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GRADUAÇÃO 2017.2 O OLHAR JURÍDICO AUTOR: GABRIEL LACERDA

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GRADUAÇÃO 2017.2

O OLHAR JURÍDICOAUTOR: GABRIEL LACERDA

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SumárioO Olhar Jurídico

INFORMAÇÕES BUROCRÁTICAS ............................................................................................................................... 3

ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 8

ANEXOS .......................................................................................................................................................... 11

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INFORMAÇÕES BUROCRÁTICAS

1) A ATC será ministradas às 6as. feiras, das 11 às 12.30.2) Em cada aula serão debatidas três ou quatro apresentações, nas li-

nhas indicadas mais abaixo.3) As apresentações serão individuais ou em grupo, conforme o núme-

ro de alunos matriculados.4) Não será necessária leitura prévia. O foco será nas apresentações.5) A avaliação será composta de 4 notas, a da apresentação de duas

provas e da participação em aula.6) As provas consistirão na análise de matérias selecionadas pelo pro-

fessor.7) Serão concedidos 30 créditos.8) Não obterão os créditos os alunos que faltarem a mais de 2 aulas.

EXPLICAÇÃO

No inicio de Junho de 2017, em um jogo de futebol pelo campeonato brasileiro entre o Flamengo do Rio e o Avaí de S. Catarina, já perto do final, quando o escore era 1 x 1, o juiz marcou um pênalti contra o Flamengo e aplicou um cartão amarelo ao jogador – Éverton – que, no seu entender, der-rubara faltosamente o jogador do Avaí – Juan – dentro da área.

Os jogadores do Flamengo, em bloco, reclamaram, dizendo que não tinha havido a falta. Éverton sequer tocara em Juan, que tinha caído porque trope-çara. O juiz ouviu pacientemente as reclamações, consultou o bandeirinha e finamente anulou a própria decisão. Em vez de pênalti contra o Flamengo, deu tiro de meta a seu favor; e mais: anulou o cartão dado a Éverton e deu um cartão para Juan, por simulação.

Esta sequência de fatos, exibida na televisão, não foi acompanhada, por quem não se interessa por futebol. Para os torcedores do Flamengo foi um instante de expectativa, seguido por um suspiro de alívio. Para a maior parte do público presente ao estádio e para todos a favor do Avaí foi também um instante de expectativa, mas, ao contrário, seguido de manifestações de in-dignação e revolta.

A cena, incapaz de despertar qualquer emoção aos muitos que não se inte-ressam por futebol, poderia ser vista por um cultor do direito de forma ana-lítica, suscitando diversas questões: do ponto de vista de fato, ocorreu ou não a falta? Em primeiro lugar, seria preciso rever a imagem, sob vários ângulos para determinar se Juan caiu porque tropeçou, porque se atirou ou porque foi derrubado. Estabelecidos os fatos viriam as indagações: pode legalmente

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o juiz anular uma decisão já tomada e reverter validamente a marcação do pênalti e o cartão amarelo? Essa atitude foi correta perante as leis esportivas ou violou regulamentos? O juiz está sujeito a ser punido?

Indo mais além, caberia perguntar ainda não apenas qual era efetivamen-te, mas qual deveria ser a lei. Não seria mais certo que os eventuais erros de árbitros na avaliação de jogadas fossem considerados como ocorrência natu-ral que não prejudica, mas aumenta a emoção dos amantes do futebol? Ou caberia estabelecer, também no futebol, a possibilidade de questionar uma decisão e pedir uma revisão à luz das imagens registradas pela televisão, como já se faz no tênis e no vôlei?

Um árbitro de futebol é, afinal, também um juiz. Como qualquer juiz, sua missão fundamentalmente consiste em aplicar adequadamente a lei ao caso concreto submetido à sua decisão. Indagações paralelas àquelas imaginadas para o episódio futebolístico podem ser formuladas para pronunciamentos judiciais. Quais foram exatamente os fatos que geraram o debate? A decisão é ou não recorrível? Deve ou não ser recorrível? Quando uma sentença transita em julgado? Em que circunstâncias um despacho processual gera preclusão?

O exemplo ilustra a ideia central desta ATC: o cultor do direito percebe a realidade à sua volta de uma forma própria. Sua preocupação diante de qual-quer sequência de fatos é procurar analisa-la sob a ótica de textos normativos. A ação narrada em um determinado conflito foi ou não legal? Por que? Com base em que normas? Quais exatamente os fatos? Independentemente do preceituado, qual seria afinal a posição correta, de um ponto de vista moral, político, econômico ou social, não estritamente legal?

Essa atitude em um agente jurídico torna-se, com o tempo, intuitiva. O profissional do direito distancia-se naturalmente do preto e branco, do cer-to e do errado, do bem e do mal, do modelo mental maniqueísta de muita gente. Diante de um conflito manifestado, o jurista procura porquês, vê dois lados, analisa diversos ângulos, pondera pros e contras. E, muitas vezes (tal-vez até quase sempre), vê razões sem se posicionar claramente sobre qual de duas ou mais partes no conflito tem razão. Mas, em se tratando de juízes, é obrigatório decidir o conflito. Com que critérios? Como ponderar, de olhos vendados, os argumentos contraditórios, desenvolvidos pelas partes em con-flito?

A ATC visa precisamente desenvolver e excitar essa tendência que pode ser considera típica do profissional do direito: a mente que questiona, o pen-samento que floresce sempre em uma área cinzenta, nem preta nem branca.

Com esse propósito a atividade será desenvolvida através de apresentações. Em cada aula, um ou mais alunos (ou grupos de alunos, conforme o número de matriculados) trarão para o debate em classe um texto de jornal, revista ou informativo, seja impresso, seja publicado na internet.

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O debate será iniciado com uma apresentação. O texto selecionado será copiado e distribuído ao professor e a toda a turma ou exibido na tela. Quem estiver se apresentando deverá:

a) Recontar com as próprias palavras os fatos relativos ao material se-lecionado. Esse relato há de ser cuidadoso e preciso, não adicionan-do fatos ou circunstâncias, não tomando suspeitas como verdades, suposições como realidades. Será recapitulado apenas o que efetiva-mente ocorreu e em que circunstâncias ocorreu, referindo os dados conhecidos e não contestados.

b) Indicar as indagações que a notícia suscita no campo jurídico. Se, possível, resolver essas indagações pesquisando e citando as leis apli-cáveis ao tema e sugerindo respostas.

c) Discutir se as respostas sugeridas resultam em uma situação moral, política, econômica ou politicamente desejável.

Comecei a preparar este texto no sábado, 17 de junho de 2017. Nesta data o jornal O Globo publicava, entre outras, matérias, com os seguintes títulos:

Pg. 3) Joesley confirma teor de delação.Pg. 4) Supremo julga se colaborações da JBS poderão ser revistas.Pg.5) Procurador adia entrega de denúncia contra Temer.Pg.6) Justiça da Espanha autoriza extradição de operador da Odebrecht.Pg.7) Aécio quer pedido de prisão julgado no plenário.Pg. 8) MPF emite parecer contrário a habeas corpus de Cunha e Alves.Pg. 23) Trump admite estar sob investigação e ataca vice-procurador.

E por aí vai. Todos esses títulos cobrem temas essencialmente jurídicos.O olhar jurídico pode ver também temas jurídicos em outras notícias,

aparentemente não relacionadas ao direito, como por exemplo:

Pg. 10) Um contrato fora dos trilhos – Matéria sobre a troca dos tren-zinhos da estrada de ferro do Corcovado que estariam em mau estado, contrariando obrigações contratuais da concessionária.

Pg; 11) Após fim dos jogos, Vila dos Atletas não decolou (a construção da Vila resultou de uma concorrência pública, um instrumento jurídico).

Pg. 12) Trens perdem integração com bilhete único (o transporte pú-blico é uma concessão regulada pelo estado);

Pg. 13) Bando explode caixas de bancos (a onde de crimes é preocu-pação constante do direito).

Pg. 14) Crivella cria comissão ligada a seu gabinete para decidir sobre eventos (pode a prefeitura legalmente cortar subsídios a escolas de samba?).

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Pg. 19) Alívio para imóveis na orla (será revista a legislação que im-põe pagamentos aos chamados “terrenos de marinha”).

Pg. 20) Eldorado Celulose mais perto de ser vendida pela J&F da família Batista (a aquisição de empresas envolve sempre um contrato e frequentemente deve receber alguma aprovação estatal em defesa a concorrência).

Pg. 21) Europa deve multar Google em € 1 bilhão (os muitos proble-mas suscitados pela regulação das atividades da Internet).

Nas matérias claramente jurídicas a estrutura desejada da apresentação é fácil de captar. Tome-se, por exemplo, a notícia da página 7 – Aécio quer pedido de prisão julgado pelo plenário. A exposição idealmente começaria reca-pitulando quem é Aécio (ex-candidato a presidente, senador) e dizendo que aconteceu com ele (teve seu mandato suspenso por decisão liminar de um ministro do STF em face de provas apresentadas em delação premiada), quais exatamente os fatos de que ele foi acusado e o fundamento legal da acusação, e o que ele pede (sua prisão foi pedida pela procuradoria, e está em curso um processo em que ele pede que lhe seja permitido voltar a exercer seu mandato e a procuradoria pede sua prisão). A notícia privilegia a circunstância de que o senador suspenso requereu que essas questões em aberto sejam decididas pelo plenário do STF não pela turma onde corre o processo. No caso estão envolvidas normas constitucionais (o foro privilegiado do senador, a relação entre judiciário e legislativo), penais (os crimes de que Aécio é acusado), pro-cessuais (cabimento da prisão preventiva) e até regimentais (competência da turma ou do pleno). Sem falar no intenso debate político que o tema jurídico pode provocar.

Mas o desenvolvimento do olhar jurídico pode utilizar também matérias que, à primeira vista, nada têm a ver com o direito. Assim, por exemplo noticia a mesma edição do jornal, na pg. 8: Parada gay em SP deve atrair 3 milhões. A matéria está centrada em torno dos preparativos para o desfile a ser realizado no dia seguinte na capital paulista, de que constará, quantas pessoas atrairá, etc. Mas o simples fato de haver uma parada gay traz à mente toda temática da transformação do direito, de como um comportamento, ante-riormente considerado em algumas legislações como criminalmente punível passou a ser saudado nas ruas. A análise poderia abranger então a questão do casamento gay, a reivindicação da criminalização da homofobia, e vários outros temas correlatos.

Outra noticia na edição do mesmo jornal, já no dia seguinte (18 de junho) poderia produzir um rico debate nas mesmas linhas. É uma matéria sobre as três primeiras mulheres que promovidas, no exército, ao posto de coronel. Também aqui se detecta uma evolução legal em curso, com história, textos e temas de reflexão.

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Por último, a revista Veja que circulou nesse mesmo fim de semana, na seção Página Aberta veicula artigo assinado por Maicon Tenfen, escritor e professor de literatura brasileira, sob o título intrigante Eredegalda na Fo-gueira. O texto suscita discussão fecundíssima sobre um ato do Ministério da Educação que determinou fossem recolhidos das escolas públicas 93.000 exemplares de um livro infantil denominado Enquanto o sono não vem. O motivo da apreensão foi que em um dos contos de se compõe a obra, a prin-cesa Eredegalda recebe do próprio pai, um convite de casamento: Se quiseres casar comigo, serás minha esposa e tua mãe nossa criada. Eredegalda recusou – prefiro ficar fechada do que ver minha mãe criada. E seu pai a trancou em uma torre onde acabou morrendo de sede. O ato do MEC seria um cercea-mento à liberdade expressão? Ou, ao contrário, uma resposta adequada a válidos protestos de pais que não querem que seus filhos sejam apresentados a condutas tão reprováveis como a do pai de Eredegalda? De que forma o direito à liberdade está previsto no texto constitucional? O fato do governo adquirir quantidade tão numerosa de livros não seria, isto sim, uma restrição à liberdade de escolha de professores e alunos, interferindo diretamente sobre o que leem as crianças e consequentemente na própria produção de literatura infanto-juvenil?

É curioso observar que o simples ato de selecionar as matérias publicadas pelo Globo em um determinado dia para inclusão em um texto já concebido e, nesse dia, em elaboração, já fez com que, no dia seguinte, o olhar do autor estivesse atento para localizar em rápidos instantes a matéria sobre as mu-lheres no exército e o artigo sobre a Princesa Eredegalda, ambos certamente contendo temática riquíssima para provocar reflexões jurídicas.

É justamente isso o que se pretende com a ATC: sob a orientação do pro-fessor e em debate com a turma, exercitar a capacidade de ver a realidade sob o olhar jurídico. Preparando, fazendo ou mesmo apenas assistindo às apre-sentações, poderão os aluno treinar a sensibilidade e o raciocínio, estimular a capacidade de análise, prevenir-se contra as armadilhas que a emoção e o preconceito apresentam ao raciocínio.

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ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO

Este roteiro não é um modelo taxativo. É apenas o registro de ideias para a elaboração das apresentações. Não precisa ser seguido à risca. Ao contrário, variações imaginativas serão bem recebidas. Mas espera-se que seja útil ler com atenção o texto abaixo.

FATOS:

Toda matéria divulgada na mídia, falada ou escrita, está baseada em fatos, de que matéria dá notícia e/ou que comenta. Os fatos não flutuam isolados no espaço e no tempo. Tudo que acontece, acontece depois de algo que já aconteceu. Quem produz uma matéria pressupõe sempre que o destinatário dessa matéria já conheça os mais relevants antecedentes factuais daquilo que vai comentar ou noticiar.

Em uma exposição metódica sobre qualquer tema cabe assim começar pelos fatos. Recomenda-se até, a bem da clareza, voltar um pouco atrás no tempo, recapitulando inicialmente o que já ocorreu.

Na notícia sobre Aécio Neves, por exemplo, poder-se-ia rememorar na exposição que refere-se a um senador, ex-candidato a Presidente da República e presidente de um partido, que está sendo processado perante o STF por conta de uma delação premiada, que revelou gravações de áudio e vídeo que seriam indícios da prática de corrupção. No caso, a Procuradoria formulou denúncia contra o Senador que pede que seja aceita pelo tribunal. A Procura-doria pede também a prisão preventiva de Aécio. Já o senador está solicitando que seja arquivado o requerimento da Procuradoria e também que seja revo-gada a liminar já concedida, suspendendo-o temporariamente do exercício de seu mandato.

A PRÓPRIA NOTÍCIA – Recapitulados os fatos passados, cabe registrar brevemente a própria matéria; ainda na notícia sobre Aécio Neves, seria o requerimento para que o caso com seus diversos requerimentos fosse julgado, não pela turma a que está distribuído, mas pelo plenário do STF. Este o nú-cleo da notícia, o ponto central ao qual a apresentação, em princípio, deverá limitar-se.

O ENQUADRAMENTO LEGAL

Algumas das matérias referidas na apostila e certamente passíveis de se-rem escolhidas para as apresentações da turma, referem-se a temas essencial e exclusivamente jurídicos. Nesses casos cabe indicar que textos normativos

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aplicam-se ao assunto. Permanecendo no exemplo da notícia sobre Aécio Neves, os textos seriam a própria Constituição Federal (que dá a senadores foro privilegiado no STF) e o regimento interno do STF que regulamente o processamento de feitos naquela corte.

Localizados os textos, é recomendável que o(a) aluno(a) que for se apre-sentar transcrevê-lo e citá-lo em sua apresentação.

O JUÍZO DE VALOR

Indispensável finalmente manifestar um juízo de valor a ser debatido em sala. Sempre no caso do Aécio, esse juízo seria se o requerimento de ser julga-do pelo pleno deve ou não ser deferido.

Este o foco da notícia. Recomenda-se resistir à tendência, talvez natural, de alargar esse foco, levando a discussão, no caso do exemplo, a se deve ou não ser recebida a denúncia formulada pela procuradoria contra Aécio.

MATÉRIAS NÃO DIRETAMENTE JURÍDICAS

Descobrir as notícias que não tratam de temas essencialmente jurídicos é certamente tornar mais agudo o olhar jurídico – a forma peculiar de captar a realidade que identifica o agente do direito e que dá título à disciplina.

Por isso, as matérias desse tipo serão recebidas favoravelmente recomen-dando-se aos alunos que as procurem.

Dentre as citadas na apostila, a mais típica, dentre aquelas não essencial-mente ligadas ao direito, seria a noticia sobre a parada gay marcada para São Paulo. Não há no texto qualquer referência a normas jurídicas. Mas o simples fato de que se organize um evento público, de que participarão centenas de milhares, talvez até mais de um milhão de pessoas, recorda um tema que suscitou, durante mais de cem anos, agudas discussões no âmbito jurídico.

Uma apresentação sobre essa matéria envolveria historiar algumas dessas discussões dentro do contexto de uma análise de como o direito evolui. O foco aqui poderia ser, por exemplo, na mais recente dessas discussões, a pos-sibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Essa questão hoje, no Brasil, já está resolvida mas ainda é tema aberto em vários outros países. Incidentalmente seria curioso mostrar porque foi importante aceitar especi-ficamente que duas pessoas do mesmo sexo podiam formalmente casar-se, mesmo depois que a jurisprudência já tinha reconhecido efeitos jurídicos a uniões estáveis desse tipo. Este simples ponto serve para abrir caminho a reflexões sobre as dificuldades do direito, a importância que têm formas, de-finições e e rituais para a caracterização de efeitos práticos,

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Seria cabível também sobre essa mesma notícia mostrar ângulos em que o tema continua aberto a discussões. Exemplo disso seria a reivindicação do movimento LGBT de criar um tipo penal específico para a homofobia.

Um rico debate sobre temas jurídicos também poderia ser iniciado partir da outra matéria usada como exemplo na apostila – o recorte da revista Veja contendo um artigo, criticando o Ministério da Cultura por ter retirado das escolas um determinado livro, destinado a crianças, por conter uma história em que um pai propõe casamento à própria filha.

Além da óbvia discussão sobre o alcance da liberdade de expressão garan-tida na Constituição, caberia também fazer digressões sobre a amplitude que deve ter a intervenção do estado em atividades culturais. Comprando grande quantidade de determinadas publicações, não estaria o governo provocando uma interferência indevida no mercado de livros infanto-juvenis e indire-tamente limitando a liberdade de criação e dirigindo a produção de obras literárias?

PONTOS PARA DEBATE

Uma dos traços mais marcantes dos profissionais do direito é geralmente o acentuado amor ao debate, a tal ponto que é comum dizer que quem tem a vocação de discutir e argumentar tem vocação para ser advogado.

Saber identificar e formular pontos para debate e enfrentar a discussão é, por isso, essencial a quem pretende uma carreira na área jurídica.

Será assim considerado extremamente relevante na avaliação das apresen-tações que elas terminem por exercício desse tipo, repita-se, identificando e formulando pontos para debate.

Tanto na seleção como na análise das matérias a serem abordadas na expo-sição deve-se procurar com atenção mais perguntas que respostas, procurar mais dúvidas que conclusões.

Importante, finalmente, ao levantar ao debate já ter, pelo menos em prin-cípio, uma opinião formada sobre a solução que parece mais correta, sem prejuízo da abertura para reformular ou reformular essa opinião.

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ANEXOS

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GABRIEL LACERDAAdvogado, formado pela PUC – RJ e mestrado pela Universidade de harvard (EUA). É sócio aposentado do Escritório Trench Rossi Watanabe, trabalhou em outros escritórios. Trabalhou também como advogado interno em algumas empresas, inclusive Caemi, Brascan, Petrobrás. Foi professor da PUC-RJ, e responsável por cursos na Coppe/UFRJ e na FGV onde participou da equipe do CEP. Atualmente conduz a atividade Complementar ‘Olhar jurídico’ na Graduação da Fundação Getúlio Var-gas. Escreveu os livros Direito no Cinema, Nazismo Cinema e Direito, Em Segredo de Justiça, Eu Tenho Direito, O Estado é Você, Agir bem é bom, entre outros.

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FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Joaquim FalcãoDIRETOR

Sérgio GuerraVICE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Rodrigo ViannaVICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURíDICA

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO

Marília AraújoCOORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAÇÃO