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GRADUAÇÃO 2016.1 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO AUTORES: LUIZ GUILHERME MORAES REGO MIGLIORA E FLAVIA MARTINS DE AZEVEDO

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GRADUAÇÃO 2016.1

DIREITO INTERNACIONAL

PRIVADOAUTORES: LUIZ GUILHERME MORAES REGO MIGLIORA E FLAVIA MARTINS DE AZEVEDO

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SumárioDireito Global II

I. IntRODUÇÃO e ObjetIvOS DO CURSO ................................................................................................................... 03 Dificuldades e desafios ................................................................................................................. 03 Metodologia................................................................................................................................. 04

II. PlAnOS De AUlAS .......................................................................................................................................... 06 Bloco 1. IntroDução ao DIreIto InternacIonal PrIvaDo ........................ 06 aula 1: Qual a função do Direito Internacional Privado?.............................................................. 06 anexo 1 – aula 1 ......................................................................................................................... 09 anexo 2 – aula 1 ......................................................................................................................... 13 aula 2. tratados Internacionais e conflitos com a constituição Federal e leis internas ................. 19 aula 3. lei Global? ...................................................................................................................... 22 anexo – aula 3 ............................................................................................................................ 24

Bloco II – conFlIto De leIs - Qual a leI aPlIcável?.......................................... 30 aula 4 – regras de conexão ......................................................................................................... 30 aula 5 - Método conflitual .......................................................................................................... 31 anexo – aula 5 ............................................................................................................................ 32 aulas 6 e 7 – limites à aplicação da regra de direito estrangeiro ................................................... 35 anexo – aulas 6 e 7 ..................................................................................................................... 38 aula 8 – autonomia das partes na escolha da lei aplicável aos contratos ....................................... 40

Bloco III– conFlIto De JurIsDIção - onDe acIonar? ...................................... 41 aula 9 – caso Yahoo! ................................................................................................................... 41 aula 10 - competência Internacional ........................................................................................... 43 aula 11 – cláusula de eleição de Foro ......................................................................................... 45 anexo – aula 11 .......................................................................................................................... 47 right and wrong choices in the market for justice ....................................................................... 51 aula 12 - arbitragem ................................................................................................................... 52 aula 13 — Imunidade de jurisdição ............................................................................................. 54 anexo I – Questões do exame da oab/rj ...................................................................................... 57 anexo II – legislação compilada .................................................................................................. 66

SumárioDireito Internacional Privado

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DIREITO GlObal II

I. IntroDução e objetIvos Do Curso

cada estado tem o poder de criar as suas próprias leis que são aplicáveis dentro do seu território. Quando todos os elementos de uma relação jurídica privada estiverem ligados a apenas um desses estados, é inquestioná-vel que ela será regida pelas respectivas leis e que qualquer litígio será submetido ao juiz competente de acordo com as normas processuais internas.

Pode ocorrer que determinadas relações jurídicas estejam vinculadas a mais de um sistema de direito, seja por envolverem partes naturais ou domiciliadas em diferentes estados, seja porque as obrigações são cumpridas em lugares diferentes dos da celebração dos negócios, ou do domicílio das partes.

este é o caso, por exemplo, (a) do download de uma música de um site localizado na Índia para um compu-tador na austrália; (b) da realização de apostas em jogos de azar por brasileiro em site localizado em las vegas, eua; (c) a compra de gás natural na Bolívia para entrega no Brasil; (d) a venda de soja e sua exportação por produtor brasileiro para compradores chineses; (e) os investimentos realizados por brasileiros no exterior e a possibilidade de bloqueio e repatriação deles pelas autoridades brasileiras; e (f ) o casamento entre um brasileiro e uma alemã realizado na França.

os avanços no desenvolvimento dos sistemas de transporte mundiais, o aumento da circulação de infor-mações, a redução dos preconceitos entre os povos e a globalização têm contribuído, consideravelmente, para aumentar a quantidade das relações conectadas a mais de um sistema jurídico.

neste ponto, começam a surgir os problemas. a legislação exprime as necessidades especiais de cada povo. ela reflete as características sociais, culturais e econômicas de cada grupo numa determinada fase da sua história. logo, o que é permitido numa determinada soberania pode ser proibido em outra. o fato que constitui crime numa certa sociedade pode ser lícito em outra.

essa diversidade de normas levou aristóteles a afirmar que “o direito não é como o fogo, que arde do mes-mo modo na Pérsia e na Grécia.”

DificulDaDes e Desafios

Quando uma determinada relação de ordem privada se liga a mais de um sistema jurídico, ou a mais de um estado, surge a função da matéria que se irá estudar. É o Direito Internacional Privado que define qual a regra de direito que incide na solução dos litígios emergentes dessas relações e quais os tribunais competentes para decidi-los.

o Direito Internacional Privado não estabelece a norma de direito material aplicável ao caso concreto (se a tem direito de cobrar de B indenização pelos prejuízos decorrentes do acidente de carro). limita-se a definir em que ordenamento jurídico o aplicador da lei deverá buscar as normas materiais incidentes no caso concreto (v.g. a disputa entre a e B deve ser resolvida de acordo com as leis da suíça), quando a relação jurídica abranger mais de um ordenamento. É o que se chama de conflito de leis.

também cabe ao Direito Internacional Privado definir que tribunal – de que sistema jurídico – deverá decidir as questões relativas a determinada relação jurídica multiconectada, aplicando a lei material incidente no caso. É o que se chama de conflito de jurisdição.

assim, a aplicação das regras de Direito Internacional Privado pode levar à conclusão de que uma disputa existente entre um francês e um brasileiro, relativa aos danos sofridos por este, em decorrência da aquisição de queijos na França, seja decidida pelos tribunais brasileiros, aplicando a lei francesa.

em geral, cada sistema jurídico contém um conjunto de regras de Direito Internacional Privado que define estas questões. Diz-se, em doutrina, que o Direito Internacional Privado constitui um “direito do direito” ou so-

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bredireito. Devido ao aumento exponencial das relações internacionais e da circulação de pessoas, os professores de direito, juízes, promotores, procuradores e advogados terão que, cada vez mais, estar familiarizados com esse conjunto de regras para enfrentar os problemas relacionados ao Direito Internacional Privado.

o projeto do curso oferece uma proposta de estudo que atualiza o programa tradicional de Direito Inter-nacional Privado, fazendo-o abranger o desenvolvimento da matéria, calcado nas mais recentes contribuições da doutrina e de tribunais. a intenção é conjugar os conceitos, doutrinas e definições tradicionais com a proposta da FGv Direito, que se dispõe a oferecer um programa atualizado, decorrente de uma posição que tem como objetivo, mais do que ensinar a matéria, o comprometimento de apresentar aos alunos os problemas do mundo contemporâneo, por meio de casos concretos, dando-lhes as ferramentas necessárias para analisá-los e buscar as soluções adequadas para eles.

MetoDologia

o curso será dividido em seis blocos.no primeiro deles, a Introdução, estudaremos o conceito, a função e as fontes do Direito Internacional

Privado. nesta parte, a questão central será a viabilidade e a necessidade da uniformização de regras e princípios que facilitem as relações internacionais.

numa conferência sobre conseqüências sociais da Globalização, proferida em nova Delhi, na Índia, em 1996, o então presidente Fernando Henrique cardoso expôs judiciosamente a questão:

“a globalização também conduz a uma crescente uniformidade do arcabouço institucional e do quadro regu-latório em todos os países. Pois, para que possa desenvolver-se a globalização da produção, é preciso que as regras nos diferentes países sejam similares, de modo que não venham a prevalecer, em qualquer país, vantagens ‘artificiais’. exemplo desta tendência é a introdução, na organização Mundial do comércio, de padrões internacionais para os direitos de propriedade intelectual e para as regras de investimento. temas que, no passado eram considerados como de competência interna de cada país estão sujeitos a regimes multilaterais de regras. naturalmente que há limites a essa crescente uniformização de padrões, em razão das próprias diferenças nacionais. e é complexa a interação entre as tendências globais no sentido da homogeneidade e as identidades nacionais” (https://www.planalto.gov.br/pu-bli_04/colecao/GloBa2.HtM)

o debate em sala se dará em torno das vantagens e desvantagens de se ter uma “lei global”. a idéia de um direito só no mundo é possível ou mera utopia? Quais as áreas do direito que poderiam ser globalizadas?

Privilegiando a corrente anglo-saxônica da disciplina, cada um dos três próximos blocos do curso tratará, distintamente, das seguintes questões nucleares do Direito Internacional Privado: (a) qual a lei aplicável; (b) em que local acionar; e (c) como executar atos e decisões estrangeiras.

assim, no bloco dois (qual a lei aplicável?) explicaremos o método conflitual de definição da lei aplicável à relação jurídica, suas regras e as novas tendências da disciplina.

no bloco três (onde acionar?) examinaremos as questões do direito processual internacional, as regras re-lativas à competência internacional, concorrente e exclusiva. são os chamados conflitos de jurisdição, chamados de conflitos de competência em muitos sistemas de direito positivo.

o bloco quatro (como executar atos e decisões estrangeiras?) tratará da necessidade de cooperação entre os poderes judiciários de diferentes estados. analisaremos as regras relativas ao reconhecimento, no Brasil, das decisões judiciais estrangeiras e a necessidade de efetivação de decisões brasileiras no exterior, como ocorreu, recentemente, no caso da recuperação judicial da varIG.

no quinto bloco, trataremos das questões relativas à condição jurídica do estrangeiro e a lei determinadora do estatuto pessoal.

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DIREITO GlObal II

ao enfrentar o problema dos conflitos de lei e de jurisdição o aluno descobrirá a existência de sistemas jurídicos com características diferentes do brasileiro, com os quais ele necessariamente interagirá ao longo de sua vida profissional.

no sexto e último bloco, em linha com a proposta da FGv Direito, este curso propõe-se a apresentar aos alunos as diferenças básicas entre os dois principais sistemas jurídicos existentes no mundo atual, o da Civil Law e o da Common Law.

nele também cuidaremos da relevância e utilidade do direito comparado. trata-se do ramo da ciência jurídica que estuda as diferenças e as semelhanças entre os ordenamentos de diferentes estados.

a utilidade do direito comparado é destacada por rené David e John Brierley:

“Comparative law has a primary role to play in the science of law. It can enlighten the understanding of the place and significance of law by drawing upon the experience of all nations. At a more practical level, it can contribute to the better organization of international society by showing where agreement is within reach and by suggesting modes of inter-national co-operation. Finally, with respect to national or internal law, it broadens the perspective of those seeking ways to bring about its improvement by inviting them to consider new ideas.” (Major Legal Systems in the World Today, 2ª ed., The Free Press, nova Iorque, 1978, p. 16)

o direito comparado desempenha um papel essencial no estudo dos diferentes sistemas jurídicos, na even-tual aproximação de suas regras e até mesmo da uniformização das leis, visando à simplificação das relações internacionais.

acreditamos que essa divisão da matéria permitirá aos alunos compreender a relevância do Direito Inter-nacional Privado e lhes dará as ferramentas necessárias para trabalhar com as questões que ele suscita nos dias de hoje.

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DIREITO GlObal II

II. Planos De aulas

Bloco 1. introDução ao Direito internacional PrivaDo

aula 1: Qual a função Do Direito internacional PrivaDo?

nota ao aluno

Quando uma relação jurídica é celebrada entre partes nacionais e domiciliadas no mesmo país, no qual o ato é praticado e seus efeitos são produzidos, parece bastante claro que qualquer questionamento sobre tal relação jurídica deverá ser submetido aos tribunais daquele estado, que julgarão o caso de acordo com as leis nacionais.

ocorre que, conforme exposto na introdução acima, o aprimoramento dos meios de transporte e comunicação e a globalização têm gerado um aumento exponencial nas rela-ções privadas internacionais, conectadas a mais de um sistema jurídico.

esse tipo de relação introduz algumas polêmicas, como, por exemplo, no que diz res-peito à lei aplicável ao contrato e quais juízes (de que países) deverão conhecer e decidir as disputas relativas a ele. outro ponto relevante a destacar, é saber se a decisão proferida pelo tribunal de um determinado país poderá produzir efeitos em outros.

cabe ao Direito Internacional Privado responder essas perguntas.nesta primeira aula examinaremos, de uma forma geral, alguns problemas gerados

pelas relações jurídicas conectadas a mais de um sistema jurídico, por meio da análise do caso abaixo.

caso

Pedro, cidadão brasileiro, domiciliado no rio de Janeiro, viajou para os estados uni-dos, onde se hospedou no Trump Taj Mahal Casino Resort, em atlantic city.

ao se registrar, ele solicitou, e lhe foi concedido, um crédito no valor de us$ 500.000,00 (quinhentos mil dólares) para jogar no cassino do hotel, quantia que deveria ser paga ao final de sua estadia.

nos três dias subseqüentes, Pedro apostou e perdeu a quantia que lhe foi concedida de crédito. não tendo condições de arcar com o pagamento da dívida, Pedro deixou imediata-mente o hotel e embarcou para o Brasil, sem pagar o valor devido.

o Trump Taj Mahal Casino Resort propôs ação de cobrança contra Pedro nos estados unidos. Pedro foi devidamente citado para a ação, mas não ofereceu nenhuma defesa.

Julgado procedente o pedido, o autor requereu ao superior tribunal de Justiça a ho-mologação da sentença* proferida nos estados unidos, na medida em que todos os bens de Pedro se encontram no Brasil.

Pergunta

Deve-se conceder autorização para que a sentença proferida nos estados unidos pro-duza efeitos no Brasil?

* Conforme estudaremos mais adiante, a homologação de sentença é o processo pelo qual o Superior Tribunal de Justiça concede ou nega auto-rização para que uma sentença proferida em país estrangeiro produza efeitos no brasil.

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ao analisar o caso acima proposto, o aluno deverá observar os seguintes dispositivos legais:

Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941(…)Das contravençÕes relatIvas À PolÍcIa De costuMesart. 50. estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele:Pena – prisão simples, de três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos moveis e objetos de decoração do local.

Decreto-Lei nº 9.215, de 30 de abril de 1946Proíbe a prática ou exploração de jogos de azar em todo o território nacionalO Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da constituição, e considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência universal; considerando que a legislação penal de todos os povos cultos contém preceitos tendentes a êsse fim; considerando que a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à prática e à exploração e jogos de azar; considerando que, das exceções abertas à lei geral, decorreram abusos nocivos à moral e aos bons costumes; considerando que as licenças e concessões para a prática e exploração de jogos de azar na capital Federal e nas estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas foram dadas a título precário, podendo ser cassadas a qualquer momento: decreta:art. 1º Fica restaurada em todo o território nacional a vigência do artigo 50 e seus parágrafos da lei das contraven-venções Penais (Decreto-lei nº 3.688, de 2 de outubro de 1941). art. 2º esta lei revoga os Decretos-leis nº 241, de 4 de Fevereiro de 1938, n.º 5.089, de 15 de Dezembro de 1942 e nº 5.192, de 14 de Janeiro de 1943 e disposições em contrário. art. 3º Ficam declaradas nulas e sem efeito tôdas as licenças, concessões ou autorizações dadas pelas autoridades federais, estaduais ou municipais, com fundamento nas leis ora, revogadas, ou que, de qualquer forma, contenham autorização em contrário ao disposto no artigo 50 e seus Parágrafos da lei das contravenções penais. art. 4º esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Código Civil(…)art. 814. as dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que vo-luntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.§ 1o estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé.§ 2o o preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos.§ 3o excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares.

Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei nº 4.707, de 04/09/1942).art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

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DIREITO GlObal II

§ 2º a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.(…)art. 15. será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna os seguintes requisitos:a) haver sido proferida por juiz competente;b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi profe-rida;d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo supremo tribunal Federal.Parágrafo único. não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas.(…)art. 17. as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

Bibliografia obrigatória:

strenGer, Irineu. Direito internacional privado. são Paulo: ltr, 2006, 6ª ed., pp. 25-39anexo 1 - sentença estrangeira contestada 5.404-4 (relatório e voto do Ministro sepúlveda Pertence).anexo 2 - carta rogatória cr 10.415 (Decisão monocrática do Ministro Marco aurélio)

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DIREITO GlObal II

anexo 1 – aula 1

18/05/2005 TRIBUNAL PLENOSENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA 5.404-4 ESTADOS UNIDOS DAAMÉRICARELATOR : MIN. SEPÚLVEDA PERTENCEreQuerente : truMP taJ MaHal assocIatesaDvoGaDo : roBerto corrÊa De MelloaDvoGaDo : sanDra BárBara caMIlo lanDIreQuerIDo : MIGuel nIcolau DuaIlIBe netoaDvoGaDo : rIcarDo taDeu BuGarIn DuaIlIBe e outroEMENTA: Homologação de sentença estrangeira: deslocamentoda competência do stF para stJ (ec 45/04), que não afeta, contudo, a competência remanescente do primei-ro para homologar a desistência do pedido, quando iniciado o julgamento e manifestada a desistência antes da alteração constitucional.

acÓrDão

vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do supremo tribunal Federal, em sessão plenária, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, em homologar a desistência, ressalvada a posição do senhor Ministro Marco aurélio, que considerava incompetente o tribunal.

Brasília, 18 de maio de 2005.

ellen GracIe - PresIDentesePÚlveDa Pertence - relator

relatÓrIo

O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE - trump taj Mahal associates, antes trump taj Mahal casino resort, sociedade norte americana, com sede na cidade de West trenton, estado de new Jersey, requer a homologação de sentença proferida pela corte superior do mesmo estado de new Jersey, condado de atlantic, estados unidos da américa, pela qual Miguel nicolau Dualibe neto, também conhecido por Miguel Dualibe, foi condenado a pagar-lhe a quantia de “US$415.000,00, juntamente com os juros de US$ 84.733,90, totalizando US$ 499.733,90, acrescidos dos custos da ação a serem cobrados pelo Tribunal” (fls.59).

narra o requerente que, em ação de cobrança que propôs contra o réu, as partes celebraram transação, homologada pelo tribunal superior de nova Jersey, eua, pela qual ficou estipulado o pagamento pelo réu ao autor da quantia total de us$ 470.000,00, na forma acordada (f. 49/50).

como o réu pagou us$ 55.000,00, mas deixou de pagar us$415.000,00, ficou caracterizado o inadim-plemento, permitindo ao autor, nos termos da cláusula 2 do mencionado acordo, obter a sentença cuja homo-logação ora pleiteia (f. 58/59).

Juntou os documentos de f. 10/11 (Procuração - trad. fls.7/9 ), 14/15, 17 (Deliberação ref. a autorização para contratos e compromissos - trad. f. 12/13), 18 (trad. f.16), 19/48 (contrato da sociedade alterado e refor-mulado), 53/56 (sentença de homologação da transação - trad. f. 49/52), 61/62 (trad. f. 58/60 - sentença que condenou o réu por inadimplemento).

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citado mediante carta de ordem (f. 100), o requerido contestou, alegando: a) falha na formação da peça citatória, além de falta em algumas das peças que a acompanharam do visto consular brasileiro; b) que a sentença é ofensiva da ordem pública e dos bons costumes (rIstF, art. 216), uma vez que se cuida de débito proveniente de dívida de jogo e aposta, cuja cobrança não é contemplada no ordenamento jurídico brasileiro (c. civil, art. 1.477 e ss) (f. 108/109).

replicou o requerente (f. 125/131). argumentou que o réu não pode invocar a origem do débito, já que se trata de “transação manifestada em procedimento próprio, segundo as formalidades da legislação americana”, ato jurídico de natureza bilateral, comutativa, que só poderia ser anulado, se demonstrada a ocorrência de um dos vícios de vontade capitulados nos arts. 86 a 113 do código civil. “Ainda que se invocasse a origem do débito” - afirmou -, “tal fato não eximiria o réu do cumprimento da obrigação que se lhe impunha, em razão da licitude da dívida em território americano, obedecido o princípio da territorialidade previsto no artigo 9º da Lei de Introdução ao Código Civil” (“Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”).

o Ministério Público Federal, pelo indeferimento da sentença, dado cuidar-se originariamente de dívida de jogo, e caracterizar ofensa à ordem pública brasileira (f. 134).

o requerente voltou aos autos para responder ao parecer, dada a aplicação ao caso do artigo 9º da lei de Introdução. nessa linha juntou acórdãos do tribunal de alçada civil de são Paulo.

sustentou ainda que a condenação de que se cuida resultou de não ter o réu honrado o acordo firmado e homologado pela corte de new Jersey e que não se trata de dívida exclusivamente de jogo, mas que “a verba advinda do crédito havido pelo réu foi utilizada livremente pelo Sr. Dualibe nas dependências do hotel (restaurante, casino, etc.)”.

É o relatório.

voto

o senHor MInIstro sePÚlveDa Pertence - (relator):

I.

Improcede a preliminar de defeito na instrução da carta de ordem de citações. nada impõe que nela se con-tenha cópia integral de todos os documentos que acompanhem a petição inicial (c.Pr.civ., art. 202, II, a contra-rio, e § 1º); acaso não trasladados papéis relevantes, deles tomará ciência o citado, mediante vista dos autos, à sua disposição por todo o prazo de contestação, que, por isso mesmo, se conta da juntada da carta de ordem.

De resto - se é certo que à carta de ordem não se juntaram cópia dos originais dos documentos estrangeiros - das cópias das peças essenciais, dela constantes, se verifica a autenticação consular dos originais.

rejeito a preliminar.

II

É deste teor o parecer da Procuradoria Geral, da lavra do ilmo. subprocurador-Geral Miguel Frauzino e subscrito pelo em. titular da chefia do MPF:

“Pretende-se a homologação de sentença prolatada pelo tribunal superior de nova Jersey, condado de atlan-tic, que condenou o requerido a pagar débito decorrente de dívida de jogo.

o pedido encontra obstáculo no art. 216 do r.I. na legislação brasileira, as dívidas de jogo não obrigam a pagamento (arts. 1.477 e 1.478 do código civil).

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DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO

FGV DIREITO RIO 1111FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

Discorrendo sobre a matéria, doutrina silvio rodrigues:‘a repulsa do legislador à tavolagem vai mais longe, pois torna ineficaz não só qualquer negócio que encubra

ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo, como também declara incobráveis as dívidas re-sultantes de empréstimos destinados à aposta ou ao jogo, feitos na hora de apostar ou de jogar (art. 1.478).

a primeira dessas duas medidas se funda na idéia de que não pode o legislador consentir em que se alcance, indiretamente, o resultado que ele diretamente proíbe. se a lei isenta o devedor da obrigação de pagar a dívida de jogo, não pode compeli-lo a efetuar tal pagamento só porque as partes se valeram de um procedimento indireto, tal a novação ou a transação.’ (Direito civil, saraiva, 1994, volume III, 22ª ed., pg. 365, item 174).

O tema já foi enfrentado por essa Eg. Suprema Corte, ao indeferir o exequatur na CR 7.424 (DJ de 01-08-96).Embora ninguém possa invocar em seu benefício a própria torpeza, a sentença homologanda não pode ser recebida

em nosso mundo jurídico em respeito aos princípios da nossa ordem pública.Opinamos, assim, pelo indeferimento do pedido.”

correto o parecer.De que se trata, no caso, de sentença executória de transação novatória de dívida de jogo, é indício ex-

pressivo que, para o seu pagamento, além das prestações mensais enumeradas, de valor relativamente pequeno, estipulou-se, na alínea b, da cláusula 1 - f. 50:

“b) além dos pagamentos previstos no item (a) acima, o réu pagará ao autor o seguinte, antes da saída do réu do cassino do autor em qualquer viagem respectiva:

(1) 50% de todos os ganhos de jogadas a vista (“cash play”) no cassino do autor;(2) 50% de todos os ganhos de jogada de torneio no cassino do autor; e(3) o valor integral de todos os reembolsos de viagem e/ou convites (“cash comps”) recebidos pelo réu do

autor.”

não é, em lugar algum, modalidade usual de pagamento de despesas hoteleiras não ligadas à jogatina: muito menos em atlantic city a uma empresa exploradora de cassino.

De resto, alegada na contestação ser o débito original oriundo de jogo, não o negou a requerente no mo-mento próprio - o da réplica à contestação que ofereceu (f. 125) - mas apenas - e ainda aí genérica e parcialmente - ao comentar o parecer da Procuradoria Geral, momento já inoportuno para suscitar a controvérsia de fato (f. 139).

na réplica, preferiu a requerente apegar-se à licitude e exigibilidade da dívida de jogo no país onde con-traída, o que, sustenta, à vista do art. 9º lIcc, elidiria a oposição da ordem pública brasileira à homologação da sentença.

Invoca, nessa linha, decisões do tribunal de alçada civil de são Paulo (apelações 577331 e 570426).o argumento não convence.certo, não se desconhece que, a teor do art. 9º lIcc, “para qualificar e regular as obrigações, aplicar-se-á a lei

do país em que se constituírem”. É dado que não se desconhece do direito internacional privado brasileiro, mas que nada tem a ver, data venia, com a ressalva da ordem pública: “o direito estrangeiro” - ensinou o grande amilcar de castro (Direito Internacional Privado, Forense, 1956, I/331 -, “que deve ser imitado por força do sistema indígena de direito internacional privado, deixa de o ser, por ofensivo à ordem pública internacional. Em proteção da ordem pública internacional, levanta-se no fórum um anteparo da imitação do direito estrangeiro”. “E isso acontece” - expli-cou o mestre de Minas com a inexcedível clareza de sempre - “porque o direito internacional privado contempla os direitos primários em abstrato, isto é, fazendo abstração de suas disposições, tomando-as como símbolos, sem examinar o sentido, ou o efeito, de seus dizeres; e por isso mesmo, em caso concreto, o direito estrangeiro que, pelo direito internacio-nal privado indígena, só foi considerado em abstrato, pode ser insuportável, inconvenientíssimo ao meio social nacional,

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contrário à moralidade média do povo, ao seu sentimento religioso, à sua economia, ou à sua organização política, e para controle de efeitos do direito especial mantém-se essa válvula de segurança, esse meio de defesa da sociedade, que é o poder de rejeitá-lo confiado ao juiz. Assim como não é permitida a entrada de estrangeiros doentes de moléstia infecto-contagiosa no território nacional, assim também não se permite no meio social indígena a manutenção de usos jurídicos que lhe sejam política, econômica, moral, religiosa ou socialmente prejudiciais. Pode-se dizer que a autorização para rejeitar direito estrangeiro ofensivo da ordem pública internacional é modalidade do poder de polícia: O Poder Judiciário cuida de afastar o que pode ser nocivo à população que se encontra sob sua jurisdição”.

claro, aí se cogita da ordem pública internacional brasileira como obstáculo à aplicação - rectius, imitação – do direito estrangeiro no fórum, ou seja, pelo juiz brasileiro

Mas, na conformidade do art. 17 lIcc, ofensa à ordem pública e aos bons costumes não é obstáculo opo-nível apenas à eficácia no Brasil de leis ou atos estrangeiros, mas também da sentença estrangeira, a ser verificada precisamente neste juízo de homologação.

ser a sentença estrangeira derivada de dívida de jogo tem sido considerado no tribunal motivo bastante à sua inexequibilidade no Brasil (cf. por último, cr 5332, 26.5.93, Gallotti, DJ 2.6.93; cr 7424, 25.6.96, celso de Mello, DJ 1º.8.96; cr 7426, 7.10.96, Pertence, DJ 15.10.96): se assim se tem decidido para indeferir simples rogatória de citação, a fortiori, a circunstância inviabiliza a homologação da sentença estrangeira.

e a qualificação impeditiva do exequatur se estende, conforme o parág. único do art. 1477 c. civ., a ato ou contrato que “envolva reconhecimento, novação e fiança de dívida de jogo”, como o da transação de cujo inadimplemento resultou a sentença homologanda.

Indefiro a homologação: é o meu voto.

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anexo 2 – aula 1

Processocr 9970 / eu - estaDos unIDos Da aMerIcacarta roGatÓrIaRelator(a)Min. Marco aurÉlIoPartesJust.roG. : tribunal do Distrito dos estados unidos para o Distrito de new Jersey IntDo. : osMar ZaMBarDIno DIlIG. : cItaçãoJulgamento18/03/2002PublicaçãoDJ 01/04/2002 P - 0003

DespachoDecIsão DÍvIDa De JoGo - atIvIDaDe lÍcIta na orIGeM - ação - conHecIMento - carta roGatÓrIa - eXecução DeFerIDa.

1. trata-se de carta rogatória originária do tribunal do Distrito dos estados unidos para o Distrito de new Jersey, nos estados unidos da américa, com o objetivo de citar osmar Zambardino, a fim de que responda a processo ajuizado por trump Plaza associates. segundo consta do documento de folha 21 a 23, o interessado teria perdido, em jogo, no cassino, o montante de us$ 50.000,00 (cinqüenta mil dólares), vindo então a efetuar o pagamento por meio de cheques, ao fim devolvidos em face da falta de fundos. À folha 58, determinei que se procedesse à intimação do interessado, consoante previsto no artigo 226 do regimento Interno desta corte, estando certificado, à folha 64, que não se conseguiu localizar o destinatário. o parecer do Procurador-Geral da república, de folha 68, é pelo indeferimento da execução - por implicar atentado à ordem pública brasileira -, devendo ser devolvida, assim, a carta à Justiça de origem.

2. após pedir vista dos autos da sentença estrangeira contestada nº 5.404, relatada pelo ministro sepúl-veda Pertence, cujo julgamento encontra-se suspenso, tive oportunidade de refletir sobre a espécie e elaborei voto que não cheguei a proferir, mediante o qual: na assentada em que teve início a apreciação do pedido de homologação de sentença estrangeira, pronunciou-se o relator, Ministro sepúlveda Pertence, no sentido da incidência, na espécie, do disposto na parte final do artigo 17 da lei de Introdução ao código civil: art. 17, as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

considerou o relator a circunstância de as dívidas de jogo ou aposta não obrigarem a pagamento - artigo 1.477 do código civil. Pedi vista dos autos para maior reflexão sobre a matéria e exame das peculiaridades do caso. sr. Presidente, de há muito os brasileiros somos estigmatizados por uma tão suposta quanto propalada malemolência, secundada pelo não menos famoso “jeitinho”, traduzido, na maior parte das vezes, como um atalho ilegal ou pouco ético com vistas à rápida obtenção de algo que demandaria mais esforço se conseguido pelas vias normais. não passa de lenda, sem a mínima comprovação, a frase atribuída a De Gaulle, no sentido de este não ser um país sério.

entretanto, tal folclore bem revela a visão debochada que têm de nós outros países nem sempre assim tão prósperos: a pouca seriedade de propósitos, o hedonismo generalizado no comportamento das massas populares (consoante o qual toda bem-aventurança advém tão-somente do prazer, e nele se resolve), uma quase atávica

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passividade teriam engendrado paulatinamente o epíteto de “país do samba, suor e cerveja”, de recanto exótico do carnaval e do futebol. eis a imagem do Brasil no exterior.

no campo da antropologia, houve quem propagasse, como que para reforçar a já baixíssima auto-estima brasileira, que tantas mazelas resultaram da fatalidade de termos descendido de degredados, expatriados, enfim, bandidos de toda sorte, miscigenados inicialmente com tribos e mais tribos de índios ignorantes e preguiço-sos, e ao depois com contingentes de negros inconformados, macambúzios e insurretos. tal ideologia foi-nos ministrada em lentas, mas contínuas e eficazes doses durante séculos, a exemplo das distorcidas lições sobre História colonial, aplicadas ainda hoje, já no curso primário. Pois bem, chegamos às portas do terceiro milênio conquistando a duras penas o direito de pelo menos sermos considerados com respeito. Pagamos, com imen-sos sacrifícios e durante séculos, o tributo da miséria, do medo, do servilismo. curvamo-nos seguidamente à prepotência dos poderosos, à ambição desmedida dos mais fortes, e por várias vezes tivemos que engolir a seco humilhações profundas à nossa soberania nacional. sobrevivemos a ditaduras subservientes e à exploração ga-nanciosa de todos os nossos valores - materiais e morais. não obstante, superando uma história de privações e abusos, com muito trabalho e criatividade, com o sacrifício de gerações inteiras - relembre-se a perdida década de 80 - estamos conseguindo impor-nos como país livre, democrático, em plena maturidade civil. ainda que não tenhamos atingido a desejada democracia econômica, o estado de bem-estar social, lentamente, mas a pas-sos firmes, estamos chegando à tão sonhada inserção na ordem econômica mundial, haja vista a incontestável liderança brasileira entre os países sul-americanos. somos a oitava economia do mundo, o quarto exportador de alimentos. sim, a duras penas vamos conquistando nosso espaço. repita-se: com o sacrifício de milhões que viveram e morreram à míngua de alguma assistência do estado. É preciso ressaltar um ponto de supina impor-tância. nesta quadra de festejada globalização - cujo verdadeiro nome é hipercapitalismo -, a credibilidade vem da segurança. nos dicionários, as duas palavras se entrelaçam.

e aí chegamos ao ponto nevrálgico desta discussão aparentemente banal, mas em cujo âmago residem valores caros à sociedade brasileira. caberia à suprema corte do País dar como que um bill de indenidade, referendar um álibi de modo a tornar impune o comportamento irresponsável e amoral de inescrupulosos para quem a dignidade é valor menor?

Há poucos dias, sr. Presidente, v. exa. manifestava preocupação ante as repercussões de uma possível gre-ve de juízes na imagem do País. Guardadas as devidas proporções, sustento também neste caso que a honra de uma nação não pode ficar comprometida, sequer arranhada, por obra e graça, em última análise, da desfaçatez sem peias de playboys inconseqüentes: não esqueçamos em momento algum que, na hipótese ora examinada, houve o reconhecimento consciente - até com o pagamento de uma primeira parcela - de uma dívida licitamente contraída, de acordo com a lei do local em que avençado o débito. a mim parece que, numa época na qual o famigerado hipercapitalismo corrói todos os valores, à suprema corte não cabe emprestar aval a procedimento escuso de quem se pendura nas filigranas obscuras da letra fria - quiçá morta - da lei, mormente se o texto legal padece de notória longevidade. À data em que engenhado o texto civil em comento - 1916 - objetivou-se prote-ger, em derradeira instância, os alimentos dos mais necessitados contra a insanidade trazida pelo vício hediondo, a corromper inexoravelmente perdulários irresponsáveis.

entrementes, hoje, o que temos? Grassa no nosso País a oficialização da jogatina. Às escâncaras, jogos de azar - bingos e loterias em incontáveis e inimagináveis formas - são abundantemente oferecidos em todas as esquinas, a cada dia de uma maneira mais surpreendente, com ilusórios atrativos, mil chamarizes. a antinomia, na hipótese, é flagrante: a proibição de antigamente contrasta com a habitualidade dos jogos patrocinados pela administração Pública (em todas as esferas - federal, estadual e municipal) porque somente aos mais cínicos é possível diferenciar os azares da roleta dos reluzentes números - anunciados até pela mídia, em propaganda explícita de incentivo, na maioria das vezes de reconhecida qualidade - relacionados com loterias, bingos, “ras-padinhas” e outros concursos de igual jaez, nos quais também se manipula e explora o contexto de esperança num possível revés da sorte.

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atente-se para o agravante de que, nas roletas e cassinos, normalmente adentram os mais aquinhoados, cujas dívidas são supostamente incobráveis segundo o arbítrio da velha lei, o que não ocorre na jogatina oficial: quem paga um jogo de loteria com cheque destituído de provisões de fundo é processado e sumariamente exe-cutado, sem poder usar os argumentos ora articulados pelo requerido.

Por outro lado, imagine-se o rebuliço que adviria se o Governo, escancarando as cortinas da hipocrisia, e encastelando-se na jurisprudência que agora se almeja recrudescida, retrucasse em brado altissonante: não posso pagar o prêmio prometido porque se trata de dívida de jogo, incobrável, portanto. ainda que se abandone tal argumento, tido talvez por extremado, não se há de recusar que os tempos mudaram bastante de 1916 para cá: a impostura, o imediatismo, o despudor, enfim, os escândalos são maiores e dissociam-se em muito do verdadei-ro espírito que norteou a elaboração da lei que agora, em meio a sofismas e falso tecnicismo, pretende-se fazer valer. vale repisar: a intenção do legislador não foi no sentido de resguardar esbanjadores tão inconseqüentes quanto argutos, e assim, por vias transversas, prejudicar a imagem desgastada, vilipendiada do País, com dano irreparável. se o vezo, o mau costume pega, não há quem controle a repercussão dessa nefasta jurisprudência, mormente nos dias de hoje, em que a notícia é sempre tão on line no mundo inteiro. não será inverídica, então, a notícia de que no Brasil é possível gastar-se no exterior sem arcar com custos, isso com o endosso definitivo, irrecorrível do supremo tribunal Federal.

close para o devedor que, displicentemente, explica, mascando chicletes: devo, não nego, mas não pago por-que a legislação do meu país protege pessoas como eu. senhor Presidente, é preciso que seja observado um mínimo de decoro, principalmente se a questão envolve o respeito a normas legítimas de outros países. Frisemos, subli-nhando, que a harmonia só acontece ante o absoluto respeito ao direito de outrem. veja-se, por absurdo, a seguinte hipótese. até recentemente, a venda de pílulas anticoncepcionais era terminantemente proibida no Japão. vamos imaginar que um determinado cidadão japonês houvesse comprado de nossa indústria farmacêutica algumas tone-ladas desse medicamento e faturasse a operação. recebida a partida, na hora de pagar, retruca: esse contrato é nulo porque a origem da transação é obscura e rechaçada no meu país. Por isso, não pago e muito menos devolvo o que adquiri. a hipótese beira as raias do ridículo, de tão absurda se afigura aos olhos do homem mediano.

no entanto, rechaçamos a mesma lógica no caso em tela, em que o requerido adquiriu bens e serviços, usufruiu de um crédito, participou de uma atividade lícita pela qual se comprometeu a pagar. Daí a minha per-plexidade e um certo inconformismo diante de situação que reputo das mais esdrúxulas. assumindo a postura do Juiz atento à almejada Justiça, sem menosprezo à lei e ao Direito, concluo de forma diversa da externada pelo relator, vinculada a vetusta jurisprudência - e estou certo não fosse isso, à mercê de grande sensibilidade, outro seria o voto de s. exa. sobre o real alcance das normas de regência.

aliás, pesquisa realizada nos anais da corte mostrou-se infrutífera. não encontrei um único acórdão do Plenário sobre o tema. os precedentes dizem respeito a decisões da Presidência da corte negando o exequatur, sendo que nestas não foi analisada a questão relativa à observância do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil. confira-se com os processos de concessão de exequatur nºs 5332-1, 7424-7 e 7426-3.

conclamo a corte a uma reflexão sobre o tema, mormente nesta quadra em que o artigo 1.477 do código civil ganha contornos mitigados, revelando ser fruto de proibição relativa. ninguém desconhece a inexistência, no ordenamento jurídico nacional, de ação para cobrar dívida de jogo ou aposta proibidos.

todavia, não se está diante, em si, de ação ajuizada com o fito de impor ao requerido sentença condena-tória de pagamento. o caso é diverso. o requerido contraiu, nos estados unidos da américa do norte, obri-gação de satisfazer a quantia de quatrocentos e setenta mil dólares em prestações sucessivas, havendo honrado o compromisso somente no tocante a cinqüenta e cinco mil dólares. a origem do débito mostrou-se como sendo a participação em jogos de azar, mas isso ocorreu nos moldes da legislação regedora da espécie. no país em que mantida a relação jurídica, o jogo afigura-se como diversão pública propalada e legalmente permitida.

ora, norma de direito internacional, situada no mesmo patamar do artigo regedor da eficácia das sentenças estrangeiras, revela que “para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”

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- cabeça do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil. esse dispositivo apenas é condicionado, quando a obrigação deva ser executada no Brasil, à observância de forma essencial, mesmo assim admitidas as peculiarida-des da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato - § 1º do aludido artigo 9º. Portanto, não cabe, no caso, aplicar, relativamente à obrigação contraída e objeto de homologação em juízo, o artigo 1.477 do código civil, mas ter presente o direito estrangeiro.

É certo estar a homologação de sentença estrangeira subordinada à ausência de desrespeito à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. entretanto, na espécie não concorre qualquer dos obstáculos. Dos três, todos previstos no artigo 17 da lei de Introdução ao código civil, o que aqui se faz merecedor de análise é o concernente à ordem pública, porquanto impossível é cogitar-se, em se buscando homologação de sentença estrangeira, de afronta à soberania nacional e aos bons costumes, no que envolvem conceitos flexíveis.

ora, sob o ângulo do direito internacional privado, tem-se como ordem pública a base social, política e jurídica de um estado, considerada imprescindível à própria sobrevivência. É o caso de indagar-se, à luz dos va-lores em questão: o que é capaz de colocar em xeque a respeitabilidade nacional: a homologação de uma sentença estrangeira, embora resultante de prática ilícita no Brasil, mas admitida no país requerente, ou o endosso, pelo próprio estado, pelo Judiciário, de procedimento revelador de torpeza, no que o brasileiro viajou ao país-irmão e lá praticou o ato que a ordem jurídica local tem como válido, deixando de honrar a obrigação assumida? a res-posta é desenganadamente no sentido de ter-se a rejeição da sentença estrangeira como mais comprometedora, emprestando-se ao território nacional a pecha de refúgio daqueles que venham a se tornar detentores de dívidas contraídas legalmente, segundo a legislação do país para o qual viajarem.

uma coisa é assentar-se que o jogo e a aposta, exceto as loterias federal e estadual, a quina, a supersena, a megasena, a loteria esportiva, a lotomania, a trinca, as diversas formas de raspadinha e os bingos, não são atos jurídicos no território nacional, ficando as dívidas respectivas no campo do direito natural, na esfera da moral. Quanto a isso, a disciplina pátria não permite qualquer dúvida.

outra diversa é, olvidando-se a regra de sobredireito do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil - a afastar a normatização pelas leis do Brasil da prática implementada e segundo a qual, para qualificar e reger as obrigações há de ser aplicada a lei do país em que se constituírem - vir-se a recusar a prevalência de sentença prolatada consoante as normas do país em que situado o órgão julgador. nem se diga que a homologação da sentença estrangeira ganha, em si, aspectos ligados a um verdadeiro julgamento.

as situações são díspares. enquanto, defrontando-se com uma ação, o julgador deve apreciá-la na extensão total que possua, relativamente à homologação de sentença estrangeira cumpre perquirir tão-só a existência de situação válida e a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes.

aliás, aqui mesmo no Brasil, restando prolatada sentença sobre dívida de jogo ou aposta ilegais e transitada em julgado (ante o fato de não se haver percebido a origem da dívida), admite-se a execução do título respectivo que, enquanto não desconstituído, tem força de sentença transitada em julgado. a hipótese equipara-se a ação versando sobre os jogos admitidos no Brasil. ninguém se atreveria a dizer carecedor da ação alguém que viesse - e muitos já o fizeram - a demandar visando a receber prêmio de uma das nossas múltiplas loterias. somente o que passível de ser rotulado como contravenção é que não gera a possibilidade de exigir-se em juízo.

repita-se: o jogo nos estados unidos está em tudo igualizado àqueles jogos endossados pela nossa ordem jurídica. concluindo, as regras do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil e do artigo 1.477 do código civil são incompatíveis. a primeira exclui a incidência da segunda, revelando lícito o jogo praticado na américa do norte, como, aliás, é o que, no Brasil, tem cunho oficial, sendo que a participação do estado abre margem, por isso mesmo, a questionamentos na Justiça. aqui, somente conflita com os bons costumes o jogo ligado à contravenção, não aquele revelado pelos bingos e loterias supervisionados pelo estado. conclui-se, assim, sob pena de flagrante incoerência, estar o jogo gerador da dívida constante da sentença que se quer homologada em tudo equiparado aos permitidos no solo pátrio.

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Fora isso, é sofismar; é adotar postura em detrimento da melhor brasilidade; é enveredar por caminho tortuoso; é solapar a respeitabilidade de nossas instituições, tornando o Brasil um país desacreditado no cenário internacional, porque refúgio inatingível de jogadores pouco escrupulosos, no que, após perderem em terras outras, para aqui retornam em busca da impunidade civil, da preservação de patrimônio que, por ato próprio, de livre e espontânea vontade, em atividade harmônica com a legislação de regência - do país-irmão (artigo 9º da lei de Introdução ao código civil) -, acabaram por comprometer.

em última análise, peço vênia ao nobre Ministro relator para entender que, relativamente à obrigação que deu margem à sentença, cumpre observar não o disposto no artigo 1.477 do código civil, mas a regra do artigo 9º da lei de Introdução dele constante, que direciona ao atendimento da legislação do país em que contraída a obrigação.

com isso, afasto algo que não se coaduna com a carta da república, que é o enriquecimento sem causa, mormente quando ligado ao abuso da boa-fé de terceiro, configurado no que o requerido se deslocou do Brasil para a américa do norte, vindo a praticar jogos de azar legitimamente admitidos, e até incentivados como mais uma forma de atrair turistas, contraindo dívida e retornando à origem onde possui bens, quem sabe já tendo vislumbrado, desde o início, que não os teria ameaçados pelo credor. o requerido assumiu livremente uma obrigação, e o fez, repita-se, em país no qual agasalhada pela ordem jurídica, devendo o pacto homologado ser, por isso mesmo, respeitado. sopesando as peculiaridades do caso, concluo que não se tem, na espécie, a inci-dência do disposto no artigo 1.477 do código civil e, por via de conseqüência, que descabe falar em sentença estrangeira contrária à ordem pública e, portanto, no óbice à homologação prevista no artigo 17 da lei de In-trodução ao código civil.

aliás, outro não foi o entendimento que acabou por prevalecer no julgamento, pelo tribunal de Justiça do Distrito Federal, dos embargos infringentes interpostos por Wigberto Ferreira tartuce - Processo nº 44.921/97, quando, em 14 de outubro do ano findo de 1999, a Desembargadora revisora Dra. adelith de carvalho lopes, autora do primeiro voto divergente que formou na corrente majoritária, deixou consignada a incidência, na es-pécie, do artigo 9º em comento, isso ao defrontar-se com situação concreta menos favorável que a destes autos, porque ligada ao novo instituto de monitória.

eis a ementa redigida: DIreIto InternacIonal PrIvaDo. DÍvIDa De JoGo contra-ÍDa no eXterIor. PaGaMento coM cHeQue De conta encerraDa. art. 9º Da leI De IntroDução ao cÓDIGo cIvIl. orDeM PÚBlIca. enrIQuecIMento IlÍcIto. 1. o ordenamento jurídico brasileiro não considera o jogo e a aposta como negócios jurídicos exigíveis. entretanto, no país em que ocorreram, não se consubstanciam tais atividades em qualquer ilícito, representando, ao con-trário, diversão pública propalada e legalmente permitida, donde se deduz que a obrigação foi contraída pelo acionado de forma lícita. 2. Dada a colisão de ordenamentos jurídicos no tocante à exigibilidade da dívida de jogo, aplicam-se as regras do Direito Internacional Privado para definir qual das ordens deve prevalecer. o art. 9º da lIcc valorizou o locus celebrationis como elemento de conexão, pois define que, “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.” 3. a própria lei de Introdução ao código civil limita a interferência do Direito alienígena, quando houver afronta à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. a ordem pública, para o direito internacional privado, é a base social, política e jurídica de um estado, considerada imprescindível para a sua sobrevivência, que pode excluir a aplicação do direito estrangeiro. 4. considerando a antinomia na interpenetração dos dois sistemas jurídicos, ao passo que se caracterizou uma pretensão de cobrança de dívida inexigível em nosso ordenamento, tem-se que houve enriquecimento sem causa por parte do embargante, que abusou da boa fé da embargada, situação essa repudiada pelo nosso ordenamento, vez que atentatória à ordem pública, no sentido que lhe dá o Direito Internacional Privado. 5. Destarte, referen-dar o enriquecimento ilícito perpretado pelo embargante representaria afronta muito mais significativa à ordem pública do ordenamento pátrio do que admitir a cobrança da dívida de jogo. 6. recurso improvido. no mesmo sentido, ante o artigo 9º da lei de Introdução ao código civil, decidiu o tribunal de alçada criminal do estado

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de são Paulo - apelações nºs 577.331 e 570.426 - precedentes citados pelo requerente e noticiados no voto do relator. Portanto, acolho o pedido de homologação formalizado.

3. Pelas razões acima, defiro a execução desta carta rogatória, a ser remetida à Justiça Federal de são Paulo, para a ciência pretendida. ressalto a necessidade de todo o empenho possível na localização do interessado.

4. Publique-se. Brasília, 18 de março de 2002. Ministro Marco aurÉlIo Presidente

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aula 2. trataDos internacionais e conflitos coM a constituição feDeral e leis internas

nota ao aluno

a bibliografia obrigatória desta aula apresentará aos alunos as principais fontes do Direito Internacional Privado e as discussões a elas relativas, como, por exemplo, o valor da doutrina e da jurisprudência como suas fontes.

Dentre as fontes de Direito Internacional Privado, é dada especial atenção aos tratados internacionais que “significa um acordo internacional celebrado entre estados em forma escrita e regido pelo direito internacional, que conste, ou de um instrumento único ou de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua denominação específica.” (definição dada pela convenção da organização das nações unidas sobre o Direito dos tratados - convenção de viena)

o material também apresentará ao aluno o conceito de tratado internacional, suas funções, como eles são integrados no ordenamento jurídico brasileiro e qual sua posição na hierarquia das leis.

nesta aula, debateremos o problema dos conflitos existentes entre, de um lado, as normas constantes de tratados internacionais e, de outro, as demais leis e a constituição Federal.

conforme exposto por Jacob Dolinger, a legislação de diversos países estabelece expressamente a posição hierárquica dos tratados internacionais no ordenamento jurídico. na França, o artigo 55 da constituição de 1958 prescreve que “os tratados e acordos regularmente ratificados ou aprovados têm, a partir de sua publicação, uma autoridade superior à das leis, desde que respeitados pela outra parte signatária.”

Já a constituição dos estados unidos reza que “esta constituição e as leis complementares e todos os tra-tados já celebrados ou por celebrar sob a autoridade dos estados unidos constituirão a lei suprema do país.”

a constituição brasileira não contém nenhum dispositivo semelhante, deixando para a doutrina e a juris-prudência a tarefa de definir qual a posição hierárquica assumida pelos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro.

a recente promulgação da emenda constitucional nº 45/2004 resolveu parcialmente o problema, mas única e exclusivamente em relação aos tratados referentes a direitos humanos, ao acrescentar o § 3o ao art. 5o, com o seguinte teor:

“§ 3º os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do congresso nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.”

a dúvida permanece quanto aos tratados sobre as demais matérias.a discussão se dará por meio da análise dos casos abaixo:

caso a

sergio Botelho propôs ação indenizatória contra atalho viação aérea s.a., para o ressarcimento dos da-nos materiais e morais decorrentes do atraso de mais de 24 horas no vôo entre a cidade do México e o rio de Janeiro.

em primeira instância, a ação foi julgada parcialmente procedente, reconhecendo-se apenas os danos ma-teriais, no limite da convenção de varsóvia, condenando-se a ré a pagar a quantia de 15 mil francos, quando da liquidação da sentença, custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% do valor da condenação.

ambas as partes interpuseram recurso apelação.

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FGV DIREITO RIO 2020FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

a convenção de varsóvia, transformada em lei interna por meio da publicação do Decreto nº 20.704, de 24 de novembro de 1931, estabelece limite para indenização:

artIGo 22.(1) no transporte de pessoas, limita-se a responsabilidade do transportador, á importancia de cento e vinte e

cinco, mil francos, por passageiro. se a indemnização, de conformidade com a lei do tribunal que conhecer da ques-tão, puder ser arbitrada em constituição de renda, não poderá o respectivo capital exceder aquelle limite. entretanto, por accordo especial com o transportador, poderá o viajante fixar em mais o limite de responsabilidade.

(2) no transporte de mercadorias, ou de bagagem despachada, limita-se a responsabilidade do transportador à quantia de duzentos e cincoenta francos por kilogramma, salvo declaração especial de “interesse na entrega”, feita pelo expedidor no momento de confiar ao transportador os volumes, e mediante o pagamento de uma taxa supple-mentar eventual. neste caso, fica o transportador obrigado a pagar até a importancia da quantia declarada, salvo se provar ser esta superior ao interesse real que o expedidor tinha entrega.

(3) Quanto aos objectos que o viajante conserve sob os guarda, limita-se a cinco mil francos por viajante a responsabilidade do transportador.

(4) as quantias acima indicadas consideram-se referentes ao franco francez, constituido de sessenta e cinco e meio milligrammas do ouro, ao titulo de novecentos millesimos de mental fino. ellas se poderão converter, em numeros redondos na moeda nacional de cada, paiz.

Já o art. 5º, v, da constituição da república de 1988, e os artigos 6º, vI, 20, II, e 54, I, do código de Defesa do consumidor (lei nº 8.078/1990) estabelecem o seguinte:

art. 5º todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-dade, nos termos seguintes: (…)

v - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

art. 6º são direitos básicos do consumidor:(…)vI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;(...)

art. 20. o fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: (...)

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

(...)

art. 51. são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. nas relações de consumo entre o fornece-dor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;”

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DIREITO GlObal II

Pergunta

existe conflito entre a convenção de varsóvia e o código de Defesa do consumidor? caso positivo, qual regra deve prevalecer?

caso B

voando Baixo s.a. interpôs recurso extraordinário, com base no art. 102, III, a, da constituição Federal, contra acórdão da turma recursal dos Juizados especiais cível e criminal de campinas, são Paulo.

a decisão recorrida entendeu que, no conflito entre as normas do código de Defesa do consumidor e da convenção de varsóvia sobre a prescrição, em ação de indenização de passageiro contra empresa aérea, pre-valecem as disposições mais favoráveis do cDc, que estabelecem o prazo prescricional de cinco e não de dois anos.

voando baixo s.a. sustenta que a decisão recorrida ofende os arts. 5º, §2º, e 178 da constituição Federal, e argumenta que prevalecem, no âmbito interno, as normas estabelecidas em tratados internacionais, pois estes têm hierarquia superior às leis. Por outro lado, afirma ainda, que a convenção de varsóvia é lei especial e o cDc é lei geral, devendo aquela sobrepor-se a este, como determina a lei de Introdução ao código civil.

em contra-razões, o passageiro antonio Pedro pugna pela manutenção da decisão recorrida. considerando que, para este tipo de ações, a convenção de varsóvia estabelece o prazo prescricional de 2

anos, enquanto o cDc fixa o de 5 anos, qual norma deve prevalecer?

Bibliografia obrigatória

DolInGer, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. rio de Janeiro: renovar, 2005, 8ª ed., pp. 89/118.

acórdãos disponíveis nos sites do stJ e do stF: resp 235.678/sP, rel. Min. ruy rosado de aguiar, 4ª turma do stJ, DJ de 14.02.00; resp 156.238/sP, rel. Min, Waldemar Zveiter, 3ª turma do stJ, DJ de 30.08.99; re 297.901/rs, rel. Min. ellen Gracie, 2ª turma do stF, DJ de 31.03.06.

Bibliografia complementar

tIBÚrcIo, carmen. o Direito constitucional Internacional no Brasil pós-ec nº 45/2004 in revista Foren-se, v. 384, pp. 17-26.

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DIREITO GlObal II

aula 3. lei gloBal?

nota ao aluno a aproximação dos países, o aumento do fluxo de capitais, a mudança nos meios de

produção, a circulação de produtos e de pessoas, o aprimoramento dos meios de transporte e de comunicação, dentre outros fatores, contribuíram sobremaneira para a globalização e a intensificação das relações internacionais.

a diversidade de sistemas jurídicos e normas existentes em cada país, — fruto da evolução histórico-social de cada sociedade —, inegavelmente, opera como um entrave ou elemento dificultador das relações internacionais.

segundo o ex-presidente da república Fernando Henrique cardoso, citado na in-trodução deste roteiro, a globalização econômico-financeira e comercial já ocorreu. agora, demanda-se a globalização das leis, a criação de institutos e regras que otimizem e simplifi-quem o relacionamento e a interação entre os estados.

Para tanto, diversas instituições e organizações se dedicam à criação de normas inter-nacionais e à uniformização do direito. a seguir, alguns deles.

a primeira delas é a uncItral (comissão das nações unidas para o Direito Mer-cantil Internacional), estabelecida pela assembléia Geral da onu de 1966, a qual reconhe-ceu que as disparidades entre as leis nacionais criavam obstáculos ao desenvolvimento do comércio internacional. os 60 (sessenta) estados-membros que a compõem consideraram que, por meio desta comissão, a onu poderia desempenhar um papel mais ativo na redu-ção ou na eliminação destes obstáculos.

outra é a conferência Permanente da Haia de Direito Internacional Privado, uma organização intergovernamental de caráter global, com mais de 60 (sessenta) membros, que desenvolve e oferece instrumentos jurídicos multilaterais para responder às necessidades mundiais. a missão estatutária da conferência consiste em trabalhar pela “unificação pro-gressiva” do direito internacional privado de cada um de seus países-membros, o que impli-ca encontrar enfoques internacionalmente reconhecidos para questões como a competência internacional dos tribunais, o direito aplicável, o reconhecimento e a execução de sentenças em numerosas matérias, desde o direito comercial ao processo civil internacional, além da proteção de crianças e jovens, questões de direito matrimonial e estatuto pessoal.

temos, ainda, as seis conferências Interamericanas de Direito Internacional Privado, cIDIPs, realizadas, sendo que já estão em preparativos a cIDIP vII. segundo Frederi-co Marques e nadia de araújo, “essas conferências adotaram a metodologia de reuniões técnicas setorizadas, com aprovação de várias convenções, fugindo da antiga tendência de codificações amplas. Isso porque a revisão do código Bustamante ou a elaboração de um grande código de direito internacional privado se mostrou assunto por demais complexo, e não despertou interesse. o Brasil tem participado nas reuniões das conferências, assinou a maioria das convenções e, apesar de durante 19 (dezenove) anos não ter ratificado qualquer das convenções, desde 1994, vem, gradativamente, mudando sua postura frente às cIDIPs e ratificando importantes convenções (…).”*

além disso, há o Instituto Internacional para a unificação do Direito Privado, o unI-DroIt, cuja definição deixamos a cargo do professor lauro Gama Jr., um dos maiores conhecedores do assunto**:

* aRaÚJO, Nadia e Frederico Marques, http://www.dip.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=2�

** JR. lauro Gama. Contratos internacionais à luz dos prin-cípios do UNIDROIT 200�: soft law, arbitragem e jurisdição. Rio de janeiro: Renovar, 200�, pp. 200/202.

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“o Instituto Internacional para a unificação do Direito Privado (unIDroIt) é uma organização mundial internacional governamental, com sede em roma (Itália), cujo objetivo é o estudo das vias e métodos para a moder-nização, harmonização e coordenação do direito privado, em particular do direito comercial, entre estados ou grupos de estados. Foi criado em 1926, como órgão auxiliar da sociedade das ações (sDn) — entidade que funcionou entre 1920 e 1946, e precedeu a organização das nações unidas (onu). nessa condição, o unIDroIt empre-endeu suas atividades até a dissolução de facto da liga das nações, no início da segunda Guerra Mundial, em 1939. em 1940, o Instituto foi reformulado com base num acordo internacional multilateral — o estatuto orgânico do unIDroIt — que atualmente vincula 59 estados-membros, representativos dos cinco continentes, de todas as tradições jurídicas contemporâneas e de vários sistemas políticos e econômicos.

a relevância do unIDroIt como organização internacional voltada para a unificação do direito privado foi reconhecida pelo Governo Brasileiro, apenas dois anos após a sua criação, em parecer do então consultor Jurídico do Itamaraty, clóvis Bevilaqua (1859-1944), verbis:

‘essas ponderações nos induzem a acreditar que, se a humanidade tende, irrecusavelmente, à unida-de pela civilização; se a estrutura da sociedade, em linhas gerias, é semelhante, onde quer que o homem a organizes; se a experiência histórica demonstra a possibilidade das adaptações jurídicas, em massa ou por enxertos limitados; tudo leva a supor que promover a unidade do direito privado é trabalhar no sentido da civilização.

e como, simultaneamente, na europa e na américa, novos órgãos consagrados à elaboração do direito, o Instituto Internacional de Roma e as conferências Pan-americanas trabalham pela unificação do direito privado, é que uma necessidade geral se afirma nesse sentido e mais uma curva se desenha na espiral da evolução jurídica. naturalmente, essa unidade não abrangerá a totalidade dos institutos e relações jurídicas, porque as condições históricas e mesológicas subsistirão sempre, mantendo diferenciações, por mais que se avolume o poder nivelador da civilização. Mas já hoje é lícito e conveniente orientar a cultura jurídica no sentido da unificação de alguns departamentos do direito privado, para que este exprima a realidade da vida social no momento presente, em que as relações individuais além das fronteiras de cada povo, de mais em mais se alastram e intensificam.’”

considerando o acima exposto e os textos constantes da bibliografia, pode-se concluir que, apesar de to-das as diferenças sócio-econômicas, históricas, culturais e peculiaridades de cada país, a globalização legislativa parece ser um caminho sem volta, na medida em que as relações interestatais se ampliam e se intensificam cada vez mais. Diante disso, a questão que se pretende discutir é a maneira de como se portarão os diferentes ordena-mentos frente a esta nova realidade.

Perguntas

seria viável a criação de uma lei global? seria ela eficaz? Qual seria a extensão dessa lei? Quais matérias podem ser mais facilmente tratadas de maneira global?

Bibliografia obrigatória

DolInGer, Jacob. Direito internacional privado: parte geral. rio de Janeiro: renovar, 2005, 8ª ed., pp. 33/47.

anexo – conferência proferida pelo ex-Presidente Fernando Henrique cardoso: “Globalização e outros temas contemporâneos”

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anexo – aula 3

GLOBALIZAÇÃO E OUTROS TEMAS CONTEMPORÂNEOS

“Conseqüências Sociais da Globalização” Conferência do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,

no Indian International Centre. Nova Delhi, Índia, 27 de janeiro de 1996

i - introdução. as diferentes acepções da globalização

É um prazer para mim compartilhar com os presentes algumas reflexões sobre as conseqüências da globa-lização. É desnecessário dizer que um tema de tamanha complexidade não pode ser analisado, em todas as suas implicações, numa conferência breve como esta. De qualquer modo, os limites de tempo que tenho de respeitar terão um efeito benéfico: serei conciso e assim concentrarei minha atenção nos tópicos de interesse particular para países em desenvolvimento como Brasil e Índia.

a globalização tornou-se uma espécie de palavra da moda. Muitas vezes dita, mas raramente com o mesmo significado. trata-se, na verdade, de um daqueles conceitos tão amplos, que é empregado por diferentes pessoas para explicar fatos de natureza completamente diversa. Mesmo quando qualificada como “econômica”, a globa-lização ainda pode ser associada a uma grande variedade de fenômenos.

Possivelmente, a primeira noção que nos vem à mente ao falarmos da globalização econômica é a da sempre crescente expansão dos fluxos financeiros internacionais e de seu impacto sobre as políticas monetária e cambial das economias nacionais. os efeitos da dimensão financeira da globalização são de certa forma controversos. se, por um lado, a mobilidade dos fluxos financeiros através das fronteiras nacionais pode ser vista como uma forma eficiente de alocar recursos internacionalmente e de canalizá-los para países emergentes, por outro, a volatilidade dos capitais de curto prazo e a possibilidade de seu uso para ataques especulativos contra moedas são conside-rados como uma nova forma de ameaça à estabilidade econômica dos países. noutras palavras, o movimento virtualmente desimpedido de grandes volumes de capitais cria, ao mesmo tempo, oportunidades e riscos.

outro aspecto é a globalização da produção e a conseqüente ampliação das correntes internacionais de co-mércio. no passado, a regra geral era de que todas as fases da produção de uma determinada mercadoria fossem realizadas num mesmo país, e esta mercadoria era então consumida localmente ou exportada. Isso já não corres-ponde à verdade. Diminuiu o conteúdo nacional da maioria das mercadorias, e fases intermediárias na produção de um bem agora ocorrem em diferentes países. os produtos finais, especialmente aqueles mais intensivos em tecnologia, dificilmente podem receber o rótulo de serem integralmente feitos (made in) num só país. Isto é o resultado da interação de várias novas tendências, entre as quais a redução nos custos da mobilidade dos fatores de produção e as economias de escala exigidas por processos produtivos crescentemente sofisticados.

o comércio internacional de bens intermediários se faz sobretudo entre unidades industriais da mesma empresa. as corporações freqüentemente estruturam suas atividades de modo a atender estratégias de marketing e produção destinadas a reforçar sua posição competitiva regional ou global. os países são selecionados para receber investimentos destas corporações com base no quadro geral das vantagens comparativas que oferecem.

Isto tem levado a uma acirrada competição entre países - em particular aqueles em desenvolvimento - por investimentos externos. em contraste com as décadas de 60 e 70, quando julgavam necessário introduzir con-troles e restrições para disciplinar, em seus mercados, as atividades das transnacionais, os países em desenvolvi-mento têm reformulado suas políticas comerciais e econômicas, em parte para oferecer um ambiente doméstico atraente para os investimentos externos, os quais se fazem necessários para complementar as suas taxas internas de poupança geralmente insuficientes.

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A globalização também conduz a uma crescente uniformidade do arcabouço institucional e do qua-dro regulatório em todos os países. Pois, para que possa desenvolver-se a globalização da produção, é preciso que as regras nos diferentes países sejam similares, de modo que não venham a prevalecer, em qualquer país, vantagens “artificiais “. Exemplo desta tendência é a introdução, na Organização Mundial de Comércio, de padrões internacionais para os direitos de propriedade intelectual e para as regras de investimento. Temas que, no passado, eram considerados como de competência interna de cada país estão agora sujeitos a regimes multilaterais de regras. Naturalmente que há limites a essa crescente uniformiza-ção de padrões, em razão das próprias diferenças nacionais. E é complexa a interação entre as tendências globais no sentido da homogeneidade e as identidades nacionais.

Finalmente, a globalização econômica está associada a uma revolução nos métodos de produção que resul-tou numa mudança significativa nas vantagens comparativas das nações. a posição competitiva de um país em relação aos demais é, cada vez mais, determinada pela qualidade de seus recursos humanos, pelo conhecimento, pela ciência e tecnologia aplicadas à produção. abundância de mão-de-obra e matérias-primas é vantagem com-parativa de importância cada vez menor, na medida em que aqueles dois fatores de produção representam par-celas declinantes do valor agregado em praticamente todos os bens. esta tendência irreversível torna improvável que o êxito dos países do sul derive exclusivamente da mão-de-obra barata e dos recursos naturais.

ii - as conseqüências da globalização

ii. 1 - a mudança no papel do estadoIntimamente vinculada à questão da globalização econômica é a mudança no papel do estado. a globali-

zação significa que as variáveis externas passaram a ter influência acrescida nas agendas domésticas, reduzindo o espaço disponível para as escolhas nacionais. Já mencionei que os requisitos para a competitividade externa levaram a uma maior homogeneidade nos aspectos institucionais e regulatórios dos estados, que tais requisitos deixaram menor margem de manobra para estratégias nacionais altamente diferenciadas em relação, entre ou-tros, ao trabalho e à política macroeconômica. o equilíbrio fiscal, por exemplo, tornou-se um novo dogma,, conforme bem ilustra o tratado de Maastricht da união européia, que fixa parâmetros dentro dos quais devem situar-se os números do equilíbrio orçamentário de seus países-membros.

tanto a opinião pública internacional quanto o comportamento dos mercados também passaram a de-sempenhar um papel que antes não tinham na redefinição dos limites possíveis de ação para o estado. a infor-mação movimenta-se livre e rapidamente. se, por exemplo, circula a noticia de que um determinado país está enfrentando dificuldades para controlar seu défict orçamentário ou estará proximamente elevando suas taxas de juros, os mercados financeiros intencionais tomam, com fundamento nestas noticias, decisões que poderão ter impacto real no pais em questão.

os países, seus lideres e as políticos por eles adotadas estão sob vigilância próxima e constante da opinião pública internacional. Qualquer medida julgada por estas entidades imateriais como passo em falso pode impor penalidades. ao contrário, decisões ou eventos interpretados como positives solo recompensados. a opinião pública internacional e, sobretudo, os mercados tendem a ser conservadores, a seguir uma certa ortodoxia em matéria econômica. estabelecem um padrão de conduta econômica que praticamente não admite desvios num mundo em que h;! imensa variedade de realidades nacionais. o complexo processo de ajuste não deve ignorar tal diversidade.

a globalização modificou o papel do estado num outro aspecto. alterou radicalmente a ênfase da ação governamental, agora dirigida quase exclusivamente para tomar possível as economias nacionais desenvolverem e sustentarem condições estruturais de competitividade em escala global.

Isto não significa necessariamente um estado menor, muito embora este também seja um efeito colateral desejável da mudança de ênfase, mas certamente pede um estado que intervenha menos e melhor; um estado

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que seja capaz de mobilizar seus recursos escassos para atingir prioridades selecionadas, um estado que possa canalizar seus investimentos para as áreas vitais na melhoria da posição competitiva do país, tais como infra-estrutura e serviços públicos básicos, entre os quais melhor educação e saúde; um estado que esteja pronto a transferir para mãos privadas empresas melhor administradas por elas; um estado, finalmente, no qual os fun-cionários públicos estejam a altura das demandas da coletividade por melhores serviços.

e tudo isso tem de ser feito num tempo em que os valores democráticos e uma sociedade civil fortalecida tornam ainda mais amplas as reivindicações de mudança. a transformação do estado tem também de ser con-duzida num quadro econômico de disciplina fiscal e austeridade no gasto público, em que o estado conta com menos recursos financeiros.

não se trata de tarefa simples. requer uma mudança substancial de atitude e determinação para combater interesses velados dentro do aparato estatal. Mas não há alternativa. no caso do Brasil, temos, em suma, de re-construir o estado se quisermos ter qualquer possibilidade de êxito na transição do modelo autárquico do passa-do para outro em que nossa economia se integre plenamente nos fluxos mundiais de comércio e investimento.

Pode parecer paradoxal que esta remodelação do estado de nenhuma forma conflite com ideais tradicio-nais da esquerda (e orgulho-me de ser fundador e membro do partido que representa a social Democracia no Brasil). Pois é justamente isto o que ocorre. ao realocar seus recursos e suas prioridades para educação e saúde, num país com os grandes contrastes sociais do Brasil, o novo estado estará contribuindo para a realização de algo em que ele falhou no passado: promover maior igualdade de oportunidades numa época em que a qualificação e a educação constituem pré-requisito não apenas para a conquista de um posto de trabalho, mas também para aumentar o grau de mobilidade social no país.

Hoje, mais do que nunca, metas caras à esquerda podem ser alcançadas junto com e em virtude de nossos esforços para aumentarmos as capacidades nacionais com vistas à participação competitiva na economia mun-dial. além disso, este estado remodelado precisa ser ainda mais forte no desempenho de suas tarefas sociais e melhor preparado para regulamentar as atividades recentemente privatizadas.

as dificuldades no processo de transição do papel do estado são sentidas em toda parte e não podem ser su-bestimadas. a reforma da Previdência social na França e as difíceis negociações para a aprovação do orçamento nos estados unidos são exemplos dos obstáculos a serem superados pelos Governos, basicamente porque não há respostas imediatas e evidentes ao desafio da transição. abandonar as práticas tradicionais do estado do Bem-estar não implica deixar de lado a necessidade de melhores padrões de vida para os nossos povos.

ii. 2 - algumas considerações políticas sobre a globalizaçãoDe tudo o que disse até o momento, pode-se ficar com a impressão de que o processo de globalização res-

ponderia apenas às forças de mercado. Da perspectiva tanto da alocação de recursos quanto das decisões relativas ao investimento produtivo, o mercado é, de fato, o fator decisivo. Mas devemos evitar o erro de tirar, desse fato, conclusões equivocadas.

a primeira dessas possíveis conclusões equivocadas seria considerar que a globalização, vista como resul-tante unicamente das forças de mercado, esgotaria o debate sobre a questão. Isto não é verdade. os contornos dentro dos quais o mercado atua são definidos politicamente. o jogo de poder entre as nações não está ausente, assim como não o está a possibilidade de cooperação econômica definida por Governos. as negociações de co-mércio exterior ainda são conduzidas por meio do diálogo entre estados em foros por eles criados, em particular as que dizem respeito à definição das regras que balizam a competição.

o poder econômico é um fator determinante nestas negociações, bem como na solução de disputas co-merciais bilaterais. em alguns casos, as potências econômicas invocam sua influência para desrespeitar as regras multilaterais por elas próprias propostas. a questão dos subsídios à agricultura ilustra este ponto. Por outro lado, os movimentos recentes de criação de processos de integração regional, a que os anos 90 têm assistido, são tam-bém iniciativas com as quais os Governos tentam influenciar a direção da globalização econômica.

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a segunda conclusão perigosa que devemos evitar seria transformar o mercado numa forma de ideologia, segundo a qual tudo o que estivesse a favor das forças de mercado fosse visto como bom, positivo, fator de de-senvolvimento, ao passo que seria vista como negativa qualquer decisão política destinada a moldar as forças da competição.

É justamente o reconhecimento de que há “limites” ao mercado que permite a nós, países em desenvolvi-mento, atuarmos politicamente na defesa de nossos interesses nacionais. no entanto, as formas de atuação, de regular o processo de globalização, variam entre os diferentes países em desenvolvimento.

Queiramos ou não, a globalização econômica é uma nova ordem internacional. Precisamos aceitar este fato com sentido de realismo; do contrário, nossas ações estarão destituídas de qualquer impacto efetivo. Isto não significa inércia política, mas uma perspectiva inteiramente nova sobre as formas de agir na cena internacional.

Precisamos também reconhecer nossas diferenças. o sul não pode ser considerado como uma entidade única. a globalização acelerou e aprofundou a diferenciação entre os países em desenvolvimento em termos de sua capacidade de tirar proveito dos fluxos internacionais de investimento e comércio.

Quando escrevi meus livros sobre a teoria da dependência, a hipótese era a de que o processo internacional do capitalismo condicionava negativamente o desenvolvimento. não o impedia, mas o tomava injusto e dese-quilibrado. Para muitos, os modelos econômicos autárquicos eram uma possível forma de defesa contra uma integração internacional considerada arriscada e perigosa. esta visão mudou. temos de admitir que a participa-ção na economia global pode ser positiva, que o sistema internacional não é necessariamente hostil. Mas, para aproveitar as oportunidades, é preciso ir com cuidado. o sucesso da integração na economia global depende, de um lado, da articulação diplomática e da construção de parcerias comerciais adequadas, e, de outro, da realiza-ção de reformas internas em cada país em desenvolvimento, democraticamente conduzidas.

ii. 3 - globalização e a questão da inclusão e exclusãoGostaria agora de passar ao exame de outra conseqüência da globalização: a questão da exclusão e inclusão

social. e minha primeira observação é a de que a globalização está dando origem a uma nova divisão interna-cional.

os pontos cardeais já não explicam de forma satisfatória o mundo. as divisões leste-oeste e norte-sul eram conceitos que minha geração empregou para lidar respectivamente com a realidade política da Guerra Fria e com o desafio econômico do subdesenvolvimento. a situação internacional desta metade da década de 90 é muito mais complexa. o mundo pode ser dividido entre as regiões ou países que participam do processo de globalização e usufruem seus frutos e aqueles que não participam. os primeiros estão geralmente associados à idéia de progresso, riqueza, melhores condições de vida; os demais, à exclusão, marginalização, miséria.

É certo que a globalização produziu uma janela de oportunidades para que mais países pudessem ingressar nas principais correntes da economia mundial. os tigres asiáticos e mesmo o Japão são exemplos significati-vos. estes países souberam aproveitar as oportunidades dadas pela economia mundial através da adoção de um conjunto de políticas que incluem, entre outras, o desenvolvimento de uma força de trabalho bem treinada e qualificada, aumento substancial da taxa de poupança doméstica, e implementação de modelos voltados para a exportação e baseados na intervenção estatal seletiva em alguns setores.

Para outros países em desenvolvimento mais complexos, entre os quais o Brasil e a Índia, a integração na economia global está sendo feita à custa de maior esforço de ajuste interno e numa época de competição in-ternacional mais acirrada. nossos avanços são conhecidos, e não tenho dúvidas de que nossos dois países estão tendo êxito em gradualmente colher os frutos dos laços econômicos mais profundos que estão estabelecendo com o resto do mundo.

o mesmo acredito será válido para as chamadas economias em transição dos antigos países comunistas, que, não obstante, estão pagando um preço alto pelo ajuste aos princípios da economia de mercado impostos pela realidade atual.

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Para os países menores e mais atrasados, prevalece, porém, um grande ponto de interrogação. serão eles capazes de algum dia poder superar os desafios da globalização? estão seus povos condenados por uma lógica perversa a viver na pobreza absoluta, a ver suas instituições ruírem e a depender da ajuda externa num mundo menos predisposto a oferecê-la e mal preparado para canalizá-la de modo eficiente? reconheço que as dificuldades a serem enfrentadas por esses países são enormes. no entanto, recuso-me a aceitar que seu destino esteja predeterminado ao fracasso, como se nada pudesse ser feito, como se a comunidade internacional pudesse conviver confortavelmente com a indiferença e a paralisia em relação aos países mais pobres. a marginalização perverte a boa consciência da humanidade.

a marginalização, todavia, não está confinada unicamente aos países ainda não integrados na economia internacional. ela também está crescendo nos próprios países prósperos.

a globalização significa competição com base em maiores níveis de produtividade, ou seja, maior produção por unidade de trabalho. o desemprego resulta assim dos mesmos motivos que levam uma economia a ser competitiva. a situação é particularmente grave na europa. os que são demitidos nos países ricos podem recorrer a mecanismos de proteção social de diferentes tipos; alguns poderão ser treinados para um trabalho substituto. Mas pouco poderá fazer-se para aliviar a frustração dos jovens que querem ingressar no mercado de trabalho e não conseguem. a falta de esperança, o consumo de drogas e álcool, o desmembramento da família são alguns dos problemas trazidos pelo de-semprego e pela conseqüente marginalização. Há um sentimento de exclusão, de mal-estar em vastos segmentos das sociedades ricas integradas na economia global, alimentando a violência e, em alguns casos, atitudes de xenofobia.

como lidar com a complexa questão do desemprego é um desafio com o qual se defrontam praticamente todos os países que participam da economia global. a resposta a ele certamente não deve ser encontrada numa reação à globalização, seja mediante um fechamento da economia ao comércio com parceiros externos, o que apenas agrava a marginalização de um país, seja mediante o estabelecimento de regras muito rígidas nas relações de trabalho, passo que corre o risco de, em vez de estimular, dificultar a criação de empregos.

apesar de que dificilmente se poderia considerar a criação de empregos uma responsabilidade direta dos Governos, estes dispõem de uma ampla gama de possibilidades de ação para atacar o problema. a primeira e talvez mais importante medida é a promoção do crescimento econômico sustentado, através da adoção de políticas cor-retas. a segunda seria promover programas dos órgãos oficiais e do setor privado que sejam destinados ao retreina-mento dos trabalhadores dispensados por setores nos quais já não conseguem encontrar um posto de trabalho.

um terceiro passo seria tornar mais flexível o conjunto de regras relativas às relações de trabalho, de modo a preservar o número de empregos. esta flexibilização deveria possibilitar, por exemplo, que empresas e traba-lhadores negociassem livremente um leque tão vasto quanto possível de tópicos, tais como o número de horas de trabalho e de dias de férias, a forma de pagamento das horas extras, etc. Deveria também resultar em menores custos para a contratação de trabalhadores.

Por fim, há alguns instrumentos à disposição do Governo que podem ser atrelados à expansão da oferta de empregos, tais como a concessão de créditos pelos bancos estatais e a inclusão de incentivos na legislação tributária.

em países de grande população como o Brasil e a Índia, deve-se também ter sempre presentes, ao pensar-se a questão da geração de empregos, as formas de funcionamento da chamada economia informal. em que medida a economia informal reduz empregos na economia formal e em que medida oferece postos de trabalho adicionais? um melhor conhecimento destas questões é necessário para que possamos tirar as conclusões corre-tas e adotar as medidas apropriadas.

iii - conclusão. o campo para a atuação internacional. a ética da solidariedade

Permitam-me agora concluir com alguns breves comentários sobre o que pode ser feito pela comunidade internacional para lidar com os efeitos negativos da globalização econômica, fenômeno que está aqui para ficar e que influenciará nossas opções nacionais no futuro previsível.

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como disse, a globalização gerou a exclusão dos países pobre que ainda não compartilham os benefícios do processo. criou também marginalização nos países ricos e naqueles em desenvolvimento que se encontram integrados na economia mundial. Mas a globalização também multiplicou a riqueza, desencadeando forças produtivas numa escala sem precedentes. Devemos renunciar aos elementos positivos da globalização, às possi-bilidades de maior riqueza por ela oferecidas, e reverter o relógio da História, supondo que seja possível fazê-lo? a resposta a esta indagação é seguramente negativa.

como, então, podem atuar os Governos e chefes de estado para atenuar os dolorosos efeitos colaterais da marginalização numa época em que se modificou e de certa forma se contraiu o papel do estado?

assim como os estados podem reduzir seus desequilíbrios sociais internamente, também é possível imagi-nar um grupo de estados que seja capaz de propor alternativas para aliviar as conseqüências sociais da globali-zação. não é tarefa simples. sabemos que os problemas de hoje são de natureza global, como a volatilidade dos capitais mundiais, o tráfico de drogas, a proteção do meio ambiente, as migrações, etc.

o desafio reside em completarmos a transição da etapa do reconhecimento de que os problemas são globais para outra fase mais adiantada, na qual estejam criados os instrumentos concretos e estabelecida a mobilização para a mudança. sem ter a pretensão de oferecer uma resposta completa a este desafio, parece-me que um bom começo deveria partir do reconhecimento de que as propostas de mudança devam preencher quatro condições:

a) a primeira é de que as propostas de mudança sejam universais, que possam, pela negociação, encontrar alguma forma de consenso nos interesses dos estados, pobres e ricos, em desenvolvimento e desenvolvidos;

b) a segunda condição é de que todas as propostas sejam viáveis, que não sejam irrealistas nem ingênuas, que não exacerbem rivalidades;

c) a terceira é de que as propostas sejam capazes de mobilizar aqueles estados e outros atores que contem com efetivo peso para influenciar o processo de negociação;

d) e a quarta condição é a de que as propostas incorporem um conteúdo ético que as tome capazes de se situar acima da mística do mercado e do jogo de poder.

É chegado o tempo de tentarmos reintroduzir a ética da solidariedade nas formas de atuação do estado e, através delas, no conjunto da sociedade. os Governos não podem fazer tudo, nem as lideranças mundiais. não obstante, em razão do papel que desempenham, do exemplo que podem dar, os Governos e seus líderes podem ser catalisadores da mudança, trazendo de volta valores éticos numa época que parece ser deles carente.

no plano internacional, a ética da solidariedade pode levar a novas utopias, ainda que mais modestas, para preencher o vácuo ideológico deixado pelo colapso das grandes utopias do passado. a ética da solidariedade deve-ria inscrever na agenda internacional o tema da cooperação internacional para o desenvolvimento, agora dentro de uma nova perspectiva, que possa combater a indiferença em relação à marginalização, à exclusão, à fome e à doença, problemas que estão na raiz das questões das migrações e da violência no mundo todo.

no plano interno de cada um de nossos países, a ética da solidariedade deverá estar a serviço da formação de novas modalidades de parceria entre a sociedade e o Governo; deverá auxiliar, através da educação, a sociedade a organizar-se, de modo que ela se tome mais autônoma e menos dependente de Governos que têm menos recur-sos; deverá dar maior importância ao desenvolvimento da comunidade e à construção da nação, da cidadania. cidadãos e elites precisam exercer sua responsabilidade social se quisermos viver num mundo melhor.

termino aqui meus comentários, ciente de que, apesar de diferentes pela história e geografia, a Índia e o Brasil compartilham problemas e desafios semelhantes. Hoje, toquei em alguns deles. trataremos de enfrentá-los a partir de perspectivas distintas, mas buscando os mesmos resultados: lutar pela prosperidade mundial, melho-rar os padrões de vida de nossos povos e reduzir a marginalização de suas camadas mais pobres. Desejo apenas que a Índia e o Brasil tenham êxito. e que no futuro estejam unidos, trabalhando juntos. (www.planalto.gov.br/publicações)

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Bloco ii – conflito De leis - Qual a lei aPlicável?

aula 4 – regras De conexão

nota ao aluno

nas aulas anteriores, muito se falou sobre relações conectadas a mais de um sistema jurídico. nesta aula, trataremos das regras de conexão, ou seja, quais os elementos de uma relação jurídica que vinculam uma deter-minada relação jurídica aos diversos ordenamentos.

Por exemplo: (a) o download de uma música de um site localizado na Índia para um computador localiza-do na austrália; (b) a realização de apostas em jogos de azar por brasileiro em site localizado em las vegas; (c) a compra de gás natural na Bolívia para entrega no Brasil; (d) a venda de soja e sua exportação por produtor brasileiro para compradores chineses; (e) os investimentos realizados por brasileiros no exterior e a possibilidade de bloqueio e repatriação desses bens pelas autoridades brasileiras; e (f ) o casamento entre um brasileiro e uma alemã realizado na França.

Quais os elementos de cada uma dessas relações jurídicas que são relevantes para conectá-los a cada sistema jurídico?

tendo em vista a variedade destes elementos e regras, “Haroldo valadão apresenta uma classificação ob-jetiva das regras de conexão classificando-as em reais, pessoais e institucionais. as reais são todas aquelas que encerram um elemento espacial: situação da coisa, lugar do ato ou do fato, lugar de origem ou do nascimento, do domicílio ou da residência habitual; são pessoais a nacionalidade, via ius sanguinis, a religião, a raça, a tribo, a vontade expressa ou tácita; e são institucionais o pavilhão ou a matrícula do navio ou da aeronave e o foro.” (DolInGer, Jacob. Direito Internacional Privado. rio de Janeiro: renovar, 2005, 8ª ed., p. 293)

avaliaremos, desta maneira, algumas regras de conexão constantes da lei de Introdução ao código civil, comparando-as com certas regras adotadas por outros países, discutindo a conveniência, vantagens e desvanta-gens de cada uma. com isso, poder-se-á estabelecer qual ordenamento deverá reger cada relação jurídica e se é possível que mais de um o faça.

Bibliografia obrigatória

strenGer, Irineu. Direito internacional privado. são Paulo: ltr, 2006, 6ª ed., pp. 333-372.

Bibliografia complementar

arauJo, nadia de. contratos internacionais: autonomia da vontade, Mercosul e convenções internacio-nais. rio de janeiro: renovar, 2004, pp. 25-32.

roDas, João Grandino. elementos de conexão do direito internacional privado brasileiro relativamente às obrigações contratuais in contratos internacionais/coordenador João Grandino rodas. são Paulo: editora revista dos tribunais, 2002, 3ª ed., pp. 19-65.

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aula 5 - MétoDo conflitual

nota ao aluno

conforme sustentado por diversos autores, o Direito Internacional Privado é um direito sobre direito. É um conjunto de regras que se limita a identificar em qual ordenamento jurídico deverá o operador do direito buscar o conjunto de normas aplicáveis ao caso, não oferecendo a norma substantiva sobre ele incidente.

em outras palavras, o Direito Internacional Privado decide se certa relação jurídica se aplica a lei do país X ou a lei do país Y. não cabe a ele definir se, dentro de um desses ordenamentos jurídicos, a norma aplicável à relação jurídica em exame será a referente a contratos de locação comercial ou residencial, por exemplo.

o Direito Internacional Privado identifica a lei aplicável por meio do chamado método conflitual, segundo o qual o aplicador do direito busca nas regras de conexão a solução para o problema.

o Brasil, seguindo a posição européia e da maioria dos países da américa latina, adota o método conflitual tra-dicional, segundo o qual, mediante aplicação rígida das regras de conexão, chega-se ao direito aplicável à relação jurí-dica sob análise. neste, ignora-se o resultado concreto decorrente da aplicação da lei indicada pela regra de conexão.

Do outro lado, temos a posição mais moderna, que defende a aplicação mais flexível do método conflitual, para fazer incidir sobre a relação jurídica as leis com as quais ela mantém maior ligação. trata-se do denominado princípio da proximidade.

essa posição mais moderna está sendo adotada por alguns tribunais americanos, para certas áreas do direi-to, mas ainda há questionamentos sobre ela.

nesta aula, faremos uma análise dessas duas correntes de aplicação do método conflitual, por intermédio da análise do caso Babcock, um leading case sobre a matéria no estado de nova Iorque.

caso

Dois moradores do estado de nova Iorque alugaram um carro com o propósito de fazer uma viagem de fim de semana para o canadá. convidaram uma amiga, também residente em nova Iorque, para viajar com eles.

Durante a viagem, já no canadá, os viajantes sofreram um acidente, no qual a convidada ficou gravemente ferida. Devido aos ferimentos e prejuízos sofridos, a convidada propôs ação contra o casal, em nova Iorque, reclamando indenização pelas perdas e danos incorridos.

a lei canadense veda a possibilidade do carona pleitear indenização contra o motorista do carro, enquanto a lei do estado de nova Iorque reconhece tal direito.

Perguntas

levando-se em consideração o método tradicional, qual seria a lei aplicável ao caso? e de acordo com o princípio da proximidade?

os alunos devem estar preparados para discutir e opinar sobre as vantagens e desvantagens de cada sistema e, de acordo com a opinião pessoal de cada um, determinar qual dos dois métodos deveria ser adotado pelo direito brasileiro.

Bibliografia obrigatória

arauJo, nadia de. Direito internacional privado: teoria e prática brasileira. rio de Janeiro: renovar, 2006, 3ª ed., pp. 33/48.

anexo – caso Babcock

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anexo – aula 5

GEORGIA W. BABCOCK, Appellant,v.

MABEL B. JACKSON, as Executrix of WILLIAM H. JACKSON, Deceased, Respondent.

court of appeals of new York argued January 23, 1963

Decided May 9, 1963

Babcock v. Jackson case: 191 n.e.2d 279 (n.Y. 1963).

oPInIon oF tHe court

FulD, J.

on Friday, september 16, 1960, Miss Georgia Babcock and her friends, Mr. and Mrs. William Jackson, all residents of rochester, left that city in Mr. Jackson’s automobile, Miss Babcock as guest, for a week-end trip to canada. some hours later, as Mr. Jackson was driving in the Province of ontario, he apparently lost control of the car; it went off the highway into an adjacent stone wall, and Miss Babcock was seriously injured. upon her return to this state, she brought the present action against William Jackson, alleging negligence on his part in operating his automobile.

at the time of the accident, there was in force in ontario a statute providing that “the owner or driver of a motor vehicle, other than a vehicle operated in the business of carrying passengers for compensation, is not liable for any loss or damage resulting from bodily injury to, or the death of any person being carried in “the motor vehicle”. even though no such bar is recognized under this state’s substantive law of torts, the defendant moved to dismiss the complaint on the ground that the law of the place where the accident occurred governs and that ontario’s guest statute bars recovery. The court at special term, agreeing with the defendant, granted the motion and the appellate Division, over a strong dissent by Justice Halpern, affirmed the judgment of dis-missal without opinion.

The question presented is simply drawn. shall the law of the place of the tort invariably govern the avai-lability of relief for the tort or shall the applicable choice of law rule also reflect a consideration of other factors which are relevant to the purposes served by the enforcement or denial of the remedy?

The traditional choice of law rule, embodied in the original restatement of conflict of laws (§ 384), and until recently unquestioningly followed in this court, has been that the substantive rights and liabilities arising out of a tortious occurrence are determinable by the law of the place of the tort. It had its conceptual foundation in the vested rights doctrine, namely, that a right to recover for a foreign tort owes its creation to the law of the jurisdiction where the injury occurred and depends for its existence and extent solely on such law. although es-poused by such great figures as Justice Holmes and Professor Beale, the vested rights doctrine has long since been discredited because it fails to take account of underlying policy considerations in evaluating the significance to be ascribed to the circumstance that an act had a foreign situs in determining the rights and liabilities which arise out of that act. “The vice of the vested rights theory”, it has been aptly stated, “is that it affects to decide concrete cases upon generalities which do not state the practical considerations involved”. More particularly, as applied to torts, the theory ignores the interest which jurisdictions other than that where the tort occurred may have in the resolution of particular issues. It is for this very reason that, despite the advantages of certainty,

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ease of application and predictability which it affords, there has in recent years been increasing criticism of the traditional rule by commentators and a judicial trend towards its abandonment or modification.

significantly, it was dissatisfaction with “the mechanical formulae of the conflicts of law” which led to judicial departure from similarly inflexible choice of law rules in the field of contracts, grounded, like the torts rule, on the vested rights doctrine. according to those traditional rules, matters bearing upon the execution, interpretation and validity of a contract were determinable by the internal law of the place where the contract was made, while matters connected with their performance were regulated by the internal law of the place where the contract was to be performed.

In Auten v. Auten, however, this court abandoned such rules and applied what has been termed the “center of gravity” or “grouping of contacts” theory of the conflict of laws. “under this theory,” we declared in the Auten case, “the courts, instead of regarding as conclusive the parties’ intention or the place of making or performan-ce, lay emphasis rather upon the law of the place ‘which has the most significant contacts with the matter in dispute’ “. The “center of gravity” rule of Auten has not only been applied in other cases in this state, as well as in other jurisdictions, but has supplanted the prior rigid and set contract rules in the most current draft of the restatement of conflict of laws.

realization of the unjust and anomalous results which may ensue from application of the traditional rule in tort cases has also prompted judicial search for a more satisfactory alternative in that area. In the much discussed case of Kilberg v. Northeast Airlines, this court declined to apply the law of the place of the tort as respects the issue of the quantum of the recovery in a death action arising out of an airplane crash, where the decedent had been a new York resident and his relationship with the defendant airline had originated in this state. In his opinion for the court, chief Judge Desmond described, with force and logic, the shortcomings of the traditional rule:

“Modern conditions make it unjust and anomalous to subject the traveling citizen of this state to the varying laws of other states through and over which they move. * * * an air traveler from new York may in a flight of a few hours’ duration pass through * * * commonwealths [limiting death damage awards]. His plane may meet with disaster in a state he never intended to cross but into which the plane has flown because of bad weather or other unexpected developments, or an airplane’s catastrophic descent may begin in one state and end in another. The place of injury becomes entirely fortuitous. our courts should if possible provide protection for our own state’s people against unfair and anachronistic treatment of the lawsuits which result from these disasters.”

The emphasis in Kilberg was plainly that the merely fortuitous circumstance that the wrong and injury occurred in Massachusetts did not give that state a controlling concern or interest in the amount of the tort recovery as against the competing interest of new York in providing its residents or users of transportation faci-lities there originating with full compensation for wrongful death. although the Kilberg case did not expressly adopt the “center of gravity” theory, its weighing of the contacts or interests of the respective jurisdictions to determine their bearing on the issue of the extent of the recovery is consistent with that approach.

The same judicial disposition is also reflected in a variety of other decisions, some of recent date, others of ear-lier origin, relating to workmen’s compensation, tortious occurrences aristing out of a contract, issues affecting the survival of a tort right of action and intrafamilial immunity from tort and situations involving a form of statutory liability. These numerous cases differ in many ways but they are all similar in two important respects. First, by one rationale or another, they rejected the inexorable application of the law of the place of the tort where that place has no reasonable or relevant interest in the particular issue involved. and, second, in each of these cases the courts, after examining the particular circumstances presented, applied the law of some jurisdiction other than the place of the tort because it had a more compelling interest in the application of its law to the legal issue involved.

The “center of gravity” or “grouping of contacts” doctrine adopted by this court in conflicts cases involving contracts impresses us as likewise affording the appropriate approach for accommodating the competing inte-

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rests in tort cases with multi-state contacts. Justice, fairness and “the best practical result” may best be achieved by giving controlling effect to the law of the jurisdiction which, because of its relationship or contact with the occurrence or the parties, has the greatest concern with the specific issue raised in the litigation. The merit of such a rule is that “it gives to the place ‘having the most interest in the problem’ paramount control over the legal issues arising out of a particular factual context” and thereby allows the forum to apply “the policy of the jurisdiction ‘most intimately concerned with the outcome of [the] particular litigation.’ “

such, indeed, is the approach adopted in the most recent revision of the conflict of laws restatement in the field of torts. according to the principles there set out, “The local law of the state which has the most signifi-cant relationship with the occurrence and with the parties determines their rights and liabilities in tort”, and the relative importance of the relationships or contacts of the respective jurisdictions is to be evaluated in the light of “the issues, the character of the tort and the relevant purposes of the tort rules involved”.

comparison of the relative “contacts” and “interests” of new York and ontario in this litigation, vis-a-vis the issue here presented, makes it clear that the concern of new York is unquestionably the greater and more direct and that the interest of ontario is at best minimal. The present action involves injuries sustained by a new York guest as the result of the negligence of a new York host in the operation of an automobile, garaged, licensed and undoubtedly insured in new York, in the course of a week-end journey which began and was to end there. In sharp contrast, ontario’s sole relationship with the occurrence is the purely adventitious circumstance that the accident occurred there.

new York’s policy of requiring a tort-feasor to compensate his guest for injuries caused by his negligence cannot be doubted — as attested by the fact that the legislature of this state has repeatedly refused to enact a statute denying or limiting recovery in such cases — and our courts have neither reason nor warrant for de-parting from that policy simply because the accident, solely affecting new York residents and arising out of the operation of a new York based automobile, happened beyond its borders. Per contra, ontario has no conceiva-ble interest in denying a remedy to a new York guest against his new York host for injuries suffered in ontario by reason of conduct which was tortious under ontario law. The object of ontario’s guest statute, it has been said, is “to prevent the fraudulent assertion of claims by passengers, in collusion with the drivers, against insu-rance companies” and, quite obviously, the fraudulent claims intended to be prevented by the statute are those asserted against ontario defendants and their insurance carriers, not new York defendants and their insurance carriers. Whether new York defendants are imposed upon or their insurers defrauded by a new York plaintiff is scarcely a valid legislative concern of ontario simply because the accident occurred there, any more so than if the accident had happened in some other jurisdiction.

It is hardly necessary to say that ontario’s interest is quite different from what it would have been had the issue related to the manner in which the defendant had been driving his car at the time of the accident. Where the defendant’s exercise of due care in the operation of his automobile is in issue, the jurisdiction in which the allegedly wrongful conduct occurred will usually have a predominant, if not exclusive, concern. In such a case, it is appropriate to look to the law of the place of the tort so as to give effect to that jurisdiction’s interest in regulating conduct within its borders, and it would be almost unthinkable to seek the applicable rule in the law of some other place.

The issue here, however, is not whether the defendant offended against a rule of the road prescribed by ontario for motorists generally or whether he violated some standard of conduct imposed by that jurisdiction, but rather whether the plaintiff, because she was a guest in the defendant’s automobile, is barred from recove-ring damages for a wrong concededly committed. as to that issue, it is new York, the place where the parties resided, where their guest- host relationship arose and where the trip began and was to end, rather than ontario, the place of the fortuitous occurrence of the accident, which has the dominant contacts and the superior claim for application of its law. although the rightness or wrongness of defendant’s conduct may depend upon the law of the particular jurisdiction through which the automobile passes, the rights and liabilities of the parties

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which stem from their guest-host relationship should remain constant and not vary and shift as the automobile proceeds from place to place. Indeed, such a result, we note, accords with “the interests of the host in procuring liability insurance adequate under the applicable law, and the interests of his insurer in reasonable calculability of the premium.”

although the traditional rule has in the past been applied by this court in giving controlling effect to the guest statute of the foreign jurisdiction in which the accident occurred, it is not amiss to point out that the ques-tion here posed was neither raised nor considered in those cases and that the question has never been presented in so stark a manner as in the case before us with a statute so unique as ontario’s. Be that as it may, however, reconsideration of the inflexible traditional rule persuades us, as already indicated, that, in failing to take into account essential policy considerations and objectives, its application may lead to unjust and anomalous results. This being so, the rule, formulated as it was by the courts, should be discarded.

In conclusion, then, there is no reason why all issues arising out of a tort claim must be resolved by refe-rence to the law of the same jurisdiction. Where the issue involves standards of conduct, it is more than likely that it is the law of the place of the tort which will be controlling but the disposition of other issues must turn, as does the issue of the standard of conduct itself, on the law of the jurisdiction which has the strongest interest in the resolution of the particular issue presented.

The judgment appealed from should be reversed, with costs, and the motion to dismiss the complaint denied.

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aulas 6 e 7 – liMites à aPlicação Da regra De Direito estrangeiro

nota ao aluno

cada estado tem o poder de polícia para estabelecer as leis aplicáveis dentro do seu território. Houve épo-cas em que determinados estados adotavam a teoria da territorialidade, segundo a qual as leis estrangeiras não poderiam produzir efeito algum dentro do território, onde a única lei aplicável era a nacional.

entretanto, devido ao crescimento do número de relações jurídicas ligadas a mais de um ordenamento e às necessidades decorrentes dos intercâmbios internacionais, os estados se vêem obrigados a permitir, dentro do seu território, a aplicação de leis estrangeiras.

ocorre que cada sistema jurídico reflete as características sociais, culturais, religiosas, políticas e econô-micas de um estado e, portanto, certos princípios plenamente aceitáveis por um determinado ordenamento jurídico podem ser inconcebíveis para outros.

É o caso da poligamia, permitida em países muçulmanos, da permissão de jogos de azar nos estados uni-dos, da legalidade da venda de entorpecentes para consumo pessoal na Holanda, da realização de aborto em diversos países e da vedação do divórcio ainda existente em alguns países latinos.

surge, então, a questão objeto das duas próximas aulas: existe algum limite à aplicação da regra de direito estrangeiro?

o artigo 17 da lei de Introdução ao código civil preceitua o seguinte:

“as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.”

na primeira aula, discutimos a questão relacionada à cobrança de dívidas de jogo, constituídas nos estados unidos, contra brasileiro, no território nacional.

na aula 6, analisaremos a extensão desta limitação, por meio da análise do caso abaixo. na aula 7, continuaremos a discussão sobre a matéria e três alunos ficarão encarregados de apresentar em

sala um caso, cada um, envolvendo limites de aplicação da lei estrangeira no território nacional.

caso

a cervejaria GelaDa, um dos maiores grupos empresarias nacionais, maior exportador de bebidas alcoó-licas, com atividades em mais de 70 (setenta) países, sediada no rio de Janeiro, tomou empréstimo de us$ 700 milhões, para a construção de duas novas fábricas no Brasil.

o crédito foi concedido por um grupo de bancos sediado em Boston. o contrato foi assinado nos estados unidos, no dia 15 de março de 1997. todas as obrigações nele constituídas, mais especificamente a liberação do dinheiro e o pagamento da dívida, seriam executadas nos estados unidos, e o contrato estabelecia como lei aplicável ao contrato do estado de Massachusetts.

a GelaDa recebeu o dinheiro, construiu as fábricas e estava se preparando para quitar as suas dívidas quando, em janeiro de 1999, o mercado financeiro brasileiro entrou em crise e a moeda brasileira começou a se desvalorizar em relação ao dólar.

como os recursos da GelaDa estavam em reais e ela tinha que pagar a sua dívida com os bancos ameri-canos em Boston, em dólares, a desvalorização da moeda brasileira fez com que a GelaDa perdesse as condi-ções de pagar a totalidade da dívida na data do vencimento.

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Depois de muito esforço e vendendo alguns de seus ativos, a GelaDa conseguiu pagar a dívida contraída com os juros incidentes. entretanto, não foi capaz de pagar a multa de 10% prevista no contrato para o caso de atraso no cumprimento da obrigação.

os bancos americanos, então, propuseram ação no Brasil, visando o recebimento da multa de 10% que não foi paga.

em sua defesa, a GelaDa alegou que a multa de 10%, não poderia ser cobrada no Brasil porque a pro-teção do consumidor contra cláusulas abusivas seria um princípio de ordem pública e o at. 52 do código do consumidor impõe o limite de 2% às multas moratórias:

art. 52. no fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financia-mento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;III - acréscimos legalmente previstos;Iv - número e periodicidade das prestações;v - soma total a pagar, com e sem financiamento.§ 1° as multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superio-

res a dois por cento do valor da prestação. (redação dada pela lei nº 9.298, de 1º.8.1996)

sustentou, para tanto, que a possibilidade de se aplicar o código do consumidor às relações entre bancos e seus clientes já restou pacificada pelo stF, no recente julgamento da ação direta de inconstitucionalidade nº 2.591.

Isto posto, sugerimos ao aluno que, concluída a leitura da bibliografia obrigatória, revisem os votos dos ministros Marco aurélio e sepúlveda Pertence anexos à primeira aula e o voto do ministro ruy rosado, no caso referente ao conflito entre a convenção de varsóvia e o código do consumidor (resp 235.678/sP).

na preparação para a discussão em classe, o aluno deve refletir sobre quais princípios deveriam ser conside-rados essenciais no direito brasileiro, levando em conta as características sociais, econômicas, religiosas e políticas da nossa sociedade.

como os alunos poderão constatar pela leitura da bibliografia obrigatória, a violação à ordem pública não é a única limitação à aplicação da lei estrangeira no território nacional.

Bibliografia obrigatória

aula 6 - arauJo, nadia de. Direito internacional privado: teoria e prática brasileira. rio de Janeiro: renovar, 2006, 3ª ed., pp. 99/126;

aula 7 - strenGer, Irineu. Direito internacional privado. são Paulo: ltr, 2006, 6ª ed., pp. 414/431.

Bibliografia complementar

castro, amílcar de. Direito internacional privado. rio de Janeiro: Forense, 1968, 2ª ed., v.I, pp. 261-278;tenÓrIo, oscar. Direito internacional privado. rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976, 11ª ed., pp. 355-367.anexo – notícia veiculada pelo supremo tribunal Federal sobre a incidência das regras do código de Defesa do

consumidor às instituições financeiras.

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DIREITO GlObal II

anexo – aulas 6 e 7

07/06/2006 - 18:51 - Instituições financeiras se submetem às regras do Código de Defesa do Consumidor

as relações de consumo de natureza bancária ou financeira devem ser protegidas pelo código de Defesa do consumidor (cDc). esse foi o entendimento do Plenário do supremo tribunal Federal (stF) que, por maio-ria, (nove votos a dois) julgou improcedente o pedido formulado pela confederação nacional das Instituições Financeiras (consif ) na ação Direta de Inconstitucionalidade (aDI) 2591.

a entidade pedia a inconstitucionalidade do parágrafo 2º do artigo 3º do código de Defesa do consumi-dor (cDc) na parte em que inclui, no conceito de serviço abrangido pelas relações de consumo, as atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária.

o julgamento havia sido adiado no início de maio em razão do pedido de vista do ministro cezar Peluso que hoje (07/06) seguiu a divergência aberta pelo ministro néri da silveira (aposentado) e julgou improcedente a ação.

cezar Peluso afirmou que o cDc não veio para regular as relações entre as instituições do sistema Finan-ceiro nacional e os clientes sob o ângulo estritamente financeiro mas sim para dispor sobre as relações de con-sumo entre bancos e clientes. nesse sentido o ministro argumentou que “não há como nem por onde sustentar, convincentemente, que o cDc teria derrogado, de forma inconstitucional a lei nº 4.595/64 [norma sobre o sistema financeiro]”.

em seguida votou o ministro Marco aurélio que também acompanhou a divergência. Marco aurélio afir-mou que o cDc não representa nenhum risco ao sistema Financeiro nacional (sFn) e destacou a crescente lucratividade dos estabelecimentos bancários para afastar o pensamento de que o cDc repercutiu de forma danosa em relação aos bancos.

celso de Mello seguiu o entendimento da maioria pela improcedência do pedido na ação e ressaltou que a proteção ao consumidor qualifica-se como valor constitucional. Para o ministro, as atividades econômicas estão sujeitas à ação de fiscalização e normativa do Poder Público, pois o estado é agente regulador da atividade negocial e tem o dever de evitar práticas abusivas por parte das instituições bancárias.

nesse sentido, celso de Mello entende que o código de Defesa do consumidor (cDc) cumpre esse papel ao regulamentar as relações de consumo entre bancos e clientes. o ministro acrescentou que o sistema Finan-ceiro nacional (sFn) sujeita-se ao princípio constitucional de defesa do consumidor e que o cDc limita-se a proteger e defender o consumidor “o que não implica interferência no sFn”. assim, concluiu que as regras do cDc aplicam-se às atividades bancárias.

a última a votar, a presidente do stF, ministra ellen Gracie, também entendeu que as relações de consumo nas atividades bancárias devem ser protegidas pelo cDc. o placar do julgamento definitivo da aDI ficou assim: votaram pela improcedência do pedido formulado pela consif os ministros néri da silveira (aposentado), eros Grau, carlos ayres Britto, Joaquim Barbosa, sepúlveda Pertence, cezar Peluso, Marco aurélio, celso de Mello e ellen Gracie. Ficaram parcialmente vencidos os ministros carlos velloso (aposentado), relator, e nelson Jobim (aposentado).

Histórico

no início do julgamento, em abril de 2002, votaram o ministro-relator da aDI, carlos velloso (aposen-tado) e néri da silveira (aposentado). ambos consideraram constitucional a aplicação das regras do cDc aos contratos bancários. velloso entendeu que o cDc não contraria as normas que regulam o sistema Financeiro e deve ser aplicado às atividades bancárias. no entanto, disse que o código não se aplica à regulação da taxa dos juros reais nas operações bancárias, bem como a sua fixação em 12% (doze por cento) ao ano.

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DIREITO GlObal II

essa matéria, segundo entendeu velloso, é exclusiva do sistema Financeiro nacional e deve ser regulada por lei complementar. nesse sentido, deu interpretação conforme a constituição ao parágrafo 2º do artigo 3º da lei 8.078/90 (cDc). Já o ministro néri da silveira julgou totalmente improcedente o pedido formulado pela consif.

em fevereiro deste ano, a ação entrou novamente na pauta, ocasião em que votou o então presidente do stF, ministro nelson Jobim (aposentado), proferindo voto-vista. Jobim acompanhou o entendimento do mi-nistro carlos velloso, no sentido de julgar procedente em parte o pedido. ele diferenciou as operações bancárias dos serviços bancários e concluiu que, no caso destes, deverá ser aplicado o cDc.

na continuação do julgamento no dia 04 de maio, o ministro eros Grau decidiu acompanhar o ministro néri da silveira (aposentado) e julgou improcedente o pedido formulado na aDI. Grau argumentou que “a relação entre banco e cliente é, nitidamente, uma relação de consumo”. o ministro acrescentou que é “consumi-dor, inquestionavelmente, toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito”.

assim, eros Grau não acolheu a distinção feita pelo ministro nelson Jobim entre “operações bancárias”, às quais não caberiam as regras do cDc e “serviços bancários” sujeitos à aplicação do código. eros observou, no entanto, que o Banco central deve continuar a exercer “o controle e revisão de eventual abusividade, onerosi-dade excessiva ou outras distorções na composição contratual da taxa de juros, no que tange ao quanto exceda a taxa base [de juros].”

em seguida, votou o ministro Joaquim Barbosa que também entendeu que o pedido formulado pela consif é improcedente. Para o ministro, não existe inconstitucionalidade a ser pronunciada no parágrafo 2º do artigo 3º do cDc. “são normas plenamente aplicáveis a todas as relações de consumo, inclusive aos serviços prestados pelas entidades do sistema financeiro”, completou.

o mesmo entendimento foi adotado pelos ministros carlos ayres Britto e sepúlveda Pertence que, após o pedido de vista de cezar Peluso, decidiu antecipar o voto. ao votar, o ministro Pertence observou que após a revogação do parágrafo 3º do artigo 192 da constituição Federal pela emenda 40/2003, o voto do ministro carlos velloso “perdeu a sua base positiva”. o dispositivo limitava a taxa anual de juros a 12%.

http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/ultimas/ler.asp?coDIGo=197007&tip=un&param=financeira%20consumo

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aula 8 – autonoMia Das Partes na escolHa Da lei aPlicável aos contratos

nota ao aluno

o problema da identificação da lei aplicável a um determinado contrato multiconectado em diversos sis-temas jurídicos é solucionado de forma simples por meio de inclusão de cláusulas nas quais as partes escolhem expressamente qual a lei que deve incidir sobre o contrato, como vemos a seguir:

“cláusula 15 - legislação aplicável - este contrato será regido e interpretado de acordo com as leis da argentina.”

Diariamente, cláusulas como essa, são incluídas em contratos internacionais com algum ponto de conexão com o Brasil.

Perguntas:

são válidas essas cláusulas no direito brasileiro?sendo válida essas cláusulas, cabe também questionar o escopo da sua aplicação? Quando as partes deter-

minam que uma certa lei é aplicável ao seu contrato, o aplicador desta lei deverá buscar no ordenamento jurí-dico escolhido pelas partes tanto as regras aplicáveis à substância do contrato, como também as que governam a forma do ato e a capacidade das partes?

supondo que seja admissível a autonomia da vontade das partes no que diz respeito à cláusula aplicável aos contratos, existiria alguma limitação à aplicação do direito estrangeiro escolhido pelas partes?

Por último, seria válida a cláusula de eleição de lei aplicável ao contrato se as partes o fizerem proposital-mente, para evitar a incidência de uma regra inconveniente para o negócio por elas realizado?

supondo que a cervejaria GelaDa e os bancos que lhe concederam o crédito tivessem eleito a lei do estado de Massachusetts para reger as obrigações estabelecidas no contrato de mútuo, deveria o juiz brasileiro respeitar a eleição feita pelas partes?

Bibliografia obrigatória

Jr. lauro Gama. autonomia da vontade nos contratos internacionais no direito internacional privado brasilei-ro: uma leitura constitucional do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil em favor da liberdade de escolha do direito aplicável in o direito internacional contemporâneo: estudos em homenagem ao professor Jacob Dolinger/carmen tibúrcio e luís roberto Barroso. rio de janeiro: renovar, 2006, pp. 599-626.

Bibliografia complementar

arauJo, nadia de. Direito internacional privado: teoria e prática brasileira. rio de Janeiro: renovar, 2006, 3ª ed., pp. 353-362.pp. 353-362.353-362.

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Bloco iii– conflito De JurisDição - onDe acionar?

aula 9 – caso YaHoo!

nota ao aluno

tal qual ocorre com a definição sobre a lei aplicável, nas relações jurídicas privadas ligadas a mais de um sistema jurídico, surge a dúvida sobre quais os tribunais que podem conhecer e julgar os litígios a elas relacionados. outra questão que desperta a curiosidade nesta área do direito é saber se um caso pode ser submetido, ao mesmo tempo, a juízes de países diferentes.

sergio Bermudes* define jurisdição como o poder de “dizer o direito, no sentido de identificar a norma de direito objetivo preexistente (ou de elaborá-la, se inexistente) e de fazê-la atuar numa determinada situação.” e, continua a conceituar a “jurisdição como a função estatal de aplicação coercitiva do direito, mediante decisões de autoridade indiscu-tível, substitutivas da vontade dos jurisdicionados, destinadas a prevenir ou solucionar os conflitos sociais, ou a administrar interesses sociais relevantes.”

compete a cada estado determinar à sua jurisdição, a competência e o modo de orga-nização dos seus tribunais dentro do seu território.

Por isso, nas relações privadas internacionais, é possível que juízes de diferentes es-tados tenham jurisdição para decidir os litígios delas decorrentes. na verdade, como se estudará nas aulas de processo civil, o conflito de jurisdição ocorre também nas relações privadas nacionais, onde, muitas vezes, juízes de diferentes comarcas têm competência para julgar uma determinada causa.

o problema se agrava nas relações internacionais, porque é possível que as partes sejam domiciliados em países diferentes, e os bens envolvidos na disputa se encontrem no estran-geiro etc. também pode ser necessário que a decisão proferida pelo juiz de um determinado país, para ser efetivada, precise produzir efeitos além das suas fronteiras.

nesta aula, examinaremos, de uma forma geral, as questões relativas aos conflitos de jurisdição, por meio da análise do caso concreto abaixo.

caso

Corte rejeita apelo de Yahoo em caso de nazismosexta-feira, 13 janeiro de 2006 - 11:34IDG now!o Yahoo perdeu uma batalha legal na quinta-feira (12/01) em um processo para tor-

nar uma decisão da justiça francesa inválida no país.em 2000, a França decidiu que o Yahoo deveria impedir que residentes do país parti-

cipassem de leilões de suvenir nazista e que acessassem conteúdo desta natureza.se falhasse em respeitar a decisão, a empresa seria multada.o processo na França foi movido pela união dos estudantes Judeus e pela liga contra

o racismo e anti-semitismo.alegando que seria impossível fazer este filtro por país, o Yahoo decidiu remover os

itens e conteúdos nazistas do seu site.

* bERMUDES, Sergio. Introdu-ção ao processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 1���, p. 1�; 22-2�.

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DIREITO GlObal II

no entanto, o Yahoo entrou com um processo contra as duas organizações francesas que moveram a ação legal na califórnia, para que a decisão da justiça francesa fosse invalidada, argumentando que ela viola o direito à liberdade de expressão.

a corte decidiu em favor do Yahoo, mas as organizações francesas entraram com uma apelação e ganharam a causa.

o Yahoo então solicitou à corte de apelação uma nova audiência a respeito do caso com 11 juízes, que ocorreu em março de 2005.

na quinta-feira, a corte, em uma decisão de 99 páginas, rejeitou a apelação do Yahoo, com seis juízes de-cidindo contra a empresa por diferentes razões.

três juízes decidiram que as organizações francesas não estão sob a jurisdição da califórnia.outros três juízes concluíram que o caso não é oportuno, o que significa que o Yahoo não sofreu nenhum

dano em função da decisão da França.“É extremamente improvável que qualquer penalidade, se aplicada, seja dirigida ao Yahoo nos estados

unidos. além disso, o desrespeito à Primeira emenda pode nem existir, já que o Yahoo já cumpriu em grande parte com a decisão da França por ações voluntárias, não relacionadas à ordem”, diz o parecer.

se o Yahoo tiver que restringir o acesso de usuários franceses para cumprir totalmente com a decisão, e se, para isso, tiver que restringir acesso a usuários norte-americanos, isso poderia representar um dano significativo, mas, segundo a corte, por enquanto este risco não é suficiente para caracterizar o processo como oportuno.

o Yahoo agora tem a opção de apelar à suprema corte dos estados unidos.Juan carlos Perez, IDG news service http://old.idgnow.com.br/adPortalv5/MercadoInterna.aspx?GuID=7Da001e9-85Be-4a4F-9BeB-eD

aFD8D50256&channelID=2000002)

Perguntas

Pode a corte francesa julgar a empresa americana? Pode a empresa americana processar instituições francesas na califórnia?em caso de resposta afirmativa, quais seriam os efeitos destas decisões?a decisão francesa pode contrariar norma de ordem pública americana?

Bibliografia obrigatória

MesQuIta, José Ignácio Botelho de. Da competência internacional e dos princípios que a informam in re-vista de Processo, ano XIII, nº 50, 51-71.

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aula 10 - coMPetência internacional

nota ao aluno

o código de Processo civil regula a questão da competência internacional nos artigos 88 a 90, prevendo casos de competência concorrente (art. 88) e exclusiva (art. 89):

art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.Parágrafo único. Para o fim do disposto no I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que

aqui tiver agência, filial ou sucursal.art. 89. compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro

e tenha residido fora do território nacional.art. 90. a ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade

judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas.

É relevantíssimo registrar a diferença entre a parte da matéria que trata da lei aplicável a determinada rela-ção jurídica e a que cuida dos tribunais que têm jurisdição para decidir eventuais litígios. na primeira, tratada no bloco II, o trabalho do profissional do direito é identificar o ordenamento jurídico que regula a relação. na segunda, neste Bloco III, busca-se identificar o tribunal que irá julgar os litígios.

registre-se que é possível que a realização dos dois exercícios mencionados no parágrafo acima leve à con-clusão de que um determinado litígio dever ser submetido a um juiz francês, mas que este deverá julgar a causa a ele apresentada aplicando a lei brasileira.

nesta aula, discutiremos o seguinte caso decidido pelo supremo tribunal Federal:

caso

Guilherme, brasileiro, domiciliado na cidade de niterói, entrou no site da Panasonic e adquiriu, on line, uma filmadora último modelo. o pagamento foi feito por meio de cartão de crédito internacional, emitido nos estados unidos, cuja fatura mensal é cobrada por débito automático realizado na conta-corrente de Guilherme no Central Park Bank, sediado no estado do colorado.

recebida a filmadora, Guilherme ficou decepcionado com o produto, pois o design e a qualidade pareciam ser muito melhores nas fotos constantes do site e decidiu devolvê-la, como lhe permite o artigo 49 do código de Defesa do consumidor.

contatada por telefone, a Panasonic nos estados unidos se recusou a desfazer o negócio, alegando que a lei brasileira não se aplicaria ao contrato.

Perguntas

teria um juiz brasileiro jurisdição para conhecer o pedido formulado por Guilherme contra a Panasonic, sediada nos estados unidos?

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supondo que Guilherme pudesse se recusar a pagar pela filmadora recebida, qual o tribunal que teria ju-risdição para conhecer de eventual pleito da Panasonic contra ele?

Qual a lei aplicável ao contrato celebrado entre Guilherme e a Panasonic?

Bibliografia obrigatória

BerMuDes, sergio. Direito processual civil: estudos e pareceres. são Paulo: saraiva, 2002, 3ª série, pp. 220-228.

arauJo, nadia de. Direito internacional privado: teoria e prática brasileira. rio de Janeiro: renovar, 2006, 3ª ed.,pp. 213-237.pp. 213-237.

Bibliografia complementar

leWanD, Jorge José. teoria Geral dos contratos eletrônicos. são Paulo: editora Juarez de oliveira, 2003, pp.146-157.

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aula 11 – cláusula De eleição De foro

nota ao aluno

Da mesma forma que os contratos são assinados, diariamente, em várias partes do mundo e inclusive no Brasil, contendo cláusulas nas quais as partes escolhem a lei aplicável aos seus contratos, também é comum a inclusão de cláusulas contendo a indicação do foro escolhido pelas partes para resolver os eventuais litígios de-correntes de seus contratos. são as chamadas cláusulas de eleição de foro.

as cláusulas de eleição de foro podem ter redações muito simples ou extremamente complexas, dependen-do das partes envolvidas e das características de cada contrato.

eis dois modelos das mencionadas cláusulas:

“cláusula 9 – as partes elegem o foro do rio de Janeiro para conhecer e julgar todo e qualquer litígio referente a este contrato.”

“section 20 - Jurisdiction: The Debtor agrees for the benefit of the creditors that the courts of england shall have jurisdiction to hear and determine any suit, action or proceedings, and to settle any disputes, which arises out of or in connection with this loan agreement (respectively, “Proceedings” and “Disputes”) and, for such purposes, irrevocably submits to the jurisdiction of such courts.

section 21 - appropriate forum: each of the Debtors irrevocably waives any objection which it might now or hereafter have to the courts of england being nominated as the forum to hear and determine any Proceedings and to settle any Disputes, and agrees not to claim that any such court is not a convenient or appropriate forum.

section 22 - Process agent: each of the Debtors agrees that the process by which any Proceedings in england are begun may be served on it by being delivered to the offices of its subsidiary XPto ltd., in london. If such per-son is not or ceases to be effectively appointed to accept service of process on the Debtor’s behalf, the Debtor shall appoint a further person in england to accept service of process on its behalf and, failing such appointment within 15 days, the creditors shall be entitled to appoint such a person by written notice to the Debtor. nothing in this sub-clause shall affect the right of the creditors to serve process in any other manner permitted by law.

section 23 - non-exclusivity: The submission to the jurisdiction of the courts of england shall not (and shall not be construed so as to) limit the right of the creditors to take Proceedings in any other court of competent ju-risdiction, nor shall the taking of Proceedings in any one or more jurisdictions preclude the taking of Proceedings in any other jurisdiction (whether concurrently or not) if and to the extent permitted by law.

section 24 - consent to enforcement: each of the Debtors consents generally in respect of any Proceedings to the giving of any relief or the issue of any process in connection with such Proceedings including (without limi-tation) the making, enforcement or execution against any property whatsoever (irrespective of its use or intended use) of any order or judgment which is madder or given in such Proceedings.

section 25 - Waiver of immunity: to the extent that any of the Debtors may in any jurisdiction claim for itself or its assets or revenues immunity from suit, execution, attachment (whether in aid of execution, before judgment or otherwise) or other legal process and to the extent that such immunity (whether or not claimed) may be attribu-ted in any such jurisdiction to such Debtor or its assets or revenues, such Debtor agrees not to claim and irrevocably waives such immunity to the full extent permitted by the laws of such jurisdiction.”

surge, então, a mesma questão referente à cláusula de escolha de lei aplicável: são válidas e exigíveis as cláusulas de eleição de foro? se uma das partes, violando a cláusula que elege o foro do rio de Janeiro, propuser uma ação em nova Iorque, deve o juiz americano recusar-se a examinar o pedido, remetendo as partes ao juízo carioca?

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nesta aula, examinaremos três decisões, proferidas pelo supremo tribunal Federal, superior tribunal de Justiça e tribunal de Justiça do Distrito Federal anexas a esta aula.

ao analisar os acórdãos, o aluno deverá refletir sobre as vantagens e desvantagens de se considerar válida a cláusula de eleição de foro.

nesta análise, deve-se considerar que, nos dias atuais, boa parte do capital e dos negócios realizados no mundo globalizado está concentrado num número pequeno de países desenvolvidos, que tendem a confiar mais nos tribunais dos seus países do que nos do domicílio de suas contrapartes.

essa desconfiança, muitas vezes, decorre simplesmente do medo do desconhecido, mas, em vários casos, é fundada na preocupação de falta de imparcialidade e risco de corrupção do Judiciário em certos países, espe-cialmente os menos desenvolvidos.

na preparação para a aula, deve-se ter especial atenção ao seguinte parágrafo do acórdão do tribunal de Justiça do Distrito Federal, de 1950:

“convém, por fim, acentuar, e enfaticamente, que é essa a interpretação mais conveniente à posição do Bra-sil, quanto às relações comerciais, aos negócios na ordem internacional. não é nas suas mãos que se encontram as grandes frotas mercantes, as poderosas reservas de capital e organizações bancárias com força de influência decisiva na rede internacional dos negócios, de sorte que, adotado romanticamente o principio da prorrogação expressa ou tácita do foro estrangeiro nos casos previstos no art. 12 da lei de Introdução ao código civil terá que ceder e sub-meter-se, inapelàvelmente, a parte mais fraca, generalizando-se a inclusão de cláusulas semelhantes à que invocam as agravantes para declinarem a competência da Justiça brasileira. a enorme desproporção de vantagens na aplicação da interpretação que prevaleceu no acórdão está mostrando o interesse político em atribuir à lei outro pensamento, que o seu texto, comodamente, admite.”

Bibliografia obrigatória

narDI, Marcelo de. eleição de foro em contratos internacionais: uma visão brasileira in contratos interna-cionais/coordenador João Grandino rodas. são Paulo: editora revista dos tribunais, 2002, 3ª ed., pp. 122-151 e 185-189;

artigo publicado no Financial times.

Bibliografia complementar

MesQuIta, José Ignácio Botelho de. Da competência internacional e dos princípios que a informam in re-vista de Processo, ano XIII, nº 50, 51-71.

arauJo, nadia de. contratos internacionais e a jurisprudência brasileira: lei aplicável, ordem pública e cláu-sula de eleição de foro in contratos internacionais/coordenador João Grandino rodas. são Paulo: editora revista dos tribunais, 2002, 3ª ed., pp. 195-229.

anexos – agravo de Instrumento nº 876, do tribunal de Justiça do Distrito Federal; agravo regimental na carta rogatória nº 3.166, do supremo tribunal Federal; recurso especial nº 251.438, do superior tribunal de Justiça; e o artigo publicado Financial times.

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anexo – aula 11

tribunal de Justiça do Distrito federal:

“coMPetÊncIa – Foro contratual – JustIça estranGeIra

– É competente a Justiça estrangeira para conhecer das ações que resultarem de inexecução de contrato, onde se haja estabelecido o foro para elas.

– voto vencIDo: em todas as ações propostas contra réu domiciliado no Brasil, ou relativas à obriga-ção a ser cumprida aqui, ainda que, neste caso, tenha o réu domicílio fora do país, a competência é unicamente da Justiça brasileira.

ag. nº 876 ― relator: Desembargador arI Franco

acÓrDão

acordam os juízes da 7ª câmara do tribunal de Justiça, e contra o voto do desembargador vIeIra BraGa, em dar provimento ao recurso para, reformando a decisão agravada, julgar procedente a exceção de incompetência oposta pelas agravantes, pagando a agravada as custas. as agravantes foram citadas para, perante a Justiça brasileira, responderem a uma ação resultante de contratos de fretamento ajustados em almerina, na espanha, e em new York. excepcionaram o juízo, sustentando que, pelo foro do contrato, devem responder perante a Justiça estrangeira, o que foi repelido pela decisão agravada, fundando-se no art. 628 do cód. comer-cial e no art. 12 da lei de Introdução ao cód. civil. a decisão não deve subsistir, segundo entendimento da maioria desta câmara, que, à vista do que dispõe o §1º do art. 12 da lei de Introdução ao cód. civil, adotada pelo dec.-lei nº 4.567, de 4 de setembro de 1942, concede competência à Justiça estrangeira para conhecer das ações que resultaram de inexecução de contrato, onde se haja estabelecido o foro para as mesmas. Foi assim que se decidiu no agravo de instrumento nº 863, julgado na mesma sessão que o presente recurso. Quer a doutrina quer a jurisprudência, aliás invocadas pelas agravantes, autorizam o que foi por elas pleiteado, e ora reconhece.

Distrito Federal, 25 de abril de 1950. ― antônio vieira Braga, presidente, com voto abaixo: ari de azevedo Franco, relator para o acórdão; Mem de vasconcelos reis: antônio vieira Braga, vencido, pelas razões longa-mente desenvolvidas no agravo nº 963, onde se debateu a mesma questão.

em resumo: a) a lei não trata de todos os casos em que a Justiça brasileira pode conhecer de ações entre pessoas aqui domiciliadas e pessoas domiciliadas em países estrangeiros (prorrogação tácita ou expressa da com-petência do foro brasileiro, por exemplo); b) não se concebe, assim, que a lei se ocupe da competência de autori-dade brasileira, para o réu domiciliado no Brasil, senão para declarar como exclusiva essa competência; c) e a lei, incontestavelmente, o fez. Proclamando o art. 12 da lei de Introdução qual a autoridade competente, quando o réu for domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação, nada mais precisava acrescentar para ser entendida que essa competência era privativa da autoridade brasileira, uma vez que nenhuma exceção abriu à regra; d) não há motivo para, contrapondo-se ao que determina o art. 12 o disposto no §1º, concluir-se que somente nas ações a que se refere o parágrafo é exclusiva a competência de Justiça brasileira. enunciado pelo artigo qual a autoridade competente (a brasileira), quando domiciliado o réu no Brasil ou a obrigação tiver de ser aqui cumprida, desde que se pretendia afirmar a competência de justiça para as ações relativas a imóveis situados no Brasil, em qualquer caso ― note-se bem, ‘em qualquer caso’ ― impunha-se a construção de dispositivo especial que contivesse a regra de que, em tais ações, sempre, só é competente a autoridade brasileira. assim: nas ações relativas a imóveis situados no Brasil, só a autoridade brasileira é competente, isto é firma-se essa competência,

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DIREITO GlObal II

com exclusão de qualquer outra, em todos os casos, seja qual for a ação, tenha ou não o réu o seu domicílio no Brasil: nas outras causas, também é competente a autoridade estrangeira (foro do contrato, prorrogação tácita), exceto nos casos previstos no artigo (domicílio do réu no Brasil ou cumprimento aqui das obrigações). nas ações de que cogita o §1º só é competente a autoridade brasileira: das outras, salvo se ocorrer uma das condições pre-vistas no art. 12, poderá conhecer a autoridade estrangeira. em todas as ações, portanto, propostas contra réu domiciliado no Brasil, ou relativas a obrigação a ser cumprida aqui, ainda que, neste caso, tenha o réu domicílio fora do país, a competência é, unicamente, da Justiça brasileira. na espécie, versa a ação sobre indenização recla-mada do transportador, por extravio de carga que devia ser desembarcada e entregue aqui. contrato, por con-seguinte, de execução no Brasil. Prevalece a competência da Justiça brasileira, a que não se pode opor execução baseada na cláusula fixando foro diferente, para solução de qualquer questão decorrente do contrato. convém, por fim, acentuar, e enfaticamente, que é essa a interpretação mais conveniente à posição do Brasil, quanto às relações comerciais, aos negócios, na ordem internacional. não é nas suas mãos que se encontram as grandes frotas mercantes, as poderosas reservas de capital e organizações bancárias com força de influência decisiva na rede internacional dos negócios, de sorte que, adotado romanticamente o princípio de prorrogação expressa ou tácita do foro estrangeiro nos casos previstos no art. 12 da lei de Introdução ao cód. civil, terá que ceder e submeter-se, inapelavelmente, a parte mais fraca, generalizando-se a inclusão de cláusulas semelhantes à que in-vocam as agravantes para declinarem a competência da Justiça brasileira. a enorme desproporção de vantagens, na aplicação da interpretação que prevaleceu no acórdão, está mostrando o interesse político em atribuir à lei outro pensamento, que o seu texto, comodamente, admite.” (revista Forense, p. 221/222)

supremo tribunal federal:

cr-agr 3166 / MG -aG.reG.na carta roGatÓrIarelator(a): Min. antonIo neDerJulgamento: 18/06/1980 Órgão Julgador: trIBunal PlenoPublicação: DJ 15-08-1988 PP-05914 eMent vol-01179-01 PP-00025 rtJ vol-00095-01 PP-

00042

Ementa1. leI De IntroDução ao cÓDIGo cIvIl BrasIleIro, art. 12. cÓDIGo De Proces-

so cIvIl, art. 88, I e II. e coMPetente a JustIça BrasIleIra Para conHecer De ação JuDIcIal eM Que o rÉu se acHa DoMIcIlIaDo no BrasIl ou aQuI Houver De cuM-PrIr-se a oBrIGação. caso eM Que o DeManDante teM DoMIcIlIo no uruGuaI e o rÉu e BrasIleIro DoMIcIlIaDo no BrasIl, onDe se Devera cuMPrIr a oBrIGação QuestIonaDa na DeManDa ProPosta no uruGuaI.

2. eleIção De Foro. se as Partes, uMa DoMIcIlIaDa no uruGuaI, outra Do-MIcIlIaDa no BrasIl, contrataraM Que suas DIverGencIas PertInentes ao con-trato a Que se vIncularaM serIaM solvIDas no Foro Da coMarca De são Paulo, BrasIl, esse e o Foro coMPetente, e não o Do uruGuaI.

3. carta roGatÓrIa De cItação Do contratante BrasIleIro Para resPonDer, no uruGuaI, e DeManDa Que lHe FoI acola ProPosta Pelo contratante uru-GuaIo.

4. eXeQuatur InIcIalMente conceDIDo e PosterIorMente revoGaDo. 5. aGravo reGIMental a Que o stF neGa ProvIMento.

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Legislação leG-FeD Del-004657 ano-1942 art-00012 Par-00002 art-00088 Inc-00001 art-00088 Inc-00002 lIcc-1942 leI De IntroDução ao cÓDIGo cIvIl leG-FeD rGI ano-1970 art-00219 art-00222rIstF-1970 reGIMento Interno Do suPreMo trIBunal FeDeral

Observação votação: unÂnIMe. resultaDo: IMProvIMento. rec. ano: 1980 auD:13-08-1980

Acórdãos no mesmo sentido cr 3166 ano-1980 uF-ur turMa-** MIn-123 rtJ vol-00093-03 PP-00969oBra- DIreIto InternacIonal PrIvaDo - III - n. 13. PaG. 133, 134. autor- HarolDo vallaDao

superior tribunal de Justiça:

Processo: resp 251438 / rJ ; recurso esPecIal 2000/0024821-5Relator(a): Ministro Barros MonteIro (1089)Órgão julgador: t4 - Quarta turmaData: 08/08/2000

Data da Publicação/Fonte: DJ 02.10.2000 p. 173, JBcc vol. 185 p. 263, JstJ vol. 21 p. 272, leXstJ vol. 137 p. 258, rJaDcoas vol. 21 p. 63, rstJ vol. 146 p. 368, rt vol. 786 p. 246

EmentacoMPetÊncIa InternacIonal. contrato De conversão De navIo PetroleIro

eM unIDaDe Flutuante. GarantIa rePresentaDa Por “PerFoMance BonD” eMItI-Do Por eMPresas estranGeIras. caráter acessÓrIo Deste ÚltIMo. JurIsDIção Do trIBunal BrasIleIro eM Face Da DenoMInaDa coMPetÊncIa concorrente (art. 88, Inc. II, Do cPc).

- o “Performance bond” emitido pelas empresas garantidoras é acessório em relação ao contrato de exe-cução de serviços para a adaptação de navio petroleiro em unidade flutuante de tratamento, armazenamento e escoamento de óleo e gás.

- caso em que empresas as garantes se sujeitam à jurisdição brasileira, nos termos do disposto no art. 88, inc. II, do cPc, pois no Brasil é que deveria ser cumprida a obrigação principal. competência internacional concorrente da autoridade judiciária brasileira, que não é suscetível de ser arredada pela vontade das partes.

- À justiça brasileira é indiferente que se tenha ajuizado ação em país estrangeiro, que seja idêntica a outra que aqui tramite. Incidência na espécie do art. 90 do cPc.

recurso especial não conhecido, prejudicada a medida cautelar.

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Acórdãovistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:Decide a Quarta turma do superior tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, jul-

gando prejudicada a Medida cautelar nº 1938/rJ, cessando os efeitos da medida liminar, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. votaram com o relator os srs. Ministros césar asfor rocha e ruy rosado de aguiar. Impedido o sr. Ministro aldir Passarinho Júnior. afirmou suspeição o sr. Ministro sálvio de

Figueiredo teixeira.

Referência LegislativaleG:FeD leI:005869 ano:1973***** cPc-73 coDIGo De Processo cIvIlart:00088 Inc:00002 art:00538 art:00090leG:FeD cIr:000026 ano:1989(suPerIntenDencIa De seGuros PrIvaDos – suseP)

DoutrinaoBra : coMentarIos ao coDIGo De Processo cIvIl, Forense, 10ª eD., P. 296.autor: celso aGrIcola BarBIoBra: InstItuIçÕes De DIreIto cIvIl, v. 3, 10ª eD. P.313.autor: caIo MarIo Da sIlva PereIraoBra: curso De DIreIto cIvIl BrasIleIro, v. II, 14ª eD., P. 344.autor: arnolDo WalDoBra: IntroDução ao estuDo Do contrato, 1995, P. 75.autor: reYnalDo rIBeIro DaIutooBra: revIsta De Processo, nº 50, P 52-53.autor: Jose IGnacIo BotelHo De MesQuItaoBra: revIsta Dos trIBunaIs, v. 632, P. 84.oBra: coDIGo De Processo cIvIl coMentaDo e leGIslação Processual cIvIl

eXtravaGante eM vIGor, P. 542, 4ª eD.autor: nelson nerY JunIor e rosa MarIa anDraDe nerY

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rigHt anD wrong cHoices in tHe Market for Justice financial times 21 March 2006

a jurisdiction benefits from forum shopping if its decisions are out of line with mainstream opinion, and the most common reason is that there is something wrong with its legal system.

Why is the american author Dan Brown in london to defend claims that he has breached the copyright of a new Zealander and a fellow american? Why did Frau Flick, former wife of a German industrialist, ask an english court to determine the terms of her divorce settlement? Why did roman Polanski, a French citizen, come to the royal courts of Justice to seek libel damages from vanity Fair, an american magazine? each of them thought they would get a better deal in england than at home.

In a global marketplace, the legal systems of different countries are in competition with each other. The notion of competition in the supply of justice is strange. Yet justice is an elusive concept and there are many routes to it, all imperfect. competition in legal services begins when, before they enter into a legal relationship, people and businesses search for the most appropriate legal framework. one element of that framework is the jurisdiction in which any dispute is to be resolved. This is the issue of the choice of laws.

english law is very widely used in financial services, even for transactions that have no other connection with england. english law gives much more freedom to write whatever contract the parties want than the civil law systems of many other countries. english judges, politically neutered, have been formalistic in enforcing the strict terms of contract, while courts in america pay more attention to the context of the transaction – the intentions of the parties and the reasonableness of the contract terms.

This english combination of flexibility before the event and rigidity after it is attractive to many. english courts have also acquired a reputation for giving foreigners a fair crack of the whip. These competitive attrac-tions of the english legal system have made city of london law firms large exporters of legal services.

competition through choice of laws is almost wholly desirable. The freedom of contract it allows has economic benefits and competition encourages other countries to make their legal systems business-friendly. emerging states in eastern europe have used english law and modelled aspects of their post-communist codes on english principles.

choice of laws is made before a dispute arises. Forum shopping is when competition takes place after the dispute has occurred. If choice of laws has many benefits, forum shopping has many disadvantages. Jefferson county, Mississippi, is the world centre of asbestos litigation. not because that community has been specially damaged by the scourge of asbestos, but because its judges and juries are famously sympathetic to plaintiffs. They are encouraged to remain sympathetic by the economic benefits this depressed area derives from supplying motel rooms and pizzas to visiting attorneys.

a jurisdiction benefits from forum shopping if its decisions are out of line with mainstream opinion, and the most common reason is that there is something wrong with its legal system. The Brown, Flick and Polanski cases, whatever their technical merits, all affront common sense. Dan Brown is sued by two authors whose me-retricious book became a bestseller, after 20 years, on the coat-tails of Mr Brown’s success: the case is like suing the tooth fairy for theft. an english judge declined even to hear evidence on the pre-nuptial agreements that the Flicks had made under the laws of their own countries. and Mr Polanski, ostensibly defending his damaged reputation, was allowed to give evidence by video link because he could not attend court for fear of arrest.

The 1980 rome convention which governs contracts within the european union strikes a well-crafted balance: it encourages choice of laws but discourages forum shopping. These principles are under attack from europe’s irrepressible harmonisers, from vested legal interests which resent the loss of business overseas and from politicians who would like to meddle in every dispute. In the market for justice, as for every other commodity, it is important to understand both the genius, and the limits, of competitive markets.

http://www.johnkay.com/regulation/434

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aula 12 - arBitrageM

nota ao aluno

a lei brasileira estabelece que “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.” (art. 1º da lei nº 9.307, de 23/09/1996 – lei de arbitra-gem)

a cláusula de arbitragem representa a manifestação da vontade dos contratantes de eleger, no lugar de um tribunal estatal, que quaisquer litígios que venham a surgir no âmbito de um determinado contrato sejam submetidos a um grupo de pessoas ou a uma pessoa “capaz e que tenha a confiança das partes.” (art. 13 da lei 9.307/1996)

em decorrência da escolha feita pelas partes, esse árbitro ou tribunal arbitral terá jurisdição para decidir, de forma definitiva e sem recurso para o judiciário, as questões que surgirem relativas ao contrato.

Importante destacar que não é necessário que o contrato esteja conectado a mais de um sistema jurídico para que as partes possam eleger a arbitragem como método para solução dos seus conflitos. Isso pode ocorrer mesmo em contratos internos que tenham ligações única e exclusivamente com o sistema jurídico brasileiro.

tal qual no caso da eleição de foro, a opção pela arbitragem pode se dar por meio da inclusão de uma cláu-sula simples, de uma linha, estabelecendo que todos os litígios decorrentes daquele contrato serão submetidos à arbitragem, ou por meio de cláusulas mais complexas, como a seguinte:

“cláusula DoZe – solução De conFlItos12.1. as Partes acordam que qualquer controvérsia, disputa ou reclamação sobre a interpretação deste contra-

to de compra de Quotas, ou a execução pelas Partes de quaisquer obrigações aqui contidas, que não sejam resolvidas de boa-fé no prazo de 60 (sessenta) dias da notificação inicial dada à outra parte, deverá ser, resolvida por arbitragem de acordo com as regras de conciliação e arbitragem da câmara de comércio Internacional – ccI.

12.2. o idioma da arbitragem será Português. Deverão haver 3 (três) árbitros (o “tribunal arbitral”), sendo o primeiro nomeado pelo demandante em sua notificação de arbitragem, o segundo deverá ser nomeado pelo deman-dado em 30 (trinta) dias da nomeação do primeiro árbitro e o terceiro deverá ser nomeado conjuntamente pelos árbitros nomeados pelas partes, 30 (trinta) dias após a nomeação do segundo. caso haja falha nesta nomeação, o terceiro árbitro será nomeado pela ccI em 30 (trinta) dias.

12.3. o tribunal arbitral deverá emitir um laudo escrito, devendo cada Parte deverá arcar com seus próprios custos e despesas, rateando, porém, igualmente as despesas do tribunal arbitral e da ccI. Qualquer decisão arbitral será final, podendo ser executada qualquer corte competente. a arbitragem deverá ocorrer na cidade do rio de Janeiro, estado do rio de Janeiro, Brasil.”

em muitos países, dentre eles o Brasil, entende-se que a cláusula arbitral gera um efeito negativo, que ex-clui dos tribunais estatais a possibilidade de se conhecer e julgar as disputas relativas aos contratos que contêm cláusula arbitral.

De acordo com o estabelecido no código de Processo civil, se uma parte propuser ação relativa a contrato que contenha cláusula arbitral, alegando o réu a existência de convenção de arbitragem (art. 301, IX, do cPc), o juiz deverá extinguir o processo, sem julgamento do mérito, conforme prescrito no art. 267 do cPc.

assim, este é o entendimento da doutrina, mantido pela jurisprudência:

“Processual cIvIl. recurso esPecIal. cláusula arBItral. leI De arBItraGeM. aPlIcação IMeDIata. eXtInção Do Processo seM JulGaMento De MÉrIto. contrato InternacIonal. Protocolo De GeneBra De 1923.

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DIREITO GlObal II

- com a alteração do art. 267, vII, do cPc pela lei de arbitragem, a pactuação tanto do compromisso como da cláusula arbitral passou a ser considerada hipótese de extinção do processo sem julgamento do mérito.

- Impõe-se a extinção do processo sem julgamento do mérito se, quando invocada a existência de cláusula arbitral, já vigorava a lei de arbitragem, ainda que o contrato tenha sido celebrado em data anterior à sua vigência, pois, as normas processuais têm aplicação imediata.

- Pelo Protocolo de Genebra de 1923, subscrito pelo Brasil, a eleição de compromisso ou cláusula arbitral imprime às partes contratantes a obrigação de submeter eventuais conflitos à arbitragem, ficando afastada a solução judicial.

- nos contratos internacionais, devem prevalecer os princípios gerais de direito internacional em detrimento da normatização específica de cada país, o que justifica a análise da cláusula arbitral sob a ótica do Protocolo de Genebra de 1923. Precedentes.

- recurso especial parcialmente conhecido e improvido.” (resp 712.566/rJ, rel. Min. nancy andrighi, 3ª turma do superior tribunal de Justiça, DJ de 05.09.05)

outra questão relevante é o fato da lei de arbitragem (lei nº 9.307/96) admitir expressamente a autono-mia da vontade em relação à escolha da lei aplicável aos contratos:

“art. 2º a arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que

não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de

direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.”

na preparação para esta aula, o aluno deverá rever os conceitos discutidos na aula anterior, e fazer uso de seus apontamentos sobre a autonomia da vontade para escolha da lei aplicável ao contrato, de forma a comparar os efeitos da cláusula de arbitragem nos contratos multiconectados com os da cláusula de eleição de foro.

Bibliografia obrigatória

cÂMara, alexandre Freitas. arbitragem. rio de Janeiro: editora lúmen Juris, 1997, pp. 7-19;GarceZ, José Maria rossani. escolha da lei substantiva da arbitragem in revista de arbitragem e Mediação/

coordenador arnoldo Wald. são Paulo: editora revista dos tribunais, ano 2, jan-mar de 2005, nº 4, pp. 48-61.

Bibliografia complementar

GalÍnDeZ, valeria. ação de cobrança: contrato de agência com cláusula compromissória. aplicação da lei francesa ao mérito. validade. extinção do feito in revista de direito bancário do mercado de capitais e da arbitragem/coordenador arnoldo Wald. são Paulo: editora revista dos tribunais, ano 6, out-dez de 2003, pp. 403-410;

Jr. lauro Gama. autonomia da vontade nos contratos internacionais no direito internacional privado brasilei-ro: uma leitura constitucional do artigo 9º da lei de Introdução ao código civil em favor da liberdade de escolha do direito aplicável in o direito internacional contemporâneo: estudos em homenagem ao professor Jacob Dolinger/carmen tibúrcio e luís roberto barroso. rio de janeiro: renovar, 2006, pp. 599-626.

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aula 13 — iMuniDaDe De JurisDição

nota ao aluno

até aqui, já foi visto que, em virtude do aumento e da intensificação das relações internacionais, cada vez mais o direito internacional privado precisa indicar qual o ordenamento jurídico que deverá reger tais relações. Para tanto, já se discutiu sobre regras de conexão, fixação de competência, cláusulas onde predomina a autono-mia da vontade, limitações etc. enfim, todas as questões concernentes ao relacionamento entre ordenamentos de diferentes estados.

Mas, e na hipótese de um estado querer julgar outro diretamente? e a soberania? estas e outras questões são o foco desta aula, que lida, certamente, com questões muito atuais.

nas palavras de nadia de araújo, “apesar de ser tema de Direito Internacional Público, a imunidade de jurisdição insere-se no domínio do DIPr por ser uma das questões que afligem o Judiciário no momento de de-terminar sua jurisdição com relação a um estado estrangeiro. estabelecida a competência do juiz nacional, esta poderá ser limitada quanto à imunidade do estado estrangeiro. É prerrogativa do estado soberano, pela qual os órgãos jurisdicionais de um estado não podem conhecer o litígio no qual seja demandado um outro estado, ou determinados entes internacionais, garantidos pelos princípios de direito internacional.”

Historicamente, baseada nos princípios de igualdade entre as nações e de soberania, a imunidade tinha costumeiramente caráter ilimitado. atualmente, este instituto foi mitigado, limitando-se a imunidade.

no Brasil, a matéria não foi regulamentada expressamente, o que deixa a solução das questões para a ju-risprudência e para a exegese de algumas normas gerais, contidas principalmente no art. 4º da constituição da república.

até 1989, entendia-se pela imunidade absoluta, orientação esta que mudou após o julgamento da para-digmática apelação cível nº 9.696/sP, quando o supremo tribunal Federal deu nova interpretação à questão, baseado na então recém promulgada constituição Federal, distinguindo atos de império de atos de gestão.

não se pode deixar de tratar da imunidade de execução. considerando-se que um brasileiro possa mover ação contra os estado unidos, perante um juízo carioca, e que o pedido seja julgado procedente, o que se pode fazer para executar a sentença? seria possível penhorar o carro do embaixador dos estados unidos? e o prédio do consulado ou qualquer outro imóvel que o governo americano mantenha no Brasil?

nesta aula, examinaremos algumas destas questões por meio da análise do seguinte caso:

caso

Vidente cobra recompensa dos EUAvidente pede que o stJ reconheça seu direito de receber 25 milhões de dólares de recompensa do governo

dos eua.a 4ª turma do stJ julga na próxima semana aquele que, possivelmente, será o caso mais raro de sua his-

tória: um vidente mineiro quer ver assegurado o “direito líquido e certo” de ser recompensado com 25 milhões de dólares pelo governo dos estados unidos da américa.

em 2003, o presidente George Bush anunciou, pela mídia internacional, a oferta de uma recompensa de us$ 25 milhões a quem informasse o paradeiro do ditador saddam Hussein, que se evadira de seus palácios, logo que iniciada a a invasão norte-americana.

o vidente mineiro Jucelino nóbrega da luz - que se intitula “paranormal” - sustenta ter enviado três cartas apontando, com minúcias, o endereço onde saddam seria encontrado - e teria sido, justamente, no local indicado que o ditador foi preso. as cartas teriam sido três: uma ao próprio Bush; a segunda ao senado dos

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eua; e a terceira à então-embaixador Donna Hribnak, em Brasília - enviada por via postal, com comprovante de recebimento.

Preso saddam, o vidente Jucelino fez tentativas a nível consular, tentando receber. em vão. ajuizou, então, em abril de 2004 ação na Justiça Federal de Minas Gerais. a ação foi extinta sem julgamento do mérito pelo juízo federal, ao entender não ser cabível tal pedido, que não seria de competência da Justiça brasileira. o juiz Geraldo Magela e silva Menezes julgou extinto o processo, sem exame de mérito, “por falta de pressupostos processuais”.

leia trechos da petição inicial da ação de pedido de recompensa:

“Pela presente, vem o autor exigir o cumprimento por parte do réu, da promessa de pagamento de uma recompensa no importe de us$ 25,000,000.00 (vinte e cinco milhões de dólares norte-americanos), por ele pro-metida a quem informasse ou indicasse o paradeiro do ex-ditador iraquiano, saddam Hussein”. (...)

“e o aqui autor faz jus a tal recompensa porque, desde o mês de setembro de 2001 vem indicando ao réu, o local onde saddam Hussein se esconderia”. (...) “a primeira será contra o afeganistão e a segunda será contra o Iraque e essa vocês irão vencer e derrubar saddam Hussein, que fugirá e esconderá em ´aD DaWr’, próximo de tikrit - lá encontrarão um pôster da arca de noé, ele estará escondido num buraco com 1,8 de comprimento e 65 cm de largura, coberto com gravetos e um tapete de borracha num sítio da costa do rio tigre. Haverá tijolos, lama (barro) e lixo para disfarçar a entrada. Mas, na época, seu braço direito lhes dará mais informações e estará escondido na França. essa informação passarei ao FBI e ao Presidente da república dos eua”. (...)

“o lamentável incidente de 11 de setembro de 2001 (a derrubada das torres Gêmeas em nova York) já havia sido informado em cartas enviadas ao então Presidente George Bush (pai do atual presidente dos eua), em 26 de setembro de 1989; a Bill clinton, em 28 de outubro de 1998 e à onu, na pessoa do sr. Hasan Ferdous, também em outubro de 1998.” (...)

“o ceticismo das autoridades norte-americanas em rel ação às indicações feitas pelo autor, no que diz respeito à localização do ex-ditador do Iraque, custou a vida de vários soldados das forças de coalizão, eis que tais mortes poderiam ter sido evitadas, com a prisão antecipada daquele. e pelo seu ceticismo, as autoridades norte-americanas haverão de ser responsabilizadas.” (...)

“o que importa é que o impetrante prestou ao governo dos estados unidos da américa a informação por ele pretendida, e pela mesma é merecedor e deverá receber a recompensa oferecida por aquele país”. (...) “e o réu tinha por obrigação atentar para toda e qualquer informação porque, tendo emitido, pública e mundialmente, uma declaração unilateral de vontade (o pagamento de uma recompensa), formou, naquele momento, uma relação obri-gacional com quem viesse a prestar o esclarecimento pedido, e passou a ser obrigatório o pagamento da recompensa no instante em que o réu deu publicidade àquela promessa”.

“o presidente Bush não pode dizer que não entendeu o que escrevi, pois estava tudo em inglês”, afirma Juce-lino nóbrega da luz, que também é professor de inglês.

Jucelino também afirma que sonhou com o atentado de Madri, no último dia 11 de março, quando bom-bas explodiram em estações de trem e mataram cerca de 200 pessoas, e comunicou sua visão à embaixada da es-panha no Brasil. cópias de cartas enviadas por ele a Bush, ao secretário de Defesa dos eua, Donald rumsfeld, e também para a embaixada da espanha e dos eua no Brasil fazem parte do processo.

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/10/vidente_cobra_r.html

Perguntas

o superior tribunal de Justiça é competente para julgar esta demanda?na hipótese de ser possível e procedente a lide em questão, pode o estado estrangeiro ser compelido a

pagar?

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FGV DIREITO RIO 56��FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

após a leitura da bibliografia obrigatória, o aluno deverá refletir sobre a possibilidade de um juiz brasileiro conhecer e julgar uma ação indenizatória proposta pela Petrobras s.a. contra a república da Bolívia.

Bibliografia obrigatória

arauJo, nadia de. Direito internacional privado: teoria e prática brasileira. rio de Janeiro: renovar, 2006, 3ª ed., pp. 239/251;

ac 9.696/sP, rel. Min. sydnei sanches, tribunal Pleno, DJ de 12.10.90; cr-agr-eD 9790/eu, rel. Min. Marco aurélio, tribunal Pleno do stF, DJ de 02.08.02; ag 757/DF, rel. Min. sálvio de Figueiredo teixeira, 4ª turma do stJ, DJ de 01.10.90.

Bibliografia complementar

tIBÚrcIo, carmen e luís roberto Barrroso. Imunidade de jurisdição: o estado Federal e os estados-mem-bros in o direito internacional contemporâneo: estudos em homenagem ao professor Jacob Dolinger/car-men tibúrcio e luís roberto Barroso. rio de janeiro: renovar, 2006, pp. 145-176.

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DIREITO GlObal II

anexo i – Questões Do exaMe Da oaB/rJ

Prova: 01º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

33 - Sobre a execução de sentenças estrangeiras no Brasil: a. as sentenças estrangeiras somente poderão ser executadas no Brasil, desde que não ofendam a soberania

nacional e sejam homologadas pelo superior tribunal de Justiça;b. as sentenças produzidas por juiz competente português, face a convenção sobre Igualdade de Direitos e

Deveres de 1972, poderão ser executadas no Brasil, desde que autorizadas pelo Ministério das relações exteriores;c. as sentenças estrangeiras independem de homologação para execução no Brasil, quando produzidas em

países do Mercosul; d. todas as afirmativas estão erradas.

36 - As leis e atos de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade: a. terão eficácia no Brasil, desde que oriundas de países com os quais o Brasil mantenha relações diplomá-

ticas;b. não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons cos-

tumes;c. somente terão eficácia no Brasil, quando homologadas no supremo tribunal Federal;d. terão aplicação no Brasil se as partes envolvidas manifestarem, inequivocamente, a favor de sua eficácia.

Prova: 02º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

33 - Qual das assertivas abaixo demonstra de maneira correta os trâmites necessários para que um Tratado ou Acordo Internacional, do qual o Brasil é signatário, tenha plena vigência no direito pátrio:

a. não existem trâmites legais internos posteriores a assinatura dos tratados ou acordos Internacionais. uma vez que, firmados pela autoridade competente, têm vigência imediata;

b. a integração da norma internacional no direito positivo se dá no momento em que é ratificada pelo Poder executivo, através de Decreto Presidencial;

c. a adesão efetiva ao diploma internacional dar-se-á somente após ter sido aprovado pelo congresso na-cional, mediante Decreto legislativo, e posteriormente ratificado pelo Poder executivo;

d. os trâmites legais internos resumem-se na aprovação, por maioria simples, pelo senado Federal.

35 - Suponhamos que o Governo Brasileiro não mais esteja de acordo com as cláusulas estipuladas pela Convenção de Varsóvia - 1929, que regula as condições do Transporte Aéreo Internacional. Qual seria o ins-trumento e o procedimento adequado para que o país não continue se submetendo às regras da Convenção supra citada:

a. o Brasil deve protocolar junto a onu um termo de renÚncIa às cláusulas da convenção de varsó-via, com efeito imediato perante as demais nações signatárias;

b. o Brasil não pode eximir-se do cumprimento das disposições contidas na convenção de varsóvia, uma vez que todos os tratados e convenções Internacionais estão submetidos a cláusula rebus sic stantibus;

c. o Brasil deve comunicar às outras partes contratantes sua intenção de retirar-se da convenção de var-sóvia, através de um termo de DenÚncIa, na forma e prazo previamente acordados pelas partes no momento da celebração do contrato;

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DIREITO GlObal II

d. a simples inobservância do Brasil às normas estabelecidas pela convenção de varsóvia faz com que sejam tacitamente extintas suas obrigações com os demais países signatários.

36 - Qual das afirmativas abaixo não está consoante com os requisitos legais pertinentes a EXECUÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA no Brasil.

a. estar traduzida por intérprete autorizado;b. ter sido homologada pelo supremo tribunal Federal;c. ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para execução no lugar em que foi

proferida; d. ter sido proferida por Juiz de Instância superior.

Prova: 03º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

36 - Marque a indicação correta:I) O Tratado de Assunção, assinado em 26 de março de 1991, instituiu o Mercado Comum do Sul, composto inicialmente pela República Argentina, República Federativa do Brasil, República Oriental do Uruguai e a República do Paraguai.II) O MERCOSUL não é apenas um processo de cooperação para criação de uma Zona de Livre Comércio e União Aduaneira, mas um processo de integração supranacional em diversas áreas, tais como: política, eco-nômica, social e cultural.III) Em matéria jurídica podemos afirmar que existem diversos Protocolos assinados pelos países integrantes do MERCOSUL, dentre os quais destacamos os Protocolos sobre Medidas Cautelares, sobre Jurisdição Inter-nacional, Assistência Jurídica mútua em Assuntos Penais, Jurisdição Internacional em Matéria Contratual e Responsabilidade Civil Emergente de Acidentes de Trânsito entre os Estados Partes do Mercosul.IV) Na Reunião de Ouro Preto, realizada no Brasil, estabeleceu-se ao MERCOSUL personalidade jurídica de Direito Internacional e possibilidade de representação processual, impondo-lhe direitos e obrigações.

a. as afirmativas I e II são corretas;b. a afirmativa III é falsa;c. as afirmativas II e Iv são complementares e estão corretas;d. todas as afirmativas estão corretas.

Prova: 04º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

34 - Tendo sido contratado para apresentar defesa num pedido de HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA, qual das assertivas abaixo poderá ser levada em consideração, pelo Advogado, por estar completamente adequada ao processo:

a. a defesa deverá ser encaminhada ao superior tribunal de Justiça, no prazo de 15 dias;b. a defesa deverá versar somente sobre o mérito da sentença, a qual pretende-se homologar;c. Por tratar-se de procedimento de jurisdição voluntária, não existem meios de defesa, sendo certo que

a contratação do advogado servirá somente para acompanhamento do processo junto ao superior tribunal de Justiça;

d. a defesa deverá versar sobre o princípio da territorialidade das leis, demonstrando a improcedência do pedido.

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FGV DIREITO RIO 59��FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

35 - Quanto às CARTAS ROGATÓRIAS, é correto afirmar que: a. tem como finalidade precípua dar eficácia jurídica a medidas executórias proferidas no exterior;b. somente pode ser cumprida após autorização prévia do stF, momento em que será enviada ao juiz

federal para efetivá-la;c. um estado, mesmo no exercício de sua soberania, não pode negar o seu cumprimento;d. todas as afirmativas acima estão corretas.

Prova: 06º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

32 - Entende-se por ratificação, o ato pelo qual: a. o superior tribunal de Justiça confirma uma convenção internacional;b. a corte Internacional de Justiça promulga um acordo internacional; c. o congresso nacional aprova um acordo internacional, após analisar seu conteúdo;d. o Presidente da república desaprova um tratado internacional.

33 - As sentenças estrangeiras: a. terão sempre eficácia no Brasil, se houver acordo de reciprocidade com o país de origem, independen-

temente de qualquer outra medida;b. Jamais poderão ser executadas no Brasil, sob pena de ferirem a soberania nacional; c. só terão eficácia no Brasil se forem homologadas pelo superior tribunal de Justiça; d. De divórcio não podem ser homologadas no Brasil.

Prova: 07º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

32 - As declarações de vontade, atos e leis de outro país só terão eficácia no Brasil se:a. Forem homologadas pelo superior tribunal de Justiça;b. não ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e aos bons costumes;c. Forem ratificados pelo congresso nacional;d. estiverem fundamentados em protocolos elaborados pelo Ministério das relações exteriores.

Prova: 09º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

33 - Marque a alternativa correta:I) As sentenças estrangeiras não poderão ser cumpridas no Brasil, se inexistir Acordo de Reciprocidade com o país de origem.II) As sentenças estrangeiras de separação judicial não podem ser homologadas no Brasil.III) Só terão eficácia no Brasil as sentenças estrangeiras que forem homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça.IV) As sentenças estrangeiras não produzirão efeitos no Brasil enquanto o Congresso Nacional não ratificá-las.

a. I e II são verdadeiras e III e Iv são falsas; b. todas são falsas;c. I, II e Iv são verdadeiras e III é falsa; d. III é verdadeira.

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DIREITO GlObal II

Prova: 10º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

31 - A Lei estrangeira só poderá ser aplicada em nosso país quando: a. For referendada pelo congresso nacional;b. não ofender a soberania nacional, os bons costumes e a ordem pública;c. estiver baseada em acordo Internacional do qual o Brasil seja signatário;d. o superior tribunal de Justiça lhe der eficácia em ação declaratória.

34 - Um contrato de trabalho celebrado no exterior entre estrangeiros terá validade em nosso país quando: a. Devidamente averbado no tribunal superior do trabalho;b. submetido a aprovação do Ministério do trabalho;c. sua execução se der em território nacional;d. o país de celebração fizer parte da oIt.

Prova: 11º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

33 - Leia com atenção o trecho do Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Econômica Européia, para após, marcar a opção correta:Sua majestade o Rei dos Belgas, o Presidente da República Federal da Alemanha, o Presidente da República Francesa, o Presidente da República Italiana, Sua Alteza Real a Grã – Duquesa do Luxemburgo, Sua Majes-tade a Rainha dos Países Baixos.Determinados a estabelecer os fundamentos de uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus; Decididos a assegurar, mediante uma ação comum, o progresso econômico e social dos seus países, eliminan-do as barreiras que dividem a Europa,Fixando como objetivo essencial dos seus esforços a melhoria constante das condições de vida de trabalho dos povos.

a. trata-se de um trecho da parte dispositiva de um tratado bilateral;b. trata-se de um trecho do preâmbulo de um tratado bilateral;c. trata-se de um trecho do preâmbulo de um tratado multilateral;d. trata-se de um trecho da parte dispositiva de um tratado plurilateral.

Prova: 12º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

34 - A sentença estrangeira produz efeitos em nosso país: a. Quando ratificada pelo Poder legislativo;b. Quando autorizada por decreto Presidencial;c. com a simples tradução por intérprete juramentado;d. Quando homologada pelo supremo tribunal Federal.

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FGV DIREITO RIO 61�1FGV DIREITO RIO

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Prova: 13º Exame de Ordem - 1ª fase PROVA OBJETIVA

34 - A Carta Rogatória para ser cumprida no Brasil: a. necessita de acordo internacional;b. Depende de ratificação do Poder executivo;c. necessita do exequatur do superior tribunal de Justiça;d. Depende de promulgação do congresso nacional.

Prova: 14º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

31 - A Arbitragem é um dos meios alternativos de solução dos conflitos de interesses mais discutido atualmen-te no campo jurídico. Em relação às sentenças arbitrais internacionais é INCORRETO afirmar que:

a. Dependem da homologação perante o superior tribunal de Justiça;b. não podem ofender a ordem pública nacional;c. serão reconhecidas ou executadas no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia

no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente do acordo com os termos da lei 9.307/96;d. após homologadas serão executadas como títulos executivos extrajudiciais.

33 - As cartas rogatórias, após o exequatur do Superior Tribunal de Justiça, serão cumpridas: a. Pelo próprio stF;b. Pelos Juízes estaduais; c. Pelos Juízes Federais; d. Pelo Ministério da Justiça.

Prova: 17º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

32 - A sentença de divórcio celebrada no exterior somente poderá ser executada no Brasil, se: a. ambos os cônjuges forem estrangeiros;b. se não existirem bens a serem partilhados no exterior;c. se estiver homologada pelo stJ;d. se um dos cônjuges for brasileiro de origem.

Prova: 18º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

31 - Ato jurídico praticado em outro país, devidamente consularizado e traduzido para o português, terá eficácia no Brasil, desde que:

a. seja aprovado pelo congresso nacional;b. não ofenda a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes;c. autorizado pelo Ministério das relações exteriores;d. Homologado pelo superior tribunal de Justiça.

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FGV DIREITO RIO 62�2FGV DIREITO RIO

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Prova: 19º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

31 - Qual a lei que regula a capacidade para suceder? a. a lei do domicílio do herdeiro ou legatário; b. a lei da situação do bem; c. a lei do domicílio do de cujus; d. a lei do lugar onde ocorreu o óbito.

Prova: 20º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

32 - Leia as alternativas abaixo e marque a opção CORRETA:I - As sentenças arbitrais estrangeiras não podem ser executadas no Brasil.II - As cartas rogatórias para serem cumpridas em nosso país dependem do exequatur do Superior Tribunal de Justiça.III - Os atos jurídicos praticados no exterior produzirão efeitos no Brasil se não ofenderem a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional.IV - As sentenças estrangeiras terão eficácia no Brasil se forem homologadas pelo Superior Tribunal de Justiça.

a. I e II são verdadeiras e III e Iv são falsas; b. todas são falsas;c. I e Iv são falsas e II e III são verdadeiras; d. todas são verdadeiras.

Prova: 21º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

32 - Sobre os tratados internacionais marque a opção INCORRETA: a. todos os tratados devem ser homologados pelo stF; b. os tratados só produzem efeitos no Brasil após serem ratificados; c. a denúncia é o meio pelo qual um estado se retira de um tratado internacional; d. em regra os tratados são firmados pelos agentes plenipotenciários.

33 - A ONU foi criada em 1945 com a finalidade de manter a paz e harmonia entre as nações para evitar os flagelos da guerra. Dentre os diversos órgãos que compõem a ONU merece destaque o Conselho de Seguran-ça. Assim sendo marque a alternativa CORRETA:

a. o conselho de segurança é composto de 8 estados; b. o conselho de segurança da onu é composto de 15 países que são eleitos anualmente pela assembléia

Geral; c. são países permanentes no conselho de segurança os estados unidos, a França, a rússia, a china e a

Grã-Bretanha; d. todos os países que compõem o conselho de segurança têm poder de veto.

34 - Um casamento celebrado na Áustria terá validade no Brasil quando: a. For homologado no stJ; b. obtiver o exequatur do congresso nacional

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FGV DIREITO RIO 63��FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

c. For ratificado pelo Presidente da república; d. não ofender a soberania nacional, os bons costumes e a ordem pública.

Prova: 22º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

31 - Assinale a alternativa CORRETA:A citação por carta rogatória do réu, residente em nosso país, para oferecer sua resposta a processo judicial no exterior só terá validade se:

a. for feita exclusivamente de acordo com o direito processual do foro onde tramita o processo; b. for feita exclusivamente de acordo com o direito processual do foro da nacionalidade do réu; c. for cumprida pela Justiça Federal após o exequatur do superior tribunal de Justiça; d. for feita por meio postal, desde que registrada com aviso de recebimento.

Prova: 23º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

31 - Segundo a Lei de Introdução ao Código Civil podemos afirmar que em relação à capacidade, ao nome e aos direitos de família o estrangeiro será regulado:

a. pela lei do país em que for domiciliado; b. pela lei que lhe for mais conveniente; c. pelos tratados internacionais; d. pela sua lei pessoal.

Prova: 24º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

16 - As leis de outro país produzirão efeitos em nosso território se: a. não ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes b. forem aprovados pelo congresso nacional c. forem sancionadas pelo Presidente da república d. forem reconhecidas pelo stJ

Prova: 25ª Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

15 - Leia com atenção o trecho do tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Econômica Européia, para após, marcar a opção correta: Sua majestade o rei dos belgas, o Presidente da República Federal da Alemanha, o Presidente da República Francesa, o Presidente da República Italiana, sua Alteza Real a Grã – Duquesa do Luxemburgo, sua Majestade a rainha dos Países baixos.Determinados a estabelecer os fundamentos de uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus; Decididos a assegurar, mediante uma ação comum, o progresso econômico e social dos seus países, eliminan-do as barreiras que dividem a Europa,Fixando como objetivo essencial dos seus esforços a melhoria constante das condições de vida de trabalho dos povos.

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FGV DIREITO RIO 64��FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

a. trata-se de um trecho da parte dispositiva de um tratado bilateral; b. trata-se de um trecho do preâmbulo de um tratado bilateral; c. trata-se de um trecho do preâmbulo de um tratado multilateral; d. trata-se em trecho da parte dispositiva de um tratado plurilateral.

Prova: 26º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

15 - Em relação à sentença estrangeira homologada pelo STF em novembro de 2004 é correto afirmar? a. será executada pelo próprio stF b. será executada pela Justiça Federal como um título executivo judicial c. será executada pela Justiça estadual como um título executivo extrajudicial d. será executada pelo stF como título executivo judicial

Prova: 27º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

67 - A concessão de exequatur à carta rogatória é de competência: a. Do supremo tribunal Federal b. Do superior tribunal de Justiça c. Da Justiça Federal - 1ª Instância d. Da Justiça estadual

69 - Executando-se a modalidade self-executing, quando, exatamente, os tratados internacionais passam a gerar efeitos no ordenamento jurídico brasileiro?

a. a partir da publicação do Decreto b. com a Publicação do Decreto legislativo c. com o referendo do congresso nacional, os tratados internacionais já adquirem força normativa inter-

na e podem ser aplicados d. Já na assinatura, desde que respeitada a teoria da autonomia da vontade e desde que o tratado não

contenha nenhum tipo de vício de vontade

Prova: 28º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

68 - Uma procuração lavrada em um cartório suíço, devidamente consularizada e traduzida para o nosso ver-náculo por intérprete juramentado, terá eficácia em nosso país se:

a. não ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes; b. For homologada pelo stJ; c. For ratificada pelo Presidente da república; d. For publicada no Diário oficial.

70 - Em relação às sentenças estrangeiras é correto afirmar que: a. serão executadas pela justiça federal como título extrajudicial após serem homologadas pelo stF; b. serão executadas pela justiça federal como título judicial após serem homologadas pelo stF; c. serão executadas pela justiça federal como título judicial após serem homologadas pelo stJ; d. serão executadas pela justiça estadual como título judicial após serem homologadas pelo stJ.

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FGV DIREITO RIO 65��FGV DIREITO RIO

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Prova: 29º Exame de Ordem - 1ª fasePROVA OBJETIVA

66 - Leia as alternativas abaixo e marque a opção correta:I. A carta rogatória será executada pela justiça estadual.II. Um testamento celebrado no exterior produzirá efeitos depois de homologado pelo Superior Tribunal de Justiça.III. Uma sentença estrangeira deve ser homologada no Supremo Tribunal Federal.IV. O Brasil só homologa sentença estrangeiras cujo litígio envolvam apenas brasileiros.

a. todas são verdadeiras;b. apenas a II é verdadeira;c. apenas a III é falsa;d. todas são falsas.

69 - Quais são os países que integram o Conselho de Segurança da ONU e que têm direito a veto? a. França, alemanha, Japão, estados unidos e rússia;b. espanha, reino unido, Japão, rússia e França;c. França, china, reino unido, rússia e estados unidos;d. alemanha, china, espanha, rússia e estados unidos.

70 - Rodrigo, mexicano, em viagem a passeio pela cidade do Rio de Janeiro adquire um apartamento em Ipanema. Retornando ao seu país de origem Rodrigo é designado diretor-presidente da filial de sua empresa situada em Roma, Itália, onde fixou residência, vindo a falecer anos depois em virtude de um enfarte fulmi-nante. Pergunta-se: Onde poderá ser aberto o inventário dos bens de Rodrigo, sabendo que deixou apenas um imóvel situado no Brasil e um filho de nacionalidade italiana:

a. no México, seu país de origem;b. apenas em roma/Itália, onde faleceu; c. apenas no rio de Janeiro/Brasil, onde está situado o bem a inventariar;d. Pode o herdeiro optar tanto pelo rio de Janeiro/Brasil quanto por roma/Itália.

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DIREITO GlObal II

anexo ii — legislação coMPilaDa

DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942

lei de Introdução ao código civil Brasileiro

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da constituição, decreta:art. 1o salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de

oficialmente publicada.§ 1o nos estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses

depois de oficialmente publicada.§ 2o a vigência das leis, que os Governos estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, depen-

de da aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar.§ 3o se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo

deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.§ 4o as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

art. 2o não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1o a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível

ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem mo-

difica a lei anterior.§ 3o salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

art. 3o ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princí-pios gerais de direito.

art. 5o na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

art. 6º a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

§ 1º reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.§ 2º consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como

aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

§ 3º chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

art. 7o a lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da persona-lidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

§ 1o realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimen-tes e às formalidades da celebração.

§ 2o o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.

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DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO

FGV DIREITO RIO 67��FGV DIREITO RIO

DIREITO GlObal II

§ 3o tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.

§ 4o o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.

§ 5º - o estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.

§ 6º - o divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhe-cido no Brasil depois de três anos da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no País. o supremo tribunal Federal, na forma de seu regimento interno, po-derá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.

§ 7o salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.

§ 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou na-quele em que se encontre.

art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.

§ 1o aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trou-xer ou se destinarem a transporte para outros lugares.

§ 2o o penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa ape-nhada.

art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituirem.§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta obser-

vada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.§ 2o a obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente.

art. 10. a sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.

§ 1º a sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.

§ 2o a lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

art. 11. as organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obede-cem à lei do estado em que se constituirem.

§ 1o não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.

§ 2o os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham consti-tuido, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou suscep-tiveis de desapropriação.

§ 3o os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos represen-tantes diplomáticos ou dos agentes consulares.

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DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO

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DIREITO GlObal II

art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.

§ 1o só à .autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a imóveis situados no Brasil.

§ 2o a autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quan-to ao objeto das diligências.

art. 13. a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

art. 14. não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.

art. 15. será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna os seguintes requisitos:a) haver sido proferida por juiz competente;b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que

foi proferida;d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo supremo tribunal Federal.Parágrafo único. não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das

pessoas.

art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.

art. 17. as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

art. 18. tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de registro civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do consulado.

art. 19. reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasi-leiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais.

Parágrafo único. no caso em que a celebração dêsses atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei.

rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942, 121o da Independência e 54o da república.

GetulIo varGasAlexandre Marcondes FilhoOswaldo Aranha.

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DIREITO INTERNAcIONAL PRIVADO

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DIREITO GlObal II

LEI No 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973

Institui o código de Processo civil

caPÍtulo IIIDa HoMoloGação De sentença estranGeIra

art. 483. a sentença proferida por tribunal estrangeiro não terá eficácia no Brasil senão depois de homo-logada pelo supremo tribunal Federal.

Parágrafo único. a homologação obedecerá ao que dispuser o regimento Interno do supremo tribunal Federal.

art. 484. a execução far-se-á por carta de sentença extraída dos autos da homologação e obedecerá às re-gras estabelecidas para a execução da sentença nacional da mesma natureza.

(…)

REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Capítulo IIDA HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA

atual competência do stJ: art 105, I, i, da cF/88.

cF/88: art. 102, I, h – art. 13, caput (idioma oficial).rIstF: art. 6°, I, i (julgamento pelo Pleno: quando impugnado) – art. 8°, I (eD e agr) – art. 13, IX (com-

petência do Presidente do stF) – art. 56, X e XI (não se altera classe) – art. 57 e art. 59, II (sujeito a preparo: tabela B, v, e c de custas stF) e § 3°, c/c art. 107 (prazo para preparo) – art. 61 e §§ (isenção) – art. 62 (as-sistência judiciária) – art. 65, I (deserção) – art. 66 (distribuição quando impugnado) – art. 68 (redistribuição) – art. 71 (relator: eD, agr e incidentes) – art. 77 (relator: rcl) – art. 83 (publicação da pauta).

cPc: art. 483 (eficácia) – art. 484 (execução).

Art. 215. a sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia homologação pelo Supremo Tri-bunal Federal ou por seu Presidente.

CF/88: art. 102, I, h.CPC: art. 483 (eficácia).Lei n. 9.307/96: art. 34 a art. 40 (SE arbitral).

Art. 216. não será homologada sentença que ofenda a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

Art. 217. constituem requisitos indispensáveis à homologação da sentença estrangeira:Lei n. 9.307/96: art. 37 (requisitos da SE arbitral).I – haver sido proferida por juiz competente;II – terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;Lei n. 9.307/96: parágrafo único do art. 39 (forma de citação da SE arbitral).

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DIREITO GlObal II

III – ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias à execução no lugar em que foi proferida;

IV – estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução oficial.CPC: art. 156 e art. 157 (obrigatório vernáculo).

Art. 218. a homologação será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indica-ções constantes da lei processual e ser instruída com a certidão ou cópia autêntica do texto integral da sentença estrangeira e com outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos e autenticados.

RISTF: art. 113 (obedece a normas processuais).CPC: art. 156 (uso do vernáculo) – art. 157 (tradutor juramentado) – art. 282 eart. 283 (requisitos da petição).Lei n. 9.307/96: art. 37 (documentos indispensáveis).

Art. 219. se a petição inicial não preencher os requisitos exigidos no artigo anterior ou apresentar efeitos ou irregularidades que dificultem o julgamento, o Presidente mandará que o requerente a emende ou complete, no prazo de dez dias, sob pena de indeferimento.

RISTF: art. 82 (requisitos) – art. 104 (publicação no DJ).CPC: art. 284 (emenda inicial).

Parágrafo único. se o requerente não promover, no prazo marcado, mediante intimação ao advogado, ato ou diligência que lhe for determinado no curso do processo, será este julgado extinto pelo Presidente ou pelo Plenário, conforme o caso.

Atualizado com a introdução da Emenda Regimental n. 1/81.RISTF: art. 104, §§ 1°, 2° e 5° (contagem de prazo).CPC: parágrafo único do art. 284 (indeferimento do pedido).

Art. 220. autuados a petição e os documentos, o Presidente mandará citar o requerido para, em quinze dias, contestar o pedido.

rIstF: art. 54 (registros) – art. 55, XX (classificação).cPc: art. 285 (citação)

§ 1° o requerido será citado por oficial de justiça, se domiciliado no Brasil, expedindo-se, para isso, carta de ordem; se domiciliado no estrangeiro, pela forma estabelecida na lei do País, expedindo-se carta rogatória.

RISTF: art. 81 (formas).CPC: art. 213 a art. 233 (formas).

§ 2° certificado pelo oficial de justiça ou firmado, em qualquer caso, pelo requerente, que o citando se encontre em lugar ignorado, incerto ou inacessível, a citação far-se-á por edital.

RISTF: art. 84 (requisitos).CPP: art. 361 e art. 365 (requisitos).

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DIREITO GlObal II

Art. 221. a contestação somente poderá versar sobre a autenticidade dos documentos, a inteligência da sentença e a observância dos requisitos indicados nos arts. 217 e 218.

RISTF: art. 113 (obedecerão a leis processuais).CPC: art. 88 a art. 90 (competência da autoridade judiciária brasileira).Lei n. 9.307/96: art. 38 e art. 39 (contestação da SE arbitral).

§ 1° revel ou incapaz o requerido, dar-se-lhe-á curador especial que será pessoalmente notificado.

Lei n. 7.210/84: art. 11, III, art. 15 e art. 16 (assistência jurídica).Lei n. 8.906/94: art. 22, § 1° (nomeação e honorário de advogado) – art. 34, XII(recusa pelo advogado).

§ 2° apresentada a contestação, será admitida réplica em cinco dias.

CPC: art. 327 e art. 328 (réplica pelo autor).Lei n. 9.307/96: art. 38, I a VI (objeto da contestação).

§ 3° transcorrido o prazo da contestação ou da réplica oficiará o Procurador-Geral no prazo de dez dias.

RISTF: art. 52, III (vista obrigatória)

Art. 222¹. se o requerido, o curador especial ou o Procurador-Geral não impugnarem o pedido de homo-logação, sobre ele decidirá o Presidente.

RISTF: art. 13, IX (atribuição do Presidente do STF).

Parágrafo único. Da decisão do Presidente que negar a homologação cabe agravo regimental.

Atualizado com a introdução da Emenda Regimental n. 1/81.RISTF: art. 6°, II, d (julgamento pelo Pleno) – art. 317 (AgR).Lei n. 9.307/96: art. 38 e art. 39, I e II (denegação da SE arbitral).

Art. 223. Havendo impugnação à homologação, o processo será distribuído para julgamento pelo Plenário.

rIstF: art. 66 (distribuição) – art. 68, § 1° (redistribuição) – art. 70 (relator: rcl) –art. 71 e art. 72 (relator: eD, agr e incidentes).

Parágrafo único. caberão ao relator os demais atos relativos ao andamento e à instrução do processo e o pedido de dia para o julgamento

Atualizado com a introdução da Emenda Regimental n. 1/81.RISTF: art. 21 (atribuições do Relator), X (pedir dia).

Art. 224. a execução far-se-á por carta de sentença, no juízo competente, observadas as regras estabelecidas para a execução de julgado nacional da mesma natureza.

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DIREITO GlObal II

CF/88: art. 109, X (Juiz Federal).RISTF: art. 79, § 1°, e art. 80 (autenticidade da carta de sentença) – art. 340 (execução) – art. 347, I, a art.

349 (carta de sentença).CPC: art. 484 (execução) – art. 589, in fine, e art. 590 (requisitos da carta desentença).

capítulo IIIDa carta roGatÓrIa

atual competência do stJ: art 105, I, i, da cF/88.

cF/88: art. 102, I, h.cPc: art. 211 e art. 212.cPP: art. 784 a art. 786 c/c art. 780 a art. 782.

Art. 225. compete ao Presidente do tribunal conceder exequatur a cartas rogatórias de Juízos ou tribunais estrangeiros.

RISTF: art. 13, IX (atribuição do Presidente do STF).CPC: art. 211 (pressupostos).CPP: art. 781, art. 782 e art. 784 (pressupostos).

Art. 226. recebida a rogatória, o interessado residente no país será intimado, podendo, no prazo de cinco dias, impugná-la.

RISTF: art. 79 e art. 80 (requisição de atos processuais) – art. 81 (forma de intimação) – art. 104 e art. 105 (contagem de prazo).

CPC: art. 184 (contagem de prazo) – art. 240 e art. 241 (correm).

§ 1° Findo esse prazo, abrir-se-á vista ao Procurador-Geral, que também poderá impugnar o cumprimento da rogatória.

RISTF: art. 52, III (vista obrigatória) – art.50, § 1° (prazo de 15 dias).

§ 2° a impugnação só será admitida se a rogatória atentar contra a soberania nacional ou a ordem pública, ou se lhe faltar autenticidade.

Atualizado com a introdução da Emenda Regimental n. 2/85.CPP: art. 781 e art. 782 (pressupostos).

Art. 227. concedido o exequatur, seguir-se-á a remessa da rogatória ao Juízo no qual deva ser cumprida.

CF/88: art. 109, X (Juiz Federal).RISTF: art. 13, IX (Relator: Presidente).CPP: §§ 2° e 3° do art. 784 (requisitos) – art. 786 (prazo para cumprimento).

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DIREITO GlObal II

Parágrafo único. Da concessão ou denegação do exequatur cabe agravo regimental.

RISTF: art. 6°, II, d (julgamento pelo Pleno) – art. 13, IX (atribuição do Presidente) – art. 83, § 1°, III (in-dependem de pauta) – art. 225 (competência do Presidente do STF) – art. 317 (AgR).

Art. 228. no cumprimento da carta rogatória cabem embargos relativos a quaisquer atos que lhe sejam referentes, opostos no prazo de dez dias, por qualquer interessado ou pelo Ministério Público local, julgando-os o Presidente, após audiência do Procurador-Geral.

rIstF: art. 13, IX (atribuição do Presidente) – art. 52, III (vista obrigatória) – art. 50, § 1° (Prazos da Procuradoria-Geral da república: 15 dias).

Parágrafo único. Da decisão que julgar os embargos cabe agravo regimental.

Atualizado com a introdução da Emenda Regimental n. 2/85.RISTF: art. 6°, II, d (julgamento pelo Pleno) – art. 317 (AgR).

Art. 229. cumprida a rogatória, será devolvida ao Supremo Tribunal Federal, no prazo de dez dias, e por este remetida, em igual prazo, por via diplomática, ao Juízo ou tribunal de origem.

rIstF: art. 52, III (vista obrigatória) – art. 50, § 1° (prazo da Procuradoria-Geral da república: 15 dias) – art. 340 (execução).

CPC: art. 212 (devolução ao Juízo rogante).CPP: art. 785 (devolução). Atual competência do STJ: art. 105, I, i, da CF/88.

(…)

RESOLUÇÃO Nº 9, DE 4 DE MAIO DE 2005

Publicada no DJ de 06.05.2005republicada no DJu de 10.05.2005

Dispõe, em caráter transitório, sobre competência acrescida ao Superior Tribunal de Justiça pela Emenda Cons-titucional nº 45/2004.

O PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no uso das atribuições regimentais pre-vistas no art. 21, inciso XX, combinado com o art. 10, inciso v, e com base na alteração promovida pela Emenda Constitucional nº 45/2004 que atribuiu competência ao superior tribunal de Justiça para processar e julgar, originariamente, a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias (cons-tituição Federal, Art. 105, inciso I, alínea “i”), ad referendum do Plenário, resolve:

art. 1º Ficam criadas as classes processuais de Homologação de sentença estrangeira e de cartas rogató-rias no rol dos feitos submetidos ao superior tribunal de Justiça, as quais observarão o disposto nesta resolução, em caráter excepcional, até que o Plenário da corte aprove disposições regimentais próprias.

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DIREITO GlObal II

Parágrafo único. Fica sobrestado o pagamento de custas dos processos tratados nesta resolução que en-trarem neste tribunal após a publicação da mencionada emenda constitucional, até a deliberação referida no caput deste artigo.

art. 2º É atribuição do Presidente homologar sentenças estrangeiras e conceder exequatur a cartas rogató-rias, ressalvado o disposto no artigo 9º desta resolução.

art. 3º a homologação de sentença estrangeira será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indicações constantes da lei processual, e ser instruída com a certidão ou cópia autêntica do texto integral da sentença estrangeira e com outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos e au-tenticados.

art. 4º a sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia homologação pelo superior tribunal de Justiça ou por seu Presidente.

§1º serão homologados os provimentos não-judiciais que, pela lei brasileira, teriam natureza de sentença.§2º as decisões estrangeiras podem ser homologadas parcialmente.§3º admite-se tutela de urgência nos procedimentos de homologação de sentenças estrangeiras.

art. 5º constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira:I - haver sido proferida por autoridade competente;II - terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;III - ter transitado em julgado; eIv - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por tradutor oficial ou juramen-

tado no Brasil.

art. 6º não será homologada sentença estrangeira ou concedido exequatur a carta rogatória que ofendam a soberania ou a ordem pública.

art. 7º as cartas rogatórias podem ter por objeto atos decisórios ou não decisórios.Parágrafo único. os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não

ensejem juízo de delibação pelo superior tribunal de Justiça, ainda que denominados como carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao cumprimento por auxílio direto.

art. 8º a parte interessada será citada para, no prazo de 15 (quinze) dias, contestar o pedido de homolo-gação de sentença estrangeira ou intimada para impugnar a carta rogatória.

Parágrafo único. a medida solicitada por carta rogatória poderá ser realizada sem ouvir a parte interessada quando sua intimação prévia puder resultar na ineficácia da cooperação internacional.

art. 9º na homologação de sentença estrangeira e na carta rogatória, a defesa somente poderá versar sobre autenticidade dos documentos, inteligência da decisão e observância dos requisitos desta resolução.

§ 1º Havendo contestação à homologação de sentença estrangeira, o processo será distribuído para julga-mento pela corte especial, cabendo ao relator os demais atos relativos ao andamento e à instrução do processo.

§ 2º Havendo impugnação às cartas rogatórias decisórias, o processo poderá, por determinação do Presi-dente, ser distribuído para julgamento pela corte especial.

§ 3º revel ou incapaz o requerido, dar-se-lhe-á curador especial que será pessoalmente notificado.

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DIREITO GlObal II

art. 10 o Ministério Público terá vista dos autos nas cartas rogatórias e homologações de sentenças estran-geiras, pelo prazo de dez dias, podendo impugná-las.

art. 11 Das decisões do Presidente na homologação de sentença estrangeira e nas cartas rogatórias cabe agravo regimental.

art. 12 a sentença estrangeira homologada será executada por carta de sentença, no Juízo Federal compe-tente.

art. 13 a carta rogatória, depois de concedido o exequatur, será remetida para cumprimento pelo Juízo Federal competente.

§1º no cumprimento da carta rogatória pelo Juízo Federal competente cabem embargos relativos a quais-quer atos que lhe sejam referentes, opostos no prazo de 10 (dez) dias, por qualquer interessado ou pelo Minis-tério Público, julgando-os o Presidente.

§2º Da decisão que julgar os embargos, cabe agravo regimental.§3º Quando cabível, o Presidente ou o relator do agravo regimental poderá ordenar diretamente o aten-

dimento à medida solicitada.

art. 14 cumprida a carta rogatória, será devolvida ao Presidente do stJ, no prazo de 10 (dez) dias, e por este remetida, em igual prazo, por meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das relações exteriores, à autoridade judiciária de origem.

art. 15 esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogados a Resolução nº 22, de 31/12/2004 e o ato nº 15, de 16/02/2005.

Ministro Edson Vidigal

PROTOCOLO DE LAS LEÑAS SOBRE COOPERAÇÃO E ASSISTÊNCIA JURISDICIONAL EM MATÉRIA CIVIL, COMERCIAL, TRABALHISTA E ADMINISTRATIVA

(aneXo Mercosul/cMc/Dec. nº 04/1992)

(las leñas, 27 de julho de 1992)Decreto legislativo no 55, de 19 de abril de 1995;Promulgado pelo Decreto no 2.067, de 12 de novembro de 1996;carta de ratificação do Instrumento foi depositada pelo Brasil em 16 de fevereiro de 1996;entrou em vigor internacional, e para o Brasil, em 17 de março de 1996.os Governos da república argentina, da república Federativa do Brasil, da república do Paraguai e da

república oriental do uruguai,considerando que o Mercado comum do sul (Mercosul), previsto no tratado de assunção, assinado

em 26 de março de 1991, implica o compromisso dos estados Partes de harmonizar suas legislações nas matérias pertinentes para obter o fortalecimento do processo de integração;

Desejosos de promover e intensificar a cooperação jurisdicional em matéria civil, comercial, trabalhista e administrativa, a fim de assim contribuir para o desenvolvimento de suas relações de integração com base nos princípios do respeito à soberania nacional e à igualdade de direitos e interesses recíprocos;

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DIREITO GlObal II

convencidos de que este Protocolo contribuirá para o tratamento eqüitativo dos cidadãos e residentes permanentes dos estados Partes do tratado de assunção e lhes facilitará o livre acesso à jurisdição nos referidos estados para a defesa de seus direitos e interesses;

conscientes da importância de que se reveste, para o processo de integração dos estados Partes, a adoção de instrumentos comuns que consolidem a segurança jurídica e tenham como finalidade atingir os objetivos do tratado de assunção,

acordam: caPÍtulo IcooPeração e assIstÊncIa JurIsDIcIonalartIGo 1 os estados Partes comprometem-se a prestar assistência mútua e ampla cooperação jurisdicional em ma-

téria civil, comercial, trabalhista e administrativa. a assistência jurisdicional se estenderá aos procedimentos administrativos em que se admitam recursos perante os tribunais.

caPÍtulo IIautorIDaDes centraIsartIGo 2 Para os efeitos do presente Protocolo, cada estado Parte indicará uma autoridade central encarregada de

receber e dar andamento às petições de assistência jurisdicional em matéria civil, comercial, trabalhista e admi-nistrativa. Para tanto, as autoridades centrais se comunicarão diretamente entre si, permitindo a intervenção de outras autoridades respectivamente competentes, sempre que seja necessário.

os estados Partes, ao depositarem os instrumentos de ratificação do presente Protocolo, comunicarão essa providência ao Governo depositário, o qual dela dará conhecimento aos demais estados Partes.

a autoridade central poderá ser substituída em qualquer momento, devendo o estado Parte comunicar o fato, no mais breve prazo possível, ao Governo depositário do presente Protocolo, para que dê conhecimento aos demais estados Partes da substituição efetuada.

caPÍtulo IIIIGualDaDe no trataMento ProcessualartIGo 3os cidadãos e os residentes permanentes de um dos estados Partes gozarão, nas mesmas condições dos

cidadãos e residentes permanentes do outro estado Parte, do livre acesso à jurisdição desse estado para a defesa de seus direitos e interesses.

o parágrafo anterior aplicar-se-á às pessoas jurídicas constituídas, autorizadas ou registradas conforme as leis de qualquer dos estados Partes.

artIGo 4nenhuma caução ou depósito, qualquer que seja sua denominação, poderá ser imposto em razão da qua-

lidade de cidadão ou residente permanente de outro estado Parte. o parágrafo precedente se aplicará às pessoas jurídicas constituídas, autorizadas ou registradas conforme as

leis de qualquer dos estados Partes.

caPÍtulo IvcooPeração eM atIvIDaDes De sIMPles trÂMIte e ProBatÓrIasartIGo 5cada estado Parte deverá enviar às autoridades jurisdicionais do outro estado, segundo o previsto no arti-

go 2, carta rogatória em matéria civil, comercial, trabalhista ou administrativa, quando tenha por objeto:

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DIREITO GlObal II

a) diligências de simples trâmite, tais como citações, intimações, citações com prazo definido, notificações ou outras semelhantes;

b) recebimento ou obtenção de provas. artIGo 6 as cartas rogatórias deverão conter: a) denominação e domicílio do órgão jurisdicional requerente; b) individualização do expediente, com especificação do objeto e natureza do juízo e do nome e domicílio

das partes; c) cópia da petição inicial e transcrição da decisão que ordena a expedição da carta rogatória; d) nome e domicílio do procurador da parte solicitante no estado requerido, se houver; e) indicação do objeto da carta rogatória, com o nome e o domicílio do destinatário da medida; f ) informação sobre o prazo de que dispõe a pessoa afetada pela medida para cumpri-la; g) descrição das formas ou procedimentos especiais com que haverá de cumprir-se a cooperação solicitada; h) qualquer outra informação que facilite o cumprimento da carta rogatória. artIGo 7 no caso de ser solicitado o recebimento de provas, a carta rogatória deverá também conter: a) descrição do assunto que facilite a diligência probatória; b) nome e domicílio de testemunhas ou outras pessoas ou instituições que devam intervir; c) texto dos interrogatórios e documentos necessários. artIGo 8 a carta rogatória deverá ser cumprida de ofício pela autoridade jurisdicional competente do estado reque-

rido, e somente poderá denegar-se quando a medida solicitada, por sua natureza, atente contra os princípios de ordem pública do estado requerido.

o referido cumprimento não implicará o reconhecimento da jurisdição internacional do juiz do qual emana.

artIGo 9 a autoridade jurisdicional requerida terá competência para conhecer das questões que sejam suscitadas

quando do cumprimento da diligência solicitada. caso a autoridade jurisdicional requerida se declare incompetente para proceder à tramitação da carta

rogatória, remeterá de ofício os documentos e os antecedentes do caso à autoridade jurisdicional competente do seu estado.

artIGo 10 as cartas rogatórias e os documentos que as acompanham deverão redigir-se no idioma da autoridade

requerente e serão acompanhadas de uma tradução para o idioma da autoridade requerida. artIGo 11 a autoridade requerida poderá, atendendo a solicitação da autoridade requerente, informar o lugar e a data em

que a medida solicitada será cumprida, a fim de permitir que a autoridade requerente, as partes interessadas ou seus respectivos representantes possam comparecer e exercer as faculdades autorizadas pela legislação da Parte requerida.

a referida comunicação deverá efetuar-se, com a devida antecedência, por intermédio das autoridades centrais dos estados Partes.

artIGo 12a autoridade jurisdicional encarregada do cumprimento de uma carta rogatória aplicará sua lei interna no

que se refere aos procedimentos. não obstante, a carta rogatória poderá ter, mediante pedido da autoridade requerente, tramitação especial,

admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais na diligência da carta rogatória, sempre que isso não seja incompatível com a ordem pública do estado requerido.

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DIREITO GlObal II

o cumprimento da carta rogatória deverá efetuar-se sem demora. artIGo 13 ao diligenciar a carta rogatória, a autoridade requerida aplicará os meios processuais coercitivos previstos

na sua legislação interna, nos casos e na medida em que deva fazê-lo para cumprir uma carta precatória das au-toridades de seu próprio estado, ou um pedido apresentado com o mesmo fim por uma parte interessada.

artIGo 14 os documentos que comprovem o cumprimento da carta rogatória serão transmitidos por intermédio das

autoridades centrais. Quando a carta rogatória não tiver sido cumprida integralmente ou em parte, este fato e as razões do não

cumprimento deverão ser comunicados de imediato à autoridade requerente, utilizando-se o meio assinalado no parágrafo anterior.

artIGo 15 o cumprimento da carta rogatória não poderá acarretar reembolso de nenhum tipo de despesa, exceto

quando sejam solicitados meios probatórios que ocasionem custos especiais, ou sejam designados peritos para intervir na diligência. em tais casos, deverão ser registrados no texto da carta rogatória os dados da pessoa que, no estado requerido, procederá ao pagamento das despesas e honorários devidos.

artIGo 16 Quando os dados relativos ao domicílio do destinatário da ação ou da pessoa citada forem incompletos

ou inexatos, a autoridade requerida deverá esgotar todos os meios para atender ao pedido. Para tanto, poderá também solicitar ao estado requerente os dados complementares que permitam a identificação e a localização da referida pessoa.

artIGo 17 os trâmites pertinentes para o cumprimento da carta rogatória não exigirão necessariamente a interven-

ção da parte solicitante, devendo ser praticados de ofício pela autoridade jurisdicional competente do estado requerido.

caPÍtulo vreconHecIMento e eXecução De sentenças e De lauDos arBItraIs

artIGo 18 as disposições do presente capítulo serão aplicáveis ao reconhecimento e à execução das sentenças e dos

laudos arbitrais pronunciados nas jurisdições dos estados Partes em matéria civil, comercial, trabalhista e ad-ministrativa, e serão igualmente aplicáveis às sentenças em matéria de reparação de danos e restituição de bens pronunciadas na esfera penal.

artIGo 19 o pedido de reconhecimento e execução de sentenças e de laudos arbitrais por parte das autoridades juris-

dicionais será tramitado por via de cartas rogatórias e por intermédio da autoridade central.artIGo 20 as sentenças e os laudos arbitrais a que se refere o artigo anterior terão eficácia extraterritorial nos estados

Partes quando reunirem as seguintes condições: a) que venham revestidos das formalidades externas necessárias para que sejam considerados autênticos no

estado de origem; b) que estejam, assim como os documentos anexos necessários, devidamente traduzidos para o idioma

oficial do estado em que se solicita seu reconhecimento e execução; c) que emanem de um órgão jurisdicional ou arbitral competente, segundo as normas do estado requerido

sobre jurisdição internacional;

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d) que a parte contra a qual se pretende executar a decisão tenha sido devidamente citada e tenha garantido o exercício de seu direito de defesa;

e) que a decisão tenha força de coisa julgada e/ou executória no estado em que foi ditada; f ) que claramente não contrariem os princípios de ordem pública do estado em que se solicita seu reco-

nhecimento e/ou execução. os requisitos das alíneas (a), (c), (d), (e) e (f ) devem estar contidos na cópia autêntica da sentença ou do

laudo arbitral. artIGo 21 a parte que, em juízo, invoque uma sentença ou um laudo arbitral de um dos estados Partes deverá apre-

sentar cópia autêntica da sentença ou do laudo arbitral com os requisitos do artigo precedente. artIGo 22 Quando se tratar de uma sentença ou de um laudo arbitral entre as mesmas partes, fundamentado nos

mesmos fatos, e que tenha o mesmo objeto de outro processo judicial ou arbitral no estado requerido, seu reconhecimento e sua executoriedade dependerão de que a decisão não seja incompatível com outro pronuncia-mento anterior ou simultâneo proferido no estado requerido.

Do mesmo modo não se reconhecerá nem se procederá à execução, quando se houver iniciado um proce-dimento entre as mesmas partes, fundamentado nos mesmos fatos e sobre o mesmo objeto, perante qualquer autoridade jurisdicional da Parte requerida, anteriormente à apresentação da demanda perante a autoridade jurisdicional que teria pronunciado a decisão da qual haja solicitação de reconhecimento.

artIGo 23 se uma sentença ou um laudo arbitral não puder ter eficácia em sua totalidade, a autoridade jurisdicional

competente do estado requerido poderá admitir sua eficácia parcial mediante pedido da parte interessada. artIGo 24 os procedimentos, inclusive a competência dos respectivos órgãos jurisdicionais, para fins de reconheci-

mento e execução das sentenças ou dos laudos arbitrais, serão regidos pela lei do estado requerido. caPÍtulo vIDos InstruMentos PÚBlIcos e outros DocuMentosartIGo 25 os instrumentos públicos emanados de um estado Parte terão no outro a mesma força probatória que seus

próprios instrumentos públicos. artIGo 26 os documentos emanados de autoridades jurisdicionais ou outras autoridades de um dos estados Partes,

assim como as escrituras públicas e os documentos que certifiquem a validade, a data e a veracidade da assinatura ou a conformidade com o original, e que sejam tramitados por intermédio da autoridade central, ficam isentos de toda legalização, certificação ou formalidade análoga quando devam ser apresentados no território do outro estado Parte.

artIGo 27 cada estado Parte remeterá, por intermédio da autoridade central, a pedido de outro estado Parte e para fins

exclusivamente públicos, os traslados ou certidões dos assentos dos registros de estado civil, sem nenhum custo.

caPÍtulo vIIInForMação Do DIreIto estranGeIroartIGo 28 as autoridades centrais dos estados Partes fornecer-se-ão mutuamente, a título de cooperação judicial, e

desde que não se oponham às disposições de sua ordem pública, informações em matéria civil, comercial, traba-lhista, administrativa e de direito internacional privado, sem despesa alguma.

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DIREITO GlObal II

artIGo 29 a informação a que se refere o artigo anterior poderá também ser prestada perante a jurisdição do outro

estado, por meio de documentos fornecidos pelas autoridades diplomáticas ou consulares do estado Parte de cujo direito se trata.

artIGo 30 o estado que fornecer as informações sobre o sentido do alcance legal de seu direito não será responsável

pela opinião emitida, nem estará obrigado a aplicar seu direito, segundo a resposta fornecida. o estado que receber as citadas informações não estará obrigado a aplicar, ou fazer aplicar, o direito estran-

geiro segundo o conteúdo da resposta recebida.

caPÍtulo vIIIconsultas e solução De controvÉrsIas

artIGo 31 as autoridades centrais dos estados Partes realizarão consultas nas oportunidades que lhes sejam mutua-

mente convenientes com a finalidade de facilitar a aplicação do presente Protocolo.artIGo 32 os estados partes numa controvérsia sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento das dispo-

sições deste Protocolo, procurarão resolvê-la mediante negociações diplomáticas diretas. se, mediante tais negociações, não se chegar a um acordo ou se tal controvérsia for solucionada apenas

parcialmente, aplicar-se-ão os procedimentos previstos no Protocolo de Brasília para a solução de controvérsias quando este entrar em vigor e enquanto não for adotado um sistema Permanente de solução de controvérsias para o Mercado comum do sul.

caPÍtulo IXDIsPosIçÕes FInaIsartIGo 33 o presente Protocolo, parte integrante do tratado de assunção, entrará em vigor trinta (30) dias após a

data de depósito do segundo instrumento de ratificação, e será aplicado provisoriamente a partir da data de sua assinatura.

artIGo 34 a adesão por parte de um estado ao tratado de assunção implicará, ipso iure, a adesão ao presente Pro-

tocolo. artIGo 35 o presente Protocolo não restringirá as disposições das convenções que anteriormente tiverem sido assina-

das sobre a mesma matéria entre os estados Partes, desde que não o contradigam. artIGo 36 o Governo da república do Paraguai será o depositário do presente Protocolo e dos instrumentos de rati-

ficação, e enviará cópias devidamente autenticadas dos mesmos aos Governos dos demais estados Partes. Da mesma maneira, o Governo da república do Paraguai notificará aos Governos dos outros estados Par-

tes a data da entrada em vigor deste Protocolo e a data de depósito dos instrumentos de ratificação. Feito no vale de las leñas, Departamento de Malargüe, Província de Mendoza, república argentina, aos

27 dias do mês de junho de 1992, em um original, nos idiomas espanhol e português, sendo ambos os textos igualmente autênticos.

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FGV DIREITO RIO 81

FABIANO ROBALINHO CAVALCANTILL.M pela Harvard Law School. Bacharel em Direito pela PUc-RJ. Mem-bro da New York Bar Association. Sócio do Escritório de Advocacia Sergio Bermudes.

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FGV DIREITO RIO 82

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Joaquim FalcãoDIRETOR

Sérgio GuerraVIcE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Rodrigo ViannaVIcE-DIRETOR ADMINISTRATIVO

Thiago Bottino do AmaralcOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendescOORDENADOR DO NÚcLEO DE PRÁTIcA JURÍDIcA

Cristina Nacif AlvescOORDENADORA DE ENSINO

Marília AraújocOORDENADORA EXEcUTIVA DA GRADUAÇÃO