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As violações de direitos humanos estão difundidas na produção de muitos dos produtos mais comercializados no mundo, desde café, cacau e chá a produtos de madeira e óleo de palma. Embora progres- sos tenham sido alcançados nas últimas décadas, o trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação e a violência e assédio no local de trabalho ainda existem em muitas dessas cadeias de suprimento. As razões são complexas e incluem a pobreza multidirecional, a falta de proteção social e de leis e a desigualdade sistêmica, somente para citar algumas. Quando consideramos apenas a questão do trabalho infantil, percebemos a magnitude do problema. A Organização Internacional do Trabalho estima que há 152 milhões de crianças no mundo envolvidas em trabalho infantil. Dessas, aproximadamente 71% trabalham na agri- cultura. Com frequência, muitas dessas crianças trabalham por longas horas e em locais perigosos. Embora tais injustiças nunca foram - e nunca serão - toleradas pela Rain- forest Alliance, com o passar de muitos anos de experiência, aprendemos que a simples proibição dessas violações dos direitos humanos em nossa Norma não é suficiente. As proibições totais que, se violadas, resultam no cancelamento imediato da certificação, se provaram contraprodu- centes. Na verdade, isso frequentemente faz com que os abusos sejam apenas ocultados, dificultando a sua detecção para os auditores e para nós, portanto perpetuando o problema. É por isso que nosso Programa de Certificação de 2020 promove uma abordagem de avaliar e abordar para combater tais problemas. Essa nova abordagem baseada em risco foca em prevenção, engajamento, aperfeiçoamento e incentivo para que os produtores e as empresas combatam tais problemas ao invés de ape- nas escondê-los. Ela também está alinhada com o crescente consenso global sobre boas práticas em direitos humanos, conforme estabelecem os Princípios Orientadores para Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas e pelas Diretrizes para Cooperação e Desenvolvimento Econômico para Empresas Multinacionais. COMO A ESTRATÉGIA DE AVALIAR E ABORDAR FUNCIONA? A estratégia de avaliar e abordar exige que os detentores de certificado estabeleçam um comitê interno que seja responsável pela avaliação e mitigação dos riscos de trabalho infantil, trabalho forçado, discrimi- nação, violência e assédio em local de trabalho. O comitê monitorará a fazenda, grupo de fazendas ou a área de processamento procurando indícios dessas violações e receberá treinamento sobre como reme- diar casos, se forem identificados. Os passos para remediação devem seguir o novo Protocolo de Remediação da Rainforest Alliance. A Rain- forest Alliance também utilizará mapas de risco para identificar países e setores nos quais medidas mais rigorosas de mitigação de riscos serão necessárias. De acordo com nossas exigências para a Cadeia de Suprimento, os primeiros processadores de produtos certificados após a fazenda serão demandados a implementar a estratégia de avaliar e abordar em suas instalações quando o risco de abuso de direitos humanos for considerado elevado. Sem resolver as causas raiz do problema dos abusos de direitos humanos, os problemas não terão fim. É por isso que a Rainforest Alliance promove a colaboração entre fazendas certificadas, autoridades, a sociedade civil e os parceiros da cadeia de suprimento, visando resolver tais questões de maneira conjunta. As fazendas poderão compartilhar informações sobre o progresso alcançado com os parceiros da cadeia de suprimentos e buscar apoio adicional para abordar o problema, visando ampliar o senso de responsabilidade compartilhada. OPTANDO PELA MELHORIA CONTÍNUA AO INVÉS DE APROVAÇÃO/REPROVAÇÃO Em nossa reimaginação da certificação, estamos nos afastando da ideia de que a certificação é apenas uma série de requisitos que podem ser aprovados ou reprovados. Ao trabalhar com fazendas e processado- res para corrigir suas questões de direitos humanos ao longo do tempo ao invés de imediatamente cancelar sua certificação quando uma vio- lação acontece, estamos nos embasando em abordagens de melhoria contínua para proteger as crianças e os trabalhadores, os quais devem ser apoiados pela certificação. Em casos graves, sanções como a sus- pensão e o cancelamento da certificação ainda podem ser utilizados. QUAL A DIFERENÇA EM RELAÇÃO ÀS NOSSAS NORMAS ANTERIORES? A Norma de Agricultura da Rainforest Alliance de 2017 usou uma simples abordagem de proibição para todos esses problemas. O Código de Conduta da UTZ, por outro lado, já exigia que as fazendas e grupos de fazendas com risco de trabalho infantil nomeassem uma pessoa responsável que fosse encarregada da prevenção, monitoramento e remediação do problema. A Norma de Agricultura Sustentável da Rainforest Alliance de 2020 está embasada na abordagem da UTZ para trabalho infantil, e vai além ao incluir a estratégia de avaliar e abordar para casos de trabalho forçado, discriminação e assédio e violência em local de trabalho. Essa é a primeira vez que nossas exigências para a Nossa abordagem para combater o trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação, violência e assédio no local de trabalho na agricultura AVALIAR E ABORDAR Photo: Charlie Watson O PROGRAMA DE CERTIFICAÇÃO DA RAINFOREST ALLIANCE DE 2020

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Page 1: O PROGRAMA DE CERTIFICAÇÃO DA RAINFOREST ALLIANCE DE … · cultura Sustentável, é uma oportunidade única de mudar o atual modelo de certificação e como ela agrega valor para

As violações de direitos humanos estão difundidas na produção de muitos dos produtos mais comercializados no mundo, desde café, cacau e chá a produtos de madeira e óleo de palma. Embora progres-sos tenham sido alcançados nas últimas décadas, o trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação e a violência e assédio no local de trabalho ainda existem em muitas dessas cadeias de suprimento.

As razões são complexas e incluem a pobreza multidirecional, a falta de proteção social e de leis e a desigualdade sistêmica, somente para citar algumas. Quando consideramos apenas a questão do trabalho infantil, percebemos a magnitude do problema. A Organização Internacional do Trabalho estima que há 152 milhões de crianças no mundo envolvidas em trabalho infantil. Dessas, aproximadamente 71% trabalham na agri-cultura. Com frequência, muitas dessas crianças trabalham por longas horas e em locais perigosos.

Embora tais injustiças nunca foram - e nunca serão - toleradas pela Rain-forest Alliance, com o passar de muitos anos de experiência, aprendemos que a simples proibição dessas violações dos direitos humanos em nossa Norma não é suficiente. As proibições totais que, se violadas, resultam no cancelamento imediato da certificação, se provaram contraprodu-centes. Na verdade, isso frequentemente faz com que os abusos sejam apenas ocultados, dificultando a sua detecção para os auditores e para nós, portanto perpetuando o problema. É por isso que nosso Programa de Certificação de 2020 promove uma abordagem de avaliar e abordar para combater tais problemas. Essa nova abordagem baseada em risco foca em prevenção, engajamento, aperfeiçoamento e incentivo para que os produtores e as empresas combatam tais problemas ao invés de ape-nas escondê- los. Ela também está alinhada com o crescente consenso global sobre boas práticas em direitos humanos, conforme estabelecem os Princípios Orientadores para Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas e pelas Diretrizes para Cooperação e Desenvolvimento Econômico para Empresas Multinacionais.

Como a estratégia de avaliar e abordar funCiona?

A estratégia de avaliar e abordar exige que os detentores de certificado estabeleçam um comitê interno que seja responsável pela avaliação e mitigação dos riscos de trabalho infantil, trabalho forçado, discrimi-nação, violência e assédio em local de trabalho. O comitê monitorará a fazenda, grupo de fazendas ou a área de processamento procurando indícios dessas violações e receberá treinamento sobre como reme-diar casos, se forem identificados. Os passos para remediação devem seguir o novo Protocolo de Remediação da Rainforest Alliance. A Rain-

forest Alliance também utilizará mapas de risco para identificar países e setores nos quais medidas mais rigorosas de mitigação de riscos serão necessárias. De acordo com nossas exigências para a Cadeia de Suprimento, os primeiros processadores de produtos certificados após a fazenda serão demandados a implementar a estratégia de avaliar e abordar em suas instalações quando o risco de abuso de direitos humanos for considerado elevado.

Sem resolver as causas raiz do problema dos abusos de direitos humanos, os problemas não terão fim. É por isso que a Rain forest Alliance promove a colaboração entre fazendas certificadas, autoridades, a sociedade civil e os parceiros da cadeia de suprimento, visando resolver tais questões de maneira conjunta. As fazendas poderão compartilhar informações sobre o progresso alcançado com os parceiros da cadeia de suprimentos e buscar apoio adicional para abordar o problema, visando ampliar o senso de responsabilidade compartilhada.

optando pela melhoria Contínua ao invés de aprovação/reprovação

Em nossa reimaginação da certificação, estamos nos afastando da ideia de que a certificação é apenas uma série de requisitos que podem ser aprovados ou reprovados. Ao trabalhar com fazendas e processado-res para corrigir suas questões de direitos humanos ao longo do tempo ao invés de imediatamente cancelar sua certificação quando uma vio-lação acontece, estamos nos embasando em abordagens de melhoria contínua para proteger as crianças e os trabalhadores, os quais devem ser apoiados pela certificação. Em casos graves, sanções como a sus-pensão e o cancelamento da certificação ainda podem ser utilizados.

Qual a diferença em relação às nossas normas anteriores?

A Norma de Agricultura da Rainforest Alliance de 2017 usou uma simples abordagem de proibição para todos esses problemas. O Código de Conduta da UTZ, por outro lado, já exigia que as fazendas e grupos de fazendas com risco de trabalho infantil nomeassem uma pessoa responsável que fosse encarregada da prevenção, monitoramento e remediação do problema. A Norma de Agricultura Sustentável da Rainforest Alliance de 2020 está embasada na abordagem da UTZ para trabalho infantil, e vai além ao incluir a estratégia de avaliar e abordar para casos de trabalho forçado, discriminação e assédio e violência em local de trabalho. Essa é a primeira vez que nossas exigências para a

Nossa abordagem para combater o trabalho infantil, trabalho forçado, discriminação, violência e assédio no local de trabalho na agricultura

avaliar e abordar

Photo: Charlie Watson

O PROGRAMA DE CERTIFICAÇÃO DA RAINFORESTALLIANCE DE 2020

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programa de CertifiCação da rainforest allianCe de 2020 | avaliar e abordar

Cadeia de Suprimentos incluem critérios para que os primeiros proces-sadores após a fazenda também combatam as violações de direitos humanos. A nova Norma também fornece orientações sobre como a abordagem deve ser implementada e diversas ferramentas para apoiar os detentores de certificado com a implementação.

Que outras intervenções da rainforest allianCe apoiam esta abordagem?

Além da certificação, a Rainforest Alliance também promove os direitos humanos por meio de outras intervenções estratégicas. Por exemplo, os programas para cadeia de suprimentos, paisagens e comunidades combatem o trabalho infantil na Costa do Marfim, Gana e Uganda. Tais programas formam comitês comunitários e distritais que apoiam comunidades agrícolas com acesso à educação e programas de poupança e empréstimos em vilarejos. Os comitês também ampliam a conscientização sobre o trabalho infantil e motivam as comunidades a matricularem as crianças na escola. O que percebemos é que, quanto mais integrados à comunidade ou ao ambiente em geral os programas da cadeia de suprimentos estão, mais sustentável é o sistema de com-bate ao trabalho infantil. Atualmente, estamos planejando a expansão desses programas para a Ásia e a América Central.

Outro exemplo é nosso trabalho de promoção da igualdade de gênero e de empoderamento feminino entre produtores e trabalhadores, que é essencial para combater questões de trabalho infantil, trabalho for-çado, discriminação, violência e assédio no local de trabalho. Por meio de nosso Programa de Parceria Setoriais, por exemplo, trabalhamos para empoderar comitês locais da Aliança Internacional das Mulheres do Café em Honduras e Uganda, o que levou a um maior acesso de agentes femininas à cadeia de suprimentos, resultando em insumos, recursos e tomadas de decisões.

isso é partiCularmente relevante para Certos Cultivos e países?

O trabalho infantil é encontrado em diversos setores e locais onde existe pobreza multidirecional, mas é um risco em especial no setor de cacau na Costa do Marfim, em Gana e em lugares nos quais famílias migram com seus filhos para a colheita, como em fazendas de café na Amé-rica Central e em áreas de produção de avelã na Turquia. O trabalho forçado também é amplamente disseminado: qualquer país ou cultivo em que há uso amplo de mão de obra contratada, especialmente mão de obra migrante e contratada por terceiros, está em risco. A discrimi-nação, a violência e o assédio no local de trabalho são especialmente comuns no caso de populações mais vulneráveis, incluindo mulheres, crianças e jovens, imigrantes e indígenas.

Quer saber mais?

Com o apoio de nossos parceiros de mercado, a Rainforest Alliance está na fase de pilotos da estratégia de avaliar e abordar no setor de café da América Central e no setor de cacau da África ocidental. Saiba mais sobre a a estratégia de avaliar e abordar e o que esperar de nosso novo programa de certificação.

Se tiver dúvidas específicas, escreva um e-mail para [email protected].

JUNHO DE 2020

Rainforest Alliance

@rainforestalliance@RnfrstAlliance

rainforest-allianCe.org

Estados Unidos:125 Broad Street, 9th FloorNew York, NY 10004tel: +1 (212) 677-1900email: [email protected]

Holanda:De Ruyterkade 61013 AA, Amsterdamtel: +31 20 530 8000email: [email protected]

reimaginando a CertifiCação e o programa de CertifiCação de 2020

A nossa visão de reimaginar a certificação representa nossa visão de longo prazo para o futuro da certificação. É parte da estratégia mais ampla da Rainforest Alliance para impulsionar mudanças em nossas quatro principais áreas de trabalho.

Em junho de 2020, a Rainforest Alliance deu o primeiro passo em nossa jornada pela “visão de reimaginar a certificação” com a publicação do Programa de Certificação de 2020. Temos traba-lhado nesse novo programa desde 2018, quando ocorreu a fusão entre a Rainforest Alliance e a UTZ.

O Programa de Certificação de 2020, incluindo a Norma de Agri-cultura Sustentável, é uma oportunidade única de mudar o atual modelo de certificação e como ela agrega valor para as pessoas e negócios que a utilizam ao redor do mundo.

Entre junho de 2020 e meados de 2021, a Rainforest Alliance lançará o novo programa ao redor do mundo, incluindo um plano de treinamento abrangente. As auditorias para o novo programa começarão em meados de 2021.

A Rainforest Alliance está trabalhando em parceria com a União Nacional de Professores da Uganda para treinar os professores em identificar quem pode estar envolvido em trabalho infantil e fornecer o apoio extracurricular necessário para manter as crianças em sala de aula por tempo integral.