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  • IV Congresso Latino Americano de Opinio Pblica da WAPOR

    Belo Horizonte Brasil

    Jornada de Estudantes e Jovens Pesquisadores

    ONDA VERDE: a campanha online e offline de Marina Silva em 2010

    Carina da Fonseca Barbosa Ribeiro1

    rica Anita Baptista Silva2

    Palavras-chave: Eleies 2010. Marina Silva. Internet.

    1 Graduada em Histria pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em

    Comunicao e Poltica pelo Centro Universitrio de Belo Horizonte (UNIBH). Atualmente, mestranda

    em Cincia Poltica na UFMG. Bolsista Capes. [email protected] 2 Graduada em Jornalismo pelo Centro Universitrio de Belo Horizonte (UNIBH), em Letras pela

    Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Comunicao e Poltica pelo UNIBH.

    Mestre em Comunicao Social pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC Minas).

    Atualmente, pesquisadora do grupo Opinio Pblica, Marketing Poltico e Comportamento Eleitoral,

    sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). [email protected]

  • 1. Introduo

    Quais fatores so determinantes do voto no Brasil? Se retomarmos os estudos

    mais clssicos, veremos uma disputa por questes psicolgicas, sociolgicas e racionais.

    Identificar quais so as dinmicas e abordagens que orientam o comportamento do

    eleitorado significa identificar quais so suas expectativas, necessidades e satisfaes, e

    o que implica de forma individual ou coletiva sua tomada de deciso. Devido ao

    crescente espao que a internet vem ocupando atualmente na vida cotidiana do

    brasileiro, tornam-se necessrios os estudos acerca da relao desse meio na formao

    de preferncias e possivelmente na tomada de deciso do eleitor e reorganizao dos

    campos e formas de interao destes com os candidatos.

    Para os estudos sociolgicos (LAZARSFELD, BERNARD, HAZEL, 1944) os

    cidados informam-se de acordo com as suas predisposies. Os indivduos com quem

    interagimos podem orientar o nosso comportamento, porque os seus prprios

    comportamentos e atitudes so fonte de informao sobre a realidade e nos contribuem

    para a efetivao das escolhas, ou seja, exercem influncia informacional (SHERIF,

    1936; DEUTSCH, GERARD, 1955)3. Para essa corrente, a mdia no possui influncia

    persuasiva sobre os cidados, que esto muito mais sujeitos aos contextos sociais em

    que esto inseridos. (HUCKFELDT, SPRAGUE, 1987)4. A escola sociolgica v o voto

    como ato socialmente estruturado, e as conversaes dos indivduos para tomada de

    deciso circulam em torno dessa estrutura. Logo, a informao mais relevante aquela

    que passa pelos grupos de reconhecimento desse cidado e no simplesmente a

    veiculada em campanha. Porm, a internet insere nova problematizao esse campo

    ao reunir dois aspectos relevantes: a possibilidade de interao das redes sociais

    (pensando tambm as redes estabelecidas no contato face-a-face) e o ambiente de mdia

    cujas fontes so mltiplas, descentralizadas e de intensa propagao.

    3 Os crculos sociais em que nos movemos no so compostos aleatoriamente, sendo aqueles com quem

    interagimos produto de um processo de seleo social que os torna semelhantes a ns em termos de

    recursos e atitudes polticas. 4 Existe uma controvrsia sobre os impactos massivos e mnimos da mdia sobre o comportamento

    eleitoral e os estudos sobre redes partem de contextos sociais, muitas vezes renegando um papel

    secundrio para a influncia miditica. Discordando dessa posio secundaria, Zaller (1996) afirma que

    apesar da noo comum dos impactos miditicos no comportamento poltico, ainda no se conseguiu um

    mtodo emprico que d conta de mensurar esse impacto. Dessa forma, o que podemos perceber so

    fluxos informativos, que podem se recebidos de forma equilibrada mantendo o eleitor na inrcia ou

    podem agir como reforo de predisposies que os eleitores possuem a priori Huckfeldt e Levine

    (1998); Lazarsfeld (1944) , muito mais no sentido de fidelizao e alimento de argumentos do que como

    piv de mudana eleitoral.

  • Assim, possvel entender alguns dos papis da internet nos momentos

    eleitorais. A internet pode atuar no reforo de temas e posicionamentos polticos,

    interao com/entre os eleitores, alm da repercusso e discusso de acontecimentos

    externos web.

    Supe-se, portanto, que para uma campanha eleitoral ser bem sucedida em

    ambiente virtual, deve-se observar para quem esse espao se dirige e quais as

    possibilidades de interao podem ser propostas, em uma perspectiva propositiva e

    interativa, buscando a adeso de novos eleitores, fidelizando a militncia e provendo de

    argumentos os formadores de opinio (LAZARSFELD, BERNARD, HAZEL, 1944).

    Vale ressaltar que apesar de todos os problemas de acesso que podem ser

    atribudos a internet para o contexto brasileiro, mesmo assim, de acordo com a pesquisa

    da agncia IBOPE Inteligncia, divulgada em julho de 2010, o Brasil est entre os dez

    pases que mais acessam as redes sociais5. Os resultados revelaram que 87% dos

    internautas brasileiros tm o hbito de acessar as redes. A agncia IBOPE Nielsen

    Online revelou outra sondagem em que o Orkut aparece como a rede social mais

    acessada no Brasil, seguida pelo Twitter e Facebook. Isso vem demonstrando uma

    crescente presena das redes sociais virtuais no cotidiano dos brasileiros. Sendo assim,

    notvel que esses espaos de visibilidade foram amplamente utilizados nas campanhas

    eleitorais.

    Deve-se ter em vista que os espaos virtuais de campanha, provavelmente so

    frequentados por pessoas que j tem interesse ou pr-disposio por determinado

    candidato, e reproduzam essa predisposio - munidos de argumentos obtidos

    virtualmente - em outras instancias da vida. Porm, essas campanhas tem tido ainda

    uma participao mnima no Brasil, tendo em vista apenas um carter informativo no

    ambiente virtual, explorando pouco as possibilidades de interao e engajamento

    ensejadas pela internet. Esse sem dvida um aspecto difcil de ser pesquisado, por

    necessitar de estudos de recepo. Porm, pretendemos atravs desse artigo, demonstrar

    algumas possibilidades de proposio no espao virtual para as campanhas eleitorais,

    atravs do caso da candidata presidencial em 2010: Marina Silva (PV).

    5 IBOPE Inteligncia. Brasil est entre os dez pases que mais acessam redes sociais. 2010. Disponvel

    em:

    . Acesso

    em: 07 fev. 2011.

  • 2 Contexto Geral: Eleio Presidencial 2010

    A eleio para presidente da Repblica de 2010 encerrou seu primeiro turno com

    uma situao, para muitos, inesperada: a candidata Marina Silva (Partido Verde PV)

    alcanou quase 20% dos votos, totalizando nmero superior a 19 milhes de eleitores.

    Tal desempenho evidencia-se, entre outras razes, por configurar-se como a maior

    votao de um terceiro lugar na disputa ao cargo de Presidente da Repblica desde a

    redemocratizao do pas, em 1988, sucedida por seis pleitos, considerando o atual.

    No decorrer da campanha, vrias crticas foram feitas aos candidatos Dilma

    Rousseff (PT) e Jos Serra (PSDB), entre elas, a de no ser possvel distinguir os

    projetos polticos da situao e da oposio, respectivamente. Nesse contexto, a

    candidata do PV posicionou-se como uma alternativa entre as candidaturas de Dilma e

    Serra e tornou-se uma opo para muitos eleitores insatisfeitos. Sua postura foi singular,

    na medida em que no se considerou oposio, tampouco apresentou uma proposta de

    continusmo. Assim, Marina Silva trouxe para a sua campanha, entre outras questes,

    aquelas relativas ao meio ambiente. Entretanto, vale destacar que a pauta da

    sustentabilidade no conseguiu atingir os mesmos nveis de importncia eleitoral em

    comparao tendncia europia de preocupao com as questes ambientais, mas foi

    relevante no contexto brasileiro.

    A candidatura de Marina Silva foi marcada, entre outras coisas, pelo Movimento

    Marina Silva. Esse mesmo movimento permitiu pensar em novas formas de fazer

    campanha poltica de como inserir a participao do eleitor, do militante nas aes de

    campanha.

    A expressiva votao de Marina Silva nos fez voltar o olhar para a sua

    campanha e perceber um interessante movimento entre o ambiente online, com os sites

    e redes sociais, e o offline, com as Casas de Marina (que sero tratadas adiante). Tal

    movimento parece refletir o carter iniciante das campanhas eleitorais na internet, no

    Brasil. Ou seja, as campanhas virtuais esto pautadas principalmente em uma

    perspectiva informativa, tendo dificuldade em perceber e extrapolar sua ao para alm

    do escopo virtual. E, ainda, nos faz questionar sobre as questes de acesso (seja em

    termos de nmero ou qualidade) internet no Brasil, bem como a importncia do lder

    de opinio durante o processo eleitoral. A partir de uma caracterizao da campanha

    online da ento candidata do PV e das Casas de Marina, baseados no referencial terico

    pertinente ao tema, pretendemos discutir tais questes e hipteses.

  • 3 Internet como espao de visibilidade

    Thompson (2008) explica que se antes a interao era face-a-face, o

    desenvolvimento da mdia trouxe novas formas de publicidade, que dispensam a

    partilha de um lugar comum e permitem, tambm, a comunicao em referncias

    temporais diferentes6.

    Thompson (2008) acrescenta que, com o advento das mdias eletrnicas, a

    novidade que o contedo chega a regies muito distantes com nenhuma ou quase

    nenhuma diferena temporal.

    O nascimento da internet e de outras tecnologias digitais amplificou a

    importncia das novas formas de visibilidade criadas pela mdia e, ao mesmo

    tempo, tornou-as mais complexas. Elas aumentaram o fluxo de contedo

    audiovisual nas redes de comunicao e permitiram que um nmero maior de

    indivduos criasse e disseminasse esse tipo de contedo. (THOMPSON,

    2008, p.23).

    Gomes (2004) destaca que as disputas polticas so, hoje, em grande parte,

    disputas por imposio da imagem pblica. So lutas pela construo e manuteno da

    imagem dos atores polticos e, tambm, de grupos e instituies que, de alguma forma,

    participam do jogo poltico. As campanhas eleitorais esto diretamente inseridas nesse

    contexto de disputa, que impulsionam os candidatos a essa busca e manuteno da

    visibilidade, mas mesmo assim, desde o surgimento da imprensa, os lderes polticos

    perceberam a dificuldade em controlar totalmente essa visibilidade.

    Com relao ao ambiente virtual, importante retomar Lemos (2003), para

    quem as chamadas novas tecnologias7 podem alterar as prticas sociais, porm elas

    no so substitudas ou eliminadas, mas sim, reconfiguradas. Esse um ponto polmico,

    por no se conseguir mensurar em que medida essas reconfiguraes acontecem, de

    6 Thompson (2008) classifica trs tipos de interao: face-a-face; mediada; e quase-interao mediada. A

    interao face-a-face seria aquela em que os indivduos esto presentes de forma direta, em um contexto

    de co-presena e partilham da mesma estrutura de espao e tempo. Essa interao permite, segundo o

    autor, vrias referncias simblicas. Com o advento das mdias comunicacionais, surgem as interaes

    mediadas, que no tm espao ou tempo delimitado. E nesse caso, os indivduos esto separados

    espacialmente e podem estar ou no separados no tempo. O autor apresenta, ainda, uma terceira

    classificao, a quase-interao mediada, que amplia ainda mais a referncia de tempo e espao. So

    exemplos desta interao: livros, jornais, rdio, programas de TV, filmes, etc. Para o Thompson (2008), a

    interao que se d pelo uso de computadores e internet pode ser classificada de forma aproximada

    quase-interao mediada. Destaca-se, porm, que os tipos de interao no se sobrepem, eles podem

    conviver em um mesmo contexto. 7 A expresso est grafada, aqui, entre aspa

    talvez no se aplique mais ao computador e internet, como a ideia que se tinha em dcadas passadas,

    quando, de fato, a internet era uma novidade. A expresso ser novamente utilizada no decorrer do texto,

    mas deixamos claro que nossa inteno foi apenas a de denominar.

    presente no cotidiano dos indivduos e at que os estudos a respeito estejam presentes em mais reas do

    conhecimento

  • forma a manter o mesmo padro de comportamento observado na esfera offline. O

    inegvel a existncia de intercambio entre praticas online com o mundo offline,

    levando em conta que esse intercmbio pode estar sujeito a gradaes de intensidade

    diferentes sendo, portanto, de difcil definio quais os tipos de influencias so sentidas

    atravs do dispositivo pelos usurios da internet.

    Esse intercmbio caracterstica inata do dispositivo. De acordo com Gibson e

    Ward (2000), a internet reformula a natureza da comunicao em cinco pontos cruciais:

    a quantidade de informao que se pode ter; a velocidade de acesso a essas informaes

    e no envio de mensagens; a reformulao do formato multimdia (insere-se a questo da

    simultaneidade); a possibilidade de interatividade (comunicao sincrnica,

    comunicao entre grupos, hipertextos e linkagem entre sites); e o controle individual,

    ou seja, o indivduo escolhe o que deseja ver. Os pontos salientados por Gibson e Ward

    (2000) servem como meios de ativao eleitoral, fonte de argumentao e espao onde

    travada uma verdadeira luta eleitoral, incluindo para alm dos candidatos, militantes,

    engajados e cabos eleitorais.

    Gomes (2005), por sua vez, prope para a questo do intercambio virtual, uma

    comunicao feita em mo-dupla atravs de recursos comuns na internet, tais como o

    correio eletrnico, produzindo o incremento da participao, no qual no h somente

    uma assimilao rgida da informao, mas ela questionada, ampliada, reduzida,

    refutada; ela passa a ser gerida em um campo de conflito, sujeita a modificao e

    alteraes por parte do seu consumidor inicial.

    Nosso principal argumento que a internet nas campanhas eleitorais deve ser

    pontuada por uma viso propositiva, ou seja, deve incentivar o espao de visibilidade

    dos candidatos poltico para alm do espao online e no ser um mero instrumento

    informativo. Posto que a internet em seus mltiplos recursos possibilita o intercambio

    de influencia e informao tanto em um sentido intra quanto interacional, que esse

    tambm considerado um espao de mdia com disputa de visibilidade e que est

    sujeito a reconfiguraes de prticas sociais, valido pensarmos ento sobre como tem

    se organizado os estudos das praticas sociais que orientam o voto dos eleitores, ou seja,

    os estudos de comportamento poltico e eleitoral.

    3. Correntes de estudos do comportamento poltico e eleitoral

    Dentre as correntes que estudam o comportamento do eleitor, destacam-se: a

    escola sociolgica; a escola psicolgica ou psicossociolgica; e a teoria da escolha

    racional.

  • A perspectiva sociolgica (LAZARSFELD, BERELSON, GAUDET, 1944),

    surgiu nos Estados Unidos (Columbia) entre os anos de 1940 e 1950 e apresenta o

    pressuposto, em uma abordagem macro, de que o voto seria o resultado do contexto

    social e poltico dos indivduos. Dessa forma, a teoria sugere que o voto seria pautado

    pelas interaes sociais nas quais o indivduo estaria submetido; pela identidade ou

    interesses de classes ou grupos aos quais ele pertence; e por apelos momentneos de

    campanhas.

    A principal obra dessa corrente, LAZARSFELD,

    BERELSON, GAUDET, 1944), traz pesquisas de survey que dividem os eleitores em

    trs grupos, a saber: constantes, mutantes e flutuantes. Ocuparam-se, prioritariamente,

    com o tipo de eleitor flutuante, na tentativa de entender quais as influncias especficas

    que resultaram nas mudanas de atitude e conduta desse eleitor.

    Fiorina (1997) explica que a escola de Columbia entendia o voto como um

    princpio social, sendo determinado por influncias no contexto face-a-face e nas

    relaes com os formadores de opinio dentro de grupos.

    As campanhas teriam, ento, a funo de ser apenas um impulso para despertar

    ideias pr-existentes, com pouco impacto, e atuariam em quatro etapas de ativao:

    despertando o interesse, aumentando a receptividade, selecionando a ateno e

    cristalizando o voto.

    Tem-se, assim, o chamado efeito de ativao no momento em que a mdia

    aumenta o interesse pela poltica e o efeito de reforo na medida em que as convices

    preocupao da sociologia eleitoral era menos a de mensurar a influncia da mdia e

    mais a de verificar os possveis padres de relacionamento entre o eleitor e os meios de

    Alguns artifcios utilizados na tomada de deciso de voto estruturada

    socialmente podem ser confundidos com artifcios psicolgicos. De acordo com Fiorina

    (1997) a escola de Columbia considerou a percepo seletiva e outros mecanismos,

    como operaes psicolgicas, mas esses eram tidos como resultado de foras

    sociolgicas.

    A teoria psicolgica por sua vez, surge no final dos anos de 1950 tambm nos

    EUA (Michigan). Essa corrente se vale de elementos estruturais tratados na teoria

    sociolgica, porm o indivduo e suas motivaes psicolgicas tm posio central e

  • no apenas os grupos. ctos, passam

    (FIGUEIREDO, 1991, p.26).

    O Modelo de Michigan avanou em relao s crenas ideolgicas e o voto, de

    modo que a perspectiva psicolgica fosse considerada como psicossociolgica. Ela se

    utiliza de alguns preceitos da sociologia, agregados psicologia. Essa perspectiva

    considera as atitudes, destacando que se devem procurar as motivaes que

    condicionam a escolha partidria dos indivduos, bem como as manifestaes de seu

    comportamento po

    FIGUEIREDO,1991, p.44).

    Converse (1964), importante representante da escola de Michigan, trabalha a

    ideia de como a compreenso do universo conceitual dos indivduos pode predizer suas

    atitudes e comportamentos, que ficou conhecido como o sistema de crenas. A

    escolaridade, o volume de informaes e importncia/interesse que determinados temas

    assumem na vida do indivduo resultam em associaes conceituais, consideradas pelo

    autor. Tendem a ter comportamentos polticos semelhantes aqueles indivduos

    considerados semelhantes, no que concerne ao social e s atitudes.

    Para a escola de Michigan, as atitudes dos eleitores recebem influncias de

    caractersticas sociais, sendo possvel discuti-las a partir de preferncias polticas e do

    comportamento de voto dos sujeitos. Tais preferncias polticas manifestam-se, por

    vezes, por meio da identificao partidria que, por sua vez, remetem mais a

    caractersticas afetivas do que cognio; so internalizadas desde a infncia. Desse

    modo, para a perspectiva psicolgica, a ideologia no configura um elemento decisivo

    na determinao do voto da grande parte do eleitorado.

    No que diz respeito influncia da mdia, a escola psicolgica no considerou

    seus efeitos por supor que grande parte dos eleitores no se interessa por poltica e por

    acreditar que os cidados ativos (minoria) acompanham a mdia apenas por seu interesse

    poltico, pois tm alguma identidade partidria e tendem a agir em funo dessa

    identificao e no por apelos miditicos. Quanto metodologia, a corrente psicolgica

    dedica especial ateno s inferncias e evidncias indiretas, trazendo teorias

    psicolgicas de outros contextos, de modo que no se baseia diretamente em dados

    como sugere o modelo sociolgico.

    Outra importante corrente a escolha racional, tambm considerada um mtodo

    de anlise de comportamento e que foi amplamente apropriada como teoria econmica,

  • pois parte da lgica de mercado para anlise do comportamento poltico eleitoral. O

    conceito de consumidor racional a base do estudo.

    De acordo com Downs (1999), a premissa da teoria da escolha racional a de

    que os eleitores so racionais quando avaliam os custos e os benefcios de suas aes

    para definirem quais os melhores meios para alcanar determinados fins; o

    Ressalta-se que, na escolha racional, as razes egostas impulsionam o

    indivduo, que procura diminuir as incertezas inerentes vida poltica. O autor explica,

    ainda, que essa incerteza seria a falta de conhecimento seguro inerente ao contexto

    poltico (informao). Fiorina (1997) esclarece que parte considervel dos cientistas

    polticos era duvidosa com relao suposio de racionalidade.

    Essa teoria utiliza o conceito de atalho cognitivo, ou seja, a ao racional do

    indivduo realizada a partir de escolhas feitas com base em informaes que ele obtm

    direta ou indiretamente. O modo como esse indivduo se informa tambm est sujeito a

    um clculo racional, que pode variar de acordo com seu custo para o indivduo. Assim,

    o sujeito pode utilizar atalhos informacionais que tenham o menor nus a ele.

    Przeworski (1988, p.6) ressalta, ainda, que na escolha racional a nfase est na

    Considerando que o eleitor precisa da informao para fazer seu clculo racional,

    a teoria da escolha racional acaba por atribuir capacidade mdia e s campanhas

    polticas de participarem das escolhas do eleitor.

    Uma apropriao da Escolha Racional a teoria economicista. Para ela, no

    momento da escolha eleitoral, os indivduos optam pela situao quando a economia vai

    bem e direcionam seu voto oposio quando avaliam que a economia vai mal

    (FIGUEIREDO, 2008). Os eleitores, em grande parte, privilegiam a avaliao da

    atuao dos polticos no que diz respeito economia e as avaliaes das polticas, de

    modo geral, so menos significativas; desse modo, a figura do candidato ganha

    destaque.

    Na teoria da escolha racional, a deciso do voto explicada a partir da

    preferncia partidria, que ideologicamente condicionada. Assim, o eleitor acredita ter

    mais benefcios quando o partido ao qual ele prximo, no que se refere a pontos de

    vista e propostas polticas, vence a eleio. Nesse sentido, vale mencionar, tambm, que

    os eleitores acabam por fazer avaliaes individuais dos governantes destacando aqueles

    que lhes proporcionam bem-estar.

  • As ideologias so vistas como atalhos, na medida em que os eleitores

    diferenciam os partidos polticos a partir delas, assim, eles no precisam,

    Se interessam pelas declaraes

    de cada partido apenas na medida em que aquelas declaraes servem como guias para

    Para

    isso, preciso coerncia dos partidos em relao s suas aes. Importa, tambm, que

    sejam confiveis e que cumpram suas promessas de campanha, como alerta Downs

    (1999, p.127),

    Quanto s questes metodolgicas, a escolha racional prope trabalhar com

    experincias empricas, mantendo a discusso com a psicologia social. Castro (1994)

    explica que a teoria da escolha racional considera a perspectiva micro do individualismo

    metodolgico, de modo que se propem a explicar o comportamento poltico com base

    na ideia de que os indivduos so racionais e tendem a agir como consumidores do

    mercado econmico, portanto, procuram diminuir os custos e maximizar os ganhos.

    Os estudos mais recentes se dedicam a explicar o comportamento do eleitor

    considerando os impactos das campanhas eleitorais e da mdia (HOLBROOK, 1996;

    IYENGAR, SIMON, 2000; RIKER, 1996).

    As investigaes sobre o comportamento eleitoral brasileiro ainda trabalham

    com conceitos importantes trazidos das teorias internacionais, porm h que se destacar

    as pesquisas nacionais sobre o assunto. Pode-se dizer que o trabalho de Azis Simo

    (1956)8 , tratando do voto operrio em So Paulo, iniciou as investigaes sobre o

    comportamento eleitoral brasileiro na dcada de 1950.

    Trabalhos posteriores abordavam a influncia de questes como a urbanizao e

    a industrializao (processos que o pas vivia desde a dcada de 1930) no

    relacionamento dos cidados com a poltica. Alguns autores se valeram de variveis

    psicossociolgicas em suas anlises. Castro (1997, p.151) explica que "[...] a proposta

    no era negar a importncia dos fatores macro-sociolgicos e da posio dos eleitores

    na estrutura social, mas ampliar a capacidade explicativa da teoria, incluindo as

    variveis atitudinais e cognitivas na anlise".

    Para analise que nos propomos o norte analtico se pauta pelo voto sociolgico

    que aponta para interesses compartilhados socialmente, mediado pelos formadores de

    opinio, lembrando que a analise sociolgica aqui ampliada do contexto de interao

    8 SIMO, A. O voto operrio em So Paulo. Revista Brasileira de Estudos Polticos, Belo Horizonte,

    n.1, p.130-141, 1956.

  • face a face para o contexto de interao virtual e para os dois contextos de forma

    concomitante. Atribuindo que a percepo do contexto geral que orienta o voto ou o

    comportamento poltico dos indivduos so impossveis de serem abordadas em um

    todo, as diferenciaes das teorias comportamentais so na verdade escolhas

    metodolgicas que facilitam a analise ao oferecer instrumentos que possibilitem estudar

    o objeto que se prope. No nosso caso especifico, teremos tambm em vista que, assim

    como a escola psicossociologica defende, grande parte do eleitorado desinteressado,

    cabendo, portanto, a um grupo especifico (independente dos motivos do interesse, que

    para a escola psicolgica seria a identidade partidria) exercer maior influencia.

    4. A campanha online em 2010: Marina Silva

    Aps a campanha presidencial de Barack Obama, no EUA em 2008, muito se

    apostou na internet como nova forma estratgia de campanha. Os principais candidatos

    presidncia em 2010 Dilma, Serra e Marina investiram em mdias digitais e

    elaboraram estratgias especficas para a internet, como informaram os coordenadores

    das campanhas (em um debate realizado em So Paulo e transmitido online9 em 04 de

    novembro de 2010): Marcelo Branco, contratado pelo PT; Caio Tlio Costa, contratado

    pelo PV; e Soninha Francine, contratada pelo PSDB.

    Ressalta-se, ainda, que o PT trouxe uma consultoria tcnica com dois dos

    americanos que fizeram parte da campanha de Obama: Scott Goodstein, um dos

    responsveis pela estratgia de marketing digital, e Ben Self, fundador da Blue State

    Digital, empresa que conseguiu arrecadar cerca de R$ 890 milhes pela internet para a

    campanha de Obama.

    Durante o programa com os coordenadores das campanhas brasileiras, Soninha

    Francine lembrou as diferenas entre as realidades brasileira e americana e como isso

    contribuiu para que a campanha eleitoral brasileira na internet tomasse um rumo distinto

    da campanha americana. Caio Tlio destacou, ainda, que a equipe americana j havia

    trabalhado com internet em campanhas menores, ao passo que no Brasil a situao era e

    recente.

    Para alm das diferenas entre a campanha americana e brasileira, partimos para

    a apresentao de algumas caractersticas da campanha de Marina Silva em 2010. A

    ento candidata do PV estruturou sua campanha online tendo como base o site

    9 O programa foi transmitido pelo site www.mediaon.com.br onde os vdeos ainda esto disponveis.

  • www.movmarina.com.br, o www.minhamarina.org.br e o perfil no microblog Twitter:

    @silva_marina.

    4.1. Movimento Marina Silva

    De acordo com o site www.movmarina.com.br, o Movimento Marina Silva

    apresenta como objetivo promover a organizao autogestionria de militantes por uma

    nova civilizao, colocando em prtica um novo jeito de fazer poltica e tendo como

    O site do Movimento trouxe a ideia de internet colaborativa10

    , na medida em que

    as pessoas podiam criar e divulgar textos, vdeos e at mesmo material de campanha em

    apoio candidatura de Marina Silva. A inteno foi incentivar as pessoas a se

    engajarem na campanha e participarem de forma ativa dela.

    Sobre isso, vale mencionar uma matria veiculada na edio de 02 de junho de

    2010, a revista Veja,

    p.174). A matria explora exatamente essa tentativa de atrair os jovens para campanha

    da candidata do PV, especialmente atravs do uso da internet. E tratando da plataforma

    eleitores.

    Na matria mencionada, da Revista Veja, os representantes da juventude, entre

    essa descrio e so colocadas prova quando tentam responder s perguntas sobre as

    adversidades na conjuntura da candidata. Nesse sentido, o novo jeito de fazer poltica,

    proposto pelo Movimento, apresenta-se embotado pela ingenuidade de seus

    ordenadores.

    Marina tem poucas intenes de voto e nenhuma probabilidade de ganhar as

    eleies? porque ela s conhecida por 25% das pessoas. Tem gente que ainda a

    confunde com a Helosa Helena. Mas, quando os outros 75%, a conhecerem, vo

    todos gostar dela, rebate Rombauer. Marina evanglica, da Assembleia de Deus, e

    sabida e publicamente contrria ao casamento gay? Ela no vai colocar sua f acima

    de tudo. Vai fazer plebiscitos e, se a populao for a favor dessas questes, vai aceit-

    las , acredita o cineasta Victor Fisch, 25, inventor de peculiar ao de marketing pr-

    Marina. (LINHARES, 2010, p.177).

    10

    Alm das plataformas wikis, a produo de sites e blogs, hoje, tem sido cada vez mais acessvel a

    usurios comuns.

  • 4.2. Minha Marina

    O site www.minhamarina.org.br foi, pode-se dizer, o concentrador da campanha

    de Marina Silva em 2010. Notcias atualizadas diariamente repercutiam o andamento da

    campanha da ento candidata do PV, bem como sua participao m programas de TV,

    de rdio, internet e entrevistas. O site informava, ainda, sobre sua agenda e fazia um

    resumo de suas visitas pelo pas, com vdeos, fotos e entrevistas. Alm disso, o site

    oferece links para os perfis da ento candidata, link para o lbum de fotos e para o blog.

    Outra importante se

    adquirir, gratuitamente, papel de parede, jingle, fotos, etc. Havia, ainda, o link para

    ra possvel doar qualquer quantia para a campanha de Marina.

  • de campanha. Essa ideia tambm est presente no site do Movimento Marina Silva,

    como ideia a vez que o eleitor contribui na construo

    do comit. Destaca- sala de Marina

    Figura 1: www.minhamarina.org.br

  • eleitores (internautas) e os responsveis pela campanha. Por exemplo, os programas de

    TV da ento candidata eram apresentados nesse espao antes de irem ao ar, ou ideias de

    novos programas eram discutidas.

    feitas por internautas.

    4.3. Twitter

    Marina Silva criou um perfil no Twitter para a campanha presidencial de 2010 e

    Sou candidata Presidncia

    pelo PV, professora de Histria, senadora licenciada (PV-AC) e ex-ministra do Meio

    Ambiente. Hoje, Marina mantm seu perfil no microblog, porm com a biografia

    Sou professora de Histria. Fui candidata Presidncia da Repblica

    pelo PV em 2010, ministra do Meio Ambiente(2003-2008) e senadora pelo Acre, de

    (1995-

    O primeiro tweet (mensagem) foi em 22 de janeiro de 2010, porm o lanamento

    oficial do Twitter de Marina foi em 04 de fevereiro de 2010, como ela mesma informou

    (figura 2):

    Figura 2: Lanamento do Twitter e do blog da ento candidata Marina Silva

    At o final do primeiro turno da eleio de 2010, o perfil de Marina Silva

    possua 271.003 seguidores, 1.915 tweets e ela seguia 181 perfis. Interessante notar que

    at 10 de maro de 2011, o perfil de Marina possua 407.222 seguidores, ou seja,

    mesmo com o fim da campanha, o processo de construo e manuteno da imagem

    pblica poltica de Marina Silva se manteve. Porm o nmero de mensagens sofreu

    grandes alteraes, chegando a 2.109 tweets.

    No Twitter de Marina Silva era possvel ter atualizaes dirias sobre sua

    agenda de campanha, sobre suas aparies na mdia e, talvez o mais interessante, seus

    comentrios sobre importantes temas tratados pelos presidenciveis em 2010, como as

    plataformas de campanha, a legalizao do aborto, a unio estvel entre homossexuais,

    etc.