3 a cultura indígena na formação cultural do povo brasileiro oceano glacial Ártico oceano...

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Nesta Unidade, você irá conhecer algumas manifestações cultu- rais de povos indígenas brasileiros. Dessa maneira, verá a importân- cia e o valor de suas influências na formação da cultura artística do nosso País. Poderá também discutir diferentes olhares dirigidos aos povos indígenas. Conversará ainda sobre a diversidade das produções indí- genas, que dependem das necessidades de cada comunidade e dos materiais que encontram nos locais em que moram. Como lingua- gens da arte, serão estudadas a tecelagem e a arte plumária. Para iniciar... O que você conhece sobre os índios do Brasil? Onde eles moram? Como vivem? Você conhece palavras de origem indígena? Quais? Você tem alguma ascendência indígena? Perto de onde você mora há alguma reserva indígena? Caminhos para o continente americano O que se sabe a respeito do povoamento do continente americano é que tudo se originou há cerca de 40 mil anos. São várias as hipóte- ses, mas, para importantes estudiosos, os continentes asiático e ame- ricano eram unidos por uma ponte de gelo no Estreito de Bering. Por lá teriam atravessado grupos nômades, que foram se espalhando por todo o continente em busca de alimento. 3 A CULTURA INDÍGENA NA FORMAÇÃO CULTURAL DO POVO BRASILEIRO 55

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Nesta Unidade, você irá conhecer algumas manifestações cultu-

rais de povos indígenas brasileiros. Dessa maneira, verá a importân-

cia e o valor de suas influências na formação da cultura artística do

nosso País.

Poderá também discutir diferentes olhares dirigidos aos povos

indígenas. Conversará ainda sobre a diversidade das produções indí-

genas, que dependem das necessidades de cada comunidade e dos

materiais que encontram nos locais em que moram. Como lingua-

gens da arte, serão estudadas a tecelagem e a arte plumária.

Para iniciar...

• O que você conhece sobre os índios do Brasil?

• Onde eles moram? Como vivem?

• Você conhece palavras de origem indígena? Quais?

• Você tem alguma ascendência indígena?

• Perto de onde você mora há alguma reserva indígena?

Caminhos para o continente americano

O que se sabe a respeito do povoamento do continente americano

é que tudo se originou há cerca de 40 mil anos. São várias as hipóte-

ses, mas, para importantes estudiosos, os continentes asiático e ame-

ricano eram unidos por uma ponte de gelo no Estreito de Bering. Por

lá teriam atravessado grupos nômades, que foram se espalhando por

todo o continente em busca de alimento.

3 A culturA indígenA nA formAção culturAl do povo brAsileiro

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Cultura e arte indígenas brasileiras

As produções indígenas não foram feitas com o intuito de serem objetos contemplativos para exposição. Tudo o que os índios pro-duzem é para uso próprio, para suas necessidades. As produções são elaboradas sob uma visão de mundo específica: um cesto, uma flecha de caça, uma máscara, a configuração das penas nos adornos, por exemplo. As formas abstratas derivam das concepções indígenas de ser humano, animal, vegetal ou ente sobrenatural. Um exemplo: para os xerentes, o triângulo constitui o padrão jabuti, e o zigue-zague, o padrão sucuri. Assim, as produções indígenas são diferentes umas das outras, pois dependem das necessidades de cada comunidade e dos materiais que encontram nos locais em que moram.

O que se conhece das produções indígenas? Como diferentes artis-tas retratam essa cultura? É isso que você vai estudar agora.

Só muito tempo depois (mais de 40 mil anos) chegaram os primei-ros europeus. Com eles vieram artistas que participaram de expedi-ções científicas e de reconhecimento em terras brasileiras. Esses artis-tas registraram em desenhos e pinturas tudo o que viram por aqui: os costumes, a fauna e a flora.

Movimentos migratórios: o homem chega à América

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Fonte: A aurora da humanidade. Rio de Janeiro: Time-Life/Abril, 1993 (adaptado; meramente ilustrativo; suprimidas as coordenadas geográficas).

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Arte – Unidade 3

Albert Eckhout. Dança dos tarairiu (tapuias), s/d. Óleo sobre tela, 172 cm x 295 cm. Museu Nacional, Copenhague, Dinamarca.

Atividade 1 Olhares estrangeiros para o indígena

1. Aprecie a pintura Dança dos tapuias, de Albert Eckhout, artista que participou da expedição de Maurício de Nassau ao Brasil em 1637.

• Na sua opinião, qual seria o motivo da dança? Uma comemo-ração? Apenas um divertimento? Ou um ritual?

• O que o cenário mostrado na imagem revela sobre a fauna e a flora do Brasil?

• Quem dança? Quem observa?

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Arte – Unidade 3

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• Como se vestem?

• Como se apresentam as expressões corporais dos homens? E as das mulheres?

• Descreva os adornos usados pelos homens, notando o que trazem nas mãos, no pescoço, nas pernas e na cabeça.

2. O pintor francês Jean-Baptiste Debret, que esteve no Brasil com a Missão Artística Francesa de 1816, retratou os índios segundo sua visão e as ideias vigentes em seu tempo. Na próxima página, observe duas de suas obras e responda: Qual é a visão proposta pelo artista sobre os índios que viviam no Brasil?

Jean-Baptiste Debret (1768-1848), nascido em Paris (França), baseou sua arte na documentação dos acontecimentos da história brasi-leira no início do século XIX.

Era pintor, desenhista e professor, e veio ao Brasil como membro da Missão Artística Francesa, cuja finalidade era criar, no Rio de Janeiro, uma academia de artes e ofícios, que se tornaria a Academia Imperial de Belas-Artes.

Debret retratou os usos e os costumes das tribos indígenas, tentando mostrar, principalmente aos europeus, um panorama que fosse além da simples visão de um país exótico e interessante, baseado no ponto de vista da história natural.

Thierry Frères. Retrato de Jean-Baptiste Debret, 1834.

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Arte – Unidade 3

Jean-Baptiste Debret. Família de um chefe camacã preparando-se para uma festa, 1834. Litografia de C. Motte, 32 cm x 20,4 cm, constante da obra Viagem pitoresca ao Brasil, vol. 1.

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Jean-Baptiste Debret. Caboclos ou índios civilizados, 1834. Litografia de C. Motte, 33,3 cm x 23,2 cm, constante da obra Viagem pitoresca ao Brasil, vol. 1.

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Arte – Unidade 3

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Momento cidadania

A polêmica sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte reavi-vou o debate sobre os direitos indígenas. Afinal, quem tem direi-to à floresta: os índios ou as hidrelétricas?

Os indígenas têm muitos direitos garantidos pela lei, como o direito a manifestar seus costumes, realizar seus ritos e a partici-par da vida política do País.

Para os indígenas, a floresta é parte de sua realidade. Desse modo, é fundamental que a natureza esteja preservada.

Preservar as terras dos indígenas é uma questão de respeito à humanidade e ao direito que eles têm como brasileiros livres em condição particular de existência. Exigir que os indígenas tenham uma vida igual à nossa é um erro.

Atividade 2 Outros olhares sobre o indígena brasileiro

Muitos artistas retrataram o universo indígena por meio de outra manifestação artística: a música.

Leia a letra da canção Ubirajara, interpretada pelo coral de estu-dantes Cantos de Makunaíma, de Roraima.

Ubirajara

Sérgio Sarah

No meio da mataCacique anda nu, cara pintadaCura e cora a cara,Cará, urucum, jucá, arara

Brota coisa raraBacaba beiju que dá na caraEntoou no mato o pajé:Aoô, aoô, aoô

Tá contagiadoCantando o caju todo pintadoPilando cipó imaculado

Num toco ocadoBatuca o tambor fumando matoToda a taba toca no tomAoô, aoô, aoô

Mundo todo loucoMaluco cabou com todo o matoTudo que é caducoMaluco levou índio no papo

Índio toca gadoNo mato gritando “eu quero é mato”E morto no vento soouAoô, aoô, aoô.

Fica a dica

A cantora, compositora e pesquisadora Marlui Miranda faz um trabalho etnomusicológico, coletando e estudando músicas das nações indígenas da Floresta Amazônica. Ela também cria composições com referência nessa musicalidade. Você pode conhecer o trabalho dessa artista em vários sites da internet.

CD Canções do Brasil – Palavra Cantada

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Arte – Unidade 3

• Qual imagem sobre o indígena a canção retrata?

• Após ler a letra da canção, que imagem você criaria sobre o indígena brasileiro?

• Faça um desenho ou escreva um texto para registrar essa ima-gem que você criou.

Arte – Unidade 3

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Caneta de bambuMaterial necessário

Para construir essa caneta, você precisa de um bambu pequeno ou, se não tiver, pode ser um galho de árvore fino.

Procedimentos

• Lixe bem a superfície do bambu ou do galho com uma lixa fina.

• Em seguida, faça um corte diagonal em uma das pontas, usando um objeto de corte.

Está pronta sua caneta para usar com tinta nanquim ou de tinteiro, ou ainda uma tinta bastante líquida feita com pigmentos naturais. Você pode experimentar suco de beterraba ou pó de café com água, entre outras possibilidades.

Canetas feitas com bambu.

Língua Portuguesa6o ano – Unidade 1

Atividade 3 O desenho na cultura indígena

1. Nos diferentes grupos indígenas, os padrões de desenho são muito variados. Pesquise na internet alguns desses padrões e faça uma colagem para apresentar à turma.

2. Com base na exposição dos padrões de desenho indígenas, produ-za um desenho feito com caneta de bambu e tinta nanquim preta (para produzir a caneta, veja as instruções a seguir).

A influência constante da cultura indígena

Algumas pessoas acreditam, ainda hoje, que os índios fazem parte do pas-sado ou que estão desaparecendo, e sua cultura, se perdendo. No entanto, a população indígena no Brasil é de mais ou menos 750 mil pessoas. Desse total, 350 mil vivem em aldeias e mais ou menos 400 mil fora das terras indígenas. Os que vivem fora das aldeias são chamados de índios urbanizados, ou ainda, índios urbanos.

Há um total de aproximadamente 230 nações indígenas, das quais 53 vivem com-pletamente isoladas, isto é, não possuem contato externo com outras pessoas.

Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Coisas de Índio. São Paulo: Callis, 2004, p. 11.

A influência dos povos indígenas encontra-se fortemente pre-sente no dia a dia. É bastante provável que você já tenha ouvido palavras como abacaxi, arapuca, arara, capim, catapora, cipó, cuia, cumbuca, cupim, jabuti, jacaré, jiboia, jururu, mandioca, mingau, minhoca, paçoca, peteca, pindaíba, pipoca, preá, sarará, tamanduá, tapera, taquara, toca, traíra, xará, entre outras. Todas elas são de origem indígena.

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Arte – Unidade 3

Algumas danças também nasceram dessa cultura: cateretê ou catira, o toré dos quilombos alagoanos, cururu, sarabaquê, ou dança de santa cruz, sairê do extremo Norte, assim como alguns folguedos populares: caiapós, caboclinhos, tribo, dança dos tapuios e pássaros.

Mas a cultura indígena apresenta outras manifestações culturais muito ricas, como arte plumária, pintura corporal, cestaria, cerâmica, ornamentos, esculturas zoomorfas, grafismos, tear, objetos de madeira etc. Feitas com matérias-primas encontradas na natureza, as produ-ções revelam cuidado no modo de colher e processar palmeiras, cipós, arumã (ervas), penas, plumas, argila, madeiras, fibras, com uso de gomas colantes, tinturas vegetais e minerais, vernizes, além da constru-ção de instrumentos, ferramentas etc.

Arte plumária

No Brasil, existem pelo menos 30 grupos indígenas que produzem adornos feitos com penas de aves.

Os adornos plumários são cria-dos para uso em rituais, cerimônias e também como enfeite. São formas de comunicação e podem representar idade, sexo, posição social e cargo político. Com as plumas podem ser confeccionados mantos, máscaras, cocares e braceletes.

Em uma aldeia kayapó, as cores das penas de um cocar são significa-tivas, pois a disposição delas indica a hierarquia existente na aldeia e simboliza a organização da vida den-tro da tribo. O formato do cocar em arco representa uma grande roda que gira entre o presente e o passado.

Para os kayapós, índios que habi-tam o sul do Pará e o norte de Mato Grosso, a aldeia cabe num cocar.

Para você, qual a simbologia das cores em um cocar? Pense nisso antes de ler sobre as cores em um cocar kayapó. Cocar indígena kayapó.

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Fica a dica

Na cidade de Oiapoque foi inaugurado em 2007 o Kuahí – Museu dos Povos Indígenas do Oiapoque, gerido pelos próprios índios para ser um espaço de conservação e divulgação de sua cultura.

Também há acervos em outros importantes museus, como o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, que pode ser visitado pelo site: <http://www.mae.usp.br>. Acesso em: 26 maio 2012.

Arte – Unidade 3

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As cores na cultura kayapó

A cor vermelha na cultura kayapó refere-se à casa dos homens. Ela se localiza no centro da aldeia e é o espaço em que eles discutem sobre a caça, a guerra e os rituais. Lá também confeccionam pulseiras e colares.

Já a cor amarela refere-se ao local pertencente às mulheres: casas e roças. Em casa elas pintam os corpos dos maridos e filhos e prepa-ram os alimentos. E a roça é lugar onde plantam e colhem.

As matas são representadas pela cor verde. Além de proteger as aldeias, as matas são consideradas pelos kayapós morada dos mortos e seres sobrenaturais.

Atividade 4 Criação de adornos com base na cultura indígena

1. Aprecie a seguir criações da arte plumária.

Arte plumária Rikbaktsa. Acervo Memorial da América Latina. Indígena com cocar e colar. Tribo indígena kalapalo – Aldeia Aiha, 2011. Parque Indígena do Xingu (MT).

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Arte – Unidade 3

• Ao observar os adornos usados pelas pessoas de seu convívio, é possível encontrar alguma semelhança com os adornos usa-dos pelos indígenas?

2. Agora é sua vez de criar um adorno com arte plumária.

Depois da análise e do levantamento de materiais utilizados, você vai criar adornos. Podem ser colares, brincos, pequenos broches etc. Essa atividade pode ser feita em pequenos grupos de estudan-tes e utilizar bases de bijuterias prontas. O importante é perceber a estética indígena, o cuidado com as cores, com cada elemento colocado.

3. Organize com a turma uma exposição de todos os adornos criados.

Trançados e tapeçaria indígenas

A arte têxtil indígena se divide em três técnicas: a tecelagem, que emprega fios, com ou sem implementos de aparelhos; o tran-çado de fibras vegetais; e a arte plumária, já mencionada, que possui diferentes técnicas de aplicação, tendo por base uma colorida fauna ornitológica.

Os povos indígenas usam materiais retirados da natureza para criar artefatos de uso cotidiano. A variedade das plantas e das fibras dá aos indígenas materiais suficientes para a criação de trançados. Dessa maneira, constroem casas e utensílios, como cestos para uso doméstico e transporte de alimentos, redes para pescar e dormir, ins-trumentos musicais etc.

OrnitológicoRelativo a aves.

ArtefatoProduto ou obra de trabalho manual ou mecânico.

Arte – Unidade 3

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Veja a seguir algumas imagens de trançados indígenas:

Mãos de artesão da etnia tucana tecendo esteira de fibra vegetal.

Cestaria waijãpi. Acervo Memorial da América Latina.

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Arte – Unidade 3

Indígena saterê-maué fazendo artesanato. Aldeia Inhãa-bé, 2009. Igarapé do Tiú, Manaus (AM).

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A tecelagem é usada na confecção de tecidos para pesca, transporte, vestuário e adorno. A rede de dormir é o artefato mais famoso dessa téc-nica e está presente em quase todos os grupos indígenas.

Essa técnica pode ou não utilizar um tear. Sem ele, os trabalhos são realizados com um único fio, como crochê e tricô. Aqueles que utilizam o tear resultam num trabalho de trama (fios na horizontal e na verti-cal), semelhante ao trançado.

Os kaxinawás, da família Pano, habitam o Estado do Acre e possuem uma grande representação na tecelagem. Seus desenhos chamam-se kené.

Dentro da técnica da tecelagem, são notáveis os trabalhos de tape-çaria. A tapeçaria é uma atividade milenar, uma tradição ancestral, praticada desde as civilizações pré-colombianas e egípcia e pela pró-pria população indígena brasileira. Essa técnica que acompanha o ser humano desde os primórdios da civilização está ligada às necessida-des humanas de proteção, expressão e agasalho.

A herança indígena para a tapeçaria é riquíssima.

Fica a dica

Assista ao curta- -metragem Bimi, mestra de kenes, dirigido por Zezinho Yube. O vídeo, com produção do projeto Vídeo nas Aldeias, mostra a história de Bimi, uma das grandes mestres da arte da tecelagem hunikui. Ela fala de sua aprendizagem e dos cuidados que uma tecelã deve respeitar.Bimi, Mestra de Kenes. 2009.

4 min. Hunikui (kaxinawá). Disponível em: <http://

www.videonasaldeias.org.br/2009/video.php?c = 80>.

Acesso em: 30 maio 2012.

Arte – Unidade 3

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Regina Graz. Sem título, 1930. Tapeçaria, petit point tecido a mão, 97 cm x 134 cm. Instituto John Graz, São Paulo (SP).

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A tapeçaria pode ser feita com algodão, sisal, juta e fibras, entre outros materiais.

A artista brasileira Regina Gomide Graz se interessou pelo traba-lho de tapeçaria dos indígenas e viajou ao Amazonas para conhecer melhor a técnica.

Regina Graz atuou como pintora, decoradora e tapeceira, sendo uma das artistas mais produtivas no meio artístico nacional durante as décadas de 1920 a 1940. Dedicou-se principalmente à decoração de interiores, trabalhando com tapeçarias em veludo, panneaux e almofadas, criando motivos que se aproximam da abstração geomé-trica. Outros artistas também se dedicaram à arte da tapeçaria, como Norberto Nicola e Jacques Douchez.

PanneauxPalavra francesa que designa pano, tecido, tapeçaria decorativa.

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Arte – Unidade 3

A tapeçaria existe no cotidiano dos brasileiros. É realizada na produção de bandeiras das torcidas, nos estandartes, adereços e representações gráficas do Carnaval, e no folclore, com a vestimenta para danças, entre muitas outras manifestações. As técnicas da tape-çaria, tão antigas, são encontradas ainda hoje, mas com um certo distanciamento da produção indígena tradicional. Um bom exem-plo é o trabalho de Tatiana Blass, que em 2011 criou uma instala-ção com base em um tear na Capela do Morumbi, em São Paulo. A obra Penélope é um site specific, feita especialmente para essa capela (veja imagens da obra).

Site specificObras planejadas e criadas em função de um local específico, como o próprio nome diz. Dessa maneira, tais obras dialogam com o lugar para o qual foram produzidas.

Tatiana Blass. Penélope, 2011-2012. Tear e lã vermelha. Site specific, Capela do Morumbi, São Paulo (SP).

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Tatiana Blass. Penélope, 2011-2012. Tear e lã vermelha. Site specific, Capela do Morumbi, São Paulo (SP).

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Arte – Unidade 3

Atividade 5 Criação com tecelagem

Você vai criar peças em tecelagem. Para isso, vai precisar de fios e um tear de papelão.

1. Sabe aquelas camisetas que já cansou de usar? Pois bem, você fará fios com ela, cortando-a em tiras da mesma largura no sentido horizontal. Depois de cortadas as tiras, estique-as, para que se enrolem como um fio de novelo.

2. Agora é hora de montar o tear de papelão (veja instruções no qua-dro a seguir).

Tear de papelão

Materiais necessários

• Tesoura.

• Régua.

• Lápis grafite.

• Um papelão com medida aproximada de 35 cm x 40 cm.

Procedimentos

• Risque uma margem de 2 centímetros nos quatro lados do papelão.

• Faça furos com distância de 1 centímetro das bordas superior e inferior do papelão.

• Prepare uma agulha dobrando um pedaço de arame ao meio e cobrindo as pontas com fita-crepe.

• Coloque uma tira de fio na agulha e passe de um furo a outro, no sentido vertical, até que todos estejam preenchidos. Caso precise emendar os fios, é só dar um nó.

• Comece a tecer, passando um fio por cima e outro por baixo. A cada fio tecido, ajeite o trabalho com os dedos para que fiquem bem juntinhos.

• Amarre, de duas em duas, as sobras lateriais das tiras, para que o trabalho não se desfaça.

• Ao terminar, recorte as margens do papelão e retire a peça.

Com essa peça, você pode fazer uma bolsinha, um suporte para telefone ou inventar outras utilidades.

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Arte – Unidade 3

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Você estudou

Nesta Unidade, você conheceu a variedade de povos e cultu-ras indígenas espalhados pelo Brasil, percebendo o olhar estran-geiro, o nosso e o do próprio indígena.

Teve contato com a diversidade das produções indígenas, como a arte plumária, o trançado e a tapeçaria.

Atividade 6 Lendas e contação de histórias indígenas

Cada cultura tem seus mitos, suas lendas e suas histórias.

• Pesquise em livros infantis ou na biblioteca da escola algumas len-das e contos indígenas.

• Leia com atenção as histórias, observando atentamente as ilus-trações.

• Após a leitura, escolha uma das histórias. Expresse o que com-preendeu dessa história, reescrevendo um livro com novas ilus-trações, dramatizando o que leu ou criando uma reportagem para uma revista ou um programa de TV.

Pense sobre

Há na cidade em que você mora alguma aldeia indígena? Será que entre seus amigos e parentes há alguém que saiba trançar, fazer cro-chê ou usar um tear?

Há festas populares em sua região? Que tal pesquisar sobre a ori-gem delas?

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Arte – Unidade 3

4 A culturA Afro-brAsileirA

A cultura africana é tão marcante no Brasil que gerou a arte afro--brasileira. Portanto, nesta Unidade, você vai reconhecer a heteroge-neidade na formação cultural do povo brasileiro, percebendo a pre-sença da cultura africana em nosso País.

Também discutirá sobre a influência da cultura africana presente no cotidiano, além de estudar o Barroco, arte produzida no Brasil por negros e mestiços no século XVIII.

Para iniciar...

• O que você conhece sobre o continente africano?

• Você se lembra desta imagem?

Logotipo da Copa do Mundo de Futebol de 2010, na África do Sul.

• O que você conheceu sobre a África do Sul por meio da Copa do Mundo de 2010?

• Tem alguém na sua família com ascendência africana?

• Qual é o país de origem dessa pessoa?

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Atividade 1 Encontro afro-brasileiro

1. Você conheceu Lasar Segall na Unidade 2. Aprecie agora outra obra desse artista, um autorretrato produzido em 1924.

Lasar Segall. Encontro, 1924. Óleo sobre tela, 66 cm x 54 cm. Museu Lasar Segall, São Paulo (SP).

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Arte – Unidade 4

• O que você sente ao apreciar essa pintura?

• Quais características da obra chamaram sua atenção? Na sua opinião, onde estão as pessoas retratadas? Como você interpreta o olhar das pessoas retratadas na obra? É triste, alegre, terno?

• Como são essas pessoas? Descreva a cor da pele, o cabelo, as roupas, a idade.

• Quanto aos tons utilizados na pintura, o que eles despertam em você?

2. Observe ao lado uma foto de Lasar Segall, feita quando o artista tinha cerca de 29 anos.

• Quais as diferenças entre a representação do artista na pintura e na fotografia?

• Por que você acha que o artista mudou a cor da sua pele no autorretrato apresentado na página anterior?

• Que relações você estabelece entre o autorretrato e o título desta Atividade?

Retrato de Lasar Segall, 1920. Cópia em papel, emulsão de gelatina e sais de prata com viragem sépia, 21,6 cm x 17,2 cm.

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Arte – Unidade 4

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Fica a dica

Se você vive em São Paulo, ou se estiver na cidade, visite o Museu Afro Brasil, no Pavilhão Manoel da Nóbrega, que fica no Parque do Ibirapuera. Você também pode conhecer mais sobre o museu e o material lá exposto consultando o site do museu, disponível em: <http://www.museuafrobrasil.org.br/>. Acesso em: 26 maio 2012.

Brésil – la diversité comme identité. 2ème édition. Paris: Atelier de Cartographie de Sciences Po.CD-ROM. Luchas contra la Esclavitud, Unesco, 2004.

Africanos no Brasil

A história dos africanos no Brasil teve início há muito tempo, por volta de 1530, quando os portugueses começaram a trazer à força do continente africano pessoas para trabalhar como escravos nas terras da colônia portuguesa da América. E o tráfego perdurou até os anos de 1850 aproximadamente – mesmo após ter sido proibido, em 1830.

As pessoas eram trazidas para a nova terra em embarcações cha-madas navios negreiros. As condições dessas viagens eram péssimas. Os negros vinham amontoados nos porões dos navios, sem luz nem ali-mentação, por isso muitos morriam no meio do caminho e eram atira-dos ao mar. Quando chegavam ao Brasil, os sobreviventes eram comer-cializados nos mercados da Bahia, do Rio de Janeiro, do Maranhão e de Pernambuco, onde a mão de obra escrava era empregada na lavoura, na mineração, na pecuária ou em trabalhos domésticos.

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Tráfico atlântico de escravos: dimensões e destinos

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Arte – Unidade 4

Durante quase 400 anos, homens e mulheres escravizados trabalha-ram na formação do Brasil. Aqui realizavam vários tipos de trabalhos, dos mais simples aos mais difíceis.

Observe com atenção as imagens a seguir, que representam algu-mas das ocupações dos escravos.

Mineradores – Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philip von Martius. Lavagem de diamantes, Curralinho, c. 1835-1850. Litografia colorizada, integrante do Atlas da obra Viagem ao Brasil.

Serradores – Jean-Baptiste Debret. Serradores, 1834. Litografia de C. Motte, 32 cm x 20,4 cm, constante da obra Viagem Pitoresca ao Brasil, vol. 1.

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Ama-seca – Fotógrafo não identificado. Retrato de ama negra com criança branca presa às costas,

c. 1870, Bahia, Brasil.

Sapateiro – Jean-Baptiste Debret. Sapateiro, 1835. Litografia de

Thierry Frères, 32 cm x 20,4 cm. Constante da obra

Viagem Pitoresca ao Brasil, vol. 2.

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Arte – Unidade 4

A África é um continente que possui hoje 53 países. Os povos africanos são muitos diferentes uns dos outros, possuem característi-cas físicas, culturais e línguas diversas.

As manifestações culturais e artísticas africanas estão por toda parte no Brasil, dos objetos mais simples usados no cotidiano às ceri-mônias religiosas.

Lavadeiras – Jean-Baptiste Debret, Lavadeiras na beira do rio, 1835. Litografia de Thierry Frères, 16,2 cm x 22,3 cm. Constante da obra Viagem Pitoresca ao Brasil, vol. 2.

Vendedoras – Jean-Baptiste Debret, Banha de cabelos bem cheirosa, 1827. Aquarela sobre papel, 15,8 cm x 21,9 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro, Brasil.

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Arte – Unidade 4

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Momento cidadania

Os quase quatro séculos de escravidão no Brasil deixaram marcas muito profundas

em nossa sociedade, que perduram até os dias atuais.

O racismo e a discriminação são tristes exemplos de uma realidade repleta de igno-

rância e intolerância, esquecendo-se de que muitos afrodescendentes foram e são impor-

tantes em nossa história.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2000, da população

pobre de São Paulo, 11,62% eram brancos, e 21,83% eram negros.

Segundo a Fundação Seade, em 2004, dos jovens brancos de 15 a 17 anos que fre-

quentavam o Ensino Médio na idade correta, 70,6% eram brancos, e 57,6% eram negros.

Esses e muitos outros dados demonstram que não superamos a questão racial no

Brasil. Embora tenham os mesmos direitos, os negros tendem a ser excluídos, o que se

reflete em acesso à educação e ao trabalho, em renda inferior e em um padrão de vida

mais baixo do que a maior parte dos brancos.

Ações afirmativas para neutralizar a questão seriam políticas que visassem à inclusão

de afrodescendentes em universidades ou outras resoluções semelhantes, no intuito de

compensar uma desigualdade socialmente estabelecida ao longo de muitos anos e valori-

zar toda a cultura e as pessoas afrodescendentes. Seria uma oportunidade para que cada

vez mais a população negra participasse de ambientes dos quais em geral está excluída,

obtendo, com isso, um leque maior de opções na vida.

Para conhecer mais sobre o debate racial, visite o site do Instituto Geledés: Disponível

em: <http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito>. Acesso em: 26 maio 2012.

As máscaras e sua função nas culturas africanas

Em vários grupos africanos, as máscaras, que podem representar pessoas ou animais, eram utilizadas em momentos especiais chama-dos ritos. Essas cerimônias celebravam vários acontecimentos, como a passagem de jovens para a idade adulta, os ciclos da natureza, a morte de um membro da família, o pedido de proteção aos deuses ou o agra-decimento pelos seus feitos.

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Arte – Unidade 4

Atividade 2 Máscaras africanas e arte moderna

A Sociedade Gueledé, formada apenas por mulheres idosas do povo iorubá, é um desses grupos nos quais as máscaras têm função ritualística. Como os iorubás temem e respeitam muito a força dessas mulheres idosas, são os homens que vestem as máscaras e dançam com elas nos rituais. Hoje, grande parte dos iorubás vive na região onde se localiza a Nigéria e o Benin, dois países africanos.

1. Observe a seguir exemplos de máscaras gueledés.

Máscara gueledé iorubá, da Nigéria Ocidental. Galeria 43, Londres, Inglaterra.

Máscara gueledé iorubá representando o espírito do homem branco.

• De que material você acha que são feitas essas máscaras?

• Que figuras estão representadas nelas?

• O que elas nos contam por intermédio de sua decoração?

• Em sua opinião, em que rituais seriam usadas?

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Você sabia que a Sociedade Gueledé recebeu o título de Patrimônio Mundial da Humanidade?

Esse título é conferido pela Unesco com o objetivo de promover a identificação, a proteção e a preservação do patrimônio cultural e natural considerado especialmente valioso para a humanidade. O Brasil tem 18 bens inscritos na lista do Patrimônio Mundial. Você pode pesquisá-los no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 26 maio 2012.

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2. Pablo Picasso criou obras em que se pode notar a influência de tra-ços da arte africana, pois ficou impactado pela exposição de Arte Africana no Museu do Homem de Paris, em 1905, especialmente pelas máscaras, como é possível perceber nas imagens a seguir:

Máscara baule, Costa do Marfim, final do século XIX. Museu de Israel, Jerusalém.

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Pablo Picasso. Amizade, 1908. Óleo sobre tela, 151,3 cm x 101,8 cm. Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia.

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Máscara fang em madeira, século XIX. Universidade da Ânglia Oriental, Norfolk, Inglaterra.

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Pablo Picasso. Les Demoiselles d’Avignon, 1907. Óleo sobre tela, 243,9 cm x 233,7 cm. Museu de Arte Moderna (Moma), Nova Iorque (EUA).

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Máscara africana

Materiais necessários

Arte e religiões africanas

Os negros obrigados a vir para o Brasil como escravos eram impedidos de trazer seus pertences. Vinham somente com as memó-rias e as vivências do lugar de origem, ou seja, com sua ancestrali-dade, que seria expressa no Brasil por meio de manifestações cultu-rais e religiosas.

As religiões afro-brasileiras recebem nomes diferentes, depen-dendo do lugar e da forma de seus ritos. No Nordeste, há o tam-bor de mina, o xangô pernambucano e o candomblé baiano. No Rio de Janeiro e em São Paulo, prevalecem a umbanda e o can-domblé. No Sul, o batuque gaúcho.

A crença do candomblé está baseada em seus deuses, os orixás. Cada um deles tem características, cores e roupas específicas, além de alimentos preferidos e adornos.

• Tiras de papelão e de jornal (com aproximadamente 4 cm de largura).

• Tesoura.• Cola líquida.

• Fita-crepe.• Grampeador.• Tinta guache.• Adereços (palha, botões, tecidos...).

Procedimentos

• Com uma tira de papelão, contorne seu rosto para registrar a medida dele.• Grampeie as duas pontas das tiras. Essa será a base de sua máscara.• Corte mais tiras de papelão da mesma medida e grampeie duas no sentido horizontal da máscara e duas no sentido vertical.• Sobre as tiras grampeadas, cole tiras de jornal previamente mergulhadas em cola líquida diluída com um pouco de água.

Aplique mais duas camadas de tiras de jornal sobre a base da máscara.• Espere secar.• Desenhe sobre a máscara o rosto que você desejar. Coloque olhos, boca e nariz inspirados nos modelos africanos.• Pinte com tinta guache na cor escolhida.• Cole outros adereços, como palha, botões ou tecidos, para dar o efeito desejado na sua produção “africana”.

• Compare as imagens das máscaras africanas com as pinturas de Picasso. Em seu caderno, faça uma lista dos itens seme-lhantes e diferentes encontrados por você em cada uma das obras de Picasso em relação à máscara correspondente.

• Troque impressões pessoais com a turma e perceba a enorme influência da estética africana na obra do artista espanhol.

3. Agora você vai criar uma máscara com inspiração nas imagens de máscaras africanas vistas anteriormente e nas obras de Picasso (veja no quadro a seguir)

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Tatti Moreno. Orixás, 1998. Esculturas em fibra de poliéster, 600 cm de altura. Dique do Tororó, Salvador (BA).

O artista Carybé (1911-1997), cujo nome é Hector Julio Paride Ber-nabó, nasceu em Lanus (Argentina). No ano de 1919 sua família veio para o Brasil e firmou residência no Rio de Janeiro. Em meio a inúmeras viagens, em 1938 Carybé conheceu a Bahia, lugar que se tornou refe-rência para seus trabalhos. Suas obras, tanto pinturas como desenhos e esculturas, refletem a chamada baianidade, por meio da represen-tação do cotidiano, do folclore e de cenas populares.

Carybé, Grande Painel dos Orixás (detalhe do orixá Obá), 1979. Painel entalhado em cedro com incrustrações, 200 cm x 100 cm. Banco da Bahia Investimentos S/A, Bahia, Brasil.

BaianidadeÉ uma expressão que se refere ao modo de vida dos baianos.

Atividade 3 A baianidade de Carybé

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Inspirado pela cultura afro-brasileira, no início da década de 1970, Carybé dedicou-se a representar os orixás e seus rituais. O artista criou 19 painéis que representam os deuses da África no candomblé da Bahia. As obras formam o Grande mural dos orixás.

• Observando a imagem criada por Carybé, compartilhe com a tur-ma suas impressões sobre essa obra.

A arte da escultura

Aleijadinho. Imagem de São João da Cruz, século XVIII. Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Sabará (MG).

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Com muito talento, negros e mestiços contribuíram enor-memente para o desenvolvi-mento da arte brasileira.

Durante três séculos quase toda arte que se produzia no Brasil era religiosa. Os artis-tas da época aprendiam sua arte nas corporações de ofício. Havia a corporação dos escul-tores, a dos douradores, dos ferreiros e assim por diante.

Nas corporações, os mes-tres, como eram chamadas as pessoas com mais experiên-cia, ensinavam os aprendizes, a maioria negros e mestiços. Um dos aprendizes que se tornou mestre foi o escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

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Arte – Unidade 4

Aleijadinho, Antônio Francisco Lisboa, nasceu bastardo e escravo, em Minas Gerais, em 1738. Era filho de um arqui-teto de obras português e de uma de suas escravas africanas.

O apelido Aleijadinho deve-se ao fato de ter adoecido por volta dos 40 anos, ficando com pernas e mãos deforma-dos. Como não podia mais se locomover, era carregado por dois escravos, que lhe amarravam nas mãos os instrumen-tos de que necessitava para esculpir. Usava preferencial-mente madeira e pedra-sabão em suas esculturas.

Aleijadinho foi um dos maiores representantes da arte barroca no Brasil, cuja finalidade, no século XVIII, era disseminar a religião cristã trazida ao País por colo-nizadores portugueses.

Em Congonhas do Campo, Minas Gerais, entre 1795 e 1805, Aleijadinho esculpiu 12 estátuas em pedra-sabão, representação dos 12 profetas, consideradas obras-pri-mas do artista.

Pedra-sabãoRocha de cor verde ou cinza-escura, encontrada principalmente em Minas Gerais. É formada em essência de talco e clorita, sendo bastante macia. É usada na fabricação de certos utensílios domésticos, como panelas, cinzeiros, estatuetas etc.

Aleijadinho. Os doze profetas (Adro da Basílica de Congonhas), 1800-1805. Esculturas em pedra-sabão. Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais, Brasil.

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Euclásio Penna Ventura, Retrato de Aleijadinho, s/d. Óleo sobre madeira. Acervo Museu Mineiro, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

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Nessa época, além dos escultores, havia também pintores. Nas igrejas, as pinturas contavam histórias bíblicas que funcionavam como livros, já que a maio-ria das pessoas não sabia ler. Nos amplos tetos, anjos e santos flutuavam em meio a nuvens, fitas e flores, com-pondo um grande espetá-culo visual. Era o espetáculo do Barroco.

Aleijadinho. Profeta Daniel (Adro da Basílica de Congonhas), 1800-1805. Escultura em pedra-sabão. Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais, Brasil.

Atividade 4 A arte barroca

Observe a imagem a seguir, pintada pelo frei Jesuíno de Monte Carmelo, filho e neto de escravos, para o teto da capela-mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Itu, em São Paulo.

Frei Jesuíno do Monte Carmelo, Teto da Capela Mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo (detalhe), 1784-1794. Óleo sobre madeira. Itu (SP).

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Você sabia que o surgimento da arte denominada “barroca” ocorreu no século XVII, na Itália?

As obras dos artistas barrocos europeus valorizam as cores, as sombras e a luz, e representam contrastes. As imagens aparecem de maneira dinâmica, valorizando o movimento. Os temas principais são a mitologia, as passagens da Bíblia e a história da humanidade.

Escultura de sabãoMateriais

• Uma barra de sabão de coco.

• Uma faca pequena, colher de café ou chá e garfo.

• Palitos de dente.

• Jornal.

Procedimentos

• Forre o local de trabalho com jornal.

• Utilizando um lápis, faça um leve esboço das principais partes do projeto de sua escultura diretamente no sabão.

• Pegue uma faquinha ou um palito e comece a raspar pequenas porções da barra de sabão. Use o garfo para criar texturas, caso seja necessário.

• Para deixar partes do sabão mais macias, use os dedos. O calor de suas mãos vai ajudar a amolecê-lo, tornando mais fácil criar uma superfície lisa.

• Você pode reparar pequenas fissuras na escultura de sabão usando um palito molhado para umedecer a superfície e, em seguida, usar os dedos para fechar as fissuras.

Após a apreciação da obra, comente com os colegas:

• as cores e o movimento das figuras;• as feições e a cor da pele dos anjos;• as vestimentas;• os detalhes decorativos da obra.

Atividade 5 Escultura de sabão

1. Agora você vai esculpir uma figura a partir de um único bloco, tal como o Aleijadinho (veja instruções no quadro a seguir).

2. Com os outros colegas, exponham as esculturas criadas.

A capoeira

A capoeira, uma das maiores expressões culturais afro-brasilei-ras, foi trazida ao Brasil por escravos africanos. Era usada tanto para defesa pessoal quanto para diversão.

Os movimentos ágeis de ataque e defesa eram usados por escravos em brigas e fugas, mas também como brincadeira ou jogo nas horas de descanso.

Ao praticar a capoeira, os escravos se uniam em grupos, o que fortalecia sua identidade cultural. A união incomodava donos e feito-res, por isso a prática da capoeira foi proibida.

Hoje a capoeira expressa, em primeiro lugar, ancestralidade, valo-res culturais e memória dos povos africanos no Brasil.

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Pierre Verger. Capoeira, 1946-1948. Fotografia. Salvador, Brasil.

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Pierre Verger. Capoeira, 1946-1948. Fotografia. Salvador, Brasil.

O fotógrafo Pierre Verger nasceu na França, em 1902, e decidiu viver na Bahia a partir de 1946. Em Salvador, registrou muitas manifestações culturais brasileiras de origem africana, como a capoeira.

Pierre Verger produziu 13 500 fotos enquanto viveu no Brasil – todas em preto e branco. As fotos trazem diversos registros de cultos afro-brasileiros, mas tam-bém exibem momentos triviais da vida urbana no País, festas populares, artistas regionais e trabalhadores.

Em sua última obra, é possível perceber uma poética e uma estética que ultrapassam a ideia de registro ou documentação de nossa cultura.

Fica a dica

Confira mais informações sobre Pierre Verger acessando o site do fotógrafo. Disponível em: <http://www.pierreverger.org/fpv/>. Acesso em: 26 maio 2012.

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Pierre Verger. Autorretrato, anos 1950.

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Berimbau Caxixi

Atabaque

Agogô

Pandeiro Reco-reco

O berimbau é o principal instrumento musical tocado na capoeir a. Os outros são: pandeiro, atabaque, agogô, caxixi e reco-reco.

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Atividade 6 Pesquisa sobre a capoeira

Para ampliar seus conhecimentos sobre a capoeira, realize a seguinte pesquisa:

• Verifique quem da turma joga ou já jogou capoeira.

• Pesquise no bairro em que mora se existe algum grupo que pra-tique capoeira. Se possível, assista à apresentação desse jogo e repare bem nos movimentos executados pelos participantes e na música tocada. Como alternativa, você pode assistir a uma de-monstração pela internet.

• O que você descobriu sobre a capoeira?

• Organizem, você e a turma, uma exposição com todos os traba-lhos realizados ao longo das atividades anteriores.

Você estudou

Nesta Unidade, você compreendeu a presença da cultura africana no Brasil, trazida pelos escravos africanos, por meio da manifestação religiosa do candomblé e da capoeira.

Estudou a arte barroca produzida no Brasil no século XVIII, pelas mãos de negros e mestiços, reconhecendo temas e assuntos propostos pelos artistas daquela época.

Você explorou, ainda, a tridimensionalidade com máscaras, baixos-relevos e outros objetos, esculpindo sua arte a partir de um único bloco, como fazia o mestre Aleijadinho.

Você sabia que a capoeira é um patrimônio cultural imaterial brasileiro?A capoeira, assim como o frevo, o pão de queijo mineiro e outros 25 bens brasileiros, foi registrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio cultural imaterial. O patrimônio cultural imaterial é todo bem que é transmitido de geração em geração e constantemente recriado, envolvendo saberes, formas de expressão, celebrações e lugares, garantindo o respeito à criatividade e a diversidade cultural. Para saber mais, entre no site do IPHAN. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 26 maio 2012.

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Pense sobre

Leia o texto a seguir.

Negro é uma construção social, afirma especialista do IBGE

Gilberto Costa, da Agência Brasil

Desde o século 19, o Brasil procura fazer um levantamento, por meio do censo, da cor da população. Na semana passada, pela primeira vez na história, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou que mais da metade dos bra-sileiros é formada por pessoas com a cor de pele parda ou preta (50,6%).

O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e se baseia na autodeclaração ou “autoclassificação”, como prefere dizer Ana Lúcia Saboia, chefe da Divisão de Indicadores Sociais do instituto.

O critério de autoclassificação é recomendado internacionalmente e apontado como alternativa menos subjetiva para definir a cor de uma pessoa. [...]

COSTA, Gilberto. Negro é uma construção social, afirma especialista do IBGE. Agência Brasil, 27 set. 2009. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2009-09-27/negro-e-uma-

-construcao-social-afirma-especialista-do-ibge>. Acesso em: 26 maio 2012.

• Para você, qual a relação entre essa notícia e os estudos realizados nesta Unidade?

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