oscilações de grandes amplitudes num corpo que se move com...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ INSTITUTO DE ENGENHARIA MECÂNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Oscilações de Grandes Amplitudes num Corpo que se Move com Velocidade Constante Autor: Jan Novaes Recicar Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Alcântara Pereira Co-orientador: Prof. Ph.D. Miguel Hiroo Hirata Itajubá, Abril de 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

INSTITUTO DE ENGENHARIA MECNICA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

DISSERTAO DE MESTRADO

Oscilaes de Grandes Amplitudes num Corpo que se Move com Velocidade Constante

Autor: Jan Novaes Recicar

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Alcntara Pereira

Co-orientador: Prof. Ph.D. Miguel Hiroo Hirata

Itajub, Abril de 2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

INSTITUTO DE ENGENHARIA MECNICA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

DISSERTAO DE MESTRADO

Oscilaes de Grandes Amplitudes num Corpo que se Move com Velocidade Constante

Autor: Jan Novaes Recicar

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Alcntara Pereira

Co-orientador: Prof. Ph.D. Miguel Hiroo Hirata

Curso: Mestrado em Engenharia Mecnica

rea de Concentrao: Dinmica dos Fluidos e Mquinas de Fluxo

Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica como

parte dos requisitos para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia Mecnica.

Itajub, Abril de 2007

M.G. Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUB

INSTITUTO DE ENGENHARIA MECNICA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

DISSERTAO DE MESTRADO

Oscilaes de Grandes Amplitudes num Corpo que se Move com Velocidade Constante

Autor: Jan Novaes Recicar

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Alcntara Pereira

Co-orientador: Prof. Ph.D. Miguel Hiroo Hirata Composio da Banca Examinadora:

Prof. Dr. Srgio Viosa Mller - UFRGS Prof. Dra. Ana Lucia Fernandes de Lima e Silva - UNIFEI Prof. Ph.D. Miguel Hiroo Hirata (Co-orientador) - UNIFEI Prof. Dr. Luiz Antonio Alcntara Pereira (Orientador) - UNIFEI

Dedicatria

Aos meus pais, Vojtech e Maria Lygia, que sempre me incentivaram na formao e no

desenvolvimento cultural.

Agradecimentos

Ao meu Orientador, Professor Dr. Luiz Antonio Alcntara Pereira, pela competncia,

dedicao, pacincia e amizade.

Ao Professor Ph.D. Miguel Hiroo Hirata, pela sua valiosa ajuda na co-orientao deste

trabalho.

Ao Professor Dr. Jos Eugnio Rios Ricci, por seu apoio e por me apresentar ao grupo

de trabalho de Mtodo de Vrtices.

O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar obstculos

(Lao-Ts)

Resumo

RECICAR, J. N. (2007), Oscilaes de Grandes Amplitudes num Corpo que se Move com

Velocidade Constante, Itajub, 119p. Dissertao (Mestrado em Mquinas de Fluxo) -

Instituto de Engenharia Mecnica, Universidade Federal de Itajub.

Este trabalho analisa o escoamento de um fluido Newtoniano com propriedades

constantes ao redor de um corpo oscilante que se move com velocidade constante. A oscilao

do corpo perpendicular direo do escoamento. So apresentados resultados referentes

anlise da influncia da freqncia e da amplitude de oscilao de um cilindro circular sobre o

clculo das cargas aerodinmicas e sobre o nmero de Strouhal. A simulao numrica

realizada utilizando-se o Mtodo de Vrtices Discretos. Para cada incremento de tempo da

simulao, um nmero de vrtices discretos de Lamb gerado prximo superfcie do corpo;

a intensidade dos vrtices nascentes calculada para satisfazer a condio de escorregamento-

nulo. As cargas aerodinmicas so calculadas utilizando uma formulao integral derivada de

uma equao de Poisson para a presso. Trs tipos de regimes de escoamento so

identificados durante um aumento na freqncia de oscilao do corpo. O primeiro tipo

observado para baixas freqncias de oscilao do corpo; nesta situao o nmero de Strouhal

permanece quase constante correspondendo ao nmero de Strouhal de um corpo sem

oscilao. O segundo tipo corresponde a um regime de transio, onde aparentemente a

freqncia de emisso de vrtices no correlaciona com a freqncia de oscilao do corpo.

Finalmente para altas freqncias de oscilao do corpo a freqncia de emisso de vrtices

coincide com a freqncia de oscilao do corpo denominada de freqncia de lock-in.

Palavras-chave

Mtodo de vrtices, mtodo dos painis, cargas aerodinmicas, nmero de Strouhal,

corpo oscilante.

Abstract

RECICAR, J. N. (2007), Large Amplitude Oscillation in a Body which Moves with Constant

Velocity, Itajub, 119p. MSc. Dissertation - Instituto de Engenharia Mecnica,

Universidade Federal de Itajub.

The flow around a heaving body which moves with constant velocity in a quiescent

Newtonian fluid with constant properties is analyzed. For the circular cylinder is presented the

influences of the frequency and amplitude oscillation on the aerodynamics loads and on the

Strouhal number. For the numerical simulations, the Discrete Vortex Method is used. In the

vortex method the vorticity generated on the body surface is discretized and represented by a

cloud of particles carrying vorticity. Lamb vortices with a viscous core are used for that

matter. For each time step of the simulation, a number of discrete vortices are placed close to

the body surface; the intensity of them is determined such as to satisfy the no-slip boundary

condition. The aerodynamics loads are obtained using an integral equation derived from the

pressure Poisson equation. It is also possible to identify three different types of flow regime as

the cylinder oscillation frequency increases. The first type is observed for low frequency

range of the cylinder oscillation; in this situation the Strouhal number remains almost

constant. The first type is followed by an intermediate range of frequency, the transition

regime, where apparently the shedding frequency does not correlate to the frequency of the

cylinder oscillation. Finally in the third type, high frequency of cylinder oscillation, the vortex

shedding frequency is locked-in with the cylinder oscillation frequency.

Keywords

Vortex method, panels method, aerodynamics loads, Strouhal number, oscillating bluff

body.

i

Sumrio

SUMRIO_________________________________________________________________I

LISTA DE FIGURAS______________________________________________________ IV

LISTA DE TABELAS _____________________________________________________ VI

SIMBOLOGIA __________________________________________________________ VII

LETRAS LATINAS ______________________________________________________ VII

LETRAS GREGAS ______________________________________________________VIII

SUPERESCRITOS________________________________________________________ IX

SUBSCRITOS____________________________________________________________ IX

SIGLAS __________________________________________________________________ X

CAPTULO 1 _____________________________________________________________ 1

INTRODUO ___________________________________________________________ 1

CAPTULO 2 _____________________________________________________________ 6

REVISO BIBLIOGRFICA _______________________________________________ 6

2.1 ESCOAMENTO AO REDOR DE UM CORPO OSCILANTE O QUAL SE MOVE

COM VELOCIDADE CONSTANTE ----------------------------------------------------------------- 6

2.1.1 Referncias Utilizadas---------------------------------------------------------------------- 6

2.1.2 Referncias Gerais -------------------------------------------------------------------------- 7

2.2 O MTODO DE VRTICES------------------------------------------------------------------- 9

CAPTULO 3 ____________________________________________________________ 13

FORMULAO GERAL DO PROBLEMA E O MTODO DE VRTICES_______ 13

3.1 INTRODUO----------------------------------------------------------------------------------13

3.2 FORMULAO GERAL DO MTODO ---------------------------------------------------14

ii

3.3 HIPTESES SIMPLIFICADORAS ----------------------------------------------------------17

3.4 EQUAES E CONDIES DE CONTORNO QUE DEFINEM O MODELO------18

3.5 ADIMENSIONALIZAO DAS EQUAES--------------------------------------------19

3.6 O MTODO DE VRTICES------------------------------------------------------------------21

3.6.1 Equao do Transporte da Vorticidade -------------------------------------------------22

3.6.2 A Separao dos Efeitos Viscosos-------------------------------------------------------23

3.6.3 Conveco da Vorticidade ----------------------------------------------------------------23

3.6.4 Difuso da Vorticidade--------------------------------------------------------------------29

3.6.5 Gerao da Vorticidade -------------------------------------------------------------------30

3.6.6 Conservao da Circulao ---------------------------------------------------------------33

3.6.7 Cargas Aerodinmicas --------------------------------------------------------------------33

CAPTULO 4 ____________________________________________________________ 37

IMPLEMENTAO NUMRICA __________________________________________ 37

4.1 INTRODUO----------------------------------------------------------------------------------37

4.2 ALGORTMO GERAL DO MTODO ------------------------------------------------------37

CAPTULO 5 ____________________________________________________________ 46

ANLISE DOS RESULTADOS DA SIMULAO NUMRICA_________________ 46

5.1 INTRODUO----------------------------------------------------------------------------------46

5.1 PARMETROS UTILIZADOS NA SIMULAO NUMRICA-----------------------47

5.2 CILINDRO CIRCULAR -----------------------------------------------------------------------50

5.2.1 Cilindro circular sem oscilao ----------------------------------------------------------50

5.2.2 Cilindro circular oscilando----------------------------------------------------------------58

CAPTULO 6 ____________________________________________________________ 72

CONCLUSES E SUGESTES ____________________________________________ 72

6.1 INTRODUO----------------------------------------------------------------------------------72

6.2 CONCLUSES E SUGESTES--------------------------------------------------------------73

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ________________________________________ 76

APNDICE A ____________________________________________________________ 82

OBTENO DA EQUAO DO TRANSPORTE DE VORTICIDADE 3D E 2D ___ 82

APNDICE B ____________________________________________________________ 86

DETALHES DO CLCULO DAS VELOCIDADES ____________________________ 86

APNDICE C ____________________________________________________________ 91

iii

DISTRIBUIO DA VORTICIDADE E DA VELOCIDADE INDUZIDA _________ 91

C.1 O VRTICE POTENCIAL--------------------------------------------------------------------92

C.2 O VRTICE LAMB----------------------------------------------------------------------------95

APNDICE D ____________________________________________________________ 98

VELOCIDADE INDUZIDA POR UMA NUVEM DE VORTICES ________________ 98

iv

Lista de Figuras

Figura 1 Definio do problema---------------------------------------------------------------------14

Figura 2 Distribuio de fontes com densidade uniforme----------------------------------------25

Figura 3 Representao de um painel genrico do corpo ----------------------------------------26

Figura 4 Velocidade induzida pelo corpo ----------------------------------------------------------27

Figura 5 Fluxo de vorticidade atravs da parede --------------------------------------------------31

Figura 6 Vrtice de Lamb ----------------------------------------------------------------------------31

Figura 7 Algoritmo de implementao do programa OSCILLATION.FOR----------------38

Figura 8 Detalhe da distribuio de painis no cilindro circular --------------------------------48

Figura 9 Determinao da freqncia de emisso de vrtices -----------------------------------51

Figura 10 Clculo da amplitude mdia de LC -----------------------------------------------------52

Figura 11 Comparao dos resultados mdios de coeficiente de presso )C( P ---------------54

Figura 12 Cargas aerodinmicas integradas (sem oscilao) ------------------------------------54

Figura 13 Evoluo da vorticidade aps 800 iteraes (sem oscilao)------------------------55

Figura 14 Campo de velocidades e manchas de vorticidade-------------------------------------56

Figura 15 Campo de velocidade e vorticidade (trecho a - b ) --------------------------------56

Figura 16 Campo de velocidades e vorticidade ( LC mximo negativo)------------------------57

Figura 17 Campo de velocidades e vorticidade (trecho b - c )--------------------------------57

Figura 18 Amplitude mdia do CL em funo da amplitude de oscilao para 05,0= ---59

Figura 19 Amplitude mdia do CL em funo da amplitude de oscilao para 5,1= ------60

Figura 20 Cargas aerodinmicas integradas ( 0,1= e 3,0A = ) -------------------------------61

Figura 21 Distribuio do coeficiente de presso ( 0,1= e 3,0A = ) -------------------------61

Figura 22 Nmero de Strouhal de emisso de vrtices em funo do Strouhal do corpo----63

v

Figura 23 Nmero de Strouhal para amplitude de oscilao 5,0A = --------------------------65

Figura 24 Nmero de Strouhal para amplitude de oscilao 3,0A = --------------------------66

Figura 25 Freqncia de lock-in em funo da amplitude de oscilao do corpo----------67

Figura 26 Esteira para corpo parado (a) e corpo oscilando (b) ----------------------------------68

Figura 27 Esteira para 33t = , 5,0A = e 0,1= -------------------------------------------------68

Figura 28 Campo de velocidades e mancha de vorticidade --------------------------------------69

Figura 29 Esteira para 3,28t = , 5,0A = e 0,1= -----------------------------------------------69

Figura 30 Campo de velocidades e manchas de vorticidade-------------------------------------69

Figura 31 Padro da esteira para 4,31t = , 5,0A = e 0,1= -----------------------------------70

Figura 32 Campo de velocidades e manchas de vorticidade-------------------------------------70

Figura 33 Oscilao, velocidade, acelerao e sustentao para 5,1= e 15,0A = ---------71

Figura 34 Velocidade induzida sobre o ponto de controle do painel ---------------------------86

Figura 35 Painis utilizados nas verificaes das velocidades induzidas ----------------------87

Figura 36 Painel superior frontal --------------------------------------------------------------------88

Figura 37 Painel inferior frontal ---------------------------------------------------------------------88

Figura 38 Painel traseiro superior -------------------------------------------------------------------89

Figura 39 Painel inferior traseiro --------------------------------------------------------------------89

Figura 40 Painel horizontal superior ----------------------------------------------------------------90

Figura 41 Painel horizontal inferior -----------------------------------------------------------------90

Figura 42 Velocidade induzida pelo escoamento incidente uniforme --------------------------92

Figura 43 Velocidade induzida pelo vrtice potencial--------------------------------------------94

Figura 44 Velocidade induzida pelo vrtice de Lamb --------------------------------------------97

vi

Lista de Tabelas

Tabela 1 Parmetros utilizados na simulao numrica ------------------------------------------49

Tabela 2 Cilindro circular sem oscilao-----------------------------------------------------------53

Tabela 3 Estudo para baixas velocidades angulares de oscilao -------------------------------58

Tabela 4 Estudo para altas velocidades angulares de oscilao ---------------------------------59

Tabela 5 Corpo sem oscilao -----------------------------------------------------------------------62

Tabela 6 Corpo com oscilao de pequena amplitude--------------------------------------------62

Tabela 7 Corpo com oscilao de grande amplitude----------------------------------------------64

Tabela 8 Corpo com oscilao de mdia amplitude-----------------------------------------------66

vii

Simbologia

Letras Latinas

A Amplitude da oscilao do corpo

b Comprimento caracterstico

DC Coeficiente de arrasto

LC Coeficiente de sustentao

Cp Coeficiente de presso

d Dimetro do cilindro circular

D Fora de arrasto

f Freqncia associada a emisso de vrtices

Cf Freqncia de oscilao do corpo

K Elemento da matriz de influncia

KC Nmero de Keulegan-Carpenter

L Fora de sustentao

M Nmero de painis planos

Nv Nmero total de vrtices discretos presentes na esteira

p Campo de presses

Re Nmero de Reynolds

S Define fronteira da regio fluida

CS Superfcie do corpo

S Superfcie a grandes distncias

viii

St Nmero de Strouhal

0T Tempo caracterstico

t Referente ao tempo

U Velocidade do escoamento incidente

u Campo de velocidades

iu Vetor velocidade do escoamento incidente

cu Vetor velocidade induzida pelo corpo

vu Vetor velocidade induzida pela nuvem de vrtices

u Componente em x da velocidade

v Componente em y da velocidade

V Vetor velocidade do corpo

xV Componente em x do vetor velocidade do corpo

yV Componente em y do vetor velocidade do corpo

x Coordenada em x da partcula y Coordenada em y da partcula

dx Coordenada em x do vetor avano randmico

dy Coordenada em y do vetor avano randmico

0y Posio instantnea, em y , do corpo oscilante

0y& Componente em y do vetor velocidade do corpo

Y Trabalho especfico total

dZ Vetor avano randmico

Letras Gregas

Velocidade angular da oscilao do corpo

Constante Pi ( 141593.3 = ) Referente ao contorno do corpo

Massa especfica

Viscosidade cinemtica

ix

Viscosidade dinmica

t Incremento de tempo

Densidade de fontes

0 Raio do ncleo do vrtice de Lamb

Densidade de vrtices

Intensidade do vrtice

Representa um somatrio

Campo de vorticidades

Componente do vetor vorticidade

Domnio do escoamento

s Comprimento do painel

ngulo do painel

Posio de desprendimento dos vrtices discretos

Operador Nabla

2 Operador Laplaciano

Superescritos

* Designa varivel adimensional

Subscritos

Denota componente tangencial

n Referente a direo normal

Denota condies de escoamento no-perturbado

x

Siglas

UNIFEI Universidade Federal de Itajub

Captulo 1

INTRODUO

O estudo do escoamento incompressvel e em regime no-permanente de um fluido

Newtoniano com propriedades constantes ao redor de um corpo oscilante movendo-se com

velocidade constante de grande importncia para as anlises aerodinmicas e

hidrodinmicas em vrias reas da engenharia.

As oscilaes de pequena amplitude so importantes na anlise de corpos imersos tais

como trocadores de calor, ps de turbomquinas e asas de avio; e uma ateno especial deve

ser tomada na condio de lock-in, ou seja, na regio onde a freqncia de emisso de

vrtices a mesma da freqncia de oscilao do corpo.

As oscilaes de grandes amplitudes, por outro lado, so relevantes em corpos

localizados em ondas e correntes tais como risers, linhas de transmisso, ps de

helicpteros, etc.

O movimento oscilatrio de pequena amplitude modifica, principalmente, o campo

prximo superfcie do corpo tendo, como conseqncia, um importante efeito nas foras

aerodinmicas e na distribuio de presso. Se o movimento oscilatrio for de grande

amplitude observa-se, adicionalmente, a influncia do movimento na esteira do corpo, o qual

pode ser importante no estudo com vrios corpos ou na presena de uma superfcie.

2

O crescente avano na rea computacional tem permitido a realizao de simulaes

numricas mais refinadas ao redor de geometrias complexas levando-se em conta os efeitos

viscosos. Como geometrias complexas aqui se entendem: uma asa se movimentando nas

proximidades de uma superfcie plana, o escoamento ao redor de um conjunto de prdios

residenciais, o escoamento ao redor de cabos de uma rede de transmisso de energia, o

movimento das ps no interior da voluta de uma mquina de fluxo, etc.

Neste contexto, o Grupo de Mtodo de Vrtices da UNIFEI vem analisando desde 1997

situaes que envolvem: interferncia entre fronteiras slidas podendo ou no existir

movimento relativo entre elas; efeitos de oscilao de corpos e aspectos relacionados com

transferncia de calor. Para a anlise das situaes anteriormente mencionadas utiliza-se uma

classe geral de mtodos numricos denominados de Mtodos de Partculas. O Mtodo de

Vrtices Discretos, tema central deste trabalho, o representante mais conhecido dos

Mtodos de Partculas; neste mtodo a vorticidade presente no meio fluido discretizada e

representada por uma nuvem de vrtices discretos. Cada vrtice discreto presente na nuvem

de vrtices tem a sua trajetria acompanhada individualmente ao longo de toda a simulao, o

que caracteriza uma descrio puramente lagrangeana. Veja, por exemplo, os trabalhos de

Chorin (1973), Lewis (1999), Kamemoto (1994), Sarpkaya (1989), Alcntara Pereira et al.

(2002), Hirata et al. (2003) e Kamemoto (2004).

O presente trabalho se insere dentro das atividades que vem sendo desenvolvidas pelo

Grupo de Mtodo de Vrtices da UNIFEI contribuindo para o esclarecimento de uma classe

importante dos fenmenos fsicos: a oscilao de corpos imersos num meio fluido.

Em um trabalho anterior, Silva (2004) utilizou o Mtodo de Vrtices Discretos para

estudar as propriedades aerodinmicas de um escoamento ao redor de um corpo com a

restrio de pequenas amplitudes de oscilao. Diferentemente do presente trabalho, a

presena da oscilao do corpo foi considerada fazendo-se uma transferncia das condies

de contorno de uma posio atual do corpo para uma posio mdia por ele ocupada.

Mustto et al. (1998) apresentaram resultados para um cilindro girante considerando

altos nmeros de Reynolds e baixas freqncias de rotao, prevendo a ocorrncia do Efeito

Magnus. Utilizaram o Mtodo de Vrtices Discretos para o clculo dos avanos difusivos e

convectivos; o processo de gerao de vorticidade satisfaz a condio de escorregamento-nulo

e o Teorema do Crculo utilizado para satisfazer a condio de impenetrabilidade. O clculo

3

das cargas aerodinmicas feito com a utilizao das frmulas generalizadas de Blasius,

independente do conhecimento da distribuio das presses na superfcie do corpo.

Uma abordagem mais simples para este problema seria considerar o corpo fixo e deixar

oscilar o escoamento incidente, conforme o trabalho de Bodstein (2005). No entanto, a

restrio que se faz a esta abordagem que o fluido inteiro oscila com a mesma freqncia e

amplitude, o qual no verdade numa situao real, principalmente na regio da esteira do

corpo.

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o escoamento bidimensional,

incompressvel e em regime no-permanente de um fluido Newtoniano com propriedades

constantes que se realiza ao redor de um corpo, o qual apresenta um movimento de oscilao

de amplitude qualquer superposto ao movimento principal. O movimento de oscilao do

corpo transversal direo do escoamento, embora a metodologia desenvolvida possa ser

generalizada para uma oscilao qualquer. Escolheu-se um cilindro de seo circular como a

geometria a ser analisada.

Deste modo tem-se como finalidades: (a) definir os parmetros numricos que so

variveis na simulao numrica; (b) calcular a evoluo no tempo dos coeficientes de arrasto

e sustentao para o cilindro circular fixo e quando apresenta um movimento de oscilao

transversal direo do escoamento; (c) comparar os resultados numricos obtidos nesta

simulao com valores experimentais e com outros resultados numricos disponveis na

literatura; (d) preparar o algoritmo desenvolvido neste trabalho, a fim de que ele seja uma

referncia para o desenvolvimento de trabalhos futuros.

Os resultados para um cilindro circular fixo so apresentados e comparados com os

resultados experimentais e numricos disponveis na literatura. No caso do cilindro circular

oscilando transversalmente ao escoamento incidente, a comparao dos resultados feita

apenas considerando os resultados numricos disponveis na literatura. importante salientar

que apesar do nmero de Reynolds utilizado nas simulaes ser alto, nenhuma tentativa foi

feita de se incluir uma modelagem de turbulncia, o que pode ser considerado de acordo com

Alcntara Pereira et al. (2002).

Para o clculo das cargas aerodinmicas utilizada a formulao apresentada por

Shintani & Akamatsu (1994), que leva em considerao a contribuio de todos os vrtices

presentes na esteira. Nas simulaes efetuadas as cargas aerodinmicas integradas, tais como

4

os coeficientes de arrasto e de sustentao, a distribuio de presso e o nmero de Strouhal

apresentam uma boa concordncia com os resultados experimentais. Devido emisso

alternada dos vrtices, o coeficiente de sustentao oscila ao redor de zero, durante toda a

simulao numrica. A amplitude de oscilao deste coeficiente, porm, aumenta com a

oscilao do cilindro.

possvel identificar trs tipos de regimes de escoamento relacionados com a

freqncia de oscilao. O primeiro tipo, tipo I, observado para baixas freqncias de

oscilao do cilindro; nesta situao o nmero de Strouhal permanece quase constante. O

segundo tipo, tipo II, ocorre para valores intermedirios de freqncia de oscilao do

cilindro; nesta situao, aparentemente a freqncia de emisso de vrtices no se

correlaciona com a freqncia de oscilao do cilindro. Finalmente, no tipo III observa-se o

fenmeno de lock-in onde a freqncia de emisso de vrtices igualada com a freqncia

de oscilao do cilindro.

O captulo 2 apresenta uma reviso bibliogrfica referente a movimento de oscilao de

corpos e uma reviso sobre a evoluo do Mtodo de Vrtices.

O captulo 3 apresenta o modelo utilizado para a simulao do escoamento de um fluido

viscoso, bidimensional, incompressvel e em regime no-permanente em torno de um corpo

de forma arbitrria e conhecida, que se desloca numa regio fluida de grandes dimenses e

que apresenta um movimento de oscilao transversal direo do escoamento. A soluo

numrica para o modelo proposto obtida com a utilizao do Mtodo de Vrtices Discretos.

No captulo 4 encontra-se o algoritmo de implementao do Mtodo de Vrtices

Discretos, com comentrios sobre os parmetros numricos utilizados na simulao numrica.

Apresenta-se, tambm, a estrutura do programa computacional desenvolvido em linguagem

FORTRAN, podendo-se encontrar descries sobre as funes das rotinas de clculo

utilizadas, que auxiliam o programa principal.

No captulo 5 so apresentados e discutidos os resultados de simulaes numricas

feitas com o cilindro circular. Os resultados numricos encontrados so comparados com

outros resultados numricos e com resultados experimentais disponveis na literatura.

As concluses sobre os resultados obtidos nas simulaes numricas e as sugestes para

trabalhos futuros esto no captulo 6.

5

No apndice A apresenta-se a obteno da Equao do Transporte da Vorticidade a

partir da equao da continuidade e das equaes de Navier-Stokes. Alm disso, feita uma

interpretao fsica da Equao do Transporte da Vorticidade bidimensional e tridimensional.

No apndice B so mostrados detalhes do clculo das velocidades induzidas nos painis

planos considerando a oscilao do corpo em estudo.

No apndice C so apresentados os grficos da distribuio de velocidades tangenciais

induzidas e vorticidade, dos modelos potencial e de Lamb.

Uma das etapas do Mtodo de Vrtices consiste na determinao do campo de

velocidades em cada vrtice discreto. Para isto necessrio conhecer a velocidade induzida

pelos vrtices discretos uns nos outros, a velocidade devido ao escoamento incidente e a

influncia do corpo no campo de velocidades. O nmero de operaes envolvidas no clculo

das velocidades induzidas pelos vrtices, uns nos outros, da ordem de 2VN (sendo VN o

nmero de vrtices discretos na nuvem). No apndice D apresentado um algoritmo eficaz

para o clculo da interao vrtice-vrtice (Alcntara Pereira, 1999).

Captulo 2

REVISO BIBLIOGRFICA

2.1 ESCOAMENTO AO REDOR DE UM CORPO OSCILANTE O QUAL SE MOVE COM VELOCIDADE CONSTANTE

Neste captulo so realizados comentrios e apresentados os resumos de alguns

trabalhos disponveis na literatura, relacionados ao escoamento bidimensional, incompressvel

e em regime no-permanente de um fluido Newtoniano com propriedades constantes ao redor

de um corpo oscilante. Primeiramente so citadas as referncias utilizadas no

desenvolvimento do presente trabalho e posteriormente as referncias gerais, que pela sua

importncia no estudo, so comentadas.

2.1.1 Referncias Utilizadas

Meneghini & Bearman (1995) simularam numericamente o escoamento oscilatrio de

grandes amplitudes sobre um cilindro circular, porm, limitando o nmero de Reynolds em

200 . O mtodo utilizado para a simulao foi a formulao de vrtices em clulas

incorporando uma difuso viscosa.

7

Mustto et al. (1998) estudaram o escoamento ao redor de um cilindro circular com e

sem rotao. Os resultados apresentados dos coeficientes de arrasto e sustentao e o nmero

de Strouhal esto de acordo quando comparados com os valores numricos e experimentais

disponveis na literatura, porm, a oscilao do corpo transversal direo do escoamento no

foi considerada.

Morghental (2000) realizou estudos aerodinmicos em pontes extensas utilizando dois

mtodos numricos: o Mtodo de Vrtices Discretos e o Mtodo de Elementos Finitos. O

objetivo do trabalho foi verificar a viabilidade e a aplicabilidade das duas abordagens

numricas para determinar as propriedades bsicas aerodinmicas e simular os efeitos da

interao fluido-estrutura. Concluiu que o Mtodo de Vrtices Discretos tem um potencial de

se tornar uma ferramenta poderosa para a anlise aerodinmica de corpos rombudos, porm,

um tempo adicional ser gasto para calibrao dos parmetros numricos envolvidos na

simulao.

Silva (2004) estudou o escoamento sobre um corpo oscilante com a restrio de

pequenas amplitudes de oscilaes. Como a relao entre a amplitude de oscilao e o

comprimento caracterstico do corpo tende zero, as condies de contorno impostas sobre a

superfcie do corpo foram transferidas para uma posio mdia da superfcie discretizada do

corpo facilitando, assim, a implementao numrica do problema. As cargas aerodinmicas

distribudas e integradas foram calculadas para um aeroflio NACA 0012 e foi realizado um

estudo da influncia dos parmetros numricos sobre a oscilao do corpo. O presente

trabalho em relao ao da Silva (2004) considera os efeitos de oscilao de qualquer

amplitude sem mudar as matrizes de influncia. A tcnica utilizada consiste na mudana de

coordenadas do corpo durante a simulao numrica.

2.1.2 Referncias Gerais

Vrios estudos sobre a vorticidade gerada em corpos oscilantes foram realizados nas

ltimas dcadas.

Dalton & Chantranuvatana (1980) estudaram o movimento oscilatrio de um cilindro

circular sob o ponto de vista da distribuio de presso mdia no cilindro. Eles mostraram que

as caractersticas do escoamento dependem do nmero de Keulegan-Carpenter, KC, definido

8

na forma dA2KC = . medida que o cilindro se move em uma direo, uma esteira de

vrtices formada; para pequenos valores de KC (inferiores a 0,38) a separao do

escoamento no ocorre e no h formao de vrtices. Para valores de KC superiores a 5, um

par de vrtices formado e permanece simtrico no se espalhando durante o movimento.

Entretanto, medida que o cilindro reverte a direo, o par de agrupamentos se move em

direo ao cilindro, e se dissipa rapidamente, devido ao rpido aumento da velocidade relativa

entre o cilindro e fluido. Em seguida, um novo par de vrtices formado e o processo se

repete. Para valores de KC entre 5 e 15, um dos agrupamentos de vrtices se torna mais largo

que o outro, mas o espalhamento convencional e alternado ainda ocorre. Este estudo mostra

que a presena da esteira de vrtices no escoamento reverso afeta a distribuio de presso de

uma maneira compreensvel e previsvel. O trabalho conclui que para pequenos valores de KC

os resultados da distribuio de presso no se equivalem aos resultados para o caso do

cilindro sem oscilao e com o aumento de KC h uma diminuio da presso na parte

traseira do cilindro e na esteira.

Williamson & Rosko (1988) classificaram vrios padres de nuvens de vrtices

relacionando com dois parmetros, o comprimento de onda do movimento oscilatrio e a

amplitude de oscilao do cilindro circular. Ambos os parmetros foram adimensionalizados

pelo dimetro do cilindro. Vrios padres de nuvens foram observados experimentalmente e

foram classificados em termos de vrtices, tais como, dois agrupamentos simples, dois pares

de agrupamentos, dois pares de agrupamentos e um agrupamento simples, e etc. Os principais

experimentos descritos no artigo foram efetuados com nmero de Reynolds baixos, mais

precisamente, 392Re = .

Badr et al. (1995) estudaram o caso de um cilindro circular colocado em um fluido

viscoso oscilando na direo normal ao eixo do cilindro, o qual considerado em repouso.

Assumem-se que o escoamento se iniciou de maneira repentina, a partir do repouso, e

permanecem simtrico sobre a direo do movimento. O mtodo utilizado pelos autores para

obteno da soluo baseado na integrao das equaes de Navier-Stokes atravs de um

procedimento numrico. A simulao numrica foi feita para grandes valores de tempo e para

nmeros de Reynolds moderados e altos. A comparao entre os resultados obtidos para

escoamentos viscosos e no-viscosos mostram uma melhor concordncia para valores maiores

de nmero de Reynolds e nmero de Strouhal. O escoamento mdio para grandes tempos foi

calculado e apresentou boa concordncia com previses anteriores baseadas na teoria da

9

camada limite. Nesse estudo, os resultados mostraram que a contribuio das foras de atrito

para o coeficiente de arrasto total DC relativamente pequena e que a diferena de fase entre

as solues para escoamentos viscosos e no-viscosos pequena no incio do movimento e

aumenta com o passar do tempo. A razo para isto que o campo de escoamento distante do

cilindro livre de vrtices para pequenos incrementos de tempo. Com o aumento dos

incrementos de tempo, os vrtices so espalhados a partir do cilindro causando mudanas na

estrutura do campo de escoamento. Essas mudanas fazem com que o escoamento distante do

cilindro desvie do escoamento potencial.

2.2 O MTODO DE VRTICES

Vrios mtodos numricos aplicam-se na simulao e na anlise do escoamento de um

fluido viscoso ao redor de corpos. Existem mtodos que utilizam descrio euleriana, por

exemplo, o Mtodo das Diferenas Finitas e o Mtodo dos Elementos Finitos. Mtodos que

utilizam a descrio lagrangeana, por exemplo, o Mtodo de Vrtices e mtodos baseados nas

descries euleriana e lagrangeana, juntas (Fronteira Imersa). Estes mtodos, com vantagens e

desvantagens, so sempre adequados para uma determinada faixa de aplicao.

O Mtodo de Vrtices apresenta algumas caractersticas marcantes das quais se

destacam: (a) a no necessidade de se criar uma malha de discretizao da regio fluida, (b) o

escoamento descrito apenas nas regies de interesse, ou seja, onde a vorticidade se encontra

concentrada: na camada limite e na esteira do corpo e (c) o mtodo no exige uma

considerao explcita das condies de contorno a grandes distncias do corpo.

Rosenhead (1931) estabeleceu os fundamentos da metodologia para simular

numericamente a evoluo da vorticidade num meio fluido. Muitos avanos e refinamentos do

mtodo, desde ento, foram realizados.

Ashurst (1977), utilizando uma nuvem de vrtices discretos, analisou e simulou

numericamente o comportamento e o desenvolvimento de camadas cisalhantes.

Lewis (1981), Arajo (1994a) e Arajo (1997b) em seus trabalhos consideraram o

escoamento em corpos rombudos, com arestas vivas. Assim, a simulao numrica utilizando

o mtodo de vrtices torna-se bastante simplificada, pois, em primeiro lugar, para estes corpos

10

os pontos de separao esto bem definidos permitindo que os desprendimentos da

vorticidade sejam fixados nas adjacncias dos mesmos e como conseqncia o nmero de

vrtices presentes na nuvem pequeno.

A simulao numrica do escoamento sobre corpos com superfcies suaves (crculos,

aeroflios, etc.) apresenta uma dificuldade associada ao fato de no se conhecer o ponto de

separao, que pode mudar durante a simulao. Para superar esta dificuldade necessrio

simular os processos de gerao e de transporte de vorticidade ao longo de toda a superfcie

do corpo, ou seja, torna-se necessrio simular o desenvolvimento da camada limite.

Vrios autores apresentaram alternativas para simular o escoamento ao redor de um

corpo. Uma destas alternativas se baseia no Mtodo dos Painis (Katz & Plotkin, 1991) para o

clculo da influncia do corpo no campo de velocidades no interior da esteira. Nesta linha de

estudo Lewis (1981) utiliza painis, sobre os quais, distribuem-se vrtices (Mtodo de

Martensen). Na simulao numrica, esta distribuio representada por um nico vrtice no

ponto mdio dos painis. Este procedimento apresenta imprecises em muitas situaes. Para

contornar parcialmente estas imprecises Lewis (1991) desenvolve um esquema que utiliza

sub-painis, Kamemoto et al. (1995) preferem distribuir fontes sobre os painis e Alcntara

Pereira (1999) em seu trabalho utiliza painis planos sobre os quais so distribudos vrtices

com densidade constante.

De acordo com o algoritmo de separao da parte viscosa proposto por Chorin (1973),

num mesmo incremento de tempo, assume-se que os fenmenos de conveco e de difuso da

vorticidade podem ser tratados independentemente um do outro. Assim sendo, o transporte da

vorticidade por conveco feito conhecendo-se o campo de velocidades.

De uma maneira geral, o campo de velocidades sobre os vrtices discretos composto

pelas contribuies do escoamento incidente, pela velocidade induzida pelo corpo e pela

velocidade induzida pela nuvem de vrtices presente na regio fluida.

A velocidade induzida pelo corpo determinada utilizando-se o Mtodo dos Painis.

Todos os trabalhos citados at aqui utilizam a Lei de Biot-Savart modificada para o clculo da

velocidade induzida pela vorticidade presente na regio fluida. Este clculo representa a

parcela dominante dos esforos computacionais requeridos nas simulaes numricas. Mustto

(1998) e Alcntara Pereira (1999) desenvolveram um algoritmo que reduziu muito este

esforo computacional. Detalhes deste algoritmo se encontram no apndice D.

11

Para simular o processo de difuso da vorticidade utiliza-se o Mtodo do Avano

Randmico. As bases tericas que fundamentam o Mtodo de Vrtice, utilizando este mtodo

para a simulao da difuso de vorticidade, so apresentadas no trabalho de Einstein (1956).

Vrios trabalhos utilizam o Mtodo do Avano Randmico para simular numericamente os

efeitos difusivos (Porthouse & Lewis (1981); Smith & Stansby (1988); Kamemoto et al.

(1995); Mustto et al. (1998); Hirata & Hirata (1998); Hirata & Alcntara Pereira (1999); etc.).

Um problema que surge relacionado com a conservao da circulao refere-se aos

vrtices que migram para o interior do corpo. Vrios esquemas foram propostos para

contornar esta dificuldade. Alguns autores preferem eliminar os vrtices que migram para o

interior do corpo e utilizar a lei de Conservao da Circulao para compensar a vorticidade

perdida, como pode ser visto nos trabalhos de Mustto (1998), Malta (1998) e Alcntara

Pereira (1999). Ricci (2002) preferiu refletir para o interior do fluido os vrtices discretos que

atravessam a superfcie do corpo.

As cargas aerodinmicas classificam-se, de uma maneira geral, em cargas distribudas

(por exemplo, a presso) e cargas integradas (por exemplo, as foras de arrasto e de

sustentao).

Lewis (1991) determinou o coeficiente de presso pela integrao do termo de presso

das equaes de Navier-Stokes. As cargas aerodinmicas integradas so calculadas

integrando-se o campo de presses. Mustto et al. (1998) apresentaram um algoritmo que

permite separar o termo de presso nas equaes de Navier-Stokes; este algoritmo completa

aquele utilizado para a separao dos efeitos viscosos (Chorin, 1973).

He & Su (1999) apresentaram uma nova formulao para a determinao da distribuio

de presses isolando o termo de presso das equaes de Navier-Stokes e acrescentando o

termo de acelerao convectiva, no considerado por Lewis (1991).

O clculo das cargas aerodinmicas integradas pode, no entanto, ser efetuado sem que

haja a necessidade da integrao da presso sobre a superfcie de um corpo isolado.

Utilizando-se uma forma estendida das frmulas de Blasius para escoamento em regime no-

permanente, pode-se obter estas cargas de maneira bastante elegante a partir de elementos

conhecidos durante a simulao numrica, ou seja, a intensidade dos vrtices discretos

presentes na esteira e as componentes da velocidade nos pontos por eles ocupados (Graham,

1980; Sarpkaya, 1989).

12

Shintani & Akamatsu (1994) apresentaram um mtodo simples para calcular a

distribuio de presses em um escoamento de um fluido viscoso em regime no-permanente,

baseado no Mtodo dos Elementos de Contorno. Tomando o divergente das equaes de

Navier-Stokes, aplicveis ao escoamento bidimensional, eles obtm uma equao de Poisson,

em termos da presso. Em seguida multiplicam esta equao pela funo de Green e integram

no domnio do escoamento. As integrais so discretizadas e resolvidas numericamente, em

funo de valores pertinentes ao campo do escoamento como, velocidade, posio dos

vrtices no campo e vorticidade gerada sobre a superfcie e a presente na nuvem.

Alcntara Pereira et al. (2002) apresentaram simulaes numricas mais refinadas

envolvendo os aspectos de turbulncia. Como contribuies principais deste trabalho tem-se:

uma modelagem sub-malha de turbulncia utilizando-se um modelo de Funo Estrutura de

Velocidade de Segunda Ordem adaptada ao Mtodo de Vrtices Discretos e o

desenvolvimento e implementao de um algoritmo numrico, para incluir, no contexto do

Mtodo de Vrtices, a modelagem de turbulncia. Foram apresentados os resultados para o

escoamento ao redor de um cilindro de seo circular e feitas comparaes entre os resultados

numricos obtidos, com e sem modelagem de turbulncia, com resultados numricos e

experimentais disponveis na literatura, para valores do coeficiente de arrasto e do nmero de

Strouhal.

Captulo 3

FORMULAO GERAL DO PROBLEMA E O MTODO DE VRTICES

3.1 INTRODUO

Este captulo apresenta a formulao matemtica necessria para a simulao numrica

de um escoamento bidimensional, incompressvel e em regime no-permanente de um fluido

Newtoniano, com propriedades constantes, em torno de um corpo de forma arbitrria e

conhecida, que se desloca numa regio fluida de grandes dimenses. O movimento do corpo

composto de um movimento retilneo com velocidade constante U sobre o qual

superposto um movimento oscilatrio de amplitude finita A e velocidade angular

constante , veja a figura 1.

O Mtodo de Vrtices Discretos utilizado na simulao numrica deste fenmeno.

Alm de simular o processo de gerao, conveco e difuso da vorticidade o algoritmo

desenvolvido do Mtodo de Vrtices permite o clculo das cargas aerodinmicas atuantes

sobre um corpo oscilante. Para a simulao do corpo, o algoritmo utiliza o Mtodo de Painis

de fontes com densidade uniforme e para simular a vorticidade so utilizados vrtices

discretos de Lamb. Um esquema de avano de Euler de primeira ordem simula a conveco

da vorticidade, ao passo que o Mtodo de Avano Randmico empregado para simular a

difuso da vorticidade. Para o clculo das cargas aerodinmicas utilizada a formulao

14

proposta por Shintani & Akamatsu (1994), que leva em considerao a contribuio de todos

os vrtices presentes na esteira.

3.2 FORMULAO GERAL DO MTODO

Considere na figura 1 um sistema de coordenadas )O( fixo ao corpo. Nestas

condies a superfcie do corpo CS definida pela equao escalar:

( ) 0,F = (3.1)

Considere em seguida um sistema de coordenadas inerciais )xoy( fixo, em relao

uma posio mdia ocupada pelo corpo .

Figura 1 Definio do problema

x

O

o

( ) 2 2 2C 0S : F , R 0 = + =

c

c

U0R

cS S S= U

y

+=22

0 yxr:S

( )tAcosyo =

( )tcosAyx

)y,x(Q

+==

15

Assim sendo, a equao (3.1) pode ser reescrita como:

( ) ( )( ) 0,F is

c =

= (3.2)

Com a finalidade de simplificar os desenvolvimentos e a implementao numrica

assume-se que o corpo oscila na direo perpendicular direo da velocidade incidente 1.

Assim sendo tem-se:

( )tcosAyo = (3.3)

Cf2= (3.4)

onde Cf a freqncia de oscilao do corpo.

A superfcie do corpo definida nas coordenadas inerciais por:

[ ] 0)x()t(yy)t,y,x(F:S 0ccc =+= (3.5)

e no caso particular de um corpo simtrico com relao , tem-se:

0)x()t(yy)t,y,x(F 0cc == m (3.6)

Um observador fixo no sistema ( )y,o,x dever observar que o corpo oscila com uma velocidade V cujos componentes so:

0Vx = (3.7a)

( )tsinAyV 0y == & (3.7b)

___________ 1 Note que a adio de outros movimentos oscilatrios lineares ou rotacionais no apresenta dificuldades conceituais.

16

A grandes distncias, a montante ( )x , o fluido move-se tal que:

Uu = (3.8a)

=v 0 (3.8b)

A grandes distncias, transversalmente ao corpo ( )= ye0x o movimento do fluido causado pela oscilao do corpo deve decair em intensidade e deve-se ver

praticamente:

Uu (3.9a)

0v (3.9b)

A grandes distncias, a jusante ( )+x , tem-se a esteira do corpo que influenciada pela oscilao do mesmo. Nas vizinhanas do corpo a influncia da oscilao do corpo se faz

sentir, principalmente, na direo transversal. A energia transferida ao fluido, pela oscilao

do corpo, observada pela velocidade induzida nas partculas de fluido. Mesmo desprezando

os efeitos da compressibilidade, a intensidade da velocidade induzida deve decair com a

distncia porque se observa o espalhamento da energia transferida em todas as direes. A

jusante espera-se que os efeitos causados pela oscilao sejam somados aos efeitos

convectivos associados velocidade U .

Para simular as situaes descritas anteriormente utiliza-se um caso particular do

Mtodo de Partculas, que o Mtodo de Vrtices. Este mtodo apresenta uma srie de

vantagens, como a inexistncia de uma malha de discretizao da regio fluida, uma exigncia

dos mtodos eulerianos, e seus problemas associados como a difuso e instabilidades

numricas. Outra vantagem a no especificao de condies na esteira, pois o

comportamento da esteira estabelecido automaticamente e a ateno do estudo dirigida

exclusivamente para as regies onde a vorticidade se faz presente, ou seja, o mtodo no

considera as regies onde nenhuma atividade importante acontece. O item 3.6 discutir mais

vantagens deste mtodo sobre os tradicionais mtodos eulerianos.

17

3.3 HIPTESES SIMPLIFICADORAS

A formulao matemtica desenvolvida baseia-se nas seguintes hipteses

simplificadoras, que se relacionam com a geometria, as propriedades dos fluidos e as

propriedades do escoamento:

H1 Escoamento bidimensional. O escoamento realiza-se em duas dimenses e a regio

fluida infinita estendendo-se a grandes distncias do corpo.

H2 Escoamento incompressvel. Os efeitos da compressibilidade so desprezados, isto , o

nmero de Mach assume valores muito menores que a unidade (em geral, Mach < 0,3).

H3 Fluido Newtoniano com propriedades constantes. Como conseqncia tem-se:

O desenvolvimento da camada limite e, desde que haja condies apropriadas, o

escoamento descola e h a formao da esteira;

A equao do movimento, que exprime o Princpio da Conservao da Quantidade

de Movimento Linear (PCQML), representada pelas equaes de Navier-Stokes;

A condio de contorno especificada sobre a superfcie do corpo a condio de

aderncia que, por sua vez, pode ser dividida em condio de impenetrabilidade e condio de

escorregamento-nulo.

H4 A formulao assume que o escoamento laminar. Embora as anlises que sero feitas

considerem nmero de Reynolds elevado, os aspectos de turbulncia no sero levados em

considerao. O modelo da Funo Estrutura de Velocidade de Segunda Ordem poder ser

incorporado formulao do problema, veja Alcntara Pereira et al. (2002) para se levar em

conta estes aspectos.

H5 A anlise ser restrita para o escoamento ao redor de um cilindro circular, embora

qualquer outra forma de geometria conhecida possa ser analisada.

18

3.4 EQUAES E CONDIES DE CONTORNO QUE DEFINEM O MODELO

As equaes que governam o fenmeno fsico descrito no item 3.1 so representadas

pelas expresses matemticas que representam os princpios de conservao. O Princpio da

Conservao da Massa (Equao da Continuidade) expresso por:

0DtD

t

=+=+ uu (3.10)

A hiptese H2 (escoamento incompressvel) permite que a equao da continuidade seja

simplificada, assumindo a forma:

0= u (3.11)

Considerando as hipteses anteriores, o Princpio de Conservao da Quantidade de

Movimento Linear dado pelas equaes de Navier-Stokes:

uuuu 2p1

t+=+

(3.12)

onde ( )v,uu o vetor velocidade, p representa o campo de presses, a massa especfica e o coeficiente de viscosidade cinemtica.

As condies de contorno na superfcie do corpo so fixadas atravs da condio de

aderncia. Desta maneira, a condio de impenetrabilidade exige que o componente normal

da velocidade da partcula seja igual ao componente normal da velocidade da superfcie e a

condio de escorregamento-nulo impe que o mesmo deve acontecer com os componentes

tangenciais destas velocidades:

( ) ( )nVnu = sobre CS , representa a condio de impenetrabilidade (3.13a)

( ) ( )Vu = sobre CS , representa a condio de escorregamento-nulo (3.13b)

19

onde n e so, respectivamente, os vetores unitrios normal e tangencial a superfcie CS em

cada ponto e o vetor )V,(V yxV refere-se velocidade da superfcie do corpo.

A grandes distncias, em S , assume-se que o escoamento em estudo tende para o

escoamento no perturbado:

Uu (3.14)

3.5 ADIMENSIONALIZAO DAS EQUAES

A adimensionalizao das equaes governantes e das condies de contorno em estudo

importante, pois contribui na formulao e na soluo do modelo indicando a dependncia

entre grandezas e ajudando na apresentao dos resultados, ou seja, mostrando uma relao

funcional entre as grandezas e sugerindo como as grandezas devem ser apresentadas.

Inicialmente definem-se as grandezas caractersticas do fenmeno estudado. Em geral,

tem-se que:

b o comprimento caracterstico, adota-se o dimetro do cilindro circular - d -.

U a velocidade caracterstica, adota-se a velocidade do escoamento incidente.

0T o tempo caracterstico, onde UbT0 =

Com a utilizao das grandezas caractersticas, as equaes e suas condies de

contorno podem ser adimensionalizadas. As grandezas, adimensionalizadas, tornam-se:

bxx* = coordenadas adimensionalizadas

byy* = coordenadas adimensionalizadas

bUT

T 0*0 = tempo adimensionalizado

20

btUt * = incremento de tempo adimensionalizado

Uuu* = componente da velocidade na direo do eixo dos x adimensionalizada

Uvv* = componente da velocidade na direo do eixo dos y adimensionalizada

2*

Upp = presso adimensionalizada

bU* = intensidade de um vrtice adimensionalizada

Ub* = velocidade angular adimensionalizada

b

0*0 = raio do ncleo do vrtice de Lamb adimensionalizado

UbRe = nmero de Reynolds

= b* operador Nabla adimensionalizado

22*2 b = operador Laplaciano adimensionalizado

Ub* = vorticidade adimensionalizada

O significado de algumas grandezas ficar mais claro com o desenvolvimento do texto.

Com estas definies, as condies de contorno, expressas pelas equaes (3.13a) e

(3.13b) e (3.14), podem ser escritas na forma adimensional.

( ) ( )nVnu = sobre CS (3.15a)

( ) ( )Vu = sobre CS (3.15b)

21

Uu (3.15c)

Do mesmo modo, as equaes (3.11) e (3.12) so escritas em termos adimensionais

como:

0* = *u (3.16)

****

uuuu 2****Re1p

t+=+

(3.17)

Observa-se que o asterisco (*) utilizado para indicar uma grandeza adimensionalizada

ser doravante omitido por comodidade de digitao e apresentao das equaes.

3.6 O MTODO DE VRTICES

O Mtodo de Vrtices, um caso particular dos Mtodos de Partculas, caracteriza-se

pela utilizao de um esquema puramente lagrangeano. Este mtodo consiste no

acompanhamento individualizado das partculas, os vrtices discretos, durante toda a

simulao numrica.

O Mtodo de Vrtices possui uma srie de vantagens que o tornam atraente em

situaes como a do problema proposto. A primeira destas vantagens refere-se ao fato da

vorticidade presente na regio fluida ser discretizada e simulada numericamente com a

utilizao de uma nuvem de vrtices discretos. A cada incremento de tempo da simulao

numrica, novos vrtices so gerados na fronteira slida cS da figura 1. Como conseqncia,

dispensa-se a utilizao de uma malha, o que exigido pelos mtodos eulerianos clssicos

como Mtodo de Diferenas Finitas, Mtodo dos Volumes Finitos e Mtodos de Elementos

Finitos. Nestes mtodos tradicionais uma malha deve ser gerada para discretizar a regio ou

domnio de interesse em sub-regies, onde as equaes que definem o modelo devem ser

satisfeitas.

A segunda vantagem est associada ao fato de que cada partcula seguida

individualmente desde sua gerao at o fim da simulao numrica. Desta maneira, no h a

22

necessidade de se especificar explicitamente as condies de contorno nas fronteiras onde a

vorticidade no gerada.

Outra vantagem reside no fato de que os clculos so direcionados apenas para as

regies onde a nuvem de vrtices se faz presente, ou seja, na camada limite e na esteira

viscosa.

A conservao da circulao deve ser obedecida durante toda a simulao e as

intensidades dos vrtices nascentes so determinadas de tal modo que a condio de

escorregamento-nulo dada pela equao (3.13b) seja satisfeita. Maiores detalhes sero

discutidos no algoritmo geral do mtodo descrito no captulo 4.

3.6.1 Equao do Transporte da Vorticidade

O Mtodo de Vrtices um mtodo numrico utilizado para a simulao do escoamento

de um fluido Newtoniano ao redor de um corpo. Este escoamento governado pelas equaes

da continuidade simplificada (equao 3.11) e Navier-Stokes (equao 3.12). A anlise das

equaes de Navier-Stokes, definida pela equao (3.12) mostra a presena do termo de

presso, que representa certa dificuldade na manipulao das equaes, quando se tenta obter

uma soluo. Tomando-se o rotacional em ambos os lados da equao e em seguida

utilizando-se da definio da vorticidade, da equao da continuidade e da hiptese H1

(escoamento bidimensional), obtm-se a equao do transporte da vorticidade (Batchelor,

1970):

=+ 2

Re1

tu (3.18)

onde u o vetor velocidade do escoamento incidente,

=UdRe o nmero de Reynolds

baseado no dimetro do cilindro e representa, em duas dimenses, o nico componente

no-nulo do vetor vorticidade, que definido como:

u = (3.19)

Nota-se que o termo correspondente variao da vorticidade devido deformao das

linhas de vorticidade, no se faz presente. Veja detalhes no apndice A.

23

A evoluo da vorticidade governada pela equao (3.18). O lado esquerdo desta

equao representa a variao temporal da vorticidade, ou seja, contm os termos que

representam o fenmeno da conveco da vorticidade, enquanto que o lado direito representa

os efeitos da viscosidade nesta evoluo, ou seja, contm os termos necessrios para descrever

a difuso da vorticidade.

3.6.2 A Separao dos Efeitos Viscosos

Numericamente, cada incremento de tempo, t , feito de maneira discreta. O

Algoritmo de Separao da Parte Viscosa, Viscous Splitting Algorithm, inicialmente

proposto por Chorin (1973), assume que, dentro do mesmo incremento de tempo, a difuso da

vorticidade pode ser aproximadamente calculada independentemente da sua conveco.

Com esta aproximao, a implementao numrica do Mtodo de Vrtices passa a ser

bastante simplificada se a intensidade e a posio dos vrtices forem conhecidas.

Assim sendo, o fenmeno da conveco da vorticidade governado pela equao:

0t

=+ u (3.20)

e o fenmeno da difuso da vorticidade governado pela equao:

Re1

t 2= (3.21)

Os processos de conveco e de difuso realizam-se sucessivamente, dentro de um

mesmo intervalo de tempo t e no limite, quando 0t , convergem para a equao (3.18).

3.6.3 Conveco da Vorticidade

A anlise da equao (3.20) que governa a conveco da vorticidade mostra que esta

convectada materialmente, ou seja, a vorticidade transportada por conveco como se fosse

uma partcula de fluido (Helmholtz, 1858):

24

0t

DtD

=+

= u (3.22)

Deste modo para a conveco da nuvem de vrtices deve-se calcular o campo de

velocidades e conseqentemente, o movimento de um vrtice arbitrrio )i( pode ser calculado

integrando-se a equao para a sua trajetria. Assim sendo, o transporte da vorticidade por

conveco escrito em sua forma lagrangeana como:

( )t,dt

d (i)(i)(i) xux = (3.23)

onde (i)x o vetor posio do vrtice arbitrrio )i( no instante t e ( )t,(i)(i) xu representa a velocidade induzida por todo o escoamento na posio (i)x ocupada pelo vrtice neste

instante. Tem-se Nv1,i = ; Nv o nmero total de vrtices na nuvem.

Conhecendo-se a velocidade ( )t,(i)(i) xu , a soluo numrica da equao (3.23) pode ser obtida pelo esquema de avano de primeira ordem de Euler que corresponde a uma primeira

aproximao soluo da equao do avano convectivo:

t)t,()t()tt( )i()i()i()i( xuxx +=+ (3.24)

A velocidade u formada pelas contribuies do escoamento incidente, iu , pela

velocidade induzida pelo corpo, cu , e pela velocidade induzida pela nuvem de vrtices

discretos presente na regio fluida, vu .

vci uuuu ++= (3.25)

No caso mais comum, o escoamento incidente, iu , representado pelo escoamento

uniforme, na direo do eixo x . Em termos de componentes, tem-se 1u i = e 0vi = .

A contribuio do corpo simulada utilizando o Mtodo dos Painis (Katz & Plotkin,

1991), que permite simular corpos de formas arbitrrias e conhecidas. O Mtodo dos Painis

consiste em se discretizar a superfcie de um corpo com a utilizao de segmentos (ou painis

planos) sobre os quais so distribudas singularidades. Neste trabalho a superfcie do corpo

25

simulada por um conjunto de painis planos sobre os quais se distribuem fontes com

densidade uniforme, ( )x , veja a figura 2 (Katz & Plotkin, 1991).

Figura 2 Distribuio de fontes com densidade uniforme

Para um sistema de coordenadas fixo num painel, conforme a figura 3 (Katz & Plotkin,

1991), os componentes u e v da velocidade induzida por uma distribuio uniforme de

fontes sobre um ponto P so:

22

21

2

1

rrln

4

rrln

2u == (3.26a)

( )12 2v = (3.26b)

x

y

( ) uniformex =

26

Figura 3 Representao de um painel genrico do corpo

A seguinte equao:

[ ]{ } { }RHSSSIGMACOUPS = (3.27a)

ou a sua forma matricial equivalente:

=

m

3

2

1

m

3

2

1

2m1m

m33231

m221

m112

RHSS...

RHSSRHSSRHSS

...

5.0......KK...............

K......KKK......5.0KK......K5.0

(3.27b)

constitui um sistema linear de equaes algbricas, cuja incgnita representa a densidade de

fontes, onde:

[ ]COUPS : a matriz de influncia. Os coeficientes j,iK representam a velocidade normal induzida no ponto de controle de um painel genrico i por uma distribuio uniforme de

fontes com densidade unitria localizada sobre o painel j ;

{ }SIGMA : o vetor incgnita;

x

y

( )y,xP

1r2r

12

27

{ }RHSS : o vetor coluna lado direito, veja mais detalhes no captulo 4 e no apndice B.

O clculo da velocidade induzida pelo corpo feito no sistema de coordenadas fixas ao

corpo )O( . Portanto, a velocidade do escoamento na superfcie do corpo escrita como:

jiu )t(yU)t;,( 0&= (3.28)

A equao (3.28) mostra que o efeito da oscilao do corpo, representado pelo

componente j , provoca uma distribuio de singularidades adicional na superfcie do corpo.

Naturalmente, as velocidades induzidas devido a estas singularidades, tambm

influenciam no clculo dos efeitos convectivos e das cargas aerodinmicas.

A velocidade induzida pelo corpo, de acordo com os clculos do Mtodo dos Painis,

indicada por [ ]),(vc),,(uc , que representa a velocidade induzida no vrtice )i( , localizado em ),( , conforme mostrado na figura 4.

Figura 4 Velocidade induzida pelo corpo

Mas como )t(x )i( = e )t(y)t(y 0)i( += , escreve-se que:

)t;,(uc)t,y,x(uc )i( = (3.29a)

x

O

o

U

y

(i)

vc(,)

uc(,)

( )tAcosyo =

28

)t(y)t;,(vc)t,y,x(vc 0)i( &+= (3.29b)

O clculo da velocidade induzida pela nuvem de vrtices discretos presente na regio

fluida a etapa que consome maior tempo de CPU, pois o nmero de operaes realizadas

pelo processador da ordem do quadrado do nmero de vrtices discretos presentes no

escoamento.

De maneira geral, os componentes nas direes x e y da velocidade total, induzida no

vrtice k pelos demais vrtices so calculados pelas expresses:

=

=V

j,kVN

N

kj1j

Vjk Uu (3.30a)

=

=V

j,kVN

N

kj1j

Vjk Vv (3.30b)

As expresses acima revelam que um vrtice no induz velocidade sobre ele mesmo. O

componente x da velocidade induzida em um vrtice k por um vrtice j (de intensidade

unitria), igual ao componente x da velocidade induzida no vrtice j pelo vrtice k , com

sinal contrrio. De forma anloga, o componente y da velocidade induzida em um vrtice k

por um vrtice j (de intensidade unitria), igual ao componente y da velocidade induzida

no vrtice j pelo vrtice k , com sinal contrrio. Observando esta particularidade, Mustto et

al. (1998) e Alcntara Pereira (1999) desenvolveram um algoritmo que calcula apenas os

componentes em x e em y da velocidade induzida no vrtice k pelo vrtice j . Maiores

detalhes so apresentados no apndice D.

As solues para as equaes (3.30a) e (3.30b) implicam na utilizao de um modelo de

vrtice que incorpora um ncleo de raio o , ao vrtice livre. Vrios modelos podem ser

adotados com esta finalidade os quais foram bastante explorados por (Hirata & Alcntara

Pereira, 1999).

O modelo adotado no presente trabalho o vrtice de Lamb (Panton, 1984) o qual

assume uma distribuio normal para a vorticidade no interior do ncleo do vrtice. Mais

29

detalhes podem ser vistos no trabalho de Mustto, (1998) e de Alcntara Pereira, (1999).

Tambm, no apndice C so apresentados os grficos da distribuio de velocidades

tangenciais induzidas e vorticidades dos modelos potencial e de Lamb.

3.6.4 Difuso da Vorticidade

O processo de difuso da vorticidade o responsvel pela manifestao dos efeitos da

viscosidade. Na equao (3.21) este fato est implcito atravs do nmero de Reynolds. A

soluo da equao que governa a difuso da vorticidade obtida atravs de um esquema

puramente lagrangeano. A alternativa utilizada representada pelo Mtodo de Avano

Randmico, que foi inicialmente obtida por Einstein (1956) e utilizado por vrios

pesquisadores como, por exemplo, Lewis (1991). Com este mtodo o processo de difuso da

vorticidade deixa de ser estritamente determinstico, alis, uma caracterstica dos escoamentos

com nmero de Reynolds elevado.

Considere um vrtice )i( da nuvem, que no instante )t( , encontra-se localizado em

)t()i(x . O Mtodo de Avano Randmico exige que cada vrtice da nuvem sofra um avano

randmico definido por ( )dd y,xdZ . Se o avano convectivo for calculado utilizando-se o esquema de avano de primeira ordem de Euler dado pela equao (3.24), o vrtice )i( dever

ser posicionado como

dZxuxx ++=+ t)t,()t()tt()i()i()i()i( (3.31)

Os componentes dx e dy do vetor avano randmico dZ , na forma adimensional, so

definidos como (Alcntara Pereira, 2002):

( )[ ]Q2cosP1ln

Ret4x )i(d

= (3.32a)

( )[ ]Q2sinP1ln

Ret4y )i(d

= (3.32b)

onde P e Q so nmeros randmicos tal que ( ) 1QeP0

30

3.6.5 Gerao da Vorticidade

A vorticidade tambm gerada sempre que um fluido viscoso se movimenta junto a

uma fronteira slida. As equaes de Navier-Stokes (3.12) podem ser colocadas na seguinte

forma:

u = p1

DtD (3.33)

Como o escoamento bidimensional (hiptese H1) e supondo que o escoamento

realiza-se no semi-plano superior e que o eixo real representa uma das superfcies slidas

( )0y = , onde a condio de aderncia especificada, tem-se:

y

xp

= (3.34)

A equao (3.34) governa a gerao da vorticidade numa superfcie slida coincidente

com o eixo dos x. A derivada do lado direito da equao representa o fluxo de vorticidade em

0y = . Como no existe fluido para 0y < , este fluxo de vorticidade representa a quantidade

de vorticidade que est sendo gerada na superfcie. A equao (3.34) permite que esta

vorticidade gerada seja quantificada pelo seu lado esquerdo. Em outras palavras, se o

gradiente de presso favorvel haver uma gerao de vorticidade, j que o fluxo passa a ser

positivo. Alternativamente, se o gradiente de presso desfavorvel haver uma destruio de

vorticidade, j que o fluxo passa a ser negativo.

A figura 5 ilustra graficamente este processo.

31

Figura 5 Fluxo de vorticidade atravs da parede

Na implementao numrica este processo equivalente utilizao da condio de

escorregamento-nulo dada pela equao (3.13b).

Para garantir a condio de escorregamento-nulo sobre o ponto de controle de cada

painel distribuem-se vrtices nascentes de Lamb, (veja apndice C), de acordo com a figura 6:

Figura 6 Vrtice de Lamb

Alm da posio de gerao dos vrtices, outras variveis importantes so: a camada

protetora (pro) e o percentual de deslocamento da posio de gerao dos vrtices em relao

superfcie discretizada (gap). A camada protetora consiste em envolver o corpo de forma a

determinar uma regio dentro da qual no permitida a permanncia de vrtices. Esta camada

localizada dentro de uma regio retangular e, qualquer vrtice que ultrapassar esta regio

tem sua posio investigada com a finalidade de averiguar se o mesmo se encontra no interior

Fluxo de vorticidadeatravs da fronteira

y

aderncia

Superfcie slida0y =x

Gradiente de pressoao longo da fronteira

y

xp

Fluxo de vorticidadeatravs da fronteira

y

aderncia

Superfcie slida0y = 0y =x

Gradiente de pressoao longo da fronteira

y

xp

0

Painl

Vrtice de Lamb

Ponto de Controle

0

Painl

Vrtice de Lamb

Ponto de Controle

32

da camada protetora ou no; em caso positivo, a singularidade deslocada para fora do corpo

de uma posio determinada pelo valor ( )gap+ em relao superfcie discretizada.

Alguns autores, como Ricci (2002), utilizam-se de uma camada protetora prxima

superfcie do corpo, que em princpio evitaria que os vrtices discretos migrassem para o

interior do corpo. Outros autores preferem eliminar os vrtices e utilizar a Lei de Conservao

da Circulao para compensar a vorticidade perdida (Alcntara Pereira, 2002).

A alternativa que adotada neste trabalho consiste na utilizao de uma camada

protetora e reflexo dos vrtices de volta ao escoamento.

importante frisar que qualquer que seja o esquema adotado, o Princpio da

Conservao da Circulao no pode ser violado. O balano da vorticidade na regio fluida

deve ser constante durante toda a simulao numrica.

De maneira similar montagem da equao matricial de fontes, a seguinte equao:

[ ]{ } { }RHSVGAMMACOUPV = (3.35a)

ou a sua forma matricial equivalente:

=

m

3

2

1

m

3

2

1

mm2m1m

m33231

m22221

m11211

RHSV...

RHSVRHSVRHSV

...K......KK

...............K......KKK......KKK......KK

(3.35b)

constitui um sistema linear de equaes algbricas, cuja incgnita representa a intensidade de

vrtices, onde:

[ ]COUPV : a matriz de influncia. Os coeficientes j,iK representam a velocidade tangencial

induzida no ponto de controle de um painel genrico i , por um vrtice de Lamb com

intensidade unitria, localizado sobre o painel j ;

{ }GAMMA : o vetor incgnita;

33

{ }RHSV : o vetor coluna lado direito, que para o escoamento potencial, leva em conta a contribuio do escoamento incidente. A partir da presena de vrtices livres no meio fluido,

este vetor atualizado conforme descrito no captulo 4.

3.6.6 Conservao da Circulao

Na teoria potencial a condio de conservao da circulao imposta ao longo do

domnio fluido , e expressa por:

==C

0 dSu (3.36)

Considerando a nuvem de vrtices, a conservao global da circulao calculada pela

equao (4.5) conforme apresentado no captulo 4.

3.6.7 Cargas Aerodinmicas

Entende-se como carga aerodinmica, a ao que o fluido em movimento ao redor de

um corpo, exerce sobre sua superfcie. As grandezas de maior interesse relacionadas com as

cargas aerodinmicas so: a distribuio de presses sobre a superfcie do corpo (cargas

distribudas) e as foras de arrasto e de sustentao (cargas integradas).

O clculo do campo de presses feito considerando a metodologia proposta por

Kamemoto (1993), onde se aplica o operador divergente nas equaes de Navier-Stokes e

com o auxlio da equao da continuidade obtm-se uma equao de Poisson para a presso,

que resolvida utilizando-se um Mtodo de Painis.

Com este procedimento, o campo de presses, em qualquer ponto da regio fluida, pode

ser calculado integrando-se a funo de Bernoulli, definida por Uhlman (1992) como:

u=+= u,2

upY2

(3.37)

34

Shintani & Akamatsu (1994) apresentaram outra formulao que pode ser melhor

combinada com o Mtodo de Vrtices Discretos, uma vez que torna-se necessrio conhecer

apenas o campo de velocidades e o campo de vorticidade. A equao dada por:

( ) ( ) = CC S iiS ii dSGRe1dGdSGYYH nun (3.38)

onde:

1H = em (no domnio do escoamento)

ou

5.0H = em CS (na superfcie do corpo)

e G corresponde soluo fundamental da equao de Laplace.

As integrais presentes na equao (3.38) so resolvidas numericamente. No trabalho de

Ricci (2002) pode-se encontrar a deduo da equao que permite determinar o valor da

presso no ponto i :

( ) ( )( ) ( )

( ) ( )( ) ( ) +

=

+

++

2

i2

i

ii2

i2

i

iyix

Si dyyxx

yyuxxv1YdS

yyxx

yynxxn21HY

( ) ( )( ) ( ) +

S2

i2

i

ixiy dSyyxx

yynxxn1

Re1 (3.39)

que discretizada, para ser resolvida numericamente, toma a forma:

( ) ( )( ) ( )= =+

++

M

ij1;jjj2

ij2

ij

ijyjijxji YSyyxx

yynxxn21HY

( ) ( )( ) ( )

( ) ( )( ) ( ) = = +

+

+

Nv

1j

M

ij1;jjj2

ij2

ij

ixjiyjj2

ij2

ij

ijjijj Syyxx

yynxxnRe

1yyxx

yyuxxv1 (3.40)

35

A equao (3.39) pode ser resolvida pelo Mtodo de Painis agrupando o primeiro e o

ltimo somatrio nas matrizes de influncia Ap (matriz de presso) e Ad (matriz lado direito),

respectivamente. Assim, a equao (3.40) pode ser escrita do seguinte modo:

( ) ( )( ) ( ) = == ++

=

Nv

1j

M

1jjji,j2

ij2

ij

ijjijjM

1jjji, Adyyxx

yyuxxv1YAp

21 (3.41)

O lado direito da equao anterior, por sua vez, pode ser escrito da seguinte forma:

( ) ( )( ) ( ) = =++

=

Nv

1j

M

1jjji,j2

ij2

ij

ijjijji Adyyxx

yyuxxv1Ld (3.42)

A aplicao da equao (3.41) nos M painis que discretizam a superfcie do corpo

conduz ao seguinte sistema de equaes matriciais:

[ ]{ } { }LdYAp = (3.43)

Uma vez conhecidos os valores da incgnita Y para os M painis, obtm-se os valores

do coeficiente de presso para cada segmento:

1YC iPi += (3.44)

j que a velocidade sobre a superfcie do corpo nula.

As foras aerodinmicas so obtidas pela integrao da presso ao longo do corpo. A

fora de arrasto atua em cada painel na direo do escoamento incidente, ao passo que a fora

de sustentao atua em cada painel na direo normal a este. Assim, as referidas foras so

dadas por:

( )=

=M

1jjjj sinSppD (3.45)

( )=

=M

1jjjj cosSppL (3.46)

36

onde jp a presso no ponto de controle do painel j e p a presso do escoamento no

perturbado.

A adimensionalizao das equaes anteriores leva obteno dos coeficientes de

arrasto e sustentao, respectivamente dados por:

( ) ==

==M

1jjjP

M

1jjjjD sinSCsinSpp2C (3.47)

( ) ==

==M

1jjjP

M

1jjjjL cosSCcosSpp2C (3.48)

Captulo 4

IMPLEMENTAO NUMRICA

4.1 INTRODUO

Este captulo apresenta o algoritmo de implementao do Mtodo de Vrtices Discretos

utilizado para a simulao numrica do escoamento bidimensional, incompressvel e em

regime no-permanente de um fluido Newtoniano, com propriedades constantes em torno de

um corpo oscilante de forma arbitrria e conhecida, que se desloca numa regio fluida de

grandes dimenses. Apresenta-se, tambm, a estrutura do programa computacional

desenvolvido em linguagem FORTRAN e as descries sobre as funes das rotinas de

clculo utilizadas, que auxiliam o programa principal.

4.2 ALGORTMO GERAL DO MTODO

Para a simulao numrica do problema formulado no captulo 3 foi desenvolvido o

programa computacional OSCILLATION.FOR em linguagem FORTRAN, baseado no

programa Mtodo de Vrtices Discretos desenvolvido por Alcntara Pereira (1999). As

principais modificaes foram a incluso das singularidades do tipo fontes, um novo sistema

de equaes matriciais para a gerao dos vrtices de Lamb e as rotinas de transferncia de

38

coordenadas. O diagrama em blocos do algoritmo que implementa esta soluo mostrado na

figura 7.

Figura 7 Algoritmo de implementao do programa OSCILLATION.FOR

A seguir ser explicada a finalidade de cada rotina utilizada no programa

OSCILLATION.FOR para que ele possa ser compreendido por um usurio.

POS_BODY

COMP_UM_VM

RHSV

CONSERV

GAUSSPIV (V)

MOD_M

ITERATIVO

AVERAGE

INDATA

DATAPREP

COUPS

RHSS

COUPV

RHSV

MODCOUP

GAUSSPIV (S)

GAUSSPIV (V)

GENERATION

POS_BODY

COMP_UM_VM

RHSS

GAUSSPIV (S)

COMP UC VC

PRESSURE

DIFUSION

CONVEC

POS_BODY

REFLECTION

POS_INERTIAL

PRINT

M

A

I

N

.

F

O

R

ITERATIVO

2

3

1

4

5

6

7

8

9

10

11 25

26

27

28

2916

15

14

13

12

17

18

19

20

21

22

23

24

39

Rotina INDATA

Esta rotina tem como finalidade a leitura de todos os dados necessrios para a simulao

numrica do escoamento ao redor de um corpo oscilante de forma qualquer e conhecida.

O arquivo de entrada INPUT.DAT aberto pela rotina para a leitura dos seguintes

parmetros utilizados no programa computacional:

M => nmero de painis planos que representam a superfcie discretizada do corpo

stop => nmero total de incrementos de tempo

save => intervalo de tempo para salvar os arquivos de sada

start => instante de tempo para o incio do clculo das cargas aerodinmicas

U => velocidade do escoamento incidente

=> ngulo de ataque do escoamento incidente

t => incremento de tempo

=> posio de desprendimento dos vrtices sobre cada painel plano

pro => espessura da camada protetora

gap => deslocamento de cada ponto de controle em direo a superfcie real

0 => raio do ncleo do vrtice de Lamb

Re => nmero de Reynolds

A => amplitude de oscilao

=> velocidade angular

Em seguida, no arquivo PANELS.DAT so lidas as coordenadas dos pontos extremos

de cada painel do corpo em anlise.

40

Rotina DATAPREP.FOR

A rotina DATAPREP.FOR recebe o valor dos pontos extremos de cada painel e a partir

deles calcula para cada painel o valor do ponto de controle, do ngulo de orientao, o

comprimento do painel e os pontos de desprendimento do vrtice discreto de Lamb. Esta

rotina tambm imprime no arquivo DISCRET.DAT a geometria discretizada do corpo.

Rotina COUPS.FOR

A prxima etapa consiste do clculo dos coeficientes da matriz de influncia de fontes

pela rotina COUPS.FOR. Estes coeficientes so mostrados na equao matricial (3.27b), que

pode ser escrita como:

( )[ ]{ } { })RHSS(SS,SK kM

1jjjk =

=

(4.1)

Na equao matricial acima ( )jk S,SK uma matriz de influncia, onde cada elemento da matriz representa a induo de velocidade normal sobre o ponto de controle do painel

genrico k por todos os outros painis de fontes. Para a montagem dos coeficientes assume-

se que a densidade de cada fonte igual a unidade.

Os coeficientes da matriz de influncia de fontes no sofrem variao ao longo da

simulao numrica, porque dependem apenas da geometria do corpo. No presente trabalho

os coeficientes da matriz de influncia de fontes so calculados no sistema de coordenadas

fixo ao corpo. A matriz de influncia montada impondo-se a condio de impenetrabilidade

(condio de Neumann) sobre o ponto de controle de cada painel.

Rotina RHSS.FOR

O lado direito da equao matricial um vetor coluna de M elementos, que leva em

considerao a velocidade normal induzida pelo escoamento incidente e pela nuvem de

vrtices discretos sobre o ponto de controle de cada painel. Para um painel genrico M , o

valor de )S(RHSS k na primeira vez em que ele calculado, no instante ( )t0t = , considera apenas a induo de velocidade normal do escoamento incidente, uma vez que no existe

vrtice livre no meio fluido.

41

Durante o processo iterativo, o vetor coluna lado direito da equao matricial (4.1)

corresponde ao somatrio da velocidade normal induzida pelo escoamento incidente )v,u( ,

veja apndice B, e pelos vrtices discretos de Lamb )v,u( j,kj,k no ponto de controle do painel

genrico k com ngulo de inclinao k . No problema analisado tem-se a seguinte equao

para o vetor coluna lado direito de fontes:

( ){ })cos(v)sin(u)cos(yv)sin(u)S(RHSS kj,kkj,kkokk ++= & (4.2)

A influncia da oscilao do corpo est representada na equao (4.2) pelo termo 0y&

cujo valor calculado pela equao (3.7b).

Rotina COUPV.FOR

A prxima etapa consiste do clculo dos coeficientes da matriz de influncia dos

vrtices nascentes de Lamb pela rotina COUPV.FOR. Estes coeficientes so mostrados na

equao matricial (3.35b), que pode ser escrita como:

( )[ ]{ } { })RHSV(SS,SK kM

1jjjk =

=

(4.3)

Na equao matricial acima ( )jk S,SK uma matriz de influncia, onde a linha k representa a induo de velocidade tangencial sobre o ponto de controle do painel genrico k

por todos os vrtices de Lamb nascentes. Estes vrtices discretos de Lamb so posicionados

tangenciando o ponto de controle dos painis de acordo com uma linha normal ao ponto de

controle do painel e que passa pelo centro do ncleo do vrtice, conforme mostra a figura 6.

No instante inicial, ( )t0t = , e a cada novo incremento de tempo, t , h a gerao de vorticidade sobre a superfcie discretizada do corpo. Deste modo, o sistema de M equaes

algbricas e M incgnitas mostrado na equao (4.3), deve ser resolvido.

Os coeficientes da matriz de influncia de vrtices no sofrem variao ao longo da

simulao, porque dependem apenas da geometria do corpo. No presente trabalho os

coeficientes da matriz de influncia de vrtices so calculados no sistema de coordenadas fixo

ao corpo. A matriz de influncia montada impondo-se a condio de escorregamento-nulo

sobre o ponto de controle de cada painel.

42

Rotina RHSV.FOR

O lado direito da equao matricial um vetor coluna de M elementos. Para um painel

genrico k , o valor de )S(RHSV k na primeira vez em que ele calculado, no instante

( )t0t = , considera apenas a induo de velocidade tangencial do escoamento incidente, veja apndice B, uma vez que no existe vrtice livre no meio fluido.

Em todos os incrementos de tempo seguintes, este vetor atualizado devido aos z

vrtices discretos de Lamb que induzem velocidade )v,u( j,kj,k sobre o ponto de controle do

painel genrico k com ngulo de inclinao k . No problema analisado tem-se a seguinte

equao para o vetor coluna lado direito de vrtices:

( ){ })sin(v)cos(u)sin(yv)cos(u)S(RHSV kj,kkj,kkokk += & (4.4)

Novamente, a influncia da oscilao do corpo representada na equao (4.4) pelo

termo 0y& tem seu valor calculado pela equao (3.7b).

Rotina MODCOUP.FOR

Esta rotina acrescenta 1 linha e 1 coluna na matriz de influncia de vrtices, dada pela

equao (4.3), para imposio da conservao da circulao global, obedecendo a seguinte

equao:

( ) ( ) = =

=+M

1j

N

1klivresvrticesknascentesvrticesj

0V

(4.5)

Aproveita-se esta rotina para o clculo dos coeficientes da matriz de presso COUPP.

Esta matriz corresponde ao termo do lado esquerdo da equao (3.40) representado por j,iAp .

Rotina GAUSSPIV.FOR

As equaes matriciais (3.41), (4.1) e (4.3) so ento resolvidas pela rotina

GAUSSPIV.FOR, que utiliza o Mtodo de Eliminao de Gauss com Condensao Pivotal

43

Parcial, fornecendo para o programa principal o vetor coluna incgnita com as densidades

fontes e intensidades de vrtices sobre cada painel.

Rotina GENERATION.FOR

A vorticidade gerada sobre a superfcie do painel plano genrico j , em cada incremento

de tempo, sofre um processo de aglutinao instantnea formando um vrtice discreto. Cada

vrtice discreto que gerado localiza-se a uma pequena distncia sobre uma normal que

passa pelo ponto de controle do painel (figura 6). Este processo denominado de difuso

primria (Alcntara Pereira, 1999). O vrtice discreto formado possui um ncleo viscoso e o

modelo que vem sendo utilizado o modelo original do vrtice de Lamb (Panton, 1984). A

rotina GENERATION realiza o processo de desprendimento dos vrtices discretos.

Rotina COMP_UM_VM.FOR

A rotina COMP_UM_VM.FOR acionada para calcular os componentes da velocidade

induzida no ponto de controle dos painis planos devidos presena dos vrtices discretos

desprendidos e dos vrtices discretos presentes na nuvem de vrtices, para a correo dos

vetores coluna das equaes (4.2) e (4.4).

Rotina COMP_UC_VC.FOR

A COMP_UC_VC.FOR realiza o clculo dos componentes da velocidade total induzida

em cada vrtice discreto de Lamb da nuvem, levando-se em conta a influncia do escoamento

incidente, do corpo presente no escoamento (representado por painis de fontes com

distribuio uniforme de densidade) e de todos os vrtices discretos que formam a nuvem em

cada instante de tempo. Nesta rotina tem-se o clculo, portanto, do campo de velocidades.

Rotina PRESSURE.FOR

O clculo das cargas aerodinmicas integradas e das distribudas feito pela rotina

PRESSURE.FOR, que calcula a presso instantnea atuante no ponto de controle de cada

painel mais as foras i