o paciente neutropenico febril

48
O Paciente Neutropênico Febril Olívia Maria Veloso Costa Coutinho Médica Infectologista Curso de Educação Médica Continuada – CRMTO Módulo Doenças Infecciosas

Upload: simedtocantins

Post on 19-Jun-2015

2.024 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Paciente Neutropenico Febril

O Paciente Neutropênico Febril

Olívia Maria Veloso Costa CoutinhoMédica Infectologista

Curso de Educação Médica Continuada – CRMTOMódulo Doenças Infecciosas

Page 2: O Paciente Neutropenico Febril

Objetivo

• Abordar as condutas que um clínico geral

deve ter ao atender um paciente

neutropênico febril, enfatizando protocolos

terapêuticos antimicrobianos atuais

Page 3: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Caso Clínico• Masc, 30 anos, apresentando febre após QT para LMA

(3o ciclo). • Nos 2 ciclos anteriores apresentou 2-3 semanas de

neutropenia. Sem ”foco” clinicamente evidente; colhidas 2 hemoculturas (1 central e 1 periférica)

• “ANC” (CAN = Contagem absoluta de neutrófilos): 200/mm 3 . Neutropênico há 2 semanas.

• O QUE FAZER ?

Page 4: O Paciente Neutropenico Febril

Avaliação Inicial

• Sinais e sintomas de inflamação podem ser mínimos ou ausentes em pacientes gravemente neutropênicos, especialmente se acompanhados de anemia. Induração, eritema e pustulização

diminuídos ou ausentes em pacientes com infecção cutânea sem celulite típica;

Infecção pulmonar sem infiltrado na radiografia;

Meningite sem pleocitose no LCR; Infecção do trato urinário sem piúria.

CID 37:382, 2003

Page 5: O Paciente Neutropenico Febril

Avaliação Inicial

• Entretanto, a pesquisa pode ser feita através de sinais e sintomas sutís, incluindo dor em sítios que são comumente infectados: Periodonto

Faringe

Esôfago baixo

Pulmão

Períneo, ânus

Olhos

Pele, incluindo sítios de aspiração de medula, ascesso vascular e tecidos ao redor das unhas

CID 37:382, 2003

Page 6: O Paciente Neutropenico Febril

Avaliação Inicial

• Exame físico minuncioso;

• Hemograma completo, creatinina, uréia e transaminases;

• Culturas para bactérias e fungos devem ser colhidas imediatamente;

• Se houver um cateter venoso central, pode-se colher mais de 1 hemocultura de seu lúmen, assim como de veia periférica;

• Cultura de urina é indicado se existir sinais e sintomas de ITU, sonda vesical vigente, ou anormalidades na urinálise;

CID 37:382, 2003

Page 7: O Paciente Neutropenico Febril

Avaliação Inicial

• Cultura de urina é indicado se existir sinais e sintomas de ITU, sonda vesical vigente, ou anormalidades na urinálise;

• Rx de tórax pode ser feito sempre que houver anormalidades no trato respiratório;

• TC de alta resolução de tórax revelará evidência de pneumonia em mais da metade de neutropênicos febris com achados normais no Rx de tórax;

• Biópsias de lesões de pele suspeitas de infecção podem ser feitas para citologia, Gram e cultura;

• Coleta de LCR não é recomendada.CID 37:382, 2003

Page 8: O Paciente Neutropenico Febril

O que sabemos de infecção como causa da febre em neutropênico ?

• Em cerca de 40-50% dos casos há evidência de infecção como causa da febre. A outra metade é “FOI” (febre de origem indeterminada).

• Infecção pode ser “microbiologicamente” documentada (hemocultura +, por exemplo) ou “clinicamente” documentada (pneumonia, sem diagnóstico microbiológico)

• Particularmente a infecção bacteriana pode ser rapidamente fatal (24-48h). Logo:

Page 9: O Paciente Neutropenico Febril

O que sabemos de infecção como causa da febre em neutropênico ?

• Neutropenia febril = Emergência Médica

• A maioria das infecções “microbiologicamente” documentadas são de origem bacteriana.

• Em 2o lugar, vêm as infecções fúngicas

Page 10: O Paciente Neutropenico Febril

Etiologia das Infecções em Neutropênicos

0

5

10

15

20

25

30

35

Bacteria Fungi Viruses

Picazo JJ. Int J Hematol 1998;68 (Suppl 1):S535-538.

Page 11: O Paciente Neutropenico Febril

Etiologia - diagnósticos

Cohen. Infectious Diseases, 2005.

Page 12: O Paciente Neutropenico Febril

O que sabemos de infecção como causa da febre em neutropênico ?

Conduta• Iniciar imediatamente antibacteriano • O que não é consenso, é qual esquema

antibacteriano iniciar. A escolha depende da realidade epidemiológica de cada hospital.

• Discussão: Monoterapia X duoterapia (com ou sem vancomicina)

Page 13: O Paciente Neutropenico Febril

Etiologia – mudanças

Cohen. Infectious Diseases, 2005.

Page 14: O Paciente Neutropenico Febril

Etiologia das Infecções em Neutropênicos

• Gram-positivos: são isolados em 60% Mais indolentes:

• Estafilococo coagulase-negativo (+ freqüente);• Corynebacterium

Mais agressivos: • S. aureus;• Estreptococos viridans;• Pneumococo

• Gram-negativos: 40% Escherichia coli; Klebsiella pneumoniae; Pseudomonas aeruginosa ESBL, “CESP”

Page 15: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta• Foi iniciado cefepima 2g IV 12/12h

(Experiência brasileira)

Page 16: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Evolução• 5 dias depois do início da cefepima, paciente

persistia febril, sem “foco” clinicamente evidente, hemoculturas ( 5 ao todo) negativas, CAN = 300/mm3.

RX de tórax PA/PE: normal• Qual conduta tomar ? Justifique sua resposta

(opção)!

Page 17: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas

a) Aguardar (=manter cefepima), já que o paciente está clinicamente estável e há expectativa de recuperação da neutropenia em breve.

- Tomografia de tórax (pensando em aspergilose) é uma conduta prudente (tendência atual: mais diagnóstico e menos tratamento empírico !)

- Tomografia de abdome e/ou crânio-encefálica sem manifestação clínica é questionável (já a aspergilose

pulmonar pode ser inicialmente “silenciosa”)

Page 18: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas

a) Aguardar (=manter cefepima)

Princípio: Resolvendo a neutropenia, deve resolver a febre.

Page 19: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas

b) Ampliar o espectro do esquema antibacteriano:

imipenem/cilastatina ou meropenem +/- vancomicina.

”BGNs ESBL” (2/3 BGNs + freqüentes em neutropenia

febril: E. coli e Klebsiella) e Pseudomonas (muitas X só

S a imip ou meropenem).

Vanco vai depender da epidemiologia de MRSA.

Page 20: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas

b) Ampliar o espectro do esquema antibacteriano: imipenem/cilastatina ou meropenem +/- vancomicina.

Como regra geral, acrescentar vancomicina, sem ter isolado estafilococo resistente à oxacilina ou infecção relacionada a CVC, é de pouca utilidade (CID 37:382, 2003)

Page 21: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas

c) Iniciar antifúngico, já que:

> 2 semanas de neutropenia;

períodos recentes de neutropenia;

se for infecção fúngica, o início precoce tem impacto na mortalidade.

Page 22: O Paciente Neutropenico Febril

Neutropenia Febril

Conduta: as 3 alternativas podem ser consideradas adequadas

c) Iniciar antifúngico, já que:

Princípio: A maioria dos “guidelines” de neutropenia febril

recomenda iniciar antifúngico empírico quando paciente

permanece febril por 5 dias ou mais apesar de

antibacteriano “aprovado” (ceftazidima, cefepima,

imipenem-cilastatina e meropenem)

Page 23: O Paciente Neutropenico Febril

Qual a diferença entre o tratamento do paciente neutropênico e o imunocompetente quando se

conhece o patógeno ?

• Manter cobertura para gram- negativos, mesmo quando estafilococo oxa-R é isolado.

• Exemplo: isolado MRSA em 2 hemoculturas, acrescentamos vancomicina, mas não suspendemos cobertura para BGN

Page 24: O Paciente Neutropenico Febril

TRATAMENTO EMPÍRICO COM ANTIFÚNGICOS:

USAR OU NÃO USAR ?

Page 25: O Paciente Neutropenico Febril

Tratamento empírico - Antifúngicos

• Fungemia por Candida: neutropenia > 1 semana

• Aspergilose invasiva: neutropenia >2-3 semanas

• Infecção fúngica não costuma ocorrer em neutropenia de curta duração (<1 semana)

Page 26: O Paciente Neutropenico Febril

Antifúngico EmpíricoPor que usar ?

PRÓS

• Infecções fúngicas estão relacionadas com alta mortalidade

• Diagnóstico difícil

• Menor sucesso se início do tratamento é postergado (“início atrasado”)

Page 27: O Paciente Neutropenico Febril

Antifúngico EmpíricoPor que usar ?

CONTRAS• Possibilidade de toxicidade adicional em

paciente de alto risco• Mais confiança e menos desempenho na busca

do diagnóstico etiológico• Dados mais “emocionais” que científicos ?• Risco de subdose por indicação questionável e

paciente de alto risco.

Marc A. Boogaerts. Advances in Empirical Antifungal Therapy in Patients with Febrile Neutropenia.

Page 28: O Paciente Neutropenico Febril

ATB empírico

Adiciona novo ATB empírico

Adiciona G-CSF

Pensa em acrescentar antifúngico

Adiciona antifúngico

empírico

Atividade emocional do

médico

Duração da febre e neutropenia

24 h 72 h 96 h

Marc A. Boogaerts. Advances in Empirical Antifungal Therapy in Patients with Febrile Neutropenia.

Plano de saúde questiona o

custo da estratégia

estabelecida

Page 29: O Paciente Neutropenico Febril

Principais Patógenos

• Granulocitopenia Bacilos gram negativos ( E. coli, P. aeruginosa,

K. pneumoniae

Bacilos gram positivos ( S. epidermidis, Alfa Estreptococos sp, S. aureus)

Leveduras : C. albicans e tropicalis

Fungos filamentos: Aspergillus flavus e fumigatus

Page 30: O Paciente Neutropenico Febril

Principais Patógenos

• Disfunção Imune Celular Bactérias: Listeria monocytogenes, Salmonela

sp, M. tuberculosis, M. avium/ intracelulare, Legionela pneumophila

Fungos: Criptococcus neoformans, Histoplasma capsulatum, Paracoccidiodes brasiliensis, Coccidioides immitis

Virus: Herpes simplex, HVZ, CMV, EBV Protozoários: P. carini, T. gondii,

Criptosporidium Helmintos: S. stercoralis

Page 31: O Paciente Neutropenico Febril

Principais Patógenos

• Disfunção Imune Humoral Bactérias: S. pneumoniae, H. influenzae, N.

meningitidis

Page 32: O Paciente Neutropenico Febril

NEUTROPENIA FEBRIL

• Febre (2 picos 38ºC ou 1 pico 38.3ºC/24h) X pacientes com N<500/mm3

• Leve - 500 a 1000/mm3

• Moderada - 100 a 500/mm3

• Grave 100/mm3

Page 33: O Paciente Neutropenico Febril

CAUSAS NÃO INFECCIOSAS DE FEBRE

• Medicações pirogênicas QT (Bleomicina, Arabinosídeo-C)

• Produtos sangüíneos

• Reações alérgicas

• Doença de base

Page 34: O Paciente Neutropenico Febril

PACIENTE NEUTROPÊNICO

• Febre é o 1º sintoma de infecção

• Dor, edema e rubor Mascarados Ausentes

ATENÇÃO: NÃO ESPERAR FORMAÇÃO DE

SECREÇÃO PURULENTA

Page 35: O Paciente Neutropenico Febril

DOENÇAS INFECCIOSASMANIFESTAÇÕES

• Queixas inespecíficas e não localizadas Febre, mal-estar, anorexia, baixa

aceitação alimentar, letargia, rash

• Tentativa localizar infecção

Page 36: O Paciente Neutropenico Febril

ABORDAGEM INICIAL

• Estratificação de risco Grau de neutropenia Tempo estimado de neutropenia Doença de base Uso prévio de corticoesteróides

Page 37: O Paciente Neutropenico Febril

DIRETRIZES ATUAIS

• ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO

++• DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO

MICROBIOLÓGICO

• INÍCIO IMEDIATO DE ANTIBIÓTICO DE INÍCIO IMEDIATO DE ANTIBIÓTICO DE AMPLO ESPECTROAMPLO ESPECTRO

Page 38: O Paciente Neutropenico Febril

Consenso

• Início precoce

• Monoterapia de amplo espectro

• Uso racional da Vancomicina e glicopeptídeos

• Estratificação de riscos ponderação de uso oral ou domiciliar de ATB

• Terapia antifúngica precoce na neutropenia febril persistente

Page 39: O Paciente Neutropenico Febril

Terapia empírica inicial Baixo risco

• Tratamento ambulatorial

• ATB oral Observar fatores

limitantes

• Alta precoce com terapia oral Quinolona +

Amoxi/clavulanato

• Recomendações rígidas

• Seleção dos pacientes

Page 40: O Paciente Neutropenico Febril

Terapia empírica inicial Moderado e alto risco

• Monoterapia Ceftazidima*,

Cefepime, Meropenem, Imipenem, Piperacilina/ Tazobactam

*alto indutor de resistência bacteriana

• Terapia combinada -lactâmico anti-

pseudomonas + AG – 60 -70% de eficácia.

Page 41: O Paciente Neutropenico Febril

Terapia Empírica Inicial Associação de glicopeptídeo

• RETARDADA•

• Exceto em instituições com

alta incidência de Staf. aureus meticilino-

resistentes e Strep. viridans.

• INTRODUZIDA

Persistência da febre.

Isolamento de gram+ resistente

ao esquema.

Page 42: O Paciente Neutropenico Febril

SEGUIMENTO

Page 43: O Paciente Neutropenico Febril

DISCUSSÕES (1) Momento de reavaliação

• Quadro clínico• Resultados microbiológicos

• Alto risco: 5-7 dias• Baixo risco: 2 dias

Média 3 a 5dias

Page 44: O Paciente Neutropenico Febril

DISCUSSÕES (2)Duração da terapia

• “ SeSe o paciente estiver estável clinicamente, afebril há mais de

48h e sem neutropenia, o antibiótico pode ser suspenso com

segurança”

Page 45: O Paciente Neutropenico Febril

FOCO INFECCIOSO CONHECIDO

Seguir normas para o sítio primário.

Page 46: O Paciente Neutropenico Febril

CUSTO$$$$$$$$$$$$$$$!!!

ANTIBIÓTICOS ANTI-FÚNGICOS ANTI-VIRAIS OUTROS (Metronidazol IV) FATORES DE CRESCIMENTO ANTI-EMÉTICOS SUPORTE (soro, analgésicos etc)

Page 47: O Paciente Neutropenico Febril

IMPORTANTE

O paciente com câncer nem sempre é “terminal”, e merece muitas vezes uso de recursos e medidas extraordinárias para assegurar-lhe uma vida digna e com qualidade…