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N´SALAMBI FRANCISCO A morte não é nada se não for o reconhecimento da sofrida marcha… N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

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N´SALAMBI FRANCISCO

A morte não é nada se não for

o reconhecimento da sofrida

marcha…

N´SALAMBI FRANCISCO

O OUTRO LADO DA VIDA

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

1

``O OUTRO LADO DA VIDA´´

N´SALAMBI FRANCISCO

2016

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

2

DEDICATÓRIA

Em especial dedico a presente obra a família Airosa. Posto lá no acto fúnebre do

passamento físico de seu Pai de família, Sr. Edgar Airosa, penetrando no triste olhar da

família que deixou em vida, percebi que é preciso saber perder para aprender a encarar os

obstáculos e consequentemente com eles ganhar.

À minha avó paternal Ana Fidel Salambi e ao meu Pai-Tio Rafael António que seus

passamentos físicos acabaram por me ensinar a enfrentar as saudades e sonhos

esmoronados pelas suas ausências físicas.

A todos aqueles que enfrentam a vida firmemente lidando com as circunstâncias menos

agradáveis, sem tentativas de suicidar-se e de afogar as suas magoas no álcool tão pouco

em substâncias químicas que alteram o funcionamento normal das suas mentes.

Viver é uma arte, morrer é trivial...

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

3

ÍNDICE

PREFÁCIO____________________________________________________________05

Outra incarnação________________________________________________________06

A vida que eu não vivi___________________________________________________08

Vida sem vida__________________________________________________________10

Renuncio esta vida______________________________________________________12

Lágrimas de esperança___________________________________________________14

Lágrimas d´um inocente__________________________________________________16

Último verso___________________________________________________________18

O que em mim não morre_________________________________________________20

A voz calada pela covardia________________________________________________22

A incerteza da única certeza_______________________________________________24

Pêsames_______________________________________________________________26

Sol da vida____________________________________________________________27

Uma singela homenagem_________________________________________________29

Solidão_______________________________________________________________31

Deixa-me cantar________________________________________________________33

Onde quer que estejas____________________________________________________35

Onde nunca vais morrer__________________________________________________36

Hora das condolências___________________________________________________38

Lembra-te de mim_______________________________________________________39

Juízo final_____________________________________________________________41

Primeira parte do jogo da vida_____________________________________________43

Paragem obrigatória_____________________________________________________45

Para onde vou meus Deus?________________________________________________47

Nunca é um adeus_______________________________________________________49

Meus últimos passos_____________________________________________________51

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

4

Chuva de Benguela______________________________________________________52

Soldado tombado_______________________________________________________53

Não posso crer__________________________________________________________54

Meu amor malogrado____________________________________________________55

Carta para a morte_______________________________________________________57

DEMOSTRAÇÃO DE AGRADECIMENTOS ________________________________59

BIBLIOGRAFÍA_______________________________________________________60

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

5

PREFÁCIO Em um dado momento todo ser humano perde alguém que tenha sido muito significativo

para o mesmo enquanto vivo…

A vida é uma moeda de dois lados súper divergentes. Um lado é a existência e o outro

lado é a inexistência, pois, não se fala da vida sem pensar na morte e nem se fala da morte

sem antes conhecer a própria vida. Talvez nascer sem pedir e morrer sem querer seja uma

autêntica ironia por parte do Autor da existência, mas é a lei da vida. Todavia, se não

fores actor primordial da sua vida serás um mero assistente da novela da existência.

A dor, o sofrimento e a morte são os fenómenos mais democráticos da existência

humana, pois nestes fenómenos todo organismo se identifica em um dado momento…

Os homens procuram incansavelmente uma tranquilidade plena entre guerras provocadas

pelos mesmos, mas o único lugar que há tranquilidade completa nenhum homem quer lá

estar, no túmulo. A morte não é o final da vida, mas sim, o começo de uma nova etapa da

existência, longe de todos efeitos ruins que a humanidade produz dia pós dia.

Em uma singela homenagem procurei dar a fala numa voz calada pela

covardia que nega lutar contra a maldita solidão expressada por lágrimas de

esperança que torce a favor de uma vida sem vida.

Pois o que em mim não morre é a incerteza da única certeza que reside

n´outra incarnação, em seguida da primeira parte do jogo da vida acelera

os meus passos rumo a uma paragem obrigatória na estrada onde nasce o sol da

vida.

Aos meus entiqueridos peço que deixa-me cantar neste meu último verso para

fazer nascer uma nova vida, onde quer que estejas saiba que nunca é um

adeus ainda que na hora das condolências as pessoas apresentem seus

pêsames. Pois, no meu coração é o único lugar onde nunca vais morrer…

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

6

OUTRA INCARNAÇÃO

A minha raça é imortalidade

Nesta vida o meu nome é certeza

Aqui tudo é diferente da humanidade

Porque aqui não há incerteza

Tenho cem mil anos de existência

Nunca tive alguma doença

Não conheço o que é carência

Porque não há falsos profetas nesta crença

Não sinto mais dor

Nem sei o que é sofrer

Não há descriminação da cor

Nem há garantias que eu possa morrer

Meu único trabalho é viver

Por isso eu vivo livremente

E tudo que eu consigo ver

Me pertence inteiramente

Não preciso de vestuário

Para cobrir a minha pessoa

Sei perfeitamente que nunca serei vítima de um velório

Nem que seja por uma causa boa

Aqui viver é uma bela arte

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

7

Que eternamente preciso praticar

Para não lembrar da morte

Porque viverei sempre neste lugar

Aqui toda gente se conhece

Pois não há nenhuma classe social

Não existe o disfarce

Nesta vida não há preconceito racial

Tenho mil e novecentos filhos

Dou amor a todos eles de forma igual

Todos cresceram aos meus olhos

E educados pelo nosso ritual

Aqui não há noite nem dia

Não há chuvas

Não há clima quente nem fria

Nem mar com ondas bravas

Não renunciei a minha morte

Na primeira incarnação

Morrer foi a minha grande sorte

Para conhecer a vida em nova versão

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

8

A VIDA QUE EU NÃO VIVI

Deixei a tristeza

Ocupar o espaço da alegria

A minha maldita fraqueza

Excluío os momentos que eu sorria

O meu trabalho destruío

O meu prazer de viver

A minha prepotência engoliu

A minha vontade de aprender

Construi uma grande fortuna

Mas não aproveitei-la

Com a minha família linda e pequena

A esperança dos meus filhos destrui-la

Comprei belas camas para eles

Mas não ensinei-lhes a sonhar

Paguei o colégio deles

Mas não pude os deveres lhes auxiliar

Com eles não brinquei

Não conheci os sonhos dos meus filhos

Porque com eles eu não sonhei

Por causa dos meus longos trabalhos

Choraram sem mim

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

9

Numa madrugada infinita

Lamentaram do princípio ao fim

Pela minha ausência maldita

Espero que me perdoam

Pela minha constante ausência

Espero que me entendam

Por ter sido escravo da ignorância

A mulher que não beijei

Antes e depois de acordar

Os filhos que não abracei

Antes de ir trabalhar

Se desse para o tempo recuar

Faria desse último dia ser eterno

Poderia com vocês brincar

Aproveitando cada abraço fraterno

Descansam em paz

Mais…

Me respondam

Se por acaso vocês me perdoam

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10

VIDA SEM VIDA

A morte em mim vive

Como um prazer insaciável

A ausência de vida em mim sobrevive

Em cada amanhecer inexplicável

Vivo longe da vida

Gritando mortalmente

Pela existente ferida

Que fere-me interiormente

As lágrimas tentam

Relatar o que as palavras

Negam

Cultivar nestas humildes lavras

Não sou eu quem vive em mim

Pois

Há um enorme vazio sem fim

Que faz-me ser um em dois

Quero dar vida

Nesta minha vida sem fôlego

Quero curar essa ferida

Dentro do meu superego

Hoje a moeda inverteu

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Mostrando o seu outro rosto

E a vida em mim morreu

Num dia incerto

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

12

RENUNCÍO ESTA VIDA

Nego viver

Renuncio-me para não sofrer

Se a pobre vida que em mim habita

Não for a razão para mim ser amado

Então

Prefiro viver no interior de um caixão

Nego viver

Renuncio-me para não sofrer

Em que adiante um sobrenome

Longe do verdadeiro amor

A minha alma tem uma insaciável fome

Do mais precioso alimento sem dor

Nego viver

Renuncio-me para não sofrer

Prefiro ser feliz na inexistência

Do que ser um condenado

Nesta maldita existência

Pois o meu coração está carcerado

Nego viver

Renuncio-me para não sofrer

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

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Sofri sem querer

Fui feliz no meu sofrimento sem saber

E estou condenado sem entender

A essência deste triste sofrer

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

14

LÁGRIMAS DE ESPERANÇA

No palco da existência

O seu tempo acabou

Na melodia da intolerância

Mais uma voz se calou

Um Pai se foi

Levando consigo a humanidade

Hoje é mais um herói

Que decidiu conhecer a eternidade

Foi um homem grande

Engolido pelo pequeno túmulo

Mas em ti vive a sua bondade

E levarás ao trigésimo século

Com a plateia consumida pela dor

Desesperada lacrimejando

Com a linguagem de amor

Os olhos expressam seu passado

Em ti vive

E no teu coração não lhe enterrarás

Porque aí ele é eterno e livre

Para onde vai? Não serás…

Deseja-lhe um novo começo

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No outro lado da vida

A paz que a ti eu peço

Que preencha essa sua ferida

Essa vida que nasceu em si

Longe de ti

Que te lembre do que por ele você viveu

Antes do mundo dizer que ele faleceu

Dedicada extremamente a toda família Airosa, pelo passamento físico do Prezado Sr.

Edgar Airosa…

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LÁGRIMAS D´UM INOCENTE

Que culpa eu tive

Para merecer este maldito isolamento

Onde eu sempre estive

Não pedi o meu suposto surgimento

Para que me matar?

Porque me rejeitar?

Deixa-me conhecer a vida

Deixa-me aprender a caminhar, ó mãe querida…

Sou apenas o efeito das suas ilusões

Que culpa tenho eu!

Por ser fruto das suas loucas paixões

Deixa-me construir um mundo só meu

Porque me negar o oxigénio?

Deixa-me nascer para ser o que der

Lutarei para ser um génio

Se uma oportunidade você me aceder

Quero seu sobrenome

Quero amamentar no seu leito

Saciando a minha desconhecida fome

Pela carência da existência

Serei companheiro, primo e filho

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

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Serei amigo, colega e pai

Serei compadre, sobrinho e tio

Serei neto, avô e irei onde a vida vai…

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

18

ÚLTIMO VERSO

Este é o meu último verso

Antes da minha decomposição

Neste pequeno universo

Fez de mim um refém sem acções

Neste vocábulo perverso

Que condena-me nesta encarnação

Sem sucesso

Num corpo que abdica a imperfeição

Por medo do fracasso

A minha vida sugere-me esta rejeição

Com um andar sem passo

Escrevendo este verso em contracção

Tento com isso fazer tudo que posso

Ó pobre coração…

Que vive amando o inverso

Nesta minha condenação

Não sei se um dia regresso

Neste show da existência com própria acção

Mas este desejo tornou-se grosso

Diante do disfarce e ambição

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

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Eu vou sem rumo nem acesso

Neste espectáculo sem canção

Da alma sem carne e osso

Esperando caminhar sem direcção

Com a maldita hora me apresso

Para chegar numa vida de outra versão

Ficando preso dentro do meu ego em gesso

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

20

O QUE EM MIM NÃO MORRE

O teu belo sorriso

Esconde-se debaixo da terra

Pois eu agilizo

Que a tua alegria a morte não encerra

Os pássaros soam

Com a tua bela voz

Enquanto os peixes nadam

Nesta infinita foz

As estelas imitam os seus gestos

Rindo atrás das nuvens

E a lua dança ritmos dos seus gostos

Demonstrando como vais e vens

A esperança torna-se impaciente

Presenciando sua demora

Que magoa intensamente

O meu coração a toda hora

Vejo o Titanic renascendo no mar

Enquanto tu entras debaixo do solo

Quando o teu longo discurso prefere se calar

Como um recém-nascido no colo

Falas silenciosamente

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21

Como um pobre mudo

Inocente

Neste ruidoso mundo

Em vez de abraço

Me deixaste um enigma saudade

Enquanto caminhas no outro universo

Numa jaula longe da maldade

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22

A VOZ CALADA PELA COVARDIA

Hoje digo que amo

Amo esta liberdade proibida

Proibida pelas vozes que clamo

Clamo arriscando a minha pobre vida

Vida sem sorte

Sorte que alimenta a esperança

Esperança de viver longe da morte

Morte que nutre a desgraça

Desgraça que persegue o meu povo

Povo que nada merece

Merece tudo mais nada de novo

Novo que inova o que a vida não oferece

Oferece aos ricos órfãos

Órfãos que vivem na eterna solidão

Solidão que povoa os seus principais órgãos

Órgãos mortas na insaciável ambição

Ambição que homens adoram

Adoram para dominar outros seres

Seres que a eles se prostram

Prostram a estes malfeitores

Malfeitores fantasiados

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

23

Fantasiados com fatos e gravatas

Gravatas que os tornam respeitados

Respeitados por serem pessoas ingratas

Ingratas como os seus luxuosos sapatos

Sapatos que pisam a nossa dignidade

Dignidade perdida por sermos pretos

Pretos condenados na infelicidade

Infelicidade que pintam suas vidas belas

Belas pelos seus maus costumes

Costumes que apagam as nossas velas

Velas que choram pelo aroma de seus luxuosos perfumes

Perfumes do ódio e ignorância

Ignorância de resolverem nossos atritos

Atritos que levam nossos irmãos na arrogância

Arrogância que preenchem nossos pratos

Pratos dos escravos vivos

Vivos nesta mascarada democracia

Democracia de alguns servos

Servos que agradam esta triste pátria…

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24

A INCERTEZA DA ÚNICA CERTEZA

A incerteza de viver

Nessa melancólica vivencia

Conduz-me na certeza de morrer

Numa morte sem sobrevivência

O prazer da minha caminhada

Condenou-me numa infinita incerteza

Que cresce nesta viagem ensurdecida

De conhecer a famosa certeza

Talvez o reconhecimento

Desta marcha enigma

Honre o meu desejado desaparecimento

Nesta vida mascarada pelo sistema

O amanha talvez não exista

Para a nossa sobrevivência como maltrapilhos

Por isso a morte em mim excita

Quando sinto o fechar dos meus olhos

Mudo a minha alma de lugar

Para com ela encontrar a outra parte de mim

Que a tempo tento encontrar

Quando a incerteza tornou-lha ruim

Mas eu prometo

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25

Que amanha será muito melhor

Longe do jogo da incerteza que arde no peito

Bem próximo da certeza do amor

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

26

PÊSAMES

Hoje sinto

Sinto a tua ausência

Ausência que arde em meu peito

Peito que chora pela tua inexistência

Inexistência que não te renunciou

Renunciou a preciosa vida

Vida a gente mal iniciou

Iniciou caminhando juntos sem ida

Ida que nos conduz ao abismo

Abismo que separa as nossas almas

Almas exaltadas pelo espiritualismo

Espiritualismo que separou-nos nas calmas

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27

SOL DA VIDA

Quero despir-me

Dos pesados agasalhos

E elevar-me

Junto aos seus olhos

Hora quero um viver quente

Outrora um viver morno

Hora quero brilhar intensamente

Outrora transformar-me um inferno

Solzinho

Nasça comigo no ocidente

Mas sozinho

Deixa-me morrer no oriente

Em cada manhã marcharei

Junto a ti nos caminhos do dia

Em cada estação amarei

A tua magnífica magia

Como tu não quero ter abrigo

Eternamente serei um mero caminhante

Que marcha sem perigo

Do maldito frio arrepiante

Nas manhãs frias

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28

Me deitarei no teu colo tropical

Nas tardes cruas

Transmitiremos a luz universal

Se eu não puder

Contigo me aliar

Aceitarei pelo menos ter

A oportunidade de viver só para te olhar

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29

UMA SINGÊLA HOMENAGEM

No silêncio do meu ego

O ódio toma posse de mim

Arrancando o meu fôlego

Levando a minha vida ao fim

As recordações ferem-me a consciência

Os meus passos já não têm resistência

A minha alma decompôs-se

A vida já não prevalece…

Choro numa madrugada triste

Indignado porque cedo partiste

Queria ser o teu último suspiro de vida

Para entender que já estavas de partida

Não quero nem acreditar

Que hoje me estais a deixar

Apenas almejo gritar

Chorar… e lamentar

O rancor apoderou-se de mim

Não tinha que ser assim…

Pelo menos tinhas que me avisar

Que hoje não poderias estar

São fortes as sensações

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30

Das insuportáveis recordações

Por que?

Pra que!

As nossas almas se afastam

Os meus olhos lacrimejam

Com um coração repleto de dor

Deixando o meu triste mundo sem cor

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31

SOLIDÃO

Deixem-me só

Vou caminhar pelas ruas solitárias

Não interessa-me quem eu sou

A solidão me manterá vivo nas pequenas memórias

Pois a filantropia em mim jamais faltou

E viverá comigo até o fim das longas histórias

Vou escalar a montanha da minha angústia

Com a minha personalidade modéstia

Navego na costa litoral da minha tristeza

Contemplando o inconsciente da natureza

Nas curvas estreitas da gigantesca beleza

Que cobre a artimanha da minha fortaleza

Em mim simpatiza

A felicidade oculta

Que no ego enfatiza

Numa solidão perversa e curta

Vou desnorteado

De norte a este

Por todo lado

Como no sul a oeste

Conversando

Com as inconformadas almas alienadas

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32

Que vão desabitando

Nas silenciosas calçadas

Quero ficar sozinho

Marchar pela falta de socialização

Neste monstruoso caminho

Repleto de sorrisos da grande solidão

Não quero fixar-me num abrigo

Não quero alimentar-me de trigo

Não quero distanciar-me do perigo

Quero encontrar apenas o meu superego

Abraça-me! ó solidão...

Manipule o meu coração

Com ameaças de não-aproximação

Ainda que eu diga que não

Saiba como fazer de mim a sua habitação

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N´SALAMBI FRANCISCO O OUTRO LADO DA VIDA

33

DEIXA-ME CANTAR

Deixa-me cantar

Ainda que seja por um segundo

Com essa tremenda voz

Que ensurdece o mundo

Debaixo dos lençóis

Deixa-me cantar

Ainda que seja por um minuto

Para tentar resgatar

O fôlego ausente em meu peito

Que nega em mim voltar

Deixa-me cantar

Ainda que seja por uma hora

Na ausência das letras

Que noutrora

Foram-se com as mestras

Deixa.me cantar

Ainda que seja por um dia

De sol ou chuva

No ritmo da alegria

Que aos nossos olhos se curva

Deixa-me cantar

Ainda que seja por um mês

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34

Para povos moribundos

Sem pensar em uma outra vez

Nos olhares vagabundos

Deixa-me cantar

Ainda que seja por um ano

Com a velha guitarra

Comprada custo zero no oceano

Numa desconhecida feira da garra

Deixa-me cantar

Ainda que seja por um século

Neste inesquecível espaço

Deste inédito espectáculo

Que arranha-me o melaço

Deixa-me cantar

Ainda que seja por um milénio

Na presença do condenado a morte

Antes de um manicómio velório

Que desorienta a bendita sorte

Deixa-me cantar

Ainda que seja para nunca mais

Sentir o aroma de viver

Antes de olhar atrás

Direi que valeu apenas cantar sem saber

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ONDE QUERR QUE ESTEJAS

Seja feliz

Viva a vida que eu não pude dar-te

Tudo que fiz

Foi para demonstrar que tentei amar-te

Agora o abismo

Nos separa em dois lados divergentes

Esse pessimismo

Faz-nos sermos transparentes

Com os sonhos inibidores

Que asfixiam a minha existência

Rechiou-me de dores

Terminando com a minha paciência

Ontem fui humano apaixonado

Mas hoje transformei-me um anjo

Ontem pelo sofrimento fui escravizado

Mas hoje pela Paz alcancei o meu bendito desejo

Ainda longe cuidarei de você

Como nunca pude cuidar

Ainda pela imortal fé

Espero ansiosamente te encontrar

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ONDE NUNCA VAIS MORRER

Como queres que eu te enterre?

Se nas minhas ricas recordações

És firmemente imortal

Se nas minhas pobres sensações

És o sujeito fenomenal

Como queres que eu te enterre?

Se nas minhas tristes emoções

És crucial

Se nas minhas loucas ilusões

És radical

Como queres que eu te enterre?

Se nas minhas grandes acções

És a razão principal

Se nas minhas pequenas invenções

És a inspiração total

Como queres que eu te enterre?

Se nas minhas vastas funções

És a peça incondicional

Se nas minhas gigantescas ocupações

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És o tempo racional

Como queres que eu te enterre?

Se nas minhas melancólicas canções

És instrumental

Se nas minhas enigmas inquietações

És a resposta fundamental

Diz-me

Como queres que eu te enterre?

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HORA DAS CONDOLÊNCIAS

Longe do sofrimento a alma libertar-se

Nas batidas de um coração alienado

Quando persiste o desejo de abdicar-se

Da vida que se cala por medo

Nesta hora!

A dor transparece mediante um triste olhar

De tudo aquilo que o coração lamenta

Quando as palavras negam explicar

O que a outra vida liberta

Nesta hora!

Um simples olhar revela saudade

Que esconde-se por de trás das lágrimas

Da incondicional vontade

De tranquilizar as traumas

Nesta hora!

Paulatinamente o coração pára de pulsar

Enquanto o espírito rejeita a alma

Porque a vida está na beira de esgotar

A existência humana

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LEMBRA-TE DE MIM

Ainda que passe mil anos

Após a minha existência

Ainda que os seus planos

Não encontrem razões para persistência

Quando te lembrares de mim

A minha pobre vida nunca conhecerá o seu fim

Ainda que os pássaros não cantarem

Em cada amanhecer

Ainda se as formigas não se unirem

Antes de anoitecer

Faça-me o favor de lembrar

Que junto a ti sempre vou estar

Ainda que os peixes consigam voar

O mais alto do que imaginado

Ainda que a natureza encegar

O que sempre foi observado

Neste lado da vida estarei aplaudindo

Pelos momentos que tens vivido

Ainda que a gente não se encontre

No intervalo desta vida

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Ainda que para sempre

Tenhas que lembrar da minha enigma partida

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JUIZO FINAL

Em que adiantou

Ganhar o mundo

Quando a tua intolerância te enterrou

Numa infracção de segundo

Tiveste muitos namorados

Tiveste muito dinheiro

Tiveste bons momentos vividos

Agora estais preza neste inevitável cativeiro

Negaste a vida numa pobre criança

Por causa dos seus vícios

Não soubeste cultivar a esperança

Agora caíste nos malditos edifícios

Ignoraste seus próprios parentes

Por serem muito nobres

Impediste-lhes de estarem presentes

Na sua vida por serem pobres

Sorriste a morte de muitos

Pensando que cá não estarias

A tua riqueza não livrou-te destes momentos

E hoje estais onde não querias

Sem sorrisos irónicos

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Estais longe da vida e incapaz

De viver momentos estáticos

Tão pouco poderás descansar em Paz

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PRIMEIRA PARTE DO JOGO DA VIDA

O árbitro apitou

Pelo seu descanso de vida

O seu primeiro tempo terminou

Nesta fase da partida

Jogaste dignamente

Na tua primeira oportunidade

Brilhaste firmemente

Enquanto parte da humanidade

Lutaste até ao fim

Do tempo em que lhe foi concebido

Soubeste voar como um querubim

Neste jogo de viver desmerecido

Deixaste uma bela lição

Aos que apreciam o jogo de viver

Enquanto parte desta criação

Um verdadeiro jogador sempre vais ser

A primeira parte foi muito difícil

Mas tiveste uma óptima prestação

Agora nesta terra fértil

Aguardas a sua premiação

Da mesma forma que nesta fase jogaste

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Espero que entres

Na esperada segunda parte

Deste jogo da vida, e torço para que ganhes

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PARAGEM OBRIGATÓRIA

Nesta longa viagem

Todos passageiros da vida

Fazem uma obrigatória paragem

Como reconhecimento da marcha sofrida

Nesta paragem!

O ônibus da eternidade

Descarrega toda bagagem

Que carregou na vida da humanidade

Quando o coração solta-se de vertigem

Nesta paragem!

Sou motorista

Do veículo da minha própria felicidade

Sou artista

Da minha própria obra de tranquilidade

Nesta paragem!

Com este longo percurso

Não sei quando vou chegar ao destino

Ao deixar este universo

Entregarei aos homens a Paz em primeiro plano

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Nesta paragem!

Levo apenas o necessário

Como a minha alma e os meus sonhos

Não deixarei que este cemitério

Ofusque os nossos risonhos

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PARA ONDE VOU MEU DEUS?

Vivi a vida que eu não quis

Sem livre arbítrio

Condenaram-me para ser infeliz

Neste imprescindível mistério

Nasci chorando

Por conhecer um mundo estranho

Vivi lamentando

Tentando conquistar o que não tenho

A minha pobre vida será silenciada

Num pequeno hotel solitário

Quando a sentença da morte for apresentada

Dentro de um cemitério

Onde irei?

Se eu não sei caminhar

O que farei?

No lugar onde me vão condenar

Ser infeliz foi a minha única opção

Por onde saio sem destino

Criar um mundo dentro do meu próprio caixão

Será a minha obrigação com o Divino

Se não podes nem me dizer

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Por onde eu vou

Então deixa-me escolher

Em que período embarco neste Vôo

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NUNCA É UM ADEUS

Para duas almas imperfeitas

Que encaixam-se perfeitamente

Para duas vidas restritas

Que libertam-se incondicionalmente

Nunca é um adeus…

Para um filho e Pai

Separados por um passamento físico

Para uma filha e mãe

Destinadas a um isolamento desértico

Nunca é um adeus…

Para dois corações

Perdidamente apaixonados

Para duas vidas sem ilusões

Que construíram futuros inesperados

Nunca é um adeus…

Para duas mãos separadas

Por duas vidas completamente distintas

Para um abraço de duas pessoas

Engolidas por separações infinitas

Nunca é um adeus…

Para dois companheiros solitários

Que marcharam pelo caminho da dignidade

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Para dois heróis verdadeiros

Que lutam em prol da própria humanidade

Nunca é um adeus…

Para os que despedem-se

Rumo a outras vidas

Para os que despem-se

Das tristes circunstâncias vividas

Nunca é um adeus…

Para os que choram

Desesperadamente por aqueles que somem

Para os que gritam

Perdidamente para os que não respondem

Nunca é um adeus…

Para os que negam insistir

Porque perderam a persistência

Para os que pensam em desistir

Pela cede da inexistência

Nunca é um adeus…

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MEUS ÚLTIMOS PASSOS

Pequenos passos

Com grandes tropeços

Ó andar…

Deixa-me caminhar

Nos corta matas

Das vias mais curtas

Apenas quero chegar

Chegar e me hospedar

Nos casotes

Bem próximo dos montes

Sem

Tudo que a vida tem

Longe

De ontem e hoje

Próximo do amanha

Com a eternidade como talismã

A minha insaciável cede

Domina o deserto da mina saúde

A urgência da minha fome

Renuncia alimentos que a minha vida come

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CHUVA DE BENGUELA

Pelas vítimas

De Benguela

Que as suas almas

Se transformaram em estrelas

Pela grande devastação

Das cinzas

De inundações

Das humildes casas

Ó chuva Benguelense

Para que chorar!

Quando a ti pertence

A rejeição e o ódio para não salvar

Entre aqueles

Que por ti se foram

Nos cárceres

Por onde jamais voltarão

Vidas das pobres crianças

Nas correntezas

Destas malditas chuvas

Foram arrastadas

Em homenagem as vítimas da chuva devastadora de Benguela…

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SOLDADO TOMBADO

Tombado!

Mas, ignorado…

Num melancólico passado

Passado mal contado

Mal contado aos seus filhos

Que pelo campo cultivam milhos

Um herói esquecido

Com um nome proibido

De ser pronunciado

Mas por nós é querido

Por ser um passado duro

E um melhor futuro…

Um bom ex-marido

Um pai respeitado

Um filho amado

Hoje mais um soldado tombado

Tombado nos nossos corações

Eternamente viverá nas recordações

Daqueles

Que por eles

Renunciou a vida…

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NÃO POSSO CRER

Não creio neste momento

Não existe

Não quero viver

Não quero morrer

Quero ver-te

Salvar-te

De elevadas pontes

Não deixar-te despedaçar

Sobre a terra que te quero arrancar

Reduzir a pó o teu ser

Fazer-te reaparecer

Através do vestígio deixado

Na passagem pelo mundo

Este teu suposto fim

Apoderou-se de mim

Agora será que podes me aparecer?

Para elevarmo-nos até não poder

Mais do que um simples ser forte

Quero que esta sua morte

Seja uma autêntica novidade

Na história da humanidade

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MEU AMOR MALOGRADO

Numa madrugada fria

Olhando para o outro lado da janela

Vi uma linda jovem que corria

Mas Ela

Era tão linda que parecia

Eu estar sonhando n´Ela

Ela é esbelta de raça negra

E tinha uma pele de acácia

Magra

E uma invejável aparência

Ela passava diariamente

Enquanto eu me encantava

Olhando intensamente

No seu gingar enquanto Ela caminhava

Quis conhecer esta bela Mulher

Mas de tanta ansiedade

Não tinha coragem enquanto o tempo estava a correr

Sem dar-me a oportunidade

De me aproximar e dar-lha a conhecer

Do Amor que embriagou a minha personalidade

Cansado de tanto esperar

Decidi segui-la e pude descobri a sua morada

Mas preferi regressar

Para surpreender esta menina amada

Três dias se passaram

Ela não voltou a passar como de costume

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56

Com isso os meus sentimentos intensificaram

E os meus olhos sentiam fome

Pois n´Ela já não contemplavam

Enquanto a minha alma ferve e treme

Indo na morada em que a vi entrando

Fui acolhido por um senhor

Firmemente olhando

Para mim com um olhar cheio de pudor

Vi uma senhora parecida a Ela entrando

Na sala lacrimejando repleta de dor

As rosas

Em minhas mãos murcharam

Sem forças

Quase caí porque os meus pés enfraqueceram

Silenciosamente percebi que Ela sumiu

Sem saber o que n´Ela quis contar

O ódio me consumiu

Deitei as rosas que comprei para a ofertar

Porque a terra a quer engolir

Antes de dizer-lha que sempre vou a amar

Apenas resta-me desejar-lha Luz

E Paz

Espere por mim na próxima incarnação

Pois dar-te-ei todo o meu coração

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CARTA PARA A MORTE

Morte

Espero que estejas bem de saúde

Mas

Sem grande sorte

A sua saborosa maldade

Um dia deixará os homens em Paz

Não tenho rancor

Do sangue inocente que derramaste

Espero que saibas que estas condenado

E vais pagar pela dor

Que aos homens causaste

Mediante o sofrimento que por ti foi alimentado

Brevemente

Os homens não mais te temerão

E não terão piedade de destruir-te

Francamente

Te enfrentarão

Até conheceres a sua própria morte

A sua alma está enlutada

Antecipadamente

E carcerada

Pela vida desgraçada

Que espera-te

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Assim que abraçares a finalidade merecida

Estaremos unidos olhando firmemente a terra

Para desejar-te o descanso em Guerra…

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59

DEMOSTRAÇÃO DE AGRADECIMENTOS A ti, ó Jeová. Vão os meus eternos sentimentos de gratidão, por tudo aquilo que

hoje eu sou; o Senhor tem sustentado a minha vida, implementando sabedoria em todos

os meus afazeres…

As minhas mães: Luzailadio Cecília, Lídia Marcelina e a Maria Floriana; Por

serem as minhas fontes de inspiração. Quando eu tiver uma filha quero que sinta por mim

o mesmo carinho e admiração que tenho por vocês.

Aos meus companheiros. Luzoladio João, Delton Paulo, Ricardo Kialanda,

Bidger de Almeida, Emerson Correía, Josemauro Teixeira, José Rui, Mota Sumbo e o

Edmilson Silva. Pela influência que cada um de vocês tem na minha vida pessoal e

artística.

Aos movimentos filantrópicos: Lev´Arte e (UBS) Unidos a Busca do Saber,

pelo desenvolvimento que têm impulsionado na minha carreira artística e não só.

Aos meus irmãos espirituais da comunidade IPEFA e da igreja ``Fonte da

Palavra`´. Pela confiança que têm depositado em mim, face as actividades internas da

congregação.

Aos admiradores dos meus textos, tanto quanto aos meus admiradores; serei

eternamente grato pelos elogios, carinhos, críticas e auxílios que me têm oferecido.

Jamais esqueceria de agradecer os meus mestres; Sr. Silva Dala e ao Sr. Pedro

N´kosy, por serem eles as pessoas que ajudaram-me a construir uma carreira artística

saudável.

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BIBLIOGRAFIA

Nsalambi Francisco, natural do Mbaza Congo província do Zaire, é finalista do ensino

médio pela opção de Ciências sociais.

Frequentou o curso de noções básicas de literatura pela luz editora. E pertence ao

movimento filantrópico Lev´Arte Angola.

Desenvolve actividades literárias desde o ensino de base. Compõe, além de textos de

investigação social ligados à crónica, outros géneros literários, como poesia, prosa, fabula

e contos.

Actualmente exerce algumas actividades ligadas a palestras, debates académicos,

workshops, Como também declamações poéticas.

ENTRE EM CONTACTO COM AUTOR AO ACESSAR: [email protected]

e/ou +244936799832, ou ainda pelo Facebook/N´salambi Francisco.