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ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE MONOGRAFIAS Marcelo Silva de Oliveira 1 1. APRESENTAÇÃO. Este texto visa orientar os estudantes universitários, tanto bacharelados, licenciaturas e graduações (tratadas todas estas denominações, neste texto, genericamente, como graduação) quanto pós-graduação Lato Sensu, para uma compreensão conceitual e um comportamento metodológico adequado nos trabalhos de construção de suas monografias. Monografias são o tipo padrão de trabalho de conclusão de curso de graduação ou de pós- graduação Lato Sensu exigido no Brasil hoje. Procuramos auxiliar nos aspectos de conteúdo científico das monografias, mas não substituímos ou anulamos os documentos oficiais da universidade que regulamentam a forma das monografias. Estes documentos específicos variam de universidade para universidade. Na UFLA, há o documento denominado Normas para Redação de Monografias ou Trabalhos de Conclusão de Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu (disponível em www.prpg.ufla.br, ou na PRPG, ou FAEPE) que focaliza aspectos de forma das monografias de pós-graduação Lato Sensu. Para monografias de graduação, aos Colegiados de Curso cabe editar documentos normalizadores – é necessário consultar os respectivos colegiados para se ter ciência destas normas, caso existam. Como estamos ressaltando, estes documentos da graduação tratam normalmente da forma das monografias, e não de seus conteúdos científicos. Obviamente, quanto ao aspecto de forma das monografias, todos estas normas devem ser obedecidas pelos estudantes. Para que este texto possa contribuir de modo efetivo para o aprimoramento da produção científica da comunidade universitária, buscar-se- á então prencher a lacuna de orientação para a construção de um conteúdo cientificamente correto, normalmente faltante nas normas acadêmicas. Apesar da ênfase neste texto ser monografias de final de curso, as orientações aqui presentes também são completamente adequadas e úteis para todo e qualquer trabalho de pesquisa científica conduzido durante a graduação e a pós-graduação, tais como aquelas próprias da iniciação científica. Consolidando resumidamente o que temos dito acima, para que uma monografia seja considerada “bem feita”, entendemos que ela deva enfim apresentar qualidade nos dois quesitos fundamentais, a saber, conteúdo e forma (veja quadro 1.1). Observe que a monografia, como entendida neste texto, deve ser um documento científico e não apenas relatos tecnológicos. 1 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Ciências Exatas da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

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ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS PARA ACONSTRUÇÃO DE MONOGRAFIAS

Marcelo Silva de Oliveira1

1. APRESENTAÇÃO.

Este texto visa orientar os estudantes universitários, tantobacharelados, licenciaturas e graduações (tratadas todas estas denominações,neste texto, genericamente, como graduação) quanto pós-graduação LatoSensu, para uma compreensão conceitual e um comportamento metodológicoadequado nos trabalhos de construção de suas monografias. Monografias sãoo tipo padrão de trabalho de conclusão de curso de graduação ou de pós-graduação Lato Sensu exigido no Brasil hoje. Procuramos auxiliar nosaspectos de conteúdo científico das monografias, mas não substituímos ouanulamos os documentos oficiais da universidade que regulamentam a formadas monografias. Estes documentos específicos variam de universidade parauniversidade. Na UFLA, há o documento denominado Normas para Redaçãode Monografias ou Trabalhos de Conclusão de Cursos de Pós-Graduação LatoSensu (disponível em www.prpg.ufla.br, ou na PRPG, ou FAEPE) que focalizaaspectos de forma das monografias de pós-graduação Lato Sensu. Paramonografias de graduação, aos Colegiados de Curso cabe editar documentosnormalizadores – é necessário consultar os respectivos colegiados para se terciência destas normas, caso existam. Como estamos ressaltando, estesdocumentos da graduação tratam normalmente da forma das monografias, enão de seus conteúdos científicos. Obviamente, quanto ao aspecto de formadas monografias, todos estas normas devem ser obedecidas pelos estudantes.

Para que este texto possa contribuir de modo efetivo para oaprimoramento da produção científica da comunidade universitária, buscar-se-á então prencher a lacuna de orientação para a construção de um conteúdocientificamente correto, normalmente faltante nas normas acadêmicas. Apesarda ênfase neste texto ser monografias de final de curso, as orientações aquipresentes também são completamente adequadas e úteis para todo equalquer trabalho de pesquisa científica conduzido durante a graduação e após-graduação, tais como aquelas próprias da iniciação científica.

Consolidando resumidamente o que temos dito acima, paraque uma monografia seja considerada “bem feita”, entendemos que ela devaenfim apresentar qualidade nos dois quesitos fundamentais, a saber, conteúdoe forma (veja quadro 1.1). Observe que a monografia, como entendida nestetexto, deve ser um documento científico e não apenas relatos tecnológicos.

1 Professor Adjunto Doutor do Departamento de Ciências Exatas da UniversidadeFederal de Lavras (UFLA).

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QUADRO 1.1. QUESITOS PARA UMA MONOGRAFIA “BEM FEITA”.

Quesito Onde buscar orientação

CONTEÚDO do documentocientífico: modo de redigir,evolução das idéias, clarezade argumentação, explicita-ção do problema depesquisa, metodologiaadequada, entre outros.

Neste texto e em literatura deFilosofia da Ciência e Metodologiada Pesquisa Científica (algumaslistadas no final deste texto).

FORMA de apresentação dodocumento científico: estru-tura dos capítulos, formata-ção e tamanho de fontes,modo de citação e dereferenciação bibliográfica,entre outros.

Consulte os orgãos oficiais dauniversidade que regulamentam osrespectivos graus de ensino, pós-graduação Lato Sensu egraduação. Na ausência de umanorma doméstica, consulte abibliografia recomendada no finaldeste texto.

Esta pressuposição deriva-se do próprio conceito de universidade, desde suafundação: uma monografia é um produto universitário e todo curso superior éuma aprendizagem científica, antes que tecnológica. Logo, qualquer produtocurricular deve comprovar competência em Ciência, inclusive uma monografia.Esta convicção perpassa todo este texto orientador.

Esta orientação é subdividida nas seguintes seções:• A cientificidade do conhecimento.• O desenvolvimento de uma pesquisa.• A estrutura e a apresentação das obras científicas.• As obras científicas do tipo monografias.

• Bibliografia consultada e recomendada.

2. A CIENTIFICIDADE DO CONHECIMENTO.

O conhecimento está ligado visceralmente à qualidade de vidado ser humano, qualquer que seja a sua forma, quer seja ele do tipo místico-religioso, filosófico-científico, ou estético-artístico (veja quadro 2.1). Conhecerestá no centro de uma vida de sucesso. Observa-se que a nossa sociedadecontemporânea é uma sociedade do conhecimento, tal é o avanço dosconhecimentos neste tempo.

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QUADRO 2.1. DIFERENTES MODOS DE CONHECER.

MODOS DE ENTENDERO MUNDO E A VIDA

ANSEIOSUBJACENTE

COMPETÊNCIA HUMANAENVOLVIDA

Místico-Religioso Verdade Intuição

Estético-Artístico Beleza Emoção

Filosófico-Científico Justiça Razão

Contrastamos conhecimento com saber, para definirmos umadiferença sutil entre estes dois conceitos. CONHECIMENTO é a representação(ou compreensão, entendimento, ou ainda uma interpretação) humana queatribui significado à realidade. Esta realidade é dissecada sempre segundotrês aspectos desejáveis: verdade, beleza e justiça (Lave e March2).CONHECER é portanto a consciência da natureza e da medida destes trêsaspectos no fenômeno em foco. O conhecimento permite ao homem se movercorretamente num mundo marcado por bases verdadeiras, belas e justas, asquais ele discerne. Conhecimento é, pois a coincidência, é o encontro, é aconfirmação entre o que é a realidade e o que o homem entende que devaser a sua representação do mundo e da vida. O conhecimento que nóstemos é que dá sentido, ou significado, à realidade. O fim do conhecimento é apredição ou previsão dos efeitos que serão observados a partir da consciênciadas causas, previsão esta que permite o domínio das circunstâncias e,finalmente, a capacidade de gestão da vida e do mundo. A gestão deveproduzir em última instância o bem-estar e a felicidade coletiva e individual.SABER é o conhecimento potencializado pela arte de conseguir aplicá-lo (ARTEé a capacidade de fazer acontecer). Enquanto o conhecimento pode existirapenas na mente de uma pessoa, a sabedoria necessariamente traduz-se empalavras, gestos, ações, intervenções, com resultados concretos eobserváveis. O conhecedor é, portanto, aquele que percebe as coisas,conseguindo separar o que é belo, verdadeiro e justo do que não o é. O sábioporém, é aquele que age de modo belo, verdadeiro, e justo. O objetivo últimoda educação é produzir sábios.

Estes três modos de conhecer e de saber estão semprepresentes no ser humano, em qualquer situação. Porém, quando a faculdaderacional está no comando das posturas e ações, destaca-se a forma deconhecimento chamada científica, ou, resumidamente, ciência. A ciência visa

2 Lave, C.A.;March, J.G.. An Introduction to models in the social science. New York:Harper & Row. 1.990.

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alcançar o conhecimento seguro e certo, a fim de trazer o bem-estar e afelicidade nas experiências vividas.

TECNOLOGIA é a sabedoria científica, já que esta é a aplicação daciência em construtos e artefatos que operam no mundo real externo ao serhumano (em alguns casos podemos denominar tecnologia comometodologia). Em outra definição, tecnologia é técnica com embasamentocientífico. Assim como não podemos saber sem conhecer, não podemos gerartecnologia sem ciência.

Oliveira3 assevera que, para que um dado conhecimento sejaconsiderado científico, é necessário que ele seja funcional, no sentidodefinido em seguida. A FUNCIONALIDADE de um conhecimento consiste em:1. ORGANICIDADE (ou SISTEMICIDADE): o conhecimento deve ser um

sistema (ou uma organização) de proposições constituindo uma teoria. ACiência é um conhecimento organizado e orgânico, incluindo nisto osconceitos de objetividade, consistência, coerência, relações de causa-e-efeito, e racionalidade.

2. INSTRUMENTALIDADE: a teoria científica deve servir como um instrumentopara que o ser humano encontre e mantenha-se num estado de bem-estare felicidade, resolvendo seus problemas. A Ciência é, então, umconhecimento instrumental, que visa aplicações “que dêem certo”.

3. INTERSUBJETIVIDADE: a teoria deve receber um julgamento compronunciamento consensual e aprovatório de uma comunidade decientistas (pessoas que fazem ciência), isto é, de um corpo depesquisadores e professores em Ciência. A Ciência é, portanto, umconhecimento compartilhável, transferível, ensinável, julgável, criticável.

Determinar o que é ciência e o que não é ciência é um dos doisprincipais problemas enfrentados pelos filósofos da ciência. Karl Popper4

denominou este problema de problema da demarcação (o outro problema édeterminar como se produz uma teoria científica e ele o denominou comoproblema da indução). Sua solução para o problema da demarcação é oconceito de falseabilidade, afim com o conceito que Oliveira (op.cit.)denominou como instrumentalidade. Popper (op.cit.) não tratou do problemada indução. Outro filósofo da ciência, Thomas Kuhn5, o enfrentou parcial e

3 Oliveira, M.S. de. Qualidade na graduação em engenharia agrícola daUniversidade Federal de Lavras. Projeto metodológico para Tese de Doutoramento.Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1.998. 249p.4 Popper, K. R.. A lógica da pesquisa científica. São Paulo, Editora Cultrix-EDUSP, 1.975.5 Kuhn, T.S.. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, EditoraPerspectiva, 1.995.

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indiretamente, através dos conceitos de paradigmas e matrizes disciplinares.Estes conceitos são afins ao conceito de intersubjetividade, de Oliveira(op.cit.).

Como afirmado no conceito número 1 da definição de cientificidadede Oliveira (op.cit.), a sistematização do conhecimento preconizada no item 1acima é o que denominamos como teoria. TEORIA é esta representaçãosistemática que o conhecimento científico faz do mundo e da vida. Das teoriasé que derivamos os modelos e as hipóteses sobre o modo como funcionam omundo e a vida. MODELOS são representações organizadas de um dadofenômeno ou processo observado na realidade, com elementos constituintesjustificados pela teoria utilizada, que faz pano-de-fundo ao modelo que estásendo proposto. HIPÓTESES são afirmações pontuais (não organizadas) sobrefenômenos ou processos reais, que providenciam uma resposta antecipada àum dado problema de pesquisa. Uma hipótese deve ser atrelada a uma teoriae a um modelo. Estes modelos e hipóteses definem a GESTÃO CIENTÍFICA, aqual é a utilização destes instrumentos conceituais derivados das teorias, paraintervenção sobre os fenômenos, as organizações, os processos naturais ehumanos, enfim, sobre todas as coisas que nos interessam. As teorias, osmodelos e as hipóteses recebem a homologação de uma comunidadelegitimada para isto, reunidas em universidades e institutos de pesquisa, queutilizam-se de defesas de documentos científicos perante bancas de pares,congressos científicos, simpósios, workshops, seminários, revistas científicas,entre outros, para proceder esta homologação. Tais eventos são os eventosde comunicação e validação científica, ou simplesmente EVENTOS CIENTÍFICOS .

A PESQUISA CIENTÍFICA é o modo como buscamos construir oconhecimento científico. Ela compreende encontrar, selecionar, estruturar eresolver problemas que interessam ao ser humano. Para apreender,representar e compreender problemas, o pesquisador lançará mão dehipóteses, modelos e teorias de modo crucial. Em outras palavras, antes decoletar dados, é necessário que nós tenhamos em mente um referencialteórico. Conhecimento teórico é pré-requisito para se fazer uma pesquisa comqualidade, enquanto problemas são o ponto-de-partida para a pesquisa,percepção e a estruturação adequada destes problemas (que dependemessencialmente da postura filosófica e científica do pesquisador) são decisivospara o desenvolvimento da pesquisa.

O produto essencial de uma pesquisa científica é, portanto, umconhecimento que pretende ser seguro e certo (o conhecimento científico),apto para operar soluções para um problema humanamente relevante. Apesquisa científica deve ser conduzida segundo o método científico (vejafigura 2.1).

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Pesquisa Científica

Problema Ciência (Solução)

Objetivo da Ciência Método Científico

FIGURA 2.1. PESQUISA CIENTÍFICA.

O MÉTODO CIENTÍFICO é o modo como nós devemos entenderlogicamente e como devemos conduzir todo o processo da pesquisa científica(veja figura 2.2). Para entender por que necessitamos de um método paraguiar o pensamento e as práticas de pesquisa científica, vejamos como oconhecimento científico desenvolve-se.

As fases do ciclo do conhecimento científico, do ponto-de-vista dalógica da construção do conhecimento, podem ser explicitadas como:1. Apropriação da realidade, registrando-se os fatos interpretados.1. Sistematização dos fatos interpretados criando-se a teoria, os modelos e

as hipóteses.2. Verificação da concordância da teoria com os fatos.4. Exposição destes fatos interpretados sistematizados e explicados pelateoria, disponibilizando-os para a conferência e absorção de outros.

Do ponto-de-vista dos artefatos redigidos, podemos dizer que aessência do método científico seria:1. Um problema verbalizado, que inicializa o processo da pesquisa.2. A partir daí é feita uma revisão de literatura, definindo um referencial

teórico para a pesquisa; este referencial é adicionado a todo o ser docientista, que parte então para o processo da pesquisa em si, estudando omundo e a vida, num movimento de mão-dupla. Neste momento opesquisador estabelece uma estratégia, um projeto, um delineamento parao processo da pesquisa.

3. Finalmente, o resultado da investigação é apresentada em uma obracientífica, que é escrita para mostrar a solução científica do problema.

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Teoria Científica

Pensar de modo empírico-indutivo Pensar de modo teorético-dedutivo Construção de teorias Confirmação de teorias Contexto de Descoberta Contexto de Justificação Indução Método Dedução Científico

Observação e Explicações, Predições e Experimentação Possibilidades Problema Solução Fatos e fenômenos: a Realidade Fatos e fenômenos: a Realidade

FIGURA 2.2. MÉTODO CIENTÍFICO.

Do ponto-de-vista das etapas de trabalho, Yin6 apresenta estaessência como:

1. Definição do problema.2. Design ou delineamento de pesquisa.

6 Yin, R. Case study research: design and methods. Sage Publishers, 1.994.

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3. Obtenção dos dados.4. Análise dos dados.5. Redação.

Os passos 2, 3 e 4 podem ser separados no tempo, mas, de fato,normalmente, todo pesquisador executa um delineamento dinâmico, que vaisendo ajustado à medida em que os dados vão sendo coletados e analisados,não sendo possível prever com absoluta exatidão tudo o que vai ocorrer.Porém, isto não quer dizer que fazer um projeto de pesquisa sejadesnecessário, ou mesmo seja indigno de menores cuidados, visto quedevemos saber onde queremos chegar e devemos nos esforçar para mapear ocaminho, a fim de impedir obstáculos que interfiram no o bom êxito dapesquisa.

Estas etapas podem ser apresentadas em outras palavras, semcontudo diferirem essencialmente, conforme o quadro 2.2.Yin (op.cit.) ainda define um DELINEAMENTO (OU PROJETO) DE PESQUISA como alógica que liga os dados, informações e fatos coletados (e as conclusõesconstruídas) às questões iniciais, ao problema da pesquisa. Seria o métodocientífico particularizado para uma pesquisa científica em especial. Todoestudo científico tem um projeto de pesquisa, explícito ou não. Um projeto depesquisa é o procedimento lógico de coletar, analisar e interpretarobservações. Permite ao pesquisador extrair inferências sobre as relaçõescausais entre os fatores e/ou as variáveis sob investigação. O delineamento depesquisa também define o domínio de generalização, isto é, para quaissituações, ou para qual população de eventos a teoria permanece válida.

Um projeto de pesquisa responde pelo menos a quatro questões :( a ) Quais questões e problemas estudar.( b ) Quais dados são relevantes.( c ) Como coletar os dados.( d ) Como analisar e interpretar os resultados.

As questões (a) e (b) acima devem ser respondidas pelo pesquisadore outros interessados na pesquisa. A questão (d) é tratada em função de comoa questão (c) foi respondida. Essencialmente há dois modos de responder (c),os quais definem respostas para (d), veja quadro 2.3..

Este texto não tratará dos vários métodos que atendem à questão (d)acima. O leitor interessado deve buscar literatura específica para isto, vistotratar-se de um grande conjunto de métodos e técnicas. Porém, daremos aseguir, na próxima seção, uma visão resumida das possíveis respostas àquestão (c) acima.

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QUADRO 2.2. CONSTITUIÇÃO DO TRABALHO CIENTÍFICO.

NÍVEL ATIVIDADE

Exploratório No primeiro nível, pesquisa preliminar, é realizada,permitindo que os elementos de interesse sejamcaracterizados. Ocorrem neste nível as observaçõesdos fatos, fenômenos, comportamentos e atividadesreais. Aqui formulam-se os problemas.

Descritivo Neste nível, procura-se dar uma descrição dofenômeno, como primeira versão incipiente de umaestrutura teórica. Neste nível define-se também quaisserão as variáveis avaliadas.

Explicatório ouExplanatório

Neste nível encontram-se os conceitos ou construtosem forma de hipóteses, visando dar respostasprovisórias e orientativas para a solução do problema.É o entalhe da construção conceitual-teórica que definee justifica as relações entre as variáveis.

Validatório ouConfirmatório

No Quarto nível, surgem as teorias, que incorporam ashipóteses validadas empiricamente e sustentáveisracionalmente, compostas de construtos e termosteóricos. Neste nível a teoria é testada na suacapacidade de cumprir o propósito da Ciência.

QUADRO 2.3. COMO A ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DE UMA

PESQUISA (d) DEPENDEM DE COMO OS DADOS FORAM COLETADOS (c) .

Modos deresponder (c)

Características Modos de responder(d)

Abordagemdeterminística

Contempla fenômenos eprocessos destituídos deincerteza, de aleatorie-dade

Utiliza métodosda Física,Química, Biolo-gia, Psicologia,Socio-logia,Economia, entreoutros.

Abordagemprobabilística

Contempla fenômenos eprocessos que envolvemincerteza intrínseca oumetodológica.

Utiliza métodosda Estatística.

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3. O DESENVOLVIMENTO DE UMA PESQUISA.

Pesquisa é uma palavra associada à palavra pesca, a qual é oesforço para retirar do esconderijo aquático o desejado peixe. De fato, oexercício de pesquisar é muito semelhante a uma pescaria. Assim como opeixe é desejado, mas está oculto de nós, assim o conhecimento desejado nosestá oculto no início da pesquisa. Necessitamos de métodos e instrumentostanto na pesca como na pesquisa. A paciência e a diligência são necessáriasem ambas as atividades. O peixe e o resultado podem emergir repentinamentediante de nós, ou podem sair do encobrimento depois de muito esforço e luta.Pesquisar é, pois, assim como a pesca, um trabalho de descobrimento eapreensão (aquisição).

Nós vamos tratar nesta seção de como um estudante pode conduzir-se no processo de realizar a pesquisa e qual deve ser sua posturaepistemológica nesta condução. Porém, antes de tratar de conceitos emétodos, cabe-nos chamar, antes, a atenção para um aspecto muitoimportante de toda pesquisa científica. Até agora temos falado sobrepesquisas sem fazer menção explícita à figura do orientador de pesquisa.Apesar de alguém iniciante poder pesquisar sem a tutela de um professor oupesquisador mais experiente e conhecedor, a praxis secular tem mostrado queesta atitude independente é quase sempre imprudente e estulta. Deixar quealguém que já foi ajudado ajude você demonstra sabedoria, uma virtudeimprescindível para quem quer ser ... sábio. De fato, a revisão de literatura queo estudante faz para compor sua monografia, as aulas a que assiste, e atémesmo a leitura deste texto, já são exemplos de orientação tomadas. Ninguémcria do nada. Você precisa de um orientador de pesquisa (de monografia), eprecisa interagir com ele. Alguém já chegou a dizer que, “mais importante doque o quê você aprende é com quem você aprende”. Resista à tentação(criminosa) de “comprar” uma monografia pronta. Além de ser altamentedesonesta esta prática (tanto por parte de quem vende quanto por parte dequem compra), ela é o suicídio de sua competência profissional e moral. Talpecado pode ser até vantajoso num primeiro momento, mas mostrará, maiscedo ou mais tarde, toda sua virulência mortal. Pode ser mais difícil criar vocêmesmo(a), mas os frutos desta escolha serão para sempre benéficos. Outravez vamos citar Isaac Newton, cuja reputação perpassa os séculos: “enxergueimais longe porque me apoiei em ombros de gigantes”. Usou a orientação degigantes para ele mesmo se tornar um, como resultado de seu próprio esforçode busca pelo conhecimento.

Voltando à orientação metodológica, uma pesquisa científica podeser conduzida para levar a efeito dois possíveis aspectos do método científico:(i) A construção de uma explicação científica (teoria, modelo, ou mesmo uma

hipótese) para um fenômeno ou processo;(ii) A verificação (ou não) de uma hipótese, modelo, ou científica.

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Quando o interesse da pesquisa é (i) dizemos que estamos numcontexto de descoberta. Quando é (ii), dizemos que o contexto é dejustificação.

O modo como conduzimos a pesquisa científica é denominado, comojá afirmado acima, de delineamento de pesquisa para o qual há diferentestipos em função do contexto em que a pesquisa está, e em função doentendimento epistemológico do pesquisador. Vários autores têm procuradoclassificar os tipos de processos de pesquisa possíveis ou utilizados.

Köche7 (página 138) propõe o discernimento abaixo, sem deixar deesclarecer que existem “tantos tipos (de processo ou método de pesquisa)quantos são os pesquisadores”. Sua classificação dos mais comunsdelineamentos é:• Pesquisa Bibliográfica.• Pesquisa Experimental.• Pesquisa Descritiva, Não-Experimental, ou Ex Post Facto

• Pesquisa Exploratória.Nota. Para este autor, nem sempre há nítida separação entre eles. Pode-seusar misturas e variações.

Yin (op.cit.) classifica as estratégias (os delineamentos) de pesquisaem cinco tipos principais, a saber:• Experimentos.• Surveys.• Histórias (ou Investigação histórica).• Análise de informações de arquivo.• Estudos-de-caso.

Yin (op.cit.) entende que cada estratégia tem suas vantagens e desvantagens,dependendo de três condições:1. O tipo de questão da pesquisa: quem?, o que?, quanto?, onde?, como?,

por quê?.2. O controle que o investigador tem sobre o comportamento real do evento.

Quanto a isto, ele entende que o método científico tem duas versõesessenciais, as quais são:(a) A que usa um modelo estatístico (ou aleatório, ou ainda probabilístico):há uma “alocação aleatória de tratamentos”. A aleatorização proporcionacontrolar um grande número de hipóteses rivais sem especificar quais elassão. A alocação aleatória nunca permite controlar completamente estashipóteses rivais, mas consegue medir a “plausibilidade das diversas

7 Köche, J.C. Fundamentos de metodologia científica, 14a edição. Petrópolis:Editora Vozes. 1.997. 181 p.

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hipóteses (ou de conjuntos delas) através de probabilidades estimadasatravés do modelo estatístico.(b) A que usa um modelo determinístico: aqueles usados nos laboratóriosda Física por exemplo, caracterizados pelo “isolamento laboratorial”, ou“controle laboratorial”. Esta estratégia de pesquisa controla poucas eexplícitas hipóteses rivais. Também não providencia controle absoluto,mas há o bastante para atribuir implausibilidade a algumas hipóteses.

3. O foco em fenômenos contemporâneos enquanto oposto a fenômenoshistóricos.

Conforme cada uma dessas três condições se configuram, teremosuma maior ou menor adequação de cada tipo de processo de pesquisa (vejaquadro 3.1).

Filippini (páginas 655-656)8 apresenta uma classificação para ostipos de pesquisa, segundo duas dimensões: orientação para a pesquisa(micro, quando trata com problemas isolados, e macro, quando trata comproblemas gerais), e ênfase na pesquisa (pessoas, isto é, administrativa, eequipamentos, isto é, técnica).

Nakano e Fleury (página 7)9 concluem, tomando para exame osmétodos de pesquisa normalmente utilizados em Engenharia deProdução, que os tipos mais comuns de delineamentos de pesquisasão os experimentos, os surveys, os estudos-de-casos, a pesquisa-participante e a pesquisa-ação. Cruzando estes tipos com a finalidadecientífica, quais sejam construir uma teoria ou modelo (contexto dedescoberta), ou confirmar uma teoria ou modelo já existente (contexto dejustificação), nós teríamos uma adequação de delineamentos conforme oquadro 3.2..

A seguir, será exposta uma conceituação suscinta de cada um dessesdelineamentos de pesquisa.

1. Pesquisa bibliográfica, Investigação histórica, e Pesquisa utilizandoanálise de informações de arquivo. Estes tipos de delineamento poderiamser entendidos como os delineamentos que se desenvolvem procurandoexplicar um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias

8 Filippini, R.. Operations management research : some reflections on evolution,models and empirical studies. International Journal of Operations &Production Management, v.17, n.7. 1.997.9 Nakano, D.N.; Fleury, A.C.C.. Métodos de pesquisa na Engenharia de Produção.Artigo apresentado no ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção, SãoCarlos, 1.997 .

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QUADRO 3.1. AS TRÊS CONDIÇÕES DE YIN EM CADA MÉTODO DE PESQUISA.

Estratégia FORMA DAQUESTÃO

CONTROLE SOBREEVENTOS

FOCO EM EVENTOSCONTEMPORÂNEOS

Experimento ComoPor que

Sim Sim

Survey QuemO queOnde

Quanto

Não Sim

Análise dearquivo

QuemO queOnde

Quanto

Não SimNão

História(Investigação histórica)

ComoPor que

Não Não

Estudo-de-caso

ComoPor que

Não Sim

QUADRO 3.2. FINALIDADE DA CIÊNCIA VS DELINEAMENTO DE PESQUISA.

Contexto da pesquisa

Métodos de Pesquisa

Construção

ou Descoberta

Confirmação ou

Justificação

Surveys •

Experimentos •

Estudos de Caso •

Pesquisa-Participante •

Pesquisa-Ação •

publicadas em livros, periódicos e obras congêneres. Estes tipos dedelineamento de pesquisa podem ser alocados em etapas da pesquisacientífica denominada revisão de literatura. Também se prestam ao que sedenomina de meta-pesquisa, que é o trabalho de alinhavar (ou “costurar”)resultados de pesquisa já publicados, organizando-os (articulando-os) numasó obra científica, para que apareça um resultado composto ainda nãodiscernido.

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2. Pesquisa Descritiva, Não-Experimental ou Ex Post Facto, e PesquisaExploratória. São delineamentos que não se prestam a inferências, queranalíticas, quer estatísticas, servindo apenas para registrar impressões ouavaliações de fenômenos ou processos. A rigor estes delineamentos nãoseriam delineamentos de pesquisa, desde que não possam ser utilizados nempara construção de teorias e modelos nem para sua verificação. Seriammeros repositórios de dados, com algum texto explicativo.

3. Survey. Survey é uma palavra inglesa traduzida para o português comoamostragem. O survey é o processo de se coletar informações não-controladas sobre alguns dos individuais que constituem uma dada populaçãoreal. A experimentação, delineamento que veremos a seguir, também é umaamostragem, porém, uma amostragem especial, sobre uma população não-real, construída virtualmente através do controle das causas. A legitimidadedas análises e interpretações dos dados provindos do survey somente podeser conferida pela Estatística.

4. Experimentação. Também chamada de pesquisa experimental. A idéiabásica deste processo de pesquisa é controle. O pesquisador deve estarcontrolando (deterministicamente ou probabilisticamente) todas as causassobre os efeitos de interesse. Se a experimentação é produzida num contextoonde fatores aleatórios atuam, é absolutamente necessário que suainterpretação seja por meio da Estatística. Consiste essencialmente emestabelecer um domínio de pesquisa, em que variáveis serão postas a serealizarem de modo controlado e em que serão avaliadas de modo objetivo asvariáveis-resposta.

Qual a diferença entre experimento e experiência? Como játransparecemos acima, experimentos são experiências com avaliação oumensuração, e controle. O mundo e a vida são grandes livros dos quaisfazemos constante leitura. Se a leitura é realizada com cuidado, rigor, sensocrítico, zelo, ela pode se tornar científica (em contraposição ao senso comum).O experimento é uma armadilha que a razão constrói para a Natureza, capazde forçá-la a fornecer respostas concretas, mensuráveis objetivamente. Estasrespostas seriam utilizadas para avaliar a veracidade empírica do modelo outeoria racionalmente construídos. O experimento é uma pergunta inteligentefeita à Natureza. Um diálogo científico, no entender de Galileu. Diferente daexperiência, o experimento trabalha com elaborações e um pano-de-fundoteórico, que orienta a observação, o questionamento dos fatos e asinterpretações. A Ciência é operativa, isto é, a razão exerce uma função ativae não passiva ou contemplativa perante os fatos.

Como seria um experimento em Ciências Humanas? Experimentarem Ciências Humanas seria provocar história, fazê-la acontecer numadeterminada direção. Como uma armadilha racional, faríamos a história cair

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numa via com destino certo e conhecido pela Ciência Humana. Popper10

corrobora tal entendimento através do conceito de Engenharia Social.A idéia de experimento contém também o conceito de simulação.

Simulação é um experimento realizado num modelo físico representativo de(mas não igual a) o processo real. Por exemplo, se o processo é modelado nocomputador, pode-se usar a estrutura deste para fazer o processo (maisexatamente falando, seu modelo) acontecer várias vezes, virtualmente. Aqualidade das inferências retiradas da simulação dependerá, essencialmente,da qualidade do modelo físico, de quanto ele se aproxima da realidade.

5. Estudo-de-caso. Este delineamento tem um caráter exploratório, umaplataforma para ajudar a intuição na recepção de intuições sobre a teorizaçãode um dado problema. Um estudo-de-caso tem por principal objetivo ser aexperiência prática que faz funcionar o modo de pensar empírico-indutivo, naconstrução de teorias. Consiste essencialmente em imergir-se numa situação-problema real, acompanhando-a, sentindo-a, pensando-a, analisando-a, efinalmente apresentar uma teoria que a descreva e a explique. Este métodonão se presta a generalizações estatísticas (isto é, generalizações objetivaspara uma população da qual o caso é uma amostra), podendo ser usadoapenas para generalizações analíticas (intuições subjetivas a partir do casopara leis e teorias de validade mais geral do que apenas o caso em estudo).

Yin (op.cit.) define estudo-de-caso como uma lógica de planejamentode pesquisa empírica que :( i ) Investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto real,especialmente quando...( ii ) os limites entre fenômeno e contexto não são claramente evidentes (umexperimento, por exemplo, divorcia do fenômeno seu contexto; também umahistória não é contemporânea, e surveys não investigam bem o contexto deum fenômeno ).( iii ) Trata com pesquisas em que há mais variáveis de interesse do quedados, e, por isso...( iv ) confia e usa múltiplas fontes de evidências, tanto quantitativas quantoqualitativas, para convergir para uma conclusão, conjugando-as, usandoinclusive pressupostos e visões de mundo e vida pessoais para completar aquantidade de informações faltantes, de tal modo que...( v ) utiliza, depende e beneficia-se de pressupostos teóricos para guiar acoleta e análise dos dados.

Nota. O tratar com mais variáveis de interesse do que dados e, por isso terque introduzir pressupostos teóricos e visões de mundo e vida particularespara completar ou preencher esta lacuna de informações, na verdade, não éapenas uma característica do estudo-de-caso. Todos os delineamentos depesquisa, quantitativos ou qualitativos, determinísticos ou probabilísticos,

10 Popper, K.R.. A miséria do historicismo. São Paulo, Editora Cultrix-EDUSP. 1.980.

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contemporâneos ou não, controlados ou não, sob qualquer tipo dequestionamento, em Ciências Naturais ou Humanas, Teoréticas ou Empíricas,enfim, de qualquer tipo ou espécie, necessitarão sempre dessepreenchimento subjetivo. A existência de uma componente subjetiva, pessoal,na construção científica, é um dos principais resultados da Filosofia da Ciênciacontemporânea e é intrínseca ao método científico.

6. Pesquisa-ação. Pesquisa-ação é um termo aplicado à pesquisa correntecom o duplo e explícito propósito de auxiliar a reflexão, formulação ouimplementação da ação e de desenvolver, enriquecer ou testar quadrosreferenciais teóricos ou modelos relevantes ao fenômeno em estudo.Caracteriza-se por uma relação ativa e explícita entre os pesquisadores e osresponsáveis pela ação numa área específica. “Pesquisa-ação é a fusão entrepesquisa e assessoria” (Spink11).

Uma Pesquisa-ação é um método de pesquisa científica aplicávelem diferentes áreas, inclusive e principalmente em Ciências Humanas, e nainterseção das outras áreas de Ciência com organizações humanas.Finalmente, uma pesquisa-ação deverá atribuir ao produto da pesquisacaracterísticas de cientificidade, ao mesmo tempo que apresenta uma soluçãoa um problema imediato de aplicação. De fato, toda pesquisa científica é ummovimento entre um referencial teórico e uma realidade, visando à produçãode uma tecnologia voltada ao bem-estar (no caso de Ciências Naturais) ou àconstrução de uma História marcada pela felicidade (para as CiênciasHumanas). Ambos os propósitos são práticos, voltados às experiênciasvividas. Com referência à Pesquisa-ação, como delineamento para pesquisaem Ciências Humanas, Spink (op.cit.) citando Kurt Lewin, enfatiza que “ameta das Ciências Sociais (Humanas) é atingir um nível prático de utilidadeda qual a sociedade necessita”, e propõe o método da Pesquisa-açãoexatamente como um meio para conferir tal utilidade à pesquisa científicavoltada à solução de problemas práticos da vida real.

Elden e Chisholm12 afirmam que o método da Pesquisa-Ação tinhapor objetivo inicialmente o atendimento à duas necessidades :( i ) A construção ou testagem de um referencial teórico voltado àcompreensão e ao entendimento de um aspecto da vida humana.( ii ) A solução de um problema prático através de uma ação implementadasimultaneamente à contemplação teórica.

Corroborando tal afirmação, Thiollent13 observa que amanipulação teórica pela Pesquisa-ação visa obter informações que seriam de

11 Spink, P.. Pesquisa-ação e a análise de problemas sociais e organizacionaiscomplexos. Psicologia, vol. 5, n.1, 1.976.12 Elden, M.; Chisholm, R.F.. Emerging varieties of action research : introduction tothe special issue. Human Relations, vol. 46, no. 2. 1.993.

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difícil acesso por meio de outros procedimentos, enquanto o objetivo prático dapesquisa-ação visa contribuir para um melhor equacionamento do problemaconsiderado, com levantamento de soluções e proposta de açõescorrespondentes às soluções que os atores podem implementar nas suasatividades transformadoras sobre a realidade.

Voltando a Elden e Chisholm (op.cit.), estes autores asseveram que,atualmente, o método ganhou mais um objetivo, ou, melhor dizendo, mais umautilidade do método tem aflorado explicitamente :( iii ) A agregação de uma competência para aprendizagem organizacional naequipe que realiza a Pesquisa-ação.

Tal competência é naturalmente conferida pelo modo como aPesquisa-ação é desempenhada, através de seus muitos seminários eabsoluta necessidade de se pensar e agir sistêmica e conjuntamente. Oplanejamento está sendo visto como um processo contínuo de aprendizagem,ação e avaliação com um caráter inovativo e interativo. Pelo menos tãoimportante quanto o produto da Pesquisa-ação (a teoria e a solução doproblema daquele momento histórico) é a aquisição desta capacidade deaprendizagem organizacional. Westbrook14 argumenta que a qualidade daaprendizagem é função da efetividade da intervenção e do papel dosgerentes do sistema em trabalhar cooperativamente. Textualmente ele afirma:“intervenção é o análogo da Ciência-ação à experimentação. Quando clientesenvolvem-se em experimentos transformadores, eles engajam-se em umprocesso não-trivial de aprendizagem, pensando e refletindo seriamente noque estão fazendo”.

Por fim, como fica bastante claro, ressaltamos que a principaldiferença deste método de pesquisa para com o estudo-de-caso é apossibilidade de intervenção no fenômeno sob investigação.

7. Pesquisa-participante. Esta modalidade de estratégia investigativacientífica é como um “meio-termo” entre estudo-de-caso e pesquisa-ação.Num estudo-de-caso, o investigador, apesar de imergir-se na situação-problema, não se integra a ela, permanecendo como um “corpo estranho” aoorganismo em que se infiltra. Numa pesquisa-ação, espera-se que oinvestigador participe e intervenha de um modo explícito no sistema que ele sepropõe a conhecer cientificamente. Já na pesquisa-participante, o pesquisadorse amolda quase totalmente ao sistema que estuda, ao mesmo tempo procuranão alterá-lo em nenhuma de suas características fundamentais.

Uma ótima ilustração seria a pesquisa com uma tribo indígena, porexemplo. O antropólogo entra na tribo, se amolda aos costumes e cultura

13 Thiollent, M.. Metodologia da pesquisa-ação. 6a ed. São Paulo. Cortez Editora,1.994.14 Westbrook, R.. Action Research : a new paradigm for research in Production andoperations management. International Journal of Operations & ProductionManagement, vol.15, no. 12. 1.995.

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desta, mas procura não alterá-la em aspecto algum, fazendo dela uma vitrineviva para seus estudos, vitrine esta em que ele “não põe a mão”.

Vamos usar esta analogia da vitrine para entendermos as diferençasde posicionamento do pesquisador frente ao ambiente e aos objetos dapesquisa. No estudo-de-caso, o pesquisador fica na calçada, do “lado de fora”da organização ou do ambiente do problema, observando-o através da vitrineexpositora: tudo que ele quer é enxergar o que está acontecendo lá dentro,observando o que puder ser observado daquela posição, mas sempre sem“pôr a mão” em aspecto algum. Para a organização ou o ambiente depesquisa, ele é um observador “desconhecido” (irrelevante). Na pesquisa-participante, o pesquisador vai para dentro da vitrine, anda por entre as peçasexpostas, aproxima-se para ver melhor, “sente o clima do ambiente”, faz-separte do ambiente, porém, continua “sem pôr a mão”, proibido por si mesmode alterar qualquer aspecto do ambiente. Para a organização ou ambiente, eleé um observador conhecido (relevante). Na pesquisa-ação, ele já se integratotalmente: é parte dos objetos da vitrine. “Põe a mão” nos outros objetos.Altera-os. Para a organização ou ambiente, ele deixa de ser observador epassa a ser interventor, um ator completamente relevante.

Corrêa15 (página 116) apresenta um sumário das característicasdistintivas de cada um dos métodos acima, menos da pesquisa-participante.Nesta classificação, ele discrimina entre “impossível”, “não usual ou difícil”,“usual”, e “adequado”. O quadro 3.3 abaixo é uma modificação minha databela de Corrêa, em que incluo a pesquisa-participante, indicando com “•” osmétodos que atendem aqueles requerimentos ou possuem aquelacaracterística, em nível de “usual” ou de “adequado”. Em alguns casos, Corrêaclassificou como “possível” característica que é usual ou adequadamenteatendida naquele método.

A escolha de um método de pesquisa deve nos assegurar que oproblema foi abordado de um modo válido, ou coerente. Segundo Corrêa(op.cit.), a seleção do método deve levar em consideração pelo menos quatrocritérios :

( i ) Adequação para os conceitos envolvidos. O método deve permitir que opesquisador não se confunda, ou deixe confuso quem dele se servir, comrelação aos conceitos envolvidos. Como um exemplo, poderíamos citar umapesquisa envolvendo conceitos ainda não bem definidos, tais como “incertezaambiental”, ou “flexibilidade de manufatura”. Neste caso, um survey não seriaadequado, porque é fundamental a presença física do pesquisador junto àspessoas das organizações examinadas, exatamente para deixar claro taisconceitos.( ii ) Adequação para os objetivos da pesquisa. Essencialmente, como jáafirmamos, uma pesquisa pode estar entre dois contextos : descoberta ou 15 Corrêa, H.L. Linking flexibility, uncertainty and variability in manufaturingsystems. Aldershot, Avebury. 1.994.

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justificação. Se nosso objetivo é construir teoria (isto é, estabelecer as ligaçõescausais entre fatores é central, num contexto de descoberta, entãodeterminadas estratégias de investigação não terão a mesma presteza deoutras (survey, por exemplo, veja quadro 3.3).( iii ) A validade do método. Há três tipos de validade :

• Validade construtiva: o método escolhido deve permitir corretasavaliações dos conceitos envolvidos, garantindo que a informação obtidarepresente seguramente tais conceitos.• Validade interna: pertinente apenas em estudos de relações causais eexplanatórias, em que o pesquisador está procurando conhecer se oevento x leva ou implica no evento y. Se o investigador incorretamenteconclui que há uma relação causal entre x e y, sem perceber que umterceiro fator z está de fato causando y, então o delineamento depesquisa falhou na validade interna.• Validade externa: estabelecimento do domínio para o qual osresultados podem ser generalizados (tanto no sentido da generalizaçãoteórica generalização analítica , quanto no sentido da generalizaçãopara as freqüências de ocorrência generalização estatística).

( iv ) A confiabilidade do método. Corrêa (op.cit.) entendem que “o método depesquisa escolhido deve permitir que um outro pesquisador, seguindo osmesmos procedimentos, “chegue aos mesmos resultados e conclusões”.Certamente este autor tem como pano-de-fundo, para esta afirmação, anecessidade de intersubjetividade para toda e qualquer pesquisa científica. Defato, estes “mesmos resultados e conclusões” fazem muito sentido parapesquisas em um contexto de justificação, mas não fazem sentido parapesquisas no contexto de descoberta.

Alguns filósofos da Ciência tecem críticas aos métodos de Estudo deCaso, Pesquisa-Participante e Pesquisa-Ação, denunciando que nestesdelineamentos “não há rigor científico, permitindo viéses , visões e conclusõestendenciosas e equivocadas”. Estas críticas, porém, só fazem sentido se estesmétodos trabalham num contexto de justificação.

Finalmente, a partir da definição tripartida de Ciência, diremos que aATITUDE CIENTÍFICA seria então:( a ) Saber definir e focalizar um problema de interesse, para ser resolvido.( b ) Colecionar informações, descartando as irrelevantes.( c ) Introduzir e tratar tais informações relevantes em uma estrutura teóricaracional orgânica, através de um procedimento sistematizado.( d ) Vincular a teoria com dados de observação.

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QUADRO 3.3. REQUERIMENTOS DOS DELINEAMENTOS (OU MÉTODOS) DE PESQUISA.

Características e

requerimentos

Tipos de método de pesquisa

para o método

de pesquisa

Experi-

mentação

Survey Estudo-

de-

caso

Pesquisa-

participante

Pesquisa-

ação

Presença física do

pesquisador na

coleta de dados

• • •

Amostras

pequenas

• •

Dificuldade para

quantificar

variáveis

• • • •

Mensurações

perceptivas

• • • • •

Restrições não

definidas

previamente

• • •

Causalidade é

central

• • • •

(Continua)

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QUADRO 3.3. REQUERIMENTOS DOS DELINEAMENTOS (OU MÉTODOS) DE PESQUISA. (Continuação)

Características e

requerimentos

Tipos de método de pesquisa

para o método

de pesquisa

Experi-

mentação

Survey Estudo-

de-

caso

Pesquisa-

participante

Pesquisa-

ação

A necessidade

maior é construir

uma teoria ou

modelo ou

hipótese.

• • •

Há uma grande

necessidade de

compreender o

fenômeno para

subsidiar com

mais Segurança a

tomada de

decisões

• • •

(Continua)

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QUADRO 3.3. REQUERIMENTOS DOS DELINEAMENTOS (OU MÉTODOS) DE PESQUISA. (Continuação)

O pesquisador

não tem uma

participação ativa

no fenômeno.

• • • •

Há dificuldade ou

mesmo

impossibilidade de

controlar variáveis

(podemos

somente avaliá-

las).

• • • •

A necessidade

maior é testar

uma teoria ou

modelo ou

hipótese.

• •

( e ) Participar os resultados para aprovação consensual em uma comunidade,quanto ao objeto e ao método utilizado, obtendo enfim a intersubjetividade. Apesquisa teórica é arguível, desafiável e criticável, produzindo uma visão maisconfiável do que o senso-comum.

Esta participação consensual de uma comunidade científica nas pesquisaschamadas científicas se dá essencialmente através da comunicação dosresultados da pesquisa através de OBRAS CIENTÍFICAS, já citadas acima. Estasobras são também chamadas de trabalhos científicos e são expressõesverbais, escritas ou não, encadeadas logicamente, que descrevem oarcabouço conceitual e metodológico da pesquisa e seus resultados. É sobreestas obras que vamos nos concentrar agora, desde que esta orientação visarespecificamente, versar sobre a redação de um tipo específico de obracientífica, a monografia, para divulgação científica. Antes de entrar

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exclusivamente no estudo de como se fazer uma boa monografia, vamosentender melhor os vários tipos de obras.

4. A ESTRUTURA E A APRESENTAÇÃO DAS OBRAS CIENTÍFICAS.

A finalidade de uma obra científica é a de comunicar o problemaabordado, os processos metodológicos desenvolvidos e os resultados obtidosem uma investigação, dirigido a um leitor ou público-alvo específico,dependendo dos objetivos a que se propôs. Além dos elementos queenvolvem uma produção textual e que seguem a orientação lingüísticaaplicada, respeitando os estilos individuais de quem redige e expressa umpensamento carregado de significação, há os elementos objetivos ligados àcoerência lógica, coesão textual e normas técnicas padronizadas, econvenções tradicionais que devem ser respeitadas.

Há determinadas convenções padronizadas, decorrentes do usoacadêmico, literário e científico, que acabaram por se transformar em normase em modelos formais que devem ou podem ser seguidos. Vejamos quais são.

4.1. Tipos de obras científicas.

As obras científicas são tratados na literatura específica comsentidos diversos, gerando, muitas vezes, ambigüidade de interpretações. Éusual professores universitários solicitarem a seus alunos um “trabalhocientífico”, sem especificarem, muitas vezes, o que realmente pretendem. Um“trabalho científico” pode ser entendido como diferentes tipos de pretensasobras científicas: resumos, resenhas, ensaios, artigos, projetos de pesquisa,monografias, dissertações e teses, desenvolvidas e apresentadas em cursosde graduação, especialização, mestrado e doutorado. O adjetivo “científico” éatribuído genericamente a estes tipos de trabalhos, confundindo-se, muitasvezes, o conceito de cientificidade com o mero cumprimento de normas epadrões de sua estrutura e apresentação, ou mesmo a aderência a uma meratradição acadêmica. Deve-se perceber que a cientificidade não acontecesimplesmente pelo atendimento a normas e padrões, que são produtos denormalização oficial, ou de padrões que o uso acabou transformando emconvenções universalmente aceitas. Normas e padrões restringem-se apenasà forma de uma apresentação, não conferindo necessariamente qualidade aoconteúdo da apresentação. Porém, apesar desta limitação, normas e padrõessão obviamente necessários.

As obras científicas devem, portanto, obedecer a normas e padrõesde formas de redação, mas também devem apresentar conteúdo científico. Aconjugação de forma e conteúdo define o tipo de obra possível e aceito pelacomunidade científica. Tais obras legítimas podem ser feitas com as seguintesvárias formas:(i) Através de um artigo sintético para ser publicado em algum periódico.

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(ii) Através de uma monografia com objetivos acadêmicos (monografia deconclusão de disciplinas ou de cursos de graduação, e de pós-graduaçãoLato Sensu, dissertação de mestrado ou tese de doutorado).

(iii) Na forma de um livro.(iv) Em apresentação oral.(v) Em apresentação com recursos de informática.(vi) Outras formas.

Dentre os trabalhos monográficos mais usais, destacam-se aquelesexigidos para obtenção de graus universitários Stricto Sensu, a saber,dissertação de mestrado e tese de doutorado. Para a conclusão de cursos deespecialização Lato Sensu e de graduação, é comum a apresentação detrabalhos acadêmicos também monográficos, muitas vezes chamadossimplesmente de monografias. Considera-se, também, às vezes, comotrabalho monográfico, a redação de memorial, exigido em algumasuniversidades para a progressão funcional na carreira docente. Nestaorientação iremos chamar de monografias somente os trabalhos acadêmicoselaborados para conclusão da pós-graduação Lato Sensu, tambémdenominada especialização, e cursos de graduação.

Entre a pesquisa científica e uma obra que a divulga, há apossibilidade de uma apresentação científica intermediária, denominadarelatório de pesquisa, que é mais simples do que uma obra científica, e que sepropõe apenas a relatar provisoriamente, resultados de uma pesquisarealizada ou em curso. Este tipo de documento científico tem uma estruturaconstituída de:1. Introdução.2. Revisão de literatura.3. Referencial teórico.4. Metodologia utilizada (denominada também como Material e métodos).5. Resultados e discussão.6. Considerações finais.7. Conclusão.

Este conteúdo serve para armazenar as informações necessárias parasubsidiar obras científicas posteriores. Algumas vezes, obras científicas finaisacabam por apresentar uma estrutura interna como acima, por força denormas específicas da instituição, porém, tal obrigatoriedade de estrutura deveser evitada para obras científicas finais, visto que limita a criatividade dosautores e violenta peculiaridades de algumas áreas da Ciência. Enfim, umrelatório de pesquisa deve ser tratado apenas como uma estruturaintermediária, preparatória para uma obra científica final (veja figura 4.1).

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FIGURA 4.1. DA PESQUISA À OBRA CIENTÍFICA.

4.2. Estrutura das obras científicas.

Uma obra científica tem essencialmente três grandes partes, asaber:(i) ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS, que são as informações introdutórios ao texto

que desenvolvem o relato da pesquisa científica per si.(ii) ELEMENTOS TEXTUAIS, que são o desenvolvimento do relato da pesquisa

científica.(iii) ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS, que são informações complementares ou

afins ao relato da pesquisa científica.

O modo como estas grandes partes essenciais se desdobram e separticularizam para cada texto é tanto objeto de arbítrio particular e subjetivodo autor da obra, quanto objeto de normalização geral e objetiva. Umaestrutura que poderia ser chamada completa compreenderia as partes listadasno quadro 4.1. Porém, apesar da atribuição de completeza à tal estrutura,nada proibiria um autor, em particular, de criar outras partes peculiares ao seuestilo de escrever e/ou a seus critérios estéticos e seus interesses particulares.É claro que tal liberdade não poderá transgredir às normas sob as quais eleestaria sujeito.

Pesquisa

Relatório

de pesquisa

Obras científicas

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QUADRO 4.1. PARTES DE UMA OBRA CIENTÍFICA COMPLETA.

Partes ou elementos Conteúdo

PRÉ-TEXTUAIS

- - Capa- - - Folha de rosto- - - Errata- - - Ficha catalográfica- - - Dedicatória- - Agradecimentos- - Epígrafe- - - Resumo na língua do- Texto

- Resumo em língua- estrangeira (abstract)- - - Sumário- - - Listas de tabelas,- gráficos, quadros,- figuras.

Apresentação mais externa, em que está otítulo.

Cópia da capa, com pequenasmodificações.

Indicação dos erros de redação e deconteúdo, com indicação das páginas.

Ficha com informações biblioteconômicaspadronizadas.

A quem o trabalho do autor é dedicado.

A quem o autor agradece.

Uma citação relativamente curta de umtexto que marca ou move o autor.

Apresentação das idéias básicas evoluídaspelo autor, inclusive com resultados econclusões.

Versão do resumo acima em línguaestrangeira (normalmente em inglês, poristo denominado abstract).

Lista dos capítulos, seções e subseções dotexto, com indicação das páginas.

Listas separadas para cada tipo deexposto, com o nome, número e a páginaem que se encontra.

(Continua)

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QUADRO 4.1. PARTES DE UMA OBRA CIENTÍFICA COMPLETA (continuação).

TEXTUAIS

- - Introdução

- - - Corpo do trabalho- (desenvolvimento)- - - - - - - - - - - - Conclusão- - - - Notas

- - Citações

- - - - - Fontes ou referências- bibliográficas- (bibliografia)

Apresentação do problema investigado,objetivos, justificativa, metodologiautilizada, citação do marco de referênciateórica, modelos e quadro das hipóteses.

Introdução, detalhamento do problema,exposição da revisão bibliográfica e domarco de referência teórica,detalhamento das hipóteses com suasvariáveis, definições e indicadores,descrição do contexto estudado,indicação da metodologia utilizada napesquisa, apresentação e discussão dosresultados, avaliação crítica dashipóteses e do referencial teórico,acrescido de tabelas, gráficos, quadros eilustrações.

Retomada do problema com a síntesedas conclusões e avaliação daslimitações da pesquisa.

Observações, complementações ao texto,indicações bibliográficas que podemaparecer ao pé da página, no final departe do texto ou de todo o texto.

Menções, ao longo do corpo do trabalho,através da transcrição ou paráfrase diretaou indireta, das informações colhidas emoutras fontes que foram consultadas.Deve-se citar os autores/fontes destasmenções para não se incorrer em plágio.

Lista ordenada das referênciasbibliográficas das obras citadas,consultadas ou indicadas pelo autor notexto.

(Continua)

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QUADRO 4.1. PARTES DE UMA OBRA CIENTÍFICA COMPLETA (continuação).

PÓS-TEXTUAIS- - Literatura- recomendada- - - - - Glossário

- - Anexo(s)

- - Apêndice(s)

- - - - Índice(s), inclusive- remissivo

Lista de livros, artigos e outros trabalhoscientíficos, que podem completar,aprofundar, ou aumentar a abrangênciado tema estudado, colocados em ordemou agrupados em categorias, ou não.

Lista de Termos, palavras, nomes,abreviaturas, siglas explicadas, quepodem não ser de domínio dos leitores.

Material compatível com o texto, que ocomplementa. Normalmente utilizadopara ajuntar documentos para provar,ilustrar, ou fundamentar o texto

Material de qualquer espécie que o autorjulgue interessante ou necessário ajuntarpara que o leitor tenha um entendimentomais claro do trabalho, ou que possa lheser útil para desdobramentos futuros.

Lista ordenada de entradas (verbetes)que possibilitem ao leitor localizar,rastrear, ou cruzar conceitos, nomes, ouinformações ao longo do texto.

5. AS OBRAS CIENTÍFICAS DO TIPO MONOGRAFIAS.

Trabalhos monográficos ou MONOGRAFIAS são obras científicasconduzidas nos cursos de graduação e de pós-graduação Lato Sensu, cujaprincipal característica é a abordagem de um tema único por um também únicoautor ou autora (monos = um só e graphien = escrever). Alguns autoresenfatizam apenas o conteúdo da obra, para caracterizá-la, entendendo o nomemonografia como uma obra científica que é, em essência, delimitada,estruturada e desenvolvida em torno de um único tema ou problema (Koche,

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op.cit., e também Tachizawa e Mendes16, p.16). Outros enfatizam somente aunicidade da autoria. Como já estamos orientando a construção de umapesquisa científica em torno de um só tema, esta definição alternativa ficaautomaticamente atendida pelas nossas monografias. Em outras palavras,monografias para a graduação e para a pós-graduação Lato Sensu são“mono” porque são um só autor ou autora enfocando um só problema depesquisa, e são “grafia” porque são escritas.

Por ser uma das primeiras experiências de relato científico, amonografia constitui-se numa preparação metodológica para futuros trabalhosde investigação. Por esta razão sua estrutura assemelha-se à dasdissertações e teses, porém, pode-se restringir seu escopo a um subconjuntode partes daquilo que seria um obra científica de plenitude científica. Entende-se por PLENITUDE CIENTÍFICA o atendimento pleno de todos os trêselementos conceituais do conhecimento científico funcional, conformeapresentado anteriormente, quais sejam: teorização sistemática,instrumentalidade e intersubjetividade.

Esta plenitude somente deve ser verificada nas dissertações demestrado, nas teses de doutorado e, possivelmente, em livros e em algunsartigos científicos especiais. De fato, plenitude científica seria a competênciaesperada propriamente apenas para o cientista possuidor do grau de doutor,pois, desde sua concepção, a universidade entende que é o doutor o sábiogerador de sábios. Os estágios de maturidade e competência anteriores aodoutoramento seriam degraus para o atingimento desta plenitude.

Portanto, das monografias de graduação e de pós-graduação LatoSensu não se deve esperar tal plenitude, mesmo porque entende-se que talexperiência segue o destino de ser uma iniciação científica em graduação epós-graduação, diferente, portanto, de uma tese de doutoramento oumesmo de uma dissertação de mestrado, que discriminam graus decompetência científica mais altos (dissertações de mestrado e teses dedoutoramento diferenciam-se entre si pela exigência de ineditismo destaúltima, e de uma capacidade científica plena esperada para o candidato aograu de doutor).

Por causa desta expectativa suavizada para monografias de LatoSensu e de graduação, deve ser aceitável que o estudante apresente um textoque verse sobre partes de uma elaboração científica plena, tais como umapesquisa bibliográfica, uma pesquisa empírica, um projeto de viabilidade, umestudo de caso, ou uma proposta/avaliação de intervenção organizacional,entre outras possibilidades.

Deve-se ressaltar com toda a ênfase que esta suavização deexigências diz respeito apenas à obrigação de apresentar todas as partes que

16 Tachizawa, T; Mendes, G.. Como fazer monografia na prática, 8a edição. Rio deJaneiro: Editora FGV. 2.003. 148 p..

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integram uma produção científica plena, não desobrigando o candidato aotítulo de pós-graduado Lato Sensu ou de graduado de esmerar-se naqualidade da parte ou das partes que ele escolheu enfocar. O estudante deveser avaliado na sua capacidade de produzir aquela parte ou aquelas partesescolhidas com o rigor de critérios próprios da comunidade científica séria,mesmo porque, atualmente, seguindo o protocolo secular das universidades, aobtenção de titulação acadêmica só se dá por um caminho: através de umcurso formal de graduação e pós-graduação. Nestes cursos, é exigência legalque o aluno:

a) Obtenha um número definido de créditos em disciplinas, variável deacordo com o curso;

b) desenvolva uma investigação científica; ec) defenda publicamente e, perante uma comissão examinadora, os

resultados e conclusões obtidos.

Não se pode defender o que está ruim e deficiente. Por causa disto, oestudante deve esmerar-se em fazer um bom texto, mesmo que simples.

5.1. Fases de desenvolvimento da monografia.O método científico pode ser materializado num processo de

desenvolvimento do trabalho de pesquisa científica que culmina com aredação de uma monografia, segundo as etapas descritas no quadro 5.1,adaptadas de Tachizawa e Mendes (op.cit.), que estão logicamenteencadeadas. Neste quadro, estão apresentadas várias etapas e atividades, asquais serão desdobradas e explicadas nas subseções a seguir.

5.1.1. Escolha de um assunto ou tema.Para se chegar à elaboração da monografia, pressupõe-se que já se

tenha definido uma idéia, um tema ou assunto, sobre o qual será centrada ainvestigação. Estas estão sempre orientadas para resolver um problema, oqual pode ser apresentado na forma de uma questão. Desde esta etapa inicialdeve-se já trabalhar buscando a harmonia com o orientador da pesquisa. Parao sucesso da pesquisa, concorrem o interesse, preferências pessoais,formação e conhecimentos prévios do pesquisador, bem como originalidade eutilidade do tema. A opinião, conhecimento e experiência do orientador damonografia também deve ser levada em consideração.

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QUADRO 5.1. FASES DE DESENVOLVIMENTO DA MONOGRAFIA.

Problema de Proposição Correção pré-defesa Aprovação Pesquisa e aprovação da monografia ou não Correção pós-defesa da monografia

Revisão de Revisão de literatura literatura e Referencial teórico

PROFESSOR ORIENTADORBanca

Examinadora

BIBLIOGRAFIA

Fontes convencionais e acervo digital (Internet)

Apresentação oudefesa da

monografia

Redaçãofinal

Desenvolvimentoda monografia

Definiçõesda pesquisa

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O assunto ou tema de monografia pode surgir de situações pessoais,sociais, ou profissionais. Tachizawa e Mendes (op.cit.) observam que ointeresse do aluno por um tema que mereça ser desenvolvido na forma demonografia surge das mais diferentes maneiras, dentre elas:• Interesses pessoais, experiência, ou indagação própria;• Em função de seu trabalho;• Momento profissional em que se encontra (mudança de emprego, por

exemplo);• Interesses pessoais;• Leitura de outras obras, tais como livros e artigos de revistas

especializadas de sua área de interesse;• Consultas a catálogos de teses, dissertações e monografias em geral,

disponibilizadas de forma convencional nas bibliotecas e via Internet;• Leitura de mensagens/artigos de “listas de distribuição” – mailing list na

Internet;• Troca de mensagens via Internet;• Informações e dados obtidos em home pages/sites da Internet, sobre livros

e demais publicações disponibilizados por sites, livrarias, ou bibliotecasacadêmicas on line;

Para aqueles que trabalham em alguma organização (pública,privada, do terceiro setor, ou cooperativas) sugere-se que o estudante possavincular o processo ensino-aprendizagem aos seus problemasorganizacionais, por esses se constituírem, possivelmente, em uma efetivamotivação e utilidade, em razão de que poderá contribuir com boasmodificações no seu trabalho. A sugestão é, portanto, que o aluno escolha umtema ligado a suas atividades profissionais. Desta forma, pode capitalizar osresultados da monografia para o seu ambiente profissional, facilitando aespecialização em uma área específica de seu campo de atuação. No caso dealunos que ainda não exerçam atividades profissionais de qualquer ordem, éaconselhável a escolha de um assunto no qual queiram se especializar nofuturo.

Também, na medida do possível, a monografia dever ser feita emconsonância com as disciplinas do curso ao qual o aluno pertença. Espera-seesta vinculação com as disciplinas cursadas, exatamente porque, segundo aexigência acadêmica e legal, costuma-se categorizar os alunos de pós-graduação como estando na fase de obtenção de créditos ou de redação dotrabalho de investigação. Estas fases só devem ser reconhecidas seentendidas pelo enfoque do que deve ser a preocupação principal dos alunos,respectivamente, a de obter os créditos exigidos para sua criação decompetência e a de redigir sua monografia.

Entretanto, não é qualquer assunto que justifica a realização de umestudo. Alguns temas demandam apenas um pouco de reflexão ou uma rápidatroca de idéias, não justificando, portanto, um estudo nos moldes de umestudo científico. Da mesma forma, não é recomendável a leitura exaustiva de

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obras nem intensa pesquisa na Internet, se o aluno não tiver uma idéia, aindaque em caráter preliminar, do que pretende desenvolver como monografia.

Recomenda-se que o assunto, uma vez escolhido, seja delimitadopara que se possa aprofundar e apromorar conhecimentos, aplicáveis a umpequeno conjunto de fatores/variáveis que compõem o campo de estudoabordado. Ou seja, é preferível escrever de forma detalhada e consistir sobrepoucas coisas do que falar genericamente sobre muitas coisas.

A escolha de um tema digno de estudo deve resultar em umamonografia que:• Corresponda ao gosto e interesse do aluno-pesquisador;• Propicie experiências duráveis e de grande valor para o pesquisador;• Possua importância teórica e prática;• Corresponda às possibilidades de tempo e de recursos financeiros do

pesquisador;• Seja viável em termos de levantamento de dados e informações.

O aluno deve evitar escolher temas como “o valor da ciência”, “odesenvolvimento” ou “o estudo da administração”, “qualidade”, “álgebra” , que,devido a sua extensão e generalidade, não permitem um tratamento sério ecom profundidade. Esses exemplos correspondem a temas de tratadosenciclopédicos, verdadeiras áreas inteiras de estudos, das quais somentemuitos cientistas conseguiriam produzir, cada um com sua contribuição, algomais completo. Não seria, portanto, um estudo monográfico. Tal situaçãonormalmente reflete a falta de clareza por parte do estudante do que ele querestudar, qual problema ele quer resolver.

5.1.2. Definição do título da monografia.Tachizawa e Mendes (op.cit.) lembram que a delimitação da

extensão do tema direciona o título da monografia. Pelo título pode-sedistinguir entre o título geral e o título técnico, esse geralmente aparecendocomo um subtítulo que especifica a temática abordada. Por exemplo: “Controleestatístico do processo: um estudo em retíficas Centreless”.

Neste exemplo, controle estatístico do processo refere-se ao títulogeral, enquanto um estudo em retífica Centreless diz respeito ao título técnico(ou subtítulo). Por outro lado, o título geral indica mais genericamente o teor damonografia.

O aluno não deve ter, logo de início, uma preocupação excessivacom o título, uma vez que o mesmo pode ser alterado ao longo dodesenvolvimento da monografia. Geralmente, o título definitivo só emerge aofinal do trabalho.

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5.1.3. Problema de pesquisa e objetivo da monografia.O objetivo pode ser escrito a partir do problema de interesse

do aluno. Por exemplo: “resolver o problema de dimensionar o tamanho deuma amostra aleatória em populações normais”. Pode conter, de formaacessória e complementar (o que é necessário apenas nos casos de maiorrigor metodológico), a questão/pergunta de pesquisa (problematização) e ashipóteses. Como já anteriormente definido, hipóteses são respostasantecipadas a uma questão, as quais serão verificadas serem válidas ou não.

Nós podemos proceder ao inverso, escolhendo primeiro oobjetivo da monografia, delimitando seu campo e definindo seus termos, edepois então fazendo a problematização do assunto. Ou seja, transforma-se otema em problema(s).

A conjugação problema-objetivo permite chegar com maiorprecisão à raiz da questão a ser estudada. Por mais delimitado que tenha sidoo assunto sempre há alguma medida de indefinição. Suponha-se que estejaassim formulado: “A formação técnica de operários para indústria metalúrgicana cidade de São Paulo a partir de 1990”. À primeira vista nada maisdelimitado. Contudo, não está dito o que se deseja saber a respeito daformação técnica, tornando-se necessárias algumas perguntasesclarecedoras, tais como: “o que significa formação técnica de operários?;“quais os processos mais indicados para a formação técnica de operários?; “aquem cabe a responsabilidade da formação técnica do operário?, e assim pordiante. Essas perguntas ensejam o tipo de resposta que deseja. Através daproblematização criam-se subsídios para constituir o esquema básico dotrabalho a ser executado.

5.1.4. A revisão bibliográfica.Após definir o problema a ser investigado, a etapa seguinte é o

levantamento bibliográfico, que tem por objetivo situar o pesquisador quantoao assunto escolhido, através da revisão de literatura, onde ele passa a terconhecimento de outros trabalhos já publicados na área.

Para tanto, são utilizadas obras de referência, catálogos debibliotecas, índices de periódicos, bases de dados nacionais e internacionais,redes eletrônicas de comunicação, enfim, todas as fontes disponíveis para seter necessário obter o material para leitura. Entenda: não se pode escrevernada de bom se não for lido bom material. A redação é uma reação à leitura.Quanto mais se lê, mais se poderá fazer um bom trabalho. A leitura induzirá oleitor a escrever. A biografia de Isaac Newton, um dos maiores cientistas detodos os tempos, revela que ele, ao desejar oferecer uma contribuição àMatemática e à Física, passou um ano todo completamente absorvido naleitura dos principais clássicos da Matemática disponíveis em seu tempo. Foipor causa disto que ele pode dizer: “se eu enxerguei mais longe, foi porque meapoiei em ombros de gigantes”!

Obtido o material, deve-se efetuar uma (ou mais de uma) leituracuidadosa, anotando-se tudo que se considerar relevante para o trabalho, e,

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sobretudo, a referência bibliográfica (autor, título, local de publicação, editora,data, e número de páginas) para o caso de se pretender fazer citações detrechos dos trabalhos consultados. Convém também anotar a página ondeestá a citação, para eventual recuperação ou conferência da informação.

Caso o levantamento tenha sido muito exaustivo e resultado em umnúmero excessivo de textos, pode-se fazer uma seleção, descartando osmenos específicos, dando prioridade aos que abordam o tema escolhido deforma mais direta. Esses cuidados com a leitura organizada do material irãoeconomizar tempo futuro e darão mais segurança no momento de se dirigir otrabalho.

A importância de uma boa revisão bibliográfica (revisão de literatura)pode ser melhor vista se entendermos que uma produção monográfica podeser dividida em três partes: montagem do projeto, execução do projeto eredação do texto da obra científica. Para a montagem de um projeto – quedepende da consciência da relevância ou justificativa do tema, da definiçãodos objetivos e escolha da metodologia mais adequada para a coleta dosdados – utiliza-se como fonte de informações: obras científicas já publicadas,resultados de pesquisa própria prévia, e, se necessário for, depoimento depesquisadores. Estas fontes são a consecução prática da revisão bibliográficaou revisão de literatura. Esta revisão permite responder às questões sobre oassunto de interesse do pesquisador:

O que já foi pesquisado?O que falta estudar?Qual é sua importância?Como proceder ao estudo?

Estas perguntas, quando respondidas adequadamente, fornecem asinformações básicas necessárias à montagem de um bom projeto.

Quando não existe projeto de pesquisa (de monografia), fica difícil aopesquisador ter claro em sua mente os objetivos da pesquisa. Por isso, elecorre o risco de coletar desordenadamente variáveis incontáveis e, às vezes,de um número insuficiente de indivíduos – tornando quase impraticável aanálise dos dados ou comprometendo a qualidade da pesquisa.

Portanto, é altamente recomendável que um plano de monografiadeva ser delineado. Para ajudá-lo(a) nisso, apresentamos no quadro 5.2 umformulário próprio para isto.

5.1.5. O desenvolvimento da pesquisa.A rigor, a pesquisa científica é entendida como um processo que se

inicia antes da montagem do projeto de pesquisa, e termina com a exposição- oral ou escrita – dos resultados obtidos perante uma comunidade de pares,afim de defendê-la. Assim, a investigação desenvolve-se por etapas, queprogridem numa sucessão ou concomitância de atividades caracteristicamentepertencentes a diferentes etapas.

A primeira etapa refere-se ao planejamento global e minucioso decada aspecto do trabalho. É básico para a pesquisa, pois, como já foi

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QUADRO 5.2. FORMULÁRIO PARA DEFINIÇÃO DE UM PLANO DE MONOGRAFIA.

As etapas não são facilmente individualizadas, exceção feita àmontagem do projeto, sobretudo quando é longo o tempo necessário para abusca de financiamentos nas agências fomentadores de pesquisa, se este foro caso. A possibilidade de se ter uma bolsa para a pesquisa ocorre quando, oaluno define como assunto de tese um tema que possa ser integrado aprojetos pré-existentes e já financiados ou escolhe, como orientador, umpesquisador que tem projetos em andamento.

e para a aquisição de informações e conhecimento sobre ofenômeno em estudo.

FORMULÁRIO PARA DEFINIÇÃO DE UM PLANO DE MONOGRAFIA

(Use o verso e folhas anexas, se necessário)

Nome do aluno

Número de matrícula

Nome do orientador

Tema ou assunto escolhido

Título provisório

Problema de pesquisa (pode ser formulado na forma de uma pergunta)

Hipótese (se houver)

Referencial teórico (teoria e/ou modelo que embasam o estudo, se houver)

____________________________________________________________________

Objetivo da pesquisa científica (só é possível um dentre os dois objetivos abaixo).

Criação de uma teoria, modelo, ou hipótese, para resolver o problema.

Verificação se uma dada teoria, e/ou modelo, e/ou hipótese, já conhecidos, resolvem o problema.

Bibliografia

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dito, acredita-se que um bom projeto facilita muito o desenvolvimento dotrabalho. Nesta etapa deve-se explicitar a metodologia utilizada para a coletade dados,

Souza17 lembra que predominam na segunda etapa do processo asatividades de coleta e análise das informações obtidas no campo ou nolaboratório. Convém salientar, por serem quase sempre esquecidas oudeixadas para depois – o que é um erro irreparável – que a coleta e a análisedos trabalhos recuperados da literatura intensificam-se nessa etapa, na qualhaverá um confronto contínuo entre as observações e análises de dados decampo ou de laboratório e os encontrados na literatura.

A coleta e análise de informações da literatura são processoscontínuos, que se desenvolvem com base em atualizações periódicas delevantamento bibliográfico. Os resultados destas buscas – listas de referênciasbibliográficas acompanhadas ou não de resumos – devem ser guardados, porconstituírem fonte básica de dados de literatura já selecionados, de suapesquisa. A análise do material será feita várias vezes durante a investigação.Inicia-se por uma triagem, para identificação e recuperação dos trabalhos deinteresse no momento; prossegue com leitura crítica dos trabalhos na sua faseintegral; e finalmente com o registro dos resultados das análises críticas e suaorganização.

Finalmente devemos entender que toda pesquisa científica tem porobjetivo responder a um problema. Esta resposta não é uma respostaqualquer, mas é uma resposta teórica, no sentido de possuir estruturasistemática. Tal teoria é de fato uma tese sustentada pelo pesquisadorcientífico. Nós podemos fazer uma pesquisa visando essencialmente a doisfins:

1. Construir tal teoria para explicar os fatos observados. Isto é o quedenominamos de ação empírico-indutiva (veja figura 2.2).

2. Testar (ou verificar) se uma teoria já existente (ou um modelo, ou mesmouma hipótese apenas), resolvem o problema, fazendo explicações epredições que se realizam na prática.

Uma monografia de Lato Sensu e uma monografia de graduação normalmenteexecutariam o fim número dois, mas nada impede que um(a) estudante maisaudacioso(a) e mais disposto a trabalhar prefira fazer uma monografia paraatingir o primeiro fim.

5.1.6. A redação.Souza (op.cit.) observa que, completada a análise da bibliografia e o

desenvolvimento da pesquisa, o aluno começa a redigir seu trabalho. Eledetém, agora, provavelmente um número excessivo de informações, de difícil

17 Souza, M. S. de L.. Guia para redação e apresentação de teses, 2a edição. BeloHorizonte: Coopmed. 2.002. 130p.

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organização, para fazer caber em um texto com 50-100 folhas (grande númerode monografias enquadra-se dentro destes limites). Embora não exista naABNT uma orientação para o volume do produto final, que dependerá,fundamentalmente, do assunto estudado, acredita-se que 50-100 folhasrepresentam monografias de “bom tamanho”. Porém, nada impede que se façauma monografia com mais páginas, se este volume for justificável pelo modocomo foi tratado o conteúdo e pelo seu valor.

Há que se promover o expurgo de informações. Abandonarresultados já coletados e analisados constitui-se o maior óbice à redação dotrabalho. O escritor ostenta aproveitar as informações de várias maneiras, oque é compreensivo, dada a energia despendida em sua coleta. Qualquertentativa é vã, resultando sempre em um texto básico, coerente, masentrecortado por parágrafos extravagantes ou estranhos. O resultado pode sercomparado a uma colcha velha remendada com pano novo: só se enxerga oremendo. Assim a redação não progride, fica emperrada e o autor,desanimado. Só uma reformulação – por eliminação – dos objetivospossibilitará a separação das informações pertinentes ao trabalho das quedevem ser excluídas. É importante salientar que estas últimas não devem serjogadas fora, mas reservadas para outro trabalho.

A redação do relatório é a atividade fundamental da terceira etapa dapesquisa. A redação da monografia começa no fim da etapa anterior e sótermina:

a) provisoriamente, com a entrega do trabalho para defesa pública ouquando submete o artigo ao Corpo Editorial de uma revista científica;ou

b) de maneira definitiva após a incorporação das correções sugeridas ouexigidas pelos membros da comissão examinadora ou do CorpoEditorial da revista.

Outra vez Souza (op.cit.) observa que, quando o intervalo de tempo entreas duas primeiras etapas for longo, por qualquer motivo, poderá haver umdesânimo temporário que impedirá que a redação seja iniciada. “Crie coragem.Retome seu trabalho. Se você está atrasado (a), comece já a redação de suamonografia. O tempo certo para começar a redigir sua tese, dissertação oumonografia – não é definido por etapas, nem por horas, mas sim por ummomento, e bem definido: o do já, o do agora” (Souza, op.cit.).

Analise detidamente o quadro 5.3 – um check-list (uma lista deverificação) para o desenvolvimento da pesquisa. Isso irá ajudá-lo(a).

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QUADRO 5.3. CHECK-LIST PARA O PROCESSO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA.

Item 9 Feito Á fazer

Nível Teórico

Teoria da Ciência

Por que estamos fazendo Ciência ?O que é Ciência e o que não é ?Como faremos Ciência ?

Percepção e Definição do Problema

Qual é o problema ?O problema está num contexto de justificação ou numcontexto de descoberta ?

Revisão de Literatura

A revisão de literatura permite armar/estruturar o problemasob escrutínio ?A revisão de literatura permite identificar os conceitos,métodos/técnicas, fatos e modelos relevantes ?A revisão de literatura permite posicionar o estudo emrelação ao que a comunidade científica já produziu ?A revisão de literatura permite uma avaliação e uma críticaconstrutora sobre o que já foi produzido ?

Construção de um Referencial Teórico

Os conceitos já estão identificados ?As definições destes conceitos estão feitas ?As proposições ( ou hipóteses ) conectando os conceitosestão estabelecidas ?As variáveis ( conceitos convertidos em valores ) estãoexplicitadas?Uma teoria ( ou tese ) já está estabelecida ?Os modelos estão bem construídos ?

(Continua)

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QUADRO 5.3. CHECK-LIST PARA O PROCESSO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

(CONTINUAÇÃO).

Item 9 Feito Á fazer

Nível Prático

Definição de um Processo de Confrontação Teoria vs. Realidade ( tanto para aconstrução teórica quanto para o teste da teoria )

Como será feito o delineamento da pesquisa ?Quais serão os modos de avaliação e mensuração ?Quais são as estratégias ( e instrumentos) de aquisiçãode dados ?Como será feita a análise e interpretação de dados ?Como será feito o histórico da pesquisa, as recomendaçõese a apresentação da teoria como uma solução do problemaenfrentado?O delineamento da pesquisa foi bem desenvolvido e estáconcluído ?As avaliações e mensurações já estão concluídas ?Os dados estão todos validamente adquiridos ?Foi feita uma correta análise e interpretação dos dados ?O histórico da pesquisa ( relatório ) está concluído ?A apresentação da teoria e as recomendações para asolução do problema enfrentado estão concluídas ?

5.2. Algumas regras adicionais.Citaremos nesta seção, quase que ipsis litteris, com poucas

alterações, quatro regras de Souza (op.cit.) mais um conjunto de instruçõesinspirado em minha experiência e de Bueno Filho18 para obtenção de um textocientífico bem feito:

1) Conheça com profundidade e extensão o tema/assunto objeto daredação. Deve-se entender com profundidade e com extensão osprodutos de reflexões feitas a partir do estudo dos trabalhos existentesna literatura, respectivamente, sobre o tema/assunto em foco e sobre

18 Sugestões baseadas em material distribuído pela Secretaria de Pós-Graduação LatoSensu do Departamento de Ciências Exatas da UFLA, material este de autoria do prof.Dr. Júlio Sílvio de Souza Bueno Filho, professor adjunto deste departamento.

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as áreas a ele correlacionadas. Implica, pois, em identificação, buscae análise do maior número possível de trabalhos sobre o assunto, istoé, depende de uma pesquisa bibliográfica bem feita, uma recuperaçãoampla e uma leitura crítica dos trabalhos recuperados. Só assim, oestudante será capaz de, ao final do período de reflexão, transferircom facilidade para o papel o produto da elaboração do conhecimentoadquirido: um texto científico bom.

2) Procure redigir corretamente. Uma redação descuidada podecomprometer a qualidade do trabalho. Não deixe somente para orevisor a tarefa de corrigir o texto. Haverá perda de tempo e dedinheiro. Não tenha preguiça. Use dicionários – os tradicionais, sobforma de livros ou em CD-Rom (cópias eletrônicas) – para esclarecerdúvidas quanto à grafia correta das palavras, para listar sinônimos eantônimos e identificar palavras com idéias semelhantes importantesno contexto. A consulta aos dicionários permite a utilização de termose palavras com segurança, uma vez que neles estão contidos ossignificados das palavras. Erros de digitação devem ser corrigidos e jáenviados corrigidos (o orientador deve receber um texto para análisede tema, e não para corrigir detalhes como digitação). A versão finaldeve passar por uma revisão de português. Um alerta sobre aqualidade de comunicação do texto: é comum vermos um autorenvolvido com seu trabalho, mergulhado nele, íntimo dele, que temidéias, faz revisão de literatura, produz dados, enfim, vive, respira,domina, dorme e acorda pensando no que está pesquisando eescrevendo, mas que apresenta tudo isto desorganizadamente, comoque admitindo implicitamente que seus leitores devem ser capazes deentender aqueles textos, tabelas, e gráficos, com a mesmafamiliaridade com que ele, autor, os entende. Mas as coisas não sãoassim, este pressuposto está equivocado. Os leitores não estão tãofamiliares quanto você, autor, com seu trabalho, sua pesquisa.Portanto, deve-se apresentar as idéias, revisão, dados, resultados econclusão, organizadamente. A pessoa que ler ums monografia nãopode ver um amontoado de idéias, citações, gráficos e tabelas jogadasno papel. Seu leitor tem que sentir-se gentilmente conduzido, comoque por um cicerone, ao mundo que se lhe expõe. As idéias devem terter uma evolução clara e lógica, encadeadas, as citações devem sercosturadas para que façam sentido estar ali, e os resultados, gráficose tabelas têm que ser analisados também segundo uma discussão desucessão coerente e consistente, em que as idéias estejam amarradaslogicamente umas às outras. Uma boa maneira de perceber como sefaz isso é ler um texto (livro, monografia, tese, etc) bem escrito,observando como o autor se preocupa em fazer seu leitor entender oque está apresentando e argumentando. Quem lê muito tende aescrever bem.

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3) Conheça as normas de redação e de publicação e defina as quesão seguidas. No Brasil, os textos técnico-científicos sãonormalizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT,que podem ser usadas na falta de normas específicas de suainstituição. Como já dissemos, vários cursos de graduação e pós-graduação não adotam o cumprimento das normas da ABNT,adotando, alternativamente, suas próprias normas. Este é o caso daUFLA, que tem as. Por isso, o estudante deve, para não perder tempoe dinheiro, identificar as normas seguidas por seu curso. Porém,independentemente da norma a ser seguida, deve-se:

a) ler criticamente os itens de cada uma das normas, definindosua preferência entre as sugestões apresentadas;

b) copiar fichas ou destacar com marcadores de textos asinformações definidas como úteis e mantê-las sempre aoalcance dos olhos durante o processo de redação; e

c) recorrer sempre a elas, enquanto não as conhecer bem e,algumas vezes, para confirmar, após sabê-las de cor esalteado.

4) Tenha sempre em mente o produto final. Entende-se por produtofinal um texto bom e bonito, apropriado para cada fase do processo deredação. No início é apenas um texto com poucas folhas: o primeirorascunho. O bom vai sendo elaborado, num processo dinâmico econtínuo através de correções e de acréscimos de idéias econhecimentos. É montado então, um texto básico, consistente, pelodetalhamento de dados já existentes ou inclusões de novasinformações. A construção pode ser facilitada pela montagem dosumário. Do mesmo modo que a redação do texto, a montagem dosumário é um processo que começa na fase do planejamento etermina na última leitura/correção do trabalho. O sumário funcionacomo um guia para o autor, pois é ele, mantendo-se atualizado, quemostra, em tópicos, toda a amplitude e a delimitação do assunto emfoco. Apesar de não ter sido incluída como regra para redação, é bomque se lembre que a qualidade das informações coletadas da literaturaou a partir da investigação é fundamental para a obtenção de um bomtrabalho. Nas obras científicas e, em particular nas teses, dissertaçõese monografias e nos artigos de periódicos, a qualidade dos dadoscoletados pode ser, em parte, garantida pela apreciação prévia doprojeto de investigação a ser desenvolvido. Para obtenção do título deespecialização, os cursos de pós-graduação Lato Sensu no Brasilexigem, por força de lei, além de sua apresentação escrita, sua defesaperante uma banca formada por professores. Também, para agraduação, há a necessidade de defesa perante banca, em muitoscursos, para obtenção do título de graduado (bacharel, licenciado, ougraduado mesmo). O bonito do produto final não aparece como umpasse de mágica: deve ser criado. O planejamento pode ser feito pelo

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escritor, num processo de erros e acertos, a partir do primeirorascunho. A inexistência de um planejamento no início do trabalho dedigitação implicará, fatalmente, em perda de tempo – quando odigitador for o próprio escritor – ou de tempo ou de dinheiro – quandoa digitação for feita por outra pessoa – em função da mudança naapresentação do texto após cada nova sugestão. O escrito é, pois,desenhado de página em página, desde o primeiro rascunho, atravésde um arranjo equilibrado entre o texto e os espaços em branco. Noinício, umas poucas folhas com o texto bem arranjado: um rascunhobonito. No final, um texto que agrada a todos, principalmente seu autorou autora.

5) Instruções adicionais para algumas das partes de um textocientífico, principalmente se são Relatórios de Pesquisa:1. É quase certo que, para a quase totalidade dos leitores, o Título e oResumo definirão as prioridades de leitura. Isto quer dizer que essesdevem ser bem feitos, ao se animarem mais pessoas a ler seutrabalho. O Título é o menor resumo da monografia, devendo serdefinido após a elaboração do Resumo. Um Resumo é uma síntese dotrabalho, podendo ser escrito como um parágrafo dividido em quatrotópicos (períodos): o primeiro descrevendo o problema e o objetivo dotrabalho, o segundo mencionando a metodologia e técnicasempregadas, o terceiro apresentando os principais resultados, e oquarto as principais conclusões. O Resumo não pode ser apenasalgumas partes dos outros capítulos copiados e colados com o “Word”.Não é assim que se faz um Resumo. O leitor, pelo Resumo, deveentender: onde o autor quer chegar. Por que é importante chegar atélá? Qual caminho ele seguiu para chegar ao seu objetivo? Elechegou? Que encontrou onde chegou? Um Resumo não pode pareceruma introdução, falando em termos gerais sobre o assunto. UmResumo deve fazer o que seu nome diz: resumir o que foi tratado aolongo do texto, utilizando as mesmas palavras utilizadas no texto eapresentando os principais resultados e conclusões alcançadas.2. A Introdução é uma parte do corpo do trabalho que deveinicialmente motivar para a leitura, mostrando a relevância (ouimportância do tema-problema), e, ao seu final, apresentar o objetivodo trabalho. Deve haver por escrito um objetivo claro, que exponhaaonde o autor quer chegar. A questão que o objetivo deve responderé: para que ele escreveu a monografia? Este objetivo está sempreligado a um problema de pesquisa. Isso tem que ficar claro desde oinício, inclusive no Resumo, não apenas na Introdução.3. O autor deve se lembrar que escreve para um público heterogêneo.Alguns escolherão ler o trabalho todo, mas muitos lerão com interessepontual. Haverá leitores que nutrirão a expectativa de utilizar suamonografia para aprender sobre aquele tema: logo, lembre-se deescrever a Revisão Bibliográfica (ou de Literatura) e/ou o Referencial

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Teórico (marco de referência teórica) com suficiente didática e clarezade detalhes, para atender estes estudantes do tema. Para algunstemas, o autor poderá, com a anuência de seu orientador, dispensar aRevisão Bibliográfica, em razão do conteúdo desta ser consideradotrivial, padrão, ou de amplo domínio público. Uma RevisãoBibliográfica deve conter referências bibliográficas citadas, pois, docontrário, como o leitor saberia de onde vêm as idéias apresentadas?Numa Revisão pode também comentar ou analisar o que se estárevendo, concordando ou discordando, apresentando críticas e limites.4. Na parte de Metodologia, deve-se descrever o material utilizado, sefor o caso (tipo de questionário, uso de computadores ou outramáquina, material experimental ou proveniente e coletas in loco), erelatar os procedimentos e técnicas utilizadas, inclusive estatísticas, seestas forem usadas.5. Em Resultados e Discussão, o autor deve descrever, com auxílio detabelas e gráficos, fotografias, depoimentos, sempre que possível epertinentes, os resultados do trabalho de pesquisa que sãorelacionados ao problema posto, comentando suas implicaçõesimediatas. A Discussão mencionada é uma espécie de diálogo com aRevisão Bibliográfica e com o Referencial Teórico, onde a expertise(competência cientifica) do autor deve fazer todos os amarrios,deduções, induções, arrazoados, contra-arrazoados cabíveis. Coloquejunto com os seus resultados, uma discussão sua desses resultados,ancorada na sua Revisão de Literatura Esta é a parte da monografiaonde mais se pode avaliar quanto de competência, lucidez, econtribuição à Ciência o autor ou autora pôde fazer com seu trabalho.Por isto, “gaste tempo” nela. Obviamente, Resultados e Discussão éum capítulo que deve ser colocado no texto, se há resultados depesquisas e levantamentos próprios.6. Considerações Finais ou a Conclusão devem ser umaconsolidação do que se fez nos capítulos anteriores, fazendo o leitorse sentir brindado com um lúcido “costuramento” de tudo que foiapresentado atrás. Na Conclusão, o autor não deve ser prolixo,atendendo à tarefa de responder ao problema de pesquisa, ao objetivoda monografia. Ao leitor deve ser possível ler apenas a Introdução e aConclusão da monografia, sem perda de continuidade.7. Referências bibliográficas sempre devem seguir regras, que podemser obtidas nas normas de redação pertinentes, na biblioteca de suaescola, ou na ABNT19. Deve-se referenciar tudo que foi citado.Também tudo que está citado deve estar referenciado. Deve-sehomogeneizar o modo de se fazer referências no corpo do texto. Paraisso, consulte as normas de apresentação de monografias.

19 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (www.abnt.org.br).

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5.3. O processo de correção da monografia.Nós vamos continuar seguindo Souza (op.cit.), quando ao

discernimento do processo de correção de monografias. São vários osmétodos usados para a correção de um texto científico. Esta seção reproduzas orientações dadas a iniciantes na pesquisa, os quais têm ajudado pós-graduandos e graduandos a vencer a última etapa de seus trabalhosacadêmicos.

É importante dizer que o documento construído com base nospassos para a redação apresentados não pode ser considerado uma obraacabada. A monografia nessa fase pode ser representada por um diamantebruto, que, para brilhar, precisa ser lapidado. Este procedimento transforma-onum brilhante: pedra rara, quando natural, e muito preciosa. A mesmatransformação pode ser conseguida no trabalho científico, não sem esforço,através de correções do texto.

Cinco fatores, entre os vários determinantes da escolha do processode correção de um trabalho científico, devem ser destacados:a) o tempo disponível para a orientação do aluno;b) o tempo que resta ao aluno até a data de seu desligamento do curso;c) o relacionamento estabelecido entre o orientador e o aluno;d) a etapa em que o trabalho está – projeto, coleta de dados da literatura, docampo, e laboratório, análise de dados, redação inicial ou redação final; ee) a existência ou não de interlocutores disponíveis, que não o orientador epossível co-orientador

Dependendo, então, desses fatores, dois planos alternativos para correção dotexto podem ser estabelecidos: o da correção global e o da correção capítulo acapítulo. O primeiro é mais conhecido e usado. A correção só começa quandoa redação acaba. Deve ser o escolhido quando:a) o tempo for curto;b) o orientador e o aluno estiverem distantes, isto é, residirem em locaisdiferentes;c) o trabalho estiver em fase final, oud) o aluno não tiver interlocutor/revisor.

No segundo plano todo o processo de correção é repetido após o término daredação de cada capítulo. É o indicado quando:a) os dados estiverem sendo ainda coletados ou analisados; oub) quando existirem tempo e interlocutores/revisores disponíveis.

Este último processo, apesar de demorado, é mais vantajoso. A ansiedade, aapreensão, o medo e a preocupação – sensações desagradáveis eestressantes – que podem surgir durante processos de avaliação parecem eaparecem mais atenuados. Uma possível explicação para esta atenuação é otamanho do texto, que por ser menor – apenas um capítulo – tem menos

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erros. Outra, é que erros sistemáticos existentes num capítulo, à medida quesão apontados, deixam de ser cometidos nos capítulos subseqüentes.

Souza (op.cit.) apresenta então uma sequência de passos(procedimentos) para se proceder a correção da monografia. Vamos a eles.

PROCEDIMENTO 1: Reprodução do trabalho a ser corrigidoPara economizar tempo, fazer tantas cópias quantos forem os

revisores. É bom contar com, pelo menos, um interlocutor/revisor, além doorientador e do co-orientador. Este poderá ser outro membro da banca dedefesa, se a correção que se está fazendo é a correção pós-defesa. Érecomendável que cada um receba uma cópia. Convém solicitar os revisoresque destaquem bem suas correções e sugestões. Quanto mais visíveis, masfácil será a correção. Não se esqueça da sua cópia. Ela será importante.

PROCEDIMENTO 2: Leitura crítica do trabalhoA análise do trabalho demanda um certo tempo, que varia de revisor

a revisor, pois depende, fundamentalmente, da capacidade de trabalho e dotempo disponível dos leitores para a execução dessa tarefa. Se o tempodestinado a esse procedimento é escasso, convém distribuir o trabalho entreos revisores auxiliares, isto é, atribuir tarefas diferentes a cada um. Sendo oorientador o responsável legal pelo trabalho, não deve participar da divisão detarefas. Ele deve examinar o texto completo. Se houver tempo edisponibilidade de revisores, o exame do trabalho não deve ser parcial. Aescolha de revisores das diferentes áreas do conhecimento abrangidas pelotrabalho, por certo, o enriquecerá muito com sugestões e críticas.

Convém salientar que, nos casos de correção global, durante oprocedimento 2, o autor deve afastar-se das atividades relacionadas com atese. Se for possível, fique longe dela por uns dez dias. Esse tempo éimprescindível para que o autor, desligando-se do processo de redação,esqueça detalhes de seu trabalho. Isso permitirá que o autor retome o trabalhocomo um revisor.

PROCEDIMENTO 3: Recebimento das críticas e sugestõesEsse é o pior período da vida do estudante pesquisador. É a hora da

verdade. É a hora de colher os frutos: maduros, de vez ou verdes. Se a plantativer sido molhada e adubada convenientemente, por certo o fruto estarámaduro. Se ele estiver ainda verde, não desanime. Ele amadurece com otempo, não se esqueça.

Apesar da intranqüilidade e da ansiedade, tente aproveitar aomáximo as críticas e sugestões de cada revisor. Estas sensaçõesdesagradáveis podem ser minoradas se as críticas de cada revisor foremapresentadas isoladamente e sem testemunhas. Faça um cronograma bemequilibrado.

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PROCEDIMENTO 4: Incorporação das alterações no textoAnalise com atenção as sugestões de cada revisor. Destaque todas

elas, separando as que serão incorporadas imediatamente das não aceitáveise das discutíveis. Reavalie estas últimas e, com o orientador, as soluçõesalternativas para cada sugestão. Quando não restar questões a seremresolvidas, passe todas as sugestões e correções aceitas para uma mesmacópia: a sua. Isso facilitará muito a correção.

Estando com todas as alterações sugeridas e registradas numamesma cópia, proceda à correção, modificando o texto original. Isso pode serfeito por você mesmo. Por certo, um digitador experiente poderá tambémajudá-lo.

PROCEDIMENTO 5: Revisão Pré-DefesaReapresentar ao orientador e ao co-orientador o trabalho já corrigido,

isto é, já incorporado de todas as alterações sugeridas. Destaque asalterações feitas para facilitar a revisão. Isso pode ser feito usandomarcadores de texto.

PROCEDIMENTO 6: Reprodução do trabalho para a defesaSe o texto corrigido, inclusive seu português, for aprovado pelo

orientador, ele está pronto para a reprodução pré-defesa. O número de cópiasdeve ser calculado em função da exigência do curso. Acrescentar ao númeroresultante a sua cópia e as destinadas aos revisores, se houver, que irãoauxiliá-lo na fase de defesa pública. Encadernar as cópias, como já orientado,com espiral ou equivalente plástico.

PROCEDIMENTO 7: Reprodução do trabalho na pós-defesaProcure, após um breve descanso, refazer pela última vez sua

monografia, incluindo as sugestões feitas e as correções exigidas pelacomissão examinadora, ou pelo orientador, se este desejar consolidar otrabalho segundo seu entendimento.

É importante não deixar passar muito tempo da defesa. A sensaçãode dever cumprido, apesar de agradável, não é salutar nesse momento. Elarompe o processo, impedindo seu término. Esse ainda não é o momento deparar. Agüente mais um pouquinho. Finalize seu trabalho, cumprindo osprazos do curso e da universidade.

Finalizando estas orientações, adicionamos a estas exortações deSouza (op.cit.) as nossas próprias: não desanime, não aborte sua monografiaantes de terminá-la e apresentá-la para defesa. Desde que a universidadeexiste como instituição individualizada, já perto de um milênio, essa é uma desuas atividades essenciais: estudar, pesquisar, escrever, defender perante acomunidade de estudantes e docentes, corrigir, e publicar para a sociedadeatual e posterior, um conhecimento que pretenda ser seguro e certo. Além detrabalhoso, e frequentemente difícil, por certo há fraquezas, mas, éimpressionante como estas fraquezas podem ter construído esta fortaleza que

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é hoje a ciência e tecnologia. Parece ser um cumprimento da revelaçãobíblica: “quando sou fraco é que sou forte ...”20.

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E RECOMENDADA.

Esta orientação deve muito aos textos de alguns autores queescreveram como fazer ciência e monografia. A seguir, listamos algumasdestas obras que consultamos (muitas já referenciadas nas notas de rodapéao longo do texto), as quais também recomendamos para leitura parcial outotal.1. Tachizawa, T; Mendes, G.. Como fazer monografia na prática, 8a edição. Rio de Janeiro. Editora FGV. 2.003. 148 p..2. Souza, M. S. de L.. Guia para redação e apresentação de teses, 2a edição Belo Horizonte: Coopmed. 2.002. 130p.3. Köche, J.C.. Fundamentos de metodologia científica, 14 edição. Petropo- lis: Editora Vozes. 1.997. 181 p..4. Oliveira, M.S. de. Qualidade na graduação em Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Lavras. Projeto metodológico para Tese de Doutoramento. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1.998. 284p..5. Ruiz, J.A.. Metodologia científica. São Paulo, Editora Atlas, 1.992.6. Lovejoy, W.S.. Integrated operations – a proposal for operations

management teaching and research. Apresentado à Annual Meeting ofthe Production and Operations Management Society,Indianapolis.1.996.

7. Filippini, R.. Operations management research : some reflections onevolution, models and empirical studies. International Journal ofOperations & Production Management, v.17, n.7. 1.997.

8. Nakano, D.N.; Fleury, A.C.C.. Métodos de pesquisa na Engenharia deProdução. Artigo apresentado no ENEGEP-Encontro Nacional deEngenharia de Produção, São Carlos, 1.997 .

9. Yin, R.. Case study research : design and methods. Sage Publshers,1.994.

10. Spink, P.. Pesquisa-ação e a análise de problemas sociais eorganizacionais complexos. Psicologia, vol. 5, n.1, 1.976.

11. Elden, M.; Chisholm, R.F.. Emerging varieties of action research :introduction to the special issue. Human Relations, vol. 46, no. 2.1.993.

12. Thiollent, M.. Metodologia da pesquisa-ação. 6a ed. São Paulo. CortezEditora, 1.994.

13. Westbrook, R.. Action Research : a new paradigm for research inproduction and operations management. International Journal ofOperations & Production Management, vol.15, no. 12. 1.995.

20 Segunda Carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 12, verso 10, parte b.

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14. Corrêa, H.L.. Linking flexibility, uncertainty and variability inmanufaturing systems. Aldershot, Avebury. 1.994.

15. Eco, U. Como se faz uma tese. São Paulo. Editora Perspectiva. 1.997.16. Lakatos, E.V.; Marconi, M. de A.. Metodologia científica. São Paulo,

Editora Atlas. 1.988.17. Brandão, C.R. Repensando a pesquisa participante. São Paulo, Editora

Brasiliense, 1.987.18. Ghaury, P.; Gronhaug, K.; Kristianslund, I.. Research methods in

business studies. s.l.,s.ed.,n.p..1.992 .19. Rudner, R.. The scientist qua scientist makes value judgments.

Philosophy of Science. v.20, n.1, 1.953.20. Lacey, H.M.. Science and values. Apostila do curso lecionado na

FFLCH-USP, São Paulo, 1.996.21. Bronowski, J.. Ciência e valores humanos. Belo Horizonte, Editora Itatiaia,

1.979.22. Popper, K. R.. A lógica da pesquisa científica. São Paulo, Editora

Cultrix-EDUSP, 1.975.23. Kuhn, T.S.. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo,

Editora Perspectiva, 1.995.