o plano de desenvolvimento da escola (pde) numa...

158
O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA (PDE) NUMA PERSPECTIVA DE GOVERNO DEMOCRÁTICO POPULAR: uma análise da experiência na Rede de Ensino do Recife – PE

Upload: dangtuyen

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA (PDE) NUMA PERSPECTIVA DE GOVERNO DEMOCRÁTICO POPULAR: uma

análise da experiência na Rede de Ensino do Recife – PE

CRISTIANE LIBERATO DA NÓBREGA

O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA (PDE) NUMA

PERSPECTIVA DE GOVERNO DEMOCRÁTICO POPULAR: uma análise da experiência na Rede de Ensino do Recife – PE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação.

ORIENTADORA: Profª Drª Márcia Ângela da Silva Aguiar

Recife 2005

Nóbrega, Cristiane Liberato da

O Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) numa perspectiva de governo democrático pop ular : uma análise da experiência na Rede de Ensino do Recife - PE / Cristiane Liberarto da Nóbrega . – Recife : O Autor, 2005.

156 folhas : il ., tab., quadros.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CE. Educação, 2005.

Inclui bibliografia e anexos.

1. Política educac ional – Programa FUNDESCOLA. 2. Plano d e Desenvolvimento da Escola (PDE) – Implementação – Rede de Ensino do Recife (PE). 3. Governo d emocrático popu lar – Gestão educac ional – Perspectiva gerencial e perspectiva democrática . 4. Reforma do Estado – Planejamento educac ional . I. Título.

37.014.5 CDU (2.ed.) UFPE 379.2 CDD (22.ed.) BC2005-676

SENTIR PRIMEIRO

Sentir primeiro, pensar depo is

Perdoar primeiro, julgar depo is

Amar primeiro, educar depo is

Esquecer primeiro, aprender depo is

Libertar primeiro, ensinar depo is

Alimentar primeiro, cantar depo is

Possuir primeiro, contemplar depo is

Agir primeiro, julgar depo is

Navegar primeiro, aportar depo is

Viver primeiro, morrer depo is.

(Mário Quintana)

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho:

A meus pais, Luiz Fernandes e Maria José,

pelo esforço com que sempre priorizaram a formação acadêmica dos

seus filhos e pela dedicação com que nos educou e orientou. Vocês

também são vencedores.

A Jerônimo,

pela compreensão nos momentos em que estive ausente, pela força

e apoio quando me via preocupada com os compromissos

acadêmicos. Você se mostrou companheiro e amigo nos momentos

de aflição. Juntos, vencemos mais esse desafio.

AGRADECIMENTOS

A DEUS,

força maior sempre presente em minha vida iluminando-me e dando-me

esperanças nos momentos difíceis.

À minha família,

que também é responsável por mais esta etapa de crescimento que

alcanço. Vocês me incentivaram e me acolheram na vinda à “cidade grande”

em busca da formação acadêmica e de uma carreira profissional. Muito

obrigada.

A meus irmãos,

Cristina, David e Danilo que, apesar de nem sempre compreenderem

minhas angústias, incertezas e alguns momentos de mau humor, sei que

sempre desejaram que tudo desse certo.

À Professora Márcia Ângela Aguiar,

minha eterna gratidão pelas valiosíssimas contribuições para a

concretização deste trabalho, sem esquecer a paciência e compreensão para

com minhas dificuldades e, também, nos momentos de ansiedade inerentes à

trajetória de um Mestrado. Mais que orientadora e professora... Uma pessoa

muito humana que sempre se mostrou disponível a ajudar.

A todos os professores e professoras do Mestrado em Educação,

que, certamente, contribuíram para nosso enriquecimento intelectual e

científico.

À Secretaria de Educação do Recife,

pelo meu afastamento, em tempo integral, das atividades profissionais.

Esse apoio possibilitou a freqüência ao curso.

Aos gestores e técnicos da Secretaria de Educação do Recife, aos técnicos do

Grupo de Desenvolvimento da Escola, aos Coordenadores do PDE nas escolas

e aos membros do Conselho Municipal de Educação (por razões éticas não

citaremos os nomes),

que, durante a realização da pesquisa de campo, foram muito

receptivos, demonstrando compreensão e sensibilidade com a pesquisa. A

colaboração de vocês foi fundamental.

Às professoras e aos funcionários da Escola Municipal Humberto Gondim,

pelo apoio e carinho que me foi dado, desde o início, na busca do

aprimoramento profissional.

Às amigas Cléo, Eliane, Fábia, Laura, Liliana e Tereza,

que, mesmo distantes no dia-a-dia, torceram por essa minha conquista.

A Ana Lúcia Borba,

cujo apoio e incentivo, no início desta caminhada, foram de grande valia

para a superação de algumas dificuldades. Minha gratidão pelas contribuições

teóricas, pelo empréstimo de tantos livros e textos e pelos esclarecimentos

estéticos e normativos do trabalho final.

À minha tia Regilene Nóbrega,

agradeço por sua ajuda nos últimos momentos da digitação deste

trabalho. Sua contribuição foi fundamental.

À amiga Ryta Motta,

por ter feito a conferência minuciosa da versão final desta dissertação.

Os verdadeiros amigos são aqueles que se fazem presentes, também, nos

momentos de dificuldade. Obrigada por tudo.

A Esmeralda Queiroz,

pelo livro que me deu de presente, denominando-o como o “pontapé”

inicial para meu ingresso no Mestrado. Certamente, ele foi muito útil.

A Joana D’Arc,

pelo empréstimo de materiais valiosos para esta pesquisa.

A Maria Lúcia Pereira,

cuja ajuda naquele momento inicial foi imprescindível. Sua atitude foi

uma verdadeira demonstração de amizade.

Aos novos amigos Sávio Assis, Lenira Silveira e Roberta Santos,

felizmente, descobri vocês no decorrer dessa caminhada. Serei sempre

grata pela atenção e ajuda de vocês.

Aos colegas de turma: Ana Selma Santos, Celiane Melo, Edgleuma Andrade,

Fernanda Schuler, Inácio Feitosa, Karla Gouveia, Polyanna Magalhães e Dilian

Cordeiro,

por juntos compartilharmos as alegrias, angústias e incertezas inerentes

ao processo de construção do conhecimento.

Aos funcionários da secretaria do Mestrado em Educação,

pela gentileza, compreensão e carinho dedicados a todos.

Àqueles que,

direta ou indiretamente, torceram por mim, compreenderam minha

ausência, me orientaram de alguma forma, me escutaram quando precisei

desabafar, dividiram comigo todas as ansiedades e satisfações.

Enfim, a todos que, de alguma forma, contribuíram para a concretização deste

trabalho.

LISTA DE QUADROS E TABELAS

QUADRO 1 – Quantitativo de Bairros por RPA no Município do Recife..............................................................................

59

QUADRO 2 – Total de Alunos da Rede Municipal do Recife por Níveis e Modalidades de Ensino.....................................

64

QUADRO 3 – Prefeitos do Recife no Período de 1997 a 2004 e a Vigência dos PPA’s.........................................................

66

QUADRO 4 – Programa Educação de Qualidade Social...................... 72

QUADRO 5 – Programa Gestão das Políticas Municipais de Educação........................................................................

75

QUADRO 6 – Visões Distintas de Projeto de Escola............................ 87

QUADRO 7 – Relação das Escolas da Rede de Ensino do Recife com PDE.........................................................................

144

QUADRO 8 – Prefeitos do Recife e Partidos Políticos – 1993-2004................................................................................

149

QUADRO 9 – Programas Integrados e Específicos do Plano Plurianual 2002-2005......................................................

150

TABELA 1 – Percentuais de Reprovação na Rede de Ensino do Recife no Período de 1999-2002 – Ensino Fundamental de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries....................

61 TABELA 2 – Percentuais de financiamento do FUNDESCOLA e dos

Estados/Municípios conforme ano de implementação do Programa...................................................................

141

TABELA 3 – Índice de Evasão e Reprovação no Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (1999-2002)................

142

TABELA 4 – Valor do Financiamento das Ações do PDE/PME por Escola.............................................................................

143

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BM – Banco Mundial

CME – Conselho Municipal de Educação

COMUDE – Conferência Municipal de Educação

CONDEPE/FIDEM – Agência de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco

DAE – Departamento de Acompanhamento Escolar

DGE – Diretoria Geral de Ensino

EJA – Educação de Jovens e Adultos

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

FUNDESCOLA – Fundo de Desenvolvimento da Escola

GDE – Grupo de Desenvolvimento da Escola

GESTAR – Programa de Gestão da Aprendizagem Escolar

GS – Grupo de Sistematização

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MARE – Ministério da Administração Pública e Reforma do

Estado MEC – Ministério da Educação e Cultura

OP – Orçamento Participativo

PAPE – Projeto de Adequação dos Prédios Escolares

PES – Planejamento Estratégico da Secretaria

PDE – Plano de Desenvolvimento da Escola

PFL – Partido da Frente Liberal

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PME – Plano de Melhoria da Escola

PPA – Plano Plurianual

PPP – Projeto Político-Pedagógico

PT – Partido dos Trabalhadores

RPA – Região Político-Administrativa

SEE – Secretaria Estadual de Educação

SEIF – Secretaria de Educação Fundamental

SME – Secretaria Municipal de Educação

ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social.

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS LISTA DE QUADROS E TABELAS LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO............................................................................................. 18

CAPÍTULO 1 – REFERÊNCIAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS............ 23 1.1 – Reforma do Estado Brasileiro e o Modelo de

Gestão Gerencial: entrando no debate................

24 1.2 – Gestão da Educação: o predomínio da

perspectiva gerencial...........................................

32 1.3 – Planejamento Educacional e a Perspectiva

Gerencial de Gestão............................................

37 1.4 – O Projeto Político-Pedagógico e a Gestão

Democrática da Escola........................................

42 1.5 – Aspectos Metodológicos...................................... 46

CAPÍTULO 2 – GESTÃO DEMOCRÁTICA E A POLÍTICA EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DO RECIFE-PE.........

57

2.1 – A Política Educacional no Município do Recife.... 58 2.2 – A Gestão da Educação nos Planos Plurianuais.. 64 2.3 – As Conferências Municipais de Educação:

espaço de construção do Plano Municipal de Educação.............................................................

79 2.4 – O Processo de Planejamento na Rede de

Ensino do Recife: o Projeto Político-Pedagógico e o Plano de Desenvolvimento da Escola...........

84 2.5 – O Programa FUNDESCOLA na Rede de Ensino

do Recife: a implementação do Plano de Desenvolvimento da Escola.................................

88

CAPÍTULO 3 – GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO E PROCESSOS DE PLANEJAMENTO.............................

91

3.1 – As Dimensões da Gestão Democrática na Rede Municipal de Ensino.............................................

92

3.2 – As Concepções de Planejamento Educacional e

o Modelo de Gestão.............................................

101 3.3 – O PDE como Instrumento da Gestão Escolar..... 106

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... .

112

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 121 DOCUMENTOS ANALISADOS.................................................................. 125 ANEXOS......................................................................................................

127

RESUMO

Nos últimos tempos verifica-se uma intensificação dos estudos

concernentes à materialização das políticas educacionais no âmbito da escola

pública, focalizando, sobretudo, os programas de iniciativa do executivo

federal voltados para o ensino fundamental, a exemplo do Plano de

Desenvolvimento da Escola (PDE) implementado através do Programa

FUNDESCOLA (Fundo de Fortalecimento da Escola). Este programa

encontra-se vinculado ao Ministério de Educação e envolve Estados e

Municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as quais apresentam

altos índices de evasão e reprovação escolar, sendo objetivo primordial do

referido Programa, amenizar (ou equacionar) tais problemas. Adotando a

perspectiva teórica que concebe as políticas públicas como o “Estado em

ação”, esta pesquisa objetivou analisar, numa abordagem histórico-crítica, a

elaboração e execução do PDE no município do Recife, em Pernambuco, no

período de 1997 a 2004, buscando apreender algumas dimensões da gestão

dessa política. Com base nas categorias analíticas – gestão democrática da

educação e planejamento – enfocamos o Plano de Desenvolvimento da

Escola (PDE) e o Projeto Político-Pedagógico (PPP) na rede municipal,

mediante a realização de análise documental e de entrevistas semi-

estruturadas com os principais atores envolvidos com o processo de

implementação do Plano. Destaque foi dado à reforma da educação básica no

país, a gestão da educação e ao planejamento educacional, cuja

problematização permitiu inferir, cotejando com os dados levantados, a

convivência às vezes tensa e conflituosa, de dois processos distintos de

planejamento – o PDE e o PPP, na Rede de Ensino do Recife. Os resultados

da pesquisa apontam para a prevalência no processo de planejamento, da

metodologia do planejamento estratégico concernente ao PDE, em detrimento

dos processos participativos condizentes com o PPP, tendo em vista a ênfase

que é dada a esse formato de planejamento no contexto da gestão local, pelos

atores envolvidos.

Palavras-chave: Política Educacional, Gestão Democrática, Plano de Desenvolvimento da Escola, Planejamento Educacional, Projeto Político-Pedagógico.

ABSTRACT

Studies relating to the implementation of educational policies in the

Public School system have considerably increased of late and they focus mainly

on programs launched by Congress, for instance the School Development Plain

(Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE) which is being executed through

the FUNDESCOLA (School Strengthening Fund). Said program is linked to the

Ministry of Education and it involves State and Municipal Governments of the

North, Northeast and Center-west Regions where dropping out of school and

flunking exams have reached undesirable high levels. The main objective of the

Program is to eliminate, or at least to lessen such problems. Assuming a

theoretical perspective that envisages public policies such as “The Government

in Action”, this research intends to become acquainted with the outlines of the

PDE and, using a historical and critical approach, to analyze the elaboration

and execution of the Plan in Recife, Pernambuco, during the period 1997-2004.

Based on the analytical categories – democratic management and planning in

education – we have focused on the PDE and the PPP (Politico-Pedagogical

Project) in the Municipal school network by carrying out an analysis of

documents and interviews arranged with the main agents involved with the

implementation process of the Plan. Emphasis was placed on the basic

education reform in Brazil, on teaching management and education planning.

Problems in this area, according to data collected in the research, lead us to

infer that, in the school network of Recife, the two distinct planning processes,

PDE and PPP, coexist in a rather tense and conflicting way. Research results

also indicate that, in the planning process there is a predominance of the

strategic planning methodology of PDE to the detriment of that related with

PPP, as a consequence of the fact that people locally engaged in the planning

activities place more emphasis on the former technique.

Keywords: Educational policy, Democratic Management, School Development Plan, Educational Planning, Politico-Pedagogical Project.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi desenvolvido junto ao Núcleo de Política

Educacional, Planejamento e Gestão da Educação, do Programa de Pós-

Graduação em Educação, da Universidade Federal de Pernambuco, no

período compreendido entre 2003 e 2005.

Trata-se de um estudo que analisa o processo de implementação do

Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) nas escolas da Rede de Ensino do

Recife, Pernambuco. O PDE constitui um dos projetos que compõem o Fundo

de Fortalecimento da Escola – FUNDESCOLA, que é um programa do

Ministério da Educação e de responsabilidade direta do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação – FNDE.

Criado em substituição ao Projeto Nordeste1, na década de 90, o

Programa FUNDESCOLA2 abrange diversos projetos tais como: Atendimento

Rural, Proformação, Encontro dos Conselheiros do FUNDEF, Programa de

Apoio aos Secretários Municipais de Educação, Plano de Desenvolvimento da

1 O Projeto Nordeste, com recursos totais de oitocentos milhões de dólares, oriundos de empréstimos com o Banco Mundial, destinados aos nove estados da região Nordeste do Brasil, em vigor de 1993 a 1999, possuía um modelo que privilegiava os sistemas de ensino e era muito semelhante aos tradicionais programas de investimento do Banco Mundial nas décadas de 70 e 80. (BRASIL/MEC/FUNDESCOLA, Boletim Técnico Nº 26, 1999). 2 Os recursos advindos do FUNDESCOLA, destinados à implementação do PDE nos Estados e Municípios, vão decrescendo a cada ano, a medida em que a participação destes últimos vai aumentando, até que assumam totalmente o financiamento do Programa, conforme TABELA 4 em anexo.

19

Escola, entre outros.

Este Programa é proveniente de um acordo de financiamento3 firmado

entre o Ministério da Educação (MEC) e o Banco Mundial (BM), em 1998. Tem

por objetivo a efetivação de ações e projetos voltados para a formação

continuada dos professores, para a implantação de metodologias de

planejamento estratégico e de gestão educacional e para a adequação dos

prédios escolares. Estas medidas visam à melhoria da qualidade da educação

nas escolas públicas de nível fundamental das Regiões Norte, Nordeste e

Centro-Oeste.

Este público alvo específico – apenas três Regiões do País – para o qual

está voltado o referido Programa, decorre do fato destas apresentarem

algumas problemáticas que lhe são peculiares, ou seja, são as regiões do País

com os maiores índices de evasão e reprovação escolar4. Os projetos do

FUNDESCOLA têm por escopo amenizar (ou equacionar) tais problemas e

melhorar a qualidade da educação.

Com o PDE, que é considerado o projeto de maior destaque, o

Programa FUNDESCOLA não visa apenas à referida melhoria do ensino, mas

também a implementação de um novo formato de gestão para a escola pública.

Para tanto, o PDE apresenta-se como uma metodologia de gestão baseada

nos princípios do planejamento estratégico, o qual recebe maior destaque com

a política do Governo de Fernando Henrique Cardoso, desenvolvida em suas

duas gestões (1995-1998 e 1999-2002). 3 O Programa FUNDESCOLA tem como financiadores o Banco Mundial (BIRD) e o governo brasileiro (BRASIL, Boletim Técnico, nº 56, 2002). 4 Ver TABELA 2 em anexo.

20

Esta temática despertou nosso interesse a partir de um treinamento

promovido pela Secretaria de Educação do Recife/PE, realizado em 2001, no

qual participamos como representante do corpo docente da escola a qual

estávamos vinculadas. Este treinamento direcionado às escolas do município

visava “prepará-las” para a elaboração do PDE. Esse processo, que suscitou

muitos questionamentos, nos incentivou a querer compreender as razões da

adoção dessa sistemática de planejamento pela Secretaria de Educação do

município. Isto porque, nas escolas municipais, a orientação da Secretaria de

Educação, na gestão do Prefeito João Paulo (2001 a 2004), era de estimular a

formulação e implementação do Projeto Político-Pedagógico nas escolas.

Perguntávamos: quais seriam as motivações político-pedagógicas que levavam

os gestores da Secretaria de Educação a aceitarem esse modelo de

planejamento e gestão? Em que medida poderiam ser compatibilizadas as

orientações concernentes ao PPP e ao PDE, se ambos expressavam

perspectivas e concepções político-ideológicas diferentes? Como esses

processos de planejamento e de gestão eram percebidos na escola?

Responder a esses questionamentos nos levou a buscar respaldo

teórico em autores que discutiam a problemática da gestão e do planejamento

educacional e escolar. Nessa interlocução com autores como Dourado (2002;

2004) Paro (1998), Ferreira; Aguiar (2004), Silva Jr. (2002), Aguiar (2004),

Oliveira (1997), fomos delineando melhor a nossa problemática, precisando o

objeto de estudo e definindo o caminho metodológico mais adequado aos

objetivos da pesquisa.

21

Dessa forma, estabelecemos como objetivo central da pesquisa analisar,

de que forma vem se dando a implementação do PDE, na rede de ensino do

Recife, cuja proposta educacional se declara pautada numa visão

emancipadora da educação escolar. Nesse sentido, buscou-se investigar de

que modo o PDE, que se insere numa lógica economicista-instrumental, é

incorporado na prática da gestão do governo municipal, que se declara

democrático-popular5.

Os resultados do presente estudo estão consubstanciados em três

capítulos dispostos da seguinte forma:

No capítulo 1 – Referências Teórico-Metodológicas – apresentamos as

referências teórico-metodológicas que constituíram o norte da pesquisa.

Contemplamos, numa abordagem histórica, as questões relacionadas à

reforma do Estado, no Brasil, e as repercussões no plano educacional.

Discutimos os conceitos de gestão da educação e de planejamento

educacional procurando estabelecer os marcos referenciais para a análise do

processo de planejamento da Rede de Ensino do município do Recife. Por fim

detalhamos a abordagem epistemológica e os procedimentos metodológicos

utilizados no estudo.

Na análise estabelecida no capítulo 2, intitulado Gestão Democrática e a

Política Educacional no Município do Recife-PE, abordamos a organização da

5 A concepção que o atual governo do Recife tem acerca da gestão democrática popular, encontra-se pautado num modelo de gestão que privilegia mecanismos concretos de participação popular, na prática da transparência administrativa e da democratização das informações. O Orçamento Participativo constitui o instrumento central de planejamento das políticas públicas e da descentralização das atividades de governo, o qual se dá num conjunto de instâncias (plenárias, fóruns e conselhos municipais) (RECIFE, 2001a).

22

política educacional do município e a estruturação da sua rede de ensino.

Neste momento, analisamos a gestão democrática da educação, a partir dos

Planos Plurianuais (PPA’s) das gestões 1997/2000 e 2001/2004, dando

enfoque às ações da Secretaria de Educação, estabelecidos pela instância

municipal, nas quais se encontra inserido o FUNDESCOLA. No processo de

planejamento para a educação, trazemos uma discussão acerca das

Conferências Municipais de Educação – COMUDE’s – como uma das ações de

cunho democrático na esfera educacional e como espaço de construção do

Plano Municipal de Educação (PME). Ainda na temática do planejamento,

enfocamos a prática simultânea de dois projetos distintos no âmbito municipal –

o Projeto Político-Pedagógico e o Plano de Desenvolvimento da Escola.

Finalizando o capítulo, tratamos do processo de implementação do PDE na

Rede de Ensino do Recife, no período de 1997/2004.

No capítulo 3 – Gestão Democrática da Educação e Processos de

Planejamento – apresentamos uma análise das concepções de gestão

democrática da educação e de planejamento; e o PDE como instrumento da

gestão escolar, a partir das percepções dos sujeitos entrevistados.

Nas Considerações Finais, tecemos algumas reflexões acerca dos

achados provenientes da pesquisa, e apresentamos algumas proposições a

título de contribuição para a Secretaria de Educação.

CAPÍTULO 1 – REFERÊNCIAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

1.1 – Reforma do Estado Brasileiro e o Modelo de Gestão Gerencial: entrando no debate

Nas duas últimas décadas do século XX, o mundo foi marcado por

profundas transformações econômicas, políticas, culturais e sociais, as quais

se manifestam inclusive nos fenômenos da globalização e da crise dos estados

nacionais. Tais fenômenos influenciaram tanto a reorganização do mercado

mundial como o processo de reprodução da força de trabalho, respaldados

pelos ditames do capital.

A globalização é entendida por Santos (2002) numa configuração que

privilegia não só a dimensão econômica – como tendem a fazer alguns

estudiosos – mas também as dimensões social, política e cultural. Nessa

perspectiva, a globalização é apresentada como “(...) um fenômeno

multifacetado com dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais,

religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo” (p. 26), destacando ainda,

que não há uma entidade única denominada de globalização, mas

globalizações (p. 55), as quais abrangem conflitos e, conseqüentemente,

vencidos e vencedores, de modo que estes últimos, reiteradamente, são os

narradores da sua própria história.

25

Nesse contexto, o Estado-Nação é redefinido com perda de algumas de

suas prerrogativas nos campos da economia, da política, da cultura e do social

especialmente nos países em desenvolvimento. De fato, como acentua Silva

Jr. (2002, p. 62),

As reformas do Estado no atual estágio do capitalismo mundial tendem para um desmonte do estado intervencionista na economia e nos setores sociais. A universalização do capitalismo e a divisão planetária em megablocos econômicos impõem uma reforma dos Estados que propicie a expansão do mercado e de sua lógica, sob o discurso da auto-regulação, bem como possibilitam, como acentua Coraggio, a introjeção da racionalidade mercantil na esfera pública (...). Desta forma, na transição do fordismo para o presente momento histórico do capitalismo mundial, o Estado de bem-estar social dá lugar a um Estado gestor, que carrega em si a racionalidade empresarial das empresas capitalistas transnacionais, tornando-se as teorias organizacionais, antes restritas aos muros das fábricas, as verdadeiras teorias políticas do Estado moderno.

O Brasil também se insere nesse processo, com a redefinição do

aparelho de Estado, que, de interventor e estruturador da economia em favor

do capital nacional e internacional, desde a década de 1930, passa, na década

de 1990, a um Estado modernizado, a um Estado gestor (idem). Isto fica mais

evidente a partir de 1995, com a assunção da Presidência da República por

Fernando Henrique Cardoso. Silva Jr. (2002, p. 62) chama a atenção para o

fato de que

Com legitimidade política e eleitoral e em um clima de ”hiperpresidencialismo”, o presidente transforma o Brasil no país das reformas e o submete, apesar de suas peculiaridades, ao figurino do capital, desenhado, agora, pelos organismos multilaterais, com especial destaque para o Banco Mundial [grifos do autor].

26

Na primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso, as prescrições da

Reforma do Estado assumem uma maior relevância. Passam a respaldar e

reorientar as ações governamentais nos três níveis de governo,

“redirecionando mecanismos e formas de gestão e, conseqüentemente, as

políticas públicas e, particularmente, as políticas educacionais em sintonia com

os organismos multilaterais” (DOURADO, 2002, p. 241).

Como principal articulador e coordenador da Reforma Gerencial no

Brasil iniciada em 1995, Bresser Pereira (1998) defende a realização de

mudanças em relação à organização do Estado e a sua forma de gestão até

então praticada – a administração burocrática – postulando a Reforma

Gerencial6 como o meio viável de pôr em execução uma administração pública

mais eficiente, dando primazia à qualidade dos serviços e a racionalização dos

recursos através de uma administração pública gerencial.

Nesse sentido, o autor supracitado advoga que tal Reforma “(...) busca

criar novas instituições legais e organizacionais que permitam que uma

burocracia profissional e moderna tenha condições de gerir o estado brasileiro”

(BRESSER PEREIRA, 1998, p. 22), sendo executada nas dimensões:

institucional-legal, cultural e de gestão. Dessas três dimensões, considera a

dimensão gestão como a mais difícil, haja vista que esta tem o objetivo de “(...)

colocar em prática as novas idéias gerenciais, e oferecer à sociedade um

serviço público de melhor qualidade, em que o critério êxito seja sempre o do

6 Esta reforma teve como documento básico o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, elaborado no primeiro ano de governo de Fernando Henrique Cardoso, estando à frente de todo o processo, o então Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), Luiz Carlos Bresser Pereira.

27

melhor atendimento do cidadão-cliente a um custo menor” (BRESSER

PEREIRA, 1998, p. 25).

Nesse contexto, o modelo de gestão gerencial emerge como alternativa

de substituição do modelo da administração burocrática, até então vigente

desde os anos 30. O modelo gerencial encontra-se inspirado e concebido nas

teorias e técnicas da administração empresarial, dando relevância aos critérios

de eficiência e racionalização, gerados pelo mundo da indústria, os quais se

encontram atrelados aos pressupostos da qualidade total7 que, por

conseguinte, estão vinculados ao processo de desenvolvimento do capitalismo.

Nesse sentido, a Reforma do Estado brasileiro, pelo modo que vem

sendo processada, se apresenta como uma estratégia de readaptar a estrutura

administrativa do país às imposições da nova ordem do capitalismo em nível

mundial, e de garantir sua inserção no cenário internacional. Para tanto, o

Estado deverá apresentar-se mais enxuto e flexível enquanto agenciador de

políticas públicas, viabilizando o desenvolvimento econômico.

Conseqüentemente, a efetivação de tal Reforma foi tomando espaço na

formulação e implementação de políticas públicas, que são operacionalizadas

mediante os programas governamentais em nível federal, estadual e municipal,

os quais se configuram como uma das faces com que se apresentam tais

políticas. Tais Programas são materializados nos três níveis de ensino, pois

conforme Azevedo (2001, p. 59) o cotidiano escolar “representa o elo final de

7 Para Azevedo (2002, p. 60), os pressupostos da qualidade total: privilegiam a administração por projetos com objetivos previamente estabelecidos, são baseados localmente e possuem traços competitivos.

28

uma complexa cadeia que se monta para dar concretude a uma política (...)

entendida aqui como um programa de ação”.

Nesse sentido, percebe-se que a racionalidade que hoje é imposta ao

Estado, assim como às políticas educacionais, corresponde à mesma

racionalidade do capital, o qual é representado pelas empresas privadas e

pelos agentes econômicos. Ademais, no que se refere ao perfil dos gestores

educacionais, os requisitos recomendados pela ótica empresarial da qualidade

total são a competência técnica e a capacidade de liderança. Tais requisitos

estão presentes nos princípios que fundamentam as orientações quanto à

implementação dos programas governamentais voltados para o enfrentamento

de problemas educacionais do País, como é o caso do Programa

FUNDESCOLA – Fortalecimento da Escola, como será visto mais adiante.

Nesse modelo, a União deixa de ser o principal executor das políticas e

passa a compor uma instância de coordenação e controle de programas e

projetos que são desenvolvidos, sobretudo, pelos estados e municípios. Desta

forma, o Estado promove a tão defendida descentralização nos moldes da

perspectiva conservadora, apresentando-a como alternativa eficaz na

atenuação das desigualdades por meio de uma maior eficiência dos serviços

prestados e dos programas sociais implementados.

É importante ressaltar que a descentralização constituía uma bandeira

que emergiu nos movimentos da sociedade civil organizada, que demandavam

uma maior atuação do Estado no tocante à implementação de políticas

públicas nas áreas da educação, saúde, previdência, entre outras. Algumas

29

das lutas travadas por esses movimentos, em busca de uma sociedade mais

justa, participativa e igualitária, foram incorporadas ao discurso do governo,

porém, na sua essência, com outra conotação.

A concepção de descentralização defendida pelas forças progressistas

no período da redemocratização do País, situada numa perspectiva

democrática de maior participação da sociedade civil nas decisões políticas, é

re-significada, na década de 1990, e adotada pelas lideranças políticas e

governamentais, em consonância com os preceitos do movimento da Reforma

do Estado. Apoiada nas orientações neoliberais, esta forma descentralizadora

caracterizada como “economicista-instrumental”, tem por objetivo a

minimização do Estado ao repassar as competências do governo central para

os governos estaduais e municipais. Este movimento evidencia, portanto, uma

atividade desconcentradora, “(...) em que o local é considerado como uma

unidade administrativa a quem cabe colocar em ação políticas no nível do

poder central” (AZEVEDO, 2002, p. 56).

É relevante observarmos que é freqüente a ocorrência de ambigüidades

quanto ao uso dos termos descentralização e desconcentração, sendo

necessário, portanto, estabelecermos diferenças entre ambos. De acordo com

Jacobi (2002, p. 36), “enquanto a descentralização implica redistribuição do

poder, uma transferência na alocação dos recursos, a desconcentração implica

delegação de competências, sem qualquer deslocamento do processo

decisório”.

30

Nesse sentido, o que ocorre muitas vezes é a apresentação de ações

que se caracterizam mais como uma desconcentração, e que são

apresentadas como uma descentralização quando, na verdade, evidenciam

apenas uma separação das instâncias governamentais que antes estavam

centralizadas.

Um outro ponto que merece destaque é em relação ao enfoque

ideológico quanto à utilização do termo descentralização, pois, dependendo da

perspectiva adotada, os objetivos serão diferentes e até antagônicos. A

descentralização político-administrativa, numa perspectiva mais conservadora,

ou neoliberal, expressa ações privatizantes e desregulamentadoras da

economia, com desdobramentos nas ações dos governos locais; ao passo que,

adotada numa perspectiva democrática, exprime a ampliação de direitos, a

inclusão social, a autonomia do poder local e a participação dos cidadãos na

gestão pública (JACOBI, 2002).

No contexto do Governo de FHC aqui analisado, a questão da

descentralização é compreendida no interior das reformas que se pautam no

discurso neoliberal de que o Estado é ineficiente necessitando, portanto, de

reformas gerenciais no que se refere à implementação de políticas públicas.

Assim, verifica-se a valorização dos princípios da racionalidade administrativa

como o meio através do qual serão superados os problemas que a ineficiência

estatal não permite resolver.

Sob essa ótica, o modelo de administração gerencial é apresentado,

pela retórica governamental, como o meio viável à superação do modelo

31

burocrático, o qual é tido como o responsável pelos entraves na prestação de

serviços públicos de forma eficiente. Segundo os delineamentos da Reforma do

Estado, faz-se necessário, portanto, a garantia da qualidade dos serviços

públicos educacionais prestados à população, de forma eficiente e com

racionalização dos custos. Como destaca Azevedo (2002, p. 59): “(...) ajustar a

gestão dos sistemas de ensino e das escolas ao modelo gerencial, conforme

divulgado pelo poder central, em consonância com o discurso das agências

externas de cooperação e financiamento”.

Nesse sentido, alguns programas em nível do governo central são

criados, especialmente nos dois governos de FHC, os quais demonstram a

notória mudança da lógica de ação do Estado brasileiro. Tais programas são

direcionados a determinadas regiões do País, conforme as necessidades

específicas de cada uma delas. É o caso do FUNDESCOLA que, até meados

de 2004, era desenvolvido pelo Departamento de Projetos Educacionais da

Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação (SEIF/MEC)

e direcionado especificamente às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Todavia, a partir desse mesmo ano, o este Programa passa a ter como órgão

responsável pela sua gestão, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da

educação (FNDE), conforme Portaria do Ministério da Educação GM/MEC nº

1.859, de 24/06/2004, publicada no Diário Oficial da União de 25/06/2004.

(BRASIL, www.in.gov.br, consulta realizada em 24/08/04). O FUNDESCOLA,

criado na década de 90, em substituição ao Projeto Nordeste, abrange

diversos projetos tais como Atendimento Rural, Proformação, Encontro dos

Conselheiros do FUNDEF, Programa de Apoio aos Secretários Municipais de

32

Educação, Plano de Desenvolvimento da Escola, entre outros.

No âmbito do FUNDESCOLA, o Plano de Desenvolvimento da Escola –

PDE, assume uma feição peculiar, dada a sua característica de ser

componente de um processo de planejamento, constituindo-se o principal

meio de veiculação dos princípios que regem a reforma do Estado no interior

dos sistemas de ensino das regiões mencionadas (AGUIAR, 2004).

1. 2 – Gestão da Educação: o predomínio da perspectiva gerencial

As reformas educacionais pelas quais têm passado a maioria dos países

da América Latina, nas últimas décadas do século XX, atreladas aos processos

de reforma do Estado, apresentam novas configurações no que diz respeito às

formas de organização dos sistemas de ensino e, especificamente, das

unidades de ensino destes países. Tais reformas ocorrem sob a influência8 do

neoliberalismo9 com a sua proposta de um estado enxuto, que minimiza as

políticas públicas. De forma articulada, percebe-se também a influência das

agências multilaterais – especialmente o Banco Mundial – abrangendo

determinadas estratégias visando uma ‘melhoria na qualidade da educação’.

Nos anos de 1990, no Brasil, o foco na educação básica de qualidade

transforma-se, predominantemente, no eixo central da argumentação

governamental de que não basta só garantir o acesso à educação, mas a

qualidade desta e a permanência do aluno na escola. Em relação aos recursos 8 Somadas a essas influências externas têm-se aquelas específicas de cada país, conferindo-lhes características peculiares e, ao mesmo tempo, comuns. 9 Sobre o neoliberalismo, ver: Sader; Gentili (1995); Gentili (1995); Teixeira (1996).

33

financeiros disponíveis, há o argumento de que são considerados suficientes,

porém malversados. Sob essa ótica, considerando o contexto nacional do

período em questão, as políticas de gestão da educação foram,

paulatinamente, sendo estruturadas dando primazia política às “ações de

cunho gerencial, buscando garantir uma otimização dos recursos e,

conseqüentemente, uma racionalização economicista das ações

administrativas (...)” (DOURADO, 2004, p. 69).

Configurando como prioridade a busca da racionalidade administrativa, a

reforma do Estado passa a ser um terreno fértil às mudanças na gestão da

educação pública como a alternativa eficaz e eficiente para o setor. Nesse

contexto, é notória a relevância dada à gestão, sendo esta colocada como um

ponto central no processo de mudança dos sistemas educacionais. Entretanto,

tal centralidade não se refere apenas a uma nova organização voltada para a

gestão dos sistemas de ensino de forma mais ampla, mas também no interior

das unidades educacionais, onde são contempladas estratégias em prol da

descentralização e da autonomia (AGUIAR, 2004).

Podemos afirmar que este processo tem início no bojo das crises

político-econômicas e sociais ocorridas na sociedade brasileira nas décadas de

70 e 80, as quais vão repercutir em diversos setores, inclusive no sistema

educacional do país. Nesse processo, têm importância marcante os

movimentos dos educadores que demandavam do estado e do governo maior

poder de decisão para os agentes educativos, melhores condições de trabalho

e salários mais dignos, bem como uma escola pública democrática e de

qualidade.

34

Nesse contexto de luta pela democratização da educação pública no

país, a gestão democrática do ensino público é referendada na Constituição de

1988, em seu Art. 206, inciso VI, como o direito legal de exercer a participação

direta. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)10,

no inciso VIII, do Art. 3º, que se refere aos princípios que devem conduzir o

ensino, corrobora o princípio da Gestão Democrática quando, em seu Art. 14,

determina que os sistemas de ensino devem instituir normas para o

encaminhamento da gestão democrática nas escolas públicas de ensino

básico, e que estas devem estar em consonância com as peculiaridades de

cada um dos sistemas garantindo, portanto, a “I – participação dos profissionais

da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”, além da “II –

participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou

equivalentes” (LDBEN, 9.394/96).

Antes, porém, de adentramos na discussão da gestão democrática, é

pertinente considerarmos os embates travados em torno do termo

gestão/administração da educação. Na literatura educacional, a discussão em

torno dos termos gestão/administração da educação não tem uma

característica única. Essas terminologias, por vezes, são utilizadas como

sinônimos (PARO, 1998); em outros momentos, ambos denotam significados

distintos.

Todavia, considerando o aspecto etimológico dos termos, estes se

assemelham significando ato de administrar, de gerir, gerência (HOUAISS,

2001).

10 Lei nº 9.394/96.

35

A utilização da terminologia gestão da educação passa a ter um lugar de

destaque não só no meio acadêmico, mas também no âmbito dos movimentos

educacionais, no universo das escolas, no discurso governamental e nas

propostas apresentadas pelos organismos internacionais, na tentativa de

superação do paradigma de gestão calcado no pensamento positivista.

As gestões da educação e da escola têm se constituído em tema de

diversos estudos11 sendo delineadas por diferentes acepções, gerando

posicionamentos antagônicos quanto à estrutura organizacional, ao

direcionamento adotado e a primazia de suas ações.

Vale salientar que a gestão democrática da educação, de acordo com

Bordignon e Gracindo (2004, p. 148),

requer mais do que simples mudanças nas estruturas organizacionais; requer mudança de paradigmas que fundamentem a construção de uma Proposta Educacional e o desenvolvimento de uma gestão diferente da que hoje é vivenciada.

Na perspectiva de Dourado (2004) há em disputa duas visões

antagônicas quanto às propostas voltadas para a gestão da educação e da

escola. A primeira, denominada “visão gerencial”, encontra-se “pautada por

uma lógica economicista” desconsiderando as peculiaridades da prática

pedagógica e, a segunda, denominada “visão político-pedagógica”, dando

destaque a “efetivação da educação como direito social, pela busca da

construção da emancipação humana sem descurar da especificidade da ação

11 Ferreira; Aguiar (2004), Oliveira (1997), Paro (2002), Sander (1995), entre outros.

36

pedagógica (...)” (2004, p. 69), o que demonstra ser uma visão “democrática”

da gestão da educação.

Destaca este autor que a gestão democrática constitui, na realidade um

processo de luta política

(...) que não se circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra, nas especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a possibilidade de criação de canais de efetiva participação e, conseqüentemente, do repensar das estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais e, no seio dessas, as práticas educativas (DOURADO, 2004, p. 67).

Depreende-se, a partir dessas considerações, que a gestão democrática

é um processo que, através de um espaço que torne viável a participação

efetiva dos cidadãos e onde o poder pode, e deve, ser descentralizado,

possibilita a construção coletiva de um projeto que considera as divergências e

o respeito às diferenças.

Todavia, é importante ressaltar, que no contexto brasileiro, a gestão da

educação orientada pela visão gerencial, que tem seus fundamentos nas

teorias e modelos organizacionais e administrativos empresariais, vem sendo

cultuada pelas ações governamentais e transpostos para a educação,

especialmente para as unidades escolares, como o meio capaz de se chegar à

superação dos problemas educacionais do país. Este fenômeno, intensificado

com as reformas educacionais da década mencionada, atinge de forma mais

direta o ensino fundamental tornando a escola como núcleo da gestão12.

12 Ver Oliveira (1997).

37

Tais reformas, como sabemos, fazem parte do movimento de reforma

administrativa do Estado, o qual defende um projeto de sociedade que tem

afinidade com as reordenações políticas e financeiras do capitalismo avançado

dirigidos aos países dependentes. Este panorama deixa evidente que há uma

articulação com o que é determinado pelos grupos hegemônicos e o que é

posto em prática nas nações periféricas.

Essas duas perspectivas de gestão ficam mais evidentes quando

analisamos as concepções concernentes ao planejamento educacional.

1.3 – Planejamento Educac ional e a Perspectiva Gerencial de Gestão

O ato de planejar é uma atividade própria da história do ser humano.

Consciente ou inconscientemente, o desejo de transformar a realidade objetiva

é uma preocupação marcante de toda pessoa. Embora nem todas as nossas

ações diárias sejam delineadas em etapas de execução, por fazerem parte da

nossa rotina, para a realização de atividades que requerem uma maior

sistematização, faz-se necessário o uso de um conjunto de procedimentos para

alcançá-las, ou seja, é imprescindível algum tipo de planejamento.

Historicamente, a prática do planejamento vem sendo articulada com o

mundo da produção capitalista, o qual tem rápida evolução.

Conseqüentemente, cada vez mais se verifica uma busca por estratégias de

organização e planejamento visando acompanhar este processo.

38

No Brasil, o direcionamento das ações de planejamento como prática

governamental não se deu de forma diferente, posto que é notória a tendência

desta atividade ter correlação com a produção capitalista, a exemplo da década

de 1950 que, como retrata Aguiar (1991, p. 27), foi “marcada pela

intensificação do processo de industrialização e de urbanização, alargamento

da classe média e pela adoção efetiva do planejamento como instrumento de

política econômica do governo”. Nesta época, torna-se evidente a

“preocupação com a racionalidade na aplicação dos recursos econômicos

como pré-requisitos para o desenvolvimento acelerado” (AGUIAR, 1991, p. 27).

Esta recomendação é direcionada aos países subdesenvolvidos, para que os

mesmos transpusessem seus problemas sociais e econômicos, que eram

considerados os responsáveis por deixá-los muito distantes dos países

desenvolvidos.

Entretanto, há que se considerar que estas idéias, oriundas de

realidades econômicas, sociais, políticas e culturais bem diferentes da nossa,

disseminavam uma ideologia de planejamento que ocultava, segundo Garcia

(1990), determinações políticas e econômicas mais abrangentes. Tais

determinações eram decididas de forma restrita nos centros de poder, a

exemplo da participação do mundo subdesenvolvido nos blocos e zonas de

hegemonia, no período do pós-guerra, apenas como um mero fornecedor de

matérias-primas, contribuindo para a consolidação dos grandes oligopólios e

corporações transnacionais.

Ademais, os países subdesenvolvidos, neste período, incorporaram a

ideologia de que a divisão do mundo em “desenvolvido” e “subdesenvolvido”

39

era apenas uma questão de etapas diferentes de crescimento. O que seria

resolvido com a “aceleração” dos atrasados, o que vem justificar a

intensificação dos incentivos financeiros e técnicos dos países desenvolvidos,

viabilizando o crescimento econômico acelerado daqueles considerados

subdesenvolvidos. Nessa dinâmica, os empréstimos feitos contribuem para

aumentar a dívida externa destes últimos, como é o caso do Brasil.

Seguindo esta ótica, o planejamento educacional começa a identificar o

atraso do País com o analfabetismo, remetendo seu enfoque às “propostas de

educação para todos como o melhor caminho para a construção de sociedades

mais modernas (...)” (GARCIA, 1990, p. 38). Nesse período, a área educacional

deixa de ser percebida pelo aspecto humanístico, passando a ser ressaltada

“como principal fator de desenvolvimento e como um investimento rentável que

gera benefícios tanto de ordem individual como social” (AGUIAR, 1991, p. 28).

Desta forma, o planejamento educacional no País tinha como pano de

fundo as necessidades do sistema capitalista de produção que requisitava,

cada vez mais, mão-de-obra qualificada para atuar de acordo com suas

necessidades econômicas daquele momento.

O período do regime autoritário, que se estendeu de 1964 até 1985, em

termos de planejamento educacional, é marcado, segundo Calazans (1990, p.

25), pela elaboração de planos nacionais de educação – seis ao todo –

“sedimentados pelo forte aparato da tecnoestrutura estatal e do ‘neutro’

discurso tecnicista” [grifos do autor]. Ademais, nesse período, “o planejamento

passa ser bandeira altamente eficaz para o controle e ordenamento de todo o

40

sistema educativo” (GARCIA, 1990, p. 41). Concomitantemente, ocorre uma

reformulação da legislação educativa, havendo economistas que se

sobressaem na função de educadores e, usando o discurso da eficiência do

sistema, têm elaborado planos direcionados a todas as modalidades e níveis

de ensino, não por acaso, mas em decorrência de alguns fatores, a saber:

a) Pouca influência do Ministério da Educação na formulação da política educacional; b) Descontinuidade das ações; c) Redução do planejamento a orçamento; d) Diminuição da capacidade do MEC de influir nos destinos da Educação (GARCIA, 1990, p.42-45).

A década de 1990 é profundamente marcada pela adoção de formas

mais flexíveis de planejamento e de gestão, condizente com os novos

ordenamentos mundiais direcionados à administração pública. Nesse contexto,

as propostas de descentralização administrativa, voltadas para a gestão das

políticas públicas ganham força, disseminando a idéia do planejamento

estratégico como o meio ideal para se obter a eficácia e a eficiência dos

serviços.

Nesse sentido, a partir do período em questão, vem tomando força uma

prática de planejamento com enfoque descentralizado, cujas “orientações

gerais indicam o norte que a organização deve seguir e, concomitantemente,

atribuem mobilidade às unidades do sistema para que possam adequar as

especificidades da realidade circundante” (OLIVEIRA, 1997, p. 88).

A área educacional não foi poupada da influência desta noção de

planejamento descentralizado. As mudanças direcionadas à organização e à

41

administração dos sistemas de ensino e suas políticas educativas passam a

ser norteadas pela idéia da descentralização e do planejamento estratégico.

Dessa forma, o planejamento educacional, seja ele em nível macro ou

em nível de unidade escolar, é consideravelmente afetado por esta noção

descentralizada de planejamento, sendo posta em execução uma política de

gestão da educação baseada em princípios empresariais, ao passo que são

“transportados para o âmbito educacional o Controle da Qualidade Total e o

Planejamento Estratégico” (FREITAS, 2004, p. 76).

O planejamento estratégico encontra-se baseado nas teorias da

administração, as quais dão ênfase à estrutura organizacional e às pessoas e

retiram seus aportes teóricos da teoria neoclássica da administração. A

administração, para a teoria neoclássica, de acordo com Freitas (2004, p. 72),

(...) consiste em orientar, dirigir e controlar os esforços de um grupo de indivíduos para um objetivo comum. Trata-se da coordenação de atividades grupais como uma técnica social básica. Assim, planejamento, organização, direção e controle são funções administrativas que, quando consideradas como um todo, formam o processo administrativo.

Conforme os pressupostos da teoria neoclássica, segundo Freitas, o

planejamento pode apresentar-se em três níveis: o estratégico, o tático e o

operacional.

O estratégico, definido pela cúpula organizacional em nível institucional, é amplo e projetado para longo prazo, e envolve a organização como um todo. O planejamento tático, definido em cada departamento da organização em nível intermediário, busca atingir os objetivos projetados para o médio prazo. O planejamento operacional, definido para cada tarefa ou atividade em nível operacional, faz projeções para o curto

42

prazo com vistas ao alcance de metas específicas (FREITAS, 2004, p. 72).

É importante ressaltar que, muito embora o planejamento estratégico,

pautado nos princípios de eficiência e eficácia, tenha se tornado um

instrumento importante nas orientações governamentais, no período aqui

focalizado, a idéia do Projeto Político-Pedagógico disseminava-se nas redes

públicas de ensino.

1.4 – O Projeto Político-Pedagóg ico e a Gestão Democrática da Escola

De fato, o Projeto Político-Pedagógico começa a tomar corpo, no

discurso oficial e em boa parte das instituições de ensino, na década de 90. A

LDBEN (Lei nº 9394/96), em seu Artigo 12, inciso I, determina que “os

estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu

sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta

pedagógica”. Notadamente, esta determinação legal deixa explícita a idéia de

que a escola não pode prescindir da reflexão acerca da sua intencionalidade

educativa.

Há um certo consenso entre os estudiosos da questão na utilização do

termo Projeto Pedagógico como sinônimo de Projeto Político-Pedagógico, ou

seja, como tendo o mesmo teor semântico.

Todavia, é importante esclarecermos, para efeito deste estudo, que

optamos pela utilização do termo Projeto Político-Pedagógico, em

43

contraposição ao termo Projeto Pedagógico, pois, consideramos aquele mais

completo em sua significação plena quando situamos numa perspectiva

emancipadora, ou seja, no que diz respeito à formação dos cidadãos e de uma

sociedade mais justa. Desse modo, ressaltamos as duas dimensões do PPP

que são determinantes quanto a sua intencionalidade – a dimensão política e a

dimensão pedagógica, e que devem ser consideradas enquanto tal. Assim,

consideramos que esta dimensão político-pedagógica presume uma construção

participativa que envolve os diversos segmentos escolares de maneira ativa.

Concordamos com Veiga (1995) quando afirma, a respeito do PPP, que

os aspectos político e pedagógico são indissociáveis em seu significado, haja

vista que “todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por

estar intimamente articulado ao compromisso sóciopolítico com os interesses

reais e coletivos da população majoritária” (p.13).

Nesse sentido, “a dimensão política se cumpre na medida em que ela se

realiza enquanto prática especificamente pedagógica” (SAVIANI, 1983, p. 93

apud VEIGA, 1995, p. 13). Quanto à dimensão pedagógica, esta se refere à

possibilidade de ser efetivada a intencionalidade da escola que á a “formação

do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo”

(VEIGA, 1995, p. 13).

A construção do Projeto Político-Pedagógico requer o esforço conjunto e

o interesse político da coletividade escolar. Ademais, o desafio do PPP não

deve considerar o consenso como ponto de partida, mas o conflito que

favorece a diversidade numa trajetória construída coletivamente na tomada de

44

decisões. Conforme Padilha (2005, p. 73), “pensar o planejamento educacional

e, em particular, o planejamento visando ao projeto político-pedagógico da

escola é, essencialmente, exercitar nossa capacidade de tomar decisões

coletivamente”.

A construção do PPP, na perspectiva emancipatória, não se esgota na

elaboração de um documento, mas envolve a sua consolidação e

implementação mediante um processo dialético de ação e reflexão. Nesse

sentido, Veiga (2001, p. 57) considera que:

Pensar o projeto político-pedagógico de uma escola é pensar a escola no conjunto e a sua função social. Se essa reflexão a respeito da escola for realizada de forma participativa por todas as pessoas nela envolvidas, certamente possibilitará a construção de um projeto de escola consciente e possível.

Por conseguinte, a efetiva participação de toda coletividade escolar é

imprescindível para o sucesso da elaboração e consolidação do PPP na

escola, constituindo-se em um processo democrático de decisões no qual a

participação não se dá apenas por uma simples formalidade de os sujeitos se

fazerem presentes na realização de ações. Isto é, uma participação que se

restringe “à dimensão de uma participação tutelada, restrita e funcional, não

possibilitando a efetiva socialização dos processos de decisões” (DOURADO,

2004, p. 68).

Nesse sentido, a participação deve extrapolar esse limite buscando

romper com as relações autoritárias, corporativas e competitivas no interior da

escola. Conforme aponta Veiga (1995, p. 33), “A construção do projeto político-

pedagógico requer continuidade das ações, descentralização, democratização

45

do processo de tomada de decisões e instalação de um processo coletivo de

avaliação de cunho emancipatório”.

Ademais, é imprescindível considerarmos os princípios de igualdade,

qualidade, gestão democrática, liberdade e valorização do magistério como os

princípios norteadores do Projeto Político-Pedagógico13, assim como da escola

pública, democrática e gratuita.

Uma outra característica do Projeto Político-Pedagógico, diz respeito a

visão de totalidade, quando todos os atores se empenham em organizar a

escola tomando-a em seu conjunto. Inserido neste conjunto tem-se, também, a

organização da sala de aula e sua relação com o contexto social mais próximo.

A concepção apresentada por Gracindo (2004, p. 164), acerca do

Projeto Político-Pedagógico, é de que este se trata de

(...) uma forma de planejamento, dentro de um processo de gestão democrática, e que possui um caráter de intervenção intencional sobre a realidade educacional, na construção de uma escola democrática e de qualidade socialmente referenciada.

Dessa forma, o PPP é considerado como um instrumento da gestão

democrática, além possibilitar a intervenção na prática educacional no interior

da escola, tornando-se uma forma de planejamento.

Procurar apreender de que modo se situam essas perspectivas de

gestão e de planejamento educacionais numa realidade específica, é o que nos

propusemos a fazer ao procurarmos analisar o Plano de Desenvolvimento da

13 Veiga (1995).

46

Escola – PDE, no contexto educacional do município do Recife, utilizando os

procedimentos relatados a seguir.

1. 5 – Aspectos Metodo lóg icos

Consideramos que a elaboração e o desenvolvimento de uma pesquisa

constituem desafios teórico-práticos instigantes, especialmente, por implicar na

assunção de opções epistemológicas e metodológicas, haja vista que exige,

necessariamente, estabelecermos critérios de escolha. Para tanto, é

fundamental considerarmos a especificidade do objeto de estudo, assim como

nossas preferências de caráter ideológico e político.

Partindo desta compreensão, assim como do respaldo proporcionado

pelas leituras realizadas em torno da temática, verificamos que, para o

desenvolvimento de uma pesquisa no campo das Ciências Sociais, é

imprescindível considerarmos os aspectos qualitativos sem descuidar dos

quantitativos; analisarmos a atividade prática como espaço por excelência da

teoria; e, tratarmos as partes e suas especificidades como constitutivas da

totalidade, buscando assim sobrepujar as dicotomias existentes na abordagem

teórica positivista no que versa sobre a realidade social.

Ademais, situamos o objeto de estudo na arena de conflitos e paradoxos

que são pertinentes ao campo social, razão porque buscamos apreender e

analisar a realidade social considerando as contradições que lhe são inerentes

presumindo que a mesma deve ser conhecida e transformada.

47

Nesse sentido, para a exeqüibilidade da investigação, assim como para

a consecução dos objetivos aludidos na introdução deste trabalho, partimos

das conjecturas de que o todo social com suas relações evidenciam as

contradições e os conflitos inerentes à disputa dos vários projetos de sociedade

e, portanto, da educação.

Nessa perspectiva, Minayo (2000, p. 20-21) destaca cinco

particularidades fundamentais em relação ao objeto de estudo nas Ciências

Sociais.Tais pontos referem-se ao seu caráter histórico, a sua consciência

histórica, a identidade existente entre o sujeito e o objeto da investigação, ao

fato de que é intrínseca e extrinsecamente ideológico e, por fim, é,

essencialmente, qualitativo. Esta autora ainda considera que o “aspecto

qualitativo” é a principal característica do objeto de qualquer pesquisa social,

devendo sempre ser contemplado, e chama a atenção para o caráter de

complementaridade entre os dados quantitativos e os qualitativos, “pois a

realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer

dicotomia” (MINAYO, 1997, p. 22). Daí, é preciso conceber o objeto das

Ciências Sociais como algo “complexo, contraditório, inacabado, e em

permanente transformação” (MINAYO, 2000, p. 22).

No que se refere à passagem do aspecto quantitativo ao qualitativo nas

Ciências Sociais, Lakatos (1991, p. 104) ressalta que “a mudança qualitativa

não é obra do acaso, pois decorre necessariamente da mudança quantitativa”,

denominando a mudança quantitativa como o “simples aumento ou diminuição

de quantidade”, e a mudança qualitativa é considerada como “a passagem de

48

uma qualidade ou de um estado para outro”, ou seja, não devemos desprezar o

quantitativo, mas considerá-lo como integrante da qualidade.

Para analisarmos aspectos relevantes da gestão da educação no

município do Recife, mediante a implementação de um dos Projetos do

Governo Federal – o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) – na referida

Rede de Ensino, assim como as concepções dos atores envolvidos no

processo – gestores municipais, técnicos do Grupo de Desenvolvimento da

Escola (GDE), coordenadores do PDE nas escolas e membros do Conselho

Municipal de Educação (CME) – utilizamos como estratégia principal para

aproximação do real, conforme os parâmetros da abordagem dialética

histórico-estrutural, os procedimentos da pesquisa qualitativa e quantitativa.

Desta forma, evitamos o risco de considerar a realidade apenas em seus

aspectos subjetivos, separados do seu contexto de referência, o qual

evidencia, regularmente, aspectos estruturais. Isto significa, portanto, tratar os

fenômenos em sua origem para aprofundar suas causas e conseqüências, e

abordar a dinâmica das relações sociais no contexto histórico, na perspectiva

das mudanças sociais.

A escolha desta temática se deu em decorrência das inquietações que

emergiram durante a nossa participação no processo de treinamento das

escolas municipais, em 200114, o que nos levou a procurar referenciais teóricos

que possibilitassem o entendimento mais aprofundado desse processo de

planejamento na Rede de Ensino do Recife.

14 Treinamento realizado com o objetivo de preparar os profissionais das escolas para a elaboração do PDE, sendo ministrado por um técnico do MEC. Este treinamento foi direcionado ao segundo grupo de escolas – 100 (cem) – a ingressarem no Programa.

49

Iniciamos, então, uma pesquisa bibliográfica buscando selecionar os

interlocutores para efetivar tal percurso, dentre os quais destacamos Azevedo

(2001; 2002), Ferreira e Aguiar (2004), Jacobi (2002), De Tommasi (2003),

Oliveira (1997), Paro (1998), Santos (2002), Veiga (1995), Veiga; Fonseca

(2001), Vieira (2000).

Concomitantemente, procedemos à seleção e análise dos documentos

oficiais emanados da instância municipal de educação e que registram as

definições e decisões políticas concernentes. Consideramos como fontes

oficiais para a referida análise, os documentos que seguem:

• Plano Plurianual 1998-2001 (1997) • Plano Plurianual 2002-2005: RECIFE Cidade Saudável (2001a) • Plano Plurianual 2002-2005: RECIFE Cidade Saudável (2001b) • Plano Plurianual 2002-2005: RECIFE Cidade Saudável (2003a) • Proposta Pedagógica da Rede Municipal de Ensino do Recife: Construindo

Competências (2002)

Além desses documentos oficiais concernentes à instância municipal,

analisamos outros documentos15 do Programa FUNDESCOLA que destacam o

PDE e que foram utilizados pelos técnicos do MEC, durante o treinamento, e

pelas escolas para a elaboração dos respectivos Planos (MARRA; BOF;

AMARAL SOBRINHO, 1999); (AMARAL SOBRINHO, 2001); (XAVIER;

AMARAL SOBRINHO, 1999).

15 A lista completa destes documentos encontra-se no final deste trabalho (Documentos Analisados).

50

Inicialmente, o trabalho consistiu na organização do material coletado.

Em seguida, realizamos a descrição analítica orientada pelo referencial teórico.

Procedemos, posteriormente, à codificação, classificação e categorização

desses dados.

Com base no material coletado, verificamos que a rede municipal de

ensino abrange 232 escolas16 com ensino fundamental, dentre as quais, 142

(cento e quarenta e duas) escolas17 executavam o PDE, nessa ocasião. É

oportuno esclarecer que o PDE não foi iniciado em todas as escolas ao mesmo

tempo: no ano de 1999, foram 11 (onze) escolas; em 2002, foram incluídas

mais 100 (cem); em 2003 entraram mais 21 (vinte e uma); e para 2004

estavam listadas mais 10 (dez) escolas18. É importante salientar que nos anos

de 2000 e 2001 não foi incluída nenhuma escola ao Programa, período este em

que ocorre a transição de governo municipal19, sendo retomadas as atividades

em 2002.

Como campo de pesquisa, selecionamos quatro escolas da Rede de

Ensino do Recife, conforme critérios previamente definidos, a partir dos quais

buscamos contemplar: 1) escolas com diferentes níveis de ensino; 2) o ano de

inclusão da escola ao Programa; 3) o financiamento; e, 4) o aspecto

geográfico.

16 Informação obtida junto a Diretoria Geral de Ensino – DGE (SME/RECIFE). 17 Esta lista consta no QUADRO 6 em anexo no final deste trabalho. 18 Este grupo de 10 escolas não fez parte da nossa seleção para a coleta de dados, haja vista se encontrarem, no momento da pesquisa, ainda na fase inicial de implementação do Plano, portanto, não apresentando resultados significativos sobre o mesmo. 19 Este foi um período de transição, tendo em vista as eleições para prefeito do Recife, no ano de 2000, na qual o candidato João Paulo, do Partido dos Trabalhadores – PT saiu vitorioso, no 2º turno, com 50,38% dos votos válidos, conforme dados obtidos junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.

51

No critério relativo aos níveis de ensino, buscamos enquadrar as escolas

considerando: a) uma escola que funcionasse apenas com o ensino

fundamental de 1ª a 4ª séries (1º e 2º ciclos)20; b) uma escola que também

funcionasse com o ensino fundamental de 5ª a 8ª séries (3º e 4º ciclos); e c)

uma escola que, além do ensino fundamental, também tivesse o ensino médio.

O segundo critério abrangeu as escolas de forma igualitária no que se

refere ao ano de inclusão das mesmas ao Programa FUNDESCOLA, ou seja, o

ano em que começaram a receber os recursos financeiros. Nesse sentido,

buscamos contemplar uma escola de cada ano.

No terceiro critério, abordamos a questão do financiamento. Inicialmente,

pretendíamos selecionar três escolas que participaram do treinamento,

elaboraram o Plano e passaram a receber, sistematicamente, recursos do

Programa; e uma escola que, mesmo tendo participado do treinamento, não

recebeu recursos do FUNDESCOLA, mas elaborou e desenvolveu o Plano.

Contudo, diante da dificuldade de encontrarmos uma escola que atendesse a

este último perfil, fizemos a substituição por outra que recebeu recursos do

FUNDESCOLA apenas no primeiro ano, mas que continuou com o

desenvolvimento das ações do Plano de Melhoria da Escola (PME) e a revisão

anual do PDE. Vale ressaltar que estas ações desenvolvidas eram de cunho

pedagógico e administrativo, posto que não necessitavam de recursos

financeiros21 para tal.

20 A partir de 2001, a Rede de Ensino do Recife passou a ser organizada em ciclos de aprendizagem. 21 Estes recursos, advindos do FUNDESCOLA, eram destinados, principalmente, para a compra de equipamentos como: TV, DVD, computador, mobiliário, kit pedagógico, entre outros.

52

No que diz respeito ao quarto critério para a seleção das escolas,

tomamos o aspecto geográfico como fator também de orientação quanto a esta

escolha. Para tanto, a seleção contemplou diferentes Regiões Político-

Administrativas (RPA’s) do município22.

Na amostra, foram contemplados, inicialmente, os gestores municipais, o

coordenador do PDE de cada unidade escolar e os técnicos do GDE – Grupo

de Desenvolvimento da Escola. Todavia, identificamos, posteriormente, a

necessidade de obter informações sobre o processo de planejamento junto ao

Conselho Municipal de Educação, o que foi efetivado mediante contato com

dois dentre os conselheiros. Visando preservar o anonimato dos sujeitos

entrevistados, no momento da exposição dos resultados provenientes da

análise dos depoimentos, optamos por identificá-los apenas por códigos: G1 e

G2 (gestores); C1, C2, C3 e C4 (coordenadores do PDE nas escolas); T1 e T2

(técnicos do GDE); e, CM1 e CM2 (representantes do CME).

Nas escolas, a amostra foi composta pelo coordenador do PDE da

unidade escolar que, na maioria das vezes, é o coordenador pedagógico da

unidade educacional. Ele, juntamente com o diretor e um professor, compõem

o Grupo de Sistematização (GS) da escola, e têm a função de elaborar o Plano

e pôr em execução as atividades programadas, conforme determinação do

FUNDESCOLA.

Nosso campo de pesquisa não ficou limitado ao universo das escolas.

Para apreendermos melhor o processo de inserção da Rede de Ensino do O valor deste financiamento varia conforme o quantitativo de alunos que a escola possui, como mostra a TABELA 3 em anexo. 22 Na combinação de todos os critérios, foram contempladas as RPA’s 01, 03, 04 e 06.

53

Recife ao Programa FUNDESCOLA e, especificamente, ao PDE, foi

fundamental fazermos uma abordagem aos gestores e técnicos da Secretaria

de Educação do Município. Desta forma, entrevistamos a Secretária de

Educação e a Secretária Adjunta23.

Foi necessário, também, buscarmos informações com os profissionais

que atuaram e atuam no GDE – Grupo de Desenvolvimento da Escola. As

informações obtidas nas entrevistas com os profissionais deste Grupo – que é

composto tanto por profissionais vinculados à Prefeitura, como por pessoas

contratadas para realizarem, especificamente, o acompanhamento nas escolas

em relação à elaboração do Plano e sua execução no interior da escola –

foram fundamentais para um resgate cronológico e histórico de todo o processo

no município em questão.

Dessa forma, tendo em vista que a implementação do PDE teve início

numa gestão municipal e, na gestão seguinte, deu-se a continuidade, foi

necessário recorrer aos técnicos da Secretaria de Educação que se

encontravam à frente do processo, tanto na primeira como na segunda gestão,

pelo fato de ter ocorrido, em conseqüência da mudança de governo, a

substituição de alguns profissionais e técnicos. Portanto, além dos dois

integrantes atuais do GDE, entrevistamos uma terceira pessoa que exerceu

atividade como Técnica do Grupo de Desenvolvimento da Escola na gestão

1997-2000 e vivenciou o período de transição de governo municipal.

23 A escolha por entrevistar a Secretária Adjunta deu-se pelo fato de que, no início da gestão de 2001-2004, ela encontrava-se como assessora da Secretaria de Educação e acompanhou as negociações entre a Prefeitura e o FUNDESCOLA/MEC. Com isso, ela possuía propriedade acerca das informações sobre o histórico do Programa no Município.

54

A técnica utilizada para a abordagem dos sujeitos, objetivando a coleta

de informações, foi a entrevista semi-estruturada, que é entendida por Triviños

(1987, p. 146) como “aquela que parte de certos questionamentos básicos,

apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em

seguida, oferecem amplo campo de interrogativas”.

A entrevista semi-estruturada constitui-se, na verdade, de um roteiro que

serve de orientação para o entrevistador, o qual é denominado por Minayo

(2000, p. 99) como “conversa com finalidade”. A respeito das perguntas que

constituem o roteiro da entrevista semi-estruturada, Triviños (1987), esclarece

que as mesmas “(...) não nasceram a priori. Elas são resultado não só da teoria

que alimenta a ação do investigador, mas também de toda a informação que

ele já recolheu sobre o fenômeno social que interessa” (p. 146).

Considerando esses aspectos, estruturamos a entrevista em torno de

dois eixos temáticos, a saber: gestão democrática e planejamento. Nas

entrevistas, mesmo com o roteiro pré-definido, as respostas dos sujeitos

suscitaram alterações no encaminhamento da seqüência das perguntas a

serem formuladas.

Um outro aspecto que consideramos relevante para a utilização da

entrevista semi-estruturada no desenvolvimento deste trabalho é o fato de que

esta “(...) ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece

todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a

espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação” (TRIVIÑOS, 1987,

p.146).

55

Tomamos o cuidado de informar, antecipadamente, aos entrevistados,

sobre os objetivos da entrevista, como também da utilização de gravação em

áudio, da fidedignidade das informações obtidas, da garantia do anonimato e

do sigilo – tanto no trabalho escrito quanto na apresentação do mesmo – e da

possibilidade de um segundo momento, caso houvesse demanda no decorrer

do desenvolvimento do trabalho.

A realização das entrevistas utilizando a gravação em áudio, se deu pelo

fato de termos, desta forma, uma garantia maior quanto às informações

obtidas, o que não teríamos no caso de realizarmos apenas anotações.

Estas gravações foram, posteriormente, transcritas por um profissional

contratado. Entretanto, de posse do texto transcrito e da fita gravada, fizemos o

refinamento do mesmo através de uma atenta audição do conteúdo gravado,

efetuando as devidas correções, garantindo a fidedignidade das informações

obtidas. Dessa forma, também nos apropriamos dessa primeira reflexão da

qual se refere Queiroz (1991) quando defende a importância da transcrição ser

realizada pelo próprio pesquisador. Para esta autora,

A transcrição efetuada pelo próprio pesquisador tem, também, o valor de uma primeira reflexão sobre a experiência de que partilhou, e que ele cria uma segunda vez ao escutar a fita. Porém, nesta segunda vez uma distância se estabeleceu entre ele e o informante, representada pela fita gravada – distância que constitui uma “colocação em situação”, que possibilita captar toda a experiência a partir, agora, do exterior, sem a acuidade dos envolvimentos emocionais que o contexto vivo acarretava. E quantas vezes julgar necessário, poderá retornar a experiência para aprofundar suas observações. Ao efetuar a transcrição o pesquisador tem, então, a invejável posição de ser ao mesmo tempo interior e exterior à experiência (QUEIROZ, 1991, p. 88).

56

Após a conferência e correção de todo o texto, realizamos a tabulação

dos dados e, posteriormente, a leitura e análise mais minuciosa das

informações.

Na análise dos dados, agrupamos as informações em dois eixos

temáticos: a concepção de gestão democrática da educação e a concepção de

planejamento. Neste último são feitas referências à concepção de PDE e sua

relação com o Projeto Político-Pedagógico.

Os resultados da pesquisa serão apresentados nos capítulos que

seguem.

CAPÍTULO 2 – GESTÃO DEMOCRÁTICA E A POLÍTICA EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DO RECIFE–PE

2.1 – A Política Educac ional no Município do Recife

O Recife, capital pernambucana, está localizado na Mesorregião24

Metropolitana, especificamente, na Microrregião do Recife. Possui uma área

territorial que corresponde a, aproximadamente, 220 km², limitando-se ao Norte

pelos municípios de Paulista e Olinda, ao Sul pelo município de Jaboatão dos

Guararapes, ao Leste pelo Oceano Atlântico e, ao Oeste pelos municípios de

Camaragibe e São Lourenço da Mata.

A cidade foi fundada em 1537, porém só tornou-se capital do Estado em

1823. Sua origem está vinculada à existência de um pequeno porto que

abrigava uma população ligada às atividades de comércio e serviços. Quanto

ao nome do município, Recife, este se origina da existência de arrecifes25 ao

longo da costa. Também é conhecida como a Veneza Brasileira, em

decorrência da existência de rios cortando toda a cidade; aspecto que

proporcionou a construção de várias pontes no decorrer dos séculos.

A Região Metropolitana do Recife, criada em 1973, é composta de

quatorze municípios, sendo Recife o município-núcleo. Ademais, a cidade do

24 A Mesorregião Metropolitana encontra-se subdividida em quatro Microrregiões: Microrregião de Itamaracá, Microrregião do Recife, Microrregião de Suape e Microrregião de Fernando de Noronha, as quais são compostas pelos municípios. 25 Sinônimo de recife que significa formação rochosa, à flor da água ou submersa, geralmente próxima à costa, em áreas de pouca profundidade; arrecife. (HOUAISS, 2001, p. 2.400).

59

Recife ocupa uma posição central, de aproximadamente 800km de distância

entre duas outras metrópoles do Nordeste, Salvador e Fortaleza, com as quais

disputa o espaço estratégico de influência da Região, tanto no aspecto

econômico quanto no turismo.

De acordo com dados do IBGE referentes ao ano de 2000, a economia

do Recife encontra-se, fundamentalmente, apoiada na prestação de serviços

(46,70%) e no comércio (41,62%), tendo ainda empreendimentos voltados para

a indústria de transformação (6,39%) e construção civil (3,99%), ficando outras

atividades no patamar de 1,30%.

Administrativamente, o município é formado por 94 bairros que integram

as seis Regiões Político-Administrativas (RPA’s) que o compõem. O quadro a

seguir demonstra a distribuição dos bairros por RPA:

QUADRO 1 – Quantitativo de Bairros por RPA no Município do Recife

RPA 1 Centro: 11 bairros

RPA 2 Norte: 18 bairros

RPA 3 Noroeste: 29 bairros

RPA 4 Oeste: 12 bairros

RPA 5 Sudoeste: 16 bairros

RPA 6 Sul: 8 bairros

De acordo com a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de

Pernambuco, CONDEPE/FIDEM26, o município em questão possui uma

26 Órgão oficial de estatística do governo do Estado de Pernambuco.

60

população estimada em 1.422.905 habitantes, considerando a contagem

realizada pelo censo de 2000, apresentando uma densidade demográfica de

6,5 mil hab/km² e um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) no

patamar de 0,79727.

No que se refere aos indicadores educacionais, apesar da existência de

escolas com turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), a taxa28 de

analfabetismo no município atinge o patamar de 15,86% dos jovens de 15 a 17

anos, e 25,86% do público de 10 a 14 anos.

Conforme dados do INEP, em 2002, o índice de reprovação escolar nas

escolas da Rede de Ensino do Recife, foi de 2,5% para o ensino fundamental

de 1ª a 4ª séries, e de 3,5 para o ensino fundamental de 5ª a 8ª séries

conforme tabela a seguir. Ademais, considerando estas mesmas variáveis, o

percentual de evasão escolar atingiu os patamares de 4,8% e 21,4%,

respectivamente.

27 O IDHM enfoca o município como unidade de análise e segue os mesmos critérios do IDH, que foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ambos têm o objetivo de medir o grau de desenvolvimento humano, considerando três dimensões: a renda, a longevidade e a educação. 28 Patamares com ano base de 2000, conforme dados do CONDEPE/FIDEM.

61

TABELA 1 – Percentuais de Reprovação na Rede de Ensino do Recife no

Período d e 1999-2002 – Ensino Fundamental de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª série

Fonte: http://www.edudatabrasil.inep.gov.br/ Pesquisa realizada em 31/07/2005

Entretanto, se comparados estes percentuais de 2002 com os anos

anteriores (1999 a 2001), constata-se uma significativa diferença,

demonstrando uma considerável redução desses índices.

Nesse sentido, é de suma importância atentarmos para o fato de que, no

ano de 2001, na Rede de Ensino do Recife, foi iniciada a estruturação29 do

ensino fundamental por ciclos30, substituindo a organização anterior que se

dava por séries, conforme prever o Artigo 23 e o § 1º do Artigo 32 da LDBEN

(9.394/96), para os sistemas de ensino. É importante observarmos que neste

formato de organização do ensino, não há reprovação escolar como ocorre

com a organização por séries.

29 Esta estruturação ocorreu de forma gradativa, isto é, os ciclos não foram implementados todos no mesmo ano, mas aos poucos, totalizando quatro ciclos, com duração de dois anos cada, exceto o primeiro que tem duração de três anos. 30 A questão dos ciclos, que não é sinônimo de progressão automática, dada a complexidade da sua discussão, não será aprofundada neste trabalho, haja vista a mesma não constituir nosso objeto de estudo.

Ano 1ª a 4ª 5ª a 8ª

1999 19,9 14,5

2000 21,5 11,2

2001 20,7 12,6

2002 2,5 3,5

62

A organização do ensino em ciclos de aprendizagem defende uma

concepção de escola na perspectiva da inclusão social, visando a promoção do

aluno. Dessa forma, a preferência por esta organização do ensino, representa

a opção política da Secretaria de Educação do Município do Recife, no

“enfrentamento da considerada clássica questão do fracasso escolar e dos

inadmissíveis índices de evasão e repetência, que persistem, de forma geral,

na escola pública brasileira, e, na rede municipal em particular (...)” (RECIFE,

2003b, p. 171).

Ademais, os ciclos de aprendizagem, apresentam-se como uma

alternativa em romper com a prática de avaliação que adota mecanismos

excludentes e classificatórios. Assim, com esta medida, a proposta da

Secretaria de Educação do Recife é ressignificar esta concepção de avaliação,

passando a delinear a mesma de forma dinâmica, variada e processual,

concebendo-a “enquanto processo de acompanhamento didático-pedagógico

representa, na prática, a possibilidade dialógica de compreensão de como o

aluno aprende e de como poderia aprender” (RECIFE, 2003b, p. 152).

Depreende-se, portanto, que, dentre outros fatores, a instauração dos

ciclos de aprendizagem como organização básica do ensino refletiu,

consideravelmente, na diminuição dos percentuais de reprovação na Rede de

Ensino do Recife, haja vista este perfil de avaliação que preza pela não

reprovação do aluno.

Ademais, para a Rede de Ensino do Recife, os ciclos de aprendizagem

63

(...) representam a expressão de uma proposta de educação escolar que redimensiona as bases conceituais dos processos de ensino e de aprendizagem e que privilegia a construção processual do conhecimento, das práticas e dos aportes metodológicos em relação ao fazer pedagógico e às interações nas relações sociais no âmbito da escola (RECIFE, 2003b, p. 171).

No que concerne especificamente à educação, o município vem pondo

em execução uma política educacional em consonância com os delineamentos

para a gestão municipal como um todo, ou seja, apresentando como

“referências básicas os princípios de democracia, responsabilidade, cidadania,

cooperação e transparência, que buscam viabilizar, no planejamento

descentralizado, ações integradas e no orçamento participativo” (RECIFE,

2004a, p. 32).

Para melhor apreendermos a complexidade e as nuanças dos traçados

da política educacional do município, é importante verificarmos os limites e as

potencialidades oferecidas a partir da estrutura física da Rede de Ensino.

Segundo dados obtidos junto à Diretoria Geral de Ensino da Prefeitura do

Recife, o município possui uma rede física composta por 318 prédios escolares

dos quais, 203 são escolas, 57 são anexos31 e 58 são creches. Esta estrutura

comportou em 2004, o total de 135.346 alunos, distribuídos em modalidades e

níveis de ensino conforme quadro a seguir:

31 Os anexos são prédios alugados, pela Prefeitura, nas comunidades onde as escolas sede não comportam o quantitativo de alunos matriculados.

64

QUADRO 2 – Total de Alunos da Rede Municipal do Recife por Níveis e

Modalidades de Ensino

Creche 4.381 EDUCAÇÃO INFANTIL

Inf. Gr. IV e V 12.910

1º e 2º Ciclos* 75.898 ENSINO FUNDAMENTAL

3º e 4º Ciclos** 25.791

Módulos I a III 13.115 EDUCAÇÃO DE JOVENS

E ADULTOS Módulos IV e V 1.057

EDUCAÇÃO ESPECIAL Especial 645

ENSINO MÉDIO Médio 1.549

Total de

Alunos

da Rede

TOTAL 135.346

* O 1º e 2º ciclos correspondem ao Ensino Fundamental da Alfabetização a 4ª série. ** O 3º e 4º ciclos referem-se ao Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries. Fonte: Secretaria de Educação do Recife/DGE/DAE, 2004.

Além disso, outras ações Secretaria de Educação do Recife como a

instauração do processo de eleição direta para dirigentes escolares e a

retomada do funcionamento efetivo do Conselho Municipal de Educação,

demonstram a intenção em contribuir para a democratização da educação no

município, uma das tônicas da política educacional implementada. Para

compreender o alcance dessa política é relevante atentar para as definições

que constam em um dos principais instrumentos da gestão municipal – os

Planos Plurianuais – como se verá a seguir.

2.2 – A Gestão da Educação nos Planos Plurianuais

Os Planos Plurianuais (PPA’s) – formulados na esfera Federal, Estadual

ou Municipal – constituem um instrumento legal da gestão pública, em

65

observância ao Artigo 165, parágrafo 1º, da Constituição Federal de 1988, que

estabelece a obrigatoriedade da elaboração do referido documento. Por meio

do Plano Plurianual (PPA), cada governo expressa seus compromissos para

com a sociedade, determinando diretrizes, objetivos e metas da administração

pública, por um prazo de quatro anos. Neste, encontram-se os programas,

projetos e ações propostas por determinado governo, envolvendo todas as

suas secretarias, traduzindo aspectos da política adotada, em todos os setores.

O PPA é elaborado para um período de quatro anos, entretanto, sua

vigência estende-se até o final do primeiro ano do governo seguinte. Ou seja,

começa um ano após o início da gestão e termina um ano após a mesma. Além

disso, este Plano pode sofrer revisões ou modificações, quando necessárias,

durante todo o período do governo, por meio de Decreto do Poder Executivo.

A análise dos PPA’s permite identificar quais são as prioridades e os

principais programas que caracterizam uma determinada gestão, como se pode

observar ao se focalizar os referidos Planos, elaborados pelo executivo

municipal. Assim, situamos os PPA’s do Recife referentes às gestões

1997/2000 e 2001/2004, nos quais enfocaremos, especificamente, os

programas desenvolvidos pela Secretaria de Educação.

Como nas outras esferas de governo, nos municípios, os Planos

Plurianuais devem seguir a mesma determinação constitucional. Desse modo,

considerando a dinâmica organizacional da Prefeitura do Recife, verifica-se que

os PPA’s envolvem todas as suas secretarias, apresentando um conjunto de

programas, projetos e ações. Dentre as secretarias envolvidas no processo, a

66

análise se restringiu à Secretaria de Educação, haja vista a especificidade do

nosso trabalho. Nesse sentido, apresentamos uma apreciação dos PPA’s do

referido município, concernentes ao período de 1997 a 200432, no que

concerne às ações voltadas para a educação municipal.

Os PPA’s dos governos de Roberto Magalhães (1997-2000) e João

Paulo (2001-2004) trazem suas diretrizes, objetivos e metas para a

administração pública municipal. O quadro a seguir situa, cronologicamente, os

dois governos e a vigência dos seus respectivos PPA’s e, em seguida, temos

um detalhamento da estrutura e do conteúdo dos mesmos em cada gestão.

QUADRO 3 – Prefeitos do Recife no Período d e 1997 a 2004 e a Vigência dos PPA’s

PREFEITO PERÍODO DA

GESTÃO VIGÊNCIA DO PPA

Roberto Magalhães 1997-2000 1998-2001

João Paulo 2001-2004 2002-2005

Fonte: Planos Plurianuais 1998/2001 e 2002/2005.

O PPA 1998-2001 – RECIFE 2000 (GESTÃO ROBERTO MAGALHÃES)

O PPA referente ao período 1998-2001 encontra-se estruturado em 07

(sete) grandes diretrizes, as quais revelam os temas chaves buscados pela

gestão de Roberto Magalhães, no período de 1997-2000. Tais diretrizes

referem-se a:

32 Em Recife, no período de 1997 a 2004, tivemos duas gestões municipais, sendo estas representadas por diferentes tendências políticas, conforme QUADRO 7 em anexo.

67

1- Gestão Municipal a serviço do cidadão; 2- Modernização da Gestão Municipal; 3- Dinamização e Revitalização Urbana; 4- Revitalização da Economia Urbana; 5- Valorização do Meio Ambiente; 6- Modernização da Educação, priorizando a criança e Fortalecimento da cidade através da Cultura e dos Esportes; 7- Proteção e Promoção das condições de saúde (RECIFE, 1997, p. 2).

Este documento agrega vários projetos propostos para o período em

questão, os quais se encontram relacionados às diretrizes supracitadas,

envolvendo a atuação de várias secretarias do governo municipal. Estas

diretrizes são desdobradas em estratégias que, por sua vez, são

pormenorizadas em ações e projetos. Tais ações e projetos são os

instrumentos utilizados pelo governo para a execução das referidas estratégias.

No Plano Plurianual da Cidade do Recife 1998-2001, a diretriz referente

à “modernização da educação, priorizando a criança, e preservação da cultura

e promoção do esporte”, é desmembrada em quatro estratégias que são:

“melhoria da oferta e da qualidade dos serviços educacionais; atendimento à

infância carente; preservação do patrimônio artístico e cultural; fomentar as

atividades esportivas” (RECIFE, 1997, p. 40 e 42).

A estratégia direcionada para a ”melhoria da oferta e da qualidade dos

serviços educacionais” (RECIFE, 1997, p. 40), é detalhada em cinco ações, a

saber:

Implantação e consolidação de novas tecnologias educacionais; Melhoria da qualidade do ensino; Promoção da fixação do aluno na escola; Modernização, descentralização e integração da sociedade na gestão escolar; Manutenção, melhoria e expansão da rede escolar (RECIFE, 1997, p. 41).

68

Destas ações, a que está voltada para a “modernização,

descentralização e integração da sociedade na gestão escolar” (RECIFE, 1997,

p. 41), tem especial importância para nosso trabalho, pois nela estão

vinculados quatro (04) projetos, sob a responsabilidade da Secretaria de

Educação, entre os quais a execução do Programa FUNDESCOLA. Os

projetos são:

• Implantação e expansão do FUNDESCOLA; • Implantação e consolidação do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério;

• Descentralização e modernização da gestão escolar; • Manutenção e melhoria das escolas comunitárias (RECIFE,

1997, p. 41).

Nossa atenção voltada ao projeto que diz respeito à “implantação e

expansão do FUNDESCOLA” (RECIFE, 1997, p. 41) deve-se ao fato de

encontrar-se inserido neste Programa, o Plano de Desenvolvimento da Escola

(PDE), o qual compreende nosso objeto de estudo, e que será aprofundado

num outro momento deste trabalho.

A seguir, apresentaremos algumas considerações acerca do PPA 2000-

2005, referente ao primeiro governo de João Paulo no município.

O PPA 2000-2005 – RECIFE CIDADE SAUDÁVEL (GESTÃO JOÃO PAULO)

O Plano Plurianual para o quadriênio 2002-2005 concernente ao

governo de João Paulo, explicita os princípios que orientam a ação de governo

69

baseados na “Valorização da ética e busca da transparência; Construção do

sentido de equipe (solidariedade); e Orientação pelo senso de urgência da

população”, propondo, por meio destes, a construção de uma “sociedade

democrática” (RECIFE, 2001a, p. 32).

Este Plano envolve todas as secretarias do Governo, apresentando um

conjunto de programas, projetos e ações que resultaram de

(...) um processo interno de discussões, nas diversas secretarias do Governo, e de consulta à sociedade, através de instâncias do Orçamento Participativo, Conselhos Temáticos e Setoriais, bem como outros fóruns de participação e representação da sociedade recifense (RECIFE, 2001a, p. 1).

O referido documento encontra-se estruturado a partir de seis Opções

Estratégicas, que orientam as prioridades da administração do município, a

saber:

• Gestão pública radicalmente democrática apoiada na mobilização popular;

• Valorização do meio ambiente, dos espaços públicos, da habilidade e da acessibilidade para todos;

• Promoção da cidadania e luta contra a exclusão e as desigualdades;

• Ampliação de oportunidades através da educação; • Defesa da vida na promoção da saúde pública e do

saneamento básico; • Apoio à criatividade e às iniciativas da sociedade para o

desenvolvimento da economia, da cultura, do lazer e dos esportes (RECIFE, 2003a, p. 2).

Cada Opção Estratégica tem seus macro-objetivos definidos, os quais

desdobram-se em “Programas / Projetos Atividades / Ações de Governo”

(RECIFE, 2003, p. 2), considerando como público alvo todo o município.

70

A Opção Estratégica referente à “Ampliação das oportunidades

educacionais através da educação”, é comandada pela Secretaria de

Educação e tem como macro-objetivos:

• Universalizar o acesso à educação fundamental com qualidade;

• Adotar uma proposta pedagógica que contemple a identidade e a diversidade no âmbito de um projeto social articulado às demandas por melhoria da qualidade de vida coletiva;

• Implementar uma gestão democrática, com transparência e controle público da política educacional;

• Valorizar os profissionais da educação (RECIFE, 2003a, p. 4).

Os programas elaborados a partir dos macro-objetivos referidos acima

são compostos por projetos e ações e estão classificados em Integrados e

Específicos33. Os Programas Integrados são aqueles desenvolvidos por meio

de projetos que envolvem mais de uma secretaria, enquanto os Programas

Específicos são desenvolvidos por um único órgão executor.

Os Programas Integrados são constituídos por oito grandes programas:

“Guarda-chuva; Recife, Nossa Casa; Comunidade Saudável; Espaço Público

para Todos; Gestão Democrática; Combate à Violência e Defesa da Cidadania;

Dinamização da Economia e do Acesso ao Mercado de Trabalho” (RECIFE,

2001a, p. 41), envolvendo, obviamente, várias secretarias do governo.

Quanto aos Programas Específicos, estes incorporam projetos e ações

setoriais voltados para a melhoria da vida das pessoas, para a melhoria da

cidade e para a melhoria da qualidade da gestão municipal (RECIFE, 2001b, p.

33 Para ter um visão geral destes Programas, ver QUADRO 8 em anexo.

71

9-15), não exigindo, portanto, ações integradas.

Dentre os Programas Específicos Voltados para a Melhoria da Vida das

Pessoas, destacamos o Programa Educação de Qualidade Social e, dentre os

Programas Específicos Voltados para a Melhoria da Gestão Municipal,

destacamos o Programa Gestão das Políticas Municipais de Educação. Ambos

têm como órgão responsável a Secretaria de Educação. Ademais, vários

projetos/atividades e ações estão previstos para estes programas.

No Programa Educação de Qualidade Social, verifica-se uma

preocupação com a qualidade e a universalização da educação de nível

fundamental, assim como a valorização dos profissionais e a democratização

da gestão, de acordo com o objetivo proposto, o qual visa a

Implementar educação escolar de qualidade social, fundamentada nos valores constitutivos de identidades cidadãs nas sociedades democráticas, assegurando a universalização de ensino fundamental e a expansão da educação infantil, a valorização dos profissionais da educação, a gestão democrática e o desenvolvimento de propostas pedagógicas inspiradas num projeto de inclusão para o conjunto do país (RECIFE, 2003a, p. 44-46).

Este Programa, de responsabilidade da Secretaria de Educação, é

constituído de nove projetos que são desdobrados em diversas ações. Tais

projetos são:

• Expansão de Atendimento Escolar nas Etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental;

• Formação Continuada de Profissionais da Educação; • Desenvolvimento de Programas Suplementares para o

Ensino na Rede Municipal; • Recuperação e Conservação das Unidades Escolares;

72

• Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental; • Manutenção e Desenvolvimento da Educação Infantil; • Manutenção do Ensino Médio; • Promoção do Direito do Aluno Portador de Necessidades

Especiais à Educação Escolar; • Manutenção e Expansão das Unidades Educacionais de

Formação Profissional (RECIFE, 2003a, p. 44-46).

O Programa Educação de Qualidade Social, no que se refere ao nível

fundamental de ensino, apresenta o projeto de Manutenção e Desenvolvimento

do Ensino Fundamental, apontando ações direcionadas a todas as unidades

escolares da Rede Municipal de Ensino, dentre as quais destacamos aquela

que busca “Desenvolver o Programa FUNDESCOLA” (RECIFE, 2003a, p.45),

conforme quadro a seguir:

QUADRO 4 – Programa Educação de Qualidade Social

PROGRAMA

Educação de

Qualidade Social

OPÇÃO

ESTRATÉGICA

Ampliação de oportunidades

através da Educação

OBJETIVO

Implementar educação escolar de qualidade social fundamentada nos valores constitutivos de identidades cidadãs nas sociedades democráticas, assegurando a universalização do ensino fundamental e a expansão da educação infantil, a valorização dos profissionais da educação, a gestão democrática e o desenvolvimento de propostas pedagógicas inspirados num projeto de inclusão para o conjunto do país.

ÓRGÃO Secretaria de Educação

PROJETO/ATIVIDADE AÇÕES

Unidade de Medida

Quant.

Localização

- Expansão do Atendimento Escolar nas Etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental

• Construir e restaurar escolas e creches. • Construir salas de aula. • Adquirir imóveis para instalação de

escolas e creches. • Construir quadras polivalentes. • Construir espaços administrativos. • Fornecer equipamentos e mobiliário

escolar.

Escola/creche Sala Imóvel Quadra Escola Escola

Município Município Município Município Município Município

73

escolar.

- Formação Continuada de Profissionais de Educação

• Desenvolver programa de formação continuada para educadores da rede municipal de ensino.

• Desenvolver programa de formação continuada para educadores e recreadores de creche da rede municipal de ensino.

• Desenvolver programa de formação continuada para servidores administrativos da rede municipal de ensino.

• Distribuir livros, revistas e jornais para assegurar a formação de biblioteca básica para os profissionais da educação.

- Desenvolvimento de Programas Suplementares para o Ensino na Rede Municipal

• Adquirir e elaborar material didático e fardamento para alunos da rede municipal.

• Desenvolver Programa Bolsa-escola para atender famílias.

- Recuperação e Conservação das Unidades Escolares

• Manter e recuperar o parque escolar da rede municipal de ensino.

• Apoiar a implementação do programa arborização nas escolas municipais – Verde Escola.

- Manutenção e Desenvolvimento do Ensino fundamental

• Manter o funcionamento das escolas municipais.

• Oferecer educação básica de qualidade para jovens e adultos.

• Informatizar escolas da rede escolar municipal.

• Realizar Censo Escolar Anual. • Construir e implementar proposta

pedagógica que garanta a inclusão social. • Promover, participar e apoiar eventos

esportivos, culturais e científicos. • Publicar a série Educação e Cidade. • Desenvolver atividades culturais e

esportivas nas escolas. • Efetivar o funcionamento de pólos

educacionais de progressão parcial. • Manter pólos de matrícula permanente e

monitoração de transferência dos alunos da rede municipal.

Educador Educador Recreador

Servidor

Profissional Aluno Família Prédio Escola Aluno Escola Censo Evento Escola Pólo Pólo Escola Escola/creche Creche Creche/Escola

Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município

74

monitoração de transferência dos alunos da rede municipal.

• Desenvolver o Programa FUNDESCOLA. - Manutenção e Desenvolvimento da Educação Infantil

• Manter e acompanhar as unidades de educação infantil.

• Manter e supervisionar as creches conveniadas.

• Prestar assistência técnica e financeira às escolas e creches comunitárias.

• Promover, participar e apoiar eventos esportivos, culturais e científicos.

• Desenvolver atividades culturais e esportivas nas escolas de educação infantil do município.

- Manutenção do Ensino Médio

• Manter as unidades da rede de ensino médio.

• Promover, participar e apoiar eventos esportivos, culturais e científicos.

• Desenvolver atividades culturais e esportivas nas escolas de ensino médio do município.

• Efetivar o funcionamento de pólos de progressão parcial.

- Promoção do Direito do Aluno Portador de Necessidades Especiais à Educação Escolar

• Oferecer cursos de LIBRAS, sistema Braille e prática de manuseio de equipamentos.

• Realizar campanha de mobilização para matrícula e permanência.

• Expandir e qualificar o atendimento ao aluno portador de necessidades especiais.

• Adequar prédios escolares para uso dos alunos portadores de necessidades especiais.

- Manutenção e Expansão das Unidades Educacionais de Formação Profissional

• Ampliar núcleos de informática. • Manter e equipar escolas de formação

profissional. • Promover cursos profissionalizantes nas

comunidades, diversificando a oferta de cursos em função da demanda.

Evento Escola Escola Evento Evento Pólo Aluno Campanha Aluno Imóvel Núcleo Escola Curso

Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município Município

Fonte: Plano Plurianual 2002-2005, Revisão 2004 (RECIFE, 2003a, p. 44-46).

75

O segundo Programa é o de Gestão da Política de Educação Municipal,

o qual tem por objetivo “construir a gestão democrática com transparência e

controle público das políticas municipais de educação” (RECIFE, 2003a, p. 69).

Este programa abrange um número mais reduzido de projetos, a saber:

“Coordenação e Supervisão das Políticas de Educação do Município;

Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Gestão da Educação;

Fortalecimento de Grêmios Estudantis” (RECIFE, 2003, p. 69), os quais são

desmembrados em ações direcionadas a todo o município, conforme o quadro

abaixo:

QUADRO 5 – Programa Gestão das Políticas Municipais de Educação

PROGRAMA

Gestão das

Políticas Municipais de

Educação

OPÇÃO

ESTRATÉGICA

Ampliação de oportunidades

através da Educação

OBJETIVO

Construir a gestão democrática com transparência e controle público das políticas municipais de educação

ÓRGÃO Secretaria de Educação

PROJETO/ATIVIDADE AÇÕES

Unidade de Medida

Quant.

Localização

- Coordenação e Supervisão das Políticas de Educação do Município

• Estabelecer padrões básicos de funcionamento das escolas.

• Estabelecer mecanismos de permanência do aluno na escola.

• Implantar Sistema de Avaliação da Qualidade do projeto educativo da rede municipal.

• Implementar proposta pedagógica que garanta a inclusão social.

• Realizar a Conferência Municipal de Educação.

• Construir comissões regionais de controle público da qualidade de educação.

• Desenvolver projetos intermunicipais de educação escolar.

Escola Sistema/escola Conferência Comissão Projeto

Município Município Município Município Município Município Município

76

- Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Gestão da Educação

• Apoiar o funcionamento dos Conselhos Municipais de gestão da Educação.

• Consolidar os conselhos escolares em funcionamento e promover sua instalação no conjunto das escolas.

- Fortalecimento de Grêmios Estudantis

• Apoiar a criação de organizações estudantis.

Conselho de Gestão Conselho de Gestão Grêmio

Município Município Município

Fonte: Plano Plurianual 2002-2005, Revisão 2004. (RECIFE, 2003, p. 69).

A implementação desses Programas ocorre durante o período

governamental, porém estendendo-se até o primeiro ano da gestão seguinte,

conforme já nos referimos anteriormente.

Vale destacar que o grupo político, liderado pelo Partido dos

Trabalhadores – PT, e que foi conduzido ao poder nas eleições de 2000,

propôs-se a “realizar um governo popular e democrático, com prioridade para

os investimentos sociais” (RECIFE, 2004a, p.32), estando pautado por três

compromissos básicos, os quais são tidos como os “marcos definidores” da

referida gestão, a saber:

• Manter a resistência às políticas neoliberais implementadas no País;

• Ser radicalmente democrático; • Colocar todas as energias e esforços no projeto que visa a

construção de uma cidade fisicamente organizada, economicamente sustentável e socialmente justa (RECIFE, 2001a, p.1-2).

Assim, a partir do governo iniciado em 2001, foi estabelecido um novo

formato de administração que tem preferência pelos mecanismos concretos de

participação popular, a exemplo do Orçamento Participativo (OP), o qual é

entendido como um

77

(...) instrumento democrático de planejamento e gestão, formado por uma estrutura operativa que envolve plenárias constituídas por delegados eleitos pela população para participar das diversas instâncias deliberativas, que definirão, ao lado do Plano Plurianual – PPA, as prioridades de parte dos investimentos a serem realizados nas microrregiões a cada ano (RECIFE, 2004a, p. 32).

Além do Orçamento Participativo, outras instâncias de participação

foram fomentadas pelo governo, visando, inclusive, a elaboração do

planejamento municipal, assim como o acompanhamento das ações

desenvolvidas pelo município. O executivo municipal entendia que esse

processo contribuiria para o fortalecimento da cidadania, à medida que

propiciaria uma efetiva participação da população no tocante às decisões em

áreas como educação, cultura, saúde, meio ambiente, urbanismo e assistência

social.

Na Secretaria de Educação do Recife, estas instâncias também estão

presentes e compõem o “modelo de gestão democrática do sistema municipal

de ensino” visualizado a seguir:

78

Fonte: Secretaria de Educação do Recife.

Dentre estas instâncias, temos os Conselhos Municipais e Setoriais de

Educação, as Comissões Regionais de Educação, o Orçamento Participativo e

os fóruns – a exemplo da COMUDE – mediante os quais se busca assegurar a

participação da população no acompanhamento das políticas e ações

delineadas para a educação no município. Como espaço privilegiado de

definição das políticas setoriais de educação, a COMUDE desempenha

importante papel na gestão municipal, como se demonstra a seguir.

79

2.3 – As Conferências Municipais de Educação: espaço de construção do

Plano Municipal de Educação

No Recife, a Conferência Municipal de Educação – COMUDE – vem

sendo realizada desde a década de 90, especificamente no segundo governo

de Jarbas Vasconcelos (1993/1996)34. A primeira Conferência ocorreu no ano

de 1993, sendo, posteriormente, realizadas mais duas edições nos anos de

1995 e 1996.

Em relação às três primeiras Conferências, não encontramos registros

sobre os temas abordados e os objetivos estabelecidos, assim como a forma

como se deu o processo de realização das mesmas.

Apesar de ser recomendada a sua realização periódica constata-se,

pelos materiais analisados, que a realização da COMUDE, em Recife, foi

interrompida entre os anos de 1997 a 2000, período em que se deu a gestão

do Prefeito Roberto Magalhães.

Tal processo vem a ser retomado na primeira gestão do Prefeito João

Paulo (2001/2004), quando são promovidas a quarta e quinta COMUDE’s, em

maio de 2002, e, em junho de 2004, respectivamente.

A Conferência Municipal de Educação – COMUDE – é considerada,

nessa gestão, como um espaço de formação e avaliação da política municipal

de educação, o qual conta com a presença de vários segmentos da sociedade

civil. Nas COMUDE’s são abordados temas que geram discussões e

contribuições relevantes para a definição das prioridades da gestão municipal.

34 Apesar de fazermos referência ao governo de Jarbas Vasconcelos no município do Recife, este não será enfocado no presente trabalho.

80

Assim, o tema abordado na quarta COMUDE, realizada em 2002,

buscou resgatar a “Construção Coletiva da Educação com Qualidade Social”

(RECIFE, [2004?], p. 01), sendo este o ponto central que gerou e orientou a

discussão. Essas discussões, do ponto de vista da administração, contribuíram

para a redefinição da educação do município, constituindo assim, a retomada

de “(...) um processo mais amplo de debate e reflexão iniciado na atual gestão

(...)” (RECIFE, [2004?], p. 01). As discussões do tema central foram ampliadas

com os subtemas: Gestão Democrática, Investimento e Financiamento da

Educação, Valorização dos Trabalhadores em Educação e Política Pedagógica

do Município.

A quinta COMUDE, efetivada em 2004, privilegiou a temática “Plano

Municipal de Educação: Direito e Inclusão com Qualidade Social” e teve como

objetivo principal “fornecer subsídios para a elaboração do Plano Municipal de

Educação para a cidade do Recife” (RECIFE, [2004?], p. 02). O tema central foi

trabalhado em quatro subtemas, os quais abordaram os seguintes aspectos:

1- Políticas Pedagógicas para Educação Básica; 2- Políticas de Valorização do Trabalhador em Educação; 3- Políticas de Financiamento da Educação Básica; 4- Políticas de Gestão Democrática da Educação (RECIFE, [2004?], p. 02).

As propostas surgidas a partir da quinta COMUDE e que subsidiaram a

definição das diretrizes da política municipal de educação foram consolidadas

pela equipe técnica da Secretaria de Educação e posteriormente submetidas à

aprovação do Conselho Municipal de Educação.

81

A Secretaria de Educação do Recife considera a Conferência Municipal

de Educação como uma

(...) instância de discussão, com representantes de outros Conselhos Setoriais, membros de entidades da sociedade civil, dos poderes legislativo e executivo, professores, servidores e estudantes, às questões relativas ao sistema municipal do ensino e para dali oferecer propostas de diretrizes e políticas (RECIFE, [entre 2001 e 2003?], p. 10).

Para a viabilização e efetivação das Conferências Municipais de

Educação, várias etapas foram necessárias. Primeiramente, foi constituída uma

Comissão Executiva de representatividade bastante abrangente, encarregada

de organizar a realização das Pré-Conferências, nas quais foram debatidas as

temáticas propostas, tendo a presença de representantes das seis RPA’s do

município. Desse processo, resultou uma síntese das contribuições, a qual foi

utilizada pelos delegados durante a 5ª COMUDE.

Conforme o Regimento da 5ª COMUDE, no Capítulo III, Art. 4º,

parágrafo único, “caracterizam-se como membros da 5ª COMUDE todos (as)

os (as) inscritos (as), quer como participantes, quer como delegados (as)”

(RECIFE, 2004b).

Apesar de não ficar explícito, no regimento, como é realizado o processo

de escolha dos participantes e delegados, o mesmo faz uma diferenciação

quanto ao poder de participação de cada segmento nas plenárias, conforme

consta no Capítulo IV, Art. Sétimo: “Na Plenária de Votação do Regimento, nas

Plenárias Temáticas e na Plenária Geral, os (as) inscritos (as) como

82

participantes terão direito a voz, e os (as) delegados (as) terão direito a voz e

voto” (RECIFE, 2004b).

Além da COMUDE, existem outras instâncias de participação da

educação municipal consideradas pela Secretaria de Educação, a saber: os

Conselhos Escolares, as Comissões Regionais de Controle Social da

Qualidade do Ensino e o Conselho Municipal de Educação (RECIFE, [entre

2001 e 2003?], p. 4).

O Conselho Escolar constitui o organismo básico do Sistema Municipal

de Ensino, pois se encontra diretamente em contato com todo alunado, ao qual

está direcionado o Sistema de Ensino. O objetivo do Conselho Escolar visa

“ajustar as diretrizes e metas estabelecidas pelo Sistema Municipal de Ensino à

realidade da escola”, além de participar do “(...) planejamento didático, do

acompanhamento e da avaliação do processo pedagógico-administrativo nos

seus vários aspectos (...)” (RECIFE, [entre 2001 e 2003?], p. 5).

Este órgão deve ser composto por representantes do corpo docente, do

pessoal administrativo, dos pais, dos alunos e da comunidade. Ademais, possui

algumas atribuições específicas que versam sobre a deliberação e a

fiscalização de alguns aspectos da escola, a saber:

• Diretrizes e metas da unidade escolar; • Alternativas para a solução dos problemas relacionados

com a execução do Projeto Pedagógico da Escola; • Projetos de atendimento psicopedagógico e material do

aluno; • Programas especiais visando à integração Escola-

família-comunidade; • Penalidades disciplinares a que estiverem sujeitos os

docentes, servidores administrativos e alunos da escola; • Prioridades para a aplicação dos recursos da Escola;

83

• Proposta do calendário escolar da Rede Municipal; • Relatórios anuais da escola, analisando seu

desempenho em face das diretrizes e metas estabelecidas pelos referidos objetos;

• O Regimento Interno, cuja elaboração seguir-se-á à forma do Conselho e regerá seu funcionamento (RECIFE, [entre 2001 e 2003?], p. 5).

As Comissões Regionais de Controle Social da Qualidade do Ensino,

como mais uma instância de participação da educação municipal, foram

criadas em julho de 2000, pela Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife,

mediante uma Assembléia Geral com todos os Conselhos Escolares, na qual

foram deliberados alguns critérios referentes à composição, eleição e

candidatos. Tais Comissões funcionam como “fóruns colegiados do processo

de avaliação-planejamento-gestão da educação na RPA” sendo formadas por

“representantes dos Conselhos Escolares e das Escolas Comunitárias” que

funcionam na RPA de atuação daquela Comissão (RECIFE, [entre 2001 e

2003?], p. 9). As funções destas Comissões Regionais referem-se a:

1. Interlocução entre os Conselhos Escolares, Comissão de Gestão Democrática/SEC e Orçamento Participativo;

2. Elaboração do perfil da Educação e o plano para cada RPA;

3. Interlocução com os Delegados de Região do Orçamento Participativo e Conselhos Escolares para definição de propostas e serem definidas no Conselho do Orçamento;

4. Participar de ação integrada no controle de evasão escolar, mediando propostas e ações advindas dos Conselhos Escolares e Conselho Tutelar (RECIFE, [entre 2001 e 2003?], p. 10).

Outra instância de participação da educação municipal denominada

Conselho Municipal de Educação, é o instrumento de elaboração das

“diretrizes globais da Educação do Município, em conjunto com outros

84

instrumentos de participação e controle social” (RECIFE, [entre 2001 e 2003?],

p. 10), sendo regido pelos princípios das Constituições Federal e Estadual, pela

Lei Orgânica do Município, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelas

normas da Legislação Municipal. Esta instância é composta por representantes

dos segmentos da sociedade civil que se encontram ligados à educação.

Como pode ser constatado, são várias iniciativas governamentais que

intentam ampliar a participação dos cidadãos na definição dos rumos da

cidade, em especial da educação municipal. Qual é o rebatimento dessas

iniciativas na escola e como, nesse espaço, se amplia a participação dos

segmentos que a constituem nos processos de planejamento, é o que

discutiremos a seguir.

2.4 – O Process o de Planejamento na Rede de Ensino do Recife: o Projeto Político-Pedagóg ico e o Plano de Desenvolvimento da Escola

Para situar com mais propriedade o processo de planejamento que se

efetiva no plano escolar, é necessário ter em conta a dinâmica política do país

na década de 1980. Nesse período, o movimento pela redemocratização do

país resultou em mudanças significativas, no cenário nacional, quanto aos

encaminhamentos das políticas governamentais nas três esferas de governo –

Federal, Estadual e Municipal. Tais mudanças, todavia, foram ocorrendo de

forma lenta, posto que o legado deixado pelo regime autoritário dificultava tal

processo.

Em decorrência deste panorama, o planejamento para a educação em

Recife é influenciado dando-se início a criação de

85

(...) mecanismos de gestão democrática que incorporavam antigas reivindicações dos movimentos populares, concretizadas na instalação de Conselhos Escolares e na elaboração de uma proposta pedagógica voltadas aos interesses do usuário (RECIFE, 2004a, p. 31).

Contudo, é oportuno assinalar que muitas vezes, dada a

descontinuidade das políticas, são interrompidas experiências e processos

importantes voltados para a democratização da gestão. No caso específico do

Recife, isto não foi diferente. Entretanto, estes mecanismos de gestão

democrática já utilizados na década de 1980, foram retomados no início da

década de 1990, por ocasião do segundo mandato do mesmo grupo que

assumira o governo do município35 na década anterior.

Nesse sentido, a consolidação da gestão democrática foi expressa

mediante a “(...) Conferência Municipal de Educação – COMUDE, os

Conselhos Escolares, as Comissões de Educação e a nova proposta de

composição do Conselho Municipal de Educação (...)” (RECIFE, 2004a, p. 31).

Dentre as ações da Prefeitura do Recife voltadas para a educação no

início da década de 90 destacamos, em especial, as que se referem a:

• Estruturação de projeto pedagógico para educação infantil, ensino fundamental e médio;

• Construção coletiva (compartilhada) da proposta pedagógica a ser implementada (RECIFE, 2004a, p. 31).

35 Não aprofundamos essa discussão dos governos municipais neste período por considerarmos sem relevância para nosso estudo.

86

Estas ações indicam que, mesmo antes da promulgação da LDBEN

9.394/96, que estabelece no Inciso I do Artigo 12, que cabe a todos os

estabelecimentos de ensino a elaboração e execução da sua proposta

pedagógica, o planejamento educacional, no Recife, já se encontrava pautado

por tais princípios.

Notadamente, neste período, é dada uma ênfase maior quanto à

elaboração e implementação do Projeto Pedagógico, ou seja, do Projeto

Político-Pedagógico36, na Rede de Ensino do Recife.

Em contrapartida, no final desta década, o programa do governo Federal

– Programa FUNDESCOLA – especialmente com o Projeto do PDE, chega ao

município, sendo iniciada a implementação com o primeiro grupo de escolas37

da Rede de Ensino, no ano de 1999.

Desde então, outros grupos de escolas foram incorporados ao

Programa, com o objetivo de ampliar o universo de unidades de ensino do

município com o PDE em execução.

É importante atentarmos para o fato de que, apesar da existência de

uma cultura de planejamento baseado na construção coletiva do PPP na Rede

de Ensino do Recife desde a década de 1980 e, mais expressivamente, na

década de 1990, dentro de uma visão democrática de condução da gestão

36 Apesar de constatarmos a presença da expressão Projeto Pedagógico como sinônimo de Projeto Político-Pedagógico, optamos por usar o segundo termo, conforme justificamos anteriormente. 37 O primeiro grupo era composto por 11 escolas. Este e os demais constam como anexo no final deste trabalho.

87

escolar, a metodologia trazida pelo PDE é introduzida nas escolas pelo poder

governamental do município.

Conforme já discutimos anteriormente, há diferenças bastante

significativas quanto às metodologias utilizadas por estes projetos – o PDE, de

cunho mais gerencial e estratégico; e o PPP, de pressupostos assentados

numa visão democrática e participativa. No quadro 6, a seguir, identificamos

visões distintas no tocante ao projeto de escola:

QUADRO 6 – Visões Distintas de Projeto de Escola

PDE PPP

Estrutura padronizada; Separação entre quem planeja e quem executa; Organização vertical e hierarquizada do poder; Tomada de decisão dentro de um processo autoritário; Qualidade da educação avaliada por meio do controle de dados e de instrumentos técnicos; A autonomia é decretada.

Estrutura que considera as especificidades da escola e da comunidade circundante; Ação articulada envolvendo todos os segmentos da escola e da comunidade desde a sua elaboração até a execução; Poder horizontalizado permitindo uma participação mais igualitária; Processo democrático de tomada de decisão; Tem como compromisso social a inclusão e a emancipação do aluno como fatores principais de avaliação da aprendizagem; A autonomia é construída.

O processo de inserção do Programa FUNDESCOLA, na Rede de

Ensino do Recife, constituiu uma das ações previstas nos PPA’s 1998-2001 e

2002-2005, conforme evidenciamos no início deste capítulo.

88

2.5 – O Programa FUNDESCOLA na Rede de Ensino do Recife: a

implementação do Plano de Desenvolvimento da Escola

Dentre as ações específicas da Secretaria de Educação do Recife, o

Programa FUNDESCOLA vem sendo executado desde a gestão de Roberto

Magalhães (1997/2000), período em que ocorre a adesão da Prefeitura ao

Programa. O Programa passa, então, a ser executado com a implementação

dos seguintes projetos: Planejamento Estratégico da Secretaria (PES), Projeto

de Adequação dos Prédios Escolares (PAPE), Programa de Gestão da

Aprendizagem Escolar (GESTAR); e o Plano de Desenvolvimento da Escola

(PDE), o qual representa o ponto central do nosso trabalho.

Para que Estados e Municípios realizem a implementação do PDE, por

exemplo, devem atender a alguns critérios determinados pelo próprio

FUNDESCOLA: escolas que tenham acima de 100 alunos no ensino

fundamental, condições materiais mínimas de funcionamento, diretor com perfil

de liderança, possuir Unidade Executora – (Conselho Escolar). A partir do

preenchimento desses requisitos, as unidades escolares selecionadas passam

por um treinamento, no qual são explicitados os passos de elaboração do

Plano que é preparado pelas escolas.

Na Rede Municipal de Ensino do Recife, a concretização desse

programa se deu também através da elaboração e execução do PDE. Este

processo tem início durante a gestão de Roberto Magalhães (1997/2000),

quando é realizada a capacitação de equipes (GS) para um número reduzido

de escolas.

89

Conforme consta no Plano Plurianual da Cidade do Recife 1998-2001,

na diretriz referente à “modernização da educação, priorizando a criança, e

preservação da cultura e promoção do esporte”, uma das suas estratégias

encontra-se direcionada para a “melhoria da oferta e da qualidade dos serviços

educacionais” (RECIFE, 1997, p. 40). Nesta estratégia, dentre várias ações, há

uma voltada para a “modernização, descentralização e integração da

sociedade na gestão escolar”, à qual estão vinculados quatro (04) projetos,

sendo um deles a “implantação e expansão do FUNDESCOLA” (RECIFE,

1997, p. 41), o qual foi executado pela secretaria de educação.

Na gestão seguinte (2001/2004), com o prefeito do Partido dos

Trabalhadores (PT), verificamos a continuidade do processo, assim como a sua

ampliação, o que vai implicar na formulação e implementação do PDE na rede

municipal de ensino.

No primeiro ano dessa gestão (2001), havia 11 escolas em processo de

implementação do plano. Porém, a intenção do governo local era aumentar

esse número para atingir um universo maior de escolas contempladas com o

mesmo. Diante desse posicionamento do governo municipal, o FUNDESCOLA,

seguindo os critérios supracitados para escolha das escolas a serem inseridas

no Programa, determinou que fossem incluídas mais 30 escolas.

Todavia, a Secretaria Municipal de Educação38 exigiu que todas as

unidades escolares fossem convocadas, sendo este número elevado para 40

escolas, ficando as demais para serem incluídas posteriormente e de forma

38 Esta informação foi fornecida por um dos gestores da Secretaria Municipal de Educação do Recife.

90

gradativa. Neste período, foram convocados grupos representantes de todas as

escolas do município (GS) – embora nem todas entrassem de imediato no

processo – para participarem do treinamento oferecido pelo Ministério da

Educação, o qual teve a duração de quatro dias, em horário integral.

O PDE, por ser um projeto vinculado a uma macropolítica, tem seus

reflexos na política educacional local e no desenvolvimento das ações das

Secretarias Estaduais (SEE) e Municipais de Educação (SME).

É oportuno lembrar que esta macro-política tem relação com as ações

das agências internacionais, as quais interferem no delineamento das políticas

educacionais do País e, conseqüentemente, dos Estados e Municípios, que

“deixam de ter como referência apenas as realidades nacionais e locais para

incorporar prioridades de agendas internacionais em suas próprias orientações

para a área de educação”, e que é denominado de “globalização das agendas

educacionais” (VIEIRA, 2000, p. 78).

Nesse sentido, é essencial considerarmos todas as nuanças que são

peculiares a esse processo, visto que terá seus rebatimentos na política da

Rede de Ensino, bem como no interior da escola.

CAPÍTULO 3 – GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO E PROCESSOS DE PLANEJAMENTO

3.1 – As Dimensões da Gestão Democrática na Rede Municipal de Ensino

A gestão democrática da educação tem sido objeto de vários estudos

que demonstram a complexidade dos processos participativos no âmbito da

escola e dos sistemas de ensino, dado o caráter autoritário que ainda impregna

as relações sociais e educativas no país. As tentativas de vivenciar gestões de

caráter democrático e participativo têm encontrado muitos obstáculos, além do

acima mencionado e que engloba desde a falta de ambiente adequado ao

desenvolvimento de práticas participativas na escola, até a influência das

decisões políticas do Governo Federal. Nesse sentido, verificamos que as

representações sobre a gestão democrática por parte dos diversos atores têm

se traduzido de várias formas. Nessa pesquisa, convencionamos, com base

nas referências teóricas adotadas, pelo menos três elementos que

configurariam uma gestão democrática: a participação da comunidade (escolar

e local), a atuação efetiva do Conselho Escolar e a autonomia da escola.

Em relação à participação, as pesquisas têm apontado uma íntima

relação entre esta e a democracia. Entretanto, é importante salientarmos que o

termo participação pode ter várias conotações, podendo apresentar-se na

prática sob múltiplas formas, conforme os contextos em que é concretizada,

assim como os objetivos estabelecidos. Nesse sentido, Paro (1998) ressalta

93

que “a gestão democrática deve implicar necessariamente a participação da

comunidade” (p. 16). Entretanto, este autor alerta sobre a importância dessa

participação em todo o processo, ou seja, tanto nas decisões quanto na

execução, pois, a participação no seu sentido real, não deve se limitar ao

momento da execução apenas, o que demonstraria a ausência da mesma em

todo o processo.

Por outro lado, os textos legais destacam a participação como um dos

preceitos essenciais da gestão democrática, a exemplo da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (9.394/96), quando versa sobre a questão da

participação nos incisos I e II do seu artigo 14, estabelecendo os seguintes

princípios:

a) participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

b) participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Assim, a participação, como componente essencial da gestão

democrática, é concebida como um espaço onde os vários segmentos da

sociedade se fazem presentes e as decisões são tomadas de forma

compartilhada, conforme demonstram os depoimentos que seguem:

“(...) uma gestão participativa, em que o Projeto Pedagógico tenha a

participação do todo, a Proposta Pedagógica da escola tenha a

participação dos grupos representativos, de todos os segmentos, e

94

que haja também, não só no planejamento, mas na execução, haja

um controle social sobre essa execução” (T1).

“Bem, eu entendo como gestão democrática, aquela onde você,

juntamente com todos, está livre para compartilhar tudo aquilo que

venha contribuir para o bom desenvolvimento da escola, não é? E

do aprendizado como um todo” (C3).

“Gestão democrática da educação, (...), em nível geral tem que ser

através de diálogo, trocando idéias. Não pode, uma gestão

democrática, ser direcionada com a vontade, o pensamento de uma

só pessoa” (C4).

Vale salientar que a gestão democrática para alguns dos entrevistados é

visualizada de forma vinculada às eleições. Como já foi visto, em 2002, na

Rede de Ensino do Recife, foi realizada pela primeira vez, a eleição para

dirigentes escolares. Anteriormente, o processo se dava por indicação política

favorecendo a permanência de uma cultura onde as determinações acerca da

gestão escolar emanavam da figura do (a) diretor (a). A instauração de um

processo eleitoral, com a participação da comunidade escolar e extra-escolar,

abriu um espaço mais democrático na dinâmica das relações sociais e

hierárquicas no interior da escola. No entanto, é importante ressaltar que, nas

entrevistas, também fica claro que a eleição em si não é tida como a condição

necessária para tornar a gestão democrática:

95

“Eu acho que a gestão democrática (...) não é a eleição que vai fazer

com que isso aconteça (...). A eleição ela é um processo dentro do

processo de gestão democrática. Ela não é aquela luta maior. Ela

vai culminar, mas ela sozinha, a eleição... A gente sabe que existem

N escolas aí que pela questão de ser eleito [o diretor], ela não

avançou no seu processo gestor. Por quê? Porque não havia uma

concepção ainda do que é eu ser eleita quando antes eu era

indicada. (...) Então, não é só na eleição, não é só no diretor que se

dá o processo de gestão, mas dentro de todas as instâncias,

principalmente, a escola já tendo um exercício de gestão com toda

comunidade participando, opinando; desde os alunos, os pais, os

professores e não somente na hora que às vezes o diretor precisa

homologar uma situação e convoca o conselho (...)” (T2).

Apesar da relevância dada ao aspecto da participação no processo de

democratização da gestão na escola, assim como da educação no município,

os relatos dos entrevistados não apontam para ações concretas que visem a

ampliação dessa participação.

Essa situação pode ser explicada a partir de Dourado (2004), quando

este ressalta que, não obstante a existência de movimentos para uma efetiva

democratização da gestão da educação prevalece ainda no cenário político-

pedagógico, uma concepção acentuadamente centralizadora, na qual os

“processos de participação se restringem à dimensão de uma participação

96

tutelada, restrita e funcional, não possibilitando a efetiva socialização dos

processos de tomada de decisões” (DOURADO, 2004, p. 68).

Além da participação, outro aspecto enfatizado nos depoimentos refere-

se à existência e a atuação do Conselho Escolar. Estudos39 têm evidenciado o

Conselho Escolar como uma instância consultiva, deliberativa e de fiscalização,

sendo fundamental para a efetiva democratização da gestão educacional.

Nesse sentido, pode-se verificar que o Conselho Escolar passou a ser

considerado como o foco principal para a democratização da gestão da

educação na Rede de Ensino do Recife, ocorrendo uma mudança de tônica em

que a visão hierárquica vertical da gestão cede lugar a uma visão horizontal da

mesma, conforme o depoimento que segue:

“Pra gente, agora, o foco é o Conselho Escolar, não é mais aquela

visão hierárquica do diretor. Nós deslocamos o foco da gestão da

direção para o Conselho Escolar. (...) Então, a perspectiva é a

descentralização e a horizontalização do poder via gestão

democrática com foco nos Conselhos, não mais na diretora, não

mais na secretária” (G1).

Situando-se nessa linha de compreensão sobre a importância do

Conselho Escolar no processo democrático da educação, como uma instância

que deve exercer sua função de maneira efetiva, temos o depoimento de um

dos técnicos do GDE, afirmando que: 39 Consultar Cadernos dos Conselhos Escolares. Disponível em <http://www.mec.gov.br/conselhosescolares> Acesso em: 20/06/2005.

97

“(...) a questão da educação, da gestão democrática, ela se passa

(...) por todos os segmentos, desde o processo do Conselho Escolar,

onde você vai ter uma participação de representação paritária dentro

daquele coletivo e que as discussões, toda e qualquer discussão, do

processo de gestão dentro da escola, ele se passe por essa

instância. Que seja dado início nessa instância onde todos os

segmentos da comunidade escolar e da comunidade em geral eles

estão representados” (T2).

Contudo, nem sempre este órgão funciona de forma efetiva conforme

suas funções específicas, como demonstra o relato a seguir:

“(...) a gente sabe, a gente sente na prática, que os Conselhos ainda

não têm uma consciência do seu papel dentro da escola. Você tem

algumas pessoas, alguns elementos isolados que exercem esse

direito, mas o Conselho enquanto tal, a gente sente que a busca por

eles ainda é muito assistemática”. (...) Então, isso não chega a ser

uma gestão democrática. Tem um caráter muito assistemático e até

individual, um negócio assim meio que ainda não faz parte da

política real da escola. Mas, tá se perseguindo isso, tá se buscando

(T1).

Apesar da ênfase acerca da prática fragmentada e descontínua do

Conselho Escolar, na Rede de Ensino do Recife, as entrevistas com os

coordenadores do PDE nas escolas demonstram, na sua maioria,

contraditoriamente, uma outra percepção. Dos entrevistados nas quatro

98

escolas, três apontaram a participação ativa de todos os segmentos e,

conseqüentemente, o bom desempenho do Conselho Escolar, o que pode ser

atestado pelos depoimentos a seguir:

“Bastante ativo, tem uma composição de 30 pessoas, porque nós

temos cinco segmentos e cada segmento com seis representantes.

Trabalhamos com seis associações, além da questão, que entra na

parte de comunidade, a questão dos pais. Tem nossos encontros

que é de forma ordinária, que a gente faz bimestral. Mas a

extraordinária, na hora que você convoca, ou que eles têm

necessidade de convocar (...)” (C4).

“Olha, ele é atuante. (...) é composto de funcionários, de todos os

segmentos, os alunos, e ele funciona. Ele se reúne, dependendo da

necessidade, mensalmente. (...) ele é um Conselho atuante” (C2).

“O nosso conselho Escolar, ele funciona com todos os segmentos.

Nós nos reunimos periodicamente. (...) é, basicamente, (...)

trimestralmente. Nós nos reunimos, isto ordinariamente, porque

extraordinariamente, sempre que se faz necessário, por alguma

razão, o Conselho reúne” (C3).

Entretanto, é importante atentar para a qualidade de atuação de tais

Conselhos, para que estes não se limitem à mera formalidade legal e

burocrática como requisito para que a escola tenha acesso aos recursos

financeiros que lhe são destinados, pois, desta forma, desempenhariam

99

apenas o papel de executores de atividades operacionais ou de colaboração

em eventos pontuais na escola, o que poderia levá-los ao fracasso.

A autonomia foi o terceiro ponto salientado nas entrevistas acerca da

gestão democrática. O termo autonomia40 e a sua utilização na discussão em

torno da escola pública ganham força na década de 80, em especial junto aos

segmentos dos educadores considerados “progressistas”, que lutavam pela

redemocratização do País, assim como por parte do governo, em seus

programas de descentralização na esfera educacional.

Esta reivindicação pela autonomia da escola pública, presente nos

movimentos sociais, estava atrelada ao propósito de romper com o centralismo

e o autoritarismo que imperava nas políticas educacionais.

A palavra autonomia significa “capacidade de se autogovernar”

(HOUAISS, 2001). Todavia, a autonomia, empregada no campo da educação,

implica na capacidade de os sujeitos tomarem decisões e assumir ações; e que

a instituição escolar tenha a faculdade de regular e gerir, também, suas

decisões e ações.

Na literatura, não há um consenso a respeito da concepção de

autonomia da escola pública. Para Silva (1996), por exemplo, a autonomia,

como uma construção coletiva dos sujeitos que compõem a instituição escolar,

necessita ainda do interesse destes em construí-la. Este autor considera que:

A um movimento nacional pela autonomia da escola deve corresponder a existência de um sujeito concreto criador e mantenedor da autonomia da unidade escolar, para que não se

40 Consultar Martins (2002), entre outros autores.

100

caia no erro de doar-se ou impor-se uma escola autônoma a pessoas que não a querem ou não a compreendem (SILVA, 1996, p. 70).

A autonomia considerada como um elemento central de uma política

educacional, que leva em consideração as aspirações dos diferentes sujeitos,

pode ser assim entendida como

(...) a prática política e social engendrada na disposição atitudinal de reconhecimento das diferenças; a capacidade de propor e de tomar decisões coletivas, de intervir afirmativamente para fortalecer práticas de valorização e de emancipação das instituições escolares e dos seres humanos que constituem os sujeitos históricos (SILVA, 2004, p. 108).

Nesse sentido, ressaltamos o caráter coletivo de construção e conquista

da autonomia da escola, ao passo que, muitas vezes, a autonomia é esperada

como uma outorga por parte do poder governamental. Ademais, a escola

pública, por depender financeiramente do poder público e por pertencer a um

sistema educacional (federal, estadual ou municipal), possui vínculos

administrativos e legais que a fazem, de certa forma, ocupar um degrau abaixo

na hierarquia. Portanto, o caráter absoluto da autonomia no âmbito da escola

pública tem algumas limitações, o que nos indica a existência real de uma

autonomia relativa. Os trechos das entrevistas a seguir abordam esta

relatividade da autonomia na gestão democrática, ou seja, a inexistência dessa

autonomia absoluta:

“A gente defende uma gestão democrática na escola onde essa

tenha também uma certa autonomia. Eu não digo uma autonomia

absoluta, eu não defendo uma autonomia absoluta nas suas

101

decisões, mas uma autonomia relativa, onde toda e qualquer

discussão partisse de lá da escola, de acordo com a sua realidade.

Então, ainda hoje a gente não vê essa plenitude do processo de

gestão democrática no país, ela não se deu ainda” (T2).

“Eu acho assim: a gestão democrática não está bem estruturada

mesmo dentro da escola. Diz que tem uma gestão democrática

mesmo com autonomia. Eu creio que, na minha opinião, não há uma

autonomia assim, absolutamente. E às vezes há um mau

entendimento, né? A gestão democrática que se dá, assim,

autonomia à escola pra resolver as coisas, mas não se tem essa

autonomia, o povo ainda não está estruturado nem preparado para

uma gestão democrática mesmo não” (T3).

Percebemos, portanto, certa conscientização das limitações presentes

no processo de gestão democrática da escola e da educação, no que se refere

à questão da autonomia, tendo como ponto de partida a escola com suas

especificidades, assim como o limitado preparo dos que fazem os espaços

escolares para atuar com essa autonomia.

3.2 – As Concepções de Planejamento Educac ional e o Modelo de Gestão

A pesquisa trouxe à tona duas concepções de planejamento

educacional, que denominamos como: a democrática e a estratégica, sendo

esta última, uma derivação do modelo de gestão gerencial. Vale ressaltar que

102

se caracterizou como planejamento na linha democrática, o planejamento que

envolve todos os segmentos não só da escola, mas também a representação

da sociedade local. Na rede de ensino, o planejamento é bem considerado,

conforme relata um dos gestores municipais:

“No nosso entendimento, o planejamento é o principal mecanismo

de participação da população na gestão. Sendo que, na gestão de

João Paulo, a idéia do planejamento ela não se fecha por dentro da

escola. Ela tem uma concepção de cidade, não é concepção de

unidade educacional só. (...) a idéia de planejamento que nós temos

é como um espaço político de participação da população como um

todo. Por isso que o planejamento da rede não se dá só por escola.

Se dá primeiro e, principalmente, no espaço mais aberto de diálogo

que existe nessa gestão que é o Orçamento Participativo, tanto de

adulto como de criança” (G1).

Muito embora, haja essa perspectiva otimista, apenas uma das escolas

apontou nessa mesma ótica indicando a participação como um canal

democrático de se construir o planejamento da escola e da educação,

conforme o depoimento que segue:

“(...) no primeiro momento, a gente traça metas, a nível de coletivo, e

depois a gente tenta interligar com as áreas afins, nos diferentes

níveis do componente curricular. (...) o nosso planejamento é um

planejamento compartilhado. O planejamento educacional, no meu

ponto de vista, ele tem que ser a nível de colegiado, certo? Você não

103

pode planejar nenhuma meta, nenhuma ação sozinha, tem que ser

num colegiado” (C4).

Diante do exposto, verifica-se a pertinência da participação da

comunidade na escola, não apenas no momento da elaboração do projeto

pedagógico, mas em todo o processo de acompanhamento e avaliação. Ou

seja, uma participação que não seja restrita e funcional apenas para servir

como instrumento de controle em suas dependências físicas, mas visando

romper com os muros e limites da escola.

De acordo com Padilha (2005, p. 63):

(...) planejar, em sentido amplo, é um processo que visa dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua superação, de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do presente e as experiências do passado, levando em conta os contextos e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com quem se planeja [grifos do autor].

As demais escolas denotam uma percepção vaga e neutra acerca do

planejamento, conforme os relatos a seguir:

“Eu acho que o planejamento é uma coisa assim, muito importante

que deve ser feito na vida da pessoa. A pessoa organizar os seus

objetivos, suas metas, tudinho e, principalmente, na área de

educação. Também tem que ter isso tudo organizado, né? Na

escola, os objetivos, as metas, o que é que a gente quer alcançar.

Então eu acho que isso é muito importante” (C1).

104

“Seria uma forma de organizar os conteúdos e as atividades,

fazendo com que todo o processo educacional, flua de uma maneira

organizada” (C3).

“O planejamento, ele deve ser feito, né, num conjunto, na realidade

dos nossos alunos. (...) Então você para trabalhar coletivamente,

você tem que analisar o todo e não é fácil. Na medida do possível, a

gente tenta. A gente vai tentando. Um dia vamos conseguir” (C2).

As falas acima parecem se limitar apenas ao aspecto burocrático da

organização dos conteúdos e dos objetivos que desejam alcançar, porém, sem

maior aprofundamento. Ou seja, um posicionamento que não evidencia a

importância da existência de uma coletividade que faz parte do processo; além

da participação da mesma neste último.

Quanto ao posicionamento dos técnicos do GDE acerca da concepção

de planejamento, temos uma abordagem mais de cunho gerencial, ou seja,

temos um enfoque estratégico quanto ao planejamento educacional. Na análise

de Veiga (2001), o planejamento estratégico propõe a “criação de grupos

especializados capazes de construir o projeto da escola, porém, fragilizados

para pensar sobre o trabalho dos outros, no caso dos professores” (p. 51),

conseqüentemente, reforçando a hierarquia escolar quando a principal

preocupação é o diagnóstico. As falas a seguir corroboram esse sentido:

“O planejamento educacional é uma forma, uma maneira, digamos

assim, um instrumento também, que (...) você vai definir sua visão

105

de futuro, o que é que você pretende, seus objetivos e procurar os

meios para, a partir de uma realidade dada, você ter uma coisa que

é, lá na frente, que é o seu futuro, os seus objetivos, e você tem aqui

a sua realidade. Então o planejamento educacional seria a forma de

você organizar, (...), fazer arranjo de todos os fatores, suas variáveis

todas, para que você atinja aquele objetivo” (T1).

“Eu vejo muito mais o planejamento como um instrumento que vai

fazer com que a escola defina, através das suas metas, suas

diretrizes, o que é mais prioritário e o que se pode realizar no

processo educacional da escola, vendo na parte gerencial como a

parte, principalmente a parte pedagógica, que é a prática de sala de

aula. Eu vejo como um instrumento que vai redirecionar, ele tem

condição de definindo as suas metas, as suas diretrizes, as ações

que vão ser realizadas, no final ele ter uma avaliação e replanejar,

caso aquilo não tenha avançado” (T2).

A proximidade dessas concepções com a perspectiva gerencial de

planejamento fica mais evidente a partir do momento em que os técnicos

entrevistados percebem o planejamento como um instrumento mediante o qual

se definem a visão de futuro, os objetivos, as metas deixando implícito um

caráter impessoal às ações; e, não como um processo de participação coletiva

em busca da construção de um projeto de sociedade que preze pela

democracia, ou seja, em busca da construção de um Projeto Político-

106

Pedagógico que esteja, realmente, considerando a realidade educacional e

social.

É evidente, portanto, a defesa do formato de planejamento que norteia o

PDE, ou seja, o planejamento estratégico que tem seus fundamentos teóricos e

filosóficos nas teorias da administração de empresas. Esses fundamentos são,

simplesmente, transferidos à área da educação passando a conduzir o

planejamento educacional.

3.3 – O PDE como Instrumento da Gestão Escolar

A análise das entrevistas revela diferenças no que se refere à

concepção de PDE por parte dos entrevistados, tanto em nível de Secretaria de

Educação, como em nível de unidade escolar. Para alguns, o PDE é um

instrumento primordial para a gestão escolar, uma vez que possibilita algumas

soluções imediatas, como, e principalmente, a compra de equipamentos e

materiais.

A percepção nesta ótica, inclusive sendo enfatizada como vantagem,

ficou mais evidente entre os coordenadores do PDE nas escolas, conforme os

relatos a seguir:

“Olha, o PDE, acho que veio pra ajudar a escola, né? É o plano de

desenvolvimento da escola, que veio não só ajudar. Veio pra ajudar

a escola, não só no suporte financeiro, mas também pedagógico –

apoio pedagógico. (...) E com o PDE não, a gente tem a ação, e tem

107

a condição financeira. E tem outras ações que não precisam de

dinheiro, que a gente realmente já faz na escola (...)” (C1).

“As vantagens que eu vejo, em relação ao PDE, é que ele visa, não

é? Uma organização melhor da escola, da estrutura em cima de

projetos, de objetivos e, acima de tudo, a aquisição de equipamentos

pra facilitar o desempenho dos professores, das as atividades de

uma maneira geral” (C3).

Os depoimentos acima realçam a importância dada ao aspecto

financeiro, ou seja, ao recebimento de recursos pelas escolas, os quais

possibilitam a aquisição de equipamentos e outros recursos materiais a serem

utilizados pelas escolas visando auxiliar o trabalho pedagógico.

Todavia, também foi ressaltado o aspecto relacionado à gestão da

escola, sendo o PDE apontado como um subsídio técnico para a organização

do todo da escola, como demonstram as seguintes declarações:

“Na realidade a concepção que eu tenho de PDE, é que ele é um

programa que visa trazer benefícios para a escola, fazendo com que

a escola se organize como um todo, nas suas atividades e nas suas

propostas, e objetivos pra melhoria do ensino” (C3).

“O PDE, a nível de nossa escola, ele foi mais um, é mais um

subsídio, né, aqui na questão do planejamento geral da escola” (C4).

108

Nota-se, pois, por estas declarações, que o PDE trouxe a condição

necessária à organização administrativa e pedagógica da escola, como se não

existisse, anteriormente, um recurso que almejasse tal propósito, como é o

caso do Projeto Político-Pedagógico.

Contudo, além da valorização do PDE sob esta ótica, o mesmo é

apontado como um instrumento de gestão circunscrito no planejamento

estratégico.

“O PDE é um instrumento de gestão que se situa como um

planejamento estratégico a nível da escola, como um instrumento de

gestão para facilitar, para apoiar o trabalho dentro da escola. Minha

concepção é esta, como um instrumento de gestão basicamente. É

um apoio à gestão na área de planejamento que, inclusive, eu acho

assim, que nesse aspecto ele é pioneiro” (T1).

“Eu vejo o PDE como um instrumento de planejamento estratégico

que vai dar um redirecionamento na estrutura da escola, no nível

pedagógico-administrativo (...)” (T2).

Os trechos acima revelam que a concepção de PDE assumida pelos

técnicos do GDE está condizente com toda a filosofia que envolve o Plano,

desde a sua elaboração até sua execução. É assinalado como uma ação de

caráter inovador na área educacional, visando a um redirecionamento da

gestão escolar.

109

Quanto à compreensão que a gestão municipal tem acerca do PDE,

percebe-se também uma valorização do mesmo quanto às melhorias por ele

proporcionadas, de acordo com o depoimento que segue:

“Porque ele sistematiza e planeja as atividades da escola que tinha,

até então, um forte componente empírico sem muita sistematização.

(...). Uma indicação clara de que o empiricismo era o eixo

epistemológico que fundamentava as iniciativas da escola. Então, o

PDE trouxe a discussão do planejamento, trouxe a discussão

teórica. Não só o PDE. Por si só não. O PDE costurado com o

conjunto das outras iniciativas que a Prefeitura encaminhou (...)”

(G1).

Em relação a este aspecto concernente à sistematização e ao

planejamento das atividades da escola, tanto administrativas quanto

pedagógicas, salientadas pelo depoimento acima, assim como a prática do

registro dos mesmos, também foi apontado pelo coordenador do PDE de uma

das escolas entrevistadas, como evidencia o relato a seguir:

“(...) você no PDE tem que registrar, você tem que fazer e ter o

registro e isso, de certa forma dá uma... Como é que se diz? Não é

uma cobrança, mas assim, uma organização melhor, porque você

tem que estar constantemente pensando, executando e registrando”

(C4).

110

Todavia, esta relevância dada ao PDE como instrumento que

proporciona a prática do registro das atividades, acima apontada pela gestão

municipal, é contradita pelo posicionamento de um membro do Conselho

Municipal de Educação e da Comissão de Gestão Democrática, conforme o

relato a seguir:

“(...) o que existe na maioria é um preenchimento de formulário. (...).

É uma concepção de preenchimento de dados, preenchimento de

informações. Existe uma precariedade mesmo, não só na

compreensão, na concepção, mas na elaboração. (...) Então, você

percebe que não houve uma adequação das diretrizes municipais,

com a realidade escolar, com algumas exceções. Então, há muito

mais uma sobreposição do projeto do PDE, ao Projeto Pedagógico”

(MC1).

Este depoimento evidencia uma mera formalidade burocrática quanto à

elaboração do Plano nas escolas mostrando, ainda, uma supremacia do

mesmo em relação ao Projeto Político-Pedagógico.

Quanto à participação do Conselho Municipal de Educação e da

Comissão de Gestão Democrática – ambas constituindo instâncias de gestão

democrática – quando da implementação do PDE na Rede de Ensino do

Recife, os interlocutores afirmaram não ter ocorrido nenhuma discussão no que

se refere à questão, conforme demonstram os relatos que seguem:

111

“Não. Desde que o Conselho foi reestruturado em 2001, não houve

nenhuma discussão, não foi trazido nenhum elemento do PDE para

o Conselho por parte da gestão. (...) a nível de discussão política, de

diretriz, de implementação, de acompanhamento ou qualquer outra

discussão a respeito do PDE, (...) não foi feita no Conselho” (CM2).

“Não. Infelizmente não” (CM1) [em relação à Comissão de Gestão

Democrática].

Podemos perceber, a partir dessas afirmações, que estas instâncias

poderiam ter uma atuação mais ampla quanto às suas funções dentro da

gestão democrática proposta pelo poder municipal, uma vez que exercesse

uma participação mais efetiva no que se refere às decisões políticas para a

educação do município, tendo em vista suas próprias propostas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na esfera educacional, especialmente no âmbito das redes municipais

de ensino, são formuladas e desenvolvidas políticas de diferentes matrizes

ideológicas, que se expressam em determinados padrões de organização e

gestão das escolas. Um exame mais atento dessas políticas mostra que é

prática comum, no Brasil, após o período de exceção, o anúncio de

compromissos dos dirigentes com a qualidade da educação mediante a

democratização da gestão. É necessário, contudo, ao pesquisador que se

interessa em desvelar a realidade dos sistemas de ensino (ou outros

fenômenos e processos educativos), se apropriar de ferramentas analíticas que

lhe permitam ultrapassar o aparente, e desvelar as múltiplas determinações

das práticas gestionárias que aí se desenvolvem, como meio de contribuir para

o alargamento do conhecimento na área. Daí que, no presente trabalho,

buscamos apoio na produção teórica neste campo para iluminar o esforço

investigativo de compreender determinados aspectos da prática da gestão na

Rede de Ensino do Recife, no período de 1997 a 2004.

Desse modo, buscamos apreender as decisões do governo municipal,

no campo da educação, situando-as na complexidade de um país periférico,

com grandes demandas sócio-educativas que são historicamente atendidas de

113

forma precária e limitada, em que pesem as exigências postas quanto à

qualidade do atendimento escolar na vasta legislação educacional. Com efeito,

desde os idos de 1980, no processo de redemocratização do país, que a

educação escolar é vista, com maior ênfase, como um direito social a ser

perseguido pelos governos e sociedade.

Com a ascensão dos partidos de oposição ao governo militar de então,

instaurou-se certa tradição de incorporar, aos programas governamentais,

princípios atinentes à democratização da gestão. Esses princípios foram

defendidos como requisitos para o estabelecimento de uma democracia plena

no país, pelos grupos e movimentos organizados da sociedade civil. Tal

movimentação influenciou os governos que, por sua vez, incluíram esses

princípios em suas plataformas de governo, o que veio a ocorrer também no

período do governo aqui analisado.

Com a Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional de 1996, esses princípios passaram a ser referências legais para as

administrações no país. Reza a LDBEN (Artigo 3º - VIII) que os sistemas de

ensino implementem a gestão democrática, o que vai se configurar de forma

diferenciada nas diversas administrações.

Uma das formas como a gestão democrática se revela, pode ser

verificada no nível e nos processos de participação da população nas decisões

das questões que lhe dizem respeito, a exemplo da participação nos espaços

escolares, mediante a instauração de órgãos colegiados.

114

É importante considerar que a gestão se reveste de importância

estratégica no âmbito das reformas educacionais processadas na América

Latina e no Brasil, sob a égide dos organismos multilaterais, como Banco

Mundial, BID e outras entidades congêneres. No Brasil, desde o governo de

Fernando Henrique Cardoso (1995/1998 e 1999/2002), que implementou uma

reforma do Estado, de corte gerencial, que a gestão se tornou um item

estratégico nas mudanças empreendidas na educação básica. Destaca-se,

nesse sentido, o Programa FUNDESCOLA, com financiamento inclusive do

Banco Mundial, que abrange um conjunto de projetos que são materializados

em nível de sistemas e de escolas. Um desses projetos – o Plano de

Desenvolvimento da Escola – PDE – traduz bem a importância atribuída aos

processos de gestão.

O PDE enfatiza a escola tendo como foco o aluno, ou seja, visa o

aperfeiçoamento da gestão da escola pública e a melhoria da qualidade do

ensino através da sua elaboração e implementação.

A metodologia do PDE encontra-se pautada no planejamento

estratégico, o qual se fundamenta nos conceitos e nas teorias da administração

de empresas, importando alguns princípios, tais como produtividade, eficácia e

eficiência, para as teorias e práticas pedagógicas.

Com este tipo de planejamento, o FUNDESCOLA pretende promover o

fortalecimento da escola, a partir dos convênios firmados com a adesão dos

estados e municípios ao referido Programa.

115

O Programa FUNDESCOLA se estrutura a partir de uma visão de gestão

pautada nos conceitos de eqüidade, efetividade e complementaridade, que são

recorrentes nos diversos projetos. Corresponde, assim, a uma matriz conceitual

assentada numa lógica instrumental de planejamento e de gestão. Contrapõe-

se, portanto, a uma visão de gestão que considera relevante a participação dos

atores envolvidos e que visa contribuir para a emancipação humana, mediante

a construção coletiva de um Projeto Político-Pedagógico.

No âmbito dos sistemas de ensino, o movimento pela democratização da

educação contribuiu para que, em meados dos anos 1980 e década de 1990,

as instâncias administrativas estimulassem e orientassem as escolas para

adotarem a idéia do Projeto Político-Pedagógico, como formato privilegiado de

planejamento e de gestão. Nessa perspectiva, o Projeto Político-Pedagógico

revela um caráter democrático e participativo, em que se acentuam o primado

da coletividade e a horizontalização do poder em todo o processo.

Todavia, a primazia do Projeto Político-Pedagógico, como instrumento

privilegiado de planejamento e gestão, de viés democrático e participativo,

sofre uma inflexão com as novas orientações advindas do governo Federal no

tocante à gestão pública do setor educação. Sinalizava, o governo Federal,

para os estados e municípios com o Programa FUNDESCOLA, que passaria a

exercer um papel relevante nas respectivas administrações, em especial com o

Plano de Desenvolvimento da Escola - PDE.

O PDE caracteriza-se como um processo de planejamento estratégico

com enfoques e princípios diferenciados de participação, se comparado com os

116

princípios defendidos pelo Projeto Político-Pedagógico, cuja ênfase se situa na

idéia da democracia em todo o processo, e não apenas na execução das

ações. Isto é, enquanto o PPP prioriza os processos coletivos de participação

efetiva na gestão, o PDE vai valorizar a racionalidade do processo.

Aos poucos, o PDE foi sendo assimilado pelas estruturas municipais e

estaduais de educação, nos estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-

Oeste, onde se desenvolve o FUNDESCOLA. A mudança do caráter de

planejamento nas redes de ensino tem chamado a atenção de diversos

pesquisadores que se debruçam sobre esta temática. Dada a singularidade

desse processo, são incentivados estudos e pesquisas que dêem conta das

especificidades locais considerando as orientações mais globais. Nesse

contexto encontra-se inserida nossa preocupação de examinar como, numa

dada realidade, são conjugados tais processos de planejamento. Assim,

procuramos analisar a situação da gestão e do planejamento da educação na

Rede de Ensino do município do Recife.

Assim, pois, neste estudo, com base nas categorias analíticas gestão

democrática da educação e planejamento, tivemos por objetivo analisar o

processo de implementação do Plano de Desenvolvimento da Escola – que é

um dos projetos que compõem o Programa FUNDESCOLA/MEC – na Rede de

Ensino do Recife, Pernambuco, no período de 1997 a 2004.

Considerando que o atual governo do município investigado, que se

declara democrático-popular, e possui uma proposta educacional pautada

numa visão emancipadora da educação escolar, investigamos como o PDE,

117

que se encontra inserido numa lógica economicista-instrumental, foi

incorporado na prática desta gestão, buscando apreender as mudanças e

adaptações que sofrem os processos de planejamento não apenas no âmbito

das escolas, mas também em nível de Secretaria de Educação.

Verificamos que no município investigado, antecedendo a chegada do

modelo de planejamento e gestão da educação, pautados no planejamento

estratégico proporcionado pelo PDE, havia um outro formato sendo posto em

prática. Isto é, o planejamento da educação e, principalmente, a gestão da

educação, inclusive a gestão no interior da escola, eram orientados por

princípios democráticos e participativos que se concretizavam através da

elaboração e execução do Projeto Político-Pedagógico.

Todavia, conforme demonstramos no decorrer deste trabalho, a inserção

do PDE na Rede de Ensino do Recife, com a proposta de melhoria da

qualidade do ensino e o fortalecimento da escola, proporcionados pela adoção

do planejamento estratégico, trouxe modificações consideráveis no que se

refere aos encaminhamentos acerca da gestão educacional no município,

passando a coexistir dois formatos distintos de planejamento e organização da

gestão escolar – o PDE e o PPP.

Apoiados em análises acerca da questão educacional no Brasil,

buscamos recortar nosso objeto de estudo dando destaque ao movimento da

reforma da educação básica, à gestão da educação e ao planejamento

educacional.

118

Inicialmente, efetivamos uma reflexão sobre a reforma do estado

brasileiro, implementada na década de 90, especialmente para a política

educacional, buscando apreender, a partir das leituras afins, os seus

desdobramentos para tais políticas em nível de governo local.

Nesse sentido, buscamos identificar, nas discussões acerca da reforma

do estado e da gestão gerencial, alguns elementos que pudessem nos auxiliar

na compreensão das nuances presentes no estabelecimento de políticas, por

parte do governo federal, direcionados aos governos locais, conforme vem

ocorrendo nas últimas décadas, como é o caso do PDE/FUNDESCOLA.

Os achados da pesquisa revelaram que, apesar da valorização de

instâncias de gestão democrática no âmbito da Rede de Ensino do Recife,

conforme discussão travada no capítulo 3 deste trabalho, há a coexistência de

duas práticas distintas de planejamento e gestão, as quais são materializadas

através do PDE e do PPP. É possível inferir, também, que este fato

desencadeia relações conflituosas na esfera educacional.

Ademais, os depoimentos expressaram uma receptividade positiva em

relação ao PDE enquanto instrumento utilizado. Por outro lado, os

interlocutores fazem muita alusão ao PPP considerando-o como uma

referência. Ou seja, estes sujeitos tomam o PDE como se o mesmo se

resumisse a um instrumento técnico que viabiliza o recebimento de recursos

financeiros por parte da escola.

É de suma importância ressaltar, no entanto, que os dados evidenciaram

que não há uma unanimidade de opiniões entre os entrevistados no que se

119

refere à gestão democrática e ao planejamento educacional. Os atores

envolvidos neste processo, na sua maioria, concebem a gestão democrática da

educação como aquela em que há espaço para a participação e para a

discussão e decisões de forma colegiada. Entretanto, outros admitem que, na

prática, mesmo com a existência dos espaços de discussão, a participação da

população ocorre de forma precária.

Os resultados da pesquisa revelam, ainda, que o planejamento baseado

na metodologia do planejamento estratégico, referente ao PDE, recebe maior

destaque por parte da gestão local, fato que o tornou hegemônico, contrariando

os princípios democráticos e participativos aludidos pelo PPP.

Em suma, constata-se que, no município investigado, a gestão

educacional e escolar passou a ser gerida seguindo os padrões da qualidade

gerencial determinada por órgãos internacionais, em detrimento de uma gestão

que tem como foco a formação humana.

A temática abordada não se esgota nesta pesquisa sendo importante,

pois, a realização de outros estudos, dada a vastidão de assuntos que podem

ser abordados de forma a contribuir para a elaboração do conhecimento no

âmbito educacional, especialmente, das políticas educacionais.

Contudo, mesmo considerando o histórico recente de valorização e

efetivação de instâncias de gestão democrática na Rede de Ensino do Recife,

por parte da gestão municipal, apresentamos algumas proposições que

julgamos pertinentes:

120

• É de fundamental importância uma retomada do Projeto Político-

Pedagógico na Rede de Ensino do Recife, para que se tenha um

cenário mais propício à consolidação da democratização da

gestão da educação e da escola pública;

• Efetivar um processo contínuo e sistemático de incentivo e apoio

técnico à retomada do PPP, visto que o mesmo possibilita lidar,

no âmbito educacional, com os conflitos inerentes a nossa

sociedade;

• O estabelecimento de instâncias democráticas de gestão, por si

só, não é suficiente para que se estabeleça uma cultura de

democracia voltada à gestão da educação. Faz-se necessário,

portanto, que sejam efetivadas discussões em torno das

concepções advindas da temática para que, dessa forma, sejam

estabelecidas ações condizentes com as mudanças pretendidas;

• A adoção de planos e projetos educacionais que viabilizam o

recebimento de recursos financeiros devem ser mais bem

adaptados à realidade local, buscando manter a preponderância

da proposta emancipadora da educação escolar;

• Os Conselhos Escolares devem ser avaliados quanto ao seu

efetivo funcionamento, haja vista se constituírem uma instância

decisiva para a democratização da gestão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, Márcia Ângela da S. Supervisão Escolar e Política Educac ional. São Paulo: Cortez, 1991. ______. Gestão da Educação e a Formação do Profissional de educação no Brasil. In: AGUIAR, Márcia Ângela da S; FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Orgs.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. AZEVEDO, Janete M. Lins de. A Educação como Política Pública. 2. ed. ampl. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo: v. 56). ______. Implicações da nova lógica de ação do Estado para a educação municipal. In: Educação e Sociedade. [on line]. Campinas, v. 23, n. 80, p. 49-71, Setembro, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 01 fev. 2004. BORDIGNON, Genuíno; GRACINDO, Regina Vinhaes. Gestão da Educação: o município e a escola. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Orgs.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma do Estado Para a Cidadania: a reforma gerencial brasileira na perspectiva internacional. São Paulo: Editora 34, 1998. CALAZANS, Maria Julieta Costa. Planejamento da Educação no Brasil – novas estratégias em busca de novas concepções. In: KUENZER, Acácia Zeneida; CALAZANS, Maria Julieta Costa; GARCIA, Walter. Planejamento e Educação no Brasil . São Paulo: Cortez, 1990. DE TOMMASI, Lívia et al. O Banco Mundial e as Políticas Educac ionais. São Paulo: Cortez, 2003. DOURADO, Luiz Fernandes. Reforma do Estado e as Políticas para a

122

Educação Superior no Brasil nos anos 90. In: Educação e Sociedade. [on line]. Campinas, v. 23, n. 80, p. 234-252, set. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br > Acesso em: 07 jan. 2005. ______. Gestão Democrática da Escola: movimentos, tensões e desafios. In: SILVA, Aída Monteiro; AGUIAR, Márcia Ângela da Silva (Orgs.). Retrato da Escola no Brasil . Brasília: CNTE, 2004. FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Orgs.). Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. PDE: Evidências do Município de Dourados. In: FONSECA, Marília; TOSCHI, Mirza Seabra; OLIVEIRA, João Ferreira de (Orgs.). Escolas Gerenciadas: planos de desenvolvimento e projetos político-pedagógicos em debate. Goiânia: UCG, 2004. GARCIA, Walter E. Planejamento e educação no Brasil. In: KUENZER, Acácia Zeneida; CALAZANS, Maria Julieta Costa; GARCIA, Walter. Planejamento e Educação no Brasil . São Paulo: Cortez, 1990. GENTILI, Pablo (Org.). Pedagog ia da Exc lusão: crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. GRACINDO, Regina Vinhaes. Projeto Político-Pedagógico: retrato da escola em movimento. In: SILVA, Aída Monteiro; AGUIAR, Márcia Ângela da Silva (Orgs.). Retrato da Escola no Brasil . Brasília: CNTE, 2004. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. JACOBI, Pedro. Políticas Sociais e Ampliação da Cidadania. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodo log ia Científica. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1991. MARTINS, Ângela Maria. Autonomia da Escola: a (ex) tensão do tema nas políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2002. MELO, Marcus André. Reforma do Estado e Mudança Institucional no Brasil . Recife: Massangana, 1999. MINAYO, Maria C. de Souza. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 7. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997. ______. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: ABRASCO, 2000.

123

OLIVEIRA, Dalila Andrade. Educação e Planejamento: a escola como núcleo da gestão. In: ______. Gestão Democrática da Educação: desafios contemporâneos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento Dialóg ico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. São Paulo: Ática, 1998. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Variações Sobre a Técnica de Gravador no Registro da Informação Viva. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991. RECIFE. Prefeitura. Secretaria de Educação. Diretoria Geral de Ensino. Tempos de Aprendizagem, Identidade Cidadã e Organização da Educação Escolar em Ciclos. Recife: Universitária da UFPE, 2003b. ______. Recife e sua Realidade Educac ional: subsídios para elaboração do Plano Municipal de Educação. Recife: [s.n.], 2004a. SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Orgs.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. SANDER, Benno. Gestão da Educação na América Latina: construção e reconstrução do conhecimento. São Paulo: Autores Associados, 1995. SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). A Globalização e as Ciências Sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. SANTOS, Joana D’arc dos. Plano de Desenvolvimento da Escola: um estudo sobre o processo de implementação e seus impactos para a gestão escolar e a qualidade do ensino. 2003. Dissertação (Mestrado) – UFPE, Programa de Pós-Graduação em Educação, Recife, 2003. SGUISSARDI, Valdemar (Org.). Educação Superior: velhos e novos desafios. São Paulo: Xamã, 2000. SILVA, Jair Militão da. A Autonomia da Escola Pública. Campinas: Papirus, 1996. SILVA, Maria Abadia da. Autonomia Escolar Ressignificada pelo Banco Mundial e sua Materialização no PDE. In: FONSECA, Marília; TOSCHI, Mirza Seabra; OLIVEIRA, João Ferreira de (Orgs.). Escolas gerenciadas: planos de desenvolvimento e projetos político-pedagógicos em debate. Goiânia: UCG, 2004. SILVA JÚNIOR, João dos Reis. Reforma do Estado e da Educação no Brasil de FHC. São Paulo: Xamã, 2002.

124

TEIXEIRA, Francisco José Soares. O neoliberalismo em debate. In: OLIVEIRA, Manfredo A. de (Org.). Neoliberalismo e Reestruturação Produtiva: as novas determinações do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1996. TRIVIÑOS, Augusto N. Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto Político-Pedagóg ico da Escola: uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 1995. ______. Projeto Político-Pedagógico: novas trilhas para a escola. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro;FONSECA, Marília (Orgs.). As dimensões do Projeto Político-Pedagóg ico: novos desafios para a escola. Campinas, SP: Papirus, 2001. ______; FONSECA, Marília (Orgs.). As dimensões do Projeto Político-Pedagógico: novos desafios para a escola. Campinas, SP: Papirus, 2001. VIEIRA, Sofia Lerche. Política Educac ional em tempos de Transição (1985-1995). Brasília: Plano, 2000.

DOCUMENTOS ANALISADOS

AMARAL SOBRINHO, José. O Plano de Desenvolvimento da Escola e a Gestão Escolar no Brasil : situação atual e perspectivas. Brasília: FUNDESCOLA/MEC, Série Documentos, n. 2, 2001. BRASIL. Lei Federal nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União de 23 de dezembro de 1996. ______. MEC, Banco Mundial. FUNDESCOLA – Boletim Técnico. nº 26, ano IV, Brasília, DF, 1999. ______. MEC, Banco Mundial. FUNDESCOLA – Boletim Técnico. nº 56, ano VII, Brasília, DF, 2002. MARRA, Fátima; BOF, Alvana; AMARAL SOBRINHO, José. Plano de Desenvolvimento da Escola: conceito, estrutura e prática. Brasília: FUNDESCOLA – MEC/BIRD, Série Documentos, n. 1, 1999. RECIFE. Plano Plurianual 1998-2001. Recife: [s.n.], 1997. ______. Plano Plurianual 2002-2005: RECIFE Cidade Saudável. vol. 1. Recife: [s.n.], 2001a. ______. Plano Plurianual 2002-2005: RECIFE Cidade Saudável. vol. 2. Recife: [s.n.], 2001b. ______. Prefeitura. Secretaria de Educação. Propo sta Pedagóg ica da Rede Municipal de Ensino do Recife: Construindo Competências. Recife: [s.n.], 2002. ______. Plano Plurianual 2002-2005: RECIFE Cidade Saudável. Revisão 2004, Lei n. 16.882/03. Recife: [s.n.], 2003a.

126

______. Secretaria de Educação. Regimento da V Conferência Municipal de Educação. Recife: [s.n.], 2004b. ______. Secretaria de Educação. Conferência Municipal de Educação – COMUDE: Instância de Participação da Gestão Democrática. Recife: [s.n.], [2004?]. XAVIER, Antônio Carlos da Ressurreição; AMARAL SOBRINHO, José. Como Elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola. Brasília, 1999.

A N E X O S

128

ANEXO 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Secretária de Educação)

Gestão Democrática da Educação:

• Qual o entendimento de gestão democrática da educação?

• Qual a avaliação dos resultados do PDE em relação aos objetivos da

gestão?

• Os resultados que o PDE vem apresentando estão sendo satisfatórios

para a gestão e mais especificamente para a unidade escolar?

• Houve melhoria da gestão da escola melhoria na qualidade do ensino?

• Tem havido sobreposição na implementação do PDE em relação ao

Projeto Político Pedagógico?

Planejamento Educac ional:

• Para a gestão, qual a concepção de planejamento e, mais

especificamente, de planejamento educacional?

• Como a Secretaria de Educação vem se relacionando com as diretrizes

e os princípios adotados pelo PDE, considerando o processo de

elaboração de uma proposta pedagógica própria e os valores adotados

pela gestão.

• Como está o processo de elaboração do PME do Recife? Qual o papel

da COMUDE nesse processo?

129

• Qual a relação dos projetos do FUNDESCOLA com possíveis metas do

PME?

• Em que medida a eleição direta para diretores de escola influenciou no

andamento do PDE e/ou do planejamento geral da escola?

• Qual a concepção adotada pela Rede de Ensino do Recife sobre o

PDE?

• Quais as vantagens e desvantagens desse Plano?

• Há diferenças na implementação do PDE na rede municipal de ensino

em comparação à gestão anterior? Quais?

• Há diferenciação entre Projeto Político Pedagógico e o PDE? Qual a

relação entre eles?

• Que avaliação a gestão municipal faz sobre a natureza do financiamento

do FUNDESCOLA/PDE?

• Qual a sua percepção sobre a natureza do financiamento dos projetos e

programas do FUNDESCOLA?

130

ANEXO 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Coordenador do PDE nas escolas que recebem recursos do FUNDESCOLA

sistematicamente)

Gestão Democrática da Educação:

• Qual seu entendimento de gestão democrática da educação?

• Como se deu o processo de elaboração do PDE na escola em termos de

participação da comunidade escolar? (interna e externa)

• Qual o nível de envolvimento/participação dos professores na

elaboração do Plano?

• Os resultados do PDE têm apresentado melhoria para a gestão da

escola?

• Em que medida a eleição direta para diretores de escola influenciou no

andamento do PDE e/ou do planejamento geral da escola?

• Como você vê o processo de incorporação/condução da Rede de Ensino

do Recife em relação às diretrizes de implementação do PDE?

• Como funciona o Conselho Escolar desta unidade educacional? Há uma

participação efetiva por parte dos seus integrantes?

• Tem havido sobreposição da implementação do PDE em relação ao

Projeto Político Pedagógico?

131

Planejamento Educacional:

• Qual a sua concepção de planejamento educacional?

• Qual sua concepção sobre o PDE?

• Quais as vantagens e desvantagens desse Plano?

• Qual a avaliação da utilização do PDE e dos seus resultados,

considerando os objetivos da gestão municipal?

• Há diferenciação entre Projeto Político Pedagógico e o PDE? Qual a

relação entre eles?

• Que avaliação você faz sobre a natureza do financiamento dos projetos

e programas do FUNDESCOLA?

• Como é feito o acompanhamento, aqui na escola, por parte dos técnicos

do GDE, na elaboração e execução do PDE?

132

ANEXO 3

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Coordenador do PDE de uma escola que foi capacitada com a metodologia do

Plano, elaborou, porém, recebeu recursos do FUNDESCOLA apenas no

primeiro ano)

Gestão Democrática da Educação:

• Qual seu entendimento de gestão democrática da educação?

• Como se deu o processo de elaboração do PDE na escola em termos de

participação da comunidade escolar? (interna e externa)

• Qual o nível de envolvimento/participação dos professores na

elaboração do Plano?

• Os resultados do PDE têm apresentado melhoria para a gestão da

escola?

• Em que medida a eleição direta para diretores de escola influenciou no

andamento do PDE e/ou do planejamento geral da escola?

• Como você vê o processo de incorporação/condução da Rede de Ensino

do Recife em relação às diretrizes de implementação do PDE?

• Como funciona o Conselho Escolar desta unidade educacional? Há uma

participação efetiva por parte dos seus integrantes?

• Tem havido sobreposição da implementação do PDE em relação ao

Projeto Político Pedagógico?

133

Planejamento Educacional:

• Qual a sua concepção de planejamento educacional?

• Qual sua concepção sobre o PDE?

• Quais as vantagens e desvantagens desse Plano?

• Qual a avaliação da utilização do PDE e dos seus resultados,

considerando os objetivos da gestão municipal?

• Há diferenciação entre Projeto Político Pedagógico e o PDE? Qual a

relação entre eles?

• Que avaliação você faz sobre a natureza do financiamento dos projetos

e programas do FUNDESCOLA?

• Mesmo não fazendo parte do Programa FUNDESCOLA, como é feito o

acompanhamento, aqui na escola, por parte dos técnicos do GDE, na

elaboração e execução do PDE?

• Porque a escola optou por elaborar o PDE, sabendo que não entraria

na lista daquelas que receberiam recursos do FUNDESCOLA?

• Já que a escola não recebe recursos do FUNDESCOLA, como são

operacionalizadas as ações previstas no PDE? Quais ações são

desenvolvidas e com que recursos?

134

ANEXO 4

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Técnicos do GDE)

Gestão Democrática da Educação:

• Qual seu entendimento de gestão democrática da educação?

• Os resultados do PDE têm apresentado melhoria para a gestão da

escola?

• Há diferenciação entre Projeto Político Pedagógico e o PDE? Qual a

relação entre eles?

• Como você vê o processo de incorporação/condução da Rede de Ensino

do Recife em relação às diretrizes de implementação do PDE?

• Tem havido sobreposição da implementação do PDE em relação ao

Projeto Político Pedagógico?

Planejamento Educac ional:

• Qual a sua concepção de planejamento educacional?

• Qual sua concepção sobre o PDE?

• Quais as vantagens e desvantagens desse Plano?

• Qual a avaliação da utilização do PDE e dos seus resultados,

considerando os objetivos da gestão municipal?

• Que avaliação você faz sobre a natureza do financiamento dos projetos

e programas do FUNDESCOLA?

135

• Como é feito o acompanhamento e o monitoramento do PDE nas

escolas?

• Qual seu entendimento sobre essa forma de acompanhamento e

monitoramento?

• Qual a sua percepção sobre a natureza do financiamento dos projetos e

programas do FUNDESCOLA?

• Qual o tipo de orientação que você recebe do FUNDESCOLA em

relação ao PDE?

• Em qual setor da Secretaria de Educação está localizada a equipe

responsável pelo PDE?

• Quantas escolas da rede de ensino implementam o PDE?

• Como se deu todo o processo, desde o início, de implementação do

PDE na Rede de Ensino do Recife, em relação às negociações entre

FUNDESCOLA e Prefeitura?

136

ANEXO 5

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Técnico do GDE que vivenciou o processo de transição do governo municipal)

Gestão Democrática da Educação:

• Qual seu entendimento de gestão democrática da educação?

• Os resultados do PDE têm apresentado melhoria para a gestão da

escola?

• Há diferenciação entre Projeto Político Pedagógico e o PDE? Qual a

relação entre eles?

• Como você vê o processo de incorporação/condução da Rede de Ensino

do Recife em relação às diretrizes de implementação do PDE?

• Havia sobreposição da implementação do PDE em relação ao Projeto

Político Pedagógico?

Planejamento Educac ional:

• Qual a sua concepção de planejamento educacional?

• Qual sua concepção sobre o PDE?

• Quais as vantagens e desvantagens desse Plano?

• Qual a avaliação da utilização do PDE e dos seus resultados,

considerando os objetivos da gestão municipal?

• Que avaliação você faz sobre a natureza do financiamento dos projetos

e programas do FUNDESCOLA?

137

• Como era feito o acompanhamento e o monitoramento do PDE nas

escolas?

• Qual seu entendimento sobre essa forma de acompanhamento e

monitoramento?

• Qual o tipo de orientação que você recebia do FUNDESCOLA em

relação ao PDE?

• Como foi o processo de transição de governo municipal (Roberto

Magalhães – João Paulo) em relação à implementação do PDE na Rede

de Ensino do Recife?

• Como se deu todo o processo, desde o início, em relação às

negociações entre FUNDESCOLA e Prefeitura?

138

ANEXO 6

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Conselheira do CME do Recife e integrante da Comissão de Gestão

Democrática da Prefeitura do Recife)

Gestão Democrática da Educação:

• Quando foi criada a comissão de gestão democrática?

• Você poderia caracterizar essa comissão, no que se refere às suas

atribuições?

• Quais as principais ações/projetos desenvolvidos por esse grupo?

• Qual a relação dessa comissão de gestão com os gestores da

Secretaria de Educação do Município?

• Você considera que tem havido sobreposição da implementação do PDE

em relação ao Projeto Político Pedagógico?

Planejamento Educac ional:

• Qual é a dinâmica de trabalho dessa comissão?

• De que modo esta comissão participou do planejamento da última

COMUDE?

• O que foi feito das propostas que emergiram a partir da COMUDE?

• Coube a comissão de gestão dar alguma orientação às escolas quanto à

implementação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE)?

139

• Qual a relação entre a comissão de gestão e o Conselho Municipal de

Educação? Quais as funções de cada um?

• Em que medida o Conselho Municipal de Educação se envolveu no

planejamento e realização da quinta COMUDE e como se deu esse

planejamento?

140

ANEXO 7

ROTEIRO DE ENTREVISTA

(Conselheiro do CME do Recife)

Gestão Democrática da Educação:

• Desde quando participa do CME e qual segmento você representa no

CME?

• Quais as atribuições do Conselho Municipal de Educação?

• Como se efetiva a participação do CME nas Conferências Municipais de

Educação?

Planejamento Educac ional:

• Como se deu a participação do CME no processo de planejamento da

Secretaria de Educação que resultaria do Plano Municipal de Educação?

• O CME recebeu alguma síntese ou relatório da última COMUDE?

• O CME faz o acompanhamento da elaboração do Plano Municipal de

Educação? De que modo? Quais instrumentos são utilizados?

• O CME aprovou o Plano Municipal de Educação da gestão anterior?

• O CME foi ouvido quando da implantação do PDE na Rede de Ensino do

Recife?

141

ANEXO 8

Tabela 2 – Percentuais de financiamento do F UNDESCOLA e dos Estados/Municípios conforme ano de implementação do Programa.

Modalidade Financiamento

Fundescola %

Financiamento

Estado/Município %

Ano de

financiamento

Implantação 100 0 1º

Expansão 70 30 1º

Consolidação 1 50 50 2º

Consolidação 2 30 70 3º

Fonte: AMARAL SOBRINHO (2001, p. 22).

142

ANEXO 9

Tabela 3 – Índice de Evasão e Reprovação no Ensino Fundamental da

Rede Pública de Ensino nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (1999-2002)

Critério Região 1999 2000 2001 2002*

Evasão Norte

Nordeste

Centro-Oeste

17.1%

16.7%

15.8%

18.3%

18.8%

16.4%

14.3%

15.5%

13.8%

12.1%

14.8%

12.7%

Reprovação Norte

Nordeste

Centro-Oeste

14%

14.5%

11.1%

14.1%

14.8%

12%

15%

15.1%

11.7%

15.6%

15.8%

12.7%

Fonte: INEP site: <http://www.edudatabrasil.inep.gov.br> - Consulta em 25/08/2005. * No momento de conclusão deste trabalho, os dados disponíveis se referiam até o ano de 2002.

143

ANEXO 10

Tabela 4 – Valor do F inanciamento das Ações do PDE/PME por Escola.

Faixa Número de alunos Total (em R$)

1 De 200 a 500 6.200,00

2 De 501 a 1000 10.000,00

3 De 1001 a 1500 12.000,00

4 Acima de 1500 15.000,00

Fonte: AMARAL SOBRINHO, 2001, p. 23.

144

ANEXO 11 QUADRO 7 – Relação das Escolas da Rede de Ensino do Recife com PDE

ANO41/QUANTID

ADE DE

ESCOLAS

NOME DAS UNIDADES ESCOLARES

1999 / 11

01. Esc. Municipal André de Melo

02. Esc. Municipal Antônio Farias Filho

03. Esc. Municipal Antônio Heráclio do Rego

04. Esc. Municipal Dr. Rodolfo Aureliano

05. Esc. Municipal Engenho do Meio

06. Esc. Municipal Luiz Lua Gonzaga

07. Esc. Municipal Oswaldo Lima Filho

08. Esc. Municipal Profº Florestan Fernandes

09. Esc. Municipal Profº José da Costa Porto

10. Esc. Municipal Profº Mauro Mota

11. Esc. Municipal São Cristóvão

2002 / 100

01. Esc. Municipal Adauto Pontes

02. Esc. Municipal Almirante Soares Dutra

03. Esc. Municipal Alto da Guabiraba

04. Esc. Municipal Alto de Santa Terezinha

05. Esc. Municipal Alto do Maracanã

06. Esc. Municipal Alto Jardim Progresso

07. Esc. Municipal Ana Maurícia Wanderley

08. Esc. Municipal Antônio de Brito Alves

09. Esc. Municipal Antônio Tibúrcio

10. Esc. Municipal Arraial Novo do Bom Jesus

11. Esc. Municipal Balbina Menelau

41 Ano de execução do PDE nas escolas. Entretanto, a capacitação ocorreu no ano anterior.

145

12. Esc. Municipal Beato Eugênio Mazenod

13. Esc. Municipal Boa Esperança

14. Esc. Municipal Casa dos Ferroviários

15. Esc. Municipal Célia Arraes

16. Esc. Municipal Cícero Franklin Cordeiro

17. Esc. Municipal Córrego da Bica

18. Esc. Municipal Creuza de Freitas Cavalcanti

19. Esc. Municipal Cristiano Cordeiro

20. Esc. Municipal Cristina Tavares

21. Esc. Municipal da Iputinga

22. Esc. Municipal de Tejipió

23. Esc. Municipal Divino Espírito Santo

24. Esc. Municipal do Coque

25. Esc. Municipal do Leão

26. Esc. Municipal Dois Rios

27. Esc. Municipal Dom Bosco

28. Esc. Municipal Dom Hélder Câmara

29. Esc. Municipal Dom José Lamartine Soares

30. Esc. Municipal dos Coelhos

31. Esc. Municipal dos Remédios

32. Esc. Municipal Dr. Antônio Correia

33. Esc. Municipal Dr. Caeté

34. Esc. Municipal Draomiro Chaves Aguiar

35. Esc. Municipal Edite Braga - Casa do Menor do

Recife

36. Esc. Municipal Engenheiro Guilherme Diniz

37. Esc. Municipal Engenheiro Umberto Gondim

38. Esc. Municipal General San Martim

39. Esc. Municipal Historiador Flávio Guerra

40. Esc. Municipal Hugo Gerdau

41. Esc. Municipal Inês Soares de Lima

42. Esc. Municipal João XXIII

43. Esc. Municipal Júlio Vicente Alves de Araújo

146

44. Esc. Municipal Karla Patrícia

45. Esc. Municipal Lagoa Encantada

46. Esc. Municipal Lojistas do Recife

47. Esc. Municipal Luiz Vaz de Camões

48. Esc. Municipal Lutadores do Bem

49. Esc. Municipal Magalhães Bastos

50. Esc. Municipal Manoel Antônio de Freitas

51. Esc. Municipal Margarida Siqueira Pessoa

52. Esc. Municipal Maria Adelaide de Barros

53. Esc. Municipal Maria de Sampaio Lucena

54. Esc. Municipal Mário Melo

55. Esc. Municipal Maurício de Nassau

56. Esc. Municipal Monsenhor Viana

57. Esc. Municipal Monteiro Lobato

58. Esc. Municipal Nadir Colaço

59. Esc. Municipal Nova Descoberta

60. Esc. Municipal Novo Pina

61. Esc. Municipal Octávio Meira Lins

62. Esc. Municipal Olindina Monteiro de Oliveira

França

63. Esc. Municipal Padre Antônio Henrique

64. Esc. Municipal Padre José de Anchieta

65. Esc. Municipal Padre José Mathias Delgado

66. Esc. Municipal Pais e Filhos

67. Esc. Municipal Pastor Paulo Leivas Macalão

68. Esc. Municipal Paulo VI

69. Esc. Municipal Pedrinho

70. Esc. Municipal Pedro Augusto

71. Esc. Municipal Pintor Lula Cardoso Aires

72. Esc. Municipal Poeta Joaquim Cardoso

73. Esc. Municipal Profº Aderbal Galvão

74. Esc. Municipal Profº Enaldo Manoel de Souza

75. Esc. Municipal Profº Manoel Torres

147

76. Esc. Municipal Profº Moacir de Albuquerque

77. Esc. Municipal Profº Nilo Pereira

78. Esc. Municipal Profº Simões Barbosa

79. Esc. Municipal Profª Elizabete S. Coutinho de

Barros

80. Esc. Municipal Profª Maria da Paz Brandão Alves

81. Esc. Municipal Reitor João Alfredo

82. Esc. Municipal Renato Accioly Carneiro Campos

83. Esc. Municipal Santa Cecília

84. Esc. Municipal Santa Maria

85. Esc. Municipal Santo Antônio do Caçote

86. Esc. Municipal São João Batista

87. Esc. Municipal Sede da Sabedoria

88. Esc. Municipal Senador José Ermírio de Moraes

89. Esc. Municipal Severina Bernadete Teixeira

90. Esc. Municipal Sítio do Céu

91. Esc. Municipal Sociólogo Gilberto Freire

92. Esc. Municipal Três Carneiros

93. Esc. Municipal Vasco da Gama

94. Esc. Municipal Vila Operária

95. Esc. Municipal Vila São Miguel

96. Esc. Municipal Vila Sésamo

97. Esc. Municipal Virgem Poderosa

98. Esc. Municipal Waldemar Valente

99. Esc. Municipal Zumbi dos Palmares

100. Esc. Municipal 27 de Novembro

2003 / 21

01. Esc. Municipal Compositor Levino Ferreira

02. Esc. Municipal da Mangabeira

03. Esc. Municipal Darcy Ribeiro

04. Esc. Municipal de Santo Amaro

05. Esc. Municipal Diná de Oliveira

06. Esc. Municipal do Jordão

148

07. Esc. Municipal Dr. Ebenézer Gueiros

08. Esc. Municipal Engenheiro Henoch Coutinho de

Melo

09. Esc. Municipal General Emídio Dantas Barreto

10. Esc. Municipal Irmã Terezinha Batista

11. Esc. Municipal Isaac Pereira da Silva

12. Esc. Municipal Jardim Mauricéia

13. Esc. Municipal Margarida Serpa Cossart

14. Esc. Municipal Mundo Esperança

15. Esc. Municipal Paroquial Profª Primitiva de Barros

Silva

16. Esc. Municipal Poeta Paulo Bandeira da Cruz

17. Esc. Municipal Presbítero José Bezerra

18. Esc. Municipal Profº Potiguar Matos

19. Esc. Municipal Profº Ricardo Gama

20. Esc. Municipal Profª Jandira Botelho Pereira da

Costa

21. Esc. Municipal Profª Sônia Maria Araújo Souza

2004 / 10

01. Esc. Municipal Alto do Refúgio Ivan Neves

02. Esc. Municipal Capela Santo Antônio

03. Esc. Municipal Cidadão Herbert de Souza

04. Esc. Municipal José Múcio Monteiro

05. Esc. Municipal Marluce Santiago da Silva

06. Esc. Municipal Nossa Senhora da Penha

07. Esc. Municipal Nova Aurora

08. Esc. Municipal Profº Júlio de Oliveira

09. Esc. Municipal Profº Solano Magalhães

10. Esc. Municipal São Francisco de Assis

Fonte: Secretaria de Educação do Recife, GDE/PDE.

149

ANEXO 12

QUADRO 8 – Prefeitos do Recife e Partidos Políticos – 1993-2004

PREFEITO PERÍODO SITUAÇÃO POLÍTICA PARTIDO POLÍTICO

Jarbas de Andrade Vasconcelos

1993-1996 Eleição Direta

4 anos de mandato

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

Roberto Magalhães de Melo

1997-2000 Eleição Direta

4 anos de mandato

PFL – Partido da Frente

Liberal

João Paulo de Lima e Silva 2001-2004

Eleição Direta

4 anos de mandato

PT – Partido dos

Trabalhadores

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco

150

ANEXO 13

QUADRO 9 – Programas Integrados e Específicos do Plano Plurianual

2002-2005

PROGRAMAS

INTEGRADOS

• Gestão Democrática e Solidária;

• Gestão de Risco de Morros e

Alagados – Guarda-Chuva;

• Recife – Nossa Casa;

• Comunidade Saudável;

• Dinamização Econômica e do

Acesso ao Mercado de

Trabalho;

• Requalificação e Reapropriação

dos Espaços Públicos – Espaço

Público Para Todos;

• Acessibilidade Para Todos;

• Combate à Violência e Defesa

da Cidadania.

PROGRAMAS

ESPECÍFICOS

PROGRAMAS

ESPECÍFICOS

VOLTADOS

PARA A

MELHORIA DA

VIDA DAS

PESSOAS

• Proteção e Defesa dos Diretos

da Criança e do Adolescente;

• Fortalecimento das Ações do

Voluntariado no Município;

• Apoio à Implantação das

Políticas de Gênero;

• Apoio às Ações de Assistência

Social;

• Prefeitura Digital;

• Educação de Qualidade Social;

• Morador de Rua: Um Cidadão;

• Criança: Direito de Ser;

151

• Integração Social da Pessoa

com Deficiência;

• Idoso: Cidadão de Direitos;

• Valorização da Cultura

(Secretaria de Cultura);

• Fortalecimento das Atividades

de Esportes e Lazer;

• Fortalecimento do Turismo;

• Suplementação Alimentar;

• Valorização da Cultura (FCCR);

• Promoção e Apoio ao Desporto

Amador;

• Consolidação e

Aperfeiçoamento do Modelo de

Assistência à Saúde;

• Consolidação e

Aperfeiçoamento do Modelo de

Vigilância à Saúde.

PROGRAMAS

ESPECÍFICOS

VOLATADOS

PARA A

MELHORIA DA

CIDADE

• Valorização do Centro

Metropolitano (SEPLAN);

• Valorização do Centro

Metropolitano (URB);

• Gestão Ambiental;

• Melhoria da Rede Hidrográfica;

• Manutenção e Conservação das

Instalações e Equipamentos

Públicos;

• Apoio ao Desenvolvimento

Econômico;

• Valorização das Identidades

Locais;

152

• Requalificação de Áreas de

Baixa Renda;

• Iluminação Pública;

• Limpeza Pública;

• Manutenção, Conservação,

Expansão e Construção de

Necrópoles;

• Revitalização do Bairro do

Recife;

• Revitalização das ZEIS42;

• Proteção e Defesa do Meio

Ambiente;

• Habitação e Desenvolvimento

Urbano.

PROGRAMAS

ESPECÍFICOS

VOLTADOS

PARA A

MELHORIA DA

GESTÃO

MUNICIPAL

• Fortalecimento do

Assessoramento

Governamental;

• Gestão da Política Municipal do

Orçamento Participativo e

Gestão Cidadã;

• Gestão da Política Municipal de

Planejamento, Urbanismo e

Meio Ambiente;

• Gestão da Política de Finanças

no Município;

• Gestão da Política Municipal de

Assuntos Jurídicos;

• Gestão da Política Municipal de

Administração e Recursos

Humanos;

42 Zonas Especiais de Interesse Social.

153

• Apoio à gestão Governamental;

• Gestão da Política de Atuação

da Secretaria de Comunicação

Social;

• Gestão das Políticas Municipais

de Saúde;

• Gestão da Política Municipal de

Saneamento;

• Gestão da Política Municipal de

Serviços Públicos;

• Gestão da Política Municipal de

Educação;

• Gestão da Política Municipal de

Assistência Social;

• Gestão da Política Municipal de

Cultura;

• Gestão das Políticas Municipais

de Turismo e Esportes;

• Gestão da Política Municipal de

Desenvolvimento Econômico;

• Gestão da Política Municipal de

Informática;

• Desenvolvimento do Sistema de

Planejamento e Controle

Urbano e Ambiental;

• Fortalecimento das ações de

Auditoria;

• Otimização da Administração

Tributária;

• Otimização da Administração

Financeira;

• Otimização da Administração

Contábil;

154

Contábil;

• Gestão Pública de Qualidade

(Secretaria de Finanças);

• Gestão Pública de Qualidade

(Secretaria de Administração);

• Previdência Social dos

Servidores (ativos, inativos,

pensionistas, dependentes,

beneficiários) e Cargos

Comissionados;

• Melhoria da Qualidade dos

Serviços de Informática;

• Gestão Pública de Qualidade

(EMPREL);

• Gestão do Fundo de Proteção e

Defesa da Criança e do

Adolescente;

• Gestão do Fundo Municipal de

Assistência Social;

• Gestão Administrativa da

Governadoria Municipal;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Orçamento

Participativo e Gestão Cidadã;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Planejamento,

Urbanismo e Meio Ambiente;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Assuntos

Jurídicos;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Finanças;

155

• Gestão dos Encargos do

Município;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Governo;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Administração;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Comunicação

Social;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Saúde;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Saneamento;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Serviços Públicos;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Educação;

• Gestão Administrativa da

Secretaria da Política de

Assistência Social;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Cultural;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Turismo e

Esportes;

• Gestão Administrativa da

Secretaria de Desenvolvimento

Econômico;

• Gestão Administrativa da URB;

• Gestão Administrativa da

CSURB;

• Gestão Administrativa da

EMLURB;

156

EMLURB;

• Gestão Administrativa da

EMPREL;

• Gestão Administrativa da

Fundação de Cultura;

• Gestão Administrativa do

Ginásio de Esportes Geraldo

Magalhães;

• Gestão Administrativa da CTTU;

• Gestão Administrativa do Fundo

Municipal de Saúde;

• Gestão Administrativa do Fundo

Municipal da Criança e do

Adolescente;

• Gestão Administrativa do Fundo

Municipal de Assistência Social.

Fonte: Plano Plurianual 2002-2005, Vol. 2. (RECIFE, 2001b, p. 8-15).