MAIO 2013 55

GESTO

O universo empresarial de

Portugal caracterizado

pela existncia de cerca de

um milho de empresas, mas destas

apenas um por cento emprega mais

de 250 empregados, o que signifi-

ca que este um pas de pequenas

e mdias empresas. Contudo, esta

no uma situao positiva, por-

que em tempos de crise, como so

aqueles que atualmente se atraves-

sam, as pequenas empresas no tm

capacidade, nem massa crtica sufi-

ciente para poderem sobreviver. Por

isso, a grande maioria delas no vai

conseguir ultrapassar este perodo

e dever encerrar.

As empresas grandes, devido sua

dimenso e ao seu impacto, esto

muito expostas a todo o tipo de si-

tuaes, e tambm s questes do

valor, principalmente as que esto

cotadas em bolsa. E o seu valor est

diretamente relacionado com a co-

tao das aes que, por sua vez,

est cada vez mais relacionado com

a capacidade das empresas gerarem

cash-flow, isto , dinheiro vivo.

Mas para gerarem dinheiro as em-

presas tm de ter algum valor, que

O TOC criador de valornuma grande empresa

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trabalho que desenvolve.

Por Antnio Nabo* | Artigo recebido em maio de 2013

criado quer atravs de processos

produtivos quer atravs das pesso-

as que l trabalham. Neste sentido,

o tcnico oficial de contas, geral-

mente integrado no departamento

financeiro, um dos pilares impor-

tantes na cadeia de valor e participa

ativamente em todos os processos.

A necessidade de acrescentar

valor para o acionista

Relativamente necessidade de

acrescentar valor defende-se que,

face situao de crise e de forte

concorrncia que todo o pas est a

enfrentar, s iro sobreviver aque-

les que souberem acrescentar valor

quilo que passa por eles. Neste sen-

tido, de todo conveniente que cada

um de ns consiga tornar o nosso

posto de trabalho indispensvel,

mas isto s se atinge se se conse-

guir, de facto, acrescentar valor e

colocar o retorno do nosso trabalho

acima das expetativas daqueles que

nos avaliam e nos pagam. Caso con-

trrio, algum ir fazer essa tarefa

por ns.

Considerando uma perspetiva de

negcio, dois conceitos esto cada

vez mais convergentes: o conceito de

valor para o cliente e o conceito de

valor para o acionista, uma vez que

vivemos numa economia de merca-

do onde ter o cliente satisfeito um

fator chave no crescimento do mo-

delo de negcio. Mas este conceito

tem necessariamente de se ajustar

aos conceitos financeiros de valor

para os acionistas porque a satisfa-

o do cliente s tem interesse quan-

do produz um retorno financeiro que

ultrapasse o custo do capital.

Se repararmos bem, o lucro uma

opinio, mas o dinheiro em caixa

(disponibilidades) um facto, e

isto que conta no final do dia. Neste

sentido, muitos dos rcios que foram

utilizados no passado para medir

a performance das empresas, tais

como o rcio EPS (resultados por

ao), ou o ROIC (resultados sobre o

capital investido), foram concebidos

com base em informao contabils-

tica, isto , sobre a opinio propor-

cionada pela contabilidade.

Contudo, com o dinheiro no h di-

ferenas de opinio. Ele existe, ou

no existe, situao que no levanta

muitas dvidas, qualquer que seja a

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GESTO

perspetiva contabilstica de reali-

zar a abordagem. Por isso, h uma

relao cada vez mais forte entre o

preo das aes de uma empresa e

a sua capacidade de gerar cash-flow.

O papel do TOC na criao de valor

O Estatuto da Ordem dos Tcni-

cos Oficiais de Contas define duas

grandes categorias de funes para

os profissionais, a saber: planificar,

organizar e coordenar a execuo

da contabilidade das entidades;

exercer funes de consultadoria

nas reas de contabilidade, fiscali-

dade e Segurana Social, bem como

exercer funes de representao

dos sujeitos passivos.

A forma como o TOC pode acrescen-

tar valor depende da utilizao que

ele faz de trs ferramentas: anlise,

ao e comunicao. Se repararmos

bem, cada um de ns ter uma for-

ma diferente de utilizar estas trs

palavras, o que faz com que o valor

de cada um de ns seja diferente.

Por isso, o TOC tem de perceber

bem as constantes ligaes entre

a anlise, a ao e a comunicao,

para poder acrescentar valor ao seu

trabalho. Atravs de uma boa an-

lise podem desenvolver-se as aes

corretas, mas para que elas sejam

implantadas necessria uma co-

municao eficiente e eficaz de

modo a garantir que os processos e

os objetivos que cada um se prope

realizar so efetuados e entregues

no tempo certo.

De entre os desafios que se colocam

ao TOC numa empresa de grande

dimenso, a disponibilizao atem-

pada da informao financeira

hoje crucial e um dos mais impor-

tantes. Face s grandes empresas

estarem a distribuir dividendos

numa base trimestral, isto signi-

fica que existe sempre uma grande

presso para que a informao este-

ja pronta e em boas condies para

poder ser apresentada aos acionis-

tas e ao pblico em geral.

De modo a manter o fluxo de in-

formao, o TOC tem tambm por

funo fazer o acompanhamento do

oramento da empresa, bem como

projetar a situao atual e justificar os

desvios existentes. Estas informaes

so ferramentas essenciais para a to-

mada de decises ao nvel mais alto

da empresa, para que se cumpram

os objetivos estipulados e se corrijam

os desvios sobre as situaes que no

estavam previstas.

Mas o valor que se acrescenta ao tra-

balho desenvolvido pelo TOC tem

necessidade de ser medido, porque

atravs dessa medida que se conse-

gue saber quanto que se ganha. Para

efetuar estas medidas existem vrias

formas. Um dos exemplos utilizados

para medir o valor das empresas e

que tambm pode ser desagrega-

do para medir objetivos individuais

o valor acrescentado econmico

[economic value added] EVA que

consiste na seguinte frmula: EVA =

lucro depois de impostos (custo do

capital x capital prprio). Esta frmu-

la de medir a performance pretende

demonstrar que o valor gerado deve

ser superior ao custo do capital, e esta

situao pode ter aplicao a pratica-

mente todos os departamentos exis-

tentes na empresa.

Mas para alm dos resultados que se

devem atingir, importante no es-

quecer que como base de todo o traba-

lho desenvolvido pelos profissionais,

devem estar os princpios deontolgi-

cos pelos quais os TOC se regem: inte-

gridade, idoneidade, independncia,

responsabilidade, competncia, con-

fidencialidade, equidade e lealdade.

Esta atitude tica tambm uma for-

ma de acrescentar valor.

Uma nova atitude

Um dos maiores entraves para me-

lhorar o desempenho das equipas

financeiras das empresas o nvel de

competncia existente. Se as empre-

sas pretendem ter uma viso dife-

rente sobre a forma como atuam no

mercado e como criam valor, tam-

bm tm obrigatoriamente de criar

novas mentalidades e diferentes for-

mas de trabalhar nas suas equipas,

isto , ter uma nova atitude.

Neste sentido, a formao profissional

determinante para que o TOC possa

continuar a desempenhar com valor o

seu trabalho. Mas face ao desafio que

os profissionais tm sua frente, a for-

mao tem de deixar de ser contnua

para passar a ser perptua.

Tanto nas grandes empresas, como

nas de menor dimenso, o tcnico

oficial de contas desempenha um

papel importante na organizao,

revelando-se como um pilar do de-

partamento financeiro. Atravs da

sua capacidade de anlise, das suas

aes e da forma como comunica e

d a conhecer as suas ideias, acres-

centa um valor significativo ao tra-

balho que por ele passa. a

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A formao profissional determinante para que o TOC possa

continuar a desempenhar com valor o seu trabalho. Mas face ao

desafio que os profissionais tm sua frente, a formao tem de

deixar de ser contnua para passar a ser perptua.