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Pág. 1 á 25 anos que a Casa do Bom Samaritano, obra do Centro Social da Divina Providência que, por sua vez, é uma Fundação da Congregação Fraternidade Franciscana da Divina Providência, procura ser uma parábola viva da Caridade evangélica e uma provocação profética. A presente publicação quer celebrar este quarto de século repleto de lições de vida e de vidas que se esvaziaram ao serviço dos outros. Celebrar significa sempre recordar, não para repetir o que já passou ou ficou feito, mas para reviver o passado como crescimento. Mas celebrar é também evocar os que nos precederam, os alicerces ou fundamentos da obra, nomeadamente, os Fundadores Irmã Ana de Jesus e Frei Adelino Pereira. Daí que celebrar implique reconhecer o bem que se fez e por quem se fez e manifestar gratidão. Por tudo isto, celebrar quer dizer ainda render graças, agradecer festivamente e louvar o verdadeiro autor da obra, a Divina Providência. Por isso, nas páginas que se seguem, para além da evocação das figuras incontornávies da Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim e de Frei Adelino Pereira, procurámos dar voz às diversas pessoas e instituições com as quais a Casa do Bom Samaritano mais directamente está relacionada. Mas, porque pretendemos fazer desta publicação um retrato panorâmico das múltiplas e principais facetas do Bom Samaritano, demos também a palavra a um conjunto de testemunhos que, com genuína espontaneidade e sem intuitos literários, acabam por ser o eco parcial das muitas vertentes da vida desta Casa inspirada nas páginas do Evangelho. Ao darmos os merecidos parabéns à obra do Bom Samaritano, elevamos renovados louvores à Divina Providência, a quem pertence realmente a Casa do Bom Samaritano. Congratulamo-nos com as Irmãs Franciscanas da Divina Providência, bem como com as Meninas que são a razão de ser principal desta Casa e desta celebração. Por fim, antecipamos o nosso bem-hajam a todos os benfeitores e amigos que ajudaram a nascer e a crescer a Casa do Bom Samaritano ao longo destes 25 anos. No que me diz respeito, não posso deixar de expressar minha imensa gratidão a Deus por, através da mediação directa de Frei Adelino Pereira, me ter achado merecedor de fazer parte desta Casa em que a sua memória e legado espiritual continuam vivos e actuantes. Celebrar é também evocar os que nos precederam, os alicerces ou fundamentos da obra, nomeadamente, os Fundadores Irmã Ana de Jesus e Frei Adelino Pereira Frei Isidro Lamelas Ordem Frades Menores Assistente Espiritual da Fraternidade Franciscana da Divina Providência PALAVRA DE ABERTURA

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á 25 anos que a Casa do Bom Samaritano, obra do Centro Social da Divina

Providência que, por sua vez, é uma Fundação da Congregação Fraternidade Franciscana da Divina Providência, procura ser uma parábola viva da Caridade evangélica e uma provocação profética. A presente publicação quer celebrar este quarto de século repleto de lições de vida e de vidas que se esvaziaram ao serviço dos outros. Celebrar significa sempre recordar, não para repetir o que já passou ou ficou feito, mas para reviver o passado como crescimento. Mas celebrar é também evocar os que nos precederam, os alicerces ou fundamentos da obra, nomeadamente, os Fundadores Irmã Ana de Jesuse Frei Adelino Pereira.

Daí que celebrar implique reconhecer o bem que se feze por quem se fez e manifestar gratidão. Por tudo isto, celebrar quer dizer ainda render graças, agradecer festivamente e louvar o verdadeiro autor da obra, a Divina Providência.Por isso, nas páginas que se seguem, para além da evocação das figuras incontornávies da Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim e de Frei Adelino Pereira, procurámos dar voz às diversas pessoas e instituições com as quais a Casa do Bom Samaritano mais directamente está relacionada. Mas, porque pretendemos fazer desta publicação um retrato panorâmico das múltiplas e principais facetas do Bom Samaritano, demos também a palavra a um conjunto de testemunhos que, com genuína

espontaneidade e sem intuitos literários, acabam por ser o eco parcial das muitas vertentes da vida desta Casa inspirada nas páginas do Evangelho.Ao darmos os merecidos parabéns à obra do Bom Samaritano, elevamos renovados louvores à Divina Providência, a quem pertence realmente a Casa do Bom Samaritano. Congratulamo-nos com as Irmãs Franciscanas da Divina Providência, bem como com as Meninas que são a razão de ser principal desta Casa e desta celebração. Por fim, antecipamos o nosso bem-hajam a todos os benfeitores e amigos que ajudaram a nascer e a crescer a Casa do Bom Samaritano ao longo destes 25 anos.No que me diz respeito, não posso deixar de expressar minha imensa gratidão a Deus por, através da mediação directa de Frei Adelino Pereira, me ter achado merecedor de fazer parte desta Casa em que a sua memória e legado espiritual continuam vivos e actuantes.

Celebrar é também evocar os que nos precederam,os alicerces ou fundamentos da obra, nomeadamente,os Fundadores Irmã Ana de Jesus e Frei Adelino Pereira

Frei Isidro LamelasOrdem Frades Menores

Assistente Espiritual daFraternidade Franciscana da

Divina Providência

PALAVRA DE ABERTURA

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Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, Fundadora da Fraternidade Franciscana da Divina Providência

o celebrarmos vin-te e cinco anos da existência da Casa do Bom Samarita-no vêm-nos à me-

mória, algumas vivências, passa-gens, factos e momentos que foram compondo a sua história, desde a sua génese até à actualidade.

Ana de Jesuse dos pobresAntes de mais, recordamos a hu-milde origem desta Obra que nasceu do nada, como começam todas as obras de Deus. Nada de pessoas: era Ana de Jesus e mais nada, nada de bens materiais: era a pobríssima casa da Moita Re-donda e mais nada; nada de garan-tias futuras nem sequer aprovação jurídica: tinha autorização oral do Bispo e mais nada1. Mas Ana de Jesus sabia que tinha de ser as-sim para que fosse Obra de Deus a Obra da Divina Providência, como no-lo revela nesta frase lapi-

DIVInA PRoVIDêncIA, A cAsA é VossA

dar: «Se o Senhor quiser colocar---me onde tenho de trabalhar para Sua glória, hei-de ter por base, o meu nada!».A Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, fundadora da Congrega-

ção Fraternidade Franciscana da Divina Providência, não era uma teóloga, não tinha grandes conhe-cimentos bíblicos e académicos. Mas era uma grande mulher, que sabia o que queria, uma mulher

1 Tal como Moisés morreu sem chegar à tão almejada terra prometida, também a Irmã Ana de Jesus morreu, em 10 de Maio de 1976, sem ver canonicamente reconhecida a sua Obra. De facto, a Fundação então chamada Obra da Divina Providência não recebeu até à sua morte, da parte da Igreja, a tão desejada aprovação canónica, gozando apenas de aprovação oral e pastoral dos vários bispos que se foram sucedendo na diocese de Leiria, entre 1942 e 1976, a saber:D. José Alves Correia da Silva, D. João Pereira Venâncio, e Dom Alberto Cosme do Amaral. Em 25 de Março de 1982,D. Alberto Cosme do Amaral erigiu em Pia União a Fraternidade Franciscana da Divina Providência. Mas só no episcopadode Dom Serafim de Sousa e Silva, em 25 de Dezembro de 1998, a Fraternidade Franciscana da Divina Providência recebeu a tão ansiada erecção canónica como Congregação Religiosa de Direito Diocesano.

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Irmã Maria José Rodriguesda Costa Lima

Superiora Geral da FraternidadeFranciscana da Divina Providência

DIVInA PRoVIDêncIA, A cAsA é VossA

de vontade forte e férrea em seus projectos, uma mulher determina-da e firme, uma crente, uma cristã, uma franciscana, uma consagrada a Cristo e à sua Igreja. A sua paixão pelos “pobres dos pobres”, junto de Nossa Senhora de Fátima, e a confiança total na Divina Providência, levaram-na a vir para a Cova da Iria, a dedicar- -se, acolher e apoiar crianças abandonadas, em situação de total carência material e moral, e idosos em situação de desamparo. A Eucaristia, a Libertação dos Po-bres e o Anúncio da Palavra de Deus, foram as suas maiores pai-xões. Por isso, afirmamos que Ana de Jesus, foi impelida e sustentada pelo Espírito Santo, pela força in-terior que lhe vinha da íntima con-vicção de que Deus queria a Obra da Divina Providência fundada em Fátima, e tudo o que viesse a ad-quirir, seria pertença dos pobres.Esta Obra, uma das primeiras Ins-tituições de Solidariedade Social em Fátima, foi concebida por esta mulher de alma e vivência fran-ciscanas, que enfrentou muitas dificuldades por acolher e viver ao lado dos mais pobres e margi-nalizados. Porém, sozinha, a Irmã Fundado-ra não teria conseguido nada, por isso, se Deus queria fazer da Obra

da Divina Providência uma nova família religiosa na Igreja, teria de dar companheiras a Ana de Amo-rim. E assim aconteceu, Ana de Jesus foi como que a estrela de pri-meira grandeza, no centro de uma pequenina constelação de servas dos pobres mais pobres na Igreja de Jesus. O seu espírito e acção contagiaram outras mulheres gene-rosas (futuras religiosas) que, com sacrifício, no silêncio e longe do olhar de tudo e de todos, voluntária e gratuitamente se dedicavam aos “de maior necessidade”.Numa época, em que ninguém ajudava ninguém, não existiam subsídios estatais, nem qualquer

tipo de pensões sociais, abonos ou comparticipações familiares, a Obra da Divina Providência lutava e enfrentava grandes dificuldades, valendo-lhe o apoio e o acompa-nhamento espiritual da Ordem dos Frades Menores (OFM), através dos Padres Roque do Amaral, An-tónio Ribeiro e Guilherme Costa.

Se o grão de trigo morrerdará muito frutoNo meio de muito sofrimento, sobretudo por não ver aprovada juridicamente a sua Obra, surge a morte da Irmã Fundadora Ana de Jesus Faria de Amorim. Mas, como Jesus anunciou: «Se o grão

Irmã Ana de Amorim e as meninas no santuário de Fátima

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de trigo, caindo na terra, não mor-rer fica só; mas se morrer, dá mui-to fruto» (Jo 12, 2). Assim aconte-ceu, Ana morre e nós, suas filhas, no meio de tanto sofrimento, do abandono de tudo e de todos e sem a nossa Fundadora, a Divina Providência envia-nos Frei Adeli-no Pereira (OFM) que foi para nós um profeta, um amigo dos pobres, um Irmão, um pai, um mestre, um apaixonado por São Francisco que depressa captou a espiritualidade e paixão de Ana de Jesus no seu abandono total nas mãos amoro-sas da Divina Providência. E por-que Ana de Jesus soube transmitir o seu legado espiritual às suas Ir-mãs, companheiras de hoje, às de amanhã e de sempre, de braços abertos recebemos esse grande homem, esse grande cristão, esse grande sacerdote e franciscano, esse grande místico e poeta, hoje assumimo-lo como nosso Co-fun-dador. O legado que nos deixou é riquíssimo e quisemos reconhecê---lo, nomeadamente publicando o seu Diário nesta data tão significa-tiva para a Casa do Bom Samari-tano e para a nossa Congregação.

Frei Adelino, no meio de tantos afazeres, deu-se incansavelmen-te para que as companheiras de Ana, com humildade, pobreza e confiança na Divina Providência, se dispusessem a dar continuida-de à Obra iniciada pela Irmã Ana. Assim, as Irmãs deram a sua vida para dar vida ao jeito do Bom Sa- maritano: amando, servindo, doan- do-se, vivendo e convivendo com

aquelas, a quem a sociedade na maioria das vezes excluía, não oferecendo lugar, voz nem vez!As Irmãs estavam conscientes da situação económica, social e con-textual da Obra. No início eram muitas as limitações a vários ní-veis: falta de recursos humanos e materiais; falta de assistência médica; instalações pobres; aban-dono total da família das utentes; ambiente pouco adequado ao de-senvolvimento de competências e, consequentemente, da quali-dade de vida das utentes. Neste sentido, as Irmãs, mais uma vez, deixaram-se ajudar por Frei Ade-lino Pereira, que veio a tornar-se o grande impulsionador da Casa do Bom Samaritano. Foi assim que a Obra renasceu e cresceu, alimentada pelo sacri-fício, pela confiança e abandono que as Irmãs, tal como vivia, tes-temunhava e anunciava a sua Fun-dadora, depositaram “nas mãos amorosas da Divina Providência”, com a certeza de que quem con-fia e se fia deveras em Deus Pai,

Irmã Ana e as meninas na casa da Moita Redonda

As meninas em Procissão com nossa senhora de Fátima

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vai mesmo para a frente, porque Ele nunca falta nem falha. Deus nunca desilude nem ilude quem de verdade trabalha por Ele e para Ele. Com esta convicção nasceu a Casa do Bom Samaritano, por iniciativa de Frei Adelino Pereira e das Irmãs da Congregação, para acolher, cuidar e amar os mais po-bres dos pobres que hoje habitam esta Casa e a quem chamamos as “nossas meninas”.

Uma missão sociale evangélicaA Casa do Bom Samaritano surgiu para desempenhar uma missão as-sistencial, cujo principal objectivo é o acolhimento de pessoas com deficiência mental, provenientes de meio sócio-económico e fami-liar desfavorecido ou sem outro apoio institucional. Tal missão é desenvolvida procurando ser a encarnação e a pregação viva da Parábola do Bom Samaritano: en-sinar a amar graciosamente aque-les que não nos são nada, como se nos fossem tudo; ensinar não só a

dar, mas a darmo-nos; ensinar não só a cuidar destas pessoas, mas também a viver e a conviver com elas; ensinar a formar uma comu-nidade e a construir uma família. Assim, esta Casa pretende igual-mente veicular uma espiritualidade onde todos (utentes, Irmãs, funcio-nários, amigos e benfeitores), em fa-mília, vivam com confiança na Di-vina Providência, conforme sugere

o próprio Jesus: «Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. (…) Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! (…) Pro-curai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais se vos dará por acréscimo» (Mt. 6, 25-34). Finalmente, esta Casa visa ser também um espaço e escola de

Grupo de crianças acolhidas na época da Irmã Ana

Frei Adelino na cerimónia fúnebre da Irmã Fundadora

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hospitalidade e de solidariedade para todos aqueles que desejam dar e receber, onde todos os que dão e ajudam não se limitam a dar, mas recebem também daqueles que são ajudados e o que recebem é de uma ordem diferente e supe-rior, que se traduz num aumento de fé, e no amadurecimento hu-mano, espiritual e cultural.Por tudo isto, a Casa do Bom Sa-maritano tem sido, e queremos que continue a ser sempre, um espaço de humanização: pela solidarieda-de, amor e fraternidade que desen-

cadeia e uma dinâmica de vivência prática da fé e da caridade, confor-me os ensinamentos de Jesus que se serve das nossas Meninas para nos ministrar a grande lição da vida.

Uma casa feita pelo povo e para o povoOs fundos para a construção desta Casa não provieram de qualquer ajuda estatal, mas da boa-vontade dos que por ela nutriram especial carinho: da renúncia das Irmãs que venderam um terreno da Congre-gação para poderem começar as

obras; das colectas realizadas na Diocese de Leiria-Fátima e nou-tras partes do país; dos peditórios e ofertas de material de constru-ção; das ajudas de algumas Insti-tuições e Fundações particulares; dos apoios da Igreja, e de pessoas particulares. Erguida pela gratui-dade das ofertas do povo; servida pela doação da vida das Irmãs; apoiada e sustentada pela gene-rosidade desinteressada de todos; esta Casa cumpre uma missão profética: mostrar que é possível e urgente uma nova sociedade, ba-seada noutros padrões e ideais de vida, como os da gratuidade e da solidariedade desinteressada.A Bênção da primeira pedra da Casa do Bom Samaritano foi no dia 4 de Outubro de 1981. E em Novembro de 1983, foram transfe-ridas para as novas instalações 60 utentes, que as Irmãs já acolhiam e cuidavam na pobre casa da Moi-ta Redonda e na Casa da Divina Providência, na Cova da Iria. Era o terminus de uma conquista árdua e difícil, mas repleta de lições de vida e de partilha. Conscientes do muito que havia a fazer, não po-díamos parar por aqui. Sentiu-se, por isso, a necessidade e a impor-tância de estabelecer, com o Centro Regional de Segurança Social de Santarém, um acordo de coopera-ção. Este foi concretizado a 20 de Setembro de 1983, tendo sido pro-gressivamente alargado, passando, em 1985, a abranger 80 utentes.Inicialmente e apesar do acordo já celebrado, cuidavam e acom-panhavam as utentes apenas um grupo de cinco Irmãs; sendo que gradualmente, foi alargado o nú-mero de cuidadores. Actualmente, a equipa de colaboradores com-preende um grupo de cerca de cin-quenta e cinco elementos, do qual

A Bênção da primeira pedra da Casa do BomSamaritano foi no dia 4 de Outubro de 1981.E em Novembro de 1983, foram transferidas para as novas instalações 60 utentes, que as Irmãs jáacolhiam e cuidavam na pobre casa da Moita Redondae na Casa da Divina Providência, na Cova da Iria

Frei Adelino e a primeira comunidade da casa do Bom samaritano

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fazem parte a Comunidade Reli-giosa, Técnicos e Pessoal Indife-renciado, que procuram desenvol-ver, em equipa, um trabalho com atendimento individualizado.

Nova semente foideitada à terra e floriuÀ semelhança da nossa Irmã Fun-dadora, Ana de Jesus Faria de Amo-rim, depois da morte do nosso muito querido Co-fundador Frei Adelino Pereira, sentimos de um modo mui-to vivo e actuante, renascer e florir no nosso dia-a-dia novos frutos.

Frei Adelino, dias antes de falecer, a pedido das Irmãs, convidou Frei Isidro Pereira Lamelas, para dar continuidade ao Carisma e Missão que a Divina Providência lhe havia confiado durante cerca de 30 anos: ser Assistente Espiritual da Con-gregação da Fraternidade Fran-ciscana da Divina Providência. A permissão desta Missão, concedi-da pelo Provincial da Ordem dos Frades Menores, Frei Victor Me-lícias, foi acolhida por Frei Isidro Lamelas com alegria e disponibi-lidade. Todas as Irmãs aceitaram, como dádiva das “mãos amorosas da Divina Providência“ este gran-de dom do nosso irmão francisca-no, sábio, simples e humilde para nos ajudar a concretizar os gran-

Conscientes do caminho percorrido ao longo destes vinte e cinco anos, atentas às necessidades actuaisda comunidade, e respondendo ao carisma daFundadora, sentimo-nos impelidas a alargar a nossa actuação, retomando a actividade com as crianças,e recuperando as origens da Obra

des desafios que a Divina Provi-dência nos confia nos dias de hoje.

DesafiosTratando-se realmente de uma Casa concebida dentro do espírito evangélico, eclesial e franciscano, esta Instituição procura promover a qualidade, cultivando a parceria e o sentido de família e de fraternida-de, onde todos (Irmãs, utentes e os colaboradores) se sintam verdadei-ramente em casa e co-responsáveis pelos da Casa. Porque estes valores são intemporais, eles norteiam a acção desta Instituição, desde a sua inauguração até aos dias de hoje e constituem a força e a motivação para quem nela trabalha.Conscientes do caminho percor-

Frei Isidro Lamelas, Assistenteda Fraternidade Franciscana

da Divina Providência

Primeira fase da casa do Bom samaritano

Pág. 8Pág. 8

Utente da casa do Bom samaritano

rido ao longo destes vinte e cin- co anos, atentas às necessidades actuais da comunidade, e respon-dendo ao carisma da Fundadora,

sentimo-nos impelidas a alargar a nossa actuação, retomando a acti-vidade com as crianças, e recupe-rando as origens da Obra, pois «o

amor de Ana de Jesus Amorim não tinha fronteiras e por isso abrangia, no seu projecto, crianças e velhi-nhos, leprosos e deficientes (…) na sua alma lavrava o incêndio de amor, que a levava a estar atenta a todos os de maior necessidade» (Frei Adelino Pereira, 1992). Crer e viver da Divina Providên-cia é uma aventura, porque em ninguém se pode confiar e em ninguém vale tanto a pena acredi-tar como em Deus Pai, que nunca se deixa vencer em generosidade, e que retribui cem vezes mais do que se pode imaginar e esperar.Respondendo a esta aventura, a Divina Providência desafiou-nos a dar mais um passo, na concre-tização de uma nova resposta so-cial de Creche. É com muita ale-gria que anunciamos a abertura da “Creche Bom Samaritano” cuja inauguração tem lugar na data das comemorações dos 25 anos da Casa do Bom Samaritano (26 de Setembro de 2009). Quando reflectimos sobre o traba-lho desenvolvido, sentimos alegria por assinalar na história destes vinte e cinco anos algumas metas alcançadas mas, com humildade, reconhecemos ainda ter um grande caminho a percorrer. Para isso, te-mos de estar atentas às exigências e necessidades dos tempos, e estar dispostas a ousar responder com generosidade e humildade aos de-sígnios da Divina Providência.

Confiantese agradecidosNa comemoração destes vinte e cin-co anos, queremos deixar expressa a nossa muita amizade, gratidão e estima, às entidades Civis e Religio-sas, que connosco incansavelmente colaboraram, designadamente: Cen-tro Distrital de Segurança Social de

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Santarém; Câmara Municipal de Ourém; Centro de Saúde de Fáti-ma; Centro de Estudos de Fátima; Colégio de São Miguel; Empresas Particulares; Familiares, Amigos e Benfeitores; Diocese de Leiria-Fá-tima; Ordem dos Frades Menores;

Congregação do Verbo Divino; Congregação dos Padres do Cora-ção de Maria; Santuário de Nossa Senhora de Fátima; Várias Congre-gações; Conferências de São Vi-cente de Paulo; Paróquias de várias Dioceses e Sacerdotes amigos.

Resta-nos um Hino de Louvor e de Acção de Graças à Divina Pro-vidência, por tantas maravilhas que se dignou fazer na Sua Obra:

«Divina Providência,a Obra é vossa».

Na comemoração destes vinte e cinco anos, queremos deixar expressa a nossa muita amizade, gratidão e estima, às entidades Civis e Religiosas, que connosco incansavelmente colaboraram

Engenheira Anabela Rato, Directora do centro Distrital de segurança social de santarém,em visita à casa do Bom samaritano

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elebrar bodas de prata da Casa do Bom Samarita-no em contexto de VIII Centenário de fundação

da Ordem é celebrar e acolher, ju-bilosamente, a graça das origens e aquela mística de fraternidade e so-lidariedade, que ao largo de oito sé-culos levou a todos os recantos do mundo o relacionamento carinhoso e fraterno com que São Francisco acolhia e recomendava que se aco-lhessem os enfermos como primei-ros de todos os irmãos.Foi essa mística, essa extraordi-nária forma de em cada criatura ver e sentir um irmão, que impul-

sionou os frades de São Francis-co e seus colaboradores a serem pioneiros e acérrimos promotores de doutrinas tão modernas como a dos direitos humanos, da ecolo-gia e da solidariedade universal e cósmica bem como de obras tão humanitárias e cristãs como hos-pitais e misericórdias, montepios e celeiros comuns, sindicatos e associações de mutualidade, de socorro mútuo e similares.Esta foi também a mística que motivou as Irmãs Franciscanas da Divina Providência e os Irmãos Franciscanos seus assistentes a criarem esta Casa como Lar e San-

A MísTIcADo BoM sAMARITAno

tuário de franciscana samaritania.Celebrar esta efeméride deve, pois e por tudo isso, ser sobretudo um reafirmar e reforçar o espírito e o ideal que fazem da espiritua -lidade e da mística franciscana um dos mais válidos pilares para a construção de uma Europa e de um Mundo em que a fraternida-de e a solidariedade tenham lugar cimeiro entre os valores e os di-reitos de todos os seres humanos e de toda a criação.Que esta seja a marca e a mística das comemorações. À glória de Cristo e em louvor de São Francisco.

Frei Vitor MelíciasMinistro Provincial da Ordem

dos Frades Menores

Celebraresta efeméride

deve, pois epor tudo isso,ser sobretudo

um reafirmar ereforçar o espírito e o

ideal que fazemda espiritualidade

e da místicafranciscana confraternização das meninas com os Irmãos Franciscanos

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urante um retiro, fui com um grupo de pessoas passar um dia na Casa do Bom Samaritano. O ob-

jectivo era viver o amor ao próxi-mo, à semelhança dos Pastorinhos na sequência da graça das apari-ções de Nossa Senhora. Quando anunciei essa actividade, algumas pessoas manifestaram o seu em-baraço, pelo receio do que iriam dizer ou fazer com as meninas portadoras de deficiência. O pro-grama começou com um encontro com uma das irmãs responsáveis da casa. Ela sossegou quem estava inquieto. Deu este conselho: “Não tenham medo nem pensem o que vão dizer, pois as meninas que-bram logo as distâncias e tomam a iniciativa de vos fazer perguntas”.No encontro e actividades com as meninas todos fomos surpre-endidos: pelas suas perguntas, a simplicidade que manifestavam, o afecto que nos dedicavam, a ale-gria espontânea que irradiavam, a vivacidade com que participaram na missa... Não foi difícil estar com elas. Experimentamos a sua ternura. Se íamos para as amarmos e ajudarmos, elas anteciparam-se e enriqueceram-nos com os dons de que são portadoras. A convi-vência com elas enriquece de hu-manidade e espiritualidade quem

UMA cAsA E oBRA DE TERnURA

se põe ao seu serviço e a elas se dedica com afecto e competência. Esta experiência de calor huma-no, atenção à pessoa, ternura..., tenho-a vivido todas as vezes que vou a esta Casa. Ela é, na verdade, Casa e obra de ternura: por parte das utentes, das Irmãs Francisca-nas da Divina Providência, dos profissionais e dos muitos amigos que este Bom Samaritano foi con-quistando no serviço que incansa-velmente presta, de dia e de noite, todos os dias do ano. A censura, citada por D. António Marto na

carta pastoral “Testemunhas da ternura de Deus”, que Heinrich Boll fez aos mensageiros do cris-tianismo de que lhes faltou ternura na comunicação, na vida afectiva e no compromisso social, não se aplica à Casa do Bom Samaritano. Nela, de facto, há ternura, por isso também há vida, ainda que sofri-da, beleza e felicidade.Na mesma carta pastoral, D. An-tónio Marto, explicitando os con-teúdos do “evangelho da ternura”, escreve: “O Deus de Jesus Cristo convida-nos, através do salmista,

Na altura em que a Casa do Bom Samaritano celebra os 25 anos da sua inauguração, louvo e agradeço a Deus por esta obra admirável, lembro com admiração e reconhecimento o Frei Adelino Pereira, que foi talvez o principal animador da sua construção

Padre Jorge com as utentes da casa do Bom samaritano

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UMA cAsA E oBRA DE TERnURA

Padre Jorge Manuel Faria GuardaVigário Geral da Diocese de Leiria-Fátima

à contemplação deslumbrante do seu mistério de Amor: “O Senhor é bom para com todos; cheio de ter-nura para com todas as suas criatu-ras” (Sl 144,9). E pede-nos que nos tornemos, uns com os outros e uns para os outros, testemunhas da Sua ternura, se queremos que a casa do mundo possa ser acolhedora para todos e generosa para com todos. Levar a ternura de Deus ao mundo é levar a salvação do Evangelho”. É certamente vocação desta Casa ser expressão desta ternura em todos os seus serviços, ambiente e relações para com as meninas

portadoras de deficiência que nela residem ou dela beneficiam. No mesmo documento, o bispo de Leiria-Fátima centra a sua atenção também nas pessoas “em situação de maior fragilidade, por motivo de qualquer forma de pobreza ou de sofrimento”, incluindo as que são “portadoras de deficiência jun-tamente com os seus familiares”, apelando a que se lhes reserve “um acolhimento particular, solidário e afectuoso”. Reconhece que é um aspecto para o qual as comunida-des já estão bastante sensibilizadas e a que vão procurando dar respos-

ta, “mas há ainda muito a fazer e a melhorar”, adverte. Na altura em que a Casa do Bom Samaritano celebra os 25 anos da sua inauguração, louvo e agradeço a Deus por esta obra admirável, lembro com admiração e reconhe-cimento o Frei Adelino Pereira, que foi talvez o principal animador da sua construção, e felicito quantos contribuíram para ela e continuam a construí-la, no dia-a-dia, com o seu trabalho, amor e generosidade, para que nunca deixe de ser “Casa e obra de ternura” para quantos nela habitam, a visitam e apoiam.

Frei Adelino e a Irmã responsável com o Encarregado de obras e colaboradoresna construção da casa do Bom samaritano

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á obras que falam por si mesmas e diante das quais todas as palavras soam a re-

dundância. As obras de caridade têm essa marca, são linguagem eloquente, por fazerem ver, tocar, experimentar aquilo que, por es-tar dentro do peito, não é visível nem palpável.A Casa do Bom Samaritano é uma dessas obras que falam por si e é um desses sinais que valem por mil palavras, como recordou Je-sus quando se referiu a um simples copo de água fresca dado a alguém

UMA PáGInA Do EVAnGELho Aos PésDA nossA sEnhoRA DE FáTIMA

que tem sede. Por isso, se tornou uma Instituição tão querida pelas suas utentes, pelos seus funcioná-rios e por tantas outras pessoas que encontram ali um sinal da caridade a que o Evangelho nos convida.Para não falar teoricamente, devo dizer que, também eu me encontro entre aqueles que nutrem um cari-nho e uma admiração muito fortes por esta obra. Quatro factos muito simples fizeram nascer em mim estas marcas.O primeiro. Quando, na década de setenta, era seminarista em Leiria, passava frequentemente pelo mercado do sábado e, ao fim da manhã, apanhava a carreira para vir para Fátima. Havia sem-pre por lá uma religiosa, que re-colhia em grandes sacos de tudo o que lhe davam, desde a fruta às

hortaliças. Parecia a formiga que levava para casa, por vezes vo-lumes maiores que o seu próprio volume. Impressionava-me mui-to, até que ouvi dizer que era uma Irmã da Divina Providência e que sustentavam assim uma casa de caridade, onde Deus não deixa-va faltar o necessário para viver. Com dez ou onze anos, tive a pri-meira noção da Providência de Deus e do que se pode fazer por caridade ou amor pelos outros.O segundo. Quando, na década de oitenta, era ainda seminarista, pas-sou um dia pela missa da paróquia de São Mamede o Frei Adelino Pereira, acompanhado por uma ou duas pessoas, numa campanha de angariação de fundos para a cons-trução da Casa do Bom Samaritano. Impressionou-me muito o que disse,

Funcionária e utente da casa do Bom samaritano

Irmã Franciscanada Divina Providência

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UMA PáGInA Do EVAnGELho Aos PésDA nossA sEnhoRA DE FáTIMA

Padre Virgílio AntunesReitor do Santuário de Fátima

as palavras carregadas com o peso do sofrimento dos pobres e a paixão pela caridade. Tive a sensação de estar diante de um profeta, daque-les que estão disponíveis para dar a vida por aquilo que anunciam.O terceiro. Quando, na década de noventa, tive de fazer um trabalho de exegese bíblica, não tive dúvi-das quanto ao texto a estudar: a parábola do Bom Samaritano. Era uma marca que andava cá dentro, um interesse que não desaparecia e a oportunidade que tinha de entrar em maior profundidade no sentido daquilo que tinha visto em Leiria, que tinha ouvido em São Mamede e que enraizava na pessoa, nos ges-tos e nas palavras de Jesus, narradas por aquele texto do Evangelho. O quarto. Quando, na primeira dé-cada deste novo século, conheci pela primeira vez a Casa do Bom Samaritano, refiz esta breve histó-ria, relembrei, vi passar de novo as imagens que nunca tinham saí-do da minha memória. Era dia de festa, era celebração do Natal. Ali estavam as meninas, as irmãs, os amigos; ali estava Jesus, no presé-pio, a origem e o fim de tudo, não já a imagem, mas, Ele mesmo, o Amor, a Caridade. Compreendi de outra forma esta linda história, os seus contornos e o seu sentido.

Agradeço às Irmãs Franciscanas da Divina Providência por tudo o que significa o seu trabalho e a sua obra para aquelas meninas que ali têm casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, carinho, amor. Agradeço também pela bela página do Evangelho que nos permitem ver e ouvir, qual imagem dos gestos de Jesus, qual eco das suas palavras!

Também eu me encontro

entre aqueles que

nutrem um carinho

e uma admiração

muito fortes por esta obra

Frei Adelino Pereira

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onstitui para mim mo-tivo de grande honra assinar este texto/dedi-catória à Casa do Bom

Samaritano, uma Instituição que respeito profundamente.O trabalho, que embora apenas se tenha tornado oficial em 1983, co-meçou muito antes, em 1942, pelas mãos da Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, Fundadora da Congrega-ção das Irmãs Franciscanas da Di-vina Providência. Na altura, a Casa que hoje conhecemos tinha a de-signação de “Divina Providência” e acolhia crianças abandonadas em situação de carência extrema e ido-sos abandonados. Felizmente, a for-ça e o querer daquela responsável e de, anos mais tarde, do Sacerdote Franciscano Frei Adelino Pereira, nasce em 1983 a Casa do Bom Sa-maritano como hoje a conhecemos. Sob o mote “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, ergue-se a actual Casa do Bom Samaritano, uma Instituição Particular de Soli-dariedade Social que visa o apoio aos mais carenciados e que se tem destacado pelo magnífico trabalho desenvolvido. A prová-lo está o número de uten-tes que não pára de crescer. Ac-tualmente, a Instituição acolhe 80 utentes, com uma média de idades

de 52 anos, sendo que a mais nova tem apenas 20 e a mais velha, a bonita idade de 89 anos.A maioria dos utentes apresenta deficiência mental, com uma de-pendência parcial, sendo oriun-dos, na sua grande parte, dos dis-tritos de Leiria e Santarém.Cuidar de perto de 100 utentes, com todas as dificuldades que lhes estão inerentes não é tarefa fácil, por isso, há que enaltecer o espí-rito de luta, dedicação, empenha-mento e profissionalismo de todos os funcionários e órgãos directi-vos. Para que se possa proporcio-nar um acompanhamento pleno e responsável a estas pessoas espe-ciais que a Casa acolhe, é preciso roubar muitas horas de descanso e de convívio no seio familiar.É que a Instituição proporciona muito mais do que cuidados de saúde, alimentação e higiene aos seus utentes. Cada vez mais esta Instituição aposta em realizar

actividades que promovam a au-tonomia pessoal e estimulem as capacidades físicas e mentais dos utentes. Exemplos disso são as sa-las de actividades disponíveis na Casa e onde se podem realizar tra-balhos tão diversos como borda-dos, pintura, costura, actividades de grupo, etc. Destaco também os ateliers psico-educativos, de leitu-ra e escrita, de música, …O desporto é outra das vertentes que não é esquecida pela Casa. O yoga, a expressão corporal e a dança criativa fazem parte da rea-lidade dos utentes.Permitam-me destacar também o teatro, os passeios e saídas no exte-rior e as actuações da Orquestra dos Lírios, já para não falar nas festas de Natal e nas colaborações com outras Associações e Instituições, nomeadamente com a Santa Casa da Misericórdia de Fátima-Ourém.De facto, falar das actividades que a Casa desenvolve implicaria

25 Anos Ao sERVIço Dos MAIs cAREncIADos

Visita do Presidente e Vice-Presidente da câmara Municipal de ourém

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25 Anos Ao sERVIço Dos MAIs cAREncIADos

Dr. Vítor Manuel de Jesus FrazãoPresidente da Câmara Municipal de Ourém

que me alongasse demais, e não é isso que se pretende.Com estas parcas palavras, pretendo apenas destacar o trabalho de mui-tos homens e mulheres que dão a sua vida pela causa social. É graças a estas pessoas, que é possível que Instituições como a Casa do Bom Samaritano se mantenham vivas.Por isso, muito mais do que feli-citar a Casa pelos seus 25 anos de existência, quero dar-vos os pa-rabéns pela entrega à causa social e por ajudarem estas pessoas tão especiais que acolhem dentro das vossas instalações a terem a vida digna que merecem, rodeados,

não só, das melhores condições de saúde, higiene e alimentação, mas, sobretudo, envoltos em ca-rinho, amizade, disponibilidade e calor humano. É de tudo isto que os utentes mais precisam! De alguém que os ouça, que lhes es-tenda a mão…E na Casa do Bom Samaritano eles

Muito mais do que felicitar a Casa pelos seus 25 anos de existência, quero dar-vos os parabéns pela entregaà causa social e por ajudarem estas pessoas tãoespeciais que acolhem dentro das vossas instalaçõesa terem a vida digna que merecem

encontram o lar que tanto merecem.Por tudo o que já fez, pelo traba-lho que continua a realizar e pelo muito que ainda fará pela nossa sociedade, muitos parabéns à Casa do Bom Samaritano e as maiores felicidade para o futuro que, aliás, auguro que seja longínquo. Sem-pre ao vosso dispor.

Actuação das utentes da casa do Bom samaritano nas Festas da cidade de ourém

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VAI, FREI ADELIno,E REPARA A MInhA cAsA!

Irmã Superiora Geral afir-mou, há momentos, não pretender fazer nada que se parecesse a um discur-

so. Também eu não. Recordando aquele velho provérbio que diz que a palavra é prata, mas o silên-cio é ouro, devera eu ficar calado. Pacientes, porém, e autorizai que eu desobedeça à velha e certa sen-tença atrás mencionada, que não me alongarei muito. É que me pareceu justo explicar o COMO, o PORQUÊ e o PARA QUÊ da Casa do Bom Samaritano. A ideia desta casa nasceu um dia, em 1978, durante uma visita às de-ficientes na velhinha casa da Moita Redonda. O diálogo que entretanto se travou foi do seguinte teor:– Irmã, isto é uma “caridade de-sumana”. É urgente construir uma casa nova para estas deficientes. – Mas como, se não temos di-nheiro?– Dinheiro há muito. O que temos é de ir por ele…E foi-se pelo dinheiro. Primeiro, foi uma colecta nas freguesias da diocese de Leiria, durante quatro anos. Depois pelo peditório do

Nesta publicação celebrativa das bodas de prata da Casa do Bom Samaritano, não podíamos deixar de reevocar o discurso proferido pelo Frei Adelino Pereira no Acto da Bênção e Inauguração da Casa do Bom Samaritano, em 15 de Setembro de 1984. Fazemo-lo como homenagem ao grande impulsionador da obra do Bom Samaritano, mas também porque as suas palavras, passada a circunstância e um quarto de século, continuam actualíssimas.

material de construção, de firma em firma e de fábrica em fábrica. Seguidamente pelo Jornalzinho O BOM SAMARITANO, a levar o apelo aos benfeitores a todo o país e ao estrangeiro.Uma sacrificada poupança de to-dos os tostões. Pedidos a Institui-ções e Fundações particulares, en-tre as quais a Fundação Calouste Gulbenkian.E pela iniciativa privada exclusi-vamente foi construída a CASA DO BOM SAMARITANO num tempo que não direi recorde, mas sem dúvida nenhuma, num tempo deveras curto: dois anos justos! PORQUÊ e PARA QUÊ a Casa do Bom Samaritano? O seu nome já o está a indicar. Esta casa surgiu para desempenhar uma missão as-sistencial e resolver alguns casos mais urgentes de desgraça huma-na, mas destina-se também a ser a encarnação e a pregação viva da parábola do Bom Samaritano: en-sinar a amar graciosamente aque-les que não nos são nada como se nos fossem tudo; ensinar não só a dar, mas a darmo-nos; ensinar não só a socorrer as deficientes, mas Frei Adelino Pereira

Pág. 20também a viver e conviver com elas; ensinar a formar uma comu-nidade e construir uma família. Esta Casa pretende veicular uma espiritualidade para além de ser uma residência de deficientes.

Construída pelo povo, esta Casa tem de ser do povo e para o povo; neste dia todos ocorreram aqui a ver e a abençoar e inaugurar uma Casa do povo e para o povo, para as mais infelizes das filhas

do povo. Quanto o povo a ama e a ajuda está bem patente na aflu-ência de amigos e benfeitores.A construção desta Casa prova uma coisa: a falta de dinheiro e de meios materiais não é impedimen-

Frei Adelino com as suas meninas

Uma das fases da construção da casa do Bom samaritano

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to para nada. Para se fazer alguma coisa como esta basta amar, basta o amor. Digamo-lo mais clara-mente: basta Deus. Só Deus basta. A mim parecia-me escutar aquelas palavras que ouviu Francisco de Assis ao crucifixo de São Damião: Francisco vai e restaura a minha casa que está a arruinar-se…Esta Casa é sobretudo uma denún-cia da prepotência do DINHEI-RO; a denúncia da prioridade dada ao dinheiro, ao económico, à felicidade identificada com esban-jamento e o poder de consumo…Erguida pela gratuidade das ofer-tas do povo, servida pela gratui-dade da vida das Irmãs, apoiada e sustentada pela gratuidade da comunidade-povo, esta Casa cumpre uma missão profética: a de que é possível, a de que é ne-cessário uma nova sociedade, no-vos padrões e ideais de vida, os de viver de graça, de se trabalhar de graça. Esta é a utopia da Casa do Bom Samaritano e o desafio que pretende lançar mormente aos jovens. Aqui não há desem-prego. Quem trabalha, como Francisco de Assis, porque rece-beu a graça de trabalhar, nunca se prostitui ao dinheiro nem cairá no círculo infernal em que se deba-te a esmagadora maioria dos ho-mens de hoje: sem trabalho não há dinheiro e sem dinheiro não há trabalho. Quando começaremos a

sair deste curro infernal? Só an-tolhamos uma saída: o trabalho gratuito, o trabalho feito não para se ganhar dinheiro ou fingir que se ganha, mas feito de graça, por-que se recebeu a graça de traba-lhar. Trabalhar é, na perspectiva bíblica e franciscana, uma graça e não um peso, uma servidão, uma condenação. O trabalho é uma criação, uma criatividade e uma concriação, pois Deus criou todas as coisas para que as traba-lhássemos e fôssemos, com Ele, concriadores.Assim se pretende ser, nesta Casa, uma comunidade de tra-balho. A reabilitação e a recupe-ração e a promoção das utentes

passa necessariamente por aquilo que cada uma pode fazer e reali-zar para e na comunidade. Esta CASA DO BOM SAMARI-TANO pretende ser, e cada vez mais, uma Casa de solidariedade. A verdadeira solidariedade é um movimento de vaivém: há solidariedade quando alguém ajuda outra pessoa que, por sua vez, se torna solidária com os po-bres e oprimidos do seu povo; to-dos os que dão e ajudam não se limitam a dar, mas recebem tam-bém daqueles que são ajudados. Todavia, o que recebem é de uma ordem diferente e superior, que se traduz normalmente por um au-mento de fé e por uma identida-de humana e espiritual e cultural; a partir do mútuo dar e receber, estabelecem-se relações entre as classes e as instituições e desco-bre-se que este relacionamento mútuo de dar e receber se reper-cute em todos os níveis, desde o da ajuda material até aos níveis da cultura e da fé. Como escrevia alguém “o descobrimento da rea-lidade dos pobres é, por direito,

Erguida pela gratuidade das ofertas do povo, servida pela gratuidade da vida das Irmãs, apoiada esustentada pela gratuidade da comunidade-povo, esta Casa cumpre uma missão profética: a de queé possível, a de que é necessário uma nova sociedade

Grupo de Jovens voluntários na casa do Bom samaritano

Visita da Dra. Maria Barroso à casa do Bom samaritano

a origem da solidariedade, por-que esta verdade põe em causa a vida do homem de hoje como ser social, entroncado em toda a humanidade. O fundo da questão para nós cristãos é que, em mui-tos lugares e países do mundo, a criação de Deus apareceu como ameaça viciada e destruída.” A realidade dos pobres tomou a palavra e também a tomou no nosso país. Também a fome e a miséria moram entre nós. Isto significa que uma humanidade e, portanto, uma Igreja e um país só o são de verdade se praticam a solidariedade e se são solidá-rios. Aliás, ser homem autêntico é ser já solidário. Por tudo isto a CASA DO BOM SAMARITA-NO é e há-de ser um factor de fé e de humanização pela solidarie-dade que desencadeia.A CASA DO BOM SAMARI-TANO não visa apenas o acolhi-mento, o tratamento e a reabili-

tação do deficiente, mas quer ir mais longe: chegar à prevenção da deficiência. E vai fazê-lo atra-vés de convívios de jovens que aqui realiza; através de contactos com as famílias; através das suas acções junto das comunidades locais e através do seu traço de união com os seus benfeitores e amigos, ou seja, do jornalzinho O BOM SAMARITANO. Quem ler O BOM SAMARITANO es-pecialmente composto para cele-brar este dia, ali pode ler algumas das causas mais frequentes das deficiências físicas e mentais, como sejam: pancada, queima-delas, fome ou abuso sexual por parte dos adultos em relação às

crianças; o alcoolismo e o con-sumo de álcool, no qual o nosso país ocupa o 2º lugar em todo o mundo; e as causas hereditárias, congénitas e adquiridas…Esta CASA DO BOM SAMARI-TANO merece, pois, a ajuda de todos vós; esta Casa precisa, pois, da solidariedade de todos vós: esta Casa é de todos vós.Faço um voto de que outras sur-jam assim pelo nosso país.Deus quer, o homem sonha e a obra nasce – cantou o poeta… Deus contínua a querer, os ho-mens hão-de continuar a sonhar e outras obras assim e ainda melho-res vão também nascer. Que assim seja! Que assim seja!»

A CASA DO BOM SAMARITANO não visa apenaso acolhimento, o tratamento e a reabilitaçãodo deficiente, mas quer ir mais longe: chegarà prevenção da deficiência

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Pág. 23Casa do Bom Samaritano é uma das obras mais queridas da Congregação Fraternida-de Franciscana da Divina Providência que, através dela, concretiza e efectiva o seu ca-

risma e missão de tónica providencialista, isto é, viven-do e trabalhando em absoluta e radical confiança em Deus Pai e Divina Providência, conforme aconselha o Evangelho (cf. Mt 6, 25-34; Lc 12, 22-31). Esta Casa nasceu, na mente dos seus fundadores, com o intuito de pôr em prática o Evangelho e tem sido, ao longo destes 25 anos, uma feliz concretiza-ção da parábola do Bom Samaritano. Uma sonho que brotou do EvangelhoÉ nestes termos que, na sinagoga de Nazaré, Jesus apresenta o programa que pautará a sua vida pública:“O Espírito do Senhor está sobre mim,porque me ungiu e me enviou para levar a boa nova aos pobres,para anunciar a libertação aos cativos,para devolver a vista aos cegos,para restituir a liberdade aos oprimidos, é para proclamar um ano de graça do Senhor”(Lc 4,18-19).

BoM sAMARITAno,UMA PARáBoLA VIVA

«Esta Casa destina-se a ser a encarnação viva da parábola do Bom Samaritano: ensinar a amar graciosamente aqueles que não nos são nada como se fossem tudo; ensinar não só a dar, mas a darmo-nos; ensinar não apenas a socorrer as doentes, mas a viver e a conviver com elas; ensinar a formar uma comunidade e a construir uma família. Esta Casa pretende veicular uma espiritualidade, para além de ser uma residência de doentes» (Frei Adelino2).

2Em O Bom Samaritano, 22 (Setembro 1985) 2.

Toda a mensagem de Jesus foi uma grande mani-festação da generosidade de Deus para com os ho-mens. Eu vim para que tenham vida, vida em abun-dância. Por isso, se fez pobre para nos enriquecer (2 Cor 8,9), libertou a humanidade de todo o tipo de cadeias, deu vista aos cegos e curou tantos ou-tros enfermos, multiplicou o pão para alimentar os famintos e proclamou a Boa Nova da salvação ao alcance de todos.O mesmo Jesus escolheu os seus discípulos para os enviar a «proclamar o reino de Deus e a curar os doentes» (Mc 9,2; Mt 10,8). O anúncio do Reino só será por isso, completo e congruente quando acom-panhado da acção libertadora e dos tais sinais da presença ou proximidade do reino de Deus: «os cegos recuperam a vista, os leprosos são curados, os surdos ouvem… e a Boa Nova é anunciada aos po-bres» (Mc 11,5). Quanto a todos nós, um dia, formos chamados ao exame final da nossa vida, Jesus promete-nos que seremos acolhidos e recompensados no rei-no do Pai («vinde benditos de meu Pai…»), con-

Frei Isidro LamelasOrdem Frades Menores

Assistente Espiritual daFraternidade Franciscana

da Divina Providência

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Frei Adelino a dar uma refeição a uma utente de 90 anos

forme acolhemos e tratamos o nosso próximo: «Tive fome e deste-me de comer,tive sede e deste-me de beber,era estrangeiro e deste-me hospedagem,estava nu e vestistes-me,estive doente e visitastes-me, estive preso e visitaste-me» (Mt 25, 34-36).Reside precisamente aqui a nota específica da exis-tência e vivência cristãs. Desde que Cristo assumiu a nossa condição, cada homem é um sacramento da sua presença: «sempre que o fizeste a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Este sempre, significa que todo o bem feito pelos outros nunca será em vão: Nem um copo de água dado com amor será esquecido (Mt 10,42). Aqui radica o significado mais profundo da caridade cristã: o seu exercício é um dos sinais mais evidentes da presença do Reino messiânico entre nós, e é a pe-dra de toque de todas as virtudes humanas e cristãs: Se eu não tiver caridade, nada sou! (2 Cor 13, 2). A virtude suprema é, de facto, a caridade. Por isso

Santo Agostinho pôde afirmar: ama e faz o que qui-seres3. Esta caridade não é apenas um sentimento interior, uma abstracção espiritual: só é se se traduz em actos, em serviço. «A caridade é – como afirma o Santo Padre – o amor recebido e dado»4. Ela está na raiz da sociabilidade e ética cristãs: “toda a obra boa é fruto da caridade”, dizia São João Crisóstomo5. O cristão sabe que está no mundo para amar e servir a Deus e Deus quis ser servido no próximo. «Não digas, recomenda outra vez São João Crisóstomo, aquela palavra insolente, ‘que me importa a mim? tenho que me ocupar dos meus negócios!’ Nunca pensarás tanto nos teus negócios quando te ocupares de fazer o bem ao próximo6». E é o mesmo Crisóstomo que define assim a profissão do Cristão: «como a especialidade do arquitecto é construir, assim o dever do cristão é servir o próximo de todos os modos»7 .

Quem é o meu próximo?Ciente desta especificidade cristã, quando há 25 anos as Irmãs da Fraternidade Franciscana da Divina Pro-

3 Comentário à primeira Epístola de S. João, 7,8: «Dilige et quod vis fac»; Sermão 5,3: «dilige et quidquid vis fac...». 4 BENTO XVI, Caritas in veritate, 5.5 De perfecta caritate, 1; Cf. BENTO XVI, Caritas in veritate, 2.6 In Psal. 49,8. S. Jerónimo diz que a caridade «non quaerit quod suum est, sed quod proximi» In ep. ad Gal. 3,5,14.7 In Ep. 1Cor. hom. 36,3.

O cristão sabe

que está

no mundo

para amar

e servir a Deus

e Deus quis

ser servido

no próximo

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vidência e o seu então Assistente Frei Adelino Pe-reira pensaram no nome a dar a esta instituição, logo lhes veio à mente uma das páginas bíblicas mais belas e eloquentes sobre a caridade e misericórdia cristãs: a parábola do Bom Samaritano. Recordamos que a referida parábola foi apresentada por Jesus no contexto de um diálogo provocatório proposto por um “doutor da Lei”: «Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?». E como Jesus o tivesse remetido para o preceito maior da Lei que manda «amar a Deus com todo o coração e ao pró-ximo como a ti mesmo», o tal “doutor” insistiu: «e quem é o meu próximo?».A esta pergunta Jesus responde narrando a conhe-cida parábola do Samaritano que se aproximou do seu semelhante necessitado. Nesta Jesus adverte os especialistas da Lei de Deus para a urgência de pôr em prática o que ela ordena. De facto, Deus antes de ser estudado (doutor), ou celebrado (sacerdote) ou adorado (levita) quer ser amado com todo o coração e na pessoa do “próximo”. Mas quem é o meu próximo? «Aquele que usa de misericórdia», isto é, o que “não passa adiante”, ignorando o seu irmão doente, mal tratado, marginalizado ou atirado para as “bermas” da humanidade. Depois desta resposta, Jesus remata com este man-dato provocatório para todos nós que temos dificul-

dade de passar da doutrina à vivência, da teologia à caridade: «Vai e faz tu também o mesmo!» (cf. Lc 10, 29-37).O “próximo” ou o “Bom Samaritano” é, pois, todo aquele que, em vez de “passar ao lado”, responde a este imperativo de Jesus: Vai e faz tu também o mesmo! Aproxima-te do teu irmão necessitado, doente ou o marginalizado!Torna-te também tu “próximo”, pondo-te na sua pele e reinserindo-o na condição de dignidade e direitos que lhe são devidos!

Uma casa da Divina Providência:«A obra é vossa!»A Casa do Bom Samaritano nasceu e cresceu segun-do o espírito e programa de vida propostos por Jesus na referida parábola evangélica, mas nunca teria vin-gado se não fosse uma obra da Divina Providência.De facto, como diz o salmista, «se o Senhor não edi-ficar a casa, em vão trabalham os que a constroem» (Sl 127,1). Esta sentença bíblica exprime bem o que distingue uma obra meramente humana das obras de Deus. Es-tas não dispensam o nosso “trabalho” e colaboração, mas atribuem sempre a Deus o projecto e a tarefa de “edificar a casa”.Deus necessita sempre da colaboração de homens

Irmã Luz dando a comunhão aos doentes em Timor

Pág. 26 e mulheres para levar por diante os seus planos. A Irmã Ana de Jesus Amorim, o Frei Adelino e as Ir-mãs Franciscanas da Divina Providência foram es-sas mãos de Deus que se deitaram à obra sempre confiantes que a ajuda divina não faltaria. A Obra do Bom Samaritano nasceu de um apelo di-vino que continua a interpelar os homens no clamor dos pobres, mas foi edificada e consolidada sempre sob a mão protectora do Pai celeste. De facto, as raízes desta “Casa”, há que buscá-las na intuição espiritual da Irmã Fundadora, Ana de Jesus Amorim, que totalmente confiante em Deus e sob a protecção de Nossa Senhora de Fátima, aqui

fundou a Obra da Divina Providência, confiando-a totalmente aos cuidados de Deus: Divina Providên-cia a Obra é vossa. Assim nascem as obras de Deus: quando Deus quer e o homem sonha, a obra acontece. Esta afirmação de Fernando Pessoa veio muitas vezes à mente e à palavra de Frei Adelino Pereira e das Irmãs Fran-ciscanas de Divina Providência que ele assistiu ao longo de muitos anos.Foram grandes as dificuldades, sobretudo nos pri-meiros anos em que tudo recaiu sobre os ombros das Irmãs e tudo dependia da sua responsabilidade e trabalho. Eram poucas as continuadoras da obra da Irmã Ana de Jesus, mas, animadas pelo seu assisten-te, Frei Adelino, nunca esmoreceram na vontade de imitar a sua Fundadora:«Provações virão, mas a Divina Providência está convosco. Todas as crises serão apenas de purifi-cação e de crescimento se fordes fiéis e amardes verdadeiramente os pobres e as vossas doentes. Olhai bem e cada vez mais para a vossa Fundado-ra» (Fr. Adelino, Diário). Tanto a génese da obra, como estes 25 anos já per-corridos, são um compêndio de lições de fé e cari-dade, mas são também, como dizia Frei Adelino, «a prova de que Deus é Deus, mas é preciso pô-Lo à prova. Prova de que Deus existe, de que Deus é Di-vina Providência» (Diário).

Uma obra de inspiração franciscanaNão foi o acaso que quis que a bênção da primeira Pedra da Casa do Bom Samaritano ocorresse no dia 4 de Outubro de 1981. Nesse preciso dia, a Família franciscana inaugurava em Fátima o VIII Centenário do Nascimento de São Francisco de Assis. Frei Ade-lino e as Irmãs Franciscanas da Divina Providência quiseram que neste mesmo ano se iniciassem as obras, alimentando a esperança de poderem acolher na nova Casa as Meninas doentes ainda em Outubro do ano seguinte, data de encerramento do Centenário do Pobrezinho de Assis.8 A intenção era a de fazer da Casa do Bom Samaritano – que ainda esteve para se chamar “Casa de São Francisco de Assis”– uma homenagem ao Santo que mais amou os pobres e os doentes. Embora não tenha sido possível realizar a utopia de concluir os trabalhos num tempo tão curto,

8 Cf. Bom Samaritano 3 (Dezembro) 5.

Quis a Divina Providência que acelebração dos 25 anos que agoracelebramos coincidisse também como ano (2009) em que evocamos oitoséculos da fundação da Ordeme carisma franciscanos

Irmã Piedade com menino em Timor

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facto é que a Casa do Bom Samaritano foi inspirada pelo exemplo e testemunho de São Francisco de As-sis que teve na Irmã Ana de Jesus uma fiel imitadora em nossos dias.Quis a Divina Providência que a celebração dos 25 anos que agora celebramos coincidisse também com o ano (2009) em que evocamos oito séculos da fun-dação da Ordem e carisma franciscanos. Um carisma profundamente actual, nomeadamente no que con-cerne à urgência da renovação da autêntica fraterni-dade universal e de uma solidariedade evangélica.A verdadeira solidariedade é, de facto, sempre «um movimento de vaivém: há solidariedade quando al-guém ajuda outra pessoa que, por sua vez, se torna solidária com os pobres»9. Mas esta reciprocidade re-veste um outro aspecto: quando alguém se dá, recebe sempre mais. Primeiro porque ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, nem tão rico que não te-nha algo a receber; depois, porque, normalmente, os pobres são muito mais generosos no dar-se ou no dar o que têm, porque nos dão coisas muito mais impor-tantes que os bens materiais. Foi esta uma das gran-des descobertas de Francisco de Assis. Ele percebeu que não bastava dar esmola ao pobre, era essencial assumir a própria pobreza, para beber todos os bens que provêem da única fonte de riqueza: Deus Sumo Bem. Com os pobres ele aprendeu a ver Cristo mais próximo dos homens e com Cristo aprendeu a ver na pobreza um tesouro e no pobre a sua presença. Tudo isto soa a doutrina pouco actual ou praticável. Mas é a realidade que continua a experienciar-se na nossa Casa. Aos olhos dos valores estipulados pela

sociedade que nos formata a mente desde pequeni-nos, as nossas Meninas são as mais pobres dos po-bres. E, no entanto, todos os que têm o privilégio de privar com elas, recebem sempre e de graça muito mais do que aquilo que dão.

Uma obra eclesial edificadapelos pobres e para os pobresPor outro lado, a Divina Providência conta sempre, como dissemos, com a colaboração dos homens e ser-ve-se o mais das vezes dos pobres, dos desprendidos, e dos corações generosos para realizar as Suas obras. Foi o que sucedeu com esta Casa. Ela foi edificada sem qualquer tipo de apoio de instituições estatais ou oficiais, e é fruto, em primeiro lugar, da partilha das Irmãs Franciscanas da Divina Providência que alie-naram seus bens para adquirir o terreno em que viria nascer e crescer o actual complexo. Mas as mesmas Irmãs estavam longe de poder suportar as despesas previstas para tal obra. Esta é, por isso, também fruto da partilha de muitos benfeitores que generosamente

«Construída pelo povo, esta Casa tem de ser do povo e para o povo», gostava de recordar o Frei Adelino. Ela é obra da gratuidade do povo que constitui a Igreja de Cristo e, portanto, é também uma obra eclesial

9 FREI ADELINO PEREIRA, O Bom Samaritano 22 (Dezembro 1985) 3.

construção da casa do Bom samaritano

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foram respondendo aos apelos que as Irmãs, sempre acompanhadas de Frei Adelino, foram divulgando por paróquias e igrejas de Leiria e de Portugal. «Construída pelo povo, esta Casa tem de ser do povo e para o povo», gostava de recordar o Frei Adelino10. Ela é obra da gratuidade do povo que constitui a Igre-ja de Cristo e, portanto, é também uma obra eclesial.Narram os biógrafos que São Francisco de Assis, após a sua conversão e querendo responder ao man-dato do Senhor: Vai e repara a minha casa!, se pôs a juntar pedras, prometendo a quem encontrava pelo caminho: «quem me der uma pedra receberá uma re-compensa, quem me der duas, receberá duas recom-pensas…»11. Talvez inspirados pelo Poverello de Assis, o mesmo decidiram fazer as Irmãs juntamen-te com seu zeloso Assistente, Frei Adelino Pereira. Este confessa, no seu Diário, que, «quando Deus lhe inspirou a ideia da Casa do Bom Samaritano foi uma colecta feita entre o povo que, em primeiro lugar, lhe ocorreu. Contava, antes de mais nada, com o

povo. Tinha razão. Melhor: estava a ser fiel ao Espí-rito Santo que não faz nada na sua Igreja fora do seu Povo Santo» (Diário).Durante 4 anos, as Irmãs e Frei Adelino percorreram paróquias e igrejas, mendigando “pedras”, como Francisco, para a Casa que queria ser a parábola do Bom Samaritano ao vivo. Foi uma iniciativa rara, se não única na sua forma e finalidade, já que o objec-tivo não era apenas o da colecta, mas também o de sensibilizar para a situação dos deficientes e a neces-sidade de lhes dar uma resposta qualificada dentro do espírito evangélico e em fidelidade ao carisma da Irmã Fundadora. Ciente de que «muitos serão salvos pela caridade, pelo amor do próximo e pela partilha dos bens», Frei Adelino apregoou a mensagem e o projecto com entusiasmo contagiante, acabando es-tas acções muitas vezes sem voz. E a mensagem foi passando e as respostas foram também chegando. O Senhor Bispo de Leria e seus Párocos colaboraram sempre, por verem neste anún-cio uma «obra de Deus, obra de amor e obra da Di-vina Providência» (Diário).Em Janeiro de 1981, Frei Adelino, desejando «apro-veitar todos os meios para levar mais longe a op-ção que Cristo e a Sua Igreja fizeram pelos pobres, os preferidos do Reino de Deus» (Diário), lançou o Jornalinho O Bom Samaritano, que, posteriormente, teve de mudar o nome para Casa Bom Samaritano. O objectivo desta publicação era e continua a ser o de manter uma ligação continuada com os amigos e benfeitores. Mas os seus primeiros números servi-ram sobretudo para apregoar a Obra do Bom Sama-ritano e mobilizar o maior número de gente para a urgência da mesma. Pedra a pedra e graça a graça, os recursos foram apa-recendo: uns davam dinheiro, outros géneros, uns azulejos, outros telhas ou cimento… No dia de São Francisco, 4 de Outubro de 1981, o Se-nhor Bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral, pudesse já benzer a primeira pedra. A Casa do Bom Samaritano nascia assim também sob a inspiração e bênção do Santo que beijou os leprosos e abraçou os pobres em quem viu um sacramento de Cristo. Foi um dia de especial alegria para as Irmãs e Frei Adelino. Este fez questão de carregar a pedra às

10 Cf. O Bom Samaritano 22 (Setembro 1985) 2. 11 Legenda dos Três Companheiros, 21.

Lançamento da 1ª Pedra e Pergaminhoda casa do Bom samaritano

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costas até à Capelinha da Aparições, onde o Senhor Bispo a benzeu. Após esta cerimónia, Frei Adelino voltou a transportar a pedra às costas em direcção à Casa da Divina Providência, com o coração aos pulos de alegria, como ele mesmo testemunha: «tu não andavas, mas voavas como se tivesses roubado alguma coisa. Como que nem acreditavas que tal ti-vesse sido possível» (Diário).Depois da bênção da primeira pedra, veio o dia do seu lançamento, no dia 11 de Outubro de 1981. A constru-ção arrancou logo no sítio das Mouriscas, no terreno que foi comprado pelas Irmãs, com o dinheiro prove-niente da venda de um terreno, sito por detrás do anti-go Exército Azul, o qual fora comprado com dinheiro, juntando tostão a tostão, pelo sacrifício das Irmãs.As obras avançaram com uma surpreendente cele-ridade, sobretudo tendo em conta a incerteza dos meios disponíveis. Mais uma vez parecia realizar-se

o milagre do amor, e foi, de facto, assim que Frei Adelino interpretou os acontecimentos: «Estás deveras maravilhado e mesmo espantado. Não sabes como foi possível construir a casa tão depressa. Pensas que foi milagre e foi mesmo: mi-lagre do amor e milagre da graça. Deus nunca falha quando somos postos à prova. As obras de Deus vão sempre avante mais depressa e mais seguras do que alguém possa imaginar» (Diário). Dois anos passados, o edifício estava pronto para re-ceber as primeiras Meninas, o que veio a suceder no dia 1 de Novembro de 1983. A partir desta data, as Meninas que já moravam no edifício da Moita Re-donda e no velho pavilhão da Casa da Divina Provi-dência começaram a residir na Casa do Bom Sama-ritano. Contudo, só no dia 15 de Setembro do ano seguinte teve lugar a inauguração oficial e solene. Foi um dia memorável para as Irmãs da Congrega-

Fase da construção da casa do Bom samaritano Inauguração da casa do Bom samaritano

são Francisco de Assis

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ção bem como para as Meninas que habitavam a nova Casa. A elas se associaram os representantes da Igreja, da Ordem, da Família Franciscana e auto-ridades civis locais e nacionais. À Eucaristia presidiu o Senhor Bispo de Leiria-Fá-tima, Dom Alberto Cosme do Amaral e concelebra-ram vários sacerdotes do clero da diocese e da Ordem Franciscana especialmente representada na pessoa do seu Ministro Provincial, Frei António Montes Morei-ra. Frei Adelino Pereira, membro da mesma família franciscana foi, nessa Eucaristia e em todos os demais momentos celebrativos, o porta-voz do sentimento de alegria e acção de graças que enchia os corações das Irmãs Franciscanas da Divina Providência que, na pessoa da Irmã Maria da Luz Freire Henriques, pude-ram também expressar esses mesmos sentimentos.Depois da eucaristia, o Senhor Bispo abençoou a Casa e tomou parte no convívio que se lhe seguiu.

O mais difícil parecia alcançado. Mas não, pois o mais árduo não é a obra material. Agora havia que realizar o mais importante, isto é, a obra espiritual. Tal objectivo, requeria um programa exigente que Frei Adelino traduz nestas palavras: «Temos de nos empregar agora a fundo na constru-ção da própria Fraternidade Franciscana da Divina Providência… insistir muito na vivência e fidelidade aos carismas, na promoção vocacional e na alegria de serviço dos mais pobres… mostrar que somos fe-lizes neste serviço» (Diário).Assim nasceu esta obra com a ajuda dos pobres e dos corações ricos. Ao longo destes 25 anos foi-se desen-volvendo sempre fiel ao espírito das suas origens e continua a contar com a prestimosa colaboração dos seus dedicados Benfeitores para prosseguir, no futuro, a sua obra de bem-fazer a quem mais necessita. Por outro lado, desde a sua génese, a Casa do Bom

Bispo Dom Alberto na Bênção da 1ª PedraInauguração da casa do Bom samaritano

Frei Adelino junto do povo timorense

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Samaritano quis afirmar-se dentro das regras e exi-gências impostas às instituições congéneres. Neste sentido, não podemos ignorar que, sobretudo nos últimos anos, ela se tem mantido graças também à colaboração imprescindível dos organismos oficiais. Aliás, a Divina Providência também se serve das pessoas que trabalham nestes serviços públicos para bem ajudar os mais carenciados. Embora cientes de que o que é dado, conforme a lei, às utentes desta Casa lhes é eticamente devido, as Irmãs que orien-tam esta Obra não se esquecem de manifestar a sua gratidão a todos os que têm servido a Casa do Bom Samaritano através dessas instituições.

Irmã Ana e Frei Adelino,dois Bons SamaritanosPelo que até aqui ficou dito, já se foi percebendo o importante papel do Frei Adelino Pereira na concep-

ção e realização desta Obra que, de qualquer modo, o próprio considerou ser sempre “obra da Divina Providência” e não sua ou de outrem. Enquanto tal, a Casa do Bom Samaritano nunca teria porém vinga-do se não assentasse seus alicerces na obra e carisma inspirado por Deus a uma mulher providencial que, muitas vezes exortou suas Irmãs nestes ou em ter-mos semelhantes: «Não temas, se é de Deus a Obra, Ele a levará a bom termo».O clamor dos pobres mais pobres levou a Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim a deixar tudo, inclusive a sua anterior Congregação Religiosa que muito esti-mava, para se dedicar totalmente a servir a Cristo nos mais necessitados. Dispensada legal e fraternamente do vínculo com seu anterior instituto, dirigiu-se, em 15 de Setembro de 1942, para Fátima onde viria a estabelecer o berço da Obra da Divina Providência para acolher e servir os mais pobres dos pobres que não tinham ninguém. O sinal manifesto da intervenção da Providência Di-vina foi dado, desde logo, no modo com que se lhe deparou a primeira casa, já nesse dia à noite. Quando as esperanças pareciam esgotadas, eis que um bon-doso homem, conhecedor dos intuitos da boa Irmã, a conduziu à Moita Redonda para lhe doar a casa que servira até ali de pensão – a primeira pensão de Fátima que tinha o nome de “Sagrada Família”. O próprio nome parecia anunciar providencialmente o seu novo destino: ser um tecto familiar para aqueles que não podem pagar um tecto nem dispor de uma família que os acolha. Uma vez dotada de casa de forma tão providencial, Ana de Jesus correu logo a solicitar ao bispo diocesa-no a autorização para a Obra da Divina Providência, tendo obtido uma benévola resposta da parte do vene-rando prelado, Dom José Alves Correia da Silva.Assim nasceu a Obra da Divina Providência: do nada e sobre o alicerce de uma ilimitada confian-ça no Senhor. Efectivamente, Ana de Jesus deitou mãos à obra, confiante de que Deus construiria tudo sobre o seu nada: «Se o Senhor quiser colocar-me onde tenho de trabalhar pela sua glória, hei-de ter por base o meu nada».Ciente da sua pequenez mas agigantada pela sua imensa fé na Divina Providência, Ana de Jesus não descansou mais nem parou um instante, para respon-der o melhor que podia ao imperativo da caridade. Na casa da Cova da Iria chega a acolher 120 meni-nas órfãs e abandonadas, filhas da miséria material

Frei Adelino no dia da Bênção do Bustoda Irmã Fundadora

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ou moral. Para responder a tanta necessidade, Ana de Jesus conta com o trabalho dos seus braços e o es-forço de suas Irmãs, mas conta sobretudo que Deus fará o mais importante. Esta protecção da Divina Providência era algo que se apalpava e experimen-tava no seu dia-a-dia. Muitas vezes, quando parecia faltar o essencial para as suas meninas, socorria-se da oração e não tardava muito a entrar pela porta dentro aquilo de que mais necessitavam. Em 1956, Ana de Jesus inaugurou, na Cova de Iria, uma nova casa a que deu o nome de Abrigo da Di-vina Providência. De facto, também esta, muito bem situada, ali logo à beirinha de Nossa Senhora de Fátima, fora manifestamente obra da Divina Provi-dência: depois de comprado o terreno com dinheiro mendigado por todo o país e não dispondo de tostão para iniciar a construção, Ana teve uma inspiração

providencial: inscrever-se na Cooperativa do Porto chamada “O problema da Habitação”. E eis que logo o sorteio a presenteou com a construção da desejada casa. Nesta instalou um pavilhão para as suas meni-nas e os espaços para sede da Obra.Frei Adelino conheceu ainda a Irmã Ana de Jesus, tendo-se correspondido e encontrado com ela mor-mente no último ano da sua vida terrena. Na Irmã Ana Frei Adelino viu realmente uma mulher de Deus movida pelo Espírito e pelo amor ao próximo. Ficou desde logo tocado pela força interior desta pequena mulher de uma fé e caridade a toda a prova. Por esta altura, no ano de 1975, Frei Adelino visitou o Abrigo da Divina Providência, na Cova da Iria e foi-se deixando cativar e envolver pela mesma paixão que levava Ana de Jesus e mais uma dúzia de Irmãs a prosseguir na sua missão evangélica. O momento era de grande incerteza. O pequeno grupo de Irmãs sentia-se desamparado perante um futuro incerto: sem aprovação oficial nem orientação espiritual e eclesial segura. Frei Adelino foi sensível a esta situação, mas deixou-se conquistar sobretudo pelo amor que as Ir-mãs dedicavam às cerca de 50 deficientes físicas e mentais que acolhiam na Casa da Moita e no Abrigo da Divina Providência da Cova da Iria. Desde então, e ao longo de cerca de 30 anos, Frei Adelino ficou, com o devido consentimento dos seus Superiores, vinculado à Congregação e suas Irmãs de uma forma inseparável até ao último momento da sua vida. Durante estes longos e fecundos anos, boa parte da sua dedicação andou à volta da Casa do Bom Samaritano que ele tinha como “menina dos seus olhos”. Desde a primeira hora ajudou a conceber este projecto reno-vador, animou as Irmãs a seguirem em frente com a obra e acompanhou-as de porta em porta, de paróquia em paróquia, pela diocese de Leiria e outras partes do país, dando a conhecer a espiritualidade e obra da Irmã Fundadora e mobilizando os cristãos para a par-ticipação no sonho que a Divina Providência, com a ajuda de todos, acabaria por tornar realidade. Numa das primeiras visitas que fez à Casa da Moita Redonda, em 1978, ao ver as pobres condições em que as Irmãs e meninas deficientes viviam, desaba-fou: «Irmãs, vós estais aqui a fazer uma caridade desumana! É urgente construir uma casa nova». Na verdade, Frei Adelino depressa percebeu que não bastava continuar a remediar ou aliviar a miséria; era necessário oferecer uma vida condigna aos pobres

A casa da Moita Redonda para o acolhimento das crianças e velhinhos

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que viviam sob a responsabilidade das Irmãs e um futuro mais orientado a estas Irmãs que desejavam prosseguir no serviço aos irmãos e a Deus.E como as Irmãs confessaram «não ter dinheiro para construir uma casa condigna», Frei Adelino respon-deu sem hesitar: «Irmãs, dinheiro há muito. O que importa é fazer e ir por ele!»12. E foi isso que ele fez, como já referimos: juntamente com as Irmãs, “foi por ele” e «o “milagre” deu-se com a simplicidade do sol que nasce ou de uma flor que abre ao sol ou dum regato que do monte vem e corre pela encosta abaixo» (Fr. Adelino, Diário).A Casa do Bom Samaritano é mais um “milagre” que o amor opera pelas mãos de corações grandes como o da Ir. Ana de Jesus Faria de Amorim, da qual Frei Adelino acabaria por beber a espiritualidade e uma renovada paixão pelos pobres. Da parte das Irmãs da Congregação e Meninas da Casa do Bom Samaritano que tanto amava Frei Ade-lino recebeu as maiores alegrias da sua vida de pas-

tor e irmão. E só assim se compreende que a Divi-na Providência tenha proporcionado tudo para que, excepcionalmente, mas com grato beneplácito dos seus irmãos Franciscanos, o Frei Adelino tenha vi-vido os últimos meses de enfermidade na Casa que ele mais amava: a Casa do Bom Samaritano. Nesta acabou por falecer, junto das suas Meninas e Irmãs, com uma paz e alegria que nem as dores da agonia conseguiram perturbar.Como justo reconhecimento da sua acção em prol da consolidação do carisma e acção da Congrega-ção, as Irmãs da Fraternidade Franciscana da Divina Providência apressaram-se, logo após a sua morte, a assumi-lo solenemente como seu Co-fundador. Se tal título, que o próprio sempre quis enjeitar, lhe foi justamente reconhecido, também se pode considerar Frei Adelino como o Co-fundador da Casa do Bom Samaritano, já que esta terá sempre como verdadeiro Fundador e Fundamento a Providência Divina que inspirou o surgimento do carisma e Congregação da Divina Providência.

Uma Casa, uma família alargadae uma escola de vidaHá quem diga que uma casa começa por ser um «tempo petrificado»13. Mas as pedras da Casa do Bom Samaritano contam-nos, ao longo do tempo de um quarto de século, uma história conduzida por Deus em muitas histórias de vidas e famílias, em que Deus foi escrevendo direito nas linhas tortas dos er-ros humanos. No coração desta casa-família está, de facto, o Pai, nossa Divina Providência, à volta do qual decorre o quotidiano desta família alargada e feliz, não obstan-te as tantas lágrimas a enxugar e feridas a curar.A Obra do Bom Samaritano surgiu e desenvolveu- -se, como vimos, sempre sob a mão protectora deste Bom Pai que cuida de seus filhos melhor do que das aves do céu ou dos lírios do campo e assim prosse-gue no dia-a-dia de todos os que integram esta Casa e esta Família providencialista que integra utentes, Irmãs, funcionários, benfeitores, voluntários ou hós-pedes e visitantes. Todos os que vivem e trabalham no Bom Samaritano são convidados a beber e trans-mitir os mesmos valores evangélicos do acolhimen-to, serviço e espírito de família a quantos vivem ou

12 O Bom Samaritano 22 (Setembro 1985) 1.13 DANIEL ROCHE, História das coisas banais, Lisboa 1997, 98.

Irmãs Franciscanas da Divina Providência com Frei Adelino

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convivem com os seus verdadeiros proprietários: aqueles que nela encontram um lar e uma família. Chama-se “casa” precisamente porque quer ser uma família mais ampla, mas verdadeira, uma família alargada em que a razão de ser fundamental é a de garantir a boa hospitalidade aos que não têm outra casa ou família, conforme a vontade da Irmã Ana de Jesus. Que no futuro, dizia ela, nunca se «recuse a obrigação de hospitalidade aos pobres mais aban-donados, mesmo que a custo de grandes sacrifícios» (Carta de 28/10/1943). Foi este o programa de vida e modelo de acção que a Irmã Fundadora deixou às suas seguidoras e foi este o espírito com que Frei Adelino e Irmãs Francisca-nas, discípulas de tão exemplares Fundadores, pro-curaram e procuram manter vivos nesta obra querida pela Providência Divina.Um tal programa de vida tem-se revelado, ao longo destes anos, de grande actualidade e valor formativo, já que esta Casa tem sido uma verdadeira escola de

vida para todos os que cá trabalham ou por cá pas-sam. E são muitos os que por cá têm passado ao longo destes 25 anos: jovens que querem fazer uma expe-riência de serviço ou voluntariado; grupos que vêm para reflectir e amadurecer a sua fé; rapazes e rapari-gas que se questionam vocacionalmente; candidatos e formandos de diferentes ordens religiosas que aqui fazem experiências de inserção e discernimento vo-cacional; casais e leigos que aqui encontram uma paz fecunda e uma espiritualidade prática. Todos vão be-bendo do mesmo Espírito, mas sobretudo aprendem uma forma bem diferente de olhar o próximo. Nesta e na maioria das demais matérias, as Meninas do Bom Samaritano são as grandes mestras sempre prontas a dar-nos lições práticas de vida e de humanidade. É com elas que todos poderemos continuar a aprender nesta escola de vida aberta a todo o tipo de candidatos a fazer o mesmo que fez o Bom Samaritano. Elas são, realmente, a razão fundamental deste mais de meio século de esforços e trabalhos; mas são elas também que melhor nos mostram que o Evangelho ainda con-tinua em vigor e bem actual.Querendo ser fiel às origens e a estes 25 anos de vida, a Casa do Bom Samaritano, muito para além do ser-viço social e assistencial que presta, continua rá, com a ajuda de Deus e de todos os homens e mulheres de boa vontade, a perseguir a sua missão profética original de ser uma escola de humanismo e de espiri-tualidade prática, segundo o modelo da parábola do Bom Samaritano.

No coração desta casa-família está,de facto, o Pai, nossa DivinaProvidência, à volta do qual decorre o quotidiano desta família alargadae feliz, não obstante as tantas lágrimasa enxugar e feridas a curar

Jovens em voluntariado com as utentes

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REGIsTos FoToGRáFIcosDo DIA 15 DE sETEMBRo DE 1984

InAUGURAçãoDA cAsA Do BoM sAMARITAno

Drª Leonor BelezaAudiência

Irmãs, meninas e Frei AdelinoLanche de confraternização

EucaristiaEucaristia

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Irmã helena com uma criança timorense

o BoM sAMARITAno coMo cAsA DE FoRMAção

alar da Casa do Bom Samaritano é também fazer memória da mi-nha entrada na Con-

gregação porque foi no ano em que esta Casa abriu que eu entrei na Congregação. Cheguei a 13 de Dezembro, mas esperei até ao dia 25 para visitar esta Casa e as meninas de que as Irmãs muito falavam. Esse Natal foi muito di-ferente dos que já havia vivido na Madeira junto dos meus familia-res! Recordo muito bem este dia, e a nossa chegada a esta Casa. Lembro algumas meninas que encontrávamos nos corredores, os seus sorrisos, os seus olhares, as suas palavras, a sua alegria por saberem que vínhamos para ser-mos Irmãs… O seu acolhimento e alegria foi muito importante para superar alguma saudade e sobretudo a vivência do primeiro Natal longe dos meus pais e dos meus irmãos. Aquele foi para mim o Natal mais marcante de toda a minha vida. Iniciei a minha caminhada de formação e do programa faziam parte também algumas activida-des com as meninas, como modo de nos iniciarmos de forma prá-tica no carisma da Congregação. Trabalhar e estar junto delas era

o que mais me fascinava na vida e na missão da Congregação. No entanto, tínhamos um programa de formação com estudo, aulas, oração, reflexão, e precisávamos de preparar-nos para virmos a ser Irmãs. Com as meninas tínhamos apenas algumas actividades, so-

bretudo iniciação de catequese, escrita e algumas actividades lú-dicas Conforme fomos avançando na formação, as Irmãs iam-nos envolvendo cada vez mais noutras tarefas junto das utentes. Os dias que íamos com elas eram espe-ciais para nós, candidatas. Além

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Jovens em experiência na casa do Bom samaritano

o BoM sAMARITAno coMo cAsA DE FoRMAção

Irmã Maria HelenaTeixeira Ferreira

Responsável pela formaçãoinicial da Fraternidade Franciscana da Divina

Providência

de nos fazer sair da rotina, expe-rimentávamos a alegria de nos darmos aos outros, de sentirmos que estávamos a viver o carisma da Congregação. Admirávamos as Irmãs que, junto delas, como boas Samaritanas as serviam, aju-davam e cuidavam. Com estas meninas aprendíamos a ser simples, a ser generosas, ale-gres, a dar valor às pequenas coisas, a estar atentas aos outros, a estar disponíveis, a sermos autênticas, acolhedoras e sobretudo a darmos muito valor ao dom da vida. Hoje, como formadora, sinto esta Casa como um complemento es-sencial da formação das nossas candidatas. Na Casa do Bom Sa-maritano as nossas formandas jo-vens podem servir os mais pobres, marca característica do nosso carisma franciscano-providencia-lista, e, ao mesmo tempo, prepa-rarem-se para a missão a desem-penhar no futuro. Por outro lado, as utentes, pela sua alegria e acolhimento, são também um estímulo na caminhada das nos-sas futuras Irmãs. Com a nova reali-dade de candidatas vindas de Timor Leste, a Casa do Bom Samaritano tem sido uma escola onde essas jo-vens vão aprendendo a dar e receber tanto com as meninas como com os

funcionários da Instituição e outros jovens que passam pela Casa em trabalho de voluntariado. Cientes de que os jovens de hoje se deixam mover e convencer sobretudo por experiências radi-cais, a Casa do Bom Samaritano é um desses espaços de formação

prática que muito pode ajudar ao discernimento e amadurecimen-to vocacional dos jovens que nos procuram ou pretendem seguir o nosso carisma. Para todos esses, o Bom Samaritano permanecerá uma porta aberta a que todos são bem-vindos.

Jovens em experiência vocacional na casa do Bom samaritano

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á 25 anos atrás foi inau-gurada a Casa do Bom Samaritano. Uma epo-peia de amor, de gene-

rosidade e de serviço. Chegava-se ao termo de uma fase e iniciava-se outra, de continuidade da missão de serviço e libertação dos mais pobres, que vinha a desembocar numa dimensão missionária.Pode parecer demasiado arrojado este título: “a Casa do Bom Sama-ritano e a dimensão missionária”. Mas está de acordo com a expe- riência vivida pelas Irmãs da Frater-nidade Franciscana da Divina Pro- vidência missionárias em Timor.Não vamos aqui aprofundar todos os aspectos da dimensão missio-nária da acção da Casa do Bom Samaritano. Sabemos que tudo o que ali se vive e se faz tem uma di-

A cAsA Do BoM sAMARITAnoE A DIMEnsão MIssIonáRIA

mensão de serviço e libertação, de contemplação e adoração, de evan- gelização e missionação. Pois, es-sas três dimensões do carisma da nossa Congregação são realmente inseparáveis. Pretendemos sim, partilhar, a par- tir da nossa experiência vivida e sentida, mostrando quanto a Casa do Bom Samaritano foi impor-tante na concretização e apoio da dimensão missionária da nossa Congregação.Em primeiro lugar, todas as nossas Irmãs foram passando pela Casa do Bom Samaritano, a qual se tornou uma universidade de amor, uma escola de serviço, e um campo de estágio para a concretização da di-mensão missionária da nossa Fra-ternidade. De modo particular, as Ir-mãs missionárias que se encontram

em Timor, viveram e trabalharam nesta Casa, e daqui partiram para a missão. Ao partir, levavam con-sigo uma riqueza muito grande de experiência espiritual, de trabalho e serviço, vivida e sentida nesta Casa, durante largos anos:Uma experiência que nos ensinou que as obras de Deus nas-cem do nada;Uma experiência que nos ensinou a confiar na Divina Provi-dência, que nunca falta;Uma experiência que nos ensinou a acolher e ajudar à ma-neira do Bom Samaritano;Uma experiência que nos ensinou que os pobres são os nos-sos evangelizadores;Uma experiência que nos ensinou que a primeira evangeli-zação é a do exemplo;

celebração do Envio das Irmãs Franciscanas da Divina Providência para a Missão em Timor

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A cAsA Do BoM sAMARITAnoE A DIMEnsão MIssIonáRIA As Imãs missionárias em Timor

Uma experiência que nos ensinou que todos somos iguais e diferentes;Uma experiência que nos ensi-nou a olhar os outros como pessoas;Uma experiência que nos ensinou a trabalhar com os leigos;Uma experiência que nos ensinou os valores da simplicida-de e da transparência; Uma experiência que nos ensinou que mais do que fazer uma casa é preciso saber orientá-la, in-cutir e viver o espírito de família; Uma experiência que nos ensinou os valores da partilha; Uma experiência que nos ensinou a amarmo-nos como ir-mãos, filhos do mesmo Pai;Uma experiência que nos ensinou que o verdadeiro Bom Samaritano é Jesus.

E, tudo isto, aprendemos e levá-mos da Casa do Bom Samaritano.Partimos para a missão em Timor com este grande capital que foi, sem dúvida, a maior riqueza que levámos. Daí sentirmos que esta Casa foi realmente a nossa me-lhor escola de preparação para a missão, tanto a nível espiritual, como na estruturação de uma ac-ção social organizada em favor dos mais necessitados.Mas a relevância missionária da Casa do Bom Samaritano não fica por aqui. De facto, no nos-so trabalho pastoral e social em terras de missão, continuamos a sentir o apoio das Irmãs que tra-balham na nossa retaguarda com o mesmo espírito evangélico; mas contamos e sentimos mui-to especialmente a oração das

nossas meninas, que diariamen-te rezam por nós e pela missão.Para terminar, deixamos a nossa acção de graças à Divina Provi-dência, pela Casa do Bom Sa-maritano, e a nossa profunda gratidão ao nosso muito querido co-fundador e fundador da Casa do Bom Samaritano, Frei Ade-lino Pereira, pelo seu testemu-nho e exemplo de bom samari-tano, que jamais esqueceremos.Por tudo isto e pelo muito mais que as nossas palavras não sa-bem dizer, as Irmãs Franciscanas da Divina Providência missioná-rias em Timor associam-se a este momento jubiloso de acção de graças à Divina Providência pe-las maravilhas que tem operado na Casa do Bom Samaritano que será sempre a Sua Casa.

Irmã Luz dando a comunhão em TimorIrmã natália junto das crianças

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uma das passagens pela comunidade de Fátima, quando era provincial, pediram-me para ir cele-

brar ao Bom Samaritano. Encontrei a porta entreaberta. Entrei e fui des-cobrindo intuitivamente a capela e a sacristia. Revesti-me e ao cântico inicial entrei na capela. Perante o rosto desconhecido do sacerdote, a devoção cedeu lugar à interro-gação. A curiosidade das meninas era palpável. Logo que terminei a saudação inicial da missa e fiz uma pequena pausa, imediatamente surgiu uma porta-voz da ansieda-de de todas: “Como te chamas?” Fiz uma tímida apresentação que a Irmã coordenadora completou dizendo que eu era o Superior dos padres do Verbo Divino que vi-nham habitualmente ali celebrar a Eucaristia. Perante tal apresenta-ção, olharam-me de alto a baixo com olhar surpreso. Compreen-dendo a sua admiração, perguntei- -lhes: “Não parece, pois não?” A resposta foi unânime: “Não!” Sorri e imediatamente me senti em casa. Estava perante pessoas crescidas

Os Sacerdotes Missionários do Verbo Divino, vizinhos próximos da nossa Casa tanto no que se refere ao caminho a percorrer como no bem que há a fazer, têm sido, ao longo destes anos, os nossos capelães diários, possibilitando-nos esse tesouro incomensurável da Eucaristia diária na Casa do Bom Samaritano. Em reconhecimento por esta sua colaboração amiga, quisemos ter também aqui o testemunho do Superior da Comunidade, Padre José Augusto Duarte Leitão

UMA cAPELAnIA EVAnGELIzADoRA

com olhar de criança, incapazes de representar um papel aprendido quando no palco da vida a verdade lhes parecia outra.Contemplando este mundo à par-te, a partir do mundo pragmático e eficiente em que vivemos, interro-guei-me se valia a pena um grupo de Irmãs, consagradas à Divina Providência, gastarem a sua vida com pessoas que a sociedade con-sidera inúteis e um fardo? Confes-so que a primeira reacção foi de estranheza e de dúvida. Com o andar do tempo e conhe-cendo melhor as Irmãs e as pessoas que habitam esta Casa diferente, a minha estranheza foi sendo vencida

pela admiração e estima. Aprendi a olhar para além das limitações e a surpreender-me com a pureza de coração na espontaneidade e sim-plicidade da verdade duma criança com corpo de mulher. Neste oásis de humanidade aprendi a ver para além das aparências e a valorizar a pessoa humana mais pelo que é do que pelo que faz. Esta capelania faz parte do projecto comunitário dos missionários do Verbo Divino em Fátima. O que começou por ser um compromisso esporádico foi sendo assumido por todos os que têm passado pela comunidade como um projecto natural e queri-do. Não é visto como um serviço

capela da casa do Bom samaritano

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UMA cAPELAnIA EVAnGELIzADoRA

Padre José AugustoDuarte Leitão

Missionário do Verbo Divino

ou um dever, mas quase como uma extensão da nossa comunidade. Participando desta forma na mis-são das Irmãs, sentimo-nos tam-bém nós em missão.As meninas brindam-nos com a amizade e o interesse por todos os sacerdotes que por ali passaram. A sua memória é extraordinária quando o reconhecimento as pre-enche. Perguntam por este e aque-le padre. Mandam cumprimentos. Dizem que têm saudades e rezam por eles. Num mundo de indife-rença e de esquecimento, todo este carinho e interesse é evange-lizador e compensador. À capela vêm apenas as que que-rem e têm condições para isso. Muitas outras ficam nas suas salas e ouvimos, de vez em quando, os seus gritos incontrolados de quem não sabe falar de outra forma. No entanto, todas na Casa têm um nome e fazem parte da família do Bom Samaritano. A comunidade de Irmãs, portugue-sas e timorenses, convive com todas estas situações e vêem neste serviço uma missão de amor ao próximo.

Tal como o Bom Samaritano, aco-lhem as rejeitadas da sociedade, cuidam delas, curam as suas feridas e aceitam-nas como irmãs de cami-nhada. Uma família diferente sim-plesmente! Um desafio profético ao ideal de perfeição, beleza, eficácia e sabedoria dos nossos tempos.

Nas festas da comunidade tive opor-tunidade de perceber que há muita gente que aprecia esta obra e dela é benfeitor e amigo. Nota-se a Divina Providência em acção. Parabéns às Irmãs por esta obra que nos desperta tantos sentimentos de gratidão e humanidade.

D. Lucinda: “senhora Maria das Flores”,utente da casa do Bom samaritano

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UM PAsToR conFoRME o DEsEJo DE JEsUs

Cientes da profunda ligação de Frei Adelino à Casa do Bom Samaritano e dos laços profundos que ligam Frei Adelino assim como a Casa do Bom Samaritano à Família Franciscana, achámos oportuno ouvir também outros membros dessa grande Família.Ao celebrarmos as bodas de prata da Casa do Bom Samaritano, neste Ano do Sacerdócio, Frei Severino Centomo (O.F.M.) evidencia a vocação sacerdotal de Frei Adelino como fonte donde brota o seu amor profundo ao próximo e a sua obra de “Bom Samaritano”.

a altura da elaboração do presente artigo, acabara de ler o texto do profeta Jeremias (23, 1-6), em que

o Senhor promete ao seu povo pas-tores que sabem verdadeiramente apascentar as suas ovelhas, e logo pensei: eis o que foi o Frei Adelino para nós todos, um pastor que soube corresponder ao desejo de Jesus.No Ano Sacerdotal que estamos a

celebrar, parece-me que a missão que Frei Adelino recebeu no dia da sua ordenação presbiteral foi a faceta que mais brilhou na sua per-sonalidade e deu coesão e pujança a todas as outras. Na verdade, como é possível não recordar o “fogo” que ardia no seu coração – e que se reflectia nos seus olhos e na sua voz – quando celebrava a Eucaris-tia? Como é possível não recordar

a paciente e carinhosa afabilidade que dispensava quando oferecia a misericórdia e o perdão do Senhor? Como é possível não recordar a solícita disponibilidade quando al-guém lhe pedia o óleo da caridade, do alívio e da consolação?A figura que a Igreja aponta como exemplo e modelo para os sacerdo-tes é São João Maria Vianney que, como é sabido, pertenceu à Ordem

Frei Adelino, Frei severino e Padre Marques em celebração da Eucaristia, no primeiro centenárioda Irmã Fundadora, em coimbra

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UM PAsToR conFoRME o DEsEJo DE JEsUs

Frei Severino Centomo Ordem Frades Menores

Conventuais

Terceira de São Francisco. O espí-rito franciscano de simplicidade, de pobreza e de confiança total na Providência, que caracterizou o apostolado do Santo Cura de Ars, podemos também descobri-lo no

Frei Adelino, que viveu plenamen-te o espírito de Francisco de Assis. Uma das fases mais significativas da vida de Frei Adelino foi o seu serviço como Assistente local e nacional da Ordem Franciscana

Secular. Foi um período particu-larmente fecundo e condizente com a sua personalidade, pois tratou-se de comunicar e partilhar um tesouro que ele tinha em má-xima consideração: o tesouro do Evangelho, de Cristo vivo, pelo qual tinha deixado tudo.A vocação franciscana de Frei Adelino manifestava-se não ape-nas nas palavras ou na escrita, mas toda a sua pessoa era um re-flexo daquela “aura” que envolvia Francisco e caracterizou todos os seus filhos ao longo de oito sécu-los. Consciente como estava do tesouro da vocação franciscana, recebido de graça, procurava por todos os meios partilhá-lo com os outros, conforme o mandamento de Jesus: “Recebestes de graça, dai gratuitamente”.Assim, ele não ficava sossegado enquanto as forças lho permitiram. Um pormenor da sua vida mostra como o zelo pela causa do Senhor era tão vivo nele. Como é sabido, a nossa época teve uma profunda transformação a partir das ciên-cias informáticas. Ora bem, dian-te desta revolução, Frei Adelino não se esquivou, refugiando-se na

Uma das fases mais significativas da vidade Frei Adelino foi o seu serviço como Assistente locale nacional da Ordem Franciscana Secular

Frei Adelino Pereira

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aprendizagem passada, mas com humildade e constância procurou aprender as novas tecnologias para poder ser mais útil e fazer chegar o tesouro do evangelho a um maior número de irmãos.Há um outro aspecto do seu servi-ço à Ordem Franciscana Secular que merece toda a consideração: a visita constante aos irmãos e às Fra-ternidades, para os confirmar na fé e para os fazer progredir na reno-vação. Depois da promulgação da Regra (1978) e das Constituições (2001), a Ordem Franciscana Secu-lar (O.F.S.) entrou num grande es-forço de renovação, para se adequar às orientações do Concílio Vatica-no II e para responder aos sinais dos tempos. É óbvio que este esforço se traduz em cursos de reciclagem, de formação e de encontros vários; po-rém, o aspecto mais importante – e que Frei Adelino entendeu muito

bem – foi ir ao encontro dos Irmãos e das Fraternidades para estimular, partilhar, animar, endireitar cami-nhos e aplanar veredas.O verdadeiro educador não é aque-le que se limita a leccionar do alto de uma cátedra, mas é o que está disposto a “sujar as mãos”, isto é, a carregar os pesos e as mazelas dos irmãos, e abre caminhos de esperança e de unidade.Mas há outro aspecto na personali-dade de Frei Adelino que é impossí-vel de esquecer, porque encheu a sua vida de vigor e o manteve na “perfei-ta alegria”: a confiança absoluta na Providência. Frei Adelino era, sem dúvida, um verdadeiro franciscano, isto é, uma pessoa simples, singela e desprendida de tudo; todavia – e, se calhar, por isso mesmo – passavam- -lhe pelas mãos inúmeros sinais de caridade e de partilha das pessoas, que viam nele o “canal” mais indi-

cado para fazer chegar a sua ajuda aos mais desfavorecidos. Esta sua confiança na Providência fez com que a sua vida entrasse em pro-funda sintonia com a Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, Fundadora da Obra da Divina Providência e da Congregação Fraternidade Francis-cana da Divina Providência.Na medida em que uma pessoa afi-na a sua sensibilidade interior com o diapasão da vontade de Deus, é na-tural que descubra os que percorrem o mesmo caminho, e se sinta unido a eles num santo amor. Trata-se do mesmo Amor de Deus que nos une entre nós e nos faz arder do mesmo zelo de caridade que ardia no cora-ção de Jesus.Uma vez estabelecida uma alian-ça de afectos e de intentos com a Congregação das Irmãs Francis-canas da Divina Providência, não é possível separar Frei Adelino da vida e da história desta Congrega-ção. É como se o Senhor se servis-se desta sensibilidade comum para embelezar o jardim do Seu Reino. Neste jardim encontraram lugar privilegiado os mais pobres, atin-gidos pela doença física e mental, que finalmente puderam abrir o seu rosto à alegria e à Acção de Graças.Quem teve a sorte de ver a alegria estampada no rosto das “meni-nas” da Casa do Bom Samaritano quando Frei Adelino se encontra-va com elas, não tem dificuldade em afirmar que aquele lugar era como um pedacinho do paraíso. Talvez, foi por isso mesmo que Frei Adelino concluiu nesta Casa a sua vida terrena. Ele já estava preparado para entrar no Céu, mas o Senhor quis conceder-lhe a gra-ça de passar os seus últimos dias na terra, na sala de espera do pa-raíso: o jardim, recheado de lírios, onde os pobres cantam o louvor ao Altíssimo e Bom Senhor.Irmã celestina com uma utente da casa do Bom samaritano

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NO ANO DOS SACERDOTES LEMBRO BEM FREI ADELINO,PRENDADO DE GRANDES DOTESPARA A VIDA SER UM HINOTRAVEJADA EM LINGOTESDO PURO OURO MAIS FINO.

NA MISSÃO SACERDOTAL,FREI ADELINO PROFETA.NA VIDA ESPIRITUAL,FREI ADELINO POETA.EM TODA A ACÇÃO PASTORAL,FREI ADELINO ASCETA.

SACERDOTE FRANCISCANODE ASSIS, DE TODO O MUNDO,TODO O DIA, TODO O ANO,DESDE O CIMO ATÉ AO FUNDO,SEMPRE BOM SAMARITANO,AMOR SÃO, MUITO FECUNDO.

FOI ANJO CONSELHEIRODA DIVINA PROVIDÊNCIA.FOI DOCENTE, FOI ROMEIRO,FOI UM NÃO À VIOLÊNCIA.COMBATEU SEM SER GUERREIRO,SEMPRE À LUZ DA TRANSCENDÊNCIA.FREI ADELINO NO CÉUREZA POR NÓS AO SENHOR.A GRANDE LIÇÃO QUE DEU,COMO QUEM DÁ UMA FLOR,RESUMIU-SE A DAR DEUSE VIVER O SEU AMOR.

Fátima, 6 de Julho de 2009, MF de São Maria Goretti

+ Serafim Sousa Ferreira SilvaBenemérito de Leiria-Fátima

FREI ADELIno

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Frei Adelino dedicou--se, enquanto Assistente de várias Fraternidades locais e sobretudo como membro da Conferência dos Assistentes da Ordem Franciscana Secular (OFS), de alma e coração à renovação deste ramo

com sentimentos de grati-dão e de alegria que aceito o convite para dar o meu testemunho, em breves

palavras, na revista alusiva ao Centro Social da Divina Providência a pu-blicar no âmbito da comemoração do 25º aniversário da Casa do Bom Sa-maritano. Sinto-me muito honrado.Antes, desejo agradecer profunda-mente a oportunidade que me é dada e na pessoa da Irmã Superiora da Comunidade das Irmãs Francisca-nas da Divina Providência, dirigir---lhe uma sentida saudação francis-cana de Paz e Bem e oferecer-lhes o meu afecto e disponibilidade.Dois mil anos depois da Parábola do Bom Samaritano, tão bem con-tada por São Lucas, esta é ainda o modelo seguido na vossa Casa, na luta do dia-a-dia pela paz, pela jus-tiça, pelo desenvolvimento integral das “nossas meninas”, pela solida-riedade e a fraternidade.Dois importantes eventos, no seio da Fraternidade Franciscana da Divina Providência:Este ano, em Setembro, celebra-mos o 25º aniversário da fundação da Casa do Bom Samaritano, acon-tecimento muito importante não só para as Irmãs, utentes, funcioná-

DUAs cAsAs, UM MEsMo EsPíRITo FRAncIscAno

rios, benfeitores e amigos, como também para toda a grande Família Franciscana Portuguesa.Também em Setembro, (dia 28), celebramos o 4º aniversário do iní-cio da concretização do sonho de dotar o Conselho Nacional da Or-dem Franciscana Secular (OFS) de uma sede própria. Na génese destes dois aconteci-mentos está a mesma figura, uma pessoa impar: o Frei Adelino Pe-reira, OFM. Não foi por acaso que Frei Adelino quis que a Sede da OFS nascesse “à sombra” da Casa do Bom Samaritano.A acção do Irmão Adelino, solida-mente suportada pela vivência da es-piritualidade franciscana e pela forma de vida de São Francisco, a que sou-be adicionar os carismas vividos na “Casa do Bom Samaritano”, torna-ram-no no grande obreiro de duas im-portantes obras franciscanas: a Casa do Bom Samaritano e a Casa de São Francisco (Sede Nacional da OFS).

A pessoa e vida do Frei Adelino Pe-reira é mais uma prova de que o ho-mem que coloca Deus e a Sua Pa-lavra no centro da vida, não apenas se realiza a si próprio, mas torna-se fonte de graça para os demais.

Casa do Bom SamaritanoPor graça do Senhor tive o privilé-gio de acompanhar o Irmão Adeli-no em algumas das suas sábias re-flexões, recordando com especial saudade os que versavam a espi-ritualidade, Deus e Jesus Cristo, o sentido da vida humana.Quanto ao “sentido da vida hu-mana”, impressiona-me, ainda hoje, o amor que o Frei Adelino sempre nutriu pela Casa do Bom Samaritano. O seu carinho es-tendia-se a todos os que habitam esta Casa ou a ela estão ligados: Irmãs, utentes, funcionários, ben-feitores e amigos. Tal carinho, era-lhe em grande parte inspirado pela Irmã Ana de Jesus Amorim,

da Família Franciscana. Como prova e culminar dessa sua dedicação ficará para o futuro a Casa de São Francisco de Assis, Sede Nacional da OFS, que Frei Adelino sonhou, concebeu e ajudou a edificar, com a generosa

colaboração das Irmãs Franciscanas da Divina Providência, que quiseram ter por vizinhos da Casa do Bom Samaritano, a Casa de São Francisco dos irmãos franciscanos leigos.O Irmão José Carlos Gorgulho, que, na

A pessoa e vida do Frei Adelino Pereira é mais umaprova de que o homem que coloca Deus e a Sua Palavrano centro da vida, não apenas se realiza a si próprio,mas torna-se fonte de graça para os demais

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Irmão José CarlosGorgulho Santos

Ordem Franciscana Secular

DUAs cAsAs, UM MEsMo EsPíRITo FRAncIscAno

que guiada pelo Espírito Santo, instituiu as Religiosas da Divina Providência e iniciou a obra so-cial que se tem mantido e cres-cido até aos tempos confusos e difíceis de hoje, graças ao zeloso serviço das actuais irmãs.Sabemos que, na Casa do Bom Sa-maritano, a igualdade do ser huma-no assenta essencialmente na sua dignidade pessoal e nos direitos que dela dimanam. Cada um é dotado de algumas “deficiências”, mas tam-bém de dons e qualidades singulares.Daí poder dizer-se que há dife-

renças que “fazem parte do plano de Deus, para que haja partilha, entreajuda e comunhão”.

Sede Nacional da OFSQuanto ao sonho de dotar o Conse-lho Nacional da Ordem Francisca-na Secular com uma sede própria, confesso que imaginámos, algumas vezes, estar a sonhar acordados…!Costumava dizer o Irmão Adeli-no, lembrando Aristóteles, que “a esperança é o sonho do homem acordado”. Sonha e executa os seus sonhos a pessoa que aprende

a tornar-se sensata, humilde, aten-ta, honrada e digna de confiança.

Obrigado Frei AdelinoSabíamos que algumas das nos-sas fraternidades seculares esta- vam muito instáveis e que o Con-selho Nacional dotado de melho-res meios, nomeadamente de uma Casa de oração, reflexão e forma-ção (Sede Nacional) poderia pres-tar uma boa ajuda para restabelecer o equilíbrio em tais fraternidades.Por outro lado, queríamos tornar mais visível o protagonismo do franciscano secular, relativamen-te a uma tradição de dependência que durou mais de cinco séculos.A Sede Nacional (Casa de São Fran-cisco) previa vir a ser o motor para o surgimento de novas fraternidades, sem dúvida com um “novo entu-siasmo” e uma renovada formação inicial e permanente.Termino, renovando os meus me-recidos parabéns à Casa do Bom Samaritano pelo seu 25º aniversá-rio e pedindo ao Frei Adelino que a partir do Céu continue a amparar as obras que ajudou a criar.Obrigado Irmãs Franciscanas da Divina Providência.

condição de então Ministro Nacional da OFS, privou e trabalhou com Frei Adelinona animação do franciscanismo secular em Portugal, deixa-nos também um eco da sua experiência.

Irmão José carlos e esposa

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Nesta revista celebrativa dos 25 anos da Casa do Bom Samaritano, o Centro Social da Divina Providência, não podia deixar de dar a voz às

pessoas mais importantes da casa: as Meninas residentes que também consideramos os “lírios da nossa casa”.Neste sentido, conversámos

com algumas delas, cuja incapacidade cognitiva e/ou de linguagem não são tão severas, e recolhemos alguns testemunhos, que aqui deixamos.

a Casa do Bom Sama-ritano residem, actual-mente, 90 utentes, que apresentam diagnóstico

de deficiência (mental e/ou moto-ra), a maioria sem qualquer apoio sócio-familiar. Algumas delas, vieram para cá na época da Irmã Fundadora – Irmã Ana de Jesus Amorim, e ainda a recordam, com franca nostalgia e saudade. Recor-

TEsTEMUnho Dos LíRIosDA cAsA Do BoM sAMARITAno

dam também a «Casa da Moita» e a da «Divina Providência», os tempos difíceis, de provação e pri-vação de tudo, pelos quais muitas delas passaram e viveram. Maria tem 53 anos de idade. Che-gou à Casa da Divina Providência há 37 anos. Recorda aquele tempo como sendo “um tempo muito di-fícil”. Helena, está na Casa há 56 anos, ao conversarmos com ela

logo se apressou a dizer “A Casa da Moita era muito velhinha e tí-nhamos de andar a pedir esmola. Uma vez fui pedir com a Irmã Iná-cia”. Quando recorda Irmã Ana de Amorim relata: “ela era muito ve-lhinha, muito boa, nós pedíamos---lhe alguma coisa e ela ia logo ar-ranjar para nos dar”. Sara está cá há 39 anos. Emocio-nada diz: “cheguei no dia 9 de Ou-

casa da Moita Redonda

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TEsTEMUnho Dos LíRIosDA cAsA Do BoM sAMARITAno

Palavras das nossas MeninasCom vista à preservação

da sua identidade,os nomes das pessoas referidas

foram alterados

tubro, nunca me vou esquecer. Fui recebida pela Irmã Alexandrina. Eu andava descalça, a Irmã Inácia teve pena de mim e arranjou-me uns sapatos (…) éramos muito po-

brezinhas”. Acrescenta ainda: “ia pedir esmolas com as Irmãs e as pessoas mandavam-nos trabalhar e eu ficava triste”. Muitas das residentes desse tem-

po referem que a Irmã Fundadora “cantava connosco e agradecia ao Jesus todas as esmolas que rece-bia”. Rita chegou à Divina Provi-dência com 16 anos, foi recebida

casa da Divina Providência – Fátima

Utente da casa do Bom samaritano, em passeio

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pela Irmã Ana de Amorim, e re-fere que “ela era uma santa, era muito boa. Quando me recebeu disse-me que eu tinha de ajudar as Irmãs, pois eram muito pobre-zinhas e não tinham o que comer (…) A Madre não tinha televisão, não tínhamos quartos nem casas de banho em condições; íamos lavar a nossa roupa a uma fonte, para os lados da Fátima Velha”.Muitas das residentes recordam também, anos passados, a chega-da da Irmã Maria José a esta Casa. As palavras de Maria descrevem, com verdade, esse momento, para muitas, marcante: “quando a Irmã Maria José chegou, esta Casa levou uma volta. Começou a dar medicação, arranjou outras

comidas (…) tudo começou a mudar (…) arranjou quartos para as epilépticas e passámos a ir ao Hospital de Ourém com as me-ninas”. Rita acrescenta: “a Irmã Maria José veio para cá na época do Senhor Padre Adelino (…) de-pois mudou tudo para melhor (…) ela ficou porque era o seu destino e continuou a fazer a Obra que a Irmã Fundadora fazia”. Augusta recorda a construção da Casa do Bom Samaritano, asso-ciando a mesma ao Padre Adelino

que foi, na realidade, o seu gran-de impulsionador: “foi o Senhor Padre Adelino que construiu esta Casa, ele uma vez disse que era preciso construir uma casa para nós e que a Divina Providência nos ia ajudar e assim foi!”. Ma-ria refere ainda, a propósito da construção: “o Padre Adelino foi à casa da Moita, viu a casa a cair e achou que não havia condições. Depois andou a pedir para a cons-trução, mas houve pessoas que lhe chamaram maluco”.Destas residentes mais antigas, al-gumas participaram, directamente na construção da Casa do Bom Sa-maritano. Ao conversarmos com elas sobre este facto, foi eviden-te a manifestação de alegria por terem, também elas, contribuído para a sua edificação. Luísa recor-da: “ajudei a acartar massa, tijolo e areia, para construir esta Casa”. Este lugar “só tinha silvas, depois roçaram o mato e nós ajudámos. Foi o Senhor Bispo que benzeu a primeira pedra”, refere Maria.Quando recordam o Padre Adeli-no, muitas das residentes enchem os olhos de água, e são sentidas as palavras que enunciam. Com mais ou menos conteúdo, com mais ou menos facilidade em se exprimir, todas o recordam como “o pai, o irmão, o amigo, o confessor”, aquele que com os seus actos, os seus gestos, o seu porte, a sua sim-plicidade ao jeito de São Francis-co, as fazia sentir pessoas. “Quando via o Senhor Padre Ade-lino sentia uma grande alegria, era um excelente pai (…) rezava

Teresa fala da sua experiência: “em minha casaa minha mãe deixava-me sozinha, e ninguémqueria saber de mim. Aqui quem me dá amorsão as Irmãs, as funcionárias e as meninas”

Frei Adelino celebrando a Eucaristia com as utentes a acolitar

Pág. 53connosco e, por vezes, comia do nosso prato (…) era como se fosse igual a nós” (Maria).O Senhor Padre Adelino “celebra-

va a Eucaristia em que nós parti-cipávamos; cantava e rezava con-nosco na Capela e dizia que aquilo também era Oração” (Helena).

Paula recorda-o quando ele para elas se voltava e dizia “Estas são as minhas flores!”. As suas flores eram, evidentemente, os seus lí-rios, como os de Ana: os pobres, os doentes, as crianças atiradas à rua, sem limites de idade nem de lugar. “A primeira vez que me confessei foi a ele. Tenho-o cá no meu cora-ção. Dava-me muitos bons conse-lhos. Eu estranho, como o dia da noite, ele não estar cá entre nós. Nunca o vou esquecer” (Júlia). Rosa, emocionada relata “quando ele chegava, dizia bem alto: Paz e Bem! (…) era muito meu amigo”. “Se ele não tem o céu ganho, eu também não o tenho. Ele era um santo!” (Helena). A vinda destas meninas para esta Casa transformou grandemente as suas vidas. A generalidade das uten-tes vivera situações sociais e fami-liares vazias de tudo, carentes do essencial. Há relatos de utentes que nos impressionam verdadeiramente: pela sua autenticidade, mas sobretu-do pela sua resiliência, capacidade de adaptação, e acima de tudo, pela capacidade de felicidade que, não só vivenciam, como também nos con-seguem transmitir. Ao conversar-

Há relatos de utentes que nos impressionam verdadeiramente: pela sua autenticidade, mas sobretudo pela sua resiliência, capacidade de adaptação, e acima de tudo, pela capacidade de felicidade que, não só vivenciam, como também nos conseguem transmitir

Frei Adelino em refeição com as utentes, durante um retiro

Frei Adelino dando a comunhão às utentes

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Utentes colaborando com o senhor Lourenço, responsávelpela 2º fase da construção da casa

mos com elas, tentando perceber o que esta Casa representa para as suas vidas, com transparência nos encan-tam com as suas palavras genuínas e sentidas, que para nós são uma lição de vida. Facilmente é percep-tível que são felizes neste lugar, que entendem este lar e as pessoas que dele fazem parte, como sendo a sua verdadeira família. Sensibilizam-nos as palavras de Sara: “Sou muito fe-liz aqui. A minha casa era pobre em tudo, no amor, batiam-me (…) tenho aqui o amor que não tinha em minha casa”. Maria, por sua vez, refere: “esta é como se fosse a minha casa materna (…) sou muito feliz e gosto de tudo aqui”. Teresa fala da sua ex-periência: “em minha casa a minha mãe deixava-me sozinha, e ninguém queria saber de mim. Aqui quem me dá amor são as Irmãs, as funcionárias e as meninas”. As utentes internadas mais recen-temente dão-nos também testemu-nhos interessantes e emocionados. Lúcia é um desses casos: “vim no dia 2, calhou a uma 3ª feira. Vinha um bocadinho triste porque não conhecia ninguém (…) quando cheguei não esperava encontrar as pessoas que encontrei, pes- soas boas (…) a minha vida mudou muito e para melhor. Aqui tenho tudo”. Sílvia, entrou na Casa há dois anos. Ao contrário da maioria das suas colegas refere que não vi-nha triste nem com medo: “no dia que entrei foi um dia muito bom, pois ganhei uma família muito grande (…) esta Casa é a minha maior alegria”. Bela chegou há 3 anos e recorda: “foi um dia à tarde, estava meio comovida, não sabia se me ia habituar, mas não foi muito custoso. Algumas meninas choram quando chegam, mas eu não cho-rei. Vim porque precisava de ajuda (…) comecei a fazer amizades (…)

Deus está nesta Casa. Aqui tenho paz, conforto e alegria”.As residentes referem-se às suas colegas como sendo suas irmãs e encontram grande apoio e ajuda nos funcionários. Falam das ac-tividades com satisfação, men-cionando especialmente a ginás-tica, a yoga, as aulas de dança e de música, os trabalhos manuais, e a escola. Apreciam as saídas e os passeios, mas referem gostar de voltar para a sua casa, que é

esta: a Casa do Bom Samaritano. O cariz religioso desta Casa e a presença contínua das Irmãs, são aspectos marcantes na vida das nos-sas utentes. Quando se referem às Irmãs, é uniforme o seu sentimento: “as Irmãs são amorosas, meigui-nhas, ajudam em tudo”. Júlia refere: “as Irmãs são nossas mães, ajudam---nos muito. Sem elas, nós não es-taríamos aqui (…) dão-nos muitas coisas, dão-nos tudo”. Sandra é das residentes mais jovens, refere o se-

Utentes colaborando na construção da casa do Bom samaritano

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guinte: “esta Casa não é uma casa como as outras, é diferente porque aqui estão as Irmãs (…) no meio de-las sinto-me feliz!”. Esta Casa “sem as Irmãs era uma casa sem ninguém, era uma casa vazia” (Júlia).As residentes sentem a presença viva de Jesus no seu dia-a-dia. Muitas delas vão à Missa e fre-quentam a Capela. Os relatos são vários: “gosto de ir à missa porque Jesus vem ao nosso coração e eu sinto-me feliz”; “quando vou co-mungar sinto paz e alegria”. Esta vivência religiosa transmite-lhes grande tranquilidade, serenidade e um enriquecimento espiritual pro-fundo, que se repercute a todos os níveis da vida destas pessoas. Quanto à presença da Irmã Maria José, todas falam dela com extremo carinho e admiração. Se o Senhor Padre Adelino era para elas um pai, na Irmã Maria José encontram uma mãe, aquela que muitas delas nunca tiveram. A Irmã Maria José, refe-rem, “é muito boa, é mais do que minha mãe”. Júlia especifica: “foi ela que me recebeu, me acolheu, nunca me vou esquecer disso”. Lú-cia acrescenta: “ela é muito nossa amiga, fala connosco para sermos boas para as funcionárias e para as meninas”. “Ela consegue compre-ender-nos e ajudar-nos, mesmo nos momentos mais difíceis”.Os rostos das utentes irradiam felici-dade e as palavras que proferem são sinónimo de alegria mas também de gratidão. Quando se referem à Casa do Bom Samaritano, apelidam-na de sua Casa; quando pensam nas Ir-mãs, intitulam-nas de mães; quando mencionam as pessoas que por cá passam (Irmãs, utentes, funcioná-rios, amigos e benfeitores), sentem nelas a sua verdadeira família. Muitas residentes viveram, ao lado das Irmãs, toda a história e as expe-

riências difíceis da evolução desta casa, os momentos complicados de grande carência do essencial, mas assistiram e continuam a assistir aos feitos das mãos amorosas da Divina Providência, que conduziu a Casa do Bom Samaritano a tudo aquilo que ela hoje representa. Hoje, através do testemunho das residentes desta Casa, consegui-mos experimentar e contemplar esta mística providencialista, vivi-da pela Irmã Fundadora e por Frei

Adelino Pereira, transportada com singularidade e autenticidade para os nossos dias. Esta Casa é realmente a perpetua-ção dos carismas da Fundadora, que vivia intensamente «a paixão pela adoração contemplativa da Eucaris-tia, a paixão pela evangelização dos mais pobres e a paixão pela liberta-ção e serviço dos de maior necessi-dade (…) fundidas numa só paixão: Deus, Divina Providência». (Frei Adelino Pereira, 1992).

Irmã Maria José com uma utente

Uma funcionária, uma utente e a Irmã Madalena, na Lagoa de Fanhais

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Na Casa do Bom Samaritano desenvolvem, diariamente, a sua actividade profissional, cerca de 60 colaboradores, distribuídos pelos vários serviços.Reconhecendo a relevância da sua presença e actividade nesta Casa, a Direcção do Centro Social da

Divina Providência solicitou aos seus colaboradores que também eles nos facultassem o seu testemunho de vida e trabalho nesta Instituição. Na impossibilidade de publicar na íntegra as respostas de todos, recolhemos, no texto que se segue, uma compilação, feita pelos próprios, das suas reacções.

o reflectirmos no que a Casa do Bom Sama-ritano representa, para todos nós funcioná-

rios, o sentimento dominante é, no essencial, que ela é muito mais do que um “local de trabalho” “onde se cumpre o trabalho e está feito; mas sim um espaço onde se tra-balha com gosto, em família, com alegria e onde se aprende algo to-dos os dias”. Nesta Casa mora uma “família de braços abertos, sempre pronta a receber e a integrar nessa mesma família qualquer pessoa que necessite de auxílio”. É “um porto de abrigo, para quem mais precisa: para as utentes que não têm família; para os funcionários, que muitas vezes, precisam de apoio; e para todos aqueles que por cá passam, que procuram as Irmãs, e muitas vezes, apenas alguém que o possa escutar”. A Casa do Bom Samaritano é “um lugar mágico de tranquilidade, or-ganização emocional, motivação,

TRABALhAR E VIVER EM FAMíLIA E FRATERnIDADE

iniciativa, criatividade, organização espácio-temporal, partilha de valores e de significado para uma vida acti-va, funcional, saudável e carregada de um sentido dinâmico de cons-trução para a alegria e a felicidade”.

É uma Casa onde vivem “muitas pessoas diferentes, que a tornam tão especial”. “Quem entra nesta Casa, jamais sai como entrou. Tudo o que se vive é muito forte, com uma gran-de alegria”. A Casa do Bom Samari-

Funcionária com uma utente

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Os Funcionários da Casa do Bom Samaritano

TRABALhAR E VIVER EM FAMíLIA E FRATERnIDADE

tano representa “uma lição de vida”.“A missão desta Casa terá sempre uma razão de ser”, pois o “núme-ro de pessoas a precisar de ajuda provavelmente irá aumentar”. É importante continuar a haver quem “esteja disponível para ajudar, para apoiar, para encaminhar”. Aqui esta população encontra “um lar, uma família, onde recebe amor, carinho e atenção, e lhe é proporciona-da uma vida digna, em paz”. “Em muitos corações já não há amor, é preciso que o amor, que transborda desta Casa, os possa encher”. Neste sentido, “esta Casa faz toda a dife-rença”, pois a forma como as Irmãs Franciscanas, com a espiritualidade Franciscana, “acolhem com alegria e satisfação, os pobres dos mais po-bres, sem exigir benefícios em tro-ca, sendo uma verdadeira família, para quem dela mais precisa”. Ao pensarmos nas utentes sentimos que “nenhuma utente é igual à ou-tra”, sendo que “ser único e viver essa autenticidade é algo muito pró-

prio das nossas utentes”. No entan-to, existem características que são comuns à maioria delas, como “a espiritualidade, sinceridade, inocên-cia e humildade”. “É de enaltecer a sua pureza”, “a importância que

atribuem a um sorriso, a um toque, a um cuidado mais pessoal”. Para elas “um pequeno gesto pode valer muito”. “Elas vêem nas coisas mais simples, algo que nós não consegui-mos ver, e muito menos, compreen-

Passeio Anual dos Funcionários (2009): “Jardim da Paz”

Eucaristia presidida pelo nosso Assistente, Frei Isidro Lamelas, com as Irmãs e Funcionários

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der”. É comum a sua “preocupação por nós funcionárias e pela nossa família, conseguindo ver quando estamos mal, devolvendo-nos um sorriso”. “A sua vida gira em tor-no do outro, do amor ao próximo e não o contrário”. “A sua alegria, o seu acolhimento, mostra-nos de que nada valem as coisas mais caras e luxuosas do mundo para a verdadei-ra felicidade, dando extremo valor à vida, e ao que nela é essencial”.

Nós funcionários, consegui-mos transpor para a nossa vida pes-soal e familiar o que temos vindo a aprender no contacto com as uten-tes, nomeadamente no que se refere ao “valor que devemos dar à família, percebendo que, na maioria das ve-zes, não damos importância ao que

temos”. Elas ensinam-nos ainda “a vontade de viver e sentir que a Divi-na Providência está sempre presen-te, nos momentos bons ou menos bons da nossa vida”, e a continuar a “ter fé, ser fortes e corajosos”. Com elas aprendemos também a ter uma “maior capacidade de perdoar”, a ter mais “paciência e compreensão para com o outro”.Por outro lado, os comportamentos e atitudes das utentes “reflectem também os ensinamentos da vida em Comunidade, em família e em partilha dos bons e menos bons momentos que ela nos traz, ou que nós nela criamos diariamente, numa construção dinâmica do nosso ser, que passa pelo outro”.As utentes “dão-nos lições de vida, de amor e de honestidade”.

Com elas aprendemos “a valorizar e a agradecer cada momento do nosso dia-a-dia, a ter tempo para nós e a ter tempo para o outro, res-peitando-o e ajudando-o”.

O trabalho que realizamos diariamente com as utentes “é um trabalho que tem de ser realizado por quem tem vocação”, por quem sen-te que ajudar o outro é a sua missão. É um trabalho que tem “momentos difíceis e cansativos, que requerem, da nossa parte, atenção, força e cora-gem”, mas o que “recebemos com-pensa qualquer dificuldade”. Como em tudo na vida “o mais fácil, não é o mais compensador; nem o mais difícil, o mais cansativo, quando se faz o que gostamos”.É um trabalho que nos propor-ciona “momentos de riqueza e de valorização”, sentindo todos os dias, “quando saímos desta Casa, que somos importantes na vida destas pessoas”. A felicidade de podermos conviver com “pessoas tão lindas como elas, a alegria e o carinho que nos dão, o sorriso que nos esboçam”, são aquilo que mais guardamos e damos valor. Por tudo isto e também “pela honra e oportunidade de interacção com si-tuações que envolvem as emoções e os sentimentos na sua essência”, o nosso trabalho é sempre muito gratificante e compensador, fazen-do-nos sentir “uma paz e um bem---estar dentro de nós”.

Acresce dizer que, em nos-sa opinião, a presença de uma Co-munidade Religiosa nesta Casa é muito importante. “São as Irmãs os pilares desta grande obra”, e é devido à “sua presença que esta Casa é aquilo que é hoje”. Sem dú-vida que o “desenvolvimento, su-porte, organização e planeamento,

Nós funcionários, conseguimos transpor para a nossa vida pessoal e familiar o que temos vindo a aprender no contacto com as utentes, nomeadamente no que se refere ao “valor que devemos dar à família, percebendo que, na maioria das vezes, não damos importância ao que temos”

Funcionárias com uma utente

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desde a criação até à intervenção e implementação dinâmica dos pro-cessos de ajuda e orientação das utentes e da Instituição, tem outro valor pelo facto de serem preconi-zadas através de uma Comunida-de Religiosa”.A presença contínua das Irmãs transmite “confiança, estabilidade e equilíbrio espiritual, a quem resi-de e trabalha nessa Instituição”. Os seus “princípios e valores religio-sos dão outro sentido à vida e aju-dam, através da fé, a ultrapassar os momentos difíceis”. As Irmãs são “um testemunho de vida e doação aos outros”, e dão a esta Casa “um espírito fraterno e familiar, bem di-ferente do comum emprego”. Para as utentes, as Irmãs são “a família, cheia de amor e fraternidade, que muitas delas nunca tiveram”.Ao longo do nosso percurso nesta Casa e através do contacto com a espiritualidade e a vida das Irmãs, nós funcionários conseguimos transferir para as nossas vidas a confiança na Divina Providência. Aprendemos a colocarmo-nos nas mãos de Deus com fé, “acreditando que tudo se resolverá e agradecen-do-lhe todos os dons”. Entendemos com mais facilidade a vivência das “experiências menos boas, de uma

forma mais positiva”, e que “nas dificuldades não devemos cruzar os braços, mas levantar a cabeça e confiar”. Com as Irmãs, não só aprendemos a “valorizar muito mais o amor que Deus tem por nós, como também a dar mais valor ao próximo, amando-o e ajudando-o, tornando-nos pessoas mais solidá-rias e disponíveis para os outros”.“Calma e tranquilidade, coragem e compreensão, paz e amor,” são os valores que as Irmãs nos têm trans-mitido ao longo do tempo, fazendo--nos “encarar a vida com outros olhos e dando-nos força para viver”.

Consideramos ainda que o nosso percurso nesta Casa tem sido essencial, pois sentimos que tam-bém fazemos parte de outra famí-

lia, uma verdadeira família, da qual “fazem parte utentes, Irmãs, funcio-nários, amigos e benfeitores”, entre os quais existem “laços muito fortes e inquebráveis”, e onde “todos são importantes”. “O carácter familiar que a rodeia é a grande força desta Instituição”, onde “todos os que por aqui passam se sentem membros desta enorme família Franciscana da Divina Providência”. Nesta Casa “os sentimentos e emoções são par-tilhados por todos, da mesma forma, para que a linguagem seja comum e a informação e a comunicação não se perca nunca, alimentando a moti-vação de continuar”.

Nesta ocasião não podería-mos deixar de reflectir sobre o que representou e ainda representa

Frei Adelino em dramatização na Festa de natal dos funcionários

Funcionária em oferta do seuramo de noiva a Frei Adelino

Visita de funcionária no dia do seu casamentoàs utentes da casa do Bom samaritano

para todos nós, Frei Adelino Pe-reira, grande impulsionador des-ta Casa, pois esta grande família deve-se, em grande parte, “à sua paixão, entrega e compromisso”. Frei Adelino foi “o grande Pai desta Instituição”, “era e ainda é o Anjo da Guarda desta Casa”. Era uma pessoa “que tentava sincera-mente descobrir o melhor lado de si e aplicá-lo no seu dia-a-dia, es-timulando também os outros nesta busca intensa”. Tinha um “sentido de missão e responsabilidade mui-to nobres, reflectidos num grande poder de análise e inteligência, mas dotado de uma grande sim-plicidade, que se reflectia na sua forma de olhar e conversar”. “As suas palavras enriqueciam o nosso coração e a nossa alma”, e fazia--nos acreditar num futuro melhor. Frei Adelino era “um irmão, um amigo”, um “verdadeiro Francis-cano que vivia para servir e amar o outro”. “Entusiasta, dinamiza-dor e concretizador de obras, em especial desta”, com a “capacida-de de unir todos de forma a atingir

um objectivo comum”. “Foi um Bom Samaritano”, que transmitia “a força do amor de Deus, a cada um em particular”, e que nos “aju-dou muito a crescer na fé”. “Em cada canto desta Casa se nota a sua presença, a sua dádiva”, e quem o conheceu sempre recorda-rá “a sua voz ao fundo do corre-dor, que dizia Paz e Bem!” Com tudo o que foi, ficará para sempre nos nossos corações. De um modo geral, todos nós re-ferimos que os três Carismas da Congregação se evidenciam nes-ta Casa. É uma casa Franciscana, onde “se vive com base no espírito de São Francisco”, que “na sua po-breza criou tamanha riqueza espi-ritual”, “amando e servindo os po-bres dos mais pobres”. É uma Casa onde se vive intensamente a pa-rábola do Bom Samaritano: “cui-dando de quem mais precisa sem preconceitos e continuadamente”, em especial daqueles “pelos quais tanta gente passou e nem reparou”. É uma Casa na qual a espirituali-dade providencialista está sempre

presente, onde “o essencial chega a todos”, pois “tudo é colocado nas mãos amorosas da Divina Provi-dência, confiando e acreditando, todos os dias e em todas as situa-ções, sejam elas boas ou más”.A Instituição “está feita à imagem dos três carismas, assente no mais nobre dos paradigmas do ser hu-mano, o acto de cuidar, assente nos princípios das boas práticas e da resposta efectiva ao outro”.«As grandes obras, como são as da Divina Providência, tiveram sempre humildes começos, ar-rancaram sempre do nada» (Frei Adelino Pereira, 1982).Assim aconteceu com esta Casa. A Fundadora, Irmã Ana de Jesus Faria Amorim, partindo do nada, do seu nada, rasgou caminhos de amor, desbravando-os e percorren-do-os, ultrapassando dificuldades e provações, despojando-se e privan-do-se das coisas do seu uso pessoal, para que nada faltasse aos pobres de maior necessidade que acolhia.Irmã Ana Amorim não viu concre-tizado o seu sonho em vida, mas não era por isso que se sentia de-siludida ou derrotada, pois não era importante para si alcançar fos-se o que fosse, mas sim cumprir a vontade e aceitar os desígnios amorosos da Divina Providência. E como “quem ama não morre”, vemos hoje, a Casa do Bom Sa-maritano e o trabalho que é reali-zado na mesma, ser a perpetuação dos Carismas da Fundadora.Tal como Jesus Cristo disse «se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto» (Jo. 12, 24).

A Instituição “está feita à imagem dos três carismas, assente no mais nobre dosparadigmas do ser humano, o acto de cuidar, assente nos princípios das boaspráticas e da resposta efectiva ao outro”

Meninas da casa do Bom samaritano

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á uns anos atrás, quan-do aceitei dar apoio psi-quiátrico às utentes da Casa do Bom Samarita-

no, confesso que foi para mim o aceitar de um desafio. Desafio este que não só se colocava no domí-nio médico, mas essencialmente na dimensão humana. Nesta Instituição a grande maioria das utentes são portadoras de De-ficiência Mental de todos os graus de gravidade. Sendo que aquela não é uma doença e, portanto, não tratável em si mesma, havia em mim, no início, não só uma certa apreensão e receio, mas também uma elevada expectativa. A Deficiência Mental é, por um lado, um estado que interfere grandemente com a capacidade

A VIVêncIA DUM PsIqUIATRA nA cAsA Do BoM sAMARITAno

em lidar com as situações do dia- -a-dia, e daí poderem ser mais vulneráveis emocionalmente. Por outro, como seres humanos que são, também estão sujeitos à doença mental e com o mesmo di-reito ao tratamento, embora nesta população seja muito mais difícil conseguir realizar diagnósticos específicos, o que dificulta a in-tervenção terapêutica. Distinguir o que é doença mental e o que é resultante de reacções emocionais passageiras, em parte decorrentes das suas limitações, ou até mesmo de necessidades afectivas, e cuja intervenção não é farmacológica, é uma tarefa tantas vezes delica-da e de limites estreitos. Tal pode fazer com que o médico facilmen-te use e abuse do seu arsenal far-

macológico, quando uma palavra, um gesto, um saber olhar, pode-riam resolver. É por isto o desafio de arriscar uma novidade em cada um dos instantes a que eu sou cha-mado viver. Como seria de esperar, na minha primeira ida, foi-me feita uma visi-ta guiada a toda a casa e seus ane-xos. Desde logo me admirei com os seus diversos espaços, as diver-sas salas onde as utentes ocupavam o seu tempo, as diversas ocupações de acordo com as capacidades e aptidões delas, uma dinâmica e uma estrutura que me surpreende-ram muito positivamente. Claro que ia estando atento às pes-soas que as cuidavam e ao modo como se dedicavam, a paciência, o carinho, a compreensão, a satisfa-

Dr. José ValenteMédico Psiquiatra

Médico Psiquiatra em atendimento às utentes

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ção estampada nos seus rostos e nos seus gestos. Era como se todos per-tencessem a uma só família, coesa, afectiva, dedicada, compreensiva, tolerante, enfim, uma família verda-deira, daquelas que gostávamos de ver por tantos sítios. Não consegui ficar indiferente a tudo isto. Nestes ainda poucos anos de cola-boração, sinto que a minha vida se tem enriquecido, quer em termos pessoais, quer em termos profis-sionais. Nunca é demais lembrar Durkheim: “É preciso sentir a ne-cessidade da experiência e da ob-servação, ou seja, a necessidade de sair de nós próprios para ace-der à escola das coisas, se as que-

remos conhecer e compreender”.De facto, é a partir do contacto e da observação que consolidamos os conhecimentos e nos prepara-mos para novas aprendizagens, bem como nos deparamos melhor com as necessidades dos outros e de nós próprios.Dei conta da importância da dedica-ção e disponibilidade por parte dos colaboradores. Para que tal acon-

teça, percebi a relevância que tem a Direcção Técnica. Esta, ao olhar para o colaborador não como uma máquina ou objecto que tem de exe-cutar determinada tarefa, mas antes como um ser humano que trabalha com outros seres humanos e que também tem as suas necessidades, as suas famílias, as suas crises, os seus medos, as suas angústias, os seus infortúnios, mas que podem, mesmo assim, manter o prazer da dedicação se sentirem que são vis-tos e tratados como tal. Mais do que resultante de licenciaturas e forma-ções, gerir pessoas é uma arte de quem é humano e hospitaleiro. Di-ria de quem tem o dom da sabedo-ria, que aqui vejo personificado, em particular, na pessoa da Irmã Maria José, a qual me tem dado o privilé-gio dos seus ensinamentos.Desta magnífica experiência te-nho aprendido e concluído: em vez de se cultivarem atitudes defensivas, é melhor culti-var a curiosidade e vontade de com-preender o outro, a ternura e a proxi-midade, bem como construir trocas sociais baseadas no respeito pela dig-nidade do outro, do diferente; cada um terá o seu papel, mas é necessário analisá-lo, não tanto em termos da sua rentabilida-de económica mas antes dentro dos valores que são mais profundamen-te humanos. Marie Hélène Mathieu escrevia “tão limitadas na sua inteli-gência, não o são na sua capacidade de receber amor e devolvê-lo”;trabalhar com estas pes-soas é certamente uma fonte de

É a partir do contacto e da observação que consolida-mos os conhecimentos e nos preparamos para novas aprendizagens, bem como nos deparamos melhor com as necessidades dos outros e de nós próprios

Jovem em Voluntariado na casa do Bom samaritano

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energia, reforçada pela necessidade de investir, com imaginação e cria-tividade para que elas atinjam com-petências; que é possível assegu-rar-lhes uma vida decente, per-mitir-lhes exercer uma ocupação (sempre que o seu estado permita) que seja adequada e oferecer-lhes actividades de lazer apropriadas;serem todas reconheci-das pelo seu valor e dignidade, terem uma boa qualidade de vida e em que todas possam ser felizes;quem diria que é possível fa-zer tanto!

“Porque esqueces então o defi-ciente mental?Ele é também pessoaQue ama, que chora e que riQue tem alegrias e tristezasQue gosta de conviverE de estar com os amigos

O deficiente mentalTem coração que sofreQuando é deixado a um cantoAbandonado e excluído

Das festas das pessoas Ditas normais”

Frei Adelino Pereira , OFM (1999)

Utentes em actividadeUtentes em saída desportiva

Funcionária com o seu filho

Utentes em Desfile de carnaval

Passeio Anual das Utentes

MéDIco DE UMA GRAnDE FAMíLIA

ediram-me que partilhe o meu testemunho na come-moração dos 25 anos da

Casa do Bom Samaritano. Faço--o com muita alegria dando o tes-temunho de quem ao longo deste quarto de século tem vivido de per-to o crescimento desta Obra.Quando iniciei a minha vida pro-fissional de Médico de Família em Fátima fui convidado para prestar as-sistência médica no âmbito da Medi-cina Geral e Familiar à Obra do Bom Samaritano. Aceitei de imediato e es-tou contente por isso. Tem sido uma vivência muito gratificante, tanto a nível profissional como pessoal. São 25 anos de estreita colaboração com técnicos de várias áreas: Psiquiatria,

Dr. Jorge Fernandes Médico de Família da

Casa do Bom Samaritano

Enfermagem, Serviço Social, Psi-cologia, Fisioterapia entre outros, contribuindo para que as meninas da Casa do Bom Samaritano tenham uma vida com qualidade, com dig-nidade, com amor, mesmo com as muitas limitações de que sofrem. Porque nesta Casa, para além de todo o apoio técnico necessário para minimizar as dificuldades das utentes, é um grande amor familiar que une toda esta Comunidade.Porque é de uma grande família que estamos a falar. Daí a alegria, o amor e o carinho com que todos vivemos esta data.Falar do apoio que tenho prestado como Médico de Família é aqui e agora desnecessário. Faz mais sen-

tido realçar o espírito de colabora-ção e entreajuda que temos vivido, permitindo uma melhor qualidade de vida a quem tanto dela precisa.A colaboração que tenho recebido têm-me permitido um desempe-nho gratificante, que nunca se me tornou pesado.É este testemunho que aqui quero deixar, com amizade pela Família da Divina Providência.Partilho com muita alegria estes dias de festa por ao longo de 25 anos o meu pequeno contributo ter ajudado a crescer esta Obra.Irmã Maria José e colaboradores quero continuar a ser o vosso Mé-dico de Família e partilhar as ale-grias e dificuldades desta Obra.

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Dr. A. Rodrigues de FreitasAdvogado

á algum tempo que tenho contacto com a Casa do Bom Samaritano,

sobretudo por razões profissionais, na minha condição de jurista. De facto, mesmo onde se pratica em abundância, a caridade às vezes é também necessária a ajuda jurídica.Apercebi-me, mas não me inteirei desde logo, como agora reconheço que era minha obrigação, da grandeza da Instituição: nas pessoas, na dedicação aos utentes, nas instalações, na simplicidade, no acolhimento.Depois de ter acesso a um conhecimento mais profundo da Instituição, concluo que tenho sido bastante egoísta e considerei, de imediato e sem hesitação, como justificado, quanto directa ou indirectamente se contribui e colabora com a referida Instituição.Nas comemorações que agora se celebram, não posso senão, com verdade, deixar expresso o agradecimento às pessoas que

o oLhAR DE UM ADVoGADonA cAsA Do BoM sAMARITAno

construíram esta obra!Considero, por outro lado, que as Instituições públicas contribuam hoje para esta obra e ouso apelar às mais próximas que não descurem o seu “denário”, pois ele será sempre bem empregue em obras como a Casa do Bom Samaritano que engrandecem

muito o nome de Fátima.Porque o considero mui justo, deixo o meu testemunho e reconheço que, nos tempos que correm ser “samaritano” é difícil ser “Bom Samaritano” ainda mais difícil é.Contudo, a prova de que é possível e está à vista nesta “CASA DO BOM SAMARITANO”.

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O Bom Samaritano tem sido, desde a sua génese, também uma casa de amigos solidários que nos ajudam a realizar a missão desta Casa e que, por isso, consideramos realmente nossos “bons Samaritanos”. Também a estes amigos e benfeitores damos a palavra, na pessoa de uma das pessoas mais dedicadas, a Senhora Dona Maria Odete Silva Martins

Casa do Bom Samaritano é um oásis que nos fala das maravilhas que Deus realiza em quem O ama.Ao pronunciar o seu nome de “Bom Samari-

tano” ocorre-nos imediatamente à ideia a Parábola que Jesus apresentou a um doutor da Lei que lhe perguntou o que havia de fazer para possuir a vida eterna.Vou transcrevê-la:«Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu em poder dos salteadores, que depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele cami-

VEnhA coMIGo conhEcER A cAsA Do BoM sAMARITAno

nho um sacerdote, que, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o encheu-se de piedade. Aproximou-se, ligou- -lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estala-gem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois dená-rios, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: “Trata bem dele e o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar”.Qual destes três te parece ter sido o próximo da-quele homem que cai nas mãos dos salteadores?O doutor da Lei respondeu: – “O que usou de misericórdia para com ele”. Jesus retor-

D. odete com a sua afilhada na Instituição

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VEnhA coMIGo conhEcER A cAsA Do BoM sAMARITAno

Maria Odete Silva MartinsBenfeitora e amiga

quiu: “Vai e faz tu também do mesmo modo».Porque evoco eu esta parábola do Bom Samaritano? É que também as Irmãs são acolhedoras, tratando das feridas dos nossos irmãos, dos mais pobres dos pobres, dos que precisam de cuidados especiais para poderem ter uma vida de melhor qualidade. E essa vida é-lhes dada aqui nesta Casa, onde um ambiente de bem-es-tar, de muito amor pelo próximo nos interpela.A Divina Providência vai fazendo despertar nas Ir-mãs sempre novas iniciativas que contribuem para a felicidade das meninas, tais como: passeios, fé-rias na praia da Nazaré, onde têm uma casa. Aí, por grupos, as meninas mudam de ambiente e respiram

o ar do mar, tão benéfico para a saúde. Essas vi-vências tornam-nas mais sociáveis e levam-nas a apreciar os novos espaços que lhes são oferecidos e a constatá-lo está a sua alegria, o seu sorriso, que Deus, lá do Alto, contempla, abençoando-as a elas bem como às Irmãs e funcionárias que as assistem. Na Casa do Bom Samaritano desenvolvem-se mui-tas actividades pedagógicas, conforme as capaci-dades físicas e mentais das utentes. São elas de na-tureza recreativa, ocupacional, psico-terapêutica, física, desportiva, social e religiosa.Quando o tempo o permite, vão acompanhadas, com muito zelo, pelas funcionárias até à mata, onde podem

Participação das meninas no casamento da helena Agostinho, antiga funcionária

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recriar-se, participando em jogos e outras actividades de acordo com o trabalho programado para esse dia. Este espaço ao ar livre é ainda o palco habitual para celebrar com danças e cantos os Santos Populares, o Carnaval e outras festas em que, por vezes, se asso-ciam a outras Instituições congéneres de Fátima. A Casa do Bom Samaritano é muito visitada por es-tudantes e escolas, por grupos folclóricos, que vêm dar alegria às meninas, que tanto apreciam a música e o carinho demonstrado pelos grupos que lhes pro-porcionam esses momentos de boa disposição.A vida das meninas é muito bem cuidada em todos os campos pelos funcionários que procuram, com muito afecto e responsabilidade, minorar os seus sofrimentos e responder às dificuldades concretas e específicas de cada uma. Às Irmãs e a toda a equipa que colabora no bom funcionamento da Casa eu quero deixar o meu muito obrigada pelo amor que põem no seu traba-lho em favor das meninas, não esquecendo a mi-nha sobrinha e afilhada Isabelinha, que se encon-tra nesta Casa tão acolhedora há já vinte anos por

motivos do falecimento dos seus extremosos pais.A todas as meninas eu quero muito, sinto-me feliz entre elas e vejo que esse amor que eu lhes tenho me é retribuído. Deixo aqui um poema, que, em tempos, fiz a manifestar a amizade que sinto por elas.

À Divina ProvidênciaEstas são as flores mais belasQue jamais vi em algum jardimÉ Jesus Cristo que trata delasCom o Seu amor… amor sem fim.

Têm elas nomes variadosBem conhecidos do senhor JesusE, no coração de muitos gravadosQue querem suavizar-lhes a cruz.

É a Divina Providência a actuarEnviando-lhes zelosos servidoresPara com amor poderem tratarEstas suas tão queridas flores.

A todas eu lhes quero muito bemNão esquecendo a minha IsabelinhaQue o Senhor me deu e a quem entregueiNo dia do seu baptismo, como madrinha.

Às Irmãs, grandes almas de eleiçãoQue tudo deixaram p’ra o Senhor servirA todas, como prova de gratidãoDeixo, nestes pobres versos, o meu sentir.

Ser-se pobre para poder pedirGraças sem fim p’ra esta InstituiçãoÉ uma dádiva do Senhor para servirDando, como produto, a oração.

Porque sinto uma grande dedicação por esta Casa, que me tem acolhido com muito amor, tenho estado presente nos momentos mais marcantes desta Obra da Divina Providência.Recordo alguns dos mais significativos:– Tive a alegria de estar, juntamente com meu ir-mão, minha cunhada e a Isabelinha, presente na inauguração oficial da Casa do Bom Samaritano pelo Senhor Bispo D. Alberto Cosme do Amaral e pela Dra. Leonor Beleza, Secretária de Estado da Segurança Social em 15 de Setembro de 1984.– 1º Centenário do Nascimento da Irmã Fundadora da Fraternidade Franciscana da Divina Providência, Irmã Ana de Jesus Faria Amorim em 23 de Março de 1996. – Bênção da Casa restaurada da Divina Provi-

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dência e Profissão Perpétua da Irmã Madalena em 30 de Março de 1998.– Dia em que a Fraternidade Franciscana da Divina Providência foi erecta em Congregação Religiosa de Direito Diocesano em 25 de Dezembro de 1998. Pelo carinho e bondade do Papa João Paulo II, pela dili-gência e benevolência do Senhor Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva e pela oração da Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, concedeu a Divina Providência tão grande graça.– Profissão Religiosa da Irmã Ana da Paz em 8 de Abril de 2002.– Envio Missionário das Irmãs Maria da Luz Freire Henriques, Maria Piedade Jardim e Maria Jacinta Marques em 14 de Abril de 2002. Esta celebração teve lugar no Santuário de Fátima, sob a presidên-cia do Senhor Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim.– Apesar de muito longe, continuo a acompanhar, com muito interesse, todo o trabalho missionário que as Ir-mãs estão a realizar nessa Comunidade de Nossa Se-

nhora de Fátima em Padiae-Oecusse, em Timor-Leste.– Festas de Natal e da Páscoa, que começam com a Eucaristia, seguida de uma festa cheia de alegria e mensagem em que os funcionários e as Meninas interpretam temas natalícios. O programa termi-na com uma merenda de confraternização entre os benfeitores, as meninas e todos os que ali se reú-nem num ambiente de amizade e partilha.É assim num ambiente de muito amor que aqui se vive, não só nestes dias de festa, mas durante todo o ano. É a grande família da Casa do Bom Samarita-no que se reúne para celebrar o amor de Deus, que a todos congrega num ambiente de festa, de solidarie-dade. Tudo isto é obra da Divina Providência, que, com tanta generosidade, fornece todos estes bens.– Tomei parte ainda da Profissão Religiosa das Irmãs Timorenses: Irmã Francisca, Irmã Josefina, Irmã Ma-riana, Irmã Natália e Irmã Rosa em 8 de Dezembro de 2008 – Solenidade da Imaculada Conceição.– Também recordo com muita saudade o Senhor Padre Adelino que foi o grande impulsionador da construção da Casa do Bom Samaritano, sendo o Assistente da Fraternidade Franciscana e dispen-sando uma grande dedicação e carinho para com as meninas deficientes. Terei, finalmente, muito gosto, se Deus mo permi-tir, em marcar a minha presença na importante festa da celebração do 25º ano da Inauguração da Casa do Bom Samaritano. Divina Providência, continuai a abençoar esta Obra, que Vos pertence. Ela é vossa, assim o creio. Ámen.

Recordo com muita saudade o Senhor Padre Adelino que foi o grande impulsionador da construção da Casa do Bom Samaritano, sendo o Assistenteda Fraternidade Franciscana e dispensando uma grande dedicação e carinho para com as meninas deficientes

Eucaristia na Basílica de nossa senhora de Fátima no 1º centenário do nascimento da Irmã Fundadora

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á pessoas que se re-pastam docemente nos prazeres do mundo, deliciando-se na abun-

dância da matéria e da fama. Outras há que se contentam com as miga-lhas que caem no chão, quais formi-guinhas incansáveis que discreta-mente vão trabalhando em prol da felicidade dos outros.Vem isto a propósito de duas per-sonalidades que hoje recordamos: Fundadora e Co-Fundador da Fra-ternidade Franciscana da Divina Providência que, por sua vez, deu corpo à Casa do Bom Samaritano.Desde criança que conheci as Ir-mãs da Divina Providência, em-bora deva confessar nunca ter conseguido identificar a Irmã Ana como Superiora. Passavam quase diariamente em frente à casa dos meus pais, e eu junto à casa delas, na Moita Redonda, sempre que ia visitar os meus avós paternos. No entanto, quis a Divina Provi-dência dar-me a felicidade de tra-balhar, durante seis anos, na Casa do Bom Samaritano. Aqui, li e reli muito sobre a vida da Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim. Uma grande mulher! De uma fé inaba-lável e de ideias firmes. Apesar de tantas contrariedades, jamais abdicaria do seu sonho: Trabalhar em prol dos mais pobres dos po-bres, com “o meu nada” e confian-

“A DIVInA PRoVIDêncIA cUIDA DE nÓs”

do sempre na Divina Providência. Tinha um grande amor por Nossa Senhora de Fátima, a quem pedia constantemente protecção para a sua Obra. Por isso mesmo, sempre pensou que a sua Congregação te-ria de ficar sediada em Fátima.Foi uma fiel seguidora da vida de São Francisco de Assis, chamando a atenção das suas Irmãs para as virtudes da humildade, da pobreza, da oração e da comunhão entre as Irmãs. Pediu sempre para director espiritual da sua Obra um padre

Franciscano, embora esse desejo nem sempre tenha sido escutado.Como membro do Movimento de Leigos Franciscano-Providencia-lista, estou certo de que a nossa querida Irmã Ana, por tudo aqui-lo que sofreu, a maioria das vezes em silêncio, evitando deste modo a agitação entre as suas compa-nheiras, pela sua vida de oração contemplativa, junto de Jesus Sa-cramentado, e ainda por todo o amor que discretamente irradiava junto dos mais pobres, e das suas

Frei Adelino com uma utente

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“A DIVInA PRoVIDêncIA cUIDA DE nÓs”

meninas deficientes, é, para mim, um exemplo seguro de santidade.E como é lema desta Casa “A Di-vina Providência cuida de Nós”, não foi por acaso que Esta nos deu o nosso saudoso Frei Adelino Pe-reira, OFM, que cedo compreen-deu o Carisma e Missão desta Ins-tituição, transformando com a sua dinâmica, o Sonho em Realidade. A Casa do Bom Samaritano é uma dádiva de Deus, para os mais po-bres, consequência do labor e do amor, quando repartidos desinte-ressadamente. É tempo de recordar aquela imagem robusta de um ho-mem que deambulava pelos corre-dores desta Casa, qual andar desen-gonçado, por vezes cantarolando alegremente, parecendo distraído, mas antes atento a tudo o que o ro-deava. Num dos últimos dias da sua vida, arrastou-se do seu quarto até à minha sala de trabalho:“Senhor António, sempre a traba-lhar! Não tem por aí um dicioná-rio que me empreste?”Quando me levantei para aceder ao seu pedido, de imediato se sentou na minha cadeira. Aqui, eu percebi que, definitivamente, se aproxima-va o fim da sua vida terrena.Que ambos, Fundadora e Co-Funda-dor desta Obra maravilhosa que nos habituámos a amar, intercedam por todos nós, junto do Pai, o VERDA-DEIRO BOM SAMARITANO.

hoJE há FEsTAFrei Adelino Pereira, poeta dos pobres e do mundo,Quero cantar teus poemas, numa expressão de saudade!Tua vida me inspira, qual humilde vagabundo,Agora, que estou possuído de uma enorme ansiedade!

Quero cantar o Sol, a lua, as estrelas e o mar,Os lírios do campo, os bosques e as aves do céu!Quero abrir teus livros, pela manhã, ao acordar,E com eles saciar-me nas noites de Inverno vestidas de breu!

E, alegremente, cantando e dançando sem cessar,Correrei vales e montanhas, sempre sem parar,Divulgando a tua chama de Providencial Franciscano!

Tão cedo partiste, bom amigo e homem de Deus!Olha como as tuas meninas cantam! Parece que estão nos céus!...Sabes? É que hoje há festa, aqui, na tua Casa do Bom Samaritano!

António das Neves

António das NevesBenfeitor e amigo

António neves em actuação na Festa dos Benfeitores

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cREchE BoM sAMARITAno:noVA FLoR DEsABRochA DE UMA AnTIGA sEMEnTE

a data em que celebramos as bodas de prata da Casa do Bom Samaritano, o Centro Social da Divina

Providência vai abrir a Creche Bom Samaritano. Tanto a data de inau-guração (26 de Setembro de 2009), como o seu nome e localização não são, como se adivinha sem particu-lar significado, como pretendemos explicar nestas breves linhas.Podemos dizer que a semente desta resposta social começou a germinar no já distante ano de 1942, quando uma mulher de nome Ana de Jesus Faria de Amorim, Fundadora das Irmãs Franciscanas da Divina Pro-vidência, movida pelo sopro de gra-ça Divina, quis transpor para a vida

as palavras de Jesus: “o que fizerdes aos mais pequeninos dos meus ir-mãos é a mim que o fazeis”. Na verdade, Ana de Jesus com-preendeu que servir com ternura aqueles que amamos e nos estão próximos nada tem de extraordiná-rio, para além de ser um dever. Mas servir apaixonadamente a causa dos mais pobres de quem nada espera-mos em troca, com o intuito de lhes restituir a dignidade e direitos que lhes são devidos, é uma aventura infinita que nos transporta para uma dimensão mais elevada e se derra-ma em paz e alegria.Ana de Jesus, impelida pelo sopro do Espírito Santo, abandonada nas mãos da Divina Providência, e movida

pela sua paixão por servir os pobres dos pobres, veio para Fátima e, a 15 de Setembro de 1942, inicia a “Obra da Divina Providência,” acolhendo três crianças de pais muito pobres. A opção de acolher e ajudar crianças não nasceu de sua mera e exclusiva vontade e iniciativa. De facto, as-sumiu de corpo e alma essa missão que a Divina Providência lhe con-fiava depois de recorrer ao Bispo da Diocese e ao Pároco de Fátima, e após ter tomado conhecimento das necessidades mais sentidas. Com ternura e amor de mãe, acolhia de todos os cantos do país, as crianças que lhe iam chegando. Este acolhi-mento alargou-se progressivamente, chegando a atingir 120 crianças, na

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Irmã Ana da PazAbreu Nunes

FraternidadeFranciscana

da Divina Providência

cREchE BoM sAMARITAno:noVA FLoR DEsABRochA DE UMA AnTIGA sEMEnTE

sua maioria meninas órfãs e aban-donadas, filhas da miséria, da pro-miscuidade, da fome e da doença. Ana de Jesus não parava um só instante para que nada faltasse àquelas que a Divina Providência lhe confiava. Segundo alguns tes-temunhos, parecia gozar do dom da ubiquidade, pois dava a impres-são de estar junto de cada criança e simultaneamente, nos vários servi-ços domésticos. Viam-na presente em todos os cantos e, fora de casa, recorria aos benfeitores, procuran-do apoios para a sua Obra. O tempo foi passando e a necessi-dade de acolher pessoas com defi-ciência tornou-se uma prioridade. Na época, não se falava em inclu-são nem em escola inclusiva! Dada a pobreza de meios, a imensa vonta-de de valer a todas as situações e ne-cessidades não podia garantir uma resposta qualificada, o que levou os serviços estatais a decidirem reti-rar da Obra da Divina Providência as crianças que não possuíam defi-ciência, deixando todas as outras.Como refere nos seus escritos, de “coração a sangrar de dor”, Ana de Jesus aceita tal decisão e pros-segue a sua missão, acolhendo pessoas com deficiência e idosos. Até à actualidade, esta missão tem sido continuada pelas suas seguido-ras que, recordando a génese e caris-

ma da Congregação, querem agora responder às dificuldades sentidas pelos pais, nos primeiros anos de vida dos seus filhos, abrindo a Cre-che Bom Samaritano. Esta resposta social vai desenvolver---se num equipamento contíguo ao edifício da Casa do Bom Samaritano, onde serão acolhidas crianças com

idades compreendidas entre os três meses e os três anos, durante o perío-do diário correspondente ao trabalho dos encarregados de educação. Ao abrir este novo espaço de inter- venção social, propomo-nos, nomea- damente, os seguintes objectivos:Proporcionar às crianças um clima de segurança, física e emo-

Irmã Ana de Amorim e as meninas no santuário

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cional que contribua para o seu bem-estar e desenvolvimento;Partilhar com a família os cui-dados e a responsabilidade do de-senvolvimento das crianças; Fazer o despiste precoce de qualquer inadaptação ou deficiên-cia, e dentro do possível garantin-do um encaminhamento adequado para cada caso; Prevenir e compensar falhas socais e culturais do meio familiar ou social. Prestar um serviço humaniza-do e de qualidade, ensinando as crianças a amar, amando-as;

Tendo presente o desenvol-vimento global da criança, não podemos prescindir dos valores como o amor, a alegria, a partilha, a família, a equidade, a solida-riedade e os demais requisitos de uma educação integral. A Creche do Bom Samaritano pretende ser, em suma, uma esco-la de amizade e bondade, onde as crianças possam crescer, brincar, e aprender, descobrindo o mundo que as rodeia de uma forma criati-va e respeitando sempre os tesouri-nhos que nos são confiados como seres únicos e irrepetíveis.

Recordando, Ana de Jesus, na sua dedicação ao outro e às crianças em particular, acompanharemos o cres-cimento das crianças, ajudando-as nas suas dificuldades para que estas não abafem nunca os seus sonhos.Convictas de que a educação resi-de nas pequenas coisas, nos gestos e palavras do dia-a-dia, procura-remos proporcionar um ambiente alegre e feliz, sem isolar as crian-ças numa redoma artificial que as aparte do mundo que nos rodeia. Deste modo, queremos colaborar com as famílias a preparar as crian-ças para enfrentarem o seu futuro com a serenidade de quem confia em Deus Pai como confia em seus pais e mães, e com o sentido de so-lidariedade que os prepare a lidar com as complexidades da vida.Por tudo isto, a Creche do Bom Samaritano é uma janela cheia de esperança que queremos abrir para o futuro tanto da instituição como da comunidade eclesial e social em que estamos inseridas, cientes de que é de pequenino que se traça o caminho e de que nunca se é grande senão começando por ser pequeno.

creche do Bom samaritano

Funcionária com a sua família

Pág. 75A VIDA DA cAsADo BoM sAMARITAnoonTEM E hoJEO Centro Social da Divina Providência é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), sem fins lucrativos, criada em 1983, por iniciativa da Fraternidade Franciscana da Divina Providência, que visa prosseguir os seus objectivos religiosos e de solidariedade social, assistindo as utentes que já eram acolhidas pela referida Congregação desde 1942, e a outras que viria a acolher no futuro. A Casa do Bom Samaritano é uma resposta social do Centro Social da Divina Providência – Lar Residencial, que acolhe, em regime de internato, mulheres com deficiência mental de grau moderado, grave ou profundo, provenientes de meio familiar, social e económico desfavorecido. Pretende desempenhar a sua missão social procurando «ser também a encarnação e a

pregação viva da parábola do Bom Samaritano: ensinar a amar graciosamente aqueles que não nos são nada como se nos fossem tudo; ensinar não só a dar, mas a darmo-nos; ensinar a formar uma comunidade e a construir uma família». O seu âmbito geográfico de actuação abrange todoo território nacional, com o privilégio dos distritos de Santarém e de Leiria, que são a zona natural e populacional da sua implementação e actividade. O gráfico 1 dá-nos conta da percentagem de utentes admitidas por distrito ao longo dos tempos, verificando-se que a maior afluência de internamentos se encontra na região centro, pelo que os distritos com maior representatividade são os de Santarém (29%) e de Leiria (23%).

Pela equipa técnica da Casado Bom Samartiano

Utentes a passear nos arredores da casa

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Gráfico 1-Utentes admitidas por distrito

O gráfico 2 apresenta uma resenha histórica do número de admissões por ano, desde 1948 até aos nossos dias.

Gráfico 2 – Utentes admitidas por ano

A capacidade total do equipamento é de 90 utentes, sendo que actual-mente apoiamos uma média de 87, apesar do acordo de cooperação com o Centro Distrital de Solidariedade e Segurança So-cial de Santarém, abranger apenas 80 utentes.

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O gráfico 3 ilustra a permanência das utentes na casa, por tempos superiores a 20 anos, verificando-se que a utente que se encontra há mais tempo na casa permanece na mesma há 60 anos.

Gráfico 3 – Tempo de residência das utentes na Instituição (por anos)

Actualmente residem na Instituição 86 utentes, com idades compreendidas entre os 20 e os 89 anos.Analisando o gráfico 4, verifica-se que o grupo etário mais representativo é o dos 50/59 anos,sucedendo-se o dos 40/49 anos, encontrando-se actualmente a média de idades nos 52 anos.

Gráfico 4 – Utentes por grupos etários

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colaboradores e Directora Técnica da casa do Bom samaritano, após uma acção de Formação

Actualmente a Casa do Bom Samaritano tem cerca de 70 colaboradores, que asseguram a prestação dos seguintes serviços:Serviços de prestação de cuidados clínicos e de en-fermagem;Serviço de prestação de cuidados de reabilitação;Serviços de Psicologia Clínica; Serviço Social;

Serviço de alojamento e apoio residencial;Serviço de alimentação;Serviço de prestação de cuidados de higiene e imagem.Cerca de 23 colaboradores constituem a equipa téc-nica e pessoal administrativo, sendo que alguns de-les não tendo vínculo laboral à Instituição, realizam a sua actividade em tempo parcial, nomeadamente alguns médicos e técnicos de reabilitação.

Gráfico 5 – População por tipo de deficiência

Observando os dados do gráfico 5, constata-se que a totalidade da população residente é portadora de deficiência mental (55,5%), seguin-do-se o grupo de utentes portadoras de deficiência mental e sensorial (20,5%), e por fim, com igual per-centagem (12%), os dois restantes grupos: utentes portadoras de defi-ciência mental e deficiência moto-ra; utentes portadoras de 3 tipos de deficiência contemplados: mental, motora e sensorial.Os dados atrás analisados referem---se às utentes em internamento de-finitivo. No entanto são realizadas admissões temporárias de utentes cuja família necessita de apoio em

coLABoRADoREs E sERVIços

determinadas situações, tais como em caso de doença ou necessidade de descanso da respectiva família. Este tipo de internamento habitu-

almente vai desde uma semana a aproximadamente dois meses, po-dendo estas famílias ser apoiadas várias vezes por ano.

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O restante pessoal auxiliar, distri-bui-se por categorias distintas, tais como: ajudantes de lar, ajudantes de ocupação, rouparia, lavandaria, cozinha, serviços gerais, motoris-ta, jardinagem, agropecuária etc.Estão incluídos nos colaborado-res, os elementos da Comunida-de Religiosa – Irmãs, que estão permanentemente na Instituição, local da sua residência, o que su-planta dificuldades de natureza diversa, das quais se destacam, do ponto de vista directivo, fun-cional, assegurarem de forma contínua os diversos serviços, permitindo que não haja desconti-nuidade no apoio às utentes, para além de outras facilidades, e do ponto de vista espiritual, permi-te a vivência dos valores cristãos de solidariedade e fraternidade, conferindo-lhes uma estabilidade emocional fortalecedora. Para além da comunidade resi-dente, algumas Irmãs e Noviças da Congregação colaboram na Instituição, em serviço de volun-tariado, durante os fins-de-sema-na e feriados.É importante ainda referir que há pessoas que, não pertencentes ao quadro, em nome individual e/ou colectivo, de organização civil ou religiosa, colaboram gratuita-mente com a Instituição, de forma permanente, regular ou pontual-mente. Entre outros, são exemplos destes os Assistentes Religiosos, outros Sacerdotes e Capelão, que são responsáveis pela assistência

religiosa, administram Sacramen-tos e celebram a Eucaristia diária. Temos ainda jovens ou adultos, que individualmente ou em grupo, oriundos dos mais diversos pontos do país ou estrangeiro, prestam serviço de voluntariado.

Área da Saúdee ReabilitaçãoOs profissionais da Casa do Bom Samaritano visam a promoção global da saúde, baseando-se na dimensão ética, que tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Apostar na humanização e na qualidade de vida é uma exi-gência da saúde moderna que olha para a pessoa, numa perspectiva holística e multidimensional. Daí

a necessidade da Instituição inves-tir em programas de natureza edu-cativa, pedagógica, ocupacional, social, desportiva, recreativa e te-rapêutica, para além de consultas de clínica geral e de especialida-des, bem como cuidados médicos, de enfermagem, de reabilitação e outros. O apoio do clínico geral é realizado sempre que necessário, deslocando-se o médico à Institui-ção, e os cuidados de enfermagem são prestados diariamente por esta equipa, encontrando-se uma enfermeira permanentemente na Instituição.Na área da reabilitação, a interven-ção em fisioterapia, tem como ob-jectivo principal assegurar que as utentes tenham uma boa saúde cor-poral e mental, uma boa mobilidade e uma maior autonomia. A inter-venção em terapia ocupacional tem como principal finalidade propor-cionar às utentes mais incapacitadas opções técnicas que lhe permitam reverter ou minorar a sua incapaci-dade, tais como dispositivos ortóti-

É importante ainda referir que há pessoas que, não pertencentes ao quadro, em nome individual e/ou colectivo, de organização civil ou religiosa, colaboram gratuitamente com a Instituição, de forma permanen-te, regular ou pontualmente

Frei hermínio Araújo com uma utente

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cos ou ajudas técnicas específicas.Prevê-se brevemente a criação de uma sala de Snoezelen, tendo em vista a melhoria da intervenção ao nível da estimulação sensorial e do relaxamento.Ao nível da saúde mental, o apoio em Psiquiatria é maioritariamente direccionado às utentes com alte-rações comportamentais, que po-derão ser acentuadas por patologia psiquiátrica subjacente, necessi-tando de tratamento psicofarmaco-lógico específico, com vista à sua estabilização clínica, bem como à diminuição das repercussões nega-tivas no bem-estar da própria assim como das outras utentes. A actuação da Psicóloga Clínica tem como objectivos principais a intervenção ao nível do comporta-mento das utentes, bem como pro-porcionar às mesmas equilíbrio e estabilidade emocional. Em conjun-to com o Psiquiatra são discutidas e implementadas estratégias psico-te-rapêuticas adaptadas a cada caso.

Actividadesdesenvolvidascom as utentesAs actividades desenvolvidas com as utentes são calendarizadas de acordo com o ano lectivo, isto é, de Setembro a Junho. Todas as actividades são planificadas e rea-lizadas de acordo com as caracte-rísticas individuais de cada utente, designadamente as suas capaci-dades, tipo e grau de deficiência, nível de dependência e a própria apetência e vontade. A planifica-ção é realizada pela equipa mul-

tidisciplinar, destacando-se técni-cos responsáveis para acompanhar as mesmas ao longo do ano. Deste modo, realizamos activida-des de natureza terapêutica, peda-gógica, educacional, ocupacional, recreativa, desportiva e social. De um modo geral, estas actividades visam: promover a autonomia pessoal; fomentar a auto-estima e valorização pessoal; estimular as capacidades físicas e/ou men-tais; desenvolver as competências sociais; promover e incentivar a participação da pessoa com de-

ficiência na comunidade local. Procuramos assim fomentar nas utentes maior autonomia, parti-cipação, integração, felicidade e valorização pessoal.Deste modo são organizados, estru-turados e implementados diferentes tipos de programas de actividades, as quais descrevemos de seguida:

Actividadesde AutonomiaTodas as actividades que desen-volvemos com as utentes têm a autonomia como um dos objecti-vos principais. No entanto, temos actividades específicas onde a au-tonomia está em primeiro plano. Deste modo e de acordo com as capacidades das utentes e com as suas necessidades, desenvolve-

Realizamos actividades de natureza terapêutica,pedagógica, educacional, ocupacional, recreativa,desportiva e social

Fisioterapeuta em apoio à utente

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mos um programa mais específico de autonomização, quer nos cui-dados básicos de higiene, quer no comer à mesa.

Actividadesda Vida Diária (AVD)Este conjunto de actividades inclui todas aquelas relacionadas com o dia-a-dia das utentes na Instituição. Com periodicidade diária, distri-buem-se e integram-se as utentes pelos diferentes sectores da Casa, tais como: cozinha; refeitório; rou-paria; arranjo dos quartos; jardina-gem; etc. Todas as utentes integra-das são acompanhadas e orientadas por colaboradores, e supervisiona-das pela equipa técnica.

Salas de ActividadesNa Instituição existem três salas destacadas para as utentes que não se encontram integradas em Acti-vidades da Vida Diária: uma sala das idosas e duas outras destina-das a utentes com maiores limita-ções psicomotoras, onde o critério de divisão desses dois grupos é o seu grau cognitivo e mental.Na sala das utentes mais idosas – Sala da Ir. Ana, o trabalho situa-se ao nível da ocupação, onde inclui: actividades individuais, em que cada utente realiza as suas activi-dades preferenciais; actividades de grupo, como jogos de grupo di-versos, histórias e contos, motrici-dade global, passeios, etc...Na sala das utentes com maiores limitações sensoriais e motoras – Sala São Francisco – com o ob-jectivo de aumentar a capacidade psicomotora geral e prevenir o au-mento e/ou aparecimento de de-formidades e/ou zonas de pressão nas utentes, estão implementados programas diários de intervenção que compreendem trabalho físico

e sensorial, e a implementação de ajudas técnicas. Desenvolve-se também um plano de trabalho se-manal, com programa de estimu-lação para cada utente ao nível sensorial (visual, auditivo, táctil e olfactivo) e ao nível motor. Relativamente à sala de utentes com menores limitações cogniti-vas – Sala da Divina Providência, o trabalho é efectuado em grupos ou subgrupos de utentes, e abrange

actividades diversas, cujos objec-tivos estão correlacionados, desig-nadamente, com as áreas cogniti-va, grafo-perceptiva, psicomotora e ocupacional. Desenvolvem-se as seguintes actividades: concei-tos básicos; sequências e/ou asso-ciações de imagens e/ou histórias e acções; nomeação, identificação e descrição de objectos ou figuras; expressão plástica, jogos educati-vos; jogo simbólico e expressão

Utentes na actuação da “orquestra dos Lírios”

Actividades da Vida Diária: Agro-pecuária

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corporal; de relaxamento e motri-cidade global; entre outras.Nas três salas, apostamos nas acti-vidades na rua, em especial na pri-mavera e no verão, em passeios na zona circundante da Instituição, e no usufruto da mata.

AteliersOs Ateliers Ocupacionais e Psi-co-educativos são uma aposta na ocupação e intervenção pedagógi-ca das utentes.Os Ateliers Ocupacionais fun-

cionam durante a tarde e estão direccionados, principalmente, à ocupação das utentes com mais capacidade, e que durante o perío-do da manhã estiveram integradas em A.V.D. A distribuição por gru-pos de atelier é feita com base na escolha de cada utente, em relação ao tipo de trabalho que a mesma pretende realizar. Realizam-se os seguintes ateliers: Lavores, Cos-tura, Expressão Plástica e Traba-lhos Manuais. Os trabalhos realizados nos Ateliers

Ocupacionais têm como destino: o uso pessoal das utentes, utilização em utentes mais incapacitadas, de-coração da Casa e oferta a pessoas que se deslocam à Instituição em visita ou em dias de festa. Os Ateliers Psico-educativos são direccionados a utentes com maio-res limitações cognitivas e têm como principais objectivos esti-mular capacidades mentais (comu-nicação; memória; atenção/con-centração; pensamento; percepção auditiva, visual, táctil e olfactiva; entre outras), bem como promo-ver a aquisição de competências sociais, diminuindo a ansiedade e atenuando situações de irritabilida-de e de hiperactividade.Estão implementados ainda dois ateliers: Leitura e Escrita e Os nos-sos Recursos. Estes são destinados às utentes com mais capacidade cognitiva, com alguma frequência escolar, de forma a iniciar, manter ou relembrar algumas competên-cias, nomeadamente ao nível da leitura, escrita e cálculo.

ActividadescomplementaresSão realizadas ainda as seguintes actividades complementares:Educação MusicalEducação FísicaActividade Motora AdaptadaHatha-yogaExpressão CorporalDança CriativaCânticos e Danças PopularesTeatroColónia de férias na praia da NazaréPara além destas existem activida-des no exterior, de âmbito despor-tivo, cultural, recreativo e de lazer.

Vida CristãA Instituição, integrando a sua raiz na Congregação das Irmãs Fran-

Ateliers ocupacionais: lavores

Actividade Motora Adaptada

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ciscanas da Divina Providência, e acolhendo utentes provenientes de famílias tradicionalmente cristãs, procurou estimular, desenvolver e incutir no dia-a-dia os valores Evangélicos. Há um grupo de utentes com mais capacidade que gosta de frequentar com assiduidade a vida cristã pela frequência na Eucaristia, Sacra-mentos, aulas de catequese, retiros de reflexão espiritual, recitação do Terço, dramatização de carácter Re-ligioso, bem como de participação em alguns actos Litúrgicos, como Celebrações realizadas no Santuá-rio de Fátima. Estes acontecimen-tos são garantidos e acompanhados pela Comunidade Religiosa local e pelas Formandas da Congregação das Irmãs Franciscanas da Divi-na Providência, por Sacerdotes da Congregação do Verbo Divino e por Sacerdotes da Ordem dos Fra-des Menores.A vivência da vida cristã repercu-te-se positivamente no dia-a-dia das utentes, pondo em realce o espírito da fraternidade, coopera-ção, entreajuda e verdadeira Vida Cristã e de solidariedade.

Relação das utentes com a família ou substitutosA Instituição procura desenvol-ver um trabalho de sensibilização com as famílias, com o intuito de visitarem as utentes internadas, mantendo a ligação e o vínculo familiar com as mesmas. Este tra-balho de aproximação às famílias é efectivado através de contactos telefónicos, escritos ou pessoal-mente. No entanto, muitas das fa-mílias não procuram as utentes, daí a Instituição levar algumas utentes a casa das suas famílias e/ou à sua terra natal, de forma a colmatar esta necessidade. No en-

tanto existem familiares preocu-pados e atentos, que concretizam o seu interesse pelas utentes, vi-sitando-as e realizando contactos por telefone. Este trabalho realizado com as famí-lias tem proporcionado a manutenção dos laços familiares, que contribuem significativamente para a estabilida-de emocional das utentes.Para além disto, a Casa do Bom Samaritano disponibiliza ainda alojamento e alimentação a fa-miliares de utentes. Este tipo de

alojamento justifica-se ou pelos fracos recursos financeiros dos fa-miliares que residem longe, e que de outro modo não visitariam a sua familiar; ou pelo restabelecer do equilíbrio emocional e afectivo da utente.Quando nos focamos na análise do trabalho desenvolvido senti-mos, com orgulho, ter alcançado algumas metas; mas com humil-dade, reconhecemos ainda ter um grande caminho a percorrer. Con-sideramos, para tal, que o trabalho

Utentes a jantar num Restaurante tradicional na Madeira

Aniversário de uma utente, com a presença da sua família

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em equipa, um grupo coeso e o sentimento de “estar em família”, são essenciais para continuarmos a fazer e a dar o melhor de nós, neste projecto que é de todos nós, e que tem como principal objec-tivo, a melhoria da qualidade de vida das nossas utentes.É de salientar que cerca de 60% das nossas utentes não têm fami-liares (este factor deve-se aos cri-térios estatutários de admissão).Fruto do amor e espírito francis-cano e da gratuidade do povo, esta Casa procura manter-se e manter o espírito fundacional da Divina Providência, legado à Irmã Ana de Jesus Faria de Amorim, que se manifesta na colaboração, na vivência dos valores de uma ver-dadeira família, onde todos par-ticipam de uma maneira activa no nosso dia-a-dia, as Utentes, a Comunidade Religiosa, os fun-

cionários, os benfeitores, e todos aqueles que partilham e colabo-ram connosco para o cumprimen-to de um objectivo comum: a fe-licidade das nossas utentes. Move-nos um grande optimismo

e uma vontade de fazer a nossa parte e o nosso melhor, pois “... sempre é melhor acender algu-mas velas do que permanente-mente nos queixarmos da escuri-dão” (John Adair).

Teatralização de natal

Filha de uma funcionária, em voluntariado, com uma utente

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Eis a Casa do Bom Samaritanoonde há amor e festa todo o ano.Nesta Casa há mais luz do que mil círios:Casa onde Jesus diz: olhai os lírios.

Imitemos o Bom Samaritanode coração tão bom e humano,que nunca ao lado de um ferido passamesmo que seja doutra terra e raça.

O amor não tem fronteiras nem barreiras,mas se espalha de todas as maneiras,e a quem acha ferido em seu caminhoas chagas cura com azeite e vinho.

Não feches nunca os olhos e os ouvidosaos que achares doentes e feridos.Sê tu também um Bom Samaritanode coração tão bom e tão humano.

Vai tu também e a mesma coisa faze mais fraterno o mundo tu farás.Aos irmãos que encontrares maltratadoscom compaixão os toma aos teus cuidados.

Esta Casa do Bom Samaritanoé de quem tem um coração humano,um coração de amor e de alegriae o amor espalha como a luz do dia.

hIno DA cAsADo BoM sAMARITAno

Frei Adelino Pereira, O.F.M.

ínDIcEPALAVRA DE ABERTURA ......................................................................................... 1

DIVINA PROVIDêNCIA, A CASA É VOSSA ........................................................... 2

A MíSTICA DO BOM SAMARITANO .................................................................... 11

UMA CASA E OBRA DE TERNURA ....................................................................... 12

UMA PáGINA DO EVANGELHO AOS PÉS

DA NOSSA SENHORA DE FáTIMA ........................................................... 14

25 ANOS AO SERVIçO DOS MAIS CARENCIADOS ......................................... 16

VAI, FREI ADELINO, E REPARA A MINHA CASA! ........................................... 19

BOM SAMARITANO, UMA PARáBOLA VIVA .................................................... 23

REGISTOS FOTOGRáFICOS DO DIA 15 DE SETEMBRO DE 1984

INAUGURAçãO DA CASA DO BOM SAMARITANO ........................... 37

O BOM SAMARITANO COMO CASA DE FORMAçãO ................................... 38

A CASA DO BOM SAMARITANO E A DIMENSãO MISSIONáRIA ............... 40

UMA CAPELANIA EVANGELIzADORA .............................................................. 42

UM PASTOR CONFORME O DESEJO DE JESUS .............................................. 44

FREI ADELINO ........................................................................................................... 47

DUAS CASAS, UM MESMO ESPíRITO FRANCISCANO ................................. 48

TESTEMUNHO DOS LíRIOS DA CASA DO BOM SAMARITANO ............... 50

TRABALHAR E VIVER EM FAMíLIA E FRATERNIDADE ............................. 56

A VIVêNCIA DUM PSIQUIATRA NA CASA DO BOM SAMARITANO ......... 61

MÉDICO DE UMA GRANDE FAMíLIA ................................................................ 64

O OLHAR DE UM ADVOGADO NA CASA DO BOM SAMARITANO ............ 65

VENHA COMIGO CONHECER A CASA DO BOM SAMARITANO ............... 66

“A DIVINA PROVIDêNCIA CUIDA DE NÓS” ..................................................... 70

CRECHE BOM SAMARITANO: NOVA FLOR DESABROCHA

DE UMA ANTIGA SEMENTE ...................................................................... 72

A VIDA DA CASA DO BOM SAMARITANO ONTEM E HOJE ........................ 75

COLABORADORES E SERVIçOS ......................................................................... 78

HINO DA CASA DO BOM SAMARITANO ............................................................ 85

Pág. 88TíTULO o Bom samaritano em Fátima. 25 Anos da casa do Bom samaritano

DATA DA PUBLICAÇÃO 26 de setembro de 2009

PROPRIEDADE E EDIÇÃO Fraternidade Franciscana da Divina Providência

IMPRESSÃO Gráfica Almondina, zona Industrial – Torres novas

TIRAGEM 10.000 exemplares

COORDENAÇÃO Irmã Maria José Rodrigues da costa Lima, Frei Isidro Pereira Lamelas, Irmã Ana da Paz Abreu nunes, Rui Forte e Dra. Ana Rita Luta

COLABORAÇÃO Frei Isidro Pereira Lamelas; Irmã Maria José Rodrigues da costa Lima; Frei Vitor Melícias; Padre Jorge Manuel Faria Guarda; Padre Virgílio Antunes; Dr. Vítor Manuel de Jesus Fra-zão; Irmã Maria helena Ferreira Teixeira; As Irmãs missionárias em Timor; Padre José Augusto Leitão; Frei severino centomo; D. serafim sousa Ferreira silva; Irmão José carlos Gorgulho; Tes-temunhos das utentes da casa do Bom samaritano com a orientação da Psicóloga, Dra. cristina conceição; Testemunhos dos Funcionários da casa do Bom samaritano; Dr. José Valente; Dr. A. Rodrigues de Freitas; Maria odete silva Martins; António das neves; Irmã Ana da Paz Abreu nunes e Equipa Técnica da casa do Bom samaritano

CAPA E CONTRA-CAPA Manuel José Lopes da cunha

COMPOSIÇÃO E DESIGN Ana Paula Ribeiro

CONTACTO cAsA Do BoM sAMARITAno | Rua do Bom samaritano, 74 | 2495-439 FáTIMAemail: [email protected] e [email protected]: 249 531 273 | Fax 249 531 806

FIchA TécnIcA