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OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O ESPAÇO URBANO DE CÁCERES-MT: experiências e vivências compartilhadas através da aula a campo ALEX BRUNO SILVA COSTA Acadêmico do Curso de Geografia da UNEMAT. Bolsista PIBID-GEO Email: [email protected] LAURA AP. DE ARRUDA JUSTINIANO Profa. Ms. da Rede de Educação em Mato Grosso. Colaboradora PIBID-GEO Email: [email protected] DILMA LOURENÇA DA COSTA Profa. Ms. do Curso de Geografia da UNEMAT. Colaboradora do PIBIB-GEO. Email: [email protected] TÂNIA PAULA DA SILVA Profa. Ms. do Curso de Geografia da UNEMAT . Coordenadora PIBID-GEO Email: [email protected] INTRODUÇÃO No Brasil, assim como em outros países, não há um consenso sobre o surgimento das cidades, portanto, pode-se dizer que as formações das cidades brasileiras foram diversas, a maioria sem planejamento. Nesse contexto, Lopes (2010) cita que algumas cidades desenvolveram-se a partir das missões religiosas em aldeamentos indígenas, outras como entrepostos comerciais ou de abastecimento, algumas surgiram e foram criadas com o objetivo de defender as fronteiras, como foi o caso de Cáceres-MT, entre outras. Sendo assim, pode-se dizer que o surgimento de uma cidade está ligado as questões políticas, sociais, geográficas e a disponibilidade de recursos naturais. Em relação a expansão e desenvolvimento das cidades região Centro-Oeste verifica-se que durante o Governo Militar, nas décadas de 1960 a 1880, a região recebeu do Governo Federal diversos Programas de Desenvolvimento, com o objetivo de anexar os grandes espaços vazios demográficos ao processo produtivo brasileiro; tais políticas

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OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O ESPAÇO URBANO DE CÁCERES-MT:

experiências e vivências compartilhadas através da aula a campo

ALEX BRUNO SILVA COSTA Acadêmico do Curso de Geografia da UNEMAT. Bolsista PIBID-GEO

Email: [email protected]

LAURA AP. DE ARRUDA JUSTINIANO Profa. Ms. da Rede de Educação em Mato Grosso. Colaboradora PIBID-GEO

Email: [email protected]

DILMA LOURENÇA DA COSTA Profa. Ms. do Curso de Geografia da UNEMAT. Colaboradora do PIBIB-GEO.

Email: [email protected]

TÂNIA PAULA DA SILVA Profa. Ms. do Curso de Geografia da UNEMAT . Coordenadora PIBID-GEO

Email: [email protected]

INTRODUÇÃO

No Brasil, assim como em outros países, não há um consenso sobre o

surgimento das cidades, portanto, pode-se dizer que as formações das cidades brasileiras

foram diversas, a maioria sem planejamento. Nesse contexto, Lopes (2010) cita que

algumas cidades desenvolveram-se a partir das missões religiosas em aldeamentos

indígenas, outras como entrepostos comerciais ou de abastecimento, algumas surgiram e

foram criadas com o objetivo de defender as fronteiras, como foi o caso de Cáceres-MT,

entre outras. Sendo assim, pode-se dizer que o surgimento de uma cidade está ligado as

questões políticas, sociais, geográficas e a disponibilidade de recursos naturais.

Em relação a expansão e desenvolvimento das cidades região Centro-Oeste

verifica-se que durante o Governo Militar, nas décadas de 1960 a 1880, a região recebeu

do Governo Federal diversos Programas de Desenvolvimento, com o objetivo de anexar

os grandes espaços vazios demográficos ao processo produtivo brasileiro; tais políticas

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permitiram modificações nos espaços urbanos da região (MEDEIROS, 1999 e

SEPLAN/MT, 2002).

Costa e Silva (1994) relatam que com essas políticas governamentais o

município de Cáceres passou por um processo de migração, que motivou e emancipação

das populações de novos núcleos econômicos, reduzindo sua área geográfica e

produtiva. Contudo, na década de 1980, Cáceres retoma seu desenvolvimento e em

consequência sofre um processo acelerado de urbanização e crescimento, levando ao

crescimento territorial da cidade sem planejamento; a expansão urbana ocorreu,

segundo Souza et al (2008), em direção à margem do rio Paraguai. Com o crescimento

urbano a cidade de Cáceres vive uma situação antagônica de ocupação, de lutas de

classes e movimentos sociais, convivendo paralelamente a vida urbana.

Nesse sentido, no presente trabalho busca-se apresentar o resultado de uma aula

a campo desenvolvida no espaço urbano de Cáceres-MT. O trabalho de campo teve

como objetivo observar e discutir, in loco, aspectos da formação socioespacial da cidade

de Cáceres e suas transformações, entendo que estas mudanças na paisagem urbana da

cidade são resultantes das relações produzidas pelas transformações sociais,

econômicas, políticas e culturais ao longo de sua história.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho baseou-se em levantamentos e leituras

bibliográficas sobre a temática. Além disso, foi definido/organizado um percurso

geográfico que contemplasse a diversidade do espaço vivido e construído em Cáceres-

MT. O percurso geográfico abrangeu quatro (04) bairros da cidade, sendo eles: Centro

(bairro mais antigo), Cavalhada, Vila Irene e Jardim de Oliveira. Essa aula envolveu

professores e acadêmicos da Unemat e os bolsistas do Grupo de PIBID-GEO.

Como a pesquisa possui um caráter qualitativo, alguns dados foram obtidos

através da observação in loco, sendo assim, a aula de campo, possibilitou um contato

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pessoal e estreito com o fenômeno estudado, como afirmado por Ludke e Andre (1986).

No campo foram utilizados registros escritos e fotográficos dos locais visitados.

É importante ressaltar que essa atividade faz parte do projeto “Geografia em

Sala de Aula” desenvolvido no âmbito do Programa PIBID pelo grupo PIBID-GEO da

Unemat; que a maior parte deste texto foi escrita durante o percurso geográfico e resulta

de algumas observações no perímetro urbano de Cáceres-MT de conversas entre a

professora, os acadêmicos e a comunidade visitada. Após nossa chegada à Unemat

reelaboramos parte do trabalho para que ele pudesse se adequar as necessidades de uma

publicação.

CAMINHOS PERCORRIDOS

A aula a campo pode ser adotada por escolas que se apoiem em propostas

teórico-metodológicas dialéticas, construtivistas e outras, pois é uma ferramenta

metodológica que visa à comprovação dos temas estudados em sala de aula; auxiliando

no processo de desenvolvimento da percepção, aguçando os sentidos para os problemas

e dilemas do cotidiano aliado as práticas e dinâmicas desenvolvidas em sala de aula

(LOPES, 2010). Portanto, na aula a campo as questões teóricas levantadas em sala de

aula, relacionadas ao estudo do espaço, do território, das questões econômicas, sociais,

políticas e culturais são confrontadas com as paisagens vivenciadas no decorrer do

trabalho de campo.

Assim sendo, passaremos a retratar alguns momentos vivenciados na aula a

campo no perímetro urbano de Cáceres-MT, a qual nos possibilitou conhecer a

realidade local por meio da observação da paisagem urbana, sua configuração e

estrutura. No percurso geográfico desenvolvido na cidade de Cáceres a primeira parada

foi o bairro Centro, que é um dos mais antigos da cidade de Cáceres. As construções

encontradas no bairro formam um belo conjunto arquitetônico; esse conjunto

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arquitetônico, urbanístico e paisagístico fez com que a cidade se tornasse um patrimônio

cultural brasileiro em 2012, por meio da portaria nº 85 publicada no Diário Oficial da

União, pelo Ministério da Cultura.

As construções tombadas fazem parte tanto do período imperial como do

republicano; os imóveis além de serem residências, também servem de usos de serviços

e comércio (bancos e lazer noturno). Os comércios dos casarões, localizado na Praça

Barão, funciona principalmente a noite, tanto os casarões quanto a praça Barão do Rio

Branco são pontos turísticos e de lazer para a população e visitante (Figura 01).

Figura 01 – A ) Mostra a Praça Barão e B) Casarões em torno do espaço da Praça. Fonte: COSTA, 2013.

Contudo essas duas áreas de lazer são economicamente antagônicas, pois se por

um lado à praça é um lugar público, sendo frequentada por todas as classes sociais; os

casarões comerciais são frequentados por pessoas de classe média, devido o valores dos

produtos não ser acessível a todas as classes sociais. Portanto, são lugares próximos,

mas que comprovam a desigualdade social vivenciada pela população cacerense. Ainda,

neste espaço, o centro da cidade, observa-se uma das mais belas construções histórica

de Cáceres, a Catedral de São Luiz de Cáceres, cuja construção iniciou-se em 1991 e foi

concluída em 1938. Devido à morosidade em sua construção a Catedral deixou de ter

estilo um Gótico, baseado na Catedral de Notre Dame, e passou a ter um estilo

arquitetônico neogótico.

Em frente à Catedral, na praça Barão do Rio Branco, encontra-se o Marco do

Jauru, demarcatório do Tratado de Madri entre as coroas portuguesa e espanholas em

1750. Este monumento foi assentado na Foz Rio Jauru e permaneceu por mais de um

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século no mesmo local e em 1883 o monumento é trazido e implantado na praça. Tanto

a igreja, quanto o Marco do Jauru são monumentos históricos de orgulho para o

cacerense, servindo de pontos turísticos de visitação obrigatória (Figura 02).

Figura 02 – A ) Imagem da Catedral de São Luiz e B) Imagem do Marco do Jauru Fonte: COSTA, 2013

O segundo ponto visitado foi o bairro cavalhada, no percurso percebe-se que a

maioria das ruas é pavimentada. Por ser um bairro próximo ao centro e por fornecer

vários serviços, tanto de lazer quanto de trabalho, existe muita circulação de pessoas.

No bairro encontram-se os principais clubes que servem de lazer nos finais de semana

para a população, entre eles podemos destacar o IATE clube, SESI clube e a AABB que

se localizam na rua Maravilha.

A rua da Maravilhas tinha o nome de Travessa dos Barreiros, naturalmente por

dar acesso aos lugares donde se extraia barro para fabricação de tijolos e telhas.

Entretanto, em 1912, o intendente-geral do Município, Sr. João Campos Windal, através

da Resolução nº 57, de 7 de maio, troca-lhe o nome de Travessa dos Barreiros para Rua

da Maravilha (MENDES, 1998). O autor citado, ainda descreve que na rua das

Maravilhas, havias poucas casas e estas eram simples, contudo, com o passar dos anos,

estas casas foram sendo substituídas por belas e modernas construções particulares

(figura 03), com vista panorâmica das baías do rio Paraguai, tornando-se numa das mais

belas artérias da cidade.

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Figura 03 – A) e B) Construções Particulares na rua das Maravilha. Fonte: COSTA, 2013.

Devido a boa localização do bairro, a proximidade do centro e dos serviços

prestados a comunidade (clubes de lazer, comercio em geral e universidade), os terrenos

ociosos (Figura 04), que são poucos, servem para especulação imobiliária, até mesmo os

que estão construídos seja de fim de comércio ou para moradia também estão

supervalorizados. Mesmo possuindo uma boa infraestrutura, ruas pavimentada, rede de

agua e coleta de lixo, a população joga lixo, nos terrenos ociosos, como demonstra a

figura 04, porém tal fato não desvaloriza os imóveis.

Figura 04 – A) Área de lazer e B) Lote ocioso localizado no Bairro Cavalhada. Fonte: COSTA, 2013

O terceiro ponto visitado foi o Bairro Vila Irene, este bairro é vizinho do bairro

cavalhada, desse modo, também está perto do centro. Embora seja um bairro próximo

ao centro e antigo, este passa a ter problemas em relação ao serviço públicos e

A B

B A

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infraestrutura (posto de saúde precário, ruas não pavimentadas, coleta de lixo,

abastecimento de água e distribuição de iluminação pública não alcançam/ ou não tem

com frequência em alguns pontos do bairro). Tal descaso com o bairro, ou melhor, os

problemas encontrados no bairro podem estar ligados à forma de ocupação, que ocorreu

de forma geral, através da grilagem. Esse tipo de formação de bairro ou loteamentos é

comum, segundo Ferreira (2005), onde os moradores edificam suas casas (barracos) e

improvisam o básico para sua sobrevivência (água é obtida através de poços ou ligações

clandestinas) para depois o poder público local legalizar e construir a infraestrutura de

saneamento básico.

A utilização dos terrenos baldios como depósito de lixos domésticos é comum

no bairro. Esses resíduos sólidos contribuem para a proliferação de roedores e insetos

que podem causar doenças, assim como o mosquito da dengue. O ato de jogar o lixo nos

terrenos baldios é considerado por Corrêa (2003) um fator cultural, referendado desde o

começo do século, onde, as pessoas jogavam ou queimavam o lixo devido não haver

coleta. Nesse sentido, necessita que a população reveja os seus atos, para evitar doenças.

Atualmente, as moradias do bairro são classificadas como casas próprias,

alugadas e lotes grilados. As residências improvisadas dos grilos aos poucos vão

modelando e transformando aquele espaço, com novas moradias que são construídas

aos poucos. As mudanças nas moradias ocorrem através do processo de autoconstrução,

este é um processo longo e penoso para o trabalhador. Rodrigues (1988) afirma que

autoconstrução absorve a maior parte do tempo livre da família, que realiza a construção

nos fins-de-semana e em parte das férias. Apesar de ocupar o tempo “livre”, esse ainda

é o único modo da população de baixa renda conseguir ter casa própria, pois a família

consegue economizar no aluguel e na mão de obra, utilizando o dinheiro “poupado”

para comprar o material de construção.

Outro problema enfrentado pela maioria da população do bairro é a dificuldade

de se locomover em época da chuva, uma vez que, os terrenos sofrem com alagamentos,

o que impede/dificulta os moradores de sair de casa nesse período. Além disso, as duas

pontes que dão acesso ao bairro, estão em situação precária, não sendo seguro

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circulação de veículos motorizados. A luta por melhoria das pontes tornou-se uma

reivindicação constante da população.

O quarto ponto visitado foi o Bairro Jardim das Oliveiras, popularmente

conhecido como Empa, que é localizado às margens do rio Paraguai. As terras que

formou o bairro pertenciam à Prefeitura Municipal de Cáceres-MT até surgir à proposta

de implantar uma Inspetoria Regional de Fomento Agrícola em Cáceres, então a terra

foi doada á União Federal, mas após longos ano a Empresa deixa de realizar suas

pesquisas, abandonado a região, que com o passar dos anos foi loteado

clandestinamente.

Na época a ocupação/apropriação das terras do bairro Empa foi feitas por

pessoas de baixa renda; entretanto, com o passar dos anos esses foram “expulsos”,

dando lugar para as pessoas com maior poder aquisitivo. Os novos donos criaram

pousadas, restaurantes e casas de veraneios que são alugadas para os turistas nos finais

de semana. Nesses locais também foram criados tablados para pesca para os clientes,

impedindo que a população menos abastada tivesse acesso ao rio. Desse modo,

presenciamos no bairro um contraste social, se por um lado existem belas construções

(na margem do rio), do outro observa-se casas humildes ou terrenos baldios.

Como o bairro formou-se pelo processo de grilo, muitos moradores do local,

ainda não possuem documentação de sua propriedade, principalmente os moradores das

margens do rio, eles estão na justiça para conseguir a documentação. Conforme as

autoras Silva e Souza (2012) essas áreas não deveriam ser legalizada, por localizarem-se

numa área de Proteção Permanente, sendo assim deve pertencer a União, para que todos

possam usufruir do Rio Paraguai, independente da classe pertencente.

Verifica-se que o bairro Jardim de Oliveira não possui infraestrutura, a

população sofre por falta de coleta de lixo e água tratada. Fialho (2004) argumenta que

devido o bairro ser distante do centro há frequentemente despejo de dejetos nos terrenos

baldios por moradores de outros bairros. Além disso, no bairro existe apenas uma escola

municipal (figura 05) que fornece o ensino fundamental, sendo assim, após terminar o

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ensino fundamental o estudante tem que procurar outra escola, que fica distante, para

terminar o ensino médio.

Figura 05 – A) Escola Municipal do bairro Empa. Fonte: COSTA, 2013.

O quarto bairro a ser visitado foi o bairro Vitória Régia, em seguida o bairro

Nova era e Vila Real (ordem seguida de acordo com a idade de formação). Esses

bairros foram formados pela Política Nacional de Habitação (PNH), que propõem à

promoção de moradia digna a população de baixa classe. No bairro Vitória Régia, não

há mais casas com arquitetura original, todas as casas foram modificadas (figura 06),

isso ocorreu porque esses programas sempre privilegiam a quantidade e não a

qualidade, como foi verificado por Cidade (1999). As modificações na estrutura dos

imóveis foram ocorrendo, em geral, da mesma forma que nos bairros grilados, ou seja,

pelo processo de autoconstrução. Como essas casas não atendem a necessidade dos

moradores, estes modificam suas residências de acordo com suas necessidades.

A

A B

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Figura 06 – A) e B) Modificação das antigas casas populares do bairro Vitória Regia. Fonte: COSTA, 2013.

Nos outros dois bairros como o programa de habitação é recente, os

moradores ainda não mudaram a arquitetura da casa, porém nos primeiros anos na

residência os moradores estão preocupados com sua segurança, por isso privilegia murar

(Figura 07) ao invés de mexer na arquitetura da casa. Já no bairro Vila Real, o morador

ainda não teve oportunidade ou verba para fazer alterações que julga necessária. Assim,

mesmo não sendo a casa do “sonho”, esta é a única forma de muitas famílias realizarem

o sonho de ter a casa própria.

Figura 07 – A) Casas populares no bairro Nova Era B) Casas populares no bairro Vila Real. Fonte: COSTA, 2013.

Diante do que foi observado na área urbana de Cáceres, podemos dizer que as

formações dos bairros da cidade ocorreram de forma variada, desde planejamento

governamental até pela forma irregular de apropriação do espaço. A maneira como estes

bairros são formados ou organizados permeia a questão política, social e econômica,

uma vez que, quando a área passa a ser valorizada, o morador original, se vê obrigado a

deixar seu lugar, devido à valorização do espaço.

Para finalizar a aula a campo fez-se uma avaliação, roda de conversa, pontuando

as inquietações e respostas a indagações elaboradas tanto na sala de aula, quanto nas

B A

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conversas e entrevistas realizadas com os sujeitos sociais com os quais os alunos

puderam interagir durante o percurso geográfico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de campo constitui uma ferramenta primordial para o bom

entendimento da realidade dos sistemas e fatos. O uso de estratégias metodológicas

como a aula de campo permite aguçar a curiosidade do grupo (professores e alunos)

envolvido nessa atividade, além de unir conteúdos escolares/acadêmicos a realidade

cotidiana desses sujeitos.

Assim sendo, a aula no perímetro urbano serviu para ampliar nosso

conhecimento sobre como está sendo estruturados os bairros no Município de Cáceres,

o descaso do poder público, no que diz respeito à infraestrutura, e a luta da população de

baixa renda para conseguir um lugar para morar com dignidade. Nesse contexto,

constatamos, a partir da experiência vivida, que os bairros visitados apresentam, de

modo geral, falta de infraestrutura (ruas não pavimentada, tratamento de água e esgoto,

falta de redes elétricas), trazendo transtorno para a comunidade. Além do mais, os

bairros que possuem estes serviços não são de boa qualidade, exemplos disso, as ruas

pavimentadas estão esburacados, a água tratada falta constantemente, na época da seca,

na maioria dos bairros, entre outros.

Diante de tudo que visto, podemos dizer que a aula de campo permitiu fazer uma

nova releitura do espaço cacerense. As leituras em sala de aula contribuíram para

entender que o espaço urbano é modelado de acordo com as contradições existentes no

local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CIDADE, L. C. F. Planejamento, desconcentração e produção social do espaço no Distrito Federal. Brasília: Espaço e Geografia, 2 (1): 57-65, 1999. CORRÊA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2003.

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