o papel do estado neoliberal frente a precarização das universidades baianas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Programa de Pós-Graduação em Educação. Disciplina Estado, Sociedade e Educação. Professora Dra. Denise Helena Pereira Laranjeira Outubro/2015 Carolina Ramos Heleno O papel do Estado Neoliberal frente a precarização das Universidades Baianas. O presente artigo busca analisar as raízes do processo de precarização das Universidades Estaduais da Bahia (UEBAs), a partir do levantamento das concepções clássicas de Estado e da hipótese de que o Partido dos Trabalhadores (PT) promove um governo neoliberal, defendendo os interesses dos ricos, não deixando alternativa a juventude do que se organizar e unificar com movimentos externos a universidade na busca de sua defesa. A seguir, apresentaremos dados da realidade que fundamentam nossa hipótese, traçando nexos e relações com autores clássicos do estudo sobre Estado, com a perspectiva de fundamentar a ação da juventude em luta por uma universidade pública e de qualidade. 1. INTRODUÇÃO O final do ano se aproxima e com ele as famosas listas de promessas também começam a ser reelaboradas. Lembramo-nos de todos os fatos que nos marcaram em 2015  para que no novo ano somente os pontos altos possam ocorrer, no entanto, pra Educação  brasileira e pra população que vive do trabalho (ANTUNES; ALVES, 2004) o corrente ano deixou marcas profundas, cortes que ainda tendem a piorar. As listas dessas esferas se concentram em esforços para não fechar as portas, como é o caso da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na necessidade de mobilizar a população em defesa da educação  pública e de qualidade, em equilibrar as contas, o que quer dizer em um mês pagar os funcionários terceirizados e deixar em aberto a conta de luz pra que no próximo pagamento a

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O presente artigo busca analisar as raízes do processo de precarização das Universidades Estaduais da Bahia (UEBAs), a partir do levantamento das concepções clássicas de Estado e da hipótese de que o Partido dos Trabalhadores (PT) promove um governo neoliberal, defendendo os interesses dos ricos, não deixando alternativa a juventude do que se organizar e unificar com movimentos externos a universidade na busca de sua defesa. A seguir, apresentaremos dados da realidade que fundamentam nossa hipótese, traçando nexos e relações com autores clássicos do estudo sobre Estado, com a perspectiva de fundamentar a ação da juventude em luta por uma universidade pública e de qualidade.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANAPrograma de Pós-Graduação em Educação.Disciplina Estado, Sociedade e Educação.

Professora Dra. Denise Helena Pereira LaranjeiraOutubro/2015

Carolina Ramos Heleno

O papel do Estado Neoliberal frente a precarização das Universidades

Baianas.

O presente artigo busca analisar as raízes do processo de precarização das

Universidades Estaduais da Bahia (UEBAs), a partir do levantamento das concepções

clássicas de Estado e da hipótese de que o Partido dos Trabalhadores (PT) promove um

governo neoliberal, defendendo os interesses dos ricos, não deixando alternativa a juventude

do que se organizar e unificar com movimentos externos a universidade na busca de sua

defesa. A seguir, apresentaremos dados da realidade que fundamentam nossa hipótese,

traçando nexos e relações com autores clássicos do estudo sobre Estado, com a perspectiva de

fundamentar a ação da juventude em luta por uma universidade pública e de qualidade.

1.  INTRODUÇÃO

O final do ano se aproxima e com ele as famosas listas de promessas também

começam a ser reelaboradas. Lembramo-nos de todos os fatos que nos marcaram em 2015

 para que no novo ano somente os pontos altos possam ocorrer, no entanto, pra Educação

 brasileira e pra população que vive do trabalho (ANTUNES; ALVES, 2004) o corrente ano

deixou marcas profundas, cortes que ainda tendem a piorar. As listas dessas esferas se

concentram em esforços para não fechar as portas, como é o caso da Universidade Estadual de

Feira de Santana (UEFS), na necessidade de mobilizar a população em defesa da educação

 pública e de qualidade, em equilibrar as contas, o que quer dizer em um mês pagar os

funcionários terceirizados e deixar em aberto a conta de luz pra que no próximo pagamento a

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lógica se inverta, sendo essa a técnica do malabarismo que a presidenta Dilma conclama de

“sacrifícios temporários”1.

Podemos nos vangloriar de estarmos vivos mesmo depois de tantos sacríficos, nadatemporários, que estamos sendo obrigados a fazer, porém, 2015 foi o ano do corte e as

 previsões não estão com perspectiva de mudanças. Somente nesse ano tivemos um montante

recorde de R$ 78,6 bilhões de verbas bloqueadas do orçamento federal para políticas sociais,

gerando um novo aperto para o controle das contas públicas2. As cifras em bilhões acabam

escapando à nossa percepção de grandeza, mas sentimos na carne quando somos negados ao

acesso ao seguro-desemprego, quando as empresas atrasam nossos salários, quando nossos

filhos não tem políticas de permanência nas universidades, quando a saúde é tratada em

corredores. Esses e outros direitos estão sendo riscados de nossas listas.

 Na área da Educação os cortes limaram mais de R$10 bilhões. O presidente do

ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Paulo

Rizzo, aponta que se as universidades não pararem pela greve, elas pararão pela inanição3. As

Universidades Federais saíram unificadas da greve no período de 13 a 16 de outubro, foram

mais de quatro meses em luta. Já as UEBAs enfrentaram três meses, encerrando o movimento

em agosto. As greves foram intensas, no entanto, o quadro de corte, de suplementaçãoorçamentária para as instituições não avançaram. Portanto, nenhum dos problemas foi

resolvido, aumentando a lista de promessas pra 2016.

O legado da greve das UEBAs se concentra em impasses, reuniões canceladas com o

Governo Estadual da Bahia, representado na figura de Rui Costa do PT, e mais dificuldades

orçamentárias. Os recursos para custeio e investimento da UEFS foram reduzidos de R$ 55

milhões, em 2013, para R$ 51 milhões em 2014 e R$ 49 milhões em 2015. Nesse panorama o

Reitor, sem fazer uma crítica profunda aos cortes realizados, apresenta que tentará administrar

através do malabarismo já citado, mas que sem a suplementação orçamentária, nenhum

1Os principais pontos do discurso de Dilma. No Dia da Mulher, presidente defende medidas de ajuste

anunciadas por seu governo e diz que crise é internacional. Ela pede que todos tenham paciência e

compreensão dio ante de "sacrifícios temporários". http://www.dw.com/pt/os-principais-pontos-do-discurso-

de-dilma/a-18303715 2 Governo anuncia corte de R$ 1 bilhão em Educação e quase R$ 1,2 bilhão em Saúde

Também sofreram pesada restrição de gastos os ministérios das Cidades e dos Transporte.

http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2015/07/governo-anuncia-corte-de-r1-bi-em-

educacao-e-quase-r12-bi-em-saude.html> 3 Governo anuncia novo corte na Educação Federal e libera mais R$ 5 bi para o Fies

http://grevenasfederais.andes.org.br/2015/07/31/governo-anuncia-novo-corte-na-educacao-federal-e-libera-

mais-r-5-bi-para-o-fies/ 

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esforço será suficiente. E que a responsabilidade do fechamento da Universidade, caso

aconteça, será do Governador, e termina a nota pública conclamando a sociedade a lutar,

“ pois é dela o patrimônio que se vê ameaçado”4.

Depois de apresentado os cortes realizados e as perspectivas dos que ainda serão

aplicados pelo governo do lema “Pátria Educadora”, nos fica uma sensação de que nada pode

ser feito ao não ser continuar a viver, que o Estado e seus governos não poderão mudar e que

essa é uma crise pontual e passageira. No entanto, a política de arrocho na esfera dos direitos

sociais responde a uma concepção de Estado, a uma defesa de projeto histórico5 e interesses,

sendo assim, é imprescindível conhecer esses elementos para fugirmos do imediatismo ou do

comodismo vide a precarização e destruição de nossas vidas.

Depois de um período aparente de fartura do capitalismo, logo após a Segunda Guerra

Mundial, vimos Estados do chamado Bem-Estar social (Welfare State) na Europa, e algumas

 políticas de combate a pobreza no Brasil, contudo, esse tipo de Estado entrou em falência,

 pois não garantia mais os lucros aos ricos e, no Brasil, desde a década de 1990 vivemos a

retirada dos direitos conquistados. A teoria de que o Estado deveria auxiliar os desiguais com

 políticas desiguais não controlou a queda de lucros dos grandes capitalistas e começou a ser

rebatida, com uma recuperação do liberalismo ortodoxo em uma nova conjuntura.

Friedrich Hayek, principal formulador do neoliberalismo, defende que as

desigualdades econômicas, sociais, etc, funcionam como um mecanismo natural para

estimular o desenvolvimento da humanidade, portanto é necessário liberar a livre

concorrência para que o verdadeiro meio de organização e regulação social ocorra. Reduz o

Estado a sua condição mínima para a classe trabalhadora, retirando do Estado a

responsabilidade de combater a desigualdade. (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).

Tendo em mente que o Estado é uma formulação e instituição advinda das

necessidades concretas da humanidade, ele pode ser modificado e até extinto. Conhecer a sua

história nos auxilia a elaborar planos de ação para conter o desmonte da Educação baiana e

 brasileira.

4 Nota Pública: A Uefs não pode parar http://www.uefs.br/portal/noticias/a-uefs-nao-pode-parar 

5

 Segundo Freitas (1987) o projeto histórico remete ao tipo de sociedade ou organização social a queintendemos transformar a atual sociedade e os meios que utilizaremos para modificar. FREITAS, L.C de. Projeto

histórico, ciência pedagógica e “didática”. Educação e sociedade, v. 27, p. 122-140, 1987. Disponível em: <

https://drive.google.com/file/d/0B3XC3l4Vo_AaMkdFdDNZbFVLOTA/edit?pli=1> Acesso em: 20/10/15.

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2.  O ESTADO NÃO É ETERNO E NEM NEUTRO

A análise dos dados da realidade que suscintamente apresentamos alinhada com um

 panorama da situação internacional proporciona o desenvolvimento de uma caracterização da

situação vivida. Essa caracterização é um instrumento importante para a elaboração de planos

de atuação, de enfrentamento, de mudança da realidade em que vivemos. (MORENO; PETIT,

2010).

Compreendemos que os cortes na Educação, Saúde, Moradia, etc de mais de R$78

 bilhões corresponde à defesa de um Estado Neoliberal controlado por uma minoria da

 população que explora o trabalho de seus semelhantes, a burguesia, a partir da propriedade

 privada dos meios de produção. Essa tese é sustentada pela caracterização realizada a partir da

realidade concreta.

As políticas aplicadas pelo PT, desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva

(Lula), apontam a promoção de um Estado mínimo para a maioria da população e máxima ao

segurar as benesses para a burguesia. Enquanto a indústria recuou mais de 6% no primeiro

semestre de 2015 e o comércio registrou a maior queda nas vendas desde 2003, o lucro dos

 bancos bateu recordes, com o Itaú chegando a mais de R$8 bilhões6

. E por que vemos todosesses cortes nas áreas sociais e lucros somente para os banqueiros?

Porque estamos vivendo no ápice do capitalismo, ou seja, sua fase imperialista

(LENIN, 1979), tendo o Estado Neoliberal como promotor da conciliação de classes em favor

dos benefícios de quem controla este Estado, a burguesia.

Iremos recuperar os estudos clássicos sobre Estado a fim de auxiliar no entendimento

da realidade atual e sua possível modificação.

2.1 ESTADO COMO CRIAÇÃO HUMANA, TEM COMEÇO, MEIO E

FIM

6

 Mesmo diante de crise, lucro dos bancos não para de crescer. Lucro do Bradesco e Itaú, por exemplo, foramrecordes no 2º trimestre. Juros altos e demanda por crédito podem explicar avanço dos ganhos.

http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2015/08/mesmo-diante-de-crise-lucro-dos-bancos-nao-para-

de-crescer.html 

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A instituição do Estado não nasceu junto com a humanidade, apesar de estar presente

desde a pólis grega e a res publica romana. Houve tempos em que a humanidade vivia em

comunidades primitivas, compartilhando as tarefas exigidas para a manutenção da vida, sem a

necessidade de um poder, que lhe parecia externo, a controlar a vida (ENGELS, s/d). Os

estudiosos se debruçam a séculos sobre a criação do Estado e seu papel.

Platão, Aristóletes e Maquiavel são referências de autores que analisam o Estado pré-

moderno, ou seja, uma época antes do capitalismo. Suas análises estão permeadas de

elementos essenciais da alma, como por exemplo, para Platão quem deve governar tem a

razão como essência, e nesse tempo quem representava a razão eram os filósofos. Maquiavel

e seu pensamento enfrentam uma generalização ao ponto de cair nas discussões diárias,

surgindo termos como maquiavélico, maquiavelismo. Tais apropriações se devem, a nosso

ver, a rasa compreensão da análise que o príncipe deve se utilizar de todas as ferramentas para

garantir seu poder, retirando a discussão política do terreno da moral. O tom inovador e

controverso do autor em apresentar uma leitura da realidade baseada no que realmente ela é e

não naquilo que queremos que seja, não o torna diabólico ou que os meios justificam todo e

qualquer fim, mas sim é uma apresentação fiel ao que vinha acontecendo na Itália de 1600 e

em outros países e suas disputas internas e externas. Maquiavel decifrou o que todo príncipe,

todo homem de poder faz, e essa é sua atualidade.

Deixando os autores pré-modernos para outro trabalho, nos focaremos em autores que

estudam o Estado na sociedade capitalista ocidental. Começando pelo levantamento do

Jusnaturalismo.

Essa concepção também é conhecida como Contratualista, e é a principal teoria que

fundamenta o Estado hoje, sendo desenvolvida na transição do Feudalismo para o

Capitalismo. Tais teorias defendem os direitos individuais a ter casa, comida e de fazer o que

 puder para garantir esses benefícios. Os principais elaboradores dessa concepção são Thomas

Hobbes, John Locke e Jean Jacque Rousseau.

Para esses autores a criação do Estado é realizado a partir de um consenso da

 população que elege um governante, assumindo um contrato que transfere as

responsabilidades de se auto-governar para um rei, renunciando sua liberdade individual e

natural (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010). A inovação provocada por esse pensamento é a

superação de explicações mágicas e religiosas da natureza humana. Saímos do terreno que

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quem deve governar é o escolhido de Deus e chegamos a uma concepção da essência humana

como ser natural, racional e individualizado.

Para Hobbes e Locke a sociedade se encontra em dois patamares, Estado ou Sociedadeda natureza e Estado/Sociedade civil. Sendo a sociedade civil um patamar mais desenvolvido

que o primeiro, pois na sociedade da natureza a humanidade vivia isolada, livre e ao iniciar

seu convívio em grupos a humanidade se complexificou.

Para Hobbes o estado da natureza é formado pelo desejo eterno dos homens pelo

 poder. Sendo assim, as guerras também serão eternas. Os bens são limitados e a luta para

garanti-los pode levar a morte, desse modo se apresenta a importância da criação de leis e sua

aplicabilidade a todos ou a maioria das pessoas. Essas leis só podem ser aplicadas por um poder comum, a partir de regras de convívio comum e subordinação política, promovendo um

contrato social irrevogável, de caráter absoluto e indivisível. (MONTAÑO; DURIGUETTO,

2010).

Locke também acredita em um estado natural que sem leis possa gerar o caos, no

entanto, a ameaça de conflitos já pode abalar a paz natural. O autor defende a propriedade

 privada e o direito em mantê-la, pois foi garantida pelo trabalho individual de modificar a

natureza e o medo de perde-la e perder a própria liberdade gera a necessidade do Estado. John

Locke é a base para a concepção liberal de Estado, pois,

o Estado existe para proteger os direitos e liberdade dos cidadãos que, em ultimainstância, são os melhores juízes de seus próprios interesses e que deve ter suaesfera de ação restrita e sua prática limitada de modo a garantir o máximo deliberdade possível a cada cidadão. (HELD, 1987 apud MONTAÑO;DURIGUETTO, 2010, p.27).

Rousseau também defende uma essência humana, porém de forma diferente dos

autores já citados, a natureza humana é boa, no entanto, sofre modificações com o aumento da

sociabilização e da propriedade privada. O pensador não pode ser considerado socialista, pois

não propõe acabar com a propriedade privada, apenas socializar seu acesso. O contrato social

de Rousseau propõe que todos os poderes individuais estejam com soberano, mas esse não

deve governar pensando no conjunto de direitos particulares, mas sim no interesse comum.

Coutinho (2006 apud MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010) considera problemática a construção do

interesse comum, pois o autor propõe que os cidadãos pensem sozinhos, que sua organização

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seria uma vontade de grupos inviabilizando o que seria de comum, negando a possibilidade de

formação de coletivos centrados em pautas unificadas.

Apesar de suas especificidades, o jusnaturalismo, em sua essência, defende que acriação do Estado foi realizada por quem tinha propriedades e para defender sua liberdade em

tê-las. Quem governa é quem tem posses e quem é governado são os despossuídos. No

entanto, o estudo do Estado ainda se apresenta na esfera do que ele deve ser e não no que ele

realmente é. Portanto, apresentaremos a concepção de Estado marxista, com vista a

compreender sua raiz e sua proposta de superação.

Marx supera por incorporação a lógica de Hegel, vira de cabeça para baixo a

compreensão de que é a ideia que configura a matéria, em termos de análise do Estado issoquer dizer que ele nasceu das relações concretas de produção e expressa os interesses da

 burguesia, já que é ela quem tem o controle dos meios de produção. Hegel acreditava que o

Estado é o responsável na promoção da generalização das vontades dos diversos grupos da

sociedade, consolidando os interesses coletivos assim como é produzido por esses mesmos

interesses, devendo garantir o bem público como a propriedade privada.

Para a Marx o Estado não é espaço para universalização, mas sim uma instituição

representativa de uma classe, que reproduz o universal segundo os interesses dos dominantes.

Os apetites individuais citados por Hobbes e Locke são vistos como interesses de classes, o

Estado ao garantir a propriedade privada de alguns legitima a exploração dos que nada tem,

revelando sua essência. (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).

Assim como o Estado tem uma necessidade de criação, de defender os interesses de

uma parcela da humanidade, ele também tem perspectivas de destruição segundo uma posição

de classe. Marx e Engels (1999) convocam os trabalhadores e proletários a tomarem o poder

com vistas a destruir o Estado. Esses autores não elaboraram cartilhas de como tomar o poder,

 pois está fundamentado em uma teoria negativa do político, ou seja, não precisaremos de

Estado quando as condições materiais forem acessadas por todos, não iremos ter classes e

nem interesses antagônicos para serem pautados por um Estado.

O Estado não é, portanto, de modo algum, um poder que é imposto de fora àsociedade e tão pouco é “a realidade da ideia ética”, nem “a imagem e arealidade da razão”, como afirma Hegel. É antes um produto da sociedade,quando essa chega a um determinado grau de desenvolvimento. É o

reconhecimento de que essa sociedade está enredada numa irremediávelcontradição com ela própria, que está divida em oposições inconciliáveis de queela não é capaz de se livrar. Mas para que essas oposições, classes com interesses

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econômicos em conflito não se devorem e não consumam a sociedade em umaluta estéril, tornou-se necessário um poder situado aparentemente acima dasociedade, chamada a amortecer o choque e mantê-lo dentro dos limites da“ordem”. (ENGELS, s/d, p.209). 

Analisando a história de desenvolvimento da humanidade, desde a formação da

família, propriedade privada, culminando no Estado, Engels (s/d) consegue elencar elementos

essenciais ao Estado. Elementos que encontramos atualmente em nossa sociedade. São, em

 primeiro lugar, a distribuição da população segundo território; a força pública, em outras

 palavras, a polícia como força armada retirando da população o direito de se auto-proteger; os

impostos necessários para sustentar a maquina estatal e necessidade de funcionários para gerir

essa maquina. Esses são elementos primordiais para conter as oposições entre as classes.

Estamos hoje em uma fase do desenvolvimento das forças produtivas em que “a

existência das classes não apenas deixou de ser uma necessidade, mas também se converte

num positivo a produção” (Idem, s/d, p.214). Temos desenvolvido as ciências a ponto de

encontrar curas para doenças como câncer 7, HIV, para aumentar a produção de alimentos, no

entanto, todos esses bens são acessados apenas com dinheiro, apenas quem é rico tem acesso.

Configurando um obstáculo a maioria da humanidade. É com o desaparecimento das classes

que o Estado também se acabará, Lenin (1979) assevera que a esfera repressiva do Estado,

representada pela polícia, exército, tem um núcleo central na produção desse obstáculo ao

desenvolvimento humano. Destarte, defende que uma revolução violenta poderá derrubar o

Estado.

Outro autor que auxilia na atualização do marxismo, sem deixar o método materialista

histórico dialético de lado, é Antonio Gramsci ao apresentar outra esfera importante de

concentração poder do Estado, a sociedade civil. Essa categoria nos auxilia a enriquecer a

teoria marxista “do modo como a esfera econômica determina a produção e a reprodução da

superestrutura no contexto histórico em que se operou uma maior complexificação do

Estado.” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p.44.).

A sociedade civil é formada pela união dos grupos, desejando a organização de seus

interesses e encaminha-los para o Estado, sendo de adesão voluntária ou contratual, entram ai

7Pacientes fazem fila na USP por remédio experimental contra câncer.<

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2015/10/14/pacientes-fazem-fila-na-usp-por-

remedio-experimental-contra-cancer.htm> 

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os coletivos políticos, Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações Sociais

(OS), Fundação Roberto Marinho, etc.

Gramsci aprofunda a apreensão que o Estado se expressa, e aumenta seu poder dedefender a burguesia para além da coerção, mas também em esferas de organização de

interesses, consenso. Coloca a discussão da superestrutura em pauta, sem esquecer que o que

fundamenta a superestrutura é o modo como a sociedade organiza sua produção, a estrutura.

(MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).

É nesse alicerce teórico de construção do Estado e de seu papel na luta de classes que

defendemos que o projeto implementado pelo PT em suas políticas públicas para a Educação,

está auxiliando na contenção dos interesses da classe trabalhadora e o Estado neoliberalenquanto uma ferramenta da burguesia para fragmentar as lutas.

3.  O PARTIDO DOS TRABALHADORES E SUA NOVA OPÇÃO

DE CLASSE 

O PT chegou ao poder em 2003, com a impressão que foram os votos da classe

trabalhadora que os colocou lá, a ilusão é tanta que ainda hoje ouvimos pedidos encarecidos

que Dilma volte a governar para os pobres, pois foi para isso que fora eleita.

Considerando que o Estado defende privilégios de uma minoria, de uma pequena

 parcela da população como apresentado, é também coerente inferir que o PT só chegou ao

Palácio do Planalto com o auxilio das alianças com esses setores. Em 2003, logo após a posse

de Lula, a renda dos trabalhadores caiu mais de 10%, o superávit proposto pelo Fundo

Monetário Internacional (FMI) foi cumprido, os bancos iniciaram a sua estratosférica progressão nos lucros, o lucro de empresas estrangerias aumentou 45% (GENRO, ROBAINA,

2006).

 Nenhum corte com o domínio imperialista foi feito. Isso é assim porque a burguesia brasileira está mais associada aos interesses do imperialismo, daestabilidade política do sistema mundial, do que a qualquer interesse nacional.Sua dependência da tecnologia mundial, dos capitais externos, sua associaçãoempresarial com as multinacionais, o tipo de inserção almejada no mercadomundial –  como exportadora de commodities  –  e, sobretudo, o temor diante damobilização de massas fazem a burguesia brasileira, embora com contradições e

eventuais choques parciais se situar não apenas como inimiga das conquistaseconômicas e sociais do povo trabalhador, mas de qualquer luta séria pelaindependência nacional e a integração latino-americana. (IDEM, 2006, p.77)

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A quem possa querer apresentar os avanços promovidos pelos governos do PT, como a

criação de Universidades Federais, programas de concessão de bolsas de estudos no exterior,

de programas como o Bolsa Família. Não fazemos parte de grupos que desconsideram que

essas políticas podem auxiliar a situação, entretanto, diante dos lucros de banqueiros, da

 burguesia internacional, dos 45,11% do orçamento de 2014 que foram utilizados para o

 pagamento de juros e amortizações da dívida em contraponto aos 21,76% utilizados para a

 previdência social e os irrisórios 0,04% para cultura, desporte e lazer 8, essas políticas é uma

explicita posição de ajuste ao lado da burguesia.

Contraditoriamente, visto que o PT conseguiu se eleger é porque em algum momento

da história o partido teve lastro na sociedade. Antes da década de 1990 ele ainda apresentava

em seu programa as bandeiras anti-capitalista e anti-imperialista. Ao perder as eleições

anteriores um processo de reformulação do programa, a revelia da base do partido, foi se

conformando.

O núcleo dirigente do PT assumiu com força, desde o início dos anos 90, aestratégia da conquista de um governo de colaboração com setores da burguesia.

Quando finalmente assumiu o governo federal, deu o passo que faltava para umaalteração de sua natureza: uma força com características ainda progressivas parauma formação política reacionária. Um salto em sua integração no regime liberaldemocrático burguês. O PT passou a ser o principal aplicador dos planoscapitalistas. (Idbem, 2006, p.88).

Vemos o partido dos trabalhadores se incorporando à lógica do Estado, se utilizando

da maquina estatal através de enriquecimento ilícitos, como os casos da Petrobrás, Lava-Jatos,

etc.

 No âmbito da Educação estamos vivenciando o lema Pátria Educadora a meio de

imensos cortes e com a perspectiva de piora do quadro com a aplicação de documento de

igual nome. Tal documento ignora a pesquisa educacional brasileira quando fora elaborado

fora do Ministério da Educação (MEC) e dentro da Secretaria de Assuntos Estratégicos

(SAE), local porta-voz dos reformadores empresariais da educação.

Luiz Carlos de Freitas (2015) produz uma crítica rigorosa e de raiz a esse documento,

denunciando a falta de comprovação científica nas análises de dados realizados, intentando8 Dados segundo a Auditoria Cidadã da Dívida (2015). Disponível em: http://www.auditoriacidada.org.br/e-por-

direitos-auditoria-da-divida-ja-confira-o-grafico-do-orcamento-de-2012/  Acesso em: 20/10/15.

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realizar uma “reforma” sustentada pelos pilares da responsabilização, meritocracia e

 privatizações.

Frente às alianças realizadas pelo PT para manter sua governabilidade, com o aumentode ataques a Educação vide o não avanço que as greves de 2015 proporcionaram, qual é a

tarefa da juventude para manter as universidades abertas e com qualidade?

4.  PERSPECTIVAS PARA A JUVENTUDE

Em um polo extremamente oposto ao que os teóricos da Pós-modernidade defendem,

não estamos vivendo um período em que as preocupações individuais, locais devam ser

exaltadas. Nem que os problemas apresentados são consequência de uma sociedade do

conhecimento (DUARTE, 2008), ou do fim do trabalho (ANTUNES, ALVES, 2004),

asseveramos que estamos em uma fase superior do capitalismo, que sua complexidade foge

aos nossos sentidos e sendo assim precisamos de instrumentos para compreender a realidade e

modifica-la.

Os cortes nas áreas sociais respondem a um plano de defesa dos lucros dos burgueses,

e se a busca por lucros ainda é incessante, os cortes também o serão. A luta contra os cortes,em defesa da universidade deve se dar em unidade com a sociedade, pois a fragmentação não

nos auxilia em garantir avanços, como estamos vivendo hoje. Professores, técnicos-

administrativos e estudantes necessitam se organizar com outras camadas da sociedade como

os professores, trabalhadores e estudantes das redes básica de ensino, ao movimento pelo

transporte público e outras esferas que estão compartimentalizadas. Precisamos utilizar o

avanço da tecnologia a nosso favor, utilizar ferramentas das redes sociais para propagandear e

mobilizar mais.

Podemos parecer estar sem um modelo de partido, já que consideramos que o PT, não

responde mais a nossas lutas. Não obstante, um terceiro campo dentro da esquerda vem

tomando forma, se colocando a parte dos partidos da ordem e dos que fazem alianças com os

mesmos.

As perspectivas não estão animadoras, mas ficará ainda pior se deixarmos para fazer

nossa lista de ano novo em cima da hora e esperar que ela se cumpra sozinha. As ondas da

crise podem diminuir, mas não vão se findar, por isso, temos que nos unificar, construir

instrumentos como os partidos políticos socialistas, com pautas contra o documento Pátria

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Educadora, contra corruptos como Eduardo Cunha que só atacam a juventude, contra a

“reorganização” das escolas estaduais de São Paulo que Geraldo Alckmin quer impor a

 juventude.

 Nossa lista pra 2016 começa com muita luta.

5.  REFERÊNCIAS

ANTUNES, R.; ALVES, G. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização docapital. Educ. Soc, Campinas. v.25, n. 87. P.335-351, maio/ago 2004.

DUARTE, N. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões? quatro ensaioscrítico-dialéticos em filosofia da educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

ENGELS. F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado. 3ª ed. São Paulo:Ed. Escala. s/d.

FREITAS, L.C. Analise o documento da Secretaria de Assuntos Estratégicos daPresidência da República “Pátria Educadora”. Disponível em:http://avaliacaoeducacional.com/2015/04/23/patria-educadora-i/ Acesso em: 23/04/2015.

GENRO, L; ROBAINA, R . A falência do PT e a atualidade da luta socialista. PortoAlegre: L&PM, 2006.

LENIN, V. I. Imperialismo, etapa superior do capitalismo. São Paulo: Global, 1979.

MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,1999.

MONTAÑO, C; DURIGUETTO, M.L. Estado, classe e movimento social. São Paulo:Cortez, 2010.