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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - CPqAM DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA – NESC O O P P E E R R F F I I L L D D O O A A G G E E N N T T E E C C O O M M U U N N I I T T Á Á R R I I O O D D E E S S A A Ú Ú D D E E CARACTERÍSTICAS DESSE NOVO TRABALHADOR DA SAÚDE E SUAS PERSPECTIVAS Um estudo em Camaragibe e São Bento do Una/PE ELIZABETH COÊLHO BARROS RECIFE 2002

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES - CPqAM

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA – NESC

OOO PPPEEERRRFFFIIILLL DDDOOO AAAGGGEEENNNTTTEEE CCCOOOMMMUUUNNNIIITTTÁÁÁRRRIIIOOO DDDEEE SSSAAAÚÚÚDDDEEE

CARACTERÍSTICAS DESSE NOVO TRABALHADOR DA SAÚDE E SUAS PERSPECTIVAS

Um estudo em Camaragibe e São Bento do Una/PE

ELIZABETH COÊLHO BARROS

RECIFE

2002

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ELIZABETH COÊLHO BARROS

O PERFIL DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE:

CARACTERÍSTICAS DESSE NOVO TRABALHADOR DA SAÚDE E SUAS PERSPECTIVAS

Um estudo em Camaragibe e São Bento do Una/PE

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-graduação latu sensu nível de Especialização em Saúde Pública do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.

Orientadora: Profª Paullete Cavalcanti Albuquerque

RECIFE 2002

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ELIZABETH COÊLHO BARROS

O PERFIL DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE:

CARACTERÍSTICAS DESSE NOVO TRABALHADOR DA SAÚDE E SUAS PERSPECTIVAS

Um estudo em Camaragibe e São Bento do Una/PE

Recife, maio de 2002 BANCA EXAMINADORA: ___________________________ Orientadora: Profª. Paulette Cavalcanti de Albuquerque NESC/CPqAM/FIOCRUZ _________________________________ Debatedor: Prof. Carlos Antonio Alves Pontes NESC/CPqAM/FIOCRUZ

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A Arianne minha filha e a sobrinha Renata, com todo o meu amor.

Que seus sonhos e suas lutas, incluam a realização do bem coletivo

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AGRADECIMENTOS

Aos Agentes Comunitários de Saúde -ACS, que me têm conquistado na convivência

profissional, pela confiança e carinho que tiveram com este trabalho.

A Eliane Cruz, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em

Seguridade Social que me liberou para freqüentar o curso e muito estimulou para

que realizasse este trabalho.

Às companheiras de trabalho, Ana Lúcia, Lindinalva, Luiza, Adriana pela

indispensável ajuda no trabalho de campo.

A cada membro do corpo docente que a sua maneira, contribuiu formação dos

alunos desse curso, enquanto sujeitos críticos responsáveis pela história de nosso

tempo.

Em especial, agradeço àqueles que se esmeraram com atenção individualizada, na

difícil e complexa tarefa de ensinar, num país onde ainda engatinhamos no

aprendizado da democracia e igualdade, nas diversas relações que vivemos.

Aos funcionários que, além de cumprirem com suas atribuições, no cotidiano

atendiam as nossas necessidades, atenuando os atropelos.

Aos colegas de turma, pela troca de experiências e pelo carinho e respeito

demonstrados inúmeras vezes, inclusive, nos momentos críticos.

A Eronildo Silva, pela sua oportuna contribuição.

A Kátia Medeiros, pela prestimosa contribuição e valiosas observações, dedicando

muitas horas de trabalho e lazer à reestruturação dessa monografia.

A Eduarda Cesse, por todo o encanto despertado em sala de aula e por todo o seu

desempenho preciso e democrático, enquanto coordenadora.

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A Paullete, por toda a revisão e aprofundamento que me levaram a realizar este

intento, abrindo mão da intimidade de seu lar para me atender.

A Carlos Pontes, indispensável objetividade com que contribuiu a feitura deste

trabalho.

A Heleny Machado, pelas sábias e carinhosas recomendações, que jamais serão

esquecidas.

Aos colegas de turma que trabalharam arduamente nas entrevistas da pesquisa,

Breno, George, Odaléia, Luciana, Leonilda.

A Cristina Novaes, que trabalhou incansavelmente na construção das primeiras

tabelas e gráficos, sacrificando suas horas de lazer e recebendo-me no aconchego

família.

A Vládma, por sua valiosa colaboração, incentivo e companheirismo.

A Antonio Domingos, que refez pacientemente sem medir sacrifícios, todo o trabalho

no Microsoft Excel nas horas mais necessitadas.

A minha querida amiga Tereza Sales, que companheira de muitas horas difíceis.

A Thiago Silva e Manoelito Peixoto, que trabalharam como motoristas e me

acompanharam no trabalho de Campo.

Ao professor Falcão que não mediu esforços para realizar a revisão desse trabalho.

A minha filha Arianne, por sua compreensão, nas horas em que abriu mão de seu

lazer e noites de sono em seu quarto, para que eu pudesse escrever o trabalho.

A Catarina Duarte e Ana, pelo valioso auxílio na obtenção de dados institucionais.

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A Aguinaldo, por todos os momentos difíceis, cálculos e suas preocupações

guardadas em silêncio.

A Rosa, às vezes mãe, às vezes filha, sempre irmã e companheira de todas as

horas difíceis.

Acima de tudo, agradeço a DEUS, nosso pai, por mais uma oportunidade de

aprendizado, e por toda a ajuda recebida, esperando que este trabalho, embora seja

um grão de mostarda no mundo acadêmico, se um dia vier a ser utilizado,

represente contribuição em prol dos trabalhadores e usuários e esteja dentro dos

propósitos do nosso PAI maior.

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RESUMO

Este trabalho objetivou a identificação das características pessoais e socioeconômicas dos Agentes Comunitários de Saúde -ACS -, dos municípios de Camaragibe e São Bento do Una, do Estado de Pernambuco, e suas condições de inserção nessa atividade. Realizou-se um resgate histórico das origens do trabalho do ACS, das políticas públicas de saúde, para compreender as mudanças que se estabeleceram com o Sistema Único Saúde-SUS, que propiciaram condições de inclusão desse trabalhador. Entrevistaram-se 203 ACS através de questionário padronizado, cujos resultados evidenciaram que os ACS se situam na faixa etária entre vinte e trinta e nove anos (78,3%), com segundo grau completo (48,7%), renda familiar até dois salários mínimos (40,4%) e a per capita até meio salário mínimo (29%). Grupos de igrejas foram à instituição que representou o maior número de participação dos ACS (43,0%). Exercem outras atividades, sem vínculo empregatício, salário ou qualquer regularidade, 52% dos ACS. Não residem na área em que trabalham 32% dos entrevistados. Dentre os motivos que os levaram a trabalhar como ACS, 36% referiram o desemprego, enquanto 32,0% afirmaram admiração pelo trabalho do ACS e o de serem profissionais da saúde. Reafirmaram esses motivos em seus sonhos de realização profissional 67,9% dos ACS e 5,8% deles referiram sonhos altruístas de conteúdo solidário e de realização coletiva.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

RESUMO

LISTA DE TABELA E GRÁFICOS

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

1- INTRODUÇÃO 14

2- OBJETIVOS 18

2.1- Objetivo Geral 18

2.2- Objetivos Específicos

3- MARCO TEÓRICO 18

3.1- As Políticas de Saúde no Brasil 18

3.2- O Movimento da Reforma Sanitária Brasileira 20

3.3- Os Modelos Assistenciais 22

3.4- O surgimento do PACS e do PSF 24

3.4.1- O PACS e o PSF e a Legislação Complementar 26

3.5- A Política de Recursos Humanos na Área de Saúde 30

4- O PROGRAMA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE-PAC S 35

4.1- Do Trabalho Voluntário ao Ministério da Saúde 35

4.2- Atribuições dos Agentes Comunitários de Saúde 39

4.3- O Processo de Recrutamento e Seleção do ACS 41

4.3.1- Requisitos 41

4.4- A Capacitação do ACS 42

4.5- Remuneração do ACS 43

4.6- As Formas de Contratação 44

5- METODOLOGIA 47

5.1- A Escolha do Campo 47

5.2- Caracterização dos Municípios 47

5.2.1- Camaragibe 47

5.2.2- São Bento do Una 49

5.3- Tipo de Estudo 51

5.4- Tamanho da Amostra 51

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5.5- Coleta de Dados 52

5.6- Definição das Variáveis 53

5.7- Análise e Processamento dos Dados 55

6- RESULTADOS 55

6.1- Bloco I – Características Gerais 55

6.1.1- Dados Pessoais 55

6.1.1.1- Sexo 55

6.1.1.2- Idade 55

6.1.1.3- Escolaridade 57

6.1.1.4- Formação Profissional 58

6.1.1.5 - Composição da Renda Familiar 60

6.2- Bloco II – Trabalho 64

6.2.1- Experiência de Trabalho 64

6.2.2- Tempo de Atividade no Programa de Agentes Comunitários de Saúde 65

6.2.3- Área de Trabalho 66

6.3- Bloco III – Cumprimento dos Critérios do Ministério 67

6.3.1- Disponibilidade de Tempo Integral 67

6.3.2- Residir na Comunidade há pelo menos 2 anos 71

6.4- Bloco IV – Dados Complementares do Perfil 73

6.4.1- Motivos que levaram os entrevistados a Trabalharem como ACS 73

6.4.2- Tipos de Instituições que os ACS Participam 75

6.4.3- Ideal de Realização Profissional 77

7- CONCLUSÕES 79

REFERÊNCIAS

ANEXOS

Anexo 1 - Tabelas da Pesquisa

Anexo 2 - Formulário

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LISTA DE TABELA E GRÁFICOS

Tabela 1 – Cobertura do PACS por Municípios e População Segundo Regiões, Brasil, novembro-2001 Gráfico 1- Municípios Cobertos pelo PACS Segundo Regiões Brasil, Novembro-2001 Gráfico 2- Cobertura da População pelo PACS Segundo Regiões Brasil, Novembro – 2001 Gráfico 3- Distribuição do Número de ACS por Faixa Etária, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 4- Distribuição do Número de ACS, por Faixa Etária, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 5- Distribuição do Número de ACS, por Nível de Escolaridade, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 6- Distribuição do Número de ACS, por Nível de Escolaridade, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 7- Distribuição do Número de ACS, por Cursos Concluídos, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 8- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 9- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 10- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar Per Capita, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 11- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar Per Capita, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 12- Distribuição do Número de ACS, Segundo Experiência profissional ou Ocupação Anterior a sua Entrada no PACS, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico13- Distribuição do Número de ACS, por Ano de Inclusão no PACS, Camaragibe e São Bento do Uma, 2000. Gráfico 14- Distribuição do Número de ACS, por Área de Trabalho Camaragibe e São Bento do Uma, 2000. Gráfico 15- Distribuição do Número de ACS, que desempenham outra atividade, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

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Gráfico 16- Distribuição do Número de ACS, por Tipo de Atividade Concorrente com a de ACS, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 17- Distribuição do Número ACS, que Têm Outro Tipo de Atividade por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 18- Distribuição do Número de ACS, Segundo Residência na Área em que Trabalham, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 19- Distribuição do Nº de ACS, por Tempo de residência na Área em que Trabalham, Camaragibe e São Bento do Una 2000. Gráfico 20- Distribuição do Número de Entrevistados, Segundo Motivos que os levaram a trabalhar como ACS, São Bento do Una 2000. Gráfico 21- Distribuição do Número de ACS, por Tipo de Instituições que Participam Camaragibe e São Bento do Una, 2000. Gráfico 22- Distribuição do Número de ACS, por Profissões ou Atividades que Representam seus Sonhos de Realização Profissional, Camargibe e São Bento do Una, 2000.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACS - Agente Comunitário de Saúde

ACD - Atendente de Consultório Dentário

THD - Auxiliar Técnico de Consultório Dentário

CNTSS - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social

DATASUS –Departamento de Informática do SUS

FormaSUS - Formando para o SUS – Projeto de elevação do Nível de Escolaridade

para Agentes Comunitários de Saúde.

SUDS – Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

IMIP – Instituto Materno Infantil de Pernambuco

NOB – Norma Operacional Básica do SUS

PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PIASS – Programa de Interiorização das Ações Básica de Saúde e Saneamento

PSF – Programa de Saúde da Família.

SES - Secretaria Estadual de Saúde.

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1. INTRODUÇÃO

O movimento de redemocratização da sociedade brasileira, após o regime

militar instalado em 1964, teve uma participação decisiva no Movimento de Reforma

Sanitária Brasileira. Uma das razões que explicam o peso de sua atuação encontra-

se na complexidade que envolve a situação sanitária, que é “resultado do

desenvolvimento das contradições fundamentais na sociedade como a questão

Homem/Natureza, relação capital/trabalho” (AROUCA, 1988, p. 6). Portanto, a

questão da saúde é muito mais ampla, está vinculada às condições da própria

existência e de cidadania. Por outro lado, a transformação do Sistema de Saúde e

do próprio modelo assistencial tinha que enfrentar os baixos níveis de saúde em que

se encontrava a população, a insuficiência e precariedade de recursos. (PAIM,

1999a, p. 473).

O movimento da Reforma Sanitária conseguiu imprimir nova concepção

de saúde na Constituição cidadã de 1988, definindo um novo modelo:

descentralizado, universal, equânime, hierarquizado e integral, incluindo a

participação da comunidade. A formulação do novo modelo, Sistema Único de

Saúde-SUS, se configura em “mudanças significativas no funcionamento do sistema

de saúde, de forma rápida (em curto espaço de tempo) e pontual,” que caracterizam

as reformas chamadas do tipo “big bang” adotadas por alguns países na década de

90” (VIANA; DAL POZ, 1998, p. 13). Vários têm sido os impasses desde então, por ir

de encontro ao modelo anteriormente vigente, médico-assistencial-privatista, que

privilegiava políticas contrárias à descentralização das ações de saúde e

desconcentração de recursos, entre outras. Explicam os autores, baseados na

proposta de análise de Björkman e Altenstetter, (apud VIANA; DAL POZ, 1988, p.

16) que a reforma incremental se define por

um conjunto de modificações no desenho e operação da política [...] nas formas de organização dos serviços (mudanças nos sistemas e nas unidades prestadoras), nas modalidades de alocação de recursos e formas de remuneração das ações de saúde ou, ainda no modelo de prestação de serviços (modelo assistencial).

Nesse sentido, referem que, a partir da NOB/96, teve início o período de reforma

incremental no SUS, com mecanismos de incentivo financeiro à adoção do

Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Programa de Saúde da

Família (PSF), imprimindo relevância na implantação dos sistemas locais de saúde,

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15

com a exigência de funcionamento dos Conselhos Municipais de Saúde, do Fundo

Municipal de Saúde, e de uma unidade básica de referência (VIANA; DAL POZ,

1998, p. 19).

A criação dos Programas de Agente Comunitário de Saúde e do

Programa de Saúde da Família trouxe a inserção do Agente Comunitário de Saúde

(ACS) no SUS. Paim (1999b, p. 496), afirma que experiências como o: Programa de

Interiorização das Ações de Saúde (PIASS), o Projeto de Montes Claros e o Projeto

DEVALE ofereceram fundamentos para a formulação do PACS.

O Ministério da Saúde, ao criar o PACS em 1991, respalda-se nas

experiências dos Estados de Pernambuco, São Paulo, Ceará, Goiás entre outros,

além de sugestões advindas de lideranças ligadas à Confederação Nacional dos

Bispos do Brasil e do Movimento Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde

(BRASIL, 1991, apud ALBUQUERQUE, 1995, p. 19). O PACS foi criado “tendo como

objetivo central estender a cobertura do sistema público de saúde às populações

rurais e às periferias urbanas, priorizando a população materno-infantil”

(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1994, p. 11).

A função do ACS na implantação do PACS foi definida como a de

oferecer informações à população nos cuidados com a saúde e participar da

construção dos sistemas de saúde locais.

A presença do ACS na rede de atenção básica é significativa. Em 1994, o

PACS encontrava-se “implantado em 987 municípios, de 17 Estados das regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com um total de 33.488 Agentes Comunitários de

Saúde e de 1.268 Instrutores/ Supervisores” (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE,

1994, p. 11). Já em novembro de 2001, existiam 151.412 Agentes Comunitários,

distribuídos em 4.729 municípios. (DATASUS, 2002).

Em Pernambuco, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de

Pernambuco, em fevereiro de 2001, existiam 10.572 ACS atuando em 184

municípios.

A expansão do PACS, porém, não se dá sem contradições. A criação de

mais uma categoria profissional “leiga” na área de saúde é encarada pelos

enfermeiros como o retorno do atendente de enfermagem- categoria leiga extinta em

1986. Há uma grande “campanha” contra o PACS, como responsável pela

desqualificação do trabalho profissional em saúde.

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16

A maior discussão sobre a atividade do ACS tem-se polemizado em torno

das reivindicações pelo reconhecimento profissional, sobre as formas de contratação

e relações precárias de trabalho. Contudo o Agente Comunitário de Saúde

desempenha hoje importante papel na educação e na promoção do auto-cuidado da

população com a sua saúde, embora não tenha formação técnica nem

reconhecimento profissional. Trabalha em função da inclusão e da organização da

oferta dos serviços de saúde. Para ser incluído como trabalhador do SUS, ele deve

reunir características específicas, inclusive, algumas que não são exigidas de

nenhum outro trabalhador do sistema, como residir na comunidade há pelo menos

dois anos e ter espírito de liderança e solidariedade.

A prestação de serviços dos ACS tem sido submetida a diversas formas de

contratos, intermediados por instituições, as quais não lhes asseguram os direitos

trabalhistas celetistas. Porém, a precarização das condições de trabalho do ACS

não é uma situação particular. Ao longo de sua história, os trabalhadores da saúde,

assim como outros, não têm sido amparados por políticas de valorização de

recursos humanos, embora constituam elemento fundamental na construção e

transformação do sistema de saúde. Atualmente, o que predomina são as injuções

advindas da economia internacional, operando nas transformações no mundo do

trabalho e implantação do Estado Mínimo com suas políticas de desregulação e

precarização das relações de trabalho, conforme explica Antunes (1998, p. 41).

A escolha do Perfil do ACS, como objeto de estudo, foi despertado, por

várias razões. Uma delas está relacionada à particularidade de o ACS ser um

trabalhador que teve suas origens no trabalho voluntário do setor informal e passou

a ser incorporado pelo setor público, desempenhando um papel no campo da

atenção à saúde no SUS, sistema que traz em si grandes e importantes mudanças.

Por outro lado, depois de realizado levantamento bibliográfico sobre o ACS, um dos

poucos trabalhos encontrado sobre o perfil desse trabalhador foi estudo realizado

por Andrade et al. (1998, p. 83), sobre o PSF no Estado do Ceará, que aborda

algumas características pessoais e profissionais do ACS. Outra razão que motivou a

autora foi à idéia de que a reorganização do modelo de atenção à saúde depende

também dos recursos humanos, das condições a que estão submetidos os

trabalhadores, que se refletem na qualidade dos serviços que produzem, nas

relações desses trabalhadores com os cidadãos-usuários, devido à natureza do

trabalho da área de saúde, especialmente quando se estabelece relação direta entre

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17

o trabalhador e o usuário. Some-se a isso, o fato de os ACS representarem um

expressivo volume da força de trabalho nas equipes de saúde. Com tais

preocupações é se que buscou com este trabalho traçar o perfil do ACS,

descrevendo as condições que favoreceram o seu surgimento e aquelas a que eles

estão subordinados enquanto trabalhadores do SUS.

A escolha dos municípios de Camaragibe e São Bento do Una deve-se a

particularidades que os distinguem entre si e por condições propícias de realização

desta pesquisa. A autora é coordenadora executiva do FormaSUS no Estado. Trata-

se de um projeto piloto para desenvolvimento de metodologia, que oferece elevação

de escolaridade e qualificação profissional, com a proposta de discussão de políticas

públicas e cidadania. O FormaSUS, é uma realização Confederação Nacional dos

Trabalhadores em Seguridade Social da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em

convênio com o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Nos Estados de

Pernambuco e Pará trabalha com Agentes Comunitários de Saúde, em São Paulo,

qualifica Atendentes de Consultório Dentário, e, no Rio Grande do Sul, Auxiliar

Técnico de Enfermagem.

A idéia de estudar o Perfil dos ACS nos dois Estados nasceu na

concepção original do Projeto, que previa também a realização de uma pesquisa

sobre os processos de trabalho para formulação de uma proposta de um currículo

mínimo. A construção do FormaSUS contou com assessoria técnica da professora

Paulette Cavalcanti Albuquerque, orientadora desse trabalho, fato esse decisivo nas

motivações da autora.

Este trabalho se divide em três partes. A primeira apresenta o marco

teórico onde se faz uma breve exposição sobre os dados históricos mais importantes

que definiram as políticas de saúde no Brasil. Traz algumas discussões sobre a

implantação do SUS, a questão dos recursos humanos na área da saúde e a

inclusão do Programa dos Agentes Comunitários de Saúde e do Programa de Saúde

da Família no Ministério da Saúde. Na segunda parte, são abordados alguns

aspectos sobre os modelos assistenciais no Brasil e a inclusão do Programa dos

Agentes Comunitários de Saúde e do Programa de Saúde da Família no Ministério

da Saúde. Em seguida, relatados aspectos das origens do trabalho do Agente

Comunitário de Saúde (ACS) e sobre a inserção desse trabalhador no SUS, através

do processo de seleção, capacitação, contratação, como também os problemas

vividos pela categoria pela falta de regulamentação de seu trabalho.

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18

Na terceira parte, são expostos os resultado de uma pesquisa sobre características

que compõem a força de trabalho do ACS, realizada nos municípios de Camaragibe

e São Bento do Una, em Pernambuco, no ano de 2000.

2- OBJETIVOS 2.1 - Objetivo Geral:

• Conhecer o perfil do Agente Comunitário de Saúde

2.2 - Objetivos Específicos:

• Traçar as características pessoais e socioeconômicas que compõem o perfil

dos Agentes Comunitários de Saúde;

• Identificar as condições de inserção desses trabalhadores no SUS

3- MARCO TEÓRICO

3.1. As Políticas de Saúde no Brasil

Os objetivos das políticas de saúde, durante décadas, foram formuladas

longe das necessidades da população e de um projeto de construção social. Desde

o início do século passado, as políticas públicas estão atreladas ao capitalismo e à

conjuntura internacional. Esse fato assume maiores proporções com a instalação do

Estado desenvolvimentista que tem o papel de promover a viabilização do

capitalismo, investindo em obras gigantescas tais como portos, siderúrgicas,

hidroelétricas, ferrovias, malha rodoviária, exploração de petróleo, enquanto que a

área social esteve submetida a políticas marginais, aparentemente financiadas por

verbas federais, contando sempre com a participação significativa de empregados e

empregadores (JAERGE et al, 1991, p. 20).

Esse período é caracterizado pelo modelo médico-assistencial-privatista,

baseado na compra de serviços, no centralismo decisório, em programas verticais,

na má distribuição de recursos para o setor e nas práticas clientelistas. O governo

implanta reformas, “[...] baseadas na generalização do modelo de cuidados médicos

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19

individuais como padrão de saúde” (LUZ apud NORONHA; LEVCOVITZ, 1994, p.

77).

Segundo Paim (1999a), na década de 1970, os serviços básicos de saúde

são caracterizados por ações focais nas periferias urbanas ou em áreas rurais, e, a

partir da segunda metade daquela década, o modelo focal passa a seguir orientação

dos organismos internacionais, tal como disposto em 1973 no Plano Decenal das

Américas, as quais inspiraram experiências bem sucedidas, como a de Montes

Claros, em Minas Gerais. Em 1975, o Governo propõe, através da lei 6.229/1975, a

criação de um Sistema Nacional de Saúde, em que aparece a definição de

responsabilidades da União, dos Estados e Municípios implantando uma série de

programas. Criado em 1976, o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e

Saneamento no Nordeste/PIASS destaca-se como o mais importante deles por ter

conseguido implementar a participação das prefeituras na execução de ações de

saúde e saneamento. O programa realizava-se através de convênios, incluía nos

seus objetivos a participação da comunidade e “legitimava um conjunto de esforços

visando à incorporação dos atendentes de saúde na força de trabalho do setor“

(PAIM, 1999b, p. 490).

Outra tentativa de intervenção no sistema de saúde ocorreu com a criação

do Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde/PREV SAÚDE, que havia sido

elaborado por um grupo técnico interministerial apoiado pela Organização Pan-

americana de Saúde, mas foi embargado pela burocracia estatal (MENDES, 1995, p.

34).

O referido programa propunha a

Reorientação do sistema de saúde através da integração de programas, que reforçavam a atenção primária à saúde, participação da comunidade, regionalização e hierarquização de serviços, o sistema de referência e contrareferência, a integração de ações preventivas e curativas/Prev-Saúde. Os princípios desse plano serão reiterados no Plano de Reorientação da Assistência à Saúde no âmbito da Previdência Social e na Portaria 3.046/82. (PAIM, 1999b, p. 491).

Segundo o autor dessa forma foi restabelecida a idéia em 1984, com o

Programa de Ações Integradas de Saúde, vista como um passo no caminho da

descentralização.

Posteriormente, as políticas de saúde sofreram o impacto da recessão econômica

que resultou em crise financeira na previdência causando uma drástica redução dos

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investimentos para a assistência médica. O Instituto Nacional de Assistência Médica

e Previdência Social – INAMPS-, por exemplo, recebia 30% dos recursos em 1976,

sendo reduzido para 24% em 1981 e para 20% em 1982 (OLIVEIRA; TEXEIRA,

1986 apud NORONHA; LEVICOTZ, 1994, p. 82).

Em 1987, é criado o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde –

SUDS, mas a proposta do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira conseguiu

selar seus propósitos através do SUS, na Constituição Brasileira de 1988. Entende-

se que o conhecimento desses fatos leva à compreensão das bases em que se

fundam as políticas de saúde no Brasil, nesse período. A assistência médica

previdenciária foi criada para restaurar a capacidade produtiva da força de trabalho,

em função dos modelos econômicos e hegemonia dos grupos dominantes.

Visualiza-se, também, o nível de resistência que grupos dominantes iriam impor a

qualquer proposta que viesse colocar em risco seus interesses.

3.2- O Movimento da Reforma Sanitária Brasileira

Contrapondo-se àquele modelo imposto pelos grupos dominantes, o

Movimento da Reforma Sanitária Brasileira conseguiu aliar-se às forças da época

pela redemocratização do país, contra o regime autocrático e centralizador. Durante

esse período, a mobilização de profissionais de saúde e a contribuição das

universidades estimularam o surgimento de um movimento pela democratização da

saúde no país. A sociedade organizada e mobilizada reivindicou e propôs políticas

sociais que garantissem pleno direito de cidadania aos brasileiros, a partir do

entendimento do dever do Estado em cumpri-las. A partir da abertura política no

país, o sistema de saúde brasileiro passou a ser avaliado, tendo como um dos

marcos importantes a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília em

1986. Essa conferência obteve um consenso político ao legitimar o Projeto da

Reforma Sanitária, caracterizado por três aspectos principais: o conceito ampliado

de saúde; a saúde como direito de todos e dever do Estado e a institucionalização

de um sistema único de saúde (SAYD; VEIRA; VELÂNDIA, 1998, p. 186).

Em 1988, o movimento da Reforma Sanitária conseguiu inscrever os seus

propósitos no artigo 198 da Constituição e estabelecer as diretrizes para a

implantação do Sistema Único de Saúde-SUS, em substituição ao modelo vigente,

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centrado em ações curativas e excludente para a maioria da população. No texto, a

definição do conceito de saúde revoluciona por sua concepção avançada, princípios,

e o reconhecimento de que são necessárias condições sociais e econômicas para

garanti-la:

A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução de risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações de serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL. Constituição, 1988).

A saúde deixa de ser um privilégio de alguns brasileiros para ser um

direito de cidadania e obrigação do Estado, onde são reconhecidas as condições

necessárias para que seja adquirida. Há o reconhecimento de que o direito à saúde

não é apenas assistência médica, depende das condições de produção e

reprodução social que determinam as condições objetivas de qualidade de vida.

O texto constitucional descortina um leque de exigências de profundas

mudanças políticas, socioeconômicas e culturais, que, conseqüentemente, devem

repercutir, nas políticas de saúde, diretrizes, estruturação de todo o sistema e,

finalmente, na organização e operacionalização da assistência nos seus diversos

níveis.

A Constituição Federal definiu os princípios e diretrizes para o SUS, mas

a regulamentação do sistema dependia de leis complementares, que serão

abordadas mais adiante.

O conceito de saúde passa a incluir, além dos fatores orgânicos, os

econômicos, políticos e sociais. Além disso, com o SUS a oferta de serviços passa a

tomar como base os dados epidemiológicos de cada região, levando em

consideração as reais necessidades e prioridades da população. Porém, conforme

ocorreu no período do chamado “milagre brasileiro”, as ações políticas durante a

década de 90 primam por uma ênfase em questões econômicas, tendo em vista a

“garantia do desenvolvimento social”. Conseqüentemente, ocorrem cortes

orçamentários na área social que repercutem na diminuição drástica de

investimentos do Estado no setor público de saúde, comprometendo um dos

princípios fundamentais do SUS, qual seja: a universalização da saúde.

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3.3- Os Modelos Assistenciais

O embate político travado pelo movimento da Reforma Sanitária foi capaz

de garantir o projeto legal que conseguiu se estabelecer na década 80. A definição

dos princípios e diretrizes, na Constituição Federal, para a construção do Sistema

Único de Saúde-SUS tem como base a eqüidade, universalidade e integralidade,

descentralização e participação social. Tais fundamentos deveriam dar sustentação

às transformações na saúde, respaldar a coerência na estruturação de modelos e

das políticas de saúde, tudo orientado pela nova ordem. Porém, os níveis de saúde

em que se encontrava o país constituíam por si só um grande desafio para sua

transformação, exigindo intervenções tanto de elevado nível de complexidade e de

amplitude intersetorial, como de reestruturação da assistência e serviços, devido à

gama e diversidade de fatores que envolvem a saúde, seu quadro epidemiológico, a

insuficiência e precariedade dos recursos disponíveis (PAIM, 1999a, p. 473).

Portanto, entende-se que a complexidade que envolve a transformação proposta

pelo movimento da Reforma Sanitária exige intervenção considerando-se pelo

menos em suas quatro dimensões, que Arouca (1988, p. 6), elege para a definição

da situação de saúde:

[...] específica (campo da dinâmica do fenômeno saúde/doença); institucional (instituições públicas, privadas, beneficente, instituições de formação de recursos humanos, de produção de mercadorias, e equipamentos); ideológica (concepções e valores, expressão histórica e simbólica), dimensão das relações (organização social e produtiva/ gerando condições determinantes de saúde/doença).

Assim, o autor conclui definindo que a situação sanitária será entendida a partir de

um determinado modelo de sociedade, delimitada em um momento histórico, que

expressa, ainda segundo Arouca (1988, p. 6):

a dinâmica do fenômeno saúde/doença nas populações, determinada por um conjunto de relações com outros setores sociais, (econômicos, políticos, ideológicos), cujas necessidades são enfrentadas por um campo agregado de instituições, que tem disponível um certo saber e uma dada tecnologia

A partir de tal concepção, compreende-se que sistemas, desenhos

operacionais, modelos assistenciais não se define por si só, uma vez que serão

formulados a partir da conjugação daquelas quatro dimensões em função de um

projeto social a que se destinam atender.

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Paim, (1999a, p. 473), classifica as possibilidades de intervenção num

sistema de serviços de saúde como de “amplo alcance tomando como exemplo, a

proposta da Reforma Sanitária Brasileira e intervenções de alcance mais limitado

(setoriais e extra-setoriais), tais como as proporcionadas pelos modelos assistenciais

vigentes e alternativos.” Quanto à intervenção relacionada à reorientação dos

sistemas de serviços de saúde, o autor destaca os componentes que concretizaram

os principais problemas: modelo de atenção, organização dos recursos, gestão,

financiamento e infra-estrutura.

As mudanças no modelo assistencial, contudo, pelo fato de constituírem

intervenção de pequeno alcance, não diminuem sua importância, porque as maiores

e profundas alterações que possam ocorrer no sistema mais amplo não poderiam

prescindir dos mesmos. Essa questão ganha clareza, quando se entende o modelo

assistencial como “combinações tecnológicas estruturadas para o enfrentamento de

problemas de saúde individuais e coletivos em determinados espaços-populações,

incluindo ações sobre o ambiente, grupos populacionais, equipamentos comunitários

e usuários de serviços em saúde” (PAIM, 1999a, p. 477).

Essa concepção contrapõe-se ao modelo médico privatista que, tendo

como característica principal o atendimento à “demanda espontânea”, centrado em

ações curativas, mostrou-se “incapaz de alterar significativamente os níveis de

saúde” (PAIM, 1999a, p. 477).

A incapacidade dos modelos vigentes, de promover real melhoria dos

padrões de saúde da população tem levado à busca de alternativas de sua

substituição, que venham corresponder aos princípios de universalidade, eqüidade,

integralidade, participação e as diretrizes: descentralização, hierarquização.

A descentralização foi defendida como o caminho para a construção

democrática de reorganização dos modelos de atenção à saúde, tendo ocorrido no

Brasil pelas vias da municipalização e distritalização. A da municipalização priorizou

a prestação de serviços, onde se encontram como experiência as Ações Integradas

de Saúde -AIS, pois

ampliou-se com SUDS e tem se reproduzido no SUS, manteve uma série de problemas inclusive a persistência de clientelismos e corporativismos. Outro processo instalado pelo governo neoliberal, onde ocorreu uma pseudo-municipalização por não avançar além da assistência médica, conhecido como ‘inampização’ (PAIM, 1999b, p. 495).

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Quanto ao distrito sanitário, este é reconhecido por Mendes e outros

autores como uma proposta correspondente ao que se denominou pela OPAS como

Sistemas Locais de Saúde/SILOS.

Entende-se que no Brasil a distritalização assume características

diferenciadas nas experiências vivenciadas, em primeiro lugar, por vários princípios

que encerra, em que cada realidade é singular e as relações sociais constituem um

processo, estando longe de serem “pré-determinadas”, especialmente num país de

tamanha dimensão geográfica, diversidade cultural e características regionais

próprias e impostas pelas políticas que geraram desigualdades. Mesmo assim, tem

sido considerada como uma estratégia em prol da reorientação do sistema de saúde

“capaz de facilitar a implantação e o desenvolvimento de modelos assistenciais

alternativos” (PAIM, 1999a, p. 482). Aliás, ao contrário dos modelos vigentes, os

alternativos têm como uma das características fundamentais a “oferta organizada”,

trabalhando para impactar sobre as necessidades da população. Essa oferta

organiza-se em função dos principais agravos e grupos de riscos de serviços e é

orientada por estudos epidemiológicos, imprimindo uma racionalidade técnico-

sanitária mais efetiva. O planejamento em todas as suas dimensões deve atender a

todos os níveis e possibilitar ao técnico-operacional o grau de autonomia necessário

à execução de planos e normas adequados à situação local (PAIM, 1999a, p. 478-

479).

O PACS e PSF embora sejam programas especiais, assumiram uma

dimensão importante, sendo reconhecidos como estratégia de reorientação “na

medida em que venham se aproximar dos processos de distritalização e do modelo

de vigilância à saúde” (PAIM, 1999a, p. 486). Observa-se o propósito do Ministério

através da definição do objetivo geral do PSF; qual seja o de

contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população (BRASIL. MS, 1997, p. 10).

3.4 O Surgimento do PACS e PSF

Segundo Barreto e Carmo (1994, p. 20-21) a situação de saúde nas

últimas décadas, apesar de revelar uma “queda geral dos indicadores de saúde é

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acompanhada da ampliação dos diferenciais interregionais e inter-classes sociais”.

Acrescentam os autores que as “diferenças macro-epidemiológicas assentam-se no

processo complexo em que se deu o desenvolvimento macro-regional brasileiro,

com o empobrecimento relativo de algumas regiões”.

Explicam os autores que a dimensão dos fatores determinantes se

expressam em nível macro e micro-epidemiológico, exigindo intervenções, desde a

atenção primária ao indivíduo a intervenções intersetoriais, como saneamento, para

obterem-se modificações nos padrões de morbi-mortalidade. Por outro lado, a queda

na mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, a terceira causa mais

freqüente do índice de internações no país, não corresponde a uma redução

diretamente proporcional da morbidade. Houve também um crescimento das

doenças crônicas. Dessa forma,

delineiam-se medidas que visam reduzir de forma significativa a morbidade por afecções crônicas e infecciosas cuja prevenção pode ser feita por ações simplificadas e de baixo custo [...]. O cumprimento dessas ações implica em privilegiar as atividades coletivas e prevenção de doenças e promoção da saúde em contraposição às atividades individuais e curativas [...] (BARRETO; CARMO, 1994, p. 20-22).

A existência de grandes contingentes populacionais excluídos do direito à

saúde foi também objeto de discussões em nível internacional. A meta de Saúde

Para Todos no Ano 2000, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde, indica

as ações de caráter preventivo como prioritárias dentro da Atenção Primária à Saúde

(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1994).

Como foi referido no item anteriormente, no Brasil, nas décadas de 70 e

80, foram desenvolvidas experiências de Atenção Primária à Saúde, tendo em vista

a reorganização do setor público.

O acúmulo de discussões e experiências na área, associado ao quadro de morbi-mortalidade no país, impulsionou, em 1991, a criação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde pelo Ministério da Saúde, tendo como objetivo central estender a cobertura do sistema público de saúde às populações rurais e das periferias urbanas, priorizando a população materno-infantil (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1994, p. 11).

O Programa de Agentes Comunitários de Saúde/PACS se estabelece

com objetivos limitados ao acompanhamento de crianças e gestantes visando a

redução da mortalidade infantil. Logo no início desse Programa, a eclosão da

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epidemia de cólera, principalmente no Norte e Nordeste do país, levou à sua rápida

expansão, sendo clara a contribuição do PACS para o controle da epidemia, tanto

através de orientações às famílias, quanto pela distribuição de hipoclorito de sódio

para o tratamento da água para o consumo humano.

Na década de 90, dentre as várias experiências desenvolvidas em busca

de mudança no modelo de atenção e de resultados mais significativos, é lançado,

precisamente em 1994, o Programa de Saúde da Família-PSF, como uma estratégia

de reorganização da atenção primária à saúde.

O PSF não é uma estratégia desenvolvida para atenção exclusiva ao grupo mulher e criança, haja vista que se propõe a trabalhar com o princípio de vigilância à saúde. Apresenta uma característica de atuação inter e multidisciplinar e responsabilidade integral sobre a população que reside na área de abrangência (BRASIL. MS, 1997, p. 8).

Vale ressaltar que essa proposta inclui atuação dos Agentes Comunitários

de Saúde, fazendo com que o PACS se fortalece e continue sua expansão com o

PSF.

O PSF, por sua vez elege a família como objeto precípuo de atenção,

considerando-a nas suas relações no ambiente em que vive:

é nesses espaços que se constroem as relações intra e extra-familiares e onde se desenvolve a luta pela melhoria das condições de vida, permitindo uma concepção ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de intervenções de maior impacto e significação social” (BRASIL. MS, 1997, p. 8).

Concomitantemente, é no espaço familiar e comunitário que o ACS

desenvolve suas atividades cotidianas integrado à equipe do PSF, nos locais onde o

mesmo está implantado. Embora o PSF seja entendido como um modelo de

superação do PACS, ele não o exclui. Integra o ACS na equipe, definindo suas

funções, ampliando a supervisão técnica, podendo corrigir problemas sobre os quais

o PACS não tinha estrutura e autonomia.

3.4.1- O PACS e o PSF e a Legislação Complementar

Conforme já referido neste trabalho, a Constituição Federal definiu os

princípios e diretrizes para o SUS, mas a regulamentação do sistema dependia de

leis complementares.

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Face às resistências às mudanças que se faziam necessárias, a Lei

Orgânica da Saúde, Lei 8080, só foi promulgada em 19 de setembro de1990. Esta

lei trata das condições de promoção, proteção e recuperação da saúde, porém

sofreu na época, vetos presidenciais a elementos de extrema importância, sobre a

instituição das Conferências e dos Conselhos de Saúde. A transferência direta e

automática de recursos a estados e municípios e sobre os critérios de recursos.

Mais uma vez a sociedade se organizou e reagiu, encaminhando ao Congresso a

Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que resgata o controle social, através dos

Conselhos e Conferências de Saúde, além da regularidade de repasses do

Ministério da Saúde para aos estados e municípios.

Posteriormente se inserem no arcabouço jurídico as Normas

Operacionais Básica-NOB, cujo objetivo é detalhar, regulamentar e operacionalizar

as Leis 8080/90 e 8.142/90. Essas normas trazem elementos conceituais implícitos

e mecanismos operacionais importantes para os programas aqui tratados.

A NOB/SUS/91 distorce a concepção municipalista na medida em que o

governo federal passa a ter relações de convênio diretamente com unidades

assistenciais públicas e privadas, destituindo os estados e municípios “sem

interferência técnica ou política dos estados, desarticulando completamente a função

gestora deste nível de governo” (NORONHA; LEVCOVITZ, 1994, p. 107).

A NOB/SUS/93, por seu turno, destaca-se por estabelecer as Comissões

Intergestores Tripartite e Bipartites, criando um canal de discussões e negociações

entre as três instancias de governo, que impulsionou a descentralização. Estabelece

o fluxo decisório, financiamento das atividades e condições de gestão em diferentes

níveis: a incipiente, a parcial e a semiplena. O modelo assistencial é colocado como

objetivo da descentralização do SUS, conforme o enunciado:

O objetivo mais importante que se pretende alcançar com a descentralização do SUS é a completa reformulação do modelo assistencial dominante, centrado na assistência médico-hospitalar individual assistemática, fragmentada e sem garantia de qualidade, deslocando o eixo desse modelo para a assistência integral, universalizada e equânime, regionalizada e hierarquizada, e para a prática da responsabilidade sanitária em cada esfera do governo, em todos os pontos do sistema (BRASIL. Portaria, 1993, p. 49).

Quanto ao financiamento do sistema, a NOB/93 estabelece unidades de

pagamento pelos serviços realizados no âmbito ambulatorial e hospitalar, não

apresentando nenhum estímulo à outra forma de prestação da assistência médica.

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Todavia, novas discussões motivaram a formulação da NOB/SUS/96. O

novo instrumento de regulamentação, entre outras coisas, redefine as condições de

gestão dos municípios para: Gestão Plena da Atenção Básica e Gestão Plena do

Sistema Municipal. Para os Estados, define Gestão Avançada do Sistema Estadual e

Gestão Plena do Sistema Estadual. A NOB/96 estabeleceu, ainda redefinições para

a reordenação do modelo: os papéis em cada esfera do governo, instrumentos

gerenciais, mecanismos e fluxos de financiamento, prática, controle e avaliação no

SUS e os vínculos com os usuários. Quanto ao aspecto da atenção à saúde, a

NOB/96 define os seguintes campos:

a) o da assistência, em que as atividades são dirigidas às pessoas, individual ou coletivamente, e é prestada no âmbito ambulatorial e hospitalar, bem como em outros espaços, especialmente no domiciliar; b) o das intervenções ambientais, no seu sentido mais amplo, incluindo as relações e as condições sanitárias e ambientais, de vida e de trabalho, o controle de vetores e hospedeiros e a operação de sistemas de saneamento ambiental (mediante o pacto de interesses, as normalizações, fiscalizações, e outros) e c) o das políticas externas ao setor saúde, que interferem nos determinantes sociais do processo saúde-doença das coletividades, de que são partes importantes questões relativas às políticas macroeconômicas, ao emprego, à habitação, à educação, ao lazer e disponibilidade e qualidade do alimentos” (BRASIL. Portaria, 1997, p. 7).

Sendo assim, verifica-se que o campo da Atenção Básica passa a ter novas

expressões. O sujeito a quem a atenção é destinada se amplia do individual para o

coletivo, e o âmbito de prestação dessa atenção inclui o espaço domiciliar.

As intervenções por seu turno incluem o espaço ambiental de vida e

trabalho, e, no campo das políticas, apontam para determinantes que interferem nas

condições de saúde. Todavia, no item que discute as bases de reformulação do

novo modelo de atenção, a NOB/96 sublinha que o novo modelo de atenção:

deve resultar na ampliação do enfoque’, [...] incorporando ao modelo clínico dominante (centrado na doença), [...] associado, enriquecido, transformado em um modelo de atenção concentrado na comunidade, especialmente, com os seus núcleos sociais primários- as famílias (BRASIL. Portaria, 1997).

Propõe, ainda como método: “a fundamentação na síntese mais do que nas

análises, agregando, mais do que isolando, diferentes fatores e variáveis, [...] com

aprimoramentos dos processos de síntese, que sejam lineares, sistêmicos ou

dialéticos” (BRASIL. MS, 1997, p. 15-16). No campo das tecnologias, destacam-se

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os processos de educação e de comunicação social. E, como foco nuclear da

atenção define “a construção da ética do coletivo, que incorpora e transcende a ética

do individual”. Em se realizando dessa forma, estar-se-á se estabelecendo estímulo

para que a pessoa seja um sujeito ativo na busca de sua saúde e a da comunidade

em que vive (BRASIL. MS, 1997, p.15-16).

Essas definições trazidas pela nova NOB revelam esforço para se

empreenderem práticas que fundamentam a implantação dos programas que ela irá

incentivar financeiramente.

O sistema de financiamento ganha, na NOB/96, uma nova unidade de

custeio, o Piso Assistencial Básico-PAB, trazendo a particularidade de oferecer

incentivo a adoção dos Programas de Saúde da Família/PSF e do Programa de

Agentes Comunitários de Saúde/PACS. Os parâmetros de incentivo ao PAB são

estes:

a) Programa de Saúde da Família (PSF): acréscimo de 3% sobre o valor do PAB para cada 5% da população coberta, até atingir 60% da população total do município; acréscimo de 5% para cada 5% da população coberta entre 60% e 90% da população total do município; e acréscimo de 7% para cada 5% da população coberta entre 90% e 100% da população total do município. Esses acréscimos têm, como limite, 80% do valor do PAB original do município. b) Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS): acréscimo de 1% sobre o valor do PAB para cada 5% da população coberta até atingir 60% da população total do município; acréscimo de 2% para cada 5% da população coberta entre 60% e 90%da população total do município, e acréscimo de 3% para cada 5% da população coberta entre 90% e 100% da população total do município.” Esses acréscimos têm, como limite, 30% do valor do Piso Assistencial Básico/PAB original do município. (BRASIL. Portaria, 1997).

Dessa forma fica evidente a estratégia do Ministério da Saúde para implementação

do PACS e do PSF pelos municípios.

Levcovitz e Garrido (1996) previam que os incentivos da NOB/96

estimulariam os gestores a adotarem PSF, em razão de os incentivos não serem

pontuais por procedimentos, mas pela implantação do programa como um todo, pela

expansão das áreas de atendimento. Tal expansão exige do gestor municipal

investimento financeiro e político, resultando em mudança no sistema, uma vez que

o programa passa a ser a porta de entrada do sistema.

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Quanto aos efeitos da expansão do PSF sobre o PACS, há o cuidado em

se preservá-lo “como fase introdutória de mudança da lógica de assistência básica,

onde assim a realidade das coisas o exigir” (LEVCOVITZ; GARRIDO, 1996, p. 7).

3.5 – A Política de Recursos Humanos na Área da Saú de

Os recursos humanos têm fundamental importância na construção de um

sistema de saúde, especialmente pela natureza dos serviços, porque o trabalho

depende essencialmente da ação humana; pois conforme defendem Martins e Dal

Poz (1998, p. 134)

tendo como função social a manutenção das condições normais de saúde, o trabalho em saúde é uma produção não-material consumida no ato de sua realização, ocorrendo, portanto, entre sujeitos, numa determinada estrutura (intersubjetiva) e com significativo grau de autonomia

A estrutura intersubjetiva pode ser compreendida como o processo de

interação entre o profissional da saúde e o paciente, ocorrendo nas dimensões:

“técnicas, emocionais, afetivas, ético-morais, políticas, ideológicas, culturais etc”.

(ALBUQUERQUE, [199-]).

Martins e Dal Poz (1998 p. 134), por sua vez, se reportam à necessidade

de domínio de saberes e técnicas específicas, marcado pelo caráter interdisciplinar e

coletivo. Tal caráter traz implicitamente conceitos que se diferenciam de práticas

autoritárias e conservadoras, consolidadas por muitas décadas em nosso país. O

trabalho interdisciplinar e coletivo confere aos recursos humanos maior relevância

pela complexidade que envolve e pelo enfrentamento dos valores cristalizados nas

práticas ideologicamente opostas. Por outro lado, os recursos humanos são

fundamentalmente importantes na construção do Sistema Único de Saúde, na

medida em que o mesmo exige que sejam garantidos ao usuário eqüidade,

integralidade, universalidade e descentralização com controle social.

(ALBUQUERQUE, [199-]).

As discussões para a reformulação do Sistema Nacional de Saúde

contemplaram questões de recursos humanos na 8ª Conferência de Saúde 1986,

que originou a Iª Conferência Nacional de Recursos Humanos Para a Saúde,

realizada em outubro daquele ano. Aquela conferência privilegiou ”interesses

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jurídico-trabalhistas específicos para o mercado de trabalho” (MARTINS; DAL POZ,

1998, p. 187).

A questão dos recursos humanos foi retomada em 1992 na IX

Conferência Nacional de Saúde, num movimento de luta pela consolidação das

conquistas Constitucionais, e apontou a necessidade de transformação dos

processos de gerenciamento em recursos humanos nas instituições de saúde. Pois,

analisou-se a temática “desde a ótica da gestão, abordando as peculiaridades das

relações de trabalho no setor saúde e contemplando as dimensões econômicas

político-ideológica e organizativas do processo produtivo” (SAYD; VIEIRA;

VELANDIA, 1998, p. 188).

Os autores discutem problemas apontados na 1ª Conferência Nacional de

Recursos Humanos em Saúde, e o documento III Comissão Nacional de Reforma

Sanitária, considerados temas idênticos, que conjugam uma série de problemas com

diferentes níveis de complexidade, em que e se refletem diretamente na construção

do SUS. A título de exemplo, selecionam-se aqui alguns deles:

• Desigualdade na distribuição dos recursos humanos-perpetuando desigualdades econômico-sociais entre regiões; • Desigualdades nas condições de inserção no mercado de trabalho – diversidade de vínculos, direitos trabalhista e benefícios, gerando o múltiplo emprego no serviço público e a dupla militância; • Ausência de reflexão sobre a qualidade de ensino e do perfil do trabalhador para as carências sanitárias e sociais; recomendou-se um modelo de intervenção na saúde mais centrado nos serviços básicos, ação coletiva e atenção primária- uma proposta alternativa ao modelo médico/hospitalar/ privatista em crescimento no País. • Concentração da equipe no médico e no atendente - prejudicando o acesso a assistência integral ao usuário; • Falta de valorização profissional– ausência de políticas que promovam melhores condições de trabalho e de avaliação da produção e do desempenho, falta de planos de carreira, cargos e salários, e o despreparo do nível gerencial no desenvolvimento dos profissionais (SAYD; VIEIRA; VELANDIA, 1998, p. 188).

Em documento do Ministério da Saúde sobre estratégias de

implementação, denominado Modelos Assistenciais no Sistema Único de Saúde,

encontram-se questões que, aliadas às acima descritas, agravam a situação dos

recursos humanos e os interesses legítimos das instituições de saúde, como: “a má

remuneração, gera a multiplicidade de inserção dos profissionais no mercado de

trabalho privado, que associada a uma formação defensora de interesses desse

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setor, evidencia a prestação de serviços descomprometidos com a qualidade e

propicia espaços para disputas coorporativas (BRASIL. MS, 1990, p. 21).

Quanto aos aspectos da administração de recursos humanos, o

documento Brasil. MS (1990, p. 21), reforça que “o recrutamento e a seleção,

locação de pessoal, são conduzidas por critérios de clientelismo político.”

Todas essas questões, acima enumeradas constituem entraves ao cumprimento do

que preconiza o SUS, e o direito dos seus trabalhadores do setor, e das que

surgem, com é o caso dos ACS.

Albuquerque ([199-]) ao discutir a gestão e valorização de recursos

humanos em saúde, além de alguns já referenciados, elege outros dentre os quais

se destacam algumas reflexões, relacionadas ao perfil dos trabalhadores

encontrados na área de saúde: o risco de não se ter adesão dos profissionais aos

objetivos da organização, e o de se esconder sob “o véu” da autonomia, a falta de

consciência profissional, de ética, a incompetência ou o descompromisso com o

caráter público do serviço.

Os objetivos da organização também estão sujeitos a ter um baixo grau

de adesão pelos profissionais, em virtude do elevado grau de profissionalização e

especialização que leva a uma maior identificação com a profissão do que com a

instituição.

A autora destaca a prática interdisciplinar no processo de trabalho em

saúde como a exigência do objeto de trabalho, que se sobrepõe ao corporativismo e

rivalidades profissionais.

Finalmente, a identificação do profissional e o nível de compromisso que

venha assumir dependem também da definição clara de um modelo assistencial,

igual para profissionais e gestores.

Destaca, ainda, que no Brasil “é grande a indefinição da missão

institucional” das organizações públicas de saúde, e quando existe é quase sempre

sem precisão.

[...] os serviços de saúde não têm claro em que modelo assistencial que estão inseridos, havendo, na maioria das vezes, uma superposição de modelos muitas vezes conflitantes em seus pressupostos básicos. O paradigma assistencial dificilmente é rompido, mas convive com experiências que vivenciam um novo modelo de atenção baseado na vigilância à saúde ou na saúde da comunidade (ALBUQUERQUE, [199-], p. 35).

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Dessa forma, entende-se que as políticas de saúde fundamentam modelos que lhes

são pertinentes, definem as missões das instituições que, conseqüentemente,

demandam certos perfis de trabalhadores para exercerem determinadas funções e

papéis, tendo em vista a concretização daquelas políticas.

A questão dos recursos humanos encerra também uma série de

dificuldades alheias ao processo de construção de sua história “particular”,

especialmente no momento atual, quando sofre a forte influência da grande crise do

capital que se repercute no setor público. As análises macroeconômicas, realizadas

por diversos autores que estudam a centralidade no mundo do trabalho e

reestruturação produtiva, indicam a existência de outros fatores que explicam as

determinações sobre os recursos humanos do setor saúde, como o de outros

setores. Observa-se que as políticas de saúde têm sido afetadas pelos processos de

organização social e política, sempre sobrepujados pela priorização dos interesses

econômicos. Pois, Segundo Oliveira (1998)

o enfrentamento da crise do chamado modelo de desenvolvimento via substituição de importações tem se baseado em programas de corte neoliberal. Também aqui, a liberalização comercial e financeira, privatização do Estado e desregulamentação econômica e social têm sido a regra na definição dos programas da estabilização e modernização produtiva.

Estabelece-se aí os caminhos para uma ausência cada vez maior da

intervenção do Estado na economia, uma das características do Estado Mínimo. O

capital internacional tenta sobreviver impondo a globalização e suas conseqüentes

transformações nas relações de trabalho as quais trouxeram repercussões no papel

do Estado, diretrizes nas políticas de recursos humanos, conforme explica Antunes

(1998)

observa-se uma múltipla processualidade: de um lado verificou-se uma desproletarização do trabalho industrial fabril nos países de capitalismo avançado, com maior ou menor repercussão nas áreas industrializadas dos países do Terceiro mundo. [...] efetivou-se uma expressiva expansão do trabalho assalariado; [...] no setor serviços 'verificou-se uma heterogeneização do trabalho expressa também através da crescente incorporação do contingente feminino no mundo operário, [...] subproletarização intensificada, presente na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado, ‘terceirizado’ que marca a sociedade dual do capitalismo avançado’ (ANTUNES, 1998, p. 41).

Por sua vez, o Estado Brasileiro vem incorporando mecanismos favoráveis a essa

subproletarização intensificada, defendidos como flexibilização, reproduzindo nas

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políticas da área da saúde o redirecionamento das mudanças no mundo do trabalho,

impostas pela globalização. Caracteriza-se pela ausência de políticas de valorização

da força de trabalho, criando fortes determinações, para que a mesma não atenda

às reais necessidades que se objetivam na sociedade e o ”projeto” defendido pela

constituição cidadã.

As mudanças nos processos de trabalho geram novas exigências, como

coletivização das atividades, nova racionalidade, queda na geração de emprego e

disfunções no mercado de trabalho, com o avanço tecnológico da industria de

produtos médicos e farmacêuticos (SAYD; VIEIRA; VELANDIA, 1998, p. 167).

Denominada como a Terceira Revolução Industrial, as atuais mudanças

exigem do trabalhador qualificação “polivalente” para atender à complexidade

tecnológica e substituição de postos de trabalho, também promove competitividade,

exclusão e precarização das relações de trabalho, e ainda “reduz os mecanismos

de solidariedade e sociabilidade” (MARTINS; DALPOZ, 1998, p. 140).

Conforme destacado nas conferências, antes referenciadas, o múltiplo

emprego no serviço público, a inserção dos profissionais no setor privado sob formas

precárias de contratação, enquadram-se em exemplos de subproletarização

intensificada, presente na expansão do trabalho parcial, temporário, precário,

subcontratado, ”terceirizado”, descrito por Antunes (1998). Esse fato contribui para

que se estabeleça a prestação de serviços, descompromissada com a qualidade,

além de fomentar disputas corporativas.

Portanto, identificam-se esses fatos da economia mundial, como elemento

de relevância na compreensão da situação da saúde em que se encontrava o Brasil,

com as dificuldades de implantação do novo modelo ea garantia dos direitos dos

trabalhadores e cidadãos-usuários.

Por outro lado, entende-se que reorganização do modelo de atenção à

saúde, e as condições a que estão submetidos os trabalhadores da saúde são de

suma importância nas relações desses trabalhadores com os cidadãos-usuários e na

qualidade dos serviços que produzem.

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4 - O PROGRAMA DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE- PA CS

4.1 – Do Trabalho Voluntário ao Ministério da Saúde

O trabalho do Agente Comunitário de Saúde inspirou-se no trabalho

voluntário cujas origens históricas são conhecidas há cerca de 50 anos. Relata-se

como uma das mais antigas a experiência da Mongólia, China, onde o Estado

recrutava camponeses e treinava-os para o atendimento de primeiros socorros.

Esses agentes realizavam seu trabalho, deslocando-se entre vilas e lugarejos

(ROCHA, 1998 apud NOGUEIRA; SILVA; RAMOS, 2000, p. 11).

Outras sociedades tiveram experiências que são reconhecidas pelas

semelhanças com a da Mongólia, como a desenvolvida na União Soviética pelos

denominados “feldsbers” e a dos “os assistentes médicos e o movimento de

medicina comunitária, nos Estados Unidos” (MARTINS et al, 1996, p. 40). No

Canadá, experiências desenvolvidas a partir de 1920, voltadas para a organização

da comunidade e treinamento de promotores de saúde, inspiraram nas Américas

grupos religiosos e organizações não-governamentais. No Brasil trabalho voluntário

dos ACS nas Pastorais da Saúde e da Criança, através da Igreja Católica brasileira,

é identificado com inspiração dessas experiências (CORRÊA, [199-]).

Destaca-se, nas experiências de Medicina Comunitária, a figura do

auxiliar de saúde, cujas características se configuram de acordo com cada contexto

histórico (VASCONCELOS, 1991 apud ALBUQUERQUE, 1995, p. 14). Inicialmente

os auxiliares eram treinados para substituir profissionais em postos de saúde, mas

na América Latina, nos últimos 20 anos eles compõem uma estratégia de extensão

de cuidados básicos com a saúde, em comunidades rurais e periurbanas

(ALBUQUERQUE, 1995, p. 15).

Outras denominações são encontradas para designar trabalhadores da

saúde, cujo trabalho guarda semelhanças com o dos ACS: visitadores domiciliares,

líderes comunitários, promotores de saúde, todos contratados pelo serviço público

ou voluntários.

A Conferência de Alma Ata, promovida pela Organização Mundial de

Saúde, em 1978, recomendou aos governos a adoção de programas que

propiciassem a incorporação desses trabalhadores. A conferência estabeleceu a

meta de Saúde Para Todos no ano 2000, indicando “a participação da comunidade e

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a utilização de tecnologias simplificadas”, como estratégia de extensão de cuidados

básicos de saúde às populações desassistidas (CORRÊA, [199-], p. 33). Essa

estratégia previa a participação de um agente comunitário com particularidades

próprias, devendo variar entre países e de uma comunidade para outra, “de acordo

com as necessidades e recursos disponíveis para o atendimento” (CONFERÊNCIA

INTERNACIONAL SOBRE CUIDADOS..., 1979, p. 50).

No Brasil, em 1975, o Ministério da Saúde e Ministério da Educação e

Cultura criaram o Programa de Preparação Estratégica de Pessoal de Saúde,

através do qual realizaram capacitação de agentes comunitários leigos, iniciando

uma experiência fora dos quadros institucionais da saúde, com atuação na igreja

através de financiamentos internacionais.

A incorporação desse trabalhador pelos órgãos oficiais se deu por

intermédio de programas de relevância, nos níveis federal e estadual. Em 1976, o

Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), e as ações

de extensão e cobertura adotaram como princípio a utilização de agentes de saúde

(MACEDO et al, 1980 apud MARTINS et al, 1996). Conforme foi citado na introdução

deste trabalho, também são conhecidas as experiências do projeto de “Montes

Claros (TEIXEIRA, 1995 apud PAIM, 1999b, p. 496) e as do Projeto DEVALE,

realizado no vale da Ribeira/SP (SILVA, 1986 apud PAIM, 1999b, p. 496), que

deram fundamentação para a formulação do PACS”.

No Estado de Pernambuco, todavia os ACS tiveram a oportunidade de

participar de uma experiência que obteve resultados significativos e ampla

repercussão. Ao final de 1983, essa experiência iniciou-se “com a perspectiva de

desenvolver uma metodologia de atenção primária de saúde a nível comunitário”,

intitulada como projeto de “Cuidados Básicos de Saúde em Comunidades de Baixa

Renda”, realizado pelo Instituto Materno Infantil de Pernambuco/IMIP e a UNICEF. O

referido projeto contou com a colaboração da Secretaria de Saúde do Estado,

Prefeituras do Recife e de Olinda, Conselhos de Moradores e Serviço Alemão de

Cooperação Técnica e Social e Focolarinas. Defuniu-se como um dos objetivos

iniciais daquele projeto o ”desenvolvimento de uma metodologia de atenção primária

de saúde em populações de baixa renda, com a efetiva participação da comunidade,

através de agentes comunitários de saúde” (INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE

PERNAMBUCO, 1992, p. 3-4).

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Ressalte que o programa obteve, como resultado, índices de avaliação

que conseguiram demonstrar que “foi possível reduzir substancialmente a

prevalência de desnutrição, os índices de mortalidade infantil, as taxas de morbi-

mortalidade por diarréia e infecções respiratórias, possibilitando uma reversão

surpreendente no quadro de saúde das populações trabalhadas”.

Tais resultados motivaram dois governos do Estado do Ceará a

realizarem um convênio de treinamento de um “staff” de técnicos de saúde, que

vieram a reproduzir o trabalho em escala estadual, suscitando divulgação no Brasil e

na comunidade internacional. (INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE

PERNAMBUCO, 1992, p. 1).

O programa de Agentes Comunitários implantado pelo governo do Estado

do Ceará, no período de 1987 a 1990, foi um dos que tiveram maior impacto nessa

fase. Atendendo a um projeto de campanha sucessória e pressionado por

organismos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde e o Fundo das

Nações Unidas para a Infância-UNICEF, o governo estabeleceu como meta a

redução de 40% da mortalidade infantil. Segundo relatório da UNICEF/1987, o

projeto previa o desenvolvimento de cinco ações básicas, sem intervir nas condições

de distribuição de renda ou de acumulação capitalista. Por isso optou-se por uma

solução de baixo custo, incorporando a participação popular, conforme discutem

JUCA; LINS e QUEIROZ (1998, p. 183) quando analisam outras experiências.

Na implantação do PACS , a função do ACS oferecer informações à

população quanto aos cuidados com a saúde e participar da construção dos

sistemas de saúde locais, que se expressam no seguinte enunciado:

como objetivo geral melhorar através dos agentes comunitários de saúde, a capacidade da população cuidar da sua saúde, transmitindo-lhe informações e conhecimentos , e contribuir para a construção e consolidação de sistemas locais de saúde (BRASIL, 1991 apud SOLLA; MEDINA; DANTAS, 1996, p. 5).

A partir de 1993, contudo, o objetivo do PACS é ampliado ficando assim definido:

incorporar ao Sistema Único de Saúde agentes comunitários de saúde, [...] para desenvolver ações básicas de saúde, identificar fatores determinantes do processo saúde-doença; desencadear ações de promoção de saúde e prevenção da doença; funcionar como elo de ligação entre a população e os serviços de saúde, contribuindo, assim , com a comunidade, no processo de aprender e ensinar a cuidar da saúde (BRASIL, 1994 apud PAIM, 1999b, p. 497).

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38

A ampliação dos objetivos também foi acompanhada pela contratação de

novos trabalhadores. De acordo com a tabela 01, dados de novembro de 2001,

observa-se que o PACS encontra-se implantado em 4.729 municípios, absorvendo

151.412 trabalhadores como ACS em atendimento a uma população de 87.061.900

pessoas. Observa-se ainda que a região Nordeste mantém a maior cobertura em

relação ao número de municípios e conseqüentemente, a maior população

acompanhada com o correspondente número de ACS.

Tabela 1 – Cobertura do PACS por Municípios e População Segund o Regiões, Brasil, novembro-2001.

REGIÕES N° Municípios Municípios

c/ PACS Percentual Cobertura PACS

População Acompanhada

Total de ACS

Norte 449 403 89,76% 12.041.075 20.941 Nordeste 1792 1772 98,88% 39.334.600 68.408 Nordeste 463 410 88,55% 6.752.225 11.743 Sudeste 1.668 1.177 70,56% 18.441.400 32.072 Total/Brasil 5.561 4.729 85,04% 87.061.900 151.412

Fonte: SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica1 Gráfico 1- Municípios Cobertos pelo PACS Segundo Regiões

Brasil, Novembro-2001.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Norte Nordeste C.Oeste Sudeste Total/Brasil

Fonte: SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica apud DATASUS, 2002.

1) 1 População Estimada IBGE – 2000 2) Estimativa – base de cálculo 575 pessoas por ACS

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39

Gráfico 2- Cobertura da População pelo PACS Segundo Regiões Brasil, Novembro - 2001.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Norte Nordeste C.Oeste Sudeste Total/Brasil

Fonte: SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica apud DATASUS, 2002.

Quanto à presença do ACS, no Estado de Pernambuco, no ano 2000,

contava com 9.986 deles para uma população de 5.684.450, em184 municípios.

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, em fevereiro de 2001, o número de ACS

elevou-se para 10.572 trabalhadores.

4.2 - As atribuições do Agente Comunitário de Saúde

O trabalho diário do ACS, juntamente com o dos instrutores/supervisores,

gera um conjunto de informações, que são levantados indicadores da situação

socio-demográfica das famílias, ou seja, morbidade, vigilância nutricional e acesso

aos serviços de saúde, todos de extrema importância ao planejamento e gestão dos

sistemas locais de saúde. Essas informações compunham, até 1997/98, o Sistema

de Informação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde – SIPACS, que foi

substituído pelo Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB. Mesmo as

informações simples realizadas no trabalho cotidiano dos ACS também são úteis no

acompanhamento das ações de saúde e de baixo custo, pois conforme defendem

AQUINO et al (1997, p. 55). ”As áreas cobertas pelo PACS, além de serem mais

carentes de serviços de saúde, são bolsões de sub-registro para os outros sistemas

de informação em saúde”.

Tradicionalmente, em diversos ramos de atividades, o recrutamento de

pessoal para ocupação de uma função num serviço ocorre através de características

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40

que se pressupõem como necessárias aos requisitos de um bom desempenho das

tarefas para as quais o candidato está sendo selecionado. Tais requisitos podem ser

baseadas em prerrogativas profissionais, no caso das profissões legalmente

reconhecidas, ou em práticas reconhecidas socialmente. Podem também incluir

critérios relativos aos papéis, funções de naturezas diversas, experiências,

características psicológicas e até reconhecimento no mercado de trabalho. Portanto,

a seguir, estão listadas as atribuições básicas do Agente Comunitário de saúde a fim

de que se possa visualizar as tarefas para as quais o ACS é selecionado:

� Realizar mapeamento de sua área de atuação; � Cadastrar e atualizar as famílias de sua área; � Identificar indivíduos e famílias expostos a situações de risco; � Realizar, através de visita domiciliar, acompanhamento mensal

de todas as famílias sob sua responsabilidade; � Coletar dados para análise da situação das famílias

acompanhadas; � Desenvolver ações básicas de saúde nas áreas de atenção à

mulher, ao adolescente, ao trabalhador e ao idoso, com ênfase na promoção da Saúde e prevenção de doenças;

� Promover educação em saúde e mobilização comunitária, visando uma melhor qualidade de vida mediante ações de saneamento e melhorias do meio ambiente;

� Incentivar a formação dos conselhos locais de saúde; � Orientar as famílias para utilização adequada dos serviços de

saúde; � Informar os demais membros da equipe de saúde acerca da

dinâmica social da comunidade, suas disponibilidades e necessidades;

� Participação no processo de programação e planejamento local das ações relativas ao território de abrangência da unidade de Saúde da Família, com vistas a superação dos problemas identificados (BRASIL. MS, 1997, p. 17-18).

Assim, o Ministério da Saúde definiu, apenas em linhas gerais, as atribuições para o

Agente Comunitário de Saúde, não delimitando, o nível de complexidade, as funções

e as tarefas. Conseqüentemente, tornam-se indefinidos o nível de conhecimento e a

experiência que o desempenho da função exige. Esse fato pode ser considerado

importante por permitir que sua prática venha adequar -se às necessidades de cada

região.

Entretanto, ter apenas definições gerais, propicia práticas diferenciadas,

gerando problemas de natureza diversas. A falta de delimitação quanto ao exercício

da atividade tem posto ao ACS as mais diversas requisições, tanto da população

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quanto dos gestores, levando-o muitas vezes ao exercício de tarefas, de profissões

regulamentadas. Em decorrência disso, os ACS vêem-se diante de conflitos com

outros trabalhadores da saúde que passam a negar o caráter profissional da

atividade. Como exemplo podem ser citados os Auxiliares Técnicos de Enfermagem.

4.3 - O Processo de Recrutamento e a Seleção do ACS

O PACS é regulamentado pelo Ministério da Saúde, através da Portaria nº

1.886, de 18/12/97, que aprova as Normas e Diretrizes do Programa de Agentes

Comunitários de Saúde e do Programa de Saúde da Família. Quanto ao

recrutamento e a seleção cabe aos municípios realizá-los com assessoria da

Secretaria Estadual de Saúde.

4.3.1 – Requisitos

As diretrizes do PACS definem para a participação no processo seletivo

os seguintes requisitos: “Ter idade mínima de 18 anos; Disponibilidade de tempo

integral; Saber ler e escrever; e Residir na comunidade há pelo menos dois anos”

(BRASIL. Portaria, 1997).

O critério de residência na comunidade onde atua não é exigido de

nenhum outro trabalhador do SUS.As vagas existentes num município são restritas

ao mesmo e sob a área de cobertura, onde o candidato (a) concorre apenas para a

sua área de residência.

Esse critério constitui um dos impedimentos legais à transformação do

processo seletivo em concurso para cargo público, porque fere o princípio de

universalidade, que estabelece o direito de igualdade na concorrência a todos os

cidadãos indistintamente, mesmo que a atividade do ACS venha a ser

regulamentada profissionalmente e seja criado o cargo no serviço público.

Originalmente, identificam-se como condições importantes ao

desempenho de suas funções a capacidade de liderança e o espírito de

solidariedade, embora não estejam explícitas nas diretrizes do PACS. Essas

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condições instituem-se no conteúdo das experiências que inspiraram a criação do

PACS. Há registro de tal critério em processos seletivos e avaliações do programa,

como este da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará:

“Os Agentes de Saúde são selecionados entre os moradores da

comunidade que, em geral, já apresentam uma tendência natural de atender

algumas demandas das famílias na sua vizinhança” (NOGUEIRA; SILVA; RAMOS,

2000, p. 7). Nogueira; Silva e Ramos (2000), por sua vez, entendem que “esse

pressuposto político-teórico confere que legitimidade e eficácia humana ou cultural

ao seu perfil ocupacional”. Há, ainda, referências de um ex-secretário estadual de

saúde, que atribui ao ACS o papel de interlocução, por ele ser treinado para

entender a linguagem técnica da saúde e traduzir para os profissionais de saúde

“aquilo que está acontecendo na comunidade” (CARLYLE LAVOR apud NOGUEIRA;

SILVA; RAMOS, 2000, p. 9).

4.4 - Capacitação do ACS

Dentro dos critérios oficiais de seleção do ACS não existe nenhuma

exigência quanto à escolarização ou qualificação profissional, ficando a qualificação

ser realizada após a admissão no programa.

Quanto à experiência anterior, que também é considerada uma das

formas de aquisição de conhecimentos, não existe nenhuma exigência ou

recomendação para prioriozar o candidato que a detenha, quer seja como atividade

formal ou informal.

O Ministério da Saúde, através das Diretrizes do PACS, delega a

capacitação dos ACS às Secretarias Estaduais de Saúde, conferindo-lhe a

responsabilidade de:

Disponibilizar aos municípios instrumentos técnico-pedagógicos facilitadores do processo de formação permanente dos ACS e capacitar e garantir processo de educação permanente de enfermeiros-supervisores dos ACS (BRASIL. Portaria, 1997).

Por outro lado, as atribuições de responsabilidade dos Municípios definidos na

Portaria nº 1.886, já referenciadas são:

� Garantir a existência de profissional (ais) com dedicação integral na(s) unidade(s) básica (s) de referência, que, no âmbito de suas atribuições, exercerão a função de instrutor-

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supervisor na proporção de, no máximo, (30) trinta agentes comunitários de saúde para (01) um enfermeiro;

� Recrutar os Agentes Comunitários de Saúde através de processo seletivo, segundo as normas e diretrizes básicas do programa;

� Capacitar e treinar os ACS e o(s) enfermeiros-supervisores; � Garantir as condições necessárias para o processo de

capacitação e educação permanente dos ACS (BRASIL. Portaria, 1997).

A escolha do profissional de enfermagem para a função de supervisor diz

respeito ao domínio do conhecimento especializado em saúde, para o treinamento,

capacitação e controle das atividades do ACS, limitado o número de (30) trinta ACS

para cada um(a) enfermeiro(a).

A necessidade intensiva de capacitação pode ser um indicador da necessidade de

uma formação para o exercício da atividade, conforme se pode observar neste

depoimento do ex-secretário de saúde do Estado do Ceará: [...] “talvez seja o

profissional que tem maior treinamento continuado [...] também tem permanente

supervisão e é avaliado mensalmente” (CARLYLE LAVOR apud NOGUEIRA; SILVA;

RAMOS, 2000, p. 9).

4.5 - Remuneração do ACS

Os Agentes Comunitários de Saúde detêm o reconhecimento social de

sua prática profissional, através da opinião pública e institucional, mas não dispõe

ainda de uma delimitação precisa, consensual e oficial sobre seus processos de

trabalho, e conseqüente definição de sua formação, o que os torna vulneráveis na

luta pelos direitos enquanto trabalhadores. Contudo, os ACS constituem o número

maior de trabalhadores contratados pelos programas PACS e PSF e, como

trabalhadores sem qualificação estão sujeitos ao piso salarial mínimo, embora

existam exceções, como é o caso do Município de Camaragibe, que lhes remunera

com, cerca de dois salários mínimos.

Por outro lado, entende-se que a regulamentação desse trabalho é

indispensável, entre outras coisas, para que os ACS, como os demais trabalhadores

da saúde, participem do princípio de eqüidade e isonomia, a que se propõe a nova

Norma Operacional Básica – Recursos Humanos – SUS- (NOB/RH/SUS).

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Esclarecimentos sobre esta questão, encontramos em Resende, que discute a

NOB/RH/SUS. Quanto à eqüidade o autor expõe:

Para efeito da elaboração dos Planos de Carreira, Cargos e Salários (PCCS’s), na área da Saúde, as categorias profissionais devem ser consideradas, para classificação, em Grupos de Cargos, na observância da formação, da qualificação profissional e da complexidade exigidas para o desenvolvimento das atividades e ações que, por sua vez, desdobram-se em Classes que devem ser organizadas de acordo com níveis básico, técnico e tecnológico, com equiparação salarial proporcional à carga horária e ao nível de escolaridade, considerando-se a rotina e a complexidade das tarefas; o nível de conhecimento e experiências exigidos; a responsabilidade pela tomada de decisões e suas conseqüências e o grau de supervisão prestada ou recebida. No âmbito de cada esfera de gestão do SUS (união, estados e municípios) será assegurado o tratamento isonômico, com piso salarial, para os trabalhadores com atribuições e funções assemelhadas pelo nível de escolaridade e carga horária, entendida a isonomia como a igualdade de direitos, obrigações e deveres, independentemente do tipo ou regime de vínculo empregatício”. (RESENDE, 2000, p. 5).

4.6 - As Formas de Contratação

Atualmente, a contratação do ACS talvez seja o maior objeto de

discussão sobre o PACS, devido às limitadas possibilidades legais para os gestores

em conflito com os direitos celetistas e dos servidores públicos. Para a categoria, as

formas de contratação pecam pela ausência de garantia de direitos celetistas e

fragilidade dos contratos que não oferecem segurança de remuneração e

continuidade.

Diante de demandas quanto aos problemas nas relações de trabalho, o

Ministério da Saúde e o Programa Comunidade Solidária incentivaram a criação de

um grupo de trabalho, que contou com a participação da Casa Civil da Presidência

da República, do Ministério do Trabalho, do Ministério da Administração Federal e

Reforma do Estado, do Ministério da Previdência e Assistência Social e da

Secretaria Federal de Controle do Ministério da Fazenda. O referido grupo produziu

o documento intitulado Orientação para a escolha da modalidade de contratação dos

Agentes Comunitários de Saúde, que descreve como objetivo “contribuir com os

gestores municipais para a escolha de alternativas compatíveis com as realidades

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locais e com as diretrizes do Programa de ACS, viabilizando respostas às demandas

desses trabalhadores” 2

Esse documento destaca que o grupo de trabalho considerou a

modalidade Convênio como aquela que mais expressa o espírito do Programa de

Agentes Comunitários de Saúde, sendo indicadas para tal, organizações não-

governamentais (ONGs), instituições sem fins lucrativos, ou cooperativas. Como

outras modalidades de contratação descreve: Contratação Temporária, Criação de

Cargos Efetivos, Criação de Cargos em Comissão. Nessas indicações, foram

elencadas vantagens e desvantagens jurídicas. Convênio, por exemplo, a

modalidade recomendada pelo grupo, elenca a garantia de direitos trabalhistas, mas

esclarece que o recebimento do abono salarial anual e do seguro-desemprego

dependem do enquadramento dos requisitos da lei (não diz a qual se refere). Quanto

ao recebimento do auxílio-alimentação, declara que deve observar as regras do

Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), além de acordo ou convenção

coletiva.

A cooperativa tem sido uma modalidade utilizada em substituição ao

contrato formal de trabalho, deixando de serem assegurados os direitos trabalhistas

pertinentes ao trabalho remunerado. Porém, essa prática tem sido refutada por

características que desvirtuam o verdadeiro sentido de cooperativa, embora tenha

sido criada nos meados do século XIX na Inglaterra, com inspiração no solidarismo e

o propósito de combater os efeitos perniciosos do capitalismo liberal. No Brasil, as

cooperativas foram criadas em 1903, por decreto, e normatizadas em lei, em 1971.

Desde as suas origens até os dias atuais, o que torna

Difícil ou quase impossível é a conciliação do ideal cooperativista com a mera intermediação de mão-de-obra, pois o associado se vê vítima de um amesquinhamento de sua condição social ao ser lançado à margem da legislação consolidada (CARDOSO, 2001).

Os problemas de contratação afetam os ACS e os outros profissionais

que trabalham no PSF. A prática tradicional de terceirização de trabalhadores de

serviços gerais estendeu-se aos serviços técnico-profissionais. No SUS, existe uma

forte tendência para a terceirização, que tem sido explicada pelos gestores do

Sistema como uma conseqüência das injunções de ordem econômica e legal, que

limitam a contratação de pessoal. A terceirização desses serviços

2 Documento fornecido pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco

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distingue-se como uma busca de flexibilidades externas que parecem vantajosas face à rigidez dos padrões vigentes da gestão dos quadros estatutários, ou seja, dos funcionários públicos. Ao seguir a via de terceirização, o setor público submete-se à lógica administrativa que tem sido preconizada para a reforma do aparato do Estado (BRASIL. MS, 2001).

Os trabalhadores da área de saúde têm-se organizado em função da

nova Norma Operacional Básica/NOB/RH-SUS, como instrumento legal que promete

contemplar não só aqueles vinculados à administração pública direta e indireta,

inclusive, consórcios intermunicipais de saúde e os trabalhadores dos órgãos

públicos de ensino e pesquisa na área de saúde, como também “norteará a gestão e

a gerência dos trabalhadores das entidades privadas (filantrópicas e lucrativas),

prestadoras de serviços de saúde do SUS”. Sua implementação “obedecerá o

princípio de participação bilateral e partidária, com processo de gestão democrática,

organizando-se em ‘colegiados gestores’ entre trabalhadores e gestores prestadores

de serviços de saúde conveniados ou contratados, formalizados pelas Mesas de

Negociação” (RESENDE, 2001).

A política de restrições de ampliação do quadro estatutário, a

flexibilização do mundo do trabalho que se estende ao setor público e a

precarização dos contratos de trabalho dos ACS encontram respaldo em algumas

idéias sobre a categoria, as quais esta tem que enfrentar na defesa de seus

interesses. Dentre elas destacam-se:

A diferenciação do ACS dos outros profissionais, como “trabalhador-

mediador”, interlocutor entre a comunidade e a equipe técnica, permeada pela

liderança e solidariedade, configuram para alguns um conjunto de idéias que

justificam a necessidade de autonomia e desvinculação hierárquica dos ACS aos

poderes de mando da burocracia (NOGUEIRA; SILVA; RAMOS, 2000, p. 12).

Outro argumento contra a vinculação do ACS como servidor público é a

suposição de que haveria prejuízos quanto ao relacionamento do ACS com a

comunidade, em virtude de interesses corporativos que viessem a se sobrepor em

detrimento de seus legítimos interesses enquanto cidadão da comunidade em que

vive e como tal foi escolhido a desempenhar um papel como trabalhador da saúde.

Porém, a todos esses argumentos não se baseia numa avaliação em que

se comprovem as garantias da “não-vinculação institucional”. Ao mesmo tempo, não

se pode negar que o ACS tem buscado a defesa de seus interesses profissionais,

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organizando-se em associações, estas em federações, confederação e tem surgido,

ainda a organização sindical.

5. – METODOLOGIA

5.1 - A Escolha do Campo

A escolha dos municípios de Camaragibe e São Bento do Una ocorreu

especialmente por configurarem duas realidades distintas e pelas possibilidades

objetivas de realização da pesquisa, uma vez que e a autora desenvolve atividade

profissional nesses e mais em três outros do Estado. Os dois municípios

referenciados encontram-se a 200km de distância entre si, em regiões que se

diferenciam do ponto de vista socioeconômico e quanto às ações de saúde.

O município de Camaragibe está localizado na Região Metropolitana do

Recife, é considerado de médio porte, trabalha com Gestão Plena do Sistema de

Saúde, e no aspecto de ações de saúde é considerado modelo de excelência. Já o

município de São Bento do Una, localizado no agreste do Estado de Pernambuco, a

200 km do Recife, é considerado de pequeno porte populacional e com Gestão

Plena de Atenção Básica.

5.2- Caracterização dos Municípios

5.2.1 - Camaragibe

Camaragibe é município emancipado de São Lourenço da Mata desde

1982. Situado a 16 km do centro de Recife, é o segundo menor município da região,

com a extensão territorial de 52,9 km². Possui uma população residente de 111.119

pessoas, (IBGE, 1996), cuja estimativa representa cerca de 3,89% do contingente

populacional da Região Metropolitana do Recife, com densidade demográfica de

2.522,1 hab/km2. A evolução populacional encontra-se superior à da região.

O comércio, grande parte de informal, é a principal atividade econômica

do município grande parte dele informal. Embora seja totalmente urbano, o turismo

ecológico é uma atividade em crescimento, atraído por reserva da Mata Atlântica,

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detentora de rios e clima especial, localizada na região denominada Aldeia

(CAMARAGIBE, 2001).

Detêm a renda mensal de até um salário mínimo 49,5% dos chefes de

domicílios e 75,9% deles a renda até dois salários mínimos, ficando a renda média

em 1,8 salários mínimos. Todavia, a renda média per capita é de apenas 0,65 do

salário mínimo. O Índice de Desenvolvimento Humano/ (IDH) é de 0.585, enquanto o

do Estado de Pernambuco é de 0.572 (IBGE, 1991 apud FIDEM, 2002). O município

de Camaragibe tem-se destacado pelo trabalho de atenção à criança, tendo sido

avaliado pela UNICEF, em 2001, como o 5º colocado, entre os 185 municípios do

Estado de Pernambuco.

A Rede Municipal de Ensino atende os alunos do ensino fundamental em

26 escolas. O município conta também com 12 escolas de ensino médio.

Quanto às condições sanitárias, 32,4% da população não dispõem de

abastecimento d’água adequado, como também 89,5% dos domicílios não têm

esgotamento sanitário apropriado. O tratamento do lixo é inadequado para 39,5%

dos domicílios (IBGE, 1991 apud FIDEM, 2000).

O restante da população constrói fossas sépticas sem impermeabilização adequada, contaminando os mananciais subterrâneos e enfraquecendo as barreiras. Outra situação comum é a utilização dos canais, canaletas, galerias e vias públicas para o escoamento das águas servidas. A quantidade de galerias nas vias públicas é insuficiente, gerando problemas de inundações corriqueiras, principalmente nas épocas de chuva (CAMARAGIBE, 2001).

O município conta com (4) quatro hospitais privados com 1306 leitos

mantidos pelo SUS (PERNAMBUCO. Secretaria de Saúde, 1998 apud FIDEM 2000)

Camaragibe conta atualmente com 32 Unidades do Programa de Saúde

da Família, abrangendo 92% da população, igual percentual assistido pelo Programa

de Agente Comunitário de Saúde. Os ACS realizam ações de promoção à saúde e

prevenção de doenças, desenvolvem ações básicas de vigilância epidemiológica,

através da notificação e investigação dos agravos, óbitos e nascimentos, em sua

área de abrangência, assistidos pela Secretaria Municipal de Saúde.

A partir da análise dos dados epidemiológicos, no período de 1993 a

1999, observou-se que as doenças do aparelho cardiovascular estiveram sempre

como primeira causa de óbitos no município, sendo seguida pelas causas externas e

pelas infecções no período perinatal. De 1995 a 1998, as neoplasias passaram para

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o terceiro lugar, quando ocupavam anteriormente a sexta causa de óbito no

município. Os óbitos declarados como “sinais e sintomas e afecções mal definidas”

decresceram, chegando a 0,8% do total de óbitos em 1999.

Foi observado, também, durante esse período uma grande redução nos

óbitos em menores de um ano. Em 1995, o coeficiente de mortalidade infantil era de

32,6 por mil nascidos vivos. Já em 1999, conseguiu-se, através de investimentos na

atenção básica com ações prioritárias para essa faixa etária, reduzir para 17,1 óbitos

em cada mil nascidos vivos.

Com relação à morbidade, sobressaem-se os transtornos mentais e

comportamentais, com 51,67% dos internamentos, devido à existência do hospital

psiquiátrico especializado em abrigar doentes crônicos no município. Vale salientar

que nesse hospital, 82,93% dos seus clientes estão na faixa etária entre 20 a 59

anos. Ocupando o segundo patamar estão a gravidez, o parto e o puerpério, com

14,99% dos casos, sendo que 27,71% ocorrem entre 15 e 19 anos; a terceiro

patamar é representado pelas causas externas, com 10,3%, principalmente por

distribuídos na faixa etária dos 20 aos 49 anos, adultos jovens em plena capacidade

de trabalho, com 47,64%.Um agravante é o fato de que os idosos, acima de 60

anos, abrangem 33,07% destes internamentos. Os sinais e sintomas mal definidos

representam nesse município apenas 0,61%.

5.2.2- São Bento do Una

São Bento do Una emancipou-se de Garanhuns em 1900. Localizado na

mesorregião do Agreste e microrregião do Vale do Ipojuca, a 208km do Recife, o

município dispõe de uma área de 511 km2, de relevo plano e suave ondulado, de

vegetação caatinga hipoxerófila. Ocupado por uma população de 45.343 habitantes,

dos quais 23.295 são da zona urbana e 22.048, da zona rural. A densidade

demográfica é de 63 hab/km². São Bento, segundo os dados de migração, em 1991

há o registro de 1256 pessoas com idade acima de 4anos. O Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0.417 para 0.572 do Estado de Pernambuco

(IBGE, 1991 apud FIDEM, 2000).

O município tem como atividade principal a pecuária de aves, bovinos e

suínos. Até um salário mínimo é a renda de 63,3% dos chefes de domicílio e 1,5 do

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salário mínimo é a média mensal, ficando a média per capta familiar em 0,53 do

salário mínimo.

No que se diz respeito à rede de ensino, existem 77 estabelecimentos de ensino

fundamental e dois do ensino médio.

Quanto às condições sanitárias, 33,1% dos domicílios não possuem

abastecimento d’água adequado, e 99,6% não têm esgotamento sanitário adequado.

Também é inadequado o tratamento do lixo para 39,5% dos domicílios (IBGE, 1991,

apud FIDEM, 2000).

Quanto aos equipamentos de saúde, possui um hospital com 28 leitos,

um centro de saúde, quatro postos e sete unidades ambulatoriais. Há uma

predominância de óbitos por doenças do aparelho circulatório, e as doenças

infecciosas e parasitárias, seguidas de doenças do aparelho respiratório constituem

a segunda causa de óbitos do município (DATASUS, 2001).

Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da

Saúde, referentes ao ano de 1998, revelam que a doença cardiovascular é a

principal causa de morte no município de São Bento do Una, seguida das causas

externas e aparelho respiratório. Um agravante ao padrão desse município é o fato

de que 57,48% dos óbitos notificados não possuem causas definidas, e neste há

importante participação de idosos com 56,25% e de crianças menores de um ano,

com 23,43% dos casos. Observa-se também uma alta mortalidade infantil. O

componente neonatal precoce com 21,48%, o tardio, com 10%, e o maior índice

entre pós-neonatal, com 68,57% dos óbitos registrados. As causas correspondentes

são sintomas, sinais e achados anormais clínicos e laboratoriais, com 64,28%,

seguidos de 14,28% das afecções originadas no período perinatal e as doenças

infecciosas e parasitárias, com 8,57% das notificações. Segundo dados do Ministério

da Saúde, em 1989, o coeficiente de Mortalidade Infantil em São Bento do Una era

de 98,05 /ano e em 1998, 86,95/ano, o que retrata uma deficiência de investimentos

em políticas públicas dirigidos ao menor de uma ano de idade. E, considerando-se a

existência de cemitérios clandestinos na zona rural do município, pode-se inferir uma

importante subnotificação de óbitos. Toda essa realidade vem evidenciar uma

precariedade do sistema de saúde local.

Na análise de dados sobre a morbidade em 2000, no Sistema de

Informação Hospitalar (SIH/SUS), observa-se uma alta taxa de natalidade, visto que

44,18% dos internamentos corresponderam a gravidez, parto e puerpério, e 95%

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destes são evidenciados como partos espontâneos. A faixa etária dos 15 aos 39

anos abarca 51,28% dos internamentos sendo que 81,3% são decorrentes de

gravidez, parto e puerpério. A faixa etária menor de um ano é responsável por

11,11% dos internamentos, e destacando-se as doenças endócrinas, nutricionais e

metabólicas, principalmente a desnutrição, posteriormente, as doenças do aparelho

respiratório e as de causas não esclarecidas. Considerando-se, ainda, todas as

faixas etárias, o segundo patamar da morbidade está ocupado pelos sinais e

sintomas mal definidos, seguido das doenças do aparelho respiratório,

principalmente as pneumonias, que resultam em 59% dos casos entre menores de

um ano até quatro anos. Vale salientar que as causas externas correspondem a um

percentual mínimo em relação aos internamentos.

5.3 -Tipo de Estudo

Tendo como objetivo a descrição das características de um grupo de

trabalhadores, realizou-se um estudo descritivo de corte transversal.

(ROUQUAYROL; ALMEIDA, 1999, p. 150).

Gil (1994) também indica esse tipo de pesquisa para o estudo descritivo:

“As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno”.

5.4 - Tamanho da Amostra

Em Camaragibe, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde conta

com 164 ACS, inseridos em 32 equipes do Programa de Saúde da Família e 24,

numa equipe do PACS. Dentre os 188 ACS entrevistamos 114 abrangendo todas as

unidades do PSF e a do PACS, obtendo uma amostra que representa 60,6% do

universo.

Em São Bento do Una, por sua vez, o Programa de Agentes Comunitários

de Saúde conta com 94 ACS, dentre os quais entrevistamos 89, o que representa

94,6% do universo.

Embora tenhamos contado com a disposição dos ACS e o empenho dos

técnicos lotados nas equipes e na Secretaria de Saúde dos respectivos municípios,

algumas dificuldades operacionais impediram a cobertura de 100% dos agentes, tais

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como: falta de auxiliares de pesquisa para a realização de entrevistas, dificuldades

em reunir os ACS, horários entre as equipes e simultâneo acordo com os

supervisores.

5.5 - Coleta de Dados

Trabalhou-se com dados primários. Utilizou-se um questionário

estruturado, contendo perguntas fechadas, que caracterizam a técnica padronizada

de coleta de dados, indicada para os estudos sobre características de uma

população ou fenômeno (GIL, 1994). No transcorrer do trabalho, registraram-se, no

diário de campo, observações consideradas relevantes e falas dos ACS.

Para uma subamostra, representada por 76,85% do total dos

entrevistados, utilizou-se uma pergunta aberta, que viria contemplar a necessidade

de se obterem elementos que expressassem algum pensamento dos trabalhadores,

através de expressão livre do pensamento, com o objetivo de evidenciar a relação

entre os ideais de realização profissional e a atividade que desenvolvem.

O questionário foi pré-testado pela autora com oito ACS da cidade do

Recife, corrigindo-se as falhas na sua elaboração.

No município de Camaragibe, os entrevistados foram abordados nos

locais de trabalho, nos Postos do PSF, encontros e reuniões na sede da Prefeitura,

Associação Municipal dos Agentes Comunitários de Saúde de Camaragibe- AMACS

e salas de aula do Projeto de Elevação de Nível de Escolaridade Para Agentes

Comunitários de Saúde/FormaSUS.

Em São Bento do Una, os ACS foram entrevistados em sala de aula do

FormaSUS, e alguns da área urbana, em locais de trabalho.

Antes das entrevistas, quando a situação permitiu, reuniram-se os ACS

em pequenos grupos, em que explicaram os objetivos da pesquisa e se fizeram os

esclarecimentos necessários.

Priorizaram-se o direito de o ACS decidir sobre sua participação na pesquisa, a

ausência de identificação do entrevistado e o sigilo profissional. Nenhum ACS,

depois de nos ouvir, alegou qualquer motivo para não participar. Em sua grande

maioria, a mobilização para participar da pesquisa foi feita pelos próprios ACS.

Quando não foi possível reuni-los em grupo, o mesmo procedimento fora feito com

cada um deles individualmente.

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5.6 - Definição das Variáveis

Conforme definido nos objetivos, conhecer as características pessoais,

socioeconômicas, e as condições de inserção dos ACS, trabalhou-se com as

variáveis em quatro blocos:

� Bloco I - Características Gerais:

Dados pessoais: idade, sexo;

Renda familiar: Neste estudo, não se estabeleceu nenhum tipo de diferenciação

para a categoria família, pois consideraram-se todas as pessoas que residiam no

mesmo lar, independentemente de laços consangüíneos ou legais. Trabalhou-se

com oito faixas de renda, distribuídas segundo o salário mínimo vigente. Computou-

se como renda o ganho por quaisquer atividades, aposentadorias e pensões de

qualquer natureza;

Renda per capita da família: considerou-se o somatório de todos os rendimentos

usados na manutenção do núcleo familiar, dividida pelo número de pessoas

residentes no domicílio;

Escolarização: grau de escolaridade;

Formação profissional: cursos concluídos;

� Bloco II - Experiência de Trabalho:

Inserção anterior no mercado de trabalho, incluindo trabalho formal, informal, ramos

de atividades tais como indústria, comércio, saúde, educação, agricultura, serviço

público ou negócio próprio. Computaram-se as atividades exercidas a partir do

período mínimo de seis meses.

Dentre os itens de trabalho informal, incluímos a ocupação que aqui denominamos

de “Vendedor(a) de Produtos de Revista”, que representam os trabalhadores avulsos

que intermedeiam para grandes empresas a venda de produtos, tais como:

cosméticos e perfumaria, bijuterias, roupas e calçados, utilidades domésticas,

através de revista. Esses vendedores expõem o produto, elaboram o pedido, pagam

a mercadoria e recebem posteriormente do cliente, assumindo assim o risco de

concretização da compra. O preço é determinado pelas empresas bem como a sua

taxa de lucro. Para terem acesso a esse trabalho, as pessoas precisam atender aos

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requisitos de um cadastro, terem fiador, manterem conta bancária. Por isso, a

maioria desses vendedores não têm relação direta com as grandes empresas e

vendem para familiares ou amigos que normalmente também têm algum lucro sobre

o seu trabalho.

“Vendedor autônomo” – considerou-se, nesse item, o trabalho de vendas

em que trabalhador tem uma relação direta com o representante do produto ou

fábrica, mas sem vínculo empregatício.

Tempo de inserção na atividade de ACS – considerou-se o ano em que começou a

trabalhar como ACS.

Classificação de área de trabalho: urbana ou rural.

� Bloco III - Cumprimento dos Critérios de Seleção – Ministério da Saúde:

Disponibilidade de tempo integral: exercício apenas da atividade de ACS ou

simultâneo à outra, que denominamos de “atividade concorrente”; Residência no

município há, pelo menos dois anos: residência na comunidade em que trabalha e o

tempo;Participação na vida da comunidade – tipos de participação na comunidade,

além do trabalho como ACS.

� Bloco IV – Dados Complementares:

Motivos que levaram os entrevistados a trabalharem como ACS:

Desemprego; renda insuficiente; possibilidade de conciliação da atividade de ACS

com outras; condições para poder continuar os estudos; experiência anterior como

parteira e/ou como agente de saúde das pastorais; relações com pessoas

vinculadas à administração local; experimentar o tipo de trabalho; desejo de ser

profissional da saúde; imagem positiva do trabalho do ACS; influência do grupo

familiar; outros motivos.

Ideal de realização profissional: pergunta aberta para livre expressão de

valores de ideais profissionais, aqui escolhida “sonho profissional”.

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5.7- Análise e Processamento dos Dados

Usou-se o EPINFO 6.0 para consolidação dos dados. 6 – RESULTADOS 6.1- BLOCO I – Características Gerais

6.1.1.- Dados pessoais:

6.1.1.2- Sexo

O grupo pesquisado é predominantemente feminino, e, particularmente no

município de Camaragibe, onde todos os ACS são do sexo feminino.

No município de São Bento do Una, 75 ACS são do sexo feminino e 14

masculinos, participaram da pesquisa.

Portanto, a amostra se compõe de 189 ACS do sexo feminino, o que representa

93,10% , contra 6,9% do sexo masculino.

O resultado encontrado quanto ao sexo é significativamente próximo ao encontrado

por Andrade (1998), no estado do Ceará, onde, entre os 2.507 ACS pesquisados,

7,5 eram do sexo masculino e 92,5% do feminino.

6.1.1.2- Idade

Observa-se, no gráfico 03 a, que 78,3% dos ACS pesquisados

encontram-se entre 20 e 39 anos, representados nas duas faixas etárias

consecutivas. (gráfico 3, tabela 2- anexo1).

Quanto aos municípios, nas duas faixas etárias compreendidas entre 18 e

29 anos, São Bento do Una apresenta o percentual de 57,3%, e Camaragibe 43,0%,

revelando que o primeiro absorveu mão-de-obra mais jovem, o que se confirma nas

duas faixas seguintes, de 30 a 49 anos, Camaragibe tem 56,8% e São Bento 42,7.

(gráfico 4, tabela 2).

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Gráfico 3- Distribuição do Número de ACS por Faixa Etária, Cam aragibe

e São Bento do Una, 2000.

Fonte : Questionário de campo

Gráfico 4- Distribuição do Número de ACS, por Faixa Etária, Ca maragibe e São

Bento do Una, 2000.

Fonte : Questionário de campo.

A absorção de mão-de-obra mais jovem ou mais adulta pode estar

relacionada a critérios de seleção. Supõe-se que o pessoal mais adulto tenha

interesses que o levem a se envolver mais com os problemas da comunidade.

Nesse estudo, Andrade et al (1998) encontrou 32,7% dos entrevistados

na faixa etária de 18 a 29 anos; aqui se observam 49,31% dos ACS.

As demais faixas não permitem a simples comparação, porque Andrade

trabalhou com faixas diferentes das que adotamos: “30 a 45 anos” e “acima de 46

anos”, cujos resultados representam 51,7% e 15,6% dos ACS, respectivamente.

Distribuição do Número de ACS, por Faixa Etária, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

0

10

20

30

40

50

18-19 20-29 30-39 40-49 50-60

Distribuição do Número de ACS, por Faixa Etária, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

18-19 20-29 30-39 40-49 50-60

camaragibe

São Bento

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57

Observa-se então um percentual significativo de trabalhadores que se encontram

em idades mais avançadas.

6.1.1.3 – Escolaridade

O universo pesquisado revela que 48,7% dos ACS cursam ou concluíram

o segundo grau de ensino. (gráfico 5, tabela 3- anexo 1)

Gráfico 5- Distribuição do Número de ACS, por Nível de Escolar idade,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo .

Os municípios encontram-se relativamente equiparados até a 8ª série do

ensino Fundamental, com 28,8% para Camaragibe e 32,9% para São Bento do Una.

No segundo grau completo é mais levado o percentual para o município de 51%

Camaragibe, ficando São Bento do Una com 46% (Gráfico 6, tabela 3, anexo1).

Concluíram cursos de nível superior dois ACS de Camaragibe e um de

São Bento Una, e um ACS nesse município referiu que estava cursando. .

Distribuição do Número de ACS, por Nível de Escolaridade, Camaragibe e São Bento do Una,

2000.

0

10

20

30

40

50

até 4ªsérie

5ª à 8ªsérie

2º Grauincompleto

2º Grau completo

Cursando o3º Grau

SuperiorCompleto

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58

Gráfico 6- Distribuição do Número de ACS, por Nível de Escolar idade,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo.

A tendência para a contratação de ACS com melhor nível de escolaridade

é favorecida pelas condições do mercado de trabalho, que conta com maior oferta

de mão de obra. No município de São Bento do Una, por exemplo, as oportunidades

de trabalho são menores, e a região conta também com duas grandes escolas de

formação de educadores.

Por outro lado, essa tendência pode ser atribuída à avaliação que os gestores vêm

fazendo, pois consideram o nível de escolaridade como variável importante no

desempenho das tarefas.

6.1.1.4 - Formação Profissional

Quanto aos cursos concluídos pelos ACS, observa-se que o de

datilografia foi o mais citado. (gráfico 7, tabela 4- anexo 1). O curso de computação,

por sua vez, foi concluído por 25,6% dos ACS. Fora esse percentual vários ACS

mencionaram que não o haviam concluído por falta de condições financeiras para

cumprir o pagamento. Por outro lado, concluíram o curso de magistério 54 ACS, ou

seja, 26,6% deles.

Outro curso, o de contabilidade, também está associado à escolarização do 2º grau

e, foi concluído por 44 ACS (21,67%).

Distribuição do Número de ACS, por Nível de Escolar idade, Camargibe e São Bento do Una, 2000.

0,010,020,030,040,050,060,0

até

série

5ª à

série

2º G

rau

inco

mpl

eto

2º G

rau

com

plet

o

Cur

sand

oo

3º G

rau

Sup

erio

rC

ompl

eto

Camaragibe

São Bento

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59

Os cursos denominados de “habilidades do lar e similares”, foram os mais

freqüentados, porém só eram valorizados nas falas dos ACS quando lhes permitiam

ter algum tipo de renda, por exemplo: preparação de festas infantis e artesanato.

Vários ACS relataram atividades de ensino, em pequenas escolas, e na

própria residência, porém não tinham a formação em magistério.

Gráfico 7- Distribuição do Número de ACS, por Cursos Concluído s, Camaragibe

e São Bento do Una, 2000.

Distribuição do Número de ACS, por Cursos Concluíd os, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

0

10

20

30

40

50

Datilo

graf

ia

Habilid

ades

do

lar

Conta

bilida

de

SENAC

Atend

Enf

erm

agem

SENAI

Outro

s

Fonte: Questionário de campo

Os cursos de Magistério, Auxiliar de Enfermagem e Atendente de

Consultório Dentário são importantes para o desempenho das atividades

relacionadas à educação em saúde e revelam o interesse tanto pelo trabalho de

transmissão de conhecimentos, como pela área de saúde. Só os ACS de

Camaragibe têm acesso.

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60

ao curso de Atendente de Consultório Dentário, pela existência naquele município

Faculdade de Odontologia e equipe de odontologia no PSF. A participação em

cursos de Escolas Técnicas indica um padrão de escolarização diferenciado e

socialmente reconhecido. Os cursos do sistema patronal, tais como Serviço Nacional

de Aprendizagem Industrial/SENAI e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

Comércio/ SENAC, são tradicionalmente valorizados pelo mercado de trabalho.

A escolha por cursos profissionalizantes como Atendente de Enfermagem, Auxiliar

Técnico de Enfermagem também se relacionam à busca de melhoria salarial e pela

possibilidade de obtenção de contrato formal de trabalho. Os ACS estão

subordinados a diversas formas de contratação, que pecam pela garantia dos

direitos celetistas segurança de remuneração de continuidade, conforme se abordou

no item 4.6 deste trabalho. Registraram-se no diário de campo, constantes falas dos

ACS sobre a capacitação que aqueles cursos poderiam propiciar-lhes no exercício

de sua atividade como ACS e possibilidades de “ascensão”, ou seja: trabalhar no

Posto do PSF, ter um salário melhor” ou, ainda, trabalhar num hospital .

6.1.1.5 - Composição da Renda Familiar

a) Faixas de Renda

Os dados que compõem o gráfico 8 (tabela 05 anexo I), incluem valores

gerados por qualquer tipo de atividade, independentemente da existência da relação

de emprego ou rendas advindas de aposentadorias e pensões.

Observa-se que 40,4%% das famílias dos ACS encontram-se nas faixas de renda de

até dois salários mínimos, 20,2% estão na faixa de dois salários a três mínimos.

Decresce para 17,2% as famílias que chegam a quatro salários mínimos.

No município de São Bento, 27,0% das famílias dispõem de um salário

mínimo, o que significa dizer que essas famílias que dependem da remuneração do

trabalho do ACS. Conforme citado no item 5.2.2 dispor de até um salário mínimo é a

realidade de 63,3% dos chefes de domicílio do município, ficando a média em 1,5

salário mínimo (IBGE/91). (gráfico 9, tabela 5 anexo 1).

Já em Camaragibe, 11,8% das famílias se encontram então na faixa de

renda de até dois salários mínimos, as quais também dependem da remuneração do

ACS. A realidade dos ACS diferencia-se da encontrada pelo IBGE/91 em que 49,5%

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61

dos chefes de domicílios tinham a renda mensal de até um salário mínimo, ou seja,

1,8 salários mínimos.

Gráfico 8- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo.

Gráfico 9- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte : Questionário de campo.

b) Número de Contribuintes

Quanto ao número de pessoas residentes no domicílio que contribuem

para a renda familiar (tabela 6), 17,7% dos ACS declararam que na família não há

nenhum outro contribuinte além dele.

Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

05

1015202530

até 151reais

152 a302 reais

303 a 453 454 a 604reais

605 a 755reais

756 a1100reais

acima de1100reais

Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

0

10

20

30

40

50

até 151reais

152 a 302reais

303 a 453 454 a 604reais

605 a 755reais

756 a 1100reais

acima de1100 reais

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62

Observa-se que as famílias 51,2% (104), têm uma única pessoa além do

ACS, que contribui com seu trabalho, seguido de 20,7% daquelas famílias que têm

duas pessoas com algum tipo de atividade. O número de três outras pessoas

contribuintes cai para 6,40%, e acima disso, o que resultaria em 4,0% dos

entrevistados.

Dentre os contribuintes, verificou-se o número de aposentados ou

pensionistas: catorze famílias contam com a renda de um aposentado, seis famílias,

com dois, e duas famílias com três aposentados. O conjunto de famílias que contam

com renda de aposentados é composto por 22 famílias que representam 10,94%

dos ACS entrevistados.

A participação do aposentado ou pensionista é importante pela

regularidade e segurança do benefício.

c) Renda Per Capita

Calculou-se a renda per capita das famílias, considerando-se o valor

ganho por todas as pessoas que residem no domicílio e que dependem da mesma

para a manutenção da família.

O gráfico 10 (tabela 7- anexo1) demonstra que 48,2% das famílias dos entrevistados

encontram-se na faixa de renda per capita igual ou abaixo de um salário mínimo.

Dentre aquelas famílias, 29,0% encontram-se com renda per capita igual ou abaixo

de meio salário mínimo. Em relação aos municípios, foram encontradas 13,25 em

Camaragibe e 49,5% em São Bento do Una. O resultado para São Bento do Una

encontra-se abaixo dos dados do IBGE/91 em que a renda per capita média era de

0,53 salário mínimo.

Esta situação é considerada de risco pelos Ministérios da Saúde e da

Previdência, o que coloca o ACS na mesma situação de beneficiário dos programas

em que trabalha na implantação.

Na faixa seguinte, de 2/3 a 3/4 do salário mínimo perfazem o total de 14,3% dos

entrevistados, havendo uma diferença favorável a Camaragibe da ordem de 7,4%.

Dispõem de um salário mínimo, per capita, 15,2% das famílias. Em Camaragibe

esse percentual é de 16,7 das famílias e em São Bento do Uma 13,5%. (gráfico 11,

tabela 7, anexo 1).

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63

Entre um salário mínimo per capita a mais de dois encontram-se 22,2%

das famílias do universo de entrevistados.

As faixas de renda que variam de um a mais de dois salários mínimos, em

Camaragibe, representam 35,1% das famílias. A renda familiar per capita média

encontrada pelo IBGE/91 era de apenas 0,65 salário mínimo. Em São Bento do Una,

elas representam 5,5% de suas famílias. (gráfico 11).

Gráfico 10- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar P er Capita,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

.

Distribuição do N° de ACS, por Renda Familiar Per Cap ita, Camaragibe e São Bento do Uma, 2000.

0

10

20

30

40

Até 151reais

152 a 302reais

303 a 453reais

454 a 604reais

605 a 755reais

756 a 1100reais

Acima de1100 reais

Camaragibe São Bento

Fonte: Questionário de campo

Gráfico 11- Distribuição do Número de ACS, por Renda Familiar P er Capita,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo.

Distribuição do Número de ACS, por Familia Renda Per Capita, Camaragibe e São Bento do

Una, 2000.

0102030

< 1/3 SM 1/ 3 a1/2 SM

1/2 a 2/3SM

2/3 A 3/4SM

1SM 1 a 1,5SM

1,5 a 2SM

(+) 2 SM

Camaragibe São Bento

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64

6.2 Bloco II – Trabalho

6.2.1- Experiência de Trabalho

a) Experiência de trabalho anterior a sua entrada n o PACS

Constatou-se que 78,9% dos ACS já tinham um tipo de experiência de

trabalho. No município de Camaragibe eles representam 28,60 e 65,2% em São

Bento do Una.

Foram registrados nesse item as experiências vividas pelos ACS pelo período igual

ou superior a seis meses. (tabela 8, anexo1).

Gráfico 12- Distribuição do Número de ACS, Segundo Experiência profissional

ou Ocupação Anterior a sua Entrada no PACS, Camarag ibe e São Bento do

Una, 2000.

Distribuição do Número de ACS, Segundo Experiência Profissional ou Ocupação Anterior a sua Entrada no PACS, Camarag ibe e São

Bento do Una, 2000.

0

10

20

30

40

50

Trab.

Rur

al

Vende

dor

Dona

de ca

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Profe

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Trab.

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aut

.In

d.

Vol. P

ast.

Parte

ira

Fonte: Questionário de Campo

A atividade rural foi a mais citada: 36,9% (75) dos entrevistados (gráfico

12, tabela 9, anexo 1). Dentre os 75, somente dois trabalharam na cana-de-açúcar e

seis, em trabalho rural assalariado.

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65

Dos demais trabalhadores da agricultura, 50 trabalhavam em agricultura de

subsistência e 17, como meeiros, o que corresponde a 24,6% e 8,37% dos

entrevistados, respectivamente.

Vendedor de produtos de revista é a segunda maior atividade, 32% dos

entrevistados a mencionaram.

Tinham vínculo anterior com a administração pública municipal 8,37% dos

entrevistados (17 ACS).

Nos envolvidos com a área de saúde encontraram-se 8,86 (18 trabalhadores), dentre

os quais cinco são de enfermagem, correspondendo a 8,86% dos mesmos.

Apenas oito ACS referiram ter participação na Pastoral e três como parteira. Este

resultado é considerado muito inferior ao que normalmente se costumava encontrar

no início da implantação do PACS, segundo depoimentos de profissionais ligados ao

programa.

Consideram-se todas atividade anteriores, independente de sua natureza,

mesmo aquelas que não têm o caráter de profissão, por entender-se que o ser

humano ao realizar um trabalho, imprime-o dos conhecimentos e habilidades

desenvolvidas acumulados nas diversas áreas, ao longo de sua vida.

Destacam-se aqui duas atividades: professor e trabalhador da área da

saúde. Essas atividades têm ponto em comum com a atividade do ACS. A primeira

se relaciona com o processo de educação, e diz respeito as relações que se

estabelecem nesse processo, troca de conhecimentos e confiança. A segunda

destaca-se pelo interesse anterior do ACS com a área da saúde.

6.2.2 - Tempo de Atividade no Programa de Agentes C omunitários de Saúde

Observa-se no gráfico 13 (tabela 10, anexo 1) que 82 ACS foram

incluídos no programa de 1993 a 1995, representando 40,4% dos entrevistados, e

têm cinco ou mais anos de atividade.

No período de 1996 a 1999, esse grupo apresenta uma diminuição índice

de contratação, 22,1%.

A segunda maior entrada de trabalhadores acontece no ano 2000,

inclusive, coincidindo os dados entre os municípios, o que representa 37,43% dos

entrevistados, que têm menos de um ano de trabalho.

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66

Andrade et al (1998) em seu estudo, verificou o período em que os ACS

iniciaram suas atividades, encontrando, de 1994 a 1996, 52,2% dos 2507 ACS

pesquisados, numa média relativamente eqüitativa a cada ano. No período 1997 a

1998, encontrou 43,8% dos ACS pesquisados, o que revela também uma grande

ampliação nos últimos anos.

Gráfico13- Distribuição do Número de ACS, por Ano de Inclusão no PACS,

Camaragibe e São Bento do Uma, 2000.

Distribuição do Número de ACS, por Ano de Inclusão no PACS,

Camargibe e São Bento do Una, 2000.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1993/94 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Camaragibe São Bento do Una

Fonte: Questionário de Campo.

6.2.3- Área de Trabalho

Os entrevistados que residem na área urbana somam o número de 140

ACS, correspondendo a 70,4% deles. São trabalhadores da zona rural 33 ACS,

29,6%. (gráfico 14, tabela 11).

Os 114 ACS de Camaragibe trabalham em zona considerada urbana pelo

Sistema de Informação da Atenção Básica, porém sete ACS desse município

classificam a sua área como rural, devido as características muito diferenciadas

próprias de zona rural, tais como: baixa densidade demográfica, áreas de sítios e

granjas.

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67

Gráfico 14- Distribuição do Número de ACS, por Área de Trabalh o Camaragibe

e São Bento do Uma, 2000.

Fonte : Questionário de campo.

Respostas em branco 04.

6.3 - Bloco III– Cumprimento dos Critérios estabele cidos pelo Ministério da

Saúde

6.3.1- Disponibilidade de Tempo Integral

O critério de disponibilidade de tempo integral, diante da carga horária

semanal de oito horas diárias, exclui as possibilidades de exercício de outra

atividade remunerada, resultando em dedicação exclusiva. Por outro lado, o fato de

morar na comunidade expõe o ACS a ser solicitado a trabalhar fora do horário

convencional, ou seja, a qualquer hora da noite, dos sábados, domingos e feriados,

por requisição da comunidade.

Distribuição do Número de ACS, por Área de Trabalho

Camaragibe e São Bento do Uma, 2000 .

70%

30%

urbana

rural

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68

a) Desempenho de outra atividade

Indagados sobre o exercício simultâneo de outra atividade, 94 (47,7%)

dos ACS responderam que tinham outro tipo de atividade, e 52,3% afirmaram que

não. (Gráfico 15, tabela 12, anexo 1).

Gráfico 15- Distribuição do Número de ACS, que desempenham out ra atividade,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de Campo

b) Atividades Concorrentes

Dentre as atividades que os entrevistados exercem simultaneamente a de

ACS, predominam as atividades que exercia anteriormente a sua inclusão no PACS.

(Gráfico 16, tabela 13, anexo 1).

As 26 pessoas que trabalham na agricultura, ou seja, 33% dos 94 ACS

que declararam outra atividade, são todas do município de São Bento do Una.

Referiam que constitui a agricultura é uma alternativa da família do grupo familiar, no

qual o ACS é colaborador (gráfico).

Vendedor de produtos através de revistas é a segunda atividade, com 23,4%(18

ACS) desse grupo.

Distribuição do Número de ACS, que desempenham Outra Atividade, Camaragibe e São Bento do Una,

2000.

47%

53%

SIM

NÃO

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69

A atividade de dona-de-casa foi declarada como trabalho por 16,9% (13 )

dos ACS, explicavam que as tarefas domésticas absorvem-lhes tempo e energias,

impedindo-as de dedicar-se a outras atividades de qualquer natureza. Considerou-

se este fato importante, por romper com valores culturais e por ser, há muito tempo,

objeto de luta pelo movimento feminista, como diferencial nas garantias de

contratação da mão-de-obra feminina.

No item outros, com 25%, estão incluídas, atividades anteriores, tendo apenas

freqüência de uma resposta: professor, diarista doméstica, vendedor autônomo,

voluntário da pastoral, enfermagem, trabalhador burocrático da área de saúde e

funcionário de outra secretaria ).

A atividade denominada de “enfermagem” é exercida como trabalho

avulso na prestação de serviços para famílias que estão com pacientes internados e

precisam de acompanhante no hospital. Segundo o ACS, o serviço é prestado no

plantão da noite.

No diário de campo, registrou-se a freqüente preocupação dos ACS ao

afirmarem que exerciam essas outras atividades fora do seu horário de trabalho, em

horários noturnos e nos finais de semana, não interferindo na carga horária do

PACS. Esse fato demonstra o pleno conhecimento da dedicação integral e pode

significar uma preocupação de se expor ao risco de perder o trabalho.

Gráfico 16- Distribuição do Número de ACS, por Tipo de Atividad e Concorrente

com a de ACS, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo.

Respostas em branco 17.

Distribuição do Número de ACS, por Tipo de Atividade Concorrente com a de ACS,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

05

10152025303540

Agricultura /subsistência

Vendedor deprodutos /revistas

Dona -de –casa Outros

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70

Gráfico 17- Distribuição do Número ACS, que Têm Outro Tipo de A tividade por

Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000 .

Fonte: Questionário de campo.

c) - Relação Entre Renda e Atividades Concorrentes

Verifica-se, no gráfico 17 (tabela 14, anexo 1) a seguir, que entre os ACS

que declararam ter outro tipo de atividade, 17,0% se encontram na faixa de até um

salário mínimo. Vale ressaltar que todos pertencem ao município de São Bento do

Una, onde os ACS têm como segunda atividade a agricultura de subsistência,

atividade que não gera valor monetário.

A maior concentração dá-se na faixa demais de um a até dois salários

mínimos, com 31,0% das famílias dos ACS.

Com mais de dois a quatro salários mínimos, 31,7% dos que declaram

outra atividade.

Observa-se, também, que a maioria das atividades não têm ganho

assegurado, nem regularidade, o que dificulta a sua mensuração, além de e não

caracterizar uma renda que venha a fazer concorrência com a do ACS.

A partir dos dados obtidos, pode-se inferir que o exercício dessas

atividades está diretamente relacionado à questão de sobrevivência familiar, muito

acima, pois das necessidades de complementação de renda ou desejos de

consumo. A questão torna-se mais evidente, quando se observa a tabela 7, em que

29,0% das famílias vivem com a renda per capita igual ou menor que o salário

mínimo, chegando aos 48,2% todos os que vivem com menos de um salário mínimo.

Distribuição do Número ACS, que Têm Outro Tipo de Atividade por Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

0

10

20

30

40

Até 151 152 a302

303 a453

454 a604

605 a755

756a1100

Acima de1100

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71

É evidente que a falta de uma política de valorização de Recurso Humanos, que,

entre outras coisas, omite uma remuneração condigna, questão que atinge também

as diversas categorias profissionais do SUS, mesmo aquelas que são

regulamentadas, conforme exposto no item 3.5 deste trabalho. Neste item, viu-se

que a 1ª Conferência de Recursos Humanos aponta as “desigualdades nas

condições de inserção no mercado de trabalho” como um fator que leva o

trabalhador a mais de um emprego. (Sayd; Vieira; Velandia, 1998, p.188)

6.3.2 - Residir na comunidade há pelo menos dois an os

a) Residência na comunidade

Responderam que moravam na área em que trabalham 68,5% dos (137)

dos ACS. Estão fora do critério 31,5 % (63) dos ACS que responderam não. (Gráfico

18, tabela 15, anexo 1).

Gráfico 18- Distribuição do Número de ACS, Segundo Residência na Área em

que Trabalham, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte : Questionário de campo. Respostas em branco 03.

A partir de observações registradas no diário de campo, identificou-se

que, em São Bento do Una, alguns ACS responderam que não moravam na área

porque, além da área de sua residência, cobriam outras tanto na zona urbana como

na rural. A pergunta provavelmente deve ter sido entendida como se o seu trabalho

fosse restrito à área de sua residência.

Distribuição do Número de ACS, Segundo Residência na Área em que Trabalham, Camaragibe e

São Bento do Una, 2000.

68%

32%sim

não

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72

Em Camaragibe, encontraram-se casos em que o ACS iniciou o seu

trabalho na área de sua residência, mas com a expansão do PSF, a área foi

subdividida, razão porque estava sendo remanejados para a área de sua residência.

As ACS lamentavam terem que mudar devido ao vínculo que tinham construído com

a comunidade, e revelavam receio de não conseguirem conquistar a comunidade em

que moram, da mesma forma que a primeira.

O fato de não morar na comunidade em que trabalha pode ter causas as mais

diversas. No processo seletivo, por exemplo, pode variar desde questões de

apadrinhamento a problemas de controle do gestor sobre essa variável. Um ACS

que nasceu em determinada comunidade ou morou muitos anos nelae sua família

de origem lá permanece, não deve ter dificuldades de comprovação de residência,

especialmente por ser uma pessoa daquele meio, que tem boas relações com a

comunidade, e, neste caso, “não está ferindo o princípio de identidade com a

comunidade”.

Por outro lado, os ACS estão expostos às mesmas dificuldades vividas

pela comunidade, como exemplo, não estão contemplados por uma política

habitacional e as condições de habitabilidade são, muitas vezes, bastante adversas,

sendo comum o compartilhamento da mesma habitação por duas, três e até mais

famílias. Por razões diversas, tais como casamento, problemas nas relações

familiares, aquisição de parte de um terreno de um parente para construção de sua

habitação, os ACS costumam mudar-se para outra área.

Porém, além dos laços já consolidados com a comunidade com que trabalha, essa

condição pode ser superada pelos anos de residência lá vividos, ou em áreas

circunvizinhas.

b) Tempo de residência na comunidade

Dentre os que responderam que moravam na comunidade, 117 ACS

(88,6%) referiram que moravam há cinco ou mais anos nela. (Gráfico 19, tabela 16,

anexo 1).

Residentes pelo período de dois a quatro anos existem 10 ACS (4,92). Encontram-

se fora do critério 5 ACS (3,8%). Um ACS reside entre um e dois anos.

Gráfico 19- Distribuição do Nº de ACS, por Tempo de residência na Área em

que Trabalham, Camaragibe e São Bento do Una 2000.

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73

Fonte: Questionário de Campo.

Nº de ACS que responderam 132.- Respostas em branco.

6.4. - Bloco IV- Dados Complementares do Perfil

6.4.1- Motivos que levaram os entrevistados a traba lharem como ACS

Conforme o gráfico 20 (tabela17) encontrar-se em situação de

desemprego foi o motivo que superou os demais, sendo respondido por 36% dos

entrevistados.

Desejo de ser profissional da área de saúde e admiração pelo ACS é o

segundo motivo indicado, ‘32% dos ACS.

Incentivo dos familiares foi o terceiro principal motivo, com 7,4%.

Registraram-se no diário de campo várias falas dos ACS, que

mencionaram a situação de desemprego como principal motivo, declarações de

fortes motivos de atração pelo trabalho de ACS, dizendo que tinha tudo a ver com

seu trabalho voluntário na comunidade. Mesmo assim, se colocavam: [...] “para ser

honesta mesmo, me inscrevi porque estava precisando de trabalho” (sic), “se tivesse

a oportunidade de um trabalho com carteira assinada teria feito outra opção”, diziam

alguns.

Raros foram os casos que afirmavam. “Eu nunca tinha pensado [...] eu

nem sabia como era o trabalho do ACS, [...] me inscrevi porque estava precisando

trabalhar” (sic). Essas afirmativas se seguiam de outras: ”Depois que entrei e

descobri o quanto é importante o trabalho do ACS, adoro o que faço”(sic).

Distribuição do Número de ACS, por Tempo de Residencia na área em que Trabalham, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

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1a 2 anos

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4 a 5 anos

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74

Quando o ACS declara a situação de desemprego como principal motivo de sua

entrada no PACS, está sendo verdadeiro, como se viu em vários itens deste

trabalho.

Como os demais trabalhadores, os ACS são herdeiros das

transformações das relações, para garantia cada vez maior da desregulamentação

social imposta pelo modelo econômico adotado, resultando em condições de

contratos de trabalho cada vez mais precarizados, por subcontratação, terceirização,

como explica Antunes (1998), citado no item 3.5 deste trabalho. A falta de

regulamentação da atividade subordina o ACS mais do que os outros trabalhadores

a essas condições, em que o Estado tem marcado por indefinições as formas de

contrato como viu-se no item 4.6 desta pesquisa. A insegurança causada pelas

relações de trabalho, onde destaca-se a questão de continuidade coloca o vínculo

do ACS em segundo plano.

Apesar das adversidades, o nível de gratificação pelos resultados do

trabalho que realizam, pelo reconhecimento social, e pelo mundo de conhecimento

adquirido que se descortinou, tem levado os ACS a dizer que mesmo que venham a

mudar de “emprego”, nunca deixarão de “ser ACS”.

Gráfico 20- Distribuição do Número de Entrevistados, Segundo Mo tivos que os

levaram a trabalhar como ACS, São Bento do Una 2000

Fonte: Questionário de campo.

Distribuição do Número de Entrevistados, Segundo Motivos que os levaram a trabalhar

como ACS, São Bento do Una 2000.

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75

6.4.2 - Tipos de Instituições que os ACS Participam

Os ACS foram indagados quanto às instituições de que participam na

comunidade, além do seu trabalho como ACS. Na resposta, foram considerados os

tipos de participação atual ou anterior, e mais de um tipo, se o entrevistado

indicasse.

Observa-se, no gráfico 20 abaixo (tabela 18 anexo 1), que 38 ACS, 18,7%

da amostra não têm nenhum tipo de participação na comunidade.

Participação em grupos de igreja foi citado por 92 entrevistados, o que

corresponde a 45,3%% da amostra.

Em segundo lugar, encontra-se a participação em associação de

moradores dos bairros. Alguns ACS participam das diretorias das associações.

O pequeno nível de atuação das associações era indicado sempre na

expressão: ”quando tem reunião...”. Várias foram as referências quanto à

inexistência de associação de moradores em sua comunidade, acrescidas de “a

minha comunidade não tem nada...” (sic). Rejeição ao quadro de diretores, sem que

vislumbrassem perspectiva de mudanças, foi algo colocado pelos ACS como

justificativa de sua não participação.

Houve muita referência quanto falta de tempo para dar conta das

atividades de ACS, assumir os papéis na família e ainda participar de outras

instituições.

Gráfico 21- Distribuição do Número de ACS, por Tipo de Institui ções que Participam Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo.

Distribuição do Número de ACS, por Tipo de Instituições que Participam Camaragibe

e São Bento do Una, 2000.

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76

Em suas origens, a imagem do ACS caracteriza-se por elevado nível de

participação. No universo em foco isso não se confirma. Porém, hão de se

considerar fatores históricos e culturais, tais como a questão do longo período de

repressão pelo qual passou a sociedade civil, e o processo de redemocratização ter

sido historicamente. Supõe-se que haja influência da cultura patriarcal

agrocanavieira, marcada pelo coronelismo, inibindo a participação do homem e em

especial da mulher. Essa cultura se expandiu através do poder econômico e de

movimentos migratórios, fora da atividade canavieira.

Observa-se que a liderança do ACS se dá pelas relações pessoais, pela

sua prática de assistência solidária fora dos quadros institucionais. Mesmo assim,

merece destaque a participação de 5,5% dos ACS nos Conselhos Municipais, haja

vista que a criação deles ocorreu após a Constituição de 1988. O Conselho de

Saúde uma vez vetado na Lei 8080, foi recuperado na Lei 8.142, de 28 de dezembro

de 1990. Devendo-se também considerar que a luta pelo controle social, embora

tenha sido referendada nacionalmente, ocorreu pelas forças da elite de intelectuais,

e que a organização do exercício da participação e da democracia é um processo

que se constrói com muitas dificuldades, face a estrutura autoritária imposta por

tantos anos.

Quanto à organização sindical, verifica-se que esteve sujeita ao mesmo

cenário. Apesar de toda a ideologia disseminada contra o movimento, e a importante

associação nacional dos ACS ser liderada, pelo menos em nível estadual, por

agentes não favoráveis à sindicalização, os ACS têm demonstrado interesse

significativo pela organização sindical, haja vista o número surpreendente de

associados ao sindicato da categoria criado recentemente. Observa-se que várias as

atividades com grupos de ACS, com os mais variados objetivos, serem

transformadas por eles fórum espontâneo de discussão para a organização sindical.

A participação do ACS no Brasil está marcada pelo trabalho político nas pastorais da

Igreja Católica, o qual serviu de inspiração à inclusão do ACS no SUS conforme

visto no item 4.1 deste trabalho. Atualmente, diversas igrejas, têm se multiplicado

nas comunidades mais pobres. A adesão a essas igrejas tem se caracterizado pela

busca do apoio emocional, através da religião, e ajuda material, onde se

estabelecem relações de irmandade.

Os grupos de igrejas foram o canal de participação mais citado pelos

ACS, embora a participação não se dê à partir do desenvolvimento de uma

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77

consciência política com fins de transformação, sua validade não pode ser negada,

pois, no trabalho desses grupos, configuram-se características de liderança e

solidariedade, presentes no perfil sui gêneris do ACS.

6.4.3. - Ideal de Realização Profissional

Devido a natureza da questão, formulou-se ao ACS a seguinte pergunta :

“Qual é o seu sonho profissional?” Optou-se por uma pergunta subjetiva, pelo

interesse em captar os valores de realização profissional com o trabalho que vivem

atualmente, sem as influências das possibilidades reais de realização, e pelo termo

“sonho” por se acreditar que o seu conteúdo possa estar mais livre de censuras.

No gráfico 22 abaixo, tabela 19 pode-se observar que trabalhar na área

de saúde, chega a somar 78,2% (122 ACS) das respostas da subamostra,

considerando-se todas as que envolvem os profissionais da área de saúde e o item

“sonhos altruístas”.

Os 52 ACS (33,9%), têm como perspectiva de profissionalização o nível

de escolarização do terceiro grau, vinculam seus sonhos aos profissionais de

enfermagem e de medicina. Outros profissionais do mesmo nível somam 19

respostas (12,1%), além de odontólogo, profissionais como psicólogo, assistente

social, fisioterapeuta, nutricionista, são também profissões identificadas como

necessárias na área de trabalho, explicadas em diversas falas: “A gente também “dá

uma” de psicólogo, assistente social, nutricionista, e a gente gostaria de fazer mais

pela comunidade”. Nesse tipo de fala o ACS se refere a situações em que ele tem

um tipo de intervenção que caberia a um desses profissionais e que ele “atende” à

necessidade dentro dos limites do seu conhecimento e como ele imagina que o

profissional interviria.

Reafirmam literalmente os laços com a atividade 30 ACS, (19,2%) da

subamostra. Assim declaram o firme propósito com a atividade que desempenham

atualmente, não expressam outra atividade no horizonte do seu ideal.

Somam-se àqueles trinta entrevistados que mencionaram as profissões

de auxiliar e técnico de enfermagem e os classificados como sonhos altruístas,

compondo assim, 38,5% da subamostra, por ser a primeira percebida pelo ACS,

como qualificação para a sua função e a outra por estar diretamente relacionada

com o que faz.

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78

Os “sonhos altruístas” extrapolam o universo profissional, os ideais estão

voltados para uma perspectiva coletiva de saúde e cidadania e para o papel de ser

útil à comunidade: ”servir bem”, nove ACS, 5,8 % da sub amostra.

A partir do que se expôs, conclui-se que, nesse universo estudado, o ACS

é um trabalhador identificado com a área da saúde, apesar das diversidades de sua

situação de trabalho. Reafirmam seu interesse pelo que fazem, tendo como

indicadores a própria atividade ou atividades afins, e pelos seus sonhos altruístas.

As profissões de médico e enfermeiro são as que predominam no seu

universo de realização. Supõe-se que seja admiração pelo trabalho possibilitada

pela convivência. A referência aos demais profissionais de nível superior da área de

saúde pode estar relacionada à identificação da falta dos mesmos para atendimento

às necessidades da população e também por se verem solicitados pela população a

“assumir esse papel” como assistente social, nutricionista, psicólogo, etc.

Excluindo-se o envolvimento emocional e o desejo político de ver

resolvidos os problemas da comunidade, compreende-se que o conhecimento das

requisições da população que têm que atender, está na consciência de seu papel e

na delimitação de suas atribuições, que, por enquanto, ainda não estão

estabelecidas como nas profissões regulamentadas. Por outro lado, a clareza da

missão institucional, permitir-lhes-á melhores condições de compreensão das

possibilidades e limites de sua tarefa, como a qualquer outro profissional.

Gráfico 22- Distribuição do Número de ACS, por Profissões ou A tividades que Representam seus Sonhos de Realização Profissional, Camargibe e São Bento do Una, 2000.

Fonte: Questionário de campo.

Distribuição do Número de ACS, por Profissões ou Atividades que Representam seus Sonhos de Realizaçã o

Profissional, Camargibe e São Bento do Una, 2000.

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79

7. CONCLUSÕES

Sobre o estudo realizado nos municípios de Camaragibe e São Bento

do Una, conclui-se que o perfil do ACS delineia-se com algumas características,

tal como se pode observar a seguir.

A categoria é predominantemente composta por mulheres,

encontrando-se 78,3% na faixa etária compreendida entre 20 e 39 anos, tendo o

município de São Bento do Una apresentado uma tendência à contratação de

trabalhadores mais jovens, enquanto Camaragibe contratara outros em idade mais

adulta.

Somam 40,4% os ACS que pertencem a famílias com renda de um a

dois salários mínimos, sendo superior no município de Camaragibe, onde 70,2%

das famílias encontram-se na faixa de dois a cinco salários mínimos. Observa-se

que a renda tende a decrescer nos dois municípios, quando se analisa a renda per

capita, em que 29% das famílias dispõem de um terço a meio salário mínimo.

Essa condição credenciam-nas aos programas dos Ministérios da Saúde e da

Previdência Social destinados a populações em situação de risco.

Encontram-se no nível de segundo grau completo 48% dos ACS. Ressalte-

se que três ACS já concluíram curso de terceiro grau e um deles afirmou que

estava cursando. Destaca-se o município de Camaragibe no segundo grau.

Ao serem perguntados sobre os curso que já haviam concluído

responderam datilografia e habilidades do lar, representando 36% e 29,6%,

respectivamente, seguidos por magistério (26,6%), computação (25,6%) e

contabilidade (21,7%).

Os ACS, em sua maioria, almejam a conclusão do curso de Técnico de

Enfermagem. No município de Camaragibe, os cursos de Atendente de

Consultório Dentário e Técnico de Higiene Dental, também, são muito almejados.

Apenas nesse município são oferecidos tais cursos e os ACS têm como estímulo

as equipes de odontologia implantadas nos programas do PSF.

Incluídos no SUS, há cinco ou mais anos, encontram-se 45,3% dos ACS,

dos quais 70% são trabalhadores de áreas urbanas. Dentre os 68,5% dos ACS

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que declararam residir na comunidade em que trabalham, 88, 6% moram há cinco

anos ou mais. Declararam que não residem na área em que trabalham 32% dos

entrevistados.

Quanto à experiência anterior de trabalho, 72,9% dos ACS, responderam

positivamente, predominando o trabalho rural, venda de produtos através de

revistas, atividade de dona-de-casa e de ensino. Essas e outras atividades são

mantidas por 42,3% dos ACS, após a sua entrada no programa. Como as demais,

não têm carga horária de trabalho determinada, salário nem vínculo empregatício,

ou qualquer regularidade. Dentre essas atividades, 16,9% dos ACS identificaram a

atividade de dona-de-casa como concorrente à atividade profissional.

Os ACS indicaram como principal causa que os leva à atividade o

desemprego (36,0%), agravado pelos níveis de renda familiar. Em segundo lugar,

(32,0%) indicaram a admiração pelo trabalho do ACS, juntamentente com a

pretensão de serem profissionais da saúde.

Referem, como maiores canais de participação e de envolvimento com a

comunidade, o trabalho voluntário de assistência à comunidade, através dos laços

pessoais com a mesma, fora de espaços institucionais. As igrejas, através de seus

grupos de trabalho voluntário, representam o tipo de instituição de que os ACS

mais participam (45,3%), seguida de associação de moradores, (27,6%), e

sindicato (10,3%).

Alguns deles alimentam dentro de si, sonhos próprios de realização

profissional, enquanto Agentes Comunitários de Saúde, apesar do conflito entre a

valorização que fazem de seu trabalho e as condições de contratação, que não

lhes permite o gozo dos direitos como outros trabalhadores da saúde (19,2%).

Idealizam, em seus sonhos de ascensão profissional, o trabalho em

saúde, tendo como destaque à figura do médico (a) e do enfermeiro (a).

Extrapolam os interesses pessoais sonhos altruístas de conteúdo

solidário e realização coletiva, nos quais se colocam como partícipes.

A partir de reflexões sobre os resultados deste trabalho, deseja-se

ressaltar a importância da diferenciação de respostas que as atividades humanas

produzem em diferentes épocas e espaços. Entende-se que resgatar o acúmulo

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81

nas diversas experiências é um fator de avanço, quando se consideram as

mudanças significativas que se estabelecem. Atualmente, o trabalho do ACS goza

de reconhecimento social, sendo passível de avaliação, de seus impactos, através

de instrumentos de avaliação, e de vários indicadores disponíveis no SUS. É

natural que os gestores se perguntem sobre a adequação do perfil do trabalhador

que venha responder às necessidades dos Sistemas Locais. Entende-se que,

além das características originais do nascimento da figura do ACS, tais como

identidade, liderança e solidariedade, configuram-se novas necessidades que

exigem formação, treinamento, e que serão permeadas por determinadas formas

de gestão. Por outro lado, além desses fatores, a profissionalização do ACS

impõe-se pelo direito dos cidadãos de terem serviços prestados por trabalhadores

tecnicamente qualificados, além das características exigidas para um trabalho que

antes era voluntário. Ao mesmo tempo, há que se considerar que a requisição que

se possa estabelecer ao trabalhador, em determinada atividade, pode-se

diferenciar face à realidade onde atua, especialmente num país de dimensões

continentais, diversidade cultural e disparidades macrorregionais impostas pelo

modelo de desenvolvimento econômico.

Este trabalho apresenta, portanto, uma avaliação do perfil do

profissional que precisa ser melhor estudado e confirmado, através de outros

trabalhos, que incluam também a avaliação de desempenho no seu contexto

metodológico.

Por fim, entende-se que o acúmulo de trabalhos outros nesta linha,

poderão contribuir para elaboração de um currículo mínimo, que aponte para a

oficialização de um curso de um curso de qualificação profissional para o ACS.

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1

PESQUISA DE AVALIAÇÃO DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DO A GENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE

IDENTIFICAÇÃO : QUESTIONÁRIO Nº. � � �

1) MUNICÍPIO (código do IBGE):

NOME DO MUNICÍPIO:

____________________________________

Código do Município � � � � � � �

2) Data do preenchimento deste questionário Dia Mês Ano

� � � � � � 3) IDADE:

� � 1 – 18 a 19 anos 6 – 40 a 44 anos

2 – 20 a 24 anos 7 – 45 a 49 anos

3 – 25 a 29 anos 8 – 50 a 54 anos

4 – 30 a 34 anos 9 – 55 a 59 anos

5 – 35 a 39 anos 10 – mais de 60 anos 4) SEXO:

� 1 – Feminino 2 – Masculino 5) Escolaridade:

� 0 – analfabeto (só assina o nome)

1 – alfabetizado (assina e redige um bilhete)

2 – 1ª. a 4ª. série

3 – 5ª. a 8ª. Série incompleta

4 – 1º. Grau completo

5 – 2º. Grau incompleto

6 – 2º. Grau completo

7 – cursando faculdade ou universidade

8 – superior completo

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2

6) Quais os cursos que já concluiu?

OUTROS:

Especificar:

____________________________________ ____________________________________ ____________________________________

1 – sim 2 – não

a) � cursos de habilidades do lar e similares

(confeitaria, culinária, bordado, corte e costura, tapeçaria etc.)

b) � Datilografia

c) � Computação

d) � Atendente de enfermagem

e) � Auxiliar / Técnico de enfermagem

f) � Magistério

g) � Contabilidade

h) � Técnico Agrícola

i) � Escola Técnica (outros)

j) � Cursos do SENAC (hotelaria, garçon,

cabeleireiro e estética, dentre outros) k) � Cursos do SENAI (mecânica,

eletricidade, eletrotécnica, serralharia, maceraria, dentre outros)

l) � Outros 7) Quais os cursos que começou e não

concluiu?

______________________________________

______________________________________

� (use a letra da questão anterior)

No caso de outros, especificar ao lado.

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3

8) Quantas pessoas, além do ACS,

trabalha no domicílio? � � 9) Renda empregada na manutenção do

núcleo familiar

� � 0 – menos de 1 salário mínimo (até 151 reais)

1 – 1 salário mínimo (exatamente 151 reais)

2 – de 1 a 2 salários mínimos (entre 151 e 302 reais)

3 – de 2 a 3 salários mínimos (entre 302 e 453 reais)

4 – de 3 a 4 salários mínimos (entre 453 e 604 reais)

5 – de 4 a 5 salários mínimos (entre 604 e 755 reais)

6 – de 5 à 10 salários mínimos (entre 755 e 1.510 reais)

7 – mais de 10 salários mínimos (mais de 1510 reais) 10) Número de pessoas que dependem da

renda familiar incluindo o (a) entrevistado ( incluir adultos, idosos e outros dependentes)

� � 11) Já exercia alguma atividade

remunerada antes de trabalhar como ACS? � 1 – sim 2 – não

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4

12) Qual a sua experiência profissional ou

ocupação anterior ao trabalho como ACS do PACS ou PSF:

Exercida pelo período mínimo de 6 meses:

Especificar: _________________________

___________________________________

___________________________________

1 – sim 2 – não

a) � dona de casa

b) � trabalhador doméstico (inclusive diarista)

c) � professor(a)

d) � comerciário(a)

e) � industriário(a)

f) � micro comerciante (feirante; barraqueiro )

g) � vendedor de produtos de revistas

h) � vendedor autônomo

i) � trabalhador em serviços de saúde

(serviços gerais, administrativos ou outros)

j) � trabalhador de serviços de saúde (área de

enfermagem ou similar)

k) � parteira

l) � Agente de Saúde ( ligado a Pastoral de

Saúde ou outras entidades, ou ainda, sem vinculações)

m) � funcionário público em outras secretarias

n) � trabalhador(a) da cana-de-açucar

o) � trabalhador(a) rural assalariado (outro)

p) � agricultor(a) (cultura de subsistência)

q) � agricultor meeiro

r) � Outros

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5

13) Atualmente continua inserido em alguma dessas atividades? � 1 – sim 2 – não

14) Em caso positivo citar: (responder de acordo com as letras especificadas na questão nº 12 � �

15) E m caso positivo, qual é o vínculo ?

especificar___________________________

____________________________________ ____________________________________

� � 0 – trabalha por conta própria

1 – trabalha sem carteira assinada

2 - tem vínculo com cooperativa para esse trabalho extra

3 – trabalhador autônomo (recolhe INSS)

4 – trabalha com carteira assinada

5 – cargo comissionado

6 – outro tipo de vínculo

16) Mês/Ano em que começou a trabalhar como Agente Comunitário de Saúde do PACS ou PSF:

(considere a data da sua contratação para atuar na equipe)

Mês Ano

� � � �

17) Área onde atua:

(considere a predominante e/ou a definida no cadastro da equipe no SIAB)

� 1 – Urbana 2 – Rural

18) Há quanto tempo mora na cidade onde trabalha �

1 – menos de um ano

2 – de 1 a 2anos

3 – de 3 a 4 anos

4 – de 4 a 5 anos

- mais de 5 anos 19) Mora na área onde trabalha? (considere

se o ACS mora na comunidade) � 1 – sim 2 – não

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6

20) Há quanto tempo mora na área onde

trabalha ? � 1 - menos de um ano

2 - de 1 a 2 anos

3 - de 3 a 4 anos

4 - de 4 a 5 asnos

5 - mais de 5 anos

21) Caso não more na área em que trabalha, há quanto tempo encontra-se trabalhando nessa área?

� 1 – desde o início do trabalho como ACS

2 – mudou-se logo após o início do trabalho como ACS na área (menos de 1 ano após)

3 – mudou-se após mais de 1 ano de trabalho como ACS na área

22) Caso trabalhe em outra área fora de sua residência, qual a distância aproximada entre sua residência e a área de trabalho?

� 1 – mora vizinho à área onde atua (menos de 1 Km ou 10 min a pé da sua casa até a 1a. casa da área)

2 – mora perto da área onde atua (2 a 3 Km, 30 min a pé ou necessita transporte)

3 – mora relativamente distante da área onde atua (mais de 3 Km)

4 – Não mora no bairro ou distrito

5 – Não mora no município

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7

23) Além de ACS, você tem outros tipos de

participação em atividades na comunidade?

Outro tipo de atividade comunitária:

Especificar

__________________________________________________________________________________________________________________

1 – sim 2 – não

a) � – nunca participou de nenhuma instituição ou movimento social antes de ser ACS

b) � participava de grupos da igreja

c) � clube de mães

d) � clube esportivo

e) � associação de moradores

f) � Conselho de Merenda escolar

g) � Conselho Municipal de Saúde

h) � Conselho Municipal de Assistência Social

i) � Sindicato

j) � Outro tipo de atividade comunitária

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24) Que motivo levou você a trabalhar como

ACS?

Escolha a razão que mais pesou na sua decisão em trabalhar como ACS.

No caso de outro motivo relevante, especificar:

_____________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________

25) Qual é o teu sonho profissional?

� � 1. Estava desempregado(a)

2. Trabalhava mas a renda não era suficiente

3. trabalho do ACS deixa tempo livre para conciliar com outra atividade (exceto estudo)

4. Trabalha como ACS para ter condições de continuar estudando

5. Já trabalhava como ACS ou parteira voluntário(a)

6. Foi convidada por pessoa ligada à administração municipal

7. Queria experimentar o tipo de trabalho

8. Pretendia ser profissional de saúde

9. Admirava o trabalho do ACS

10. Foi incentivado(a) por outras pessoas ou familiares

11. Outro motivo

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9

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A N E X O S

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TABELAS

Tabela 2- Distribuição do Nº de ACS por Faixa Etária Camarag ibe e São Bento do Una, 2000.

Camaragibe São Bento do Una Total Faixa etária Nº % Nº % Nº %

18-19 4 4,5 4 2,0 20-29 49 43,0 47 52,8 96 47,3 30-39 41 36,0 22 24,7 63 31,0 40-49 18 15,6 13 14,6 31 15,3 50-60 6 5,2 3 3,4 9 4,4 Total 114 100,0 89 100,0 203 100,0

Fonte: Questionário de campo Tabela 3 – Distribuição do Nº de ACS, por Nível de Escolarida de Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Camaragibe São Bento do Una Total

Escolaridade Nº % Nº % Nº % Até 4ª série 7 6,1 7 8,2 14 7,0 5ª à 8ª série 19 16,7 21 24,7 40 20,1 2º Grau incompleto

27 23,7 21 24,7 48 24,1

2º Grau completo

59 51,8 34 40,0 93 46,7

Cursando o 3º Grau

1 1,2 1 0,5

Superior Completo

2 1,8 1 1,2 3 1,5

Total 114 100,0 85* 100,0 199* 100,0 Fonte: Questionário de campo. *Respostas em branco 04

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Tabela 4 – Distribuição do Nº de ACS, por Cursos Concluídos, Camaragibe e

São Bento do Una, 2000.

ESPECIFICAÇÕES Nº % *

Datilografia 73 36

Habilidades do lar e similares (culinária, bordado, corte e costura,

tapeçaria)

60 29,6

Magistério 54 26,6

Computação 52 25,6

Contabilidade 44 21,7

SENAC 20 9,9

Auxiliar Técnico de Enfermagem 15 7,4

Atendente de Enfermagem 8 3,9

Atendente de Consultório Dentário (ACD) 8 3,9

Técnico Agrícola 8 3,9

SENAI 7 3,4

Escola Técnica 4 2,0

Outros (área administrativa, educação, saúde, estét ica, e cidadania) 36 17,8

Fonte: questionário de campo

*Percentual corresponde à freqüência de cada resposta sobre o universo de 203 ACS entrevistados, com opção a várias alternativas. Tabela 5 - Distribuição do Nº de ACS, por Renda Familiar Cama ragibe e São Bento do Una, 2000.

Camaragibe São Bento do Una Total

Renda Nº % Nº % Nº % até 151 reais 24 27,0 24 11,8 152 a 302 reais 24 21,1 34 38,2 58 28,6 303 a 453 22 19,3 19 21,3 41 20,2 454 a 604 reais 30 26,3 5 5,6 35 17,2 605 a 755 reais 28 24,6 2 2,2 30 14,8 756 a 1100 reais

9 7,9 5 5,6 14 6,9

Acima de 1100 reais

1 0,9 0 0 1 0,5

Total 114 100,0 89 100,0 203 100,0 Fonte : questionário de campo.

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Tabela nº 6 – Distribuição do Nº de ACS, por Nº de Pessoas que C ontribuem para a Renda Familiar, Camaragibe e São Bento do Un a, 2000.

Nº DE CONTRIBUINTES Nº DE ACS % 0 36 17,7

1 104 51,2

2 42 20,7

3 13 6,4

4 5 2,5

6 1 0,5

7 2 1,0

203 100,0

Fonte: Questionário de campo

Tabela nº 7- Distribuição do Nº ACS, por Renda Familiar Per Ca pita, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Camaragibe São Bento do Una Total Renda Nº % Nº % Nº % < 1/3 SM 1 0,9 24 27,0 25 12,3 1/ 3 a 1/2 SM 14 12,3 20 22,5 34 16,7 1/2 a 2/3 SM 20 17,5 19 21,3 39 19,2 2/3 A 3/4 SM 20 17,5 9 10,1 29 14,3 1SM 19 16,7 12 13,5 31 15,2 1 a 1,5 SM 27 23,7 2 2,2 29 14,3 1,5 a 2 SM 9 7,9 2 2,2 11 5,4 (+) 2 SM 4 3,5 1 1,1 5 2,5, Total 114 100,0 89 99,9 203 100,0 Fonte: Questionário de campo. Tabela nº 8 – Distribuição do Nº de ACS, Segundo Exercício de At ividade Remunerada Anterior à sua entrada no PACS Camaragib e e São Bento do Una, 2000.

Camaragibe São Bento do Una Total Nº % Nº % Nº %

SIM 90 78,9 58 65,2 148 72,90 NÃO 24 21,1 31 34,8 55 27,09 Total 114 100,0 89 100,0 203 99,99

Fonte: Questionário de campo.

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Tabela 9 – Distribuição do Nº de ACS, Segundo Experiência Pro fissional ou

Ocupação Anterior à sua Entrada no PACS, Camaragibe , São Bento do Una- 2000.

ATIVIDADE Nº %*

Trabalhador Rural 75 36,9

Vendedor de “produtos / revistas” 65 32,0

Dona de casa 64 31,5

Comerciário 61 30,6

Professor 52 25,6

Trabalho Doméstico 43 21,2

Micro-comerciante 18 8,9

Funcionário de outras Secretarias 17 8,4

Vendedor autônomo 16 7,9

Industriário 13 6,4

Trabalhador da Área de Saúde(serviços diversos) 13 6,4

Trabalhador da Área da Saúde (enfermagem ou similar ) 5 2,5

Voluntário da Pastoral 8 3,9

Parteira 3 1,5

Fonte: Questionário de campo.

* Percentual calculado refere-se à freqüência de cada resposta

sobre o universo de 203 ACS entrevistados, com possibilidade de

resposta a mais de uma alternativa.

Tabela 10- Nº de ACS Entrevistados por Ano d e Inclusão no PACS,

Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Camaragibe São Bento do Una Total

Ano de Inclusão

Nº ACS Nº ACS Nº ACS %

1993/94 33 29,0 0 - 33 16,3 1995 12 10,5 37 41,6 49 24,1 1996/97 4 3.5 6 6,7 10 4,9 1998/99 27 23,7 8 9,0 35 17,2 2000 38 33,3 38 42,7 76 37,4 Total 114 100,0 89 100,0 203 99,9 Fonte: Questionário de campo.

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Tabela nº 11 - Distribuição dos ACS, por Área de Trabalho, Cama ragibe e São Bento do Una, 2000.

ÁREA NÚMERO %

Urbana 140 70,4 Rural 59 29,6

199 100,00

Fonte: Questionário de Campo.

Nº de Respostas em Branco 04

OBS.: Segundo o SIAB os 114 ACS do município de Camaragibe, são de área urbana, nas respostas acima, 5 ACS do mesmo se identificam como de área rural, devido as características da região de Aldeia. Tabela nº 12 – Distribuição do Nº de Entrevistados que Exercem Outra Atividade Simultaneamente a de ACS, Camaragibe e Sã o Bento do Una, 2000.

CAMARAGIBE SÃO BENTO DO UMA TOTAL Nº % Nº Nº Nº %

SIM 42 37,8 52 52 94 47,7 NÃO 69 62,2 34 34 103 52,3 total 111 100 86 86 197 100,0

Fonte: Questionário de campo. Respostas em branco: Camaragibe 03, São Bento :03. Tabela 13- Atividades Concorrentes com a de ACS, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

atividades nº %

Agricultura / subsistência 26 33,8 Vendedor de produtos / revistas 18 23,4 Dona-de-casa 13 16,9 Outros 20 25,9 Total 77 100,0

Fonte: Questionário de campo.

Respostas em branco: 17 (Incluem-se no item outros: trabalhadora doméstica, professor, comerciário, vendedor autônomo,

trabalhador em serviços de saúde, voluntário da pastoral e funcionário de outra secretaria, com

uma única resposta cada, que também fazem parte de atividades desenvolvidas anteriormente)

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Tabela Nº 14 – Distribuição do Nº de ACS, Segundo Renda Familia r por Exercício de Outra Atividade Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

Renda (Reais) ACS que Não Têm Outra

Atividade ACS que Têm Outra

Atividade Nº % Nº %

Até 151 * 8 7,8 16 17,0

152 a 302 26 25,2 30 31,9

303 a 453 20 19,4 19 20,2

454 a 604 22 24,4 11 11,7

605 a 755 18 17,5 12 12,8

756 a1100 8 7,8 6 6,4

Acima de

1100

1 0,9 0 0

Total 103 100,00 94 100,00

Fonte: Questionário de campo.

* Valor do salário mínimo.

Tabela nº 15– Distribuição do Nº de ACS, por Residência na Área em que

Trabalham, Camaragibe e São Bento do Una, 2000.

CAMARAGIBE SÃO BENTO DO UNA TOTAL Nº % Nº % Nº %

Sim 73 65,2 64 72,7 137 68,5

Não 39 34,8 24 27,3 63 31,5

Total 112 100,00 86 100,0 200 100,0

Fonte: Questionário de campo. Respostas em branco: Camaragibe 02, São Bento 01

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Tabela 16 – Distribuição do Nº de ACS por Tempo de Residência

na área em que trabalham, Camaragibe e São Bento do Una – 2000.

TEMPO Nº %

<1 ano 5 3,8

1 à 2 anos 1 0,8

3 à 4 anos 5 3,8

4 à 5 anos 4 3,0

>5 anos 117 88,6

Total 132 100,0

Fonte: Questionário de campo.

Respostas em Branco: 05

Tabela 17– Distribuição do Nº de Entrevistados, Segundo Motiv os que os

Levaram a trabalhar como ACS, Camaragibe e São Bent o do Una, 2000.

Motivos Nº % Estava desempregado 73 36,0 Admirava o trabalho do ACS e Pretendia ser profissional de Saúde

65 32,0

Foi incentivado por outras pessoas ou familiares 15 7,4 Queria experimentar o tipo de trabalho 10 4,9 Renda insuficiente/ financiamento dos estudos 17 8,3 Trabalhava como ACS ou parteira voluntária 4 2,0 Foi convidado por pessoa da administração municipal 3 1,5 O trabalho permite conciliação com outra atividade 2 1,0 Outros 14 6,9 Total 203 100,0 Fonte: Questionário de campo.

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Tabela 18 – Distribuição do Nº de ACS, por Tipos de Instituiçõ es de que Participam, Camaragibe e São Bento do Una, 2000. ATIVIDADE Nº %*

Nunca participou de alguma instituição ou movimento social

38 18,7

Participava de grupos de igreja 92 45,3

Participava de clubes de mães 12 5,9

Clube esportivo 8 3,9

Associações de moradores 56 27,6

Conselho de Merenda Escolar 3 1,5

Conselho Municipal de Saúde 6 3,0

Conselho Municipal de Assistência Social 2 1,0

Sindicato 21 10,3

Outro tipo de atividade comunitária 12 5,9

Fonte: Questionário de campo. *Percentual calculado refere-se à freqüência de cada resposta sobre o universo de 203 ACS entrevistados, com possibilidade de resposta a mais de uma alternativa. Tabela 19 – Distribuição do Nº de ACS, por Profissões ou Ativi dades que Representam seus Sonhos de Realização Profissional.

ESPECIFICAÇÕES Nº %

Auxiliar e Técnico de Enfermagem 21 13,5

Enfermeiro/médico 33 21,2

Outros profissionais/saúde (Psicólogo, Assistente Social, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Veterinário, Biólogo, Nutricionista)

19 12,12

Atendente de Consultório Dentário /Técnico de Higiene Dental 3 1,9

Professor (a) (biologia, inglês, pedagogia) 9 5,8

Outras áreas: Advogado, juiz, Computação, Contabilidade 6 3,9

Continuar estudando, voltar a estudar e / ou fazer vestibular 5 3,2

Qualificar-se enquanto ACS/Reconhecimento da profissão/educador saúde 30 19,2

Ter um emprego indústria, cargo de chefia/Negócio Próprio 9 5,7

Trabalhar em órgão sindical 1 0,6

Artes: Cantora, Compositora, Costureira, Carpinteiro, Estilista 4 2,6

Educadora em saúde 5 3,2

Trabalhar em instituições de saúde. Posto de saúde, casa de idosos, criança 7 4,5

Sonhos altruístas: melhorar o atendimento na comunidade (saúde); retirar crianças da rua; ver sociedade mais instruída e com melhora das condições de saúde pública e qualidade de vida; viver num mundo onde as pessoas não adoecem e servir bem à comunidade

9

5,8

Total

156 100,0

Fonte: Questionário de campo. Respostas em branco 5.