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OS PRINCIPAIS ERROS NA FASE PRÉ-ANALÍTICA EM
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS
Daniel dos Santos Souza - Graduando em Farmácia – UNEC - - Email - [email protected]
Rosangela Gomes do Carmo - Graduada em Farmácia-Bioquímica- UFOP - Especialista em Citopatologia - Email
Daniel Rodrigues Silva - Graduado em Farmácia – Bioquímica e Doutor em Ciências Farmacêuticas - Coordenador
do curso de Farmácia do Centro Universitário de Caratinga – Campus UNEC de Nanuque – e-mail -
Danilo Ramaciotti Caires - Graduado em Enfermagem – UNEC, Especialista em Enfermagem do Trabalho - FASE
e Graduando em Farmácia - UNEC - Centro Universitário de Caratinga - e-mail - [email protected]
Roberto Santos Barbiéri - Graduado em Química, Mestre e Doutor em Química, Pró-Reitor de graduação do
Centro Universitário de Caratinga, [email protected]
Resumo: O diagnóstico laboratorial clínico constitui-se uma importante ferramenta na promoção da
saúde, auxiliando nas decisões clínicas referentes ao diagnóstico definitivo e correto da patologia assim como o tratamento farmacológico adequado. Para assegurar a exatidão e precisão dos resultados
laboratoriais devem-se adotar programas de garantia de qualidade. Para assegurar sua eficácia, o
processamento das amostras biológicas devem compreender três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. A fase pré-analítica inicia-se com a solicitação do exame, seguindo com a correta orientação do
laboratorio, obtenção da amostra biológica, correto acondicionamento, transporte até o laboratório de
análises clínicas, triagem e cadastro do paciente para que se possa executar o exame. Contudo, é a fase mais difícil de ser controlada e mais susceptível aos erros, devido ao fato de que todos os processos que a
envolvem são realizados fora do laboratório e estando diretamente correlacionados a tarefas manuais.
Diante do risco nesta fase esta pesquisa tem como objetivo e metodologia discutir, revisar e analisar publicações científicas acerca das principais fontes de erros da fase pré-analítica do laboratório clínico
com ênfase no controle de qualidade e descrever sua importância para a área e para a excelência nos
procedimentos referentes aos laboratórios clínicos. Ápos levatamento de dados, foi possível constar que na fase pré-analítica é onde ocorre o maior percentual de erros ocorridos nos laboratórios de análises
clínicas. Este fato é decorrente da dificuldade de se controlar as variáveis da fase pré-analítica e promover
uma padronização para minimizar a ocorrência de erros.
Palavras- Chave: Fase Pré-Analítica, Amostras Biológicas, Análises Clinicas.
1. Introdução
O laboratório de análises clínicas é um estabelecimento de saúde onde diversos
profissionais laboram contribuindo para o estudo, diagnóstico e, auxiliando no tratamento de
problemas de saúde, através das análises de materiais biológico tais como: sangue, urina, líquido
cefalorraquidiano e sinovial, exsudato vaginal, dentre outros tipos de amostras.
De acordo com o Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP,
2013):
Os exames laboratoriais têm por objetivos fornecer resultados apurados e precisos de
vários parâmetros normais ou patológicos. Fornecendo informações e indicadores úteis
para estabelecer diagnósticos, avaliar a gravidade das patologias existentes, gerar
informações sobre o estágio da doença, indícios de tratamento mais adequado, avaliar a
eficácia do tratamento utilizado e caracterizar populações.
O laboratório de análises clínicas desempenha importante papel para a medicina
moderna. Ele dispõe de admirável quantidade de métodos laboratoriais, apresentando cada um
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deles sua utilidade específica e dificuldades intrínsecas. Na interpretação dos resultados de
exames laboratoriais é muito mais complexa que a sua simples comparação com os valores de
referência, para serem classificados como normais ou anormais, de acordo com os limites desta
referência e, a seguir, comparando os resultados com padrões que indicam a presença de certas
doenças (HISMALHE, 2010 apud DELOURDES et al , 2008).
O atendimento laboratorial para que tenha uma forma eficiente e segura de promover à
emissão e liberação de laudos fidedígnos e confiáveis, para promover uma correta conduta clínica e assegurando o tratamento correto do paciente.
Para que ocorra a redução de erros ou evitá-los os laboratórios devem obedecer a normas
e programas de qualidade externas e internas. Contudo os atuantes na área de análises clínicas
devem ter o conhecimento de todas as normas dos programas de qualidade para que assim,
evitem-se falhas que não comprometem os resultados dos exames e, para abolir resultados falsos
positivos ou falso negativos liberandondo laudos confíaveis.
Várias Publicações revelatam que aproximadamente 68 % a 93% dos erros laboratoriais
encontrados são consequência da falta de padronização e treinamento inadequado na fase pré-
analítica. A fase pré-analítica consiste na preparação e orientação do paciente, coleta, manipulação e armazenamento e transporte das amostras antes da determinação analítica, ou
seja, compreende todas as etapas que precedem ao ensaio laboratorial, dentro ou fora do
laboratório de análises clínicas, e toxicológicas. (BRITO, 2013 apud FERREIRA et al., 2007).
Outras análises segundo Pereira et al., (2015), as causas de erros em laboratórios, são
cerca de 77,1% , que se encontram-se na fase pré-analítica. Sendo com mais frequência hemólise
e volume de amostra insuficiente, seguidos por erros de outra natureza ocasionando um
desconforto para o paciente e descretibilidade para o laboratório clínico.
A Organização Panamericana de Saúde – OPAS/OMS estabeleceu um procedimento de
avaliação dos recursos institucionais, voluntário, periódico e reservado, para garantir a qualidade da assistência por intermédio de padrões previamente aceitos para que ocorresse uma
sensibilização dos laboratorios para tentarem diminuir os erros na fase pré- analítica. (PEREIRA
et al., 2015 apud OLIVEIRA, 2007). Segundo Carrero e Plebani (2007), foram realizados
estudos para identificação dos erros mais frequentes em laboratórios, onde a taxa de
porcentagem dos erros mostrados no gráfico abaixo, figura 01:
Para ter o reconhecimento de determinados produtos, processos ou serviços são
realizados ou cumpridos de acordo com requisitos específicos, conforme as normas da
International Organization for Standardization (ISO). Na acreditação esses processos são
avaliados para verificar a adequação dos serviços que são oferecidos que foi reconhecida pela ANVISA em (2002), ressaltando que a acreditação é o reconhecimento formal por um organismo
de acreditação, de que um organismo de avaliação da conformidade - OAC (laboratório,
organismo de certificação ou organismo de inspeção) que atende a requisitos previamente
definidos e demonstra ser competente para realizar suas atividades com confiança. Por meio da
resolução Nº 921/02 firmou-se um convênio com a Organização Nacional de Acreditação (ONA)
para cooperação técnica e aperfeiçomento do treinamento do pessoal (VIEIRA, 2002).
No Brasil estão disponíveis dois programas nacionais de ensaio de proficiência: programa
de excelência para laboratórios médicos (PELM) da Sociedade Brasileira de Patologia
Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e o Programa Nacional de Controle de Qualidade
(PNCQ) da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). Porém, com o principal objetivo destes programas é verificar a exatidão e garantir resultados confíaveis na fase analítica dos
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exames laboratoriais (XAVIER, 2013). Entretanto, as fases pré-analíticas e pós-analíticas não
podem ser avaliadas por programas de qualidade, tornando-as muito mais propensas a erros.
Figura 01:
62%15%
23%
FREQUÊNCIAS DE ERROS NAS FASES LABORATÓRIAS
Fase Pré-analitica Fase Analitica Fase Pós Analitica
Fonte: adpatado de CARRERO e PLEBANI , 2007
De acordo com a pesquisa realizada observou-se variações nas porcentagens dos erros da
fase pré-analítica, confirmando a complexidade dessa fase e seu alto índice de erro.
Erros ocorridos na fase pré-analítica podem resultar em rejeições da amostra e como
consequência diminuição da credibilidade e confiança no laboratório, insegurança, insatisfação,
custos desnecessários entre outros. A maior prevalência de erros ocorridos nessa fase é devido à
dificuldade de se controlar suas variáveis e realizar melhorias no processo. Qual a contribuição
de erros ocorridos na fase pré-analítica para o aumento de resultados laboratoriais não
fidedignos?
Justifica-se a pesquisa, pois as falhas no diagnóstico podem comprometer significativamente a segurança do paciente em condições patológicas graves e aqueles em
condições normais porque é com base no diagnóstico laboratorial que decisões clínicas corretas
são tomadas.
O objetivo da pesquisa realizada é de discutir, revisar e analisar publicações científicas
acerca das principais fontes de erros da fase pré-analítica do laboratório clínico com ênfase no
controle de qualidade e descrever sua importância para a área e para a excelência nos
procedimentos referentes aos laboratórios clínicos.
2. Referencial Teórico
2.1 Regulamentações para o funcionamento dos Laboratórios de Análises Clínicas
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O Regulamento Técnico de Funcionamento do Laboratório Clínico foi elaborado a partir
de trabalho conjunto de técnicos da ANVISA, com o Grupo de Trabalho instituído pela Portaria
nº. 864/2003 e composto por técnicos da ANVISA, Secretaria de Atenção a Saúde (SAS/MS),
Secretaria de Vigilância à Saúde (SVS/MS), Vigilâncias Sanitárias Estaduais, Laboratório de
Saúde Pública, Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, Sociedade
Brasileira de Análises Clínicas, Provedores de Ensaio de Proficiência e um Consultor Técnico
com experiência na área. Nesta portaria encontram-se todos os termos e normas que devem ser
aplicáveis aos serviços de saúde, públicos ou privados, para que possa entrar em fucionamento para realizar atividades laboratoriais na área de análises clínicas, patologia clínica e citologia
clínica. Com Alvará sanitário, licença de funcionamento ou licença sanitária é o documento
expedido pelo órgão sanitário competente estadual, municipal ou do distrito federal, que autoriza
o funcionamento dos estabelecimentos que exerçam atividades sob o regime de vigilância
sanitária. (BRASIL, 2003)
Nos aspectos que norteiam a infraestrutura física de um laboratório clínico e do posto de
coleta, tem que atender a este os requisitos descritos pela resolução RDC nº. 50 de 21/02/2002,
que dispões sobre as normas impostas por esta resolução. A partir desta resolução, os
laboratórios devem possuir: equipamentos e instrumentos de acordo com a complexidade do
serviço e necessários ao atendimento de sua demanda; manter instruções escritas referentes a equipamento ou instrumento, as quais podem ser substituídas ou complementadas por manuais
do fabricante em língua portuguesa; realizar e manter registros das manutenções preventivas e
corretivas; verificar ou calibrar os instrumentos a intervalos regulares, em conformidade com o
uso, mantendo os registros dos mesmos; verificar a calibração de equipamentos de medição
mantendo registro das mesmas. (BRASIL, 2005). Os equipamentos e instrumentos utilizados,
nacionais e importados, devem estar regularizados junto a ANVISA e o Ministério da Saúde
(MS), de acordo com a legislação vigente pra que possam entrar em funcionamento. Os
equipamentos que necessitam funcionar com temperatura controlada deverão possuir registro de
rotina. (BRASIL, 2005).
2.2 Programas de Qualidade
De Acordo Com a ANVISA e a Organização Mundial de Saúde (OMS) a implantação de
um programa da qualidade é necessária para:
Melhorar a qualidade dos serviços de saúde;
Gerar resultados confiáveis e reproduzíveis;
Propiciar que resultados interlaboratoriais sejam comparáveis;
Aumentar a credibilidade do laboratório entre os médicos e seus clientes;
Motivar os funcionários a melhorar o desempenho;
Prevenir de complicações legais que podem seguir a liberação de exames de
baixa qualidade.
A adoção de um modelo de gestão é necessário para a manutenção da qualidade de seus
produtos e serviços e, consequentemente, com resultados mais precisos e confiáveis. Para
alcançar este objetivo, os laboratórios clínicos necessitam de implementar diverasas gestões e
programas de qualidade, onde deve ser priorizado os seguintes programas: Planejamento da
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Qualidade (PQ), Controle de Qualidade (CQ), Garantia da Qualidade (GQ), Manutenção da
Qualidade (MQ) e Aperfeiçoamento da Qualidade (AQ).
O PQ compreende as ações de planejar e desenvolver a qualidade. O planejamento do
processo é definido a partir de estabeler a missão do laboratório, incluindo seus clientes e
serviços. Com essa maneira podemos abelecer os meios e os recursos para determinar os padrões
a serem alcançados na prestação dos serviços. O CQ tem como objetivo avaliar a precisão e a
exatidão dos métodos analíticos e trata-se de um processo dinâmico, ininterrupto e de atividade permanente de identificação de falhas nas rotinas e procedimentos, que devem ser
periodicamente revisados, atualizados e difundidos, com a alta direção da instituição até seus
funcionários mais básicos (PEREIRA & NOVAES, 2015 apud GOMES, 2012). A GQ tem o
objetivo de prover confiança garantir que os requisitos da qualidade serão atendidos. A MQ
consiste no acompanhamento, na supervisão e na avaliação do sistema da qualidade para garantir
que cada setor de trabalho dos laboratórios possa obter produtos ou serviços de boa qualidade. O
AQ tem o objetivo de aumentar a capacidade dos laboratórios em atender os requisitos da
qualidade. Com o acompanhamento e supervisão do trabalho desenvolvido permitirão a
resolução contínua de problemas surgidos na produção, resultando em uma melhoria dos
processos analisados. (PEREIRA et al., 2015 apud LIMA-OLIVEIRA, 2004).
A importância do sistema de qualidade nos procedimentos dentro dos laboratórios pode
ser evidenciada a partir da seguinte afirmação “O descumprimento das determinações contidas
nos Regulamentos Técnicos constitui infração de natureza sanitária sujeitando o infrator a
processo e penalidades previstas na Lei nº. 6437/ 1977.” Tendo em vista que são obrigatórias as
Legislações de “RDC 302/2005 resolução 179/2001”. (PEREIRA et al., 2015 - GRAÇA, 2005).
2.3 Regulamentações ANVISA 2005 – RDC 302/2005 – Normatização da fase pré-analítica
O início da fase pré-analítica ocorre com a solicitação do exame laboratorial, obtenção de informações do paciente como, por exemplo, uso de medicamentos, coleta da amostra biológica,
identificação do material coletado, armazenamento, transporte e o recebimento das amostras.
A implantação da RDC 302/2005 (ANVISA), veio para nortear e padronizar a conduta
laboratorial nessa fase.
De acordo com a RDC 302/2005(ANVISA):
[...] O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem disponibilizar ao paciente ou responsável, instruções escritas e ou verbais, em linguagem
acessível, orientando sobre o preparo e coleta de amostras tendo como objetivo
o entendimento do paciente.
[...] Devem solicitar ao paciente documento que comprove a sua identificação
para o cadastro.
[...] Os critérios de aceitação e rejeição de amostras, assim como a realização de exames em amostras com restrições devem estar definidos em instruções
escritas.
O cadastro do paciente (RDC 302/2005 (ANVISA) deve conter as seguintes informações:
a) Número de registro de identificação do paciente gerado pelo laboratório;
b) Nome do paciente;
c) Idade, sexo e procedência do paciente;
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d) Telefone e/ou endereço do paciente, quando aplicável;
e) Nome e contato do responsável em caso de menor de idade ou incapacitado;
f) Nome do solicitante;
g) Data e hora do atendimento;
h) Horário da coleta, quando aplicável;
i) Exames solicitados e tipo de amostra;
j) Quando necessário: informações adicionais, em conformidade com o exame (medicamento em uso, dados do ciclo menstrual, indicação/observação clínica,
dentre outros de relevância);
k) Data prevista para a entrega do laudo;
l)Indicação de urgência, quando aplicável.
A resolução 302/2005 (ANVISA) também dispoem sobre a normatização da coleta, o recebimento do material biológico, a rastreabilidade e a orientações aos pacientes:
[...] Devem fornecer ao paciente ambulatorial ou ao seu responsável, um
comprovante de atendimento com: número de registro, nome do paciente, data
do atendimento, data prevista de entrega do laudo, relação de exames solicitados e dados para contato com o laboratório.
[...] Devem dispor de meios que permitam a rastreabilidade da hora do
recebimento e/ou coleta da amostra.
[...] A amostra deve ser identificada no momento da coleta ou da sua entrega
quando coletada pelo paciente.
[...] Deve ser identificado o nome do funcionário que efetuou a coleta ou que
recebeu a amostra de forma a garantir a rastreabilidade.
[...] Devem dispor de instruções escritas que orientem o recebimento, coleta e identificação de amostra.
[...] Devem possuir instruções escritas para o transporte da amostra de paciente,
estabelecendo prazo, condições de temperatura e padrão técnico para garantir a sua integridade e estabilidade.
[...] A amostra de paciente deve ser transportada e preservada em recipiente isotérmico, quando requerido, higienizável, impermeável, garantindo a sua
estabilidade desde a coleta até a realização do exame, identificado com a
simbologia de risco biológico, com os dizeres “Espécimes para Diagnóstico” e com nome do laboratório responsável pelo envio.
2.4 - O Controle de qualidade na fase Pré-Analítica
Diversos estudos constataram que essa fase é a que está mais propensa a erros oriundos
da elevada rotatividade do pessoal técnico envolvido, negligência, falta de capacitação, atenção e treinamento ineficiente.
Os principais erros e variações ocorridos na fase pré-analítica de acordo com PEREIRA
et al. (2015), são:
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Identificação da Amostra: É muito importante que o paciente, a solicitação de
exames e as amostras estejam devidamente identificados: nome do paciente,
data e hora da coleta, tipo de material (sangue total, soro, plasma, urina, etc).
Preparação do paciente: Todos os profissionais do laboratório devem ter
conhecimento da importância da correta preparação do paciente e saber como ela pode afetar os resultados. Na preparação do paciente para a realização dos
exames é muito importante observar o efeito de vários fatores, como:
necessidade de jejum para o exame; estado nutricional do paciente; uso de álcool; estresse; fumo; exercícios físicos; postura; interferência in vitro ou in
vivo dos medicamentos.
Coleta da amostra: É importante que os profissionais responsáveis tenham conhecimentos necessários dos erros e variações que podem ocorrer antes,
durante e após a obtenção da mesma.
2.4.1. Coleta de material biológico
A coleta é uma etapa de extrema complexidade e importância para que o exame seja
realizado com sucesso, apesar de ser uma etapa crucial para o laboratório, ainda não há um
sistema único que realize o controle ou que sejam capazes de identificar os possíveis erros.
Existem algumas informações que devem ser levadas em consideração no momento da coleta,
tais como: o tempo de jejum, uso apropriado dos tubos e tempo de aplicação do torniquete são os
principais (PEREIRA at al., 2015; LIMA- OLIVEIRA et al., 2009).
No momento de posicionar o paciente para realizar a coleta de sangue (FLEBOTOMIA) é importante que este se sinta confortável, porém o braço deve estar posicionado em linha reta, o
garrote deve ser aplicado próximo ao local da punção (uma distância de 4 a 5 dedos acima do
local a ser puncionado), o garrote não deve ser deixado por mais de um minuto no braço, pois o
garroteamento prolongado pode provocar alterações nas análises decorrentes. Escolher a veia do
braço para a mão, pois nesse sentido as veias é de maior calibre e o local é menos sensível a dor.
Não realizar punção nos locais onde já foi puncionado antes, no braço do lado que foi feito
mastectomia ou infusão intravenosa e ou ainda locais com hematomas, edemas e contusões para
evitar infecções, ou complicações e algum desconforto para o paciente além de causar algumas
alterações no hemograma. Jamais aplicar “tapinhas” na região a ser puncionada, principalmente
em idosos, pois se forem portadores de ateroma poderá haver deslocamentos das placas
acarretando sérias consequências para esses pacientes. (XAVIER, 2013. VACUETTE DO BRASIL, 2002).
Uma característica é a ordem dos tubos que devem ser preenchidos da seguinte maneira:
Tubos de hemocultura, este é o primeiro a ser preenchido para reduzir ao máximo qualquer
contaminação; Tampa amarela: tubo para soro com ativador de coágulo com gel separador,
utilizado para testes bioquímicos e imunológicos; Tampa azul-clara: tubos com citrato para
obtenção de plasma para as provas de coagulação; Tampa verde: tubos com heparina com ou
sem gel separador de plasma; Tampa roxa: tubos com EDTA (Ácido etilenodiamino tetra-
acético, por ter afinidade com o cálcio, age como anticoagulante) utilizados para hematologia
como hemograma, tipagem sanguínea e VHS (velocidade de hemossedimentação); Tampa vermelha: tubos de vidro siliconizados para soro; Tampa cinza: tubos com fluoretado para
determinação de glicose (XAVIER, 2013. LIMA-OLIVEIRA, 2009, p. 85.. ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAUDE).
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Com exceção dos tubos para soro é fundamental homogenizar, ou seja, misturar o
material coletado com os aditivos existentes nos tubos, esse procedimento é feito por inversão de
4 a 10 vezes logo após a coleta com isso evita a formação de coágulos e inviabilizar a amostra
(XAVIER, 2013 apud MOTTA, 2009, p. 40. VACUETTE DO BRASIL, 2002.).
Segundo Clinicaland Laboratory Standards Institute (CLSI) - H2A6, a ordem dos tubos
que devem ser preenchidos da maneira disposta na figura 02, com exceção dos tubos para soro é
fundamental homogeneizar, ou seja, misturar material coletado com os aditivos existentes nos tubos, esse procedimento é feito por inversão, logo após a coleta para evitar a formação de
coágulos e inviabilizar a amostra A grande maioria dos erros laboratoriais quando detectados,
dentro ou fora do laboratório, irão gerar a rejeição da amostra e posterior recoleta da amostra
biológica. Além de gerar dano direto ao paciente, esses erros trazem insatisfação, ansiedade,
transtornos e insegurança ao médico e ao paciente. Para o laboratório clínico, os erros geram
custos desnecessários, demora na liberação do laudo, trabalho dobrado e ainda o mais
importante, a perda da credibilidade, da confiança e da segurança.
Figura 02: Demostrando a sequência de tubos para a realização de uma coleta sanguínea
Fonte: Clinicaland Laboratory Standards Institute (CLSI) - H2A6 - Procedimentos para a coleta
de amostras de sangue de diagnóstico por venopunção; Padrão Aprovado - Sexta Edição,
recomendações para tubos de plástico.
2.4.2. Informações e preparação do paciente
Informações sobre a pessoa na condição de paciente são indispensáveis para o cuidado,
como a idade, o sexo, se praticam esportes, se fez algum esforço físico, se usa medicamentos e
quais são eles, pois estes são fatores que comprometem os resultados das análises, para assim ter
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um resultado mais próximo do valor de referência ocasionando uma boa conduta do médico
(XAVIER, 2013 apud GUIMARÃES, 2011, p. 66).
Outras variáveis biológicas que afetam os resultados dos testes são os ritmos biológicos e
circadianos, gravidez, uso de álcool, doença intercorrente e a postura do indivíduo. Se o
laboratório também atende pacientes internados em hospitais ou acamados é importante salientar
essa informação no cadastro, pois normalmente os indivíduos imobilizados por longo período
ocorrem retenção de líquido e com isso a redução de teores de proteínas e os compostos ligados a elas ocorrendo alterações nos exames (XAVIER, 2013 apud XAVIER, 2011, p.911).
2.4.3. Critérios para rejeição da amostra
Para garantir a exatidão dos exames laboratoriais, a amostra deve ser representativa, ou
seja, deve reproduzir as condições homeostáticas do paciente no momento da coleta. Para que
isso ocorra, o volume obtido de amostra, o tipo de recipiente e o tipo de anticoagulante utilizado
devem ser critérios rígidos de aceitação com base no pedido do exame a ser realizado (XAVIER,
2013 apud GUIMARÃES et al., 2011, p. 66).
O Laboratório deve estabelecer critérios próprios para aceitação e rejeição de amostra,
mas geralmente as amostras que apresentam essas seguintes características são rejeitadas:
amostra coagulada para hematologia (tubos com EDTA) e testes de coagulação; amostras
coletadas com anticoagulante inapropriado; tubos coletados desrespeitando a proporção
adequada entre sangue e anticoagulante; tubos identificados de maneira incorreta; amostras não
identificada; coletas feitas com tubos inapropriados; amostras hemolisadas, lipêmicas e
insuficiente; amostras sem condições de transportes (XAVIER, 2013).
3. Metodologia
A metodologia adotada é a de uma pesquisa bibliográfica, que, segundo Koerich (2013
apud Gil , 2007, p. 17) pode ser assim definida:
[...] método de pesquisa como procedimento racional e sistemático que tem
como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e
a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos.
Durante este trabalho, avaliaram-se, independentemente, os títulos e os resumos de todos os relatos de ensaios clínicos identificados na busca eletrônica. As fontes de estudos utilizadas
consistiram nas seguintes bases: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), MEDlarsonLINE, Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e
ScientificElectronic Library Online (SciELO), CAPES.
4. Resultados e Discussões
Diversos fatores podem interferir na segurança e confiabilidade de resultados de exames,
gerando desconforto para o paciente e afetando a credibilidade do laboratório. Sua maioria ocorre na fase mais crítica, na chamada fase pré-analítica, em que o monitoramento é muito mais
dificil de controlar e monitorar esses interferentes, pois grande parte deles ocorre fora dos
laboratórios (SILVA et al., 2010 ). Essa fase antecede as práticas de análises, que consiste na
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preparação do paciente e seus principais dados, sendo a mais importante, pois com uma conduta
correta pode ter um laudo fidedígnos (LIMA-OLIVEIRA et al., 2009).
Incluem, nestas, variações fisiológicas relativas ao jejum, dieta, atividades físicas,
estresse, uso de medicamentos e etc. Podem também englobar problemas de coleta de amostras,
que incluem o tipo de material utilizado, as condições de manuseio e envio das amostras. Sendo
uma etapa importante para que o resultado seja seguro (VIEIRA, 2002). O paciente deve ser
orientado a despeito das condições necessárias para a realização do exame. Estabelecendo-se uma correta orientação aos clientes em relação ao tempo de jejum, dieta adequada, a não
realização de atividades físicas no dia que antecede a coleta do material biológico, fase do ciclo
menstrual, abstinência sexual, uso de medicamentos.
De acordo com a ANVISA (RDC 302/2005):
[...] O laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem disponibilizar
ao paciente ou responsável, instruções escritas e ou verbais, em linguagem acessível, orientando sobre o preparo e coleta de amostras tendo como objetivo
o entendimento do paciente.
Adotando medidas de esclarecimento e orientação ao paciente, pode-se minimizar a
ocorrência de erros na fase pré-analítica. Salienta-se, também, a importância do treinamento e da
capacitação dos profissionais envolvidos no processo de coleta de materiais biológicos, cadastro
de pacientes e no transporte correto do material coletado.
Com abundante literatura científica sobre a melhoria da qualidade nos laboratórios
(principalmente a analítica), é escassa a literatura sobre erros em Laboratório Clínico. Uma
das razões para isso, além da atenção insuficiente dedicada ao problema, é a dificuldade
prática de relatar e registrar o número de erros (FONSECA, 2013).
A explicação plausível para os altos índices de falha nessa etapa laboratorial é a pequena automação e sua complexidade, pois depende não somente dos profissionais habilitados, mas
envolve a colaboração do paciente. Estes devem estar cientes da importância de se fornecer
informações fidedignas no que diz respeito ao tempo de jejum, uso de medicamentos, prática de
atividade física, entre outros. A adesão e o comprometimento do paciente são fundamentais para
minimizar erros na fase pré-analítica e dessa forma evitar resultados falso-positivo ou falso-
negativo.
5. Considerações Finais
De acordo com as informações das literaturas pesquisadas pode-se constatar que na fase
pré-analítica é onde ocorre o maior percentual de erros ocorridos nos laboratórios de análises
clínicas. Este fato é decorrente da dificuldade de se controlar as variáveis da fase pré-analítica e
promover uma padronização para minimizar a ocorrência de erros. Para que se obtenha precisão
e exatidão apuradas dos exames laboratoriais é necessário a participação ativa do paciente com
relação ao tempo de jejum e todo o preparo necessário para a realização dos exames
laboratoriais. Este é uma peça fundamental para a correta análise e uma decisão clínica correta.
Na tentativa de minimizar os erros ocorridos na fase pré-analítica deve-se adotar medidas
de eslarecimento e conscientização do paciente por parte dos colaboradores do laboratório.
Medidas como orientações por escrito em relação ao tempo de jejum, dietas que antecedem ao exame, formas adequadas de assepsia para coleta de material biológico fora do laboratório, e seu
transporte, tendem a diminuir a ocorrência de erros.
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O paciente tem que ser sensibilizado e orientado da sua importãncia na obtenção de
resultados fidedignos e seguros, pois um diagnóstico equivocado pode resultar em severos danos
à sua saúde.
6. Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº. 864/2003. Dispõe sobre. O composto por técnicos da ANVISA,
Secretaria de Atenção a Saúde (SAS/MS), Diário Oficial da União, Brasília, DF , 2003
<https://pt.linkedin.com/pulse/fase-pr%C3%A9-anal%C3%ADtica-em-laborat%C3%B3rio-cl%C3%ADnico-
%C3%AAnfase-controle-adele-janie> acessado em 27de maio de 2017 às 23h48min.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 50, de 21/02/2002. Dispõe sobre regulamento técnico para
funcionamento de laboratórios clínicos. Diário Oficial da União, Brasília, DF ,. 2002.
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853-afae-4729-948b-
ef6eb3931b19 > Acessodo em 26 de maio de /2017 às 19h20min
BRASIL Mimisterio da saúde, ANVISA. Anexo regulamento técnico para funcionamento de laboratórios
clínicos <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853-afae-4729-
948b-ef6eb3931b19 >acessado em 28 de maio às 06h30min
BRITO H. M.. et al –Estudo dos medicamentos como interferentes nos exames laboratorias bioquímicos: uma
revisão literária - joão pessoa 2013 -
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