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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

CONSELHO DE CLASSE E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: ENCAMINHANDO UMA REFLEXÃO

Alessandra Cristina Valério1

Maria Simone Jacomini Novack2

Resumo

O artigo tem como foco de análise o Conselho de Classe como instância colegiada prevista na organização escolar, como elemento democrático e norteador da prática pedagógica docente na escola. Pretende-se discutir a partir deste, o processo de avaliação e o papel do pedagogo nas intervenções do processo de ensino e aprendizagem. O estudo tem características teóricas e práticas, visto que, objetivou-se além do aprofundamento teórico conceitual, propor também intervenções nas práticas pedagógicas realizadas por todos que participam do proceso de ensino e aprendizagem. Com base em dados e com informações referentes a resultados das discussões em reuniões do conselho de classe, verificou-se a necessidade de investigar, apontar e debater as possíveis causas que levam tantos alunos a serem avaliados e na maioria das vezes aprovados através desta instância. Assim, refletir sobre o suporte teórico é fundamental para a atuação do conselho de classe frente ao processo de avaliação e gestão democrática, abordando também neste trabalho a possibilidade de propor ações pedagógicas que viabilizem a participação da Comunidade Escolar na busca de um ensino de qualidade, bem como analisar o papel do pedagogo e as possibilidades que tem de intervir no processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-chave: Gestão Democrática; Conselho de Classe; Avaliação de ensino e aprendizagem; Intervenção pedagógica.

1. Introdução

Este artigo traz discussões realizadas no Projeto elaborado durante os

estudos do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e foi uma atividade

prevista e executada no segundo período do Programa, implementada no segundo

semestre de 2015 no Colégio Estadual Fernando de Azevedo – EFM, localizado no

município de Santa Isabel do Ivaí/Paraná.

O principal objetivo do projeto que norteou este artigo foi o de realizar no

interior da escola, juntamente com professores, equipe gestora e funcionários que

1 Professora Pedagoga do Quadro Próprio de Magistério da SEED/PR, graduada em Pedagogia pela Faculdade

Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí, Pós-graduada em Didática e Metodologia da Educação

pela UNOPAR.

2 Doutora em educação. Professora do colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná

(UNESPAR), Campus de Paranavaí.

participam direta ou indiretamente no processo de ensino, reflexões e diálogos sobre

os pressupostos teóricos referentes às instâncias colegiadas, com foco em uma

delas, qual seja o Conselho de Classe e sua influência decisória no que se refere às

práticas avaliativas e de reorganização da prática docente.

A proposta teve como base a análise de dados quantitativos dos resultados

finais obtidos nos Anos Finais do Ensino Fundamental, modalidade ofertada pelo

Colégio, com o objetivo de investigar e verificar os motivos que levam tantos alunos

a apresentarem desempenho insatisfatório, sendo na maioria aprovados em

conselho de classe. Tal análise se fez necessária visto que, observo e percebo em

minha prática como pedagoga, e com a prontidão que temos em diagnosticar os

problemas de aprendizagem que os alunos apresentam, e em contrapartida temos

dificuldades em efetivamente intervir pedagógicamente e em tempo hábil, com

vistas a recuperar este aluno, sem que seja necessário o avaliarmos em conselho de

classe ao final do processo de ensino. Diante desta problemática tornou-se

indispensável repensar e redirecionar a prática docente e pedagógica da referida

instituição.

Neste contexto, este trabalho propôs refletir sobre o Conselho de Classe

como Instância Colegiada, democrática e norteadora da prática pedagógica e

docente na escola, discutindo a partir deste o processo de avaliação e o papel do

pedagogo nas intervenções que ocorrem durante o processo de ensino e

aprendizagem.

Por meio das leituras realizadas verificamos que ao refletir e discutir sobre o

conselho de classe e sua organização, criou-se a possibilidade de também entendê-

lo como uma instância de caráter ético e pedagógico, e não somente como um

momento de reunião burocrática, na qual se avalia apenas o aluno e seu fracasso,

mas sim um momento que provoque a autoavaliação dos participantes do processo

de ensino e aprendizagem, bem como promova maior envolvimento ao propor ações

pedagógicas que viabilizem o comprometimento e participação da Comunidade

Escolar na busca de um ensino de qualidade.

Podemos mencionar que, teoricamente as práticas pedagógicas

relacionadas ao conselho de classe e que constam nos Projetos Políticos

Pedagógicos são dinâmicas e propõem ações dialéticas e constantes, nas quais os

propósitos são claros e específicos, visando trabalho coletivo e também de auto

avaliação.

Porém, o que observamos é que na prática as reuniões do Conselho de

Classe ainda se realizam sem muitas reflexões, apenas analisando notas, ou então

aprovando e/ou reprovando alunos considerados sem rendimento, fato este que

revela um trabalho pedagógico fragmentado, pois as discussões, análises e

elaboração de propostas realizadas durante os conselhos de classe decorrentes no

ano letivo, não se concretizam em intervenções no cotidiano da prática pedagógica

docente, resultando num alto índice de alunos aprovados em conselho de classe.

Em função disso, a proposta da implementação era de viabilizar estratégias

para reorganizar e mediar as práticas da avaliação realizadas nos Conselhos de

Classe no Colégio, propondo reflexões e diálogos entre os participantes do processo

de ensino e aprendizagem, permitindo uma análise mais concreta dos resultados

obtidos quanto à realidade escolar do referido colégio.

Propomos para subsidiar o objetivo acima colocado, uma reflexão sobre o

Conselho de Classe, seu conceito, objetivo, sua organização e seu caráter

avaliativo, refletindo sobre suas reais características que são as voltadas para a

reconstrução da ação pedagógica, na qual há de se compreender que as

intervenções são necessárias na medida em que vão sendo diagnosticadas as

dificuldades relacionadas ao processo de aprendizagem, provocando uma nova

condição ao educando, dentro de uma perspectiva que visa melhoria da qualidade

de ensino, bem como encontrar a explicação para os resultados finais em seu

contexto no que se referem às práticas avaliativas que ocorrem no âmbito escolar.

A ideia central do projeto partiu de discussões coletivas realizadas durante a

Semana Pedagógica em janeiro de 2013, na qual foi solicitado para a equipe gestora

e pedagógica da escola um levantamento de dados que refletissem os resultados

finais dos anos de 2010, 2011 e 2012, informando o índice de aprovação, aprovação

por conselho de classe, reprovação e evasão. Partindo da análise desses dados,

constatou-se a necessidade de repensar e redirecionar a prática docente e

pedagógica da referida instituição, visto que ocorrem muitas aprovações por

conselho de classe.

A finalidade do material didático produzido foi de subsidiar momentos de

estudos e reflexões sobre o Conselho de Classe e suas relações com as práticas

pedagógicas, com a gestão democrática e com as práticas avaliativas que ocorrem

na escola. A produção didático-pedagógica teve a intencionalidade de proporcionar

para professores, equipe gestora e funcionários a oportunidade de analisar e

compreender pedagogicamente aspectos que são extremamente relevantes para

que o processo de ensino aprendizagem ocorra de forma efetiva na instituição de

ensino. Tendo em vista que, o contexto escolar é constituído por vários elementos

históricos, sociais e culturais que necessitam ser entendidos para que a escola

consiga exercer sua função de formar cidadãos críticos e atuantes na sociedade

através do conhecimento historicamente produzido pela humanidade.

Neste sentido, diante da abordagem sobre o tema Conselho de Classe,

foi realizada uma pesquisa bibliográfica, na qual se desmembrou os seguintes eixos:

Função Social da Educação e da Escola; Práticas Pedagógicas e Gestão

Democrática; Gestão Democrática e Avaliação; Conselho de Classe: Estruturação e

Funcionamento na prática atual. Cada eixo proposto para as reflexões tiveram a

intencionalidade de promover discussões no sentido de abordar aspectos de

fundamental importância para se compreender a escola como um espaço

democrático. A sistematização da produção foi organizada em um cronograma de

atividades com os procedimentos descritos nos encaminhamentos metodológicos

para cada eixo norteador.

2. Dispositivos teóricos

Considerando que a educação é um ato social, ou seja, um processo de

socialização de gerações mais novas ela é pensada e organizada partindo de

necessidades oriundas de cada momento histórico. Nessa perspectiva, pensando na

educação é fundamental termos claro qual é a função da escola pública. Assim,

entendemos então que [...] a educação pode ser uma instância social, entre outras

na luta pela transformação da sociedade, na perspectiva de sua democratização

efetiva e concreta, atingindo não só os aspectos políticos, mas também sociais e

econômicos [...] (LUCKESI, 1994, p.49).

A escola como Instituição de Ensino, com inúmeras atribuições, constituída

por vários segmentos, necessita ser organizada em seu espaço através de ações

pedagógicas que possibilitem a democratização do ensino, bem como a

compreensão de todos que nela estão inseridos, participando do processo de

construção das relações educativas, capazes de transformar esses sujeitos

envolvidos, de forma que eles pensem e ajam criticamente e conscientemente na

sociedade.

Luckesi (1994) afirma que para a educação ser uma instância social é

necessário:

Interpretar a educação como uma instância dialética que serve a um projeto, a um modelo, a um ideal de sociedade. Ela medeia esse projeto, ou seja, trabalha para realizar esse projeto na prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a conservação; contudo, se o projeto for transformador, medeia a transformação; se o projeto for autoritário, medeia a realização do autoritarismo; se o projeto for democrático, medeia a realização da democracia. (LUCKESI, 1994, p.49).

Neste contexto nos perguntamos para qual sociedade estamos

desenvolvendo nosso papel de educadores? Qual cidadão estamos formando? Qual

a escola pública que queremos?

Nos trechos acima citados é explícita a ideia de que dependendo da postura

pedagógica adotada, a educação pode reproduzir e ou contribuir com as mudanças

sociais. Torna-se necessário então explorar o aspecto crítico desta posição, no

sentido de situar a educação no contexto social, identificando e reconhecendo seus

determinantes sociais, buscando ações educativas dinâmicas.

Gasparin (2003) menciona as críticas e questionamentos que são feitos

sobre o papel do professor e da escola no processo de ensino e aprendizagem e

consequentemente no processo de avaliação. Críticas a uma escola ainda

tradicional, com conteúdos estáticos e desconectados de suas finalidades sociais.

Com base nesta ideia, o autor ressalta que:

[...] deve-se lembrar que a escola, em cada momento histórico, constitui uma expressão e uma resposta à sociedade em que está inserida. Neste sentido, ela nunca é neutra, mas sempre ideológica e politicamente comprometida. Por isso, cumpre uma função específica. Pode ser que a escola, hoje, não esteja acompanhando as mudanças da sociedade atual e por isso deve ser questionada, criticada e modificada para enfrentar os novos desafios. (GASPARIN, 2003, p.1-2).

Em função disso, o autor relata ainda que pensar na função social da escola

numa nova dimensão, precisa levar em conta a finalidade social dos conteúdos

escolares. Para tanto, os conteúdos devem dar significado ao dia a dia do aluno,

refletindo no seu cotidiano, fazendo com que o professor assuma o papel de

transformar a sua teoria na prática para o aluno, tarefa fundamental para o processo

de ensino e aprendizagem.

Analisando o contexto da escola pública atual – tomando como base as

leituras realizadas e a minha prática enquanto pedagoga - é possível perceber que

as práticas escolares do dia a dia necessitam ser refletidas, de maneira que

tenhamos clara a relação de fracasso escolar decorrentes de resultados

considerados não satisfatórios. Faz-se necessário haver uma conexão entre o que

se ensina e o que se avalia. Vale ressaltar que para assumir uma nova postura de

condução do trabalho pedagógico de forma contextualizada, é necessário que o

professor tenha boa formação para reunir os aspectos conceituais que envolvem o

desenvolvimento dos conteúdos nas diversas áreas do conhecimento.

A partir dessa reflexão, Gasparin (2003, p.3) afirma que “O ponto de partida

do novo método não será a escola, nem a sala de aula, mas a realidade social mais

ampla. A leitura crítica dessa realidade torna possível apontar um novo pensar e agir

pedagógicos”. Nesse sentido, é que a interpretação crítica da realidade torna-se

fator fundamental para que a prática pedagógica seja entendida como ponto

essencial para uma transformação educacional maior.

Portanto, a prioridade dessa fundamentação teórica é justamente essa

reflexão, que tem como ponto de partida, resultados finais insatisfatórios, através

dos quais se faz necessária a análise para compreendê-los, e como educadores

sermos responsáveis pelas mudanças educacionais que devem acontecer, tendo

como pressuposto que todos têm o direito de obter uma educação que seja

igualitária e de qualidade.

Muitas são as práticas pedagógicas consideradas tradicionais e reprodutoras

de uma sociedade excludente, práticas estas que estão enraizadas no chão das

escolas. Muitas são responsabilizadas pelo fracasso escolar, pelos altos índices de

evasão e repetência, gerando sérios problemas ao processo de democratização do

conhecimento sistematizado e historicamente construído. Para Dalben (2006, p.55)

“A escola se constrói na sua relação com a sociedade, sendo um reflexo das

necessidades socioculturais de cada época”.

Nesse contexto, muitas são as cobranças para que a escola repense suas

práticas pedagógicas, visto que a aprendizagem é um processo dinâmico e deve se

desenvolver numa perspectiva de ações significativas, de responsabilidades e

compromisso com um ensino de qualidade.

No decorrer da história, a função social da escola foi se modificando a

medida que a sociedade foi se desenvolvendo, e com isso novas necessidades

foram surgindo e exigindo um novo perfil para o homem. Para enfatizar esta

afirmação, podemos mencionar:

A demanda por participação em educação surge em resposta à mudança tecnológica e a estas necessidades crescentes do homem moderno imerso na sociedade industrial. Este homem necessita tornar-se mais educado, mais competente, inclusive tecnicamente, e mais afluente para participar das decisões que têm a ver com seus próprios interesses. (ROCHA, 1982,p.40).

Para Volsi (2009, p.89) a sociedade tem passado por rápidas mudanças

sendo o conhecimento utilizado cada vez mais necessário em muitos aspectos da

vida contemporânea, nesse sentido é importante entender o que está sendo cobrado

da escola enquanto sua função de instituição social. Na fala da autora:

Diante desta nova realidade, é atribuída à educação a responsabilidade de formar e educar os homens de acordo com as necessidades da sociedade atual, também denominada sociedade do conhecimento. Neste sentido, é necessário entendermos as funções atribuídas à escola, bem como os desafios postos a ela no contexto atual. (VOLSI, 2009, p.89).

Portanto, torna-se essencial que a escola acompanhe a transformação da

sociedade, em seu contexto atual e nas suas dimensões histórico, cultural, política e

econômica. Tal transformação não ocorrerá de forma fácil, visto que as

transformações da sociedade ocorrem muito velozmente. Para Volsi (2009) os

avanços científicos e tecnológicos fazem parte de uma sociedade denominada

sociedade do conhecimento, porém ainda uma sociedade capitalista, com

características individualistas, de acúmulo de capital e exploração de uma classe em

função da outra.

Nesse contexto Dalben (2006, p. 56) ressalta que os educadores precisam

ter clareza e discernimento na condução do trabalho pedagógico para garantir a

elaboração de objetivos comuns a serem alcançados, “[...] Torna-se, assim,

necessária a organização de espaços coletivos de reflexão e análise contínua das

práticas pedagógicas, sociais e escolares para que todos os educadores-gestores e

professores- participem de maneira democrática e construtiva”.

A efetivação de práticas pedagógicas significativas ao contexto social do

aluno atendido reflete-se na organização sistematizada do trabalho pedagógico, na

descentralização de tomadas de decisões, na participação coletiva dos envolvidos

no processo de construção do conhecimento. As leituras sobre esse tema nos

remetem a pensar sobre o papel do gestor nesse processo de organização, tão

importante para a efetivação da aprendizagem.

Na gestão democrática, todos são chamados a pensar, avaliar e agir coletivamente, diante das necessidades apontadas pelas relações educativas, percorrendo um caminho que se estrutura com base no diagnóstico das dificuldades e necessidades e do conhecimento das possibilidades do contexto. (DALBEN, 2006, p.56).

Podemos compreender então que a escola é constituída por vários

segmentos representativos e organizacionais, cabendo à equipe gestora e

pedagógica, organizarem os espaços e ações que (re) direcionem a prática

pedagógica a um caminhar competente para a melhoria da qualidade educacional.

Na realidade para que a organização da escola seja funcional e exerça força

sobre as ações propostas, é necessário que toda a constituição escolar e seus

segmentos estejam legitimados nos documentos que direcionam a prática da

instituição, ou seja, no Projeto Político Pedagógico, na Proposta Pedagógica

Curricular, no Regimento Escolar e nos Planos de Trabalho Docente. Além de

legitimados, devem ser atuantes e articulados às práticas que ocorrem na escola,

refletindo sobre elas e as redimensionado quando diagnosticados os problemas e

dificuldades, tornando assim possível alcançar os objetivos propostos da qualidade

educacional.

Para a realização dessa prática organizacional, Vasconcellos (1994, p.53)

faz uma reflexão interessante ao nos mostrar que “[...] o que precisamos hoje não é

tanto uma relação de ideias sobre a realidade, mas sim uma nova relação com as

ideias e com a realidade. As ideias, quando assumidas por um coletivo organizado,

tornam-se ‘força material’.”

O ato de avaliar se apresenta de várias maneiras no cotidiano escolar, uma

delas funciona como um processo de finalização da aprendizagem, sendo este

fragmentado. Vasconcellos (1994, p.25) afirma que existe um problema da avaliação

escolar, sendo este um grande desafio que há muito vem permeando as práticas

docentes. O autor afirma ainda que:

O problema central da avaliação, portanto, é o seu uso como instrumento de discriminação e seleção social, na medida que assume, no âmbito da escola, a tarefa de separar os “aptos” dos “inaptos”, os “capazes” dos “incapazes”. Além disso, cumpre a função de legitimar o sistema dominante. (VASCONCELLOS, 1994, p.28)

Sem perceber e presos à tendências mais autoritárias, muitos de nós

educadores nos pegamos na prática do dia a dia utilizando a avaliação como

instrumento de dominação, controle, autoritarismo e discriminação social,

reproduzindo uma organização social capitalista, individualista, desumana e

desigual.

Os desafios de compreendermos o papel da avaliação no cotidiano escolar

como um elemento coletivo são muitos, desde a elaboração do projeto político

pedagógico da escola, a qual deve ocorrer de forma democrática e coletiva,

delineando qual a concepção de avaliação que será considerada, perpassando é

claro, por uma concepção coerente à sociedade que queremos transformar.

Luckesi (1994, p.172) afirma que “para a pedagogia a avaliação torna-se

instrumento fundamental, na medida em que ela seja exercida segundo o seu

significado constitutivo”. O autor também conceitua a avaliação, entendida por ele

como “Um conceito óbvio, conhecido de todos, é: a avaliação é um julgamento de

valor sobre manifestações relevantes da realidade para uma tomada de decisão”.

(LUCKESI, 1994, p.172). O autor faz relações significativas ao ato de avaliar, tendo

como base critérios previamente estabelecidos, com os aspectos da realidade que

se relacionam com o objeto que se tem a frente, bem como o fato da avaliação ser

um juízo qualitativo, “[...] exigindo uma tomada de decisão, exige um posicionamento

de não- indiferença, diante do objeto que está sendo ajuizado”.

Nessa perspectiva de se trabalhar por uma sociedade mais justa, e tendo

como instrumento transformador a educação de qualidade, podemos compreender

melhor a necessidade de se repensar as práticas avaliativas que ocorrem no interior

das escolas, visto que estas são puramente quantitativas, ou seja, não acontecem

com o objetivo de refletir sobre a ação executada, mas sim finalizar o processo com

uma nota.

Pensando sobre esta abordagem Dalben (2006, p.69) nos relata que:

Um amplo processo de reflexão/avaliação da prática pedagógica deve ser instalado para que os educadores possam desenvolver um questionamento atento das condições de trabalho dos profissionais e da instância, das concepções de ensino e avaliação predominantes nas discussões e ainda dos sentidos e significados das avaliações, nesse contexto.

A avaliação pode então ser entendida como um instrumento de provocação

do coletivo escolar, no sentido de analisar e interpretar os resultados,

diagnosticando problemas para mediar teoria e a prática. Avaliar é analisar o

desenvolvimento do aluno na sua totalidade, levando em conta suas capacidades,

potencialidades e conhecimentos prévios.

Ao falarmos sobre os processos de avaliação escolar, falamos também em

todo o processo de construção do conhecimento que ocorre, tornando-se necessário

que o profissional da educação amplie e atualize sua concepção de avaliação para

que possa se posicionar diante dos resultados, sem ignorá-los, utilizando-os como

verificação do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno bem como de sua

prática docente.

Para Dalben (2006, p.70) “A transformação da prática pedagógica liga-se

estreitamente à alteração da concepção de avaliação porque a construção do

processo avaliativo expressa o conhecimento da e sobre a escola que é produzido

na própria relação de avaliação.” Esta transformação torna-se difícil, pois os

professores ainda estão vinculados a práticas não reflexivas, visto que assim foram

formados. A concepção de avaliação existente é a que julga o aluno pela nota

alcançada, muitas vezes adquirida através de testes estanques ou de outros

instrumentos que não retratam o que se trabalha em sala de aula, e que têm como

objetivo apenas verificar quem aprendeu o conteúdo, fato este que não contribui em

nada para o desenvolvimento do processo de construção do conhecimento,

impedindo ainda que o aluno tenha outras possibilidades de aprendizagem.

Nessa perspectiva, os processos de avaliação/reflexão da prática apoiam-se na inter-relação permanente entre professor-aluno-conhecimentos, denominada aqui interestruturação. A finalidade do processo de avaliação é realizar uma investigação contínua da realidade para melhor conhecê-la e entendê-la, cabendo aos educadores o papel de captar essa totalidade de relações, coletando dados e informações sobre o desenvolvimento dos alunos e, cuidadosamente, registrando suas necessidades e possibilidades. (DALBEN, 2006, p.72).

Neste contexto, alterar o caráter da avaliação exige uma reflexão ampla

sobre as atuais práticas que ocorrem nas escolas, procurando entender que a

avaliação é um processo dinâmico, que acontece em toda a trajetória da

aprendizagem e do desenvolvimento do aluno na aquisição de novos conhecimentos

e não apenas em momentos de testes.

Constatamos então que a avaliação deve acontecer numa perspectiva

diagnóstica e contínua, exercendo influência sobre o processo de ensino e

aprendizagem. Nesta abordagem, analisamos o segmento do Conselho de Classe

como prática pedagógica essencial ao desenvolvimento qualitativo da escola e

também como parte indissociável do processo avaliativo. Na interpretação de

Rocha, Conselho de Classe é:

[...] uma reunião de professores de uma turma com múltiplos objetivos; entre outros destacamos: avaliar o aproveitamento dos alunos e da turma como um todo; chegar a um conhecimento mais profundo do aluno e promover a integração dos professores e de outros elementos da equipe da escola. (ROCHA, 1982, p.9).

Ressalta-se então a importância da participação não só do professor, mas

de todos os que participam do processo de ensino e aprendizagem, para que se

auto avaliem, compreendendo a avaliação como um processo dinâmico e dialético,

no qual os envolvidos refletem e discutem a prática, com o objetivo de intervir

pedagogicamente nas ações que ocorrem na escola.

Assim, podemos entender as reuniões do conselho de classe como

momentos em que as informações levantadas e refletidas, servirão de auxílio para o

educador compreender melhor o processo de aprendizagem. Nesta perspectiva,

Cruz (1995, p.117) faz uma aproximação entre o conceito de conselho e o conceito

de avaliação. “Assim, o conselho de classe: É o momento e o espaço de uma

Avaliação diagnóstica da ação pedagógica-educativa da escola, feito pelos

professores e pelos alunos (em momentos distintos, às vezes), à luz do Marco

Operativo da Escola.”

O conceito apresentado por Cruz (1995) ressalta a importância do momento

de reflexão coletiva do conselho de classe como uma avaliação diagnóstica, partindo

do pressuposto que a efetivação do trabalho está diretamente relacionada às ações

traçadas pelo coletivo e contidas no Projeto Político Pedagógico da instituição.

Além das abordagens já mencionadas, Vasconcellos (1994, p.72) afirma que

“os conselhos de classe podem ser importantes estratégias na busca de alternativas

para a superação de problemas pedagógicos, comunitários e administrativos da

escola”.

No decorrer de todo o processo é essencial então, que as reflexões tenham

o enfoque no processo educativo e nas propostas de mudanças na organização do

trabalho pedagógico, evitando assim direcionar as discussões para os problemas

emocionais e comportamentais dos alunos. Para Vasconcellos (1994, p.73) o

aspecto principal das discussões “Não está nas possibilidades da escola mudar as

características de vida dos alunos ou de suas famílias, mas a escola pode e deve

mudar as formas e condições do serviço prestado, conforme as características dos

alunos”.

Podemos ainda compreender, na abordagem de Dalben (2006, p.31) que:

O Conselho de Classe é um órgão colegiado, presente na organização da escola, em que vários professores das diversas disciplinas, juntamente com os coordenadores, ou mesmo os supervisores e orientadores educacionais, reúnem-se para refletir e avaliar o desempenho pedagógico dos alunos das diversas turmas, séries ou ciclos.

Assim, podemos constatar que o Conselho de Classe assume importante

papel no que se refere às práticas pedagógicas e a função da avaliação no seu

contexto geral, visto que a autora em sua citação ressalta a função de análise e

reflexão da ação pedagógica no processo de ensino aprendizagem.

Nesse sentido, ressaltamos que se torna inviável descrever sobe o Conselho

de Classe, sem destacar alguns princípios básicos da Gestão Democrática pública,

na qual a participação e o envolvimento de todos os que participam do processo

educacional é de fundamental importância. Como podemos constatar na LDB nº

9394/96 que dispõe no seu artigo 14, os princípios norteadores da Gestão

Democrática nas instituições públicas:

Os sistemas de ensino definirão as formas de gestão democrática no ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Nesta perspectiva de Gestão Democrática, o Conselho de Classe pode ser

entendido como um espaço de participação e de exercício de cidadania, pelo fato de

se caracterizar como uma instância colegiada, que articula ações, bem como as

práticas pedagógicas, avaliando coletivamente resultados e utilizando-os como

instrumentos de reorganização do trabalho pedagógico da instituição.

Porém, a realidade escolar retrata um sério problema no que se refere aos

resultados finais, obtidos após o último conselho de classe do ano, ou seja,

demonstra um número elevado de alunos que são aprovados pelo conselho de

classe, fato este que nos impedem de visualizar quais intervenções foram feitas no

decorrer do ano, ou os motivos pelos quais não foram realizadas em tempo hábil,

visto que, vários momentos são destinados para análise de resultados e tomadas de

decisões. É necessário então compreendermos a organização desta instância

colegiada não só com foco na aprovação ou reprovação, mas principalmente como é

seu funcionamento, visto que o conselho de classe tem função importante no

processo de avaliação e partindo dos diagnósticos realizados, é possível traçar

propostas de intervenções na prática pedagógica e docente durante o processo de

ensino aprendizagem, com o objetivo de modificar qualitativamente o resultado final

da instituição escolar.

3. Metodologia

Ressaltamos que todas as atividades de intervenção elaboradas e aplicadas,

foram pensadas a partir da prática que vivencio na escola e das reflexões teóricas

apresentadas neste artigo. Para a aplicabilidade da intervenção didático-pedagógica,

que teve como tema o Conselho de Classe, foi elaborado um cronograma de

atividades, tendo como base os eixos que nortearam as discussões. Para cada eixo

proposto foram elaboradas ações e estratégias metodológicas, sempre realizando as

impressões iniciais sobre a abordagem do tema, tendo como suporte a

fundamentação teórica realizada na elaboração do projeto de intervenção.

Basicamente, as ações propostas foram: leituras, vídeos, documentários e

dinâmicas em grupo, proporcionando interação dos participantes e a socialização do

aprendizado. Todas as ações propostas foram elaboradas tendo como suporte os

objetivos e conteúdos elaborados e previstos no cronograma apresentado na

produção didático-pedagógica.

O primeiro eixo trouxe para discussão inicial a Função Social da Educação e

da Escola, com o objetivo de compreender que a educação é um processo de

socialização, um ato social, uma instância social que pode contribuir para a

transformação da sociedade, reconhecendo também a importância dos movimentos

sociais para a educação ao longo do processo histórico. As análises e discussões

que pautaram este momento inicial, foram surpreendentes, pois ficou evidenciado o

desconhecimento que os profissionais da educação ainda têm com relação à função

social da escola, principalmente da pública. Ficou claro que é necessário e de

fundamental importância que a proposta de estudo abordada neste eixo seja

retomada em outros momentos, envolvendo inclusive representantes das instâncias

colegiadas.

O segundo eixo propôs uma reflexão acerca das Práticas Pedagógicas e

Gestão Democrática, traçando a intenção de entender que as práticas pedagógicas

que ocorrem na escola estão relacionadas ao processo de gestão escolar, bem

como em compreender o espaço escolar como um lugar de participação, dando

significado a ele a partir de uma gestão democrática em seu sentido mais amplo. As

reflexões propostas neste eixo nos fizeram compreender melhor a relação direta que

existe entre as práticas pedagógicas e gestão democrática, que ambas precisam ser

efetivadas nas ações do cotidiano da escola, e não permanecerem apenas descritas

nos documentos oficiais, tornando-os burocráticos e não funcionais. A proposta

como ação efetiva para este eixo, foi a de realizarmos uma análise dos documentos

Projeto Político Pedagógico, Proposta Pedagógica Curricular e Regimento Escolar,

com o objetivo de reorganizá-los de acordo com a realidade da comunidade escolar,

para traçar ações possíveis de se realizar, nas quais a prática efetiva da gestão

democrática terá como meta mediar essas ações para que os resultados sejam

satisfatórios em todos os âmbitos da instituição escolar.

No terceiro eixo a discussão trauxe uma abordagem focada na Avaliação e

Conselho de Classe, mais precisamente na avaliação da aprendizagem e o

Conselho de Classe como instância colegiada no processo dessa avaliação escolar.

Desta forma, buscou-se refletir sobre os processos de avaliação e entendê-los como

ações diagnósticas, contínuas e construtivas para a aprendizagem do aluno e para a

organização das práticas pedagógicas. Ainda neste eixo, procurou-se com as

discussões, compreender que o Conselho de Classe é parte integrante, importante e

decisivo das ações avaliativas no processo de ensino e aprendizagem.

Consideramos este eixo um dos mais complicados no decorrer das discussões, uma

vez que, a maioria dos profissionais ainda não possuem uma ampla compreensão

sobre como o aluno aprende, sobre o processo de avaliação propriamente dito, bem

como não diferenciam critérios e instrumentos de avalição, o que dificulta a análise

dos resultados. Diante disso, existe a necessidade de retomada de estudo e reflexão

do tema proposto neste eixo.

No quarto e último eixo, Conselho de Classe: Estruturação e Funcionamento

nas práticas atuais, as reflexões tiveram o objetivo de compreender a partir das

práticas pedagógicas e das vivências delas na escola e consequentemente de seus

resultados, a necessidade de mudança com relação ao conselho de classe como

parte integrante do processo avaliativo, procurando reorganizar coletivamente a

estrutura e funcionamento do conselho de classe da instituição, fazendo deste, um

espaço de reflexão e de tomada de decisões, assumindo um compromisso ético e

de responsabilidade com a educação de qualidade. Após as reflexões, assumimos

coletivamente o compromisso de estarmos no momento da análise dos documentos

que norteiam a prática pedagógica da escola, reorganizando o conselho de classe,

organizando-o de forma participativa e fazendo dele um espaço democrático, no

qual não participe apenas professores e pedagogos, mas sim representantes dos

alunos, dos pais e das demais instâncias que compõem a dinâmica escolar.

Consideramos importante destacar algumas considerações feitas pelos

profissionais da escola, professores, equipe gestora e funcionários que participaram

do estudo durante o processo de implementação na escola. A abordagem com

relação ao assunto surgiu no decorrer das discussões, sendo direcionadas pelas

atividades propostas. Um questionamento foi elaborado e aplicado ao grupo de

profissionais do colégio, com o objetivo de colher informações sobre a dinâmica da

escola com relação algumas práticas pedagógicas. Através deste questionamento,

foi possível verificar o nível de conhecimento que eles têm sobre as estratégias

utilizadas pelo coletivo da escola para que o estudante e família conheçam o

Regimento Escolar, bem como o sistema de avaliação, aspecto muito relevante para

a efetivação de uma gestão democrática. As considerações dos professores foram

bastante positivas e demonstraram a grande participação que os docentes têm neste

processo. A equipe gestora e pedagógica tem como estratégia mobilizar os docentes

a participarem de reuniões para repasse de informações gerais e as que são

pertinentes ao processo de ensino e aprendizagem. A convocação da família é

realizada em material impresso, divulgação através da imprensa falada (rádio local)

e também são enviados solicitações de divulgação nas igrejas e toda comunidade

religiosa. Além das estratégias mencionadas, a escola também utiliza as redes

sociais como forma de divulgação das ações e trabalhos realizados no decorrer do

processo de ensino e aprendizagem. O questionário abordou também a avaliação

que o professor faz da sua própria participação nas reuniões do conselho de classe.

Podemos destacar três opiniões que expressam aspectos positivos: Professora 1:

“Minha participação no conselho de classe me auxilia na compreensão dos critérios

de avaliação aplicados aos alunos”; Professora 2: “Considero minha participação

muito importante, porque através do coletivo é que fazemos relações que nos

possibilita a compreensão do desenvolvimento do aluno”; Professora 3: “Participo

ativamente expondo o rendimento escolar de cada educando e sugerindo ações

para a melhoria do ensino aprendizagem”. Podemos considerar essas opiniões

importantes, pois abordam aspectos relevantes e necessários para as reflexões que

ocorrem durante as reuniões do conselho de classe, acreditam que as discussões

são necessárias e imprescindíveis para as tomadas de decisões e para influenciar

positivamente no processo de ensino e aprendizagem.

Ao final da implementação da produção didático-pedagógica ao público alvo

estabelecido no projeto, percebeu-se então, a necessidade de reorganização das

práticas relacionadas ao conselho de classe. Dimensionando o posicionamento do

grupo participante, definiu-se por estabelecer em linhas gerais nos documentos

norteadores da prática pedagógica, o Conselho de Classe com a participação das

representações dos segmentos atuantes da escola, tendo como base os princípios

básicos da Gestão Democrática.

A fim de fortalecer o trabalho desenvolvido no interior da escola, tivemos a

oportunidade de realizar a produção, edição e aplicação do Grupo de Trabalho em

Rede (GTR), atividade integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE, que oportuniza a interação à distância entre o professor PDE com os

professores da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. As interações obtidas a

partir das atividades propostas no GTR, têm como objetivos principais articular o

referencial teórico com as propostas de ações apresentadas no projeto de

intervenção pedagógica e na produção didático-pedagógico, além de viabilizar um

espaço de estudo e discussão de todo o trabalho elaborado pelo professor PDE e da

implementação do projeto na escola.

4. Conclusão

Escolhemos o tema: Conselho de Classe e Intervenção Pedagógica:

encaminhando uma reflexão, visando superar alguns paradigmas existentes com

relação ao tema. As abordagens que realizamos através dos estudos teóricos e da

implementação da produção didático-pedagógica oportunizou uma reflexão ampla

sobre o papel do conselho de classe na escola, ressaltando sua relação com a

função social da educação, bem como com a avaliação escolar e gestão

democrática da escola. Neste sentido, as reflexões e discussões foram revelando

uma realidade com necessidades de mudanças efetivas no que se refere à

reorganização ou reestruturação do conselho de classe como prática pedagógica

que ocorre na dinâmica escolar no decorrer de todo o processo de ensino e

aprendizagem. Desta forma, é importante e necessário que todos os envolvidos no

processo educacional, compreendam que o conselho de classe é um órgão

colegiado e de grande importância. Porém, as atividades relacionadas a este órgão,

vêm sendo executadas como ações burocráticas e não como uma prática

pedagógica que tem por objetivo analisar, avaliar e reorganizar as ações

metodológicas e estruturais da práxis pedagógica.

Assim, podemos nos questionar como seria possível alterar tal realidade que

nos foi revelada? Afinal, os desafios são muitos, os obstáculos surgem e a

necessidade de transformar também ganha seu realce.

Neste contexto e tendo como base os princípios da gestão democrática, é

importante entendermos então que, o conselho de classe não pode ocorrer só com a

participação do professor, mas de todos os que participam do processo de

aprendizagem, para que se auto avaliem, compreendendo a avaliação como um

processo dinâmico e dialético, no qual os envolvidos refletem e discutem a prática

com o objetivo de intervir pedagogicamente nas ações que ocorrem na escola.

No decorrer de todo o processo de implementação da proposta, as

discussões partiram do pressuposto de que a efetivação de todo o trabalho que

nasce a partir das discussões do conselho de classe, deve ter o enfoque no

processo educativo e nas propostas de mudanças na organização do trabalho

pedagógico, ressaltando que esta instância propõe a análise e reflexão da ação

pedagógica no processo de ensino e aprendizagem.

Ao discutirmos sobre o conselho de classe, sua estruturação e funcionamento

nas práticas atuais, vários questionamentos e reflexões foram submetidas à análise,

visto que tal instância colegiada deve ser vista como uma prática pedagógica

essencial ao desenvolvimento qualitativo da escola e também indissociável de todo

o processo avaliativo. Analisamos e reconhecemos o papel do pedagogo como

mediador das práticas e das intervenções que são necessárias durante o processo

de ensino e aprendizagem.

Assim, podemos concluir que, o Projeto de Intervenção Pedagógica e a

Produção Didático- pedagógica contribuíram significativamente para aprimorar e

ampliar o conhecimento dos profissionais da educação sobre a temática proposta,

tendo em vista que participaram dos estudos e expressaram a necessidade de

mudança, dando continuidade às reflexões sobre o tema em outros momentos

oportunos. Verificamos então que a aplicabilidade do projeto atingiu os objetivos

propostos, criando a possibilidade de entender o conselho de classe como uma

instância de caráter ético e pedagógico, e não somente como um momento de

reunião de burocrática, na qual se avalia apenas o aluno e seu fracasso, mas sim

um momento que provoque a auto avaliação dos participantes do processo de

ensino e aprendizagem, bem como promova maior envolvimento ao propor ações

pedagógicas que viabilizem o comprometimento e participação da comunidade

escolar na busca de um ensino de qualidade.

4 – Referências

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei 9394/96. Brasília: MEC, 1996. CRUZ, Carlos Henrique Castilho. Conselho de Classe e participação. Revista de Educação AEC. Brasília: AEC do Brasil, nº 94, jan./mar.1995, p.111-136. DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. Conselhos de Classe e avaliação: perspectivas na gestão pedagógica de escola. 3. ed. Campinas: Papirus, 2006. GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico - Crítica. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2003. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. ROCHA, Any Dutra Coelho da. Conselho de Classe: burocratização ou participação? 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: Concepção Dialética – Libertadora do Processo de Avaliação Escolar. 4. ed. VOLSI, Maria Eunice França. As funções sociais da escola na atualidade. In: CALEGARI, Aparecida Meire (org.). Sociologia da Educação: olhares para a escola de hoje. 2. Ed. Revisada e ampliada. Maringá EDUEM, 2009. Cap.7, p.89-95.