os maias - análise

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Proposta de análise “Os Maias”, de Eça de Queirós

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Proposta de análise de "Os Maias"

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Page 1: Os Maias - Análise

Proposta de análise

“Os Maias”, de

Eça de Queirós

Page 2: Os Maias - Análise
Page 3: Os Maias - Análise

Importância da Analepse:

A intriga secundária, presente na grande analepse, permite

enquadrar e explicar grande parte dos acontecimentos e

comportamentos que terão lugar na intriga principal (a

separação de dos dois irmãos, a educação dada a Carlos,

o peso da hereditariedade, o sentimentalismo exagerado das

personagens).

Page 4: Os Maias - Análise
Page 5: Os Maias - Análise

- Fim da grande analepse.

- Elipse.

- Tempo histórico.

-Início da intriga principal: Carlos da Maia no meio lisboeta.

Page 6: Os Maias - Análise

O bom Vilaça, no entanto, dando estalinhos aos dedos, preparavauma observação. Não se podia decerto ter melhor prenda quemontar a cavalo com as regras... Mas ele queria dizer se o Carlinhosjá entrava com o seu Fedro, o seu Tito Liviozinho...— Vilaça, Vilaça — advertiu o abade, de garfo no ar e um sorrisode santa malícia — não se deve falar em latim aqui ao nossonobre amigo... Não admite, acha que é antigo... Ele, antigo é...— Ora sirva-se desse fricassé, ande, abade — disse Afonso —que eu sei que é o seu fraco, e deixe lá o latim...O abade obedeceu com deleite; e escolhendo no molho rico osbons pedaços de ave, ia murmurando:— Deve-se começar pelo latinzinho, deve-se começar por lá... Éa base; é a basezinha!— Não! latim mais tarde! — exclamou o Brown, com um gestopossante. Prrimeiro forrça! Forrça! Músculo...E repetiu, duas vezes, agitando os formidáveis punhos:— Prrimeiro músculo, músculo!...Afonso apoiava-o, gravemente. O Brown estava na verdade. Olatim era um luxo de erudito... Nada mais absurdo que começar aensinar a uma criança numa língua morta quem foi Fábio, rei dosSabinos, o caso dos Gracos, e outros negócios de uma nação extinta,deixando-o ao mesmo tempo sem saber o que é a chuva que omolha, como se faz o pão que come, e todas as outras coisas do universoem que vive...— Mas enfim os clássicos — arriscou timidamente o abade.— Qual clássicos! O primeiro dever do homem é viver. E paraisso é necessário ser são, e ser forte. Toda a educação sensata consistenisto: criar a saúde, a força e os seus hábitos, desenvolverexclusivamente o animal, armá-lo de uma grande superioridadefísica. Tal qual como se não tivesse alma. A alma vem depois... Aalma é outro luxo. É um luxo de gente grande...

Pag. 63

- valorização das línguas mortas(uso do diminutivo: traduz a ideia depequenez, mesquinhice…)

-valorização da componente física,o corpo deve ser desenvolvido, paraque depois se desenvolva a mente:“Mente sã em corpo são”

-a erudição ultrapassada vs. a experiência, o contactocom a natureza (conhecimentoempírico)

-a dimensão espiritual é menosprezada

Page 7: Os Maias - Análise

Os noivos tinham chegado de uma pitoresca e perigosa viagem,e Carlos parecia descontente de sua mulher; comportara-se de umamaneira atroz; quando ele ia governando a mala-posta, ela quiseraempoleirar-se ao pé dele na almofada... Ora senhoras não viajamna almofada.— E ele atirou-me ao chão, titi!— Não é verdade! Demais a mais é mentirosa! Foi como quandochegámos à estalagem... Ela quis-se deitar, e eu não quis... A gente,quando se apeia de viagem, a primeira coisa que faz é tratar dogado... E os cavalos vinham a escorrer...A voz de D. Ana interrompeu, muito severa:— Está bom, está bom, basta de tolices! Já cavalaram bastante.Senta-te aí ao pé da senhora viscondessa, Teresa... Olha essa travessado cabelo... Que despropósito!Sempre destestara ver a sobrinha, uma menina delicada de dezanos, a brincar assim com o Carlinhos. Aquele belo e impetuosorapaz, sem doutrina e sem propósito, aterrava-a; e pela sua imaginaçãode solteirona passavam sem cessar ideias, suspeitas deultrajes que ele poderia fazer à menina. Em casa, ao agasalhá-laantes de vir para Santa Olávia, recomendava-lhe com força quenão fosse com o Carlos para os recantos escuros, que o não deixassemexer-lhe nos vestidos!... A menina, que tinha os olhos muito langorosos,dizia: «Sim, titi.» Mas, apenas na quinta, gostava de abraçaro seu maridinho. Se eram casados, porque não haviam de fazernené, ou ter uma loja e ganharem a sua vida aos beijinhos? Mas oviolento rapaz só queria guerras, quatro cadeiras lançadas agalope, viagens a terras de nomes bárbaros que o Brown lhe ensinava.Ela, despeitada, vendo o seu coração mal compreendido, chamava-lhe arrieiro; ele ameaçava boxá-la à inglesa; — eseparavam-se sempre arrenegados.Mas quando ela se acomodou ao lado da viscondessa, gravezinhae com as mãos no regaço — Carlos veio logo estirar-se ao pé dela,meio deitado para as costas do canapé, bamboleando as pernas.— Vamos, filho, tem maneiras — rosnou-lhe muito seca D. Ana.

Pag. 72

- imaginação

- energia

- inocência (Carlos) / perversidade (D. Ana)

- dinamismo

- visão crítica

Page 8: Os Maias - Análise

De repente, porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusebiozinho.Queria-o levar à África, a combater os selvagens; e puxava-o já pelo seubelo plaid de cavaleiro da Escócia , quando a mamã acudiu aterrada:— Não, com o Eusebiozinho não, filho! Não tem saúde paraessas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô!Mas o Eusebiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão,soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. Amãe, trémula, agachada junto dele, punha-o de pé sobre as perninhasmoles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, jácom beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanharao boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena degalo. E a viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, comose as palpitações a sufocassem.O Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado datiti; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra,apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repeliro Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda docanapé, ria, arreganhando para o Eusebiozinho um lábio feroz. Masnesse momento davam nove horas, e a desempenada figura doBrown apareceu à porta.Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da viscondessa,gritando:— Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar!Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantesdo Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade:— Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama.— Ó vovô, é festa, que está cá o Vilaça!Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem umapalavra, agarrou o rapaz pelo braço, e arrastou-o pelo corredor —enquanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestandocom desespero:— É festa, vovô... É uma maldade!... O Vilaça pode-se escandalizar...Ó vovô, eu não tenho sono!Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor.

Pags. 73/74

- super-proteccionismo

- ser abúlico, passivo, inexpressivo

- método, rigor, hábitos saudáveis,disciplina

Page 9: Os Maias - Análise

— Ó filho, diz tu aqui ao Sr. Vilaça aqueles lindos versos quesabes... Não sejas atado, anda!... Vá, Eusébio, filho, sê bonito...Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava das saiasda titi: teve ela de o pôr de pé, ampará-lo, para que o tenro prodígionão aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã prometeu-lheque, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela...Isto decidiu-o: abriu a boca, e lassa veiode lá escorrendo, num fio de voz, um recitativo lento e babujado:

É noite, o astro saudosoRompe a custo um plúmbeo céu,Tolda-lhe o rosto formosoAlvacento, húmido véu...

Disse-a toda — sem se mexer, com as mãozinhas pendentes, osolhos mortiços pregados na titi. A mamã fazia o compasso com aagulha do crochet; e a viscondessa, pouco a pouco, com um sorrisode quebranto, banhada no langor da melopeia, ia cerrando as pálpebras.— Muito bem, muito bem! — exclamou o Vilaça, impressionado,quando o Eusebiozinho findou coberto de suor. — Que memória!Que memória!... É um prodígio!...

Pags. 75/76- carácter passivo, sem energia

- dependência exagerada da protecção feminina

- fragilidade física

-ausência de vontade própria(só reage a promessas doentias,inadequadas)

- registo ultra-romântico

- valorização da memorização

Page 10: Os Maias - Análise

— E agora? — perguntou-lhe o Sequeira, depois de ummomento de silêncio em que Carlos estivera bebendo o seu conhaquee soda. — Agora que tencionas tu fazer?— Agora, general? — respondeu Carlos, sorrindo e pousando ocopo. — Descansar primeiro e depois passar a ser uma glória nacional!Ao outro dia, com efeito, Afonso veio encontrá-lo na sala debilhar — onde tinham sido colocados os caixotes — a despregar, adesempacotar, em mangas de camisa e assobiando com entusiasmo.Pelo chão, pelos sofás, alastrava-se toda uma literatura em rumasde volumes graves; e aqui e além, por entre a palha, através daslonas descosidas, a luz faiscava num cristal, ou reluziam os vernizes,os metais polidos dos aparelhos. Afonso pasmava em silênciopara aquele pomposo aparato do saber.— E onde vais tu acomodar este museu?Carlos pensara em arranjar um vasto laboratório ali perto nobairro, com fornos para trabalhos químicos, uma sala disposta paraestudos anatómicos e fisiológicos, a sua biblioteca, os seus aparelhos,uma concentração metódica de todos os instrumentos de estudo...Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.— E que não te prendam questões de dinheiro, Carlos! Nós fizemosnestes últimos anos de Santa Olávia algumas economias...— Boas e grandes palavras, avô! Repita-as ao Vilaça.As semanas foram passando nestes planos de instalação. Carlostrazia realmente resoluções sinceras de trabalho: a ciência comomera ornamentação interior do espírito, mais inútil para os outrosque as próprias tapeçarias do seu quarto, parecia-lhe apenas umluxo de solitário: desejava ser útil.

Pag. 97

IDEALISMO DE CARLOS:

- Grandes projectos- Vontade- Entusiasmo

Apoio de Afonso (a educação havia resultado)

Page 11: Os Maias - Análise

Carlos mobilou-o com luxo. Numa antecâmara, guarnecida debanquetas de marroquim, devia estacionar, à francesa, um criadode libré. A sala de espera dos doentes alegrava com o seu papelverde de ramagens prateadas, a plantas em vasos de Ruão, quadrosde muita cor, e ricas poltronas cercando a jardineira cobertade colecções do Charivari, de vistas estereoscópicas, de álbuns deactrizes seminuas, para tirar inteiramente o ar triste de consultório,até um piano mostrava o seu teclado branco.O gabinete de Carlos ao lado era mais simples, quase austero,todo em veludo verde-negro, com estantes de pau-preto. Algunsamigos que começavam a cercar Carlos, Taveira, seu contemporâneoe agora vizinho do Ramalhete, o Cruges, o marquês de Souselas,com quem percorrera a Itália — vieram ver estas maravilhas.O Cruges correu uma escala no piano e achou-o abominável;Taveira absorveu-se nas fotografias de actrizes; e a única aprovaçãofranca veio do marquês, que depois de contemplar o divã dogabinete, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo,experimentou-lhe a doçura das molas e disse, piscando o olho aCarlos:— A calhar.Não pareciam acreditar nestes preparativos. E todavia eramsinceros. Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais;quando viu, porém, o seu nome em letras grossas, entre o de umaengomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hóspedes —encarregou Vilaça de retirar o anúncio.

Pag. 99

O luxo do consultório era maispropício ao ócio, às actividadeslúdicas do que ao trabalho.

Maior preocupação com a aparência do que com a verdadeirafinalidade.

Page 12: Os Maias - Análise

O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida entreos espessos veludos escuros, na penumbra que faziam os estores deseda verde corridos. Na sala, porém, as três janelas abertas bebiamà farta a luz; tudo ali parecia festivo; as poltronas em torno da jardineiraestendiam os seus braços, amáveis e convidativos; o tecladobranco do piano ria e esperava, tendo abertas por cima as Cançõesde Gounod; mas não aparecia jamais um doente. E Carlos — exactamentecomo o criado que, na ociosidade da antecâmara, dormitavasob o Diário de Notícias, acaçapado na banqueta — acendiaum cigarro «Laferme», tomava uma revista, e estendia-se no divã.A prosa, porém, dos artigos estava como embebida do tédio morosodo gabinete: bem depressa bocejava, deixava cair o volume.Do Rossio, o ruído das carroças, os gritos errantes de pregões, orolar dos americanos, subiam, numa vibração mais clara, por aquelear fino de Novembro: uma luz macia, escorregando docemente doazul-ferrete, vinha dourar as fachadas enxovalhadas, as copas mesquinhasdas árvores do município, a gente vadiando pelos bancos: eessa sussurração lenta de cidade preguiçosa, esse ar aveludado declima rico, pareciam ir penetrando pouco a pouco naquele abafadogabinete e resvalando pelos veludos pesados, pelo verniz dosmóveis, envolver Carlos numa indolência e numa dormência... Coma cabeça na almofada, fumando, ali ficava, nessa quietação de sesta,num cismar que se ia desprendendo, vago e ténue, como o ténue eleve fumo que se eleva de uma braseira meio apagada; até que, comum esforço, sacudia este torpor, passeava na sala, abria aqui e alémpelas estantes um livro, tocava no piano dois compassos de valsa,espreguiçava-se — e, com os olhos nas flores do tapete, terminavapor decidir que aquelas duas horas de consultório eram estúpidas!— Está aí o carro? — ia perguntar ao criado.Acendia bem depressa outro charuto, calçava as luvas, descia,bebia um largo sorvo de luz e ar, tomava as guias e largava, murmurandoconsigo:— Dia perdido!

Pags. 102/103

O ócio, a indolência

A influência do meio:o meio circundante ocioso e estagnado, poucodinâmico, o clima ameno eagradável acabavam por influenciar Carlos

Pouca persistência e dedicação

Page 13: Os Maias - Análise

Quando nessa noite, uma noite triste de água, Carlos e Craft oacompanharam a Santa Apolónia, ele disse-lhes na carruagemestas palavras, triste resumo de um amor romântico:— Sinto-me como se a alma me tivesse caído a uma latrina!Preciso um banho por dentro!Afonso da Maia, ao saber este desastre do Ega, tinha dito aCarlos, com tristeza:— Má estreia, filho, péssima estreia!E nessa noite, depois de voltar de Santa Apolónia, Carlos pensavanestas palavras, dizia também consigo: «Péssima estreia!...». Enem só a estreia do Ega era péssima; também a sua. E talvez, porpensar nisso, as palavras do avô tinham tido aquela tristeza. Péssimasestreias! Havia seis meses que o Ega chegara de Celorico,embrulhado na sua grande peliça, preparado a deslumbrar Lisboacom as Memórias de Um Átomo, a dominá-la com a influência deuma revista, a ser uma luz, uma força, mil outras coisas... E agora,cheio de dívidas e cheio de ridículo, lá voltava para Celorico, escorraçado.Péssima estreia! Ele, por seu lado, desembarcara em Lisboa,com ideias colossais de trabalho, armado como um lutador: era oconsultório, o laboratório, um livro iniciador, mil coisas fortes... Eque tinha feito? Dois artigos de jornal, uma dúzia de receitas, e essemelancólico capítulo da Medicina entre os Gregos. Péssima estreia!

Pags. 289/290

A PRÁXIS:

- nenhum projecto concretizado- crescente desmotivação- existência apenas dedicada aodiletantismo- estagnado como a realidadecircundante

IDEALISMO VS PRÁXIS

Espaço psicológico – as reflexões de Carlos

Page 14: Os Maias - Análise

Então Ega perguntou, do fundo do sofá onde se enterrara, se,nesses últimos anos, ele não tivera a ideia, o vago desejo de voltarpara Portugal...Carlos considerou Ega com espanto. Para quê? Para arrastar ospassos tristes desde o Grémio até à Casa Havanesa? Não! Paris erao único lugar da Terra congénere com o tipo definitivo em que elese fixara: «o homem rico que vive bem». Passeio a cavalo no Bois;almoço no Bignon; uma volta pelo boulevard; uma hora no clubecom os jornais, um bocado de florete na sala de armas; à noite aComédie Française ou uma soirée; Trouville no Verão, alguns tirosàs lebres no Inverno; e através do ano as mulheres, as corridas,certo interesse pela ciência, o bricabraque, e uma pouca de blague.Nada mais inofensivo, mais nulo, e mais agradável.— E aqui tens tu uma existência de homem! Em dez anos nãome tem sucedido nada, a não ser quando se me quebrou o faetontena estrada da Saint-Cloud... Vim no Figaro.

Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado:

— Falhámos a vida, menino!— Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha.Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeoucom a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está emser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, comodizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar asluvas.

Pag. 713

Carlos enquanto ser absolutamenteocioso, parasita dos rendimentos dafamília, um perfeito diletante, em nadaútil à sociedade.

O anti-herói

O desencanto de uma existênciaperfeitamente falhada (Anagnóriseexistencial).

Porque falhou Carlos?

Page 15: Os Maias - Análise

Hereditariedade

Meio

Educação

Fracasso existencial

Determinismo, de Taine

Porque falhou Carlos?

Característica naturalista da obra

Page 16: Os Maias - Análise

Hereditariedade

Geneticamente, Carlos recebeu dos seus antepassados a tendência para o diletantismo e para o sentimentalismo. São precisamente dois dos aspectos que mais o vão desviar dos seus ideais eprojectos iniciais, acabando mesmo por os abandonar.O diletantismo levou-o para uma dispersão de actividades de carácter lúdicoe boémio que em nada o aproximava da sua vida profissional.O sentimentalismo sobrepôs-se sempre a todo e qualquer projecto de naturezaprofissional.

Page 17: Os Maias - Análise

Meio

O meio em que se enquadrou Carlos foi uma Lisboa da segunda metade do séc. XIX.A capital representava todo o país e pode-se concluir que se caracterizava pelaociosidade, ignorância, apatia e decadência generalizada.Ora, se Carlos, inicialmente, pretendia alterar este meio pela qualidade dos seus projectos e prática profissional, rapidamente acabou por se conformar e deixarinfluenciar pelo marasmo típico e crónico que o cercava, entregando-se à inutilidadee ociosidade que caracterizavam a vida social, económica e cultural da época.

Page 18: Os Maias - Análise

Educação

A educação de Carlos valorizou apenas a vertente física. Consequentemente, a vertente espiritual ou ética foi descurada, na medida em que não lhe foram trans-mitidos os princípios e valores que lhe permitissem a estruturação de uma “cons-ciência”.Assim, Carlos evoluiu de idealista para parasita social sem nunca ter tomadouma atitude impeditiva de tal percurso pessoal. E tal deve-se ao facto de Carlos“conscientemente” não ter tido a percepção de que evoluía num sentido negativo,capaz de o destruir ou, pelo menos, de o reduzir a uma verdadeira nulidade social.

Page 19: Os Maias - Análise

O Espaço Físico- O Ramalhete

- A To

ca

- Lisboa

- o consultório de Carlos

- A Vila Balzac

- Sta. Olávia

- Sintra

Page 20: Os Maias - Análise
Page 21: Os Maias - Análise

O Ramalhete, p. 5

- aspecto severo e sombrio

- a simbologia do girassol

- simbolicamente associado à decadência da família e do País

representa a atitude do amante ou da amante, que se vira continuamentepara ver o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presençacontemplativa e unificante; girando sempre numa atitude de submissão e fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado. Daí metaforicamente aparecer ligado à terceira e quarta geração da família.

(jardim = abandonado / viçoso/ abandonado)

- pag. 710

Page 22: Os Maias - Análise

A Toca, p. 432

- Objectivamente ligada à habitação de alguns animais, a Toca representa, simboli-camente, o “território” de Carlos e Maria Eduarda. Realça o carácter bestial, animalesco desta relação, apenas dominada pelosdesejo e o sentimento próprio de uma paixão incontrolável.

- Decoração permite antever o desfecho da relação que, desafiando valores humanosse rende a outras leis, através da relação incestuosa.

- O amarelo predomina e traduz o gosto por sensações fortes e moralmente proibidas.

Page 23: Os Maias - Análise

Lisboa

- Pag., 170

(Lisboa é o espaço que espelha a globalidade do país)

- Pag.,697

(Espaço caracterizado pela degradação moral, onde os portugueses exibem a sua ociosidade crónica. Lisboa é o símbolo da decadência nacional – estátua de Camões)

Espaço ao serviço da crónica de costumes

Page 24: Os Maias - Análise

Espaço psicológico

- conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens

- funciona como factor indicial da acção (sonho, p. 184 e imaginação, p. 222, 243, 245)

- mostra a formação e modo de pensar de Carlos da Maia, principalmente (emoções e reflexões, p. 492)

Page 25: Os Maias - Análise

Espaço social

São de realçar alguns episódios, onde a criação de ambientes específicos revela a preocupação do autor no sentido de evidenciar algumas das características mais flagrantes do povo português. Esses episódios (a par do recurso às personagens-tipo) constituem um dos vectoresestruturais da obra.

CRÓNICA DE COSTUMES(Descrição dos hábitos e costumes de uma população, de modo a melhor caracterizá-la)

Page 26: Os Maias - Análise

O jantar no Hotel Central, p. 156 - 176

Neste jantar Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, por quem Ega estava apaixonado e com quem mantinha uma relação. É neste momento que Carlos entra no meiosocial lisboeta, adoptando, no entanto, uma atitude distante que o caracterizará até final daacção. Neste episódio, interessa realçar a emissão de juízos das personagens que nos permitem compreender o panorama cultural do país. Destacam-se os seguintes:

a) LITERATURA: Alencar defende o Ultra-Romantismo, Ega defende o Realismo e oNaturalismo (esta discussão revela uma sociedade dominada por valores tradicionais,a que se opõe uma nova geração, representada por Ega) – Pags.: ______________

b) POLÍTICA: Ega critica a decadência do país e afirma desejar a bancarrota e a invasãoespanhola - Pags.: ______________

c) MANEIRA DE SER PORTUGUÊS: revelada através das acções/reflexões de várias personagens - Pags.: ______________

Page 27: Os Maias - Análise

A corrida de cavalos, p. 312 - 341

Um dos episódios preferidos pelo próprio autor, este quadro é uma crítica à tendência dos portugueses para imitar aquilo que se fazia nos restantes países europeus e que se consideravacomo sinal de progresso, quando, afinal, muitas vezes, não nos identificávamos com aquilo queimportávamos. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas que também deveria apresen-tar a ligeireza desportiva para que remete o acontecimento, torna-se espelho da falta de gosto e de educação dos participantes (os portugueses): realidade vs aparência.

a) Falta de coerência entre o traje e a ocasião - Pags.: ______________

b) A sensaboria, revelada pelo facto de as pessoas não revelarem qualquer interesse pelo evento - Pags.: ______________

c) A desordem e agressões físicas, nada adequadas ao evento – Pags.: ______________

Page 28: Os Maias - Análise

Outros episódios importantes:

- Jantar em casa dos Gouvarinho, p. 389

- Jornal “A Tarde”, p. 571

- Sarau do Teatro da Trindade, p. 586

ACTIVIDADE: Resolução das questões nº 3, 4, 5.1, 6.1, 6.1.1, 8, 9 (pag. 217)

Page 29: Os Maias - Análise

O Narrador

- exemplo: p. 175

Tipo de narrador (presença): heterodiegético

(De acordo com as características do Realismo/Naturalismo, pois permite umaanálise social muito mais objectiva e eficaz, pelo distanciamento que caracterizaeste tipo de narrador.)

Marcas linguísticas:

- formas verbais na terceira pessoa;

- pronomes e determinantes na terceira pessoa;

- discurso indirecto livre (nesta obra).

Page 30: Os Maias - Análise

Ciência do Narrador

Focalização omnisciente

– acção secundária e grande analepse (caps. I – IV)

Focalização interna

- a partir do cap. IV

- centra-se na personagem principal

- o distanciamento de Carlos face ao meio social, permite dar umavisão simultaneamente crítica e pessoal sobre esse meio. A crítica socialganha verosimilhança e acutilância, na medida em que é feita a partir de alguém que se movimenta no próprio meio.

- exemplo: p. 78

- exemplo: p. 324, 697

Page 31: Os Maias - Análise

MODOS DE REPRESENTAÇÃO DA NARRATIVA

1. Narração

- a classe morfológica de palavras mais importante é o verbo;- os verbos encontram-se no pretérito perfeito, podendo também encontrar-se no pretérito mais-que-perfeito;-trata-se de um momento de avanço na acção (vários acontecimentos importantes para o desenrolar da acção são narrados).

Exemplo: pag. 363

Page 32: Os Maias - Análise

2. Descrição

Exemplo: pag. 707

- a classe morfológica de palavras mais importante é o adjectivo;- os verbos encontram-se no pretérito imperfeito, podendo também encontrar-se no gerúndio;- trata-se de um momento de pausa na acção (nenhum acontecimento importante para o desenrolar da acção é narrado).

Page 33: Os Maias - Análise

3. Diálogo

Exemplo: pag. _________

- existe intercomunicação entre duas ou mais personagens;- caracteriza-se pela presença dos dois pontos e do travessão.

4. Monólogo

Exemplo: pag. 624, 625

- a personagem fala consigo própria, expondo os seus pensamentos;- não há intercomunicação com qualquer outra personagem.

Page 34: Os Maias - Análise

LINGUAGEM E ESTILO