platão e o ritual maçônico

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Platão e o Ritual Maçônico – Introdução A INFLUÊNCIA DE “A REPÚBLICA” DE PLATÃO SOBRE A MAÇONARIA E O RITUAL MAÇÔNICO Introdução Foi em um sábado à tarde, frio e chuvoso, em meados de 2004, que fiz a descoberta de pouca importância, acidental, que me levou a escrever este livro. Cerca de oito ou nove anos antes, eu havia colocado uma série de livros em caixas acima do teto em nossa casa. Meu plano original tinha sido que isso serviria como uma instalação de armazenagem temporária. Sobre isso, penso que eu deva ter dado à minha esposa Jenny, alguma garantia de que este acordo ia ser exatamente o que a palavra “temporário” realmente sugere. A razão de eu fazer esta observação é que naquela mesma manhã, Jenny lembrou-me aquela garantia certa de que ela se lembrava de que eu havia dado a ela tantos anos atrás. Cocei a cabeça e olhei fixamente para ela. Ela enfrentou meu olhar vazio com um olhar determinado. O subtexto mudo de sua expressão confirmou- me além de qualquer sombra de dúvida, que já era hora de começar a trabalhar acima do nosso teto. Em qualquer caso, aquela área precisava ser preparada para alguns dutos de ar condicionado que deveriam ser instalados dentro de algumas semanas. Como as coisas acabaram acontecendo, limpar o espaço acima do teto foi uma tarefa bem adequada para aquele sábado em especial. Lá fora, uma chuva constante caía e continuou a cair até o início da noite. Uma vez que o espaço acima do teto havia sido desocupado, eu classifiquei os livros dentro das caixas em três grupos. De um lado, coloquei os livros que queria manter. De outro – livros que eu queria vender.

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A relação entre os rituais da Maçonaria e Platão.

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Page 1: Platão e o Ritual Maçônico

Platão e o Ritual Maçônico – Introdução

A INFLUÊNCIA DE “A REPÚBLICA” DE PLATÃO SOBRE A MAÇONARIA E ORITUAL MAÇÔNICO

Introdução

Foi em um sábado à tarde, frio e chuvoso, em meados de 2004, que fiz a descoberta de poucaimportância, acidental, que me levou a escrever este livro.

Cerca de oito ou nove anos antes, eu havia colocado uma série de livros em caixas acima do teto emnossa casa. Meu plano original tinha sido que isso serviria como uma instalação de armazenagemtemporária. Sobre isso, penso que eu deva ter dado à minha esposa Jenny, alguma garantia de que esteacordo ia ser exatamente o que a palavra “temporário” realmente sugere. A razão de eu fazer estaobservação é que naquela mesma manhã, Jenny lembrou-me aquela garantia certa de que ela selembrava de que eu havia dado a ela tantos anos atrás. Cocei a cabeça e olhei fixamente para ela. Elaenfrentou meu olhar vazio com um olhar determinado. O subtexto mudo de sua expressão confirmou-me além de qualquer sombra de dúvida, que já era hora de começar a trabalhar acima do nosso teto.Em qualquer caso, aquela área precisava ser preparada para alguns dutos de ar condicionado quedeveriam ser instalados dentro de algumas semanas.

Como as coisas acabaram acontecendo, limpar o espaço acima do teto foi uma tarefa bem adequadapara aquele sábado em especial. Lá fora, uma chuva constante caía e continuou a cair até o início danoite.

Uma vez que o espaço acima do teto havia sido desocupado, eu classifiquei os livros dentro das caixasem três grupos.

De um lado, coloquei os livros que queria manter. De outro – livros que eu queria vender.

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O último grupo foi dedicado às doações e marcados para serem doados ao Lions Club local – um clubede serviço ao qual eu tinha pertencido antes de entrar para a Maçonaria.

Quando olho para trás, para aquele sábado em especial, ele não era realmente muito diferente detantos outros sábados que eu tinha aproveitado em minha vida. Houve, no entanto, uma coisa que odiferenciou de todos os outros, e isso ocorreu no exato momento em que eu peguei um único livro emparticular, que tinha estado anonimamente entre todos os outros. Era um livro que eu havia estudadoao realizar um trabalho escrito sobre a história da educação. Isso foi em 1977, quando eu estavaestudando no Murray Park Teachers College em Magill, Sul da Austrália.

A capa do livro mostrava a imagem de um painel de mosaico de vidro de um filósofo grego chamadoPlatão. O título do livro era muito simples – A República, e ele tinha sido escrito mais de 2300 anosantes pelo mesmo filósofo grego cuja imagem aparecia na capa. Lembrei-me de que o trabalho escritoque eu tinha feito há tantos anos detalhava como Platão tinha sido a primeira pessoa na sociedadeocidental a elaborar um projeto para um currículo de educação para um homem ou mulher, cujoproduto final seria tornar-se um líder ideológico dentro da sociedade grega de seu tempo. Ele se referiaà graduação de seu sistema de ensino – um sistema que tinha o título muito distinto de rei-filósofo.Seu aluno atingia esta distinção em estágios progressivos, através da abordagem revolucionária dePlatão para a educação.

Platão propôs que a educação formal deveria visar dois aspectos importantes da natureza humana, afim de que um indivíduo pudesse atingir a excelência. O primeiro aspecto era que a maioria dossistemas de ensino é concebida (ainda hoje) para alcançar – o desenvolvimento do intelecto de umapessoa. O segundo aspecto do seu sistema de ensino era muito mais revolucionário. Ele tratava dodesenvolvimento do caráter de uma pessoa. Seu governante ideal demonstraria excelência em seupensamento, ações e tomada de decisão através de um equilíbrio entre seu intelecto (que podemoschamar de pensamento certo) e seu caráter (que era demonstrado através do comportamento certo).

O livro que eu tinha em minha mão tinha sido traduzido para Inglês por Sir Desmond Lee e era umareedição de 1976 de uma edição original Penguin Classics. Olhando para o livro, eu também notei quesuas extremidades superiores estavam manchadas com tinta amarela desbotada, aguada – sem dúvidao resultado de um derrame acidental de realce que tinha ocorrido há muitos anos.

Fiz uma pausa e olhei para fora do vidro da porta deslizante traseira, imerso em reminiscênciasassociadas aos meus tempos de estudante. Lá fora, raios fracos ocasionais de uma luz acobreadacarregada de umidade se refletia no gramado, arbustos e árvores de uma forma que era tão típica deuma tarde de meados do inverno em Adelaide.

Voltando ao A República, comecei a folhear com curiosidade nostálgica. Momentos depois, fiqueisurpreso ao ler as palavras de uma passagem que eu tinha destacado quase três décadas antes. Foineste momento específico, que transformei uma tarde de sábado normal entre tantos sábados comuns

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em algo de maior significado pessoal para mim.

A linha de texto assinalada que prendeu meus olhos estava, sem dúvida, prenhe de significadomaçônico. Foi uma coincidência muito curiosa. Eu olhei aleatoriamente para outra página. Tambémneste caso, havia um trecho de texto assinalado. Da mesma forma, este foi também era muitosemelhante a uma outra parte do Ritual maçônico. Eu agora tinha duas coincidências muito curiosas.Respirando fundo, acomodei-me em uma cadeira e comecei a percorrer o texto. A esta altura, qualquercuriosidade sentimental que eu tinha, havia se transformado em concentração.

Muito rapidamente, tornou-se óbvio para mim que muitas dessas passagens tinham relação direta como ritual com o qual eu tinha me familiarizado desde minha iniciação na noite de segunda-feira 8 deNovembro de 1999.

Devido ao grande número de paralelos, comecei a me perguntar se estas eram apenas coincidências, ouse havia alguma arquitetura proposital, prevista na estrutura do nosso ritual que poderia ter como basea mais importante obra filosófica de Platão? Meu primeiro pensamento foi que havia semelhançasdemais para simplesmente descartar o que eu tinha encontrado.

No decorrer da semana seguinte, li o livro – da capa à contracapa – estimulado por uma ânsia deentender por que era que parecia haver tantas correspondências com o ritual Maçônico praticado nosul da Austrália.

Compreendi que havia um problema central que eu tinha que superar. Platão tinha escrito A Repúblicaem grego, e eu nunca tinha estudado a língua. Eu tinha frequentado a Escola St Paul aqui em Adelaide,que se orgulhava de ter uma estrita tradição de Irmãos Cristãos. Como consequência, cada um doscinco anos do meu currículo do ensino secundário, tinha uma matéria de latim clássico – e não grego.

Como quase 30 anos haviam se passaram desde a minha última aula de Latim (e sem uso diário) o meucomando da língua tinha, compreensivelmente, se tornado pouco cansado. Apesar disso, umalembrança permaneceu tão nítida como sempre. E eu sorrio ao pensar nela, entendendo-se quesomente a distância no tempo que me separava dos tempos de estudante que me permitiu o luxo de umsorriso. Foi a lembrança do castigo que esperava qualquer estudante que falhasse em declinar umsubstantivo ou conjugar um verbo com o floreio de precisão que os Irmãos Cristãos exigiam.

Aqui estava minha principal preocupação – a tradução Penguin era fiel? Sem qualquer conhecimentodo grego como eu poderia estar certo? Porque tanto o idioma quanto os sentimentos em destaque nolivro que eu estava segurando eram tão impressionantemente parecido com o ritual maçônico, que euqueria me convencer uma coisa em particular. Eu precisava de garantias de que esses paralelos nãoeram apenas uma peculiaridade desta tradução particular de Sir Desmond Lee. Mesmo assim – comoeu poderia fazer um julgamento considerado neste contexto, dado que o grego era (em todos ossentidos da palavra) estranho para mim?

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Foi então que eu decidi que a abordagem mais lógica seria para mim comparar diferentes traduçõesmodernas de A República.

Eu li a tradução de Robin Waterfield (Republic, Oxford World’s Classics 1993), seguido da tradução deC.D.C. Reeve (República, Hackett, 2004. Se alguma coisa aconteceu foi que essas traduções ampliaram(ao invés de diminuir) qualquer correspondência maçônica existente entre os escritos de Platão e oRitual maçônico.

Neste ponto, no início de minhas investigações, comparar estas três traduções modernas confirmarampara mim, sem a menor dúvida, que A República de Platão tinha sido uma influência principal nodesenvolvimento do moderno Ritual Maçônico.

O que eu não entendia era o motivo. Supondo que eu estivesse correto – que A República de Platão foio fundamento do Ritual Emulação, por que ele foi escolhido? Quais foram as influências operando naépoca em que escolha foi feita, uma escolha natural? Com o tempo, as respostas a todas essasperguntas vieram com facilidade e (felizmente) … grande clareza.

Significativamente, por meio desse processo, eu também tinha me satisfeito que a tradução de Lee nãotinham sido singular em sua expressão de linguagem maçônica, princípios e sentimentos. Eu, então,comecei a ler outros diálogos de Platão. Quanto mais eu lia, mais convencido ficava de que o nossoRitual Maçônico foi criado (sem qualquer dúvida ou qualificação) com base em princípios muitoespecíficos da filosofia platônica.

Então, pensei sobre a rota que eu precisaria tomar para chegar a uma conclusão lógica, bemconsiderada quanto ao motivo por que os escritos de Platão tornaram-se bordados no tecido domoderno Ritual maçônico.

A abordagem que eu devia tomar foi longe de ser auto evidente para mim no começo. Ela sedesenvolveu naturalmente e no seu próprio ritmo com o tempo. Minhas investigações conduziram-mepor distintos vetores da investigação histórica.

O primeiro foi compreender a vida e os tempos em que Platão viveu.

A segunda via foi entender o que estava ocorrendo na Escócia e na Inglaterra nos anos queantecederam 1717, quando a Maçonaria foi revitalizada sob a égide da Grande Loja da Inglaterra até oano de 1823 e depois. O que eu descobri foi que a Europa, a partir de meados dos anos 1700 (e maisparticularmente a Inglaterra e a Alemanha), foi varrida por uma alavanca cultural que hoje éreconhecido pelo termo “filohelenismo”. O termo significa “amor por todas as coisas gregas”.

Em 1816, um ritual maçônico conhecido pelo nome de Emulação foi aprovado para uso, após décadasde controvérsias quanto ao correto e adequada ritual maçônico que deveria ser usado.

O ritual que usamos no sul da Austrália e Território do Norte é (apenas com variações pouco

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importantes), Emulação. O ponto crucial disso – os autores do Emulação – (escrito no início do séculoXIX), tinham decidido, por razões próprias tecer a tela do conceito de Platão de um rei-filósofo nocorpo deste Ritual.

Quando eu completei minhas investigações, eu era capaz de articular um modelo significativo,estruturado e coeso de Maçonaria. Era um que era vibrante; ele era enérgico. Mais do que tudo, eraalgo que fosse fácil de entender e aplicar. Sua aplicação podia ser demonstrada em uma loja, mas designificado ainda maior – ele poderia ser demonstrado nos aspectos do dia-a-dia de nossas própriasvidas.

Mais importante ainda, o caminho através da Maçonaria, não era mais uma macega de sistemasdiscordantes díspares de símbolos, imagens e referências.

Aqui está o cerne do argumento que proponho neste livro:

Como maçom, quando você ou eu estamos presentes na Abertura ou Fechamento da Loja, sempre quevocê ou eu participamos de Iniciação, Elevação ou Exaltação de um irmão, então as palavras e ossentimentos que ouvimos (ou entregamos) ressoam com as palavras e sentimentos escritos por umfilósofo grego chamado Platão – quase 400 anos antes da era cristã.

Existe um passo a mais – os símbolos e alegorias de nossos rituais estão impregnados de história emitologia grega. Uma vez que entendamos os mitos específicos a que nossos símbolos e alegorias sereferem, mais rico em significado nosso ritual se torna para nós.

Semanalmente, em conjunto com os Grandes Oradores de nossa jurisdição, realizo, em toda a rede delojas maçônicas metropolitanas do sul da Austrália e lojas do interior, estas apresentações – abordandotodos os aspectos da história e filosofia maçônicas que procuro expressar (tanto quanto possível) emlinguagem cotidiana.

Com a base de filiação na Maçonaria em toda a Austrália mostrando uma tendência ascendentesatisfatória, é importante ser capaz de continuar a expressar o que a Maçonaria é, assim como o que elarepresenta, a cada irmão em uma linguagem que seja inclusiva e não exclusiva.

Estou também consciente de que esta é uma oportunidade para compartilhar nosso patrimônio e osvalores maçônicos com os leitores na comunidade em geral – uma direção que está sendoimpulsionada energicamente no Sul da Austrália, e destacada no corpo do Discurso Inaugural deGraham Bollenhagen em sua Instalação em abril de 2006 como Venerabilíssimo Grão-Mestre do sul daAustrália e Território do Norte:

Embora seja óbvio, certamente, nesta sociedade moderna, que tem havido uma tendência de foco emvender, parece haver um renascimento da compreensão de um propósito maior de vida, e algunscomeçam a buscar outros aspectos em suas vidas. Para a Maçonaria, precisamos de garantir que

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possamos ajudar nesta busca, proporcionando o conhecimento dos nossos ideais, mas é claro, comopodemos apresentá-lo à outras pessoas, se nosso entendimento pessoal de tal conhecimento éformulada em termos e numa língua que não é facilmente compreendida pelos outros.

Permitam-me agora dar-lhe um retrato breve de algumas das questões discutidas neste livro:

Algumas coisas que você vai encontrar discutidas neste livro …

Platão foi o primeiro na tradição filosófica ocidental a propor as Virtudes Cardeais e as Artes Liberais eCiências, como meio para se tornar um rei-filósofo. No Ritual da Maçonaria somos instruídos nasVirtudes Cardeais e nas Artes Liberais e Ciências como os caminhos pelos quais podemos atingir àCadeira do Rei Salomão. Existe uma conexão entre a nossa instrução maçônica e o rei Salomão (comoo rei-filósofo ideal ou arquetípico)?

No Discurso do Canto Nordeste somos instruídos sobre a importância de não ter metais ou objetos devalor em nossa pessoa. Existe alguma relação entre essa instrução e a instrução dada a um dos reis-filósofos de Platão – não ter metais ou objetos de valor sobre a sua pessoa?

Se a mitologia, história e filosofia gregas são a base da Maçonaria moderna, é possível que a Sabedoria,a Força e a Beleza têm alusão simbólica a três principais cidades gregas que tipificavam cadacaracterística no mundo antigo, a saber – Atenas (Sabedoria), Esparta (Força ) e Corinto (Beleza)?

Em Timeu, Platão descreve a criação do mundo por um Ser Supremo que ele chamou de “techton” docosmos (Artesão do Universo). Este Artesão criou o universo a partir de cinco sólidos geométricos.Platão, (assim como aqueles sólidos geométricos vivos) é mencionado no Discurso da Segunda Cadeira(Palestra simbólica) no Ritual do Santo Real Arco de Jerusalém. O que isso nos diz sobre a evidenteinfluência cruzada com relação a Platão na Maçonaria Simbólica e outros graus?

Em Timeu e Gritias, Platão desenvolve o mito de Atlântida – uma imensa superpotência vencida poruma aliança ateniense de cidades-estados vizinhos governados por (entre todas as coisas) – reis-filósofos. Qual a ligação filosófica da Maçonaria com o antigo mito da Atlântida?

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2015/08/26/platao-e-o-ritual-maconico-introducao/

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo I

A pergunta de Tertuliano e sua relevância para Maçonaria moderna

“A Questão de Tertuliano” é, reconhecidamente, um estranho subtítulo para um livro que pretendelidar com a filosofia Maçônica, então agora é um momento tão bom quanto qualquer outro paraexplicar seu título e relevância. Tertuliano é a forma portuguesa do nome latino Quintus SeptimiusFlorens Tertullianus – (… um nome que certamente tem o seu próprio floreio). Tertuliano nasceu nacidade de Cartago, no que é hoje a Tunísia, por volta do ano 158 d.C.

A história diz que Cartago era uma cidade fundada por colonos da cidade de Tiro, na Fenícia quase1000 anos antes do nascimento de Tertuliano. Esta mesma cidade de Tiro, que dois dos nossoslendários primeiros Grãos-Mestres chamavam de lar e foi também o lar de trágica rainha Dido. ARainha Dido foi a amante do príncipe troiano Eneias, por quem tanto Júlio César quanto o imperadorAugusto alegavam descendência linear e Virgílio explorou as aventuras lendárias de Eneias no poemaépico, a Eneida.

Aníbal, o Grande, que empreendeu uma campanha militar de 16 anos contra Roma durante a SegundaGuerra Púnica (218-202 a.C.) também vinha da cidade de Cartago. Embora esta campanha militar nãoseja algo que venha facilmente à nossa mente, provavelmente cada um tem uma vaga lembrança deinfância dos inimigos de Roma encenando uma ousada travessia dos Alpes usando elefantes. A vagalembrança desta campanha é aquela que Aníbal havia arquitetado e executado.

Nascido cerca de 200 anos depois de Tertuliano, Agostinho de Hipona foi o grande um Doutor daigreja cristã, que também viveu em Cartago por um curto, mas significativo período de sua vida. Comovamos descobrir, Agostinho de Hipona reconheceu que a produção escrita de Platão era a base da suaconversão ao cristianismo. Foi Agostinho quem injetou a filosofia de Platão no núcleo emdesenvolvimento da teologia cristã, e foi o movimento protestante (cerca de mil anos depois) queredefiniu a teologia cristã, retornando novamente a filosofia platônica.

Então, o que sabemos da vida de Tertuliano? Na realidade, sabemos muito pouco. Ele nasceu de pais

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pagãos, que lhe forneceram um alto nível de educação, principalmente em direito, mas também emliteratura e filosofia grega e romana. Em algum ponto de sua vida (e por razões que não são de todoclaras), Tertuliano fez uma dramática conversão ao cristianismo. Apenas alguns anos depois,Tertuliano foi ordenado sacerdote. Durante sua vida, ele se tornou um escritor de enorme influência,desenvolvendo aspectos da teologia cristã.

Possivelmente, sua contribuição mais significativa foi o conceito de “trindade” – um conceito que,posteriormente, se desenvolveu como um dos grandes pilares do dogma cristão.

Por mais fervorosa e apaixonada que fosse sua conversão – sua associação com o Cristianismo erararamente harmoniosa. Ele decidiu romper com a igreja cristã estabelecida de Cartago e converter-separa uma seita herética conhecida como os Montanistas. Desiludindo-se com a sua marca docristianismo, ele a deixou para fundar sua própria seita cristã, morrendo em algum momento em 255d.C.

Se você tem alguma familiaridade com o idioma português você identificará a palavra tertúlia com“reunião”, “simpósio”, ou “discussão” ou até mesmo um “encontro de mentes”. Em um empregoanterior, tive a sorte de trabalhar com um colega chileno que me apontou esta associação de palavrasque demonstra a maior influência de Tertuliano, não só no estudos “sérios” de teologia e filosofia, mastambém nos estudos mais “leves” como a linguística.

Embora o nosso conhecimento da vida de Tertuliano seja apenas breve e episódico, a principalcaracterística recorrente de sua vida é uma predisposição para a conversão. Do paganismo, ele seconverteu ao cristianismo. Do cristianismo, ele se converteu, em duas ocasiões separadas, para marcasheréticas de sua própria teologia principal.

Tendo isso em mente, a História está cheia de estórias a respeito de conversão, e uma das coisas quemuitas vezes parecem acompanhar a conversão é uma forte aversão – um forte afastamento de todosos aspectos da vida anterior e de crenças de uma pessoa. A este respeito, Tertuliano não foi estranho aesse fenômeno psicológico.

Um de seus escritos mais famosos é uma obra curta, que é chamada em latim, De Praescriptionehaeretici. A tradução é muito simples: Sobre a Prescrição dos Hereges. Dado o que sabemos sobreTertuliano e o caminho que sua vida tomou, ele escolheu um título intrigante. Neste curto trabalho eno espaço de apenas alguns parágrafos, ele rejeitou todo o corpo da filosofia grega em que seus pais ohaviam educado desde sua tenra infância. É neste trabalho que ele fez a famosa pergunta a partir daqual o título deste livro leva o seu nome. A pergunta de Tertuliano foi: O que tem, realmente, Atenas aver com Jerusalém? Que concordância há entre a Academia e a Igreja?

Ao colocar esta questão, Tertuliano estava argumentando que a filosofia pagã (o que ele caracterizoucomo Atenas) tinha, em sua opinião, nenhuma influência ou mesmo relevância sobre o corpo em

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desenvolvimento da filosofia cristã ou da teologia revelada. Em contrapartida, ele caracterizava afilosofia cristã e sua teologia como Jerusalém. Então, com uma utilização escassa de palavras e um usorico e elaborado de habilidade retórica, Tertuliano rejeitou totalmente todos os séculos de pensamentoavançado que chegou até nós através de filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles (entre outros).Mas, ele atingiu mais que isso. Ele foi ainda mais fundo. Com o zelo fanático que acompanhou suaconversão, suas palavras também transmitiram a sua posição bombástica de que as posiçõesmundanas ocupadas pelos antigos filósofos gregos eram totalmente incompatíveis com a perspectivado mundo cristão. Para Tertuliano, esses dois universos eram totalmente antagônicos. Estes eram emtodos os sentidos do termo, mundos em rota de colisão.

Então, como está Tertuliano relacionado com nossa experiência Maçônica?

Entendendo o que ele estava tentando expressar, vamos reinterpretar sua pergunta em nosso meiomaçônico e fazer a pergunta simples:

“Existem influências históricas filosóficas ou míticas gregas sobre nosso ritual”?

Bem… a resposta a essa pergunta surpreenderá muitos irmãos.

Sem até mesmo a menor qualificação, podemos dizer com confiança que em qualquer Ritual que sebaseia no ritual e rubricas do Emulação Inglês – a resposta é – sim! Além disso, essas influênciasgregas não são nem pouco importantes, nem acidentais. Estas influências gregas foramcuidadosamente consideradas, cuidadosamente selecionadas e, em seguida, artisticamente bordadasdentro da história hebraica da construção do Templo do Rei Salomão, que é relatado nos Livros de Reise Crônicas.

Então, quando Ritual de Emulação foi aprovado em 1816, foi lançado como um moderno re-trabalho(ou uma reinterpretação moderna) dos princípios de Platão sobre a liderança, como ele os desenvolveuem vários de seus diálogos, mas principalmente em um diálogo conhecido como República. Com umentendimento de alto nível da história grega, mitologia e escrita platônica, os autores do Emulaçãocriaram um ritual que (uma vez explicado) nos fala hoje com uma mensagem que é especialmenterelevante para nossas vidas neste século XXI.

O que estou propondo pode parecer novo, mas isso está longe de ser o caso. Há evidências sugerindoque já há 150 anos, estava bem claro e entendido que a filosofia de Platão era a orgulhosa espinhadorsal da Maçonaria moderna.

Henry Mildred, o Primeiro Grão-Mestre Provincial do Sul da Austrália fez um discurso no lançamentoda pedra fundamental do Hospital Britânico e Alemão em Carrington, Santa Adelaide, em 24 de maiode 1851. Em suas próprias palavras, ele afirmou que “os princípios da maçonaria … brilhavamradiantes na filosofia de Platão”.

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Com um sorriso irônico, podemos criticar a escolha de palavras de Mildred (o entendimento que Platãoantecedeu a Maçonaria por apenas … alguns séculos). O que ele estava tropeçando na forma de seexpressar, é que a filosofia de Platão brilhava radiantemente nos princípios da Maçonaria.

Quando este trabalho se afasta da pesquisa Maçônica estabelecida é o fornecimento de uma cartilha(ou em outras palavras) – uma primeira tentativa – de conciliar os nossos rituais com a filosofiaplatônica e a história e mitologia gregas. Espero que em algum momento no futuro, um irmão comuma habilidade considerável em grego possa ser capaz de adicionar cor à escala de cinza dessaprimeira tentativa de uma reconciliação Maçônica platônica.

Se o meu argumento tem até mesmo o menor germe de verdade, então estamos diante doreconhecimento de que a partir do momento em que ficamos no Canto Nordeste – algo deextraordinária significância estava ocorrendo que nos conectava com a filosofia do rei- filósofo dePlatão. Naquele momento, nós nos tornamos participantes ativos em um modelo de envolvimento como objetivo de sermos preparados para nos tornarmos reis-filósofos em todas as áreas de nossas vidas.

O amálgama simples e sem esforço dos escritos platônicos com as escrituras hebraicas (conformeevidenciado no Ritual Emulação inglês), sempre esteve focado em alcançar nas vidas de cada um denós, o mais alto potencial (ou em termos platônicos) o mais alto ideal de um ser humano que cada umde nós tem o potencial de alcançar nos breves anos de vida que nos foram dados.

Vamos voltar muito rapidamente ao nosso amigo Tertuliano … Tendo colocado a sua famosa pergunta,ele então passou a justificar sua posição. Sem discutir a sua posição de uma forma ou de outra,podemos notar que seu argumento não só é elegante, mas também vibra com ressonância maçônica:

… porque nossa instrução vem do pórtico de Salomão que tinha, ele mesmo, ensinado que o Senhordeve ser procurado na simplicidade do coração.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo II (1ª Parte)

Maçonaria: Um breve resumo de sua história até o ano de 1823

Antes que possamos mesmo abordar qualquer compreensão de como o pensamento, história emitologia gregas se tornaram incorporados ao ritual maçônico, precisamos ter alguma compreensão dahistória da Maçonaria – o seu próprio pano de fundo. Esta compreensão nos fornecerá um contexto noqual a sequência de eventos que levaram à inclusão de um corpo tão profundo de tradição grega antigaem nosso Ritual poderá ser demonstrada em um processo muito natural e lógico de evolução.

É certo que um dos aspectos mais frustrantes do entendimento da Maçonaria moderna é chegar a umacordo com os seus primórdios. Parece haver tantas teorias inteligentes relativas a esta questão e aindaassim parece que todas elas entram em conflito entre si. Para uma organização que tem sido tãoinfluente na sociedade ocidental pela maior parte de últimos 300 anos, suas origens são irritantementeobtusas.

Será que a Maçonaria se originou como um braço reformado / reinventado da Ordem Católica Romanados Pobres Cavaleiros do Templo (Cavaleiros Templários) – uma Ordem que, em Outubro de 2007, foiabsolvida pelo Vaticano de acusações de heresia lançadas contra ela no século XIV? Será que aMaçonaria se originou de um desenvolvimento das corporações medievais de pedreiros? Será que aMaçonaria se originou como um broto da Royal Society? Será que a Maçonaria se originou na Escócia,ou foi na França, ou foi na Inglaterra?

Há um ou dois anos, fiz uma apresentação sobre um aspecto da pesquisa que eu tinha feito sobre estelivro em uma reunião de loja metropolitana, aqui em Adelaide. A apresentação estava relacionada aaspectos do Ritual de Emulação. Conforme afirmado anteriormente, o Ritual Emulação é (… apenascom pequenas variações), o ritual usado no sul da Austrália e Território do Norte desde 1884, e foidesenvolvido na Inglaterra e aprovado para uso no ano de 1816. Na reunião, um irmão escocêsatencioso e bem-intencionado aproximou-se e repreendeu-me por uma falha que (na sua opinião) nóscompartilhávamos em comum com outros Instrutores da Grande Loja da jurisdição. A falha que todosnós compartilhávamos era a crença de que a Maçonaria se originou na Inglaterra. Ele enfatizou com

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grande paixão, voz e convicção sincera de que ela não tinha essa origem. Ela se originou na Escócia. Eleme deixou na dúvida de seu entendimento da questão (ou por isso) – a real importância que dessesaspectos da história têm para os irmãos nesta jurisdição. Quanto à verdadeira origem da Maçonaria,há uma distinção que nos ajudará se a fizermos. É entre dois modelos distintos de Maçonaria.

O primeiro modelo é uma proto-Maçonaria cujos registros provam ter existido na Escócia, já ao finaldos anos 1500. Por proto-Maçonaria, quero dizer uma primeira fase de organização. Nesta primeirafase, pode haver elementos que podemos reconhecer, ainda hoje, mas geralmente em um nível muitosuperficial. Em todos os sentidos do termo, este tipo de Maçonaria nada mais era que um precursorprimitivo do que existe hoje.

O segundo modelo é o que podemos chamar (com alguma facilidade e precisão), pelo termo modernoMaçonaria. Isso nós podemos fixar o ponto como tendo uma data de início em 24 de junho de 1717. Oselementos que formam este tipo de Maçonaria (quer se trate de um, dois ou 300 anos de idade) sãofacilmente reconhecíveis no ritual e regras praticados hoje.

Traçar uma linha na areia entre esses dois modelos díspares de Maçonaria é vital para qualquerdiscussão inteligente sobre as origens da Maçonaria. É fundamental porque a partir das evidências quetemos à mão, cada modelo tinha uma finalidade diferente em vigor na época. Muito importante – opropósito da proto-Maçonaria era baseado em um modelo filosófico e religioso, que era muitodiferente de seu descendente mais moderno.

Proto-Maçonaria

Nos últimos cem anos ou mais, houve pesquisa maçônica considerável que foi aplicada a um grupo dedocumentos conhecidos como Old Charges (Antigas Obrigações). Como grupo, estes documentoshistóricos apontam para indícios circunstanciais de que a Maçonaria (como nós a conhecemos agora),teve seus antecedentes nas corporações (guildas) de pedreiros medievais. São aqueles pedreiros querealizavam rituais baseados no ofício (ou atividade) real e físico de construção no período medieval deformação e no final do período renascentista a que nos referimos com o termo maçom operativo. Elestambém usaram as Antigas Obrigações como um guia para viver suas vidas. O estudo da MaçônicaModerna aponta para (aproximadamente) seis “famílias” de documentos que compõem o cânon dasAntigas Obrigações. As datas de autoria dessas famílias de manuscritos abrangem um período de 300anos – de cerca de 1.390 até cerca de 1680. Os dois documentos mais antigos são os ManuscritosPoema Regius (c 1390) e Matthew Cooke (c 1450).

A característica distintivas destes dois manuscritos é que, por padrão do período histórico em queforam escritos, eles eram católicos romanos na perspectiva religiosa e filosófica. Esta é uma faceta queé muitas vezes ignorada ou esquecida por alguns historiadores maçônicos. Entender esse ponto muitosimples é crucial se quisermos entender por que, desde os primeiros anos dos século XVIII, o modelofilosófico proposto por Platão foi conscientemente adaptado para se adequar ao modelo maçônico que

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reconhecemos hoje … falo mais disso posteriormente.

Voltando ao Manuscrito Regius, ele é composto de 15 artigos com 15 pontos. Com poucas exceções, ossentimentos que aparecem nos artigos originais e os pontos que aparecem no corpo das Obrigações doPrimeiro e Terceiro Grau são semelhantes com as Obrigações do Primeiro e Terceiro Graus do Ritualbaseado em Emulação.

Uma característica importante do Poema Regius é que, embora ele não especifique um código deconduta esperada de um pedreiro, e este código de conduta é, em muitos aspectos, semelhante ao queos maçons modernos estão acostumados, ele não menciona o rei Salomão, em absolutamente nenhumcontexto.

Nossa experiência de vida normalmente confirma que as coisas ocorrem (em geral) de uma formaevolutiva. Sabemos que qualquer nível de sofisticação geralmente ocorre após um nível mais primitivo,mais básico. O desenvolvimento da proto-Maçonaria segue um caminho evolutivo idêntico.

Aproximadamente 60 anos após o Poema Regius ter sido composto, outro documento conhecido comoo Manuscrito Matthew Cooke foi composto. O título “Matthew Cooke” refere-se à pessoa (um maçom),que publicou este documento pela primeira vez em 1861, e não ao seu autor. O Manuscrito começa comuma oração e passa a discutir as sete artes liberais e ciências. Aqui, o Manuscrito explica que as seteartes liberais e ciências foram preservadas por um descendente de Caim chamado Lameque.

De acordo com este Manuscrito, Lameque inscreveu todo o conhecimento da humanidade em doispilares – um era feito de pedra, enquanto o outro era feito de outra substância. A suposição era de quecaso o mundo fosse destruído pelo fogo ou pela água, poder-se-ia esperar que um ou outro sobrevivesse. Como resultado de sua sobrevivência, a vida e o desenvolvimento humano continuariaatravés de avanços evolutivos do conhecimento. Sem a sua sobrevivência, o conhecimento e avançohumano, seria de esperar que houvesse regressão.

A história dos dois pilares contada no Manuscrito Matthew Cooke não se confunde com a história dosdois pilares que temos em nosso atual Ritual.

No Manuscrito Cooke, a história diz respeito a uma tradição judaica que é recontada por um sacerdotejudeu / historiador romano chamado Flávio Josefo, em uma obra conhecida como “Antiguidades dosJudeus”. Este trabalho foi originalmente escrito para judeus de língua grega, no primeiro século da eracristã.

Já com o que discutimos até agora, podemos traçar uma linhagem evolutiva para o nosso atual Ritual,observando as seguintes semelhanças:

A história contida no proto-ritual (assim como a Maçonaria moderna), refere-se a dois pilares.Ambos os conjuntos de pilares têm tradição judaica como sua base.

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A função de ambos os conjuntos de pilares é a preservação do conhecimento. No moderno RitualMaçônico, o conhecimento que está contido nos pilares são os “rolos constitucionais daMaçonaria” … ou herança ancestral da Maçonaria.

O Manuscrito também menciona o seguinte:

Um artesão de metais, cujo nome era TubalcainA importância da ciência da geometriaQue os artesãos devem chamar uns aos outros CompanheirosQue o artesão mais especializado deve ser chamado de MestreQue o Mestre deve ser apoiado por VigilantesUma breve menção ao rei Salomão e à construção de seu TemploUma breve menção do Rei Hiram de Tiro (que não é mencionado pelo nome)Uma menção muito breve de alguém que associaríamos a Hiram Abif (.. ele não é mencionadopor nome, mas apenas como “filho do rei de Tiro”).Um “Livro de Obrigações” para a conduta de pedreiros.Menção de um geômetra grego chamado Euclides.Os 15 artigos originais e 15 pontos que aparecem no manuscrito Regius são reduzidos para noveartigos e 9 pontos.

Assim, nesta fase inicial do que podemos chamar de proto-Maçonaria, houve dois importantesdocumentos que oferecem indícios para o desenvolvimento de características que são reconhecidas emlojas maçônicas em todo o mundo. Ambos documentos estão originalmente em inglês. Ambosdocumentos apontam para o surgimento de um código filosófico de conduta referido como Obrigações,um sistema de ensino baseado nas artes liberais e ciências, a ênfase dada à ciência da geometria e umaestrutura de loja incorporando Companheiros, Vigilantes e Mestres de Loja. Há também referência apersonagens comuns ao nosso presente Ritual, tais como Tubalcain, Rei Salomão, Hiram, rei de Tiro e(possivelmente) Hiram Abif. Por último, temos uma alusão a duas colunas, cujo propósito ésimbolicamente preservar o conhecimento contra os elementos naturais de destruição cósmica.

E sobre a conexão escocesa?

Ainda há um debate significativo com relação à discussão se a Maçonaria surgiu da Escócia e infiltrou-se na Inglaterra (ou vice-versa).

Aqueles a favor da teoria da Maçonaria emergindo da Escócia muitas vezes citam uma conexão dosCavaleiros Templários. Provavelmente o melhor defensor expresso desse argumento é “O Templo e aLoja” de Baigent e Leigh. Neste trabalho, os autores explicam como (enquanto preparavam umdocumentário da BBC sobre os Cavaleiros Templários) eles começaram a investigar cemitérios nonorte da Escócia para descobrir evidências de motivos templários em lápides de túmulos. As lápidesque eles encontraram eram datadas depois de 1307 quando a Ordem foi suprimida por decreto do

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Vaticano. Isso tendia a indicar que os sobreviventes da Ordem haviam migrado para a Escócia, vindosda França, para escapar da perseguição das mãos de Filipe IV (1268 – 1314), Rei de França. A razãopara a escolha da Escócia era muito lógica. Robert Bruce como o líder dos escoceses tinha sidorecentemente excomungado pela Sé de Roma. Como líder dos Escoceses, sua excomunhãoefetivamente significava a excomunhão da Escócia. Ao migrar para a Escócia, os Templários estavamfora do alcance de Roma. Mas, a lógica (por mais forte que seja) não é o argumento mais convincente.Este encontra-se nas mudanças que aparecem nas tumbas dos Templários no norte da Escócia, aolongo do tempo. Conforme os anos passavam, as lápides (ainda mostradas hoje), testemunharam umamudança estranha e gradual. As lápides (sem discussão – Templárias), começaram a incorporar mais emais motivos maçônicos … motivos que são claramente compreensíveis por todos os maçons quevivem hoje.

A mudança nos motivos de lápides fortemente sugeria uma reinvenção da Ordem dos PobresCavaleiros do Templo (Cavaleiros Templários) como Ordem dos Maçons Livres. As lápides eramapenas uma indicação da reinvenção da Ordem com uma identidade Maçônica. A verdadeira evidênciafoi a gama de temas que aparecem na Capela de Rosslyn. Estes eram temas ricos em simbolismomaçônico.

Sua conclusão é simples – os Cavaleiros Templários evoluíram para se transformarem em maçonslivres.

Mesmo aqueles com um conhecimento mínimo dos Cavaleiros Templários apreciarão a largura eextensão do simbolismo que caracterizava sua Ordem. Qualquer um que abra os milhares de sitesrelacionados com os Cavaleiros Templários descobrirá a importância que o simbolismo desempenhavanos seus rituais, suas roupas e sua espiritualidade.

E se a conexão Cavaleiros Templários-Maçonaria com a Capela Rosslyn estiver errada, e se estiverequivocada?

Presumindo-se que os Cavaleiros Templários realmente migraram para a Escócia; presumindo-se queeles realmente se reinventaram como proto-maçons; presumindo-se que eles realizavam sessões emloja… com todos estes pressupostos, a única coisa que poderíamos esperar encontrar eram evidênciasde seu simbolismo nos documentos “maçônicos” que temos daquele período … e nós temos muitosdocumentos “maçônicos” escoceses daquele período. Os documentos em questão referem-se àmaçonaria operativa. O problema é que falta a esses documentos qualquer conteúdo simbólico oufilosófico. A este respeito, a evidência é notável por sua ausência.

Rastrear a origem exata da Maçonaria até a Escócia não é uma tarefa fácil, apesar dos protestos emcontrário.

Estes documentos escoceses “maçônicos” remontam a 1475. Naquele ano, o Selo de Causa incorporava

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os “Masons and Wright”. Mais de cem anos depois – em 1598 e 1599, respectivamente – duas peças delegislação conhecidas como o Estatutos Schaw regulamentaram a forma como os pedreiros deveriam realizar seu ofício operativo. Elas também autorizavam a Loja de Kilwinning a supervisionar as lojasoperativas no Oeste da Escócia. Conforme Bernard E. Jones (um dos mais respeitados estudiososmaçônicos) enfatizou – embora esses documentos efetivamente existam, nada há neles que sugiraalguma coisa esotérica ou de natureza filosófica de que a Maçonaria moderna é imbuída. A rede delojas na Escócia nesta época parece ter sido marcada com um caráter que era totalmente diferente daslojas operando ao sul da Muralha de Adriano – as lojas que tinham suas próprias obrigações e oscomeços de suas próprias lendas e mitos.

Assim, a evidência em questão sugere fortemente que enquanto as redes de lojas estavam sedesenvolvendo na Escócia e na Inglaterra durante o período medieval, as lojas escocesas estavam sedesenvolvendo em termos de processos regulatórios, regendo o funcionamento do trabalho físico(dimensão operativa) da atividade de cantaria. Isto está em nítido contraste com a experiência inglesaque se caracterizava pelo desenvolvimento de um código de conduta pessoal pelo qual os pedreirosviveriam. O código de conduta também se estendia às suas relações profissionais, e eram expressos nalinguagem da época como “obrigações”. As obrigações são as instruções para a vida e eram, muitasvezes, ilustradas através da adoção de lendas e mitos antigos e dando-lhes uma vitalidade dramática,fresca do tipo assuntos atuais.

Já dentro deste desenvolvimento proto-maçônico de um código de conduta conhecido comoObrigações, estavam germinando o núcleo de uma filosofia de liderança. Mas, nesta época, a filosofiade liderança, ainda era algo sombrio, ainda indistinto, ainda esperando para ser expresso em umalinguagem e símbolos mais claros. Era quase como algo esperando acontecer. Os ecos daquele algo jáestavam sendo ouvidos no clamor distante do trovão que prenunciava a chegada da Reforma.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo II (2ª Parte)

A Reforma

Até o Reforma Inglesa sob Henrique VIII (1491 -1547), o panorama religioso oficial das Ilhas Britânicasera predominantemente católico romano. Desde a conversão de Agostinho de Hipona a teologiacatólica romana havia sido impregnada com o pensamento platônico, mas durante o período de 300anos antes da Reforma, a teologia católica romana tinha assumido uma característica muito distinta.Ela tinha adaptado sua teologia à filosofia de um grego que fora uma época estudante de Platão. Onome deste grego era Aristóteles e a forma como seus ensinamentos foram adotados (e adaptados)como a base da teologia católica romana medieval é conhecido hoje pelo termo Movimento Escolástico.

O defensor mais importante desta tendência em direção a Aristóteles foi um prior dominicanoconhecido como Tomás de Aquino (c.1225 – 1274). A sua Summa Teológica (ou Resumo de Teologia)foi o veículo que deu a expressão mais convincente de uma fusão de pensamento aristotélico com ateologia católica romana.

Para os fins desta discussão, não há sentido em ampliar mais a investigação sobre esta questão, alémde ter em mente que a força com que a revolução protestante se desenvolveu não se tratou apenas deum protesto relacionado com a venda de indulgências, nem foi apenas sobre a disputa quanto àsalvação da alma somente ser alcançada por boas obras ou pela ação da graça de Deus.

O primeiro movimento protestante de grande sucesso aconteceu sob a liderança de um mongeagostiniano católico e acadêmico chamado Martinho Lutero (1483-1546). O “Protesto” do movimentoera fundamentalmente uma forte reação contra os resultados da prática dos 300 anos anteriores naadoção e adaptação da filosofia de Aristóteles à teologia católica romana.

Aqui há algo a considerar … Se há algo que marque a tendência filosófica do protestantismo, é arejeição total da filosofia de Aristóteles e a re-adoção da filosofia de Platão dentro do corpo dopensamento protestante.

Podemos reafirmar o princípio de outra maneira para dar-lhe mais clareza. Enquanto o catolicismo

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romano (durante o período medieval) adotou a filosofia de Aristóteles na formulação de sua teologia, omovimento protestante trabalhou na direção oposta. Ele conscientemente adotou novamente afilosofia de Platão como a base da teologia protestante.

Será que este processo mostra alguma evidência em um contexto maçônico? Sem sombra de dúvida.

A única diferença é que em um contexto maçônico, este processo continuou em resposta a tensõespolíticas, ao invés de tensões religiosas. Mais especificamente, o processo continuou em resposta àstensões entre os escoceses e ingleses quanto ao direito de um homem – o Rei James II (1633-1701) –de governar a Inglaterra e a Escócia.

Porque ele era o segundo rei da Inglaterra a ser chamado James, mas o sétimo rei da Escócia com essenome, seu título é geralmente representado como James II / VII).

Protestante de nascimento, James II / VII converteu-se ao Catolicismo Romano por volta do ano de1668.

Esta conversão conseguiu evoluir de uma expressão de espiritualidade pessoal para uma criseinternacional, envolvendo uma série de cortes europeias no cataclismo que se seguiu. Até o momentoem que todas estas tensões internacionais tinham sido resolvidas, nenhum católico romano eraautorizado a se tornar Rei da Inglaterra e nenhum rei da Inglaterra era autorizado a se casar com umacatólica romana.

Em sua própria maneira, a conversão de James também foi o catalisador que sustentava a própriareinvenção dramática que a Maçonaria realizou no início de 1700.

As Eras Jacobina e Hanoveriana

Os meandros das manobras políticas nos 150 anos seguintes à Reforma Inglesa podem ser constatadosem qualquer livro confiável de história Inglesa. O aspecto que é de particular interesse para a históriaMaçônica refere-se a James II/VII da Inglaterra e as consequências de sua conversão ao catolicismoromano.

Quando a conversão de James foi exposta, seu irmão, o rei Charles II, opôs-se publicamente, ecertificou-se de que os filhos de James fossem educados como protestantes. A natureza humana éraramente tão previsível quanto, por vezes, acreditamos. Neste caso, quem teria previsto que Charles II– em seu leito de morte, em 1685 – teria se convertido, ele mesmo, à fé católica? Não é difícil ver que asituação geral era espinhosa de alguns pontos de vista. As tensões eram altas entre os seguidores daIgreja da Inglaterra, bem como aqueles fora dela. Dito isto, nem a Igreja da Inglaterra estava isenta deseu próprio elemento “protestante”. Havia grupos dentro da igreja que se opunham firmemente ao quea Igreja da Inglaterra estabelecia, e que esta não tinha ido suficientemente longe em se distanciar docatolicismo romano. Esses grupos, cada um com seu próprio “protesto” específico, eram conhecidos

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coletivamente como “dissidentes”, e deste grupo, possivelmente um dos mais famosos foi o movimentopuritano.

Um dos pontos que a maioria das facções dissidentes sustentavam em comum era a sua oposição àestrutura estabelecida na Igreja da Inglaterra de usar bispos. Na sua perspectiva, a instituição dosbispos era muito próxima ao paradigma católico romano. Havia ainda muitas áreas na Escócia que seopunham à instituição dos bispos. Nesses casos, sua objeção era politicamente motivada, e comoreligião e política muitas vezes andam de mãos dadas, eles viam os bispos como uma extensãoindesejada da mão política inglesa nos assuntos escoceses.

Durante esse período, os católicos romanos estavam sujeitos a puniççoes por se oporem à Igreja daInglaterra, mas este não foi o fim dela … A Igreja da Inglaterra estabelecida aplicava a mesma puniçãocontra seus próprios dissidentes. Neste ambiente, James II/VII nadou contra a corrente ao emitir oque ficou conhecido como a Declaração de Indulgência em 1687. Esta Declaração oferecia a todos osseus súditos liberdade de consciência ao expressar suas crenças religiosas. A Declaração abriu caminhopara os católicos romanos cultuar como católicos, os dissidentes como dissidentes e os seguidores daIgreja da Inglaterra como anglicanos – sem medo ou preconceito.

Esta legislação controversa, (bem como outras medidas que James II/VII instituiu) – o colocou emoposição direta com alguns protestantes ricos e politicamente conectados. Para eles, a única opçãopassou a ser arquitetar um plano para o seu afastamento do trono da Inglaterra. Isso eles alcançaramoferecendo o trono da Inglaterra ao genro de James II/VII – um holandês e protestante conhecidocomo Guilherme de Orange (1650-1702). Quando James II/VII fugiu para a França em Dezembro de1688, esta “fuga” foi tratada como sua “abdicação” oficial. Na queda de dominós que se seguiu, o tronopassou para Guilherme, que reinou como William III na Inglaterra e William II na Escócia a partir de1689. Morrendo em 1702, ele reinou por 21 anos.

Por mais tenso que esses tempos tenham sido para o ingleses, eles só foram agravados por uma tensãocrescente entre os escoceses e ingleses sobre a matéria da conspiração através da qual William IIIchegou ao seu trono. Muitos escoceses, (embora se opondo ao catolicismo romano e a tudo que elerepresentava), tinham maior oposição à forma como os ingleses haviam conspirado para removerJames II/VII. James II/VII era seu legítimo Rei da Escócia.

Por mais doloroso que essa ferida tenha sido para eles, o sal que os ingleses tinham consciente epropositadamente aplicado a ela foi igualmente desagradável. Os ingleses haviam oferecido o tronopara uma pessoa que não era nem nascida nas Ilhas Britânicas.

Eles haviam oferecido a um holandês – e este holandês em particular se opunha avidamente aosfranceses. Sua oposição colocou uma dificuldade adicional. Como os franceses eram aliados dosescoceses, estes estavam determinados a demonstrar a sua lealdade para com seus aliados franceses.Neste ambiente político e religioso complicado, é mais provável que muitos escoceses (leais a James

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II/VII) usaram a amplas linhas de comunicação, disponíveis na rede de lojas operativas existentes emtodo o país, para planejar o retorno dos seu legítimo rei Stuart escocês – James II/VII. O próximoprojeto (em ordem de prioridade) era a deposição do estrangeiro holandês – Rei William III/II.

Num contexto mais amplo, os partidários escoceses de James II/VII, que eram conhecidos comojacobitas (do latim Jacobus significando James), estavam interessados em restaurar o trono aosdescendentes da dinastia Stuart (de quem James II/VII era representante). Novamente por extensão,a causa jacobita (como ficou conhecida) era para alguns clãs das Terras Altas, (… nem um poucosurpreendente) algo que tratava não só sobre religião. Sua motivação era também política. A causajacobita se tornou o seu chamado às armas contra um clã Presbiteriano conhecido como os Campbellsde Argyll, cujo exercício de poder era a aquisição de territórios pertencentes a outros clãs nas terrasaltas da Escócia.

Dizer que a política da época era fluida, confusa e não restrita a determinados territórios ou fronteirasculturais ou linguísticas específicas é um eufemismo.

Foi nesta altura dos acontecimentos políticos que agora apareceu a língua de chama azul.

Em 1701, James II/VII morreu e seu filho – James Francis Edward Stuart (1688 -1766) foiimediatamente reconhecido como James III da Inglaterra e James VIII da Escócia, por uma série decortes europeias, incluindo a própria corte papal. Estas cortes (tinham incidentalmente) todos sidopoliticamente alinhadas em não reconhecer William III/II como o sucessor legítimo e legal de JamesII/VII.

James Francis Edward Stuart – um católico, era visto como o maior orgulho e esperança da renovaçãointensificada da Causa Jacobita.

Aqui estava o problema central – no mesmo ano em que o seu nascimento ocorreu, foi aprovada alegislação que proibia um católico romano de subir ao Trono. Como resultado, o Trono passou paraAnne (cunhada de William II/III). Ela era elegível por direito sendo seu parente mais próximo vivo etendo sido educada como protestante.

Uma das mais notáveis realizações políticas do seu reinado foi o Ato de União (1707), através do qual aInglaterra e a Escócia se uniram formando a Grã-Bretanha. Quando ela morreu sem filhos em 1714, oTrono passou para um segundo primo de Anne, que era conhecido pelo título de Eleitor de Hanover.

Ele era um protestante e nesta época – um alemão. Seu nome era George Louis (1660-1727) e em 1714foi coroado como rei George I da Grã-Bretanha.

O ano seguinte testemunhou o início de uma série de sucessivas batalhas em nome da Causa Jacobitaque continuaram até 1746 com a derrota dos escoceses na Batalha de Culloden. Depois desta batalha, acausa jacobita perdeu seu forte impulso e subsequentemente entrou em declínio.

Page 21: Platão e o Ritual Maçônico

O objetivo deste Resumo da história escocesa/inglesa depois da revolução protestante é lançar as basespara os eventos que ocorreram pouco depois. Estes eventos mudaram a maneira como a Maçonariaseria – a partir de então – reconhecida. Uma das mudanças mais significativas ocorreu apenas doisanos após a primeira rebelião jacobita de 1715.

Foi a fundação da Primeira Grande Loja da Inglaterra, em 24 de junho de 1717.

Em alguns aspectos, os eventos que levaram à formação da Primeira Grande Loja da Inglaterra podemser vistos como uma manobra política muito calculada e astuta. Empregando uma perspectivamoderna, poderíamos até dizer que a partir de uma perspectiva de marketing, foi uma manobra muitointeligente. Ela foi uma manobra que usou um pastor presbiteriano escocês (que também era maçom)para reescrever sua própria história natural maçônica da Escócia seguindo instruções de seus própriossuperiores maçônicos ingleses. Com intenção consciente, a versão da história maçônica que eleescreveu distanciou-se da Causa Escocesa/Católica/Jacobita, e alinhou-se plenamente com a Casa deHanover Alemã e Protestante.

O homem por trás de tudo isso era alguém que na história Maçônica parece tocar o “segundo violino”para os verdadeiros “músicos” por trás da formação da Primeira Grande Loja da Inglaterra, mas com otempo a história pode reavaliar a sua contribuição de ponta para a Ordem.

Seu nome era Reverendo Dr. James Anderson.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

Page 22: Platão e o Ritual Maçônico

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo II (3ª Parte)

Dr. James Anderson: O arquiteto escocês de origem maçônica inglesa

Este homem foi um instrumento para reescrever a história inicial da Maçonaria (e por razões muitopolíticas), estabelecendo um conjunto moderno de Constituições que regem a Ordem, e colocando emprática princípios do ritual maçônico moderno (baseado em linhas Gregas). A razão pela qual eleimplantou todas estas coisas foi para conseguir um único objetivo – o alinhamento dos novos ideais daMaçonaria aos da nova era Hanoveriana.

Ele nasceu por volta do ano 1680 e com 30 anos de idade em 1710, foi ordenado pastor da IgrejaPresbiteriana. Nove anos mais tarde, ele se tornou ativamente envolvido em um debate acaloradosobre a posição que os presbiterianos sob a sua autoridade deveriam assumir sobre a aplicação doartigo primeiro dos Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra. Quando olhamos sua vida, estaassociação próxima, acalorada com o debate em 1719 pode ter sido um fator que ajudou a formar emsua mente o modelo de Obrigações de um Maçom que fizeram parte de sua Primeira Edição dasConstituições publicadas em 1723, existem algumas semelhanças entre as Obrigações de um Maçom, eos artigos de religião anglicanos, que são mais que simples coincidência.

Se compararmos os Cabeçalhos Gerais das Obrigações de Anderson aos Artigos de Religião que podem

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ser encontrados em um Livro Anglicano comum de Oração, uma característica muito evidente é aformatação distinta de cada uma das rubricas que começa … “Da … etc “. Os 39 Artigos de ReligiãoAnglicanos e 5 dos 6 Cabeçalhos Gerais das Obrigações de um Maçom, cada um deles começa com oformato estilístico idêntico.

Em segundo lugar, o artigo XXXVII trata de assuntos relacionados ao Magistrado Civil. Curiosamente,o Cabeçalho II das Obrigações de um Maçom trata, de maneira semelhante, o Magistrado Civil.

Também é fácil perceber que a linguagem e o estilo tanto dos Artigos de Religião Anglicana quanto dasobrigações de um Maçom compartilham o tom semelhante e a qualidade religiosa da redação. Nessescasos, por clonagem deliberada do estilo, linguagem e tom dos Artigos de Religião Anglicana, Andersonestava estampando a moderna Maçonaria com uma associação direta com a Igreja da Inglaterraestabelecida da época. Ele estava declaradamente distanciando a Maçonaria de qualquer possívelsugestão de associação com qualquer tipo de marca de sociedade subversiva jacobita católica romana.

Em 1730, apenas 13 anos após a formação da Primeira Grande Loja da Inglaterra, uma exposiçãopública dos segredos da Maçonaria foi publicada sob o título de Maçonaria Dissecada. Ela foi escritapor Samuel Prichard. Anderson publicou uma resposta à exposição pública de Prichard e chamou-aDefesa da Maçonaria.

No seu panfleto de 1730, ele explicava que havia três graus praticados na Maçonaria moderna e quecada loja era governada por um Mestre “e dois Vigilantes”. Mais do que qualquer outro documento daépoca que está disponível para nós hoje ressoa o panfleto de Anderson com material que é comum noRitual de Emulação.

É também evidente que Anderson estava muito bem familiarizados com as obras de clássicos gregos eromanos – autores que eram (e ainda são) conhecidos por sua interpretação da história e mitologiagregas. Em 1730, em sua defesa da Maçonaria, Anderson explicava o significado da lenda Hirâmicarecentemente desenvolvida através de referência ao historiador grego Heródoto, à Eneida de Virgílio eàs Metamorfoses de Ovídio. As Metamorfoses de Ovídio foram sem dúvida a mais notável conquistaromana na conversão de personagens mitológicos gregos para um ambiente cultural romano.

Em 1738, Anderson publicou a Segunda Edição das Constituições, e neste trabalho ele elaborou umahistória da Maçonaria que se estendia muito além das Antigas Obrigações originais. Anderson foi aindamais longe – ele incluiu em sua lista de Grãos-Mestres anteriores a 1717, o Cardeal Católico RomanoWolsey, Moisés e até mesmo Nabucodonosor da Babilônia. A única característica singular da suaversão de 1738 das Constituições é que, neste colorido bordado (embora altamente imaginativo) depseudo-história maçônica, ele descurou completamente de qualquer influência escocesa nodesenvolvimento da história maçônica, traçando a sua ascendência inglesa de volta aos temposbíblicos.

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No entanto, existe uma outra questão muito importante com que Anderson estava conectado que setornou um ponto crucial da história Maçônica.

Na primeira edição de seu Obrigações de um Maçom (1723), dentro do Cabeçalho Geral – Quanto aDeus e a Religião, aparece o seguinte trecho:

“Mas, embora em tempos antigos os maçons fossem obrigado em cada País a ter a Religião daquelepaís ou nação, qualquer que fosse ela, ainda assim pensa-se ser agora mais conveniente obrigá-los ater apenas aquela religião na qual todos os homens concordam, deixando suas opiniões particularespara si ; isto é, serem homens bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, quaisquerque sejam as Denominações ou Obediências que os possa distinguir; dessa forma a Maçonaria setorna o centro da União, e os meios de conciliar a verdadeira amizade entre pessoas que de outraforma permaneceriam perpetuamente separados.“

Inócuo como este parágrafo possa parecer aos nossos olhos e ouvidos modernos, naquele precisomomento, ele teve o efeito de polarizar a Fraternidade Maçônica. Este único parágrafo mudou o méritointrínseco do que havia sido a proto-Maçonaria e trouxe-a até um ponto em consonância com ostempos. O que este simples parágrafo fez foi alterar a antiga definição maçônica de “irmão”; eleampliou sua definição para um ponto que cortou todos os laços que poderiam ter permanecido com oproto-Maçonaria. Ele fez mais do que apenas sugerir uma nova definição de “irmão” – ele a redefiniude forma inequívoca para incluir não apenas os cristãos (que eram os membros originais da proto-Maçonaria), mas os homens de qualquer religião que valorizam a verdade e a honra. O ano de 1723marcou provavelmente o ano mais distinto em sua história até nossos dias. Ela se tinha reinventado,rejeitado qualquer identidade com o Catolicismo Romano, que ainda pudesse ter permanecido e viajouaté mesmo além dos limites do protestantismo para ver homens de todas as religiões – igualmente.Onde uma vez havia uma divisão entre homens de diferentes religiões – uma divisão que semanifestava sob várias formas de preconceito – a Maçonaria teve uma visão muito esclarecida da féreligiosa e reconheceu que não havia motivos para discriminar entre um homem e outro com base emsuas inclinações religiosas.

Para melhor compreender as implicações deste parágrafo, uma analogia exata pode ser imaginar aresposta de maçons em todo o mundo, se a redação de cada Constituição e conjunto de Regulamentosfossem alterados para permitir que as mulheres (que reconhecem a existência de um Ser Supremo)entrassem para as fileiras da maçonaria regular. A grande variedade de respostas e uma gama deemoções que poderíamos esperar fossem expressos não é diferente das respostas que foram associadoscom a redefinição do termo “irmão” para incluir homens de religiões (diferentes da fé cristã), nos idosde 1723.

Em 1751, apenas 28 anos depois que as portas da Maçonaria foram abertas aos homens de outrasreligiões diferentes da cristã – uma nova Grande Loja foi formada diretamente em oposição àPrimeira Grande Loja.

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Não surpreendentemente, a principal entre a lista de queixas da nova Grande Loja contra a PrimeiraGrande Loja era a redefinição de “irmão” de 1723 para incluir os homens de religiões não-cristãs.

As Grandes Lojas “Moderna” e “Antiga”

A nova Grande Loja que foi formada em 1751 referia-se a si mesma como a Grande Loja dos “Antigos” ese referia (com um tom sarcástico) à Primeira Grande Loja de 1717 como a Grande Loja dos“Modernos”.

Eles fizeram isso com base em que eles se viam como preservando as antigas e ortodoxas tradições daMaçonaria, em oposição à Primeira Grande Loja, que tinha “modernizado” a Maçonaria seguindolinhas heterodoxas.

Tão importante quanto a influência de Anderson para a Primeira Grande Loja, a Grande Loja dosAntigos de 1751 tinha sua própria “usina de força” na pessoa de Laurence Dermott.

Dermott nasceu na Irlanda em 1720. Aos 20 anos de idade, ele foi iniciado e instalado como Mestre daLoja de Dublin em 1746. Dois anos mais tarde, ele se estabeleceu na Inglaterra, assumindo a posição deSecretário da Grande Loja dos Antigos por um período de 19 anos – de 1752 a 1771. Dermott escreveuuma obra que provoca comparações às Constituições de Anderson, mas que tem o título muitoestranho de Ahimon Rezon. Não está claro o que realmente significa o título, mas acredita-se quesignifique vagamente parecido com “ajuda a um irmão” em hebraico.

As relações entre as Grandes Lojas “moderna” e “antiga” eram tensas para dizer o mínimo. Fora ahostilidade que a abertura da adesão aos homens de religiões não-cristãs havia provocado, haviamuitas outras questões controversas, e a maioria delas estava relacionada com a forma como o Ritualera interpretado e executado. Para garantir que um irmão da Grande Loja adversária não pudesseentrar em suas reuniões de loja para ver seus rituais, modos de reconhecimento (como apertos de mãoe senhas) foram mudados. O ponto sobre o qual os Antigos eram enfáticos era que o ritual dosModernos era exatamente isso – moderno – no sentido de Liberal. Ele se afastava significativamentedas tradições antigas e ortodoxas.

Para negociar uma solução amigável para os conflitos que vinham dividindo a Maçonaria nos 50 epoucos anos anteriores, a Grande Loja dos “Modernos” autorizou a formação de uma loja com umaúnica finalidade especial – a solução dos conflitos entre as Grandes Lojas Moderna e Antiga. Esta lojaconhecida como Loja de Promulgação foi formada em 1809, e conduziu as negociações sobre cadaaspecto da disputa até 1813. Em dezembro daquele ano, um documento conhecido como os Artigos daUnião foi assinado pelos Grãos-Mestres tanto da Grande Loja dos Modernos quanto da Grande Lojados Antigos. Com a assinatura deste instrumento, ambas Grandes Lojas adversárias foramamalgamadas como a Grande Loja Unida da Inglaterra.

1813 a 1823: O desenvolvimento do Ritual de Emulação

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Após a assinatura dos Artigos da União, a primeira prioridade foi o desenvolvimento de um Ritual queincorporasse todos os elementos extraídos do funcionamento das Grandes Lojas Moderna e Antiga,que tinham sido acordados, nos termos da unificação das duas Grandes Lojas.

Este foi um projeto delicado que exigiu homens de visão, um entendimento superior de Maçonaria, umaguçado senso de diplomacia e habilidade de negociação de alto nível. Para supervisionar este projeto,outra loja especial desse grupo de elite de maçons foi formada. Ela era conhecida como a Loja deReconciliação, e como o próprio nome sugere, sua principal finalidade era a racionalização ou areconciliação dos diferentes rituais praticados naquele momento. Como não era permitido imprimir oritual em 1813, ele era ensinado somente por meio do boca a boca. Todos conhecemos as dificuldadesque a transmissão boca a boca pode produzir – os problemas relacionados ao que foi dito, como éinterpretado e que é lembrado … entre outros. Em todo caso, três anos mais tarde, em 1816, o resultadodesta colaboração foi a aprovação oficial do que ficou conhecido como Ritual Emulação – o ritualpraticado na jurisdição do sul da Austrália e Território do Norte. A fim de assegurar que o mais elevadopadrão de Ritual (usando Emulação como base) fosse praticado, a Loja Emulação de Perfeição foiformada em 1823.

No centro deste Ritual repousa a melhor expressão da filosofia platônica, bem como a melhorexpressão da mitologia grega. Ele foi propositalmente concebido desta forma para articular umamensagem específica – um significado específico. Sua mensagem e significado estão ressoando compertinência em nossas vidas hoje.

Nossa tarefa agora é entender porque foi que muitos aspectos da cultura grega foram incorporados aoRitual Emulação.

Uma vez que tenhamos entendido as razões que influenciaram essa decisão, então passaremos algumtempo examinando os aspectos específicos da filosofia, história e mitologia grega que aparecem emnosso ritual, com muito mais detalhes.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo III

A Conexão Grega: A Inglaterra do século XIX

É hoje um fato bem estabelecido que, na Europa, mas mais particularmente na Inglaterra e naAlemanha, um fenômeno cultural conhecido como Filohelenismo surgiu no final do século XVIII e seestendeu por mais de uma centena de anos durante o século XIX. O Filohelenismo é um termo de usoacadêmico para descrever um “amor por todas as coisas gregas”.

A primeira evidência de Filohelenismo foi no campo da literatura.

Estamos acostumados a pensar em entrar numa livraria e comprar traduções de obras literárias emoutros idiomas. É um lugar comum da vida moderna. Mas, nos primeiros anos de 1700, isto estavalonge de ser um lugar comum. Se você ou eu quiséssemos ler os Comentários de César, histórias deLívio, ou o Anabasis de Xenofonte, teríamos que conhecer latim ou grego.

Nós compraríamos ou pediríamos emprestado um livro contendo o texto original e o leríamos, otraduziríamos nós mesmos.

Acadêmicos como o Dr. James Anderson estariam muito bem familiarizados com as obras de Platão eseus contemporâneos no original grego.

A primeira tradução notável de um texto grego para inglês foi aquele de Josefo, Antiguidades dosJudeus. Ele foi traduzido por William Whiston (1667-1752) e publicado em 1732, em Londres. AsAntiguidades é um documento importante do ponto de vista maçônico. A data da sua publicação éjustamente na época do desenvolvimento do Terceiro Grau e mais visivelmente – entre a primeira e asegunda edição das Constituições de Anderson (1723 e 1738) – ambas as obras significativas no cânonde literatura Maçônica (e algo que voltaremos a discutir em breve).

Outra questão importante – há aspectos de nosso Ritual, que aos olhos não treinados parecem ter sidotomados das escrituras sagradas, no entanto – não há dúvida de que eles realmente originavam-se doAntiguidades. Um exemplo é o da escada em caracol encontrado no Segundo Grau. Embora nenhuma

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escada exista em qualquer narrativa nos livros de Reis ou Crônicas, a referência a uma escada emcaracol do piso térreo até o terceiro nível do Templo aparece em Antiguidades. Ela estava posicionadaentre as paredes exterior e interior do Templo.

A primeira pessoa a traduzir o corpo completo das obras de Platão e Aristóteles para Inglês foi ThomasTaylor (1758 – 1835). Taylor era o filho de um ministro dissidente que tinha esperanças que seguiria ospassos de seu pai. Embora a carreira de Taylor não tenha seguido a de seu pai, ele desenvolveu uminteresse pelo estudo das línguas antigas – especialmente a grega.

O conjunto de suas traduções gregas é vasto e até o ano de 1800, ele havia traduzido não só as obrascompletas de Aristóteles, mas também as obras completas de Platão e mais particularmente – aRepública. Pela primeira vez na história, homens e mulheres que não liam grego podiam ler Repúblicaem uma tradução em inglês. De repente, o mistério e intriga dos clássicos gregos originais estavamdisponíveis para qualquer um ler em inglês razoavelmente simples.

Isso abriu uma nova dimensão de filosofias, ideias, teorias e histórias que somente tinham estadodisponíveis para um grupo de elite de acadêmicos. O escopo material grego que estava agora disponívelem tradução inglesa (filosofia, teologia, história, poesia, teatro e mitologia) sugeria fortemente que osantigos gregos eram muito parecidos com você e eu. Os problemas que eles enfrentavam, as perguntasque faziam sobre a vida e a morte – essas não eram diferentes das perguntas que fazemos hoje.

No espaço de menos de 10 anos após a primeira publicação da República, o interesse por todas ascoisas gregas desenvolveu-se em outros campos. A primeira expressão fora da literatura foi a arte.

Thomas Bruce, o sétimo conde de Elgin (1766-1841), arrebatado pelas ondas da moda grega, eaproveitando-se das tensões entre os gregos e turcos na época, convenceu as autoridades de Atenaspara autoriza-lo a derrubar os frisos que adornavam o Parthenon (dentro e fora), corta-los, encaixota-los e despacha-los para a Inglaterra. (Ele os tinha persuadido que este seria a melhor de todas as viaspossíveis para preservar a arte, no caso de uma invasão turca). A intenção era que a medida fossetemporária, mas permaneceram na Inglaterra nos últimos 200 anos, apesar dos protestos do Governogrego exigindo seu retorno.

“A Importância da República de Platão na estrutura de classe britânica do século XIX… O estudo dogrego… Tinha a vantagem de não ter qualquer função útil… por isso servia aos propósitos decontinuar o isolamento de uma classe superior, cujos membros não tinham de ganhar a vida, doresto da comunidade que tinha.” Charles Freeman,- The Greek Achievement, (2000), pp. 9-10.

“É impossível separar a instituição dos estudos gregos nas escolas públicas inglesas da determinaçãode manter o sistema de classes britânico. Os gregos forneceram, através da República de Platão, porexemplo, um modelo para uma classe dirigente ociosa, cujo direito de governar depende de umaformação especializada negada à maioria que não era considerada digna dela.” Charles Freeman,

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The Greek Achievement, (2000), pp. 10.

A atriz grega Melina Mercouri (1920-1994) defendeu ativamente o retorno desses frisos que são maiscomumente chamados hoje como Os Mármores de Elgin. Quando Lord Elgin inicialmente retirou osfrisos, eles eram ricamente coloridos. Personagens e animais esculpidos na pedra tinham roupas dediversas cores, e até mesmo detalhe de tons de pele.

Enquanto guardados no Museu Britânico, essas cores foram metodicamente removidas usandoprodutos químicos e escovas – uma prática que terminou poucos meses antes da Segunda GuerraMundial. O que resta agora dos frisos – uma austera pedra branca – é uma interpretação inglesa doque eles acreditavam como devesse a arte ateniense ser olhada.

Enquanto em exposição no Museu Britânico, estas obras de arte atraíram uma nova geração para osestudos antigos gregos. Foi também durante essas primeiras décadas do século XIX que a poesiainglesa experimentou uma nova interpretação do estilo poético grego antigo conhecido como ode ouhino. Os principais expoentes dessa nova forma poética conhecida como a Ode Inglesa foramWordsworth, Shelley e Keats. No capítulo intitulado Mitologia e História Grega: Sua Relação comRitual Maçônico, atenção específica é dada à forma como o Ritual de Emulação adaptou a ode grega.

A única coisa intrigante a se notar por enquanto, é que o momento da composição do Ritual deEmulação coincidiu com o ápice do desenvolvimento da ode inglesa. O momento ocorreu com precisãoexata.

Relacionada a estes poetas estava a figura romântica de Lord Byron (1788-1824). Ele estava tãoenvolvido no fenômeno do Filohelenismo que lutou ao lado dos gregos contra os turcos durante aGuerra da Independência Grega (1821-1829). Enquanto se preparava para um ataque contra a fortalezaturca de Lepanto, ele contraiu uma doença e, posteriormente, morreu alguns dias depois. Seu coraçãofoi enterrado debaixo de uma árvore na cidade grega de Messolonghi e seus restos foram preservados edevolvidos para enterro na Inglaterra. A participação britânica na Guerra da Independência Grega eravista em termos muito clássicos como a luta contínua dos antigos gregos contra seus opressores Turcos– opressores contra quem tinham lutado desde a época das Guerras Persas.

Lord Byron também foi contundente em sua oposição ao “vandalismo” de Elgin dos frisos doParthenon em seu poema – Peregrinação de Childe Harolds.

Cold is the heart, fair Greece! That looks on thee

Nor feels as lovers o’er the dust they lov’d;

Dull is the eye that will not weep to see

Thy walls defac’d, thy moldering shrines remov’d

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By British hands, which it had best behov’d

To guard those relics ne’er to be restor’d

Curst be the hour when from their isle they rov’d

And once again thy hopeless bosom gor’d

And snatch’d thy shrinking Gods to northern climes abhorr’d.

Até 1830, dentro do sistema escolar público inglês, o grego se tornou a linguagem da moda. Tornou-semoda porque o estudo dessa língua tornou-se um importante instrumento político para assegurar queem um mundo que estava passando por tantas mudanças, como resultado da Revolução Industrial, osistema de classes inglês sobrevivesse sem mudanças.

Este fenômeno filohelênico não ficou confinado apenas à Inglaterra. Ele também incluiu termos muitoamplos e apaixonados na Alemanha. Até 1870 em um local chamado Hilarsik na Turquia, o empresárioalemão chamado Heinrich Schliemann (1822-1890) satisfez uma ambição de longa data – descobrir overdadeiro local da cidade que tinha sido povoado pelos heróis de Homero – Helen, Páris, Aquiles,Heitor, Agamenon, Menelau e Príamo … a cidade de Troia.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo III

A Conexão Grega: A Inglaterra do século XIX

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo IV

Liderança – A conexão da Maçonaria com Platão Em cada casa, em cada país e continente do nosso pequeno planeta, todos nós nos recordamos de assistir em nossas telas de televisão, dois aviões da United Airlines realizarem uma rota de colisão muito consciente e direta contra as Torres Norte e Sul do World Trade Center. Em todo o mundo, assistimos em total in-credulidade. Isso ocorreu em uma manhã memorável, em setembro de 2001. Olhando para trás, para aquele dia, como as torres desabaram parecia simbolizar uma transição na história humana. O evento, pareceu traçar uma linha entre eventos da história humana que tenham ocorrido antes daquele dia e eventos ocorridos na história humana depois daquele dia. Nos poucos anos que se passaram desde aquele dia trágico, esse entendimento foi capturado em nossa linguagem cotidiana. Referimo-nos aos acontecimentos at-ravés da expressão que é totalmente um americanismo – a saber – pré ou pós 11/9. Então nesta era pós-11/09, estamos indiscutivelmente mais em-penhados que em qualquer outro momento na história humana em querer ver uma verdadeira liderança devidamente demon-

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strada. Poluição, guerra, genocídio, terrorismo, aquecimento global – bem como a proliferação e armas nucleares nos afetaram a todos. Eles nos fizeram sentir menos confortáveis sobre nossa so-brevivência em médio e longo prazo como raça humana, sem o benefício do correto exercício da liderança disciplinada. A nossa é uma era essencialmente trágica, por isso nos recusamos a aceitá-la tragicamente. O cataclismo aconteceu; estamos entre as ruínas; começamos a construir novos pequenos habitats pouco a pouco, e a ter novas poucas esperanças. Com estas palavras, D.H. Lawrence descreveu a percepção som-bria de que não só o modo de vida (mas o modo de pensar que tinha existido há muito tempo) tinha desaparecido entre as ruínas da Grande Guerra. Estas palavras são igualmente adequadas para nós, hoje. Então, agora, estamos mais exigentes com os que nos lideram tanto em nível local quanto em nível global. Nós queremos ver nossos políticos, nossos líderes religiosos, nos-sos CEOs demonstrar ética na maneira como conduzem suas vidas e ilustrar a humanidade na forma como eles lidam com as complexidades crescentes da vida humana. Ferver e reduzir tudo isso a um princípio – esperamos que nossos líderes desem-penhem; exibam um calibre de pensamento e comportamento que suporte o seu direito de servir. Servir é uma palavra antiga que está ganhando terreno rapidamente, uma vez mais como um termo que descreve a atitude que um líder forte demonstra em sua vida quando seu principal princípio motivador na vida é estar a serviço de outros. Sobre este ponto, Platão foi excepcionalmente claro. Ele foi enfát-ico. Quando a bússola, a mente do líder, aponta para o serviço… estar a serviço dos outros, é nesse momento que vemos a diferen-ça entre um verdadeiro líder e um falso líder. Aqui está o que Platão escreveu sobre o assunto: “Ninguém jamais será um mestre recomendável, sem ter sido primeiro um servo. Deve-se estar orgulhoso, não tanto de gov-ernar bem, mas de servir bem.” E uma vez mais:

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“Ser um servo de Deus é a medida exata da servidão; o excesso consiste em ser o servo dos homens.” Você e eu entendemos que o verdadeiro problema é que as falhas de liderança nem sempre são fáceis de detectar imediatamente. As deficiências podem se disfarçar para trás de palavras e chavões vencedores. Embora estas deficiências de liderança geralmente sejam descobertas e tratadas ao longo do tempo, às vezes, essas deficiências podem ter catastróficas – mesmo efeitos fatais – se não for identificada a tempo. Platão entendeu isso. Se alguma vez houve um momento em sua vida em que ele poderia marcar como o momento em que se tor-nou a única paixão permanente em sua vida a ser tratado, foi ex-atamente quando o sol nasceu sobre Atenas em uma manhã de 399 a.C. Naquele momento, seu amigo e mentor Sócrates foi ex-ecutado por ordem das leis de Atenas. O Último Dia de Sócrates Um funcionário da prisão trouxera-lhe uma taça cheia de cicuta venenosa. Uma vez que Sócrates tinha bebido a cicuta, ele se deitou. O penúltimo gesto dos 70 anos de sua vida foi cobrir o rosto com seu manto. A este sinal o carcereiro começou a apertar seus pés, perguntando se ele conseguia sentir qualquer sensação. Quando Sócrates respondeu que não podia, o guarda continuou beliscando as pernas de Sócrates e movendo-se para cima sobre seu corpo. O objetivo deste estranho exercício era (conforme Platão o descreveu) verificar o avanço da cicuta, que Platão ex-plicou – era caracterizado pela sensação de dormência se espal-hando através de seu sistema. Quando a dormência chegou à sua cintura, Sócrates afastou a capa de seu rosto e falou suas últimas palavras: “Críton, devemos um galo a Esculápio; faça esta oferta a ele; não se esqueça.” A última instrução de Sócrates a seu amigo Críton foi oferecer um sacrifício de ação de graças a Esculápio, o deus da medicina para libertá-lo desta vida mortal para uma vida eterna. Embora o último dia de Sócrates (conforme descrito por Platão)

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fosse cheio de uma ternura dramática, filosófica e nobre, ele tam-bém deixou uma impressão duradoura sobre a vida de Platão. Platão não foi capaz de reconciliar a morte de Sócrates com um sistema justo de governo – especialmente – com um sistema justo de liderança. A partir desse dia, até ao final de sua vida, Platão pensou sobre, discutiu, e tentou colocar em prática um método de treinamento de um homem ou uma mulher para se tornar um verdadeiro líder, para que as circunstâncias que levaram ao veredito de cul-pabilidade contra Sócrates jamais voltasse a se repetir. Uma das coisas mais importantes que aconteceram como re-sultado de tudo isso foi a escrita de um livro que nos é conhecida como República de Platão. Antes de investigar a República, daremos um breve olhar sobre a vida de Platão, para que possamos entender por que ele pensava e sentia da maneira como ele fez. Compreendendo isso, teremos uma base sólida para avaliar como as suas palavras e sentimentos ressoam em todo o nosso ritual. Continua… Autor: Stephen Michalak Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo V

Platão: Uma breve biografia

Embora os escritos de Platão sejam vastos e girem em torno de pouco menos de 1.800páginas em uma edição de Trabalhos Completos, nosso conhecimento do própriohomem talvez não seja tão abrangente. Ainda assim, se tivermos uma compreensãodas principais influências em sua vida e seus efeitos sobre os seus escritos, isso nosajudará a compreender sua contribuição para o nosso Ritual ainda mais.

Primeiros Anos:

Platão nasceu por volta do ano 428 ou 427 a.C. em Atenas, em uma famíliaaristocrática de alguma influência nos assuntos políticos.

Sabemos que o nome de seu pai era Ariston e que o nome de sua mãe era Perictone.Em geral, a história tem prestado pouca atenção ao pobre Ariston. Na verdade, osobrinho de Platão (Speusippus) foi um passo além na marginalização total dosignificado de Ariston na vida de Platão, afirmando que o deus Apolo era o pai dePlatão, e não como algumas pessoas erroneamente afirmavam – Ariston.

Em contraste, os antecedentes de Perictone são muito mais desenvolvidos. Uma fonteantiga enfatiza que Perictone tinha fama de ter tanto um belo rosto quanto um corpoincrivelmente atraente.

O irmão de Perictone chamava-se Cármides. Este Cármides é o personagem central

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do diálogo de Platão de mesmo nome – um diálogo que trata especificamente doestudo da Virtude Cardeal da temperança.

Platão também tinha dois irmãos, cujos nomes eram Glaucus e Adeimantes. Estes doisirmãos aparecem como personagens principais da República.

Ariston morreu quando Platão ainda era muito jovem e a bela Perictone se casounovamente. O resultado de seu novo casamento foi o nascimento de Antífone ummeio-irmão de Platão.

Platão também tinha uma irmã chamada Petone. Quando Platão faleceu, foi o filho dePetone – Speusippus quem (juntamente com outro membro da Academia chamadoXenócrates) assumiu a liderança da Academia, que tinha sido originalmente fundadapor Platão. Foi nessa época que Speusippus começou a divulgar a versão daconcepção de Platão, por Perictone através do deus Apolo.

Seu Nome:

Durante séculos, tem havido um debate sobre seu verdadeiro nome. Desde os temposantigos, havia argumentos de que “Platão” simplesmente pode não ter sido seuverdadeiro nome! Uma das principais fontes que temos da vida de Platão nos chegou apartir de uma biografia escrita no século III d.C. por um romano chamado DiógenesLaertius. Tendo em mente que Laertius viveu cerca de 600 anos depois de Platão, elecompôs uma biografia de Platão (entre outros filósofos), baseando seus “fatos” emhistórias que corriam durante sua própria vida ou que tinham sido transmitidas pelatradição. Laertius alega que o verdadeiro nome de Platão era Aristócles – o nome deseu avô paterno cujo nome ele recebeu. Presumindo-se por um momento que esteseja o caso, por que nós o conhecemos pelo nome de Platão?

Laertius sugeriu que Platão era realmente seu apelido, mas ao longo do tempo e, porconvenção, o nome pegou. A raiz grega do nome Platão é platon e significa algumacoisa parecida como “Largura”. Laertius nos fornece as três variações tradicionais dahistória sobre como surgiu o apelido. A primeira é que Platão tinha ombros largos. Asegunda era que ele tinha uma testa larga, enquanto que a última foi em homenagem àlargura de sua eloquência.

Os comentaristas modernos estão longe de serem convencidos pelas alegações deLaertius.

Um aspecto que podemos ter em mente é que “Platão” era um nome muito comumnos séculos IV a V a.C. em Atenas. Na mesma linha, o nome grego de Jesus (ou a suaforma aramaica Yehoshua) era um nome muito comum no primeiro século d.C. naPalestina. Independentemente da forma como olhamos para ele, Platão é o nome que

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temos ao longo dos séculos para conhecer o homem, e seria pedante para nós, depoisde todo esse tempo começar a chamá-lo de Aristócles (… só com base na palavra deLaertius).

Outro argumento que Laertius levantou é de que em sua juventude, Platão foi umpintor, um poeta, e também um dramaturgo. Estas alegações podem ser maisconfiáveis. Se lermos seus diálogos, logo fica evidente como os textos em si assumemuma forma dramática, juntamente com um elenco de personagens (e até mesmoindicações de palco). A prosa de Platão é, por vezes, poética e faz bom uso dos jogosde palavra gregas em nítida distinção com os escritos de Aristóteles nos quais osprincipais escritos são pouco mais que “anotações de aulas”.

A Era da Guerra do Peloponeso:

A época de seu nascimento e início da vida coincide com um período da história gregaconhecido como a Guerra do Peloponeso. Estas guerras foram uma série dehostilidades travadas pelos fortes e disciplinados espartanos contra Atenas. Osignificado militar de travar estas guerras destinava-se a por fim às tentativas cada vezmaiores de Atenas de construir um império.

Há, no entanto, uma outra perspectiva.

Por enquanto, tudo o que precisamos ter em mente é que os atenienses eramdescendentes de um grupo cultural conhecido como o Jônios. Os costumes, tradiçõese dialetos eram muito diferentes dos espartanos. Espartanos eram descendentes deum grupo cultural conhecido como o Dórios. Então, na verdade, essas hostilidadespode muito bem ter sido marcado por crenças na superioridade racial e cultural de umsobre o outro.

Retornaremos a uma discussão mais detalhada das culturas Jônica, Dórica e Coríntiaum pouco mais tarde. Nesse ínterim, tudo o que nós precisamos ter em mente é que,num contexto maçônico, a coluna do Venerável Mestre (que representa a sabedoria), éconhecida como a coluna jônica, enquanto que a coluna do Primeiro Vigilante (querepresenta a força), é conhecida como a coluna Dórica.

As Guerras do Peloponeso duraram de 431 a.C. até 404 a.C. – um período de 27 anose terminou com a derrota total de Atenas por Esparta. Colocando Platão nestecontexto, ele nasceu cerca de quatro anos depois do início da guerra e era um jovemadulto de aproximadamente 23 ou 24 anos, quando ela acabou. O resultado dessasguerras foi uma influência significativa sobre o seu pensamento – tanto político quantomítico – e sua importância para o desenvolvimento do seu mito da Atlântida é algo queafeta a Maçonaria a partir de uma perspectiva filosófica e será discutido no post-scriptum a este livro.

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Aproximadamente com a idade de 20 anos (c. 408 a.C.), tornou-se discípulo deSócrates e manteve-se dedicado a ele nos últimos 10 ou 11 anos – até a execução deSócrates em 399 a.C. Apesar da forte ligação de Platão com o homem (assim comosua filosofia), é um dos aspectos muito peculiares da história que ele não era ummembro do grupo em companhia de Sócrates no momento de sua morte. (Na manhãde execução de Sócrates, Platão estava em casa, doente na cama).

Enquanto Platão estava doente, presente com Sócrates naquela manhã estavam pelomenos 15 pessoas (incluindo Xantipa – esposa de Sócrates), além de um grupoanônimo de “outros”, incluindo o filho sem nome de Sócrates que se sentou no colo deXantipa.

Na verdade, nem Xantipa, nem o filho de Sócrates estiveram presentes em seumomento final. Sócrates providenciou isso organizando através de Crito que ela fosselevada à sua casa pois ela estava “chorando histericamente”.

Meio da vida:

Após a execução, Platão decidiu aprofundar seus próprios estudos filosóficos. Ele fezisso viajando muito (por vários anos) em todo o Mediterrâneo. Laertius afirma quedurante esta época, ele absorveu os ensinamentos das três principais escolas depensamento – a de Euclides, a de um matemático chamado Teodoro em Cirene eacima de tudo – a de Pitágoras no sul da Itália.

Por sua própria admissão, os escritos de Platão foram a principal influência que levouAgostinho de Hipona a se tornar um cristão. Ele escreveu sobre essas influências emduas grandes obras que a maioria de nós terá ouvido falar (… mesmo que apenas depassagem). São as Confissões e a Cidade de Deus. Devido à sua dívida para comPlatão, Agostinho fez uma série de menções biográficas relatando a vida de Platão emConfissões e Cidade de Deus, entre elas:

“Percebendo, porém, que nem seu gênio nem o treinamento socrático era adequadopara desenvolver um sistema perfeito de filosofia, ele viajou para longe eextensamente para onde quer que houvesse alguma esperança de ganhar algumacréscimo valioso para o conhecimento. Assim, no Egito, ele dominou a lei que lá eraestimada. Dali ele foi para a baixa Itália, famosa pela Escola Pitagórica e lá ele seabeberou com sucesso com eminentes professores de tudo o que estava então emvoga na filosofia italiana.”

Anteriormente, quando discutimos a Reforma, argumentamos que foi Agostinho deHipona, quem tinha introduzido a filosofia platônica na teologia cristã. A influência dePlatão aparece através dos escritos filosóficos e teológicos de Agostinho.

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Platão na Sicília:

Foi por volta de 388 a.C. que Platão visitou a Sicília pela primeira vez e observou osresultados do governo tirânico de um déspota conhecido como Dionísio I (c 432-367a.C.). Dionísio tinha atingido o seu alto cargo através de alguns sucessos militares emimpedir os avanços de Cartago pelo controle da Sicília.

Embora ele fosse incapaz de manter um nível constante de sucesso contra oscartagineses ao longo de sua vida, ele foi capaz de manter a autoridade total sobre osgregos da Sicília até sua morte. Se sua morte foi resultado de causas naturais ouassassinato é algo até hoje contestado por historiadores.

A única coisa importante que emergiu dessa visita à Sicília foi Platão ter-se encontradocom um jovem chamado Dion – filho de uma das esposas de Dionísio I. Atraído pelafilosofia de Platão, Dion convidou-o para voltar à Sicília, 20 anos após a primeira visitade Platão. O objetivo de Dion neste convite foi permitir a Platão a oportunidade decolocar em prática o seu ideal de um rei-filósofo governante, treinando Dionísio II (filhode Dionísio I) para se tornar um líder ideológico. Este filho tinha assumido o trono apósa morte de seu pai em 367 a.C.

Mas, por mais que Platão esperasse que isso viesse a ser uma aplicação bem sucedidade seus princípios do filósofo-rei, em bem pouco tempo, ficou óbvio para ele que estatentativa seria pouco menos que desastrosa. Segundo seu relato dos acontecimentosna Carta VII, Platão afirma que Dionísio II tinha ciúmes, o tempo todo, da amizadeíntima entre Platão e Dion. Era um ciúme que se colocava no caminho de Platão nodesenvolvimento de uma disposição filosófica em Dionísio II. Desenvolver umadisposição filosófica era fundamental na concepção de Platão para o líder ideológico.O plano de Dionísio II para acabar com a amizade entre Platão e Dion foi quasemaquiavélico. Dionísio II enviou Dion ao exílio com base em falsas acusações. Astentativas de Platão para colocar em prática os princípios da República sedesmoronaram rapidamente. Tudo o que restava a fazer era, para Platão, convencerDionísio II a deixá-lo regressar a Atenas. Ele fez isso convencendo Dionísio II, que seufoco seria melhor costurado lidando com outra ameaça emergente dos cartaginesescontra a Sicília.

Voltando a Atenas, derrotado em suas tentativas de transformar Dionísio II em umgovernante-filósofo, as circunstâncias se tornaram um outro ponto decisivo em suavida. Mais tarde, ele refletia:

“Se ele tivesse realmente unido a filosofia e o poder político na mesma pessoa, elepoderia ter dado uma luz para o mundo inteiro, tanto grego quanto bárbaro …”

Com o tempo, porém, Platão voltou à Sicília para continuar a sua experiência em uma

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aplicação prática de seus princípios de liderança com Dionísio II.

Na Sétima Carta de Platão, ele registra que Dion o tinha incitado a voltar para a Sicília,alegando que tinha recebido relatórios de que Dionísio II tinha “mudado de foco” e setornado entusiasmado com a aplicação das ideias de Platão ao governo da ilha. Platãoafirma que ele resistiu aos primeiros dois convites. O terceiro concurso foi encenadode maneira tão elaborada que a recusa era quase impossível.

Dionísio II enviou uma trirreme a Atenas, com instruções para buscar Platão. Aoencontrar-se com Platão o embaixador lhe deu uma carta pessoal de Dionísio II,assegurando-lhe que caso ele aceitasse o convite, todos os assuntos relativos à Dionseriam resolvidos para sua satisfação. Mas, havia uma cláusula adicional… A cláusuladizia que se Platão recusasse, Dion sofreria as consequências. Podemos esperar que anatureza ameaçadora do “convite” provavelmente teria sido uma indicação a Platão deuma previsão de missão fracassada, apesar de sua decisão de ir.

Na chegada à corte de Siracusa, Platão foi mordaz sobre as “noções filosóficas desegunda mão” e “ideias de segunda mão” que ocupavam a mente de Dionísio II. Emparticular, Dionísio II havia escrito um tratado explicando as ideias filosóficas quePlatão lhe havia ensinado. Platão ficou furioso. Ele argumentou firmemente que issonada mais era que uma expressão de vaidade pessoal de Dionísio II. O que realmentedeixou Platão furioso foi que, em sua apresentação, o livro de Dionísio II se colocavacomo uma tentativa de expressar a verdade. Platão retornou a Atenas, para nuncamais visitar a Sicília.

“Talvez essas pessoas que criaram iniciações religiosas não estejam tão longe damarca, e todo o tempo, tem havido um significado oculto sob a alegação de que quementrar no próximo mundo leigo e ignorante estará atolado na lama, mas quem chega lápurificado e iluminado habitará entre os deuses. Você sabe quantos envolvidos nasiniciações dizem ‘Muitos carregam o emblema, mas os devotos são poucos’. Bem, emminha opinião esses devotos são simplesmente aqueles que viveram a vida filosóficada maneira certa.” Platão: Fédon: (69 c-d)

A Academia:

De volta a Atenas, Platão fundou a famosa Academia. Muitas vezes pensamos naAcademia como um edifício. A Academia não era um edifício, mas sim um simplesbosque de árvores onde os discípulos de Platão se sentavam e discutiam assuntos deinteresse filosófico. Em muitos aspectos, ficou evidente que a rede de Lojas que existeem todo o mundo se baseia nos princípios da Academia original. Mais ou menos nestaépoca, ficou claro que Platão também era membro de uma misteriosa fraternidade.Sua identidade é desconhecida. Em sua Vida de Dion, Plutarco escreve:

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“Um dos companheiros de Dion era um homem chamado Callippus, um ateniense que,segundo Platão, tinha sido um amigo íntimo dele, (não como um colega estudante defilosofia), mas aconteceu dele ser iniciado em alguns dos mistérios e estava, portanto,regularmente em sua companhia.”

Embora Platão não tenha expressamente escrito qualquer coisa a respeito de suaparticipação em qualquer misteriosa Fraternidade – (que era provavelmente afraternidade pertencente aos Mistérios de Elêusis), ele sugere em República que aadesão a tal fraternidade pode envolver condições de silêncio.

“Ajuda em nosso entendimento, se nos lembrarmos de que “mistério” deriva de umapalavra grega que significa – ‘lábios cerrados’.

… É melhor ficar calado, e se for absolutamente necessário falar, transformá-los emsegredos esotéricos, contados ao menor número de pessoas possível.”

No que diz respeito aos discípulos que frequentavam a Academia, Laertius enumeraalguns, incluindo Speusippus (seu sobrinho, co-executor de sua vontade e co-sucessor na Presidência da Academia), Xenócrates e Aristóteles (tutor de Alexandre, oGrande), mas também os nomes de duas mulheres – Lasthenea de Mantineia eAxiothia de Phlius (que, ele observa, chegavam até a vestir roupas masculinas).

A morte de Platão:

Ele morreu com a idade de 81 anos, e foi sepultado nos bosques da Academia.Laertius observa que a lápide foi inscrita com o seguinte epigrama:

Aqui, o primeiro de todos os homens famosos por pura justiça,

E virtude moral, Aristócles jaz:

E se aqui houvesse vivido um verdadeiro sábio,

Este homem seria ainda mais sábio; grande demais para inveja.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo VI

República de Platão – sua relevância para a Maçonaria

Anteriormente, quando expliquei como tinha topado acidentalmente com seçõesdestacadas da República que se relacionavam diretamente com o ritual maçônico, aúnica coisa que imediatamente ficou evidente para mim, foi que me pareceu que nossoritual era uma condensação magistral do tema principal da obra de Platão, ARepública.

Então, qual é o tema principal de A República? Qual é a sua premissa? A Repúblicapropõe que, para que você e eu para levemos uma vida feliz e plena, precisamos levarvidas que sejam intrinsecamente morais. É isso.

O termo grego que Platão para moral é dikaiosune.

Os primeiros tradutores de A República, como Jowett, Rieu e Grube, traduziramdikaiosune como “justiça”. Tradutores modernos, tais como Waterfield e Reevereconhecem que a palavra grega está mais próxima em significado de “correção ética”ou, mais especificamente, “moralidade”.

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O argumento levantado em A República é que a moralidade é definida como umalinhamento de nosso pensamento, nossos sentimentos e nosso comportamento.Especificamente – quando o que pensamos, o que sentimos e o que fazemos nãoestão em conflito entre si, mas estão em perfeita harmonia e concórdia, é nessesmomentos expressos de nossas vidas que nos aproximamos de nosso objetivo deassimilar nossas vidas a Deus.

“A República não é uma obra de teoria política, mas uma alegoria do espírito humanoindividual.” W.K.C. Guthrie, citado por Robin Waterfield na Introdução à sua traduçãoda República, pg. xvii

“A finalidade de Platão em A República, então, é fornecer uma espécie de teoria decampo unificado, na qual todos os elementos que tornam a vida humana boa sãoagrupados em uma visão de eterna união, ordem e estabilidade… Seu propósito eralevar seus leitores a mudar suas vidas; realizar a busca de assimilação a Deus.” RobinWaterfield na Introdução à sua tradução de A República, pg. xxi

Então, a primeira coisa que precisamos notar é isso – A República é um estudodetalhado do conceito de moralidade e a definição clássica de Maçonaria é sempredada como “um sistema peculiar de moralidade”. A particularidade não é o tipo demoralidade, mas o sistema ou método pelo qual a moralidade é ensinada. Dentro daMaçonaria, nosso sistema de moralidade é ensinado através de um processo chamadoritual. Tendo compreendido esta premissa geral, a questão lógica da tradução a sercolocada é esta – como vamos realmente nos educar para nos tornarmos morais?

O corpo de A República fornece a resposta a esta pergunta. Felizmente, ele o faz deuma forma que eu e você (enquanto maçons) não teremos qualquer dificuldade emcompreender. A razão para isto é que tudo – dentro do nosso ritual suporta isso.

Permitam-me enfatizar este ponto – tudo – suporta isso. Platão recomenda que osreis-filósofos precisam se submeter a um curso de educação que tem como principalmeta o treinamento da mente para atingir dois objetivos distintos. O primeiro é pensarcom clareza, enquanto que o segundo é agir de uma maneira que esteja de acordocom o princípio grego de excelência. A palavra grega para excelência é “arete” e,tradicionalmente, ela é traduzida em inglês como a palavra que comumentereconhecemos como virtude.

O primeiro curso na educação de um rei-filósofo proposto por Platão – (a saber, aqueledo treinamento da mente para pensar com clareza), era um curso de assuntos com osquais estamos familiarizados. Nós nos referimos aos temas deste curso como artes eciências liberais.

O segundo curso na educação de um rei-filósofo – (aquele que lida com o treinamento

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da mente para agir em consonância com o princípio da excelência), ele dividiu emquatro campos distintos. Estes campos são: Prudência, Fortaleza, Temperança eJustiça. Discutiremos cada um deles separadamente, mas no momento, podemosdefinir esses termos com uma linguagem mais moderna, referindo-nos a eles comosenso comum (ao invés de Prudência), equilíbrio de vida (ao invés de Temperança),pensamento calmo (ao invés de Fortaleza) e agir de forma adequada para a situação(ao invés de Justiça).

Embora os elementos desses princípios possam ter existido de alguma forma antes dePlatão, este tem o mérito de ser a primeira pessoa na cultura ocidental a sintetizá-losem um todo estruturado, coerente e lógico.

Neste ponto inicial de nossa análise, (somente por uma questão de simplicidade),reduzirei todo o nosso Ritual para dizer que ele é uma destilação dos princípios de ARepública – ou seja, que nosso Ritual é um sistema peculiar de ensino de moralidadeque usa como o seu arcabouço, dois estudos primários – aqueles das Artes Liberais eCiências, e também as Quatro Virtudes Cardeais. Seu objetivo ao fazer isso édesenvolver em um candidato à entrada na Maçonaria os atributos intelectuais e decaráter necessários em um rei-filósofo.

Em seu nível mais básico, este é um ponto muito conveniente para começar; então,vamos iniciar nossa discussão revelando a ligação fundamental entre o conceito dePlatão do filósofo-rei e o Venerável Mestre de nossa loja.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo VII

A ligação entre o rei-filósofo de Platão e o Venerável Mestre de uma Loja

Uma das razões mais fortes de que A República foi a pedra fundamental da filosofiaocidental é que o livro apela e nos fala em muitos níveis. Ele pode ser lido e utilizadocomo um manifesto político, como um comentário sociológico, como uma exposiçãopsicológica, ou como um tratado educacional. Além disso, (depois de mais de 2000anos), em qualquer nível que o lemos, sua mensagem é ainda vibrante e ele ainda nosfala sobre as preocupações que temos, enquanto homens e mulheres vivendo noséculo XXI.

O único nível que não foi explorado em qualquer grau é o nível que estamosexplorando no momento – A República como o fundamento do ritual maçônicomoderno. Portanto, neste ponto, daremos uma olhada mais de perto nos paralelosmais importantes entre sua filosofia e nosso Ritual.

A República é um trabalho grande e complexo por vezes (apesar de sua aparentediscussão direta diária). Então, agora pode ser um momento tão bom quanto qualqueroutro para nos familiarizarmos rapidamente com as semelhanças que existem entreeste livro e nosso Ritual. Isto simplificará o processo de leitura de A República, porquepodemos retirar dele todos os elementos supérfluos e nos concentrarmos apenas noselementos que foram escolhidos pelos compositores do Ritual Emulação entre os anosde 1813 e 1823. Estes foram os elementos que eles acreditavam ser importante paracada um de nós, para desenvolver competência como líderes ideológicos ou “reis-filósofos” de nossos dias.

Nos negócios, muitas vezes nos referimos a conceitos conhecidos como “modelos denegócio”. Em termos simples, modelos de negócios são plataformas para desenvolverresultados muito específicos. A título de exemplo, esses resultados podem ser metasfinanceiras, ou podem ser projetados para capturar uma participação especial nomercado ou podem até mesmo ser baseados em desenvolver e aperfeiçoar as

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relações desejadas. O que os modelos de negócio abrangem são meios pelos quaisesse objetivo será alcançado.

Se nos aproximarmos de A República a partir deste ângulo fácil de entender, a únicacoisa que ficará evidente é que o “modelo de negócios” que Platão projeta é, demaneira semelhante, simples. Seu objetivo é desenvolver um líder pensante (ou parausar sua própria terminologia) – um rei-filósofo. E como ele propõe fazer isso? Seumétodo é a simplicidade em seu mais alto grau. Ele argumenta que a educação é achave. Nada mais, nada menos.

Analisando mais profundamente, ele diz que o homem ou a mulher escolhida parareceber esse ensino especializado deve ser treinado, disciplinado, aconselhado eencorajado durante muitos anos – fundado – em duas vias distintas; porémcomplementares de estudo.

A primeira é o desenvolvimento da capacidade intelectual do candidato. A segunda é odesenvolvimento do caráter do candidato.

Em seu nível mais básico (mas com grande precisão), a fórmula de A República podeser expressa como:

Intelecto + Caráter = Rei-filósofo

Neste exato momento, é inevitável que estaremos nos perguntando como esta fórmulase aplica à Maçonaria. A resposta também é simples. Ela é tão simples quecompartilha muitas semelhanças com um processo com o qual eu e vocêprovavelmente estamos muito familiarizado, mas que de todo modo os compositoresdo Ritual Emulação podem não ter sido incomodados por ele em 1816.

Deixe-me explica-lo através desse exemplo muito fácil de acompanhar: Em 1816 – anoem que foi aprovado o Ritual Emulação, não tenho a certeza se as meias eramqualquer outra cor que não fosse preta. O resultado disso é que estes homensestavam provavelmente desconectados do fenômeno diário que enfrentamos noséculo XXI – o problema de encontrar um par específico de meias na pressa de ir aotrabalho todas as manhãs. Eu chamo minha esposa de manhã: “Jenny – onde estão asminhas meias pretas com listras brancas”? Ela está na cozinha, preparandosanduíches para o nosso filho mais novo. Como Jenny não tem a capacidade de veratravés das paredes (até onde eu sei), ela sempre é capaz de saber onde elas estão.Ela vai gritar: “Você já tentou olhar bem na parte da frente de sua gaveta de meias?”Eu faço e sempre me surpreendo ao encontrar o par de meias exato que correspondaao meu terno naquele dia.

O que eu estou procurando está sempre em baixo do meu nariz.

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Exatamente este princípio aplica-se aqui.

Em primeiro lugar – Platão montou um currículo que incluía os temas que compõem aparte “intelecto” da equação. Nós discutimos o termo coletivo para este grupo deindivíduos. Nós os conhecemos como as artes liberais e ciências.

Ele, então, foi um passo adiante. Ele concebeu um currículo que incluía os temas quecompõem a parte “caráter” da equação. Isoladamente, esses temas são – prudência,temperança, fortaleza e justiça. Coletivamente, nós nos referimos a eles como QuatroVirtudes Cardeais e as exploraremos com mais detalhes um pouco mais tarde.

Então, vamos rever a equação. Agora, podemos expressá-la como:

As Artes Liberais e Ciências + As Quatro Virtudes Cardeais = Rei-filósofo.

Há ainda uma questão importante que não superamos, e ela se refere ao termo Rei-filósofo na equação acima.

Colocando a filosofia de lado por enquanto, vamos voltar à simples tarefa de encontrarnossas meias de manhã a que me referi anteriormente. Lembre-se – a resposta estábem em baixo de nosso nariz.

Precisamos ter em mente que os homens que compuseram o Ritual de Emulação eramaltamente versados nos clássicos. Lá em 1816, quando o Ritual Emulação foifinalmente concluído e aprovado, “os clássicos” cobriam uma gama de literatura que iada Bíblia, passava pelos escritos gregos e romanos até Jonathan Swift. O que estamosdizendo é que a bússola da literatura clássica foi e continua a ser, felizmente, … ampla.

Então … vamos olhar para os nossas meias mais uma vez …

Nosso ritual é baseado em que? A resposta simples é: Ele é baseado nascircunstâncias relacionadas com a construção do Templo do Rei Salomão.

Ele é baseado na construção de um templo que pertence ao Rei Salomão!

Esta personagem bíblica é famosa por dois motivos. O primeiro é que ele era um rei. Osegundo é que ele era famoso por ser um rei amante da sabedoria. A este respeito,está longe de ser acidental que o termo grego para “amante da sabedoria”seja filósofo.

Então … o rei Salomão (do ponto de vista maçônico) é o rei-filósofo!

Agora, vamos avançar mais um passo …

Em uma loja maçônica, é o Venerável Mestre quem se senta na Cadeira do Rei

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Salomão. É o Venerável Mestre que representa o Rei Salomão. É o Venerável Mestre,que representa aquela característica de Sabedoria.

Então, vamos reduzir os termos da fórmula platônica para um uma significativamenteMaçônica:

As Artes Liberais e Ciências + As Quatro Virtudes Cardeais = Rei-filósofo =Venerável Mestre.

Embora possamos ter resolvido um pequeno mistério maçônico, ainda não explicamosadequadamente o mistério de como a sua esposa (e a minha) sabe a localização exatade nossas meias pretas (com as listras brancas ) – Todas as manhãs.

… mesmo estando na cozinha!

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo VIII

Desenvolvendo o Intelecto do Rei-filósofo – As Artes e Ciências Liberais

No capítulo anterior, examinamos uma fórmula simples, que reduziu a substância daobra de Platão A República a uma equação que é a fórmula idêntica ao modelo queusamos na Maçonaria… uma fórmula que foi adaptada por maçons classicamentetreinados, bem versados em filosofia grega, que foram encarregados de enquadrar oRitual de Emulação inglês nos primeiros anos do século XIX.

Mas, antes de avançar, vamos nos certificar de que estamos entendidos sobre o quediscutimos até agora…

Do ponto de vista de Platão, a formação de um líder pensante (Um rei-filósofo),envolvia dois passos importantes… a formação de seu intelecto e a formação de seucaráter.

Seleções da vida de Dion por Plutarco

Dion acreditava que esta situação resultou da falta de educação do tirano, e por issotentou interessá-lo em estudos liberais… na esperança de formar seu caráter.

Com Platão em Siracusa, Dionísio se submeteria aos seus ensinamentos, e assimajudado, seu caráter poderia aceitar a disciplina imposta pela virtude… em obediência

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à qual o universo se move do caos à ordem… em suma, ele se tornaria um rei, ao invésde um tirano.

Platão convenceria o jovem a desmantelar seus dez mil seguranças, dissolver sua frotade quatro mil cavaleiros e a multidão inumerável de infantes, e tudo isso a fim debuscar o bem inefável nas escolas da Academia, para fazer da geometria de seu guiapara a felicidade e entregar as bênçãos do poder…

Traduções por: Rex Warner

Outra coisa que temos de ter claro sobre isso é que Platão acreditava que o acidentede gênero não tinha relevância se o rei-filósofo era realmente um homem ou umamulher. Sua ênfase estava na competência, não no sexo.

O objetivo de Platão era criar um líder ideal – Alguém que fosse versátil e multi-dimensional – alguém que fosse capaz de harmonizar os diferentes aspectos dainteligência (assim como da emoção) para realizar julgamentos que fossem sólidos eque realmente lidasse com a situação com a qual houvesse necessidade de enfrentar.

Com esse entendimento, neste capítulo vamos explorar a dimensão intelectual docurrículo de Platão. Estes são aqueles que se referem especificamente às Artes eCiências Liberais. No próximo capítulo examinaremos as Virtudes Cardeais e suaaplicação em nosso Ritual e, igualmente importante, em nosso dia-a-dia.

As artes e ciências liberais (como as conhecemos hoje) compreendem sete assuntos.O número 7 tem um significado maçônico específico e algo a que nós retornaremosmais tarde.

No entanto – o curriculum original de disciplinas em A República de Platão não écomposto por sete, mas por cinco assuntos. Eles eram:

1 – Aritmética

2. Geometria Platão dividiu a geometria em duas correntes separadas. A geometriaplana tratava de modelos bidimensionais, enquanto que a geometria sólida tratavamodelos tridimensionais.

3. Música

4. Astronomia

5. Dialética. A dialética era a arte de construir, expressar e defender argumentos. Elaenvolvia as habilidades de gramática, lógica e retórica. Credita-se ao estadista romanoe filósofo Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) a divisão do campo da dialética em três correntes

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de gramática, lógica e retórica.

Até o momento em que a Idade Média havia chegado, o currículo original de Platão, deartes e ciências tinha se desenvolvido na estrutura que conhecemos hoje, e à qual nosreferimos cada vez que assistimos a uma reunião de loja. Também é interessante notarque Cícero escreveu duas obras famosas que têm os mesmos títulos que os doisescritos mais famosos de Platão, – República e As Leis.

Como um breve aparte, se olharmos para qualquer de suas representações em belasartes, notaremos que cada uma das artes e das ciências é retratada como uma mulher.A razão por detrás disso decorre do fato de que em Latim (e também em vários outrosidiomas) os substantivos são classificados pela sua terminação de gênero – se o finalda palavra é tipicamente masculino, feminino ou neutro. Em suas formas latinas,Grammatica, Logica, Rhetorica, Arithmetica, Geometrica, Musica, e Astronomica, cadauma delas tem um final feminino. Em latim, isso é mais comumente representado pelaletra “a”.

Vamos agora olhar para cada uma destas artes e ciências em separado para entendero que elas estão destinadas a nos ensinar, assim como considerar as possibilidadesque existem para nós de expressá-las significativamente em nossas vidas hoje.

As três artes:

As três artes da lógica, gramática e retórica se relacionam com a nossa capacidade denos comunicar usando a linguagem. Simplificando – estas são as artes que precisamosaprender e dominar, a fim de comunicar nossas ideias e visões, nossos desejos,nossas vontades e nossas necessidades eficientemente a outras pessoas por meio depalavras.

Gramática: Seu uso e importância

As regras da gramática determinam como as palavras são posicionadas em uma frase,de modo que a sua lógica seja clara e inequívoca. Cada idioma tem suas regras para aconstrução de frase (ou sintaxe) e é importante entender que as regras que governama forma como as palavras aparecem em uma frase em inglês tem poucacorrespondência com as regras quando elas aparecem nas frases de outras línguas.

Quando você ou eu construímos frases e sentenças e as colocamos em uma ordemcorreta, para que possamos fazer sentido para outros, quer por escrito, discussãoparticular, ou apresentação pública, estamos demonstrando competência na arte dagramática.

Um líder pensante precisa ser capaz de se comunicar de forma clara e com o mínimo

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de ambiguidade. Essa capacidade de usar a gramática de forma eficaz é sem dúvida oaspecto mais essencial para sermos capazes de apresentar o que somos aos outros.Neste contexto, a gramática constitui os blocos de construção de nossa própria autoexpressão. Quando nos expressamos de forma clara, estamos expressando quemsomos e o que defendemos. Importante, também expressamos contra o que nosposicionamos.

Devido ao poder desta forma de arte, é crucial, então, que desenvolvamos acapacidade de fazê-lo com precisão e eloquência.

Lógica: Seu uso e importância

Na sua forma mais simples, a lógica é a capacidade de construir um argumento sólido,ao invés de um argumento pobre.

Um dos traços distintivos de um líder de pensamento é a sua capacidade de pensarcom clareza, encapsular a essência do argumento e trabalhar para a resolução doproblema em questão. Ser capaz de fazer isso e argumentar de forma convincentecom o pensamento claro, fundamentado e sequencial é uma forma de excelênciaintelectual e constitui a base das decisões políticas corretas e eficazes.

Retórica: Seu uso e Importância

“Se você tem um dom natural para falar, vai se tornar um orador famoso, desde quevocê melhore seu dom de conhecimento e prática; mas se alguma destas condiçõesnão se concretiza, você vai ficar aquém da sua meta naquela medida.” Platão, Fedro,269 Trad: Hamilton.

Pergunte a qualquer número de pessoas qual é seu maior medo (e pondo de lado amorte e os impostos), a resposta universal (independentemente da cultura) parece serfalar em público. Surpreendentemente, a maioria das pessoas ficaria feliz em passarpela dolorosa experiência de um tratamento de canal dentário, que ficar de pé e demodo articulado e convincente dirigir-se a um grupo de pessoas. No entanto, estacapacidade de se comunicar com segurança e eficiência em um fórum público é umadas marcas que muitas vezes são utilizadas para identificar um líder.

Espera-se que um líder use o poder de sua voz para levar uma audiência a fazeralguma coisa – agir, apelando para o seu pensamento e envolvê-la emocionalmente.Ele incorpora uma série de habilidades de boa comunicação. Mais importante ainda,exige-se o uso da voz (não só o volume, mas o tom e a projeção). Também exige umacompreensão da linguagem corporal para expressar emoções (assim como as ler) erespostas emocionais de forma mais eficaz. Na verdade, isso está longe de umaproeza fácil de conseguir. Ela exige uma capacidade de “sentir” as diferenças na forma

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como o público responde durante uma apresentação. Isso exige versatilidade de seadaptar e se ajustar ao “humor” do público a qualquer momento.

Coletivamente, essas habilidades compreendem a competência da retórica.

Platão tinha um aluno fabuloso, que atendia pelo nome de Aristóteles. Aristótelesescreveu uma obra chamada Sobre a Retórica que lida especificamente com o usocorreto da retórica. Nos parágrafos de sua abertura, ele tratou dos casos em que aretórica era usada incorretamente. Ele os descreveu como casos onde “raiva, piedadee emoções semelhantes” são despertadas quando elas “nada têm a ver com os fatos”.

Em sua essência, a retórica trata com ser capaz de falar com o que o Ritual descrevecomo eloquência persuasiva. Na terminologia moderna, a eloquência persuasivaprovavelmente se aproxima mais da expressão mais comum de habilidade devendedor. De um ponto de vista maçônico, é interessante trazer à mente que, durantea Cerimônia de Instalação do Venerável Mestre Eleito, tanto o Venerável Mestre quantoseu segundo vigilante são investidos com as palavras que orientam esses dois oficiaispara o uso da eloquência persuasiva em todas as suas relações com os outros.

O termo eloquência persuasiva parece resumir (em um uso bastante econômico depalavras) o que o uso correto da retórica, na verdade, exige!

As Quatro Ciências

Enquanto as Artes se referem às habilidades de comunicação usando palavras, asCiências se referem à habilidade de ser capaz de comunicar com os outros por meiode números e cálculos.

Aritmética

A primeira das ciências, é precisamente a ciência do cálculo.

Do ponto de vista de um líder, é importante saber como somar, subtrair, multiplicar edividir. Serva da lógica, é uma ferramenta que você e eu consideramos uma matériaque nos é ensinada desde nossos primeiros dias na escola. Platão entendeu que aaritmética tinham aplicações muito práticas (especialmente para um generalimplantando suas tropas ou um comerciante para ganhos comerciais).

Ele também observou que as pessoas que são boas em aritmética têm uma tendêncianatural para demonstrar agilidade da mente também em outras disciplinas. De umaperspectiva prática, Platão até mesmo sugeriu que uma pessoa que carece deagilidade natural da mente pode utilizar a aritmética como meio para treinar sua mentea pensar com maior flexibilidade.

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Embora um líder reconhecerá as aplicações práticas da aritmética, ele ou ela tambémserá treinado para usar a aritmética como um instrumento específico de filosofia…como uma forma de compreender a verdadeira realidade ou dito de outra forma –Deus.

Devemos… convencer as pessoas que vão realizar as tarefas mais importantes danossa comunidade a aprender aritmética. Eles não devem praticá-la como diletantes,mas devem manter-se nela até chegar ao ponto em que possam ver em suas mentesque os números realmente são… a fim de facilitar as mentes a se afastar cada vez emdireção à verdade e a realidade.

Geometria

A segunda ciência é a ciência de cálculo espacial, de ângulos, distâncias e áreas.Platão dividiu este assunto em duas correntes separadas, e identificou-as como ageometria sólida e geometria plana.

Novamente, Platão reconheceu os aspectos práticos dessa ciência, mas seu propósitoem um currículo para o desenvolvimento de líderes pensantes, era alinhar mente dolíder com realidade máxima que ele expressa como a divindade. Como a ciência dageometria faz isso? Ela o faz por meio de um processo de disciplina mental, da mesmaforma que a aritmética é uma disciplina mental projetada para despir os aspectosilógicos e inúteis do trabalho ou da apresentação de um cálculo. A plataforma dePlatão foi no sentido de treinar a mente – disciplinar a mente para ver a verdade portrás da ilusão da existência cotidiana.

O que temos a considerar é se os aspectos mais avançados da geometria queconstituem o cerne do assunto têm alguma relevância no contexto da regularização docaminho para se vislumbrar o caráter de bondade. E o que estamos dizendo é quetudo é relevante no contexto, se obriga a mente a se voltar para o reino onde a partemais abençoada da realidade pode ser encontrada; que a mente deve fazer o possívelpara ver… portanto… a geometria pode atrair a mente para a verdade. Ela podeproduzir o pensamento filosófico…

Algo que tem profundo significado para nós enquanto maçons é a linguagem queadaptamos a partir dos escritos de Platão, especificamente em relação à divindade.

Por exemplo, em “Timeu”, Platão criou o primeiro mito grego da criação do universopor um único deus (ao invés de uma multiplicidade de deuses). Neste mito, Platãodescreve que este deus criou o mundo usando formas geométricas. Nesse sentido, eleé o Geômetra do Universo.

Platão foi de fato o primeiro a usar esta imagem de deus como o Geômetra do

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Universo. Da mesma forma, Platão foi o primeiro a usar a imagem de deus como oarquiteto do universo. O próprio termo grego do qual deriva a palavra arquiteto éarche-techton e significa – (arche) grande e (techton) artesão.

Platão propôs que o Geômetra do Universo criou o mundo a partir de quatroelementos básicos: Terra, fogo, ar e água.

À Terra ele designou o cubo:

ao ar – o octaedro:

ao fogo – a pirâmide:

e à água o icosaedro:

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Toda a matéria foi formada pela coesão desses elementos em diferentes proporções,um ao outro. Uma vez que o universo fora criado, ele assumiu a forma que foi a própriaimagem de si mesmo, de perfeição:

Portanto, ele o transformou em uma forma arredondada esférica, com os extremosequidistantes em todas as direções a partir do centro, uma figura que tem o maiorgrau de perfeição e uniformidade, pois ele julgava que a uniformidade eraincalculavelmente superior ao seu oposto.

Astronomia

A terceira ciência – Astronomia – é a ciência da medição dos corpos celestes. Eratambém a ciência, através da qual o tempo era medido, não apenas as proporções dodia e da noite, mas também a maneira que as estações eram determinadas a partir deobservações da chegada dos solstícios e equinócios.

… as sete Artes Liberais… eles são os resumos da verdade e, como Platão afirmava, asetapas do todo universal. Laurence Gardner, A Sombra de Salomão, Cap 2, pg. 24.

As artes liberais não eram ensinadas tanto como meio de preparar os alunos paraganhar a vida, mas para aumentar o seu conhecimento nas ciênciasfilosóficas. Laurence Gardner, A Sombra de Salomão, Cap 2, pg. 22.

Agora, quando o Pai que tinha gerado o universo observado o colocou em marcha evivo… ele estava bem contente… Porque antes que céu existisse não havia dia ounoite, nem meses ou anos.

Na época de Platão, a ciência da astronomia incorporava passos das questõesuniversais tão diversos quanto o movimento dos planetas, astrologia e (estendendo umpouco), possivelmente até a previsão do tempo. Observando as cores do céu emdiferentes pontos do dia, chegamos a regra prática que diz “…céu vermelho à noite, odeleite de marinheiro… céu vermelho de manhã, um aviso ao marinheiro”. Mais do quequalquer coisa, a astronomia era para Platão o método pelo qual um rei-filósofo seria

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capaz de deduzir a existência de um criador por trás do universo. Em sua própriamaneira, ele constituía a base de um argumento primitivo do Design Inteligente. Platãoargumentava que o saber intelectual e a admiração que sentimos quando olhamospara o céu, foi a origem da filosofia:

Como ela é, no entanto, nossa capacidade de ver os períodos do dia e da noite; dosmeses e dos anos; dos equinócios e solstícios levou à invenção do número e nos deu aideia de tempo e abriu o caminho para investigação sobre a natureza do universo.Essas atividades nos deram a filosofia…

Investigando a filosofia, não é de se admirar que o astrônomo encontrará aspectos dodivino.

Um verdadeiro astrônomo… certamente pensa que o artista dos céus o construiu etudo o que ele contém para ser tão bonito quanto tais obras podem ser…

Voltando brevemente ao nosso próprio ritual, achamos que a Instrução sobre aPrimeira Prancha de Traçar reflete um sentimento idêntico:

O Universo é o templo da Divindade… e a Beleza brilha através de toda a Criação, emsimetria e ordem.

A simetria e a ordem justa mencionada era ressaltada de maneira semelhante porPlatão ao estabelecer paralelos entre as ciências da astronomia e a música e ossentidos humanos de visão e audição:

Os olhos são feitos para a astronomia… e pela mesma razão, as orelhas sãosupostamente feitas para o tipo de movimento que constitui a música. Se assim for,esses ramos do conhecimento são aliados um do outro. Isto é o que afirmam ospitagóricos.

Música / Harmonia

A quarta ciência é a medida de intervalos de som e frequências. Quantas vezesusamos na linguagem comum a imagem de estar “em harmonia” – uma imagem queevoca a noção de operar na mesma frequência / largura de banda que alguém oualguma coisa? A frase nos fala em um nível subconsciente da harmonia que existequando o que pensamos, o que sentimos e como nos comportamos estãoperfeitamente alinhados.

… E a harmonia, cujos movimentos são semelhantes às órbitas dentro de nossasalmas, é um dom das Musas… para servir como um aliado na luta para trazer a ordem aqualquer órbita em nossas almas que se tornou desarmonizadas e torná-loconcordante consigo mesma.

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Do ponto de vista de Platão, a música era um método que nos ajudava (da mesmaforma que a astronomia) a intuitivamente discernir a presença de um criador.

O que Platão defendia na concepção de um ciclo de estudos nas artes e ciênciasliberais, eram as ferramentas do oficio filosófico. Isso reflete o cuidado que nos épedido em cada uma das Instruções sobre as Ferramentas de Trabalho. Em cada grau,nossa atenção é atraída para essas ferramentas de trabalho, não como ferramentas doofício, mas como ferramentas especulativas (significando filosóficas) de vida.

Estas ferramentas intelectuais foram concebidas para ajudar uma pessoa a pensar – enão apenas nas aplicações prática do dia-a-dia desses campos do conhecimento, maso mais importante – como um meio de alcançar um melhor entendimento maissatisfatório da relação entre Deus e a humanidade.

E esta é justamente a interpretação que aparece em nossa Exortação do Terceiro Grau:

… vocês foram levados no segundo grau a contemplar a faculdade intelectual e traçarseu desenvolvimento através dos caminhos da ciência celeste, até mesmo ao própriotrono de Deus.

Abaixo está uma tabela de algumas outras correlações entre as ciências em ARepública de Platão e o Ritual de Emulação.

Aritmética, Música, Geometria, Astronomia

Cerimônia do Ritual da MaçonariaSimbólica página nº Constituição do Sul daAustrália 13 º Delton, 2004

Escritos PlatônicosDiálogo / Paginação deStephanus/ Tradução

Sete era uma alusão às sete Artes Liberais eCiências, ou seja, Gramática, Retórica,Lógica, Aritmética, Geometria, Música eAstronomia.Segundo Grau. Pg. 149

Agora, o cálculo e a aritmética sãointeiramente relacionados com o número… eeles claramente guiam a pessoa para averdade… Então, a aritmética é um dos temasque estamos aparentementeprocurando.Republic/525b / Waterfield

Portanto, Glauco, a geometria pode atrair amente para a verdade. Ela pode produzirpensamentos filosóficos…

Republic/527b / Waterfield

E você não acha que a terceira deva ser aastronomia? Você não acha que umverdadeiro astrônomo… sente… que o artistados céus os construiu… para serem tãobonitos quanto essas obras jamais poderiamser?

Republic/527d e 530a/Wakefield Os olhos sãofeitos para a astronomia… e pela mesmarazão, as orelhas são supostamente feitas

Page 59: Platão e o Ritual Maçônico

para o tipo de movimento que constitui amúsica. Se assim for, esses ramos doconhecimento são aliados um do outro. Isto éo que afirmam os pitagóricos.

Republic/530d/ Waterfield.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

Page 60: Platão e o Ritual Maçônico

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo IX

Desenvolvendo o Caráter do Rei-filósofo – As Quatro Virtudes Cardeais

Essencial para o Ritual maçônico é o estudo das Quatro Virtudes Cardeais. Platão nãoas chamava “virtudes cardeais”. Este termo foi algo que surgiu muito mais tardedesenvolvendo-se a partir da interpretação cristã durante a Idade Média.

Vamos dar uma olhada para o que o termo realmente significa.

A palavra cardeal é derivada do latim cardo. Cardo significa simplesmente umadobradiça ou uma articulação. A ideia de usar esta palavra foi para enfatizar que, parauma vida humana ter qualquer significado ou valor, aquela vida tem de ser articulada ecentrada nessas quatro virtudes.

A palavra virtude é derivada da palavra latina Vir. Vir é latim para homem e, porextensão, virilidade ou força. Os gregos, porém, tinham uma interpretação muitodiferente do ideal de virtude e é essa interpretação grega que mais nos interessa nestemomento.

O termo grego para a virtude era arete. Arete significa excelência – possivelmentealguma coisa mais – a excelência habitual. É importante notar que do ponto de vistagrego, a virtude não tem qualquer inflexão de gênero como tem sua congênere latina.

Page 61: Platão e o Ritual Maçônico

Também era mais ampla em significado e aplicação.

Qualquer que seja o campo da atividade humana em que estejamos envolvidos, cadaum de nós tem a capacidade de desenvolver excelência em todo o seu potencial.

As virtudes cardeais são conhecidas em inglês pelas palavras Prudência, Temperança,Coragem e Justiça. Teremos de olhar para cada virtude no seu contexto inglês, latino egrego para melhor apreciar o que Platão estava tentando incutir em nós quandoenfatizou repetidamente, que ninguém tem a capacidade de se desenvolver em umfilósofo-governante a menos que estas virtudes estejam claramente demonstradas emsuas vidas.

Antes de fazermos isso, porém, vamos dar uma olhada na maneira como essasvirtudes são exibidas graficamente no espaço da loja.

Acreditava-se em geral… que o número quatro tinha algum tipo de significado especial.Existiam quatro pontos cardeais, quatro ventos, quatro fases da lua, quatro estações,quatro letras da palavra Adão e quatro era o número constitutivo do tetraedro dePlatão, que correspondia ao fogo… Quatro foi o número da perfeição moral e oshomens com experiência na luta pela perfeição moral eram chamados“tetragonais”. (Umberto Eco, Arte e beleza na Idade Média, pp35-36).

Quando entramos em uma loja, uma das primeiras coisas para a qual nossos olhosserão atraídos é algo que está no centro da sala. É o que é conhecido como oPavimento Mosaico. Este Pavimento é de forma retangular e as peças que compõem oPavimento em si são negras contra brancas. Em cada um dos cantos deste Pavimentoestá a figura de um pendão simples. Em um contexto maçônico, cada um destesquatro pendões representa cada uma das quatro virtudes cardeais.

Não é um simples acidente que o Pavimento Mosaico situa-se no centro da loja. Não éum simples acidente que o Pavimento tenha forma retangular. Não é um simplesacidente que as Virtudes Cardeais sejam retratadas como ocupando cada um dosquatro pontos do retângulo onde o ângulo reto é formado.

O projeto em si é medieval e representa a natureza espiritual do ser humano.

O filósofo italiano, linguista e escritor Umberto Eco levantou um argumentosignificativo em seu livro Arte e Beleza na Idade Média, quando explicou que, duranteo século XII, as ideias da teoria pitagórica do universo foram adaptadas edesenvolvidas em um conceito conhecido pelo termo latino, homo quadratus (ouo homem ao quadrado).

Page 62: Platão e o Ritual Maçônico

Este “homem ao quadrado” é o símbolo da retidão moral e que assim é o próprioconceito que o pavimento mosaico ilustra.

Tendo isso em mente, podemos interpretar o Pavimento Mosaico como ilustração dosmeios para atingir uma perspectiva moral sobre a vida e a maneira de fazê-lo – é pormeio das Quatro Virtudes Cardeais! Vamos agora examinar cada uma dessas virtudesem mais detalhes para ver quais lições podemos tirar delas, para que possamosaplicá-las em nossas vidas para alcançar maior realização pessoal.

Prudência

A primeiro Virtude Cardeal é a Prudência. A palavra latina é prudentia e é fácil ver arelação linguística entre estas duas palavras. A palavra grega é escrita assim: jronhsis.Ela é pronunciada, fronesis.

Existe um livro de termos filosóficos gregos que leva o simples título de Definições.Embora tenha sido anteriormente atribuído a Platão, a opinião moderna divergefortemente dessa alegação. Independentemente disso, ele virá a calhar para nós nosreferirmos a ela, alegando que as definições aplicadas aos termos eram correntes nomundo grego antigo. Esta será então a nossa linha de base para entender o que ostermos significavam quando foram desenvolvidos pela primeira vez.

A definição dada a fronesis (prudência) é:

– sabedoria prática; o conhecimento do que é bom e ruim; a disposição com quejulgamos o que deve ser feito e o que não deve ser feito.

A definição enfatiza o caráter muito prático do que se entende pela palavra. Em termosdo dia-a-dia, poderíamos sugerir que prudência se refere à arte de aplicar o sensocomum em nossas atividades rotineiras. Sendo este o caso, Platão estava enfatizandoa importância de um líder ponderado ser capaz de usar o bom senso. A este respeito,o senso comum não é apenas um “palpite” ou um “pressentimento”. Ela é uma

Page 63: Platão e o Ritual Maçônico

habilidade que cada um pode desenvolver como uma forma de excelência habitual.

Temperança

A segunda virtude cardeal é a temperança. A palavra latina é temperantia e é oequivalente grego é svjrosmnh. Pronuncia-se, sofrosunai.

Autocontrole é a mais valorizada das virtudes e significa não desejar desejar. Significa,também, controlar a própria infelicidade, tanto quanto possível quando e se olamentável acontece e o desejo incontrolável aparece. (Simon Goldhill, Amor, Sexo eTragédia: A importância dos Clássicos).

Em um contexto do idioma inglês, a palavra temperança tem um sabor muito vitoriano.As Uniões de Temperança (que tinham grande destaque durante a era vitoriana) eramorganizações cujo objetivo era a abolição das bebidas alcoólicas. Com efeito, elesdiziam “não beba gin”. A palavra também pode significar algo na linha de “contenção”.Em sua própria maneira, a temperança realmente não se sustenta muito bem sob umaluz positiva.

A definição da Grécia antiga era muito diferente e muito positiva:

– Autocontrole; moderação da alma… boa disciplina da alma; concórdia da alma emrelação a governar e ser governado.

As ideias operativas aqui são o equilíbrio e autocontrole. Em vez de dizer “não bebagin”, sugere-se que o gin pode ser uma coisa boa para beber – com moderação. Issosugere que o excesso de qualquer coisa não é realmente desejável.

E ainda sugere que virtude demais pode ser um vício.

Em termos práticos, poderíamos até dizer que esta seria uma boa característica de seter, se quisermos perder peso… a ideia aqui é que levemos uma dieta balanceada, nãoexageremos nossa ingestão de calorias e tomemos cuidado com o consumo de álcool.O aspecto positivo desta definição é uma vez mais a sua praticidade. Ela não nosobrigando a sermos ascetas… muito pelo contrário. Ela enfatiza qualidades comoequilíbrio, ordem, estabilidade. Nesta luz, o nosso foco na vida diária é atingir oequilíbrio nas coisas que pensamos, as coisas que sentimos e nas coisas que fazemos.É nada menos que o alinhamento harmonioso.

Coragem

A terceira é a virtude cardeal é a coragem. A palavra latina é fortitudo e a palavragrega é escrita assim: andreia. É pronunciada andraia.

Page 64: Platão e o Ritual Maçônico

Termos como força e coragem têm aplicações diretas em um campo de batalha oualgum teatro de hostilidades, e muitas vezes é nas situações extremas em quemanifestações dessas qualidades são geralmente observadas.

A definição do grego antigo é um pouco mais sutil do que esta que acabamos dediscutir. A definição grega diz simplesmente:

– Autocontenção na alma sobre o que é temível e terrível; ousadia, em obediência asabedoria; a calma na alma sobre o que o pensamento correto considera assustador.

Mas, as pessoas que mais merecem ser julgadas de espírito forte são aquelas quesabem exatamente o quais terrores e prazeres estão à frente, e não se afastam doperigo por aquele conhecimento.

Tucídides, A guerra do Peloponeso, 40 (Extraído da Justiça, Poder e NaturezaHumana: Seleções da História da Guerra do Peloponeso, Traduzido por Paul Woodruff.

Aqui, a definição enfoca mais uma vez o princípio do equilíbrio. Desta vez, o equilíbrioestá associado à capacidade de acalmar a rápida sucessão de pensamentos que nosalarma ou nos assusta. Isso é mais sugestivo de ser um chamado à ação calma masdecisiva quando as circunstâncias o exigem – independentemente dos perigospresentes. Nessas situações, eliminamos os aspectos emocionais de excesso dereação normalmente associados a situações de perigo. Nós vemos o perigo pelo queele realmente é, e não por aquilo que nossa imaginação hiperativa dá impressão queseja.

Fora estarem envolvidas em um teatro de guerra, a seguinte situação que a maioria denós tem que enfrentar em algum momento de nossas vidas expressa como podemosdemonstrar firmeza em uma situação cotidiana.

Imagine ter ido a um médico especialista e ser submetido a uma série de exames.Estamos aguardando os resultados na área de recepção do consultório doespecialista. Estamos preocupados que talvez os resultados sejam terminais.Pensamos que uma rápida sucessão de pensamentos ligados à morte e o morrer.Como as pessoas reagem? Que medidas deverão ser tomadas para o descarte denosso corpo? Existe vida após a morte? Se for o caso, como seria ela?

Sentimos nosso coração disparar, a respiração tornar-se superficial e rápida.Justificadamente – nos sentimos fracos.

A única coisa positiva a fazer é realizar uma cirurgia em nossos pensamentos… cortaraqueles pensamentos que são uma elaboração baseada nas circunstâncias queestamos enfrentando, agora, hoje, neste exato instante. Precisamos descobrir que um

Page 65: Platão e o Ritual Maçônico

ponto em nosso espírito; aquele ponto fixo em um universo que está girandoloucamente fora de controle, e depois ficar com a cabeça erguida quando formoschamados à sala da especialista para ouvir o veredicto, qualquer que seja o que overedicto possa reservar para nós.

Justiça

A quarta virtude cardeal é a justiça. A palavra latina é iustitia e a palavra grega éescrita assim: dikaiosmnh. É pronunciada dikaiosuna.

Anteriormente, abordamos a tradução moderna da palavra, dizendo que dikaiosuna eratraduzida geralmente como a justiça, ao passo que a tendência hoje é traduzir apalavra como “moralidade” ou “retidão ética”. De qualquer maneira, a palavra eminglês é temperada com um tom jurídico de punição por má conduta.

Em nossa discussão das três virtudes cardeais anteriores, notamos que a definiçãogrega original se afasta significativamente do uso comum das palavras em inglês. Asituação não é diferente quando se trata da palavra justiça.

A definição grega antiga é simples, sem qualquer elaboração:

– O estado que distribui a cada pessoa de acordo com o que é merecido.

Neste sentido, os gregos enfatizavam que a moralidade, ou a justiça oudemonstrações de ética tinham mais a ver com a resposta a situações de formaadequada. Por exemplo: se uma pessoa faz bem alguma coisa, a coisa apropriada éelogia-la. Se uma pessoa faz mal a uma tarefa, o mais apropriado é aconselhá-la, outreina-la e orienta-la (ou se todas estas coisas falharem), possivelmente até mesmopuni-la.

Sua importância para nós é aplicar o princípio de tal forma que damos uma respostaadequada a nós mesmos, a cada pessoa que encontramos e a cada evento na vida emque estamos envolvidos.

O ponto é que os deuses nunca negligenciaram qualquer pessoa que esteja disposta ase dedicar a se tornar moral e praticar a virtude para assimilar-se a deus, tanto quantoseja humanamente possível. (Platão: República 613e Trad. Robin Waterfield)

Neste sentido, é significativo que na Cerimônia de Encerramento da Loja, um poucoantes do Primeiro Vigilante bater o malhete para fechar a loja, ele comenta a todos ospresentes a sua função específica. É para zelar que cada irmão tenha tido o que édevido e o que lhe deve.

….

Page 66: Platão e o Ritual Maçônico

Após discutir cada uma das quatro Virtudes Cardeais, podemos entender que,enquanto maçons, somos convocados a demonstrar equilíbrio em tudo de nossasvidas e em nenhum lugar esta instrução tão claramente explicada quanto no SegundoGrau

…observar uma média devida entre a avareza e a profusão, manter a balança da justiçacom igual equilíbrio; fazer suas paixões e preconceitos coincidir com a linha justa desua conduta…

O objetivo por trás dessa afirmação é simples. O objetivo por trás disso ilustra a razãopor trás uma vida moral que Platão enfatizava de diferentes maneiras ao longo de ARepública. É assimilação a deus, ou como nosso ritual poeticamente nos lembra,sempre temos a eternidade em vista.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

Page 67: Platão e o Ritual Maçônico

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo X

Comparando Temas Platônicos e Maçônicos

Tendo entendido a maneira como a Maçonaria se desenvolveu a partir do modismocultural do filohelenismo – uma moda que era moeda corrente ao longo do século XIX,estamos agora em melhor posição para estudar temas paralelos emergentes dosescritos de Platão e o nosso próprio ritual.

Mérito

Um dos temas mais duradouros que percorremos três graus da Maçonaria Simbólica eaté mesmo no ritual de instalação do próprio Venerável Mestre é o de atingir qualquerdas distinções que conseguimos na vida como um resultado de nossos própriosesforços, habilidade e aplicação … em outras palavras – por nossos próprios méritos.

A República tem como a base de sua plataforma – uma crença permanente em queninguém – homem ou mulher – tem qualquer direito a nomeação, promoção ou avançodentro de sua sociedade, exceto como resultado de seus talentos, habilidades,indústria exclusivos e, mais importante de tudo, seu caráter.

Reis-filósofos representam o maior pool de talentos em qualquer sociedade e,

Page 68: Platão e o Ritual Maçônico

portanto, recebem o mais alto nível de treinamento para incentivar o mais alto padrãode pensamento e comportamento.

Esse mesmo princípio está impregnado em todo o nosso ritual, conforme demonstramos exemplos a seguir.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Númeroda página Constituição Sul-Australiana13ª Edição, 2004

Escritos platônicos Diálogo /Paginação de Stephanus / Tradução

… elevado a eminência por mérito …

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 23

… o incentivo discriminador de mérito…

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 41

… Não temo dúvidas de que o suafutura conduta será tal a merecer aestima dos irmãos.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 43

Estes Segr., no entanto, sãocomunicados aos candidatos, nãoindiscriminadamente, mas de acordocom mérito e capacidade.

Primeiro Grau / pg. 81

Você deve incentivar a indústria epremiar o mérito …

Segundo Grau/Pg. 144

… mérito tem sido o seu título aosnossos privilégios…

Terceiro Grau / pg. 194

Homens e mulheres quedemonstraram o mérito visível devemse qualificar para todas estashomenagens, sem distinção de sexo.

As Leis/802a/Saunders

E se queremos uma descrição breve e moderna de seu tipo de sociedade, meritocraciagerencial é talvez o mais próximo que conseguimos chegar.

A verdadeira questão é que o que ele (Platão) quer é uma aristocracia de talento. E. M.Rieu, Introdução à sua tradução de A República – (edição Penguin Classics).

Preparação para a Morte

As lições do primeiro e do segundo graus nos preparam para disciplinar nossas

Page 69: Platão e o Ritual Maçônico

mentes para manter a perspectiva da morte como uma influência moderadora sobrenosso comportamento. Ela nos ajuda a conseguir uma perspectiva equilibrada sobre avida, enquanto que nos permite viver a vida com paixão animação e entusiasmo.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Númeroda página Constituição Sul-Australiana13ª Edição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

Ela prepara você através decontemplação, para a hora de fecho daexistência e quando, por meio daquelacontemplação, ela o conduziu atravésdos intrincados meandros desta vidamortal e, finalmente, ela instrui vocêsobre como deve morrer.

Terceiro Grau / pg. 175

As pessoas comuns parecem nãoperceber que aqueles que real everdadeiramente aplicam-se no caminhocerto para a filosofia estão diretamente epor conta própria, preparando-se paramorrer e para a morte.

Phaeton/64a/Tredinnick

Os verdadeiros filósofos fazer de morrer asua profissão.

Phaeton/67e/Tredinnick

Você está enganado meu amigo, se achaque um homem que vale alguma coisa,deveria gastar seu tempo pesando asperspectivas de vida e morte. Ele só temuma coisa a considerar ao realizarqualquer ação; é se ele está agindo justaou injustamente; como um homem bomou um homem mau.

Apology/8b/Tredinnick

Pois, deixe-me dizer aos senhores que termedo da morte é apenas outra maneira depensar que se é sábio quando não se é; épensar que se sabe o que não se sabe.Ninguém sabe no que se refere à morte,se não é a maior bênção que podeacontecer a um homem, mas as pessoas areceiam, como se fosse o maior mal…

Apology/29a/Tredinnick

Nosso Dever para com Nossos Pais

Nós já discutimos a importância do conceito de mérito em A República de Platão. Porextensão, nossos pais, ou aqueles que nos proporcionaram nossa educação, ouaqueles que são predominantes em nosso desenvolvimento pessoal são merecedoresde manifestações especiais de respeito. Por seu comportamento, eles mereceram onosso respeito. Do ponto de vista de Platão, esta demonstração de respeito é um dosprincipais blocos construtivos de uma sociedade bem-ordenada e, da mesma forma, éum bloco de construção principal do ensino maçônico.

Page 70: Platão e o Ritual Maçônico

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Seu dever para com seus pais é suportaro calor e o cansaço do dia, do qual eles,por sua idade, devem ser isentos; auxiliá-los na hora da necessidade e, assim,tornar os seus dias finais felizes econfortáveis. ..

Primeiro Grau / pg. 109

Devemos considerar que o objeto maisprecioso de adoração de um homem podeter é seu pai … frágil com a idade, ou suamãe em situação semelhante, porquequando ele os honra e os respeita, Deusestá encantado.

As Leis/913d/Saunders

Ele deve servi-los … e assim dar aosidosos o que eles precisamdesesperadamente em virtude de suaidade …

As Leis/717o/Saunders

… depois de uma era gasta em obediênciaàs leis, o curso da natureza o levará ao fimde sua vida.

As Leis/958d/Saunders

Os jovens também devem ceder seusassentos aos mais velhos, levantar-sequando eles entram em uma sala e cuidarde seus pais.

República/425b/ Waterfield.

Fidelidade à Nossa Terra Natal

O papel principal do rei-filósofo de Platão é o de defesa. O filósofo-governantedefende não só as leis, mas os costumes, cultura, história, língua, ideais e princípiosda comunidade na qual eles servem em uma função de liderança. Estendendo estetema para além das páginas de seus escritos, os autores do Ritual de Emulaçãotomaram o pensamento de Platão e o transformaram na pedra angular da filosofiamaçônica.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

E, acima de tudo, por nunca perder devista a fidelidade devida ao soberano desua terra natal, sempre lembrando que anatureza implantou em seu peito umapego sagrado e indissolúvel a esse paísonde você nasceu e recebeu sua nutriçãoinfantil. República/503a/WaterfieldPrimeiro Grau / pg. 98

… Eles precisam demonstrar o amor desua comunidade enquanto são testadostanto em circunstâncias agradáveisquanto penosas, e deixar claro que nãovão deixar de lado o seu patriotismoqualquer que sejam as provas ou medoscom que se deparem…

Ao nunca propor ou absolutamente não

Page 71: Platão e o Ritual Maçônico

tolerando qualquer ato que possa ter umatendência para subverter a paz e a boaordem da sociedade; dedicando a devidaobediência às leis de qualquer Estado quepossa, durante algum tempo, se tornou olugar de sua residência ou estendeu-lhesua proteção …

Primeiro Grau / pg. 98

Todo homem que é bom deve denunciaro conspirador às autoridades e levá-loao tribunal sob a acusação de violênciae ilicitamente derrubar a Constituição AsLeis/856o/Saunders

Viver Respeitado e Morrer Lamentado

Se um dos princípios pelos quais vivemos nossas vidas é fazer das realizações denossa vida, um monumento eterno (mesmo na morte), então este foco nos dará umsentido de equilíbrio que não só nos ajudará a navegar em nosso caminho pormomentos de teste na vida, mas também nos fornecerá uma boa base para umapartida confiante desta vida.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

… chegando à eminência por mérito, vocêviverá respeitado e morrerá lamentado.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 28

… Ele está contente se puder encontraruma maneira de viver a sua vida aqui naterra, sem se tornar manchado por atosimorais ou injustos, e partir dessa vidacom confiança e sem raiva e amargura.

Republica/496d-e/ Waterfield.

O Autoconhecimento e Auto entendimento

A base da filosofia de Sócrates não era nada mais ou nada menos que uma verdadeiracompreensão de nós mesmos. Esse entendimento leva em consideração a amplitudeda nossa personalidade, incluindo nossos pontos fortes e talentos (mas não ignorandonossos pontos fracos e áreas de autodesenvolvimento). Do ponto de vista gregoantigo, você e eu somos um reflexo do próprio grande cosmos; portanto, cada açãodas nossas vidas afeta o equilíbrio do cosmos – tanto o universo maior do qual osplanetas, estrelas e galáxias existem, mas bem no universo interior do nosso coração,mente e carne. O autoconhecimento é o cabresto através do qual refreamos nossosapetites e restauramos o foco e o equilíbrio. O autoconhecimento é o meio pelo qualcontemos nossos defeitos de caráter.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Estou refletindo, respondi, e descobrir quea temperança ou a sabedoria, se é umaespécie de conhecimento deve ser uma

Page 72: Platão e o Ritual Maçônico

Deixe os emblemas da mortalidade quese encontram diante de você levá-lo acontemplar seu destino inevitável eorienta-lo em suas reflexões para aqueleque é o mais interessante de todos osestudos humanos, o estudo de simesmo.

Terceiro Grau / pg. 180

ciência e uma ciência de alguma coisa.

Sim, ele disse, a ciência do próprio homem.Charmides/1650/Jowett

Porque eu diria que o autoconhecimento éa própria essência da temperança, e nissoeu concordo com quem dedicou ainscrição: “Conhece a ti mesmo” emDelphi. Essa inscrição, se não me engano,está lá como uma espécie de saudação queo deus dirige àqueles que entram notemplo …

Charmides/165a/Jowett

O Conhecimento do Bem e do Mal

Em seu nível mais básico, a moralidade é a realização de um equilíbrio na vida, entre osextremos da escuridão e luz, entre a dor e o prazer, entre o bem e o mal.

Mas, em muitas situações da vida, nossas decisões não são tão fáceis como aquelasentre extremos. Nossas decisões são mais difíceis – elas também são associadas azonas cinzentas de sombra e penumbra. Muitas vezes, não temos o luxo de fazerescolhas entre o bem e o mal, mas entre o menor entre dois (ou mais males) ou amaior entre dois ou mais bens. A capacidade de tomar essas decisões com confiançae bem, exige mais que uma mera compreensão superficial da moralidade. Ela exigealgo mais profundo – uma compreensão da natureza humana.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Númeroda página Constituição Sul-Australiana13ª Edição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Tendo definido para a nossa instrução,os limites do bem e do mal…

Terceiro Grau / pg. 191

Para realizar uma investigação rigorosasobre a natureza, tanto do bem quanto domal.

Republica/368c/Waterfield

… A competência e conhecimento com quedistinguimos uma vida boa de uma ruim.

Republica/618c/Waterfield

A vida (… expressa como uma viagem náutica)

Desde as primeiras histórias de Jasão e seus Argonautas, assim como Ulisses (e seus10 anos de jornada para casa depois da Guerra de Troia), uma das imagens maisimpressionantes que apelam à nossa mente é o da vida como uma viagem náutica.Quer se trate de um timão de retidão ou uma quilha do caráter, a imagem é clara. Éuma imagem de foco ou talvez (mais apropriadamente), uma de manutenção de um

Page 73: Platão e o Ritual Maçônico

rumo preciso em nossas vidas.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Manobrar o barco dessa vida pelosmares da paixão sem abandonar o timãoda retidão é a maior perfeição que anatureza humana pode alcançar …

Segundo Grau/Pg.

Estou dando a devida atenção à formacomo devemos tentar viver – à “quilha docaráter” que precisamos estabelecer sevamos navegar através desta viagem davida com sucesso.

As Leis/803b/Saunders

Metais e Valores

O termos aristocracia significa literalmente “governo dos melhores”. Os “melhores”eram muitas vezes julgados pelo padrão da riqueza – por quantos metais finos ouobjetos de valor eles possuíam. Para Platão, a riqueza não era o fator determinante dosmelhores. De sua perspectiva, “os melhores” eram (como já compreendemos) aquelescom o melhor nível de competência. Os “melhores” eram aqueles que eramdisciplinados na forma como pensavam e que demonstravam a moralidade vivendo asVirtudes Cardeais.

A partir desta perspectiva, era importante selecionar o novo tipo de líder-filósofoatravés da total ausência de metais e objetos de valor – aqueles antigos padrões dedeterminação de quem era melhor para liderar a comunidade.

Um dos primeiros princípios que regem a norma pela qual um governante-filósofodeveria viver, era criar um tabu contra a posse de metais e objetos de valor. É,portanto, de se admirar então que a primeira instrução que um Iniciado ouve quandoele se coloca no canto nordeste, é demonstrar que ele não tem metais ou objetos devalor em seu poder?

A importância com a qual isso é tratado em nosso Ritual é incrível. Esta é a únicaocasião em que uma sanção real (e não simbólica), seria utilizada. Nosso Ritual noslembra que se o Candidato à Iniciação tiver metais ou objetos de valor em sua posse,ele seria obrigado a ser retirado do recinto da loja e a cerimônia recomeçaria desde oinício somente depois desses metais e objetos de valor terem sido descartadosenquanto durar a cerimônia.

Se repensarmos o nosso ritual a partir da perspectiva de ser ele uma expressão dafilosofia de Platão, então, sem dúvida – de todas as lições, instruções, encargos eexortações que um Iniciado ouve – certamente não há símbolo mais elevado donascimento de um novo filósofo-rei, do que este que ocorre no Canto Nordeste.

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Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Você estava despido de tudo valiosoantes de entrar na loja?

Primeiro Grau / pg. 89

Em segundo lugar, demonstrar aosirmãos que você não tinha nem metais,nem objetos de valor consigo, porque sevocê tivesse a cerimônia de sua iniciaçãoaté então deveria ser repetida.

Primeiro Grau / pg. 90

Você foi despojado de todos os metais eobjetos de valor. Isto se referia ao fato deque na construção de Templo do ReiSalomão, (pois é sobre as circunstânciasrelacionadas com a construção daquelamagnífica estrutura que a maioria denossas cerimônias são baseados), nãose ouviu nenhum som de martelo ouimplemento de ferro .. .

Primeiro Grau / pp. 92 – 93

Assim, diferentemente de alguns denossos concidadãos, não se lhes permiteter qualquer contato com o ouro e a prata;eles não devem estar sob o mesmo tetoque o ouro ou a prata, ou usá-los sobreseus corpos … Esses preceitos garantirãoa sua própria integridade…

República/418a/ Waterfield.

Tendo sido educado assim, eles nuncadevem olhar para ouro ou prata ouqualquer outra coisa como suapropriedade particular.

Timaeus/18/Lee

Nós não temos nenhum uso para ouro eprata; é tabu para nós (isto é, reis-filósofos), embora não seja para você.

Republica/422d/ Waterfield.

Agora, nossas observações, há poucotempo atrás, não nos convenceram deque o ouro e a prata, os deuses dariqueza não deviam ter nem templo, nemcasa em nosso Estado?

As Leis/801b/Saunders

Inovação

Na filosofia de Platão, o curso de educação para um aspirante a “filósofo-rei” usandoas artes liberais e ciências para aumentar as faculdades intelectuais, e as QuatroVirtudes Cardeais para traçar os limites do comportamento adequado e realmentehonrado aceitável era o ideal. Ele não exigia qualquer outra inovação. O que eranecessário dizer tinha sido dito. Nenhum filósofo-governante tinha autoridade parafazer inovações sob seu próprio capricho.

Da mesma forma, durante a Cerimônia de Instalação de um Venerável Mestre, estenovo rei-filósofo é lembrado da mesma coisa. Existem métodos pelos quais asmudanças podem ser incorporadas aos Regulamentos, mas isso não pode acontecerpor um capricho ou por ações de uma facção ou grupo particular.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Você admite que não está no poder de Eles devem estar em guarda contra

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qualquer homem ou grupo de homensfazer a inovação no corpo da Maçonaria.

Obrigações de um Maçom / Maio1995/pg.

inovações que transgridam nossosregulamentos…

República/424b/ Waterfield.

Submissão e Obediência

Um dos princípios definidores comuns tanto dos ensinamentos de Platão quanto daMaçonaria é que o mundo (ou o cosmos) é estruturado sobre o governo e liderançacorretos, e sua ordem é colocada em equilíbrio delicado pela habilidade das pessoasque são julgadas competentes para governar com justiça.

Este equilíbrio no cosmos é o oposto do conceito grego de caos (ou em termosmodernos) anarquia.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Irmãos, tal é a natureza da nossaConstituição que, como alguns têmnecessidade de governar e ensinar,outros devem, naturalmente, aprender ase submeter e obedecer …

A Cerimônia de Instalação do Mestre-Eleito / pág. 52

Agora entendo que os estados devemconter algumas pessoas que governam eoutras que são governadas?

As Leis/6890/Saunders

… o que temos em mente é a educaçãodesde a infância em virtude, umaformação que produz um profundo desejode se tornar um cidadão perfeito – quesabe como governar e ser governadocomo a justiça exige.

As Leis/6430/Saunders

Luz

A imagem da luz como um símbolo de conhecimento e compreensão é universal. Ésomente durante parte da Cerimônia de Iniciação em que o candidato está com osolhos vendados, simbolizando “seu estado de escuridão”. Uma vez que a venda tenhasido removida, ela nunca mais é reaplicada em qualquer outro Grau da maçonariasimbólica. Platão usa a imagem da luz no que é, sem dúvida o seu mito maiscelebrado. Ele é conhecido como O Mito da Caverna. Nesta história, os homens estãoacorrentados abaixo do nível do solo e incapazes de virar suas cabeças, compreenderque a “realidade” nada mais é do que as sombras projetadas nas paredes da cavernapela luz por trás deles. Depois de terem entendido que as suas noções de “realidade”eram falhas, eles nunca mais podem voltar a viver suas mesmas vidas novamente. Elesforam iluminados. Esta é a base da iniciação, mas possivelmente podemos tambémdedicar algum pensamento que o processo de iniciação não é apenas algo que

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acontece em uma noite. Ele pode ser algo que continua durante todo o restante dosdias que nos foram reservados.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Númeroda página Constituição Sul-Australiana13ª Edição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

VM. Tendo sido mantido por um tempoconsiderável em um estado deescuridão, qual é o desejo predominanteem seu coração?

Candidato A Luz

VM. Irmão Segundo Diácono, ao meusinal, deixe aquela bênção serrestaurada para o candidato.

Primeiro Grau / pg. 79

A reorientação de uma mente de umaespécie de crepúsculo para a verdadeiraluz do dia – e esta orientação é umaascensão da realidade, ou em outraspalavras – verdadeira filosofia.

Republica/512c/Waterfield

Sabedoria e Força da Mente

Em ambos os trechos citados abaixo, fica evidente que a compreensão e saber o quefazer nos ajudam a chegar só até certo ponto. Na verdade, ter a força da mente parasuperar as barreiras mentais que às vezes se colocam em nosso próprio caminho éque nos pode ajudar a atingir nossos objetivos.

Estas barreiras mentais são, na maioria das vezes, nossos preconceitos naturais quePlatão caracteriza como desejos e apetites.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

… No governo da loja, você devecombinar a sabedoria, a força da mentee as belezas da persuasão eloquente.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 28

.. e deve manter a virtude como um todoem mente, mas sobretudo e porexcelência, a virtude que encabeça a lista– o julgamento, a sabedoria e a força damente de tal forma que os desejos eapetites sejam mantidos sob controle.

As Leis/688b/Saunders

As Vantagens da Educação Social

Educação não é só “saber” coisas. A maior parte da educação é a capacidade de seadequar e contribuir significativamente para a comunidade da qual fazemos parte.

Compreender e ser capaz de demonstrar competências sociais, tais como boasmaneiras, etiqueta e respeito pelos outros, nos ajuda a nos expressar e aceitar aexpressão dos outros – (mesmo quando os outros pensam de forma totalmente

Page 77: Platão e o Ritual Maçônico

diferente do ponto de vista que temos).

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

O cinzel aponta as vantagens daeducação, que cultiva nossas mentes enos torna melhores membros dasociedade

Primeiro Grau / pg. 95

Não é a extrema importância daeducação cultural, devida ao fato de queo ritmo e a harmonia afundam-se maisprofundamente na mente do quequalquer outra coisa? Para alguém aquem é dada uma educação correta, oproduto é a graça; mas na situaçãooposta, é deselegância.

República/ 401 d /Waterfield

Regulando nossos Amores e Ações

De acordo com Platão e nosso ritual, a finalidade de se levar uma vida moral, é tornar-se equiparado a Deus.

Embora nunca possamos nos tornar semelhantes a Deus, podemos nos esforçar parafazer o nosso melhor para nos aproximarmos da essência que é Deus.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

O esquadro nos ensina a regular nossasvidas e ações de acordo com a linha eregra maçônicas, e assim harmonizanossa conduta nesta vida, para nostornar aceitáveis àquele Ser Divino, dequem toda fluem toda a bondade e aquem devemos prestar contas de nossasvidas.

Segundo Grau/Pg. 139

O ponto é que os deuses nuncanegligenciaram qualquer pessoa queesteja disposta a se dedicar a se tornarmoral e praticar a virtude para assimilar-se a deus, tanto quanto sejahumanamente possível. República/613e/Waterfield.

Preservando Nossa Consciência

Ambas as passagens abaixo estão relacionadas com uma coisa – os meios queprecisamos usar para apoiar-nos em nossas relações com Deus, assim como todas aspessoas que encontramos em nossas vidas diárias.

Somos instruídos a guardar nossos pensamentos e palavras. Estes dois são o assuntoa partir dos quais nossos hábitos se desenvolvem.

Nosso objetivo na vida é desenvolver a aretê ou excelência habitual em nossospensamentos, sentimentos, palavras e ações.

Page 78: Platão e o Ritual Maçônico

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

Irmãos, simbolicamente, a espada nosensina a colocar uma vigilância sobre anossa língua e observar a entrada denossos pensamentos, excluindo todopensamento, palavra e açãodesqualificada, e se esforçando parapreservar uma consciência livre deofensa a Deus e ao homem.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 52

Hábitos sólidos e ideias verdadeiras… assentinelas e guardiães que melhorprotegem o espírito dos homens queencontram a graça diante dos olhos dedeus.

República/560b/ Waterfield.

… você não percebeu como se arepresentação repetida contínua muitodepois da infância ela se torna habitual earraigada e tem um efeito sobre o corpo,voz e mente de uma pessoa “?

República/395d/ Waterfield.

Nossa Conduta

A instrução que nos é dada é clara: quando estamos envolvidos em assuntos sérios,precisamos adotar uma atitude séria.

Isso não é nada fora de uma resposta adequada.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

Como a solenidade de nossas cerimôniasexige uma postura séria, você deve estarparticularmente atento ao seucomportamento em nossas reuniões.Segundo Grau/Pg. 143

Mas, se temos a intenção de adquirirvirtude, mesmo em pequena escala, nãopodemos ser sérios e também cômicos , eisto é a razão pela qual devemos aprendera reconhecer a palhaçada …

As Leis/816e/Saunders

Os Ensinamentos de Pitágoras

Os ensinamentos de Pitágoras foram o pano de fundo para a filosofia de Platão.Sabemos disso por meio dos escritos de Platão, assim como dos escritos deAgostinho de Hipona.

Nosso ritual deixa bem claro que ele está em dívida também com Pitágoras.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

Isto é o que aconteceu com Pitágoras; elenão só era tido em grande conta por seusensinamentos durante sua vida, mas seus

Page 79: Platão e o Ritual Maçônico

O sistema de Pitágoras era baseado emum princípio semelhante.

Primeiro Grau / pg. 102

sucessores mesmo hoje chamar seumodo de vida de Pitagoreano e, dealguma forma, parece, se destacar deoutras pessoas.

República/600b/ Waterfield.

A Bênção de Deus sobre nossos Empreendimentos

Nossas reuniões maçônicas seguem a prática adotada por Sócrates e Platão, em que abênção de Deus deve ser buscada em tudo que fazemos na vida.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

VM. O loja estando devidamentecomposta antes que seja declaradaaberta; invoquemos a benção do GADUem todos os nossos empreendimentos.Primeiro Grau / pg. 41

Sim, Sócrates, é claro que todos com omínimo de senso apela a Deus no iníciode qualquer empresa, grande oupequena.

Timaeus/27/Lee

Os Céus

Tanto na filosofia grega quanto em nosso ritual, entendemos que a imensidão douniverso é um reflexo do seu Criador.

Não é uma prova da existência de um Ser Supremo, mas é algo que fala à nossasmentes e corações sobre algo por trás do ato de criação.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Os céus Ele estendeu um teto, a terraque Ele plantou como escabelo aos seuspés. Ele coroa Seu templo com estrelasassim como como um diadema e asSuas mãos ampliam seu poder e glória.

Primeiro Grau / pg. 104

Ele acreditará que esse Artesão dos céusas colocou e tudo o que neles há, daforma mais bonita possível para taiscoisas.

República/530a/ Waterfield.

O supervisor do universo organizou tudocom um olho em sua preservação eexcelência.

As Leis/903b/Saunders

Auto Disciplina

Uma das imagens que Platão usou em um diálogo chamado Fedro foi a de um cocheirodirigindo seus cavalos. Os cavalos pode querer ir em direções diferentes, mas o papel

Page 80: Platão e o Ritual Maçônico

do cocheiro é orientá-las em uma única direção.

O cocheiro é um símbolo de nossa mente racional e os cavalos são símbolos dasnossas paixões e desejos. Através da aplicação de um som, a mente bem-educadasobre nossos desejos e apetites, nós os colocamos sob nosso controle.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

E para si mesmo, por tal prudente e bemregulado curso de disciplina que possamelhor conduzir à preservação de suasfaculdades corporais e mentais em suamáxima energia.

Primeiro Grau / pg. 98

Em vez disso, ele regula bem o que érealmente seu, regula a si mesmo, coloca-se em ordem, torna-se seu próprio amigoe harmoniza os três elementos …então esó então ele deve voltar-se para a ação …nessas áreas, ele considera e solicitaapenas ação justa e fina que preserve aharmonia interior e ajude a alcançá-la, e oconhecimento e a sabedoria quefiscalizam tal ação; e ele considera injustoe chama de injusta tal ação que destróiesta harmonia.

Republica/443d-e/ Waterfield.

A convicção de que nos impele em direçãoà excelência é racional e o poder atravésdo qual a dominamos, chamamos de autocontrole …

Fedro/238/Hamilton

Boa Gestão

Comum aos ensinamentos de Platão e aos da Maçonaria é o princípio de que o bomgoverno/gestão/liderança é a expressão externa de uma mente bem ordenada.

É por essa razão que Platão coloca tanta ênfase na educação correta.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

A honra, reputação e utilidade desta lojadependerá substancialmente dahabilidade e da assiduidade com quevocê gerencia suas preocupações …

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 37

Portanto, a gestão e autoridadeinevitavelmente serão tratadas mal porum espírito ruim, enquanto que uma boamente fará bem todas essas coisas.República/353d/ Waterfield.

O Centro e o Círculo

Page 81: Platão e o Ritual Maçônico

Sobre o pavimento mosaico de qualquer loja que pratique o Ritual Emulação (ou umavariante dele) está um dispositivo ou representação de um “ponto dentro de umcírculo”. Um volume da Lei Sagrada repousa sobre um travesseiro, que é suportado poreste dispositivo e o conjunto é uma representação simbólica de Deus.

Na filosofia de Platão, a forma geométrica mais perfeita é a esfera do círculo.

É por este motivo que Deus criou o mundo como uma esfera (… sim… acreditava-senisso e foi provado cientificamente pelos antigos gregos, séculos antes de Colombo).Como toda a criação é uma expressão externa de Deus, Platão via a esfera circularcomo um símbolo, vital e pulsante do Ser Supremo.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

VM. O que é um centro?

SV. Um ponto dentro de um círculo apartir do qual cada parte do círculo éequidistante.

Terceiro Grau / Pág. 162

Por isso, Ele a transformou em uma formaarredondada esférica, com os extremosequidistantes em todas as direções apartir do centro.

Timaeus/33/Lee

… e “círculo”, a definição seria “a coisacujas extremidades, em todas as direçõessão equidistantes de seu centro”.

A Sétimo Letra/342/Hamilton

Porque, desde que o universo é esféricotodos os pontos de extremas distânciasdo centro são equidistantes dele, e assimtodos “extremos” igualmente, enquantoque o centro, sendo equidistante dosextremos é igualmente “oposto” a todoseles.

Timaeus/62/Lee

Que todos os homens de boa vontadedevem colocar Deus no centro de seuspensamentos.

As Leis/803c/Saunders

A Responsabilidade da Alma

Um dos ensinamentos fundamentais da Maçonaria é que você e eu somos totalmenteresponsáveis e totalmente responsabilizáveis por nossos pensamentos, sentimentos,palavras e ações.

Em uma expressão muito poética da filosofia de Platão, nosso ritual se baseia na

Page 82: Platão e o Ritual Maçônico

imagem de nossa alma (ou “princípio vital”), tendo que prestar contas de suas açõesdurante a nossa vida breve, após a morte.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

…e harmonizar nossa conduta nestavida, para nos tornar aceitáveis àqueleSer Divino, de quem toda fluem toda abondade e a quem devemos prestarcontas de nossas vidas.

Segundo Grau/Pg. 139

…mesmo neste quadro perecível resideum princípio vital e imortal…

Terceiro Grau / pg. 180

O nosso verdadeiro eu – nossa almaimortal, como é chamada – se afasta,como a lei ancestral declara, para osdeuses para prestar conta de si mesma.

As Leis/959b/Saunders

A Crença em um Ser Supremo

A primeira pergunta ao candidato com os olhos vendados para a Iniciação naMaçonaria é que ele confirme sua crença em um Ser Supremo. A crença em um SerSupremo é a base da Maçonaria.

Se Deus é nosso Pai, você e eu somos irmãos.

A crença em um Ser Supremo é (coincidentemente) o alicerce dos ensinamentos dePlatão, em suas duas obras mais importantes – A República e As Leis.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número dapágina Constituição Sul-Australiana 13ªEdição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginaçãode Stephanus / Tradução

VM. Em todos os casos de dificuldade eperigo, em quem você coloca suaconfiança?

Candidato Em Deus.

VM. Estou feliz em descobrir que sua féé tão bem fundamentada.

Primeiro Grau / pg. 74

É extremamente importante ter em conta… a existência dos deuses e a medidaóbvia de todos os seus poderes.

As Leis/967b/Saunders

Nunca devemos escolher como Guardiãodas Leis qualquer um que… não tenhatrabalhado duro na teologia, ou permitirque a ele sejam concedidas distinçõespor virtude.

As Leis/967d/Saunders

A Importância da Iniciação

Uma das marcas da iniciação, comum tanto aos escritos platônicos quanto ao Ritualmaçônico é uma valorização maior da beleza. A beleza é o reflexo e imagem de Deus

Page 83: Platão e o Ritual Maçônico

em toda a criação e em todos os eventos de nossas vidas.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Númeroda página Constituição Sul-Australiana13ª Edição, 2004

Escritos platônicos Diálogo / Paginação deStephanus / Tradução

Concede Tua ajuda Pai Todo-Poderoso eSupremo Governador do Universoconceda este candidato à Maçonariaque ele possa assim dedicar e dedicarsua vida ao Teu serviço, e se tornar umirmão verdadeiro e fiel entre nós.Reveste-o com tal competência da TuaDivina Sabedoria que assistida pelosSegredos de nossa Arte Maçônica, elepossa desdobrar melhor as belezas daverdadeira Divindade, para honra eglória do Teu Santo Nome.

Cerimônia de iniciação, pp. 73-74

Agora o homem que não teve suainiciação recentemente, ou que tenha sidocorrompido não faz rapidamente atransição da beleza na terra para a belezaabsoluta …

Fedro/250/Hamilton

Mas, o recém-iniciado que teve uma visãocelestial completa, quando contempla umrosto com face de deus ou uma formafísica que verdadeiramente reflete abeleza ideal, antes de tudo ele treme eexperimenta algo do temor que a visão emsi inspirou …

Fedro/250/Hamilton

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

Page 84: Platão e o Ritual Maçônico

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo XI (1ª Parte)

Mitologia e História Grega – Sua relação com o Ritual maçônico

Na primeira parte deste trabalho, identificamos a importante posição que os escritosde Platão tem no Ritual Emulação. Por mais significativo que seja este aspecto, existeoutra influência importante em nosso ritual. É a importância que a história e a mitologiagrega desempenham como pano de fundo para o nosso ritual e falas.

Entendendo que o filohelenismo era uma constante ao longo do século XIX na Europae, especificamente, (a partir de nossa perspectiva) – na Inglaterra, seria estranho se ahistória e mitologia grega não tivessem sido tecidas em nosso Ritual.

O que vamos fazer agora é investigar brevemente alguns amplos temas temashistóricos e mitológicos gregos que são facilmente aparentes no Ritual Emulação.

A importância do número 9

Você e eu estamos conscientes de que certos números têm importância significativa

Page 85: Platão e o Ritual Maçônico

em nossa cultura maçônica em particular. Alguns exemplos são:

O número 3: Existem três graus na Maçonaria Simbólica, três batidaspertencentes a cada grau, 3 oficiais principais em uma loja.O número 4: Há quatro virtudes cardeais, 4 pontos cardeais em uma loja.O número 7: Há os sete dias da criação, 7 dias da semana, 7 Artes Liberais eCiências, 7 membros que fazem uma loja perfeita.

O número 9 tem seu próprio significado peculiar que está diretamente ligado àmitologia grega. Antes de avançar mais, vamos parar para relembrar o contexto emque o número 9 aparece no ritual maçônico.

Esse número tem significado apenas para o cargo de Grão-Mestre. Quando saudamoso Grão-Mestre, nós o fazemos com um sinal conhecido como Grandes Honras e ofazemos por 9 vezes. No colar do Grão-Mestre, aparecem 9 links. A questão é: comoexplicar isso?

A primeira coisa que podemos notar é o significado especial que tem o número 9 namitologia grega. O número 9 aparece com tanta regularidade que não podemosdescartar isso somente como uma coincidência. Aqui estão alguns exemplos:

Na mitologia grega, o cosmos (o universo) é medido em altura e profundidadepor uma explicação muito interessante: se fôssemos jogar uma bigorna para forano espaço habitado pelos deuses antigos, seriam necessários nove dias parachegar à Terra.Esta mesma bigorna levaria outros 9 dias para cair da terra até a casa de Hades –senhor do Submundo.Por nove dias e nove noites, Leto experimentou a gama de dores do parto (tendoficado grávida ao deus Zeus).Quando Mnemósine subsequentemente deu à luz, sua prole foram as 9 Musas.Com o tempo, estas 9 Musas se juntaram em uma competição contra 9 “irmãsestúpidas” que elas venceram.Os Mistérios de Deméter exigiam que as mulheres se abstivessem de relaçõessexuais com seus maridos durante 9 noites.Smyrna – (tendo sido descoberto que enganava seu pai e tendo tido relaçõessexuais com ele), vagou em exílio durante 9 meses.A criatura mítica conhecida como a Hidra tinha nove cabeças.

A lista acima é (para os fins deste exemplo) – apenas um instantâneo.

No pressuposto de que a cultura grega antiga está no cerne dos rituais maçônicosmodernos, é possível que o motivo para o número 9 ter um significado especial para ocargo de Grão-Mestre, pode estar no fato de que, como o Grão-Mestre se senta na

Page 86: Platão e o Ritual Maçônico

Cadeira do Rei Salomão (que era muito conhecido pela sua sabedoria) recorda umaalusão ao deus grego Zeus (que é o Pai da Sabedoria).

“Mas, para Calliope a mais velha das Musas e sua próxima irmã Urania eles se referemàqueles que passam a vida em filosofia e honram o exercício do que deve a suainspiração a essas deusas; entre as Musas são aqueles que se ocupam dos céus etoda a história da existência divina e humana, e seu tema é o melhor de todos eles.” Platão, Fedro/259/Hamilton

Segundo o mito, Zeus deu à luz Atena (a deusa da Sabedoria) através de sua cabeça.Tendo dado à luz a ela dessa maneira muito incomum, ele se tornou o Pai daSabedoria. No entanto – há mais uma reviravolta na história.

Suas nove filhas naturais são as Musas. Essas musas controlam as Artes, através dasquais a humanidade dá expressão eloquente à sua história, poesia, dança e drama. Emessência, as Musas englobam todos os estilos de expressão artística que nos dãohabilidades de persuasão eloquente.

As 9 Musas são:

1. Euterpe que rege a expressão da poesia de existência lírica, divina e humana;2. Calíope que rege a expressão da poesia heroica;3. Polyhymnla que rege a expressão da poesia divina (hinos);4. Thalia que rege a expressão da poesia da comédia;5. Erato que rege a expressão da poesia do amor;6. Clio que rege a expressão da história;7. Melpomene que rege a expressão da tragédia;8. Terpsícore que rege a expressão da dança coral;9. Urânia que rege a expressão de estudos astronômicos.

Cada uma das 5 primeiras irmãs supervisiona elementos da expressão poética. As 4irmãs restantes supervisionam aspectos da expressão artística que não sãoclassificados como poéticas.

De sua própria maneira, podemos sugerir que a razão pela qual o Grande Mestre éhomenageado 9 vezes, é simbólica em sinal de que em sua pessoa é levada aexpressão das artes da persuasão eloquente.

Atenas, Esparta e Corinto

Desde a noite de minha iniciação, eu sempre fiquei intrigado com as característicasque cada um dos três principais dignitários representa. O Venerável Mestre, comochefe da Loja senta na cadeira do Rei Salomão e representa a Sabedoria. Mas, como

Page 87: Platão e o Ritual Maçônico

podemos explicar as características da força (Primeiro Vigilante) e beleza (SegundoVigilante)?

Em um contexto maçônico, é através da combinação dos três oficiais que a loja égovernada e que atinge a propriedade da estabilidade. O que eu sempre acheiintrigante é o conceito de que o bom-governo de uma loja é alcançado pela operaçãodas três características que representam os Principais Oficiais – Sabedoria (VenerávelMestre), Força (Primeiro Vigilante) e Beleza (Segundo Vigilante). Eu comecei aprocurar pistas. As respostas a estas pistas (como as minhas meias pretas com listrasbrancas) estavam bem em baixo do meu nariz.

Supondo que eu estava certo e os autores do Ritual de Emulação tomaram como basea história grega, a mitologia grega e os escritos de Platão, a resposta deveriaestar bem à minha frente para que eu visse (uma vez eu tinha conseguido trabalhá-la).

As três principais cidades do mundo grego eram Atenas, Esparta e Corinto. Sabemosque Atenas sempre foi o símbolo da sabedoria. Atenas é até mesmo o nome da deusada sabedoria – Atena. Esparta tinha reputação por sua força, seu poder, a suadisciplina. Devido a esses fatores que destacam a sua característica de força, elaconseguiu o sucesso sobre Atenas na Guerra do Peloponeso. Por último, temosCorinto. No mundo grego, Corinto era conhecida por duas coisas – luxo e beleza. Suasexportações mais importantes eram seus perfumes e vasos. Da mesma forma queEsparta lutou contra Atenas utilizando forças terrestres, no momento mesmo, Corintoera inimigo de Atenas sobre os mares. Nestas circunstâncias, temos um triângulocomposto pelas principais cidades da Grécia antiga: Atenas, Esparta e Corinto.

“Diz-se que os Corintos foram os primeiros a alterar o design dos navios … e de terconstruído as primeiras trirremes na Grécia … e Corinto … os Corintos com a suacidade situada no istmo, estavam sempre envolvidos no comércio desde os primeirostempos … … Corinto era poderosa através de afluência, como os antigos poetasconfirmam ao chama-la ‘rica’.” Todas as citações são de Tucídides, A Guerra doPeloponeso 13. Trad. Lattimore

Estabilidade na região era uma questão de reunir esses três poderes. De muitasformas, isso é uma alusão à composição grega do ser humano individual – um idealque era composto por uma pessoa de sabedoria, assim como uma pessoa quemostrava não só a força física, mas também mental.

E é sobre estas bases que uma pessoa culta tem o luxo de desenvolver as artes e deapreciar não apenas a beleza física, mas a beleza que acompanha as belas artes, apoesia, o teatro e a prosa. E é sobre estas bases que cultura civilizada humana socialpode desenvolver e florescer.

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Em nosso ritual, o Segundo Vigilante, que representa a característica humana debeleza é instruído durante a sua Instalação a usar eloquência persuasiva; é o SegundoVigilante, como modelo da cultura cortês, que convida os visitantes da loja aobanquete após a reunião da loja; é o Segundo Vigilante, enquanto modelo dehospitalidade e de etiqueta social, quem propõe um brinde aos visitantes da lojadurante o jantar; e é o Segundo Vigilante enquanto modelo de humor culto, queminjeta descontração no jantar.

Se esses indícios não foram suficientes, havia uma parte ainda mais poderosa dasprovas que sustenta a teoria.

Fizemos menção anteriormente, de passagem, à descendência cultural dos ateniensese espartanos. Os atenienses eram descendentes de uma raça conhecida como jônios,enquanto os espartanos eram descendentes de um grupo étnico distinto conhecidocomo o dórios.

Compreendendo isso, é simplesmente óbvio que deveríamos usar a Coluna Jônicapara representar a Sabedoria (Atenas), a Coluna Dórica para representar a Força(Esparta) e a Coluna Coríntia para representar Beleza (Corinto).

Aquelas meias pretas com listras brancas foram encontradas novamente.

O Uso do Malhete

Nos protocolos para direção de uma loja, um Venerável Mestre tem ao seu lado ummalhete. Este malhete é o símbolo da sua autoridade para governar a sua loja. Elemantém o controle desse malhete em todos os momentos, exceto quando um oficialInstalador (de grau superior) comparece à sua loja e precisa sentar-se na cadeira doVenerável Mestre para conduzir uma parte da Cerimônia.

Neste caso, o procedimento é o seguinte: o Venerável Mestre entregará ao Instalador oseu malhete e usará palavras que indicam que este gesto cerimonial transfere aautoridade sobre a loja para o Oficial Instalador.

À primeira vista este aspecto da cerimônia pode parecer ser qualquer coisa, menos deorigem grega antiga, mas na realidade é uma cerimônia que se parece com uma dasprimeiras peças da literatura ocidental – A Odisseia de Homero:

“Peisenor, o arauto, past-master por experiência de conduta pública coloca nas mãosdele (Telêmaco) o malhete que lhe dava o direito de falar.” Homero, A Odisseia, Livro II– Traduções de TE Lawrence (Lawrence da Arábia)

O Símbolo da Romã

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Nas culturas onde a romã é cultivada, o fruto é usado frequentemente como umsímbolo de abundância, exuberância e riqueza. Nosso ritual (quando se refere ao fruto)usa o mesmo simbolismo. Havia fileiras de romãzeiras que adornavam os capitéis dospilares existentes ao longo do Templo de Salomão.

Conforme notamos, os autores do Ritual de Emulação era bem versados nas escriturassagradas e na literatura grega e eram perfeitamente capazes de mesclar as duas. Nocaso em destaque, onde a romã aparece na mitologia grega, ela não aparece como umsímbolo de abundância.

Ela aparece como um símbolo de morte, quase da mesma maneira que a “maçã” (oumais exatamente – o fruto proibido) que Eva deu a Adão e que o trouxe para ahumanidade – a mortalidade. No mito grego, o sentimento é idêntico apenas com umpequeno toque de inversão de papéis.

Quando Deméter (Deusa do Grão e da Fertilidade), mãe de Perséfone entendeu quesua filha tinha sido raptada por Hades, que era o Senhor do Submundo, ela ficou tãotriste que como resultado o mundo entrou em fome devido à sua intensa angústia.Nenhuma plantação crescia e a humanidade começou a passar fome. Ela pediu a Zeuspara organizar a libertação de sua filha do Submundo. Então ela (como Orfeu) desceuao Submundo e encontrou sua filha, que ficou tomada de felicidade ao ver a mãe.Deméter disse a Perséfone que Zeus tinha concordado em libertá-la do Submundo,sob a condição de que ela não tivesse comido coisa alguma. Perséfone vacilou, masacabou dizendo a ela que tinha. Perséfone explicou que Hades a tinha presenteadocom uma romã quando quando ele a tinha levado pela primeira vez até o Submundo.Quando ela resistiu, ele pediu a ela que provasse só um pouco da fruta. Contra suavontade, ela o fez. Deméter chorou. Ao ter comido a romã, Perséfone tinha comido dofruto do Submundo e, portanto, já não podia retomar a sua vida anterior ao seusequestro.

Com frequência, a Maçonaria é definida como um sistema de moralidade velada emalegorias e ilustrado por símbolos. Para aqueles que ouviram e conduziram o RitualEmulação a candidatos nos primeiros anos do século XIX, as palavras e rubricas eramricas em sutilezas de alegoria e simbolismo gregos.

Esperamos que possamos ser capazes de restaurar a compreensão da riqueza,majestade e poesia de Ritual para os membros da Maçonaria que vivem no Século XXI.

O Cajado dos Diáconos

Para um novo membro da Ordem, uma das realidades mais estranhas do trabalho ritualé assistir à conduta dos Primeiro e do Segundo Diácono e seus movimentos rituaissolenes levando em suas mãos direitas o cajado que parecem notavelmente

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semelhantes a tacos de bilhar. Essas varas cerimoniais são chamados pelo termoantigo “cajado”.

Estes “cajados” têm um pedigree muito antigo – de fato sua genealogia vem desde oscultos dos mistérios da Grécia antiga. Um dos cultos de mistério mais importante eraconhecido como os mistérios de Elêusis. Esses mistérios parecem ter tido algumarelação com o mito de Deméter e Perséfone. Uma das coisas que unem os dois é queElêusis era entendido como sendo o lugar onde Deméter se sentou e chorou diante dosequestro de sua filha por Hades.

O que sabemos é que neste culto de mistério, havia oficiais que carregavam consigoum cajado ritual que atendia pelo nome de um thyrsos. Este thyrsos é maiscomumente associado ao deus Hermes.

Na mitologia grega, Hermes detinha a principal distinção de ser o mensageiro dosdeuses. Ele era o canal de comunicação não apenas entre os deuses, mas tambémentre os deuses e a humanidade em geral. Em sua mão direita ele segurava o thyrsos.O thyrsos parece ter tido uma série de usos, inclusive ser usado como arma, comoinstrumento mágico e, sobretudo, um instrumento pelo qual as almas eram conduzidaspor Hermes ao Submundo.

Os paralelos entre o mito de Hermes e o ritual maçônico são facilmente perceptíveis. Oprincipal papel dos Primeiro e Segundo diáconos está na capacidade de seremmensageiros. O Primeiro Diácono é o mensageiro entre o Venerável Mestre e oPrimeiro Vigilante, enquanto que o Segundo Diácono é o mensageiro entre o Primeiro eo Segundo Vigilante. Durante a Cerimônia de Iniciação, o Segundo Diácono conduz ocandidato em trabalho ritual. Durante as Cerimônias de Elevação (Segundo Grau) eExaltação (Terceiro Grau), o Primeiro Diácono conduz o Candidato em todo o trabalhoritual.

Existe uma última correspondência que é merecedora de nossa atenção. No Grau deMestre Maçom de Marca, o nome que é dado para o emblema dos cajados dosPrimeiro e Segundo Diáconos é conhecido como um “mercúrio”.

Esta é uma indicação muito reveladora de que estamos no caminho certo. Mercúrio erao nome dado ao deus romano cujo homólogo grego era conhecido como Hermes.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo XI (2ª Parte)

Mitologia e História Grega – Sua relação com o Ritual maçônico

Na primeira parte deste trabalho, identificamos a importante posição que os escritosde Platão tem no Ritual Emulação. Por mais significativo que seja este aspecto, existeoutra influência importante em nosso ritual. É a importância que a história e a mitologiagrega desempenham como pano de fundo para o nosso ritual e falas.

Entendendo que o filohelenismo era uma constante ao longo do século XIX na Europae, especificamente, (a partir de nossa perspectiva) – na Inglaterra, seria estranho se ahistória e mitologia grega não tivessem sido tecidas em nosso Ritual.

Continuamos aqui a investigar brevemente alguns amplos temas históricos emitológicos gregos que são facilmente aparentes no Ritual Emulação, e quecomeçaram a ser abordados na primeira parte deste capítulo.

Serpentes (em aventais maçônicos)

A serpente era uma criatura destacada na mitologia grega, por uma razão muitoimportante. Os cidadãos de duas cidades gregas – Atenas e Tebas – acreditavam queelas eram autóctones. Esta não é uma palavra que encontramos facilmente. Elasignifica que eles acreditavam que nasciam diretamente do solo. O símbolo que elesusaram para mostrar que nasciam do solo era a serpente – uma criatura que tem umarelação muito estreita com o solo. Além disso, em mitologia, dizia-se que o primeiro rei

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de Atenas tinha a forma de um homem da cabeça à cintura e de uma cobra da cinturapara baixo.

A ligação entre Atenas (cidade da Sabedoria) e uma serpente (símbolo da deusaAtena) é traduzido em nosso meio maçônico, quando consideramos nosso objetivo denos tornarmos reis-filósofos, produtos da Atenas mítica.

Que melhor símbolo para nós que amarrar o avental sobre a nossa cintura do que afigura da serpente?

Jerusalém e Delfos

Fundamental para o nosso ritual é a construção do Templo de Salomão em Jerusalém.Se olharmos para os mapas medievais de Jerusalém, uma coisa é clara. Para a mentemedieval, Jerusalém estava posicionada no centro da terra.

Para os gregos antigos, Delfos era o centro da terra.

Delfos é uma cidade situada cerca de 15 quilômetros de Atenas. Na cidade havia umapedra conhecida como a omphalos (ou pedra-umbigo) que marcava o centro da terra.O mito por trás disso era explicado de maneira muito simples. Zeus tinha enviado duasaves de extremos opostos da terra e do local onde os pássaros cruzaram foi marcadopelo omphalos. Era ali, no Templo de Delfos que os deuses se comunicavam com osgregos. Assim, nas culturas tanto de gregos quanto de hebreus, sua cidade sagradamarcava não apenas o centro do mundo, mas o local onde o divino e a humanidade secomunicavam.

O Simpósio, a Câmara festiva e Xênia

Uma das características da vida social grega era um encontro ao qual compareciamsomente os homens. Em seu nível mais básico, que era um banquete onde o vinho erabebido, comida era servida, músicas (em forma de um tocador de lira ou cantor)seriam apresentadas, histórias contadas e onde a filosofia e negócios atuais eramdiscutidos. A reunião tinha um protocolo próprio e era conhecida como symposion.Nós a chamamos pelo seu equivalente latino, symposium. Em um nível básicocompartilha muitas semelhanças com o banquete que ocorre após uma reunião formalda loja. É uma oportunidade para se sentar com os outros membros da loja, comer ebeber juntos, dividir a mesa, conversar e desfrutar da companhia de homens deespírito semelhante. Ela também tinha um protocolo próprio e é conhecida pelo termode Câmara Festiva.

Uma das características mais importantes do protocolo é a extensão da hospitalidade.Um visitante à loja é tratado com a maior extensão de hospitalidade que espelhava o

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conceito grego de xenia. Xenia ou “amizade com o convidado” é a convenção de seestender o mais alto nível de hospitalidade a estranhos. Por convenção, um hóspedeestá sob a proteção de Zeus.

Um paralelo com o Santo Arco Real do Grau de Jerusalém

O Grau do Santo Real Arco de Jerusalém é uma extensão do Terceiro Grau, da mesmaforma que o grau de Mestre Maçom de Marca é uma extensão do Segundo Grau. Nosul da Austrália e Território do Norte, os Três Primeiros Graus de Aprendiz,Companheiro e Mestre Maçom, juntamente com o Mestre Maçom de Marca e Graus doReal Arco são o único conjunto de graus reconhecidos pela sua Constituição.

Sobre sólidos platônico … … e quando reduzidos à sua quantidade em ângulos retos,será encontrado igual a cinco corpos regulares platônicos, que representam os quatroelementos e a esfera do universo. (Discurso à Segunda Cadeira: Palestra simbólica,Ritual do Grau Superior de Santo Real Arco de Jerusalém)

Mencionamos anteriormente que no Timeu de Platão, ele explica a criação do mundopor um Divino Geômetra do Universo, que utiliza cinco formas geométricas para criartudo o que compõe o cosmos. Estas formas geométricas são conhecidas como“sólidos platônicos” e são discutidas no Discurso à Segunda Cadeira: Palestrasimbólica.

Odes

Em qualquer cerimônia maçônica, não cantamos hinos.

O termo que usamos para qualquer canção dentro de um contexto maçônico é umaOde A primeira ode foi composta pelos antigos gregos com o representante maisimportante dessa classe sendo o poeta Píndaro (c. 522-443 a.C.).

Como viemos a entender, na Inglaterra e na Alemanha durante os primeiros anos doséculo XIX, tudo que era grego estava em voga. Grego era o estado de alta moda. Umadas formas mais artisticamente expressivas de adaptar a arte grega a uma formainglesa é representada pelo desenvolvimento da Ode Inglesa, que tinha como sua baseo original grego e seu desenvolvimento romano posterior.

A característica que é muito peculiar sobre essa transformação da composição da odegrega para o inglês é o tempo. O auge de seu desenvolvimento coincidiu exatamentecom o período durante o qual o Ritual Emulação estava sendo criado (1813-1823).Indiscutivelmente, as cinco mais importantes odes inglesas foram todos escritas noano de 1819 e elas eram Ode ao Vento Oeste por Percy Bysshe Shelley, juntamentecom quatro odes de John Keats – Ode à Psyche, Ode sobre uma urna grega, Ode to

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um Rouxinol e Ode sobre Melancolia. A Ode a Psique e a Ode sobre uma Urna Gregasão ricas em sabor de Grécia antiga.

As Colunas Vestibulares no estilo do Templo do Rei Salomão

Nas evidências mais antigas que temos do início da Maçonaria, não temos qualquerreferência nas tradições orais aos dois pilares na entrada do Templo do Rei Salomão.Há uma boa razão para isso. Os primeiros documentos que temos sobre ritualestruturado são sobre o Patriarca bíblico, Noé – e não o Rei Salomão. O ritual baseadono Rei Salomão é uma variante muito mais tardia. No entanto, em lugar dos dois pilaresdo rei Salomão, os antigos rituais se referem a outros dois pilares. Estes pilares nãoaparecem na Bíblia, mas nos escritos de um sacerdote judeu que nasceu logo após acrucificação de Jesus, o Nazareno. O nome do padre era Josefo e ele escreveu sobreeles em um comentário que escreveu sobre as histórias do Velho Testamento erelacionados com os judeus de língua grega, que viviam na Palestina no primeiroséculo da era cristã.

Os pilares a que ele se refere destinavam-se a abrigar todo o conhecimento dahumanidade no caso de uma catástrofe natural causada exclusivamente por doiselementos – fogo e água.

O conhecimento de que estava inscrito nestes pilares era efetivamente as artesliberais e as ciências. Aqui estava a preocupação – da mesma forma que estamossendo disciplinados para fazer discos de backup do nosso trabalho no temor de queum vírus ou worm possa destruir as imagens, documentos, planilhas e outros assuntosde interesse pessoal para nós, os antigos temiam catástrofes naturais que tinhamhistoricamente eliminado não só o conhecimento em si, mas civilizações inteiras.

Isso é algo que revisitaremos no Postscriptum a este livro. O “disco de backup” queeles conceberam, eram os dois pilares. Um deles foi construído de material queresistia ao fogo, enquanto o outro foi construído de material concebido para resistir aágua, mais especificamente, inundações. A memória cultural do Grande Dilúvio é algoque não aparece apenas nos escritos hebraicos, mas em Babilônios e de maiorimportância para nós – antigos escritos gregos.

Em Timeu, Platão relata uma história relacionada com a destruição do conhecimentopor dois elementos naturais. Estes são idênticos àqueles citados por Josefo e queaparecem nos primeiros documentos relativos à Maçonaria – o fogo e a água. Ahistória continua para relatar como os gregos não registraram seus conhecimentospara preservá-lo para as gerações futuras, mas foram os antigos egípcios quepreservaram esse conhecimento em caracteres hieroglíficos sobre as paredes de seustemplo.

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No ritual de emulação, temos uma alusão muito artística a esta história de Timeu e ànarrativa de Josefo dos dois pilares. Aqui, os autores adaptaram a essas duascorrentes literárias com a história bíblica de construção pelo Rei Salomão do Templopara aludir à presença destes dois pilares abrigando os “rols constitucionais” daMaçonaria – uma outra maneira de dizer que estão protegendo as leis e regulamentosda Maçonaria da destruição pelas forças físicas.

A ligação de Platão com a memorização do Ritual

Embora a proibição contra a leitura ritual durante reuniões de loja não apareça naConstituição ou nos Regulamentos da Grande Loja do Sul da Austrália e Território doNorte, essa já existia desde os primeiros dias por uma convenção que aparece nomanual de nossa Loja, que é um guia sobre como ritual deve ser conduzido.

Você é o pai da escrita (… o deus egípcio Thoth), por afeição à sua prole atribuiu a elabem o oposto de sua real função. Aqueles que a adquirirem vão parar de exercitar suasmemórias e se tornarão esquecidos; eles confiarão na escrita para trazer coisas à sualembrança por sinais externos, em vez de seus próprios recursos internos … E quantoà sabedoria, seus alunos terão a reputação por ela sem a realidade … porque elesestão cheios com o conceito de sabedoria em vez da verdadeira sabedoria; eles serãoum fardo para a sociedade. (Platão, Fedro, 275 Trad: Hamilton)

Uma das habilidades mais importantes que Platão enfatiza que um governante filósofodeve desenvolver é a arte da memória. Lembramos que na mitologia grega,Mnemosyne (ou Memória) é a mãe das Nove Musas por meio das quais a arte daeloquência persuasiva é demonstrada. Similarmente, em uma obra conhecida comoFedro, Platão aborda explicitamente a importância de aprender a sabedoria,interagindo com os outros pelo simples esforço de falar com eles, ao invés de escrevê-la. No trecho citado, Platão estava enfatizando este ponto simples que parece ser abase para a convenção que é instilada no Manual de Funcionamento da Loja e quepraticamos nos graus da Maçonaria Simbólica, que em uma reunião, nenhum irmão(que não seja o Mestre de Cerimônias), deveria ter uma cópia do Ritual em sua posse.

Conforme Platão nos lembrou:

Então talvez fosse melhor contar o esquecimento como um fator que impede a mentede ser bastante boa em filosofia. Deveríamos tornar a boa memória um pré-requisito.(República 486d Trad. Waterfield)

E agora para algo completamente diferente …

Não olhando pra trás …

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No terceiro grau do belíssimo Ritual Schroeder – um ritual alemão praticado pela LojaConcórdia (sob a jurisdição da Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte), oCandidato é proibido de olhar para trás quando é conduzido pela loja antes de assumirsua Obrigação do Terceiro Grau. Esta proibição de olhar para trás parece sem sentido,sem uma explicação de sua possível base mítica.

Dentro do corpo da mitologia grega são três expressões muito significativas daimportância de não se olhar para trás.

A primeira aparece no mito de Orfeu e Eurídice. Orfeu era muito apaixonado porEurídice. Quando tinha levantado a saia e corria descalça por um campo, ela foimordida por uma serpente e morreu tragicamente. Orfeu foi tomado por tantoremorso, que desceu ao submundo para pedir a Hades que a ressuscitasse. Orfeu(como Deméter antes dele) tinha feito esta viagem ao Submundo para pleitear oretorno à vida de um ente querido. Hades ficou tão dominado pela dor de Orfeu queele permitiu que Eurídice voltasse com uma condição:

Orfeu devia conduzi-la de volta à vida, mas durante a viagem para cima através doSubmundo, não lhe foi permitido olhar para trás.

Tudo estava indo bem até que ele estava quase ao nível da nossa existência terrena.Ele se voltou e olhou para trás para ter certeza de que Eurídice o estava seguindo. Nomomento em que ele fez isso, Eurídice foi conduzida de volta por espíritos aoSubmundo, para nunca mais voltar para Orfeu.

A segunda aparece na história de Deucalião e Pirro. Estas personagens são a versãogrega de Noé e sua esposa. Quando o Grande Dilúvio tinha abrandado e toda ahumanidade (exceto Deucalião e Pirro) tinha morrido, cada um deles pegou pedaçosde barro e sem olhar para trás jogaram esses pedaços por cima de seus ombros. Ostorrões de barro de Deucalião se transformaram em homens, enquanto que os de Pirrose transformaram em mulheres. Esta foi a forma como a vida humana recomeçou apóso Grande Dilúvio.

Na mitologia grega, há também o mito das três Parcas. Estas três Parcas eram asdeusas que determinavam os nossos destinos individuais. Seus nomes eram Cloto,Lacheis e Átropos. Clotho fiava o fio de nossas vidas, Lacheis media seu comprimentoe Átropos era a deusa cuja tarefa era cortar o fio de nossas vidas. A coisa intrigantesobre Átropos é que seu nome significa não voltar atrás.

Em A República (617c-17e), Platão refere-se às Três Parcas em seu próprio mito. Aqui,as Parcas acompanham as Sereias cantando. Lacheis canta o Passado, Cloto canta oPresente e Átropos canta o Futuro. (Dickens fez bom uso ao adaptar esse mito ao seuconto Uma História de Natal).

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Mas, no mito padrão, a única constante é a referência à vida e à morte; por isso, éapropriado incluí-lo no ritual do Terceiro Grau, quando somos confrontados com acerteza de que seremos incapazes de escapar da morte.

Em algum momento definido no tempo, Átropos cortará o fio de sua vida, assim comoda minha.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo Final (1ª Parte)

A Conexão da Atlântida com a Maçonaria

Fui muito bem definida a minha escolha de deixar este capítulo como um pós escrito.Meu motivo é simples. Sem ter esgotado as discussões anteriores, que precederameste capítulo, receio que seria muito fácil simplesmente verificar o título do capítulo erejeitar seu conteúdo como um disparate facilmente. No entanto, a seu próprio modo,minha intenção é que este capítulo realmente junte os fios do argumento que defendi edesenvolvi nos capítulos anteriores, em uma conclusão adequada.

Em primeiro lugar – ligação da Maçonaria com a Atlântida ocorre através de umadiscussão filosófica, não histórica. Antes de irmos mais longe, deixe-me enfatizar queeu pessoalmente não acredito que o continente insular da Atlântida jamais tenhaexistido fora da mente de Platão.

Sim! Para aqueles que podem não saber, Platão foi a primeira pessoa a fazer umadescrição detalhada dessa ilha-continente lendária. Estudiosos ao longo dos séculostêm argumentado (às vezes de forma convincente e em outras menos convincente) afavor e contra a existência da ilha-continente perdida de Atlântida. Na verdade, eleescreveu dois diálogos que tratam da Atlântida.

O primeiro deles é conhecido como Timeu. Se você olhar atentamente para o quadro A

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Escola de Atenas, de Rafael verá que Platão está carregando em suas mãos uma cópiade Timeu. O segundo trabalho é realmente só um diálogo fragmentado de menos de20 páginas que é conhecido como Crítias.

A interpretação moderna de uma velha história…

Orfeu parecia ler sua mente.

“Por exemplo, eu tenho um pressentimento forte sobre este lugar. Algumas vezes,talvez centenas de anos a partir de agora, os homens de longe desembarcarão aqui –de navios de metal – para serem cortados, como talos de grama por uma foice. Mas eunão posso dizer quando exatamente. Eu nem mesmo sei o nome dos estreitos poronde estamos navegando agora”.

Jasão deu de ombros. “Eu posso dizer-lhe que … Nós estamos no Dardanelos. Aliexiste um lugar que eles chamam de Galipoli. Mas Orfeu, fala sério – navios de aço –você não está brincando?

Nigel Spivey, “Jasão e os Argonautas” de Canções de Bronze: Os mitos gregostornados realidade (2005)

Vamos agora abordar duas questões que ficam frequentemente esquecidas emqualquer discussão sobre Atlântida. O primeiro ponto é que sempre que Platão discutesua utópica civilização de Atlântida, seu objetivo é sutilmente trabalhar nodesenvolvimento de seu conceito do filósofo-rei. No contexto destes dois diálogosapenas, a história de Atlântida não tem sentido sem vinculá-la à sua própria criação dorei-filósofo. Ele nos apresentou ao rei-filósofo em A República e em Sétima e OitavaCartas, finalmente repensando a sua aplicação original do conceito em As Leis.

A meu ver, em ambos, Timeu e Crítias, Platão estava usando suas habilidades criativascomo dramaturgo, aproveitando ao máximo as pitorescas Histórias que Heródoto tinhaescrito alguns anos antes e depois apresentou uma história que falava comentusiasmo motivador a uma audiência ateniense que estava sofrendo por uma derrotaesmagadora nas mãos de Esparta. Este era o ambiente cultural no qual Platão teceusua história de Atlântida.

Outro ponto que vale a pena ressaltar neste momento é que Platão inventou trêscivilizações utópicas das quais Atlântida é apenas uma delas. Em A República, (ondepela primeira vez, discutiu o conceito do filósofo-governantes), esses filósofos-governantes eram um componente fundamental de um experimento mental que elenos convidou a dividir com ele – um experimento mental funcionando em uma cidade aque ele deu o nome de Kallipolis – uma palavra grega que significa cidade bela enobre. Como um aparte, (aos leitores da Austrália e Nova Zelândia, em particular) o

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nome Kallipolis deve ter um significado especial. Kallipolis era o nome dado a umacidade situada no Dardanelos, que foi palco de um assalto a cabeça de praia pelocorpo de exército de ambas as nações, na manhã de 25 de abril de 1915. Como onome era difícil de pronunciar foi reduzido para Gallipoli.

Em seu maior trabalho (inacabado) – As Leis, Platão descreveu ainda outra cidadeutópica que ele chamou de Magnésia. Estas cidades platônicas representaramestágios no desenvolvimento de seu próprio pensamento ao longo de sua vida.Sempre que nos referimos a uma cidade como “utópica”, estamos geralmente nosreferindo a ela como uma cidade “ideal” (e mais comumente a partir de umaperspectiva sociológica ou política). A palavra utopia é uma palavra grega que significa“lugar nenhum”. Aliás, Samuel Butler, em sua obra de 1871, Erewhon, fez umabrincadeira com a palavra utopia em seu significado em Inglês em seu título. (Erewhoné a palavra “nowhere” – nenhum lugar -, soletrada ao contrário)! Feitas estasobservações preparatórias, vamos começar a trabalhar nosso caminho através dadiscussão filosófica ligando a Maçonaria moderna a uma ilha-continente que existiu(segundo Platão), cerca de 9.000 anos antes de seu tempo e que era chamadaAtlântida.

A guerra entre Atenas e a Atlântida: Sua relação com a guerra entre Atenas eEsparta

Nos ajudará a compreender o contexto em que Platão elaborou a história de Atlântidase pararmos por um instante para pensar que em alguns aspectos, a época em quePlatão viveu, compartilhava muitas semelhanças com nosso próprio tempo nestesprimeiros anos do século XXI.

As primeiras décadas do século V a.C. tinham visto reviravoltas tumultuadas deeventos nas arenas política, sociológica, religiosa e intelectual. Atenas (uma cidade-estado relativamente pequena) tinha liderado uma coligação de cidades-estadosvizinhos para repelir as forças do Império Persa – o maior que o mundo já conheceraaté aquele ponto no tempo. Atenas conseguira derrotar os persas não em uma, masem duas tentativas de invadir o que hoje conhecemos como o continente grego. Aprimeira invasão foi liderada por Dario I em 490 a.C., enquanto a segunda invasãopersa ocorreu dez anos mais tarde, sob Xerxes em 480-479 a.C. A primeira invasãopersa terminou com a derrota dos persas na Batalha de Maratona. Esta batalha émemorável devido à história que a maioria das pessoas já escutou – a história de comoum jovem chamado Pheidippides (antes dos dias da telefonia) correu a distância deMaratona a Atenas para confirmar a derrota da Pérsia, morrendo poucos momentosdepois de anunciar a notícia. O evento olímpico moderno chamado maratona prestahomenagem a esse acontecimento histórico.

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O ponto decisivo para a derrota da Pérsia em sua segunda tentativa de invasão foi abatalha naval ao largo da costa de Salamina. Heródoto registra que as forças de Xerxesna Segunda Invasão persa atingiram uma massa crítica de 5.283.220 soldados – umaforça de invasão como o mundo nunca tinha visto antes. Diante desses números,nunca se esperou que Atenas tivesse qualquer esperança de derrotar os persas.Gerenciando uma aliança frouxa entre cidades-estados gregas, isso não era fácil.Muitos realmente desertaram para o lado persa acreditando que a coalizão lideradapor Atenas só terminaria em desastre. Essas defecções alteraram não só as aliançasmilitares mas também as alianças comerciais necessárias para Atenas marcar umavitória decisiva. O fato de que Atenas alcançou realmente a vitória diante de todasessas chances só aumentou seu auto-orgulho e inchou sua confiança na capacidadede expandir seus próprios interesses coloniais. O próximo passo de Atenas foi mandartropas para restaurar a liberdade de outras cidades jônicas localizada na Turquiamoderna que estavam sujeitas à tirania persa. Atenas compartilhava as mesmasorigens étnicas e culturais daquelas cidades jônicas,– algo que já discutimosanteriormente.

De 460-429 a.C., o estadista Péricles (ca. 495-429 a.C.) conduziu Atenas enquantoembarcava em uma série de programas de obras ambiciosas (incluindo a construçãodo Partenon na Acrópole). Péricles era um líder astuto. Estas obras de construçãorevitalizaram a economia de Atenas, melhoraram sua taxa de emprego e fortalecerama confiança da comunidade ateniense na sua base de poder, bem como em seusplanos de expansão. Em muitos aspectos, esse período vibra com o mesmo ânimoeconômico e político confiante desfrutado pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial(1939-45). A outra “super-potência” que tinha ajudado Atenas em suas campanhascontra a Pérsia tinha sido Esparta. Após a derrota da Pérsia, Esparta observou comcrescente alarme os indícios de campanhas imperialistas agressivas e intrusivas deAtenas. Uma “guerra fria” entre os dois se desenvolveu em um paralelo com a épocaque se seguiu à Segunda Guerra Mundial até que a República Soviética foi dissolvidaem 1991. As tensões entre Atenas e Esparta continuaram a crescer até que as duaspotências chegaram a um acordo em 446 a.C., com a assinatura de um tratado queficou conhecido como Paz dos Trinta Anos. No entanto, o tratado de paz não duroumais de 15 anos – terminando abruptamente em 431 a.C., com hostilidades em escalatotal irrompendo entre Atenas e Esparta.

Até o final do segundo ano da guerra, em 430 a.C., um terrível surto de peste irrompeuem toda Atenas. A principal razão para isto foi atribuída a um inchaço da população deAtenas, devido às incursões de Esparta nas regiões rurais circundantes. Tucídides, umgeneral ateniense que tomara parte na luta contra os espartanos, registrou seuseventos em uma obra conhecida como A História da Guerra do Peloponeso. Além dapraga, a cidade também entrou em extremos da anarquia e desordens. Péricles,

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contaminado pela peste, reuniu o pouco de sua força que restava para fazer umdiscurso animador aos atenienses, instando-os a mostrar coragem diante destascalamidades.

Em 421 a.C., um segundo tratado de paz (conhecido como a Paz de Nícias) foiassinado entre Esparta e Atenas. Mais uma vez esta paz foi de curta duração. Novosconflitos entre as cidades-estado da Grécia continental que tinham se aliado ao ladodos atenienses ou dos espartanos, levaram a questão a um final conclusivo, com aderrota de Atenas por Esparta em 404 a.C. Atenas – que por um breve meio século,foi uma super-potência de proporções quase míticas estava agora quebrada,humilhada (na arena da política e relações internacionais), um poder de influênciainsignificante.

As Guerras Persas: Sua influência sobre a escrita da história da Atlântida

Tendo coberto rapidamente os principais eventos do século V a.C. que impactaram aescrita de Platão sobre a história de Atlântida, vamos tomar um pequeno desvio e damesma forma investigar a influência dos escritos do historiador grego chamadoHeródoto.

O ponto que vou sublinhar é o seguinte: na criação de seu mito de Atlântida, Platãoconscientemente tomou um episódio relatado por Heródoto em suas histórias e obordou para servir como pano de fundo para o seu princípio dos reis-filósofos.

Por razões de clareza, vou listar cinco itens que resumem a história da vitória gregasobre os persas que Heródoto relatou em suas Histórias:

1. A super potência maior e mais agressiva do mundo (Pérsia) tenta invadir todo ocontinente grego;

2. Atenas – uma pequena cidade-estado lidera uma coalizão militar com outrascidades-estado da Grécia, em uma luta de morte contra as forças persas;

3. Uma série de cidades-estados gregas que fazem parte da coalizão militardeserta para ajudar os persas. Ao fazer isso, elas traem Atenas;

4. Contra todas as possibilidades imagináveis – a coalizão militar grega (sob aliderança de Atenas ) repele e derrota os persas;

5. Atenas restaura a liberdade para as cidades gregas ao longo da costa turca, queestavam sujeitas ao controle da Pérsia.

Estes foram os acontecimentos que ocorreram nos primeiros anos do século V a.C. naregião.

E estes foram os acontecimentos que ajudaram a formar a visão ateniense que, comodescendentes dos jônios originais, eram (efetivamente) donos do mundo. E estes

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foram os acontecimentos que ajudaram os atenienses a acreditar que eram muitosuperiores aos espartanos – descendentes dos colonos originais dóricos e seusaliados – os corintos, que buscavam o luxo. E estes foram os acontecimentos quetornaram tão humilhante a derrota dos atenienses para os espartanos e corintos aofinal da Guerra do Peloponeso.

Tendo isso em mente, podemos moderar nossa “abordagem” de Atlântida incluindouma diferença sutil, mas poderosa. Precisamos ter em mente o público original para oqual se destinava a história continente perdido inicialmente. Era uma audiênciaateniense.

Seus ouvidos e sensibilidades eram rápidos para pegar os pontos que destacamos.Precisamos também lembrar que eles eram um povo orgulhoso, que tinha derrotado aPérsia e, em seguida, viram-se subjugados por Esparta. Desmotivados e humilhados,quando ouviram a história de Atlântida, eles se lembraram o que tinham realizadoapenas duas ou três gerações antes contra a Pérsia. Quando ouviam a história deAtlântida, era algo que agradava seus corações, mentes e sentidos. Quando ouviam ahistória de Atlântida, ela falava de uma esperança para o futuro. Quando ouviam ahistória de Atlântida, eles eram inspirados por sua narrativa. Quando eles liam ahistória de Atlântida, estavam muito próximos dos acontecimentos de seu própriotempo para entender o conto a não ser como fábula baseada na história das GuerrasPersas – as mesmas histórias que Heródoto havia apresentado nos teatros e praças demercado de Atenas.

Tendo definido o cenário intelectual, Platão agora embelezou o conto com umadimensão emocional para aceitação de seu conceito do rei-filósofo.

A Influência de Heródoto

Nas páginas iniciais do romance Criação de Gore Vidal, Heródoto está apresentandouma história das Guerras Persas para uma audiência no Odeon em Atenas. O que Vidalcaptura aqui é a essência do que provavelmente aconteceu nas praças e teatros deAtenas no século V a.C..

Podemos especular que um jovem Platão pode ter estado entre o público ouvindo comintenso interesse o drama de eventos como Heródoto os narrava. Não temos qualquerregistro histórico de que Platão estivesse presente em uma apresentação “ao vivo” deHeródoto, mas parece pouco discutível que Platão realmente tenha sido inspirado pelotema heroico que Heródoto desenvolveu e ao qual tinha acesso para seu trabalho.Mais particularmente, Platão parece ter prestado atenção específica à descrição queHeródoto deu da capital excentricamente visual dos medos – uma cidade conhecidacomo Ecbátana e descrita por Heródoto no livro I.98 de suas Histórias.

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Heródoto nasceu por volta do ano 485 a.C. junto ao porto de Halicarnasso – umacidade agora conhecida como Bodrum, no sudoeste da Turquia moderna. A época deseu nascimento coincidiu com as primeiras incursões persas em território grego, epodem ter sido a chave para seu interesse em escrever a sua história das GuerrasPersas. O consenso geral é que as Histórias de Heródoto foram escritas em 430 a.C. eterminadas em cerca de 425 a.C. – colocando sua composição nos primeiros estágiosda Guerra do Peloponeso. Pouco se sabe sobre a data da morte de Heródoto, masacredita-se comumente que ele tenha morrido por volta de 420 a.C. – bem antes daderrota de Atenas por Esparta. Sua vida, então, transcorreu diretamente no tempo dasgrandes revoluções intelectuais, políticas e religiosas que varreram Atenas,significando sua proeminência entre as cidades-estado gregas após a vitória sobre ospersas.

Lendo suas Histórias, podemos entender o quão bem-viajado ele era. Ele afirma terviajado para o Egito e descreve com algum pormenor a cultura e as práticas dosegípcios no Livro II. Ele alega também ter viajado à Cítia (grosso modo, a modernaUcrânia) – mais uma vez explorando a cultura deste povo no Livro IV. A tradição dizque ele eventualmente se estabeleceu (e provavelmente morreu) na colônia grega deThurii no que é hoje a província da Calábria, Itália.

Embora não fosse filósofo ou teólogo, Heródoto era imbuído de seu trabalho com umtema em que o equilíbrio do mundo é trazido de volta à ordem por um processo deretribuição por injustiças realizadas – algo que observa Robin Waterfield na introduçãoà sua tradução de As Histórias e similarmente observado por Charles Freeman em seurecente estudo, A Conquista Grega.

Heródoto não descartou as ações dos deuses inteiramente em assuntos humanos (eleacreditava que eles punem aqueles que, como Xerxes, são culpados de orgulhoexcessivo, para, ao que parece, levar o cosmos a um equilíbrio ordenado)…

Ao longo de As Histórias, Heródoto interpreta os acontecimentos históricos a partir dainteração da intervenção humana e divina … uma perspectiva que foi desmentida porseu contemporâneo Tucídides ao escrever a História da Guerra do Peloponeso:

Esta história pode não ser o mais deliciosa de ouvir, pois não há mitologia nela. Mas,aqueles que querem olhar para a verdade do que foi feito no passado, que, dada acondição humana, se repetirão no futuro, na mesma forma ou de forma quase igual –aqueles leitores acharão esta história bastante valiosa…

Em todo caso, Heródoto disse claramente qual foi seu propósito ao escreverAs Histórias na segunda frase de seu trabalho – que era “evitar que os traços deacontecimentos humanos sejam apagadas pelo tempo”. O tema heroico de sua obra foi

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a inspiradora história de sucesso de uma pequena cidade-estado grega contra a maiorforça de invasão conhecida no mundo naquele momento.

Este tema estava na vanguarda da mente de Platão quando escreveu “Timeu e Crítias”.Aqui ele contou uma história paralela de uma outra vitória ateniense de sucesso – eranovamente a maior e mais culta nação que o mundo já conheceu. Era a história de umaguerra contra as políticas expansionistas do continente insular de Atlântida.

Com a nossa compreensão dos eventos das Guerras Persas, podemos agora entrarnos detalhes que Platão deu desta cidade, combinando as descrições encontradastanto em Timeu quanto em Crítias.

Continua…

Autor: Stephen Michalak

Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo Final (2ª Parte)

Qual era a aparência da Atlântida?

Conforme indicamos anteriormente, ela era um continente-ilha maior em tamanho quea África e a Ásia combinados, situado no Oceano Atlântico logo depois do estreito deGibraltar. Era uma ilha rica em minerais (particularmente um metal precioso conhecidocomo oreichalkos – “que agora é apenas um nome para nós … (mas) … na época sótinha menos valor que o ouro”. A ilha em si foi um “Éden auto-sustentável”, plantasaromáticas, pastagens, uma variedade de cereais e madeira era abundante assimcomo outros habitats para sustentar uma ampla diversidade de vida animal (incluindoelefantes).

A peculiaridade mais evidente sobre a ilha era sua excentricidade visual. Ela eracomposta por três anéis circulares de terra, dividido por três canais circulares de água,com pontes que ligavam cada anel da ilha ao próximo. Uma muralha interior e outraexterior rodeavam cada anel de terra. Isto significa que no total eram cinco muralhas, ecada uma era feita de pedra escavada especificamente para a sua cor característica. Apartir da mais distante muralha externa e movendo-se para dentro, suas cores erambranco, em seguida preto, e então vermelho. A quarta muralha era revestida de umverniz de bronze, enquanto que a quinta e mais interna muralha (em torno da Acrópole,as fontes de Água quente e fria e o Palácio) eram fundidas em latão. A própriaAcrópole era coberta de oreichalkos que “brilhava como fogo dardejante”.

Para dizer o mínimo, esta é uma descrição muito fantasiosa de uma cidade. Naverdade, caso encontrássemos essa descrição nos escritos de Jules Verne ou deRobert Heinlein, dificilmente pareceria fora de lugar. Ela aparece, por seu valornominal, ser uma descrição de uma cidade que é o produto orgulhoso da imaginação

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humana.

Sabemos que a verdade é mais estranha que a ficção. Demonstramos como Platãousou Heródoto para fornecer uma estrutura esquelética para a vitória ateniense contraAtlântida. Também vimos como Platão adaptou a preocupação de Heródoto, que osfeitos dos homens e mulheres que viveram no período das guerras persas seriamapagados pelos efeitos do tempo, a menos que eles fossem gravados. Para Platão,este tornou-se o argumento que ele usou para explicar por que nenhum atenienseestava familiarizado com a história da derrota de Atlântida por Atenas. Mas, por maisimportantes que elas sejam, não são as únicas influências que Platão deve a Heródoto.A principal influência literária que Platão deve a Heródoto é o uso de sua descrição dacapital mediana de Ecbátana como modelo para Atlântida.

Em Histórias l.98, Heródoto descreve a majestosa cidade de Ecbátana com umasemelhança notável por sua excentricidade visual. Por uma questão de conveniência,relacionei suas principais características:

Uma fortaleza inexpugnável de círculos concêntricos de muralhas defensivas;Havia sete muralhas que rodeavam a cidade;As paredes mais internas abrigavam o palácio e os tesouros;As cinco primeiras paredes eram pintadas em cores específicas sendo – branco,em seguida preto, vermelho, azul e laranja;As duas muralhas mais internas eram cobertas de prata e a última de ouro.

Por mais intrigantes que sejam essas correspondências, há uma última peça noquebra-cabeça que ajuda a argumentação. Ela é encontrada em uma obra conhecidacomo Epigramas. Por tradição, a obra é atribuída a Platão. Se cada um destes curtosepigramas foi composto pelo próprio Platão é duvidoso, mas, no contexto do que jádiscutimos, não podemos descartar o Epigrama XIII como sendo totalmente falso. Seassumirmos, por enquanto, que ele veio diretamente da pena de Platão, então esteepigrama tem funções como o tecido conjuntivo, no âmbito do argumento anterior. Oepigrama diz:

Certa vez, deixamos as sonoras ondas do mar Egeu para ficar aqui no meio dasplanícies de Ecbátana. Adeus a ti, conhecida Eretria, nosso antigo país. Adeus a ti,Atenas, vizinha Euboeais. Adeus a ti, querido mar.

Embora existam semelhanças suficientes entre as descrições da Ecbátana deHeródoto com o relato da Atlântida de Platão, a questão central a partir da perspectivado argumento proposto neste livro, é o desenho da conexão entre o ritual maçônicomoderno e a prática da filosofia grega antiga – em particular – da filosofia de Platão. SeAtlântida nunca existiu na realidade ou apenas como uma ideia, é algo que, espero,

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continuará a ser uma busca para cientistas e historiadores, para os séculos vindouros.

A Configuração para o Mito de Atlântida

Quando se abre o diálogo em Timeu, Sócrates reúne-se com Timeu, Crítias eHermócrates. Timeu é um homem rico de Locris, no sul da Itália – uma área conhecidacomo a terra da Escola Pitagórica de Filosofia. A personagem conhecida como Crítiasé na realidade o tio de Platão, enquanto a quarta pessoa neste diálogo é Hermócrates– um sobrevivente rico e educado da Guerra do Peloponeso. Embora aparentementeescrito alguns anos após A República, Timeu começa com Sócrates querendo resumiros pontos principais que pertencem ao tema da sociedade ideal, discutido pelaprimeira vez em A República. Mais que tudo, ele quer dar-lhe substância, respiraralguma vida nesta visão de seu modelo utópico. Ele quer entender melhor como osseus reis-filósofos governariam tal cidade em tempos de guerra (assim como na paz).O ponto que ele desenvolve aqui é que a personagem do rei-filósofo precisa ser multi-dimensional – capaz de dimensionar o alcance intelectual e emocional entre asensibilidade emocional profunda para foco, objetivo e dureza mental. Estes são osrequisitos mínimos para um líder em tempos de paz como de guerra.

… as almas dos guardiães deveriam ter uma natureza que é ao mesmo tempo alegre efilosófica no mais alto grau, para que eles possam ser adequadamente suaves ouduros conforme seja o caso.

Crítias interrompe aqui e ali e se oferece para contar uma história que pode atingir oobjetivo de Sócrates. Ele alega que é uma história que ouviu de seu bisavô – umapessoa conhecida como Sólon, o legislador, quando o próprio Crítias era apenas umacriança pequena. É a história de uma vitória ateniense épica sobre a maior potênciamilitar já conhecida do homem que ocorrera milhares de anos antes.

Nem Sócrates, nem Timeu ou Hermócrates ouviram esta história antes, e ficaramsurpresos ao ouvir que uma história tão grandiosa e épica como Crítias pretende queela seja não tem qualquer registro histórico que a sustente. Nesse momento, Platão(com inteligência sutil) tece um ponto que Heródoto criou nas primeiras linhas dassuas Histórias – a saber, que o triunfo épico é desconhecido para os ateniensesporque esses traços dos acontecimentos humanos já tinham sido apagados pelotempo, muitos e muitos anos atrás:

A história é que nossa cidade (Atenas) realizou grandes e maravilhosos feitos naAntiguidade, que, devido à passagem do tempo e a destruição da vida humana,desapareceram.

…e uma vez mais:

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…uma conquista que merece ser conhecida muito melhor do que qualquer outra desuas realizações. Mas, devido à marcha do tempo e o fato de que os homens que arealizaram morreram, a história não sobreviveu até o presente.

Preâmbulo de Crítias – Resumo da Vitória de Atenas sobre a Atlântida

Crítias relata como Sólon, uma vez viajou para a cidade egípcia de Sais no Delta doNilo e foi recebido pelos sacerdotes que o envolveu em uma série de debatesanimados sobre uma série de temas – um deles em particular sendo uma tentativa decalcular o tempo decorrido entre a criação do primeiro homem (Foroneu) e o GrandeDilúvio (relacionados no mito grego de Deucalião e Pirra).

Além disso, quanto à sabedoria, eu tenho certeza que você pode ver quanta atençãonosso modo de vida dedicou a ele, desde o início. Em nosso estudo da ordem mundial,rastreamos todas as nossas descobertas … das realidades divinas aos níveis humanos,e adquirimos todas as outras disciplinas relacionadas. Isto é, na verdade, nada menosdo que o próprio sistema de ordem social que a deusa (Atena) planejou primeiramentepara vocês quando fundou sua cidade …(Timeu, 24b-c ,Trad: Hamilton)

Sólon foi surpreendido pela resposta do sacerdote, rápida, porém irônica. O sacerdoteobservou que os gregos têm uma clara falta de profundidade histórica.Especificamente, eles exibem uma forma daquilo que podemos chamar de amnésiahistórica, porque sempre lhes faltou disciplina para registrar suas histórias. Na faltadisso, eles substituíram por mitos para explicar fenômenos naturais. Aqui, o sacerdoteexplicou algo desconhecido para Sólon. Ele lhe disse que não tinha acontecido uma sógrande inundação, mas que tinha havido muitas. A destruição completa, total eabsoluta da raça humana tinha ocorrido não apenas uma vez, mas a humanidade foidestruída em intervalos regulares ao longo da história por duas causas principais – ofogo e a água. Cada ciclo de destruição foi acompanhado por uma mudança no cursodo sol através do céu – um fenômeno que em linguagem científica seria explicadocomo uma mudança na polaridade da terra.

O sacerdote então continua a explicar que, embora os gregos pareçam considerar acivilização egípcia como mais antiga que a deles, Atenas é, na verdade, a civilizaçãomais antiga. Como justificativa, ele afirma que os egípcios têm documentos históricosque remontam a 8.000 anos. O sacerdote explica que, quando ambas as civilizações,egípcia e ateniense, foram fundadas, cada uma delas tinha o mesmo sistema social.Durante todo esse tempo, o sistema social ateniense tem estado em decadência,enquanto que os egípcios o mantiveram em seu estado original.

O curioso sobre este sistema social é que, no modelo egípcio, as pessoas mantiveramcompetências especializadas e estavam proibidas de se envolver, obter formação ou

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educação em áreas em que o seu próprio comércio ou profissão não estavarelacionado.

Primeiro, você descobrirá que a classe de sacerdotes é demarcada e separada dasoutras classes. Em seguida, no caso da classe operária, você verá que cada grupo – ospastores, os caçadores e os agricultores – trabalha de forma independente, sem semisturar com os outros.

O próximo ponto exposto pelo sacerdote é que a lei egípcia sublinha a importância detodas as disciplinas do conhecimento – um ponto que Platão elaborou no currículoeducacional que ele criou para reis-filósofos da República – algo que entendemoscomo as artes liberais e ciências.

Se dermos um pequeno passo para trás, podemos apreciar as habilidades que Platãodemonstrou como propagandista e marqueteiro de suas próprias teorias. Aqui está umsacerdote egípcio falando de uma ordem mundial ideal (ou a estrutura social), onde oconhecimento é usado para nos levar a realidade divina ou ao próprio trono de Deus.Usando o artifício artístico de um terceiro expressando a mesma coisa que Platãoestava promovendo, ele dá ao seu argumento uma vantagem extra de credibilidade,bem como uma justificação histórica convincente.

Podemos ver os primórdios das origens ideológica real de uma super-raça – porexemplo – Atenas sobre Esparta – tomando sua forma, nas próximas palavras ditaspelo sacerdote:

…ela (Athena) tinha escolhido a região em que seu povo tinha nascido (Atenas) epercebido que o clima temperado ao longo das estações produziria homens desabedoria insuperável. E, sendo um amante tanto da guerra quanto da sabedoria, adeusa escolheu a região que mais provavelmente produziria homens com ela mesma,e a fundou primeiro … na verdade, suas leis melhoraram ainda mais, de modo que vocêveio a superar todas as outras pessoas em toda a excelência, como se poderia esperardaqueles cuja geração e nutrição eram divinos.

A vitória de Atenas sobre Atlântida

Combinando as narrativas dadas em Timeu e Crítias, a história de Atlântida segue…

Crítias explica que os eventos da guerra entre Atenas e Atlântida ocorreram 9.000anos antes de seu tempo (em outras palavras por volta de 9400 a.C.). Ele descreveAtlântida como uma ilha situada no Oceano Atlântico, em frente as Colunas deHércules (Estreito de Gibraltar). Era uma ilha “maior que a Líbia e a Ásia juntas” (Líbiaera o nome dado à área da África explorada na época). Seu império se estendia portoda a África até as fronteiras do Egito, e por toda a Europa até a Itália. Atlântida,

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então, decidiu expandir o seu império ainda mais para incorporar a Grécia e o Egito e oque é hoje é a Espanha. Atenas, então, mostrou sua força e coragem a comandar umaofensiva que consistiu em “… uma aliança entre os gregos” contra as legiões deAtlântida. Mesmo quando foi abandonada pelos membros desta aliança grega, Atenasresistiu à agressão atlante sozinha e conseguiu o triunfo incontestável para depoisliberar todos os países que haviam sido subjugados sob a tirania dos Atlantis.

É fácil ver hoje como Platão adaptou os seis pontos que ele escolheu cuidadosamentenas Histórias de Heródoto para construir um mito da Atlântida, que serviu para atingirum fim (e somente um) – apoiar sua visão do rei-filósofo.

A conclusão do conto é o melhor em matéria de narração de histórias. Platão relataatravés de Crítias que no meio dessa euforia da vitória e dentro de somente umperíodo de 24 horas, terremotos e enchentes de intensidade sem precedentesengoliram não apenas todo o continente-ilha de Atlântida, mas também todas aslegiões de Atenas.

Essa catástrofe natural, Ele enfatizou, foi a terceira antes do Grande Dilúvio.

Por que Atenas foi capaz de derrotar Atlântida?

A resposta a esta pergunta é a base da ligação filosófica entre a história de Atlântida ea Maçonaria moderna.

Proeminente entre todas as outras em nobreza de seu espírito e na sua utilização detodas as artes da guerra, ela (Atenas) subiu primeiro à liderança da causa grega. Maistarde, obrigada a ficar sozinha, abandonada por seus aliados, ela chegou a um pontode extremo perigo. No entanto, ela venceu os invasores … (e) impediu a escravizaçãodaqueles ainda não escravizados e, generosamente, libertou todo o resto de nós queviviam dentro dos limites das Colunas de Hércules.(Timeu, 25 b-c ,Trad: Lee)

Crítias (relatando ainda mais a história do sacerdote egípcio) argumenta que o deusHephaestos e sua irmã Atena receberam o controle da Grécia e a impregnaram com oselo do seu caráter – com conhecimento e habilidade, tornando a Grécia o berçonatural de excelência e sabedoria. Os sobreviventes da catástrofe natural que envolveuAtlântida foram “um povo de montanha analfabeto” a quem faltavam os donsintelectuais para apreciar e transmitir os valores e virtudes praticados pelosatenienses. Além disso – os sobreviventes que escaparam tiveram que enfrentar atarefa de domar um ambiente hostil – uma ocupação que não contribuiu para agravação de eventos históricos:

É no trem do lazer que a Mitologia e a Investigação sobre o passado chega às cidades,uma vez … que as necessidades da vida tenham sido garantidas, mas não antes.

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Ele, então, descreve as virtudes que levaram a uma vitória ateniense. Em primeirolugar, eles praticavam todas as normas estabelecidas em A República. É importanteressaltar que seguiram uma das restrições mais importantes aplicáveis a reis-filósofos– que é a primeira lição ensinada a um Iniciado durante o Discurso no Canto Nordeste:

Eles não faziam uso de ouro ou prata… . mas seguiam na média entre a ostentação eservilismo…

O argumento que Platão levanta, com uma habilidade artística e floreio filosófico, foique na prática dos princípios preconizados em A República, (que de acordo com osacerdote de Sais eram de origem divina), Atenas foi capaz de derrotar Atlântida:

… Eles eram os guardiões de seus próprios cidadãos e líderes do resto do mundogrego .. . tal era o caráter deste povo … pois eles dirigiam a vida de sua cidade e daGrécia com justiça. Sua fama pela beleza de seus corpos e a variedade e diversidadedas suas qualidades mentais e espirituais espalharam-se por toda a Ásia e toda aEuropa. E as considerações em que eram tido e sua fama eram a maior de todas asnações da época.

O triunfo de reis-filósofos

O que importa para você e eu, enquanto maçons, é que o mito da derrota de Atlântidapor Atenas ocorreu porque eles seguiram os princípios dos reis-filósofos.

Em sua própria maneira, é um modelo que devemos ter em mente quandocircunstâncias aparentemente intransponíveis golpeiam nossas vidas. Nessesmomentos, podemos optar por usar um equilíbrio entre o intelecto e emoção,cuidadosa e sabiamente direcionar nossa vida através de mares tempestuosos da vida,mantendo a nossa própria credibilidade de caráter.

Você pode encontrá-los de qualquer falha, então, em uma profissão como esta, quepara ser praticada com competência exige as seguintes propriedades inerentes a umapessoa: boa memória, rapidez na aprendizagem, abrangência de elegância, visão eamor e filiação à verdade, à moral, à coragem e à auto-disciplina? (Platão: República,487a, Trad. Robin Waterfield)

Nosso objetivo ao fazer isso é alcançar um triunfo. É atingir o mais alto nível deexcelência humana que a nossa própria natureza individual alguma vez possa alcançar.

… E esse é o propósito da filosofia por trás da Maçonaria.

Finis

Autor: Stephen Michalak

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Grande Instrutor Adjunto – Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte

Tradução: José Antonio de Souza Filardo, M .`. I .`.