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Eugênia Maria Dantas Ione Rodrigues Diniz Morais Organização do Espaço DISCIPLINA Lugar e (des) identidade Autoras aula 06 Material APROVADO (conteúdo e imagens) Data: ___/___/___ Nome:_______________________________________ VERSÃO DO PROFESSOR VERSÃO DO PROFESSOR

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Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

Organização do EspaçoD I S C I P L I N A

Lugar e (des) identidade

Autoras

aula

06Material APROVADO (conteúdo e imagens)(conteúdo e imagens) Data: ___/___/___

Nome:_______________________________________

VERSÃO DO PROFESSORVERSÃO DO PROFESSOR

Aula 06  Organização do EspaçoCopyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPEEliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN)Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora TipográficaNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Dantas, Eugênia Maria. Organização do espaço / Eugênia Maria Dantas, Ione Rodrigues Diniz Morais. – Natal, RN : EDUFRN, 2008.

216 p.

1. Organização do espaço. 2. Território e territorialidade. 3. Região. 4. Geografia. I. Morais, Ione Rodrigues Diniz. II. Título.

ISBN: 978-85-7273-442-4

CDD 910RN/UF/BCZM 2008/71 CDU 911

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Aula 06  Organização do Espaço 1

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Copyright © 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa daUFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.

Divisão de Serviços Técnicos

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Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

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ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPEEliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfi coIvana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares Borges (UFRN)Janio Gustavo Barbosa (UFRN)Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN)Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora Tipográfi caNouraide Queiroz (UFRN)

IlustradoraCarolina Costa (UFRN)

Editoração de ImagensAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN)Mariana Araújo (UFRN)

Ivana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Dantas, Eugênia Maria. Organização do espaço / Eugênia Maria Dantas, Ione Rodrigues Diniz Morais. – Natal, RN :EDUFRN, 2008.

216 p.

1. Organização do espaço. 2. Território e territorialidade. 3. Região. 4. Geografi a. I. Morais, Ione Rodrigues Diniz. II. Título.

ISBN: 978-85-7273-442-4

CDD 910RN/UF/BCZM 2008/71 CDU 911

Apresentação

Nesta aula, você será levado a refl etir sobre o conceito de lugar na ciência geográfi ca. A abordagem está ancorada em refl exões que contextualizam essa noção a partir de referências como localização, experiência e globalização. Dessa forma, discute-

se a relação entre a localização e o lugar; o lugar e a experiência tramando a identidade e o pertencimento; a globalização e a defi nição do lugar e do não-lugar. Partindo dessas relações, analisamos as diferenças e conexões que perpassam esse conceito, sintetizando que na esfera do lugar se realiza o não-lugar, no processo de identifi cação se estabelece a não-identifi cação, no sentimento de estranhamento pode emergir a familiaridade. É do jogo da negação e da afi rmação que se revela o sentido do espaço e do lugar no mundo contemporâneo. De maneira sistemática, são sugeridos alguns exercícios para serem realizados por você, de forma a estimular a refl exão teórica articulada à prática.

ObjetivosCompreender o conceito de lugar a partir de diferentes abordagens.

Analisar a relação entre localização, experiência e globalização na defi nição de lugar.

Entender a relação entre lugar e não-lugar no contexto da globalização.

Saber aplicar o conteúdo conceitual em situações-problema.

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Aula 06  Organização do Espaço2 Aula 06  Organização do Espaço

Localizar: um ponto, um lugarEsta aula aborda a noção de lugar. Imagine um ponto, uma pedra, um quadro, uma cadeira, uma casa, uma rua, uma cidade, um país, um continente, a Terra. Todo esse enunciado contém lugares, mas será que todos os lugares anunciados podem ser considerados geográfi cos?

Dê sua opinião.

Agora, vamos ampliar a nossa abordagem. Retomemos a noção de Geografi a como a descrição da Terra. A partir dessa defi nição, impõem-se ao sujeito que quer descrever a necessidade de inventariar, localizar e caracterizar a distribuição dos fenômenos na superfície terrestre, levando-o ao encontro da forma, do contorno e do limite. Nesse encontro, o sujeito percebe a diferenciação espacial existente entre as diversas áreas visitadas, mapeando os locais de ocorrência dos fenômenos. Considerando a preocupação em precisar ONDE os fenômenos se situam, a Geografi a foi tramando a sua trajetória como Ciência.

Veja o mapa a seguir:

Figura 1 - O planisfério e as coordenadas geográfi cas

Font

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7).

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Aula 06  Organização do Espaço Aula 06  Organização do Espaço 3

A partir do mapa, você é capaz de determinar de maneira precisa a localização geográfi ca dos continentes. Tal LOCALIZAÇÃO é denominada de ABSOLUTA, pois é convencionada por um sistema de coordenadas geográfi cas que lhe permite identifi car os lugares a partir da latitude e da longitude.

No entanto, o espaço não se revela apenas por sua abordagem geométrica, mas também pela dinâmica de sua organização social e articulação técnica. A noção de espaço, conforme você já estudou, está ligada à concepção de tempo, assim como a de movimento e, consequentemente, a de estrutura e processo. Dessa perspectiva, agrega-se à noção de localização absoluta a de LOCALIZAÇÃO RELATIVA, a qual diz respeito à posição que um lugar ocupa em relação a outras localidades, podendo ser expressa das mais variadas maneiras (em tempo de percurso, em custo dos transportes, em freqüência de comunicação etc.). (CRISTOFOLETTI, 1985, p. 84). De forma sintética, pode-se dizer que enquanto a localização absoluta é fi xa e constante, a relativa pode sofrer alterações com o tempo, de acordo com as inovações técnicas, dos meios de comunicação e informação, fazendo com que haja aproximação, encurtamento e intensifi cação dos contatos entre os lugares.

O espaço vai sendo revelado a partir da malha de informações que a ele se agrega, confi gurando-se em lugares para morar, trabalhar, amar, casar, ter fi lhos... Enfi m, os lugares são pontos onde as múltiplas dimensões da vida (física, econômica, política, cultural) fi ncam suas raízes. Essa condição atravessa o tempo e se institui como necessária à reprodução da vida. Veja um exemplo que confi rma essa afi rmação.

Figura 2 – Noções cartográfi cas

Font

e: D

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.

Se você observar bem essa fi gura, deverá perceber que, independente da organização social e do tempo histórico, o espaço vai se desenhando a partir de uma malha de pontos e nós que permitem a sociedade fi ncar as matrizes materiais e simbólicas que as regem. Assim, a localização geográfi ca é, simultaneamente, absoluta e relativa. Absoluta, na medida em

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Atividade 1

sua

resp

osta

que permite que sejam visualizados e identifi cados os locais onde a ação humana interveio, colocando na paisagem as próteses necessárias a sua sobrevivência enquanto ordem social. Relativa, na medida em que é possível analisar as distintas maneiras de comunicação e articulação entre as formas e funções que tocam o espaço, constituindo os (des) níveis nas negociações e trocas simbólicas que enredam a tessitura do espaço.

Vamos Praticar!

a) Junto às pessoas mais velhas (na faixa de 60 anos), procure saber quais eram os meios de comunicação que serviam para articular a sua cidade à capital do Estado.

b) Identifi que os meios de comunicação utilizados atualmente para realizar a mesma função.

c) Compare as duas realidades, refl ita e elabore uma síntese sobre a noção de localização absoluta e relativa.

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Da localização ao lugar: a perspectiva da experiência

Você estudou a dimensão da localização para ciência geográfi ca. É muito comum, na linguagem cotidiana, as palavras localização e lugar assumirem o mesmo sentido. No entanto, como conceitos geográfi cos passam a fi gurar como suportes à compreensão da realidade. Assim, já abordamos o lugar na perspectiva da localização, agora vamos adentrar o campo da experiência vivida como referência para defi nir e explicar o lugar.

Nessa direção, apresentamos um pouco as idéias de Yi-FU-Tuan (1983) a respeito de espaço e lugar. Para ele, esses termos são familiares, indicam um campo de experiência do sujeito com o meio que pode ser expressa em afi rmações correntes como: “vivemos no espaço”, “não há lugar para outro edifício no lote”. Assim, no cotidiano esses vocábulos habitam a nossa linguagem e, mais, alimentam imagens e representações que são guardadas na memória, passando a compor o repertório de lembranças que se tem dos espaços vividos.

Leia o fragmento a seguir. Sinta o sertão nas palavras, navegue pelas veredas abertas pelo texto. Pense qual é o sertão que está dentro de você.

Cada vivente tem o seu sertão. Para uns são as terras além do horizonte e para outros o quintal perdido da infância. É o interior mais distante. As entranhas da terra. [...]. É quando a gente dá as costas para o mar e se interna de terra a dentro, vai deixando para trás o chão arenoso do litoral e passa a pisar o terreno mais barrento do agreste. [...] Ali (sertão) os invernos são escassos e irregulares [...]. Os matos como que tiveram de aprender a viver com pouca água. São mais baixos, ralos, de folhas grossas e galhos contorcidos como torturados e mais das vezes espinhentos. Desde as mais rasteiras touceiras de xique-xique e macambira até as plantas de maior porte como a jurema, a unha-de-gato, o juazeiro, a quixabeira e a favela. É que ali as plantas também se defendem. Daí os vaqueiros envergarem encouramento para traquejar o gado na caatinga. Quando aparta o inverno as folhas amarelam e caem, deixando os galhos como garranchos nus implorando chuva. É o belo-horrível da caatinga em dormência, paisagem de uma natureza morta. Mas logo nas primeiras chuvas acordam numa explosão verde e do descampado dos chãos brota o panasco como um arrepio vegetal. Ali a erosão fez afl orar pedras de todos os tamanhos. Quando graúdas, como monumentos, os sertanejos as chamam de serrotes. (LAMARTINE, 2004).

Traquejar

Aqui está empregado no sentido de correr atrás, perseguir.

Panasco

Vegetação que serve de alimento para o gado.

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Aula 06  Organização do Espaço6 Aula 06  Organização do Espaço

Ao ler o fragmento, pode-se perceber que a narrativa está baseada na experiência que o sujeito tem com o lugar, defi nindo as suas vivências e pertencimentos. As experiências dizem respeito às diferentes maneiras que os indivíduos têm de conhecer e construir a realidade. Elas se alimentam e são alimentadas pelo espaço vivencial em que se faz presente o campo material e simbólico em as fronteiras são tênues e indefi nidas. Não saberíamos responder se são as características físicas do sertão que defi nem as experiências ou se são as imagens que o habitante faz do sertão que defi nem as suas experiências. Assim, o lugar na perspectiva da experiência defi ne-se como a base de reprodução da vida, a seiva do pertencimento. É a partir do estabelecimento dos vínculos com o espaço que o homem cria representações e vivências, que fi nca a identidade do sujeito e do lugar.

Conforme Carlos (1996, p. 20) “o lugar é a porção do espaço apropriável para vida – apropriada através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores, é o bairro, a praça, é a rua [...]”. O lugar se estabelece a partir do plano do vivido, do conhecido e reconhecido como parte de pertencimento do habitante em um espaço delimitado, que aprofunda os laços entre habitante-lugar, habitante-habitante. Nesse sentido, nem todos os espaços são lugares. Os lugares

São aqueles que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito ao seu cotidiano e ao seu modo de vida, onde se locomove, trabalha, passeia, fl ana, isto é, pelas formas através das quais o homem se apropria e vão ganhando o signifi cado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável – extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos deslocamos. Nada também de espaços infi nitos. [...] São as relações que criam o sentido dos lugares... Isto porque o lugar só pode ser compreendido em suas referências, que não são específi cas de uma função ou de uma forma, mas produzidas por um conjunto de sentidos, impressos pelo uso (CARLOS, 1996, p. 22).

O lugar se revela na prática imediata e cotidiana do indivíduo com o ambiente que lhe está mais próximo. É a familiaridade que transforma o espaço em lugar habitado. O tempo e a memória são responsáveis por assegurar uma feição identitária, a partir das camadas de signifi cações que se compactam, minimizando a força da razão e ampliando os canais de comunicação subjetiva que enraíza o homem ao lugar. De forma sugestiva, pode-se pensar o lugar como uma duplicação do mundo real, tramado nas teias da imaginação.

Nessa sentido, leia o que pensa Yi-fu-Tuan sobre a relação tempo e lugar.

Saber como tempo e lugar estão relacionados é um problema intrincado que requer diferentes abordagens. Vamos explorar três delas: tempo como movimento ou fl uxo, e lugar como pausa na corrente temporal; afeição pelo lugar como uma função de tempo, captada na frase: ‘leva tempo para se conhecer um lugar’; e lugar como tempo tornado visível, ou lugar como lembrança de tempos passados. O lugar é um mundo de signifi cados organizados. É essencialmente um conceito estático. Se víssemos o mundo como processo, em constante mudança, não seríamos capazes de desenvolver um sentido de lugar. (TUAN, 1983, p. 198).

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Aula 06  Organização do Espaço Aula 06  Organização do Espaço 7

O que será que Tuan quer dizer? Vamos tentar decifrar.

1. O tempo como movimento e fl uxo; o lugar como parada – imagine que você tem uma meta a ser cumprida e que para isso precisa percorrer um caminho. O movimento que será feito para atingir o objetivo se constitui um ponto no tempo e no espaço. O lugar, nesta perspectiva, aparece como acampamento ou uma parada no caminho para atingir o que se vislumbra para o futuro. A construção do sentido de lugar pautada na experiência apresenta a conotação de um ponto de parada, repouso, descanso em uma escalada de pretensões a serem alcançadas. O lugar é passagem.

2. Afeição pelo lugar como uma função de tempo – uma das características do homem moderno é o deslocamento, sem tempo para criar raízes. Sua experiência e apreciação do lugar são sempre superfi ciais. Leva tempo para se afeiçoar a um lugar. Isso ocorre a partir de uma mistura particular de vistas, cheiros, sons, uma harmonia ímpar de ritmos naturais e artifi ciais. “Sentir um lugar é registrado pelos nossos músculos e ossos”. A experiência com o lugar pode ser intensa ou discreta, fugaz ou demorada, sofrida ou prazerosa; elas ocorrem ao longo de toda uma vida, sendo percebida e sentida na dinâmica dessa trajetória. Destas, resultam as distintas formas de afeição que o sujeito tem com o espaço. Assim, “A sensação de tempo afeta a sensação de lugar”. À medida que se vive aumenta o peso do tempo, marcando a experiência com o espaço. Pode-se perguntar: O que isso signifi ca? Como se dá a relação passado, presente e futuro tecendo o sentido do lugar? Muitas podem ser as respostas. Porém, pode-se destacar que é necessário considerar a passagem do tempo relacionado ao ciclo da vida humana. Dessa relação, emergem as distintas percepções e vivências com o lugar. Não existe lugar, mas lugares que se revelam pelas múltiplas experiências que os indivíduos têm com o meio, instituindo o processo de identifi cação do indivíduo com o espaço.

3. Lugar como tempo tornado visível, ou lugar como lembrança de tempos passados – o lugar materializa a experiência por meio de um campo simbólico em que os “objetos seguram o tempo”. O bairro, a rua, o bar, a escola, os amigos, a fotografi a, o desenho, o baralho, a baixela, a escrivaninha são partes que possibilitam reencontrar o lugar como cenário que abarca a teia da identidade.

A literatura é uma boa companheira para nos ensinar mais sobre isso. Leia esse fragmento de Marcel Proust, extraído do livro Em busca do tempo perdido.

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Aula 06  Organização do Espaço8 Aula 06  Organização do Espaço

Fazia já muitos anos que, de Combray, tudo que não fosse o teatro e o drama do

meu deitar não existia mais para mim, quando num dia de inverno, chegando eu em casa,

minha mãe, vendo-me com frio, propôs que tomasse, contra meus hábitos, um pouco de

chá. A princípio recusei e, nem sei bem por que, acabei aceitando. Ela então mandou buscar

um desses biscoitos curtos e rechonchudos chamados madeleines, que parecem ter sido

moldados na valva estriada de uma concha de São Tiago. E logo, maquinalmente, acabrunhado

pelo dia tristonho e a perspectiva de um dia seguinte igualmente sombrio, levei à boca uma

colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço da madeleine. Mas no mesmo instante

em que esse gole, misturado com os farelos do biscoito, tocou meu paladar, estremeci, atento

ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem

a noção de sua causa. Rapidamente se me tornaram indiferentes as vicissitudes da minha

vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, da mesma forma como opera o

amor, enchendo-me de uma essência preciosa; ou antes, essa essência não estava em mim,

ela era eu. Já não me sentia medíocre, contingente, mortal. De onde poderia ter vindo essa

alegria poderosa? Sentia que estava ligada ao gosto do chá e do biscoito, mas ultrapassava-

o infi nitivamente, não deveria ser da mesma espécie. De onde vinha? Que signifi caria?

Onde apreendê-la? Bebi um segundo gole no qual não achei nada além do que no primeiro,

um terceiro que me trouxe um tanto menos que o segundo. É tempo de parar, o dom da

bebida parece diminuir. É claro que a verdade que busco não está nela, mas em mim. Ela a

despertou, mas não a conhece, podendo só repetir indefi nidamente, cada vez com menos

força, o mesmo testemunho que não sei interpretar e que desejo ao menos poder lhe pedir

novamente e reencontrar intacto, à minha disposição, daqui a pouco, para um esclarecimento

decisivo. Deponho a xícara e me dirijo ao meu espírito. Cabe a ele encontrara verdade. Mas

de que modo? Incerteza grave, todas as vezes em que o espírito se sente ultrapassado por si

mesmo; quan do ele, o pesquisador, é ao mesmo tempo a região obscura que deve pesquisar e

onde toda a sua bagagem não lhe servirá para nada. Procurar? Não apenas: criar. Está diante

de algo que ainda não existe e que só ele pode tornar real, e depois fazer entrar na sua luz.

E recomeço a me perguntar o que poderia ser esse estado desconhecido, que não

apresentava nenhuma prova lógica, e sim a evidência de sua felicidade, de sua realidade, ante a

qual as outras se desvaneciam. Quero tentar fazê-lo reaparecer. Pelo pensamento, retrocedo ao

instante em que tomei a primeira colherada de chá, e encontro a mesma situação, sem qualquer

luz nova. Peço a meu espírito mais um esforço, que me traga ainda uma vez a sensação que

escapa. E, para que nada quebre o impulso com que ele vai procurar recuperá-la, afasto todos

os obstáculos, toda idéia estranha, protejo meus ouvidos e minha atenção contra os rumores

da sala ao lado. Porém, sentindo que o espírito se cansa sem proveito, forço-o, ao contrário, a

aceitar a distração que lhe recusava, a pensar em outra coisa, a se refazer antes de uma tentativa

suprema. Depois, pela segunda vez, faço o vácuo diante dele, e coloco-o de novo em face do

sabor ainda recente daquele primeiro gole, e sinto palpitar em mim algo que se desloca, desejaria

elevar-se, algo que teria se soltado a uma grande profundidade; não sei o que é, mas aquilo sobe

devagar; experimento a resistência e ouço o rumor das distâncias atravessadas.

Certamente, o que palpita desse modo bem dentro de mim, deve ser a imagem, a

lembrança visual, que, ligada a esse sabor, tenta segui-lo até mim. Mas debate-se muito longe,

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Aula 06  Organização do Espaço Aula 06  Organização do Espaço 9

muito confusamente; mal percebo o refl exo neutro em que se confunde o inatingível turbilhão

de cores remudadas; e não consigo distinguir a forma, pedir-lhe como ao único intérprete

possível, que me traduza o testemunho de sua contemporânea, de sua companheira inseparável,

pedir-lhe que me diga de que circunstância particular, de que época do passado se trata.

Será que vai chegar até a superfície de minha clara consciência, essa lem brança, o

instante antigo que a atração de um instante idêntico veio de tão longe solicitar, comover,

erguer do fundo de mim? Não sei. Agora não sinto mais nada, parou, desceu de novo talvez;

quem sabe se nunca mais voltará de sua noite? Dez vezes é preciso que eu recomece, que me

debruce para ele. E, a cada vez, a canseira que nos desvia de toda tarefa difícil, de toda obra

importante, me aconselhou largar aquilo, beber meu chá pensando apenas nos aborrecimentos

de hoje, nos desejos de amanhã, que se deixam remoer sem fadiga.

E de súbito a lembrança me apareceu. Aquele gosto era o do pedacinho de madeleine

que minha tia Léonie me dava aos domingos pela manhã em Combray (porque nesse dia

eu não saía antes da hora da missa), quando ia lhe dar bom-dia no seu quarto, depois

de mergulhá-lo em sua infusão de chá ou de tília. A vista do pequeno biscoito não me

recordara coisa alguma antes que o tivesse provado; talvez porque, tendo-o visto desde

então, sem comer, nas prateleiras das confeita rias, sua imagem havia deixado aqueles

dias de Combray para se ligar a outros mais recentes; talvez porque, dessas lembranças

abandonadas há tanto fora da memória, nada sobrevivesse, tudo se houvesse desagregado;

as formas – e também a da pequena conchinha de confeitaria, tão gordamente sensual

sob as suas estrias severas e devotas – tinham sido abolidas, ou, adormentadas, haviam

perdido a força de expansão que lhes teria permitido alcançar a consciência. Mas,

quando nada subsiste de um passado antigo, depois da morte dos seres, depois da

destrui ção das coisas, sozinhos, mais frágeis, porém mais vivazes, mais imateriais, mais

persistentes, mais fi éis, o aroma e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como

almas, chamando-se, ouvindo, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, levando sem se

submeterem, sobre suas gotículas quase impalpáveis, o imenso edifício das recordações.

E logo que reconheci o gosto do pedaço da madeleine mergulhado no chá que

me dava minha tia (embora não soubesse ainda e devesse deixar para bem mais tarde

a descoberta de por que essa lembrança me fazia tão feliz), logo a velha casa cinzenta

que dava para a rua, onde estava o quarto dela, veio como um cenário de teatro se

colar ao pequeno pavilhão, que dava para o jardim, construído pela família nos fundos

(o lanço truncado que era o único que recordara até então); e com a casa, a cidade,

da manhã à noite e em todos os tempos, a praça para onde me mandavam antes do

almoço, as ruas aonde eu ia correr, os caminhos por onde se passeava quando fazia bom

tempo. E como nesse jogo em que os japoneses se divertem mergulhando numa bacia

de porcelana cheia de água pequeninos peda ços de papel até então indistintos que, mal

são mergulhados, se estiram, se contor cem, se colorem, se diferenciam, tornando-se

fl ores, casas, pessoas consistentes e reconhecíveis, assim agora todas as fl ores do

nosso jardim e as do parque do Sr. Swann, e as ninféias do Vivonne, e a boa gente

da aldeia e suas pequenas residên cias, e a igreja, e toda Combray e suas redondezas,

tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardins, de minha xícara de chá.

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53).

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Aula 06  Organização do Espaço10 Aula 06  Organização do Espaço

Atividade 2

A literatura e o lugarA descrição apresenta, de forma exemplar, a volta do lugar como um reencontro com

o tempo das vivências singulares do indivíduo. O que retorna vem à tona através de cheiros, sabores, imagens, frustrações e decepções que estão no enredo da vida e tecem os fi os da memória, da lembrança e da imaginação. O lugar, adormecido nos recônditos da memória, é um fragmento das experiências vividas que se refugiou a “sete chaves”, fazendo amortecer a força dos detalhes na construção dos lugares.

A narrativa pode ensinar sobre distintos elementos que estão presentes na leitura do lugar, quando escolhemos a percepção e a experiência como guias da interpretação do que ele é. Dela, você pode extrair e refl etir sobre diversos aspectos que estão implicados na noção de lugar. No entanto, destacamos lugar e memória, lugar e experiência, lugar e afetividade como relações que estão presentes na chama imprecisa da lembrança e que se revela a partir de um gole de chá. O passado se recuperava, fazendo o indivíduo experimentar a busca de um tempo perdido. Nesta, o lugar se desvela pela composição que mistura emblemas, formas, imagens e sensações. A partir daí, o lugar, assim como Cambray, conquista a eternidade, e como tal é imóvel, indissolúvel, matéria que cimenta a identidade que mesmo, parecendo perdida, retorna numa memória involuntária despertada por um sabor, um gesto, um gole de chá. A afeição ao lugar é tramada na teia complexa da identidade, de modo que muitas vezes não se distingue se é o lugar que tece o indivíduo ou indivíduo que cria os lugares.

Vamos praticar!

Você até agora viu duas perspectivas para se compreender o lugar: a primeira pelo viés da localização geográfi ca de um ponto; a segunda como resultado da experiência do indivíduo com o espaço.

n Escolha um texto literário (conto, poesia, cordel, romance, etc);

n Selecione do texto uma descrição do lugar em que se desenvolve o enredo;

n Analise o fragmento selecionado de acordo o conceito de lugar na perspectiva da experiência.

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Do lugar ao não-lugar: desconstruindo a identidade?

A partir desse título, você pode está se perguntando: o que foi dito até agora não tem mais sentido?

Calma, a construção do conhecimento é assim mesmo. Você precisa aprender sobre as diversas faces de uma mesma questão. Portanto, o lugar como categoria de análise geográfi ca deve ser problematizado a partir de contextos diversos, sem que uma visão anule a outra.

Assim, vamos seguir a trilhar dos lugares procurando, agora, encontrar na identidade a não-identidade, no lugar o não-lugar.

Vimos que o lugar pode ser um ponto ou uma construção que resulta de uma experiência singular. Vamos submeter essas noções a um contexto sócio-espacial específi co que especialistas das mais diferentes áreas denominam de globalização. Você já viu no início dessa disciplina o que é esse processo, como ele se caracteriza e quais as implicações para a organização do espaço geográfi co. Não vamos descrever mais esses elementos, pois você já os tem disponível em aula anterior.

Partimos, portanto, de alguns questionamentos para problematizarmos esse tópico da nossa aula. Vamos a eles.

1. É possível falar da singularidade como característica do lugar em um período de globalização acelerada, que tende a transformar os espaços em feições homogêneas?

O mundo hoje sobrevive de mudanças. Elas estão em todas as esferas da vida. Não é necessário ir muito longe para encontrar o ritmo das transformações da

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sociedade atual. Basta olhar para dentro de sua casa e verificar os meios que você tem disponível para se comunicar: rádio, televisão, telefone, internet... Na base das alterações, está o desenvolvimento técnico, a informação e a comunicação. Olhe o seu entorno e veja como esses elementos se fazem presentes em sua vida. Observe como eles condicionam o seu dia-a-dia e perceba que isso não ocorre somente com você mais está presente no cotidiano dos habitantes da cidade. Podemos dizer ainda que essa realidade não é somente vivida por você ou pelas pessoas de sua cidade, mas também por inúmeras outras localidades que almejam, consomem, produzem as mesmas mercadorias guiadas por ideais e valores universalmente partilhados. Nesse contexto, o sentido do lugar parece esvaziar-se. O processo de diferenciação dos lugares parece perder-se na ciranda da globalização, que tende a tornar homogêneo todos os espaços, anulando o seu papel no processo de produção e significação da vida. No entanto, é preciso saber olhar para enxergar nesse movimento a força do lugar como o cenário em que a globalização se materializa. Assim, o lugar, ao invés de se tornar uma feição discreta, assume um papel fundamental para a compreensão do desenvolvimento da sociedade atual. Por meio dele, pode-se compreender as diferentes texturas que a globalização assume quando toca o solo no qual se produz a vida; pode-se compreender a diferenciação do processo de integração espacial que articula a realidade local ao feixe de relações que movimentam a realidade mundial; pode-se ainda analisar o sentido da experiência a partir da articulação do lugar e do mundial, do singular e do universal. Assim, da relação entre o global e o local, pode-se reconhecer a singularidade dos lugares, na medida em que é aí que o mundial ganha expressão. O singular não se define pelo isolamento, mas, pelo contrário, revela-se pela integração. “o lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço. Ao mesmo, tempo, posto que preenchido por múltiplas coações, expõe as pressões que se exercem em todos os níveis” (CARLOS, 1996, p. 15).

2. O lugar pode ser visto como um ponto, em uma rede de articulações múltiplas que redefi nem o sentido da identidade e da experiência?

Desta feita, é possível falar do lugar como um ponto, um nó em uma rede ampla de experiências. Estas não se restringem ao universo das vivências individuais, mas são organizadas no âmbito da sociedade que deseja, trabalha, produz e acumula riquezas. Nesse contexto, o espaço é objeto e condição para a realização da sociedade. Ele pode ser um obstáculo ou facilitador para as redes de trocas que alimentam os fluxos de mercadorias, idéias e informações. Se o espaço é um sistema de objetos e um sistema de ações, como afirma Milton Santos, o lugar é a combinação singular desses dois sistemas. Cada lugar corresponde, em cada momento, a um conjunto de técnicas e instrumentos de trabalho que se articulam, definido os níveis de inserção do espaço local no espaço global.

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Para exemplifi car essa relação entre o local e o global veja a tabela a seguir.

Tabela 1 - Os 15 principais países comerciantes do mundo (2005) (em bilhões de dólares).

Posição/ país Exportações Participação sobreo Total mundial (%) Posição/ país Importações Participação sobre o

Total mundial (%)

1. Alemanha 969,9 9,3 1. Alemanha 1.732,4 16,1

2. Estados Unidos 904,4 8,7 2. Estados

Unidos 773,8 7,2

3. China 762,0 7,3 3. China 660,0 6,1

4. Japão 594,9 5,7 4. Japão 514,9 4,8

5. França 460,2 4,4 5. França 510,2 4,7

6. Países Baixos 402,4 3,9 6. Países

Baixos 497,9 4,6

7. Reino Unido 382,8 3,7 7. Reino Unido 379,8 3,5

8. Itália 367,2 3,5 8. Itália 359,1 3,3

9. Canadá 359,4 3,4 9. Canadá 319,7 3,0

10. Bélgica 334,3 3,2 10. Bélgica 318,7 3,0

11. Hong Kong, China

292,2 2,8 11. Hong Kong, China 300,2 2,8

12. Coréia do Sul 284,4 2,7 13. Coréia do

Sul 261,2 2,4

13. Rússia 243,6 2,3 14. Rússia 231,7 2,1

14. Cingapura 229,6 2,2 15. Cingapura 200,0 1,9

15. México 189,1 2,1 20. México 125,3 1,2

16. Brasil 118,3 1,1 28. Brasil 77,6 0,7

Font

e: M

orei

ra e

Sen

e (2

007,

p. 3

06).

A partir da tabela você pode ter, em parte, uma visualização do que estamos falando. No processo de articulação do espaço global com o local, as diferenças aparecem, revelando as múltiplas faces que conformam a realidade local. Para compreender melhor, consulte um mapa mundi e identifi que onde estão esses países. Veja que quase todos os continentes estão representados, exceto o africano, mas que há uma desigualdade entre as nações quanto aos fl uxos de compra e venda de mercadorias. Essa situação diz respeito, justamente, à diferenciação dos lugares quanto a sua capacidade de combinar tecnologia, informação e consumo no processo de desenvolvimento local. Pode-se dizer que o lugar na globalização unifi ca e diferencia o padrão técnico, científi co, informacional e comunicacional, que rege o planeta, reorganizando-se na esfera do lugar.

Veja mais algumas fi guras que trazem outros exemplos de conexões diferenciadas do global com o local. Muitas outras existem e podem ser organizadas no decorrer desse processo.

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Figura 3 – O local e o global: intersecções.

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ra e

Sen

e (2

007,

p. 3

04).

Figura 4 – Redes e conexões

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ra e

Sen

e (2

007,

p. 3

65).

A superfície terrestre conectada por redes, por meio das quais circulam dinheiro, pessoas, mercadorias, informações, constituem-se de nós que se distribuem desigualmente, sendo mais densas ou menos densas de acordo as regiões. Assim, o lugar pode ser visto como um ponto, um nó na cadeia de relações que se estabelecem entre os espaços. Essas relações interferem na construção da experiência do sujeito com o espaço e, consequentemente, no lugar como referência ou identidade. Quanto mais articulados os lugares, mais dinâmico se torna o processo de diferenciação espacial. Ou seja, o aparato técnico-científi co e informacional,

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que direciona o modelo de reprodução da vida na globalização, exige uma homogeneização infra-estrutural para se estabelecer e alimentar o ciclo de reprodução das riquezas em uma sociedade capitalista, sendo o fetiche que seduz, atrai e dinamiza as experiências, seja em uma escala micro ou macro das realizações humanas. Todos os lugares almejam o status de global, na mesma medida em que o discurso global se realiza pela diferença. Com essa afi rmação, adentramos os argumentos pertinentes ao último questionamento.

3. O lugar e o não-lugar são as faces de uma mesma moeda quando se trata de compreender o espaço geográfi co na era da globalização?

O lugar e o não-lugar são as faces de uma mesma moeda em um cenário de globalização. O espaço é alimento e seiva para os processos de identidade e não-identidade, de reconhecimento e estranhamento que caracterizam essa fase da nossa história. A velocidade com que ocorrem as transformações atravessa todas as esferas da vida de modo que da casa ao bairro, passando pela cidade e pelo campo, experimentam-se processos de ressiginifi cação sócio-espacial. Cada vez o espaço é apropriado para ser consumido e é nesse processo que são entrelaçadas as teias complexas do lugar e do não-lugar. Leia a seguir o Prólogo do livro Não-Lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade, escrito por Marc (1994, p. 7-11).

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Resumo

Neste prólogo, o autor apresenta de forma sugestiva as condições de realização e experimentação do homem pós-moderno. O espaço como um caminho a ser percorrido com identifi cação e sem identidade. São aeroportos, auto-estradas, estações ferroviárias, metrôs, supermercados, parques temáticos que os indivíduos passam, usam, consomem, sem estabelecer vínculos afetivos com nenhum deles. Na solidão do caminho, o encontro com vazio, com o fragmento daquilo que vê em instantâneos fugazes. “Se um lugar pode se defi nir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se defi nir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico defi nirá o não-lugar” (AUGÉ, 1994, p. 73). A oposição constitui a parte essencial que anima a dinâmica dos lugares na globalização. Os lugares são habitados por não-lugares, realidades construídas de simulacros que animam os indivíduos a se deslocaram em busca do trabalho, do lazer, do prazer e da perdição. No percurso, a identifi cação das transformações espaciais vai despertando no indivíduo a sensação de estranhamento causada pela desfi guração de uma “paisagem querida que morre.” Não cabe fugir desse cenário, mas compreender que a desaparição faz emergir uma outra encenação: a construção de novos mundos.

Assim, na esfera do lugar, realiza-se o não-lugar, no processo de identifi cação estabelece-se a não-identifi cação, no sentimento de estranhamento, pode emergir a familiaridade. É do jogo da negação e da afi rmação que se revela o sentido do espaço e do lugar no mundo contemporâneo.

Para fi nalizar a nossa abordagem, você deve perceber que a noção de lugar pode ser diferente a partir do elemento que está sendo levado em consideração para sua defi nição (localização experiência, globalização). Mas, deve compreender também que na diferença se revela a semelhança e é da localização que emerge o signifi cado, o qual, por sua vez, enlaça os nós das redes simbólicas e materiais, tecendo as vivências nos e dos lugares.

Você viu nesta aula a importância que tem a noção de lugar para a ciência geográfi ca. Foi abordada, nesse sentido, a localização, a experiência e a globalização como elementos que interferem na defi nição desse conceito. O lugar tratado no âmbito da localização assume a conotação de um ponto, seja ele relacional ou absoluto; quando articulada, a esfera da experiência se amplia assumindo a noção de espaço carregado de identidade e pertencimentos; se referenciado no contexto da globalização, é um nó em uma rede de múltiplas articulações, é um lugar e um não-lugar. Assim, nesta aula, você pode compreender que a noção de lugar é diferente a partir do elemento que está sendo levado em consideração para sua defi nição. Deve ter percebido também que na diferença se revela a semelhança. É a partir da localização que emerge o signifi cado, o qual, por sua vez, enlaça os nós das redes simbólicas e materiais, tecendo as vivências nos e dos lugares.

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Auto-avaliaçãoVamos verifi car o que você aprendeu!

Volte ao início desta aula e releia a sua opinião sobre os objetos e os lugares geográfi cos. Refl ita sobre o que você escreveu e reescreva uma nova visão, agora aportada no que você estudou sobre o conceito de lugar na ciência geográfi ca.

O turismo apresenta-se como uma atividade consumidora de lugares. A sua principal característica é atrair pessoas para viajar por cenários que misturam formas naturais e formas propositadamente criada para tal fi m. Pesquise sobre a atividade turística no seu estado e identifi que:

a) os lugares mais procurados;

b) as características desses lugares.

A partir desses dois pontos, analise essa atividade, vinculando as idéias de lugar e não-lugar na era da globalização.

Escreva uma crônica sobre o seu lugar e socialize para os colegas através do moodle, na página da disciplina Organização do Espaço.

1

2

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ReferênciasAUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: HUCITEC, 1996.

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DIDONÊ, Débora. Brasil antes do Brasil. Nova escola, São Paulo: Abril, Ano XXIII, n. 212, p. 42-49, maio 2008.

GOMES, Paulo César da Costa Gomes. Geografi a e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

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LAMARTINE, Oswaldo. O sertão. Diário de Natal, Natal, Fascículo 11, p. 1-2, 2004. Leituras Potiguares.

MAGNOLI, Demétrio; ARAÚJO, Regina. Geografi a: a construção do mundo. São Paulo: Moderna, 2005. (Geografi a geral e do Brasil).

MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio. Geografi a para o ensino médio: geografi a geral do Brasil. São Paulo: Scipione, 2007.

PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido: no caminho de Swamm: em busca das moças em fl or. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

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______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: HUCITEC, 1996.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.

Anotações

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Anotações

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EMENTA

n Eugênia Maria Dantas

n Ione Rodrigues Diniz Morais

Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar,

região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo

globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de

abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas

referentes ao espaço geográfico em situações de ensino

Organização do Espaço – GEOGRAFIA

AUTORAS

AULAS

01 Despertando para a leitura do espaço

02 Aprofundando o conceito de espaço

03 A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?

04 A dinâmica entre o global e o local na globalização

05 Paisagem como categoria da análise geográfica

06 Lugar e (des) identidade

07 Território e territorialidade: abordagens conceituais

08 Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

09 Por entre territórios e redes: múltiplas leituras

10 Região e a Geografia tradicional

11 Região no contexto da renovação da geografia

12 Organização do espaço: do universo conceitual ao ensino da Geografia

2º S

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