os maias capítulo i

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Os Maias Eça de Queirós

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Page 1: Os maias capítulo i

Os Maias

Eça de Queirós

Page 2: Os maias capítulo i

O Ramalhete

Page 3: Os maias capítulo i

LOCALIZAÇÃO ESPÁCIO-TEMPORAL

TEMPO

• «Outono de 1875»

ESPAÇO

• Em Lisboa, na «Rua

de S. Francisco de

Paula», no «bairro

das Janelas

Verdes»

– «os Maias vieram

habitar em Lisboa»

a «Casa do

Ramalhete».

Page 4: Os maias capítulo i

DESCRIÇÃO DO RAMALHETE

CONTRASTE entre• A EVOCAÇÃO ENGANADORA DO NOME:

– «Apesar deste fresco nome de vivenda campestre» (assinale-se o uso da concessiva).

• A APARÊNCIA E A ESSÊNCIA DA HABITAÇÃO:

– «o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspeto tristonho de residência eclesiástica que competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I».

Page 5: Os maias capítulo i

O RAMALHETE / OS GIRASSÓIS• «O nome do Ramalhete

provinha decerto de um revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis […]»

Page 6: Os maias capítulo i

ANALEPSE DESCRITIVA

• Reforça a conotação religiosa da habitação:

–«Em 1858 monsenhor Buccarini», núncio do Papa,

encara com bons olhos a ideia de aí instalar a

Nunciatura, «seduzido pela gravidade clerical

do edifício e pela paz dormente do bairro»

Page 7: Os maias capítulo i

ANALEPSE DESCRITIVA

• Introduz alguns motivos que sugerem uma dimensão de vitalidade e erotismo:

–Os frescos desmaiados das paredes onde se notavam ainda «as faces dos cupidinhos»;

–«uma estátua de mármore» no jardim que representava «Vénus Citereia».

Page 8: Os maias capítulo i

ANALEPSE DESCRITIVA

• Contudo, prevalece uma imagem de ruínae lenta degradação, sobretudo no exterior:

–«um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas»;

–a estátua «enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres»;

–Por isso, o administrador dos Maias, o Vilaça Júnior, lhe chama «inútil pardieiro».

Page 9: Os maias capítulo i

CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA

• Uma família beirã de antiga linhagem;

• «Pouco numerosa»:

– «sem linhas colaterais, sem parentelas — e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia […] e o seu neto Carlos […]»;

• Com rendimentos consideráveis:– «excedia já cinquenta mil cruzados»;

• E muito património imobiliário:– Para além do Ramalhete:

– Um palacete em Benfica (vendido em 1870);

– Uma propriedade na Tojeira (também alienada por esta altura);

– Uma quinta em Santa Olávia, nas margens do Douro (onde viviam desde a Regeneração).

Page 10: Os maias capítulo i

INDÍCIOS TRÁGICOS

• Palacete de Benfica:

–«[…] pela razão de aqueles muros terem visto tantos desgostos domésticos»;

• Casa do Ramalhete:

–«[…] uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete […]»

Page 11: Os maias capítulo i

A TRANSFORMAÇÃO DO RAMALHETE

• A escolha do arquiteto / do estilo:

– Vilaça indigita o Esteves, arquiteto e político, que concebe um estilo evocador dos Descobrimentos («uma escada aparatosa, flanqueada por duas figuras simbolizando as conquistas da Guiné e da Índia»);

– Carlos aparece com um «arquiteto-decorador de Londres», que procura criar «um interior confortável, de luxo inteligente e sóbrio».

• Na batalha entre a estética portuguesa, pomposa e histórica, e o gosto inglês, mais simples e harmonioso, ganha o segundo, cosmopolita e moderno, do agrado de Carlos.

Page 12: Os maias capítulo i

A TRANSFORMAÇÃO DO RAMALHETE

• Renovação profunda (exceto a fachada):

– «do antigo Ramalhete só restava a fachada tristonha, que Afonso não quisera alterada por constituir a fisionomia da casa.».

• O pátio:

–Ganha uma nova vida e até a Vénus parece «agora, no seu tom claro de estátua de parque, ter chegado de Versalhes, do fundo do Grande Século…».

Page 13: Os maias capítulo i

A TRANSFORMAÇÃO DO RAMALHETE

• No interior é notória a distinção entre os aposentos de Carlos e os de Afonso da Maia:

–Os primeiros «não eram aposentos de médico — mas de dançarina» (segundo o Vilaça);

–O escritório de Afonso estava «revestido de damascos vermelhos, como uma velha câmara de prelado» apresentava um mobiliário robusto («maciça mesa de pau-preto»), «o solene luxo das encadernações» dos livros. A «feição austera de paz estudiosa».

Page 14: Os maias capítulo i

AFONSO DA MAIA• A disciplina física do ancião:

– «Naquela idade, de verão ou de inverno, ao romper do Sol, estava a pé, saindo logo para a quinta, depois da sua boa oração da manhã que era um grande mergulho na água fria.»

• A religiosidade naturalista:

– «Sempre tivera o amor supersticioso da água […]. O que o prendera mais a Santa Olávia fora a sua grande riqueza de águas vivas, nascentes, repuxos, tranquilo espelhar de águas paradas, fresco murmúrio de águas regantes...»

Page 15: Os maias capítulo i

AFONSO DA MAIA

• A longevidade hereditária e cultivada no contacto com a natureza:

– «E a esta viva tonificação da água atribuía ele o ter vindo assim, desde o começo do século, sem uma dor e sem uma doença, mantendo a rica tradição de saúde da sua família, duro, resistente aos desgostos e anos — que passavam por ele, tão em vão, como passavam em vão, pelos seus robles de Santa Olávia, anos e vendavais.»

Page 16: Os maias capítulo i

AFONSO DA MAIA

• Um físico «heroico»:

–«Afonso era um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes: e com a sua face larga de nariz aquilino, a pele corada, quase vermelha, o cabelo branco todo cortado à escovinha, e a barba de neve aguda e longa — lembrava, como dizia Carlos, um varão esforçado das idades heroicas, um D. Duarte de Meneses ou um Afonso de Albuquerque.»

Page 17: Os maias capítulo i

AFONSO DA MAIA

• Um temperamento «bonacheirão» e hábitos cultos:

–«Não, não era Meneses, nem Albuquerque, apenas um antepassado bonacheirão que amava os seus livros, o conchego da sua poltrona, o seu whist ao canto do fogão. Ele mesmo costumava dizer que era simplesmente um egoísta […].»

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AFONSO DA MAIA• Um coração generoso e benemérito:

–«[…] nunca, como agora na velhice, as generosidades do seu coração tinham sido tão profundas e largas. Parte do seu rendimento ia-se-lhe por entre os dedos, esparsamente, numa caridade enternecida. Cada vez amava mais o que é pobre e o que é fraco. Em Santa Olávia, as crianças corriam para ele, dos portais, sentindo-o acariciador e paciente. Tudo o que vive lhe merecia amor».

Page 19: Os maias capítulo i

AFONSO DA MAIA

• Uma pose de patriarca:

–«[…] quando o vinha encontrar ao

canto da chaminé, na sua coçada

quinzena de veludilho, sereno,

risonho, com um livro na mão, o seu

velho gato aos pés», Afonso

assemelhava-se a um patriarca.