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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS JÚNIA CLEIZE GOMES PEREIRA O SERTÃO DE RIOBALDO: A FLORA EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS Montes Claros MG Outubro / 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS

JÚNIA CLEIZE GOMES PEREIRA

O SERTÃO DE RIOBALDO: A FLORA EM GRANDE SERTÃO:

VEREDAS

Montes Claros – MG

Outubro / 2013

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Júnia Cleize Gomes Pereira

O SERTÃO DE RIOBALDO: A FLORA EM GRANDE SERTÃO:

VEREDAS

Monografia apresentada ao curso de Letras

Português, da Universidade Estadual de

Montes Claros, como exigência para obtenção

do grau de licenciada em Letras Português.

Orientadora: Profa. Dra. Telma Borges da

Silva.

Montes Claros / MG

Outubro / 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS - CCH

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – MONOGRAFIA

DEFESA PÚBLICADO TRABALHO DE MONOGRAFIA

LETRAS PORTUGUÊS

FOLHA DE APROVAÇÃO

Autor: Júnia Cleize Gomes Pereira

Título: O sertão de Riobaldo: a flora em Grande Sertão: veredas

Monografia defendida e aprovada em 26/11/2013, com NOTA 100 (cem), pela comissão

julgadora:

(Assinatura)__________________________________________

Orientador (a)

Profa. Dra. Telma Borges da Silva

(Assinatura)__________________________________________

Examinador (a)

Profa. Dra. Ivana Ferrante Rebello e Almeida

(Assinatura)__________________________________________

Examinador (a)

Profa. Ms. Patrícia Goulart Tondineli

______________________________________

Profa. Dra. Liliane Pereira Barbosa

Coordenadora do Curso de Letras Português

______________________________________

Prof. Dr. Dorival Barreto Jr.

Coordenador do Trabalho de Conclusão de Curso

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À minha mamãe,

meu amor de prata e meu amor de ouro.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, pois, tendo Ele, no fim tudo dá certo.

Ao meu pai Beijamim que, assim como Diadorim, me ensinou que carece de ter coragem para

enfrentar e vencer as veredas dessa vida.

À minha mãezinha Valda, com quem eu aprendi que é somente com alegria que podemos

realizar o bem.

A toda minha família e ao meu irmão Júlio César, pois, com eles, as pausas entre um

parágrafo e outro de produção, muito contribuíram para animar meus dias.

A Rafael, meu amor e quem muito me ouviu falar de Rosa e Sertão.

À minha orientadora belimbeleza, Telma Borges, que me acolheu no Grupo Nonada. Foi a

partir de sua acolhida, de sua disposição e de sua paciência em orientar meu trabalho que

consegui realizar esta travessia. Agradeço também às professoras Ivana e Patrícia pelo carinho

e contribuição na minha pesquisa Rosiana.

Aos meus colegas, em especial Bruno e Kamila, pois me presentearam com sua amizade e

amizade dada é amor.

Enfim, agradeço a todos que estiveram do meu lado e participaram das vertentes do meu viver

das mais variadas formas.

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Falar do Brasil sem ouvir o sertão

É como estar cego em pleno clarão

Olhar o Brasil e não ver o sertão

É como negar o queijo com a faca na mão

Vander Lee

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a flora que constitui o sertão de Riobaldo ao longo de

sua travessia. Para cumprir o objetivo proposto, usamos de um método analítico textual, ou

seja, fizemos leitura de bibliografias referentes ao tema e leituras minuciosas de Grande

sertão: veredas, catalogando os vegetais que estão presentes no romance. Feito isso,

realizamos uma pesquisa da etimologia, da serventia e dos nomes populares dos vegetais

encontrados; estudamos ainda, livros e dicionários especializados em botânica, comparando

com os termos da flora empregados pelo personagem em seu discurso. Após tais pesquisas e

comparações, refletimos sobre a importância e simbologia da flora na narrativa de Riobaldo,

visto que, nada é posto gratuitamente nas obras de Guimarães Rosa. Desta forma, nos

deparamos com uma natureza ímpar, em que a flora é usada, não só para compor o cenário

sertanejo ou moldurar o plano de fundo na travessia de Riobaldo, mas uma vegetação que

descreve a singularidade do sertão, ganhando uma pluralidade de significados e se

relacionando com seus personagens. Esse trabalho torna-se importante na medida em que

contribui para o avanço da fortuna crítica rosiana, disponibilizando novos conhecimentos

sobre a flora presente no romance e, ajudando assim, leitores que tenham interesse em

conhecer a natureza que acompanha a trama da vida de Riobaldo, numa narrativa em que a

vegetação delineia a individualidade do sertão e se entrelaça com os que o habitam.

Palavras-chave: Literatura de Minas Gerais; Guimarães Rosa; sertão; flora.

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ABSTRACT

This work aims to analyze the flora that constitutes the sertão of Riobaldo along his crossing.

To reach the proposed objective, we used a textual analytical method, i.e., we read

bibliographies related to the topic and detailed readings of Grande sertão: veredas, cataloging

the plants that are present in the novel. After, we searched for the etymology, the use and the

popular names of the plants found in the novel; we also studied these plants in books and

dictionaries about botanic, comparing them with the terms used by the character. Then, there

is a reflection about the importance and the symbology of flora in the novel, once anything is

at no charge in Guimarães Rosa‟s novels. This way, it possible to visualize a breathe heavily

nature, not only to compose the scenery or to frame the crossing of Riobaldo, but a vegetation

which describes the singularity of the sertão, showing a plurality of significances and relating

to others characters. This work is important because it contributes to the development of

studies of Guimarães Rosa‟s production, bringing up new knowledge on the flora presented in

the novel, aiding readers who are interested in going deeper in Riobaldo‟s plot, in a way that

vegetation designs the individuality of the sertão, intercrossing it to the lives of its inhabitants.

KEYWORDS: Minas Gerais Literature; Guimarães Rosa; sertão; flora.

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Sumário

Introdução ................................................................................................................................ 9

Capítulo I – A natureza em Rosa ......................................................................................... 12

Capítulo II – A flora e sua relação com as personagens .................................................... 21

Capítulo III – “Buriti, buriti meu...: a pluralidade de significados do buriti em Grande

Sertão: veredas”...................................................................................................................... 35

Conclusão ............................................................................................................................... 49

Referências ............................................................................................................................. 50

Anexos .................................................................................................................................... 53

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Introdução

A literatura é um campo espelhado no qual se refletem os costumes da sociedade e

a relação desta com seu meio natural. Ela também é objeto de apreciação, estando sujeita a

impressões e olhares distintos e isso serve de subsídio para vários tipos de estudos e contribui

para se construir uma série de sentidos.

Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, uma das mais importantes

obras da literatura brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo

presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, suas travessias e seu

amor reprimido por Diadorim.

O espaço sertanejo é descrito em todo o romance configurando a paisagem e o

ambiente onde se passa a trama. Guimarães Rosa nos apresenta a natureza desse sertão de

forma poética e inovadora, nos fazendo apreciar e construir uma pluralidade de significados

relativos a ela.

Esta pesquisa é parte integrante do projeto “Pelo sertão: geografia, aforismos e

filosofia na obra de Guimarães Rosa”1 e objetivou apresentar como a flora foi exposta na

narrativa, não sendo apenas um meio natural no qual os personagens trilham, mas a flora

como elemento que compõe e delineia a vida de seus seres. Podemos dizer que o estudo da

natureza de Grande sertão: veredas é uma viagem pelo exterior e também pelo interior dos

seres que a habitam.

No curso da nossa investigação, observamos que o relato é marcado por uma

extensa diversidade de espécies vegetais; sabendo que nada é posto gratuitamente por Rosa,

nos veio a indagação: qual a importância da Flora na construção de Grande sertão: veredas?

As hipóteses que levantamos são as de que a flora pode estar sendo usada como um pano de

fundo da narrativa; a flora é parte constituinte da natureza do sertão, ganhando assim uma

pluralidade de significados; e por fim, é usada para descrever a singularidade do sertão e sua

relação com as personagens.

Para apurar tais presunções, realizamos leituras de bibliografias referentes ao

tema, autores como Ivana Ferrante Rebello, Luiz Roncari, Mônica Meyer, Ricardo Ferreira

Ribeiro, Tânia Rivera, Umberto Eco, entre outros. Fizemos também uma leitura minuciosa de

Grande sertão: veredas, catalogando os vegetais presentes no romance e, logo depois,

1 O Projeto citado foi estendido para uma segunda parte e este trabalho também o compõe. Seu desdobramento é

nomeado por “Enciclopédia do grande sertão”.

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pesquisamos sobre a etimologia, a serventia e os nomes populares dos vegetais encontrados.

Além disso, contrastamos o emprego de termos da flora usados por Riobaldo com as

definições de livros e dicionários especializados em botânica, tendo como objetivo averiguar

o significado da flora no discurso do narrador-personagem.

Esse estudo nos ajudou a conhecer e a entender melhor a natureza da narrativa e a

relação que ela tem com os personagens e suas ações. Sobre tal associação, Mônica Meyer

menciona que o uso da natureza na “narrativa é construída de modo que a realidade humana

entrelace com o mundo natural de tal forma que a identidade de cada um seja o resultado de

uma relação de reciprocidade.” (MEYER, 2008, p. 25). Fruto das especulações e análises foi

este trabalho organizado em três capítulos.

O primeiro capítulo é resultado de nossas pesquisas sobre a relação do escritor de

Cordisburgo com o seu meio natural. Desde a infância, Joãozito era investigador do mundo

que o rodeava, colecionava insetos e plantas. Já em sua vida adulta, Rosa viajava pelo sertão

dos Gerais com suas cadernetas conhecendo e anotando tudo que lhe interessava, e, logo

depois, o conhecimento adquirido foi aproveitado em sua obra-prima.

Verifica-se em A Boiada, de João Guimarães Rosa, que muitos vegetais

registrados em suas cadernetas de viagem foram utilizados no romance; além de

caracterizarem a vegetação típica do Cerrado, são mencionadas por Riobaldo suas serventias

na alimentação, na utilização da madeira, no comércio e também como marcadores de tempo,

pela floração e frutificação. Nota-se que a natureza não é só empregada com a função de

servir ao homem, mas também como um elemento que o acompanha e o qualifica.

No segundo capítulo nos adentramos na natureza de Grande sertão: veredas e sua

associação com as personagens. Seria um equívoco considerar que a natureza, mais

especificamente a flora, é um elemento que somente compõe e enfeita o cenário da narrativa,

já que Riobaldo, em seu relato, está a todo momento comparando as moças com quem se

relaciona às flores e às plantas. Além disso, essas moças, muitas vezes, carregam o nome de

flores e possuem importância significativa para a travessia do jagunço.

Já no terceiro capítulo, focamos no vegetal mais citado do romance: o buriti. As

veredas têm grande valor não apenas por serem caminhos, fontes de sobrevivência, através

das quais Riobaldo e seus companheiros realizam a travessia do sertão dos Gerais, mas

também por serem compostas pelos buritis, estes que se espelham nas águas e formam um

verdadeiro reino.

Diadorim é sempre comparado ao buriti; este reflete sua imagem na água, uma

imagem idêntica, porém, invertida. Diadorim também tem uma imagem invertida, já que se

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passava por jagunço, mas na verdade era uma moça. Para trabalhar essa ambiguidade que a

água/espelho provoca, tivemos por base alguns textos como o de Humberto Eco, Sobre os

Espelhos e outros ensaios, este que afirma que o espelho não produz uma imagem invertida,

mas sim ilusória. Dessa forma, a palmeira buriti se apresenta com uma multiplicidade de

significados e símbolos; é essencialmente uma inspiração poética na vida de tal personagem.

Finalmente, sabemos que o grande encanto da arte literária está tanto no revelar

quanto no encobrir de informações; ou seja, na complexidade de sua trama, por isso, nosso

objetivo foi contribuir para o avanço da fortuna crítica rosiana e disponibilizar novos

conhecimentos sobre a flora presente no romance em questão. Desejamos também ampliar a

necessidade de se ler, reler e estudar o sertão de Rosa para os leitores interessados em

conhecer a natureza que acompanha o trilhar da vida de Riobaldo, numa narrativa em que a

vegetação delineia a singularidade do sertão e se relaciona com seus personagens.

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Capítulo I – A natureza em Rosa

Grande sertão: veredas é uma narrativa em que o fazendeiro Riobaldo, um

sertanejo que detém o poder da fala, conta a um Senhor da cidade, este que está sempre lhe

ouvindo, mas nunca lhe responde, o passado do jagunço Riobaldo-Tatarana e a sua grande

travessia no sertão das gerais. Essa travessia nos chama a atenção para o fato de que o sertão

presente nesse romance de Guimarães Rosa não é apenas um cenário natural em que se

desenrolam as ações, mas o sertão como um ator central que faz com que as ações aconteçam.

Rosa descreve esse sertão cheio de plantas, bichos, rios, veredas, lugares, minerais

etc., e com isso, percebemos a paixão de um Rosa naturalista e dono de uma maneira singular

e poética de retratar a natureza, diferentemente das classificações estáticas e secas empregadas

pela biologia. Em seu livro Ser-tão Natureza: a natureza em Guimarães Rosa, Mônica Meyer

sustenta a ideia de que essa natureza rosiana não se confirma somente como um caminho ou

uma paisagem, mas como elemento que constitui o homem. Vejamos:

A presença marcante e constante da natureza e das viagens na obra rosiana indica,

intuitivamente, que tanto a natureza como a viagem têm um significado que

ultrapassa a dimensão espacial de paisagem natural e de deslocamento geográfico. O

valor metafísico emerge através de situações em que há entrelaçamento entre

personagem e natureza. Nada é descrito gratuitamente, como composição e enfeite.

(MEYER, 2008, p. 203).

É sabido que Guimarães Rosa era um viajante e que essa experiência marcou

profundamente sua vida artística, pessoal, intelectual e profissional. Mas seus interesses pela

natureza e pelas viagens começaram ainda quando criança, pois já na sua cidade Natal,

Cordisburgo, no sertão de Minas Gerais, ele tinha contato com o mundo natural e com vários

viajantes que passavam por lá. No artigo “Paisagens do morro: recados de Rosa”, presente no

livro Ser Tao João, Fábio Borges da Silva e Claudinei Lourenço fazem referência sobre essa

familiaridade de Rosa com a natureza:

(...) já na infância, Guimarães Rosa desenvolveu uma forma muito singular de

observação da natureza: recebeu contribuições das ciências naturais (como a

geografia), das artes, do pensamento mítico religioso e da cultura popular local. A

abordagem da natureza em sua literatura é uma síntese produzida no encontro entre

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essas várias formas de pensamento e de conhecimento acerca da realidade que o

circulava. (LOURENÇO; SILVA, 2012, p. 86).

O conhecimento advém de viagens, do contato com novas culturas, mas também

ouvindo histórias de pessoas que quase nunca saem de suas terras e, assim, conhecem muito

bem suas tradições e a cultura popular local. Rosa começou a alimentar seu conhecimento na

sua terra, onde seu pai, Florduardo Pinto Rosa, tinha um comércio, conhecido como “Venda

de seu Fulô”, onde ouvia causos de várias pessoas que por ali passavam e contavam suas

estórias. Os causos, as lendas e os mitos que passam de pessoa a pessoa são a fonte que faz

surgirem os narradores, assim como Guimarães Rosa.

Ainda em sua infância, Joãozito, apelido com o qual era tratado, costumava

“andar pelos matos armando arapucas para depois soltar os passarinhos apanhados e

colecionar plantas e insetos organizados à moda dos bestiários do início da ciência e do

naturalismo” (GUIMARÃES apud LOURENÇO; SILVA, 2012, p. 86).

Podemos dizer que a natureza do sertão que nos é apresentada nas páginas de

Grande sertão: veredas é resultado dessas observações, das viagens, anotações e vivências de

Guimarães Rosa. As viagens pelo sertão mineiro, realizadas por ele, foram duas, e sobre elas

discorre ainda Fábio Borges da Silva e Claudinei Lourenço:

Pelo interior de Minas Gerais deixou registro de apenas duas viagens, uma em 1947,

chamada “Grande Excursão a Minas” e outra em 1952, denominada “A Boiada de

52”. Essa última, realizada entre os dias 19 e 29 de maio, produziu um acervo com

mais de 60 cadernos de notas, observações, descrições, croquis, cantigas populares,

coleção de nomes e verbetes locais – muitos ainda não dicionarizados – e que deram

substância à feitura de seu intento literário. (LOURENÇO; SILVA 2012, p. 87).

Vimos então que de fato Rosa fez viagens e sabemos que quem viaja sempre tem

muito a contar, a narrar. O resultado dessas andanças, em especial “A Boiada de 52”, foi a

extensa narrativa de Grande Sertão: veredas, que surgiu quatro anos mais tarde, em 1956.

Prova disso são os vários detalhes registrados nos seus cadernos de anotações encontrados

depois no romance, entre eles temos alguns vegetais como a flor casa-comigo, os pequizeiros,

os cágados, o pau-d‟óleo, maracanãs, entre outros.

Rosa colocou o sertão dentro desses caderninhos de anotações e se abastecia dos

seus dados e também das correspondências que trocava, inclusive com o seu pai, Florduardo,

que lhe dava informações, contava casos, noticiava e comentava, atendendo aos pedidos do

filho diplomata que, residindo fora do Brasil, pedia ao pai alguns assuntos que lhe interessava:

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Por exemplo: Descrição de uma pescaria à rêde. Como era aquilo, da extraordinária

abundância de mandis, em determinadas épocas, e como e por que acontecia. Coisas

a respeito da fundação de Cordisburgo, e dos primeiros tempos do arraial etc.

(ROSA, apud MEYER, 2008, p. 59).

Esse tipo de correspondência era frequente entre eles. Joãozito solicitava ao pai

que fosse “recordando e alinhando lembranças interessantes de coisas vistas e ouvidas na roça

– caçadas, etc. – que possam servir de elementos para outro livro, que vou preparar” (ROSA,

apud MEYER, 2008, p. 59). As respostas do pai certamente ficariam em seu acervo particular

para posteriormente serem usadas em seus livros, mostrando assim a importância que

Florduardo teve em sua escrita e o quanto o influenciou.

Podemos dizer que com essas e tantas outras informações que teve, Rosa se

adentrou a fundo no sertão e isso fez com que conhecesse os detalhes desse cenário e o

transformasse em ficção. Segundo Mônica Meyer, no livro A Boiada:

Ao se tornar parte integrante da narrativa, as anotações são recriadas, tecidas na sua

estrutura e na sua trama, passando a adquirir nova função e sentido dentro dela. Com

base na observação atenta a realidade, o material coletado – anotações sobre a fauna

e a flora, costumes, falas – tudo é reaproveitado, reelaborado e recomposto,

reatualizando-se no espaço ficcional. (MEYER, 2011, p. 193).

Além das suas anotações, foram encontrados na biblioteca de Rosa, livros de

geografia, viagens, botânica e zoologia, sinal do seu grande interesse pelos rios e mares, pela

flora e fauna e pela agricultura. Conforme Mônica Meyer em Ser-tão Natureza,

o Arquivo de Guimarães Rosa é um testemunho da sua paixão pelo conhecimento,

de uma sede de aprender e uma preocupação em nomear a coisa certa, o que exigiu

um trabalho constante e meticuloso de coleta e de escrita: uma verdadeira

enciclopédia artesanal produzida para consulta pessoal. (MEYER, 2008, p. 58).

Tomando nota do seu conhecimento sobre o assunto, percebemos que Guimarães

Rosa vê a natureza, permite aos seus personagens que vejam (como exemplo o fato de que

Diadorim ensina a Riobaldo a enxergar as “quisquilhas” da natureza com outros olhos) e faz

uma descrição minuciosa para que o leitor também possa ver e conhecer os seres e o cenário

daquele mundo natural.

Rosa preocupa-se em traduzir uma multiplicidade de sensações que nos permitem

imaginar a diversidade do mundo sertanejo e sentir aquele mundo natural. Podemos ver as

belas tardes, os cantos dos pássaros, a cor e o cheiro das flores, o gosto e o tempero da comida

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dos sertanejos; enfim, “a cor, o som, o gosto e o cheiro dos Gerais exalam do texto”, como

acentua Mônica Meyer. (MEYER, 2011, p. 205).

Entre essas tantas faces do sertão retratado por Rosa, vamos nos adentrar na flora,

que está representada em Grande sertão: veredas pelas espécies típicas do cerrado, bioma

cuja cor predominante, segundo Rosa, é a amarela, de modo que “o amarelo traduz a paixão

de Guimarães Rosa pelo cerrado, declarada durante o discurso de posse na Academia

Brasileira de Letras: “Eu gosto do amarelo.” (ROSA, apud MEYER, 2011, p. 209).

Nas suas anotações, Rosa descreve as plantas sempre colocando características ora

das folhas, ora das flores, ora dos caules, ora das hastes, tempo de floração, frutificação, não

deixando de destacar o amarelo: “Capim e juncos (finos) com florzinhas amarelas balançando

nas pontas das longuinhas hastes. Tudo de amarelim” (ROSA, 2011, p. 137).

É perceptível na obra de Rosa uma natureza viva, que está sempre em movimento:

no trecho citado percebemos isso ao “ver” as “florzinhas amarelas balançando”; sentimos

também um movimento poético em Grande sertão: veredas ao ver naquele dia “desdobrado”

a “papeagem do buritizal, que lequelequêia” (ROSA, 2001, p. 63); a cor do vento quando este

bate nas palmas dos buritis todos, quando é ameaço de tempestade: “O vento é verde”.

(ROSA, 2001, p. 306).

É posta nas páginas do romance uma natureza belimbeleza, que leva o leitor a

adentrar-se pelo sertão, a envolver-se e mesmo a perceber a integração do autor com essa

natureza. No uso de diminutivos como “florzinhas” e “amarelim” fica evidente essa

afetividade e intimidade de Rosa com a natureza. Na passagem a seguir, presente no livro O

Brasil de Rosa de Luiz Roncari, Gilberto Freyre faz referência a Sergio Buarque de Holanda,

este que faz observações acerca do diminutivo, considerando ser uma tendência brasileira e

que nos faz aproximar dos objetos. Vejamos:

O desejo de estabelecer intimidade que o ensaísta Sérgio Buarque de Holanda

considera tão característico brasileiro, e ao qual associa aquele pendor, tão nosso,

para o emprego dos diminutivos – que serve, diz ele, para “familiarizarmos com os

objetos” (FREYRE, apud RONCARI, 2004, p. 35).

Em Grande sertão: veredas, a coloração das flores, como no exemplo acima,

“florzinhas amarelas”, além de ser um elemento importante de percepção do mundo sertanejo,

é também comparado à beleza, à mulher que Riobaldo ama. É o que se observa no trecho:

Ao crer, que soubesse mais do que eu mesmo o que eu produzia no coração, o

encoberto e o esquecido. Nhorinhá – florzinha amarela do chão, que diz: – Eu sou

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bonita!... E tudo neste mundo podia ser beleza, mas Diadorim escolhia era o ódio.

(ROSA, 2001, p. 393).

Mas no cerrado temos várias outras cores que pintam a vegetação e estão

presentes nas espécies típicas, como os capins, ervas, arbustos e árvores que são empregados

na alimentação, na medicina, em jardins e em outras serventias. Algumas das

aproximadamente 180 espécies encontradas no romance ganham certo destaque como o buriti,

o mais citado no relato que, como outras, ganhou o mundo nas páginas de Guimarães Rosa.

A paisagem do sertão vai sendo construída e caracterizada pela natureza e,

consequentemente, por sua vegetação. Além da constante presença desses vegetais no cenário,

eles possuem suas simbologias no romance e têm sua importância para o desenvolvimento da

narrativa. Segundo Mônica Meyer, “em Grande Sertão: Veredas pode-se dizer que a natureza

não se apresenta como um palco, cenário ou moldura onde se desenrola a ação, mas está

dentro de cada personagem e cada um faz sua natureza” (MEYER, 2008, p. 25). A autora

discorre sobre o mesmo assunto em A Boiada “(...) o sertão é incorporado e o que

aparentemente era externo, o entorno, ganha morada em cada um dos personagens que

aprendem a ler o mundo para lerem a si próprios”. (MEYER, 2011, p. 204).

Assim, partimos do pressuposto de que a vegetação não se apresenta somente

como um plano de fundo onde acontecem as ações em Grande sertão: veredas, ela também

tece a trama da vida do ex-jagunço Riobaldo, personagem principal, e delineia a singularidade

da vegetação do sertão e sua relação com o “homem humano”.

As árvores, as flores e os frutos compõem o romance juntamente com suas cores,

cheiros e sabores. Além disso, Rosa realça seus nomes populares, uma maneira de catalogar o

saber do povo sertanejo. Esses vegetais revelam o potencial da flora na alimentação, na

medicina, no fornecimento de madeira e em outras formas de manejo que favorecem as

populações locais. São destacados na obra o pequi, o jatobá, a macaúba, a imburana, o pau

d‟óleo, o tamboril, o agrião, a mangaba, a mandioca, o maracujá-do-mato, o joazeiro, o olho-

de-boi, a peroba, o cajueiro, a faveira, a gameleira, a mangabeira, o murici, o ingazeiro, o pau-

pombo, o capim-capivara, o buriti, o angico, o barbatimão, entre tantos outros2.

Em Grande sertão: veredas os pequizeiros, por exemplo, além de caracterizarem

a vegetação típica do Cerrado, são mencionados por Riobaldo em suas serventias como fonte

de alimento, o uso da sua madeira, o uso no comércio local e também como marcador de

2 Veja em anexo o levantamento da flora de Grande sertão: veredas.

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tempo, pela sua floração. Vejamos alguns trechos do romance em que o narrador cita o pequi

e seus diferentes desempenhos práticos na vida do sertanejo:

O Garanço se regalava com os pequis, relando devagar nos dentes aquela polpa

amarela enjoada. Aceitei não, daquilo não provo: por demais distraído que sou,

sempre receei dar nos espinhos, craváveis em língua. (ROSA, 2001, p. 200).

De como, no prazo duma hora só, careci de ir me vendo escorando rifle e alvejando,

em quentes, em beira de mato e campo, em virada de espigão, descendo e subindo

ramal de ladeirinhas pequenas, e atrás de cerca, debaixo de cocho, trepado em jatobá

e pequizeiro, deitado no azul duma laje grande, e rolando no bagaço doce de cana, e

rebentando por dentro de uma casa. (ROSA, 2001, p. 246).

A quase meio-rumo de norte e nascente, a quatro léguas de demorado andamento,

tinha uma venda de roça, no começo do cerradão. Vendiam licor de banana e de

pequi, muito forte, geléia de mocotó, fumo bom, marmelada, toucinho. Sempre só

um de nós era que ia lá – para não desconfiarem. Ia o Jesualdo. A gente outorgava a

ele o dinheiro, cada um encomendava o que queria. (ROSA, 2001, p. 310).

Ao analisar tais passagens sobre o pequi, verificamos que Rosa caracteriza o fruto

destacando sua cor e seu consumo; como uma espécie de esconderijo e instrumento que

auxilia na guerra; o uso do licor no comércio, ou seja, como fonte de renda; o consumo da

bebida pelos jagunços e uma espécie de divertimento.

Além disso, a vegetação é usada no romance para estabelecer a passagem de

tempo, isso se dá pela sua floração e pela sua frutificação. A fenologia do pequi, do algodão,

do milho, da cana, por exemplo, têm seu tempo natural, acontecem em uma determinada

época do ano.

Assim, para dizer da passagem do tempo e de sua relação com o deslocamento

dos soldados no espaço do confronto, o narrador opta por fazê-la se desenrolar na frente do

leitor por meio de uma descrição que atribui ao tempo a materialidade da natureza em seu

processo contínuo de renovação: as roças crescem, os animais reproduzem, as flores viram

brotos, depois frutos que caem, como o pequi que, maduro, cai no chão sinalizando o fim de

um ciclo – o da reprodução – e o início de outro – o do consumo, momento no qual a

natureza, pródiga que é, se oferece ao homem como sustento. Do mesmo modo, relaciona

determinadas épocas do ano com a floração, frutificação e a predominância de determinada

vegetação:

Aí foi em fevereiro ou janeiro, no tempo do pendão do milho. Trêsmente: que com o

capitão-do-campo de prateadas pontas, viçoso no cerrado; o anis enfeitando suas

moitas; e com florzinhas as dejaniras. Aquele capim-marmelada é muito restível,

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redobra logo na brotação, tão verde-mar, filho do menor chuvisco. De qualquer pano

de mato, de de-entre quase cada encostar de duas folhas, saíam em giro as todas as

cores de borboletas. Como não se viu, aqui se vê. (ROSA, 2001, p. 43-44).

Compadre meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor vá lá, na Jijujã.

Vai agora, mês de junho. A estrela d‟alvasai às três horas, madrugada boa gelada. É

tempo da cana. (ROSA, 2001, p. 74).

No alto, eram muitas flores, subitamente vermelhas, de olho-de-boi e de outras

trepadeiras, e as roxas, do mucunã, que é um feijão bravo; porque se estava no mês

de maio, digo – tempo de comprar arroz, quem não pôde plantar. (ROSA, 2001, p.

120).

Tomando o tempo da gente, os soldados remexiam este mundo todo. Milho crescia

em roças, sabiá deu cria, gameleira pingou frutinhas, o pequi amadurecia no

pequizeiro e a cair no chão, veio veranico, pitanga e caju nos campos. (ROSA, 2001,

p. 319).

No tempo de maio, quando o algodão lãla. Tudo o branquinho. Algodão é o que ele

mais planta, de todas as modernas qualidades: o rasga-letras, bibol, e mussulim.

(ROSA, 2001, p. 623).

Escolhida a natureza para fazer o leitor visualizar o transcurso do tempo, o

narrador opta por fazer este não ser apenas informação do mês, da vegetação em destaque,

mas o ser poeticamente informado desse tempo, este que não é tecnicamente, mas

naturalmente mensurado. Rosa, naturalista que era, não estava interessado em transmitir o

“puro em si” do tempo e da natureza como se fossem informação ou uma espécie de relatório.

Segundo Walter Benjamin, no texto “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai

Leskov”, “a narrativa (...) mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele.

Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso”

(BENJAMIN, 1994, p. 205). Pode-se dizer então que essa “coisa” que cita Benjamim é a

natureza na vida de Rosa/Riobaldo, e em Grande sertão: veredas, que é, nesse caso, “o vaso”,

ele coloca sua “marca”, ou seja, sua maneira de narrar poeticamente.

A natureza, desde o início do mundo, é tomada como utilitária e todas as suas

criaturas deveriam ser prestativas para o homem. Desde modo, é assistida a predominância do

homem sobre seu universo. Vejamos um trecho bíblico que também é citado por Mônica

Meyer:

E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a todos os répteis da terra,

em que há fôlego de vida, toda erva verde lhe será mantimento. (GÊNESIS1: 30,

apud MEYER, 2008, p. 75).

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Vimos então que a única função da natureza era servir ao homem e ser objeto de

dominação a partir do qual ele extrai tudo o que pode para sua sobrevivência. Na carta de

Pero Vaz de Caminha, os portugueses informavam ao rei as maravilhas e os costumes da terra

descoberta já com a intenção de explorar e extrair as riquezas naturais:

Ali ficamos um pedaço, bebendo e folgando, ao longo dela, entre esse arvoredo, que

é tanto e tamanho e tão basto e de tantas prumagens, que homens as não podem

contar. Há entre ele muitas palmas de que colhemos muitos e bons palmitos.

(CAMINHA, 1981, p. 73).

Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de

metal nem de ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim

frios e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo de agora

os achávamos como os de lá. (CAMINHA, 1981, p. 87).

Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar,

dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. (CAMINHA, 1981, p. 88).

É mostrada na carta de Caminha essa posição do homem diante do natural; uma

posição superior e uma relação de utilidade que, segundo Meyer, desencanta a natureza e

transforma esse bem natural em recurso:

É a lógica de uma economia fundamentada na busca de enriquecimento rápido, na

apropriação do ambiente e na extração de matéria-prima que pode ser convertida em

riqueza. Os naturais recursos servem como guias e indicadores de fortuna e a

exploração desenfreada causa desastrosos impactos ambientais, interferindo na vida

local. (MEYER, 2008, p. 87).

Essa exploração e visão utilitária do natural, com o passar dos anos, impôs ao

homem a obrigação de pensar em preservação e repensar na maneira do progresso e do

enriquecimento. O modo de ver a natureza teve que ser mudado, e foi a concepção naturalista

que propôs uma nova maneira de olhar e de se relacionar com o mundo natural.

A natureza de Rosa vai além de ser um objeto de pesquisa, de serventia, de

utilidade e de exploração. Ele não se preocupa tão somente em conhecer os seres em si, em

nomeá-los corretamente e transpor para o papel. Rosa faz com que a natureza seja um sujeito

animado, que tenha vida própria; uma natureza que avisa quando vai chover, que tem

palmeiras que brincam com o vento, buritis que aconselham os personagens.

Aqui, a natureza não é submissa ao homem, os acontecimentos se relacionam

com os cursos da natureza. Assim, percebe-se em Grande sertão: veredas uma harmonia do

homem com o seu universo, do homem com a natureza, do homem com o sertão.

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Portanto, vimos que no romance não podemos rotular a natureza unicamente

como um meio ou palco no qual acontece o espetáculo. Ela é um conjunto maior que agrega

todos os seres e coisas. Rosa nos descreve os vegetais, os animais, os rios, os minerais, a terra,

o céu e todas as “quisquilhas” naturais.

Nossa leitura é como uma travessia, pois mudamos nossa maneira de olhar para

aquele universo sertanejo. É como se fosse um ritual de passagem para adentrar-se nas

veredas, na guerra dos jagunços, no espaço dos gados, nos conflitos surgidos pelo processo de

modernização e na natureza singular daquele sertão. Como diz Riobaldo: “o real não está na

saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” (ROSA, 2001, p.

80).

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Capítulo II – A flora e sua relação com as personagens

A natureza não está longe, nem fora, nem ao redor, não impõe medo, nem espanto,

nem afasta as pessoas. “O sertão é dentro da gente.” (MEYER, 2011, p. 222).

A literatura pode servir de peça etnográfica para espelhar uma sociedade e

também nos mostrar como se dão as relações do homem com a natureza. Há uma integração

que é visível, principalmente nas áreas afastadas e isoladas dos ambientes urbanos, pois

geralmente nesses ambientes a vegetação é utilizada para ornamentação e consumo, uma

natureza artificial. No romance, que se passa no sertão, é perceptível uma relação de extrema

intimidade com o ambiente natural, longe da industrialização, da lei e da ordem. A verdade é

que a “(...) cidade acaba com o sertão. Acaba?” (ROSA, 2001, p. 183).

O natural não se aparta dos sertanejos, não só pela capacidade de usufruir, de

extrair, de usar e de utilizar. A natureza do sertão convive com seus personagens, sendo

construída de modo que o mundo natural se funda na realidade humana, fazendo com que a

identidade de cada um seja o resultado de uma relação mútua.

Exemplo dessa relação são os nomes das personagens, a começar pelo narrador-

protagonista Riobaldo, cujo nome significa “rio de planície de leito raso, sem muito rumo e

traçados definidos” (RONCARI, 2004, p. 83). Em sua narrativa ele chega a se comparar a um

rio:

Consegui o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as árvores da beirada

mal nem vejo... Quem me entende? (ROSA, 2001, p. 359).

Eu queria a muita movimentação, horas novas. Como os rios não dormem. O rio não

quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo. O Urucúia

é um rio, o rio das montanhas. Recebe o encharcar dos brejos, verde a verde,

veredas, marimbús, a sombra separada dos buritizais, ele. Recolhe e semeia areia.

Fui cativo e solto? (...) Mesmo na hora em que eu for morrer, eu sei que o Urucúia

está sempre, ele corre. O que eu fui, o que eu fui. (ROSA, 2001, p. 450-451).

Seu nome, ligado a esse elemento da natureza, se faz justo durante toda a

narrativa, uma vez que os acontecimentos mais importantes em sua vida acontecem também

nos rios. Exemplo disso é o episódio em que Riobaldo tem seu primeiro encontro com

Diadorim, no Rio São Francisco, sobre o qual ele diz: “O São Francisco partiu minha vida em

duas partes.” (ROSA, 2001, p. 325).

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Sobre isso, Roncari pontua que “foi na travessia do São Francisco que ele

conheceu a si, o seu medo, e ao seu outro, Diadorim, possuidor da coragem e autoridade que

não tinha, mas gostaria de ter.” (RONCARI, 2004, p. 82).

Não só os rios têm relação com seus personagens, há relações de personagens com

a fauna e também com a flora, nosso objeto de estudo. Vimos no primeiro capítulo, a título de

exemplo, Riobaldo comparando uma mulher, Nhorinhá, a uma flor como sinônimo de beleza:

“Nhorinhá – florzinha amarela do chão, que diz: – Eu sou bonita!...”. (ROSA, 2001, p. 393).

Rosa faz uso das flores, além de comparar a beleza, para nomear suas

personagens, como exemplo Rosa‟uarda e Miosótis, moças que moravam no Curralinho,

cidade onde Riobaldo foi enviado por seu padrinho Selorico Mendes para aprender a ler.

Riobaldo se lembra dessas mocinhas dizendo que pensava que elas tinham sido suas

namoradas, o que nos leva a crer que não são quaisquer moças, mas sim moças que tiveram

certa importância na sua juventude:

Alemão Vupes ali, e eu recordei lembrança daquelas mocinhas – a Miosótis e a

Rosa‟uarda – as que, no Curralinho, eu pensava que tinham sido as minhas

namoradas. (ROSA, 2001, p. 87).

Curralinho era lugar muito bom, de vida contentada. Com os rapazinhos de minha

idade, arranjei companheirice. Passei lá esses anos, não separei saudade nenhuma,

nem com o passado não somava. Aí, namorei falso, asnaz, ah essas meninas por

nomes de flores. A não ser a Rosa‟uarda – moça feita, mais velha do que eu, filha

de negociante forte, seo Assis Wababa, dono da venda O Primeiro Barateiro da

Primavera de São José – ela era estranja, turca, eles todos turcos, armazém grande,

casa grande, seo Assis Wababa de tudo comerciava. (ROSA, 2001, p. 130 – grifo

nosso).

Nesta última passagem do romance, Riobaldo descreve a moça Rosa‟uarda que,

apesar de morar no Curralinho, era estrangeira, turca. Seu pai, dono de venda, gostava de

Riobaldo e o chamava para almoçar; eles tinham uma boa relação, por isso, o jagunço relata

que estimou “seo Assis Wababa, a mulher dele, dona Abadia, e até os meninos, irmãozinhos

de Rosa‟uarda”. Mesmo sendo estrangeiros e falando uns com os outros numa língua

diferente, Riobaldo afirma que Rosa‟uarda também gostava dele:

Assim mesmo afirmo que a Rosa‟uarda gostou de mim, me ensinou as primeiras

bandalheiras, e as completas, que juntos fizemos, no fundo do quintal, num esconso,

fiz com muito anseio e deleite. Sempre me dizia uns carinhos turcos, e me chamava

de: – “Meus olhos.” Mas os dela era que brilhavam exaltados, e extraordinários

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pretos, duma formosura mesmo singular. Toda vida gostei demais de estrangeiro.

(ROSA, 2001, p. 131).

Ante antes ia para o seo Assis Wababa – aquela hora eu queria só gente estranha,

muito estrangeira, estrangeira inteira! Só fosse um pouco para ver a Rosa‟uarda, essa

assim eu amava? Ah, não. Gostasse da Rosa‟uarda, mais aí nas delícias dela minha

idéia não podendo se firmar – porque aumentava o desamparo de minha vergonha.

Ia para a escola de Mestre Lucas. A lá, perto da casa de Mestre Lucas, morava um

senhor chamado Dodó Meireles, que tinha uma filha chamada Miosótis. Assim, à

parva, às tantices, essa mocinha Miosótis também tinha sido minha namorada, agora

por muitos momentos eu achava consolo em que ela me visse – que soubesse: eu,

com minhas armas matadeiras, tinha dado revolta contra meu padrinho, saíra de

casa, aos gritos, danado no animal, pelo cerrado a fora, capaz de capaz! (ROSA,

2001, p. 139).

Riobaldo gostava dessa moça estrangeira, mas ao se questionar se a amava, ele

negava, pois era um gostar diferente e que não permitia se “firmar”, ou seja, ter um

compromisso mais sério. Ela ficou marcada em sua vida pelo fato de iniciá-lo na vida sexual,

como nos mostra a passagem acima.

Depois que conheceu Rosa‟uarda, Riobaldo conheceu a filha do senhor Dodó

Meireles, chamada Miosótis, moça que também tinha sido sua namorada. Ele afirma que “não

gostava daquela Miosótis, ela era uma bobinha, no São Gregório nunca tinha pensado nela;

gostava era de Rosa‟uarda”. (ROSA, 2001, p. 139).

Sabemos que os namoros com essas “meninas por nomes de flores” (ROSA, 2001,

p. 130) não se efetivaram de fato, tendo em vista que namoro, segundo o dicionário Aurélio é

uma “relação de interesse amoroso recíproco” (FERREIRA, 2001, p. 513); Riobaldo gostava

de Rosa‟uarda, não a amava. Gostar é um sentimento diferente de amar. Entretanto, ao saber

do noivado da primeira com um turco, ele ficou triste, porém aliviado, pois, segundo ele:

“aquele amor não seria mesmo para mim, pelos motivos pessoais.” (ROSA, 2001, p. 140).

Apesar de negar ser amor, ele gostava de Rosa‟uarda; se pegava pensando naquela

moça linda, assim como uma rosa, flor que compõe seu nome: “Rasa‟uarda”. Esta, da família

das Rosáceas, é cultivada em todos os lugares do mundo pela beleza e perfume de suas flores.

As rosas têm sido parte dos gestos simbólicos de romance e amizade desde tempos

imemoriais. Suas cores são as mais variadas: branca, rosa, amarela e vermelha, a mais famosa

e comum quando amantes presenteiam suas namoradas, simbolizando o amor, o afeto. Entre

tanta abundância e cores, elas também existem em várias espécies, como a “Rosa da Turquia”

(BRAGA, 1976, p. 433), cujo nome científico é Rosa damascenae nome popular Rosa Turca.

Assim como a personagem Rosa‟uarda é de origem turca, essa espécie não é típica do sertão;

é de origem búlgara, turca e francesa.

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Guimarães Rosa era considerado um dos mestres em inventar palavras, além de ter

criado neologismos, utilizava regionalismos e arcaísmos (palavras já ultrapassadas) em suas

obras. O nome “Rosa‟uarda” não é muito comum, pois é uma de suas criações. Margarida

Basílio em Teoria Lexical discorre que temos dois processos de formação de palavras:

derivação e composição. Segundo a autora, o processo de derivação

se caracteriza pela junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base para a

formação de uma palavra. Assim, dizemos que uma palavra é derivada quando ela se

constitui de uma base e um afixo. (...) Em geral, a base de uma forma derivada é

uma forma livre – isto é, uma palavra comum; ou mais tecnicamente, uma forma que

possa por si só constituir um enunciado, como acontece com verbos, substantivos,

adjetivos e advérbios. (BASILIO, 1991, p. 26).

Na formação de seu nome, além de “Rosa”, que constitui a base, temos o sufixo

“uarda”; então, Rosa‟uarda. Essa composição pode ser em homenagem a uma pessoa muito

especial na vida e nos escritos de Guimarães, seu pai, Florduardo, cujo nome, em parte,

carrega a designação do substantivo comum flor (base) e o sufixo “uardo”. Esses dois nomes

são formados por um radical + sufixo + vogal temática. Margarida Basílio salienta que do

ponto de vista morfológico, “a base de uma construção é tradicionalmente chamada de

“radical”” (BASILIO, 1991, p. 14). Esse radical, geralmente é seguido de uma “vogal

temática”, que é uma vogal que difere o gênero da palavra. Vejamos: Rosa‟uarda = Rosa +

‟uard + a e Florduardo = Flor + duard + o.

É perceptível uma estrutura idêntica nesses substantivos, já que são compostos por flores

(radical) + uard (sufixo) + a/o (vogal temática).

“Rosa” nos remete ao substantivo “flor”, este que, além de compor o nome de

Florduardo, compõe também seu sobrenome: Florduardo Pinto Rosa, conhecido como o seu

Fulô da venda. Geralmente, em regiões afastadas das cidades grandes, é comum ouvirmos a

pronúncia “fulô”, no lugar de “flor”, que é uma variante.

Interessante que o pai da personagem Rosa‟uarda também era comerciante, assim

como o pai de Guimarães Rosa, o que não é mera coincidência. Sobre essa semelhança entre

os nomes desses personagens, discorre a Professora Ivana Rebello em sua tese de doutorado

Poética de atrito: pedras, jogo e movimento no Grande sertão:

A semelhança dos nomes, Florduardo e Rosa„uarda, não pode vir ao estudioso como

coisa fortuita ou acidental. Nela se representa uma característica do processo de

criação lexicográfica do autor, que cortava e colava termos e sílabas, sempre em

busca de novos vocábulos e outras significações para a sua escrita. O nome da

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menina turca também se constitui uma espécie de homenagem de Rosa ao seu pai.

(REBELLO, 2011, p. 40).

Guimarães Rosa se interessava e se preocupava em nomear com precisão tudo o

que era significativo para ele, inclusive os nomes das personagens. Para uma boa análise

dessas personagens não devemos ficar presos ao texto. Ivana Rebello nos diz que “não se

pode ler Guimarães Rosa por meio de um único livro; toda a sua escrita está prenhe de si

mesmo e do seu inovador projeto de literatura, ainda que tal aspecto incorra em certo risco de

leitura (...)” (REBELLO, 2011, p. 40). Sobre esse aspecto, manifesta-se Ana Maria Machado

no livro Recado do Nome:

O nome próprio em um texto de Proust ou o de Guimarães Rosa é, portanto, uma

palavra poética, um signo espesso e rico que escapa sempre aos limites de cada

sintagma, enviando ao conjunto do texto, e mesmo para além do texto.

(MACHADO, 2003, p. 44 – grifo nosso).

O nome de Rosa‟uarda tem um significado que vai além da história contada, é uma

homenagem a uma figura que não está presente no texto. Mas porque essa homenagem? Rosa

e Florduardo tinham uma relação de cumplicidade, prova disso são as trocas de cartas.

Mostramos no primeiro capítulo alguns trechos de suas correspondências com as quais ele

fornecia dados e estórias que iriam servir para os futuros livros do filho. É possível que em

Grande sertão: veredas Rosa tenha usado informações que o pai lhe fornecia, e, como

homenagem, ter colocado um nome que remete ao pai em uma mocinha em quem Riobaldo

sempre pensava; de quem guardava saudades e lembranças: “A Rosa‟uarda. Me alembrei

dela; todas as minhas lembranças eu queria comigo.” (ROSA, 2001, p. 327).

Miosótis é também o nome popular de uma flor que, cientificamente, é designada

por Myosotisalpestris; conhecida ainda como Não-me-esqueças e Não-te-esqueças-de-mim.

Os nomes populares da flor podem ser explicados por algumas lendas como a de Deus, que

nomeou a florzinha porque ela não conseguia recordar do seu próprio nome. Há também a

lenda de Adão, que ainda no Éden, ao dar nomes às plantas do referido Jardim, não viu a

pequena flor azul; mais tarde, percorrendo o jardim para saber se os nomes tinham sido

aceitos, chamou-as pelo nome; mas se esqueceu de uma pequena florzinha e, para compensar

e nunca mais esquecê-la, deu-lhe o nome de “Não-te-esqueças-de-mim”. Há, ainda, a lenda

alemã conta que um cavalheiro foi pegar, no rio, a flor para sua amada e ao se afogar, gritava

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para ela: “não-me-esqueças”. Também temos a lenda das Lágrimas da Virgem Maria, o

Miosótis no Nazismo, entre outras3.

Apesar de se referir a Miosótis como bobinha e dizer que não gostava dela,

Riobaldo nunca se esquece de mencioná-la, sempre está se lembrando dela, assim como o

nome popular da flor; porém, não da mesma maneira que se lembra de Rosa‟uarda. Isso fica

perceptível até pelos pronomes. Vejamos:

Mesmo parava tempos no pensar numa mulher achada: Nhorinhá, a minha moça

Rosa‟uarda, aquela mocinha Miosótis. Mas o mundo falava, e em mim tonto sonho

se desmanchando, que se esfiapa com o subir do sol, feito neblina noruega movente

no frio de agosto. (ROSA, 2001, p. 332-333 – grifos nossos).

De acordo com a Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos

Paschoal Cegalla, “os pronomes são palavras que substituem os substantivos ou os

determinam, indicando a pessoa do discurso” (CEGALLA, 2010, p. 179). No trecho acima

temos dois tipos de pronomes: o possessivo “minha” e o demonstrativo “aquela”. O primeiro,

segundo Cegalla, “refere-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa”

(CEGALLA, 2010, p. 182); já o segundo, “indica o lugar, a posição ou a identidade dos seres,

relativamente às pessoas do discurso” (CEGALLA, 2010, p. 183).

Quando se refere à Rosa‟uarda, Riobaldo usa o pronome possessivo “minha”,

conferindo-lhe posse, já que ele fala da moça em seu discurso como se ela fosse sua.

Diferente disso, no momento em que se refere a Miosótis, ele faz uso do pronome

demonstrativo “aquela”, indicando assim certo distanciamento em relação a essa, pois ela não

é uma pessoa que ele tem guardado junto de si como Rosa‟uarda.

Então chegamos à conclusão de que Rosa‟uarda era especial, moça de família e

que chegou a ser comparada por Riobaldo com Otacília, mulher que conheceu na Fazenda

Santa Catarina e com quem se casou:

Conheci que Otacília era moça direta e opiniosa, sensata, mas de muita ação. Ela não

tinha irmão nem irmã. Sor Amadeu chefiava largo: grandes gados sem léguas de

alqueires. Otacília não estava noiva de ninguém. E ia gostar de mim? De moça-de-

família eu pouco entendesse. Aser, a Rosa‟uarda? Assim igual eu Otacília não queria

querer; salvante assente que da Rosa‟uarda nunca me lembrei com desprezo: não vê,

não cuspo no prato em que o bom já comi. (ROSA, 2001, p. 209).

3 Lágrimas da Virgem Maria é uma lenda cristã e popular que nos conta que as flores dessa planta teriam ficado

da cor azul quando a Virgem Maria lhes derramou lágrimas por cima. Conta-se que a flor Miosótis – não me

esqueças, também foi utilizada como emblema secreto da Maçonaria, para que os maçons pudessem se

identificar, sem chamar a atenção dos nazistas, durante as perseguições às lojas maçônicas na Alemanha.

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Riobaldo conheceu essas mulheres em diferentes fases de sua vida; uma mais

moço, mas da qual nunca esquecera e a outra quando já era Jagunço. Outra diferença se deve

ao fato de que Rosa‟uarda estava noiva e Otacília não. Otacília e Rosa‟uarda eram moças de

família, com pais ricos, criadas para se casarem, uma com nome de flor, a outra associada às

flores, ou seja, suas características pessoais são relacionadas às características das plantas,

conforme mostraremos.

Na cultura popular sertaneja, retratada no romance, as casas de fazenda onde

havia moças boas para se casarem, plantavam uma flor, cujo nome científico não existe e cujo

significado desliza em função dos diferentes sentidos que lhe são atribuídos por três

personagens, mas pertencentes a um mesmo valor semântico. Segundo Riobaldo, é uma “flor

figurada” (ROSA, 2001, p. 206), justamente para que os homens possam perguntar para as

moças o nome da flor.

Nos textos das cadernetas de Guimarães Rosa achamos registrada, circulada de

azul e colorida de lápis preto, essa flor com um nome e as suas características: “A flor –

(pareceu-me caeté) – chamada casa-comigo. É branca, parece um lírio. xxxxxxxxx E é muito

perfumosa” (B2, p. 17). É atribuída a essa flor, casa-comigo, características de outras plantas:

o caeté e o lírio, porém, não se conhece com certeza o nome de tal espécie perfumosa, e isso

faz com que sua identidade seja curiosa; assim, acabam por indagar seu nome:

Mas, na beira da alpendrada, tinha um canteirozinho de jardim, com escolha de

poucas flores. Das que sobressaíam, era uma flor branca – que fosse caeté, pensei, e

parecia um lírio – alteada e muito perfumosa. E essa flor é figurada, o senhor sabe?

Morada em que tem moças, plantam dela em porta da casa-de-fazenda. De propósito

plantam, para resposta e pergunta. Eu nem sabia. Indaguei o nome da flor. (ROSA,

2001, p. 206).

Esse registro aparece logo após anotações de características de uma fazenda, esta

que tem o mesmo nome da fazenda em que reside Otacília:

A Fazenda Santa Catarina fica perto (junto do) céu – um céu azul pintural – de Pisa

ou Siena – com nuvens que não se removem (...) entre os currais e o céu. Há apenas

um limpo gramado e uma restinga de cerrado, de onde descem borboletas brancas,

que passam entre as réguas da cêrca.

Fogo-pagou = sempre! (Boiada 2, p. 17).

De maneira muito parecida com o que o autor Guimarães Rosa registrou em suas

anotações em Boiada 2, Riobaldo narra para o Senhor da cidade como era a fazenda de

Otacília, antes da pergunta e da conversa sobre a flor:

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O que lembro, tenho. Venho vindo, de velhas alegrias. A Fazenda Santa Catarina era

perto do céu – um céu azul no repintado, com as nuvens que não se removem. A

gente estava em maio. Quero bem a esses maios, o sol bom, o frio de saúde, as flores

no campo, os finos ventos maiozinhos. A frente da fazenda, num tombado,

respeitava para o espigão, para o céu. Entre os currais e o céu, tinha só um gramado

limpo e uma restinga de cerrado, de donde descem borboletas brancas, que passam

entre as réguas da cerca. Ali, a gente não vê o virar das horas. E a fogo-apagou

sempre cantava, sempre. Para mim, até hoje, o canto da fogo-apagou tem um cheiro

de folhas de assapeixe. (ROSA, 2001, p. 204-205).

Percebemos com essas comparações de notas de viagem e de trechos do romance

que Rosa usou de seu conhecimento e de sua experiência no sertão para descrever a flor

perfumada, o ambiente e até mesmo o tempo que rodeava os personagens. É notório, tanto nas

anotações vivenciadas pelo autor quanto na narração das vivências de Riobaldo, o

encantamento com o lugar, a descrição singular da natureza que constituía as fazendas de

Santa Catarina e no romance, lugar onde vivia uma moça “risonha e descritiva de bonita”

(ROSA, 2001, p. 205).

Otacília, “mimo de alecrim” (ROSA, 2001, p. 205), como qualificou Riobaldo,

mais uma vez comparada a uma planta, era, como todas as moças: mansa, branca e delicada,

mas “Otacília era mais” (ROSA, 2001, p. 206). Em todas as casas onde havia moças boas para

casar, em frente havia uma flor misteriosa que, motivo de pergunta, exigia uma resposta.

Como vimos no romance, Riobaldo, sem saber, indagou o nome da flor:

– “Casa-comigo...” – Otacília baixinho me atendeu. E, no dizer, tirou de mim os

olhos; mas o tiritozinho de sua voz eu guardei e recebi, porque era de sentimento.

Ou não era? Daquele curto lisim de dúvidas foi que minou meu maisquerer. E o

nome da flor era o dito, tal, se chamava – mas para os namorados respondido

somente. (ROSA, 2001, p. 206).

Essa “flor do amor” (ROSA, 2001, p. 206), como é chamada por Riobaldo, tem

uma pluralidade de significados; é uma “flor figurada” (ROSA, 2001, p. 206). Isso ocorre

pelo fato de uma mesma flor ganhar diferentes nomes ao relacioná-la com diferentes

mulheres. Ao pensar em Nhorinhá, sua “pimenta-branca” (ROSA, 2001, p. 206), prostituta

com quem Riobaldo se envolve, a flor recebe a alcunha de “Dorme-comigo”:

Consoante, outras, as mulheres livres, dadas, respondem: – “Dorme-comigo...”

Assim era que devia de haver de ter de me dizer aquela linda moça Nhorinhá, filha

de Ana Duzuza, nos Gerais confins; e que também gostou de mim e eu dela gostei.

Ah, a flor do amor tem muitos nomes. Nhorinhá prostituta, pimenta-branca, boca

cheirosa, o bafo de menino pequeno. Confusa é a vida da gente; como esse rio meu

Urucúia vai se levar no mar.(ROSA, 2001, p. 206).

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Luiz Roncari, ao caracterizar Nhorinhá, faz uma comparação com frutas de beira

de estrada, frutas sem dono, assim como a prostituta:

Ela é uma daquelas prostitutas doadoras do amor sexual e sensível, sempre acessível

ao alcance de todos, como as frutas sem dono das beiras de estrada: “Nhorinhá –

florzinha amarela no chão, que diz: – Eu sou bonita!...” e “Nhorinhá, gosto bom

ficado em meus olhos e minha boca” (ROSA, 1963, p. 356 e 96). (RONCARI, 2007,

p. 127).

Ao dialogar com Otacília sobre a “flor do amor” (ROSA, 2001, p. 206), Riobaldo

chama Diadorim, este que estava distante da conversa; como se tivesse que lhe dar satisfação,

o jagunço explica que estavam falando sobre a plantinha. Nesse dia “remarcado”, Riobaldo

viu que Otacília não gostava de Diadorim e este tinha ciúme dele com qualquer mulher:

E Diadorim reparou e perguntou também que flor era essa, qual sendo? – perguntou

inocente. – “Ela se chama é liroliro...” – Otacília respondeu. O que informou,

altaneira disse, vi que ela não gostava de Diadorim. Digo ao senhor que alegria que

me deu. Ela não gostava de Diadorim – e ele tão bonito moço, tão esmerado e

prezável. Aquilo, para mim, semelhava um milagre. Não gostava? Nos olhos dela o

que vi foi asco, antipatias, quando em olhar eles dois não se encontraram. E

Diadorim? Me fez medo. Ele estava com meia raiva. O que é dose de ódio – que vai

buscar outros ódios. Diadorim era mais do ódio do que do amor? Me lembro,

lembro dele nessa hora, nesse dia, tão remarcado. Como foi que não tive um

pressentimento? (ROSA, 2001, p. 206-207).

Portanto, vimos que dentro da narrativa essa flor tem vários nomes, pois ao

indagar sobre sua espécie temos diferentes respostas. A flor tem o nome de casa-comigo para

Otacília, dorme-comigo para Nhorinhá e Liroliro quando Diadorim pergunta a Otacília o

nome da planta.

Riobaldo, em sua trajetória de jagunço, experimentou diferentes situações

amorosas; cada um desses amores teve importância particular em sua vida e por cada uma

dessas mulheres nutriu um tipo de sentimento diferenciado. Tal como os gregos, por exemplo,

que fazem três tipos de distinção de amor, usavam a palavra de acordo com o tipo de amor a

que se referiam: Ágape é um amor sentimental, fraternal e espiritual, podemos relacioná-lo ao

amor de Otacília; Eros se refere ao amor sexual, carnal e que relacionamos a Nhorinhá; por

fim, temos o Philos, que é um amor vinculado à amizade e que pode ser relacionado a

Diadorim e, nesse caso, também a um amor impossível.

Otacilía sente por Riobaldo um amor sentimental; é ela quem oferece a ele

estabilidade, fidelidade e afeto constante. Por tais motivos é que é relacionada à flor casa-

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comigo. Diferente de Otacília, Nhorinhá é o amor carnal como prostituta, representa o amor

físico e é com ela que Riobaldo vive momentos de profunda satisfação, por isso é relacionada

à flor dorme-comigo. O último de seus amores, Diadorim, é quem representa para ele um

amor inexplicável e impossível, proibido. Um amor que se apossa do jagunço como um

feitiço, um encanto que o perseguiu ao longo de sua travessia. Esse é um amor travestido de

amizade, relativo ao nome da flor, quando denominada liroliro. Essas três denominações,

referindo-se a três tipos de pessoas, à namorada, à prostituta e ao amigo-jagunço, simbolizam

no romance os diferentes discursos sobre o amor.

Além dessas relações baseadas nos significados das palavras, analisaremos

visualmente as estruturas das palavras relacionando-as aos seus respectivos significados.

Reparem que casa-comigo tem letras iguais no começo de cada palavra, dorme-comigo tem

letras diferentes no começo das palavras, ambas formam uma locução, cujos vocábulos se

unem por meio do hífen. Liroliro é diferente, é uma palavra dobrada, repetida, espelhada:

Diadorim, nome a que liroliro se refere, tem a partícula “Di” que remete a dualidade, dois,

duplo.

Podemos associar que em casa-comigo há um casamento entre as palavras, por

meio da letra “c” que se repete no início de cada uma. Na segunda palavra – dorme-comigo –

não há essa combinação, por isso pode remeter a uma relação passageira e, por fim e

ironicamente, a palavra liroliro, sem hífen, com identidade absoluta entre os vocábulos que a

forma, é a expressão metafórica de relação interdita.

Num ambiente tão masculino como o sertão, onde a força, a brutalidade, a

valentia e a coragem são impostas, parece ser o signo do feminino e dessas mulheres com

nomes de flores, entretanto, que fazem com que o homem-jagunço se mova e seja levado a

realizar suas travessias.

O primeiro signo, feminino, que não tem nome de flor, mas que não podemos

deixar de lembrar é sua mãe, a Bigri. Márcia Marques de Morais associa o amor de Bigri com

o de Diadorim:

O deslizamento do amor por Diadorim para o amor da Bigri representa-se, na ordem

discursiva, através da metonímia dos olhos verdes do jagunço que, em várias

passagens do romance, lembravam “os olhos de velhice de minha mãe” (Rosa, 1965,

p. 115) e através, ainda, da figuração de Diadorim como o buriti, palmeira que, se no

canto de João Fulano, em “Cara-de-Bronze” é a “mamãe verde do sertão” (Rosa,

1996, p. 83), nas palavras de Riobaldo, depois de morto, Diadorim é a palmeira

namorada da “quadra do entardecer”. (Rosa, 1965, p. 455). Aí se vê, pois, outra

simbiose, outra contigüidade entre figuras, outra metonímia, não por acaso, nas

palavras de Lacan, a expressão do desejo: Diadorim e a Bigri se superpõem através

do “interpretante” semiótico: o verde dos olhos e da palmeira, do buriti, fazendo

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com que Cavalcanti Proença, ao identificar Riobaldo com o Urucuia, um rio-baldo,

diga: “Acabou-se o Urucuia que nasceu de um buriti, amou um buriti e acabou no

São Francisco” (Proença, 1958, p. 42) e que ainda, imaginem, em 1958, escreve: Os

olhos do menino eram verdes, cor das palmas, e quando Riobaldo os reencontra no

moço cangaceiro, antes de reconhecer o amor tormentoso, faz a “transferência

reveladora” (a autora enfatiza): “Doçura do olhar dele me transformou para os olhos

da velhice de minha mãe”. (Proença, 1958, p. 56). (MORAIS, 2002, p. 266).

Ao relacionar Diadorim com Bigri, Márcia Marques nos lembra de Proença que,

nas Trilhas do Grande Sertão, relacionou os olhos verdes e os buritis como símbolos comuns

às duas personagens. Mas além dos olhos e da palmeira, temos relação de Diadorim e da mãe

de Riobaldo também em seus nomes. Flávio Aguiar, no ensaio “O oco do mundo”, escreveu:

(...) o nome Bigri tem associações com o de Diadorim. Bi lembra duas vezes e Di

também lembra dois. Mas compõem uma associação por complementaridade, pois o

„dois‟ do Di de Diadorim remete em primeiro lugar à idéia de divisão, conflito,

enquanto Bi de Bigri remete à idéia de duplicação, mãe que é vicariamente pai,

fusão de dois seres diversos. (AGUIAR, 1998, p. 90-91)

A vida de Riobaldo se divide em antes e depois de conhecer Diadorim. Já sua mãe

teve importância diferente e especial, pois foi ela quem, segundo o personagem, nutriu um

“amor constando com justiça, que o menino precisava” (ROSA, 2001, p. 57 – grifo nosso), já

que esse não teve a figura paterna e foi sua mãe quem cumpriu com o duplo papel. Após sua

morte, ele também teve sua mãe como divisora, uma pessoa que marcou sua vida e o obrigou

a seguir outro caminho, ir morar com seu padrinho Selorico Mendes:

Minha mãe morreu – apenas a Bigri, era como ela se chamava. Morreu, num

dezembro chovedor, aí foi grande a minha tristeza. Mas uma tristeza que todos

sabiam, uma tristeza do meu direito. De desde, até hoje em dia, a lembrança de

minha mãe às vezes me exporta. Ela morreu, como a minha vida mudou para uma

segunda parte. (ROSA, 2001, p. 126-127).

Já Diadorim, o amor impossível e irrealizado, é ser ambíguo, como dissemos

anteriormente. Será ele(a) quem despertará em Riobaldo o amor e o ódio; o bem e o mal; o

claro e o escuro. Assim, ela apresenta as belezas e as “quisquilhas” da natureza, mas também

o conduz rumo à crueldade, à maldade e à aspereza do sertão. Diadorim não somente

direciona Riobaldo ao conhecimento, mas também a descoberta dos impulsos sensuais. O

jagunço custa entender a paixão por seu amigo de “roupas e armas”, por isso, ele acreditava

ser feitiço. O próprio narrador indaga: “o amor assim pode vir do demo? Poderá!? Pode vir de

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um–que-não-existe?” (ROSA, 2001, p. 155). É através dele(a) que Riobaldo passa a transitar

no mundo dos Jagunços, aprendendo valores como lealdade, bravura e honra, destacando-se

como chefe e experimentando o poder e as glórias de ser líder.

Ao contrário de Diadorim, que tenta reprimir seu lado feminino, Nhorinhá o

exalta; enquanto o verde dos olhos representa Diadorim, o vermelho, cor forte e provocante

que simboliza a paixão e o desejo, representa Nhorinhá, pois é sempre vinculada a tal cor. Isso

fica perceptível em uma das passagens do romance, quando Riobaldo vê Nhorinhá pela

primeira vez: “Ao que, num portal, vi uma mulher moça, vestida de vermelho” (ROSA, 2001,

p. 48).

A relação sexual entre o jagunço e a “militriz”4 ultrapassa o limite do desejo, do

gozo físico, da comunhão carnal, para converter-se numa união quase sagrada. Riobaldo

chega a pensar como seria se tivesse casado com ela:

Segunda vez com Nhorinhá, sabível sei, então minha vida virava por entre outros

morros, seguindo para diverso desemboque. Sinto que sei. Eu havia de me casar

feliz com Nhorinhá, como o belo do azul; vir aquém-de. Maiores vezes, ainda fico

pensando. Em certo momento, se o caminho demudasse – se o que aconteceu não

tivesse acontecido? Como havia de ter sido a ser? Memórias que não me dão

fundamento. O passado – é ossos em redor de ninho de coruja... (ROSA, 2001, p.

537-538).

Sobre essa possibilidade levantada de ter se casado com Nhorinhá, discorre Luiz

Roncari em O cão do sertão:

Riobaldo até pode, em algum momento, almejar casar-se com Nhorinhá e sugerir

alguma sensualidade na relação com Otacília, mas são breves passagens, que não

quebram a distância entre elas nem deixam que os dois modelos se misturem.

(RONCARI, 2007, p. 129).

Nhorinhá, embora represente o amor consumado, o amor da carne, o amor por ela

vai sendo construído ao longo da obra também como amor terno, percebido pelo cuidado, pela

delicadeza com que Riobaldo lembra da personagem. Ela foi significativa durante sua

travessia.

Por fim, temos Otacília, que é pura, sensível e delicada como o branco do lírio, do

alecrim e também o branco que representa a paz. Otacília, a firme presença, abre para

Riobaldo a possibilidade de se fixar, de levar uma vida sensata, estável, de bases sólidas,

longe dos conflitos da jagunçagem. Essa mudança de modo de vida foi como trocar a guerra

4 Variação de meretriz.

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(Diadorim) pela paz (Otacília) ante a indefinição e perturbação de Diadorim e a paz da

fazenda: “Otacília sendo forte como a paz, feito aqueles largos remansos do Urucúia, mas que

é rio de braveza” (ROSA, 2001, p. 327).

Desse modo, Otacília é o amor espiritual a quem Riobaldo consagra sua vida. A

moça garante-lhe, através do casamento, não somente o sossego, mas também o status de

fazendeiro, dono de terras; mulher ideal, pura, apta ao papel de esposa dedicada. “Otacília. O

prêmio feito esse eu merecia?” (ROSA, 2001, p. 174). É tão sublime a imagem que se cria de

Otacília, que Luiz Roncari chega a compará-la à pintura de uma santa:

Em oposição a Nhorinhá, está Otacília, a Fé, capaz de realizar milagres, a quem o

herói vê por dois breves momentos, de baixo para cima: ele ao pé da varanda e ela

“no enquadro da janela”, como a pintura barroca de uma santa: “a Nossa Senhora

um dia em sonho ou sombra que aparecesse, podia ser assim” (ibidem, p. 151).

(RONCARI, 2007, p. 128).

Portanto, fica perceptível a importância de todas essas mulheres para a travessia

do jagunço e para formação do homem Riobaldo. Rosa‟uarda, Miosótis vimos que têm nome

de flores; já Nhorinhá e Otacília vimos que são sempre comparadas e relacionadas a diversas

flores. E Diadorim? Diadorim, o “liroliro”, vimos que é a forma diferente de ser tratada. Ela

não só tem importância na travessia de Riobado, mas também acompanha sua travessia no

sertão: “Saí, vim destes meus gerais: voltei com Diadorim. Não voltei? Travessias...

Diadorim, os rios verdes.” (ROSA, 2001, p. 325).

Como já mencionado, o verde dos olhos é a cor que simboliza Diadorim, nos rios:

“rios verdes” (ROSA, 2001, p. 325); no mar, comentando sua morte: “Morreu o mar, que foi”

(ROSA, 2001, p. 617); no vento: “o vento é verde” (ROSA, 2001, p. 306) e a palmeira:

“namorei uma palmeira” (ROSA, 2001, p. 617). Ou seja, Diadorim, além de mostrar a

natureza para Riobaldo, também deixou seu rastro nele: “Diadorim me pôs o rastro dele para

sempre em todas essas quisquilhas na natureza.” (ROSA, 2001, p. 45).

O sertão, apesar de ser um lugar árido, onde guerreiam os fortes, também revela

veredas, lugares agradáveis, compostos por muitas águas e carregados de buritis. Nessa

narrativa, o amor protagonizado por Riobaldo e Diadorim pode ser comparado às veredas, e

nelas quem é o buriti é Diadorim: “meus buritizais levados de verdes...” (ROSA, 2001, p.

614). Mas essas veredas, reino dos buritizais, são ambíguas; podem ter aparência enganosa,

assim como Diadorim. Vereda, além de ser um lugar ameno, aprazível e que encanta, pode ser

ao mesmo tempo um lugar perigoso, traiçoeiro e movediço.

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Nesse cenário de tantos rios, animais e flores, ganha destaque o buriti. Nessa

história composta por vários e diferentes amores, quem marca a vida de Riobaldo para sempre

é Diadorim. Então, podemos perceber o entrelace da natureza e seus personagens em Grande

sertão: veredas, e uma leitura atenta não pode, de maneira alguma, dispensar sua análise.

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Capítulo III – “Buriti, buriti meu...: a pluralidade de significados do buriti em Grande

Sertão: veredas”

“O senhor escute o buritizal.

E meu coração vem comigo.”

(ROSA, 2001, p. 329).

A palmeira buriti (Mauritia flexuosa) é, de longe, o vegetal mais citado em

Grande sertão: veredas, cerca de 60 vezes; tem como nomes populares: buriti, carandá-guaçu,

carandaé-guaçu, miriti, muriti, palmeira-buriti, palmeira-dos-brejos. O buriti é utilizado para

as mais diversas finalidades pelo povo do sertão; dele se obtém abrigo, alimento e até mesmo

transporte.

Já no título do romance em questão, temos a palavra “veredas”, que é uma

formação típica da região do cerrado. Ao longo dos brejos ou locais encharcados, forma-se

um “caminho” de palmeiras buritis, que só sobrevivem nesse tipo de terreno e que se

destacam na paisagem. Sendo assim, verificamos imediatamente a importância dessa

formação de vegetação no romance e, consequentemente, da palmeira buriti.

Nas veredas sempre há buritis; e onde existe buriti há um percurso de água. Como

diz Riobaldo, “o buriti é das margens” (ROSA, 2001, p. 393), “não se aparta das águas –

carece um espelho” (ROSA, 2001, p. 325). Analisando tais passagens nota-se uma associação

do buriti com a água e com o espelho, elementos que refletem imagens e que nos fazem

lembrar outras histórias.

A literatura está repleta de espelhos, exemplo disso é a história antiga de Narciso

que, ao olhar sua própria imagem na água se apaixonou e foi consumido por seu reflexo no

lago. A rainha da Branca de Neve tinha um espelho mágico, em que perguntava: “Espelho,

espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”. Ao fazer tal questionamento, a rainha vê o

espelho não só como um objeto que reflete sua imagem, mas também como um “ser” que lhe

dá respostas; e temos Alice, que viajava para o outro lado através de um espelho.

Há espelho plano, espelho côncavo e convexo, espelho d‟água, espelho da

literatura, etc. A verdade é que “o espelho, são muitos” (ROSA, 1972, p. 71), como acentua

Guimarães Rosa em seu conto “O Espelho”. Eles possuem várias maneiras de refletir e recriar

imagens, histórias e identidades, isso os torna fascinantes. Em seu livro Sobre os Espelhos e

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outros ensaios, Humberto Eco atribui a esse objeto especular a singularidade de inspirar a

literatura em geral:

O fato de a imagem especular ser, entre os casos de duplicatas, o mais singular, e

exibir características de unicidade, sem dúvida explica porque os espelhos têm

inspirado tanta literatura. (ECO, 1989, p. 20).

Espelho (do latim speculum) significa observar, indagar e questionar, podendo

simbolizar a sabedoria e o conhecimento. Ele exerce, desde sempre, grande fascínio sobre o

espírito humano, pois gera um espaço de ambiguidade: a imagem que reflete é

simultaneamente idêntica (ainda que invertida) e ilusória.

Sobre essa fenomenologia do espelho, Umberto Eco defende que “os espelhos não

se invertem” (ECO, 1989, p. 13). Vejamos:

Tal opinião (de que o espelho ponha a direita no lugar da esquerda e vice-versa) é

tão arraigada que alguém até insinuou que os espelhos têm essa propriedade, a de

trocar a direita pela esquerda, mas não alto pelo baixo. O espelho reflete a direita

exatamente onde está a direita, e a esquerda exatamente onde está a esquerda. É o

observador (ingênuo, mesmo quando físico por profissão) que, por identificação,

imagina ser o homem dentro do espelho, e olhando-se percebe que usa, por exemplo,

o relógio no pulso direito. O fato é que o usaria se ele, o observador, fosse aquele

que está dentro do espelho. Quem, ao contrário, evita comportar-se como Alice e

não entra no espelho, não sofre essa ilusão. (ECO, 1989, p. 13).

Olhando por essa visão de Umberto Eco, podemos dizer que Riobado foi ingênuo,

pois não se atreveu a se adentrar pela imagem de Diadorim. Ele sofreu a ilusão da espelharia,

acreditando que Reinaldo fosse, de fato, um homem.

No conto “O espelho”, Guimarães Rosa alerta que a visão pode não ser confiável:

“os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim” (ROSA,

1972, p. 72). Interessante que Riobaldo fala sempre dos olhos de Diadorim, olhos verdes,

assim como a natureza e assim como o buriti. Esses olhos foram porta de engano, pois, como

já mencionado, em toda sua trajetória de jagunço, Riobaldo acreditava estar apaixonado por

uma pessoa do mesmo sexo, por uma imagem idêntica. Porém, quando Diadorim morre,

Riobaldo descobre que ele era mulher, portanto era uma imagem invertida; assim como o

espelho, ilusória. Vejamos uma passagem que se refere à morte de Diadorim:

Aquela Mulher não era má, de todo. Pelas lágrimas fortes que esquentavam meu

rosto e salgavam minha boca, mas que já frias já rolavam. Diadorim, Diadorim, oh,

ah, meus-buritizais levados de verdes... Buriti, do ouro da flor... E subiram as

escadas com ele, em cima de mesa foi posto. (ROSA, 2001, p. 614).

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Após sua morte e diante da tristeza que sentia Riobaldo, este lamenta: “Namorei

uma palmeira na quadra do entardecer...” (ROSA, 2001, p. 617). Sobre o desenvolvimento

dessa palmeira buriti, Luiz Roncari pontua no livro O Brasil de Rosa que “o buriti não só faz

um movimento ascendente, ele estabelece um vínculo entre as duas esferas, a terrestre e a

celeste, de modo a tornar uma no espelho da outra e poderem refletir mutuamente suas

belezas”. (RONCARI, 2004, p. 191).

Desse modo, podemos pensar que, após sua morte, Diadorim, o buriti de

Riobaldo, faz uma “troca” de esferas, pois troca o azul das águas das veredas pelo azul

celeste. Deixa de se espelhar nas águas que lhe conferem dualidade, para se tornar singular em

sua vida.

O nome popular “buriti” é do gênero masculino, porém seu nome científico

mauritia flexuosa é do gênero feminino. Tais nomes podem ser relacionados ao percurso de

jagunço macho vivido por Reinaldo/Diadorim em todo o romance, mas que na verdade era

uma mulher, Deodorina.

No livro Guimarães Rosa e a Psicanálise, Tânia Rivera nos lembra do filósofo

Aristóteles, este que nos afirma na obra Poética que “a metáfora é o transporte (metaphorà)

para uma coisa do nome da outra. Essa outra coisa deve, contudo, manter com a primeira uma

relação de analogia.” (RIVERA, 2005, p. 24). Ou seja, metáfora é uma figura de linguagem

em que há o emprego de uma palavra ou uma expressão, num sentido que não é muito

comum, numa relação de semelhança entre dois termos.

No trecho de Grande sertão: veredas fica claro essa metáfora usada por Rosa,

Diadorim transfere sua identidade para a imagem do buriti: “meus-buritizais” (ROSA, 2001,

p. 614). A comparação entre palmeira e humano não é muito comum, porém, no romance,

esses dois elementos são relacionados devido às características similares. O buriti, além de

verde, como os olhos de Diadorim, pode ser um símbolo fálico, se pensarmos na semelhança

da palmeira com o órgão sexual masculino. Essa palmeira refletida na água nos faz pensar nos

personagens Riobaldo e Diadorim, inicialmente do mesmo sexo, pois a palmeira refletida na

água é símbolo do igual, porém, invertido, uma imagem que engana. E enganou Riobaldo,

como vimos, pois em toda sua trajetória achou que fosse um amor entre homens e isso o

perturbou:

Mas ponho minha fiança: homem muito homem que fui, e homem por mulheres! –

nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados. Repilo o que, o sem preceito.

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Então – o senhor me perguntará – o que era aquilo? Ah, lei ladra, o poder da vida.

Direitinho declaro o que, durando todo tempo, sempre mais, às vezes menos, comigo

se passou. Aquela mandante amizade. Eu não pensava em adiação nenhuma, de pior

propósito. Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um

feitiço? Isso. Feito coisafeita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele

fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu

só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas

não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele

sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo,

quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei

insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava. Muitos

momentos. (ROSA, 2001, p. 162-163).

Esse amor que era nutrido dentro de Riobaldo a cada dia, segundo ele, é contrário

às leis da natureza, segundo as quais plantas brotam, crescem e morrem. O amor por

Diadorim era um amor entre dois homens e não entre um homem e uma mulher, como era

aceito no sertão. Riobaldo chega a questionar:

Amor desse, cresce primeiro; brota é depois. Muito falo, sei; caceteio. Mas porém é

preciso. Pois então. Então, o senhor me responda: o amor assim pode vir do demo?

Poderá?! Pode vir de um-que-não-existe? (ROSA, 2001, p. 155).

Além da associação do buriti com Diadorim, podemos relacionar o buriti ao saber,

como um conselheiro de Riobaldo:

Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: coragem minha. Buriti quer todo

azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não é quem sempre

ensina, mas quem de repente aprende. (ROSA, 2001, p. 325-326).

Temos nessa passagem, em que Riobaldo está saindo da Bahia e voltando para

Minas, o personagem perguntando coisas ao buriti, como se procurasse respostas para suas

dúvidas, assim como a madrasta da história da Branca de Neve, que também faz indagações

ao seu espelho e obtém respostas.

O buriti, que é sempre acompanhado por um percurso de água que lhe serve de

espelho (este que significa questionar), é também comparado a um mestre, no qual ele busca

conhecimento e acaba aprendendo. Vimos que o buriti responde que Riobaldo precisa ter

coragem, nos fazendo lembrar da passagem em que ele diz que sua coragem era “variável”, e

que quando quer ter coragem basta olhar no espelho:

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Eu cá não madruguei em ser corajoso; isto é: coragem em mim era variável. Ah,

naqueles tempos eu não sabia, hoje é que sei: que, para a gente se transformar em

ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espelho – caprichando de

fazer cara de valentia; ou cara de ruindade! (ROSA, 2001, p. 62).

Outro aspecto que nos intrigou, lembrando que esse aspecto é visual, foi o fato de

que sempre, ao mencionar a palavra “espelho” e muitas vezes “água”, que também produz

reflexo, Rosa utiliza de um sinal gráfico, uma espécie de travessão, que faz com que as frases

tenham “dois lados”: “no espelho – caprichando de fazer cara de valentia” (ROSA, 1972, p.

62); “não se aparta de sua água – carece um espelho” (ROSA, 1972, p. 71); “Buriti – água

azulada” (ROSA, 1972, p. 135); “Mesmo eu – que, o senhor já viu, reviro retentiva com

espelho cem-dobro de lumes” (ROSA, 1972, p. 359); “o buriti é das margens ele cai seus

cocos na vereda – as águas levam – em beiras...” (ROSA, 1972, p. 393).

Ao ler o texto “O Espelho”, de Rosa, percebemos também o uso desse sinal

gráfico ao introduzir o texto: “O senhor, por exemplo, que sabe e que estuda, suponho nem

tenha ideia do que seja na verdade – um espelho?” (ROSA, 1972, p. 71). Como nada é

gratuito na literatura rosiana, podemos pensar que assim como o espelho tem uma dualidade,

essas frases em questão estão visualmente partidas, contendo dois lados.

A espelharia em Grande sertão: veredas não aparece somente nas frases que têm

a palavra espelho ou água, mas há algumas frases que têm palavras espelhadas: “nas frescas

beiras da lagoa – ah, a papeagem no buritizal, que lequelequeia” (ROSA, 2001, p. 63); “um

buriti – tetéia enorme” (ROSA, 2001, p. 333); “buriti – verde que afina e esveste,

belimbeleza” (ROSA, 2001, p. 61). Nessa última passagem, por exemplo, o travessão aparece

depois da palavra “buriti” e logo depois vem a frase adjetivando-o, contendo a palavra

“belimbeleza”. Reparem que é um neologismo criado por Rosa; podemos até nos atrever a

dizer que é o belo em beleza.

Assim, percebemos que o duplo está contido em vários elementos da narrativa,

sendo, dessa forma, um artefato usado por Rosa, inclusive na forma de Grande sertão:

veredas. Essa assertiva pode causar estranhamento, pois sabemos que o romance não é

dividido por capítulos, porém, podemos dizer que é dividido em partes. Em sua tese A Forma

do Meio: livro e narração na obra de João Guimarães Rosa, Clara Maria Abreu Rowland

coloca em questão a partição de tal narrativa:

No meio de Grande Sertão: Veredas, abrindo a sequência central, o leitor encontra

uma interrupção: a narrativa suspende-se para se comentar, solicitando a sua

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estrutura e ameaçando dissolvê-la, ao mesmo tempo que dela constitui a primeira

imagem global. Não estamos longe, nessa pausa, das funções que encontrámos até

agora nos índices e nas parábases: o meio faz-se mapa do livro, descreve-se e

interpreta-se, faz-se ponto de suspensão e articulação entre partes. (ROWLAND,

2009, p. 247).

Na “interrupção” que cita a autora, temos uma imagem geral da narrativa; além

disso, ela serve para articulação, ou seja, uma travessia para a segunda parte. Nessa

“suspensão” Riobaldo ameaça ao seu ouvinte de “pôr ponto” em seu contar, porém, segundo

ele, falta algo:

Só sim? Ah, meu senhor, mas o que eu acho é que o senhor já sabe mesmo tudo –

que tudo lhe fiei. Aqui eu podia pôr ponto. Para tirar o final, para conhecer o resto

que falta, o que lhe basta, que menos mais, é pôr atenção no que contei, remexer

vivo o que vim dizendo. Porque não narrei nada à-toa: só apontação principal, ao

que crer posso. Não esperdiço palavras. Macaco meu veste roupa. O senhor pense, o

senhor ache. O senhor ponha enredo. Vai assim, vem outro café, se pita um bom

cigarro. Do jeito é que retorço meus dias: repensando. (...) Não é só no escuro que a

gente percebe a luzinha dividida? (ROSA, 2001, p. 324-325).

Tal citação fica mais ou menos no meio do livro; a edição aqui trabalhada é

composta por 624 páginas e a passagem que marca o meio fica entre a página 324-325. Nesse

trecho o autor coloca uma pausa em sua narrativa, criando assim uma possibilidade de

referência e, desta forma, “ela orienta, embora inconscientemente, a atenção do leitor”

(ROSENFIELD, apud ROWLAND, 2009, p. 249).

Na última frase, “não é só no escuro que a gente percebe a luzinha dividida?”

(ROSA, 2001, p. 325), percebemos de fato a intencionalidade do autor em dividir com o

parágrafo (a luzinha) a sua narrativa interminável (o escuro). Essa intenção fica ainda mais

evidente através de frases posteriores ao fragmento; elas reforçam a ideia de repartição, meio,

metade: “Travessia. Deus no meio” (ROSA, 2001, p. 325); “Aqui é Minas; lá já é Bahia?”

(ROSA, 2001, p. 325); “Minha vida teve meio-do-caminho?” (ROSA, 2001, p. 325); “O São

Francisco partiu minha vida em duas partes” (ROSA, 2001, p. 326).

Nessa divisão, Riobaldo afirma ter contado tudo ao Senhor, porém, falta algo e,

para isso, ele faz um breve apanhado de tudo o que já “fiou”, contou, uma maneira de

relembrar tudo que foi dito para poder prosseguir. “Vale dizer que temos um romance

completo, inteiro, terminado (...). Se o leitor não mais quisesse continuar a leitura, já teria

obtido todos os dados da ação, além de todos os seus símbolos e temas centrais” (SPERBER,

apud ROWLAND, 2009, p. 257). Após a pausa, teremos uma repetição de tudo o que contou,

segundo Maria Clara Rowland “o livro dobra-se sobre si mesmo, aqui, a partir do meio:

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construindo duas metades em espelho, como assinala a retomada de eventos-chave da

primeira para a segunda parte”. (ROWLAND, 2009, p. 258).

Esse meio é, como temos visto, uma figura recorrente em Rosa. Não podemos

deixar de lembrar o conto que se encontra no meio do livro Primeiras Estórias. Há o mesmo

número de contos antes e depois de “O Espelho”, sendo este uma espécie de espelho de “sua

própria escrita”, como corrobora Ivana Rebello em seu artigo “Transverberar o embuço: uma

leitura do conto “O Espelho”, de Guimarães Rosa”.

A duplicidade e o espelhamento presentes no romance rosiano ganham ainda,

certa complexidade, se pensarmos na figura do “Senhor” que sempre ouve Riobaldo, mas que

nunca lhe responde, não ganhando voz na narrativa. Dessa forma, opondo-se à longa fala do

narrador está o silêncio do ouvinte. “O senhor sabe o que o silêncio é?” indaga Riobaldo ao

seu interlocutor, “É a gente mesmo, demais.”. Apesar de não ganhar voz, conhecemos

algumas características que são atribuídas ao “Senhor” e que são semelhantes às de

Guimarães Rosa; ambos são doutores, instruídos, costumam ouvir histórias e anotar em

caderneta etc. Clara Maria Rowland, em A Forma do Meio, discorre ainda, sobre a estrutura

narrativa de Grande sertão: veredas:

(...) o modo de apresentação desta estrutura é mais complexo, por estarmos dentro

de um episódio que encaixa a narrativa numa dupla moldura. Este episódio destaca-

se, no quadro de Grande Sertão: Veredas, por oferecer uma estranha duplicação da

figura do interlocutor; em nenhum outro momento do romance a sobreposição de

planos é tão evidente. Riobaldo narra a um “moço de fora”, de “alta instrução” um

caso que já contou a outro “moço de fora”, incluindo no texto a resposta deste,

quando a resposta do interlocutor em cena permanece ausente (é a própria definição

do diálogo oculto rosiano). (ROWLAND, 2009, p. 55).

Sobre essa “estranha duplicação” provocada pelo interlocutor e seu silêncio nos

diz Ivana Rebello em seu artigo “Transverberar o embuço: uma leitura do conto “O Espelho”,

de Guimarães Rosa”:

Esse anônimo e imperativo escutador de estórias, chamado sempre de Senhor,

exerce, em seu excesso de silêncios, um excesso de “a gente mesmo”, uma

multiplicação de possibilidades de escuta, escrita e sujeitos. Talvez seja esse um

caminho para se ler o narrador rosiano: esse excesso de falas e silêncios que provoca

estranhamento, que faz com que o contador de estórias deixe de coincidir consigo

mesmo, com que comece a se ver sempre como um outro ou outros. (REBELLO,

[s.d], p. 1).

O “excesso de silêncio” do interlocutor, seu anonimato e suas características

similares as de Rosa nos abrem para a possibilidade de pensar que Riobaldo dialoga com

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Guimarães Rosa e, assim, temos um reflexo do autor em sua obra. Rowland cita em seu livro

Ettore Finazzi-Agró, que menciona a posição dupla de Rosa. Vejamos:

De fato, em Grande Sertão, na figura do interlocutor silencioso é fácil entrever a

figura do autor, isto é, de quem fala através da voz silenciosa do outro – “o senhor,

assisado e instruído” do romance – é, no fundo, o próprio Guimarães Rosa, lá

testemunha impassível do drama, incapaz de salvar Riobaldo das suas dúvidas,

incapaz de dar uma resposta definitiva às suas perguntas, ao seu terrível “enigma”;

(...) O escritor, em suma, coloca-se mais uma vez numa posição dúbia ou ubíqua, ele

se localiza ainda no “álibi” ou na heterotopia, sendo ao mesmo tempo quem conta e

quem se conta, quem fala e quem escuta, e tornando-se, por isso, o carnífice e a

vítima – o carrasco imaginário de si mesmo. (FINAZZI-AGRÓ, apud ROWLAND,

2009, p. 118).

Porém, tomamos conhecimento que o silêncio, dito “a gente mesmo”, nos abre

uma série de possibilidades de leitura; podendo ser também nós, os leitores, como corrobora

Clara Rowland:

Complexa duplicação, se pensarmos também no modo como Grande Sertão:

veredas prepara uma identificação entre a figura do interlocutor e o leitor, que deste

modo se vê, ao mesmo tempo, reflectido e distanciado. (ROWLAND, 2009, p. 55).

Portanto, o uso da figura do interlocutor de Riobaldo, pode ser tanto o próprio

escritor quanto nós, leitores, que nos vemos refletidos na figura do “Senhor”, sempre ouvindo

o tecer da vida de Riobaldo. Assim, fica perceptível o quanto é explorada a duplicidade e o

espelhamento em Grande sertão: veredas.

Vemos e agora voltemos. Além da relação do buriti com Diadorim, do buriti

como elemento fálico, do buriti como conselheiro de Riobaldo e do buriti comparado a um

espelho, símbolo de igualdade entre personagens, temos a palmeira buriti relacionada também

à saudade.

A “Canção do exílio” é um poema de Gonçalves Dias cuja temática é própria da

primeira fase do Romantismo brasileiro. Em sua mescla de nostalgia e nacionalismo, o tema

do exílio, da saudade da terra natal prestava-se à intenção de criar símbolos poéticos que

funcionassem ao mesmo tempo como símbolos nacionais. Gonçalves Dias compôs o poema

cinco anos depois de partir para Portugal e criou insígnias na literatura brasileira como a

palmeira e o sabiá que, segundo Ivana Rebello, em Papagaio conta história, “se tornaram

signos emblemáticos da pátria e de sua identidade literária”. (REBELLO, 2010, p. 17).

Vejamos:

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Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

(...)

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá. (DIAS, 2003, p. 19).

Esse poema foi reconstruído e renovado inúmeras vezes na história da literatura

brasileira, fazendo com que ele seja sempre atual e sirva como referência. Na maioria das

reconstruções há características da terra natal, da natureza, de pássaros e de árvores, como a

palmeira. Em Grande sertão: veredas não é diferente, Riobaldo usa da palmeira buriti para

falar de saudade, quando está longe de seus Gerais:

Me deu saudade de algum buritizal, na ida duma vereda em capim tem-te que verde,

termo da chapada. Saudades, dessas que respondem ao vento; saudade dos Gerais. O

senhor vê: o remôo do vento nas palmas dos buritis todos, quando é ameaço de

tempestade. Alguém esquece isso? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega

o silêncio põe no colo. Eu sou donde eu nasci. (ROSA, 2001, p. 306 – grifo nosso).

Outro momento saudoso é quando o jagunço está no Liso do Sussuarão, lugar que

descreve não ter sombra, nem água e nem capim; ao andar nesse “martílio” sente saudade de

Otacília:

Moça que dava amor por mim, existia nas Serras dos Gerais – Buritis Altos,

cabeceira de vereda – na Fazenda Santa Catarina. Me airei nela, como a diguice

duma música, outra água eu provava. Otacília, ela queria viver ou morrer comigo

– que a gente se casasse. Saudade se susteve curta. (ROSA, 2001, p. 67-68 – grifo

nosso).

No início deste capítulo chamamos atenção para o fato de que o buriti sempre é

acompanhado por um percurso de água, notemos que nessas duas últimas citações tal

palmeira é “cercada” por águas. Na primeira, temos o vento remoendo as palmas dos buritis

ameaçando que vem tempestade, água agitada. Aqui, a palmeira é uma espécie de aviso de

chuva forte. Já na segunda citação, temos um lugar chamado “Buriris Altos” que fica na

cabeceira de uma vereda; porém Riobaldo está longe desse lugar, daí então a expressão “outra

água eu provava”. Dessa forma, temos o buriti e a água como sinônimos de lugares e são,

definitivamente, elementos associados.

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Vejamos que Otacília, moça de quem ele sentiu saudade, estava nas serras dos

Gerais, mais precisamente nos Buritis Altos, mire e veja, o nome é composto pela palmeira

Buriti: “Conforme contei ao senhor, quando Otacília comecei a conhecer, nas serras dos

Gerais, Buritis Altos, nascente de vereda, Fazenda Santa Catarina” (ROSA, 2001, p. 145).

Otacília era “para ser dona de tantos territórios agrícolas e adadas pastagens, com tantas

vertentes de veredas, formosura dos buritizais” (ROSA, 2001, p. 268). Nesse local onde reside

Otacília há muitas veredas e buritis, inclusive no nome.

Esse estado de “exílio” em que se encontrava Riobaldo fez com que ele retomasse

o poema de Gonçalves Dias em que o poeta tem a saudade de sua terra natal como tema.

Sobre tal assertiva nos diz Maria Zilda Cury et al. no livro Intertextualidades: teoria e

prática, que “a retomada de um texto por outro(s), em qualquer literatura, inclusive brasileira,

é, de qualquer forma, uma constante. A “Canção do exílio” de Gonçalves Dias, por exemplo,

já foi parafraseada e/ou parodiada em épocas diversas.” (CURY et al., 1995, p. 22).

Tania Franco Carvalhal também discorre sobre o assunto em Literatura

Comparada nos mostrando que “a repetição (de um texto por outro, de um fragmento em um

texto, etc.) nunca é inocente.” (CARVALHAL, 2004, p. 53). Além disso, ela acrescenta que

toda repetição está carregada de uma intencionalidade certa: quer dar continuidade

ou quer modificar, quer subverter, enfim, quer atuar com relação ao texto antecessor.

A verdade é que a repetição, quando acontece, sacode a poeira do texto anterior,

atualiza-o, renova-o e (por que não dizê-lo?) o re-inventa. (CARVALHAL, 2004, p.

54).

Vejamos o trecho em que Riobaldo retoma a estrofe gonçalvina com a temática da

saudade:

Buriti, minha palmeira,

lá na vereda de lá

casinha da banda esquerda,

olhos de onda do mar... (ROSA, 2001, p. 68).

Esse “Buriti” mencionado é a palmeira de Riobaldo, que remete a duas mulheres:

no terceiro verso faz menção a Otacília, pois é ela quem tem sua casa-fazenda situada nos

Buritis Altos, “casinha da banda esquerda”; e no último verso, “olhos de onda do mar”,

refere-se a Diadorim, como ele acrescenta logo após recitar tal poema: “Mas os olhos verdes

sendo os de Diadorim. Meu amor de prata e meu amor de ouro.” (ROSA, 2001, p. 68). Como

já foi citado, Diadorim tinha olhos que atraíam Riobaldo; eram verdes, assim como a palmeira

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buriti. Desde o primeiro encontro, o que lhe chamou a atenção foram justamente os olhos, e

eles o perseguiram durante toda a trama:

Notei que a canoa se equilibrava mal, balançando no estado do rio. O menino tinha

me dado a mão para descer o barranco. Era uma mão bonita, macia e quente, agora

eu estava vergonhoso, perturbado. O vacilo da canoa me dava um aumentante

receio. Olhei: aqueles esmerados esmartes olhos, botados verdes, de folhudas

pestanas, luziam um efeito de calma, que até me repassasse. Eu não sabia nadar.

(ROSA, 2001, p. 119-120).

Era o Menino! O Menino, senhor sim, aquele do porto do de-Janeiro, daquilo que

lhe contei, o que atravessou o rio comigo, numa bamba canoa, toda a vida. E ele se

chegou, eu do banco me levantei. Os olhos verdes, semelhantes grandes, o lembrável

das compridas pestanas, a boca melhor bonita, o nariz fino, afiladinho. (ROSA,

2001, p. 154).

Que vontade era de pôr meus dedos, de leve, o leve, nos meigos olhos dele,

ocultando, para não ter de tolerar de ver assim o chamado, até que ponto esses olhos,

sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível. (ROSA, 2001,

p. 62).

Não só o tema da saudade é comum nos textos rosiano e gonçalvino, mas também

os olhos verdes são um ponto comum na escrita desses poetas. Em outro poema de Gonçalves

Dias, “Olhos verdes”, temos um eu-lírico exaltando um par de olhos verdes que conheceu;

depois disso, nunca mais foi o mesmo. O poema tem como epígrafe versos de Camões, que

também foi amante dos olhos verdes e sobre eles muito poetizou. Essa epígrafe é chamada de

mote, cujo uso “é uma prática tradicional em literatura, estabelecendo o diálogo entre poetas

às vezes separados por séculos” (CURY, et al., 1995, p. 27). Seguem algumas estrofes:

Eles verdes são,

E têm por usança

Na cor esperança

E nas obras não.

(Camões)

São uns olhos verdes, verdes,

Uns olhos de verde-mar,

Quando o tempo vai bonança;

Uns olhos cor de esperança

Uns olhos por que morri;

Que, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,

Iguais na forma e na cor,

Têm luz mais branda e mais forte.

Diz uma - vida, outra - morte;

Uma - loucura, outra - amor.

Mas, ai de mi!

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Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi!

São verdes da cor do prado,

Exprimem qualquer paixão,

Tão facilmente se inflamam,

Tão meigamente derramam

Fogo e luz do coração;

Mas, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi! (...) (DIAS, 1980, p. 49-51).

Segundo Antônio Henriques Leal, amigo e primeiro biógrafo do Poeta brasileiro,

esses versos foram inspirados em uma moça do Rio de Janeiro, com quem o Poeta teve um

ligeiro namoro, assim como Riobaldo que namorou uma palmeira, conforme citamos. Nota-se

que a moça de olhos verdes de quem o eu-lírico fala, também possui características parecidas

com as que Riobaldo atribui a Diadorim: “Uns olhos de verde-mar” (DIAS, 1980, p. 49) X

“olhos de onda do mar...” (ROSA, 2001, p. 68); “Como duas esmeraldas/ Iguais na forma e na

cor” (DIAS, 1980, p. 50) X “aqueles esmerados esmartes olhos, botados verdes” (ROSA,

2001, p. 119-120); “São verdes da cor do prado/ (...) Tão meigamente derramam” (DIAS,

1980, p. 50) X “nos meigos olhos dele” (ROSA, 2001, p. 62). Outro ponto a destacar é a

mudança que essas mulheres de olhos verdes causaram na vida tanto de Gonçalves quanto na

de Riobaldo, pois a partir do momento em que conheceu Diadorim, sua visão da natureza e do

mundo que o cercavam foi modificada.

No material disponível no IEB, Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade

de São Paulo, encontramos entre os livros que pertenceram a Guimarães Rosa, Obras

Completas de Luís Vaz de Camões e Lírica de Camões. Nesses livros são marcadas, de caneta

azul, páginas que possuem redondilhas e sonetos e em que aparecem “olhos verdes”, inclusive

o poema do qual Gonçalves Dias retira o mote. Chamou-nos a atenção uma nota de rodapé,

grifada e realçada por Rosa, de Hernâni Cidade, na qual ele discorre sobre a predileção dos

olhos verdes aos azuis: “nesta preferência dos olhos verdes aos olhos azuis, objeto do mesmo

culto que os cabelos de oiro, que o petrarquismo5 pusera em moda, põe o poeta, como mais de

uma vez sucede, a realidade acima da convenção.” (CIDADE, in: CAMÕES, 1946, p. 3).

Observe a estrofe em que Camões evidencia tal preferência:

Ouro e azul é a milhor

cor por que a gente se perde;

mas, a graça desse verde

5Movimento literário em que a beleza da mulher era posta na combinação de cabelos loiros, pele branca e olhos

azuis. Em Camões, Gonçalves Dias e Guimarães Rosa é confrontada essa tradição literária, pois são os olhos

verdes colocados em destaque.

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tira a graça a toda a cor.

Fica agora sendo a flor

a cor que nos olhos tendes,

porque são vossos … e verdes! (CAMÕES, 1946, p. 3).

Camões também usa de outra adjetivação para os olhos: “Com vossos olhos

Gonçalves/ Senhora, cativo tendes/ Este meu coração Mendes” (CAMÕES, 1946, p. 67). Não

se sabe o porquê dessa caracterização de “Gonçalves”, mas Hernâni Cidade, mais uma vez,

nos lembra que não é a primeira vez que se usa um substantivo próprio para adjetivar os

olhos. Vejamos:

Ficará ainda desta vez sem solução o enigma destas qualificações: olhos Gonçalves

e coração Mendes. (...) Já foi lembrado que na Alemanha houve a designação de

olhos Bismarck, como no Pôrto a de olhos de henriques... A filóloga ilustre D.

Carolina Michaelis viu na palavra Gonçalves o trocadilho com salves (com

saudações) (...). (CIDADE, in: CAMÕES, 1946, p. 67).

Essa nota também é destacada e sublinhada por Guimarães Rosa, ficando evidente

seu interesse pelas adjetivações dos olhos, este que ganha em Camões a característica de

Gonçalves, “com saudações”. E por que não pensarmos nessa expressão como “olhos com

saudades”? O fato é que estudando esse material do IEB, verificamos a influência de Camões

tanto para Rosa quanto para Gonçalves Dias, este que teve seu primeiro sobrenome registrado

na poesia camoniana.

Além da adjetivação dos olhos, elemento comum entre tais poemas, chamamos

atenção ainda para uma das estrofes do poema “Olhos Verdes”:

Como se lê num espelho

Pude ler nos olhos seus!

Os olhos mostram a alma,

Que as ondas postas em calma

Também refletem os céus;

Mas, ai de mi!

Nem já sei qual fiquei sendo

Depois que os vi! (DIAS, 1980, p. 49-51).

Os três primeiros versos podem ser traduzidos pela expressão popular “os olhos

são espelho d‟alma”. Anteriormente discutimos a espelharia da palmeira buriti nas águas e sua

imagem comparada a Diadorim, este (a) que possui olhos que foram a porta de engano de

Riobaldo e comparado às ondas do mar. Mais uma vez, nos deparamos com semelhanças

entre os escritos de Dias e de Rosa.

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Voltemos a “canção do exílio” rosiana, na qual os pequenos versos possuem uma

“musicalidade” que é sugerida pelo ritmo e pelas rimas, o que é também muito semelhante

com os versos de Gonçalves Dias. Vejamos a escanção realizada nas seguintes estrofes:

7 Mi/nha/ te/rra /tem/ pal/mei/ras A

7 On/de/ can/ta o/ sa/bi/á B

7As/ a/ves/ que a/qui/ gor/jei/am C

7Não/ gor/jei/am/ co/mo/ lá B (DIAS, 2003, p. 19).

7Bu/ri/ti,/ mi/nha/pal/mei/ra, A

7Lá/ na/ve/re/da/ de/ lá B

7Ca/si/nha/ da/ban/da es/quer/da, A

7O/lhos/ de/ on/da/ do/ mar B (ROSA, 2001, p. 68).

O número de sílabas em cada verso é o mesmo, a sonoridade idêntica, com

predominância do som vocálico /a/. Gonçalves Dias usa a palmeira como símbolo da terra,

colocando a beleza da terra brasileira, o “lá”, em plano superior ao das terras europeias.

Riobaldo também coloca a beleza do Sertão e dos Gerais em destaque, usando também o “lá”

para referir-se ao lugar e para colocar em evidência seu distanciamento em relação a ele.

Já que estamos discorrendo sobre o buriti e a espelharia neste capítulo, podemos

dizer então que os versos de Riobaldo/Rosa são um reflexo “idêntico” dos versos

Gonçalvinos, visto que, Grande sertão: veredas é uma narrativa visivelmente poética. Não

podemos deixar de pensar que, assim como Gonçalves Dias escreveu “Canção do exílio” para

exaltar sua terra, Riobaldo escreveu uns versos para destacar suas veredas e Guimarães Rosa

também escreveu uma obra, na qual a poesia predomina, para discorrer sobre seu sertão, o

sertão das Gerais e universalizá-lo.

Atrevemo-nos dizer então que o buriti em Grande sertão: veredas é também um

símbolo de regionalismo, pois assim como na canção gonçalvina o sabiá e a palmeira são

símbolos ligados à noção de brasilidade, para Riobaldo, a palmeira buriti está sempre

relacionada às veredas; já para Guimarães Rosa, o buriti, vegetal mais citado no romance, é

símbolo de um Brasil que o próprio Brasil desconhece: o sertão.

Portanto, fica perceptível a pluralidade da palmeira buriti em Grande sertão:

veredas, visto que ela vai ganhando significados que vão além da designação comum

pertinente à flora. Tal palmeira é usada, como toda a natureza em Rosa, para construir e

caracterizar o cenário, compor os cerrados, as veredas, mas também se relaciona afetivamente

com os personagens, com o sertão e com os gerais.

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49

Conclusão

João Guimarães Rosa percorreu o interior de Minas Gerais mergulhando na

paisagem e nos costumes da vida rústica. Nós realizamos o presente trabalho trilhando o

percurso registrado em suas cadernetas de anotações, nos inteirando de suas andanças e de

suas vivências pelo mundo sertanejo. O resultado foi fascinante, pois conhecemos parte da

natureza vivenciada e transcrita em Grande sertão: veredas por Rosa.

Nada foi posto e descrito gratuitamente. As flores não serviram meramente como

enfeite, assim como os buritis não serviram somente para compor as veredas. Percebemos isso

ao percorrer por este Grande sertão e ouviras florzinhas que dizem ser bonitas; conhecer os

diferentes significados de uma “flor do amor”; aprender que rosa pode ser nome de moça,

sobrenome de família e também uma simples flor; apaixonar por palmeiras namoradeiras;

testemunhar os conselhos vindos dos buritis e assistir ao balançar de suas palmas em

movimentos de leques; enfim, miramos e vimos uma flora viva.

Percebemos, dessa forma, uma natureza ímpar, na qual a vegetação não é limitada

a um cenário ou a um palco para uma narrativa; ela é um elemento importante que constitui a

natureza do sertão e vai fiando e tecendo o narrar da vida de Riobaldo, conferindo identidade

aos personagens e ganhando, assim, um valor metafórico.

Este trabalho contribui para a fortuna crítica rosiana, uma vez explícita em

Grande sertão: veredas a beleza e a diversidade das espécies vegetais típicas do cerrado que

compõe o sertão. Além disso, Rosa nos mostra que a natureza não é inerte, apartada e

classificada de acordo com a necessidade humana. Durante suas viagens, ele fez uma leitura

do mundo natural e usou de suas percepções sentidas e vividas para compor o sertão, fazendo

o entrelaçamento entre a natureza e seus personagens. Assim, a natureza é agregada aos seres.

Ao analisarmos a relação da flora para o desenvolvimento do romance,

apresentamos que ao fazer o tempo, o som, o cheiro e a cor saltarem do texto, a pretensão do

autor foi expor a natureza como um elemento vivo, flexível, dinâmico, cheio de significados

que conferem e dão existência aos sujeitos. Afinal, precisamos conhecer o mundo, o Grande

Sertão para, enfim, conhecermos a nós mesmos, as nossas veredas, o nosso ser interior.

Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei.

Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas,

veredazinhas. (ROSA, 2001, p. 116).

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ANEXO 1

A flora em Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

A

VEGETAL DESCRIÇÃO PÁGINAS

DE GS:V

PASSAGEM EM

GS:V

Abóbora

Nome científico: Cucurbita moschata

Nomes populares: abóbora, jerimum,

jerimum.

Planta de caule herbáceo rastejante,

provido de gavinhas e raízes adventícias.

Apresenta folhas cordiformes, de

coloração verde-escura e com áreas

prateadas. Podem ser consumidas verdes

ou maduras. Flores de tamanho

relativamente grande e coloração amarelo-

vivo. As abóboras são consumidas sob a

forma de doces e em diversos pratos

salgados.

Planta de ciclo anual

288. “Um Gu, certo

papa-abóbora,

beiradeiro, tarraco

mas da cara

comprida”.

(ROSA, 2001, p.

288).

Abobrinha

Nome científico: Cucurbita pepo

Nomes populares: Abobrinha, jerimum-

mirim, courgette ou curgete.

É um fruto que se costuma colher ainda

verde. Os dois tipos de abobrinha mais

comum são: a abobrinha tipo menina, que

tem o fruto com pescoço e a tipo italiana,

com o fruto alongado sem pescoço. As

130. “O que apreciei –

carne moída com

semente de trigo,

outros guisados,

recheio bom em

abobrinha ou em

folha de uva, e

aquela moda de

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cores vão do verde bem claro, quase

branco, até verde médio com faixas de cor

verde mais escuro. Os frutos são muito

sensíveis e se machucam com facilidade,

apodrecendo rapidamente nas partes

machucadas. Suas flores são amareladas.

Utiliza-se nos mais variados pratos

culinários.

No Norte, no Nordeste e em grande parte

das regiões Sudeste e Centro-Oeste, não

importa a época do ano para começar o

cultivo da abobrinha. Por sua vez, nos

estados do Sul, onde o frio é mais intenso

no inverno, o plantio vai bem a partir de

agosto.

azedar o quiabo –

supimpas

iguarias.” (ROSA,

2001, p. 130).

Abobora-

d’agua

Nome científico: Benincasa hispida

Nomes populares: Abóbora-d'água,

cabaceiro-amargoso, cuieira.

É uma planta da família cucurbitácea, de

haste rastejante, frequentemente com

gavinhas de sustentação, que reúne cerca

de 750 espécies entre as quais várias

domesticadas e de grande importância para

o homem tais como abóbora, melão,

melancia, bucha, cabaça (cuia), abobrinha,

pepino, etc. Quando seca, é largamente

utilizada por comunidades tradicionais

brasileiras. A exemplo de cuias, recipientes

e até instrumentos. Esse fruto, cuja polpa

amarga é usado também como laxante.

A maioria das plantas desta família são

anuais, ou seja, morrem depois de se

reproduzirem.

184. “A saudade

minha maior era

de uma

comidinha

guisada: um

frango com

quiabo e abóbora-

d‟água e caldo,

um refogado de

caruru com ofa de

angu.” (ROSA,

2001, p. 184).

Abóbora

moranga

Nome científico: Cucurbita máxima,

Duschene, Dicotyledonae ou

Cucurbitaceae.

Nomes Populares: abóbora, abóbora

moranga.

Planta rasteira com folhas arredondadas

verdes, sem manchas; o pedúnculo do fruto

é esponjoso, cilíndrico e não se abre ao

atingir o fruto. As folhas são semelhantes

às da abóbora rasteira. A polpa do fruto é

rica em vitaminas e sais minerais de fácil

digestão; é usada no preparo de doces,

sopas, refogados, suflês, nhoques, pães,

bolos, purês, sorvetes etc. Crua, ralada,

constitui saladas leves e saborosas. As

sementes são riquíssimas em ferro podem

ser consumidas como aperitivo. Já as flores

88, 299. “Angu e couve,

abóbora-moranga

cozida, torresmos,

e em toda

fogueira assavam

mantas de

carnes.” (ROSA,

2001, p. 299).

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podem ser servidas à milanesa ou rechear

omeletes. Também se usa sementes sem

pele misturadas a mel para combate a

vermes e desarranjos intestinais.

Planta-se na estação chuvosa e seus frutos

devem ser colhidos bem maduros.

Aderno-

preto

Nome científico: Astronium graveolens

Nomes Populares: Guarita (PR), gibatão

(ES), aderno (ES), pau-ferro (RS),

gonçaço-alves.

O aderno-preto contém o tronco liso,

folhas compostas flores amareladas. A

Madeira serve para acabamentos internos

de construção civil, para obras externas

como dormentes, postes, cruzetas,

carrocerias, móveis, etc.

Floresce em agosto-setembro com a planta

despida de suas folhas. Os frutos

amadurecem em outubro-novembro.

322. “E o folha-larga,

o aderno-preto, o

pau-de-sangue; o

pau-paraíba,

sombroso. O

Urucuia, suas

abas. E vi meus

Gerais!” (ROSA,

2001, p. 322).

Agrião

Nome científico: Spilanthes Acmella

Nomes Populares: Agrião, Pimenta d‟água

(PE), Agrião do Brasil (BA), Agrião do

Pará e Jambu (RJ).

Erva de hastes tenras e angulosas. Folhas

opostas, longo-peliculosas, ovadas, agudas,

espessas. Flores amarelo-pálidas, em

pequenos capítulos globosos ou cônicos,

terminais ou axilares. Aquênio pequeno,

cilado nas margens. A hortaliça é uma

excelente opção para enriquecer saladas e

estimular o apetite. Também faz bem para

o fígado, é diurético e recomendado para

diabéticos.

É uma erva anual.

45, 46, 46. “E estávamos

conversando,

perto do rego –

bicame de velha

fazenda, onde o

agrião dá flor.”

(ROSA, 2001, p.

45).

Alecrim

Nome científico: Rosmarinus officinalis

Erva de caule quadrangular, aromática,

sempre verde. Folhas estreitas e de

margens enroladas. As flores são pequenas

e azul-pálidas; são também estimulantes e

abortivas. O pó das folhas é cicatrizante.

Os ramos perfumam e evitam traças nas

roupas. É também usado na medicina e na

perfumaria.

157, 184,

205, 249,

330.

“Três croas e uma

ilha. Mas uma

delas três, maior,

também sendo

meio ilha: isto é,

ilha de terra, na

parte de baixo,

com grandes

pedras e árvores,

e suja de matinho,

capim, o alecrim

viçoso

remolhando suas

folhagens nágua e

o bunda-denegro

verde vivente; e

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croa, só de areia,

na parte de cima.”

(ROSA, 2001, p.

157).

Algodão

Nome científico: Gossypium

O algodão é uma fibra branca obtida dos

frutos de algumas espécies da família

Malvaceae. As fibras sempre contêm

pequenas sementes negras e triangulares

que precisam ser extraídas antes do

processamento das mesmas. As sementes

são aproveitadas na obtenção de um óleo

comestível. O línter, penugem fortemente

presa às sementes, é utilizado para encher

colchões, travesseiros, almofadas e para

fazer fios de alguns tipos de tapetes. O

línter também usado na produção de

celulose, de variadíssima aplicação na

indústria têxtil, na indústria de verniz e

outras. É ainda matéria básica da

elaboração do algodão absorvente, bem

como do algodão para fins cirúrgicos. Na

indústria bélica, é empregado na

preparação de pólvora, pois dele se obtêm

explosivos.

O algodoeiro é uma planta de clima

quente, que não suporta o frio. O período

vegetativo varia de cinco a sete meses,

conforme a quantidade de calor recebida, e

exige verões longos, quentes e bastante

úmidos.

136, 141,

157, 183,

201, 342,

347, 389.

“Porque, num

desastre de

instante, eu tinha

pegado a pensar –

o que resolvia

minha situação

era trabalhar para

ele, se viajar

vendendo

ferramentas por

aí, descaroçador

de algodão.”

(ROSA, 2001, p.

141).

Almêcega

Nome científico: Protium heptaphyllum

Nomes populares: Almecegueira, breu-

branco-verdadeiro, almecegueira-cheirosa,

almecegueira-de-cheiro, almecegueira-

vermelha, almecegueiro-bravo, almesca,

almíscar, manguinha. Folhas aromáticas,

flores avermelhadas, frutos vermelhos,

com uma ou duas sementes envoltas por

arilo carnoso e adocicado. A Madeira serve

para a construção civil, assoalhos,

carpintarias e marcenaria. Proporciona

sombra e pode ser utilizada em área urbana

e rural. Os pássaros adoram seus frutos

adocicados.

Floresce durante agosto-setembro. Frutos

amadurecem em novembro-dezembro.

220, 221. “Deitamos. Eu

estava atrás duma

árvore, uma

almêcega.”

(ROSA, 2001, p.

220).

Amendoim

Nome científico: Arachis hypogaea

Nomes populares: amendoí, amendoís,

mandobi, mandubi, mendubi,

235. “Eu, na Nhanva,

ensinando lição a

ele, ditado e

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57

menduí,minuim, mindubi, lenae e

duckworth.

A planta do amendoim é uma erva, com

um caule pequeno e folhas trifolioladas,

com abundante indumento, raiz aprumada,

medindo entre 30–50 cm (1-1,5 pés) de

altura. As flores são pequenas, amareladas

e, depois de fecundadas, inclinam-se para o

solo e a noz desenvolve-se

subterraneamente. O amendoim tem uma

grande importância econômica,

principalmente na indústria alimentar.

Algumas variedades têm uma grande

quantidade de lípidos e têm sido utilizadas

para a fabricação de óleo de cozinha. São

também utilizados na produção de

sanduíches, doces e produtos de

panificação. Em várias regiões de África, o

amendoim é moído para cozinhar vários

pratos da culinária local. Suas cascas são

aproveitadas na fabricação de plástico,

gesso, abrasivos, e combustível.

Plantas mantidas na estação outono-

inverno produzem mais flores do que as da

estação primavera-verão.

leitura, as contas

de juros; depois,

de noite, na sala

grande, na mesa

grande, se comia

canjica temperada

com leite, queijo,

coco-da-baía,

amendoim,

açúcar, canela e

manteiga-de-

vaca.” (ROSA,

2001, p. 235).

Anduzinho

Nome científico: Cajanus cajan

Nomes populares: andu, ervilha-de-pombo,

anduzeiro, guandeiro, guando, feijão-

guandu e feijão-cuandu.

Uma leguminosa arbustiva com folhas

alternadas trifolioladas; folíolos largos e

ovais (oblonco-elípticos), folíolo terminal

peciolado, enquanto que os laterais são

sésseis e flores amarelas.

Os seus feijões são utilizados na

alimentação humana; a sua forragem

também é bastante apreciada pelos animais

e apresenta, na fase de florescimento,

teores que variam de 10 a 16 por cento de

proteína bruta.

Época de floração em abril e produção de

grãos em junho.

227. “O dia tinha

clareado saído: eu

todo podendo

descrever o

Montesclarense,

atrás dum toro de

pau e moitas de

anduzinho.”

(ROSA, 2001, p.

227).

Angico

Nome científico: Anadenanthera

macrocarpa

Nomes populares: angico, angico-do-

cerrado, angico-cascudo, angico-preto,

angico-do-campo, Arapiraca, curupaí,

angico-cascudo.

Seus ramos podem apresentar espinhos,

flores amarelo-esbranquiçadas, fruto

39, 337. “A pois: um dia,

num curtume, a

faquinha minha

que eu tinha caiu

dentro dum

tanque, só caldo

de casca de curtir,

barbatimão,

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58

legume deiscente, achatado, de superfície

áspera e cor marrom. A Madeira serve pra

construção civil e naval, uso em

marcenaria e carpintaria. Floresce todos os

anos o que torna ornamental p praças e

arques. Tem rápido crescimento. É usado

na medicina popular para curar feridas e

para curtumes. Da casca retira-se corante

para tinturaria.

Floresce em setembro-novembro com a

planta quase sem folhas. Os frutos

(vargens) amadurecem em agosto-

setembro.

angico, lá sei.”

(ROSA, 2001, p.

39).

Araçá

Nome científico: Psidium firmum

Nomes populares: araçá, goiabinha, araçá

do campo, araçá-mirim, araçá pomba.

Folhas opostas, simples, curto-pecioladas.

Flores com cerca de 1,2cm de

comprimento, curto a longo-pediceladas.

Fruto verde-amarelado quando maduro,

globuloso, meso e endocarpo carnoso. É

planta melífera e fornece fruto comestível

e saboroso. As folhas são usadas na

medicina popular como chá, são usadas

para combater a diarréia.

Floração: agosto-setembro.

Frutificação: outubro-dezembro.

61. “Dali eu via

aquele

movimento: os

homens,

enxergados

tamanhinho de

meninos, numa

alegria, feito

nuvem de abelhas

em flor de araçá

(...)”. (ROSA,

2001, p. 61).

Araçá-

branco

Nome científico: Psidium albidum

Nomes populares: araçá-branco, araçá-

cotão, araçá do campo.

Arbusto de pequeno porte. Folhas miúdas,

pecioladas, elíticas e branco-tomentosas.

Flores alvas, aromáticas, solitárias, em

pendúculos axilares.

223. “Eu tinha fechado

os olhos. O cheiro

dum araçá-branco

formava bolas.

Quietei.”

(ROSA, 2001, p.

223).

Araçá-de-

pomba

Nome popular dado ao araçá (Psidium

firmum).

225. “Eu ainda mudei

distância de uns

passos: aproveitei

tapação duma

árvore de boa

grossura – um

araçá-de-pomba,

fechado.” (ROSA,

2001, p. 225).

Arapavaca 330. “Para extraviar as

mutucas, a gente

queimava folhas

de

arapavaca.”

(ROSA, 2001, p.

330).

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59

Araticum

Nome científico: Annona coriácea

Nomes populares: araticum, marôlo,

araticum-liso, marolinho, araticum-do-

campo, araticum-dos-grandes, cabeça-de-

negro, pinha-do-cerrado.

Tronco com casca rugosa e fina, flores

amarelas e solitárias. Frutos verdes e

bacáceos. Sua madeira empregada na

confecção de objetos leves. Árvore usada p

paisagismo e tem queda dos frutos na

maduração. Frutos comestíveis, tanto ao

natural como suco, tem uma polpa doce e

amarelada. Combate diarreia e induz a

menstruação. Lento crescimento.

Floresce durante novembro-janeiro. Frutos

amadurecem no período de novembro-

dezembro.

388, 483. “Curralinho, me

ver – na verdade,

também, ele

aproveitava para

tratar de vender

bois e mais outros

negócios – e

trazia para mim

caixetas de doce

de buriti ou de

araticum,

requeijão e

marmeladas.”

(ROSA, 2001, p.

388).

Arnica-do-

campo

Nome científico: Lychnophora ericoides

Nomes populares: arnica, candeira,

candieiro, pau-candeia, arnica-do-campo.

Arbusto hermafrodita; folhas alternadas,

simples; flores com 1cm de comprimento;

fruto castanho turbinado. É uma planta

ornamental, a casca é tanífera, as folhas e

flores são aromáticas. Como uso

medicinal, a planta é usada externamente

em machucados e contusões.

Floração: dezembro-janeiro ou junho-

outubro. Frutificação: maio-junho ou ao

redor de outubro. Depende do ano e do

ambiente.

337. “Uns

recomendavam

arnica-do-campo,

outros

aconselhavam

emplastro de

bálsamo, com isso

rente se sarava.”

(ROSA, 2001, p.

337).

Aroeira-

brava

Nome científico: Myracrodruon

urundeuva

Nomes populares: urundeúva, aroeira,

aroeira-do-sertão, aroeira-do-campo,

aroeira-da-serra, urindeúva, arindeúva,

arendiúva, aroeira-preta, aroeira-brava.

Tronco áspero e cinza. Flores amareladas e

frutos aquênios com as sépalas

persistentes. Sua madeira serve para

fabricação de postes, mourões, esteiros,

estacas, dormentes, tacos, ripas, etc.

Árvore que perde as folhas durante o

inverno, além da possibilidade de causar

reações alérgicas a pessoas sensíveis que

entrem em contato com a planta.

Floresce em junho-julho, despida de sua

folhagem. Frutos com maturação

setembro-outubro.

191. “Guardei os

olhos, meio

momento, na

beleza dele,

guapo tão aposto

– surgido sempre

com o jaleco, que

ele tirava nunca, e

com as calças de

vaqueiro, em

couro de veado

macho, curtido

com aroeira-brava

e campestre.”

(ROSA, 2001, p.

191).

Arroz Nome científico: Oryza sativa 118, 118, “Querem é trovão

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60

Planta de raízes grossas e fibrosas, com

colmos simples, eretos, glabos, herbáceos,

fistulosos, com colmos simples. Folhas

invaginantes, compridas, lineares, planas,

pontudas, verde-claras, com as margens

escabrosas, munidas de estípulas longas e

denteadas. Flores hermafroditas com

estames vermelhos, em panícula terminal,

comprida, porém estreita. É uma planta da

família das gramíneas que alimenta mais

da metade da população humana do

mundo. É a terceira maior cultura

cerealífera do mundo, apenas ultrapassada

pelas de milho e trigo. É rico em hidratos

de carbono.

Planta com cultivo anual.

118, 119,

120, 234,

255, 283,

317, 326,

353, 430,

431, 432,

448, 506.

em outubro e a

tulha cheia de

arroz.” (ROSA,

2001, p. 118).

B

Bambu

Nome científico: Bambusa

Nomes populares: Bambu, Taboca Grande

(AM), Taquaruçu (AM), Taboca.

Bambu é o nome que se dá às plantas da

sub-família Bambusoideae, uma da família

das gramíneas (Poaceae ou Gramineae).

Essa sub-família se subdivide em duas

tribos, a Bambuseae (os bambus chamados

de lenhosos) e a Olyrae (os bambus

chamados herbáceos). O bambu possui

caules lenhificados utilizados na fabricação

de diversos objetos como instrumentos

musicais, móveis, cestos e até na

construção civil, onde é utilizado em

construções de edifícios à prova de

terremotos. Também é possível produzir a

partir desta gramínea, a fibra de bambu.

Uma matéria vegetal assim como o

algodão ou o linho, o bambu tem em seu

favor alguns trunfos suplementares.

61, 61, 62,

88, 123,

232.

“O senhor

imagine: parecia

que não se

mealhava nada,

mas ele pegava

uma coisa aqui,

outra coisinha ali,

outra acolá - uma

moranga, uns

ovos, grelos de

bambu, umas

ervas – e, depois,

quando se topava

com uma casa

mais melhorzinha,

ele encomendava

pago um jantar ou

almoço, pratos

diversos, farto

real, ele mesmo

ensinava o guisar,

tudo virava

iguarias!” (ROSA,

2001, p. 118).

Banana Fruto da bananeira. É de cor verde, quando

imatura, chegando a amarela ou vermelha,

quando madura. Seu formato é alongado,

podendo, contudo, variar muito na sua

forma a depender das variedades de

310, 352. “Vendiam licor de

banana e de

pequi, muito

forte, geléia de

mocotó, fumo

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61

cultivo. Essa variação também acontece

com a polpa, que pode ser mole ou dura,

ou ainda com incrustações meio duras,

bem como de sabor mais doce ou mais

acre. Não possui sementes. Depois de

cortada, a banana escurece-se muito

rapidamente, devido à oxidação (pela

presença da polifenoloxidase) em contato

com o ar. É consumida in natura e usada

na culinária.

bom, marmelada,

toucinho.” (ROSA, 2001, p.

310).

Bananeira Pertence à família das Musáceas e do

gênero Musa. A bananeira caracteriza-se

por um caule suculento cujo tronco (um

pseudo-caule) é formado pelas bainhas

superpostas das suas folhas. Estas são

grandes, de coloração verde-clara,

brilhantes e de forma, em geral, oblonga

ou elíptica. O fruto, conhecido como

banana, é, na verdade, uma pseudo-baga.

168, 445. “Medo?

Bananeira treme

de todo lado. Mas

eu tirei de dentro

de meu tremor as

espantosas

palavras. Eu fosse

um homem novo

em folha.”

(ROSA, 2001, p.

310).

Barbati-

mão

Nome científico: Stryphnodendron

coriaceum

Nomes populares: Barbatimão-verdadeiro,

barba-de-timão, casca-da-virgindade ou

barbatimão.

É uma espécie de planta pertencente à

família Fabaceae. É uma árvore pequena,

hermafrodita, decídua, de tronco tortuoso.

Sua casca é rugosa, espessa e de cor

escura. As folhas são alternadas,

compostas bipinadas com cerca de cinco a

oito pares de pinas. Seus frutos são vagens

grossas, carnosas de cor castanho-claras

com muita semente de cor parda. As cascas

do caule tem ação adstringente e anti-

séptica, sendo usadas na forma de decocto,

por via oral, em casos de blenorreia,

hemorragias, úlceras e uretrites;

externamente pode ser usada no tratamento

de feridas ulcerosas e pele oleosa. Por sua

propriedade adstringente e estíptica, a

planta é conhecida como "casca da

virgindade" ou “casca da mocidade” sendo

seu chá muito procurado e usado por

prostitutas.

A floração é em setembro.

39. “A pois: um dia,

num curtume, a

faquinha minha

que eu tinha caiu

dentro dum

tanque, só caldo

de casca de curtir,

barbatimão,

angico, lá sei.”

(ROSA, 2001, p.

39).

Batata

Nome científico: Solanum tuberosum

Nomes populares: Batata, batata-inglesa,

184. “Por tudo, eram

fogueiras de se

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62

batatinha, escorva papa, ou semilha.

É uma planta perene da família das

solanáceas. A planta adulta geralmente tem

entre sessenta a cem centímetros de altura,

possui flores e frutos e produz um

tubérculo comestível rico em amido, um

carboidrato. É muito utilizada na culinária

em saladas, acompanhamento de carnes

(frango, peixe e boi), purês e frita.

As batatas semeiam-se em abril. Dois

meses e meio depois começam a florir e

em setembro faz-se o arranque.

cozinhar, fumaça

de alecrim, panela

em gancho de

mariquita, e

cheiro bom de

carne no espeto,

torrada se

assando, e batatas

e mandiocas,

sempre quentes

no soborralho.”

(ROSA, 2001, p.

184).

Bate-caixa

Nome científico: Salvertia convallariodora

Nomes populares: Colher-de-vaqueiro,

bananeira-do-campo (MG), folha-larga

(GO, PI), Gonçalo-alves (PA), moliana,

pau-de-arara, pau-de-colher-de-vaqueiro,

bate-caixa.

Flores de pétalas brancas, zigomorfas,

dispostas em panículas apicais. Fruto

cápsula lenhosa, com sementes paleáceas

aladas. A madeira é empregada na

carpintaria, confecção de caixotaria,

brinquedos etc. Flores usadas no

paisagismo e frutos procurados por

animais.

Floresce nos meses abril-junho e os frutos

amadurecem em agosto-setembro.

496. “Aprazia escutar

o

ventinho do

chapadão, com o

suave rumor que

assopra e faz, nas

folhas do bate-

caixa.”

(ROSA, 2001, p.

496).

Breu-

branco

Nome científico: Protium hepytaphyllum

Nomes populares: breu, breu-branco, breu-

mescla, almecega-brava, almecega-

verdadeira, breu-branco-verdadeiro (AM),

almesca, manguinha.

Árvore com folhas aromáticas, flores

avermelhadas e frutos do tipo nuculânio,

deiscentes, elipsoides, vermelhos, com

uma ou duas sementes envoltas por arilo

carnoso e adocicados. A madeira é

apropriada para construção civil,

assoalhos, carpintaria e marcenaria. A

árvore proporciona boa sombra e é

utilizada na arborização urbana e rural.

Seus frutos são procurados por animais

para alimentação.

Floresce durante os meses de agosto-

setembro e os frutos amadurecem em

novembro-dezembro.

439. “Ao perto d‟água,

piorava aquele

desleixo de frio.

Abracei com uma

árvore, um pé de

breu-branco.”

(ROSA, 2001, p.

439).

Bunda-de-

negro

Nome científico: Thumbergia Alata

Nomes populares: cipó-africano, jasmim-

157. “Mas uma delas

três, maior,

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63

sombra, bunda-de-negro, maria-sem-

vergonha, jasmim-da-itália, bunda-de-

mulata, amarelinha.

É uma planta da família das acantáceas. A

planta possui um caule volúvel, folhas

pecioladas sagitadas e flores amarelas

gamopétalas com tubo petalino de cor

marrom. Cada flor é acompanhada por

duas brácteas verdes. Planta decorativa.

Floração anual.

também sendo

meio ilha: isto é,

ilha de terra, na

parte de baixo, com grandes

pedras e árvores,

e suja de matinho,

capim, o alecrim

viçoso

remolhando suas

folhagens nágua e

o bunda-de-negro

verde vivente; e

croa, só de areia,

na parte de cima.”

(ROSA, 2001, p.

157).

Buriti Nome científico: Mauritia flexuosa

Nomes populares: buriti, carandá-guaçu,

carandaé-guaçu, miriti, muriti, palmeira-

buriti, palmeira-dos-brejos.

O buriti é uma das mais singulares

palmeiras do Brasil. O buriti é uma espécie

abundante no Cerrado e um indicativo

infalível da existência de água na região.

Os buritis emolduram as veredas, riachos e

cachoeiras, são inseridos nos brejos e

nascentes. A relação com a água não é à

toa. Ao caírem nos riachos, os frutos de

seus generosos cachos são transportados

pela água, ajudando a dispersar a espécie

em toda a região. Consumido

tradicionalmente ao natural, o fruto do

buriti também pode ser transformado em

doces, sucos, picolé, licor, vinho,

sobremesas de paladar peculiar e ração de

animais, que colaboram para disseminar as

sementes. A palmeira também fornece

palmito saboroso, fécula, seiva e madeira.

Os buritis embelezam a paisagem do

Cerrado e são fonte de inspiração para a

literatura, a poesia, a música e as artes

visuais.

24, 47, 47,

47, 61, 61,

62, 63, 68,

71, 73, 86,

96, 96,

103, 104,

111, 118,

131, 135,

156, 173,

173, 204,

208, 208,

213, 306,

306, 322,

323, 324,

324, 325,

325, 329,

333, 333,

335, 342,

352, 370,

388, 392,

393, 393,

395, 398,

400, 403,

417, 417,

438, 451,

464, 481,

483, 614.

“Pergunto coisas

ao buriti; e o que

ele responde é:

coragem minha.

Buriti quer todo

azul, e não se

aparta de sua água

– carece de

espelho. Mestre

não é quem

sempre ensina,

mas quem de

repente aprende.”

(ROSA, 2001, p.

325-326).

Buritirana

Nome científico: Mauritiella aculeata

Nomes populares: buritirana, buriti-mirim.

Palmeira muito elegante e vistosa,

formadora de touceiras, com folhas em

forma de leque, destaca-se pela belíssima

coloração branco-azulada da bainha e dos

47. “Com medo de

mãe-cobra, se vê

muito bicho

retardar

ponderado, paz de

hora de poder

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64

pecíolos. Espécie dioica, portanto para a

produção de frutos são necessários

exemplares masculinos e femininos. É

extremamente ornamental, oferece amplas

aplicações paisagísticas. Os frutos, de

forma análoga à de seu parente buriti

(Mauritia flexuosa), são utilizados para o

preparo de uma bebida muito apreciada em

sua região de origem.

água beber, esses

escondidos atrás

das touceiras de

buritirana.”

(ROSA, 2001, p.

47).

Bogari

Nome científico: Jasminum Volubile

O bogari é um arbusto muito perfumado e

decorativo. As folhas são verde escura,

ovaladas, com sulcos um tanto marcados e

são dispostas ao longo de ramos

compridos. As flores brancas exalam um

forte perfume, adquirem tonalidades

rosadas com o tempo e podem ser simples,

semi-dobradas ou dobradas. Embora seja

arbustiva, pode ser conduzida como

trepadeira, devido aos extensos ramos,

cobrindo assim suportes como colunas,

grades e arcos. Utilizado na ornamentação.

Floresce nos meses mais quentes do ano,

mas pode florescer no inverno se mantida

em estufa.

393. “Estou vendo

vocês dois juntos,

tão juntos,

prendido nos

cabelos dela um

botão de bogari.”

(ROSA, 2001, p.

393).

C

Cabaça

Nome científico: Lagenaria vulgaris

Nomes populares: Cabaça, porongo,

porungo.

É a designação comum dos frutos de

plantas da família das cucurbitáceas e a

uma da família das bignoniáceas. As

plantas são chamadas de cabaceira,

porongueiro, cabaceiro e, na Amazônia, de

jamaru. É utilizada na produção de

artesanato, porta-objetos, brinquedos,

bonecas, cuia de chimarrão. Os frutos

verdes de sabor muito amargo são

utilizados na culinária do interior do

Brasil.

460. “Tive de repente

fé naqueles

desgraçados, com

suas desvalidas

armas de toda

antiguidade, e

cabaças na

bandola, e panelas

de pólvora escura

e fedor de fumaça

ceguenta.”

(ROSA, 2001, p.

460).

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Caeté

Nome científico: Heliconia velloziana

Nomes populares: Caeté, Bananeirinha,

Caetê, Helicônia, Helicônia-vermelha,

erva-conteira.

As folhas são lisas, largas, grandes com

pecíolo longo. As inflorescências formadas

no verão são eretas, com brácteas maiores

na base e menores no ápice. As brácteas

podem ser de coloração vermelho vivo ou

laranja, com flores amarelas.

Utilizado na ornamentação.

206. “Das que

sobressaíam, era

uma flor branca –

que fosse caeté,

pensei, e parecia

um lírio – alteada

e muito

perfumosa. E essa

flor é figurada, o

senhor sabe?”

(ROSA, 2001, p.

206).

Café

Nome científico: Coffea arabica

O cafeeiro é um arbusto da família

Rubiaceae e do gênero Coffea L. Destas,

se colhem os frutos, o café, com os quais

se prepara a bebida estimulante conhecida

também como café. A princípio o fruto é

verde, depois adquire colocaração

vermelha quando amadurece e, por fim,

quando seco, torna-se preto.

311, 319,

325, 334,

353, 411,

440, 450,

486, 496,

496, 508.

“Aí o senhor via

os companheiros,

um por um,

prazidos, em beira

do café.” (ROSA,

2001, p. 334).

Caju

Nome científico: Anacardium occidentale

O caju se constitui de duas partes: o fruto

propriamente dito, que é a castanha; e seu

pedúnculo floral, o pseudofruto, um corpo

piriforme, amarelo, rosado ou vermelho.

Do caju preparam-se sucos, mel, doces,

passas e rapaduras. Dele também são

fabricadas bebidas não alcoólicas, como a

cajuína. De suas fibras (resíduo/bagaço) é

feita a "carne de caju".

Frutificação janeiro a fevereiro.

319. “Milho crescia em

roças, sabiá deu

cria, gameleira

pingou frutinhas,

o pequi

amadurecia no

pequizeiro e a cair

no chão, veio

veranico, pitanga

e caju nos

campos.” (ROSA,

2001, p. 319).

Cajueiro e

Cajueiro-

anão

Nome científico: Anacardium occidentale

É uma planta da família Anacardiaceae

originária da região nordeste do Brasil,

com arquitetura de copa tortuosa e de

diferentes portes. Na natureza existem dois

tipos: o comum (ou gigante) e o anão. O

tipo comum pode atingir entre 5 e 12

metros de altura, mas em condições muito

propícias pode chegar a 20 metros. O tipo

anão possui altura média de 4 metros.

Além do fruto, o caju, a casca da árvore é

também utilizada como adstringente e

tônico.

Floresce a partir de junho e prolonga-se até

novembro. Os frutos amadurecem nos

meses se setembro a janeiro.

212, 476,

483, 483.

“Quando a lua

subisse mais, as

estrelas se

sumiam para

dentro, e até as

seriemas podiam

se atontar de

gritar. Ao que

fiquei bom tempo

encostado no

cajueiro da beira

do curral.”

(ROSA, 2001, p.

212).

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66

Cana

Nome científico: Saccharum

É uma planta da família Poaceae,

representada pelo milho, sorgo, arroz e

muitas outras gramas. As principais

características dessa família são a forma da

inflorescência (espiga), o crescimento do

caule em colmos, e as folhas com lâminas

de sílica em suas bordas e bainha aberta. A

planta é a principal matéria-prima para a

fabricação do açúcar e álcool (etanol).

157, 183,

246, 309,

432.

“Vai agora, mês

de junho. A

estrelad‟alva

sai às três horas,

madrugada boa

gelada. É tempo

da cana.” (ROSA,

2001, p. 157).

Canaranas

Nome científico: Zingiberaceae

Nomes populares: caatinga, cana branca,

canarana.

Seus ramos são longos, ligeiramente

tortuosos e pouco ramificados. As folhas

são espiraladas, de coloração verde-escura

muito brilhante, tendo no lado inferior

nervuras centrais mais claras. As

inflorescências são terminais, tendo

brácteas de coloração vermelha ou verde.

As flores podem ser rosas, brancas ou

vermelhas. Esta planta é reproduzida por

divisão da touceira ou estacas. Este vegetal

é plantado para fins medicinais ou

decorativos.

121. “E se deu que o

remador encostou

quase a canoa nas

canaranas, e se

curvou, queria

quebrar um galho

de maracujá-do-

mato.” (ROSA,

2001, p. 121).

Canela A canela é a especiaria obtida da parte

interna da casca do tronco da caneleira

(Cinnamomum zeylanicum). É muito

utilizada na culinária como condimento e

aromatizante e na preparação de certos

tipos de chocolate e licores. Na medicina,

empregada como os óleos destilados e são

conhecidos por 'curar' resfriados. O sabor e

aroma intensos vêm do aldeído cinâmico

ou cinamaldeído.

235. “Eu, na Nhanva,

ensinando lição a

ele,

ditado e leitura, as

contas de juros;

depois, de noite,

na sala grande, na

mesa grande, se

comia canjica

temperada com

leite, queijo, coco-

da-baía,

amendoim,

açúcar, canela e

manteiga-

devaca.” (ROSA,

2001, p. 235).

Canela-de-

ema

Nome científico: Vellozia squamata

São arbustos que ocorrem nas regiões de

cerrados dos estados da Bahia, Goiás,

Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso

do Sul, Distrito Federal e São Paulo.

Possuem caule ereto, poucas ramificações.

Têm flores de várias cores, como roxas,

brancas, róseas, amarelas e alaranjadas.

48. “Arrancávamos

canela-de-ema,

para acender

fogueira.”

(ROSA, 2001, p.

48).

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67

Suas folhas são usadas como forrageiras

para o gado. Sua floração ocorre de maio á

junho.

Capa-rosa-

do-judeu

Nome científico: Miconia rigidiuscula

Nomes populares: Capa-rosa, capa-rosa-

do-judeu.

435. “Ainda melhor era

a

capa-rosa –

porque no chão

bem debaixo dela

é que o Careca

dança, e por isso

ali fica um círculo

de terra limpa, em

que não cresce

nem um fio de

capim; e que por

isso de capa-rosa-

do-judeu nome

toma.” (ROSA,

2001, p. 435).

Capim

agrestes

Nome científico: Imperata Brasiliensis

Nomes populares: agreste, jucapé, sapé,

massapé.

A flor é um cacho constituído por

pequenas espigas reunidas, que se

desprendem e voam, espalhando as suas

sementes por todos os recentos. O seu

aspecto quando novo é agradável, devido

ao belo verde de suas folhas novas, mas,

quando adulto ele perde lentamente a sua

bela cor, cedendo lugar ao amarelo

avermelhado de suas folhas apresentando o

aspecto de um vasto lençol de palha. É

usado para cobrir choupanas (casas de

sapé), palhoças, ranchos e para cama de

animais. Das suas folhas, extrai-se celulose

que se presta para o fabrico de papel

ordinário. Também possui propriedades

medicinais.

Floresce no outono e primavera.

387. “Saber as

revezadas do

capim? Ah, então,

que foram:

mimoso, sempre-

verde, marmelada,

agrestes e grama-

de-burro...”

(ROSA, 2001, p.

387).

Capim-

capivara

Nome científico: Echinochloa crusgalli

Planta de ciclo anual, entouceirada,

herbácea, porte ereto, de 50-90 cm de

altura. Folhas com bordos levemente

serreados, de 15-30 cm de comprimento.

Lígula ausente e reprodução por sementes.

123. “Estava pitando.

Acabou de pitar,

apanhava talos de

capim-capivara, e

mastigava; tinha

gosto de milho-

verde, é dele que

a capivara come.”

(ROSA, 2001, p.

123).

Capim- 63. “Os cavalos ainda

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68

grama pastavam um

pouco,

do capim-grama,

que tapava os pés

deles.” (ROSA,

2001, p. 63).

Capim

grama-de-

burro

Nome científico: Cynodon dactylon

Nomes populares: grama-das-botica,

grama-fina, grama-rasteira, graminha-seda,

graminha-fina, erva-das-bermudas.

Planta perene, ereta ou ascendente,

rizomatosa e estolonífera. Os colmos são

cilíndricos, finos, lisos e glabros, verdes ou

com pigmentação purpurescente.

Inicialmente ascendentes, assumem

postura ereta após a floração. Apresentam

algumas folhas. Utilizável em pastejo ou

fenação, na formação de gramados, em

barrancos e em taludes de canais é usada

para cobertura do solo.

387. “Saber as

revezadas do

capim? Ah, então,

que foram:

mimoso, sempre-

verde, marmelada,

agrestes e grama-

de-burro...”

(ROSA, 2001, p.

387).

Capim

marmelada

Nome científico: Brachiaria Plantaginea

Nomes populares: grama-paulista, milhã-

branca, papuã.

Colmos cilíndricos, compridos,

geniculados, ascendentes ou decumbentes,

entre-nós e nós glabros, com enraizamento

nos nós em contato com o solo, verde-

claro sem pigmentação arroxeada. Folhas

estriadas, verde-pálidas ou alvas.

44, 387. “Aquele capim-

marmelada é

muito restível,

redobra logo na

brotação, tão

verde-mar, filho

do menor

chuvisco.”

(ROSA, 2001, p.

44).

Capim

mimoso

Nome científico: Axonopus purpusii

O capim-mimoso é uma gramínea perene

que ocorre principalmente em manchas de

solos arenosos. Sendo altamente palatável,

constitui uma das principais espécies

componentes da dieta de bovinos, equinos

e grandes herbívoros silvestres.

387. “Saber as

revezadas do

capim? Ah, então,

que foram:

mimoso, sempre-

verde, marmelada,

agrestes e grama-

de-burro...”

(ROSA, 2001, p.

387).

Capim-

pubo

123. “Aonde o menino

queria ir?

Sofismei, mas fui

andando, fomos,

na vargem, no

meio avermelhado

do capim-pubo.”

(ROSA, 2001, p.

123)

Capim- Nome científico: Trachypogon 63. “Os urubus em

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69

redondo

Polymorphus

Nomes populares: arroz-do-campo.

vasto

espaceavam. Se

acabou o capinzal

de capim-redondo

e paspalho, e paus

espinhosos, que

mesmo as moitas

daquele de

prateados

feixes, capins

assins.” (ROSA,

2001, p. 63)

Capim

sempre-

verde

Nome científico: Poa Nemoralis

Capim-sempre-verde é o nome popular de

uma planta da família das Poáceas.

387. “Saber as

revezadas do

capim? Ah, então,

que foram:

mimoso, sempre-

verde, marmelada,

agrestes e grama-

de-burro...”

(ROSA, 2001, p.

387).

Capim

verdeado

89. “Viemos pelo

Urucuia. Meu rio

de amor é o

Urucuia. O chapadão – onde

tanto boi berra.

Daí, os gerais,

com o capim

verdeado. Ali é

que vaqueiro

brama, com suas

boiadas

espatifadas.”

(ROSA, 2001, p.

89).

Capitão-

do-campo

44. “Tresmente: que

com o capitão-do-

campo de

prateadas pontas,

viçoso no cerrado;

o anis enfeitando

suas moitas; e

com florzinhas as

dejaniras.”

(ROSA, 2001, p.

44).

Capitão-

da-sala

Nome científico: Asclepias Curassavica

Nomes populares: erva-de-paina, erva-

71. “E era bonito, no

correr do baixo

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70

leiteira, algodãozinho-do-campo, dona-

joana, mata-olho, oficial-da-sala,

cavalheiro-da-sala.

Flores bonitas, numerosas, com pétalas

vermelhas e petaloides alaranjados, em

umbelas de pedúnculos compridos.

Folículo glabro, estreito, pardacento-

enegrecido, com numerosas sementes

coroadas por um tapete de pelos sedosos.

Usada como purgativa, vermífuga,

antiasmática e bernicida.

campo, as flores

do capitão-da-

sala-todas

vermelhas e

alaranjadas,

rebrilhando

estremecidas, de

reflexo.” (ROSA,

2001, p. 71).

Caraíba

Nome científico: Cordia calocephala

C. insignis

Nomes populares: Carobeira, Caraúba do

Campo, Para-Tudo.

Árvore de casca tuberosa que produz

pequenas flores amareladas com os lábios

inferiores estriados em vermelho. É tida

como indicação segura de solo fértil. Sua

madeira possui excelentes qualidades para

várias aplicações.

392, 480. “Nós estávamos

na beira do

cerrado, cimo

donde a ladeirinha

do resfriado

principia; a gente

parava debaixo

dum paratudo –

pau como diz o

goiano, que é a

caraíba mesma –

árvore que

respondia à

saudade de suas

irmãs dela,

crescidas em

lontão, nas boas

beiras do Urucuia

(ROSA, 2001, p.

392).

Caraíba-

de-flor-

rôxa

“E descemos num pojo, num ponto sem

praia, onde essas altas árvores – a caraíba-

de-flor-roxa, tão urucuiana.” (ROSA,

2001, 322).

322, 324. “E descemos num

pojo, num ponto

sem praia, onde

essas altas árvores

– a caraíba-de-

flor–roxa, tão

urucuiana.”

(ROSA, 2001, p.

322).

Carambola A carambola é o fruto da caramboleira

(Averrhoa carambola), uma árvore

ornamental de pequeno porte, da família

das Oxalidaceae. Possui flores brancas e

purpúreas. É largamente usada como

planta de arborização de jardins e quintais.

178. “É de ver que,

mesmo do jeito,

não bobeei um

ceitil: o Advindo

me lecionava o

rumo medido da

vantagem, e eu

encurvava o

corpo, amolecia

barriga e taqueava

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71

o meu chofre,

querendo aquilo

no verde – : era o

justo repique –

umas carambolas

de todos estalos,

retruque e

recompletas, com

recuanço, ladeio

perfeito, efeito

produzido e

reproduzido; por

fim, eu me

reprazia mais

escutando

rebrilhar o

concôco daquelas

bolas umas nas

outras,

deslizadas...”

(ROSA, 2001, p.

178).

Caruru

Nome científico: Amaranthus

Nomes populares: bredo Caruru é a

designação comum a certas plantas do

gênero Amaranthus, da família das

amarantáceas, algumas de folhas

comestíveis, bastante utilizada em

culinária. A maioria delas é invasora de

plantações.

184. “A saudade minha

maior era de uma

comidinha

guisada: um

frango com

quiabo e abóbora-

d‟água e caldo,

um refogado de

caruru com ofa de

angu.” (ROSA,

2001, p. 184).

Casa-

comigo

Em todas as casas onde havia moças boas

para casar, em frente havia uma flor

misteriosa, semelhante a um lírio. Essa flor

recebeu vários nomes de acordo com a

mulher que Riobaldo a relacionava. Ao

perguntar o nome da flor, para Otacília ele

teve a resposta de “casa-comigo”.

206 “Casa-comigo...”

– Otacília

baixinho me

atendeu. E, no

dizer, tirou de

mim os olhos;

mas o tiritozinho

de sua voz eu

guardei e recebi,

porque era de

sentimento”.

(ROSA, 2001, p.

206).

Cavalheiro-

da-sala

Nome popular de uma planta. O mesmo

que capitão-da-sala.

“E era bonito, no

correr do baixo

campo, as flores

do capitão-da-

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72

sala-todas

vermelhas e

alaranjadas,

rebrilhando

estremecidas, de

reflexo. – “É o

cavalheiro- da-

sala...” –

Diadorim falou,

entusiasmado.

Mas o Alaripe,

perto de nós,

sacudiu a cabeça.

– “Em minha

terra, o nome

dessa” – ele disse

“é dona-joana...

Mas o leite dela é

venenoso...”

(ROSA, 2001, p.

72).

Cedro

Nome científico: Cedrela odorata

Nomes populares: Cedro cheiroso, cedro

rosa. Árvore de porte nobre e casca

fendida e rugosa. Folhas alternas e

pinadas. Flores curto-pediceladas, branca-

centas, inteiros e glabros. Sua madeira é

rica de vasos cheios de matérias resinosas.

122. “Me deu uma

tontura. O ódio

que eu quis: ah,

tantas canoas no

porto, boas canoas

boiantes, de

faveira ou

tamboril, de

imburana,

vinhático ou

cedro, e a gente

tinha escolhido

aquela...” (ROSA,

2001, p. 122).

Cera de

palmeiral

484. “Essa tropa, que

passara por nós,

dias antes, rumava

para o

Abaeté, com

carga de fumo,

mantas de

borracha, couros

de onça e de

lontra e cera de

palmeiral, pouca

coisa.” (ROSA,

2001, p. 484).

Cocos do

buritizal

Fruto da palmeira buriti. Além de rico em

vitamina A, B e C, ainda fornece cálcio,

330. “Assim que

fevereiro é o mês

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73

ferro e proteínas. Consumido

tradicionalmente ao natural, o fruto do

buriti também pode ser transformado em

doces, sucos, picolé, licor, vinho,

sobremesas de paladar peculiar e ração de

animais.

mindinho: mas é

quando todos os

cocos do buritizal

maduram, e no

céu, quando estia,

a gente acha

reunidas as todas

estrelas do ano

todo. Mesmas

vezes eu ria.”

(ROSA, 2001, p.

330).

Coco Nome científico: Cocos nucifera

Nomes populares: Coco , coco-da-praia,

coco-da-índia, coco-da-bahia.

O coco é o fruto produzido pelo coqueiro e

contém componentes que beneficiam o

organismo humano. É um fruto oval-

arredondado, carnoso, de casca fibrosa,

endocarpo duro, de semente esbranquiçada

e suculenta utilizada na alimentação

juntamente com a água que se encontra

dentro da semente. A água de coco é muito

saborosa. Pode ser empregada como

diurético, por ser inofensiva e rica em sais

de potássio. O coco realça o sabor dos

alimentos, sendo excelente no preparo de

bebidas, pratos doces e salgados,

substituindo com vantagem nozes e

amêndoas nos diferentes tipos de receitas.

Seu período de safra vai de janeiro a julho,

e, em casos especiais, a setembro.

352. “Cabeça de um se

bolou,

redondante, feito

um coco, por

cima da palha de

buriti que cobria

uma casa de

vaqueiro.”

(ROSA, 2001, p.

352).

Coco-da-

bahia

Espécie de coco. 235. “Eu, na Nhanva,

ensinando lição a

ele,

ditado e leitura, as

contas de juros;

depois, de noite,

na sala grande, na

mesa grande, se

comia canjica

temperada com

leite, queijo, coco-

da-baía,

amendoim,

açúcar, canela e

manteiga-

devaca.” (ROSA,

2001, p. 235).

Coco de Fruto da palmeira macaúba (Acrocomia 310. “Diadorim

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74

macaúba aculeata). Dele se extrai óleo, é utilizado

na produção de sabão em barra, shampoo,

desinfetante e cosméticos; serve também

de alimento para animais.

mandou comprar

um quilo grande

de sabão de coco

de macaúba, para

sé lavar corpo.”

(ROSA, 2001, p.

310).

Congonha Denominação genérica dada à várias

árvores de diversas famílias botânicas,

cujas folhas servem para fazer chás. É

também chamado de mate, erveira, erva-

verdadeira, etc.

235. “– “Fofo faço, e

em prazo, siô

Baldo: acabar

para uma vez

com essa cambada

canalha de

jagunços!” – ele

referia, com

rompante e festa

no dizer, bebendo

seu coité de chá-

decongonha, que

de tão quente

pelava.” (ROSA,

2001, p. 325).

Copos-de-

leite

Nome científico: Zantedeschia aethiopica

Planta com folhas grandes, espádice

cilíndrica e amarela e espata branca. É

originária da África do Sul, comum onde

quer que exista água. É usada como

ornamental em outras zonas de clima

temperado, devido às suas flores grandes e

à facilidade com que se cultiva. É tóxica,

devido à presença de oxalato de cálcio e

possivelmente uma espécie invasora. Ela é

muito vendida em floriculturas, e

apreciada em jardins.

326. “E em Otacília eu

sempre muito

pensei: tanto que

eu via as

Baronesas

amarasmeando no

rio em vidro –

jericó, e os lírios

todos, os lírios-

do-brejo – copos-

de-leite, lágrimas-

de-moça, são-

josés.” (ROSA,

2001, p. 326).

Coqueiros Nome científico: Cocos nucifera

Palmeira com caule sem ramificação

marcado por vários anéis que são cicatrizes

das folhas caídas. Seu porte é elegante,

ligeiramente curvado em virtude da ação

dos ventos. As folhas penadas formam

uma copa elegante. As flores, brancas e

carnudas, se agrupam em um cacho,

constituído de flores masculinas e

femininas. O fruto, o coco, é constituído

por uma casca dura, uma polpa de cor

branca, carnuda e adocicada e em seu

interior se encontra água.

310, 398. “Bateu o primeiro

toró de chuva.

Cortamos paus,

folhagem de

coqueiros,

aumentamos o

rancho.” (ROSA,

2001, p. 310).

Couve Nome científico: Brassica oleracea 299. “Daí, estávamos

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75

Esta hortaliça tem folhas grandes e

carnudas, possui inúmeras formas obtidas

e fixadas por uma longa cultura. É uma

planta muito utilizada como verdura na

cozinha, para sopas e conservas, entre

outros acompanhamentos, como a couve à

mineira.

todos pegando o

que comer, que

eram essas

grandes

abundâncias.

Angu e couve,

abóbora-moranga

cozida, torresmos,

e em toda

fogueira assavam

mantas de

carnes.” (ROSA,

2001, p. 299).

D

Dorme-

comigo

Ao pensar em Nhorinhá, a prostituta com

quem Riobaldo se envolve, a flor que se

parece um Lírio, recebe a alcunha de

“Dorme-comigo”.

206. “Consoante,

outras, as

mulheres livres,

dadas,

respondem: –

“Dorme-

comigo...” Assim

era que devia de

haver de ter de

me dizer aquela

linda moça

Nhorinhá, filha de

Ana Duzuza, nos

Gerais confins; e

que também

gostou de mim e

eu dela gostei.”

(ROSA, 2001, p.

206).

Dona-joana Dona-joana é o nome vulgar de uma

planta, o mesmo que capitão-da-sala.

72. “E era bonito, no

correr do baixo

campo, as flores

do capitão-da-

sala-todas

vermelhas e

alaranjadas,

rebrilhando

estremecidas, de

reflexo. – “É o

cavalheiro- da-

sala...” –

Diadorim falou,

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76

entusiasmado.

Mas o Alaripe,

perto de nós,

sacudiu a cabeça.

– “Em minha

terra, o nome

dessa” – ele disse

“é dona-joana...

Mas o leite dela é

venenoso...”

(ROSA, 2001, p.

72).

Duro-do-

brejo

Nome científico: Andropogon Lithophilus

Nomes populares: Capim-duro-do-brejo,

duro-do-brejo.

Duro-do-brejo é o nome popular de uma

planta da família das Poáceas.

395. “Mas o ao em

redor, em grandes

pastos, era o

capim melhor

milagroso – que o

que deixava de

ser provisório rico

era o meloso de

muito óleo, a não

ver uns fios de

santa-luzia azul, e

do duro-do-brejo,

nas baixadas, e,

nos altos com

pedregal, o

jasmim-da-serra.”

(ROSA, 2001, p.

395).

E

Embaúba Embaúba é a designação comum de várias

espécies de árvores, principalmente do

gênero Cecropia.

Nomes populares: Embaúva, imbaúba,

imbaúva, umbaúba, umbaúva, ambaúba,

embaíba, imbaíba e torém.

As embaúbas são árvores leves, pouco

exigentes quanto a solo e muito comuns

em áreas desmatadas em recuperação.

Possuem frutos atrativos a várias espécies

de aves. São capazes de se dispersarem

rapidamente. Como possuem caule e ramos

ocos, vivem em simbiose com formigas.

210. “Vindo na

vertente, tinha o

quintal, e o mato,

com o garrulho de

grandes

maracanãs

pousadas numa

embaúba, enorme,

e nas mangueiras,

que o sol

dourejava.”

(ROSA, 2001, p.

210).

Embira Abrange plantas pertencentes a diversas

famílias, notadamente às Anonáceas, cujo

91. “Mas primeiro

enfeitaram as

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77

córtex fornece fibra ou embira, para

simplesmente amarrar ou ser aproveitada

na cordoaria.

foices, urdindo

com cordões de

embira e várias

flores.” (ROSA,

2001, p. 91).

Erva-boa 337, 337. “Aí Raimundo Lê

garantiu cura com

erva-boa. Mas

onde

era que erva-boa

se ia achar?”

(ROSA, 2001, p.

210).

Erva-dôce

Nome científico: Pimpinella Anisum

Nomes populares: Anis

Planta herbácea africana, de folhas

fendidas e flores alvas em amplas umbelas.

Frutos condimentares, estimulantes,

carminativos. Utilizada na culinária e na

perfumaria.

252. “O Paspe, que

cozinhava,

cozinhou para

mim os chás: o de

macela, o de erva-

doce, o de losna.”

(ROSA, 2001, p.

352).

F

Fava Nome científico: Vicia faba

A fava é uma planta da família das

leguminosas. Folhas papirinadas, vagens

grandes, carnudas, com sementes

achatadas, castanho-claras, roxas ou

verdes. As vargens tenras constituem

excelente alimento.

249. “Gostei de favas

do mato, muito

murici, quixaba e

jaca.” (ROSA,

2001, p. 249).

Faveira Nome comum às Leguminosas

papolionóideas.

Nome popular: faveira, faveiro.

Árvore de pequeno porte, com flores

violáceos. O lenho é pesado, pardo-

amarelo. Presta-se para construção. (Esta

espécie descrita é a Vatairea macrocarpa)

122, 476,

476.

“Me deu uma

tontura. O ódio

que eu quis: ah,

tantas canoas no

porto, boas

canoas boiantes,

de faveira ou

tamboril, de

imburana,

vinhático ou

cedro, e a gente

tinha escolhido

aquela...” (ROSA,

2001, p. 352).

Feijão

Nome científico: Phaseolus vulgaris

Feijão é um nome comum para uma grande

variedade de sementes de plantas de alguns

234, 283,

317, 353,

431, 464.

“E, mesmo, nas

más horas é que

vem bom

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gêneros da família Fabaceae. Proporciona

nutrientes essenciais como proteínas, ferro,

cálcio, vitaminas (principalmente do

complexo B), carboidratos e fibras. A

combinação de arroz com feijão é típica da

culinária do Brasil.

consolo: para o

Jio tinha tocado,

de antevéspera, o

Braz, nessa

antecedência em

dois jumentos ele

tinha trazido

mantimento de

feijão e arroz, e

toucinho para

torresmos, e

pratos e panela, se

cozinhou um

jantar.”

(ROSA, 2001, p.

234).

Feijão

bravo

Denominação comum às espécies nativas

dos gêneros Phaseolus, Vigna e

Centrosema, da família das Leguminosas

Papilionóideas.

120. “No alto, eram

muitas

flores,

subitamente

vermelhas, de

olho-de-boi e de

outras trepadeiras,

e as roxas, do

mucunã, que é um

feijão bravo;

porque se estava

no mês de maio,

digo – tempo de

comprar arroz,

quem não pôde

plantar.”

(ROSA, 2001, p.

120).

Feijão-da-

seca

430. “Daí, assim ia

sendo que,

mesmo sem

sentir, o próprio

Zé Bebelo se via

principiando a ter

de falar com ele

em todas as pestes

de gado, e nas

boas leiras de

vazante, no

feijão-da- seca e

nos arrozais

cacheando, em

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79

que os

passarinhos de

Deus viram em a

má praga.”

(ROSA, 2001, p.

430).

Flor de

joaninha-

silva

431. “Daí, feito flor de

joaninha-silva em

muito sol, do

meio-dia para a

tarde, virava era

azul.” (ROSA,

2001, p. 431).

Folha de

uva

Folha da videira (Vitis sp.), uma planta da

família das Vitaceae.

130. “O que apreciei –

carne moída com

semente de trigo,

outros guisados,

recheio bom em

abobrinha ou em

folha de uva, e

aquela moda de

azedar o quiabo –

supimpas

iguarias.” (ROSA,

2001, p. 130).

Folha-larga 322. “E o folha-larga,

o aderno-preto, o

pau-de-sangue; o

pau-paraíba,

sombroso. O

Urucuia, suas

abas. E vi meus

Gerais!” (ROSA,

2001, p. 322).

Fumo

Nome científico: Nicotina Tabacum

Planta com caule ereto e folhas grandes. O

caule e as folhas secretam substância

pegajosa, de cheiro forte. As flores são

afuniladas, rosas, unidas em penículas.

179, 179,

432, 483,

484.

“Andando que

sentados, jogando

jogos, ferrando

queda de braço,

assoando o nariz,

mascando fumo

forte e cuspindo

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80

longe, e pitando,

picando ou

dedilhando fumo

no covo da mão,

com muita

demora; o mais,

sempre no

proseio.” (ROSA,

2001, p. 352).

G

Gameleira

Nome científico: Ficus doliaria

Árvore ereta, de porte vultoso, casca

espessa e dura. Suas folhas são alternas,

corídeas, ovais e verde-escuras. Madeira

utilizada para a confecção de gamelas e

objetos domésticos.

117, 160,

319.

“Tinha também

umas duas ou três

gameleiras, de

outrora, tanto

recordo.” (ROSA,

2001, p. 117).

Gravatá

Nome científico: Bromelia Karatas

Nomes populares: Caraguatá, caravatá,

caroá, caroatá, caruatá, croata, caruatá-de-

pau, coroá, coroatá, coroá-verdadeiro,

craguatá, crauaçu, crauatá, crautá, cravatá,

croá, curauá, curuá, curuatá, erva-do-

gentio, gragoatá e erva-piteira.

Planta vivaz, herbácea, quase acaule.

Folhar ensiformes, verdes, vermelhas na

base do caule. As flores de cálice branco e

pétalas roxas. Das folhas se retira fibra

sedosa para cordas, tapetes, mantas etc.

129, 255,

266, 319.

“Mais tarde, me

deu até um facão

enterçado, que

tinha mandado

forjar para

próprio, quase do

tamanho de

espada e em

formato de folha

de gravata.”

(ROSA, 2001, p.

129).

Graviá 65. “Depois, se

repraçava um

entranço de vice-

versa, com

espinhos e

restolho de

graviá, de áspera

raça, verde-preto

cor de cobra.

Caminho não se

havendo.”

(ROSA, 2001, p.

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81

65).

Goiabeira

Nome científico: Psidium guajava

Nomes populares: araçá-guaçu, araçaíba,

araçá-das-almas, araçá-mirim, araçauaçu,

araçá-goiaba, goiaba, goiabeira-branca,

goiabeira-vermelha, guaiaba, guaiava,

guava, guiaba, mepera e pereira.

Pequena árvore frutífera tropical de tronco

tortuoso, casca lisa descamante tanífera.

As folhas obovadas e cartáceas. Flores

pequenas, brancas, solitárias, formadas na

primavera. Os frutos são bagas verdes ou

amarelas de casca rugosa, com polpa

suculenta doce-acidulada aromática,

branca, rósea, avermelhada ou arroxeada,

com muitos "caroços" (sementes).

Amadurecem no verão.

201. “E o Elisiano

caprichava de

cortar e descascar

um ramo reto de

goiabeira, ele que

assava a carne

mais gostosa, as

beiras tostadas, a

gordura chiando

cheio.” (ROSA,

2001, p. 201).

Guapira

Nome científico: Guapira Pernambucensis

Nomes populares: joão-moleza, guapira

Guapira é o nome popular de um arbusto

da família das Nictagináceas que cresce em

moitas.

398. “No entrar numa

guapira, se

redobrou o

achado daquelas

ramas verdes, que

não obedecemos.”

(ROSA, 2001, p.

398).

H

I

Imburana

Nome científico: Bursera leptophloeos

Árvore coberta de espinhos. Folhas opostas

e pinadas. Flores em cachos. Fruto

comestível quando maduro. Imburana

significa imbu falso.

Fruto comestível, extração de óleo

medicinal, chá da casca tônico e

cicatrizante. As primeiras flores aparecem

no fim da estação seca (de novembro a

janeiro), em ramos ainda desfolhados, mas

acompanha o início da nova folhagem na

estação chuvosa. Os frutos amadurecem de

4 a 5 meses depois.

122. “Me deu uma

tontura. O ódio

que eu quis: ah,

tantas canoas no

porto, boas

canoas boiantes,

de faveira ou

tamboril, de

imburana,

vinhático ou

cedro, e a gente

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82

tinha escolhido

aquela...” (ROSA,

2001, p. 122).

Ingazeiro O(a) ingá, também chamado(a)

ingazeiro(a), é uma árvore do gênero Inga,

da subfamília Mimosoideae, da família

Fabaceae. "Ingá" também designa o fruto

da árvore: uma longa vagem que contêm

sementes envolvidas por uma polpa muitas

vezes comestível. É muito comum nas

margens de rios e lagos, sendo muito

procurado pela fauna e pelo homem por

suas sementes envolvidas por polpa branca

e adocicada.

O ingazeiro costuma apresentar floração

mais de uma vez por ano.

304. “Atravessei um

ribeirão verde,

com os

umbuzeiros e

ingazeiros

debruçados – e ali

era vau de gado.”

(ROSA, 2001, p.

304).

J

Jaca

Nome científico: Artocarpus integrifolia

A jaca é o fruto da jaqueira, árvore tropical

com até 20m de altura. Flores caulinares.

A fruta nasce no tronco e nos galhos

inferiores da jaqueira e são formados por

gomos, sendo que cada um contém uma

grande semente recoberta por uma polpa

cremosa. Apresenta cor amarelada e

superfície áspera, quando madura. Pode ser

consumida in natura, cozida, na preparação

de doces e geleias caseiras. As sementes,

sem pele e cozidas também podem ser

consumidas como tira-gosto.

250. “Gostei de favas

do mato, muito

murici, quixaba e

jaca.” (ROSA,

2001, p. 250).

Jaribaras 398. “Uns galhos de

árvores colocados

ramalhos e

jaribaras – forma

de sinal: para não

se passar.”

(ROSA, 2001, p.

398).

Jasmim-

da-serra

Nome científico: Elionorus Bilinguis

Nomes populares: Capim-jasmim-da-serra,

jasmim-da-serra.

Jasmim-da-serra é o nome popular de uma

planta da família das Poáceas.

395. “Mas o ao em

redor, em grandes

pastos, era o

capim melhor

milagroso – que o

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83

que deixava de

ser provisório rico

era o meloso de

muito óleo, a não

ver uns fios de

santa-luzia azul, e

do duro-do-brejo,

nas baixadas, e,

nos altos com

pedregal, o

jasmim-da-serra.”

(ROSA, 2001, p.

395).

Jatobá

Nome científico: Hymenaea courbaril

Nomes populares: Jatobá da mata, jataí,

jutaí e pão-de-ló-de-mico.

Árvore desenvolvida, muito esgalhada e

frondosa. Folhas compostas de 2 folículos

de tamanho mediano e flores

esbranquiçadas ou avermelhadas. Madeira

de cerne avermelhado ou castanho escuro,

dura e pesada. O fruto é um legume

indeiscente, de casca bastante dura. Cada

legume costuma ter 3 sementes e é

preenchido por uma massa

verde/amarelada, comestível. A madeira é

empregada na construção civil em vigas,

caibros, ripas e acabamentos internos. A

polpa do legume é comestível e muito

nutritiva. É usada como alimento também

pela fauna.

246. “De como, no

prazo duma hora

só, careci de ir me

vendo escorando

rifle e alvejando,

em quentes, em

beira de mato e

campo, em virada

de espigão,

descendo e

subindo ramal de

ladeirinhas

pequenas, e atrás

de cerca, debaixo

de cocho, trepado

em jatobá e

pequizeiro,

deitado no azul

duma laje grande,

e rolando no

bagaço doce de

cana, e

rebentando por

dentro de uma

casa.” (ROSA,

2001, p. 245-246)

Jenipapei-

ro

Nome científico: Genipa americana

É uma árvore de grande porte,

semidecídua. Copas estreitas, piramidal e

irregular, quando jovem. Nos adultos,

476. “E também, com

o tardio da noite,

veio a hora de se

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torna-se arredondada. Fuste reto, com

ritidoma áspera, de cor castanha. Folhas

simples, opostas, glabras. Flores grandes,

com corola branca-amarelada. O fruto é

uma baga globosa, com polpa adocicada,

aromática. Quando maduros, apresentam

casca enrugada, coriácea e de cor parda. As

sementes são achatadas, duras e pequenas,

no meio da polpa. Sua casca tem uso

medicinal e seu fruto, o jenipapo, é

comestível e utilizado na produção de tinta

preta, doces e licores.

desapear da mesa,

e eu teimei em

rejeitar oferta de

cama em catre em

quarto ou sala,

mas fui fora,

caçar o meio da

minha gente; por

sinal que armei

rede por entre

cajueiro e

jenipapeiro, perto

dos currais, e,

para o segundo

sono, mudei de

rearmar, de

faveira para

faveira, lá para

dentro duma

cerca.” (ROSA,

2001, p. 476)

Jericó 326. “E em Otacília eu

sempre muito

pensei; tanto que

eu via as

baronesas

amarasmeando no

rio em vidro –

jericó, e os lírios

todos, os lírios-

do-brejo – copos-

de-leite, lágrimas-

de-moça, são-

josés. (ROSA,

2001, p. 326).

Joazeiro

Nome científico: Ziziphus joazeiro

Nomes populares: Joá, laranjeira-de-

vaqueiro, juá-fruta, juá e juá-espinho.

Suas folhas assemelham-se às folhas de

canela, exceto pelo tom verde mais claro e

consistência mais membranácea. Suas

flores são pequenas, de cor creme, dando

origem a frutos esféricos, também

93. “– “Tua sombra

me espinha,

joazeiro!”

(ROSA, 2001, p.

93).

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pequenos, de cor amarelada, doces, com

uma semente em seu interior. Seus frutos,

do tamanho de uma cereja, são comestíveis

e utilizados para fazer geleias, além de

possuírem uma casca rica em saponina

(usada para fazer sabão e produtos de

limpeza para os dentes). São também

utilizados na alimentação do gado na época

seca.

O extrato do juazeiro, o juá, é empregado

na indústria farmacêutica.

Junco Nome comum a diversas Ciperáceas. Essas

plantas possuem caules cilíndricos com

três fileiras de folhas, e suas flores miúdas

são esverdeadas ou castanhas. A pequena

vagem contém muitas sementes escuras,

que parecem poeira. O junco comum é

uma planta verde-escura e flexível, que

cresce com frequência nos caminhos

úmidos e nos gramados. Os juncos são

utilizados para tecer cestos, esteiras e

assentos de cadeira.

47. “Ou outra – lagoa

que nem não abre

o olho, de tanto

junco.” (ROSA,

2001, p. 398).

L

Lágrimas-

de-moça

326. “E em Otacília eu

sempre muito

pensei: tanto que

eu via as

Baronesas

amarasmeando no

rio em vidro –

jericó, e os lírios

todos, os lírios-

do-brejo – copos-

de-leite, lágrimas-

de-moça, são-

josés.” (ROSA,

2001, p. 326).

Laranjeira

Nome científico: Citrus × sinensis

É uma árvore de pequeno porte, tronco de

casca acinzentada, muito ramificada de

copa densa com forma arredondada. As

folhas são ovais, de textura coriácea, borda

lisa, cor verde intenso, exalando perfume

quando esmagadas. As flores são

pequenas, brancas e perfumadas. O fruto é

474. “O quanto fiz

perguntas. Aceitei

o

chá de laranjeira,

com que sempre

dei bem, numa

tigela grande,

com capricho

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globoso, mais arredondado conforme a

variedade. A polpa é aquosa com a cor

amarela ou alaranjada, conforme a

variedade e estágio de maturação.

Frutifica praticamente ao longo do ano,

mais intenso de abril a setembro.

desenhada.”

(ROSA, 2001, p.

474).

Limão

Nome científico: Citrus Limon

Fruto do limoeiro, árvore pequena, muito

ramificada, de caule e ramos castanho-

claros. Os que têm cor amarela ou

amarelo-esverdeada são cultivados,

sobretudo, pelo sumo, embora a polpa e a

casca também se utilizem em culinária. Os

limões contêm uma grande quantidade de

ácido cítrico, o que lhes confere um gosto

ácido.

393, 550. “(...) em riscos,

zunindo como

enchiam o ar,

caintes então,

porque a lei delas

é essa, como

porque o corpo

traseiro pesa tão

bojudo, ovado,

bichão maduro,

elas não

agüentam o arco

de voar, iam

semeando palmos

de chão, de preto

em acobreadas, e

tudo mesmo

cheirava à

natureza delas,

cheiro cujo que de

limão ruivo que

se assasse na

chapa.” (ROSA,

2001, p. 550).

Lírio Nomes de diversas plantas de alto valor

decorativo, conhecidas também por

Açucena, Copo de leite, Iris etc.

206, 326. “Das que

sobressaíam, era

uma flor branca –

que fosse caeté,

pensei, e parecia

um lírio – alteada

e muito

perfumosa.”

(ROSA, 2001, p.

206).

Lírios-do-

brejo

Espécie de lírio. 326. “E em Otacília eu

sempre muito

pensei: tanto que

eu via as

Baronesas

amarasmeando no

rio em vidro –

jericó, e os lírios

todos, os lírios-

do-brejo – copos-

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87

de-leite, lágrimas-

de-moça, são-

josés.” (ROSA,

2001, p. 326).

Liroliro A flor que se parece um lírio tem a alcunha

de “liroliro” quando Diadorim pergunta

Otacília o nome da planta.

207. “E Diadorim

reparou e

perguntou

também que flor

era essa, qual

sendo? –

perguntou

inocente. – “Ela

se chama é

liroliro...” –

Otacília

respondeu.”

(ROSA, 2001, p.

206).

Losna

Nome científico: Artemisia Absinthium

Planta vivaz, glauca, ramificada. As folhas

são prateado-sedosas e as flores amarelas

em pequenos capítulos racemoso-

paniculados. Ela é muito aromática, de

gosto amargo especial, produz, por

destilação, óleo verde e volátil, chás, base

do licor conhecido por absinto.

252. “O Paspe, que

cozinhava,

cozinhou para

mim os chás: o de

macela, o de erva-

doce, o de losna.”

(ROSA, 2001, p.

252).

M

Macaúba,

Coqueiros

Macaúba

Nome científico: Acrocomia Aculeata

Tipo de palmeira que produz um coco de

pequeno porte muito apreciado.

Suas folhas, em algumas regiões, são

utilizadas como forrageiras aos animais,

nos períodos de seca. Também são

utilizadas na obtenção de fibras destinadas

à produção de linhas, cordas, redes, cestos,

balaios e chapéus.

O período da inflorescência da macaúba

depende da região e clima onde se

encontra, em Minas Gerais geralmente

inicia no mês de outubro a dezembro.

65, 164,

174, 310,

482.

“Em horas,

andávamos pelos

matos, vendo o

fim do sol nas

palmas dos tantos

coqueiros

macaúbas, e

caçando, cortando

palmito e tirando

mel da abelha-

depoucas-flores,

que arma sua cera

cor-de-rosa.”

(ROSA, 2001, p.

252).

Macela Nome científico: Achyrocline satureioides 252. “O Paspe, que

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Nomes populares: macela-do-campo,

macelinha, macela de travesseiro,

carrapichinho-de-agulha, camomila

nacional.

É um arbusto perene que atinge cerca de

um metro de altura e que na região sul

costuma florescer no mês de março. As

flores são amarelas, com cerca de um

centímetro de diâmetro, florescendo em

pequenos cachos. As folhas são finas e de

cor verde-claro, meio acinzentada, que se

destaca do restante da vegetação do campo.

Na cosmética, a macela também atua como

um bom clareador natural para os cabelos

de tons castanho claro à louro.

cozinhava,

cozinhou para

mim os chás: o de

macela, o de erva-

doce, o de losna.”

(ROSA, 2001, p.

252).

Manacá

Nome científico: Brunfelsia uniflora

Nome popular de uma árvore da família

das Solanáceas, originária do Brasil, que

ocorre em áreas da mata atlântica e de

cerrado. Seu fruto é deiscente, com

sementes muito pequenas e sua

disseminação é anemocórica. Flores de

coloração branca, rosa ou arroxeada.

55. “– Por mim, pode

cheirar que

chegue o manacá:

não vou!”

(ROSA, 2001, p.

252).

Mandioca Nomes populares: aipim, castelinha,

macaxeira, mandioca-doce, mandioca-

mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre,

aiapuã, caiabana ou nomes que designam

apenas a raiz, como caarina.

Mandioca é o nome pelo qual é conhecida

a espécie comestível e mais largamente

difundida do gênero Manihot, composto

por diversas variedades de raízes tuberosas

comestíveis. O nome dado ao caule do pé

de mandioca é maniva, o qual, cortado em

pedaços, é usado no plantio. Da mandioca

se faz farinha e se usa em diversos pratos.

27, 184,

249, 339,

412, 463.

“Por tudo, eram

fogueiras de se

cozinhar, fumaça

de alecrim, panela

em gancho de

mariquita, e

cheiro bom de

carne no espeto,

torrada se

assando, e batatas

e mandiocas,

sempre quentes

no soborralho.”

(ROSA, 2001, p.

184).

Mandioca-

brava

Espécie de mandioca que contém o

venenoso ácido cianídrico.

27, 27, 71. “Melhor, se

arrepare: pois,

num chão, e com

igual formato de

ramos e folhas,

não dá a

mandioca mansa,

que se come

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89

comum, e a

mandioca-brava,

que mata? Agora,

o senhor já viu

uma estranhez?”

(ROSA, 2001, p.

252).

Marimbús 417, 451. “Essas veredas

eram duas, uma

perto da outra; e

logo depois,

alargadas,

formavam um

tristonho brejão,

tão fechado de

moitas de plantas,

tão apodrecido

que em escuro:

marimbus que

não davam

salvação.”

(ROSA, 2001, p.

417).

Manga A manga é o fruto da mangueira

(Mangifera indica L.). É uma fruta do tipo

drupa, de coloração variada: amarelo,

laranja e vermelha, sendo mais roseada no

lado que sofre insolação direta e mais

amarelada ou esverdeada no lado que

recebe insolação indireta. Normalmente,

quando a fruta ainda não está madura, sua

cor é verde, mas isso depende do cultivo.

A polpa é suculenta e muito saborosa, mas

em alguns casos são fibrosas, doces,

encerrando uma única semente grande no

centro. As mangas são usadas na

alimentação das mais variadas formas, mas

é mais consumida ao natural.

77.

“Até, lá era

favorável de

defender que os

cavalos se

espairassem – por

ter manga natural,

onde se encostar,

e currais falsos,

de pegar gado

brabeza.” (ROSA,

2001, p. 77).

Mangaba Mangaba é o fruto da mangabeira

(Hancornia speciosa), também chamada

de mangaba-ovo. É comestível e utilizado

na fabricação de sucos, sorvetes, doces e

bebida vinhosa.

49, 63. “Ah, a mangaba

boa só se colhe já

caída no chão, de

baixo...

Nhorinhá.”

(ROSA, 2001, p.

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90

49).

Mangabei-

ras

Nome científico: Hancornia speciosa

A mangabeira é uma árvore que pode

atingir os sete metros de altura,

pertencendo à família das apocináceas. Seu

látex é usado para fazer uma borracha de

cor rosada. Sua madeira é de cor

avermelhada, com folhas em formato

elíptico e flores grandes. Seu fruto é a

mangaba.

50, 63. “Ah, o Tabuleiro?

Senhor então

conhece? Não,

esse ocupa é

desde a Vereda-

da-Vaca-Preta até

Córrego Catolé,

cá embaixo, e de

em desde a

nascença do

Peruaçu até o rio

Cochá, que tira da

Várzea da Ema.

Depois dos

cerradões das

mangabeiras...”

(ROSA, 2001, p.

50).

Manguei-

ras

Nome científico: Mangifera indica

Árvore frutífera da família Anacardiaceae.

Suas folhas são alternadas, agudas,

estreitas na base e verde-escuras. Suas

flores são pequenas, verdes e numerosas. O

fruto é chamado de manga e possui uma só

semente (caroço).

210. “Vindo na

vertente, tinha o

quintal, e o mato,

com o garrulho de

grandes

maracanãs

pousadas numa

embaúba, enorme,

e nas mangueiras,

que o sol

dourejava.”

(ROSA, 2001, p.

210).

Maracujá-

do-mato

Nome científico: Passiflora Cincinatta

A espécie maracujá do mato é uma

trepadeira e necessita de apoio de algum

arbusto no qual agarra-se, enroscando suas

gavinhas. As folhas desta espécie de

maracujazeiro são inteiras com os bordos

levemente serrados. As Flores são grandes,

vistosas, de coloração vermelha ou roxa.

Os frutos têm formato ovóide, baga

amarelada e muito ácida. O maracujá do

mato é utilizado in natura e em sucos.

121. “E se deu que o

remador encostou

quase a canoa nas

canaranas, e se

curvou, queria

quebrar um galho

de maracujá-do-

mato.” (ROSA,

2001, p. 121).

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91

Mariana 468. “As mulheres, na

boca do forno

fumaçando,

mexiam com

feixes verdes de

mariana e

vassourinha e

carregavam as

latas pretas de

assar biscoitos.”

(ROSA, 2001, p.

468).

Marmelo-

do-mato

Nome científico: Casearia

Cambessedesia

Nomes populares: Pau-de-vaca

pau-de-carga.

Marmeleiro-do-mato é o nome de uma

árvore da família das Salicáceas. Apesar de

seu nome poder sugerir o seu fruto, o

marmelo-do-mato, não é comestível.

161. “Dependurou o

espelho num

galho de

marmelo-do-

mato, acertou seu

cabelo, que já

estava cortado

baixo.” (ROSA,

2001, p. 161).

Mate

Nome científico: Ilex paraguariensis

Nomes populares: erva-mate, mate ou

congonha.

É uma árvore da família das aquifoliáceas.

Tem caule cinza e folhas ovais. O fruto é

pequeno, verde ou vermelho-arroxeado. As

folhas da erva-mate são aproveitadas na

culinária e é muito consumida como chá

quente ou gelado.

209. “Depois, o Fafafa,

numa venda,

perguntou se não

tinham chá de

mate seco,

comercial; e um

homem tirou

instantâneo nosso

retrato.” (ROSA,

2001, p. 209).

Mato-

caapuão

133. “E mandou que

eu fosse guiar

aquela gente, até

aonde o poço do

Cambaubal, num

fechado, mato-

caapuão.”

(ROSA, 2001, p.

133).

Milho, Nome científico: Zea mays 44, 123, “Aí foi em

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92

milho-

verde

Nomes populares: abati, auati, avati.

O milho é um conhecido cereal, cultivado

em grande parte do mundo. As folhas da

planta á alternadas, ásperas e verde-

escuras. A espiga, onde contém os grãos de

milho, é revestida por palha. É utilizado

na alimentação humana na forma de grãos

secos ou verdes. O milho verde pode ser

consumido simplesmente cozido ou assado

ou ainda na forma de curau, de suco e

também como ingrediente na fabricação de

bolos, biscoitos, sorvetes, pamonhas e de

outros alimentos.

245, 283,

319, 341,

431, 432.

fevereiro ou

janeiro, no tempo

do pendão do

milho.” (ROSA,

2001, p. 252).

Miosótis

Nome científico: Myosotis alpestris

Nomes populares: Não-me-Esqueças, Não-

te-Esqueças-de-Mim, Não Me Olvides.

Erva de caule ereto, com folhas delicadas e

lindas flores de pétalas azul-claras, em

cachos pequenos. É encontrada

frequentemente nos jardins. No romance,

Guimarães Rosa nomeia uma das

namoradas de Riobaldo de “Miosótis”.

139, 139,

139, 143,

409.

“Alemão Vupes

ali, e eu recordei

lembrança

daquelas

mocinhas – a

Miosótis e a

Rosa‟uarda – as

que, no

Curralinho, eu

pensava que

tinham sido as

minhas

namoradas.”

(ROSA, 2001, p.

87).

Mucunã

Nome científico: Dioclea grandiflora

Nomes populares: Mucunã de Caroço

Planta volúvel, muito robusta, alçando-se

sobre as grandes árvores. Folhas trifoliadas

e flores violáceo-claras, vistosas e

dispostas em racemos. Tem legume

grande. Das sementes faz-se farinha

comestível.

120. “No alto, eram

muitas

flores,

subitamente

vermelhas, de

olho-de-boi e de

outras

trepadeiras, e as

roxas, do mucunã,

que é um feijão

bravo; porque se

estava no mês de

maio, digo –

tempo de comprar

arroz, quem não

pôde plantar.”

(ROSA, 2001, p.

120).

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93

Murici

Nome científico: Byrsonima crassifolia

Arbusto ou árvore pequena. Suas folhas

são opostas, verde-escuras e cobertas por

um pelo sedoso por cima e por baixo.

Flores amarelas em racemos. O fruto

possui uma massa carnosa amarelada. É

consumido in natura e usado na culinária.

249. “Os uns iam torar

palmito, colher

mandioca em

mandiocalzinho

sem dono, dono

tinha fugido

longe. Gostei de

favas do mato,

muito murici,

quixaba e jaca.”

(ROSA, 2001, p.

249).

N

O

Olho-de-

boi

Nome popular dado à flor da espécie

Leucanthemum vulgare.

Conhecida também como bem-me-quer,

bonina, margarida, margarita, margarita-

maior, malmequer, malmequer-maior,

malmequer-bravo, olho-de-boi. As pétalas

das margaridas são alargadas e delgadas,

rodeando botão central que é dourado ou

amarelo. As suas folhas são ovais e seus

caules compridos e delgados, podendo

chegar a um metro de altura. Muitas flores

que são parecidas receberam o mesmo

nome, porém, as mais populares entre elas

são as margaridas brancas e as margaridas

amarelas.

120. “No alto, eram

muitas

flores,

subitamente

vermelhas, de

olho-de-boi e de

outras trepadeiras,

e as roxas, do

mucunã, que é um

feijão bravo;

porque se estava

no mês de maio,

digo – tempo de

comprar arroz,

quem não pôde

plantar.” (ROSA,

2001, p. 120).

Ouricurí

Nome científico: Cocos coronata

Nomes populares: Nicurí, licuri, aricuri,

uricuri.

Possui folhas pinatífidas, de folículos

azulados e dispostos nos dois sentidos.

Fruto drupáceo, com escamas na base,

amarelo quando maduro, pequeno, ovoide,

polpa carnosa e um caroço com amêndoa

branca. Drupa comestível e a amêndoa

contém óleo alimentar, análogo ao do

164. “De manhã, o rio

alto branco, de

neblim; e o

ouricuri retorce as

palmas. Só um

bom tocado de

viola é que podia

remir a vivez de

tudo aquilo.” (ROSA, 2001, p.

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94

coqueiro. 164).

P

Palha Palha consiste num subproduto vegetal de

algumas gramíneas, sobretudo cereais que,

após desidratadas, são usadas em indústria

ou como forragem animal. A palha pode

ter diversos usos, desde o artesanato até

como combustível.

402. “De dia em dia,

ele emagrecia,

amofinava o

modo, tinha

dores, e em fim

encaveirou, duma

cor amarela de

palha de milho

velho; dava

pena.” (ROSA,

2001, p. 402).

Palmeiras Palmeira é o nome comum das plantas da

família Arecaceae, anteriormente

conhecida como Palmae ou Palmaceae.

Pertencem a esta família plantas muito

conhecidas, como o coqueiro e a tamareira,

abrangendo cerca de 205 gêneros e 2.500

espécies. Se distribuem pelo mundo todo,

mas estão centralizadas nas regiões

tropicais e subtropicais. As palmeiras são

plantas perenes, arborescentes, tipicamente

com um caule cilíndrico não ramificado do

tipo estipe, atingindo grandes alturas. As

folhas são pinadas ou palmadas, com

pecíolos longos, em geral com bainha

abarcante, inteira e larga, às vezes com

espinhos. As flores são numerosas e

pequenas. A seiva de algumas espécies de

é tradicionalmente fermentada para

produzir o vinho de palma. São

consumidos os frutos e da palmeira

também se extrai o palmito.

28,

42,68,78,9

6, 451.

“Me agradou que

perto da casa dele

tinha um

açudinho, entre as

palmeiras, com

traíras, pra-almas

de enormes,

desenormes, ao

real, que

receberam fama;

o Aleixo dava de

comer a elas, em

horas justas, elas

se acostumaram a

se assim das

locas, para

papar,

semelhavam ser

peixes

ensinados.”

(ROSA, 2001, p.

28).

Palmito O palmito é um alimento obtido da região

próxima ao meristema apical, do interior

das folhas de determinadas espécies de

palmeiras (ou popularmente, o "miolo" da

palmeira). Trata-se de um cilindro branco

contendo os primórdios foliares e

vasculares, ainda macios e pouco fibrosos.

Os palmitos são conservados em salmoura

e consumidos frios acompanhando saladas

ou cozidos em diversas receitas.

164, 249,

252, 338.

“Em horas,

andávamos pelos

matos, vendo o

fim do sol nas

palmas dos tantos

coqueiros

macaúbas, e

caçando, cortando

palmito e tirando

mel da abelha-

depoucas-flores,

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95

que arma sua cera

cor-de-rosa.”

(ROSA, 2001, p.

252).

Papirí 483. “E era noite de

luar, essa mulher

assistindo num

pobre rancho.

Nem rancho, só

um papirí à-toa.

Eu fui.” (ROSA,

2001, p. 483).

Paratudo

Nome científico: Tabebuia aurea

Nomes populares: craibeira, caraiberia,

caroba-do-campo, cinco-em-rama, cinco-

folhas-do-campo, ipê-amarelo-craibeira,

ipê-amarelo-do-cerrado, pau-d'arco.

A paratudo é uma árvore não-pioneira

pertencente ao gênero Tabebuia (dos ipês e

pau-d'arcos). O nome popular "paratudo"

deve-se ao fato de que os pantaneiros do

Brasil mascam a casca como remédio para

problemas no estômago, vermes, diabetes,

inflamações e febres. Seu tronco é tortuoso

com casca grossa. As folhas compostas de

folíolos, glabras e subcoriáceas. O fruto

contém cápsula cilíndrica deiscente.

Seus frutos amadurecem entre setembro e

outubro e suas flores abrem em agosto e

setembro.

392, 394. “Assim foi que

foi. Até que

vieram uns

companheiros,

com João

Concliz, Sidurino

e João Vaqueiro,

que

ajuntaram lenhas

e armaram um

fogo bem debaixo

do paratudo.” (ROSA, 2001, p.

392).

Parnaíbas 226. “Só logo no

primeiro

entremear com os

bebelos, nós

quatro havíamos

de restar mortos,

cosidos nas

parnaíbas.”

(ROSA, 2001, p.

226).

Pau-

cardoso

Nome científico: Alsophia armata

É o nome popular de uma planta da família

das Ciateáceas. Feto arborescente, com o

aspecto de uma palmeira. Ele cresce a

sombra das matas úmidas e é encontrado à

beira dos cursos d‟água.

435. “E escolher onde

ficar. O que tinha

de ser melhor

debaixo dum pau-

Cardoso – que na

campina é verde e

preto fortemente,

e de ramos muito

voantes,

conforme o

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96

senhor sabe,

como nenhuma

outra árvore

nomeada.”

(ROSA, 2001, p.

435).

Pau-dôce

Nome científico: Glycoxylon Huberi

Nomes populares: paracuuba doce e

paracuuba de leite.

Grande árvore de frutos comestíveis, casca

de sabor adocicado, da família das

sapotáceas.

496. “Sentei, na

sombra dum pau-

doce, fiquei

ouvindo os gabos

que os em redor

de mim me

dessem, como

arras de

procedimentos

maiores.” (ROSA,

2001, p. 496).

Pau-d’óleo

Nomes populares: copaíba, copaibeira,

pau-de-óleo e óleo-de-copaíba.

Pau-d‟óleo é o nome popular do gênero

Copaifera Linn. A madeira é vermelha e

usada em marcenaria. As flores são

brancas com manchas rosa. O fruto é uma

vagem drupácea contendo uma semente. O

Pau-de-óleo é uma referência ao óleo

extraído de seu caule. Esse óleo tem uso

terapêutico e medicinal.

117, 122. “– “Esta é das que

afundam inteiras.

É canoa de

peroba. Canoa de

peroba e de

pau-d‟óleo não

sobrenadam...”

(ROSA, 2001, p.

122).

Pau-de-

fogo

Nome científico: Maclura tinctoria

Nomes populares: Taiúva, amora branca,

tatajuva, tatajiba, moreira, jataíba, tatané,

pau amarelo, pau de fogo.

Espécie pioneira cheia de espinhos e todas

as partes da planta exsudam látex amarelo.

Madeira moderadamente pesada, dura,

flexível, com alta resistência ao ataque de

fungos e cupins, com diferença visível

entre cerne e alburno. Sua madeira é

excelente para obras externas, para a

construção civil etc. A árvore fornece

ótima sombra e, como planta pioneira, é

produtora de frutos apreciados por

pássaros.

128. “Nisto que na

extrema de cada

fazenda some e

surge um

camarada, de

sentinela, que

sobraça o pau-de-

fogo e vigia feito

onça que come

carcaça.” (ROSA,

2001, p. 128).

Pau-

paraíba

Nome científico: Simaruba versicolor

Nomes populares: Paraíba, Pau paraíba.

Árvore de porte regular e elegante, de

casca esbranquiçada e meio esponjosa. As

folhas são alternadas, compostas, com

folíolos luzentes na página superior. As

flores são verdes em cachos pequenos. Sua

madeira é branca, porosa e leve; é utilizada

322. “E o folha-larga,

o aderno-preto, o

pau-de-sangue; o

pau-paraíba,

sombroso. O

Urucuia, suas

abas. E vi meus

Gerais!” (ROSA,

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97

na caixotaria e tamancos. 2001, p. 322).

Pau-pombo

Nome científico: Tapirira guianensis

Árvore de porte elegante. Suas folhas são

vermelhas quando novas e seus tamanhos

são variáveis. As flores são pequenas e

alvacentas. Fruto drupáceo e pequeno. As

folhas novas e as inflorescências são

cobertas de pubescência ferruginosa. A

madeira é usada na carpintaria.

123. “(...) ele falou

para o

canoeiro, que

seguiu de cumprir

aquela autoridade,

desde que

amarrou a

corrente num pau-

pombo.” (ROSA,

2001, p. 123).

Pau-de-

sangue

Nome científico: Pterocarpus violaceus

Árvore de porte mediano, com flores

amarelas, maculadas de violáceo e vargem

redonda, espessa e suberosa. A madeira é

de cerne branqueado e mole.

322. “E o folha-larga,

o aderno-preto, o

pau-de-sangue; o

pau-paraíba,

sombroso. O

Urucuia, suas

abas. E vi meus

Gerais!” (ROSA,

2001, p. 322).

Pau-de-

vaca

Nome científico: Casearia

Cambessedesia

Nomes populares: marmeleiro-do-mato,

pau-de-carga, pau-de-vaca.

Marmeleiro-do-mato é o nome de uma

árvore da família das Salicáceas. Apesar de

seu nome poder sugerir o seu fruto, o

marmelo-do-mato, não é comestível.

440. “Ao alembrável,

ainda avistei uma

meleira de

abelha aratim, no

baixo do pau-de-

vaca, o mel

sumoso se

escorria como

uma mina d‟água,

pelo chão, no

meio das folhas

secas e verdes.” (ROSA, 2001, p.

440).

Pequi Nomes populares: Pequi, Piqui, Piquiá-

bravo, Amêndoa-de-espinho, Grão-pequiá,

Pequiá-pedra, Pequerim, Suari, Piquiá,

amêndoa-de-espinho.

O pequi é fruto do pequizeiro da família

Caryocaraceae. Dele é extraído um azeite

denominado azeite de pequi. São também

consumidos cozidos, puros ou juntamente

com arroz e frango. Seu caroço é dotado de

muitos espinhos, e há necessidade de

muito cuidado ao roer o fruto, evitando

cravar nele os dentes, o que pode causar

sérios ferimentos nas gengivas e no palato.

O sabor e o aroma dos frutos são muito

marcantes e peculiares. Pode ser

conservado tanto em essência quanto em

199, 200,

310, 319.

“O Garanço se

regalava com os

pequis, relando

devagar nos

dentes aquela

polpa amarela

enjoada. Aceitei

não, daquilo não

provo: por demais

distraído que sou,

sempre receei dar

nos espinhos,

craváveis em

língua.” (ROSA,

2001, p. 200).

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98

conserva. Frutificação: novembro a

fevereiro.

Pequizeiro

Nome científico: Caryocar brasiliense

É uma árvore nativa do cerrado brasileiro,

cujo fruto é o pequi. Seu tronco é tortuoso;

folhas compostas triolifoliadas; as flores

são amareladas; a madeira é pesada, macia,

resistente e boa durabilidade material. Ela

é boa para xilografia, construção civil e

naval. Seus frutos são comestíveis e usados

na culinária.

Floresce de setembro a novembro e os

frutos iniciam a maturação em novembro

até fevereiro.

246, 270,

319, 388.

“Montamos e

sumimos por

aqueles campos,

essa estrada, esses

pequizeiros.” (ROSA, 2001, p.

270).

Pêra–do-

campo

Nome científico: Eugenia Klotzchiana

Nomes populares: Pêra, pêra-do-campo,

cabacinha-do-campo, pereira-do-campo.

Pera-do-campo é o nome popular de uma

planta da família das Mirtáceas. Trata-se

de um arbusto que cresce nas áreas de

cerrado. Seu fruto é relativamente grande,

em forma de pera (daí seu nome popular),

coberto com pelos finíssimos. Quando

maduro, o fruto apresenta casca fina e

polpa mole com certa adstringência.

Podem ser usadas para doce em compota e

geleia. Os frutos maduros possuem

coloração amarelo-esverdeada e são

coletados de outubro a dezembro.

49. “Então eu entrei,

tomei um café

coado por mão de

mulher, tomei

refresco,

limonada de pêra-

do-campo.”

(ROSA, 2001, p.

49).

Peroba Nomes populares: Peroba, paroba, parova,

perobeira, perova e peroveira.

É a designação vulgar de várias espécies

de árvores, conhecidas pela sua madeira de

qualidade, da família Apocináceas do

gênero Aspidosperma.

122, 122. “– “Esta é das que

afundam inteiras.

É canoa de

peroba. Canoa de

peroba e de

pau-d‟óleo não

sobrenadam...”

(ROSA, 2001, p.

122).

Pimenta

branca

Extraída do mesmo fruto da pimenta-do-

reino, mas menos aromática. As espigas

são colhidas quando os frutos apresentam a

coloração amarelada ou vermelha. É

utilizada em pratos que não permitam

ingredientes que alterem a sua cor, como o

molho branco; na conserva de legumes

utilize-a em grãos. Em molhos picantes e

temperos para a carne de coelho e frango

use-a moída.

206. “Nhorinhá

prostituta,

pimenta-branca,

boca cheirosa, o

bafo de

meninopequeno.”

(ROSA, 2001, p.

206).

Pindaibal 311. “Os urubus

espaceavam,

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99

quando o céu

empoeirado.

Pousavam no

pindaibal do

brejo.” (ROSA,

2001, p. 311).

Pitanga A pitanga é o fruto da pitangueira

(Eugenia uniflora L.), dicotiledônea da

família Myrtaceae. Tem a forma de drupa

globosa e carnosa, com as cores vermelha

(a mais comum), amarela ou preta. Na

mesma árvore, o fruto poderá ter desde as

cores verde, amarelo e alaranjado até a cor

vermelho intenso de acordo com o grau de

maturação.

319. “Milho crescia

em roças, sabiá

deu cria,

gameleira pingou

frutinhas, o pequi

amadurecia no

pequizeiro e a cair

no chão, veio

veranico,

pitanga e caju nos

campos.” (ROSA,

2001, p. 319).

Q

Quiabo

Nome científico: Hibiscus esculentus

Arbusto anual, ereto, pouco ramificado. As

folhas são longamente pecioladas e largas.

As flores são grandes, solitárias e

amarelas. Os frutos são verdes e são muito

usados na culinária.

130, 184. “O que apreciei –

carne moída com

semente de trigo,

outros guisados,

recheio bom em

abobrinha ou em

folha de uva, e

aquela moda de

azedar o quiabo –

supimpas

iguarias.” (ROSA,

2001, p. 130).

Quixaba

Nome científico: Brumelia sertorum

Árvore armada de fortes espinhos, tendo as

pontas dos galhos pendentes e espinhosos.

Folhas alternadas, simples e inteiras.

Flores perfumadas e pequenas. Frutos

comestíveis. Sua madeira serve para

construção civil, marcenaria e torno.

249. “Gostei de favas

do mato, muito

murici, quixaba e

jaca.” (ROSA,

2001, p. 249).

R

Ramalho 398. “Uns galhos de

árvores colocados

– ramalhos e

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100

jaribaras – forma

de sinal: para não

se passar.”

(ROSA, 2001, p.

398).

Rosa’uarda Nome composto por “rosa”, esta, da

família das Rosáceas, é cultivada em todos

os lugares do mundo pela beleza e perfume

de suas flores. Rosa‟uarda é o nome que

uma das namoradas de Riobaldo recebe no

romance.

130, 189,

209, 209,

327, 409.

“A Rosa‟uarda.

Me alembrei dela;

todas as minhas

lembranças eu

queria comigo.”

(ROSA, 2001, p.

327).

Roseira

As roseiras (Rosa) são plantas muito

conhecidas e possuem flores, as rosas. São

plantas possuidoras de espinhos, tem

folhas bem verdes e flores de cores

variadas.

117, 600. “Sobre o que, se

riu, me

apresentando: o

que era, no fofo

da terra, debaixo

duma roseira, um

gatinho preto-e-

branco, dormindo

seu completo

sossego, fosse

surdo,

refestelado: ele

estava até de

mãos postas...” (ROSA, 2001, p.

327).

S

Sabugo Parte interna do milho onde os grãos ficam

anexados.

45, 342,

453.

“Diadorim

acendeu um

foguinho, eu fui

buscar sabugos.”

(ROSA, 2001, p.

45).

Sapê

Branbão

323. “Assim pois foi,

como conforme,

que avançamos

rompidas

marchas,

duramente no

varo das

chapadas,

calcando o sapê

brabão ou areias

de cor em

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101

cimento

formadas, e

cruzando

somente com

gado transeunte

ou com algum boi

sozinho

caminhador.”

(ROSA, 2001, p.

323).

São-josés 326. “E em Otacília eu

sempre muito

pensei: tanto que

eu via as

Baronesas

amarasmeando no

rio em vidro –

jericó, e os lírios

todos, os lírios-

do-brejo – copos-

de-leite, lágrimas-

de-moça, são-

josés.” (ROSA,

2001, p. 326).

Santa-luzia 395. “Mas o ao em

redor, em grandes

pastos, era o

capim melhor

milagroso – que o

que deixava de

ser provisório rico

era o meloso de

muito óleo, a não

ver uns fios de

santa-luzia azul, e

do duro-do-brejo,

nas baixadas, e,

nos altos

com pedregal, o

jasmim-da-serra.”

(ROSA, 2001, p.

395).

Sapé brabo 63. “Aquilo, vindo

aos poucos, dava

um peso extrato,

o mundo se

envelhecendo, no

descampante.

Acabou o sapé

brabo do

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102

chapadão.”

(ROSA, 2001, p.

63).

Sassafrás

Nome científico: Ocotea odorifera

Nome popular: Canela-sassafrás ou

sassafrás.

É nativo de florestas e capões; parente da

canela, do louro e da imbuia. A Canela

Sassafrás é utilizada para extração de óleo

sassafrás, construção de móveis e

construções em geral. A cor das flores é

amarela e tem floração em dezembro-

janeiro. Frutificação em maio-junho.

47. “Mas o sassafrás

dá mato,

guardando o

poço; o que cheira

um bom perfume.

Jacaré grita, uma,

duas, as três

vezes, rouco

roncado.”

(ROSA, 2001, p.

47).

Semente de

trigo

O trigo (Triticum) é uma gramínea

cultivada em todo o mundo. Globalmente,

é a segunda maior cultura de cereais, a

seguir ao milho; a terceira é o arroz. A

semente de trigo é um alimento básico

usado para fazer farinha e, com esta, o pão,

na alimentação dos animais domésticos e

como ingrediente no fabrico de cerveja.

130. “O que apreciei –

carne moída com

semente de trigo,

outros guisados,

recheio bom em

abobrinha ou em

folha de uva, e

aquela moda de

azedar o quiabo –

supimpas

iguarias.” (ROSA,

2001, p. 130).

T

Tamarindo

Tamarindo é um fruto do tamarindeiro

(Tamarindus indica). O tronco divide-se

em numerosos ramos curvados, formando

copa densa e ornamental; as folhas são

compostas e sensíveis; flores

hermafroditas amarelas ou levemente

avermelhadas que se reúnem em pequenos

cachos axilares. O tamarindo é uma vagem

alongada com 5 a 15 cm. de comprimento,

com casca pardo-escura, lenhosa e

quebradiça. A polpa do fruto é usada no

preparo de doces, bolos, sorvetes, xaropes,

bebidas, licores, refrescos, sucos

concentrados e ainda como tempero para

arroz, carne, peixe e outros alimentos.

42. “Cigarras dão

bando. Debaixo

de um tamarindo

sombroso...”

(ROSA, 2001, p.

42).

Tamboril

Nome científico: Enterolobium maximum

Nomes populares: Fava-bolacha, fava-

orelha-de-negro, fava-tamboril, faveira-

grande, monjobo, timbaúba, orelha-de-

122. “Me deu uma

tontura. O ódio

que eu quis: ah,

tantas canoas no

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103

negro.

É uma árvore de origem brasileira,

frondosa, sem cheiro, de cerne marrom-

claro a cinza-rosado. As inflorescências

surgem na primavera com flores brancas.

Os frutos que se seguem são vagens e

recurvadas em formato de rim ou de

orelha, o que rendeu a esta espécie

diversos nomes populares. Eles surgem

verdes e se tornam pretos em junho e

julho, quando amadurecem. Ao contrário

das madeiras-de-lei, possui baixa

durabilidade ao ataque de fungos, cupins e

insetos de madeira seca. Apesar disso, é

muito utilizada na fabricação de móveis e

brinquedos, pois é de fácil manejo e

acabamento.

porto, boas

canoas boiantes,

de faveira ou

tamboril, de

imburana,

vinhático ou

cedro, e a gente

tinha escolhido

aquela...” (ROSA,

2001, p. 122).

Trepadeiras Plantas que crescem apoiando-se sobre

outras ou sobre qualquer superfície.

120. “No alto, eram

muitas

flores,

subitamente

vermelhas, de

olho-de-boi e de

outras

trepadeiras, e as

roxas, do mucunã,

que é um feijão

bravo; porque se

estava no mês de

maio, digo –

tempo de comprar

arroz, quem não

pôde plantar.”

(ROSA, 2001, p.

120).

U

Umburana

Nome científico: Amburana claudi

Nomes populares: ambaúrana, amburana,

amburana de cheiro, umburana, umburana

lisa, umburana macho, umburana

vermelha, umburana de cheiro.

É uma árvore brasileira presente no

cerrado e caatinga. Sua casca externa

apresenta cor variável, amarela

avermelhada e vermelha pardacenta. As

flores são pequenas, perfumadas,

354. “Assim essas

cachaças – a

vinte-e-seis

cheirosa –

tomando gosto e

cor queimada, nas

grandes dornas de

umburana.”

(ROSA, 2001, p.

354).

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104

agrupadas em racimos axilares e tem a

coloração amarela. O fruto é semi

cilíndrico, preto, coriáceo e contém uma

semente. A árvore é empregada na

fabricação de móveis, na construção civil e

na indústria farmacêutica etc. Seu nome

vem do tupi-guarani (umbu= o que faz

brotar água + rana= parecido, semelhante)

e quer dizer parecido com o umbu.

Urumbeba

Nome científico: Opuntia Vulgaris

Nome popular: Urumbeba-juba, Arumbeba

amarela, Urumbeba do frio, Palmatória de

flora amarela e Palma do Sul.

O nome Urumbeba vem do tupi guarani e

significa “Folha com espinho que dá

alimento” e o adjetivo “juba” quer dizer

“Fruta de cor amarela”. Os espinhos são

esbranquiçados e, quando jovens, são

avermelhados. As flores surgem nos

bordos ou na superfície plana dos artículos

formando pericarpo. Antes de abrir os

botões tem coloração avermelhada, após a

abertura da flor se pode ver as pétalas

amarelas. O Fruto é piriforme (forma de

pêra) com base comprida, estreita e larga

no ápice.

Frutifica de fevereiro a setembro.

422. “A ser, o fígado,

que me doía; mas

não me

certifiquei:

apalpar lugar de

meu corpo, por

doença, me dava

um desalento

pior. Raimundo

Lê cozinhou para

mim um chá de

urumbeba.”

(ROSA, 2001, p.

442).

Umbuzeiro

Nome científico: Spondias tuberosa

Umbuzeiro ou Imbuzeiro é uma árvore de

pequeno porte originária dos chapadões

semi-áridos do Nordeste brasileiro, que se

destaca por sombra e aconchego. Nos

tempos do Brasil Colônia era chamado de

ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra

tupi-guarani "y-mb-u", que significava

"árvore-que-dá-de-beber". Dada a

importância de suas raízes, foi chamada

"árvore sagrada do Sertão" por Euclides da

Cunha. Sua raiz conserva água e produz

uma batata, que em época de grande

estiagem, é utilizada como alimento. O

Umbuzeiro vive mais ou menos 100 anos,

e é um símbolo de resistência. Suas folhas,

de grande valor alimentício, com gosto

"azedinho", também são usadas como

alimento pelos seres humanos. O fruto do

umbuzeiro é denominado umbu.

282, 304,

354.

“Isso é crime?

Perdeu, rachou

feito umbuzeiro

que boi

comeu por

metade...” (ROSA, 2001, p.

282).

V

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105

Vara-de-

ferrão

79. “A verdade que

diga,

eu bem defronte

de mim se

portava, mesmo

segurava uma

vara-de-ferrão,

considerei nele

certo propósito,

de despique

gandaiado.” (ROSA, 2001, p.

79).

Vara de

Maria-

preta

Nome científico: Solanum americanum

Nomes populares: maria-pretinha,

caraxixá, araxixu,erva-de-bicho, erva-de-

mocó, erva-moura, guaraquinha, pimenta,

pimenta-de-cachorro, pimenta-de-galinha,

pimenta-de-rato.

É conhecida como uma planta daninha na

agricultura em todo o país, no entanto em

outras épocas já foi usada como verdura

escaldada e seus frutos consumidos como

geleia. As folhas cruas e os frutos verdes

são, no entanto, venenosos por causa da

sua presença dos glicoalcalóides, que uma

vez hidrolisados no intestino produzem

alcaminas, que as quais absorvidas pelo

organismo produzem sintomas de

depressão no sistema nervoso central.

25. “Em ocasião,

conversei com um

rapaz seminarista,

muito condizente,

conferindo no

livro de rezas e

revestido de

paramenta, com

uma vara de

maria-preta na

mão – proseou

que ia adjutorar o

padre, para

extraírem o Cujo,

do corpo vivo de

uma velha, na

Cachoeira-dos-

Bois, ele ia com o

vigário do

Campo-

Redondo... Me

concebo.” (ROSA, 2001, p.

25).

Vinhático

Nome científico: Platymenia foliolosa

Nomes populares: Vinhático, vinhático da

mata, vinhático rajado, vinhático amarelo,

pau de candeia, vinhático-do-campo.

Árvore com tronco bastante áspero e

descamante. Sua madeira é leve, dura, fácil

de trabalhar, de longa durabilidade natural

e diferença nítida entre cerne e alburno. É

própria para mobiliário de luxo, lâmina

faqueadas decorativas, painéis, para

construção civil como acabamentos

122. “Me deu uma

tontura. O ódio

que eu quis: ah,

tantas canoas no

porto, boas

canoas boiantes,

de faveira ou

tamboril, de

imburana,

vinhático ou

cedro, e a gente

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106

internos, rodapés, molduras, forros, tacos e

tábuas para assoalho. A árvore é

exuberante bastante ornamental, podendo

ser empregada com sucesso no paisagismo

em geral.

tinha escolhido

aquela...” (ROSA,

2001, p. 122).

X

Xuxús*

Fruto do chuchuzeiro. Ele é suculento e

tem forma alongada, cor branco-creme,

verde-claro ou verde-escuro, liso ou

enrugado, com ou sem espinhos, varia de

espécie para espécie. Com chuchu

preparam-se suflês, pudins salgados ou

simplesmente cozidos e temperados a

gosto. É também usado para dar ponto a

alguns pratos salgados e doces de goiaba e

marmelo (por sua pectina).

600, 600. “Assim

rastejávamos. E

pouco faltava

para o quintal do

sobrado: só uma

cerca miúda, com

um xuxuzeiro

dependurado com

xuxús grandes;

eram uns xuxús

enormes.”

(ROSA, 2001, p.

600).

Xuxuzeiro*

O chuchuzeiro é uma planta trepadeira que

pode produzir por vários anos; possui

ramas longas onde apresentam gavinhas

para sustentação no lugar onde trepa; das

ramas saem folhas numerosas com formato

de coração. As flores são amareladas e

separadas em femininas e masculinas,

distintas na mesma planta; a fecundação da

flor é totalmente dependente da

polinização de abelhas silvestes. O chuchu,

é suculento com forma alongada, cor

branco-creme, verde-claro ou verde-

escuro, liso ou enrugado, com ou sem

espinhos, depende de sua espécie.

600. “Assim

rastejávamos. E

pouco faltava

para o quintal do

sobrado: só uma

cerca miúda, com

um xuxuzeiro

dependurado com

xuxús grandes;

eram uns xuxús

enormes.”

(ROSA, 2001, p.

600).

W

Y

Z

*OBS: Sabemos que na língua portuguesa as palavras “chuchu” e “chuchuzeiro” são escritas

com “ch”, porém, em Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa escreve com “x”.

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