o rosacruz n.268

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Page 1: O ROSACRUZ N.268
Page 2: O ROSACRUZ N.268

Pôster Árvore Sefirótica: 26x33,5 cm Pôster Columba: 30x40 cm Conjunto c/ os dois pôsteres - Código 6122 RA. R$ 15,00 - R.P. R$ 18,00 Você pode fazer seu pedido através da loja virtual de suprimentos da AMORC, no endereço www.shopping.matrix.eom.br/amarc ou através do telefone C0xx41) 3351-3000.

A Árvore Sefirótica de Nicomedes Gómez é um belíssimo pôster místico que representa o processo de iluminação do homem, desde seus passos e

provas iniciais, a té a consecução da Consciência Crística. A Columba Rosacruz é outro belo pôster, que representa nossa Vestal em

seu dever sagrado como Guardiã da Chama. Ambos os pôs teres são exclusivos da AMORC e ideais para decoração de

Sanctum e/ou Organismos Afiliados.

Page 3: O ROSACRUZ N.268

Sabedoria preservada

Prezados Fratres e Sorores,

Saudações em todas as pontas do nosso Sagrado Triângulo!

Que privilégio participar de uma Ordem como a nossa!

O conjunto dos nossos ensinamentos com as monografias, os experimentos, as convocações, os pensamentos e as inicia­ções formam a mais bela composição de saberes só revelados aos Iniciados.

Esta edição da nossa revista está composta por artigos selecionados para acrescentar mais luz ao Caminhante da Senda Rosacruz.

A entrevista de abertura com o Imperator Christian Bernard destaca a importância histórica da Ordem Rosae Crucis, AMORC na França, além de demonstrar a admira­ção e o respeito do nosso Imperator pelo amado Frater Harvey Spencer Lewis.

Entender que as plantas estão em meditação permanente e afinadas com o mantra primordial O M , ou, que as experiências do dia-a-dia constituem um laboratório de que a vida se serve para nos fazer crescer ou mesmo aprender alguns extraordinários métodos de purificação, são pérolas de conhecimento místico que os estudantes rosacruzes podem e devem aprender a valorizar.

A genialidade de Mozart, as aplica­ções incomuns da Lei do Triângulo e a Poesia são temas dos artigos que mere­cem toda atenção.

O artigo sobre a Pedagogia Mística dos Rosacruzes nos lembra a citação conheci­da de Guimarães Rosa: "Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".

Enfim, todos os temas são extraor­dinariamente interessantes e certamente irão agradar a todos.

Continuamos com as seções A M O R C no Mundo, com o Pensamento do Mês pelo Imperator e sobretudo com as come­morações pelo Centenário da Iniciação do Dr. H. S. Lewis.

Com meus melhores votos de Paz Profunda, sou

Sincera e fraternalmente A M O R C - G L P

Hélio de Moraes e Marques GRANDE MESTRE

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O Rosacruz é uma publicação trimes­tral da Jurisdição de Língua Portu­guesa da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis. As demais jurisdições da Ordem Rosacruz editam uma revista do mesmo gênero: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux Rosae, em alemão; De Rooz, em holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano; Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.

Seus textos não representam a palavra oficial da A M O R C , salvo

quando indicado neste sentido. O conteúdo dos artigos representa a palavra e o pensamento

dos próprios autores e são de sua inteira responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que possam estar interrelacionados com sua publicação.

Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem Rosacruz, A M O R C - Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.

Todos os direitos de publicação e reprodução reservados à Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, A M O R C - Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa. Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.

Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC

Editor: Mercedes Palma Parucker, SRC - MTb-580

Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da A M O R C

Assinaturas: Ligue para (0xx41) 3351-3060

1 ano: R$ 32,00 - 2 anos: R$ 56,00

nossa capa Pintura intitulada "O Homem Velho", por Harvey Spencer Lewis.

como colaborar Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do autor cedendo os direitos ou autorizando a publicação.

A G L P se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem nas normas estabelecidas ou que não estiverem em concordância com a pauta da revista.

Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, C D ou disquete. Originais não serão devolvidos.

No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar a autorização necessária para publicação perante as autoridades pertinentes ou autores respectivos.

Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas rosacruzes, misticismo, arte e ciências, e de cultura geral.

Propósito da Ordem Rosacruz

A Ordem Rosacruz, A M O R C é uma organização internacional de caráter templário, místico, cultural e fraternal, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que regem o universo e a vida.

Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através do desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo e propiciar uma vida harmoniosa para alcançar saúde, felicidade e paz.

Para esse objetivo, a Ordem Rosacruz oferece um sistema eficaz e comprovado de instrução e orientação para um profundo autoconhecimento e a compreensão dos processos que determinam a mais alta realização humana. Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios Esotéricos, está à disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.

Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa Rua Nicarágua, 2620

Bacacheri - 82515-260 Curitiba - PR

www.amorc.org.br Caixa Postal 4450 - 82501-970

Fone: (0xx41) 3351-3000 Fax: 3351-3065 e 3351-3020

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nesta edição

"O mundo precisa de um espírito de abertura" 0 4 PENSAMENTO DO MÊS

Aspectos do Fama Fraternitatis! 0 8 for DÉCIO ESMAEL RASERA, FRC

Métodos de purificação 1 2 for CAROLYN EVANS, SRC

O jardim esotérico 1 8 for PAUL GOODALL, FRC

Nascimento, oportunidade para crescer 2 1 for MARGARIDA BRANCO, SRC

A pedagogia mística dos rosacruzes 2 4 for LUIZ FRANKLIN DE MATTOS, FRC

A poesia da Senda 29 for HIDERALDO MONTENEGRO, FRC

Reflexões místicas sobre o câncer 3 4 for MÔNICA DA SILVA NUNES, SRC

As sementes da autorrealização 3 6 for MARY ANN FOWLER, SRC

IImortalidade 41for ENY GONÇALVES, SRC

Wolfgang o amigo de Deus 4 2 for JOSÉ MAURÍCIO GUIMARÃES, FRC

Simbologia e dualidade 4 6 for R. JOHN FRANCIS KNUTSON, FRC

Claudio Mazzucco 5 5 NOVO GRANDE MESTRE

AMORC no Mundo 5 6

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"O mundo precisa de um espírito de abertura"

Entrevista concedida em março de 2009, pelo Imperator Frater Christian Bernard, à revista francesa "Actualité de L'Histoire".

Ancorada na história oci­

dental, a Rosa-Cruz

é uma sociedade iniciá­tica que sempre susci­tou o interesse ou a curiosidade tanto das elites quanto da popu­lação em geral. Atual­mente, o movimento rosacruz mais dinâmico é o da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, A M O R C , cujos funda­mentos foram estabele­cidos em 1909, quando da vinda à França de um esoterista ameri­cano, Harvey Spencer Lewis (1883-1939). O ano de 2009 é, portanto, um centenário. Nesta ocasião, entramos em contato com Christian Bernard, responsável por esse movimento a nível mundial. Frater Christian Bernard,,

Imperator da AMORC

pensamento do mês

Page 7: O ROSACRUZ N.268

A . H . M - CHRISTIAN BERNARD, HÁ UM

SÉCULO, HARVEY SPENCER LEWIS,

FUNDADOR DA A M O R C , VEIO À FRANÇA,

PROCEDENTE DOS ESTADOS UNIDOS.

PODERIA DISCORRER SOBRE ESSE

ACONTECIMENTO E SOBRE O LUGAR QUE

ELE OCUPA NA HISTÓRIA DO MOVIMENTO

QUE VOCÊ DIRIGE?

C.B. - Inicialmente, é preciso lembrar que, na época, Harvey Spencer Lewis estava bem envolvido no estudo do esoterismo em geral e especialmente do rosacrucianismo. Também se interessava muito por fenômenos paranormais, tanto que fundou um Instituto de Pesquisas Psíquicas, integrado basicamente por cientistas e médicos. Em 1909, escreveu a um livreiro parisiense de quem havia recebido um catálogo, a fim de obter informações sobre a Rosa-Cruz. Pensa­mos que se tratava de Henri Durville, que era especializado em livros que tratavam de esoterismo. Seja como for, esse livreiro respondeu a ele sugerindo que viesse à França. E foi o que ele fez em julho daquele mesmo ano. Final­mente, depois de vários encontros, acon­selharam que ele fosse a Toulouse, onde entrou em contato com os Rosacruzes.

O QUE SE SABE SOBRE ESSES ROSACRUZES?

Naquela época, a Ordem Cabalista da Rosa-Cruz, fundada em 1887 por Stanislas de Guaita, estava quase inativa. Quanto à Ordem da Rosa-Cruz do Templo e do Graal, criada em 1891 por Joséphin Péladan, estava em dormência. Todavia, sabe-se que esses dois movi­mentos tiveram origem em uma variante rosacruz que, bem ou mal, continuava a conduzir discretamente suas atividades na região de Toulouse. Foi com membros dessa variante que Harvey Spencer Lewis entrou em contato quando de sua vinda à França.

E DEPOIS DISSO?

Em 12 de agosto de 1909, Harvey Spencer Lewis foi iniciado por um colegiado de Rosacruzes em um pala­cete situado no subúrbio de Toulouse. Após a cerimônia, esses rosacruzes lhe deram por missão fazer renascer a Ordem da Rosa-Cruz na América. Para isso, confiaram-lhe manuscritos, livros e documentos diversos. De volta aos Estados Unidos, e em conformidade com o que lhe havia sido solicitado, Harvey Spencer Lewis procedeu ao ressurgimento da Ordem, com o nome de "Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis". Paralelamente, instituiu as bases de um ensinamento iniciático que foi transmitido então oralmente e, posteriormente, por escrito, na forma de monografias. Naturalmente, esse ensinamento foi enriquecido e atuali­zado, o que continua acontecendo.

P O R QUE RAZÕES OS ROSACRUZES DA

FRANÇA CONFIARAM A UM AMERICANO A

MISSÃO DE FAZER RENASCER A O R D E M

R O S A - C R U Z NOS ESTADOS UNIDOS?

A priori, esses rosacruzes haviam previsto a Primeira Guerra Mundial, com tudo o que resultou dela em termos de infortúnios e de destruições na França e na Europa. Confiando seus arquivos a um americano, presu­miram que estes estariam protegidos daquela tormenta e que Harvey Spencer Lewis faria bom uso deles. E foi o que ele fez, tanto que, nos anos 30, a A M O R C já contava com várias centenas de membros. Com o retorno da paz, foram fundadas Grandes Lojas em diversos países europeus, inclusive na França, em 1931. A partir daí, a Ordem não parou de se expan­dir, de modo que atualmente ela está ativa em todo o mundo.

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A A M O R C FEZ PARTE DA FAMOSA FEDERAÇÃO UNIVERSAL DAS ORDENS E

SOCIEDADES INICIÁTICAS, QUE TINHA POR

OBJETIVO PROTEGER OS MOVIMENTOS

TRADICIONAIS E INICIÁTICOS DA ÉPOCA?

Sim, Harvey Spencer Lewis era, aliás, um dos responsáveis. Após ter levado a bom termo sua missão, a FUDOSI , fundada em 1934, foi colocada em dormência em 1951, numa reunião feita em Bruxelas.

C O M O OS ROSACRUZES ATUAIS VEEM

HARVEY SPENCER LEWIS?

Os que se interessam por sua vida e por sua obra sabem que a A M O R C deve muito a ele. Além disso, ele foi um personagem inovador e de vanguarda. Basta lembrar que ele criou o primeiro planetário e o primeiro museu de egipto¬ logia da costa oeste dos Estados Unidos. Poucos anos antes, tinha fundado uma das primeiras emissoras de rádio privadas de Nova Iorque, dedicada principalmente a programas de ordem cultural e filosó­fica. A isso, é preciso acrescentar os inúmeros quadros que pintou sobre temas esotéricos e simbólicos, alguns dos quais alcançaram renome nacional. Ele também foi membro de várias sociedades e asso­ciações filosóficas. Contudo, Harvey Spencer Lewis não é considerado um "guru" na A M O R C .

E M CERTOS LIVROS, A A M O R C É APRESENTADA COMO UM MOVIMENTO

DE INSPIRAÇÃO MAÇÔNICA. O QUE

VOCÊ DIZ DISSO?

Não é correto. A A M O R C é um movi­mento que está ligado tradicionalmente à variante rosacruz que emergiu no início do século XVII na Alemanha, na França e na Inglaterra. A confusão talvez venha do fato de certas obediências maçônicas terem entre seus graus o de "Cavaleiro Rosacruz". Todavia, no início do século

XX, havia boas relações entre a A M O R C e a Franco-maçonaria, tanto que Harvey Spencer Lewis foi recebido com honras durante uma assembléia de Grande Capítulo, que aconteceu em Paris em 1926, sob a direção de Camille Savoir.

E ATUALMENTE, QUAIS SÃO AS

RELAÇÕES QUE VOCÊS MANTÊM COM

os FRANCO-MAÇONS?

Nenhuma relação especial. Naturalmente, há rosacruzes que são franco-maçons, assim como existem rosacruzes que são cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e mesmo agnósticos. Mas não existem contatos privilegiados entre a A M O R C e a Franco-maçonaria como tal. Atual­mente, esses dois movimentos orientam suas atividades seguindo metodologias próprias. Aliás, lembramos que temos por divisa: "A mais ampla tolerância na mais irrestrita independência".

A A M O R C SE ENVOLVE NO PLANO POLÍTICO?

Não, ela sempre foi apolítica, de forma que tem entre seus membros pessoas com opiniões políticas bem diferentes. Naturalmente, cada um é inteiramente livre, enquanto cidadão, para se envolver no mundo da política. Mas o fato de a A M O R C ser apolítica não quer dizer que não esteja interessada na marcha do mundo. Em 2001, aliás, ela publicou um Manifesto no qual seus dirigentes apresentam sua posição em relação a diversas questões sociais. Mais recen­temente, em 2005, divulgou uma Decla­ração dos Deveres do Homem, que foi aclamada por inúmeras personalidades civis, políticas e religiosas.

N A SUA OPINIÃO, o QUE TORNA

A A M O R C ESPECIAL?

Em primeiro lugar, trata-se de uma Fraternidade aberta a homens e mulheres

pensamento do mês

Page 9: O ROSACRUZ N.268

de todas as raças, de todas as nacionali­dades, de todas as classes sociais e de todas as religiões. Com toda a sinceri­dade, conheço poucos movimentos tão abertos. Em segundo lugar, a A M O R C perpetua um ensinamento escrito, que seus membros recebem em casa na forma de manuscritos, e um ensinamento oral, para aqueles que desejarem frequentar uma Loja e participar de trabalhos coletivos. Acrescentaria ainda que esse ensinamento não é especulativo, mas prático. Seu objetivo é possibilitar que toda pessoa tenha um domínio melhor sobre sua vida.

QUAL É, DE UM MODO GERAL, A SITUAÇÃO

ATUAL DA AMORC? Ela está ativa no mundo todo e realiza suas atividades atualmente através de quinze jurisdições identificadas por línguas como a francesa, a inglesa, a

alemã, a espanhola, a italiana, a japonesa, a russa, a tcheca, a portuguesa, a escandi­nava e tc , sendo que cada jurisdição é dirigida por um Grande Mestre eleito para um mandato renovável de cinco anos. Em todas as jurisdições, a A M O R C está a serviço de seus membros para atender seu desejo de sabedoria e de conhecimento, seja através de seu ensina­mento escrito ou oral. Paralelamente, contribui para o despertar das consciên­cias advogando uma abordagem ao mesmo tempo humanista e espiritualista da existência. Do nosso ponto de vista, isso é uma necessidade nesta época caracterizada pelo individualismo e pelo materialismo exacerbados.

ESTÃO PREVISTAS MANIFESTAÇÕES

ESPECIAIS DURANTE ESTE ANO

DO CENTENÁRIO?

Sim. Em nível mundial, acabamos de publicar uma obra intitulada "Harvey Spencer Lewis, um Mestre da Rosa-Cruz', que vem na sequência de um outro livro publicado há alguns meses: "Les Rose-Croix lévent le secret". O Conselho Supremo da A M O R C , formado por todos os Grandes Mestres e por mim mesmo, fará sua reunião anual no pró­ximo mês de agosto em Toulouse, onde ocorrerá uma convenção alguns meses mais tarde, no final de outubro de 2009. Além disso, cada Grande Loja vai organizar eventos especiais: cerimônias de memórias, exposições, portas-abertas, convenções etc. Como pode ver, o rosacrucianismo é uma sabedoria antiga que permanece muito atual. Este ano do centenário será então colocado sob o signo da comunicação para os rosacruzes, e eu agradeço a vocês por nos terem aberto suas colunas. Á

— Conversa transcrita pela redação.

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Aspectos do Fama

Fraternitatis! por DÉCIO ESMAEL RASERA, FRC

rosacricianismo

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bom reafirmar que a A M O R C considera o Manifesto Rosacruz Fama Fraternitatis, um marco na história do Rosacrucianismo,

mas não o ponto inicial deste. A Ordem Rosacruz finca suas raízes nas Escolas de Mistério do extremo oriente, e particular­mente no Egito, no período em que Amenhotep IV pela primeira vez apre­sentou os princípios que se tornaram a base dos ensinamentos Rosacruzes. Portanto, a herança que a A M O R C oferece aos seus Membros não pode ser reduzida à época da publicação dos três Manifestos Rosacruzes, por mais notorie­dade que eles tenham tido ou tenham.

Em 1614, em Cassel, Alemanha, de maneira anônima, veio a lume o Fama Fraternitatis. Ê uma das primeiras de­clarações públicas dos Rosacruzes. A íntegra do Fama Fraternitatis encontra-se na obra "A Trilogia dos Rosacruzes", publicada pela Grande Loja de Língua Portuguesa - A M O R C .

Em síntese, o Fama Fraternitatis conta a vida de um enigmático personagem, Christian Rosenkreutz, que teria sido o fundador da Ordem. Relata que C.R., um alemão de estirpe nobre, em tenra idade foi posto em um mosteiro para ser educado. Estudou ele Latim, Grego e os clássicos de sua época. Com cerca de dezesseis anos ele empreende uma viagem em que visita a Terra Santa, vai até a Turquia e Arábia, onde estuda com afinco sua sabedoria filosófica. Mais adiante, familiariza-se com a Kabala, a Terapêutica, Filosofia, Física e Matemá­tica. Depois de muito viajar retorna à Europa, tornando-se uma espécie de missionário do conhecimento que havia adquirido. Observa a Europa decadente e deseja reformá-la. Para tanto, associou-se com homens cujo conhecimento e caráter considerou meritórios; fundando o

primeiro núcleo da Fraternidade da Rosa-Cruz. A exata época da morte e o local de repouso de C R . eram desconhe­cidos para aqueles que o sucederam.

Passado mais de um século, o Frater N.N., um arquiteto, decide efetuar uma reforma em sua casa. No decorrer da obra, eis que se depara com uma tabuleta de cobre, em uma das paredes, notando que um prego dela se projetava. Ao puxar o prego, a parede rui, revelando uma porta secreta, encimada com a seguinte frase em latim "Após cento e vinte anos, serei descoberto". Ê assim que foi desco­berto o túmulo de C.R.

Quem é Christian Rosenkreutz? Con­forme o Fama, Christian Rosenkreutz seria de origem alemã, nascido de pais nobres, em 1378. Aos quatro anos é con­fiado a um mosteiro onde é educado. Aos 16 anos, empreende sua longa viagem, acima sintetizada. Depois de sua volta à Europa, forma o primeiro núcleo da con­fraria Rosacruz, constituído de sete Irmãos.

As regras originais da Fraternidade eram: 1) cuidar de graça dos doentes; 2) adaptar-se aos hábitos dos países em que estejam; 3) reunirem-se uma vez por ano; 4) procurar uma pessoa digna para a sucessão; 5) usar as letras C.R. como seu selo, insígnia, e sinal; 6) manter a socie­dade secreta por cem anos. Christian Rosenkreutz teria morrido aos 106 anos. A descrição de sua tumba ocupa um lugar de destaque na Fama.

Há intérpretes dos Manifestos Rosa­cruzes que acreditam na realidade históri­ca de Christian Rosenkreutz. Na Con­venção da A M O R C de 1950 o assunto foi amplamente explorado. Trazemos aos leitores de "O Rosacruz" nossas pondera­ções, levando em conta o posicionamento da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, em diversos de seus escritos.

De início, examinemos a "nacionalidade

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rosacricianismo

de Christian Rosenkreutz. Ora, foi na Alemanha que ocorreu a reforma reli­giosa, cerca de um século antes da publi­cação do Fama Fraternitatis. A reforma foi capitaneada por Martinho Lutero, que também teve uma vida monástica, estu­dou Grego, Latim e Hebraico. E bom lembrar que na Alemanha de então, havia um clima favorável para que novas ideias fossem disseminadas. O mesmo não ocorria na maioria dos países da Europa.

Ora, é inegável que os primeiros Manifestos Rosacruzes se contrapunham ao catolicismo de então. Ressaltamos que, a circulação livre das opiniões, sem qualquer risco para o indivíduo ou associação, é conquista relativamente recente dos países civilizados. Assinala­mos que naquela época associar-se, especialmente para promover ideias e conhecimentos que de alguma forma se contrapusessem aos defendidos pela Igreja, era muitíssimo perigoso. Assim, a publicação de forma anônima, e especifi­camente na Alemanha, dos Manifestos Rosacruzes, denota uma forma estraté­gica de procedimento. Além de que só pessoas realmente atentas aos aconteci­mentos daquela época, poderiam perceber o verdadeiro objetivo dos Manifestos.

É bom ressaltar que a A M O R C considera que o Fama não deve ser interpretado literalmente. "Seu verdadeiro propósito era despertar interesse, pergun­tas e curiosidade; portanto, muitos dos personagens mencionados possivelmente jamais existiram como indivíduos, mas representavam uma ideia, um movimento, ou mesmo um grupo de pessoas". Em suma, o Fama Fraternitatis é uma alego­ria, um escrito elaborado por um grupo de pessoas instruídas e cultas da Europa, que tinham um propósito preciso! Com isso em mente, prossigamos.

A vida de Christian Rosenkreutz na

realidade é uma analogia com os aconte­cimentos que haviam ocorrido nos últimos duzentos anos, que antecederam a publicação do Fama Fraternitatis. De maneira alegórica, ele descreve as peripé­cias dos Rosacruzes para trazer à luz o conhecimento da antiguidade que haviam herdado. O propósito era reavivar o conhecimento, que por séculos vinha sendo reprimido, pela autoridade religiosa.

Alerta a A M O R C que o Fama Frater­nitatis não pode ser tomado ao pé da letra. Ao contrário, é um documento que está a anunciar uma nova era, de algo que estava aparentemente "morto", mas fora cuidadosamente preservado e protegido. Eis Christian Rosenkreutz. O corpo dele não é o de uma pessoa, mas um corpo de ideias, princípios e filosofia que vinha sendo sufocado desde 324 d.C.

É fato histórico que após a oficializa­ção do Cristianismo, pelo Imperador Constantino, a Igreja começou a comba­ter toda a sabedoria pré-cristã. Fechou Academias, destruiu bibliotecas, perse­guiu os místicos, classificando as ciências do Egito e da Grécia como formas perniciosas de magia e heresia. Diante disso, grupos Rosacruzes se desen­volviam secretamente.

Coube aos Rosacruzes preservar ao longo de muitos anos, para não dizer séculos, o conhecimento arcano. Entre­tanto, a partir de agora (séc. XVII) ele estava voltando à vida. Enfim, a sabedoria dos antigos não estava perdida, mas bem preservada! Ela não fora destruída, mas escondida! Este é o simbolismo por traz da tumba de Christian Rosenkreutz. A época de perseguição religiosa com vistas a sufocar ou extinguir qualquer ideia divergente dos dogmas e preceitos esta­belecidos, chegava ao fim.

O Fama Fraternitatis, portanto, deve ser considerado como uma declaração

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intelectual de independência. Constituiu--se em proclamação para o mundo de que a influência opressora da Igreja havia sido aniquilada, e que uma vez mais o grande todo da sabedoria antiga estava sendo preservado pela Ordem Rosacruz. (Fórum Rosacruz, 1972, vol. IV, n° 1, pg. 23).

Daí a necessidade de anonimato. O Fama é o Anúncio, uma proclamação gloriosa de um novo tempo! Finalmente a liberdade intelectual e da cultura seria promovida! A sociedade ocidental estava se livrando da tirania, que sufocara a Europa durante muitos séculos.

O Fama convida os homens zelosos a se unirem à causa da reforma. Mas, que reforma? Além de uma mudança insti­tucional, onde a liberdade de opinião, pesquisa, pudesse ser levada a efeito, propunha também algo verdadeiramente complexo: a autorreforma!

Isto está simbolizado no Fama Frater­nitatis pelo Frater N.N. Resumindo - ele resolve fazer uma reforma em sua casa. Ora, que reforma é esta, senão o anseio de mudarmos o nosso eu, "a nossa casa". E assim, dentro da sua casa, encontra um prego. Mas, que arquiteto era o Frater N.N., que nunca tinha visto na sua própria casa uma tabuleta com um prego? Isso é uma alusão aos aspectos que trazemos, mas aos quais não estamos atentos.

Ocorre que ao caminharmos pela Senda e empreendermos a jornada da reforma de nossa casa, descobrimos este "prego". Ao examiná-lo ou puxá-lo, certas crenças que anteriormente mantínhamos, tal qual como paredes, vão ao chão, dando lugar a uma nova passagem. A descoberta de um verdadeiro tesouro, ali em nosso próprio eu, o Eu Interior, ou o Deus de nossos Corações, com o qual devemos aprender, está simbolizado pela Tumba onde se encontra o Corpo de Christian Rosenkreutz perfeitamente preservado.

A verdadeira interpretação do Fama Fraternitatis deve ser entendida com o nosso coração. Somente homens e mulheres que zelosamente se preparam e ousam empreender a reforma em si mesmo, é que podem um dia, quase que acidentalmente, encontrar o verdadeiro tesouro que está oculto em seu interior.

Assim, o Fama Fraternitatis conta por um lado, a trajetória da Ordem Rosacruz através dos tempos, e de outro, faz alusão ao caminho para aqueles que desejam a reforma de si mesmo. Enfim, é em nossa intimidade que encontraremos o verdadeiro Mestre, representado pela Câmara Secreta onde está preservado o corpo de Christian Rosenkreutz.

Transcrevo mais um trecho do elucidativo e inspirador artigo do Fórum Rosacruz, já aludido: "O verda­deiro adepto não assume atitudes especiais ou um particular e notório modo de viver. Pelo contrário, procura passar despercebido entre os homens, exemplificando uma atitude de humil­dade. Só se revela àquele que o reconheceu e aprendeu a perceber através da apa­rência exterior, pois é verdade que o Mestre só aparecerá SE o discípulo estiver preparado. Qualquer outra ideia é ilusão. O Rosacruz, mais do que qualquer outra pessoa, deve constan­temente demonstrar ponderação e ter o cuidado de não sucumbir à miragem das aparências físicas, morais, intelec­tuais ou espirituais".

Simplesmente soberbo! É evidente que tal posicionamento quebra mitos visionários. Mas, é este justamente um dos objetivos da A M O R C : - quebrar as superstições e ilusões, pondo a verdade em evidência! Como dito - a A M O R C é uma instituição "Consagrada à verdade e dedicada a todo Rosacruz". A

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prática mística

Métodos de purificação

por CAROLYN EVANS, SRC*

Muitas vezes na vida, senti­mos necessidade de purifi­cação. Normalmente isso toma a forma de uma

limpeza puramente física, como lavar nossas roupas, tomar um banho de banheira ou uma ducha, limpar a casa. Mas existem ocasiões em que podemos

sentir necessidade de uma purificação ou limpeza de natureza espiritual.

A limpeza espiritual muitas vezes pode ser feita tomando-se um copo de água pura e lavando-se as mãos e o rosto antes das meditações, com o que limpa¬ mo-nos simbolicamente tanto interna quanto externamente. Podemos, algumas

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vezes, incluir uma prece na qual pedimos a purificação para que possamos ser dignos de conseguir uma harmonia mais elevada. Tais métodos de purificação ajudam bastante, mas existem situações em que sentimos que precisamos tomar medidas mais efetivas.

Nós, seres humanos, temos a grande capacidade de criar atmosferas que podem ser tanto positivas quanto nega­tivas, pois, sempre que emitimos um pensamento, geramos um efeito sobre a atmosfera que nos rodeia. Todos já ouvimos ou lemos em algum momento sobre as "casas mal-assombradas", que chamam a atenção de pesquisadores psíquicos. Muitos desses pesquisadores psíquicos concluíram que essas "assom­brações" não são absolutamente assombra­ções reais; que os assim chamados "fan­tasmas" já passaram há muito tempo para outro estado. Em vez disso, argumenta-se que, quando acontece um evento intensa­mente emotivo, como uma tragédia, numa parte de um edifício ou de uma área externa, então essa emoção imprime naquela atmosfera as vibrações desses acontecimentos trágicos. Muitas vezes, a realimentação mórbida das lembranças de tais eventos por outras pessoas pode manter aquela atmosfera emocional altamente carregada a ponto de, real­mente, aqueles que são sensíveis a tais fenômenos, serem capazes de percebê-los, mesmo muitos anos depois.

Nós criamos atmosferas De forma semelhante, nós criamos atmosferas dentro de nossas próprias casas ou dos locais que visitamos. Por exemplo, uma atmosfera de grande alegria

e felicidade pode ser criada depois de um evento positivo, como um casamento ou um nascimento. Uma atmosfera de paz, de harmonia e unidade vai seguir uma meditação, enquanto que uma atmosfera de desarmonia e de aflição vai predominar após uma briga ou tragédia.

Muitas vezes, sem que haja qualquer culpa aparente de nossa parte, podemos experienciar aflição num determinado local e se essa aflição for intensa ou prolongada, ela pode ter tal efeito sobre a atmosfera do lugar que podemos nos sentir desconfortáveis, embora a causa estressante inicial tenha desaparecido.

Sabe-se que mudar de casa é bastante estressante. Assim como a reviravolta de mudar nossa família e nossas posses para uma nova casa, podemos nos sentir des­confortáveis com a atmosfera criada por seus ocupantes anteriores. No entanto, existem muitos métodos para se limpar as vibrações negativas e tornar os locais mais agradáveis para se visitar ou para se morar.

Page 16: O ROSACRUZ N.268

prática mística

Um desses métodos, é claro, é ter pensamentos e emoções positivas no nosso dia-a-dia. Dessa forma podemos evitar criar atmosferas negativas ou alimentar qualquer tipo de negatividade que porventura possa já estar presente. A prática constante da meditação é muito eficaz para elevar não apenas nossas vibrações, mas também as vibrações daqueles que nos cercam, além dos benefícios que nos traz aumentando nossa felicidade e bem-estar pessoais.

Métodos de limpeza Existem muitos rituais de limpeza para casas e outros locais. E podemos também inventar nossos próprios métodos, afinal de contas, é a intenção que vale. Muitas pes­soas preferem o uso de água para fins de limpeza. A água pode ser benta e oferecida para o uso de purificação espiritual sim­plesmente pelo procedimento de manter­mos nossas mãos, com as palmas para baixo, acima dela e de fazermos uma prece para auxiliar no nosso trabalho de purifi­cação. A água pode então ser espargida pela casa e na parte do terreno afetado.

Bem conhecida por seu efeito neutra¬ lizante, a água salgada também é um excelente detergente psíquico. No entan­

to, quando realizam cerimônias simples de limpeza, algumas pessoas gostam de usar os quatro elementos, como uma vela para purificação pelo fogo; incenso para purificação pelo ar, sal, terra ou pedras semipreciosas para purificação pela terra; e água, combinada com prece e meditação em cada recinto afetado. Muitas vezes ajuda fazer uma limpeza física geral no recinto, para começar.

Existem também vários aromas ou óleos que podem ser usados para fins de purificação, quando queimados dentro de um recinto ou em áreas externas. Prova­velmente o mais conhecido desses é a sálvia, uma grande favorita dos índios americanos. Uma outra é a bergamota selvagem, uma erva aromática que é usada pelos ocultistas europeus para "repelir todos os males".

Algumas pessoas podem preferir usar simplesmente as técnicas meditativas como a visualização de uma luz pura branca ou dourada, que vai acabando com a negatividade, ou luz de várias outras cores, dependendo da preferência pessoal. A entoação de um som vocal também tem um efeito benéfico, assim como a visualização de certos símbolos.

Recentemente, um método bem simples chamou a minha atenção: disse­ram-me que 108 repetições do som vocálico AUM efetivamente exorcizaria qualquer local de qualquer negatividade, não importa de que tipo de manifestação. Reconhecendo que 108 é um número místico, aceitei a palavra da pessoa e fiz uma tentativa. Acabei descobrindo que era o método mais efetivo para mim.

O uso do círculo como um símbolo também já foi reconhecido como bastante

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efetivo, quer visualizado cercando as paredes de um recinto ou de uma casa de uma forma protetora, ou na forma de um laço de luz pura branca ou dourada, desenhado fisicamente com um dedo ou com uma vareta de incenso acesa. Um outro método ainda consiste na visualização da casa como um todo

colocada dentro de uma redoma prote­tora de luz branca.

Os símbolos universais como o penta­grama, a estrela de Davi ou a pirâmide podem ser incorporados, assim como qualquer outro símbolo que a pessoa sinta ser necessário.

Muitas vezes, de fato, não é possível visitar o respectivo local. Tudo o que é necessário numa situação como essa é construir, mentalmente, uma imagem do local ou da propriedade a ser limpa, e visualizar a limpeza acontecendo lá. Este método pode ser psicologicamente útil para nós, quando queremos remover nosso apego de um local em que passamos por experiências infelizes no passado. Fico me perguntando se é o local que exorcizamos ou se é mais próximo da verdade dizer que é nossa mente que se liberta dele.

Autopurificação Naqueles momentos em que sentimos a necessidade de purificarmos a nós mes­mos, sugere-se fazer um jejum físico e tomar bastante água. No entanto, isso nem sempre é prático para pessoas com sistemas digestivos delicados ou com certos problemas médicos, embora a maioria de nós obtenha benefícios be­bendo muita água e seguindo uma dieta razoável. Novamente, a visualização pode ajudar se, ao tomar um banho de banhei­ra, ou uma ducha, visualizarmos a água nos proporcionando mais do que uma

limpeza física. Podemos imaginar a ação de limpar da água se estendendo para nossa aura e para o nosso corpo psíquico, ou limpando todo o nosso ser. Existem também vários óleos de limpeza e de relaxamento na aromaterapia, que podem ser acrescentados na água do banho.

Todos nos culpamos, em determi­nados momentos, de nos apegarmos a situações do passado que precisamos liberar. Neste caso, a meditação pode ajudar. Durante a meditação podemos criar uma imagem simbólica da situação da qual queremos nos desapegar e imagi­nar aquela situação ser retirada e jogada fora para longe de nós, pedindo ao Cós­mico ou ao Deus do nosso coração que tome conta dela. Mesmo assim, algumas pessoas continuam se preo­cupando com relação a para onde foi levada aquela si­tuação depois que a purificação aconteceu. Existem vários méto­dos, é claro, para se tratar da dispersão da energia negativa. Podemos visualizar que ela foi consumida pelo fogo, lavada com água, ou transformada em luz. Mas o que realmente precisamos fazer é manter em nossas mentes e nos nossos corações a certeza de que o Cósmico ou o Deus dos nossos corações vai cuidar daquilo, e que aquilo vai ser mandado de volta para um local onde não cause qualquer mal, pron­to para ser novamente reciclado pelos processos do Universo. A

* Rosicrucian Beacon, setembro de 2008 -Tradução: Cecilia Erthal.

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ecologia e misticismo

O jadim esotérico

"Cuidar de um jardim é participar ativamente dos mistérios mais profundos do universo."

-Thomas Berry (historiador, 1914-...)

por PAUL GOODALL, FRC

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Todos nós, com certeza, quando temos a grande sorte de termos um espaço para um jardim, adoramos ficar perto de nossas

plantas. Seja pequeno ou extravagan­temente grande, cada jardim é um micro­cosmo de energias ocultas com as quais, em determinadas ocasiões, sentimos um contato particularmente próximo. Não conseguimos identificar exatamente o efeito que nosso pedacinho "autocriado" de natureza tem sobre nós, mas quando nos sentimos fisicamente cansados ou mentalmente esgotados, nossos jardins parecem ter uma capacidade mágica de nos deixar com o corpo calmo e os pensa­mentos revigorados. Também são refúgios de inspiração, e muitos poetas e escritores se beneficiaram de seu feitiço cativante. Poderíamos dizer que o "Livro dá Natu­reza" é um verdadeiro texto, cheio de significados divinos, se soubermos como interpretar suas múltiplas páginas.

De uma perspectiva rosacruz, compre­endemos isso em termos da Mente Universal e da filosofia panteísta, em que Deus é visto como estando e existindo em todas as coisas tanto no reino material quanto no reino imaterial. Isso pode ser complementado talvez pela crença tradicional indiana, que diz que as plantas estão em meditação permanente e afina­das com o mantra primordial O M , que é exalado pelo Sol e enviado para a Terra. Isso é belamente resumido por Wolf-Dieter Storl na edição de 2001 de seu livro Pflanzendevas (A Natureza Espiri­tual das Plantas):

"O mantra primordial, materializado na luz, é transmitido a nós pelas plantas através de um processo revigorante. Apenas as plantas são capazes de ligar dessa forma os reinos celestial e mundano. Na linguagem sagrada dos Vedas, as plantas são designadas pela palavra osadhi.

A palavra é composta de osa (transformação pela queima) e dhi (recipiente) nesse sentido, as plantas podem ser consideradas recipientes para a metamorfose do fogo cósmico."1

Trata-se de um ponto de vista profun­damente místico que vê as plantas no centro de um processo alquímico da vida, como agentes entre o sol e nós. Apesar de podermos discordar de alguns dos princí­pios metafísicos contidos na passagem acima, como Rosacruzes podemos certa­mente nos identificar com a essência cósmica que está sendo evocada.

Alquimia das plantas Mas, voltando à tranquilidade dos nossos jardins, refletindo silenciosamente sobre todo o verde e toda a vida que nos rodeia, será que alguma vez pensamos nas energias vibratórias que se manifestam e se trans­formam dentro dele diante dos nossos olhos? As plantas estão constantemente realizando um processo alquímico interno de transmutação. Não é verdade que nos maravilhamos diante daquelas sequências em câmara lenta nos documentários sobre natureza, em que podemos observar seu crescimento externo e transformação com tão fascinante concisão e detalhe?

Essa alquimia interna se manifesta, é claro, num processo químico bem real chamado fotossíntese, que é instigado pelos fótons da luz gerada pelo sol. E é aí que o ponto de vista hindu apresentado na citação acima contrasta, mas também ressoa de uma forma profundamente espiritual na ciência da vida real. A fotossíntese é a forma de a planta fabricar sua própria comida. O pigmento da clorofila na parte "verde" das folhas capta

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ecologia e misticismo

a energia do sol e isso ativa a produção de comida a partir de ingredientes bem simples: dióxido de carbono e água. A água, contendo nutrientes e minerais valiosos, é retirada do solo pelas raízes das plantas e levada até as folhas onde se mistura com o dióxido de carbono do ar e se convertem em açúcares, que são absorvidos pelas plantas para fazer com que elas cresçam. Durante esse processo, a planta libera oxigênio e, juntamente com a absorção de dióxido de carbono, realiza uma função vital no sentido de preservar a atmosfera de nosso planeta.

Os elementos Fazendo um balanço de todos os elemen­tos desse ciclo de energia, podemos ver um exemplo vivo de elementos alquími­cos interativos da Terra, Água, Ar e Fogo. Rudolf Steiner, fundador do movimento

Antroposófico, viu os quatro elementos refletidos nas partes constituintes da planta da seguinte forma:

Raízes = Terra Folhas = Água Flores = Ar Sementes = Fogo

Ao lermos o artigo "O Fogo Interno" (Edição de junho de 2008 do Rosicrucian Beacon) poderemos, talvez, fazer nossas próprias comparações com relação à rotação dos elementos que agem nas plantas e nos seres humanos. Não é difícil descobrir uma complementaridade subjacente entre os dois; especialmente se tivermos em mente a filosofia hindu apresentada acima.

O uso dos elementos num jardim japonês Zen é evidente; carregado de simbolismo esotérico e refúgios de manipulação deliberada de plantas, água, pedras e características arquitetônicas, juntamente com o uso do vento, do fogo e de coisas semelhantes, para aumentar a atmosfera de tranquilidade espiritual. Nós, ocidentais, temos uma tendência a sermos mais conservadores e a permane­cermos dentro dos modelos arquitetôni­cos nacional e tradicional, que são muitos. E claro que isso não é errado. Fazemos o máximo dos nossos jardins dentro dos nossos parâmetros culturais, e entre os tipos que identificamos como sendo ocidentais estão desde o jardim de casas do interior até arranjos mais formais. Os nossos jardins têm uma tendência a gravitar mais no sentido do elemento terra com um pouco de ênfase no lado água; enquanto que o jardim japonês parece combinar nele todos os elementos.

Talvez também tenhamos a tendência a trabalhar demais entre uma abordagem funcional e um projeto estético no qual,

O processo de fotossíntese

Formação de carboidratos

Liberação de

oxigênio

Água

Energia solar

Dióxido de carbono e água

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por exemplo, queremos que o pátio seja grande o suficiente para ter uma mesa, seis cadeiras e uma churrasqueira. Em um jardim pequeno, isso pode ter um efeito prejudicial pelo fato de ser menos dire­cionado a se obter um refúgio de paz e tranquilidade. Um jardim de tamanho médio ou grande pode ter todos os obstáculos retirados e haverá bastante espaço para se experimentar. Pode-se, no entanto, combinar funcionalidade e beleza, até com conteúdo simbólico. Leia sobre os jardins japoneses e veja o que pode lhe ser útil.

Os ciclos celestes Seguindo os ditames da Lei Cósmica, a energia de uma planta nunca é esta­cionaria; existe sempre uma mudança, quer seja num ritmo diário, mensal ou anual. O ciclo mais importante é natu­ralmente a revolução anual da terra em torno do sol, resultando nas quatro estações. Mas existe também a antiga tradição da jardinagem lunar, segundo a qual a plantação e a colheita acontecem de acordo com o ciclo lunar. Trechos de trabalhos de Homero e Hesíodo indicam que os gregos usavam os meses lunares. Hesíodo, em seu trabalho Trabalhos e Dias, datado do século VIII a .C , mostrou que ele muitas vezes usava as constelações para planejar a plantação e a colheita.

Em tempos mais recentes, este sistema foi abandonado devido ao aumento do uso de fertilizantes, mas nas últimas décadas a prática tem sido revivida, principalmente devido ao sistema de agricultura biodinâmico de Steiner, desenvolvido na década de 1920.

Plantio lunar Como estamos discutindo o plantio baseado no ciclo lunar, podemos muito bem perguntar: como é que ele funciona? Parece que há uma combinação dos efeitos lunares como diferentes quanti­dades de luz refletida sobre a lua, sua força gravitacional sobre os fluidos da planta, o efeito cíclico de elevação e abaixamento das águas dos oceanos e as distorções no campo magnético da terra.

Os agricultores "lunares" acreditam que a força da gravidade lunar afeta o fluxo de umidade no solo. Este efeito seria maior nas fases de lua nova e de lua

' cheia, quando o sol e a lua estão Jardim japonês.

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aproximadamente alinhados com a terra. É mais fraco no primeiro e no último quartos das fases da lua. Portanto, para se tirar vantagens do ciclo lunar, um jardi­neiro deve evitar virar o solo em seu jardim quando ele contém a maior umidade, isto é, durante os períodos de lua cheia e nova. Essa maior umidade incentiva as sementes a germinarem e a crescerem, especialmente com a luz da lua cheia, já que se acredita que ela tenha um efeito na germinação das sementes, com base no fato de a exposição à luz forta­lecer o processo.

Uma defensora particularmente moderna desse método de jardinagem é Maria Thun, cujos livros sobre o assunto têm influenciado jardineiros e fazendei­ros de todo o mundo. Existe atualmente uma literatura bastante extensa sobre jardinagem de acordo com a lua, e os calendários lunares anuais se tornaram indispensáveis para muitos jardineiros.

Sugestões práticas Existem muitas coisas práticas que podemos fazer para ajudar a permanecer em contato com o mundo natural de nossos jardins. No que diz respeito à lua e seus efeitos, vá até o jardim à noite e simplesmente sente-se ou fique de pé e sinta em silêncio como as diversas ener­gias estão operando durante as diferentes

fases do ciclo lunar. Tente entrar em sintonia com as plantas e perceber a forma como elas estão experienciando a influência da lua. Delicadamente segure as folhas ou o tronco e tente sentir sua energia vibratória interna. Faça isso também durante o dia, concentrando-se na essência cósmica do sol, dando vida a tudo o que você vê. Respire nos raios cósmicos do sol e imagine as plantas fazendo o mesmo. Tente fazer esses exercícios em horários diferentes durante o dia. A medida que se afina com os padrões sutis da maré alta e da maré baixa, você vai aprofundar o seu relacionamento com as plantas em seu jardim.

Mas, voltando ao nosso parágrafo inicial sobre o efeito benéfico que os jardins nos proporcionam, percebemos que eles são ambientes temporários que nos permitem fazer uma pausa para um pouco de descanso em um mundo que muitas vezes pode parecer o oposto do que se espera de algo que é intrinseca­mente divino e parte integrante do cósmico. Durante a nossa permanência física na Terra encontramos tanto coisas ruins e escuras quanto coisas boas. Isso é inevitável e faz parte da nossa caminhada em direção ao autoconhecimento. Mas, considerando as plantas de nossos jardins, elas têm suas raízes na escuridão e crescem para a luz, e seu sustento é recebido de ambos os mundos..., do de cima e do de baixo. Podemos aprender com elas que o caminho do avanço espiritual envolve aproximar essas duas polaridades da luz e da escuridão, do sol e da lua, dentro de nós, em mútua harmonia, em nosso esforço permanente de nos aproximarmos de Deus.

Nota: 1. McIntosh, Christopher. Garden of the Gods, I.B. Tauris, p.138.

ecologia e misticismo

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"Não nascemos do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus"- (João 1:13).

nascimento é a introdução do sopro, a animação da matéria, a sua fecundação pela energia cósmica. Esta, com a sua

sabedoria, torna possível o entendimento, mediante a consciencialização da matéria. Ao nascer na Terra, o ser vai paulatina­mente adquirindo consciência, dando-a assim à vida, antes inconsciente. O sopro vital, responsável pela intersecção da luz com a vida ou elemento terreno, unifica aqueles dois componentes primordiais do ser, tudo ligando em unidade. E o amor, terceira ponta do triângulo construtor das formas, e que surgiu quando a luz e a vida se ligaram entre si.

"Quando tu, ó Sol, te pões no ocidente dos céus, o mundo está em trevas, como os mortos. Brilhante fica a terra quando te elevas no horizonte; quando brilhas como Aton durante o dia, as trevas são dissipadas. Quando projetas os teus raios, os dois mundos se põem em festa. Vês teus povos acordados de pé, porque tu os levantaste!" (Salmo de Akhenaton).

Em cada dia, o sol surge no horizonte, fecundando com a sua esplendorosa energia a massa adormecida da terra, as plantas, os animais, os homens e todas as formas existentes podem então se manter vivas. Um nascimento ocorreu, o do dia que se inicia. Este mesmo processo se

Nascimento oportunidade

para crescer por MARGARIDA BRANCO, SRC

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reflexão

repete em todos os domínios da existên­cia, porque a lei cósmica é uma só, e o elemento positivo deverá animar sempre o negativo, para que uma nova manifes­tação surja no mundo da forma, onde o amor se revela.

O homem, unindo-se com a mulher, pela força atrativa do amor, construirá um novo corpo humano, resultado e sinal desse mesmo amor, possibilitando a emanação de uma personalidade-alma, que virá adquirir um maior nível de consciência e delinear a sua participação amorosa no mundo, já que tudo aquilo que neste plano se revela é obra do Amor, terceira ponta do Sagrado Triângulo, em que as outras são a Luz e a Vida.

O nascimento é o Big-Bang da criação, é a explosão inicial da matéria prenhe de energia, sendo o sopro vital o sinal visível dessa animação, que perpassa todos os seres, ligando-os no mar cósmi­co da respiração universal, onde todos os pensamentos, sentimentos e atos da humanidade se registram, no banco de dados do inconsciente coletivo.

O mundo vai assim sendo definido, através desta mente coletiva, que a toda a hora se renova, se cria, nasce. O nasci­mento é constante, e a todo o momento, o mundo em que vivemos pode mudar com novas ações criativas. E preciso, pois, percebermos a importância das nossas individuais contribuições. Quan­do nos foi dado um corpo e a expiração da Alma Universal deu origem à pri­meira inspiração, iniciamos a viagem das iniciações permitidas pelas experiências neste plano de existência, de forma a podermos renovar a face da Terra.

A obra foi-nos facultada, através do exercício do livre-arbítrio, e se é com dor que o nascimento do corpo se opera, é também pela dor que a obra terá de ser realizada, embora a compensação e a

alegria sejam o resultado, tal como o é a manifestação de vida que qualquer corpo contém, premiando e justificando a dor do seu nascimento.

"As vicissitudes pelas quais passamos são o remédio para restabelecer a har­monia e ligação entre Deus e o Homem. Esse remédio é composto por dois ingredientes em conformidade com a nossa doença, que é um agravamento do bem e do mal que trazemos. Esse remé­dio é amargo, mas é o seu amargor que nos cura, porque essa parte amarga, que é a justiça, une-se ao que há de corrom­pido no nosso ser, para lhe proporcionar a retificação; ao passo que aquilo que há de regular em nós une-se por sua vez ao que há de doce no remédio e a nossa saúde é restaurada. Ê preciso ainda usarmos esse remédio amargo que os ministros espirituais da sabedoria nos fazem ingerir, para provocar uma sensa­ção dolorosa que se poderia chamar de febre de penitência, mas que acaba na doce sensação da vida e da regeneração" (Louis-Claude de Saint-Martin).

O sofrimento é apanágio deste plano de vida, porque ele proporciona consci­ência e é sinal da interiorização das experiências, muito embora o sejam também a alegria e todas as emoções. São estas que conferem verdadeira natureza ao ser que as vive, embora se torne necessária a concorrência do pensamento e da dinâmica fisiológica, para que elas surjam. O sofrimento é sinal de resistência à mudança implícita no processo de consciencialização. Se a nossa personalidade reage ao salto evolutivo que se impõe que seja feito diariamente, teremos a dor por resposta, que nos mostra assim o que importa ser aprendido para que a evolução prossiga. A recusa à obediência à ordem cósmica tem este efeito corretor, que obriga à

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consciencialização daquilo que importa entender. A entrada neste plano existen­cial é feita através da dor, porque a expansão que o nascimento implica, encontra sempre a resistência da forma, que tende para a cristalização e a inércia.

Os dois momentos cruciais da exis­tência do homem, o nascimento e a morte, correspondem às suas duas princi­pais iniciações, possibilitando ambas a evolução, que se processa em sucessivos nascimentos e mortes. Situado na dimen­são espaço-temporal, o movimento oscila entre um início e um fim, assistindo-se assim a sucessivos nascimentos e mortes no desenrolar do nosso quotidiano.

E esta a lógica da natividade, o início perene e prometedor em tudo o que existe, porque os dois pólos antagônicos, do nascimento e morte, são uma ilusão dos sentidos e da mente, já que a morte é um início de uma realidade diferente e o nascimento é a morte de algo que se transformou em vida.

Neste ciclo infinito de morte e vida, insere-se a ideia de reencarnação, ou seja, a vida renascendo após a morte, e sendo esta o despertar para novo plano de existência. De cada vez que nascemos, após uma outra morte, temos nova oportunidade de crescimento, na eterna espiral evolutiva. E renasceremos suces­sivamente, até que consigamos fazer nascer em nós o Cristo que nos habita.

"Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. De noite, Nicodemos foi ter com Jesus e disse-lhe: "Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus, porque ninguém pode fazer esses sinais que Tu fazes, se Deus não for com Ele". E Jesus, respondeu e disse-lhe: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus". E disse-lhe Nicodemos: "Como

pode um homem nascer de novo, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe?"

- "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne, o que é nascido do espírito, é espírito" (João 3:1 e 4).

Este homem novo terá de ser conce­bido e gerado no seio de nós próprios, amorosa e pacientemente, através de esforços diários de autoaperfeiçoamento. Alimentaremos o novo ser em formação, espiritualizando as nossas tarefas terrenas, aliviando o sofrimento alheio, contri­buindo para a evolução da mentalidade dos seres humanos e aceitando o plano da vida que teremos de traçar.

Serão, pois, as experiências quotidia­nas o laboratório de que a vida se serve para o fim em vista, tendo em mente que todas elas são verdadeiras iniciações a um grau mais elevado de consciência.

Paulatinamente, irá ocorrendo a transformação do ser e o novo nascimen­to ocorrerá quando morrer definitiva­mente o homem velho, com a sua perso­nalidade terrena, dando lugar ao Deus menino que estava adormecido em nós.

"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez de novo" (Corintios 5:17).

Só então, e porque a luz surgiu, não serão precisos novos nascimentos e mortes, já que a dimensão espaço-temporal foi transcendida.

"E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo e tirarei o coração de pedra da vossa carne, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos e os observeis" (Ezequiel 36:26-27).

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Educação

A pedagogia mística dos rosacruzes

por LUIZ FRANKLIN DE MATTOS, FRC

palavra EDUCAÇÃO tem sua origem nos verbos latinos

k Educare e Educere. Educare \ tem o significado de alimen­

tar, transmitir informações a alguém. Educere tem o significado de extrair, desabrochar, desenvolver algo que está no indivíduo.

A educação está sendo questionada, debatida e até mesmo negada, tanto em relação aos seus princípios epistemoló¬ gicos, quanto a sua validade como meio de socialização dos saberes, inclusive, como canal de construção e reconstrução de conhecimentos, tão necessários ao desenvolvimento pleno dos indivíduos.

O IV Manifesto - Positio Fraterni­tatis Rosae Crucis, assim se expressa sobre esse tema, de forma contundente e inovadora. Vejamos:

"Quanto à educação, consiste antes em apontar valores cívicos e éticos. Nisso compartilhamos a ideia de Sócrates, que via nela "a arte de despertar as virtudes da

alma", tais como a humildade, a generosi­dade, a honestidade, a tolerância, a benevolência etc. Independentemente de toda consideração de natureza espiritual, consideramos que são essas virtudes que os pais e os adultos em geral deveriam cultivar nas crianças. Naturalmente, isso implica, se não que eles próprios as tenham adqui­rido, ao menos que tenham consciência da necessidade de adquiri-las.".

A civilização egípcia, uma das mais antigas do mundo, desenvolveu-se no vale do rio Nilo, onde se fixaram os primeiros povoadores, originários da Ásia. A educa­ção egípcia era muito influenciada por um sistema de classes sociais, constituin­do, praticamente, privilégio dos sacerdo­tes e das classes letradas, entre as quais se incluíam os médicos, os arquitetos e os escribas. Toda a educação era dominada pelo espírito de religião e misticismo.

Licurgo, personagem tido por muitos como lendário, afirmava que a educação espartana deveria ser a primeira e funda-

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mental função pública a ser cumprida não somente pelo governo, mas também pela própria sociedade. Seu objetivo era estritamente militarista, em função de sua característica guerreira.

O povo egípcio foi um dos primeiros a ter consciência da importância do ato de ensinar e de aprender. A eles deve-se o uso prático das bibliotecas. Os conteúdos partiam da transcrição de hinos, livros sagrados e ensinavam também a aritmética.

Segundo Manacorda: "Ao lado da educação escolar [egípcia] havia também a educação familiar, atribuída primeiramente à mãe, depois ao pai. A educação dos ofícios se fazia nas oficinas a partir do princípio da observação e da repetição, passando de pai

para filho a arte de ensinar". E evidente a importância e influência

desse modo de se fazer educação; é possível reconhecê-la tal qual nas empre­sas ditas familiares, onde normalmente seus membros não possuem formação acadêmica na área em que atuam. Este princípio serve também para professores/ educadores que, em muitas regiões deste país, exercem a profissão sem o mínimo conhecimento sistematizado, mostrando quão necessário é capacitar os profissio­nais da educação, sobretudo os atuantes no ensino público.

A cultura ocidental foi fortemente influenciada pelos hebreus e através do cristianismo, com o seu catecismo, reforçou

"Transmissão do conhecimento", por

H. Spencer Lewis.

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Educação

a ideia de uma escola hebraica conteudista, prática esta que sobrecarrega ainda hoje as crianças com inúmeros trabalhos.

Gadotti ressalta que foram "os hebreus o povo que mais conservou informações sobre sua história, por isso, presentearam as gerações posteriores com um conjunto de doutrinas, tradições, cerimônias religiosas e preceitos que ainda são válidos e seguidos até hoje".

Quanto às tendências pedagógicas, a Grécia foi quem mais e melhor conseguiu realizar a síntese entre educação e cultura, não se eximindo de divergências entre Esparta e Atenas.

Atenas valorizava e preparava para as funções políticas, enquanto Esparta pre­parava para a moral, a guerra e o esporte. Naquela época já havia personalidades influentes, como Platão, que defendiam uma educação municipal e um ensino totalmente público.

Sócrates acreditava no verdadeiro conhecimento, que, no seu entendimen­to, era o autoconhecimento, começo da verdadeira sabedoria, pois, conforme Gadotti, ''sua preocupação como educador, ao contrário dos sofistas, não era a adapta­ção, a dialética e retórica, mas despertar e estimular o impulso para a busca pessoal e a escuta da voz interior".

Na Grécia, a forma da individualidade era o ethos da edificação de uma "tecno­logia da existência", pela qual o indivíduo deve ocupar-se de si mesmo, tornar a sua vida tão bela quanto possível, porque é assim que ele contribui para a vida em comum, que ele serve à cidade.

Não há, pois, entre os gregos, um mo­delo universal, abstrato, que se imporia a todos os indivíduos, normatizando a con­duta de todos. Ê o indivíduo que, culti­vando a si mesmo, estetiza a sua própria existência. Ao passo que, na individua­lização moderna, o indivíduo se constitui pela submissão à sua identidade, que deve

ser definida pelo seu "ser cognoscente". A pergunta feita pelos pensadores

originários gregos, foi também feita em muitos outros lugares e tempos do planeta. Esta pergunta pode ser expressa na seguinte sentença: o que é o ser do ente, enquanto é?

Como pergunta, ela ensejou múltiplos desenvolvimentos e diversas interpreta­ções. Esta forma de perguntar, entretanto, mudando a maneira e a articulação, tam­bém se encontra em Buda e em Lao Tsé, em Cristo e em Dogen, na cultura Iorubá e nas religiões dos índios brasileiros. Neste sentido, o que autoriza a afirmação de que a filosofia é coisa exclusiva dos gregos e de seus descendentes diretos?

Pensamos que esta autorização vem de uma limitação conceitual, que perde de vista o mistério do ser em seu insondável

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sem-fundamento. Perde de vista que aquilo que os gregos chamaram de filosofia não é algo exclusivo deles, mas neles aparece de forma peculiar e única.

Ou seja, a partir das Meditações de Descartes, a constituição da subjetividade se faz através da renúncia do indivíduo a uma parte de si mesmo (o espírito se separa dos sentidos), condição para que ele se eleve ao plano dos valores univer­sais que definem a verdade e a racionali­dade (Foucault).

A "individualidade autêntica", na perspectiva de Foucault, ocorreu entre os gregos antigos na medida em que estes viveram uma ética da liberdade, fundada na escolha pessoal de um estilo de exis­tência. A tolerância em relação às esco­lhas não é absoluta e há sérias proibições. No entanto, tais proibições são mais destinadas à função de "estetização do eu" do que, como ocorre entre os modernos, uma renúncia a uma parte dele.

Ora, uma praxis pedagógica que viabilize a construção de uma educação humana de caráter místico para a intei­reza e plenitude dos seres viventes, surge da necessidade da constituição de funda­mentos filosóficos da abordagem trans¬ disciplinar da existência humana.

A moral, no sentido que vimos de definir, coloca todo o problema da educação. Ora, esta nos parece perdida. A maioria dos pais já desistiu nesse campo ou não tem mais as referências necessárias para educar corretamente seus filhos. Muitos deles descarregam sua responsabilidade nos professores, para dissimular essa carência. Todavia, o papel de um professor não é antes de tudo de instruir, ou seja, de transmitir conhecimentos? (IV Manifesto)

Neste âmbito, é possível desenvolver a descrição dos fundamentos filosóficos

necessários para a realização de uma educação mística.

A descrição dos fundamentos filosó­ficos da educação mística pressupõe sempre um esclarecimento acerca do lugar em que esta ação é realizada. Qual é, pois, o ponto de partida deste discurso, dessa prática que anuncia tratar da edu­cação espiritual, de forma transdisciplinar, em seus fundamentos filosóficos?

Tomando como base a filosofia rosa­cruz, diríamos que os fundamentos filosó­ficos da educação e do misticismo rosacruz não são entes dotados de uma racionali­dade objetiva para além do ser humano.

Se assim fosse, como seria possível cuidar da humanidade do homem, num contexto espiritual, de ampliação do sentido da consciência individual rumo a Consciência Cósmica?

O aprendizado humano não se resolve por maquinação e repetição apenas, mas pressupõe o ser sensível aberto ao desve­lamento de seu tríplice mistério, enquanto vive e compartilha da compreensão de si em sua doação própria e apropriada, como ser de relação, destinado a sempre ser.

Quanto à nossa concepção da Espiri­tualidade, está fundada, por um lado, na convicção de que Deus existe como Inteligência absoluta que criou o Uni­verso e tudo o que ele contém e, por outro lado, na certeza de que o Ser Humano tem uma alma que Dele emana. Melhor ainda, consideramos que Deus Se manifesta em toda a Criação através das leis que o Ser Humano deve estudar, compreender e respeitar, para sua maior felicidade. De fato, consideramos que a Humanidade evolui para a compreensão do Plano divino e está destinada a criar na Terra uma Sociedade ideal. Esse humanismo espiritualista pode parecer utópico, mas unimo-nos a Platão, que

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Educação

declarou em A República: A Utopia é a forma de Sociedade ideal. Talvez seja impossível de realizar na Terra, mas é nela que um sábio deve depositar todas as suas esperanças". (IV Manifesto)

Nossos interlocutores nesta emprei­tada são de múltiplas descendências. Todos, porém, são pretextos para a construção da unidade transdisciplinar ou a "unidade na diversidade". Entre as muitas vozes acolhidas e meditadas encontram-se, além de Spencer Lewis: David Bohm, Krishnamurti, Heráclito, Heidegger, Platão, Aristóteles, Paulo Freire, Husserl, Keleman, Vimala Thakar, Maturana, Morin, Serpa, Dogen, Lao Tsé, Buda, Steiner, Piaget, Wilber, Einstein, Boff, Capra, Newton, Galilei, Nicolescu, Prigogine, Spinoza, Kant, Colli, Randon, Delors entre outros.

Estas vozes fazem ressoar nossa procura de uma construção holística para além da ciência regular vigente, a cons­trução de uma a ciência espiritual, trans¬ disciplinarmente mística' capaz de conju­gar todas as formas de saber produzidos e cultivados pelos seres humanos em todos os tempos e lugares.

O aprendizado rosacruz se baseia na tradição primordial, na comunhão com o Divino em nós, rumo a Consciência Cósmica. Usa para tanto processos e métodos próprios, universais, enfim, uma técnica que propicia ao indivíduo experimentar cientificamente verdades místicas, conhecimentos espirituais ou esotéricos, criando assim um desafio grandioso: a realização de uma prática filosófica implicada com o aprendizado de si mesmo no sentido mais radical de suas possibilidades.

Expoentes máximo dessa tradição são Harvey Spencer Lewis e Ralph M. Lewis. Os dois percorriam o mundo

inteiro e redigiam, numa velocidade e erudição vertiginosas, obras propondo uma síntese dos conhecimentos arcanos de todas as civilizações conhecidas e visando responder, simultaneamente, às limitações de perspectiva da ciência oficial de sua época e à posição enrije­cida das instituições religiosas, sobretudo do cristianismo.

Isto quer dizer que uma educação rosacruz haverá de ser o campo de reali­zação de uma humanidade que aprende a ser continuadamente: aprende a cuidar, aprende a contar, aprende a ouvir, aprende a deixar o outro seguir o caminho de sua vida, aprende a fazer, aprende a aprender, o que a torna incondicionalmente ultra­passagem e transformação.

Concomitante com essas afirmações, que mantêm essa mesma inserção complexa com relação à modernidade, devo registrar que H. S. Lewis em suas pesquisas e viagens místicas uniu moder­nidade e pré-moderno, interessado nesses poderes que a modernidade retirou do homem, numa nova humani­dade, com Consciência Cósmica.

Não é mais uma humanidade recor­tada por nações senhoras e nações escravas, mas uma humanidade que cuida responsavelmente da equanimi­dade de tudo. Uma humanidade amante da arte de ser plenamente a serviço da vida em si mesma. A

Bibliografia: BRASIL, E. S. - A Divina Filosofia Grega - AMORC; FOUCAULT -Microfísica do Poder - Ed. Civilização Brasileira; FREIRE, P - Pedagogia da Autonomia - Instituto Paulo Freire; GADOTTI, M - História das Ideias Pedagógicas - Ed. Ática; KOESTLER, A. O Homem e o Universo: Como a Concepção do Universo se Modificou Através dos Tempos -IBRASA; MANACORDA, M. - História da Educação - Ed. Cortez; PIERRE, D -Educação: Uma Alquimia Sutil - AMORC.

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A poesia da Senda

O misticismo da poesia. A poesia do misticismo

por HIDERALDO MONTENEGRO, FRC

INSPIRAÇÃO A poesia só acontece

quando me deixo quando me deito quando me vejo

quando me mexo

Sem poesia não há verdadeiramente a prática do misticismo. Ousamos dizer também que a poesia, inevitavelmente, seja de que tipo for, ou como seja denominada, está impregnada de misticismo. Sem misticismo não pode haver poesia. Não há misticismo sem poesia. Não há poesia sem misticismo.

Assim, todo místico há de ser poeta, bem como todo poeta há de ser místico (mesmo que não saiba disto).

Se o candidato à prática do misticismo não se "solta", nunca vai conseguir apreender a beleza da harmonia e sentir de fato o misticismo. Na verdade, a prática do misticismo implica em se colocar numa postura mental adequada. Sem este estado mental, vai-se ficar apenas no campo teórico, intelectual tão-somente. O misticismo implica em leveza, em harmonia, em desprendimento.

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FAROL Aquietar a mente

para que os olhos vejam o que está à sua frente

e dá sinais de vida e luz

em meio a palavras inúteis, gestos estancados

e sorrisos presos pelos dentes.

Guiar a mim mesmo dentro deste corpo

para ver além dos acontecimentos diários

e navegar livre iluminado

para este porto de águas tranquilas

que eu sou permanentemente.

O esforço do estudante na senda é justamente este: alcançar um estado mental onde a beleza esteja constante­mente permeando sua vida em todos os campos e planos.

Toda poesia reside na harmonia. E na apreensão da harmonia que a beleza aparece. Se pensarmos que beleza é harmonia (deixemos aqui qualquer con­ceito a respeito de beleza, pois, harmonia está presente em todas as coisas e em todos os momentos), a poesia, consequente­mente, está na apreensão da beleza, ou seja, da harmonia.

O místico, portanto, é aquele que capta a harmonia, a beleza nas coisas. Para que isto ocorra, ele mesmo precisa estar harmonizado. Se alguém não con­segue se harmonizar, então, não consegue praticar o misticismo e apreender a beleza e a poesia da vida.

Beleza é poesia. Poesia é beleza.

NUDEZ O sol abriu

dentro de mim uma imensidão de mares

— Eis-me aqui exposto abertamente concentrado!

- Síntese do meu Eu purificado —

Colocar-se como poeta é se despir, é se desvencilhar de preconceitos (de concei­tos estabelecidos). De fato, o estudante de misticismo produz em si mesmo um processo libertário através da alquimia espiritual. Para se "soltar" ele precisa se livrar de todos os preconceitos, entraves, barreiras, dogmas etc. Ou seja, tal qual nas artes, o misticismo é um processo libertá­rio. Há de existir revisão de conceitos, quebras de conceitos, re-avaliação de conceitos para que a poesia apareça na vida, na arte, na visão do poeta/místico. Na verdade, podemos afirmar que o mis­ticismo é uma arte e precisa ser praticado pelo candidato a tal senda.

Há uma oração bastante reveladora em relação à postura que devemos (nós estudantes de misticismo e poetas) nos colo­car para desbloquearmos nossas vistas turvadas de obscuridades conflitantes e, assim, conseguirmos realmente captar a harmonia das/nas coisas:

Oração do Amanhecer Senhor,

No silêncio deste dia que amanhece, Venho pedir-te a paz, A sabedoria, a força.

Quero olhar hoje o mundo Com os olhos cheios de amor,

E prossegue a oração: "ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vês"... E diz mais adiante: "fecha meus

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ouvidos a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade'... E conclui a oração: "Reveste-me de tua beleza, Senhor, e que, no decurso deste dia, eu te revele a todos"...

Há também um axioma oriental que diz: "Não ouvir o mal. Não ver o mal. Não falar o mal" que tem o mesmo sentido dos versos acima e que nos servem de mapa para nos posicionarmos correta­mente na senda mística. Ou seja, se ainda vemos separação, se ainda vemos distinção, se ainda vemos conflito, então não estamos conseguindo ver a verdade, a unidade, a harmonia, a poesia da vida.

Esta visão, ou melhor, este estado de poeta/místico ou de místico/poeta dis­solve toda neurose como um encanto. Não é à toa que as terapias ocupacionais utilizam música, dança, pintura e todas as formas de artes para conseguir um grau mínimo de harmonia naqueles que sofrem graves desajustes mentais.

Justamente a espiritualidade cumpre o papel de resgatar a visão sadia de enxergar o mundo. O misticismo tem uma importância fundamental no equilíbrio do ser humano, ajudando-o a se livrar de preocupações que distorcem a beleza da vida, devolvendo a poesia em sua vida.

Mas, o que é poesia?

A poesia é rima, palavra e escrima? A poesia é artifício,

metro e vício ? A poesia é construção,

arquitetura sem paixão? A poesia é luxo acadêmico,

que evita da pele o edêmico? A poesia é esqueleto, carne, corpo

ou ideia, mente que sustenta o dorso?

Quando falamos de poesia não a estamos colocando naquelas formas escritas e faladas através de poemas e versos tão-somente. Captamos poesia quando apreendemos beleza nas coisas. Alguém pode passar por uma certa rua, por exemplo, e ficar embevecido com sua beleza. Daí pode tentar transmitir o que sentiu através de uma música, de um quadro, de um poema etc.

Ou seja, quando falamos em poesia aqui não estamos nos restringindo à conhecida forma literária de fazer poe­mas. Desta forma, toda vez que nos senti­mos extasiados, encantados, deslum­brados com uma cena, uma paisagem, um rosto, um gesto etc. estamos sentindo poesia. Podemos não transformar este sentimento em nenhuma expressão artís­tica (um poema, uma pintura, uma mú­sica etc) , contudo, estamos num estado de poetas, de artistas.

O místico, através da prática da har­monização, sempre se coloca desta forma perante as coisas. Sem este estado não há misticismo de fato. Tudo que será dito será apenas especulativo, teórico, objetivo, intelectual e não corresponde realmente ao estado do verdadeiro místico.

PERISCÓPIO Não são os meus olhos

que abrem a minha mente E a minha mente

que abre os meus olhos

Para que o estudante possa alcançar a serenidade mental suficiente que o colo­que num estado de harmonia, onde todos os entraves sejam diluídos e, assim, consi­ga se tornar um poeta, ou melhor, um místico, a reflexão, a contemplação e meditação se tornam fundamentais.

Só através das práticas da reflexão, da contemplação e da meditação é que o

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variedades

estudante de misticismo pode se harmo­nizar e, assim, captar a harmonia, ou melhor, a beleza das coisas e verá, surpre­endentemente, que em tudo existe har­monia e, portanto, beleza.

E surpreendente que, algumas coisas que para muitos são banais, são transfor­madas em artes pelos artistas. Por quê? Porque o artista está atento a tudo em sua volta e, assim, sempre se harmoniza com as coisas que compõem seu mundo.

Sem leveza não pode existir poesia. E maravilhoso constatarmos o entusiasmo do estudante na senda. Aquela impres­são de que o estudante de misticismo parece estar descobrindo o mundo, de sua admiração perante as coisas, do seu entusiasmo e deslumbramento diante da vida, faz-nos constatar o quanto o universo da poesia, ou melhor, da beleza universal (da criação divina) o está tocando. A prática do misticismo inevitavelmente nos leva ao êxtase, ao deslumbramento. Assim como o poeta, o místico se surpreende em descobrir um novo modo de ver o mundo, a vida.

SOL Deus estava escondido

ou apenas dentro dos meus olhos ele se acendeu?

Uma rua, qualquer rua, um rosto, qualquer rosto etc. têm beleza, têm poesia. Para captarmos a beleza de uma rua, por exemplo, precisamos nos colocar como artistas (ou como místicos) perante ela. Assim, vamos nos surpreender como passamos a vê-la. A suavidade do místico resulta deste "estado" em que vive colocado, o de poeta.

Poesia é iluminação. A senda do misticismo é a senda da poesia. Todo místico, portanto, há de ser poeta. Todo

místico há de ser leve, harmonizado. Para tanto, a mente do místico se encontra livre, aberta, desobstruída, iluminada.

LUZ A vastidão desta paisagem

me fez contemplar minh'alma. Eu mesmo nela.

Ela dentro de mim, larga, vasta, verde.

Brisa soprando a paz dos campos eternos pousos.

Repouso do coração.

A paisagem é um espelho onde me reflito e me reflete.

A paisagem é uma porta aberta ou fechada

onde a imaginação é a chave.

Ir além, pintá-la. A paisagem sou eu. Eu sou a paisagem.

Passagem. Basta usá-la, eu.

Sentir poesia é uma sinalização de iluminação. Sentir poesia é captar a harmonia divina nas coisas. Sentir poesia é o primeiro sinal do despertar. A poesia é iniciática. O ser humano perde a visão banal das coisas para adquirir uma visão maravilhada de poeta/místico ou de místico/poeta. Ser poeta (seja artista ou místico, ou melhor, artista/místico ou místico/artista) é descortinar um outro mundo, é descobrir uma nova forma de ver o mundo.

AURORA Estar na manhã

ser a manhã como um sapo, como um saco

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como um fato Ser

plenamente humano sem rótulos Apenas ser

como um pássaro para flutuar leve

na manhã de um sol interior

e cantar deslumbrado por despertar deste sono

que é estar acordado.

Assim como o místico, o poeta é um alquimista. O artista precisa sempre estar mudando de visão, tentando captar as coisas de outra forma, de uma forma não conven­cional. Assim, estes estados interiores, estas visões sublimes, divinas, provocam transformações no estado mental do poeta.

Buscador Onde reside o desejo

que me corrói e que me fragiliza? Onde reside o desejo que me fragmenta

e me põe asas?

Onde reside o desejo que me move para cima

ou para baixo senão neste incompleto conhecimento

de mim mesmo?

O poeta é aquele que está despertando ou desperto. A consciência do poeta, sua sensibilidade, o faz colocar no mesmo patamar do místico. Não é à toa que os poetas se tornam místicos e que místicos se tornam poetas. A

DESTINO Deus vai se construindo todos os dias nos homens Deus vai se despertando

todas as horas nos homens Deus vai se abrindo

todos os momentos nos homens Deus vai se divinizando

todas as existências nos homens E, os homens vão, todos os dias,

se amedrontando com esta morte diária.

* Os poemas que ilustram este artigo fazem parte do livro "Alquimia das Águas", do autor Hideraldo Montenegro.

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Reflexões místicas sobre o câncer

por MÔNICA DA SILVA NUNES, SRC*

Definido biologicamente como uma alteração neoplásica maligna da célula, o câncer vem sendo muito estudado

nas ultimas décadas devido a sua alta prevalência entre as doenças da sociedade moderna.

Dentro desse conceito biológico, o câncer se origina a partir de uma mutação no núcleo da célula, que contém uma molécula chamada ácido desoxirribonu¬ cléico (ADN ou DNA) e é responsável por coordenar todos os processos bioló­gicos. Um pequeno erro na síntese do D N A pode resultar em uma aberração genética que leva à multiplicação desor­denada das células, originando o câncer.1

Embora muitas pesquisas atuais tenham levado a importantes descobertas não só dos mecanismos patológicos que induzem o câncer mas, também de

tratamento com sucesso parcial ou total, poucas pessoas se dedicam a estudar o aspecto místico de tal lesão.

Primeiramente, tomando como unidade a célula, devemos lembrar que a mesma representa o microcosmo, e portanto no ambiente intracelular irão se reproduzir as condições do ambiente em que vivemos e do que está ao nosso redor, em particular as vibrações que nos ro­deiam e que nos afetam diariamente. Dessa forma, a desarmonia oriunda de vibrações negativas, como ódio e rancor entre outras, emitidas por nós mesmos e pelos que nos cercam, são reproduzidas no nosso microambiente celular, podendo afetar a atividade celular e resultar em instabilidades dos processos celulares, facilitando a ocorrência de mutações e originando o câncer.

Determinados agentes químicos,

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como, por exemplo, toxinas alimentares e produtos químicos sintéticos e físicos (radiações ionizantes) também levam ao câncer através do mesmo processo. Podemos considerar, portanto, que a ingestão de substâncias ditas "canceríge­nas" resultam em vibrações desarmônicas para a célula.

Recentemente, foi demonstrado através de fotografia em alta velocidade o efeito de diferentes vibrações na água, através da análise de cristais2. A exposição de moléculas de água à música clássica ou palavras que indicam amor e afeto criou cristais magníficos. A utilização de palavras agressivas ou mesmo televisão e computador destruiu esses cristais. Se nosso corpo é formado de 70% de água, provavelmente está ocorrendo o mesmo fenômeno em nosso próprio organismo, em especial no interior de cada célula, onde se encontra o DNA.

Partindo do microcosmo para o macrocosmo, temos os indivíduos em sociedade relacionando-se com outros indivíduos através dos tempos. Nos primórdios da civilização humana, o homem caçava para se alimentar, mas também era vítima de outros animais maiores e das condições ambientais hostis. Com o passar do tempo, o homem conseguiu dominar o meio ambiente, ocorrendo a descoberta do fogo, a domes­ticação de algumas espécies de animais, a fabricação de armas de caça e defesa, o início das construções etc. passando então para o topo da cadeia alimentar.

A natureza mostra que todo ser vivo tem seu predador natural, para que o equilíbrio entre as populações seja mantido. Para a espécie Homo Sapiens esse predador externo deixou de existir, já que o homem se constitui atualmente no ser vivo mais evoluído nos aspectos físico e mental. Além disso, o avanço tecnológico

e científico levou a civilização humana a identificar e controlar diversas enfermidades. Entretanto, o câncer ainda continua sendo uma afecção muitas vezes incurável, principalmente quando descoberto tardiamente. Dentro desta visão místico-evolucionária, o câncer ocupa o papel de novo "predador" da espécie humana.

Como lidar com este novo predador? Levando em conta todas as dimensões envolvidas no problema: a dimensão física ou biológica e a dimensão mística; a di­mensão do microcosmo e do macrocosmo.

A dimensão biológica inclui obvia­mente tanto a prevenção como o trata­mento do câncer: evitar substâncias sabidamente carcinogênicas, praticar exercícios físicos, manter uma alimen­tação saudável e utilizar os tratamentos preconizados pela Medicina que já foram validados terapeuticamente. A dimensão mística inclui contribuir para manter um ambiente harmonizado ao redor de cada um de nós, praticar os exercícios de relaxamento e harmonização ensinados pela Ordem Rosacruz e também por outras escolas místicas, e ter sempre bons pensamentos e sentimentos, desta forma harmonizando o microcosmo celular. Finalmente, compreender a dimensão evolucionária no qual o câncer se encaixa, o que facilita a aceitação da doença e proporciona melhores condições para lidar com ela.

* Médica e doutoranda do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

N o t a s : 1. Neoplasia. In: Robbins Pathologic Basis of Disease. Cotran, Kumar, Collins, ed. Saunders, 1999, 6th edition, pg 260-328; 2 . Hado - Mensagens ocultas na água. Masaru Emoto, Editora Cultrix, 2001, 168 pg.

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As sementes da autorealização

Assim como é dentro é fora • por MARY ANN FOWLER, SRC*

autoconhecimento

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Corno estudantes de misti­cismo sabemos que a mente interior tem um profundo efeito sobre as circunstâncias

de fora. Sejam quais forem as circuns­tâncias externas, a expressão material é apenas o reflexo de alguma crença ou conceito que existiu primeiramente no interior da mente. O tipo de corpo que temos, o tipo de casa em que vivemos, o tipo de trabalho que exercemos, o tipo de pessoas que encontramos - tudo é condi­cionado pelas imagens que mantemos em nossa mente, e a elas corresponde. Assim como a planta provém da semente e sem ela não poderia existir, assim também as circunstâncias de nossa vida brotam das sementes ocultas do pensamento. A ação, portanto, é a florescência do pensamento, sendo os seus frutos a alegria e o sofri­mento. Consequentemente, ao escolher­mos os frutos de nossa vida — um corpo saudável, uma vocação satisfatória, amigos e oportunidades - precisamos antes plantar a semente do pensamento. Suprindo-nos, assim, com a imagem apropriada do nosso mundo material. Sem a imagem mental interna, não podemos ter a expressão material externa, pois assim como é dentro, é fora.

Provavelmente, há coisas que você gostaria de mudar ou eliminar de sua vida (todos temos tais coisas), talvez dificulda­des corporais ou falhas de caráter, hábitos de pensamento e de ação. Se você livrar sua mente da imagem mental - isto é, parar de pensar na situação indesejada -esta deixará de existir em sua vida. Assim, o segredo de uma existência bem sucedida consiste em construir ou visualizar a ima­gem mental que desejamos e em expurgar, livrar-nos da imagem mental que não desejamos. Como fazer isso? Escolhendo os pensamentos que permitimos que habitem nossa mente e formem imagens.

Para os rosacruzes, os pensamentos são coisas. De acordo com a Lei da Polaridade, tudo o que é criado em qualquer parte do Universo, é produzido por outras duas coisas. Durante anos acreditou-se que o átomo fosse a menor partícula da matéria. Mas quando os cientistas dividiram o átomo e descobri­ram que este é composto de prótons (o elemento positivo) e elétrons (o elemento negativo), a Lei da Polaridade ficou evidente. São sempre necessárias duas coisas, positiva e negativa, para produzir uma terceira. Como os pensamentos são coisas, também eles devem ser compostos de outras duas coisas. Os dois compo­nentes do pensamento são clareza (o elemento negativo, passivo) e interesse (o elemento positivo, ativo). Se queremos exercer a Lei da Polaridade e criar aquilo que desejamos em nosso mundo material, devemos começar com o processo do pensamento. Primeiramente, precisamos ter um quadro mental claro daquilo que desejamos; em segundo lugar, ter um interesse suficiente para fazer com que as forças criativas do Universo respondam aos nossos desejos.

O pensamento-semente

Uma ideia criativa

Os pensamentos, por natureza, se exterio­rizam. Tendemos a atrair para nós mes­mos e a nos sentirmos atraídos por pessoas, circunstâncias e situações iguais à imagens que temos em nossos pensamen­tos. Se você pensar e se identificar com a felicidade, atrairá felicidade para a sua vida. Mas é impossível ser bem sucedido e feliz se você pensar, se identificar e

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autoconhecimento

retiver em sua mente uma imagem de fracasso e tristeza. Lembre-se que o tipo de pensamento em que você se concentra e mantém em sua mente, reproduzir-se-á em seu mundo externo — pois assim como dentro, é fora.

A maioria de nós entrou para a Ordem Rosacruz com o desejo de ser feliz, saudável e próspero. Mas mantemos essa imagem em nossa mente? Ou de vez em quando lemos um artigo inspirador e nos perguntamos: por que não somos melhor sucedidos em nossas metas? Uma das razões pelas quais não vemos a manifes­tação dos nossos desejos, é porque não agimos de acordo com a Lei da Polari­dade. Não pensamos de modo sereno, constante e persistente no tipo de coisas que desejamos e não agimos de acordo com a orientação de dentro. Se exercita­mos o primeiro pólo formando o quadro mental, frequentemente deixamos que a dúvida destrua o segundo pólo - o nosso interesse. A dúvida distorce ou se expres­sa de forma física. O pensamento-semente, a ideia criativa, deve ser nutrido e mantido vivo durante o seu período de gestação, da mesma maneira como qualquer outra forma de vida.

Um ovo, por exemplo, tem em seu interior uma minúscula semente capaz de se tornar um frango. Mas antes que pos­samos ver a manifestação material, isto é, o frango correndo pelo terreiro, a mãe galinha deve ter suficiente interesse, durante as três semanas do período de gestação, para mantê-lo quentinho com o seu corpo, girando-o em várias posições na expectativa de ver o pintinho. Se a galinha perder o interesse e deixar de chocar o ovo, este gorará e o pintinho nascerá natimorto. A manifestação, por­tanto, será um ovo podre. O mesmo ocorre com as nossas ideias-pensamento. Perca o interesse e deixe de agir e sua ideia

" ...se você voltar a consciência para dentro, para se harmonizar com a Mente infinita e aceitar a orientação desta, o seu crescimento espiritual será visível e refletirá nas circunstâncias de sua vida. J)

se tornará o equivalente a um ovo podre. A pessoa bem sucedida concentra os

seus pensamento em atributos divinos como amor, sabedoria, alegria e beleza, e usa afirmações para manter o seu interes­se enquanto nutre as suas ideias-pensa¬ mentos durante o período de gestação. Sua mente está aberta e receptiva, e ela é dirigida intuitivamente para aquilo que lhe será mais benéfico, pela Energia Cósmica de dentro. Assim como a galinha age intuitivamente ao transfor­mar um ovo em frango, você pode agir intuitivamente para transformar a sua ideia numa manifestação material.

Os ensinamentos rosacruzes enfati­zam a concentração, pois a concentração é a chave para uma vida feliz. Por meio da concentração, você pode construir uma imagem interna que depois se manifes­tará em sua vida.

Muitas pessoas não conseguem fazer uma concentração bem sucedida, porque pensam que a concentração requer o uso da força de vontade. Elas na verdade tentam concentrar-se com seus múscu­los e vasos sanguíneos. Franzem as sobrancelhas. Crispam as mãos e, involuntariamente, aplicam o princípio da furadeira mecânica. Elas pensam que

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quanto mais pressão aplicarem, mais rapidamente obterão resultados. Tudo isso, porém, é errôneo.

Esqueça a furadeira e pense numa câmera fotográfica. Numa câmera, natu­ralmente, não se empregam pressões. O segredo, aqui, reside no foco. Se você quer fotografar um objeto, focaliza as lentes de sua câmera, tranquila e firmemente no objeto, durante o tempo necessário. Você não pressiona violentamente as lentes da câmera e nem fica movimentando a câmera de um objeto para o outro. Se o fizesse, a foto não passaria de um borrão.

O mesmo se aplica ao quadro que você está desenvolvendo em sua mente, quando não mantém os pensamentos concentrados durante um certo tempo. Algumas pessoas, quando tentam con­centrar-se, pensam em saúde durante alguns minutos, e depois pensam em doença ou medo. Pensam em prosperi­dade e a seguir se preocupam com suas dívidas ou como pagar suas contas. Pensam em perfeição corporal e a seguir pensam em velhice, dor e sofrimento e em quanto lhes custará o tratamento de suas doenças. Não admira que elas criem uma imagem tão confusa e nebulosa.

Observe que eu não estou dizendo que se deve tomar um pensamento e tentar mantê-lo pela força de vontade. E preciso permitir que uma sequência de pensamentos relevantes tenha livre curso em sua mente, cada qual, naturalmente, conduzindo ao seguinte. Esses pensa­mentos devem ser todos positivos, cons­trutivos, harmoniosos e pertinentes ao seu desejo. Pensando tranquilamente e sem esforço, você obterá a imagem mental do sucesso total. Quando se tem uma imagem de sucesso na mente, esta será seguida de sucesso nas experiências externas, sob forma de um corpo físico mais saudável, relacionamentos mais

satisfatórios, trabalho mais produtivo e um desenvolvimento espiritual mais pleno - pois assim como é dentro, é fora.

O poder das afirmações Como você usa o poder das afirmações? Você fala dos seus problemas aos amigos, e depois explica que está usando afirma­ções para se livrar deles? Se assim for, estará afirmando fortemente a existência do problema, que é precisamente a coisa da qual você está tentando livrar-se. Se você diz aos seus amigos que vai trabalhar em cima do seu reumatismo, de sua falta de dinheiro por de suas relações indese­jáveis, está fazendo com que essas coisas se tornem muito mais reais em sua mente subconsciente.

O que fazer então? Modifique sua mente em relação ao problema, esqueça-o durante um certo período de tempo -digamos durante um mês - e ficará surpreso com os resultados. Continuar esperando que a situação melhore é ficar recordando o problema - injetando energia no problema - é realmente afirmar sua existência. O segredo consiste em esquecer o problema e fazer com que os seus pensamentos mudem para a nova condição; acreditar no que você está pensando e agir como se a nova condição já existisse lá fora. Se assim fizer, a nova condição aparecerá no exterior, porque o exterior é apenas a projeção - a visuali­zação manifestada - do interior.

Os nossos verdadeiros pensamentos e crenças são projetados em nossas expe­riências cotidianas e correspondem às circunstâncias de nossas vidas. A verda­deira atividade sempre vem de dentro e se manifesta fora. A falsa atividade tenta

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autoconhecimento

atuar de fora para dentro. Como ocorre com a semente e o ovo do qual falei anteriormente, o crescimento vem de dentro. A semente e o ovo contêm tudo o que é necessário para produzir vida sob uma forma visível. A minúscula semente de mostarda, tão pequenina que não se pode vê-la quando depositada na terra, rebentará a partir de dentro e produzirá uma planta de 60 centímetros de altura. Se você empreende algum projeto porque foi inspirado por dentro a agir de acordo com essa inspiração, essa é a ação autên­tica e você estará agindo de dentro para fora. O seu trabalho está vivo e produtivo. Mas se você trabalha de fora para dentro, o seu trabalho não será produtivo - ele com efeito malogrará, porque está morto.

A mente infinita Você sabe que se quiser ser bem sucedido no mundo dos negócios, precisa gostar do seu trabalho e ser inspirado de dentro para tornar uma ação positiva. O mesmo se aplica ao desenvolvimento místico.

Se você ora incessantemente e medita a partir de fora, os seus esforços serão vãos. Mas se você voltar a consciência para dentro, para se harmonizar com a Mente Infinita e aceitar a orientação desta, o seu crescimento espiritual será visível e refle­tirá nas circunstâncias de sua vida.

Disse o Mestre Jesus: "Assim como um homem pensa em seu coração, assim ele é". Eu concordo, pois os nossos pensamentos se cristalizam rapidamente em hábitos e os hábitos se solidificam em circunstân­cias. O verdadeiro eu, portanto, é refletido nas circunstâncias de nossa vida, e essas circunstâncias constituem o resultado dos nossos pensamentos.

Pensamentos de medo, dúvida e indecisão cristalizam-se em hábitos

fracos e indecisos, que se solidificam em circunstâncias de fracasso. Pensamentos impuros de todos os tipos, pensamentos de natureza invejosa, ciumenta, negativa, crítica ou destrutiva, cristalizam-se em hábitos confusos, os quais se solidificam em circunstâncias adversas.

Por outro lado, pensamentos belos se cristalizam em hábitos de graça e bonda­de, os quais se solidificam em circuns­tâncias propícias, alegres e agradáveis. Pensamentos de amor, saúde e felicidade cristalizam-se em hábitos de temperança e autocontrole, os quais se solidificam em circunstâncias de sucesso, serenidade e paz. Da mesma maneira como pensa­mentos amorosos, prazenteiros e deleito¬ sos produzem uma disposição suave e luminosa, assim também pensamentos amargos, rancorosos e ofensivos resultam em um semblante amargurado e desagra­dável. A persistência em uma sequência especial de pensamentos sejam eles bons ou maus, não pode deixar de produzir resultados em seu caráter e no mundo.

Portanto, olhe para você e para as suas circunstâncias. Está gostando do que vê? Se você quer melhorar as suas circuns­tâncias, precisa melhorar a si mesmo. Comece mudando os seus pensamentos. O sofrimento que lhe causam as suas circunstâncias é o resultado de seus pró­prios pensamentos desarmoniosos. A paz e harmonia em sua vida são o resultado de sua própria harmonia mental interna.

Você está destinado a ser uma pessoa feliz, saudável e próspera; felicidade, saúde e prosperidade são o resultado de um ajustamento entre o interior e o exterior -pois assim como é dentro, é fora. A

* Rosicrucian Digest - Tradução de Pola Civelli, SRC.

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E o Mestre na câmara sagrada disse: ... Se te faltar suavidade

e a doçura não puder encontrar abrigo em tua alma...

se perdendo a serenidade, a angústia te visitar o coração,

deixe lágrimas de perdão tocarem as pétalas rubras de tua Rosa Interna...

pois a fragrância dessas pétalas será como perfume que se eleva

no Templo, incensando de Beleza o teu coração...

Se tudo te parecer escuro... e a esperança te abandonar...

deixe lágrimas de Amor descerem na terra árida de tua alma,

regando as sementes de uma nova manhã...

e... ternamente, viva em ti mesma

no cerne do teu peito, a tua Imortal idade.

* Do livro "Rosa e Romã", editora Artes & Textos

por ENY GONÇALVES, SRC*

Imortalidade

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personalidade

Wolfgang o amigo de Deus

por JOSÉ MAURÍCIO GUIMARÃES, FRC

Wolfgang Amadeus Mozart foi, certamente, um dos

maiores gênios da humanidade.

Menino prodígio, compo­sitor, pianista, organista, violinista e regente, nasceu no dia 27 de janeiro de 1756 em Salzburg, na Áustria, e viveu apenas 35 anos.

Seu nome de batismo, Johannes Chrysostomus Wolfangus Theophilus Mozart, é tão grande quanto sua importância como homem e músico. Theophilus, em grego -"o amigo de Deus" - foi latinizado para Amadeus. Ele nunca assinou Chrysostomus - o que tem a boca de ouro" — mas a natureza de sua música confirma a qualidade áurea de sua personalidade.

Desde cedo o '''amigo de Deus" produziu obras perfeitas, quase oitocentas, sendo que hoje conhecemos pouco mais de

seiscentas. A lista cronológica organizada em 1862 por

Ludwig Ritter von Köechel, registra uma

provável primeira composição datada

de 1761,"Menuett und Trio", com­posta quando ele tinha apenas cinco anos. As composições de Wolfgang são seguidas de um "k" numerado,

que se refere ao catálogo de

Köechel. Por exemplo: ''Sinfonia

n° 13 em Fá Maior, k.112" ou "Quinteto de

Cordas em Ré Maior, k.593". Wolfgang Amadeus compôs

sua primeira Sinfonia aos oito anos e as primeiras óperas com apenas 12. O pri­meiro quarteto de cordas, aos 14.

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Uma história, contada por Schachtner, trompetista e amigo da família Mozart, testemunha os esforços da criancinha, com apenas quatro anos:

"Certo dia o pai, Leopold, surpreendeu Amadeus escrevendo algo.

— 0 que você está fazendo, Wolferl? —Estou compondo um concerto, disse o menino. — Deixa-me ver, disse o pai. —Ainda não acabei. — Não faz mal, quero ver assim mesmo. Leopold pegou o papel e mostrou-me

umas notas rabiscadas. 0 pequeno Wolfgang mergulhava a pena até o fundo do tinteiro,

fazendo borrões e tentava apagá-los com a palma da mão. Rimos, a princípio, do que nos pareceu uma bobagem. Mas, de repente,

ficamos imóveis, com os olhos fixos no papel. Leopold deixou cair algumas lágrimas de emoção e de alegria observando a composição.

— Veja, senhor Schachtner, disse ele, tudo isto está concebido com clareza! Pena que seja inexecutável, de tão difícil que é.

— Mas, replicou a criança, não é um concerto? Sendo um concerto é preciso estudar até conseguir executá-lo.

E começou a tocar no cravo, mostrando-nos que tinha a noção exata do que estava criando."

Quando Wolferl completou seis anos, Leopold imaginou a possibilidade de ganhar muito dinheiro exibindo-o numa árdua tournée pelas cortes da Europa. Os resultados financeiros dessa aventura foram pequenos se comparados com os danos causados à frágil saúde do menino.

Aos 10 anos, Wolfgang era um dos mais respeitados "virtuoses" da Europa, tanto no piano como violino. Improvisava como um mestre maduro e regia as prin­cipais orquestras e corais das cortes. Além disso sabia cantar com uma linda voz infantil de contralto.

O Papa Clemente XIV ficou tão admirado com Wolfgang Amadeus que concedeu, pela primeira vez a uma criança

, a condecoração da "Ordem dos Cava­leiros da Espora de Ouro". Goethe tam­bém ouviu o menino Wolferl em 1763 e declarou: "além do que ouvi, lá estava um homenzinho de peruca e espada.

Outro fato curioso nos revela a genia­lidade de Amadeus. Durante dois séculos, uma das atrações turísticas de Roma era o famoso "Miserere" de Gregorio Allegri (1584-1652) cantado na Capela Sistina apenas na quarta-feira da Semana Santa. Desde que o "Miserere" fora composto, a Igreja proibiu copiar os originais da obra. Em 1770, aos 14 anos, o jovem Mozart esteve em Roma e, depois de ouvir uma só vez essa obra de enormes complexida­des polifônicas, escreveu-a toda de me­mória. Depois conferiram seu trabalho com o original constatando-se que não havia sequer uma falha!

Wolfgang tinha uma espantosa facili­dade para matemática. Enquanto apenas aprendia a ler, já sabia as tabuadas de cor. Logo depois, fazia cálculos complexos de memória. Para espanto de seus instruto­res, aprendia com rapidez os princípios mais adiantados de álgebra e geometria. Aos 15 anos falava francês, inglês, italiano e conhecia as regras da língua latina.

Wolfgang Amadeus era também um mestre no jogo de bilhar. Depois dos instrumentos musicais, o objeto de que ele mais se orgulhava em possuir era uma grande e bem conservada mesa de bilhar. Convidava parceiros para noitadas desse jogo, no qual sempre saía vitorioso. As vezes, quando compunha, espalhava os papéis de música sobre a mesa de bilhar e, enquanto empurrava bolas de um lado para outro, ia anotando as notas na parti­tura. Para ele, o ato de compor era dife­rente da maioria dos compositores. A obra era concebida inteira na imaginação, onde ele ouvia mentalmente os ritmos, a melodia, cada detalhe harmônico e instrumental

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personalidade

antes de passar a música para o papel. Depois, o trabalho consistia em apenas transcrever para códigos musicais convencionais o que ouvira nos planos mentais. Este é o motivo pelo qual os manuscritos de Amadeus não apresentam rasuras ou correções significativas.

Mozart era um espírito livre, muitas vezes irreverente diante dos falsos princí­pios morais de sua época. Frequentemen­te debochava dos nobres com trocadilhos e jogos de palavras. Era "especialista" num certo tipo de humor picante que chegou a registrar em peças musicais cantadas. Para provocar seus rivais, redigia cartas que podiam ser entendidas com duplo senti­do, lendo algumas frases do começo para o fim ou do fim para o começo. Essa rebeldia lhe valeu muita perseguição e críticas negativas, que repercutiram sobre a aceitação de algumas de suas obras.

Apesar da propaganda turística hoje existente em Salzburg, envolvendo a figura de Mozart, sabe-se que ele detes­tava sua cidade natal e que seu verdadeiro desejo era viver em Londres.

Wolfgang ingressou na Maçonaria aos 28 anos. Mas o curioso é que, aos 16 anos já havia composto a canção "0 heiliges Band', dedicada a uma cerimônia maçô­nica na Loja de Tobias Gebler. Uns cinco anos mais tarde Wolfgang Amadeus estabelecia contatos "sigilosos" com Theobald Marchand, fundador da Loja de Mannheim. No entanto, a iniciação de Wolfgang na Loja "Zur Wohlthätigkeif {Beneficência) aconteceu bem mais tarde, em 14 de dezembro de 1784, ele foi ele­vado ao Grau de Companheiro em 7 de janeiro de 1785 e tornou-se Mestre uma semana depois.

Embora não haja registros históricos, existem indícios de que Amadeus teve contato com os Rosacruzes. Ele teve bastante "tempo livre' em Paris e suas

famosas cartas revelam pouco do que andou fazendo por lá enquanto não estava compondo ou se apresentando. Mozart é evasivo na correspondência com o pai e desconversa queixando-se de "muita lama pelas ruas de Paris'. Naquela época o pensamento filosófico e esotérico da Europa era liderado a partir da França por Cagliostro e Saint-Martin. Depois, em Viena, o compositor deve ter conhecido algumas Lojas Rosacruzes. Por volta de 1777 o livro "Nuvem Sobre o Santuário" de Karl von Eckartshausen estava bastante difundido entre livres-pensadores cristãos. A linguagem e o pensamento místico de Wolfgang são fortemente influenciados por esse tipo de literatura.

Wolfgang Amadeus nutria interesse por fenômenos "sobrenaturais" e frequen­tava grupos do racionalismo iluminista, liderados por Franz Anton Mesmer, médico vienense e membro da Ordem Rosacruz. Mesmer formulou a teoria do magnetismo animal e praticava curas através do "fluido"universal {mesmerismo). Amadeus aprendeu com Mesmer a exis­tência de um "sentido interior'' no homem além das sensações e da razão. O médico Rosacruz e o jovem compositor foram amigos íntimos. Desenvolveram juntos um instrumento musical, a "harmônica de vidro" ou "glass-harmonika'', a partir de um projeto de Benjamim Franklin, que tam­bém era Rosacruz. Segundo alguns ocul­tistas da época, esse instrumento "arreba­tava" o corpo psíquico dos ouvintes. Por isso o instrumento caiu em desuso. Toda­via, Mozart compôs para ele o "Adagio para Harmonika, k.356" e o "Adagio e Rondo para Harmonika, Flauta, Oboé, Viola e Violoncelo k.617".

As três últimas obras de Wolfgang, todas do ano de 1791, foram "A Flauta Mágica', o " Concerto para Klarinette" e o famoso "Requiem".

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A ópera "A Flauta Mágica" está repleta de princípios Rosacruzes, símbolos Maçô­nicos e ideais dos Cavaleiros Templários. O aspecto geral da ópera é de um conto de fadas com elementos de comédia. Tudo se passa próximo a um templo egípcio. Osíris e Ísis são invocados pelo Mestre do Templo, Sarastro, uma alusão à realeza e ao princípio solar (Sar+Astro). Tamino, o herói masculino, representa o princípio "animus" da iniciação; Tamina é o amor feminino sublimado dos antigos Templários e representa "anima". Papageno, figura meio homem e meio pássaro, é o "bom selvagem" rousseauniano; ele não consegue guardar silêncio durante a ini­ciação mas, mediante a combinação de sons e repetição de certas vogais, alcança seus modestos desejos - obter boa comida, bebida farta e uma linda companheira que lhe dê muitos filhos. "A Flauta Mágica" teve sua primeira apresentação em 30 de setembro de 1791, dois meses e cinco dias antes da morte de Wolfgang Amadeus.

Um fato intrigante é que, nove anos após sua morte, a viúva Constanze entre­gou a Härtel um plano redigido pelo marido visando a criação de uma sociedade secreta com o nome de "A Gruta". Esse manuscrito, também de inspiração rous­seauniana, encontra-se "desaparecido".

A morte de Amadeus está intimamente ligada à composição do "Requiem". No final de 1791, Mozart estava envolvido com o sucesso de "A Flauta Mágica". Mas sua saúde vinha decaindo rapidamente. Ele se queixava de traição e afirmava que o haviam envenenado. Era frequentemente visto pelos cantos, calado e entristecido.

Nesse meio tempo, recebeu a visita de um estranho, vestido de negro, com um pedido para compor uma missa fúnebre, o "Requiem". Wolfgang, fragilizado pela doença que o consumia, encarou o fato como premonição de sua própria morte.

O estranho adiantou-lhe parte do pagamento e, mesmo assim, Wolfgang Amadeus continuava convicto de que aquele homem era a visão da morte.

Nas semanas seguintes, ele mal conse­guia andar. Delirava de febre a maior parte do tempo com as pernas e braços muito inchados.

Com isso o "Requiem" ficou inacabado e foi terminado por seu aluno Sussmayer, segundo anotações deixadas pelo Mestre.

Amadeus morreu cercado de poucos amigos, em Viena, na madrugada do dia cinco de dezembro de 1791. Seu sepulta­mento foi simples e acompanhado por poucas pessoas. Chovia muito. O local de seu sepulcro permanece ignorado até hoje.

Alguns ocultistas do século XIX sus­tentavam que Wolfgang Amadeus Mozart teria sido Mestre Rosacruz e que, passa­dos alguns dias de sua morte, o corpo fora removido de um jazigo provisório para ser secretamente cremado.

O que ouvir Concertos para piano n° 20 k.466 e n° 21 k.467 {Elvira Madigan); Concertos para violino n° 3 k.216 e n° 5 k.219; Concerto para Clarinete, k.622; Sinfonias n° 35 (Haffner) k.385, n° 40 k.550 e n° 41 k.551(Júpiter); Divertimentos k.131, k.136, k.137, k.138 e k.287; Serenatas k.185 e k.203; Operas: "A Flauta Mágica" k.620; "Don Giovanni" k.527; "Bodas de Fígaro" k.492. A

Bibliografia; BAKER, Richard - MOZART, Jorge Zahar Editor; DE CURZON, Henri -VIDA DE MOZART, Atena Editora; HILDESHEIMER, Wolfgang - MOZART, Jorge Zahar Editor; PETERNELL, Per t -Mozart (romanceado), Editorial Aster-Lisboa; WOODFORD, Peggy - MOZART, Midas Books/Book Sales Limited.

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simbologia

Simbologia

e dualidade Aplicações incomuns

da Lei do Triângulo

por R. JOHN FRANCIS KNUTSON, FRC

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lei da dualidade está profunda­mente gravada no Homem,

pois, pelo fato de ser uma parte da Divindade, não

importa o quanto esteja afundado no pântano da "realidade", ainda assim ele sente ter um parentesco inconsciente com a essência de tudo. Tanto no H o ­mem quando no Universo, a dualidade básica é aquela dos dois planos. Muitos nomes são usados para descrever essa concepção, todos basicamente com o mesmo significado. Podemos nos referir a Yang e Yin, a elementos masculinos e femininos, a mente e corpo e assim por diante. A lista de títulos que denotam esses complementos básicos é longa. Os nomes que usarei para me referir a eles são apenas palavras significativas, isto é, formas verbais que simbolizam coisas que existem. A simbologia tem uma função básica para o Homem. As pala­vras e os números são usados como símbolos de coisas concretas e abstratas. As artes têm a ver com a emoção, que é simbolicamente representada pela luz e pelo som. Em princípio, a mente não pensa com símbolos, mas, na maioria das vezes, precisa interpretar esse pensa­mento inicial por meio de símbolos, mesmo para si mesma. Semelhante a uma teoria científica, a simbologia é o melhor - na verdade, o único - meio que temos no momento para interpretar os fenômenos que percebemos, as emoções que sentimos e os pensamentos que temos. E preciso, portanto, entender que os rótulos que coloco nos planos são apenas arbitrários.

A Dualidade Básica, então, é aquela constituída pelo Plano Psíquico - do Cósmico e da parte criativa de nossa personalidade, que busca a verdade e a beleza; e pelo Plano Físico - das coisas (do presente) passageiras e evanescentes,

e da parte de nossa personalidade que ainda não se refinou e que necessita de uma mudança de direção para objetivos mais elevados. Com relação à nossa personalidade, podemos dizer que o Plano Psíquico é uma chama que refina aquela parte de nós que está no Plano Físico e que precisa ser mudada. Há muitos e muitos anos, esses dois planos são simbolizados por dois triângulos: o triângulo com a ponta para baixo, repre­sentando o Plano Psíquico; e o triângulo com a ponta para cima, representando o Plano Físico.

No primeiro triângulo - o do Plano Psíquico - temos a ponta no Plano Material, que cresce e se alarga para cima, difundindo-se por todo o plano superior — por isso nos referimos à "união com o Todo". Representa também os poderes superiores descendo até um determinado ponto no plano material, e propiciando-lhe um contato intensa­mente íntimo e forte, prestando-lhe ajuda direta em seu desenvolvimento ascendente. No segundo triângulo - o do Plano Material - temos uma ampla base de escória construindo-se regularmente, firmemente para cima, estreitando-se até alcançar um determinado ponto no plano superior. Além disso, denota o ponto único e supremo do Bem se difun­dindo por tudo o que está abaixo, pro­porcionando a tudo o direito e a capa­cidade inerentes de se elevar até as alturas.

Vamos colocar os triângulos dentro de círculos para marcar sua existência inicialmente em suas próprias e respec­tivas esferas. Então, se os colocarmos um

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simbologia

sobre o outro, teremos o Grande Selo de Salomão. Ao todo, temos quatro fluxos, que passam em duas direções diferentes e em dois triângulos diferentes. Podemos notar, de passagem, que a figura formada no centro do Selo de Salomão é um hexágono, aquele polígono que, numa formação de grupo, propicia a maior área com a menor perda de espaço. O centro deste símbolo vital revela que o maior princípio dos dois planos em sua ação é "o maior bem para o maior número", que pode se desenvolver para fora formando o círculo, quando ele se torna o Perfeito e Eterno Bem para Todos.

Vamos considerar a natureza do símbolo isoladamente. Os símbolos escritos sobre uma folha de papel, ou algum material semelhante, participam de duas dimensões e tentam retratar e explicar certos princípios. Mas existe mais a possibilidade de eles poderem ser também diagramas-chave de outros símbolos com mais de três dimensões. Os místicos desses últimos milhares de anos certamente tinham uma compreensão mental de mais do que as três dimensões a que estamos acostumados. Por outro lado, com exceção dos Mestres, provavel­mente eles não eram tão familiarizados com a mecânica e com a perspectiva acima de três dimensões. Mesmo nos dias de hoje, em que a Humanidade em geral já dominou as três dimensões, só se conse­guiu raspar de leve a superfície da quarta dimensão. Mas, devagar e sempre, está se desatando o nó daquela dimensão meca­nicamente através da matemática, ao mesmo tempo em que a arte subjetiva está fazendo uma tentativa talvez incons­ciente, mas decisiva, de interpretar sua perspectiva. A arte não objetiva, não surrealista, é uma forma pela qual o artista registra as linhas, tons, formas e cores que agradam e satisfazem seu senso

de beleza, não se importando com quais­quer outras regras. Nessa forma de arte, com suas linhas distribuídas de forma estranha, acredito poder ver um arranjo que se volta para as regras da perspectiva quadridimensional.

Num certo sentido, o conceito bidi­mensional é o melhor para os símbolos. Em princípio, os olhos são capazes de ver três dimensões, ainda que apenas uma superfície relativamente bidimensional se apresente; e o símbolo bidimensional pode ser comparado com a representação de algo, para se estudar o significado que existe por trás de qualquer semelhança ou diferença. No entanto, não podemos esquecer que, para olhos mais iluminados, esses símbolos podem ter um aspecto até mais significativo. De fato, a multidi¬ mensionalidade pode nos dar a chave final do contato e do entrelaçamento entre os dois planos.

O círculo com um ponto no centro sempre foi usado para simbolizar o disco solar, a eternidade, o Todo e outras forças do Bem que duram para sempre. Agora vamos dar ao triângulo uma outra dimen­são e deixá-lo com a forma de um cone. Depois vamos fazer um desenho de projeção simples de sua base — como um exercício que os estudantes de arquitetura fazem - e podemos ver que o símbolo do

círculo e do ponto é apenas uma outra visão do triângulo, ou cone. Não simples­mente um cone, mas existe aí a previsão de que, quando os dois cones estão

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entrelaçados em harmonia, eles alcançam o Círculo Maior, ou a Perfeição. Em outras palavras, os dois círculos menores, perfeitamente superpostos, constituem o grande círculo, o Todo. E preciso notar também que a ligação entre os dois símbolos só aparece quando acrescen­tamos uma outra dimensão ao triângulo -ou ao cone - e não antes disso.

Além disso, a cruz, que é o símbolo encontrado com maior frequência no mundo Cristão, é apenas um triângulo disfarçado. Os místicos foram sempre perseguidos e forçados a manter esse conhecimento em segredo para que ape­nas o iniciado pudesse dominar os signi­ficados contidos nos seus manuscritos. Nesses manuscritos, o triângulo é muitas vezes substituído pela cruz. O princípio por trás do triângulo é o fato de que uma perfeição manifesta só é atingida quando duas coisas se unem - ou se manifestam -num terceiro ponto. Naturalmente, o triângulo é o método mais claro de retra­tar a trindade básica de todas as coisas. Mas a cruz pode substituir o triângulo -já que seu formato básico é o de duas linhas que se intersectam - podemos dizer, se manifestando - em um terceiro ponto. Basicamente, então, a construção e o significado por trás dessa construção -tanto da cruz quanto do triângulo - são idênticos, pelo menos no que concerne ao místico. Podemos postular a seguinte regra e ilustrá-la: a cruz é igual ao triângulo

ou cone, que, sozinhos ou unidos em harmonia, se projetam para o círculo e para o ponto.

Não vou avançar muito no assunto da multidimensionalidade j á que isso seria,

em grande parte, caminhar sobre terreno desconhecido. Mas existe um outro ponto que gostaria de apresentar. Na ilustração abaixo, a primeira figura é a de um hiper¬ cubo, ou cubo quadridimensional. O dese­nho não mostra, de forma alguma, a verda­deira natureza da figura. As figuras exter­na e interna, e todas as figuras interve­nientes, são todas cubos verdadeiros, e todos esses cubos têm o mesmo tamanho! Natu­ralmente, um conceito mental de uma forma como esta é uma coisa bem difícil de se criar. Mas gostaria que você fizesse o possível para se familiarizar com essa figura. Depois, gostaria que olhasse para a figura seguinte - a da esfera que contém dois cones entrelaçados - tentando fazê-lo girar na quarta dimensão. Quando tiver um vislumbre da natureza daquela figura, então olhe para a figura final.

É possível que isso aconteça apenas na minha própria mente, mas o símbolo de Yang e Yin - o círculo cortado por uma única linha curva - parece estra­nhamente transmitir as voltas tremenda­mente complexas da outra figura. Os amigos a quem mostrei essa semelhança aparente também estão meio divididos em relação a se eles vêem ou não as semelhanças entre as duas formas. Estou lhes apresentando este ponto para mos­trar a possibilidade certeira de que o Oriente, que sempre esteve mais perto do caminho místico do que o Ocidente, pode muito bem ter chegado mais perto de dominar os princípios da quarta dimensão do que imaginamos. Seria também mais fácil para a mente ociden­tal compreender o fato de os Sábios do

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simbologia

Oriente muitas vezes passarem horas se concentrando neste símbolo.

Acredito que uma das primeiras coisas garantidas a uma pessoa quando ela se torna Mestre é uma compreensão e um poder sobre a quarta dimensão. Se você estudar as propriedades dessa dimensão -pelo menos o que foi apurado até agora -num texto confiável sobre o assunto, então muitos dos aparentes milagres produzidos pelos Mestres vão se tornar claramente resultados da atuação da lei natural. Não é verdade que se diz que, após a Noite Escura ter passado e a Mestria ter sido alcançada, o mundo não parece mais o mesmo? Por acaso isso seria diferente no caso de uma nova dimensão ser acrescentada ao olho da mente? E isso quer dizer que, já que a ciência está investigando questões de outras dimensões, e as massas estão ficando cada vez mais conscientes desse fato, a humanidade, como um todo, está se aproximando do poder e da compreen­são dos Mestres? Ê claro que sim. Fomos levados a uma relativa mestria das três dimensões e estamos atualmente no processo de dar mais um grande passo. Mas, quando o glorioso dia chegar e a humanidade tiver conseguido ter controle sobre outra dimensão, os Mestres ainda estarão na vanguarda, iluminando o caminho que leva cada vez mais para frente e para o alto.

Naturalmente, o Homem e suas obras mostram claramente o fun­

cionamento dos dois planos. Vamos observar primeiro a arquitetura. A casa - ou o lar - esteve sempre inti­mamente ligada aos homens. A estrutura básica de quase todas as casas é mostrada na

ilustração ao lado. O triângulo do plano

material colocado sobre o quadrado, que é o símbolo de uma firme fundação terrena. O quadrado é um símbolo exotérico mundano e não um símbolo esotérico psíquico. Acho que todos concordam que a combinação do quadrado com o triân­gulo no Plano Material forma uma figura que, apesar de uma ou outra variação, constitui a forma básica de praticamente todas as habitações, desde as nossas próprias casas até as cabanas de palha dos selvagens. Nesta figura, o triângulo do Plano Psíquico chama a atenção exata­mente por sua ausência. Quando se observa uma casa comum, apenas se vê o triângulo do Plano Material. Mas o outro triângulo também está lá, embora apenas espiritualmente e não fisicamente. E nem por isso é menos real do que o outro. É bem interessante notar que, se alguém tentasse construir uma casa com a forma de um triângulo invertido apoiado sobre uma das pontas, ou entrelaçado ao triân­gulo de base, teria dificuldades quase insuperáveis nessa construção. Se tal edificação pudesse ser erigida, resultaria numa estrutura esquisita e insegura. De qualquer forma, o triângulo do Plano Psíquico deveria permanecer livre de qualquer forma física dependente. Em relação a tudo isso, acho muito interes­sante a tradição segundo a qual todo artista, músico, poeta e gênio invariavel­mente mora em um sótão, isto é, longe do quadrado, no triângulo inferior, mais próximo do superior, ou mesmo dentro dele, se considerarmos que os dois estão entrelaçados. Será que é apenas uma coincidência que a pessoa com mente afastada das coisas terrenas more tradi­cionalmente mais próxima do triângulo do Plano Psíquico? Eu acho que não.

Mas, é claro, existem algumas raças e povos cujas casas são construídas com telhados planos. O clima é a razão principal

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desse aparente desvio da regra geral. Esses povos vivem em um ambien­te que enfatiza o mínimo possível o uso da casa em si. E já que, na maior parte do tempo, eles vivem em ambiente aberto -até mesmo sobre os próprios telhados -os telhados de suas casas são planos em vez de angulares. Os índios do sudoeste da América do Norte constroem suas casas nos lados das montanhas, onde a falta de espaço não permite a construção de um telhado angular. Mas, na verdade, a casa deles é a própria montanha, e ela tem o efeito triangular desejado. E então, quando esses povos constroem, eles o fazem sempre em forma de terraços, como para formar um triângulo co­munal. Os mosteiros nas encostas das montanhas do Tibete, da Grécia, do Turquistão têm telhados planos, mas as construções em si têm paredes inclinadas para fazer com que o edifício tenha o formato de um triângulo incompleto. Além disso, os moradores desses edifí­cios têm uma inclinação diferente da maioria das pessoas e, praticamente, não têm qualquer necessidade de "orientação" física para criar uma atuação harmoniosa dos planos. As casas dos lapões, assim como a dos habitantes do interior da China, muitas vezes têm telhados planos, mas essas casas às vezes também têm paredes inclinadas que lhes dão a forma de triângulos incompletos. Neste caso também é o clima que força esse tipo de acomodação. A sensação térmica enrije¬ cedora dos ventos frios que se enfrenta naquelas terras força a construção de casas pequenas e com paredes bem gros­sas para conservar o máximo de calor. Todos esses casos isolados são, num certo sentido, exceções parciais à regra seguida pela maioria.

De modo geral, os povos mais primi­tivos constroem casas que se aproximam

mais da forma de triângulos com suas bases no chão. Tendas cônicas dos índios americanos, iglus, cabanas e choupanas de palha, todas essas habitações revelam a aproximação inconsciente desses povos à Essência. Em algum ponto do passado longínquo, os Homens, especialmente o ramo que formou os povos ocidentais, não deram mais crédito a esse conheci­mento inerente. Eles calaram a voz interna e tentaram fazer as coisas do seu próprio jeito. Na tentativa de cortar o cordão psíquico, acabaram ficando quase sem apoio mental. Ficaram com medo de construir suas casas sobre "areia" e arran­jaram uma "rocha" artificial - na forma do quadrado - para poderem erigir o triân­gulo sobre ela. Com isso, tentaram impor sua própria forma no meio da ação dos triângulos. A necessidade do quadrado, de algo em que se apoiar, foi forte, já que tinham jogado fora sua força interior, mas, por outro lado, não usaram o qua­drado da forma correta. Os Mestres que construíram a Grande Pirâmide e os membros inspirados das raças Asteca e Maia, que fizeram com que seus santuá­rios fossem construídos na forma de pirâmides, seguiram a direção correta. Nelas temos um cone angular ou vórtice, com o quadrado não separado e suple­mentar, mas corporificando o princípio do quadrado diretamente dentro do próprio cone angular. O fato de esta forma não ter sido amplamente usada é uma evidência suficiente do turbilhão interno que o homem ainda não tinha sido capaz de dominar. E esse turbilhão ainda não foi dominado, mas o homem certamente está a caminho da vitória. A arquitetura, juntamente com as demais artes e ciências, anuncia essa vitória em termos inequívocos.

A arquitetura atual — e do futuro - se mostra preocupada com dois tipos de

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simbologia

construção: o comunal e o individual. Vou considerar o tipo comunal, ou "cidade", em primeiro lugar. Esse tipo está avançando a passos firmes. Em qualquer cidade, parece natural que os edifícios mais importantes, que normal­mente são os mais altos, estejam localiza­dos no centro da cidade. Mas, se obser­varmos a cidade do alto, vamos descobrir que ela é algo parecido com um círculo com um ponto no centro! Não é de surpreender que pareça tão natural e adequado que os edifícios mais altos estejam no centro da cidade, e que isso é altamente conveniente para toda a popu­lação. Olhem para a planta geral de uma cidade por outro ângulo. Existem subúr­bios com casas pequenas, dentro de áreas carentes; depois os edifícios comerciais; e, finalmente, nas cidades maiores, os arranha-céus. Com os sistemas de trânsi­to ficando cada vez mais variados e os problemas de tráfego aumentando - com disponibilidade crescente de serviço-aéreo privado - tudo isso aponta para a construção de vários níveis, ligando todos os pontos da cidade e formando uma única e enorme construção comunal. Atualmente temos algo como um triân­gulo tosco e mal formado, mas acredito que, gradativamente, o triângulo vai assumir um esboço mais claro, e a base da cidade vai ficar mais circular. Embora tenha sido em parte uma escolha incons­ciente, quando escolheu a pirâmide esguia (um triângulo tridimensional) e a esfera como seu foco temático, a Feira Mundial de Nova Iorque (1964-1965) deu a chave clara da nova tendência. A cidade do futuro vai ser uma enorme pirâmide - ou cone - firmemente enrai­zada na terra, construída de ligas e de alvenaria sintética que nada vai conseguir varrer. Amparados por elevados e galerias, os prédios vão poder se elevar a alturas

inacreditáveis. O conjunto será, de fato, um único prédio gigantesco abrigando milhões de pessoas sob o mesmo teto. E tudo isso em harmonia com os princípios básicos.

Considerando o tipo individual de construção, precisamos voltar à antigui­dade para termos uma compreensão adequada dele. O Oriente, especialmente a China, nunca se afastou muito do Caminho. Na China, a casa e o jardim não são entidades isoladas, mas se com­binam para formar um espaço vivo, unificado e belo. Colinas e espelhos d'água formam a base do sistema chinês. A essência do Plano Material, a maior aproximação física da Paz do Plano Psíquico. No Ocidente, no entanto, a casa e o jardim cresceram separados e ambos sofreram com isso. A casa cresceu para longe do solo provedor e ficou dura, formal, feia. O jardim se tornou uma massa disforme de plantas, organizadas apenas para dar formatos angulares a amontoados de flores e folhagens, não se levando em consideração as formas e combinações naturais. Apenas quando foi restabelecido o contato com o Oriente é que houve um ressurgimento paulatino das formas naturais e da própria unidade. Atualmente os grilhões foram quase que totalmente quebrados e uma nova forma individual está surgindo. Mas a constru­ção comunal — ou cidade - acomoda tantas pessoas diferentes, com objetivos e visões tão diferentes, que há necessidade de orientar a formação do triângulo do Plano Material. Mas na casa individual, que acomoda uma única família, uma única unidade, não há essa necessidade. O triângulo da base não precisa estar total­mente representado em formas físicas. Ele segue mais ou menos a linha do terreno e se eleva imaterialmente na direção do triângulo superior. O triângulo

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do Plano Material deixou de ser aparente e se voltou para a imperceptibilidade da beleza, bem enraizada na união da casa com o terreno abaixo dela. Se o terreno ainda seguir a regra da linha reta e do ângulo - por causa dos métodos de topografia e divisão de terras dos homens — então a própria casa deixa de ser limi­tada pelas linhas retas, e as curvas passam a formar uma parte vital e integral de seu plano. A "Casa Moderna" não é um insulto a uma lei natural, mas exatamente o oposto disso: é a formação de uma ligação ainda mais próxima com ela.

Mais do que em qualquer outro lugar da natureza, o corpo do homem mostra claramente o entrelaçamento dos planos. Existem milhares de posições que o corpo pode assumir, mas a posição que simbolizaria mais claramente esse entrelaçamento é a que nos interessa. Uma vez que essa postura faz com que os planos funcionem mais plenamente, seria ela a que inconscientemente tenderíamos a assumir em momentos de grande emoção interna. Então, quando você se sente muito feliz com alguma coisa que lhe dá um prazer interno profundo ou, ao contrário, quando você está profunda­mente inquieto e não sabe a que recorrer, você não sente um impulso instintivo de ficar de pé com os braços levantados para o céu? Pense, então, na figura que você apresenta naquela posição. Seus braços formam um triângulo no Plano Psíquico, que tem seu ponto inferior ligeiramente abaixo da base da coluna. Suas pernas formam os lados de um triângulo no Plano Físico cujo ponto mais elevado fica no coração. O corpo pode ser tosca­mente dividido em três partes: acima do coração estão as partes ligadas exclusi­vamente às coisas psíquicas; entre o coração e a pelve estão as partes do corpo ligadas tanto às funções psíquicas quanto

às funções físicas; e abaixo delas ficam as partes puramente físicas do corpo. A regra não é nem rígida, nem absoluta. Nenhuma parte do corpo humano pode ser nem totalmente imaterial, nem totalmente material, no sentido mais verdadeiro. Existe sempre uma mistura das duas coisas.

O triângulo no Plano Psíquico con­tém os sistemas nervoso central e simpá­tico, que são as partes do corpo em que o corpo psíquico se manifesta da forma mais forte. Os braços ficam no triângulo superior e estão ligados basicamente a coisas estéticas. Correspondem àquela parte do corpo que obedece aos coman­dos diretos da principal parte do cérebro. São, é claro, usados para proteção, para o trabalho, para levar o alimento à boca, mas essas tarefas podem ser realizadas por membros como os pés. Se fosse esse o caso, no entanto, o homem ainda seria um animal, apenas com um vislumbre de inteligência. Foi a forma modificada do pé, da mão, com seus dedos ágeis, que propiciou a civilização do homem, suas artes e ciências. A agilidade da mão permite que os comandos do cérebro sejam seguidos da forma perfeita como agem. São membros que foram modifi­cados pela mente de tal forma que foram colocados sob a influência direta da mente e do espírito. A cabeça, é claro, é o ponto central do triângulo psíquico, e é a parte do corpo em que a mente e a alma se manifestam diretamente. É essa parte do corpo que recebe o ar, extrai dele os odores e o transfere para os pulmões, onde sua parte essencial é extraída e enviada para a corrente sanguínea. A cabeça recebe o alimento, extrai dele os sabores, as delícias e depois o transfere para o esôfago, para o estômago e para o intestino delgado, onde suas preciosas essências são extraídas. Os órgãos dos

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simbologia

sentidos se concentram todos principal­mente na cabeça, onde podem desempe­nhar aquelas tarefas que são, por assim dizer, imateriais. Não há necessidade de fazer aqui um esboço do funcionamento do cérebro.

E interessante notar que os órgãos digestivos que tratam do alimento en­quanto ainda existe algum valor neles, estão dentro do triângulo no Plano Psíquico, mas a matéria sem valor passa pelo intestino grosso, que se situa quase que completamente no triângulo inferior. Nessa linha de pensamento, pode-se notar que os rins, a única parte do siste­ma renal que não tem qualquer ligação direta com o sistema reprodutor, estão localizados bem próximos do triângulo superior. O sistema reprodutor é mais ou menos o centro do triângulo físico, e está alinhado com o ponto inferior do triân­gulo psíquico. Em outras palavras, os órgãos reprodutivos estão assim locali­zados para serem o núcleo das forças do triângulo material, e ainda assim terem contato com o ponto tremendamente estreito e fortalecido do plano psíquico.

O ápice do triângulo inferior é o coração. Agora temos uma excelente razão para o coração ser considerado como a sede das forças do amor no corpo humano. Existem outras razões, é claro, mas permanece o fato de que o coração é o ponto mais alto do triângulo físico, a manifestação mais elevada que as forças terrenas são capazes de atingir, e que está bem dentro dos domínios do plano psíquico. É o ponto mais elevado do plano terreno, puro e simples em sua beleza, e colocado tão alto no triângulo psíquico que apenas duas coisas estão permanentemente acima dele: a cabeça e a linha horizontal do triângulo superior, mostrando que o amor pode ser contro­lado até certo ponto pelo intelecto, mas,

acima dos dois, estão os Poderes Cósmi­cos, a união perfeita do amor com a sabedoria.

Os ápices dos dois triângulos não se localizam exatamente um acima do outro. Se fizermos um desenho de projeção dos dois cones, descobriremos que dois círculos, e não um, serão formados. Ainda não existe perfeita harmonia. Quando o homem tiver se desenvolvido totalmente, esses dois pontos ficarão um diretamente sobre o outro, e uma projeção produzirá apenas um único círculo.

Isso nos leva ao simbolismo do corpo usado pelo homem relativamente desen­volvido. Quando o místico saúda o sol-levante no céu do Leste na aurora, ele fica de pé com os pés juntos e com os braços abertos para os lados. Ele forma uma cruz, simbolizando que se tornou e deseja continuar sendo uma Manifestação Perfeita, uma Unidade no Todo. Os dois triângulos não precisam mais ser orienta­dos na formação de seu corpo; o fato de seus pés estarem plantados na superfície da Terra e seus olhos estarem fixados no sol-nascente já é o suficiente.

Assim também, quando saúda humil­demente qualquer dos Pontos Cardeais, ou um altar, ele fica com os braços cruza­dos sobre o peito e a cabeça baixa. Ele fechou a superfície do corpo, isto é, seus pés estão bem apoiados no chão. As palmas de suas mãos estão apertadas contra os ombros, seu queixo está mer­gulhado no peito. Ele faz de si mesmo apenas um plano, ou uma linha, pas­sando pelos dois planos. Seus braços cruzados acima do coração indicam que é o Amor que lhe propicia a força para abrir caminho pelos dois planos. Certa­mente, o Plano Divino vai atravessar o seu plano no coração, fazendo com que essa manifestação seja de Amor... de Amor Perfeito.

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Claudio Mazzucco Novo GRANDE MESTRE DA JURISDIÇÃO DE LÍNGUA ITALIANA

Claudio Mazzucco nasceu em Vicenza (Itália) em 1960. Com a idade de seis anos veio morar no Brasil. Aqui conheceu a Ordem Rosacruz, à qual se afiliou em 1977. Ocupou vários cargos, entre os quais Mestre do Capítulo Mogi das Cruzes e Orador Regional da SP2.

Transferiu-se para a Itália em 1988, aos 22 anos, e continuou a participar das diversas atividades da Ordem Rosacruz como Mestre de Capítulo, Monitor Regional, Grande Conselheiro e Orador Oficial da Grande Loja de Língua Italiana. Atuou também como responsável pela Seção Ciências da Matéria, da "Accademia Rosa-Croce", versão italiana da Universidade Rosacruz. Foi nomeado Grande Mestre da Itália e sua instalação ocorreu durante a Convenção Européia, em abril deste ano.

Frater Claudio Mazzucco é casado e tem duas filhas. Pratica Tai Ji Quan e gosta de ler livros sobre história e filosofia da ciência. E Engenheiro Químico, atualmente responsável pelo Setor de Pesquisas e Desenvolvimento de uma importante empresa italiana.

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amorc no mundo

Convenção européia -Barcelona-Espanha "TODOS UNIDOS N O AMOR"

Com a presença do Imperator, Frater Christian Bernard e de todos os Grandes Mestres, foi realizada, de primeiro a três de maio de 2009, a vibrante Convenção Européia, na cidade de Barcelona.

O Brasil esteve representado pelo Grande Mestre, Frater Hélio de Moraes e Marques e um grupo de rosacruzes que se uniram para vivenciar dias jubilosos dentro da Lei do Amor e do Centenário da Iniciação do nosso Amado Harvey Spencer Lewis.

Transição Passou pela Transição, em 12 de abril de 2009, o Frater Makio Sato, Vice-Presidente da Grande Loja de Língua Japonesa. Frater Makio passou pela Grande Iniciação aos 69 anos de idade. Ele era médico e durante trinta anos, usando as técnicas rosacruzes de cura salvou muitas vidas.

Ao Frater Makio Sato, agora pertencente à Egrégora Rosacruz Invisível, almejamos muita Luz.

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II CONCURSO LITERÁRIO*

O ANSEIO DA BUSCA MÍSTICA A maior dádiva com a qual fui presenteado foi o anseio da busca mística. Muitas outras, durante o trilhar da senda, vieram em virtude desse anseio. A alegria do místico está justamente no despertar de sua consciência e na capacidade de comungar com o Cósmico.

Absolutamente tudo o que fazemos tem relação com a consciência, em qualquer dos seus aspectos. Os nossos cinco sentidos, que fazem parte do modo como nos relacionamos com o mundo exterior, dependem da cons­ciência, pois ela é ela que possibilita essa comunicação entre mundo exterior e mundo interior, ou seja, entre o mundo objetivo e o subjetivo. No entanto, nossa consciência, como a percebemos, é apenas uma fraca manifestação da Consciência Cósmica.

O desenvolvimento de atributos físicos e principalmente psíquicos influencia a cons­ciência. Quando isso ocorre através de um guia, melhor ainda. O meu guia foi - e é - a Ordem Rosacruz, através dos seus ensina­mentos e da sua ritualística. Foi através deles que descortinei todo um novo universo. Um universo do qual eu somente tinha conheci­mento através de livros e de narrativas esparsas, às quais eu não costumava dar muito crédito.

Neste ponto preciso ser sincero. O que me motivou, inicialmente, foi um desejo que, hoje em dia, considero bastante egoístico. Quando me afiliei à Ordem, o que eu pro­curava eram as experiências místicas, a capacidade de ver auras, de me projetar astralmente, de interferir na vontade das outras pessoas, e todo um enorme etc. Posso dizer que o caminho não foi fácil, e que muitas das experiências místicas pelas quais passei não necessariamente ocorreram voluntariamente,

nem quando eu quis, mas que todas somente ocorreram no momento em que eu estava preparado para lidar com os seus efeitos e as suas conseqüências. A Egrégora Rosacruz é a responsável por esse controle, e o faz de maneira bastante precisa. Não consigo imaginar como seria o mundo se todos tivessem capacidade de, por exemplo, influen­ciar a vontade de outras pessoas, seja através de sonho ou de pensamento, em estado de vigília ordinária. Não haveria muito do que chamamos de livre arbítrio. Cito esse atributo como exemplo para mostrar que não basta simplesmente buscar o conhecimento ou ter o desejo de desenvolver determinado atributo; outros aspectos são necessários, como o discernimento para fazer o correto uso daquilo que nos é entregue em função do nosso esforço místico.

Meus motivos atualmente são muito mais altruísticos. E mesmo essa mudança é decorrência dos ensinamentos rosacruzes e de sua prática. Hoje em dia, usando um termo corrente no meio rosacruz, a busca é pelo domínio da vida, em sentido amplo. Entendo agora que o homem é dotado de atributos maravilhosos, que, em termos de amplitude, escapam à sua capacidade de compreensão. Desenvolvê-los, para alguns, é tarefa bastante trabalhosa. Mas com certeza vale a pena, tanto para o desenvolvimento de si mesmo quanto para a transformação do mundo em um lugar melhor.

- Frater Fidelio

*Menção honrosa no II Concurso Literário "A Consciência", Categoria A: Depoimento Pessoal.

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Em reconhecimento ao

centenário da Iniciação de

H. Spencer Lewis na Tradição

Rosacruz, a GLP celebra,

através deste calendário,

o talento e a criatividade do

nosso primeiro Imperator.

0 Dr. Lewis evocou em suas

pinturas, desenhos e projetos,

os símbolos e arquétipos

místicos que têm inspirado

gerações de buscadores.

Estas ilustrações estão

presentes neste calendário,

para deleite da alma, mais as

Fotos do Planetário Rosacruz

e do Grande Templo da

AMORC na Califórnia, ambos

projetos do Dr. Lewis.

Obs.: Na compra do calendário

de parede, grátis o calendário

de mesa.

CALENDÁRIO ROSACRUZ

29,7x42 cm - 14 págs. - Código 6123 PA R$ 15,00 - R.P. R$ 18,00

Você pode fazer seu pedido através da loja virtual de suprimentos da AMORC, no endereço www.shopping.matrix.com.br/amorc ou através do telefone (0xx41) 3351-3000.