o novo ppa e as políticas públicas para os povos indígenas

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Ano II • nº 6 • junho de 2003 Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc 6 O novo PPA e as políticas públicas para os Povos Indígenas A efetiva ruptura do monopólio tutelar da Fun- dação Nacional do Índio – Funai – é, sem dúvida, a primeira constatação a ser feita quando se avalia o orçamento executado do Plano Plurianual 2000/ 2003. À luz dos dados orçamentários, não se pode falar em uma política indigenista, quer pela inexistência de um planejamento governamental integrado, quer pela não aplicação de recursos es- pecificamente destinados para índios por um único órgão da administração pública. As informações referentes ao último Plano Plurianual - PPA, se não nos permitem saber de re- Um desafio para o governo Lula análise do último Plano Plurianual (2000/2003) demonstra: os recursos destinados pelo governo federal para os indígenas continuam mal aplicados e insuficientes para promover o desen- volvimento desta população. A educação indígena está longe de ser intercultural e bilíngue, como de- veria, uma vez que não há recurso es- pecífico para a educação dos índios no PPA. Eles são alvos das mesmas ações voltadas para o restante dos brasilei- ros e, portanto, não são atendidos em suas especificidades. Em que pese o fortalecimento da po- lítica de saúde para os índios, com resul- tado satisfatório na redução da mortali- dade, o fato é que o maior investimento na Saúde se deu em detrimento da área da Justiça. A Funai (Ministério da Justi- ça) recebeu quase a metade do que foi destinado à Fundação Nacional de Saú- de no governo Fernando Henrique. Atualmente sucateada e criticada, a Funai chega aos 35 anos com o desafio de reestruturar seu modelo de gestão para impulsionar uma política que, de fato, promova a defesa dos direitos e do desenvolvimento indígena. Ao governo Lula, fica a oportunida- de de garantir a participação dos índios na elaboração do próximo PPA (2004/ 2007). Esta antiga necessidade, até ago- ra, não passa de reivindicação. A E D I T O R I A L

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A efetiva ruptura do monopólio tutelar da Fundação Nacional do Índio – Funai – é, sem dúvida, a primeira constatação a ser feita quando se avalia o orçamento executado do Plano Plurianual 2000/2003. À luz dos dados orçamentários, não se podefalar em uma política indigenista, quer pela inexistência de um planejamento governamental integrado, quer pela não aplicação de recursos especificamente destinados para índios por um único órgão da administração pública. As informações referentes ao último Plano Plurianual - PPA, se não nos permitem saber de recursos diversos que revertem para ou contra os índios - como, por exemplo, o pagamento de aposentadorias a índios pelo INSS ou as atividades que impactam negativamente os povos indígenas, a exemplo da construção de hidrovias, gasodutos, hidrelétricas etc. - permitem-nos um relance sobre as intenções de governo para os indígenas. E é possível conectá-las a alguns de seus efeitos socialmente perceptíveis. Um estudo do Inesc1, realizado em 2000,apresenta uma avaliação do orçamento executadono primeiro ano doPlano Plurianual 2000/2003 e da proposta parao ano de 2001. De lá paracá, muitos fatos modificarama cena brasileira: tivemosuma eleição presidenciale um novo governo assumiuo poder. Agora, àsvésperas de construirmos opróximo PPA (2004/2007), cabe refletir sobreo quanto certas tendênciasverificadas em 2000 seconsolidaram, como se entreteceram na conjunturapolítica atual, e os perigos de seuincrustamento duradouro, a se manterem as indicaçõesdos últimos anos e o quadro com quenos defrontamos no atual momento.

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  • Ano II n 6 junho de 2003Publicao do Instituto de Estudos Socioeconmicos - Inesc

    6

    O novo PPA e aspolticas pblicas paraos Povos Indgenas

    A efetiva ruptura do monoplio tutelar da Fun-dao Nacional do ndio Funai , sem dvida, aprimeira constatao a ser feita quando se avalia ooramento executado do Plano Plurianual 2000/2003. luz dos dados oramentrios, no se podefalar em uma poltica indigenista, quer pelainexistncia de um planejamento governamentalintegrado, quer pela no aplicao de recursos es-pecificamente destinados para ndios por um nicorgo da administrao pblica.

    As informaes referentes ao ltimo PlanoPlurianual - PPA, se no nos permitem saber de re-

    Um desafio para ogoverno Lula

    anlise do ltimo Plano Plurianual(2000/2003) demonstra: os recursosdestinados pelo governo federal paraos indgenas continuam mal aplicadose insuficientes para promover o desen-volvimento desta populao.

    A educao indgena est longe deser intercultural e bilngue, como de-veria, uma vez que no h recurso es-pecfico para a educao dos ndios noPPA. Eles so alvos das mesmas aesvoltadas para o restante dos brasilei-ros e, portanto, no so atendidos emsuas especificidades.

    Em que pese o fortalecimento da po-ltica de sade para os ndios, com resul-tado satisfatrio na reduo da mortali-dade, o fato que o maior investimentona Sade se deu em detrimento da reada Justia. A Funai (Ministrio da Justi-a) recebeu quase a metade do que foidestinado Fundao Nacional de Sa-de no governo Fernando Henrique.

    Atualmente sucateada e criticada, aFunai chega aos 35 anos com o desafiode reestruturar seu modelo de gestopara impulsionar uma poltica que, defato, promova a defesa dos direitos e dodesenvolvimento indgena.

    Ao governo Lula, fica a oportunida-de de garantir a participao dos ndiosna elaborao do prximo PPA (2004/2007). Esta antiga necessidade, at ago-ra, no passa de reivindicao.

    A

    E D I T O R I A L

  • 2 junho de 2003

    O Ministrio daJustia (leia-se,Funai) no foi,

    durante todo operodo, o locus do

    principalinvestimento do

    governo FernandoHenrique, mas sim oMinistrio da Sade,

    ou melhor, aFundao Nacional

    de Sade

    Oramento & Poltica Socioambiental: uma publicao trimestral do INESC Instituto de Estudos Socioeconmicos, em parceria coma Fundao Heinrich Bll. Tiragem: 3 mil exemplares. INESC - End: SCS Qd, 08, Bl B-50 - Sala 435 Ed. Venncio 2000 CEP. 70.333-970 Braslia/DF Brasil Tel: (61) 212 0200 Fax: (61) 212 0216 E-mail: [email protected] Site: www.inesc.org.br - ConselhoDiretor: Jackson Luiz Pires Machado, Ronaldo Coutinho Garcia, Maria Elizabeth Diniz Barros, Gisela Alencar Santos, Nathali Beghin,Gilda Cabral de Arajo, Guacira Csar de Oliveira, Pe. Jos Ernani Pinheiro, Paulo Calmon - Colegiado de Gesto: Iara Pietricovsky, JosAntnio Moroni - Assessoria: Denise Rocha, Edlcio Vigna, Jair Barbosa Jnior, Jussara de Gois, Luciana Costa, Mrcio Pontual, RicardoVerdum, Selene Nunes - Jornalista responsvel: Luciana Costa - Diagramao: Data Certa Comunicao - Impresso: Vangraf

    cursos diversos que revertem para ou contra osndios - como, por exemplo, o pagamento deaposentadorias a ndios pelo INSS ou as ativi-dades que impactam negativamente os povos in-dgenas, a exemplo da construo de hidrovias,gasodutos, hidreltricas, etc. -, permitem-nos umrelance sobre as intenes de governo para osindgenas. E possvel conect-las a alguns deseus efeitos socialmente perceptveis.

    Um estudo do Inesc1, realizado em 2000,apresenta uma avaliao do oramento execu-tado no primeiro ano doPlano Plurianual 2000/2003 e da proposta parao ano de 2001. De l parac, muitos fatos modifica-ram a cena brasileira: tive-mos uma eleio presiden-cial e um novo governo as-sumiu o poder. Agora, svsperas de construirmos oprximo PPA (2004/2007), cabe refletir sobreo quanto certas tendnci-as verificadas em 2000 seconsolidaram, como se entreteceram na conjun-tura polt ica atual, e os perigos de seuincrustamento duradouro, a se manterem as in-dicaes dos ltimos anos e o quadro com quenos defrontamos no atual momento.

    Poucos recursosAo analisarmos os recursos para as aes dos dois

    grandes programas do PPA 2000/2003 referen-tes aos povos indgenas - Etnodesenvolvimento dassociedades indgenas e Territrio e cultura indge-nas -, veremos, como demonstra a tabela n 1, que:1) foram poucos os recursos efetivamente aplica-dos s aes desses programas, isto , no sentidode promover polticas de carter compensatrio,indexadas aos indgenas, voltadas para a constru-o de um Estado pluritnico e multicultural, ins-

    trumento da superao de desigualdades soci-ais; e 2) o Ministrio da Justia (leia-se Funai,excludos desta os gastos de pessoal e administra-o, que correspondem hoje a cerca de 30% dototal de seu oramento) no foi, durante todo operodo, o locus do principal investimento do go-verno Fernando Henrique Cardoso, mas sim oMinistrio da Sade, ou melhor, a Fundao Na-cional de Sade -Funasa, com a implantao dosDistritos Sanitrios Especiais Indgenas -DSEIs.A diferena de montantes expressiva, vigindoainda em 2003, cujos valores autorizados se-guem o padro dos efetivamente liquidadospara os anos de 2000, 2001 e 2002, numa pro-

    poro de cerca do dobro entre o Ministrio daSade e o da Justia.

    importante ressalvar, no tocante educa-o (categoria que usamos para aglutinar aesainda elencadas para a Funai), por exemplo, que

    1 SOUZA, H. Polticas pblicas para povos indgenas: uma anlise a partir do oramento, Nota tcnica n 38, Inesc, Braslia, outubro de 2000.

  • junho de 2003 3

    R$ mil

    Justia 33.498,4 36,1 70.528,7 41,0 66.193,4 34,5 71.809,9 35,1

    Sade 58.002,9 62,7 98.901,0 57,4 124.227,3 64,8 126.245,8 61,7

    Meio Ambiente 279,8 0,3 2.046,8 1,2 1.085,9 0,6 6.099,7 3,0

    Educao 399,7 0,4 295,0 0,2 260,6 0,1 400,0 0,2

    Agricultura e Abastecimento 132,0 0,1 223,1 0,1 38,1 0,0 36,0 0,0

    Integrao Nacional 360,0 0,4 177,0 0,1 - - - -

    TOTAL 92.672,8 100,0 172.171,6 100,0 191.805,3 100,0 204.591,4 100,0

    Oramento Indgena por Ministrio - 2000/2003T abela 1

    o total de recursos utilizados para os ndios atra-vs de estados e municpios no consta dos mon-tantes relacionados pelo PPA nas aes dirigidasaos ndios, pois encontra-se diludo em aes des-tinadas a todos os cidados brasileiros. Isso se-gue a tradio homogeneizante das polticas edu-cacionais do Estado brasileiro, em franca con-tradio com os parmetros curriculares parauma educao indgena intercultural, bilnguee diferenciada do Ministrio da Educao. As-sim, no possvel aos povos indgenas contro-lar socialmente o uso desse recurso.

    A lgica implcita nesta distribuio era, comodestacou Souza (2000), a reforma de Estado daprimeira gesto de FHC, bastante descurada noseu segundo mandato, com suas metas de redu-o do aparelho de Estado e de crescimento daexecuo de atividades pblicas pelo Terceiro

    Setor, com a suposta busca de uma crescente par-ticipao das populaes-alvo nos processosdecisrios que as afetassem. O resultado foi umaimperfeita desmontagem dos dispositivos de Es-tado para execuo das polticas sociais, sem umavano significativo de novas formas.

    Agregando-se em seis grandes blocos os da-dos para as aes previstas pelo PPA para aFunai, surgem tendncias mais gerais induzidaspor essas possibilidades de gastos: Regulariza-o fundiria, Assistncia tutelar, Educao,Promoo cultural, Capacitao e Meioambiente. Na tabela 2, esto os resultados des-sa agregao . Como evidente pelas atribui-es legais do rgo, Funai coube a responsa-bilidade pela regularizao fundiria. Opercentual dessa categoria no total dos recursosdestinados ao aparelho indigenista no foi infe-

    R$ mil

    Regularizao Fundiria 14.942,9 44,6 42.068,0 59,6 34.570,9 52,2 40.602,8 56,4

    Assistncia tutelar 16.265,4 48,6 22.587,3 32,0 24.515,1 37,0 22.489,8 31,2

    Educao 1.555,7 4,6 3.552,8 5,0 4.949,9 7,6 5.329,9 7,4

    Meio Ambiente 272,5 0,8 909,2 1,3 951,1 1,4 1.410,0 2,0

    Promoo cultural 201,4 0,6 984,3 1,4 752,0 1,1 1.367,0 1,9

    Capacitao 259,8 0,8 426,0 0,7 452,8 0,7 810,0 1,1

    Totais 33.497,7 100,0 70.527,6 100,0 66.191,8 100,0 72.009,5 100,0

    Oramento indgena no Ministrio da JustiaAgrupado por "categoria de aes"

    T abela 2

    2000 2001 2002 2003

    Ministrio Valores % Valores % Valores % Valores %

    Liquidados Liquidados Liquidados Autorizados

    2000 2001 2002 2003

    Ministrio Valores % Valores % Valores % Valores %

    Liquidados Liquidados Liquidados Autorizados

  • 4 junho de 2003

    No includos nosprojetos financiados

    pela cooperaointernacional, os

    processos deregularizao de

    terras indgenas nasregies Nordeste,

    Sudeste e Sulcaminharam em

    ritmo bem mais lento

    rior a 44,6% do total destinado a aes a seremimplementadas pela Funai. Muitos desses recur-sos provieram do Estado brasileiro, como o Fun-do Nacional de Combate Pobreza, fundo ins-tvel e oscilante durante o perodo.

    At a, nada surpreendente. O governo FHCpoderia ter construdo, a partir dessa separaoto forte, ainda que com poucos recursos, sinaisde uma vontade de transformao. A regulariza-o fundiria, sobretudo a executada na regioAmaznica, esteve visvel em planejamentos, foiproposta e executada coma presena de instncias decontrole social2.

    A partir de 1999, nombito do Projeto Inte-grado de Proteo s Ter-ras e Populaes Indgenasda Amaznia Legal -PPTAL, do Programa Pi-loto para Proteo das Flo-restas Tropicais do Brasil -PPG-7, a Funai, fazendouso de recursos da cooperao alem, sobretu-do, promoveu estratgias para viabilizar proces-sos "participativos" de demarcao de terras in-dgenas, atravs da assinatura de convnios comorganizaes e associaes indgenas. Estes re-sultaram em amplas mobilizaes das comuni-dades, precedidas por atividades de capacitaoe instrumentalizao de recursos humanos lo-cais. Proporcionaram, ainda, o fortalecimentoinstitucional de suas organizaes de represen-tao poltica, bem como contriburam para darvisibilidade e maior sustentabilidade s demar-caes e para redimensionar as relaes queaquelas populaes e organizaes historicamen-

    te mantinham com vrios grupos e instituiesda sociedade.

    A partir de 2000, como desdobramento des-tas iniciativas, o PPTAL apoiou sete "planos devigilncia" em terras indgenas de quatro esta-dos amaznicos, gerenciados por organizaesindgenas e/ou entidades indigenistas de apoio,que resultaram em estratgias inovadoras e bemsucedidas para a fiscalizao e proteo dos li-mites das terras j demarcadas3.

    Todavia, no includos nos projetos financia-dos pela cooperao internacional, os proces-sos de regularizao de terras indgenas nas re-gies Nordeste, Sudeste e Sul caminharam emritmo bem mais lento. Defrontaram-se com aescassez de pessoal para a constituio de gru-pos tcnicos de identificao, com as intensaspresses e as aes violentas de grupos polticose econmicos contrrios ao reconhecimento denovos territrios e, tambm, com a dificuldadede dar prosseguimento, aps demarcao, aosprocessos de pagamento das indenizaes dasbenfeitorias e de retirada dos ocupantes no-ndios. Tudo isso sem contar os embates e as dis-cusses que circundam a idia de reconheci-mento tnico com que o aparelho indigenistatem tentado fazer frente aos processos deetnognese.

    Examinando a tabela 2, podemos notar queforam utilizados/autorizados recursos nunca in-feriores a 30% do total para o que chamamosde assistncia tutelar. Trata-se de um conjun-to de aes que, mesmo quando no claramentedestinadas a atendimentos emergenciais, ser-vem a um modo de funcionamento justificadopelo padro salvacionista caracterstico do esp-rito patronal do sertanismo. Sem planejamento

    2 Referimo-nos Comisso Paritria Consultiva do Projeto Integrado de Proteo s Terras e Populaes Indgenas da Amaznia Legal-PPTAL.3 Para dados mais detalhados sobre as demarcaes participativas, ver Pacheco de Oliveira e Piedrafita Iglesias, in Estado e povos indgenas: bases para uma nova poltica indigenista II, Contracapa Livraria/Laced, p. 41-68, Rio de Janeiro, 2002.

  • junho de 2003 5

    H uma distribuiocompletamente

    desigual de recursospara aes com

    povos indgenas, eaqueles povos emsituao de maior

    vulnerabilidadevem-se em situao

    crescentementedesvantajosa e

    desigual

    especfico ou controle social de seus usos, estesrecursos servem a articulaes didicas entre umindivduo integrante da administraoindigenista, com insero local/regional e fun-es homlogas s de um patro (mas portadorde uma auto-representao prxima do missi-onrio tradicional), e certas redes ou faces depovos indgenas especficos, operando sob a l-gica da troca personaliza-da, intercambiando apoiopoltico e recursos sob aforma de cargos, bens, oumoeda, os quais deveriamser usados para o desenvol-vimento dos indgenas.Este tipo de padro, s ve-zes temperado por um cer-to populismo amedronta-do, d suporte ao jogofaccional que, articulandofuncionrios e no-funci-onrios da Funai, sejam eles ndios ou no, co-loca em disputa o controle da presidncia doaparelho, num mundo paralelo que tem sido es-timulado pela falta de direo poltica dos esca-les superiores do governo4. Neste esquema depoder, participar para um ndio ser cliente deum patro, seja ele at mesmo um outro indge-na. A se manter este estado de coisas, a Funai uma instncia muito pouco eficaz para a discus-so, canalizao e mediao das demandas e pro-postas dos grupos, lideranas e associaes ind-genas. Isto fica ainda mais aguado se levado emconta que, pela via dos cargos, falta de outrosrecursos ao etnodesenvolvimento e fomento de

    atividades produtivas, os povos indgenas aca-bam recebendo recursos que deveriam serdisponibilizados em bases transparentes e con-troladas.

    O resultado uma distribuio completa-mente desigual de recursos para aes com po-vos indgenas, em que aqueles povos em situa-o de maior vulnerabilidade vem-se em situa-o crescentemente desvantajosa e desigual. Emoutras palavras, so poucos recursos e aplicadosde modo a reproduzir o pior. Essa afirmaopode ser corroborada, tambm, pelo quanto foiorado e utilizado para melhorar a aoindigenista, sendo um ndice disso o carter re-sidual da categoria capacitao. Neste padrode distribuio de recursos ainda em curso, noapenas alguns povos so mais ndios do queoutros, com acesso a mais recursos, masaprofundam-se as razes pelas quais a dennciade sucateamento da Funai tem se somado pro-posta de extino de uma ao indigenista deEstado, confundindo-se o modelo indigenistaem curso com a prpria existncia do rgo.

    Na rea da sade indgena, os recursos sofre-ram um aumento inegvel a partir de 2000, como incio de sua gesto pelo Ministrio da Sade/Funasa, tendo praticamente dobrado entre 2000e 20025. Os Distritos Sanitrios Especiais Ind-genas - DSEIs, alm de se assentarem numa revi-so do modelo campanhista de assistncia sa-de em benefcio de um modelo de ofertaininterrupta de servios, introduziram tambm,do ponto de vista administrativo, a perspectivada terceirizao e da descentralizao da execu-o das aes de sade, que, atravs de convni-

    4 O lema de os ndios que sabem e do protagonismo indgena obscurece que alguns ndios so, para estes efeitos, mais ndios do que outros. Lideranas indgenas tmdenunciado em inmeros encontros este tipo de desvio, e, mais recentemente, o presidente da Funai, Eduardo Almeida (Ofcio n 193/2003, em www.funai.gov.br),referiu-se capacidade de desestabilizao que articulaes de servidores tm inflingido gesto do rgo indigenista. Para uma anlise de redes de corrupo desde instnciaslocais/municipais, ver Bezerra, Corrupo, Relume-Dumacar/Anpocs,1995; e Bezerra, Em nome das bases: poltica, favor e dependncia pessoal, 1999.

    5 Alm da legislao de 1999, ligada transferncia da responsabilidade pela sude indgena para o Ministrio da Sade e implantao dos DSEIs (decreto n 3.156,de 27 de agosto de 1999; portaria n 1.163/GM, de 14 de setembro de 1999; lei n 8.080, de 19 de setembro de 1999 e da lei n 9.836, de 23 de setembrode 1999), foi baixada em janeiro de 2002 a portaria n 254 do Ministrio da Sade, aprovando a Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos Indgenas.

    junho de 2003 5

  • 6 junho de 2003

    A municipalizao,que vem sendo

    apontada como umdos pontos fracos domodelo atualmente

    em vigor, nopermite o controle

    social adequadosobre a utilizao dos

    recursos, acabandopor limitar as

    possibilidades deao das

    organizaesindgenas

    os, passaram a ser distribudas entre organizaesindgenas, organizaes indigenistas e municpi-os, sob a coordenao da Funasa (ver quadro 1)6.

    Apesar da tendncia ao crescimento do nme-ro de convnios estabelecidos pela Funasa comorganizaes indgenas e indigenistas, em detri-mento do nmero de convnios firmados com osmunicpios, a participaomunicipal na dinmica or-amentria da sade nodiminuiu: se a modalidadede relacionamento com asprefeituras, via convnio,vem caindo, o mesmo nopode ser dito sobre o repas-se direto de recursos paraos oramentos municipaisde sade. Esta ltima alter-nativa viabilizou, em 2002,a participao de 198 sis-temas municipais de sadeem programas de ateno sade indgena. Amunicipalizao, que vem sendo apontada comoum dos pontos fracos do modelo atualmente emvigor, no permite o controle social adequado so-

    bre a utilizao dos recursos, acabando por limi-tar as possibilidades de ao das organizaes in-dgenas e por induzir, numa tendncia mais ge-ral da administrao pblica, s formas de rela-o clientelistas tpicas do mundo rural brasilei-ro7. Em decorrncia disto, tem sido freqente ademanda de representantes indgenas pela sus-

    penso imediata dos acordos com as prefeitu-ras, em favor da execuo direta das aes pelaprpria Funasa.

    Este modelo hbrido de execuo das aesde sade indgena tambm tem enfrentado pro-blemas no que diz respeito s formas de partici-pao que instituiu. Se baseado teoricamentenuma estrutura participativa ascendente, calca-da em Conselhos Locais e Distritais que se re-portam Comisso Intersetorial de Sade Ind-gena CISI - e ao Conselho Nacional de Sade- CNS, diversos entraves tm dificultado seu ple-no funcionamento, incluindo desde dificulda-des de compreenso da linguagem e dos meca-nismos burocrticos em jogo por parte dos ndi-os, at dificuldades em conciliar diferentes con-

    cepes culturais quanto ao que sejam participa-o, representatividade, processos de tratamentoe cura, ritmos de trabalho convenientes, etc.

    6 As reas de abrangncia dos DSEIs no acompanham a diviso administrativa dos estados brasileiros, obedecendo a uma lgica que procura acompanhar a diviso tnicados grupos indgenas, sua distribuio demogrfica tradicional e ainda aspectos ligados ao perfil epidemiolgico e disponibilidade dos recursos humanos e de infra-estrutura existentes. Dos 34 DSEIs, 19 esto localizados na regio Norte, 6 na regio Centro-Oeste, 6 na regio Nordeste, 1 na regio Sudeste e 2 dois abrangem estadoslocalizados nas regies Sul e Sudeste simultaneamente. Os distritos com maior populao so os de Mato Grosso do Sul, que atende 42.098 indivduos, seguido peloLeste de Roraima, com 29.910, Interior Sul, com 28.995, Alto Solimes, com 28.910 e Alto Purus, com 28.190 (fonte: site www.funasa.org.br).

    7 O sistema dos DSEIs prev, alm da ateno bsica oferecida pelos Postos de Sade Indgena e pelos Plos Base, uma articulao com o Sistema nico de Sade SUS - para cuidar dos casos de ateno mdia e de alta complexidade, cabendo s Casas de Sade do ndio a funo de fazer a transio de indivduos entreos dois sistemas. As unidades hospitalares do SUS que participam da ateno sade indgena recebem recursos complementares prprios para tal, sobre osquais parece haver tambm pouco controle.

    Q

    Convnios estabelecidos pela FUNASAuadro 1

    Convnios 2000 2001 2002

    Organizaes indgenas 4 14 19

    Organizaes indigenistas 8 16 17

    Prefeituras municipais 0 13 5

    Outros 0 2 2

    TOTAL 12 35 43Fonte: www.funasa.gov.br

    Fundao Nacional de Sade - Ministrio da Sade

  • At o momento, noh, nos documentos

    apresentados pelogoverno, instncias

    previstas para que osndios participem do

    processo deelaborao do PPA

    7

    O mecanismo jurdico-administrativo dosconvnios, por sua vez, tambm tem deixado adesejar no que diz respeito s possibilidades decapacitao e treinamento para executar as aesde sade planejadas, por implicar numa altarotatividade da mo-de-obra contratada, o quetem anulado boa parte dos esforos realizadosat o momento nesta direo. Apesar das crti-cas, a atual poltica de sa-de indgena vem sendoconsiderada um avano,quer por indicaes preli-minares quanto diminui-o dos ndices de mortali-dade e morbidade entre osndios8, quer por ter per-mitido o fortalecimento dasorganizaes indgenas emalgumas regies9.

    Diante do quadro esboado, o atual momen-to, de formulao de um novo Plano Plurianual, muito delicado. O novo governo, apesar deinmeras reunies e posicionamentos nos lti-mos meses por parte de organizaes indgenase indigenistas10, preferiu colocar pessoas em pos-tos (um novo presidente na Funai e, por meses,a manuteno de Ubiratan Moreira na Funasa)a gerar dispositivos capazes de integrar as aesde Estado de modo coerente e socialmente con-trolado, viabilizando de maneira integrada e forado marco clientelista ainda dominante a parti-cipao dos povos indgenas em instncias deformulao e gesto das polticas pblicas a elesdestinadas ou que os afetem.

    Seriam medidas dessa natureza, j intensamen-te reivindicadas, que poderiam reverter algumastendncias preocupantes na metodologia j emcurso na montagem do novo Plano Plurianual -PPA. Se, at o momento, no h, nos documen-tos apresentados pelo governo, instncias previs-tas para que os ndios participem nesse processo;se suas lideranas e organizaes no so citadasem nenhum dos documentos preparados paradiscusso junto sociedade civil; se a participa-o indgena no foi cogitada nos fruns muni-cipais e regionais que comearam a ser promo-vidos pelos governos estaduais, que preferemreunir representantes dos prprios rgos p-blicos, empresrios, classe poltica e outros gru-pos do gnero, como tem sido, at agora, a con-duta da Funai, ser grave manter os contornosdo presente, de inovao relativa e imperfeita e

    de reproduo do pior.

    Antonio Carlos de Souza LimaMarcelo Piedrafita Iglesias

    Maria Barroso-HoffmannLaboratrio de Pesquisas em Etnicidade,

    Cultura e Desenvolvimento LACEDMuseu Nacional -UFRJ

    8 Ainda so precrios os dados sobre a sade indgena, uma vez que o sistema de informaes implantado pela Funasa (SIASI), em 2000, ainda no estplenamente em funcionamento, e, no perodo anterior distritalizao, havia apenas um registro fragmentado e pontual dos dados.

    9 A maior parte dos convnios estabelecidos pela Funasa com organizaes indgenas, entre 2000 e 2002, localizou-se na regio Norte, que concentrou 67% dototal, seguida pela regio Nordeste, com 25%, e pela regio Centro-Oeste, com 8%, no se registrando nesse perodo nenhum convnio nas regies Sul e Sudeste(fonte: site www.funasa.gov.br).

    10 A este respeito, ver os documentos: "Bases Novas para uma Poltica Indigenista: o que esperamos do Governo Lula a partir de Janeiro/2003", que resultou doseminrio Bases para uma Nova Poltica Indigenista, realizado no Museu Nacional/RJ, em dezembro de 2002; "Carta em Defesa dos Direitos dos PovosIndgenas", fruto do Seminrio Respeito aos Direitos dos Povos Indgenas, ocorrido em maro de 2003, em Braslia; e "Documento Final", produto doEncontro Nacional dos Povos e Organizaes Indgenas do Brasil, realizado em Braslia, em abril de 2003.

  • 8junho de 2003

    R$ mil

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE 1.505.230 279.897 18,59% 2.058.499 2.046.871 99,44% 1.286.384 1.085.948 84,42% 6.099.751 0 0,00%

    Pantanal 660.161 0 0,00% 35.193 35.193 100,00% 718.264 517.828 72,09% 418.264 0 0,00%

    Viabilizao de aes socioeconmicas 660.161 0 0,00% 35.193 35.193 100,00% 718.264 517.828 72,09% 418.264 0 0,00%

    em terras indgenas na bacia do

    Alto Rio Paraguai - Pantanal

    Amaznia Sustentvel 845.069 279.897 33,12% 2.023.306 2.011.678 99,43% 568.120 568.120 100,00% 5.681.487 0 0,00%

    Gesto ambiental em terras 845.069 279.897 33,12% 2.023.306 2.011.678 99,43% 568.120 568.120 100,00% 5.681.487 0 0,00%

    indgenas na Amaznia

    MINISTRIO DA JUSTIA 51.136.459 33.498.270 65,51% 81.411.950 70.528.710 86,63% 78.140.858 66.193.409 84,71% 71.809.992 9.804.711 13,65%

    Etnodesenvolvimento das 23.628.659 17.591.000 74,45% 26.288.885 26.023.838 98,99% 30.500.014 29.354.699 96,24% 27.329.994 6.891.381 25,22%

    sociedades indgenas

    Construo de casas de - - - - - - - - - 200.000 0 0,00%

    estudantes indgenas

    Capacitao de indgenas e tcnicos 314.398 195.177 62,08% 436.001 420.148 96,36% 459.997 428.925 93,25% 460.000 26.334 5,72%

    de campo para o desenvolvimento

    de atividades auto-sustentveis

    em terras indgenas

    Construo e ampliao 732.000 701.383 95,82% 1.429.998 1.399.559 97,87% 1.649.998 1.510.264 91,53% - - -

    de postos indgenas

    Edio e distribuio de material didtico 669.303 397.476 59,39% 648.600 615.317 94,87% 689.999 634.426 91,95% 700.000 68.481 9,78%

    para educao indgena

    Equipamento de postos indgenas 345.502 276.084 79,91% 339.999 325.010 95,59% 350.000 309.590 88,45%

    Assistncia jurdica s 132.892 127.197 95,71% 131.519 125.417 95,36% 137.000 126.853 92,59% 400.000 16.659 4,16%

    comunidades indgenas

    Atendimento emergencial s comunidades 10.857.997 6.875.425 63,32% - - - - - - - - -

    indgenas

    Fomento s atividades produtivas 7.576.720 6.571.901 86,74% 8.794.935 8.716.748 99,11% 9.045.671 8.829.483 97,61% 8.350.000 1.837.008 22,00%

    em reas indgenas

    Funcionamento das escolas 672.303 655.130 97,45% 781.148 772.470 98,89% 1.812.997 1.703.476 93,96% 1.599.998 280.484 17,53%

    nas comunidades indgenas

    Funcionamento de casas de 391.005 368.322 94,20% 495.499 482.278 97,33% 857.000 797.476 93,05% 860.000 176.382 20,51%

    estudantes indgenas

    Funcionamento de postos indgenas 909.128 410.079 45,11% 1.605.097 1.586.732 98,86% 2.672.999 2.600.250 97,28% 2.499.999 470.345 18,81%

    Capacitao de professores 135.005 134.072 99,31% 226.898 225.700 99,47% 135.001 130.610 96,75% 370.000 24.532 6,63%

    das escolas indgenas

    Assistncia a indgenas fora de suas aldeias 892.406 878.754 98,47% - - - - - - - - -

    Povos Indgenas no PPA 2000 - 2003 2000 2001 2002 2003

    Programas/projetos Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec.

    Fechado Fechado 01/05/2003 01/05/2003

    abela 3T

  • junho de 20039

    Assistncia social para indgenas - - - 9.935.194 9.897.240 99,62% 10.940.794 10.599.164 96,88% 8.099.997 3.611.211 44,58%

    Assistncia a estudantes indgenas - - - 1.463.997 1.457.219 99,54% 1.748.558 1.684.182 96,32% 1.600.000 297.993 18,62%

    fora de suas aldeias

    Adequao de infra-estrutura - - - - - - - - - 2.390.000 81.952 3,43%

    dos postos indgenas

    Territrio e cultura indgenas 27.507.800 15.907.270 57,83% 55.123.065 44.504.872 80,74% 47.640.844 36.838.710 77,33% 44.479.998 2.913.330 6,55%

    Capacitao de tcnicos em assuntos 1.177.534 64.757 5,50% 324.582 5.900 1,82% 345.300 23.999 6,95% 350.000 0 0,00%

    fundirios e antropolgicos

    Edio e distribuio de material 6.600 4.055 61,44% 95.201 91.447 96,06% 100.000 99.951 99,95% 250.000 14.048 5,62%

    da cultura indgena

    Estudos de impacto ambiental de 92.301 51.200 55,47% 181.601 147.811 81,39% 190.000 159.473 83,93% 250.000 4.480 1,79%

    empreendimentos em terras indgenas

    Promoo de eventos para a revitalizao 57.201 46.851 81,91% 625.960 625.868 99,99% 130.000 129.889 99,91% 130.000 7.409 5,70%

    do patrimnio cultural indgena

    Promoo de eventos sobre 321.002 164.781 51,33% 484.002 305.868 63,20% 499.999 243.777 48,76% 500.000 480 0,10%

    educao ambiental em terras indgenas

    Recuperao ambiental em terras indgenas 314.349 56.676 18,03% 557.999 455.674 81,66% 574.998 548.089 95,32% 660.000 5.497 0,83%

    Demarcao e aviventao - - - 2.384.799 1.265.650 53,07% 2.030.302 1.696.001 83,53% 2.100.000 96.549 4,60%

    de terras indgenas

    Preservao de acervos culturais 146.014 129.361 88,59% 100.000 99.619 99,62% 100.002 97.191 97,19% 200.000 13.685 6,84%

    Fiscalizao de terras indgenas 3.813.164 2.353.363 61,72% 6.098.314 5.861.639 96,12% 4.995.983 4.887.152 97,82% 6.049.999 929.014 15,36%

    Pesquisa sobre as sociedades indgenas 70.557 15.000 21,26% 67.680 54.415 80,40% 171.999 164.410 95,59% 300.000 31.765 10,59%

    Funcionamento do Museu do ndio 16.600 6.337 38,17% 45.000 44.396 98,66% 103.000 102.690 99,70% 237.000 15.967 6,74%

    Identificao e reviso de terras indgenas 147.303 90.121 61,18% 779.699 249.471 32,00% 1.999.999 1.778.414 88,92% 1.999.999 224.899 11,24%

    Regularizao fundiria de terras indgenas 14.862.907 7.928.626 53,35% 42.558.000 34.691.412 81,52% 35.669.262 26.209.483 73,48% 30.453.000 1.460.485 4,80%

    Localizao e proteo de ndios 438.665 425.076 96,90% 742.828 536.847 72,27% 549.999 539.915 98,17% 750.000 94.289 12,57%

    isolados e de recente contato

    Regularizao fundiria de terras indgenas 2.100.000 1.217.902 58,00% - - - - - - - - -

    na Amaznia Legal - PPTAL/ PPG-7

    Demarcao e aviventao 2.443.603 2.056.372 84,15% - - - - - - - - -

    de terras indgenas

    Demarcao de terras indgenas 1.500.000 1.296.792 86,45% - - - - - - - - -

    na Amaznia Legal - PPTAL/ PPG-7

    Organizao, preservao e divulgao - - - 77.400 68.855 88,96% 180.001 158.276 87,93% 250.000 14.763 5,91%

    dos acervos documentais sobre ndios

    e a poltica indigenista

    MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL 678.000 360.000 53,10% 451.304 177.000 39,22% 2.000 0 0,00% - - -

    Planaforo 678.000 360.000 53,10% 451.304 177.000 39,22% 2.000 0 0,00% - - -

    Fiscalizao de reas indgenas de Rondnia 678.000 360.000 53,10% 451.304 177.000 39,22% 2.000 0 0,00% - - -

    abela 3 continuaoT R$ mil 2000 2001 2002 2003

    Programas/projetos Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec.

    Fechado Fechado 01/05/2003 01/05/2003

  • 10junho de 2003

    TOTAL POR PROGRAMAS 114.397.695 92.672.861 81,01% 185.361.432 172.171.876 92,88% 205.836.214 191.805.398 93,18% 204.591.640 29.689.108 14,51%

    Pantanal 660.161 0 0 35.193 35.193 100,00% 718.264 517.828 72,09% 418.264 0 0

    Amaznia sustentvel 845.069 279.897 33,12% 2.023.306 2.011.678 99,43% 568.120 568.120 100,00% 5.681.487 0 0

    Etnodesenvolvimento 84.706.665 76.125.694 89,87% 127.728.564 125.443.133 98,21% 156.906.986 153.880.740 98,07% 154.011.891 26.775.778 17,39%

    das sociedades indgenas

    Territrio e cultura indgenas 27.507.800 15.907.270 57,83% 55.123.065 44.504.872 80,74% 47.640.844 36.838.710 77,33% 44.479.998 2.913.330 6,55%

    Planaforo 678.000 360.000 53,10% 451.304 177.000 39,22% 2.000 0 0,00% - - -

    abela 4T

    R$ mil 2000 2001 2002 2003

    Programas/projetos Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec.

    Fechado Fechado 01/05/2003 01/05/2003

    Povos Indgenas no PPA 2000 - 2003

    MINISTRIO DA EDUCAO 400.000 399.708 99,93% 400.000 295.071 73,77% 400.000 260.603 65,15% 400.000 0 0,00%

    Etnodesenvolvimento das 400.000 399.708 99,93% 400.000 295.071 73,77% 401.000 260.603 64,99% 400.000 0 0,00%

    sociedades indgenas

    Apoio ao desenvolvimento - - - - - - 1.000 0 0,00% 0 0 0,00%

    da educao indgena

    Capacitao de professores para 200.000 199.818 99,91% 200.000 199.606 99,80% 200.000 199.393 99,70% 200.000 0 0,00%

    a educao indgena

    Distribuio de material didtico 200.000 199.890 99,95% 200.000 95.465 47,73% 200.000 61.210 30,61% 200.000 0 0,00%

    para a educao indgena

    MINISTRIO DA SADE 60.445.206 58.002.986 95,96% 100.816.479 98.901.077 98,10% 125.965.972 124.227.326 98,62% 126.245.897 19.884.397 15,75%

    Etnodesenvolvimento das 60.445.206 58.002.986 95,96% 100.816.479 98.901.077 98,10% 125.965.972 124.227.326 98,62% 126.245.897 19.884.397 15,75%

    sociedades indgenas

    Implantao, modernizao e adequao 4.983.082 4.946.299 99,26% 8.766.000 8.348.272 95,23% 9.245.999 8.518.483 92,13% 9.395.400 754.523 8,03%

    de unidades de sade para atendimento

    populao indgena

    Saneamento bsico em 3.066.250 2.599.479 84,78% 9.720.001 8.403.702 86,46% 1.720.001 1.590.772 92,49% 1.850.500 17.682 0,96%

    comunidades indgenas

    Funcionamento de unidades de sade 42.791.654 41.092.892 96,03% 0 0 0,00% - - - - - -

    para atendimento populao indgena

    Funcionamento dos Distritos 9.604.220 9.364.316 97,50% 0 0 0,00% - - - - - -

    Sanitrios Especiais Indgenas

    Atendimento sade em Distritos - - - 82.330.478 82.149.103 0,00% 114.999.972 114.118.071 99,23% 114.999.997 19.112.192 16,62%

    Sanitrios Especiais Indgenas - DSEIs

    MINISTRIO DA AGRICULTURA 232.800 132.000 56,70% 223.200 223.147 99,98% 40.000 38.112 95,28% 36.000 0 0,00%

    E DO ABASTECIMENTO

    Etnodesenvolvimento das 232.800 132.000 56,70% 223.200 223.147 99,98% 40.000 38.112 95,28% 36.000 0 0,00%

    sociedades indgenas

    Assistncia tcnica em reas indgenas 232.800 132.000 56,70% 223.200 223.147 99,98% 40.000 38.112 95,28% 36.000 0 0,00%

    abela 3 continuaoT R$ mil 2000 2001 2002 2003

    Programas/projetos Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec.

    Fechado Fechado 01/05/2003 01/05/2003

  • junho de 200311

    TOTAL POR MINISTRIOS 114.397.695 92.672.861 81,01% 185.361.432 172.171.876 92,88% 205.835.214 191.805.398 93,18% 204.591.640 29.689.108 14,51%

    Ministrio do Meio Ambiente 1.505.230 279.897 18,59% 2.058.499 2.046.871 99,44% 1.286.384 1.085.948 84,42% 6.099.751 0 0,00%

    Ministrio da Justia 51.136.459 33.498.270 65,51% 81.411.950 70.528.710 86,63% 78.140.858 66.193.409 84,71% 71.809.992 9.804.711 13,65%

    Ministrio da Integrao Nacional 678.000 360.000 53,10% 451.304 177.000 39,22% 2.000 0 0,00% - - -

    Ministrio da Educao 400.000 399.708 99,93% 400.000 295.071 73,77% 400.000 260.603 65,15% 400.000 0 0,00%

    Ministrio da Sade 60.445.206 58.002.986 95,96% 100.816.479 98.901.077 98,10% 125.965.972 124.227.326 98,62% 126.245.897 19.884.397 15,75%

    Ministrio da Agricultura 232.800 132.000 56,70% 223.200 223.147 99,98% 40.000 38.112 95,28% 36.000 0 0,00%

    e do Abastecimento

    TOTAL GERAL 114.397.695 92.672.861 81,01% 185.361.432 172.171.876 92,88% 205.835.214 191.805.398 93,18% 204.591.640 29.689.108 14,51%

    Fonte: SIAFI/STN - Base de dados: Consultoria de Oramento/ CD e Prodasen

    Elaborao: Inesc

    Notao das colunas:

    Dotao inicial - recursos aprovados na lei oramentria, sem considerar os acrscimos e cancelamentos aprovados ao longo do exerccio.

    Liquidado - gastos realizados, includos tambm os recursos classificados como restos a pagar ao final do exerccio (ano) fiscal (pagos no exerccio seguinte)

    O valor liquidado pode ser maior do que a dotao inicial, quando forem aprovados acrscimos ao longo do exerccio fiscal (crditos adicionais).

    % execuo - obtido atravs da diviso da despesa liquidada pelo autorizado.

    Observao - as aes previstas pelo PPA para a Funai esto agrupadas em seis blocos: Regularizao: Identificao e reviso de terras indgenas; Regularizao fundiria de terras indgenas; Demarcao de

    terras indgenas na Amaznia Legal -PPTAL; Regularizao fundiria de terras indgenas na Amaznia Legal - PPTAL; Fiscalizao de terras indgenas; Demarcao e aviventao de terras indgenas; Assistncia

    tutelar: Assistncia social para indgenas; Atendimento emergencial s comunidades indgenas; Assistncia a indgenas fora de suas aldeias; Funcionamento de postos indgenas: Construo e ampliao de postos

    indgenas; Equipamento de postos indgenas; Adequao de infra-estrutura dos postos indgenas; Fomento s atividades produtivas em reas indgenas; Assistncia jurdica s comunidades indgenas; Localizao

    e proteo de ndios isolados e de recente contato (Programa Territrio e Culturas Indgenas); Educao - Assistncia a estudantes indgenas fora das aldeias; Funcionamento das escolas nas comunidades

    indgenas; Funcionamento de casas de estudantes indgenas; Edio e distribuio de material didtico para educao indgena; Capacitao de professores das escolas indgenas; Construo de casas de

    estudantes indgenas; Promoo cultural - Promoo de eventos para a revitalizao do patrimnio cultural indgena; Edio e distribuio de material da cultura indgena; Preservao de acervos culturais;

    Pesquisa sobre as sociedades indgenas; Funcionamento do Museu do ndio; Organizao, preservao e divulgao dos acervos documentais sobre ndios e a poltica indigenista; Capacitao - Capacitao

    de indgenas e tcnicos de campo para desenvolvimento de atividades auto-sustentveis em terras indgenas (Programa Etnodesenvolvimento das Sociedades indgenas); Capacitao de Tcnicos em assuntos

    fundirios e antropolgicos (Programa Territrio e Culturas Indgenas); Meio ambiente - Estudos de impacto ambiental de empreendimentos em terras indgenas; Recuperao ambiental em terras indgenas;

    Promoo de eventos sobre educao ambiental em terras indgenas.

    abela 5T

    R$ mil 2000 2001 2002 2003

    Programas/projetos Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec. Autorizado Liquidado % exec.

    Fechado Fechado 01/05/2003 01/05/2003

    Povos Indgenas no PPA 2000 - 2003

  • 12 junho de 2003

    Os povos indgenase suas organizaesreivindicam maiorprotagonismo na

    elaborao,acompanhamento egesto das polticaspblicas que lhes

    afetam, sejam elasde desenvolvimento

    ou no

    No nos parece nada estranho o fato de ainda per-sistir, em alguns setores da poltica indgena eindigenista, governamental e no-governamen-tal, uma preocupao com a situao atual e com o futu-ro da Fundao Nacional do ndio. Lembremos que aFunai j existe h mais de trinta e cinco anos, formandogeraes de indigenistas e sendo referncia importanteno campo da assistncia para a maioria dos povos indge-nas no Brasil. At meados da dcada passada, foi Funaique indgenas e indigenistas recorreram com demandasdiversas. Foi Funai que, ao longo de maisde trs dcadas, foi atribudo o papel dedefesa dos direitos indgenas no campo daspolticas pblicas; foi tambm a Fundaoquem recebeu as maiores crticas quandoestes direitos foram violentados por tercei-ros ou seus funcionrios estiveram envolvi-dos em aes que lesaram o patrimnio in-dgena, incluindo a vidas, conhecimentos,territrios e recursos naturais, por exemplo.

    A centralidade do papel da instituioFunai durante tantos anos, e para tantaspessoas e instituies, sem sombra de dvi-da criou e consolidou uma certa disposiomental (valores e percepes ), individual ecoletiva, em torno da necessidade do seu fortalecimentopoltico, tcnico e econmico. No esqueamos que, almde constituir memrias e identidades, a Funai foi, e ain-da , em especial com a onda de esperana e expectativasensejadas pelo Governo Lula, uma alternativa de traba-lho e de militncia - por que no? para muitos ndios eindigenistas.

    Reconhecer este contexto particular, inclusive o con-tedo emocional que permeia o debate sobre a Funai -at hoje chamada de o rgo indigenista -, funda-mental mas no suficiente para dar conta das transfor-maes havidas na ltima dcada na poltica indigenistano Brasil. Os povos indgenas e suas organizaes reivin-dicam maior protagonismo na elaborao, acompanha-mento e gesto das polticas pblicas que lhes afetam,sejam elas de desenvolvimento ou no. complexo odebate e o processo de negociao e definio polticaque envolvem a elaborao e implementao do PlanoPlurianual 2004-2007.

    Isto nos obriga, indgenas e no-indgenas, governo e

    Os povos indgenas no PPA 2004-2007:hora de afirmao de direitos

    sociedade civil, a deslocar e ampliar o foco do debate dorgo indigenista para a poltica indigenista do novoGoverno Federal: Qual a sua viso de futuro para ospovos indgenas do Brasil? Qual a estratgia de longoprazo visando ao futuro? Que programas, objetivos eaes devem ou sero implementados no mdio e curtoprazos (2004-2007)? Qual ser o oramentodisponibilizado para implementar estes programas/pro-jetos, seja da Unio, seja de outras fontes, como por exem-plo, a cooperao internacional?

    E ainda: qual a forma de gesto destesprogramas/projetos? Que mecanismos ospovos indgenas, suas organizaes e entida-des aliadas tero ou esto criando para parti-cipar da elaborao e implementao dos pro-gramas/projetos? Como se processar omonitoramento destes e como sero feitosos ajustes necessrios ao longo dos prximosquatro anos? No obstante as muitas barrei-ras de ordens poltica e burocrtica enfrenta-das ao longo dos ltimos anos, o movimen-to indgena conseguiu abrir e construir im-portantes espaos de participao e de deci-so nas polticas pblicas, como o caso dagesto dos Distritos Sanitrios Especiais In-

    dgenas e do componente Projetos Demonstrativos dosPovos Indgenas do PPG-7.

    Realizar uma poltica de afirmao de direitos e depromoo do auto-desenvolvimento indgena um de-safio complexo e repleto de conflitos e disputas, inclusi-ve dentro do prprio movimento social indgena. J noexiste mais um ou o rgo indigenista governamental,mas um conjunto de atores governamentais e no-go-vernamentais, indgenas e no-indgenas, envolvidos empolticas indigenistas setoriais e intersetoriais. Esses ato-res precisam ser melhor articulados, coordenados e ori-entados por objetivos claros, respaldados por um instru-mento legal adequado, por um oramento suficiente epor uma capacidade tcnica e poltica de gesto e avalia-o compatvel com o desafio da democracia participativa.

    Ricardo VerdumAssessor de Polticas Indgena e Ambiental do Inesc

    [email protected]