oceano de letras n.2 outubro 2017

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Page 2: Oceano de Letras n.2   Outubro 2017

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ÍNDICE

CLARICE LISPECTOR Sobre a escrita... ................................................. 3 Maré biográfica ................................................... 4 COLETÂNEA DE VERSOS .................................. 5 Cecy Barbosa Campos Maré biográfica ................................................. 14 ANTONIO CABRAL FILHO Trovas .............................................................. 15 AGENIR LEONARDO VICTOR A Trova na Atualidade ....................................... 18 Maré biográfica ................................................. 22 AS AVENTURAS DE PEDRO MALASARTES Doutor Saracura ................................................. 22 LÓLA PRATA Poemas Seletos ................................................. 24 Maré biográfica ................................................. 25 NILTO MACIEL Sobre livros e escritores ...................................... 26

CAROLINA RAMOS Poemas Seletos ................................................. 30 Maré biográfica ................................................. 31 ANTONIO ROBERTO DE PAULA Diálogo que a incompreensão humana interrompeu ......................................................................... 32 Maré biográfica ................................................. 35 DOROTHY JANSSON MORETTI Poemas Seletos ................................................. 37 Maré biográfica ................................................. 38 APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA O encantador de sonhos .................................... 39 Maré biográfica ................................................. 42 ADEMAR MACEDO Poemas Seletos ................................................. 42 Maré biográfica ................................................. 44 JOSÉ FELDMAN Nilto Maciel: Mago das almas ............................. 45 ANDREY DO AMARAL Escritores brasilienses na Feira de Frankfurt ........ 47

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Meu Deus do céu! Não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só

poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por uma extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo – é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porquê não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras. O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o

ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

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Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranquilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem. Fonte: Clarice Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Clarice Lispector (Chaya Pinkhasovna Lispector) (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro

de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto à sua brasilidade, ser pernambucana —, autora de romances, contos e ensaios e considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano.

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Uma Trova de Maringá/PR

A. A. de Assis

O mar, a jangada, o vento;

a bordo, ao luar, nós dois.

Construa no pensamento

a cena que vem depois...

Uma Trova de Caicó/RN

Prof. Garcia

Nas areias calcinadas

desse deserto sem fim...

A vida deixou pegadas

perdidas dentro de mim!

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

ÁLBUM

Desfolhando o velho álbum de retratos,

que jazia abandonado em alguma prateleira,

relembrei pessoas, que estavam esquecidas,

e não reconheci imagens que eram minhas.

O tom amarelado esmaecia

sorrisos jovens que ficaram tristes:

tirava o viço de vidas tão distantes

e que, um dia, foram parte de minha vida.

Entre as velhas amizades retratadas,

revi amigos dos quais eu lembro os nomes

e outros, dos quais, nada mais resta,

porque ficaram perdidos pelo tempo.

Ao contemplar aquelas fotos desbotadas,

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vou rejuntando, aos poucos, os pedaços

de uma história que nem sei se já vivi.

Uma Trova Humorística de Bandeirantes/PR

José Regínaldo Portugal

Estes carecas sofridos,

sem cabelos ... que ironia,

deixam piolhos perdidos

por falta de moradia!

Uma Trova de Belém/PA

Antonio Juracy Siqueira

Na tua imagem gravada

sobre as dunas da ilusão,

deixei, em cada pegada,

pedaços do coração!...

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

CENA COTIDIANA

O cidadão de bem foge aterrorizado –

tenta escapar de seus perseguidores

que não sabe quem são.

Sente-se acuado por sombras indistintas

que espalham a morte

sem alvo definido e sem motivo algum.

A mãe, levando o filho à escola,

tem a rotina diária interrompida

e, escondendo-se atrás de uma barraca,

tenta proteger com seu corpo magro

a criança que chora, apavorada.

Por outro lado surgem mais atiradores,

misturam-se bandidos e policiais

não identificáveis como seres humanos

e irreconhecíveis como animais.

O fogo cruzado vai se intensificando

e a bala perdida atinge mais alguém

no dia a dia de terror, na cidade grande.

Esse crime é mais um que não será computado

nas listas estatísticas, de tão banalizado.

A bala perdida que hoje mata

um cidadão de bem,

torna-se apenas

uma repetitiva notícia de jornal.

Uma Trova Popular

Autor Anônimo

Ó morte, ó tirana morte,

contra ti tenho mil queixas

quem hás de levar, não levas,

quem deves deixar, não deixas!

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Uma Trova Hispânica do Panamá

Adiyeé N. Castillo

Trovador es... en la vida

El cortador de Diamantes

que para Trovar convida

setesílabos brillantes.

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

INVASÃO

A primavera chegou de madrugada

e entrou pela janela do meu quarto

vestida de prateado.

Enluarando a minha cama

cobriu o meu corpo insone

e anestesiou os meus sentidos.

Trovadores que deixaram Saudades

Auta de Souza

Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Paixão é diamante bruto,

que burilado, a rigor,

surge mudado no tempo

em linda estrela de amor.

Uma Trova de São Simão/SP

Thalma Tavares

O sol pela rocha aberta

parece aviso divino,

indicando a rota certa

ao barqueiro sem destino.

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

CHEGADA

A primavera chegou

ao final da manhã

sem alarde, discretamente

vestida de cinza.

Esperançosa, aguarda o domingo

com flores que se abrirão

em sorrisos azuis

à luz do sol.

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Uma Trova de Fortaleza/CE

Francisco José Pessoa

É nos grandes desafios

quando penso estar sozinho,

que Deus faz luz nos pavios

pra clarear meu caminho!

Um Haicai de Magé/RJ

Alex Garcia Rodrigues Júnior

(13 anos)

Ao entardecer

O sol bem fraquinho

Parado sobre a paisagem.

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

PRIMAVERA EM MIM

Começou a primavera,

nasceu ontem, é bebê,

insegura e frágil

ainda não teve coragem

de se despir de nuvens

e mostrar o azul.

Mesmo assim, algo muda

comemorando o sábado o inverno que existe em mim

transformado por uma profusão

de flores e cores.

De bem com o mundo

já consigo ouvir

sua manifestação triunfal,

com o acorde dos pássaros

em saudação inaugural.

Uma Trova de Campos dos Goytacazes/RJ

Diamantino Ferreira

A luz da lua perfura,

impoluta, o vasto espaço...

Deixa a mensagem mais pura

e ao remador seu abraço!

Um Haicai de Lençóis/BA

Júlio Afrânio Peixoto

(1876 - 1947) Rio de Janeiro RJ

Disparidade

Derrete-se o gelo.

Porém se resfria a água:

Ela fria, eu ardo...

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Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

DESESPERANÇA

A boca vazia

os olhos grandes,

vazios…

O prato vazio,

panelas brilhantes,

vazias…

Menino vazio,

sem graça, sem jeito,

sem nada no mundo,

sem sonho, sem ânsias,

sem nada a esperar,

espera cansado

a vida seguir.

Uma Trova de Ribeirão Preto/SP

Nilton Manoel

No barco tênue da vida

sonhos mil... mil aventuras

escarpas, prédios... que lida

romances ternuras puras.

Um Haicai de Magé/RJ

Kelvynn Yelenrique Cidade Ferreira

(13 anos)

Ao cair da noite

A estrela de inverno brilha

Muito longe, bem fria.

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

PALAVRAS

Palavras – para quê?

Quando podemos expressar a felicidade

não somos tão felizes.

Também o sofrimento

é algo inexprimível.

O silêncio diz muito mais

daquilo que sentimos.

A morte nunca falou

mas terá o seu momento.

O futuro é mudo, incerto,

surpreendente e inevitável.

Para sentimentos profundos,

gratidão, amor, carinho,

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não achamos tradução.

Não há palavras bastante

para expressar a emoção.

Então, palavras – para quê?

Um Haicai de Magé/RJ

Israel Lucas S. de Sousa

(14 anos)

Parece um gemido

Na noite silenciosa,

Mas é um trovão.

Uma Trova de Bauru/SP

João Batista Xavier Oliveira

A gôndola que desliza

sem testemunhas dos lados,

convida o beijo da brisa

em nossos rostos colados!

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

ÊXTASE

A noite me abraça

carinhosamente,

e a seu torpor

me entrego,

inebriada.

As estrelas povoam meus sentidos

e tocam música

em meus ouvidos.

Um frescor de brisa perfumada

penetra no meu ser involuntário.

Recordando Velhas Canções

Aquarela brasileira

(samba-enredo/carnaval, 1964)

Silas de Oliveira

Vejam esta maravilha de cenário

É um episódio relicário

Que um artista num sonho genial Escolheu para esse carnaval E o asfalto como passarela

Será a tela do Brasil em forma de aquarela

Passeando pelas cercanias do Amazonas

Conheci vastos seringais

e no Pará , a ilha de Marajó

E a velha cabana do Timbó

Caminhando ainda um pouco mais

Deparei com lindos Coquerais

Estava no Ceará, terra de Iatapuã

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De Iracema e Tupã

Fiquei radiante de alegria

Quando cheguei na Bahia

Bahia de Castro Alves

Do Acarajé

Das noites de magia do Candomblé

Depois de atravessar as matas do Ipú

Assisti em Pernambuco a festa do frevo e do maracatu

Brasília tem o seu destaque

na arte, na beleza e arquitetura

Feitiço de garoa apela serra

São paulo engrandece a nossa terra

do leste por todo centro-este

Tudo é belo e tem lindo matiz

E o Rio dos Sambas e batucadas

dos malandros e mulatas de requebros febris

Brasil estas nossas verdes matas

Cachoeiras e cascatas

Do colorido sutil E este lindo céu azul de anil

Emoldura em aquarela o meu Brasil

lalalalaiá ......la la lalaiá

Uma Trova de Niterói/RJ

Bruno P. Torres

Tenho, amor, um sonho antigo,

que afinal vou confessar:

chegar às nuvens contigo

numa gôndola, ao luar...

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

DEVANEIO

Andar na praia, com pés descalços

que afundam na areia molhada

sem deixar vestígios.

Sorver a água de um côco,

até o último gole,

relembrando momentos azuis que,

trazidos pelo mar,

arrebentam na alma, em turbilhão.

Viver a vida inteira num só dia,

de maneira intensa e passional,

perpetuada, que seja, “ad infinitum”.

Contemplar as estrelas resplendentes

e segurar com os olhos, a cadente,

formulando pedidos inaudíveis.

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Um Haicai do Paraná

Helena Kolody

Cruz Machado/PR (1912 – 2004) Curitiba/PR

A flecha de sol pinta estrelas na vidraça.

Despede-se o dia.

Uma Trova de São José dos Campos/SP

Myrthes Masiero

Nossa infância é uma criança,

que muito alegre e brejeira,

colhe flores de esperança

e espalha na terra inteira!

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

CENA TRANSITÓRIA

O vento sopra, a folha cai,

o sol se esconde, a noite vem,

a lua passa de cheia a minguante.

Nada na vida é igual,

somos todos mutantes.

O tempo passa sem retornar

e tudo muda

na transitoriedade da vida.

Hinos de Cidades Brasileiras

Osasco/SP

De mãos dadas, unidos, mil sonhos

Gestaremos no sul do querer

O ontem vitória dos tempos

Faz o hoje feliz florescer

É Osasco cantando a História

As glórias de um povo em ação

O movimento dos autonomistas (bis)

E voos que a vista

Dá no coração

Osasco

Osasco brilha

Na América do Sul Foi em Osasco que o Homem

Sonhou e conquistou

O céu azul

Osasco

Osasco trilha

Os corações do porvir

Do trabalho ao esporte: a semana (bis) A arte proclama

Um jeito de ser Brasil

De mãos dadas, cultura e raças

Se embalaram num mesmo querer

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E do sonho se fez a cidade

Que hoje se orgulha de ser

"Osasco - Cidade Trabalho"

Bandeira de um povo em ação

Unido na fé e esperança (bis) Brasão da vitória

Do "SIM" sobre o "NÃO"

Osasco

Osasco brilha

Na América do Sul Foi em Osasco que o Homem

Sonhou e conquistou

O céu azul

Osasco

Osasco trilha

Os corações do porvir

Do trabalho ao esporte: a semana (bis) A arte proclama

Um jeito de ser Brasil

Uma Trova de Juiz de Fora/MG

Arlindo Tadeu Hagen

Não sei de temeridade

maior do que andar sozinho.

A presença da amizade

encurta qualquer caminho.

Um Poema de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

REPRESENTAÇÃO

A vida é uma grande peça

que nos pregam ao nascer.

Dela somos personagens

de tragédias, de comédias,

do teatro do Absurdo

no absurdo do mundo.

De um ato para outro,

em muitas cenas presente,

convencendo em alguns momentos,

em outros não convincente,

passamos de herói a vilão,

conforme a situação.

Inimigos enfrentamos,

que com intrigas e deslealdade

nos surpreendem a cada instante.

Mas, cenas de amor e romance,

alegria e entendimento

vão aliviando a tensão

até que, o final do drama

promete a reconciliação

e o puxar das cortinas

traz a paz aos bastidores,

com o Diretor Geral

abençoando os atores.

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Cecy Barbosa Campos é natural de Juiz de Fora (MG), Bacharel em Direito e Licenciatura em

Letras (inglês) pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialização em Teoria Literária e diversos cursos de aperfeiçoamento em inglês nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Professora de Literatura Inglesa e Norte-Americana, aposentada. Leciona nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Tem artigos de pesquisa literária publicados em revistas especializadas e anais de congresso e trabalhos em prosa e verso premiados em concursos.

Entidades a que pertence Academia Juizforana de Letras. Academia Granberyense de Letras, Artes e Ciências. Academia de Letras Rio-Cidade Maravilhosa; Academia Rio Pombense de Letras, Ciências e Artes. Academia de Letras e Artes de Fortaleza. Clube de Escritores de Piracicaba. Academia de Letras do Brasil/ Mariana. Academia de Letras do Brasil/Seccional Suiça. Ateneu Angrense de Letras e Artes. Associação Brasileira de Literatura Comparada. Academie Mérite et Dévouement Français. Divine Academia des Arts, Lettres et Culture Française Publicações: The Iceman Cometh: a carnavalização na tragédia; O Reverso do Mito e outros ensaios; Recortes da Vida: contos e crônicas; Cenas (poemas); Crepusculares (aldravias). Trabalhos em Congressos e Encontros Literários: O Teatro do Absurdo nos Estados Unidos: uma visão comparativa. Juiz de Fora, 2008; - Escritores Afro-descendentes. Belo Horizonte, 2007; - Conceição Evaristo e Toni Morrison: convergências e divergências; - Toni Morrison`s Beloved: from novel to film. Fortaleza, 2005; - O Teatro Inglês. Muriaé, MG, 2004; - Preconceito em uma sociedade materialista: The Sculptor`s Funeral de Wila Cather. Divinópolis, MG, 2003; - Good Country People, de Flannery O`Connor. 2002; - A presença ausente de personagens femininas em peças de O`Neill. Londrina,PR, 2001; - Women Characters in some of Flannery O`Connor`s short-stories: the reversal of the myth. Gadsden, Alabama, USA. 2000. Participações: – Coleção Prosa e Verso, do Grupo Sul-mineiro de Poesia e Academia Varginhense de Letras. - Modernos Contos Brasileiros. - Antologia da Academia Dorense de Letras. - Antologia Letras Contemporâneas. - Prêmio Missões. - Antologia del`Secchi. – Antologia da Academia Chapecoense de Letras. – Antologia Lumens (prêmio Walmir Ayala, 2012), – A Écrivains contemporains du Minas Gerais (França), – Livro das Aldravias (Portugal), etc.

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Anos Dourados, Maria,

são nossos gritados ais,

nenhuma fotografia,

sequer nunca nem jamais.

Como turista quis ser:

Viver sem construir laços;

mas eu só sinto prazer

após cair em seus braços.

Esqueça das horas mortas,

que o futuro se anuncia,

pois tudo que mais importa

é termos um novo dia.

Esse céu de puro anil,

o nosso mar e as araras

pintam de azul meu Brasil,

a terra das joias raras!

A felicidade é encanto

que se vive por um triz,

mas celebro, por enquanto,

apenas o que Deus quis.

Foi de Maria Fumaça,

a gente ali, lado a lado,

e você esbaldando graça

no meu peito acorrentado.

Formiga não acha feio

mostrar seu fardo no templo;

mas quem come o pão alheio

foge dela pelo exemplo.

Imagem e semelhança,

Deus fez todos filhos seus;

será que alguém afiança

qual é a raça de Deus?

Já fui João de Maria,

trafegando em corda bamba:

Naveguei na calmaria

embalado pelo samba.

Meus passos à beira mar,

vão construindo caminhos,

sob o clarão do luar

entre beijos e carinhos.

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O nosso céu, sempre lindo,

passa dia, cruza era,

faz o verão que vem vindo

nos cobrir de primavera.

O poeta não tem quadrante,

por ser ele universal,

um tremendo viandante,

inclusive virtual.

Paixão, doação, entrega,

cada um sabe da sua;

ninguém vê como se apega,

mas vai pro mundo da lua.

Quem escreve não se rende,

nem a Brutus nem ao Demo;

pois a pena não se vende

nem atende a Polifemo.

Quem quiser ser um artista,

tem que seguir as canções,

passar a vida na pista

para abalar corações.

Sempre vivi por aí,

sem as razões nem as fontes,

mas o sol, depois que eu vi,

faz-me cruzar quaisquer pontes.

Todos cantam sua terra,

como fez Gonçalves Dias;

mas só Cazuza descerra

os véus das hipocrisias.

Uma vez que o tema é copa,

e tens a bola no pé,

sou do tipo que não topa,

jamais, levar um olé.

Um raio de sol me guia

e por onde o amor impera,

mostrando-me mais um dia

nos reinos da primavera.

Vai sem olhar para trás,

quem acha que sempre acerta,

sem saber que a vida faz

estoque de porta aberta.

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Presença da Trova na mídia Não se sabe exatamente quantos trovadores existem hoje no Brasil. Calcula-se algo por volta de 5 mil. Com atuação permanente, regularmente inscritos nas respectivas seções, e íntimos uns dos outros, há cerca de 2 mil. Os de São Luís do Maranhão se relacionam fraternalmente com os de Porto Alegre, os de Natal com os de Curitiba, os de Nova Friburgo com os de Maringá, os de Belo Horizonte com os de Niterói, como se fossem todos da mesma família, e todos sabem tudo sobre todos. Isso se torna possível por três motivos principais: primeiro, porque é intensa a troca de correspondência entre eles; segundo, porque freqüentemente eles se encontram em suas festas nos mais diferentes lugares; terceiro, porque a trova, além de contar com mídia própria, sempre teve espaço em jornais e revistas, nas emissoras de rádio e televisão e em outros meios de divulgação.

Há dezenas de jornaizinhos (informativos) de circulação mensal, que as seções da UBT editam e distribuem aos seus filiados e às demais seções, gratuitamente ou mediante o pagamento de um valor simbólico pela assinatura. Alguns desses jornaizinhos circulam no país inteiro e ainda em Portugal, de modo que, por exemplo, o anúncio de um concurso, publicado num deles e reproduzido pelos demais, chega rapidamente a todos os trovadores brasileiros e portugueses. O mesmo ocorre com os resultados dos concursos. Dentre os periódicos que promovem ou apóiam a trova, ocorre-nos citar os seguintes: A Rosa (Santos-SP), Bali (Itaocara-RJ), Boletim Informativo da UBT-Rio (Rio de Janeiro-RJ), Calêndula (Porto Alegre-RS), Fanal (São Paulo-SP), Horizonte em Trovas (Belo Horizonte-MG), Informativo da UBT Nacional (hoje editado em São Paulo), Informativo da UBT-SP (São Paulo-SP), Jornal Maringaense (Maringá-PR), Koisalinda (Ribeirão Preto-SP), Literatura & Arte (Vitória-ES), Menestrel (Juiz de

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Fora-MG), Movimento Poético Paranaense (Curitiba-PR), nosso espaço (Rio de Janeiro-RJ), O Estro (Brasília-DF), O Trovador (Natal-RN), Os Trovadores (Curitiba-PR), Quatro Versos (Nova Friburgo-RJ), Trovalegre (Pouso Alegre-MG), Trovanatal (Natal-RN), Trovia (Maringá-PR). Até a década de 1960, quase todos os jornais e revistas brasileiros mantinham colunas, páginas ou até cadernos inteiros dedicados à literatura em prosa e verso. Por ser um poema curto e de fácil compreensão, a trova sempre esteve presente nesses espaços, contando com um número muito grande de leitores. Também a mídia eletrônica divulgava amplamente a trova e outras modalidades de poesia. Poetas como J. G. de Araújo Jorge e Aparício Fernandes, que mantinham programas desse gênero no rádio e na televisão do Rio de Janeiro, graças a isso ficaram famosos em todo o país, chegando a ser recordistas no recebimento de cartas. Hoje ainda, Brasil afora, há um número considerável de colunas especializadas em trovas, com espaço em jornais e revistas, além de programas de rádio e televisão. Rodolpho Abbud comandava há muitos anos um desses programas na Rádio Sociedade de Nova Friburgo, com alto índice de audiência. Marisol em Teresópolis, Maria Thereza Cavalheiro em São Paulo, Alonso Rocha em Belém do Pará, Humberto Del Maestro em Vitória, Flávio Roberto Stefani em Porto Alegre, são outros exemplos de poetas que publicam colunas de trovas em importantes jornais, e todos eles com

estimulante retorno por parte dos leitores. Em Portugal, a poeta Maria José Fraqueza dirige prestigiado programa de trovas na Rádio Gilão, de Tavira. Ultimamente, a Internet tem sido também amplamente utilizada como veículo para divulgação de trovas. Considerem-se ainda as muitas outras maneiras de levar a trova ao povo: em materiais de propaganda, em cartões de telefone, em peças de artesanato, em vários tipos de brindes, em cartazes colados nos ônibus urbanos, em painéis, muros, paredes etc. Na cidade mineira de Pouso Alegre, por exemplo, a Secretaria Municipal da Cultura mandou pintar trovas com mensagens educativas nas paredes de todos os prédios públicos. Todos esses meios de divulgação, somados aos livros que cada trovador periodicamente publica, contribuem para que a redondilha circule por toda parte, espalhando alegres mensagens, algumas fazendo sonhar, outras fazendo rir, todas fazendo pensar. Concursos Os concursos têm como principal finalidade estimular a produção de trovas e estreitar o relacionamento entre os trovadores. Na maioria dos casos, estabelecem-se dois temas, um de âmbito estadual ou regional e outro de âmbito nacional-internacional, abrangendo trovas líricas e filosóficas.

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Em alguns concursos, há também um tema para trovas humorísticas. Cada concorrente participa com um número limitado de trovas, variando de uma a cinco, dependendo do regulamento do torneio. Cada concurso costuma receber de mil a duas trovas. Ao final do prazo estabelecido para a remessa, uma ou mais comissões julgadoras iniciam o processo de avaliação. Dentre as trovas finalistas, são selecionadas as premiadas, na maioria dos casos 15, sendo 5 vencedoras, 5 menções honrosas e 5 menções especiais. A UBT, por princípio, não promove nem apóia concursos com prêmios em dinheiro. Os vitoriosos recebem diplomas e troféus ou medalhas, e são convidados a ir à festa de premiação com despesas de transporte por conta própria. Os promotores oferecem apenas hospedagem e refeições. Se um dos vitoriosos, por algum motivo, não pode comparecer à festa, recebe os prêmios por meio de um representante ou pelo correio. As festas variam conforme os recursos disponíveis. Em média, duram de dois a três dias, constando de passeios turísticos na cidade-sede, recitais, reuniões de estudo, cerimônias religiosas tais como a Missa em trovas, solenidade de premiação etc. É também costume eleger-se a Musa da festa, uma jovem que tenha aparência lírica e que goste de poesia. Mas tudo isso tendo sempre como objetivo principal a confraternização e o fortalecimento da amizade. Aliás, há até uma frase-lema, criada pelo trovador Izo

Goldman, de São Paulo: “A trova, acima de tudo, faz amigos”. Os trovadores têm seu dia: 18 de julho, data de nascimento de Luiz Otávio, que, pela qualidade das suas trovas e por sua incontestável liderança no movimento trovadoresco, mereceu o título de príncipe dos trovadores brasileiros. E também têm seu patrono, São Francisco de Assis, que foi um dos mais importantes trovadores do período medieval. Não há uma estatística atualizada quanto às atividades profissionais dos trovadores. Observa-se, porém, que, em maioria, são pessoas de escolaridade média ou superior. Fernandes (1972, p. 80) fornece um quadro que pode pelo menos servir de base. Na época, as 20 profissões com maior número de representantes entre os trovadores eram, pela ordem: professores, jornalistas, servidores públicos, advogados, médicos, bancários, militares, dentistas, radialistas, contabilistas, magistrados, engenheiros, farmacêuticos, empresários, musicistas, promotores de justiça, sacerdotes, diplomatas, publicitários e atores. Quanto ao sexo, há bastante equilíbrio, algo bem próximo do meio, embora ultimamente as mulheres comecem a constituir maioria: cerca de 60%. No que se refere à idade, há predominância de pessoas com mais de 50 anos. A trova é, por excelência, uma arte da terceira idade, embora existam muitos jovens entre os melhores trovadores. O grande número de idosos talvez se explique pelo fato de serem em geral

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aposentados, com mais tempo disponível para escrever e também para participar de concursos e encontros. Muitos chegam a falar em “trovaterapia”, aludindo aos benefícios que tal prática lhes traz à mente e ao coração. Exportação A trova brasileira tem chamado a atenção de adeptos da poesia no mundo inteiro. Muitas delas têm sido vertidas e “exportadas” para outras línguas, sem perder a graça original. Fernandes (1972, 37) fala sobre isso, dando a seguir alguns exemplos: “Não é apenas no idioma português que a trova é fascinante. Seja na musicalidade da língua italiana, seja na rispidez da alemã, no francês gutural ou no inglês objetivo, as qualidades fundamentais da trova permanecem”. Trova de Aparício Fernandes, vertida por Héctor Strazzarino para o espanhol:

Se a gente, quando falasse, meditasse antes um pouco,

talvez o mundo ficasse mais feliz e menos louco!

Si la gente, cuando hablase, meditara antes un poco, tal vez el mundo quedase más feliz y menos loco!

De Augusta Campos, vertida para o italiano por Carmen Sala:

Não deixes que te apoquente o que passado já está.

Cuida bem do teu presente, do porvir Deus cuidará.

Non lasciar che ti tormente del passato quel che sta. Ti cura bem del presente,

al doman Dio pensera.

De Luiz Otávio, vertida para o alemão por Ignez Teltscher:

Maria dos meus amores, a minha noite, o meu dia! Maria das minhas dores, tu és um mundo, Maria!

Maria meiner Liebe, Maria meiner Schmerzen!

Meines Tages und meiner Nacht, Die Welt in meinem Herzen!

Também de Luiz Otávio, vertida para o inglês por C. Victor Stahl:

Olhando a melancolia que tu levavas no olhar, lembrei-me da lua fria

sobre uma campa a brilhar.

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Such melancholy stare seen lurking in your eye,

is like the moon’s chill flare on grave-stones standing by.

Fonte: Agenir Leonardo Victor. A TROVA – O Canto do Povo.

*Agenir Leonardo Victor nasceu em Itápolis/SP, radicou-se em Maringá/PR desde 1949. Formada em Jornalismo pela

Faculdade Maringá, pedagoga, professora aposentada. Detentora de homenagens, medalhas e placas de reconhecimento no Brasil por trabalhos em prol da cultura. Membro da Academia de Letras de Maringá e UBT/Maringá

Anda que anda, Pedro Malasartes chegou a uma cidade onde o maior edifício era o hospital. Havia para mais de duzentos enfermos ali internados, cada um deles padecendo dos mais variados males. Malasartes matutou um pouco e foi procurar o diretor do hospital. -Não há mais lugar – foi-lhe dizendo este ao vê-lo entrar, com medo que fosse mais um doente. Realmente, velho e cansado, o doutor Pulsação já não conseguia dar conta de tantos enfermos. E estava ficando difícil arranjar comida e roupa lavada

para toda aquela gente. É que mais da metade eram de espertalhões que se fingiam de doentes para comer e beber de graça. – Meu bom colega – disse Pedro Malasartes. – Imagine que soube das suas dificuldades e viajei de muito longe para ajudá-lo. Meu nome é doutor Saracura e já acabei com muitas epidemias. Pela módica importância de duzentas moedas prometo esvaziar seu hospital amanhã ao meio-dia. O velho diretor ficou exultante. Estava mais do que barato. O grande médico estrangeiro ia pôr toda aquela gente na rua, curada!

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Havia muitos doentes de verdade, aleijados, paralíticos, loucos… Mas Malasartes deu um jeito de se aproximar de um por um, sempre com a pose de um grande doutor, e, fingindo examiná-los, dizia-lhes no ouvido: – Homem, quem não estiver em condições de sair correndo pela porta da rua amanhã ao meio-dia, será torrado para se preparar um xarope para os outros. Mesmo os que estavam em pior estado – e até os loucos – compreenderam muito bem suas palavras e arregalaram os olhos. E todos trataram de preparar suas trouxas para escapulir dali logo que pudessem. No dia seguinte, Pedro Malasartes mandou abrir de par em par os portões do hospital. Então subiu até a enfermaria, junto com o doutor Pulsação, e bradou: – Quem se sentir curado pode sair correndo pelo portão! Não ficou um só doente na cama. Todos, sem exceção, dos que tinham bronquite a dor de cabeça,

pularam do leito e, com a trouxa nas costas, trataram de dar o fora com quantas pernas tinham. E os que não tinham pernas ou eram paralíticos arranjaram quem os carregasse. O doutor Pulsação ficou boquiaberto com aquele milagre. Em poucos minutos o hospital ficou deserto. O único doente que permaneceu deitado foi um que morrera de noite e por isso mesmo não podia se levantar. Pagou ao extraordinário médico estrangeiro as duzentas moedas pedidas, ao que este se despediu: – Tenho muito que fazer em outras terras. Passou-se uma semana na mais perfeita paz. O doutor Pulsação nunca tivera tanto sossego. Então, meio ressabiados, começaram a voltar os doentes. Mas só os doentes de verdade, que não se aguentavam de pé. Os outros, os aproveitadores, resolveram ficar longe do hospital onde se torrava gente para fazer remédio…

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A ÁRVORE DO ESQUECIMENTO

Talvez fosse um jequitibá, não sei… porém, entrou na história brasileira não pela imponência, mas pela lei que vigorava dentro da fronteira:

aportando aqui, negros africanos arrancados dos seios das famílias,

estampavam no rosto, muitos danos; no corpo, vestes mais que maltrapilhas.

Obrigavam-nos a dar muitas voltas

em torno do velho jequitibá até que ―esquecessem‖ sob os agravos,

as origens e as emoções revoltas…

Após a ronda da mentira má, ficavam livres… pra serem escravos…

TERRÁGUA

Na dança galáctica, eis o planeta, em parte prateado sob lua-cheia

ou dourado ao sol… O fogo o recheia, grafitado em névoa, pura naveta.

Revelou Betânia numa retreta:

todo azul ao longe da astral aldeia vem da santa Virgem que a galanteia

sob o manto anilado da paleta…

Há sonho branco de anseio de paz, de verde vivo… ou de sangue vermelho da insensatez carrasca que se alastra…

Tal lar esférico será capaz

de reversão… ou de se por de joelho contra a teimosia que a vida castra?

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UMA FLOR PARA UM MORTO

Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura! A mão piedosa te coloca em mim

nesse dia em que desço à sepultura na quietude, sem toque de clarim.

És aquela tristeza perfumada

que murchará em minha companhia.

Tanta beleza vai, desperdiçada, desfalecer nessa cova sombria!

Mas és cativa de meu coração

e nos amando, vamos descer juntos, pois no amor há luz, nunca escuridão.

Se a Deus chegarmos, nós dois defuntos,

dirá minha alma, tirando a mortalha: -Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

Maria de Lourdes Pimentel Prata (Lóla Prata), nasceu em Santos/SP, em 1940. Radicou-se em Bragança Paulista, em

1974. Professora primária, presidente da UBT/ Seção Bragança Paulista, idealizadora e fundadora da ASES (Associação de Escritores de Bragança Paulista).

Publicam-se todo ano no Brasil milhares de livros de poesia e prosa de ficção, quase sempre às custas dos próprios autores e em pequenas tiragens. A maioria desses livros não chega às livrarias, que hoje se dedicam a vender obras científicas (literatura médica,

por exemplo), jurídicas, religiosas, filosóficas, infantis, ao lado de livros de auto-ajuda, política, amenidades, romances norte-americanos de segunda categoria e os clássicos da literatura universal e nacional.

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O fim da editora tradicional talvez já tenha chegado. A literatura já estaria praticamente fora dos interesses dos editores e livreiros. A exceção a esta regra seriam os clássicos, que têm como leitores, estudantes e escritores. A literatura nova (presente e futura) será editada por conta dos próprios autores ou pequenas editoras. Para alguns escritores, as editoras não investem em literatura (daqui em diante empregarei o termo literatura apenas para me referir à poesia e à prosa de ficção), a mídia não dá a mínima importância ao livro, não há editoras e livrarias em número suficiente para acolher todas as obras escritas etc. E aí estaria o grande problema do escritor. No entanto, críticos e jornalistas acreditam mais na incapacidade de comunicação da maioria dos escritores com o leitor, uns por serem pobres de talento e conhecimento, outros por terem muito talento e conhecimento e se isolarem na torre de marfim da poesia para poetas, do romance para romancistas etc. Muitos escreveriam para si mesmos ou para outros escritores. Seria uma literatura para iniciados, como se a literatura fosse a linguagem de uma sociedade secreta, com seus símbolos próprios. Seria a literatura fora de mercado, não-mercantil, em contraposição à subliteratura e a uma literatura ―popular‖, do gosto das massas. Edgar Morin, em Cultura de Massas no Século XX (O Espírito do Tempo), teoriza: ―A corrente média

triunfa e nivela, mistura e homogeneíza, levando Van Gogh e Jean Nohain. Favorece as estéticas médias, as poesias médias, os talentos médios, as inteligências médias, as bobagens médias. É que a cultura de massa é média em sua inspiração e seu objetivo, porque ela é a cultura do denominador comum entre as idades, os sexos, as classes, os povos, porque ela está ligada a seu meio natural de formação, a sociedade na qual se desenvolve sua humanidade média, de níveis de vida médios, de tipo de vida médio.‖ E acrescenta: ―Um exemplo de vulgarização ininterrupta esclarecerá esse propósito: O Vermelho e o Negro de Stendhal se torna um filme adaptado aos padrões comerciais; desse filme nasce O Vermelho e o Negro, folhetim em quadrinhos publicado num diário.‖ Esses escritores não-mercantis não estariam voltados para o leitor, para o outro, mas para si mesmos. Segundo Emanuel Medeiros Vieira, ―escrevemos para perdurar, para vencer a poeira do tempo, para despistar a morte, para regar nossos fantasmas e obsessões, para nos comunicar‖. Porém como vamos os escritores nos comunicar com os leitores? Se escrevermos para nós mesmos, não haverá comunicação, e escrever será apenas catarse, psicoterapia, auto-análise. Haveria, então, uma literatura sem mercado ou fora dele e uma literatura produzida especialmente para o mercado. Os livros produzidos para o mercado têm

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cotação: os mais vendidos, os best-sellers, os que interessam diretamente às editoras, aos livreiros e à mídia. Segundo Juan Liscano, em entrevista a Floriano Martins, no livro Escritura Conquistada: ―Enquanto o best-seller, um produto para o mercado, constitui hoje em dia a meta da literatura, a poesia situa-se no extremo contrário, representando, portanto, o não mercantil literário, o trabalho nobre artesanal, o ofício tradicional, mesclado com as funções xamânicas de expressar o humano em transe de universalização arquetipal (a tribo de que falou Mallarmé).‖ Não está descartada a hipótese de uma obra literária tornar-se best-seller. Porém isto se dará quase que por acaso ou dependendo do merchandising do editor. Assim, um grande romance pode em determinado tempo tornar-se o mais vendido em algum país ou em parte do mundo. Foi o caso dos Versos Satânicos, de O Nome da Rosa e outros. São ainda de Edgar Morin as seguintes observações: ―Em certo sentido aplicam-se as palavras de Marx: ―a produção cria o consumidor… A produção produz não só um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto‖. De fato, a produção cultural cria o público de massa, o público universal. Ao mesmo tempo, porém, ela redescobre o que estava subjacente: um tronco humano comum ao público de massa.

Em outro sentido, a produção cultural é determinada pelo próprio mercado. Por esse traço, igualmente, ela se diferencia fundamentalmente das outras culturas: estas utilizam também, e cada vez mais, as mass-media (impresso, filme, programas de rádio ou televisão), mas têm um caráter normativo: são impostas, pedagógica ou autoritariamente (na escola, no catecismo, na caserna) sob forma de injunções ou proibições. A cultura de massa, no universo capitalista, não é imposta pelas instituições sociais, ela depende da indústria e do comércio, ela é proposta. Ela se sujeita aos tabus (da religião, do Estado etc.), mas não os cria; ela propõe modelos, mas não ordena nada. Passa sempre pela mediação do produto vendável e por isso mesmo toma emprestadas certas características do produto vendável como a de se dobrar à lei do mercado, da oferta e da procura. Sua lei fundamental é a do mercado.‖ Em outra página o filósofo francês acrescenta: ―No entanto, se nos colocarmos do ponto de vista dos próprios mecanismos do consumo e do ponto de vista do tempo, podemos considerar que ao longo dos anos, os temas que desabrocham ou desfalecem, evoluem ou se estabilizam no cinema, na imprensa, no rádio ou na televisão, traduzem certa dialética da relação produção-consumo.‖

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Não se pode colocar a alternativa simplista: é a imprensa (ou o cinema, o rádio) que faz o público, ou é o público que faz a imprensa? A cultura de massa é imposta do exterior ao público (e lhe fabrica pseudo-necessidades, pseudo-interesses) ou reflete as necessidades do público? É evidente que o verdadeiro problema é o da dialética entre o sistema de produção cultural e as necessidades culturais dos consumidores. Essa dialética é muito complexa, pois, por um lado, o que chamamos de público é uma resultante econômica abstrata da lei da oferta e da procura (é o ―público médio ideal‖ do qual falei) e, por outro lado, os constrangimentos do Estado (censura) e as regras do sistema industrial capitalista pesam sobre o caráter mesmo desse diálogo. ―A cultura de massa é, portanto, o produto de uma dialética produção-consumo, no centro de uma dialética global que é a da sociedade em sua totalidade.‖ Na verdade, o grande problema do livro não está na distribuição, ao contrário do que afirmam algumas pessoas. Porque mesmo que as livrarias que são poucas no Brasil aceitassem os livros de todos os escritores, ou de grande parte deles, mesmo assim não estaria garantida a comercialização dos livros editados. Não há leitor para literatura, especialmente poesia e prosa de ficção. A circulação das obras literárias é e deverá ser sempre restrita a outros escritores, estudiosos,

pesquisadores, críticos, estudantes etc. Livros com distribuição garantida a todas livrarias e bancas de revistas são aqueles livros produzidos com os ingredientes da violência, cenas de sexo, drogas etc. Os best-sellers norte-americanos são o melhor exemplo desse tipo de ―literatura‖. As livrarias não aceitam livros editados por pequenas editoras, geralmente criadas por um escritor para editar os próprios livros. E quem são os escritores que têm leitores? Os melhores? E quem são os melhores? Geralmente os melhores são eleitos pelos professores de literatura e pelos críticos. Os primeiros, talvez por falta de tempo, já chegam às cátedras das Faculdades de Letras com os mesmos nomes de sempre, os escritores que leram e estudaram: Fernando Pessoa, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Carlos Drummond, Manuel Bandeira e poucos outros. Mesmo grandes poetas e prosadores são esquecidos, como Jorge de Lima. Dirão: daqui a 50 anos outros nomes serão incluídos nessa lista dos melhores. Será a sua vez - dizem, como consolo ao escritor de hoje. O grande público, porém, não conhece esses bons escritores. Isto é, um pequeno número de pessoas, ilustres leitores e estudiosos, selecionam os melhores. Moacyr Scliar resumiu a questão escritor-leitor, valendo-se de palavras de outros grandes escritores: ―Quem não espera um milhão de leitores não deveria

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escreve‖, dizia Goethe, mas desde então as expectativas têm sido mais modestas. Stendhal: ―Escrevo para apenas cem leitores, e desses seres infelizes, amáveis, encantadores, conheço apenas um ou dois‖. Arthur Koestler levou mais adiante a fórmula dos ―cem leitores‖: uma centena, sim, mas que possam ser trocados por dez ao cabo de uma década e por um único no fim de um século.‖ (Revista Literatura n.º 3, dezembro, 1992). O público de jornal, de revista semanal e de televisão não tem interesse por literatura. Mesmo a literatura mais banal, mais popularesca, mesmo essa não tem grande público. Daí a mídia não ter interesse nela. Ora, a política, nacional e internacional (agora mais do nunca, com a globalização da informação), os esportes, o crime, a música pop têm público, grande público. Daí as muitas páginas nos jornais. E os melhores horários na televisão. Eloésio Paulo, em seu recente Teatro às Escuras – Uma Introdução ao Romance de Uilcon Pereira, afirma: ―A propósito das relações entre o texto literário e o padrão de comunicação estética estabelecido pelos veículos de comunicação de massa, o poeta João Cabral de Melo Neto já apontava em 1954 para a necessidade de um comércio maior entre as formas poéticas e novos meios de difusão. Cabral destacava principalmente as virtualidades do rádio como difusor da poesia; apresentava, como uma direção inevitável para o poeta

moderno, reformular sua posição enquanto agente de um processo de comunicação, ao mesmo tempo mantendo a alta elaboração estética na base de seus objetivos e procurando abrir-se à possibilidade de atingir o grande público. Via-se o poeta, portanto, diante de um impasse representado pela concorrência dos mass-media, que por outro lado encerrava, dialeticamente, a própria saída ou solução, já que o tornar a poesia capaz de ―entrar em comunicação com os homens nas condições que a vida moderna oferece‖ era, para Cabral, a ―contraparte orgânica‖ da luta pela expressão poética desobstruída do tom oratório característico do lirismo tradicional.‖ E diz mais: ―Se a ficção do período (anos 50 e 60) não ignorava a cultura de massas, é certo que encerrou a problemática em outros termos, distanciando-se do mundo racionalmente administrado da sociedade em industrialização para mergulhar nos impasses da consciência individual e nas indagações metafísicas, coincidindo os escritores mais importantes numa pesquisa estética em nada dirigidas para a massificação da literatura.‖ Há alguns anos os jornalistas eram, antes de tudo, escritores, como Machado de Assis e outros. Os donos dos jornais ou os editores-chefes precisavam desses escritores. Sem eles, não teriam como editar seus periódicos. Daí também os suplementos literários, que certamente nunca ressurgirão. Não havia ainda os

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cursos de comunicação. Mesmo assim, ainda hoje temos os artigos assinados, sim. Porém seus autores geralmente são políticos profissionais, sociólogos ou economistas. Que eventualmente podem ser escritores. Edgar Morin cita um trecho de Robert Musil, em O Homem sem Qualidades, quando o personagem

Arnheim pergunta: ―Você não notou que nossos jornalistas ficam sempre melhores e nossos poetas sempre piores?‖ E tira sua conclusão: ―Efetivamente, os padrões se enchem de talento, mas sufocam o gênio. Um copy desk do Paris-Match escreve melhor que Henri Bordeaux, mas não saberia ser André Breton.‖

Fontes: http://www.vastoabismo.xpg.com.br/

Biografia do autor no artigo de José Feldman: Nilto Maciel, mago das almas.

BENDITO SEJA…

As palavras o tempo apaga e arrasta – pétalas soltas, ao sabor do vento…

O livro é escrínio que resguarda e engasta as jóias perenais do pensamento!

O livro é amigo silencioso. E basta

que traga em si o gérmen do talento,

para, banindo a dúvida nefasta, mentes clarear e aos sonhos dar alento!

Bendito o livro que mantém o lume

do saber, a ajudar a erguer-se um povo que na cultura o seu lugar assume!

Bendito seja quem imita os astros, valorizado, a cada instante novo,

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à luz de um livro, que lhe doura os rastros!

CÂNTICO DE FÉ

Manhã de sol, fragrante a maresia! A vida a pedir vida, de asa ao vento…

Cada suspiro alenta o novo dia e cada instante vale o novo alento!

O sonho espera na amplidão vazia…

E o vazio recua no momento em que o Amor se antecipa, na alegria de recompor os sonhos em fragmento!

Ouro jorra do azul. Rebrilha o sol.

Desdobram-se as alvuras do arrebol e em taça cristalina a aurora dá-se!

O céu é fonte a transbordar de luz!

E, enquanto a Deus entrego a minha cruz, eu bebo Fé nesta manhã que nasce!

PRESENÇA

Tão feminina e triste, minha amiga, não queiras com teu jeito amargo e doce,

instilar-nos no sangue o fel da intriga: – basta o suplício que este adeus nos trouxe!

Nosso amor é tão grande… não periga!

Ao teste da distância, confirmou-se. Deixa que a vida sua estrada siga… Nossa estrada, por ora, bifurcou-se.

Terna, dizes que beijas seus cabelos…

Eu asseguro que não tenho zelos por estares, fiel, sempre ao seu lado:

– Ora, saudade, não me fazes ciúmes! – Ao lado dele, minha forma assumes

e, junto a mim, tens o seu rosto amado!

Carolina Ramos, "Primeira Dama da Trova Brasileira", reside em sua cidade natal, Santos/SP, nascida em 1924. Professora,

musicista, poetisa, escritora, presidente da seção de Santos da União Brasileira de Trovadores, membro da diretoria nacional desta entidade.

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- Pronto, - Quem? - Quer falar com quem? - Com o dono da casa. - Tá falando com ele. - Bom dia. - Bom dia. -Tudo bem? - Bem. - Qual o nome do senhor? - Por quê? - Queria confirmar o endereço. - Por quê? - A associação pediu. - Que associação? - Na que eu trabalho. - Como é o nome? - Qual? O meu? É Efigênia. - O seu, não!!

- Qual? - O desta associação. - Ah, é a Salet - A dona da associação? - Não, se é associação não tem dono. Salet é a sigla. - Sigla da associação? - É. - E o que vem a ser Salet. - O senhor tá me gozando? - Não, por quê? - Vai dizer que o senhor não sabe o que significa Salet? - A única Salete que eu conheço é a mulher de um amigo meu. - O senhor lê jornal? - Só a página de esporte. - Revista? - As vezes. - E televisão? - Assisto.

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- E nunca ouviu falar da nossa associação ? - Não, palavra que não. Nunca li, vi e ninguém me falou dela. Juro. - Desisto. - A senhora me desculpe, dona... Como é mesmo o nome da senhora? - Efigênia. Senhorita, por favor. - Pois bem, Efigênia, a senhorita vai desculpando minha ignorância. Agora, me diga o que significa esta tal Salet? - A gente fez um trabalho danado de divulgação e só hoje mais de oito não sabem o nome da nossa associação. Qual o nome do senhor? - João. - O senhor é daqueles... - Não precisa me chamar de senhor. - Geralmente trato os homens casados de senhor. - E quem te disse que sou casado? - Imaginei. - Como, imaginei? - Sei lá, pela sua voz, o timbre. Lembrei de um tio carrasco, irmão da minha mãe, que batia nos meus primos por qualquer coisa. - Sou solteiro e não sou carrasco. Gostaria que me perdoasse, fui indelicado. É que eu estava no banho. Estou todo ensaboado... - Agora sou eu quem tem que pedir desculpas.

- O telefone tocou e eu vim correndo. O chão tá todo molhado. Você espera um pouquinho? - Como? - Meus olhos estão ardendo. Entrou sabonete. Vou lá no banheiro jogar uma água. Não demoro. ----- - Alô, alô, Efigênia! Você ainda tá aí? - Tô sim. Aproveitei que você foi no banheiro e fui também. Como você é? - Fisicamente? - É. - Mais pra gordo do que pra magro e mais pra alto do que pra baixo. Moreno claro. E você? - Não gosto do meu corpo. - Como ele é? - Uma tábua. - Não esquente. De cada dez mulheres, nove não gostam do corpo que têm. - Mentira, Você só está falando isso pra me animar. - Verdade. Vi numa revista. A pesquisa foi feita nos Estados Unidos, Europa e América Latina. Pode crer, 90 por cento das mulheres querem modificar alguma coisa. Você faz parte desta maioria avassaladoramente insatisfeita. Imagino que o seu corpo deve ser bem esbelto. Qual a cor dos seus cabelos? - Hoje eles estão pretos, mas já foi de várias cores. Mas o original é preto. - Onde fica a associação? Vou aí fazer uma visita.

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- Você não sabe nem o significado da sigla, vem fazer o que aqui? - Te ver. - Por quê? - Gostei de você. - Sério? - Sério. Você transmite muita segurança ao mesmo tempo em que percebo uma certa desilusão. - Nossa!! Você é psicólogo? - Não. - Realmente, tô vivendo uma fase... - Terminou o namoro? - É isso aí. - Muito tempo? - Seis anos. - Você deve estar bastante machucada. - Pra caramba. - Isto passa. Vou dizer uma frase que é lugar-comum, mas que nestas horas é importante: o tempo é o melhor remédio. - Obrigada, João... - Você está chorando? - Me desculpe, mas é que eu ando meio manteiga derretida ultimamente. - Vou aí te conhecer. - Vem. Agora? - É. O que esta associação faz, onde fica?

- A Salet é a Sociedade Amigos Leais dos Extras Terrestres, fica aqui na... - Pera aí, amigos leais dos extras terrestres? - É, por que o susto? - Por que você ligou? - Para pedir uma doação. - Pra quê? - Para ajudar na construção do hotel fazenda para os viajantes intergaláticos. - Sei, sei - Dependendo da doação, você terá desconto na hospedagem. E com qualquer quantia você se torna um associado, com direito a carteirinha da Salet e tudo o mais - Tudo mais o quê, por exemplo? - Você assegura seu lugar em voos para outros planetas e um passaporte espacial permanente. E o melhor: contatos em todas as fases. - Contato em todas as fases? - É, em primeiro grau, segundo e terceiro. Vou ser mais explícita: você pode até transar com um extra-terrestre. — Você já transou? - Não, a minha contribuição é pequena. Me limito a ver os filmes. - Filmes? - É, dos discos, pegadas dos chupa-cabras, coisas assim. - Ah, tá

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- Você vem? - Me lembrei de um compromisso. Não vou poder ir hoje aí, mas quando der eu apareço. - Aparece sim. A gente precisa de pessoas inteligentes como você na nossa associação. Temos que mostrar aos habitantes do planeta Terra que não é mais

admissível viver egoisticamente, que existem outros seres no universo. Sabe, João, a nossa missão... João, João... Desligou. Ele me parecia tão sensível... Como é difícil ser uma mensageira intergalática. Fonte: PAULA, Antonio Roberto de. Da minha janela. Maringá,2003

O jornalista Antonio Roberto de Paula, sócio-proprietário da TV Clipping Maringá, nasceu na cidade paulista de

Lupércio, em 17 de junho de 1957. A mudança para Maringá ocorreu em 1959. De Paula concluiu o curso primário em 1967, em Engenheiro Beltrão (PR), onde a família residiu até meados de 1972.Em 1968 estudou no Seminário Verbo Divino, em Ponta Grossa. De 1969 a 1976, fez o ginásio e o científico, em Maringá. Ingressou no curso de Letras na UEM (Universidade Estadual de Maringá) em 1981, mas desistiu do curso. Em 2001, formou-se em Jornalismo pelo CESUMAR (Centro Universitário de Maringá). Em 2003, fez o curso de pós-graduação Língua Portuguesa – Teoria e Prática, pelo Instituto Paranaense de Ensino e Univale (União das Escolas Superiores do Vale do Ivaí). Cursou Mestrado em Letras na UEM. Antes de atuar profissionalmente na imprensa, De Paula foi escriturário na Transparaná (1977), funcionário público municipal (1977 a 1979), tendo trabalhado na extinta Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maringá) e Secretaria de Fazenda; bancário (1979 a 1985), no Centro Regional do Bradesco-Maringá; e foi proprietário do Bar do Toninho (1985 a 1990), na avenida Dr. Alexandre Rasgulaeff, no Jardim Alvorada, em Maringá. Desde a adolescência escreve poesias, contos, crônicas e artigos, inclusive com publicações desde a década de 1970, nos jornais O Diário do Norte do Paraná, O Jornal de Maringá e Jornal do Povo. Sua primeira experiência efetiva no jornalismo ocorreu em 1975, no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, com o jornal Skeletus , do CETA (Centro Estudantil Tristão de Athaíde). Publicado até 1977. Em 1981, foi colaborador do Voo Livre, suplemento de O Diário publicado às sextas-feiras. Seu primeiro emprego efetivo na imprensa foi no Jornal do Povo, em 1991, como colunista de futebol amador, passando depois para a editoria de esportes e escrevendo a coluna Visão de jogo. Neste mesmo ano atuou como comentarista da extinta Rádio Metropolitana (Rádio Jornal). Em 1992 e 1993 trabalhou como comentarista em transmissões de futebol amador pela RTV Maringá. Em 1993, deixou o Jornal do Povo e se transferiu para a sucursal do Correio de Notícias, jornal curitibano que encerrou as atividades na cidade no ano seguinte. Lá, foi colunista e editor de esportes. Ainda em 1993, deixou a RTV indo para a TV Maringá (Band) para ser editor, pauteiro e produtor do programa diário Esporte por Esporte, onde permaneceu até 1995. Neste período, De Paula também foi produtor e comentarista do programa Atalaia

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Esportiva, da Rádio Atalaia de Maringá. De 1995 a 1997, trabalhou no O Diário exercendo as funções de editor de esportes, colunista do DNP Esporte, repórter de matérias políticas e locais, pauteiro e secretário de redação. De 1997 a 1998 foi repórter da Revista M-9. De 1997 a 1999 escreveu crônicas, artigos, poesias e contos na coluna Linha Expressa, no Jornal do Povo. Em 1998 e 1999 atuou como editor-chefe do departamento de jornalismo da TV Cidade – Sistema NET. Em 2000, foi repórter, pauteiro e colunista do jornal Hoje Maringá. De Paula e o jornalista Cláudio Viola são parceiros em composições em que incluem os hinos do Maringá Futebol Clube (1996), do Grêmio Maringá (2000) e as músicas Maringá Velho, gravada em 2003 pela cantora maringaense Márcia Mara, e Cabrito na horta, classificada no FEMUCIC (Festival de Música Cidade Canção), gravada por Helington Lopes (que também foi um dos compositores) e o grupo Receita do Samba. Em 2002, abriu com a jornalista Simone Labegalini a TV Clipping Maringá. No início de 2003, De Paula trabalhou como produtor, repórter e comentarista do programa Estação Comunitária, da Rádio Comunitária São Francisco FM, do Jardim Alvorada, retornando no ano seguinte. Foi responsável juntamente com seu filho Guilherme Tadeu de Paula da sucursal em Maringá do jornal londrinense Paraná Shimbun, em 2003 e 2004, e um dos produtores do programa Beca TV, da TV Clipping Maringá, com Guilherme Tadeu e Allan Oliveira, em 2004. Em 2003, publicou o livro Da minha janela, de crônicas, artigos, poemas, contos inéditos e já publicados. Em 2005, dirigiu o videodocumetário Crônica democrática de uma cidade brasileira , sobre as Eleições 2004, numa produção da TV Clipping Maringá, com roteiro de Guilherme Tadeu de Paula e fotografia e montagem de Allan Oliveira. Foi nomeado assessor de imprensa da Câmara Municipal de Maringá em 1997, vindo a ocupar a chefia do setor no final de 1999. Membro da Academia de Letras de Maringá.

Fonte: TV Clipping Maringá . http://www.tvcm.com.br/

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FOLHAS ESPARSAS

Quando a tarde ao cair, toda dourada,

lenta transmuda em gradações cambiantes, sinto minha alma, sensibilizada,

afinar-se ao sabor dos tons mutantes.

E os versos que componho em tais instantes assumem cor ardente ou desmaiada:

vivos, do leve Alegro aos sons vibrantes, tristes, do grave Adágio à dor velada.

São notas desprendidas da sonata,

dispondo um clima de jovial Cantata, ou da Pavana o sufocado grito.

São folhas soltas, pelo vento esparsas... Verdes ou murchas, voam como garças, deixam meus sonhos no azul do infinito.

UM OLHAR SOBRE SOROCABA

Em pleno ciclo de tantas tropeadas, quer de mulas, ou quer também de bois,

Sorocaba levanta as mãos armadas... Mil oitocentos e quarenta e dois.

Passa o século. A poeira das estradas vai-se apagando e vão florir, depois,

as lindas laranjeiras carregadas... Mil novecentos e quarenta e dois.

Os ciclos vão-se de outros distanciando...

Do bandeirante ao têxtil se afastando, a indústria abre, imponente, o seu roteiro.

E hoje, aos ventos do tempo e seus avanços,

Sorocaba levanta os braços mansos,

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e torna irmãos... filhos do mundo inteiro.

VENTO DE OUTONO

Da tarde ao tom sombrio me abandono, e um clima estranho vem-me dominar.

Eu não sentira que já era outono, nem percebera meu verão passar.

Agora o vento, em arrogante entono, maltrata as folhas mortas a tombar,

mesclando-as pelo chão, sem lar, sem dono, órfãs dos ramos nus a se agitar.

Também meus sonhos tombam lentamente aos desenganos que os batem de frente,

nem mais resiste uma ilusão, agora.

E o vento torce a haste enrijecida da flor despetalada e ressequida

de uma esperança que restou, de outrora..

Dorothy Jansson Moretti nasceu em Três Barras/SC, em 1926, indo para Itararé, SP, aos dois anos de idade.

Estudou em Castro e Londrina/PR. Graduou-se em São Paulo/SP. Começou a escrever poesias aos dezesseis anos. Mudou-se para Sorocaba, SP, em 1956, e nessa cidade publicou durante algum tempo, poesias e crônicas nos jornais locais . Em 1970 mudou-se para a capital de São Paulo, tendo lecionado Inglês em escolas dessa cidade, aposentando-se no Instituto Mackenzie em 1987. Tem poemas publicados em jornais, revistas e antologias de alguns estados brasileiros. Em parceria com o Maestro Gerson Gorski Damasceno, fez a letra do Hino a Itararé quando recebeu seu Título de Cidadã Itarareense. Em 1995 voltou a residir na cidade de Sorocaba/SP. Vários livros publicados. Faleceu em 2017.

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Durante meses, Panetôncio frequentou um consultório psiquiátrico com a reclamação de que havia um imenso jacaré debaixo de sua cama. — E toda noite ele me mostra uma boca cheia de dentes… — Não são dentes, são presas. E não se diz ―boca‖. Jacarés não têm boca, e sim mandíbulas. — Não importa, doutor, o caso é que não agüento mais. O médico tentava persuadir o paciente de todas as formas possíveis: — Panetôncio, você não reside num prédio de apartamentos em plena Barra da Tijuca com segurança, circuito interno de televisão e alarmes por todas os cantos? — Perfeito, mas o jacaré me amedronta apesar de toda essa tecnologia de ponta. — Não existe nenhum jacaré.

— Claro que existe, doutor. E a cada dia parece mais furioso. — Só na sua imaginação. — Não é imaginação, doutor, é real. — Sua esposa viu esse suposto jacaré? — Não. — Nem seus filhos?… — É verdade! — Seu sogro chegou a dormir uma noite no quarto e também nada viu, ou ouviu? — Meu sogro dorme mais que a cama. É só recostar a cabeça e no minuto seguinte está contando carneirinhos. — Sua sogra? — Uma besta quadrada. Não enxerga um palmo adiante do nariz. A única coisa que sabe fazer, e cá entre nós, muito bem, é ver defeitos em mim e maquinar intrigas do arco da velha com minha mulher. — Seu irmão dormiu lá com a esposa dele, na semana passada, não dormiu?

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— Dormiu. — E não viu nem ouviu absolutamente nada? — Meu irmão, doutor, só pensa naquilo 24 horas por dia. Não tem uma noite que deixe a mulher descansar em paz. Esteja em casa ou na casa dos outros. Nem os dias sagrados da companheira - o senhor compreende -, aqueles do famoso ―lacinho vermelho‖, ele respeita. — Fazer amor faz um bem danado à saúde, Panetôncio. Alivia o estresse do dia-a-dia. A alma se liberta das tensões e fica mais leve e solta. Concorda? — Concordo, doutor, concordo plenamente. Mas o senhor precisa entender o seguinte: balançando o esqueleto, ele não vai ver nada, como, aliás, não viu. E o jacaré continua embaixo da minha cama, tranqüilo, sem problemas, me enchendo o raio do saco. — Insisto, Panetôncio, que não há nenhum jacaré debaixo da sua cama. Volte para seu quarto e procure ficar em paz. Sua esposa, da última vez que falou comigo, reclamou que, por causa desse bendito jacaré, você não só mudou de quarto, como abandonou a cama. Esse negócio está me cheirando a outra coisa… — Que outra coisa, doutor? — Amante. Você arranjou uma namoradinha e está engabelando dona Líliam com essa história sem pé nem cabeça.

— Não trairia minha cara metade por nada deste mundo. Ainda que encontrasse a Bruna Lombardi peladinha, dos pés a cabeça. — Escute o que vou dizer: sua esposa, com essa conversa toda, está abalada. Muito abalada. Sem contar que também está necessitada. Mulher necessitada é perigosa. Começa a subir pelas paredes. Se você não dá conta, não comparece… — Sei disso tudo doutor. Mas como posso me concentrar? — Você pode. Você é um homem ou é um rato? — Depois que o jacaré apareceu comecei a ter dúvidas sobre minha masculinidade. Acho que sou um coelho assustado. E coelho tem medo de jacaré. Li algo a respeito numa revista especializada em animais. O doutor seguia na sua linha de conduta e perseverava com acirrada veemência na ânsia de demover a idéia fixa da cabeça de seu paciente. — O jacaré, Panetôncio, ou melhor, esse famigerado jacaré é apenas uma alucinação passageira, fruto da sua estafa, da sua debilidade. Resumindo, meu amigo, coisa provocada pelo excesso de trabalho e pela fadiga. Você tem se desgastado muito, ultimamente. Sua ocupação, na Bolsa de Valores , compreendo , é muito pesada e irritante. Deixa os nervos a flor da pele, a cabeça a mil, os neurônios em frangalhos. Sei que não é fácil passar o dia inteiro com três telefones no ouvido…

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— Quatro, doutor, quatro. — Que seja! Três, quatro ou apenas um, não importa. O que conta, o que faz diferença, é você estar o tempo todo gritando, berrando e gesticulando feito um desmiolado das idéias. Preste atenção no conselho que vou lhe dar, e vou fazê-lo como seu amigo, não como médico. Tire uns dias e saia com a família em férias. Coloquei, inclusive, meu sítio, em Pedra de Guaratiba, à sua disposição. Está lembrado? — Estou, doutor. Mas o jacaré está cada vez mais esfomeado. Se o senhor, que é um especialista, que estudou anos a fio para procurar dar uma solução plausível para o meu caso e, no final das contas, não puder, ou não conseguir me ajudar, quem poderá me levar à cura dessa droga, ou à droga dessa cura? O rapaz continuou a frequentar, ainda por um bom tempo, as seções no consultório, como sempre fazia, todas as quartas-feiras, na parte da tarde. Com isso, o médico estava quase convencendo a criatura de que tudo não passava, realmente, de fantasias e devaneios oriundos de um desgaste físico e mental acima da linha do ponderável, e que, em decorrência disso, se levasse os próximos encontros mais a sério, logo sairia completamente restabelecido. Entretanto, por três quartas-feiras seguidas, Panetôncio não compareceu ao consultório, nem comunicou à secretária o motivo de sua ausência.

Apreensivo e visivelmente preocupado, o psiquiatra ligou para a residência de seu cliente. — Gostaria de falar com seu Panetôncio — disse o doutor à mulher com a voz chorosa que o atendeu. — O Pane morreu… Quero dizer, o Panetôncio faleceu… — respondeu a pessoa, em soluços. — Com quem falo? — Líliam, a esposa. — Dona Líliam, sou eu, o médico psiquiatra do seu marido. — Doutor, desculpe não tê-lo avisado antes. Sabe como são essas coisas. Uma correria: liberar corpo no IML, correr atrás de funerária, avisar todos os parentes e amigos, cuidar do enterro, fretar ônibus, comprar flores, coroas, escolher cemitério, ver jazigo, colocar anuncio em obituário de jornal, marcar com antecedência a missa de sétimo dia, uma loucura! — Estou pasmo, dona Líliam. Fiquei realmente sem saber o que lhe dizer… — Pois é. O senhor que é médico ficou assim, assombrado, praticamente sem saída. Imagina como estamos nós que convivíamos diariamente com ele. E todo o resto da família. Completam sete dias, amanhã. A propósito, gostaria que o senhor viesse para a missa. Vai ser na Igreja de Nossa Senhora das Cabeças, na Rua Belizário Pena, ali na Penha. — Farei o possível. De qualquer forma, minhas sinceras condolências.

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— Obrigada, doutor. — Por favor, esclareça uma dúvida, dona Líliam. Panetôncio morreu… Morreu de quê?

— Foi devorado por um jacaré que estava escondido debaixo da cama dentro do nosso próprio quarto.

Aparecido Raimundo de Souza, jornalista e escritor, nasceu em Andirá/PR, em 1953. Escreve, desde os 14 anos,

mas só conseguiu publicar seu primeiro trabalho em livro, em 2006. Free lance da Revista ISTO É, Jornal "O DIA e revista "QUEM". Escreveu e publicou, pela Editora Taba Cultural, Rio de Janeiro, os livros ''QUEM SE ABILITA?'' com o prefácio do escritor Paulo Coelho, em 3ª edição, ''COM OS CHIFRES À FLOR DA CABEÇA'', 2ª Edição, ''AS MENTIRAS QUE AS MULHERES GOSTAM DE OUVIR'', 5ª Edição, ''REFÚGIO PARA CORNOS AVARIADOS'', 2ª Edição. Seu último livro, “LIGAÇÕES PERIGOSAS”, virou minissérie na Rede Globo. Em todos estes livros, Aparecido reuniu 25 crônicas nos mais variados temas. Os textos retratam o cotidiano das pessoas. São escritos leves e soltos, alguns cheios de intransigências, outros salpicados de ironia e muita irreverência e picardia. Seu estilo lembra o escritor gaúcho Luiz Fernando Veríssimo, embora tenha criado uma grafia própria e inconfundível que cativa o leitor. Fonte: http://aparecidoraimundo.blogspot.com.br/p/blog-page.html

O VÍRUS DA POESIA

Poesia é a minha paz, meu mundo, meu universo;

um mar de sabedoria onde eu vivo submerso; é minha alimentação,

é meu sustento, é meu pão

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feito de rima e de verso... A partir da madrugada é esse o meu dia a dia: já de caneta na mão recebo uma epifania,

cuja manifestação é trazer-me inspiração

pra eu fazer minha poesia...

A poesia é minha luz, é meu santo e meu altar, feijão puro com farinha

que eu tenho para almoçar; ela é minha própria vida é meu lar, minha guarida

meu sol, meu céu e meu mar!

Ao ver poesias aos montes nascendo em minha vertente, tive um ―derrame‖ de rimas nas veias da minha mente e um maravilhoso ―infarto‖

eu tive ao fazer o parto do derradeiro repente!...

Quero então no meu jazigo, feito em letras garrafais,

aquela minha poesia que me deu nome e cartaz;

e escrito, seja onde for: - eis aqui um trovador

que morreu feliz demais!

Quem carrega, como nós, o vírus da poesia,

tem no sangue uma plaqueta que se altera todo dia,

aumentando a quantidade e pondo mais qualidade

nos versos que a gente cria.

FALANDO DE SERTÃO...

Pra retratar o sertão em sete versos apenas, mergulho na natureza

busco inspirações serenas e qual um grande pintor

para a obra ter mais valor, crio minhas próprias cenas!

Eu vendo uma flor se abrindo

me causa muita emoção, também vejo encantamento nos giros de um foguetão; minha emoção continua

quando a noite eu vejo a lua

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iluminando o sertão.

O chiado da porteira, a debulha de feijão,

uma caçada de peba, uma noite de São João;

a coalhada na tigela jumento, cavalo e sela,

são coisas do meu sertão.

O sertão me ensinou mais a gostar dos cantadores;

do pobre homem do campo,

aprendi sentir as dores; imitar os passarinhos

e correr pelos caminhos sentido o cheiro das flores.

De uma forma doedeira guardo na imaginação, as brincadeiras de roda

numa noite de São João; vivo cheio de saudade

morando aqui na cidade com saudades do sertão!…

Ademar Macedo nasceu em Santana do Matos/RN, em 1951. Em 1963 radicou-se em Natal, onde terminou os estudos, e

em 1971 entrou para o Corpo de Fuzileiros Navais, indo para o Rio de Janeiro. Voltou a Natal em 1980 e em 81 perdeu uma perna num acidente. Após o acidente começou a frequentar cantorias de viola, festivais de Violeiros, tudo o que dizia respeito a Poesia Popular, e começou a fazer algumas estrofes, tornando-se poeta popular, conhecido em todo estado devido as declamações nas rádios. Convidado por José Lucas de Barros, a ingressar na ATRN (Academia de Trovas do R.G.do Norte), aprovado desde 2004. Em 2006 teve câncer no intestino. Premiadíssimo em concursos de trovas, e alguns de poesia, faleceu em 2013, em Natal.

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Nilto Maciel

O que podemos falar de Nilto? Antes uma breve

apresentação do escritor, para passarmos aos comentários sobre seus textos.

Nilto nasceu em Baturité, cidade localizada ao norte do Ceará, cerca de 100 km, cuja população é de cerca de 30 mil habitantes. Foi o ano de 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará em 70. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco. Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 regressou a Fortaleza onde reside atualmente. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil.

Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999). Deste modo, no total são 188 contos para que o leitor possa viajar em suas folhas, entre o trágico e a comédia, a paisagem nordestina e a cidade grande. Seus contos fazem aflorar as nossas emoções mais profundas, desde a revolta pela

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vida de pessoas, como a Última Guerra de Hiroito, e mesmo dos animais (Carlim). Como no caso de Carlim, a revolta pela injustiça da vida de uns, misturada à tristeza que nos domina pelo resultado final.

Mas, Nilto não pára só em sentimentos de desconfortos, segue adiante percorrendo cada emoção, a dúvida, a curiosidade que o ser humano possui, como neste que classifico como “fantástico conto fantástico”, O Riso do Gato, em que coloca em um caldeirão a dúvida, o suspense, a curiosidade, o fantástico e o humor.

Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa.

Segundo João Carlos Taveira, no prefácio do livro de Nilto, Vasto Abismo: “Sua oficina romanesca

comporta o absurdo, o fantástico, o linear, o surreal e, não raras vezes, o satírico, o burlesco, o humorístico. Seus temas, por diversos, exploram desde o corriqueiro e trivial triângulo amoroso, passando por perquirições do gênero policial, até o mais intrincado universo psicológico. Carpintaria digna dos melhores mestres da arte ficcional”.

Enfim, Nilto nos faz navegar num oceano de sentidos, com as velas da realidade içadas, mas fazendo-nos entregar-se às ondas da ilusão. Nos leva a enfrentar ventos contrários, hora fazendo com que sejam brisa em nosso rosto, hora tempestades que nos jogam contra os rochedos. Sorrisos, lágrimas, desespero, ansiedade, desejos, sonhos, dores, ressurreição são as águas deste oceano. Em cada conto encontramos um refúgio para a nossa dor, que nos transforma e faz com que cada página seja como o mar a beijar a areia, deixando sua marca. Contos Reunidos vol. I e vol. II são momentos de magia que nos fazem transgredir as fronteiras do conhecimento e do desconhecido. Nilto faz com que o leitor deixe de ser um mero espectador e seja personagem integrante de seus textos.

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Editora brasiliense levará escritores do DF para Feira do Livro de Frankfurt, que acontece de 11 a 15 de outubro

de 2017. A Pergunta Fixar, editora genuinamente brasiliense, levará escritores da cidade para a maior feira de negócios do mercado editorial. Nosso projeto Legado do homem e da cidade pretende vender as histórias produzidas no DF para editoras do mundo. É uma tarefa difícil, mas levaremos na bagagem fé e esperança. A iniciativa tem como propósito promover o setor editorial local no mercado global de maneira orientada e articulada. Entre os principais escritores que farão parte do projeto Legado do homem e da cidade estão: Dad Squarisi, Clotilde Chaparro, Karla Calasans, Beatriz Schwab, Wilza Meireles, Adriana Ramos, Selma Santiago, Marcelo Rodrigues, Antonio

Leitão e Luci Watanabe. A Pergunta Fixar conta com o apoio da Câmara Brasileira do Livro (CBL) pelo Projeto Brazilian Publishers, do qual é

associada, além da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Contato de alguns escritores: Andrey do Amaral: (61) 9.8457-7131 Clotilde Chaparro (61) 9.8457-7131 Beatriz Schwab (61) 9.9555-6643 Karla Calasans (61) 9.8208-5272 Adriana Ramos (61) 9.8132-2404 Antonio Leitão (escritor cego) (61) 9.9837-5254 Feira Internacional do Livro de Frankfurt http://www.buchmesse.de/en/fbf/ De 11 a 15 de outubro de 2017

Contatos: Andrey do Amaral / Fernanda Carvalho: (61) 9.8457-7131 Pergunta Fixar Editora: [email protected]

Fonte: Andrey do Amaral

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Nota sobre o Almanaque Os textos foram obtidos na internet, em jornais, revistas e livros, ou mesmo colaboração do poeta. As imagens são montagens, cujas imagens principais foram obtidas na internet e geralmente sem autoria, caso contrário, constará no pé da figura o autor. Este Almanaque tem a intencionalidade de divulgar os valores literários de ontem e de hoje, sejam de renome ou não, respeitando os direitos autorais. Seus textos por normas não são preconceituosos, racistas, que ataquem diretamente os meios religiosos, nações ou mesmo pessoas ou órgãos específicos.

Este almanaque não pode ser comercializado em hipótese alguma, sem a

autorização de todos os seus autores.

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