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Palavrão na Internet . Q orror ! www.revistaimprensa .com .br • Ano 14 • N° 153 . Outubro 2000 R SEC ARIA DA SEGURANÇA POBUC A DIVIS O DE CRIMINALISTIC A LASELVA BOOKSTOR E 0800 - .,1005 2 DiSTRIB (5400) R$ 5 .00 IMPRENSA

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Palavrão na Internet. Q

orror !

www.revistaimprensa .com.br • Ano 14 • N° 153 . Outubro 2000 • R

SEC ARIA DA SEGURANÇA POBUCA

DIVIS O DE CRIMINALISTIC A

LASELVA BOOKSTOR E0800 - .,1005 2

DiSTRIB (5400)

R$ 5 .00IMPRENSA

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Há 25 anos, umjornalista apareci amorto numa cela,no então famoso

DOI-CODI .Era o começo dofim da ditadura.

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Matéria de Capa

Caso Herzog

A reconstituição do assassinatoque mudou a história do Brasi l

MM. NEI&fUtiONIUM1110MIPIEWISIOUMMO.

telliUMILM'r-W1NF9iTL4'tR'

"Nós éramos a grama e muma luta de dois elefantes" . Comesta frase, o jornalista RodolfoKonder resumiu a escalada d eviolência que resultou no assas-sinato de seu amigo e coleg ade trabalho Vladimir Herzog, oVlado, há 25 anos . Hoje, po-demos afirmar sem medo quefoi um assassinato . Em 1975 ,não.

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Mariana Menezes ,Pedro Paulo Vencesla u

e Renata Bortoleto

Revista "!! '' C .` ` .¢ - 21

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Matéria dc Capa

Seu corpo foi encontrado em uma cel ano andar térreo do famoso Destacament ode Operações de Informações - Centro deOperações de Defesa Interna, vulgo DOI -CODI -, que misturava policiais comuns eo pessoal das Forças Armadas. Ele vestiaum macacão verde oliva do Exército e es -

tava enforcado com u mcinto - que apareceu nã ose sabe de onde, já que asroupas dos presos não ti -nham cintos - amarrado auma grade .

Desde então, at éhoje, o aniversário de su amorte é um dia de olha rpara trás. Dia d erelembrar os anos d echumbo .

A ditadura ainda le -varia quase 10 anos par adesmoronar-se por com-pleto. Mas a morte d eVladimir Herzog foi u mmarco decisivo ness aderrocada .

"Ali estava meu ami-go pendurado na grade d euma cela, pernas dobra -das, os joelhos quase to-cando o chão", descrev eFernando Pacheco Jordã o- melhor amigo de Vlado ,companheiro de trabalho ,militância e vida - diant edas fotos do "Laudo d eEncontro de Cadáver" ,providenciado pelos mili-tares que queriam a tod ocusto provar que Herzo ghavia se matado .

Não seria exagero di-zer que o Brasil nunc amais foi o mesmo depoi sque os militares "suicida -ram" Vlado .

Sua trágica morte ,durante uma sessão d etortura, levou à união d esetores da sociedade ci -

No dia-a-dia : pautas voltadas aos inte-

vil que até então estavam dispersos .resses sociais . O resto era "masturbação

"Ele tornou-se um emblema da con -ideológica" tradição que havia dentro das Forças Ar-

madas e ao mesmo tempo demonstro uque, naquele momento, havia condições

no país de gerar uma esperança, que ameu ver se perdeu por completo . Mas el efoi um emblema involuntário, porque nã otinha vocação para ser mártir . O Vlad otinha vocação para ser um ótimo jorna -lista", explica o jornalista Mino Carta, queviveu de perto esse momento histórico .

De fato, Vlado não tinha vocaçã opara herói, mas sua morte acabou-o trans-formando em um símbolo de resistência ."Esse episódio realmente botou a nu atortura e a estrutura da ditadura radical ,que até então era difícil ser mostrada . O sporões da ditadura foram expostos", lem-bra o amigo Anthony de Christo .

Vladimir Herzog era diretor de jorna-lismo da TV Cultura, um profissional res-peitado, casado com Clarice, pai de doi sfilhos, Ivo e André. Nascido na Iugoslá-via, filho único de pais judeus que che-garam ao Brasil fugindo da perseguiçã onazista na Europa . Vlado havia trabalha -do vários anos na TV Pública inglesa, aBBC, e se preparava para incrementar aemissora estatal paulista .

Sua morte aos 38 anos de idade fe zcom que a população despertasse e foss eaos poucos substituindo a sensação d emedo pela vontade de colocar um fim n olado mais negro da ditadura militar .

O tempo passou e alguns cabelo sbrancos chegaram, mas até hoje, do alt ode seu cargo de Secretário de Cultura domunicípio de São Paulo, Rodolfo Konde rse emociona ao lembrar dos dias em qu eele e seus companheiros de redação epartido foram "pisoteados" pelos gigan-tes fardados do regime militar. De umlado, a extrema direita, linha duríssima ,disposta a tudo para impedir qualque rtipo de democratização . Do outro, o "ele-fante" Ernesto Geisel com sua propost ade "abertura lenta, gradual, porém segu-ra" . Este contava com o apoio de setore sda sociedade sensíveis aos sinais cada ve zmais evidentes do esgotamento do mo-delo militar, como os grandes veículos d eimprensa e até mesmo da "oposição ofi-cial", aquela consentida pelos militares ,representada pelo MDB (Movimento De-mocrático Brasileiro) .

Naquela época, partido político nãopodia se chamar partido, uma da sidiossincrasias do regime vigente . Amilitância de Konder e seus camarada s

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Vlado, a ocentro durantefechamentodo Jornal daCultura .

A ditadura ainda levaria quase10 anos para desmoronar-se po r

completo . Mas a morte de Vladimi rHerzog foi um marco decisiv o

nessa derrocada .

Vlado comPacheco Jordãona BBC, emLondres :Amigos de longadat a

jornalistas do PCB, o Partido Comunist aBrasileiro, na clandestinidade - Paul oMarkun, George Duque Estrada, Vlad oe Anthony de Christo - se resumia a reu-niões esporádicas, que hoje alguns dele sclassificam de "masturbação ideológica" .Ninguém ali cogitava pegar em armas o uorganizar grandes movimentos "subver-sivos", como gostavam de chamar os mi -litares . Pelo contrário .

"A nossa palavra de ordem era tenta raprofundar o debate sobre a democrati-zação do país . Isso se dava a partir d anossa inserção na sociedade . Como pro-fissionais, tentávamos apurar e pauta rassuntos do interesse da sociedade . Pas-sar matérias importantes não era um aquestão de comando ideológico, ma suma questão profissional", conta Anthonyde Christo, que atualmente é editor che-fe da seção de revistas da Gazeta Mer-cantil .

O Partido Comunista Brasileiro eradividido em células de diversas categori -as profissionais, que se reuniam espora-dicamente para discutir política . Entreelas, a dos jornalistas sempre foi a menosmetódica . Não se preocupavam muitocom a rígida burocracia comunista : dis-pensavam atas, palavras de ordem e gran -des apologias no estilo soviético .

As organizações radicais de esquer-da, as que tinham feito a opção pela cha -mada "luta armada" já haviam sid ofulminadas pelo aparato da repressão . A sações espetaculares, como roubos a ban -cos e seqüestros, ficaram para a históri ae os que defendiam operações tipo guer-rilhas armadas (havia um intenso debateinterno sobre se ela devia ser urbana ourural) haviam sido dizimadas sem con -seguir o apoio popular .

Por isso, a linha dura precisava d enovos alvos para combater e justificar as -sim o prolongamento da tutela das For-ças Armadas .

Com a ajuda de jornalistas ligados àrepressão, em pouco tempo o s"masturbadores" foram transformados e mperigosos comunistas, infiltrados po rStálin nas terras tupiniquins .

O jornalista Cláudio Marques ,colunista do jornal Shoppinge City News ,distribuído gratuitamente aos domingo sem bairros de classe A e B de São Paulo,

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Matéria de Capa

era o principal, mas não o único, port avoz da paranóia militar . Suas notinha s"venenosas" difundiam a idéia de um aarticulação de comunistas infiltrados na sredações . A TV Cultura, onde Vlado er adiretor de jornalismo, era seu alvo predi-leto .

A subversão que ele via na programa-ção da emissora não passava de um pre-texto para atingir o secretário estadual d eCultura, José Mindlin, e, em última ins-tância, o governador do Estado, Paul oEgydio Martins - ambos aliados a Geise le favoráveis a seu estilo de conduzir atão desejada abertura .

O argumento de Claudio Marques er ao de que um governador não deveria per-mitir que comunistas dirigissem a emis-sora de televisão estatal . "O que me pa-rece cretino é comunista sendo subven -

cionado pelo dinheiro do Estado", escre -veu Marques em sua coluna do dia 28 d esetembro de 1975 . Num outro dos seu stextinhos, ele escrevia : "A TV Educativ acontinua uma nau sem rumo . Repercuti upessimamente o documentário exibidopelo Canal 2, fazendo a apologia doVietcong . Eu acho que o pessoal do P Cda TV Cultura pensa que isto aqui viro uo fio . . . "

Portanto, a linha dura mirava e mEgydio (governador escolhido pelo própri oesquema oficial) para acertar em Geisel -o general que sucedeu o radical EmílioGarrastazu Médici diante de uma delica -da conjuntura : crise internacional do pe -tróleo, queda do PIB, fuga de capitais, in -flação . . . O milagre econômico começavaa se mostrar nem tão milagroso assim .

Enquanto a ultra-direita insistia e mperseguir supostos conspi -radores de esquerda, até opresidente Geisel dava si -nais de que não acredita -va no poder do Partido Co -munista . Num livro-depo-imento sobre sua vida el econtou : "Certa vez, eu dis -se ao general Frota : 'nósestamos, desde o levantede 35 na Praia Vermelha ,combatendo o comunis-mo. E você vem me dizer,na nossa conversa, que ocomunismo está cad avez mais ativo, mais for-te e perigoso" . Vamo sadmitir que isso sej averdade . Qual é a con -clusão que vamo schegar? Se o comunis-mo está sendo com -batido desde 35 enós estamos além de1970 e ele está ca -da vez mais forte ,então o método deluta que estamo sadotando não ser-

ve . Está errado . Va -mos ter que encontra r

outra solução" .Nenhuma categoria conseguiu mobi-

lizar tanto a opinião pública quanto o sjornalistas, mais especificamente aqueles

que tinham uma participação ativa n oSindicato dos Jornalistas de São Paulo .Foram eles que conseguiram levar, mes -mo que modestamente, as prisões e tor-turas para as páginas dos grandes jornais .Também foram eles que, mais tarde, con-seguiriam mobilizar a população contraa prisão, a tortura e a truculência doschamados "milicos" .

A grande imprensa preferia manter osolhos fechados para assuntos que nã ointeressavam à ditadura, apesar de nã oexistir mais a censura prévia, extinta pel odecreto presidencial de janeiro de 1975 .

De qualquer forma, o lado mais ne-gro da ditadura estava fora das pautas, enão somente porque havia pressão dolado repressor do governo .

Os editores tinham liberdade par apautar seus repórteres, embora a maiori adeles estivesse acomodada . A Folha d aTarde, por exemplo, deu a seguinte man -chete no dia seguinte ao da morte deVlado : "Comunista suicida-se na prisão" .O jornal permitiu-se essa ousadia porqu eera considerado "confiável" segundo o smilicos .

Os outros jornais limitavam-se a re -produzir discursos e notas oficiais, e aesconder a realidade em colunas discre -tas nas páginas internas . "Ninguém i aperguntar, ninguém ia até o sindicato no sentrevistar, embora pudesse", cont aAudálio Dantas, presidente do Sindicat odos Jornalistas de São Paulo na época .

A solução encontrada por Audálio eos demais diretores do sindicato foi ela-borar notas diárias sobre a prisão de jor -nalistas e soltá-Ias na imprensa . Os bole -tins que saíam da trincheira da Reg oFreitas - bastante comedidos para nã oprovocarem reações destemperadas d oExército - transformaram-se n ocontraponto à versão chapa-branca . Co mo crescimento do caso Vlado, as versõe snão oficiais passaram a ter mais desta -que e repercussão .

O jornalista Mino Carta, então dire -tor de redação da revista Veja, explic acomo funcionava a censura em 1975 :"Houve uma censura em vários níveis .Vale lembrar que a Folha nunca foi cen-surada . Eles emprestavam os carros par aa repressão . O Globo, o Jornal do Brasiltambém nunca foram censurados . O

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O marechal Castelo Branco (aocentro na foto) comandou o

Golpe de 64 . Foi substituido po rmilitares cada vez mais "duros" até a

chegada de Geisel ao poder.

Vlado Herzog :morte põe fim àparanóia milita r

Estadão foi o único jornal a sofrer cortes ,mas com regalias, porque podia publica rversos ou receitas de bolo nos lugares qu etinham sido censurados . E a censura er afeita na redação . Era um patama rgravíssimo, mas ainda assim mais bran -do que o da Veja, que era um segund opatamar, ainda pior" .

Por um longo período a Veja teve cen-sura na redação . O general Geisel, ma lempossado, tirou a censura de Veja no di a18 de março de 74 e a devolveu em dua ssemanas . Aí a censura passou a ser feit anas dependências da Polícia Civil . Haviaum serviço de peruas que carregavam o stextos para a polícia ou para a casa docensor. O que ele vetava, vetado estava .

A imprensa alternativa, um patama racima, tinha que mandar o material par aBrasília, o que, na prática, inviabilizav aseu trabalho .

A morte de uma pessoa comum, comoeu e você, sob tortura, era o elemento qu efaltava para a maioria da população, eaté mesmo para grande parte dos jorna-listas, perceber que estava na hora d emostrar a todos que a paranóia milita rprecisava chegar ao fim .

Quantas pessoas já não haviam sidomortas e simplesmente desaparecidas na smãos de grupos especializados em faze ro serviço sujo da repressão ao comunis-mo?

Quantos caixões não haviam sid oentregues lacrados às famílias com ori-entação expressa de que não se tentass ebuscar a causa da morte ?

Quantas pessoas não haviam sofrido ,como Vlado sofreu, as mais absurdas tor -turas, simplesmente por desejar, com oVlado desejou, um país democrático ?

Sérgio Gomes da Silva foi uma dessa spessoas . Ele foi um dos primeiros jorna -listas a ser levado para as obscuras cela sdo DOI - CODI, naquele fatídico outu-bro de 1975, quando jornalistas integran-tes de um capenga PCB passaram a se rperseguidos e punidos por sua militânci aintelectual .

É com sua prisão que nós começa -mos a detalhar cada um dos dias que an-tecederam e sucederam a morte trágica ,e ao mesmo tempo decisiva para muda ra História do Brasil, do jornalista Vladimi rHerzog.j

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0 mundo já conhece a importância do Mercosul .Agora, vem debelar o tuluro da Revistano Brasil e na Argentina.

0 Mercosul mudou a história d oplaneta ao criar uma nova relaçãoentre as forças econômicas do spaíses sul-americanos com outro sblocos econômicos. Agora, doi spaíses do Mercosul - Brasil eArgentina - irão sediar o eventoque decidirá o futuro da Revista : o33° Congresso Mundial de Revista sda FIPP - Féderation International ede la Presse Périodique. Reunindoos editores e publishers das revista smais importantes do mundo ,este Congresso será a grand eoportunidade para você debater a sgrandes tendências e desafios dessainfluente indústria da comunicação .Participe do maior evento destesetor, com início no Rio de Janeiro ,Brasil e término em Buenos Aires ,Argentina. 0 futuro da revista nuncaesteve tão perto de você .

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33 rd W o r l d M a g a z i n e C o n g r e s sApril, 23-27, Rio de Janeiro - Brazil, Buenos Aires - Argentin a

PP2001

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Dias de chumbo, ¢.¢.•

-

rniluhro

Às cinco da manhã, Sérgio Gomes d aSilva é preso no Largo do Machado, n oRio de Janeiro, com o amigo Valdir Qua-dros, presidente da juventude do MDB .Sérgio foi ao Rio levar algum dinheiropara João Guilherme Vargas Neto, qu evivia na clandestinidade e era uma da súltimas lideranças do PCB do Estado d eSão Paulo . E um ritual que ele repete hátempos . E que, desta vez, não saiu com oo combinado .

Faz tempo que Sérgio tem procurad oconciliar as aulas de jornalismo da ECAcom assembléias de estudantes . A USP,aliás, tem sido uma trincheira . SérgioGomes, 25 anos, talvez ainda não sou-besse o que se passava por trás das pare -des do DOI-CODI . Logo descobriria .

No momento mesmo da sua prisão ,o futuro jornalista começa a ter uma idéia .É algemado, encapuzado e levado às de -pendências da Polícia do Exército, no Rio ,por uns sujeitos esquisitos que se dizia mdo Esquadrão da Morte . Lá, ele e Valdi rficam nus e já começam a apanhar . Omais curioso é que não há interrogatório .Os soldados só abrem a boca para dizer :"você não sai vivo desta" .

É difícil saber o que é pior : tomar cho-que no pênis e na orelha ou tomar águ acom creolina .

A primeira sessão de torturas começ ade manhã bem cedo e só acaba por voltado meio dia . Logo em seguida, em fran-galhos, são levados para São Paulo, ondeestá concentrada a nata da ultra-direita .O pior ainda está por vir.

Durante a viagem, mais um festiva lde truculência . Está com sede? Que ta lsal na boca? Pontas de cigarro pressiona -das pelo corpo . Roleta russa com revól-ver. Revólver carregado .

Em São Paulo, primeira parada é n oprédio do DEOPS (Departamento de Or-dem Política e Social), um edifício que

lembra velhas construções da Inglaterra ,todo em tijolos vermelhos, ao lado d aantiga estação da Sorocabana . Os polici-ais põem gasolina, trocam as placas d ocarro - que são frias - e vão para o temploda linha dura, o DOI-CODI, instalad odiscretamente num prédio de uma dele-gacia, no bairro do Paraíso .

Enquanto Sérgio Gomes e seu amigotomam mais choque e mais porrada, um aparte da cidade de São Paulo diverte-s evendo Silvio Santos animar aquela tard eem seu novo programa de domingo n arede Globo - agora em rede nacional .

"O sistema de trabalho das equipe sde tortura era de 24 horas direto e 48 d edescanso . Isso significava três equipes .Cada equipe de tortura tinha o seu esti-lo . Elas trabalhavam em tempo integra lpara torturar o quanto fosse necessário "(Sérgio Gomes) .

• Sr ¢la ft ira - 111 (le ¢xiluhru

O jornalista Luis Weis é um dos mem -bros da célula de imprensa do partidão .Hoje, ele procurou o amigo e editor che-fe da revista Veja, Mino Carta, e lhe pe -

diu emprego . Explica que, como o"patrulhamento" na TV Cultura está cad avez pior, Vlado recomendara que ele sa-ísse de lá . Mino Carta o contrata rapida-mente . Fisicamente não se trata de um agrande mudança . Vlado e Weis trabalha mperto da avenida Marginal, uma vez quea Cultura é praticamente vizinha da Edi-tora Abril, do outro lado do Tietê .

"Como eu tinha patrões que não sa-biam o que estavam fazendo nem o qu eestava acontecendo eu dei o emprego aele" (Mino Carta) .

• 'NC \ l .i-I¢ ir,i

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tli nululu u

Paulo Markun, embora estudante, já éum jornalista com endereço fixo, trabalhoconhecido e em ascensão profissional . Aos23 anos, chefia a reportagem da TV Cul-tura e divide com Vlado o comando dojornalismo na televisão estatal . Os doi stambém são companheiros de militância.

"Nós trabalhávamos muito, entráva-mos às 8h . Antes, eu passava na casa d oVlado, íamos para a Cultura e ficávamo saté o final do telejornal da noite, que era

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por volta das 21h . 0 que estávamos fa-zendo era um jornalismo que tinha um aproposta negociada e assumida pelo Se-cretário da cultura, que era o Mindlin, eindiretamente avalizado pelo governo ,que era o Paulo Egydio" (Paulo Markun) .

Nessa sexta-feira, Markun resolve usair mais cedo da Cultura para compraruma bicicleta de presente de aniversári opara sua mulher, Diléa Frate, també mestudante de jornalismo da ECA e coleg ade Sérgio Gomes . Assim como o marid oe o amigo, Diléa é uma militanteengajada . Os dois moram em uma vilinh atranqüila com a filhinha Ana . Markunsabe que andam prendendo muitos jor-nalistas pelo Brasil . Hoje, seu coleg aVlado tem um encontro com o chefe d oSNI de São Paulo, para esclarecer qu enão há nenhum movimento comunista nojornalismo da TV Cultura .

"Fui ao centro de São Paulo, com-prei uma bicicleta e fui para casa . Co-mecei a montá-la quando chegaram o scaras do DOI-CODI" . (Paulo Markun )

A partir desse momento, algumas coi -

Anthony :não avise ninguém

sas começam a ficar claras na cabeça d eMarkun . Sua prisão não é um fato isola -do e sim uma grande operação . Mais de100 pessoas, de vários escalões do Parti -do Comunista, já haviam sido presas an-tes dele .

"Nessa noite, depois de ter tomad oalguns choques, o nome do Vlado estavamencionado como sendo um integrant edo Partido Comunista e eu confirmei qu eele participava de reuniões . Isso, na si-tuação de tortura que a gente foi subme-tido . Eu sabia que a Diléa estava levan-do choque numa cela ao lado . Eu sabiaque aquela minha prisão iria complica rviolentamente a vida da TV Cultura, por-que confirmava a história de que os co-munistas estavam na emissora como vi -via escrevendo o Claudio Marques na su acoluna do Shopping News" . (Markun) .

• síbado - 18 de outubr o

A vida do jornalista Anthony d eChristo anda tumultuada ultimamente .Apesar de ocupar um cargo important edentro do governo - trabalha como as-sessor de imprensa na Cetesb, uma em -presa estatal e, portanto, subvencionad apelo governador Paulo Egydio - ele é co-munista e membro do PCB . Anthony fazparte da célula de jornalistas do partidão .Hoje cedo, Vlado e Clarice passaram emsua casa para contar que Markun foi pre -so . Anthony está sentindo que sua horaestá chegando .

Mesmo preocupado, durante a tarde,ele resolve ir até a Alameda Santos, ond emora sua ex-mulher, para visitar os filhos .

A casa é um sobrado em uma vila grand ee pacata, com um pátio interno bem am-plo, onde as crianças brincam e as porta scostumam ficar sempre abertas .

Eis que chegam dois homens, na ver-dade dois funcionários do DOI - COD Iem trajes civis . Perguntam sobre Anthonypara a empregada e o encontram se mnenhuma dificuldade :

"Quando eu vi, eles estavam na mi-nha frente . Tentei subir para lavar o ros-to e eles disseram que me acompanhari-am, então eu desisti . Insisti para sabe rpara onde me levariam e eles não fala -ram nada; apenas que era para averigua-ção . Eu pedi uma identificação, um de-les abriu uma carteira rapidamente e fe-chou. Não deu para ver nada . Pedi àminha mulher avisar algumas pessoas .Eles disseram para não avisar ninguém" .(Anthony de Christo )

Assim que chegou ao carro dos poli -ciais, que estava na rua Melo Alves, um atransversal acima da casa de sua ex-mu -Iher, Anthony dá de cara com PauloMarkun . Ele estava com um macacão doexército, no banco de trás do veículo . Aestratégia dos milicos é desestabiliza rmoralmente Anthony de Christo e seucolega, jogando um contra outro .

"Foi uma surpresa para mim e paraele . Mas eles fizeram isso com todos nós .Embora já tivessem nossos endereços ,agiam assim para quebrar a nossa moral .Queriam demonstrar que um amigo teentregou. Era uma tática de terror"(Anthony de Christo) .

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Bateria de Capa197 5

OUTUBROQuarta Quinta Sexta

01Si

04Domingo

05Terça Quarta Quinta Sexta Sibado

Segunda Terç a07

08

09

10

11

13

1 40 302

• Domingo - 19 de outubro

Um carcereiro do DOI - CODI entr ana cela, dirige-se a Markun e, aos berros ,pergunta : "que dia é hoje?" . O jornalist aresponde que acha que é domingo . Omilico insiste completando : "o que te mna sua casa hoje?". "Não me lembro ,como assim?", responde Markun . "Ma shoje não tem uma festa na sua casa? "

De fato tem . Markun e Diléa não ima-ginavam que estariam nesta situação quan -do marcaram, para hoje, o batizado e a festade sua filhinha Ana, de 6 meses . Apesardos choques, Diléa não esquece do com-promisso e fala para os seus interrogadores .Surpreendentemente eles resolvem liberaro casal para o batizado . Eles se encontra mdentro de um cambu-rão da polícia .

"Foi uma situação meio surrealista .Eu nunca consegui entender porque elesfizeram isso. Se era uma operação d erelações públicas ou se eles esperava mque aparecesse alguém que eles pudes-sem prender" . (Markun )

O que era para ser apenas uma reu-nião familiar acaba se transformando nu mencontro inesperado entre o presidiárioMarkun e vários convidados, umas quin-ze pessoas, entre elas os jornalistas Jos éNêumane e Júlio Moreno . Além, é claro ,de quatro agentes armados e à paisana -muito burros por sinal . Não conseguira mentender a homilia indignada que um fre iamigo, da editora Vozes, fez nas entreli-nhas, criticando a ditadura .

Na volta da igreja, depois do batiza-do, Markun consegue convencer os poli -ciais a deixá-lo seguir no carro da famíli aaté sua casa, ao invés de ir no camburão .Por sorte, seu pai, Bernardo Markun, est áneste veículo e pode trocar algumas pa -lavras rápidas com ele .

"Pai, avisa o Vlado, o Marco Antô-nio Rocha e o Rodolfo Konder que osnomes deles estão citados como mem-bros do Partido Comunista e que eles vã oser presos. Lá, a barra é pesada . Fala paraeles se precaverem' . Nem recomende ique eles fugissem. Eu não tinha condi-ções de avaliar o que estava se passan-do" . (Markun)

Konder :Masturbação ideológic a

Na primeira oportunidade que tem ,Bernardo Markun cumpre o prometido .Procura Vlado, conta o diálogo que tevecom o filho e pede cautela . Vlado descon-versa e tranqüiliza Bernardo . Chega adesacreditar Paulo Markun :

- "Seu filho deve estar transtornado .Eu não tenho nada a ver com o Partid oComunista" (Vlado) .

• Terça - 21 de outubro

Mas Vlado ficou nervoso . Era impos-sível não temer a possibilidade de ser pre -so no DOI - CODI . Tanto que hoje, ele esua esposa Clarice, passaram na casa d eAudálio Dantas só para manifestar seu smedos . Diz ter informações e sentir alguns

movimentos que indicam a sua prisão .

"Eu disse o que era possível dizer e mum momento como aquele. Disse que nósestávamos atentos, mas que não poderí-amos impedir sua prisão . E realmente nã opodíamos, mas nós estávamos atentos edenunciando todas as prisões . Elas fazi-am parte de uma certa operação Jacart a

1ud51ío Danta ,,) .

• Quinta - 23 de outubr o

Vlado encontra o amigo Marco Antô-nio Rocha em uma recepção no Consu-lado da Inglaterra, onde relata, entre go-les de champanhe e canapés, o encontr oque teve com o pai de Paulo Markun :

- "Pô, Vlado, e só agora você me di zisso?!" (Rocha )

- "Pois é. Eu estou meio em dúvid asobre o que nós devemos fazer." (Vlado )

- "Vamos procurar o Konder" . (Rocha )

O jornalista Rodolfo Konder é edito rinternacional da revista Visão e conside-rado o militante mais erudito desta cédu-la de comunistas do PCB . É também omais rebelde . Apesar de militar em umpartido de orientação leninista, Konder éum crítico ácido e contumaz do modelosoviético . Não foram poucas as brigas queele comprou com os dirigentes mais ra-dicais do partidão . Certa vez, escreve uum artigo criticando as invasões soviéti-cas e foi rebaixado de posto dentro d ahierarquia do partido : deixou de ser u mdirigente para voltar à "base" .

Konder é outro grande amigo d eVlado . Os dois trabalharam juntos na Vi-são e se encontram pelo menos uma vezpor semana nas reuniões do grupo. Elestêm várias afinidades . Aliás, foram ela sque seduziram Vlado a ingressar no Par-tido Comunista .

"Nós nos reuníamos uma vez por se-mana para nos masturbarmos ideologi-camente . O partido não tinha força ne-nhuma. Era um fantasma, que interessa-va aos militares para justificar uma rea-ção . Queriam que parecêssemos grandes .Mas, na verdade, estávamos em um par -tido contra a luta armada, contra a vio -

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lência e não representávamos risco ne-nhum ." (Konder)

Hoje Konder está exausto . Bem qu egostaria de ter ido à festa no consulado ,onde estão seus amigos Rocha e Vlado ,mas chegou tarde de uma viagem e pre -feriu ficar em casa para descansar .

Vlado não vai faltar ao compromisso .

"O Paulo Nunes é uma pessoa e mquem eu absolutamente não confiava ,porque ele cobria a área militar e acom-panhou o Vlado até o DOI-CODI . Era oúnico que conhecíamos que tinha aces-so lá dentro" (Clarice Harzog, Folha det, Puilo - 11/12/1978 )

• Sábado - 25 de Outubro(dentro do DOI-CODI )

Se tivesse ido à festa, Konder não te -ria dormido em casa hoje . Por volta dasseis da madrugada, quando os jornai sestavam chegando nas portas das casas,estampando nas manchetes a agonia d ogeneralissimo Franco da Espanha, apare -cem os capatazes do II Exército .

Com o jornalista George Duque Es-trada, 41 anos, acontece o mesmo . Elechega em casa às 13h, depois de sair doEstadão, onde trabalha . Antes de entrar,percebe uma C14 azul estacionada co mdois sujeitos que o encaram insistente -mente .

Eles se apresentam . São do DOI epedem que ele os acompanhe para pres -tar depoimento . Duque vê um revólve rpor baixo do embrulho de jornal que u mdeles carrega . Ele só teve tempo de avi-sar sua esposa e pedir para que comuni -casse seu pai .

Chegando lá, encontra uma pequen amultidão, gente encapuzada sentada pe -los corredores esperando o interrogató-rio . Todos integrantes do PCB que os ho -mens do II Exército conseguiram prende restão ali . Uma campainha toca de tem-pos em tempos produzindo um barulhoinfernal .

"Assim que eu entro, um policial pas-sa pelas minhas costas e me dá uma pan -cada . 'E aí grande? Caiu hein?" . (DuqueEstrada )

Encapuzado, ele é levado para o ba-nho e recebe um macacão militar sembotões e sem cinto . . .

"Com a vista tampada, eu perceb ique, se eu encostasse a cabeça na pa -rede e a empurrasse para trás, o capu zsubia . O resultado é que eu mantinha

os olhos fechados, mas via tudo à mi-nha volta na altura dos pés. O nossomundo ficou reduzido aos pés . . ." (Du -que Estrada )

São aproximadamente 21h e Vlad oestá na Cultura, dirigindo o telejornal . El econversa com sua equipe, atende telefo-nemas e anda de um lado para o outro . Acabeça de Herzog está dividida entre otrabalho e as últimas conversas que tevecom seus companheiros . Ele nem cogitafugir, afinal, ocupa um cargo important edentro da TV e não pode abandoná-lodesta forma . Seria péssimo para a emis-sora ver seu diretor de jornalismo desa-parecer, acusado de terrorismo .

" . . .Fui avisado pelo telefone de qu edois policiais estavam no canal 2 par adeter Vladimir Herzog que, naquel emomento, estava dirigindo o telejornal .Imediatamente, entrei em contato co mas autoridades responsáveis, que autori-zaram então a dispensa da detenção ime-diata dele." (Paulo Nunes, então jorna -lista da TV Cultura, em depoimento a ojuiz João Gomes Martins Filho, em 26 d emaio de 1976 )

Graças à intervenção dos diretores d aemissora e dos colegas, Vlado escapa d eser levado naquela mesma noite . Ele pro -mete, porém, apresentar-se às 8h do di aseguinte .

Paulo Nunes, que cobre o II Exército ,se propõe a dormir na casa do diretor d ejornalismo da TV Cultura e, na manh ãseguinte, a acompanhá-lo até a rua Tutóia ,onde fica o DOI . Ele é garantia de que

"O Vlado chegou" . De manhã bemcedo Rodolfo chama a atenção de Du-que para quem acaba de entrar . Ele apren -dera com Duque o truque de olhar po rbaixo do capuz . Com o mundo reduzid oaos pés, ele consegue reconhecer os sa-patos do amigo pisando o chão do DOI-CODI .

"Costumávamos comprar sapatosjuntos e eu sabia o tipo de sapato queele usava ." (Rodolto Konder) .

Quando Vlado chega, Konder e Du-que já haviam passado pela sala de "in-terrogatórios" . Desde a noite anterior, ele sestão sentados em um banco . O som degritos e da infernal campainha anunci ao início de cada nova sessão de tortura .

Herzog então é levado para o ritua lde praxe : é identificado, fotografado, tir asuas roupas e coloca o tal macacão se mcinto . Agora, cerca de dez horas da ma-nhã, Vlado está em uma sala que Duqu ee Konder, apesar dos olhos vendados, j áconhecem bem . Os dois amigos então sã olevados ao encontro de Herzog para umaacareação .

"Vladimir estava lá, sentado em umacadeira , com o capuz enfiado e já demacacão . assim que entramos na sala, ointerrogador mandou que tirássemos o scapuzes, por isso nós vimos que eraVladimir e vimos também o interrogador,que era um homem de 33 a 35 anos, co mmais ou menos 1 metro e 75 de altura ,uns 65 quilos, magro, mas musculoso ,cabelo castanho claro, olhos castanhosapertados e uma tatuagem de âncora naparte interna do antebraço esquerdo ,cobrindo praticamente todo o antebra -

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ço ." (Rodolfo Konder, em depoimentoextra-judicial no escritório do advogadoJosé Carlos Dias, em novembro de 1975) .

Sérgio Gomes conhecia bem as téc-nicas de quem torturou Vlado no dia 25 .A equipe era chefiada pelo Marinheiro ,"o cara que tinha uma tatuagem no bra-ço" . Herzog foi submetido à temida Ca-deira do Dragão: uma cadeira com tam -pa de metal que geralmente é molhadapara que os choques sejam mais inten-sos . Com o mesmo objetivo, o preso étotalmente imobilizado e partes do se ucorpo são amarradas com fios de metal ,o pênis e as orelhas, por exemplo . Segun-do Serjão, o Marinheiro preferia trabalha rcom um capuz de lonita, para asfixiar avítima. Então o torturador joga amoníacona trama dessa lonita para dificultar a res-piração . Com os choques, o preso torna -se parte do circuito, a energia passa po rdentro do organismo e o torturado só con -segue inspirar ou expirar, o que gera um asensação de loucura . Enquanto o amoní-aco desce pelo rosto, os carrascos vãotrabalhando com a "pimentinha", u maparelho de choques que não tem volta -gem, apenas operagem, por isso não quei -ma, mas dá trancos, "como um dínamode motocicleta" .

Já não adianta esconder nada . A estaaltura, a linha dura já sabe de tudo, afi-nal, praticamente todo aparato do PC Btinha caído naqueles dias . Eles só queri-am que Vlado confirmasse as informaçõe sque eles já tinham .

- "Fala para o seu amigo que não adi -anta sonegar informações" . (Marinheiro )

Duque e Konder insistem para queVlado conte suas ligações com o partido .Apesar disso, ele nega e diz que só co-nhecia Duque em função do interess ecomum por cinema .

"Não sei do que vocês estão falan-do" . (Vlado )

Os dois são retirados da sala . Duque,ao sair, olha para trás e vê um armári oaberto onde estão madeiras e paus comcorda de algodão enrolada, instrumentos

de tortura devidamente preparados par anão deixarem marcas no corpo . Eles sã odeixados em um banco junto à únic aporta que dá acesso à sala em que Vlad ocomeça a apanhar.

"De lá, podíamos ouvir nitidament eos gritos, primeiro do interrogador e de -pois de Vladimir . Ouvimos, também,quando o interrogador pediu que lhetrouxessem a 'pimentinha' e solicitou aajuda de uma equipe de torturadores .Alguém ligou o rádio e os gritos deVladimir se confundiam com o som d orádio . Lembro-me bem de que, duranteesta fase, o rádio dava a notícia de queFranco havia recebido a extrema-unção .O fato me ficou gravado, pois naquelemesmo momento Vladimir estava send otorturado e gritava . A partir de um de-terminado momento, a voz dele se mo-dificou, como se tivessem introduzind oalguma coisa em sua boca ; sua voz ficouabafada . . ." (Konder, em depoimento ex-tra-judicial no escritório do advogado Jos éCarlos Dias, em novembro de 1975 )

Konder é levado de volta à famigerad asala de interrogatórios . Duque continuano banco . Vladimir continua na cadeirado dragão, mas agora está particularmen -te nervoso .

"Ele sobreviveu como eu sobrevivi ,pois estava sendo torturado como eu fu itorturado . Quando eu estive com ele, el eestava depondo com as mãos trêmulas ea voz débil . É natural, tinha acabado d epassar por uma seção de choques" .(Konder )

Vlado já não pode mais se recusar arelatar nomes e fatos . Agora ele quer qu eRodolfo o ajude a lembrar de um tal jor-nalista, uma pessoa de cabeça branc aque, às vezes, participava das reuniões .Rodolfo sabe quem é, sabe que o nom edele é Argileu, mas desconversa par amanter o jornalista fora do depoimento .Ao sair da sala, Konder vê seu amigo vivopela última vez .

Trêmulo, Herzog é obrigado a assina rum depoimento . O linguajar policial ,cheio de chavões, transparece que o tex -to foi ditado pelos milicos :

"Eu, Vladimir Herzog, admito se rmilitante do PCB desde 1971 ou 1972 ,tendo sido aliciado por Rodolfo Konder .Comecei contribuindo com CR$50,00mensais, quantia que chegou aCR$100,00 em fins de 1974 ou começ ode 1975 ; meus contatos com o PCB era mfeitos através de meus colegas Rodolf oKonder, Marco Antônio Rocha, Luis Weis ,Anthony de Christo, Miguel Urban oRodrigues, Antonio Prado e Paul oMarkun, enquanto trabalhava na revist a"Visão" . Admito ter cedido minha resi-dência para reuniões, desde 1972 ; rece-bi o jornal "Voz Operária" uma vez pel ocorreio na revista "Visão" e duas ou trê svezes das mãos de Rodolfo Konder . Re -lutei em admitir neste órgão minh amilitância, mas, após acareações e dian-te das evidências, confessei todo o me uenvolvimento e afirmo não estar interes-sado mais em participar de qualque rmilitância político-partidária . "

De onde estão, os companheiro sKonder e Duque escutam a agonia d eHerzog . Agora devem ser quatro ou cin-co horas da tarde, pensa Duque . Quan-do a gritaria pára e dá lugar a um estron -doso silêncio, Duque consegue escuta ros pássaros cantarem . Eles ainda não sa -bem, mas já desconfiam que algo d emuito ruim se passa . Rodolfo comentacom Duque : "alguma coisa aconteceu" .

De fato aconteceu . A ditadura acaba -va de assassinar Vladimir Herzog.

• Sábado - 25 de outubro(fora do DOI-CODI )

Do outro lado dos muros do DOI -CODI, o jornalista Mino Carta tenta usa rsua influência para intervir na prisão do scolegas . Desde o dia 4 de agosto, ele sa -bia que viriam tempos ruins para os mili-tantes do PCB . O jornalista tinha ido aBrasilia visitar o chefe da Casa Civil d eGeisel, Golbery do Couto e Silva, e sou -be de notícias que o deixaram muito as-sustado .

"O Golbery tinha um discurso d oGeisel sobre a mesa, escrito pelo entã oministro do planejamento João Paulo dosReis Veloso . E ele me disse, textualmen -

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te : isso aqui vai desencadear uma esca-lada do terror, esse discurso é uma tra-gédia ." (Mino Carta )

O discurso, publicado no início d eagosto, dava uma trégua na abertura len -ta e gradual a que Geisel se propunha eabria espaço para o avanço da linha dura ,o que realmente aconteceu .

Na manhã daquele sábado, Min oCarta já sabia que Vlado se apresentari ano DOI - CODI às 8h . Por isso, às 6h30ele liga para Brasília na tentativa de fala rcom Golbery. Mas o chefe da Casa Civi lestava em uma fazenda no interior deGoiás, onde não havia telefone . Então el etenta falar com o governador de São Pau-lo, Paulo Egydio . Mas o governador estáem Jales, nas margens do rio Paraná ins -pecionando as obras de uma usin ahidroelétrica . A única saída é apelar aoCardeal D. Paulo Evaristo Arns, um ho-mem importantíssimo em todo o proces-so de abertura política no Brasil .

O cardeal se compromete a encon-trar o governador e telefonar para MinoCarta às duas da tarde . No horário mar-cado, ele liga e pede ao jornalista qu evá, em nome do governador, até Santo sencontrar com o coronel Erasmo Dias ,Secretário de Segurança do Estado .

- "Peça a ele que volte imediatamen-te para São Paulo e assuma o control eda situação ." (D . Paulo )

A viagem é inútil . Mino Carta nãoconsegue ser recebido e volta para Sã oPaulo sem resolver o problema . Ele nãosabe que a essa hora o corpo de Vlado j áestá no Instituto Médico Legal .

Mais tarde, enquanto janta em um apizzaria, ele recebe um telefonema d aredação . Vlado está morto . A versão ofi -cial é de que ele enforcou-se na prisão .

Enquanto isso, Clarice Herzog está emcasa aguardando aflita a chegada de Ru iNogueira, chefe de seu marido na T VCultura .

"Pouco depois, toca a campainha e ,quando vou atender, vejo cinco ou sei shomens de paletó e gravata . um deles, oRui Nogueira ; outro, Armando Figuei-redo, assessor de imprensa da secretaria

de cultura ; um, meio careca, que era doserviço de segurança ; um que, ao qu eparece, estava assumindo algum cargojurídico e outros que eu não conhecia .Eles sentaram, mas não falaram nada, sórepetiam que as coisas se complicaram. "(Clarice Herzog, em depoimento aFernando Pacheco Jordão )

Agora são cerca de dez da noite . E moutro ponto da cidade, o jornalist aFernando Pacheco Jordão recebe um te-lefonema . Ele é o melhor amigo de Vlado .Os dois moraram juntos em Londres, tra-balharam juntos na Cultura, na Excelsio re na BBC . Criaram seus filhos juntos, qua-se como irmãos .

Além de dirigir a Rede Globo em SãoPaulo, Jordão é diretor do Sindicato do sJornalistas de São Paulo . Neste fim de se-mana, ele está substituindo o presidente

Mino Carta :procure o Erasmo

da entidade, Audálio Dantas, que, desd esexta-feira à noite, está em Presidente Pru -dente, no interior, participando de u mdebate com estudantes . Jordão está em su acasa quando o telefone toca . Do outrolado da linha, Hélio Oliveira, editor chefedo Jornal Nacional lhe comunica :

"Fernando, uma triste notícia paralhe dar. O Vlado morreu . O II exércit oestá preparando uma nota oficial dizen-do que ele se suicidou . "

Uma hora da madrugada. Audáli oDantas está quase dormindo quando toc ao telefone no quarto do hotel em Presi-dente Prudente . Quando atende, ouv ealguém chorando do outro lado da linha .É Jordão, que tenta comunicar aos pran-tos a morte de Herzog .

"Ele não conseguia falar, só chorava .Eu levei um susto e, enfim, ele consegui udizer 'mataram o Vlado! ' (Audálio )

Pacheco Jordão e Fátima deixam acasa de Clarice no fim da madrugad adepois de uma noite terrível, talvez a pio rde suas vidas. Eles estão atordoados, cho -ram compulsivamente e precisam con -versar com alguém .

Decidem ir até a casa do Cardeal D .Paulo Evaristo Arns, no Sumaré, apesa rde não o conhecerem pessoalmente . Sã orecebidos pela irmã Lurdes. As última ssemanas têm sido angustiantes para oCardeal . Assim como Pacheco e Fátima ,dezenas de outros parentes e amigos dedesaparecidos políticos têm buscado e mD. Paulo alguma mensagem de conforto .

"Não sei se é a hora de um protestomais forte . Quem sabe, sair pelas ruas . . .dá vontade, é um direito que nós temos ,de sair pelas ruas, gritar, protestar con-tra isto tudo . Mas eu não sei . . ." (D . Pau -lo para Pacheco Jordão )

Em seguida, Jordão vai ao encontroque Audálio Dantas - que a essa hora est ácorrendo para uma reunião da diretori ado Sindicato . Mesmo com muito medo,eles decidem que devem soltar mais um a

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nota, desta vez responsabilizando clara -mente o Exército pela morte de Herzog .

Um cuidado muito grande precisa se rtomado na escolha das palavras . Qualquerdeslize seria justificativa para que a repres -são tirasse deles o único instrumento d eluta que dispunham : o próprio Sindicato .

"Não tenho dúvida em colocar est anota como uma peça fundamental, qu edeterminou mudanças profundas no pro-cesso político do país" . (Audálio Dantas) .

• Segunda - 27 de ouluhr o

"II Exército anuncia suicídio de jorna -lista" . A notícia da morte de Vlado apare-ce pela primeira vez nos jornais, espremi-da no canto das páginas internas .

A nota do Sindicato aparece logo e mseguida: "Não obstante as informaçõe soficiais fornecidas pelo II Exército, o Sin-dicato dos Jornalistas deseja notar que ,perante a lei, a autoridade é sempre res-ponsável pela integridade física das pes-soas que coloca sob sua guarda . Trata-sede uma situação, pelas peculiaridades ,capaz de conduzir a desfechos trágicos ,como a morte de Vladimir Herzog . " (tre-cho da nota do Sindicato publicada n aFolha de S .Paulo do dia 27/10/1975 )

Durante o velório de Herzog, queacontece desde ontem à noite no Hospi-tal Albert Einstein, Clarice desiste de fa -

zer uma nova autópsia no corpo do ma -rido . Ela vinha insistindo nisso, desde qu esoube da morte, depois de buscar orien-tações com um advogado, ela procuro uincansavelmente três médicos disposto sa ajudá-Ia .

"Eu simplesmente não consegui trê smédicos que quisessem fazer a autópsia .As pessoas somem, têm muito med oquando a coisa acontece próximo d agente" . (Clarice )

O amigo Pacheco Jordão tenta ajudá-la, mas eles desistem logo que ouvem a sconsiderações dos advogados .

"Não deixaram nem abrirmos o cai-xão . As pessoas estavam com muit omedo: nós, os advogados, a família, en -fim . . ." (Jordão )

Onze da manhã . Chega a hora do en-terro . Paulo Markun, Rodolfo Konder,Duque Estrada e Anthony de Christo sãoliberados para dar um último adeus aoamigo . É um recado implícito da linha duraaos que cogitam alguma reação mais ou-sada: "olhem, nossos presos estão bem ,mas vocês são responsáveis pela vida des-sas pessoas e das outras que estão presa s " .

Os quatro prisioneiros estão isolado sna cerimônia . São vigiados de longe po rsoldados à paisana, o que constrange a

aproximação de amigos . As pessoas evi-tam falar com os jornalistas. Muito po rmedo, já que a cerimônia é filmada e fo-tografada por uns sujeitos estranhos .

"Eu estava muito pouco a vontade n oenterro . Com a cueca suja, uma situa-ção constrangedora . " (Rodolfo Konder )

"No enterro, só passava pela minh acabeça que eu queria sair daquilo, sumir. "(Anthony de Christo)

"Tenho um bloqueio na cabeça e mrelação a este dia . Não lembro de quasenada . Li em algum lugar que eu estav achorando . Eu não me lembro de ter cho-rado, o que não quer dizer nada . Tenh odificuldade para chorar. As pessoas es-tavam muito passadas, mais do que agente, talvez . Porque nós já estávamo ssaindo do inferno" . (Paulo Markun )

"Foi uma das coisas mais dramática sque se pode imaginar" . (Duque Estrada )

Na hora de decidir onde vai ser colo-cado o caixão, ocorre a primeira atitudepública de enfrentamento direto à versã ooficial da morte de Vlado .

O rabino Henry Sobel não permite -apesar de resistências internas da comu-nidade israelita - que Herzog seja enter-rado no setor dos suicidas, como mand aa lei judaica, que fica do lado de fora d oCemitério Israelita, no Butantã .

Os representantes da comunidad ejudaica responsáveis pela cerimônia ten -tam, a todo custo, apressá-la . Dona Zora ,a mãe de Herzog, ainda não chegou, ma sjá estão prestes a descer o caixão . Claric epercebe e interrompe a cerimônia, pedin-do que esperem a chegada da mãe .

"Quando me perguntaram sobre u mcerto apressamento do enterro, explique ique a intenção era evitar que o funera lse transformasse num ato público de ca-ráter político ." (Henry Sobel )

.Ato de caráter político . É tudo o quepensa Audálio Dantas no momento . Pre-cisa mobilizar a categoria dos jornalistas .No fim do enterro, sem pensar, Audáliogrita os versos de Castro Alves :

Audálio :versos de Castro Alves

Sobel :o primeiro Ato Ecumênico

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Imediatamente fica decidido : hoje ,reunião no sindicato às sete horas .

Audálio terá dois compromissos a omesmo tempo . Quando chega do enter-ro, recebe a informação de que está sen -do chamado pelo general Ferreira Mar-ques, chefe do Estado-Maior do II Exérci -to . Seu discurso no enterro foi muito in -flamado e a reunião pode ser um pretex -to para se incendiar os ânimos .

No Quartel General do Ibirapuera ,Audálio e outros diretores do sindicatovêem, pela primeira vez, a foto de Vlad o"enforcado" com os joelhos dobrados eo depoimento que ele havia assinado so btortura jogado no chão, rasgado .

O general ainda distribui fotos da au -tópsia em que ele aparece meio nu coma "marca do enforcamento" . Eles já sa-bem que o suicídio foi forjado, mas alémde verem o amigo naquele estado, sã oobrigados a ouvir do militar que aquela seram as provas da verdade .

Centenas de jornalistas, além dos ou -tros diretores, esperam a volta de Audáli opara decidirem os próximos passos . Oauditório, as escadarias, os corredores d asede do Sindicato estão todos tomados po rrepresentantes da categoria e também d eoutras profissões . Audálio preocupa-se e mnão deixar que as pessoas, tomadas pel aemoção, transformem a reunião em assem -bléia . Durante a ditadura, qualquer assem -bléia sindical precisava ser comunicad acom três dias de antecedência .

"As pessoas queriam votar proposta se eu não deixei . Havia uma inquietaçã omuito grande . Foi a reunião mais difíci lque nós tivemos ." (Audálio )

Os mais radicais sugerem uma pas-seata ou um protesto em frente ao Palá -cio dos Bandeirantes . Mais uma nota éescrita, agora relatando, além do enter-ro, a visita ao QG . Alguém propõe u mCulto Ecumênico em homenagem aVlado . Como ele era judeu, uma miss ade sétimo dia não seria adequada . Asugestão é aplaudida. Enquanto isso,

chegam as primeiras notas de apoio a oSindicato .

• Sexta - 30 de Outubr o

Todos estão se preparando para o AtoEcumênico, na catedral da Sé - que ve msendo amplamente anunciado pelos jor-nais nos últimos dias . O Estadão foi o jor-nal que mais colaborou com o Sindicato ,cedendo espaço publicitário gratuito .

Hoje, o trânsito está especialmente in-fernal na cidade . Policiais montaram bar-reiras em pontos estratégicos e, sem nenhu -ma justificativa oficial, forçaram congesti -onamentos gigantes em vários locais .

É a "operação Gutemberg", um apa-rato montado pelo II Exército para tenta rimpedir ou pelo menos atrapalhar a vid ade quem tenta chegar ao centro .

Na Sé, centenas de jornalistas, espre-midos no meio de uma multidão de cer-ca de oito mil pessoas . Apesar da tentati -va desesperada dos militares, muita gen -te parou para participar do evento .

Estão no centro das atenções três lí -deres religiosos . Representando a Igrej aCatólica, o Cardeal D . Paulo Evarist oArns . Os protestantes foram representa -dos pelo Reverendo James Wright e, o sjudeus, pelo Rabino Henry Sobel .

"O movimento ecumênico, que vis aa união dos credos no Brasil, começounaquele momento . Foi o primeiro at opúblico de aproximação entre as religi-ões. Desde então, o trabalho ecumênico ,inter-religioso, está cada vez mais pre -sente no nosso país" . (Henry Sobel)

A cerimônia começa às 4 h da tarde .Às oito mil pessoas que tomam o interi-or da Catedral até as escadarias do lad ode fora e mais um pedaço da Praça d aSé estão em silêncio . Nenhuma mani-festação de violência, nenhuma reação ,nenhuma ação repressiva, nenhuma pa -lavra de ordem exacerbada . O pacifis-mo do ato surpreende a todos . Os dire-tores do Sindicato, diante das ameaça sque receberam durante toda a semana ,tiveram o cuidado de orientar a todo sque não reagissem a qualquer provoca-ção . O que une todas essas pessoas é osentimento de que o medo, o terror, pre -cisa acabar.

As últimas palavras do Cardeal de Sã oPaulo na cerimônia pedem justiça e cha-mam a sociedade para uma luta "pacífi-ca, mas persistente e corajosa " .

Audálio Dantas, antes da dispersão ,lembra-se de mais uma vez pedir calm adurante a saída da igreja . A tensão er atanta que D. Paulo reitera :

"Vamos sair em silêncio, em peque -nos grupos de cinco ou dez pessoas qu ese conhecem . Ninguém grite . Ninguémouça quem queira gritar" . (D . Paulo )

Na saída, todos perceberam a pre-sença dos policiais que filmavam e fo-tografam quem acabara de participar d acerimônia religiosa . Erasmo Dias, secre-tário de Segurança Pública, tinha avi-sado por meio dos jornais que não se -ria tolerada nenhuma manifestação con-tra o regime. Desta vez, nenhum tip ode coerção é necessária . O protesto é apaz .

"O final talvez tenha sido o maio ralívio que já senti na vida . Foi como seeu tivesse aspirado e segurado o ar du-rante uma semana e, de repente, pudes-se liberá-lo . Todos nós estávamos no fi oda navalha ." (Audálio Dantas )

"Foi um dia muito tocante . Eu sa ída catedral com uma esperança que ,infelizmente, se perdeu pelo caminho .Era uma situação que levava você aacreditar que um dia o sol da liberda-de raiaria em raios fúlgidos. E nã oraiou ." (Mino Carta) i

"Senhor deus dos desgraçado sDizei-me vós, senhor Deus,Se é mentira, se é verdade ,Tanto horror perante os céus"

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São Paulo. 05 de janeiro de 2000.

AEditora Abri lSão Paulo - S P

Ontem, recebemos em nossa casa, o exemplar da revista Terra, da qual minha filha é assinante, e dentro dela estava u mrecado dizendo dos 50 anos da Editora.

Com aquele papelzinho na mão fiquei viajando no tempo. . . Voltei até 1960 . quando meu pai me alfabetizou através dosgibis de vocês . Aprendi a ler em gibis. eles foram minha cavilha . . .

Lembrei . depois . que estava na 3' série primária e soube responder uma pergunta da professora que ninguémsoubera : Como sc chamava a pedra de ouro que se tirava da mina? "Pepita' respondi assombrada com a ignorância d eminhas coleguinhas . Será que elas nunca tinham lido Tio Patinhas?

E quando chegaram os sobrinhos? Huguinho. Zezinho e Luizinho, Lalá . Lelé e

Superpateta, Superpato . Morceg oVerde . Participei do concurso pra escolher o nome do Biquinho . . .

As namoradas. Minie, Margarida, Clarabela . . . Os almanaques . . . O da vovó Donald é usado até hoje .

Sem falar nas revistas : Capricho foi presente de aniversário de 12 anos da minha filha . . . Veja foi presente de formaturapara o meu marido em 1979 . Claudia prá mim, é claro.

Passar na Marginal Tietê, em frente ao prédio da Abril sempre foi muito bom . . . Saber que minha infância,adolescência e fase adulta, tudo o que passei de bom e de ruim, tinha ao meu lado alguma publicação de vocês .

Nos finais do ano. esperar pela iluminação era emocionante . Mas no ano passado não houve iluminação e parece queo Natal de São Paulo ficou um pouco mais triste. Todo ano ficava imaginando como seria a "árvore da Abril". Seri acolorida. de arvorezinhas, piscaria ou nào. . .

Este ano, ela voltou . . . Trouxe novamente o brilho de todo pessoal que trabalha 16 dentro, iluminando com seu trabalho avida da gente, informando, divertindo . fazendo-nos sonhar, acreditando no futuro, colocando o mundo dentro de nossas casas .

Saber que a Abril já tem 50 anos e é tão nova e atuante nos deixa com a certeza de que se acreditamos em nossossonhos, perseverarmos neles, também conseguiremos brilhar e encantar como a fachada de seu prédio no final do anoe suas janelas acesas durante todo o ano .

se os parabenao pelos 50 anos ou se me, a zo por catar junto de vocês durante quase todo esse tempo . . .

Em abril farei 46 anos . Será esta a ligação tão forte? Afinal de contas. nascer em abril era uma marca predestinando-m ea ficar ligada em vocês durante toda a minha vida? Assim espero .

De qualquer maneira, ficarei esperando o selo comemorativo de 75 anos da Abril, lendo estórias para netos ou bisnetose continuar informada e ligada no mundo através de suas publicações .

A Abril faz parte de nossa casa e nossas vidas, como uma velha e boa amiga que já não precisa avisar quando chega . ..É nossa velha babá, nossa amiguinha de infância, nossa colega de trabalho, nossa confidente, professora, nossos olhos . ..

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Materia de Cap a

Paulo Egydio acha que a morte de Fiel Filho deu o toque fina l

IMPRENSA : Quando o senhor perce-beu que havia um confronto entre Geise le a linha dura ?

Paulo Egydio Martins : É difícil par anós, civis, termos conhecimento das par-ticularidades do Exército . Mas logo no iní -cio da minha gestão como ministro d ogeneral Castelo Branco, em janeiro de 66 ,percebi que havia uma divisão profund aentre os militares . Eram problemas quevinham quase que das escolas preparató -rias e da escola militar . Eram divisões in -ternas que não tínhamos a menor possibi -lidade de identificar e compreender. OVlado foi vítima dessa divisão entre a li-nha dura e a liberal . Foi assassinado exa -tamente como um plano de desestabili-zação do governo Geisel, que significav aa abertura e a redemocratização do país .

IMPRENSA - Qual é a sua visão dess ePartido Comunista da época? Vocês sa-

biam que era capenga, que não ameaça -va, de fato, ninguém ?

Paulo Egydio - Não só sabia comoeu já tinha tido uma grande participaçãono movimento estudantil lutando contraos comunistas . Eu conhecia a cúpula doPCB. Eles tinham um sistema já totalitá-rio, o famoso "conchavão" . Não havi adiscussão democrática . Em 1975, eles nãotinham força nenhuma . Eu tinha absolu-ta consciência disso . Sempre tive horro rpela supressão da liberdade . Por incríve lque pareça, eu participei da revoluçãode 1964 por ser contra essa supressão d aliberdade . Mas acabei participando d eum movimento que veio a suprimir a li-berdade, principalmente com o AI-5 .

IMPRENSA - O que o senhor poderi afazer, sendo Governador do Estado, paraevitar o acontecido no DOI - CODI ?

Paulo Egydio - Uma possibilidade

seria adotar minha posição individual eopor-me publicamente a esses fatos . E useria transformado em herói nacional . Ooutro era desconhecer a luta intestina d omovimento revolucionário, cujo objeti-vo era depor o presidente Geisel . O pre-sidente sempre foi uma autoridade estil oimperial e não admitia essa hipótese . Mas

Ernesto Geisel :a mão de ferro do "imperador"

Revista IMPRENSA - 38

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pessoas "chegadas" a ele achavam qu eera viável e conspiravam para isso .

IMPRENSA - O sr. acha que, com ess adivisão entre os militares, o Brasil esteveperto de uma guerra civil ?

Paulo Egydio - Esteve . Um exempl odisso é um confronto violento que tivecom o general Ednardo . . . .0 Erasmo Dias ,que era Secretário de Segurança, estevecom o Ednardo e voltou com a históri ade que o general Ednardo via a necessi-dade de levar ao DOI - CODI elemento sda Polícia Militar do Estado, já que a se-gurança na área era responsabilidad edele . Isso me subiu à cabeça . Meu equi-líbrio se perdeu e tive uma reação extre-

Paulo Egydio dava esta

declaração em 1975 .

"O Governo temia um

golpe dentro do golpe .

A tentativa de

rearticulação do Partid o

Comunista era um fato

real e não tem nada de

visionário . O Partido

tinha planos para agi r

neste momento, em qu e

enfrentamos uma cris e

mundial, e posso garanti r

para vocês que o plano

não ia ficar no papel . Era

algo muito mais sério . "

(Paulo Egydio na Folha de S .Paulo ,

em 07/11/75 - Transcrito)

Depois de 25 anos, ainda é difícil par aa socióloga Clarice Herzog relembrar o sdias que seguiram à morte de Vlado . Su aforça e persistência em provar que o ma -rido não havia se suicidado, mas fora si mtorturado e assassinado, até hoje é rela-tada com admiração pelos amigos queviveram próximos a ela naqueles dias .

O Inquérito Policial-Militar, instaura-do pelo próprio comando do II Exércitopara investigar a morte de Herzog, con-cluiu que o jornalista havia se enforcado.

Para presidir o inquérito, foi chama -do o general Cerqueira Lima, homem d econfiança de Geisel que, teoricamente ,levaria as investigações da forma mai scorreta possível .

Embora qualquer criança seja capa zde perceber que naquelas condições épraticamente impossível uma pessoa s eenforcar, o IPM respaldou a mentira . Al -guns militares, entre eles

o general Dilermando Gome sMonteiro, colocado por Geisel no coman -do do II Exército para coibir abusos, le-vantavam a hipótese de que Vladimi rHerzog havia se enforcado com um ameia . Hipótese risível quando se vê a fot ode Vlado suspenso por um cinto . Ou seja,para os militares, mesmo os geiselistas,admitir a responsabilidade pelo assassi -

Revista IMPRENSA - 3 9

A mulher que viveupara provar qu e

ado foi assassinadoClarisse Herzo g

em doi smomentos : mai sde duas décadas

lutando paraprovar que Vlad o

não se matou

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Primeiro julgamento co Caso Herzog, em 1978

nato parecia um risco excessivo . Claric eprecisou confiar na Justiça Civil para pro-var que as conclusões militares era mmentirosas .

"O que me mobilizou mais, o que m efez viver, reagir, lutar, foi uma necessida-de de provar que o Vlado tinha sido mor-to, porque todas as versões eram de qu eele tinha se suicidado . Isso foi o que m edeixou em pé, que me carregou todo ess etempo . Tanto que, quando ganhei a açãona primeira instância, tomei consciênci aque o Vlado tinha morrido . Até então euvivi em função disso, de ver estampado

nos jornais que ele tinha sido assassina-do . Foi uma coisa que eu coloquei com oobjetivo de vida", conta Clarice, que n aépoca tinha 34 anos .

Dois anos e meio após a morte d eVlado, mais precisamente em 16 de mai ode 1978, aconteceu a primeira audiên-cia da ação movida por Clarice Herzog eos filhos, Ivo e André, contra a UniãoFederal .

Apesar das peripécias armadas par aimpedir a responsabilização da Uniã opela "prisão ilegal, pelas torturas e pel amorte" de seu marido, em outubro d e1978 saiu a primeira sentença favoráve la ela .

Clarice não exigia uma indenização .Queria apenas que a responsabilidad epela morte trágica de seu marido caíss esobre aqueles que realmente a tinha mprovocado . Sua luta pessoal acabo uabrindo precedentes para que a Justiç acomeçasse a reconhecer os crimes come-tidos pela ditadura militar . Na audiênci ade 16 de maio de 1978, por exemplo ,pela primeira vez foram relatados caso sde tortura diante de um tribunal .

"A luta que eu tive para provar a ver-dade da morte do Vlado foi uma coisamuito pessoal, mas acabou tendo um aconotação política muito grande . Quan-do eu ganhei, muitas pessoas que nã oacreditavam que a Justiça pudesse ter um aposição digna, entraram com process otambém. Acredito que o fato de eu te rvencido serviu como uma reparação d aconfiabilidade da Justiça" . jf

ma de violência . Eu berrava : "não admi-to em hipótese alguma . Se fizerem um acoisa dessas, nós vamos reagir" . Foi a pri-meira vez na minha vida que eu senti qu eteria capacidade de matar alguém, de se rassassino . Aí eles recuaram, mas não ces-sou a guerra . O fato seguinte foi que as-sassinaram o Herzog .

IMPRENSA - E o presidente Geisel, oque estava achando disto tudo ?

Paulo Egydio - Numa recepção qu edei para o Geisel no Palácio dos Bandei-rantes, acho que foi no mesmo dia do AtoEcumênico , quando tinha agendado um avisita a São Paulo, ele chamou o genera lEdnardo na biblioteca . Ele entrou, oGeisel falou o seguinte para o Ednardo ,na minha frente : "Eu quero que você sai-ba que eu não vou admitir a repetição d eum fato desses e se isso ocorrer eu vo u

Revista 1 PRENSA .

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Vinte e cinco anos depois, o ex-governador admite : "Modo foi assassinado"

ter que tomar medidas drásticas . Vou vol -tar para Brasília e baixar um decreto pre-sidencial determinando que qualquer pre-so tem que ser imediatamente comuni-cado ao Ministro do Exército, ao Minis-tro da Justiça, ao chefe da Casa Militar,ao chefe da SNI, dentro das primeira shoras da prisão . Não vou aceitar qual -quer tipo de acidente que ocorra dentrodas dependências do Exército" . O Ednar-do só dizia : "sim senhor, sim senhor" .

IMPRENSA - Qual a importância d amorte do Herzog ?

Paulo Egydio - Pela posição dele, pel acobertura de imprensa, por ele ser jorna -lista, foi muito importante . Mas sob o pontode vista da guerra que se travava no interi-or do regime, a figura principal devia se rum pobre metalúrgico totalmente desco-nhecido cujo comunismo era carrega rdebaixo do braço A Voz do Operário edistribuir na periferia de São Paulo . A mortedo Fiel Filho, e não a do Herzog, provo-cou o fim da tortura no Brasil .

IMPRENSA - Por que o sr. acha a mor-te de Fiel Filho mais importante ?

Paulo Egydio - Porque tinha havid oo aviso prévio do Geisel . No caso Fie lFilho também não houve aviso prévio ; odecreto do presidente não foi cumprido .Então, o Geisel destitui, pela primeira ve zna história, um comandante do Exército .Depois partiria para a demissão do pró-prio ministro Silvio Frota .

IMPRENSA - O senhor consegui uperceber a reação dos jornalistas paratentar passar a verdadeira história d amorte do Vlado para a população ?

Paulo Egydio - Notei, claro . Eu acho ,no entanto, que a nossa imprensa sem -pre teve um patrulhamento ideológic oviolento . Uma necessidade de publica ras coisas que eram contra o governo enão publicar o que era a favor . Nossaimprensa nunca foi o suficiente libert apara dizer o que está errado e está certo .Sempre teve um viés ideológico contra ogoverno . Eu vejo que ainda existe uma

deturpação dos fatos que em um paí smaduro não deveria existir.

IMPRENSA - Qual foi a importânci ado Ato Ecumênico ?

Paulo Egydio - O Ato Ecumênico, sobo ponto de vista de composição de po-der, não teve a menor importância . A sforças que estavam disputando o pode reram outras, a guerra estava sendo tra-vada em outro patamar. Como eu disse ,o assassinato do Fiel Filho, esse sim fo iimportante . O governo Geisel começo ua agir. 1

Cadetral da Si lotada no dia do Ato Ecumênico :8 mil num protesto silencioso

Revista LNIPRENSA . 41

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