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Que comece a aventura!

Colégio WintersteinUm colégio muito normal, com um diretor, um contínuo e um pátio, também normais…

Completamente normais? Bem, quase. É que há um pequeno segredo.

A professora CornfieldDá aulas no Colégio Winterstein. Parece austera, mas no fundo só quer o melhor para os seus alunos. Sabe sempre quem

precisa de ser mais ajudado.

O senhor Mortimer MorrisonProprietário da Loja dos Animais Mágicos. Os seus animais falam e aguardam por um ser humano

que lhes faça companhia.

O autocarro do senhor MorrisonLeva o seu dono pelo mundo inteiro para recolher animais mágicos.

PinkieUma pega brincalhona que é a companheira inseparável

do senhor Morrison.

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Ashanti, a mamba -negra, e Leonardo, o esquilo -listradoDois dos animais falantes da Loja dos Animais

Mágicos. Como os restantes, desejam encontrar um ser humano que passe

a ser o melhor amigo deles.

A turma da professora CornfieldUma turma completamente normal, com 24 alunos. Qual será o que mais precisa de um animal mágico?

Talvez a Ida, sempre animada?

A caprichosa Helene?

O Jo, o giraço?

Talvez o sonhador Benni?

Ou o desajeitado Eddie?

A tímida Anna -Lena?

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Telegrama. Enviado da estação de correio

de Porto Lockroy, Antártida.

De: Mortimer Morrison

Para: Mary Cornfield

Querida maninha +++ Que tal as coisas por

aí? +++ Já te disseram para que escola

vão enviar ‑te? +++ Estou na Antártida,

a recolher animais mágicos +++ O motor

teve uma avaria, mas agora está tudo bem

+++ Até breve, Mortimer.

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O autocarro avançou aos solavancos pelo gelo e deteve ‑se com um gemido

sonoro. De lá de dentro saiu um homem embrulhado em camadas e mais camadas

de roupa, que o cobriam dos pés à cabeça.Olhou em volta. Centenas de icebergues desta‑

cavam ‑se da superfície plana do mar e eleva vam ‑se em busca do céu azul. As colinas brancas cobertas de neve refletiam o sol. Não se ouvia o mais pequeno ruído.

Mas logo essa calma absoluta foi interrompida por um som que fazia lembrar uma matraca e por gritos que podiam vir de uma trombeta. O homem sorriu. Ajustou melhor o gorro de pelo e começou a cami‑nhar.

Meia hora depois, chegava a uma colónia de pin‑guins.

Deixou deslizar o olhar por cima da multidão de cabeças negras, baixou ‑se e disse, numa voz baixa mas audível:

— O meu nome é Mortimer Morrison e sou proprie‑tário da Loja dos Animais Mágicos. Trato muito bem dos seres mágicos. Quem quiser, pode vir comigo.

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Esperou. Nenhum pinguim lhe tinha prestado aten‑ção.

— Os animais mágicos são únicos — continuou o senhor Morrison. — Aproxime ‑se quem sentir que tem essa singularidade dentro de si!

Esperou um pouco mais.De repente, foi como se uma chicotada alterasse

a colónia. Um dos pinguins tinha ‑se virado para ele! A ave abriu caminho aos empurrões entre as outras e aproximou ‑se do homem de gorro de pelo. Ambos se observaram com curiosidade.

— Ora bem, entendes o que digo? — pergun tou‑‑lhe o senhor Morrison.

O pinguim acenou com a cabeça e fez barulho com o bico.

— Crrrj! — foi o que lhe saiu.— Tenta lá outra vez — incentivou ‑o o visitante.— Crrrjiij! — grasnou o pinguim e inspirou pro‑

fundamente. — Nem sonhava que houvesse mais alguém a falar o meu idioma — disse muito deva‑gar. Depois levantou a asa direita e apontou para a colónia onde se apinhavam todos os outros pinguins. — Sentia ‑me tão sozinho!

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E uma lágrima rolou pela face negra do animal.— Isso agora acabou — consolou ‑o o senhor

Morrison com carinho. — Vem comigo e encontrarás amigos, asseguro ‑te!

— Há mais seres que falam o meu idioma? — per‑guntou ‑lhe o animal, muito entusiasmado.

— Com certeza — confirmou ‑lhe o homem. — Todos os animais mágicos se compreendem uns aos outros. Como o normal é que quase nunca se encon‑trem, ando por aí no meu autocarro, para os recolher e oferecer ‑lhes um novo lar. Como te chamas?

— Yuri — respondeu o pinguim.O Mortimer Morrison sorriu.— Bem ‑vindo, Yuri. Não vais voltar a sentir ‑te sozi‑

nho.O pinguim agitou as penas e começou a seguir o

homem de gorro de pelo. Não olhou para trás nem uma vez.

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— Ahhhhhh! Aiii! Nããão!O Benni desceu a rua Lerchenfeld todo lançado e

caiu no meio de um roseiral. Era o seu último dia de fé‑rias e finalmente tinha conseguido separar ‑se do rá dio. Todas as tardes dava o seu programa preferido: A Ter-ceira Dimensão; mas, desta vez, ele tinha outros planos.

Tinha tirado da cave o skate que o tio Johnnie lhe dera nas férias da Páscoa. «É o melhor para impres‑sionar as miúdas», dissera o tio.

Capítulo 1

das mudançasA camioneta

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Enquanto saía do roseiral, o Benjamin Schubert suspirou. Tinha a certeza de que não impressionara ninguém com a sua acrobacia infeliz. Afastou ‑se a coxear até ao passeio e arregaçou as calças de ganga. Tinha um arranhão no joelho direito, mas não estava a sangrar. Menos mal!

Levantou a cabeça e viu uma camioneta de mudan‑ças. O veículo estava estacionado à sombra do cas‑tanheiro, na Johannisplatz, uma praça bonita onde ia dar a rua Lerchenfeld. Estava rodeada de casas e lojas pequenas: havia ali uma padaria e uma loja de bicicletas. Também era ali o Cabeleireiro Frida, que tinha mudado de donos pouco tempo antes. Parecia que, naquele momento, alguém estava a instalar ‑se na casa por cima do cabeleireiro.

O Benni decidiu ir dar uma vista de olhos. Apesar de ainda lhe tremerem as pernas, montou no skate e lá foi a deslizar até à camioneta. As portas de trás do veí‑culo estavam abertas de par em par. Viu um candeeiro de pé, uma data de estantes, um armário e caixas que nunca mais acabavam. Os homens das mudanças iam carregando móveis de cozinha, tapetes enrolados e quadros embrulhados em plástico transparente.

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Enquanto deslizava, um esquilo ‑listrado apareceu de súbito no seu caminho, atravessou a praça e de‑sapareceu atrás do castanheiro. O Benni travou logo a fundo. Epá! Mas o skate deixou de lhe obedecer e lançou ‑se descontrolado para a estrada. Por pouco não chocou com um ciclista de capacete preto, que lhe gritou um palavrão enquanto se desviava. Ao fa‑zer isso, quase ia contra os homens das mudanças, que estavam a atravessar a praça com um enorme espelho nas mãos. Ouviu ‑se um assobio agudo. O ci‑clista, por fim, conseguiu guinar para a esquerda e seguir caminho.

— Vê lá se tens cuidado! — gritou, zangado, ao Benni enquanto se afastava.

Mas o Benni estava perplexo e não lhe fez caso, pois seria capaz de jurar que o assobio tinha sido obra do esquilo que acabava de causar todo aquele caos. O pequeno animal tinha trepado para o cimo do cas‑tanheiro e então, a abanar a cauda farfalhuda de um lado para o outro, observava o rapaz.

Que estranho! O Benni nunca tinha ouvido um esquilo assobiar. E outra coisa: desde quando é que os esquilos eram listrados?

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Os homens das mudanças estavam a pôr na casa uma cómoda cheia de etiquetas de

todas as cores. Apesar de lhe doer muito o joelho, o Benni voltou ao skate para se aproximar mais. No interior do camião, descobriu uma escrivaninha com gavetas lilases. Lilases? Quando um dos homens dei‑xou cair um póster de cinema com o título A Noite dos Vampiros, o Benni chegou a uma conclusão: a nova inquilina era uma miúda. Encolheu os ombros e decidiu voltar para casa. Teria ficado muito satisfeito se pudesse dar as boas ‑vindas a um amigo novo. Mas uma miúda? Não, obrigadinho!

Começou a subir a rua Lerchenfeld muito devagar. De repente, ouviu um som sibilante. Vinha de uma sebe e era como se alguém estivesse a esvaziar um colchão de ar. Desmontou do skate e, sem fazer barulho, cami‑nhou até ao lugar de onde provinha o som. Mexer‑‑se sem que dessem

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por ele era uma das suas especialidades. Ao chegar à sebe, agachou ‑se. Explorou a área sombria entre os ramos e as folhas e apanhou um susto de todo o ta‑manho: apareceu ‑lhe à frente uma serpente! Estava viva, tinha escamas e estava a vê ‑lo! O Benni sentiu o coração acelerar.

A serpente tinha olhos castanhos e estava em alerta. Abriu a boca e de lá saiu uma língua veloz, deixando à vista o interior da boca, que era de um negro azulado.

Assustado, tudo o que ele conseguiu fazer foi retro‑ceder aos tropeções até à estrada. Pôs ‑se em cima do skate e não hesitou nem por meio segundo: saiu dis‑parado! Quando chegou à porta da sua casa, ainda estava a tremer.

A Ida Kronenberg estava sentada no parapeito da ja‑nela do seu novo quarto, na sua posição preferida: uma perna dentro de casa e a outra pendurada do

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lado de fora. Estava farta da mudança. Primeiro tinha tido de meter todas as suas coisas em caixotes, para agora ter de voltar a tirá ‑las. Mas não estava com pres‑sa nenhuma.

Já passava da hora do almoço. Um varredor de ruas tinha deixado o carrinho cor de laranja debaixo da janela dela, na Johannisplatz. Teria entrado no Cabeleireiro Frida para que lhe cortassem o cabelo? Os pais da Ida eram os novos proprietários daquele espaço e tinham mais trabalho do que qualquer pes‑soa poderia desejar.

Nem sequer em plena mudança podiam parar para respirar.

O cabeleireiro tinha estado fechado durante muito tempo e parecia que os vizinhos tinham esperado pacientemente que o estabelecimento reabrisse para voltarem a cortar, secar e pintar o cabelo.

A Ida deixou o olhar vaguear pelas casas colo‑ridas da praça. Quase todas tinham varandins.

Algumas janelas estavam abertas e ela ouviu alguém a tocar violino. Estava um bocadinho

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desafinado. A nova vizinha da Johannisplatz sentiu‑‑se nostálgica. A Miriam, a sua melhor amiga, tam‑bém tocava aquele instrumento. Como sentia a sua falta! A Miriam toca muito melhor, pensou.

No dia seguinte, iria pela primeira vez ao Winterstein, o novo colégio. Como seria? Ainda não conhecia ninguém. Nem sequer tinha visto outras crianças no bairro, à exceção daquele rapaz pálido e desengonçado que não parecia dominar lá muito bem o skate.

Nesse momento, escutou a sineta da porta do cabe‑leireiro e viu o varredor a sair com o novo penteado. A curiosidade levou ‑a a inclinar ‑se para fora… dema‑siado! Ouviu ‑se um assobio agudo. Quando estava à beira de cair da janela, a Ida conseguiu agarrar ‑se ao caixilho.

Olhou lá para fora. Quem teria assobiado? No cen‑tro da praça, do alto de um castanheiro, um animal de cauda farfalhuda lançou ‑lhe um olhar. Até a cum‑primentou com uma pata. Mas ela não o viu.

Quando o varredor agarrou no seu carrinho e co‑meçou a empurrá ‑lo pelo passeio, provocando uma grande barulheira, o animalzinho fugiu.

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Escutou ‑se outro assobio quando desapareceu por entre os ramos do castanheiro. Era uma despedida, mas a Ida não percebeu.

O Benni guardou o skate na arrecadação. Subiu para o seu quarto e abriu a enciclopédia de animais. Passou muitas páginas até encontrar o que procurava: a foto‑grafia de uma serpente com escamas verdes e a boca de um negro azulado.

MAMBA ‑NEGRA: Uma das serpentes mais perigosas do mun-

do. É muito rápida e a sua mordida venenosa pode ser mortal.

Vive na África Oriental.

O Benni continuou a passar as páginas até descobrir um animal que, à exceção de algumas diferenças, parecia um esquilo vulgar.

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ESQUILO ‑LISTRADO: Castanho e com riscas pretas no dorso.

Emite um assobio agudo e vive na América do Norte.

Perplexo, o Benni fechou o livro. Como diabos teriam chegado ao pé da sua casa uma serpente da África Oriental e um esquilo da América do Norte?

Estava uma noite amena, com o céu cheio de estrelas cadentes.

O Benni tinha adormecido na sua cama de pirata, mas dava voltas, com um sono irrequieto. Estava a ter um pesadelo horrível: sonhava que competia numa corrida com uma serpente ‑listrada e um esquilo ver‑de, mas não conseguia mexer ‑se. Os animais riam ‑se dele, riam ‑se e riam ‑se…

Abriu ambos os olhos e, ainda ensonado, olhou pela janela enquanto o brilho de uma estrela cadente ia cruzando o céu. Só mesmo ele deu por ela.

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— Não quero ser sempre o último — murmurou, e virou ‑se para a parede.

A Ida estava sentada ao pé da sua janela, a poucas casas de distância. Nervosa, não conseguia dormir. Só faltavam algumas horas para conhecer os novos colegas. Faria amigos depressa?

Viu passar outra estrela cadente e pediu um desejo. Já era a sétima vez naquela noite que desejava o mes‑mo: que a escola nova lhe agradasse!

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O Colégio Winterstein era uma antiga mansão de tijoleira, com uma torre redonda em cada esquina e uma escadaria ampla ao centro. O gabinete do diretor, Heribert Siegmann, ficava mesmo acima da entrada. Como sempre fazia, o Sr. Siegmann aproximou ‑se da janela e, agradado, ficou a ver os estudantes a chegar. Esperava que aquele ano fosse tranquilo.

A Ida viu as outras crianças em frente ao alpen‑dre do colégio e desanimou ‑se. Meninos e meninas

Capítulo 2

A tia Frida

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pareciam formar uma parede impenetrável. E não paravam de guinchar e gritar. De certeza que estão a falar de mim, pensou.

Agarrou com força as correias da mochila e atirou as tranças para trás. A mãe tinha ‑as adornado com mis‑sangas e fitas coloridas de seda: como era cabeleireira, nunca lhe faltavam ideias para novos penteados. Antes de sair de casa, a Ida tinha achado que as suas tranças estavam magníficas, mas já estava com dúvidas, pois começava a recear os comentários dos colegas.

— Olá, Pocahontas! — foi a primeira coisa que teve de ouvir. Tinha sido uma loirinha com uma mochila cor ‑de ‑rosa de princesa. Estava acompanhada por outras três. — És a aluna nova? — perguntou ‑lhe com voz de apito.

A Ida engoliu em seco. A loirinha ergueu o queixo.— Não queres apresentar ‑te? — perguntou ‑lhe,

em tom de desafio.A Ida sentiu um nó na garganta e ficou tão nervosa

que nem uma palavra lhe saiu.— Então vamos chamar ‑te «Frida» — continuou a

menina de mochila de princesa, com um ar mesmo muito antipático.

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— Chamo ‑me Ida — disse ela timidamente, mas já era demasiado tarde.

— Tia Friiiiida, tia Friiiiida! — fizeram as outras três em coro.

A loirinha apontou para as meias às riscas da Ida.— Já agora, que collants mais pirosos!E as três amigas desataram a rir ‑se em uníssono.A Ida não sabia o que dizer. Na sua antiga escola,

todas as raparigas usavam collants coloridos. Os da Miriam até eram iguais aos seus. Mas parecia que ali o que estava na moda eram as princesas com diade‑mas, vestidinhos e mochilas cor ‑de ‑rosa. Um estilo completamente diferente!

Contrariada, passou ‑lhes ao largo e subiu a escadaria a bater com os pés. Sabia que a sua sala era no primeiro andar. O diretor do colégio mostrara ‑lhe onde era quan‑do tinha ido à escola com a mãe para se matricular.

Avançou pelo corredor, passou pela máquina de venda automática e abriu a porta. Um rapaz de camisa aos quadrados estava sentado a uma secretária para dois alunos na fila do meio. Nem sequer olhou para a recém ‑chegada quando ela pousou as suas coisas no chão.

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— Bom dia — resmungou a Ida.— Good morning — respondeu o rapaz, sem des‑

viar o olhar do livro de banda desenhada que tinha nas mãos.

A Ida olhou de relance para o livro: um enorme monstro verde passeava ‑se pelas ruas de Nova Iorque. O rapaz levantou a cabeça e mostrou ‑se um bocadi‑nho mais interessado.

— És a aluna nova?— Pois — replicou a Ida, a franzir o nariz. — Posso

sentar ‑me ao teu lado?— Podes — murmurou o rapaz, e afastou ‑se para

lhe dar espaço.— Chamo ‑me Ida — disse ela enquanto observava

o seu novo companheiro de secretária. Não era o me‑nino desajeitado que tinha passado de skate à frente da sua casa no dia anterior? — Mas vê lá se também não queres chamar ‑me «tia Frida» — acrescentou, mal ‑humorada, enquanto tirava da mala um caderno e várias canetas.

— Eu sou o Benni — respondeu o rapaz com um sorriso. — Mas vê lá se também não queres chamar‑‑me «Monstro».

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