ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca

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50 O ano de 2012 vai ficar marcado pelos efeitos do grande período de estia- gem que alcançou toda a região Nordeste do Brasil. Para a Bahia, que detém a maior área do Semiárido brasileiro, é um dos mais severos períodos de seca da sua história, com prejuízos para toda a sua socioecono- mia. Dentre os setores, o mais dura e dire- tamente atingido é o da agropecuária, com perdas de lavouras e de rebanhos, provo- cando a descapitalização dos produtores. Até o presente momento são 259 municípios em estado de emer- gência decretado pelo Governo Estadual e reconhecido pelo Go- verno Federal, o que representa 62% do total dos municípios baia- nos. Esta situação coloca as admi- nistrações municipais em condi- ções especiais para receber ajuda de recursos humanos, materiais, institucionais e financeiros. Face à gravidade da situação, o Go- verno do Estado instituiu através do Decreto nº 13.796, em 21/03/2012, o Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca, com a finalidade de coordenar as atividades a serem desenvolvidas no enfrentamento aos efeitos da seca e de amparo às populações atingidas. Coordenado pela Casa Civil, o comitê é composto por diversas Secretarias de Estado, dentre elas: a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura, Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Secreta- ria do Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento e Integração Re- gional, e a Secretaria de Relações Institucionais. O comitê tem como incumbência: indicar obras e serviços vol- tados à redução dos danos causados pela seca; acompanhar, fiscalizar e ava- liar a prestação da assistên- Ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca na agropecuária baiana 1 1 – Informações reunidas e sistematizadas por Carlos Armando Barreto de Santana, Engenheiro Agrônomo, Assessor Especial/Gabinete SEAGRI, com a participação e colaboração técnica de Ana Paula Alcântara, Economista, Coordenadora Técnica da SPA/SEAGRI; Salvador-BA, contatos: [email protected]; [email protected] Foto: Manuela Cavadas

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Page 1: Ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca

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O ano de 2012 vai ficar marcado pelos efeitos do grande período de estia-

gem que alcançou toda a região Nordeste do Brasil. Para a Bahia, que detém a maior área do Semiárido brasileiro, é um dos mais severos períodos de seca da sua história, com prejuízos para toda a sua socioecono-mia. Dentre os setores, o mais dura e dire-tamente atingido é o da agropecuária, com perdas de lavouras e de rebanhos, provo-cando a descapitalização dos produtores.

Até o presente momento são 259 municípios em estado de emer-gência decretado pelo Governo Estadual e reconhecido pelo Go-verno Federal, o que representa 62% do total dos municípios baia-nos. Esta situação coloca as admi-nistrações municipais em condi-ções especiais para receber ajuda

de recursos humanos, materiais, institucionais e financeiros.

Face à gravidade da situação, o Go-verno do Estado instituiu através do Decreto nº 13.796, em 21/03/2012, o Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca, com a finalidade

de coordenar as atividades a serem desenvolvidas no enfrentamento aos efeitos da seca e de amparo às populações atingidas.

Coordenado pela Casa Civil, o comitê é composto por diversas Secretarias de Estado, dentre elas: a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura, Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Secreta-ria do Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento e Integração Re-gional, e a Secretaria de Relações Institucionais. O comitê tem como incumbência:

� indicar obras e serviços vol-tados à redução dos danos causados pela seca;

� acompanhar, fiscalizar e ava-liar a prestação da assistên-

Ações emergenciais e estruturantes para mitigar

os efeitos da seca na agropecuária baiana1

1 – Informações reunidas e sistematizadas por Carlos Armando Barreto de Santana, Engenheiro Agrônomo, Assessor Especial/Gabinete SEAGRI, com a participação e colaboração técnica de Ana Paula Alcântara, Economista, Coordenadora Técnica da SPA/SEAGRI; Salvador-BA, contatos: [email protected]; [email protected]

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cia oferecida às populações atingidas pela seca; e

� articular-se com os órgãos municipais e federais envol-vidos nas ações de combate aos efeitos da seca.

Assim, um extenso conjunto de ações, algumas emergenciais e outras estruturantes, vem sendo desenvolvido, sobretudo em par-ceria com o Governo Federal, a exemplo da implantação ou me-lhoria da infraestrutura hídrica (per-furação de poços, construção de sistemas simplificados e integra-dos de abastecimento de água, limpeza de aguadas, construção de barragens, cisternas, sistemas de dessalinização para consumo humano, fornecimento de água com carros-pipa etc.); de medi-das de combate à insegurança alimentar das famílias (distribuição de alimentos, Vale Cesta/EBAL e doações da iniciativa privada); e do apoio creditício e tecnológico, dentre outros, ao produtor rural. A seguir, serão destacadas algu-mas das ações governamentais

para a agropecuária baiana, vol-tadas a diminuir e/ou atenuar os prejuízos causados pela seca:

PRORROGAÇÃO DAS PARCELAS DE CRÉDITO RURAL

Em articulação com o Governo Federal e seus ministérios foram negociados novos prazos pror-rogando as parcelas das ope-rações de crédito rural. As Re-soluções do Conselho Monetário Nacional (CMN), publicadas pelo Banco Central do Brasil, de núme-ros 4.082 e 4.083, de 24 de maio de 2012, e as de números 4.188 e 4.189, de 28 de fevereiro de 2013, autorizaram as instituições finan-ceiras a prorrogar as parcelas das operações de crédito rural, de custeio e investimento, vencidas e vincendas entre 1º de janeiro de 2012 e 30 de junho de 2013, para os agricultores familiares vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF e demais pro-

dutores rurais que tiveram perdas na renda em decorrência da es-tiagem, nos municípios da área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordes-te (SUDENE) que decretaram situação de emergência, após 1° de dezembro de 2011, reconheci-dos pelo Governo Federal.

Os produtores rurais que tive-ram redução na renda superior a 30% e que comprovem a incapa-cidade de pagamento, junto às instituições financeiras, poderão renegociar o pagamento do saldo devedor das operações de custeio das safras 2011/2012 e 2012/2013, para reembolso em até cinco par-celas anuais, com o vencimento da primeira parcela fixado para até um ano após a data da formalização da renegociação.

Quando se tratar de operações de custeio de safras anteriores à safra 2011/2012 ou de operações de investimento, o pagamento das parcelas vencidas e vincendas, entre 1º de janeiro de 2012 e 30 de junho de 2013, poderá ser prorro-gado para até um ano após o ven-cimento da última parcela prevista no contrato.

CRÉDITO RURAL

Outra medida de grande impor-tância e complementar a prorro-gação dos prazos, foi a instituição de linhas especiais de Crédito de Emergência para os agricul-tores familiares enquadrados no PRONAF e demais produtores Fo

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afetados pela seca ou estiagem na área de atuação da Superin-tendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (Quadro 1).

Já foram contratadas, através do Banco do Nordeste, 58.247 opera-ções no valor de R$ 337,18 milhões.

CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARA IMPLANTAÇÃO DE BARRAGENSSUBTERRÂNEAS

Com recursos não reembolsáveis captados junto ao Fundo Social do Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social - BNDES e ao Ministério da Integra-ção, da ordem de R$ 21,2 milhões, serão construídas 1.435 barragens subterrâneas em 53 municípios em Situação de Emergência, loca-lizados nos Territórios de Identida-de: Bacia do Paramirim; Chapada Diamantina; Irecê; Itaparica; Oeste Baiano; Piemonte da Diamantina; Piemonte Norte do Itapicuru; Se-miárido Nordeste II; Sertão do São

Francisco; Velho Chico e Vitória da Conquista.

A barragem subterrânea é uma tecnologia de captação e arma-zenamento de água de chuva no interior do solo, simples e de baixo custo, construída transversalmen-te ao fluxo das águas, que possi-bilita maior infiltração no solo e a redução do escoamento superfi-cial, contribuindo também para a diminuição da erosão.

Apesar de não exigir grandes cál-culos estruturais e mão-de-obra especializada como ocorre nas barragens convencionais, faz-se ne-cessária a presença de um técnico na implantação de uma barragem subterrânea para a escolha do local adequado e orientações du-rante o processo de construção.

A barragem subterrânea se pres-ta para diversos usos, podendo ser utilizada para cultivo de lavou-ras temporárias ou permanen-tes, produção de forrageiras para alimentação animal, e até para dessedentação animal e ou abas-tecimento humano quando asso-ciada a um poço amazonas.

RECURSO DE PASTO EMERGENCIAL

Em decorrência da falta de ali-mentos para os animais nas áre-as atingidas pelo fenômeno, ocor-re uma intensa movimentação de rebanhos para áreas de pasto de aluguel para regiões mais úmidas. Mesmo nessas regiões as pasta-gens já começam a escassear o que tem motivado a busca por pastagens em outros Estados.

Com o intuito de desonerar esses criadores, a SEAGRI realizou ges-tões junto à Secretaria Estadual da Fazenda – SEFAZ para sus-pensão do ICMS nas saídas de gado para “recurso de pasto”. A celebração do PROTOCOLO ICMS 54, de 05 de junho de 2012, aprovado no Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ – e publicado no Diário Oficial da União, de 06 de junho de 2012, com os Estados do Espírito San-to, Minas Gerais, Sergipe e Tocan-tins, “suspende o ICMS devido pelas saídas de gado entre os Estados signatários, bem como o seu retorno ao Estado de origem,

QUADRO 1 CONDIÇÕES PARA O CRÉDITO DE EMERGÊNCIA. CONTRATAÇÕES ATÉ 31/05/2012 PARA OS PRONAFIANOS E ATÉ 31/12/2012 PARA OS DEMAIS PRODUTORES

ENQUADRAMENTO LIMITE DE FINANCIAMENTO JUROS PRAZO

PRONAF B (FNE no BNB) até R$ 2.500,00 1% a.aaté 10 anos com 3 anos de carência, rebate de 40% para pagamento das parcelas em dia

PRONAF Mais Alimentos (BB e BNB)* até R$ 10.000,00 1% a.aaté 10 anos, com até 3 anosde carência

Demais PRONAF (FNE no BNB) até R$ 12.000,00 1% a.aaté 10 anos, rebate de 40% para pagamento das parcelas em dia

Não Pronafianos (FNE no BNB) até R$ 100.000,00 3,5% a.aaté 8 anos, com até 3 anosde carência

Cooperativas, Empresas eEmpreendedores individuais

até R$ 100.000,00 3,5% a.a até 5 anos, com 1 ano de carência

Fonte: Resoluções BACEN N°4.076, N°4.077, N°4.081, N°4.092 e 4.190.*Regras gerais da Linha Mais Alimentos: Juros Zero na Bahia.

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desde que se destinem exclusiva-mente a recurso de pasto”.

EMISSÃO DE GTA OFF LINE EMANUAL

Buscando facilitar o transporte dos animais que estão sendo socorri-dos para locais de melhor condi-ções de pastejo, a SEAGRI, através da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, flexibilizou a exigência da emissão da Guia de Trânsito Animal – GTA on line, implantando a GTA off line e manual, evitando, desse modo, eventuais dificuldades ocasionadas por quedas no sistema de emissão das guias ou por interrupção na conexão da Internet, que poderiam acarretar indesejáveis atrasos nas transferências dos rebanhos que estão sendo socorridos para locais de melhor pastejo.

USO DE CRÉDITO DE ICMS PARACOMPRA DE LEITE

A seca prolongada tem provoca-do de maneira drástica a queda da produção de leite em pratica-mente todas as bacias leiteiras do Estado, em consequência de re-dução da produtividade, do atra-so no calendário de parições do rebanho e até mesmo das perdas de cabeças de gado.

Esses fatores comprometem deci-sivamente a safra de leite impactan-

do negativamente nas indústrias, chegando ao ponto de algumas delas operarem com apenas 30% da sua capacidade instalada, pondo em risco não só a continui-dade dessas plantas, como tam-bém a própria sustentabilidade da cadeia produtiva.

Para reduzir o impacto dessa situa-ção, torna-se necessária a aquisição de leite nos Estados de Minas Ge-rais, Goiás, Sergipe, Pernambuco, e Espírito Santo, para industrialização no Estado da Bahia.

Diante desse quadro e em atendi-mento à demanda do segmento de laticínios e produtos derivados do leite, e buscando assegurar o mínimo de competitividade ao se-tor, neste grave período de seca, o Governo do Estado, median-te Decreto n° 14.033, concedeu crédito presumido do ICMS em 100%, equivalente ao imposto inci-dente nas saídas dos seus produ-tos, em opção ao aproveitamento de quaisquer outros créditos, ve-dada a acumulação desta siste-mática de crédito com o benefício do Programa DESENVOLVE. Em

síntese, dispensou o pagamen-to do ICMS para as indústrias do setor de laticínios, até 31 de de-zembro de 2012, que em função da seca estão adquirindo leite in natura em outros estados.

PROGRAMA DESEGURANÇAALIMENTAR DOREBANHO DA AGRICULTURAFAMILIAR

Programa que tem por objetivo contribuir para a sustentabilida-de da bovinocultura de leite e da ovino-caprinocultura da agricultura familiar, através do fomento à im-plantação de reserva estratégica de alimentos que garanta a segu-rança alimentar do rebanho.

Foram disponibilizados pelo Go-verno do Estado, através do Fundo Estadual de Combate e Erradica-ção da Pobreza – FUNCEP, recur-sos da ordem de R$ 2,7 milhões

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para apoiar o Programa em suas ações a exemplo da implantação de unidades técnicas didáticas de palma adensada, com diversos cultivares, nas Estações Experi-mentais da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA e em áreas pertencentes a agricul-tores familiares, para posterior dis-tribuição das mudas produzidas ao público do programa.

Até o final de 2013, serão instala-das 367 Unidades Técnicas Didá-ticas (UTDs) de palma adensada, com 1.350 metros quadrados, e mais 100 unidades, com cinco mil metros quadrados, em parceria com agricultores familiares. Está prevista, também, a implantação de três biofábricas, a serem locali-zadas em Feira de Santana, Irecê, e Juazeiro; e a implantação de ex-perimentos em 10 estações para avaliar três cultivares de palma, re-sistentes à cochonilha do carmim.

Para a instalação das UTDs, agri-cultores familiares, entidades co-munitárias ou o poder público ce-derão áreas com solo adequado para o cultivo da palma por um prazo de cinco anos. As comuni-dades também participarão das atividades de preparo do solo, plantio, cuidados com a planta-ção, controle de pragas e colhei-ta. A EBDA disponibilizará mate-rial para construção de cercas, kit de ferramentas, fosfato natural reativo e mudas de palma.

Com o plantio adensado, que consiste em diminuir o espaço en-tre as mudas, a média obtida é de 400 toneladas por hectare, quan-

tidade suficiente para alimentar 44 vacas por um período de 180 dias, contribuindo assim para a formação de reserva alimentar no período de estiagem.

VENDA DE MILHO EM GRÃO PARA SOCORRO AOSREBANHOS

A Companhia Nacional de Abaste-cimento – CONAB - promove por

meio do Programa Vendas em Balcão, em parceria com o Gover-no do Estado, a venda de milho em grão, dos estoques públicos, para alimentação dos rebanhos, com concessão de subvenção econômi-ca para os criadores dos municípios atingidos pela seca (Quadro 2).

O enquadramento do beneficiário para definição do limite de aquisi-ção e do preço é feito com base na informação prestada no Sistema de Cadastro Técnico/Programa de Vendas em Balcão da CONAB.

QUADRO 2 LIMITE DE AQUISIÇÃO POR BENEFICIÁRIO/MÊS/PREÇO DE VENDA:

Limite de aquisição Valor R$/saca de 60kgAté 3.000 kg R$ 18,12De 3.001 kg a 7.000 kg R$ 21,00De 7.001 kg a R$ 14.000 kg R$ 24,60Fonte: CONAB

Mapa 1

Fonte: Conab

A VENDA DO MILHO ATRAVÉS DOS ARMAZÉNS DA CONAB

Existente

Novos Credenciados

GuanambiSanta Maria

da Vitória

Ribeirado Pombal

Feira deSantana

Vitória daConquista

EntreRios

Juazeiro

Itaberaba

Irecê

Armazéns da CONAB

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Para se habilitar ao programa, o interessado deve efetuar o cadastro, de posse da Ficha Sanitária do Rebanho, forneci-da pela ADAB, diretamente em uma das unidades operacionais da Conab, ou nos Escritórios da EBDA, neste caso para posterior entrega à CONAB.

A venda do milho está sendo efe-tuada através dos armazéns da CONAB, localizados nos muni-cípios de: Irecê, Itaberaba, Entre Rios, Ribeira do Pombal e Santa Maria da Vitória, e dos armazéns credenciados nos municípios de Guanambi, Feira de Santana, Juazeiro e Vitória da Conquista (Mapa 1), e, em alguns municí-pios, através do sistema delivery (entrega direta) para produtores organizados em associações e cooperativas, com o Governo do Estado assumindo as despesas com transporte.

Até 28 de fevereiro de 2013 ha-viam sido comercializadas cerca de 30.000 toneladas de milho, das quais aproximadamente 3.200 foram entregues aos produ-tores através do sistema delivery.

COMPRA EMERGENCIAL DE CAPRINOS EOVINOS DAAGRICULTURAFAMILIAR

Para amenizar os efeitos da estia-gem sobre a renda dos pequenos

criadores do semiárido baiano que têm tido dificuldades em co-mercializar seus rebanhos, devido à oferta demasiada, a SEAGRI, em parceria com a CONAB, EBDA e o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Articulada – IRPAA, articularam a comercialização de forma emergencial de mais de R$ 1 milhão de reais de carne de caprino e ovino da agricultura fa-miliar pelo Programa de Aquisição de Alimentos – PAA.

Apenas no Território Sertão do São Francisco, serão benefi-ciados mais de 20 empreendi-mentos da agricultura familiar. Os animais são comprados pelo valor de R$ 9,50 por quilo de carne processada, ao todo serão abatidas 105.000 cabe-ças de caprino e ovino da agri-cultura familiar.

A carne resfriada e congelada, em frigoríficos inspecionados de Juazeiro, será destinada a instituições de amparo, esco-las, creches e hospitais das

cidades do Território Sertão do São Francisco. Como prevê a modalidade de Doação Simul-tânea do PAA, cada agricul-tor familiar poderá vender até R$ 4.800,00 ao Programa.

DESTRAVAMENTO DA REGULARIZA-ÇÃO FUNDIÁRIA PRIORIZANDO O SEMIÁRIDO

Com o objetivo de destravar os processos de regularização fun-diária priorizando o Semiárido, o Governo do Estado publicou o Decreto n° 13.914 de 13/04/2012, simplificando a tramitação dos processos de regularização fun-diária dos imóveis rurais, possibi-litando a agilização da conclusão de cerca de 18.000 processos na Coordenação de Desenvol-vimento Agrário – CDA/SEAGRI, em especial, aproximadamente, 10.000 provenientes dos muni-

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cípios que declararam situação de emergência reconhecida pelo Governo do Estado.

Com o título da terra o agricultor passa a ter acesso ao PRONAF estimado em até R$ 20 mil por be-neficiário, que poderá representar uma injeção de recursos em torno de R$ 140 milhões nos municípios atingidos pela seca.

Até o momento, foram efetivamen-te entregues aproximadamente 12.000 títulos pelo governo baiano.

PROGRAMAGARANTIA SAFRA

Fundo de natureza financeira criado pelo Governo Federal, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio – MDA, o Programa Garantia Sa-

fra visa garantir condições mínimas de sobrevivência aos agricultores familiares de municípios sistemati-camente sujeitos a perdas devido às estiagens ou excesso hídrico.

O Programa Garantia Safra as-segura uma renda de R$ 760,00 em cinco parcelas mensais e sucessivas de R$ 152,00 para os Agricultores Familiares que efetivarem a adesão ao Progra-ma antes dos períodos de plan-tio, quando for verificada perda da safra das culturas do feijão, milho, algodão, mandioca e ar-roz maior que 50%. A adesão é para os agricultores com renda média bruta mensal de até 1,5 salário mínimo, nos últimos 12 meses em que antecede sua inscrição e que plantam entre 0,6 a 05 hectares e que não são beneficiários de outros se-guros de safra.

O Fundo que garante as inde-nizações é constituído de re-cursos da União, dos Estados, dos Municípios e dos próprios Agricultores, na proporção de 25%, 7,5%, 3,75% e 1,25%, res-pectivamente. Na Bahia, para estimular a adesão, desde 2009, o governo decidiu assu-mir o pagamento da metade do valor dos aportes das Prefei-turas e das contribuições dos Agricultores.

O estímulo governamental, aliado a outras ações de divulgação, vi-sitas às Prefeituras e a ampliação da emissão da Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP, intensifi-cadas pela SEAGRI, por meio da sua Superintendência de Agricul-tura Familiar – SUAF e da EBDA, elevaram substancialmente a ade-são dos municípios e dos agricul-tores (Gráficos 1 e 2).

Grá�co 1 ADESÃO DE AGRICULTORES AO GARANTIA SAFRA

Fonte: SEAGRI/SUAF

6.067 15.173 22.604

64.879

114.756

149.697

210.995

x 1.

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( * ) Em andamento

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13*0

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100

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200

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FUNDOS PARA INDENIZAÇÕES COM RECURSOS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DOS PRÓPRIOS AGRICULTORES

Aportes sobre R$ 760,00 Governo Federal Governo Estado Município Agricultor

Valor definido pelo MDA R$ 90,00 R$ 57,00 R$ 28,70 R$ 9,50 Valor com subsídio (50%) R$ 190,00 R$ 76,10 R$ 14,35 R$ 4,75

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O investimento do Governo do Estado com o programa também vem evoluindo significativamen-te. Em 2006, foram gastos pouco mais de R$ 200 mil para adesão do Estado ao Fundo. Na safra 2011/2012 foi aportado, pelo Governo do Estado, o valor de R$ 8,14 milhões para a adesão de 149.697 agricultores em 209 municípios. Com os efeitos da seca foram indenizados 149.124 agricultores, em 203 municípios, totalizando recursos da ordem de R$ 101,3 milhões.

Adicionalmente ao Benefício Ga-rantia Safra, através do Decreto Presidencial de nº 7.837 de 09 de novembro de 2012, poste-

riormente alterado pelo Decreto nº 7.890 de 09 de janeiro de 2013 foi autorizado o aporte financeiro de R$ 560,00 (quinhentos e ses-senta reais) por família, totalizan-do R$ 185,6 milhões.

Com a ampliação das cotas, ao fi-nal da safra 2012/2013, os custos alcançarão R$ 11,2 milhões. Para esta safra, no plantio de verão, já aderiram ao Programa 111.543 agricultores em 129 municípios e na safra de inverno já foram efe-tivadas 99.452 inscrições pelos agricultores em 96 municípios.

A meta do Governo baiano é aten-der a todos os agricultores familia-res do Semiárido que possuem os

critérios para pertencer ao Garan-tia Safra, em torno de 300 mil. Nos próximos anos, a tendência é que o número de adesão ao programa aumente gradativamente, para a safra 2013/2014, a previsão é chegar a 250 mil e para a safra 2014/2015, a meta é alcançar 300 mil agricultores.

A expansão do Garantia Safra é um fator que tem impulsionado a eco-nomia dos municípios. O programa tem efeito parecido com o do Bolsa Família. Em muitos casos, o dinhei-ro que circula na economia local supera a arrecadação do Fundo de Participação de Municípios (FPM) das prefeituras (Quadro 3).

SOS SECA - TODOS OS PRODUTORES UNIDOS

Objetivando evitar que diversos rebanhos de pequenos produto-res baianos sejam dizimados pela falta de alimentação, a SEAGRI, no bojo da Campanha S.O.S Seca,

Grá�co 2 ADESÃO DOS MUNICÍPIOS AO GARANTIA SAFRA

Fonte: SEAGRI/SUAF

22

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203 209225

( * ) Em andamento

2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13*0

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Número de Municípios

QUADRO 3 EXPANSÃO DO GARANTIA SAFRA, NA BAHIA, 2012

85.036 Agricultores de 125 municípios aderiram na safra verão84.686 Agricultores indenizados da safra verão121 Municípios beneficiadosR$ 57,5 milhões de benefícios sendo pagos

64.661 Agricultores de 84 municípios aderiram na safra inverno64.438 Agricultores indenizados da safra inverno82 Municípios beneficiadosR$ 43,8 milhões de benefícios sendo pagosFonte: SEAGRI/SUAF

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promovida pelo Governo do Es-tado, desenvolveu um intenso trabalho de articulação e sensi-bilização junto aos produtores do Agronegócio Baiano mobilizan-do-os para a doação de milho, caroço de algodão, farelo de soja, feno, bagaço hidrolisado e mela-ço de cana, além do frete para o transporte das cargas.

A resposta foi de imediato e tem sido altamente positiva demonstrando a solidariedade dos grandes produtores para com os pequenos criadores que sofrem e até adoecem por verem seus rebanhos sendo dizimados, de forma lenta e agônica, pela fome.

A escolha dos municípios a serem beneficiados levou em considera-ção, dentre outros fatores, a gra-vidade da situação e o número de agricultores familiares envolvidos. Os alimentos arrecadados são repassados às associações de pequenos produtores que fazem a distribuição para os associados.

Foram parceiros nesse projeto, a Associação dos Agricultores e Ir-rigantes da Bahia – AIBA, a Asso-ciação Baiana dos Produtores de

Algodão – ABAPA, as empresas Agrovale e a UNIAL, entre outros. Os empresários doadores recebe-ram da SEAGRI uma placa de reco-nhecimento pela responsabilidade social demonstrada nessa ação solidária.

Até o momento, cerca de 1.000 toneladas de alimentos para os rebanhos foram doados e distri-buídos aos pequenos criadores.

BOMBARDEAMENTO DE NUVENS

O agravamento do longo perío-do de seca que se abate sobre o Estado da Bahia fez com que o Governo do Estado lanças-se mão de uma alternativa não muito usual no Brasil que é o bombardeamento de nuvens, também conhecido como pul-verização ou semeadura de nu-vens, tecnologia utilizada para provocar chuvas artificialmente.

Neste sentido, foi contratada pela SEAGRI com articulação da sua Superintendência de Irrigação e pelo Instituto do Meio Ambien-

te e Recursos Hídricos – INEMA, da Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, uma empresa paulista com experiência acumulada na produção de chuvas artificiais sem uso de produtos poluentes, para a execução de um projeto piloto na região da Chapada Dia-mantina, com foco no município de Itaberaba e entorno.

A produção de chuvas através da técnica adotada ocorre com a en-trada de um avião bimotor, nas nu-vens cúmulus que concentram alta umidade, equipado com 300 litros de água, e as pulveriza com gotí-culas de água provocando a preci-pitação minutos após a operação.

Embora a época do ano em que a experiência aconteceu não tenha sido a mais favorável, pela pouca formação de nuvens específicas no período, com probabilidade de acerto entre 0% e 40%, foram rea-lizados 17 vôos e provocadas 14 pancadas de chuvas que se pre-cipitaram sobre áreas de concen-tração da produção de abacaxi no município de Itaberaba contribuin-do para a redução dos prejuízos causados a lavoura pela seca.

CAPTAÇÃO DERECURSOS JUNTO À CHESF

O Conselho Nacional de Secretá-rios de Agricultura – CONSEAGRI, atualmente presidido pelo Secretá-rio de Agricultura da Bahia, foi bus-car recursos da ordem de R$ 10

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Page 10: Ações emergenciais e estruturantes para mitigar os efeitos da seca

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milhões para oito estados nordes-tinos junto à Companhia Hidrelétri-ca do São Francisco – CHESF. Os recursos serão aplicados em ações estruturantes de convivência com a seca, visando aumentar a oferta permanente de água e assegurar o desenvolvimento socioeconômico dos estados do Semiárido do Nor-deste. A CHESF celebrará convê-nios com os governos estaduais, e cada um dos oito estados receberá R$ 1,25 milhão.

A Bahia deverá aplicar esse valor na qualificação dos reba-nhos de caprinos e ovinos; em kits de irrigação de dois hecta-res para comunidades de agri-cultores familiares visando à produção de hortaliças, grãos e frutas; e em tanques-rede para apoiar a piscicultura.

BOLSA ESTIAGEM

O Bolsa Estiagem ou Auxílio Emergencial é um benefício fede-ral que tem por objetivo assistir

famílias de agricultores familiares com renda mensal média de até dois salários mínimos, atingidas por desastres nos municípios em estado de calamidade pública ou em situação de emergência reco-nhecidos pelo Governo Federal.

Para utilizar este benefício a famí-lia tem que preencher os seguin-tes requisitos:

1. Residir em município em si-tuação de emergência ou es-tado de calamidade pública, reconhecido pelo Poder Exe-cutivo Federal entre janeiro e outubro de 2012;

2. Ser agricultor familiar com Declaração de Aptidão ao PRONAF;

3. Possuir renda mensal média de até 2 (dois) salários mínimos;

4. Estar cadastrado no Cadas-tro Único para Programas Sociais do Governo Federal;

5. Não ter aderido ao Garantia Safra 2011/2012.

Esse benefício consiste na trans-ferência de R$ 400,00 por família, transferidos em até cinco parcelas de R$ 80,00. Com o agravamen-to da seca, o Governo Federal autorizou, excepcionalmente, a ampliação do benefício em mais quatro parcelas, totalizando, des-se modo, R$720,00 por família

Esses esforços demonstram o em-penho da Secretaria da Agricultura – SEAGRI, no enfrentamento dessa longa estiagem que vem trazendo tantos prejuízos para a nossa eco-nomia agropecuária, e que atinge de forma dramática a população do Semiárido baiano, refletindo em todo corpo social do Estado.

Essas e outras ações foram me-didas tomadas emergencialmente e estrategicamente pelo Governo do Estado da Bahia para ameni-zar as dificuldades e os prejuízos causados pela Seca que atingiu mais de 60% dos seus municípios e seus agropecuaristas. As articu-lações feitas com o Governo Fe-deral, por meio dos seus ministé-rios afins e envolvidos diretamente nas ações foram imprescindíveis para a ação imediata em socorro aos que sofreram e sofrem com os efeitos da mais dura estiagem dos últimos 50 anos, acreditam al-guns pesquisadores.

Outras medidas de longo pra-zo estão sendo tomadas para que a pressão dos efeitos do fenômeno seja menor para que o sertanejo possa conviver com a seca e se preparar para a sua ocorrência de forma sustentável e estratégica.Fo

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