5ue Dort2 de&iniu como dependência de camin2o +1R.#
Apesar das inovaç;es introdu7idas3 o resultado desta di&iculdade em promover mudanças
institucionais compat!veis com a Inova visãoJ do desenvolvimento rural corrobora a
a&irmação de Dort2 +1R. de 5ue ( mais &=cil promover mudanças nas regras &ormais do
5ue nas regras in&ormais 5ue regem uma sociedade ou grupo social3 sobretudo por5ue as
segundas são mais di&usas e &ormadas atrav(s da sedimentação de v=rios processos sociais3
em uma escala de tempo 5ue muitas ve7es envolve geraç;es#
Se a din4mica pela 5ual as instituiç;es são criadas ainda ( pouco con2ecida3 o 5ue asteorias dispon!veis insinuam ou atestam pode ser resumido nas três a&irmativas a seguir%
primeiro3 a principal &orma da mudança ( a evolução incremental pelo aprendi7adoV
segundo3 a mudança pode tamb(m ser alcançada pela alteração das posiç;es e do peso
social dos agentes portadores das novas e das vel2as instituiç;esV terceiro3 mudança pode
ainda ser indu7ida por alteraç;es nos sistemas de incentivos e constrangimentos# A primeira
destas &ormas ( a mais comum3 mas tamb(m a menos direcion=vel# A segunda ( a5uela 5ue
se materiali7a em eventos e momentos de ruptura3 tão importantes 5uanto raros# A terceira (
a5uela preconi7ada pelas pol!ticas p<blicas# Todas as três revelam 5ue a introdução do
ad6etivo territorial no repertório das organi7aç;es não-governamentais3 da burocracia estatal
e dos movimentos sociais ( marcada pelos limites de uma incorporação Ipor adiçãoJ3 como
&oi a5ui sublin2ado3 e não como um sinal de mudança institucional#
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S7n"ese do Ca:7"u#o ;
Dos pa!ses da Am(rica Batina a emergência da abordagem territorial est= ligada a processos
2istóricos 5ue em muito se assemel2am3 apesar de di&erenças de etensão e de intensidade3
a &enOmenos vistos nos pa!ses do capitalismo avançado F como a mudança na composição
setorial das economias locais ou da renda das &am!lias de agricultores3 como as novas
din4micas populacionais# Dão se trata3 portanto3 de um debate europeu meramente
transplantado para os pa!ses da peri&eria3 em 5ue pese as di&erenças nas assimetrias entre
populaç;es rurais e urbanas e nas caracter!sticas dos compromissos institucionais# @esmo
assim ( ineg=vel 5ue o camin2o pelo 5ual esta abordagem &oi introdu7ida só pode ser
compreendido 5uando se &a7 sua gênese3 dos primeiros estudos nos anos setenta at( atentativa de sua implementação como pro6eto normativo na presente d(cada# Deste
movimento3 &ica claro como a disseminação da retórica do desenvolvimento territorial (
resultado das in6unç;es entre as es&eras da economia3 das ciências3 e da pol!tica3 num 6ogo
de m<tua legitimação3 atrav(s do 5ual se pode compreender o tipo de interesses sociais 5ue
bali7am os rumos deste debate3 e onde as agência multilaterais ocupam um lugar de
desta5ue3 6ustamente por permitir estas interpenetraç;es entre as v=rias es&eras e por
&uncionar como uma esp(cie de legitimador de abordagens ascendentes#
A din4mica 5ue envolve estas intersecç;es revela toda uma estrutura de bases cognitivas e
interesses tradu7idos em incentivos e constrangimentos estabelecidos em conson4ncia com
os aspectos mais marcantes da vel2a visão# Como resultado3 a passagem do compromisso
setorial ao territorial nas instituiç;es e pol!ticas para o desenvolvimento rural torna-se
incompleto3 uma esp(cie de Iinovação por adiçãoJ no vocabul=rio3 no discurso e nas
pol!ticas3 de órgãos governamentais e de agentes sociais como organi7aç;es e apoio e
movimentos sociais3 sem3 ainda3 um correspondente em termos de mudança institucional#
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PAR%E IV
A RACIONALI=A2ÃO DAVIDA RURAL
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Ca:7"u#o > ' A raiona#i?ação da )ida rura#
)ntre o ditado medieval 5ue di7ia Io ar das cidades torna as pessoas livresJ +Weber31.3 at( a recente constatação de 5ue para a maior parte dos europeus3 2o6e3 Ios campos
são mais associados à liberdade do que as cidadesJ +?ervieu X *iard3 1H.3 certamente
algo acontece# As partes anteriores deste teto devem ter deiado claro 5ue as mudanças
por 5ue passou o desenvolvimento dos territórios rurais3 mais intensamente nos <ltimos
trinta anos3 representam o in!cio de um novo momento em sua longa evolução# Se a longa
transição para o capitalismo troue consigo o I&im da tirania da dist4ncia e da agriculturaJ3
nos termos de 5ue &alava Paul airoc2 +1/.3 os tempos atuais parecem completar a5uele
longo movimento e iniciar uma nova ancoragem da ruralidade# As Partes > e >> apoiaram-se
em aspectos 2istóricos e cogntivos para demonstrar em 5uê consiste o con2ecimento 5ue se
tem sobre desenvolvimento rural# ,oi poss!vel ver como os processos sociais
contempor4neos integram o urbano e o rural3 em ve7 de opO-los inconciliavelmente3 como
bem o demonstram as mudanças demogr=&icas em curso - com a atração ao universo rural
de classes m(dias3 aposentados3 pro&issionais liberais -3 as trans&ormaç;es econOmicas -
com o aumento das rendas não-agr!colas3 a diversi&icação das economias rurais -3 e com as
inovaç;es institucionais - com a regulação crescente do rural por sua import4ncia como paisagem e como &onte de recursos naturais# A Parte >>>3 por sua ve73 abordou uma
dimensão emp!rica da maior import4ncia F o tema da mudança institucional# ,oi poss!vel
ver3 ali3 como o novo momento da evolução da ruralidade ainda não encontra
correspondente em um novo compromisso institucional3 não mais baseado no vi(s setorial
de de&inição do 5ue ( o rural3 mas sim territorial# Desta parte3 agora3 trata-se de remontar
aos aspectos teóricos3 com o principal intuito de delinear uma abordagem condi7ente com o
conte<do social do rural contempor4neo# Se o paradigma &undado numa visão agr=ria do
mundo rural perde poder eplicativo3 5ue tipo de abordagem pode revelar uma maior
aderência aos contornos do real3 tal como eposto nas partes anteriores Q
"eiando de lado os autores e abordagens 5ue não con&erem estatuto eplicativo ao rural3
talve7 não se6a e5uivocado di7er 5ue a literatura contempor4nea tem destacado três
1E
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implicaç;es teóricas &undamentais 5ue emergem com a nova ruralidade# Primeiro3 trata-se
e&etivamente de um novo momento# >sto (3 muda a 5ualidade das inst4ncias emp!ricas
&undamentais de&inidoras do rural e as &ormas de articulação entre elas# ) a!3 o traço
marcante ( o desli7amento do car=ter estruturante dos processos agr=rios para processos
intersetoriais e regionais3 ou em outros termos3 territoriais# Um deslocamento 5ue tem3 na
sua base3 um novo enrai7amento ambiental da ruralidade3 com repercuss;es para a
economia destes territórios3 para o per&il demogr=&ico e a estrati&icação social local3 e para
as instituiç;es 5ue regulam o uso dos recursos naturais e o comportamento dos agentes#
)sta ( uma dimensão 5ue tem sido muito sublin2ada nos trabal2os de @arcel 'ollivet
+1. e 5ue ( muito bem e5uacionada nos recentes artigos de 'os( )li da *eiga +/RR3
/RRE.# Segundo3 este traço marcante da nova ruralidade não (3 obviamente3 um processo
2omogêneo# Dão ( preciso ir muito longe para encontrar realidades onde os con&litosagr=rios3 no seu sentido mais tradicional3 se mostram presentes# ) muitas ve7es de maneira
cruel# )ste car=ter multi&acetado3 onde &ormas de integração a mercados din4micos3 novas
pr=ticas sociais e novas &ormas de uso dos espaços rurais coeistem com situaç;es de &orte
estagnação econOmica e degradação social3 coloca a ên&ase nas m<ltiplas possibilidades de
construção da ruralidade3 numa composição de identidades e con&litos potencialmente
bastante diversa e cu6o sentido depender= sempre das 2eranças pol!ticas e culturas e das
&ormas de inserção na economia e na sociedade envolvente# Com nuances3 este vi(s est=
presente em autores como @arsden +13 1.3 @ormont +/RRR.3 'ean +1M. e em toda
uma literatura discutida com muita propriedade particularmente em Wanderle: +/RRR.#
Terceiro traço a destacar3 tanto esta nova direção dos &enOmenos rurais como sua
mani&estação desigual e 2eterogênea só podem ser compreendidos a contento atrav(s de
uma abordagem 5ue re&ira tais processos a agentes concretos3 a pr=ticas sociais 5ue tem por
portadores su6eitos sociais# Uma necessidade 5ue contrasta com a tendência claramente
dominante em abordar os processos de desenvolvimento eclusivamente sob o vi(s
normativo 5ue o debate comporta# Da literatura europ(ia esta ( uma preocupação presente
nos estudos de 9a: +/RRR3 /RR/.3 por eemplo3 e tem sido crescentemente en&ati7ada nos
trabal2os recentes de Abramova: +/RRE-b.#
1HR
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Cada uma destas três dimens;es a5ui sumariamente destacadas pode3 por certo3 ser ob6eto
de apro&undamentos e aplicaç;es# Ainda 5ue nos limites a5ui impostos3 &oi isto o 5ue se
procurou &a7er nas partes anteriores% mostrar uma direção emergente para os processos de
desenvolvimento rural e situada na sua longa evolução 2istórica3 demonstrar algo sobre sua
2eterogeneidade e as ra7;es disto3 sublin2ar o embeddedness da dependência de percurso e
da mudança institucional# $ próimo passo3 agora3 consiste em apresentar uma id(ia 5ue
permita3 como corol=rio3 abordar os di&erentes aspectos a 5ue cada uma destas dimens;es
&a7 re&erência# $ 5ue se pretende demonstrar3 e isto ( obviamente uma id(ia de clara
inspiração Keberiana3 ( 5ue um traço marcante da ruralidade contempor4nea ( este
crescente processo de desencantamento e racionali&aFão da vida rural # $ argumento
central a ser eposto ao longo das próimas p=ginas ( 5ue esta id(ia3 al(m de permitir 5ue
se pon2a em relevo um aspecto da maior import4ncia e3 no entanto3 pouco en&ati7ado naliteratura sobre o tema3 representa tamb(m um dépassement do paradigma cl=ssico de
eplicação do desenvolvimento rural e 5ue tem por &undamento b=sico uma visão
eminentemente agr=ria e tradicional#
A primeira seção ( dedicada a uma re&leão sobre teoria social e desenvolvimento rural# Y
lu7 de tudo o 5ue &oi eposto nas partes anteriores3 pretende-se estabelecer um di=logo com
os aspectos mais usualmente invocados nas teorias sociais para eplicar &enOmenos de
desenvolvimento rural# $ ob6etivo ( mostrar os descolamentos entre alguns dos
pressupostos presentes na5uelas teorias3 ou em interpretaç;es e desdobramentos ulteriores3
e as mudanças 5ue se &i7eram sentir de maneira mais acentuada nos <ltimos trinta ou
5uarenta anos e 5ue &oram discutidas nos cap!tulos anteriores# A segunda seção3 num
movimento em certa medida inverso3 destaca a validade da5uele outro elemento eplicativo
&ornecido pelas teorias cl=ssicas% a crescente racionali7ação 5ue passa a orientar tanto a
conduta (tico-cotidiana do con6unto de seus agentes como a moldagem das instituiç;es
in&ormais e &ormais 5ue regulam as relaç;es sociais t!picas destes espaços#
Trata-se3 em s!ntese3 de propor uma abordagem 5ue permita uma tripla aderência 8 nova
condição do ob6eto ao 5ual ela ( a5ui direcionada# )la tem uma aderência 2istórica3 6= 5ue
o processo de racionali7ação3 como ensina Weber3 representa um tra6etória de muito longa
1H1
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lugar 5ue ela vai ocupar no desenvolvimento capitalista3 nem das mani&estaç;es espaciais
di&erenciadas do desenvolvimento rural#
Tanto o 6= citado Abramova:3 como tamb(m @alagodi +10. e ?egedus +1H.3 entre
outros3 procuram mostrar em seus trabal2os como o campesinato e a 5uestão agr=ria não
ocupam um IlugarJ3 propriamente &alando3 no es5uema teórico de @ar# @ais 5ue isso3
destacam 5ue 2= uma esp(cie de impossibilidade lógica em compreender ontológica e
epistemologicamente esta &orma social de produção dentro de seus 5uadros cognitivos# >sto
por5ue a oposição capital-trabal2o ad5uiria um estatuto &undante na oposição 5ue d= base 8
dial(tica do desenvolvimento capitalista3 a 5ual3 com seu car=ter progressivo e envolvente
acabaria por subsumir todas as outras &ormas3 tidas como pret(ritas# )sta din4mica e os
problemas lógicos e teóricos 5ue ela tra7 são tratados com clare7a e propriedade por estesautores3 e por isso &oge aos propósitos destas lin2as reprodu7i-la# asta destacar 5ue3 não
obstante esta ausência3 ou este lugar meramente subsidi=rio nos es5uemas teóricos
marianos3 toda uma retórica e um amplo repertório de escritos cient!&icos e pol!ticos &oram
constru!dos em torno da especi&icidade do desenvolvimento capitalista na agricultura e 8s
articulaç;es econOmicas e de classe a 5ue ela d= origem1#
Uma primeira vertente se constituiu a partir da obra de dois importantes teóricos maristas%
Benin e autsL:# "o primeiro3 destacam-se3 sob o tema 5ue a5ui mais interessa3 os livros .
-rograma da Social*Democracia3 e principalmente . desenvolvimento do capitalismo na
R=ssia# "o segundo3 seu mais &amoso teto% A questão agr'ria# )m austL:3 sua ên&ase
vai no sentido de demonstrar como3 com o progresso das &orças produtivas3 os pe5uenos
estabelecimentos não teriam como incorporar as inovaç;es tecnológicas3 organi7acionais e
econOmicas em igualdade de condiç;es com a produção capitalista# Como decorrência3 a
1 A con2ecida passagem de 1eorias da ais*)alia ( totalmente auto-eplicativa a respeito% %"""odesenvolvimento econ>mico distribui funFKes entre diferentes pessoas< e o artesão ou o camponHs que produ&com seus próprios meios de produFão ou ser' transformado gradualmente num pequeno capitalista quetambém e3plora o trabalho alheio ou sofrer' a perda de seus meios de produFão e ser' transformado emtrabalhador assalariadoJ# Se 2= alguma eceção na obra de @ar 5uanto a um tratamento espec!&ico da5uestão camponesa3 ela est= no teto con6unto com )ngels3 A questão camponesa na @ranFa e na Alemanha#@as tamb(m ali trata-se mais de um teto pol!tico do 5ue de uma an=lise detida da situação 2istórico-concretadeste grupo social em cada um dos dois pa!ses# A leitura do teto deia clara a derivação das conclus;es sobreas possibilidades &uturas dos camponeses do sistema lógico erigido em torno da oposição capital-trabal2o# C&#Abramova: +1/.#
1H0
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integração com a ind<stria estaria reservada aos capitalistas3 restando aos camponeses a
subordinação crescente3 at( a inviabilidade de sua reprodução social# '= em Bênin3 2= uma
tentativa em classi&icar a 2eterogeneidade dos segmentos de agricultores de sua (poca#
@as estas di&erenças serviam3 sobretudo3 para divisar a porção de estabelecimentos 5ue
poderia evoluir em direção ao pólo capitalista da5ueles 5ue deveriam crescentemente
passar a viver em condiç;es 5ue os aproimaria mais e mais do proletariado3 inicialmente
atrav(s de uma cada ve7 maior dependência da venda de sua mão-de-obra3 ainda 5ue
preservando a posse da terra3 e de&initivamente atrav(s da perda completa da autonomia e
sua total redução 8 condição de propriet=rio eclusivamente de sua &orça de trabal2o# )stas
id(ias se materiali7aram nos conceitos de Idi&erenciação socialJ3 em Bênin3 e de
Iindustriali7ação da agriculturaJ3 em autsL:#
$ 5ue ( comum a ambos ( esta id(ia geral de 5ue a agricultura e o mundo rural devem ser
vistos como parte do desenvolvimento capitalista# Parte da &ragilidade destas teses est= no
&ato de 5ue elas tin2am mais a ver com os embates pol!ticos e os dilemas 5ue precisavam
ser teoricamente e5uacionados 8 (poca do 5ue3 propriamente3 com an=lises econOmicas e
sociológicas# ) na an=lise econOmica3 prevalece uma ên&ase econOmica e setorial# $utro
problema est= nos limites 2istóricos mesmo destas teorias# $ 5ue nem estes autores nem
seu maior inspirador3 arl @ar3 poderiam prever3 ( 5ue a realidade dos pa!ses do
capitalismo avançado3 sem &alar3 portanto3 nas &ormaç;es peri&(ricas3 iria apresentar um
grande desmentido 2istórico 8s suas teses# As &ormas &amiliares de produção não só
negaram a inevitabilidade de sua mera trans&ormação em proletariado com &irmaram-se
mesmo como a &orma predominante na maior parte dos principais pa!ses capitalistas/#
A plena integração da agricultura 8 ind<stria não troue consigo a arti&iciali7ação de todas
as etapas do processo produtivo nem mostrou 5ual5uer inaptidão das &ormas &amiliares 8
incorporação do progresso t(cnico# )mbora se trate das &ormas sociais de produção3 tais
concepç;es tiveram repercussão para as mani&estaç;es espaciais do desenvolvimento
/ Abramova: +10. relata eemplos 2istóricos nos )UA3 >nglaterra e na Comunidade )urop(ia# Aeplicação das ra7;es 2istóricas do por5ue isto se deu desta maneira ( o ob6eto central do livro de *eiga+1/.#
1H
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capitalista# Se 2=3 nos cl=ssicos3 esta impossibilidade em compreender a especi&icidade
destas &ormas 5ue viriam a se tornar as predominantes3 obviamente as articulaç;es destas
&ormas em termos de processos territoriais tamb(m não poderiam estar presentes# Todas as
an=lises da! derivadas pecam ou por eagerar no car=ter envolvente das din4micas
emanadas do universo industrial e urbano3 como locus privilegiado das trocas e da
locali7ação das empresas dos setores secund=rio e terci=rio3 ou por analisar o rural como
espaço dotado de caracter!sticas próprias3 mas cu6a lógica ( sempre reativa ou dependente
ao pólo dominante# Das ciências sociais3 esta perspectiva assumiu3 sobretudo3 a &orma das
v=rias teorias baseadas em uma esp(cie de continuum entre o urbano e o rural# Desta id(ia3
menos do 5ue uma di&erença substantiva 2= um prolongamento3 incompleto3 parcial3
arre&ecido3 do urbano e do industrial sobre o rural3 o agr!cola3 o agr=rio# Assim como em
relação ao campesinato3 a marca do rural em uma tal abordagem ( 6ustamente seu InãolugarJ#
Uma segunda vertente ( &ormada por a5ueles estudos 5ue procuraram 6ustamente partir
desta lacuna e construir um modelo eplicativo &undado na especi&icidade das &ormas
camponesas e dos traços distintivos da ruralidade# Sobre uma economia camponesa3 os
principais nomes são sem d<vida Aleander C2a:anov e 'er7: Tepic2t# $ tipo de 5uestão
5ue estes autores se colocaram era di&erente da5uilo 5ue 2avia motivado as teorias de Bênin
e autstL: por5ue era di&erente o conteto de suas obras# C2a:anov e Tepic2t deparavam-
se 6= com a necessidade de interpretar as condiç;es de permanência do campesinato sob o
desenvolvimento das &orças produtivas e não apesar delas ou contra elas# "a mesma &orma
nos v=rios escritos das teorias 5ue tratam das sociedades camponesas3 o 5ue est= em 6ogo (
eplicar um sistema de oposiç;es sociais onde este personagem ocupa papel de desta5ue3
complei&icando3 portanto3 a polari7ação entre oper=rios e capitalistas#
Se nos desdobramentos da primeira vertente têm origem as teorias do continuum3 neste
caso a a&irmação da especi&icidade vai in&luenciar a origem de v=rias teorias 5ue passarão a
en&ati7ar o aspecto da dicotomia entre o rural e o urbano# @esmo assim3 tamb(m a5ui a
2istória se encarregou de solapar as bases de tais edi&!cios teóricos# Primeiro3 abalando as
1HE
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condiç;es da autonomia camponesa3 tão bem retratada em Abramova: +1/.# Segundo3 e
como 5ue por etensão3 implodindo os alicerces da sociedade agr=ria#
'= em Weber3 a parte de sua teoria geralmente invocada para tratar da an=lise do &enOmeno
da urbani7ação ( a5uela dedicada 8 5uestão da sociabilidade# )3 de &ato3 em seu pensamento
2= um sentido geral no movimento do real 5ue pode ser epresso pelas id(ias de
Iracionali7ação do mundoJ e Iautonomi7ação das es&erasJ# $ problema a5ui ( o uso
mesmo da noção de sociabilidade para &alar de um movimento geral3 envolvente ao
con6unto da sociedade# A compleidade pode ser mensurada pelo &ato de 5ue a elucidativa
introdução de Gabriel Co2n 8 edição brasileira de Economia e Sociedade3 intitulada Alguns
problemas conceituais e de traduFão em Economia e Sociedade 3 adverte 5ue o termo
IsociedadeJ F gesellschaft - não ocupa lugar central na terminologia Keberiana3 ondecostuma ser substitu!do por uma epressão 5ue designa mais propriamente as relaç;es
interindividuais constitutivas da sociedade do 5ue esta rede de relaç;es 6= dada# )sta
epressão sim F vergesellschaftung - poderia ser tradu7ida por sociali7ação3 mas esta
solução &oi abandonada na tradução brasileira por5ue poderia indu7ir a interpretaç;es
e5uivocadas de certas passagens e tamb(m por5ue convin2a realçar o aspecto de relação e3
portanto3 de ação social t!pica da an=lise Keberiana# A solução encontrada &oi adotar o
termo Irelação associativaJ3 num intuito de sublin2ar 5ue não 2= 5ual5uer sentido pr(-
determinado na ação social dos indiv!duos3 em sua sociali7ação3 e sim 5ue ela se d= em
bases muito espec!&icas e permeadas pelas circunst4ncias sociais imediatas3 pelo sentido
social atribu!do pelos próprios indiv!duos em sua ação +Weber3 1.#
A coisa &ica mais nebulosa 5uando se descobre 5ue 2= um par para a )ergesellschaftung de
Weber3 a )ergemeinschaftung F relação comunit=ria# Sob novos termos3 reprodu7-se3 outra
ve73 a oposição comunidade-sociedade# @as isto3 e parece ser este o ponto en&ati7ado pela
solução adotada por Co2n3 não apaga o &ato de 5ue3 em Weber3 apesar do movimento geral
do real em direção 8 maior racionali7ação3 o sentido da ação ( sempre dado na percepção e
representação dos agentes3 embora não se esgote nela por ser mediada pelas circunst4ncias
imediatas#
1HH
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Dão se trata então nem de antepor uma ob6etividade eterna 8 ação social dos agentes3 nem
de restringir a eplicação aos termos da interação entre eles3 mas de entender a trama na
5ual ela se comp;e3 onde as id(ias canali7am interesses moldando o sentido da ação social#
nesse sentido tamb(m 5ue o resgate da tipologia das cidades abre uma brec2a para pensar
di&erentes tipos de cidades e3 pois3 di&erentes relaç;es com os campos 5ue a envolvem# $s
crit(rios adotados para a de&inição das cidades3 em Weber3 abrem assim margem para duas
abordagens% a oposição gemenschaft*gesellschaft 3 mas tamb(m a abordagem relacional#
Claro 5ue a 5ue viria por se instituir &oi a oposição comunidade-sociedade3 tanto mais 5ue a
sociologia rural nasce com a pressão por compreender os &enOmenos relacionados 8
desestruturação de comunidades rurais pelo avanço do processo de industriali7ação e de
desenvolvimento capitalista +@artins3 1H.#
A oposição comunidade-sociedade tem na verdade uma origem anterior3 em Tonnies3 5ue
&ormali7a uma id(ia de rural com caracter!sticas próprias3 derivadas da condição de
isolamento0% as situaç;es correlatas 8 condição de ruralidade serão identi&icadas no
intercon2ecimento3 coesão3 continuidade3 emotividade e tradiçãoV e ao urbano3
inversamente3 irão corresponder situaç;es como a impessoalidade3 a mobilidade3 o
racionalismo3 a inovação# "a!3 em parte3 o di=logo natural 5ue se estabeleceu entre a
sociologia rural e a antropologia3 e não com a economia ou a geogra&ia# Uma concepção
5ue se institucionali7a posteriormente com o teto cl=ssico de SoroLin#
'= na abordagem do continuum, onde a oposição entre os dois pólos vai ser substitu!da por
uma gradação 5ue3 a rigor3 se mostra uma &orma di&erente da mesma dicotomia% um pólo
ser= tomado como ativo3 como dominante3 e o outro como passivo3 como a5uele sobre o
5ual agem os processos sociais emanados do outro etremo3 aos 5uais só cabe a adaptação
ou a reação#
0 bom lembrar 5ue3 no caso do pensamento de Tonnies3 o problema mais s(rio di7 respeito 8s aplicaç;es5ue &oram &eitas a partir dele# Deste autor3 a oposição comunidade-sociedade3 embora estruturada a partir decrit(rios polari7adores3 d= origem a uma tipologia3 cu6a lógica teórica ( muito próima do recurso Keberianodos tipos ideais# C&# SoroLin3 ^immerman X Galpin +1H.#
1HM
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assim 5ue as d(cadas de /R e 0R são palco da institucionali7ação dos estudos rurais como
ramo espec!&ico da sociologia e3 os anos 5ue se seguiram3 dos desdobramentos das
perspectivas inicialmente adotadas# Para o caso dos )stados Unidos3 tanto 5uanto da
,rança3 por eemplo3 o primeiro momento &oi &ortemente marcado pela adesão aos marcos
gerais da sociologia cl=ssica3 com de&iniç;es claramente apoiadas na perspectiva
dicotOmica# Posteriormente3 no caso da sociologia americana as an=lises passam a so&rer a
in&luência decisiva do ambiente vivido com o auge da moderni7ação agr!cola3 numa
tendência 5ue viria a se consolidar posteriormente na c2amada sociologia da agricultura3
onde o rural perde import4ncia para a agricultura e a estrutura agr=ria +,riedland3 1/.# Da
,rança3 por sua ve73 as perspectivas marcadas pela in&luência dos cl=ssicos vão sendo
seguidas por abordagens 5ue3 tamb(m in&luenciadas pelas mudanças no ambiente do pós-
guerra3 irão passar a tomar para an=lise as contradiç;es entre a c2amada IsociedadecamponesaJE e os e&eitos da moderni7ação3 at( desembocar3 nos anos MR3 na tem=tica 5ue
envolvia a c2amada Iurbani7ação dos camposJH#
)sta evolução3 no entanto3 não deve deiar a impressão de 5ue3 desde os cl=ssicos3 2= um
movimento linear e sem nuances de submissão e pro&ecia 5uanto ao &im do rural ou 5uanto
8 irremedi=vel subordinação 2istórica do rural ao urbano# Se em sociologia isto não c2ega a
ser l!mpido e cristalino3 na 2istoriogra&ia &rancesa e na 2istória econOmica alemã ( poss!vel
encontrar nomes como raudel3 Sc2moller3 9opLe3 5ue sempre estiveram en&ati7ando as
interdependências entre os dois espaços# Destes autores3 a interdependência surge não da
an=lise das causas do desenvolvimento3 talve7 com eceção de raudel3 e sim da
identi&icação dos e&eitos delet(rios deste sobre as cidades3 como a proletari7ação3 e a
necessidade de encontrar camin2os para ameni7=-la# A possibilidade anunciada nestes
autores reside nas di&erentes modalidades poss!veis de integração dos campos# Destes casos
trata-se de algo um tanto próimo da tradicional visão do continuum 3 mas com uma pitada
de antevisão do 5ue aconteceria a partir do Pós-guerra3 com o papel reservado 8s unidades
&amiliares e 85uilo 5ue alguns c2amaram por interiori7ação do desenvolvimento#
E C&# @endras +1MH.H *er principalmente o volume especial da tudes Rurales organi7ado por Georges "ub:3 em 1M0#
1H
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)ste amplo e rico con6unto de obras in&eli7mente &icou minorado pelas repercuss;es de
outros como Be&ebvre3 5ue3 inversamente3 pre&eriu ver no movimento do real o completo
triun&o da urbani7ação# Segundo o &ilóso&o e sociólogo &rancês3 originalmente um
pes5uisador dedicado aos estudos rurais3 a passagem para o <ltimo 5uarto do s(culo
passado 2avia representado a emergência da sociedade urbana3 a sucessora da sociedade
industrial% a 9evolução Urbana# Por 9evolução Urbana Be&ebvre +1MR/RR/. compreendia
o con6unto de trans&ormaç;es 5ue a sociedade contempor4nea atravessava para passar do
per!odo em 5ue predominaram as 5uest;es relativas ao crescimento e industriali7ação para
outro onde a problem=tica urbana prevaleceria decisivamente3 um per!odo em 5ue a busca
das modalidades próprias 8 sociedade urbana passaria ao primeiro planoM#
$ 5ue muda em termos de inst4ncias emp!ricas e de articulação conceitual nas teorias sobredesenvolvimento com a Inova ruralidadeJ3 da 5ual a abordagem territorial ( uma das mais
pro&!cuas epress;es Q "eve ter &icado claro 5ue os contornos da ruralidade no capitalismo
contempor4neo ainda não encontraram um padrão claro e com relativo grau de
2omogeneidade3 tal como no per!odo 5ue vai do pós-guerra at( a crise do produtivismo# $s
par4metros desta situação ( determinada por 5uatro ordens de &atores% a. as metamor&oses
por 5ue passam os espaços rurais3 com uma uni&ormi7ação entre os mercados de bens
econOmicos e simbólicos caracter!sticos dos universos rural e urbano e os processos sociais
a isso sub6acentes +encurtamento das dist4ncias entre rural e urbano3 amenidades rurais
como ob6eto de consumo urbano3 acesso a e5uipamentos outrora t!picos do urbano 8s
populaç;es situadas nas =reas rurais3 etc.V b. as mudanças no padrão de regulação 5ue
incide sobre as =reas rurais3 o 5ue envolve a re&orma das pol!ticas agr!colas3 de um lado3 a
crescente regulação dos &atores ambientais3 de outro3 e a tentativa de encontrar novos
e5uil!brios entre as atribuiç;es e instrumentos de regulação entre di&erentes n!veis
geogr=&icosV c. as novas din4micas demogr=&icas e econOmicas dos espaços rurais3 com
desta5ue para a multiplicidade de agentes 5ue &a7em esta nova ruralidade e a igual
diversi&icação e di&erenciação das atividades produtivas nos espaços ruraisV d. a crescente
valori7ação das amenidades rurais como principal vantagem comparativa destes territórios#
M Para uma cr!tica mais detida ao pensamento de Be&ebvre sobre o triun&o da civili7ação urbana3 ver *eiga+/RR.# )ste debate &oi resumidamente reprodu7ido no Cap!tulo / desta tese#
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A breve re&leão &eita nesta seção serve principalmente para mostrar 5ue3 nas ra!7es
cl=ssicas da teoria social3 as possibilidades de compreensão dos &enOmenos rurais se
consolidaram3 destacadamente3 a partir de dois registros# Um3 de vi(s econOmico3 onde as
estruturas determinantes do desenvolvimento rural estão assentadas nos caracteres agr=rios
destas sociedades# ) outro3 de vi(s cultural3 no 5ual a tradição e a oposição comunidade-
sociedade ( 5ue ad5uirem estatuto &undante em tais processos# Como &oi demonstrado nos
cap!tulos anteriores3 as bases sociais destes dois pilares &oram solapadas com as mudanças
introdu7idas na vida rural nas <ltimas d(cadas3 esva7iando seu conte<do eplicativo# @as3 e
isto ( &undamental sublin2ar3 esta cr!tica 8 visão agr=ria dos territórios rurais não signi&ica
uma re6eição dos cl=ssicos para eplicar os &enOmenos relativos ao rural3 e sim a um
paradigma 5ue encontrou nestes pressupostos uma determinada base cognitiva# $
pensamento de @ar e Weber pode3 sim3 a partir de outros elementos contidos em suasteorias3 instrumentali7ar uma an=lise do desenvolvimento rural# Duma perspectiva marista3
( poss!vel valer-se dos recursos da dial(tica para eplicar3 a partir do estudo de casos
concretos3 as in6unç;es3 con&litos e complementaridades entre o rural e o urbano# Duma
perspectiva Keberiana3 a id(ia de racionali7ação3 absolutamente central em sua obra3 pode3
igualmente3 &ornecer uma poderosa e inovadora abordagem# isso o 5ue se pretende
esboçar na próima seção#
>3+ 4 A raiona#i?ação da )ida rura#
Antes de mais nada3 e para evitar interpretaç;es errOneas3 ( preciso compreender
eatamente o 5ue o conceito de racionali7ação signi&ica# )m geral a id(ia de racionali7ação
sugere uma lógica instrumental3 de mera ade5uação entre meios e ob6etivos# Do entanto3 a
tipologia de Weber ( bem mais complea# Segundo ele3 a ação social pode ser% a. racional
com relaFão a fins3 5uando ( determinada por epectativas 5uanto ao comportamento de
outros 2omens ou ob6etos do mundo eterior e 5uando tais epectativas &uncionam como
condiç;es para o alcance de &ins racionalmente avaliados e perseguidosV b. racional com
relaFão a valores3 5uando motivada pela crença consciente no valor3 se6a ele (tico3 est(tico3
religioso ou outro próprio de uma certa conduta3 independente de êitoV c. afetiva - 5uando
especialmente emotiva3 &undada em a&etos e sentimentosV d. tradicional F 5uando
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determinada por um costume arraigado +Weber3 1.# Do mesmo teto ele destaca ainda
5ue só muito raramente a ação social est= orientada e3clusivamente por um destes tipos
+gri&o de Weber.# Bonge de tratar-se de uma classi&icação eaustiva3 trata-se sim de tipos
puros3 constru!dos com &ins de pes5uisa3 os 5uais servem como re&erência de an=lise3 para
se saber o 5uão próima ou distante a realidade em estudo deles se encontra#
Dão 2= impossibilidade lógica - ao contr=rio3 2= probabilidade real -3 de 5ue os tipos
apareçam 6untos e combinados# Dada impede3 portanto3 5ue a ação social de indiv!duos ou
grupos sociais se6a motivada3 a um só tempo3 por uma ação racional com relação a &ins e
com relação a valores ou at( mesmo com a tradição# @as3 da mesma &orma3 nada impede
tamb(m 5ue um destes tipos se6a predominante# )ste ( o ponto 5ue a5ui se 5uer destacar3
5ue a racionali7ação avança por todos os dom!nios da vida rural3 em geral vista sob o signooposto3 como lugar da tradição em oposição 8 modernidade geralmente representada pelo
mundo urbano#
$ momento atual representa3 na verdade3 a etapa mais recente de um longo processo de
desencantamento e racionali7ação 5ue tem in!cio nos tempos mais remotos da vida em
sociedade# Pierucci +/RR0. re&a7 toda a tra6etória do conceito de desencantamento em
Weber e sublin2a os marcos &undamentais# Dão cabe a5ui repeti-lo# Para os nossos
propósitos3 cabe apenas destacar as correspondências entre a evolução dos espaços rurais e
este processo de desencantamento e racionali7ação#
At( a 9evolução do Deol!tico e a &ormação dos primeiros assentamentos 2umanos não se
pode &alar em distinção cidade e campo e3 nesse momento3 o encantamento da vida
cotidiana ( 5uase total# $ advento da agricultura permitiu a introdução de uma primeira
ruptura3 representada pela possibilidade de manipulação da nature7a3 do mundo3 do
encantado3 em um outro grau 5ue o nomadismo3 e a maior su6eição 8s condiç;es naturais
5ue l2e ( inerente3 antes não permitia# "esloca-se com isso3 e progressivamente3 a
)sta periodi7ação do longo processo de desencantamento e racionali7ação da vida rural3 epresso nos três par=gra&os a seguir sinteti7a elementos &ornecidos por algumas obras &undamentais sobre racionali7ação3 vidarural e relaç;es entre a sociedade e nature7a# C principalmente3 Pierucci +/RR0.3 airoc2 +1/.3 Ponting+1E.3 T2omas +/RR1.#
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possibilidade dos 2omens sobre sua condição de estar no mundo com correspondentes
impactos no sentido da ação social dos indiv!duos#
A longa etapa na evolução da ruralidade3 5ue vai do nascimento do &enOmeno urbano at( a
industriali7ação3 e 5ue airoc2 designou como um per!odo marcado pela Itirania da
dist4ncia e da agriculturaJ3 comporta3 na verdade3 um lento movimento de racionali7ação3
5ue pode ser desdobrado es5uematicamente em alguns passos# A pro&ecia do 6uda!smo
antigo3 5ue vetava 5ual5uer &orma de adoração e meios m=gicos3 associada ao o
pensamento 2elênico3 estabelece uma nova e ainda mais pro&unda ruptura3 constituindo-se
uma esp(cie de ponto inaugural do desencantamento do mundo e3 como correspondência3
de etici7ação e morali7ação da vida social# A relação com o mundo natural apro&unda
a5uela inversão em relação aos primórdios e iniciada 6= na etapa anterior F de um animalentre outros o 2omem passa a se ver como a5uele ser di&erenciado 5ue recebe a terra do
"eus pai para nela crescer3 povoar e &a7er &ruti&icar# $ mundo ( visto como criação de
"eus3 morada do 2omem# )n5uanto tal3 (3 a um só tempo3 submetida aos des!gnios
2umanos3 por5ue este ( &il2o do sen2or do universo e nesta condição ela l2e &oi dada3 mas (
tamb(m sagrada por5ue concebida por este deus e seu mais valioso presente# Dão ( mais
m=gica3 por5ue o poder não emana mais das coisas3 como os esp!ritos das &lorestas# Com o
advento do >luminismo completa-se a mudança de comportamento em relação 8 nature7a#
@ais e mais ela ( vista e tomada como es&era a ser dominada e posta a serviço da condição
2umana3 com tudo a5uilo 5ue a t(cnica e o desencantamento do mundo3 em lugar do
m=gico e do sagrado3 permitem#
A posterior associação entre ciência e processo produtivo completa o longo movimento# Do
plano das id(ias seu correspondente aparece na associação entre a racionalidade com
relação a &ins3 5ue permitia o e5uacionamento de interesses materiais dos 2omens3 a uma
racionalidade com relação a valores3 na 5ual os interesses ideais de salvação são com ela
conciliados atrav(s da (tica compat!vel com o Iesp!ritoJ do capitalismo# Assim como as
cidades &oram as portadoras das id(ias religiosas 5ue desencantaram o mundo antigo e
medieval3 elas são3 at( a5ui3 o lugar por ecelência no 5ual tais id(ias e interesses podem
estar em a&inidades eletivas#
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A nova etapa do desenvolvimento rural3 tal como 5uali&icada nesta tese e em outros
trabal2os3 e t!pica das d(cadas mais recentes3 comporta tamb(m um novo momento neste
longo processo de racionali7ação da vida rural# São três os seus traços mais marcantes# Do
5ue di7 respeito 8s &ormas de condução da vida cotidiana3 completa-se a etensão da
racionali7ação para todos os dom!nios da vida rural3 sobrepondo-se não só 8s &ormas
encantadas de relação com a nature7a3 mas3 at( mesmo3 8 tradição3 no caso das relaç;es
associativas# Do 5ue di7 respeito 8 relação entre sociedade e nature7a3 não ocorre nem uma
intensi&icação da oposição levada aos limites na etapa anterior3 nem um reencantamento do
mundo natural ou retradicionali7ação# Acontece3 antes3 o contr=rio3 a busca por uma
diminuição da assimetria entre sociedade e meio-ambiente3 cu6a mel2or epressão se
encontra na crescente valori7ação das amenidades naturais e nas tentativas de contençãodos problemas ambientais globais# )3 por &im3 5uanto 8 relação rural-urbano3 deia de ser
prerrogativa das cidades e do urbano estar em a&inidades eletivas com as possibilidades de
se &a7er da vida uma vida crescentemente condu7ida#
)ste novo conte<do da racionali7ação da vida rural no mundo contempor4neo tem suas
bases3 no plano material3 na ascendência de interesses compat!veis com aç;es de
conservação ambiental3 se6a pelas perdas geradas com o desgaste de recursos naturais 5ue
a&etam tantas empresas3 pa!ses e regi;es3 se6a pela introdução de especialidades econOmicas
e intelectuais relativas a tais es&orços ou ao aproveitamento destas amenidades naturais
como negócio ou como con&orto material# Do plano dos interesses ideais3 a motivação vem
da tentativa de combinar 8 ocidentali7ação e tudo o 5ue ela implica os pressupostos (ticos
presentes na retórica do desenvolvimento sustent=vel e 5ue não l2e são nada naturais% a
conservação da nature7a3 a coesão social e mel2oria das possibilidades materiais das
pessoas3 a possibilidade de reencontro com o passado e com a nature7a 5ue o rural muitas
ve7es propicia#
"ito desta &orma o processo de racionali7ação deia ver sua &ace mais positiva# @as assim
como Weber utili7ou a met=&ora da gaiola de &erro para se re&erir ao &uturo da 2umanidade
diante da epansão da racionalidade vida a&ora3 tamb(m a5ui 2= um lado cin7ento# )sta
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dupla &ace da racionali7ação só pode ser energada atrav(s do eerc!cio em mostrar como
ela ocorre na vida social e por 5ue meios# o 5ue se pode ver3 por eemplo3 nas &ormas
encontradas por determinados grupos sociais para levar adiante suas perspectivas de
reprodução social atrav(s da vida cotidiana3 ou na tradução destes conte<dos em termos de
regras &ormais e in&ormais#
>3+35 4 O desenan"amen"o dos am:os ou raiona#i?ação e )ida o"idiana
A imagem 5ue se tem dos campos e de suas populaç;es guarda uma estreita
correspondência com um certo encantamento do mundo# >sto tem in!cio nos ritos pagãos da
Antiguidade3 com as &estas e o&erendas aos deuses da terra3 da &ertilidade# Algumas destas
pr=ticas se metamor&osearam ou se prolongaram no tempo3 não mais na &orma de conte<dosm=gicos3 mas como permanências inscritas na tradição# Como &oi visto nas p=ginas
anteriores3 mesmo estas &ormas correntes de tradicionalismo epressam3 tamb(m elas3 um
&orte conte<do de desencantamento e de racionali7ação3 o 5ue poderia parecer paradoal
aos ol2os do senso comum# $ 5ue acontece3 como mostra Weber3 ( 5ue tais pr=ticas
deslocam o sentido do mundo3 de poderes sobrenaturais e imanentes 8s coisas para as
&ormas pelas 5uais os 2omens orientam sua ação# @esmo as benesses atribu!das aos santos3
5ue enviam a c2uva ou garantem boas col2eitas3 deiam progressivamente de se apresentar
como o resultado de aç;es m=gicas3 de poderes liberados ou mobili7ados3 por eemplo3
atrav(s do sacri&!cio de um animal simbólico ou algo 5ue o val2a3 para serem entendidas
como resultado de penitências e do merecimento derivado das &ormas de conduta 5ue estas
populaç;es adotam visando ser dignas destes des!gnios etraordin=rios# )m resumo3 mesmo
mediada pelo religioso3 a ação dos indiv!duos l2es resguarda uma relação de causalidade
entre a maneira de condução (tico-racional da vida e os resultados disto esperados# )m uma
palavra3 mesmo para acessar o etraordin=rio ( preciso inscrever na dimensão
intramundana as pr=ticas capa7es de levar a tanto#
@ais do 5ue desencantamento3 a vida rural cotidiana3 nos tempos atuais3 ( crescentemente
eposta a conte<dos sociais 5ue re&orçam3 tamb(m ali3 o movimento de crescente
racionali7ação do mundo# Assim como na parte dedicada 8 nova etapa da ruralidade &oi
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importante &a7er re&erência 8 realidade dos pa!ses do capitalismo avançado3 por ter sido ali
5ue a urbani7ação &oi mais longe3 agora3 para analisar a racionali7ação3 talve7 se6a mais
pro&!cuo recorrer a eemplos de regi;es mais pobres e prec=rias3 por3 inversamente3 ser ali
5ue a tradição se mostra mais presente#
@agal2ães +/RRE. mostra este movimento de desencantamento e racionali7ação de maneira
muito clara num estudo sobre as &inanças de populaç;es sertane6as tradicionais da a2ia#
)le parte3 inicialmente3 de eemplos da literatura do s(culo Z>Z ao cinema do s(culo ZZ>
para mostrar como o sertane6o guarda em si a imagem da resignação e da con&ormação com
suas condiç;es sociais e de submissão 8s &orças da nature7a# $ romance . uin&e3 de
9a5uel de Nueiro73 ao retratar o &lagelo da seca3 mostra com pro&undidade os traços
psicológicos de um povo 5ue ( pressionado por &orças 2istóricas e naturais e 5ue se vê
obrigado a aceitar &atalisticamente seu destino# )m .s SertKes3 )uclides da Cun2a traça o
retrato de um sertane6o 5ue3 apesar de ser um &orte ( dominado pelas superstiç;es e
crendices conservadas pelo longo isolamento3 5ue o tornam cr(dulo3 m!stico3 receoso#
@agal2ães nota ainda 5ue3 6= nos anos recentes3 no &ilme de Walter Salles3 Abril
despedaFado3 adaptado do livro de >smail adar(3 a imagem da rotação incessante da
bolandeira3 uma roda de engen2o movida por uma 6unta de bois3 representa este destino
imut=vel3 o absoluto enrai7amento da &am!lia na terra3 no clima3 prisioneira das tradiç;es#
este o tipo de população 5ue @agal2ães vai estudar para tentar compreender como eles
conseguem se des&a7er dos laços de dependência &inanceira3 gerados pelos v!nculos tão
sedimentados de controle e de dominação t!picos destes lugares# Seu ponto-de-partida ( a a
ação das Comunidades )clesiais de ase e dos sindicatos de trabal2adores rurais3 a partir
dos anos MR3 vista como decisiva para promover um processo de mudança cultural e a
&ormação de uma densa rede de relaç;es sociais novas ao conteto de então# $s Ic!rculos
b!blicosJ3 as celebraç;es coletivas e as &estas religiosas &oram as primeiras e maiselementares eperiências de construção de uma nova coesão social na5uela região# As
pr=ticas religiosas populares eram organi7adas por leigos3 lideranças comunit=rias3 5ue
al(m da missão religiosa promoviam discuss;es sobre a realidade local3 os problemas dos
agricultores3 a import4ncia das organi7aç;es e do levantamento e articulação das suas
reivindicaç;es e necessidades# ,oi deste trabal2o religioso 5ue surgiram as primeiras
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associaç;es comunit=rias e as oposiç;es aos sindicatos locais 5ue3 8 (poca3 reprodu7iam as
relaç;es tradicionais# )sta &oi3 en&im3 a porta de entrada de um processo longo de
racionali7ação da vida dos sertane6os# ) &oi tamb(m uma condição &undamental para
viabili7ar a &ormação de organi7aç;es 5ue eigem3 ao mesmo tempo3 plena racionalidade
econOmica3 cooperação e pro6eto social% as cooperativas de cr(dito#
no m!nimo curioso notar como3 mais uma ve7 e repetindo a5uilo 5ue Pierucci +/RR0.
mostrou para a longa tra6etória de desencantamento do mundo3 como a religião se institui
portadora de um tal processo# @as3 obviamente3 isto não ( imanente 8s virtudes religiosas#
@agal2ães mostra como esta ação encontrou um ambiente 2istórico &avor=vel onde
pesaram igualmente% uma crescente monetari7ação da vida econOmica local3 com tudo o
5ue isso tem de correspondente em termos de introdução do c=lculo e de impessoalidadeV oacesso crescente a tecnologias como a meteorologia3 5ue serviu para3 no m!nimo3 dividir
com o religioso as eplicaç;es sobre as mani&estaç;es do mundo naturalV e a eistência de
con&litos e relaç;es de dominação3 cu6a metaboli7ação e encamin2amento por parte destas
populaç;es só poderia se dar no plano da religião ou da pol!tica# ,oi nas &issuras abertas por
tais processos 5ue a mediação da es5uerda católica contribuiu com uma certa &orma de
compreendê-los e encamin2=-los num determinado sentido#
Atrav(s de outros estudos e pes5uisas 5ue tocam tamb(m nas condiç;es de reprodução
social de populaç;es rurais ( poss!vel ver o 5ue 2= de libertador3 mas tamb(m o 5ue 2= de
desestruturação de todo um universo material e simbólico# >sto ( particularmente vis!vel
na5uelas situaç;es 5ue envolvem as dimens;es geracional e de gênero# A an=lise de
Abramova: et al# +/RR0. sobre os dilemas 5ue cercam a transmissão do patrimOnio &amiliar
entre pe5uenos agricultores do sul do rasil ( etremamente elucidativa# $ 5ue os autores
constataram3 ao analisar a situação e as perspectivas de &il2os de agricultores de certas =reas brasileiras3 ( 5ue os tempos atuais tra7em consigo o &im de um padrão espec!&ico de
sucessão3 muito antigo3 o minorato# "urante v=rias geraç;es constituiu-se uma tradição 5ue
consistia em deiar com 5ue o estabelecimento agr!cola &osse 2erdado pelo &il2o mais novo#
)sta convenção permitia3 a um só tempo3 5ue a &am!lia encamin2asse para o matrimOnio as
&il2as moças3 5ue parte da produção &osse destinada para a compra de lotes de terra aos
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&il2os mais vel2os3 8 medida 5ue estes iam constitu!ndo suas próprias &am!lias3 e permitia
ainda 5ue o &il2o mais novo &icasse assim preso 8 propriedade3 garantindo não só moradia3
mas o acompan2amento da vel2ice dos pais#
)ste padrão implode por uma s(rie de ra7;es# Da rai7 de todas elas est= uma mudança nos
padr;es demogr=&icos das regi;es rurais# As &il2as de agricultores são as 5ue mais saem
destes espaços# muito comum 5ue elas passem a 2abitar n<cleos urbanos relativamente
próimos ao3 diante da &alta de espaço na lógica de transmissão patrimonial no seio da
&am!lia3 procurar estudar ou trabal2ar# Com isso3 elas são inseridas em outros c!rculos
sociais e aumentam seu capital cultural# Deste novo ambiente ( comum 5ue elas acabem
contraindo o matrimOnio3 em geral tendo como parceiros pessoas não mais vinculadas 8
atividade agr!cola#
)stas novas possibilidades o&erecidas pelos n<cleos urbanos F acesso a educação3 in&ra-
estrutura3 e at( mesmo um mercado matrimonial mais diversi&icado e promissor F sedu7em
tamb(m os rapa7es# )3 em geral3 torna-se di&!cil voltar 8s lides do trabal2o rural após
eperimentar certos con&ortos e ecitaç;es 5ue nestas regi;es mais carentes ainda são mais
comuns na vida urbana# Tanto ( 5ue o êodo continua eistindo ali onde o padrão de
urbani7ação ainda não tornou vi=vel 8s populaç;es locais terem acesso a e5uipamentos
sociais b=sicos e oportunidades sem 5ue para isso se6a preciso migrar# )3 inversamente3
na5uelas regi;es onde a coeistência dos espaços rurais e urbanos se &e7 de modo a garantir
uma alta mobilidade entre os dois pólos3 ali se tem visto não só um arre&ecimento do êodo
rural como uma &orte atração populacional#
)m ambas as situaç;es3 um traço ineg=vel ( 5ue as 2abilidades agora eigidas para a
gerência e boa per&ormance dos estabelecimentos rurais não podem mais se resumir 85ueles
con2ecimentos transmitidos de pai para &il2o# As novas din4micas econOmicas 5ue
condicionam a atividade agr!cola ou outras reali7adas nos estabelecimentos rurais imp;em
um maior grau de eigência 5uanto a 2abilidades gerenciais3 de identi&icação e con5uista de
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mercados espec!&icos3 conversão de produtos e culturas# Aspectos3 en&im3 5ue pressup;em
um maior dom!nio t(cnico sobre o tradicional trabal2o rural#
)m todos estes casos se trata de situaç;es onde as &ormas de condução da vida cotidiana
por populaç;es rurais so&rem um desli7amento nas suas &ormas de enrai7amento social3 de
uma situação antes pautada pela tradição e pelos v!nculos com o mundo agr=rio e 5ue agora
se desloca para a integração entre es&eras3 &a7endo-se acompan2ar de crescente
desencantamento e racionali7ação# $ conte<do destas &ormas de racionali7ação da vida
cotidiana não ( dado de antemão3 ele se estabelece com o sentido da ação social para os
agentes3 no 5ue importam tanto sua estrutura cognitiva constitu!da3 como o campo de
possibilidades e de interaç;es em 5ue ela atua3 um campo determinado pelas in6unç;es
entre o meio-ambiente3 as estruturas sociais e as instituiç;es#
>3+3+ 4 Da regu#ação "o"a#/ H regu#ação se"oria#/ H regu#ação "erri"oria#
ou raiona#i?ação e ins"i"uiçes
)n5uanto a vida cotidiana mostra como a racionali7ação penetra na5uilo 5ue 2= de mais
individual nas relaç;es sociais3 as instituiç;es permitem perceber como ela se epressa em
&ormas propriamente societais# Tamb(m a5ui ( preciso destacar 5ue se trata de um tipo de
racionali7ação muito antigo# @esmo em populaç;es as mais tradicionais ( &acilmente
poss!vel encontrar regras 5ue regem as &ormas de apropriação e uso de recursos naturais#
>sto começou 6= com a de&inição de direitos de propriedade no surgimento mesmo da
agricultura e ad5uiriu seus contornos mais n!tidos na modernidade recente3 5uando não só o
uso do solo ( ob6eto de &orte regulamentação3 mas tamb(m o volume3 a 5ualidade3 o
destino3 e os processos de produção na agricultura e na criação animal# A grande7a e a
*er a respeito3 para o caso &rancês3 um tratamento de &enOmenos muito similares a estes vistos no sul do rasilem ourdieu +/RR/.3 C2ampagne +/RR/.# Bivros 5ue tem os sugestivos t!tulos I 0;heritage refuséJ e I 0e bal descelibatairesJ# Tamb(m a pes5uisa de ?eat2er et al# +/RRE. sobre mul2eres em Alberta3 mostrou os con&litosinerentes a estas mudanças e maiores entrelaçamentos entre aç;es antes determinadas mais diretamente pelatradição e agora epostas 8s &orças emanadas da integração entre mercados de trabal2o urbano e rural3 entreepectativas &amiliares e sociais# As mul2eres entrevistadas relatavam 5ue a reestruturação 2avia a&etado suasdecis;es3 a &orma de organi7ar-se em torno do trabal2o pro&issional e do trabal2o dom(stico não recon2ecido e nãoremunerado# )las &alam do peso da dupla epectativa 5ue sobre elas repousa e da necessidade 5ue sentem em tentarcorresponder a ambos3 o 5ue muitas ve7es leva a problemas de sa<de e s(rios dramas psicológicos#
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etensão das &ormas de regulação sobre o espaço rural podem ser dimensionadas pelo &ato
de 5ue a maior parte do orçamento da União )urop(ia ( consagrada aos gastos com a
pol!tica agr!cola e 5ue3 dentre as inovaç;es tra7idas nos anos mais recentes3 ( na promoção
da dinami7ação de economias rurais 5ue se encontram boa parte dos mais pro&!cuos
es&orços# Deste caso3 a novidade não ( tanto a eistência destas instituiç;es3 mas sim o peso
e a direção 5ue elas ad5uirem no per!odo mais recente#
Constru!das em grande parte sob os ausp!cios do modelo produtivista e3 portanto3
orientadas para este &im3 as &ormas de regulação do espaço rural têm passado
crescentemente de um compromisso em torno dos aspectos setoriais 5ue envolvem a
produção agr!cola para um compromisso territorial +Coulomb3 11.# Da )uropa3 a re&orma
da PAC ( o eemplo mais claro# Ali os crit(rios 5ue se tradu7iam em garantias e est!mulosaos produtores agr!colas vêm sendo3 muito lentamente e a duras penas3 substitu!dos por
mecanismos 5ue impulsionam a preservação das paisagens3 um maior cuidado com os
riscos de contaminação de =guas e solos3 uma valori7ação dos aspectos não diretamente
mercantins3 en&im# >sto tem re&orçado muito mais os instrumentos de pol!ticas
anteriormente eistentes e 5ue 6= atuavam na dimensão espacial3 como as pol!ticas
regionais e de ordenamento territorial# $s dados reunidos por *eiga +/RRE. sobre a >t=lia
são impressionantes# )m primeiro lugar3 11` da super&!cie do pa!s &a7 parte do sistema de
unidades de conservação3 como par5ues3 reservas e =reas protegidas# Segundo3 algo como
1E` do território est= inserido no sistema de incentivos do Programa Datura /RRR e 5ue
prevê sua inclusão num sistema de ^onas )speciais de Conservação# A dimensão crescente
da regulação dos espaços naturais pode ser mensurada no subt!tulo de um instigante livro
de ertrand ?ervieu F 0e retour à la nature/ au fond de la forHt""" l;tat # >sto (3 mesmo ali3
onde o mundo natural parece estar mais longe da inter&erência das instituiç;es ( imposs!vel
escapar 8s regras e convenç;es#
Da Am(rica Batina a direção ( similar3 apesar das di&erenças 2istóricas e estruturais#
@esmo com todas as restriç;es3 no rasil um terço dos agricultores &amiliares 6= tem
acesso a sistemas de &inanciamento# Se a transição nas pol!ticas de desenvolvimento rural
do vi(s setorial ao territorial ainda ( t!mida3 como &oi visto no Cap!tulo 03 todo o arcabouço
1M
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de leis ambientais não ( nada despre7!vel# )2lers +/RR. mostrou claramente como as
possibilidades de dinami7ação e de conservação das =reas rurais não podem ser
compreendidas sem 5ue se &aça re&erência 8s instituiç;es 5ue regulam o comportamento
dos agentes no 5ue di7 respeito aos recursos naturais# @ais recentemente3 a introdução de
uma nova legislação para eploração econOmica das &lorestas tende a sinali7ar um novo
camin2o3 onde a inter&erência das instituiç;es certamente crescer= ainda mais#
>3+36 4 &uem são os agen"es da no)a rura#idade ou raiona#i?ação e
es"ru"uras soiais
A a&irmação do espaço rural como ob6eto pertinente de compreensão pelas ciências sociais
passa pelo delineamento do seu signi&icado como esfera social do mundo contempor4neo#)ste conceito3 central na sociologia Keberiana e em muito similar ao conceito de campo em
ourdieu3 tem em seu n<cleo lógico a a&irmação de 5ue a unidade em 5uestão F neste caso
o espaço rural F representa uma es&era relativamente autOnoma do mundo social%
relativamente no sentido de 5ue 2= in6unç;es com outras es&eras3 e aut>noma por5ue (
governada por IregrasJ espec!&icas 5ue governam sua estrutura e din4mica# )stas regras
epressam o conte<do de racionali7ação 5ue governa esta es&era3 e este conte<do3 por sua
ve73 ( indissoci=vel tanto da compreensão 5ue os agentes sociais têm sobre os valores e
&ormas de condução (tico-racional no interior deste espaço3 como da racionali7ação social
5ue se epressa na &ormação das instituiç;es &ormais e in&ormais#
Com o desli7amento de signi&icado 5ue ocorre nas três dimens;es de&inidoras da ruralidade
F a relação com a nature7a3 as relaç;es de intercon2ecimento e os v!nculos com o sistema
de cidades -3 torna-se necess=rio compreender em termos teóricos o 5ue muda nas
articulaç;es entre estruturas sociais3 instituiç;es e no enrai7amento ambiental no novo
momento# Das seç;es 5ue comp;em este cap!tulo3 tentou-se demonstrar como a id(ia de
racionali7ação da vida rural permite remeter 8s v=rias dimens;es a5ui impl!citas3 em
particular a5uelas mais destacadas pela literatura contempor4nea% a necessidade de uma
abordagem de longo pra7o3 a import4ncia em compreender a 2eterogeneidade e a
mani&estação desigual da nova direção dos processos de desenvolvimento rural3 e a
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inevitabilidade de se recorrer a uma abordagem 5ue não privilegie apenas as interaç;es3
mas tamb(m as estruturas e con&litos a elas inerentes# @as3 se o movimento de
racionali7ação da vida rural e se os novos conte<dos emp!ricos da nova ruralidade não são
lineares3 o 5ue determina a di&erenciação Q poss!vel esboçar seus contornos mesmo 5ue
es5uematicamente Q $s desen2os a seguir têm a intenção de ilustrar o 5ue poderia ser um
sistema de oposiç;es t!pico da Inova ruralidadeJ# Seus agentes podem ser identi&icados3 a
partir de an=lises concretas de situaç;es ob6etivas3 a partir de sua posição nesta estrutura#
$ desen2o 1 se re&ere ao sistema de oposiç;es da ruralidade pret(rita e comporta dois eios#
Do eio Z os territórios rurais variavam a sua posição a depender do maior ou menor grau
de integração aos sistemas agroindustriais# )ste ( um eio 5ue permitia uma aproimação
capa7 de caracteri7ar a intensidade de erosão das condiç;es de autonomia das comunidadesrurais por a5uilo 5ue por muito tempo a literatura convencionou c2amar genericamente por
Ipenetração das relaç;es capitalistas no campoJ# )ra desta crescente integração 8
sociedade urbana e industrial o 5ue &alavam estudos cl=ssicos como os de Antonio C4ndido
+1H. e @aria >saura Pereira de Nueiro7 +1M.# Do eio \3 a posição varia de acordo
com o maior grau de concentração e de especiali7ação destes territórios# )sta oposição
remete3 de um lado3 8 distribuição dos trun&os3 2abilidades ou capitais3 a depender da
orientação teórica em 5uestão e3 de outro3 combinadamente3 8 maior possibilidade de 5ue
ali se6am geradas as instituiç;es necess=rias 8 dinami7ação econOmica acompan2ada de
maior coesão social#
'= o desen2o / se re&ere ao sistema de oposiç;es da nova ruralidade# Do eio Z3 os
territórios rurais passam a variar sua posição a depender do maior ou menor grau de
utili7ação de novas &ormas de uso social de recursos naturais# Deste eio a oposição se
desloca do grau de integração do rural para uma nova 5ualidade de integração3 a5uela
ditada pela nova &orma de enrai7amento ambiental da ruralidade e seus correspondentes
para as estruturas sociais e as instituiç;es# Do eio \ mant(m-se a variação das posiç;es
de acordo com o maior grau de concentração e de especiali7ação destes territórios3 6= 5ue
tamb(m na nova ruralidade os processos de desenvolvimento obedecem3 em parte3 8s
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mesmas regras de outras es&eras e tem a ver com desconcentração e diversi&icação dos
tecidos sociais e tamb(m dos ecossistemas#
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Desen<o 5
Sis"ema de o:osiçes da rura#idade :re"ri"a
Desen<o +
Sis"ema de o:osiçes da no)a rura#idade
Ambiental
)speciali7ação econcentração
"iversi&icação edesconcentração
Agr=rio
A
"C
>ntegração agro-industrial
"iversi&icação edesconcentração
Agriculturatradicional
)speciali7ação econcentração
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)m lin2as gerais3 os 5uatro 5uadrantes 5ue surgem neste desen2o poderiam ser de&inidos de
acordo com seus signi&icados em termos de enrai7amento ambiental3 estruturas sociais e
instituiç;es#
Si"uação A 4
Rura#idade am!ien"a# e es"ru"uras soiais mais di)ersi.iadas e desonen"radas
Um determinado padrão de urbani7ação associado a caracter!sticas mor&ológicas do
território3 envolvendo o meio-ambiente e a estrati&icação social3 &avoreceu a 5ue ali se
criasse uma &orma de uso social dos recursos naturais onde a busca pela conservação
encontra correspondentes em &ormas de dinami7ação da vida social# A diversi&icada
economia local conta com um alto grau de integração econOmica e de coesão territorial#Paisagem3 cultura e economia se entrelaçam de uma maneira a &a7er com 5ue se consiga
associar a dinami7ação econOmica com bons indicadores sociais e com desempen2o
positivo em indicadores ambientais# Algo semel2ante ( o 5ue ocorre em regi;es como o
*ale do >ta6a!3 em Santa Catarina#
Si"uação 4
Rura#idade am!ien"a# e es"ru"uras soiais mais es:eia#i?adas e onen"radas
)mbora as caracter!sticas mor&ológicas do território3 no 5ue di7 respeito ao meio-ambiente3
&avoreçam a conservação3 as caracter!sticas da estrati&icação social não contribuem para
5ue ali se6am criadas as instituiç;es capa7es de diminuir as &raturas entre grupos sociais por
conta de sua posição social# A conservação encontra-se em con&lito com as possibilidades
de dinami7ação da vida local# $ padrão de urbani7ação ( ainda incipiente ou não se deu
numa direção onde não 2ouve uma valori7ação do rural# )ste ( o caso t!pico de certas =reas
da Ama7Onia3 onde a presença da &loresta convive com o avanço da agricultura de
negócios# As estruturas sociais locais não apresentam vigor e um padrão de interação
su&iciente para &a7er &rente ao movimento de epansão das atividades prim=rias3 resultando
em perda de biodiversidade e em depleção dos recursos naturais como terra e =guas# ?=
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um alto grau de con&lito entre instituiç;es e as populaç;es locais são &ortemente a&etadas
por eles#
Si"uação C 4
Rura#idade se"oria# e es"ru"uras soiais mais es:eia#i?adas e onen"radas
As caracter!sticas mor&ológicas do território em termos ambientais e sociais engendram
uma relação de eploração com o rural com restritas possibilidades tanto de conservação
como com maior risco de esgarçamento dos tecidos sociais3 apesar da poss!vel dinami7ação
econOmica com o setor prim=rio e de trans&ormação# As regi;es 5ue eperimentam um
&orte dinamismo dependente da atividade agr!cola se encaiam neste tipo# Ali a ri5ue7a
gerada estabelece uma relação entre o munic!pio pólo do território e os demais onde todosos recursos são concentrados3 não resultando em epansão da ri5ue7a para o con6unto dos
grupos sociais# As possibilidades de conservação ambiental são restritas aos m!nimos
eigidos por lei3 como no caso de preservação de remanescentes3 matas ciliares e vegetação
de topo de morro# A biodiversidade local ( &ortemente comprometida ou ameaçada pelo
vigor da eploração agr!cola comercial# Dos casos das regi;es mais din4micas3 como
algumas =reas do interior do )stado de São Paulo3 o padrão de urbani7ação o&erece uma
in&ra-estrutura e serviços at( ra7o=veis3 mas concentrados# )m outras3 menos din4micas3 a
especiali7ação setorial e o enri6ecimento das estruturas sociais levam ainda a um padrão
onde impera a precariedade3 caso das regi;es cacaueira na a2ia ou na ^ona da @ata
pernambucana#
Si"uação D 4
Rura#idade se"oria# e es"ru"uras soiais mais di)ersi.iadas e desonen"radas
São situaç;es onde3 embora as caracter!sticas mor&ológicas do território 6= não se6am tão
promissoras no 5ue di7 respeito aos recursos naturais3 as estruturas sociais poderiam
&avorecer um processo de mudança e de criação de novas instituiç;es# Do entanto3 as
&ormas de dominação econOmica impedem ou blo5ueiam esta inovação# ?= &issuras entre o
setorial e o ambiental3 e entre os grupos sociais# Um eemplo deste tipo de território ( o
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$este Catarinense# Uma concentração de grandes empresas agroindustriais convive com
uma estrutura social baseada num epressivo segmento de agricultores &amiliares# A região
apresenta uma din4mica econOmica ra7o=vel3 mas convivendo com indicadores sociais e de
desigualdade não tão bons e com v=rios problemas ambientais relativos a solos e =guas# As
possibilidades de reprodução dos grupos sociais locais ainda depende muito dos v!nculos
etra-locais &avorecendo a perda de recursos 2umanos valiosos# Com isso blo5ueia-se a
possibilidade aberta pela con&iguração social local de maiores interaç;es e de criação de
novas instituiç;es capa7es de mudar o rumo do desenvolvimento territorial#
$ car=ter emergente da nova ruralidade &ar= com 5ue3 usando novamente a representação
es5uem=tica3 a parte in&erior ao eio Z se deslo5ue3 diminuindo sua import4ncia
5uantitativa3 e 5ue em seu lugar sur6a uma nova oposição# )ste esboroamento dassociedades agr=rias3 epresso tanto no movimento indicado na passagem do desen2o 1 ao
desen2o / e seus correspondentes campos de oposição só ad5uire contornos de &atalidade
nos marcos do paradigma agr=rio# Ali3 trata-se da diluição de um mundo social3 com o 5ue
isto tem de trag(dia e de criação# "e trag(dia por5ue &icaram prisioneiras do sistema de
oposiç;es t!pico de seu tempo# "e criação por5ue o novo sistema de oposiç;es abre
possibilidades antes não claramente inscritas#
Assim como para o capitalismo o tipo puro se deu 5uando a racionalidade pr=tico-t(cnica
propiciada pela evolução das condiç;es cognitivas e materiais da (poca encontrou a
racionalidade pr=tico-(tica da cultura protestante3 &a7endo assim eclodir uma enormidade
de possibilidades tanto na criação de instituiç;es condi7entes com este novo momento
como na introdução de mudanças nas &ormas de condução (tico-cotidiana da vida +Pierucci3
/RR0.3 talve7 não se6a eagero di7er 5ue a possibilidade 2istórica de ocorrência de um tipo
puro como a situação A indicada neste desen2o representa igual teor no 5ue di7 respeito 8s
tentativas de se e5uacionar as dimens;es presentes na retórica do desenvolvimento
sustent=vel# >sto (3 se a utopia do s(culo ZZ>3 para usar os termos de *eiga +/RRE.3
consiste neste anseio por mel2orar a condição 2umana e natural atrav(s da dinami7ação
econOmica com ampliação das possibilidades das pessoas e com conservação ambiental3 (
preciso3 antes de mais nada3 recon2ecer 5ue determinadas con&iguraç;es territoriais tem
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conseguido &a7ê-lo# ) isto ocorreu ali3 onde o urbano e o rural não estabeleceram
desenvolvimentos concorrentes e inconcili=veis3 mas antes integrados e co-determinados#
@ais ainda3 esta possibilidade 2istórica não &oi resultado eclusivo da introdução unilateral
ou eógena de nen2uma norma ou sanção3 mas sim da evolução de con&iguraç;es
2istoricamente determinadas3 em cu6a tra6etória 2ouve um crescente processo de
racionali7ação3 permitindo 5ue3 nestes termos mesmo3 a um só tempo ecológicos3 2istóricos
e racionais3 se constitu!ssem as estruturas sociais e as instituiç;es necess=rias para tanto#
Da nova ruralidade3 pass!vel de compreensão por uma abordagem territorial3 não ( poss!vel
mais identi&icar um ator ou grupo social predominante3 como na ruralidade pret(rita# A
intersetorialidade 5ue marca as economias locais e a 2eterogenei7ação crescente de suas
populaç;es eige um recon2ecimento compreensivo3 em pro&undidade3 das din4micas e dosagentes 5ue delas são portadores# ) isso só ( poss!vel por meio da an=lise da evolução desta
con&iguração territorial3 das &ormas de racionali7ação 5ue l2e correspondem3 e das posiç;es
sociais de seus agentes3 tal como a5ui se tentou esboçar 1RR#
1RR Para uma eplanação sobre a complementaridade entre a noção de campo e as din4micas de longo pra7o3ver C2ampagne X C2ristin +/RR.#
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S7n"ese do Ca:7"u#o >
Um traço marcante da nova ruralidade ( o crescente processo de racionali7ação da vida
rural# Um primeiro dom!nio onde isso se epressa são as &ormas de condução (tica do
cotidiano3 cada ve7 mais pautadas pela ação racional3 se6a com relação a &ins ou com
relação a valores3 e menos pela ação tradicional ou por &ormas m=gicas de relação com o
mundo# $utro são as instituiç;es3 entendidas como meios de racionali7ação de con&litos e
interesses e de sua materiali7ação em compromissos &ormais e in&ormais3 em regras sociais#
Dos dois casos o rural ad5uire um novo sentido3 pois passa a ser um lugar onde ( poss!vel
uma vida crescentemente condu7ida e onde os conte<dos sociais 5ue in&ormam as
estruturas cognitivas e os espaços dessa interação não obedecem mais aos signos doisolamento e das ra!7es agr=rias3 mas sim de uma maior aproimação entre o rural e o
urbano3 entre nature7a e sociedade#
Como toda es&era do mundo social 5ue passa por processos de racionali7ação3 o rural
tamb(m apresenta regras e agentes 5ue l2e são espec!&icos# Um desdobramento desta nova
condição do desenvolvimento rural ( a tensão con&litiva atual 5ue decorre de três
dis6unç;es relativas 8s instituiç;es3 8s estruturas sociais3 e ao meio-ambiente% a. do &ato de
5ue 2= uma sobreposição de con&iguraç;es de agentes e interesses - alguns mais vinculados
aos &atores presididos pelos aspectos ambientais3 outros pelos aspectos econOmicos3 outros
ainda pelos aspectos pol!ticos ou culturais -3 5uando na Ivel2a ruralidadeJ 2avia um agente
principal% o agricultor ou as empresas agr!colasV b. de uma incoerência ou no m!nimo de
atritos entre instituiç;es , 5uando na etapa anterior o con&lito 5ue estava na base das
instituiç;es di7ia respeito3 sobretudo3 ao uso do solo atrav(s do direito 8 eploração
econOmica das atividades prim=riasV c. de uma contradição entre as &ormas sociais de
racionali7ação3 5ue têm na mercantili7ação uma de suas mais etremas mani&estaç;es3 e ouso social de recursos não diretamente mercantis3 como a nature7a #
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Con#usão
%. que herdaste dos pais,
reconquista*o se queres possui*lo realmente+
"o @austo3 de Goet2e
%Ali onde isso era, devo vir a me tornar+
"o EsboFo de psican'lise3 de ,reud
Giancarlo 9icci3 um estudioso da obra de ,reud3 lembra 5ue seus escritos são pontil2ados
por numerosas citaç;es de Goet2e# Uma delas3 a 5ue consta a5ui em ep!gra&e3 estava entre
suas prediletas# ) a id(ia central nela contida &oi transmutada para o EsboFo de psican'lise3
nos termos tamb(m destacados acima# 9icci +/RRE%/RR. lembra 5ue a &rase ( celebre e
constitui um emblema luminoso da psican=lise% Ié como um cristal no qual duas
superf(cies se conBugam e tornam*se uma só e afiad(ssima lu&" A v(rgula que divide a frase
intersecciona, divide, separa os dois tempos lógicos do mito, mas também os mantém
unidos e os coloca em relaFãoJ# )m Goet2e a ên&ase ( colocada numa ocorrência relativa 8
con5uista3 em ,reud3 no devir# Dos dois casos3 o destino se abre como algo a ser pro6etado3
escrito3 desenvolvidoV se apresenta como possibilidade3 por sua ve7 inscrita num campo
cu6os contornos e limites são dados3 de um lado3 por esta mesma 2erança3 como re&leo
destas mesmas estruturas a um só tempo ob6etivas e sub6etivas3 materiais e simbólicasV e de
outro3 pelo ambiente no 5ual as interaç;es nesse campo ocorrem# Passado como 2erança e
&uturo como pro6eto se entrelaçam no presente3 5ue se deia ver ou como possibilidade
concreta3 a ser eperimentada no cotidiano3 ou como resultado da an=lise teórica3 a serdemonstrada em termos cient!&icos#
Ao longo de cada uma das 5uatro partes 5ue comp;em esta tese &oi poss!vel &alar de
aspectos pertencentes a este entrelaçamento# Deste caso3 ( claro3 não tendo por ob6eto direto
a dimensão de 5ue &ala ,reud F a psi5ue -3 mas abordando tamb(m mais uma esp(cie de
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mito3 representado pela id(ia de desenvolvimento rural# Um mito não na concepção
&alseadora com 5ue a palavra ( algumas ve7es utili7ada +9ist3 /RR1.3 mas no seu sentido
mais positivo e 5ue serve tanto aos propósitos da psican=lise como das ciências sociais3
como organi7ador de sistemas de interpretação3 classi&icação3 e mobili7ação do mundo
social +,urtado3 1M.#
$ ob6etivo deste estudo consistia em procurar estabelecer a di&erença conceitual contida na
emergência da abordagem territorial do desenvolvimento rural# Procurou-se recorrer a
aspectos relacionados 85ueles mesmos dois tempos lógicos% a5uele relativo ao Ionde isto
eraJ3 8s permanências veri&icadas nas sucessivas metamor&oses do mito3 do pensamento3 da
id(ia3 do conceito3 e a5uele relativo ao Ivir a tornar-seJ3 não como dese6o normativo3 mas
atrav(s da compreensão e eplicação dos processos sociais sub6acentes tanto 8s lógicas demudança e de reali7ação do &uturo como3 igualmente3 aos mecanismos de blo5ueio e de
resistência 8 mudança#
@ais do 5ue repetir os ac2ados 6= epressos nas s!nteses das partes individuais em 5ue o
teto est= organi7ado3 esta conclusão tem por principal intuito3 al(m de rea&irmar a tese
apresentada na introdução 8 lu7 destas s!nteses3 destacar algumas implicaç;es teóricas de
tudo o 5ue &oi eposto e como isso se desdobra em novas 5uest;es3 5ue poderiam3 6untas3
con&ormar um interessante programa de pes5uisas compat!vel com uma visão territorial do
desenvolvimento rural#
A erosão de um :aradigma e a raiona#i?ação da )ida rura#
A tese3 &ormulada na >ntrodução e eposta nas 5uatro partes apresentadas anteriormente3
pode ser resumida em duas a&irmaç;es principais#
Primeiro3 os processos sociais sub6acentes 85uilo 5ue a literatura das ciências sociais
aplicadas convencionou c2amar por nova ruralidade troueram consigo uma erosão das
bases emp!ricas 5ue estavam na rai7 do paradigma cl=ssico de eplicação do
desenvolvimento rural3 em cu6o cerne estava sua redução aos aspectos agr!colas e agr=rios3
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ou em outros termos3 8 sua dimensão setorial# A relação entre sociedade e nature7a3 5ue
encerra um primeira traço distintivo da ruralidade3 ( ob6eto de um deslocamento onde as
&ormas de uso social dos recursos naturais passam do privil(gio 8 produção de bens
prim=rios a uma multiplicidade de possibilidades onde se destacam a5uelas relativas 8
valori7ação e aproveitamento das amenidades naturais3 8 conservação da biodiversidade3 e
8 utili7ação de &ontes renov=veis de energia# As relaç;es de proimidade3 segundo traço
distintivo da ruralidade3 tamb(m são alvo de um deslocamento% a relativa 2omogeneidade
5ue marcava as comunidades rurais d= lugar a uma crescente 2eterogenei7ação e um certo
esgarçamento dos laços de solidariedade 5ue eram a marca da ruralidade pret(rita# A
relação com as cidades3 <ltimo traço distintivo3 deia de se basear na eportação de
produtos prim=rios para dar origem a tramas territoriais compleas e multi&acetadas3 com
di&erentes mecanismos de composição entre os dois pólos3 agora baseados em novas &ormasde integração entre os mercados de trabal2o3 de produtos &!sicos e serviços3 e tamb(m de
bens simbólicos# "e eportadora de recursos como bens materiais e trabal2o3 os territórios
rurais passam a ser atrativos de novas populaç;es e de rendas urbanas# )m suma3
desaparece todo o sentido em tratar o rural eclusivamente como o oposto do urbano3 em
proclamar seu desaparecimento3 ou em resumi-lo a apenas uma de suas dimens;es atuais% o
agr=rio# $ signi&icado maior disso tudo (3 como &oi dito3 o esboroamento da visão
predominante 5ue sustentou as ciências sociais aplicadas sobre o rural durante todo o
s(culo passado#
Segundo3 um aspecto marcante do rural contempor4neo ( a penetração crescente em todas
as es&eras da vida rural de um longo processo de racionali7ação 5ue se mani&esta em &ormas
cada ve7 mais desencantadas de condução da vida por parte destas populaç;es3 em
mecanismos e instituiç;es cada ve7 mais compleos de regulação destes territórios e das
&ormas de acesso e uso dos recursos naturais3 e a uma mudança nas estruturas sociais locais
com a introdução de novas populaç;es3 uma valori7ação cada ve7 maior dos conte<dos
t(cnicos e instrumentais3 o estil2açamento dos interesses e con&litos 5ue antes eram
un!vocos e tendiam a derivar das &ormas de posse e uso da terra# Dão se trata de a&irmar 5ue
toda a população rural trans&ormou-se em calvinistas 8 imagem Keberiana d_ A tica
protestante e o esp(rito do capitalismo3 mas de constatar 5ue3 mesmo sendo o lugar por
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ecelência onde ainda mais se valori7a a proimidade com a nature7a e a tradição3 isto se
&a7 sob conte<dos sociais totalmente novos3 como se tentou demonstrar acima# Com a
racionali7ação da vida rural3 ( todo um universo ancorado na ruralidade agr=ria 5ue se dilui3
para dar lugar a novas signi&icaç;es# Permanência do rural3 associada 8 2eterogenei7ação e
aos con&litos disso derivados passam a ser palavras-c2ave para compreender suas
mani&estaç;es contempor4neas#
Um no)o :aradigma
neste conteto 5ue emerge a abordagem territorial do desenvolvimento rural3 na
con&luência entre um discurso normativo - 5ue busca dar conta destas novas &ormas de
mani&estação3 para al(m de um setor econOmico3 e para al(m dos limites de umacomunidade3 sinali7ando uma escala geogr=&ica 5ue permite comportar a relação com o
urbano -3 e um discurso cient!&ico - cu6a preocupação ( recon2ecer o conte<do emp!rico e
os signi&icados teóricos destas din4micas sócio-espaciais# >sto c2ega a con&ormar um novo
paradigma para compreender o desenvolvimento rural Q
demasiadamente cedo para arriscar uma resposta de&initiva# Como se viu3 a consolidação
da visão agr=ria do rural &oi resultado de s(culos de sedimentação de conte<dos emp!ricos e
cognitivos3 e a emergência da abordagem territorial não tem mais do 5ue três d(cadas# $
5ue se pode a&irmar ( 5ue3 apesar de uma maior aderência 8s tendências atuais3 a id(ia de
território tem sido incorporada ao discurso de agentes p<blicos e muitas ve7es tamb(m no
meio acadêmico como uma esp(cie de Iinovação por adiçãoJ# )la passa a &re5entar o
vocabul=rio de organi7aç;es3 governos e cientistas3 mas 5uase sempre sem tra7er consigo a
necess=ria superação da visão agr=ria do desenvolvimento rural# ) isto não ( resultado
somente da cristali7ação do paradigma cl=ssico nos sistemas mentais partil2ados3 para usar
os termos de Dort2# @as sim3 epressão de interesses ancorados na situação anterior e 5ue
blo5ueiam inovaç;es mais pro&undas3 se6a na &orma da manutenção de especiali7aç;es
disciplinares 5ue não mais se sustentam nos mesmos termos3 se6a na &orma da divisão de
competências entre es&eras de governo voltadas para o rural cu6as atribuiç;es não podem
mais ser e&icientes nos mesmos termos de outrora#
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Por tudo isso o t!tulo desta tese coloca em 5uestão os paradigmas do desenvolvimento rural3
assim3 no plural% o cl=ssico3 5ue restringe o rural ao agr=rio3 e o emergente 5ue tateia sua
compreensão sob um en&o5ue territorial#
Desdo!ramen"os
Se estas são as conclus;es principais3 2= outras a 5ue se pode c2egar como seu
desdobramento#
Ins"i"uiçes% @ais do 5ue as regras do 6ogo3 mecanismos &ormais e in&ormais 5ue
incidiriam condicionando o comportamento dos agentes3 2= tamb(m um 6ogo das regras# $svalores3 vis;es3 convenç;es e aparatos legais são produto da ação de agentes encarnados3
com interesses espec!&icos# Compreender a din4mica das instituiç;es do desenvolvimento
rural não ( algo 5ue se alcance a partir de uma abordagem &ormalista nem meramente
cognitiva# preciso alcançar a5uilo 5ue se poderia c2amar por embeddedness das
instituiç;es3 seu enrai7amento nas estruturas sociais 5ue l2e sustentam# ,a7ê-lo signi&ica
interrogar 5uem são os agentes da vel2a e da nova ruralidade3 por meio de 5ue pr=ticas
levam seus interesses adiante3 e mobili7ando 5ue tipo de recursos#
Es"ru"uras soiais% @esmo com a crescente valori7ação do local e do territorial3 não a6uda
a compreensão rigorosa do desenvolvimento rural a a&irmação contida na provocativa
&ormulação de eccattini3 encampada por @agnag2i +/RR0.3 e 5ue sugere a passagem Ida
consciência de classe 8 consciência do lugarJ# Se ( verdade 5ue os aspectos classistas3 no
sentido cl=ssico3 perderam centralidade na eplicação dos con&litos sociais
contempor4neos3 ( preciso tamb(m recon2ecer 5ue os territórios não podem ser ator social3
pelo simples &ato de 5ue a ação social precisa ter por portadores su6eitos concretos3 e 5ue o
território ( 6ustamente uma escala espec!&ica de processos levados adiante por agentes com
interesses particulares e muitas ve7es con&litantes#
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$eio'am!ien"e% As obras de 'ared "iamond e de 'ane 'acobs mostram como desde as
antigas sociedades o meio-ambiente ( vari=vel-c2ave nos destinos da 2umanidade# Do caso
do rural esta import4ncia ( ainda maior por tratar-se da &ronteira entre os espaços mais
altamente arti&iciali7ados3 as cidades3 e a nature7a# A id(ia de territórios rurais permite
6ustamente entrever as possibilidades de se tomar uma unidade de an=lise onde a
urbani7ação crescente e dominante encontra di&erentes &ormas de uso social dos recursos
naturais# >sto não passa somente pela mercantili7ação da nature7a3 como de&ende uma
importante corrente da economia3 mas sim pela criação de instituiç;es capa7es de moldar a
ação 2umana numa direção mais conciliadora com a necessidade de conservar os
ecossistemas3 paisagens3 culturas# "a! a import4ncia da ecologia para a eplicação do
desenvolvimento rural# ) da! a import4ncia do tema da mudança institucional# Por 5ue
camin2os podem ser constru!das estas instituiç;es Q
$udança% As caracter!sticas do tecido social e econOmico de um território importam na
con&iguração do campo de possibilidades em 5ue se inscreve seu &uturo# As regi;es 5ue têm
em sua base estruturas sociais mais diversi&icadas e desconcentradas - como ( o caso de
v=rios espaços de predom!nio da agricultura &amiliar3 ou de pe5uenas e m(dias empresas -
apresentam mel2ores possibilidades de criar instituiç;es e articulaç;es capa7es de tra7er a
dinami7ação econOmica acompan2ada da mel2oria das condiç;es de vida da maior parte da
população3 em ve7 de um crescimento concentrado nas mãos de poucos3 como ( t!pico dos
territórios baseados em grandes e especiali7adas empresas# Uma id(ia 5ue contraria tanto o
senso comum3 maravil2ado com os êitos recentes da eportação brasileira de grãos3 por
eemplo3 como muitas vertentes eplicativas da ciência econOmica3 para 5uem economias
de escala são muitas ve7es o <nico crit(rio de e&iciência# Dão &a7 sentido3 portanto3 opor a
5uestão agr=ria ao desenvolvimento rural# Trata-se3 sim3 de entender as permanências dos
con&litos 2istóricos agora metamor&oseados3 mas ainda presentes#
"e tudo isso3 talve7 a mais destacada constatação se6a o &ato de 5ue o desenvolvimento
rural ( uma categoria pertinente de compreensão do mundo# >sto se 6usti&ica tanto pela
permanência da ruralidade como caracter!stica marcante de boa parte dos espaços nos
pa!ses da peri&eria do capitalismo3 mas tamb(m no c2amado n<cleo central da economia
mundial3 como pela possibilidade de se de&inir teoricamente o 5ue ( o rural3 distinguindo-o
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possibilidade de se conciliar os imperativos sociais de uso do espaço e as necessidades
naturais de conservação da nature7a#
Para um :rograma de :es0uisas
$ ob6etivo desta tese era elucidar o signi&icado social e teórico da emergência da
abordagem territorial# Talve7 sua principal contribuição se6a essa% ao lado da constatação da
&alência do paradigma cl=ssico3 &undado na visão agr=ria do rural3 a&irmar a possibilidade
de 5ue se possa estar entrando em um momento da 2istória da 2umanidade onde ao rural
não se6a mais relegado somente o destino do atraso3 da estagnação e da tradição# 'ustamente
por esta caracter!stica3 2= uma s(rie de interrogaç;es 5ue da! surgem e 5ue poderiam ser
en&rentadas em um ou mais programas de pes5uisas#
Sabe-se3 como mostrou o Pro6eto 9urbano3 5ue a composição das rendas das &am!lias de
agricultores apresenta uma tendência declinante de ingressos provenientes da atividade
prim=ria# Sabe-se igualmente3 como mostrou o Pro6eto CUTContag3 5ue a mel2oria dos
rendimentos destas &am!lias depende das con&iguraç;es territoriais nas 5uais elas estão
inseridas# @as pouco se sabe sobre o 5ue determinou a evolução 2istórica de tais
con&iguraç;es# A a&irmação a5ui apresentada3 baseada3 sobretudo3 nos ac2ados de
programas de pes5uisa internacionais3 de 5ue as estruturas mais desconcentradas e
diversi&icadas &avorecem a &ormação de instituiç;es 5ue podem levar 8 convergência de
taas privadas e sociais de retorno3 ( de etrema import4ncia e ainda não &oi incorporada a
contento em an=lises cient!&icas ou na elaboração de pol!ticas# @as ela &ala apenas de uma
parte do problema# A outra3 o 5ue leva uma sociedade a optar pelo camin2o da
desconcentração e da diversi&icação3 permanece pouco iluminada# Particularmente no caso
brasileiro3 cu6a 2erança 2istórica ( 6ustamente marcada pelos elementos opostos a estes3
torna-se imperativo con2ecer mel2or3 perante abordagens 2istórico-comparativas3 como
determinados territórios evolu!ram em condiç;es mais prop!cias 8 dinami7ação econOmica3
ao bem estar social e 8 conservação ambiental# Um estudo comparado de territórios rurais
visando etrair liç;es3 a partir da especi&icidade brasileira3 sobre as articulaç;es entre
instituiç;es3 estruturas sociais e meio-ambiente (3 portanto3 um primeiro desa&io# Seu
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tratamento certamente traria importantes constataç;es sobre a tensão 2o6e eistente entre3
de um lado3 os gan2os de curto pra7o derivados da opção &eita pela sociedade brasileira em
privilegiar a epansão da agricultura de eportação de commodities3 e3 de outro3 os custos
de longo pra7o epressos na perda de biodiversidade e na depleção de recursos naturais
como solos e =guas#
Um segundo tema de pes5uisa 5ue emerge das an=lises a5ui contidas ( a5uele relativo 8s
instituiç;es do desenvolvimento rural# Dovamente &ocali7ando o caso brasileiro3 ( ineg=vel
5ue os anos R troueram inovaç;es &undamentais3 das 5uais o Prona&3 em vias de
completar de7 anos3 ( certamente a mel2or epressão3 em 5ue pese todas as suas
insu&iciências# )m contraste3 viu-se nesta tese 5ue a emergência de um programa voltado 8
promoção do desenvolvimento territorial3 na presente d(cada3 não vem ainda alcançando amesma repercussão3 apesar dos avanços 5ue cont(m ou insinua# Comparando o relativo
sucesso da primeira iniciativa com os impasses vividos pela segunda3 torna-se inevit=vel
perguntar as ra7;es 5ue respondem pela emergência e pelo sucesso destas instituiç;es e
pol!ticas# Nuais as interdependências entre elas e o ambiente institucional no 5ual elas se
inserem e 5ue l2es limita o alcance e o sentidoQ Nual a din4mica de interesses capa7 de
levar 8 adoção de instituiç;es e pol!ticas mais inovadoras e condi7entes com o sentido
contempor4neo da ruralidade Q 9esponder a esta 5uestão ( &undamental para 5ue se possa
aprender mais sobre as &ontes da mudança e3 com isso3 pensar as possibilidades de criar
instrumentos de indução ao desenvolvimento de um amplo espaço geogr=&ico onde vive um
contingente nada despre7!vel de pessoas#
Um terceiro tema3 por &im3 ( a5uele relativo 8 condição de agricultor sob a nova
ruralidade# A import4ncia econOmica deste segmento social tende claramente a declinar#
@as sua import4ncia social3 embora dividindo o protagonismo local com novos segmentos3
deve permanecer ainda relevante# $s impasses em torno das re&ormas das pol!ticas na
União )urop(ia e )stados Unidos são a &ace mais vis!vel disto# Do entanto3 ser agricultor
no limiar do S(culo ZZ> guarda muito pouca relação com o 5ue signi&icava a mesma opção
duas ou mais geraç;es atr=s# As implicaç;es para a &orma de condução da vida eram antes
muito mais r!gidas do 5ue 2o6e# Se3 antes3 ser agricultor implicava numa opção por maior
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isolamento e pelo não acesso a certos con&ortos tidos como t!picos da vida urbana3 esta (
uma restrição 5ue pesa cada ve7 menos nos tempos atuais# Se antes bastavam os
con2ecimentos relativos 8s lides com a terra3 transmitidos in&ormalmente de uma a outra
geração3 2o6e ( necess=rio crescentemente mobili7ar mais e novos recursos3 introdu7ir
t(cnicas de produção3 de gestão e de acesso a mercados 5ue demandam novas 2abilidades#
$ recon2ecimento desta situação e das &ormas pelas 5uais tais populaç;es vêm conseguindo
recriar seus padr;es de reprodução social ( algo importante não só para atuali7ar o
con2ecimento cient!&ico perante estes novos conte<dos sociais3 das 5uais as estrat(gias
&amiliares são a um só tempo resultante e resultado3 mas tamb(m para se 5uestionar os
contornos a partir dos 5uais são pensadas as iniciativas p<blicas a elas direcionadas# Para
&icar em apenas um eemplo3 um grande dilema do debate p<blico brasileiro continua ser a
pertinência de um amplo programa de re&orma agr=ria# @as os termos do debate3 tanto da parte dos 5ue reivindicam uma ação nesta direção3 como da parte dos 5ue a criticam por
obsolescência3 permanecem presos a um sentido 5ue ( o mesmo 2= 5uase um s(culo% uma
visão agr=ria da re&orma agr=ria# As pol!ticas para as &am!lias de agricultores ou para
dilemas 2istóricos3 como a 5uestão &undi=ria3 não teriam 5ue ser repensadas 8 lu7 do
es&acelamento do mundo agr=rio e da emergência de uma nova ruralidade Q
Por tudo isso3 esta tese respondeu a&irmativamente 8 interrogação sobre a eistência de um
novo momento na evolução do desenvolvimento rural% certamente não ( poss!vel
compreendê-lo senão em termos territoriais# @as a resposta relativa a caracter!stica do
compromisso social em torno do rural &oi negativa% embora sob este signo de uma nova
ruralidade3 não se erigiu3 ainda3 por completo3 um novo compromisso institucional3 um
compromisso não mais setorial e sim territorial#
Como se vê3 os três desa&ios de compreensão do rural brasileiro 5ue emergem desta tese
guardam estreita correspondência com as necessidades 2istóricas do pa!s em repensar seu
percurso e suas alternativas de desenvolvimento# "urante muito tempo se imaginou 5ue a
industriali7ação resolveria por si os impasses de nossa &ormação como nação# ?o6e3 só o
descon2ecimento ou a ideologia urbana servem como 6usti&icativa para se negar a
import4ncia de retomar a epressão Iinteriori7ação do desenvolvimentoJ# Dão no sentido
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de levar ao rasil pro&undo o mesmo estilo de pol!ticas e de investimentos eperimentados
nos pólos din4micos da economia nacional# @as sim da5uilo 5ue $svaldo SunLel c2amava
de desarrollo desde dentroC # imposs!vel imaginar 5ue o pa!s encontrar= o camin2o do
dinamismo com coesão social e conservação ambiental sem encontrar uma solução para o
rasil rural# Um s(culo depois de )uclides da Cun2a3 talve7 se6a tempo de reinventar os
sert;es e en&rentar o emblema% Iali onde isso era, devo vir a me tornar J#
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