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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: Educação de Jovens e Adultos: interação e aprendizagem

Autor: Edna da Silva Pereira Volante Disciplina/Area: Pedagogia Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Londrina (CEEBJA)

Município da escola: Londrina

Núcleo Regional de Educação: Londrina Professora Orientadora: Profª Drª Sandra Aparecida Pires Franco Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina (UEL) Relação Interdisciplinar: Ciências e Arte Resumo:(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

A Educação de Jovens e Adultos- EJA enquanto modalidade de ensino tem a sua especificidade e atende adolescentes, jovens e adultos que trazem conhecimentos prévios e que busca no ambiente escolar a aquisição de conhecimentos científicos. A experiência de vida dos adultos oportuniza a interação com os adolescentes e jovens tornando a sala de aula um espaço de troca e apropriação de saberes. Desse modo, este Caderno Pedagógico disponibiliza sugestões de atividades para serem trabalhadas com educadores e educandos a respeito do relacionamento entre professor e aluno e entre aluno e aluno, a fim de otimizar o processo ensino-aprendizagem, tornando-o significativo para todos os envolvidos, buscando refletir e recriar as diferentes relações e processos de aprendizagem inerentes no contexto escolar, especialmente na EJA.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; relacionamento professor /aluno; processo ensino-aprendizagem, contexto escolar.

Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico Público:

Professores e alunos das turmas coletivas da Área de Ciências.

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APRESENTAÇÃO

A elaboração desse Caderno Pedagógico tem a finalidade de oferecer

subsídios para reflexões sobre as práticas pedagógicas utilizadas no dia a dia

contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentindo, alguns

questionamentos são necessários para direcionar as nossas ações como: O que é

educar? Quem é o homem que se pretende formar e qual é a prática pedagógica

que faz esta mediação?

A Educação de Jovens e Adultos como modalidade de ensino tem a sua

especificidade e atende adolescentes, jovens e adultos que trazem conhecimentos

prévios e que buscam no ambiente escolar a aquisição de conhecimentos

científicos. A experiência de vida dos adultos oportuniza a interação com os

adolescentes e jovens tornando a sala de aula um espaço de troca e apropriação de

saberes.

No entanto, considerando a diferença de idade entre as gerações e os

interesses diversos na questão da aprendizagem, a qual muitas vezes ocorre em

ritmos diferentes, há necessidade de o professor mediar as relações entre os

adolescentes e adultos, evitando situações conflituosas. Essa realidade desafia o

professor a buscar ações pedagógicas que estimulem a participação de todos no

processo de ensino para que realmente aconteça uma aprendizagem significativa.

Diante do exposto, este Caderno Pedagógico disponibiliza sugestões de

atividades para serem trabalhadas com os educandos a respeito do relacionamento

entre professor e aluno e entre aluno e aluno, a fim de otimizar o processo ensino-

aprendizagem, tornando-o significativo para todos os envolvidos.

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A Educação de Jovens e Adultos caracteriza-se como uma modalidade de

ensino que oportuniza aos jovens e adultos a continuidade de seus estudos,

possibilitando o acesso ao conhecimento científico. A Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional nº 9394/96 (BRASIL, 1996), em seu capítulo II, seção V, Art. 37

e 38 estabelece que:

Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º. O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. Art. 38º. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular.

Nesse sentido, a Educação de Jovens e Adultos deve priorizar a “formação

humana e o acesso à cultura geral”. Importa considerar que esta formação deve

possibilitar a participação política e produtiva nas relações sociais, assumindo um

comportamento ético e político por meio da “autonomia intelectual” e moral

(PARANÁ, 2006, p. 27):

No transcorrer do processo educativo, a autonomia intelectual do educando deve ser estimulada para que ele continue seus estudos, independentemente da educação formal. Cabe ao educador incentivar a busca constante pelo conhecimento produzido pela humanidade, presente em outras fontes de estudo ou pesquisa. Esta forma de estudo individual é necessária, quando se trata da administração do tempo de permanência desse educando na escola e importante na construção da autonomia. A emancipação humana será decorrência da construção dessa autonomia obtida pela educação escolar. O exercício de uma cidadania democrática pelos educandos da EJA será o reflexo de um processo cognitivo, crítico e emancipatório, com base em valores como respeito mútuo, solidariedade e justiça (PARANÁ, 2006, p. 29).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação de

Jovens e Adultos, “as relações entre cultura, conhecimento e currículo oportunizam

uma proposta pedagógica estabelecida a partir de reflexões sobre a diversidade

cultural” presente nas turmas desta modalidade de ensino. Nestes moldes, a escola

deve visar à articulação com a realidade dos estudantes, garantindo sua “função

socializadora e promotora do acesso ao conhecimento capaz de ampliar o universo

cultural do educando” (PARANÁ, 2006, p. 35).

A compreensão de “que o educando da Educação da EJA se relaciona com o

mundo do trabalho e que por meio dele busca melhorar sua qualidade de vida e ter

acesso aos bens produzidos pela humanidade significa contemplar, na organização

curricular” (PARANÁ, 2006, p. 35), as reflexões sobre a função do trabalho na vida

humana.

Marx (apud MARTINS, 2007) coloca o trabalho como condição essencial para

a humanização do homem que é parte da natureza e que depende dela para

sobreviver, ou seja, é um ser natural ativo que transforma o meio em que vive em

seu próprio benefício e de toda a sociedade.

O processo de humanização do homem pelo trabalho, para Saviani (2008, p.

95) realizava-se de forma espontânea e coletiva e não exigia outras formas de

educação que não a do simples convívio.

Era trabalhando a terra, garantindo a sua sobrevivência e a de seus senhores, que eles se educavam. Eles aprendiam a cultivar a terra, cultivando a terra. E esse trabalho fundava determinadas relações entre os homens através das quais eles construíam a cultura e, assim, se instruíam e se formavam como homens. A maioria, portanto, se educava pelo trabalho só uma minoria tinha acesso à forma escolar de educação. A educação escolar, por sua vez, era uma forma secundária e dependente da não escolar, que era o trabalho (SAVIANI, 2008, p. 95).

Professor, Leia mais sobre as Diretrizes Curriculares da EJA do Estado do Paraná em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1

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Na sociedade capitalista, a educação escolar passa a ser a forma dominante

de formação dos seres humanos e o desafio a ser enfrentado é a busca por uma

prática pedagógica crítica em que os indivíduos singulares se apropriem dos

elementos necessários a sua humanização por meio do trabalho educativo que

implica na formação baseada no processo histórico e ontológico da existência

humana.

Saviani define o trabalho educativo como:

[...] o ato de produzir direta e intencionalmente em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas de atingir esse objetivo (SAVIANI, 2008, p. 13).

Nesse sentido, é preciso ter clareza que o currículo da Educação de Jovens

e Adultos é diferenciado do currículo do Ensino Regular, o que não significa de modo

algum que se deve tratar os conteúdos escolares de forma precária ou apressada.

Ao contrário, devem ser abordados integralmente, considerando o conhecimento

prévio e os saberes adquiridos ao longo da história de vida de seus integrantes.

Os conteúdos estruturantes da EJA são os mesmos do Ensino Regular, nos

níveis Fundamental e Médio, porém com encaminhamentos metodológicos

diferenciados, considerando as especificidades dos educandos; ou seja, o tempo

curricular ainda que diferente do estabelecido para o Ensino Regular contempla o

mesmo conteúdo. Isso se deve ao fato de que o público adulto possui uma bagagem

cultural e de conhecimento adquiridos em outras instâncias sociais, uma vez que a

escola não é o único espaço de produção e socialização de saberes. Este fato torna

possível tratar do mesmo conteúdo de formas e em tempos diferenciados, tendo em

vista as experiências e vivências dos educandos da EJA.

Em 2006, conforme com o Documento elaborado pelo departamento de

Educação de Jovens e Adultos - Secretaria de Estado da Educação; Governo do

Estado do Paraná/Secretaria de Estado da Educação do Paraná/ Departamento de

Educação de Jovens e Adultos menciona que:

A proposta pedagógico-curricular de EJA, vigente a partir de 2006, contempla cem por cento da carga horária total na forma presencial (1200h

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ou 1440h/a), com avaliação no processo. A matrícula dos (as) educandos (as) ë feita por disciplina o pode se der na organização coletiva elou individual. A organização coletiva destina-se, preferencialmente, àqueles que têm a possibilidade de freqüentar com regularidade as aulas, a partir de um cronograma pré-estabelecido. A organização individual destina-se, preferencialmente, àqueles que não têm possibilidade de freqüentar com regularidade as aulas, como por exemplo, um caminhoneiro ou um trabalhador que troca de turno ou um trabalhador rural que necessita, para voltar a estudar, conciliar os ciclos de plantio e de colheita com a escolarização (PARANÁ, 2006, p. 25).

Retomando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96

com destaque para o art. 37, que trata da educação de jovens e adultos e da

inserção do aluno na escola, nota-se que em 2010 a Superintendência da Educação

da Secretaria do Estado da Educação – SUED/SEED publica a Instrução nº

032/2010 que define a idade mínima de 15 anos completos para ingresso no Ensino

Fundamental, ofertado na modalidade Educação de Jovens e Adultos.

A procura dos adolescentes na faixa dos 15 aos 17 anos pela modalidade EJA

aumentou consideravelmente, já que a taxa de conclusão do Ensino Fundamental

na idade correta é muito baixa.

Na questão da aprendizagem, os adolescentes possuem uma variedade de

informações, principalmente na informática e no uso das novas tecnologias. São

dotados de boa autoestima e confiantes em si próprios o que auxiliam na aquisição

do conhecimento. Os adultos possuem um vasto conhecimento de leitura de mundo

e detentores de diferentes habilidades. Possuem maior capacidade de reflexão,

autocrítica e autocensura, ousam menos, são mais inseguros e a baixa autoestima

interfere negativamente no processo de ensino e aprendizagem.

Outro fator determinante que interfere na aprendizagem é a questão do

material didático específico para os educandos da EJA, sendo escassa a bibliografia

e materiais para a modalidade, exigindo a necessidade de pesquisa e de criatividade

por parte do professor. Diante do exposto, o currículo deve ser bem elaborado com

conteúdos escolares significativos e que façam parte da vida dos educandos.

A contextualização dos conteúdos possibilita a interdisciplinaridade,

relacionando os conteúdos às demais disciplinas, mas também a sua aplicação

prática. Nesse sentido, os conteúdos não podem ser fragmentados, mas

apresentados dentro de uma totalidade, envolvendo os alunos na elaboração e na

reelaboração do conhecimento sistematizado.

A partir das políticas públicas estabelecidas ao longo dos anos, tanto em

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nível nacional quanto estadual, cresce bastante a procura de pessoas jovens e

adultos pelos cursos nos CEEBJAs, exigindo consequentemente uma melhoria

significativa na forma de ensinar, visando à permanência com sucesso desse

discente na escola, ressaltando a importância da capacitação de professores e

técnicos que atuam diretamente nessa modalidade de ensino.

Cabe neste ponto revisitar a concepção de Paulo Freire:

Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica. Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que o faço. É preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário, com humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu saber de “experiência feito” que busco superar com ele. Tão importante quanto o ensino dos conteúdos é minha coerência na classe. A coerência entre o que digo o que escrevo e o que faço (FREIRE, 1996, p. 40).

Diante desses fatos, torna-se destaque pensar na formação docente. Martins

(2007), tomando por referência a psicologia de Vigotsky em sua obra A formação

social da personalidade do professor,” destaca a busca por compreender nos marcos

da Pedagogia Crítica os elementos formadores da personalidade do professor e

como esse processo interfere na sua prática pedagógica. Pesquisas têm

demonstrado a importância da subjetividade do professor tanto que se refere à sua

formação quanto ao seu exercício profissional. O professor tem que ter clareza da

função social da educação e de que forma as suas ações contribuem para o acesso

aos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, instrumentalizando

os educandos para a tarefa da superação da ordem social desumana e injusta. É de

suma importância a análise das características pessoais das vivências profissionais

e a sua história de vida para a construção da identidade do professor.

Nesta perspectiva, a experiência pessoal a história de vida, torna-se central, pois se entende que fundamentar a educação no sujeito que aprende é condição básica para a construção de uma nova cultura sobre o ato educativo. Esta cultura caracteriza-se por levar em conta não apenas as aquisições acadêmicas, mas também e especialmente, a maneira como se constitui a própria vida tanto dos professores quanto dos alunos (NÓVOA, apud MARTINS, 2007, p.11).

Dessa forma, a valorização da experiência sobrepõe-se à formação teórica,

metodológica e técnica, em que o professor passa a analisar e refletir sobre a sua

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prática pedagógica, solucionando as situações concretas do cotidiano por intermédio

de ações adequadas em relação aos contextos e possibilitando o enfrentamento

para as mudanças que ocorrem na sociedade. O despreparo do professor

aumentando as exigências sobre as suas ações, como por exemplo, as contradições

e a desvalorização salarial e profissional, bem como a visão da educação como

promessa de um futuro melhor vem sendo abandonados aos poucos pela

sociedade.

Duarte (2010) afirma que existe distância entre conhecimento tácito e

conhecimento escolar, ou seja, o conhecimento tácito (conhecimento cotidiano) que

o educando traz para a sala de aula e o conhecimento que o professor constrói ao

refletir sobre o processo do conhecimento e de pensamento dos seus educandos

por meio da reflexão na ação estão dissociados. Sendo assim, o ensino torna-se

individualizado e o professor incapaz de compreender as dificuldades do educando.

Para Tardif (apud DUARTE. 2010), os cursos de formação profissional não

têm dado conta de atender os anseios do professor e propõe uma mudança

estrutural na carreira universitária e na formação de professores. Analisa essa crise

profissional afirmando a necessidade de o professor sair das universidades e sentir

o chão da escola para perceber a prática dos profissionais da educação.

O perfil do educando da Educação de Jovens e Adultos é o de exclusão

social, pois se caracteriza como uma última alternativa para a superação dessa

condição e para romper com a ideologia dominante em que o capitalismo é

caracterizado pela compra e venda de força de trabalho, na qual o trabalhador é

explorado, visando uma educação capaz de romper com os padrões atuais vigentes

em que o trabalhador sofre a “desumanização”.

É, pois, condição necessária restaurar o método dialético de investigação

que resulte em uma ação transformadora, em que a plena liberdade humana implica

na apropriação de valores, na qual a sociedade não vise apenas lucro,

transformando as pessoas em coisas ou mercadorias, mas, uma sociedade em que

as necessidades básicas do ser humano possam ser atendidas sem a exploração do

homem pelo homem.

Desse modo, para Duarte (2010), a educação busca compreender a

essência historicamente constituída do processo de formação dos indivíduos como

seres sociais.

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Não se trata de uma essência independente do processo histórico, das formas concretas de educação em cada sociedade. Trata-se da análise dos processos historicamente concretos de formação dos indivíduos e de como por meio desses processos vai se definindo no interior da vida social, um campo específico de atividade humana, o campo da atividade educativa (DUARTE, 2010, p. 38).

No processo de humanização do homem pelo trabalho, a educação realizava-

se de forma espontânea e coletiva e não exigia outras formas de educação que não

a do simples convívio, no entanto, educar seres humanos hoje é uma tarefa que

exige posicionamento afirmativo e reflexão ontológica sobre a educação.

Para Saviani (2008), a educação escolar na formação dominante dos seres

humanos no capitalismo não contempla o acesso das camadas populares ao saber

produzido pela humanidade, como também não permite a plena democratização da

apropriação do saber. Esse autor, ainda, define o trabalho educativo como algo

intencional, com um fim específico, referindo-se à diferença entre o trabalho

educativo e as formas espontâneas de educação que ocorrem sem o objetivo de

produzir a humanidade nos indivíduos, propondo a produção do ato educativo em

dois sentidos: o primeiro numa relação direta entre educador e educando e o

segundo como resultado direto do trabalho de humanização do indivíduo.

PRIMEIRO ENCONTRO: REVISITANDO AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Proporcionar aos educadores a oportunidade de repensar a sua prática pedagógica utilizando como subsídio o estudo do texto 1- “Tendências Pedagógicas”do Caderno.

Apresentação de slides com o quadro das Tendências Pedagógicas: Pedagogia Tradicional, Pedagogia da Escola Nova, Pedagogia Tecnicista e Pedagogia Histórico Crítica. Análise de cada tendência sobre o papel da escola, do relacionamento professor e aluno, conteúdos e metodologia por meio de questionamentos no grande grupo.

PREPARANDO O CAMINHO: PROPOSTA DE TRABALHO COM OS PROFESSORES DA EJA

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TEXTO 1- TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

A educação tem com função básica a transmissão dos conhecimentos

científicos acumulados pela humanidade. Enquanto prática social realizada por

seres humanos entre humanos retrata as necessidades de determinada época,

visando as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. Quando falamos das finalidades da educação no seio de uma determinada sociedade, queremos dizer que o entendimento dos objetivos, conteúdos e métodos da educação se modifica conforme as concepções de homem e de sociedade que, em cada contexto econômico e social de um momento da história humana, caracterizam o modo de pensar, o modo de agir e os interesses das classes e grupos sociais (LIBÂNEO,1991, p. 52).

Saviani (1991) analisa a questão da marginalidade relativa ao fenômeno da

escolarização classificando as teorias educacionais em dois grupos. Num primeiro

grupo, as teorias que entendem ser a educação um instrumento de equalização

social, portanto de superação da marginalidade – as teorias não críticas. Num

segundo grupo, as teorias que entendem ser a educação um instrumento de

discriminação social, logo um fator de marginalização – as teorias críticas. Ambos os

grupos explicam a questão da marginalidade a partir de determinada maneira de

entender as relações entre educação e sociedade.

As teorias educacionais não críticas concebem a sociedade de forma

harmoniosa, garantindo a integração dos indivíduos, corrigindo as distorções e

proporcionando uma sociedade igualitária. No segundo grupo de teorias, a educação

reforça a marginalização sendo a sociedade marcada pela divisão de classes

antagônicas que se relacionam à base da força, a qual se manifesta nas condições

de produção da vida material. A classe que detém maior força se converte em

dominante. As teorias críticas compreendem a educação por meio dos

determinantes sociais de estrutura sócio-econômica.

A educação como direito de todos e dever do Estado consolida o poder da

burguesia na sociedade com o desafio de tornar os indivíduos livres da ignorância,

surge então a escola que se organiza centrando o ensino na figura do educador, que

deveria ser bem preparado, dotado de uma conduta autoritária e exigindo do

educando uma atitude receptiva. A teoria adotada não consegue a universalização e

nem garante o sucesso de todos que nela ingressam, essa escola passa a ser

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chamada de escola tradicional.

As críticas a Pedagogia Tradicional se avolumam dando origem um

movimento de Reforma “o escolanovismo”, uma nova maneira de interpretar a

educação para combater a aprendizagem receptiva e mecânica. A Escola Nova

coloca o educando como o centro do processo ensino aprendizagem – “aprender a

aprender”- aprender no sentido de modificar as percepções da realidade. O

educador é um facilitador da aprendizagem – um orientador responsável pelo

relacionamento de respeito entre educador e educando.

Na prática a Pedagogia Nova se revelou ineficaz e articula-se uma nova teoria

educacional: a Pedagogia Tecnicista em que um conjunto de meios garantem a

eficácia do ensino. O papel do educador é o de técnico, seleciona organiza e

transmite informações. A aprendizagem é baseada no desempenho, o que importa é

aprender a fazer.

Na concepção Histórico-Crítica, o objetivo é a apreensão dos conteúdos

culturais universais de forma crítica frente à realidade social. O educador direciona e

conduz o processo ensino aprendizagem como mediador do conhecimento.

PARA REFLETIR

De que forma as práticas pedagógicas devem ser voltadas para a formação integral do educando determinada pelas condições econômicas,

culturais e históricas?

Nesta perspectiva para enfrentar os desafios educacionais do nosso tempo,

Gasparin (2002) pautado no método dialético do conhecimento escolar, tendo como

base o materialismo histórico e a teoria histórico-cultural de Vigotsky1, demonstra a

necessidade de contextualização dos conteúdos em todas as áreas do

1 Neste trabalho será utilizada a grafia “Vigotsky” sempre que houver menção a esse autor desvinculado de uma obra ou quando a obra já trouxer essa forma de escrita.

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conhecimento humano, bem como as suas múltiplas faces dentro do todo social. Os

três passos do método dialético da construção do conhecimento escolar – prática,

teoria, prática (Teoria histórico – cultural de Vigotsky) se desdobram nos passos da

Pedagogia Histórico-Crítica apresentada por Saviani (1986) e explicitada por

Gasparin em cinco capítulos do seu livro – Prática Social Inicial, Problematização,

Instrumentalização, Catarse e Prática Social Final que são transformados em uma

Didática visando tornar os processos de ensino e de aprendizagem mais

significativo.

PARA REFLETIR

Você concorda professor(a)? O desafio do educador é levantar questionamentos sobre o

conhecimento prévio do educando para elaborar um planejamento em que os conteúdos possam ser trabalhados de forma contextualizada levando os

educandos a reformular e ampliar seus conhecimentos prévios.

Professor (a) qual é o seu papel social?

Qual é a sua prioridade no

processo de ensino e aprendizagem?

O que você precisa rever no

seu fazer pedagógico?

Você está formando homem

“gente” ou homem” máquina”?

Como é a sua prática

pedagógica?

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SEGUNDO ENCONTRO: RELAÇÃO EDUCADOR E EDUCANDO – APRENDIZAGEM E AFETIVIDADE

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Buscar estratégias para incentivar os educandos a aquisição de hábitos e atitudes para uma boa interação na sala se aula. Rever metodologias que despertem o interesse do educando para a sua participação e responsabilidade no processo de ensino e aprendizagem.

Após a leitura e comentários do texto 2 do Caderno -” Relação educador e educando -Aprendizagem e Afetividade”, propor aos professores que em pequenos grupos respondam por escrito as questões e em seguida comentem no grande grupo.

TEXTO 2- RELAÇÃO EDUCADOR E EDUCANDO

Em primeiro plano, deve-se ponderar que é na sociedade e nos diferentes

grupos sociais que se desenvolve a aquisição de hábitos e atitudes e o

comportamento social é apreendido no relacionamento com as pessoas. Na escola,

no espaço da sala de aula, a interação se processa por meio da relação educador-

educando e educando-educando com o convívio diário, o qual favorece a troca de

informações, a assimilação de valores e o desenvolvimento de atitudes. Nesse

espaço de interação social, a troca de experiências de vida e a aquisição de

conteúdos interferem na personalidade e no comportamento dos educandos.

A construção do conhecimento ocorre de processos interativos e a troca de

ideias e de opiniões de forma implícita ou explícita demonstram suas formas de ver

e conceber o mundo.

Para Haydt (2006), nesse processo de interação humana em que o

conhecimento vai sendo construído coletivamente, a relação educador e educando

cumpre duas funções básicas: a função incentivadora e a função orientadora. Na

função incentivadora, o educador deve despertar por meio da curiosidade do

educando o seu interesse para a aprendizagem, enquanto a função orientadora

direciona o seu esforço para aprender na construção do seu próprio conhecimento.

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Métodos de ensino e o uso de novas tecnologias não serão eficientes para o

ensino aprendizagem se o professor conceber os seus educandos como seres

passivos ou meros espectadores. O educando deve ser o agente de sua

aprendizagem como um ser ativo que amplia os seus conhecimentos prévios e suas

experiências desenvolvendo conceitos e resolvendo problemas de vida prática.

Cabe ao educador valorizar a individualidade de cada educando conhecendo

as suas potencialidades, observando as diferenças individuais e orientando a

atividade mental de modo que cada um deles transforme-se em sujeito consciente,

ativo e autônomo.

Nesse processo interpessoal, ocorre a relação educando-educador e a

aprendizagem acontece numa relação bilateral por meio da qual o educando

assimila e constrói conhecimentos desenvolvendo conceitos, modificando e

ampliando suas estruturas mentais e o educador nessa relação aprende com o

educando quando consegue compreender como este percebe e sente o mundo e

quais os conhecimentos e valores que traz de seu ambiente familiar. Para haver um processo de intercâmbio que propicie a construção coletiva do conhecimento, é preciso que a relação professor-aluno tenha como base o diálogo. É por meio do diálogo que professor e aluno juntos constroem o conhecimento, chegando a uma síntese do saber de cada um (HAYDT, 2006, p. 59).

A construção do conhecimento é um processo de interação social mediado

pelo diálogo que permite o intercâmbio entre o conhecimento popular de caráter

empírico e o conhecimento cientificamente organizado originando um novo tipo de

conhecimento.

Nesse sentido, os educandos da EJA retornam à escola em busca de formação que

o mercado de trabalho exige e o papel do educador é de incentivar e orientar o

educando conquistando a sua confiança. O bom relacionamento entre educador e

educando contribui para o processo de ensino e aprendizagem estimulando-o a

participar das atividades propostas na sala de aula tornando o ensino mais dinâmico

e criativo. Dessa forma, a tarefa do educador consiste em conscientizar o educando

da sua responsabilidade e compromisso no processo educativo estabelecendo uma

postura dialógica, como postula Freire (1996, p. 8): ‘’Sem diálogo não há

comunicação e sem esta não há verdadeira educação.’’

O diálogo, no pensamento de Freire (1996), representa o encontro no qual a

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reflexão e a ação, inseparáveis daqueles que dialogam orienta-se para o mundo que

é preciso transformar e humanizar. Assim, o papel do educador é de um dos

mediadores sociais entre a sociedade e o particular do educando.

O educador precisa ter consciência de que o público da EJA é formado por

pessoas diferentes com um leque de necessidades e dificuldades também distintas.

São sujeitos que almejam melhoria na qualidade de vida por meio da aquisição dos

conhecimentos científicos.

A importância do olhar do educador em relação aos educandos deve ser de

empatia e de afetividade, considerando que o educando forma um todo e que

precisa ser aceito como pessoa, devendo respeitar e ser respeitado. Na prática

pedagógica, a empatia deve se estabelecer na relação educador e educando e

representa um fator importante para o sucesso da aprendizagem.

PARA REFLETIR

Professor, Você estimula o diálogo e incentiva seus alunos a participar dos

processos de ensino e de aprendizagem?

Segundo Libâneo (1985), para que a aprendizagem se concretize, o educador

deve apresentar tarefas cognoscitivas bem elaboradas de acordo como nível mental

de desenvolvimento, idade, experiências de vida e conhecimentos assimilados. O

trabalho docente deve ser pautada numa constante reflexão e retomada dos

conteúdos bem como incentivo aos educandos para se expressar e expor suas

opiniões traduzindo assim as suas dificuldades ou as suas aprendizagens. Alguns

procedimentos são necessários para o sucesso dessa interação – manejo de

recursos de linguagem, entonação de voz, falar com simplicidade sobre temas

complexos, ter um bom plano de aula, objetivos claros e explicar aos educandos o

que se espera deles em relação à assimilação do conteúdo.

Em relação aos aspectos socioemocionais, os vínculos afetivos entre

educador e educando devem ser direcionados para todo o grupo, acompanhado de

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respeito e de condutas estabelecidas por todos, em que o educador deve exercer a

autoridade como atributo de sua condição profissional. “Percebe-se, assim a

importância do papel do educador o mérito da paz com que viva a certeza de que faz

parte da sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar

a pensar certo” (FREIRE, 1996, p. 26).

Professor, o seu aluno:

PARA REFLETIR

Você acha importante dialogar com seus alunos?

Qual é o melhor método de ensino para o seu aluno? Você já orientou alguns procedimentos para que ele estude com sucesso?

Que ações podemos desenvolver coletivamente para um bom relacionamento no espaço escolar?

Sabe extrair as ideias principais de um texto,

analisar e discutir sobre elas?

Em casa é incentivado pelos

familiares a estudar?

Dorme o tempo necessário?

Tem lugar específico para

estudar?

Tem facilidade para fazer amizades?

Tem espírito de solidariedade e cooperação?

Respeita os colegas e o professor?

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TERCEIRO ENCONTRO: PROMOVENDO REFLEXÕES A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DE FILMES

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Organizar com os professores momentos de reflexão sobre a prática pedagógica utilizando os recursos didáticos como o uso do vídeo e de atividades impressas.

Distribuir antecipadamente o roteiro do filme “Escritores da Liberdade” para leitura e levantamento de questões pelos professores. Análise de trechos do filme.

Os educandos da EJA trazem a sua bagagem de vivências e de experiências

que devem ser incorporadas aos conhecimentos científicos, visando uma mudança

social. Diante desse contexto, para que a educação realmente se torne significativa,

a tarefa do educador consiste em contextualizar os conteúdos, levando os

educandos a se apropriar dos conhecimentos, fazendo a ligação com a vivência

extraescolar. Há uma separação entre escola e mundo exterior. É bem verdade que a função da escola não é trabalhar com os conhecimentos cotidianos que podem ser aprendidos sem ela. A tarefa principal da escola é trabalhar com os conhecimentos sistematizados, científicos, mas a partir da realidade, isto é, fazer com que os conceitos cotidianos ascendam aos científicos e estes desçam aos cotidianos para que se tornem científicos no cotidiano, por meio da mediação do professor (GASPARIN, 2005, p.115).

Assim, para vencer os desafios educacionais, o educador pode lançar mão de

diversos recursos didáticos, como, por exemplo, a exibição de filmes selecionados,

direcionando determinados conteúdos que necessitam ser trabalhados como

afetividade, relacionamento pessoal e persistência.

O cinema, assim como as outras artes, está sempre refletindo sobre o contexto em que acontece mesmo quando retrata um tema histórico ou religioso. De uma forma direta ou indireta, acaba por incorporar não só a visão artística, mas também a visão crítica e social de seus autores, desde o autor do argumento até o diretor, passando por roteiristas, cenógrafos, figurinistas iluminadores, autor da trilha sonora, atores, montadoras etc (PARANÁ, 2003, p. 37).

O cinema tem a intenção de agradar a uma clientela diferenciada, em função

disso a indústria cinematográfica produz vários gêneros de filmes: comédia, drama,

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policial, aventura, faroeste, filme histórico, musical, fantástico, horror, documentário e

seriado.

No âmbito escolar, a utilização dos filmes pode revelar-se uma estratégia

bastante produtiva, tendo em vista a multiplicidade de material relativo a filmes

disponível.

PARA REFLETIR

O uso de novas tecnologias em sala de aula contribui para facilitar a

transmissão e a assimilação do conhecimento. Na sua prática pedagógica tem usado com frequência o computador, a internet ou outras ferramentas tecnológicas?

Alguns filmes trazem mensagens nesse sentido: “Ao mestre com carinho”

com o ator Sidney Poitier e “Escritores da Liberdade” com a atriz Hilary Swank,

cujas sinopses são apresentadas a seguir.

Fonte: www.adorocinema.com/filmes/filme-60975/trailler-18721238/

Apesar de ser uma obra bastante conhecida por ser um clássico da

dramaturgia, Ao mestre com carinho traz uma mensagem de otimismo que pode ser

Um jovem professor enfrenta alunos indisciplinados e desordeiros, neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medo dos adolescentes do ano 60. Sidney Poitier tem uma de suas melhores atuações como Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que resolve dar aulas em Londres, no bairro operário de East End. A classe, liderada por Denham (Christian Roberts), Pamela (Judy Geeson) e Barbara (Lulu, que também canta a canção título) estão determinados a destruir Thackeray, acostumados a hostilidades enfrenta o desafio tratando os alunos como jovens adultos que breve estarão se sustentando por conta própria. Quando recebe um convite para voltar à engenharia Thackeray deve decidir se pretende continuar.

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utilizada no trabalho com a motivação de professores e ainda como sugestão para

discutir a interação entre professor e alunos e a importância da afetividade na

consolidação de uma relação mais próxima neste sentido.

Antes da exibição do filme Escritores da Liberdade, foi entregue aos

professores um roteiro com questões que deveriam ser avaliadas para futuras

discussões:

1) Por que os adolescentes agiam de forma agressiva?

2) Quais as dificuldades encontradas pela professora para realizar o seu

trabalho?

3) Professor (a), você se sente desmotivado com seus alunos?

4) Concorda com a frase: “Você não pode ensinar, quem não quer

aprender”

5) O que mais lhe chamou a atenção nesse filme?

Fonte: www.adorocinema.com/filmes/filme-60975/trailler-18721238/

Após a exibição dos filmes, alguns questionamentos devem ser lançados para

que os professores possam expressar as suas opiniões, levantando questões e

suscitando debates.

Uma história envolvendo adolescentes criados no meio de tiroteios e agressividade, e a professora que oferece o que eles mais precisam: uma voz própria. Quando vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin Gruwell combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula faça a diferença na vida dos estudantes. Agora, contando suas próprias histórias e ouvindo a dos outros, uma turma de adolescentes supostamente indomáveis vai descobrir o poder da tolerância, recuperar suas vidas desfeitas e mudar o mundo...

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Encerrados os encontros com os professores, a etapa seguinte de

implantação da produção didático-pedagógica constou de cinco encontros com os

alunos integrantes das turmas coletivas de Ciências do CEEBJA de Londrina.

QUARTO ENCONTRO: DIFERENTES REALIDADES EDUCACIONAIS

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Identificar no documentário Pro dia nascer feliz alguns aspectos retratados em diferentes escolas por meio do depoimento de jovens e professores

Analisar com os alunos trechos do documentário, o qual relata diferentes realidades vivenciadas em escolas de Pernambuco e São Paulo. Distribuir o roteiro do filme para facilitar a análise e a compreensão do documentário. Estabelecer um paralelo com a nossa escola e valorizar as nossas estruturas físicas.

PERCURSO DE APRENDIZAGEM: PROPOSTA DE TRABALHO COM OS ALUNOS DA EJA

Professor, quais outros recursos

didáticos costuma trabalhar com seus

alunos?

Professor, no seu fazer pedagógico, tem o hábito de trabalhar com

filmes?

Professor, alguma vez acompanhou os seus alunos ao

cinema?

Com qual intensidade

trabalha com filmes em sala de aula?

Que tipo de filme utiliza?

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Documentário “Pro dia nascer feliz”.

O documentário Pro dia nascer Feliz, dirigido por João Jardim em

2006, permite reconhecer elementos do sistema educacional brasileiro sendo

descrita realidades escolares distintas, sendo uma escola de Manari (PE), uma de

Itaquaquecetuba (SP) e outra da área central da capital de São Paulo. No

documentário, podemos visualizar contextos sociais, econômicos e culturais

distintos, sob a perspectiva de que a realidade que constitui a estrutura educacional

acaba sendo marcada pelo ponto de vista da instituição, do aluno, do professor e de

certa forma, da família.

Podemos ainda, entender que a intencionalidade do documentário é o

de demonstrar a grande lacuna que se estende entre as escolas públicas e privadas,

bem como a relação do jovem estudante com a escola, dando ênfase na

desigualdade social e na multiplicação da violência.

É notória a grande diferença social apresentada no documentário, tanto

financeira, quanto cultural das escolas e regiões abordadas pelo diretor, entretanto,

diante de um olhar mais apurado, percebemos também que os problemas estão

presentes em todos os lugares do país, e vão se diferenciar apenas nos aspectos

culturais de uma região à outra. São problemas que certamente iremos encontrar em

escolas de periferia do Centro-Oeste, Sul e região Norte do país.

O filme inicia mostrando cenas de 1962, onde o locutor faz a indagação

sobre qual seria a melhor educação para os jovens da época, marcada por

aglomerações de jovens revoltados e incorporados a um vandalismo desenfreado,

onde muitos acabam passando por um ciclo em que poucos conseguem o diploma

do 2° grau e menos ainda, poucos conseguem a oportunidade de ingressarem em

uma universidade.

A Escola Estadual “Manoel de Souza Neto”, de Pernambuco

apresentada no documentário, evidencia uma realidade lamentável, com um nível de

educação de baixa qualidade, onde até os recursos didáticos são inexistentes, além

Professor, O documentário completo pode ser acessado pelo endereço

http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfOvqmU

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de um corpo docente sem uma formação adequada ou uma especialização que dê

um suporte ao educador.

Observa-se uma carência estrutural muito grande, tanto das salas de

aula como dos banheiros, totalmente inadequados para utilização. Há uma

adolescente na ocasião que fala a respeito dessa precariedade, dizendo que não

havia descarga no vaso, tampouco papel higiênico.

Percebe-se que a estrutura deficitária pode gerar o desinteresse dos

estudantes em relação aos estudos. Destaca-se um depoimento da aluna Valéria

quando diz que seus trabalhos não eram valorizados, pois os professores, com

pouco conhecimento, simplesmente não acreditavam que era ela a autora de tais

atividades.

Já a Escola Estadual “Parque Piratininga II”, localizada em

Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, traduz uma realidade diferenciada. Apesar

de uma melhora significativa em relação à parte visível dos estudantes e da própria

estrutura da escola, são desvelados muitos problemas, sobretudo no entorno da

instituição escolar.

O documentário retrata casos de extrema pobreza na comunidade que

determina, de certa forma, o desenvolvimento social das crianças. Isso ficou bem

claro quando uma aluna disse sobre a impossibilidade de organizar um cinema ou

um teatro na escola, já que ninguém poderia pagar ou contribuir com certa quantia.

Os problemas em relação ao interesse pelos estudos e disciplina dos

alunos eram bem evidenciados, os professores se valiam do direito de faltarem ao

expediente, o que culminava diversas vezes na liberação dos alunos bem mais cedo

que o previsto. Uma professora da instituição fez um desabafo dizendo que não

acreditava mais na educação: “Tá todo mundo cansado de ouvir os problemas da

educação, mas ninguém faz nada.”

A terceira escola retratada no documentário foi o Colégio “Santa Cruz”,

instituição particular localizada no bairro Alto de Pinheiros, zona central de São

Paulo. Nesta escola a realidade é bem diferente; trata-se de uma escola de

classe social alta, onde os estudantes não encontram problemas relacionados à

infraestrutura ou recursos diversos. No entanto, são encontrados alguns problemas

de cunho cultural e familiar. Uma das alunas – Ciça – faz um relato emocionado

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dizendo estar sofrendo muito porque era discriminada por outros alunos que a

julgavam estudiosa demais, e dessa forma, não tinha mais namorados.

Neste encontro será entregue aos alunos um roteiro do documentário para

facilitar a análise e a compreensão da obra, a qual, por ter uma duração prolongada,

não será exibida em sua totalidade, sendo selecionados trechos representativos das

três escolas retratadas.

A partir do objetivo de instigar os educandos a analisar as três escolas

retratadas no documentário, serão exibidos trechos do documentário e a seguir os

alunos, distribuídos em grupos, deverão elaborar a resenha de cada parte da obra

exibida, conforme modelo apresentado na sequência.

OBSERVE O TRECHO EXIBIDO E APONTE SUAS PERCEPÇÕES

IDENTIFICAÇÃO DA OBRA Nome do filme, lugar, ano e duração: Direção: Palavras-chave: __________, __________, __________, __________.

Faça um breve resumo explicando o trecho exibido:

Registre sua opinião sobre a realidade da escola exposta no trecho:

Compare a realidade apresentada à sua escola:

A partir dos problemas observados na escola retratada neste trecho do documentário, apresente sugestões para melhorar sua realidade:

A socialização dos conhecimentos construídos será concretizada pela

discussão de alguns aspectos inseridos no roteiro previamente distribuído aos

alunos.

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QUINTO ENCONTRO: ANALISANDO A INTERAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNOS

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Promover a interação dos adolescentes, jovens e adultos para um bom relacionamento no espaço escolar visando o processo de ensino e aprendizagem.

a) Exibição do discurso de Morgan Freeman no filme Meu mestre minha vida;

b) Refletir sobre as posições que devem ser assumidas pelos alunos conforme sugestão do mestre na obra exibida;

c) Produção escrita sobre o relacionamento professor/aluno.

O filme Meu mestre minha vida possibilita a compreensão, no discurso

do professor Clark, interpretado com maestria por Morgan Freeman, sobre a

importância de os alunos acreditarem na escola e em si mesmos. Ele

incentiva os alunos a estudarem e a elevarem a sua autoestima mostrando

que todos são capazes de vencer a partir do esforço e dedicação.

Na sua opinião, a estrutura física da escola atrapalha a

aprendizagem? Justifique:

Você identificou algum tipo de

problema na escola do Alto de Pinheiros?

Quais são as dificuldades

encontradas pelos alunos na Escola de

Manari (PE)?

No relato dos jovens da escola de

Itaquaquecetuba, quais são os problemas

retratados?

Você acredita que basta uma boa

estrutura escolar para formar um bom

aluno?

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Os alunos serão estimulados a discutir e promover reflexões sobre a

abordagem realizada no discurso, a partir dos seguintes questionamentos:

Após a discussão proposta pela exibição do discurso, os alunos deverão

expressar-se por meio de produção escrita, sobre a importância da relação

professor e aluno e aluno e aluno, podendo ainda ser incorporados desenhos,

músicas ou poemas.

Você acredita que a motivação é o

componente central para a

aprendizagem?

Como você se sente em situações em que precisa ser

avaliado?

O que mais lhe chamou a atenção no discurso do diretor?

Comente a reação dos alunos diante das

palavras do diretor:

Professor, O discurso de que trata esta unidade pode ser acessado pelo

endereço http://www.youtube.com/watch?v=UptSuYwF77k

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SEXTO ENCONTRO: REFLETINDO SOBRE A REALIDADE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Desenvolver a leitura e interpretação de texto opinativo

Leitura e interpretação de texto impresso: Estudantes da EJA explicam seus motivos Questionamentos a respeito dos relatos analisados; Reflexões sobre a importância de os alunos assumirem as responsabilidades na construção de seu próprio conhecimento.

Será proposta a leitura de reportagem contendo depoimentos de jovens de 15

a 18 anos, provenientes de diversas regiões do país, sobre as causas de ingresso

na Educação de Jovens e Adultos.

Fonte: FERNANDES et. al, 2011

Fonte: FERNANDES et. al, 2011

TRABALHO

"Comecei a trabalhar com 5 anos. Desisti de ir para a escola no 5º ano. Hoje trabalho com uma carroça, mas já sei dirigir carro e moto. Já fui pedreiro e vez ou outra faço uns bicos de ajudante. Vou terminar a escola para ter um emprego melhor." G. R.N., 15 anos, aluno do 3º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

"Saí da escola para tentar ser jogador de futebol no time do Fortaleza. Passei na peneira, mas fui dispensado porque não estava estudando. Perdi a grande chance da minha vida porque deixei a escola. Voltei porque quero fazer administração." M. J. S., 16 anos, aluno do 3º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

"Durante o dia, trabalho em uma casa de família e à noite vou para a escola. Prefiro frequentar as turmas da EJA porque as aulas são mais tranquilas, não tem bagunça. A minha vontade é fazer faculdade de administração de empresas e quero estudar até quando for possível." J. R. A., 15 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Marabá, PA.

DESMOTIVAÇÃO

"Fiquei três anos fora do colégio porque achava estudar chato demais. Cheguei a dizer para a minha mãe que ‘preferia morrer a voltar pra escola’. Ela tem 60 anos e me convenceu a voltar quando ela própria se matriculou. Hoje, estamos na mesma turma." W. J. B. S., 17 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Sertãozinho, SP.

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Fonte: FERNANDES et. al, 2011

Fonte: FERNANDES et. al, 2011

Fonte: FERNANDES et. al, 2011

REPROVAÇÃO E EVASÃO "Fui reprovado três vezes por indisciplina. Minha avó também foi aluna da EJA e me ajudou a mudar. Na sala, os alunos mais velhos são comportados, mas são legais. A história de vida deles serve de exemplo para quem é mais novo. Quero fazer um curso técnico de mecatrônica." J. G. C., 15 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª série), em Curitiba. "Faltava muito e por isso repeti o 2º ano, depois o 3º, o 4º e o 5º. Quando fui reprovada no 6º, decidi ir para a EJA. Estava me sentindo velha, meus colegas eram pequenos. Aqui sou a mais nova, mas me sinto à vontade. Tem gente de todas as idades." T. D. C. 16 anos, aluna do 3º ciclo da EJA(5ª e 6ª séries), em Sertãozinho, SP. "Entrava na escola e logo saía. Achava que não aprendia nada. Só aos 15 anos comecei a levar os estudos a sério. Casei há dois anos e minha sogra me incentivou a voltar. Para tudo nessa vida, tem de estudar. Hoje, se estou com dificuldades, procuro o professor. Meu sonho é ser médica e vou correr atrás disso." M. T. S., 19 anos, aluna do 3º ciclo da EJA (5ª e 6ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

DISTÂNCIA DA ESCOLA

"Resolvi estudar à noite, na EJA, porque à tarde levo e busco meus irmãos na escola, que fica a 4 quilômetros da nossa casa. A prioridade é que eles, que são menores, não faltem nunca. Quando não tem carona, ando 24 quilômetros por dia para levá-los, buscá-los e para eu mesmo ir e voltar da escola." J. P. N. M., 16 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Marabá, PA.

"Morava na zona rural, minha casa ficava muito longe da escola e não havia transporte. Durante seis anos, ajudei meu pai na roça. Este ano, ele passou a trabalhar em uma fábrica aqui e comecei a estudar. Como nunca havia frequentado a escola, recomendaram que eu fosse para a EJA." J. M.S., 18 anos, aluno do 1º ciclo da EJA (1ª e 2ª séries), em Sertãozinho, SP.

DECISÃO DO GESTOR

"Por nota, só repeti a 2ª série. Nos outros quatro anos, fui reprovada porque sempre abandonava a escola. Era uma aluna problema, brigava muito e matava várias aulas. Por isso, me mandaram para a EJA. Hoje, continuo estudando porque quero melhorar minha vida." P. M. S., 15 anos, aluna do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Juazeiro do Norte, CE.

"Sempre trabalhei como pintor e repeti uma única vez. Este ano, mudei de escola porque a diretora me mandou para a EJA. Na minha sala, somos apenas oito alunos jovens. O restante da turma é formado só por pessoas mais velhas. Sinto falta do colégio anterior, principalmente dos meus amigos." C. M. S., 15 anos, aluno do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Teresina, PI.

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Fonte: FERNANDES et. al, 2011

Após a leitura, os alunos serão instigados a relatar seus motivos para

o ingresso na turma da Educação de Jovens e Adultos.

Na sequência, deverão selecionar artigos sobre educação, fazer

análise e comparação com os problemas vivenciados na nossa escola.

A culminância deste encontro será a organização, em pequenos

grupos, de um painel com gravuras e recortes de jornais e revistas para

ilustrar o tema. A socialização dos conhecimentos construídos ao longo do

encontro dar-se-á pela apresentação de cada grupo aos demais, para que a

turma possa identificar a problemática retratada. Em seguida, os integrantes

do grupo poderão inserir novas abordagens sobre o assunto. SÉTIMO ENCONTRO: TER E SER: TRABALHANDO O CONSUMISMO

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Conscientizar os educandos sobre os valores morais e éticos bem como o seu papel de cidadão autônomo e crítico.

Leitura e reflexão do texto informativo Consumismo; Leitura e reflexão do texto literário Consumismo; Exibição do vídeo 1,99- um supermercado que Vende Palavras.

Considerando a clientela a que se destina a presente produção, na qual estão

presentes alunos em condições diferenciadas que demandam uma atenção maior

no que diz respeito ao desenvolvimento de atitudes e valores coerentes com as

finalidades da educação no momento atual.

GRAVIDEZ PRECOCE

"Fiquei sem estudar por dois anos porque me casei, tive bebê e meu ex-marido era muito ciumento. Perdi muito tempo, mas voltei mais madura. Antes, só pensava em bagunçar. Aqui, na EJA, não tem isso. Só tenho uma amiga, mas acho até bom porque me concentro mais. Quero logo tirar o diploma e conseguir ser advogada." M. S. D., 18 anos, aluna do 4º ciclo da EJA (7ª e 8ª séries), em Teresina, PI.

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Por este motivo, optou-se por trabalhar textos informativos e literários que

permitam contrapor o ter e o ser, a partir de um vídeo rápido denominado 1,99- um

supermercado que Vende Palavras, disponível em

dules/video/showVideo.php?video=6565

Trata-se de uma produção diferenciada cujo tema central volta-se para o

desejo, angústia e compulsão por fazer compras, em um supermercado que "vende"

conceitos e ideias como família, sucesso e amor. Apresentado na forma de curtas

histórias, traz em seu bojo visões interessantes sobre a vida, convivência, violência

e outros aspectos da sociedade moderna.

Na segunda fase deste encontro, será proposta a leitura e reflexão sobre o

texto a seguir.

Após a leitura e reflexão do texto impresso “O Consumismo” levar os

educandos a pensar no seu papel como cidadão consciente não se deixando

influenciar pelas propagandas comprando o supérfluo e gerando desperdícios, a

partir dos questionamentos a seguir:

CONSUMISMO Os homens, através da tecnologia, inventam a cada dia novas formas de conforto e

lazer. E objetos que possam atender à demanda do consumo. Uma das formas de convencer o consumidor a compra os novos produtos é a

publicidade. A publicidade é feita das formas mais variadas. Vai de um simples folheto distribuído nas ruas, ou pelos correios, até Sofisticados filmes, que contam muito caro e que os anunciantes passam nas principais emissoras de televisão ou nos cinemas.

Nós falamos em televisão, mas é bom lembrar que outros veículos de comunicação – rádios e jornais – também vivem do que cobram pelos anúncios. Toda essa carga é jogada em cima das pessoas e fica difícil resistir à vontade de comprar. E comprar cada vez mais, mesmo que não se necessite deste ou daquele brinquedo, ou eletrodoméstico. Isto é consumismo. Ele atinge mais diretamente as crianças, que acabam sempre desejando tudo o que é anunciado. Até por que não têm a noção real do valor do dinheiro e a dificuldade que seus pais enfrentam para consegui-los.

O consumismo é um mal que deve ser combatido em todas as idades. Mas é difícil acabar com ele, porque as crianças vêem, nas ruas e em suas escolas, os colegas com um tênis da moda ou uma mochila nova e logo querem ter essas novidades. Esse espírito de competição também leva os adultos à compra de objetos que são absolutamente desnecessários. Se nosso vizinho compra um carro novo, logo queremos trocar o nosso.

A necessidade da conscientização do que é consumismo é uma busca constante das famílias hoje em dia. Também de uma grande parte da sociedade. E todos reconhecem que é preciso resistir ao consumismo.

(André Carvalho e Alencar Abujamra, Consumidor e consumismo, Coleção “Pegante ao José”, Lê, 1993.)

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No encaminhamento das atividades voltadas para a contraposição entre o ter

e o ser, será concretizada a leitura do poema de Carlos Drummond de Andrade, Eu,

etiqueta, de onde foram extraídas as estrofes a seguir.

Fonte: http://projetos,educacional.com.br/paginas/pp/47080001/3854/t132.html.

Qual a importância da publicidade na vida das pessoas?

O que é o consumismo?

Como o consumismo

deve ser combatido?

Faça uma lista de produtos ou objetos

que você comprou por impulso e não chegou

a utilizar:

Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório

Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida,

Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos

Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada

Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente,

Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete,

Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos,

São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais,

Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, permanência,

Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante,

Escravo da matéria anunciada.

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No mundo complexo que vivemos em que se valoriza mais o ter do que o ser

faz-se necessário trabalhar com os nossos educandos não apenas os

conhecimentos científicos, mas valores e afetividade, para que possam exercer na

sociedade o seu papel de cidadão. Sendo assim, a leitura e a interpretação de textos

e poemas são atividades que auxiliam na reflexão sobre diversos temas, entre eles o

consumismo.

A partir da leitura e posterior discussão sobre o poema de Drummond, foram

lançadas as perguntas a seguir:

OITAVO ENCONTRO: CULMINÂNCIA DA INTERVENÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

OBJETIVO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Conscientizar os educandos sobre o problema do lixo no meio ambiente.

Exibição do vídeo lixo extraordinário; Discussão com os educandos sobre o problema ambiental gerado pelo lixo e discutir possíveis alternativas com relação ao seu aproveitamento; Mostra dos trabalhos realizados pelos alunos durante a implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica em uma abordagem interdisciplinar com a disciplina de Arte

Com base na leitura do poema, justifique

o título:

Na sua opinião, o eu-lírico demonstra intimidade com as marcas e nomes anunciados

em suas roupas e acessórios?

Você compra objetos ou produtos

veiculados nas propagandas. Por

quê?

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Para o fechamento das ações propostas durante a intervenção didático-

pedagógica, será exibido o documentário “Lixo Extraordinário” de Vik Muniz, o qual

retrata a experiência do artista no aterro sanitário do Jardim Gramacho (RJ), quando

constatou a grande quantidade de materiais recicláveis descartada todos os dias e

refletindo sobre a importância do reaproveitamento desses materiais, promoveu

ações voltadas para a sustentabilidade. O artista em questão fotografou um grupo

de catadores de materiais recicláveis, buscando revelar a dignidade e o desespero

que enfrentam quando sugeridos a reimaginar suas vidas fora daquele ambiente.

Os alunos serão instigados a refletir sobre as experiências mostradas no

documentários e a seguir deverão elaborar sínteses sobre suas impressões,

suscitadas pelos questionamentos a seguir:

Após as atividades realizadas durante os encontros planejados, os alunos

deverão, em trabalho conjunto com a professora da disciplina de Arte, produzir

materiais alternativos que resgatem a importância do envolvimento com a questão

ambiental em todos os espaços de vivência. Os trabalhos produzidos serão

organizados em uma mostra que será exposta para as demais turmas da educação

Nós ajudamos a produzir lixo?

Elaborar uma lista contendo o maior número possível de materiais descartáveis de

uso diário e propor soluções para substituí-los.

Destinamos o lixo de maneira

correta?

Que ações podemos

desenvolver para diminuir a

quantidade de lixo?

Fazer um levantamento acerca do lixo produzido

na família e/ou no ambiente de trabalho e desenvolver um texto a

respeito

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e Jovens e Adultos do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de

Londrina.

PARA REFLETIR

A Educação de Jovens e Adultos deve ser pautada na valorização do saber cultural do educando, desenvolvendo a sua capacidade de análise, de reflexão e de participação efetiva na sociedade. Instigando-o a tomar decisões e a buscar permanentemente o conhecimento científico.

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REFERÊNCIAS ALTOÉ, Anair; GASPARIN, João Luiz; NEGRÃO, Maria Tampellin Ferreira; TERUYA, Teresa Kazuko (org.). Didática: processos de trabalho em salas de aula – Maringá; EDUEM, 2005. DUARTE, Newton, Arte, conhecimento e paixão na formação humana: sete ensaios de pedagogia histórico-crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2010. _____________(org.) Crítica ao fetichismo da individualidade. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. FERNANDES, Elisângela et. al. Por que jovens de 15 a 17 anos estão na EJA. Revista Nova Escola. Edição 244, agosto 2011. FRANCO, Sandra; LAZARETTI, Lucinéia; KRAEMER, Márcia; JACOMEL, Mirele, “A concepção do ser humano na perspectiva do materialismo histórico e dialético”. In: RODRIGUES, Elaine, ROSIN, Sheila Maria (org.). Pesquisa em educação: A diversidade do campo. Curitiba: co-edição Instituto Memória/Juruá Editora, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2006. MACIEL, Lizete Shizue Bomura, PAVANELLO, Regina Maria, MORAIS, Silvia pereira Gonzaga.(org.) Formação de professores e prática pedagógica. Maringá: EDUEM, 2002. MARTINS, Lígia Marcia. A Formação Social da Personalidade do Professor: um enfoque vigotskiano. Campinas,SP: Autores Associados, 2007. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. 2006. ______. Arte e educação. Ensino Fundamental. Fase II, Caderno 2. Curitiba: SEED, 2003. ______. Plano de Ação da Equipe Pedagógica. CEEBJA. Londrina, 2013. SAVIANI, Demerval, Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 10 edição. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 2008.

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Filmes: AO MESTRE COM CARINHO- Origem: Inglaterra,1967. Direção: James Clavell. Produção: James Clavell. Trilha Sonora: Mark London. Estúdio: Sony Pictures. Duração: 105 minutos. ESCRITORES DA LIBERDADE- Origem: EUA, 2009. Direção: Richard LaGravenese. Produção: Steacey Sher. Roteiro: Richard La Gravenese. Fotografia: Lola Visual Effects. Trilha Sonora: Mark Isham e RZA. Estúdio: Paramount Pictures. Duração: 122 minutos. LIXO EXTRAODINÁRIO- (Documentário) Direção: Lucy Walter Co-Direção: João Jardim e Karen Harley. Produção: Almega Projects e 02 Filmes com Vik Muniz. Roteiro: Pedro Kos. Fotografia: Aaron Phillips, Ernesto Hermann e Heloisa Passos. Duração: 99 minutos aproximadamente. MEU MESTRE, MINHA VIDA (Lean On Me), Origem EUA, 1989. Direção: John G. Alvidsen, 109min, drama. Distribuidora: CIC Vídeo. PRO DIA NASCER FELIZ -(Documentário). Origem: Brasil, 2006. Direção: João Jardim. Produção: Flávio R. Tambelline e João Jardim. Roteiro: João Jardim. Fotografia: Gustavo Hadba. Música: Dado Villa-Lobos. Edição de som: Waldir Xavier. Produtora Associada, Casa Redonda.