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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense

Autora: Carmem Cristina de Moraes Rosa Botelho1

Orientadora: Claudia Priori2

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados obtidos na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), aplicado no Colégio Estadual Paulo VI, Ensino Fundamental e Médio de Xambrê - PR. A implementação foi realizada com a turma do 1º ano A, do Ensino Médio, buscando identificar e reconhecer a importância da contribuição da cultura indígena na formação do povo brasileiro e em seus hábitos alimentares. Nosso intuito também foi de perceber a influência e uso de ingredientes da cultura alimentar indígena no cardápio paranaense, bem como a cultura desses povos, destacando uma alimentação saudável ao fazer uso de alimentos retirados e consumidos direto da natureza, sem a utilização de agrotóxicos. Com isso, constatamos que influências da culinária indígena estão muito presentes na História da alimentação paranaense, deixando evidente aos jovens que alguns alimentos consumidos atualmente, inclusive por eles, tiveram origem na cultura indígena. Palavras-chave: Cultura alimentar. Povos indígenas. Culinária.

Abstract: This article aims at presenting the results obtained in the implementation of the Project of Educational Intervention Educational Development Program (EDP), the Secretary of State of Paraná Education (SEED), applied in the State College Paul VI, Elementary and Secondary Education of Xambrê - PR. The implementation was carried out with the class of 1st year A, the High School, we seek to identify and recognize the important contribution of indigenous culture in the formation of the Brazilian people and their eating habits. Our intention was also to realize the influence and use of ingredients indigenous food crop in Parana menu, as well as the culture of these people, highlighting a healthy diet to make use of food removed and eaten straight from nature without the use of agrotóxicos.Com therefore, we find that the indigenous culinary influences are very present in the history of Paraná power, leaving the young evident that some foods currently consumed originated in indigenous culture, even for them. Keywords: Food Culture. Indigenous peoples.Cooking.

1. Introdução

Os hábitos e práticas alimentares podem ser compreendidos como aspectos

culturais dos mais variados grupos sociais, exemplo dessa variedade pode ser

encontrada na alimentação paranaense. A culinária indígena contribui e muito para

esse patrimônio cultural e alimentar, pois como todos sabem o que é natural é mais

1Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Atua no Colégio Estadual Paulo VI -

Município de Xambrê – Paraná. 2Professora Orientadora PDE – Drª Claudia Priori - Universidade Estadual do Paraná -Campus de

Campo Mourão.

saudável, assim como a alimentação dos indígenas, que nos mostra o quão isso é

importante, principalmente nos dias atuais, em que vivemos sempre correndo, sem

tempo para preparar pratos nutritivos e optamos muitas vezes por uma alimentação

recheada de produtos industrializados e que podem nos causar muitos males e

doenças.

Para além da contribuição indígena aos nossos modos atuais de alimentação

atuais, é importante conhecer a cultura e os ingredientes que fazem parte dessa

culinária. Para tanto, no currículo escolar, o tema deve ser abordado no Ensino

Fundamental e Médio, tratando de diversos aspectos da história e cultura que

caracterizam a formação da população brasileira, especialmente a partir de dois

grupos étnicos: indígenas e negros, enfatizando as contribuições de ambas as

culturas, no que se refere às áreas sociais, política, econômica e cultural da História

do Brasil.

A promulgação da Lei 11.645/08 que alterou e estabeleceu novas diretrizes e

bases à educação nacional, tornando obrigatória a temática “História e Cultura Afro-

Brasileira e Indígena” nas salas de aula, tem exigido do professorado novas

didáticas para enriquecer o currículo e as temáticas propostas pela lei, caso

contrário, estaremos fadados a manter o mesmo discurso eurocêntrico e

etnocêntrico que a história escreveu durante tantos anos. De acordo com o Artigo 26

A, § 2º da Lei nº 11.645/08, os conteúdos referentes à história e cultura afro-

brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo

currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística, de Literatura e

História Brasileiras.

Nessa perspectiva, surgiu a ideia de trabalhar e desenvolver tal temática no

âmbito do projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio Estadual Paulo VI – Ensino

Fundamental e Médio, em Xambrê/PR, com a finalidade de identificar e reconhecer o

legado da culinária dos povos indígenas paranaenses. Foi escolhida a turma do1º

ano A, do ensino médio, pelo fato de se interessarem mais pelo assunto. Visando

discutir com os alunos e alunas, as mudanças e diferenças entre os hábitos

alimentares atuais e os hábitos alimentares dos indígenas, resolvemos apresentar o

Projeto de Intervenção Pedagógica, para que eles pudessem, também, perceber o

quanto a culinária indígena está presente no nosso cotidiano.

Segundo Santos (2005), a questão da alimentação deve se situar no centro

das atenções dos historiadores e de reflexões sobre a evolução da sociedade, pois a

história é a disciplina que oferece um suporte fundamental e projeta perspectivas.

Nesse sentido, a escolha do tema a ser trabalhado com a turma, objetivava perceber

as mudanças de hábitos e práticas alimentares, em virtude do processo de

urbanização e globalização. Além disso, é relevante pesquisar o tema com as

crianças e jovens no sentido de resgatar as convenções construídas historicamente

e pautadas pela tradição e pelos costumes.

A cultura analisada sob o foco da gastronomia é parte integrante do

patrimônio dos povos. E, segundo Mascarenhas,

A gastronomia no Brasil é formada por um conjunto de culturas e etnias que gerou o país e integra o seu contexto histórico. Pode se considerar que a culinária brasileira teve inicio nas tradições indígenas, tendo como remanescente mais famoso o consumo da mandioca, reconhecida como alimento da integração nacional por ser consumida em todo território brasileiro. A presença das diversas etnias foi aos poucos formando novos hábitos e costumes culinários que são percebidos de diferentes formas nas regiões brasileiras (2012, p.134).

Porém, a visão repassada pela escola aos estudantes é a de que a

participação dos indígenas é somente em datas comemorativas, e nessas ocasiões

as turmas fazem pinturas nos corpos, apresentação de danças típicas, como se a

presença desses povos na nossa sociedade fosse mero folclore. O projeto partiu da

intenção de apresentar e discutir com a turma selecionada, os elementos culturais,

hábitos e estilos da vida indígena, demonstrando, inclusive, como assinala a autora

Schmidt (1996), que a história da alimentação está presente no nosso dia a dia.

2. Fundamentação Teórica

Raymond Williams (2003, apud SEED, 2008, p.67) afirma que a cultura é

comum a todos os seres humanos, pelo fato de haver uma estrutura comum de

modos de pensar, agir e perceber o mundo, que leva à constituição de organizações

sociais diferentes. Isso ocorre devido às diversas interpretações construídas por

esses grupos históricos. Para o autor, a cultura tradicional é um patrimônio comum,

uma herança comum, que a educação tem a tarefa de difundir, tornar acessível a

todos os grupos sociais, da mesma forma que a cultura popular.

Nesse sentido, a cultura tradicional pode ser entendida como a prática de

preservação e de promoção de práticas culturais, tradições e folclore, incluindo a

dança tradicional, artesanato, arte, contagem de histórias, mitos, histórias narradas,

costumes, cerimônias, crenças, ritos e etnobiologia.

Já a cultura popular refere-se a um conjunto de manifestações criadas por um

grupo de pessoas que têm uma participação ativa nelas. A grande maioria da cultura

popular é transmitida oralmente, de geração para geração, através de contos e

histórias o que resulta na contribuição de costumes dos diversos povos que foram

se estabelecendo nas terras do estado do Paraná ao longo dos séculos.

Segundo Dias (2006), Vannucchi (1999) e Ortiz (1994) citados por

Mascarenhas et al (2012), a cultura pode ser compreendida como o conjunto de

valores em seus aspectos morais, materiais, intelectuais, de sistemas, de signos,

estilos que caracterizaram uma civilização. E, esses valores são interpretados

também pelo que as comunidades produzem, são e representam.

Isso nos leva a entender que os valores da cultura indígena vêm da cultura

tradicional e, que fazem parte desse sistema complexo às questões relacionadas ao

patrimônio dos povos e dentre elas, a estrutura alimentar, que, por sua vez, é parte

da organização social, das relações entre indivíduos pertencentes a diversos grupos

sociais e da totalidade integrante da cultura e do patrimônio dos povos.

Os hábitos indígenas analisados sob o foco da gastronomia e a presença das

diversas etnias foram aos poucos formando novos costumes culinários que são

percebidos de diferentes formas nas regiões brasileiras.

Também no Paraná a união desses hábitos e costumes culinários foi

enriquecendo o paladar e formando cardápios diferenciados presentes até os dias

atuais.

Considerando as várias etnias indígenas existentes na região, pode-se

ampliar a contribuição desses povos como verdadeiros “patrimônios culinários pela

qualidade gustativa e por abarcar o uso de recursos naturais animais e vegetais

diversos” (KATZ, 2009, p. 37). Cada um desses povos, com suas práticas e

simbologias singulares contribuíram a seu modo para a formação da cozinha

brasileira e consequentemente, paranaense, como afirma Gaspar:

Existem atualmente mais de duzentos grupos indígenas conhecidos no território brasileiro. Cada um com seus hábitos alimentares, preferências gastronômicas e alimentos que não conseguem ingerir. Iguarias para uns são alimentos repulsivos para outros. [...] Há grupos que consomem carne de animais como antas e jabotis- caso dos índios Caipó, que preferem carnes

gordas -, e os que se alimentam mais de peixes e carne de macacos, como os da região do Alto Xingu (2013, p. 3).

Para Tempass (2008) a cozinha brasileira não surgiu em uma única região e

num determinado espaço de tempo. Ao contrário, trata-se de uma confluência das

diversas regiões e de uma lenta e contínua construção histórica. Dessa forma, em

cada região, em cada período, diferentes povos indígenas estiveram em contato com

portugueses e negros, e demais imigrantes, produzindo interações específicas que

se configuram num verdadeiro patrimônio cultural.

A Constituição de 1988 estabelece no Artigo 216 que:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; I II - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (1988, p. 98).

Diante dos alimentos cultivados e consumidos pelos povos indígenas

herdamos a base da nutrição popular, os complexos alimentares da mandioca, do

milho, da batata e do feijão, decisivos na predileção cotidiana brasileira.

“Acompanhantes indispensáveis. Ou constituindo, sozinhos, a refeição humilde”

(CASCUDO, 2004, p 155).

Parellada (2006) cita que nas proximidades da aldeia, os indígenas Kaingang

e Xokleng faziam roças para plantar no sistema de coivara, com pequena derrubada

de mata e limpeza por meio de queimadas, algumas variedades de milho, abóbora,

feijão, amendoim e mandioca, entre outros.

Em relação a plantas e animais, o saber indígena foi o que mais contribuiu para o cotidiano e a qualidade de vida dos paranaenses. A grande quantidade de pinheiros e araucária, palmeiras e árvores que fornecem frutas, como a pitanga, jabuticaba, guabiroba e araçá, foi originada pelo manejo ambiental dos índios. Ainda existe grande diversidade de plantas medicinais cujos benefícios ainda estamos aprendendo. Esse saber vem da cultura indígena. Muitas variedades de milho, feijão, abóbora, mandioca e amendoim já eram cultivados pelos povos nativos. Isso significa que nas terras do Paraná existe uma tradição agrícola de pelo menos, quatro mil anos (PARELLADA, 2006, p. 35-36).

Nesse sentido, Cascudo (2004) relata que devemos aos indígenas as caças,

peixes, crustáceos e moluscos que o português aprendeu a saborear, obter e julgar

inarredáveis do passado normal do Brasil. Todos os nossos refrescos, garapas,

“geladas”, “ponches”, os cups nacionais, com base em sumos de frutas, tiveram

velocidade inicial nos vinhos festivos indígenas, amassados com açúcar e gelo e

dispensando a fermentação inebriante. O autor afirma que,

Deixou-nos a pimenta. Abóbora. Palmito. Óleos vegetais. [...] o pirão, o mingau, o caldo de peixe, [...] o beiju. [...] a carne assada no moquém. O churrasco. Paçoca. Moqueca. Caruru. Das lindes austrais o mate chimarrão, mate amargo, invulgar bebida de peão e de cavaleiro, simples, rústica, irrivalizada sozinha em sua classe, inconfundível. [...] As caças de pena e de patas, pacas, cotias, veados, tatus, porcos-do-mato, capivaras, o lombo da anta, as aves aquáticas de carne macia e tenra, aptas às maravilhas do aproveitamento condimentador. Deixou-nos a apicultura. A doce herança do mel (CASCUDO, 2004, p.156).

Vemos, assim, que os índios nos deram muitos produtos para variar a

alimentação. “Não sabemos de todas as iguarias brasileiras e nativas no século XVI

e que foram sendo modificadas e acrescidas para o nosso paladar contemporâneo”

(CASCUDO, 2004, p. 149). Eles nos deixaram várias opções de alimentos que os

colonizadores portugueses nem sabiam que existiam. Feitos de ingredientes

simples e muito nutritivos, pratos indígenas podem ser encontrados em todas as

casas paranaenses e brasileiras.

A cozinha brasileira sofreu uma série de influências, pois no processo de

trocas culturais entre a culinária indígena, culinária negra e também de várias outras

etnias, é difícil afirmar que haja atualmente uma culinária brasileira ou paranaense

originalmente legítima. Entretanto, a base da comida indígena permaneceu

relativamente fiel aos modelos quinhentistas e aos padrões da própria elaboração

das farinhas, assados de carne e peixe, bebidas de frutas.

3. Coleta de dados e análise dos resultados

A Implementação Pedagógica foi realizada com a turma do 1º A, do Ensino

Médio, do Colégio Estadual Paulo VI – Xambrê – Paraná, num total de 32 alunos e

alunas no período matutino, entre os meses de fevereiro e maio de 2014.

O Projeto foi apresentado aos integrantes da Escola: Direção, Equipe

Pedagógica, salientando a importância do mesmo aos estudantes. Na fase de

desenvolvimento, o projeto foi realizado da seguinte maneira: no primeiro momento

foi feita a apresentação do Projeto para a turma e foi solicitado para que fizessem

uma reflexão sobre o tema proposto que enfatizava sobre A Contribuição Indígena

na Alimentação Paranaense. Realizamos a leitura da Lei nº 11.645/08, verificando

como são abordadas as relações étnico-raciais e se existem projetos específicos

sobre a temática apresentada dentro da Proposta Pedagógica do Colégio.

Um dos resultados alcançados foi a verificação que não há projetos

específicos sobre o tema e que o mesmo é abordado em todas as disciplinas,

permeando os conteúdos durante o percurso do ano letivo, restringindo-se à

apresentação de trabalhos apenas em datas comemorativas.

Num segundo momento, foi feita uma atividade com um texto sobre

diversidade de etnias “Índio, Negro e Português no Paraná”, enfocando as

influências observadas em nossa alimentação. Decorrentes desse contato

interétnico, tivemos um resultado positivo quanto às diferenças culinárias existentes

entre os três povos acima citados, e constatamos que a nossa alimentação teve

grande influência dessas culinárias.

Em seguida, a turma confeccionou um painel com figuras encontradas na

internet, livros e revistas de como os povos indígenas paranaenses se alimentavam.

A turma percebeu de que não havia diferenças entre os tipos de comidas e os

hábitos alimentares entre os povos indígenas paranaenses.

A quarta atividade proposta à turma foi a aplicação do questionário ( apêndice

A) como objetivo de verificar os hábitos alimentares de seus avós e pais, bem como

a elaboração de um rol do que era consumido quando crianças. Por meio da análise

dos resultados constatamos de que existem diferenças entre a alimentação do

passado e a atual. Ficou evidente também que os alimentos consumidos em suas

casas são os mesmos alimentos que povos indígenas consumiam no passado, o

que revela a influência da culinária indígena nos hábitos alimentares atuais.

A turma realizou também a leitura coletiva de um trecho da obra “História da

Alimentação no Brasil”, de Luís da Câmara Cascudo, atentando para as palavras da

cultura indígena relacionada aos costumes, animais, plantas e comidas, e com base

nisso, elaboraram um glossário, definindo e conhecendo vários significados de

palavras indígenas.

Na sequência foi feita uma pesquisa na internet, livros e revistas, procurando

receitas culinárias oriundas da culinária indígena, com o propósito de confecção de

um livro de receitas que foi exposto à comunidade escolar.

E por fim, a escolha e preparação de alguns pratos da culinária indígena pela

professora e a turma do 1º ano A. Essa atividade foi a que mais chamou a atenção,

pois contribuiu para que a degustação dos pratos como peixe assado, barreado, bolo

de milho, bolo de fubá, beiju feito pela avó de uma das alunas e muitos outros pratos

preparados pela turma e pela professora, e que fizeram o maior sucesso.

Essa temática teve muita importância aos alunos e alunas, que conheceram a

realidade da origem de muitos alimentos que consomem hoje e de onde eles vieram,

fazendo com que tenham mais respeito quanto à cultura indígena, inclusive

conhecendo alimentos sem agrotóxicos, bem diferentes dos que são consumidos

atualmente, pois a correria do dia a dia faz com que consumam muitos alimentos

industrializados, congelados, o que não faz bem à saúde.

Todas essas atividades também fizeram com que a turma se tornasse mais

crítica e exigente quanto ao estudo da temática aplicada, e com esse aprendizado

poderão repassá-lo aos familiares ajudando-os a terem uma vida mais saudável.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta de intervenção teve a culinária indígena como exemplo de riqueza

e diversidade cultural no Brasil. Considerando a importância de buscar um nível

mais elevado de conhecimento, a realização de tal projeto junto à turma do 1º ano A,

do Ensino Médio, teve o intuito de tratar das contribuições da cultura indígena,

especialmente, no que tange à culinária paranaense.

Para os indígenas, a aprovação da Lei nº 11.645/08, pode significar uma

grande vitória, na medida em que suas histórias passam a ser registradas, contadas

e debatidas no âmbito escolar, enriquecendo sua identidade, língua e, sobretudo,

sua condição étnico-cultural. Para as escolas e educação em geral, significa também

uma conquista, que traz a possibilidade de diálogo com a literatura e mitologia

indígena e africana, apresentando nas salas de aula, novas noções de história.

Outro importante resultado foi o resgate da oralidade, uma vez que a turma

investigou junto a seus familiares (pais, mães, avós e avôs) como era o tipo de

alimentação na época de suas infâncias, permitindo que suas narrativas e memórias

fossem valorizadas e novos olhares e sujeitos históricos fossem abordados. Os

resultados das narrativas elaborados por familiares e também pela comunidade

escolar acerca da importância dos alimentos consumidos pelos povos indígenas,

podem ser conferidos no apêndice A.

A contribuição que o Projeto teve com a turma foi a de mostrar a diferença

entre os alimentos usados pelos povos indígenas e os alimentos consumidos hoje. A

turma constatou que esses alimentos eram e são saudáveis e de grande riqueza na

gastronomia, pois com a evolução do tempo surgiu os alimentos industrializados os

quais não têm as mesmas propriedades nutricionais dos alimentos cultivados pelos

povos indígenas.

Devido à percepção dos alunos e alunas quanto à alimentação saudável que

os povos indígenas levavam, foi sugerido que utilizassem esses alimentos na

merenda escolar para enriquecê-la ainda mais.

Como já foi citado, não havia um plano específico que abordasse as relações

étnico raciais dentro da proposta pedagógica curricular, e com esse Projeto, a escola

tomou as devidas providências refazendo e adicionando conteúdos específicos para

trabalhar a cultura e hábitos indígenas. Para a comunidade ficou explícito que ainda

são consumidos alimentos que eram usados pelos povos indígenas e que fazem

parte do nosso dia a dia.

Várias atividades da Implementação do Projeto realizado no Colégio Estadual

Paulo VI - no Município de Xambrê- Paraná, salientou a importância da contribuição

indígena na alimentação paranaense, por meio de pesquisas literárias e entrevistas

com familiares possibilitando maior interesse dos estudantes sobre o tema proposto.

Eles descobriram que muito dos alimentos que hoje degustam veio da cultura

indígena, o que trouxe à tona o respeito por esses povos, além de identificar a

maneira saudável que viviam e ainda vivem.

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná disponibilizou o GTR – Grupo

de Trabalho em Rede, em que o assunto foi socializado por um grupo de

professores e professoras, durante a fase de implementação pedagógica na escola.

As contribuições acima citadas foram de muita importância para o enriquecimento da

temática proposta.

O objetivo desse trabalho foi fazer com que a turma analisasse a influência de

elementos culturais e hábitos alimentares dos indígenas na história da alimentação

no Paraná, destacando as contribuições da culinária desses povos para a

construção da herança cultural, histórica e alimentar na atualidade. Foi constatado

que estudantes, familiares e comunidade escolar tiveram a oportunidade de

conhecerem mais profundamente sobre a influência de outros povos na nossa

alimentação e puderam saborear de forma mais saudável os alimentos dos povos

indígenas e o quão esses são saudáveis, principalmente nos dias de hoje onde

vivemos sempre correndo, sem tempo pra nada.

REFERÊNCIAS:

AZEVEDO, Gislaine C.; SERIACOPI, Reinaldo. A história indígena em sala de aula. Disponível em:<http://sites.aticascipione.com.br/historia/gislaineereinaldo/professor_indio_1.asp> Acesso em 18 maio 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 4ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

CASCUDO, Luiz da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 3. ed. – São Paulo: Global, 2004.

GASPAR, Lúcia. Índios do Brasil: alimentação e culinária. Pesquisa Escolar online. Fundação Joaquim Nabuco. Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/. Acesso em 18 maio 2013.

BARROS, Clarissa F. do Rego. A aprovação da lei 11.645/08 e a História dos indígenas na sala de aula. Disponível em http://www.historiagora.com/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=79 Acesso em 03 set 2014.

BOTELHO, Carmem C. de M. Rosa. Figura 01: Alunos realizando pesquisa no Laboratório de Informática sobre “A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense”. Álbum particular - 2014.

____________ Figura 02: Alunos realizando pesquisa no Laboratório de Informática sobre “A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense. Álbum particular - 2014.

____________ Figura 03: Exposição dos trabalhos confeccionados pelos alunos que participaram da Implementação do Projeto sobre “A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense” – Livro de Receitas. Álbum particular - 2014.

____________ Figura 04: Exposição dos trabalhos confeccionados pelos alunos que participaram da Implementação do Projeto sobre “A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense”. Álbum particular - 2014.

____________. Figura 05: Mesa com comidas típicas. Álbum particular - 2014.

____________ Figura 06: Mesa com moqueca de pintado e pirão de pintado. Álbum particular - 2014.

____________Figura 07: Mesa com piapara recheada com camarão. Álbum particular - 2014.

____________. Figura 08: Mesa com barreado, moqueca de amendoim e frutas. Álbum particular - 2014.

____________. Figura 09: Mesa com bolo de fubá e milho. Álbum particular -

2014.

____________ Figura 10: Mesa com bolo de fubá, milho e mandioca. Álbum particular - 2014.

KATZ. Esther. Alimentação indígena na América Latina. Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 25-41, jan/jun. 2009.

MASCARENHAS, Rúbia G. T. et al. Comida de festa: o potencial de atratividade turística da gastronomia nas colônias de imigrantes em Castro/Pr. Revista Hospitalidade. São Paulo, v. IX, n. 1, p. 132-150, junho 2012.

OLIVEIRA, Sunamita. A contribuição indígena. Disponível em <http;//educarencantando. blogspot.com.br> Acesso em abril 2013.

PARANÁ, SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares da Educação Básica História. Curitiba, 2008.

PARELLADA, Cláudia Inês, et al. Vida indígena no Paraná: memória, presença, horizontes. Curitiba: Provopar Ação Social/Pr, 2006.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Histórias do cotidiano paranaense. Curitiba: Letraviva, 1996.

SANTOS, Carlos R. Antunes dos. A alimentação e seu lugar na história: os tempos da memória gustativa. História: Questões e Debates. Curitiba; n. 42, p. 11-31, 2005. Editora UFPR.

__________________________.História da Alimentação no Paraná. Curitiba, Juruá Editora, 2007.

TEMPASS, Mártin C. O papel dos grupos indígenas na formação da cozinha brasileira. Disponível em: <http://www.sloowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura>Acesso em abril 2013.

APÊNDICE A - Questionário aplicado pelos estudantes aos familiares (pais, mães, avós e avôs).

O seguinte questionário tem por objetivo verificar os hábitos alimentares dos familiares, alunos e

alunas da turma do 1º ano “A”, do Colégio Estadual Paulo VI – Ensino Fundamental e Médio.

Nome:_________________________________________________________

Idade:_________________________Grau de Parentesco:________________

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Alimentação na Infância Alimentação Atual

1-Você costumava tomar café da manhã?

( ) todos os dias

( ) de 1 à 3 vezes por semana

( ) não tomava café da manhã

2- O que você comia/bebia no seu café da manhã?

( ) pães

( ) broa de milho

( ) biscoitos

( ) bolo de fubá

( ) leite com café

( ) café preto

( ) chás

( ) queijos

( ) outros:

Quais_____________________

3- Você almoçava?

( ) todos os dias

( ) não almoçava mais que duas vezes por semana

4- Que tipos de alimentos ingeriam no almoço?

( ) arroz

( ) feijão

( ) massas

( ) saladas

( ) carne vermelha

1- Você costuma tomar café da manhã?

( ) todos os dias

( ) de 1 a 3 vezes por semana

( ) não toma café da manhã

2- O que você prefere comer/beber no seu café da manhã?

( ) pães

( ) broa de milho

( ) biscoitos

( ) bolo de fubá

( ) leite com café

( ) café preto

( ) chás

( ) queijos

( ) outros:

Quais_____________________

3- Você almoça?

( ) todos os dias

( ) não almoçava mais que duas vezes por semana

4- Que tipos de alimentos costumam ingerir no almoço?

( ) arroz

( ) feijão

( ) massas

( ) saladas

( ) carne de porco

( ) carne de frango

( ) peixe

( ) legumes cozidos

( ) legumes cru

( ) outros:

Quais_____________________

5- Costumava lanchar à tarde?

( ) nunca

( ) às vezes

( ) todos os dias

6- O que era ingerido nos lanches da tarde?

( ) frutas

( ) sucos

( ) chás

( ) leite

( ) café

( ) broa de milho

( ) bolo de fubá

( ) abóbora com melado

( ) mandioca com açúcar

7- Que tipo de alimentos costumava ingerir no jantar?

( ) arroz

( ) feijão

( ) massas

( ) saladas

( ) sopa

( ) legumes

( ) mandioca

( ) carne vermelha

( ) porco

( ) frango

( ) legumes cozidos

( ) mandioca

( ) carne vermelha

( ) carne de porco

( ) carne de frango

( ) peixe

( ) legumes cozidos

( ) legumes cru

( ) outros:

Quais_____________________

5- Costuma fazer lanche da tarde?

( ) nunca

( ) às vezes

( ) todos os dias

6- O que ingere nos lanches da tarde?

( ) frutas

( ) sucos

( ) chás

( ) leite

( ) café

( ) broa de milho

( ) bolo de fubá

( ) abóbora com melado

( ) mandioca com açúcar

7- Que tipo de alimentos costuma ingerir no jantar?

( ) arroz

( ) feijão

( ) massas

( ) saladas

( ) sopa

( ) legumes

( ) mandioca

( ) carne vermelha

( ) porco

( ) frango

( ) legumes cozidos

( ) peixe

8- Que temperos eram usados nas refeições diárias?

( ) sal

( ) açúcar

( ) pimenta

( ) óleo

( ) banha de porco

( ) alho/cebola

( ) colorau

9- Quantas vezes por semana ingeria frituras?

( ) nenhuma

( ) de 1 à 2 vezes por semana

( ) de 2 à 4 vezes por semana

( ) mais de 4 vezes

( ) mandioca

( ) peixe

8- Que temperos são utilizados nas refeições diárias?

( ) sal

( ) açúcar

( ) pimenta

( ) óleo

( ) banha de porco

( ) alho/cebola

( ) colorau

9- Quantas vezes por semana ingere frituras?

( ) nenhuma

( ) de 1 à 2 vezes por semana

( ) de 2 à 4 vezes por semana

( ) mais de 4 vezes

ANEXO 1 - Fotos das atividades desenvolvidas

Figura 01: Alunos e alunas realizando pesquisa no Laboratório de Informática sobre “A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense”, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 02: Alunos e alunas realizando pesquisa no Laboratório de Informática sobre “A Contribuição Indígena na Alimentação Paranaense”, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 03: Exposição dos trabalhos confeccionados pelos alunos e alunas que

participaram da Implementação do Projeto sobre “A Contribuição Indígena na

Alimentação Paranaense” – Livro de Receitas, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 04: Exposição dos trabalhos confeccionados pelos alunos e alunas que

participaram da Implementação do Projeto sobre “A Contribuição Indígena na

Alimentação Paranaense”, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 05: Mesa com comidas típicas, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 06: Mesa com moqueca de pintado e

pirão de pintado, 2014. Figura 07: Mesa com piapara recheada com

camarão, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 08: Mesa com barreado, moqueca de amendoim e frutas, 2014.

Fonte: BOTELHO, 2014

Figura 09: Mesa com bolo de fubá e milho,

2014.

Figura 10: Mesa com bolo de fubá, milho e mandioca, 2014.

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Fonte: BOTELHO, 2014 Fonte: BOTELHO, 2014