a chama da esperança continua forte e acesa no sertão

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1363 Novembro/2013 A chama da esperança continua forte e acesa no Sertão Exu “Algumas vezes tenho vontade de ir embora devido à seca, porque nos tempos ruins até as pedras se rolam do lugar”, afirma Seu Zé Silva, como é conhecido, que ao mesmo tempo em que expressa seu sentimento, alimenta-se todos os dias, do desejo de permanecer na sua terra. O agricultor José Zito Silva de França, de 48 anos, vive com sua esposa, Djanira Silva de França, de 44 anos, na Serra dos Paus Dóias, no município de Exu, Sertão do Araripe pernambucano. Casados há 26 anos, eles têm 8 filhos, mas apenas 5 moram na propriedade: Robério, de 22 anos; Ronaldo, de 20 anos; Romildo, de 17 anos; Pedro, de 14 anos e Paulo, de 11 anos. Há 24 anos, a família reside na propriedade de 115 hectares. Quando chegaram lá, não havia luz elétrica e nem mesmo um balde para carregar água, só havia mato. Para garantir o sustento dos filhos, Seu Zito e Dona Djanira faziam diárias de serviços em outras propriedades. Com o tempo, a família se organizou para plantar mandioca e criar pequenos animais, desde então, o casal se dedicou somente à própria terra. Os anos se passaram e a família construiu um pequeno aviamento de farinha para facilitar os trabalhos. Naquela época, eles precisavam se deslocar 4 quilômetros para buscar água no barreiro da Serra da Perua. A água era barrenta, vermelha e utilizada pra beber e também para fins domésticos e produtivos. Dona Djanira conta que a água trazida do barreiro era dividida com os animais que ficavam ao redor dele. “Foi o tempo mais difícil das nossas vidas, pois a gente bebia uma água horrível. Meus filhos viviam com diarréia e criaram até feridas na boca, tudo isso por causa da água”, relembra a agricultora. Em 2005, a família foi beneficiada com uma cisterna de placa, através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC),

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1363

Novembro/2013

A chama da esperança continua forte e acesa no Sertão

Exu

“Algumas vezes tenho vontade de ir embora devido à seca, porque nos tempos ruins até as pedras se rolam do lugar”, afirma Seu Zé Silva, como é conhecido, que ao mesmo tempo em que expressa seu sentimento, alimenta-se todos os dias, do desejo de permanecer na sua terra. O agricultor José Zito Silva de França, de 48 anos, vive com sua esposa, Djanira Silva de França, de 44 anos, na Serra dos Paus Dóias, no município de Exu, Sertão do Araripe pernambucano. Casados há 26 anos, eles têm 8 filhos, mas apenas 5 moram na propriedade: Robério, de 22 anos; Ronaldo, de 20 anos; Romildo, de 17 anos; Pedro, de 14 anos e Paulo, de 11 anos.

Há 24 anos, a família reside na propriedade de 115 hectares. Quando chegaram lá, não havia luz elétrica e nem mesmo um balde para carregar água, só havia mato. Para garantir o sustento dos filhos, Seu Zito e Dona Djanira faziam diárias de serviços em outras propriedades. Com o

tempo, a família se organizou para plantar mandioca e criar pequenos animais, desde então, o casal se dedicou somente à própria terra. Os anos se passaram e a família construiu um pequeno aviamento de farinha para facilitar os trabalhos.

Naquela época, eles precisavam se deslocar 4 quilômetros para buscar água no barreiro da Serra da Perua. A água era barrenta, vermelha e utilizada pra beber e também para fins domésticos e produtivos. Dona Djanira conta que a água trazida do barreiro era dividida com os animais que ficavam ao redor dele. “Foi o tempo mais difícil das nossas vidas, pois a gente bebia uma água horrível. Meus filhos viviam com diarréia e criaram até

feridas na boca, tudo isso por causa da água”, relembra a agricultora. Em 2005, a família foi beneficiada com uma cisterna de placa, através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC),

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), que tem capacidade para guardar 16 mil litros de água para beber e cozinhar. A partir disso, a vida ficou menos sofrida e além da mandioca, a família criava gado também. Aos poucos a renda melhorava. Com muito esforço, o casal construiu um pequeno barreiro na propriedade, e há 4 anos, foi construída uma cisterna-calçadão pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), organização gestora do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA, na região.

A tecnologia armazena até 52 mil litros de água para produção de alimentos e contribuiu para transformar a realidade da família agricultora. Seu Zé Silva conta que já fez algumas tentativas para melhorar de vida em outros lugares, mas sempre acabava voltando. “Quando o sufoco chega, Djanira fica falando de ir embora, mas eu mesmo só entro no último pau de arara que passar, mas com fé em Deus as coisas vão melhorar”, relata o agricultor, que alimenta a vontade de permanecer na sua terra a cada dia. Depois de tudo que enfrentaram com a escassez de água, a família aprendeu a fazer a boa gestão dos recursos hídricos na propriedade.

Atualmente a família utiliza a água da cisterna-calçadão para beber e cozinhar. A ideia é aproveitar a água do barreiro nas tarefas da roça para poupar a água do reservatório até o inverno chegar. Quando a água do barreiro acaba, eles vão buscar em outros lugares, e assim seguem economizando. Prevendo que a estiagem seria prolongada, de dois anos pra cá, o casal deslocou os canteiros para ficar próximo do barreiro. A família que só plantava nos períodos de chuva, agora produz alimentos de maneira permanente. Além disso, cria galinhas,

porcos, gado e mantém um pequeno aviamento de farinha. Com isso, conseguem fazer o estoque de manaíba para alimentação animal.

Dona Djanira é o braço forte da família na atividade da comercialização. Semanalmente ela vende o excedente da produção agroecológica na comunidade e localidades vizinhas. “A nossa renda melhorou demais, já que Deus abençoou o pagamento das nossas dívidas só com a venda das verduras”, declara feliz, a agricultora. A novidade é o plantio de café e o abacaxi, que deixam a mesa da família ainda mais farta.

A cumplicidade do casal é revelada através dos sonhos alimentados diariamente. Dona Djanira deseja ter condições para recuperar o carro de Seu Zé Silva que incendiou esse ano. No anseio de ampliar e consolidar a produção familiar, o agricultor só pensa em conquistar outras tecnologias hídricas.

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