o que podemos aprender com eles - literatura nos eua, fernando chiavassa

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  • 7/25/2019 O Que Podemos Aprender Com Eles - Literatura Nos Eua, Fernando Chiavassa

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    O Que Podemos Aprender Com Eles

    Reportagem: Fernando Chiavassa

    O bate papo proporcionado pelo escritor Roberto Taddei, do Instituto Vera Cruz epelos acadmicos e escritores americanos William Wadsworth e Alicia Meier ambos daColumbia University School of the Arts, em 28/06/2016, no Instituto Vera Cruz, foi muitointeressante. Atravs de um encontro regado por incessantes perguntas e respostas de umpblico bastante heterogneo, formado por alunos, professores e curiosos, deu percebercomo eles fazem nos Estados Unidos, como tudo acontece por l, to diferentemente do quevai por aqui no Brasil. Comea pela tradio do ensino de escrita criativa que recua para l no sculo passado , onde seu comeo paira na casa dos anos 1920, 30, 40. E as escolas deescrita criativa tanto para fico, quanto para no fico (categorias ou gneros que sempreandam juntas l e nunca em separado como aqui), nasceram dentro de um meio artsticocompleto com escolas de teatro e dramaturgia, cinema, msica e artes plsticas. Assim, a

    ideia ou a necessidade da fundao destas escolas surge para congregar artistas, (seja lcomo se entende isso, como uma comunidade, ou trupe de doidos malucos (marginais)) quesentem que receberam um chamado e que se renem para trocar ideias e difundir suamaneira de ver a vida. Ao mesmo tempo, vejam bem ou depois , pensam em comoganhar dinheiro com isso. Embora vejamos a produo artstica norte americana comolhares enviesados criticando sua aproximao exagerada com o comrcio deentretenimento eles veneram a excelncia artstica e aceitam partir de encontro convergncia de interesses que possibilita um certo equilbrio entre a arte pela arte e a artepara consumo. Eles verdadeiramente afastam um trabalho puramente comercial.

    muito comum voc encontrar trabalhos medocres seja em Hollywood, seja na

    Broadway, seja no mercado literrio; faz parte. Mas a questo que tem muita coisa boa.Muita. Eles consideram com muito afinco a noo de artistas que verdadeiramentereceberam o chamado, e que partem em busca de algo sagrado que poucos sabem o que e pouco se pode explicar. Tendo essa comunho com sua arte, o escritor acaba secomprometendo cada vez mais, frequentando comunidades de escrita, sejam escolas ougrupos, no importa, dedicando-se cada vez mais para aperfeioar seu trabalho textual. Essadedicao pode ser caracterizada como um profundo comprometimento que o leva a lermuito, aproximar-se de mltiplas artes e formas de expresso, discutindo e se expondo,aprendendo como outros fazem e depois, escrevendo muito mais ainda. Chega ao cmulode ser ler um livro por semana, no mnimo. Na sequncia, para os escritores novos nosEua , h muito apoio do mercado (que tem fome de novos escritores), diferentemente doque acontece por aqui. Os novos se aproveitam, tambm, do grande mercado de revistas e

    jornais e publicam longas sries de narrativas curtas de modo que possam ser descobertos,no somente no mundo eletrnico. Depois, h as escolas de criao artstica que emconjunto com as outras, desempenham forte papel de servir como trampolim no s paraescritores, como para artistas em geral msicos, dramaturgos, cineastas (como fosse umaUsp artista (Eca?)), onde todos se apresentam em wokshops, saraus e mltiplasapresentaes de vrios gneros, para diversos tipos de pblico. Este movimento est sendoo tempo todo acompanhado pela mdia, j que parte dela est l, nos cursos de no fico.

    A no fico de qualidade literria, que engendra quase todo o mundo jornalstico,

    alm do acadmico da histria (entrevistas, reportagens, biografias, etc.), forma umacomunidade gigantesca que publica muito e vende uma enormidade (mais que fico). possvel ter como vitrine desta produo, alm de livros de alta qualidade como aqueles

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    produzidos por Gay Talese, Truman Capote, Susan Sontag, at Oliver Sacks, revistasliterrias como a Paris Review, New Yorker e inmeras outras mais. Esta comunidade quese expressa diariamente seja em jornais, revistas ou televiso, forma um esteio que acomunidade de fico no tem. Esta a razo primordial que rene escritores em torno dasuniversidades e faculdades que divulgam e ensinam escrita criativa. O escritor genuno

    aquele que atende ao chamado , est sempre muito sozinho e depende de uma comunidademais do que nunca para amadurecer seus trabalhos, discutir suas ideias e conviver um poucosocialmente enquanto no mergulha de novo numa viagem ficcional para destrinchar umnovo trabalho. Ento, embora saibamos que esse o mundo americano, podemos aprendermuito muito com eles, pois vivemos muito sozinhos tambm e no temos apoio de nada,nem de escolas, nem de comunidades miditicas.

    Chama bastante ateno, tambm, o fato de que traduo uma atividadeconsiderada como pertencente aos ncleos de fico, j que a atividade de traduo considerada como criativa. Segundo os seus pontos de vista, que no h como verter umaobra sem que tenhamos impresso nossa prpria maneira de sentir o trabalho artstico. Cada

    um que l, traduz de maneira prpria. Ento todo o trabalho de traduo entendido comode criao literria.

    Enfim, de acordo com sua ltima resposta (mais ou menos assim: o que fazer numpas, onde no h pblico leitor, onde no se tem apoio nem do mercado, nem do governo) oamericano William Wadsworth, garante que no vergonha nenhuma ter dois ou trsempregos e se desgastar em atividades no artsticas, no mercado.

    Vergonha, vergonha mesmo parar de escrever.

    Por que um chamado.

    Sagrado.

    Participaram da palestra os seguintes escritores e professores:

    William Wadsworth diretor do programa de escrita da Columbia University School of the Arts. autor deThe physiciston a cold night explains, publicado pela Vaso Rota Press em 2010. Seus poemas foram publicados em revistas comoTheNew Republic, The Paris Review, The Yale Review, Tin House e Boston Review, dentre outras, e em antologias comoThebest American erotic poems e Library of America anthology of American religious poems. ex-diretor executivo daAcademia Americana de Poetas.

    Alicia Meier mestra em Escrita Criativa de No Fico e Traduo Literria pela Columbia University (2015),

    coordenadora do programa Word for Word, de Columbia, em que tambm atua como gerente de comunicaes e projetos

    especiais. Trabalha na finalizao de um longo ensaio sobre o impacto das Olimpadas de 1992 no cenrio urbano de

    Barcelona e na traduo do catalo do livro El cel segons Google, de Marta Carnicero Hernanz.

    Roberto Taddei coordenador do curso de ps-graduao Formao de Escritores do Instituto Vera Cruz e mestre em

    Escrita Criativa de Fico pela Columbia University (2010). autor dos romances Existe e est aqui e ento acaba

    (Dobra, 2014) e Terminlia (Rocco, 2013)