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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
ARTIGO FINAL
INDISCIPLINA: UM OBSTÁCULO À APRENDIZAGEM
POR
MOISÉS APARECIDO DE SOUZA
CATANDUVA - PR
2014
INDISCIPLINA: UM OBSTÁCULO À APRENDIZAGEM Moisés Aparecido de Souza1
Luís Sérgio Peres2
RESUMO: Um dos grandes problemas vivenciados atualmente nas escolas, é que muitos alunos relutam em não seguir normas, regras e regimentos, só o fazem por conveniência. Demonstram um sentimento de liberdade incondicional, deixando de cumprir com o seu dever para levar uma pequena vantagem, sem levar em consideração o seu companheiro, o professor ou mesmo o funcionário, praticando atos irresponsáveis que vão se tornando comuns e se misturam com a normalidade ao ponto de passarem despercebidos ou serem ignorados. Assim, este estudo teve por objetivo principal destacar a disciplina escolar como fundamental para o processo ensino aprendizagem. O mesmo caracterizou-se como descritivo exploratório, onde a população foi composta por todos os alunos da Escola Estadual Professora Dilma Krohling Angélico - Ensino Fundamental e Médio. A amostra foi composta pelos alunos do 6° ao 9° ano do ensino fundamental que estudam no período matutino, no contra turno. Como procedimento de ação foram desenvolvidos 10 encontros, conforme projeto de intervenção. Os resultados obtidos foram muito bons, onde se procurou ouvir principalmente os alunos, valorizar suas opiniões e a partir daí convoca-los ao compromisso, postura esta que com o passar dos dias foi melhorando o comportamento e o entendimento de normas e regulamentos por parte de alunos considerados indisciplinados. Tais alunos tiveram a oportunidade de ajudar a construir e estabelecer limites para os relacionamentos, alguns entenderam o objetivo do estudo. Concluiu-se que o diálogo é ferramenta fundamental para interferir neste processo que visa principalmente inserir na prática social do aluno o respeito mutuo e que estar presente, participando junto a eles, sendo amigo e valoriza-los faz parte deste contexto.
PALAVRAS CHAVE: Indisciplina, Respeito, Educação, Socialização, Escola.
INTRODUÇÃO
Passamos grande parte do nosso tempo no ambiente de trabalho e a
maioria das pessoas com quem nos relacionamos estão ali, cabe a nós
professores fazer com que este ambiente seja agradável e propicio a
aprendizagem, a disciplina é indispensável para que isto aconteça. Sabemos
que qualquer equipe em qualquer setor, esportivo, econômico, social só tem
sucesso com disciplina, é lógico que aliada a outros fatores, mas ela é 1 Professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná, vinculado ao núcleo de ensino de Cascavel- PR, Professor do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – Turma 2013 – 2014. 2 Professor Doutor do Curso de Educação Física da UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon.
fundamental para o fortalecimento do respeito, e da compreensão, entre outros
valores, com disciplina qualquer conflito que possa surgir será abordado na sua
plenitude, sem ressalvas, com maiores chances de solução.
Codo (2006) comenta que
o professor pode imprimir o seu jeito, dar o tom e a cor que melhor lhe pareça à aula ministrada, sabendo que serve como modelo para os alunos e podendo espelhar-se no desenvolvimento dos mesmos. Aqui, a capacidade de empatia não é apenas permitida, ela se faz imprescindível para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra com maior qualidade. O professor não consegue ensinar se não fizer um vínculo afetivo com os alunos. (p.119)
Desta forma a possibilidade do causador do problema assumir sua
culpa é bem maior, sabemos que quando isto acontece à transformação,
embora normalmente lenta, está começando. Ninguém muda seu
comportamento de uma hora para outra, mas felizmente, disciplina se aprende,
pode e deve ser habitual em nossas vidas, não pode ser considerado um fardo
a se carregar, e sim um mecanismo de construção de conhecimento e bem
estar.
A disciplina está diretamente ligada ao alcance de qualquer objetivo
onde tem disciplina tem acordos, normas, regras e regulamentos, o desrespeito
as ofensas e a violência não são admitidas. A violência escolar tem sido motivo
de muita discussão e debates e realmente causa muitos transtornos no
ambiente escolar, tirando grande espaço do estudo e das boas práticas, uma
ação que possa diminuir estes casos se faz necessária é preciso canalizar
esforços para que os alunos consigam enxergar no cumprimento dos seus
deveres o caminho para alcançar seus objetivos.
Neste sentido este estudo pretende destacar a disciplina escolar como
fundamental para o processo ensino aprendizagem, visando refazer normas,
regras, sanções e proibições em conjunto com os alunos, refletir sobre a
influência dos meios de comunicação nas relações interpessoais, combater a
indisciplina através do diálogo promovendo o estabelecimento de limites pelos
próprios alunos e destacar a disciplina escolar como fundamental para o
processo ensino aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO
No estado do Paraná, Catanduvas é um município de aproximadamente
10.000 habitantes, localizado na região oeste, há 476 km de Curitiba e a 56 km
de cascavel.
Tem cinco escolas estaduais sendo três localizadas na zona rural
interior e duas na cidade totalizando 1192 alunos, assim divididos: Escola
estadual Professora Maria de Lourdes Vieira Andrade, 41 alunos. Escola
Estadual Tomaz Pereira, 44 alunos. Colégio Estadual São Marcos, 148 alunos.
Colégio Estadual Doutor João Ferreira Neves, 760 alunos. Colégio Estadual
Professora Dilma Krohling Angélico, 198 alunos.
Nas unidades escolares, São Marcos, Tomaz Pereira e Maria de
Lourdes, que se localizam na zona rural, os casos de indisciplina se resumem a
não realização das tarefas, bullying, atrasos e faltas. Os problemas mais sérios
embora aconteçam são esporádicos.
No Colégio Ferreira Neves, que é o maior da cidade, e está localizado
no centro da cidade, o bullying é o principal problema, gerando atritos que às
vezes levam a agressão física, principalmente entre as meninas, que
apresentam maiores dificuldades nas relações interpessoais, a ação da polícia
acontece mais nos arredores da escola e o conselho tutelar é acionado quase
sempre por motivo de evasão escolar. Outro ponto fundamental é o uso
indevido do celular e o não cumprimento das tarefas, principalmente aquelas
levadas para fazer em casa, situação esta, das tarefas, estão relacionadas à
questão cultural familiar, pois os pais não acompanham os trabalhos escolares
dos filhos e não exigem este cumprimento.
Os casos mais preocupantes de não cumprimentos de regras e normas,
pré-estabelecidas são constatados no Colégio Dilma K. Angélico que atende os
alunos dos bairros Alto Alegre e Pinga Fogo onde reside a população mais
carente do município. Os principais problemas constatados pela direção equipe
pedagógicos e professores são os seguintes:
- Alunos que chegam atrasados;
- Não usam uniformes. Vale lembrar que eles ganharam o uniforme;
- Faltam muito as aulas;
- Não fazem as tarefas em sala de aula muito menos às de casa;
- Respondem mal os professores;
- Praticam o Bullying:
- Se agridem verbalmente;
- Se agridem fisicamente;
- Fazem promessas de futuras agressões;
- Criam um clima desagradável aos alunos e professores;
- Não seguem as normas regimentais e nem acordos formais;
Estamos falando de um grupo de alunos que com estas práticas acabam
comprometendo todo o trabalho, onde no dia a dia da escola Dilma K. Angélico,
muitos alunos relutam em seguir normas, regras e regimentos, só o fazem por
conveniência. Demonstrando um sentimento de liberdade incondicional,
deixando de cumprir com o seu dever para levar uma pequena vantagem, sem
terem consideração com seu companheiro, com professores ou mesmo
funcionários, praticando atos irresponsáveis que vão se tornando comuns e se
misturando com a normalidade, ao ponto de passarem despercebidos ou
serem ignorados.
Atitudes estas que perante os colegas se elevam e ele fica conhecido
como aquele que consegue levar vantagem, usufruir dos direitos sem cumprir
com os deveres, e com isso, cresce o número dos seus seguidores que
passam a cultuar e a se vangloriar de qualquer ato de não cumprimento de
normas, principalmente quando se consegue ficar impune ou transferir a
responsabilidade.
Destas pequenas contravenções que acabam se misturando com a
normalidade passam a surgir os problemas mais sérios, os conflitos se tornam
inevitáveis, pequenas agressões morais e físicas passam a acontecer no pátio,
na quadra, na sala de aula e principalmente nos arredores da escola, surtindo
um efeito muito negativo para a imagem geral do estabelecimento.
Estes acontecimentos tornam o trabalho do professor, equipe
pedagógica e direção mais desgastante, levando ao choque com familiares e
outras pessoas envolvidas. A escola tem que assumir então o papel de
pacificadora usando do bom senso para restaurar a harmonia e manter o
equilíbrio da ordem social escolar, se obriga a deixar de observar alguns
quesitos das normas estabelecidas, tal necessidade acaba se fazendo
necessária para evitar problemas futuros e para garantir os direitos do aluno
mesmo que este dificilmente cumpra com seus deveres, tem sido este um dos
papéis do dificultoso trabalho de uma escola inclusiva.
Ainda há neste cenário, alunos com comportamentos agressivos, mal
educados, hiperativos, desatentos, com necessidades especiais, protegidos por
medidas socioeducativas, e os professores não estão preparados para estas
situações, o que dificulta ainda mais as relações interpessoais.
Silva indaga (2004)
Como educar de tal maneira que os pequenos possam respeitar valores como a honestidade, o respeito e a justiça se não conseguimos praticá-los? Como contribuir para que eles sejam disciplinados, isto é, respeitadores de regras e de valores morais e, em consequência, partidários da doçura, se não apresentamos e não praticamos tais valores? (p.64)
Neste sentido, a escola, principalmente os docentes e equipe
pedagógica, inseridos no contexto de socialização, tenta incluir todos os alunos
de forma igualitária, fazendo que todos se sintam parte do ambiente escolar,
que é um passo importante para evolução no encontro do equilíbrio nas
relações interpessoais. Segundo Silva (2004, p.161) É fundamental que as
crianças, os adolescentes e a comunidade em geral tenham condições de se
conscientizarem da sua responsabilidade na preservação da escola. Ela é um
patrimônio publico e como tal lhes pertence.
Diante das enormes dificuldades no enfrentamento da indisciplina e da
violência escolar e na busca de soluções tentando encontrar a causa do
problema tem se procurado isentar a criança e responsabilizar os pais. Para
Silva, (2004, p.157) ao fazer isto os educadores não estão contribuindo em
nada para resolver o problema. Não se pode esquecer que a família como
qualquer outra instituição societária, é vitima das condições objetivas de vida.
Logo culpá-la e desprezar questões como na obrigatoriedade imposta aos pais
de que eles trabalhem excessivamente para garantir minimamente a
sobrevivência física de seus filhos.
Como vemos alcançar a mudança de comportamento não é tarefa fácil,
fazendo uma analise pontual do comentário de Silva, concordando ou não com
ele, não há como negar que a construção histórica da nossa sociedade, o
capitalismo praticado ao longo dos anos deixa sequelas que tem exigido
debates, analises e estudos, logicamente com as mais diversas e conflitantes
opiniões e que até o momento, na prática os resultados ainda não são
satisfatórios.
Teixeira (2004, p. 17) reforça esta ideia quando diz:
Partimos da escola, percorremos caminhos teóricos que nos levaram até as origens da violência, passamos pelos problemas sociais, culturais e econômicos que a agravam, acompanhamos experiências e tentativas de se lidar com ela dentro e fora da escola e, finalmente retornamos a escola, objeto de preocupação de todos nós.
Diante deste contexto um trabalho em conjunto da sociedade se faz necessário, o artigo 227 da Constituição Federal que diz:
É dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança, ao adolescente ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Fante (2005) concorda que:
[...] um relacionamento marcado pela falta de afetividade positiva e pelos maus-tratos físicos ou verbais influenciará o indivíduo, determinando seu desempenho social e sua capacidade de adaptação às normas de convivência, bem como sua habilidade de integração social. Portanto, as raízes do comportamento agressivo estão fincadas na infância, sendo o modelo de identificação familiar o elemento fundamental para a sua compreensão (p.173).
As dificuldades de mudança de comportamento são evidentes para
Beaudoin, (2006, p. 53). Se os adultos, com todo seu conhecimento, suas
experiências e seus recursos têm dificuldade em mudar um comportamento
problemático de uma hora para outra, como podemos esperar isto de uma
criança pequena?
METODOLOGIA
Visando atingir os objetivos propostos do estudo, desenvolveu-se então
este trabalho de forma descritiva exploratória, onde a população do mesmo foi
composta por todos os alunos da Escola Estadual Professora Dilma Krohling
Angélico-Ensino Fundamental e Médio e a amostra composta pelos alunos do
6° ao 9° ano do ensino fundamental que estudam no período matutino, no
contra turno, que foram indicados pelos professores, direção e equipe
pedagógica da escola, num numero de 15 a 30 dentre aqueles que apresentam
maior dificuldade em cumprir as normas regimentais e tem dificuldade nas
relações interpessoais.
Assim, foram desenvolvidas 32 horas atividades frente aos alunos,
conforme plano de intervenção distribuído em 10 encontros, entre os meses de
março a julho de 2014, visando melhorar o relacionamento na escola e,
consequentemente, a aprendizagem.
O diálogo esteve sempre presente, só assim a prática social pode
caminhar de mãos dadas com a disciplina. O diálogo é ferramenta fundamental
para interferir neste processo que visa principalmente inserir na prática social
do aluno, o respeito mutuo, utilizando-se para isto as regras do esporte mais
especificamente as do futebol que é a paixão nacional trazendo para o
cotidiano dos alunos a importância de respeitá-las.
No campo de jogo, no esporte citado, existem dezessete regras que
precisam ser respeitadas e normalmente são, temos ali a equipe de arbitragem
que é responsável para garantir que sejam, e penalizar quem não as cumpre,
mas vale dizer que o futebol é praticado por todo o país e muitas vezes, sem
arbitragem, e mesmo assim as regras são respeitadas, às vezes modificadas
ou adaptadas antes do jogo por consenso coletivo dos interessados, desta
forma se pratica o esporte com respeito e ordem, onde todos sabem que para
alcançar o objetivo que é o gol e consequentemente a vitória precisam
respeitar o que foi previamente combinado. Processo este que se pretende
canalizar para os corredores, pátio, sala de aula e qualquer ambiente em que
estivermos.
Logicamente normas de convivência já existem em qualquer lugar, mas
a pretensão na escola e mais especificamente nas aulas de Educação Física
do ensino fundamental é reforçá-las relacionando-as as regras do jogo
oportunizando o diálogo fazendo com que o aluno participe da adaptação
destas regras ajudando a convencioná-las e se comprometendo em respeitá-
las. Este exercício não vai ficar apenas no campo de jogo deve fazer parte da
prática social.
O envolvimento total do aluno neste processo é fundamental a atividade
esportiva precisa ser totalmente inclusiva oportunizando a todos e
principalmente responsabilizando a todos, os recursos como cartazes panfletos
e palestras vão ser usados levando a conhecimento de toda a comunidade
escolar e convidando a todos a aderirem ao projeto fortalecendo a prática
social de cada um. Agindo assim, diminuiremos os problemas com a
indisciplina e violência escolar, facilitando o diálogo e com certeza melhorando
o nível de aprendizagem.
Desta forma, este estudo articulou as regras do futebol com normas de
convivência, quem pratica principalmente esporte coletivo, com certeza já ouviu
“o que acontece no campo fica no campo” os conflitos tendem a se acabarem
junto com o jogo. Num jogo sem arbitragem, estes conflitos normalmente são
resolvidos no decorrer da partida, com diálogo, não se espera o apito final, é o
que se espera num bom convívio social o diálogo sempre tem que ser aberto, e
todos devem ter direito a falar, se eu respeito o que foi combinado dentro do
campo, porque não respeitar fora dele? Não vamos esperar o apito final, vamos
conversar ceder, exigir, cumprir, respeitar e principalmente se entender.
RESULTADOS
Conforme colocações apresentadas na metodologia, os primeiros
encontros foram de apresentação do projeto, tanto para a comunidade escolar,
como para os alunos, onde foi discutidos com todos, a necessidade de doação,
tanto dos professores como dos alunos, com relação a flexibilidade na
aceitação do dialogo.
Na sequencia estruturou-se algumas normas de comportamento de
acordo com o regimento, a serem seguidos pelos alunos do projeto juntamente
com os lideres de cada sala. Entre as diversas atividades programadas, estava
assistir a um jogo de futebol pela televisão, analisando as penalizações
aplicadas pela arbitragem, as razões e as consequências causadas à
coletividade.
Assim, realizaram-se atividades práticas de forma inclusiva, onde todos
participaram, conforme podemos visualizar nas fotos abaixo:
Atividades estas que foram desenvolvendo nos alunos maior integração,
participação e respeito entre eles, inclusive com aceitação por parte de todos,
da participação de outros alunos, que estavam interessados em participar,
principalmente do sexo feminino.
Atitudes estas que começou a dar resultados positivos, pois a integração
começou a tomar conta de todos. A participação nos jogos e a aceitação do
colega foram de grande reciprocidade. Ações estas que motivou os alunos e
começaram a ser refletido no ambiente escolar, na sala de aula, nos corredores
e pátio da escola, o respeito esta em alta.
Na sequencia do desenvolvimento do projeto, constatou-se conforme
relatado acima, uma convivência mais harmoniosa entre os alunos e demais
alunos da escola, situação esta que foi notada tanto pela equipe pedagogia
como pelos professores.
Mudanças estas que constatamos, conforme parecer de outro professor
de Educação Física, membro da escola, que observou e participou do projeto.
Palavras estas, que nos estimulam a continuar tentando mudanças, porem, cabem a nos educadores, desenvolver ações para que os alunos entendam e reflitam sobre suas atitudes, e quando isto ocorre às
mudanças acontecem. Mudanças estas também reconhecidas pela equipe pedagógica e direção da escola, conforme podemos observar em seus pareceres abaixo.
Ações estas que acarretaram mudanças no contexto escolar de forma
geral, inclusive de forma interdisciplinar, pois com a mudança de
comportamento por parte dos alunos, ocorreram melhorias nas notas e melhor
aproveitamento da aprendizagem em outras disciplinas, conforme podemos
observar no parecer da professora de Ciências, colocado abaixo.
Após estas colocações, conforme pareceres acima, podemos observar
que as razões de um ato de indisciplina, podem estar camufladas nos mais
inesperados locais, e nos educadores devemos entender a mente humana e o
que leva uma pessoa a se rebelar.
Nesta proposta de compreensão e combate a indisciplina, foi possível
interagir, combater, interferir, reprimir, coibir, punir, aproximar-se, dialogar,
oportunizar, amar etc. Estas palavras se misturam e é difícil identificar o
momento de usar cada uma delas. Porem, com experiência de docência,
atenção nas pequenas ações desenvolvidas pelos nossos alunos, podemos
detectar as suas ações, pois muitas vezes suas rebeldias em não seguir
normas, regras e regimentos, servem para chamar atenção de todos.
Ações estas que acabaram gerando problemas mais sérios, os conflitos
se tornavam inevitáveis, pequenas agressões morais e físicas aconteciam no
pátio, na quadra, na sala de aula e principalmente nos arredores da escola,
surtindo um efeito muito negativo para a imagem geral do estabelecimento e
daí por diante o trabalho do professor, equipe pedagógica e direção se
tornavam mais desgastantes levando ao choque com familiares e outras
pessoas envolvidas.
A escola tinha que assumir então o papel de pacificadora usando do
bom senso para restaurar a harmonia e manter o equilíbrio da ordem social
escolar, se obrigando a deixar de observar alguns quesitos das normas
estabelecidas e até regimentais, tal necessidade acabava se fazendo
necessária para evitar problemas futuros e para garantir os direitos do aluno,
mesmo que este dificilmente cumprisse com seus deveres.
Em alguns casos era necessária a presença policial e do conselho
tutelar, estes órgãos contribuíam com a escola com certa frequência, suas
ações inibidoras surtiam efeito imediato, mas que na maioria das vezes não
perduravam, os alunos que chegavam a estes extremos usavam sua
passagem pela policia e conselho tutelar como titulo que o credenciava ainda
mais a ser reconhecido, respeitado e temido pelo seu grupo de convivência que
certamente está dentro da escola.
Este problema detectado certamente não é um problema exclusivo, ele
está presente na maioria das escolas e nos mais diversos segmentos da
sociedade os alunos se espelham nos adultos que chegam atrasados no
trabalho, que não respeitam os horários que deixam de cumprir com suas
obrigações e ainda reclamam os seus direitos e que se utilizam de ameaças ou
mesmo de força física para se impor perante seu semelhante.
Diante da constatação que o problema da indisciplina, desrespeito, falta
de cumprimento de normas e regimentos além da violência escolar, são
problemas da maioria das escolas, é cômodo entender como uma situação
cotidiana que sempre existiu e sempre vai existir, mas entendendo que algo
pode ser feito para melhorar esta situação, não é possível fugir da
responsabilidade e aceitar esta situação pacificamente sem pelo menos tentar
mudar este panorama que vem se inserindo na normalidade e rotulando nossa
escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encontrar as raízes da indisciplina não é tarefa fácil, na maioria das
vezes elas são muito profundas, e sem encontrá-las, as ações de combate se
tornam ineficazes. Na maioria das vezes, passamos então a trabalhar impondo
limites, que nem sempre são respeitados, pregamos uma escola inclusiva que
na verdade tenta alienar e sufocar nossos alunos “problemáticos”.
Muito se tem estudado e pesquisado sobre indisciplina escolar, e através
destes estudos, alguns caminhos a serem seguidos são apontados. Um tema
bastante discutido tem sido a autodisciplina, que propõe a interação professor
aluno na busca do equilíbrio, que possa ajudar a levar o ser humano, que é ou
se sente excluído, a encontrar o seu lugar na sociedade, “se é que este modelo
de sociedade oferece lugar a todos”.
Apesar de modesto e limitado este trabalho possibilitou a observação e
analise dos mais variados pontos de vista sobre indisciplina, desde aquele
olhar direcionado, que aborda a indisciplina, na dureza da agressão, revolta e
atos de vandalismo, onde nada parece ter explicação e o “indisciplinado” é
visto e tratado, como um estorvo a sociedade, “que mostra caminhos e oferece
oportunidades”. Nesta visão ele nunca é visto como vítima desta mesma
sociedade, que não oportunizou, não educou, não criou expectativas e
historicamente o inseriu neste contexto. Até aquele olhar mais abrangente que
busca ver na indisciplina uma construção histórica, de seres humanos que
foram ou se sentiram excluídos e expressam em atos considerados contrários
a regras e regulamentos, sua revolta contra a maneira que a sociedade evolui,
e como as pessoas que detém o poder a governam.
A vontade de entender qual a mensagem transmitida por esta
indisciplina, nos leva a tentar buscar algumas respostas a interrogações que
surgem: Será que esta escola construída ao longo da história foi construída
para atender a este ser “indisciplinado”? Estamos ajudando aos
”indisciplinados” em sua inclusão social ou estamos empurrando-os para a
exclusão? São eles os indisciplinados, ou somos nós os alienados, que não
conseguimos gritar nem agir, diante do sistema corrupto, entregue as
negociações de interesses de minorias dominantes? Analisando estas
perguntas é preciso uma reflexão mais profunda quando nos depararmos com
a indisciplina, muitas indisciplinas só precisam de carinho e atenção, já outras
precisam de limites e tantas que precisam de uma ação mais rígida.
O certo é que não podemos ficar indiferentes aos acontecimentos temos
que agir, e sempre de maneira oportuna e com serenidade e o diálogo deve
estar presente em qualquer ação que se faça no combate a indisciplina escolar.
Todos os segmentos sociais devem se unir neste diálogo, principalmente a
família, que em qualquer linha de estudo aparece como fator decisivo na
disciplina. Este aluno “indisciplinado” não surge só nas classes menos
favorecidas, surgem também nas classes com maior poder econômico, e cada
tipo de indisciplina nos leva a uma reflexão, e suas variações dificultam ainda
mais o entendimento, mas com diálogo e troca de informações, poderemos
avançar nesta questão e quem sabe ajudar a construir uma sociedade mais
justa, onde deveres e direitos façam parte da rotina de todos e não precisem
ser cobrados e exigidos.
REFERENCIAS
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CODO. W. Educação: carinho e trabalho. 4ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
FANTE, C. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e
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FANTE, C; PEDRA, J. A. Bullying escolar: perguntas & respostas. Porto
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SILVA, N. P. Ética, indisciplina & violência nas escolas, Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
TEIXEIRA, M. C. S., SILVEIRA, M. do R. Imaginário do medo e cultura da violência na escola. Niterói, intertexto, 2004.