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JUL 2013 | ANO 26 | Nº 291 | R$ 12,90 O QUE FAZER PARA ESTAR PROTEGIDO EM CASO DE PROCESSOS COM MENOS BRAÇOS NAS REDAÇÕES, MÍDIA COBRE ATOS E SOFRE COM A HOSTILIDADE DE RADICAIS E COM AÇÕES DA PM PERFIL: INEZITA BARROSO, A CABOCLA DA ALTA SOCIEDADE REUNIÃO DE PAUTA: COMO AS RELIGIÕES SE VEEM NA MÍDIA JORNALISMO E COMUNICAÇÃO MINISTRO PAULO BERNARDO E A REGULAÇÃO DA MÍDIA MOVIMENTO QUE TEVE ORIGEM NAS REDES SOCIAIS MOSTRA QUE A JUVENTUDE BRASILEIRA ESTÁ SEDENTA POR MUDANÇAS POLÍTICAS FOI ACESA E A CHAMA 7 7 0 1 0 3 0 6 5 0 0 8 3 0 0 2 9 1 EXEMPLAR DE ASSINANTE - VENDA PROIBIDA

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JUl 2013 | ANO 26 | Nº 291 | R$ 12,90

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O DE 2013 | N° 291 | ANO 26

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prensa.com.br

O QUE FAZER PARA ESTAR PROTEGIDO EM CASO DE PROCESSOS

COM MENOS BRAÇOS NAS REDAÇÕES, MÍDIA COBRE ATOS E SOFRE COM A HOSTIlIDADE DE RADICAIS E COM AÇÕES DA PM

PERfIl: INEZITA BARROSO, A CABOClA

DA AlTA SOCIEDADE

REUNIÃO DE PAUTA: COMO AS RElIGIÕES

SE VEEM NA MÍDIA

JORNAlISMO E COMUNICAÇãO

MINISTRO PAUlO BERNARDO E A REGUlAÇãO DA MÍDIA

MOVIMENTO QUE TEVE ORIGEM NAS REDES SOCIAIS MOSTRA QUE A JUVENTUDE BRASIlEIRA ESTÁ SEDENTA POR MUDANÇAS POlÍTICAS

foi acesae a chama

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na corda bambaOnda de prOtestOs e viOlência cOntra jOrnalistas e veículOs trOuxe

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Os meios de comunicação brasilei-ros, à época das revoluções árabes, em 2010, repercutiram os protes-tos realizados em busca de demo-cracia. Logo depois, em 2011, a

ocupação da Praça Tahrir e a queda do ditador egípcio, Hosni Mubarak, tomaram novamente a cena mobilizando correspondentes, motivando coberturas ao vivo, cadernos especiais e análises que transitavam da política à sociologia.

Como elemento importante de cada uma des-sas revoluções estava o novo e, à época, ainda pouco popular, mundo das redes sociais. Cerceados por regimes ditatoriais ou imobili-zados por linhas editoriais “contestáveis”, os grandes veículos do mundo deixaram uma lacuna que foi preenchida por blogueiros e ati-vistas que conseguiram mostrar o que aconte-cia em seus países.

Anos depois, a imprensa brasileira assiste a cenas parecidas. Apesar de cultura e contexto histórico diferentes, não faltaram comparações entre os protestos no Brasil, desde o início de junho, e as revoluções no mundo árabe. Por aqui, as semelhanças vão desde as mobilizações via redes sociais até a enxurrada de conteúdo produ-zido e disseminado por não jornalistas na web.

Diferentemente de outros países, em que os grandes veículos estavam censurados, no Brasil a cobertura tradicional ajudou a amplificar o que estava limitado ao mundo digital. No saldo dos episódios, a conta da liberdade de informação ficou negativa. De um lado, pela violência da polícia contra cidadãos e jornalistas. Do outro, pela violência de grupos infiltrados responsáveis pela depredação de equipamentos de emissoras e agressão a repórteres.

DIFERENÇAS E SEMELHANÇASSe nas revoluções árabes as redes sociais

foram protagonistas, no Brasil, pela primeira vez, elas tiveram força de mobilização, porém, potencializadas pela cobertura da mídia tradi-cional. Em participação na Globo News, o jorna-lista Jorge Pontual, de Nova York, pontuou que “é a grande mídia que está dando a possibilidade de os protestos serem vistos”.

Pesquisa do Datafolha, ainda em junho, cons-tatou que as redes sociais representavam a “ins-tituição” de maior prestígio para 65% dos pau-listanos, enquanto a imprensa vinha com 61%. Ana Brambilla, especialista em redes sociais, diz

Se antes o Brasil era citado em um contexto de cresci-mento econômico, o país passou a ser retratado pela

insatisfação de sua população. Durante os protestos, as notícias pelo mundo tentavam dar o tom do que estava acontecendo por aqui.

the New York times: A publicação destacou que os protestos aconteciam pelas queixas da população.

el País: No periódico espanhol, o foco foi a reunião emergencial convocada por Dilma.

le moNde: O jornal trouxe em destaque as manifesta-ções que passaram a ser frequentes.

the GuardiaN: O veículo disse que o serviço secreto brasileiro começou a monitorar as redes sociais.

Corriere della sera: O jornal italiano deu ênfase à morte do jovem que foi atropelado durante protestos em Ribeirão Preto (SP).

ClaríN: O destaque do jornal argentino foram depreda-ções ocorridas durante as manifestações.

CNN: A emissora americana ironizou o fato de o país ser conhecido pela passividade e o fanatismo no futebol.

BBC: Aos olhos da britânica BBC, o país foi sacudido por novos protestos em massa.

que os veículos demoraram a entender a propor-ção do tema. Para ela, as redes deram “um banho de jornalismo colaborativo”. “O conteúdo que circulou na web deu ângulos diferentes do mainstream, como já é de se esperar em uma cobertura vinda de colaboração.”

O jornalista Pedro Doria, editor-executivo de plataformas digitais de O Globo, diz que, além da imprensa, os governantes também tiveram dificuldade de entender o que surgiu nas redes. “O fenômeno que chegou ao Brasil é maior e mais transformador. Se ganhar escala, a notícia

mudança DE PAuTA

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não é boa nem para o PT, nem para o PSDB.” Leonardo Sakamoto lembra que as redes sociais se materializaram nas ruas. “Boa parte dos car-tazes eram comentários do Facebook e do Twitter, mas, se havia pessoas com reivindica-ções legítimas, o outro grupo se sentiu à von-tade para agir da mesma forma que age nas redes, sob anonimato e com ataques verbais e físicos a militantes e jornalistas.”

DIREITO DE SE POSICIONAR Por parte dos veículos tradicionais foi difícil

encontrar o equilíbrio. Inicialmente, a linha edi-torial de algumas publicações deu ênfase aos atos de vandalismo que destoavam do ritmo das reivindicações. Após a manifestação do dia 13 de junho, em São Paulo, marcada pelos excessos da Polícia Militar, a cobertura mudou, sobretudo porque muitos jornalistas saíram feridos. Em editoriais daquele dia, os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo pediam ações mais enérgi-cas da polícia. Em sua coluna, a ombudsman da Folha, Suzana Singer, ressaltou que o erro dos dois veículos foi terem sido generalistas.

O posicionamento desses jornais contribuiu para que outros meios fossem criticados por coberturas consideradas “parciais”, e os veículos foram acusados de incitar a violência. A TV Globo passou a ser vítima de radicais. A situação perdeu o controle quando jornalistas começaram a ser agredidos. No dia 17 de junho, Caco Barcellos e sua equipe foram impedidos de atuar em São Paulo. A emissora fez sua defesa em editorial, lido no “Jornal Nacional”. Na ocasião, defendeu a tese de ter mostrado todos os lados desde o início.

Outras emissoras também viraram alvos. A Record teve um carro incendiado e jornalistas agredidos. A repórter da Band, Rita Lisauskas, foi atacada com vinagre. Seu colega, Fabio Pannunzio, foi hostilizado e um carro da emissora, tombado. O SBT teve um veículo queimado, e um repórter da EBC foi atacado por seguranças na cidade de Niterói (RJ). Na análise do historiador e sociólogo Marco Antonio Villa, a violência contra a impren-sa pelas coberturas representa um comporta-mento de “teor fascista”. Para ele, faz parte da democracia que um veículo de comunicação adote a linha editorial que quiser.

MÍDIA MAIS MADURA Villa pontua que as manifestações em que a

polícia passou dos limites representaram um

Alguns ainda não sabiam que seriam jornalistas quando foram às ruas lutar pelo fim da ditadura. Outros já levavam nas mãos

o bloquinho de anotações e no peito a identificação de repórter quando enfrentaram a repressão.

Entretanto, todos estavam presentes e acompanharam de perto quando milhares de brasileiros brigaram pela democracia no país. Hoje eles cumprem o dever de noticiar e analisar as manifestações.

Fernando Mitre (Band): O povo nas ruas baixa a tarifa e ainda é capaz de fazer os governantes reconhecerem, mesmo com algum atraso, a importância democrática das manifestações.

elio Gaspari (O GlObO): Havia teóricos de tudo e teorias para qualquer coisa. É natural que junho de 2013 desencadeie uma pro-dução de teorias para explicar o que está acontecendo.

Carlos Heitor Cony (FOlha de S.PaulO): Duas rebeliões mili-tares foram esvaziadas, não havia apoio da população para um golpe de Estado. A paralisação pacífica dos bondes numa só cidade fez JK arrumar a mala para ir embora.

Jânio de Freitas (FOlha de S.PaulO): Não antes de poder sugerir que comecemos reflexões mais complexas sobre o que está acontecendo. É muito menos simples do que se tem dito.

Celso MinG (O eStadO de S.PaulO): Se foi mesmo sincera quan-do, ao elogiar as manifestações e suas reivindicações por mudan-ças, garantiu que fará mudanças, a presidente tem de começar a mudar o diagnóstico.

riCardo KotsCHo (r7): A começar pelo governo federal e pas-sando por todas as instâncias de poder, parece todo mundo perdi-do. Ninguém consegue entender o que está acontecendo.

arnaldo JaBor (tV GloBo): Com a violência maior da polícia, ficou claro que o MPL expressava uma inquietação que tardara muito no país; desde 1992 faltava o retorno de algo como os caras-pintadas.

ClóVis rossi (FOlha de S.PaulO): Não vejo nenhum paralelo entre o que aconteceu e o ano de 1968, principalmente do ponto de vista tecnológico: naquela época vivíamos a pré-história, hoje temos as redes sociais.

o que OS JORNALISTAS DIzEM

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repórter do Portal Aprendiz, Pedro Ribeiro Nogueira, foi autuado por formação de quadri-lha e danos contra o patrimônio público. Piero Locatelli, repórter da CartaCapital, foi detido por portar vinagre.

Profissionais como o fotógrafo Sérgio An- drade da Silva, a repórter da TV Folha, Giuliana Vallone, e o repórter da Globo News, Pedro Vedova, foram atingidos por balas de borracha na face. Além deles, outros profissionais da Folha e mesmo pessoas que cobriam as manifes-tações representando entidades não jornalísticas e blogueiros também foram feridos.

Em meio à repercussão dos casos, diversas entidades nacionais e internacionais repudiaram a situação. Para a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), “a crítica da mídia não legitima a agressão da polícia”. O secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Grella, se compro-meteu a apurar a violência contra a mídia.

Até o fechamento desta edição, a reivindica-ção inicial da revogação do aumento das tarifas do transporte havia sido atendida em várias cidades. Porém, não foi o suficiente para cessar os protestos pelo país, que, em alguns casos, começaram a tomar proporções de violência e vandalismo. Também não cessavam as notícias de jornalistas agredidos e impedidos de traba-lhar. E, mais uma vez, sobrou para a mídia, que, segundo o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, estimulou indireta-mente as manifestações.

*Com Camilla Demario

divisor de águas na cobertura, permitindo que os veículos mudassem o tom. “A imprensa pulou de um lado para o outro. Percebo até mesmo uma ingenuidade por parte dos jornalistas, que, eufóricos com as manifestações, empobreceram a informação.” Para ele, a instabilidade da imprensa deu-se pelo fato de os protestos, da forma como ocorreram, representarem um fenô-meno ainda desconhecido. “Muitos jornalistas de hoje nunca cobriram outras manifestações, ou até mesmo momentos como as ‘Diretas Já’ e o impeachment do Collor.”

O “pula-pula” apontado por Villa foi eviden-ciado em várias situações. O apresentador José Luiz Datena, da Band, e o comentarista da TV Globo, Arnaldo Jabor, mudaram de posição publicamente, após serem alvos de pesadas crí-ticas, assim como outros articulistas que muda-vam os pontos de vista de acordo com os fatos, e tentavam, em alguns casos, encontrar parale-los com manifestações da época da ditadura.

José Maria Domingues dos Santos, jornalista que trabalhou no Diário da Noite e na Folha da Tarde durante o regime militar, confessa que sen-tiu mais medo de “levar porrada” nas manifesta-ções atuais do que na ditadura. “Naquela época, as forças policiais não estavam habituadas ao novo regime, e, até 1968, existia uma espécie de convenção entre jornalistas e a polícia.”

REPÓRTERES NA MIRA Por outro lado, a cobertura evidenciou o grau

de violência por parte da PM. O saldo é de quase 30 jornalistas feridos, agredidos ou detidos. O

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