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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 105 - Jan/19 Os Calendários e sua utilização na Maçonaria

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Page 1: Os Calendários e sua utilização na Maçonaria...e sua utilização na Maçonaria A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de

ABIM 005 JV Ano XII - Nº 105 - Jan/19

Os Calendários e sua utilização na Maçonaria

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A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

www.revistaartereal.com.br - [email protected] - Facebook RevistaArteReal - (35) 99198-7175 Whats App.

EditorialO termo latino “calendas” origina-se do

romano “calendae” que, no antigo calendário romano, representava o primeiro dia de cada mês. Na época, existiam três dias fixos: calendas, nonas e idos. Calendas, como o primeiro dia do mês, quando ocorria a Lua Nova; nonas, originalmente, dias em que a lua estava na metade de sua fase crescente, mais tarde, passaria a ser considerado o quinto ou sétimo dia do mês; idos, que, em português, significa “meados”, como o décimo terceiro ou décimo quinto dia do mês, conforme o mês. Dos “idos” é que provém a expressão “nos idos de setembro”, para expressar uma data para a segunda metade do mês.

De “calendas” surgiu a expressão latina, “calendas gregas”, que indica algo que, jamais, ocorrerá, pois, as calendas eram inexistentes no calendário grego. A expressão “ad kalendas graecas soluturos”, ou seja, “aqueles que pretendem pagar nas calendas gregas” é atribuída pelo escritor historiador romano Caio Suetônio Tranquilo (69 d.C. a 141 d. C.), em seu livro “Vida dos Dozes Césares”, ao imperador Augusto, que a teria usado, frequentemente, para indicar aqueles que não pretendiam pagar suas dívidas. Esta mesma expressão é, também, popularmente conhecida por “Dia de São Nunca”.

O termo “calendas”, que até o século XIII, na língua portuguesa, era empregado para denominar o primeiro dia do mês, deu origem ao termo “calendário”, um sistema para contagem e agrupamento de dias, que visa a atender, principalmente, às necessidades civis e religiosas de uma cultura. A palavra deriva do latim calendarium, significando “livro das contas diárias”, mais tarde, seu significado passou a ser “livro de registro dos dias do ano”.

Antes do Imperador Júlio César criar o calendário, que ficou conhecido por “Calendário Juliano”, o antigo calendário romano era lunar e tinha início nas “calendas”, primeiro dia do mês, quando ocorria a Lua Nova. Neste dia um dos pontífices convocava o povo no Capitólio, para informar as celebrações religiosas daquele mês. O pontífice mencionava, um por um, os dias que transcorreriam até as “nonas”, repetindo, em voz alta, a palavra “calo”, que significa “eu chamo”.

Atualmente, o calendário adotado na maioria do mundo é o “Gregoriano”, que, aconselhado pelos astrônomos, foi promulgado pelo Papa Gregório XIII, a fim de compensar, naquela época, a diferença de dias acumulada pelo Calendário Juliano. Ocorreu em uma quinta-feira, 04 de outubro de 1582, seguido da sexta-feira, 15 de outubro de 1582, através da bula “Inter gravíssimas”, sendo adotado, imediatamente, pela Espanha, Itália, Portugal, Polônia e, posteriormente, por todos os países ocidentais. Portanto, na história, jamais, existiu o período de 05 a 14 de outubro de 1582.

Este preâmbulo, a título de curiosidades, tem como objetivo precípuo despertar o interesse de nossos leitores, a fim de envereda-los no temário desta edição – Os Calendários e Sua Utilização na Maçonaria”. As matérias, criteriosamente, selecionadas não visam esgotar o assunto, mas servir de um aperitivo, estimulando-os a mergulhar em pesquisas e apresentar em suas Lojas, durante o ¼ de Hora de Estudos, uma Peça de Arquitetura, a fim de elucidar os demais Irmãos sobre o tema.

Matérias como “A História dos Calendários”, do historiador Rainer Sousa; “O Calendário Maçônico”, do Irmão Paulo César Lima Tigre; “Como a Maçonaria Usou e Usa os Calendários Maçônicos”, do ilustre Hercule Spoladore; “A Expressão ‘Era Vulgar’ e o Calendário Maçônico”, do meu querido Confrade na Academia Maçônica de Letras do Mato Grosso do Sul, Antônio Carlos Rios, abrilhantam esta edição e servem como luz, a fim de iniciarmos mais um ano em busca de nosso aperfeiçoamento.

Encontrar-nos-emos na próxima edição!

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AHistória dos Calendários

Rainer Sousa

Desde muito tempo, os homens buscam formas para estabelecer a passagem do tempo. Já no período Paleolítico, os grupos humanos

realizavam suas medições de tempo olhando atentamente as variações regulares ocorridas com o Sol, a Lua e as estrelas. Em um primeiro momento, o ciclo do Sol – marcado pelas variações entre a claridade e a escuridão – foi empregado na contagem dos dias e das noites. Tempos depois, as variações da Lua – com suas respectivas fases – determinaram a concepção de períodos maiores.

Com a observação dos movimentos lunares, foi possível estipular a criação dos meses e, com base na variação das estações, tínhamos a consolidação dos anos. Nesse primeiro tipo de calendário, vemos que a contagem do ano se tornava um grande problema, tendo em vista que o ciclo da

Lua durava, apenas, 28 dias. De tal modo, diversos povos realizavam o acréscimo intencional de alguns dias para que as estações estivessem próximas das medidas de tempo empregadas.

Ao longo da Antiguidade, o interesse em se aprimorar os primeiros calendários teve ligação próxima ao desenvolvimento das atividades agrícolas. Afinal de contas, era necessária a constituição de uma medição de tempo precisa e adequada para o planejamento das várias atividades que envolviam o plantio, a colheita e o armazenamento dos grãos. Ao mesmo tempo, os calendários eram úteis na programação da caça, dos ciclos de migração e na promoção de festividades religiosas.

Os egípcios organizavam seu calendário a partir de um ano dividido em três diferentes estações, que eram formuladas a partir da variação das águas do Nilo. Eles trabalhavam basicamente com as estações das inundações, da semeadura e da colheita. Como eles precisavam antecipar a ocorrência de cada uma dessas épocas, a constante observação das estrelas, também, servia como referencial. Já no século V a.C., os egípcios adotavam um calendário com 365 dias e subdividido em 12 meses com 30 dias.

Há mais de 5000 anos, os sumérios formularam um calendário de 360 dias e 12 meses inspirado no sistema hexadecimal, que ordenava seu sistema numérico. Tendo a variação da lua

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como referência, os astrônomos perceberam que o seu calendário tinha uma defasagem de 11 dias em relação ao ano solar. Com isso, o seu calendário era acrescido de um mês com trinta e três dias a cada três anos. Dessa forma, as estações alinhavam-se aos ciclos da Lua.

Na Grécia Antiga, a questão da autonomia das cidades-estado acabou gerando uma grande confusão entre os calendários utilizados por aquele povo. Cada cidade tinha um critério próprio para adicionar um décimo terceiro mês regulador do ciclo anual. Por volta de 500 a.C., foi que os astrônomos gregos começaram a se reunir com a intenção de utilizarem um mesmo padrão de tempo para a adoção do décimo terceiro mês. No século IV, o Ciclo Calíptico ofereceu um dos paradigmas de tempo mais precisos daquela época.

Os romanos foram os primeiros a estudarem medições de tempo que se aplicassem a todo seu extenso território. No século I a.C., o imperador Júlio César requisitou os serviços do astrônomo Sosígenes para que toda a civilização romana utilizasse um mesmo calendário solar. Para que essa regulação fosse feita, o ano de 46 a.C., contou com 445 dias e, por tal motivo, ficou sendo historicamente conhecido como o “ano da confusão”.

Apesar do alcance desse padrão, o calendário de Júlio César – convencionado como o calendário Juliano – apresentava uma defasagem de 10 dias em

relação ao ano solar, no ano de 1582. Por tal motivo, o papa Gregório XIII organizou uma comissão de astrônomos e matemáticos que resolvessem esse problema de maneira definitiva. Ainda hoje, esse é o calendário de proporção mais exata, gerando uma defasagem de um dia a cada 3532 anos.

Mesmo sendo tão funcional, devemos nos lembrar de que a adoção universal do calendário gregoriano nunca chegou a se concretizar. Países de religião ortodoxa, islâmica e oriental, ainda, mantém antigos calendários que organizam as suas manifestações religiosas ao longo do tempo. De fato, vemos que os elementos de ordem cultural, ainda, resistem mediante os argumentos econômicos e políticos que demandam de calendários precisos e universais.

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O Calendário Maçônico

Paulo César Lima Tigre

A Maçonaria tem por base sua doutrina natural. Todos os seus símbolos e ações se baseiam na natureza, seus ciclos e mistérios, por

sabermos que pertencemos a essa mesma natureza, e que contrariar suas leis seria contrariarmos a nós mesmos, nossas próprias leis internas e de vida.

Em vista disso, acompanhando os fenômenos naturais, tanto de nosso planeta como do universo, elaborou-se o Ano Maçônico, ou Ano da Verdadeira Luz.

Devemos nos lembrar, sempre, que nossa Ordem iniciou no hemisfério Norte, e que, por isso, todos os parâmetros naturais (inclusive a abóbada celeste) são os da metade norte de nosso mundo.

A vida se inicia na Primavera, depois de estar adormecida durante o gélido inverno. Nada mais justo que o ano natural, também, aí comece. Seu primeiro dia é o 21 de março, Equinócio de Primavera, também chamado Ponto Gama (o equinócio de outono, em 22 de setembro, chama-se Ponto Libra).

Este ponto marca exatamente a linha que forma o Equador Terrestre, dividindo a Terra em dois hemisférios, o do Norte e o do Sul. A linha e a data marcam o princípio e o fim do ciclo da Terra em torno do Sol, e, também, marca o início e o fim do ano Maçônico, ou Ano Adonhiramita.

Logo, os Anos Maçônico e Solar correm paralelos um ao outro. Suas semanas são as

fases da lua, e os meses regem-se pelo ciclo lunar (semelhante aos hebreus, com algumas distorções para poderem ser encaixadas festas e ritos simbólicos).

Seu início remonta a 4.000 ciclos (anos) antes de Cristo. Portanto, devemos acrescentar à Era Vulgar, 4.000 anos. Diversas hipóteses existem para explicar esse número: o calendário hebraico inicia-se 3.761 anos antes de Cristo, antes da saída dos judeus do Egito. Um bispo, certa feita, durante a Idade Média, tomando por base a cronologia bíblica, definiu o início da Terra em 4.000 anos antes de Cristo. Hoje sabemos que a Terra é muito mais antiga. Mas, e a cronologia da Bíblia, por qual acaso inicia 4.000 anos antes de Cristo? Os egípcios, com sua ciência de Geometria e Arquitetura surgiram nesse período, mesopotâmicos, com os primeiros escritos cuneiformes achados, as mais remotas provas de civilização chinesa, as primeiras (e mais belas) pirâmides Maias, Stonehenge, na Inglaterra, com seus enormes menires dispostos em círculo e uns sobre os outros, foi erigido 4.000 anos antes de Cristo. Parece que toda civilização inicia nesse período. Interessante, também, evidenciar que toda ela inicia no hemisfério Norte, não há registro de povos organizados (ainda) no Hemisfério Sul, talvez por serem pouco estudados.

As lendas da Mitologia Grega, Romana, Hindu, Budista, Nórdica, etc. remontam a essa época

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o início (nascimento) de seus Deuses. Segundo Platão, se Atlântida tivesse existido, teria sido nessa Era. Seria algo de místico neste período?

O Calendário Hebreu (que deveria correr paralelo) é lunar, mas tem 7 meses com 30 dias e 5 com 29, num total anual de 355 dias, havendo pois, uma defasagem em relação ao ano Solar, de 10 dias. Aí, a cada 19 anos Lua, seu ciclo coincide com o ano Solar. Durante esses 19 anos, a cada 2 ou 3 anos é acrescentado um novo mês com 30 dias, resultando com esse aumento um longo ano com 385 dias. Num total de 7 dentro dos 19 anos, os dias passam de 355 para 385 dias, ficando corrigida a defasagem ocorrida do Ano Lunar para o Solar. Esses anos “grandes” são chamados intercalares e são, entre os 19, o 3º, o 6º, o 8º, o 11º, o 14º, o 17º e o 19º.

Os meses do Calendário Hebraico são: 1º - Nissan (30 dias); 2º - Jiar (29); 3º - Sivan (30); 4º Tamuz (29); 5º - Ab (30); 6º - Ellul (29); 7º - Tisri (30); 8º - Chesvan (30); 9º - Kislev (30); 10º - Thebet (29); 11º - Schevat (30); 12º - Adar (29), e o 13º, intercalado, o mês de Veadar, com 30 dias.

Os Ritos Maçônicos (principalmente o Adonhiramita) adotam o ano da criação do mundo juntamente com o calendário religioso hebraico, cujo ano inicia-se a 21 de março pelo calendário gregoriano. Os meses do Calendário Maçônico assemelham-se muito ao Hebraico, apenas, variando na grafia e pronúncia.

O ano civil começa no mês de Teshrit “Rosh Hashaná” – equinócio outonal (23/09), já o ano religioso inicia-se em Nisan, no equinócio de vernal (21/03). Há, ainda, no calendário um mês intercalar, entre Adar e Nissan, com a finalidade de compensar a diferença entre o ano lunar e o solar. O Calendário Maçônico segue bem próximo a esse calendário, acrescentando o número 4000 ao ano da Era Cristã, ou Era Vulgar, obtendo-se assim o ano da Verdadeira Luz ou o Ano Lucis.

A Maçonaria criou novos calendários ou modificou os já existentes gerando dessa forma calendários particulares que podem variar de acordo com o Rito ou com a Potência. Vejamos alguns exemplos:

Calendario MaçônicoLojas - Simbólicas Anno Lucis 4000 +

ADAnno Lucis é o “Ano da Luz”. AD é o Anno Domine ou seja o ano calendário vigente no mundo ocidental (ano de Nosso Senhor Jesus Cristo)

Real Arco - Capitular

Anno Inventionis 530 + ADAnno Benefacio 1913 + AD

Anno Inventionis é o “Ano do Descobrimento” ou a construção do 2o. Templo.Anno Benefacio é o “Ano da Benção” de Abraão por Melquezedeque.

Mestres Reais & Secretos - Cripticos

Anno Depositionis 1000 + AD

Anno Depositionis é o “Ano do Edificação” ou finalização do Templo de Solomão.

Cavaleiro Templário - Cavalheiresco

Anno Ordinis AD - 1118

Anno Ordinis é o “Ano da Fundação da Ordem”

Rito Escocês Antigo e Aceito

Anno Mundi 3760 + AD

Anno Mundi, ou o “Ano Mundial”. É análogo ao calendário Judeu (com um ano extra a ser adicionado após Setembro).

O tempo pode ser cíclico à imagem da sucessão do dia pela noite, pode ser linear (Gênesis – início e Apocalipse – final), pode ser cópia ou imagem mutável e fenomênica da eternidade, imutável e simultânea, que acolhe e transcende a própria dimensão temporal (Platão); pode ser a medida de movimento conforme o antes e o depois (Aristóteles). Mas não importa a forma que se meça o tempo, e sim a forma com que se perceba esse tempo, relativamente, o tempo pode ser resumido

em mudança. Mudança nossa da noite para o dia, ao recebermos a Luz, do início ao fim de nossa senda maçônica em busca da perfeição, logo, sendo por qual forma medido (Régua 24 polegadas) ou não, devemos, sim, aproveitar esse “eterno presente”, como um instante de passagem para um ser, sempre, mais evoluído. “Que o GADU nos permita que cada dia do nosso calendário seja um novo dia, um recomeço, iluminando a nós, aos nossos familiaraes e a todos os Irmãos do universo”

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Como a Maçonaria Brasileira Usou e Usa os Calendários Maçônicos

Hercule Spoladore

O calendário usado pelo Grande Oriente Brasiliano era o calendário pseudo-hebraico ou Adonhiramita. (Não acrescentava à Era

Vulgar o número 3760 e sim 4000). Entretanto, o Supremo Conselho do REAA de Montezuma, por muitos anos usou o calendário do Rito Moderno ou Francês. Este Supremo Conselho, através do Marquês de Caxias, que era nesta época seu Soberano Grande Comendador, uniu-se ao Grande Oriente do Brasil, em 1855, e é possível que por influência deste, o Grande Oriente do Brasil, em 1º de janeiro de 1856 adotou, como oficial, o calendário do Rito Moderno.

Entretanto, segundo pesquisas do Irmão Kurt Prober, analisando documentos da época, o Calendário do Rito Francês ou Moderno nem sempre foi devidamente seguido, havendo alternância de uso com outros calendários conforme os Grão-Mestres da época.

O calendário do Rito Moderno foi usado desde a sua adoção oficial até 1863. Deste ano até 1870, quando foram Grão-Mestres os Irmãos Bento da Silva Lisboa (Barão de Cayru) e seu sucessor Joaquim Marcelino Brito, usaram, simplesmente, o calendário da Era Vulgar, ou seja, o Gregoriano.

No período de 1871 a 1876, o Grande Oriente do Brasil usou o calendário pseudo-hebraico ou

Adonhiramita, através de seu Grão-Mestre José da Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco). Em 1876, o Grão-Mestre, em exercício, Francisco José Cardoso Júnior, bem como seu sucessor, Luiz Antônio Vieira da Silva, usaram o Calendário Gregoriano. A partir de 1889, o Grão-Mestre, em exercício, por poucos meses (03 de novembro de 1889 a 24 de fevereiro de 1890) o Visconde de Jary, então, Grão-Mestre, usou o Calendário do Rito Moderno ou Francês. Seu sucessor, o Marechal Deodoro da Fonseca, voltou a usar o Calendário da Era Vulgar.

Somente, a partir de 09 de fevereiro de 1892, quando assumiu, como Grão-Mestre, o irmão Joaquim de Macedo Soares, o Grande Oriente do Brasil voltou, definitivamente, a se utilizar do Calendário do Rito Moderno ou Francês. Mais ou menos, a partir de 1898, o Supremo Conselho passou a usar o verdadeiro Calendário Hebraico, mas, somente, nas patentes dos graus 31°, 32° e 33°, em substituição ao Calendário do Rito Moderno.

Após o Primeiro Grande Cisma, em 1927, o Supremo Conselho de Montezuma, levado pelo Irmão Mario Behring, passou a usar o Calendário Hebraico para todos os Altos Graus. O Supremo Conselho Reconstituído, ligado ao Grande Oriente do Brasil, continuou a usar o Calendário Hebraico, mas, após o chamado “Compromisso de Pacificação”, em 11 de novembro de 1952, além de os diplomas dos graus

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31°, 32° e 33°, passou a usar este calendário em todos os diplomas dos Altos Graus.

A razão de tanta polêmica da Maçonaria Brasileira a respeito das datas históricas, foi ocasionada pela má interpretação por parte de alguns historiadores das atas das primeiras sessões do, então, Grande Oriente Brasiliano. Essas atas são em número de dezenove e constituem o chamado Livro de Ouro da Maçonaria do Brasil. As dezenove atas vão desde o dia 17 de junho de 1822 (fundação) até o dia 25 de outubro de 1822 (fechamento da Ordem por D. Pedro I, seu Grão-Mestre, em virtude das brigas envolvendo Ledo e Bonifácio).

Graças à atitude do Grande Secretário do Grande Oriente Brasiliano, o Irmão Capitão Manoel José de Oliveira (Irmão Bolívar), ter escondido as atas (Livro de Ouro) quando D.Pedro I mandou fechar o Grande Oriente, entregando-as, depois, na reinstalação do Grande Oriente, em 1831, então, com o nome de Grande Oriente do Brasil ao Vale do Lavradio, hoje, podemos, em detalhes, saber de partes importantes da história da Maçonaria Brasileira.

Sabe-se que, em 25 de outubro de 1822, D. Pedro mandou realizar uma devassa no Grande

Oriente Brasiliano, apreendendo moveis alfaias e documentos, não só do Grande Oriente, mas, também, das lojas que o compunham, ou seja, “Comércio e Artes à Idade do Ouro”, “União e Tranquilidade” e Esperança de Niterói”.

A partir da leitura posterior dessas atas é que se iniciou a confusão. Alguns historiadores incautos, ao converterem as datas para a Era Vulgar, o fizeram convertendo através do calendário do Rito Moderno e não do pseudo-hebraico ou Adonhiramita, que foi o calendário usado na fundação do Grande Oriente Brasiliano. Isto chega a ser um paradoxo, pois se fundaram o Grande Oriente no Rito Moderno, deveriam usar o Calendário do Rito Moderno. Mas como a Loja “Comercio e Artes”, Loja Primaz do Grande Oriente, fundada, originalmente, em 1815, que de sua divisão em três Lojas, possibilitou a criação da primeira obediência brasileira, pertencera, anteriormente, ao Rito Adonhiramita, usaram este calendário pseudo-hebraico. O que, inclusive, justifica o uso de nomes simbólicos, próprio Rito Adonhiramita, quando já estava se utilizando do Rito Moderno.

*Compilação de trecho do trabalho com o mesmo título, do ilustre irmão Hercule Spoladore.

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Desde os idos mais antigos a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. Os astrônomos

servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas.

Os cronologistas e historiadores, servem-se, também, de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano. Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: criação do mundo, fundação de Roma e o nascimento de Cristo, entre outros.

Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois do Dilúvio. Já segundo Heródoto (grego, considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam a cem anos. Posteriormente, possivelmente no século VIII, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo que decorriam desde uma época notável, tomada como ponto de referência, e que dava o nome à era adotada.

Quanto à etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha e, acredita-se ser a contração das iniciais A.E.R.A. encontradas nos monumentos antigos e que significam “Annus Erat Regni Augusti” (o ano do reinado de Augusto) ou “Ab Exordio Regni Augusti”, que significa “Do começo do reinado de Augusto”, pois os Espanhóis

iniciaram seus cálculos a partir do período que o país ficou sob o domínio de Augusto. Outros dizem derivar da palavra latina “aes”, ou “aeris” (bronze), porque das medalhas e moedas desse metal se deduzia a data do acontecimento notável, que serviu de começo a uma serie de anos. As palavras “era” e “época” tem certa relação entre si, mas, contudo, são bem distintas: Era é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; época é o momento desse acontecimento. De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo. Todos os povos tomariam este instante se tivesse sido possível determiná-lo. Não o sendo cada povo adotou, como já dissemos, uma Era: A dos Judeus funda-se na criação do mundo, segundo o Gênesis; a dos Antigos Romanos, na fundação da sua capital; a dos Gregos, no estabelecimento dos jogos olímpicos; a dos Egípcios, na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; a dos Cristãos no nascimento de Jesus, o Cristo.

Já a expressão “Vulgar” tem origem no latim “Vulgaris” ou “Vulgus” e, primitivamente, significava “pessoas comuns” ou seja, aqueles que não são da realeza. Isto, pelo menos, até meados do século XVI quando a palavra “Vulgar” passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”. Foram os judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação

A Expressão “Era Vulgar” e o Calendário Maçônico

Antônio Carlos Rios

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com as outras, as quais podem se classificar em Eras Antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, às posteriores. A Era Vulgar, portanto, designa o Calendário Gregoriano mundialmente adotado. Para entender como a expressão “Era Vulgar” passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. O primeiro ano do Calendário Maçônico é o Ano da Verdadeira Luz, Anno Lucis, em latim, ou, simplesmente, V.´.L.´. ou A.´.L.´., como empregado na datação de antigos documentos maçônicos do século XVIII, e interpretado como “Latomorum Anno” ou, como no texto original em inglês, que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters” – que significa “Idade dos Cortadores de Pedra”.

A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria sido com base nos cálculos de James Usher, um bispo anglicano, nascido no ano de 1581, em Dublim. Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo, segundo o Livro de Gênesis, que precisou ter ocorrido às 09 horas da manhã do dia 23 de outubro de 4004 a.C., com base no texto Massotérico (texto, em hebraico, que deu origem a vários capítulos da Bíblia), ao invés do Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento).

Neste contexto, James Anderson fez constar em sua Constituição de 1723 a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos, no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria. Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica deu-se 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar. Nota-se o

que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson. O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do Ano Gregoriano, no entanto, começa em 1º de março – assim como o Ano Juliano que, ainda, estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson. No calendário Maçônico os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, o dia 1º de março de 2019 da E.´. V.´. seria o dia 1º, do mês 01, do ano de 6019 da V.´.L.´., segundo Anderson.

Se por um lado existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados, segundo a regra que citamos, por outro tal prática parece não ter sido adotada como regra geral. Os antigos maçons dos Ritos de York e Francês adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. No entanto, Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o Calendário Judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar. Já os Maçons do Arco Real utilizavam-se da data de construção do segundo Templo, ou 530 anos antes da Era de Cristo. Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um calendário maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e estas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas.

As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma loja maçônica no Jardim do Éden. A ideia só foi concebida para se transmitir que os princípios da Maçonaria (e não a Maçonaria em si) são tão antigos quanto à existência do mundo. Vejo que qualquer outro significado maçônico para essas datas, não passam de um desejo dos primeiros maçons escritores de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil, há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da Maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico, não em 1º de março, como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.´.L.´.(A.´.L.´.). Desta maneira, o 6° mês maçônico tinha início em 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês) e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.´.V.´., como situa um Boletim do GOB de 1874, isto segundo o Irm∴ José Castellani, em sua obra “Do Pó dos Arquivos”. O fato é que datar pranchas e documentos maçônicos com o ano da V.´.L.´. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos. Utilizar o Calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.´.V.´., é a pratica mais comum nos dias atuais.