precarização do trabalho do juiz_2015_versÃo sintetica

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Uma análise critica do trabalho do magistrado trabalhista

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  • 1

    Relatrio de Pesquisa

    PRECARIZAO DO TRABALHO,

    QUALIDADE DE VIDA E SADE DOS

    MAGISTRADOS TRABALHISTAS NO BRASIL

    SNTESE

    UNESP

    2015

  • 2

    PRECARIZAO DO TRABALHO, QUALIDADE DE VIDA E SADE DOS

    MAGISTRADOS TRABALHISTAS NO BRASIL

    GIOVANNI ALVES1

    Nosso objetivo neste texto apresentar a sntese da anlise crtica dos dados

    coletados no questionrio apresentado em 2013/2014 para cerca de 440 magistrados

    trabalhistas de todo o pas. Esta coleta de dados compe a Primeira Parte do Projeto de

    Pesquisa intitulado O Trabalho do Juiz, promovido pela RET (Rede de Estudos do

    Trabalho), sob a coordenao-geral de Giovanni Alves (UNESP). A pesquisa sociolgica

    ocorreu de maio de 2013 a abril de 2014, perodo em que aplicamos o questionrio on-

    line e que produzimos o vdeo-documentrio O Trabalho do Juiz (Projeto

    CineTrabalho/Praxis Vdeo, 70 min., 2014), cujo anlise crtica se encontra no livro-DVD

    homnimo lanado em 30 de abril de 2014 no 17. Congresso Nacional da Magistratura

    Trabalhista (CONAMAT) em Gramado (RS). Nesta Primeira Parte do Projeto O

    Trabalho do Juiz buscamos investigar as dimenses da precarizao do trabalho,

    qualidade de vida e sade dos magistrados trabalhistas no Brasil2. Apresentamos aqui

    uma verso sinttica do Relatrio de Pesquisa, que dever ser publicado em sua integra,

    no livro Precarizao do Trabalho, Qualidade de Vida e Sade da Magistratura

    Trabalhista no Brasil Uma Abordagem Sociolgica, a ser lanado em 2015 pela

    Editora Praxis. O livro dever conter todos os grficos e tabelas do questionrio aplicado

    em 2013/2014, alm dos elementos terico-metodolgicos utilizados na pesquisa e

    anlise crtica dos dados empricos.

    1 Doutor em Cincias Sociais pela Unicamp, livre-docente em Sociologia e professor da Unesp, campus de

    Marlia. pesquisador do CNPq, com bolsa-produtividade em pesquisa, e coordenador-geral da Rede de

    Estudos do Trabalho (RET), do Projeto Tela Crtica (www.projetocinetrabalho.org) e do projeto

    CineTrabalho (www.projetocinetrabalho.org). um dos lderes do Grupo de Pesquisa CNPq Estudos da Globalizao. autor de vrios livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais O novo (e precrio) mundo do trabalho: reestruturao produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial,

    2000), Trabalho e subjetividade: o esprito do toyotismo na era do capitalismo manipulatrio (Boitempo

    Editorial, 2011), Dimenses da Precarizao do Trabalho (Editora Praxis, 2013) e Trabalho e

    Neodesenvolvimentismo (Editora Praxis, 2014).

    2 A Parte 2 do Projeto de Pesquisa O Trabalho do Juiz, em andamento, visa investigar a problemtica das geraes da magistratura trabalhista no Brasil.

  • 3

    A investigao sociolgica do trabalho dos magistrados trabalhistas no Brasil

    procurou demonstrar que a precarizao do trabalho , no apenas um fenmeno mundial,

    mas um fenmeno universal que permeia em sua trplice dimenso precarizao

    salarial, precarizao existencial e precarizao da pessoa-que-trabalha - a totalidade

    viva do mundo do trabalho no sculo XXI. No apenas operrios ou empregados

    assalariados propriamente ditos, mas inclusive trabalhadores pblicos altamente

    qualificados, como os magistrados, tornam-se vtimas da precarizao laboral por conta

    da proletarizao das condies de trabalho. A ofensiva de produo do capital que

    ocorre com o capitalismo global alterou no apenas locais de trabalho reestruturados na

    indstria, servios e comrcio, mas tambm na administrao pblica. O Estado

    neoliberal, implantado no Brasil da dcada de 1990, um Estado em processo de

    reestruturao produtiva, que reorganizou o trabalho pblico nas ltimas dcadas, sob a

    tica dos mtodos de gesto toyotista acoplado s novas tecnologias informacionais. O

    trabalho no Poder Judicirio brasileiro passou por um processo de modernizao na

    dcada de 2000, caracterizado pelo choque de gesto e a introduo do PJe (processo

    judicial eletrnico), isto , novas prticas organizacionais articuladas com tecnologias

    informacionais que alteraram a morfologia laboral do complexo vivo da produo da

    Justia do Trabalho no Brasil. Na verdade, a modernizao da organizao do trabalho

    do Judicirio tratou-se de um processo lento, mas paulatino, de mudanas organizacionais

    e tecnolgicas que alteraram a produo da Justia no Brasil, atingindo no apenas

    magistrados, mas tambm os trabalhadores tcnico-administrativos do Poder Judicirio

    (ALVES, 2014).

    As mudanas laborais ocorridas no dizem respeito apenas introduo de novas

    tecnologias informacionais, como o PJe (processo judicial eletrnico), mas prpria

    lgica da organizao do trabalho prescrita sob o signo do gerencialismo. As mudanas

    tecnolgicas do trabalho do juiz representaram mudanas essenciais no sociometabolismo

    laboral, alterando o prprio sentido da atividade de julgar. Entretanto, as mudanas

    tecnolgicas que perpassam a organizao do trabalho do juiz, transcendem os prprios

    locais de trabalho reestruturados. Elas dizem respeito prpria sociedade em rede, cujas

    novas tecnologias de informao e comunicao alteraram no apenas a organizao da

    produo, mas a prpria reproduo social, constituindo o que denominamos de modo de

    vida just-in-time, que contribui para a instaurao das novas condies da dominao do

    capital (CASTELLS, 1999; ALVES, 2014b).

  • 4

    Durante a primeira e a segunda Revoluo Industrial, o corpo se estendeu num

    espao. Por exemplo, surgiram a maquinas a vapor, depois o trem, automveis, avies,

    rdios e TVs. Com a Terceira Revoluo Industrial e suas duas Revolues Tecnolgicas

    a Revoluo Informtica e a Revoluo Informacional constituram-se as redes, que

    integraram os espaos no apenas da produo, mas tambm os espaos da reproduo

    social. No apenas o corpo que se estende num espao, mas o nosso crebro, sistema

    nervoso que se estende at abolir a experincia do espao-tempo (David Harvey

    denominaria este novo fenmeno social de compresso espao-tempo, que caracteriza

    a condio ps-moderna) (HARVEY, 1992). Esta compresso espao-temporal ou

    destruio do espao-tempo pelo movimento voraz do valor em processo de valorizao,

    opera mudanas cruciais na subjetividade do homem-que-trabalha, tanto na esfera da

    produo, com a captura da subjetividade pelo capital (gesto toyotista com suas

    tcnicas de envolvimento, presses pelo cumprimento de metas e dispositivos

    informacionais de avaliao de produtividade); quanto na esfera da reproduo social

    (modo de vida just-in-time e o fenmeno da vida reduzida). Portanto, a precarizao da

    pessoa-que-trabalha implica tanto as dimenses produtivas (a nova precariedade

    salarial), quanto a dimenso reprodutiva (o modo de vida just-in-time).

    nova precariedade salarial (gesto toyotista acoplada s novas

    tecnologias organizacionais e novas formas de contratao

    precria

    precarizao existencial (modo de vida just-in-time/vida reduziada)

    precarizao da pessoa-que-trabalha

  • 5

    A lgica da reestruturao produtiva do Judicirio brasileiro como a de todo o

    setor pblico nas condies histricas do Estado neoliberal, incorporou a lgica privada.

    Este um trao caracterstico do Estado neoliberal: incorporar a ideologia da gesto

    toyotista na produo de valores civilizatrios levado a cabo pelo Estado poltico do

    capital. Por isso, observamos que, no apenas a Justia, mas a Sade e Educao, por

    exemplo, esto sendo administradas tambm de modo operacional, como qualquer

    empresa privada.

    1. O JUDICIRIO OPERACIONAL

    A adoo da lgica da produo de mercadorias na produo de valores

    civilizatrios, descaracteriza a instituio social da Justia tanto quanto, por exemplo,

    as instituies sociais da Educao e Sade. A Justia deixa de ser uma instituio social

    para tornar-se uma organizao, isto , uma entidade isolada cujo sucesso e cuja eficcia

    se medem em termos de gesto de recursos e estratgias de desempenho e cuja articulao

    com as demais se d por meio da competio. Numa conferencia proferida na USP

    (Universidade de So Paulo), em 10 de agosto de 2014, Marilena Chau retomou um

    artigo publicado em 1999, em que discute o que ela denominou de Universidade

    operacional (a expresso de Michel Freitag Le naufrage de luniversit, 1999).

    Mutatis mutantis, podemos fazer as devidas adequaes para refletirmos sobre a lgica

    da modernizao do Judicirio no Brasil, conduzida hoje de acordo com a lgica da

    organizao. Portanto, alm da Universidade operacional, poderamos falar hoje num

    Judicirio operacional, um modo de organizao da res publica que corresponde

    forma do capitalismo flexvel, que se caracteriza pela fragmentao de todas as esferas

    da vida social - fragmentao da produo, disperso espacial e temporal do trabalho,

    destruio daquilo que balizava a identidade de classe e as formas da luta de classes

    (CHAUI, 1999).

    A passagem do Judicirio, da condio de instituio social, pautada pelo ato de

    julgar como arte, tcnica e reflexo (como diria Hannah Arendt em Responsabilidade e

    Julgamento), de organizao, pautada pela lgica gerencialista, se insere na mudana

    geral da sociedade capitalista, sob os efeitos da nova forma de produo do capital (o que

    denominamos maquinofatura) (ARENDT, 2004; ALVES, 2013). O Judicirio

    operacional marca o predomnio da forma-organizao, regida por contratos de gesto,

    avaliada por ndices de produtividade, calculada para ser flexvel, estruturada por

  • 6

    estratgias e programas de eficcia organizacional e por normas e padres inteiramente

    alheios ao conhecimento e formao intelectual. A tecnocracia associada a esse modelo

    aquela prtica que julga ser possvel dirigir a organizao do Judicirio segundo as

    mesmas normas e os mesmos critrios com que se administra uma montadora ou um

    supermercado. De modo que se administra, por exemplo, a Justia, a USP, Volks,

    Walmart, Vale do Rio Doce, tudo da mesma maneira, porque tudo se equivale.

    Portanto, a precarizao do trabalho pblico como funo civilizatria, uma

    dimenso crucial da degradao dos valores civilizatrios que caracteriza o capitalismo

    global como capitalismo catastrfico. Diante do Judicirio operacional, tanto quanto a

    Educao ou Sade operacionais, os profissionais qualificados que produzem os valores

    civilizatrios, no so considerados como fora de trabalho vivo, capacidade fsica e

    espiritual, que compem a instituio social, esteio de demandas civilizatrias, mas sim,

    custeio da organizao, que deve ser administrada utilizando critrios de desempenho e

    eficincia utilizados na produo de mercadorias. Ao precarizar o trabalho de

    magistrados, mdicos ou professores, o capital no precarizou apenas a pessoa-que-

    trabalha, mas degradou os produtos da atividade profissional destes trabalhadores

    pblicos, corroendo seu valor de uso em funo da lgica da gesto que serve ao valor de

    troca.

    Deste modo, a investigao do trabalho do juiz no Brasil a investigao sobre as

    condies de produo da Justia do Trabalho no Brasil. claro que para ser completa a

    explicitao da degradao do valor de uso a Justia deveramos investigar outros

    segmentos do complexo vivo de produo da Justia do Trabalho, tais como o trabalho

    dos servidores tcnico-administrativos; alm disso, pode-se deduzir efetivamente os

    impactos que a degradao das condies de trabalho de magistrados e trabalhadores

    tcnico-administrativos sobre a qualidade das sentenas proferidas pelos juzes. A

    celeridade exigida na prtica jurisdicional, inclusive como condio efetiva da prpria

    Justia - confunde-se com a velocidade imposta pelo movimento de controle da produo,

    onde matar um processo pode tornar-se a regra para alcanar as quantidades desejada e

    exigida pelas metas dadas pelo CNJ.

    2. DIMENSES DA PRECARIZAO DO TRABALHO

    Abordaremos o fenmeno social da precarizao do trabalho como sendo,

    primeiro, pertinente precarizao da fora-de-trabalho-como-mercadoria, isto , a

  • 7

    precarizao salarial; e depois, abordaremos a precarizao existencial ou precarizao

    das condies de existncia da pessoa-que-trabalha tendo em vista a vigncia do modo de

    vida just-in-time e a presena do fenmeno da vida reduzida (a precarizao existencial

    no implica apenas a degradao do meio-ambiente de trabalho, mas a degradao do

    meio-ambiente da vida social e vida cotidiana); o resultado efetivo a precarizao do

    trabalho vivo, isto , a precarizao da pessoa-que-trabalha, que se manifesta pelos

    sintomas de adoecimento laboral,.

    A precarizao salarial no se reduz, por exemplo, degradao das

    remuneraes, mas inclui tambm e no caso de profissionais mais qualificados torna-se

    um elemento de peso a degradao das condies objetivas e subjetivas da organizao

    do trabalho com a proletarizao do trabalho profissional. O termo proletarizao

    significa que, profissionais altamente qualificados, como o caso de magistrados, perdem

    o sentido da sua atividade vital identificada com o trabalho. Embora o trabalho do

    magistrado tenha significado funo pblica de reconhecimento social, sendo altamente

    remunerada em corao com outras atividades da funo pblica do Estado brasileiro

    ele perde sentido para o sujeito da atividade laboral (LEONTIEV, 1978). O trabalho do

    juiz torna-se, como o trabalho do operrio, apenas um meio de vida que garante a vida

    boa de acordo com os padres de consumo dos estamentos mdios. Na verdade, a crise

    de sentido da laboralidade do Judicirio, no reduz o trabalho do juiz ao trabalho do

    operrio propriamente dita, mas constitui uma implicao estranhada da atividade da

    magistratura que contribui para transtornos da subjetividade da pessoa-que-trabalha

    (ALVES, 2014).

    Enfim, o trabalho proletarizado o trabalho alienado em maior grau. Como

    salientamos acima, a precarizao salarial e a precarizao existencial, com o modo de

    vida just-in-time e a vida reduzida, contribuem para a precarizao da pessoa-que-

    trabalha, que se manifesta, por exemplo, no crescimento dos ndices de adoecimento

    laboral. A doena do trabalho vivo a expresso da degradao da dignidade da pessoa

    humana pelo movimento do capital. Deste modo, o que a pesquisa sociolgica em apreo

    buscou verificar, foram as dimenses da precarizao do trabalho do magistrado

    trabalhista, identificando elementos que apontem para a proletarizao do trabalho do juiz

    no sentido da precarizao da pessoa-que-trabalha, identificada pelos ndices de

    degradao da qualidade de vida e sade do trabalhador pblico do Poder Judicirio no

    Brasil.

  • 8

    No quadro explicativo exposto no artigo As condies da produo da Justia do

    Trabalho no Brasil que constitui o livro O trabalho do juiz (Editora Praxis, 2014),

    buscamos caracterizar as causalidades complexas da precarizao laboral, salientando,

    por exemplo, o choque de capitalismo e a constituio da nova precariedade salarial no

    Brasil da dcada de 2000. As mudanas laborais ocorridas na dcada do

    neodesenvolvimentismo (2003-2013), principalmente aquelas que dizem respeito

    organizao do trabalho, inseridas no plano do modo de vida just-in-time, tiveram

    impactos sobre o sociometabolismo laboral da magistratura trabalhista, sendo responsvel

    pela precarizao da pessoa-que-trabalha na esfera do Judicirio. Portanto, buscamos

    explicar sociologicamente a degradao da sade dos magistrados trabalhistas na ltima

    dcada, isto , a precarizao da pessoa-que-trabalha no Judicirio, pelo complexo de

    determinaes da relao salarial dos magistrados trabalhistas, caracterizada por ns

    como sendo implicaes estranhadas que dizem respeito, por exemplo, natureza do

    trabalho do juiz, o modelo oligrquico de organizao do trabalho no Judicirio e o

    choque de gesto acoplado s novas tecnologias informacionais. Mas a degradao da

    sade dos juzes pode se explicar tambm pelo movimento da precarizao existencial

    posto na sociedade brasileira da dcada de 2000, com o choque de capitalismo e a

    constituio do modo de vida just-in-time (ALVES, 2014).

    3. UNIVERSO DA PESQUISA

    O universo da pesquisa sociolgica foi constitudo por 408 magistrados

    trabalhistas, ou seja, cerca de 12% de toda a categoria, representantes de 21 estados mais

    o Distrito Federal.3 Dentre os 408 respondentes, 99% so ativos na magistratura e 1%

    aposentados, sendo a maioria constituda por homens (55%). Apesar disso, a presena das

    mulheres na magistratura trabalhista no Brasil no desprezvel (45%). O universo da

    pesquisa constitui-se de magistrados de primeira instancia, sendo a maioria de juzes

    substitutos (48%) e depois juzes titulares (37%). Os juzes substitutos constituem a

    camada mais precarizada da magistratura trabalhista no sentido de que no possuem um

    lugar fixo de trabalho, sendo juzes volantes que substituem juzes titulares afastados. No

    universo da pesquisa, a maioria dos magistrados possuem mais de 15 anos de magistratura

    (72%), apesar de que o percentual inferior a 15 anos de carreira seja bastante significativo

    3 Par, Rondnia, Rio de Janeiro, So Paulo, Esprito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa

    Catarina, Paran, Bahia, Paraba, Sergipe, Paraba, Pernambuco, Maranho, Rio Grande do Norte, Cear,

    Alagoas, Piau, Distrito Federal, Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul.

  • 9

    (38%), demonstrando a presena de importante renovao geracional no seio da

    magistratura trabalhista no Brasil. A maioria dos magistrados pesquisados tem idade

    acima de 40 anos, embora 25% do universo tenham idade de 30 a 40 anos. A maioria so

    casados ou unio estvel (76%) e o percentual de solteiros quase equivalente a dos

    separados em torno de 14% e 9%, respectivamente. O rendimento familiar da maioria

    est acima de 21 a 40 salrios-mnimos. Ao serem perguntados se se consideram

    trabalhadores, a imensa maioria respondeu sim (97%), embora 3% tenham respondido

    no.

    4. O TRABALHO DO JUIZ

    Ao analisarmos as condies de trabalho dos magistrados trabalhistas,

    perguntamos, por exemplo, o grau de satisfao com o trabalho de juiz, de acordo com a

    efetividade da justia no Pas. A maioria dos magistrados trabalhistas indicou a nota 7

    (37%). Entretanto, impressiona que, pelo menos 25% do total tenham avaliado a

    satisfao com a profisso de juiz de acordo com a efetividade da justia no Pas igual

    ou abaixo da nota 5, o que configura uma clara insatisfao com as condies da produo

    da justia. Vejamos as condies de trabalho dos magistrados trabalhistas no Brasil, de

    acordo com alguns indicadores. Eles demonstram que o trabalho de juiz tem um impacto

    significativo na vida pessoal do magistrado. Trata-se daquilo que salientamos como sendo

    a reduo do tempo de vida a tempo de trabalho, principalmente por conta da

    intensificao do trabalho proporcionado, no apenas pelo acmulo de trabalho, mas

    pelas novas formas de gesto toyotista acoplada s novas tecnologias informacionais. A

    operao de desmonte da vida pessoal atinge as relaes com a famlia, amigos e parentes.

    Alm disso, tem repercusses na vida sexual. Por exemplo, segundo os dados da pesquisa,

    muitas vezes, ou quase sempre, 80% dos juzes fazem trabalho em casa; 86% dizem que

    deixam de fazer coisas do seu agrado por causa do trabalho; e 64% reclamam que dedicam

    pouco tempo a famlia por causa do trabalho.

  • 10

    Um percentual mais significativo de magistrados trabalhistas 76% - dizem que

    visitam pouco parentes e amigos tambm por causa do trabalho. Na verdade, a rotina

    laboral invade a vida familiar, pois 47% dos juzes do trabalho disseram que, as vezes,

    chegam em casa de mau humor por causa do trabalho; e 22% disseram muitas vezes e

    quase sempre, a rotina laboral ocasiona mau humor ao chegar em casa.

    111

    18

    62

    Costuma Fazer Servios do Trabalho em Casa?

    Raramente s Vezes Muitas Vezes Quase Sempre

  • 11

    Finalmente, a presso e estresse do trabalho contribui para a diminuio do prazer

    sexual devido a indisposio e o cansao: 26% dos magistrados trabalhistas disseram que

    isto ocorre muitas vezes e quase sempre; e 41% disseram que ocorre s vezes, a queda da

    libido sexual. Estes dados coletados demonstram o protagonismo do tempo de trabalho

    sobre o tempo de vida, demonstrando em geral, o grau de envolvimento do magistrado

    trabalhista com as rotinas laborais.

    64%

    36%

    Dedica-se pouco a familia por causa do trabalho?

    Sim No

  • 12

    5. VIDA COTIDIANA

    A vida cotidiana dos magistrados trabalhistas encontra-se constrangida pela rotina

    laboral. Ao serem perguntados sobre passeios com a famlia, 53% destacaram que fazem

    s vezes; e 23% disseram raramente faze-lo. 49% disseram nunca ir ou raramente vo ao

    cinema. A leitura de livros, jornais e revistas est tambm constrangida pela carga de

    trabalho no tanto quanto a ida ao cinema, mas os nmeros proporcionais so

    significativos. 41% disseram que s vezes leem livros, jornais ou revistas; e 24%

    afirmaram que raramente ou quase nunca assim o fazem.

    20%

    13%

    41%

    23%

    3%

    O Prazer Sexual Tem Diminuido devido Indisposio ou cansao do trabalho?

    Nunca Raramente s Vezes Muitas Vezes Quase Sempre

  • 13

    Quase 80% disseram que nunca ou raramente atuam em organizaes sociais,

    como, por exemplo, associaes de moradores. A vida social a sociabilidade encontra-

    se prejudicada pela estrutura da vida cotidiana constrangida pela rotina laboral e pelo

    ethos de classe mdia, mais individualista. 47% dos juzes do trabalho disseram entreter-

    se em clubes, jogos, praia, cinema, etc.; e o impressionante nmero de 42% disseram

    nunca ou raramente faze-lo.

    1%

    23%

    42%

    18%

    16%

    Ler (Livros, jornais, revistas, etc)

    Nunca Raramente s vezes Muitas vezes Quase sempre

  • 14

    Com respeito a adeso a cultos religiosos, 71% dos magistrados trabalhistas

    disseram ser adepto de alguma religio ou professar alguma crena religiosa. A maioria

    mais de 50% - se diz catlica, sendo que nenhum se identificou com cultos afro-

    brasileiros. Mais de 50% dos magistrados trabalhistas tambm dizem nunca frequentar o

    culto religioso ou apenas uma vez por semana frequenta-lo (o que caracteriza, por

    exemplo, o catlico no-praticamente). 77% dos juzes do trabalho disseram gastar menos

    de 1 hora para ir e vir do trabalho.

    8%

    34%

    47%

    10% 1%

    Entreter-se (clube, jogos, cinema, praia, etc)

    Nunca Raramente s vezes Muitas vezes Quase sempre

  • 15

    SE SIM, QUAL? (EM %)

    Catlica 77

    Evanglicos 6

    Espiritismo 8

    Religio afro-brasileira 0

    Nenhuma 6

    Outros 3

    SE SIM, QUAL FREQUNCIA? (EM %)

    Nunca 16

    Uma vez por semana 61

    Duas vezes por semana 9

    Mais de duas vezes por

    semana

    1

    Outros 13

    71%

    29%

    adepto de alguma religio ou professa alguma crena religiosa?

    Sim No

  • 16

    6. CONDIES DE TRABALHO

    Um dado perceptvel o crescimento da carga de trabalha em termos relativos.

    Por exemplo, em 2013, cerca de 65% dos magistrados relataram o aumento de mais de

    1.500 novos processos na Vara ou Gabinete, sendo que a quantidade de processos em

    tramitao era maior que 2.000 processos de acordo com 62% dos magistrados

    trabalhistas consultados. Constatou-se tambm, por conseguinte, o aumento do tempo

    efetivo utilizado para o exerccio da jurisdio trabalhista (em horas, considerando a

    mdia semanal). Quase 50% dos magistrados trabalhistas dedicam mais de 50 horas

    semanais para o exerccio da jurisdio trabalhista (35% se dedicam mais de 40 a 50 horas

    semanais). Trata-se de um tempo de trabalho considervel que confirma os dados

    coletados de jornada de trabalho. Por exemplo, mais adiante, 63% dos magistrados

    trabalhistas salientam que trabalham alm da jornada de 8 horas e 60% dizem que

    trabalham quase sempre nos fins de semana. Confirma-se, deste modo, o dado crucial que

    confirma o fenmeno da vida reduzida: a reduo do tempo de vida a tempo de trabalho.

    Apesar disso, 53% dizem estar satisfeito com o trabalho em contraposio a cerca de 28%

    que diz no estar satisfeito com a atividade laboral quase um tero da categoria

    profissional.

    0%1%16%

    38%

    45%

    Qual o tempo efetivo utilizado para o exercicio da jurisdio trabalhista

    (em horas, considerando a mdia semanal)

    At 20 horas Mais de 20 at 30 horas Mais de 30 at 40 horas

    Mais de 40 at 50 horas Mais de 50 horas

  • 17

    Apesar da ampla maioria ter gozado de frias em 2013 (mais de 80%) frias de

    60 dias para 86% parte daqueles que tiveram frias no se desligaram do trabalho. O

    que demonstra que a intrusividade do trabalho na vida pessoal, verificando-se a

    intrusividade laboral na vida pessoal, no apenas nos fins de semana, mas tambm nas

    frias e inclusive ao dormir (52% dos magistrados, as vezes conseguem se desligar do

    trabalho ao dormir; e 57% deles, as vezes, lembram de ter tido sonhos com assuntos da

    atividade laboral). Ao analisarmos a natureza do trabalho do juiz, constatamos que a

    intrusividade laboral decorre da prpria natureza da atividade judiciria. Como trabalho

    intelectual, ele possui por natureza, uma mobilizao subjetiva mais intensa. Nas

    condies da gesto toyotista com aumento da carga processual, a intrusividade laboral

    aumentou, adquirindo um carter estranhado.

    Mas a insatisfao com o trabalho se expressa por vias transversas, por exemplo,

    na demanda por aumento de salrio. 58% dos magistrados dizem que precisa haver

    aumento de salrio, no apenas para recompor a inflao, mas para ter aumento real.

    como se a dedicao vital atividade de jurisdio trabalhista pudesse ser compensada

    pelo incremento salarial com a manuteno do padro de vida de classe mdia alta (o

    lema fordista se impe: ganhar a vida, perdendo-a diramos, vida para o consumo).

    3%

    42%

    14%

    41%

    Nas frias, quantos dias dedicou-se ao descanso?

    0 30 60 Outros

  • 18

    ACHA QUE H NECESSIDADE DE CORREO OU AUMENTO DE SALRIO? (EM %)

    Sim, da inflao que ainda no foi recomposta 37

    Sim, da inflao ainda no recomposta e mais aumento real 48

    No, estou satisfeito com os percentuais j definidos em lei 1

    No tenho opinio a respeito 1

    Outros 3

    Mais de 70% dos magistrados trabalhistas cerca de 74% - concordam que est

    havendo aumento da produtividade no Judicirio. Ao mesmo tempo, a intensificao do

    trabalho, para 41% dos juzes do trabalho, origina-se do aumento do nmero de processos,

    embora 36% concordem com um conjunto de causas (metas, competitividade, novas

    tecnologias informacionais, etc).

    47

    28

    19

    Esta satisfeito com o trabalho?

    Sim No Outros

  • 19

    NA SUA EXPERINCIA COM O PJE (EM %):

    O PJe deve ser mantido como est ou no mximo ser mantido com

    ligeiras melhoras

    18

    O PJe deve ser completamente reformulado e modernizado,

    levando em conta a preservao da independncia dos juzes e

    sade de todos os seus usurios habituais.

    66

    No sei 6

    Outros 10

    50

    22

    18

    10

    Considera o Processo Judicial Eletrnico Eficaz?

    Sim No Nunca utilizou o Pje Outros

  • 20

    A ampla maioria dos magistrados trabalhistas mais de 70% - concorda com a

    virtualizao do processo judicial, embora saliente que o PJe precisa ser reformulado e

    modernizado. Por outro lado, a ampla maioria contra as metas. Enfim, percebemos que

    no existe uma clareza sobre o motivo da intensificao do trabalho, o que demonstra o

    carter fetichista da gesto toyotista acoplada s novas tecnologias informacionais,

    ocultando seu carter de intensificao laboral.

    NA SUA OPINIO, O QUE CONTRIBUI PARA A INTENSIFICAO

    DA CARGA DE TRABALHO (EM %)?

    Presso pelo cumprimento de metas 13

    Uso de tecnologias eletrnicas 0

    Competividade 1

    Aumento do nmero de processos 46

    Todas as alternativas 32

    Outros 8

    4%

    94%

    2%

    Acha adequada a utilizao de metas pelo CNJ?

    Sim No Outros

  • 21

    Por outro lado, 57% dos magistrados trabalhistas esto satisfeitos com os

    resultados obtidos no trabalho, embora quase 30% da categoria demonstra insatisfao,

    considerando que os resultados obtidos por eles esto aqum de sua capacidade laboral

    (o que um elemento agravante das possibilidades de adoecimento laboral). Toda a lgica

    toyotista imputa ao trabalhadora assalariado a culpa pelos seus fracassos.

    O apoio de servidores tcnico-administrativos e outros juzes considerado como

    sendo boa, embora a maioria considere que precisa ter aumento de servidores lotados nas

    varas ou gabinetes (72% consideram insuficiente o nmero de servidores em seu local de

    trabalho). Por outro lado, 84% dos juzes do trabalho consideram apenas boa ou regular

    a qualidade do trabalho dos servidores. A nova dinmica organizacional exige maior

    assessoria tendo em vista a prpria natureza complexa das demandas trabalhistas.

    57%27%

    16%

    Considera-se satisfeito com os resultados obtidos no trabalho ou eles esto aqum daquilo que considera razoavel ou capaz?

    Sim No Outros

  • 22

    interessante que a maioria mais de 60%, pelo menos - discorda que a

    Promoo deva levar em considerao a produtividade mas sim, deve levar em

    considerao a qualidade dos atos dos juzes. a resistncia lgica mercantil que

    permeia a avaliao do Judicirio (apenas 11% observam que se deve levar em

    considerao a produtividade).

    NO TOCANTE A PROMOO, VOC ACHA QUE

    A PROMOO POR MERECIMENTO DEVE:

    (EM %)

    Deve observar os critrios de produtividade 11

    Deve levar em conta predominantemente a qualidade dos atos dos juzes 64

    Outros 25

    Finalmente, quase 70% dos juzes consideram as instalaes fsicas de seu local

    de trabalho timas ou boas, com apenas 11% considerando ruim. Na ltima dcada houve

    um investimento na melhoria das instalaes fsicas de Varas e Tribunais Regionais de

    Trabalho que propiciaram conforto e bem-estar para o trabalho de juzes e servidores

    tcnico-administrativos do Judicirio.

    72%

    14%

    10%

    3%

    1%

    Como avalia o nmero de servidores em seu local de trabalho?

    Insuficiente Suficiente Muito reduzido No tenho opini formada Outros

  • 23

    7. QUALIDADE DE VIDA E SADE

    Utilizamos o conceito de qualidade de vida como sendo uma equao que rene

    satisfao com o trabalho e equilbrio nas atividades da vida cotidiana. Verificamos que

    o trabalho dos juzes possui uma alta intrusividade que invade a vida cotidiana

    prejudicando a qualidade de vida e a sade dos magistrados trabalhistas. A lgica da

    gesto toyotista acoplada s novas tecnologias informacionais, o choque de gesto

    acoplado ao PJe, tornando o juiz um profissional 24 horas, o juiz just-in-time, contribui

    para alguns indicadores que demonstram a perda da qualidade de vida. Por exemplo, cerca

    de 66% dos magistrados trabalhistas portanto, mais da metade dos magistrados

    trabalhistas utilizam sempre ou quase sempre com frequncia smarthopne ou tablet

    conectado a Internet para tratar de assuntos do trabalho. Verificamos tambm que 73 %

    se utilizam de redes sociais (facebook, google+, instagram, etc) na Internet A alta

    conectividade do magistrado trabalhista uma fonte de estresse laboral.

    22

    47

    20

    11

    Como avalia as instalaes fisicas de seu local de trabalho?

    tima Boa Regular Ruim

  • 24

    Ao verificarmos se o juiz do trabalho se preocupa com tarefas do trabalho nos fins

    de semana, constatamos que 60% responderam que quase sempre se preocupam; e outros

    24% disseram que s vezes se preocupam com tarefas do trabalho nos fins de semana,

    demonstrando o alto ndice de intrusividade da laboralidade na vida cotidiana,

    provocando deteriorao da qualidade de vida. Ao serem perguntados se, ao deitar-se

    consegue se desligar das preocupaes com o trabalho, 52% disse que as vezes

    conseguem se desligar, mas outros 18% raramente ou quase nunca conseguem se

    desligar das preocupaes com o trabalho. Na mesma linha de investigao,

    perguntamos se ele se lembra de ter tido sonhos com assuntos pertinentes ao trabalho

    57% responderam s vezes e 11% responderam frequentemente, demonstrando que, pelo

    menos para 68% da magistratura trabalhista os sonhos so colonizados pela intrusividade

    laboral.

    11%

    23%

    43%

    23%

    Utiliza com frequencia smarthphone ou tablet conectado a Internet para tratar de assuntos do trabalho?

    Raramente s vezes Quase sempre Sempre

  • 25

    O QUE CONSIDERA MAIS PREJUDICIAL PARA A SADE DO JUIZ?

    (EM %)

    Intensificao do trabalho 11

    Longas jornadas de trabalho 4

    Ambas as coisas 81

    Outros 4

    Ao serem perguntados o que considera mais prejudicial para a sade do juiz, 81%

    dos magistrados trabalhistas responderam que a intensificao do trabalho e as longas

    jornadas de trabalho contribuem para a degradao da qualidade de vida e sade dos

    juzes. Est claro que o choque de gesto, com as polticas de metas e avaliao da

    produtividade, acoplada as novas tecnologias informacionais, contribuem para ambas as

    coisas. Inclusive, 11% dos juzes avaliam com maior peso a intensificao do trabalho do

    que as longas jornadas (4%). Talvez possamos dizer que as longas jornadas numa

    atividade laboral significativa, no sejam to prejudiciais quanto a intensificao do

    trabalho que, articulada com as longas jornadas de trabalho, degradam o prprio sentido

    38

    24

    60

    5

    Preocupa-se com tarefas do trabalho nos fins de semana?

    Nunca Raramente s vezes Quase sempre Outros

  • 26

    da atividade, prejudicando a qualidade de vida e sade da magistratura. A intensificao

    do trabalho a prpria lgica do choque de gesto toyotista, considerado como sendo

    management by stress. Ao serem perguntados se considera o trabalho do juiz compatvel

    com suas necessidades, 70% dos magistrados responderam no e apenas 22%

    responderam sim. O descontentamento com a qualidade de vida explica a crise de

    sentido da atividade laboral dos juzes. Ao serem perguntados em que medida voc avalia

    sua motivao para trabalhar, mais da metade dos magistrados trabalhistas (53%)

    apresenta motivao mdia, enquanto 26% apresentam uma motivao alta (18%) e muito

    alta (8%). Na mesma linha de investigao sobre o sentido da atividade laboral do juiz,

    perguntamos se o juiz se sente realizado com o trabalho que faz mais da metade (58%)

    responderam que possuem uma realizao mdia (44%), baixa (8%) ou muito baixa (5%),

    demonstrando de forma cabal a corroso do sentido da atividade profissional do juiz por

    conta das condies de trabalho. Entretanto, correspondendo pergunta anterior, 42%

    dizem ter alta realizao (28%) ou realizao muito alta (14%) com o trabalho que faz.

    Na verdade, uma parte significativa dos juzes no consegue lidar com a perda de sentido

    da atividade profissional ocasionada pela intensificao do trabalho e longas jornadas de

    trabalho.

    28

    1444

    8

    5 1

    Voce se sente realizado com o trabalho que faz?

    Alta Muito alta Mdia Baixa Muito baixa Outros

  • 27

    Ao perscrutarmos mais a fundo o sentido da atividade do magistrado trabalhista,

    buscamos saber em que medida ele avalia o orgulho pela sua profisso. Novamente os

    dados confirmam as aferies anteriores mais da metade dos juzes do trabalho (59%)

    dizem ter um orgulho mdio (46%), baixo orgulho (8%) ou muito baixo (5%) com a

    profisso de magistrado trabalhista. Por outro lado, 41% dos juzes dizem ter alto orgulho

    (23%) ou orgulho muito alto (18%) com a profisso de magistrado trabalhista. Ao serem

    perguntados em que medida a sua famlia avalia seu trabalho, 51% dos juzes

    responderam que a famlia possui uma tima avaliao sobre seu trabalho e 44%

    responderam bom (32%), regular (9%) e ruim (3%). O que demonstra que a perda de

    sentido profissional que quase metade do contingente de magistrados trabalhistas no

    Brasil possui compartilhada pela prpria famlia.

    23

    18

    46

    8

    5

    Em que medida voce avalia o orgulho pela sua profisso?

    Alta Muito alta Mdia Baixa Muito baixa

  • 28

    Ao serem perguntados o quanto voc est satisfeito com a qualidade de vida no

    trabalho, as respostas confirmam as aferies anteriores, explicitando o problema da

    degradao da qualidade de vida por conta das condies de trabalho do juiz. 49%

    responderam satisfeito em partes o que demonstra uma ponderao com a positividade

    da funo social, reconhecimento pblico e remunerao salarial, embora a maior parte

    considere que o salrio est aqum das necessidades do juiz, tendo em vista as condies

    de degradao da atividade profissional no sentido da sua intensificao e longas jornadas

    de trabalho. Poucos satisfeitos (25%) e insatisfeito (16%) somam 41% dos magistrados

    trabalhistas o que corresponde ao contingente profissional abalado pela perda de sentido

    profissional da atividade de magistrado trabalhista. Apenas 10% est bastante satisfeito

    (9%) ou extremamente satisfeito (1%) com a qualidade de vida no trabalho do juiz.

    Apesar disso, 59% considera seu trabalho interessante o que demonstra que, a

    degradao do sentido da atividade profissional do magistrado trabalhista, no impede

    que o juiz expresse seu interesse pela atividade em si, embora 36% considerem interesse

    moderado ou pouco ou quase nenhum (13%) interesse pelo trabalho do juiz o que

    corresponde a 49% dos magistrados pesquisados.

    O quanto voce est satisfeito com sua qualidade de vida no trabalho?

    Extremamente satisfeito Bastante satisfeito Satisfeito em partes

    Pouco satisfeito Insatisfeito

  • 29

    Ao serem perguntados se sua vida pessoal afetada ou condicionada

    negativamente pelo trabalho, 30% diz considerar muito afetada pelo trabalho e quase a

    metade (48%) diz que a vida afetada moderadamente. 22% dos juzes dizem pouco ou

    quase nada afetada ou condicionada negativamente pelo trabalho, demonstrando

    estratgias de resilincia que reduzem no plano consciente o impacto da degradao da

    atividade laboral.

    Entretanto, ao serem interrogados se o trabalho lhe permite dedicar-se a famlia o

    tempo que voc gostaria, os juzes responderam 77% - que o trabalho permite dedicar-

    se pouco (58%) ou quase nada (19%) de tempo famlia como ele gostaria. Confirma

    outra pergunta que fizemos anteriormente demonstrando a degradao da qualidade de

    vida e expondo, no plano objetivo, que o trabalho condiciona negativamente a vida

    pessoal do magistrado trabalhista.

    30

    48

    9

    13

    Considera que sua vida pessoal condicionada ou afetada negativamente pelo seu trabalho?

    Muito Moderadamente Pouco Quase nada

  • 30

    Prosseguindo a reflexo sobre os impactos do trabalho na vida pessoal dos

    magistrados, perguntamos com que frequncia ele tem que trabalhar intensamente.

    Procuremos aferir o grau de intensificao do trabalho do magistrado (isto , produzir

    muito em pouco tempo). Trata-se de um aspecto relevante da degradao do trabalho do

    magistrado indicado como sendo responsvel pela degradao do trabalho do juiz (44%).

    77% dos juzes responderam que frequentemente tem que trabalhar intensamente e 19%

    disseram que s as vezes tem que produzir mais em pouco tempo.

    4

    27

    58

    19

    1

    O trabalho lhe permite dedicar-se a familia o tempo que voce gostaria?

    Muito Moderadamente Pouco Quase nada Outros

  • 31

    Ao serem perguntados se o trabalho do juiz exige muito deles, verificamos o peso

    da intensificao laboral 88% responderam frequentemente e 8% disseram s vezes.

    Entretanto, o dado que fica que a intensificao laboral dada pelo choque de gesto,

    com a adoo de metas e avaliao de produtividade, contribui para o fardo laboral, tendo-

    se tornado uma espada de Dmocles como observou um juiz no documentrio O

    trabalho do juiz. Ao serem interrogados se tem tempo suficiente para cumprir suas

    tarefas, 90% dos magistrados trabalhistas responderam raramente (48%), nunca (9%) ou

    as vezes (33%).

    Ao serem perguntados se apresentou nos ltimos 5 anos algum sintoma de

    adoecimento que se relacionasse ao trabalho, 73% dos magistrados do trabalho

    responderam que sim, enquanto 27% disseram no. Trata-se de um nmero

    impressionante pois diz respeito a 2/3 da categoria de juzes do trabalho adoecidos. Mas

    existem elementos vinculados prpria natureza do trabalho do juiz que contribuem para

    o estranhamento nas condies da nova precariedade salarial. Por exemplo, ao serem

    perguntados se o trabalho costumar apresentar exigncias contraditrias ou discordantes

    77

    19

    3 1

    Com que frequencia voce tem que trabalhar intensamente (isto , produzir muito em pouco tempo)?

    Frequentemente s vezes Raramente Outros

    S

  • 32

    88% disseram frequentemente (54%) ou as vezes (33%), demonstrando a implicao

    paradoxal da subjetividade da pessoa que trabalha pela prpria natureza da atividade

    judicial.

    Ao serem perguntados se se sente tenso ou contrado, 67% responderam que na

    maior parte do tempo (22%) ou em boa parte do tempo (45%) se sentem tenso ou

    contrado. 24% diz que isso ocorre s vezes. Na mesma linha de investigao, 77% disse

    que est boa parte do tempo (53%) e a maior parte do tempo (24%) com cabea cheia de

    preocupaes. 19% disse que s vezes isso ocorre. um dado impressionante pois

    caracteriza a degradao da qualidade de vida do magistrado trabalhista. Entretanto, ao

    serem postos diante da afirmao Eu me sinto alegre, 41% respondeu que se sente assim

    boa parte do tempo e 11% a maior parte do tempo. Outros 33% responderam que s as

    vezes se sente alegre e 4%, raramente. Existe um vis implicado com o significado de

    estar alegre. Talvez se possa, ao mesmo tempo, estar alegre e insatisfeito com a qualidade

    de vida no trabalho ou a pergunta contem um vis estar alegre apenas um estado de

    esprito. Noutra inquirio, perguntamos se o magistrado tem se sentido triste

    73

    27

    Apresentou nos ltimos 5 anos algum sintoma de adoecimento que se relacionasse ao trabalho?

    Sim No

  • 33

    ultimamente. 84% responderam s vezes (70%) e muitas vezes (9%) tem se sentido assim.

    5% responderam que quase sempre sentem tristeza ultimamente. Este nmero se contrasta

    com o levantamento sobre estar alegre, onde 41% disse que sente assim boa parte do

    tempo.

    Ao serem interrogados se sentem angstia, isto , uma espcie de medo, como se

    alguma coisa ruim fosse acontecer, 46% dizem no sentir nada disso. Entretanto, o que

    impressiona que 19% sentem isso um pouco, mas no se preocupam e 18% dizem que

    sentem isso de jeito muito forte. O que significa que cerca de 37 % pelo menos sentem

    uma espcie de medo com se alguma coisa ruim fosse acontecer, inclusive 8% dizem

    sentir no tanto quanto antes. Ao serem perguntados se tm uma sensao de ruim de

    medo, como um frio na barriga ou um aperto no estomago, 55% responderam nunca sentir

    isso. Entretanto, percebe-se que 45% responderam quase sempre (8%), s vezes (28%)

    ou muitas vezes (9%). Esses dados confirmam que parte significativa da categoria

    profissional sente uma angstia na vida cotidiana. A angstia no leva necessariamente

    ao sentimento de pnico, mas pode faz-lo. Ao serem perguntados, por exemplo, se de

    repente, tem sensao de pnico, 46% responderam que no sentem isso. Entretanto, o

    16

    70

    9

    5

    Tem se sentido triste ultimamente?

    Nunca s vezes Muitas vezes Quase sempre

  • 34

    que impressiona o nmero significativo dos que responderam vrias vezes (3%) ou de

    vez em quando (18%): 21%. Ao serem perguntados se tem todo a idia de acabar com a

    vida, apenas 3% responderam que sim o que no deixa de ser um dado a ser considerado.

    Ao serem inqueridos se dormem mal, mais da metade (54%) dos magistrados

    trabalhistas responderam, s vezes; e 19%, muitas vezes; 13%, respondeu quase sempre.

    A pssima qualidade do sono contribui para a degradao da qualidade de vida cotidiana

    e inclusive, com repercusses na qualidade do trabalho e principalmente na sade dos

    juzes. Por isso, ao serem inquiridos se se sente nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a),

    94% responderam s vezes (54%), 27%, muitas vezes e quase sempre (13%). Apenas 5%

    responderam nunca.

    18

    8

    19

    46

    Eu sinto uma espcie de medo, como se alguma coisa ruim fosse acontecer?

    Sim, de jeito muito forte No tanto quanto antes Um pouco, mas isto no me preocupa No sinto nada disso

  • 35

    Finalmente, um dado positivo que diz respeito a qualidade de vida aquele que se

    refere prtica de atividade fsica (esporte, caminhada e musculao) 75% disseram

    que praticam atividade fsica e 22% disseram no o que no deixa de ser um nmero

    significativo, pois a vida sedentria implica em risco de adoecimento tendo em vista as

    condies de degradao do trabalho do juiz, conforme indicado acima.

    5

    54

    27

    131

    Sente-se nervoso(a), tenso (a), preocupado(a)

    Nunca s vezes Muitas vezes Quase sempre Outros

  • 36

    Referncia bibliografia

    ALVES, Giovanni (2014) O Trabalho do Juiz: Anlise crtica do vdeo-

    documentrio O trabalho do juiz. Editora Praxis: Bauru.

    _________________(2014) Trabalho e neodesenvolvimentismo: Choque de

    capitalismo e degradao do trabalho no Brasil. Editora Praxis: Bauru.

    _________________(2013) Dimenses da precarizao do trabalho: Ensaios de

    sociologia do trabalho. Editora Praxis: Bauru.

    _________________(2011) Trabalho e subjetividade: O esprito do toyotismo na

    era do capitalismo manipulatrio. Boitempo editorial: So Paulo.

    CHAUI, Marilena (1999). A Universidade operacional. Revista Avaliao

    Revista da Avaliao da Educao Superior. Volume 4, Nmero 3. Uniso: Sorocaba.

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    CASTELLS, Manuel (1999). A sociedade em rede. 2 ed. So Paulo: Paz e terra.

    ARENDT, Hannah (2004). Responsabilidade e julgamento. So Paulo:

    Companhia das Letras.

    LEONTIEV, Alexis (1978). O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte.

    75

    22

    3

    Pratica atividade fisica (esporte, caminhada e musculao)?

    Sim No Outros