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IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64 O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE SERGIPE REFERENTE AO PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Autora: Roberta da Silva Rosa 1 Coautor: Gilson Rambelli 2 As evidências arqueológicas estão espalhadas por todo território nacional e fazem parte do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural brasileiro. Os vestígios materiais encontrados se apresentam como elementos importantes para o conhecimento da história, já que fazem parte das informações do passado deixadas por pessoas que já não mais existem. Este legado é, portanto, nossa herança cultural. De acordo com o arqueólogo paulista Pedro Paulo Funari (2007) o conceito de Patrimônio Cultural é usado como referência a monumentos herdados de gerações anteriores, ou seja, este conceito vem das línguas românicas que se referem a propriedade herdada do pai ou dos antepassados, uma herança. Esta ideia procura demonstrar a importância de se construir uma consciência histórica relacionada aos vestígios deixados pelos nossos antepassados e que apresentam suas continuidades no presente. Segundo ele, não existe identidade sem memória e por este motivo: Os monumentos históricos e os restos arqueológicos são importantes portadores de mensagens e, por sua própria 1 Mestranda em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (2013), Graduanda em Arqueologia pela UFS (2010), Graduada licenciada em História pela Universidade Tiradentes (2009), Bolsista da CAPES, e-mail: roberta.ro25@hotmailcom. 2 Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LAAA-UFS), Professor do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (DAR-UFS), Bolsista de Produtividade Científica do CNPq, e-mail: [email protected].

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IV CONGRESSO SERGIPANO DE HISTÓRIA & IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA DA ANPUH/SE

O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE SERGIPE

REFERENTE AO PERÍODO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Autora: Roberta da Silva Rosa1

Coautor: Gilson Rambelli2

As evidências arqueológicas estão espalhadas por todo território nacional e

fazem parte do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural brasileiro. Os vestígios

materiais encontrados se apresentam como elementos importantes para o conhecimento

da história, já que fazem parte das informações do passado deixadas por pessoas que já

não mais existem. Este legado é, portanto, nossa herança cultural.

De acordo com o arqueólogo paulista Pedro Paulo Funari (2007) o conceito de

Patrimônio Cultural é usado como referência a monumentos herdados de gerações

anteriores, ou seja, este conceito vem das línguas românicas que se referem a

“propriedade herdada do pai ou dos antepassados, uma herança”. Esta ideia procura

demonstrar a importância de se construir uma consciência histórica relacionada aos

vestígios deixados pelos nossos antepassados e que apresentam suas continuidades no

presente. Segundo ele, não existe identidade sem memória e por este motivo:

Os monumentos históricos e os restos arqueológicos são

importantes portadores de mensagens e, por sua própria

1 Mestranda em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (2013), Graduanda em Arqueologia

pela UFS (2010), Graduada licenciada em História pela Universidade Tiradentes (2009), Bolsista da

CAPES, e-mail: roberta.ro25@hotmailcom. 2 Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LAAA-UFS), Professor do

Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (DAR-UFS), Bolsista de

Produtividade Científica do CNPq, e-mail: [email protected].

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natureza como cultura material, são usados pelos atores sociais

para produzir significado, em especial ao materializar

conceitos como identidade nacional e diferença étnica

(FUNARI, 2007, p. 60).

A percepção do Patrimônio Cultural não se dá de maneira espontânea. Segundo

o arqueólogo paulista Gilson Rambelli ela é construída social e historicamente (2008, p.

50). Com base nisso, podemos dizer que a relação existente entre a preservação do

Patrimônio Arqueológico e a sociedade pode ser apontada como sendo o

reconhecimento e a valorização das identidades culturais de uma determinada região, e

isto, está diretamente relacionado com a identificação do sujeito na localidade em que

ele vive, tornando-o uma parte deste passado, identificando-se com ele.

Nesse contexto, podemos inserir o Patrimônio Histórico Estadual de Sergipe

referente à Segunda Guerra Mundial, o Cemitério dos Náufragos, que representa

materialmente a passagem trágico-naval dos torpedeamentos das embarcações

brasileiras afundadas no litoral sergipano em 1942 que vitimou covardemente centenas

de pessoas inocentes.

O Cemitério dos Náufragos localizado em Aracaju consiste em uma Arquitetura

funerária do século XX, que foi elevada a Patrimônio Histórico pelo Decreto Estadual

nº 2.571 em 20 de maio de 19733. Para se tornar um bem histórico tombado, passou por

um estudo avaliativo com critérios técnicos, levantamento histórico e de valor

representativo perante a comunidade em que está inserido.

Com o passar dos anos, no entanto, o importante acontecimento histórico sobre

os ataques navais em Sergipe se tornou desconhecido e distanciado das novas gerações.

Isso se deve ao fato desta temática ter sido pouco explorada pelas produções

3 O Decreto Estadual nº 2.571, de 20 de maio de 1973, elevou o Cemitério dos Náufragos a Patrimônio

Histórico de Sergipe. Disponível em: <http://sergipepatrimonios.wix.com/seeseuspatrimonios/ master-

page-7>. Acesso em 11 de março de 2014.

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historiográficas. No geral, as abordagens colocam o envolvimento do Brasil na Segunda

Guerra como tendo uma participação simbólica, merecendo apenas uma breve citação

nos livros didáticos. No entanto, discordamos veementemente com essa visão

generalista que, de certa forma, despreza as experiências dramáticas vividas pelas

regiões litorâneas brasileiras que sofreram direta e indiretamente com os atos de guerra

praticados contra a nação brasileira em seu mar territorial.

Os torpedeamentos praticados pelos submarinistas alemães aos navios

Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo na costa sergipana representou a chegada da

grande guerra ao Brasil. No entanto, atualmente, a situação do Patrimônio que

representa materialmente essa tragédia se encontra em condições lamentáveis. O

primeiro Cemitério dos Náufragos localizado na Atalaia Velha está “abandonado”,

vítima do esquecimento das autoridades e destruído pela ação do homem e do tempo.

O segundo cemitério localizado no Mosqueiro, de acordo com os estudos, ele

representa apenas os locais que possivelmente abrigam ou abrigaram os restos mortais

das vítimas que foram removidos do cemitério original durante a construção da Rodovia

dos Náufragos que ligaria a capital às praias sergipanas, em 1973. Nessa época foi

assinado o Decreto Estadual 2.571 de 20 de maio, que passou a considerar o Cemitério

dos Náufragos como Patrimônio Histórico do Estado de Sergipe. Com a obra da

rodovia, foi necessário então mudar o cemitério da sua localização antiga para a atual,

no Mosqueiro (MELLO; CERQUEIRA, 2012). De acordo com relatos da população, o

impacto da construção foi grande, visto que “passaram por cima de tudo, reviraram as

covas e depois colocaram tudo no cemitério do Mosqueiro” 4. Muitos corpos foram

trasladados, contudo ainda resta parte do cemitério original, o qual se encontra

4 Entrevista publicada In: Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual. Jornal da

Cidade, 21 de novembro de 2010. Disponível em:

<http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=83899>. Acesso em 17 de dezembro de 2013.

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interditado por medida judicial desde 2007 e carente da devida proteção das autoridades

públicas.

O Monumento do Cemitério dos Náufragos localizado no Mosqueiro é o mais

preservado. O local é murado, não apresenta sinais de violação nas sepulturas nem

acúmulo de entulhos e lixo na sua área. No entanto, falta na localidade uma maior

divulgação a respeito da existência deste Monumento. Ele se encontra em uma pequena

rua lateral sem saída, não existindo sequer uma placa na localidade que se refira a ele.

Diante desse contexto, podemos dizer que não há um sentimento de identidade deste

patrimônio na comunidade, principalmente na população jovem. A maioria não sabe

nem de sua existência. Falta uma ação de política pública por parte dos governantes na

comunidade acerca da importância de se preservar a memória destes episódios,

principalmente na população jovem da comunidade.

Aracaju, ao que tudo indica, é a única cidade do Brasil que tem plantado em seu

solo um cemitério de náufragos da Segunda Guerra Mundial. Esse fato se justifica,

levando em conta que a maioria dos afundamentos e as batalhas navais ocorreram

sempre em longitudes bem distanciadas do continente, enquanto os afundamentos na

costa de Sergipe, ocorreram a poucas milhas de Aracaju, aonde chegaram a ser

avistadas as luzes projetadas pelo Farol de Aracaju.

O Cemitério dos Naufrágios é resultado dos afundamentos dos navios mercantes

brasileiros Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo.5 Eles foram atacados brutalmente

pelo submarino alemão U-507 que vitimou mais de 500 pessoas no litoral nordestino.

Esse evento trágico teve grande peso no reconhecimento do Estado de Beligerância em

5 “Pela primeira vez as embarcações brasileiras, servindo o tráfego das nossas costas no transporte de

passageiros e cargas de um Estado para outro, sofreram ataque dos submarinos do Eixo. [...] Foram

afundados em Sergipe os vapores “Baependy” e “Aníbal Benévolo” do Lloyd Brasileiro e o “Araraquara”

do Lloyd Nacional S.A. [...] Deve o povo manter-se calmo e confiante na certeza de que não ficarão

impunes os crimes praticados contra a vida e bens dos brasileiros” (CORREIO DE ARACAJU, 1942,

p.1). Cf. CRUZ, 2012, p.19.

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todo território nacional em 22 de agosto de 19426 e na Declaração Brasileira de Guerra

aos países do Eixo em 31 de agosto de 1942.

Os navios afundados na costa sergipana são considerados pela Arqueologia de

Ambientes Aquáticos como sítio de naufrágio7 formado pelos restos das três

embarcações naufragadas. Este tipo de sítio pode ser estudado in situ por meio da

aplicação de métodos e técnicas específicos voltados para a práxis da arqueologia

praticada embaixo d’água, com ferramentas especificas e adaptada ao ambiente (BASS,

1969; MUCKELROY, 1978; BLOT, 1999, RAMBELLI, 2003). O estudo também pode

se deter na busca de conhecimento sobre a própria embarcação, destacando as

estruturas, tecnologias, cargas, partidas e destinos, assim como seu uso enquanto meio

de transporte, lugar de trabalho, segundo lar para os tripulantes, enfim, as possibilidades

de pesquisa são amplas.

BREVE HISTÓRICO SOBRE SERGIPE NO CONTEXTO DA SEGUNDA

GUERRA MUNDIAL

No início da década de 40 do século passado, as notícias da guerra chegavam a

Sergipe através de jornais, anúncios nos rádios e cinemas locais. No entanto, elas não

alteravam o cotidiano pacato da cidade de Aracaju, afinal o conflito ocorria no

continente europeu que estava muito distante. Mas, com o tempo a batalha naval

empreendida pelos nazistas no Atlântico começou a se expandir. Os Estados Unidos na

6 Declaração de Estado de Beligerância em todo território nacional. Fonte: Correio de Aracaju.

Aracaju/Se. 16 de Janeiro de 1943, p. 4 apud CRUZ, Luiz A. P. “A guerra já chegou entre nós”! O

cotidiano de Aracaju durante a Guerra Submarina (1942 -1945). 2012. 232f. Dissertação (Mestrado em

História) - Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Filosofia d Ciências Humanas, Salvador, 2012,

p. 232. 7 Sítio de naufrágio consiste em um sítio arqueológico formado por restos de uma ou mais embarcações

naufragadas. Disponível em: <http://laaa.ufs.br>. Acesso em 05 de março de 2014.

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defesa do seu litoral se aperfeiçoou tecnologicamente e reagiu aos ataques com seus

caça-submarinos, afastando assim os U-boots8 alemães que migraram para o Atlântico

Sul. A guerra então começava a se aproximar do litoral brasileiro.

O governo liderado pelo presidente Getúlio Vargas agia de forma “neutra”

diante do conflito, tanto desenvolvendo relações de solidariedade com os Estados

Unidos, como mantendo laços econômicos com os países eixistas. No entanto, essa

política de imparcialidade chegou ao fim logo após o ataque japonês a Pearl Harbor, em

7 de dezembro de 1941 e com a Declaração de Guerra dos Estados Unidos ao Japão, à

Itália e à Alemanha.

Na Conferência Pan-Americana dos Chanceleres realizada no Rio de Janeiro, em

28 de janeiro de 1942, contrariando a opinião dos militares pró-Alemanha, decidiu- se a

favor do rompimento das relações diplomáticas com os países do Eixo. Dessa forma, o

Brasil rompia com a sua neutralidade, contudo a maioria dos brasileiros não sabia dos

riscos dessa decisão política e continuou a navegar a bordo dos navios mercantes.

A presença dos submarinos no litoral do Brasil se intensificou, demonstrando

assim que a Alemanha nazista estava atenta ao comércio exterior do país. A rota

brasileira se apresentava como uma das linhas vitais para os Aliados e por esta razão é

compreensível que os submarinos viessem com a missão de obstruí-la. O desfecho foi o

ataque brutal do submarino U-507 ocorrido na área costeira de Sergipe contra os navios

Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo, ocasionando assim, uma das maiores

tragédias brasileiras no período da Segunda Guerra Mundial.

8 O termo U-boots é originado da palavra alemã Unterseeboot que significa “pequeno-barco debaixo

d’água”, usado para designar qualquer submarino. “Os U-boots espalharam o terror pela costa nacional e

afundaram os navios mercantes em Sergipe deixando muitas marcas na memória da população” In CRUZ,

Luiz A. P; SOUZA, Antônio L. U-Boots no Brasil. As vivências do homem costeiro diante da Guerra

Submarina em Sergipe. (1942-1945). 2009. Trabalho apresentado no IV Congresso Internacional de

História, Maringá - PR, 2009. Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/58571408/U-BOOTS-NO-

BRASIL-AS-VIVENCIAS-DO-HOMEM-COSTEIRO-DIANTE-DA-GUERRA-SUBMARINA>.

Acesso em 12 de dezembro de 2013.

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Os primeiros ataques ocorreram em águas internacionais, foi confirmado o

torpedeamento praticado pelo submarino alemão U-432 ao navio Buarque no dia 15 de

fevereiro de 1942, quando este navegava sozinho e desarmado pelo Atlântico Norte.

Antes disso, em 22 de março de 1941 o navio Taubaté tinha sido avariado por um avião

da Força Aérea Alemã e no mesmo mês o navio Santa Clara desapareceu de forma

repentina, sem deixar rastros (SILVA, 1972 apud PORTO, 2010). A partir desses fatos,

percebe-se que o Brasil antes mesmo de entrar oficialmente na guerra já era alvo do

Führer alemão.

A área atlântica brasileira afetada com as primeiras investidas nazistas foi o

litoral deserto de Sergipe, entre os dias 15 e 16 de agosto de 1942. Os torpedeamentos

ocorrem de forma inesperada e trágica com os navios Baependy, Araraquara e Aníbal

Benévolo, vitimando assim 549 pessoas. Na época, o anúncio do jornal aracajuano

Folha da Manhã destacou: “Sergipe nunca em sua vida, presenciou cenas tão tristes

como nestes dias9”. O clima de Aracaju era de consternação, afinal as perdas foram

incalculáveis, os nazistas assassinaram covardemente civis e militares, eram homens,

mulheres e crianças. Os acontecimentos foram assustador para a população e muito

sofrido para os náufragos, transformando assim, a capital numa cidade sitiada.

Sergipe se envolveu num clima de guerra, ocorreram várias manifestações e

houve perseguições a estrangeiros e sergipanos suspeitos de espionagens. O quebra-

quebra se instalou na cidade, o comércio local paralisou, as aulas foram suspensas, o

expediente das repartições públicas foi encerrado e nas ruas houve aumento das

autoridades policiais para intervir, a fim de conter a multidão e evitar ânimos mais

exaltados.

9 Folha da Manhã. Nota publicada no jornal aracajuano. Cf. CRUZ; SOUZA, 2009. Disponível em:

<http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/331.pdf>. Acesso em 12 de dezembro de 2013.

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Refém da ameaça submarina, a cidade ficou isolada sem os costumeiros navios

mercantes, dessa forma, ela perdia sua feição portuária. Com a guerra e os naufrágios

seguidos, sugere-se a desaparição da atração do porto, pois seu movimento paralisou

quase que completamente, tendo sido cancelada a circulação de mercadorias. Vale

ressaltar que o mar nessa época era a principal via de ligação com outros estados, já que

as estradas de rodagem interestaduais eram inexistentes e não havia um sistema

ferroviário eficiente.

A população sofreu com o aumento da inflação que encareciam os alimentos. O

isolamento naval asfixiou o comércio e encalhou a safra açucareira nos trapiches

ribeirinhos. Medidas de defesa na costa sergipana se iniciaram, como o blackout10 que

consistia no escurecimento da cidade, no entanto, essa medida causou transtorno

urbano, provocando um aumento significativo da violência. Enfim, esse era o clima de

Aracaju em tempos de guerra, a capital deixava de ser uma mera espectadora de um

conflito europeu para se transformar em uma vítima da Segunda Guerra Mundial.

POSSIBILIDADES DE ESTUDO DESSES SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DE

NAUFRÁGIOS EM SERGIPE

A abordagem da Arqueologia de Ambientes Aquáticos utilizada neste trabalho

buscou analisar os múltiplos significados relacionados aos navios afundados na costa

sergipana na época da Segunda Guerra Mundial. O levantamento das fontes de

informações foi feito através de documentos, jornais, fotografias, mapas e observação

10 O “black-out” consistiu no escurecimento das cidades, das povoações e das residências particulares,

originado - seja pela extinção de todas as luzes, seja pelas medidas tomadas previamente para velar a

iluminação, de modo que as cidades, povoações, etc., não pudessem ser distinguidas pelos

bombardeadores inimigos. Cf. PEREIRA, 1942, p.58 apud SCHURSTER 2013, p.49. Disponível em:

<http://www.revistanavigator.com.br/navig17/dossie/N17_dossie3.pdf>. Acesso em 23 de julho de 2013.

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da cultura material, a exemplo do Cemitério dos Náufragos que foi consequência dos

naufrágios que ocasionou centenas de mortes. Para a arqueologia os restos mortais

também podem ser estudados, eles são considerados biofatos, nesse caso, associados

aos sítios arqueológicos de naufrágios. A partir das informações buscamos compreender

o contexto em que os navios afundaram e descrevemos sobre as suas estruturas, partidas

e destinos, carregamento, profundidade em que submergiram e identificamos a possível

localização atual.

É importante destacar que já existem algumas pesquisas que abordam o tema

Sergipe no contexto da Segunda Guerra Mundial, a exemplo da monografia e

dissertação do arqueólogo Otávio Arruda Porto “Uma arqueologia da II grande guerra:

Sergipe e os sítios de naufrágios” (2010) e “Arqueologia Marítima/Subaquática da 2ª

Guerra Mundial: sua aplicabilidade no Brasil” (2013) respectivamente; a monografia

do arqueólogo Alexandre Araújo de Oliveira Santana “Arqueologia de naufrágios:

Sergipe e os remanescentes da segunda guerra mundial” (2012); e a dissertação do

historiador Luiz Antônio Pinto Cruz “‘A Guerra Já Chegou Entre Nós’! O cotidiano de

Aracaju durante a Guerra Submarina (1942 -1945)” (2012). Além desses trabalhos

acadêmicos, se destacam também as ações exercidas pelo Laboratório de Arqueologia

de Ambientes Aquáticos do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de

Sergipe coordenado pelo arqueólogo Gilson Rambelli, as atuações são voltadas para

pesquisas, cursos de extensão universitária e difusão cultural do conhecimento sobre os

sítios arqueológicos de ambientes aquáticos.

Sobre o navio Baependy, sabe-se que ele era da classe paquete, ex-alemão

Tijuca, que tinha sido confiscado pelo governo brasileiro durante a Primeira Guerra

Mundial. Seus aspectos náuticos consistiam em casco de aço, com 119 metros de

comprimentos, 14,10 metros de boca, e 9,26 metros de pontal. Deslocava 4.081

toneladas brutas e 3.066 líquidas (WYNNE, 1973). O percurso realizado no dia 15 de

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agosto de 1942, foi o seguinte: zarpou do Rio de Janeiro, fez escala em Salvador e se

dirigiu à Recife, no entanto, foi surpreendido com o ataque do submarino U-507 quando

navegava de 11 a 20 milhas na barra do rio Real no litoral sergipano a uma velocidade

de nove nós (16,6 km/h). A embarcação foi atingida por dois torpedos.

O navio afundou junto com a maioria das pessoas. A bordo estavam 73

tripulantes e 250 passageiros, entre os quais, 141 eram militares do 7º Grupo de

Artilharia de Dorso. Foram mortas 270 pessoas (CRUZ, 2012). A tragédia do Baependy

foi a maior de todas as que houve entre os navios brasileiros durante o período da

Segunda Guerra Mundial (SANDER, 2007 apud PORTO, 2013).

Para identificar a profundidade do local, foi utilizada a possível coordenada

geográfica do navio no momento do ataque, que era de Lat 11º 51’ S e Long 37º 02’ W.

De acordo com as coordenadas plotadas em cartas náuticas eletrônicas, a profundidade

no provável local é de mais de 2.000 metros, impossibilitando assim qualquer pesquisa

in situ, sendo viável apenas, através de veículo controlado remotamente (ROV) ou

veículos subaquáticos autônomos (PORTO, 2013).

O Araraquara respondia por um navio de classe paquete, com 4.872 toneladas

de deslocamento. Era armado em iate, visando a navegação de grande cabotagem. Ele

pertencia à frota dos “Ara” do Lloyd Nacional. Fora construído na Itália nos estaleiros

de Cantiori Nevale, em Triéste e registrado na Capitania dos Portos do Rio de Janeiro

em 1937 (CRUZ, 2012). Seus aspectos náuticos consistiam em casco de aço, com 117,

9 metros de comprimento, boca com 16,3 metros e calado com 4,4 metros. O percurso

realizado no dia 15 de agosto de 1942 foi o seguinte: partiu de Salvador e se dirigia à

Maceió, no entanto, antes de chegar ao seu destino foi atacado de forma repentina e

atingido por um torpedo disparado pelo mesmo agressor do navio Baependy. Morreram

o Comandante, o Imediato, seis oficiais, 58 tripulantes e 65 passageiros, somente 11

pessoas que estava a bordo sobreviveram (SANDER, 2007 apud PORTO, 2013).

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As possíveis coordenadas geográficas da localização do navio no momento do

ataque eram de Lat 11º 53’ S e Long 37º 22’ W, plotadas em carta náutica eletrônica.

De acordo com essa informação, será possível realizar trabalhos sistemáticos in situ

(PORTO, 2013), com arqueólogos mergulhadores fazendo o levantamento das áreas do

sitio arqueológico através de várias técnicas, como inspeções visuais subaquáticas,

levantamento em círculos concêntricos, em retângulos, triângulos, pêndulo, como

também com a ajuda e um propulsor, ou planador puxado por barco (RAMBELLI,

2002).

O navio Aníbal Benévolo, ex-Comandante Alvim, foi construído em estaleiro

alemão em 1905 (CRUZ, 2012). Era um vapor com 1.905 toneladas de deslocamento.

Seus aspectos náuticos consistiam em casco de aço, com 82,2 metros de comprimento,

boca com 11,5 metros e calado com 3,8 metros. O percurso realizado no dia 16 de

agosto de 1942 foi o seguinte: zarpou de Salvador com destino a Aracaju, saiu uma hora

após do Araraquara. Ele navegava com as luzes apagadas, mantendo apenas os faróis de

navegação acesos, estava muito próximo à costa aracajuana, por volta de sete milhas,

aproximadamente 13 km, quando foi surpreendido pelo ataque do submarino U-507.

Era madrugada e quase todos estavam dormindo, somente quatro dos 71 tripulantes

sobreviveram, todos os 83 passageiros pereceram (SANDER, 2007 apud PORTO,

2013).

De acordo com o historiador Luiz Cruz (2012), “o povo sergipano se

identificava com o navio Aníbal Benévolo, afinal Aracaju era o seu fim de viagem e as

pessoas acostumaram a vê-lo adentrar a boca da Barra e apontar na ponte do Lima. O

navio afundou com vários sergipanos que vinham de Salvador. Poucos sobreviveram”.

As coordenadas geográficas da possível localização do navio no momento do ataque era

de Lat 11º 42’ S e Long 37º 23’ W, plotadas em carta náutica eletrônica. Elas

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demonstram que será possível realizar trabalhos sistemáticos in situ, com metodologias

comparáveis as que poderão ser utilizados no Araraquara (PORTO, 2013).

A tabela abaixo de Ações Beligerantes do U-507 na Costa do Brasil faz um

recorte e mostra os navios brasileiros que foram atacados pelo submarino U-507 em

Sergipe e na Bahia durante a Segunda Guerra Mundial. Quando comparamos a

quantidade de mortos decorrente dessa tragédia, notamos de forma clara através dos

dados, que as maiores fatalidades no período de guerra aconteceram em águas

sergipanas. De acordo com o arqueólogo Otávio Porto (2013), foram perdidas 549

vidas, ou seja, 52,3% das fatalidades brasileiras. Vale ressaltar, que não há um consenso

em relação aos números efetivos de mortes, pois as fontes de informações pesquisadas

divergem.

Tabela - Ações Beligerantes do U-507 na Costa do Brasil11

NAVIOS LOCAL DATA

DO

ATAQUE

DE

TRIP.

Nº DE

PASS.

SAVOS MORTOS OU

DESAPAARECIDOS

TOTAL DE

MORTOS OU

DESAPARECIDOS TRIP. PASS. TRIP. PASS.

Baependy Sergipe 15/08/1942 73 233 18 18 55 215 270

Araraquara Sergipe 15/08/1942 74 68 8 3 66 65 131

Aníbal

Benévolo

Sergipe 16/08/1942 71 83 4 67 83 150

Itagiba Bahia 17/08/1942 60 121 50 95 10 26 36

Arara Bahia 17/08/1942 35 15 20 20

Jacira Bahia 19/08/1942 5 1 5 1

TOTAL GERAL 318 506 100 117 218 389 607

Diante dos fatos trágicos, a cidade de Aracaju foi alçada à condição de vítima da

Guerra Submarina, sendo o acontecimento considerado de grande peso no

11 SERAFIM, Carlos Frederico S. & BITTENCOURT, Armando Senna. A Marinha na República. A

Importância do Mar na História do Brasil. 2006. Ministério da Educação, Brasília, 2006, p. 151.

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reconhecimento do Estado de Beligerância em todo território nacional em 22 de agosto

de 1942, e na Declaração Brasileira de Guerra à Alemanha e à Itália em 31 de agosto de

1942. Alguns jornais da época fizeram uma comparação interessante entre o “atentado

nazista em Sergipe” e o “atentado japonês a Pearl Harbor”, pois ambos foram

executados por países beligerantes do Eixo e arrastaram suas respectivas nações à

Segunda Guerra Mundial (CRUZ; ARAS, 2012).

De acordo com as memórias do prático Zé Peixe12, contemporâneo dos

acontecimentos:

O Brasil não tinha entrado em guerra. Esses navios [...]

Baependy, Araraquara e Aníbal Benévolo foram torpedeados.

Aí Getúlio Vargas declarou guerra daí por diante.

Torpedearam os navios brasileiros em águas brasileiras.

Dentro da nossa casa né? Na barra de Estância. De Estância

para São Cristóvão. E os corpos davam na praia. Tinha o

Cemitério dos Náufragos, mas tinha corpos que não dava pra

pegar mais que tava em estado que não podia pegar mais. Aí

botava na praia e enterrava lá [...]13.

O relato acima demonstra um olhar particular sobre o drama vivido com a guerra

submarina e a forma que foi compreendido. Afinal, consideramos os depoimentos orais

importantes fontes de informações que servem para preencher as lacunas existentes na

historiografia. As fontes orais se apresentam como diferentes percepções sociais, no

12 José Martins Ribeiro Nunes, mais conhecido como Zé Peixe, nasceu em 05 de janeiro de 1927 na

cidade de Aracaju. Na época dos torpedeamentos ele era adolescente e suas memórias são consideradas

privilegiadas, pois sua casa se localizava próximo à Capitania dos Portos de Sergipe. Ele testemunhou

vários acontecimentos, entre eles, as operações antissubmarinas na cidade, os ensaios antiaéreos, o

movimento estudantil e a perseguição aos estrangeiros. Depois da guerra, Zé Peixe se tornou um prático,

sendo inclusive um dos mais conhecidos na Marinha do Brasil. 13 Entrevista de José Martins Ribeiro Nunes (Zé Peixe) concedida aos historiadores Luiz Antonio Pinto

Cruz e Antônio Lindvaldo Souza, em Aracaju dia 07 de abril de 2004 (CRUZ; SOUZA, 2009).

Disponível em <http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/331.pdf>. Acesso em 12 de dezembro de

2013.

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

entanto, elas não podem ser consideradas isentas de imperfeições. Portanto, devem ser

confrontadas com outros tipos de informações, buscando assim uma melhor

compreensão dos fatos ocorridos através dos olhares da população que são

imprescindíveis para a construção da História.

O estudo de embarcações, enquanto cultura material pode ser percebido em suas

múltiplas dimensões, pois se trata de um meio de transporte, mas também representa um

“lugar de trabalho”, “espaço de convivialidade”, o “segundo lar”, a “pátria”, enfim, a

“razão de ser” da marujada (CABRAL, 1958 apud CRUZ; ARAS, 2012, p. 88). Os

sítios mais numerosos e estudados são os de naufrágios, pois conseguem alcançar um

alto grau de conservação. As novas análises, baseadas nas abordagens do pós-

processualismo como a arqueologia simbólica, contextual e crítica, buscam ampliar e

diversificar as possibilidades de estudo referentes aos sítios arqueológicos de ambientes

aquáticos.

Segundo o arqueólogo Gilson Rambelli (2002), a Arqueologia de Ambientes

Aquáticos se debruça sobre a cultura material que se encontra submersa ou na interface

do ambiente aquático, a qual possibilita reconstituir aspectos do passado revelando

riquezas históricas que estão encobertas pelas águas. De acordo com o arqueólogo

britânico Keith Muckelroy (1978), essa abordagem estuda o material de restos de

atividades humanas no mar e as vias navegáveis, centrando-se nos naufrágios

(MUCKELROY, 1978 apud GIBBINS; ADAMS, 2001). George Fletcher Bass foi o

arqueólogo pioneiro que desenvolveu métodos e técnicas específicos voltados para a

práxis da arqueologia praticada embaixo d’água, criando ferramentas especificas e

adaptando outras que eram utilizadas em superfície (BASS, 1969; MUCKELROY,

1978; BLOT, 1999, RAMBELLI, 2003).

Ao problematizar um sítio arqueológico de naufrágio devemos levar em

consideração vários fatores, como a época e o contexto em que o naufrágio aconteceu,

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

sua localização e o efeito da ação da erosão com o tempo. Para realizar um

levantamento das estruturas e artefatos é preciso fazer uma prospecção arqueológica,

utilizado equipamentos geofísicos, fazendo registro rigoroso e aplicando uma

metodologia adequada que garanta a preservação das informações arqueológicas.

O CEMITÉRIO DOS NÁUFRAGOS ENQUANTO PATRIMÔNIO

ARQUEOLÓGICO E O SEU “ABANDONO” PELO PODER PÚBLICO

Um dos objetivos deste trabalho é compreender a partir da Arqueologia

Histórica a relação entre a suposta criação do Cemitério dos Náufragos em Aracaju com

os torpedeamentos dos navios brasileiros na costa sergipana que vitimou centenas de

pessoas no período da Segunda Guerra Mundial. Faremos a ligação desses

acontecimentos com as memórias dos aracajuanos e analisaremos a questão do

“abandono” pelas autoridades públicas deste Monumento Histórico representativo que

se encontra oficialmente interditado pelo Ministério Público Estadual desde 2007, mas

que ainda permanece em uso pela população local que realiza os enterramentos de seus

familiares.

De acordo com o arqueólogo Pedro Funari (2006) a pesquisa arqueológica se

baseia no estudo da cultura material que busca compreender as relações sociais e as

transformações ocorridas na sociedade. O fundamento teórico desta pesquisa segue a

linha da corrente teórica Pós-Processual que tem como principais pilares as concepções

dos arqueólogos Ian Hodder, Michael Shanks e Cristopher Tilley. Essa corrente possui

métodos interpretativos e busca entender os acontecimentos da vida social através dos

contextos, analisando assim a pluralidade dos significados impregnados na cultura

material a partir de múltiplas visões. Nesse sentido, essa vertente teórica também

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

chamada de arqueologia Contextual proporcionará uma melhor compreensão dos fatos

ocorridos no litoral de Sergipe na época da Segunda Guerra Mundial.

Durante muito tempo, os cemitérios serviram de fontes de pesquisas para a

Arqueologia Pré-Histórica. No entanto, a Arqueologia Histórica, responsável pelo

estudo contemporâneo, vem desenvolvendo poucas pesquisas referentes aos

monumentos funerários urbanos existentes do século XX. No Brasil, o assunto é pouco

explorado, destacam-se trabalhos como o de Solimar G. Messias Bonjardim e Maria

Augusta Mudin Vargas (2010), que tratam sobre a materialidade e a imaterialidade da

paisagem arqueológica da morte nas cidades de São Cristóvão e Laranjeiras em Sergipe

e o estudo de Gessonia Leite de Andrade Carrasco e Sérgio Castello Branco Nappi

(2009), sobre os cemitérios enquanto patrimônio cultural como fonte de pesquisa, de

educação patrimonial e de turismo.

O objeto de estudo escolhido, ao que tudo indica, é o único o cemitério de

náufragos do período da Segunda Guerra Mundial construído em solo de uma cidade

brasileira. O Cemitério dos Náufragos foi transformado em Patrimônio porque possui

um valor simbólico e histórico que representa materialmente a passagem das agressões

dos nazistas no litoral sergipano. De acordo com o arqueólogo estadunidense Charles

Orser Jr. (1992), a Arqueologia Histórica estuda um passado recente, ou seja, um

passado moderno, que “incorporou muitos processos, perspectivas e objetos materiais

que ainda estão sendo usados em nossos dias”. Sendo assim, o estudo do cemitério se

encaixa muito bem nesse tipo de pesquisa, já que o mesmo continua em uso até hoje

pela população local.

Portanto, será feito aqui um breve histórico sobre o Cemitério dos Náufragos,

destacando questões referentes à sua fundação, mudança geográfica, tombamento,

intervenção judicial e sua apropriação na atualidade pela comunidade local. Para tanto,

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

utilizaremos vários tipos de informações como as fontes materiais, documentais, orais e

pictóricas buscando dessa forma, sanar várias questões.

Em Aracaju, não existe apenas um Cemitérios dos Náufragos, mas sim dois. Na

verdade, inicialmente foi construído o original em agosto de 1942 quando ocorreu o

ataque do submarino U-507 aos navios mercantes na costa sergipana que vitimou

centenas de pessoas. Nas praias de Atalaia, Mosqueiro, Caueira e Saco chagaram vários

corpos espalhados juntos aos destroços das embarcações.

Os corpos que conseguiram ser identificados foram enterrados nos seguintes

cemitérios: Cruz Vermelha e Santa Izabel. Já outros, deteriorados pelo mar ou mutilados

pelas explosões, tiveram seus restos destinados ao cemitério, que posteriormente foi

chamado de “Náufragos”. Segundo Cruz (2012, p.131), vários “cemitérios

improvisados” foram abertos à beira mar. Covas individuais e coletivas, com cruzes

toscas e improvisadas. A Chefatura de Polícia de Sergipe fez assinalar nas sepulturas a

seguinte inscrição: “vítima do Nazismo”. Pela primeira vez, centenas de brasileiros

tinham sido mortos em uma ação militar empreendida pela Alemanha Nazista.

Na época, a pequena Aracaju não estava preparada para tamanha tragédia, os

cemitérios locais não comportavam tantos mortos. Supostamente, foi necessário criar o

Cemitério dos Náufragos para sepultar as vítimas da ação nazifascista. O médico Carlos

Moraes de Menezes (1888-1944) é considerado o fundador do cemitério que está

localizado na Rodovia Presidente José Sarney e que se encontra atualmente sem a

devida proteção por parte do poder público.

O segundo cemitério foi criado pela necessidade de mudar geograficamente o

original, pois com o crescimento da cidade foi preciso construir a Rodovia dos

Náufragos que ligaria a capital às praias, em 1973. Durante esse período foi assinado o

Decreto Estadual 2.571 de 20 de maio, que passou a considerar o Cemitério dos

Náufragos como Patrimônio Histórico do Estado de Sergipe. Com a obra da rodovia, foi

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necessário mudar o cemitério da sua localização antiga para a atual, no Mosqueiro

(MELLO; CERQUEIRA, 2012). De acordo com relatos da população, o impacto da

construção foi grande, visto que “passaram por cima de tudo, reviraram as covas e

depois colocaram tudo no cemitério do Mosqueiro”14. Muitos corpos foram trasladados,

contudo ainda resta parte do cemitério original, o qual se encontra interditado por

medida judicial desde 2007 e carente da devida proteção das autoridades públicas.

No entanto, há controvérsias sobre a criação do cemitério original, pois muitos

moradores antigos da Zona de Expansão de Aracaju, onde se localiza o cemitério,

acreditam que este monumento já existia muito antes dos torpedeamentos ocorrerem em

1942. Eles afirmam que pessoas já haviam sido enterradas nele há mais de dois séculos.

O local era conhecido como Cemitério dos “Manguinhos” ou dos “Campinhos”15 e teria

servido na época da tragédia para enterrar os corpos dos náufragos.

Diante desses fatos, surgem alguns questionamentos. Quando realmente foi

fundado o Cemitério dos Náufragos? Será que a construção da Rodovia dos Náufragos

descaracterizou o cemitério “original”? Por que atualmente ele se encontra sem a devida

proteção por parte do poder público? A partir dessas indagações, buscaremos alguns

caminhos que apontem possíveis respostas. As questões simbólicas também serão aqui

abordadas, do mesmo modo como a verificação da transformação da paisagem

cemiterial pela intervenção humana, através da cultura material, como as sepulturas, as

pedras tumulares, os ornamentos e as iconografias, as quais revelam a dialética entre a

relação homem e ambiente que pode ser percebida na modificação da paisagem.

14 ENTREVISTA. In: Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual. Jornal da Cidade,

21 de novembro de 2010. Disponível em:< http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=83899>.

Acesso em 17 de dezembro de 2013. 15 Entrevista de José Dias Firmo dos Santos, presidente da Associação Desportiva Cultural e Ambiental

do Robalo (ADCAR). In: Cemitério dos Náufragos será aberto hoje. Jornal da Cidade, 18 de dezembro

de 2010. Disponível em: <http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=86502>. Acesso em 17 de

dezembro de 2013.

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O Cemitério dos Náufragos é considerado pela Arqueologia Histórica como uma

estrutura16 que representa materialmente os trágicos naufrágios e os biofatos, restos

mortais, associados a eles. No cemitério localizado no Mosqueiro foi feita uma

construção em mármore que é simbólica, pois os túmulos estão vazios, nela se encontra

uma placa com a seguinte inscrição: “aí está o golpe mais traiçoeiro e terrível vibrado

contra o coração da nacionalidade”. De acordo com a pesquisa de campo, não há mais

nenhuma sepultura referente período da Segunda Guerra Mundial no Cemitério dos

Náufragos original. Os trabalhos que abordam sobre esse assunto deixam dúvidas

quanto a atual existência desses enterramentos, alguns sugerem o translado desses

corpos para outros cemitérios, ou a superposição de outros túmulos sobre os das vítimas

de guerra.

Segundo Otávio Porto (2010), a ex-diretora do Departamento de Cultura do

Patrimônio Histórico, Núbia Marques, tentou esclarecer a ausência dos túmulos

referentes ao período de 1942. Ela explicou que os corpos dos náufragos já não se

encontram mais no cemitério original porque foram transladados para um monumento

no Mosqueiro, isso ocorreu durante o Governo de Leandro Maciel (1955-1959),

contudo, não há documentos que notifique o tal translado.

Diante dessa afirmação questionamos sobre a data correta do translado dos

corpos do cemitério original para o do Mosqueiro. Afinal, aconteceu durante o Governo

de Leandro Maciel em 1955 a 1959 (PORTO, 2013, p.53) ou na época da construção da

Rodovia dos náufragos em 1973 (MELLO; CERQUEIRA, 2011, p.77)? Que motivo

levou a remoção dos corpos dos náufragos para um monumento no Mosqueiro em 1955

a 1959? Esse monumento é o mesmo Cemitério dos Náufragos localizado no

Mosqueiro? Como foi possível em 1955-1959 fazer uma transferência de corpos sem a

16 Estrutura é considerada pelo arqueólogo Charles Orser Jr. (1992) como uma das fontes de informações

que pode ser utilizada nas pesquisas de Arqueologia Histórica, assim como os artefatos, arquitetura,

documentos escritos, informações orais e imagens pictóricas. Cf. ORSEN, 1992, p.39.

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exigência de um documento oficial notificando a ocorrência? Afinal, como foi realizado

esse procedimento? Os parentes dos mortos foram avisados sobre esse enterramento

“secundário”? Diante desse contexto, é preciso investigar melhor e buscar outras fontes

de informações, para assim poder corroborar ou refutar essas afirmações.

Atualmente o cemitério original está em condições lastimáveis de conservação,

mesmo assim, continua sendo utilizado pela população local. Em 2006, o Ministério

Público Estadual (MPE) obrigou a Prefeitura Municipal de Aracaju a tomar

providências em relação aos vinte cemitérios irregulares existentes na capital, a fim de

que suas ossadas fossem transferidas para cemitérios legalizados. No entanto, o

presidente da Associação de Moradores do Robalo, Ademir da Silva, mostrou-se a favor

da adequação física e ambiental do Cemitério dos Náufragos, para que o mesmo

continuasse a ser utilizado pela população, desejosa de continuar a sepultar ali os seus

mortos (MELLO; CERQUEIRA, 2012). No entanto, essa adequação não aconteceu e os

enterramentos foram proibidos.

De acordo o Jornal da Cidade de 18 de dezembro de 2010, houve um embate

entre os moradores dos povoados Mosqueiro e Robalo contra a Prefeitura de Aracaju

envolvendo o Cemitério dos Náufragos como protagonista, afinal, uma ordem judicial

estava interditando o cemitério. Todavia, como considerar ilegal um cemitério que

através de Decreto Estadual é tombado como Patrimônio Histórico? As consequências

recaíram sobre a população, a qual teve que buscar um local adequado para sepultar

seus mortos, afinal a construção de um novo cemitério não foi efetivada.

Em 2010, houve um ato de protesto da população da Zona de Expansão, a qual

decidiu reabrir por conta própria o Cemitério dos Manguinhos, mais conhecido como

Cemitério dos Náufragos realizando assim, o primeiro enterramento depois de quase

quatro anos de interdição determinada pela justiça e que ainda continua valendo. De

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

acordo com a matéria publicada no Jornal da Cidade17, o ato de protesto foi contra o

descaso do poder público referente à construção de um novo cemitério na região, que

deveria ser realizado principalmente no sentido de atender a necessidade da população

que não tem onde enterrar familiares mortos.

Em 2011, já com dezenas de corpos enterrados no Campo Santo, foi rezada pela

primeira vez, depois da interdição, uma missa no interior do Cemitério dos Náufragos,

sendo este um acontecimento significativo e de grande importância para a população

local. No ano de 2012, os moradores voltaram a se reunir no dia 02 de novembro, Dia

de Finados, realizando mais uma missa em homenagem aos mortos que estão enterrados

no cemitério. Em 2013, eles prepararam novamente o cemitério para a celebração da

terceira missa. Os populares se revezaram para realizar serviços de capinagem, pintura e

alvenaria, essas pessoas eram voluntárias e parentes de pessoas que ali estavam

enterradas. Embora o Cemitério esteja oficialmente interditado por uma ação judicial,

“não há a menor possibilidade dos moradores deixarem de usá-lo”, afirmou José Firmo,

presidente da Associação Desportiva Cultural e Ambiental do Robalo18.

O estudo desse tipo de sítio arqueológico é relevante porque reproduz o

simbólico e o social de determinado grupo. A cultura material exposta na paisagem

funciona como sinais concretos de histórias particulares e historicidades. Segundo o

arqueólogo argentino Andres Zarankin (1999) a Arqueologia Histórica apreende as

relações sociais à cultura material. Tendo em vista que toda produção material humana é

dinâmica e incorpora significados. Neste panorama, é possível inferir que a cultura

17 JORNAL DA CIDADE. Edição: 18 de dezembro de 2010. Cf. MELLO; CERQUEIRA, 2012.

Disponível em: <http://www.getempo.org/index.php/revistas/50-edicao-n-09-setembro-de-

2012/artigos/131-cemiterio-dos-naufragos-uma-proposta-de-arqueologia-historica-em-sergipe-por-

janaina-cardoso-de-mello-e-rafael-santa-rosa-cerqueira>. Acesso em 11 de dezembro de 2013. 18 Nota: Cemitério dos Náufragos terá missa de finados. ADCAR. Publicada em 29 outubro de 2013.

Disponível em: <http://www.faxaju.com.br/conteudo.asp?id=172933>. Acesso em 20 de dezembro de

2013.

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

material agrupa significados dentro de um sistema cultural e assim adquire dimensão

ativa e ideológica.

Essa temática está sendo destacada porque se apresenta como importante fonte

de informação histórica que abarca “artefatos, estruturas, arquitetura, documentos

escritos, informações orais e imagens pictóricas” (ORSER, 1992, p.39). A pluralidade

de dados disponíveis contribui para um melhor entendimento sobre a importância desse

monumento para a sociedade. Assim, buscaremos de forma reflexiva e crítica,

confrontar todas as informações na tentativa de compreender melhor o contexto

histórico da fundação e utilização dos Cemitérios dos Náufragos em Aracaju.

A proposta de estudar os cemitérios a partir da Arqueologia Histórica

possibilitou o uso de outras fontes além da material, a exemplo dos documentos

históricos que permitem ao arqueólogo interpretações interessantes e potencialmente

significativas. Segundo Rambelli (2008, p.58), é preciso ter cuidado ao trabalhar com

fontes escritas, afinal, “a documentação textual não deve ser aceita como a verdade dos

fatos, deve ser criticada e questionada, devido à carga ideológica que representa. É

comum que as fontes textuais e arqueológicas se contradigam”.

O cemitério dos Náufragos original enquanto sítio arqueológico é considerado

recente, afinal possuiu apenas 72 anos, já que algumas fontes afirmam que ele foi criado

no período da Segunda Guerra Mundial. Portanto, é indispensável o diálogo com a

comunidade, a qual detém memórias significativas sobre fatos e pessoas ligadas ao

nosso objeto de estudo. Segundo o arqueólogo Orser Jr. (1992), a informação oral torna-

se muito útil, em geral, nos casos em que o arqueólogo está estudando um sítio que foi

ocupado em tempos ainda presentes na memória de testemunhas, ou nos casos em que o

arqueólogo deseja conhecer a história do sítio após seu uso pelo povo que originalmente

o construiu e usou.

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou apresentar o Patrimônio Arqueológico e Histórico imerso e

emerso de Sergipe referente ao período da Segunda Guerra Mundial, mostrando o

contexto em que está inserido. Sobre o Cemitério dos Náufragos foi exposto à

problemática existente em relação ao seu uso na atualidade de forma indevida, já que o

mesmo está interditado, além de destacar a sua situação de falta de proteção por parte do

poder público. Infelizmente esse Patrimônio Cultural Estadual se encontra em condições

lamentáveis, destruído pela ação do homem e do tempo, vítima do esquecimento das

autoridades.

O papel do arqueólogo é agir no sentido em que as distâncias entre as pessoas e

o patrimônio arqueológico sejam diminuídas, propiciando a apropriação dos bens

patrimoniais, sua ressignificação e a construção de memórias. O desenvolvimento desta

pesquisa arqueológica poderá servir de instrumento para a conscientização e valorização

destes patrimônios, podendo estar aliada a atividades direcionadas para uma educação

patrimonial na região. O objetivo é buscar salvaguardar a memória das vítimas da

Guerra Submarina que aqui pereceram em um dos momentos mais dramáticos e

marcantes da história de Sergipe, os naufrágios dos navios Baependy, Araraquara e

Aníbal Benévolo, tragédia que arrastou o Brasil para a Segunda Guerra Mundial.

Em Sergipe, as políticas de preservação ainda são pouco expressivas no que

tange a uma consolidação de práticas “preservacionistas”. Portanto, é necessário um

engajamento, uma mudança de postura do Governo Estadual na busca de efetivar a

proteção do Patrimônio Arqueológico e Histórico. A população também pode exercer

seus diretos e deveres, acionando e cobrando a fiscalização e proteção dos bens

culturais, os quais representam nossas histórias e fazem parte da memória do povo.

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O CINQUENTENÁRIO DO GOLPE DE 64

A maior lição deixada pelos sucessivos torpedeamentos foi a de despertar uma

consciência coletiva de que a guerra tinha chegado ao mar territorial do Brasil. Ao

evidenciar essas histórias na atualidade, significa revelar como elas foram marcantes

para as gerações contemporâneas dos torpedeamentos e como o Patrimônio

Arqueológico serve para demonstrar que a passagem da guerra foi algo ruim que trouxe

medo, sofrimento e morte, por isso ela tem que ser evitada e não deve voltar a

acontecer.

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